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Conceitos básicos de Economia

Prof.ª Maria Eduarda Barroso Perpétuo

Descrição

Aprender os fundamentos e as contribuições mais recentes da ciência econômica, tal como a história do
pensamento econômico para a compreensão contextualizada da Economia Moderna.

Propósito

Entender os conceitos fundamentais e a história do pensamento econômico é importante para compreender o que
é a ciência econômica e como a pesquisa econômica evoluiu até os dias atuais.
Objetivos

Módulo 1

Primeiros conceitos econômicos

Definir conceitos fundamentais para compreensão das análises econômicas.

Módulo 2

História do pensamento econômico


Descrever uma breve história do pensamento econômico.

Módulo 3

Pesquisa econômica atual

Descrever a agenda de pesquisa econômica atual.

meeting_room
Introdução
O estudo de qualquer ciência começa com uma série de conceitos básicos. Em Economia, iniciaremos falando
sobre as escolhas das pessoas sobre como alocar recursos, dado que há limites no que podemos fazer.
Apresentaremos também a evolução da ciência econômica ao longo do tempo e descreveremos os caminhos que
estão sendo desenvolvidos.

1 - Primeiros conceitos econômicos


Ao final deste módulo, você será capaz de definir conceitos fundamentais para compreensão das
análises econômicas.

Uma digressão sobre economia e ciência


O termo “economia” vem do grego e significa “casa” e “lei”, ou também “gerir”, “administrar”, daí “regras da casa” ou
“administração doméstica”.

Mas o que é, de fato, Economia?

Economia é uma ciência social que estuda a produção, distribuição, acumulação e o consumo
de bens e serviços.
Ela busca entender como indivíduos, empresas, governos e nações fazem escolhas sobre alocação de recursos, de
forma a satisfazer suas necessidades, e busca entender como esses agentes podem se organizar e coordenar
esforços para alcançar o melhor resultado possível.

Mas o que é uma ciência?

Ciência é uma forma de conhecimento, assim como religião, intuição e senso comum. A ciência
produz conhecimento por meio de teorias.

Por exemplo, a Astronomia, por meio da teoria geocêntrica, considera a Terra fixa no centro do universo, com todos
os outros corpos celestes orbitando ao seu redor. Poucas pessoas acreditam na teoria geocêntrica, mas qualquer
um quando vai à praia utiliza essa teoria para posicionar um guarda-sol.

Da mesma forma, existem diversas teorias nas quais não é necessário acreditar, embora sejam úteis, como, por
exemplo, modelos econômicos, a física newtoniana ou mapas. Você acredita que o mundo é bidimensional ao
olhar um aplicativo de mapas em seu celular?

É preciso deixar claro que a Ciência não trata de verdade, mas sim de erro útil. A Ciência é apenas uma ferramenta
para resolver problemas, e não para estabelecer verdades.

A teoria nada mais é do que uma ferramenta imperfeita, baseada em simplificações grosseiras da realidade
(natural, social, econômica etc.), pois seu o objetivo é ser útil.

O precursor da Ciência Moderna é Francis Bacon, que, no século XVI, deixou registrado que “Saber é poder”. A
partir de Bacon e da Revolução Científica Moderna, começa a busca pelo desenvolvimento de um conhecimento
sistemático da natureza que permita atingir objetivos concretos.

Exemplo

Se chove, nós nos molhamos. Se determinado medicamento for utilizado, a mortalidade de certa doença será
reduzida. Assim, há uma tentativa de compreensão do mundo por meio de relações de causalidade.

Mas como sabemos se uma teoria é útil? Geralmente, submetemos a teoria ao teste empírico, ou seja, ela deve
explicar determinado conjunto de dados.

Por exemplo, se a teoria diz que “se chove, então molha”, buscamos uma série de dados sobre “chuva ou sol” e
sobre “objeto molhado ou seco”, e vemos se a teoria explica a relação empírica observada.
O teste empírico deve sempre ser construído de forma a isolar as variáveis relevantes do problema ― ou, em outras
palavras, tomar “tudo mais como constante” para não comprometer o resultado da avaliação. Afinal, geralmente há
outras variáveis que afetam as observações (uma superfície pode estar molhada porque alguém a lavou com água
encanada).

Embora um teste empírico seja bem-sucedido, jamais afirmamos que aceitamos a teoria. Dizemos apenas que não
a rejeitamos, mas não podemos aceitá-la porque, desde o princípio, sabemos que ela é imperfeita, e seguimos com
ela enquanto não for rejeitada e não aparecer outra melhor (isto é, que explique melhor os dados).

A ciência econômica é tipicamente dividida em:

Microeconomia

Estuda o comportamento de agentes individuais. close

Macroeconomia

Analisa a economia de maneira agregada.

Para entender a diferença entre elas, analise as seguintes questões:

Qual deve ser a regulação do setor de telefonia para garantir cobertura adequada à população?

Essa questão é tipicamente estudada em Microeconomia.

Por que a inflação aumentou?

Essa questão é tipicamente estudada em Macroeconomia.

Em todos os casos, porém, precisamos analisar a escolha individual dos agentes envolvidos. Esse será o próximo
assunto do nosso estudo.
Escolha individual
Qualquer questão em Economia envolve escolha individual, independentemente de estarmos no campo de
Macroeconomia ou Microeconomia. Em última instância, até decisões macroeconômicas são baseadas em uma
série de decisões individuais sobre o que fazer ou não. Portanto, podemos dizer que economia é sobre escolhas.

Quando vamos à feira, há diversos produtos em inúmeras barracas. É pouco provável que tenhamos dinheiro para
comprar tudo o que desejamos e, mesmo que tenhamos, não há espaço suficiente na geladeira para guardar todos
esses bens.

Alguém pode argumentar que basta comprar outra geladeira. Contudo, o espaço de sua casa é limitado, de forma
que precisamos escolher qual produto comprar e qual colocar na geladeira.

O fato de alguns produtos estarem à venda na feira já envolve uma escolha. O feirante escolheu quais produtos
levar para a feira, e os produtores agrícolas também escolheram quais bens iriam cultivar.

Notamos, então, que todas as atividades econômicas passam por escolhas.

Existem quatro princípios econômicos contidos na escolha individual:

Escassez de recursos

Custo real
Decisão marginal

Oportunidades de melhoria

A seguir, conheceremos melhor cada um deles.

Escassez de recursos
No geral, não podemos ter tudo o que queremos. Nossa renda é limitada, o que restringe o que podemos adquirir. A
renda que escolhemos gastar indo ao cinema equivale à que deixamos de gastar com algum outro bem ou serviço.

Todavia, existem alguns indivíduos muito ricos, e você deve estar pensando que eles podem ter tudo. Mesmo eles
não podem fazer tudo o que querem, porque há uma limitação de tempo: o dia possui apenas 24 horas.

Assim, o tempo que escolheremos dedicar a determinada atividade não poderá ser dedicado a outra. O tempo que
dedicamos ao nosso sono é também um momento em que deixamos de trabalhar, por exemplo.

Precisamos realizar escolhas, o que apenas reflete o fato de que os recursos são escassos.

Recurso é qualquer elemento que pode ser usado na produção de um bem. Em uma
economia, geralmente consideramos como recursos o trabalho, a terra, o capital físico e
o capital humano (conquistas educacionais e habilidades individuais).

Sendo assim, podemos afirmar que:

Um recurso é escasso quando sua quantidade disponível é insuficiente para satisfazer


todos os usos que uma sociedade quer fazer dele.

(KRUGMAN; WELLS, 2001)


A escassez de recursos faz com que os indivíduos e a sociedade sejam obrigados a fazer escolhas, e há diversas
formas de fazê-las. Uma delas é permitir que surjam como o resultado de escolhas individuais, o que acontece,
normalmente, em economias de mercado.

Há também decisões que a sociedade considera que é melhor não serem fruto do resultado de escolhas
individuais, como consumir bebida alcoólica e dirigir.

Custo real
O custo de adquirir algo envolve também o que dispensamos para realizar a aquisição.

Suponha que você tenha prestado vestibular para uma universidade privada e tenha sido aprovado para o curso
integral em Ciências Econômicas. O custo monetário de estudar em uma universidade privada é o valor da
mensalidade mais o gasto com passagem, alimentação e material. Mas isso não inclui tudo: esse não é custo real
de estar em uma universidade privada.

Estudar em tempo integral significa que você está abrindo mão de fazer um curso de inglês pela tarde ou de
trabalhar em algum estabelecimento. O custo de abrir mão de outra atividade se chama custo de oportunidade.

O custo de oportunidade de uma atividade da qual abrimos mão. É o que abdicamos ao deixar de escolher nossa
segunda melhor alternativa.

O custo real de algo é a soma de seus custos monetário e de oportunidade. Portanto, no final
das contas, todo custo é um custo de oportunidade.

Observe o exemplo a seguir para entender melhor:

Exemplo

Programas sociais e custo de oportunidade

Custo de oportunidade é um conceito essencial em Economia, e é usado na formulação e no funcionamento de


programas sociais. Há alguns anos, a Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro formulou o programa
Renda Melhor Jovem.
O projeto consistia em depósitos na poupança de jovens beneficiados pelo Renda Melhor e pelo Cartão Família
Carioca que cursassem o Ensino Médio em escolas públicas. Após a conclusão do Ensino Médio, os jovens
poderiam usar essa poupança.

A ideia de pagar um valor para esses jovens estudarem tem como base o conceito de custo de oportunidade.
Muitos desses jovens pobres largam a escola para trabalhar e ajudar suas famílias.

Decisão marginal
Diversas decisões importantes em nossas vidas começam com a pergunta: “Quanto?”. Ou seja, tem relação com a
quantidade.

Se você está cursando duas disciplinas ― Microeconomia e Macroeconomia ―, precisa escolher o quanto vai
dedicar de tempo de estudo para cada uma delas. close

Quando temos decisões de “quanto?”, em Economia, vemos isso como uma decisão marginal.

Gastar mais tempo estudando Microeconomia significa que você terá um benefício nessa matéria: é provável que
você tire uma nota mais alta, mas também implica menos tempo estudando Macroeconomia.

Sua decisão envolverá um trade-off, ou seja, uma comparação entre o custo e o benefício. Essa comparação faz
parte de uma escolha.
Como decidir, então, quanto tempo dedicar a cada uma das disciplinas? No geral, decisões desse tipo são tomadas
a cada momento.

Suponha que as duas provas, de Microeconomia e Macroeconomia, sejam no mesmo dia. No dia anterior, você
decide dedicar metade do tempo à Macroeconomia e a outra metade, à Microeconomia.

Antes de chegar ao fim do tempo destinado à Macroeconomia, você nota que é melhor dedicar mais tempo do que
o que tinha pensado. À noite, já com sono, você percebe que ainda faltou conteúdo de Macroeconomia, mas ainda
está finalizando o de Microeconomia. O que fazer? Se você teve nota melhor em uma prova anterior de
Microeconomia, possivelmente optará por dedicar o tempo disponível restante à Macroeconomia.

Decisões como essas são marginais. Elas envolvem um trade-off na margem, isto é, uma análise de custo
benefício de um pouco mais de uma atividade e um pouco menos de outra.

rade-off
É um dilema, isto é, uma situação em que comparamos custo e benefício, e realizamos uma escolha que envolve
também renúncias.

Muitas decisões no nosso dia a dia são tomadas com base em análises marginais, que
desempenham um papel fundamental na economia.

Se estou com sede, decido se vou tomar um copo d’água ou não. Após o primeiro copo, avalio se ainda quero
tomar o segundo, e assim por diante. Não tomamos uma decisão apenas entre “não beber água’” ou “tomar toda a
água da casa”, mas entre “um copo a mais” ou “um gole a mais”. Essa decisão sobre um gole adicional é uma
decisão na margem.

Oportunidades de melhoria
Para começar, observe o exemplo a seguir:

Exemplo
Todo mês de outubro, os supermercados Guanabara realizam uma promoção de aniversário, que é bastante
famosa no Rio de Janeiro. Diversas propagandas passam na televisão, e alguns jornais enviam repórteres para
cobrir o evento.

Sempre que vemos as notícias, reparamos que há uma enorme quantidade de pessoas nas lojas. Mas por que, se
esses produtos são vendidos normalmente no dia a dia?

Segundo os consumidores, os preços durante as promoções são melhores que em qualquer outra época do ano.
Assim, quando as pessoas veem uma oportunidade de melhorar sua situação, nesse caso por meio da compra de
produtos mais baratos, elas aproveitam.

Ao tentarem prever como os indivíduos se comportarão em alguma situação econômica, em geral, os economistas
consideram que os indivíduos aproveitarão a oportunidade de melhorar suas situações. Essas oportunidades são
exploradas até que se esgotem, isto é, até que tenham sido plenamente aproveitadas pelas pessoas.

No geral, o fato de que as pessoas exploram oportunidades de melhorar sua própria situação é
uma hipótese amplamente adotada em modelos econômicos.

Quando há redução do preço do chocolate, mais consumidores irão comprá-lo. Se o salário dos engenheiros se
reduz e o dos médicos aumenta, é provável que alguns alunos do Ensino Médio deixem de prestar vestibular para
Engenharia e mudem para Medicina.

Quando há mudanças nas oportunidades disponíveis e, consequentemente, de comportamento, afirmamos que as


pessoas se deparam com novos incentivos.

Para os economistas, qualquer tentativa de mudança de ação é fruto de mudanças de incentivos. Portanto, uma
política que peça às indústrias que poluam menos só será eficaz se gerar uma mudança de incentivos condizente
com o objetivo de redução da poluição.

Exemplo

Política econômica e mudança de incentivos

Durante a pandemia da Covid-19, diversas medidas foram tomadas para seu combate. Duas delas foram: a
proibição de frequentar praias e a de sair sem o uso de máscaras.

Para que essas medidas tivessem resultado, não bastou pedir à população para mudar de comportamento. Os
governos instituíram multas caso as obrigações não fossem cumpridas. Dessa forma, a população teve uma
mudança de incentivos.

Para reforçar seu aprendizado, assista ao vídeo com uma breve contextualização sobre os princípios econômicos
contidos na escolha individual.

video_library
Os quatro princípios da escolha individual para análise
econômica

Mercados: interações entre indivíduos


Uma economia é um sistema que coordena a produção de muitos agentes. Em uma economia de mercado, essa
coordenação ocorre sem centralização: cada indivíduo toma sua própria decisão.

Todavia, as decisões individuais dependem das decisões dos demais. Portanto, para compreendermos como
funciona uma economia de mercado, precisamos entender a interação entre as escolhas individuais.

O resultado da escolha de diversas pessoas pode ser bem diferente daquilo que os indivíduos esperariam. O uso
de novas técnicas agrícolas é um exemplo.

Alguns agricultores, ao adotarem novas tecnologias, tiveram uma produção tão grande que o resultado foi uma
redução do preço do produto, que fez com que diversos produtores saíssem do mercado.

Enquanto a escolha individual possui quatro princípios, a interação entre indivíduos em uma economia de mercado
possui cinco:

Ganhos de comércio expand_more

Os economistas consideram que o comércio, ou a possibilidade de trocas entre indivíduos, é uma


ferramenta importante para melhorar a situação de uma sociedade.
Suponha que uma pessoa tente suprir sozinha todas as suas necessidades. Ela produz seus tecidos,
costura suas roupas, planta seu alimento, pinta seus próprios quadros e constrói sua própria casa. Deve ser
possível viver dessa forma, mas parece uma vida bastante dura.

A existência do comércio torna possível que as pessoas dividam tarefas entre si e ofertem bens ou serviços
demandados por outras pessoas em troca de bens e serviços que ela deseja. Na maioria das sociedades,
há poucos indivíduos tentando viver de forma autossuficiente, porque existem ganhos de comércio.

Duas pessoas, ao trocar e dividir, podem obter aquilo que mais desejam. Pode ser que Gabriel seja melhor
que Rafael na cozinha, e que Rafael seja melhor na faxina. Isso permite que Gabriel seja o responsável pela
comida e a troque com Rafael por faxina.

Os ganhos de comércio são oriundos dessa divisão de tarefas, conhecida como especialização: cada
indivíduo se ocupa de poucas atividades. Os mercados permitem que as pessoas se especializem, pois
sabem que podem encontrar os bens e serviços que desejam e trocar com outras pessoas.

Moeda e suas funções

Moeda costuma ser definida como qualquer ativo que pode ser utilizado facilmente para comprar bens e
serviços.

Um ativo é líquido quando pode ser convertido em dinheiro vivo de forma simples. Portanto, moeda
consiste no próprio dinheiro vivo, que é, por definição, líquido (ou, então, em outros ativos altamente
líquidos).

A moeda tem papel fundamental em uma economia, pois gera ganhos de comércio. Isso é possível porque
a moeda permite que trocas indiretas sejam realizadas, acabando com problema da dupla coincidência de
necessidades que ocorria em um sistema de escambos.

A moeda tem três funções:

Meio de troca: pois cumpre o papel de um ativo que as pessoas utilizam para trocar bens e serviços.
Reserva de valor: pois é uma forma de guardar poder de compra ao longo do tempo.
Unidade de conta: que representa uma medida que as pessoas utilizam para fixar preços e fazer cálculos
econômicos.

Movimentação dos mercados em direção ao equilíbrio expand_more


Aprendemos que há um princípio afirmando que as pessoas aproveitam oportunidades de melhorar sua
situação.

Por exemplo, quando vamos à praia, buscamos um pedaço de areia que tenha menos gente para nos
instalarmos. No verão, não restam muitos espaços vazios. Isso acontece porque as pessoas buscam
explorar as oportunidades para melhorar de situação.

Conforme as pessoas vão chegando à praia, elas buscam o local mais vazio, até não haver mais locais
vazios: todas as oportunidades de melhoria acabam, pois já foram exploradas.

Os economistas chamam de equilíbrio uma situação em que os indivíduos não podem melhorar, fazendo,
individualmente, algo diferente.

Uma economia está em equilíbrio quando nenhum indivíduo pode melhorar sua situação adotando uma
ação diferente.

Os mercados, normalmente, alcançam o equilíbrio por meio da mudança de preços, que aumentam ou
diminuem, até que todas as oportunidades para melhorar a situação individual tenham se esgotado.
Portanto, cada vez que houver uma mudança, a economia se moverá em direção a um novo equilíbrio.

Uso eficiente dos recursos para o alcance dos objetivos da sociedade expand_more

O que importa para economistas não é o dinheiro, mas o bem-estar das pessoas em uma sociedade.

Os recursos de uma economia são usados de forma eficiente quando todas as oportunidades de melhorar
a situação de cada um são exploradas por completo.

Uma economia é eficiente quando utiliza todas as oportunidades de melhorar a situação de uma pessoa
sem piorar a de outras.

Por exemplo, Mariana mora na zona rural e planta hortaliças. Contudo, sua terra é pequena e sua plantação
está morrendo por falta de espaço. Por sua vez, Pedro, vizinho de Mariana, é proprietário de um latifúndio, e
não usa a terra para nada. Claramente, a terra dessa economia está sendo usada de forma ineficiente.

Há uma maneira de melhorar a situação de todos, transferindo a plantação de hortaliças de Mariana para as
terras de Pedro.
O exemplo é fictício. Embora essa situação ocorra na vida real, não é simples de resolver ineficiências
dessa forma, uma vez que existe propriedade privada, e, para isso, o estado deveria realizar uma reforma
agrária.

Quando uma economia está operando de forma eficiente, os ganhos oriundos do comércio são
maximizados, dados os recursos disponíveis.

Quando uma economia é eficiente, a única maneira de melhorar a situação de uma pessoa é piorando a de
outra: ou seja, já esgotamos os ganhos de troca.

Dado que eficiência é algo ótimo, ela deveria ser o único objetivo em uma economia?

A resposta é não. Eficiência não é o único critério que importa. Equidade e justiça também são critérios
relevantes. Em geral, há um trade-off entre eficiência e equidade, uma vez que políticas que almejam a
equidade, muitas vezes, alcançam-na às custas da eficiência.

Considere, por exemplo, a política de assentos preferenciais. Para assegurar que sempre haja assento
disponível para grávidas, deficientes, idosos e pessoas com crianças de colo, normalmente, há um número
reservado de vagas no transporte público.

Muitas vezes, esses assentos ficam vagos, enquanto algumas pessoas ficam em pé. Isso gera ineficiência,
mas será que gostaríamos de resolver essa ineficiência deixando as pessoas do grupo preferencial sem
assento?

Essa situação envolve um trade-off entre eficiência e justiça.

Mercados rumo à eficiência expand_more

Frequentemente (mas não sempre), os mercados levam à eficiência.

Normalmente, não temos um “planejador central” que se certifica de que a economia esteja operando de
forma eficiente. O Estado não precisa gerar eficiência, porque os mercados já cumprem essa função
razoavelmente bem.

Como estudaremos mais a diante, Adam Smith chama isso de “mão invisível do mercado”. Assim, os
incentivos presentes em uma economia de mercado já garantem que os recursos sejam utilizados da
melhor maneira possível, sem que haja desperdício de oportunidades. Contudo, há exceções para esse
princípio.
Quando temos falhas de mercado, a busca individual a partir do interesse próprio piora a situação da
sociedade, e o resultado é ineficiente. Isso acontece, em geral, quando a ação individual de uma pessoa
tem efeitos colaterais sobre outras pessoas, o que os economistas chamam de externalidade.

Poluição é um exemplo clássico de externalidade negativa.

Ação governamental em prol do aumento de bem-estar expand_more

Quando há falhas de mercado, é possível que ações governamentais melhorem o bem-estar da sociedade.

Considere uma indústria que produz algo importante, mas gera poluição (por exemplo, usinas
termoelétricas que geram energia, mas são muito poluentes). Essa indústria não tem incentivo para levar
em conta o custo de sua ação para a sociedade e deixar de produzir poluição.

Há duas possíveis respostas para essa situação:

A sociedade pode subsidiar a adoção de uma nova tecnologia que gere menos poluição.
O governo pode multar a indústria.

Essas soluções mudam os incentivos da indústria, dando a ela motivos para poluir menos. No entanto, as
possíveis soluções vão depender da intervenção do Estado.

Assim, quando os mercados não funcionam corretamente, a ação do governo pode tornar o resultado mais
próximo de algo eficiente, mudando a forma de alocar recursos na sociedade.

Em geral, o mercado não funciona corretamente quando há externalidades. Também há uma falha quando o
bem em questão não consegue ser eficientemente administrado pelo mercado.

Por exemplo, vamos pensar na iluminação pública. Não precisamos pagar para passar sob um poste de luz
na rua, o que diminui o incentivo a contribuir para a provisão do serviço. Esse último caso é conhecido
como bem público.

Por fim, alguns agentes econômicos podem ter poder de mercado, como uma firma monopolista, que
poderá restringir o uso de recursos por outros indivíduos para maximizar seu lucro individual.

Variáveis endógenas e exógenas


O objetivo de um modelo econômico é demonstrar como as variáveis exógenas afetam as endógenas.

As variáveis endógenas são aquelas que o modelo tenta explicar. Já as variáveis exógenas são as que o modelo
toma como dadas.

A imagem a seguir representa um esquema mais intuitivo para essas variáveis:

Modelo econômico.

Como explicitado na imagem anterior, as variáveis exógenas são determinadas fora do modelo, servindo como
insumo, enquanto as endógenas são determinadas dentro do modelo: são seu resultado.

Considere um produtor de cogumelos. A demanda por seus cogumelos vai depender de seu preço e da renda dos
consumidores. A oferta, por sua vez, vai depender dos preços do cogumelo e dos insumos utilizados na produção.

O equilíbrio acontece quando oferta e demanda se igualam. Nesse caso, as variáveis exógenas são a renda
individual e o preço dos insumos, e a variável endógena será o preço do cogumelo.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1
Marcela pode viajar do Rio de Janeiro para São Paulo de ônibus ou de avião. A viagem de ônibus custa
R$100,00 e dura 6 horas. A viagem de avião custa R$200,00 e dura 1 hora. Enquanto está viajando ― de ônibus
ou de avião ―, Marcela não pode trabalhar e deixa de ganhar R$30,00 por hora.

Faça uma análise econômica da situação e assinale a alternativa incorreta:

A A viagem de ônibus é mais barata. Portanto, Marcela deve ir de ônibus.

B O custo total da viagem de avião é menor do que o da viagem de ônibus.

C O custo total da viagem de avião é de R$230,00.

D O custo total da viagem de ônibus é de R$280,00.

E A redução da renda de Marcela é maior quando ela viaja de ônibus.

Parabéns! A alternativa A está correta.

Viajar de ônibus tem um custo monetário menor do que viajar de avião, mas devemos levar em conta o custo
de oportunidade. Ao optar pelo ônibus, Marcela gastará R$100,00 e perderá R$180,00 (= R$30,00 x 6 horas).
Dessa forma, o custo real para Marcela ir de ônibus é de R$280,00. Ao optar por viajar de avião, Marcela
pagará R$200,00 pela passagem e perderá R$30,00 pela hora de viagem. Assim, o custo real para a viagem de
avião é de R$230,00, enquanto o custo total para a viagem de ônibus é R$ 280,00. Em outras palavras, o custo
real da viagem de ônibus é maior do que da viagem de avião.

Questão 2

Sobre a economia de mercado, assinale a resposta correta:

A Os mercados são sempre eficientes.

Os recursos de uma economia são usados de forma eficiente, ainda que haja oportunidade de
B
melhorar a situação de cada indivíduo.
C Há um dilema entre eficiência e equidade.

Um mercado está em equilíbrio quando os agentes econômicos querem mudar de


D
comportamento.

E Os mercados são eficientes na presença de externalidades.

Parabéns! A alternativa C está correta.

Vamos analisar as alternativas:

A) A alternativa está incorreta. Embora os mercados sejam frequentemente eficientes, na presença de


externalidades, bens públicos ou poder de mercado, eles falham.

B) A alternativa está incorreta. Por definição, eficiência é uma situação em que não há possibilidade de
melhorar a situação de uma pessoa sem piorar a de outra. Portanto, a alternativa está incorreta.

C) A alternativa está correta. Embora eficiência seja um conceito com o qual os economistas se preocupam,
existem outros extremamente relevantes, como justiça e equidade. No geral, há um dilema entre justiça e
eficiência, uma vez que diversas situações justas podem ser ineficientes, como o exemplo do assento
preferencial.

D) A alternativa está incorreta. Por definição, um mercado está em equilíbrio quando os seus participantes não
podem melhorar mudando individualmente suas ações.

E) A alternativa está incorreta. Externalidades podem gerar alocações de mercado ineficientes porque alguns
agentes econômicos não levam em consideração todos os impactos de suas ações.
2 - História do pensamento econômico
Ao final deste módulo, você será capaz de descrever uma breve história do pensamento econômico.

Origem da Ciência Econômica


No módulo anterior, falamos sobre a Economia enquanto ciência contemporânea. Mas até se tornar o que é
atualmente, a ciência econômica passou por diversas transformações. Não há consenso a respeito de quando o
pensamento econômico começou.

Embora a maior parte das pessoas só tenha ouvido falar de Economia como ciência a partir de Adam Smith, pode-
se argumentar que, nas formas mais rudimentares de civilização, já existia algum tipo de pensamento econômico,
partindo do pressuposto de que seres racionais já se preocupavam com seu sustento.

É ingênuo pensar que uma civilização antiga como a egípcia, que era caracterizada pela produção e distribuição de
parte dos recursos, não tenha desenvolvido algum tipo de ideias econômicas, especialmente quando se considera
a existência de comércio (em forma de troca) com outras nações e a propensão egípcia a manter registros
escritos.

Na Grécia Antiga, Platão já contribuía para o pensamento econômico tocando alguns conceitos como a divisão do
trabalho, a teoria da moeda, a produção como base da riqueza do Estado (na época, Cidade-Estado) e até a
propriedade comum. Seu discípulo Aristóteles também contribuiu no campo, sistematizando sua teoria, mas se
opunha a seu mestre no tópico da propriedade comum.

A Idade Média representa um período de transformações na estrutura da sociedade, e grandes transformações


costumam vir acompanhadas de novas ideias.

Seguindo a queda do Império Romano, cuja economia era escravocrata e latifundiária, o período deu origem à
forma de organização econômica conhecida como feudalismo. Trabalho e terra passaram a ser transferidos e não
mais vendidos.

O feudalismo sofreu muitas transformações ao longo da Idade Média, atingindo seu auge por volta do século X.

O desenvolvimento de novas técnicas agrícolas aumentou a produtividade das terras, e a


Europa vivenciou um período de estabilidade que permitiu o crescimento populacional e
a formação de cidades. Essa combinação de fatores deu origem ao mercador
independente.

A Igreja Católica se tornou a instituição dominante na Europa e, portanto, quase todos os acadêmicos e escritores
ocidentais do período eram clérigos.

Escolásticos
Nos primeiros anos da Idade Média, os escritores cristãos tinham uma abordagem puramente ética do estudo
econômico. Sua aversão ao comércio e à propriedade baseava-se na convicção de que a busca pela riqueza os
desviaria do “caminho da graça”.

Os estudiosos da economia medieval ficaram conhecidos como escolásticos, e seu principal expoente foi Tomás
de Aquino.
Aquino buscou assimilar a filosofia aristotélica ao cristianismo. Recorrendo aos argumentos éticos e econômicos
de Aristóteles, ele pôde justificar a propriedade privada defendendo obrigações para o proprietário individual, desde
que atendesse aos interesses da comunidade.

Ele desenvolveu ideias a respeito do valor de um bem, introduzindo uma teoria do salário justo e do preço justo,
esboçando uma noção de justiça distributiva e condenando a cobrança dos juros e da usura.

Seus interesses chegavam à Economia somente a partir de questões morais e éticas, não tratando, dessa maneira,
os assuntos econômicos como um fim em si.

Dentre as principais contribuições dos escolásticos para o pensamento econômico, podemos


citar dois elementos: uma ênfase na utilidade como principal fonte de valor e a noção de preço
justo.

Esse período é considerado como a pré-história do pensamento econômico e começou a desaparecer no século
XVI com a revolução científica que se iniciou na Europa.

O Renascimento deixava suas marcas no pensamento das ciências naturais e políticas e influenciaria diretamente
o desenvolvimento do pensamento econômico.

Surgimento da Economia política


As bases para o capitalismo industrial moderno também haviam sido estabelecidas. A classe mercantil
enriqueceu, a aristocracia e o clero começaram a perder influência, a expansão do comércio proporcionou o
surgimento de centros comerciais e industriais, e universidades foram criadas.
A esfera de produção se transformou, com os comerciantes deixando de ser apenas fornecedores de matérias-
primas e se tornando também detentores de meios de produção e empregadores de mão de obra. A alta inflação
vigente na Europa no período também influenciou o pensamento econômico.

Nesse período pré-mercantilismo, Jean Bodin esboçou a primeira teoria quantitativa da moeda, em sua Resposta
aos Paradoxos de Malestroit (Réponseaux Paradoxes de M. de Malestroit, 1568), afirmando que a principal causa do
aumento dos preços era o aumento do ouro e da prata em circulação.

A revolução cultural e científica proporcionou a ascensão de uma abordagem de pensamento secular no lugar da
religiosa. No campo da Economia, não foi diferente: ela passou a se emancipar da ética e da filosofia política.
Influenciado pelo crescimento dos Estados-Nação e pelos trabalhos de pensadores como Maquiavel, Hobbes e
Locke, o pensamento econômico deixou de se preocupar apenas com o comportamento de agentes econômicos
individuais e passou a examinar também o Estado. Assim, foram estabelecidos os pilares para o pensamento
econômico moderno.

Emergiu uma nova disciplina como ciência: a Economia Política, cujo objeto de estudo era a atividade pública,
tratando da acumulação e do gerenciamento da riqueza, a fim de aumentar a eficiência do Estado.

Agora, o conhecimento passava a ser baseado nos aspectos individuais e empíricos dos objetos.

Sir William Petty é considerado um dos pais da economia política moderna, pois foi um defensor e expoente do
método empírico e quantitativo.

Mercantilistas
Outra fase de transformações ocorreu durante o Mercantilismo. No campo do pensamento econômico, foram
propostas ideias de um sistema comercial restritivo com o objetivo de aumentar a prosperidade econômica de
uma nação.

Os pensadores do período podem ser divididos entre:

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Bulionistas (metalistas)

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Mercantilistas
O primeiro grupo (bulionistas ou metalistas) defendia a regulamentação do câmbio. Por não entenderem a teoria
do comércio internacional, enxergavam qualquer saída de metais preciosos como uma desvantagem. Desse modo,
advogaram pela proibição da exportação de qualquer espécie que tivesse como consequência a saída de ouro e
prata da nação, assim como a proibição de importações, especialmente de mercadorias de luxo, que envolviam
pagamentos na forma de metais preciosos. Em contrapartida, defendiam a exportação de mercadorias, como bens
manufaturados, cujos pagamentos significavam a entrada de metais preciosos em seus países.

O segundo grupo (mercantilistas) acreditava que havia a necessidade de incentivar a troca de mercadorias,
buscando alcançar uma balança comercial favorável, isto é, o país deveria exportar mais do que importar.

Ficou claro que a Economia passara a ser Política, influenciada por um envolvimento maior do Estado. A nação
passou a ser vista como uma grande empresa comercial, o que acarretou a defesa e a adoção de políticas
protecionistas.

Em geral, o pensamento mercantilista dialogava com o poder do Estado, com ideias de unidade nacional, e seus
objetivos eram identificados com a riqueza de uma nação.

Atenção!
Algumas teorias sobre a conceituação do valor e teorias monetárias sobre o papel dos juros na economia também
foram esboçadas nessa época. Os principais contribuintes para o pensamento econômico da época foram:
Thomas Mun, Antonio Serra e Edward Misselden.

Contudo, a posição teórica mercantilista foi se tornando inadequada frente à acumulação capitalista e ao seu
controle sobre a produção, com a difusão do comércio e da competição, que resultaram em uma queda dos lucros.

Nasceu uma classe capitalista de mestres artesãos que controlava a produção, em conflito com os interesses dos
comerciantes. Essas mudanças foram acompanhadas por uma mudança radical na maneira de conceber os fatos
econômicos.

A intervenção do Estado na economia passou a ser vista com suspeita, e a ideia de que o lucro se originava na
esfera de produção começou a se disseminar. Para prosperar, a nova classe de empresários capitalistas precisava
abrir mão dos laços morais e ideológicos tradicionais.

A partir do final do final do século XVII, a celebração do individualismo, em conjunto com o


desenvolvimento da ética protestante, legitimou a usura e a atividade econômica.

Entre os economistas da época, começou a se disseminar a noção de que restrições administrativas na produção
criavam mais desvantagens do que vantagens para a coletividade. Passaram a defender a intervenção do Estado
apenas no reconhecimento e na proteção ao direito de propriedade.
Os autores desse período foram os precursores da Economia Política Clássica.

Precursores da Economia Política clássica


Influenciados pela Política Aritmética de Sir William Petty, publicada em 1690, que marcou o início do pensamento
precursor da economia política clássica, iniciou-se uma crítica ao pensamento mercantilista prévio. Dudley North e
Mandeville atacaram o protecionismo do Estado e defenderam o livre comércio.

A ênfase mercantilista em uma balança comercial positiva também foi criticada: o comércio internacional não
poderia ser uma fonte de perda para nenhuma das partes, uma vez que, sendo uma atividade voluntária, não
ocorreria em primeiro lugar se não gerasse ganhos para todos.

A teoria também avançou em outros aspectos. Richard Cantillon propôs que a terra era a principal fonte de riqueza,
e que essa riqueza seria produzida com o poder do trabalho empregado. Além disso, distinguiu o valor intrínseco
do valor de mercado dos bens, o que foi considerado um esboço da teoria de preço e custo.

Na França do final do século XVIII, os conceitos pós-mercantilistas foram sofisticados por um grupo de pensadores
que ficaram conhecidos como fisiocratas, encabeçados por François Quesnay.

As principais contribuições da escola fisiocrata para o pensamento econômico moderno consistem na rejeição do
conceito mercantilista de riqueza por meio da troca e no reconhecimento da produção como fonte de riqueza, na
invenção do termo e da política do laissez faire, laissez passer, e no Tableau Economique (1759), principal obra de
Quesnay.

Interessado em transformar o setor agrícola em indústria capitalista eficiente, o autor apresentou um modelo
quantitativo da produção de mercadorias. Ao fazer uma distinção entre trabalho produtivo e improdutivo, apontou
uma fonte de riqueza no excedente que a terra é capaz de produzir, que seria advinda do fato de que nela se produz
mais do que se consome.
Quesnay foi precursor da acumulação de capital. Seu trabalho também traz a ideia de interdependência entre os
setores da economia e a inovadora representação de trocas como um fluxo circular de dinheiro e bens. Desse
modo, os fisiocratas foram os primeiros a tentar analisar, de maneira sistemática, a circulação da riqueza na
economia.

O filósofo David Hume também fez valiosas contribuições ao pensamento econômico. Embora não tenha
estruturado suas ideias de maneira sistemática, como os pensadores que viriam depois, suas obras tiveram grande
influência na filosofia geral encontrada posteriormente no trabalho de Adam Smith.

Suas principais ideias econômicas envolviam o destaque ao trabalho, bem como a atenção a oscilações e
mudanças na economia, e apontaram a inter-relação de fatos econômicos com outras forças sociais.

Na parte monetária, descreveu o mecanismo pelo qual uma mudança na quantidade de moeda em circulação
alteraria o valor do dinheiro na economia ― assunto debatido até os dias atuais.

Economia Política clássica


Economia clássica é o nome dado ao sistema de teoria econômica que foi desenvolvido a partir do final do século
XVIII, iniciado com a publicação do livro Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações,
mais conhecido simplesmente por A Riqueza das Nações, de Adam Smith, em 1776. Mas o que torna sua obra tão
importante?

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A teoria clássica proposta nesse período contrastou fortemente com as tendências anteriores do pensamento
econômico. Embora tenham assimilado diversos conceitos estabelecidos por seus antecessores, os clássicos
identificaram falhas em todas as soluções propostas previamente para os problemas econômicos.

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Uma das principais discrepâncias é que os clássicos viam como positivos os resultados que decorriam
naturalmente das forças econômicas. Nesse período, surgiu a noção de uma “mão invisível do mercado”, de forças
que naturalmente convergiriam para um equilíbrio eficiente, sem necessidade de intervenção estatal.

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A visão clássica de um sistema econômico harmonioso destoava das crenças mercantilistas e escolásticas de que
o mercado era caracterizado por desequilíbrios que exigiam intervenções e restrições. Essa visão otimista do
funcionamento dos mercados é um dos principais traços do pensamento clássico.

Outra característica é seu interesse no crescimento econômico. Essa preocupação os levou a estudar os mercados
e o sistema de preços sob a ótica da alocação de recursos. Os economistas clássicos estudaram a formação de
mercados e preços relativos para entender seu impacto no crescimento econômico.

Teóricos da Economia Política Clássica


Alguns dos principais teóricos da Economia Política Clássica, além de Adam Smith, são Thomas Malthus, David
Ricardo e John Stuart Mill. Conheça um pouco mais as suas contribuições:

Adam Smith expand_more

Um dos principais diferenciais de Adam Smith em relação aos autores que lhe antecederam foi o fato de
que ele se empenhou em construir sua teoria de forma sistemática. Em A Riqueza das Nações, ele lançou as
bases da teoria econômica clássica de livre mercado.

Suas principais contribuições para o campo do pensamento econômico envolvem o desenvolvimento do


conceito de divisão do trabalho e a exposição de que o interesse individual racional e a concorrência podem
conduzir ao desenvolvimento econômico. Além disso, suas obras também tocaram temas como a teoria do
valor, passando por conceitos de excedente, teoria dos salários e distribuição.

Os escritos de Smith tocaram uma infinidade de temas, uma vez que a Macroeconomia da época se
preocupava com um escopo mais amplo dos determinantes do crescimento ― não apenas com fatores
econômicos, mas com fatores culturais, políticos, sociológicos e históricos.

Thomas Malthus expand_more

Thomas Malthus, mais conhecido por sua teoria da população, também contribuiu para o pensamento
clássico. Em suas obras, discorreu sobre distribuição de renda e consumo improdutivo e apontou os riscos
de uma crise de superprodução frente à falta de demanda ― ideia que foi retomada por Keynes quase um
século depois.

David Ricardo e John Stuart Mill expand_more

David Ricardo, contemporâneo de Thomas Malthus, acrescentou à teoria econômica a noção de que há
ganhos na troca internacional para as duas partes que estão comercializando, mesmo que uma seja mais
competitiva que a outra.

Em outras palavras, mesmo que uma das partes consiga produzir mais de todos os bens com a mesma
quantidade de recursos, é economicamente vantajoso para as duas partes comercializar bens. Essa ideia
foi aprimorada posteriormente por John Stuart Mill sob a forma de vantagens comparativas.

Os escritos de Ricardo trataram de muitos outros tópicos, como as teorias do valor, dos salários, lucros e aluguel,
da acumulação, do desenvolvimento econômico e de moeda e bancos. Ricardo também levantou a questão sobre
as leis naturais que determinariam a distribuição do produto entre as classes da sociedade.

Foi ainda nesse período que as noções de utilitarismo começaram a ser desenvolvidas, sendo posteriormente
incorporadas à teoria econômica. O utilitarismo, de maneira geral, afirma que ações que maximizam felicidade e
bem-estar são boas, e que a utilidade é uma propriedade de um bem ou objeto capaz de produzir um benefício ou
prazer.

Jeremy Bentham e John Stuart Mill foram alguns dos filósofos a desenvolver esse conceito. Mill é considerado o
último dos grandes economistas clássicos do período.

tilitarismo
Essa teoria afirma, de maneira geral, que quando ações maximizam felicidade e bem-estar, elas são boas; e que a
utilidade é uma propriedade de um bem ou objeto capaz de produzir um benefício ou prazer.

Evolução do pensamento econômico clássico

Evolução do pensamento econômico clássico


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Evolução do pensamento econômico clássico
Para reforçar seu aprendizado nesta etapa de estudos, ouça o podcast a seguir.

Pensamento econômico socialista


O período em que se desenvolveu a escola clássica de pensamento econômico foi, ao mesmo tempo, uma época
de crescimento econômico e desenvolvimento teórico, e de intenso conflito entre as classes de trabalhadores e
capitalistas.

O fim das guerras napoleônicas, o movimento trabalhista que se desenvolveu a partir do ludismo e as revoluções
de 1848 influenciaram as correntes de pensamento do período.

Enquanto para os economistas clássicos como Smith, Ricardo e Mill o capitalismo significava uma expansão da
produção, aumento da riqueza e troca econômica entre as nações, outros não viam esse sistema econômico com
o mesmo entusiasmo.

Malthus já apresentava uma visão mais pessimista, argumentando que, nesse sistema,
não seria permitido ao trabalhador receber mais que um salário de subsistência ― uma
crença compartilhada por Ricardo e alguns outros economistas clássicos.

A derrota da classe trabalhadora no movimento de 1848 encerrou um ciclo de luta que havia durado mais de 30
anos e inaugurou uma fase de hegemonia cultural burguesa e crescimento econômico.

Para os trabalhadores da época, essa fase inicial do capitalismo significava arcar com os custos da expansão da
produção: condições perigosas ou insalubres de trabalho, desemprego e longas horas de trabalho duro. O contexto
era terreno fértil para o surgimento de novas ideias.

Duas escolas de pensamento se opuseram à ordem social e econômica vigente:

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Escola Histórica Alemã

Pensamento que faz uma crítica radical da economia e da política clássica.


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Movimento Socialista

Pensamento social e econômico revolucionário conhecido como marxismo.

Nesse período, muitas teorias socialistas novas e alternativas foram elaboradas, destacando-se a grande síntese
da crítica de Marx à Economia Política Clássica.

Embora Marx reconhecesse os méritos científicos dos grandes economistas clássicos ingleses, considerava a
Economia Política Clássica como uma expressão teórica da burguesia no período em que o capitalismo se
afirmava.

Marx desenvolveu sua teoria com forte ênfase no conflito de classes, acusando a burguesia de cooptar as
necessidades de toda a sociedade para combater a aristocracia e, depois, estabelecer-se como classe dominante,
apresentando seus interesses próprios como coletivos e o espírito da acumulação privada de capital como
instrumento para fazer crescer a riqueza nacional.

Segundo a crítica de Marx, o sistema teórico clássico se baseou na análise de classe sociais, até que essa análise
deixasse de ser útil, ou seja, quando a burguesia alcançasse o poder ― momento em que as teorias de harmonia de
interesses e de fatores produtivos se tornaram mais úteis. Nesse sentido, a herança científica da Economia Política
Clássica estava comprometida e deveria passar, agora, aos economistas socialistas.

Marx buscou identificar os limites da Economia Política Clássica a fim de criticá-la. Ele diferiu desse grupo de
economistas quanto ao pano de fundo filosófico: Marx não era utilitário, empirista ou baseado em leis naturais da
Filosofia.

Dentre as críticas feitas por Marx aos economistas clássicos, três se sobressaíram, listando a incapacidade dos
clássicos de:

explicar a natureza do lucro e do capital;


reconhecer o caráter histórico do capitalismo;
reconhecer o caráter exploratório do modo de produção capitalista ― o que os levou a focar sua atenção nas
relações de troca em vez da produção.
Revolução marginalista ou utilitarista
O final do século XIX testemunhou o nascimento da teoria microeconômica moderna. Essa época foi marcada pela
elaboração de um conjunto de ferramentas analíticas que transformaram a economia clássica em neoclássica.

A análise marginal, atualmente presente nos livros-texto de Microeconomia, pode ser


considerada a mais importante dessas ferramentas. A Matemática foi incorporada de
maneira definitiva na análise econômica.

Jevons, Menger e Walras são alguns dos principais nomes associados a essa mudança radical na forma de
conceber a teoria econômica.

À medida que a teoria marginalista se desenvolveu, a estrutura da teoria econômica se modificou, de modo a
elaborar um sistema muito diferente do exposto pela economia clássica.

O interesse no crescimento econômico dos economistas clássicos deu lugar ao interesse na alocação dos
recursos. O centro do sistema neoclássico girava em torno do problema da alocação de recursos escassos, dados
os seus possíveis usos alternativos.

Os marginalistas aceitavam a abordagem utilitarista e, a partir dela, reformularam a análise do comportamento


humano, que foi construído a partir de cálculos racionais, visando à maximização da utilidade individual.

Atenção!

Isso revela outra face distinta da abordagem neoclássica: A mudança no agente econômico como objeto de
análise.

Os clássicos tinham como objeto principal agentes econômicos coletivos, como as classes sociais e o governo. Os
marginalistas, por sua vez, concentravam-se em agregados sociais mínimos: a unidade tomadora de decisão,
como consumidores, famílias ou firmas.

Ortodoxia neoclássica
A revolução marginalista se espalhou pelo mundo ocidental, impactando significativamente o pensamento
econômico. No contexto político-econômico, a Europa Ocidental experimentava um momento de desenvolvimento
industrial e capitalista. Em conjunto, esses fatores estabeleceram as bases para a economia neoclássica.

Alfred Marshall foi um matemático que ofereceu uma enorme contribuição ao pensamento econômico com a
publicação de seu livro Princípios de Economia (1890). Sua obra pode ser entendida como uma reformulação geral
da teoria econômica produzida até então, sintetizando a análise clássica e a abordagem marginalista de custo e
utilidade, elaborando um mecanismo de análise econômica.

Uma de suas principais contribuições ao campo foi sua análise de equilíbrio parcial, que conseguiu unir várias
partes da teoria econômica, até então analisadas separadamente.

Marshall fez a importante distinção entre os períodos da economia, diferenciando o curto do longo prazo.

Ele introduziu e aprimorou uma série de conceitos que são utilizados na análise econômica, desde propriedades da
curva de demanda, distinção de retornos crescentes e decrescentes, e maximização do bem-estar – temas
abordados até os dias atuais em cursos de Economia.

Curiosidade

O americano Irving Fisher também utilizou a Matemática de forma extensiva em sua análise econômica. No
entanto, seu trabalho estava voltado para a Macroeconomia. Ele propôs a versão mais conhecida da equação
quantitativa da moeda, e sua contribuição central para a teoria econômica foi a teoria sobre juros – há até uma
Equação de Fisher, batizada em sua homenagem.

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As transformações da revolução marginalista e da ortodoxia
neoclássica para a economia
Assista ao vídeo a seguir para conhecer alguns aspectos essenciais sobre o assunto.
Economia keynesiana
A Primeira Guerra Mundial foi um conflito de dimensões até então desconhecidas pela humanidade. Na esfera
econômica, seus impactos envolveram a interrupção do comércio e de pagamentos internacionais, e levaram
governos a realizar intervenções econômicas até então inimagináveis. Foi feita uma produção de larga escala para
atender necessidades de guerra, gerando enormes dívidas nacionais.

O grau de profundidade das crises vivenciadas no período entre guerras não tinha precedentes. Eclodiu a crise
econômica de 1929. O desemprego atingiu níveis recordes e se tornou persistente. O descontentamento social não
tardou a aparecer, e a tradição clássica ortodoxa de pensamento econômico não estava preparada para lidar com
essa situação.

O pensamento neoclássico havia se estruturado em torno da Lei de Say, que previa que o pleno emprego era o
estado normal de funcionamento da economia. Se houvesse um afastamento do nível de emprego considerado
normal, não seria de grande magnitude, e o próprio sistema econômico providenciaria uma resposta que faria o
emprego retornar ao seu nível normal.

No entanto, a realidade parecia bastante distante do que previa o pensamento econômico. Não apenas a
ociosidade na força de trabalho e da capacidade da indústria alcançaram proporções incomuns, como também
havia poucos indícios de que a situação estava caminhando para se corrigir.

Comentário

Apesar da enorme distância entre as premissas neoclássicas e os eventos do mundo real, os economistas
neoclássicos ofereciam uma justificativa para essas supostas anormalidades no funcionamento da economia. A
persistência dos altos níveis de desemprego poderia ser explicada pela rigidez no sistema econômico, que
paralisava o mecanismo de ajuste natural.

Segundo eles, a inflexibilidade dos salários, causada, principalmente, pela estrita adesão ao salário mínimo por
influência dos sindicatos, não permitia que a economia seguisse sua trajetória natural. Do contrário, se os salários
baixassem, empregadores contratariam mais trabalhadores, e a economia voltaria ao nível de pleno emprego.

No início do século XX, a análise econômica retomou o interesse dos economistas clássicos em economia
agregada, ou seja, nas teorias macroeconômica e monetária.
John Maynard Keynes, um economista britânico, revolucionou as esferas acadêmica e política com as ideias que
propôs em seu livro A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. O pensamento keynesiano, com ênfase na
política fiscal, foi tão influente que dominou a política econômica dos EUA e de diversas outras nações ocidentais
do período.

De certa forma, as ideias de Keynes se assemelham em vários aspectos às escolas que antecederam os
economistas clássicos – a mercantilista e a fisiocrata. A ideia de que a poupança tende a causar baixo consumo e
depressão econômica, interrompendo o fluxo circular da renda, já havia sido apontada por economistas anteriores
a Adam Smith e seus seguidores.

Keynes também rompeu com a escola clássica em sua descrença na Lei de Say: à diferença dos clássicos, ele não
acreditava que a oferta cria sua própria demanda.

Dentre as principais ideias expressas em sua teoria geral, estão:

A teoria da preferência pela liquidez ― que ofereceu uma explicação para os determinantes da taxa
de juros sob a ótica do mercado de moeda.

A teoria da demanda efetiva.

A noção de um efeito multiplicador na economia ― devido ao componente do consumo na renda.


A relação entre poupança e investimento.

Boa parte desses conceitos está presente nos cursos contemporâneos de Macroeconomia.

As ideias desenvolvidas por Keynes representaram uma mudança na meta da política pública: de estabilização dos
preços em valores altos para manutenção do nível de renda e emprego.

Economia depois de Keynes


Entre as décadas de 1940 e 1970, muitos economistas aprimoraram as ideias de Keynes, enquanto alguns se
opuseram a elas.

A influência mais importante do trabalho de Keynes foi sua incorporação em forma de síntese na estrutura geral de
princípios econômicos aceitos. Uma das maiores contribuições nesse aspecto foi o livro Fundamentos da Análise
Econômica (1947), de Paul Samuelson. Essa obra explicava as ideias e os princípios do pensamento econômico
em conjunto com os princípios ortodoxos dos economistas neoclássicos.

Outros, no entanto, discordavam de Keynes, como Milton Friedman, um grande defensor da eficiência dos
mercados e da interferência mínima dos governos. Uma de suas maiores contribuições para a economia foi sua
teoria da renda permanente.

No período subsequente, durante as décadas de 1970 e 1980, outras teorias ganharam força: a teoria das
expectativas racionais, de Robert Lucas, e as ideias da economia pelo lado da oferta. Ambas as teorias se utilizam
das premissas neoclássicas básicas e desafiam as proposições teóricas da economia keynesiana.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Sobre a economia política clássica, é falso afirmar que:

A teoria clássica contrasta fortemente com as tendências anteriores do pensamento


A
econômico.

B Adam Smith foi o primeiro a escrever um livro sobre teoria econômica.


David Ricardo acrescentou à teoria econômica a noção de que há ganhos na troca
C
internacional para as duas partes que estão comercializando, mesmo que uma seja mais
competitiva que a outra.

D Foi nesse período que as noções de utilitarismo começaram a ser desenvolvidas.

E Thomas Malthus contribuiu para o pensamento clássico com a teoria da população.

Parabéns! A alternativa B está correta.

Vamos analisar as alternativas:

A) Verdadeira

A visão clássica de um sistema econômico harmonioso destoa das crenças mercantilistas e escolásticas de
que o mercado é caracterizado por desequilíbrios que exigem intervenções e restrições. Essa visão otimista
do funcionamento dos mercados é um dos principais traços do pensamento clássico.

B) Falsa

Outros antes de Adam Smith desenvolveram ideias econômicas em forma de livro, como, por exemplo,
Quesnay com seu Tableau Economique. O diferencial de Smith em relação aos demais autores que lhe
antecederam, e que o faz ser considerado “o pai da Economia Moderna”, foi o fato de que ele se empenhou em
construir sua teoria de forma sistemática.

C) Verdadeira

Essa ideia foi aprimorada posteriormente por John Stuart Mill sob a forma de vantagens comparativas.

D) Verdadeira

Jeremy Bentham e John Stuart Mill foram alguns dos filósofos a desenvolver esse conceito, posteriormente
incorporado à Microeconomia pelos marginalistas.

E) Verdadeira.

Malthus estudou a relação entre o crescimento populacional e a capacidade produtiva da economia.

Questão 2

Sobre a economia keynesiana, podemos afirmar que:


A As ideias de Keynes se assemelham às ideias dos economistas clássicos.

B Keynes concordava com a Lei de Say.

As ideias de Keynes, com ênfase em política fiscal, surgiram em um contexto no qual a


C
realidade parecia bastante distante do que previa o pensamento econômico.

O pensamento de Keynes representou uma mudança na meta da política pública de


D
estabilização do emprego para uma política de estabilização dos preços.

Keynes entendia que apenas aumentando a oferta de bens e serviços a economia poderia
E
crescer.

Parabéns! A alternativa C está correta.

Vamos analisar as alternativas:

A) A alternativa está incorreta. As ideias de Keynes rejeitavam a economia política clássica de não intervenção
do Estado na economia e se assemelhavam em vários aspectos às escolas que o antecederam.

B) A alternativa está incorreta. O economista britânico rejeitava a ideia de que a oferta cria sua própria
demanda.

C) A alternativa está correta. O pensamento de Keynes foi tão influente no contexto entre guerras que dominou
a política econômica dos EUA e de diversas outras nações ocidentais do período.

D) A alternativa está incorreta. Suas ideias representaram justamente uma mudança no sentido contrário: a
meta da política pública mudou de estabilização dos preços para estabilização do nível de renda e emprego
em valores altos.

E) A alternativa está incorreta. Keynes entendia que uma expansão da demanda alcança o crescimento
econômico.
3 - Pesquisa econômica atual
Ao final deste módulo, você será capaz de descrever a agenda de pesquisa econômica atual.

Caminhos da pesquisa econômica


A pergunta que você deve estar se fazendo neste momento é:

Para onde vamos e para onde caminhamos: o que tem sido feito na pesquisa econômica?

Como vimos ao longo deste conteúdo, a Economia como ciência teve sua origem há muitos séculos. Ao longo
dessa trajetória, passou por transformações em seu objeto de análise, seu método e sua abordagem teórica, sendo
diretamente influenciada pelos contextos sociais e políticos da época em que seus teóricos viveram.

Mais recentemente, no século XX, a Economia consolidou o ferramental matemático como instrumento de análise,
que a distingue das demais Ciências Sociais, subdividindo-se em duas grandes áreas:

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Macroeconomia

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Microeconomia
De forma mais específica, você deve estar se perguntando:

Mas e atualmente, como está a ciência econômica?

Ela tem o mesmo enfoque e os mesmos métodos de antigamente?

Quais campos têm sido estudados pela Economia, e o que tem sido pesquisado?

Pensando em todas essas questões, vamos apresentar algumas áreas da Economia que não são muito
conhecidas fora da profissão. Citaremos também alguns grandes economistas dos últimos tempos.

Ao longo dos anos, conforme a ciência econômica foi se desenvolvendo, novas áreas foram surgindo,
principalmente na Economia Aplicada.

Os economistas, em vez de focarem nas relações econômicas tradicionais como objeto de estudo, passaram a
aplicar as teorias desenvolvidas e o ferramental econômico em outras áreas, como educação, saúde,
desenvolvimento, política e meio ambiente.

Essas novas áreas de pesquisa, muitas vezes, deixam de fazer uma clara distinção entre Macro e Microeconomia,
juntando, inclusive, algumas das áreas citadas, como veremos.

Teoria dos Jogos


Como vimos ao longo dos módulos anteriores, a ciência econômica busca analisar as decisões individuais, e como
indivíduos tomam decisões ótimas.

O campo da Teoria dos Jogos tem como interesse situações em que os indivíduos se comportam
estrategicamente, isto é, como os indivíduos vão realizar escolhas quando as escolhas dos outros interferem no
resultado.

Exemplo

Um dos exemplos clássicos é o famoso dilema dos prisioneiros.

Dois criminosos foram presos pela polícia, que os interroga em salas separadas. Caso apenas um dos criminosos
confesse individualmente, o confessante é libertado imediatamente pela sua colaboração, e o outro tem uma pena
maior (três anos de prisão). Caso ambos confessem, eles são condenados a uma pena igual: dois anos de prisão.
Se nenhum dos dois confessar, eles receberão apenas uma pena por um crime menor (um ano de prisão).
Qual será a decisão individual? Qual será o resultado? Claramente, a ação de um dos criminosos influencia no
resultado do outro.

Os pioneiros da área são os matemáticos John Von Neumann, John Nash e o economista Oskar Morgenstern.

O desenvolvimento da Teoria dos Jogos foi uma revolução em Economia, embora a área seja considerada nova, ao
abordar problemas cruciais por meio de modelos matemáticos.

Por exemplo, a Economia Neoclássica tinha grande dificuldade em lidar com a competição imperfeita, como
oligopólios. Com o crescimento da Teoria dos Jogos, foi possível modelar o comportamento competitivo dos
agentes.

Além disso, a Teoria dos Jogos tem uma vasta gama de aplicações, sendo usada em Economia, Psicologia,
Biologia Evolucionária, Guerras e Política.

ohn Nash
Viveu entre 1928 e 2015. Foi ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 1994 pelo que ficou conhecido como
Equilíbrio de Nash: uma situação que, se alcançada, faz com que nenhum agente veja vantagem em alterar
individualmente seu comportamento.

Economia política
Como vimos no Módulo 2, a Economia Política como campo de estudo é antiga. Contudo, a atividade de sua
vertente contemporânea é bem distinta da de antigamente. Nos dias atuais, a pesquisa estuda escolhas de
políticas públicas, como são realizadas por políticos, que, por sua vez, são escolhidos por eleitores que compõem
uma sociedade (democrática ou não).

Uma de suas grandes contribuições foi mostrar que, para explicar resultados econômicos, é preciso olhar além de
preços e renda, analisando, também, a História e a Sociologia.

Um dos fundadores da área como a conhecemos atualmente é o italiano Alberto Alesina. Em seus trabalhos, ele
atentou para os seguintes aspectos:

esultados econômicos
O grau de pobreza ou riqueza dos países ou o sucesso de imigrantes em alguns lugares, e não em outros.

O fato de que ciclos eleitorais podem gerar comportamento cíclico na atividade econômica.
Como fatores políticos levavam a um acúmulo de dívida pública maior do que o socialmente desejável.
Como a independência dos bancos centrais em relação a pressões políticas era um fator preponderante para a
estabilidade macroeconômica.

Alesina estabeleceu como a desigualdade de renda poderia ser prejudicial ao crescimento econômico, ao
desencadear conflitos políticos redistributivos, e trouxe o estudo da cultura como um grande determinante de
resultados políticos e econômicos.

Segundo ele, as mesmas variáveis culturais, sociológicas e históricas que influenciam nas escolhas de
determinadas formas de instituições podem estar correlacionadas com a política fiscal. Perguntas como o motivo
de os EUA gastarem pouco com bem-estar em comparação à Europa podem ter suas respostas em questões
culturais.

Assim como Alesina, dois outros italianos, Persson e Tabellini, contribuíram consideravelmente para a área. Eles
combinaram o melhor de três diferentes áreas para sugerir uma abordagem unificada em economia política. Veja:

Macroeconomia Moderna expand_more

Indivíduos se comportam de forma racional, e suas preferências sobre os resultados econômicos induzem
suas preferências acerca de políticas.

Escolha pública expand_more

Em escolha pública, a delegação de decisões políticas para representantes políticos pode resultar em
problemas de agência entre políticos e eleitores.

Problemas de agência são situações em que uma ação é delegada de um agente para o outro. Em geral,
esses agentes possuem objetivos conflitantes, de forma que o resultado ótimo para um não é desejável
para outro.
Por exemplo, existe um fazendeiro e um agricultor que trabalha em sua fazenda. O objetivo do fazendeiro é
maximizar seu lucro, enquanto o objetivo do agricultor é maximizar seu bem-estar. Nesse cenário, em que o
fazendeiro delega o cuidado da plantação para o agricultor, o resultado do lucro dependerá do esforço do
agricultor.

Na ausência de mecanismos que incentivem o agricultor a se esforçar, buscando a maximização de lucro, o


resultado final não será a maximização esperada pelo fazendeiro. Na política, isso também ocorre, uma vez
que o incentivo dos políticos difere do incentivo dos eleitores.

Escolha racional expand_more

Em escolha racional, as instituições políticas moldam os processos pelos quais os políticos são eleitos e as
políticas públicas são executadas.

Economia comportamental
Como vimos no Módulo 2, os economistas clássicos introduziram a noção de que interesses individuais racionais
importam.

A teoria contemporânea pressupõe que indivíduos são racionais e tomam decisões com
base nas informações disponíveis, fazendo as escolhas que geram maiores ganhos com
base em alguma medida de benefício.

Partindo desse entendimento, um consumidor não vai comprar dois pares de sapatos quando precisa apenas de
um. Também é razoável supor que as pessoas vão economizar ao longo de suas vidas para garantir uma
aposentadoria, enquanto pessoas endividadas cortariam seus gastos em vez de parcelar uma nova televisão no
cartão de crédito.

Entretanto, se somos realmente racionais, por que tantas pessoas fazem o oposto do que a
teoria supõe?

Richard Thaler, um economista norte-americano, e Daniel Kahneman, psicólogo israelense, foram pioneiros em unir
Economia e Psicologia, criando e desenvolvendo o campo da Economia Comportamental. Ambos foram premiados
com o Nobel pelas suas contribuições.
A premissa básica é que os seres humanos nem sempre são racionais. Muitas vezes, suas escolhas podem ser
baseadas em questões subjetivas e culturais, que, em alguns momentos, pesam mais que a racionalidade. Isso
não significa que a Economia Comportamental abandona por completo a noção de racionalidade – apenas
incorpora ao processo de tomada de decisão outros fatores antes desconsiderados.

A Economia Comportamental tenta explicar por que as pessoas não economizam para a aposentadoria,
priorizando o consumo no presente. Isso ocorre porque o prazer presente é mais próximo e mais palpável do que o
possível sofrimento em um tempo futuro e distante.

Thaler explica também o comportamento de manada nos mercados financeiros: quando o mercado está em alta,
mais pessoas decidem investir nas ações, o que decorre de um pensamento irracional de que os preços vão subir
amanhã porque estão subindo hoje.

Outro aspecto da economia comportamental é o nudge, uma espécie de "empurrãozinho" que pode influenciar o
processo de tomada de decisão de um indivíduo. É mais provável que as pessoas escolham uma opção específica
se ela for a opção padrão.

Exemplo

No preenchimento de cadastros, por exemplo, as pessoas estão mais inclinadas a receber e-mails de promoções,
se essa for a opção padrão, devendo clicar no botão de que não desejam estar na lista desses e-mails para
desativar o recebimento, do que se necessitarem clicar em um botão afirmando que desejam estar nessa lista. Em
outras palavras, as pessoas tendem a aceitar a opção que lhes é oferecida, e não arcar com os custos psicológicos
da escolha.

Desenvolvimento econômico
A Economia do Desenvolvimento estuda o processo de desenvolvimento dos países de baixa renda. Como o
processo de desenvolvimento econômico é amplo e complexo, essa área cobre diversos outros campos que
afetam o crescimento social e econômico dos países.

Nesse sentido, foca não somente em métodos que promovam o crescimento econômico e nas mudanças
estruturais, mas também na melhora de aspectos que envolvam a população, como condições de saúde, educação
e trabalho.
O crescimento econômico, em particular, é investigado há muitos anos pelos economistas, como vimos no módulo
anterior, de História do Pensamento Econômico. Como a Economia, essa área passou por diversas transformações
até se tornar o que é atualmente.

Os neoclássicos propuseram alguns modelos de desenvolvimento econômico que frequentemente são vistos nos
cursos de Macroeconomia e desenvolvimento de um currículo de graduação em Economia.

Com o passar dos anos, esses modelos foram ficando cada vez mais sofisticados, incorporando mais elementos e
variáveis determinantes do crescimento econômico, visando torná-los mais próximos da realidade.

Características como crescimento populacional, progresso tecnológico, capital humano, e até o papel e a qualidade
das instituições foram, pouco a pouco, sendo incorporadas nas equações.

Saiba mais

Alguns dos economistas mais importantes a elaborar modelos de desenvolvimento são: Roy Harrod, Evsey Domar,
Robert Solow e Paul Romer.

Algumas das características que foram, pouco a pouco, sendo incorporadas nas equações são:

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Crescimento populacional

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Progresso tecnológico

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Capital humano

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Papel e a qualidade das instituições
Daron Acemoglu e James Robinson são dois economistas contemporâneos que mostraram evidências empíricas
robustas sustentando a tese do papel desempenhado pelas instituições no desenvolvimento econômico, com
ênfase nos direitos de propriedade.

Outros economistas apontam, entre outros tantos fatores institucionais que impactam o crescimento, para:
A importância da organização dos sistemas financeiros nacionais.

O desenho de Constituições.

O tipo de regime de um país (democrático ou autoritário).

O grau de liberalização comercial de um país.

O grande desafio da área é a dupla causalidade que esses fatores costumam apresentar com o crescimento
econômico. Nesse caso, é difícil responder:

Instituições melhores levam a mais crescimento econômico, ou países que têm mais
crescimento econômico estabelecem melhores instituições?

Outra camada do desenvolvimento econômico ― talvez a mais desafiadora ― é a do impacto das culturas e das
crenças no crescimento. Nesse caso, o obstáculo é que crenças e costumes são elementos muito difíceis de
serem medidos e capturados pelos dados, mas isso não significa que devam ser ignorados.

A literatura econômica vem desenvolvendo muitos estudos nessa área na última década, mostrando como normas
sociais, crenças individuais e coletivas influenciam as preferências dos indivíduos, e que essas normas variam
lentamente ao longo do tempo.

Economia da pobreza
Outro campo que se propôs a investigar a economia de baixa renda é o de Economia da Pobreza.
Os laureados com o Prêmio Nobel de Economia de 2019, Michael Kremer, Esther Duflo e Abhijit Banerjee, fizeram
contribuições com uma abordagem experimental para aliviar a pobreza global.

Os três economistas publicaram uma série de artigos, muitas vezes em conjunto, utilizando um método bastante
empregado na Medicina: os Randomized Controled Trials (RCTs), ou Estudos Aleatorizados Controlados. De forma
resumida, essa abordagem experimental consiste em dividir a população de um estudo em grupos aleatorizados
de controle e tratamento para testar a efetividade de determinada política.

Os autores realizaram uma série de estudos desse tipo, desenvolvendo uma ferramenta muito poderosa para testar
intervenções que podem reduzir a pobreza. Essas intervenções variam desde a realização de tutorias corretivas
nas escolas, passando pelo fornecimento de redes contra mosquitos para famílias a fim de prevenir doenças, até
políticas de microcrédito.

O sucesso dessa abordagem influenciou consideravelmente a forma de avaliar políticas de nossa geração. Embora
não apontem um amplo conjunto de conclusões, esses estudos permitem tirar lições simples, mas poderosas, com
grandes efeitos para a erradicação da pobreza.

Outra vantagem é que, pelo fato de serem estudos controlados, há a possibilidade de verificar possíveis efeitos
colaterais não antecipados, colocando na balança, ao final dos experimentos, os benefícios e os custos não
antecipados das intervenções.

Economia da desigualdade
A desigualdade econômica é um tópico de interesse e preocupação de cientistas sociais. Existe uma grande
variedade de tipos de desigualdade econômica, muitas vezes medida na forma de distribuição de renda ou de
riqueza. Também pode ser avaliada como desigualdade entre países, regiões ou grupos de pessoas.

A lista de pessoas que já estudou esse tópico é extensa.

O economista francês Thomas Piketty escreveu o livro O Capital no Século XXI (2013), sobre o crescimento da
desigualdade da riqueza mundial. A obra causou rebuliço no meio acadêmico ao trazer à tona o debate sobre
taxação progressiva e tributação da riqueza global como único caminho eficiente para combater a concentração da
renda, que, segundo o autor, seria consequência inevitável do capitalismo.

Documentando com dados detalhados a evolução histórica da concentração da renda e da riqueza, Piketty
desenvolve uma grande teoria do capital e da desigualdade. Alguns autores já desenvolveram estudos rebatendo
suas conclusões, mas o debate ainda está em desenvolvimento.

Economia da saúde e da educação


Conheça as principais características da Economia da saúde e da educação:

Economia da Saúde

A Economia da Saúde é a área de estudo aplicado que permite uma análise rigorosa e sistemática dos problemas
enfrentados na promoção de saúde para todos. Economistas da saúde utilizam como ferramental as teorias do
consumidor, do produtor e da escolha social para entender o comportamento dos indivíduos, dos provedores de
saúde e de organizações públicas e privadas.

Um dos muitos exemplos estudados pelos economistas da saúde envolve perguntas como: Transferências
governamentais durante a gravidez melhoram a saúde da criança ao nascer?

Economia da Educação
A Economia da Educação é a área que estuda questões relacionadas à Educação, sejam elas de demanda própria,
seu financiamento e sua provisão, ou relacionadas à eficiência comparativa entre diferentes programas e políticas.

Uma pergunta que os economistas da Educação se preocupam em responder é:


Há uma relação entre escolaridade e resultados no mercado de trabalho?

Como estudamos no Módulo 1, o programa Renda Melhor Jovem era um exemplo de política pública que aplicava
o conceito de custo de oportunidade. Será que essa política foi eficaz, fazendo com que os jovens permanecessem
mais tempo na escola para, no futuro, terem um salário melhor no mercado de trabalho? Questões assim também
fazem parte das preocupações da área.

Outras áreas voltadas à economia


Listamos aqui uma série de áreas nas quais a literatura econômica tem apresentado terreno fértil e se expandido
nas últimas décadas.

Existem muitos outros campos que um economista pode estudar e nos quais pode atuar, o que é uma das grandes
vantagens da profissão. Campos mais clássicos como Macroeconomia e Microeconomia seguem igualmente
trazendo novidades.
Economia do Trabalho Economia Ambiental Economia do Crime

Procura entender o Dedica-se a estudar a Área relativamente nova. Usa


funcionamento e a dinâmica escassez dos recursos o raciocínio econômico para
dos mercados de trabalho ambientais, propondo explicar a tomada de
assalariado. minimizar o impacto causado decisões em condutas ilícitas.
no meio ambiente.

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Economias que descrevem e transformam sociedades
Assista o vídeo a seguir para conhecer mais sobre as teorias econômicas que descrevem e transformam
sociedades.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Sobre a área de desenvolvimento econômico, não podemos afirmar que:

Os modelos econômicos de desenvolvimento modernos incorporam variáveis como


A
crescimento populacional, progresso tecnológico e capital humano.

Não há evidências empíricas de que instituições afetam o desenvolvimento econômico, pois é


B
o crescimento econômico que determina boas instituições.

A forma de organização dos sistemas financeiros nacionais, o desenho de constituições, o tipo


C de regime de um país e seu grau de liberalização comercial influenciam no desenvolvimento
econômico dos países.

Um dos obstáculos para determinar se cultura e crenças afetam o crescimento econômico é o


D
fato de essas variáveis serem difíceis de ser mensuradas e capturadas pelos dados.

O grau de liberalização comercial de um país e a garantia dos direitos de propriedade


E
impactam no desenvolvimento econômico.

Parabéns! A alternativa B está correta.

Vamos analisar as alternativas:

A) Verdadeira

A preocupação com que os parâmetros e dados inseridos no modelo explicassem a realidade levou os
economistas a elaborarem modelos de desenvolvimento cada vez mais sofisticados.

B) Falsa

Embora exista um problema de dupla causalidade que dificulte determinar se instituições afetam o
crescimento econômico, Daron Acemoglu e James Robinson apresentaram evidências empíricas de que as
instituições desempenham função importante no desenvolvimento econômico.

C) Verdadeira

Economistas contemporâneos desenvolveram trabalhos apontando para evidências empíricas nesse sentido.

D) Verdadeira

A literatura econômica tem apresentado importantes contribuições na área nas últimas décadas.

E) Verdadeira

Direitos de propriedade e abertura comercial estão entre os principais determinantes do desenvolvimento


econômico. Direitos de propriedade bem definidos geram incentivos ao investimento, e a abertura comercial
permite acesso a bens e tecnologias por menor preço, dentre diversos outros efeitos.

Questão 2

Segundo a Economia Comportamental, podemos afirmar que:


A A racionalidade humana está sempre acima de questões subjetivas e culturais.

B A Economia Comportamental não faz distinção entre os comportamentos presente e futuro.

C A Economia Comportamental postula que não há custos psicológicos na escolha.

A Economia Comportamental busca explicar por que os indivíduos tomam decisões


D
aparentemente irracionais, unindo Economia e Psicologia.

As pessoas tendem a escolher a melhor opção independentemente do que seja oferecido


E
como opção padrão.

Parabéns! A alternativa D está correta.

Vamos analisar as alternativas:

A) A alternativa está incorreta. Às vezes, escolhas podem ser baseadas em questões subjetivas que pesam
mais que a racionalidade econômica.

B) A alternativa está incorreta. Em determinadas situações, sentir-se bem no presente é melhor do que sofrer
no futuro.

C) A alternativa está incorreta. A Economia Comportamental supõe que as pessoas tendem a aceitar a opção
que lhes é dada, e não arcar com os custos psicológicos da escolha.

D) A alternativa está correta. A premissa básica da Economia Comportamental é que os seres humanos nem
sempre são racionais.

E) A alternativa está incorreta. A escolha das pessoas depende da opção padrão, em relação à qual elas irão
comparar as alternativas.
Considerações finais
Estudamos alguns conceitos básicos de Ciências Econômicas. Além disso, vimos como essa ciência evoluiu ao
longo do tempo e que caminhos está trilhando neste momento.

Vimos, também, os diversos objetos de estudo da Economia, que, afinal, busca responder como alocar recursos da
melhor forma possível. Essa é a régua para determinar se a profissão é bem-sucedida: devemos contribuir para a
melhor alocação possível dos recursos que temos à nossa disposição. Assim, teremos mais desenvolvimento,
menos pobreza e desigualdade, e melhores políticas públicas para a sociedade.

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Podcast
Ouça o podcast para recapitualr os principais pontos estudados.

Referências
CAMPANTE, F. A ciência da Economia Política: o legado de Alberto Alesina. Nexo Jornal, 2020.

GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Renda Melhor Jovem. 2014.

KRUGMAN, P.; WELLS, R. Introdução à Economia. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.

HAYES, A. Game Theory. Investopedia, 2019.

MANKIW, N. G. Macroeconomia. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2011.

MEHARI, T. Y. A short history of economic thought. University of Groningen, 2002.

PERSSON, T.; TABELLINI, G. Political economics: explaining economic policy. The MIT Press, 2002.

ROLL, E. A history of economic thought. Londres: Faber & Faber, 1992.

SCREPANTI, E.; ZAMAGNI, S. An outline history of the economic thought. 2.ed. Oxford: Oxford University Press,
2005.

THE ECONOMIST. The legacy of Alberto Alesina. 2020.

VARIAN, H. R. Microeconomia: uma abordagem moderna. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.

Explore +
Para saber mais sobre os assuntos estudados, sugerimos as seguintes leituras:

ACEMOGLU, D.; ROBINSON, J. Por que as nações fracassam? Nova York: Crown Publishing Group, 2012.

BANERJEE, A.; DUFLO, E. Good economics for hard times. Nova York: Public Affairs, 2019.

BANERJEE, A.; DUFLO, E. Poor economics. Nova York: PublicAffairs, 2011.

FERGUSON, N. A ascensão do dinheiro: uma história financeira do mundo. São Paulo: Planeta do Brasil, 2009.

TELLES, A.; TIROLE, J. Economia do bem comum. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.
Introdução à microeconomia
Prof.ª Mariana Stussi Neves

Descrição

Compreender as escolhas de consumo e produção de consumidores e firmas para o estudo da determinação


das curvas de oferta e demanda dos diferentes mercados, assim como o processo de formação de preços e
as diferentes dinâmicas de variação na renda, no preço de bens e no custo de insumos.

Propósito

A escolha do consumidor e as decisões de produção da firma são problemas básicos da ciência econômica.
Entender essas decisões é fundamental para o estudo de mercados e situações mais complexas que são
estudadas em tópicos de economia mais avançados.

Objetivos
Módulo 1

Escolha do consumidor

Identificar a escolha ótima de um consumidor racional a partir de suas preferências e renda​.

Módulo 2

Curvas de indiferença

Reconhecer as curvas de indiferença e suas propriedades​.

Módulo 3

Tipos de custo

Distinguir os tipos de custo da firma e suas aplicações​.

Módulo 4

Lucro do produtor

Demonstrar a quantidade de produto para a maximização do lucro do produtor​.

meeting_room
Introdução
Pessoas se deparam todos os dias com escolhas sobre o gasto da sua renda em bens e serviços. Quando vão
a uma pizzaria, por exemplo, elas devem decidir quantos pedaços querem comer e o quanto estão dispostas a
pagar por uma fatia de pizza ou por toda a iguaria. Mesmo num rodízio, em que o preço é fixo e uma fatia
extra não tem custo, os fregueses precisam escolher se vale a pena comer mais um pedaço ou se estão
satisfeitos. Depois de certa quantidade ingerida, comer mais pode despertar náuseas ou enjoo; nestes casos,
a satisfação com a comida diminui ao invés de aumentar.

Podemos então afirmar que um cliente quer tirar o máximo de satisfação de sua refeição dada a sua
disposição de pagar por ela. Mas como se mede o nível máximo de satisfação dos consumidores? Não é tudo
uma questão pessoal de gosto?

Sim, é uma questão de gosto — e talvez seja o papel da psicologia (e não da economia) tentar compreender
como ele surge. No entanto, os economistas podem dizer muito sobre como um indivíduo racional se
comporta para satisfazer esses gostos pessoais e como os produtores ofertam bens e serviços para atender
os consumidores e suas preferências. Nosso conteúdo gira em torno desses tópicos.

1 - Escolha do consumidor
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar a escolha ótima de um consumidor
racional a partir de suas preferências e renda​.

Utilidade e consumo
Quando se fala sobre o comportamento do consumidor, não é uma tarefa trivial medir o sentimento subjetivo
de satisfação gerado ao consumir uma pizza ou um refrigerante. Muito menos trivial se mostra a comparação
da sua satisfação com a de outros indivíduos. Felizmente, isso não é necessário.

Para analisarmos esse comportamento, só precisamos supor que cada pessoa busca maximizar alguma
medida própria de satisfação obtida por meio do consumo de bens e serviços. A essa medida damos o nome
de utilidade do consumidor. Trata-se de um conceito utilizado pelos economistas para compreender o
comportamento de escolha, cujo valor, na prática, sequer precisa ser medido. A utilidade do consumidor
depende de tudo aquilo que um indivíduo consome. O conjunto de bens e serviços consumidos é chamado de
cesta de consumo.

Exemplo
Duas fatias de pizza e um refrigerante podem constituir uma cesta de consumo, enquanto três fatias e
nenhum refrigerante podem ser outra.

Existe uma relação entre as cestas de consumo individuais possíveis e o montante total de utilidade gerado
por elas. Essa relação é conhecida como função utilidade. Ela varia em cada indivíduo, pois trata-se de uma
questão pessoal e subjetiva.​​
Evidentemente, as pessoas não possuem calculadoras em suas cabeças para medir exatamente o quanto de
utilidade suas escolhas de consumo irão gerar. Porém, ainda que de forma grosseira, elas tomam decisões
partindo do princípio de qual escolha irá lhes trazer mais satisfação. P
​ or exemplo, o que te faz mais feliz:
viajar no feriado ou comprar um videogame novo?

Para medir essa utilidade, podemos supor — a fim de simplificar o processo — que ela possa ser mensurada
com uma unidade hipotética denominada util. Ilustrando um exemplo de função utilidade, o gráfico (a) que
segue mostra a utilidade total que Júlia obtém ao comer (sem nenhum custo) salgadinhos numa festa:​​

A função utilidade de Júlia indica uma inclinação positiva em sua maior parte, mas, à medida que o número
de salgadinhos consumidos aumenta, ela se torna mais achatada. Isso significa que uma iguaria a mais traz
mais utilidade até certo ponto, ou seja, o valor dela diminui quando mais unidades são consumidas.

A partir do décimo salgadinho, adicionar um a mais demonstra ser algo ruim para Júlia, piorando a sua
situação. Se for racional, ela perceberá isso e não consumirá o décimo primeiro. Desse modo, quando Júlia
for decidir sobre o número de iguarias a ser consumido, ela tomará essa decisão considerando a mudança na
sua utilidade total proveniente do consumo de mais um salgadinho.

Resumindo

Isso revela a seguinte ideia geral: para maximizar sua utilidade total, o consumidor precisa se concentrar na
utilidade marginal, ou seja, a utilidade de se consumir um pouco a mais, como, por exemplo, um salgadinho
adicional.​

Utilidade marginal decrescente


O gráfico (b), a seguir, mostra a utilidade marginal gerada para Júlia ao consumir uma unidade de salgadinho
adicional. Ele indica a curva de utilidade marginal implícita construída a partir da variação de utilidade gerada
por intervalos unitários.
A curva de utilidade marginal, por sua vez, tem inclinação negativa: cada salgadinho a mais acrescenta menos
valor em utilidade que o anterior. O próprio gráfico informa isto: enquanto o primeiro salgadinho rende 15 utils,
o décimo primeiro oferece -1,5 utils. Trata-se, portanto, do primeiro salgadinho a ter utilidade marginal
negativa: o seu consumo diminui a utilidade total, ou seja, o excesso de salgadinhos começa a cair mal!

Atenção!

Isso não é uma verdade imutável para todos os bens e serviços. Afinal, o consumo de algo em excesso não
vai necessariamente render uma utilidade marginal negativa no final da curva.

Apesar desse alerta, a suposição de que as curvas de utilidade marginal sejam negativamente inclinadas é
bastante aceita pelos economistas. O princípio da utilidade marginal decrescente atesta que a primeira
unidade traz mais valor que a segunda; a segunda, por sua vez, possui mais valor que a terceira unidade; e
assim por diante. A intuição por trás desse princípio é a seguinte:

À medida que o montante consumido de um bem ou serviço aumenta, a satisfação


adicional que um indivíduo obtém de uma unidade a mais diminui.

Quanto mais consumimos algo, mais próximos ficamos do estágio de satisfação até finalmente atingirmos a
saciedade, ponto em que uma unidade a mais do bem não nos acrescenta em nada em termos de utilidade. ​

Comentário

Embora o princípio da utilidade marginal decrescente nem sempre seja verdadeiro (você consegue pensar em
um exemplo?), ele vale na maior parte dos casos, sendo o suficiente para embasar a teoria do
comportamento do consumidor.

Orçamento e restrição
Até aqui trabalhamos com a ideia de que uma pessoa pararia de consumir um bem ao atingir um certo nível
de saciedade em que uma unidade a mais dele não traria satisfação extra ou até mesmo diminuiria sua
utilidade total. Um exemplo disso foi o caso dos salgadinhos. Temos, então, os seguintes pressupostos
implícitos na análise que fizemos até aqui:

paid
Não há custo adicional para o consumo de uma unidade a mais do bem.

add
paid
Existe dinheiro infinito; logo, o indivíduo não precisa se preocupar com isso.

A realidade, no entanto, é diferente: consumir mais de um bem requer, em geral, recursos adicionais — e o
consumidor precisa levar em conta esse fator ao fazer suas escolhas.

O que são esses recursos adicionais? Para simplificar, serão chamados de custo. O que levamos em
consideração é o denominado custo de oportunidade, isto é, o ganho potencial ao qual se renuncia quando se
opta por uma alternativa. Em outras palavras, trata-se do benefício de que abrimos mão quando fazemos uma
escolha.

Exemplo

O custo de oportunidade de jogar uma partida de futebol é o prazer que você teria ao dar um mergulho na
praia no mesmo período.

Um dos pressupostos básicos da economia é que os recursos são escassos. O custo de oportunidade faz a
ponte entre a escassez de recursos e a escolha. O recurso escasso, neste caso, é o dinheiro, pois o
consumidor tem um orçamento limitado. Vejamos o exemplo a seguir.

Gabriel está fazendo uma dieta especial para treinos, alimentando-se exclusivamente de frango e batata-doce.
Ele recebe em salário, semanalmente, 30 reais. Dado o seu apetite, a satisfação dele aumenta ao consumir
mais de cada bem; por conta disso, ele gasta toda sua renda nas duas iguarias. O quilo da batata custa R$3 e
o do frango, R$6. Quais são as possibilidades de escolha para Gabriel? Qualquer que seja a cesta de consumo
escolhida por ele, sabemos que seu custo não pode ser maior que o seu salário, ou seja, o montante total de
dinheiro que ele possui para gastar.
Assim:

(1) Gasto em batatas + gasto em f rango ≤ renda total

Rotacione a tela. screen_rotation


Como Gabriel, os consumidores têm uma renda finita que restringe suas possibilidades de consumo.
Demonstrando que o consumidor deve escolher uma cesta de consumo menor ou igual à sua renda total, a
condição (1) é chamada de restrição orçamentária. Isso significa que ele não pode gastar mais do que o total
de recursos (renda) de que dispõe. Desse modo, as cestas de consumo só são factíveis — isto é,
financeiramente viáveis — quando obedecem à restrição orçamentária.

O conjunto de cestas de consumo factíveis de um consumidor recebe o nome de conjunto de possibilidades


de consumo. As pertencentes a esse conjunto dependem tanto da renda do consumidor quanto dos preços
de bens e serviços.

A seguir, é possível ver as possibilidades de consumo de Gabriel. O montante de batatas no seu pacote está
representado no eixo horizontal; o de frango, no vertical.

Conectando os pontos de A a F, a linha inclinada para baixo divide os pacotes de consumo entre quais se
pode comprar e aqueles em que não é possível. Os pacotes factíveis ficam abaixo dessa linha (cuja divisória
também deve ser incluída na lista), enquanto os de cima pertecem ao grupo dos que não são.

No ponto D, há 6kg de batatas e 2kg de frango. Multiplicando-os pelos preços, temos 6 × R$3 + 2 × R$6 =
R$30. Logo, a cesta D satisfaz a restrição orçamentária, custando exatamente a renda de Gabriel.

Verifique que os demais pontos sobre a linha negativamente inclinada são as cestas nas quais Gabriel
gastaria exatamente o total de sua renda. Mostrando todas as cestas de consumo disponíveis quando ele
gasta inteiramente sua renda, tal linha recebe o nome de reta orçamentária.

Como vimos acima, Gabriel precisa escolher um número de batatas (o que vamos denominar xb ) e outro de
frango (xf ), multiplicando-os por seus preços respectivos: pb e pf . A soma das duas multiplicações deve ser
menor ou igual ao total de sua renda m.

(2) xbxpb + xf xpf ≤ m

Rotacione a tela. screen_rotation


Quando Gabriel consome uma cesta sobre a sua reta orçamentária, isto é, gasta todo o seu salário, seu gasto
com batata-doce e frango é exatamente igual à sua renda. Assim:

(3) xbxpb + xf xpf = m

Rotacione a tela. screen_rotation


Podemos utilizar as equações (2) e (3) para fazer manipulações algébricas e calcular as cestas possíveis para
Gabriel de forma mais fácil. Supondo que ele queira gastar toda a sua renda e substituindo m = R$30,
podemos testar as diferentes combinações de cesta consumidas por ele.

Vejamos agora um caso extremo: Gabriel consome apenas frango (isto é, xb = 0 ): substituindo os valores na
equação (3), temos 0 × 3 +xf × 6 = 30 . Assim, o máximo de frango xf que pode ser consumido é igual a
5kg , pois 30 ÷ 6 . Desse modo, o intercepto do eixo vertical da reta orçamentária fica no ponto A quando
= 5

toda a renda dele é consumida nessa iguaria. Fazendo o exercício análogo para o ponto F , no qual sua renda
agora é dedicada inteiramente à batata-doce, ficamos com uma cesta de 10kg dela.

Dica
Podemos repetir este exercício para todos os pontos da reta orçamentária.

Os demais pontos sobre a linha orçamentária podem ser analisados à luz da relação de perdas e ganhos com
a qual Gabriel se depara ao gastar todo o seu salário. Essa relação é tipicamente chamada pelo seu nome em
inglês: trade-off.

Vejamos outro exemplo!


Gabriel quer sair do ponto A e consumir 2kg de batata-doce ao mesmo tempo em que deseja comer a maior
quantia possível de frango. Para ingerir 2kg de batatas, ele precisa renunciar ao equivalente de R$6 em frango,
medida que corresponde exatamente ao valor do quilo dessa iguaria. Ou seja, para consumir 2kg de batata,
Gabriel precisa renunciar a 1kg de frango, o que o coloca na posição da cesta B de sua reta orçamentária,
ficando com 4kg de frango e 2kg de batata-doce.

Se repetirmos este exercício para os pontos C, D, E e F, isto é, deslizando sobre a sua reta orçamentária,
veremos que Gabriel está sempre trocando mais batata por menos frango e vice-versa.

A mudança de cestas de consumo sobre essa reta (tanto para cima quanto para baixo) expressa o custo de
oportunidade de um bem em termos do outro.

A inclinação da reta orçamentária informa, para um indivíduo, o custo de


oportunidade ao consumir uma unidade a mais de um bem de acordo com a
quantidade a ser renunciada de outro bem pertencente à cesta de consumo dele.

A inclinação da reta orçamentária de Gabriel é −1/2. Trata-se da variação no eixo vertical (a mudança na
quantidade de frango denotada por Δxf ) dividida pela variação no horizontal (modificação na quantidade de
batata denotada por Δxb). Ou seja, a razão (Δxf /Δxb) é igual 1/2 (meio), o que significa o seguinte: 0,5kg
de frango tem de ser sacrificado para ele conseguir 1kg a mais de batata.

O número de quilos de frango ao qual é preciso renunciar para obter 1kg a mais de batata é chamado pelos
economistas de preço relativo da batata em termos do frango.

Dica

É possível calcular o mesmo tipo de preço do frango em termos da batata. Basta fazer a conta inversa: para
obter 1kg a mais de frango, é preciso renunciar a 2kg de batata. Sendo assim, 2 é o preço relativo do frango
em termos da batata.

Desse modo, a inclinação da reta orçamentária não depende da renda do indivíduo, e sim dos preços de cada
bem. Perceba que -1/2 = -R$3/R$6 = -pb/pf. No entanto, isso não é verdade para a posição da reta

orçamentária: o quanto essa reta está afastada da origem depende da renda do consumidor.

Exemplo: se a renda de Gabriel aumentasse para R$42 por semana, então ele poderia comprar um montante
maior dessas duas iguarias, totalizando um máximo de 7kg de frango, ou 14kg de batata, ou qualquer outra
cesta de consumo intermediária. Como indica esta figura, a reta orçamentária se desloca para direita ou para
fora.
Se, por outro lado, seu salário diminuísse para R$18 por semana, a reta dele se deslocaria para a esquerda (ou
para dentro); neste caso, o máximo que Gabriel poderia adquirir agora seria o seguinte: 3kg de frango, ou 6kg
de batata-doce, ou novamente uma cesta intermediária. Nos dois casos, a inclinação da reta orçamentária
dele é a mesma da sua situação inicial, pois os preços relativos dos bens não mudaram.

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Reta orçamentária e preços relativos
Entenda a reta orçamentária e aprenda a interpretar a sua inclinação.

Escolha ótima de consumo


Vamos supor agora que a renda de Gabriel não mude, mantendo o orçamento inicial de R$30 por semana.
Sabemos que, para aumentar sua saciedade, ele prefere consumir maiores montantes dos dois bens já
citados. Como podemos identificar qual cesta Gabriel vai escolher? Em outras palavras, qual escolha traz
mais utilidade para ele?

Relembrando

Os consumidores querem escolher cestas de consumo que maximizem a sua utilidade total dada uma
determinada restrição orçamentária.
Este tipo recebe o nome de cesta de consumo ótima. Para descobrirmos a cesta que satisfaz essa condição
para Gabriel, precisamos analisar, entre as cestas de consumo factíveis, qual delas conta com a combinação
de bens (frango e batata-doce) que lhe rende mais utilidade.

A tabela a seguir aponta o grau de utilidade que os diferentes consumos de frango e batata-doce geram para
ele. De acordo com ela, quanto mais Gabriel consumir de cada um dos bens, maior será a sua utilidade. Para
maximizar sua utilidade, ele deve escolher a combinação dos dois bens que gera maior utilidade total, isto é, a
soma das utilidades geradas pelo consumo de cada bem. Contudo, Gabriel tem uma restrição orçamentária e
deve enfrentar um trade-off entre frango e batata: para obter mais de um, ele deve consumir menos de outro.

Utilidade do consumo de frango Utilidade do consumo de batata

Quantidade de frango Utilidade do frango Quantidade de batata Utilidade da batata


(kg) (util) (kg) (util)

0 0 0 0

1 20 1 15

2 30 2 27

3 35 3 37

4 37 4 45

5 38 5 52

6 57

7 61

8 63

9 64

10 64.5

Mariana Stussi Neves.


A cesta de consumo ótima de Gabriel recai sobre a sua reta orçamentária, pois ela tem as combinações
máximas de consumo dos dois bens, gastando, assim, toda a renda dele.

Já a próxima tabela indica as cestas sobre a reta orçamentária de Gabriel conforme ele desliza para baixo
nessa reta. Suas colunas apontam as combinações de quantidade de cada bem em cada cesta e as
respectivas utilidades, além da utilidade total de cada cesta na última coluna:

Quantidade de Utilidade do frango Quantidade de Uti


Cesta de consumo
frango (kg) (util) batata (kg) (ut

A 5 38 0 0

B 4 37 2 27

C 3 35 4 45

D 2 30 6 57

E 1 20 8 63

F 0 0 10 64

Mariana Stussi Neves.

Conforme observamos na tabela, a cesta de consumo que maximiza a utilidade total dele é a D, com 2kg de
frango e 6kg de batata-doce. Com ela, Gabriel obtém a utilidade total de 87 utils, índice maior que o de
qualquer outra cesta.

Perceba que, nas combinações das cestas à esquerda de D, ou seja, com menos batata-doce e mais frango, a
utilidade cresce à medida que Gabriel prescinde de frango por mais batata. A partir da cesta D, no entanto, a
utilidade total começa a cair. Assim, podemos dizer que a cesta de consumo D é a que melhor resolve o trade-
off entre o consumo de frango e o de batata. O pacote D é, portanto, a cesta ótima dele, maximizando sua
utilidade total.

Este gráfico ilustra a relação entre as cestas da reta orçamentária de Gabriel e a sua utilidade total:
Análise marginal
No exemplo anterior, descobrimos o topo da curva de utilidade total de Gabriel usando a observação direta.
No entanto, a construção dessa curva pode ser muito trabalhosa. Em geral, a análise marginal é uma
ferramenta mais rápida e eficiente para resolver o problema da escolha ótima. Sabemos que Gabriel toma
uma decisão sobre o montante de batata a ser consumido levando em conta o seguinte:

Aplicando a análise marginal, podemos verificar que sua decisão passa a ser em torno do gasto de um real
marginal, ou seja, a maneira de alocar uma unidade adicional de moeda entre as duas iguarias. Para isso,
primeiramente devemos nos perguntar:

Quanto de utilidade adicional ele irá ganhar ao gastar um real a mais em frango ou batata? Ou melhor, quanto
de utilidade marginal por real a mais isso rende?

Esta tabela indica o cálculo da utilidade marginal (Umg) por real gasto em frango ou batata:

(a) Frango (pf = R$6 por kg)

Utilidade do frango Umg/kg de frango


Qtd. de frango (kg) Umg por real (util)
(util) (util)

0 0 - -
1 20 20 3.3

2 30 10 1.7

3 35 5 0.8

4 37 2 0.3

5 38 1 0.2

Mariana Stussi Neves.

(b) Batata (pb = R$3 por kg)

Utilidade da batata Umg/kg de batata


Qtd. de batata (kg) Umg por real (util)
(util) (util)

0 0 - -

1 15 15 5

2 27 12 4.0

3 37 10 3.3

4 45 8 2.7

5 52 7 2.3

6 57 5 1.7

7 61 4 1.3

8 63 2 0.7

9 64 1 0.3

10 64.5 0.5 0.2

Mariana Stussi Neves.


A tabela está dividida em dois painéis, um para cada bem. Observemos as colunas de cada painel:

1ª e 2ª colunas
São idênticas às colunas da tabela apresentadas anteriormente.

3ª coluna
Mostra a utilidade marginal de cada bem, ou seja, o aumento de utilidade que Gabriel tem ao consumir uma
unidade a mais de um dos bens.

4ª coluna
Exibe a utilidade marginal por real para cada bem.

O valor de Umg é obtido dividindo a utilidade marginal pelo preço de cada unidade de bem: R$6 por quilo de
frango e R$3 pelo de batata. Como podemos observar, assim como a utilidade marginal de ambos diminui à
medida que ele aumenta o montante consumido de cada bem, a utilidade marginal por real também decresce.

Isso significa que, em virtude da utilidade marginal decrescente de Gabriel, cada real a mais gasto lhe rende
menos utilidade extra que o anterior.

Denotando respectivamente por UmgF e UmgB a utilidade marginal por quilo de batata-doce e de frango, a

utilidade marginal por real de cada bem é igual a:

utilidade marginal do bem U M gbem


Utilidade marginal por real gasto em um bem = =
ç
pre o de uma unidade do bem Pbem

Rotacione a tela. screen_rotation


Veja abaixo as curvas de utilidade marginal por real gasto em cada bem:
Já observamos em outra tabela que D (a cesta ótima de consumo de Gabriel) é composta por 2kg de frango e
6kg de batata, correspondendo aos pontos DF e DB em cada painel. Repare que, neste ponto, a utilidade
marginal por real gasto para cada bem é igual:

U mgf /Pf = U mgb/pb = 1.7

Rotacione a tela. screen_rotation


Isso não é apenas uma coincidência. Analisemos outra cesta de consumo factível para Gabriel.

Na cesta C, a utilidade marginal de cada bem por real está representada na figura pelos pontos CF e CB.
Além disso, a Umg de Gabriel por real gasto em frango é 0.8; já em batata-doce, ela é 2.7. Esse dado revela
que ele está consumindo muito frango e pouca batata.

Mas por que isso acontece?

Se a Umg por real gasto em batata é maior que a de frango, é um indício de que ele pode melhorar sua
situação respeitando o próprio orçamento. Basta gastar 1 real a menos em frango e 1 a mais em batata,
adicionando 2.7 utils com esta em sua utilidade total e perdendo 0.8 utils com aquele. Ao todo, Gabriel terá
ganhado 1.9 em utilidade fazendo essa “troca”. Ele procederá dessa maneira até que a utilidade marginal dos
dois bens se iguale. Neste ponto, não será mais vantajoso trocar um real a mais de um bem pelo outro. Assim,
quando Gabriel escolher seu pacote de consumo ótimo, sua utilidade marginal por real gasto em frango e
batata será igual.

Essa regra constitui um princípio básico da teoria da escolha do consumidor conhecido como regra de
consumo ótimo. Quando um consumidor maximiza a sua utilidade total segundo a restrição orçamentária
dele, a utilidade marginal por unidade de moeda gasta em cada bem ou serviço que faz parte da sua cesta de
consumo é igual.

De forma matemática, para qualquer um dos bens b e f, a regra do consumo ótimo frisa que, na cesta ótima
de consumo, ocorre o seguinte cálculo:

U mgb U mgf
=
pb pf

Rotacione a tela. screen_rotation


Embora seja mais fácil compreender essa regra quando a cesta de consumo tem apenas dois bens, ela
poderá ser aplicada para qualquer quantidade de bens e serviços que o consumidor comprar. Na cesta ótima
de consumo, as utilidades marginais por real gasto em cada um dos bens são iguais.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Sobre a função utilidade, assinale a afirmativa falsa:

A função utilidade mostra a relação entre a cesta de consumo e a utilidade total gerada
A
por ela.

O princípio da utilidade marginal decrescente implica que a inclinação da função utilidade


B
é negativa.

Para maximizar a utilidade, o consumidor considera a utilidade marginal de consumo de


C
uma unidade a mais de um bem ou serviço.

Utilidade é uma medida de satisfação do consumidor ao consumir, sendo expressa na


D
unidade chamada de utils.

O princípio da utilidade marginal decrescente implica que a inclinação da função utilidade


E
reduz à medida que a quantidade aumenta.

Parabéns! A alternativa B está correta.

O princípio da utilidade marginal decrescente aponta que a inclinação da função utilidade diminui à
medida que a quantidade de bens aumenta, mas não que essa inclinação é negativa. A curva de utilidade
marginal possui uma inclinação negativa, pois cada unidade a mais de bem rende uma utilidade menor
que a anterior. A razão por trás dessa inclinação é o princípio da utilidade marginal decrescente.

Questão 2
Sobre a cesta de consumo ótima, assinale a afirmativa verdadeira:

A A cesta ótima do consumidor racional recai abaixo da sua reta orçamentária.

A cesta ótima do consumidor racional é a que maximiza sua utilidade marginal para cada
B
bem.

Na cesta ótima do consumidor racional, o consumidor maximiza a sua utilidade


C
independentemente de sua restrição orçamentária.

Na cesta ótima do consumidor racional, as utilidades marginais por real gasto em cada
D
um dos bens são iguais.

A cesta ótima do consumidor racional é formada apenas pelo bem cujo consumo gera
E
mais utilidade.

Parabéns! A alternativa D está correta.

A alternativa A é falsa pelo fato de a cesta ótima recair sobre a sua reta orçamentária para que o
consumidor gaste toda a sua renda disponível. A alternativa B é falsa, já que a cesta ótima maximiza a
sua utilidade total, e não a marginal. A alternativa C não é verdadeira, pois a definição de cesta ótima de
consumo diz que a cesta é ótima dada uma restrição orçamentária. Para os consumidores, consumir
mais de um bem aumenta a sua utilidade; portanto, a alternativa E está incorreta.
2 - Curvas de indiferença
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer as curvas de indiferença e suas
propriedades​.

Função de utilidade total


No módulo anterior, introduzimos o conceito de função utilidade, que é responsável pela determinação da
utilidade total do consumidor dada a sua cesta de consumo. Vimos ainda como a utilidade total de Júlia
variava quando mudávamos o número de salgadinhos consumido, ou seja, a quantidade consumida de um
bem. Entretanto, quando estudamos o problema de escolha de Gabriel, vimos que a opção pela cesta de
consumo ótimo envolvia o seguinte dilema: como alocar o último real gasto entre dois bens (frango e batata-
doce)? Surge ainda outra pergunta.

border_color
Atividade discursiva
Como é possível expressar a função de utilidade total em termos de dois bens?
Digite sua resposta aqui

Exibir soluçãoexpand_more

Basta usar o mapa da função utilidade.

Vejamos agora o caso de Ana, que consome apenas cerveja e drinks (coquetéis) quando vai ao bar. Como
seria a função utilidade dela para esses dois bens? Uma possibilidade (complicada!) é fazer um gráfico similar
ao de Júlia acrescido de um terceiro eixo para o segundo bem.

O gráfico (a), portanto, ilustra um morro de utilidade tridimensional:

Observemos as correspondências dos eixos:

Horizontal
Quantos drinks foram consumidos.

Vertical
Número de latinhas de cerveja que ela consome.

Já a altura do morro, indicada por uma linha de contorno constante por ponto, mede a quantidade de utilidade
gerada por combinações de consumo ao longo de cada linha de contorno. Todos os pontos ao longo de uma
linha do tipo geram o mesmo retorno em utilidade para Ana.

Com 4 latinhas de cerveja e 2 drinks, o ponto A gera 20 utils para Ana, enquanto B, com 1 latinha e 6 drinks,
consegue a mesma quantia. No entanto, não existe apenas uma forma de representar a relação entre utilidade
total e consumo de dois bens. Como na geografia com mapas topográficos, é possível fazer a representação
da superfície tridimensional em curvas de nível em apenas duas dimensões.

Trata-se do gráfico (b) acima. Nele, as linhas de contorno que mapeiam as cestas de consumo do gráfico (a)
estão representadas como curvas achatadas num plano cartesiano. Os economistas definem como curvas de
indiferença as que geram a mesma quantidade de utilidade total para diferentes combinações de bens.

Um indivíduo é indiferente em relação a duas cestas que estão sobre a mesma curva de
indiferença, já que elas lhe rendem a mesma utilidade.

Dadas as preferências de um consumidor, existe uma curva de indiferença para cada nível de utilidade total. A
curva de indiferença I2 destacada no gráfico (b) mostra as cestas que geram 20 utils; as outras duas curvas
(I1 e I3), respectivamente, 10 e 40 utils. Existem ainda outras infinitas curvas de indiferenças de Ana que não
estão representadas nos gráficos.

Observe com atenção o gráfico (b) e verifique por que o consumidor é indiferente entre as cestas de consumo
A e B: elas estão na mesma curva de indiferença, gerando, portanto, o mesmo nível de utilidade!

Observaremos agora as propriedades dessas curvas. Embora diferentes indivíduos tenham preferências
únicas e nunca apresentem o mesmo conjunto de curvas de indiferença, os economistas acreditam que elas
apresentem algumas propriedades gerais. Essas curvas estão ilustradas a seguir:

Vamos, agora, analisar as curvas.


A - Curvas de indiferença nunca se cruzam expand_more

Se duas curvas de indiferença com diferentes níveis de utilidade se cruzassem, qual seria o nível de
utilidade da cesta de consumo em que elas se cruzam? Seria diferente pelas curvas serem díspares?
Ou seria igual por uma cesta de consumo ter um só nível de utilidade total? Essa inconsistência indica
que curvas de indiferença diferentes não podem de cruzar.

B - Quanto mais distante da origem, maior a utilidade total da curva expand_more

Partimos do princípio de que mais é melhor; assim, quanto maior a quantidade dos dois bens, mais
para “fora" está situada a curva de indiferença.

C - Curvas de indiferença são naturalmente inclinadas expand_more

Novamente, a razão para isso é a hipótese de que mais é melhor. O diagrama no painel (c) anterior
ilustra o que aconteceria se uma curva de indiferença tivesse inclinação para cima: à medida que
aumentássemos as quantidades dos dois bens, permaneceríamos nessa mesma curva. Isso é
incompatível com nosso pressuposto de que mais é melhor.

D - Curvas de indiferença são convexas expand_more

Geometricamente, isso significa que um segmento de reta ligando dois pontos da curva de indiferença
fica inteiramente em uma região de utilidade maior. O diagrama (d) atesta que a inclinação dela
diminui à medida que deslizamos para baixo e para a direita. Desse modo, o arco da curva vai em
direção à origem; além disso, a inclinação dela é maior em cima do que embaixo. Esse atributo se deve
ao princípio da utilidade marginal decrescente: na prática, indivíduos preferem médias (cestas com um
pouco dos dois bens) a extremos.

Desse modo, o arco da curva vai em direção à origem; além disso, a inclinação dela é maior em cima do que
embaixo. Esse atributo se deve ao princípio da utilidade marginal decrescente: na prática, indivíduos preferem
médias (cestas com um pouco dos dois bens) a extremos.
Taxa marginal de substituição
Como vimos, as curvas de indiferença são inclinadas para baixo. Também observamos que sua inclinação
diminui à medida que deslizamos para baixo delas. A inclinação da curva de indiferença em cada ponto está
diretamente relacionada aos termos do trade-off enfrentado por um consumidor.

Esta figura representa uma curva de indiferença de Ana:

Na curva I1, se Ana se move da cesta A para a B, ela precisa renunciar a 2 unidades de cerveja por 1 drink

adicional para manter a utilidade total. Porém, estando mais à direita da curva (no ponto C), se renunciar a
apenas 1 cerveja, ela terá de tomar mais 4 drinks para manter a utilidade total.

Isso ilustra que, quando se move para baixo e para a direita da curva de indiferença, ocorre o seguinte:

Ana troca mais de um bem por menos de outro.

Os termos desse trade-off, ou seja, a razão entre drinks adicionais consumidos e cervejas renunciadas, são
escolhidos para manter a sua utilidade total constante.

Reformulando os trade-offs examinados acima em termos de inclinação, podemos calcular a inclinação em


diferentes pontos da mesma curva de indiferença. A inclinação da curva de indiferença entre A e B da figura
que acabamos de ver é -2 e a inclinação dessa curva entre os pontos C e D é -1/4. A inclinação da curva de
indiferença, portanto, diminui à medida que deslizamos para a direita e que a curva vai se tornando mais
achatada.

Mas por que os trade-offs mudam ao longo da curva de indiferença?

Isso se deve ao ponto inicial de Ana e ao princípio da utilidade marginal decrescente. Analisando o caso
intuitivamente, no ponto A ela tem muita cerveja e poucos drinks. Quanto à sua utilidade marginal, verifica-se
que:

check_circle
A utilidade das últimas unidades de cerveja é relativamente pequena se comparada às primeiras unidades
dela.

check_circle
A utilidade de uma unidade adicional de drinks é relativamente alta, já que Ana só consome uma unidade
deles na cesta A, ou seja, ainda está nas unidades iniciais de consumo de drinks.

check_circle
Ao deslizar para a direita da curva, Ana está perdendo em consumo de cerveja e ganhando no de drinks – e
esses dois efeitos precisam se anular entre si.

Reformulando esse raciocínio, temos que, ao longo da curva de indiferença: Mudança na utilidade total por
causa de menos consumo de cerveja + Mudança na utilidade total por mais consumo de drinks = Zero (nível
de utilidade estável).

À medida que Ana se move para a direita da curva de indiferença, assim como o faz sua posição inicial, o
trade-off dos dois bens vai mudar, uma vez que a utilidade marginal do consumo de um bem adicional
também é modificada. No exemplo da mudança do ponto C para o D, a situação inicial de Ana é inversa à da
mudança de A para B: ela já consome alguns drinks e pouca cerveja. Desse modo, a utilidade marginal que ela
perde renunciando uma unidade de cerveja é relativamente alta, enquanto a de consumir um drink a mais é
relativamente baixa, já que Ana:
Está numa posição inicial com pouca cerveja e muitos drinks

close
Quer mudar para ainda menos cerveja e mais drinks

Utilizando as notações UmgC e UmgD para denotar respectivamente as utilidades marginais de cerveja e
drinks e representar as mudanças no consumo de ambos, podemos formalizar esse mecanismo com o
emprego de equações. De forma geral, a mudança na utilidade total gerada pela variação no consumo de um
bem é igual a essa variação multiplicada pela utilidade marginal dele. Assim:

Mudança na utilidade total devido à variação no consumo de cervejas = U mgC × ΔQC

Mudança na utilidade total devido à variação no consumo de drinks = U mgD × ΔQD

Reescrevendo a equação nos novos termos, fica expresso o seguinte:

Umg xΔQC + Umg xΔQD = 0


C D

Rotacione a tela. screen_rotation


Rearranjando-a, ela agora fica assim:

−U mgC xΔQC = U mgDxΔQD

Rotacione a tela. screen_rotation


Perceba o sinal de negativo do lado esquerdo da última equação: ele representa a perda de utilidade total por
conta da redução do consumo de latinhas de cerveja, o qual, por sua vez, deve ser igual ao ganho de utilidade
total proveniente do aumento do número de drinks no lado direito da equação.

Devemos entender a relação dessas mudanças com a inclinação da curva de indiferença. Dividindo os dois
lados da equação 2 por ΔQD e por U mgC , encontramos isto:
−ΔQC /ΔQD = U mgD/U mgC

Rotacione a tela. screen_rotation


Nesta equação, temos:

Lado esquerdo

Menos a inclinação da curva de indiferença é a taxa pela qual Ana está disposta a trocar uma quantidade
de cerveja por outra de drinks.

close
Lado direito

Razão entre a utilidade marginal de drinks e a de cerveja — ou seja, a razão entre o que Ana ganha a mais
de utilidade com aqueles e com esta.

A razão entre as utilidades marginais do lado direito da equação acima é conhecida como taxa marginal de
substituição (TMS). Substituição, no caso específico, refere-se aos drinks no lugar das cervejas. Juntando
tudo isso, vemos que a inclinação da curva de indiferença de Ana é exatamente igual à razão entre a
utilidade marginal de um drink e a de uma cerveja — ou à sua TMS.

Relembrando

A inclinação das curvas de indiferença diminui quando que nos movemos para baixo e para a direita,
tornando-se mais achatadas. Logo, se o lado esquerdo da equação está diminuindo, essa diminuição deve
acontecer no direito para satisfazer a igualdade. Quando deslizamos para a direita, o que acontece na prática
é o seguinte: a razão entre a UmgD e a UmgC diminui. Verificamos isso na análise intuitiva da utilidade

marginal decrescente dos bens.

O achatamento das curvas de indiferança a refletir a lógica da utilidade marginal decrescente é denominado
taxa marginal de substiuição decrescente. Em termos gerais, ela informa que um indivíduo que consome
poucas unidades do bem C e muitas de D está disposto a trocar uma quantidade grande do bem D por uma
unidade a mais do C — e vice versa.
A condição de tangência
De que forma os conceitos de curva de indiferença e TMS se relacionam com o que vimos de restrição
orçamentária e cesta ótima no módulo 1? Para ilustrarmos essa relação, indicamos a figura a seguir. Seu
diagrama contém algumas curvas de indiferença de Ana e sua restrição orçamentária:

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Atividade discursiva
Ana só pode gastar R$40 quando sai. O preço da latinha de cerveja é de R$5 e o de um drink, R$8.

Qual é a cesta ótima de consumo dela?

Digite sua resposta aqui


Exibir soluçãoexpand_more

Para responder a essa pergunta, devemos analisar as curvas de indiferença representadas por I1, I2 e I3

no diagrama.

A representada por I3 é a utilidade máxima que Ana gostaria de ter. No entanto, não é possível alcançá-

la, uma vez que todas as cestas de consumo dessa curva de indiferença estão acima de sua reta
orçamentária. Ela está limitada por sua renda.

Ana tampouco deveria escolher as cestas da curva de indiferença I1, pois, embora as cestas entre os

pontos B e C ao longo dessa curva sejam factíveis, há outras cestas de consumo que lhe geram mais
utilidade e que cabem na sua renda.

Veja o caso da cesta A: assim como B e C, ela está sobre a sua reta orçamentária, porém gera mais
utilidade que ambas por estar na curva de indiferença I2, ou seja, mais afastada da origem que a curva
I1 .

De fato, a cesta de consumo A é a escolha ótima de Ana, com 3 latinhas de cerveja e 3 drinks. Ela está
na curva de indiferença mais afastada que Ana pode alcançar dada a sua renda.

Na cesta ótima, a reta orçamentária apenas toca a curva de indiferença mais afastada, sendo tangente
em relação a ela. Essa é a chamada condição de tangência, sendo aplicada quando as curvas de
indiferença são convexas.

Preços e taxa marginal de substituição


No ponto de tangência entre a curva de indiferença e a reta orçamentária, ou seja, a cesta ótima, a curva de
indiferença tem a mesma inclinação da reta orçamentária.

Retomando a equação representada acima, temos que:

Inclinação da curva de indiferança = -UmgD/UmgC

Rotacione a tela. screen_rotation


Na cesta ótima, podemos substituir a inclinação dessa curva pela da reta orçamentária, pois já vimos que
ambas são iguais nesse ponto. Assim:
Inclinação da reta orçamentária = -UmgD/UmgC

Rotacione a tela. screen_rotation


Relembrando

O que é a inclinação da reta orçamentária? Como vimos no módulo anterior, essa inclinação é exatamente a
razão de preços — pd/pc.

Juntando as duas equações, chegamos à regra do preço relativo:

U mgD pD
= , na cesta ótima de consumo.
U mgC pC

Rotacione a tela. screen_rotation


Lembrando que a razão entre as utilidades marginais dos bens é chamada de TMS, obtemos uma regra geral
para a cesta ótima de consumo: a taxa marginal de substituição é igual à razão entre os preços dos dois bens.

video_library
A condição de tangência
Confira esta análise da condição de tangência entre a reta orçamentária e a curva de indiferença do
consumidor.

Efeitos de uma variação no preço e na renda


O que vai acontecer se o preço de um dos bens mudar? Suponha que, por alguma razão, o bar que Ana
frequenta resolva aumentar os preços dos drinks. Agora, em vez de R$8, eles custam R$20. Como essa
mudança vai afetar a escolha de consumo dela?
Com o aumento dos preços dos drinks, ela vai consumir menos unidades do que antes, mas, como o preço da
cerveja se manteve, Ana ainda pode consumir a mesma quantidade máxima dessa bebida. O painel (a) desta
figura destaca a nova reta orçamentária de Ana (RO2) e a inicial (RO1):

A inclinação da reta orçamentária de Ana mudou. Isso ocorre porque o preço relativo dos drinks em termos de
cervejas subiu, isto é, a razão pd/pc aumentou em seu valor absoluto.

A RO de Ana agora intercepta o eixo horizontal em 2, que é o número máximo de drinks que ela pode
consumir. Sua cesta ótima de consumo inicial consistia em 3 cervejas e 3 drinks, o que agora deixou de ser
factível, já que está acima de sua reta orçamentária.

Para lidar com a nova situação, ela terá de escolher uma nova cesta de consumo ótima ao eleger um ponto na
RO2 que toque a curva de indeferença mais afastada possível. É o que mostra o painel (b) da figura: sua nova

cesta ótima será de B, com 4 cervejas e 1 drink.

Resta uma dúvida: se o preço dos drinks permanecer constante, mudando, em vez disso, a
renda direta de Ana, o que acontecerá?

Suponhamos que ela recebeu um aumento de salário, podendo agora gastar R$80 no bar. A inclinação de sua
reta orçamentária não muda, pois os preços dos bens permaneceram iguais. No entanto, Ana agora terá mais
dinheiro para gastar tanto em cerveja como em drinks.

Os dois interceptos de sua reta orçamentária mudam, pois ela tem mais poder aquisitivo. Assim, sua reta
orçamentária inteira se desloca para fora, se afastando da origem. Ana pode escolher outra cesta de
consumo, ou seja, uma que toque sua nova reta orçamentária RO2. Isso consequentemente aumentará o seu

consumo.
Ela, portanto, consome mais os dois bens quando sua renda aumenta: o consumo de drinks sobe de 3 (cesta
A) para 6 (B); o de cerveja, de 3 para 6 latinhas. Isso é possível porque, em sua função utilidade, ambos
constituem bens normais, isto é, aqueles cuja demanda varia positivamente de acordo com a variação na
renda.

Substitutos e complementos perfeitos


Algumas vezes, a preferência pela combinação de dois bens pode ter algum tipo de relação.

Exemplo
Se Pedro toma exclusivamente café com açúcar e, a cada xícara da bebida, coloca duas colheres de açúcar,
existe uma relação complementar entre os dois bens. Por outro lado, se gosta tanto de mate quanto de
guaraná, ele pode substituir um pelo outro. Isso resulta em formatos diferentes da curva de indiferença.

No primeiro caso, quando um consumidor quer consumir dois bens na mesma proporção, eles são chamados
de complementos perfeitos. Como dissemos, Pedro só gosta de tomar uma xícara de café acompanhada de
duas colheres de açúcar. Uma xícara extra sem açúcar não lhe oferece utilidade adicional, tampouco uma
colher extra sem café. O gráfico (a) desta figura indica as curvas de indiferença de Pedro para xícaras de café
e colheres de açúcar:

Essas curvas formam ângulos retos, pois uma unidade adicional de cada bem fora da proporção 1:2 não lhe
dá mais utilidade, o que significa que ele permanece na mesma curva de indiferença. Somente um aumento
dos dois bens na proporção de sua preferência faria Pedro dar “um salto” nas suas curvas de indiferença. O
diagrama (a) ainda evidencia:

Reta orçamentária de Pedro (em cinza);

Cesta A tangenciando a reta (sua cesta de consumo ótimo).


Note que a inclinação da reta orçamentária aqui não afeta seu consumo relativo de café e açúcar. Ele
consome ambos sempre na mesma proporção independentemente de seu preço. Repare ainda que, no ponto
A, as curvas de indiferença sofrem uma mudança abrupta de inclinação: da esquerda para a direita, a curva
deixa de ser vertical, passando a ser horizontal.

O que acontece com a taxa marginal de substituição?

No caso de complementos perfeitos, essa taxa é indefinida, pois o consumidor não está disposto a fazer
qualquer substituição entre os dois bens.

Já o diagrama (b) da figura acima aponta as curvas de indiferença de Pedro para o segundo caso: gostar
tanto de mate quanto de guaraná, ou seja, os dois bens lhe conferem a mesma utilidade. Como está sempre
disposto a substituir a mesma quantidade de um item pela de outro, suas curvas de indiferença são linhas
retas e sua taxa marginal de substituição, constante (afinal, a TMS é a inclinação da CI, que é uma reta. Logo,
trata-se de uma constante).

O painel (b) também destaca a reta orçamentária de Pedro: quando ela tem inclinação diferente das curvas de
indiferença, como é o caso, essa curva vai encostar na reta em um dos eixos. Desse modo, ele consumirá
apenas o bem:

Mais barato;

O que ele puder comprar a maior quantidade possível, como o mate (indicado pela cesta b).

Composta apenas por um dos bens, esse tipo de cesta ótima é chamada pelos economistas de solução de
canto. O que aconteceria se a inclinação da reta orçamentária de Pedro fosse igual à da própria reta? Uma de
suas curvas de indiferença a tocaria em todos os seus pontos, de modo que qualquer cesta sobre a reta de
Pedro seria uma cesta ótima.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Sobre as curvas de indiferença, assinale a alternativa falsa:

A Curvas de indiferença de um consumidor racional são côncavas.


B Curvas de indiferença geram a mesma quantidade de utilidade total para diferentes
combinações de bens.

C Existe uma curva de indiferença para cada nível de utilidade total.

D Curvas de indiferença mais distantes da origem oferecem mais utilidade.

E As curvas de indiferença nunca se cruzam no gráfico.

Parabéns! A alternativa A está correta.

As curvas de indiferença do consumidor racional são convexas. A inclinação de uma curva de indiferença
diminui à medida que deslizamos para baixo e para a direita. Isso se deve ao princípio da utilidade
marginal decrescente.

Questão 2

Sobre a taxa marginal de substituição, assinale a alternativa falsa:

No ponto de tangência entre a curva de indiferença e a reta orçamentária, a taxa marginal


A
de substituição é igual à inclinação dessa reta.

B A taxa marginal de substituição é a razão entre as utilidades marginais de dois bens.

C A inclinação da curva de indiferença é igual à taxa marginal de substituição.

Quando dois bens têm uma utilidade marginal decrescente, a taxa marginal de
D
substituição é crescente.

E
Curvas de indiferença de bens perfeitamente complementares podem ser representadas
com ângulos retos.

Parabéns! A alternativa D está correta.

A taxa marginal de substituição será decrescente se os dois bens tiverem uma utilidade marginal
também decrescente. Isso se dá pelo fato de o trade-off entre ambos mudar ao longo da curva; assim, um
consumidor vai exigir cada vez mais do bem 2 para compensar cada unidade do 1 ao qual ele renuncia à
medida que a quantidade daquele aumenta em relação à consumida deste.

3 - Tipos de custo
Ao final deste módulo, você será capaz de distinguir os tipos de custo da firma e suas
aplicações.

Custos e insumos
Já verificamos como o consumidor racional toma decisões de consumo. Agora veremos como a firma realiza
as suas decisões de produção. Primeiramente, precisamos definir o que é firma.
É a organização que produz bens e serviços com o objetivo de vendê-los. Para produzi-los,
ela precisa de insumos que envolvem custos.

Já a função de produção da firma é a relação entre a quantidade de produto feita por ela e seu montante de
insumos. Um exemplo de insumo é o número de trabalhadores da firma. O custo seria o salário deles.

Para uma compreensão melhor desses conceitos, tomaremos a fábrica de Vitória como exemplo. Por questão
de simplicidade, vamos supor que ela:

Produz apenas um produto: automóveis.

Usa somente dois insumos: capital (máquinas) e trabalho.

Possui apenas um tipo de máquina.

Conta com trabalhadores da mesma qualidade, isto é, com as mesmas capacidades para executar o seu
trabalho.

Vitória paga o aluguel de 20 máquinas em sua fábrica; no momento, não tem capacidade de alugar mais
máquinas nem menos, pois já assinou contrato com o locatário delas. Isso é conhecido como insumo fixo,
pois sua quantidade é fixa e não pode variar — ao menos, não no curto prazo.

No entanto, ela pode escolher quantos trabalhadores irá contratar. Esse outro tipo de insumo é denominado
insumo variável; com ele, uma firma pode variar a sua quantidade a qualquer momento. A rigidez do montante
dos insumos — isto é, se eles são fixos ou variáveis — depende, na verdade, do horizonte de tempo: no longo
prazo, passado um tempo suficientemente grande, as firmas podem ajustar a quantidade de qualquer insumo.

Exemplo

Após alguns anos ou o tempo do contrato de aluguel de Vitória, ela poderia negociar outro contrato com o
locatário de máquinas e ajustar sua quantidade de capital fixo.

Desse modo, não existem insumos fixos no longo, mas apenas no curto prazo. O número de carros produzido
por ela depende de quantos trabalhadores foram contratados. Cada um — mesmo sem ser muito eficiente —
pode operar as 20 máquinas adquiridas por Vitória.

person
Quando um trabalhador adicional é contratado, as máquinas são divididas igualmente entre os funcionários.

group
Quando há dois trabalhadores, cada um opera dez máquinas.

group_add
Se forem três, cada um mexe em 6 e se reveza nas 2 restantes.

E assim por diante. Se Vitória empregar um número maior de trabalhadores, as máquinas serão operadas de
forma mais intensiva; assim, mais carros estarão sendo produzidos. A função de produção da firma é a
relação entre a quantidade de trabalho e a de produto (carros) para um dado montante de insumo fixo
(máquinas). A figura a seguir informa a função de produção da fábrica de Vitória em dois formatos (gráfico e
tabela):

Denominada curva de produto total da fábrica, essa função de produção revela como uma quantidade de
produto depende do montante de insumo variável para uma dada quantidade de insumo fixo. O eixo vertical
exibe o número de carros produzidos (Y); o eixo horizontal, por sua vez, o montante de insumo variável, ou
seja, o número de trabalhadores empregados (L).

A curva de produto total está positivamente inclinada, mas sua inclinação não é constante: à medida que se
acrescentam trabalhadores empregados, o número de carros produzido aumenta, mas esse acréscimo na
produção é cada vez menor. Ou seja: ao deslizarmos para a direita da curva, ela se tornará mais achatada.

Para entendermos essa mudança na inclinação, observemos a tabela da figura acima: ela mostra o produto
marginal do trabalho (PMgL), isto é, a variação na quantidade de produto ao se acrescentar uma unidade de
trabalho. Já possuímos as informações sobre a quantidade dele para todas as unidades de trabalho, isto é,
para 1, 2, 3 trabalhadores — e assim por diante.

Dica
Nem sempre é necessário haver uma informação individualizada dessa maneira: muitas vezes, a quantidade
de produto para a variação do trabalho é conhecida em dezenas (para empresas com 10 ou 20 trabalhadores,
por exemplo) ou outros intervalos possíveis.

Para calcularmos o PMgL nesses casos, podemos usar a seguinte equação:

varia ção na quantidade de produto


Produto marginal do trabalho =
ção na quantidade de trabalho
varia

Rotacione a tela. screen_rotation


Ou, mais formalmente, esta:

P M gL = ΔY /ΔL

Rotacione a tela. screen_rotation


A inclinação na curva de produto total é igual ao produto marginal do trabalho. Podemos observar que ele
diminui quando mais trabalhadores são empregados; portanto, a curva se achata à medida que outros mais
são contratados.

A razão para isso é simples: em geral, ocorrem retornos decrescentes de um insumo quando se registra um
aumento em sua quantidade. Mantido constante o montante dos demais insumos, reduz-se o produto
marginal dele.

Exemplo
Pense numa sorveteria: se só houver uma máquina de sorvete e um trabalhador operando, pode-se aumentar
bastante a produção ao contratar um empregado extra para eles se revezarem entre duas atividades: fazer
sorvete e atender os clientes. Mas não se ganha muito em produção contratando 10 empregados com apenas
uma máquina: não é possível que todos eles a operem ao mesmo tempo.

O mesmo ocorre com a fábrica de Vitória. Cada trabalhador adicional passa a dividir com mais trabalhadores
o insumo fixo de 20 máquinas. Isso faz com que ele não consiga produzir tanto quanto o anterior; portanto, o
produto marginal por trabalhador diminui.
Atenção!

A hipótese dos retornos decrescentes só é válida caso tudo mais seja mantido de maneira constante. Se os
demais insumos pudessem mudar também, as curvas de produto total e marginal se deslocariam.

Veja as curvas de produto total (PT) e marginal por trabalhador (PMgL) na fábrica de Vitória na situação inicial
(20 máquinas) e na atual (10):

Observemos os dois gráficos:

Gráfico (a)
A menos que sejam empregados 0 trabalhadores, PT10, que representa a produção com 10 máquinas, está
situada abaixo de PT20 (20 máquinas), pois, com menos unidades disponíveis, qualquer número de

trabalhadores produz menos carros.

Gráfico (b)
Mostra o exposto no gráfico anterior em termos de produto marginal. Embora as duas curvas tenham
inclinação para baixo, já que o número de máquinas em cada situação é fixo, PMgL20 fica acima de PMgL10

em todos os pontos, refletindo, assim, que o PMgL é mais alto quando há mais insumo fixo.

Curvas de custo
Mostramos que Vitória pode conhecer sua função de produção verificando a relação entre insumos de
trabalho e capital e produção de automóveis. Mas nada falamos sobre suas escolhas de produção. Em geral,
os produtores vão escolher uma produção que maximize seus lucros. A definição formal de lucro é: Lucro =
receita total - custo total

Ou, em notação, ele é expresso da seguinte forma:

π = RT − CT

Rotacione a tela. screen_rotation


A receita total (RT) é o que um produtor obtém pela produção vendida, ou seja, o preço daquele bem
multiplicado pelo montante vendido dele. Se estamos falando do número de automóveis (qA) e do seu preço

(pA), a receita total é dada pela igualdade:

RT = pA × qA

Rotacione a tela. screen_rotation


E o custo total? Como vimos neste módulo, insumos são custosos e apresentam dois tipos: fixos e variáveis.
Cada insumo vai ter seu custo ao ser empregado na produção. O do aluguel de máquinas — insumos fixos, ou
seja, que não variam — recebe o nome de custo fixo (CF).

O CF não depende do montante produzido, uma vez que o produtor já incorre nele quando toma a decisão de
produzir, não podendo mudar sua quantidade — ao menos, não no curto prazo. Já o custo do insumo variável
é denominado custo variável (CV).

Exemplo

Os trabalhadores da fábrica de Vitória são um exemplo de custo variável.

O CV consiste no número de trabalhadores multiplicado pelo seu salário (que é o custo por unidades de
trabalho). Como a quantidade produzida depende desse número, o custo variável também depende dele. A
soma dos custos fixo e variável para um determinado montante de produto configura, portanto, o custo total
(CT) dela. Essa relação pode ser expressa pela equação:

Custo total = custo fixo + custo variável

OU

CT = CF + CV

A tabela a seguir indica como é calculado o custo total da fábrica de Vitória. Perceba que o CT sobe conforme
o número de unidades produzida aumenta. Isso ocorre por conta do CV: quanto maior for o montante
produzido, maior será o custo total da fábrica.

Quantidade de Quantidade de
Custo variável CV Custo fixo CF Cu
carros Y trabalho L

0 0 R$0 R$500 000 R$

13 1 1 000 500 000 50

24 2 2 000 500 000 502

33 3 3 000 500 000 503

40 4 4 000 500 000 504

45 5 5 000 500 000 50

48 6 6 000 500 000 50

50 7 7 000 500 000 507

50 8 8 000 500 000 508

Mariana Stussi Neves.

Custo marginal e médio


Imaginemos agora que Vitória queira fazer uma análise na margem sobre seus custos e compreender o custo
de cada unidade a mais de carro em sua produção. Assim como acontece no caso do produto marginal, será
mais fácil entender o custo adicional de uma unidade a mais de produto se tivermos as informações
detalhadas para cada unidade dele. Infelizmente, este não é o caso: ela só dispõe desses dados em intervalos
de produção. Exemplo: Zero, 13, 24 carros.

Vamos analisar então a sorveteria de Mateus. A tabela a seguir detalha, na primeira coluna, a produção dela e
os seus custos. Ele possui um custo fixo: diariamente, são gastos R$125 com aluguel, máquina etc.

Mateus precisa pagar seus funcionários e os insumos para a feitura do produto, como açúcar, leite e outros
ingredientes. Eles representam o seu custo variável (expresso na coluna 3) e dependem de quantos sorvete
são produzidos. Já o custo total, ou seja, a soma dos custos fixo e variável, figura na coluna 4:

Quantidade de
Custo fixo CF Custo variável CV Custo total CT Cu
sorvete Y

0 125 0 125

1 125 5.00 130.00 130

2 125 20.00 145.00 72

3 125 45.00 170.00 56

4 125 80.00 205.00 51

5 125 125.00 250.00 50

6 125 180.00 305.00 50

7 125 245.00 370.00 52

8 125 320.00 445.00 55

Mariana Stussi Neves.

Já apresentamos esses conceitos neste módulo. Além dessas medidas de custo, existem ainda outras duas
muito usadas pelos economistas:

Custo marginal (CMg);

Custo médio (CMe).


Assim como observamos no produto marginal, o custo marginal é a variação no custo total ao se acrescentar
uma unidade de trabalho (por exemplo, um trabalhador a mais ou um dia a mais de trabalho). Sua forma de
cálculo também é parecida com a que vimos antes:

varia ção no custo total


Custo marginal =
variação na quantidade de produto
ou

CMg = ΔCT /ΔY

Rotacione a tela. screen_rotation


O custo médio, por sua vez, possui um cálculo ainda mais simples: como o próprio nome diz, ele é uma
média. Para calculá-lo, basta dividir o custo total pela quantidade de produto.

Custo médio = custo total

quantidade de produto
ou

CM e = CT /Y .

Rotacione a tela. screen_rotation


As colunas 5 e 6 da tabela anterior oferecem respectivamente os custos médio e marginal da sorveteria de
Mateus. O marginal aumenta com o número produzido de sorvetes, enquanto o médio começa alto e diminui à
medida que mais unidades são produzidas. No entanto, a partir da 5ª unidade de sorvete, ele volta a crescer.
Para compreendermos o comportamento das duas curvas, devemos observar os gráficos desta figura:

Vamos, agora, analisar esses gráficos.

Gráfico (a) expand_more

Mostra a curva de CT da sorveteria de Mateus, indicando o aumento dela com o número de unidades
produzida. A inclinação da curva de CT também não é constante, pois ela se torna cada vez mais
inclinada à medida que se desliza para a direita. Os retornos decrescentes do insumo variável são a
razão para isso.

Gráfico (b) expand_more

No segundo gráfico, vemos a curva de custo marginal (CMg) da sorveteria. Como pudemos ver
anteriormente no caso da curva de produto marginal, que corresponde à inclinação da de produto total,
o custo marginal é igual à inclinação da curva de CT. Como ela é positivamente inclinada, a inclinação
da própria curva de custo total aumenta. Novamente, os retornos decrescentes de insumos justificam
a inclinação da CMg. Como o produto marginal do insumo declina, cada vez mais insumo variável será
necessário para produzir qualquer unidade adicional de produto. Como cada unidade adicional de
insumo variável tem de ser paga, o custo por unidade adicional de produto também aumenta.

Gráfico (c) expand_more

Indica o custo médio. Conforme apontamos, ele não tem inclinação constante: a curva de CM tem um
formato de “U”. Isso ocorre por dois efeitos acontecerem simultaneamente na curva de custo médio.

Atenção!
Lembre-se de que o produto marginal é decrescente.

Recordemos que o custo total é composto por dois tipos de custo: variável e fixo. Assim, o médio também
pode ser decomposto em dois componentes:

Custo fixo médio (CFM);

Custo variável médio (CVM).

O cálculo de ambos é direto: divide-se cada um pela quantidade de produto produzida.

Custo fixo médio (CF M ) =


custo f ixo

quantidade de produto
ou

CF M = CF /Y

Rotacione a tela. screen_rotation


á
custo vari vel
á é
Custo vari vel m dio (CF M ) = ou CV M = CV /Y
Quantidade de produto

Rotacione a tela. screen_rotation


No início da produção, quando há poucas unidades, o custo total médio (CME) é alto por conta do peso
grande que o componente do custo fixo tem sobre ele. Conforme se produz mais, esse componente de custo
fixo vai sendo “diluído”. Em outras palavras, assim que o denominador aumenta, o CFM diminui, de modo que
a inclinação da curva também diminui, tornando-a mais achatada. Isso ocorre até ela atingir um ponto mínimo
e voltar a crescer.

O crescimento do custo médio depois do ponto de mínimo ocorre por conta do outro efeito: o do custo
variável. Se, por um lado, o CFM cai, o CVM sobe. Esse crescimento do custo variável se deve ao efeito dos
retornos decrescentes dos insumos, fazendo com que, quanto maior for a quantidade de produto, mais
insumo variável será necessário para produzir unidades adicionais, aumentando, por sua vez, o custo variável.

Veja a seguir o gráfico com essa dinâmica dos custos, ilustrando, para tal, cada uma das curvas. Como se
pode observar, o CME e o CMg se cruzam no ponto mínimo de custo total médio. A partir deste ponto
(destacado pela letra M na figura), o CVM ultrapassa o CFM; dessa forma, o custo variável passa a ser maior
que o custo fixo. O ponto em que a curva de custo marginal intercepta a de custo médio é o ponto custo total
médio mínimo. A quantidade de produto desse ponto recebe o nome de produto de custo mínimo.

video_library
Curvas de custo
Confira as diversas curvas de custo da firma e a relação entre elas.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Sobre função de produção da firma, assinale a afirmativa falsa:

A É a relação entre a quantidade de produto que uma firma irá produzir e a de insumos.

B Os insumos da função de produção de curto prazo são fixos.

A curva que mostra como a quantidade de produto depende do montante de insumo


C
variável para uma dada quantia de insumo fixo é chamada de curva de produto total.

D A inclinação da curva de produto total é igual ao produto marginal do insumo variável.

A hipótese de retornos decrescentes implica que a função de produção da firma terá


E
inclinação decrescente.

Parabéns! A alternativa B está correta.

No curto prazo, os produtores não conseguem modificar o montante de alguns insumos. Trata-se dos
chamados insumos fixos. Eles só podem alterar a sua produção mudando a quantidade de insumos
variáveis. No longo prazo, não existem insumos fixos: todos eles são variáveis.
Questão 2

Sobre as curvas de custo do produtor, assinale a afirmativa falsa:

O custo variável é a variação no custo total ao se acrescentar uma unidade de insumo


A
variável.

B O custo fixo médio é o custo fixo dividido pela quantidade total produzida.

C A curva de custo marginal é crescente.

D O custo total é a soma dos custos fixo e variável.

E O custo médio é a soma do custo variável médio e o custo fixo médio.

Parabéns! A alternativa A está correta.

Tal definição corresponde ao custo marginal.


4 - Lucro do produtor
Ao final deste módulo, você será capaz de demonstrar a quantidade de produto para a
maximização do lucro do produtor.

Oferta e competição perfeita


No módulo anterior, estudamos as curvas de custo do produtor e enunciamos os conceitos de lucro e receita.
Mas resta saber ainda como esses conceitos estão relacionados entre si e de que forma afetam as escolhas
de produção e oferta das firmas. Isso depende do tipo de mercado em que uma firma se encontra.
Analisaremos neste módulo a seguinte situação: competição perfeita.

Se você já foi a uma feira, deve ter notado que, em geral, existe mais de um feirante vendendo batatas ou
tomates. Também já deve ter percebido que o preço desses produtos repetidos costuma ser muito parecido
ou igual entre as barracas. O barulho alto característico das feiras é um sintoma da competição que os
feirantes enfrentam entre si. Para vender produtos que não oferecem muitas diferenças entre uma barraca e
outra, competir é inevitável. Para isso, recorre-se à voz. Mas por que eles não usam outros recursos, como
alterar o preço e a quantidade ofertada, para tentar vender mais?
José e Sônia são dois feirantes que vendem batatas. Ambos comercializam o seu produto na mesma feira
aos domingos. Suponha também que suas batatas sejam da mesma qualidade. Na prática, eles competem
entre si ao disputarem potenciais compradores.

Será que um dos dois devia impedir o outro de vender batatas? Ou eles deveriam fazer um
acordo para aumentar o preço dela?

É provável que a resposta seja não. Há centenas de outros feirantes vendendo esse item, seja na mesma feira
ou em outra talvez não muito distante. Sônia e José definitivamente estão competindo com todos esses
vendedores de batata.

Se ambos tentassem aumentar o preço da batata, provavelmente não conseguiriam vender muito, pois os
consumidores encontrariam outra mais barata a apenas algumas barracas de distância. Desse modo,
podemos dizer que José e Sônia são produtores tomadores de preço.

Um produtor é chamado assim quando suas ações não afetam o preço de mercado do bem que ele vende. O
raciocínio análogo vale para os consumidores tomadores de preço: eles não podem influenciar esse preço por
meio de suas ações. Em um mercado perfeitamente competitivo, consumidores e produtores são tomadores
de preço. Com isso, decisões individuais, de quem quer que elas partam, não afetam o preço de mercado de
determinado bem. Além disso, há duas condições necessárias para a competição perfeita:
A indústria deve possuir um número relativamente grande de produtores e nenhum deles pode
ter grande participação no mercado.

A participação de mercado de um produtor é a fração do produto total da indústria pela qual ele
é responsável. Se possuir uma parcela muito grande dele, ele passará a influenciar o preço de
mercado do bem que produz. Por exemplo, na crise do petróleo da década de 1970, a
Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) tinha quase um terço de fatia da
produção total de petróleo mundial. Ao diminuir a quantidade ofertada, ela influenciou
diretamente no preço do barril. Este não é o caso de José nem de Sônia.

Os consumidores devem considerar os produtos de todos os produtores equivalentes.

Isso não seria verdade se os compradores acreditassem que as batatas de Sônia são de melhor
qualidade que as de José. Caso realmente fossem melhores, ainda que ela aumentasse um
pouco o seu preço, os consumidores continuariam comprando em virtude de sua melhor
qualidade.

No caso de commodities (ou produtos padronizados), os consumidores costumam considerar o


produto de um produtor como perfeitamente substituível pelo de outro. Temos como exemplo
um produtor de batatas como José ou Sônia. Eles não podem aumentar o preço de suas
batatas sem perder todas as suas vendas para outros vendedores. Assim, para que uma
indústria seja perfeitamente competitiva, é necessário que seu produto seja padronizado.

Livre entrada e saída


Além das duas condições enunciadas acima, os mercados perfeitamente competitivos têm ainda outra
característica: a livre entrada e saída de firmas e produtores. Dito de outra forma, não há barreiras para seu
acesso ao mercado.

Tampouco existem custos adicionais associados à saída do mercado, como tarifas associadas ao
fechamento de uma firma. Contudo, a livre entrada e saída não é uma condição necessária para a competição
perfeita, e sim uma característica comum na maioria dos mercados competitivos.
Exemplo
Acesso limitado a recursos, obstáculos legais e regulamentações governamentais.

-->

Como funcionam os mercados perfeitamente competitivos?

Quando um produtor aumenta o montante dele em uma unidade, sua receita cresce, mas, infelizmente,
acontece o mesmo com seu custo.

Também vimos que esse aumento no custo por unidade extra de produto é conhecido como custo marginal.
Analisemos agora outro conceito relativo a esse tópico: receita marginal (RMg). Analogamente, ela é a receita
adicional gerada com a venda ao se aumentar o produto em uma unidade. Formalmente, temos a seguinte
equação:

Para responder a essa pergunta, primeiramente examinaremos de que modo um produtor maximiza o seu
lucro individualmente em uma indústria perfeitamente competitiva. Em seguida, entenderemos o significado
de lucro econômico a partir da análise dos lucros e prejuízos de um negócio hipotético.

Imagine que João e Maria administrem um cultivo de café. Suponha que o preço de mercado da saca seja
R$40 e que eles sejam tomadores de preço, podendo, assim, vender o montante que quiserem com esse
preço. Quantas sacas eles devem produzir para maximizar seu lucro?

Já vimos que o lucro é igual à receita total menos o custo total, assim como a receita total é o preço de
mercado multiplicado pela quantidade de produto. Como fizemos no caso do consumidor, recorreremos agora
à análise marginal para encontrar a quantidade ótima de produto (que maximiza o lucro) a ser vendida.

Quando um produtor aumenta o montante dele em uma unidade, sua receita cresce, mas, infelizmente,
acontece o mesmo com seu custo.

Também vimos que esse aumento no custo por unidade extra de produto é conhecido como custo marginal.
Analisemos agora outro conceito relativo a esse tópico: receita marginal (RMg). Analogamente, ela é a receita
adicional gerada com a venda ao se aumentar o produto em uma unidade. Formalmente, temos a seguinte
equação:
variąção na receita total
receita marginal = ou RM g = ΔRT /ΔY
varia ção no produto

Rotacione a tela. screen_rotation


Mas como isso ajuda a descobrir a quantidade ótima de sacas de café que João e Maria devem produzir para
maximizar os lucros de sua produção?

A tabela a seguir aponta a receita total, o custo total e o lucro total por unidade de saca de café do cultivo de
ambos, além dos cálculos de custo e receita marginais. A última coluna, por sua vez, exibe o ganho líquido
por saca, isto é, a receita marginal menos o custo marginal.

Quantidade de café C. Marginal por R.


Custo variável CV Custo total CT
Y (sacas) saca CMg sac

0 0 20.00 - -

1 25.00 45.00 25.00 40

2 55.00 75.00 30.00 40

3 65.00 110.00 35.00 40

4 75.00 150.00 40.00 40

5 85.00 195.00 45.00 40

6 95.00 245.00 50.00 40

Mariana Stussi Neves.

Como vimos no módulo 3, esta tabela evidencia que o custo variável e o total crescem à medida que a
produção aumenta. O custo marginal também sobe a cada unidade de café por conta dos retornos
decrescentes dos insumos. A RMg, no entanto, permanece constante, uma vez que o preço do produto não
muda (afinal, João e Maria são tomadores de preço).

Examinemos agora a última coluna, a de ganho líquido por saca: até a quarta saca de café produzida, ambos
registram um ganho líquido positivo. Produzir, portanto, gera mais receita do que custos. Na quarta saca, o
ganho líquido já é zero; a partir da quinta, ele passa a ser negativo, pois o custo marginal é maior que a receita
marginal.
Podemos observar essas curvas graficamente para a melhor absorção desse conceito:

A curva de custo marginal (CMg) apresenta uma inclinação positiva e permanece abaixo da de receita
marginal (RMg) até o ponto E, onde ela intercepta a RMg. Até E (ou até a quarta saca), João e Maria
contabilizam um ganho líquido positivo por saca.

A partir de E, a CMg ultrapassa a curva de receita marginal, enquanto o ganho líquido se torna negativo, ou
seja, eles passam a perder dinheiro com a produção de unidades adicionais de sacas de café.

Desse modo, o ponto que maximiza o lucro de ambos é o E, com uma produção de quatro sacas de café. Note
que, neste ponto, a receita marginal é exatamente igual ao custo marginal. Isso é chamado de regra de
produto ótimo do produtor. Na quantidade ótima de produto, RMg = CMg.

border_color
Atividade discursiva
Sabemos então que, no ponto indicado, João e Maria não encontram incentivos para produzir mais nem
menos, pois ele se trata da quantidade de produto ótima deles. Mas este é o único ponto no qual a produção
dele e sua manutenção no mercado fazem sentido?

Digite sua resposta aqui

Exibir soluçãoexpand_more

A resposta é não.
A decisão de uma firma permanecer ou não em um mercado depende de seu lucro econômico, medida
que considera o custo de oportunidade dos recursos de um negócio além de suas despesas explícitas.

Se fôssemos pensar no lucro econômico de João e Maria, poderíamos incluir como custo de
oportunidade de investir na produção de café o quanto esse dinheiro renderia no banco. Lembremos que
custo de oportunidade é o que você deixa de obter (rendimento do banco) ao optar por outra atividade
(produção de café).

O que diferencia o lucro econômico do contábil é o custo implícito, isto é, os benefícios dos quais se abdica
no uso dos recursos da firma.

Vamos supor que todos os custos (implícitos e explícitos) estejam incluídos na tabela a seguir, mostrando,
portanto, o lucro econômico. Para saber se Maria e João operam em lucro ou prejuízo, devemos olhar para:

Custo total médio mínimo de sua produção.

Preço de mercado do café.

Esta tabela calcula o custo variável médio e o total médio para a produção de ambos. Consideramos o custo
fixo como dado; portanto, são valores de curto prazo:

Quantidade de café Custo variável Cu


Custo variável CV Custo total CT
Y (sacas) médio CVM = CV/Y CT

0 0 20.00 - -

1 25.00 45.00 25.00 45

2 55.00 75.00 27.50 37

3 65.00 110.00 21.67 36

4 75.00 150.00 18.75 37

5 85.00 195.00 17.00 39

6 95.00 245.00 15.83 40


Mariana Stussi Neves.

Como se pode observar, o custo total médio é minimizado na terceira saca no valor de R$36,67, que
corresponde ao produto de custo mínimo.

No módulo anterior, frisamos que o lucro π é igual à receita total (RT) menos o custo total (CT).

Logo:

Se RT > CT
A firma é lucrativa.

Se RT < CT
A firma tem prejuízo.

Se RT = CT
A firma possui custo e receita iguais e lucro zero.

Também é possível manipular essas equações dividindo os dois lados pelo produto Y e expressar essa ideia
em termos de receita e custo por unidade de produto:

π/Y = RT /Y − CT /Y

Rotacione a tela. screen_rotation


O primeiro termo do lado direito da equação (RT/Y) representa a receita média, que é igual ao preço de
mercado das sacas de café, uma vez que o preço é constante. Já o segundo termo constitui o custo total
médio. Dessa maneira, uma firma será lucrativa se o preço de mercado de seu produto exceder o custo total
médio da quantidade que ela produz e terá prejuízo se o preço de mercado for inferior.

Reescreveremos essas relações a seguir:

Se P > CTM
A firma é lucrativa.

Se P < CTM
A firma tem prejuízo.

Se P = CTM
A firma possui custo e receita iguais e lucro zero.

Também podemos observar essa relação graficamente. Esta figura apresenta dois gráficos com diferentes
preços de mercado de saca de café:

No gráfico (a), o preço de mercado da saca de café excede o custo total médio mínimo, em que p = 40, e a
firma opera em lucro. João e Maria possuem uma situação lucrativa, pois o preço de R$40 excede o custo
total médio a equilibrar receita e custo; afinal, o ponto de custo total médio mínimo é R$36,67.

O ponto E do gráfico é o caso já analisado no qual ambos produzem a quantidade maximizadora de lucro:
quatro sacas de café. Nesse montante, o custo total médio, indicado por B no gráfico, é de R$37,50. Como o
preço de mercado por saca é maior que o custo total médio por unidade, a produção de João e Maria mostra
ser lucrativa.

Esse lucro é indicado pela distância vertical entre a reta de receita marginal e o custo total médio dessa
quantidade de sacas ou pela distância entre os pontos E e B multiplicada pelo número de sacas. A área
sombreada (cinza) no gráfico ilustra o lucro de João e Maria.

É possível expressar o lucro total também em termos de lucro por unidade:

π = RT − CT = (RT /Y − CT /Y )xY

ou

π = (p − CT M )xY

Rotacione a tela. screen_rotation


Já no gráfico (b), conforme indica a letra D, a firma, com p = 30, ou seja, abaixo do custo total médio mínimo,
opera em prejuízo. Nessa situação, a curva de custo marginal corta a de receita marginal (ou preço) no ponto
C, que corresponde ao montante de duas sacas de café.
Agora é negativa a distância entre a reta de receita marginal e o ponto de custo total médio associado à
quantidade W, que equivale a R$37,50. O custo total médio excede o preço de mercado. Com isso, a produção
de Maria e João opera em prejuízo.

Assim, para determinar se um produtor é lucrativo ou não, é necessário comparar o preço de mercado do bem
e o que iguala receita e custo para o produtor, ou seja, seu custo total médio mínimo.

video_library
Escolha do produtor
Confira esta análise sobre a escolha do produtor.

A curva de oferta
Vimos até aqui como os produtores de um mercado perfeitamente competitivo decidem suas quantidades
ótimas de produção. Também apontamos neste módulo que, no curto prazo, o número de produtores ou
firmas desse tipo de indústria é fixo, não havendo entrada nem saída. Mas qual é a quantidade total de bens
ofertada em um determinado mercado?

Sabemos que cada produtor tomará o preço como dado e fará sua escolha individual sobre a quantidade
ótima de produto. Neste módulo, fizemos a suposição de que não haja diferença na qualidade dos bens dos
produtores. Vamos estender essa hipótese para supor também que todos os produtores sejam iguais, ou seja,
arquem com os mesmos custos e insumos.

Como seria a curva de oferta dessa indústria?

Revisitemos o mercado de café analisado anteriormente. Vamos supor, que além de João e Maria, existam
outros 49 participantes idênticos, totalizando, assim, um grupo de 50. Sabendo que o número de produtores
desse mercado é dado, cada um vai tomar sua decisão de produzir individualmente.
Desse modo, cada um igualará seu custo marginal à receita marginal, isto é, ao preço de mercado. Como os
produtores são iguais e têm os mesmos custos, todos eles decidirão produzir o mesmo número de sacas de
café: quatro (quantidade ótima de produto).

Se houver 50 produtores de café, a quantidade de oferta da indústria será 50 vezes 4 sacas, ou seja, 200
sacas de café. Já o preço dela será de R$40. O resultado disso é a curva de oferta da indústria de curto prazo
ilustrada no gráfico (a):

Neste diagrama, D representa a curva de demanda e E, o ponto de equilíbrio de mercado de curto prazo, no
qual a quantidade de oferta é igual à de demanda para um dado número de produtores.

No curto prazo, não há entrada nem saída de participantes, pois estamos olhando um período pequeno de
tempo. No longo prazo, no entanto, eles podem entrar e sair livremente do mercado, havendo, desse modo,
uma variação no número de produtores que altera tanto o montante ofertado quanto o equilíbrio.

Suponhamos agora que, além dos 50 produtores de café operando no mercado, haja muitos outros querendo
entrar nele que também são idênticos a João e Maria. Quantos participantes adicionais entrarão na indústria?
Em que situação o farão?

Enquanto a produção for lucrativa, haverá incentivos para novos produtores. Logo, quando o preço de
mercado for superior ao custo de produção total médio mínimo (R$36,67), isto é, o valor que iguala custo e
receita, mais pessoas estarão disputando uma fatia desse mercado.

Porém, à medida que novos produtores ingressam na indústria, a quantidade ofertada aumenta. Com esse
aumento, existe uma pressão para o preço de mercado cair, e é isso que acontece: a curva de oferta se
desloca para a direita até atingir o ponto em que o preço se iguala ao custo total médio mínimo. Quando a
curva de oferta atingir esse ponto, os produtores vão parar de querer entrar no mercado, pois não haverá mais
lucro.
O painel (b) da figura acima demonstra essa dinâmica: a curva de oferta inicial S1 se desloca para a direita até
S2, onde encontra a curva de demanda D no novo ponto de equilíbrio E2. Neste ponto, o preço de mercado
equivalerá ao custo total médio mínimo; com isso, cada produtor irá produzir um total de três sacas. A nova
quantidade de equilíbrio do mercado de sacas de café será, portanto, a seguinte: 250 sacas ao preço de
R$36,67.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Assinale a alternativa que não corresponde a uma condição de mercados perfeitamente competitivos:

A Produtores são tomadores de preços.

B Os consumidores observam diferenças relevantes entre os produtos vendidos.

C Consumidores são tomadores de preços.

D Produtos são padronizados.

A indústria deve possuir um número grande de produtores que não têm grande
E
praticipação no mercado.

Parabéns! A alternativa B está correta.

Em mercados competitivos, os produtos são homogêneos e, portanto, os consumidores escolherão o


mais barato.

Questão 2
Assinale a afirmativa verdadeira:

A Se o preço de mercado é menor que o custo total médio, a firma é lucrativa.

B Se o preço de mercado é igual ao custo total médio, a firma é lucrativa.

C Se o preço de mercado é maior que o custo total médio, a firma é lucrativa.

D Se o preço de mercado é menor que o custo marginal, a firma não é lucrativa.

E A firma nunca é lucrativa no curto prazo.

Parabéns! A alternativa C está correta.

O lucro da firma é igual à receita total menos o custo total. Dividindo os dois lados da equação pelo
produto, vemos que o lucro médio é igual à receita média, que, por sua vez, equivale ao preço de mercado
menos o custo total médio. Assim, a firma será lucrativa quando a receita média ou o preço exceder o
custo total médio.

Considerações finais
Introduzimos neste material alguns dos conceitos básicos de microeconomia. Você deve ter notado que as
escolhas tanto do consumidor quanto da firma são determinadas por diversos fatores. Por isso,
estabelecemos uma análise criteriosa de tais escolhas para entendermos sua dinâmica, mantendo
constantes os demais fatores e assumindo algumas hipóteses.

A realidade, no entanto, é muito mais complicada que os modelos adotados aqui. Afinal, eles nada mais são
que uma simplificação dela para facilitar a compreensão de seus principais mecanismos.
headset
Podcast
Neste podcast, serão abordados os principais pontos do conteúdo apresentado.

Referências
KRUGMAN, P.; WELLS, R. Introdução à economia. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.

LEVITT, S.; DUBNER, S. J. Freakonomics: o lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta. 5. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2007.

VARIAN, H. Microeconomia: uma abordagem moderna. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.

Explore +
Para entender melhor fatos do cotidiano com um olhar econômico, leia Freakonomics: o lado oculto e
inesperado de tudo que nos afeta. Esse livro de Steven Levitt e Stephen J. Dubner, publicado pela Elsevier (5.
ed., Rio de Janeiro, 2007) mostra como a microeconometria pode ajudar no entendimento dos incentivos e da
análise de benefícios por trás de decisões corriqueiras.
Estrutura de mercado e formação de preços
Prof.ª Maria Eduarda Barroso Perpétuo

Descrição

Compreender os processos de formação de preços e quantidades - base de processos decisórios no dia a


dia do mercado -, bem como a avaliação da eficiência do equilíbrio de mercado.

Propósito

Os conceitos de curva de demanda, curva de oferta e equilíbrio de mercado são fundamentais para o estudo
da microeconomia e ajudam a compreender como funciona o mecanismo de mercado.

Objetivos

Módulo 1

Demanda e oferta agregadas


Definir demanda e oferta agregadas.

Módulo 2

Formação de preços e quantidades de equilíbrio


Descrever a formação de preços e quantidades de equilíbrio em um mercado competitivo.

Módulo 3

Excedente do produtor e do consumidor


Definir excedente do produtor e do consumidor para aplicá-lo como medida de bem-estar.

Módulo 4

Firma monopolista
Descrever o comportamento de uma firma monopolista.

meeting_room
Introdução
Vamos começar analisando uma estrutura de mercado específica, os mercados competitivos. Em um
mercado competitivo, há muitos compradores e vendedores, de forma que ações individuais não afetam o
preço da venda do bem e nem a quantidade total que será vendida. Quando um indivíduo não tem
capacidade de afetar individualmente os resultados do mercado, dizemos que ele não possui poder de
mercado e é tomador de preços.

Você deve estar se perguntando por que estudar mercados competitivos e que outros tipos de estrutura
existem. A escolha para começarmos apresentando os mercados competitivos deve-se ao fato de ser a
estrutura mais fácil de modelar. A partir dela, temos uma base de comparação para as demais.

Veremos também como obter as curvas de oferta e demanda agregadas. A partir dessas curvas, veremos
como são definidos o preço e a quantidade no equilíbrio de mercado, e como se alteram com mudanças na
economia. Além disso, apresentaremos os conceitos de excedente do consumidor e do produtor, que serão
usados em análises de bem-estar. Por fim, estudaremos o comportamento de mercado da firma
monopolista, que é capaz de afetar preços.

1 - Demanda e oferta agregadas


Ao final deste módulo, você será capaz de definir demanda e oferta agregadas.
Curva de demanda agregada
Você sabe o que é curva de demanda individual e agregada? Confira agora o conceito de cada uma delas!

Curva de demanda individual


Mostra quanto um consumidor está disposto a pagar para obter um bem ou serviço, ou quantas unidades
irá adquirir para cada preço.

Curva de demanda agregada


Representa a quantidade total que o conjunto de consumidores de uma economia irá adquirir para cada
preço.

Supondo que em uma certa economia existam N indivíduos. A curva de demanda agregada pelo bem X será
o somatório de todas as curvas de demanda individuais por aquele bem:

Q = q1 + q2 + … + qn

Rotacione a tela. screen_rotation


Em que q1, q2, ..., qn são as demandas individuais de cada um dos N consumidores.

Exemplo
Suponha que o preço da maçã seja R$1,00 e João e Maria desejem comprar, respectivamente, 5 e 4
unidades. Então, a demanda total desse preço é Q (p maçã = R$1) = 5 + 4 = 9 . Se o preço aumenta para
R$2, 00 , talvez cada um passe a comprar apenas 3 maçãs, e teremos: Q (p maçã = R$2) = 3 + 3 = 6 .

A demanda de cada indivíduo para cada bem depende dos preços e da renda individual. Assim, a demanda
agregada depende dos preços e também da distribuição de renda. Para simplificarmos, costumamos olhar
para a demanda agregada como a demanda de um consumidor representativo, que tem sua renda igual à
soma de todas as rendas individuais.

A imagem, a seguir, ilustra a curva de demanda agregada para um dado bem, mantendo a renda fixa:
Gráfico: Curva de demanda de um bem

Podemos notar que a curva de demanda agregada tem inclinação negativa, ou seja, quanto maior o preço,
menor a quantidade demandada pelos consumidores, tudo o mais sendo constante. No geral, as curvas de
demanda possuem inclinação negativa, com algumas exceções. Temos, então, a proposição de que, ceteris
paribus, um preço mais alto de um bem faz com que as pessoas queiram uma quantidade menor deste
bem.

eteris paribus
É uma expressão latina que significa “todo o mais constante”. Ou seja, estamos analisando um elemento de
cada vez.

Elasticidade-preço da demanda
É interessante ter uma medida da sensibilidade da demanda a mudanças no preço e na renda, que também
é conhecida como elasticidade. A primeira delas é a elasticidade-preço da demanda (denotada por ϵ ): é
apenas a mudança percentual da quantidade dividida pela mudança percentual no preço. Representamos a
variação da quantidade por ΔQ e, portanto, a variação percentual é a razão ΔQ/Q (análoga para o preço).

Podemos escrever a expressão da elasticidade-preço e manipulá-la ligeiramente:

E = ΔQ/QΔp/p = ΔQΔp × pQ = inclinação da curva × pQ

Rotacione a tela. screen_rotation


Ou seja, a "inclinação da curva" é apenas o nome da razão entre a variação da quantidade (ΔQ) e a
variação do preço ( Δp): se o preço aumenta em uma unidade (Δp = 1), a inclinação informa
simplesmente quanto muda na quantidade demandada.

Comentário
O motivo para multiplicamos a inclinação da curva pela razão de preço e quantidade é ter uma medida que
independa da unidade de medida utilizada: a elasticidade não tem unidade de medida, ao contrário do preço
(medido em reais, dólares etc.) e da quantidade (medido em quilos, pacotes etc.).

No exemplo das maçãs, temos: Δp = 1 (o preço aumentou de R$1,00 para R$2,00), ΔQ a quantidade
demandada total diminuiu de 9 para 6 maçãs), para valores iniciais p = 1 eQ = 9 .

Substituindo na fórmula acima, obtemos uma elasticidade igual a 1/3 (interprete esse número a partir da
definição de elasticidade).

O sinal da elasticidade da demanda é, em geral, negativo, e por isso nos referimos comumente ao seu valor
absoluto, de forma a permitir comparações mais simples - ou seja, ignoramos o sinal, supostamente
negativo, salvo menção explícita em contrário.

O gráfico, a seguir, apresenta a elasticidade da curva de demanda linear. Como podemos observar, em uma
curva de demanda linear, a elasticidade da demanda varia conforme a quantidade e o preço.

Gráfico: Elasticidade da demanda linear

Seja a curva de demanda linear igual a q = a - bp, em que a e b são parâmetros quaisquer. A inclinação
dessa curva é, portanto, -b. Utilizando a fórmula da elasticidade apresentada, temos:

Fórmula da elasticidade

Quando p = 0 , a elasticidade é 0 (zero). Quando q = 0 , a elasticidade é infinita.

Para encontrarmos o valor de p para que a elasticidade seja, em valor absoluto, igual a 1, podemos resolver
a equação abaixo para p.
−bp
ϵ = −1 = , ent o ã
a − bp

a
2bp = a, logo p =
2b

Rotacione a tela. screen_rotation


Como pudemos observar na última imagem, a elasticidade é igual a 1 em valor absoluto no ponto médio.
Podemos classificar um bem em:

Elástico
Quando sua elasticidade-preço for maior do que 1 em módulo.

Um bem elástico é bastante sensível a variações no preço, e um aumento de 1% faz a quantidade reduzir em
mais do que 1% (são bens dos quais os consumidores têm facilidade para abrir mão).

Inelástico
Quando sua elasticidade for menor do que 1 em valor absoluto.

Uma curva de demanda inelástica é pouco sensível a variações no preço, e um aumento de 1% ocasionará
uma redução de menos de 1% na quantidade.

Elasticidade unitária
Quando sua elasticidade for igual a |1|.

Uma curva de demanda com elasticidade unitária é aquela em que a variação de 1% no preço leva a uma
variação de 1% na quantidade demandada.

A elasticidade da demanda de um determinado bem depende da quantidade de substitutos próximos.

Exemplo

Suponha que pão e tapioca sejam considerados substitutos perfeitos. Se o preço do pão aumenta, a
demanda de pão iria para zero, de forma que todos os consumidores prefeririam consumir tapioca, afinal,
para os consumidores, eles são perfeitamente equivalentes.

Caso um bem tenha muitos substitutos próximos, ele será extremamente sensível a variações nos preços, e
sua demanda será bastante elástica. O oposto também vale: se um bem possui poucos substitutos
próximos, ele será pouco sensível a qualquer variação de preço e, portanto, inelástico.

Elasticidade renda da demanda


Além da elasticidade-preço, temos a elasticidade-renda da demanda, que mede o quanto a quantidade
demandada reage a variações da renda.

Sua equação é análoga à de elasticidade preço da demanda, sendo nada mais do que a razão entre as
variações percentuais da quantidade (Q) e da renda (m):

ΔQ/Q
ϵ =
Δm/m

Rotacione a tela. screen_rotation


A partir da elasticidade-renda, podemos classificar os bens em:

Normais
Cuja demanda cresce devido ao aumento da renda, e cuja elasticidade-renda é positiva.

Exemplos comuns de bens normais são produtos de qualidade (como carne de primeira), que o consumidor
quer adquirir em maior quantidade quando sua renda aumenta.
Inferiores
Cuja demanda diminui devido ao aumento da renda, e cuja elasticidade-renda é negativa.

Bens de baixa qualidade (como carne de segunda), por sua vez, são frequentemente inferiores, porque os
consumidores os abandonam à medida que a renda aumenta.

Também classificamos bens cuja elasticidade-renda é maior do que 1, como os de luxo, isto é, cuja
demanda aumenta em mais de 1% quando a renda aumenta em 1%. Quando a elasticidade-renda fica entre
0 (zero) e 1, falamos em bens de necessidade (pense, por exemplo, em remédios: você compraria o dobro
se sua renda duplicasse?). É frequente que a elasticidade-renda seja próxima de 1.

Receita e elasticidade
Receita é o quanto se ganha com a venda do bem, ou seja, é a quantidade vendida multiplicada pelo preço
do bem. Quando o preço do bem varia, a quantidade também variará, ocasionando mudanças na receita.

Se o preço da batata aumenta, sua quantidade demandada irá reduzir.

O que acontecerá com a receita da venda das batatas?

Isso dependerá da elasticidade-preço da batata. Seja a receita de vendas igual a:

R = pq

Rotacione a tela. screen_rotation


Quando o preço muda para p + Δp, a quantidade passa para q + Δq (lembre-se de que Δ indica variação:
se o preço original é p = $5 e a variação é Δp = $2, o novo preço é igual a $7). A nova receita será:


R = (p + Δp)(q + Δq)

R = pq + qΔq + pΔq + ΔpΔq

Rotacione a tela. screen_rotation


Para calcularmos a variação da receita, devemos subtrair R de R’. Desta forma:

ΔR = R − R = qΔp + pΔq + ΔpΔq

Rotacione a tela. screen_rotation


Para pequenas variações, o último termo da equação é muito menor que os outros (é “quase” zero
multiplicado por zero!), e podemos ignorá-lo. Agora que já calculamos a variação da receita, gostaríamos de
chegar a uma equação em que fosse possível identificar qual é a variação da receita quando o preço varia.
Para isso, vamos dividir a variação da receita, na última equação, pela variação do preço:

ΔR Δq
= q + p
Δp Δp

Rotacione a tela. screen_rotation


O lado esquerdo dessa equação representa a variação na receita (ΔR) em resposta a uma variação no
preço ( Δp).

Gostaríamos de responder à questão:

Sob que condições um aumento do preço (Δp > 0) gera um aumento da receita
(ΔR > 0) ?

Para que essa resposta seja positiva, devemos ter:

ΔR Δq p Δq
= q + p > 0 => ( ) ∗ ( ) => −1
Δp Δp q Δp

Rotacione a tela. screen_rotation


Lembrando da equação da elasticidade, notamos que o lado esquerdo da última equação nada mais é do
que a própria elasticidade: ou seja, temos ϵ > −1 , ou |ϵ| < 1 .

Um aumento de preço ocasiona um aumento da receita quando a demanda por


aquele bem for inelástica.

É intuitivo: se um aumento de 10% no preço gera uma queda de menos de 10% da demanda (porque a
demanda é inelástica), a receita aumenta. De maneira análoga, se |ϵ| > 1 , a demanda será elástica, e um
aumento do preço reduz a receita.

Podemos também calcular a variação de forma gráfica, conforme visto a seguir:


Gráfico: Variação da receita com mudança de preços

A receita é a área da caixa correspondente à multiplicação do preço pela quantidade, mostrada no painel
A.

Gráfico: Variação da receita com mudança de preços

O aumento do preço em Δp faz com que a nova quantidade seja q + Δq. Quando o preço se eleva,
acrescentamos uma área qΔp, o retângulo azul menor no gráfico, e tiramos uma área equivalente a pΔq,
o retângulo maior em azul. Quando a variação é pequena, isso será exatamente igual à razão entre as
variações da receita e do preço. A parte que resta, em laranja, é normalmente muito pequena em
comparação às outras áreas, e é ignorada. Assim, para calcular a variação na receita podemos somar os
dois quadriláteros azuis do painel B.

Considere novamente a expressão da variação na receita:

ΔR = pΔq + qΔp

Rotacione a tela. screen_rotation


Dividindo essa expressão pela variação Δq da quantidade, obtemos a expressão da variação da receita em
resposta a uma variação da quantidade. Se a variação da quantidade for "pequena" (no sentido que se torna
preciso em um curso de Cálculo Diferencial), chamamos essa resposta de Receita Marginal (RMg), como
usaremos abaixo:
Receita Marginal (RMg).

Se recordarmos a expressão da elasticidade-preço da demanda (E), podemos notar que o termo entre
parênteses é igual ao seu inverso, ou seja, 1/E .

Assim:

1
RM g = p (1 + )
ϵ

Rotacione a tela. screen_rotation


Para evitar confusões pela elasticidade-preço ser, às vezes, um número negativo, podemos reescrever a
receita marginal usando valor absoluto, como a seguir:

1
RM g = p (1 − )
|ϵ|

Rotacione a tela. screen_rotation

video_library
Elasticidade
Entenda melhor os conceitos de elasticidade-preço da demanda, elasticidade-renda da demanda e receita e
elasticidade.
Se a elasticidade for igual a -1, a receita marginal terá valor de zero, indicando que a receita não varia
quando aumenta a venda.

Se a demanda for inelástica, ou seja, | ∈ | < 1 , a fração dentro do parêntese será maior do que 1, e a receita
diminuirá quando a venda aumentar. Esse fato ilustra que, caso a demanda seja inelástica, para que sejam
vendidas mais unidades, será preciso diminuir muito o preço, provocando uma queda de receita.

Deslocamentos da curva de demanda agregada


A lei da demanda diz que, todo o mais constante, um aumento do preço faz com que a quantidade
demandada se reduza. Contudo, existem situações em que um aumento de preço faz com que a quantidade
aumente. Você deve estar se perguntando: “Como isso é possível?”.

A resposta para essa pergunta reside no “todo o mais constante” da lei da demanda. Como pode o preço da
cerveja ter aumentado e, mesmo assim, o consumo ter aumentado nos últimos anos? Certamente, todo o
resto não foi mantido constante. A população cresceu, os hábitos se modificaram, logo, a curva de demanda
agregada também se modificou, ela se deslocou para a direita.

O gráfico, a seguir, ilustra os possíveis deslocamentos da curva de demanda agregada:

Gráfico: Deslocamento da curva de demanda agregada

Existem cinco principais motivos pelos quais a demanda agregada se desloca: mudança na renda, mudança
nas preferências, mudança na quantidade de consumidores, mudança no preço de bens relacionados e
mudança de expectativas.
Antes de prosseguirmos, precisamos fazer uma distinção entre movimentos ao
longo da curva e deslocamentos da curva. Para que fique claro, movimentos ao
longo da curva de demanda ocorrem devido a mudanças no preço.

O gráfico a seguir mostra a diferença entre o deslocamento da curva e o movimento ao longo dela:

Gráfico: Deslocamento vs. movimento ao longo

Os movimentos ao longo de uma curva de demanda ocorrem quando há mudança no preço do bem em
questão. Observando a figura ao lado, suponha que, inicialmente, estejamos na curva D1, no ponto a, que
tem preço p1 e quantidade demandada q1.

Se o preço do bem cai para p2, a quantidade demandada será q2, e então nos moveremos para o ponto b.
Por outro lado, se estamos no ponto a, e há, por exemplo, um aumento da renda, nos deslocamos para D2. O
aumento da renda não aumenta o preço, portanto, estaremos no ponto c, cujo preço é p1 e a quantidade
demandada é q3.

Agora que já compreendemos a diferença entre movimentos ao longo da curva e deslocamento, podemos
avançar e falar um pouco mais de cada um dos motivos que fazem uma curva se deslocar.

Vamos começar pela mudança de renda, ilustrada na gráfico anterior.

A mudança na renda, em geral, leva as pessoas a consumirem mais de um


determinado bem, uma vez que, em geral, os bens são normais.

Como vimos na parte de elasticidade-renda, um aumento de renda eleva a quantidade demandada de bens
normais e reduz a quantidade demandada de bens inferiores.

Para entendermos como a mudança no preço relativo de bens relacionados desloca a curva de demanda
agregada, vamos a um exemplo.

Exemplo
Suponha que pão e tapioca sejam substitutos: um aumento no preço da tapioca fará com que os
consumidores substituam o consumo de tapioca por pão, elevando a quantidade demandada de pão. Esse
aumento leva a um deslocamento da curva de demanda agregada.

Agora, suponha que café e pão sejam complementares, afinal, nada como um pão na chapa com cafezinho.
Uma queda no preço do café fará com que mais pessoas consumam café, mas como o consumo do café é
acompanhado do pão, ocorrerá um aumento na demanda por pão, e a curva de demanda agregada do pão
se deslocará.

Note que a redução do preço do café leva a um deslocamento ao longo da curva de demanda agregada de
café e um deslocamento para direita da curva de demanda agregada de pão, de forma que o preço do pão
se mantém, mas a quantidade demandada aumenta.

A variação no número de consumidores desloca a curva de demanda agregada pois, como vimos, ela é a
soma das demandas individuais (para cada preço). Já uma mudança nas preferências pode fazer com que
os consumidores demandem mais a cada preço (deslocando a curva para a direita) ou menos (deslocando
para a esquerda). Isso pode ocorrer por questões culturais, por exemplo quando um ator famoso usa uma
determinada roupa, é comum que a demanda por essa roupa aumente.

Por fim, a expectativa futura do preço do bem pode afetar a demanda no presente. Como exemplo, temos as
liquidações de ovos de Páscoa. Muitas pessoas, sabendo que o preço se reduzirá após a Páscoa, irão
aguardar para consumir depois. Da mesma forma, expectativas sobre a renda também afetam a demanda
presente: se um indivíduo tem uma expectativa de aumento de renda no futuro, ele pode aumentar sua
demanda por bens no presente, pagando parcelado.

Oferta agregada
Assim como a demanda agregada, estudamos também as curvas de oferta das firmas. Estas curvas são
individuais, assim com as curvas de demanda dos consumidores.

Suponha que tenhamos N firmas que produzam um determinado bem. Para obtermos a curva de oferta
agregada, ou curva de oferta da indústria, devemos somar a curva de oferta individual das N firmas:

S = S1 + S1 + … + Sn

Rotacione a tela. screen_rotation


A oferta agregada é apenas a soma horizontal das curvas de oferta individuais.
oma horizontal
Significa que fixamos um preço e somamos as quantidades, exatamente como fizemos para a curva de
demanda agregada.

A curva de oferta mede o quanto um produtor está disposto a ofertar a cada preço.

Portanto, a curva de oferta agregada define, a cada preço P, a quantidade do bem que será ofertada naquela
indústria.

Para compreendermos melhor como construímos a oferta de mercado, vamos a um exemplo:

Seja um mercado de pães com apenas dois produtores, Joana e Gabriel:

Joana oferta 2 pães ao preço de R$1,00, e 5 pães quando o preço é R$3,00.

Gabriel oferta 3 pães ao preço de R$1,00, e 7 pães quando o preço é de R$3,00.

Nos gráficos, a seguir, temos nos painéis A e B a curva de oferta individual desses produtores. Para
chegarmos à oferta agregada desse mercado, somemos a quantidade ofertada pelos dois produtores a
cada preço, de modo que a R$1,00 são ofertados 5 pães e a R$3,00 são ofertados 12 pães. A curva de
oferta agregada está ilustrada no painel C da figura a seguir:
Gráfico: Curva de oferta agregada do pão

A curva de oferta da indústria tem inclinação positiva, refletindo a proposição de que preços mais altos
levam a uma quantidade ofertada maior. Assim como a demanda agregada, existem acontecimentos que
deslocam a curva de oferta. A entrada de novos produtores no mercado, por exemplo, desloca a oferta para
a direita, fazendo com que, ao mesmo preço, seja ofertada uma quantidade maior do bem em questão. Para
que haja um movimento ao longo da curva de oferta, é preciso que seja ocasionado por variações no preço
do bem cuja oferta agregada esteja em análise.

Os motivos pelos quais a curva de oferta se desloca são variados: mudanças na


tecnologia, na expectativa, no preço dos insumos, no número de produtores e nos
preços de bens e serviços relacionados.

A mudança do preço esperado no futuro pode levar um produtor a fornecer mais ou menos quantidade
daquele bem no presente. Uma expectativa do aumento de preços futuro faz com que a oferta no presente
se reduza, deslocando a curva de oferta para a esquerda. Já uma expectativa de queda dos preços no futuro
leva ao aumento da oferta no presente e desloca a curva de oferta para a direita.

Considere agora os insumos, ou seja, bens e serviços utilizados no processo produtivo. Um aumento no
preço dos insumos deixará o preço do bem final mais alto.

Exemplo

Para produzir pão é preciso de trigo. Gabriel precisa de 10kg de farinha de trigo por mês para produzir 100
pães, e paga R$2,00 no quilo de farinha de trigo. Gabriel gasta R$20,00, e cobra R$0,50 por pão produzido.

Assim, sua receita da venda de pães é de R$50,00. Se por algum motivo, o preço do trigo sobe para R$3,00,
para produzir 100 pães, Gabriel gastará R$30,00. Sua receita de vendas continuará no valor de R$50,00,
contudo, seu lucro se reduzirá.

Dessa forma, é bem provável que Gabriel repasse parte da alta dos preços dos insumos para o consumidor,
e o preço do pão aumente como consequência.
Tecnologia é o termo usado por economistas para descrever a relação entre insumos e produto em um dado
processo produtivo. Uma melhora tecnológica geralmente reduz o custo de produção. Essa redução de
custo permite que o produtor gaste uma quantidade menor de insumo para produzir o mesmo bem, de
modo que a quantidade ofertada aumenta e a curva de oferta se desloque para a direita. Podemos observar
isso no próximo gráfico:

Gráfico: Deslocamento da oferta

Quando há um aumento no número de produtores naquele mercado, a oferta se desloca para a direita, afinal,
a oferta agregada nada mais é do que a soma das ofertas individuais.

Há situações em que produtores produzem diversos bens e não apenas um, como
uma refinaria produz gasolina e diesel, entre outros combustíveis, por exemplo.

Quando um produtor oferta bens diferentes, a quantidade que ele está disposto a ofertar dependerá
conjuntamente dos preços dos bens que ele produz.

Um aumento de preço do diesel faz com que uma refinaria produza menos gasolina e mais diesel,
deslocando para a direita a curva de oferta do diesel e para a esquerda a oferta da gasolina. Isso acontece
porque, em termos produtivos, a gasolina e o diesel são substitutos. Pode ser que também haja bens
complementares na produção.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

A partir dos conhecimentos apresentados sobre demanda agregada, considere as afirmativas a seguir:

I. A curva de demanda agregada possui inclinação positiva, pois, em geral, um maior preço reduz a
quantidade demandada.
II. A elasticidade-preço é uma medida de sensibilidade da demanda agregada de um bem em relação ao
preço, e quanto mais substitutos um bem possui, menos elástica é a demanda.
III. Bernardo considera laranja e tangerina igualmente gostosas, e as consome como se fossem
substitutas. Uma geada acabou com a safra de laranjas, mas não afetou a safra de tangerinas devido à
distância geográfica. Como resultado da geada, o preço da laranja aumentou. Bernardo, quando foi à
feira, se deparou com preços mais altos da laranja. Ele comprará tangerinas em vez de laranjas.
IV. Uma redução do número de consumidores em um determinado mercado faz com que a demanda
agregada por um bem se reduza.
V. Batata frita e hambúrguer são considerados bens complementares. Um aumento no preço do
hambúrguer leva a uma redução da quantidade demandada de batata frita.

Assinale a alternativa correta:

A As afirmativas III, IV e V são falsas.

B As afirmativas I, III, IV e V são verdadeiras.

C As afirmativas I e II são falsas.

D Apenas a afirmativa III é verdadeira.

E As afirmativas III e IV são verdadeiras.

Parabéns! A alternativa C está correta.

A lei da demanda diz que quanto maior o preço, menor a quantidade demandada. A inclinação da curva
de demanda ilustra essa proposição. Já a elasticidade-preço da demanda é uma medida de
sensibilidade da demanda em relação às mudanças no preço. Quanto mais substitutos um bem possui,
maior é a redução da demanda quando um preço aumenta, pois se dois bens são indiferentes entre si, o
consumidor optará por obter aquele que é mais barato.

Como laranja e tangerina são indiferentes para Bernardo, ou seja, são igualmente satisfatórias, elas são
substitutas. Quando dois bens são substitutos perfeitos, o consumidor demandará o bem cujo preço é
menor, neste caso, a tangerina.
Além disso, a demanda agregada corresponde à soma das curvas de demanda individuais. Quanto
menos indivíduos, menor é a demanda agregada.

Quando bens são complementares, o aumento no preço de um bem X reduz a quantidade demandada,
tanto dele quanto do seu complemento Y. Neste caso, um aumento do preço do hambúrguer faz com
que a quantidade demandada diminua, assim como a de batata frita.

Questão 2

Sobre a oferta agregada, considere as afirmativas a seguir:

I. A curva de oferta agregada é a soma vertical das curvas de oferta individuais.


II. Existe uma curva de oferta agregada para cada mercado.
III. Uma mudança no preço do café aumenta a sua oferta, e, portanto, ela se desloca para a direita.
IV. Uma nova tecnologia que permite a produção de 10 pedaços de queijo a partir de 1 litro de leite foi
descoberta recentemente por cientistas e fazendeiros. Essa nova tecnologia deslocará a oferta de
queijo para a direita.
V. Uma expectativa de aumento do preço no petróleo faz com que a oferta de petróleo aumente no
presente, deslocando a curva de oferta para a direita.

Assinale a alternativa correta:

A As afirmativas III e V são falsas.

B Somente a afirmativa IV é verdadeira.

C As afirmativas I, III e V são falsas.

D As afirmativas II, III e IV são verdadeiras.

E As afirmativas I, II e IV são verdadeiras.


Parabéns! A alternativa C está correta.

A curva de oferta agregada é igual à soma horizontal das curvas de ofertas individuais e é única para
cada mercado, ou seja, para o de livros, que, por sua vez, é diferente da curva de oferta agregada de
alface.

Uma variação no preço de um bem leva a um movimento ao longo da curva de oferta deste mesmo
bem. No caso do aumento do preço, há um movimento ao longo da curva, que resulta em maior
quantidade ofertada. Os casos de deslocamento da curva de oferta são: mudança na quantidade de
produtores no mercado, mudança tecnológica, mudança no preço dos insumos, mudança no preço de
bens relacionados e mudança de expectativas.

Os casos de deslocamento da curva de oferta são: mudança na quantidade de produtores no mercado,


mudança tecnológica, mudança no preço dos insumos, mudança no preço de bens relacionados e
mudanças de expectativas.

A expectativa que o preço do petróleo aumente faz com que a oferta de petróleo se reduza no presente
e aumente no futuro. No presente, há um deslocamento para a esquerda da curva de oferta, e no futuro,
há um deslocamento para a direita na curva de oferta.

2 - Formação de preços e quantidades de equilíbrio


Ao final deste módulo, você será capaz de descrever a formação de preços e quantidades de
equilíbrio em um mercado competitivo.

Oferta, demanda e equilíbrio


Vimos os elementos essenciais para a determinação do equilíbrio, a oferta e a demanda agregadas. Neste
módulo, apresentaremos o conceito de equilíbrio e como calculá-lo a partir da interação entre oferta e
demanda.

Quando já estivermos familiarizados com o equilíbrio, veremos um pouco sobre excedente do consumidor e
do produtor, medidas úteis de bem-estar econômico.

Em Economia, dizemos que há equilíbrio em uma determinada situação quando não há incentivos para que
qualquer agente econômico (consumidor ou firma) altere seu comportamento individual, dado o que os
demais agentes estão fazendo.

Segundo a definição de equilíbrio em Varian:

Todos os agentes escolhem a melhor ação possível de acordo com seus


próprios interesses, e o comportamento de cada pessoa é coerente com o das
outras.

(VARIAN, 2012, n. p.)

Isso significa que ninguém ficaria melhor caso decidisse agir individualmente de forma diferente.

Sabemos que, em um mercado competitivo, nenhum agente tem capacidade de afetar o mercado, o preço e
a quantidade total. Contudo, o que determina o preço e a quantidade de equilíbrio é a interação conjunta de
todos os indivíduos nesse mercado.
O preço de equilíbrio é aquele em que oferta e demanda são iguais. A esse preço
nenhum consumidor poderia melhorar sua situação ao propor a compra por um
preço diferente, assim como nenhum produtor poderia ficar melhor propondo
vender o bem por outro preço.

Como curvas de oferta e demanda representam as melhores escolhas dos agentes envolvidos, quando elas
se igualam em um preço de equilíbrio denotado por p ∗ , temos que o comportamento dos consumidores e
dos produtores são compatíveis. Em qualquer outro preço, essa condição não seria satisfeita.

O preço de equilíbrio é o preço que ajusta o mercado, garantindo que cada indivíduo
que demande um bem encontre um ofertante disposto a vendê-lo pelo mesmo
preço.

Geometricamente, podemos encontrar o equilíbrio ao colocar as curvas de oferta e demanda no mesmo


diagrama, como no gráfico a seguir.

Gráfico: Equilíbrio

O ponto E é o ponto em que as curvas se cruzam, e oferta e demanda são iguais; p ∗ representa o preço de
equilíbrio e q ∗ é a quantidade de equilíbrio.

Existe um princípio básico de que os mercados, com frequência, se movem para o equilíbrio. Para melhor
ilustrar esse princípio, observe o seguinte gráfico:
Gráfico: Preço acima do equilíbrio

Suponha que o preço de mercado, isto é, o preço pelo qual o bem é transacionado, seja igual a p', acima do
equilíbrio.

A esse preço, a quantidade ofertada é q s , e a quantidade demandada é q d .

Como a quantidade ofertada é maior do que a demandada, temos um excedente, ilustrado pela diferença
entre q s e q d .

Existem alguns produtores que não encontram consumidores para comprar seus produtos. O excesso de
oferta fornece incentivos para que os produtores ofereçam um preço mais baixo, buscando atrair outros
consumidores. O preço vai sendo gradativamente reduzido, até chegar no preço de equilíbrio. Portanto,
sempre que o preço está acima do equilíbrio, há um excesso de oferta, que faz o preço baixar até o
equilíbrio.

Agora, suponha que o preço esteja abaixo do preço de equilibrio, em p ". Observe o próximo gráfico:

Gráfico: Preço abaixo do equilíbrio

Com o preço em p ", a quantidade demandada é maior do que a quantidade ofertada, e, portanto, há excesso
de demanda ou escassez. Nessa situação, existem consumidores que gostariam de comprar, mas não
conseguem, e então passam a oferecer preços mais altos. É possível que os produtores notem que também
podem cobrar um preço maior. Em qualquer mecanismo, o resultado é o mesmo. O preço vai aumentando
gradualmente, atraindo novos produtores e expulsando consumidores que não estão dispostos a pagar um
preço mais alto. Esse movimento acontece até o preço de equilíbrio, em que as quantidades ofertada e
demandada se igualam.

Mudanças na oferta, demanda e equilíbrio


Como vimos anteriormente, há muitos eventos que deslocam as curvas de oferta e demanda. Existem
eventos que deslocam a curva de demanda, como um relatório médico afirmando que chocolate faz bem à
saúde, o que não tem efeito algum sobre a oferta. Da mesma forma, existem situações que deslocam a
oferta, como a entrada de novos produtores de cacau, mas que não afetam a demanda.

O que acontece com o equilíbrio nesses dois eventos descritos?

Quando um novo estudo médico divulgado credita benefícios ao chocolate, a curva de demanda se desloca,
como nesse gráfico:

Gráfico: Deslocamento positivo da demanda e novo equilíbrio

Você pode observar que o ponto E 1 mostra o equilíbrio correspondente à curva de demanda original, D 1 ,
cujo preço de equilíbrio é p ∗1 , e a quantidade de equilíbrio é q 1∗ .

O relatório médico divulgado faz com que a curva de demanda se desloque positivamente, para a direita, de
D1 para D 2 . Ao preço original, p 1 ∗ , o mercado não está mais em equilíbrio. Há um excesso de demanda,
uma escassez. O preço do chocolate aumenta, gerando um aumento da quantidade ofertada. Esse aumento
da quantidade ofertada é um movimento ao longo da curva de oferta. Um novo equilibrio, E 2 , se estabelece.
Nesse ponto, oferta e demanda voltam a se cruzar. O equilíbrio E 2 ocorre com um preço mais alto e uma
quantidade maior. Isso reflete um princípio geral: quando a demanda de um bem aumenta, seu preço e sua
quantidade de equilíbrio também aumentam.

Suponha agora uma situação diferente. Pão e tapioca são substitutos. Se o preço do pão cai, a demanda por
tapioca diminui. O gráfico, a seguir, ilustra esse evento:

Gráfico: Deslocamento negativo da demanda e novo equilíbrio


Observando a figura acima, vemos que a queda do preço do pão faz a demanda por tapioca se deslocar,
negativamente, para a esquerda. Ao preço inicial p 1 ∗ , há um excesso de oferta, uma vez que a quantidade
ofertada é maior do que a quantidade demandada. O preço cai até que a nova curva de demanda, D 2 ,
encontre a curva de oferta S . Isso é ilustrado no ponto E 2 , o novo equilíbrio. Nesse ponto, o preço e a
quantidade de equilibrio são menores. Assim, quando a demanda de um bem se reduz, sua quantidade e
preço de equilíbrio também se reduzem.

Considere agora outro gráfico:

Gráfico: Deslocamento positivo da oferta e o novo equilíbrio

Inicialmente, o mercado estava em equilíbrio, no ponto E 1 , em que as curvas de oferta e demanda eram S 1
e D, respectivamente. No ponto E 1 , o preço de equilíbrio é p 1 ∗ , e a quantidade de equilíbrio é q 1 ∗ .

A entrada de novos produtores no mercado de cacau desloca a curva de oferta para a direita. Assim, a nova
curva de oferta é S 2 . Ao preço inicial p 1 ∗ , há um excesso de oferta, que faz com que o preço se reduza, até
que a nova curva de oferta cruze com a curva de demanda. Esse ponto é ilustrado por E 2 , o novo ponto de
equilíbrio. Em E 2 , o novo preço de equilíbrio é p 2 ∗ , e a nova quantidade de equilíbrio é q 2 ∗ . Portanto, quando
a oferta aumenta, o preço de equilíbrio diminui e a quantidade de equilíbrio aumenta.

Nova Friburgo é uma cidade no estado do Rio de Janeiro que produz hortaliças. Suponha que, em 2012, a
cidade teve um verão atípico, com altas temperaturas e pouca chuva. Esse fenômeno fez com que as
hortaliças morressem, ocasionado um deslocamento para a esquerda da curva de oferta. O seguinte gráfico
ilustra essa situação:

Deslocamento negativo da oferta e o novo equilíbrio


A curva de oferta passa, então, a ser S 2 . Ao preço inicial p 1 ∗ há um excesso de demanda, que pressiona os
preços para cima, que vão subindo, gradualmente, até que a nova curva de oferta cruze com a demanda.
Isso é ilustrado pelo ponto E 2 , o novo equilíbrio. Nesse ponto, o preço de equilíbrio é p 2 ∗ , e a quantidade de
equilíbrio é q 2 ∗ . Portanto, quando há uma redução da oferta, o preço de equilíbrio é mais alto e a quantidade
de equilíbrio é menor.

Por fim, veremos o que acontece quando há deslocamentos simultâneos de oferta e demanda. No gráfico
do painel A, temos um grande deslocamento da demanda para a direita, e um pequeno deslocamento da
oferta para a esquerda, enquanto no gráfico do painel B, a oferta se desloca bastante para a esquerda, e a
demanda sofre um pequeno deslocamento para a direita:

Gráfico: Deslocamento simultâneo e novo equilíbrio

Esses deslocamentos podem ser imaginados como uma mudança nas preferências por milho, junto com
uma quebra de safra. A diferença entre os dois painéis é a magnitude de deslocamento e é descrito da
seguinte forma:

Painel A

A demanda sofre um deslocamento de magnitude maior que a oferta.


close

Painel B

A oferta sofre um deslocamento maior do que a demanda.

Nos dois painéis, o preço se move de p 1 ∗ para p 2 ∗ , conforme o equilíbrio se move de E 1 para E 2 . Como no
painel A a queda de oferta é menor do que o aumento da demanda, a quantidade de equilíbrio aumenta de
q1

para q 2 ∗ . Já no painel B, com retração da oferta maior do que a expansão da demanda, a quantidade de
equilíbrio é reduzida de q 1 ∗ para q 2 ∗ .

Esse exemplo nos permite constatar que, quando a oferta se reduz e a demanda aumenta, o preço de
equilíbrio aumenta, mas o que de fato ocorre com a quantidade de equilíbrio dependerá de qual efeito é
maior, ou seja, qual deslocamento tem maior magnitude.

Quando oferta e demanda se deslocam em direções opostas, no geral, podemos fazer algumas previsões,
como:

zoom_in
Se a demanda aumenta e a oferta cai, o preço de equilíbrio sobe, mas a quantidade dependerá de qual dos
deslocamentos teve maior magnitude.

zoom_in
Quando a demanda cai e a oferta aumenta, o preço de equilíbrio é menor, mas o efeito sobre a quantidade
de equilíbrio é ambíguo.

Se as duas curvas se deslocam no mesmo sentido, ou seja, oferta e demanda se deslocam ambas para a
esquerda ou para a direita, podemos saber o efeito sobre a quantidade, mas não sobre o preço de equilíbrio.
Se oferta e demanda aumentam, a quantidade de equilíbrio é maior, mas nada podemos dizer sobre o preço.
Quando oferta e demanda diminuem, a quantidade de equilíbrio é reduzida, mas, mais uma vez, nada
podemos afirmar sobre o preço de equilíbrio. Em ambos os casos, o preço de equilíbrio dependerá de qual
efeito prevalecerá.

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Estática comparativa no modelo de oferta e demanda
Confira os conceitos abordados neste conteúdo.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

(Adaptado de Krugman, 2011) As afirmativas abaixo representam situações em que o mercado estava
inicialmente em equilíbrio. Depois de cada evento descrito haverá um excedente ou escassez. Assinale
a alternativa correta.

Após uma nevasca, muitas pessoas querem comprar removedores de neve de segunda
A
mão nas lojas de ferragens, gerando um excedente.

2005 foi um ano excelente para os vinhedos da Califórnia, que produziram uma colheita
B
recorde. Esta colheita gerou uma escassez de vinho.

Depois de um furacão, os hotéis da Flórida verificaram que muitas pessoas cancelam


C
suas férias, deixando-os com quartos vazios, havendo um excedente.

Depois de uma tempestade, o rio que fornece água a uma cidade norte-americana
apresentou diversas algas, o que impactou a distribuição de água potável pela
D
companhia local. Com medo de tomarem a água com cheiro, gosto e cor diferentes, os
moradores passaram a comprar água mineral. Esta situação gerou um excedente.

Após uma guerra no Oriente Médio, diversos poços de produção de petróleo são
E
destruídos, gerando um excedente de gasolina no resto do mundo.
Parabéns! A alternativa C está correta.

Um furacão reduz a demanda por quartos de hotéis, deslocando a demanda agregada para a esquerda.
Com a oferta inalterada, há um excedente de quartos de hotéis no novo equilíbrio.

Questão 2

(Adaptado de Krugman, 2011) De tempos em tempos, um fabricante de chips para computadores,


como a Intel, produz um novo tipo de chip mais rápido que o anterior. Com isso, a demanda por
computadores que usam chips mais antigos cai, conforme novos consumidores adiam as compras
esperando o lançamento do equipamento com a nova tecnologia. Os fabricantes de computadores, por
sua vez, aumentam a produção de máquinas com chips antigos, buscando terminar o estoque destes
produtos. Com base nessas informações, assinale a alternativa correta sobre o que ocorre no mercado
de computadores com chip mais antigo.

A curva de oferta desloca-se para a direita, e a de demanda, para a esquerda. O preço de


A
equilíbrio neste mercado diminui, e a quantidade também.

A demanda desloca-se para a esquerda, e o novo equilíbrio tem um preço e quantidade


B
menores.

O deslocamento da curva de oferta para a direita compensa o da curva de demanda


C para a esquerda, e o novo equilíbrio tem preço e quantidade exatamente iguais aos
iniciais.

A curva de oferta desloca-se para a direita, e a de demanda, para a esquerda. O preço de


D equilíbrio neste mercado diminui, mas nada podemos afirmar sobre o que ocorre com a
quantidade do mesmo, uma vez que dependerá de qual efeito tem magnitude maior.
A curva de oferta e a curva de demanda se deslocam para direita, aumentando a
E quantidade de equilíbrio, mas nada podemos afirmar sobre o que ocorre com o preço do
mesmo, uma vez que dependerá de qual efeito tem magnitude maior.

Parabéns! A alternativa D está correta.

De fato, o preço será menor no novo equilíbrio, devido ao deslocamento da oferta para a direita e da
demanda para a esquerda. Contudo, a nova quantidade de equilíbrio dependerá de qual curva tem maior
deslocamento. Se a demanda se desloca mais do que a oferta, a quantidade de equilíbrio diminui. Caso
contrário, a quantidade de equilíbrio aumenta. Logo, não podemos afirmar com certeza que, no novo
equilíbrio, o preço será maior e a quantidade menor.

3 - Excedente do produtor e do consumidor


Ao final deste módulo, você será capaz de definir excedente do produtor e do consumidor
para aplicá-lo como medida de bem-estar.
Excedente do consumidor e curva de demanda
A curva de demanda é derivada a partir das preferências dos consumidores, que, por sua vez, definem o
quanto de bem-estar um indivíduo obtém ao realizar transações em um mercado.

Considere, por exemplo, o mercado de roupas usadas. Uma calça jeans usada pode não ser tão boa quanto
uma nova, pois pode estar gasta, manchada etc. O quanto isso incomoda alguém dependerá das
preferências de cada um.

Vitória pode valorizar uma roupa de brechó mais do que Fernando, que só compraria uma roupa usada se
fosse muito barata.

Esse exemplo ilustra um conceito importante, o de disposição a pagar.

A disposição a pagar, ou preço reserva, reflete o preço máximo que um consumidor


está disposto a pagar por determinado bem.

Um indivíduo não pagará mais do que este valor por um bem. Se o preço é igual à disposição a pagar, o
consumidor estará indiferente entre comprar ou não.

O gráfico, a seguir, ilustra a disposição a pagar de três consumidores, Júlia, Manuel e Beatriz, com preços de
reserva de R$50,00, R$35,00 e R$22,00, respectivamente:
Gráfico: Preço de reserva e excedente do consumidor

Seus preços de reserva estão acima do preço pelo qual o bem é vendido, que é de R$10,00. O preço de
reserva deles está acima do preço de mercado e, portanto, eles irão realizar a transação. Há também
aqueles consumidores com preço de reserva abaixo do preço de mercado. Esses indivíduos não irão
comprar o bem.

A compra do bem por consumidores cuja disposição a pagar é maior ou igual ao


preço de mercado do bem gera bem-estar para os mesmos.

Esse bem-estar pode ser medido, e é conhecido como excedente do consumidor.

Nesse exemplo, podemos notar que cada comprador de um bem alcança algum excedente individual. Ao
somarmos os excedentes individuais, chegamos ao excedente total do consumidor. Supondo que no
exemplo acima só haja três consumidores no mercado, o excedente total do consumidor é de: R$40,00 +
R$25,00 + R$ 22,00 = R$87,00.

A próximo gráfico representa graficamente o excedente total do consumidor para um grande mercado:

xcedente do consumidor
É a diferença entre o preço de reserva do consumidor e o preço de mercado. Voltando à figura 16, o excedente
de Júlia é igual a R$50,00 - R$10,00 = R$ 40,00. Já o de Manuel é de R$35,00 - R$10,00 = R$25,00, enquanto o
de Beatriz é de R$22,00 - R$10,00 = R$12,00.

Gráfico: Excedente total do consumidor

Esse mercado possui tantos consumidores que a curva de demanda é contínua. O excedente total do
consumidor é a área abaixo da curva de demanda e acima do preço, sendo igual a R$20,00.

Quando o preço muda, o excedente do consumidor também varia. O seguinte gráfico ilustra o que acontece
quando o preço aumenta.
Gráfico: Mudança no preço e mudança no excedente

Excedente do produtor e curva de oferta


Considere um grupo de amigos que são vendedores potenciais de discos usados. Como eles possuem
preferências distintas, cada vendedor terá um preço pelo qual estará disposto a realizar a venda. Vejamos:

Afonso
Não vende um disco por menos de R$9,00, mas por qualquer preço acima deste.

Robson
Só aceita vender por, pelo menos, R$15,00.

Joaquim
Vende por R$22,00.

Assim, podemos definir o custo do vendedor como o menor preço pelo qual o produtor está disposto a
vender seu produto.

A diferença entre o preço que o produtor, de fato, vende o produto e seu custo é o
excedente do produtor.

Da mesma forma que a curva de demanda foi derivada a partir da disposição a pagar dos consumidores,
podemos derivar a curva de oferta do custo do produtor.

A gráfico, a seguir, ilustra a curva para um mercado de discos com três produtores:
Gráfico: Custo individual e excedente do produtor

O excedente de Afonso equivale à área do polígono mais escuro da esquerda, o de Robson, à área do
retângulo do meio, e o de Joaquim, ao do polígono mais claro da direita.

Como no caso do excedente do consumidor, podemos somar os excedentes individuais para chegarmos ao
excedente total do produtor. Com um grande mercado e uma curva de oferta contínua, como no próximo
gráfico, o excedente total do produtor é a área acima da curva de oferta e abaixo do preço, sendo igual a
R$20,00:

Gráfico: Excedente total do produtor

Assim como para o excedente do consumidor, mudanças de preço afetam o excedente total. O gráfico, a
seguir, ilustra o que ocorre quando o preço aumenta:

Gráfico: Mudança no preço e no excedente


Bem-estar e excedente
Um dos princípios fundamentais da Economia é que os mercados são, frequentemente, uma maneira
eficiente de alocar recursos. De forma geral, a alocação de recursos pelo mercado torna a situação da
sociedade a melhor possível (não é sempre assim - você verá ao final deste tema um caso em que isso não
acontece). Por meio do excedente, podemos entender o motivo disso ocorrer.

Seja um grande mercado competitivo, com N consumidores e K produtores. As curvas de oferta e de


demanda desse mercado estão representadas no gráfico adiante, junto com os excedentes totais do
consumidor e do produtor:

Gráfico: Equilíbrio de mercado e excedente

O equilíbrio do mercado de livros encontra-se no ponto E, com o preço de R$45,00 e a quantidade de 100
unidades.

A área em azul mais claro é igual ao excedente do consumidor, e a área em azul mais escuro é igual ao
excedente do produtor.

Podemos calcular o excedente total da sociedade ao somarmos as duas áreas. O exemplo do mercado de
livros deixa claro que há ganhos tanto para os produtores quanto para os consumidores. Isso indica que
produtores e consumidores estão melhores, pois o mercado existe, refletindo o princípio econômico sobre
ganhos de troca, em que ocorrem ganhos no comércio.

Esses ganhos são a razão pela qual todos, quando fazem parte de uma economia de mercado, estão em
uma situação melhor do que se fossem autossuficientes.

Participar de uma economia de mercado é melhor do que ser autossuficiente, mas


será que estão todos em uma situação tão boa quanto possível?
Um critério útil para compararmos diferentes situações econômicas é o de eficiência de Pareto. Para
começar a defini-lo, primeiro vamos delinear outro conceito, o de melhora de Pareto: se há uma forma
alternativa de melhorar a situação de um indivíduo sem piorar a situação de outro, temos uma melhora de
Pareto.

Exemplo

Se João está disposto a vender um produto por R$10,00, e Maria, a comprá-lo por R$ 20, então, a venda a
R$15,00 (ou a qualquer valor entre R$10,00 e R$20,00) é uma melhora de Pareto, pois nenhum dos dois
perde e ao menos um fica em situação estritamente melhor.

Se uma situação admite uma melhora de Pareto, dizemos que a alocação de recursos é Pareto ineficiente,
ou seja, existem ações (ou transações) que podem melhorar a situação de alguém sem prejudicar ninguém.
Se existe essa possibilidade, devemos exercê-la, ou estaremos desperdiçando recursos.

Caso seja impossível melhorar a situação de alguém sem piorar a de outra pessoa (ou seja, se não houver
melhorias de Pareto disponíveis), dizemos que estamos em uma situação Pareto eficiente, ou,
simplesmente, que a alocação de recursos é eficiente no sentido de Pareto, ou ainda ótima de Pareto. Há
diferentes alocações eficientes de Pareto, correspondendo a distribuições de recursos mais benéficas a um
ou outro agente econômico.

Supondo que em uma economia de mercado todas as trocas voluntárias sejam realizadas, de modo a
esgotar os ganhos de troca, obtemos um resultado conhecido como primeiro teorema do bem-estar: todo
equilíbrio em um mercado competitivo é ótimo de Pareto. Em equilíbrio, um mercado competitivo esgota a
possibilidade de ganhos com novas trocas.

O segundo teorema do bem-estar nos diz que qualquer alocação ótima de Pareto pode ser obtida como
equilíbrio de mercado, bastando, então, distribuir recursos e permitir que os agentes econômicos realizem
trocas voluntárias.

Para ilustrar esse teorema, suponhamos que exista um comitê que busca melhorar o equilíbrio de mercado.
A finalidade do comitê é aumentar o excedente total. Para isso, eles pensam em três planos:

Realocar consumo entre consumidores

Na tentativa de realocar o consumo entre os consumidores, o comitê realoca bananas entre Letícia e
Lucas, cujos preços de reserva são de R$1,00 e R$2,00, respectivamente. Com o preço de equilíbrio da
banana igual a R$1,50, Letícia compra o produto, mas Lucas não. Se o consumo é realocado entre Lucas e
Letícia, o excedente do consumidor cairá, de forma que só o equilíbrio de mercado gera o excedente de
consumidor mais alto possível, pois assegura que quem consome o bem é aquele que mais o valoriza.
Realocar a venda entre produtores

De maneira análoga, o comitê decide realocar a produção entre Arlindo e Teresa, cujos custos de
produção de banana são, respectivamente, de R$2,50 e R$0,50. Como o preço de equilíbrio é de R$1,50,
Arlindo não irá ofertar nenhuma unidade neste mercado, mas Teresa o fará. Se o comitê reorganiza a
produção entre Teresa e Arlindo, impedindo a primeira de ofertar neste mercado e induzindo o segundo a
fazê-lo, o excedente também cairá. Assim, o equilíbrio do mercado competitivo gera o maior excedente do
produtor possível.

Mudar a quantidade que será transacionada

Por fim, o comitê está convencido de que mudar a quantidade transacionada vai melhorar o resultado.
Sejam Letícia e Lucas os compradores, e Arlindo e Teresa os produtores. Para reduzir as vendas, o comitê
terá de impedir que Arlindo venda para Letícia. Como Lucas está disposto a pagar R$2,00, mas o custo de
Arlindo é de R$ 2,50, impedir esta venda reduz o excedente total em R$ 2,50 - R$ 2,00 = R$0,50. Se o
comitê opta por aumentar a quantidade, forçando que Arlindo, que não ofertou nada, venda à Letícia, que
não comprou, a redução do excedente total é de R$2,50 - R$0,50 = R$ 2,00.

Esse resultado independe do par de consumidores e produtores escolhidos para exemplificar. Pode ser
qualquer produtor que tenha um custo de R$1,50 ou menos, e qualquer consumidor que tenha um preço de
reserva de R$1,50 ou mais. Portanto, impedir vendas reduz o excedente total. Da mesma forma, qualquer
um que não estivesse comprado banana estaria disposto a pagar menos de R$1,50, e qualquer um que não
tivesse vendido banana tem um custo maior que R$1,50.

Apesar de termos exemplificado os teoremas, existem algumas ressalvas a serem feitas.

A primeira delas é que o conceito de eficiência de Pareto nada diz sobre equidade, de forma que é possível
que um resultado no qual um indivíduo detenha toda a riqueza e os demais não tenham nada seja Pareto
eficiente.

A outra ressalva diz respeito ao funcionamento dos mercados competitivos. Em todos os exemplos, o
mercado funcionava perfeitamente. Quando existe alguma falha que impeça que o mercado funcione
corretamente, ele não maximiza mais o excedente total, e, portanto, os resultados do primeiro e do segundo
teoremas do bem-estar não são mais válidos. Por fim, mesmo que o equilíbrio de mercado maximize o
excedente total, isso não diz nada a respeito de maximização de excedente individual.
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Excedente do produtor e do consumidor
Confira agora a solução de um exemplo numérico de excedente do consumidor e um reforço sobre o
conceito de eficiência de Pareto.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

(Adaptado de Krugman, 2011) Considere o mercado de pimentão recheado, no qual há dois produtores,
José e Márcia, e dois consumidores, Carolina e Mateus. A tabela a seguir apresenta o preço de reserva
dos consumidores. A partir da tabela, assinale a alternativa correta.

Quantidade Preço reserva de Carolina Preço reserva de Mateus

1 R$ 0,90 R$ 0,80

2 R$ 0,70 R$ 0,60

3 R$ 0,50 R$ 0,40

4 R$ 0,30 R$ 0,30

Tabela: Preço de reserva dos consumidores e o custo dos produtores.


Quando o preço do pimentão é de R$0,40, o excedente do consumidor individual de
A
Carolina é de R$ 1,00, e ela demanda 3 pimentões.

Quando o preço do pimentão é de R$ 0,40, o excedente de Mateus é de R$ 0,00, e ele


B
demanda 3 pimentões.

O excedente total do consumidor, quando o preço de mercado do pimentão é de R$0,40,


C
é a soma do excedente de Carolina com o de Mateus, sendo igual a R$1,00.

D O excedente total do consumidor ao preço de R$0,40 é de R$1,50.

Quando o preço do pimentão é de R$0,40, o excedente do consumidor individual de


E
Carolina é de R$ 0,10, e ela demanda 3 pimentões.

Parabéns! A alternativa D está correta.

Somando o excedente de Carolina, R$0,90, com o de Mateus, R$0,60, temos o excedente total do
consumidor, igual a R$1,50.

Tabela: Quantidade ofertada

Questão 2
(Adaptado de Krugman, 2011) Considere o mercado de pimentão recheado, no qual há dois produtores,
José e Márcia, e dois consumidores, Carolina e Mateus. A tabela a seguir apresenta o custo dos
produtores. A partir da tabela, assinale a alternativa correta:

Quantidade Preço reserva de José Preço reserva de Márcia

1 R$ 0,10 R$ 0,30

2 R$ 0,10 R$ 0,50

3 R$ 0,40 R$ 0,70

4 R$ 0,60 R$ 0,90

Tabela: Custo dos produtores

Quando o preço do pimentão é de R$0,70, o excedente de José é de R$ 0,60, e ele


A
fornece 3 pimentões.

B O excedente de Márcia ao preço de R$0,70 é igual a R$1,60, e ela oferta 3 unidades.

Ao preço de R$0,70, o excedente total é a soma do excedente de José com o de Márcia,


C
sendo igual a R$2,00. A quantidade total ofertada é de 7 unidades.

Ao preço de R$0,70 o excedente total é a soma do excedente de José com o de Márcia,


D
sendo igual a R$2,20. A quantidade total ofertada é de 7 unidades.

Quando o preço do pimentão é de R$0,70, o excedente de José é de R$ 0,10, e ele


E
fornece 4 pimentões.

Parabéns! A alternativa D está correta.


O excedente total é obtido a partir da soma dos excedentes individuais. Assim, o excedente total do
produtor é de R$2,20. O total de quantidade ofertada é dada pela soma das quantidades individuais
ofertadas, sendo igual a 7.

Tabela: Quantidade demandada.

4 - Firma monopolista
Ao final deste módulo, você será capaz de descrever o comportamento de uma firma
monopolista.
Monopólio
Monopólios são mercados em que há apenas um produtor ofertando um bem e, portanto, ao contrário de
um mercado em concorrência perfeita, não há competição alguma. Além disso, o bem ofertado não deve
possuir nenhum substituto próximo.

Para que seja possível existir apenas um produtor em um mercado monopolístico, é preciso existir razões
para dificultar a entrada de novos produtores. No geral, as barreiras de entrada que permitem a existência
de um monopólio são a regulamentação governamental (patentes, por exemplo); grandes custos iniciais,
diluídos apenas com uma grande produção (por exemplo, uma usina hidrelétrica); ou tecnologia e controle
de insumos; ou recursos necessários à produção.

No monopólio, o monopolista se move para cima ao longo da curva de demanda: ou seja, aumenta o preço e
diminui a quantidade produzida. Como só existe um produtor, a curva de demanda enfrentada pela firma é
exatamente igual à curva de demanda agregada.

Assim, a curva de demanda enfrentada pelo monopolista é negativamente inclinada. O gráfico, a seguir,
ilustra isso:

Gráfico: Monopólio.

Ec representa o equilíbrio do mercado competitivo. Em E c o preço de equilíbrio é P c , e a quantidade


ofertada em equilíbrio é igual a Q C .

Já no equilibbrio de monopólio, a quantidade ofertada de equilíbrio é Q m , ao preço P m .


Escolha de preço e de quantidade
Provavelmente, você está se perguntando: “Como o monopolista escolhe o preço para maximizar o lucro?”.

Como sabemos, um produtor que deseja maximizar seu lucro tem uma ótima regra: produz a quantidade em
que o custo marginal se torna igual à receita marginal. A regra é válida para qualquer produtor, e a aplicação
desta leva a diferentes quantidades ofertadas, embora todas maximizem o lucro.

Isso acontece porque a curva de demanda que um produtor enfrenta em concorrência perfeita é diferente da
enfrentada em monopólio.

Enquanto a curva do produtor perfeitamente competitivo é horizontal, a do monopolista é negativamente


inclinada.

Dessa forma, a receita marginal da firma competitiva é o preço de mercado: se ela vende uma unidade a
mais, sua receita adicional é o preço de mercado daquele bem.

Como o monopolista enfrenta uma curva de demanda negativamente inclinada, a receita marginal do
monopolista se altera conforme as quantidades vendidas:

Quanto mais unidades ele vende, menor é o preço!

Isso ocorre exatamente porque a demanda de mercado (igual à demanda do monopolista) é negativamente
inclinada: quanto maior a quantidade, menor o preço.

A tabela, a seguir, apresenta esta relação para um confeiteiro, que é monopolista no mercado de sonhos:
Preço do sonho (em
Unidades Receita total Receita Marginal
R$)

10 0 10

9,5 1 19 9

8,5 2 25,5 7

8 3 32 7

7,5 4 37,5 6

6,5 5 39 2

6 6 42 3

5,5 7 44 2

5 8 45 1

4,5 9 45 0

4 10 44 -1

3,5 11 42 -2

3 12 39 -3

2,5 13 35 -4

2 14 30 -5

1,5 15 24 -6

1 16 17 -7

0,5 17 9 -8
Preço do sonho (em
Unidades Receita total Receita Marginal
R$)

0 18 0 -9

Tabela: Preço, receita total e receita marginal do monopolista.

Podemos observar que a receita marginal do sonho é menor do que o preço pelo qual ele é vendido. Isso
acontece porque o aumento da oferta do monopolista tem dois efeitos sobre a receita, o efeito quantidade,
em que uma unidade a mais vendida aumenta a receita total, e o efeito preço, em que, para vender uma
unidade a mais, o monopolista deve reduzir o preço de mercado de todas as demais unidades, o que reduz a
receita. Assim, a curva de receita marginal do monopolista está sempre abaixo da curva de demanda,
devido ao efeito preço.

Para maximizar seu lucro, o monopolista irá, assim como um produtor em competição perfeita, olhar o
ponto em que custo marginal é igual à receita marginal, como ilustrado na gráfico adiante:

Gráfico: Lucro de monopólio

Para encontrar o preço ótimo de monopólio, contudo, é preciso subir verticalmente no ponto A até
encontramos a curva de demanda, no ponto B. Assim, a regra da quantidade ótima é válida para determinar
a quantidade escolhida pelo monopolista. O que muda é que, encontrada essa quantidade, devemos usar a
curva de demanda para encontrar o preço. O polígono azul mostra o lucro de monopólio.

Monopólio, concorrência perfeita e bem-estar


Voltemos ao último gráfico. O equilíbrio competitivo é o ponto C. Como o mercado é um monopólio, ou seja,
há apenas um confeiteiro ofertando o bem, seu equilíbrio ocorre no ponto B, a uma quantidade menor e a
um preço maior.
Assim, a primeira comparação simples entre monopólio e concorrência perfeita nos
permite constatar que o monopolista produz uma menor quantidade, em que
Qm < Qc , cobra um preço mais alto, sendo P m > P c = CM g , e tem lucro
econômico positivo de longo prazo - ou seja, há remuneração extraordinária de
fatores de produção.

Em competição perfeita, isso não ocorre: se uma firma tem lucro econômico positivo, outras podem entrar
no mercado cobrando um pouco menos. As barreiras à entrada em um mercado monopolista, porém,
permitem que essa situação seja sustentável.

Comentário

Observe que um monopolista não possui uma curva de oferta, uma vez que a curva de oferta mostra a
quantidade que os produtores estão dispostos a ofertar a qualquer preço de mercado dado. Como o
monopolista não toma o preço como dado, ele escolherá a quantidade que maximiza o lucro levando em
conta sua própria capacidade de influenciar o preço.

Como já sabemos algo sobre bem-estar, você deve estar se perguntando qual é o impacto do monopólio
sobre o excedente do produtor, do consumidor e total.

O próximo gráfico apresenta dois painéis com o excedente do consumidor, tanto para o mercado
competitivo quanto para o monopólio:

Gráfico: Painel A e B

Comparandos os dois, temos o seguinte:

Painel A

Mostra o que acontece em um mercado no qual há concorrência perfeita. O produto de equilíbrio é Qc,
e o preço Pc é igual ao custo marginal do bem. Cada firma tem receita igual ao custo, de forma que não
há excedente do produtor. O excedente do consumidor é igual à área do triângulo azul, que também é
igual ao excedente total.

close
Painel B

O monopolista produz Qm e cobra Pm. Ele tem um lucro igual à área do polígono azul claro, que é igual
ao excedente do produtor. Podemos notar que este lucro foi capturado dos consumidores, uma vez que
o excedente do consumidor passa a ser igual à área do triângulo azul escuro. Assim, comparando o
excedente total do painel A com o do painel B, vemos que há uma redução do excedente e, portanto, do
bem-estar. A área do triângulo laranja é igual à perda de excedente, e é conhecida como peso morto,
que nada mais é do que a perda líquida para a sociedade.

Consumidores e produtores têm sempre um conflito de interesses. Contudo, no caso do monopólio, as


perdas dos consumidores são maiores que os benefícios do monopolista.

O monopólio é, portanto, uma fonte de ineficiência, no sentido de Pareto: é possível


melhorar a situação de todos sem piorar a de ninguém - por exemplo, se a firma
monopolista produzir uma unidade a mais e vendê-la a um preço maior que seu
custo de produção, mas menor que o preço de reserva do consumidor, haverá
ganho de troca. O monopolista, porém, não tem incentivo a fazer isso porque seria
obrigado a reduzir o preço de todas as demais unidades vendidas, o que diminuiria
seu lucro.

Essa é a razão pela qual, com frequência, governos buscam impedir o surgimento de monopólios.

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Formação de preços em monopólio
Confira melhor os conceitos de monopólio, concorrência perfeita e bem-estar.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Considere as alternativas abaixo sobre monopólio e assinale a alternativa correta.

A O monopólio é um mercado em que há apenas um consumidor e diversos produtores.

No monopólio, a quantidade produzida é menor do que em um mercado em que há


B
concorrência perfeita, e o preço é maior.

O monopolista não usa a regra de produção ótima em que a receita marginal é igual ao
C custo marginal, e por isso, há uma diferença entre a quantidade produzida de monopólio
e de concorrência perfeita.

D A curva de receita marginal do monopolista encontra-se acima da curva de demanda.

E Em monopólio, o excedente do consumidor é transferido integralmente para o produtor.

Parabéns! A alternativa B está correta.

No monopólio, a quantidade produzida é determinada pela regra CMg = Rmg. Como a curva de receita
marginal está sempre abaixo da curva de demanda, a quantidade em que a receita marginal é igual ao
custo marginal é menor do que em concorrência perfeita.
Questão 2

Uma firma monopolista tem custo dado por C(q) = 10 + q


2
, em que q é a quantidade produzida. O
custo marginal (ou seja, o custo para produzir uma unidade adicional) é dado por CM g(q) = 2q .O
preço de mercado é dado por (p(q)=20-q). A receita da firma monopolista é simplesmente o preço
multiplicado pela quantidade: R(q) = p × q = (20 − q)q = 20q − q
2
. A receita marginal é igual a
RM g(q) = 20 − 2q .

A partir dessas informações, assinale a alternativa verdadeira.

A O monopolista escolhe preço igual a custo marginal: 20 − q = 2q . Portanto, q = 20/3 .

B O monopolista escolhe preço igual a custo: 20 − q = 10 + q


2
.

O monopolista escolhe receita marginal igual a custo marginal: 20 − 2q = 2q , portanto,


C
q = 5 .

D O monopolista escolhe o preço mais alto possível, portanto, faz q = 0 .

E O monopolista escolhe a maior receita possível, portanto, faz q = 10 .

Parabéns! A alternativa C está correta.

O monopolista faz receita marginal igual a custo marginal para maximizar seu lucro. Se RM g < CM g ,
vale a pena diminuir a produção. Se RM g > CM g , vale a pena aumentar a produção.
Considerações finais
Ao longo deste conteúdo, desenvolvemos uma série de ferramentas teóricas para entender o
funcionamento dos mercados. Construímos as curvas de oferta e de demanda, estudamos a formação de
preços e a definição de quantidades transacionadas, e consideramos diferentes estruturas de mercado -
como competição perfeita e monopólio. Apresentamos ainda critérios para avaliar se uma alocação de
recursos é “boa” em um sentido específico: eficiência de Pareto.

Esses instrumentos estarão presentes em qualquer análise econômica, de estudos abstratos à prática
cotidiana. Observe como esses conceitos podem ser usados em debate sobre o possível investimento em
uma nova máquina ou sobre a definição de como distribuir tarefas entre os funcionários, ou sobre uma
política pública.

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Podcast
Ouça agora um resumo sobre os principais assuntos abordados.
Referências
KRUGMAN, P.; WELLS, R. Introdução à Economia. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011

VARIAN, H. R. Microeconomia: uma abordagem moderna. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012

Explore +
Para uma compreensão mais aprofundada dos tópicos desenvolvidos, sugerimos a leitura da obra a seguir:

ZINGALES, L; RAJAN, R. Salvando o capitalismo dos capitalistas. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
Contas Nacionais e Indicadores Econômicos
Prof.ª Maria Eduarda Barroso Perpétuo

Descrição

Metodologia das contas nacionais e sua utilização na mensuração da atividade econômica. Outros
indicadores socioeconômicos e sua utilidade para a avaliação da situação de uma economia.

Propósito

Compreender os princípios de contas nacionais e os principais indicadores socioeconômicos permite


acompanhar e avaliar a economia nacional e o bem-estar social, o que faz parte do trabalho de cientistas
sociais de todas as áreas.

Objetivos
Módulo 1

Princípios básicos das contas nacionais


Reconhecer os princípios básicos das contas nacionais.

Módulo 2

Indicadores complementares às contas nacionais


Reconhecer indicadores complementares às contas nacionais.

meeting_room
Introdução
De forma geral, a contabilidade nacional é um sistema contábil que permite a avaliação da economia em
certo período de tempo, em seus mais variados aspectos, assim como indicadores socioeconômicos.

O Produto Interno Bruto (PIB) é a estatística mais importante do sistema de contas nacionais. Analisar a
evolução do PIB é função da teoria macroeconômica, como você poderá estudar em outras oportunidades.

As contas nacionais fornecem os insumos, em forma de dados, para que a macroeconomia utilize modelos
empíricos e explique a evolução do PIB.

Assim como as contas nacionais, os indicadores sociais informam sobre o estado da economia. As contas
nacionais monitoram o gasto dos consumidores, as vendas dos produtores, os gastos de investimentos
privados e públicos, as compras do governo e outras diversas transações entre setores da economia,
permitindo a investigação do motivo pelo qual alguns países são mais ricos ou crescem mais rápido do que
outros.
O PIB tem algumas limitações, e, por isso, existem outros indicadores socioeconômicos também utilizados
para mensurar a situação econômica, como taxa de desemprego, coeficiente de Gini, índice de
desenvolvimento humano, índices de preços e taxa de inflação.

1 - Princípios básicos das contas nacionais


Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer os princípios básicos das contas
nacionais.

Produto Interno Bruto – PIB


Para começar, vamos analisar a questão a seguir:

“Em 2010, o Brasil registrou um crescimento expressivo do PIB, da ordem de 7,5%.”


(Fonte: UOL Educação). Refletindo sobre essa informação, o que você entende
sobre PIB?

Resposta
O PIB é o indicador mais utilizado para analisar o desempenho de uma economia. Seu objetivo é sintetizar
em um único número o valor correspondente à atividade econômica em moeda corrente.

Percebemos que o PIB é um indicador essencial e muito útil. Ele é utilizado, preponderantemente, em nossa
economia. No Brasil, quem é responsável pelo cálculo do PIB? O PIB é calculado pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), a partir de diversos dados, tanto administrativos quanto oriundos de
pesquisas domiciliares. Alguns desses dados são produzidos pelo próprio IBGE e outros são provenientes
de fontes externas, como o Banco Central e a Fundação Getúlio Vargas.

Fluxo circular do PIB


O PIB é a soma do valor de todos os bens e serviços finais produzidos em um país ao longo de um período
de tempo. Uma forma de calcular diretamente o PIB é pesquisar as firmas desta economia e somar o valor
de sua produção de bens e serviços finais, ou seja, somando o fluxo de fundos recebidos pelas vendas no
mercado de bens e serviços. Mas, afinal, só existe essa forma de cálculo?

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Cálculo do PIB
Veja a seguir uma breve contextualização sobre as variações de cálculo.

Podemos visualizar diversas maneiras de calcular o PIB analisando o fluxo circular expandido. O princípio
fundamental das contas nacionais é que o fluxo de dinheiro que entra em cada setor ou mercado é igual ao
que sai. O princípio fundamental exige que a soma total de fluxos de capital que sai de determinada caixa
seja igual à soma total que entra. É uma questão de contabilidade. Observe o fluxo circular na imagem.
Diagrama do Fluxo Circular expandido.

As famílias têm gastos nos mercados de bens e consumo, e também são proprietárias dos fatores de
produção, vendendo o uso destes às firmas e recebendo em troca salários, lucros, juros e aluguéis. As
empresas compram e pagam pela utilização desses fatores de produção.

A maior parte da renda das famílias é proveniente de salários pela venda da mão de
obra. Além dos salários, a renda das famílias é composta por ações (participação
na propriedade de empresas), aluguéis (de imóveis, terras e bens de capital) e
bônus (títulos de dívidas que pagam juros). Portanto, a renda familiar é composta
por salários, aluguéis, juros e lucros.

As famílias pagam impostos ao governo e também podem receber transferências governamentais, como no
caso de aposentadorias e auxílios sociais. A renda total das famílias após elas pagarem impostos e
receberem transferência é conhecida como renda disponível. As famílias não costumam gastar toda sua
renda disponível em bens e serviços, de forma que parte da renda disponível é transformada em poupança
privada, indo para mercados financeiros.

Os mercados financeiros recebem renda tanto das famílias do país em questão, como também do governo e
do resto do mundo. Os mercados financeiros são instituições, como bancos, onde indivíduos, governo e
empresas podem comprar e vender ações, bônus e fazer empréstimos.

O governo destina parte dos impostos às famílias, na forma de transferências. A outra parte das
arrecadações tributárias é utilizada para a compra de bens e serviços, e, frequentemente, precisa ser
complementada na forma de empréstimos governamentais.
Os bens e serviços adquiridos pelo governo variam de equipamentos hospitalares até o pagamento de
salário de professores. O “resto do mundo” (todos os demais países) participa comprando bens e serviços
produzidos no Brasil, como petróleo, soja e minério de ferro, que são denominadas exportações, ou
vendendo bens e serviços ao Brasil, como respiradores hospitalares, combustíveis e automóveis, por meio
das importações. Os demais países também realizam transações nos mercados financeiros, seja pela
compra de ações de empresas brasileiras por estrangeiros ou por empréstimos de firmas brasileiras com
instituições estrangeiras.

Além das famílias, as empresas compram máquinas e mão de obra no mercado de bens e serviços para
viabilizar a sua produção. A aquisição de máquinas é considerada como gasto em investimentos, uma vez
que estão relacionados à capacidade física produtiva. O gasto com aumento de estoques também é
considerado investimento, pois contribui para o aumento das vendas futuras de uma firma.

Apresentamos a segunda maneira de calcular o PIB: somando as despesas no mercado


de bens e serviços!

Incluímos também as despesas do governo e os gastos em investimentos realizados pelas firmas. Pela
regra fundamental da contabilidade, o fluxo de despesa realizado pelas famílias no mercado de bens e
serviços deve ser igual ao que entra no mercado e sai de outras fontes.

O fluxo total direcionado ao mercado de bens e serviços é conhecido como gasto agregado, ou seja, a soma
dos gastos de consumo, de investimento, das compras governamentais e das exportações, subtraindo as
importações.

Por fim, podemos calcular o PIB a partir do fluxo de renda das firmas!

Essa é a terceira maneira de calcular o PIB: a partir do fluxo de renda das firmas para os mercados de
fatores. Nesse fluxo, temos os salários pagos à mão de obra, juros, lucros e aluguéis.

Para calcular o PIB, podemos somar o total das rendas dos fatores recebidas pelas famílias e pagas pelas
firmas. O PIB pode ser calculado a partir de três prerrogativas: o valor da produção de bens e serviços finais,
os gastos em bens e serviços finais produzidos internamente e a renda de fatores obtidos pelas firmas na
economia.

Comentário
O PIB mede somente bens e serviços finais, a fim de evitar dupla contagem. Considere, por exemplo, que um
país produz R$ 100,00 de cevada e R$ 500,00 de cerveja. Nesse caso, o PIB do país será de R$ 500,00, uma
vez que o valor da cevada já é considerado no valor da cerveja.

Como são contabilizados os bens e serviços? Os bens e serviços finais são contabilizados a preços
enfrentados pelo consumidor, levando-se em conta os impostos sobre os produtos comercializados. Uma
forma de calcular o valor de todos os bens e serviços finais de uma economia é representado pela soma do
valor agregado em cada etapa da produção, em que este valor agregado é igual ao valor do produto da firma
menos o valor de todos os bens intermediários utilizados na produção. Assim, existe outra definição: PIB é o
total do valor agregado de todas as firmas na economia.

Bens usados, estoques e valores imputados


Há bens e serviços que são computados de forma especial no PIB. O primeiro deles são os bens usados.

Exemplo
Quando a Som Livre produz discos do Jorge Benjor e os vende por 15 reais, esse montante é adicionado ao
PIB do Brasil. Quando uma pessoa que comprou esse disco resolve revendê-lo, anos depois, por 50 reais,
esse valor não entra no cálculo do PIB.

Isso acontece porque somente os valores correspondentes a bens e serviços produzidos no momento
presente são contabilizados, e a venda do disco do Jorge Benjor reflete apenas a transferência de um ativo,
e não um acréscimo à renda da economia.

Além de bens usados, os estoques também apresentam uma abordagem diferenciada. A produção de um
bem aumentou durante um mês e, ao final deste, ele estragou, pois era perecível, ou foi para estoque.

O aumento da produção aumenta o PIB em ambos os cenários. No primeiro, em que o bem estragou, houve
maior pagamento de salários, e a não venda do bem reflete em menores lucros. Já no segundo cenário, em
que o bem foi para o estoque da firma, é tratado como compra por parte da própria firma, e, portanto, faz
parte do PIB. Contudo, a venda desses bens que se encontravam estocados não entra no cálculo.

Como a economia é diversa e oferece bens e serviços bastante diferenciados, não é possível, em todos os
casos, calcular o PIB desses bens e serviços em preços de mercado. Quando isso acontece, utilizamos uma
estimativa do preço, conhecida como valor imputado. Aluguéis, moradias e serviços prestados pelo governo
são alguns dos casos nos quais utilizamos valores imputados, em vez de preços de mercado.

No caso de moradia, estima-se que a dona do imóvel pague um valor de aluguel para ela mesma, e esse
valor é considerado parte do PIB.

No caso dos serviços públicos, os salários dos servidores são usados como uma medida de valor
correspondente à sua produção.

Embora existam mais casos em que uma imputação seja necessária, em muitos desses não é realizada,
como aluguéis de carros e outros bens duráveis, bens e serviços produzidos e consumidos em casa, como
refeições, e bens e serviços da economia informal.

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Atividade discursiva
Suponha que uma economia produza 3 peixes e 5 cocos. Para fazer o cálculo do PIB, utilizamos preços de
mercado, ou seja, preços que refletem a disposição dos indivíduos a pagar sobre aquele produto. Se cada
unidade de peixe custa R$ 5,00 e de coco, R$ 2,00, o PIB desta economia é de:

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PIB = (Preço do peixe × Quantidade de peixe)


+ (Preço do coco × Quantidade de coco)

= (R$ 5,00 × 3) + (R$ 2,00 × 5)

= R$ 25,00

Ótica da despesa
As contas nacionais dividem o PIB em quatro categorias para despesa:

Consumo (C);

Investimento (I);

Compras do governo (G);

Exportações líquidas (NX).

Portando, sendo Y o PIB, temos:

Y = C + I + G + NX

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Essa equação é conhecida como identidade das contas nacionais.

Consumo
O consumo compreende os bens e serviços adquiridos pelos domicílios. Os bens são classificados em
duráveis e não duráveis.

Duráveis
São bens que duram um longo período de tempo, como automóveis e eletrodomésticos.

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Não duráveis

São bens que duram um curto período de tempo, como alimentos e vestuário.

Investimento
O investimento consiste em bens adquiridos para uso futuro, e pode ser de três naturezas: investimento fixo
de empresas, investimento fixo imobiliário e investimento em estoques. O primeiro equivale à compra de
nova unidade para produção ‒ por exemplo, equipamentos e maquinários. O segundo consiste na aquisição
de uma nova residência para fins de moradia ou de aluguel pelas famílias. Por fim, o investimento em
estoques é o aumento de estoques de bens por uma firma.

Compras do governo
As compras do governo são os bens e serviços adquiridos pelos governos federais, estaduais e municipais,
e incluem itens como equipamentos hospitalares e escolares, e serviços prestados por servidores públicos.
Não consideramos gasto do governo transferências como previdência e assistência social. Essas
transferências não são contabilizadas no PIB, pois apenas realocam uma renda que já existe, e não há
transação entre bens e serviços.
Exportações líquidas
As exportações líquidas são a parte da identidade das contas nacionais que considera o comércio com
outros países. Elas são o valor das exportações (o que é vendido para outros países) menos o valor das
importações (o que compramos de outros países). As exportações líquidas são negativas quando o valor
das importações é maior do que o valor das exportações, e positivas, no caso oposto.

Ótica da oferta
Para calcular o PIB pela ótica da oferta, somamos os valores agregados totais de cada firma, que é
denominado valor adicionado bruto (VAB), e representa o valor da diferença entre o que é produzido e o
consumo intermediário. Para chegar ao PIB a preços de mercado, somamos o VAB com impostos indiretos
e subtraímos subsídios:

P I B = ∑ V AB+ impostos indiretos - subsídios

Rotacione a tela. screen_rotation


Para compreendermos melhor, vamos resolver a questão a seguir.

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Atividade discursiva
Seja uma padaria que produza um pão e o venda a R$ 1,00. Para produzi-lo, o padeiro gastou 100g de
farinha de trigo e 10ml de água. O custo de R$ 1,00 considera os gastos com os ingredientes para produzi-
lo. Suponha que o custo desses ingredientes seja de 30 centavos. Qual será o valor agregado a essa padaria
e o valor da sua contribuição para o PIB?

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Exibir soluçãoexpand_more

O valor agregado dessa padaria é de 70 centavos, e sua contribuição para o PIB é de R$ 0,70.

Ótica da renda
O cálculo do PIB, pela ótica da renda, consiste na soma de todas as rendas dos agentes habitantes do país
em questão, como salários, juros, lucros e aluguéis. A soma dos juros, lucros e aluguéis é conhecida na
contabilidade nacional como excedente operacional bruto (EOB). Portanto, para chegar ao PIB a preços de
mercado, devemos somar salários, EOB e impostos indiretos, e subtrair os subsídios, veja:

P IB = salários +EOB+ impostos indiretos - subsídios

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Fluxo x estoque
O PIB é uma medida de fluxo de novos bens e serviços finais produzidos durante certo período de tempo, e
não um estoque de riqueza existente em um país. Se um país não produz durante um ano, seu PIB anual é
zero.

O estoque é uma quantidade medida em certo ponto do tempo, enquanto o fluxo é


uma quantidade medida por unidade de tempo.
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Atividade discursiva
Pense numa caixa d’água. A água dentro da caixa é um estoque e equivale à quantidade de água da caixa
em certo período do tempo. Já a água que entra na caixa pelo cano é um fluxo, sendo a quantidade de água
adicionada ao longo do tempo. O que podemos considerar sobre a unidade de medida dessas variáveis?

Digite sua resposta aqui...

Exibir soluçãoexpand_more

A unidade de medida dessas duas variáveis é diferente. Enquanto pelo cano (fluxo) entram 10L por
minuto, a caixa d’água contém 100L.

Veja um exemplo do cálculo do PIB pelas três óticas em uma economia hipotética:

Cálculo do PIB em uma economia hipotética.


PIB real x PIB nominal e o deflator do PIB
Como já vimos, o PIB nos possibilita fazer comparações tanto entre nações quanto entre períodos de
tempo. Contudo, devemos prestar atenção ao fazermos comparações entre períodos de tempo. Parte do
aumento do PIB ao longo do tempo representa um aumento nos preços dos bens e serviços, e não um
aumento na quantidade produzida, uma vez que o PIB é calculado em moeda corrente.

Da mesma forma, uma economia pode estar aumentando, mas seu PIB pode estar caindo se os preços
estiverem reduzindo.

Para compreender melhor a questão, analise a situação a seguir:

Em minhas pesquisas, verifiquei que o PIB do Brasil em 2019, segundo o IPEA Data, foi de 7.256.882,00
milhões de reais, enquanto em 2009 foi de 3.333.039,30 milhões de reais. Todavia, em 10 anos, a economia
brasileira não mais que dobrou de tamanho. Para fazermos essa comparação de forma correta, é preciso
calcular o PIB real, ou seja, a quantidade de bens e serviços finais que uma economia produziu.

Passo 1

Para entendermos como calculamos o PIB real, vamos imaginar uma economia que produza apenas peixes
e cocos. No primeiro ano, o preço do peixe é de R$ 3,00, o do coco é de R$ 1,00, e são produzidos 10 peixes
e 25 cocos. No segundo ano, o preço do peixe é de R$ 5,00, o do coco é de R$ 2,00, e são produzidos 15
peixes e 30 cocos.

Passo 2
No primeiro ano, o valor total da produção é de R$ 55,00. No segundo ano, é de R$ 135. O PIB nominal do
segundo ano é 145% maior que o do primeiro. Contudo, fica claro, a partir do exemplo, que os preços
aumentaram, e mesmo que a quantidade também tenha aumentado, o aumento da quantidade é menor do
que 145%.

Passo 3

Para chegarmos ao aumento da quantidade produzida, devemos calcular o PIB como se os preços não
tivessem mudado, ou seja, utilizando os preços do primeiro ano e as quantidades do segundo. Assim, o PIB
do segundo ano calculado a partir dos preços do primeiro é igual a R$ 75, o que representa um aumento de
36%. Portanto, o PIB real é o valor total de bens e serviços finais produzidos na economia durante um ano, e
calculado como se os preços tivessem permanecidos constantes, ou seja, no nível de determinado ano
base.

O PIB real sempre vem acompanhado de informações do ano-base em questão. Os dados do PIB em que os
preços não são ajustados é denominado PIB nominal, isto é, o PIB a preços correntes. Se tivéssemos
utilizado o PIB nominal para comparar a economia dos dois anos, como mostrado no exemplo anterior,
teríamos encontrado um crescimento de 145%, enquanto, na realidade, a economia cresceu 36%. O PIB real
também previne que a variação dos preços distorça o valor da mudança na produção de produtos e serviços
ao longo do tempo. Na prática, o ano-base é atualizado periodicamente, a cada cinco anos, para garantir que
os preços não estejam demasiadamente defasados.

Deflator do PIB
Além do PIB nominal e do PIB real, podemos calcular o deflator do PIB, que corresponde à razão entre o PIB
nominal e o PIB real. O deflator do PIB reflete o que está ocorrendo com o nível geral de preços da
economia.

Deflator do P I B =
PIB nominal

PIB real

Rotacione a tela. screen_rotation


No exemplo sobre a economia hipotética, a variação do deflator do PIB é de 80% (135 ÷75 = (1,8 – 1) x 100 =
80%). O deflator do PIB representa a variação de preços mais abrangente na economia, pois sintetiza uma
medida de preços de todos os bens e serviços produzidos. Como veremos, o deflator é diferente dos índices
de preço frequentemente utilizados, porque sua estrutura muda conforme a composição do PIB se altera,
enquanto os índices de preço, no geral, possuem uma cesta de bens fixa.

Sazonalidade
Além do PIB anual, os economistas se interessam pelo PIB de períodos de tempo mais curtos (trimestrais).
Contudo, conforme estudamos sua evolução trimestral, logo notamos um padrão sazonal regular.

A imagem a seguir ilustra a evolução do PIB trimestral do Brasil entre 2016 e 2019. O número 1 no eixo x
representa o primeiro trimestre de 2016, o número 5 representa o primeiro trimestre de 2017, e assim por
diante. As linhas pontilhadas marcam o último trimestre de cada ano.

Série trimestral do PIB brasileiro.

A produção total aumenta durante o ano, com pico no último trimestre, conforme ilustra a imagem anterior.
Parte da variação sazonal do PIB reflete a variação na capacidade de produção ao longo do ano. Por
exemplo, certos cultivos são produzidos em determinadas estações, assim como indivíduos apresentam
preferências sazonais, como a de comprar presentes no Natal, chocolates na Páscoa e viajar no verão.

Para estudar as flutuações reais do PIB, tiramos a parte da flutuação previsível atribuída à sazonalidade do
PIB. A maior parte das estatísticas é ajustada sazonalmente, ou seja, os dados são ajustados de modo a
remover as flutuações sazonais regulares. Portanto, quando observamos flutuações no PIB real ou em
outros indicadores, devemos buscar outros fatores além da sazonalidade para explicar tais flutuações.

Outros indicadores de renda das contas nacionais


PIB per capita
PIB per capita é a renda média individual de um país. Para calcular o PIB per capita, dividimos o PIB daquele
país pela sua população:

P IB
P I Bper capita =
ção
Popula

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Assim como o PIB real, o PIB per capita permite uma melhor comparação entre economias, porque
eliminamos o efeito de uma população maior. Assim, um país cuja população é maior terá uma economia
maior simplesmente pelo fato de que há mais indivíduos trabalhando.

A razão para o PIB ser frequentemente usado para analisar o desempenho econômico é que uma economia
com grande produção de bens e serviços é capaz de satisfazer melhor às demandas dos domicílios,
empresas e governo.

A partir do PIB, podemos comparar o tamanho da economia de países, avaliar a evolução do PIB no tempo,
comparando o seu desempenho anual, analisar o PIB per capita etc.

Relembrando
PIB é um indicador imperfeito da economia, uma vez que existem limitações para o seu cálculo. Portanto,
diversos fatores relevantes não são considerados no PIB: distribuição de renda, qualidade de vida,
educação, saúde, segurança etc.

Produto Nacional Bruto - PNB


Além do PIB, existem outros indicadores de renda bastante utilizados que se relacionam com ele. O primeiro
deles é o Produto Nacional Bruto (PNB), que considera o valor da produção de propriedade de residentes, ou
seja, de brasileiros. A produção de estrangeiros no Brasil é levada em consideração no PIB, mas não no PNB.
A produção de brasileiros em países estrangeiros, por exemplo, não é considerada no PIB, mas entra no
PNB.

PNB = PIB + pagamentos de fatores oriundos do exterior - pagamentos de fatores destinados ao exterior =
PIB - RLEE

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Nessa expressão, a renda líquida enviada ao exterior (RLEE) é a diferença entre pagamentos de fatores
destinados ao exterior (como o salário de um norte-americano que trabalha no Brasil) e pagamentos de
fatores oriundos do exterior (por exemplo, o salário de um brasileiro que trabalha na Europa).

As diferenças entre PIB e PNB podem ser expressivas em alguns países, como também podem quase não
existir em outros. Isso acontece devido à composição da economia, ao grau de endividamento externo e à
quantidade de empresas multinacionais que remetem lucros aos seus países de origem.

Podemos calcular o Produto Nacional Líquido (PNL) a partir da subtração da depreciação do capital, isto é,
da parcela do capital que se desgasta ao longo de um período:

PNL = PNB - Depreciação do Capital

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Como a depreciação do capital representa um custo para a produção, por meio da sua subtração, temos o
resultado líquido da atividade econômica. Imagine, por exemplo, uma máquina de moer café que precisa de
manutenção, pois está com uma peça quebrada. Essa peça quebrada é um exemplo de depreciação do
capital.

O Produto Nacional Líquido é aproximadamente igual a outro indicador de renda, a


Renda Nacional, que mede o quanto ganharam todas as pessoas que integram uma
economia. A diferença entre os dois indicadores ocorre devido a uma pequena
correção, conhecida como discrepância estatística, ocasionada porque fontes
diferentes de dados podem não ser exatamente correspondentes.

Em uma economia fechada, ou seja, sem trocas com o exterior, as estimativas de PIB e PNB são idênticas.

video_library
Crescimento acelerado e períodos de recessão
Veja agora uma breve contextualização sobre crescimento x recessão.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

A respeito do PIB, assinale a alternativa correta:

O valor agregado total dos bens e serviços finais e o gasto agregado em bens e serviços
A
produzidos internamente em uma economia não são equivalentes.

O gasto agregado entre bens e serviços finais produzidos domesticamente e a renda


B
total de fatores são diferentes.

C O PIB pode ser calculado a partir de três métodos, e todos são equivalentes.

O valor agregado total dos bens e serviços finais e a renda total de fatores não são
D
equivalentes.

O PIB possui quatro métodos diferentes de cálculo, e cada um deles fornece a mesma
E
estimativa.

Parabéns! A alternativa C está correta.

A) A alternativa está incorreta. Consideremos a relação entre valor agregado total de todos os bens e
serviços finais produzidos internamente, e o gasto agregado em bens e serviços finais produzidos
internamente. Essas duas quantidades são iguais porque cada bem e serviço final produzido na
economia é comprado por alguém ou acrescentado aos estoques, e acréscimos aos estoques são
considerados como gastos das firmas segundo o princípio básico da economia.

B) A alternativa está incorreta. Considere a relação entre gasto agregado entre bens e serviços finais
produzidos domesticamente e a renda de fator total. Essas duas quantidades são iguais porque todo o
gasto que é encaminhado à firma para pagar compras de bens e serviços finais produzidos
domesticamente é receita das firmas. Essa receita precisa ser gasta pela firma para pagar seus fatores
de produção, na forma de salários, lucros, juros e aluguéis. Tomado em conjunto, isso significa que os
três métodos de cálculo do PIB são equivalentes.

C) A alternativa está correta. Existem três óticas pelas quais o PIB pode ser calculado e que produzem
exatamente a mesma estimativa. São elas: oferta, despesa e renda.

D) A alternativa está incorreta. Considere a relação entre o valor agregado total de todos os bens e
serviços finais produzidos internamente e a renda de fator total. Essas duas quantidades são iguais
porque todo o gasto que é encaminhado à firma para pagar compras de bens e serviços finais
produzidos domesticamente é receita das firmas. Essa receita precisa ser gasta pela firma para pagar
seus fatores de produção, na forma de salários, lucros, juros e aluguéis. Tomado em conjunto, isso
significa que os três métodos de cálculo do PIB são equivalentes.

E) A alternativa está incorreta, pois são três métodos diferentes de cálculo que produzem a mesma
estimativa, de modo que não existe um quarto método.

Questão 2

Suponha que, em uma economia, haja apenas dois bens: pão e café. Em 2018, foram vendidos um
milhão de grãos de café a R$ 0,40 a unidade, e 800.000 unidades de pão a R$ 0,60 a unidade. De 2018
para 2019, o preço do café subiu 25% e a quantidade de porções vendidas caiu 10%, enquanto o preço
do pão caiu 15% e o número de porções vendidas aumentou em 5%. Assinale a alternativa verdadeira:

A O PIB nominal em 2018 foi de R$ 800.000.

B O PIB nominal em 2019 foi de R$ 870.000.

C O PIB nominal em 2019 foi de R$ 880.000.


D O PIB real em 2019, calculado a preços de 2018, foi exatamente igual ao PIB nominal de
2019.

E O crescimento do PIB real, usando 2018 como ano-base, foi de -1,8%.

Parabéns! A alternativa E está correta.

A) A alternativa está incorreta. Em 2018, o PIB nominal era de (1.000.000 x R$ 0,40) + (80.000 x R$ 0,60)
= R$ 400.000,00 + R$ 480.000,00 = R$ 880.000,00.

B) A alternativa está incorreta. Um aumento de 25% no preço do café, de 2018 para 2019, significa que o
preço do café em 2019 era 1,25 x R$ 0,40 = R$ 0,50. Uma queda de 10% nas vendas de café significa
que, em 2019, foram vendidos 1.000.000 x 0,9 = 900.000 grãos de café. Portanto, o valor total das
vendas de café em 2019 foi de 900.000 x R$ 0,50 = R$ 450.000,00. Uma queda de 15% no preço do pão
em 2019 significa que, em 2019, ele foi de 0,85 x R$ 0,60 = R$ 0,51. Um aumento de 5% das vendas de
pão significa que foram vendidas 800.000 x 1,05 = 840.000 unidades em 2019. O valor total das vendas
de pão foi, portanto, 840.000 x R$ 0,51 = 428.400. O PIB nominal em 2019 foi de R$ 450.000,00 + R$
428.400,00 = R$ 878.400,00.

C) A alternativa está incorreta. Um aumento de 25% no preço do café, de 2018 para 2019, significa que o
preço do café em 2019 era 1,25 x R$ 0,40 = R$ 0,50. Uma queda de 10% nas vendas de café significa
que, em 2019, foram vendidos 1.000.000 x 0,9 = 900.000 grãos de café. Portanto, o valor total das
vendas de café em 2019 foi de 900.000 x R$ 0,50 = R$ 450.000,00. Uma queda de 15% no preço do pão
em 2019 significa que, em 2019, ele foi de 0,85 x R$ 0,60 = R$ 0,51. Um aumento de 5% das vendas de
pão significa que foram vendidas 800.000 x 1,05 = 840.000 unidades em 2019. O valor total das vendas
de pão foi, portanto, 840.000 x R$ 0,51 = 428.400. O PIB nominal em 2019 foi de R$ 450.000,00 + R$
428.400,00 = R$ 878.400,00.

D) A alternativa está incorreta. Para chegarmos ao valor do PIB real em 2019, temos que calcular o valor
das vendas no ano em questão, utilizando os preços do ano anterior: (900.000 grãos de café x R$ 0,40)
+ (840.000 x R$ 0,60) = R$ 360.000,00 + R$ 504.000,00 = R$ 864.000,00.

E) A alternativa está correta. Vamos medir o PIB real usando 2018 como ano-base. O PIB real de 2018 é,
portanto, o próprio PIB nominal: 0,4x1.000.000 + 0,6x800.000 = 880.000. O PIB real de 2019 é
0,4x900.000 + 0,6x840.000 = 864.000. Observe que usamos os preços de 2018, porém alteramos as
quantidades de acordo com as variações dadas no enunciado. A taxa de crescimento do PIB real entre
2018 e 2019 é (864.000 - 880.000)/880.000 = -1,8%.
2 - Indicadores complementares às contas nacionais
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer os indicadores complementares às
contas nacionais.

Índice de preços ao consumidor e inflação


Para começar, vamos analisar a seguinte informação:

Ipea reduz projeção para a inflação de 2020, de 2,9% para 1,8%.

Os alimentos, que dispararam de preço na quarentena, contudo, devem encerrar o ano


com uma alta de 3%.

(Correio Braziliense, 2020)

Como podemos observar, ao acompanhar notícias sobre nossa economia, é comum analisar as projeções
sobre as altas e baixas dos preços.
O que são índices de preço?

Resposta
Assim como o PIB e as medidas de renda que vimos no módulo anterior, existem diversos índices de preços
em uma economia. O mais utilizado é o índice de preços ao consumidor (IPC), mas também há o índice de
preços do produtor (IPP), que mostra como o custo de produção evoluiu.

No Brasil, esses índices são calculados pelo IBGE, FGV e Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da
Universidade de São Paulo (FIPE). De forma análoga ao PIB, os índices de preço transformam inúmeros
valores de bens e serviços em um único indicador de nível geral de preços.

Índice de preços ao consumidor amplo (IPCA)


O índice de preços ao consumidor amplo (IPCA) é, desde 1999, o índice oficial do governo para medir a
inflação, isto é, o aumento no nível geral de preços. Seu objetivo é mensurar a inflação de um conjunto de
produtos e serviços comercializados no varejo, referente ao consumo pessoal das famílias com rendimento
mensal entre 1 e 40 salários mínimos. Para calcular o IPCA, o IBGE envia funcionários a estabelecimentos
comerciais e de prestação de serviços, entre os dias 1 e 30 de cada mês de referência para coletar o preço
de determinada cesta de bens e serviços.

A divulgação do índice acontece até o décimo-quinto dia do mês seguinte. A coleta de informações é
realizada nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Porto Alegre, São Paulo, Recife, Belo Horizonte,
Belém, Salvador, Curitiba, e nos municípios de Brasília e Goiânia.

A composição da cesta de consumo é baseada na pesquisa de orçamento familiar (POF). São coletados por
volta de 430 mil preços em 30 mil locais. Todos esses preços são comparados com os do mês anterior,
resultando em um único valor que reflete a variação geral de preços ao consumidor no período.
Composição da cesta do IPCA

Para melhor compreensão sobre o cálculo do IPCA, vamos a um exemplo:

Suponha que um consumidor padrão compre 10 bananas e 2 abacaxis todos os meses. Sua cesta de
consumo é, portanto, composta por 10 bananas e 2 abacaxis, e o seu IPCA é:

ç ç
(10× pre o da banana )+(2× pre o do abacaxi )
I P CAem dado ano =
ç ç
(10× pre o da banana no ano-base )+(2× pre o do abacaxi no ano base )

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Suponha que o preço da banana seja R$ 2,00, e do abacaxi, R$ 5,00. Escolhendo 2010 como ano-base, os
preços da banana e do abacaxi eram respectivamente de R$ 1,00 e de R$ 3,00. Assim, o IPCA desta cesta de
consumo é de:

(10×2)+(2×5)
I P CA2020 = = 1, 87
(10×1)+(2×3)

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Esse valor nos informa a razão do custo, no momento corrente, para adquirir 2 abacaxis e 10 bananas em
relação a quanto custava a aquisição desses mesmos bens em 2010. Assim, em 2020, a compra de 10
bananas e 2 abacaxis custa 87% a mais do que em 2010.

IPCA x deflator do PIB


Como vimos, o deflator do PIB nos fornece uma medida de evolução de preços. O deflator do PIB considera
uma cesta de bens e serviços igual à produção do país naquele ano, enquanto o IPCA considera uma cesta
fixa. Portanto, um aumento dos preços de bens e serviços adquiridos por empresas e governo serão
refletidas no deflator, mas não aparecerão no IPCA.

video_library
Cálculo do IPCA
Veja mais sobre o cálculo do IPCA.

É importante saber também que o deflator só considera bens e serviços produzidos internamente, enquanto
na cesta do IPCA pode haver itens importados, como vinhos, eletrônicos e queijos.

Exemplo

Suponha que o preço do vinho aumentou porque a França teve um ano atípico, com temperaturas altas e
muita chuva, que estragaram grande parte da plantação de uvas. A quebra da safra da uva resultou em um
aumento no preço do vinho. Dessa maneira, o crescimento no preço do vinho francês importado aparecerá
no IPCA brasileiro, mas não no deflator do PIB.

A outra diferença deve-se à forma que cada índice pondera os pesos dos bens. O IPCA atribui um peso fixo
ao preço dos bens, devido à utilização de uma cesta fixa, enquanto o deflator concede pesos variados, de
acordo com a produção interna daquele ano. Índices de preços que possuem cestas de bens e serviços
fixas chamam-se índices de Laspeyeres, e os com cestas variáveis chamam-se índices de Paasche.
Portanto, o IPCA é um índice de Laspeyeres e o deflator do PIB é um índice de Paasche.

E por que usar o IPCA e não o deflator no PIB? Na realidade, não existe uma resposta certa, nem um índice
melhor do que o outro. Cada índice tem suas propriedades e diferentes utilidades. Quando os preços de
bens diferentes estão variando em proporções diversas, um índice de Laspeyeres, de cesta fixa, costuma
superestimar o aumento do custo de vida. Isto acontece visto que uma cesta fixa não leva em consideração
a possibilidade de substituição de bens e serviços pelos consumidores. Por outro lado, um índice de
Paasche, de cesta variável, subestima o aumento do custo de vida, pois, ao levar em conta a substituição de
itens, não reflete a redução de bem-estar e satisfação que tal substituição pode causar.

Exemplo
Se você é proprietário de uma empresa de construção civil, o seu índice de interesse para negócios será o
índice de preços do produtor. No entanto, um senhor aposentado certamente estará mais interessado em
acompanhar o IPCA.
Dependendo do interesse em questão, podemos escolher um índice em detrimento do outro.

Índice de preços do produtor


O IPP (índice de preços do produtor) mede o preço de uma cesta adquirida por empresas, não por
consumidores. O foco do índice reside nas indústrias extrativas e de transformação, tendo como principal
objetivo mensurar a mudança média dos preços de venda recebidos pelos produtores domésticos de bens e
serviços, assim como sua evolução ao longo do tempo.

O IPP é calculado pelo IBGE e abrange informações de, aproximadamente, duas mil empresas, sobre os
preços recebidos pelo produtor, isentos de impostos e tarifas, o que resulta na coleta de aproximadamente
seis mil preços. Como os produtores, tendem mais rápido do que o IPCA acerca das pressões inflacionárias,
e, por isso, algumas vezes é considerado como um aviso prévio de alerta sobre mudanças na inflação.

O IPP é calculado de forma análoga ao IPCA, mas considera sua cesta de consumo
específica.

Taxa de inflação
Com tantos índices apresentados, você deve estar se perguntando o porquê de tantas formas diferentes de
mensurar a evolução dos preços e de calcular a taxa de inflação. Por que isso é tão importante?

Para ilustrar sua importância, devemos definir primeiro o que é a taxa de inflação. Como mencionado na
apresentação do IPCA, ele é o índice oficialmente utilizado para medir a inflação no Brasil. A partir do IPCA,
podemos calcular a taxa de inflação, que é a sua mudança percentual anual:

Taxa de inflação =
I P CAano 2−I P CAano 1
× 100
I P CAano 1

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Para explicar a importância da taxa de inflação em uma economia, precisamos definir o que é poder de
compra. Poder de compra é a quantidade de bens e serviços que determinada renda pode adquirir.

border_color
Atividade discursiva
Suponha que Gabriel seja assistente em um centro de pesquisa de economia e receba R$ 1.300,00 mensais.
O prato preferido de Gabriel é galeto, acompanhado de uma Coca-Cola gelada, cujo preço é de R$ 20,00. Se
a sua cesta de consumo é apenas galeto com Coca-Cola, e ele gasta toda sua renda com isso, qual é o seu
poder de compra?

Digite sua resposta aqui...

Exibir soluçãoexpand_more

Seu poder de compra é a quantidade de cestas de consumo que ele consegue adquirir com a sua
renda. Sendo assim, com sua renda, Gabriel pode consumir 65 galetos acompanhados de Coca-Cola
(R$ 1.300,00 ÷ R$ 20,00 = 65).

No Brasil, mais do que em outros países, a inflação foi, por décadas, um problema comum. O grande
problema da inflação é que ela deteriora o poder de compra dos consumidores.

Exemplo
Como ilustrado no exemplo das bananas e abacaxis, a compra destes bens em 2020 era 1,87 vezes mais
cara do que em 2010. Podemos também medir a queda no poder de compra ocasionado pela inflação. Por
exemplo, suponha que Júlia tivesse R$ 10,00 para comprar bananas em 2010. Com as bananas custando R$
1,00 em 2010, Júlia comprava 10 unidades. Todavia, em 2020, quando o preço da banana passou a ser R$
2,00, com os mesmos R$ 10,00, Júlia comprava 5 bananas.

Com o aumento dos preços dos bens e serviços, o poder de compra vai sendo reduzido, ou seja, podemos
comprar menos unidades de bens e serviços, uma vez que a maioria dos contratos e salários tendem a ser
reajustados de forma mais lenta, enquanto os outros preços da economia são reajustados mais
rapidamente.

Caso todos os preços se ajustassem na mesma velocidade, proporção e periodicidade, não haveria
problema em um aumento no nível de preços daquela economia, já que todos seguiriam com sua renda real
inalterada.

Os economistas consideram que as taxas de inflação elevadas geram custos


econômicos significativos. Os mais importantes são os custos de sola de sapato,
de menu e de unidade de conta.

No geral, as pessoas mantêm moeda, seja em forma de dinheiro na carteira, seja em contas correntes em
bancos, por conveniência, para realizar transações. Uma alta taxa de inflação desestimula os indivíduos a
manterem moeda, porque o poder de compra do dinheiro se deteriora. Isso faz com que as pessoas
busquem formas de reduzir a quantidade de moeda que retêm, mesmo que envolva custos consideráveis.

O primeiro custo é o de sola de sapato, que se trata de uma alusão à necessidade de andar de um lado para
o outro quando as pessoas não mantêm dinheiro. Um retrato desse custo é a hiperinflação alemã dos anos
20, em que comerciantes contratavam maratonistas para ir ao banco diversas vezes ao dia para converter o
dinheiro em moeda estrangeira mais estável ou em ativos que rendiam juros. Ao se esforçarem para evitar a
redução do poder de compra, esses maratonistas poderiam ter sido utilizados em outras atividades
produtivas

A quantidade de transações bancárias é tamanha que exige que o número de empregados em bancos
aumente consideravelmente. No Brasil, nos anos de hiperinflação, o setor bancário correspondia a 15% do
seu PIB. Para lidar com a hiperinflação, o tamanho necessário do setor bancário representou uma perda de
recursos reais para a sociedade, uma vez que esses funcionários também poderiam estar empregados em
outras atividades produtivas.

Outro custo da inflação é o de menu. Em economias modernas, em geral, os preços dos bens e serviços são
listados. Em um restaurante, por exemplo, a mudança do preço de um item significa necessidade de
confeccionar novos cardápios, o que envolve custos. Quando temos uma inflação alta, os preços são
alterados com mais frequência e, portanto, as empresas incorrem com mais frequência nesses custos. No
Brasil, os funcionários de supermercados gastavam quase metade do tempo de trabalho remarcando
preços.

Na economia moderna, os contratos deixaram de ser expressados em espécie, como galinhas, e deram
lugar à moeda, assim como outros cálculos da economia. Essa função da moeda é conhecida como
unidade de conta, e é um papel que se degrada pela inflação: um real vale menos no próximo ano do que
neste.

A consequência é a redução da qualidade das decisões econômicas devido à incerteza da mudança da


unidade de conta. Portanto, os custos de unidade de conta da inflação refletem a forma com que ela torna a
moeda uma unidade de medida menos confiável. Esse custo se reflete particularmente no sistema
tributário, pois a inflação distorce a medida de renda pela qual o imposto é cobrado.

Exemplo
Suponha uma taxa de inflação de 10% e uma família que compre um apartamento por R$ 100.000,00, e o
venda um ano depois por R$ 110.000,00. A família não teve lucro em termos reais com a transação, mas,
segundo o sistema tributário, obteve um ganho de R$ 10.000,00, e deverá pagar impostos sobre esse ganho
“fantasma”.

Diversas empresas são desencorajadas a realizar investimentos produtivos devido aos impostos sobre
esses ganhos, gerando mais custos para a economia.

Sendo assim, quando temos uma inflação muito alta, como aconteceu no Brasil nas décadas de 80 e 90, o
aumento da renda dos indivíduos não acompanhou a rapidez do aumento dos preços dos bens e serviços,
reduzindo o poder de compra dos consumidores. A redução do poder de compra reduz o bem-estar e
satisfação dos indivíduos, uma vez que deixam de consumir os itens desejados e, em muitos casos, até os
necessários.

Durante esses anos, a inflação brasileira chegou à marca dos 1000%, e o Brasil ficou conhecido
mundialmente pela hiperinflação que assolava a sociedade. Foram realizadas diversas tentativas de reduzir
a inflação, algumas deixando a situação ainda mais crítica. Por fim, em 1994, foi lançado o Plano Real, que,
entre muitas outras medidas, deu fim ao cruzeiro e implantou o real que conhecemos hoje em dia.

A imagem a seguir exibe a série histórica do IPCA, iniciada nos anos 80, e mostra sua evolução até os dias
de hoje. É possível notar claramente a hiperinflação dos anos 80 e 90, dando lugar a uma estabilidade dos
preços a partir de 1995:

Série histórica do IPCA.

Veja a evolução do IPCA a partir de 1995 até 2019:

Evolução do IPCA (1995-2019).

Taxa de desemprego
A taxa de desemprego, assim como o PIB e a taxa de inflação, constitui-se como um indicador sobre a
situação da economia. Ela é calculada e divulgada atualmente pelo IBGE, a partir da pesquisa nacional de
amostra por domicílio contínua (PNADC).

Até 2016, contudo, era utilizada a pesquisa mensal do emprego (PME). A PNADC foi planejada para produzir
indicadores trimestrais sobre a força de trabalho e outros indicadores anuais sobre temas suplementares
permanentes.
O desemprego, como é conhecido popularmente, aparece na pesquisa pelo conceito de desocupação.

Veja a série histórica para o desemprego no Brasil:

Taxa de desocupação trimestral (2012-2019).

Para definirmos desemprego, vamos primeiro definir o que é emprego. Emprego é o número total de
pessoas correntemente empregadas, seja em tempo integral ou parcial. O desemprego, por sua vez, é o
número de pessoas com idade para trabalhar (acima de 14 anos) que não estão trabalhando, mas estão
disponíveis e tentam encontrar trabalho.

Para alguém ser considerado desempregado, não basta não possuir um emprego. Aposentados e
incapacitados que recebem benefícios não são considerados desempregados, uma vez que não procuram
emprego e nem estão disponíveis para tal. Portanto, o desemprego é o número total de pessoas que estão
ativamente procurando emprego, mas não estão empregadas.

Para calcular o desemprego de um país, precisamos definir antes outros conceitos.

A população em idade ativa (PIA) é composta de pessoas que têm idade para trabalhar, ou seja, pessoas
acima de 14 anos de acordo com o critério adotado pelo IBGE. A força de trabalho, ou população
economicamente ativa (PEA), é composta de pessoas que têm idade para trabalhar, acima de 14 anos, e que
estão trabalhando ou procurando trabalho. A taxa de participação na força de trabalho é a parcela da
população em idade ativa, ou seja, apta a trabalhar, e que está na força de trabalho.

ç
For a de trabalho
Taxa de participação na força de trabalho = População maior de 14 anos
× 100

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Segundo a metodologia do IBGE, o aposentado e incapacitado do exemplo estão fora da força de trabalho.
Um universitário que dedica seu tempo somente aos estudos e uma dona de casa que não trabalha fora
também não estão na força de trabalho. Já uma empreendedora que possui seu próprio negócio está
ocupada na força de trabalho.

População brasileira, de acordo com as divisões do mercado de trabalho, no 4º trimestre de 2019.

A taxa de desemprego é a parcela dos indivíduos da força de trabalho que estão desempregadas.

ú
N mero de desempregados
Taxa de Desemprego = ç
For a de trabalho
× 100

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A taxa de desemprego é um bom indicador da situação do mercado de trabalho, mas, assim como qualquer
indicador, não dever ser considerada um reflexo exato de pessoas que desejam trabalhar, porém não
conseguem emprego.

Como encontrar o emprego adequado leva algumas semanas ou meses, um trabalhador que tem certeza de
que encontrará um emprego, mas ainda não aceitou uma oferta, é considerado desocupado. Esse aspecto
reflete o motivo de, mesmo em situações de crescimento econômico, a taxa de desemprego não ir a zero.

Além disso, há pessoas que gostariam de trabalhar, mas não estão, e também não
são contabilizadas como desempregados. Isso acontece porque, para ser
classificado como desocupado, é preciso ter procurado emprego recentemente.

Os desalentados são pessoas que gostariam de trabalhar e estariam disponíveis, porém não procuraram
trabalho por acharem que não encontrariam. Vários são os motivos que levam as pessoas a desistirem, por
exemplo: não encontrar trabalho na localidade em que vivem, não conseguir trabalho adequado por ser
considerado muito jovem ou idoso, não ter experiência profissional ou qualificação etc.
É possível que a taxa de desemprego subestime a real situação do mercado de trabalho, não contabilizando
uma parte das pessoas que querem trabalhar, mas não acham emprego. Existem também aqueles
marginalmente ligados à força de trabalho, pessoas que responderam que gostariam de ter um emprego e o
buscaram no passado recente, mas que, no momento, não estão buscando.

Por fim, existem os subempregados, que são aqueles empregados em tempo parcial, mas que gostariam de
ter um trabalho em tempo integral e não o encontram. Estes últimos também não são contabilizados como
desocupados.

O recebimento de algum benefício de programas sociais como Bolsa Família e


Seguro Desemprego não significa que o indivíduo que o recebe é considerado
desocupado. É possível que alguém esteja recebendo, mas trabalhe na
informalidade e seja classificado como ocupado.

Pode ocorrer que beneficiários não estejam de fato ocupados e também não estejam buscando emprego, e,
portanto, serão classificados como fora da força de trabalho.

Atenção!
A taxa de desemprego precisa ser avaliada com cuidado, uma vez que varia bastante em grupos etários,
gênero e raça. Por exemplo, é mais fácil conseguir um emprego para jovens maiores de 24 anos, uma vez
que já são qualificados e/ou possuem alguma experiência prévia. Empregos para trabalhadores acima dos
54 anos costumam ser mais difíceis, podendo o desemprego ser maior nessa faixa etária.

Além disso, pelo fato de o Brasil ser um país muito extenso e diverso, as taxas de desemprego tendem a ser
diferentes segundo as regiões do país.

As imagens a seguir apresentam a taxa de desemprego em regiões distintas do país, para diferentes
gêneros e grupos etários.
Taxa de desocupação no Brasil e nas Grandes Regiões, no 4º trimestre de 2019.

Taxa de desocupação, por idade, 1º trimestre de 2012 - 4º trimestre de 2019.

Taxa de desocupação por gênero, 1º trimestre de 2012 - 4º trimestre de 2019.

Coeficiente de GINI
É importante compreendermos que o coeficiente de Gini é uma medida de distribuição criada em 1912 pelo
italiano Corrado Gini, e frequentemente utilizada como indicador da desigualdade em uma economia,
medindo a distribuição de renda e de riqueza entre a população. O coeficiente varia de 0 (zero) a 1, em que 0
(zero) representa igualdade perfeita, e 1, desigualdade perfeita. Por exemplo, um país em que apenas um
indivíduo detém toda a renda da economia e o restante não tem renda, tem um coeficiente de Gini igual a 1.
video_library
Coeficientes de GINI e IDH
Veja agora o estudo dessa etapa.

Dentre as diversas medidas de desigualdade de renda, o coeficiente de Gini é a mais utilizada, sendo
baseado na curva de Lorenz.

Para construir o coeficiente, coloque a porcentagem cumulativa dos domicílios no eixo horizontal, dos mais
pobres aos mais ricos, e no eixo vertical, a porcentagem cumulativa de renda. O coeficiente é calculado por
meio da razão das áreas no diagrama da curva de Lorenz. Se a área entre a linha de perfeita igualdade e a
curva de Lorenz é a, e a área abaixo da curva de Lorenz é b, então, o coeficiente de Gini é a/(a+b). Se não
existe diferença entre as duas, o coeficiente é 0 (zero), o caso de igualdade perfeita.

O exemplo a seguir ilustra a construção deste índice:

Construção do coeficiente de Gini.

Na prática, o índice é utilizado para analisar diferenciais na concentração da renda pessoal ao longo de toda
a distribuição de renda, o que permite contribuir para a análise da situação socioeconômica da população,
identificando quais são os segmentos que requerem maior atenção de políticas públicas de saúde,
educação e proteção social, entre outras. Além disso, fornece mais insumos para processos de
planejamento, gestão e avaliação de políticas de distribuição de renda.

Veja a evolução do coeficiente de Gini para alguns países da América do Sul:


Evolução da desigualdade na América do Sul.

Altos níveis de desigualdade representam um custo para a economia, afetando seu


desempenho e o bem-estar dos indivíduos.

Sabemos que o acesso ao mercado financeiro não é perfeito, ou seja, nem todos os que desejam obter
empréstimo o conseguem. Isso acontece porque a instituição, por exemplo, um banco, faz uma análise de
crédito e, no geral, exige que o indivíduo tenha uma fonte de renda ou patrimônio para oferecer como
garantia.

Em uma economia cuja desigualdade é alta, poucos indivíduos concentram a maior parte da renda e do
patrimônio. A consequência é que diversas pessoas que precisam de um empréstimo não vão consegui-lo.

Exemplo

Suponha que Vitória deseje obter um empréstimo para começar uma pequena empresa de tecnologia, uma
vez que não tem renda suficiente para fazê-lo sem ajuda. Contudo, como Vitória não tem renda ou
patrimônio suficientes, ela não consegue o empréstimo no banco. Vitória, então, perderá a oportunidade e
terá de fazer outra coisa menos produtiva, deixando de contribuir para o PIB daquele país, de empregar
diversos funcionários e de lançar um novo produto com maior qualidade e menor preço no mercado, o que
tem consequência também sobre o bem-estar dos consumidores.

Em uma sociedade com alto índice de desigualdade, muitas pessoas deixam de utilizar suas habilidades
que poderiam contribuir para o bem-estar por falta de acesso às oportunidades. A situação ilustrada, ainda
que hipotética, é apenas uma das consequências da desigualdade. Veja:
Desigualdade entre países.

O coeficiente usado no mapa da imagem “Desigualdade entre países” é o mais recente, contudo, o ano de
mensuração varia entre países. O índice de Gini é medido em termos percentuais. As cores mais escuras
representam as nações em que a desigualdade é maior.

Índice de desenvolvimento humano (IDH)


O índice de desenvolvimento humano (IDH) é uma medida resumida do progresso a longo prazo em três
dimensões básicas do desenvolvimento humano: renda, educação e expectativa de vida. Quanto mais
próximo de 1, mais desenvolvido é o país, e quanto mais próximo de 0 (zero), menos desenvolvido.

O objetivo da criação do IDH foi o de oferecer uma medida alternativa de bem-estar e desenvolvimento ao
Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento.

Criado por Mahbub Ul Haq, o IDH pretende ser uma medida geral e sintética que, apesar de ampliar a
perspectiva sobre o desenvolvimento humano, não abrange nem esgota todos os aspectos de
desenvolvimento. Portanto, não é uma representação da satisfação ou felicidade das pessoas, nem
classifica o melhor lugar para viver.

ahbub Ul Haq
Foi diretor de planejamento de políticas do Banco Mundial e, posteriormente, ministro da Economia do
Paquistão. Economista paquistanês, foi o idealizador do Relatório do Desenvolvimento Humano com a
colaboração do economista indiano Amartya Sen – ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 1998 e
professor nas universidades de Oxford, Cambrige e Berkeley. Atualmente, leciona em Harvard.
Fotografia do economista Mahbub Ul Haq (1934-1998).

Fotografia do economista Amartya Sen (1933)

Veja agora fragmentos do ranking do IDH para alguns países em 2019. O Brasil, no Relatório de
Desenvolvimento Humano de 2019, se encontrava na posição 84.

Ranking do IDH 2019 - Parte 1.


Ranking do IDH 2019 - Parte 2.

Ranking do IDH 2019 - Parte 3.

Ranking do IDH 2019 - Parte 4.

Embora o IDH considere outros aspectos do desenvolvimento, e não apenas o econômico, como o PIB, há
ainda muitos aspectos do desenvolvimento humano que não são contemplados nesse índice, tais como:
democracia, participação, equidade e sustentabilidade.

Buscando lidar com a dimensão da desigualdade no IDH, foi criado, em 2010, o IDH ajustado à desigualdade
(IDHAD), que leva em consideração a desigualdade em todas as três dimensões do IDH, considerando o
valor médio de cada uma das dimensões de acordo com seu nível de desigualdade.

Com a introdução do IDHAD, o IDH tradicional pode ser visto como um índice de desenvolvimento humano
potencial, e o IDHAD, como um índice do desenvolvimento humano real. A diferença entre o IDH e o IDHAD
pode ser considerada uma perda no desenvolvimento humano potencial devido à desigualdade.
Índice de desenvolvimento humano municipal (IDHM)
No Brasil, além do IDH, existe o IDHM, uma adaptação do IDH global para os municípios brasileiros. O IDHM
brasileiro segue as mesmas três dimensões do IDH Global ‒ longevidade, educação e renda, mas vai além:
adequa a metodologia global ao contexto brasileiro e à disponibilidade de indicadores nacionais.

Como está organizado o IDHM brasileiro?

Resposta
Embora quantifiquem as mesmas dimensões, os indicadores levados em conta no IDHM são mais
adequados para avaliar o desenvolvimento dos municípios brasileiros. Assim, o IDHM ― incluindo seus três
componentes, IDHM Longevidade, IDHM Educação e IDHM Renda ― conta um pouco da história dos
municípios em três importantes dimensões do desenvolvimento humano durantes duas décadas da história
brasileira.

Veja a seguir o mapa do IDHM para o Brasil em 2010:

Mapa do IDHM em 2010.


Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Qual dos casos abaixo descreve um trabalhador desempregado, de acordo com a definição vista neste
módulo?
A Maria, uma trabalhadora idosa, foi despedida e desistiu de procurar emprego há meses.

B Gabriel, um professor do ensino infantil, está aproveitando suas férias de verão.

Júlia, bancária, recentemente despedida de um banco de investimentos, está buscando


C
uma nova vaga no mercado.

Clara, estudante universitária, voltou a frequentar a faculdade porque não conseguiu


D
emprego.

E João foi demitido e resolveu aproveitar alguns meses para viajar.

Parabéns! A alternativa C está correta.

A) A alternativa está incorreta. Maria não é contabilizada como desempregada, pois não está
ativamente buscando emprego. No entanto, é considerada desalentada em medidas mais amplas de
subutilização de trabalho.

B) A alternativa está incorreta. Gabriel não é considerado desempregado, pois tem um emprego:
professor de educação infantil.

C) A alternativa está correta. Júlia está desempregada, não está trabalhando e está ativamente
procurando emprego.

D) A alternativa está incorreta. Clara não é desempregada, mas marginalmente ligada à força de
trabalho. Ela é contada em medidas mais amplas de subutilização.

Questão 2

Sobre o índice de preços e a taxa de inflação, assinale a afirmativa correta:


O índice de preços ao consumidor (IPCA) mede o nível de preços em uma economia,
A
sendo o único índice relevante.

A inflação alta implica em diversos custos sociais, que são comumente conhecidos por
B
custo de sola de sapato, custo de menu e deterioração da função de unidade de conta.

O amplo uso da tecnologia revolucionou o setor bancário, tornando mais simples para o
C cliente o acesso e administração de seus ativos. Os custos de sola de sapato são mais
altos quando há mais tecnologia.

Durante um período de inflação alta, estabelecimentos como mercados e restaurantes


D
ganham bastante devido à alta dos preços.

O índice de preços ao consumidor (IPC) mede o nível de preços do produtor e do


E
consumidor, logo é o índice mais importante para todos os agentes econômicos.

Parabéns! A alternativa B está correta.

A) A alternativa está incorreta. Os índices de preços em uma economia são diversos, e cada um deles
mede o nível geral de preços em certa situação e sob uma ótica determinada. Para os consumidores, o
índice de maior relevância será o IPCA, enquanto para os produtores, será o IPP. Não existe um índice
que seja melhor do que o outro, cada um será mais adequado para determinada análise.

B) A alternativa está correta. A sociedade incorre em diversos custos com a inflação. São eles: custo de
menu, custo de sola de sapato e perda da função de unidade de conta da moeda.

C) A alternativa está incorreta. Os custos de sola de sapato associados à inflação serão mais baixos
porque é menos trabalhoso para os indivíduos administrarem seus ativos, a fim de economizar na
quantidade de dinheiro vivo que mantêm. Essa redução no custo de converter ativos não monetários
em moeda viva se traduz em um custo de sola de sapato mais baixo.

D) A alternativa está incorreta. Os restaurantes e estabelecimentos que vendem produtos, como


mercados e farmácias, assim como o restante da sociedade, perdem durante um processo de
hiperinflação devido aos custos de menu e a constante alocação de funcionários para atividades não
produtivas, como a remarcação de produtos.

Considerações finais
Vimos as contas nacionais e alguns dos mais importantes indicadores socioeconômicos e aprendemos
como calcular o Produto Interno Bruno (PIB), uma das medidas fundamentais de renda em uma economia.
Percebemos que o PIB, porém, é insuficiente como medida de bem-estar, pois, de que vale ter uma renda
alta se há muitas pessoas desempregadas ou se a desigualdade de renda é alta?

Estudamos medidas de preços e inflação para avaliar as mudanças no custo de vida. Abordamos também a
taxa de desemprego e suas imperfeições para avaliar o mercado de trabalho. Apresentamos o índice de Gini
como medida de desigualdade e, por fim, o índice de desenvolvimento humano (IDH) para incorporar outras
dimensões da economia e da sociedade.

Você encontrará todos esses indicadores com grande frequência nos jornais, e acompanhará os mais
acalorados debates sobre o que deve ser feito para aumentar a renda, diminuir a inflação, melhorar a
qualidade de vida etc. Use os conceitos que aprendemos aqui para participar do debate!

headset
Podcast
Para encerrar, ouça um resumo dos principais tópicos abordados.
Referências
CHAPELLOW, J. Gini index. Investopedia. Consultado na internet em: 23 maio. 2020.

FEIJÓ, C. et al. Contabilidade social. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. IBGE. Índice nacional de preços ao consumidor


amplo – IPCA. Consultado na internet em: 10 maio. 2020.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. IBGE. Índice de preços ao produtor: indústrias


extrativas e de transformação – IPP. Consultado na internet em: 10 maio. 2020.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. IBGE. Inflação. Consultado na internet em: 10 maio.
2020.

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Rio de Janeiro. Consultado na internet em: 10 maio.
2020.

KRUGMAN, P.; WELLS, R. Introdução à economia. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011

MANKIW, N. G. Macroeconomia. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2011.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Índice de Gini da renda domiciliar per capita – B.9. Consultado na internet em: 10
maio. 2020.

PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA DESENVOLVIMENTO HUMANO. Atlas do desenvolvimento humano
2013. Consultado na internet em: 10 maio. 2020.

PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA DESENVOLVIMENTO HUMANO. Human development report 2019.
Consultado na internet em: 10 maio. 2020.

Explore +
Confira o que separamos especialmente para você!
Sobre o processo inflacionário no Brasil, leia: A saga brasileira: a longa luta de um povo por sua moeda, de
Miriam Leitão,

Para um aprofundamento sobre a desigualdade que afeta a economia contemporânea, leia:

O capital no século XXI, de Piketty.

Uma história de desigualdade – a concentração de renda entre os ricos no Brasil: 1926 - 2013, de Pedro
Ferreira de Souza.

The price of inequality, de Joseph Stiglitiz.

Consulte também:

Projeto World Inequality Database – para acessar dados a respeito do assunto;

Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil – plataforma de consulta ao Índice de Desenvolvimento


Humano para regiões, estados e municípios brasileiros.

Human Development Report 2019 – que apresenta o relatório de desenvolvimento mais recente.

33
Política Macroeconômica
Prof.ª Mariana Stussi Neves

Descrição

Compreender as políticas fiscal e monetária e seus impactos no equilíbrio nos mercados monetário e de
bens e serviços e, ainda, como interagem com a demanda agregada. Entender a diferença entre curto e
longo prazos na economia e como as curvas da demanda agregada reagem de forma distintas em cada um
desses horizontes de tempo.

Propósito

O estudo do funcionamento da economia como um todo, através da análise macroeconômica, permite


compreender o comportamento de variáveis essenciais para o bem-estar social, como desemprego, inflação
e crescimento econômico, além de equipar o aluno para analisar políticas que buscam afetar essas
variáveis.

Objetivos
Módulo 1

Curvas de oferta e demanda


Construir as curvas de oferta e demanda agregada para diferentes horizontes de tempo.

Módulo 2

Os diferentes equilíbrios na economia


Identificar os diferentes equilíbrios na economia e entender o impacto de alterações nas políticas fiscal e
monetária.

meeting_room
Introdução
Por que às vezes é difícil conseguir emprego? Por que os telejornais passam tanto tempo falando da taxa de
juros definida pelo Banco Central? Como lidar com um aumento generalizado de preços na economia?

Essas questões dizem respeito à política macroeconômica, um conjunto de ferramentas central em


qualquer sociedade moderna. Estudaremos inicialmente os fundamentos teóricos da Macroeconomia, o
que nos permitirá discutir o impacto dessas políticas.
1 - Curvas de oferta e demanda
Ao final deste módulo, você será capaz de construir as curvas de oferta e demanda agregada
para diferentes horizontes de tempo.

Introdução
Você já deve ter ouvido falar em crises econômicas, recessões e períodos de crescimento. Em períodos de
crise, é frequente ver nos jornais e na televisão economistas dando entrevistas, tentando explicar as razões
para o desempenho ruim da economia e fazendo previsões de cenários futuros.

Em geral, o crescimento da economia é medido pelo Produto Interno Bruto (PIB) de um país. O crescimento
é mais alto em uns anos do que outros, e, quando a economia sai do trilho, o crescimento passa a ser
negativo, ou seja, há redução do PIB. Flutuações no PIB estão muito associadas a flutuações no emprego.

Exemplo
Quando passamos por uma recessão, a economia passa por um período de produção decrescente e
desemprego crescente.

O Brasil passou por uma forte recessão entre 2014 e 2016.


Declínio
Entre o segundo trimestre de 2014 e o segundo trimestre de 2016, o PIB real caiu sistematicamente,
indicando declínio na produção de bens e serviços da economia. Mesmo com o fim da recessão em 2016, a
economia mostrou recuperação muito lenta e, até a data de publicação desta aula (2º trimestre 2020), não
havia se recuperado completamente.

Crescimento
Desde o 2º trimestre de 2014 até o 4º semestre de 2016, o crescimento médio foi de -1,8 %. A taxa de
desemprego passou de 6,5% em dezembro de 2014 para 13,7% em janeiro de 2017. O mau desempenho
econômico permeou os noticiários daquele período, sendo destacado por ter sido um dos piores períodos
da economia brasileira nos anos recentes.

Essas oscilações de curto prazo no produto e no emprego recebem o nome de ciclos econômicos. A
terminologia é um pouco enganosa, podendo sugerir que as oscilações sejam regulares e previsíveis,
quando não são. Muito pelo contrário, elas são bastante irregulares e carregam um elevado componente de
incerteza. Podem acontecer próximas umas às outras, ou distantes. Não há como garantir com segurança.

Exemplo

A crise de 2009 ocorreu relativamente próxima à de 2015. Pouco depois, quando a economia brasileira
apresentava alguns fracos indícios de recuperação, a crise da pandemia da covid-19 surgiu, causando
impacto imediato na economia mundial e a paralisação de muitos setores internacionalmente - algo que
ninguém poderia prever.
No entanto, nem todas as oscilações são completamente imprevisíveis. Algumas delas apresentam sinais
antes de o cenário mais grave acontecer.

Como explicar essas oscilações de curto prazo? Quais modelos são capazes de explicá-las? É possível que
os formuladores de política econômica as evitem? No próximo tópico, vamos procurar desenvolver a teoria
para explicar o comportamento da economia no curto e no longo prazo.

Os componentes do PIB e a lei de Okun


Como você deve ter aprendido, o PIB mede a soma de todos os bens e serviços finais produzidos na
economia durante um determinado período de tempo. A próxima imagem mostra o crescimento do PIB real
do Brasil desde 1997.

Figura 1 - Taxa de crescimento do PIB real

Não é preciso ser economista para perceber que o crescimento econômico não é estável e que, às vezes, é
negativo, como foi durante a recessão de 2014-16. Mas, como se define uma recessão? Há definições
distintas, como:

Existe uma regra técnica que define recessão a partir do momento em que o PIB de
um país cai por dois trimestres consecutivos.

Já o Codace considera que existe recessão quando é observada uma queda generalizada no nível de
atividade econômica, independentemente de haver dois trimestres negativos de PIB. A explicação para isso
é que muitas vezes o PIB é afetado por algum setor específico, e não reflete a dinâmica da economia como
um todo. Assim como o PIB reflete a dinâmica de diferentes setores da economia, ele também é uma soma
de seus diversos componentes, refletindo-os, portanto. Ele é composto por quatro componentes de
despesa:
odace
Comitê de Datação de Ciclos Econômicos da Fundação Getúlio Vargas, é uma organização independente criada
com a finalidade de determinar a referência cronológica para os ciclos econômicos brasileiros.
1.
Consumo;

2.
Investimento;

3.
Compras do Governo;

4.
Exportações Líquidas.

Nesses componentes, os ciclos econômicos também acabam se tornando aparentes, sendo alguns mais
voláteis que outros, tal qual o investimento. Ademais, os ciclos são visíveis nos dados que descrevem as
condições do mercado de trabalho.

A imagem, a seguir, mostra a taxa de desemprego desde 2012.

Figura 2 - Taxa de desemprego

Pode-se observar que o desemprego cresceu durante a recessão de 2014-16. Ao olhar para outros
indicadores de mercado de trabalho, vamos notar trajetórias semelhantes. Quando há declínio na atividade
econômica, torna-se mais difícil encontrar uma vaga de emprego.

Se há mais desempregados em períodos de crise e recessão, e são justamente os


trabalhadores empregados que contribuem para a produção de bens e serviços,
aumentos na taxa de desemprego devem estar relacionados a declínios no PIB real.
Essa relação negativa entre produto e desemprego é chamada pelos economistas de Lei de Okun. Essa lei
torna evidente que os determinantes do ciclo econômico de curto prazo são diferentes dos determinantes
de longo prazo.

ei de Okun
O nome é uma homenagem ao economista Arthur Okun (1928-1980), primeiro a estudar essa relação.

Longo prazo

O longo prazo é determinado principalmente pelo progresso tecnológico.


close

Curto prazo

O curto prazo é determinado pelo emprego da força de trabalho da economia.

As quedas na produção de bens e serviços presentes nas recessões estão frequentemente associadas a
um aumento do desemprego.

A próxima imagem mostra essa relação para o Brasil.

Figura 3 - Lei de Okun no Brasil 2012-2017

Horizontes de tempo na macroeconomia


Como mencionado, na macroeconomia existem diferentes determinantes a depender do horizonte temporal
em análise e, consequentemente, diferentes modelos. Mas, por que modelos de longo prazo e curto prazo
não podem ser iguais? A maioria dos economistas entende que a principal diferença entre o curto e o longo
prazo está na forma como os preços se comportam.

Longo prazo

No longo prazo, os preços são flexíveis e reagem a mudanças na oferta e na demanda.

Curto prazo close

No curto prazo, os preços são mais rígidos e permanecem “fixos" em um nível determinado por algum
tempo.

Como os preços se comportam de forma diferente no curto e no longo prazo, eles também reagem de
maneira diferente a mudanças econômicas, sejam elas choques externos ou alterações na política
econômica.

Veja um exemplo de como o preço se comporta no curto prazo:

1 - Agropecuária
Ocorre uma mudança inesperada na produção agropecuária (uma quebra de safra).
2 - Restaurantes
Os restaurantes não aumentam imediatamente o preço de suas refeições.

3 - Empresas
As empresas não alteram os salários de seus funcionários de pronto.

4 - Mercados
Os mercados não mudam as etiquetas de seus produtos.

A maior parte dos preços demora um certo período de tempo para se alterar. No longo prazo, no entanto,
esses preços se ajustam lentamente, respondendo a essas alterações de política econômica ou a choques.
A rigidez temporária dos preços sugere que o impacto no curto prazo decorrente de uma variação na oferta
monetária difere do impacto no longo prazo.
Desse modo, um modelo que deseje capturar a dinâmica dos preços no curto prazo deve levar em
consideração essa rigidez. Veremos mais adiante que variáveis reais como produto e emprego sofrerão
algum ajuste no curto prazo, uma vez que os preços não se adequam rapidamente. Isso significa que as
variáveis nominais poderão influenciar as variáveis reais enquanto durar o período no qual os preços se
mantiverem rígidos.

Demanda agregada
Na Teoria Macroeconômica Clássica, supõe-se que os preços se ajustam para garantir que a quantidade
demandada de produto seja igual à quantidade ofertada. A oferta de bens e serviços, por sua vez, depende
da capacidade de produção da economia e está atrelada às ofertas de capital e de mão de obra, além da
tecnologia disponível para a produção.

Quando os preços são rígidos, no entanto, esse ajuste de preço não pode ser realizado. Assim, o produto
depende também da demanda por bens e serviços. Já a demanda depende de uma série de fatores, como:

Consumidores
Confiança dos consumidores em relação ao cenário econômico.

Investidores
Percepção dos investidores a respeito de lucratividade.
Fiscal
Política fiscal.

Monetária
Política monetária.

Para melhor compreender como esses fatores influenciam a demanda, vamos introduzir o conceito de
demanda agregada. Demanda agregada (DA) é a relação entre a quantidade de produto demandada e o
nível de preços agregado da economia. O nível de preços, por sua vez, é uma medida de preços globais de
um conjunto determinado de bens e serviços — nesse caso, da economia como um todo.

Resumindo

Assim, a demanda agregada aponta para a quantidade de bens e serviços que as pessoas desejam adquirir
para cada nível de preços.

A chamada Teoria Quantitativa da Moeda (TQM) sustenta que:

MV=PY

M = Oferta monetária
V = Velocidade da Moeda
P = Nível de preços
Y = Montante do produto

Rotacione a tela. screen_rotation


A oferta monetária é o valor total de dinheiro disponível em uma economia em um determinado período do
tempo. A velocidade da moeda é simplesmente a frequência média com que uma unidade de moeda (por
exemplo, um real) troca de mãos em uma transação econômica.

Supondo que a velocidade da moeda seja constante, essa equação diz que a oferta monetária determina o
valor nominal do produto PY. Partindo do pressuposto de que a quantidade de moeda ofertada M é fixada
pelo Banco Central, então a equação quantitativa enuncia uma relação negativa entre preços P e quantidade
de produto Y. De outra maneira:


MV = P Y

Rotacione a tela. screen_rotation


As barras sobre as variáveis indicam que elas assumem valores fixos. Para manter o lado esquerdo da
equação constante, P e Y precisam ter uma relação negativa entre si: Se o preço aumenta, o produto
diminui. A próxima imagem mostra um gráfico para combinações de P e Y que satisfazem essa equação
para uma dada velocidade da moeda V e oferta monetária:

Figura 4 - Combinações de P e Y

A curva com inclinação negativa é conhecida como curva de demanda agregada. Assim, a oferta monetária
M e a velocidade da moeda V determinam o valor nominal do produto PY. Como PY é uma constante,
quando P aumentar, Y deve diminuir, e vice-versa.

A intuição econômica por trás dessa igualdade é que, uma vez determinada a oferta monetária, ela
estabelece o valor de todas as transações da economia em moeda corrente.

Se o nível de preços aumenta, todas as transações exigirão uma quantidade maior


de moeda corrente para ocorrer, de modo que o número de transações caia e, por
consequência, a quantidade de bens e serviços adquirida também.
Também podemos analisar a inclinação negativa da curva de demanda agregada sob outra ótica: quanto
maior o montante do produto, maior o número de transações realizadas pelas pessoas, assim a
necessidade de moeda corrente passa a ser mais alta. Em outras palavras, há uma demanda por encaixes
monetários reais, M/P, mais alta.

Encaixes monetários reais é o nome dado ao termo correspondente à razão de quantidade de moeda M
sobre o nível de preços P.

Por que é importante dividir a quantidade de moeda M pelo nível de preços P?

Resposta

Porque não faz diferença ter o dobro do dinheiro se os preços forem duas vezes maiores. O que interessa é
o poder de compra da moeda, e não só o número impresso em uma cédula.

Uma vez que a oferta monetária M é constante, um encaixe real mais alto significa um nível de preços mais
baixo. Analogamente, uma demanda por encaixes reais mais baixos por conta de menos transações implica
um nível de preços mais alto.

Deslocamentos na demanda agregada


Até aqui, consideramos a oferta monetária M como dada. O que aconteceria se o Banco Central decidisse
alterar a oferta monetária? Certamente, as combinações possíveis de P e Y se alterariam, de modo que a
curva de demanda agregada se deslocaria.

Suponha que o Banco Central aumente a oferta monetária. Pela equação quantitativa da moeda, um
aumento de M deve provocar um aumento proporcional do valor nominal do produto PY.

Comentário

Para qualquer nível de preços, o montante de produto passa a ser maior, assim como para qualquer
montante de produto, o nível de preços passa a ser mais alto.

Dessa forma, há um deslocamento da curva de demanda agregada para a direita e para cima, ou para fora.
O painel (a) da figura 5 mostra essa dinâmica.
Figura 5 (a) Deslocamentos da DA por um aumento em M.

Do mesmo modo, o mecanismo contrário também ocorre. Se o Banco Central decide reduzir a oferta
monetária, o montante de produto para qualquer nível de preços passa a ser menor e, para qualquer
montante de produto, o nível de preços se torna mais baixo. Nesse caso, a curva de demanda agregada se
desloca para baixo e para a esquerda, ou para dentro. O painel (b) da figura 5 exibe esse deslocamento.

Figura 5 (b) Deslocamentos da DA por uma redução em M.

Embora seja responsável por alguns dos deslocamentos da demanda agregada, a oferta de moeda não é o
único fator que pode causar esse efeito. Mudanças na velocidade da moeda, por exemplo, também podem
deslocar a demanda agregada, na mesma lógica da equação quantitativa da moeda. Contudo, é importante
ter em mente que a TQM é uma simplificação da teoria para se compreender a curva de demanda agregada.

Como veremos em outro módulo, oscilações na oferta monetária ou na velocidade da moeda não são a
única fonte de oscilação na demanda agregada. A realidade é bem mais complexa.

Oferta agregada
Sozinha, a curva de demanda agregada não diz em que ponto a economia se encontra, isto é, qual o nível de
preços vigente e o montante de produto correspondente. Ela mostra apenas uma relação entre essas duas
variáveis. Todavia, existe outra curva que também apresenta uma relação entre P e Y que cruza a curva de
demanda agregada: a chamada curva de oferta agregada.
Essas curvas determinam de forma conjunta o nível de preços P e a quantidade de produto Y da economia,
e a interseção entre elas indica em que ponto a economia está.

A oferta agregada (OA) é a relação entre a quantidade de bens e serviços ofertada e o nível de preços da
economia.

Atenção!

Dado que os bens e serviços ofertados têm preços flexíveis no longo prazo e preços rígidos no curto prazo,
a oferta agregada depende do horizonte de tempo que está sendo analisado.

Desse modo, pode-se dizer que existem duas curvas de oferta agregada: a oferta agregada de longo prazo
(OALP) e a oferta agregada de curto prazo (OACP).

Como explicado, no longo prazo, a capacidade de oferta de bens e serviços da economia depende dos
montantes fixos de capital e mão de obra e da tecnologia disponível para a produção. Formalmente:

¯ ¯
Y = f (K, L)

Rotacione a tela. screen_rotation


Essa equação indica que o produto Y é uma função do montante fixo de capital K
¯
e do montante fixo de
trabalho L
¯
. Como ambos os insumos são fixos, o produto também será fixo.

Relembrando

A barra superior indica que a variável assume um valor fixo.

Note que o nível de preços P não entra na função de produção, ou seja, não é um insumo:
consequentemente, não afeta o montante de produto Y. Essa função deriva do modelo clássico, que
descreve como a economia se comporta no longo prazo. De acordo com esse modelo, o produto não
depende do nível de preços.

Se o produto é fixo no longo prazo e não depende do nível de preços, a curva de oferta agregada será uma
linha reta vertical cujo intercepto no eixo do produto é o montante de produto fixo Y¯ .

A imagem, a seguir, mostra a curva de oferta agregada do longo prazo (OALP) cruzando a curva de
demanda agregada (DA).
Figura 6 - Oferta agregada de longo prazo (OALP) e Demanda agregada (DA)

Dado que a curva de oferta agregada do longo prazo é uma linha vertical, então um deslocamento da curva
de demanda agregada não afetará a quantidade de produto Y, mas apenas o nível de preços P.

Se a oferta monetária aumenta, por exemplo, e a curva de DA se desloca para fora, como mostra a imagem
a seguir, o que ocorre?

Figura 7 - Oferta agregada de longo prazo (OALP) e deslocamento da Demanda agregada (DA)

O ponto de cruzamento das duas curvas muda do ponto A para o ponto B, aumentando o nível de preços.
Desse modo, oscilações na demanda agregada afetam apenas os preços no longo prazo.

A oferta agregada de longo prazo vertical satisfaz a chamada dicotomia clássica, de acordo com a qual
variáveis nominais não afetam variáveis reais, afinal, o nível de produto não depende da oferta monetária. O
nível do produto no longo prazo Y¯ é chamado de nível natural do produto ou nível do produto de pleno
emprego, que é o ponto da economia no qual a taxa de desemprego está em seu nível natural, ou, de outro
modo, os recursos da economia estão plenamente empregados.

No entanto, esse é o caso apenas do longo prazo. No curto prazo, o modelo clássico não se aplica. Como há
rigidez de preços no curto prazo, a curva de oferta agregada de curto prazo não é vertical.

Vamos tomar como exemplo o caso extremo: todos os preços são fixos no curto prazo e vamos supor a
seguinte situação:

É it t t t
É muito caro para os restaurantes trocarem seus menus.

As empresas não possuem capital para alterar os salários de seus empregados.

É muito custoso para os mercados mudarem suas etiquetas.

Posto isso, todos os preços estão fixados em valores predeterminados. A esses preços, os produtores
ofertam a quantidade que os consumidores estiverem dispostos a comprar, e utilizam a quantidade exata de
capital e mão de obra para produzir aquela quantidade.

Obviamente, isso é apenas uma simplificação e não representa a realidade em toda a sua complexidade.
Mas, por ora, vamos analisar este modelo: se o nível de preços é completamente rígido, isso significa que
ele não muda. Assim, a curva de oferta agregada do curto prazo é uma reta horizontal. O gráfico da próxima
imagem mostra esse caso.

Figura 8 - Oferta agregada de curto prazo (OACP) e Demanda agregada (DA)

No curto prazo, um deslocamento para fora da curva de demanda agregada ocasionado por uma ampliação
da oferta monetária deslocada não altera o nível de preços, como ilustra a imagem a seguir. A economia
passa do ponto inicial A para o novo ponto de equilíbrio B, alterando o nível de produto de Y1 para Y2,
elevando-o a um nível constante de preços. Dessa forma, um aumento na demanda agregada eleva o
produto no curto prazo, dado que os preços não se ajustam instantaneamente.
Agora, veja outro exemplo, na próxima imagem, depois de um movimento positivo repentino na demanda
agregada.

Figura 9 - Oferta agregada de curto prazo, (OACP) e deslocamento da Demanda agregada (DA)

Nesse cenário, a economia passa por um período de aquecimento.

Produtores ficam amarrados a preços demasiadamente baixos para seu nível elevado de
produção.

Com a demanda elevada por seus produtos, as empresas vendem uma alta quantidade de
bens e serviços, o que gera um aumento de sua produção.

Com isso, as empresas utilizam mais capital e contratam mais trabalhadores.

Como sabemos, a economia não se resume a um momento estático no curto prazo. Veremos a seguir o que
ocorre depois de um deslocamento repentino da demanda agregada.

Atenção!
Devemos frisar que os casos ilustrados aqui são dois casos extremos e que a realidade da economia é um
tanto mais complexa do que isso.

Utilizamos esses dois casos extremos como pontos de partida para fundamentar o restante da teoria.
Como veremos mais adiante, num intervalo de tempo em que alguns preços são flexíveis e outros rígidos, a
curva de oferta agregada será uma mistura das duas apresentadas até então. Ou seja, será uma curva
positivamente inclinada.

A transição do curto prazo para o longo prazo

Até agora, vimos como a economia e os preços se comportam no curto prazo e no longo prazo. Mas, como
a economia faz a transição do curto prazo para o longo prazo? Suponha que a economia esteja inicialmente
num equilíbrio de longo prazo. O equilíbrio de longo prazo ocorre quando a curva de demanda agregada
intercepta a curva de oferta agregada de longo prazo, ilustrado pelo ponto E na imagem a seguir.

Figura 10 - O equilíbrio de longo prazo.

A imagem anterior mostra três curvas: a curva de demanda agregada, a curva de oferta agregada de curto
prazo e a oferta agregada de longo prazo.

A curva de oferta agregada de curto prazo também cruza o ponto de equilíbrio,


porque, dado que no longo prazo os preços se ajustam para alcançar o equilíbrio,
quando a economia está no equilíbrio de longo prazo, ela também está em um
equilíbrio de curto prazo.

Vamos continuar com o exemplo de um aumento na demanda agregada induzido por uma expansão da
oferta monetária, como mostra na próxima imagem. Haverá um deslocamento para a direita da curva de
demanda agregada. No curto prazo, os preços são rígidos, de modo que a produção aumenta e a economia
se move do ponto E para o ponto E’.
Figura 11 - Uma expansão da DA e a transição para um novo equilíbrio.

Veja a seguinte situação:

Produção e emprego aumentam e passam a ficar acima de seus níveis naturais, o que
significa que a economia está aquecida.

As empresas passam a vender e a produzir uma quantidade alta de bens e serviços e, para
isso, utilizam mais capital e contratam mais trabalhadores.

A alta da atividade econômica pressiona os preços para cima, deslocando a economia


gradativamente para cima, ao longo da curva de demanda agregada.
4

Com maiores preços, a quantidade demandada por bens e serviços diminui, até o ponto E’’,
que é o novo equilíbrio de longo prazo.

Nesse novo equilíbrio, a produção e o emprego voltam aos seus níveis naturais, mas os preços se
encontram num nível mais elevado do que no antigo equilíbrio de longo prazo, representado pelo ponto E.
Assim, uma oscilação da demanda agregada afeta o nível de produção no curto prazo, mas esse efeito é
mitigado conforme o tempo passa e as empresas ajustam seus preços.

Política de estabilização
Vimos o exemplo de quando oscilações na economia são decorrentes de mudanças na demanda agregada.
Oscilações derivadas de mudanças na oferta agregada também são possíveis. Vamos conhecer esses tipos
de “choques”.

Choques econômicos expand_more

Eventos exógenos que deslocam essas curvas são chamados pelos economistas de choques
econômicos.

Choque de demanda expand_more

Se um evento desloca a curva de demanda agregada, ele recebe o nome de choque de demanda.

Choque de oferta expand_more


Caso desloque a curva de oferta agregada, é chamado de choque de oferta.

Esses choques tiram a economia do equilíbrio, pois afastam o produto e o emprego de seus níveis naturais,
e o modelo de oferta e demanda agregadas busca explicar como esses choques fazem a economia oscilar.

Os choques também podem ser de dois tipos, veja no próximo recurso.

Endógenos

Dizemos que choques são endógenos quando há alterações em uma variável explicada pelo modelo.

close

Exógenos

Quando há alterações em variáveis tidas como fixas ou determinadas fora do modelo, chamamos de
choques exógenos.

O modelo também nos permite avaliar como a política macroeconômica pode reagir a esses choques.
Ações realizadas pelas autoridades voltadas para amenizar os efeitos negativos de oscilações econômicas
de curto prazo recebem o nome de políticas de estabilização. As políticas de estabilização atuam no
sentido de atenuar o ciclo econômico, a fim de manter o produto e o emprego o mais próximo possível de
suas taxas naturais.

Choques na demanda agregada


O que aconteceria se o choque na demanda agregada fosse provocado por uma redução na oferta
monetária? O cenário seria o inverso do que vimos na figura 7. A diminuição na oferta de moeda deslocará a
curva de demanda agregada para a esquerda, como visto anteriormente.

A rigidez dos preços no curto prazo faz com que a economia se mova do equilíbrio de curto prazo no ponto
E para o ponto E’, como mostra na próxima imagem. Nesse ponto, a produção e o emprego estão abaixo de
seus níveis naturais, e a economia se encontra em recessão.
Figura 12 - Uma redução da DA e a transição para um novo equilíbrio

Em resposta à diminuição da demanda, os preços e os salários caem. Essa diminuição dos preços faz com
que a economia se mova para baixo, deslizando ao longo da curva de demanda agregada, até o ponto E’’, o
novo equilíbrio de longo prazo. Neste novo equilíbrio, produção e emprego voltam às suas taxas naturais,
mas os preços se encontram abaixo do nível inicial.

Até aqui, trabalhamos com choques de demanda ocasionados por uma alteração na oferta monetária M.
Lembre-se de que definimos a curva de demanda agregada como uma relação entre o nível de preços P e
produto Y, que mantinha constante o lado esquerdo da equação quantitativa da moeda, MV. Nesse sentido,
choques na demanda agregada também podem ser ocasionados por uma alteração na velocidade da
moeda V.

Considere, então, um novo exemplo de choque na demanda agregada: a introdução de aplicativos de banco
e compras online nos smartphones e sua rápida disseminação, possibilitando a realização de transações
em qualquer momento do tempo de qualquer lugar, sem a necessidade de deslocamento físico.

Dado que constituem um meio mais rápido de realizar compras e transações do que o uso prévio de
dinheiro físico em lojas físicas, as inovações tecnológicas reduzem a quantidade de moeda que as pessoas
escolhem reter em mãos. Com isso, a redução da demanda por moeda equivale a um aumento na
velocidade da moeda.

Resumindo
Se cada pessoa reduz a quantidade de moeda que tem em mãos, isso implica que cada unidade de moeda
passa de mão para mão de forma mais rápida, de modo que a velocidade de moeda V aumenta.
Mantida constante a oferta de moeda, o aumento na velocidade acarreta um deslocamento para fora na
curva de demanda agregada.

No curto prazo, o aumento da demanda faz com que o nível de produto da economia aumente, aquecendo a
economia. Para o nível de preços do equilíbrio inicial E, as empresas vendem uma quantidade maior de bens
e serviços, o que as leva a contratarem mais trabalhadores e utilizarem uma quantidade maior de capital.

Com o passar do tempo, o nível elevado da demanda agregada empurra os preços para cima, de modo a se
ajustarem gradativamente. A quantidade demandada de produto diminui à medida que os preços
aumentam, e, aos poucos, a economia vai retornando ao nível natural de emprego e produção. Durante toda
a transição para o novo equilíbrio E’’, o produto da economia permanece acima de sua taxa natural.

Isso levanta uma questão:

É possível que o Banco Central faça algo para conter esse hiper crescimento da
economia e manter o produto mais próximo de suas taxas naturais, evitando
ocasionar um aumento elevado do nível de preços? Em outras palavras, o Banco
Central pode atuar para reduzir o nível de atividade econômica e impedir inflação
alta?

Resposta
Sim, é possível que o Banco Central possa atuar para reduzir o nível de atividade econômica e impedir
inflação alta.

As autoridades monetárias podem reduzir a oferta monetária compensando o efeito do aumento da


velocidade da moeda na curva de demanda agregada. Desse modo, é possível que o Banco Central mitigue
ou até elimine os impactos de choques na demanda agregada sobre o produto e o emprego. Isso é possível
porque o Banco Central tem controle, ainda que parcial, sobre a oferta monetária - o que é assunto de outros
temas.

Choques na oferta agregada


Analisamos os eventos exógenos que podem causar choques na demanda agregada. A oferta agregada,
contudo, também pode sofrer choques e causar oscilações na economia. Choques de oferta alteram o
custo da produção de bens e serviços e, como consequência, geram alterações nos preços dos bens e
serviços ofertados pelas empresas.
Como afetam diretamente o nível de preços, choques de oferta também são conhecidos como choques de
preços. Veja alguns exemplos:
1.
Eventos climáticos adversos que destroem colheitas, como secas, tempestades etc. A diminuição da
oferta desses alimentos aumenta seu preço;

2.
Alterações nas leis de proteção ambiental: Mudanças nas exigências de emissão de agentes
poluentes, desmatamento permitido, entre outros. Mudanças no sentido do relaxamento dessas leis
diminuem os custos das empresas, enquanto o endurecimento dessas leis representa um aumento dos
custos das empresas, que podem repassá-los ao menos parcialmente para os consumidores por meio
de preços mais altos;

3.
Pressão sindicalista por salários mais altos. Se atendida, haverá um aumento dos salários e também
nos preços dos bens e serviços produzidos por empregados sindicalizados;

4.
Atuação de cartéis internacionais. Por exemplo, o aumento do preço do petróleo na década de 1970
pela OPEP representou um choque de oferta.

Os choques também podem ocorrer de outras maneiras, como:

Choques adversos de oferta expand_more

Eventos que elevam os preços são choques adversos de oferta.

Choques favoráveis de oferta expand_more

Eventos que diminuem os custos e preços, tal qual a dissolução de um cartel internacional de
petróleo, por exemplo, são choques favoráveis de oferta.

Um choque adverso de oferta impulsiona a oferta agregada de curto prazo para cima. Se a demanda
agregada permanece constante, a economia diminui sua produção e aumenta o nível de preços, movendo-
se do ponto A para o ponto B, como mostra a imagem a seguir.
Figura 13 - Choque adverso na oferta.

No ponto B, o nível de preços está alto e a produção e o emprego estão abaixo de seu nível natural:
Fenômeno conhecido como estagflação.

Ao se deparar com um choque adverso de oferta, a autoridade formuladora de política econômica, como o
Banco Central, pode escolher entre duas alternativas:

stagflação
Dado que combina estagnação da produção com inflação (aumento generalizado nos preços).

Primeira opção

Não fazer nada, mantendo constante a demanda agregada, e deixar a economia realizar o processo de
ajuste sozinha. Veja as vantagens e desvantagens:

Vantagem

Como a produção e o emprego estão abaixo de suas taxas naturais, a tendência dos preços é cair,
retornando ao nível de preços anterior naturalmente. Assim, a economia sai do ponto B e volta ao
ponto A.
close

Desvantagem

O problema é que esse processo de ajuste apresenta um custo em forma de recessão, com várias
pessoas enfrentando desemprego e baixa produção.

Segunda opção

Acomodar o choque na oferta. O Banco Central pode fazer isso impulsionando a demanda agregada por
meio do aumento da oferta monetária.

A vantagem é que isso acelera o processo de ajuste e conduz a economia de forma mais rápida em direção
ao nível natural de produto e emprego. O diagrama, a seguir, ilustra esse mecanismo.

Figura 14 - Acomodação de um choque adverso na oferta.

Se um aumento na demanda agregada coincide com o choque na oferta agregada, a economia salta do
ponto A para o ponto C imediatamente.

A desvantagem é que o nível de preços se torna permanentemente mais alto. Não há uma forma de ajustar
a demanda agregada de modo a manter o produto e o emprego em seu nível natural e o nível de preços
estável.

video_library
Transações do curto para o longo prazo
Neste vídeo, o especialista aborda os principais conceitos e aspectos sobre transações do curto para o
longo prazo. Vamos lá!
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Sobre a demanda agregada, assinale a alternativa falsa:

A demanda agregada é a relação entre a quantidade de produto demandada e o nível de


A
preços agregado da economia.

A demanda agregada pode ser entendida como a relação expressa no lado direito da
B
equação quantitativa da moeda, mantendo fixos os termos do lado esquerdo.

C O nível de preços e o nível de produto apresentam uma relação positiva entre si.

D A demanda agregada é negativamente inclinada.

E A demanda agregada é afetada pelas políticas fiscal e monetária.

Parabéns! A alternativa C está correta.

a) Verdadeiro. A demanda agregada é construída a fim de ser uma representação dessa relação.

b) Verdadeiro. A equação quantitativa da moeda MV = PY revela uma relação entre preço e produto do
lado direito da igualdade, se mantido fixo o lado esquerdo.
c) Falso. Como visto na seção de Demanda Agregada, a Teoria Quantitativa da Moeda sustenta que MV
= PY. Considerando fixas a oferta monetária e a velocidade da moeda, os termos M e V do lado
esquerdo da equação são constantes. Assim, para manter a igualdade valendo, uma variação positiva
em P deve implicar uma variação negativa em Y, e vice-versa.

d) Verdadeiro. Para manter a igualdade, o nível de preços P e a quantidade do produto Y devem ter uma
relação negativa entre si, de modo que a curva de demanda agregada também seja negativamente
inclinada. Quando desenhamos demanda agregada como a relação negativa entre nível de preços e
produto, a curva será negativamente inclinada.

e) Verdadeiro. A demanda agregada depende se uma série de fatores, como a confiança dos
consumidores, a percepção dos investidores quanto ao cenário econômicos, da política fiscal e da
política monetária.

Questão 2

Sobre a oferta agregada, assinale a alternativa falsa:

A oferta agregada é a relação entre a quantidade de bens e serviços ofertada e o nível


A
de preços da economia

B A oferta agregada de longo prazo é uma curva com inclinação positiva.

A oferta agregada de longo prazo depende dos montantes fixos de capital e mão de
C
obra e da tecnologia disponível para produção.

D A oferta agregada de longo prazo satisfaz o modelo clássico.

E A oferta agregada de curto prazo é uma curva horizontal.

Parabéns! A alternativa B está correta.


a) Verdadeiro. A oferta agregada é construída para que seja uma representação dessa relação.

b) Falso. Como vimos na parte de oferta agregada de longo prazo, a curva de oferta agregada no longo
prazo é uma linha reta vertical. O motivo para isso é que no longo prazo os preços são flexíveis, e a
economia fica em torno do produto de pleno emprego.

c) Verdadeiro. No longo prazo, o nível de produto é determinado pela capacidade de oferta de bens e
serviços da economia, que depende dos insumos disponíveis para a produção nessa economia.

d) Verdadeiro. O modelo clássico assume que o produto não depende do nível de preços, e a oferta
agregada de longo prazo, vertical, exibe exatamente essa relação. Uma alteração no nível de preços via
demanda agregada no longo prazo não afeta o nível de produto.

e) Verdadeiro. Como vimos na parte de oferta agregada de curto prazo, a curva de oferta agregada no
curto prazo é uma linha reta horizontal.

2 - Os diferentes equilíbrios na economia


Ao final deste módulo, você será capaz de identificar os diferentes equilíbrios na economia e
entender o impacto de alterações nas políticas fiscal e monetária.
Introdução
Até aqui, estudamos a curva de demanda agregada como a relação entre o nível de preços e o produto,
mantido constante do lado esquerdo da equação quantitativa da moeda. Vimos também que variações na
velocidade da moeda e na oferta monetária deslocam a curva de demanda agregada. Neste módulo, vamos
aprofundar o aprendizado sobre a curva de demanda agregada. O modelo que vai servir de alicerce para a
curva de demanda agregada é conhecido como IS-LM.

No modelo de demanda agregada desenvolvido anteriormente, não demos atenção para uma variável
importante da economia: a taxa de juros. Conheça agora sobre as curvas IS e LM:

Curva IS

A taxa de juros afeta o mercado de bens e serviços, por meio do investimento e da poupança. Este mercado
é representado pela curva IS.

Curva LM

A taxa de juros afeta o mercado de moeda, influenciando a oferta e demanda por moeda. Este mercado é
representado pela curva LM.

Dado que ela afeta tanto o investimento quanto a demanda por moeda, a taxa de juros é a variável que
conecta as duas partes do modelo IS-LM. Neste módulo, vamos examinar com mais atenção esses dois
mercados.

A cruz keynesiana
Antes de entrar no modelo IS-LM, contudo, vamos começar com um modelo básico, chamado de a cruz
keynesiana. Em sua obra intitulada A Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda, John Maynard Keynes
propôs que, no curto prazo, a economia era determinada pelo planejamento dos gastos, por parte dos
domicílios, empresas e governo.
A intuição por trás dessa teoria é que, se as pessoas desejassem gastar mais, maior seria a quantidade de
bens e serviços que as empresas conseguiriam vender e, assim, optariam por produzir mais bens e serviços
e contratariam mais trabalhadores. Nesse sentido, Keynes acreditava que o problema durante as recessões
era o gasto insuficiente.

Para compreender essa teoria, façamos uma distinção conceitual. Há dois tipos de gastos na economia:

Gasto planejado

Correspondente ao montante que os domicílios, empresas e governo gostariam de gastar com bens e
serviços.

close

Gasto efetivo

Correspondente ao montante que os domicílios, empresas e governo efetivamente gastam com bens e
serviços.

Essa distinção sugere que nem sempre o gasto planejado e o gasto efetivo serão iguais. A razão para isso é
que, no caso de as vendas não corresponderem às expectativas das empresas, as firmas poderiam ter um
investimento não planejado em estoques. Se as vendas superam o montante planejado, os estoques
diminuem, caso contrário, os estoques se acumulam.

O que determina o gasto planejado?

Supondo uma economia fechada, isto é, uma economia que não realiza exportações nem importações, o
gasto planejado, YP , será determinado assim:

YP = C + I + G

C - Consumo
I - Investimento planejado
G - Compras do governo

Rotacione a tela. screen_rotation


O consumo C, por sua vez, será uma função da renda disponível, que é simplesmente a diferença entre a
renda total (Y) e os tributos pagos ao governo (T). Então, escrevemos:
C = c(Y − T )

Rotacione a tela. screen_rotation


Para simplificar, consideraremos que o investimento I, os dispêndios do governo G e os impostos T são
exógenos. Isso significa que a política fiscal (dada pelos gastos do governo e pelos tributos) é fixa.

Logo:

¯
I = I

Rotacione a tela. screen_rotation


¯
G = G

Rotacione a tela. screen_rotation

T = T̄

Rotacione a tela. screen_rotation


Juntando as equações acima, temos que:

¯ ¯ ¯
YP = c(Y − T ) + I + G

Rotacione a tela. screen_rotation


Essa equação revela que o gasto planejado Yp é uma função da renda, Y, do investimento, I¯, e da política
fiscal, representada por G
¯
e T¯. Dado que as demais variáveis estão fixas, temos uma relação entre o gasto
planejado e a renda. Essa relação é positiva, uma vez que uma renda mais alta provoca um maior consumo
e, por consequência, um maior gasto planejado.

A próxima imagem mostra a curva de gasto planejado. A inclinação da curva é chamada de propensão
marginal a consumir (PMgC). Isso significa pensar: quanto você consumiria a mais se ganhasse um real
adicional? Ou, o quanto o gasto planejado aumenta com uma unidade a mais de renda?

Como visto, nem sempre o gasto efetivo e o gasto planejado são iguais. Quando isso ocorre, no entanto,
dizemos que a economia se encontra em equilíbrio.
Figura 15 - O gasto planejado YP.

Lembre-se que o produto, ou PIB, é igual ao total da renda, mas também pode ser interpretado como o gasto
total com bens e serviços. A condição de equilíbrio pode ser expressa então da seguinte maneira:

Gasto Efetivo = Gasto Planejado

Ou seja:

Y = YP

Rotacione a tela. screen_rotation

Representamos essa igualdade por uma reta de 45o no painel (b) da imagem a seguir. Essa reta passa por
todos os pontos no qual a igualdade é válida e os eixos do gráfico são iguais. O equilíbrio dessa economia
está no ponto em que as duas retas se cruzam, representado pelo ponto A no gráfico. O produto de
equilíbrio está sinalizado por Y*.

Figura 16 - A cruz keynesiana.

Entretanto, quando o gasto efetivo e o planejado não são iguais, como se alcança o equilíbrio?

Vamos analisar primeiro o caso, em que o gasto efetivo Y supera o gasto planejado YP (ou seja, Y > YP), e,

portanto, estamos à direita do produto de equilíbrio Y*. Nessa situação, os produtores produziram (Y)
efetivamente mais do que os gastos planejados (YP). Então, a produção que não foi vendida gera um

aumento não planejado de estoques. Devido a isso, as empresas decidem cortar a produção e diminuir o
número de trabalhadores, o que acarreta a diminuição do PIB, deslocando o produto pouco a pouco para a
esquerda.

Esse processo de redução da renda continua até que a renda se iguale ao nível de equilíbrio. Analogamente,
se Y < YP, estamos à esquerda do produto de equilíbrio Y*: As vendas são maiores do que o esperado, os

estoques ficam abaixo do desejado, e as firmas aumentam a produção até alcançar Y*. A próxima imagem
mostra esses dois casos, indicados por um box cinza.
Figura 17 - O ajuste na cruz keynesiana.

O multiplicador de gastos
O que ocorre se uma das variáveis exógenas muda? Vamos supor que o governo deseje aumentar seus
gastos G. Como isso afeta a economia?

Como os dispêndios do governo são um dos componentes do gasto planejado, um aumento nos gastos do
governo leva a um maior gasto planejado para qualquer nível de renda. Vamos denotar a variação nos
gastos do governo por ΔG (a letra grega Δ (delta) é frequentemente usada para denotar variação).

A curva de gasto planejado se desloca então para cima em ΔG. O diagrama da próxima imagem mostra
esse movimento. O equilíbrio da economia salta do ponto A para o ponto B.

Figura 18 - Um aumento nos gastos do governo.

O gráfico mostra que um aumento nos gastos do governo resulta num aumento de ainda maior magnitude
da renda. Isso significa que ΔY>ΔG, e, portanto, ΔY/ΔG>1. A razão ΔY/ΔG é chamada de multiplicador dos
gastos do governo. Esse multiplicador informa o quanto o produto ou a renda aumentam em virtude de um
aumento de uma unidade monetária nos gastos do governo.

Atenção!
O fato de ΔY ser maior que ΔG implica que o multiplicador dos gastos do governo é maior do que 1: um real
a mais gasto pelo governo gera um aumento de renda superior a um real.

A razão para esse efeito multiplicador está no componente do consumo, que depende positivamente da
renda: C=c(Y-T). Assim, uma renda maior provoca um consumo mais elevado. Isso gera um efeito espiral na
renda: O aumento nos gastos do governo faz a renda crescer, o que, por sua vez, causa um aumento do
consumo, que gera um aumento ainda maior da renda, que faz crescer novamente o consumo, e assim por
diante.

Qual a magnitude do multiplicador? Podemos responder a essa pergunta algebricamente, indicando por t1,

t2, t3 etc. os diferentes momentos no aumento do consumo:

Uma mudança inicial nos gastos do governo =

ΔG

Rotacione a tela. screen_rotation


Aumento do consumo em t1 =

P M gC × ΔG

Rotacione a tela. screen_rotation


Aumento do consumo em t2 =

2
P M gC × ΔG

Rotacione a tela. screen_rotation


Aumento do consumo em t3 =

3
P M gC × ΔG

Rotacione a tela. screen_rotation


Logo:

2 3
ΔY = (1 + P M gC + P M gC + P M gC + …) × ΔG

Rotacione a tela. screen_rotation


No primeiro momento, o consumo aumenta ΔG multiplicado pela PMgC. No segundo momento, o consumo
aumenta a renda que foi aumentada no primeiro momento, ou seja, PMgC x (PMgC x ΔG), e assim
sucessivamente.

Dica
Para calcular o multiplicador dos gastos do governo, basta dividir os dois lados da equação por ΔG.

O primeiro termo do lado esquerdo é uma série geométrica infinita e pode ser substituído por 1/(1-PMgC).
Assim:

ΔY 1
=
ΔG (1−P M gC)

Rotacione a tela. screen_rotation


Essa é a equação do multiplicador dos gastos do governo.

O multiplicador de impostos
Um processo similar ocorre quando há uma alteração nos impostos cobrados pelo governo. Quando o
governo decide reduzir os impostos em ΔT, a renda disponível Y - T aumenta imediatamente em ΔT, o que
gera, portanto, um aumento do consumo em PMgC×ΔT.

O gasto planejado se torna maior para qualquer nível de renda Y. O painel (b) da figura 19 mostra o
deslocamento para cima do gasto planejado, causado por um aumento no consumo da magnitude de
PMgC×ΔT. Novamente, o equilíbrio salta do ponto A para o ponto B. Assim como o aumento nos gastos do
governo gera um efeito multiplicador sobre a renda, o mesmo ocorre com a diminuição dos impostos.

Figura 19 - Uma redução nos impostos.

Novamente, o aumento na renda gerado por um aumento no consumo vai resultar em um aumento ainda
maior do consumo, que aumentará a renda ainda mais, e assim sucessivamente. A diferença é que agora a
variação inicial não é mais da ordem de ΔG, e sim de PMgC×ΔT.

Observe a diferença:
Um aumento no gasto público tem impacto imediato sobre o gasto total.

Uma diminuição dos impostos se transforma em renda dos consumidores, que transformam apenas
uma parte dessa renda em consumo.

Ou seja, apenas PMgC×ΔT se transformam em consumo no primeiro instante. Assim como antes, a
mudança inicial nos gastos é multiplicada por 1/(1-PMgC). O efeito na renda pode ser expresso por:

ΔY /ΔT = −P MgC/ (1 − P MgC)

Rotacione a tela. screen_rotation


A diferença é que, para a conta anterior, está no denominador do lado esquerdo da igualdade. Em vez de 1,
temos o PMgC, pois o termo de impostos T na equação do gasto planejado aparece multiplicado por c, que
é a propensão marginal a consumir. O sinal negativo do lado esquerdo da equação indica que o consumo se
movimenta na direção contrária aos impostos (maiores impostos, menos consumo, e vice-versa).

Resumindo

Essa expressão recebe o nome de multiplicador gerado por impostos e indica o montante em que a renda
varia em resposta a uma variação de uma unidade monetária nos impostos.

A curva IS
Usamos a cruz keynesiana para mostrar como a economia se comporta quando o governo decide alterar a
política fiscal, isto é, modificar seu nível de gastos ou impostos cobrados. Além disso, vimos que o fato de o
consumo ser positivamente relacionado com a renda gera um efeito multiplicador quando esta aumenta.
Todavia, o modelo da cruz keynesiana supõe que o nível de investimento planejado, I, é fixo. O componente
do investimento, no entanto, depende da taxa de juros, r. Escrevemos:

I = I (r)

Rotacione a tela. screen_rotation


A taxa de juros r mede o custo dos recursos para financiar o investimento. Para que um investimento seja
lucrativo, o seu retorno deve superar seu custo, ou seja, os pagamentos pelos empréstimos realizados para
financiar projetos de investimento, que são determinados pela taxa de juros. Se a taxa de juros aumenta, a
quantidade de projetos de investimentos que é lucrativa diminui, assim como o investimento.
Dessa forma, o investimento é negativamente relacionado com a taxa de juros. A imagem a seguir mostra
essa relação, ilustrando a curva da função investimento.

Figura 20 - A função investimento.

E o que acontece com o produto se a taxa de juros se altera? Vamos supor um aumento na taxa de juros, de
r1 para r2. Dado que o investimento é negativamente relacionado com a taxa de juros, uma taxa de juros
maior implica uma redução no nível de investimento, de I(r1) para I(r2), como mostra a próxima imagem.

Figura 21 - A cruz keynesiana.

A função do gasto planejado é uma soma do investimento com os componentes de consumo e gastos do
governo. Essa diminuição do gasto planejado, por sua vez, diminui o produto de Y1 para Y2.
Consequentemente, uma elevação na taxa de juros resulta numa redução da renda, tudo mais constante.

A curva IS sintetiza a interação entre a taxa de juros e o nível de renda do mercado de bens e serviços. Ela
está representada no diagrama da imagem a seguir. A curva IS combina a relação entre r e I, expressa pela
função investimento, e a relação entre I e Y, implícita na cruz keynesiana.
Figura 22 - A curva IS.

Cada ponto na curva IS representa um equilíbrio no mercado de bens, e a curva explicita a relação entre a
taxa de juros e o nível de renda de equilíbrio. Visto que um aumento na taxa de juros provoca uma queda no
investimento planejado, que, por sua vez, gera uma diminuição da renda, a curva IS tem inclinação negativa.

Política fiscal na curva IS


Aprendemos com a cruz keynesiana que, além do investimento, o nível de equilíbrio da renda depende
também da política fiscal, isto é, dos gastos do governo G e dos impostos T. A curva IS mostra o nível de
renda para qualquer taxa de juros determinada, variando o nível de investimento, que traz o equilíbrio no
mercado de bens. No entanto, ela é construída para uma determinada política fiscal.

Quando há variações na política fiscal, a curva IS se desloca.

Vimos que um aumento dos gastos do governo desloca a curva de gasto planejado na cruz keynesiana.
Esse aumento no nível de dispêndios também deslocará a curva IS. A próxima imagem utiliza a cruz
keynesiana para mostrar como um aumento da ordem de ΔG nas compras do governo desloca a curva IS.

Contudo, essa figura é referente ao equilíbrio de uma determinada taxa de juros r̄ , e, portanto, para um
determinado nível de investimento. Assim, um aumento nos gastos do governo desloca a curva IS para fora.

Figura 23 - A cruz keynesiana | A curva IS.

É possível replicar o mecanismo para outras mudanças na política fiscal do governo. Fizemos anteriormente
a análise, via cruz keynesiana, do que ocorre com a renda no caso de uma diminuição nos impostos.
Novamente, a curva de gasto planejado se desloca para cima e aumenta a renda. Do mesmo modo, uma
diminuição nos impostos resultará no deslocamento para fora da curva IS.
Por outro lado, uma redução nos dispêndios do governo ou um aumento nos impostos reduz a renda,
deslocando a curva IS para dentro.

O mercado monetário e a preferência pela liquidez


Mostramos o que acontece com a renda no mercado de bens e serviços quando há alterações no nível de
investimento e na política fiscal, ilustrado pela curva IS. O próximo passo é mostrar o que acontece no
mercado de encaixes monetários. A curva LM representa graficamente a relação entre a taxa de juros e o
nível de renda nesse mercado. Para entender essa relação, vamos retomar a teoria de Keynes.

Ainda em sua obra A Teoria Geral, Keynes desenvolveu uma teoria para explicar como a taxa de juros se
comporta no curto prazo, à qual deu o nome de teoria da preferência pela liquidez. Esse nome vem da
hipótese de que a taxa de juros se ajusta para equilibrar a oferta e a demanda por moeda corrente, o ativo
mais líquido da economia.

A liquidez de um ativo considera a facilidade com a qual ele pode ser convertido em dinheiro. Por exemplo:

Poupança

A poupança tem alta liquidez, pois é fácil resgatar o dinheiro da conta.


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Imóvel

Um imóvel tem baixa liquidez, pois não se converte em dinheiro facilmente.

Retomando o exemplo de uma economia fechada, denotamos por M a oferta monetária e P o nível de
preços dessa economia. Logo, M/P é a oferta de encaixes monetários reais. A teoria da preferência pela
liquidez começa supondo que a oferta por encaixes monetários reais é fixa:

s ¯ ¯
(M /P ) = M /P

Rotacione a tela. screen_rotation


O Banco Central ou alguma autoridade monetária determina de maneira exógena a oferta monetária.
Tomaremos o nível de preços P também como variável exógena, utilizando o modelo IS-LM para explicar o
comportamento da economia no curto prazo, em que o nível de preços é fixo. A combinação de ambos
esses pressupostos implica que a oferta de encaixes monetários reais é fixa e, portanto, independe da taxa
de juros.

Graficamente, se representarmos esse mercado como função da taxa de juros e dos encaixes monetários
reais, a curva de oferta de encaixes monetários reais será uma reta vertical, como mostra o diagrama na
imagem a seguir.

Figura 24 - A teoria da preferência pela liquidez. A cruz keynesiana | A curva IS.


A demanda por encaixes reais, por sua vez, não é fixa. A teoria de Keynes presume que o montante de
moeda corrente que as pessoas optam por ter disponível é determinado pela taxa de juros. O motivo por
trás dessa hipótese é que a taxa de juros seria o custo de oportunidade de reter moeda.

Em outras palavras, quando se opta por ter moeda em mãos, o indivíduo está
deixando de manter o dinheiro sob outras formas que rendem juros, como títulos
ou depósitos bancários.

Nesse sentido, quando a taxa de juros sobe, aumenta o custo de oportunidade de se manter moeda
corrente, e, portanto, as pessoas diminuem a parcela da renda que mantêm sob a forma de moeda corrente.
Formalmente, podemos definir a demanda por encaixes monetários reais como:

d
(M /P ) = L(r)

Rotacione a tela. screen_rotation


A função L(r) mostra que a quantidade de encaixes monetários reais demandada depende da taxa de juros r.
Como explicamos, dado que a quantidade demandada de moeda corrente é menor a taxas de juros mais
altas, a curva de demanda possui inclinação negativa, também presente na próxima imagem.

Figura 25 - A teoria da preferência pela liquidez | Um aumento na oferta monetária.

Segundo a teoria da preferência pela liquidez, oferta e demanda por encaixes monetários reais determinam
conjuntamente a taxa de juros no mercado de moeda. No equilíbrio, oferta e demanda por encaixes
monetários reais são iguais. Assim, a taxa de juros se ajusta a fim de equilibrar o mercado monetário.

Esse ajuste ocorre, porque, caso o mercado monetário esteja fora do equilíbrio, os indivíduos ajustam suas
carteiras de ativos e acabam por alterar a taxa de juros no processo.

Se a taxa de juros está abaixo do nível de equilíbrio, a demanda por encaixes monetários
reais excede a oferta.
Nesse cenário, seu João da padaria prefere manter mais dinheiro no caixa do que no banco, as pessoas
tentam vender títulos e retirar dinheiro de suas contas bancárias, e os bancos reagem aumentando as taxas
de juros que oferecem para tentar atrair recursos que agora estão mais escassos.

A taxa de juros alcança então um nível de equilíbrio no qual os indivíduos estão satisfeitos com as carteiras
de ativos não monetários e monetários.

De maneira similar, se a taxa de juros está acima do nível de equilíbrio, a oferta por encaixes monetários
reais excede a demanda, e os indivíduos que detêm o excedente da oferta monetária buscam trocar uma
parte da moeda corrente, que não rende juros, por títulos ou depósitos bancários que rendam juros.

Nesse caso, seu João da padaria preferirá deixar o dinheiro rendendo no banco do que no caixa de seu
estabelecimento.

As entidades emissoras de títulos, como os bancos, respondem ao excesso de oferta monetária reduzindo
suas taxas de juros.

Uma vez que a taxa de juros se ajusta para responder a desequilíbrios no mercado monetário, é apenas
lógico assumir que ela reage a mudanças na oferta de moeda.

Caso o Banco Central decida, por exemplo, aumentar a oferta monetária M


repentinamente, o que ocorreria com a taxa de juros?

Resposta
Um aumento em M faz subir, por sua vez, a razão de encaixes monetários reais M/P, dado que P é fixo. A
oferta de encaixes monetários se desloca para a direita, e a taxa de juros de equilíbrio cai de r1 para r2.
Um nível mais baixo da taxa de juros faz com que os indivíduos dessa economia fiquem satisfeitos em reter
uma parcela maior de encaixes monetários reais. Com mais moeda em circulação, seu João não se importa
em deixar mais dinheiro no caixa da padaria. A imagem a seguir mostra esse movimento.

Figura 26 - Um aumento na oferta monetária.

Caso o Banco Central tivesse repentinamente reduzido a oferta monetária, o movimento seria contrário. A
oferta de encaixes monetários reais se deslocaria para a esquerda e a taxa de juros subiria.

A curva LM
Agora que vimos como a teoria da preferência pela liquidez explica os determinantes da taxa de juros,
podemos construir a curva LM. Precisamos traçar a relação entre a taxa de juros r e o nível de renda Y.
Como uma mudança no nível de renda afeta o mercado de encaixes monetários reais? Quando a renda é
elevada, gasta-se mais, e os indivíduos realizam um número maior de transações que demandam moeda.
Assim, uma maior renda implica mais demanda por moeda.

Nesse sentido, pode-se dizer que o nível de renda afeta positivamente a demanda por encaixes monetários
reais. Como a demanda por moeda é negativamente relacionada com a taxa de juros, podemos sintetizar
essa relação pela expressão:

d
(M /P ) = L(r, Y )

Rotacione a tela. screen_rotation


Mas, o que acontece com a taxa de juros quando o nível de renda se altera? Quando a renda aumenta, por
exemplo, a curva de demanda por moeda se desloca para a direita. Esse deslocamento acarreta um
aumento da taxa de juros para equilibrar o mercado monetário, de r1 para r2, mantida fixa a oferta de
encaixes monetários reais.

Assim, de acordo com a teoria da preferência pela liquidez, uma renda mais alta resulta numa taxa de juros
mais alta. A próxima imagem mostra essa relação, com o ajuste no mercado de encaixes monetários reais
ilustrado no painel (a) e a curva LM no painel (b).

Figura 27 - Mercado de encaixes monetários reais | A curva LM.

Política monetária e a curva LM


Como vimos, a curva LM mostra a taxa de juros que equilibra o mercado de encaixes monetários reais para
qualquer nível de renda. No entanto, a taxa de juros de equilíbrio depende também do nível da oferta de
encaixes monetários reais, M/P, que consideramos como fixa. Assim, curva LM é desenhada para uma
determinada oferta de encaixes monetários reais. Se o Banco Central decide alterar a oferta monetária, a
curva LM se desloca.

Exemplo

Se a autoridade monetária aumenta subitamente a oferta monetária, de M' para M'', a oferta de encaixes
monetários reais também aumenta na mesma proporção, dado que P é fixo. Mantendo a renda constante e,
consequentemente, a curva de demanda por moeda também constante, um aumento na oferta monetária
faz com que a taxa de juros de equilíbrio do mercado monetário diminua.

Desse modo, um aumento na oferta monetária desloca para baixo (ou para a direita) a curva LM. A imagem
a seguir mostra esse deslocamento. O gráfico (a) mostra o que ocorre no mercado monetário quando o
Banco Central aumenta a oferta monetária.

(a) Um aumento na oferta monetária | (b) A curva LM.


O modelo IS-LM
Examinamos como cada curva se comporta separadamente e como respondem a alterações nas políticas
fiscal e monetária. A combinação das duas curvas determina o nível da renda e taxa de juros na economia.
Se há um deslocamento em uma das duas curvas, há uma oscilação na renda nacional e o equilíbrio de
curto prazo se modifica.

A da próxima imagem mostra um possível equilíbrio de curto prazo da economia. O ponto no qual as duas
curvas se interceptam indicado pela letra E é o equilíbrio inicial, correspondente à renda nacional Y1 e à taxa
de juros r1.

Figura 28 - O modelo IS-LM.

Exemplo

Suponha que o governo decida realizar uma política fiscal contracionista, isto é, visa a melhorar o resultado
das contas públicas ao diminuir seus gastos ou aumentar os impostos. Por ora, vamos considerar uma
redução nos dispêndios (G). Como vimos acima, esse tipo de política desloca a curva IS para dentro, sem
alterar a curva LM.

Uma vez que a renda diminui, pela teoria da preferência da liquidez, sabemos que a quantidade de moeda
demandada também diminui, pois o número de transações diminui. Como a oferta monetária não se
modificou, a menor demanda por moeda faz cair a taxa de juros de equilíbrio para r2.

A diminuição da taxa de juros, no entanto, afeta o mercado de bens por meio do investimento. Como o nível
de investimento é sensível à taxa de juros, a queda na taxa de juros aumenta os planos de investimento das
empresas. Por conseguinte, a redução da renda, em resposta a uma contração fiscal, é menor no modelo IS-
LM do que na cruz keynesiana, em que supomos que o nível de investimento é fixo. Podemos ver esse
deslocamento no diagrama da imagem a seguir.
Figura 29 - Uma política fiscal contracionista.

Vamos examinar agora os efeitos de uma política monetária. Considere que o Banco Central decida reduzir
a oferta monetária repentinamente. Relembrando o que estudamos aqui, uma diminuição em M resulta
numa queda nos encaixes monetários reais M/P, dado que os preços são rígidos no curto prazo.

A diminuição na oferta de encaixes monetários reais acarreta uma taxa de juros mais alta, segundo a teoria
da preferência pela liquidez. Com isso, a curva LM se desloca para cima, como mostra a próxima imagem.
No novo equilíbrio, a taxa de juros é maior e o nível de renda diminui.

Figura 30 - Uma diminuição da oferta monetária.

Mas, o que aconteceria se o governo mudasse a política fiscal e a política monetária simultaneamente, ou
em um curto intervalo de tempo? Vamos retomar o exemplo de uma política fiscal contracionista.

Sabemos que, no novo equilíbrio, o produto diminui e a taxa de juros também. Mas esse é o resultado
apenas se o Banco Central não fizer nada. É possível que o Banco Central decida reagir a esse aumento para
atingir algum objetivo específico na economia.

Comentário

Se o Banco Central deseja manter constante a taxa de juros, ele precisa responder com uma política que
aumente a taxa de juros. Como vimos, esse é o caso de uma política de redução da oferta monetária. A
figura 20 mostra uma possibilidade de resposta do Banco Central à contração fiscal.

Num primeiro momento, a curva passa do ponto A para o ponto B na próxima imagem, reduzindo a renda e a
taxa de juros. Com a reação do Banco Central, a taxa de juros sobe, mas o produto cai ainda mais, e o novo
equilíbrio passa a ser o ponto C.
É possível ainda que o Banco Central saiba antecipadamente da decisão do governo de aumentar os gastos
e realize a redução da oferta monetária simultaneamente. Nesse caso, o equilíbrio salta do ponto A para o
ponto C, sem alterar a taxa de juros. Contudo, este é apenas um dos resultados possíveis.

Figura 31 - Política monetária como resposta à política fiscal: Banco Central mantém a taxa de juros.

Outra possibilidade é o Banco Central manter constante o produto. Nesse caso, ele precisaria realizar uma
política fiscal no sentido contrário: para responder a uma diminuição no nível do produto, ele deve realizar
uma política que desloque a LM para a direita (para baixo), a fim de empurrar o nível de renda para cima.
Assim, a resposta do Banco Central deve ser no sentido de um aumento na oferta monetária.

A imagem, a seguir, mostra como seria essa resposta. O nível de renda de equilíbrio se manteria, mas a taxa
de juros cairia tanto em resposta à política fiscal quanto à política monetária.

Figura 32 - Política monetária como resposta à política fiscal: Banco Central mantém o nível de renda.

Em ambos os casos, o ajuste na oferta monetária que o Banco Central fez foi exatamente o suficiente para
manter ou a taxa de juros constante, ou o nível de renda constante.

Muitas vezes, na realidade, o Banco Central não saberá a magnitude exata do deslocamento da IS e,
consequentemente, não saberá o tamanho preciso do ajuste que deve realizar, apenas o seu sentido.
Nessas situações, podemos afirmar com certeza o que ocorre com a variável que o Banco Central ignora,
isto é, a que ele não quer manter constante, mas o resultado sobre a variável que ele pretende manter pode
ser ambíguo.

No primeiro caso, sabemos que o produto cai com certeza em consequência de uma contração fiscal e uma
diminuição na oferta monetária. No entanto, se o Banco Central errar a mão na política monetária, o
resultado sobre a taxa de juros será ambíguo. É possível que a taxa de juros do novo equilíbrio seja um
pouco mais alta do que a inicial, caso o Banco Central diminua demais a oferta monetária, ou que a taxa de
juros seja um pouco mais baixa, caso ele não diminua o suficiente a oferta monetária. No segundo caso,
sabemos que a taxa de juros com certeza cai em virtude de uma contração fiscal acompanhada de uma
expansão monetária, mas o efeito sobre o produto pode ser ambíguo se o Banco Central não for preciso.

É possível que a taxa de juros do novo equilíbrio seja um pouco mais alta do que a inicial, caso o Banco
Central diminua demais a oferta monetária, ou que a taxa de juros seja um pouco mais baixa, caso ele não
diminua o suficiente a oferta monetária. No segundo caso, sabemos que a taxa de juros com certeza cai em
virtude de uma contração fiscal acompanhada de uma expansão monetária, mas o efeito sobre o produto
pode ser ambíguo se o Banco Central não for preciso.

IS-LM como uma teoria para a demanda agregada


O modelo IS-LM serviu para explicar o equilíbrio no curto prazo quando o nível de preços é fixo. Para
compreender como o modelo IS-LM se encaixa no modelo de oferta e demanda agregada visto no início da
aula, permitiremos que o nível de preços se modifique.

Como visto anteriormente, a demanda agregada expressa uma relação entre o nível de preços e o nível da
renda nacional. Utilizamos a teoria quantitativa da moeda para derivar essa relação. Agora, utilizaremos o
modelo IS-LM.

Sabemos que a relação entre renda e nível de preços ilustrada pela curva de demanda agregada é uma
relação negativa. Para entender por que o produto aumenta à medida que o nível de preços diminui, vamos
examinar o que acontece no modelo IS-LM quando o nível de preços se altera.

Relembrando
Recorde que no modelo IS-LM, a variável de nível de preços estava presente, de maneira implícita, na curva
de oferta de encaixes monetários reais M/P. Naquele momento, consideramos o nível de preços P fixo. Se o
nível de preços aumenta, todavia, a oferta de encaixes monetários diminui.

Essa redução na oferta de encaixes monetários reais desloca a curva LM para cima, o que acarreta um
aumento da taxa de juros de equilíbrio e a redução do nível de renda, como mostra o painel (a) da próxima
imagem.

O nível de preços sobe de P1 para P2 e a renda cai de Y1 para Y2. O painel (b) mostra a curva de demanda
agregada, que ilustra graficamente a relação negativa entre renda nacional e nível de preços.
Figura 33 - Uma diminuição da oferta monetária | A curva de demanda agregada.

Assim, a curva de demanda agregada mostra o conjunto de pontos de equilíbrio no modelo IS-LM ao passo
que se altera o nível de preços e, consequentemente, a renda. Agora, veja o vídeo para fixar os pontos
importantes que vimos nesse módulo.

video_library
Juros, investimento, curva IS e a cruz keynesiana
O vídeo, a seguir, faz um resumo sobre a curva IS e o mercado monetário e a preferência pela liquidez.
Vamos lá!
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Sobre a cruz keynesiana, assinale a alternativa incorreta:

O gasto planejado corresponde ao montante que domicílios, empresas e governo


A
gostariam de gastar com bens e serviços.
Quando gasto planejado e gasto efetivo se igualam, diz-se que a economia está em
B
equilíbrio.

C O gasto planejado é uma função da renda, do investimento e da política monetária.

A relação entre gasto planejado e renda é positiva devido ao componente de consumo


D
que varia positivamente com a renda.

Quando gasto planejado é maior que gasto efetivo, há acumulação não planejada de
E
estoques.

Parabéns! A alternativa C está correta.

a) Verdadeiro. Aquela é a definição de gasto planejado.

b) Verdadeiro. Aquela é a definição de equilíbrio na cruz keynesiana.

c) Falso. O gasto planejado é uma função da renda, do investimento e da política fiscal, ou seja, dos
gastos do governo e impostos, como se explica na parte de cruz keynesiana. A política monetária não é
analisada na cruz keynesiana.

d) Verdadeiro. Um aumento na renda provoca um maior consumo, o qual provoca, por sua vez, um
maior gasto planejado. Assim, a relação entre gasto planejado e renda é positiva devido ao consumo. A
inclinação da curva de gasto planejado é dada de acordo com a propensão marginal a consumir.

e) Verdadeiro. Quando o gasto efetivo é inferior ao gasto planejado, ocorrerá um aumento não
planejado nos estoques. Estaremos à direita do produto de equilíbrio.

Questão 2

Sobre as curvas IS-LM, é falso afirmar que:

A A curva IS mostra os diferentes pontos de equilíbrio no mercado de bens e serviços.


A curva LM mostra os diferentes pontos de equilíbrio no mercado de encaixes
B
monetários reais.

C A cruz keynesiana serve como alicerce para construir a curva IS.

A curva LM é desenhada para uma determinada demanda por encaixes monetários


D
reais.

A curva LM mostra a relação entre o nível de renda e a taxa de juros para uma
E
determinada oferta de encaixes monetários reais.

Parabéns! A alternativa D está correta.

a) Verdadeiro. A curva IS é construída de modo que cada ponto na curva IS representa um equilíbrio no
mercado de bens, para um dado nível de gastos do governo e a curva explicita a relação entre a taxa de
juros e o nível de renda de equilíbrio.

b) Verdadeiro. A curva LM é construída de modo que cada ponto na curva LM representa um equilíbrio
no mercado monetário, para um dado nível de encaixes monetários reais e a curva explicita a relação
entre a taxa de juros e o nível de renda de equilíbrio.

c) Verdadeiro. A curva IS mostra os diferentes pontos de equilíbrio da cruz keynesiana quando se muda
o nível de investimento e se desloca a curva de gasto planejado, sintetizando a relação entre nível de
renda e taxa de juros.

d) Falso. Como vimos na parte de política monetária e a curva LM, a curva LM é desenhada para uma
determinada oferta de encaixes monetários reais. Assim, se há uma alteração na oferta monetária, a
curva LM se desloca, isto é, há um novo desenho de uma outra curva LM para aquele nível de oferta
monetária. Por outro lado, para um determinado nível fixo de oferta monetária, há uma determinada
curva LM que sintetiza a relação entre os níveis de renda e taxa de juros que equilibram aquele
mercado. Assim, se há uma alteração na demanda por encaixes monetários reais no mercado
monetário, e essa alteração na demanda afeta a taxa de juros, isso não desloca a oferta, apenas fará
com que deslizemos ao longo da curva LM para um outro ponto que represente este novo equilíbrio
correspondente a essa nova taxa de juros.
e) Verdadeiro. A curva LM é construída de modo que cada ponto na curva LM representa um equilíbrio
no mercado monetário, para um dado nível de encaixes monetários reais e a curva explicita a relação
entre a taxa de juros e o nível de renda de equilíbrio.

Considerações finais
Construímos neste conteúdo o modelo de oferta e demanda agregada, uma das ferramentas mais
importantes para a análise do comportamento da economia. Com esse instrumento, podemos avaliar o
impacto de diversas políticas econômicas - em particular, a política monetária e a política fiscal - para lidar
com os choques que atingem a economia.

Leia agora as manchetes de Economia dos jornais: Você encontrará chamadas como “Banco Central diminui
a taxa de juros para enfrentar recessão”, ou “Economistas debatem o efeito de um aumento de gastos
públicos”. Tente entender essas manchetes a partir do instrumental desenvolvido aqui!

headset
Podcast
Agora, a(o) especialista encerra o tema, fazendo um breve resumo dos principais tópicos que foram
abordados ao longo dos módulos.
Referências
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Nacional por Amostra de Domicílios Contínua ‒
PNAD Contínua. Consultado na Internet em: 14 jul. 2020.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Produto interno bruto (PIB) real. Frequência:
Trimestral. Consultado na Internet em: 14 jul. 2020.

KEYNES, J. M. A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. In: Os Economistas. São Paulo: Abril
Cultural, 1983.

MANKIW, N. G. Macroeconomia. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008.

Explore +
Para saber mais sobre os assuntos tratados neste conteúdo, sugerimos que leia:

BACHA, E. A crise fiscal e monetária brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016.

BOLLE, M. B. de. Como matar a borboleta azul ‒ Uma crônica da era Dilma. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2016.

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