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DIREITO À CIDADE

o Direito à Cidade seria o direito da população


do local comandar, orientar e pressionar todo o
processo urbano, em oposição aos interesses
meramente relacionados ao capital e a absorção
do excedente desse—que teria marcado o
surgimento e expansão dos centros urbanos.
“a liberdade de construir e reconstruir a cidade e
a nós mesmos”
O conceito foi desenvolvido pelo sociólogo francês Henri
Lefebvre em seu livro de 1968 Le droit à la ville. Ele
define o direito à cidade como um direito de não
exclusão da sociedade urbana das qualidades e
benefícios da vida urbana.
É um conceito que trata da importância de um ambiente
urbano digno para todos os seus moradores e da
necessidade de dividir-se todos os benefícios e problemas
do ambiente urbano de forma igual.
O direito à cidade não é para ser entendido como um
direito legal individual. Muitas vezes, é visto como uma
utopia social e como reivindicações coletivas inspiradas
em ideias e sugestões de movimentos sociais para um
mundo melhor.
Este é um slogan para os movimentos em todo o mundo,
que lutam contra as manifestações de muitas cidades
modernas, em que os processos e serviços públicos foram
privatizados e onde o desenvolvimento é impulsionado
principalmente se não exclusivamente por empresas e
mercados.
DIREITO À CIDADE NO BRASIL
O direito à cidade, definido no Brasil pela
Constituição Federal de 1988 e regulamentado por
lei posterior chamada de “Estatuto da Cidade”, é
uma garantia que todo brasileiro tem de usufruir da
estrutura e dos espaços públicos de sua cidade, com
igualdade de utilização.
No Brasil, o
Estatuto da
Cidade ( lei
10.257) de 2001
inscreveu o
direito à cidade
na lei federal.
Na prática, a aplicação do Estatuto da Cidade – e, por
consequência, a utilização do direito à cidade – é uma
questão muito discutida, tanto em termos urbanísticos
quanto sociais. Percebe-se uma série de violações
recorrentes a este direito garantido
constitucionalmente.
Sabe-se, por exemplo, que algumas cidades com forte
apelo turístico para classes mais altas no Brasil utilizam-
se do pretexto de programas sociais para “devolver”
determinadas pessoas – em geral, pedintes, pessoas
sem renda ou andarilhos – para sua cidade de origem.
Em casos menos extremos, mas igualmente graves,
sabe-se de áreas urbanas que são quase que
exclusivamente frequentadas por determinadas
classes sociais, havendo, inclusive, discriminação (como
a atenção de seguranças e forças policiais).
Outra ofensa direta ao direito à cidade é, por
exemplo, a poluição e a degradação ambiental de
ambientes urbanos (como rios, mares, praças e
parques).
Lefebvre desenvolveu o conceito a partir da
reflexão sobre a segregação sócio-econômica e seu
fenômeno de afastamento. Ele refere-se à
“tragédia dos banlieusards”, pessoas forçadas a
viver em guetos residenciais longe do centro da
cidade.
Mapa de Paris
com a
distribuição por
média salarial
anula em euros.
Hausmann

HAUSSMANN ENTRE 1853 E 1870.


PEREIRA PASSOS 1903 – RIO DE JANEIRO
No contexto das rápidas transformações no Rio de Janeiro
em preparação para a Copa do Mundo de 2014 e as
Olimpíadas de 2016 e a falta de participação pública
nestas transformações, o direito coletivo à cidade está
seriamente comprometido. Os moradores de favelas são
especialmente afetados, com milhares de pessoas
enfrentando a ameaça de remoção, passando por
remoção ou que já foram removidos de suas casas.
Em protestos e debates por toda a cidade, os moradores
do Rio estão questionando até que ponto a sua cidade
está sendo modelada sem eles e para os outros.
Em todo esse cenário, portanto, no qual o capital fala
mais alto que o interesse dos cidadãos como um todo, o
direito à cidade acabou tornando-se um dos direitos
mais negligenciados e desrespeitados não apenas no
Brasil, mas no mundo como um todo. A malha urbana
apresenta por isso claros sinais de segregações e
desigualdades espaciais, com a concentração de
melhor infra-estrutura, serviços básicos, equipamentos e
locais de lazer em locais centrais das cidades ou
próximos de bairros mais ricos.
Até mesmo os shoppings, em
muitos casos, tornam-se locais
segregacionistas, nos quais
tacitamente se diferencia os
shoppings ditos dos pobres e
o dos ricos. Nesse âmbito
todo, entende-se os motivos
que levaram ao surgimento
dos chamados “rolêzinhos”
há um tempo no país e toda
a carga simbólica e social
que carregam em si.
Essa população mais pobre além de ser jogada para as
periferias da cidade ou em locais com baixa densidade ou
inexistência de aparelhos públicos que visam atender suas
necessidades mais básicas, se vê expropriada muitas vezes
de seus próprios lares, por motivos diversos. Desaloja-se
para construção de ruas, avenidas e estradas; para
construções de parque olímpicos e “portos maravilhas”;
expropria-se sem qualquer diálogo com a população que já
se encontrava nos locais senão por décadas, com certeza
por vários anos.
GENTRIFICAÇÃO
Expulsa-se também, embora de forma indireta e velada,
através da gentrificação (que é muito diferente da
revitalização urbana) populações que viviam também há anos
naqueles locais e que não mais podem viver ali depois do
aumento do custo de vida (habitação, alimentação e etc),
ocasionado por melhorias de infra-estrutura realizadas no
níveis locais com dinheiro público, mas com benesses diretas
para o setor imobiliário
Os tempos modernos exigem uma necessidade
urgente de novos modelos de urbanização, mais
democrático, humanos e sustentáveis, que não
fiquem no mero discurso. Novas formas de se viver a
cidade, porque ela é e sempre será nossa, e pra isso
precisa ser ocupada todos os dias. E por todos.
As ruas e outros espaços públicos, ainda hoje, apesar do
advento de tecnologias, são espaços essenciais para a
socialização e o encontro de todos que lutam por mudanças.
Locais de encontro das diversidades, de fortalecimento de
movimentos da sociedade civil, de promoção cultural,
impulsionamento de economias locais, de empoderamento de
minorias. É na rua ainda hoje que as mudanças ganham
forças para acontecer e é lá também, tomando todos esses
lugares que são nossos por direito, que se torna possível
sermos mais forte que o interesse de privatizar nossa
democracia e nossos espaços. Fortaleçamos nosso
sentimento de pertencimento à cidade, a fim de que
possamos moldá-la de acordo com os interesses coletivos
e não individuais. E muito menos do capital.
No entanto, é necessário considerar a multiplicidade de grupos e interesses
humanos. Imagina-se, por exemplo, que transformar uma praça antiga e
pouco cuidada em um local adequado para a prática de esportes radicais
sobre rodas (como o ciclismo e o skatismo, por exemplo) seja algo benéfico
para a cidade.
Quando isso ocorre, pode-se esquecer, por exemplo, do grupo de pessoas que
utilizava a praça, mesmo que em condições ruins, para descansar, tomar sol e
conviver sem a prática de nenhum esporte. Pode-se considerar, também, a
demanda de cidadãos que vivem em torno daquela área urbana e gostariam
de praticar esportes diferentes, mas não possuem local adequado para isso
nas proximidades.
É um caso onde a multiplicidade da utilização urbana conflita diretamente,
mesmo que em uma atitude onde tenta cumprir o Estatuto da Cidade de
maneira bem intencionada.
SÃO PAULO
• É a cidade mais populosa
do Brasil, do continente
americano, da lusofonia e
de todo o hemisfério sul.
• Minhocão
• Avenida Paulista
• Cracolândia
Minhocão em São Paulo.
Minhocão em São Paulo.
Minhocão
fechado para o
trânsito e aberto
à população em
São Paulo.
Avenida Paulista
Avenida Paulista fechada ao
trânsito aos domingos e feriados
Cracolândia
em São Paulo
Projeto de
revitalização
da
Cracolândia
As cidades são para quem?
Quem pode usufruir do direito à cidade?
Quais elementos históricos permanecem atuando sobre a
sociedade brasileira que a faz repetir – mesmo que de formas
não idênticas – processos como o bota abaixo do começo do
século XX?

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