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AULA 05
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Aula 05
Fatos Jurídicos – 2ª Parte
Negócio Jurídico
Legislação a ser consultada → Código Civil: arts. 104 até 184 (Negócio
Jurídico); art. 185 (Atos Jurídicos Lícitos); arts. 212 até 232 (Prova).
CAROS ALUNOS
Como esta aula é continuação da anterior, devemos recordar que a
expressão fato jurídico é bem ampla; ela refere-se a todo acontecimento natural
ou humano que a lei atribui efeitos jurídicos. Já analisamos o fato jurídico
natural (também chamado de fato jurídico em sentido estrito), sua classificação
e, em especial, a prescrição e a decadência. Hoje vamos nos ater ao FATO
JURÍDICO HUMANO, que é o acontecimento que depende da vontade
humana (há quem diga que o termo “vontade humana” seria uma redundância,
pois somente o homem tem vontade; no entanto a expressão é aceita pela
doutrina), abrangendo tanto os atos lícitos como os ilícitos.
Apesar de grande, a aula de hoje é mais “light” do que a anterior, pois é
menos teórica e mais dinâmica. Além disso, estaremos diante de muitos casos
que vivenciamos em nosso dia a dia. Por causa disso, nunca é demais lembrar que
este é um curso preparatório PARA CONCURSOS. Assim, não devemos nos
perder em fatos particulares que podem ocorrer em nossas vidas, mas que não
trazem repercussão nos concursos. Agora o importante é conhecer cada um dos
institutos dos quais falaremos e das suas particularidades.
Sumário
ATO JURÍDICO (Sentido Estrito) .......................................................... 05
NEGÓCIO JURÍDICO ............................................................................. 06
Classificação dos Negócios Jurídicos ................................................ 08
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS .............................................................. 12
Elementos de existência, validade e eficácia ........................................ 13
Elementos Essenciais Gerais ............................................................ 14
Capacidade do Agente ................................................................. 15
Objeto ........................................................................................ 17
Consentimento ........................................................................... 18
Defeitos relativos ao Consentimento ................................................ 20
Erro ou Ignorância ...................................................................... 22
Dolo ............................................................................................ 27
Coação ....................................................................................... 31
Estado de Perigo ......................................................................... 33
Lesão .......................................................................................... 35
Fraude contra Credores ............................................................... 38
Simulação ................................................................................... 43
Elementos Essenciais Especiais ........................................................ 48
Forma Prescrita ou Não Defesa em Lei ......................................... 48
Elementos Naturais .......................................................................... 50
Elementos Acidentais ....................................................................... 51
Condição .................................................................................... 51
Termo ......................................................................................... 57
Modo ou Encargo ........................................................................ 60
Invalidade do Negócio Jurídico ............................................................ 62
Ato Inexistente, Nulo e Ato Anulável ........................................... 62
Conversão do Negócio Nulo ......................................................... 70
Prova do Negócio Jurídico .................................................................... 72
RESUMO ESQUEMÁTICO DA AULA ......................................................... 79
Bibliografia Básica ............................................................................... 89
EXERCÍCIOS COMENTADOS (FGV) ........................................................ 90
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES (FCC) .............................................. 108
NEGÓCIO JURÍDICO
Observações
01) Alguns autores referem-se aos negócios bifrontes: são aqueles que a
rigor são gratuitos, mas podem se tornar onerosos de acordo com a vontade das
partes. Ex.: o contrato de mútuo (empréstimo de coisa fungível) em regra é
gratuito, mas as partes podem combinar uma remuneração. Outros exemplos:
depósito e mandato. A conversão só é possível se o contrato é definido na lei como
gratuito, pois a vontade das partes não pode transformar o contrato oneroso em
benéfico. Além disso, nem todos os contratos gratuitos podem ser convertidos
(ex.: a doação ficaria totalmente desfigurada se isso ocorresse).
02) A doutrina também se refere aos negócios neutros: quando não houver
atribuição patrimonial específica no negócio jurídico, não podendo ser
caracterizado nem como oneroso, nem como gratuito (ex.: instituição de bem de
família voluntário por meio de escritura pública).
03) Todo negócio oneroso é bilateral, pois a prestação de uma das partes
envolve uma contraprestação. Mas nem todo negócio bilateral é oneroso. Ex.:
doação pura e simples é negócio bilateral (possui duas vontades: doador e
donatário), porém gratuito.
Observações
01) O contrato de seguro de vida (ao contrário do que parece) é negócio
jurídico inter vivos, sendo que o evento morte funciona apenas como um termo.
Obs.: ainda na aula de hoje falarei mais sobre os efeitos ex tunc e ex nunc.
Estas expressões em latim merecem uma atenção toda especial da nossa parte
(não só no Direito Civil, mas no Direito como um todo).
E) QUANTO À SUBORDINAÇÃO
1. Principais: são aqueles que têm existência própria e não dependem de
qualquer outro. Ex.: compra e venda, locação, doação, etc.
2. Acessórios: são aqueles que têm a sua existência subordinada à de um
contrato principal. Exemplo clássico: fiança. A fiança só existe por causa de um
contrato principal; ela não tem existência jurídica autônoma (lembrem-se da
regra: “o acessório segue o principal”). Se eu sou o locador de um imóvel, quero
que o locatário (inquilino) apresente um fiador, que ficará responsável pelo
pagamento da dívida, caso o locatário não cumpra com a obrigação. Logo o
contrato de locação é o principal e a fiança é o contrato acessório, que somente
existe por causa do principal. Outro exemplo: cláusula penal (que é a multa que
pode ser pactuado no contrato, caso este não seja cumprido).
F) QUANTO ÀS FORMALIDADES
1. Solenes (formais): a lei exige uma forma especial para se aperfeiçoarem;
devem obedecer a uma solenidade específica, prevista em lei. A doutrina faz uma
pequena distinção:
a) Atos ad solemnitatem: quando a forma é exigida como condição de
validade do ato; a formalidade é a própria essência ou substância do ato. Ex.:
escritura pública de compra e venda de imóvel acima de 30 vezes o maior salário
mínimo vigente (art. 108, CC); testamento público ou cerrado que devem ser
escritos ou provado, respectivamente, pelo tabelião, etc.
b) Atos probationem tantum: a lei não determina uma forma para ser
celebrado o ato, mas determina o modo que o ato deve ser provado em juízo, se
isso for necessário em um processo; a solenidade é tida apenas como prova do
ato. Nesse sentido, estabelece o parágrafo único do art. 227, CC que: “qualquer
G) QUANTO ÀS PESSOAS
1. Impessoais: independe de quem sejam as partes e de eventual qualidade
especial destas para a prática do ato. Ex.: contrato uma pessoa para pintar um
muro (qualquer pessoa pode pintar um muro; não há uma habilidade especial para
isso).
2. Intuitu personae: o ato se realiza em função das qualidades especiais de
uma pessoa. Ex.: desejo ser operado por cirurgião de minha confiança; desejo ser
defendido no Tribunal do Júri pelo advogado “X”; quero que o famoso pintor “Z”
pinte um quadro para mim, etc.
H) QUANTO À CAUSA
1. Causais: estão vinculados a uma causa. Ex.: o registro da escritura de um
imóvel está sempre ligado à existência da escritura de compra e venda deste
imóvel; se a compra e venda for defeituosa, o registro também o será.
2. Abstratos: estão desvinculados de qualquer outro negócio. Ex.: compro
uma casa pagando com um cheque; a emissão deste é desvinculada; se a compra
e venda for considerada nula, o cheque continuará valendo, principalmente se
estiver nas mãos de terceiros.
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS
I. Elementos Essenciais: são os que dizem respeito à existência e
validade do negócio jurídico; são indispensáveis, pois lhes dão a estrutura e a
substância.
A) Gerais (comuns a todos os negócios):
1. Partes ou agentes: capazes.
2. Objeto: lícito, possível, determinado ou determinável.
3. Vontade (consentimento): livre e consciente, sem prejudicar
terceiros (sem vícios).
B) Especiais (aplicáveis somente a alguns negócios):
1. Forma: prescrita ou não defesa em lei.
A) CAPACIDADE DO AGENTE
Se todo negócio jurídico pressupõe uma declaração de vontade, a
capacidade do agente é indispensável, pois é a aptidão para intervir nos
negócios jurídicos. Trata-se da capacidade de fato ou de exercício (pessoa
dotada de consciência e vontade reconhecida pela lei como apta a exercer todos
os atos da vida civil), já analisada anteriormente. Os arts. 3° e 4° do Código Civil
apresentam o rol dos incapazes (absoluta ou relativamente). Já analisamos quem
são essas pessoas. Se alguém ficou com dúvida, retorne a aula sobre pessoas
naturais. É imprescindível o conhecimento dessa matéria para a compreensão do
que falaremos a seguir.
No caso de eventual incapacidade, esta deverá ser suprida pelos meios
legais. Enquanto os absolutamente incapazes são representados em seus
interesses por seus pais, tutores e curadores, os relativamente incapazes (embora
já possam participar pessoalmente dos negócios jurídicos) devem ser assistidos
pelas pessoas a quem a lei determinar. O ato praticado pelo absolutamente
Incapacidade
• Absolutamente incapazes (art. 3°, CC) → Devem ser representados →
Falta de representação → Negócio Jurídico Nulo (art. 166, I, CC).
• Relativamente incapazes (art. 4°, CC) → Devem ser assistidos → Falta
de assistência → Negócio Jurídico Anulável (art. 171, I, CC).
Estabelece o art. 1.634, CC: Compete aos pais, quanto à pessoa dos
filhos menores: (...) V. representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida
civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes
o consentimento.
É interessante acrescentar que o art. 105, CC determina que a
incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela outra
em benefício próprio, nem aproveita aos outros interessados. Isto porque a
intenção da lei é proteger o incapaz contra a maior experiência e má-fé de
terceiros que desejam tirar proveito desta situação. Assim não pode uma pessoa
capaz realizar um negócio com um relativamente incapaz e ele próprio (o capaz)
requerer a invalidade do negócio com fundamento de que a outra parte era
incapaz. A incapacidade é uma exceção (forma de defesa) pessoal. Por isso
somente pode ser alegada pelo próprio incapaz ou seu representante legal.
Lembrando que se a pessoa for absolutamente incapaz, o ato por ele praticado
será nulo (art. 166, I, CC), pouco importando se a incapacidade tenha sido
invocada pelo capaz ou pelo incapaz. Isso porque o art. 168, parágrafo único, CC
não permite, nem mesmo ao juiz suprir essa nulidade, ainda que os contratantes
assim pactuem.
Mas, como quase tudo, aqui também há uma exceção. Se a obrigação for
indivisível (ex.: entregar um cavalo), ainda que as demais partes sejam capazes,
não será possível separar o interesse dos contratantes. Neste caso, a incapacidade
de um deles poderá tornar anulável o ato praticado, mesmo que o vício tenha sido
alegado por uma pessoa capaz. Portanto, nesta hipótese, o vício se estenderá para
toda a obrigação, sendo o negócio anulado.
Resumindo
Pessoa sabia da incapacidade relativa da outra parte → o vício não pode
ser alegado em benefício próprio.
Pessoa não sabia da incapacidade relativa → o vício pode ser alegado.
Regra: a anulação não aproveita aos demais cointeressados. Exceção:
aproveita aos demais se a obrigação for indivisível.
REPRESENTAÇÃO
Os artigos de 115 a 120 CC tratam da representação. Esta é uma
relação jurídica pela qual certa pessoa se obriga diretamente perante terceiro, por
meio de ato praticado em seu nome por um representante. O art. 115, CC
delimita as situações possíveis para a sua realização: conferido por lei ou pelo
próprio interessado. São espécies de representantes:
a) Legais: a própria norma jurídica confere poderes para uma pessoa
administrar bens alheios; servem aos interesses do incapaz. Ex.: pais, tutores e
curadores, em relação aos bens dos filhos, tutelados e curatelados.
b) Convencionais (ou voluntários): são aqueles que têm um mandato,
expresso ou tácito, verbal ou escrito do representado. Ex.: procuração outorgada
(fornecida) a um advogado para patrocinar um processo judicial. Somente nesta
espécie de representação é possível o substabelecimento. Substabelecer
significa transferir a outra pessoa os poderes que o mandatário recebeu do
mandante. Ex.: “A” (representado ou mandante) outorgou poderes para “B”
(representante ou mandatário) defender seus interesses em um processo
trabalhista conta a empresa “X”. Como no dia designado para a audiência “B” não
irá comparecer, pode substabelecer (transferir) os poderes que recebeu para “D”,
que é outro Advogado.
DEFEITOS
1) AUSENÊNCIA DE VONTADE → Negócio inexistente (ou nulo para
outra corrente doutrinária).
Observações Importantes
01) Dolo de Terceiro (art. 148, CC). Em algumas situações o dolo pode
ser proveniente de uma terceira pessoa, estranha ao negócio. Em geral não afeta
o contrato, uma vez que o terceiro não é parte do negócio. Somente enseja a sua
anulação se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento.
Ex.: “C” instiga “A” a comprar o relógio de “B” assegurando que ele é de ouro;
porém o relógio é apenas dourado e “C” sabe disso, estando em conluio com “B”.
Neste caso o terceiro (“C”) e o contratante (“B”) são tidos como autores do dolo.
O negócio é anulável. No entanto se “B” (contratante favorecido) não tinha
conhecimento da conduta dolosa por parte do terceiro, não se anula o negócio,
mas “A” pode reclamar as perdas e danos de “C” (o terceiro causador da situação).
Resumindo:
Beneficiado pelo dolo de terceiro sabia ou deveria saber → negócio anulável.
Beneficiado pelo dolo não sabia e nem tinha como saber → negócio válido,
porém o terceiro responde pelas perdas e danos da parte que foi ludibriada.
AÇÃO PAULIANA
Os atos eivados de fraude contra credores são anuláveis através de ação
específica, chamada de ação pauliana. Ela deve ser proposta pelos
credores quirografários (e que já o eram ao tempo da alienação fraudulenta:
credores preexistentes) contra (art. 161, CC) o devedor insolvente e
também contra a pessoa que celebrou negócio jurídico com o fraudador
(litisconsórcio passivo necessário). Aqui pode ocorrer um problema!
Digamos que o devedor insolvente vendeu a “A” e este tenha revendido este
bem para “B”. Como ficaria a situação de “B”, uma vez que ele não integrou
a relação jurídica de base? A saída é a seguinte: se “B” agiu com má-fé
Observações
Vimos que os negócios jurídicos, quando praticados com determinados
vícios (erro ou ignorância essencial, dolo essencial, coação moral, lesão, estado
de perigo, etc.) podem ser anulados. Mas, para que isso ocorra, é necessário
ingressar com uma ação própria. A única ação que tem um nome especial é a
proveniente de fraude contra credores (que chamamos de pauliana). Nos demais
casos de anulação fala-se apenas em “ação de anulação por erro essencial de
objeto”, “ação de anulação por dolo substancial”... tudo depende da hipótese
concreta. Segundo a corrente majoritária, a natureza jurídica da ação pauliana
é anulatória desconstitutiva do ato impugnado, pois ela anula as alienações
fraudulentas, determinando o retorno do bem ao patrimônio do devedor.
Alguns autores também chamam esta ação de revocatória. No entanto
tomem cuidado com este termo, pois o art. 130 da “Lei de Falências” (Lei n°
11.101/05) também há uma ação com este mesmo nome e pode confundir.
Observações
01. Embora a doutrina entenda que na fraude à execução não se exige prova
da má-fé, o STJ editou a Súmula 375: “O reconhecimento da fraude à execução
depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova da má-fé do terceiro
adquirente”.
02. A jurisprudência dominante em nossos Tribunais é de que a fraude à
execução somente se caracteriza quando o devedor é citado para a ação e a partir
daí realiza os atos fraudatórios. Antes disso seria apenas a fraude contra credores.
Pessoalmente entendo que não é necessária a citação, bastando a propositura da
ação. Com isso previne-se a hipótese em que a ação é proposta, mas o réu se
oculta para não ser citado e neste ínterim realiza os atos fraudatórios;
posteriormente, já em estado de insolvência, aparece para ser citado... sem bens.
ATENÇÃO IMPORTANTE
Observações Importantes
01. Estabelece o art. 168 e parágrafo único, CC que as nulidades do art. 167,
CC (simulação) podem ser alegadas por qualquer interessado ou pelo Ministério
Público quando lhe caiba intervir. Se o Juiz conhecer do ato ou de seus efeitos e a
encontrar provada, deve pronunciar a nulidade, não lhe sendo permitido supri-las,
mesmo que haja requerimento das partes.
Observações
01) Existem situações em nosso Direito que aparentemente é condição puramente
potestativa, mas o próprio sistema jurídico a admite. O exemplo clássico é o art.
49 do Código de Defesa do Consumidor, que estabelece o chamado “prazo para
reflexão”: prazo de sete dias para ver se o consumidor gosta ou não do produto.
02) Pode haver uma combinação entre as espécies de condição. Ex.: a condição
pode ser suspensiva e casual ao mesmo tempo, ou suspensiva e potestativa.
Também resolutiva e casual ou resolutiva e potestativa.
Importante
Invalidam os negócios jurídicos as condições físicas e juridicamente
impossíveis, quando suspensivas (art. 123, I, CC). Isto porque não haveria
seriedade na proposta. Além disso, nosso direito considera inexistentes as
condições impossíveis quando forem resolutivas (art. 124, CC) e também as
de não fazer coisa impossível (ex.: dou-lhe uma importância em dinheiro se você
não usar qualquer aparelho auxiliar para ir às profundezas do oceano). Assim:
• Condição suspensiva impossível (ex.: eu lhe darei um carro se você filtrar
toda a água do mar) → invalida (nulidade absoluta) o negócio jurídico, pois
como o evento nunca vai ocorrer (é impossível filtrar toda a água do mar), o
negócio não produzirá efeitos.
4. QUANTO À LICITUDE
a) Lícita: quando não for contrária à lei, à moral e aos bons costumes; ou
seja, a condição é permitida ou tolerada em nosso direito. É o que dispõe o art.
122, primeira parte, CC.
b) Ilícita: quando for condenada pela norma jurídica, pela ordem pública, pela
moral e pelos bons costumes. Ex.: eu lhe darei uma joia se você me deixar viver
em adultério; ou se você furtar alguns documentos, ou se você mudar de religião;
ou se você não se casar, etc. A condição que viola meu direito de ir e vir também
é considerada ilícita.
Nosso direito considera ilícita a condição perplexa, ou seja, a que é
contraditória em seus próprios termos, deixando o intérprete confuso, perplexo e
privando o ato de todo efeito (ex.: eu lhe vendo um apartamento, mas você não
É importante salientar que há condições que não são aceitas pelo nosso
Direito. Alguns atos que não admitem condição, pois são ligados a uma norma
de direito público, cogente. Estes atos geralmente estão presentes no Direito de
Família e Sucessões e são chamados de atos puros. Exemplos:
• Condição de não se casar: não é admissível uma condição proibindo o
casamento. Porém ela até pode ser aceita se for elaborada da seguinte maneira:
eu lhe darei um apartamento se você não se casar com Paulo. Ou eu lhe darei
uma casa se você casar com Leandro. Quanto à condição da obrigatoriedade de
permanecer em estado de viuvez, ainda causa muita polêmica, não sendo aceita
por todos.
• Exílio: não se pode proibir que uma pessoa more em uma cidade ou que ela
tenha morada perpétua em outro lugar. Porém nada impede de se pactuar a
condição de que a pessoa vá residir em outro lugar, fora de uma capital (ex.:
eu lhe darei uma casa se você se mudar da capital do Estado).
• Religião: a condição para mudança de religião atenta contra a liberdade de
consciência assegurada pela nossa Constituição, sendo, por tal motivo, proibida.
• Profissão: não pode haver condição para que não se exerça determinada
profissão. Porém pode haver para que se siga uma certa profissão (ex.: se você
se formar em Direito, eu lhe darei meu anel de grau).
• Aceitação ou renúncia de herança: este ato deve ser puro e simples, sem
nenhuma condição.
• Reconhecimento de filho ou emancipação: também não pode haver
qualquer condição para se reconhecer um filho (ex.: eu o reconheço como meu
filho, desde que você aceite não receber pensão alimentícia ou renuncie o direito
de eventual herança); ou emancipação (eu emancipo você, desde que você não
se case).
A) ATO INEXISTENTE
Ocorre quando falta algum elemento estrutural ao negócio; é inidôneo
à produção de qualquer efeito jurídico. Ex.: compra e venda na qual não se
estipulou preço; ou não se identificou o comprador ou o vendedor; ou
simplesmente não há objeto; ou praticado com coação física, etc. Costuma-se
dizer: “ato inexistente é o nada no mundo jurídico”. O vício é tão sério que o ato
é considerado como inexistente. Não é necessária a declaração da ineficácia por
decisão judicial, porque o ato jamais chegou a existir. No entanto, na prática, se
alguém ingressar em juízo para requerer a inexistência do negócio, os efeitos
serão os mesmos da nulidade absoluta.
B) NULIDADE
De uma forma ampla nulidade é a sanção imposta pela lei que
determina a privação de efeitos jurídicos do ato negocial, praticado em
desobediência ao que ela prescreve. Para que se possa declarar um negócio
jurídico nulo ou anulável, é preciso que ele ao menos tenha entrado (embora com
vícios) no mundo jurídico para surtir os efeitos manifestados. Duas são as espécies
de nulidades: nulidade absoluta e nulidade relativa (ou anulabilidade). Ambas
pressupõem previsão legal e prejuízo. No final deste tema fornecerei um
quadro comparativo entre ambos (ato nulo e anulável).
PRAZO DECADENCIAL
Nos termos do art. 178, CC é de quatro anos o prazo de decadência
para pleitear-se a anulação do negócio jurídico. Conta-se esse prazo: a) no
caso de coação (moral), do dia em que ela cessar; b) no de erro, dolo, fraude
contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio
jurídico; c) no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade.
É importante salientar que quando a lei dispuser que determinado ato é
anulável, sem estabelecer um prazo para pleitear-se essa anulação, este prazo
será de dois anos, a contar da conclusão do ato (art. 179, CC). O exemplo
clássico, novamente, é o art. 496, CC. Ele prevê que é anulável a venda de
ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do
alienante expressamente houverem consentido. Reparem que o dispositivo diz que
o ato é anulável, mas não prevê o prazo para se requerer a anulação. Logo,
entende-se que este prazo é de dois anos, por força do art. 179, CC. Outro
exemplo: art. 533, II, CC (que trata da troca ou permuta).
Resumindo
1. Inexistência do Ato: não há vontade; o negócio jurídico não chega a se
formar por faltar-lhe elemento constitutivo essencial (ex.: coação física).
2. Nulidade: há uma declaração de vontade, mas esta não traduz a verdadeira
intenção do agente ou persegue resultado contrário às determinações legais.
a) Absoluta (ato nulo): vício mais grave, pois decorre de ofensa a preceitos
de ordem pública.
b) Relativa (ato anulável): vício menos grave, pois decorre de violação de
interesses privados.
Convalescença do Ato Anulável
Segundo a doutrina (não há unanimidade quanto a terminologia) a
convalescença pode ocorrer de três formas: confirmação (ou ratificação),
Percebam as duas expressões em latim (ex tunc e ex nunc). Elas são muito
importantes. Não só no Direito Civil, como também em todos os ramos do Direito.
Já vi estas expressões caírem em quase todas as matérias. Portanto, muita
atenção. Vamos reforçar.
EX NUNC Significa “de agora em diante”, desde agora. Portanto quando
dizemos que algo tem efeito ex nunc, queremos dizer que os efeitos decorrentes
Observações
01) Um negócio jurídico nulo pode produzir efeitos? Segundo a
professora Maria Helena Diniz a resposta é afirmativa, pois o negócio pode
produzir efeitos enquanto não decretada a sua nulidade. Ou seja, sendo nulo ou
anulável o negócio jurídico é imprescindível a manifestação do Poder Judiciário a
respeito, porque a nulidade, ainda que absoluta, não se opera ipso iure (ou seja,
de imediato, por simples força de lei). A nulidade só se repercute se for decretada
judicialmente; caso contrário, surtirão os efeitos aparentemente desejados pelas
partes. Portanto, se a ação de nulidade não for proposta, o ato continuará válido
e operante.
02) A teoria das nulidades sofre algumas exceções no que diz respeito ao
casamento. Assim, ainda que um casamento seja considerado nulo, pode gerar
efeitos em algumas situações especiais (especialmente em relação à filiação e ao
cônjuge inocente).
Regras comuns à nulidade e à anulabilidade
• Pelo art. 182, CC, anulado um negócio jurídico as partes serão restituídas
ao estado em que se encontravam antes do negócio (status quo ante). Ex.:
anulada a compra e venda de um relógio, tanto a importância em dinheiro
eventualmente paga, como o relógio (objeto do negócio), devem ser devolvidos
às partes. Se for um bem imóvel, o registro imobiliário deve ser cancelado. Não
QUADRO COMPARATIVO
3. Pode ser arguida por qualquer 3. Somente pode ser alegada pelo
interessado, inclusive o Ministério Público interessado (prejudicado) ou por seus
quando lhe couber intervir (art. 168, CC). legítimos representantes (art. 177, CC).
A) CONFISSÃO
É o reconhecimento do fato pela parte que pratica o ato contrário a seu
interesse e favorável ao adversário. Ela pode ser judicial (feita em juízo) ou
extrajudicial (feita fora de um processo); espontânea ou provocada; expressa ou
presumida (ou ficta, no caso da revelia: arts. 341 e 344, CPC/2015). Em regra, só
pode ser produzida por pessoa capaz e no gozo do direito que se discute. Ou seja,
a confissão de pessoa sem capacidade para dispor do direito relativo ao fato
confessado não produz efeito jurídico (art. 213, CC). Além disso, se a confissão
for feita pelo representante do incapaz somente terá eficácia dentro dos limites
em que puder vincular o representado. Ou seja, uma procuração deve conferir
poderes especiais para a confissão. Se o mandatário tiver apenas poderes de
administração, não poderá confessar. A confissão não valerá se foi feita por um
só dos cônjuges quando o fato versar sobre bens imóveis. Finalmente: a confissão
é irrevogável, mas pode ser anulada se for oriunda de erro de fato ou coação
(art. 214, CC).
C) TESTEMUNHAS
Testemunha é a pessoa natural (física) que, não sendo parte diretamente
interessada no objeto do litígio (estranha ao feito), é chamada para depor sobre
fato ou para atestar um ato jurídico, assegurando, perante outra, sua veracidade
(testemunha judiciária) ou para se pronunciar sobre o conteúdo do documento
que subscrevem (testemunha instrumentária), como as testemunhas que são
colocadas na realização de um testamento, nas certidões de nascimento, nas
escrituras públicas, etc.
Segundo o art. 442 CPC/2015, a prova testemunhal é sempre
admissível, não dispondo a lei de modo diverso. Nesse sentido, estabelece o
parágrafo único do art. 227, CC que: “qualquer que seja o valor do negócio
jurídico, a prova testemunhal é admissível como subsidiária ou complementar
da prova por escrito”.
Obs.: O novo Código de Processo Civil revogou expressamente o caput
deste dispositivo, que dizia: “Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente
testemunhal só se admite nos negócios jurídicos cujo valor não ultrapasse o
décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao tempo em que foram
celebrados”.
Já o art. 444, CPC/2015 estabelece que nos casos em que a lei exigir
prova escrita da obrigação, é admissível a prova testemunhal quando houver
começo de prova por escrito, emanado da parte contra a qual se pretende
produzir a prova.
A prova testemunhal para surtir efeitos no âmbito do Processo Civil deve
atender aos seguintes requisitos: a) deve ser pessoa física, não se admitindo o
testemunho de pessoa jurídica, cujas informações integram a prova documental;
b) deve ser pessoa estranha ao feito, não se confundindo com as partes; c) deve
ter conhecimento dos fatos, direta ou indiretamente, para atestar sobre sua
existência; d) deve ter capacidade jurídica para depor, preenchendo os
respectivos pressupostos legais. Este tema é tratado pelo atual Código de Processo
Civil (2015), sendo que o art. 447 estabelece quem pode ser testemunha e quem
é incapaz, impedido ou suspeito.
Segundo o art. 228, CC, não podem ser admitidos como testemunhas
(redação da Lei n° 13.146/2015) o(s):
Observações
01. O art. 228, §1°, CC estabelece que para a prova de fatos que só elas
conheçam, pode o juiz admitir o depoimento das pessoas acima
mencionadas. Nesse sentido é o teor do art. 447, §4°, CPC/2015: Sendo
necessário, pode o juiz admitir o depoimento das testemunhas menores,
impedidas ou suspeitas.
02. O art. 228, §2°, CC (inserido pela Lei n° 13.146/2015 – Estatuto da
Pessoa Deficiente) estabelece que a pessoa com deficiência poderá testemunhar
em igualdade de condições com as demais pessoas, sendo-lhe assegurados todos
os recursos de tecnologia assistiva. Portanto, caíram aquelas restrições quanto a
cegos e surdos, bem com a impossibilidade da pessoa com alguma enfermidade
ou deficiência mental para depor. Ocorre, entretanto, que essas alterações ainda
não foram inseridas no novo Código de Processo Civil.
03. Quando um menor de 16 anos presta declarações em juízo, eles são
considerados como informantes (e não como testemunhas, propriamente ditas).
A contrário senso, as pessoas com 16 anos ou mais já podem ser testemunhas.
Se a testemunha tiver entre 16 e 18 anos, pode prestar depoimento mesmo sem
a assistência de seus representantes legais. No entanto, apesar de ser considerada
testemunha, se ela mentir não irá responder pelo crime de falso testemunho, uma
vez que é inimputável.
04. Devemos acrescentar que nos termos do art. 448, CPC/2015, a
testemunha não é obrigada a depor sobre fatos: I. que lhe acarretem grave
dano, bem como ao seu cônjuge ou companheiro e aos seus parentes
consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau; II. a cujo
respeito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo. O CPC de 2015 revogou
expressamente o art. 229, CC.
D) PRESUNÇÃO
É a ilação que se extrai de um fato conhecido para se demonstrar um
desconhecido. Ex.: um credor somente entrega o título ao devedor (ex.: uma nota
promissória) quando a dívida foi paga. Portanto, se um devedor estiver de posse
do título, há a presunção de que ele pagou a dívida. Classifica-se a presunção em:
Observação
Não confundir presunção com indício. Indício (do latim indicium =
rastro, sinal) é apenas um meio para se chegar à presunção. A reunião de indícios
pode dar corpo à presunção.
E) PERÍCIAS
É uma prova decorrente das análises de especialistas ou peritos. Costumam
ser classificados em:
1. Exame (apreciação de algo pelo perito para esclarecimento de determinado
fato: exame de corpo de delito, exame de DNA, exame de sanidade mental, exame
grafotécnico, confronto balístico, residuográfico, etc.), vistoria (é a mesma
operação, porém restrita à inspeção ótica: vistoria veicular, vistoria nas ações
possessórias, demarcatórias, etc.) e avaliação (tem por objetivo a perícia em
relação a valores: avaliação de danos causados em um veículo após um acidente
automobilístico, verificação de contas, etc.).
2. Arbitramento: geralmente é a perícia realizada para determinar o valor de
uma indenização por ato ilícito e nas desapropriações.
3. Inspeção judicial: o Juiz para melhor formar sua convicção faz a verificação
pessoal no objeto ou na pessoa. É ato formal e público.
Observações
01) Segundo o art. 479, CPC/2015, “o Juiz apreciará a prova pericial de acordo
com o disposto no art. 371, indicando na sentença os motivos que o levaram a
considerar ou a deixar de considerar as conclusões do laudo, levando em
conta o método utilizado pelo perito”.
02) A lei não estabelece uma hierarquia entre os meios de prova. Cada
prova tem seu valor intrínseco, segundo seu modo de ser e segundo os resultados
que em cada processo são aptas a produzir. No entanto, na prática, é evidente
algumas provas são mais eficazes do que outras.
Devemos reforçar. A prova deve ser admissível, ou seja, não proibida pela
lei. Além disso, o ônus da prova incumbe a quem alega o fato e não a quem o
contesta.
A escritura pública é um documento dotado de fé pública, lavrado por
tabelião de notas, redigido em língua nacional e contendo todos os requisitos
(objetivos e subjetivos) exigidos pela lei: qualificação das partes, manifestação de
IV. ATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO (ou fato jurídico humano voluntário).
A) Ato Lícito (Ato Jurídico em Sentido Estrito)
• Realização de vontade do agente, mas que gera consequências jurídicas
previstas em lei (não depende da vontade das partes; não há liberdade na
escolha dos efeitos jurídicos; não há autonomia da vontade). Geralmente eles
são unilaterais (possuem apenas uma manifestação de vontade) e
potestativos (influem na esfera jurídica de outra pessoa sem que esta pessoa
possa evitar). Ex.: reconhecimento de filho. Atos materiais ou reais (simples
atuação humana, sem destinatário: fixação de domicílio) e Participações (atos
de comunicação, com destinatário: notificações e intimações).
B) Negócio Jurídico
1. Conceito: manifestação de vontade sem vícios, com propósito de atingir,
dentro do campo da autonomia privada, os efeitos jurídicos desejados pelo
agente e tutelados pela lei. O agente pode escolher os efeitos jurídicos que
pretende alcançar. Trata-se de toda ação humana, com a qual o particular
regula por si, os próprios interesses, havendo uma composição de interesses.
Podem ser bilaterais (ex.: contratos) e unilaterais (testamentos).
2. Classificação doutrinária (principais)
a) Quanto ao número de manifestações de vontade: unilateral
(aperfeiçoa-se com apenas uma manifestação de vontade: testamento,
renúncia, desistência, etc.) Divide-se em receptício (dirigido a uma pessoa
determinada para lhe dar conhecimento da declaração: revogação de
mandato) e não receptício (não se dirige a um destinatário especial:
testamento); bilateral (necessita de duas manifestações de vontades em
sentido oposto, mas coincidente sobre o objeto: contratos); plurilateral
(mais de duas partes em sentido paralelo: consórcio de um veículo).
b) Quanto às vantagens: gratuito (só uma das partes aufere vantagem)
ou oneroso (ambos os contratantes possuem ônus e vantagens recíprocas).
Este ainda se divide em: comutativo (prestações certas e determinadas) ou
aleatório (há uma incerteza em relação às vantagens e ônus das partes –
risco). Fala-se também em bifrontes (em regra são gratuitos, mas podem
ser onerosos: mútuo, mandato e depósito) e neutros (não são gratuitos e
nem onerosos: instituição de bem de família).
c) Quanto ao tempo em que devem produzir efeitos: inter vivos
(efeito estando as partes vivas) ou causa mortis (produz efeitos após a
morte do agente).
d) Quanto aos efeitos: constitutivo (eficácia a partir do momento da
celebração: ex nunc) ou declaratório (eficácia desde o momento em que
se operou o fato, retroativa: ex tunc).
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
12) (FGV – TJ/GO – Analista Judiciário – 2014) Vanildo, ciente de que seu
veículo apresentava sério problema no motor, que se manifestaria a
qualquer momento, cujo conserto seria quase o valor do carro, colocou-o
a venda. Eduardo, tomando conhecimento de que o carro seria vendido,
procurou Vanildo, que disponibilizou totalmente o automóvel para que
Eduardo o experimentasse e o analisasse. Por fim, Eduardo realizou a
compra, mantendo-se Vanildo em silêncio quanto ao problema no motor.
É correto afirmar que esse negócio jurídico é:
(A) inexistente.
(B) nulo de pleno direito.
(C) ineficaz.
13) (FGV – Exame Unificado da OAB – 2012) Em relação aos defeitos dos
negócios jurídicos, assinale a afirmativa INCORRETA.
(A) a emissão de vontade livre e consciente, que corresponda efetivamente ao
que almeja o agente, é requisito de validade dos negócios jurídicos.
(B) o erro acidental é o que recai sobre características secundárias do objeto,
não sendo passível de levar à anulação do negócio.
(C) a simulação é causa de anulação do negócio, e só poderá ocorrer se a parte
prejudicada demonstrar cabalmente ter sido prejudicada por essa prática.
(D) o objetivo da ação pauliana é anular o negócio praticado em fraude contra
credores.
COMENTÁRIOS. A letra “a” está correta. Segundo o art. 104, CC, a validade do
negócio jurídico requer: agente capaz, objeto lícito, possível, determinado ou
determinável e forma prescrita ou não defesa em lei. A doutrina ainda acrescenta
a vontade como requisito de validade dos negócios jurídicos. Esta vontade deve
ser livre e consciente. Podemos dizer que um ato é válido (quanto ao
consentimento) quando eu faço exatamente aquilo que eu queria fazer, desejando
seus efeitos, sem que esta conduta prejudique terceiros. Assim, se eu fiz algo que
não queria ou fiz algo que eu queria, mas prejudiquei interesses de terceiros,
surgem os chamados defeitos relativos à vontade. A letra “b” está correta. De
fato, o erro acidental é aquele concernente às qualidades secundárias ou
acessórias da pessoa ou do objeto. Ocorrendo esta espécie de erro, o negócio
jurídico não será anulado. O ato continua válido, produzindo efeitos, porque o
defeito não incide sobre a declaração de vontade. Mesmo sabendo do defeito, a
pessoa teria realizado aquele negócio. Observem que o art. 138, CC estabelece
que são anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade
emanarem de erro substancial (e não acidental) que poderia ser percebido por
pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio. A letra “c”
está errada, principalmente porque a simulação, nos termos do art. 167, CC, é
causa de nulidade (e não anulação) do negócio. A letra “d” está certa. Os atos
praticados contra credores são anuláveis através de ação própria, chamada de
pauliana. O principal efeito da ação é “revogar” o negócio lesivo aos interesses
15) (FGV – TJ/AM – Juiz de Direito – 2013) João, premido pela necessidade
de conseguir dinheiro para purgar a mora referente a alugueis e encargos da casa
em que reside e evitar o despejo, vendeu uma joia de família a Ricardo, por
R$5.000,00, embora o seu preço de mercado seja de aproximadamente
R$50.000,00. Posteriormente, não conseguindo desfazer amigavelmente o
negócio realizado, propõe ação para anular a venda da joia. De acordo com as
informações apresentadas, assinale a alternativa que indica, em tese, o
defeito do negócio jurídico.
(A) lesão.
(B) dolo.
(C) coação.
(D) estado de perigo.
(E) erro.
COMENTÁRIOS. No caso concreto ocorreu a lesão. O dispositivo que embasa a
resposta é o art. 157, CC: Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente
necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente
desproporcional ao valor da prestação oposta. §1° Aprecia-se a desproporção das
prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio
Exercícios Complementares
Fundação Carlos Chagas
23) (FCC – TJ/SC – Analista Jurídico – 2013) De acordo com a lei civil, o
fato jurídico naqueles negócios que independem de forma especial podem
ser provados por alguns meios, EXCETO pela(o):
(A) presunção.
(B) perícia.
(C) confissão.
(D) documento.
(E) silêncio.
COMENTÁRIOS. O silêncio é a única alternativa que não se encontra no rol do
art. 212, CC: Salvo o negócio a que se impõe forma especial, o fato jurídico pode
ser provado mediante: I. confissão; II. documento; III. testemunha; IV.
presunção; V. perícia. No entanto é interessante acrescentar que segundo o
art. 111, CC, o silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o
autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa. Gabarito:
“E”.
12) (FGV – TJ/GO – Analista Judiciário – 2014) Vanildo, ciente de que seu
veículo apresentava sério problema no motor, que se manifestaria a
qualquer momento, cujo conserto seria quase o valor do carro, colocou-o
a venda. Eduardo, tomando conhecimento de que o carro seria vendido,
procurou Vanildo, que disponibilizou totalmente o automóvel para que
Eduardo o experimentasse e o analisasse. Por fim, Eduardo realizou a
compra, mantendo-se Vanildo em silêncio quanto ao problema no motor.
É correto afirmar que esse negócio jurídico é:
(A) inexistente.
(B) nulo de pleno direito.
(C) ineficaz.
(D) anulável.
(E) perfeitamente válido.
15) (FGV – TJ/AM – Juiz de Direito – 2013) João, premido pela necessidade
de conseguir dinheiro para purgar a mora referente a alugueis e encargos da casa
em que reside e evitar o despejo, vendeu uma joia de família a Ricardo, por
R$5.000,00, embora o seu preço de mercado seja de aproximadamente
R$50.000,00. Posteriormente, não conseguindo desfazer amigavelmente o
negócio realizado, propõe ação para anular a venda da joia. De acordo com as
informações apresentadas, assinale a alternativa que indica, em tese, o
defeito do negócio jurídico.
(A) lesão.
(B) dolo.
(C) coação.
(D) estado de perigo.
(E) erro.