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Universidade do Sul de Santa Catarina

Direito Agrário

Disciplina na modalidade a distância

Direito Agrário
Universidade do Sul de Santa Catarina

Direito Agrário

Disciplina na modalidade a distância

Palhoça
UnisulVirtual
2012
Créditos
Universidade do Sul de Santa Catarina | Campus UnisulVirtual | Educação Superior a Distância
Avenida dos Lagos, 41 – Cidade Universitária Pedra Branca | Palhoça – SC | 88137-900 | Fone/fax: (48) 3279-1242 e 3279-1271 | E-mail: cursovirtual@unisul.br | Site: www.unisul.br/unisulvirtual
Reitor Coordenadores Graduação Marilene de Fátima Capeleto Patrícia de Souza Amorim Karine Augusta Zanoni
Ailton Nazareno Soares Aloísio José Rodrigues Patricia A. Pereira de Carvalho Poliana Simao Marcia Luz de Oliveira
Ana Luísa Mülbert Paulo Lisboa Cordeiro Schenon Souza Preto Mayara Pereira Rosa
Vice-Reitor Ana Paula R.Pacheco Paulo Mauricio Silveira Bubalo Luciana Tomadão Borguetti
Sebastião Salésio Heerdt Artur Beck Neto Rosângela Mara Siegel Gerência de Desenho e
Bernardino José da Silva Simone Torres de Oliveira Desenvolvimento de Materiais Assuntos Jurídicos
Chefe de Gabinete da Reitoria Charles Odair Cesconetto da Silva Vanessa Pereira Santos Metzker Didáticos Bruno Lucion Roso
Willian Corrêa Máximo Dilsa Mondardo Vanilda Liordina Heerdt Márcia Loch (Gerente) Sheila Cristina Martins
Diva Marília Flemming Marketing Estratégico
Pró-Reitor de Ensino e Horácio Dutra Mello Gestão Documental Desenho Educacional
Lamuniê Souza (Coord.) Cristina Klipp de Oliveira (Coord. Grad./DAD) Rafael Bavaresco Bongiolo
Pró-Reitor de Pesquisa, Itamar Pedro Bevilaqua
Pós-Graduação e Inovação Jairo Afonso Henkes Clair Maria Cardoso Roseli A. Rocha Moterle (Coord. Pós/Ext.) Portal e Comunicação
Daniel Lucas de Medeiros Aline Cassol Daga Catia Melissa Silveira Rodrigues
Mauri Luiz Heerdt Janaína Baeta Neves
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Jorge Alexandre Nogared Cardoso Jaliza Thizon de Bona Andreia Drewes
Pró-Reitora de Administração José Carlos da Silva Junior Guilherme Henrique Koerich Carmelita Schulze Luiz Felipe Buchmann Figueiredo
Acadêmica José Gabriel da Silva Josiane Leal Daniela Siqueira de Menezes Rafael Pessi
Marília Locks Fernandes Delma Cristiane Morari
Miriam de Fátima Bora Rosa José Humberto Dias de Toledo
Eliete de Oliveira Costa
Joseane Borges de Miranda Gerência de Produção
Pró-Reitor de Desenvolvimento Luiz G. Buchmann Figueiredo Gerência Administrativa e Eloísa Machado Seemann Arthur Emmanuel F. Silveira (Gerente)
e Inovação Institucional Marciel Evangelista Catâneo Financeira Flavia Lumi Matuzawa Francini Ferreira Dias
Renato André Luz (Gerente) Geovania Japiassu Martins
Valter Alves Schmitz Neto Maria Cristina Schweitzer Veit
Ana Luise Wehrle Isabel Zoldan da Veiga Rambo Design Visual
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Diretora do Campus Mauro Faccioni Filho Anderson Zandré Prudêncio João Marcos de Souza Alves Pedro Paulo Alves Teixeira (Coord.)
Universitário de Tubarão Moacir Fogaça Daniel Contessa Lisboa Leandro Romanó Bamberg Alberto Regis Elias
Milene Pacheco Kindermann Nélio Herzmann Naiara Jeremias da Rocha Lygia Pereira Alex Sandro Xavier
Onei Tadeu Dutra Rafael Bourdot Back Lis Airê Fogolari Anne Cristyne Pereira
Diretor do Campus Universitário Patrícia Fontanella Thais Helena Bonetti Luiz Henrique Milani Queriquelli Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro
da Grande Florianópolis Roberto Iunskovski Valmir Venício Inácio Marcelo Tavares de Souza Campos Daiana Ferreira Cassanego
Hércules Nunes de Araújo Rose Clér Estivalete Beche Mariana Aparecida dos Santos Davi Pieper
Gerência de Ensino, Pesquisa e Marina Melhado Gomes da Silva Diogo Rafael da Silva
Secretária-Geral de Ensino Vice-Coordenadores Graduação Extensão Marina Cabeda Egger Moellwald Edison Rodrigo Valim
Adriana Santos Rammê Janaína Baeta Neves (Gerente) Mirian Elizabet Hahmeyer Collares Elpo Fernanda Fernandes
Solange Antunes de Souza Aracelli Araldi Pâmella Rocha Flores da Silva
Bernardino José da Silva Frederico Trilha
Diretora do Campus Catia Melissa Silveira Rodrigues Rafael da Cunha Lara Jordana Paula Schulka
Elaboração de Projeto Roberta de Fátima Martins Marcelo Neri da Silva
Universitário UnisulVirtual Horácio Dutra Mello Carolina Hoeller da Silva Boing
Jucimara Roesler Jardel Mendes Vieira Roseli Aparecida Rocha Moterle Nelson Rosa
Vanderlei Brasil Sabrina Bleicher Noemia Souza Mesquita
Joel Irineu Lohn Francielle Arruda Rampelotte
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José Gabriel da Silva Reconhecimento de Curso
José Humberto Dias de Toledo Acessibilidade Multimídia
Diretor Adjunto Maria de Fátima Martins Vanessa de Andrade Manoel (Coord.) Sérgio Giron (Coord.)
Moacir Heerdt Luciana Manfroi
Rogério Santos da Costa Extensão Letícia Regiane Da Silva Tobal Dandara Lemos Reynaldo
Secretaria Executiva e Cerimonial Rosa Beatriz Madruga Pinheiro Maria Cristina Veit (Coord.) Mariella Gloria Rodrigues Cleber Magri
Jackson Schuelter Wiggers (Coord.) Sergio Sell Vanesa Montagna Fernando Gustav Soares Lima
Marcelo Fraiberg Machado Pesquisa Josué Lange
Tatiana Lee Marques Daniela E. M. Will (Coord. PUIP, PUIC, PIBIC) Avaliação da aprendizagem
Tenille Catarina Valnei Carlos Denardin Claudia Gabriela Dreher Conferência (e-OLA)
Mauro Faccioni Filho (Coord. Nuvem)
Assessoria de Assuntos Sâmia Mônica Fortunato (Adjunta) Jaqueline Cardozo Polla Carla Fabiana Feltrin Raimundo (Coord.)
Internacionais Pós-Graduação Nágila Cristina Hinckel Bruno Augusto Zunino
Coordenadores Pós-Graduação Anelise Leal Vieira Cubas (Coord.) Sabrina Paula Soares Scaranto
Murilo Matos Mendonça Aloísio José Rodrigues Gabriel Barbosa
Anelise Leal Vieira Cubas Thayanny Aparecida B. da Conceição
Assessoria de Relação com Poder Biblioteca Produção Industrial
Público e Forças Armadas Bernardino José da Silva Salete Cecília e Souza (Coord.) Gerência de Logística Marcelo Bittencourt (Coord.)
Adenir Siqueira Viana Carmen Maria Cipriani Pandini Paula Sanhudo da Silva Jeferson Cassiano A. da Costa (Gerente)
Walter Félix Cardoso Junior Daniela Ernani Monteiro Will Marília Ignacio de Espíndola Gerência Serviço de Atenção
Giovani de Paula Renan Felipe Cascaes Logísitca de Materiais Integral ao Acadêmico
Assessoria DAD - Disciplinas a Karla Leonora Dayse Nunes Carlos Eduardo D. da Silva (Coord.) Maria Isabel Aragon (Gerente)
Distância Letícia Cristina Bizarro Barbosa Gestão Docente e Discente Abraao do Nascimento Germano Ana Paula Batista Detóni
Patrícia da Silva Meneghel (Coord.) Luiz Otávio Botelho Lento Enzo de Oliveira Moreira (Coord.) Bruna Maciel André Luiz Portes
Carlos Alberto Areias Roberto Iunskovski Fernando Sardão da Silva Carolina Dias Damasceno
Cláudia Berh V. da Silva Rodrigo Nunes Lunardelli Capacitação e Assessoria ao Fylippy Margino dos Santos Cleide Inácio Goulart Seeman
Conceição Aparecida Kindermann Rogério Santos da Costa Docente Guilherme Lentz Denise Fernandes
Luiz Fernando Meneghel Thiago Coelho Soares Alessandra de Oliveira (Assessoria) Marlon Eliseu Pereira Francielle Fernandes
Renata Souza de A. Subtil Vera Rejane Niedersberg Schuhmacher Adriana Silveira Pablo Varela da Silveira Holdrin Milet Brandão
Alexandre Wagner da Rocha Rubens Amorim
Assessoria de Inovação e Jenniffer Camargo
Gerência Administração Elaine Cristiane Surian (Capacitação) Yslann David Melo Cordeiro Jessica da Silva Bruchado
Qualidade de EAD Acadêmica Elizete De Marco
Denia Falcão de Bittencourt (Coord.) Jonatas Collaço de Souza
Angelita Marçal Flores (Gerente) Fabiana Pereira Avaliações Presenciais
Andrea Ouriques Balbinot Juliana Cardoso da Silva
Fernanda Farias Iris de Souza Barros Graciele M. Lindenmayr (Coord.)
Carmen Maria Cipriani Pandini Juliana Elen Tizian
Juliana Cardoso Esmeraldino Ana Paula de Andrade
Secretaria de Ensino a Distância Kamilla Rosa
Maria Lina Moratelli Prado Angelica Cristina Gollo
Assessoria de Tecnologia Samara Josten Flores (Secretária de Ensino) Simone Zigunovas
Mariana Souza
Osmar de Oliveira Braz Júnior (Coord.) Cristilaine Medeiros Marilene Fátima Capeleto
Giane dos Passos (Secretária Acadêmica) Daiana Cristina Bortolotti
Felipe Fernandes Adenir Soares Júnior Tutoria e Suporte Maurício dos Santos Augusto
Felipe Jacson de Freitas Delano Pinheiro Gomes Maycon de Sousa Candido
Alessandro Alves da Silva Anderson da Silveira (Núcleo Comunicação) Edson Martins Rosa Junior
Jefferson Amorin Oliveira Andréa Luci Mandira Claudia N. Nascimento (Núcleo Norte- Monique Napoli Ribeiro
Phelipe Luiz Winter da Silva Fernando Steimbach Priscilla Geovana Pagani
Cristina Mara Schauffert Nordeste)
Fernando Oliveira Santos
Priscila da Silva Djeime Sammer Bortolotti Maria Eugênia F. Celeghin (Núcleo Pólos) Sabrina Mari Kawano Gonçalves
Rodrigo Battistotti Pimpão Lisdeise Nunes Felipe Scheila Cristina Martins
Douglas Silveira Andreza Talles Cascais Marcelo Ramos
Tamara Bruna Ferreira da Silva Evilym Melo Livramento Daniela Cassol Peres Taize Muller
Marcio Ventura Tatiane Crestani Trentin
Fabiano Silva Michels Débora Cristina Silveira Osni Jose Seidler Junior
Coordenação Cursos Fabricio Botelho Espíndola Ednéia Araujo Alberto (Núcleo Sudeste) Thais Bortolotti
Coordenadores de UNA Felipe Wronski Henrique Francine Cardoso da Silva
Diva Marília Flemming Gisele Terezinha Cardoso Ferreira Janaina Conceição (Núcleo Sul) Gerência de Marketing
Marciel Evangelista Catâneo Indyanara Ramos Joice de Castro Peres Eliza B. Dallanhol Locks (Gerente)
Roberto Iunskovski Janaina Conceição Karla F. Wisniewski Desengrini
Jorge Luiz Vilhar Malaquias Kelin Buss Relacionamento com o Mercado
Auxiliares de Coordenação Juliana Broering Martins Liana Ferreira Alvaro José Souto
Ana Denise Goularte de Souza Luana Borges da Silva Luiz Antônio Pires
Camile Martinelli Silveira Luana Tarsila Hellmann Maria Aparecida Teixeira Relacionamento com Polos
Fabiana Lange Patricio Luíza Koing  Zumblick Mayara de Oliveira Bastos Presenciais
Tânia Regina Goularte Waltemann Maria José Rossetti Michael Mattar Alex Fabiano Wehrle (Coord.)
Jeferson Pandolfo
Rafael Dall´Agnol

Direito Agrário

Livro didático

Design instrucional
Isabel Rambo

Palhoça
UnisulVirtual
2012
Copyright © UnisulVirtual 2012
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.

Edição – Livro Didático


Professor Conteudista
Rafael Dall´Agnol

Design Instrucional
Isabel Rambo

Projeto Gráfico e Capa


Equipe UnisulVirtual

Diagramação
Diogo Silva

Revisão
Smirna Cavalheiro

342.1247
D15 Dall’Agnol, Rafael
Direito agrário : livro didático / Rafael Dall’Agnol ; design instrucional
Isabel Rambo. – Palhoça : UnisulVirtual, 2012.

181 p. : il. ; 28 cm.

Inclui bibliografia.

1. Direito agrário. 2. Direito ambiental. 3. Tutela I. Rambo, Isabel. II.


Título.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul


Sumário

Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Palavras do Professor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

UNIDADE 1 - Constituição jurídica das organizações produtivas. . . . . . . . . 17


UNIDADE 2 - O fundo do comércio e a proteção à propriedade
industrial e os contratos agrários. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
UNIDADE 3 - O Estatuto da Cidade e a política agrária brasileira. . . . . . . . . 83
UNIDADE 4 - Tutela jurídico-ambiental brasileira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125

Para concluir o estudo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173


Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175
Sobre o professor conteudista. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177
Respostas e comentários das atividades de autoavaliação. . . . . . . . . . . . . . 179
Biblioteca Virtual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181
Apresentação

Este livro didático corresponde à disciplina Direito Agrário.

O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma


e aborda conteúdos especialmente selecionados e relacionados
à sua área de formação. Ao adotar uma linguagem didática
e dialógica, objetivamos facilitar seu estudo a distância,
proporcionando condições favoráveis às múltiplas interações e a
um aprendizado contextualizado e eficaz.

Lembre-se que sua caminhada, nesta disciplina, será


acompanhada e monitorada constantemente pelo Sistema
Tutorial da UnisulVirtual, por isso a “distância” fica
caracterizada somente na modalidade de ensino que você optou
para sua formação, pois na relação de aprendizagem professores
e instituição estarão sempre conectados com você.

Então, sempre que sentir necessidade entre em contato; você tem


à disposição diversas ferramentas e canais de acesso tais como:
telefone, e-mail e o Espaço Unisul Virtual de Aprendizagem,
que é o canal mais recomendado, pois tudo o que for enviado e
recebido fica registrado para seu maior controle e comodidade.
Nossa equipe técnica e pedagógica terá o maior prazer em lhe
atender, pois sua aprendizagem é o nosso principal objetivo.

Bom estudo e sucesso!

Equipe UnisulVirtual.

7
Palavras do Professor

Caro(a) estudante,

Seja bem-vindo(a) à disciplina de Direito Agrário.

Na elaboração deste material tomamos o cuidado de


desenvolver algo aplicável ao conjunto das demais disciplinas
a serem concluídas pelo(a) acadêmico(a) ao longo de sua
formação.

Pensamos na consolidação de uma visão diferenciada da


abordagem tradicional dos temas jurídicos.

Com a constante preocupação com a linguagem utilizada, no


intuito de torná-la simples e agradável à leitura, tomando por
perfil pessoas que não buscam a formação jurídica clássica,
e sim acreditam que o conhecimento de temas jurídicos
aplicáveis à sua área de formação são fundamentais para o bom
desenvolvimento da sua rotina profissional.

Em nosso material temos como ponto de partida os conceitos


básicos de sociedade e sua própria formação.

Pela própria evolução realística, mercadológica e empresarial,


há necessidade de desmitificar a propriedade industrial e a
concorrência desleal.

Para finalizar os estudos, reconheceremos o atual cenário


brasileiro no tocante à tutela protetiva do meio ambiente,
incluído as espécies de licenciamento ambiental e o
procedimento para sua concessão pelo órgão ambiental
responsável.

Rafael Dall’Agnol
Plano de estudo

O plano de estudos visa a orientá-lo no desenvolvimento da


disciplina. Ele possui elementos que o ajudarão a conhecer o
contexto da disciplina e a organizar o seu tempo de estudos.

O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva


em conta instrumentos que se articulam e se complementam,
portanto, a construção de competências se dá sobre a
articulação de metodologias e por meio das diversas formas de
ação/mediação.

São elementos desse processo:

„„ o livro didático;

„„ o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem (EVA);

„„ as atividades de avaliação (a distância, presenciais e de


autoavaliação);

„„ o Sistema Tutorial.

Ementa
Antecedentes históricos. Estatuto da Terra. Função Social da
propriedade. Direito agrário e o meio ambiente. Propriedade
imobiliária. Reforma agrária. Cadastro rural. Zoneamento.
Imposto sobre a propriedade territorial rural. Teoria geral
dos contratos agrários. Princípios específicos dos contratos
de arrendamento e parceria rural. Usucapião especial rural.
Crédito rural.
Universidade do Sul de Santa Catarina

Objetivos da disciplina

Geral
Transmitir informações e teorias relacionadas ao direito
empresarial e ambiental, capacitando os futuros profissionais do
agronegócio no reconhecimento e aplicação da tutela jurídica
empresarial e ambiental em nosso país.

Específicos

„„ Conferir aplicação e utilidade das informações e teorias


relacionadas ao direito empresarial.

„„ Criar e cooperar com a consciência cívica e de cidadania


voltada à questão ambiental.

„„ Detectar o conhecimento empírico e descobrir o


conteúdo técnico relacionado.

„„ Ter a consciência da operação jurídica ambiental de


uma organização, bem como atentar-se à importância
da observância do aspecto legal para o profícuo
desenvolvimento da mesma.

Carga horária
A carga horária total da disciplina é 60 horas-aula.

12
Direito Agrário

Conteúdo programático/objetivos
Veja, a seguir, as unidades que compõem o livro didático desta
disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos
resultados que você deverá alcançar ao final de uma etapa de
estudo. Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de
conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento
de habilidades e competências necessárias à sua formação.

Unidades de estudo: 4

Unidade 1 - Constituição jurídica das organizações produtivas


Nesta unidade de estudo você irá reconhecer as espécies e as
formas de constituição das pessoas jurídicas no Brasil. Partindo
da análise conceitual, identificará a formação das sociedades
empresariais e a sua atuação como organização produtiva, com a
análise da legislação aplicável, incluindo neste estudo o Código
Civil brasileiro, importante regulamentador desta temática.

Unidade 2 - O fundo do comércio e a proteção à propriedade industrial


O que é e como é formado o fundo do comércio? Nesta unidade,
um dos nossos desafios é exatamente formularmos uma resposta
a estas duas perguntas. Você aprenderá a importância deste fundo
para as organizações e como ocorre sua formação no campo
jurídico. Ainda nesta unidade, porém, com tamanha relevância
para seus estudos, será apresentada a Propriedade Industrial e a
formação da concorrência desleal, lembrando-se sempre que para
estes temas o nosso viés de estudo é a questão legal dos assuntos
abordados.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Unidade 3 - O Estatuto da Cidade e a Política Agrária Brasileira


Para esta unidade está reservado um momento especial: Como
os legisladores pensaram a questão do “Planejamento do Espaço”
urbano e rural no Brasil. Você será capaz de compreender de que
forma estes dois principais documentos, O Estatuto da Cidade e
a Política Agrária Brasileira, são fundamentais para a definição
das políticas de ocupação do solo. Neste momento, é preciso ter
mais que olhos de estudante, é preciso olhar criticamente como
um cidadão, que fatalmente irá desenvolver suas ocupações seja
nos centros urbanos ou em áreas rurais.

Unidade 4 - Tutela jurídica ambiental brasileira


O direito agrário sempre esteve intimamente ligado ao direito
ambiental, tanto é que muitos autores ainda não os desassociam
em seus estudos. Nesta unidade você irá estudar a Política
Nacional do Meio Ambiente (PNMA), com a compreensão
dos órgãos de compõem o Sistema Nacional do Meio Ambiente
(SISNAMA). Haverá um grande reconhecimento do jogo
de siglas que norteiam as competências de órgãos como, por
exemplo, o MMA, IBAMA e CONAMA. Ainda nesta unidade
você irá estudar as espécies de licenças ambientais, sendo capaz
de dominar as demais siglas como LAI, LAP e LAO.

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Direito Agrário

Agenda de atividades/Cronograma

„„ Verifique com atenção o EVA, organize-se para acessar


periodicamente a sala da disciplina. O sucesso nos seus
estudos depende da priorização do tempo para a leitura,
da realização de análises e sínteses do conteúdo e da
interação com os seus colegas e professor.

„„ Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço


a seguir as datas com base no cronograma da disciplina
disponibilizado no EVA.

„„ Use o quadro para agendar e programar as atividades


relativas ao desenvolvimento da disciplina.

Atividades obrigatórias

Demais atividades (registro pessoal)

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1
UNIDADE 1

Constituição jurídica das


organizações produtivas

Objetivos de aprendizagem
„„ Reconhecer a formação e o desenvolvimento
dos principais setores de produção por meio da
atuação da atividade empresarial.
„„ Analisar as formas de constituição jurídica das
empresas.

Seções de estudo
Seção 1 Pessoas jurídicas

Seção 2 Empresas

Seção 3 Tipos de sociedades empresariais


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


No atual mercado globalizado, apenas sobrevivem às ondas
econômicas e às tendências súbitas do sistema financeiro as
organizações que tiverem uma base sólida. Um bom ponto de
partida para a solidez de um negócio é a sua própria constituição
jurídica, ou seja, como a organização está formalizada e qual a
legislação aplicada à sua gestão e organização.

A concepção jurídica de uma organização produtiva posiciona esta


tanto no âmbito interno, ditando regras de gestão, quanto no mundo
externo, tendo em vista que cada modelo legal de constituição fixará
uma forma de responder aos movimentos organizacionais frente ao
mercado, seja por questões fiscais ou tributárias.

Seção 1 – Pessoas jurídicas


Tem-se referência a respeito das pessoas jurídicas de direito
público e de direito privado desde a Roma antiga.

Os romanos entendiam o ESTADO como PESSOA que tinha


patrimônio, contraía obrigações, libertava escravos, recolhia
heranças, legados, estabelecia relações jurídicas etc.

A real compreensão dos elementos que distinguem as pessoas


jurídicas das pessoas naturais que a compõem é fundamental para
definirmos a responsabilidade de cada elemento, ainda mais quando
os interesses são mútuos, ou seja, a boa saúde legal da pessoa jurídica
trará consequências diretas à pessoa física e, na maioria das vezes, a
recíproca será verdadeira, como passaremos a estudar.

Pessoas jurídicas são entidades às quais a lei confere personalidade,


capacitando-as a serem sujeitos de direitos e de deveres.

18
Direito Agrário

Marcus Cláudio Acquaviva (1999, p. 531-532) traz outro bom


exemplo, para ele:

Chama-se pessoa jurídica, coletiva ou moral o ente ideal,


abstrato, racional, que, sem constituir uma realidade do
mundo sensível, pertence ao mundo das instituições ou
ideais destinados a perdurar no tempo. A pessoa jurídica
pode ser formada por pessoas naturais [...] ou bens,
no caso da fundação [...]. A pessoa tem existência que
independe de cada um dos indivíduos que a integram,
e seu objetivo é próprio, destacado da simples soma dos
objetivos daqueles que dela participam.

O certo é que a pessoa jurídica é hoje uma instituição por meio


da qual um agrupamento adquire personalidade distinta das de
seus componentes.

De acordo com o critério utilizado pelo Código Civil, Lei


n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002, as pessoas jurídicas são
divididas em duas grandes classes: pessoas jurídicas de direito
público e pessoas jurídicas de direito privado.

As pessoas jurídicas de direito público ainda


subdividem-se em pessoas jurídicas de direito público
interno e pessoas jurídicas de direito público externo.

Assim determina o texto da lei:

Art. 40. As pessoas jurídicas são de direito público,


interno ou externo, e de direito privado.
Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno:
I – a União;
II – os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;
III – os Municípios;
IV – as autarquias, inclusive as associações públicas;
V – as demais entidades de caráter público criadas
por lei.

Unidade 1 19
Universidade do Sul de Santa Catarina

Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pessoas


jurídicas de direito público, a que se tenha dado estrutura
de direito privado, regem-se, no que couber, quanto ao seu
funcionamento, pelas normas deste Código.
Art. 42. São pessoas jurídicas de direito público externo
os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem
regidas pelo direito internacional público.

Portanto, o art. 40 do Código Civil/2002 nos traz as pessoas


jurídicas de direito público interno, a saber: a União, os Estados,
o Distrito Federal, os Territórios, Municípios, autarquias e outras
entidades de caráter público criadas pela lei.

No que se reporta às autarquias, temos como exemplo


a OAB e o INMETRO, e quanto às entidades de caráter
público criadas por lei, os partidos políticos são um
exemplo clássico.

Ainda conforme o Código Civil/2002, o art. 42 estabelece


que as pessoas jurídicas de direito público externo são os
Estados estrangeiros e as pessoas que forem regidas pelo direito
internacional público. Exemplo destas são organizações como a
ONU e a Santa Sé.

A Santa Sé é a sede administrava da Igreja Católica,


localizada no Vaticano.
http://www.vatican.va/

“A personalidade jurídica do Estado, em direito das gentes, diz-


se originária, enquanto derivada a das organizações.” (REZECK,
1998, p. 155). Por outro lado, as pessoas jurídicas de direito
privado têm previsão no art. 44 do Código Civil/2002, a saber:

20
Direito Agrário

Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:


I – as associações;
II – as sociedades;
III – as fundações.
IV – as organizações religiosas; (Incluído pela Lei nº
10.825, de 22.12.2003)
V – os partidos políticos. (Incluído pela Lei nº 10.825, de
22.12.2003)
§ 1° São livres a criação, a organização, a estruturação
interna e o funcionamento das organizações religiosas,
sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento
ou registro dos atos constitutivos e necessários ao
seu funcionamento. (Incluído pela Lei nº 10.825, de
22.12.2003)
§ 2° As disposições concernentes às associações aplicam-
se subsidiariamente às sociedades que são objeto do Livro
II da Parte Especial deste Código. (Incluído pela Lei nº
10.825, de 22.12.2003)
§ 3° Os partidos políticos serão organizados e
funcionarão conforme o disposto em lei específica.
(Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)

Portanto, para o enredo desta disciplina, tomam posição de


destaque as associações, fundações e sociedades, as quais
pertencem à autonomia privada e objetivam fins e interesses
comuns de particulares.

As organizações religiosas e partidos políticos, antes da alteração


desse artigo, eram tidos como associações civis (pessoas
jurídicas peculiares). O atual regulamento dá-lhes tratamento
diferenciado.

Unidade 1 21
Universidade do Sul de Santa Catarina

No quadro abaixo podemos observar a distinção básica entre as


fundações e as associações:

Associações Fundações

fins próprios (dos sócios) fins alheios (do instituidor)

fins alteráveis fins imutáveis

patrimônio: patrimônio:
- sócios vão formando - fornecido pelo instituidor
- só instrumento - essencial

deliberações livres deliberações delimitadas pelo instituidor e


fiscalizadas pelo Ministério Público

órgãos dominantes órgãos servientes

A associação está ligada a fins ideais e não econômicos. Seus


componentes são os associados e ela é criada por estatutos em
assembleia de fundadores. Os associados ligam-se ou desligam-se
da mesma durante o decorrer da sua vida e na conformidade do
contido nos termos do estatuto social.

As associações são formadas por conjuntos de pessoas


(associados) que se reúnem para realizar um fim
comum. Elas podem ser civis, religiosas, pias, morais,
científicas ou literárias e de utilidade pública. Não
têm finalidade lucrativa e os valores que arrecadarem
serão utilizados na aplicação da sua finalidade ou
incorporados ao patrimônio da mesma.

As fundações se caracterizam pela afetação patrimonial; além


disso, os fins são externos e determinados pelo instituidor. Elas
podem ser particulares ou públicas.

„„ Particulares: pessoa jurídica de direito privado. Objeto


de estudo do Direito Privado (arts. 62 a 69, Código
Civil/2002);

22
Direito Agrário

„„ Públicas: pessoa jurídica de direito público. Objeto de


estudo do Direito Administrativo.

Pesquise sobre a atuação de associações junto à sua


comunidade, especificamente em seu bairro. Procure
saber o que fazem e como contribuem, interagindo
com os moradores de sua região de residência.

Conforme o Código Civil/2002, art. 45, as pessoas jurídicas só


existem legalmente quando da inscrição de seu ato constitutivo
no respectivo registro. Determina também o mesmo artigo
que poderá, antes ainda, ser necessária a autorização do Poder
Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que
passar o ato constitutivo.

Por sua vez, a capacidade da pessoa jurídica é proveniente da


personalidade que a ordem jurídica lhe reconhece por ocasião de
seu registro em órgão competente.

Uma vez registrada e constituída, essa capacidade estende-se a


todos os campos do direito, não se limitando à esfera patrimonial;
tem direito à identificação, sendo dotada de uma denominação,
de um domicílio e de uma nacionalidade.

Desta feita, cabe ao Estado a fiscalização das


pessoas jurídicas de direito privado. As sociedades e
associações, ao serem criadas, devem obedecer ao
requisito do prévio registro formal.

A pessoa jurídica tem capacidade para exercer todos os direitos


compatíveis com a natureza especial de sua personalidade.
Faremos agora uma breve análise das características e elementos
essenciais que compõem uma pessoa jurídica de modo geral:

Unidade 1 23
Universidade do Sul de Santa Catarina

a) Características:
»» Personalidade distinta da de seus instituidores.
»» Patrimônio distinto do de seus membros.
»» Vedação ao exercício de atos privativos às pessoas
naturais (casamento, adoção etc.).
»» Pode ser sujeito passivo ou ativo na seara cível e
criminal.

b) Elementos essenciais (requisitos para constituição):


»» Vontade humana criadora.
»» Reunião de pessoas ou destinação de um dado
patrimônio a certo escopo (objetivo, desiderato).
»» Licitude de seu objetivo.
»» Capacidade jurídica reconhecida no ordenamento
jurídico.
»» Atendimento às formalidades legais.

Existem, ainda, as chamadas sociedades estritamente naturais:


aquelas que encontram a sua finalidade na “animalidade social
do homem”, que são a sociedade doméstica (família e a sociedade
conjugal) e a sociedade civil (os grupos sociais – as cidades – o
conjunto da totalidade das famílias).

Pessoa jurídica é a unidade de pessoas naturais ou


de patrimônio, que visa à consecução de certos fins,
reconhecida pela ordem jurídica como sujeito de
direitos e obrigações; sendo três os seus requisitos:
organização de pessoas ou de bens; licitude de seus
propósitos ou fins; e capacidade jurídica reconhecida
por norma.

24
Direito Agrário

Seção 2 – Empresas
Podemos observar no art. 966 do Código Civil/2002 o conceito
próprio de empresário, em que resta da leitura do dispositivo que
se considera empresário quem exerce profissionalmente atividade
econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou
de serviços.

A habitualidade profissional e a organização do empreendimento


em busca do ganho econômico não são novidades ao nosso
sistema jurídico, uma vez que sempre serviram à noção dos atos
do comércio e ao regime comercial vigente até a vigência do
Código Civil atual.

Oliveira (2008, p. 123) ensina que o empresário, pessoa


física ou jurídica, é o sujeito de direitos que organiza a
empresa e assume o risco do empreendimento, com
profissionalidade.

O conceito jurídico de empresa pode ser considerado como o


exercício organizado ou profissional de atividade econômica para
a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Por exercício
profissional da atividade econômica, elemento que integra o
núcleo do conceito de empresa, pode-se entender a exploração de
atividade com finalidade lucrativa.

Salientamos que no tocante ao agropecuarista, o Código


Civil/2002, em seu art. 971, quase abandonou a postura
paternalista histórica do direito civil brasileiro ao prever que:

O empresário (produtor rural), cuja atividade rural


constitua sua principal profissão, pode, observadas as
formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos,
requerer inscrição no Registro Público de Empresas
Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de
inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao
empresário sujeito a registro no Registro Público de
Empresas Mercantis (art. 971).

Unidade 1 25
Universidade do Sul de Santa Catarina

Produtor rural é a pessoa física – pessoa natural –


que explora a terra visando à produção vegetal, à
criação de animais – produção animal – e também à
industrialização artesanal desses produtos primários –
produção agroindustrial. Por exemplo, as feiras “Direto
do Colono”, na maioria dos grandes centros urbanos.

A lei assegura tratamento favorecido, diferenciado e simplificado


ao empresário rural quanto à inscrição e aos efeitos daí
decorrentes (art. 970), no entanto não informa como.

Na sequência, podemos observar na leitura do Código


Civil/2002 que, a partir do seu art. 981, a lei deixa claro o
sentido real de uma sociedade, a saber:

Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas


que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens
ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a
partilha, entre si, dos resultados.
Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à
realização de um ou mais negócios determinados.
Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se
empresária a sociedade que tem por objeto o exercício
de atividade própria de empresário sujeito a registro (art.
967); e, simples, as demais.
Parágrafo único. Independentemente de seu objeto,
considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples,
a cooperativa.
Art. 983. A sociedade empresária deve constituir-se
segundo um dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092;
a sociedade simples pode constituir-se de conformidade
com um desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se às
normas que lhe são próprias.

26
Direito Agrário

Parágrafo único. Ressalvam-se as disposições


concernentes à sociedade em conta de participação e à
cooperativa, bem como as constantes de leis especiais
que, para o exercício de certas atividades, imponham a
constituição da sociedade segundo determinado tipo.
Art. 984. A sociedade que tenha por objeto o exercício de
atividade própria de empresário rural e seja constituída, ou
transformada, de acordo com um dos tipos de sociedade
empresária, pode, com as formalidades do art. 968, requerer
inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da
sua sede, caso em que, depois de inscrita, ficará equiparada,
para todos os efeitos, à sociedade empresária.
Parágrafo único. Embora já constituída a sociedade
segundo um daqueles tipos, o pedido de inscrição
se subordinará, no que for aplicável, às normas que
regem a transformação.
Art. 985. A sociedade adquire personalidade jurídica
com a inscrição, no registro próprio e na forma da lei,
dos seus atos constitutivos (arts. 45 e 1.150).

Salientamos que como não há de fato uma definição de empresa


no Código Civil, para entender quais são os seus elementos
existe uma grande dificuldade, pois, à luz do dispositivo jurídico,
não se considera empresário quem exerce profissão intelectual,
de natureza científica, literária ou artística, ainda que com o
concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da
profissão constituir elemento de empresa.

Pessoa física que atua individualmente, não considerada


empresário, se refere à figura do autônomo. Exemplos:
engenheiro, arquiteto, contador, professor.

Em linhas gerais, o empresário engloba as atividades comerciais,


industriais e de serviços comuns (não intelectuais), exercidas com
um mínimo de organização básica e de forma individual.

Unidade 1 27
Universidade do Sul de Santa Catarina

Um condomínio residencial pode ser considerado


uma empresa ou é uma pessoa jurídica? Nem
uma coisa, nem outra. Condomínio não pode ser
considerado uma empresa inicialmente pelo simples
fato de não ser o lucro o seu objetivo. De acordo com
a legislação vigente, os condomínios são classificados
como entes despersonalizados, ou seja, aqueles que,
embora sejam capazes de adquirir direitos e contrair
obrigações, não preenchem as condições legais e
formais para serem enquadrados como pessoas
jurídicas, por falta de alguns requisitos ou pela sua
situação jurídica sui generis.

Seção 3 – Tipos de sociedades empresariais


A sociedade empresária tem por objeto o exercício de atividade
própria de empresário sujeito ao registro, inclusive a sociedade
por ações, independentemente de seu objeto.

As sociedades comerciais são consideradas, ao lado das sociedades


civis, sujeitos de direito e, portanto, com personalidade própria;
ou seja, com aptidão, enquanto pessoas jurídicas que são, para
exercer direitos e contrair obrigações.

A personalidade jurídica da sociedade comercial não


se confunde com a personalidade de seus sócios.

Desta forma, o capital social da sociedade não tem relação com a


fortuna individual ou particular dos sócios. E as obrigações assumidas
pelos sócios só os afetam até o limite de suas responsabilidades,
conforme as normas legais prescritas para cada tipo de sociedade.

As sociedades, como pessoas jurídicas que são, tornam-se


titulares de direitos próprios independente dos de seus membros

28
Direito Agrário

ou sócios. Elas têm direitos, obrigações e patrimônios próprios,


distintos dos de seus sócios.

Em relação aos tipos mais usuais de sociedades, podemos


reconhecer no novo Código Civil/2002, Lei n° 10.406, de 10 de
janeiro de 2002:

Sociedade em conta de participação


É formada entre o sócio ostensivo, uma empresa e os
sócios participantes, investidores, para a realização de um
determinado negócio.

Somente o sócio ostensivo fica responsável perante terceiros pelas


obrigações da sociedade, sendo o sócio participante responsável
somente perante o sócio ostensivo. Desta forma, perante
terceiros, fornecedores, funcionários e órgão públicos há somente
o sócio ostensivo e a sociedade somente tem valor entre os sócios.

Este tipo de sociedade não necessita de registro, basta somente


o contrato entre os sócios e qualquer registro que tenha não lhe
confere personalidade jurídica.

O sócio participante não pode tomar parte nas relações do sócio


ostensivo com terceiros, sob pena de responder solidariamente
com este pelas obrigações em que intervier, podendo, contudo,
fiscalizar a gestão dos negócios sociais.

Aplica-se à sociedade em conta de participação, subsidiariamente


e no que com ela for compatível, o disposto para a sociedade
simples, e a sua liquidação rege-se pelas normas relativas à
prestação de contas, na forma da lei processual.

Em resumo, a sociedade em conta de participação é a união


formada por uma empresa, que seria o sócio ostensivo, e os sócios
participantes, que entram com uma parte do investimento para
a realização de um negócio. A participação dos sócios deve ser
controlada em conta especial e após apurados os resultados, os
quais serão distribuídos de acordo com participação de cada sócio.

Unidade 1 29
Universidade do Sul de Santa Catarina

Sociedade simples
São as anteriormente denominadas sociedades civis, constituídas
com a finalidade de prestação de serviços. Este tipo de sociedade
deve ter seus atos constitutivos registrados nos órgãos de registro.

Essas sociedades são regidas por normas próprias das


sociedades simples de acordo com o estabelecido no
Código Civil/2002. Constituem-se por pessoas que
reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou
serviços para o exercício de atividade econômica e a
partilha, entre si, dos resultados, não tendo por objeto
o exercício de atividade própria de empresário (arts.
981 e 982).

A sociedade simples é considerada pessoa jurídica, formada por


pessoas que exercem profissão intelectual (gênero, características
comuns), de natureza científica, literária ou artística (espécies,
condição), mesmo se contar com auxiliares ou colaboradores,
salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa
(parágrafo único do art. 966).

Dois médicos constituem um consultório médico; dois


dentistas constituem um consultório odontológico.

Dentre as características, destacam-se:

„„ Além de integralizar o capital social em dinheiro, poderá


o sócio fazê-lo em contribuição em serviços.
„„ Os sócios respondem, ou não, subsidiariamente pelas
obrigações sociais, conforme previsão contratual.
„„ Capital social expresso em moeda corrente ou outra
espécie de bem, suscetível de avaliação pecuniária.
„„ Registro da empresa no Cartório das Pessoas Jurídicas
em até 30 dias da constituição (art. 998).

30
Direito Agrário

„„ Responsabilidade ilimitada dos sócios.


„„ Responsabilidade solidária do sócio cedente das cotas
para com o cessionário, até dois anos após alteração e
averbação de sua saída.
„„ Os sócios respondem na proporção da participação
das cotas, salvo se houver cláusula de responsabilidade
solidária.
„„ Impossibilidade de excluir sócio na participação dos
lucros ou perdas.
„„ O credor de sócio de empresa pode, não havendo outros
bens, requerer a execução nos lucros da empresa.
„„ Retirada espontânea de sócio: aviso prévio de 60 dias,
em caso de contrato por prazo indeterminado; ou
judicialmente, se o contrato for por prazo determinado.
„„ A sociedade simples poderá, se quiser, adotar as regras
que lhes são próprias ou, ainda, um dos seguintes tipos
societários: sociedade em nome coletivo, sociedade em
comandita simples ou sociedade limitada.

Sociedade empresária
É aquela que exerce profissionalmente atividade econômica organizada
para a produção ou circulação de bens ou de serviços, constituindo
elemento de empresa. A sociedade empresária é considerada pessoa
jurídica. Exemplo: sociedades comerciais em geral.

A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos tipos


regulados nos arts. 1.039 a 1.092 do código Civil

a) Sociedade em nome coletivo.


b) Sociedade em comandita simples.
c) Sociedade limitada (mais comum).
d) Sociedade anônima.
e) Sociedade em comandita por ações.

Unidade 1 31
Universidade do Sul de Santa Catarina

a. Sociedade em nome coletivo


São sociedades formadas unicamente por pessoas físicas, sendo
que os sócios respondem solidaria e ilimitadamente pelas
obrigações da sociedade. Sem prejuízo da responsabilidade
perante terceiros, os sócios podem limitar entre si as suas
responsabilidades no contrato social.

b. Sociedade em comandita simples


A sociedade em comandita simples é uma sociedade formada
por dois tipos de sócios, os comanditados, pessoas físicas
responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais;
e os comanditários, obrigados somente pelo valor da sua quota.
Neste tipo de contrato devem ser discriminados os sócios
comanditados e os comanditários.

Os sócios comanditários não podem praticar atos em nome


da sociedade nem ter seus nomes como parte da firma social,
sob pena de ficarem sujeitos às responsabilidades dos sócios
comanditados. Essa sociedade rege-se pelas normas da sociedade
em nome coletivo e pelo Código Civil/2002.

c. Sociedade limitada
Esta é a forma mais comum de sociedade. Nela a
responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas
de capital social, mas todos os sócios respondem solidariamente
pela integralização do capital social. A sociedade limitada teve
grandes alterações com a vigência do Código Civil/2002 e é
regida pelas normas da sociedade simples, podendo os sócios
prever a regência supletiva da sociedade limitada pelas normas
das sociedades anônimas.

A sociedade por quotas de responsabilidade veio para o Brasil via


Portugal, primeiro país a adotar o modelo germânico por meio
de lei, em 1901. No Brasil, é oriunda do projeto de Herculano
Marcos Inglês de Sousa, apresentado ao Congresso em

32
Direito Agrário

20.09.1918, o qual, uma vez aprovado, veio a constituir o Decreto


nº 3.708, de 10.01.1919.

Com as alterações impostas pelo CC/2002 os sócios podem


designar administradores não sócios mediante instrumento que
deverá ser arquivado junto aos atos constitutivos. Poderão, ainda,
os sócios constituir um conselho fiscal composto por sócios ou não.

Os sócios poderão deliberar sobre os assuntos da sociedade


em reuniões ou assembleias, estas obrigatórias para os casos de
sociedades com mais de dez sócios.

Em suma, na sociedade limitada a responsabilidade dos sócios é


restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente
pela integralização do capital social.

A sociedade limitada rege-se pelo Código Civil/2002e, nas


omissões, pelas normas da sociedade simples ou pelas da sociedade
anônima, se assim o contrato social estabelecer.
O capital social divide-se em quotas, iguais ou desiguais, cabendo
uma ou diversas a cada sócio. Os sócios não poderão distribuir lucros
ou realizar retiradas, se distribuídos com prejuízos do capital.

d. Sociedade anônima
Na sociedade anônima ou companhia, o capital é dividido em
ações, obrigando-se cada sócio ou acionista somente pelo preço
de emissão das ações que subscrever ou adquirir. A sociedade
anônima rege-se por Lei Especial, a Lei n° 6.404/1976.

A sociedade anônima ainda possui normas, regulamentos


e obrigações acessórias muito complexas, sendo utilizadas
principalmente por grandes corporações. As empresas menores,
que necessitam de maior agilidade nas tomadas de decisões,
preferem a sociedade limitada, que ainda é bem mais simples
mesmo com as alterações introduzidas pelo Código Civil/2002.

Unidade 1 33
Universidade do Sul de Santa Catarina

e. Sociedade em comandita por ações


A sociedade em comandita por ações tem o capital dividido em
ações, regendo-se pelas normas relativas à sociedade anônima,
e opera sob firma ou denominação. Somente o acionista tem
qualidade para administrar a sociedade e, como diretor, responde
subsidiária e ilimitadamente pelas obrigações da mesma. Os
diretores serão nomeados no ato constitutivo da sociedade,
sem limitação de tempo, e somente poderão ser destituídos por
deliberação de acionistas que representem, no mínimo, dois
terços do capital social.

Sociedade cooperativa
A sociedade cooperativa rege-se pelo disposto no Código
Civil/2002, ressalvada a legislação especial. São características da
sociedade cooperativa:

I – variabilidade, ou dispensa do capital social;


II – concurso de sócios em número mínimo necessário a
compor a administração da sociedade, sem limitação de
número máximo;
III – limitação do valor da soma de quotas do capital
social que cada sócio poderá tomar;
IV – intransferibilidade das quotas do capital a terceiros
estranhos à sociedade, ainda que por herança;
V – quorum, para a assembléia geral funcionar e
deliberar, fundado no número de sócios presentes à
reunião, e não no capital social representado;
VI – direito de cada sócio a um só voto nas deliberações,
tenha ou não capital a sociedade, e qualquer que seja o
valor de sua participação;
VII – distribuição dos resultados, proporcionalmente ao
valor das operações efetuadas pelo sócio com a sociedade,
podendo ser atribuído juro fixo ao capital realizado;

34
Direito Agrário

VIII – indivisibilidade do fundo de reserva entre os


sócios, ainda que em caso de dissolução da sociedade.
Na sociedade cooperativa, a responsabilidade dos sócios pode ser
limitada ou ilimitada.

É limitada a responsabilidade na cooperativa em que o sócio


responde somente pelo valor de suas quotas e pelo prejuízo
verificado nas operações sociais, guardada a proporção de sua
participação nas mesmas operações.

É ilimitada a responsabilidade na cooperativa em que o sócio


responde solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais.

No que a lei for omissa, aplicam-se as disposições referentes à


sociedade simples, resguardadas as características estabelecidas
no art. 1.094.

Sociedade unipessoal
Com a publicação da Lei n° 12.441/2011 foi acrescentado o
inciso VI ao art. 44 do Código Civil/2002.

Surge no cenário brasileiro a empresa individual de


responsabilidade limitada - EIRELI. As EIRELIs, portanto, são
pessoas jurídicas de direito privado.

Também foi acrescentado o art. 980-A ao Código


Civil/2002 com a seguinte redação: “A empresa individual de
responsabilidade limitada será constituída por uma única pessoa
titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado,
que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-mínimo
vigente no País”.

A conjugação dos dois dispositivos acrescentados institui no


ordenamento jurídico brasileiro a pessoa jurídica constituída
apenas por um único sócio, isto é, uma sociedade unipessoal de
prazo indeterminado.

Atento a tal constatação, o legislador também alterou o parágrafo


único do art. 1.033 do Código Civil/2002, que já permitia

Unidade 1 35
Universidade do Sul de Santa Catarina

a existência de sociedade unipessoal de prazo determinado


(180 dias) ou sua conversão em empresário individual com
responsabilidade ilimitada. O novo texto do parágrafo único
continua permitindo que uma sociedade unipessoal se converta
no prazo de 180 dias em um empresário individual, mas agora
prevê também a possibilidade de conversão em uma EIRELI.
Vejamos o novo texto:

Não se aplica o disposto no inciso IV caso o sócio


remanescente, inclusive na hipótese de concentração
de todas as cotas da sociedade sob sua titularidade,
requeira, no Registro Público de Empresas Mercantis,
a transformação do registro da sociedade para
empresário individual ou para empresa individual de
responsabilidade limitada, observado, no que couber, o
disposto nos artigos 1.113 a 1.115 deste Código.

Agora, portanto, na falta de pluralidade de sócios, não


reconstituída no prazo de 180 dias, a sociedade será dissolvida,
desde que não se converta em um empresário individual ou em
uma EIRELI.

O § 6° do art. 980-A determina que se aplicam à EIRELI,


no que couber, as mesmas regras previstas para as sociedades
limitadas.

Percebemos, portanto, que o direito é dinâmico e


acompanha a evolução da sociedade, sendo desta
forma uma tendência à formação de novas espécies
de sociedade ou novas formas de concepção de
pessoas jurídicas diferenciadas para atender à
evolução do próprio mercado.

Atenção à Lei n° 9.605/98: lei destinada à proteção do meio


ambiente que tipifica penalmente conduta de pessoa jurídica. Lei
pioneira sobre a responsabilidade penal da pessoa jurídica. Os
gestores da pessoa jurídica podem ser presos e a própria pessoa
jurídica pode sofrer sanção penal.

36
Direito Agrário

Legislação aplicada
Podemos considerar como “legislação aplicada” o conjunto
de normas jurídicas incidentes sobre uma matéria ou assunto.
Neste conjunto devem ser também considerados não só leis, mas
também decretos e resoluções; além de outros textos jurídicos que
dão regulamentação ao assunto em análise.

Para o avanço de nossos estudos, devem ser considerados no


mínimo os textos legais a seguir apontados, os quais você poderá
consultar um a um na maior base de normas jurídicas oficiais
do Brasil, por meio do link: <http://www4.planalto.gov.br/
legislacao>. No site, utilize o item “pesquisa de legislação”.

Muito além de conhecer a legislação aplicada às


pessoas jurídicas, o importante nesta seção é que você
saiba usar a ferramenta de busca.

É necessário saber procurar e achar o texto da lei de maneira


correta, sem correr o risco de realizar a leitura de um texto
desatualizado ou já revogado.

Portanto, faça a busca e a consequente leitura das seguintes


normas jurídicas aplicáveis à unidade em estudo:

„„ Constituição Federal de 1988


„„ Código Civil Código Civil/2002 (Lei n° 10.406/2002)
„„ Lei n° 10.825/2003
„„ Lei n° 6.404/1976
„„ Lei n° 12.441/2011
„„ Lei n° 9.605/1998
„„ Lei n° 5.764/1971
„„ Lei n° 9.317/ 1996

Unidade 1 37
Universidade do Sul de Santa Catarina

Síntese

Você verificou que a questão societária possui previsão no Código


Civil de 2002, em seu Livro II, em que há a definição de que o
contrato social é celebrado entre pessoas quando elas desejarem
obrigar-se reciprocamente para contribuir, com bens e serviços, para
o exercício de atividade econômica, bem como partilharem, entre si,
dos resultados. A pessoa jurídica possui personalidade, a qual será
adquirida com o registro de seu ato constitutivo em cartório ou na
Junta Comercial, dependendo da espécie de pessoa jurídica.

Pôde perceber também na estrutura legal brasileira a existência


da sociedade não personificada, na qual todos os sócios
respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais;
os bens sociais respondem pelos atos de gestão praticados por
qualquer dos sócios (salvo pacto expresso limitativo de poderes
a ser conhecido por terceiros); os bens e as dívidas sociais
constituem patrimônio especial de titularidade comum dos
sócios; os sócios somente por escrito podem provar a existência
da sociedade, mas terceiros podem prová-la de qualquer modo.
A personalidade capacita a pessoa jurídica para ser sujeito de
direitos e obrigações.

A pessoa jurídica passa a ter personalidade distinta da de seus


sócios. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado
pelo desvio da finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz
decidir, a requerimento da parte ou do Ministério Público quando
lhe couber intervir no processo, pela extensão dos bens particulares
dos administradores ou sócios da pessoa jurídica para responder
por certas e determinadas relações de obrigações. Essa hipótese
configura caso de desconsideração da personalidade jurídica.

É muito comum as pessoas de modo geral confundirem o


conceito de pessoa jurídica com o conceito de “empresa”, mas é
preciso que você tenha bem claro que as empresas derivam das
sociedades empresariais, que constituem apenas uma das espécies
de pessoas jurídicas existentes e vigentes na atual legislação
brasileira.

38
Direito Agrário

Atividades de autoavaliação

Ao final de cada unidade, você realizará atividades de autoavaliação. O


gabarito está disponível no final do livro didático. Mas esforce-se para
resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, você estará
promovendo (estimulando) a sua aprendizagem.
1. Poderá ser considerada a pessoa jurídica de direito público externo:
a. ( ) AMBEV
b. ( ) Brasil
c. ( ) Santa Catarina
d. ( ) ONU

2. Poderá ser considerada a pessoa jurídica de direito público interno:


a. ( ) AMBEV
b. ( ) CELESC
c. ( ) Santa Catarina
d. ( ) ONU

3. Poderá ser considerada a pessoa jurídica de direito privado:


a. ( ) AMBEV
b. ( ) CELESC
c. ( ) Santa Catarina
d. ( ) ONU

4. Faça uma pesquisa sobre a personalidade jurídica dos condomínios


residenciais.

Unidade 1 39
Universidade do Sul de Santa Catarina

Saiba mais

Se você desejar, aprofunde os conteúdos estudados nesta unidade


ao consultar as seguintes referências:

REQUIÃO, R. Abuso de direito e fraude através da


personalidade jurídica. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 803,
p. 751-764, set. 2002.

SZTAJN, R. Sobre a desconsideração da personalidade jurídica.


Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 762, p. 81-97, abr. 1999.

40
2
UNIDADE 2

O fundo do comércio e a proteção


à propriedade industrial e os
contratos agrários

Objetivos de aprendizagem
„„ Analisar o fundo de comércio com destaque aos
elementos que o compõem.
„„ I dentificar como é reconhecida e protegida a
propriedade industrial.
„„ econhecer as formas com as quais a
R
concorrência desleal agride o desenvolvimento
do agronegócio em nosso país.

Seções de estudo
Seção 1 Fundo do comércio

Seção 2 Propriedade industrial

Seção 3 Concorrência desleal

Seção 4 Contratos Agrários


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


A sobrevivência das organizações no atual mercado competitivo
depende, por vezes, de suas estratégias empresariais.

Nesta unidade você verá que o reconhecimento da existência de


um fundo de comércio para valorizar e impulsionar o mercado é
de fundamental importância para a saúde financeira da “maré”
mercadológica.

Verificará que novos produtos, ideias, métodos, processos e


sistemas surgem a cada dia, e que para isso deve haver uma
proteção aos seus criadores e desenvolvedores, bem como
aos detentores de seus direitos, sejam eles autorais ou de
industrialização.

E uma das formas de mantermos o mercado em determinado


nível de estabilidade ético-funcional é o combate direto a certas
práticas como, por exemplo, a prática da concorrência desleal.

Seção 1 – Fundo do comércio


Embora não haja um conceito uniforme de fundo de comércio
na doutrina brasileira, tem-se reconhecido, segundo consenso
geral, que é ele composto de um conjunto de bens corpóreos
ou incorpóreos que facilitam o exercício da atividade mercantil
desenvolvida por comerciantes em geral.

Em nosso país emprega-se, também, a expressão


estabelecimento comercial para denominar o fundo
do comércio.

42
Direito Agrário

Para melhor compreensão, partimos do pressuposto básico de


que comerciante é aquele indivíduo que se propõe a intermediar
a produção e o consumo e deve reunir elementos indispensáveis
que, em conjunto, podem ser denominados de fundo econômico.
Tais elementos, quando organizados e juntados à sede física
da atividade econômica, formam um todo que compõe o
estabelecimento comercial para o início da atividade.

Deste modo, o fundo de comércio pode ser definido como o


conjunto de bens materiais e imateriais, corpóreos e incorpóreos,
que constituem o estabelecimento comercial.

No exercício da atividade comercial são utilizados


bens materiais (corpóreos), como, por exemplo,
balcão, prateleira, mesas, estoques etc. Além disso,
ainda há na atividade comercial o emprego de bens
imateriais (extracorpóreos) como, por exemplo, ponto
comercial, clientela, aviamento.

O emprego do trabalho associado aos elementos supracitados dão


o verdadeiro sentido de existência ao estabelecimento comercial. E
um ponto a ser explorado e de suma importância nos dias atuais de
globalização e acirrada concorrência é o ponto comercial.

Entendemos por ponto comercial o local do comércio no


qual se situa o estabelecimento comercial e para o qual se
dirige a clientela; portanto, o ponto surge ou da localização
da propriedade ou do contrato de locação do imóvel. Neste
caso, o ponto se destaca da propriedade, pois pertence ao
comerciante locatário, constituindo-se como bem incorpóreo
do estabelecimento.

No Brasil o ponto comercial teve sua origem legal com a


promulgação do Decreto nº 24.150, de 20 de abril de 1934.

Deve sempre ser considerado na constituição e formação do ponto


comercial o direito próprio que o garante, qual seja, o direito de
o inquilino comerciante ter renovado o seu contrato de locação

Unidade 2 43
Universidade do Sul de Santa Catarina

comercial. Todavia, é necessário salientar que nem sempre o direito


de renovação é absoluto, pois o locador pode recusar a renovação,
desde que apresente um motivo justo para tanto.

De acordo com o doutrinador Buzaid (2009, p. 19), estamos


diante de um direito misto: “relações jurídicas nas quais a
obrigação de fazer é acompanhada de um direito real fundindo-
se os dois elementos em uma unidade que os eleva a uma
categoria autônoma”.

A renovação dos contratos de arrendamentos de


prédios destinados ao uso comercial ou industrial é
feita de acordo com o Decreto nº 24.150, de 20 de abril
de 1934 – também conhecido como Lei de Luvas.

Portanto, se o contrato de locação não preencher os requisitos


exigidos no Decreto, o ponto comercial não estará devidamente
protegido. Ressaltamos, todavia, que, estando o comerciante
fixado em determinado lugar e atraindo a clientela, será
reconhecida a existência do ponto comercial e este possuirá valor
caso o comerciante queira vendê-lo.

O texto do Decreto nº 24.150/1934 deixa clara a regulamentação


da matéria:

Partindo do princípio de que o valor incorpóreo do fundo de


comércio se integra em parte pelo valor do imóvel, trazendo
destarte pelo trabalho alheio benefícios ao proprietário; e
que não seria justo atribuir exclusivamente ao proprietário
cota de enriquecimento com o empobrecimento do inquilino
que criou o valor, o que importaria em um locupletamento,
condenado pelo direito moderno.

A Lei de Luvas é instituto fundamental na proteção dos


interesses do locador comercial, protegendo o ponto – parte
integrante do patrimônio constituinte do estabelecimento.

O ponto comercial é de tamanha importância para


o estabelecimento que muitas vezes o seu valor
ultrapassa o valor de todos os bens corpóreos do
estabelecimento comercial.

44
Direito Agrário

Constitui-se em uma norma de suma importância para o exercício


de qualquer atividade comercial, uma vez que tal corpo jurídico
atua protegendo os princípios da livre concorrência e evitando
meios de enriquecimento ilícito. Pois bem, retornando à expressão
fundo de comércio, concluímos que a mesma tem sido utilizada
para significar, de forma resumida, dois conceitos distintos:

a) O primeiro está associado ao conjunto de ativos de um


comerciante, incluindo seus estoques, imóveis (se for o
proprietário), marcas, nome, clientela, localização etc.,
independentemente de serem ou não ativos no conceito
contábil. Abrange essa acepção todo o conjunto de
fatores que o comerciante tem à sua disposição para
exercer a sua atividade.
b) No segundo conceito, não menos importante,
encontramos a expressão fundo de comércio
representando apenas parte dos ativos de uma sociedade,
parte esta composta pelos fatores intangíveis, que a
ajudam a obter lucros, tais como reputação, fidelidade de
sua clientela, contratos de exclusividade, tecnologia de
produção, venda ou distribuição etc.

Esta segunda concepção é a que de fato coincide com o conceito


introduzido pela expressão da língua inglesa denominada goodwill
value.

O goodwill value representa o valor da parte intangível


do negócio incluindo-se o valor da marca, o valor da
base de clientes existente, o valor das relações com os
investidores e financiadores e com os fornecedores,
além de outras vantagens intangíveis.

Medir o valor de algo intangível e atribuir um valor monetário


ao goodwill é extremamente difícil. Em alguns casos, o valor do
goodwill ultrapassa significativamente o valor contábil dos ativos
da empresa.

De fato, há empresas em que o valor dos ativos tais como


equipamentos, instalações e outros são insignificantes quando

Unidade 2 45
Universidade do Sul de Santa Catarina

comparados com o valor da sua carteira de clientes ou com o


valor de seus funcionários.

A seguir, um exemplo de um cálculo de fundo de


comércio ou goodwill value:

A Cia. da Moda S/A tem 10 lojas, mas em 02.01.2011 resolveu


desfazer-se de uma das lojas. Solicitou então que um perito
fizesse a avaliação do fundo de comércio de tal agência, como
base de uma oferta de venda a empresas situadas na região
com foco no mesmo negócio. O perito contratado solicitou as
seguintes informações e documentos à Cia. da Moda S/A:

1. O volume físico de vendas da filial a ser vendida, em


2008, 2009 e 2010.
2. O balanço da respectiva filial, em data base de
31.12.2008, 31.12.2009 e 31.12.2010.

Considerando ainda que o risco do negócio seja pequeno,


pois a loja tem uma carteira de clientes já consagrada e um
bom conceito na praça onde atua, além de ter uma equipe de
funcionários treinados e de boa qualificação operacional, aplicou
uma taxa de risco de desconto ao valor presente de 3% a.a.

Observe que a Cia. da Moda S/A não irá oferecer à venda a


loja pelo valor do fundo de comércio, pois o valor da filial é
composto ainda de instalações (imobilizado) + créditos (clientes)
a receber + estoques (–) obrigações. Supomos que após a análise
dos dados o perito conclui que o valor do fundo de comércio, da
loja a ser vendida, corresponde, conforme critérios citados, a R$
977.039,55 a valor presente de 02.01.2011.

Desta forma, vamos supor que foi apurado o valor do patrimônio


líquido (avaliado a valor de mercado) da filial de R$ 100.000,00,
o preço mínimo de oferta para venda da filial seria de:

46
Direito Agrário

„„ R$ 977.039,55 relativos ao fundo de comércio;


„„ R$ 100.000,00 relativos ao valor do patrimônio líquido
(a valor de mercado);
„„ Total de R$ 1.077.039,55.

A questão do fundo do comércio também é motivo de longas


discussões judiciais. Em alguns casos podem essas discussões
inclusive envolver o passivo trabalhista da organização em
questão, como demonstra o caso julgado no ano de 2011, o qual
segue um breve resumo jurisprudencial:

Apelação Cível nº 70040139941, Quinta Câmara Cível,


Tribunal de Justiça do RS
APELAÇÕES CÍVEIS. RESPONSABILIDADE
CIVIL. CONTRATO DE DISTRIBUIÇÃO.
RESCISÃO IMOTIVADA. AUSÊNCIA DE AVISO
PRÉVIO. ARTICULAÇÃO PARA FECHAMENTO
DA EMPRESA AUTORA. AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO. LUCROS CESSANTES. FUNDO
DE COMÉRCIO. ENCARGOS TRABALHISTAS.
A rescisão contratual de forma unilateral sem concessão
de aviso-prévio, certamente surpreendeu a distribuidora,
violando o princípio da boa-fé contratual, pois a extinção
do negócio jurídico deveria ter sido previamente discutida
com a requerente, concedendo-lhe um tempo razoável
para que esta pudesse reorganizar as suas atividades
antes de perder a condição de distribuidora dos produtos
da vendedora. O réu, Gerson Netz, também possui
responsabilidade no encerramento das atividades da
empresa autora, uma vez que se configura totalmente
ilícita a conduta do requerido em promover uma
reunião incentivando os funcionários a pedir demissão,
sob alegação de que o Sr. Nelson não estava mais em
condições de dar continuidade aos negócios. No que
tange aos lucros cessantes, efetivamente se verificaram,
porquanto a rescisão contratual, bem como a demissão
da maioria dos funcionários, ensejaram o fechamento
da empresa autora. Na ausência de critério legalmente
estabelecido, deve-se adotar, como parâmetro para o
cálculo dos lucros cessantes, a média mensal dos lucros
líquidos apurados nos últimos 12 (doze) meses da
contratação, projetadas proporcionalmente ao período
de 03 (três) meses que deveria ter sido concedido a título
de aviso prévio da rescisão. Inegável se mostra o fato da
criação do fundo de comércio em vista das atividades

Unidade 2 47
Universidade do Sul de Santa Catarina

desempenhadas pelos autores, na distribuição de produtos


alimentícios, possuindo, por tal motivo, determinado
valor pecuniário. Quanto à apuração do valor devido a
título de fundo de comércio, entendo que há de se deixar
uma certa liberdade ao juízo da liquidação, o que, à luz
da perícia a ser realizada, e de acordo com os quesitos
a serem apresentados, encontrará uma solução justa e
compatível com a verdadeira expressão do fundo de
comércio. No que concerne às despesas efetuadas com
acertos trabalhistas, entende-se que a ruptura contratual
empreendida de forma abrupta, assim como a reunião
articulada pelo réu Gerson, deram causa à dispensa de
diversos empregados da distribuidora, acarretando o
encerramento das atividades da empresa requerente.
Assim, os réus deverão arcar com os custos decorrentes
das demissões efetuadas pela autora. Efetivamente, a
conduta dos demandados foi censurável e avessa à boa
prática negocial, mas não justifica sua condenação à
indenização por danos morais, pois, no caso em tela,
não se encontram presentes os requisitos ensejadores
dos danos morais alegados pelo autor. Honorários
advocatícios fixados de acordo com os requisitos do
art. 20 do CPC e de acordo com os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade. APELO DA RÉ
FLORESTAL ALIMENTOS PARCIALMENTE
PROVIDO. APELO DO AUTOR E DO RÉU
GERSON NERTZ DESPROVIDOS. (Apelação Cível
nº 70040139941, Quinta Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Romeu Marques Ribeiro Filho,
julgado em 24/08/2011)

Observe agora um modelo de contrato de arrendamento de fundo


de comércio entre particulares:

CONTRATO DE ARRENDAMENTO DE FUNDO DE COMÉRCIO


IDENTIFICAÇÃO DAS PARTES CONTRATANTES
ARRENDADORA: Nome da Arrendadora ..., com sede em ..., na Rua
..., nº ..., bairro ..., CEP ..., no Estado ..., inscrita no CNPJ sob o nº ...,
e no Cadastro Estadual sob o nº ..., neste ato representada pelo
seu diretor ..., nacionalidade, estado civil, profissão, Carteira de
Identidade nº ..., CPF nº ..., residente e domiciliado na Rua ..., nº ...,
bairro ..., CEP ..., Cidade ..., no Estado ...;

48
Direito Agrário

ARRENDATÁRIA: Nome da Arrendatária ..., com sede em ..., na Rua


..., nº ..., bairro ..., CEP ..., no Estado ..., inscrita no CNPJ sob o nº ...,
e no Cadastro Estadual sob o nº ..., neste ato representada pelo
seu diretor ..., nacionalidade, estado civil, profissão, Carteira de
Identidade nº ..., CPF nº ..., residente e domiciliado na Rua ..., nº ...,
bairro ..., CEP ..., Cidade ..., no Estado ... .
As partes acima identificadas têm, entre si, justo e acertado o presente
Contrato de Arrendamento de Fundo de Comércio, que se regerá
pelas cláusulas seguintes e pelas condições descritas no presente.
I – DO OBJETO DO CONTRATO
Cláusula Primeira: O presente contrato tem como OBJETO
o fundo de comércio, de propriedade da ARRENDADORA,
localizado no imóvel situado na Rua ..., nº ..., bairro ..., CEP ...,
Cidade ..., no Estado ..., que será repassado em arrendamento
para a ARRENDATÁRIA.
Cláusula Segunda: Acompanham o imóvel onde está situado
o fundo de comércio, objeto deste contrato, os bens móveis
listados em documento anexo, onde se encontra também uma
descrição específica dos mesmos, a fim de que se possa avaliar o
estado de conservação em que se encontram.
II – DAS OBRIGAÇÕES
Cláusula Terceira: A ARRENDATÁRIA está obrigada a preservar a
estrutura do imóvel onde se encontra o fundo de comércio, e dos
móveis que o acompanham, sob pena de ter que repará-lo, às
suas próprias expensas, uma vez que tem a obrigação de, findo
o prazo deste arrendamento, entregá-lo em perfeitas condições,
assim como o recebeu.
Cláusula Quarta: A ARRENDATÁRIA se compromete a acatar as
limitações que possa vir a sofrer, por parte de algum órgão da
Administração Pública, no seu direito de utilizar o fundo de
comércio.
Cláusula Quinta: Se, por algum motivo, a ARRENDATÁRIA quiser
transferir o fundo de comércio para um terceiro, não o poderá
fazer sem autorização expressa da ARRENDADORA.
Cláusula Sexta: A ARRENDATÁRIA está obrigada a conduzir com
toda a diligência e cuidado na utilização do imóvel onde se
encontra o fundo, como se seu fosse, devendo preservá-lo e
mantê-lo no mesmo estado de conservação em que o recebeu,
sob o risco de ser o presente contrato rescindido.

Unidade 2 49
Universidade do Sul de Santa Catarina

III – DA MULTA
Cláusula Sétima: Será aplicada uma multa de 5% (cinco por cento)
do valor total previsto no presente instrumento para qualquer
uma das partes que venha a infringir as cláusulas deste contrato,
independentemente de ter havido reparação pelos danos causados.
IV – DO VALOR
Cláusula Oitava: O valor do arrendamento será de R$ ... (valor
expresso), a ser pago mensalmente todo dia ... .
V – DO PRAZO
Cláusula Nona: O presente arrendamento terá o lapso temporal
de ..., iniciando-se no dia ..., e terminando no dia ..., data em que
o imóvel onde se localiza o fundo de comércio será desocupado,
devendo o mesmo estar nas mesmas condições de conservação
em que se encontrava antes de se iniciar este contrato.
VI – CONDIÇÕES GERAIS
Cláusula Décima: É proibido qualquer tipo de alteração que
venha a ser feita nos fins estabelecidos neste contrato.
Cláusula Décima Primeira: O presente instrumento passa a valer a
partir da assinatura pelas partes.
VII – DO FORO
Cláusula Décima Segunda: Para dirimir quaisquer controvérsias
oriundas do CONTRATO, as partes elegem o foro da comarca de
...;
Por estarem assim justos e contratados, firmam o presente
instrumento, em duas vias de igual teor, juntamente com 2 (duas)
testemunhas.

Local, . . . . de . . . . . . . . . . . . . . . . . . de 20__.

Representante legal da Representante legal da


Arrendadora Arrendatária

Testemunhas:

Nome e RG Nome e RG

50
Direito Agrário

Por fim, salienta-se que a NBR 14.653-4 estabelece que


“a identificação do fundo de comércio deverá considerar a
previsibilidade de rendas líquidas a serem auferidas pelo
empreendimento, durante a sua vida econômica, e corresponderá
à diferença entre o valor econômico e o patrimonial”. Cabe
informar que o valor patrimonial deverá ser calculado com os
valores do ativo permanente reavaliados a valor de mercado.

Fundo de comércio é o que uma empresa tem de valor


acima de seu patrimônio líquido avaliado a preços
de mercado. O patrimônio líquido de uma empresa
é a diferença entre seus ativos e seus passivos
exigíveis. Mas o patrimônio líquido está sempre
expresso em “termos contábeis”, ou seja, depende
diretamente dos valores contabilizados para cada
passivo. Só que fundo de comércio não é a diferença
entre o patrimônio líquido contábil e seu valor de
negociação, mas sim a diferença entre o patrimônio
líquido levantado com os ativos e passivos a preços de
mercado e o patrimônio líquido conforme seu valor
de negociação como um todo. Este então representa
o Goodwill, ou seja, o que um patrimônio líquido
consegue ter de valor, se negociada a empresa como
um todo, acima do que seria obtido com a negociação
de cada ativo individualmente a preços de mercado.

Seção 2 – Propriedade industrial


No Brasil, a proteção relativa à propriedade industrial é
disciplinada pela Lei de Propriedade Industrial, Lei n° 9.279/1996.
Nesta lei estão contidos não apenas os direitos advindos com a
concessão de registro de marcas, patentes de invenção e desenhos
industriais, como todo o procedimento administrativo que deve
ser obedecido. Observe que a propriedade intelectual divide-se em
dois grandes ramos: direitos autorais e a propriedade industrial.

O direito do autor ou copyright refere-se ao direito de autoria


de trabalhos literários, cinematográficos, fotográficos

Unidade 2 51
Universidade do Sul de Santa Catarina

e softwares. Esses direitos podem ser registrados pelos


interessados diretamente na Biblioteca Nacional, ou via
editoras, no caso, por exemplo, de livros.

Em contrapartida, a propriedade industrial abrange o nome


coletivo para conjunto de direitos relacionados com as atividades
industriais ou comerciais do indivíduo ou companhia. Trata de
assuntos como as invenções (PI), modelos de utilidade (MU),
desenhos industriais (DI), das marcas de produto ou de serviço,
de certificação e coletivas, da repressão às falsas indicações
geográficas e demais indicações, por fim, da repressão à
concorrência desleal.

A propriedade industrial é o instituto jurídico criado para


proteger as invenções e os modelos de utilidade (por meio de
patentes), e das marcas, indicações geográficas e desenhos
industriais (através de registros). Assim, todo aquele que tiver
interesse em ter reconhecidos os seus direitos relacionados à
propriedade industrial deve, necessariamente, obter a chancela do
órgão responsável pela análise e concessão de pedidos, ou seja, o
Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

O Brasil também é signatário de acordos internacionais que


disciplinam a matéria, como o Agreement on Trade-Related
Aspects of Intellectual Property Rights (TRIPs) e a Convenção
da União de Paris (CUP).

TRIPs é um tratado internacional, integrante do


conjunto de acordos assinados em 1994 que encerrou
a Rodada Uruguai e criou a Organização Mundial
do Comércio (OMC). Também chamado de Acordo
Relativo aos Aspectos do Direito da Propriedade
Intelectual Relacionados com o Comércio (ADPIC), tem
o seu nome como resultado das iniciais em inglês do
instrumento internacional.
A Convenção de Paris é o primeiro acordo
internacional relativo à propriedade intelectual,
assinado em 1883, em Paris, para a Proteção da
Propriedade Industrial (CUP), continua em vigor
em sua versão de Estocolmo, inclusive por força do
Acordo TRIPs.

52
Direito Agrário

A Convenção da União de Paris (CUP), de 1883, deu origem


ao hoje denominado Sistema Internacional da Propriedade
Industrial, e foi a primeira tentativa de uma harmonização
internacional dos diferentes sistemas jurídicos nacionais relativos
à Propriedade Industrial. Surge, assim, o vínculo entre uma
nova classe de bens de natureza imaterial e a pessoa do autor,
assimilado ao direito de propriedade.

Os trabalhos preparatórios dessa Convenção Internacional se


iniciaram em Viena, no ano de 1873. Cabe lembrar que o Brasil
foi um dos 14 países signatários originais. A Convenção de Paris
sofreu revisões periódicas, a saber: Bruxelas (1900), Washington
(1911), Haia (1925), Londres (1934), Lisboa (1958) e Estocolmo
(1967). Conta atualmente com 173 países signatários.

A Convenção de Paris foi elaborada de modo a permitir razoável


grau de flexibilidade às legislações nacionais, desde que fossem
respeitados alguns princípios fundamentais.

No Brasil, o inventor que desejar obter a proteção conferida pela


Lei de Propriedade Industrial deve recorrer ao INPI, assim como
aquele que desejar obter certificado de seu desenho industrial, ou,
ainda, ver sua marca registrada.

É importante ter em mente que, a despeito de não ser obrigatória,


a obtenção do registro, da patente ou do certificado, é a única
forma de obter o reconhecimento oficial de que a marca, a
invenção ou o desenho industrial não estão inseridos nas
proibições legais, atribuindo assim ao titular exclusividade na
exploração ou utilização, além da possibilidade de impedir que
outros que utilizem total ou parcialmente sua tecnologia, sua
marca ou seus desenhos industriais.

O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) é


o órgão governamental (mais especificamente uma
autarquia federal) dedicado a executar as leis que
regulam a propriedade industrial. Criado em 1970, o
Instituto é vinculado ao Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior. Maiores informações no
site <http://www.inpi.gov.br/>.

Unidade 2 53
Universidade do Sul de Santa Catarina

Por exemplo, quem desenvolve programas de computadores


(software) sabe quanto é importante o registro de cada programa,
seja para proteger-se da pirataria ou da ação desleal de
concorrentes. A proteção é uma arma poderosa para garantir que
seu trabalho arduamente concebido não seja de uma hora para
outra utilizado por terceiros sem o seu consentimento.

No Brasil, o INPI conta com todas as facilidades para você


registrar programas de computador e, assim, gozar de proteção
legal quanto ao uso de seu trabalho. Registrar programas de
computador tem seu próprio processo, distinto do registro de
marcas e patentes. Porém, o processo é imprescindível se você
quer garantir a propriedade de seu trabalho, garantia esta que
perdurará por 50 anos após o 1º de janeiro do ano subsequente
à data de criação do software. O registro de software pode ser
utilizado como comprovante de autoria até internacionalmente
(em países signatários dos acordos internacionais – que são a
maioria).

Passaremos agora à análise de alguns conceitos em espécie


de suma importância para a compreensão de nosso objeto de
estudo, como, por exemplo, patente, marca, desenho industrial,
indicações geográficas e denominação de origem.

Patente
Título de propriedade temporária sobre uma invenção ou de
um modelo de utilidade, outorgado pelo Estado aos inventores
ou autores, ou outras pessoas físicas ou jurídicas detentoras de
direitos sobre a criação. Para dar entrada ao Pedido de Invenção
junto ao INPI o inventor se obriga a revelar detalhadamente todo
o conteúdo técnico da matéria protegida e aguardar o percurso
do processo que, em geral, leva alguns anos até ser deferido e
concedida a Carta Patente ao autor.

Durante o prazo de vigência da Carta Patente, o titular tem


o direito de excluir terceiros, sem sua prévia autorização,
de atos relativos à matéria protegida, tais como fabricação,
comercialização, importação, uso, venda etc.

54
Direito Agrário

Ou seja, a Carta Patente é um título de propriedade temporária


outorgado pelo Estado a criadores ou inventores de novos produtos,
processos ou aperfeiçoamentos que tenham aplicação industrial
(BELAS, 2003, p. 103). Transcorrido o prazo de vigência da Carta
Patente, o seu conteúdo cai em domínio público.

Como obter a patente?

Para obtenção do título é necessário requerer o depósito do


pedido de patente junto a um escritório especializado no registro
de marcas e patentes do país em que se deseja comercializar e
proteger a invenção.

Marca
Segundo a lei brasileira, marca é todo sinal distintivo,
visualmente perceptível, que identifica e distingue produtos e
serviços de outros análogos, de procedência diversa, bem como
certifica a conformidade dos mesmos com determinadas normas
ou especificações técnicas.

É sinal que tem como finalidade distinguir e identificar


visualmente produtos ou serviços diante de outros semelhantes
ou afins, de procedência diversa, ou certifica a conformidade dos
mesmos com determinadas normas ou especificações técnicas.

Assim, podemos concluir que são duas as características


principais da marca: caráter distintivo, na qual a marca deve
ser capaz de distinguir produto ou serviço, bem como deve esta
modalidade de propriedade industrial não ser enganosa, ou seja,
não pode reivindicar uma qualidade para produtos que eles não
possuem. Outra característica específica é que o registro de marca
é concedido por um período de 10 anos contados a partir da
concessão do registro, podendo ser indefinidamente prorrogada
por períodos iguais e sucessivos.

Unidade 2 55
Universidade do Sul de Santa Catarina

As marcas podem ser: nominativas (constituídas


de palavras, letras, algarismos), figurativas
(desenho, imagem), mista (elemento nominativo
e figurativo ou de elemento nominativo de forma
isolada) e tridimensional (formato de produto ou
embalagem, com capacidade distintiva). Existem
países que utilizam também as marcas olfativas,
sonoras e hologramas.

Desenho industrial
Considera-se desenho industrial a forma plástica ornamental de
um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa
ser aplicado a um produto, proporcionando resultado visual novo
e original na sua configuração externa e que possa servir de tipo
de fabricação industrial.

É a forma de um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e


cores que possa ser aplicado a um produto, criando um visual
novo e original na sua configuração externa, podendo ser
industrializado.

Tal proteção pode ser encontrada em relógios, joias e


na própria moda.

Enquanto a patente tem por objetivo proteger a inovação técnica


de um determinado produto, o Registro de Desenho Industrial
tem a finalidade de proteger a originalidade da aparência do
mesmo. Distingue-se de marca por não precisar ter o caráter
distintivo e difere de patente por não ser determinado por
necessidade técnica ou funcional.

56
Direito Agrário

Indicações geográficas
Atualmente é considerada pela lei brasileira como indicação
geográfica a indicação de procedência ou a denominação de
origem. Indicação de procedência é o nome geográfico de
um país, cidade, região ou uma localidade de seu território que
se tornou conhecido como centro de produção, fabricação ou
extração de determinado produto ou prestação de determinado
serviço. Denominação de origem é o nome geográfico de
país, cidade, região ou localidade de seu território, que designe
produto ou serviço cujas qualidades ou características se devam
exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, incluídos
fatores naturais e humanos.

A indicação geográfica serve com uma forma de indicarmos a


origem, a procedência de um produto ou serviço, agregando
desta forma maior valor e credibilidade aos mesmos, tendo em
vista que neste caso o grande diferencial é o local da origem do
produto ou serviço.

Um bom exemplo em âmbito mundial são produtos como os


azeites portugueses do Alentejo e os vinhos italianos da Toscana.

A Lei n° 9.279/1996 incumbe igualmente o INPI como


responsável pela gestão das indicações geográficas.

Destaca-se que internacionalmente as indicações geográficas são


dispostas pelo Acordo de Lisboa, de trata da forma de obtenção
do registro internacional. Todavia, tal registro internacional
torna-se dificultado em razão de apenas 20 países serem
signatários de tal Acordo.

Unidade 2 57
Universidade do Sul de Santa Catarina

Mas onde posso observar as indicações geográficas?


Um bom local são nos rótulos das garrafas de vinho
importadas da Europa, principalmente vinhos
portugueses encontrados facilmente na maioria dos
grandes supermercados brasileiros.

Cultivares
Por fim, porém não menos importante, verificaremos o tema da
proteção de cultivares. Pode-se considerar cultivar como sendo
uma variação de espécie de planta feita pelo próprio homem.

Nosso ordenamento garante, por determinado período de tempo,


direitos exclusivos de comercialização aos criadores de novas
variedades de plantas. Podemos citar como exemplo o tomate-cereja.

Não obstante cada governo pode adotar modelo diferenciado


para proteger as cultivares, por exemplo, proteger por meio de
legislação de patentes para variedades vegetais ou optar por um
mecanismo sui generis de tutela.

A Lei de Proteção de Cultivares (Lei n° 9.456, de 25.04.97)


trata dos critérios, prazos e dos procedimentos para pedido da
proteção de cultivares. Essa lei também criou o Serviço Nacional
de Proteção de Cultivares (SNPC) no âmbito do Ministério da
Agricultura. A regulamentação dessa lei foi complementada
com o Decreto nº 2.366, de 05.11.97, que determinou todos os
procedimentos para o pedido de proteção.

A União Internacional para Proteção de Obtenções Vegetais


(Union for the Protection of New Varieties of Plants, UPOV)
possui como objetivo central padronizar e estabelecer requisitos
uniformes para a concessão e anulação de direitos, em relação

58
Direito Agrário

aos seus países-membros, entretanto, cada Estado é livre para


estabelecer seus próprios critérios em nível nacional. Por isso há
distinção nas legislações nacionais.

A UPOV é uma organização internacional com sede


em Genebra (Suíça), responsável pela implementação
da Convenção Internacional de Proteção de Novas
Variedades de Plantas, agrupando, basicamente,
países desenvolvidos. Sua convenção original foi
adotada em Paris, em 1961. Desde então a convenção
sofreu três revisões, uma em 1972, outra em 1978
e a última em 1991. Hoje existem duas convenções
em vigor: a de 1978 e a de 1991, que oferecem aos
governos interessados dois modelos de proteção para
variedades de plantas: patentes ou sistema sui generis.
Os países que aderiram até 1995 puderam optar por
uma dessas duas Convenções. Após essa data restou
somente a versão de 1991.

Esta Convenção elenca requisitos para proteção das cultivares,


expressos a seguir:

„„ Novidade: garantir que a variedade ainda não tenha sido


explorada comercialmente;
„„ Homogeneidade: plantas de mesma variedade devem
possuir características idênticas ou muito semelhantes.
„„ Distinguibilidade: significa que a variedade deve se
distinguir claramente de qualquer outra já conhecida
em termos das características que a descreve na data do
depósito do pedido.
„„ Estabilidade: deve ser capaz de manter a homogeneidade
ao longo de gerações sucessivas.
„„ Ter denominação conforme – deve ser designada por
denominação genérica.

Unidade 2 59
Universidade do Sul de Santa Catarina

Em nosso país, a Lei n° 9.456/97 trata do assunto,


indicando o Ministério da Agricultura e Abastecimento
como o órgão responsável pelos registros de cultivares,
através de Certificado de Proteção de Cultivar.

Tal instrumento normativo concede proteção de 15 anos às


cultivares devidamente registradas, com exceção da proteção
de videiras, árvores frutíferas, árvores florestais e árvores
ornamentais, que possuem duração de 18 anos.

Na Lei de Proteção existem algumas exceções para o pagamento


de royalties. Pequenos agricultores, quando multiplicam suas
próprias sementes de cultivares protegidas, não precisam pagar
royalties. O mesmo acontece quando as cultivares protegidas
são utilizadas como fonte de variabilidade genética para
desenvolvimento de novas cultivares.

É importante ressaltar que a proteção desses bens


representa para a indústria uma enorme vantagem
competitiva. Quando a empresa obtém esse
diferencial, pode comprovar que tem tecnologia
própria. Essa tecnologia funciona como um bem
negociável no mercado.

Seção 3 – Concorrência desleal


A contextualidade e concretude do que é “leal” ou “desleal”
é um elemento básico da tutela da concorrência desleal.
Departamento de Estado dos EUA define concorrência desleal
[unfair competition] como a “conduta comercial que a lei considera
injusta, ensejando à vítima o direito de uma queixa cível contra
a pessoa que praticou a conduta (U.S. DEPARTMENT OF
STATE, 2005).

60
Direito Agrário

Podemos considerar a concorrência desleal como simplesmente a


prática industrial ou comercial desonesta definida pela legislação
interna de cada país.

A importância do combate à concorrência desleal ocorre pelo


fato de o mercado de consumo por si só não ser garantia à
concorrência leal, tornando-se necessário o controle dos atos de
produção de bens de consumo e de produção através de sistema
de sanções e de incentivos a práticas de lealdade pelo Estado.

Não é a lei que define os limites da concorrência, mas as práticas


localizadas no tempo, no lugar e no mercado específico dos
demais concorrentes é que irão precisar o que é lícito ou ilícito.

Quando cada concorrente entra num mercado específico,


encontra aí certos padrões de concorrência, mais ou menos
agressivos, que irão definir sua margem de risco. Embora tais
padrões possam alterar-se com o tempo, ou conforme o lugar,
podemos, portanto, afirmar que no atual mercado globalizado
e competitivo ao extremo, há padrões esperados e padrões
inaceitáveis de concorrência.

No direito brasileiro, destacam-se os princípios fixados na


Constituição Federal para a ordem econômica, dentre os quais
avultam os de:

a) harmonia entre as categorias de produção; e


b) a repressão ao abuso do poder econômico, este
caracterizado pelo domínio dos mercados, pela eliminação
da concorrência e pelo aumento arbitrário de lucros.

Na regulamentação jurídica da concorrência desleal encontram-se


normas básicas no Código Penal (uma vez que ele prevê o crime
de concorrência desleal), no Código da Propriedade Industrial
e, em leis especiais, certas referências, como na denominada
“antitruste” (Lei n° 4.137, de 10/09/1962).

A legislação brasileira ainda prevê, no Código de Defesa do


Consumidor (Lei nº 8.078/1990), em seu art. 4º e incisos, os

Unidade 2 61
Universidade do Sul de Santa Catarina

princípios da Política Nacional de Relações de Consumo. Neste


mesmo artigo, especificamente no inciso VI, a lei menciona
como propósitos a serem alcançados a “coibição e repressão
eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo,
inclusive a concorrência desleal [...] que possam causar prejuízos
aos consumidores”.

Há concorrências desleais que favorecem, e não lesam,


os consumidores – como o rebaixamento de preços
(dumping) que não afeta o mercado de forma a atrair
a sanção antitruste.

A Convenção de Paris, em seu bojo, elencou atos proibidos por


serem enquadrados como típicos da concorrência desleal, nos
seguintes termos:

„„ Todos e quaisquer fatos suscetíveis de criar confusão,


qualquer que seja o meio empregado, com o produto
concorrente.
„„ Alegações falsas, no exercício do comércio, suscetíveis de
desacreditar os produtos concorrentes.
„„ Indicações ou alegações cuja utilização no exercício do
comércio seja suscetível de induzir o público em erro sobre a
natureza, modo de fabricação, características, possibilidades
de utilização ou quantidade das mercadorias.

A Convenção de Paris é o primeiro acordo


internacional relativo à Propriedade Intelectual,
assinado em 1883 em Paris, para a Proteção da
Propriedade Industrial (CUP), e continua em vigor em
sua versão de Estocolmo.

Destes “parâmetros mínimos” indicativos, notam-se os atos


confusórios, as faltas alegações de caráter denigratório, e indicações
ou alegações suscetíveis de induzir o público a erro (Convenção
de Paris) e violação ao contrato, abuso de confiança, indução à

62
Direito Agrário

infração, e a obtenção de informação confidencial por terceiros


que tinham conhecimento, ou desconheciam por grave
negligência, que a obtenção dessa informação envolvia práticas
comerciais desonestas (TRIPs).

Acordo TRIPs (do inglês Agreement on Trade-Related


Aspects of Intellectual Property Rights) é um tratado
Internacional, integrante do conjunto de acordos
assinados em 1994 que encerrou a Rodada Uruguai e
criou a Organização Mundial do Comércio.

Não se confunde concorrência desleal e concorrência interdita.


É interdita, por lei, a concorrência de um competidor do titular
da patente quanto ao objeto do privilégio; é interdita por via
contratual a concorrência do vendedor de um fundo de comércio,
que presta a garantia com que com compra o negócio.

O sistema de patentes é o meio clássico de interdição de


concorrência; mas os monopólios legais, os pactos de não
concorrência e outros mecanismos de exclusividade também
podem vedar legalmente a competição.

O parâmetro de proibição é a lei, o privilégio ou o contrato


pertinente. De outro lado, a sanção imposta ao concorrente
desleal não é, como no caso do que faz concorrência interdita,
a proibição de continuar a atividade econômica, mas sim a
imposição de continuá-la dentro dos usos e praxes comerciais.

A Lei n° 9.279/1996 (Lei de Propriedade Intelectual) mantém a


tradição brasileira de dar tratamento duplo à concorrência desleal:
há atos típicos, classificáveis como crime, e há um vasto campo
para a repressão do ilícito simplesmente civil.

Porém salientamos que quando algum imprevisto gera uma


condição inesperada em um mercado, como uma seca que
afete significativamente a produção de comida, é natural que o
preço suba. O dono dos estoques tem o direito de trocá-los nas
condições que desejar, e os compradores estão livres para não
pagar preços que julgarem excessivos.

Unidade 2 63
Universidade do Sul de Santa Catarina

É impossível existir abuso em uma transação de


comum acordo, por definição.

O importante é lembrar que, tanto no caso da seca quanto no


caso do desastre natural, não é o vendedor que causou a catástrofe
– na verdade ele é a solução para o problema. Os preços altos é
que levam todos a economizar comida após a seca, os preços altos
é que incentivam mais pessoas a levarem mantimentos à região
afetada pelo desastre.

De acordo com o doutrinador jurídico Celso Delmanto (2008, p. 165),

O uso de meios ou métodos desleais transfigura em


desonesta a competição permitida: é a concorrência
desleal. Mas alguns desses expedientes são tão perigosos
ou graves, que o legislador os considera como delituosos:
é a concorrência desleal criminosa. Os primeiros, mesmo
não sendo delituosos, continuam desleais, permitindo-
se aos prejudicados por seu emprego o ressarcimento
em perdas e danos. Os outros, além de desonestos, são
criminosos, incorrendo os autores nas sanções penais e
em igual obrigação de indenizar.

O sistema de combate à concorrência desleal tem como objetivo


principal garantir a probidade na concorrência, através da
obrigação da uniformidade das regras para todos os participantes.

Uma das práticas consideradas concorrência desleal é oferecer


preços abaixo do mercado, ou até abaixo dos custos. O competidor
que faz isso tenta inviabilizar o negócio de seu concorrente
apostando que, embora perca dinheiro, seu concorrente perderá
mais ou terá menos fôlego para suportar as perdas.

Um exemplo deste tipo de concorrência desleal


é o mercado de transporte aéreo. Quando uma
empresa nova entra em uma rota, é comum que as
outras empresas reduzam fortemente os preços que
praticam naquela rota. Desta forma, tentam fazer com
que a nova empresa perca dinheiro e feche – evitando
um aumento do número de competidores.

64
Direito Agrário

De acordo com a Lei de Propriedade Intelectual (Lei n°


9.279/1996), comete concorrência desleal quem divulga
sem autorização conhecimentos ou informações ou dados
confidenciais, excluídos conhecimento ou informação de cunho
público ou que seja evidente ao técnico no assunto; a segunda
hipótese proibida é para quem divulga conhecimentos de forma
ilícita que estavam em segredo; e a terceira modalidade é para
quem explora, divulga ou utiliza dados ou testes ainda não
divulgados que envolvam esforço considerável e tenham sido
apresentados a entidades governamentais como condição para
aprovar a comercialização do produto.

Diz o art. da Lei n° 9.279/96:


Art. 2º A proteção dos direitos relativos à propriedade
industrial, considerado o seu interesse social e o
desenvolvimento tecnológico e econômico do País,
efetua-se mediante:
[...]
V – repressão à concorrência desleal.

A Lei n° 8.137, de 27 de dezembro de 1990, a qual define crimes


contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de
consumo, em seu art. 4º, I, a, e II, considera como crime contra
a ordem econômica abusar do poder econômico, dominando o
mercado ou eliminando, total ou parcialmente, a concorrência
mediante ajuste ou acordo de empresas, assim como formar
acordo, convênio, ajuste ou aliança, visando ao controle
regionalizado do mercado por empresa ou grupo de empresas.

Apresenta textualmente o art. 4º, da Lei n° 8.137/1990:

Art. 4º Constitui crime contra a ordem econômica:


I – abusar do poder econômico, dominando o mercado
ou eliminando, total ou parcialmente, a concorrência
mediante:
a) ajuste ou acordo de empresas;

Unidade 2 65
Universidade do Sul de Santa Catarina

b) aquisição de acervos de empresas ou cotas, ações,


títulos ou direitos;
c) coalizão, incorporação, fusão ou integração de
empresas;
d) concentração de ações, títulos, cotas, ou direitos em
poder de empresa, empresas coligadas ou controladas, ou
pessoas físicas;
e) cessação parcial ou total das atividades da empresa;
f) impedimento a constituição, funcionamento ou
desenvolvimento de empresa concorrente.
II – formar acordo, convênio, ajuste ou aliança entre
ofertantes, visando:
a) – à fixação artificial de preços ou quantidades vendidas
ou produzidas;
b) ao controle regionalizando do mercado por empresa ou
grupo de empresas;
c) ao controle, em detrimento da concorrência, de rede de
distribuição ou de fornecedores.
III – discriminar preços de bens ou de prestação de
serviços por ajustes ou acordo de grupo econômico, com
o fim de estabelecer monopólio, ou de eliminar, total ou
parcialmente, a concorrência;
IV – açambarcar, sonegar, destruir ou inutilizar bens
de produção ou de consumo, com o fim de estabelecer
monopólio ou de eliminar, total ou parcialmente, a
concorrência;
V – provocar oscilação de preços em detrimento
de empresa concorrente ou vendedor de matéria-
prima, mediante ajuste ou acordo, ou por outro meio
fraudulento;
VI – vender mercadorias abaixo do preço de custo, com o
fim de impedir a concorrência;
VII – elevar, sem justa causa, os preços de bens ou
serviços, valendo-se de monopólio natural, ou de fato.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, ou multa.

Podem surgir então diferentes procedimentos turbadores dos


negócios (como aproveitamento indevido de marca, de nome
de objeto da marca, de embalagem, de publicidade alheias

66
Direito Agrário

etc.), resultando em prejuízos morais ou patrimoniais a outros


comerciantes ou industriais ou mesmo aos consumidores, que a
ordem jurídica regulamenta.

Configura abuso aos costumes do comércio ou da indústria, ou


seja, forma especial de abuso de direito, que na doutrina também
se chama “abuso de livre concorrência”. A temática é levada por
vezes aos Tribunais para a determinação judicial da prática da
concorrência desleal.

Observe o julgado a seguir:

Processo: AC 151852 97.02.35711-0


Relator(a): Desembargador Federal POUL ERIK
DYRLUND
Julgamento: 31/08/2004
Órgão Julgador: SEXTA TURMA
Publicação: DJU – Data: 30/09/2004 – Página: 155
Ementa
PROPRIEDADE INDUSTRIAL. REGISTRO
DE MARCA. EMPRESA ESTRANGEIRA
REGISTRADA NO BRASIL. CONCORRÊNCIA
DESLEAL. CONVENÇÃO DE PARIS.
1 - Afirma a autora ser titular da marca
DUNKIN’DONUTS, na forma nominativa e mista,
designando produtos das classes 38.60 e 32.10/20,
respectivamente serviço de alimentação e massas
alimentícias em geral. Aduz que suas marcas são
anteriormente às de ré, sendo que as desta última são
ortográfica, fonética e graficamente semelhantes às suas,
havendo substituição maliciosa do elemento DUNKIN’
por KING, bem como depósito malicioso em classe afim,
ainda que diversa, para induzir a autarquia a conceder o
registro ignorando a anterioridade de suas marcas.
2 – A alegação de que as marcas não seriam semelhantes
obviamente não pode prosperar, pois não há como não
se reconhecer a flagrante semelhança entre as marcas
KING DONUTS e DUNKIN’DONUTS, facilmente
suscetíveis de gerarem dúvidas em seu público-alvo,
restando mesmo caracterizada a concorrência desleal,

Unidade 2 67
Universidade do Sul de Santa Catarina

conduta esta que se encontra prevista expressamente no


art. 10, bis, da Convenção de Paris, promulgada como lei
interna pelo Decreto 19.056, de 31.12.29.
3 – Desta feita, tendo a empresa apelada o registro da
marca controvertida em diversos países do mundo, dela se
utilizando correntemente (cf. comprovam os documentos
de fls. 84 usque 121), afigura-se inviável a concessão
do registro da mesma marca a outra empresa para a
identificação de produto similar.
4 – Recurso conhecido, porém desprovido.

Não há competência para o INPI aplicar diretamente a regra de


concorrência desleal. Sempre tal competência recaiu ao Poder
Judiciário.

Realize uma pesquisa sobre o tema nos sites dos


principais tribunais de justiça do país e observe
os casos julgados através de uma pesquisa
jurisprudencial.

De acordo com o site <http://www.ocapitalista.com>, a

concorrência desleal é mais um dos fantasmas que o


anticapitalista usa para assombrar as pessoas, fazendo-
as temer a liberdade e aceitar a rédea que ele oferece
como alternativa. Basta entender que o capitalismo é
consequência natural da ação humana quando os direitos
individuais são assegurados para espantar este fantasma.

O que venha a ser lealdade ou deslealdade na


concorrência resulta da conformidade ou não do
comportamento do competidor ao padrão esperado.
Assim, não se apura só o dolo do competidor –
especialmente no caso de um crime de concorrência
desleal – mas a existência de deslealdade.

68
Direito Agrário

Seção 4 – Contratos Agrários


Para darmos inicio a exploração do tema Contratos Agrários há
que se invocar a previsão do atual Código Civil Brasileiro em seu
artigo 421, o qual aponta: “A liberdade de contratar será exercida
em razão e nos limites da função social do contrato”.

Pois bem, o principio acima exposto acaba por refletir o


pensamento inicial do Estatuto da Terra, como assim é
denominada a Lei nº 4.504/64, a qual regula os direitos e
obrigações concernentes aos bens imóveis rurais, para os fins de
execução da Reforma Agrária e promoção da Política Agrícola.

O artigo segundo do Estatuto da Terra aponta textualmente:

Art. 2° É assegurada a todos a oportunidade de acesso à


propriedade da terra, condicionada pela sua função social,
na forma prevista nesta Lei.
§ 1° A propriedade da terra desempenha integralmente a
sua função social quando, simultaneamente:
a) favorece o bem-estar dos proprietários e dos
trabalhadores que nela labutam, assim como de suas
famílias;
b) mantém níveis satisfatórios de produtividade;
c) assegura a conservação dos recursos naturais;
d) observa as disposições legais que regulam as justas
relações de trabalho entre os que a possuem e a
cultivem.

Atualmente, a Lei nº 4.504/64 regula os contratos agrários


nos artigos 92 a 96, além das regras estabelecidas pela Lei nº
4.947/66, por força dos artigos 13 a 15, sendo que o regulamento
desta matéria está previsto no Decreto nº 59.566/66.

Mas, é sempre bom lembrarmos que as disposições do Código


Civil, continuam sendo de aplicação subsidiária, como preceitua
o próprio texto do estatuto da terra.

Unidade 2 69
Universidade do Sul de Santa Catarina

O artigo 92 do estatuto da terra aponta que a posse ou uso


temporário da terra serão exercidos em virtude de contrato
expresso ou tácito, estabelecido entre o proprietário e os que
nela exercem atividade agrícola ou pecuária, sob forma de
arrendamento rural, de parceria agrícola, pecuária, agro-
industrial e extrativa, nos termos desta Lei.

A palavra tácito vem do latim tacitus que significa


“não expresso por palavras”, sendo que no caso em
específico, a ausência de contrato não poderá elidir a
aplicação dos princípios estabelecidos no estatuto da
terra.

Além disso o proprietário deverá garantir ao arrendatário


ou parceiro o uso e gozo do imóvel arrendado ou cedido em
parceria.

Já quanto aos preços de arrendamento e de parceria os


mesmos deverão ser fixados em contrato e serão reajustados
periodicamente, de acordo com os índices aprovados pelo
Conselho Nacional de Economia.

Nos casos em que ocorra exploração de produtos


com preço oficialmente fixado, a relação entre os
preços reajustados e os iniciais não pode ultrapassar a
relação entre o novo preço fixado para os produtos e o
respectivo preço na época do contrato, obedecidas as
normas do Regulamento desta Lei.

É interessante salientar que durante a vigência dos contratos de


arrendamento ou de parceria, caso ocorra a alienação ou a imposição
de ônus real ao imóvel, isso não interromperá a vigência dos contratos,
ficando o adquirente sub-rogado nos direitos e obrigações do alienante.
Sendo ainda que o arrendatário terá preferência para adquiri-lo em
igualdade de condições, devendo o proprietário dar-lhe conhecimento
da venda, a fim de que possa exercitar o direito de perempção dentro

70
Direito Agrário

de trinta dias, a contar da notificação judicial ou comprovadamente


efetuada, mediante recibo.

No instante que ocorrer o inadimplemento das obrigações assumidas


por qualquer das partes dará lugar, facultativamente, à rescisão do
contrato de arrendamento ou de parceria.

A lei deixa claro que ao proprietário é vedado exigir do arrendatário ou


do parceiro:

I - prestação de serviço gratuito;

II - exclusividade da venda da colheita;

III - obrigatoriedade do beneficiamento da produção em seu


estabelecimento;

IV - obrigatoriedade da aquisição de gêneros e utilidades em


seus armazéns ou barracões;

V - aceitação de pagamento em “ordens”, “vales”, “borós” ou


outras formas regionais substitutivas da moeda.

É vedado o contrato de arrendamento ou parceria na exploração de


terras de propriedade pública, sendo que excepcionalmente, poderão
ser arrendadas ou dadas em parceria terras de propriedade púbica,
quando envolver razões de segurança nacional; áreas de núcleos de
colonização pioneira, na sua fase de implantação, forem organizadas
para fins de demonstração; forem motivo de posse pacífica e a justo
título, reconhecida pelo Poder Público, antes da vigência do estatuto
da terra.

Já no que diz a respeito do arrendamento rural, observar-se-ão os


seguintes princípios:

I - os prazos de arrendamento terminarão sempre depois


de ultimada a colheita, inclusive a de plantas forrageiras
temporárias cultiváveis. No caso de retardamento da colheita
por motivo de força maior, considerar-se-ão esses prazos
prorrogados nas mesmas condições, até sua ultimação;

Unidade 2 71
Universidade do Sul de Santa Catarina

II - presume-se feito, no prazo mínimo de três anos, o


arrendamento por tempo indeterminado, observada a regra do
item anterior;

III - o arrendatário, para iniciar qualquer cultura cujos frutos


não possam ser recolhidos antes de terminado o prazo de
arrendamento, deverá ajustar, previamente, com o arrendador
a forma de pagamento do uso da terra por esse prazo
excedente;

IV - em igualdade de condições com estranhos, o


arrendatário terá preferência à renovação do arrendamento,
devendo o proprietário, até 6 (seis) meses antes do vencimento
do contrato, fazer-lhe a competente notificação extrajudicial
das propostas existentes. Não se verificando a notificação
extrajudicial, o contrato considera-se automaticamente
renovado, desde que o arrendador, nos 30 (trinta) dias
seguintes, não manifeste sua desistência ou formule nova
proposta, tudo mediante simples registro de suas declarações
no competente Registro de Títulos e Documentos;

V - os direitos assegurados no inciso IV do caput deste artigo


não prevalecerão se, no prazo de 6 (seis) meses antes do
vencimento do contrato, o proprietário, por via de notificação
extrajudicial, declarar sua intenção de retomar o imóvel para
explorá-lo diretamente ou por intermédio de descendente seu;

VI - sem expresso consentimento do proprietário é vedado o


subarrendamento;

VII - poderá ser acertada, entre o proprietário e arrendatário,


cláusula que permita a substituição de área arrendada
por outra equivalente no mesmo imóvel rural, desde que
respeitadas as condições de arrendamento e os direitos do
arrendatário;

VIII - o arrendatário, ao termo do contrato, tem direito


à indenização das benfeitorias necessárias e úteis; será
indenizado das benfeitorias voluptuárias quando autorizadas
pelo proprietário do solo; e, enquanto o arrendatário não
for indenizado das benfeitorias necessárias e úteis, poderá

72
Direito Agrário

permanecer no imóvel, no uso e gozo das vantagens por ele


oferecidas, nos termos do contrato de arrendamento e das
disposições do inciso I deste artigo;

IX - constando do contrato de arrendamento animais de cria,


de corte ou de trabalho, cuja forma de restituição não tenha
sido expressamente regulada, o arrendatário é obrigado, findo
ou rescindido o contrato, a restituí-los em igual número,
espécie e valor;

X - o arrendatário não responderá por qualquer deterioração


ou prejuízo a que não tiver dado causa;

XI - na regulamentação desta Lei, serão complementadas


as seguintes condições que, obrigatoriamente, constarão dos
contratos de arrendamento:

a) limites da remuneração e formas de pagamento em


dinheiro ou no seu equivalente em produtos;

b) prazos mínimos de arrendamento e limites de vigência


para os vários tipos de atividades agrícolas;

c) bases para as renovações convencionadas;

d) formas de extinção ou rescisão;

e) direito e formas de indenização ajustadas quanto às


benfeitorias realizadas.

XII - a remuneração do arrendamento, sob qualquer forma de


pagamento, não poderá ser superior a 15% (quinze por cento)
do valor cadastral do imóvel, incluídas as benfeitorias que
entrarem na composição do contrato, salvo se o arrendamento
for parcial e recair apenas em glebas selecionadas para fins
de exploração intensiva de alta rentabilidade, caso em que a
remuneração poderá ir até o limite de 30% (trinta por cento)

XIII - a todo aquele que ocupar, sob qualquer forma de


arrendamento, por mais de cinco anos, um imóvel rural
desapropriado, em área prioritária de Reforma Agrária, é
assegurado o direito preferencial de acesso à terra.

Unidade 2 73
Universidade do Sul de Santa Catarina

A Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001 instituiu


o Programa de Arrendamento Rural, destinado ao
atendimento complementar de acesso à terra por
parte dos trabalhadores rurais qualificados para
participar do Programa Nacional de Reforma Agrária,
na forma estabelecida em regulamento. Os imóveis
que integrarem o Programa de Arrendamento Rural
não serão objeto de desapropriação para fins de
reforma agrária enquanto se mantiverem arrendados,
desde que atendam aos requisitos estabelecidos em
regulamento próprio.

No que se refere à parceria agrícola, pecuária, agro-industrial e


extrativa, deverão ser observados os seguintes princípios:

I - o prazo dos contratos de parceria, desde que não


convencionados pelas partes, será no mínimo de três anos,
assegurado ao parceiro o direito à conclusão da colheita;

II - expirado o prazo, se o proprietário não quiser explorar


diretamente a terra por conta própria, o parceiro em igualdade
de condições com estranhos, terá preferência para firmar novo
contrato de parceria;

III - as despesas com o tratamento e criação dos animais, não


havendo acordo em contrário, correrão por conta do parceiro
tratador e criador;

IV - o proprietário assegurará ao parceiro que residir no


imóvel rural, e para atender ao uso exclusivo da família
deste, casa de moradia higiênica e área suficiente para horta e
criação de animais de pequeno porte.

Pelo estatuto da terra, serão complementadas, conforme o caso,


as seguintes condições, que constarão, obrigatoriamente, dos
contratos de parceria agrícola, pecuária, agro-industrial ou
extrativa:

a) quota-limite do proprietário na participação dos


frutos, segundo a natureza de atividade agropecuária e
facilidades oferecidas ao parceiro;

74
Direito Agrário

b) prazos mínimos de duração e os limites de vigência


segundo os vários tipos de atividade agrícola;
c) bases para as renovações convencionadas;
d) formas de extinção ou rescisão;
e) direitos e obrigações quanto às indenizações por
benfeitorias levantadas com consentimento do
proprietário e aos danos substanciais causados pelo
parceiro, por práticas predatórias na área de exploração
ou nas benfeitorias, nos equipamentos, ferramentas e
implementos agrícolas a ele cedidos;
f) direito e oportunidade de dispor sobre os frutos
repartidos.

No tocante a participação dos frutos da parceria, a quota do


proprietário não poderá ser superior a:

a) 20% (vinte por cento), quando concorrer apenas com a


terra nua;
b) 25% (vinte e cinco por cento), quando concorrer com a
terra preparada;
c) 30% (trinta por cento), quando concorrer com a terra
preparada e moradia;
d) 40% (quarenta por cento), caso concorra com o conjunto
básico de benfeitorias, constituído especialmente de casa;
e) 50% (cinqüenta por cento), caso concorra com a terra
preparada e o conjunto básico de benfeitorias enumeradas
na alínea d deste inciso e mais o fornecimento de
máquinas e implementos agrícolas, para atender aos
tratos culturais, bem como as sementes e animais de
tração, e, no caso de parceria pecuária, com animais de
cria em proporção superior a 50% (cinqüenta por cento)
do número total de cabeças objeto de parceria;
f) 75% (setenta e cinco por cento), nas zonas de pecuária
ultra-extensiva em que forem os animais de cria em
proporção superior a 25% (vinte e cinco por cento)

Unidade 2 75
Universidade do Sul de Santa Catarina

do rebanho e onde se adotarem a meação do leite e a


comissão mínima de 5% (cinco por cento) por animal
vendido;
g) nos casos não previstos nas alíneas anteriores, a quota
adicional do proprietário será fixada com base em
percentagem máxima de dez por cento do valor das
benfeitorias ou dos bens postos à disposição do parceiro;

Enfim, aplicam-se à parceria agrícola, pecuária, agropecuária,


agro-industrial ou extrativa as normas pertinentes ao
arrendamento rural, no que couber, bem como as regras do
contrato de sociedade, no que não estiver regulado pelo próprio
estatuto da terra.

Para contratos que prevejam o pagamento do


trabalhador, parte em dinheiro e parte percentual na
lavoura cultivada, ou gado tratado, são considerados
simples locação de serviço, regulada pela legislação
trabalhista, sempre que a direção dos trabalhos seja
de inteira e exclusiva responsabilidade do proprietário,
locatário do serviço a quem cabe todo o risco,
assegurando-se ao locador, pelo menos, a percepção
do salário-mínimo no cômputo das duas parcelas.

O estatuto da terra aponta inclusive detalhes e formas


relacionadas às cobranças entre o proprietário e o parceiro,
apontando que o proprietário poderá sempre cobrar do parceiro,
pelo seu preço de custo, o valor de fertilizantes e inseticidas
fornecidos no percentual que corresponder à participação deste,
em qualquer modalidade de parceria prevista no próprio estatuto.

Ainda durante a análise do estatuto da terra, podemos conceituar


parceria rural com sendo o contrato agrário pelo qual uma pessoa
se obriga a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso
específico de imóvel rural, de parte ou partes dele, incluindo, ou
não, benfeitorias, outros bens e/ou facilidades, com o objetivo

76
Direito Agrário

de nele ser exercida atividade de exploração agrícola, pecuária,


agroindustrial, extrativa vegetal ou mista; e/ou lhe entrega
animais para cria, recria, invernagem, engorda ou extração de
matérias-primas de origem animal, mediante partilha, isolada ou
cumulativamente.

Contratualmente, no caso da parceria rural poderão ser


contemplados os seguintes riscos inerentes a atividade:

a) caso fortuito e de força maior do empreendimento rural;


b) dos frutos, produtos ou lucros havidos nas proporções
que estipularem;
c) variações de preço dos frutos obtidos na exploração do
empreendimento rural.

Além disso, as partes contratantes poderão estabelecer a


prefixação, em quantidade ou volume, do montante da
participação do proprietário, desde que, ao final do contrato,
seja realizado o ajustamento do percentual pertencente ao
proprietário, de acordo com a produção.

Eventual adiantamento do montante prefixado não


descaracteriza o contrato de parceria.

Os contratos que prevejam o pagamento do trabalhador, parte em


dinheiro e parte em percentual na lavoura cultivada ou em gado
tratado, são considerados simples locação de serviço, regulada
pela legislação trabalhista, sempre que a direção dos trabalhos
seja de inteira e exclusiva responsabilidade do proprietário,
locatário do serviço a quem cabe todo o risco, assegurando-se ao
locador, pelo menos, a percepção do salário mínimo no cômputo
das 2 (duas) parcelas. Este caso não se aplica aos contratos de
parceria agroindustrial, de aves e suínos, que serão regulados por
lei específica.

Unidade 2 77
Universidade do Sul de Santa Catarina

MODELO DE CONTRATO DE ARRENDAMENTO RURAL PARA


FINS DE EXPLORAÇÃO PECUÁRIA
Pelo presente instrumento particular de arrendamento de imóvel
rural para fins de exploração de pecuária, de um lado, ... (nome
completo e por extenso do dono das terras), nacionalidade ...,
estado civil..., profissão ..., CIC n.º ..., Cédula de Identidade RG n.º
..., residente e domiciliado à ... (localização do domicílio), nesta
cidade e Estado, de ora em diante chamado simplesmente de
ARRENDADOR, e de outro lado ... (nome completo e por extenso),
nacionalidade ..., estado civil ..., profissão ..., CIC n.º ..., Cédula de
Identidade RG n.º ..., residente e domiciliado à ... (localização do
domicílio), neste mesmo município e Estado, de ora em diante
chamado simplesmente de ARRENDATÁRIO, têm, entre si, como
justo e contratado o que se segue:
1º - O ARRENDADOR é proprietário da fazenda (ou sítio)
denominada ..., situada no Bairro de ..., Município de ..., Estado
de ..., conforme título de propriedade (ou de posse) (descrever
detalhadamente o título de posse, inclusive o cadastro do INCRA).
2º - O ARRENDADOR cede para o ARRENDATÁRIO uma gleba de
terra com área de ... alqueires ou ... hectares, para exploração de
pecuária (cria, recria, engorda).
3º - A área arrendada consiste em invernada(s) ou pasto(s)
formado(s) com capim (colonião, jaraguá, catingueiro etc.), ou
grama, toda cercada com arame farpado de três ou quatro fios,
em perfeitas condições de conservação. A área referida está
dividida em duas (ou mais) glebas, devidamente, cercadas, com
as dimensões seguintes: (discriminá-las com suas características).
4º - O presente contrato é feito pelo prazo de ... anos, ou ... meses,
iniciando sua vigência a partir da data de sua assinatura, até o
dia ... de ..., quando o ARRENDATÁRIO, deverá restituir a gleba
arrendada, completamente desocupada, bem como as casas,
galpões, mangueiras etc., cedidos pelo ARRENDADOR.
5º - O preço do arrendamento será de R$ ... (valor por extenso)
por ano contratual, e o pagamento deverá ser feito até o dia ... de
... de ... .
6º - O ARRENDADOR também cede ao ARRENDATÁRIO casa de
moradia para seu uso, casa para campeiro, depósito, mangueira,
galpões etc. que por eles deve pagar a quantia anual de R$ ... (por
extenso) a título de aluguel (ou que por eles não pagará aluguel,
mas terá o encargo de bem conservá-los e mantê-los no estado
em que os recebeu).

78
Direito Agrário

7º - O número de cabeças de gado a ser colocado nas pastagens


não pode ultrapassar a ... (quantidade e por extenso) por alqueire
ou por hectare, a fim de que não ocorra o pisoteio intensivo e
prejudicial ao capim.
8º - Para preservação das pastagens, o pastoreio deve obedecer
às seguintes normas: cada pasto ou gleba da invernada deve
descansar (30, 40 ou 60) dias após ter sido utilizado em período
nunca inferior a (60, 80, 90, 100) dias, sendo, pois, obrigatória a
rotação das pastagens.
9º - O ARRENDATÁRIO não pode transferir o presente contrato,
subarrendar, ceder ou emprestar o imóvel ou parte dele, sem
prévio e expresso consentimento do ARRENDADOR, bem como
não pode mudar a destinação do imóvel expressa neste contrato.
A violação desta cláusula importará na extinção do contrato e,
conseqüentemente, despejo do ARRENDATÁRIO.
10º - O preço do arrendamento será reajustado anualmente de
acordo com o índice de correção monetária específico divulgado,
ou de acordo com o índice de majoração no ITR estabelecido
pelo INCRA.
11º - Fica eleito o Foro da Comarca de ... para solucionar qualquer
questão judicial decorrente deste contrato, inclusive para as
ações de despejo e de cobrança de aluguel, se necessárias.
E por estarem as partes, ARRENDANTE e ARRENDATÁRIO, em
pleno acordo com tudo quanto se encontra disposto neste
instrumento particular, assinam-no na presença das duas
testemunhas abaixo, em 2 (duas) vias de igual teor e forma,
destinando-se uma via para cada uma das partes interessadas.

Local, . . . . de . . . . . . . . . . . . . . . . . . de 20__.

Arrendadora Arrendatária

Testemunhas:

1ª 2ª

Unidade 2 79
Universidade do Sul de Santa Catarina

Sobre os Contratos Agrários devemos atentar:


São consensuais: os direitos e obrigações das
partes surgem com o simples consentimento das
partes, aperfeiçoando-se com a integração das
declarações de vontade dos declarantes. Porém, para
o registro do contrato e nos casos de financiamento,
é evidente e necessário que sejam feitos por escrito.
Bilaterais: as partes se obrigam reciprocamente, com
interdependência entre as obrigações. Onerosos:
ambas as partes visam obter benefícios numa relação
de equivalência, com obrigações de ambas as partes,
o que apenas não ocorre no comodato, não regulado
pela legislação específica. Comutativos: há benefícios
recíprocos certos, numa relação de equivalência das
prestações. De trato sucessivo: as obrigações são
continuadas e não se esgotam numa simples operação
de crédito. Formais: ao menos em sua maioria, uma
vez que devem ser escritos e registrados. Contudo,
não há unanimidade neste aspecto, até porque a
lei não exige forma especial para a sua formação e
validade. Maior limitação da liberdade de contratar,
porque a lei estabelece cláusulas obrigatórias e, por
outro lado, direitos e garantias irrenunciáveis, visando
a proteção à parte mais fraca.

Síntese

A propriedade intelectual inicialmente é uma forma de proteger


a criação humana, através da implementação de direito de
apropriação ao homem sobre suas criações, obras e produções do
intelecto, talento e engenho. A propriedade intelectual divide-se
em dois grandes ramos: direitos autorais e a propriedade industrial.

Nesse contexto, em maio de 1996 foi sancionado o novo Código


de Propriedade Industrial Brasileiro – Lei nº 9.279, que abriu
a possibilidade de se patentear genes modificados através de

80
Direito Agrário

processo inventivo e micro-organismos transgênicos que,


por definição, para efeitos da lei, passaram a ser aqueles que
expressam, mediante intervenção humana direta ou em sua
composição genética, características normalmente não alcançáveis
pela espécie na natureza. Ainda de aplicação para a agricultura, a
lei veta o patenteamento de plantas e animais.

O sistema de patentes é o meio clássico de interdição de


concorrência; mas os monopólios legais, os pactos de não
concorrência e outros mecanismos de exclusividade também
podem vedar legalmente a competição.

O parâmetro de proibição é a lei, o privilégio ou o contrato


pertinente. De outro lado, a sanção imposta ao concorrente
desleal não é, como no caso do que faz concorrência interdita,
a proibição de continuar a atividade econômica; mas sim a
imposição de continuá-la dentro dos usos e praxes comerciais.

Atividades de autoavaliação

1. Assinale a alternativa correta:


O fundo de comércio pode ser definido como o conjunto de:
a. ( ) bens materiais e imateriais, corpóreos e incorpóreos, que
constituem o estabelecimento comercial;
b. ( ) bens materiais e corpóreos que constituem o estabelecimento
comercial;
c. ( ) bens imateriais e incorpóreos, que constituem o
estabelecimento comercial;
d. ( ) recursos do capital social declarados no contrato social e que
constituem o estabelecimento comercial.

2. Faça uma pesquisa sobre como está dividida a propriedade intelectual,


dando exemplos.

Unidade 2 81
Universidade do Sul de Santa Catarina

Saiba mais

Se você desejar, aprofunde os conteúdos estudados nesta unidade


ao consultar as seguintes referências:

BRASIL. Decreto nº 1.355, de 30 de dezembro de 1994. Acordo


sobre os aspectos da propriedade intelectual relativos ao comércio
(TRIPs).

______. Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996. Código da


Propriedade Industrial.

______. Lei nº 9.456, de 25 de abril de 1997. Lei de Proteção de


Cultivares.

82
3
UNIDADE 3

O Estatuto da Cidade e a política


agrária brasileira

Objetivos de aprendizagem
„„ Analisar o Estatuto da Cidade e seus impactos no
agronegócio.
„„ econhecer os fundamentos da reforma agrária
R
à luz das normas aplicáveis e da política agrícola
brasileira.

Seções de estudo
Seção 1 Estatuto da Cidade

Seção 2 Política agrária

Seção 3 Reforma agrária


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


O Estatuto da Cidade é focado na execução da política urbana,
ditada em caráter geral pela Constituição Federal de 1988
(CF/88), que estabelece normas de ordem pública e interesse
social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem
coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do
equilíbrio ambiental.

Já para as questões ligadas às áreas rurais a CF/88 condicionou


o direito à propriedade ao cumprimento de sua função social,
resguardando ao Estado o direito de intervir no domínio privado
se tal função não for observada.

O melhor seria se pudéssemos realizar a reestruturação das áreas


urbanas e/ou rurais mal distribuídas em nosso país sem haver a
necessidade de um longo e demorado processo judicial.

Seção 1 – Estatuto da Cidade


A Lei nº 10. 257, de 10 de julho de 2001, é a lei federal que
institui o assim chamado Estatuto da Cidade, e trata diretamente
da execução da política urbana prevista nos arts. 182 e 183 da
CF/88.

Textualmente, a Constituição Federal aponta o seguinte sobre a


política urbana brasileira:

CAPÍTULO II
DA POLÍTICA URBANA
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano,
executada pelo Poder Público municipal, conforme
diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar
o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e
garantir o bem-estar de seus habitantes.

84
Direito Agrário

§ 1º – O plano diretor, aprovado pela Câmara


Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte
mil habitantes, é o instrumento básico da política de
desenvolvimento e de expansão urbana.
§ 2º – A propriedade urbana cumpre sua função social
quando atende às exigências fundamentais de ordenação
da cidade expressas no plano diretor.
§ 3º – As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas
com prévia e justa indenização em dinheiro.
§ 4º – É facultado ao Poder Público municipal, mediante
lei específica para área incluída no plano diretor, exigir,
nos termos da lei federal, do proprietário do solo
urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado,
que promova seu adequado aproveitamento, sob pena,
sucessivamente, de:
I – parcelamento ou edificação compulsórios;
II – imposto sobre a propriedade predial e territorial
urbana progressivo no tempo;
III – desapropriação com pagamento mediante títulos
da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo
Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos,
em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o
valor real da indenização e os juros legais.
Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até
duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos,
ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua
moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio,
desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano
ou rural.
§ 1º – O título de domínio e a concessão de uso
serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos,
independentemente do estado civil.
§ 2º – Esse direito não será reconhecido ao mesmo
possuidor mais de uma vez.
§ 3º – Os imóveis públicos não serão adquiridos por
usucapião.

Após a leitura dos artigos constitucionais citados acima fica


evidente que cabe ao poder público municipal a execução da
política de desenvolvimento urbano no âmbito de sua cidade.

Retomando os estudos do Estatuto da Cidade, conclui-se que a


política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento

Unidade 3 85
Universidade do Sul de Santa Catarina

das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, sendo que,


para isso, a norma legal define algumas diretrizes gerais.

Dentre estas diretrizes, podemos apontar:

a) garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido


como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento
ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos
serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes
e futuras gerações;
b) gestão democrática por meio da participação da
população e de associações representativas dos vários
segmentos da comunidade na formulação, execução e
acompanhamento de planos, programas e projetos de
desenvolvimento urbano;
c) cooperação entre os governos, iniciativa privada e demais
setores da sociedade no processo de urbanização, em
atendimento ao interesse social;
d) planejamento do desenvolvimento das cidades, da
distribuição espacial da população e das atividades
econômicas do município e do território sob sua área de
influência, de modo a evitar e corrigir as distorções do
crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio
ambiente;
e) oferta de equipamentos urbanos e comunitários,
transporte e serviços públicos adequados aos interesses e
necessidades da população e às características locais;
f) integração e complementaridade entre as atividades
urbanas e rurais, tendo em vista o desenvolvimento
socioeconômico do município e do território sob sua área
de influência;
g) adoção de padrões de produção e consumo de bens e
serviços e de expansão urbana compatíveis com os limites
da sustentabilidade ambiental, social e econômica do
município e do território sob sua área de influência;
h) justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do
processo de urbanização;

86
Direito Agrário

i) adequação dos instrumentos de política econômica,


tributária e financeira e dos gastos públicos aos objetivos
do desenvolvimento urbano, de modo a privilegiar os
investimentos geradores de bem-estar geral e a fruição
dos bens pelos diferentes segmentos sociais;
j) recuperação dos investimentos do poder público advindos
da valorização de imóveis urbanos;
k) proteção, preservação e recuperação do meio ambiente
natural e construído, do patrimônio cultural, histórico,
artístico, paisagístico e arqueológico;
l) audiência do poder público municipal e da
população interessada nos processos de implantação
de empreendimentos ou atividades com efeitos
potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural
ou construído, o conforto ou a segurança da população;
m) regularização fundiária e urbanização de áreas
ocupadas por população de baixa renda mediante o
estabelecimento de normas especiais de urbanização, uso
e ocupação do solo e edificação, consideradas a situação
socioeconômica da população e as normas ambientais;
n) simplificação da legislação de parcelamento, uso e
ocupação do solo e das normas edilícias, com vista a
permitir a redução dos custos e o aumento da oferta dos
lotes e unidades habitacionais;
o) isonomia de condições para os agentes públicos e
privados na promoção de empreendimentos e atividades
relativos ao processo de urbanização, atendido o interesse
social.

Podemos ainda salientar que, dentre as diretrizes da política


urbana apontadas pelo Estatuto da Cidade, toma posição de
destaque a questão da ordenação e controle do uso do solo,
tendo em vista evitar a utilização inadequada dos imóveis
urbanos; a proximidade de usos incompatíveis ou inconvenientes;
o parcelamento do solo, a edificação ou o uso excessivo ou
inadequado em relação à infraestrutura urbana; a instalação de
empreendimentos ou atividades que possam funcionar como
polos geradores de tráfego, sem a previsão da infraestrutura
correspondente; a retenção especulativa de imóvel urbano que

Unidade 3 87
Universidade do Sul de Santa Catarina

resulte na sua subutilização ou não utilização; a deterioração


das áreas urbanizadas; a poluição e a degradação ambiental; a
exposição da população a riscos de desastres naturais.

O Estatuto da Cidade define as diretrizes que devem


ser seguidas pelo município ao elaborar sua política
urbana, todas elas voltadas para garantir cidades
justas em que todos, pobres e ricos, desfrutem dos
benefícios da urbanização.

O Estatuto da Cidade dá força e autonomia a um novo ramo


do direito conhecido como Direito Urbanístico, em que a
competência legislativa, ou seja, quem poderá criar leis sobre este
tema, será de modo concorrente, no qual se percebe a cooperação
entre os entes federados.

Em suma, na questão urbanística, tanto a União, o Distrito


Federal, os Estados e os municípios possuem autonomia para
criar regras específicas aplicáveis à temática, porém sempre com o
foco na cooperação entre todos os entes citados.

O Estatuto da Cidade define os principais instrumentos gerais


das políticas de urbanização, dentre os quais podemos citar em
destaque para o planejamento municipal:

a) Plano Diretor;
b) disciplina do parcelamento, do uso e da ocupação do
solo;
c) zoneamento ambiental;
d) plano plurianual;
e) diretrizes orçamentárias e orçamento anual;
f) gestão orçamentária participativa;
g) planos, programas e projetos setoriais;
h) planos de desenvolvimento econômico e social.

88
Direito Agrário

O Estatuto da Cidade também define instrumentos


relacionados às questões tributária e financeira, dentre
os quais citamos o Imposto sobre a Propriedade
Predial e Territorial Urbana (IPTU); a contribuição
de melhoria e os incentivos e benefícios fiscais e
financeiros.

Salientamos que a propriedade, como qualquer direito


fundamental, pode ser limitada e até mesmo objeto de uma
intervenção supressiva, sendo que, neste sentido, no Estatuto da
Cidade e em alguns institutos jurídicos e políticos que visam à
intervenção direta na propriedade, ganham destaque:

a) a desapropriação;
b) a servidão administrativa;
c) as limitações administrativas;
d) o tombamento de imóveis ou de mobiliário urbano;
e) a instituição de unidades de conservação;
f) a instituição de zonas especiais de interesse social;
g) a concessão de direito real de uso;
h) a concessão de uso especial para fins de moradia;
i) o parcelamento, edificação ou utilização compulsórios;
j) a usucapião especial de imóvel urbano;
k) o direito de superfície;
l) o direito de preempção;
m) a outorga onerosa do direito de construir e de alteração
de uso;
n) a transferência do direito de construir;
o) as operações urbanas consorciadas;
p) a regularização fundiária;
q) a assistência técnica e jurídica gratuita para as
comunidades e grupos sociais menos favorecidos;

Unidade 3 89
Universidade do Sul de Santa Catarina

r) o referendo popular e plebiscito;


s) a demarcação urbanística para fins de regularização
fundiária; e
t) a legitimação de posse.

No Estatuto da Cidade está nítida a preocupação com as


questões ambientais, sendo que o próprio texto da lei aponta para
a necessidade de utilização de institutos com o estudo prévio
de impacto ambiental (EIA) e estudo prévio de impacto de
vizinhança (EIV).

O Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA) é um


estudo técnico-científico de planejamento, controle e
redução da degradação ambiental. É fundamentado
no art. 225, § 10, inciso IV, da Constituição Federal,
Lei Federal nº 6.938/1981, Resoluções Conama n°s
01/1986, 09/1988 e 237/1997. O Relatório de Impacto
Ambiental (RIMA) é um instrumento de comunicação,
simplificado do estudo de Impacto Ambiental. O
Estudo e o Relatório de Impacto Ambiental têm
critérios básicos e diretrizes gerais estabelecidas
através da Resolução Conama 01/1986.

O estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV) será executado


de forma a contemplar os efeitos positivos e negativos do
empreendimento ou atividade quanto à qualidade de vida da
população residente na área e suas proximidades, incluindo a
análise, no mínimo, das seguintes questões:

a) adensamento populacional;
b) equipamentos urbanos e comunitários;
c) uso e ocupação do solo;
d) valorização imobiliária;
e) geração de tráfego e demanda por transporte público;
f) ventilação e iluminação;
g) paisagem urbana e patrimônio natural e cultural.

90
Direito Agrário

O Estudo Prévio de Impacto de Vizinhança (EIV) é o


documento que apresenta o conjunto dos estudos
e informações técnicas relativas à identificação,
avaliação, prevenção, mitigação e compensação dos
impactos na vizinhança de um empreendimento ou
atividade, de forma a permitir a análise das diferenças
entre as condições que existiriam com a implantação
do mesmo e as que existiriam sem essa ação.

O Estatuto da Cidade regula a desapropriação para fins urbanos.


Por meio dessa modalidade, o poder público municipal pune o
proprietário que não deu a seu imóvel a função social estabelecida
no Plano Diretor.

Por outro lado, o Estatuto da Cidade aponta ainda que todo


o cidadão que possuir como sua área ou edificação urbana de
até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos,
ininterruptamente e sem oposição, terá direito ao chamado
usucapião especial de imóvel urbano, desde que a área em questão
seja utilizada para sua moradia ou de sua família e não seja
proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende


às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas
no Plano Diretor, assegurando o atendimento das necessidades
dos cidadãos quanto à qualidade de vida, à justiça social e ao
desenvolvimento das atividades econômicas.

O Plano Diretor, aprovado por lei municipal, é o instrumento


básico da política de desenvolvimento e expansão urbana,
devendo ser revisto a cada dez anos.

O Plano Diretor é obrigatório para cidades com mais de vinte


mil habitantes ou integrantes de regiões metropolitanas e
aglomerações urbanas. Será ainda obrigatório o Plano Diretor
para as cidades integrantes de áreas de especial interesse turístico
ou inseridas em área de influência de empreendimentos ou
atividades com significativo impacto ambiental de âmbito
regional ou nacional.

Unidade 3 91
Universidade do Sul de Santa Catarina

Lembramos que o Plano Diretor municipal é que definirá os


limites de aproveitamento das obras acrescidas aos terrenos
urbanos, sendo que o mesmo ainda poderá fixar áreas nas quais
o direito de construir poderá ser exercido acima do coeficiente
de aproveitamento básico adotado, mediante contrapartida a ser
prestada pelo beneficiário.

O Plano Diretor deverá conter, dentre outros


itens, a delimitação das áreas urbanas em que
poderá ser aplicado o parcelamento, edificação ou
utilização compulsória, considerando a existência de
infraestrutura e de demanda para utilização.

O Estatuto da Cidade ainda propõe uma gestão democrática para as


cidades, por meio de instrumentos próprios fixados no texto da lei.

O Estatuto da Cidade veio para regulamentar as


normas-princípios constantes dos arts. 182 e 183
da CF/88 estabelecendo as diretrizes da política
urbanística. Esse regramento tem inevitáveis reflexos
no direito constitucional fundamental de propriedade
privada, bem como na Administração Pública
Municipal.

Seção 2 – Política agrária


A Carta Magna trata da política agrícola em seu art. 187, incisos
I ao VIII, e seus parágrafos 1o e 2o. Ela ampliou para além
da esfera rural o conceito de política agrícola, incluindo nesta
as atividades agroindustriais, somando-se a atividade rural a
atividade industrial.

Por política agrícola, segundo o art. 1o, § 2o, do Estatuto da


Terra, Lei n° 4.504, de 30 de novembro de 1964, entende-
se um conjunto de medidas planejadas e executadas para o

92
Direito Agrário

amparo da propriedade da terra, voltadas a orientar as atividades


agropecuárias no interesse da economia rural, sempre no sentido
de garantir o pleno emprego e harmonia com o processo de
industrialização do Brasil.

Portanto, vemos que a política agrícola é instituída por meio


legal, servindo para instrumentalizar a orientação e viabilizar as
atividades agrárias, agroindustriais, agropecuárias, pesqueiras e
florestais.

Vamos à leitura do texto Constitucional:

“CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988


CAPÍTULO III
DA POLÍTICA AGRÍCOLA E FUNDIÁRIA E DA
REFORMA AGRÁRIA
Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse
social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que
não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia
e justa indenização em títulos da dívida agrária, com
cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo
de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão,
e cuja utilização será definida em lei.
§ 1º – As benfeitorias úteis e necessárias serão
indenizadas em dinheiro.
§ 2º – O decreto que declarar o imóvel como de interesse
social, para fins de reforma agrária, autoriza a União a
propor a ação de desapropriação.
§ 3º – Cabe à lei complementar estabelecer procedimento
contraditório especial, de rito sumário, para o processo
judicial de desapropriação.
§ 4º – O orçamento fixará anualmente o volume total
de títulos da dívida agrária, assim como o montante de
recursos para atender ao programa de reforma agrária no
exercício.
§ 5º – São isentas de impostos federais, estaduais e
municipais as operações de transferência de imóveis
desapropriados para fins de reforma agrária.
Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de
reforma agrária:
I – a pequena e média propriedade rural, assim definida
em lei, desde que seu proprietário não possua outra;
II – a propriedade produtiva.

Unidade 3 93
Universidade do Sul de Santa Catarina

Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial


à propriedade produtiva e fixará normas para o
cumprimento dos requisitos relativos a sua função social.
Art. 186. A função social é cumprida quando a
propriedade rural atende, simultaneamente, segundo
critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos
seguintes requisitos:
I – aproveitamento racional e adequado;
II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis
e preservação do meio ambiente;
III – observância das disposições que regulam as relações
de trabalho;
IV – exploração que favoreça o bem-estar dos
proprietários e dos trabalhadores.
Art. 187. A política agrícola será planejada e executada
na forma da lei, com a participação efetiva do setor
de produção, envolvendo produtores e trabalhadores
rurais, bem como dos setores de comercialização, de
armazenamento e de transportes, levando em conta,
especialmente:
I – os instrumentos creditícios e fiscais;
II – os preços compatíveis com os custos de produção e a
garantia de comercialização;
III – o incentivo à pesquisa e à tecnologia;
IV – a assistência técnica e extensão rural;
V – o seguro agrícola;
VI – o cooperativismo;
VII – a eletrificação rural e irrigação;
VIII – a habitação para o trabalhador rural.
§ 1º – Incluem-se no planejamento agrícola as atividades
agro-industriais, agropecuárias, pesqueiras e florestais.
§ 2º – Serão compatibilizadas as ações de política
agrícola e de reforma agrária.
Art. 188. A destinação de terras públicas e devolutas será
compatibilizada com a política agrícola e com o plano
nacional de reforma agrária.
§ 1º – A alienação ou a concessão, a qualquer título, de
terras públicas com área superior a dois mil e quinhentos
hectares a pessoa física ou jurídica, ainda que por
interposta pessoa, dependerá de prévia aprovação do
Congresso Nacional.

94
Direito Agrário

§ 2º – Excetuam-se do disposto no parágrafo anterior as


alienações ou as concessões de terras públicas para fins de
reforma agrária.
Art. 189. Os beneficiários da distribuição de imóveis
rurais pela reforma agrária receberão títulos de domínio
ou de concessão de uso, inegociáveis pelo prazo de dez
anos.
Parágrafo único. O título de domínio e a concessão
de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a
ambos, independentemente do estado civil, nos termos e
condições previstos em lei.
Art. 190. A lei regulará e limitará a aquisição ou o
arrendamento de propriedade rural por pessoa física
ou jurídica estrangeira e estabelecerá os casos que
dependerão de autorização do Congresso Nacional.
Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel
rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos
ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural,
não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva
por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua
moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.
Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão
adquiridos por usucapião.”

Percebemos após a leitura do texto da CF/88 que a finalidade


principal da política agrícola brasileira é alcançar o pleno
emprego e concretizar a industrialização dos produtos agrários;
além, é claro, de fortalecer a economia do país com o a umento
da produtividade.

A política agrícola deve ser constante e permanente para assim


conseguir alcançar os seus objetivos, que, na maioria das vezes,
são buscados com projetos cujo retorno se prolonga no tempo
e os benefícios são recebidos de maneira lenta e protelada pelas
dificuldades na aplicação.

A Lei nº 8.171, de 17 de janeiro de 1991, complementada pela


Lei nº 8.174, de 30 de janeiro de 1991, institui a política agrícola
brasileira, tratando em seu corpo de vários incentivos que visam
a viabilizar a atividade agrária, como, por exemplo, em seu art.
52, ela impõe o ônus de o poder público oferecer um crédito rural
especial e diferenciado aos produtores rurais assentados em áreas
de reforma agrária. Também trata a referida lei, dentre outros
tópicos, da garantia de comercialização dos produtos agrícolas, da

Unidade 3 95
Universidade do Sul de Santa Catarina

condição dos preços agrícolas serem compatíveis com os custos


da produção, do incentivo à pesquisa e à tecnologia agrária do
seguro agrícola, incentivo à irrigação e à eletrificação rural etc.

A política agrícola brasileira visa a combater e eliminar algumas


irregularidades, dentre as quais citamos:

a) o minifúndio inviável economicamente;


b) o latifúndio improdutivo;
c) o imóvel rural ocioso quando possível o seu
aproveitamento;
d) a exploração incorreta do solo;
e) extinguir os mercenários do mercado de imóveis rurais.

Referindo-se à parte da política agrícola que cuida da organização


e disposição dos imóveis rurais, a Lei Agrária nº 8.629, sancionada
em 1993, regulou a CF/88, mudando o critério de classificação das
propriedades rurais. No passado, pelo Estatuto da Terra (Lei n°
4.504, de 30 de novembro de 1964) essas eram classificadas como
minifúndio, latifúndio e empresa rural.

O Estatuto da Terra aponta que módulo rural é a área explorável


que em determinada posição do país, direta ou pessoalmente
explorada por um conjunto familiar, equivalente a quatro pessoas
adultas, correspondendo a mil jornadas anuais, lhes absorva toda
a força de trabalho em face do nível tecnológico adotado naquela
posição geográfica, conforme o tipo de exploração considerado,
que proporcione um rendimento capaz de assegurar-lhe a
subsistência e o progresso social e econômico.

Conceitualmente, o Estatuto da Terra aponta o seguinte:

a) define como minifúndio todo imóvel com área explorável


inferior ao módulo rural fixado para a respectiva região e
tipos de exploração nela correspondentes;
b) o latifúndio por dimensão é todo imóvel com área
superior a seiscentas vezes o módulo rural médio fixado
para a região e tipos de exploração nela correspondentes;

96
Direito Agrário

c) o latifúndio por exploração é todo imóvel rural onde sua


dimensão não exceda aquela admitida como máxima, ou
seja, seiscentas vezes o módulo rural, tendo área igual ou
superior a dimensão do módulo da região, mas que seja
inexplorada;
d) a empresa rural é todo imóvel rural explorado econômica
e racionalmente que tenha área de um módulo até
seiscentas vezes este valor.

Já a classificação da Lei Agrária nº 8.629/1993 assim determina:

a) minifúndio: consideram-se minifúndios os imóveis com


menos de um módulo fiscal, e isso é insuficiente para
uma família sobreviver e progredir;
b) pequena propriedade: a pequena propriedade é aquela
que varia de um a quatro módulos, o que, em média, irá
variar entre 45 a 116 hectares, dependendo da região;
c) média propriedade: a média propriedade varia de 5 a 15
módulos, ou seja, entre 158 a 448 hectares, tendo como
média a propriedade de 265 hectares;
d) grande propriedade: será considerada grande
propriedade aquela acima de 15 módulos, o que em
média daria 649 hectares, porém, a média das grandes
propriedades brasileiras é de 2.143 hectares.

Imóvel rural – para fins de Cadastro Rural, é o prédio


rústico, de área contínua, formado de uma ou
mais parcelas de terra, pertencentes a um mesmo
proprietário, que seja ou possa ser utilizado em
exploração agrícola, pecuária, extrativa vegetal ou
agroindustrial, independentemente de sua localização.

Na atualidade, o Ministério da Agricultura brasileiro define


como política agrícola o conjunto de ações voltadas para
o planejamento, o financiamento e o seguro da produção
que constituem a base da política agrícola do Ministério da
Agricultura. Por meio de estudos na área de gestão de risco,
linhas de créditos, subvenções econômicas e levantamentos de

Unidade 3 97
Universidade do Sul de Santa Catarina

dados, o apoio do Estado acompanha todas as fases do ciclo


produtivo. Essas ações se dividem em três grandes linhas de
atuação: gestão do risco rural, crédito e comercialização.

A gestão do risco rural realiza-se em duas frentes. Antes de


iniciar o cultivo, o agricultor conta com o Zoneamento Agrícola
de Risco Climático. Essa ferramenta tecnológica indica o melhor
período para se plantar em cada município do país, conforme
a análise histórica do comportamento do clima. O estudo é
elaborado com o objetivo de minimizar os riscos relacionados aos
fenômenos climáticos e permite a cada município identificar a
melhor época de plantio das culturas, nos diferentes tipos de solo
e ciclos de cultivares. A técnica é de fácil entendimento e adoção
pelos produtores rurais, agentes financeiros e demais usuários.
E, para se proteger dos prejuízos causados por eventos climáticos
adversos, o produtor pode contratar o Seguro Rural com parte do
prêmio subsidiado pelo Ministério.

São analisados os parâmetros de clima, solo e de ciclos de


cultivares, a partir de uma metodologia validada pela Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e adotada
pelo Ministério da Agricultura. Desta forma, são quantificados
os riscos climáticos envolvidos na condução das lavouras que
podem ocasionar perdas na produção. Esse estudo resulta
na relação de municípios indicados ao plantio de determinadas
culturas, com seus respectivos calendários de plantio.

O Zoneamento Agrícola de Risco Climático foi usado pela


primeira vez na safra 1996 para a cultura do trigo. Recebe revisão
anual e é publicado na forma de portarias no Diário Oficial da
União e no site do Ministério da Agricultura. Estas políticas de
mobilização de recursos viabilizam os ciclos do plantio.

O homem do campo tem acesso a linhas de crédito para custeio,


investimento e comercialização. Vários programas financiam
diversas necessidades dos produtores, desde a compra de insumos
até a construção de armazéns.

98
Direito Agrário

Seguro da Agricultura Familiar (SEAF): É uma ação


dirigida exclusivamente aos agricultores familiares
que contratam financiamentos de custeio agrícola
no Pronaf. O Seguro da Agricultura Familiar (SEAF)
foi instituído no âmbito do Proagro e atende a uma
reivindicação histórica do agricultor: produzir com
segurança e com relativa garantia de renda. Assim, o
SEAF não se limita a cobrir todo o valor financiado, o
seguro garante 65% da receita líquida esperada pelo
empreendimento financiado.

O que é o PRONAF?
O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar (PRONAF) financia projetos individuais ou
coletivos, que gerem renda aos agricultores familiares
e assentados da reforma agrária. O programa possui as
mais baixas taxas de juros dos financiamentos rurais,
além das menores taxas de inadimplência entre os
sistemas de crédito do país.

O que é o PROAGRO?
Visando a atender aos pequenos e médios produtores,
o Programa de Garantia da Atividade Agropecuária
(PROAGRO) garante a exoneração de obrigações
financeiras relativas à operação de crédito rural de
custeio, cuja liquidação seja dificultada pela ocorrência
de fenômenos naturais, pragas e doenças que atinjam
rebanhos e plantações, na forma estabelecida pelo
Conselho Monetário Nacional (CMN). O Proagro foi
criado pela Lei n° 5.969/1973 e regido pela Lei Agrícola
n° 8.171/1991, ambas regulamentadas pelo Decreto n°
175/1991. Suas normas são aprovadas pelo Conselho
Monetário Nacional (CMN) e codificadas no Manual
de Crédito Rural (MCR-16), que é divulgado pelo
Banco Central do Brasil. O Proagro é custeado por
recursos alocados pela União e dos provenientes da
contribuição que o produtor rural paga (o adicional/
prêmio do Proagro), bem como das receitas obtidas
com a aplicação do adicional recolhido.

Unidade 3 99
Universidade do Sul de Santa Catarina

Usucapião especial rural


A usucapião especial rural possui sua previsão inicial antes
mesmo do marco Constitucional de 1988.

No ano de 1981, foi promulgada a Lei n° 6.969, a qual dispôs


sobre a aquisição, por usucapião especial, de imóveis rurais,
matéria esta que também foi incorporada pelo atual Código
Civil, como veremos na sequência.

A Lei n° 6.969/1981 aponta que todo aquele que, não sendo


proprietário rural nem urbano, possuir como sua, por 5 (cinco)
anos ininterruptos, sem oposição, área rural contínua, não
excedente de 25 (vinte e cinco) hectares, e a houver tornado
produtiva com seu trabalho e nela tiver sua morada, adquirir-
lhe-á o domínio, independentemente de justo título e boa-fé,
podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual
servirá de título para transcrição no Registro de Imóveis.

Prevalecerá a área do módulo rural aplicável à espécie,


na forma da legislação específica, se aquele for
superior a 25 (vinte e cinco) hectares.

A usucapião especial abrange as terras particulares e as terras


devolutas, em geral, sem prejuízo de outros direitos conferidos ao
posseiro, pelo Estatuto da Terra ou pelas leis que dispõem sobre
processo discriminatório de terras devolutas.

Mas o que são terras devolutas?


Terras devolutas são terrenos públicos, ou seja,
propriedades públicas que nunca pertenceram a um
particular, mesmo estando ocupadas. Diferenciam-se
destes por não estarem sendo aplicadas a algum uso
público federal, estadual ou municipal, que não hajam
sido legitimamente incorporadas ao domínio privado
(art. 5º do Decreto-Lei nº 9.760/1946), enquanto as terras
públicas pertencentes ao patrimônio fundiário público
são aquelas inscritas e reservadas para um determinado
fim. O termo “devolutas” relaciona-se com a decisão

100
Direito Agrário

de devolução dessas terras para o domínio público


ou não, dependendo de ações judiciais denominadas
discriminatórias. A CF/88 cita em seu art. 20, II, terras
devolutas como sendo bens da União, desde que sejam
indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e
construções militares, das vias federais de comunicação e
à preservação ambiental, definidas em lei.

Salientamos que a usucapião especial não ocorrerá nas áreas


indispensáveis à segurança nacional, nas terras habitadas por
silvícolas (indígenas), nem nas áreas de interesse ecológico,
consideradas como tais as reservas biológicas ou florestais e os
parques nacionais, estaduais ou municipais, assim declarados pelo
Poder Executivo, assegurada aos atuais ocupantes a preferência
para assentamento em outras regiões, pelo órgão competente.

A ação de usucapião especial é um processo judicial em que a


parte interessada, por meio de advogado, deverá ingressar no
Poder Judiciário da comarca da situação do imóvel, sendo que,
em todos os processos, obrigatoriamente, haverá a participação
do Ministério Público na figura do Promotor de Justiça.

O Código Civil atual, a partir do seu art. 1.239, registra que aquela
pessoa que, não sendo proprietária de imóvel rural ou urbano, possua
como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em
zona rural não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por
seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á
a propriedade.

Na sequência, o nosso texto civilista complementa ao afirmar


textualmente que aquele que possuir, como sua, área urbana
de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos
ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de
sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário
de outro imóvel urbano ou rural.

Enfim, além da questão do período de tempo de comprovação de posse outro


requisito fundamental é o animus domini, ou seja, a intenção de ser dono ou
ânimo de dono, principalmente relacionado ao trato da terra e a exploração da
agricultura, pecuária ou extrativismo, com fins de subsistência.

Unidade 3 101
Universidade do Sul de Santa Catarina

Crédito rural
O crédito rural, instrumento de financiamento da atividade rural,
será suprido por todos os agentes financeiros sem discriminação, entre
eles Instituições do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR),
mediante aplicação compulsória, recursos próprios livres, dotações das
operações oficiais de crédito, fundos e quaisquer outros recursos, com
os seguintes objetivos:

a) estimular os investimentos rurais para produção, extrativismo


não predatório, armazenamento, beneficiamento e
industrialização dos produtos agropecuários, quando efetuado
pelo produtor na sua propriedade rural, por suas cooperativas
ou por pessoa física ou jurídica equiparada aos produtores;
b) favorecer o oportuno e adequado custeio da produção e a
comercialização de produtos agropecuários;
c) fortalecer o setor rural;
d) incentivar a introdução de métodos racionais no sistema
de produção, visando ao aumento da produtividade, à
melhoria do padrão de vida das populações rurais e à
adequada defesa do solo;
e) propiciar, por meio de crédito fundiário, a aquisição
e regularização de terras pelos pequenos produtores,
posseiros e arrendatários e trabalhadores rurais;
f) desenvolver atividades florestais e pesqueiras;
g) quando destinado a agricultor familiar ou empreendedor
familiar rural, nos termos da Lei nº 11.326, de
24/7/2006, estimular a geração de renda e o melhor
uso da mão de obra familiar por meio do financiamento
de atividades e serviços rurais agropecuários e
não agropecuários, desde que desenvolvidos em
estabelecimento rural ou áreas comunitárias próximas,
inclusive o turismo rural, a produção de artesanato e
assemelhados. (Lei n° 8.171, art. 48, § 1º – redação dada
pela Lei nº 11.718/2008).

102
Direito Agrário

Constituem modalidades de crédito rural:

Crédito rural corrente: conceitua-se como crédito rural corrente


o suprimento de recursos sem a concomitante prestação de
assistência técnica em nível de empresa.

Crédito rural educativo: conceitua-se como crédito rural


educativo o suprimento de recursos conjugado com a prestação
de assistência técnica, compreendendo a elaboração de projeto ou
plano e a orientação ao produtor.

Crédito rural especial: conceitua-se como especial o crédito


rural destinado a:
a) cooperativas de produtores rurais, para aplicações
próprias ou dos associados;
b) programas de colonização ou reforma agrária, de acordo
com o Estatuto da Terra.

Já em relação à sua finalidade, o crédito rural poderá ser dividido em:

Crédito rural de custeio: destina-se a cobrir despesas


normais dos ciclos produtivos. Por exemplo, sementes.

Crédito rural de investimento: destina-se a aplicações em


bens ou serviços cujo desfrute se estenda por vários períodos
de produção. Por exemplo, trator.

Crédito rural de comercialização: destina-se a cobrir


despesas próprias da fase posterior à coleta da produção ou
a converter em espécie os títulos oriundos de sua venda ou
entrega pelos produtores ou suas cooperativas. Por exemplo,
transporte e armazenamento.

Poderão ser beneficiários do crédito rural o produtor rural (pessoa


física ou jurídica) e a cooperativa de produtores rurais.

Unidade 3 103
Universidade do Sul de Santa Catarina

Pode ainda ser beneficiária do crédito rural pessoa física ou jurídica


que, embora sem conceituar-se como produtor rural, se dedique às
seguintes atividades vinculadas ao setor:

a) pesquisa ou produção de mudas ou sementes fiscalizadas


ou certificadas;
b) pesquisa ou produção de sêmen para inseminação
artificial e embriões;
c) prestação de serviços mecanizados, de natureza
agropecuária, em imóveis rurais, inclusive para proteção
do solo;
d) prestação de serviços de inseminação artificial, em
imóveis rurais;
e) medição de lavouras;
f) atividades florestais.

Cabe ao produtor decidir sobre a contratação de serviços de assistência


técnica, salvo quando considerados indispensáveis pelo financiador ou
quando exigidos em regulamento de operações com recursos oficiais. A
assistência técnica e extensão rural deve ser prestada por profissionais
habilitados junto ao Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura
e Agronomia (CREA), Conselho Regional de Medicina Veterinária
(CRMV) ou Conselho Regional de Biologia (CRB), mediante
convênio com a instituição financeira ou com o mutuário.

No tocante às garantias para a concessão de crédito rural, estas


legalmente poderão constituir-se de:

a) penhor agrícola, pecuário, mercantil, florestal e cedular;


b) alienação fiduciária;
c) hipoteca comum ou cedular;
d) aval ou fiança;
e) seguro rural ou do amparo do Programa de Garantia da
Atividade Agropecuária (PROAGRO);

104
Direito Agrário

f) proteção de preço futuro da commodity agropecuária,


inclusive por meio de penhor de direitos, contratual
ou outras garantias que o Conselho Monetário
Nacional admitir.

O que é penhor cedular?


É o penhor que se constitui na cédula de crédito
rural que tem por objeto bens suscetíveis de penhor
agrícola, pecuário ou mercantil; gêneros oriundos
da produção agrícola, extrativa ou pastoril, ainda
que destinados a beneficiamento ou transformação;
veículos automotores, veículos de tração mecânica
e veículos de tração animal; canoas, barcos, balsas
e embarcações fluviais ou lacustres, com ou
sem motores; máquinas e utensílios destinados
ao preparo de rações ou ao beneficiamento,
armazenamento, industrialização, frigorificação,
conservação, acondicionamento e transporte de
produtos e subprodutos agropecuários ou extrativos
ou utilizados nas atividades rurais, bem como
bombas, motores, canos e demais equipamentos
de irrigação; incubadoras, chocadeiras, criadeiras,
pinteiros e galinheiros desmontáveis ou móveis,
gaiolas, bebedouros, campânulas e quaisquer
máquinas e utensílios usados nas explorações
avícolas e agropastoris.

Por sua vez, o crédito rural pode ser formalizado nos títulos
abaixo, observadas as disposições do Decreto-Lei n° 167, de
14/2/1967, e da Lei n° 10.931, de 2/8/2004:

a) Cédula Rural Pignoratícia;


b) Cédula Rural Hipotecária;
c) Cédula Rural Pignoratícia e Hipotecária;
d) Nota de Crédito Rural;
e) Cédula de Crédito Bancário (CCB).

Unidade 3 105
Universidade do Sul de Santa Catarina

O crédito rural procura estimular os investimentos


rurais, garantir o valor de custeio da produção e
comercialização e consequentemente favorecer o setor
rural, o qual é responsável pela produção de alimentos.
O crédito rural pode ser solicitado por produtores rurais
ou empresas agropecuárias de pesquisa, de produção
de mudas e sementes, de inseminação artificial para
bovinos, de serviços mecanizados e outras empresas
com finalidade comercial. As exigências para obtenção
do crédito rural variam de acordo com a instituição
financiadora. Algumas exigências são comuns: a
idoneidade do tomador, a elaboração de planos ou
projetos com orçamentos, a capacitação de execução e
um cronograma de desembolso e reembolso do dinheiro
tomado. As garantias podem variar de acordo com a
penhora de produção, bens imóveis, hipoteca comum,
aval ou finança ou qualquer outro bem permitido pelo
Conselho Monetário Nacional. O pagamento é realizado
após um período de carência, que varia de acordo com
a espécie vegetal e a atividade realizada, podendo ser
pago de uma só vez ou em parcelas.

As taxas de juros utilizadas no crédito rural são mais


baixas que em financiamentos de outras modalidades.
De acordo com a instituição financiadora as taxas podem
variar de 2 até 25% ao ano. Existem vários planos e
programas de financiamento com o Programa Nacional
de Financiamento Agrícola Familiar (PRONAF).

Zoneamento e cadastro rural


O Estatuto da Terra (Lei nº 4.504/1964) define que o Instituto
Brasileiro de Reforma Agrária (INCRA) é o responsável em
promover a realização de estudos para o zoneamento do país
em regiões homogêneas do ponto de vista socioeconômico
e das características da estrutura agrária, visando a definir
as regiões críticas que estão exigindo reforma agrária com
progressiva eliminação dos minifúndios e dos latifúndios; quais
são as regiões em estágio mais avançado de desenvolvimento
social e econômico, em que não ocorram tensões nas estruturas
demográficas e agrárias; quais as regiões já economicamente
ocupadas em que predomine economia de subsistência e cujos

106
Direito Agrário

lavradores e pecuaristas careçam de assistência adequada; ou


quais as regiões ainda em fase de ocupação econômica, carentes
de programa de desbravamento, povoamento e colonização de
áreas pioneiras.

O zoneamento tem por objetivo:

„„ estabelecer as diretrizes da política agrária a ser adotada


em cada tipo de região;
„„ programar a ação dos órgãos governamentais, para
desenvolvimento do setor rural, nas regiões delimitadas
como de maior significação econômica e social.

Já os cadastros rurais terão em vista a possibilidade de garantir a


classificação, a identificação e o grupamento dos vários imóveis
rurais que pertençam a um único proprietário, ainda que situados
em municípios distintos, sendo fornecido ao proprietário o
certificado de cadastro.

Os cadastros serão continuamente atualizados para inclusão


das novas propriedades que forem sendo constituídas e, no
mínimo, de cinco em cinco anos serão feitas revisões gerais para
atualização das fichas já levantadas.

A Lei n° 5.868/1972 trata do Sistema Nacional de Cadastro


Rural, o qual compreende:

a) Cadastro de Imóveis Rurais;


b) Cadastro de Proprietários e Detentores de Imóveis
Rurais;
c) Cadastro de Arrendatários e Parceiros Rurais;
d) Cadastro de Terras Públicas;
e) Cadastro Nacional de Florestas Públicas.

O Cadastro de Imóveis Rurais é um sistema de informações


descritivas e cartográficas a respeito de imóveis rurais, sua
dominialidade, ocupação, atividade econômica e características
socioambientais. Faz parte do Cadastro Nacional de Imóveis
Rurais (CNIR), criado pela Lei Federal n° 10.267/2001, que

Unidade 3 107
Universidade do Sul de Santa Catarina

propõe a unificação das informações dos registros de imóveis


rurais dos Estados e municípios com as do INCRA.

O objetivo maior é criar uma base única de dados sobre a


ocupação do território brasileiro, contribuindo para as ações da
reforma agrária, tornando as informações acessíveis aos órgãos
públicos e aos cidadãos.

O Cadastro de Imóveis Rurais é um instrumento eficaz para o


planejamento e implementação de políticas públicas direcionadas
à reforma agrária e às atividades agrícolas, permitindo a atuação
segura do Estado nas questões fundiárias e socioambientais.

A metodologia a ser utilizada na coleta das informações sobre


as características físicas dos imóveis é o georreferenciamento
apoiado na Rede Geodésica de cada Estado da Federação.

Seu acervo é compartilhado por instituições públicas (federais,


estaduais e municipais) e pelos registros imobiliários, servindo
para melhor definição de divisas municipais, de perímetros
urbanos e áreas que requerem proteção especial (socioambiental,
cultural, histórica e arqueológica).

Como sua base cadastral reunirá os elementos necessários ao


trabalho de reforma agrária e de ordenamento fundiário, o
INCRA e o Instituto de Terras, Cartografia e Geociências
poderão planejar e executar de forma sistemática as ações
de democratização do acesso à terra, combate à grilagem e
fiscalização do uso da propriedade rural.

Na esfera dos Estados da Federação, o conjunto de dados e informações


fornecidos pela implantação do Cadastro de Imóveis Rurais permite
múltiplas aplicações cartográficas e físicas, que facilitam o planejamento
integrado e a gestão democrática do território.

Atualmente, Cadastro Nacional de Imóveis Rurais (CNIR) tem


uma base comum de informações, gerenciada conjuntamente
pelo INCRA e pela Secretaria da Receita Federal, produzida e
compartilhada pelas diversas instituições públicas federais e estaduais
produtoras e usuárias de informações sobre o meio rural brasileiro.

108
Direito Agrário

Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural


O Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR) é um
imposto federal de competência exclusiva da União, conforme a
prevê o art. 153, VI, da Constituição Federal de 1988.

No ano de 1996 foi promulgada a Lei n° 9.393, a qual trouxe


regulamentação específica ao ITR.

O ITR, de apuração anual, tem como fato gerador a propriedade,


o domínio útil ou a posse de imóvel por natureza, localizado fora
da zona urbana do município, em 1º de janeiro de cada ano.

Este imposto incide inclusive sobre o imóvel declarado de interesse


social para fins de reforma agrária, enquanto não transferida a
propriedade, exceto se houver imissão prévia na posse.

Considera-se imóvel rural a área contínua, formada de uma ou


mais parcelas de terras, localizada na zona rural do município.

O ITR não incide sobre pequenas glebas rurais, quando as


explore, só ou com sua família, o proprietário que não possua
outro imóvel.

Pequenas glebas rurais são os imóveis com área igual


ou inferior a:
a. cem hectares, se localizado em município
compreendido na Amazônia Ocidental ou no
Pantanal mato-grossense e sul-mato-grossense;
b. Cinquenta hectares, se localizado em município
compreendido no Polígono das Secas ou na
Amazônia Oriental;
c. Trinta hectares, se localizado em qualquer outro
município.

As normas gerais para a fixação do imposto sobre a propriedade


territorial rural obedecerão a critérios de progressividade e
regressividade, levando-se em conta os seguintes fatores como

Unidade 3 109
Universidade do Sul de Santa Catarina

o valor da terra nua; a área do imóvel rural; o grau de utilização


da terra na exploração agrícola, pecuária e florestal; o grau de
eficiência obtido nas diferentes explorações; a área total, no país,
do conjunto de imóveis rurais de um mesmo proprietário.

É contribuinte do ITR aquele que, em relação ao imóvel rural a


ser declarado, na data da efetiva apresentação da declaração, seja:

a) proprietário;
b) titular do domínio útil (enfiteuta ou foreiro);
c) possuidor a qualquer título, inclusive o usufrutuário.

Para exclusão das áreas não tributáveis da incidência do ITR


é necessário que o contribuinte apresente o Ato Declaratório
Ambiental (ADA) ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), a cada exercício,
nos prazos fixados por este órgão e que as áreas assim declaradas
atendam ao disposto na legislação pertinente.

Poderão ser consideradas não tributáveis da incidência do ITR


de acordo com o Ato Declaratório Ambiental (ADA) as áreas de
preservação permanente.

São consideradas áreas de preservação permanente:

I – as florestas e demais formas de vegetação natural


situadas:

a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde


o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura
mínima será:
- de trinta metros para os cursos d’água de menos de dez
metros de largura;
- de cinquenta metros para os cursos d’água que tenham
de dez a cinquenta metros de largura;
- de cem metros para os cursos d’água que tenham de
cinquenta a duzentos metros de largura;
- de duzentos metros para os cursos d’água que tenham
de duzentos a seiscentos metros de largura;

110
Direito Agrário

- de quinhentos metros para os cursos d’água que


tenham largura superior a seiscentos metros;

b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água


naturais ou artificiais;
c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados
“olhos d’água”, qualquer que seja a sua situação
topográfica, num raio mínimo de cinquenta metros de
largura;
d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;
e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior
a quarenta e cinco graus, equivalente a cem por cento na
linha de maior declive;
f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras
de mangues;
g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha
de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a cem
metros em projeções horizontais;
h) em altitude superior a mil e oitocentos metros, qualquer
que seja a vegetação.

II – as florestas e demais formas de vegetação natural,


declaradas de preservação permanente por ato do poder
público, quando destinadas:

a) a atenuar a erosão das terras;


b) afixar as dunas;
c) a formar faixas de proteção ao longo de rodovias e
ferrovias;
d) a auxiliar a defesa do território nacional a critério das
autoridades militares;
e) a proteger sítios de excepcional beleza ou de valor
científico ou histórico;
f) a asilar exemplares da fauna ou flora ameaçados de
extinção;

Unidade 3 111
Universidade do Sul de Santa Catarina

g) a manter o ambiente necessário à vida das populações


silvícolas;
h) a assegurar condições de bem-estar público.

Para exclusão das áreas de reserva legal da incidência do ITR


é necessário que o contribuinte apresente o ADA ao IBAMA,
a cada exercício, que as áreas estejam averbadas no registro de
imóveis competente e aprovadas pelo órgão ambiental estadual
competente ou, mediante convênio, pelo órgão ambiental
municipal ou outra instituição devidamente habilitada, na data de
ocorrência do fato gerador (1º de janeiro de 2011), e que atendam
ao disposto na legislação pertinente.

ITR é o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural e


sua base legal é a Lei nº 9.393, de 19 de dezembro de
1996, art. 1º; o Decreto nº 4.382, de 19 de setembro de
2002 - Regulamento do Imposto sobre a Propriedade
Territorial Rural (RITR/2002), art. 1º; Instrução
Normativa (IN) SRF nº 256, de 11 de dezembro de
2002, art. 1º.

Seção 3 – Reforma agrária


O Brasil mantém sua produção agropecuária entre as mais
prósperas do planeta. Colocar a reforma agrária na agenda do
país tem sido uma longa história de suor, lágrimas e banhos
de sangue. Ainda colônia de Portugal, o Brasil não teve os
movimentos sociais que, no século XVIII, democratizaram o
acesso à propriedade da terra e mudaram a face da Europa. No
século XIX, o fantasma que rondou a Europa e contribuiu para
acelerar os avanços sociais não cruzou o Oceano Atlântico para
assombrar o Brasil e sua injusta concentração de terras.

De fato já havia no Brasil uma discussão em torno do modelo


fundiário e os possíveis obstáculos que ele impunha ao

112
Direito Agrário

desenvolvimento do país. Na década de 1940 houve diversas


propostas de lei para a reforma agrária baseadas nos modelos
adotados por países da Europa e EUA, mas nenhuma delas foi
aprovada.

No Brasil, o modelo de colonização contribui para a perpetuação


de um sistema fundiário baseado na grande propriedade, afinal,
o início da colonização no Brasil se deu através da concessão
de grandes latifúndios no nordeste do país (as Capitanias
Hereditárias e Sesmarias), e o processo de criação dos latifúndios
apenas aumentou com a vinda de diversos imigrantes ao Brasil e
a mecanização da agricultura, principalmente durante o período
da ditadura militar.

A primeira iniciativa em prol da reforma agrária foi a criação


da Superintendência Regional de Política Agrária (SUPRA),
em 1962, em resposta à criação das Ligas Camponesas no
Nordeste e com o objetivo de promover a reforma agrária no
Brasil. Mas, só no início de março de 1964 foi elaborado um
decreto que desapropriava terras em torno de rodovias federais e
as destinavam ao propósito da reforma. Porém, a iniciativa veio
tarde demais, pois no final do mesmo mês um golpe de Estado
iniciou o período da ditadura militar que por 21 anos distorceu
completamente a questão.

Contraditoriamente, logo no início da ditadura os militares


aprovaram a Lei nº 4.504 sobre o Estatuto da Terra, o primeiro
documento oficial sobre a reforma agrária no Brasil e criaram
o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (IBRA) e o Instituto
Nacional de Desenvolvimento Agrário (INDA), respectivamente,
em substituição à SUPRA, e também o Instituo Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (INCRA), com o intuito de
realizar a reforma agrária, manter o cadastro nacional de imóveis
rurais e administrar as terras públicas da União.

Porém, os militares, em vez de alavancar a reforma, apenas


pioraram a situação ao incentivar as culturas de exportação, como
a soja, e a mecanização do processo produtivo. Essas medidas
favoreciam os latifúndios e fizeram com que, em vez de diminuir,
o número de latifundiários aumentasse consideravelmente.

Unidade 3 113
Universidade do Sul de Santa Catarina

Após esse período, diversos programas de ação regional, também


chamados de “projetos de colonização”, foram criados, como
o Programa de Integração Regional (PIN), o Programa de
Redistribuição de Terras e de Estímulo à Agroindústria do Norte
e Nordeste (PROTERRA), o Programa Especial para o Vale do
São Francisco (PROVALE), o Programa de Polos Agropecuários
e Agrominerais na Amazônia (POLAMAZÔNIA), e o
Programa de Desenvolvimento de Áreas Integradas do Nordeste
(POLONORDESTE). Mas nenhum deles trouxe resultados
muito significativos.

A esta altura, o Estatuto da Terra servia apenas para tratar das


questões referentes à política agrícola, enquanto a questão da
reforma agrária e do modelo fundiário brasileiro permaneciam
praticamente como no século XVI.

Na década de 1980 os movimentos sociais em torno da reforma


agrária tomam força ao mesmo tempo em que surgem conflitos
importantes no Norte do país em torno de terras ocupadas
irregularmente. Com o fim de resolver este problema são criados
os Ministérios Extraordinários para Assuntos Fundiários e
dos Grupos Executivos de Terras do Araguaia/Tocantins e do
Baixo Amazonas (GETAT e GEBAM), também sem muita
representatividade.

O então Presidente José Sarney, ainda na década de 1980


(1985), elabora um plano previsto no Estatuto da Terra, o Plano
Nacional de Reforma Agrária (PNRA) para o qual é criado o
Ministério Extraordinário para o Desenvolvimento e a Reforma
Agrária (MIRAD). No entanto, suas metas são irreais e acabam
fracassando. Em 1987 é extinto o INCRA e dois anos depois
o MIRAD e a responsabilidade sobre a reforma agrária passa
a ser do Ministério da Agricultura. No governo de Fernando
Collor (1990-1992) os projetos de colonização são encerrados
e não é feita nenhuma desapropriação de terras com o intuito
de reforma agrária, que só é retomada em 1992 com a posse de

114
Direito Agrário

Itamar Franco. Em 1996 é criado o Ministério Extraordinário


de Política Fundiária ao qual é incorporado o INCRA. E
finalmente em 2000 é criado o Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA) ao qual o INCRA é definitivamente vinculado.

O Massacre de Eldorado dos Carajás foi a morte de


dezenove sem-terra que ocorreu em 17 de abril de
1996 no município de Eldorado dos Carajás, no sul do
Pará, decorrente da ação da polícia do Estado do Pará.
Dezenove sem-terra foram mortos pela Polícia Militar
do Estado do Pará. O confronto ocorreu quando
1.500 sem-terra, que estavam acampados na região,
decidiram fazer uma marcha em protesto contra a
demora da desapropriação de terras, principalmente
as da Fazenda Macaxeira. A Polícia Militar foi
encarregada de tirá-los do local porque estariam
obstruindo a rodovia BR-155, que liga a região à capital
do Estado, Belém.

Os governos seguintes prosseguiriam com projetos em torno da


reforma agrária, até que em 2003 um relatório publicado pelo
INCRA declara que o governo de Fernando Henrique Cardoso
realizou o maior assentamento da história do Brasil com 635 mil
famílias assentadas nas cinco regiões brasileiras.

A questão é que, embora o número de assentamentos impressione


pela magnitude, dados fornecidos pelo próprio INCRA mostram
que a maioria das famílias assentadas não recebe a infraestrutura
necessária para se instalar e produzir no campo. A maioria dos
acampados à espera de terras é gente desempregada que saiu das
cidades em busca de um pedaço de terra e não possui experiência
com o trabalho no campo. Ou, então, pessoas que já foram donos
de terra e que, por causa de problemas financeiros, tiveram de
abandonar suas propriedades. Estes fatos nos mostram que o
problema da reforma agrária no Brasil exige uma solução muito
mais complexa que simplesmente distribuir pedaços de terra.

Unidade 3 115
Universidade do Sul de Santa Catarina

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma


Agrária (INCRA) é uma autarquia federal criada
pelo Decreto nº 1.110, de 9 de julho de 1970, com
a missão prioritária de realizar a reforma agrária,
manter o cadastro nacional de imóveis rurais e
administrar as terras públicas da União. Em 14 de
janeiro de 2000, o Decreto nº 3.338 criou o Ministério
do Desenvolvimento Agrário (MDA), órgão ao qual o
Incra está vinculado hoje. O Incra teve sua estrutura
regimental aprovada pelo Decreto nº 5.735, de 27 de
março de 2006 (com nova redação dada pelo Decreto
nº 6.812, de 3 de abril de 2009).

Com o encerramento de dois mandatos do Presidente Lula, os


desafios e impasses históricos da reforma agrária no Brasil não
foram superados.

Em 2010, houve a redução de 44% do número de famílias


assentadas em relação ao ano de 2009, além da redução de 72%
no número de hectares destinados à reforma agrária.

O Incra tornou-se ainda mais ineficaz com o seu orçamento


reduzido praticamente pela metade em relação ao ano de 2009.
Os números do último ano da era Lula explicitam: a reforma
agrária não foi uma prioridade para o governo federal.

A reforma agrária, que deveria ser assimilada enquanto projeto de


nação e de desenvolvimento sustentável, transformou-se em um
precário programa de assentamentos, em nível bastante aquém
das reais demandas dos homens e mulheres do campo.

Porém, de acordo com o atual governo federal, a safra 2010/2011


vai levar o país a um novo recorde na produção de grãos: 161,5
milhões de toneladas. O resultado está 8,2% acima da safra
anterior, com variação positiva de 3,8% na área plantada e de
4,2% na produtividade. Tal desempenho coloca o país entre
os mais competitivos do mundo, com capacidade de atender
ao aumento da demanda por alimentos. O Brasil já é um dos
principais fornecedores de proteínas no mercado internacional de
alimentos, destinando o excedente de sua produção a 215 pontos
do globo. Outro resultado positivo da safra 2010/2011 refere-se
ao incremento de 10% em relação à safra passada, já descontada

116
Direito Agrário

a inflação, do valor bruto da produção (VBP) das principais


lavouras. A cifra chega a R$ 198,68 bilhões. Os destaques, com
maior aumento no valor da produção, são algodão (65,4%), uva
(44,8%), café (38,4%), milho (29,3%), soja (17,4%), feijão (11%),
mandioca (8,6%) e laranja (7%). O número de lavouras com
desempenho superior – aumento no valor da produção – foi
maior que a safra anterior.

Isso é reflexo do ambiente profícuo nos diversos elos das cadeias


produtivas do agronegócio brasileiro. Ótimo desempenho
também obteve a pecuária, com expectativas de um faturamento
bruto de R$ 105,4 bilhões em 2011, crescendo aproximadamente
7,6% em relação a 2010.

A cana-de-açúcar se consolidou como a segunda fonte energética


mais importante, atrás apenas do petróleo, correspondendo a
18,2% da oferta interna de energia. Para a safra 2011/2012,
como parte de um conjunto de políticas públicas para a expansão
produtiva, foi incluída linha de crédito para expansão e renovação
dos canaviais.

A Constituição Federal de 1988, em seu Título VII, que trata


sobre a Ordem Econômica e Financeira, reservou o Capítulo
III para ditar regras sobre a Política Agrícola e Fundiária e da
Reforma Agrária.

Ao iniciar uma análise sobre este artigo, salientaremos a sua


grande importância dentro do nosso Estado Democrático de
Direito.

A Carta Magna pátria reafirmou preceitos já dispostos em


outras legislações especiais que tratavam da problemática da
desapropriação, porém nada que existia até a promulgação da
atual constituição delimitava tão bem o assunto.

Em apenas um artigo os legisladores constituintes traçaram uma


meta facilmente visível ao realizarmos a exegese sobre ele. Em
primeiro lugar, houve a preocupação em deixar clara a exclusiva
competência da União para a espécie de desapropriação de que
trata o artigo.

Unidade 3 117
Universidade do Sul de Santa Catarina

Em segundo lugar, trouxe o interesse social como propulsor desta


desapropriação, porém não traz em seu texto o conceito jurídico
de interesse social. O interesse social é determinado pelo decreto
que determina o imóvel que será desapropriado, como veremos
mais tarde.

Logo em seguida dá-se finalidade a tal intento, ou seja, o objeto


expropriado não poderá ter outra destinação que não a da reforma
agrária.

Porém, a condição para a referida propulsão acima citada seria


dada pelo cumprimento de uma função social imposta ao imóvel,
ou melhor, a desapropriação para fins de reforma agrária surgiria
no momento em que o imóvel não estivesse mais cumprindo a
sua função social.

Por fim, cabe ao expropriado uma justa e prévia indenização,


salientando-se que tal indenização será paga em Títulos da
Dívida Agrária, o que foi uma inovação trazida por este artigo
ao processo de desapropriação, uma vez que tais títulos serão
resgatados a partir do segundo ano de sua emissão até um prazo
máximo vinte anos, com a constitucional garantia de cláusula de
preservação do valor real.

A preocupação com o meio ambiente faz surgir no âmbito


brasileiro a necessidade de os assentamentos rurais de reforma
agrária também se submeterem ao licenciamento ambiental.
O licenciamento ambiental é um procedimento que visa
a resguardar o meio ambiente de atividades poluidoras ou
potencialmente poluidoras, ou daquelas que possam causar
degradação ambiental.

É preciso destacar que durante a etapa em que o assentamento


rural ainda não possui a licença de instalação, os assentados não
recebem auxílio financeiro, tampouco podem tocar a terra, sob
pena de cometerem crime ambiental e, como tal, sujeitarem-se às
penalidades que tanto podem ser de ordem administrativa, por
exemplo, multas, como podem entrar na seara penal e, neste caso,
com previsão de penas de prisão aos infratores.

118
Direito Agrário

O MST
Os trabalhadores organizados pelo Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) são herdeiros de
uma luta que começou com a chegada dos portugueses. Os
primeiros a resistir foram os índios. Depois vieram os negros que
organizaram os quilombos e lutaram contra o cativeiro, pois, para
os poderosos senhores, não bastava a terra cativa, era preciso o ser
humano ser escravo. A exploração continuou com a chegada dos
colonos europeus.

O MST é o movimento popular de maior força no Brasil,


considerado o único do planeta contrário ao êxodo rural. O
MST nasceu de lutas concretas que os trabalhadores rurais foram
desenvolvendo de forma isolada, na região Sul, pela conquista da
terra no final da década de 1970.

O movimento ainda hoje visa a três grandes objetivos:

a) a terra;
b) a reforma agrária;
c) e uma sociedade mais justa.

Figura 3.1: Bandeira do Movimento MST


Fonte: http://www.mst.org.br/node/12585

O MST quer a expropriação das grandes áreas nas mãos de


multinacionais, o fim dos latifúndios improdutivos, com a definição
de uma área máxima de hectares para a propriedade rural.

Unidade 3 119
Universidade do Sul de Santa Catarina

No Brasil, não poderá haver desenvolvimento alternativo, democrático


e sustentável sem uma reforma agrária intensa e extensa.

Atualmente, todo o Mundo se volta para as questões do meio


ambiente e à necessidade de salvar o planeta.

A reforma agrária e a agricultura familiar e camponesa são


partes essenciais desse esforço inadiável para se alcançar a
sustentabilidade desejada na agricultura, na produção de
alimentos e nos modelos produtivos.

O Programa de Reforma Agrária de Mato Grosso


do Sul (TERRAVIDA) foi criado como alternativa de
construção e implantação de um novo modelo
de ocupação de terra denominado: Sistema
Sócioproprietário de Assentamento; o modelo foi
aplicado no Assentamento Itamarati II e é um ótimo
modelo de sustentabilidade para a reforma agrária
brasileira.

Figura 3.2: Plano de desenvolvimento de Assentamento Itamarati II


Fonte: Michels e Oliveira (2006, p. 27).

120
Direito Agrário

Mas, por outro lado, os dados coletados no final do ano passado


(2010) pelo Incra revelam que 38% do total de 924 mil famílias
já instaladas em assentamentos da reforma agrária no Brasil não
conseguem obter com seu trabalho sequer um salário mínimo
por mês. De maneira geral, a situação dos assentamentos não é
boa. Ainda segundo o Incra, 58% deles têm péssimas estradas
de acesso, o que dificulta o escoamento de qualquer tipo de
produção agrícola, e 56% não contam com redes de energia
elétrica. Em termos de escolaridade também não há nada para se
comemorar: apenas 5% dos agricultores assentados têm Ensino
Médio completo.

Por esse viés, os beneficiários da reforma agrária, assim como os


atendidos pelo Programa Bolsa Família, já tiveram um empurrão
inicial para sair da miséria com a concessão da terra, o crédito
inicial para a produção agrícola e a construção da moradia.
Precisam agora de ferramentas para andar com as próprias
pernas, dentro do conceito de inclusão produtiva, repetido
de maneira cada vez mais insistente entre os articuladores do
programa de erradicação da miséria.

Para os defensores da reforma agrária, a redistribuição


fundiária (espaço físico) e reforma agrícola (atividade
econômica e social) é considerada essencial para o
desenvolvimento econômico e social de um país.

Unidade 3 121
Universidade do Sul de Santa Catarina

Síntese

A Constituição Federal de 1988 tratou de apontar as diretrizes


básicas para as políticas de ocupação do solo no Brasil, sejam elas
em áreas urbanas ou em áreas rurais.

Para que ocorresse esta regulamentação na esfera urbana, no ano


de 2001 (Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001) foi promulgado
o Estatuto da Cidade, o qual define princípios e diretrizes para
ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e
da propriedade urbana.

Percebe-se que o Estatuto da Cidade explora o direito dos


cidadãos em residir em cidades sustentáveis com participação da
população em uma gestão dita democrática.

O diploma legal do Estatuto da Cidade dá força ao ramo jurídico


tido como o “Direito Urbanístico” e reforça a preocupação com
as questões ambientais. Há ainda um re-pensar estratégico a
respeito dos Planos Diretores municipais.

Já para as áreas localizadas em zonas rurais, o ponto de partida


para a política de ocupação do solo é o Estatuto da Terra (Lei n°
4.504, de 30 de novembro de 1964).

Na sequência, a Lei nº 8.171, de 17 de janeiro de 1991, a


qual foi acrescida pela Lei nº 8.174, de 30 de janeiro de 1991,
instituiu a política agrícola brasileira, criando vários incentivos
que visam a viabilizar a atividade agrária, como, por exemplo, a
obrigatoriedade de o poder público oferecer crédito rural especial
e diferenciado aos produtores rurais assentados em áreas de
reforma agrária.

Há nas normas supracitadas as diretrizes para a classificação dos


imóveis rurais no Brasil.

Para a possível execução de uma reforma agrária é necessário que


esta esteja fundada em uma política agrícola coerente, justa e de
fácil aplicabilidade.

122
Direito Agrário

Atividades de autoavaliação

1. A política agrícola deve ser:


a. ( ) constante e permanente, para assim conseguir alcançar os seus
objetivos;
b. ( ) constante e esporádica, para assim conseguir alcançar os seus
objetivos;
c. ( ) inconstante e esporádica, para assim conseguir alcançar os
seus objetivos;
d. ( ) constante, esporádica e flexível, para assim conseguir alcançar
os seus objetivos.

2. A política agrícola brasileira visa a combater:


a. ( ) O minifúndio inviável economicamente e o latifúndio
improdutivo;
b. ( ) O latifúndio inviável economicamente e o minifúndio
improdutivo;
c. ( ) O minifúndio viável economicamente e o latifúndio
improdutivo;
d. ( ) O minifúndio viável economicamente e o latifúndio produtivo.

3. No Brasil, a partir do ano de 2010, podemos dizer que, em números, a


reforma agrária:
a. ( ) diminuiu em relação a anos passados;
b. ( ) aumentou em relação a anos passados;
c. ( ) permaneceu estável em relação a anos passados;
d. ( ) teve um aumento muito significativo em relação a anos
passados.

Unidade 3 123
Universidade do Sul de Santa Catarina

Saiba mais

BRITO, R. A. T. de. Incorporação imobiliária à luz do CDC.


São Paulo: Saraiva, 2002.

NOBRE JR., E. P. Desapropriação para fins de reforma


agrária. Curitiba: Juruá, 2008.

124
4
UNIDADE 4

Tutela jurídico-ambiental
brasileira

Objetivos de aprendizagem
„„ Identificar a tutela jurídico-ambiental aplicada.
„„ tilizar as ferramentas jurídicas ligadas ao
U
meio ambiente, em consonância com o
desenvolvimento sustentável do país.

Seções de estudo
Seção 1 A lei e o desenvolvimento sustentável

Seção 2 Política Nacional do Meio Ambiente

Seção 3 Licenciamento ambiental


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Em tempo de globalização e da invasão intercontinental de mercados
comuns surge, como até então não era vista, a temática ambiental.
O meio ambiente, principalmente desde a década de 1980, passou a
receber a atenção dos mais variados segmentos da sociedade, desde
os altos governantes até as pessoas mais comuns, que perceberam
que o homem é dependente da Natureza e não o contrário.

Muitas Leis, Decretos, Portarias e Resoluções surgiram ao


longo desses anos para frear e controlar os impactos ambientais,
que cresciam e massacravam os recursos naturais de maneira
avassaladora. Infelizmente ainda não há conscientização
suficiente, e muitos impactos ainda ocorrem mesmo com a
obrigatoriedade do licenciamento ambiental.

Falar hoje em direito ambiental é discutir, antes de tudo, uma


interação, em construção, de todos os povos deste planeta, para que
a política ambiental de um país não venha a anular ou prejudicar a
de outro, tendo em vista que a poluição não possui fronteiras.

Seção 1 – A lei e o desenvolvimento sustentável


Atualmente não há quem negue a importância do meio ambiente
para toda a humanidade e, principalmente, da consciência de sua
preservação que depende, com certeza, o futuro de todos.

No entanto, a par de todas as conquistas científicas e tecnológicas


alcançadas pela humanidade, ainda não se encontrou uma forma
efetiva de proteção do meio ambiente nem a maneira mais
adequada de gerenciar as relações entre as cadeias produtivas e
seu impacto na qualidade de vida da sociedade.

Qualquer forma de interação do ser humano com o restante


do universo passa, necessariamente, pela sua modificação, em

126
Direito Agrário

que está presente a necessidade de sensibilização ambiental, de


consciência ambiental e de aprendizagem ambiental. Falar sobre
esta interação é de certa forma fácil, quando se fica na retórica e
na superficialidade, mas pode ser bastante difícil se deixarmos o
discurso e partirmos para apontar caminhos a serem seguidos.

O conceito de ecodesenvolvimento, posteriormente chamado


de desenvolvimento sustentável, surgiu na década de 1970
como uma proposição amenizadora às previsões catastróficas do
relatório do Clube de Roma de 1972, que revelou ao mundo que
o desenvolvimento capitalista deparava-se com limites físicos à
sua expansão.

Sob a ótica do direito, o meio ambiente ganhou relevância como


consequência lógica, uma vez que de forma preventiva preserva-
se o meio ambiente, e, em sede de litígio, defende-se o ofendido
ou define-se a extensão da responsabilidade do ofensor do meio
ambiente. Percebemos, portanto, que o Direito, como uma
garantia tanto individual quanto coletiva, não é estático, e por tal
fato sofre constantes transformações.

A dinâmica da vida econômica e social e as transformações que


se operam especialmente no campo de novas tecnologias fazem
surgir novas realidades e situações que repercutem sobre as
pessoas e suas relações. Essas situações geram novos problemas e
a necessidade da formação de novos direitos.

Entre os novos direitos da pessoa que passam a ser reconhecidos


pelos sistemas jurídicos contemporâneos, e com cada vez mais força
em âmbito mundial, é o direito dito ecológico, ou direito ambiental.

No âmbito do direito constitucional, o art. 225 da Constituição


Federal (CF/88) expressamente consigna:

CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 05 DE
OUTUBRO DE 1988
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo
e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade para o dever de defendê-lo
e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Unidade 4 127
Universidade do Sul de Santa Catarina

Esta disposição constitucional faz com que o Direito Ambiental


adquira uma dimensão infinita em todas as áreas do Direito, qual
seja, a partir da previsão expressa constitucionalmente em seus
parágrafos e incisos o meio ambiente ganha relevância e proteção
do Estado.

Há muita divergência doutrinária no tocante à questão da


autonomia do direito ambiental. Para muitos, esta autonomia já
está consolidada no momento em que a norma recebe amparo
constitucional, como é o caso citado do art. 225 da CF/88.
Porém, para outros, o direito ambiental nunca terá plena
autonomia uma vez que ele sempre dependerá de outros ramos do
direito para sua aplicabilidade.

Com o objetivo de buscar maior identificação com a atividade


que agride o meio ambiente e o bem jurídico agredido, podemos
destacar quatro aspectos contidos na classificação de meio
ambiente:

1. Meio ambiente natural (ou físico) – constituído pelo


solo, pela água, pelo ar atmosférico, pela flora e pela
fauna.
2. Meio ambiente cultural (construído pelo homem, enquanto
expressão de sua cultura) – constituído pelo patrimônio
histórico, artístico, científico, arqueológico, paisagístico,
turístico.
3. Meio ambiente artificial – constituído pelo espaço
urbano construído (conjunto de edificações e
equipamentos públicos colocados à disposição da
coletividade), observando-se que neste conceito não
se exclui o meio ambiente rural, uma vez que se refere
a todos os espaços habitáveis, no tocante ao pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantia
do bem-estar de seus habitantes.
4. Meio ambiente do trabalho – constituído pelo ambiente
onde o ser humano desenvolve sua atividade produtiva,
objetivando sua sobrevivência enquanto homem-
indivíduo. Tutela-se neste aspecto a saúde e a segurança
do trabalhador e, por consequência, punir-se-ão todas
as formas de degradação e poluição do meio ambiente
onde o homem exerce sua atividade, mantendo-se,

128
Direito Agrário

pois, a sua qualidade de vida. Quando o ordenamento


jurídico estabelece a obrigatoriedade da elaboração de
um laudo de impacto ambiental, esta determinação tem
um objetivo preventivo, no sentido de se evitar a agressão
ao meio ambiente em qualquer um de seus aspectos.
Ou seja, verificada a possibilidade de agressão ao meio
ambiente, buscar-se-á o saneamento desta possibilidade
e, em caso de verificação da impossibilidade deste
saneamento, a empresa não terá autorização para exercer
aquela atividade agressora ao meio ambiente.

De outra banda, podemos entender por biodiversidade variedade


de seres que compõem a vida na terra, representando o conjunto
de todas as espécies de plantas, animais, micro-organismos e
ecossistemas. A diversidade se expressa em termos de diferenças
entre ecossistemas, entre espécies e entre seres da mesma
espécie. Diversidade é um termo típico que designa a riqueza
do conjunto de seres vivos localizados em determinada área.
O índice de diversidade é um valor de referência relacionado
com a quantidade das espécies (animal e vegetal) existentes em
determinado local.

Fruto da preocupação humana, no contexto ambiental, sobre


como viver dentro da capacidade dos ecossistemas existentes,
uma grande discussão tem sido travada sobre a ideia do
desenvolvimento sustentável.

O conceito de desenvolvimento sustentável, definido pela


Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento, e
aceito por políticos e líderes como uma filosofia de orientação,
visa a garantir que o uso de recursos ambientais para atender
as necessidades atuais seja gerenciado de modo a não danificar
esses recursos para o uso futuro. Atender a esse conceito significa
viver com os recursos da Terra e não erodi-los. Significa manter
o consumo de recursos renováveis dentro dos limites de sua
reposição. Significa deixar às próximas gerações não só um
legado de riqueza fabricado pelo homem (prédios, estradas,
ferrovias etc.), mas também de riqueza natural, suprimento de
água limpa e adequada, terra boa e arável, uma vida selvagem rica
e florestas amplas.

Unidade 4 129
Universidade do Sul de Santa Catarina

As questões ambientais emergem com um problema


social de desenvolvimento, propondo a necessidade
de criação de um conjunto de processos de produção
e consumo que, sujeitos à racionalidade econômica e
à lógica de mercado, não degradem o meio ambiente
e a qualidade de vida.

A questão do desenvolvimento sustentável está associada à noção


de qualidade de vida que se tem constituído no conceito central dos
objetivos que perseguem a gestão ambiental de desenvolvimento.

A noção de qualidade de vida relativiza e contextualiza a


questão das necessidades humanas e do processo social para
satisfazê-las, mudando as considerações tradicionais da economia
convencional (entenda-se economia de bem-estar) em uma nova
perspectiva, no entanto, pouco se tem avançado na sistematização
e operacionalização deste conceito.

A questão da qualidade de vida aparece no momento em que convergem


a massificação do consumo e a centralização dos recursos, com a
deterioração do meio ambiente, a degradação do valor de uso das
mercadorias, o empobrecimento crítico das maiorias e as limitações do
Estado para prover os serviços básicos para uma população crescente e
marginalizada dos circuitos da produção e do consumo.

O uso racional dos recursos naturais é a melhor forma de quebrar


as barreiras impostas pelo histórico de utilização dos recursos de
forma irresponsável.

Ao mesmo tempo em que a ampliação dos mercados gera uma


uniformização dos bens de consumo, também gera um efeito
de disfuncionalidade ambiental pela variedade e condições
ecológicas e culturais e pela maneira que são utilizados
importantes recursos econômicos para prover o consumo.

O desenvolvimento sustentável é firmado no tripé


social, ambiental e econômico. O seu objetivo
é a redução das desigualdades sociais, evitar a
degradação ambiental e promover o crescimento
econômico, sem a exploração descontrolada dos
recursos naturais.

130
Direito Agrário

A política de desenvolvimento sustentável vai de encontro com os


interesses do capitalismo desenfreado que vivemos, pois aquele
tem metodologia que prega o consumo consciente, reutilização
de matérias-primas e produtos, visando a garantir à nossa geração
e às futuras um meio ambiente ecologicamente equilibrado e
uma sadia qualidade de vida. O capitalismo prega o consumismo
desenfreado, sem pensar no futuro.

A revolução do pensamento humano sobre sua própria existência


e sua interação com o meio ambiente numa posição ecológica
profunda deve ser uma prática constante. Isto é visível em
CAPRA (1996, p. 89):

A ecologia rasa é antropocêntrica, ou centralizada no


ser humano. Ela vê os seres humanos como situados
acima ou fora da natureza, como a fonte de todos os
valores, e atribui apenas um valor instrumental, ou de
“uso”, à natureza. A ecologia profunda não separa seres
humanos – ou qualquer outra coisa – do meio ambiente
natural. Ela vê o mundo não como uma coleção de
objetos isolados, mas como uma rede de fenômenos
que estão fundamentalmente interconectados e são
interdependentes. A ecologia reconhece o valor intrínseco
de todos os seres vivos e concebe os seres humanos apenas
como um fio particular na teia da vida.

Desenvolvimento sustentável tem sua definição dada pela


Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento:
“o desenvolvimento que atende às necessidades do presente, sem
comprometer a capacidade das futuras gerações atenderem às
suas próprias necessidades”. O nosso país adotou este conceito
em nossa legislação ambiental, apresentando o conceito de
desenvolvimento sustentável na Lei n° 6.938/1981 – Política
Nacional de Meio Ambiente, a qual, em seu art. 2º, dispõe:

A Política Nacional do Meio Ambiente tem por


objetivo a preservação, melhoria e recuperação da
qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar,
no País, condições ao desenvolvimento sócio-
econômico, aos interesses da segurança nacional e à
proteção da dignidade da vida humana. E no art. 4º:
A Política Nacional do Meio Ambiente visará: I – à
compatibilização do desenvolvimento econômico-social
com a preservação da qualidade do meio ambiente e do
equilíbrio ecológico.

Unidade 4 131
Universidade do Sul de Santa Catarina

A legislação brasileira possui uma estrutura hierárquica peculiar,


garantida pela Carta Constitucional em seu art. 25, o qual
permite que municípios e Estados definam normas mais rígidas e
específicas que a União. Isso permite que os municípios tomem a
frente em determinadas questões ambientais, que incomodam as
populações locais, e criem leis e decretos específicos.

Em busca do desenvolvimento sustentável a legislação ambiental


brasileira acaba sendo composta por um conjunto de leis, decretos
e medidas provisórias, federais, estaduais e municipais.

Dentro deste conjunto, na esfera federal ganham posição


de destaque a Política Nacional de Meio Ambiente (Lei n°
6.938/1981) e o Código Florestal Brasileiro (Lei n° 4.771/1965),
que trata também das restrições ao uso e ocupação dos solos
agrícola e urbano; além, é claro, da Lei dos Crimes Ambientais
(Lei n° 9.605/1998).

Desde os primeiros meses do ano de 1998 está em


vigor nos Brasil a tutela penal do meio ambiente,
com o advento da Lei nº 9.605, de 13 de Ffevereiro
de 1998, lei esta que dispõe sobre as sanções penais
e administrativas derivadas de condutas e atividades
lesivas ao meio ambiente, trazendo grandes alterações
no trato penal para com as pessoas jurídicas, inclusive
com o incremento de suas responsabilidades
administrativas, civis e penais. A Lei dos Crimes
Ambientais (LCA), como ficou conhecida, deixa claro
que a responsabilidade da pessoa jurídica não exclui
a das pessoas físicas autoras ou coautoras envolvidas
em fato danoso ao meio ambiente.
Recomendamos que assista ao documentário Ilha das
Flores. É um filme de curta-metragem brasileiro, do
gênero documentário, escrito e dirigido pelo cineasta
Jorge Furtado em 1989, com produção da Casa de
Cinema de Porto Alegre.

Cediço que os recursos naturais não são inesgotáveis, e que


gerações futuras habitarão o mesmo espaço que hoje habitamos,
o planeta Terra. Diante desse fato, é imprescindível a utilização

132
Direito Agrário

consciente dos recursos não renováveis sem, contudo, estagnar


o desenvolvimento. É preciso estabelecer a harmonia entre o
desenvolvimento e a preservação ambiental, e é justamente neste
ponto que a legislação ambiental deverá demonstrar sua eficácia
quanto a sua aplicabilidade.

Seção 2 – Política Nacional do Meio Ambiente


Em 31 de agosto de 1981 foi promulgada a Lei n° 6.938, que
estabeleceu objetivos e instrumentos da Política Nacional do
Meio Ambiente e incorporou, pela primeira vez em texto de
tal relevância, o preceito da conciliação do desenvolvimento
econômico com a preservação ambiental. Ocorreu a criação do
Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), integrado
por um órgão colegiado, o Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA) e por órgãos executivos das esferas
federal e estadual. O meio ambiente passa a ser considerado
patrimônio público a ser protegido, tendo em vista o uso racional
dos recursos ambientais, propiciando a integração dos órgãos
e instituições de todas as esferas de governo, de algum modo
envolvidas com a questão ambiental, e levá-las à consideração de
outros segmentos da sociedade.

Os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, uma


vez regulamentados, resultaram, entre outras iniciativas, na
criação do sistema de licenciamento de atividades capazes de
alterar os ecossistemas onde se desenvolvem. Em relação a esse
particular, o CONAMA ficou incumbido da fixação dos critérios
para elaboração dos Estudos de Impacto Ambiental (EIA)
referentes àqueles licenciamentos, assegurando ao público o
acesso às informações relativas às agressões ao meio ambiente e às
ações de proteção ambiental. Isso viria a ser objeto da Resolução
n° 001/1986 do CONAMA, a qual dispõe sobre os Estudos
de Impacto Ambiental e os Relatórios de Impacto ao Meio
Ambiente (EIA/RIMA).

Unidade 4 133
Universidade do Sul de Santa Catarina

Após o restabelecimento das eleições diretas para os governos


estaduais, ocorreu uma onda de institucionalização de órgãos
ambientais estaduais, o que já havia ocorrido no início da década
de 1980 em função do estímulo fornecido pela Lei n° 6.938/1981.

Por meio do Decreto nº 91.145, de 15 de março de 1985,


que criou o Ministério do Desenvolvimento Urbano e Meio
Ambiente e dispôs sobre a sua estrutura, transferindo-lhe os
órgãos CONAMA e SEMA.

A Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, disciplinou a ação civil


pública por danos causados ao meio ambiente e a bens e direitos
de valor artístico, paisagístico, estético e histórico; o Ministério
Público passou a organizar, nas cidades mais populosas, as
curadorias do meio ambiente.

No processo de elaboração da Constituição de 1988, as


organizações não governamentais, a comunidade científica e
outros representantes da sociedade civil criaram um mecanismo
informal de debate e encaminhamento de propostas, que
conseguiu, mais que qualquer outra área, levar seus objetivos ao
texto constitucional.

O resultado dessa mobilização foi um capítulo


inteiramente dedicado a questões ambientais, que
consagra o direito de todos os brasileiros ao meio
ambiente equilibrado, considerado bem de uso
comum do povo, essencial à qualidade de vida
saudável (art. 225 da Constituição Federal).

Os debates que se seguiram mudaram substancialmente a


proposta governamental original e propiciaram inovações legais
e programáticas, das quais se destaca a criação de uma agência
governamental com amplas responsabilidades na condução da
política ambiental, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), que incorporou
a SEMA e as agências federais na área de pesca, borracha e
desenvolvimento florestal, segundo estabelece a Lei nº 7.735, de
22 de fevereiro de 1989.

134
Direito Agrário

Quase um ano depois, em 12 de abril de 1990, foi promulgada


a Lei nº 8.028, que inaugurou uma nova configuração
institucional, pois propunha a criação da Secretaria do Meio
Ambiente da Presidência da República (SEMAM/PR), a
qual tinha a finalidade de “planejar, coordenar, supervisionar
e controlar as atividades relativas à Política Nacional do Meio
Ambiente e à preservação, conservação e uso racional dos
recursos naturais renováveis”, como órgão de assistência direta e
imediata ao Presidente da República (MILARÉ, 2000, p. 152).

Em 1992, por meio da Lei n° 8.490, de 19 de novembro, a


SEMAM/PR é transformada no Ministério do Meio Ambiente
(MMA), o qual, em 9 de dezembro de 1993, fica sendo
denominado Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia
Legal desde então. Mais uma alteração processou-se quando do
primeiro mandato do Presidente Fernando Henrique Cardoso,
o qual, mediante Medida Provisória nº 813, de 1º de janeiro de
1995, altera o nome da pasta para Ministério do Meio Ambiente,
dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal. Somente através
da Medida Provisória nº 1.795, de 1º de janeiro de 1999 é que foi
ganhar sua denominação atual, Ministério do Meio Ambiente.

Os princípios da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA)


são extraídos da Constituição Federal brasileira, da Lei n°
6.938/1981 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente) e das
Constituições estaduais.

Toda formulação jurídica comporta dois membros


básicos:
a. primeiro, aquele em que um determinado valor
é reconhecido pela sociedade como digno de
proteção;
b. segundo, aquele em que as normas jurídicas
intervêm para instrumentalizar a proteção desse
novo valor reconhecido.

Entre os princípios da PNMA inscritos na Constituição Federal,


na Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, na Constituição
Estadual e nas Declarações de Estocolmo de 1972 e do Rio de
1992, merecem destaque:

Unidade 4 135
Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ A defesa do meio ambiente como princípio da ordem


econômica (art. 17, VI, da CF/88; Princípio 4 da
Declaração de Estocolmo de 1972; Princípios 3 e 4 da
Declaração do Rio de 1992);
„„ Princípio da participação popular na proteção do meio
ambiente (art. 225, caput, da CF/88; Princípio 10 da
Declaração do Rio de 1992);
„„ Princípio da avaliação prévia dos impactos ambientais
das atividades de qualquer natureza (art. 225, § 1º, IV,
da CF; art. 9º, III, da Lei n° 6.938/1981; Princípio 17 da
Declaração do Rio de 1992).

Uma regra de bom senso: refletir antes de agir, para evitar


degradações ambientais importantes (MILARÉ, 2000, p.123).

Prevenir a degradação do meio ambiente no plano nacional e


internacional é uma concepção que passou a ser aceita no mundo
jurídico, especialmente, nas últimas três décadas. Não se criaram
todas as regras de proteção ao ambiente humano e natural nesse
período, a preocupação com a higiene urbana e certo controle
sobre as florestas e a caça já datam de séculos. Inovou-se no
tratamento jurídico dessas questões, procurando-se interligá-las e
sistematizá-las, evitando-se a fragmentação e até o antagonismo
de leis, decretos e portarias.

No Brasil, “desbravar”, povoando novos territórios, com


a expulsão ou a conquista das populações aqui presentes,
desmatando e explorando minas, era sinônimo de coragem, de
progresso, de enriquecimento público e privado. Os impactos
dessa ação desenvolvimentista no meio ambiente não era
considerado, pois se acreditava que a natureza desse país imenso
se arranjaria por si mesma.

O Brasil seguiu a tendência mundial, sendo o primeiro


passo o estabelecimento da Política Nacional do Meio
Ambiente.

A Lei de Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938,


de 31 de agosto de 1981) inseriu como objetivos dessa política

136
Direito Agrário

pública compatibilizar o desenvolvimento econômico-social com


a preservação da qualidade do meio ambiente, do equilíbrio
ecológico e a preservação dos recursos ambientais, com vistas
à sua utilização racional e disponibilidade permanente (art. 4º,
I e VI). Entre os instrumentos da política nacional do meio
ambiente colocou-se a avaliação dos impactos ambientais (art.
9º, III). Incontestável passou a ser a obrigação de prevenir ou
evitar o dano ambiental, quando o mesmo pudesse ser detectado
antecipadamente.

Com relação aos objetivos da PNMA, deve ser observado que


eles revelam a finalidade do legislador ao estabelecer as normas
protetivas do meio ambiente e definem, consequentemente,
o elemento de legalidade ou ilegalidade de toda e qualquer
atividade que tenha repercussão sobre a qualidade ambiental.

Assim, toda interpretação e aplicação da legislação ambiental que


não esteja conforme a sua finalidade, todo exercício de atividades
de qualquer natureza que contrarie os objetivos da PNMA, toda
utilização de instrumentos legais de proteção do meio ambiente
em descompasso com a sua finalidade primordial, implicarão em
desvio de finalidade e configurarão inafastável ilegalidade.

Entre os objetivos da PNMA previstos na legislação em vigor


destacam-se:

a) a preservação e a restauração dos recursos ambientais


e dos processos ecológicos essenciais das espécies e
ecossistemas (art. 225, § 1º, da CF; art. 4º, VI, da Lei n°
6.938/1981);
b) a preservação da diversidade e da integridade do
patrimônio genético do país (art. 225, § 1º, II, da
CF/88);
c) a proteção especial de determinadas áreas naturais
consideradas patrimônio nacional: Floresta Amazônica;
Mata Atlântica; Serra do Mar; Pantanal Mato-grossense;
Zona Costeira (art. 225, § 4°, da CF/88);
d) o controle das atividades potencial ou efetivamente
poluidoras (art. 2°, V, da Lei n° 6.938/1981);

Unidade 4 137
Universidade do Sul de Santa Catarina

e) a compatibilização do desenvolvimento econômico e


social com preservação da qualidade do meio ambiente e
do equilíbrio ecológico (art. 4°, I, da Lei n° 6.938/1981).

Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA)


O Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), instituído
pela Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, e regulamentada pelo
Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990, é constituído pelos
órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal,
dos municípios e pelas Fundações instituídas pelo poder público,
responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental e
possui a seguinte estrutura:

I – Órgão Superior: Conselho de Governo;


II – Órgão Consultivo e Deliberativo: Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA);
III – Órgão Central: Ministério do Meio Ambiente
(MMA);
IV – Órgão Executor: Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA);
V – Órgãos Seccionais: Os órgãos ou entidades da
Administração Pública federal direta ou indireta, as
fundações instituídas pelo poder público, cujas atividades
estejam associadas às de proteção da qualidade ambiental
ou àquelas de disciplinamento do uso dos recursos
ambientais, bem como os órgãos e entidades estaduais
responsáveis pela execução de programas e projetos e pelo
controle e fiscalização de atividades capazes de provocar
a degradação ambiental;
VI – Órgãos Locais: Os órgãos ou entidades municipais
responsáveis pelo controle e fiscalização das atividades
referidas no inciso anterior, nas suas respectivas
jurisdições.

138
Direito Agrário

A atuação do SISNAMA efetivar-se-á mediante articulação


coordenada dos órgãos e entidades que o constituem, observando
o seguinte:

I – o acesso da opinião pública às informações relativas


às agressões ao meio ambiente e às ações de proteção
ambiental, na forma estabelecida pelo CONAMA;
II – caberá aos Estados, ao Distrito Federal e aos
municípios a regionalização das medidas emanadas do
SISNAMA, elaborando normas e padrões supletivos e
complementares.

O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) foi


instituído pela Lei n° 6.938/1981 e regulamentado pelo Decreto
n° 99.274/1990, alterado pelo Decreto nº 2.120/1997, sendo o
órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio
Ambiente (SISNAMA), conforme dito anteriormente.

O CONAMA é composto de Plenário e Câmaras Técnicas,


presidido pelo ministro do Meio Ambiente. A Secretaria
Executiva do CONAMA é exercida pelo secretário de
Formulação de Políticas e Normas Ambientais do Ministério do
Meio Ambiente.

O Conselho é um colegiado, representativo dos mais diversos


setores do governo e da sociedade civil que lidam direta ou
indiretamente com o meio ambiente. A composição do Plenário
é feita da seguinte forma: um representante de cada ministério
e das demais secretarias da Presidência da República e do
IBAMA; um representante de cada um dos governos estaduais
e do Distrito Federal; assim como representantes das seguintes
entidades: Confederações Nacionais da Indústria, do Comércio
e da Agricultura; Confederações Nacionais dos Trabalhadores
na Indústria, do Comércio e da Agricultura; Instituto Brasileiro
de Siderurgia; Associação Brasileira de Engenharia Sanitária
(ABES); Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza
(FBCN); e Associação Nacional dos Municípios e Meio
Ambiente (ANAMMA); além de representantes de associações

Unidade 4 139
Universidade do Sul de Santa Catarina

legalmente constituídas para a defesa dos recursos naturais e do


combate à poluição, de livre escolha do Presidente da República;
e representantes de sociedades civis, legalmente constituídas, de
cada região geográfica do país, cuja atuação esteja diretamente
ligada à preservação da qualidade ambiental e cadastradas no
Cadastro Nacional das Entidades Ambientalistas (CNEA).

É da competência do CONAMA:

„„ estabelecer diretrizes de políticas governamentais para o


meio ambiente e recursos naturais;
„„ baixar normas necessárias à execução e implementação
da Política Nacional do Meio Ambiente;
„„ estabelecer normas e critérios para o licenciamento de
atividades efetivas ou potencialmente poluidoras;
„„ determinar, quando julgar necessário, a realização de
estudos sobre as alternativas e possíveis consequências
ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando
aos órgãos federais, estaduais ou municipais, bem como
a entidades privadas, as informações indispensáveis
à apreciação dos estudos de impacto ambiental e
respectivos relatórios, no caso de obras ou atividades de
significativa degradação ambiental;
„„ decidir, como última instância administrativa, em grau
de recurso, mediante depósito prévio, sobre multas e
outras penalidades impostas pelo IBAMA;
„„ homologar acordos visando à transformação de
penalidades pecuniárias na obrigação de executar
medidas de interesse para a proteção ambiental;
„„ estabelecer normas e padrões nacionais de controle de
poluição causada por veículos automotores terrestres,
aeronaves e embarcações;
„„ estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao
controle e à manutenção da qualidade do meio ambiente
com vistas ao uso racional dos recursos ambientais,
principalmente os hídricos;

140
Direito Agrário

„„ estabelecer normas gerais relativas às Unidades de


Conservação e às atividades que podem ser desenvolvidas
em suas áreas circundantes;
„„ estabelecer os critérios para a declaração de áreas críticas,
saturadas ou em vias de saturação.

O art. 7° da Lei n° 6.938/1981 diz:


É criado o Conselho Nacional do Meio Ambiente, cuja
composição, organização, competência e funcio­
namento serão estabelecidos, em regulamento, pelo
Poder Executivo.
Parágrafo único. Integrarão também o CONAMA:
a. representantes dos governos dos estados, indicados
de acordo com o estabelecido em regulamento,
podendo ser adotado um critério de delegação por
regiões, com indicação alternada do representante
co­mum, garantida sempre a participação de um
representante dos estados em cujo território haja
área crítica de poluição, assim considerada por
decreto federal;
b. presidentes das Confederações Nacionais da
Indústria, da Agri­cultura e do Comércio, bem como
das Confederações Nacionais dos Tra­balhadores da
Indústria, da Agricultura e do Comércio;
c. presidentes de Associação Brasileira de Engenharia
Sanitária e Fundação Brasileira de Conservação da
Natureza;
d. dois representantes de associações legalmente
constituídas para a defesa dos recursos naturais e
de combate a poluição, a serem nomeados pelo
Presidente da República.

O IBAMA, por sua vez, foi criado pela Lei n° 7.735, de 22 de


fevereiro de 1989. A Lei n° 8.028/1990 deu nova redação ao art.
2° da Lei n° 7.735. O IBAMA é autarquia federal de regime
especial, dotada de personalidade jurídica de direito público,
autonomia administrativa e financeira, vinculada ao Ministério
do Meio Ambiente e da Amazônia Legal, com a finalidade de
assessorá-lo na formulação e coordenação da política nacional do
meio ambiente e da preservação, conservação e uso racional dos

Unidade 4 141
Universidade do Sul de Santa Catarina

recursos naturais. A mencionada lei atribuiu ao IBAMA a tarefa


de executar e fazer executar essas políticas.

Devemos salientar que todas as atividades dos órgãos


ambientais inseridos pela PNMA são planejadas, coordenadas,
supervisionadas e controladas pelo Ministério do Meio Ambiente
(MMA), que é tido com o órgão central brasileiro no tocante às
questões ambientais.

O Instituto Chico Mendes de Conservação da


Biodiversidade é uma autarquia em regime especial.
Criado dia 28 de agosto de 2007, pela Lei n° 11.516, o
ICMBio é vinculado ao Ministério do Meio Ambiente
e integra o Sistema Nacional do Meio Ambiente
(SISNAMA). Cabe ao Instituto executar as ações do
Sistema Nacional de Unidades de Conservação,
podendo propor, implantar, gerir, proteger, fiscalizar
e monitorar as UCs instituídas pela União. Cabe
a ele ainda fomentar e executar programas de
pesquisa, proteção, preservação e conservação da
biodiversidade e exercer o poder de polícia ambiental
para a proteção das Unidades de Conservação
federais. Entre as principais atribuições do ICMBio
estão apresentar e editar normas e padrões de gestão
de Unidades de Conservação federais; propor a
criação, regularização fundiária e gestão das Unidades
de Conservação federais; e apoiar a implementação
do Sistema Nacional de Unidades de Conservação
(SNUC). O Instituto deve ainda contribuir para a
recuperação de áreas degradadas em Unidades
de Conservação. Ele fiscaliza e aplica penalidades
administrativas ambientais ou compensatórias aos
responsáveis pelo não cumprimento das medidas
necessárias à preservação ou correção da degradação
ambiental. Cabe ao Instituto Chico Mendes monitorar
o uso público e a exploração econômica dos recursos
naturais nas Unidades de Conservação onde isso
for permitido, obedecidas as exigências legais e
de sustentabilidade do meio ambiente. Na área
de pesquisa, ele deve contribuir para a geração
e disseminação sistemática de informações e
conhecimentos relativos à gestão de Unidades de
Conservação, da conservação da biodiversidade e do
uso dos recursos faunísticos, pesqueiros e florestais.

142
Direito Agrário

Ainda nessa área, o Instituto dissemina metodologias


e tecnologias de gestão ambiental e de proteção e
manejo integrado de ecossistemas e de espécies do
patrimônio natural e genético de representatividade
ecológica em escala regional e nacional. A autarquia
também cria e promove programas de educação
ambiental, contribui para a implementação do
Sistema Nacional de Informações sobre o Meio
Ambiente (SINIMA) e aplica, no âmbito de sua
competência, dispositivos e acordos internacionais
relativos à gestão ambiental. Outra atribuição do
Instituto é propor e editar normas de fiscalização
e de controle do uso do patrimônio espeleológico
(cavernas) brasileiro, bem como fomentar
levantamentos, estudos e pesquisas que possibilitem
ampliar o conhecimento sobre as cavidades naturais
subterrâneas existentes, além de elaborar o Relatório
de Gestão das Unidades de Conservação.

Seção 3 – Licenciamento ambiental


O licenciamento ambiental é o processo administrativo complexo
que tramita perante a instância administrativa responsável pela
gestão ambiental, seja no âmbito federal, estadual ou municipal,
e que tem como objetivo assegurar a qualidade de vida da
população por meio de um controle prévio e de um continuado
acompanhamento das atividades humanas capazes de gerar
impactos sobre o meio ambiente.

O Decreto n° 88.351/1983, que regulamentou a Lei n°


6.938/1981, vinculou a utilização da avaliação de impacto
ambiental aos sistemas de licenciamento dos órgãos estaduais de
controle ambiental, para atividades poluidoras ou mitigadoras do
meio ambiente. O sistema de licenciamento ambiental depende
de autorizações que serão concedidas ou não pelo poder público.

A Lei Federal obriga os Estados a seguirem os procedimentos


de licenciamento sem estar, dessa forma, invadindo a sua

Unidade 4 143
Universidade do Sul de Santa Catarina

competência. A Constituição Federal é genérica ao determinar


quais os critérios básicos a serem observados na preservação do
meio ambiente, cabendo aos Estados definir o órgão estadual que
será competente para proferir a autorização.

Segundo esse decreto, são três as licenças a serem requeridas


pelos responsáveis pelo empreendimento (VERDUM, 1995):

1. Licença Prévia (LP) na fase preliminar de planejamento


da atividade, contendo os requisitos básicos a serem
atendidos nas fases de localização, instalação e operação,
e observados os planos municipais, estaduais ou federais
de uso do solo;

2. Licença de Instalação (LI) autorizando o início da


implantação, de acordo com as especificações constantes
do Projeto Executivo aprovado;

3. Licença de Operação (LO) autorizando, após as


verificações necessárias, o início da atividade licenciada
e o funcionamento de seus equipamentos de controle de
poluição, de acordo com o previsto nas licenças prévias e
de instalação.

Porém, vige o Decreto nº 14.250/1981, quando determina que a


autorização será concedida por meio de:

I – Licença Ambiental Prévia (LAP), com validade de


dois anos;
II – Licença Ambiental de Instalação (LAI), com
validade de três anos;
III – Licença Ambiental de Operação (LAO), com
validade de oito anos.

Conforme o § 2° do Decreto nº 14.250/1981, os


empreendimentos sem risco comprovado ficam dispensados
da exigência de LAI. Este dispositivo legal demanda cuidados
por isentar da obrigatoriedade de licenciamento as atividades
empresariais que não se encontram na lista entre as atividades
potencialmente poluidoras. É da compreensão de vários autores

144
Direito Agrário

que essa lista é meramente exemplificativa, pois com o rápido


avanço dos dias atuais não há como se ficar adstrito a uma
listagem que estará rapidamente desatualizada.

Conforme a Resolução nº 237/1997 do CONAMA,


licenciamento ambiental é um ato administrativo pelo qual o
órgão ambiental competente licencia a localização, instalação,
ampliação e a operação de empreendimentos e atividades
utilizadoras dos recursos ambientais, consideradas efetiva ou
potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma,
possam causar degradação ambiental, considerando as disposições
legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso.

Deste conceito é possível deduzir que o licenciamento é


constituído de uma série de atos administrativos tendentes a um
resultado conclusivo, que é a licença ambiental.

Machado (1999) afirma que é consenso entre a maioria


dos jus-ambientalistas que a administração deveria expedir
autorizações ambientais e não licenças, pois as licenças se
presumem definitivas, e como são atos vinculados gerariam um
direito subjetivo ao interessado, não restando comportamento à
Administração Pública senão concedê-la.

Já a autorização tem caráter precário, em que o poder público,


com discricionariedade, avalia e decide sobre a conveniência ou
não, licenciar ou cessar o ato que fora autorizado. Concluímos que
a complexidade da questão ecológica demanda respostas rápidas
aos problemas ambientais resultantes da evolução da ciência e
da tecnologia, vindo a reforçar a ideia de que a Administração
deverá gozar de poder discricionário para analisar cada caso e
escolher a melhor alternativa, garantindo que seja realizado o
interesse público superior, que é a preservação do meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo.

Para Meirelles (1998), a licença é um ato administrativo


vinculado e definitivo pelo qual o poder público,
verificando que o interessado atendeu a todas exigências
legais, faculta-lhe o desempenho de atividades ou a
realização de fatos materiais antes vedados ao particular,
como o exercício de uma profissão ou a construção de
um edifício em terreno próprio.

Unidade 4 145
Universidade do Sul de Santa Catarina

O termo “autorização” seria mais adequado por trazer a ideia


precariedade. O que aconteceu foi um descuido por parte do
legislador. Na prática, a distinção entre atos de vinculação e
discricionariedade administrativa é clara: a licença é uma espécie
de ato vinculado e a autorização é um tipo de ato discricionário.

Segundo a Resolução n° 001/1986 do CONAMA, “impacto


ambiental é qualquer alteração das propriedades físicas, químicas
e/ou biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma
de matéria ou energia resultante das atividades humanas que
direta ou indiretamente, afetam a saúde, a segurança e o bem-
estar da população, as atividades sociais e econômicas, a biota, as
condições estéticas e sanitárias do meio ambiente, e a qualidade
dos recursos ambientais”.

As definições existentes baseiam-se em uma lógica do tipo


ação-reação, a qual não consegue traduzir a complexidade da
dinâmica ambiental. Podem ser evidenciadas duas dificuldades
básicas neste tipo de conceituação. A primeira consiste na própria
identificação das fronteiras do impacto, já que o mesmo se
propaga espacial e temporalmente através de uma complexa rede
de inter-relações. A segunda dificuldade reside nas deficiências
instrumentais e metodológicas para predizer as respostas dos
ecossistemas às ações humanas.

A definição deve seguir a orientação da Constituição Federal


de 1988, em que o impacto ambiental não consiste em
qualquer alteração do meio ambiente, mas em uma significativa
degradação das condições ambientais, ou seja, deve haver uma
alteração drástica e de efeitos negativos à qualidade ambiental.
Contudo, caberá ao órgão público ambiental definir o que venha
a ser “significativa degradação” (dano) quando da análise dos
projetos que envolvam as atividades potencialmente poluidoras.

O cerne do problema nos parece estar situado na questão


do entendimento correto do conceito do dano ambiental. A
referência ao conceito do dano ambiental volta à tona na lei
processual sobre a Ação Civil Pública. É pacífico na doutrina que
a questão do que seja um dano ao meio ambiente é respondida
pela legislação material referente à proteção ambiental.

146
Direito Agrário

Portanto, não basta a simples opinião pessoal do aplicador


do direito (agente administrativo, promotor, juiz) que certo
comportamento “faz mal ao meio ambiente”; sempre deve haver
uma norma que proíbe certa atividade ou protege determinado
bem ecológico. É claro, que no ato da subsunção dos fatos ao
texto da norma sempre vai haver influência da atitude pessoal.

No art. 3º, III, da Lei nº 6.938/1981 da Política Nacional do


Meio Ambiente, o conceito de poluição está sendo definido de
maneira extremamente ampla, como “degradação da qualidade
ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente
prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
afetem desfavoravelmente a biota; afetem as condições estéticas
ou sanitárias do meio ambiente, lancem matérias ou energia em
desacordo com os padrões ambientais estabelecidos”.

Podemos afirmar que, onde existir poluição no sentido do art.


3º, III, da Lei n° 6.938/1981, muitas vezes vai haver também
um dano ambiental de acordo com o art. 1º, inciso I, da Lei
n° 7.347/1985, visto que a definição do conceito de dano da lei
processual se rege pelas normas do direito ambiental material.
Portanto, nem toda alteração negativa do meio ambiente pode ser
qualificada como poluição ou dano.

Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto


Ambiental (EIA/RIMA)
O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto
Ambiental (RIMA) apresentam algumas diferenças. O estudo
é de maior abrangência que o relatório e o engloba em si mesmo
(MILARÉ, 2000).

O estudo de impacto ambiental compreende o levantamento


da literatura científica e legal pertinente, trabalhos de campo,
análises de laboratório e a própria redação do relatório. Por
isso, diz o art. 9° da Resolução n° 001/1986 CONAMA que o
“Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) refletirá as conclusões
do estudo de impacto ambiental”, ficando patenteado que o EIA
precede o RIMA, e é seu alicerce de natureza imprescindível.

Unidade 4 147
Universidade do Sul de Santa Catarina

O relatório transmite por escrito as atividades totais do Estudo


de Impacto Ambiental, importando se acentuar que não se pode
criar uma parte trans­parente das atividades (o RIMA) e uma
parte não transparente das atividades (o EIA). Dissociado do
EIA, o RIMA perde a validade.

O EIA surge como uma medida obrigatória destinada a realizar


os objetivos da PNMA. A Resolução nº 237/1997, art. 1º, III, do
CONAMA, define estudos ambientais como:

Todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos


ambientais relacionados à localização, instalação,
operação e ampliação de uma atividade ou
empreendimento, apresentado como subsídio para
a análise da licença requerida, tais como: relatório
ambiental, plano e projeto de controle ambiental,
relatório ambiental preliminar, diagnóstico ambiental,
plano de manejo, plano de recuperação de área degradada
e análise preliminar de risco.

Já o EIA, de acordo com a mesma resolução do CONAMA, é


definido como:

Um conjunto de atividades científicas e técnicas que


incluem o diagnóstico ambiental, a identificação, previsão
e medição dos impactos, sua interpretação e valoração e
a definição de medidas mitigadoras e de programas de
monitorização destes.

O EIA surgiu no Brasil por exigência de órgãos financiadores


internacionais. Sua primeira previsão legal ocorreu na Lei
n° 6.803/1980 como condição indispensável à implantação
de zonas estritamente industriais destinadas à localização
de polos petroquímicos, cloroquímicos, carboquímicos e
instalações nucleares. Essa lei instituiu as diretrizes básicas
para o zoneamento industrial nas áreas críticas de poluição e
determinou que para a aprovação de zonas para uso estritamente
industrial seriam precedidas de estudos das alternativas ao
projeto e da avaliação de impactos ambientais, o que geraria mais
confiabilidade nas soluções adotadas.

O Estudo de Impacto Ambiental, segundo a Constituição


Federal de 1988, deve ser anterior à autorização da obra e/

148
Direito Agrário

ou autorização da atividade. Assim, esse Estudo não pode ser


concomitante e nem posterior à obra ou atividade. Contudo,
a cada licenciamento da atividade poder-se-á exigir um novo
estudo.

A regra da Constituição não prevê casuisticamente os estudos


de impacto, nem estabelece o procedimento desse instituto
jurídico; deixa essa tarefa para a legislação ordinária. A norma
constitucional diferencia instalação de obra e funcionamento de
atividade. Para ambas pode ser exigido o Estudo de Impacto
Ambiental, desde que haja possibilidade de degradação
significativa do meio ambiente. O Estudo de Impacto Ambiental
tem como uma de suas caracte­rísticas a publicidade.

O EIA tem como objetivo principal conciliar a busca pelo


desenvolvimento econômico com a proteção das condições
ambientais, procurando, por meio de estudo prévio, avaliar
os impactos ambientais trazidos por novos empreendimentos,
condição indispensável ao licenciamento de atividades
potencialmente poluidoras.

De nada valerá o Estudo se forem impostas à sociedade que,


muitas vezes desejosa de oportunidades de emprego, aspira pela
instalação de empreendimentos, a forma de atuação e o local
onde os empreendimentos serão realizados. O EIA não cumprirá
com seus objetivos de maneira integral.

O Decreto nº 99.274/1990 (art. 17, § 1°) e a Resolução nº


001/1986 do CONAMA (arts. 5°, 6° e 9°) dispõem sobre o
conteúdo do EIA, que deve apresentar:

»» diagnóstico ambiental da área que será afetada pelo


projeto, devendo apresentar o levantamento e a
análise dos recursos ambientais do local de influência
do empreendimento, considerando aspectos físicos,
biológicos e sócio-econômicos. Este diagnóstico é
anterior ao EIA, no qual é feito um estudo da realidade
do local, sem que sejam consideradas as alterações
decorrentes da implementação do empreendimento.
Lembre-se que a área de influência do projeto
compreende todo o espaço afetado, podendo transcender
as fronteiras de um município, estado ou país;

Unidade 4 149
Universidade do Sul de Santa Catarina

»» descrição da ação proposta, suas alternativas,


identificação, análise e previsão dos impactos ambientais
positivos e negativos;
»» medidas mitigadoras desses impactos, sugerindo
que sejam instalados equipamentos de prevenção de
poluição e medidas compensatórias, caso os danos sejam
irreversíveis;
»» programa de acompanhamento e monitoramento dos
impactos causados pelo projeto, o monitoramento deverá
ser feito depois de licenciado o empreendimento, porém
ele deverá vir previsto e especificado já por ocasião do
EIA.

O Relatório de Impacto Ambiental (RIMA)


O Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) é o documento
que apresenta os resultados dos estudos técnicos e científicos
do estudo de impacto ambiental. Constitui um documento do
processo de avaliação de impacto ambiental e deve esclarecer
todos os elementos da proposta em estudo, de modo que
possam ser divulgados e apreciados pelos grupos sociais
interessados e por todas as instituições envolvidas na tomada
de decisão. O Decreto nº 88.351, de 1° de junho de 1983, ao
regulamentar a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, no § 2°
do art. 18, denomina Relatório de Impacto Ambiental (RIMA)
ao documento que será constituído pelo Estudo de Impacto
Ambiental a ser exigido para fins de licenciamento das atividades
modificadoras do meio ambiente.

O RIMA é acessível ao público, estando, portanto, à disposição


de todos os interessados, salvo quando protegido por sigilo
industrial (que deverá ser devidamente justificado). O RIMA
refletirá as conclusões do EIA e conterá:

„„ Os objetivos e justificativas do projeto, sua relação e


compatibilidade com as políticas setoriais, planos e
programas governamentais;

150
Direito Agrário

„„ A descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas


e locacionais, especificando para cada um deles, nas
fases de construção e operação, a área de influência,
as matérias-primas, mão de obra, fontes de energia,
processo e técnicas operacionais, os prováveis efluentes,
emissões, resíduos de energia, os empregos diretos e os
indiretos a serem gerados;
„„ A síntese dos resultados dos estudos de diagnóstico
ambiental da área de influência do projeto;
„„ A descrição dos prováveis impactos ambientais da
implantação e operação da atividade, considerando o
projeto, suas alternativas, os horizontes de tempo de
incidência dos impactos e indicando os métodos, técnicas
e critérios adotados para sua identificação, quantificação
e interpretação;
„„ A caracterização da qualidade ambiental futura da área
de influência, comparando as diferentes situações da
adoção do projeto e suas alternativas, bem como com a
hipótese de sua não realização;
„„ A descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras
previstas em relação aos impactos negativos,
mencionando àqueles que não puderam ser evitados e o
grau de alteração esperado;
„„ O programa de acompanhamento e monitoramento dos
impactos;
„„ Recomendações quanto à alternativa mais favorável
(conclusões e comentários de ordem geral).

O Relatório de Impacto Ambiental está previsto no art. 9°


da Resolução nº 001/1986 do CONAMA, e é um resumo do
EIA, elaborado em linguagem menos técnica, facilitando a
compreensão.

Alguns elementos são subjetivos no EIA/RIMA, sendo estes os


atores envolvidos em todo o processo do estudo: o proponente do

Unidade 4 151
Universidade do Sul de Santa Catarina

projeto – a pessoa física ou jurídica, pública ou privada (titular da


obra cujo licenciamento está condicionado à realização do EIA/
RIMA), uma equipe multidisciplinar, os cidadãos, que serão
afetados pelo projeto, e o órgão licenciador, geralmente estadual,
de controle ambiental.

Segundo a Resolução nº 001/1986, a equipe multidisciplinar


deve ter independência quanto ao proponente do projeto, fato que
não ocorre, pois sendo contratada por esse proponente, procura
obter diagnóstico favorável ao seu projeto.

Em suma, o EIA/RIMA deve preencher os seguintes requisitos


procedimentais para sua plena validade:

„„ A publicidade, princípio garantido pela Constituição


Federal de 1988 (inc. IV, § 1° do art. 225), pelo Decreto
Federal nº 99.274/1990 (§§ 2º e 3º, art. 17) e pela
Resolução nº 001/1986 do CONAMA.
„„ O estudo das alternativas ao projeto que se pretende
licenciar, conforme o Decreto nº 99.274/1990 e
a Resolução nº 001/1986, art. 5°, considerando a
possibilidade de não realizá-lo;
„„ A identificação e a avaliação de impactos ambientais
que serão gerados pela implementação da obra, devendo
contemplar: o diagnóstico ambiental da área de
influência do projeto, a análise dos impactos ambientais
do projeto e suas alternativas, a definição das medidas
mitigadoras dos impactos negativos e a elaboração do
programa de monitoramento dos impactos positivos e
negativos;
„„ A definição dos limites da área de influência do projeto;
„„ Os objetivos e as justificativas do projeto, sua
compatibilidade com as políticas, os planos e programas
governamentais.

A Figura 4.1 mostra a abrangência dos EIAs RIMAs dentro do


usos e apropriação do espaço pelas atividades humanas.

152
Direito Agrário

Meio ambiente
(espaço)

Desenvolvimento
urbano e rural

Meio ambiente Uso e Meio ambiente


biogeoquímico apropriação socioeconômico
do espaço

Físico Biológico Infraestrutura Superestruturas


material sociais
Água Vírus
Ar Protista Água Institucional
Solo Fauna Ar Filosófica
Subsolo Flora Solo Cultural
(natural ou Religiosa
artificial) Imaginária

Função Função
física biológica Necessidades
Necessidades
sociais
Substratos Manutenção físicas
aos sistemas da vida Educação
Alimentação
Participação
Saúde
Trabalho
Saneamento
Bem-estar
Habitação
Liberdades
Vestuário
individuais

Impacto físico Impacto biológico Impacto socioeconômico

Impacto ambiental
Critérios

EIA

Figura 4.1: Diagrama representando o “entorno” de um EIA


Fonte: Verdum (1995).

A população tem na audiência pública um instrumento de


acompanhamento do processo de EIA/RIMA. Entretanto,
podemos dizer que a audiência pública não assegura a
participação da população no processo decisório do EIA/RIMA,
por ser posterior ao EIA.

A audiência pública era prevista na segunda parte do art. 11, § 2°,


da Resolução n° 001/1986 (CONAMA). A Resolução n° 9, de 3
de dezembro de 1987, CONAMA, publicada no Diário Oficial
da União de 5 de julho de 1990, veio disciplinar a matéria. A

Unidade 4 153
Universidade do Sul de Santa Catarina

fase de comentários prevista no art. 11, § 2°, da Resolução n°


001/1986 CONAMA fica mantida.

O art. 1° da Resolução n° 9/1987 refere ter a audiência pública


a finalidade de expor aos interessados o conteúdo do produto
em análise e o do Relatório de Impacto Ambiental, dirimindo
dúvidas e re­colhendo dos presentes as críticas e sugestões a
respeito. Conforme se vê do art. 225, § 1°, IV, da Constituição
Federal, dar-se-á publicidade ao estudo prévio de impacto
ambiental. Assim, a Resolução n° 9, votada em 1987 e só
publicada em 1990, tem que ser entendida à luz da Constituição
Federal vigente. Portanto, não só o RIMA, mas o próprio
estudo prévio de impacto ambiental deve ser analisado na
audiência pública.

Os instrumentos legais de proteção ambiental


Quando o cidadão se defronta com um dano ou impacto
ambiental frequentemente limita-se à insatisfação, seja por
falta de conhecimento legal ou pelo desconhecimento das vias
administrativas que deve procurar para dar consistência às
denúncias.

Todo cidadão, por integrar passiva e ativamente o processo de


composição e integração das relações ambientais, vê-se direta e
indiretamente agredido ao constatar a ocorrência de um dano ou
impacto ambiental.

Tal agressão deve, por força de lei, ser comunicada aos órgãos
públicos competentes, ao Ministério Público e à autoridade
policial.

Se não bastassem as ações pela via administrativa, existem


vários instrumentos jurídicos de tutela ambiental, tais como:
a ação popular ambiental, ação civil pública, o mandado de
segurança coletivo, as ações cautelares, as ações diretas de
inconstitucionalidade e o mandado de injunção.

Todos podem ser propostos em face dos autores ou futuros


autores de atos lesivos ao patrimônio ambiental, vinculado à

154
Direito Agrário

qualidade de vida das gerações presentes e futuras, aos setores


sociais, saúde, justiça, liberdade, trabalho, segurança, educação,
e ao patrimônio cultural. Daí a importância da atuação direta
do direito ambiental como um direito camaleônico, capaz de se
adaptar às mais diversas condições e ramos do direito.

Ação civil pública


Introduzida pela Lei nº 7.347/1985, possui um raio de atuação
bastante abrangente. Trata-se de instrumento judicial voltado às
ações lesivas ao meio ambiente, também regulado pelo art.129,
III, da Constituição Federal.

Geralmente antecedida de um Inquérito Civil Público, é proposta,


na maioria das vezes, pelo Ministério Público, mas sua legitimidade
ativa também se estende às organizações não governamentais
(ONGs), fundações, sociedades de economia mista, empresas
públicas, autarquias, além da União, dos estados e municípios.

Para propô-la, é necessária apenas a comprovação do dano e da


autoria, dispensando-se a análise da culpabilidade.

Ação popular ambiental


Prevista no art. 5º, inciso LXXIII, da Constituição Federal de
1988, confere legitimidade a qualquer cidadão para anular ato
do poder público que lese o meio ambiente ou o patrimônio
ambiental. Aqui a legitimidade cabe ao particular e torna-se
necessária a prova da autoria e ainda do dano causado pelo ato do
poder público.

Ações cautelares
Facultam ao julgador, a concessão de liminares, sem ouvir a parte
contrária, com o objetivo de anular, suspender ou preterir qualquer
ação ou omissão que possa vir a causar danos ambientais. São
situações jurídicas que necessitam da comprovação de ocorrência de

Unidade 4 155
Universidade do Sul de Santa Catarina

dois importantes pressupostos das ações cautelares. O primeiro é o


fumus boni juris (fumaça do bom direito), que preconiza a existência
de necessidade de preservar aquela situação, à vista do bom direito
do requerente, no caso de ele ser ofendido e a situação se perpetuar.
O segundo é o periculum in mora, ou seja, a possibilidade futura
de o requerente vir a sofrer sérios e graves danos e prejuízos com a
ocorrência do fato.

Mandado de segurança coletivo


Aplicado contra ato de autoridade, cuja legitimidade ativa recai
sobre os partidos políticos com representação no Congresso
Nacional, organizações sindicais, entidades de classe ou
associações legalmente constituídas e em funcionamento há pelo
menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou
associados (art. 5º, LXX, da Constituição Federal).

Mandado de injunção
Medida judicial atribuída a situações onde inexistam normas
regulamentadoras, para que se possa assegurar o cumprimento
dos dispositivos constitucionais.

Existem outros instrumentos de tutela ambiental que não se


vinculam à via judicial, mas regem-se pela via administrativa,
tendo grande influência no processo de tutela ambiental.
São exemplos vivos desta tutela o Estudo Prévio de Impacto
Ambiental, o Inquérito Civil Público, o Relatório de Impacto
Ambiental, os zoneamentos ambientais, dentre outros.

Atualmente, pode-se ainda dispor de direitos assegurados


expressamente em nossa Constituição Federal, tais como:
o direito de petição, garantindo aos cidadãos o acesso às
informações ambientais dos órgãos públicos, cumulando com
o direito de certidão. Mas não basta a plena existência destes
instrumentos se inexiste uma consciência ambiental adequada aos
novos princípios de sustentabilidade.

156
Direito Agrário

A participação das organizações não governamentais (ONGs) no


processo de conscientização ambiental é de grande importância.
No mundo jurídico, torna-se imprescindível a capacitação
e adequação dos juristas, promotores de justiça, juízes,
desembargadores, procuradores e advogados, para que possam
fundamentar seus entendimentos com base no testemunho
das comunidades locais e nas próprias práticas modernas e
sustentáveis de produção.

Com este estímulo, o acesso popular às informações deve ser


incentivado por outros setores, sobretudo com o auxílio da
imprensa, pois esses direitos são assegurados pela Constituição
da República e devem ser exercidos de forma plena. Portanto,
a própria fiscalização por parte do público constitui fator de
influência ao princípio da precaução, preconizado na Declaração
Internacional Rio 92.

Se o conhecimento e acesso às informações ambientais forem


estendidos, sobretudo àqueles diretamente relacionados com
os recursos naturais, haverá maior preocupação por parte
das grandes indústrias em adequar seus produtos e meios
de produção aos modernos modelos sustentáveis. Portanto,
a informação popular constitui, sim, um grande fator que
poderá ajudar a conservação dos recursos naturais e assegurar
os direitos ancestrais referentes ao conhecimento local das
pequenas comunidades.

Previsão legal de compromisso de ajustamento de conduta


em matéria ambiental
O compromisso de ajustamento de conduta é um instrumento
legal utilizável para a proteção do meio ambiente. Por força
do art. 82 da Lei Federal n° 8.078/1990 (Código de Defesa do
Consumidor) combinado com o art. 5°, § 6°, da Lei Federal n°
7.347/1985 (Lei da Ação Civil Pública), podem utilizar-se desse
instrumento todas as instituições e entidades legitimadas, quais
sejam, o Ministério Público, a União, os Estados, os municípios
e o Distrito Federal, as entidades e órgãos da Administração
Pública direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica,

Unidade 4 157
Universidade do Sul de Santa Catarina

especificamente destinados à defesa do meio ambiente e as


associações legalmente constituídas há pelo menos um ano.

Sempre que uma pessoa, física ou jurídica, praticar um ato


contrário à legislação, ocorrendo dano ou ameaça de dano
ao meio ambiente, quaisquer das entidades ou instituições
legitimadas poderão formalizar o termo de ajustamento de
conduta com o agente poluidor, para que esse se obrigue a ajustar
a sua conduta nos moldes legais. O compromisso de ajustamento
é um meio através do qual há um acordo onde uma parte se
compromete a ajustar sua conduta conforme exigências legais.

O compromisso de ajustamento de conduta serve para que as


entidades ou instituições legitimadas obtenham um documento
através do qual o poluidor se obrigue a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa em observância à legislação ambiental. Este
documento, que tem força de título executivo extrajudicial,
substitui a necessidade da propositura de ação judicial para ver o
poluidor responsabilizado pela sua conduta. O descumprimento
do compromisso, por si só, autoriza a ação executiva.

O Portal Nacional de Licenciamento Ambiental (PNLA)


é uma ferramenta disponibilizada pelo Ministério do
Meio Ambiente para divulgar informações relacionadas
aos procedimentos do licenciamento ambiental,
possibilitar a transparência desses processos de gestão
pública e fortalecer o controle social.

A obrigação do poluidor em cumprir o compromisso


de ajustamento de conduta é um dever legal
e contratual. Legal, porque a possibilidade da
formalização do compromisso decorre da lei; e,
contratual, porque a obrigação contraída pelo
poluidor decorreu de um acordo, de um contrato.

158
Direito Agrário

Seção 4 – Contratos agrários


Para darmos início à exploração do tema Contratos Agrários há que
se invocar a previsão do atual Código Civil brasileiro em seu art. 421,
o qual aponta: “A liberdade de contratar será exercida em razão e nos
limites da função social do contrato”.

Pois bem, o princípio acima exposto acaba por refletir o pensamento


inicial do Estatuto da Terra, como assim é denominada a Lei nº
4.504/1964, a qual regula os direitos e obrigações concernentes a bens
imóveis rurais, para fins de execução da Reforma Agrária e promoção
da Política Agrícola.

O art. 2° do Estatuto da Terra aponta textualmente:


Art. 2° É assegurada a todos a oportunidade de acesso à
propriedade da terra, condicionada pela sua função social,
na forma prevista nesta Lei.
§ 1° A propriedade da terra desempenha integralmente a
sua função social quando, simultaneamente:
a) favorece o bem-estar dos proprietários e dos
trabalhadores que nela labutam, assim como de suas
famílias;
b) mantém níveis satisfatórios de produtividade;
c) assegura a conservação dos recursos naturais;
d) observa as disposições legais que regulam as justas
relações de trabalho entre os que a possuem e a cultivem.

Atualmente, a Lei nº 4.504/1964 regula os contratos agrários


nos arts. 92 a 96, além das regras estabelecidas pela Lei nº
4.947/1966, por força dos arts. 13 a 15, sendo que o regulamento
desta matéria está previsto no Decreto nº 59.566/1966.

Mas é sempre bom lembrarmos que as disposições do Código


Civil continuam sendo de aplicação subsidiária, como preceitua
o próprio texto do Estatuto da Terra. O art. 92 deste Estatuto

Unidade 4 159
Universidade do Sul de Santa Catarina

aponta que a posse ou uso temporário da terra serão exercidos


em virtude de contrato expresso ou tácito, estabelecido entre o
proprietário e os que nela exercem atividade agrícola ou pecuária,
sob forma de arrendamento rural, de parceria agrícola, pecuária,
agroindustrial e extrativa, nos termos desta Lei.

A palavra tácito vem do latim tacitus, que significa


“não expresso por palavras”, sendo que no caso em
específico, a ausência de contrato não poderá elidir
a aplicação dos princípios estabelecidos no Estatuto
da Terra.

Além disso, o proprietário deverá garantir ao arrendatário


ou parceiro o uso e gozo do imóvel arrendado ou cedido em
parceria.

Já quanto aos preços de arrendamento e de parceria os


mesmos deverão ser fixados em contrato e serão reajustados
periodicamente, de acordo com os índices aprovados pelo
Conselho Nacional de Economia.

Nos casos em que ocorra exploração de produtos


com preço oficialmente fixado, a relação entre os
preços reajustados e os iniciais não pode ultrapassar a
relação entre o novo preço fixado para os produtos e o
respectivo preço na época do contrato, obedecidas as
normas do regulamento desta Lei.

É interessante salientar que durante a vigência dos contratos


de arrendamento ou de parceria, caso ocorra a alienação ou
a imposição de ônus real ao imóvel, isso não interromperá
a vigência dos contratos, ficando o adquirente sub-rogado
nos direitos e obrigações do alienante. Sendo ainda que o
arrendatário terá preferência para adquiri-lo em igualdade de
condições, devendo o proprietário dar-lhe conhecimento da
venda a fim de que possa exercitar o direito de perempção dentro
de 30 dias, a contar da notificação judicial ou comprovadamente
efetuada, mediante recibo.

160
Direito Agrário

No instante em que ocorrer o inadimplemento das obrigações


assumidas por quaisquer das partes dará lugar, facultativamente,
à rescisão do contrato de arrendamento ou de parceria.

A lei deixa claro que ao proprietário é vedado exigir do


arrendatário ou do parceiro:

a) prestação de serviço gratuito;


b) exclusividade da venda da colheita;
c) obrigatoriedade do beneficiamento da produção em seu
estabelecimento;
d) obrigatoriedade da aquisição de gêneros e utilidades em
seus armazéns ou barracões;
e) aceitação de pagamento em “ordens”, “vales”, “borós” ou
outras formas regionais substitutivas da moeda.

É vedado o contrato de arrendamento ou parceria na exploração


de terras de propriedade pública, sendo que, excepcionalmente,
poderão ser arrendadas ou dadas em parceria terras de
propriedade pública, quando envolver razões de segurança
nacional; áreas de núcleos de colonização pioneira, na sua fase de
implantação, forem organizadas para fins de demonstração; forem
motivo de posse pacífica e a justo título, reconhecida pelo poder
público, antes da vigência do Estatuto da Terra.

Já no que diz respeito ao arrendamento rural, observar-se-ão os


seguintes princípios:

I – os prazos de arrendamento terminarão sempre depois


de ultimada a colheita, inclusive a de plantas forrageiras
temporárias cultiváveis. No caso de retardamento da
colheita por motivo de força maior, considerar-se-ão
esses prazos prorrogados nas mesmas condições, até sua
ultimação;
II – presume-se feito, no prazo mínimo de três anos, o
arrendamento por tempo indeterminado, observada a
regra do item anterior;
III – o arrendatário, para iniciar qualquer cultura cujos
frutos não possam ser recolhidos antes de terminado o
prazo de arrendamento, deverá ajustar, previamente, com

Unidade 4 161
Universidade do Sul de Santa Catarina

o arrendador a forma de pagamento do uso da terra por


esse prazo excedente;
IV – em igualdade de condições com estranhos,
o arrendatário terá preferência à renovação do
arrendamento, devendo o proprietário, até 6 (seis) meses
antes do vencimento do contrato, fazer-lhe a competente
notificação extrajudicial das propostas existentes. Não
se verificando a notificação extrajudicial, o contrato
considera-se automaticamente renovado, desde que o
arrendador, nos 30 (trinta) dias seguintes, não manifeste
sua desistência ou formule nova proposta, tudo mediante
simples registro de suas declarações no competente
Registro de Títulos e Documentos;
V – os direitos assegurados no inciso IV do caput deste
artigo não prevalecerão se, no prazo de 6 (seis) meses
antes do vencimento do contrato, o proprietário, por
via de notificação extrajudicial, declarar sua intenção
de retomar o imóvel para explorá-lo diretamente ou por
intermédio de descendente seu;
VI – sem expresso consentimento do proprietário é
vedado o subarrendamento;
VII – poderá ser acertada, entre o proprietário e
arrendatário, cláusula que permita a substituição de área
arrendada por outra equivalente no mesmo imóvel rural,
desde que respeitadas as condições de arrendamento e os
direitos do arrendatário;
VIII – o arrendatário, ao termo do contrato, tem direito
à indenização das benfeitorias necessárias e úteis;
será indenizado das benfeitorias voluptuárias quando
autorizadas pelo proprietário do solo; e, enquanto
o arrendatário não for indenizado das benfeitorias
necessárias e úteis, poderá permanecer no imóvel, no uso
e gozo das vantagens por ele oferecidas, nos termos do
contrato de arrendamento e das disposições do inciso I
deste artigo;
IX – constando do contrato de arrendamento animais de
cria, de corte ou de trabalho, cuja forma de restituição
não tenha sido expressamente regulada, o arrendatário é
obrigado, findo ou rescindido o contrato, a restituí-los em
igual número, espécie e valor;
X – o arrendatário não responderá por qualquer
deterioração ou prejuízo a que não tiver dado causa;
XI – na regulamentação desta Lei, serão complementadas
as seguintes condições que, obrigatoriamente, constarão
dos contratos de arrendamento:

162
Direito Agrário

a) limites da remuneração e formas de pagamento em


dinheiro ou no seu equivalente em produtos;
b) prazos mínimos de arrendamento e limites de vigência
para os vários tipos de atividades agrícolas;
c) bases para as renovações convencionadas;
d) formas de extinção ou rescisão;
e) direito e formas de indenização ajustadas quanto às
benfeitorias realizadas;
XII – a remuneração do arrendamento, sob qualquer
forma de pagamento, não poderá ser superior a 15%
(quinze por cento) do valor cadastral do imóvel, incluídas
as benfeitorias que entrarem na composição do contrato,
salvo se o arrendamento for parcial e recair apenas em
glebas selecionadas para fins de exploração intensiva de
alta rentabilidade, caso em que a remuneração poderá ir
até o limite de 30% (trinta por cento);
XIII – a todo aquele que ocupar, sob qualquer forma de
arrendamento, por mais de cinco anos, um imóvel rural
desapropriado, em área prioritária de Reforma Agrária, é
assegurado o direito preferencial de acesso à terra.

A Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001, instituiu


o Programa de Arrendamento Rural, destinado ao
atendimento complementar de acesso à terra por
parte dos trabalhadores rurais qualificados para
participar do Programa Nacional de Reforma Agrária,
na forma estabelecida em regulamento. Os imóveis
que integrarem o Programa de Arrendamento Rural
não serão objeto de desapropriação para fins de
reforma agrária enquanto se mantiverem arrendados,
desde que atendam aos requisitos estabelecidos em
regulamento próprio.

No que se refere à parceria agrícola, pecuária, agroindustrial e


extrativa, deverão ser observados os seguintes princípios:

I – o prazo dos contratos de parceria, desde que não


convencionados pelas partes, será no mínimo de três
anos, assegurado ao parceiro o direito à conclusão da
colheita;
II – expirado o prazo, se o proprietário não quiser
explorar diretamente a terra por conta própria, o

Unidade 4 163
Universidade do Sul de Santa Catarina

parceiro em igualdade de condições com estranhos, terá


preferência para firmar novo contrato de parceria;
III – as despesas com o tratamento e criação dos animais,
não havendo acordo em contrário, correrão por conta do
parceiro tratador e criador;
IV – o proprietário assegurará ao parceiro que residir no
imóvel rural, e para atender ao uso exclusivo da família
deste, casa de moradia higiênica e área suficiente para
horta e criação de animais de pequeno porte [...];

Pelo Estatuto da Terra, serão complementadas, conforme o


caso, as seguintes condições, que constarão, obrigatoriamente,
dos contratos de parceria agrícola, pecuária, agroindustrial ou
extrativa:

a) quota-limite do proprietário na participação dos


frutos, segundo a natureza de atividade agropecuária e
facilidades oferecidas ao parceiro;
b) prazos mínimos de duração e os limites de vigência
segundo os vários tipos de atividade agrícola;
c) bases para as renovações convencionadas;
d) formas de extinção ou rescisão;
e) direitos e obrigações quanto às indenizações por
benfeitorias levantadas com consentimento do
proprietário e aos danos substanciais causados pelo
parceiro, por práticas predatórias na área de exploração
ou nas benfeitorias, nos equipamentos, ferramentas e
implementos agrícolas a ele cedidos;
f) direito e oportunidade de dispor sobre os frutos
repartidos.

No tocante à participação dos frutos da parceria, a quota do


proprietário não poderá ser superior a:

a) vinte por cento (20%), quando concorrer apenas com a


terra nua;
b) vinte e cinco por cento (25%), quando concorrer com a
terra preparada;

164
Direito Agrário

c) trinta por cento (30%), quando concorrer com a terra


preparada e moradia;
d) quarenta por cento (40%), caso concorra com o conjunto
básico de benfeitorias, constituído especialmente de casa;
e) cinquenta por cento (50%), caso concorra com a terra
preparada e o conjunto básico de benfeitorias enumeradas
na alínea d deste inciso e mais o fornecimento de
máquinas e implementos agrícolas, para atender aos
tratos culturais, bem como as sementes e animais de
tração, e, no caso de parceria pecuária, com animais de
cria em proporção superior a 50% (cinquenta por cento)
do número total de cabeças objeto de parceria;
f) setenta e cinco por cento (75%), nas zonas de pecuária
ultraextensiva em que forem os animais de cria em
proporção superior a 25% (vinte e cinco por cento)
do rebanho e onde se adotarem a meação do leite e a
comissão mínima de 5% (cinco por cento) por animal
vendido;
g) nos casos não previstos nas alíneas anteriores, a quota
adicional do proprietário será fixada com base em
percentagem máxima de dez por cento do valor das
benfeitorias ou dos bens postos à disposição do parceiro;

Enfim, aplicam-se à parceria agrícola, pecuária, agropecuária,


agroindustrial ou extrativa as normas pertinentes ao
arrendamento rural, no que couber, bem como as regras do
contrato de sociedade, no que não estiver regulado pelo próprio
Estatuto da Terra.

Para contratos que prevejam o pagamento do


trabalhador, parte em dinheiro e parte percentual na
lavoura cultivada, ou gado tratado, são considerados
simples locação de serviço, regulada pela legislação
trabalhista, sempre que a direção dos trabalhos seja
de inteira e exclusiva responsabilidade do proprietário,
locatário do serviço a quem cabe todo o risco,
assegurando-se ao locador, pelo menos, a percepção
do salário-mínimo no cômputo das duas parcelas.

Unidade 4 165
Universidade do Sul de Santa Catarina

O Estatuto da Terra aponta inclusive detalhes e formas


relacionadas às cobranças entre o proprietário e o parceiro,
apontando que o proprietário poderá sempre cobrar do parceiro,
pelo seu preço de custo, o valor de fertilizantes e inseticidas
fornecidos no percentual que corresponder à participação deste, em
qualquer modalidade de parceria prevista no próprio Estatuto.

Ainda durante a análise do Estatuto da Terra, podemos


conceituar parceria rural com sendo o contrato agrário pelo qual
uma pessoa se obriga a ceder a outra, por tempo determinado
ou não, o uso específico de imóvel rural, de parte ou partes dele,
incluindo, ou não benfeitorias, outros bens e/ou facilidades,
com o objetivo de nele ser exercida atividade de exploração
agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa vegetal ou mista; e/
ou lhe entrega animais para cria, recria, invernagem, engorda
ou extração de matérias-primas de origem animal, mediante
partilha, isolada ou cumulativamente.

Contratualmente, no caso da parceria rural poderão ser


contemplados os seguintes riscos inerentes à atividade:

a) caso fortuito e de força maior do empreendimento rural;


b) dos frutos, produtos ou lucros havidos nas proporções
que estipularem;
c) variações de preço dos frutos obtidos na exploração do
empreendimento rural.

Além disso, as partes contratantes poderão estabelecer a


prefixação, em quantidade ou volume, do montante da
participação do proprietário, desde que, ao final do contrato,
seja realizado o ajustamento do percentual pertencente ao
proprietário, de acordo com a produção.

Eventual adiantamento do montante prefixado não


descaracteriza o contrato de parceria.

166
Direito Agrário

Os contratos que prevejam o pagamento do trabalhador, parte em


dinheiro e parte em percentual na lavoura cultivada ou em gado
tratado, são considerados simples locação de serviço, regulada
pela legislação trabalhista, sempre que a direção dos trabalhos
seja de inteira e exclusiva responsabilidade do proprietário,
locatário do serviço a quem cabe todo o risco, assegurando-se ao
locador, pelo menos, a percepção do salário mínimo no cômputo
das 2 (duas) parcelas. Este caso não se aplica aos contratos de
parceria agroindustrial, de aves e suínos, que serão regulados por
lei específica.

MODELO DE CONTRATO DE ARRENDAMENTO RURAL PARA


FINS DE EXPLORAÇÃO PECUÁRIA
Pelo presente instrumento particular de arrendamento de imóvel
rural para fins de exploração de pecuária, de um lado, ... (nome
completo e por extenso do dono das terras), nacionalidade ...,
estado civil ..., profissão ..., CIC nº ..., Cédula de Identidade RG
nº..., residente e domiciliado à ... (localização do domicílio), nesta
cidade e Estado, de ora em diante chamado simplesmente de
ARRENDADOR, e de outro lado ... (nome completo e por extenso),
nacionalidade..., estado civil..., profissão..., CIC nº..., Cédula de
Identidade RG nº ..., residente e domiciliado à ... (localização do
domicílio), neste mesmo município e Estado, de ora em diante
chamado simplesmente de ARRENDATÁRIO, têm, entre si, como
justo e contratado o que se segue:
1º – O ARRENDADOR é proprietário da fazenda (ou sítio)
denominada ..., situada no Bairro de ..., município de ..., Estado
de ..., conforme título de propriedade (ou de posse) (descrever
detalhadamente o título de posse, inclusive o cadastro do INCRA).
2º – O ARRENDADOR cede para o ARRENDATÁRIO uma gleba de
terra com área de ... alqueires ou ... hectares, para exploração de
pecuária (cria, recria, engorda).
3º – A área arrendada consiste em invernada(s) ou pasto(s)
formado(s) com capim (colonião, jaraguá, catingueiro etc.), ou
grama, toda cercada com arame farpado de três ou quatro fios,
em perfeitas condições de conservação. A área referida está
dividida em duas (ou mais) glebas, devidamente cercadas, com as
dimensões seguintes: (discriminá-las com suas características).

Unidade 4 167
Universidade do Sul de Santa Catarina

4º – O presente contrato é feito pelo prazo de ... anos, ou ...


meses, iniciando sua vigência a partir da data de sua assinatura,
até o dia ... de ..., quando o ARRENDATÁRIO, deverá restituir a
gleba arrendada, completamente desocupada, bem como as
casas, galpões, mangueiras etc., cedidos pelo ARRENDADOR.
5º – O preço do arrendamento será de R$ ... (valor por extenso)
por ano contratual, e o pagamento deverá ser feito até o dia ... de
... de ... .
6º – O ARRENDADOR também cede ao ARRENDATÁRIO casa de
moradia para seu uso, casa para campeiro, depósito, mangueira,
galpões etc. que por eles deve pagar a quantia anual de R$ ... (por
extenso) a título de aluguel (ou que por eles não pagará aluguel,
mas terá o encargo de bem conservá-los e mantê-los no estado
em que os recebeu).
7º – O número de cabeças de gado a ser colocado nas pastagens
não pode ultrapassar a ... (quantidade e por extenso) por alqueire
ou por hectare, a fim de que não ocorra o pisoteio intensivo e
prejudicial ao capim.
8º – Para preservação das pastagens, o pastoreio deve obedecer
às seguintes normas: cada pasto ou gleba da invernada deve
descansar (30, 40 ou 60) dias após ter sido utilizado em período
nunca inferior a (60, 80, 90, 100) dias, sendo, pois, obrigatória a
rotação das pastagens.
9º – O ARRENDATÁRIO não pode transferir o presente contrato,
subarrendar, ceder ou emprestar o imóvel ou parte dele, sem
prévio e expresso consentimento do ARRENDADOR, bem como
não pode mudar a destinação do imóvel expressa neste contrato.
A violação desta cláusula importará na extinção do contrato e,
consequentemente, despejo do ARRENDATÁRIO.
10º – O preço do arrendamento será reajustado anualmente de
acordo com o índice de correção monetária específico divulgado,
ou de acordo com o índice de majoração no ITR estabelecido
pelo INCRA.
11º – Fica eleito o Foro da Comarca de ... para solucionar qualquer
questão judicial decorrente deste contrato, inclusive para as
ações de despejo e de cobrança de aluguel, se necessárias.

168
Direito Agrário

E por estarem as partes, ARRENDANTE e ARRENDATÁRIO, em


pleno acordo com tudo quanto se encontra disposto neste
instrumento particular, assinam-no na presença das duas
testemunhas abaixo, em 2 (duas) vias de igual teor e forma,
destinando-se uma via para cada uma das partes interessadas.
Local, . . . . de . . . . . . . . . . . . . . . . . . de 20__.

Arrendadora Arrendatária

Testemunhas:

1ª 2ª

Sobre os Contratos Agrários devemos atentar:


São consensuais: os direitos e obrigações das partes
surgem com o simples consentimento das partes,
aperfeiçoando-se com a integração das declarações
de vontade dos declarantes. Porém, para o registro do
contrato e nos casos de financiamento, é evidente e
necessário que sejam feitos por escrito.
Bilaterais: as partes se obrigam reciprocamente, com
interdependência entre as obrigações.
Onerosos: ambas as partes visam a obter benefícios
numa relação de equivalência, com obrigações
de ambas as partes, o que apenas não ocorre no
comodato, não regulado pela legislação específica.
Comutativos: há benefícios recíprocos certos, numa
relação de equivalência das prestações.
De trato sucessivo: as obrigações são continuadas e
não se esgotam numa simples operação de crédito.

Unidade 4 169
Universidade do Sul de Santa Catarina

Formais: ao menos em sua maioria, uma vez que


devem ser escritos e registrados. Contudo, não há
unanimidade neste aspecto, até porque a lei não exige
forma especial para a sua formação e validade.
Maior limitação da liberdade de contratar, porque a
lei estabelece cláusulas obrigatórias e, por outro lado,
direitos e garantias irrenunciáveis, visando proteção à
parte mais fraca.

Síntese

O direito ambiental constitui-se em uma nova realidade jurídica,


se não é o mais conhecido com certeza será o menos ignorado
pela sociedade.

Muitos dos conceitos apontados nesta unidade estão em


constante evolução, não se constituído em paradigmas absolutos,
e sim em fenômenos de constate evolução. Por tal fato se reforça a
necessidade do reconhecimento dos princípios jurídicos aplicados
à tutela jurídico-ambiental no Brasil.

A partir do conjunto de princípios basilares é que se sustentam,


e por isso se tornam eficazes, as normas de proteção ambiental.
Sem a existência e o reconhecimento desses princípios jurídicos
ficaria muito evasiva a aplicabilidade da conduta ambiental de
origem legal, ocasionando com que o desrespeito ambiental se
tornaria o estado natural dos fatores, de maneira extremamente
equivocada pela sociedade.

A importância de reconhecer a aplicabilidade dos princípios do


direito ambiental é diretamente influenciadora no processo de
educação ambiental da sociedade, fazendo com que a prevenção
e a conservação passem a ocupar local de destaque em todas
as atividades com interface ambiental, elevando-se desta

170
Direito Agrário

forma a eficácia desses princípios e atingindo-se a eficácia da


aplicabilidade do direito ambiental brasileiro.

No tocante ao licenciamento ambiental, lembramos que este


procedimento não poderá representar um entrave para o
progresso, mas, por outro lado, deve zelar pelo compromisso
jurídico ambiental com o desenvolvimento sustentável.

Atividades de autoavaliação

1. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade é:


a. ( ) uma autarquia em regime especial.
b. ( ) uma empresa pública.
c. ( ) uma empresa privada.
d. ( ) uma sociedade civil sem fins lucrativos.

2. O Conama pode ser considerado como:


a. ( ) Um órgão centralizador.
b. ( ) Um órgão consultivo e deliberativo.
c. ( ) Um órgão pouco atuante no Brasil.
d. ( ) Um órgão executor da PNMA.

3. A licença ambiental a ser concedida durante a fase do projeto do


empreendimento é conhecida pela sigla:
a. ( ) LAP
b. ( ) LAO
c. ( ) LAI
d. ( ) LAPROJ

Unidade 4 171
Saiba mais

Se você desejar, aprofunde os conteúdos estudados nesta unidade


ao consultar as seguintes referências:

MACHADO, P. A. L. Direito ambiental brasileiro. 13. ed.


São Paulo: Malheiros, 2005.

MILARÉ, E. Direito do ambiente: doutrina, jurisprudência,


glossário. 4. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: RT, 2005.
Para concluir o estudo

Como podemos perceber ao longo de nossos estudos, a


interface entre a produção agropecuária e a legislação é
um caminho longo e trabalhoso a ser percorrido. Excesso
de regras, às vezes, acabam por burocratizar de modo
negativo todo o desenvolvimento de tal operação, tão
fundamental para toda a ordem econômica. 

Ao chegarmos ao final de nossos estudos, mas sem a


pretensão de ter esgotado o assunto, podemos afirmar
que tivemos uma boa noção desta inter-relação, com foco
direto no mundo do agrobussines.

O envolvimento entre o Direito Civil, o Empresarial, o


Constitucional e as Políticas Públicas voltadas ao setor
fizeram parte de nossos estudos, mas lembramos que, de
modo provocativo, no intuito de induzir todos para que
continuem a busca por informações e, acima de tudo,
pelo conhecimento sobre o tema, pois como podemos
perceber, todos os processos, desde a produção, gestão
e comercialização de produtos, de origem agropecuária,
estão à mercê da tutela jurídica.

Professor Rafael Dall´Agnol


Referências

ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Dicionário acadêmico de direito.


São Paulo: Jurídica Brasileira, 1999.
BELAS, Carla Arouca. A Propriedade Intelectual no Âmbito dos
Direitos Difusos. In: IV Seminário Nacional Transe: Patrimônio
Imaterial, Performance Cultural e Retradicionalização, 2003,
Brasília. Patrimônio Imaterial, Performance Cultural e (re)
tradicionalização. Brasília : ICS-UNB, 2003.
BRASIL. Acordo sobre os Aspectos da Propriedade Intelectual
Relativos ao Comércio – TRIPs. Decreto nº 1.355, de 30 de
dezembro de 1994. Regula a ata final que incorpora os resultados
da rodada Uruguai de negociações comerciais multilaterais
do GATT. Disponível em: <http:www.mct.gov.Br/legis/
decretos/1355_94.htm>. Acessado em 13/03/2002.
______ Os direitos de propriedade intelectual e a
biotecnologia. Disponível em <http://www.ambrapa.com.br>
acesso em 31/08/2001.
______. Aquisição por usucapião rural. Lei Nº 6.969 de 10 de
dezembro de 1981. Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso
EM: 25 de janeiro DE 2012.
______. Biotecnologia Simplificada. Viçosa. Visconde do Rio
Branco: 2001. 241p.
______. Código da Propriedade Industrial. Lei nº 9.279, de 14
de maio de 1996.
______. Estatuto da terra. Lei Nº 4.504 de 30 de novembro
de 1964. Disponível em: www.planalto.gov.br. acesso em: 25 de
janeiro de 2012.
______. Lei de Proteção de Cultivares. Lei nº 9.456, de 25 de
abril de 1997. Institui a Lei de Proteção de Cultivares e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF.
______. Lei de proteção de cultivares: como fica o comércio de
sementes e mudas melhoradas. Agropecuária Catarinense, 10(4):58-61.
______. Propriedade Intelectual e a lei de proteção de cultivares.
Simpósio sobre Propriedade Intelectual na agricultura e Proteção de
Cultivares. Brasília: COBRAFI. Anais, 1993. p.161-175.
______. Propriedade Intelectual: a tutela jurídica da biotecnologia. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1998. 316p.
______. Sistemas de proteção de cultivares transgênicas. Informe
Agropecuário, Belo Horizonte, v.21, n.204, p.109-115, maio/jun. 2000.
______. Uma Introdução à Propriedade Intelectual: Biotecnologia e
Propriedade Intelectual: topografias, know how e segredos industriais. V. II
www.nbb.com.br/public/volII.htm acesso em 31/08/2001.
______. UPOV: O Brasil e a Convenção Internacional para a Proteção das
Obtenções Vegetais (UPOV). Disponível em <http://www.biotecnologia.
com.br/bio/3hp_9.htm> acesso em 18 de fev. de 2002.
_______. Código civil anotado. Por Maria Helena Diniz. 9ª ed. aum. e
atual. São Paulo: Saraiva. 2002.
_______. Lei No. 9279, de 14 de maio de 1996.
______A pesquisa científica e as patentes. Biotecnologia Ciência &
Desenvolvimento, Brasília, v.1, n.1, p.16-17, maio 1997.
BUZAID, Alfredo. Ensaio sobre a alienação fiduciária em garantia. RT
401/9-29. São Paulo: Ed. RT, mar. 1969.
MICHELS, I; OLIVEIRA, E, J. Plano de desenvolvimento de Assentamento
Itamarati II. Campo Grande. Incra/Fundação Cândido Rondon, 2006.
MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2000.
OLIVEIRA. Marilisa Montoani de. Contabilidade gerencial: a aplicação
na gestão de microempresas e empresas de pequeno porte. 2008. 71f.
Monografia. Universidade de Taubaté, 2008.
REZECK, José Francisco. Direito internacional público. 7. ed. rev. São
Paulo: Saraiva, 1998.
VERDUM, Roberto; MEDEIROS, Rosa M. Vieira. RIMA - Relatório de
Impactos Ambientais - Legislação, Elaboração e Resultados. 2ª edição.
São Paulo: Editora Moderna, 1995.

176
Sobre o professor conteudista

Possui graduação em Ciências Jurídicas e Sociais


-Direito pela Universidade Luterana do Brasil (1999),
mestrado em Gestão Ambiental pela Engenharia de
Produção da Universidade Federal de Santa Catarina
(2000) e doutorado em Engenharia de Produção
pela Universidade Federal de Santa Catarina (2006)
onde trabalhou a perfornance jurídico ambiental das
organizações produtivas. Atualmente é professor da
Faculdade Estácio de Sá Santa Catarina e advogado
autônomo - proprietário da Dall´Agnol Advogados
Associados. Tem experiência na área jurídica, com
ênfase em Direito Empresarial e Ambiental, atuando
principalmente nos seguintes temas: meio ambiente,
turismo, hotelaria, planejamento e gestão.
Respostas e comentários das
atividades de autoavaliação

Unidade 1
1) Gabarito: alternativa d

2) Gabarito: alternativa c

3) Gabarito: alternativa a

Unidade 2

1) Gabarito: alternativa a

2) Caminho de resposta: patente, marca, desenho industrial,


indicações geográficas e denominação de origem.

Unidade 3

1) Gabarito: a

2) Gabarito: b

3) Gabarito: a

Unidade 4

1) Gabarito: a

2) Gabarito: b

3) Gabarito: a
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alunos a distância:

„„ Pesquisa a publicações on-line


<www.unisul.br/textocompleto>
„„ Acesso a bases de dados assinadas
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„„ Acesso a bases de dados gratuitas selecionadas
<www.unisul.br/bdgratuitas>
„„ Acesso a jornais e revistas on-line
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„„ Empréstimo de livros
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Direito Agrário

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