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Curso de Especialização em Docência Para Educação Profissional, Científica e

Tecnológica
Campus: Campo Grande - MS
Aluna: Beatriz da Silva de Paula
Disciplina: Políticas, Gestão e Legislação da EPT.

A trajetória histórica da Educação Profissional e Tecnológica no Brasil

Ao falar de políticas, gestão e legislação da Educação Profissional e


Tecnológica no Brasil, é necessário pensar a trajetória histórica e os diversos
acontecimentos sociais, políticos e econômicos do país. Podemos destacar a
importância dos jesuítas para a educação brasileira, influência visível até os dias de
hoje. Outro fato determinante são as marcas da escravidão que perdurou por três
séculos no Brasil.
No início da colonização, com a vinda dos portugueses para exploração da
terra havia grande escassez de mão de obra, o que acarretou na utilização de mão
de obra escrava de negros e indígenas, e se mostrou um fator determinante na
criação e na manutenção da desigualdade social que se mantém até hoje no Brasil.
O trabalho escravo que perdurou por séculos no Brasil, foi o responsável pela oferta
mínima de educação (ou até mesmo inexistente na maioria dos casos), e
consequentemente, na (não) formação do trabalhador brasileiro da época.
O período extrativista foi marcado pelo trabalho escravo indígena. Os índios
nativos já detinham conhecimentos e habilidades para extração de madeira do pau
brasil, e os exploradores se aproveitaram disso. Desse modo, durante o período não
era oferecido nenhum tipo de educação além da transmissão de conhecimentos
profissionais, como o manejo de ferramentas, por exemplo.
O cenário da educação no Brasil começou a apresentar mudanças apenas
com a chegada das missões jesuítas, que objetivavam a conversão dos indígenas
pelas vias da educação. Contudo, a instrução profissional também era ofertada
exclusivamente por força do contexto socioeconômico a ser explorado no Brasil. As
escolas jesuítas eram caracterizadas por uma hierarquia religiosa, e funcionavam
como agências de seleção e canais de ascensão social. inicialmente, a educação
jesuítica era ofertada aos índios, ensinando-lhes a ler e a escrever, porém com o
tempo passou a ter um caráter elitista, voltado aos dirigentes da sociedade da
época. Visava, sobretudo, a manutenção do sistema cultural da coroa portuguesa
por meio da disseminação do ensino da língua portuguesa.
Mais tarde, mesmo após a abolição da escravatura no país, poucas
transformações significativas e/ou duradouras aconteceram na situação de vida da
população afetada. Tendo em vista o baixo nível de desenvolvimento das forças
produtivas, as fábricas do final do século XIX eram vistas por patrões como um lugar
que poderia formar os cidadãos, que mesmo em jornadas exaustivas de trabalho
insalubre por um retorno financeiro mínimo, eram obrigados a se submeterem aos
trabalhos por serem as únicas formas de sobrevivência. O trabalho assalariado e a
organização social dele decorrente trouxeram como resultado o aumento da
necessidade de ação administrativa no campo dos serviços públicos, da educação e
da saúde, da formação profissional, etc.
Já no século XX, as primeiras legislações em defesa de direitos trabalhistas
começaram a surgir, mesmo que em contradição aos interesses das classes
dominantes. Os primeiros modelos de escolas e instituições de educação
profissional também começaram a ser desenvolvidos, como é o caso do Sistema S,
que tinha por características uma educação formal, hierarquizada e elaborada pela
separação entre trabalho intelectual e trabalho manual. Observa-se, desde então, a
subordinação dos processos educativos aos interesses das relações sociais
capitalistas. A formação humana passou a ser dependente das necessidades do
mercado e do capital. Sob essa ótica instrumentalista, buscando adequação ao
mercado de trabalho, foi desenvolvida na década de 1940 as escolas técnicas
industriais e agrícolas do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e do
Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio (SENAC).
Para contrapor o Sistema S e sua proposta de formação do trabalhador
brasileiro, a Rede Federal de Educação Profissional (atualmente composta pelos
Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia) foi chamada a adotar a
posição contrária à educação de concepção instrumentalista. Tudo isso coloca em
evidência que no decorrer da história os industriais perseguiam um modelo de
formação ideal para o trabalhador brasileiro e o trabalhador, contrário a esse
modelo, lutava com as armas que dispunha para resistir aos processos de alienação
e de estranhamento impostos a ele.
A Rede Federal de Educação Profissional se preserva até os dias de hoje
enquanto defensora da educação brasileira e dos trabalhadores, ofertando cursos e
formações de qualidade em todo o país, além da produção de conhecimento
científico que é utilizado na defesa dos direitos dos estudantes e trabalhadores, bem
como na melhoria da educação brasileira.

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