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FACULDADE MARANHENSE SÃO JOSÉ DOS COCAIS

ESTUDO DIRIGIDO
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Direito das Obrigações

Profa. Vanessa de Oliveira Amorim

Questão 1.
1.1. Quais são os princípios norteadores da elaboração do Código Civil de 2002?
1.2. O que eles significam?
1.3. Quanto a eles, em que o Código de 2002 se diferencia do CC/16?

Questão 2. Conceitue obrigação e indique seus elementos.

Questão 3. Qual é a finalidade da obrigação?

Questão 4.
4.1. Diferencie ônus, dever, estado de sujeição e direito potestativo.
4.2. Classifique as seguintes posições jurídicas de acordo com os conceitos anteriormente
indicados: (i) direito à resolução; (ii) direito de crédito; (iii) mitigação do próprio dano; (iv)
anulação por erro.

Questão 5.
5.1. No que consiste a teoria dualista da obrigação? Defina os elementos do vínculo segundo
essa teoria.
5.2. No Brasil, a responsabilidade é pessoal ou patrimonial? Indique o fundamento legal.
5.3. Diferencie obrigação civil e natural.
5.4. Compare os efeitos entre as seguintes situações: (i) devedor realiza o pagamento de dívida
prescrita; (ii) devedor realiza depósito de dinheiro em conta de titularidade de pessoa para quem
não deve e (iii) comodatário deposita valor para pagamento de conserto do carro em comodato
que colidiu sem culpa sua.

Questão 6.
Carlos e Marcelo celebraram um contrato em que Marcelo se obrigou a, na data do vencimento,
entregar a Carlos 2.000 sacas de café tipo “A” ou 5.000 sacas de milho tipo “B”.

Em vista disso, responda:

1) Apenas conforme os parâmetros do enunciado e da legislação aplicável, pode Marcelo, à sua


livre escolha, adimplir a obrigação parte em sacas de café tipo “A” e parte em sacas de milho
tipo “B”? Fundamente.

2) Se, por culpa de Marcelo, todo o seu cafezal e milharal perecer, por conta de incêndio, qual a
consequência para a relação jurídica? Fundamente.

Questão 7

A peça Liberdade, do famoso escultor Lúcio, foi vendida para a Galeria da Vinci pela importância de
R$ 100.000,00 (cem mil reais). Ele se comprometeu a entregar a obra dez dias após o recebimento da
quantia estabelecida, que foi paga à vista.

A galeria organizou, então, uma grande exposição, na qual a principal atração seria a escultura
Liberdade. No dia ajustado, quando dirigia seu carro para fazer a entrega, Lúcio avançou o sinal,
colidiu com outro veículo, e a obra foi completamente destruída. O anúncio pela galeria de que a peça
não seria mais exposta fez com que diversas pessoas exercessem o direito de restituição dos valores
pagos a título de ingresso.

Sobre os fatos narrados, assinale a afirmativa correta.

Alternativas

A) Lúcio deverá entregar outra obra de seu acervo à escolha da Galeria da Vinci, em substituição à
escultura Liberdade.

B) A Galeria da Vinci poderá cobrar de Lúcio o equivalente pecuniário da escultura Liberdade mais o
prejuízo decorrente da devolução do valor dos ingressos relativos à exposição.

C) Por se tratar de obrigação de fazer infungível, a Galeria da Vinci não poderá mandar executar a
prestação às expensas de Lúcio, restando-lhe pleitear perdas e danos.

D) Com o pagamento do preço, transferiu-se a propriedade da escultura para a Galeria da Vinci, razão
pela qual ela deve suportar o prejuízo pela perda do bem.
REVISÃO DE FATOS JURÍDICOS

NATURAL (fato jurídico em sentido estrito)

FATO JURÍDICO
FATO JURÍDICO HUMANO

- Lícitos
- Ato Jurídico
- Ato-fato jurídico de dar
- Negócio Jurídico Obrigação de fazer
de não fazer
- Ilícitos
- Arts. 186 e 187 CC + art. 927, caput

FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO

Todo acontecimento natural ou humano capaz de criar, modificar, conservar ou extinguir


relações humanas.

JULGADO STJ

[...]
9. Ocorrência, no caso, dos elementos essenciais para caracterização do dano moral
indenizável, quais sejam: o fato jurídico (em sentido amplo), consubstanciado na
exclusão indevida do autor do serviço público; [...]
(REsp 1.421.975. Ministro Olindo Menezes. DOU 10/12/2015)

FATO JURÍDICO

O evento concretizador da hipótese contida na norma.

Fato jurídico comporta:


1. Acontecimentos naturais (fatos jurídicos em sentido estrito)
2. Ações humanas lícitas (ato jurídico em sentido amplo) ou ilícitas (ato ilícito)

FATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO

Todo acontecimento natural, determinante de efeito na órbita jurídica.

Classificam-se em:
1. Ordinário (nascimento, morte)
2. Extraordinário (terremoto, enchente)
Exemplo: Precipitação que ocorre em zona urbana, causando graves prejuízos a determinada
construção, objeto de um contrato de seguro. Nesse caso, deixa de ser um simples fato natural
e passa a ser um fato jurídico, qualificado pelo Direito.

JULGADO STJ

[...]
1. A prescrição é um fato jurídico em sentido estrito justamente pela ausência de
vontade humana, prevendo a lei efeitos naturais, relacionados com a extinção da
pretensão. [...]
(AREsp 672255 – ES. Ministro Antonio Carlos Ferreira. DOU 01/07/2015)

ATO-FATO JURÍDICO

Definição: fatos que há uma atuação humana desprovida de manifestação de vontade, mas
mesmo assim produz efeitos jurídicos.
Exemplo: Compra e venda feita por crianças.
Neste agravo em recurso especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ), pode-se verificar um
exemplo de ato-fato jurídico, veja-se:

[...]
Por sua vez, o adimplemento, ou seja, o cumprimento de uma obrigação é um ato-
fato jurídico, isto é, a vontade dos agentes é irrelevante para o resultado jurídico
programado. O que faz desaparecer a obrigação é o adimplemento total e não uma
palavra mágica quitação, que teria poderes juridicamente transcendentais. Assim, por
ser a quitação prova de um fato, não pode irradiar efeitos além dos efeitos próprios do
fato provado. Em outras palavras, se não houve pagamento de valor decorrente da
indenização pela não manutenção das condições efetivas da proposta, não pode haver
quitação disto, limitando-se a quitação somente ao montante pago efetivamente.
[...]
(AREsp nº 1.204.98 - SP. Rel. Ministra Assusete Magalhães. DOU 28/11/2017)

DIREITO OBRIGACIONAL: NOÇÕES INICIAIS

1 – OBRIGAÇÃO:

“Vínculo de direito pessoal pelo qual alguém (suj. passivo/devedor/solvens) se propõe a dar, fazer ou
não fazer algo/coisa em favor de outrem (suj. ativo/credor/accipiens)” com conteúdo economicamente
valorado e transitório. Silvio Rodrigues.

“ Relação transitória de direito, que nos constrange (solvens) a dar, fazer ou não-fazer alguma coisa,
em regra economicamente apreciável, em proveito de alguém (ACIPIENS) que por ato nosso ou de
alguém juridicamente relacionado, ou em virtude de lei, adquiriu o Direito de exigir de nós essa ação
ou omissão”.

Clóvis Beviláqua
Obrigação Civil

São obrigações que possuem débito e responsabilidade. Portanto, se o devedor não cumprir com sua prestação
de dar, fazer ou não fazer, poderá o devedor ir em busca da tutela judicial ou extrajudicial, objetivando a sua
reparação.
EMENTA
[...] Multa como penalidade administrativa, diferente da Obrigação Civil de reparar o
dano.
[...]
12. Em resumo: a aplicação e a execução das penas limitam-se aos transgressores; a
reparação ambiental, de cunho civil, a seu turno, pode abranger todos os poluidores,
a quem a própria legislação define como “a pessoa física ou juridica, de direito público
ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de
degradação ambiental” (art. 3º, inc. V, do mesmo diploma normativo).
13. Note-se que nem seria necessário toda a construção doutrinária e jurisprudencial
no sentido de que a obrigação civil de reparar o dano ambiental é do tipo propter
REM, porque, na verdade a própria lei já define como poluidor todo aquele que seja
responsável pela degradação ambiental – e aquele que, adquirindo a propriedade, não
reverte o dano ambiental, ainda que não causado por ele, já seria um responsável
indireto por degradação ambiental (poluidor, pois).
[...]
(Recurso especial 1251697/PR. Ministro Mauro Campbell Marques. Segunda Turma.
Data da Publicação 17/04/2012)

2 – DISTINÇÕES

2.1 Direito Pessoal x Direito Real

➢ Direito Pessoal ➢ Direito Real


➢ Sujeito e sujeito ➢ Sujeito e objeto
➢ Caráter Relativo ➢ Caráter Absoluto
➢ ➢ Usar, dispor, fruir, reivindicar
➢ ➢
➢ ➢
➢ ➢

2.2 Obrigações Naturais

São obrigações que possuem débito, mas não possuem responsabilidade. Ou seja, as obrigações naturais não
podem ser exigíveis judicialmente.
Segundo o Código Civil Português (art. 402): são obrigações fundadas “num mero dever de ordem moral ou
social, cujo cumprimento não é judicialmente exigível, mas corresponde a um dever de justiça”.
Exemplo: dívidas de jogos e dívida prescrita.

Observação: o devedor que espontaneamente satisfaz a obrigação, descabe a repetição daquilo que se deu a
título de adimplemento.
Características
1. O cumprimento da obrigação natural não é judicialmente exigível;
2. Não se pode repetir o que se pagou para o cumprimento de obrigação judicialmente inexigível (art. 882,
CC).

Os jogos podem ser legalizados, tolerados e proibidos. Os primeiros são criados por lei e podem ser jogados, a
exemplo do totolec show e mega-sena. Os proibidos são os chamados jogos de azar, que levam em consideração
somente a sorte do jogador, podendo-o levar a insolvência. Exemplo do jogo do bicho. Os tolerados são os jogos
que não levam somente a sorte do indivíduo, mas sua capacidade pessoal de estratégia para vencer. Exemplo:
jogos de carta, dominó.
2.3 Obrigação Civil X Responsabilidade Civil

- obrigação propter rem


2.2 INSTITUTOS HÍBRIDOS
- obrigação com eficácia real

ELEMENTOS DA OBRIGAÇÃO

• SUJEITOS (Elemento subjetivo)

O elemento subjetivo da obrigação oferece a peculiaridade de ser duplo: um sujeito ativo ou credor; um sujeito
passivo ou devedor. Um sujeito ativo ou credor (réus credendi) que tem o direito de exigir a prestação; um
sujeito passivo ou devedor (réus debendi) que tem o dever de prestar. (PEREIRA, pág. 32, 2017)

• OBJETOS (Elemento objetivo)

Trata-se do conteúdo da obrigação.


O objeto tem que ser lícito, possível, determinado ou determinável.
O objeto imediato da obrigação, perceptível de plano, é a prestação, que pode ser positiva ou negativa. Sendo
a obrigação positiva, ela terá como conteúdo o dever de entregar coisa certa ou incerta (obrigação de dar) ou
dever de cumprir determinada tarefa (obrigação de fazer). Sendo a obrigação negativa, o conteúdo é uma
abstenção (obrigação de não fazer). [...] Ato continuo, percebe-se que objeto mediato da obrigação pode ser
uma coisa ou uma tarefa a ser desempenhada, positiva ou negativamente. Como exemplo de objeto mediato da
obrigação, pode ser citado um automóvel ou uma casa em relação a um contrato de compra e venda (TARTUCE,
Flávio. pág. 7-8, 2016).

• VÍNCULO (Elemento abstrato)

O terceiro elemento da obrigação é o vínculo jurídico [...]. É no vinculum iuris que reside a essência abstrata da
obrigação, o poder criador de um liame por cujo desate o indíviduo respondia outrora com a sua pessoa e hoje
com seu patrimônio. É ele que traduz o poder que o sujeito ativo tem de impor ao outro uma ação positiva ou
negativa, e exprime uma sujeição que pode variar largamente, dentro porém de dois extremos, que são os seus
limites externos: a seriedade da prestação e a liberdade individual. (PEREIRA, pág. 40, 2017)

ESPÉCIES DE OBRIGAÇÕES

- DAR
- FAZER
• QUANTO AO OBJETO - NÃO FAZER

- CONDIÇÃO

• QUANTO AOS ELEMENTOS ACIDENTAIS - TERMO

- ENCARGO
- OBRIGAÇÃO CIVIL

• QUANTO AO VÍNCULO - OBRIGAÇÃO NATURAL

A classificação quanto ao objeto serão devidamente mencionadas em momento oportuno.

Elementos acidentais
São aqueles que não são essenciais ao ato em regra: a condição, o termo e o encargo.

Obrigação condicional: É aquela que possui clausula que subordina o seu efeito a um evento futuro e incerto
(condição). Ex: doação feita ao nascituro. (art. 542 CC)
Ex 2: condicionamento da prestação de honorários advocatícios à vitória judicial. O resultado pretendido pelo
cliente não é objeto da obrigação, mas a condição de pagamento de honorários. Ou seja, advogado e cliente
exercem um ato de autonomia e inseriram um elemento acidental ao negócio jurídico. (FARIAS;
ROSENVALD, pág. 294, 2012)
Obrigacão a termo: É aquela que contem uma clausula que subordina seu efeito a um evento futuro e certo
(termo). Ex: o donatário permanece com o bem por um lapso temporal.
Obrigacão modal ou com encargo: É aquela onerada por um encargo, um ônus à pessoa contemplada pela
relação jurídica. Ex: doação modal ou com encargo (art. 540 CC)

O artigo 540 do CC contempla dois tipos de doação: remuneratória (1) e a meritória (2). (manual)
Ex 1: é aquela feita em carater de retribuição por um serviço prestado pelo donatário, mas cuja prestação não
ser exigida pelo último. Serio o caso de doação de um automóvel feita ao médico que salvou a vida do doador.
(manual)
Ex 2: é aquela feita em contemplação a um merecimento do donatário. Alguém que doa vários livros a um
professor famoso, pois aprecia seu trabalho e consta esse motivo no instrumento contratual. (manual)

Referências
FARIAS, Cristiano Chaves de Farias; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil, volume 2:
obrigações. 6. ed. Salvador: jus podivm, 2012.
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil – v. II/Atualização Guilherme Calmon Nogueira
da Gama. 29. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 4º Ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método,
2014.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v.2 – Direito das Obrigações e responsabilidade civil. 11. Ed. Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: Método, 2016.

CLASSIFICAÇÃO BÁSICA DAS OBRIGAÇÕES

Com base no elemento objetivo da relação obrigacional (prestação), a doutrina costuma


classificar a obrigação da seguinte forma:
4.1. OBRIGAÇÕES POSITIVAS

a) Obrigação de dar:

Obrigação de dar é aquela que tem por objeto a prestação de COISA. O verbo “dar”, para o
D. Civil, pode ter o sentido de transferir propriedade, transferir posse ou restituir a coisa. Ex.:
celebrado o contrato de compra e venda, surge a obrigação de dar, consistente na transferência da
propriedade do imóvel pelo devedor ao credor.

• Obrigação de dar coisa certa (arts. 233 a 242, CC/02):

As obrigações de dar coisa certa, reguladas a partir do art. 233 do Código Civil, são aquelas
cujo objeto da prestação é determinado, individualizado. Vejamos o que diz os arts. 233 e 234 do
referido diploma:

Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não
mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso.

Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes
da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as
partes; se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais
perdas e danos.

Pela leitura dos dispositivos acima, podemos concluir que, em geral, se houver culpa do
devedor quanto ao perecimento da coisa, deverá responder pelo equivalente e indenizar o credor
por perdas e danos. Se não houver culpa do devedor, a obrigação ficará resolvida para ambas as
partes.
Exemplo: João se obriga a vender sua vaca holandesa nº. 23 a André. Se a vaca estiver prenha,
o contrato também abrangerá o filhote (art. 233). Se, no dia da tradição, a vaca falecer sem culpa do
devedor (João), a obrigação fica resolvida para ambas as partes. Por outro lado, se restar comprovada
a culpa do devedor pelo perecimento da vaca, ele responderá pelo equivalente + perda e danos (art.
234).
Ressalte-se que, não apenas para as obrigações de dar coisa certa, mas, especialmente para
elas, deve-se aplicar a regra do art. 313 do Código Civil:

Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda
que mais valiosa.

O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais
valiosa. Exemplo: se, num restaurante, o cliente encontrar um fio de cabelo dentro de um filé de
peixe, ele não é obrigado a aceitar uma lagosta como “recompensa”; o cliente tem o direito à
devolução do dinheiro.

• Obrigação de dar coisa incerta (arts. 243 a 246, CC/02):

A obrigação de dar coisa incerta, regulada a partir do art. 243 do Código Civil, é aquela em
que a coisa é indicada apenas pelo GÊNERO e pela QUANTIDADE. Ex.: João se obriga a entregar 100
sacos de feijão (não se sabe o tipo) a André. Trata-se de uma obrigação genérica, pois a coisa ainda
não foi individualizada. Vejamos o que diz o art. 243:

Art. 243. A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade.

Alguns autores, vale dizer, criticam a dicção legal, afirmando que mais técnico seria dizer que
a coisa incerta é aquela indicada apenas pela espécie e quantidade, pois o termo “gênero” é muito
amplo.
Destaque-se que a indeterminação da coisa é temporária, pois chegará o momento da
individualização da coisa. Quem faz a escolha/individualização da coisa? Em regra, o devedor, nos
termos do art. 244 do CC/02:

Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao
devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa
pior, nem será obrigado a prestar a melhor.
Portanto, em regra, quem faz a escolha da coisa (quando ela é incerta) é o devedor (salvo se
o contrato estipular o contrário), sendo que essa escolha deve ser feita pela média. Isso significa
dizer que o devedor não é obrigado a dar a coisa melhor nem a pior.
Denomina-se CONCENTRAÇÃO DO DÉBITO OU DA PRESTAÇÃO DEVIDA o ato de escolha e
individualização da coisa.
Frise-se que, se a coisa ainda não foi individualizada, o devedor não pode alegar a perda ou
a deterioração da coisa. Assim, por exemplo, se João se obrigou a dar 100 cabeças de gado bovino a
André, sem especificar o tipo, ele não pode alegar que não terá como cumprir a obrigação pois
ocorreu uma enchente que matou todo o seu rebanho. É a regra do art. 246 do Código Civil:

Art. 246. Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa,
ainda que por força maior ou caso fortuito.

✓ Se a obrigação for de dar coisa incerta e o objeto, ainda não individualizado, se deteriorar, a
obrigação extinguir-se-á para ambas as partes. – ERRADO (CESPE/2013).

Pela leitura do dispositivo, podemos concluir que o gênero não perece, de maneira que o
devedor da coisa incerta, antes da escolha, não pode pretender se eximir alegando caso fortuito
ou força maior.
Ressalte-se, entretanto, que o art. 246 é falho, uma vez que, se a coisa for determinada pela
sua natureza, é possível que ela pereça. Assim, podemos dizer que, se o gênero for limitado na
natureza (ex.: um vegetal especial), a alegação de caso fortuito ou força maior poderá ser razoável.

b) Obrigação de fazer (arts. 247 a 249, CC/02):

A obrigação de fazer é aquela que tem por objeto a prestação de um FATO, podendo ser
personalíssima (infungível) ou não personalíssima (fungível). Exemplo¹: uma comissão de formatura
contratou a banda Chiclete com Banana; no dia do evento, não pode a referida banda enviar outro
artista para cantar (obrigação infungível). Exemplo²: cliente contrata um serviço de TV à cabo; não
importa que o serviço seja executado pelo funcionário João ou André (obrigação fungível).
A obrigação de fazer, quando culposamente descumprida, pode gerar a obrigação de pagar
perdas e danos, sem prejuízo de eventual tutela jurídica específica, a exemplo da multa diária
(astreintes). Trata-se de regra extraída do art. 247 do CC/02, senão vejamos:
Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a
prestação a ele só imposta, ou só por ele exeqüível.

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