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HUAMBO - 2020
UNIVERSIDADE JOSE EDUARDO DOS SANTOS
FACULDADE DE DIREITO – HUAMBO
DEPARTAMENTO DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA E PUBLICAÇÕES
HUAMBO - 2020
DEDICATÓRIA
The present work on the theme: The role of the General Labor Inspectorate in the
resolution of labor conflicts in the province of Huambo, aimed in general to systematically
analyze the role that the General Labor Inspectorate must play in the resolution of legal and
labor conflicts in the above province referred to. During the investigation it was noted that
in order to have a labor conflict it is necessary to have a legal - labor relationship and this
can commonly result from an employment contract or a collective labor agreement or
agreement. The predominant conflicts in this part of the country are individual labor
conflicts, for its resolution the General Labor Inspectorate should use mediation as a
mechanism. We begin by presenting in Chapter I an overview of the paper of the labor
inspection in resolution of labor conflicts, II we focus on aspects related to labor conflicts
and mechanisms its resolution, in chapter III the presentation of the collected data and the
respective discussions and finally the conclusions reached.
Folha de rosto……………………………………………………………………………ii
Dedicatória……………………………………………………………………………...iii
Agradecimentos…………………………………………………………………………iv
Resumo………………………………………………………………………………......v
Abstract………………………………………………………………………………….vi
Índice…………………………………………………………………………………...vii
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 12
Problema científico ...................................................................................................... 12
Justificativa .................................................................................................................. 12
Objectivo geral ............................................................................................................ 13
Objectivos específicos ................................................................................................. 13
Modelo de pesquisa ..................................................................................................... 13
Tipo de pesquisa .......................................................................................................... 14
Técnicas de Recolha de dados ..................................................................................... 15
Objecto de estudo ........................................................................................................ 16
Campo de acção ........................................................................................................... 16
População..................................................................................................................... 16
Amostra ....................................................................................................................... 17
CAPÍTULO I ................................................................................................................... 18
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................................. 18
1.1 Inspecção Geral do Trabalho ................................................................................. 18
Generalidades .............................................................................................................. 18
1.1.2 Noção .............................................................................................................. 19
1.1.3 Resenha histórica ............................................................................................ 22
1.1.3.1 História da Inspecção do Trabalho no mundo e da OIT .............................. 22
1.1.3.2 História da Inspecção do Trabalho em Angola ........................................... 25
1.1.4 Natureza jurídica ............................................................................................. 26
1.1.5 Regime jurídico ............................................................................................... 29
1.1.6 Funções e Atribuições da Inspecção Geral do Trabalho ................................. 29
1.1.6.1 Atribuições gerais ........................................................................................ 30
1.1.6.2 Atribuições específicas ................................................................................ 31
1.1.7 Enquadramento da IGT na organização administrativa angolana .................. 31
1.1.7.1 Administração estatal directa ....................................................................... 31
1.1.7.2 Ministérios ................................................................................................... 32
1.1.7.3 Administração periférica .............................................................................. 32
1.1.7.4 Administração local ..................................................................................... 33
1.1.7.5 Órgãos e serviços locais do Estado .............................................................. 34
1.1.8 O reconhecimento do papel da IGT na resolução dos conflitos laborais ........ 36
1.1.8.1 Fase da primeira república (1981 – 2000) ................................................... 36
1.1.8.2 Fase da segunda república (2000 – 2015) .................................................... 38
1.1.8.3 Fase da terceira república............................................................................. 39
CAPÍTULO II ................................................................................................................. 40
DOS CONFLITOS LABORAIS ..................................................................................... 40
2.1.1 Generalidades .................................................................................................. 40
2.1.2 Noção .............................................................................................................. 41
2.1.3 Modalidades dos conflitos de trabalho ........................................................... 42
2.1.4 Causas dos conflitos laborais ......................................................................... 45
2.1.5 Do conflito colectivo em especial ................................................................... 46
2.1.5.1 Modalidades ................................................................................................. 47
2.1.5.2.2 O boicote ................................................................................................... 47
2.1.5.2.3 A greve ...................................................................................................... 50
2.1.5.3.1 Regime jurídico ......................................................................................... 50
2.1.5.3.2 Procedimentos para declarar a greve ........................................................ 50
2.1.5.3.3 Efeitos da greve......................................................................................... 52
2.1.5.3.4 Natureza jurídica da greve ........................................................................ 53
2.2.1 Resolução dos conflitos laborais ..................................................................... 54
2.2.1 Os meios extrajudiciais de resolução de conflitos .......................................... 57
2.2.1.1 Negociação ................................................................................................... 57
2.2.1.2 Conciliação .................................................................................................. 58
2.2.1.3 Arbitragem ................................................................................................... 59
2.2.1.4 Regime jurídico dos meios extrajudiciais de resolução de conflitos ........... 60
2.2.1.4 A mediação dos conflitos laborais .............................................................. 61
2.2.1.4.2 Características basilares da Mediação ...................................................... 61
2.2.1.4.3 Classificação da mediação ........................................................................ 62
2.2.1.4.4 Modelos de mediação ............................................................................... 62
2.2.1.4.5 Princípios reitores da mediação extrajudicial ........................................... 62
2.2.1.5.1 Princípio da voluntariedade ...................................................................... 63
2.2.1.5.2 Princípio da igualdade............................................................................... 63
2.2.1.5.3 Princípio da imparcialidade ...................................................................... 64
2.2.1.5.4 Princípio da legalidade .............................................................................. 64
2.2.1.5.5 Princípio da confidencialidade .................................................................. 64
2.2.1.5.6 Princípio da independência ....................................................................... 65
2.2.1.5.7 Princípio da competência .......................................................................... 65
2.2.1.5.8 Princípio da responsabilidade ................................................................... 65
2.2.1.5.9 Princípio da executoriedade ...................................................................... 65
2.2.1.5.10 Princípio da equidade .............................................................................. 65
2.2.1.5.11 Princípio da boa – fé ............................................................................... 66
2.2.1.5.12 Princípio da cooperação .......................................................................... 66
2.2.1.5.13 Princípio da autonomia da vontade ......................................................... 66
2.2.1.5.14 Princípio da informalidade ...................................................................... 67
2.2.1.5.15 Princípio da oralidade ............................................................................. 67
2.2.1.5. 16 Princípio da auto – composição ............................................................. 67
2.2.1.5.17 Princípio da celeridade ............................................................................ 68
2.2.1.6 Elementos da mediação................................................................................ 68
2.2.1. 7 Procedimentos ............................................................................................. 70
2.2.1.8 Vantagens da mediação................................................................................ 72
2.2.1.9 Mediação versus conciliação ....................................................................... 72
2.2.1.10 Mediação versus arbitragem ...................................................................... 73
CAPÍTULO III ................................................................................................................ 75
APRESENTAÇÃO E ÁNALISE DOS RESULTADOS ................................................ 75
4.1 Apresentação da IGT no Huambo...................................................................... 75
4.2 Apresentação dos dados obtidos durante a Entrevista com a Chefe dos Serviços
provinciais da IGT no Huambo................................................................................ 75
4.2 Pedidos de mediação .......................................................................................... 77
4.3 Resultados do inquérito feito a sete inspectores ................................................ 78
CONCLUSÕES ............................................................................................................... 81
RECOMENDAÇÕES ..................................................................................................... 83
REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS .............................................................................. 84
INTRODUÇÃO
A vida humana é uma teia de relações sociais, pois a sociedade é o habitat natural
do homem. Nem todas as relações sociais estão sob auspício do Direito, a ele somente
interessam aquelas que produzem efeitos jurídicos, as chamadas relações jurídicas, que
serpenteiam todos os meandros do universo jurídico, ganhando diversas conotações em
função do ramo jurídico em causa. Assim, no Direito do Trabalho chamá – la – emos
relações jurídico – laborais. Elas em abono da verdade, obedecem a um ciclo vitalício,
socorrendo – se da terminologia biomédica, pois tal como os seres vivos, nascem,
desenvolvem – se e por fim morrem. Dito de outro modo, as relações jurídico – laborais
constituem – se, desenvolvem – se e por fim se extinguem. Como qualquer relação social,
estão sujeitas a atritos, que podem surgir quer no momento da sua constituição, quer na
execução e sobretudo no momento da sua extinção.
Saindo deste quadro teórico, indo para a nossa realidade do dia – a – dia na
província do Huambo, a verdade seja dita, não precisamos ser cientistas sociais, basta que
sejamos homens médios para nos apercebermos da existência de conflitos laborais.
Problema científico
Face a este status quo, surge o problema científico do presente trabalho: Qual
deve ser o papel da Inspecção Geral do Trabalho na resolução dos conflitos jurídico –
laborais na província do Huambo?
Justificativa
Em 2015 foi aprovada a Lei n.º 7/15, de 15 de Junho, actual Lei Geral do
Trabalho, que reconhece à Inspecção Geral do Trabalho o papel de resolver conflitos
12
jurídico – laborais. Antes disso, não havia uma lei que reconhecia tal competência embora
já resolvesse os conflitos que lhe eram submetidos.
Por isso, este trabalho reveste – se de magna valia não só para os sujeitos da
relação jurídico – laboral, para a comunidade académica, mas também para a sociedade
de modo geral visto que, faz uma análise sistemática da função que a Inspecção Geral do
Trabalho desempenha na resolução dos conflitos entre trabalhadores e empregadores,
cujos resultados se repercutem na sociedade. Além disso, demonstra que o Estado não é
insensível aos conflitos que assolam de modo peculiar os sujeitos da relação jurídico –
laboral e de forma reflexa a própria sociedade. Aliás, este trabalho constitui uma
ferramenta útil à disposição das associações de trabalhadores e empregadores, que lhes
permitirão aceder ao conhecimento das vias que a Inspecção Geral do Trabalho utiliza
para os coadjuvar na resolução das suas contendas.
13
Objectivo geral
Objectivos específicos
Modelo de pesquisa
Tipo de pesquisa
1
Manuel João Vaz FREIXO. Metodologia Científica: fundamentos métodos e técnicas. 4.ªed. Lisboa.
Instituto Jean Piaget. 2012Pág.171
14
disponível e realizamos um trabalho de campo e de acordo com Cervo, Bervian e Silva:
este tipo de pesquisa procura explicar um problema a partir de referências teóricas
publicadas em artigos, livros, dissertações e teses. É o meio de formação por excelência
e constitui o procedimento básico para os estudos monográficos, pelos quais se busca o
domínio do estado da arte sobre determinado tema. 2
Quanto aos métodos, seleccionamos o dedutivo – indutivo que nos permitiu tirar
ilações da realidade constatada; o histórico – lógico que nos ajudou a conhecer a realidade
histórica do problema em questão. Como não podia deixar de ser, o método hermenêutico
– jurídico, típico da ciência jurídica.
2
Amado L.CERVO; Pedro A. BERVIAN; Roberto da SILVA, Metodologia Científica, 6ª ed. São Paulo:
Pearson Prentice Hall, 2007, pp. 60 - 61
3
Ibidem, p.33
4
Manuel João Vaz FREIXO. Op. cit, pág.171
15
Objecto de estudo
Campo de acção
População
5
Amado L. CERVO; Pedro A. BERVIAN; Roberto DA SILVA. Op. cit, p. 61
6
Manuel João Vaz FREIXO. Op. cit, pp.210 - 211
16
Assim, no presente trabalho a população é constituída por 16 inspectores do
trabalho afectos à Inspecção Geral do Trabalho no Huambo, visto que são eles que
realizam a mediação dos conflitos laborais.
Amostra
Com efeito, a amostra do presente estudo foi constituída por oito inspectores do
trabalho, sendo uma que foi submetida a entrevista e os demais responderam ao
questionário, correspondendo assim, a 50% da população. As pessoas sujeitas a amostra
são de ambos os géneros, com a faixa etária compreendida entre 26 a 50 anos, com
formação académica nas seguintes áreas: Engenharia Agronómica e Direito.
7
Manuel João Vaz FREIXO. Op. cit, pp.210 - 211
17
CAPÍTULO I
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
8
Sadi Dal ROSSO, A inspeção do trabalho, Revista da Administração Pública, Rio de Janeiro,1996,
disponível em: www.bibliotecadigital.fgv.br, acessado em15/ 07/2020, p.108
18
assistindo abulicamente a luta que se travava entre o empregador e o trabalhador sem
nada fazer, como um simples “guarda - nocturno”. Todavia , a medida que o tempo ia
passando, tomou a iniciativa de actuar na resolução das contendas, face a necessidade
gritante dos próprios litigantes até que surgiu o seu reconhecimento legal.
Face ao exposto, importa ainda questionar: Por que é que existe a inspecção do
Trabalho?
Para efeito do presente trabalho, vale referir a natureza mediadora nos conflitos
laboral e não necessariamente a sua natureza inspectiva. Deste modo, podemos dizer que
a Inspecção do Trabalho existe para mediar conflitos laborais, conforme veremos mais
adiante.
1.1.2 Noção
9
Sadi Dal ROSSO. Op.cit.p.109
10
Organização Internacional do Trabalho, Módulo de Capacitação em Inspecção do Trabalho e Igualdade
de Género, Brasília, 2012, p.22
19
a aplicação e a observância da legislação laboral, bem como informar, orientar e fiscalizar
a acção dos sujeitos da relação jurídica – laboral no cumprimento da legislação.
11
Diogo Freitas do AMARAL, Curso de Direito Administrativo, 3.ªed, Almedina, Coimbra, 2006, p.792
12
Carlos FEIJÓ, Cremildo PACA ,Direito Administrativo, 4ªed, Luanda, Mayamba, 2013, p.142
13
Carlos Alberto B. Burity da SILVA, Teoria Geral do Direito Civil, 2.ª ed. Luanda, 2014, p.247
20
Em nosso entender a personalidade jurídica é a possibilidade que um ente tem
para ser portador de direitos e obrigações.
14
Diogo Freitas do AMARAL. Op. cit, p.758
21
1.1.3 Resenha histórica
15
Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social, Guia Metodológico do Inspector do
Trabalho, Luanda, 2002, p.13
16
Idem, Guia do Inspector do Trabalho, Luanda 1995, p. 9
17
Sadi Dal ROSSO. Op. cit, p.108
22
A Inspecção do trabalho deve adaptar – se a realidade de cada país, tendo em
conta o nível de desenvolvimento e o nível de cumprimento da legislação laboral vigente.
De acordo com o GIT ,” foi na Grã – Bretanha que teve início o fenómeno
industrialização e que tudo começou, provavelmente pela simples razão que foi lá que
surgiram os primeiros problemas e que se teve de imaginar soluções práticas adequadas
para saná – las”19.
Naquela altura havia de facto, maior oferta de mão – de – obra e pouca procura
por isso, os operários nada podiam fazer senão se conformar com as condições que eram
fornecidas pelos proprietários das fábricas a fim de garantirem a sua sobrevivência e das
respectivas famílias e os detentores dos meios de produção pouco estavam interessados
em garantir condições de trabalho dignas, o único escopo que visavam era o lucro.
18
Adalberto CARDOSO eTelma LAGE, A Inspecção do Trabalho no Brasil, Revista de Ciências Sociais,
Vol. 48, no 3 Rio de Janeiro, 2005, p. 452
19
Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social. Op. cit, p.9
20
Ibidem, p.13
23
No dizer do GMIT supra, “foi na Grã – Bretanha que se tomaram as primeiras
medidas, em 1802, para “proteger a saúde física e moral dos aprendizes e outros
operários”21
As condições de trabalho eram deploráveis para todos os operários por isso, uma
luta individual não era bastante para serem ouvidos pelos empregadores e pelo governo
deste modo, os operários decidiram organizarem – se em grupo para em conjunto terem
maior força e repercussão porém, os empregadores por um lado, e o governo por outro
não viam isso com bons olhos. Com efeito, essas organizações sindicais foram
repreendidas porque geravam uma certa convulsão social, pondo em causa a tranquilidade
pública e a estabilidade económica.
Realmente foi nas cinzas da I Guerra Mundial que surge a primeira organização
internacional com o escopo de proteger os trabalhadores e perdera até aos dias de hoje.
Ainda de acordo com o GMIT, uma das partes do Tratado de Versalhes, que se
transformou na constituição da OIT declarava que era particularmente importante que
21
Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social. Op. cit, p.9
22
Ibidem, p.10
24
cada Estado organizasse um serviço de inspecção a fim de assegurar a aplicação das leis
e regulamentos de protecção dos trabalhadores23.
23
Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social. Op.cit, pp.10
24
Ibidem, pp.10 - 11.
25
Ibidem, p.11
25
Trabalho e Previdência, Inspecção do Trabalho, Direcção Nacional de Assuntos Laborais
e Inspecção, Direcção Nacional de Inspecção, Protecção e Higiene no Trabalho e
finalmente Inspecção Geral do Trabalho (actual designação)26 .
E de acordo com Carlos Feijó e Cremildo Paca, “os institutos públicos são
pessoas colectivas assentes num substrato institucional, criadas para prosseguir funções
administrativas específicas, primariamente, confiadas ao Estado ou outra pessoa colectiva
pública”27.
26
Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social .Op. cit, p.11
27
Carlos FEIJÓ, Cremildo PACA. Op.cit, p.220
26
Na verdade, um Instituto Público é um ente dotado de personalidade jurídica,
criada por uma outra pessoa colectiva pública de fins múltiplos com vista a prosseguir
fins específicos.
Esta definição leva – nos ao conhecimento de que os institutos públicos são antes
de mais pessoas colectivas, isto é, sujeitos dotados de direitos e obrigações, não
constituem sujeitos de Direito Privado, mas de Direito Público, o que significa que os
seus órgãos e agentes actuam revestidos do poder de autoridade. Além disso, os institutos
públicos fazem parte da Administração Pública, mas não na administração directa do
Estado. Por fim, não há uma única tipologia de Institutos Públicos, mas existem várias.
Dentre estas modalidades em qual delas se enquadra a Inspecção Geral do trabalho?
27
Os Serviços Personalizados segundo os autores acima referenciados, “são os
serviços públicos de carácter administrativo a que a lei atribui personalidade jurídica e
autonomia administrativa e financeira”28.
28
Carlos FEIJÓ, Cremildo PACA. Op. cit, p.221
28
As fundações Públicas segundo o artigo 31.º do mesmo Decreto, são espécies de
Institutos Públicos, criados pelo Estado aos quais este afecta um património específico
com vista à prossecução de um fim público.
29
bem – estar, ao emprego de crianças e jovens e outros temas relacionados, na medida em
que tais disposições são aplicáveis por fiscais do trabalho;
2. Fornecer informações e orientações técnicas aos empregadores e
trabalhadores sobre os meios mais eficazes de cumprir com as disposições legais;
3. Levar ao conhecimento da autoridade competente as deficiências ou
abusos não especificamente abarcados pelas disposições legais existentes”29.
De acordo com o disposto no artigo 5.º são atribuições gerais da Inspecção Geral
do Trabalho:
29
Organização Internacional do Trabalho. Op.cit, p.22
30
1.1.6.2 Atribuições específicas
É aquela que pode ser central e local. A administração central é composta por
conjunto de órgãos e serviços com competência extensiva a todo território nacional.
Por sua vez, a administração local é integrada por órgãos e serviços cuja
competência se circunscreve a certas áreas ou circunscrições administrativas do território
nacional.
30
Carlos FEIJÓ, Cremildo PACA. Op.cit, p.180
31
É de realçar que estes órgãos é que formam o executivo, chefiado pelo Presidente
da República e os demais são auxiliares.
1.1.7.2 Ministérios
Neste trabalho não nos compete fazer uma abordagem exaustiva sobre esta
temática. Todavia, o acento tónico recai sobre o Ministério da Administração Pública,
Emprego e Segurança Social (MAPESS) actualmente, designado Ministério da
Administração Pública, Trabalho e Segurança Social (MAPTSS), que sempre sobreviveu
as reformas ocorridas desde a independência até ao momento presente pois, é nele que se
enquadra a Inspecção Geral do Trabalho (IGT).
31
Carlos FEIJÓ, Cremildo PACA. Op.cit, p.202
32
A sua caracterização assenta fundamentalmente, no facto de ser constituída por
um conjunto de órgãos e serviços locais e externos, pertencentes ao Estado ou a pessoas
colectivas públicas de tipo institucional ou associativo.
33
1.1.7.5 Órgãos e serviços locais do Estado
De uma forma singeleza podemos dizer que os órgãos locais do Estado são:
• O governo provincial;
• A administração municipal;
• A administração comunal
MAPTSS
Serviços
provinciais do
Huambo
34
Ora, de acordo com o gráfico o Ministério da Administração Pública, Trabalho
e Segurança Social (MAPTSS) é composto por diversas instituições, das quais
destacamos a Inspecção Geral do Trabalho (IGT), que como predizemos, é a guardiã da
legislação laboral.
De acordo com os artigos 3.º ; 7.º e 15.º todos do Decreto Presidencial nº79/15,
de 13 de Abril, a IGT desempenha as suas funções em todo território nacional, sendo
constituída por órgãos centrais e órgãos locais, que são os serviços provinciais. Estes por
sua vez, estão divididos em duas secções nomeadamente, a secção de segurança, higiene
e saúde no trabalho e a secção de inspecção.
A IGT tem o seu âmbito de actuação nas empresas públicas, privadas, mistas,
cooperativas e em todas as demais organizações que tenham sob sua dependência
trabalhadores vinculados no âmbito da LGT e legislação complementar.
35
Tendo em conta o exposto, ela estaria mais próxima da ANIESA que da IGAE,
pois aquela só mesmo pela denominação, ela actua no sector empresarial público ou
privado, enquanto que esta tem como campo de actuação os próprios órgãos do Estado.
A IGT pode também ser uma inspecção autónoma em função do seu âmbito de
actuação todavia, se o que realmente se pretende é a unificação da actividade inspectiva
seria mais viável que ela se enquadra – se numa delas.
A Lei n.º 6/81, de 24 de Agosto constitui a primeira LGT que surgiu após a
independência de Angola. Ela foi elaborada no sistema do socialismo e no regime do
monopartidarismo, visou sobretudo a substituição da legislação colonial no domínio
laboral, dava maior privilégio à classe proletária, com destaque a UNTA, conforme bem
sublinha Liudmila, “a altura em que foi aprovada esta lei ainda vigorava no país o sistema
de partido único, e existia apenas uma única Central Sindical, a UNTA, os sindicatos e
comissões sindicais de empresas só podiam se inscrever nesta central sindical. O
36
objectivo foi legalizar as comissões laborais de empresa, de forma a serem consideradas
verdadeiros órgãos de administração de justiça, equiparados aos juízes.”32
Ela não atribui à IGT a competência de resolver conflitos laborais, pois conforme
consta do capítulo XIII sob a epígrafe: resolução dos conflitos laborais, mormente o artigo
165.º. Estes conflitos são resolvidos pelos órgãos de justiça laboral e pelos tribunais.
É de salientar que eram considerados de acordo com o artigo 1.º da Lei da Justiça
Laboral (Lei nº 9/81, de 2 de Novembro) órgãos de Justiça Laboral os seguintes:
32
Liudmila Oliveira do Espírito TRIGUEIROS, A gestão de conflitos de trabalho em Angola uma
abordagem preliminar: o caso Wapo, Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do
grau de Mestre em Ciências do Trabalho e Relações Laborais, ISCTE - Instituto Universitário de
Lisboa, Julho, 2011, p.23
37
1.1.8.2 Fase da segunda república (2000 – 2015)
É a etapa de transição da guerra para a paz, que começa com a entrada em vigor
da segunda LGT e a terceira.
A presente Lei também não atribui de modo explícito competências à IGT para
a resolução extrajudicial dos diferendos, visto que no capítulo XIII, intitulado Garantias
emergentes da relação jurídico – laboral, no seu artigo 306.º remete para os tribunais (
sala do trabalho) a resolução dos conflitos individuais de trabalho, cujos motivos estejam
relacionados com a constituição, manutenção, extinção da relação jurídico – laboral, ou
com a execução do contrato de trabalho, satisfação dos direitos e o cumprimento de
obrigações e o recurso das medidas disciplinares aplicadas ao trabalhador, à luz do artigo
305.º.
38
Na área das relações colectivas de trabalho. Caso as partes não tenham chegado
a um acordo, estipula o artigo 241.º podem os serviços provinciais do ministério de tutela
do trabalho convocar, dentro dos dez dias seguintes, uma reunião com o empregador e
os representantes dos trabalhadores, se o órgão representante existir ou a comissão tiver
sido eleita e procurar alcançar um acordo das partes quanto à manutenção ou não da
intenção de despedimento.
Esta fase começa com entrada em vigor da terceira LGT e perdura até aos dias
de hoje. Face ao novo contexto que o mundo e o país em particular experimentava, havia
necessidade de se rever a Lei n.º 2/00 de modo a se ajustar às novas exigências sociais
por forma a torná – la mais eficaz para aplicação das políticas públicas, tendentes a
fomentar a geração do emprego, o aumento da produção e produtividade a dignificação
dos sujeitos da relação jurídico - laboral e a consolidação da justiça social.
Como se pode ver a IGT apenas passou a ter legitimidade para mediar
conflitos com a entrada em vigor desta lei.
39
CAPÍTULO II
2.1.1 Generalidades
33
Liudmila Oliveira do Espírito TRIGUEIROS. Op. cit, p.15
34
Lucinda D. Dias da SILVA, Arbitragem e Juris laboris Alma, Revista da Associação de Estudos Laborais,
ed. Coimbra, Lisboa ano XII – 2005, p.194
40
2.1.2 Noção
Na mesma senda, Ferreira citado por Candini sustenta: “conflito vem do latim
conflictu, embate dos que lutam; discussão acompanhada de injúrias e ameaças; guerra,
combate, colisão, choque; o elemento básico determinante da acção dramática, a qual se
desenvolve em função da oposição e luta entre diferentes forças”. 38
A nosso ver, o conflito é um litígio que opõe duas ou mais pessoas, cuja relação
assenta em qualquer vínculo.
Não pretendemos fazer uma teorização dos conflitos em geral porém, ocuparmo
– no – emos dos conflitos laborais em particular, tal como já foi dito anteriormente.
35
Digesto 50.17.202, apud A. Santos JUSTO, Direitos Reais, ed, Coimbra, Lisboa, 2007, p.11
36
António HOUAISS, Dicionário Electrónico Houaiss da Língua Portuguesa, Instituto António Houaiss,
2001
37
Dicionário de Língua Portuguesa Prestígio, ed, Plural, Luanda, 2015, p.400
38
Ferreira P. apud Treva Ricardo CANDINI. Op.cit p.7
41
Assim, um conflito laboral é aquele que surge no âmbito da relação entre o (os)
trabalhador (es) e o (os) empregador (es) quer se trate da constituição, modificação,
execução, da extinção da referida relação, quer das condições de trabalho.
39
Luís Manuel Teles de Menezes LEITÃO. Op.cit, p.353
40
António Monteiro FERNANDES, Direito do Trabalho, 12.ª ed. Almedina, Coimbra, 2004, p. 845
42
execução do contrato de trabalho e a satisfação dos direitos e cumprimento das
obrigações, de uma e de outra parte, decorrentes do mesmo contrato, bem como o recurso
das medidas disciplinares aplicadas ao trabalhador.
No seu n.º 2 o artigo 272.º da lei supra define conflito colectivo nos seguintes
termos: é conflito colectivo de trabalho o que surja no âmbito de uma convenção ou de
acordo colectivo de trabalho, de acordo com o previsto em legislação específica. Quanto
à esta legislação importa referir a Lei n.º 23/91, de 15 de Junho ( Lei da Greve) e a Lei
n.º 20 – A/92, de 14 de Agosto ( Lei sobre o direito de negociação colectiva).
Nas palavras de Monteiro Fernandes, citado por Menezes Leitão, existe conflito
colectivo de trabalho quando se manifesta, através de comportamentos colectivos, uma
divergência de interesses por parte de uma categoria organizada de trabalhadores, e de
uma categoria organizada de empregadores ou um só destes, de outro lado, em torno da
regulamentação existente ou futura das relações de trabalho que interessam membros das
mesmas categorias41.
41
Monteiro Fernandes. Direito do Trabalho. Apud Luís Manuel Teles de Menezes LEITÃO. Op.cit, p.353
43
considerado ou representado pela respectiva associação de empregadores, não ter
aceitado a reivindicação estão lançadas as bases para o conflito colectivo.42
Martinez corrobora com esta ideia ao afirmar que de facto, foi por via do conflito
colectivo que, paulatinamente, foram sendo introduzidas particularidades no direito do
trabalho, em especial dos conflitos colectivos tem resultado uma melhoria das condições
de trabalho, não só no que respeita a aumentos salariais, como ao estabelecimento de
regras relativas à segurança e higiene no trabalho e corresponde responsabilidade civil
objectiva, segurança no emprego com a consequente limitação do despedimento.44
42
Pedro Romano MARTINEZ. Op. cit, p.1183
43
Menezes Cordeiro. Apud, Pedro Romano MARTINEZ.Op. cit, p.1183
44
Pedro Romano MARTINEZ. Op. cit, p.1184
45
Luís Manuel Teles de Menezes LEITÃO. Op.cit, p353
44
Realmente contra factos não há argumentos, os conflitos colectivos de trabalho
são típicos do Direito do Trabalho e servem de fronteira com o Direito das Obrigações,
embora não sejam os únicos elementos que caracterizam esta cadeira do Direito.
46
Pedro Romano MARTINEZ,.Op. cit, p.1183
45
• O abandono do trabalho;
• A falta de condições adequadas para o exercício da actividade laboral;
• O não cumprimento das obrigações relativa à Segurança Social;
• As gratificações anuais obrigatórias;
• As faltas;
• O gozo de férias;
• A cessão da posição contratual;
• O trespasse;
• A mudança temporária ou definitiva de funções;
• Acidentes de trabalho
• A transferência para um outro centro de trabalho.
Com esta temática pretendemos abordar de forma esmiuçada, mas não exaustiva
os principais conflitos colectivos de trabalho, face ao seu relevo na ordem jurídico -
laboral, e seu impacto na vida empresarial e das famílias.
Martinez toca na mesma tecla ao afirmar que actualmente, nos regimes não
autoritários tem – se entendido que os conflitos colectivos não põem em causa a
autoridade do Estado, desde que estejam delimitados e se forem exercidos de forma
disciplinada e de boa fé. Dentro de certos parâmetros são admitidos os conflitos
47
Luís Manuel Teles de Menezes LEITÃO. Op.cit, p.354
46
colectivos, porque desde que estejam delimitados, o Estado poderá continuar a exercer a
sua autoridade. O problema reside em disciplinar os conflitos colectivos48.
Um conflito colectivo implica na verdade uma pluralidade de partes desavindas,
por um lado uma associação de trabalhadores e por outro, uma associação de
empregadores porém, nem sempre será assim, visto que o conflito pode opor uma
associação de trabalhadores de um lado e do outro, apenas um empregador. Isto se deve
a fonte do conflito colectivo.
A nosso ver, o conflito colectivo é um litígio que se manifesta nas relações
colectivas de trabalho, tendo como génese um acordo colectivo ou uma convenção
colectiva de trabalho.
Os conflitos colectivos para além do seu lado negativo, têm uma vertente muito
positiva, pois constituem uma arma ou um meio eficaz de luta colectiva.
2.1.5.1 Modalidades
Para efeito do presente trabalho faremos uma referência singela sobre o boicote,
mas com maior destaque a greve, tendo em atenção o seu impacto na vida sócio – laboral.
2.1.5.2.2 O boicote
48
Pedro Romano MARTINEZ. Op.cit, p.1185
49
Luís Manuel Teles de Menezes LEITÃO. Op.cit, p.353
47
recusar-se a trabalhar ou cooperar, ou ainda, recusa coletiva de trabalho para determinada
indústria ou estabelecimento comercial, ou inibição de transações com eles”50.
2.1.5.2.3 A greve
50
António HOUAISS. Op. cit.
51
Luís Manuel Teles de Menezes LEITÃO.Op. cit, p.254
52
Luís Manuel Teles de Menezes LEITÃO.Op.cit, p. 254
48
descontentes com as suas condições de trabalho.53 Conforme bem o confirma Menezes
Leitão. 54
O que é a greve?
53
António HOUAISS. Op. cit.
54
Luís Manuel Teles de Menezes LEITÃO Op.cit, pp.354 - 355
55
Pedro Romano MARTINEZ. Op.cit, p.1191
56
Luís Manuel Teles de Menezes LEITÃO. Op.cit, p.354
57
Keith GRINT, Sociologia do Trabalho, Instituto Piaget, Lisboa, 1999, p.209
49
Em nosso entender, a greve é a recusa facultativa de prestar o trabalho que os
trabalhadores estão obrigados de uma forma combinada, com o desígnio de reivindicar
melhores condições de trabalho, ou fazer valer um direito que está a ser violado pela
entidade patronal.
Importa realçar que não faremos uma abordagem escalpelizada sobre esta
temática, atemo – nos – emos nos aspectos gerais.
O direito à greve tal como supra referimos, vem previsto no artigo 51.º da nossa
Constituição e, é regulada pela Lei n.º 23/91, de 15 de Junho. Tal como é enfatizado por
Menezes Leitão: “em Angola, o direito à greve é reconhecido pela Constituição no seu
artigo 51.º”58.
O artigo 10.º da Lei antedita determina que a greve deve ser declarada pelos
trabalhadores ou organismos sindicais. Assim, a título meramente ilustrativo, uma
58
Luís Manuel Teles de Menezes LEITÃO.Op.cit, p.355
50
associação de estudantes não tem legitimidade para declarar a greve, uma comissão de
moradores também não a tem.
Desta norma, podemos extrair três aspectos fundamentais: o órgão, que deve ser
colegial (Assembleia de Trabalhadores) e não singular, assim por exemplo um
trabalhador não tem legitimidade para o efeito, segundo a tempestividade da
convocatória, que no mínimo deve ser de cinco dias e o quórum de funcionamento e
deliberativo.
59
Luís Manuel Teles de Menezes LEITÃO.Op. cit, p. 360
51
concederem prazo superior. Se o empregador responder no prazo estipulado ou caso o
faça, se após um período de negociação de 20 dias não se chegar a acordo, os
trabalhadores são livres de declarar a greve, à luz do artigo 9.º da Lei n.º 23/91, de 15 de
Junho (lei da greve).
52
2.1.5.3.4 Natureza jurídica da greve
De facto, este assunto já fez “correr muita tinta debaixo da ponte”, alguns autores
entendem que a greve é uma liberdade genérica e outros consideram – na um direito
subjectivo.
Quanto à sua titularidade, alguns entendem que ela pertence aos trabalhadores
individualmente considerados, outros atribuem – na às associações sindicais ou à
assembleia de trabalhadores.
Segundo Menezes Leitão, parece haver na greve algo mais do que uma simples
liberdade, uma vez que ela constitui um instrumento de luta colectiva, que é susceptível
de ser usado como forma de pressionar a parte contrária no sentido da obtenção dos fins
desejados. Nesse sentido e, conforme resulta do artigo 51.º, nº 1 da Constituição da
República de Angola, a greve constitui um verdadeiro direito subjectivo dos
trabalhadores.61
Tomando parte desta vexata questio, quanto à corrente que sustenta a greve como
uma simples liberdade, temos a dizer que ela não é muito feliz, pois a greve não é uma
mera liberdade, é antes demais um direito subjectivo, embora o seu exercício seja
colectivo. Deste modo sufragamos a posição de Menezes Leitão por estar em
conformidade com a Constituição angolana.
60
Luís Manuel Teles de Menezes LEITÃO.Op. cit, p.372
61
Iv
53
2.2.1 Resolução dos conflitos laborais
O Estado não deve assistir de forma indiferente “a luta” dos sujeitos laborais,
sem nada fazer, pois os conflitos laborais põem em causa a estabilidade económico –
social. Uma das missões fundamentais do Direito é resolver os conflitos sociais
susceptíveis de pôr em causa a convivência social.
É a luz deste entendimento que a lei consagra garantias aos sujeitos cujos
interesses foram lesados ou violados. Estes meios de garantia para a resolução dos
conflitos resultantes da relação jurídico – laborais tal como é estudado noutros ramos do
Direito, podem ser graciosos, extrajudiciais e contenciosos.
62
Lucinda D. Dias da SILVA.Op. cit, p. 196
54
Todavia, se isso é assim com os meios extrajudiciais, o mesmo não se pode dizer
com o recurso a via judicial, porquanto o artigo 274.º da LGT consagra o princípio da
precedência obrigatória dos mecanismos extrajudiciais, de acordo com o qual: “Todo o
conflito judicial deve obrigatoriamente ser precedido do recurso a um dos mecanismos
extrajudiciais de resolução de conflitos”.
Quer dizer, se um trabalhador estiver há dez meses sem o pagamento dos seus
ordenados, antes de propor a acção num tribunal, terá de recorrer ou à IGT para a
mediação, ou ao Ministério Público para a conciliação, ou a um tribunal arbitral para
arbitragem.
55
O trabalhador pode recorrer judicialmente do despedimento com qualquer dos
seguintes fundamentos:
Com esta disposição poderíamos afastar ainda que seja apenas por excepção, o
princípio da precedência obrigatória. Todavia, não é essa a hermenêutica mais plausível
pois, é necessário ter em conta o disposto no artigo 56.º, n.º 2, que remete para o artigo
273.º
56
2.2.1 Os meios extrajudiciais de resolução de conflitos
Neste trabalho faremos apenas uma abordagem singela dos referidos meios
porém, o nosso foco é sobretudo a mediação como já referimos, dado o objecto do nosso
estudo. Assim, começaremos pela negociação, conciliação e arbitragem de modo mais
detalhado a mediação.
2.2.1.1 Negociação
63
Luís Manuel Teles de Menezes LEITÃO. Op. cit, p.378
57
Neste processo os contendores enfrentam – se face to face a fim de resolver o
conflito que lhes opõem, sem a necessidade da intervenção de terceiros.
2.2.1.2 Conciliação
64
Luís Manuel Teles de Menezes LEITÃO. Op. cit, p.378
65
Ibidem, p. 379
58
Desta norma resulta uma inequívoca delimitação de competência, o poder de
conciliar as partes litigantes num conflito laboral incumbe ao Ministério Público ao passo
que a mediação cabe à Inspecção Geral do Trabalho. No entanto, olhando para o que
dispõem os artigos supra e o artigo 277.º n.º7 consagram o princípio da cooperação,
segundo o qual quer a Inspecção Geral do Trabalho, quer o Ministério Público pode
solicitar apoio para um bom andamento do processo de mediação ou conciliação.
2.2.1.3 Arbitragem
66
Manuel Perreira BARROCAS, Manual de Arbitragem, Almedida, Coimbra, 2010, p.13
67
Ibidem, pp. 31 - 32
68
Manuel Perreira BARROCAS. Op.cit, pp.33 - 34
59
Os diversos meios de resolução de conflitos, embora se diferenciem primam pelo
mesmo objectivo, aliás o nome em si encerram a essência deles.
69
Ibidem, p.34
70
Luís Manuel Teles de Menezes LEITÃO. Op. cit, p. 384
60
No presente trabalho daremos maior ênfase à mediação levada a cabo pela
Inspecção Geral do Trabalho, mormente os Serviços Provinciais do Huambo. Assim, urge
a necessidade de conhecermos quem é a Inspecção Geral do Trabalho, quando e como
surge, quais são as suas atribuições. Estas e outras perguntas respondê – la – emos nos
parágrafos seguintes.
71
Michaeles - Moderno Dicionário da Língua Portuguesa - ed, Walter Weiszflog, São Paulo, 1998, p.538
72
António Monteiro FERNANDES. Op. cit, p.858
61
2.2.1.4.3 Classificação da mediação
1. Princípio da voluntariedade;
2. Princípio da igualdade;
62
3. Princípio da imparcialidade;
4. Princípio da legalidade;
5. Princípio da confidencialidade;
6. Princípio da independência;
7. Princípio da competência;
8. Princípio da responsabilidade;
9. Princípio da executoriedade;
10. Princípio da equidade;
11. Princípio da boa – fé;
12. Princípio da cooperação;
13. Princípio da autonomia da vontade;
14. Princípio da informalidade;
15. Princípio da oralidade;
16. Princípio da auto – composição;
17. Princípio da celeridade.
Este princípio vem consagrado no artigo 6.º da lei supra, segundo o qual o
recurso ao procedimento da mediação é voluntário e implica a obtenção prévia do
consentimento esclarecido e informado das partes litigantes.
Não basta que os litigantes dêem a sua anuência, é necessário que o façam de
forma cônscia e informada.
63
Este princípio vem consagrado no artigo 7.º, n.º 1 da lei supra, de acordo com o
qual as partes em litígios devem ser tratadas de forma igual. De referir que esta igualdade
é a chamada igualdade de armas.
Ser imparcial significa antes de mais não ser parte do litígio. Com efeito, o
presente princípio tem respaldo no n.º2 do artigo anterior, segundo o qual o mediador de
um conflito não é parte interessada.
Este princípio impõe que o mediador não deve alcançar um acordo que viole a
lei ou ofenda a ordem pública e os bons costumes. Para além disso, o mediador deve
assegurar que o acordo final não contrarie normas imperativas e nem contenha
disposições favoráveis para as partes, nos termos dos artigos 8.º da Lei n.º12/16, de 12 de
Agosto e artigo 277.º, n.º 4 da Lei Geral do Trabalho.
64
2.2.1.5.6 Princípio da independência
Este princípio impõe ao mediador o domínio da material sobre a qual recai a sua
actividade. Encontra o seu respaldo legal no n.º1 do artigo 11.º da lei antedita.
65
apreciação de um determinado caso que cai na previsão de normas jurídicas, se abstrai do
estatuído nessas normas para se decidir o caso, tendo em conta aquilo que ele tem de
específico e de particular. A equidade pode servir como critério de decisão por
afastamento dos critérios legais73.
Com isso, seriamos levados a pensar que a boa – fé apenas se aplica no foro
todavia, os artigos 13.º e 289.º da Lei n.º12/16, de 12 de Agosto e da Lei Geral do
Trabalho respectivamente, revelam – nos o contrário.
73
Cfr. Carlos Alberto B.Burity da SILVA. Op, cit, p.60
74
Hermenegildo CACHIMBOMBO - Manual de Processo Civil, Casa das Ideias, Luanda, 2017,p.43.
66
coagida a escolher a mediação como a única via para obter a solução do seu problema,
em detrimento de outros meios.
Embora o autor supra se refira ao processo jurisdicional, ainda assim, não deixa
de ser aplicável no procedimento da mediação, pois o artigo 13.º da Lei n.º12/16 também
o consagra. Na verdade, no processo de mediação predomina a oralidade desde a
apresentação do requerimento, nos termos do n.º2 do artigo 276.º da Lei Geral do
Trabalho, na discussão do objecto da lide e na produção da respectiva prova.
Contudo, o carácter escrito não é descurado como se pode ver nos exemplos
abaixo: o requerimento de mediação, a acta de mediação do conflito, bem como a prova
documental, a titulo ilustrativo: contrato de trabalho, folha de salário, mapa de férias, etc.
75
Francisco Manuel Lucas Ferreira de ALMEIDA, Direito Processual Civil, Almedina, Coimbra, 2010,
p. 282
67
não impõe nada as partes e estas não têm a obrigatoriedade de acatar a proposta daquele.
O mediador é um mero facilitador do diálogo entre as partes.
Por outro lado, é importante que as partes colaborem, realizando diligências para
que o processo chegue tempestivamente ao fim.
Torna – se imperioso dizer que a celeridade não deve ser confundida com a
precipitação, na medida em que não basta que um processo chegue ao fim
tempestivamente, é necessário que haja ponderação, mediante a análise acurada das
provas e das circunstâncias que gravitam em torno do caso. Nesta senda, corroboramos
com o Professor anteriormente citado quando afirma: “A celeridade deve ser equilibrada
com a ponderação, pois a justiça não pode ser precipitada e a ponderação exige um certo
tempo destinado a averiguação completa da verdade”77.
76
José João BAPTISTA, Processo Civil I, 8ªed. Coimbra, Lisboa,2006, p.77
77
Ibidem, p.78
68
Sem necessidade de construir teorias, a resposta é afirmativa, olhando para os
conflitos colectivos de trabalho ou ainda para o contrato de grupo, que dão lugar ao
litisconsórcio ou nas situações em que dois ou mais trabalhadores decidem coligar – se
contra um mesmo empregador, vejamos a título meramente exemplificativo o
despedimento colectivo previsto nos artigos 216.º e seguintes da Lei Geral do Trabalho.
Quem é o mediador?
De facto, o mediador não é parte tal como vimos supra, por isso ele deve ser o
elo que estabelece o equilíbrio entre as partes desavindas, procurando ouvi – las e
ajudando – as a chegar a uma solução que seja plausível.
78
Treva Ricardo CANDIN.Op.cit, p.19
69
2.2.1. 7 Procedimentos
Após recepção a Inspecção Geral do Trabalho deve notificar as partes para uma
audiência no prazo de 10 dias, nos termos do artigo 277.º, n.º 1 da Lei Geral do Trabalho.
Este acordo deve ser homologado, nos termos dos artigo 280.º em conjugação
com o artigo 289.º, ambos da Lei Geral do Trabalho.
70
Quando não houver um acordo ou quando este for parcial a Inspecção Geral do
Trabalho elabora uma declaração de impossibilidade de obtenção de acordo, que será a
conditio sine quan non para a propositura da acção, nos termos dos artigos combinados
277.º, n.º 5 e 282.º da Lei Geral do Trabalho.
Para respondermos de forma cristalina é necessário saber qual das partes não
compareceu, pois o tratamento é diferente consoante o caso.
Se uma das partes não comparecer à audiência e não justificar a sua ausência nos
cinco dias seguintes à data marcada para a sessão de mediação, a Inspecção Geral do
Trabalho deve emitir uma declaração de impossibilidade de obtenção de acordo, nos
termos do n.º 6 do artigo 277.º da Lei Geral do Trabalho.
Sabemos que o título executivo é antes demais um documento que certifica que
alguém possui um determinado direito.
71
2.2.1.8 Vantagens da mediação
Feita essa abordagem, importa fazer uma singela referência e diferenciação com
outros meios extrajudiciais de resolução de conflitos.
79
Tomás TIMBANE, Lições de Processo Civil I, ed, Escolar, Maputo, 2010, pp.52 - 53
72
mais elevado – com o evento acréscimo resultante da publicidade que à proposta seja
dada do que o da conciliação 80.
80
António Monteiro FERNANDES. Op. cit, p. 367
81
Tomás TIMBANE.Op. cit, p.23
82
José Miguel JÚDICE, Revista Internacional de Arbitragem e Conciliação, Almedina, Coimbra, Ano I,
2008, p. 63
73
acordo de mediação constituem título executivo, embora dependa este último da
homologação, tal qual supra nos referimos.
Na mediação dá – se maior ênfase a equidade, mas isso não significa dizer que
os árbitros não procuram decidir com base na equidade, só que na mediação a equidade
tem maior predominância.
Portanto, podemos dizer em conjunto com o autor supra que a decisão arbitral
tem de ser uma solução maximizadora e a sugestão mediadora uma solução optimizadora.
Maximizadora, uma porque se trata de alocar direitos e deveres, respondendo ao velho
brocardo latino suum cuique tribuere . Optimizadora, a outra, porque destinada a tentar
esticar ao máximo possível a potenciação da conciliação dos interesses em presença, de
tal sorte que a “soma” do que cada parte retira da sugestão mediadora seja superior ao
resultado da maximização da vantagem para a parte que merecia em arbitragem ou em
tribunal comum a tutela do Direito83.
83
José Miguel JÚDICE. Op.cit, p.64
74
CAPÍTULO III
4.2 Apresentação dos dados obtidos durante a Entrevista com a Chefe dos
Serviços provinciais da Inspecção do Trabalho no Huambo
75
somente uma sala técnica de mediação de conflitos com um computador e uma
impressora.
A viatura que possuem para além das inspecções é usada para notificar as
empresas sobre os pedidos de mediação.
Tabela n.º 1
Huambo 03 09 03 01 16 03 02 21
Tabela n.º 2
Tal como já referimos num outro lugar uma inspectora foi submetida a entrevista
e sete responderam ao questionário, conforme mostra a tabela abaixo:
76
Pessoal entrevistado e questionado
Tabela n.º3
Entrevista Questionário
Homem 00 07
Mulher 01 01
Licenciada em Engenharia 01
Agronómica
Licenciados em Direito 06
Bacharel em Direito 01
Tabela n.º5
Género
Masculino Feminino
06 02
Designação Quantidade
77
Pedidos Resolvidos 144
Não resolvidos 00
Declaração de Impossibilidade 31
Desistidos 00
Os casos resolvidos tanto podem ser a favor do trabalhador como também podem
ser a favor do empregador.
78
Gráfico n.º 1
Individual
Colectivo
99% Dos inquiridos afirmou que as principais causas dos conflitos de trabalho
na província do Huambo são o despedimento, a falta de pagamento de salário, o abandono
de trabalho, a falta de condições adequadas para o exercício da actividade laboral bem
como o não cumprimento das obrigações relativa à Segurança Social.
1% Dos inquiridos apontou como principal causa dos conflitos de trabalho nesta
circunscrição do país o desconhecimento da legislação laboral por parte dos sujeitos da
relação jurídico – laboral.
79
4. Quais são as principais dificuldades que tem encontrado no processo de
mediação?
80
CONCLUSÕES
81
deterioradas, assim como a falta do poder decisório, bem como a insuficiência de sala de
mediação.
82
RECOMENDAÇÕES
83
REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS
Obras
84
MINISTÉRIO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, TRABALHO E
SEGURANÇA SOCIAL - Guia Metodológico do Inspector do Trabalho - Luanda, 2002.
SILVA, Carlos Alberto B. Burity da - Teoria Geral do Direito Civil - 2.ª ed.
Luanda, 2014.
Legislação
85
Lei nº16/03, de 25 de Julho, Sobre a Arbitragem Voluntária. Código de Processo
Civil 5ªed. Sem Tir – te Nem Guar – te, Luanda, 2013.
Dicionários
Revistas
Websites
86
ROSSO, Sadi Dal - A inspeção do trabalho - Revista da Administração Pública,
Rio de Janeiro,1996, disponível em: www.bibliotecadigital.fgv.br, acessado em15/
07/2020.
87