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AULA 02
= PESSOAS JURÍDICAS =
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Aula 02
Das Pessoas Jurídicas
Temas que serão abordados nesta aula e que estão presentes nos
últimos editais PESSOA JURÍDICA. Disposições Gerais. Conceito.
Classificação. Início e fim de sua existência legal. Domicílio. Desconsideração da
Personalidade Jurídica.
Sumário
INTRODUÇÃO E CONCEITO .................................................................... 03
Proteção e Natureza Jurídica ............................................................. 04
Pressupostos de Existência e Elementos Caracterizadores ................. 05
Representação .................................................................................. 06
CLASSIFICAÇÃO GERAL ......................................................................... 08
Pessoa Jurídica de Direito Público ...................................................... 09
Pessoa Jurídica de Direito Privado ..................................................... 18
Organizações Sociais de Interesse Público ......................................... 24
Início da Existência Legal. Constituição ................................................. 33
Registro ............................................................................................ 34
DOMICÍLIO ........................................................................................... 36
Responsabilidade .................................................................................. 36
INTRODUÇÃO
O homem, desde seus primórdios, sempre teve necessidade de se agrupar
para garantir a subsistência e atingir fins comuns. A necessidade de circulação de
riquezas como fator de desenvolvimento, fez com que se estabelecessem nas
sociedades grupos de atuação conjunta na busca de objetivos semelhantes. E
o Direito, ante a necessidade crescente de agilidade nas negociações, não ignorou
estas unidades coletivas. Portanto, a pessoa jurídica é fruto desta evolução
histórica-social.
CONCEITO
De forma técnica Pessoa Jurídica pode ser definida como a união de
pessoas naturais ou de patrimônios, com o objetivo de atingir determinadas
finalidades, sendo reconhecida pela ordem jurídica como sujeito de direitos e
obrigações. Assim, como sujeito de relações jurídicas, possui personalidade
jurídica individual e própria (autônoma), independente da personalidade das
pessoas naturais que a compõe, principalmente quanto ao patrimônio.
NATUREZA JURÍDICA
Diversas teorias tentam identificar a natureza da personalidade da pessoa
jurídica. Uma corrente doutrinária nega a sua existência (negativista). Mas a
corrente afirmativista é a majoritária. E esta se divide basicamente em dois
grupos, sendo que cada um deles possui uma vasta subdivisão: a) Teorias da
Ficção (a pessoa jurídica é apenas uma criação artificial da lei ou da doutrina);
b) Teorias da Realidade (realidade orgânica ou objetiva, realidade jurídica,
realidade técnica, etc.).
Como nosso curso é objetivo, visando concursos públicos, vamos deixar
de lado a análise de cada uma dessas teorias sobre natureza da pessoa jurídica e
vamos nos ater somente ao que tem prevalecido nas provas.
REPRESENTAÇÃO
Por não poder atuar por si mesma, a pessoa jurídica deve ser
representada por uma pessoa física, ativa e/ou passivamente, exteriorizando
sua vontade, nos atos judiciais ou extrajudiciais. Prevê o art. 46, III, CC que no
registro da pessoa jurídica se declarará o modo porque se administra e representa,
ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente. Pelo art. 47, CC, todos os
atos negociais exercidos pelo representante, dentro dos limites de seus
poderes estabelecidos no estatuto social, obrigam a pessoa jurídica, que deverá
cumpri-los. No entanto, se o representante extrapolar estes poderes,
responderá pessoalmente pelo excesso, ou seja, a sociedade fica isenta de
responsabilidade perante terceiros pelo ato do administrador que extrapolar os
limites do ato constitutivo (exceto se foi beneficiada com a prática do ato, quando
então passará a ter responsabilidade na proporção do benefício auferido). A
doutrina chama isso de teoria ultra vires societatis (além do conteúdo da
sociedade), caracterizada pelo abuso de poder do administrador, ocasionando
violação do objeto social lícito para o qual foi constituída a empresa. Isso funciona
I. DIREITO PÚBLICO
A) Interno (art. 41, CC)
1) Administração Direta: União, Estados, Distrito Federal, Territórios e
Municípios.
2) Administração Indireta: Autarquias, Associações e demais entidades
criadas por lei (Fundações Públicas de Direito Público).
B) Externo (art. 42, CC): Estados estrangeiros e demais pessoas regidas pelo
Direito Internacional Público.
RESUMINDO
República Federativa do Brasil: pessoa jurídica de direito público
externo (ou internacional).
União: pessoa jurídica de direito público interno; é apenas uma das
entidades que forma o Estado Federal, e que, por determinação
AUTARQUIAS
São pessoas jurídicas de direito público, que desempenham atividade
administrativa típica, com capacidade de autoadministração nos limites
estabelecidos em lei. Embora ligadas ao Estado, elas desfrutam de certa
autonomia, possuindo patrimônio e orçamento próprio, mas sob o controle
do Executivo que o aprova por Decreto e depois o remete ao controle do
Legislativo. As autarquias não têm capacidade política (isto é, não podem
legislar e criar o próprio Direito, devendo obedecer a legislação administrativa à
qual estão submissas), porém podem baixar instruções normativas (que não são
consideradas leis em sentido estrito).
Elas são criadas por lei específica (iniciativa privativa do chefe do Poder
Executivo), com personalidade jurídica de direito público; integram a
administração indireta, possuindo atribuições estatais destinadas à realização de
obras e serviços públicos, de cunho social, geralmente ligadas a área da saúde,
educação, etc. (excluem-se, portanto as de natureza econômica ou industrial).
Portanto elas devem atuar em setores que exigem especialização por parte do
Estado, com organização própria, administração mais ágil e pessoal especializado.
Seus bens são considerados públicos.
A autarquia nasce com a vigência da lei que a instituiu, não havendo
necessidade de registro. Da mesma forma, sua extinção também deve ser feita
por meio de lei específica (princípio da simetria das formas jurídicas). Seus atos
são considerados como administrativos. Como possui personalidade jurídica
própria, ela se desliga do ente criador. Portanto, se alguém quiser discutir
judicialmente a revisão de sua aposentadoria, deve ingressar com ação judicial
não contra a União (entidade criadora), mas contra o próprio INSS como entidade
autônoma e com patrimônio próprio. Ex.: INSS (Instituto Nacional do Seguro
Social), INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), CVM
(Comissão de Valores Mobiliários), CADE (Conselho Administrativo de Defesa
Econômica), IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis), Imprensa Oficial do Estado, etc.
FUNDAÇÕES PÚBLICAS
Fundação, de uma forma geral, é uma instituição do direito privado. Sua
criação resulta da iniciativa de uma pessoa (física ou jurídica), que destina um
acervo de bens particulares (que adquirem personalidade jurídica) para a
realização de finalidades sociais, sem natureza lucrativa (educacional,
assistencial, etc.). Compreende sempre: patrimônio e finalidade.
No entanto, as fundações também podem ter personalidade jurídica de
direito público, segundo dispõe a sua norma instituidora. Ultimamente o Poder
Público tem instituído fundações para a execução de algumas atividades de
interesse coletivo, sem finalidade lucrativa (assistência social, assistência médica
e hospitalar, educação e ensino, pesquisa científica, atividades culturais, proteção
ao meio ambiente, etc.). Elas integram a administração pública indireta no
nosso sistema jurídico, pois uma pessoa política faz a dotação patrimonial e
destina recursos orçamentários para a manutenção da entidade. No entanto, como
suas atividades não são exclusivas do Poder Público costuma-se dizer que elas
exercem atividades atípicas do Poder Público.
Observação 01. Sobre este tema, os civilistas são bem objetivos: fundação
pública é uma pessoa jurídica de direito público interno (apesar de não haver
previsão expressa neste sentido). Ponto! Porém... para os administrativistas a
coisa não é tão simples (vou falar sobre isso de forma superficial, pois o tema não
traz interesse maior ao Direito Civil). Para o Direito Administrativo a posição mais
aceita é que existem duas espécies de fundação pública:
a) Fundação pública com personalidade jurídica de direito público:
criada diretamente pela edição de uma lei específica (Poder Legislativo). Ela
adquire personalidade jurídica com a vigência da lei instituidora. Na realidade ela
é espécie do gênero autarquia (também chamada de fundação autárquicas ou
autarquia fundacional), sujeitando-se ao regime jurídico do direito público
(idêntico ao das autarquias), com todas as suas prerrogativas e restrições.
Segundo a doutrina somente esta espécie pertenceria ao direito público.
b) Fundação pública com personalidade jurídica de direito privado: há
uma autorização dada em lei para criação da entidade; após isso o Poder Executivo
elabora os atos constitutivos da fundação e a seguir deve providenciar a inscrição
no registro competente. Somente após esse registro ela adquire a personalidade.
Possui um caráter híbrido: parte regulada pelo direito privado e parte pelo direito
público. Segundo a doutrina ela pertence ao direito privado (seus bens não são
públicos, não estão sujeitas ao regime de precatórios, etc.).
AUTARQUIAS FUNDAÇÕES
Atividades típicas (exclusivas) Atividades atípicas da
Atribuições
ou atípicas da Administração. Administração.
OBSERVAÇÕES
01) Segundo a doutrina os sindicatos entram no item “associação”, pois o
Enunciado 142 das Jornadas de Direito Civil do CJF afirma que o sindicato possui
natureza associativa.
02) Enunciado 144 das Jornadas de Direito Civil do CJF: “A relação das
pessoas jurídicas de Direito Privado, constante do art. 44, incisos I a V, do Código
Civil, não é exaustiva” (ou seja, é apenas exemplificativa, podendo ser
reconhecidas outras espécies pessoas de direito privado, tais como as
cooperativas e as entidades desportivas).
2. PARTIDOS POLÍTICOS
Os partidos políticos são entidades integradas por pessoas com ideias
comuns (pelo menos em tese...), tendo por finalidade conquistar o poder para a
consecução de um programa. São associações civis que visam assegurar, no
interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e
defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal. De acordo
com o art. 17, §2°, CF/88 e a Lei n° 10.825/03, os partidos políticos, embora
tenham um caráter público, passaram a ser considerados como pessoas jurídicas
de direito privado, tendo natureza de associação civil. Os estatutos devem
ser registrados no cartório competente do Registro Civil de Pessoas Jurídicas da
Capital Federal e no Tribunal Superior Eleitoral (Lei n° 9.096/95).
3. ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS
As organizações religiosas são pessoas jurídicas de direito privado,
formadas pela união de indivíduos com o propósito de culto, por meio de doutrina
e ritual próprios, para manifestação da espiritualidade humana. A lei deixa bem
claro que elas são pessoas jurídicas de direito privado, tendo também
natureza de associação civil. Não podem ter finalidade econômica. É vedado
ao poder público negar-lhe o reconhecimento ou registro de seus atos constitutivos
necessários a seu funcionamento (art. 44, §1°, CC em consonância com o art. 5°,
VI, CF/88). No entanto, sua autonomia não é absoluta. Enunciado 143 da III
Jornada de Direito Civil do CJF: A liberdade de funcionamento das organizações
religiosas não afasta o controle de legalidade e legitimidade constitucional
de seu registro, nem a possibilidade de reexame pelo Judiciário da
compatibilidade de seus atos com a lei e com seus estatutos.
5. SOCIEDADES
Sociedade é espécie de corporação dotada de personalidade jurídica própria
e instituída por meio de um contrato social (que é o seu ato constitutivo), com
o objetivo de exercer atividade econômica e partilhar lucros. Assim, duas ou
mais pessoas, visando realizar negócios lucrativos, resolvem criar uma entidade e
aplicar nela dinheiro e serviço, formalizando por escrito o ato constitutivo; ao se
tornarem sócias elas passam a ter o direito de participar dos resultados
econômicos da entidade criada. Ela está prevista em outro tópico do Código Civil,
dentro do Livro II da Parte Especial (Do Direito de Empresa), a partir do art. 981.
Prevê este dispositivo: “Celebram contrato de sociedade as pessoas que
reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício
de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados. Parágrafo
único. A atividade pode restringir-se à realização de um ou mais negócios
determinados”.
Características das Sociedades em Geral
Pluralidade: devem ser formadas por duas ou mais pessoas. A lei admite
exceções, as chamadas sociedades unipessoais que veremos adiante, as
quais possuem apenas um sócio.
Affectio Societatis: intenção específica dos sócios em constituir a
sociedade, com personalidade distinta da de seus membros e permanecerem
unidos, para a execução de uma ou mais atividades econômicas.
Exploração da atividade econômica: devem ter o propósito de executar
atividades ligadas à produção ou circulação de bens ou serviços.
Contribuição de bens ou serviços: o capital social de ser constituído,
mediante contribuição de seus sócios, tanto em forma de bens (dinheiro,
imóveis, veículos, aparelhos, etc.), como em serviços (trabalho a ser
desenvolvido com conhecimentos técnicos especiais em benefício da
sociedade). Observação: a possibilidade de contribuição em serviços não é
admitida em algumas espécies de sociedades, como nas sociedades limitadas
e nas sociedades por ações.
Partilha dos resultados: devem ter o intuito de gerar novos recursos para
serem distribuídos entre os sócios. O atual Código Civil deixou bem claro
Observações Importantes
01) Sociedade Simples e Sociedade Empresária não são tipos societários, mas
sim naturezas de sociedades. A sociedade simples possui regras próprias de
funcionamento (arts. 997/1.038, CC). Já a sociedade empresária não possui
regras próprias, mas pode assumir algum dos tipos societários (arts. 1.039 a
1.092, CC). A Sociedade Anônima e a Sociedade em Comandita por Ações terão
sempre natureza empresarial.
02) A Sociedade Simples também pode optar por adotar qualquer dos tipos
societários previstos na lei, inclusive as sociedades por ações.
Observações
01) Embora haja uma dualidade no objeto (exploração de atividade econômica
ou prestação de serviços públicos), segundo posicionamentos doutrinários
modernos, as empresas públicas e as sociedades de economia mista, qualquer que
seja o objeto, não estão sujeitas à falência, por força da nova lei de falências (Lei
n° 11.101/2005) que em seu art. 2°, I, afirma: “Esta lei não se aplica a: I.
empresa pública e sociedade de economia mista (...)”. Outro ponto é que ainda
Associação X Fundação
Semelhanças: ambas não visam finalidade lucrativa.
Distinções: Associação aglomeração orgânica de pessoas naturais ou
jurídicas (união de pessoas); finalidades próprias conforme definido pelos
associados (sem especificação em lei) havendo possibilidade de alteração
de acordo com seus estatutos; não há exigência de patrimônio inicial; os
bens podem ser alienados. Fundação atribuição de personalidade
jurídica a um patrimônio (universalidade de bens); possui finalidade
mais restrita, prevista em lei, sendo a mesma imutável; o patrimônio inicial
deve ser suficiente para o cumprimento dos objetivos sociais; via de regra
seus bens imóveis são inalienáveis; há fiscalização do Ministério Público.
REGISTRO
Como vimos, somente com o registro a pessoa jurídica adquire a
personalidade. Tal registro se dá no Registro Civil das Pessoas Jurídicas. No
entanto uma sociedade empresária deve ser registrada no Registro Público de
Empresas Mercantis e Atividades Afins (Lei n° 8.934/94), sendo competente para
tais atos as Juntas Comerciais.
Art. 1.150, CC: O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao
Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a
sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas (...).
O registro é ato formal e solene, pois se trata de requisito essencial
para a validade do ato instituidor da pessoa jurídica. Segundo o art. 46, CC o
registro deve conter os seguintes elementos: a) a denominação, os fins, a sede,
o tempo de duração e o fundo social (quando houver); b) o nome e a
individualização dos fundadores ou instituidores e dos diretores; c) forma de
Atenção
Personalidade da Pessoa Natural: nascimento com vida. O registro de
nascimento possui efeito declaratório, pois quando ele é feito, a condição de
pessoa já havia sido adquirida. O registro apenas declara uma situação pré-
existente: o nascimento com vida.
Personalidade da Pessoa Jurídica: registro, que neste caso possui
efeito constitutivo, pois é com ele que a pessoa jurídica “nasce” ou se constitui
juridicamente como ente autônomo (art. 45, CC). Lembrando: efeito
declaratório apenas reconhece a existência (ou inexistência) de uma situação
jurídica; efeito constitutivo cria ou modifica a relação jurídica.
Observação importante para concursos: digamos que uma sociedade
funcionou durante cinco anos sem ser registrada. Após este prazo, resolveram
registrá-la. Pergunta-se: o registro retroage desde o início das atividades da
sociedade ou somente a partir do registro? Resposta: enquanto não efetivado
o registro não se reconhece a personalidade da pessoa jurídica; quando ela for
registrada, os efeitos desse registro são sempre para o futuro (efeito ex nunc),
não se retroagindo. Nesse caso não se pode legitimar o passado.
Observações
01) A doutrina e a jurisprudência de forma majoritária entendem que na
hipótese de uma conduta omissiva por parte do Estado, a sua responsabilidade
dependeria de demonstração de culpa da sua parte. Seria então mais um caso de
responsabilidade subjetiva do Estado. No entanto há quem sustente, também
nesse caso, de responsabilidade objetiva.
02) O Supremo Tribunal Federal já decidiu que as ações fundadas na
responsabilidade objetiva só podem ser ajuizadas contra a pessoas jurídica. No
entanto, se o autor se dispõe a provar a culpa ou dolo do servidor
(responsabilidade subjetiva), abrindo mão de uma vantagem, poderá movê-la
diretamente contra o causador do dano. Isso pode ser mais vantajoso porque a
execução contra o particular é menos demorada (não há a expedição dos famosos
precatórios). E se preferir mover a ação contra ambos, deverá também arcar com
o ônus de provar a culpa do funcionário.
03) Cabe ação contra o Estado ainda quando não se identifique o funcionário
causador do dano (“culpa anônima da administração”).
04) A pessoa jurídica também pode ser penalmente responsável, na hipótese
de crimes ambientais (art. 225, §3°, CF/88 e art. 3° da Lei n° 9.605/98).
GRUPOS DESPERSONALIZADOS
Como vimos, as sociedades, as associações, as fundações, etc., possuem
personalidade jurídica. Mas nem todo grupo ou ente que objetiva um determinado
fim é dotado de personalidade jurídica. Os grupos despersonalizados (ou entes
com personificação anômala) constituem um conjunto de direitos e
Curiosidade Histórica
Anteriormente não havia no Brasil uma previsão expressa na lei. Quem
primeiro tratou do tema no Brasil foi o Prof. Rubens Requião. Relata a doutrina
que o primeiro caso na história abordando o tema ocorreu na Inglaterra em um
famoso processo que ficou conhecido como “Salomon versus Salomon & Co. Ltd.”,
julgado pela House of Lords (Câmara dos Lordes), em 1897. Uma pessoa chamada
Aaron Salomon constituiu uma sociedade com seis sócios, todos eles membros de
sua família, cedendo uma ação para cada e reservando outras vinte mil para si. A
empresa (pessoa jurídica), que passava por dificuldades financeiras, emitiu títulos
09) Como a lei não faz ressalvas, entende-se que as pessoas jurídicas de direito
privado sem fins lucrativos ou de fins não-econômicos também são atingidas
pela teoria da desconsideração. Neste sentido é o Enunciado 284 da IV Jornada
de Direito Civil do CJF: “Art. 50. As pessoas jurídicas de direito privado sem fins
lucrativos ou de fins não-econômicos estão abrangidas no conceito de abuso da
personalidade jurídica”. No entanto, nesse caso, a desconsideração atinge
somente os seus dirigentes (que a representam na forma dos estatutos) e não
os associados em geral.
PRESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA
A) Vontade humana criadora (affectio societatis); B) Licitude dos objetivos; C)
Obediência aos requisitos legais (existência e capacidade reconhecidas pela lei).
NATUREZA JURÍDICA
Corrente majoritária Teoria da Realidade Técnica (a pessoa jurídica existe de
fato e não como mera abstração).
CARACTERÍSTICAS
A) Existência distinta da de seus membros; B) Patrimônio próprio e diverso do de
seus integrantes; C) Responsabilidade civil e criminal; D) Ilegitimidade para certos atos
(ex.: fazer testamento).
CLASSIFICAÇÃO PRINCIPAL
I. PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO
1. Externo (art. 42, CC) A) Estados estrangeiros; B) Outras pessoas regidas
pelo Direito Internacional Público (ONU, OEA, uniões aduaneiras como o
MERCOSUL, Santa Sé, etc.
2. Interno (art. 41, CC) O Estado.
A) Administração Direta ou Centralizada União, Estados Membros,
Distrito Federal, Territórios e Municípios.
B) Administração Indireta ou Descentralizada autarquias comuns ou
especiais (agências reguladoras); associações públicas (consórcios: Lei n°
11.107/05); demais entidades de caráter público criadas por lei (fundações
públicas de direito público).
II. PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO (art. 44, CC)
1. Espécies
A) Fundações Particulares: universalidades de bens personificados em
atenção ao fim que lhes dá unidade (arts. 62/69, CC). Registro da escritura
pública ou testamento. Elementos Fundamentais: a) Patrimônio (dotação
de bens livres, que passam a ser inalienáveis); b) Finalidade: especificação dos
objetivos (em regra imutáveis e sem finalidade lucrativa, previstos no
parágrafo único do art. 62, CC). São supervisionadas pelo Ministério Público.
B) Partidos Políticos (Lei n° 10.825/03).
C) Organizações Religiosas (Lei n° 10.825/03).
REPRESENTAÇÃO
A pessoa jurídica deve ser representada ativa e passivamente por uma pessoa física,
exteriorizando sua vontade. Os atos do representante obrigam a pessoa jurídica, desde
que dentro dos limites de seus poderes estabelecidos no estatuto social. Se o
representante extrapolar esses poderes, responderá pessoalmente pelo excesso (a
pessoa jurídica fica isenta de responsabilidade, salvo se foi beneficiada). Trata-se da
teoria ultra vires societatis (além do conteúdo da sociedade), caracterizada pelo abuso
de poder do representante, nos termos do art. 1.015 e parágrafo único, CC.
1. Pessoas Jurídicas de Direito Público Interno representadas em juízo, ativa
e passivamente (art. 75, I a IV, CPC/2015): a) União Advocacia-Geral da União,
diretamente ou outro órgão vinculado; b) Estados e Distrito Federal Procuradores. c)
Municípios Prefeito ou Procurador. d) Autarquias e Fundações de Direito Público
quem a lei do ente designar.
2. Demais Pessoas Jurídicas em regra é a pessoa indicada em seu ato
constitutivo; na omissão, a representação será exercida por seus diretores (art. 75, VIII,
CPC/2015).
RESPONSABILIDADE
1. Responsabilidade Contratual: tanto as pessoas jurídicas de direito público como
as de direito privado são responsáveis pelo que estiver disposto no contrato firmado,
respondendo com seus bens pelo eventual descumprimento de cláusulas contratuais (art.
389, CC). Nos termos do CDC, têm responsabilidade objetiva por fato e vício do produto.
Obs.: ambas também possuem responsabilidade penal (atividade lesiva ao meio
ambiente: art. 3°, da Lei n° 9.605/98).
BIBLIOGRAFIA BÁSICA