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CONTEXTO HISTÓRICO E OS DETERMINANTES SOCIAIS

EM SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS

Amanda Dias de Souza

Ana Cristina Rodolfo

Bianca Figueiredo de Barrios

Carla Rejane da Silva

Edmila Vieira da Silva

Marisa da Silva Nascimento Pereira

Sérgio Conceição de Matos

Volta Redonda
2023
CONTEXTO HISTÓRICO E DETERMINANTES SOCIAIS EM
SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS

Amanda Dias de Souza

Ana Cristina Rodolfo

Bianca Figueiredo de Barros

Carla Rejane da Silva

Edmila Vieira da Silva

Marisa da Silva Nascimento Pereira

Sérgio Conceição de Matos

Trabalho apresentado como requisito para a


obtenção de nota parcial na disciplina de
Psicologia Comunitária e Saúde Coletiva, no
curso de Bacharelado em Psicologia, 7°
período, turma A, do Instituto Superior de
Educação do Centro Universitário Geraldo Di
Biáse.

Professora- Orientadora: Marcela Dupont


Soares.

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Contexto Histórico dos Povos Indígenas

Ao longo da história do Brasil, foram cometidas diversas formas de violência


contra os povos indígenas. Desde guerras, doenças transmitidas pelos colonizadores
que exterminaram aldeias inteiras, a escravidão, ameaças e perseguições,
preconceitos, violência cultural etc. As lutas travadas para garantirem seus direitos, as
tradições e diferentes culturas dos indígenas ainda é desconhecida por grande parte
dos brasileiros, que desconhecem sua própria história. Apesar da existência da Lei n.
11.645/ 08 que torna obrigatório o estudo da história e da cultura afro-brasileira e
indígena no currículo dos ensinos fundamental e médio (público e privado), ainda é
comum vermos pessoas ignorantes, preconceituosas e com ideias estereotipadas a
respeito desses povos que constituem uma grande parte da nossa população.

Considerar que os indígenas ou os índios, como são comumente chamados,


são apenas pessoas que vivem isoladamente, nus no meio de florestas, com tinturas
corporais e que vivem em situações precárias, é desconsiderar a história de inúmeros
povos distintos, cada qual seus próprios costumes e lutas. A história não pode e não
deve ser vista apenas sob uma ótica estereotipada ou conhecida por uma batalha entre
vencedores e perdedores, na qual os indígenas ocupam o lado mais fraco. Esse
trabalho se propõe a apresentar alguns fatos históricos, com o intuito de esclarecer e
expor uma visão diferente dessa história.

O “Descobrimento” deve ser discutido como resultado do processo de


expansionismo europeu no século XVI, através da colonização do chamado “Novo
Mundo”, onde os muitos diferentes povos e culturas das consideradas “terras
descobertas” se confrontaram com o cruel processo de invasão dos seus territórios e da

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imposição cultural do colonizador. A colonização não é um movimento único e linear de
simples extermínio das sociedades nativas encontradas pelos colonizadores, mas sim
como um complexo jogo de relações, negociações e conflitos, desde a chegada dos
primeiros europeus até os dias atuais. Estudos mais recentes, livres do etnocentrismo
que condicionava as informações e referências passadas, revelam a enorme
diversidade e pluralidade dos povos que já habitavam o território anteriormente aos
colonizadores. Tamanha era a complexidade e especificidade dos nativos, seus
projetos políticos, relações decorrentes da colonização, estratégias de resistência etc.

Durante o século XIX, nas regiões mais antigas da colonização portuguesa, o


Estado Brasileiro favoreceu os grandes latifundiários e fazendeiros que eram contra os
povos indígenas. Os grandes proprietários e chefes políticos locais passaram a negar a
presença dos nativos em seus territórios de aldeamentos, argumentando a ausência de
pureza racial, o que afirmava que os indígenas estavam confundidos com o restante da
população, solicitando, assim, o fim dos aldeamentos como forma de resolver os
conflitos territoriais. Como resultado, o Governo Imperial decretou a extinção dos
aldeamentos em diversas regiões do país.

Segundo a legislação da época, as terras dos aldeamentos deveriam ser


medidas, demarcadas e loteadas em tamanhos diferentes, para serem destinadas a
parte das famílias indígenas existentes no local. Entretanto, na realidade esse processo
ocorreu de forma incorreta, pois muitos indígenas reclamaram por não terem recebido
os lotes a que tinham direito ou que as mediações favoreciam os invasores das terras.
Como consequência, a violência contra esses povos apenas crescera, muitos se
dispersaram, sem terras, fugindo de perseguições e vagando até que encontravam um
para trabalhar em fazendas e engenhos.

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Foi no início do século XX que se iniciou a mobilização contemporânea pelo
reconhecimento étnico oficial e garantia mínima de terras para sobreviverem diante das
perseguições dos latifundiários, após anos resistindo e sendo considerados “extintos”.
No Nordeste foram reconhecidos os Xukuru-Kariri em Alagoas, e em Pernambuco os
Fulni-ô, os Pankararu, os Xukuru, com a instalação de postos do Serviço de Proteção
ao Índio - SPI, entre os anos de 1920 e 1950, em suas áreas indígenas.

Nos últimos anos, os povos indígenas de todo o Brasil fortaleceram suas


organizações e intensificaram mobilizações pelo reconhecimento étnico enquanto
povos diferenciados, pela demarcação e retirada de invasores de suas terras, pela
garantia de direitos a uma assistência de saúde e educação diferenciadas, ocupando
um espaço no cenário público e obrigando-nos a rever a história, assim como superar
equívocos e preconceitos.

Os Determinantes Sociais em Saúde dos Povos Indígenas

A fim de se prestar serviços que atendam verdadeiramente à população


indígena, foi necessário repensar a forma como eles viviam, do contrário estaríamos
apenas obrigando-os, novamente, a se adequar aos padrões da população brasileira
em geral, ignorando suas particularidades, abandonando-os à própria sorte. Medidas
tomadas foram a criação de uma rede com polos de saúde nos territórios indígenas,
possibilitando o acesso à saúde, bem como a aceitação do modelo cultural e sua
incorporação na execução prática do serviço. “Com base nesses preceitos foi formulada
a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas” cujos integrantes do
processo de formulação da Política eram representantes dos órgãos de políticas de
saúde e de política e ação indigenista, organizações de recursos humanos para a

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saúde dos povos indígenas e, também, representantes das organizações indígenas,
com experiência em execução de projetos de saúde, junto à seu povo.

No início do século XVI a população indígena correspondia a cerca de 5 milhões


de pessoas, número comparável à população europeia, no mesmo período. Esse povo
foi dizimado não só pelas condições de escravidão a qual foram submetidos, como
também às doenças infecciosas, trazidas pelos emigrantes.

No século XX, com a expansão para o Centro-Oeste, novos massacres aos


povos indígenas ocorreram, o que culminou, no ano de 1910 à criação do Serviço de
Proteção ao Índio e Trabalhadores Nacionais (SPI), órgão vinculado ao Ministério da
Agricultura, que buscava a integração do povo indígena ao sistema produtivo nacional.
Nesse ponto, os índios eram considerados um ser infantil, passível de evolução. Sua
integração à população foi desenhada em meio a projetos educacionais e agrícolas.
Mesmo com o SPI, os serviços ofertados ao povo indígena eram de caráter
emergencial ou pacifista.

Na década de 1950 foi criado o Serviço de Unidades Sanitárias Aéreas (SUSA),


pelo Ministério da Saúde, com o intuito de levar ações básicas de saúde às populações
indígenas e rurais, em áreas de difícil acesso. Os serviços ofertados eram atendimento
odontológico, vacinação, controle de tuberculose e demais doenças transmissíveis.

Em 1967, extinto o SPI, foi fundada a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), que,
com base no modelo de atenção do SUSA, criou as Equipes Volantes de Saúde (EVS).
As EVS atuavam prestando assistência médica, aplicando vacinas e supervisionando o
trabalho das equipes locais que, normalmente eram constituídas por enfermeiros ou
auxiliares. Com a crise financeira da década de 1970, A FUNAI teve grandes

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dificuldades em prestar os serviços que lhe eram atribuídos. Com o passar do tempo,
os atendimentos das EVS, que eram esporádicos, tiveram sua frequência diminuída,
até não mais ocorrer. Com isso, as equipes locais, em sua maioria pouco qualificadas,
isoladas, viram-se atendendo dos casos mais simples aos emergenciais sem nenhum
acompanhamento. Os atendimentos, geralmente ignoravam o sistema de saúde
reconhecido pela população, bem como suas práticas relativas ao adoecer.

Na Constituição Federal de 1988, a capacidade civil plena é assegurada aos


povos indígenas, desinstituindo a tutela a eles imposta.

Duas conferências propuseram a estruturação de um modelo diferenciado,


baseado na estratégia de Distritos Sanitários Especiais Indígenas, visando atender às
necessidades específicas da população indígena, envolvendo-os em todas as etapas
do processo de planejamento, execução e avaliação das ações, a saber: I Conferência
Nacional de Proteção à Saúde do Índio, realizada no ano de 1986, tendo como pauta o
início dos pensamentos acerca da atenção à saúde dos povos indígenas e suas
especificidades; e a II Conferência Nacional de Saúde para os Povos Indígenas, que
ocorreu no ano de 1993, dando continuidade ao debate da primeira Conferência e
definindo as diretrizes da atenção primária à saúde dos povos indígenas.

Em 1991, responsabilizado pela coordenação das ações de saúde aos povos


indígenas, o Ministério da Saúde estabeleceu Distritos Sanitários Especiais Indígenas
como base para a organização dos serviços de saúde. Foi então criada a Coordenação
de Saúde do Índio (COSAI), subordinada ao Departamento de Operações (DEOPE) da
Fundação Nacional de Saúde.

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No mesmo ano foi criada a Comissão de Saúde do Índio (CISI), cujo objetivo
principal era o de assessorar o Conselho Nacional de Saúde (CNS) na elaboração de
princípios e diretrizes de políticas governamentais à saúde dos povos indígenas. A
princípio não havia representantes da população indígena na CISI, mas com a saída de
4 integrantes, as vagas foram ofertadas a representantes de organizações indígenas.

Em 1994, a Comissão Intersetorial de Saúde (CIS) em conjunto a outros


Ministérios devolvem à FUNAI a responsabilidade sobre a “questão indígena”. Desde
então a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) e a FUNAI dividem a responsabilidade
sobre a atenção à saúde dos povos indígenas, criando uma divisão conflituosa de
ações.

A III Conferência Nacional de Saúde para os Povo Indígenas se deu no ano de


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Em 2002 a população indígena somava cerca de 370 mil pessoas, de 210 povos
diferentes, falando mais de 170 línguas identificadas. Cada um desses povos possuindo
sua própria organização interna e cuja gênese data de diferentes épocas; povos com
mais de 500 anos de existência. Nessa época os povos indígenas estavam presentes
em quase todos os estados brasileiros, exceto os estados do Piauí e Rio Grande do
Norte; em 579 terras indígenas, somando 12% do território nacional, tendo ainda uma
parcela que vive em áreas urbanas. 98,7% das terras indígenas encontram-se nas
regiões Norte e Centro-Oeste do país. No total, representavam 0,2% da população
brasileira. Tendo, no entanto representação significante em alguns territórios, como é o
caso de Roraima (15% da população), Amazonas (4%) e Mato Grosso do Sul (3%), por
exemplo.

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Em 2006 foi realizada a 4ª Conferência Nacional de Saúde dos Povos Indígenas
contou com importantes questionamentos acerca da prestação dos serviços ofertados
e, ainda, sobre a gestão da FUNASA, que recebeu denúncias de corrupção e desvio de
verba. Como consequência, no ano de 2010 foi aprovada a criação da Secretaria
Especial de Saúde Indígena (SESAI), diretamente ligada ao Ministério da Saúde,
primeiro órgão destinado unicamente à questão da saúde indígena; os desafios
encontrados por essa Secretaria eram a sobrecarga causada por ter de lidar com a
gestão e a execução dos serviços prestados.
No ano de 2013, na 5ª Conferência Nacional de Saúde dos Povos Indígenas, a
assistência integral à saúde dos indígenas, bem como o respeito e assimilação da
medicina tradicional (de cada povo) aos serviços ofertados foram reivindicados. Os
investimentos na área obtiveram um crescimento vertiginoso, apresentando o valor de
quase 380 milhões no ano de 2010, três vezes maior que em 2002. Em 2015 os
números chegavam a 1,5 bilhões. Apesar disso, os serviços ofertados não
acompanharam o mesmo progresso, fato comprovado pelas taxas de mortalidade
aferidas entre a população indígena, que têm como causa, a ausência de vacinação,
doenças respiratórias, infecciosas, parasitárias e transmissíveis, além de anemia e
desnutrição. Outra dificuldade apresentada são as informações, que além de restritas
aos profissionais que utilizam o Sistema de Informações da Atenção à Saúde Indígena
(SIASI), não têm sua veracidade afirmada.

Os povos indígenas, no entanto, enfrentam grandes dificuldades, como as


ameaças ao seu território, advindas da exploração, que têm impacto direto em seus
sistemas político e social. Alguns povos, sendo ameaçados de extinção. Em termos
gerais, observa-se o crescimento demográfico entre os povos indígenas, o que se dá
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devido à conservação ambiental, demarcação de terras indígenas e acesso à atenção
básica de saúde. Ainda assim, a taxa de mortalidade dos povos indígenas alcança
valores até quatro vezes superior aos do restante da população brasileira, causados por
questões respiratórias, doenças virais e sexualmente transmissíveis, além de
desnutrição e ausência da vacinação, normalmente obrigatória à população em geral.

Em regiões onde a população indígena tem mais contato com a população


regional, nota-se também a incidência de outros problemas de saúde, tais quais:
hipertensão arterial, diabetes, câncer, alcoolismo, depressão e suicídio.

A descontinuidade das ações voltadas à população indígena fez com que estes
se mobilizassem, através de organizações jurídicas reconhecidas, por exemplo, desde
os anos 1970, para entender doenças e demais desdobramentos negativos à saúde,
capacitando agentes indígenas de saúde e de valorização da medicina tradicional
indígena. Até o ano de 1999, os agentes indígenas foram contabilizados em 1.400.

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