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Apresentação Oral em GT
Resumo: Discorrer sobre a integração entre os dois níveis de ensino superior, graduação e pós-
graduação, é assunto remoto nos meios educacionais. Pode-se dizer que desde a vinda da
família real portuguesa para o Brasil, no início do século XIX, estruturou-se um sistema de
ensino que tentou importar a princípios de uma organização educacional européia, e que aos
poucos condensou uma estrutura de organização que minou a integração entre estes níveis de
ensino. O presente relatório busca apresentar uma síntese das discussões realizadas pelos
autores (discentes do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas na Universidade Federal de Minas Gerais) sobre a temática da integração
entre a graduação e a pós-graduação no ensino superior brasileiro. Isso se dá a partir das
informações dispostas nos periódicos brasileiros, através de manuais, dados históricos ou
artigos. O objetivo principal deste relatório foi problematizar o tema da integração, que parece
surgir como premissa naturalizada no ensino superior, mas que em alguns casos não
corresponde com as propostas concretas dos programas de formação. O que se percebe na
prática é que nem sempre existem propostas que demonstrem como esta integração deve
acontecer e em alguns casos mesmo que haja a existência de propostas, não descrevem a
complexidade da tarefa de integrar estas duas áreas do ensino superior. Fazemos, portanto,
uma tentativa inicial de criticar este imperativo – a necessidade de integrar – a fim de
apontarmos caminhos possíveis frente a este verbo que surge como diretriz. Trata-se de um
estudo exploratório, onde coube a metodologia de revisão bibliográfica do tema, a saber, de
integração entre graduação e pós-graduação, como forma de sustentar e compreender a
dimensão da discussão que se coloca. Apresentamos o contexto histórico de surgimento da
graduação e da pós-graduação no Brasil, compreendendo que esta origem distinta dos dois
níveis do ensino superior, pode representar um importante elemento de análise para se pensar
a integração. Em seguida apontamos experiências de integração no Brasil, a partir de duas
subseções: a primeira apresenta dois programas nacionais que visavam a integração dos dois
níveis do ensino superior; a segunda apresenta a análise das propostas dos Programas de Pós-
Graduação em Psicologia de vinte e duas universidades brasileiras, realizada a partir das fichas
de avaliação trienal 2010 (ano base 2007-2009) da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES), sendo estas universidades selecionadas a partir das notas
concedidas pela avaliação do programa da CAPES (entre 5 e 7). Por fim é apresentado e
discutido o resultado da análise da proposta do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da
UFMG e do novo currículo da graduação em Psicologia desta mesma instituição. Além disso,
este último tópico faz algumas proposições sobre as possibilidades de incentivo a integração
entre graduação e pós-graduação em Psicologia.
Texto completo: 1. INTRODUÇÃO
Falar na integração entre os dois escopos do nível superior de ensino, graduação e pós-
graduação, é assunto antigo nos meios educacionais. Pode-se dizer que desde a vinda da
família real portuguesa para o Brasil, no início do século XIX, estruturou-se um sistema de
ensino que tentou importar princípios de uma organização educacional internacional (européia
ou americana) vigentes na época, e que aos poucos condensou uma estrutura que minou a
integração entre graduação e pós-graduação.
O objetivo principal deste trabalho foi problematizar o tema da integração entre graduação e
pós-graduação, que parece surgir como “premissas naturalizadas” no ensino superior
brasileiro, – fundamentada na definição de funções complementares e integradas para as duas
áreas de formação superior – mas que em alguns casos não corresponde com as propostas
concretas dos programas de formação.
Vários autores (CURY, 2004; YAMAMOTO, 2006, TOUTINHO e BASTOS, 2010), apontam a vinda
de Dom João VI e da família real de Portugal para o Brasil em janeiro de 1808, como marco
inicial da composição do ensino em nível de graduação no país. A chegada da família real
mobilizou a construção de cursos profissionalizantes principalmente nas cidades de Salvador e
no Rio de Janeiro, mas a construção das primeiras Universidades data da década de 20 e 30 do
século XX.
Yamamoto (2006) remonta as origens longínquas do ensino superior no Brasil aos Colégios
Jesuítas que aqui já existiam deste o século XVI, mas assinala que após a vinda da família real
portuguesa, o objetivo do ensino superior foi delimitado, e este passa a ser responsável por
formar os burocratas e profissionais liberais aqui atuantes. Ficava em destaque a função
principal destinada à graduação: o ensino.
Segundo Cury (2004) a pós-graduação no Brasil possui origem recente. A pesquisa científica
brasileira teve início, no começo do século XX, em institutos voltados para o conhecimento
aplicado, como é o caso de Manguinhos (Rio de Janeiro), Butantã (São Paulo), Agronômico
(Campinas-SP), entre outros. O autor aponta a complementaridade de ensino e pesquisa, mas
destaca que nesta época, o ensino seria tarefa preponderante na graduação, e a pesquisa, que
surgia como possibilidade de criação do novo, se configurava como atividade efervescente na
pós-graduação.
Cury (2004) destaca, ainda, que foi apenas a partir do ano de 1965 com o Parecer 977 do
Conselho Nacional de Educação (CFE), conhecido como Parecer Sucupira, que a pós-graduação
strictu-sensu, baseada nos moldes estadunidenses, foi implantada no país.
O parecer nasce de uma necessidade indicada pelo então ministro da Educação e Cultura no
governo Castelo Branco, Flávio Suplicy de Lacerda, da construção de um documento que
indicasse as diretrizes, e institucionalizasse a existência da pós-graduação no país. O parecer
tem como principais inspirações a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº
4.024/61) e situa a origem, as necessidades, os objetivos e as finalidades da pós-graduação,
utilizando como parâmetro o exemplo americano. Segundo o parecer os objetivos da pós-
graduação seriam “a formação tanto de um corpo docente preparado e competente quanto a
de pesquisadores de alto nível, e a qualificação profissional de outros quadros técnico-
administrativos necessários ao desenvolvimento nacional” (CURY, 2005, p. 11). Neste primeiro
esforço de sistematizar a pós-graduação no país são traçadas as primeiras influências sob a
estrutura da pós-graduação brasileira.
Cury (2004) destaca que para o desenvolvimento do ensino superior é necessária uma
constante e contínua integração dos níveis de pós-graduação e graduação, enquanto campos
de função complementar. Neste sentido destaca o papel da “universidade” como lócus desta
integração, apontando o destaque dado pela legislação do país ao desenvolvimento das
universidades. A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 esboça a intenção
governamental de incentivar a produção científica, destacando a tríplice função do ensino
superior, a saber: ensino, pesquisa e extensão.
Em relação à Psicologia, os primeiros cursos de graduação datam dos anos 1950, antecedendo
em uma década a regulamentação da profissão (Lei 4.119, de 27/08/1962). Os primeiros cursos
de Pós-Graduação, conforme já foi dito, datam de final dos anos 1960. (YAMAMOTO, 2006, p.
272).
Yamamoto (2006) destaca que com a Revolução Universitária de 1968, e mesmo com o
Manifesto Sucupira de 1965, e a adoção de um sistema de ensino superior inspirado na lógica
norte-americana levaram a uma expansão da pós-graduação, inclusive no campo da Psicologia.
A pós-graduação nasce com o incentivo à pesquisa, principalmente com a consolidação do
Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG), e posteriormente, com o deslocamento do eixo da
formação para o da pesquisa, promovida pelo III Plano Nacional de Pós-Graduação de 1986.
Estas seriam as marcas da origem dos níveis de graduação e pós-graduação no ensino superior
de Psicologia no país e que hoje os esforços institucionais tentam integrar.
Em 1995 a CAPES lançou um novo programa objetivando melhorar o ensino de graduação com
ênfase em disciplinas básicas, por meio do apoio a projetos específicos, envolvendo direta e
explicitamente ações conjuntas entre as áreas de pós-graduação e graduação. Este programa
foi denominado como PROIN - Programa de Apoio à Integração Graduação/Pós- Graduação. O
projeto teve como objetivo central a articulação entre a Pós-Graduação e a Graduação e a meta
das instituições que aderiram ao programa foi aproximar o ensino de Graduação ao de Pós-
Graduação, tanto na parte científica como no treinamento de recursos humanos.
De acordo com o boletim INFOCAPES (v. 7, n. 4 de 1999) o PROIN atendia cerca de 50 projetos
por ano e, em 1999 havia 64 projetos de integração sendo desenvolvidos, sendo investido R$
4.819.338,00. Em todas as instituições de ensino superior foram implantadas atividades com o
objetivo de entrosar e integrar os dois níveis de ensino superior, graduação e pós-graduação
tanto na parte científica como no treinamento de recursos humanos.
O PROIN foi avaliado anualmente até o ano de 1999, quando foi transferido para o Programa
de Modernização e Qualificação do Ensino de Graduação que se estabeleceu na Secretaria de
Educação Superior (SESu). Lá, o programa funcionou durante dois anos. Em 2000, diante de
diversas dificuldades a CAPES reduziu os recursos deste Programa, tendo definido outras
prioridades de investimento, sendo posteriormente o programa extinto. Entretanto, a avaliação
final do PROIN foi positiva e a CAPES concluiu que o programa teve um grande potencial para
envolver a pós-graduação e graduação. (INFOCAPES, v. 10, n. 4 de 2002).
Durante sua curta existência, o PROIN foi articulado nas Universidades com outros programas
específicos de cada instituição e da CAPES. Uma destas articulações se deu com o PET -
Programa Especial de Treinamento da CAPES.
O PET foi criado e implantado em 1979, pela CAPES, e acompanhado por essa Coordenação,
até o ano de 1999. A partir de 31 de dezembro de 1999, passou a chamar-se Programa de
Educação Tutorial – PET e teve sua gestão transferida para o Departamento de Projetos
Especiais de Modernização e Qualificação do Ensino Superior – DEPEM/SESu/MEC com
(INFOCAPES, v. 7, n. 4 de 1999).
Quando financiado pela CAPES, o PET foi instituído com o objetivo de intervir na graduação,
buscando introduzir uma dinâmica de inovação dentro desta realidade (BALBACHEVSKY, 1997,
p.1). Destinado a grupos de alunos de cursos de graduação que demonstravam destacado
potencial, interesse e habilidades especiais, eram-lhes oferecidas condições para a
programação e realização de atividades extracurriculares, coletivas e individuais, sob a
supervisão de um professor-tutor.
Apesar das evidências dos resultados favoráveis do programa nas avaliações realizadas pela
CAPES. No exercício de 1998, o Conselho Superior deliberou extinguir o PET, alegando que o
programa não havia atingido os objetivos esperados e que era preciso priorizar a Pós-
Graduação stricto-sensu diante da redução orçamentária (INFOCAPES, v. 10, n. 4 de 2002).
Silva e Brandão (2003), afirmam que programas e projetos, como os apresentados acima,
seriam fadados à extinção, pois a avaliação dos mesmo atende a muitas finalidades, tais como,
os motivos políticos e econômicos.
Das atividades mencionadas nos programas, todas as universidades apontam como atividade
prioritária da integração entre graduação e pós-graduação, a participação de docentes da pós-
graduação nos programas de graduação. Seja em sala de aula, supervisão de estágios, atuação
na extensão ou na orientação em pesquisas de iniciação científica e trabalhos de conclusão de
curso, os docentes da pós-graduação se fariam presentes articulando e produzindo junto aos
discentes da graduação.
Um segundo ponto que surge como possibilidade, são os eventos promovidos pelos programas
de pós-graduação nas universidades, que contam com a participação dos alunos de graduação.
Nestas ocasiões, surge a oportunidade de que todos os discentes, dentre estes os bolsistas de
Iniciação Científica (IC), possam participar especialmente dos Seminários de Qualificação.
Segundo dados fornecidos pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) a participação de
bolsistas de IC vinculados aos grupos de pesquisa se mostra expressiva em eventos desta
natureza. No programa de pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC) todos os eventos promovidos pelo Programa, como defesas, palestras e
conferências, são divulgados aos alunos da graduação que, com frequência, participam dos
mesmos.
Alguns programas têm destaques particulares no que se refere a integração entre graduação e
pós-graduação. Estes apresentam algumas formas diferenciadas de integração possível dentro
de suas instituições. Ressaltando que cada programa de pós-graduação vivencia uma realidade
diferente, aceitamos que isso pode vir a facilitar ou dificultar o desenvolvimento de diversas
formas de integração.
- Na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) - Teoria Psicanalítica: os alunos do curso de
graduação em Psicologia participam direta e ativamente das reuniões de pesquisa, dos cursos e
conferências ministrados pelos convidados estrangeiros a partir de convênios e acordos
realizados pelo Programa com instituições no exterior, conjugando ensino, pesquisa e
extensão.
- Na Universidade Federal Rio Grande do Sul (UFRGS) – Psicologia: todos os professores da pós-
graduação são responsáveis, semestralmente, pela orientação de alunos do segundo ano do
curso de graduação em Psicologia, que são solicitados a participar da redação e execução de
um projeto de pesquisa como parte das disciplinas obrigatórias de Pesquisa em Psicologia e
Prática de Pesquisa em Psicologia.
Uma primeira constatação, retirada da análise destes dois documentos da graduação e da pós-
graduação, é a presença de atividades comuns aos discentes que levam a integralização de
créditos. Ou seja, o cumprimento das atividades pelos alunos da graduação resulta, assim
como no mestrado e doutorado, na integralização de créditos, variando de 01 a 04 créditos,
respectivamente de acordo com a carga horária (de 15 a 60 horas).
Outra forma de integrar pós-graduação e graduação e que estão descritas tanto na Resolução
sobre o núcleo de atividades especiais da pós-graduação e no projeto de reforma curricular da
graduação em psicologia, seriam as atividades de monitoria e organização de evento científico.
Finalmente, acredita-se que a criação de espaços para o fomento e discussão sobre propostas
de integração entre graduação e pós-graduação e articulação do assunto entre os
representantes discentes da graduação e pós-graduação, e dos representantes docentes nos
Colegiados da Graduação e Pós-Graduação, podem levar a efetivação de práticas descritas
aqui, e também, a criação de novas atividades essenciais para a integração e interação entre
graduação e pós-graduação.
6. Considerações Finais
Ao final deste estudo, pode-se concluir que, ao menos, teoricamente as propostas dos
programas de pós-graduação em Psicologia avaliados, se mostram comprometidas com a
integração entre a graduação e a pós-graduação. Estas práticas podem se consolidar numa via
de mão dupla nos ganhos para ambos os níveis do ensino superior, ampliando não somente a
produção direta de artigos, livros etc., mas a melhor capacitação dos alunos da graduação, para
a futura inserção destes na pós-graduação.
Restam ainda muitas perguntas sobre a questão da integração, tais como: A pós-graduação
estará preparada para a integração com a graduação? Como os profissionais envolvidos na Pós
Graduação e na graduação recebem estas diretrizes e possibilidades de integração?
Observamos, contudo, que não nos parece como proposta da Pós-Graduação, trazer melhorias
na graduação, como algo de sua responsabilidade, mas o que se observa, é uma intenção de
criar espaços de intervenção conjunta (e não imposta), em que atores (docentes e discentes)
possam construir formas de integrar graduação e pós-graduação de maneira horizontal.
Pensando que o conhecimento não se dá apenas pela dimensão do ensino, ou mesmo pela
pesquisa, acredita-se que é na inter-relação entre ensino, pesquisa e extensão, que o mesmo
se constrói, sendo estes espaços/atividades para todos os níveis de ensino e não de posse de
um ou outro.
7. REFERÊNCIAS
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