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DESAFIOS EDUCACIONAIS

PARA A EDUCAÇÃO
BÁSICA
FICHA CATALOGRÁFICA

DIRETORIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


FICHA TÉCNICA
APRESENTAÇÃO

A disciplina Desafios Educacionais para a Educação Básica é constituída por temas pertinentes à sociedade
contemporânea e propõe reflexões e debates acerca dos espaços que a educações ocupa em cenários
globalizados, compostos por paradoxos e desigualdades. Nesse sentido, questões sociais, políticas,
econômicas e culturais são apresentadas tendo como mote principal a educação, sua função social, a
formação docente e o papel de educadores e educadoras no século XXI.

Os conteúdos previstos na disciplina dividem-se em quatro momentos: de início, serão estabelecidas relações
entre o processo de globalização cultural e econômica, exclusão social e políticas públicas voltadas à
educação. Em seguida, abordaremos aspectos do Neoliberalismo e as formas como as questões econômicas
constituem parâmetros para as práticas escolares. No terceiro momento, a disciplina terá como pauta a
formação docente e a prática. Por fim, serão abordadas questões sobre a importância do planejamento para
a prática docente no século XXI.
UNIDADE 1

TÍTULO: A EDUCAÇÃO ESCOLAR EM


UM CENÁRIO DE GLOBALIZAÇÃO E
EXCLUSÃO SOCIAL

Objetivos

• Objetivo 1 – Perceber a importância da educação básica na sociedade contemporânea;


• Objetivo 2 – Compreender as relações entre a educação básica e as políticas econômicas em âmbito
global e local;
• Objetivo 3 – Entender a importância das políticas públicas para sanar as desigualdades educacionais
presentes em nossa sociedade.

1
A educação escolar em um cenário de globalização e
exclusão social

Quando pensamos na educação escolar na sociedade contemporânea, é necessário que levemos em conta
uma série de fatores responsáveis por transformações em diversos aspectos de nossas vidas e que estão
ligados ao universo educacional, entre esses fatores podemos destacar: os processos globalizantes da
economia e da cultura; as desigualdades sociais presentes no Brasil, excluindo grande parte da população de
bens básicos, entre eles uma educação pública e de qualidade; as políticas públicas educacionais realizadas
em âmbito federal, estadual e municipal, com propostas de inclusão e tentativas de proporcionar acesso de
crianças, jovens e adultos à educação escolar. A seguir, vamos ver com maiores detalhes cada um desses
fatores.

1.1. Globalização e educação: um breve histórico

A globalização, enquanto fenômeno econômico, político e cultural não é uma característica exclusiva do
século XXI, pois se trata de um fenômeno que ocorre há séculos, pautada por comportamentos globais
favoráveis a interesses econômicos de países e regiões que exercem influência em todas as regiões globais.
Esse processo tem sua origem no período das Grandes Navegações, que teve seu apogeu entre os séculos XV
e XVI, em um período denominado por muitos historiadores(as) como Era Moderna, no qual muitos países
europeus se unificaram em Estados Nacionais e, com o fortalecimento da burguesia enquanto classe de
comerciantes, iniciaram um processo de busca e colonização de novas terras.

Nesse momento embrionário das conexões globais, países como Portugal, Espanha, Inglaterra, França e
Holanda disputavam regiões da América, da África e da Ásia e as trocas comerciais e culturais entre as
diversas regiões do Planeta se intensificaram. As colonizações ocorriam de forma extremamente violentas,
pautadas pelo trabalho escravo e pela exploração de colônias do além-mar, em busca de riquezas naturais e,
principalmente, metais preciosos. No caso do Brasil, região já habitada por milhões de indígenas, a chegada
de europeus, predominantemente portugueses e de milhões de africanos(as) trazidos(as) de diversas regiões
da África, com culturas distintas, temos essa como formação inicial de nossa população a partir dessas
primeiras fusões culturais advindas das conexões globais impulsionadas por questões econômicas.
O "Theatrum Orbis Terrarum" ("Teatro do Globo Terrestre") de Abraão Ortélio, publicado em 1570 em Antuérpia, considerado o
primeiro atlas moderno, resultado das intensas explorações marítimas.
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Era_dos_Descobrimentos#/media/Ficheiro:OrteliusWorldMap1570.jpg)

É interessante destacar que já nesses primeiros momentos de conexões entre América, Europa, África e Ásia,
percebe-se relações entre o viés econômico e a educação de crianças e jovens, pois no mundo europeu
ocidental verificou-se o surgimento de escolas leigas, voltadas para o ensino de aptidões que atenderiam à
prática comercial, como cálculos de juros, pesos e medidas, entre outros, além do ensino na corporações de
ofício, locais onde os jovens eram aprendizes de mestres que lhes ensinavam uma profissão.

Contudo, conforme destacado por Eric Hobsbawm (2007), ao compara a hegemonia dos EUA com as
conexões globais do século XV “Não se deve confundir o alcance global, que se tornou possível desde 1492,
com a dominação global” (p. 153). Com o passar dos séculos, os processos de relações globais e presença
de interesses das grandes potências e dos grandes conglomerados corporativos passaram a exercer grande
influência no âmbito educacional, o desenvolvimento do capitalismo industrial no século XVIII e as alterações
nas relações de produção, trabalho e oferta de produtos, a globalização passou por um segundo momento, de
bastante intensidade da atividade fabril, principalmente a partir do século XIX, se expandindo por diversas
regiões do mundo no século XX. O trabalho na fábrica passou a exigir mão de obra especializada, o ensino
técnico-industrial ganhou notoriedade e o pensamento positivista, marcado pela ciência e pela ideia de
progresso foi fundamental para a criação de modelos tradicionais de ensino, por exemplo aquele desenvolvido
pelo filósofo e pedagogo Johann Friedrich Herbart.

Na primeira metade do século XX, o Brasil passou por intenso processo de industrialização, principalmente
após o início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), pois os países europeus que exportavam seus produtos
industrializados para o nosso país voltaram suas produções totalmente para o conflito bélico. Nesse período,
o processo de industrialização substitutiva de importação ganha força e se intensifica a partir das décadas
seguintes dando origem a um modelo educacional cada vez mais pautado pelo ensino técnico. No ano de 1946
foi criado o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), no mesmo ano foi fundado o Serviço Social
da Indústria (SESI), instituições voltadas à formação de trabalhadores(as) para atuarem na indústria, a partir
da década de 1950, destacadamente a indústria automobilística.

Nesse período do século XX, entre os anos de 1940 e 1960, a globalização passou a exercer maior influência
cultural no Brasil, o advento do cinema, do rádio e da televisão, proporcionava a entrada da cultura de países
desenvolvidos, principalmente dos EUA, nas casas dos cidadãos médios brasileiros. As maneiras de se
comportar dos jovens passaram por transformações e surgia uma cultura voltada para esse público e as
discussões sobre as mudanças de comportamento e questionamentos de padrões tradicionais também se
verificava no âmbito da educação básica, pois entre os anos de 1948 e 1961 ocorreu a discussão e votação
da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação no Brasil. O período foi marcado por intensos debates entre
defensores da Pedagogia Renovada, representados pelos Pioneiros da Educação que haviam feito seu
Manifesto em 1932 e seus seguidores e os defensores da educação tradicional, destacadamente educadores
membros da Igreja Católica.

A Reforma na LDB sancionada no ano de 1971 estava alinhada aos processos econômicos característicos do
capitalismo industrial consolidado no país e aos interesses da indústria estrangeira que criava fábricas no
país, principalmente metalúrgicas e do setor automobilístico. Essa reforma previa a obrigatoriedade do ensino
técnico em todo do Ensino Médio, com o intuito de formar mão de obra para o setor industrial, contudo, as
instituições particulares de ensino não davam esse tipo de formação aos seus alunos, preparando-os para
exercer outras funções no mercado de trabalho e para os vestibulares mais concorridos. Verifica-se assim,
uma dualidade na educação básica: uma voltada para atender aos interesses fabris e de produção em larga
escala e outra para a formação de elites econômicas.

Na década de 1980 teve início um momento crucial para a globalização, com o enfraquecimento e a queda da
URSS, após a Guerra Fria, o capitalismo passou a exercer hegemonia no Globo, o Fundo Monetário
Internacional (FMI) e o Banco Mundial exerceram grande poder e influência, principalmente em países em
desenvolvimentos, como é o caso do Brasil. Com o avanço do Neoliberalismo, o processo de privatizações e
concessões ganhou impulso, aumento a desigualdade entre países ricos e países pobres, contudo, muitas
mudanças ocorreram no âmbito educacional com o intuito de democratizar o acesso ao ensino.
Trazendo nossa reflexão para as relações entre o omento atual do capitalismo global e a educação,
percebemos que as novas formas de relação estão formando novos mercados, novas possibilidades.
Realizando críticas às novas perspectivas educacionais alinhadas a questões mercadológicas, essa questão,
Libâneo; Oliveira e Toschi (2012) afirmam:

Na ótica economicista e mercadológica, presente na atual restruturação produtiva do


capitalismo, o desafio essencial da educação consiste na capacitação da mão de obra
e na requalificação dos trabalhadores, para satisfazer as exigências do sistema
produtivo e formar o consumidor exigente e sofisticado para um mercado diversificado,
sofisticado e competitivo. Trata-se, portanto, de preparar trabalhadores/consumidores
para os novos estilos de consumo e de vida moderna (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI,
2012, p. 126).

Esse modelo educacional acaba por reforçar nas escolas o espírito de competição e classificação, espaço
onde as disputas por notas e pela promoção acabam por ditar o tom dos processos avaliativos, caracterizados
por critérios somativos e quantitativos, formando mais consumidores do que pessoas solidárias.

Quando pensamos no avanço das instituições particulares na educação, o processo de privatização no Brasil
é mais intenso no ensino superior, fator que foi impulsionado por programas do Governo Federal, como o
Financiamento Estudantil (Fies) e o Programa Universidade para Todos (Prouni). De acordo com o último
Censo, as matrículas na rede privada em cursos superiores aumentaram em 87% entre 2009 e 2019, chegando
a 75,8% das matrículas no Brasil, contra 24,2% de alunos(as) matriculados nas instituições públicas de ensino
superior. Quando olhamos para a educação básica, que inclui a educação infantil, o ensino fundamental e o
ensino médio, os números mostram outra realidade. De acordo com dados da Agência Brasil, no ano de 2021,
foram registradas 46,7 milhões de matrículas na educação básica no Brasil, com queda de 627 mil em relação
ao ano anterior e apresentando a seguinte distribuição: a rede municipal possui 46,9% dos alunos
matriculados; a rede estadual 32,2%; a rede privada 17,4% e a rede federal 0,8%. Nota-se uma considerável
maioria de matrículas nas instituições públicas de ensino, mesmo que em muitos casos, principalmente na
educação infantil, ocorram convênio e parcerias com instituições não governamentais e sem fins lucrativos
(MEC, 2019).

Ao pensarmos no contexto global, percebemos grandes tensões causadas por diversas formas de
desigualdades, crises no capitalismo, relações fluídas e conflitos que ganham as páginas de noticiários e se
tornam discussões nas redes sociais. Esses momentos de incertezas foram intensificados pela epidemia
causada pelo Covid-19, trazendo carestia para a população, com a desvalorização do salário frente o aumento
do custo de vida. Nesse contexto, a educação escolar, que já vinha experimentando um processo de inserção
no universo tecnológico digital passou a depender de forma quase integral de tecnologias diversas, contudo,
vivemos em um país que ainda apresenta altos índices de desigualdade social e grande parte das famílias não
teve condições de manter os estudos domiciliares para suas crianças. Esse contexto de exclusão digital é
verificado principalmente e locais com população de baixa renda, nas periferias das grandes cidades, ou em
regiões mais distantes dos grandes centros urbanos.

Participação global da riqueza por grupo de riqueza, Credit Suisse, 2021


(https://pt.wikipedia.org/wiki/Globaliza%C3%A7%C3%A3o#/media/Ficheiro:Desigualdade_Econ%C3%B4mica_Global_2
021_(Propriedade).svg)

Os gráficos acima mostram o enorme nível de desigualdade na distribuição de riquezas no mundo, onde 1%
de pessoas milionárias possuem 46% da riqueza global e as classes mais numerosas, média e baixa, ficam
com o restante das riquezas, mesmo sendo produtores(as) dos bens de consumo e prestadores(as) dos mais
diversos tipos de serviço para a sociedade. A desigualdade econômica também se reflete em diversas outras
desigualdades, inclusive as regiões mais pobres apresentam maiores índices de violência e menores índices
de Desenvolvimento Humano (IDH).
SAIBA MAIS

Você sabe o que é o Índice de Desenvolvimento Humano? Sabe como esse índice é medido e qual a sua
importância para os países? Quais são as características do IDH do Brasil? Para saber essas e outras
questões acesse o site do Programa das Nações unidas para o Desenvolvimento (PNUD – Brasil), disponível
no link: https://www.br.undp.org/content/brazil/pt/home/idh0.html

Outra questão bastante importante para pensarmos a educação em contexto global atualmente se trata das
crianças e adolescentes refugiadas, ou imigrantes, que, com suas famílias migram para outras regiões do
mundo em busca de melhores condições de vida, muitas vezes fugindo de situações extremas, como: guerras,
catástrofes naturais, miséria ou falta de acesso a condições básica para viverem. Se acordo com o a Agência
da ONU para refugiados, (ACNUR) existem atualmente 82,4 milhões de refugiados no mundo, sendo metade
delas crianças, das quais 68% acessam o nível primário e apenas 34% possuem acesso ao nível secundário.

O mapa acima, publicado pela ACNUR e pela Caritas Arquidiocesana de São Paulo (CASP), mostra de quais
regiões do mundo advêm os imigrantes para a cidade de São Paulo, o centro que mais atrai imigrantes e
refugiados do Brasil. É Importante destacar que a situação de uma pessoa refugiada é extrema, ao passo que
outros imigrantes são oriundos de locais não calamitosos, mas também buscam se estabelecer em outros
países.

Em relatório publicado no ano de 2016, a ACNUR constatou que 3,5 milhões de crianças refugiadas não
frequentavam a escola, sendo que naquele ano 61% das crianças refugiadas estavam matriculadas em
escolas, contra uma média global de 91% de crianças de crianças em idade escolar que frequentavam escolas.
No que diz respeito aos adolescentes, a situação de mostrou ainda mais complicada, pois o relatório apontou
que se a média global de adolescentes que frequentavam a escola era de 84%, esse número caía para 23%
entre os adolescentes e para 1% de refugiados(as) que frequentavam a educação superior.

Dessa forma, é importante que, nesse momento pós-pandêmico, olhemos para as tecnologias da informação
e do conhecimento como formas de inclusão, para que de fato tenhamos um ensino universal, público e de
qualidade. Precisamos compreender o valor social da escola, sua importância junto à comunidade, na
formação de pessoas que vão agir de forma crítica, certificando-se de que são agentes transformadores da
sociedade. Para tanto, é importante que existam políticas elaboradas e executadas pelo poder público junto à
sociedade, com a participação dos indivíduos e grupos que possam contribuir para a construção de medidas
a partir de trocas de experiências e busca de soluções para problemas há tanto tempo arraigados em nossa
sociedade.

2- Políticas educacionais na atualidade


No âmbito educacional, o final do século XX e as primeiras décadas do século XXI têm trazido bastantes
propostas inclusivas, o que podemos perceber em vários documentos oficiais que permeiam nossas práticas
educacionais e servem de parâmetros para a organização dos sistemas de ensino existentes no país, que, por
sua vez, estão alinhados a organismos internacionais que buscam reduzir as desigualdades sociais por meio
de educação uma inclusiva com viés democrático, pautado pelo exercício da cidadania e pela Declaração
Universal dos Direitos Humanos, de 1948. Encabeçadas por órgãos como a ONU, grandes encontros mundiais,
como por exemplo o Fórum Mundial de Educação e a marcante Declaração de Salamanca, de 1994, essas
transformações influenciam diversas políticas em países desenvolvidos e em desenvolvimento,
estabelecendo metas que devem ser alcançadas em determinados períodos, principalmente no que diz
respeito à alfabetização e à inclusão social.

2.1- Legislação e políticas educacionais no Brasil


Contemporâneo
Na Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, o documento que deve reger as práticas de todos
os cidadãos e instituições do Brasil, a educação se torna tema a partir do Artigo 205, presente no Capítulo III:
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada
com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e
privadas de ensino;
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de
carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas;
VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
VII - garantia de padrão de qualidade.
VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos
termos de lei federal.
IX - garantia do direito à educação e à aprendizagem ao longo da vida.
Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de trabalhadores considerados profissionais da
educação básica e sobre a fixação de prazo para a elaboração ou adequação de seus planos de carreira,
no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

Esses princípios para a educação verificados na Constituição da República (1988) mostram uma visão
bastante democratizadora, com propostas de inclusão e permanências de todas as pessoas em instituições
regulares de ensino, devendo esse ser gratuito e oferecido ao longo da vida. À época da elaboração desse
importante documento, o Brasil vivia um momento de transição entre o período militar (1964-1984) e estava
se redemocratizando, muitas medidas foram previstas para diminuir a pobreza, o analfabetismo e outras
formas de desigualdades que possuíam (algumas ainda possuem) índices alarmantes no país, como a
violência e a corrupção.

Em consonância com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a “Constituição Cidadã”, como foi
chamada reforça os princípios de organização da administração pública da educação pelos diferentes
sistemas de ensino: União, Estados, Distrito Federal e Municípios. No Art. 211 o Documento destaca:

Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de


colaboração seus sistemas de ensino
§ 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios, financiará as instituições
de ensino públicas federais e exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e
supletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de
qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal
e aos Municípios;
§ 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil.
§ 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e médio.

Esses artigos da Constituição do Brasil são importantes para compreendermos as maneiras de organização
dos sistemas de ensino e suas atribuições, além de pensarmos nas formas como esses diferentes Poderes
de articulam e as formas como essa gestão influenciam a educação em nosso país. Dois anos após a
Constituição entrar e vigor, foi publicado o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), disposto pela Lei Nº
8.069, de 1990, outro importante instrumento que garante o acesso e a permanência de todas as crianças e
adolescentes do Brasil na escola, como um direito. Em seu Art. 4º a Lei diz:
É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com
absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária (ECA, 1990).

Contudo, não é a realidade de que se observa no Brasil como um todo, onde são observados altos índices de
analfabetismo entre pessoas a partir dos 15 anos de idade. Observe o mapa a seguir, produzido pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE):

https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/18317-educacao.html

Ao fazermos a leitura do mapa, percebemos que existe uma desigualdade nos índices de analfabetismo entre
as regiões brasileiras, sendo que a região Norte, com 7,6% e a região Nordeste, com 13,9% estão acima da
média nacional de analfabetismo de adolescentes e adultos, que é de 6,6%, ou seja, 11,3 milhões de pessoas.
Obviamente, uma pessoa que chega à idade adulta ainda analfabeta foi uma criança e um adolescente na
mesma condição, o que mostra a necessidade de implementação de políticas públicas voltadas para a
alfabetização de sujeitos de todas as idades, como uma forma de inclusão social, inclusive no mundo do
trabalho.
No Basil, existem diversas políticas públicas voltadas para a inclusão social e escolar e a diminuição das taxas
de analfabetismo e a principal referência com as metas a serem alcançadas é o Plano Nacional de Educação
(PNE), instituído pela Lei Nº 13.005/2014, que, por se tratar de uma proposta decenal, irá vigorar até o ano de
2024, quando outras metas serão estabelecidas para a educação no país. Entre as 20 Metas do PNE que vigora
atualmente, destacamos:

META 1 Universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola para as crianças de 4 (quatro)
a 5 (cinco) anos de idade e ampliar a oferta de educação infantil em creches de forma a atender,
no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das crianças de até 3 (três) anos até o final da vigência
deste PNE.

META 2 Universalizar o ensino fundamental de 9 (nove) anos para toda a população de 6 (seis)
a 14 (quatorze) anos e garantir que pelo menos 95% (noventa e cinco por cento) dos alunos
concluam essa etapa na idade recomendada, até o último ano de vigência deste PNE.

META 3 Universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 (quinze) a
17 (dezessete) anos e elevar, até o final do período de vigência deste PNE, a taxa líquida de
matrículas no ensino médio para 85% (oitenta e cinco por cento)

META 5 Alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o final do 3º (terceiro) ano do ensino
fundamental.

META 8 Elevar a escolaridade média da população de 18 (dezoito) a 29 (vinte e nove) anos, de


modo a alcançar, no mínimo, 12 (doze) anos de estudo no último ano de vigência deste Plano,
para as populações do campo, da região de menor escolaridade no País e dos 25% (vinte e cinco
por cento) mais pobres, e igualar a escolaridade média entre negros e não negros declarados à
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.

META 9 Elevar a taxa de alfabetização da população com 15 (quinze) anos ou mais para 93,5%
(noventa e três inteiros e cinco décimos por cento) até 2015 e, até o final da vigência deste PNE,
erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% (cinquenta por cento) a taxa de
analfabetismo funcional. (PNE, 2014).

Quando analisamos as Metas destacadas, percebemos que será muito difícil, ou não se cumpriram no prazo
estipulado, algumas delas, principalmente no que diz respeito aos índices de alfabetização e analfabetismo,
tanto entre as crianças, quanto entre jovens e adultos. Para que busque cumprir duas Metas, o PNE está
alinhado à Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Nº 9.394/1996 e aos demais documentos que
estabelecem critérios para a educação no país. No que diz respeito à LDB.

Desde sua publicação, em 1996, a LDB tem passado por diversas mudanças, destacadamente voltadas à
inclusão na educação, com propostas para sanar a exclusão, a evasão, o analfabetismo e garantir a qualidade
do ensino no país. Alinhada à Constituição Federal, a LDB é bem mais específica, abordando a carreira docente,
os sistemas de ensino (Federal, Estadual, Distrito Federal e Municípios), as formas de gestão escolar das
escolas públicas, nesse sentido orientando para formas de gestão democrática e participativa. Entre seus
princípios, destacamos:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;


VII - valorização do profissional da educação escolar;

VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos
sistemas de ensino;

IX - garantia de padrão de qualidade;

XII - consideração com a diversidade étnico-racial.

XIV - respeito à diversidade humana, linguística, cultural e identitária das pessoas


surdas, surdo-cegas e com deficiência auditiva. (Brasil, LDB/1996).

É fundamental destacar as propostas de respeito e tolerância às mais diversas culturas que existem no Brasil,
pois a Lei possui abrangência nacional e vivemos em um país pluricultural, sendo que os sistemas de ensino
possuem autonomia para proporem a organização de suas escolas e escreverem seus currículos. Destaca-se
a autonomia que as comunidades tradicionais indígenas, quilombolas e outras, possuem autonomia para
escreverem seus currículos, que envolvem suas práticas ancestrais e conhecimentos da escola regular, desde
que tenham como referência a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), também prevista na LDB e que serve
como parâmetro para que as localidades, estados e municípios escrevam seus currículos específicos.

O tema da inclusão possui relevância em diversos documentos, principalmente após a Declaração de


Salamanca, de 1994, uma resolução das Nações Unidas que aborda a inclusão e permanência de crianças
deficientes nas escolas de ensino básico. A LDB e o PNE são documentos bastante enfáticos a esse respeito.
Tomemos como exemplos a Meta 4 do PNE e o Inciso III do Art. 4 na LDB.

META 4 Universalizar, para a população de 4 (quatro) a 17 (dezessete) anos com


deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação, o acesso à educação básica e ao atendimento educacional
especializado, preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de sistema
educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou
serviços especializados, públicos ou conveniados (PNE/2014)

Do Direito à Educação e do Dever de Educar


III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação,
transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, preferencialmente na rede regular
de ensino; (LDB/1996).

Contudo, sabemos que a inclusão escolar não ocorre da maneira que está prevista nos documentos
oficiais, mesmo que existam esforços de muitos(as) profissionais e instituições nesse sentido. É importante
que existam políticas públicas, documentos oficiais e a Lei para amparar a democratização na educação, com
a garantia de respeito às diversidades culturais e comportamentais.
Conclusão

Perceber as transformações ocorridas na sociedade e no âmbito educacional nas últimas décadas é


fundamental para compreendermos o papel da escola e dos(as) profissionais da educação nesse contexto,
permeado por novos tipos de relações, pautadas pelo universo virtual e formas de comunicação que há pouco
tempo eram vistas apenas em filmes de ficção. O acesso às informações e a inúmeros produtos ocorre em
âmbito global de forma tão rápida que o conhecimento acerca dos fatos é praticamente instantâneo em
qualquer parte do mundo.

Contudo, as diversas crises que o mundo passa, como: epidemias, miséria, guerras, desigualdades, marcam
esse momento em que, ao mesmo tempo se verifica um avanço exorbitante na ciência e na tecnologia,
também não temos perspectivas de garantir as condições básicas de sobrevivência para milhões de pessoas
ao redor do mundo.

Termos conhecimento acerca de nossos compromissos enquanto indivíduos e enquanto sociedade é o


primeiro passo para entendermos que para a redução da violência e das diversas formas de exclusão, devemos
olhar para o próximo com respeito e entender que todos somos sujeitos formadores e formados pela nossa
cultura coletiva. Daí a importância de estudarmos as culturas que contribuem constantemente para a
formação do nosso povo e perceber a escola como espaço de transformação e de educação de sujeitos ativos
e com consciência de uma ética global.

Referências

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especificos/educacao/. Acesso em: 01/04/2022.

___________. Disponível em: https://www.educacaopararefugiados.com.br/. Acesso em: 01/0/2022.

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http://portal.mec.gov.br/component/tags/tag/censo-escolar-2019. Acesso em: 01/0/2022.

__________. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mapa – Taxa de analfabetismo entre pessoas
de 15 anos ou mais. Disponível em: https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/18317-
educacao.html. Acesso em: 01/0/2022.
__________. Plano Nacional de Educação (PNE) – Lei Nº 13.005/2014. Disponível em:
https://pne.mec.gov.br/18-planos-subnacionais-de-educacao/543-plano-nacional-de-educacao-lei-n-13-005-
2014. Acesso em: 01/04/2022.

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Acesso em: 01/04/2022.

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