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Mestranda em Sociologia pelo Mestrado Profissional em Sociologia em Rede Nacional (Profsocio)
Fundaj/UFCE e bolsista CAPES. Email:elimacunha@gmail.com
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Mestranda em Sociologia pelo Mestrado Profissional em Sociologia em Rede Nacional (Profsocio)
Fundaj/UFCE e bolsista CAPES. Email: lourdinhapaz@gmail.com
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Pesquisadora Titular da Fundação Joaquim Nabuco
1- Introdução
Por sua vez, Florestan Fernandes (1954) já introduz seu texto emblemático no
primeiro Congresso brasileiro de Sociologia ponderando que:
2. A Sociologia
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.Decreto N. 21.241 - de 4 de abril de 1932.
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A reforma Campanema nome em homenagem a Gustavo Capanema que esteve à frente do
Ministério da Educação durante o governo Getúlio Vargas, entre 1934 e 1945 foi uma série de Leis
Orgânicas de Ensino que regulamentou, estruturou , reformou, criou e modificou aspectos do ensino
industrial, comercial e secundário brasileiros.
currículo obrigatório. Entretanto, três anos depois, o então presidente Fernando
Henrique Cardoso vetou em 1999 o projeto do deputado Padre Roque (PT-PR), que
alterava o artigo 36 propondo novamente a obrigatoriedade. O presidente usou
como argumento o ônus aos estados na criação de cargos para contratação de
pessoal para atuar na docência dessas disciplinas e a pouca oferta de pessoas com
formação específica para atuarem em tais cargos.
O veto de um então presidente sociólogo gerou um incômodo na sociedade
científica mostrando o fosso existente ente a Sociologia estudada na academia e a
Sociologia escolar. Mais que diferenciação da nomenclatura faz se necessário a
diferenciação entre a Sociologia enquanto ciência sua especificidade no contexto
brasileiro e sua caracterização enquanto disciplina sociologia escolar, pois “[...} o
ensino de sociologia no nível secundário começou antes da criação de cursos
superiores , desde sempre a relação entre os conteúdos de um nível a outro não foi
imediata. (Moraes. 2017 pag. 27), e que não há uma transposição imediata entre
aquilo que se faz na academia para aquilo que se faz no plano escolar (Moraes.
2017 p. 21). Ficando evidente que a chamada Sociologia escolar tem ficado na
retaguarda necessitando, portanto, de ações normativas que colaborassem em sua
estabilização e não apenas apontasse as dificuldades como justificativa para sua
não efetivação.
É Apenas em 2006, através do parecer 38 do Conselho Nacional de
Educação que o discurso da obrigatoriedade da disciplina é legitimado. Em 2008
com a Lei 11.684/08 a obrigatoriedade e novamente reinstituída.
A partir deste marco, os sistemas estaduais de ensino começaram a se
organizar para se adequar a esse novo cenário. Pernambuco foi célere na resposta
a essa demanda e ainda em 20066 promoveu a realização de um concurso público
com a disponibilização de vagas para lecionar essa disciplina em uma área aqui
denominada na época de: Disciplinas Pedagógicas. De acordo com o edital essas
vagas poderiam ser preenchidas por profissionais das Ciências Sociais e de
diversas áreas das chamadas ciências humanas dentre eles História e Pedagogia.
Em nível federal, importantes ações normativas do MEC como a inserção da
sociologia no Programa Nacional do Livro didático em 2011 e a formulação das
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Portaria Conjunta SARE/SEDUC n.º 037, de 24/11/2005.
Orientações7 e Diretrizes Curriculares Nacionais8 continuam a ser editadas.
Novamente a Secretaria de Educação de Pernambuco se mostra sensível a
importância da sociologia no currículo e é pioneira na elaboração de documentos
norteadores do currículo como as Orientações Teórico Metodológicas (OTMs) e Os
Parâmetros da Educação básica de Pernambuco ambos incluindo a disciplina de
sociologia e com um volume especificamente para a Eja.
Enquanto muitos sistemas de ensino ainda estavam se adequando, menos
de uma década depois da volta da obrigatoriedade vem outro golpe e a
obrigatoriedade da disciplina no ensino médio é novamente revogada. A partir da
Medida Provisória 746 de 2016 que normatizava a chamada Reforma do Ensino
Médio foi novamente retirada a obrigatoriedade do ensino da Sociologia no ensino
básico nacional. Esse é último golpe sofrido pela Sociologia e colabora com o
cenário de instabilidade vivenciado historicamente pela disciplina e os processos de
desvalorização reiniciam.
Histórico e momento de incerteza e instabilidade semelhante vivencia a
Educação de Jovens e Adultos.
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BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Ciências humanas e suas tecnologias.
Sociologia. Brasília: Ministério da Educação, 2006. (Orientações curriculares para o ensino médio; volume 3.
A análise da Eja no Brasil partindo dos contextos históricos nos ajuda
compreender os caudalosos caminhos percorridos por esta modalidade, seu
encontro com a Sociologia no final da primeira década deste século e suas
semelhanças nos processos de luta e resistência no ensino básico do nosso país.
Ainda no Brasil colônia a catequização feita pelos Jesuítas era estendida aos
indígenas adultos com quem os padres aprendiam o idioma a fim de ter mais
condições de continuar os processos de catequização com as crianças.
Caracterizada como não intencional e informal já antecipava a comprovação das
idéias de Paulo Freire de que todos sempre temos algo a ensinar e algo aprender.
Durante as Reformas Pombalinas9 a educação popular não foi contemplada fato que
provocou um retrocesso mesmo em relação ao período dos Jesuítas fazendo
aumentar consideravelmente o número de analfabetos nesse período.
Com chegada da família real na época do império foi promulgada a Lei
Saraiva10 que mesmo de caráter eleitoral teve conseqüências na Educação de
Jovens e Adultos pois, esta impedia os votos para analfabetos. Uma opção do
governo por excluir essa parcela da população em vez de resolver atacar o
problema do analfabetismo.
Depois desse período há um grande hiato de estudos e dados sobre a
Educação de Jovens e Adultos no Brasil. a questão reaparece nas primeiras
décadas do século seguinte. Mais especificamente no ano 1915 Abner Brito
anunciava a criação de seu método de desanalfabetização denunciando um índice
alarmante de 80% de analfabetos mas, de acordo com Braga e Mazzeu (2017) esse
índice era de 66%. O combate ao analfabetismo sempre foi um dos pilares da Eja
em nosso país.
Dez anos depois formam criadas escolas noturnas de ensino primário para
adultos pelo governo federal a exemplo das criadas anos antes no Rio de Janeiro.
Entre 1934 e 1936 com a promulgação da Constituição da República Nova surge o
primeiro Plano Nacional de Educação que obrigava a gratuidade do ensino primário
integral estendido aos adultos.
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Reformas de caráter despótico promovidos pelo Marquês de Pombal.
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A Lei Saraiva, Decreto nº 3.029, de 9 de janeiro de 1881, foi a lei que instituiu, pela primeira vez,
o Título de Eleitor, proibiu o voto de analfabetos e adotou eleições diretas para todos os cargos eletivos
do Império brasileiro: senadores, deputados à Assembléia Geral, membros das Assembléias
Legislativas Provinciais, vereadores e juízes de paz.
Foi a partir da década de 40 que a Educação de Jovens e Adultos começou a
se firmar como tema de política educacional. Em 1945 a Educação de Adultos torna-
se oficial. Em 1947 foi lançada a campanha de Educação de Adolescentes e Adultos
que incluíram em 1952 as Missões Rurais e em 1958 a Campanha de Erradicação
do Analfabetismo. De acordo com Pierro, Joia e Ribeiro:
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O “Método Paulo Freire” possui fundamentação humanista ao vislumbrar na educação um ato
criador, a medida em que proporciona ao indivíduo formação política, autonomia, consciência crítica e
capacidade de decisão.
Brasil foi extinta a Fundação Educar que coordenava as ações do Mobral, em
contrapartida é lançado o Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania (PNAC)
que durou apenas um ano. Em 1991 um pequeno retrocesso com a declaração do
MEC de que não atuaria mais na EJA. Em 1995 foi lançada a Campanha
Alfabetização Solidária desta vez em parceria com Organizações não
Governamentais.
O ano de 1996 é marcado pela emenda a Constituição suprimiu a
obrigatoriedade de ensino fundamental mantendo apenas a oferta gratuita pela
criação do FUNDEF e pela promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDBN 9.3094/96). A lei 9.394 aprovada em dezembro de 1996 diz no
artigo 37 que “A Educação de Jovens e Adultos será destinada àqueles que não
tiveram acesso ou oportunidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade
própria”. Ao tornar-se uma política de estado enquanto modalidade educacional a
Educação de Jovens e Adultos é fortalecida.
A primeira década do novo século foi um período importante para a Educação
de Jovens e Adultos com a promulgação das Diretrizes Nacionais para a Educação
de Jovens e Adultos, através do Parecer CNE/CEB 11/2000. Este passa a ser o
documento normativo mais importante para a Eja, buscando propor uma educação
reparadora, equalizadora e qualificadora. A partir desse ano há uma intensificação
das ações não apenas para a alfabetização mas, para a educação de jovens e
adultos. Ainda neste ano é criada a Secretaria de Educação Continuada
Alfabetização e Diversidade (SECAD)12. Nesse mesmo ano é lançado o Programa
Brasil Alfabetizado voltado exclusivamente para a Alfabetização de Jovens Adultos e
Idosos.
Em 2006 foI lançado pela SECAD o PROEJA (Programa Nacional de
Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de
Educação de Jovens e Adultos). Em 2009 a Resolução CD/FNDE Nº 51/2009, que
dispõe sobre o Programa Nacional do Livro Didático para Educação de Jovens e
Adultos (PNLD EJA) e em 2011 o PRONATEC que é um programa de acesso ao
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Era um órgão componente da estrutura administrativa do Ministério da Educação (MEC).Sua principal função
era articular junto as três secretarias do MEC responsáveis por gerir a educação formal (SEB – Secretaria de
Educação Básica, Setec – Secretaria de Educação Tecnológica e Secretaria do Ensino Superior – SESU políticas
públicas voltadas a ampliação do acesso a educação a todos os cidadãos, levando-se em conta especificidades
de gênero, idade, raça e etnia, etc.
ensino técnico nas modalidades concomitante e subsequente com encaminhamento
a vagas de empregos.
Essa cronologia demonstra a descontinuidade e a timidez dos projetos e
programas voltados para a educação dos jovens adultos e idosos que só ganharam
o status de política pública no início deste século. A contextualização histórica é
importante, todavia no ano seguinte ao das comemorações dos cinquenta anos de
Pedagogia do Oprimido o que se faz necessário é a análise do contexto
epistemológico.
Os contextos epistemológicos para qual viramos nosso olhar são aqueles que
apontam para a Eja enquanto demanda dos Direitos Humanos que analisam a
variedade de atores e situações nessa modalidade de ensino sendo impossível
singularizá-las é que Vera Masagão Ribeiro tem chamando de EJAs, no plural. Um
exemplo dessa pluralidade é que a educação de Jovens e Adultos tem a cada dia
menos adultos. Há uma preocupação com a saída cada vez mais cedo dos jovens
do ensino médio regular para as turmas de EJA. Esse fenômeno Carmen Brunell
conceituou como juvenilização e que para Pierro, Joia e Ribeiro tem uma explicação:
6. Referências