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HISTÓRICO DA DUALIDADE ENTRE TRABALHO MANUAL E

INTELECTUAL

Leusiane Maria Batista Bastos

RESUMO: Partindo da perspectiva de Caires e Oliveira (2016), minha reflexão se dá a


partir da análise do que considero marcos temporais importantes para a EPT no Brasil,
com ênfase na dualidade existente na relação profissional/intelectual. Uma vez que a
educação profissional gira em torno da preparação de mão de obra para o mercado de
trabalho é importante refletir sobre isso, e nesse contexto, necessário se faz, abordar por
uma linha temporal como se deu ensino profissionalizante no Brasil. Em especial sobra
a dualidade entre trabalho manual e intelectual.

Palavras Chave: EPT; Dualidade manual e intelectual; Ensino profissionalizante


Marcos do EPT;

DUALIDADE ENTRE TRABALHO MANUAL E INTELECTUAL

Segundo Caires e Oliveira (2016, p. 29) “no período colonial, a vinda de D. João
VI, com a família real para o Brasil foi um marco histórico para promoção de
mudanças, politicas, sócias, econômicas, culturais e educacionais que vieram a ocorrer
após o ano de 1808”.
No Brasil do período colonial, os processos educativos em instituições já nos
formatos escolares eram direcionados apenas aos homens livres, ou seja, aos dirigentes
e á população livre que estivesse suprindo as necessidades da Coroa. No que diz
respeito à relação trabalho-educação, acontecia em tal período, apenas uma formação
para o trabalho não sistematizada e um ensino de ofícios (GALINDO, 2013)
Ainda de acordo com Gallindo (2013) é apenas a partir da independência
política do Brasil, com a Constituição de 1824, que se inicia o processo de
obrigatoriedade pelo poder político, com objetivos, menos proclamados, sobre o
cuidado, e promoção do homem brasileiro pela educação em uma abordagem
relativamente autônoma.
Outras inciativas no sentido de uma educação profissional formal ocorreram,
ainda, no período da passagem entre colônia e império, explicitamente direcionados á
população pobre que se submetia á atividades braçais.

Do período imperial até a república observa-se que, se, por um lado a


educação popular dentro de um sistema de formação educativo, mais
abrangente na tinha sido prioridade ou sequer uma das pautas principais para
os dirigentes da sociedade brasileira, por outro lado, a própria demanda social
influenciou tais processos. Todavia o novo formato econômico que o
capitalismo impunha, demandava a inserção das outras camadas da
sociedade, não apenas a elite, dentro de um processo educativo que atendesse
as exigências do capital. Dessa forma o estado brasileiro mais cedo ou mais
tarde, teria que tomar posição sobre as questões de educação para se adaptar a
essa nova realidade (GALINDO, 2013, p. 48).

Desde o período colônia, império, principalmente em face da escravidão, houve


por assim dizer certos preconceitos em relação ás atividades manuais, ou trabalho mais
dispendioso, ou de maneira simples: trabalho duro. Sendo este trabalho relacionado a
um grupo social menos favorecido e os trabalhos intelectuais, são relacionados, a
grupos sociais mais abastados.
E, nesse contexto de profissionalização, um dos principais desafios vem de como
se superar essa dualidade de trabalho manual relacionado a determinado grupo menos
favorecido, o que diminuiria a diferença social entre estes.
A partir de um recorte histórico, no período republicano brasileiro, passam a
existir as principais ações de fato direcionadas ao ensino profissionalizante. Onde a
primeira grande ação de governo pra tentar regulamentar isso, são as escolas de
aprendizes e artífices criadas em 1909.
Estas escolas se propunham a ensinar o ofício aos estudantes, mas detinham
caráter assistencialista e moral, do que especificamente um caráter profissionalizante.
Era um caráter de manutenção á ordem. Uma vez que esta ação preocupa-se com os
grupos sociais menos favorecidos, onde a dualidade mencionada anteriormente acaba
sendo mantida.
A partir da Era Vargas, inicia-se uma mudança de fato, Getúlio Vargas detinha
um perfil desenvolvimentista, e seu governo parte da ideia que para que haja um
desenvolvimento, a partir de indústrias é necessária mão de obra qualificada.
Na era Vargas, ocorreu à criação do ministério da educação e saúde publica
ministério este, que foi criado com objetivos educacionais, dentre eles, desenvolver
ideias sobre o ensino profissionalizante. A partir de seu governo, a educação
profissional passa a ser dever do Estado. Em outras palavras, o estado deve nesse
momento ou a partir desse momento, proporcionar condições para que os estudantes
tivessem uma formação profissional. A partir dessa proposta, as antigas escolas de
ofícios e artífices, passam a ser os liceus industriais, o que já mostra claramente outra
perspectiva do governo Vargas.
Em meados da década de 40, importa mencionar a Reforma Capanema, a qual
recebeu esse nome, face a um importante ministro do governo Vargas, que teve uma
série de proposições que mudariam a historia do ensino profissionalizante no Brasil. A
partir das ideias de Capanema, os liceus se transformaram em escolas industriais e
técnicas modernizando e com vocação muito mais ligada á essa questão industrial, e de
formação de fato, de estudantes, para desempenho como mão de obra industrial, fugindo
praticamente do modelo assistencialista que existia ate a década de 30.
Fator importante, também foi a criação do sistema S de ensino que vai como
uma parceria entre público e privado, de onde advém SENAI, SENAC, etc.
Já no período da ditadura militar, (1964/1985) o foco do Estado era um modelo
totalmente tecnicista, onde o que interessa é única e exclusivamente “saber fazer”. O
ensino profissionalizante se torna extremamente tecnicista, a fim de que os alunos
aprendessem um determinado oficio, e só. Ainda nesse período ocorre o modelo de
profissionalização compulsória, ou seja, os estudantes das escolas teriam
obrigatoriamente que fazer um curso profissionalizante.
Por fim, cabe mencionar um marco não menos importante que é a nova
república. A partir de 1985. A Constituição Federal de 1988 vislumbra uma perspectiva
diferente para o ensino profissionalizante, entretanto, ainda se mantem um modelo
dualista de ensino.
A mudança no tratamento do ensino profissionalizante decorre em especial a
partir do ano de 2008, por meio da criação dos institutos federais, que existem a partir
da junção de antigas escoas técnicas, se formam os institutos federais;
Os institutos federais buscam modificar a forma como o ensino
profissionalizante acontecia no Brasil, em especial, tentando superar a perspectiva da
dualidade, adotando o conceito de politecnia.
Busquei outros autores a fim de complementar o entendimento e compreensão
da relação entre Trabalho e EPT no Brasil, e com base nisso, importa mencionar Saviani
(2007) ao qual entende que face fazer do trabalho um princípio pedagógico é ver o
trabalho como mais do que vender trabalho, meios de subsistência ou necessidades
econômicas. O mesmo deve ser reconhecido como a produção do homem, o meio pelo
qual o homem produz seu ser. Porque os seres humanos são seres ativos. Este é um
processo educacional.
Diante dessas reflexões, e com base nos histórico aqui analisado, o papel da
educação profissional atualmente passou a significar não preparar a força de trabalho
para o mercado de trabalho, mas preparar as pessoas para trabalhar em um mundo
produtivo, paradoxal e diverso e, acima de tudo, proporcionar uma mudança constante –
a formação. Para o desenvolvimento da consciência crítica.

REFERÊNCIAS

CAIRES, Vanessa Guerra; OLIVEIRA, Maria Auxiliadora Monteiro. EDUCAÇÃO


PROFISSIONAL BRASILEIRA: Da Colônia ao PNE 2014 - 2024. Petrópolis (RJ):
Vozes, 2016. p. 25-42.

GALLINDO, Jussara. Formação para o trabalho e profissionalização no Brasil. Da


assistência à educação formal. In: BATISTA, E. L.; MULLER, M. T. A educação
profissional no Brasil. História, desafios e perspectivas para o século XXI. Campinas:
Alínea, 2013.

HISTÓRICO DA EPT. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/educacao-profissional-


e-tecnologica-ept/historico-da-ept. Acesso em : 30 jul. 2023

SAVIANI, Dermeval. Trabalho e Educação: Fundamentos ontológicos e históricos.


Revista Brasileira de Educação, Campinas, v.12, n.32, p. 52-180, 2007.

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