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Língua Portuguesa
Veraluce Lima dos Santos
Veraluce Lima dos Santos
Percurso histórico
Falar do professor de Língua Portuguesa significa, antes de tudo, per-
ceber sua formação. Como um profissional da educação, essa formação
passa pelas políticas de formação de professores dos cursos de graduação,
mais especificamente, dos cursos de licenciatura.
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O Estado de Bem-Estar é o Estado que assumiu a provisão das condições do nível de subsistência mais elevadas do trabalhador. Ao lado dessas
condições, o mesmo Estado se responsabiliza em prover, também, o conjunto de infraestrutura física e institucional igualmente a níveis de serviços
mais elevados. Possui como princípio basilar a dignidade da pessoa humana (MARTINEZ,Vinicio C. Estado do Bem-Estar Social ou Estado Social?
Disponível em: <jus2.uol.com.br>. Acesso em: 31 jan. 2009).
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O professor de Língua Portuguesa
Podemos assim perceber, nesse breve contexto histórico, que todas essas re-
gulamentações possibilitaram novos rumos à formação de professores, tendo
exigido, inclusive, significativas reformulações nos projetos dos cursos, em es-
pecial, nas licenciaturas. Mesmo com todas essas mudanças, ainda é caótica a
formação dos professores. Eles saem dos cursos de formação desinstrumentali-
zados para exercerem sua profissão num mercado competitivo como está sendo
o da contemporaneidade.
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Ensino de Língua Portuguesa
A configuração da prática
O professor de Língua Portuguesa, como um profissional da educação,
também sai dos cursos de formação desinstrumentalizado para exercer sua
profissão. Podemos, inclusive, dizer que vivencia uma crise de identidade. Isto
porque, segundo Guedes (2006, p. 13),
[...] há muito a função de professor de português não é mais a de guardião daquela língua
que ele não fala – nunca falou – e na qual raramente se atreve a escrever: seu trabalho
tem-se limitado ao ensino cada vez mais diluído da metalinguagem da gramática tradicional.
Enquanto a escola recebia, até os anos de 1950, apenas alunos que tinham acesso em casa a
um vernáculo menos distante dela, essa metalinguagem ainda ajudava a ler os clássicos da
língua. A partir dos anos de 1960, quando a escola passou a incorporar quem até não tinha
nenhum acesso a essa língua [...], essa gramática perdeu toda a referência a qualquer língua
ouvida, falada ou lida na escola.
Essa tradição tem como ascendente direto ou indireto J. Soares Barbosa, que
é, em outras palavras, um representante categorizado da orientação gramatical.
Sua obra Gramática Filosófica fixa para a gramática tradicional os objetivos que
nos parecem válidos até hoje, com o mínimo de ressalvas, conforme podemos
comprovar na introdução à sua “arte da gramática”:
A gramática da língua nacional é o primeiro estudo indispensável a todo homem bem criado, o
qual, ainda que não aspire à outra literatura, deve ter ao menos a de falar e escrever corretamente
sua língua: (...) Esta arte deve compreender as razões das práticas do uso, e mostrar os princípios
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gerais de toda linguagem no exercício das faculdades da alma, e formar assim uma lógica
prática que, ao mesmo tempo que ensina a falar bem a própria língua, ensina a bem discorrer. As
línguas são uns métodos analíticos que Deus deu ao homem para desenvolver suas faculdades.
Elas dão o primeiro exemplo das regras de análise, da combinação e do método que as ciências
mais exatas seguem em suas operações. (BARBOSA apud ILARI, 1992, p. 11)
Ao longo de mais de 200 anos, Soares Barbosa foi citado, discutido e, princi-
palmente, plagiado. Forneceu, além dos objetivos para a Gramática Tradicional,
uma análise da língua fundada na concepção de como a mente humana con-
cebe ideias, formula juízos e os encadeia em raciocínios, pois, segundo o autor
(apud ILARI, 1992, p. 12), é possível encontrar na língua unidades e conexões que
correspondam às unidades e conexões do pensamento.
Nessa fase, o trabalho do professor deve se voltar para a língua com todas
as suas variedades, ou seja, os dialetos e registros que toda língua possui, bem
como sua adequação de uso para a consecução dos objetivos dos usuários da
língua dentro da situação comunicacional em que estão envolvidos.
Convém ressaltar que, nessa fase, muitos professores ficam sem saber o que
fazer: se ensinam a gramática normativa ou se ensinam com base nos fundamen-
tos da linguística. Com isso, ficam completamente perdidos no momento de de-
senvolver uma prática que esteja pautada nos fundamentos linguísticos. Outros,
porém, procuram desenvolver uma prática voltada para a língua em uso.
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O professor, nessa fase, deve ser aquele que oportuniza ao aluno situações
de aprendizagem da língua em uso. Se assim o professor proceder, poderá obter
resultados positivos, tanto do ponto de vista do trabalho pedagógico, quanto do
ponto de vista da realização pessoal como professor de língua materna.
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com outros modos de ser, pensar, agir, sentir, imaginar; enriquece-se, ao inter-
cambiar-se com as diferentes culturas. Surgem novos vocábulos, um novo di-
cionário se constrói a cada dia, com novas entradas, cuja escrita deixa a todos
aturdidos: “page” ou “peidge”?, “down” ou “daun”? “end” ou “ende”, “internet” ou
“internete”?
Para que o aluno se aproprie da língua como um bem cultural, como conteú-
do de ensino, como possibilidade, tanto de interação com-os-outros-no-mundo
quanto de ascensão social, principalmente daqueles alunos provenientes das
camadas populares, é necessário que o professor adote uma prática que permi-
ta ao aluno projetar-se, ou seja, lançar-se para a frente em direção a um horizonte
de possibilidades; lançar-se para além de si mesmo, rompendo os vínculos de
um mundo em constante mutação e revelando a capacidade de orientar-se para
o possível, fundamentada na liberdade de agir.
Para isso, o professor (e por que não dizer, a escola) precisa considerar as Tec-
nologias de Informação e de Comunicação como geradoras de oportunidades
para que ele alcance a sabedoria, não pelo simples uso da máquina, mas pelas
múltiplas oportunidades de interação entre ele e os alunos, todos exercendo
papéis ativos e colaborativos no processo ensino-aprendizagem, com “profes-
sores e alunos, reunidos em equipes ou comunidades de aprendizagem, parti-
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Esse tipo de ensino exige ainda que o professor se lance na ilusão de que é
contemporâneo dos jovens presentes em seu espaço de atuação profissional,
por isso deve renascer, fazer-se mais jovem do que é (BARTHES, 1989). Deve de-
senvolver estratégias de ensino-aprendizagem que incluam as Tecnologias de
Informação e Comunicação. Essas estratégias devem possibilitar aos alunos se
tornarem atores principais da construção cooperativa do conhecimento basea-
da na interação, seja entre indivíduos, seja entre grupos de indivíduos.
Deve-se ter a consciência de que, como educador e cidadão, pode até não
mudar o rumo da História através de seus esforços, mas como arquiteto e en-
genheiro prudente pode examinar o terreno e localizar a parte rochosa que ser-
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Texto complementar
A massificação e a desqualificação
da relação mestre-discípulo
(GUEDES, 2006)
[...] Uma sociedade de professores e alunos mais inúteis foi o projeto edu-
cacional Ditadura. Começou pelo arrocho salarial, causa e consequência da
massificação, que destruiu as condições materiais e intelectuais de trabalho
do professor. A quantidade de horas passadas em salas de aula e a quan-
tidade de alunos em cada uma delas desqualificou não só o professor, ao
tirar-lhe qualquer tempo para estudo, mas também o aluno, ao impedir o
professor de tratá-lo como um indivíduo capaz de construir uma motivação
interior para aprender.
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A retomada da discussão política a partir dos anos 1980 ainda não foi
capaz de nos fazer ver que as pedagogias permissivas, ao centrar o ensino
no aluno, colocando em segundo plano os interesses da sociedade, fize-
ram perder de vista justamente a dimensão política da educação, pois o
que importa para a sociedade não é o ensinar, que se limita pelo conhe-
cimento e pela capacidade didática do professor, mas o aprender, que é
ilimitado. E uma nova racionalização, oriunda da mobilização política que
acelerou o fim da Ditadura, aprofundou a depreciação do professor como
professor: a nova identidade de educador (o professor tem de ser mais do
que professor; tem de ser um educador, essa foi uma frase muito comum
e ainda pode ser ouvida por aí). Às anteriores obrigações de compreender
o aluno (como tia ou como psicólogo clínico), de apresentar a matéria de
uma forma interessante (como um comunicador de televisão), incorporou-
-se para o educador a necessidade de conscientizar o seu aluno dos pro-
blemas sociais. [...]
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Dica de estudo
GUEDES, Paulo Coimbra. A Formação do Professor de Português: que língua
vamos ensinar? São Paulo: Parábola Editorial, 2006.
O livro tem como finalidade oferecer uma reflexão sobre a formação do pro-
fessor de Língua Portuguesa. Essa formação deve voltar-se para a construção
de uma nova identidade para o professor de língua materna, tendo como ponto de
partida a literatura como um instrumento de apropriação cultural da terra e da
realidade social pelos brasileiros.
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Esse material é parte integrante do Aulas Particulares do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.aulasparticularesiesde.com.br