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ESCOLA DE ENSINO SUPERIOR DO AGRESTE PARAIBANO

BACHARELADO EM DIREITO

ELEOCLARA CAMELO; ILGNNER LIRA; JADY GOMES; LUCAS


PAULO; NATAN MARREIRO

Povos Indígenas e o Direito a Terra no Brasil

GUARABIRA
2022
ELEOCLARA CAMELO; ILGNNER LIRA; JADY GOMES; LUCAS
PAULO; NATAN MARREIRO

Povos Indígenas e o Direito a Terra no Brasil

Trabalho Acadêmico
apresentado à escola de ensino
superior do agreste paraibano,
como parte principal para
obtenção da nota do segundo
estágio na matéria de
antropologia jurídica.

Professora: Tâmisa Rúbia

GUARABIRA
2022
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 4

2 O QUE SÃO TERRAS ÍNDIGENAS? ........................................................................................................ 5

3 PROBLEMAS EM RELAÇÃO A DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS ................................................ 6

4 PAPEL DO PODER JUDICIÁRIO QUANTO AO PROBLEMA DA DEMARCAÇÃO ..................................... 7

5 CONCLUSÃO ........................................................................................................................................ 9

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................... 10
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1 INTRODUÇÃO

Ao iniciar-se o século XV, no período das Grandes Navegações, Portugal foi


um dos países pioneiros na conquista de novas terras devido a sua posição
geográfica, unificação territorial precoce, monarquia consolidada e investimento da
classe burguesa. Sendo assim, obteve-se enorme vantagem aos demais países.
Diante desse cenário, ao conquistar as terras do Brasil, pela primeira vez ocorre o
contato do povo europeu com os indígenas, e consequentemente, os portugueses
deram início ao processo de conhecimento das novas terras que acabaram de
“conquistar”.

No Brasil, por volta do ano 1500, segundo dados da Funai (Fundação Nacional
do Índio), podia-se encontrar por volta de 3 milhões de índios, os quais eram divididos
em mais de 1.000 grupos. Ao decorrer do tempo o processo da perda de espaço aos
nativos iniciou-se com o desmatamento do pau-brasil, o surgimento das Capitanias
Hereditárias, adjunto de expedições como a de Gaspar de Lemos e a de Cristovão
Jacques e também o surgimento das capitais do Brasil e todo o cenário de
desenvolvimento econômico e estrutural que havia por trás desses fatos, levando em
consideração as agressões cometidas contra os povos nativo em busca desse
desenvolvimento. Logo, ao prolongar dos séculos, o povo nativo brasileiro acabou
perdendo ainda mais espaço por consequência de lutas, omissão e morosidade em
processos de regularização das terras, não podendo abster-se também das invasões
ilegais para extração e exploração ilegais de recursos naturais.

Em 1988 o Brasil reconheceu que os povos indígenas foram os primeiros


moradores dessa terra, e que por isso tinham o direito de viver em seus territórios
tradicionalmente ocupados, este dispositivo está previsto no parágrafo primeiro do art.
231 da Constituição Federal.

São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em


caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as
imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu
bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus
usos, costumes e tradições. (BRASIL, Constituição da República Federativa
do Brasil, 1988)
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2 O QUE SÃO TERRAS ÍNDIGENAS?

Atualmente, cerca de 13% do território nacional é composto por terras


indígenas, a maioria na região norte. Nesse sentido, as terras indígenas são
“territórios de ocupação tradicional”, bens da União, os quais são reconhecidos aos
índios a sua posse permanente e o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios
e dos lagos nelas existentes.

Diante disso, devem ser levados em consideração quatro aspectos para a


regularização das terras indígenas pelo poder público: o primeiro deles é a habitação
permanente, pois, sabe-se que, nesse contexto, habitar e ocupar possuem sentidos
diferentes. Sendo assim, habitar, diz respeito a essência fundamental da palavra, que
é cuidar, e mais além, estabelecer uma relação sentimental com o lugar em que se
habita, entender o fato de ter uma ligação entre o indivíduo e seu espaço para “chamar
de seu”, espaço esse que não sofre mudanças, que permanece.

Ademais, o segundo critério pode ser citado pela importância das terras que
são necessárias às atividades produtivas dos nativos como a caça, pesca, coleta,
agricultura, fabricação de adornos e utensílios, tendo em vista que essas práticas
fazem parte culturalmente da vida dos povos aborígenes e que delas vem a sua
subsistência. Não obstante, um outro aspecto a ser considerado é o de preservação
dos recursos necessários ao seu bem estar. Nesse sentido, o instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) trabalha em razão de preservar os sagrados
locais indígenas (Patrimônio Material), assim como os ritos, culturas e tradições, pois
preservação destes está intrinsecamente ligada ao seu bem-estar, além de ser um
compromisso ético-político-afetivo, que auxilia para a construção de uma sociedade
integrada. O bem-estar é necessário também para criação de um vínculo afetivo com
o povo indígena.

Finalmente, porém, não menos importante, caracterizam-se as terras


necessárias a reprodução física e cultural dos nativos brasileiros. Esses povos são
fundamentais para a conservação ambiental e cultural, funcionam como uma barreira,
a qual impede em grande parte as invasões por parte de madeireiros, garimpeiros,
fazendeiros e outros agentes responsáveis pelo desmatamento e agressão ao habitat
dos povos indígenas. Com isso, por reproduzirem naturalmente as práticas que
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auxiliam nos cuidados ao ambiente no qual habitam, os indígenas cuidam e


conservam essas áreas.

A demarcação do território indígena é um fator de extrema importância para


preservação da história e das tradições dos primeiros nativos do Brasil. De acordo
com a Constituição Federal é garantido que os povos aborígenes tenham direito à
terra, como é explicito em seu artigo 231.

3 PROBLEMAS EM RELAÇÃO A DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS

A realidade apresentada atualmente diverge muito do que é estabelecido na


constituição, pois, a cada dia o cidadão indígena perde mais seu espaço para
agrônomos que ignoram todo a história de um povo que tem a terra como sinônimo
de vida. Ademais, é valido ressaltar que apenas 11,6% do território nacional é
demarcado para a população indígena e mesmo assim seus direitos se encontram
negligenciados pelo Poder Público, na prática, o governo busca criar barreiras para
dificultar o reconhecimento da identidade de povos indígenas e dificultar, assim, o
acesso a políticas públicas, tendo em vista a diminuição das homologações de terras
aborígenes pelo governo brasileiro nos últimos tempos.

Dados do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), órgão vinculado à


Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), mostram que o assunto
foi perdendo força ao longo do tempo. Desde os mandatos do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso (PSDB), entre 1995 e 2002, o número de
demarcações só caiu:

homologações de terras indígenas por presidente: José Sarney (1985 a 1990)


= 67; Fernando Collor (1991 a 1992) = 121; Itamar Franco (1992 a 1994) =
18; Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2002) = 145; Luiz Inácio Lula da
Silva (2003 a 2010) = 79; Dilma Rousseff (2011 a 2016) = 21; Michel Temer
(2016 a 2018)= zero; Jair Bolsonaro (desde 2019) = zero. (Augusto, 2020)

Mesmo com a intervenção de órgãos externos, tal como a FUNAI (Fundação


Nacional do Índio), a questão da demarcação dos territórios permanece um problema
cotidiano para as 305 etnias indígenas que habitam o território brasileiro, assim, a
tomada de novas ações por parte do poder estatal se encontra necessária para a sua
resolução.

O caput do artigo 231 da Constituição Federal 1988 expressa o dever do Estado de


garantir aos povos indígenas os seus direitos e garantias, bem como, da preservação
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de sua cultura. O texto menciona a União como a parte responsável por demarcar as
terras de direito originário desses povos, não obstante, tratar pelo zelo de seus bens.

4 PAPEL DO PODER JUDICIÁRIO QUANTO AO PROBLEMA DA DEMARCAÇÃO

A Constituição Federal de 1988 prevê os critérios que devem ser observados


no momento em que deverão ser demarcadas as terras, como já fora supracitado
anteriormente neste trabalho. A legislação constitucional, ao prever o conteúdo e
forma da matéria mencionada, visa garantir a proteção a identidade cultural dos
nativos brasileiros, deixando de lado os parâmetros meramente baseados em
circunstâncias econômicas, como pode ser lembrado a época do Brasil Colonial. Com
isso, a Lei de Demarcação de Terras Indígenas, expressa a necessidade de levantar
dados acerca da natureza etno-histórica, sociológica, jurídica, cartográfica, ambiental
e afins, com o intuito de fundamentar a demarcação dessas terras.

A demarcação das terras tradicionalmente ocupadas pelos índios será


fundamentada em trabalhos desenvolvidos por antropólogo de qualificação
reconhecida, que elaborará, em prazo fixado na portaria de nomeação
baixada pelo titular do órgão federal de assistência ao índio, estudo
antropológico de identificação.

O órgão federal de assistência ao índio designará grupo técnico


especializado, composto preferencialmente por servidores do próprio
quadro funcional, coordenado por antropólogo, com a finalidade de realizar
estudos complementares de natureza etno-histórica, sociológica, jurídica,
cartográfica, ambiental e o levantamento fundiário necessários à
delimitação. (BRASIL, DECRETO Nº 1.775, DE 8 DE JANEIRO DE 1996.,
1996)

Embora o ordenamento jurídico brasileiro expresse as formas de garantia do


direito de terra aos índios, atualmente é possível observar os vários conflitos
decorrentes das lutas por essas terras, as quais são causadas pelo desrespeito áreas
de preservação, motivado pela exploração dos recursos ambientais disponíveis
nessas reservas. As terras aborígenes são fortemente atacadas por diversos tipos de
violência contra o patrimônio indígena, como por exemplo, a omissão e a morosidade
do estado na regularização das terras, invasões e exploração ilegal de recursos, é o
que expõe o relatório publicado pelo CIMI (Conselho Indigenista Missionário), no ano
de 2021.
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[...] foram registrados os seguintes dados: omissão e morosidade na


regularização de terras (832 casos); conflitos relativos a direitos territoriais
(96 casos); e invasões possessórias, exploração ilegal de recursos naturais
e danos diversos ao patrimônio (263 casos registrados). Os registros somam,
assim, um total de 1.191 casos de violências contra o patrimônio dos povos
indígenas em 2020. (CIMI, 2021)

A situação se torna mais preocupante no momento em que fica claro, diante de


todos os fatos supracitados, o desinteresse por parte do Estado em intervir em
questões como a que está sendo debatida neste trabalho.

Todavia o poder executivo não colabore com a luta dos povos nativos, o
judiciário vem fazendo importantes intervenções com o objetivo de amenizar essa
sensação de abandono por parte dos órgãos governamentais, assegurando a
comunidade indígena os seus direitos. Como por exemplo, pode-se citar uma recente
decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça), a qual explicita a possibilidade de o
poder judiciário decidir sobre a demarcação das terras indígenas, em detrimento a
competência original para tanto, que é pertencente ao poder executivo, com isso, no
fato que ensejou essa decisão, foi levada em consideração a morosidade das
agências responsáveis pela demarcação, fato que foi levado ao poder judiciário para
que se desse solução em tempo hábil, tendo em vista que a demora de oito anos
proporcionou ao grupo indígena que ocupava aquela área sérias consequências e
conflitos com outros agentes que tinham interesses na área de habitação desse grupo.
Desse modo, a 1ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, em decisão unânime,
manteu a disposição judicial, a qual obrigara a Funai (Fundação Nacional do Índio) a
destinar e demarcar áreas no estado de Alagoas a tribo Fulkaxó.

Tendo em vista que esses conflitos não tendem a cessar, a demora de oito
anos da Funai levou as instâncias ordinárias a determinar a conclusão do
processo administrativo em quatro meses a partir da sentença, além da
aquisição e da demarcação das terras em um ano após o trânsito em julgado.

[...] Embora se reconheça a complexidade do procedimento de criação de


reservas indígenas, a fixação de prazo pelo Poder Judiciário justifica-se pela
urgência da solução dos conflitos e a demora da Administração Pública na
conclusão do processo administrativo em apreço, instaurado há anos. [...]
(Vital, 2022)
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5 CONCLUSÃO

Diante das exposições, fica claro como a luta pelas terras indígenas é um
problema grave e que merece uma solução em tempo hábil, porquanto tanta
morosidade e falta de assistência para a garantia a esse direito representam uma
ofensa a dignidade dos povos indígenas brasileiros, as leis são claras quanto as
maneiras de se efetivar suas disposições, mas é necessário uma atenção especial
quanto aos responsáveis pela administração dos órgãos e recursos que são precisos
para entregar aos índios as terras que lhe são devidas.
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REFERÊNCIAS
APARECIDA, T. (22 de 07 de 2019). Vídeo: Arquivo A mostra documentário sobre a
Realidade Indígena. Fonte: a12: https://www.a12.com/tv/programas/arquivo-
a/arquivo-a-tv-aparecida-exibe-documentario-inedito-sobre-a-realidade-
indigena

Augusto, O. (12 de 07 de 2020). Desde 1985, somente Temer e Bolsonaro não


demarcaram terras indígenas. Fonte: Metrópoles:
https://www.metropoles.com/brasil/politica-brasil/desde-1985-somente-temer-
e-bolsonaro-nao-demarcaram-terras-indigenas

BRASIL. (05 de Outubro de 1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Constituição da República Federativa do Brasil.

BRASIL. (08 de Janeiro de 1996). DECRETO Nº 1.775, DE 8 DE JANEIRO DE 1996.


Lei de Demarcação de Terras Indígenas.

CIMI. (2021). Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil – 2020.

CIMI, A. D. (04 de 19 de 2022). Após decisão judicial, indígenas Guarani e Kaiowá


temem despejo violento em Naviraí (MS). Fonte: Conselho Indigenista
Missionário: https://cimi.org.br/2022/04/decisao-despejo-mboreviry/

Pajolla, M. (11 de 01 de 2022). Funai abandona proteção de um terço das terras


indígenas, inclusive onde há isolados. Fonte: Brasil de Fato:
https://www.brasildefato.com.br/2022/01/11/funai-abandona-protecao-de-um-
terco-das-terras-indigenas-inclusive-onde-ha-isolados

Roscoe, B. (28 de 10 de 2021). Invasão a terras indígenas teve alta de 137% em 2


anos de governo Bolsonaro. Fonte: Poder 360°:
https://www.poder360.com.br/brasil/invasao-a-terras-indigenas-teve-alta-de-
137-em-2-anos-de-governo-bolsonaro/

Souza, R. (2022). População Indígena no Brasil. Fonte: Mundo Educação:


https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/a-populacao-indigena-no-
brasil.htm

Vital, D. (04 de 05 de 2022). Por questão de sobrevivência, juiz pode mandar Funai
demarcar terras, diz STJ. Fonte: Consultor Jurídico:
11

https://www.conjur.com.br/2022-mai-04/juiz-mandar-funai-demarcar-terras-
indigenas-
stj#:~:text=Por%20quest%C3%A3o%20de%20sobreviv%C3%AAncia%2C%2
0juiz,Funai%20demarcar%20terras%2C%20diz%20STJ&text=A%20in%C3%
A9rcia%20injustific%C3%A1vel%20do%20governo,fundam

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