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CAMPUS CATU
Período: 2022.2
Disciplina: Políticas Públicas em Educação Profissional e Tecnológica
Professor: Dr. Octavio Cavalari Junior
Unidade: 3 – História e trajetória da Educação Profissional no Brasil e os desafios da
política pública
Atividade: Resenha Crítica – capítulos 1 e 2 da obra "História e política da educação
profissional" de Marise Ramos
Catu-BA
Novembro de 2022
RAMOS, Marise Nogueira. História e política da educação profissional. Curitiba:
Instituto Federal do Paraná, 2014. 121 p. Capítulos I e II (pp. 13-65) ISBN 978-85-
8299-031-5. Dados eletrônicos (1 arquivo: 585 kilobytes).
Resenha Crítica
Carlito José de Barros Filho1
1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica – ProfEPT. Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano – Campus Catu.
do texto se trata de professores do Ensino Profissional de Nível Médio, sem formação
pedagógica específica de cursos de licenciatura.
A obra em si é quinto volume da Coleção de Formação Pedagógica do IFPR,
que conta com dez volumes, e foca na história e política da educação profissional no
Brasil. A obra completa, assim como os demais volumes, pode ser encontrada no site
do IFPR Campus Curitiba (url: https://curitiba.ifpr.edu.br/servicos/biblioteca/colecao-
formacao-pedagogica/).
Dedicarei minha análise aos dois primeiros capítulos que se estendem até a
página 65 deste livro, apresentado em formato eletrônico, que conta com 121 páginas.
Portanto, ocupa mais de 50% do espaço dedicado aos cinco capítulos que o
compõem. Consagrarei a eles o proporcional cuidado que a autora cultivou na
estruturação do todo da obra.
Tais capítulos, já adianto, são fundamentais para compreensão da educação
profissional no contexto brasileiro e sua atual configuração.
A compreensão desses fatos, com suas determinações e mediações, irão nos
permitir a compreender o conteúdo do que veio a ser a política de educação
profissional no Brasil no período de hegemonia neoliberal.
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A partir destas referências, considera que a modernização tecnológica nacional
tem origem internacional e se define como uma modernização do arcaico e se deu
alternadamente por estratégias de desenvolvimento nacional (1930-45, 1951-54,
1961-64) e de desenvolvimento dependente (1946-50, 1955-60 e desde 1964).
Esse tenso equilíbrio foi rompido e deslocado em favor do capital estrangeiro
no governo de JK. Apesar de contratendências no curto período do governo
João Goulart, a associação ao capital estrangeiro se consolidou a partir da
ditadura civil-militar.
Em seguida, traça uma trajetória que passa pelas Reforma Francisco Campos
e Reforma Capanema para em seguida discorrer sobre a primeira Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Brasileira, cujo debate, apesar de iniciado em 1946 só se conclui
no Governo JK, 1961.
Os anos que se seguem do início da era JK até o golpe militar de 1964 é
caracterizado por uma diversidade de concepções societárias, sendo substituído pelo
tecnicismo autoritário dos anos de ditadura militar. Neste novo período a formação da
classe trabalhadora era vista como aspecto meramente estratégica para o país.
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Nesse contexto, o ponto de maior impacto no ensino secundário foi a reforma
de 1971, quando se instituiu a Lei n 5.692, que, de certa forma, orientou a
concepção de educação básica e profissional por mais de duas décadas.
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subordinação ao capital internacional, “em um processo em que seus representantes
figuram como apoio, mas se constituem, mediante uma aliança com a burguesia local”.
Nos anos de 1990, o neoliberalismo torna-se hegemônico também no Brasil.
Como demonstra Paulani (2006, p. 76), este constitui o discurso mais
congruente com a etapa capitalista que se inicia a partir dos anos de 1970,
de financeirização do capital.
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2.208/97, no qual prevaleceu a visão do Banco Mundial sobre como deveria ser
encarada a educação dos países em desenvolvimento.
Em meio a esses desdobramentos desfavoráveis, também houve avanços e
conquistas. A educação profissional foi incorporada “como processo educacional
específico” pela Nova LDB, O Programa de Expansão da Educação Profissional
PROEP foi implementado como importante estratégia da reforma, conferindo, dentre
outros avanços, autonomia de gestão financeira aos centros de formação profissional
e muitas mudanças curriculares promovidas favoreceram o estabelecimento de
competências específicas para o trabalho.
Este capítulo segue discorrendo sobre as bases das reformas educacionais
realizadas no Brasil nos anos de 1990, desde o governo Collor até Fernando Henrique
Cardoso.
Governo Collor procurou atribuir novos contornos ao Estado, de modo que
este fosse promotor, articulador e mobilizador nacional do suposto processo
de modernização do país no que se refere à construção de infraestrutura
básica para tal.
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técnicos concomitantes ou sequenciais a esses”. Grande quantidade de recursos são
investidos no Sistema “S”.
Ao sintetizar a reforma do ensino médio no Brasil, promovida em decorrência
da implementação da Nova LDB, a autora conclui que houve mudanças de ordem
estrutural e conceitual. Essas alterações atenderam aos interesses e às diretrizes dos
organismos internacionais de orientação dos países hegemônicos como o BID, “tendo
como espinha dorsal a separação entre ensino médio e educação profissional”, desde
como eram efetivadas as matrículas até a forma como eram organizadas as
instituições educacionais, “configurando-se escolas próprias para cada uma das
modalidades”.
A leitura do texto, corrobora com a expectativa pelo seu caráter didático e pela
abordagem competente e sintética da autora. Fornece elementos necessários à
compreensão, tanto da formação do nosso pensamento sobre e para a educação
profissional, quanto da estruturação institucional da rede federal de educação
profissional, relacionando todo este processo aos interesses envolvidos.
No entanto, não é o suficiente nesta obra, mais ainda em dois capítulos
introdutórios, produzidos para fins didáticos, se dá conta da riqueza e relevância do
trabalho, pensamento e estilo de Marise Ramos.
Mesmo assim, cabe uma reflexão, ainda que pouco explorada no texto, de que
não basta, para compreensão da formação capitalista brasileira, a ideia de Trabalho
“livre”, (remunerado) e desenvolvimento industrial, seja estes elementos tratados da
ótica da estratégia nacionalista ou dependente. Não é suficiente para entender o
nosso ocaso socioeconômico reduzindo-o a uma renúncia de protagonismo
revolucionário burguês em prol de velhas práticas.
O capitalismo moderno brasileiro pode ter se desenvolvido com a nossa
revolução industrial tardia dos anos de 1930, mas a seiva que o alimentou – e o
alimenta em sua forma financeira – sempre foi processada em profundas raízes
escravocratas. Para compreender a sociedade brasileira é preciso saber que a árvore
é uma só.