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Coordenadores
Antonio Carlos Villen
Alexandre de Mello Guerra
Prefácio
José Maria Câmara Junior
1
Direito Público
contemporâneo
A nova LINDB e as novas leis de Licitações e Contratos
Administrativos e de Improbidade Administrativa
Diretor
Desembargador José Maria Câmara Junior
Vice-Diretor
Desembargador Gilson Delgado Miranda
Direito Público
contemporâneo
A nova LINDB e as novas leis de Licitações e Contratos
Administrativos e de Improbidade Administrativa
Vários autores.
ISBN 978-65-87080-50-5
CDU-351.712.2.028(81)
Prefácio
José Maria Câmara Junior........................................................ 9
Apresentação
Antonio Carlos Villen e Alexandre de Mello Guerra........................11
10. M
eios alternativos de solução de controvérsias na nova Lei de Licitações
e Contratos Administrativos
Paula Fernanda de Souza Vasconcelos Navarro............................ 355
2. O
reencontro da improbidade administrativa com o propósito da
Constituição Federal de 1988
Luis Manuel Fonseca Pires e Vitor Marques................................ 429
3. Mudou o sistema ou mudou o Direito? Alguns impactos da nova Lei de
Improbidade Administrativa na conformação sociojurídica do sistema de
tutela da moralidade
Alessandra Lopes Santana de Mello e Alexandre de Mello Guerra..... 447
Prefácio
Apresentação
Introdução
1
Professor titular da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo – Largo São Francisco.
28 Fernando Campos Scaff
2
LARENZ. Karl. Metodologia da Ciência do Direito. 2. ed. Lisboa: Calouste, 1989.
Normas de Direito Público na LINDB para interpretação
e integração no Direito Administrativo 29
3
ENGISH, Karl. Introdução ao pensamento jurídico. 6. ed. Lisboa: Calouste, 1983.
30 Fernando Campos Scaff
5
ALPA, Guido. Il contratto in generale. Principi e problemi. Milão: Giuffrè, 2014.
Normas de Direito Público na LINDB para interpretação
e integração no Direito Administrativo 33
Isso significa, por exemplo, que uma licitação feita e com obras
em curso, tendo sido o contrato celebrado a partir de um procedimento
prévio formalmente em ordem, não poderia ser modificado judicialmente,
com alteração de preços ou outras características da contratação,
sem considerações acerca dos riscos decorrentes da paralisação das
Normas de Direito Público na LINDB para interpretação
e integração no Direito Administrativo 35
Não foi essa regra legal, por exemplo, que orientou o seguinte julgado do Superior Tribunal de Justiça:
6
Conclusão
Bibliografia
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (1. Turma). AgInt nos EDcl no Agravo
em Recurso Especial 295.527/RS. ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. RECEBIMENTO DA INICIAL. PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO
SOCIETATE. VIOLAÇÃO AO ART. 11 DA LIA. DEMONSTRAÇÃO DE DANO
AO ERÁRIO OU DE ENRIQUECIMENTO ILÍCITO. Rel.: Min. Benedito Gonçalves.
Brasília, DF: Superior Tribunal de Justiça, 2017.
ENGISH, Karl. Introdução ao pensamento jurídico. 6. ed. Lisboa: Calouste, 1983.
LARENZ. Karl. Metodologia da Ciência do Direito. 2. ed. Lisboa: Calouste, 1989.
RIBEIRO, Joaquim de Sousa. O Problema do Contrato. As Cláusulas
Contratuais Gerais e o Princípio da Liberdade Contratual. Coimbra:
Almedina, 2003.
14
1. Introdução
1
Professor titular da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
2
Juíza de Direito do Tribunal de Justiça de São Paulo. Mestranda do Programa de Pós-Graduação
da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
3
A Lei n. 12.376/2010, composta por apenas três artigos, tem por objeto exclusivo a alteração
da ementa do Decreto-Lei n. 4.657/42: Art. 1o. Esta Lei altera a ementa do Decreto-Lei nº 4.657,
de 4 de setembro de 1942, ampliando o seu campo de aplicação. Art. 2o. A ementa do Decreto-Lei nº 4.657,
de 4 de setembro de 1942, passa a vigorar com a seguinte redação: “Lei de Introdução às normas do
Direito Brasileiro.” Art. 3o. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
4
“Inclui no Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942 (Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro), disposições sobre segurança jurídica e eficiência na criação e na aplicação do direito público”.
42 Fernando Dias Menezes de Almeida e Aline Aparecida de Miranda
5
Excluem-se do sentido ora empregado de Estado de Direito as situações de Estados autocráticos
(autoritários e totalitários), que apenas nominalmente se podem dizer de Direito, mas nos quais
o Direito, de fato, não conforma a ação dos governantes, mas sim por ela é conformado.
6
A tradução é de Manoel Gonçalves Ferreira Filho (Direitos Humanos Fundamentais, p. 168). Os textos
originais são: “Art. 4. La liberté consiste à pouvoir faire tout ce qui ne nuit pas à autrui : ainsi, l’exer-
cice des droits naturels de chaque homme n’a de bornes que celles qui assurent aux autres Membres
de la Société la jouissance de ces mêmes droits. Ces bornes ne peuvent être déterminées que par la
A promoção da segurança jurídica na Lei de Introdução
às normas do Direito Brasileiro 43
Loi. Art. 5. La Loi n’a le droit de défendre que les actions nuisibles à la Société. Tout ce qui n’est pas
défendu par la Loi ne peut être empêché, et nul ne peut être contraint à faire ce qu’elle n’ordonne
pas.” (Texto disponível em http://www.conseil-constitutionnel.fr/conseil-constitutionnel/francais/la-
constitution/la-constitution-du-4-octobre-1958/declaration-des-droits-de-l-homme-et-du-citoyen-de-
1789.5076.html).
7
Leçons de Droit Public Général, pp. 274/280. O tema é desenvolvido em maior extensão, pelo mesmo
autor, em seu célebre Traité de Droit Constitutionnel.
8
De fato, cabe lembrar que a sanção jurídica, diversamente da moral, é heterônoma.
9
DUGUIT, Léon, Leçons de Droit Public Général, p. 275. Tradução livre.
44 Fernando Dias Menezes de Almeida e Aline Aparecida de Miranda
10
CF 1967, art. 150, § 2º (ou art. 153, § 2º, com a Emenda n. 1/69); CF 1946, art. 141, § 2º; CF 1934,
art. 113, 2; CF 1891, art. 72, § 1º; CI 1824, art. 179, I.
11
Enfatizando este segundo elemento, Odete Medauar afirma que “em essência segurança jurídica diz
respeito à estabilidade das situações jurídicas” (“Segurança Jurídica e Confiança Legítima”, p. 115).
A promoção da segurança jurídica na Lei de Introdução
às normas do Direito Brasileiro 45
no sentido que lhes é dado por Hans KELSEN12, o que inclui, por exemplo,
os atos administrativos e as sentenças judiciais.
Verifica-se, portanto, que não basta nominalmente garantir-se
a legalidade; é preciso, para que realmente se tenha um Estado de Direito,
que essa legalidade se revista de atributos tais que a façam apta a oferecer
segurança jurídica aos destinatários da norma.
A insegurança jurídica é um potencial fator do aniquilamento da vida
social do indivíduo, mediante o sacrifício de sua liberdade.
A insegurança quanto ao Direito – seja ante a dúvida quanto ao Direito
aplicável13, seja ante a instabilidade das relações concretizadas –
é tão nociva para a liberdade dos indivíduos, como a insegurança tout
court seria nociva para a própria existência dos indivíduos.
Oportuna, nesse sentido, a formulação de Celso Antônio Bandeira
de Mello:
12
Teoria Pura do Direito, t. II, pp. 85 et seq.
13
Ilustrativa dessa acepção de segurança jurídica é a versão italiana da mesma expressão – “certezza del
diritto” – a qual, segundo Alessandro Pizzorusso e Paolo Passaglia, traz do latim, a partir do adjetivo
“certus”, particípio do verbo “cerno”, os sentidos aproximativos de “discernir”, “compreender”
e “escolher (entre várias soluções)” (“Constitution et Sécurité Juridique – Rapport Italien”, p. 105).
14
Curso de Direito Administrativo, pp. 113/114.
46 Fernando Dias Menezes de Almeida e Aline Aparecida de Miranda
15
Bertrand Mathieu, “Constitution et Sécurité Juridique – Rapport Français”, pp. 52/53.
16
Ou por outro enfoque, Bertrand Mathieu toma de empréstimo a expressão de Michel Verpeaux “principe
fédérateur”, um princípio que agrupa, associa – nesse sentido, é “federador” – outros princípios.
17
“Constitution et Sécurité Juridique – Rapport Français”, p. 53.
A promoção da segurança jurídica na Lei de Introdução
às normas do Direito Brasileiro 47
18
A Reconstrução dos Direitos Humanos: um Diálogo com o Pensamento de Hannah Arendt, p.243.
19
Não se está aqui discordando de Bertrand Mathieu, cuja sistematização serviu de base para os presentes
desenvolvimentos. Até porque, no citado trabalho, o autor não se preocupa em discutir a dita “teoria
dos princípios”, concebendo “princípios” como espécie de normas jurídicas, ao lado das “regras”
– assunto que, aliás, já tem ocupado a doutrina jurídica brasileira de modo significativamente mais
intenso do que sua real relevância faria por merecer.
20
Comportando verdadeiro desvio de finalidade na produção normativa; p. ex.: edição de lei evidentemente
inconstitucional com o objetivo de afetar, na prática, dada situação que se enquadre em sua hipótese
de incidência (como o caso da edição de lei para tornar inviável concurso público em andamento).
21
Introdução ao Estudo do Direito, p. 181.
22
Teoria Pura do Direito, t. II, p. 46.
48 Fernando Dias Menezes de Almeida e Aline Aparecida de Miranda
23
Para uma análise do direito adquirido como gênero, incluindo as espécies ato jurídico perfeito e coisa
julgada, ver, de Rubens Limongi França, Direito Intertemporal Brasileiro, pp. 436 et seq..
24
“Atos-regra”, para lembrar a precisa terminologia de Léon Duguit.
A promoção da segurança jurídica na Lei de Introdução
às normas do Direito Brasileiro 49
25
E, de todo modo, ainda que temperado pelos princípios ditos sociais do contrato (Código Civil,
arts. 421, 422 e 478) – ver, a propósito, Antônio Junqueira de Azevedo, “Relatório Brasileiro sobre
Revisão Contratual Apresentado para as Jornadas Brasileiras da Associação Henri Capitant”, p. 183 –
segue válido no Brasil o princípio pacta sunt servanda, mesmo que não haja no Direito nacional
a previsão expressa do Código Civil francês: “Art. 1.134. Les conventions légalement formées tiennent
lieu de loi à ceux qui les ont faites”.
26
Como o foram a Constituição do Império – “Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos
dos Cidadãos Brasileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade,
é garantida pela Constituição do Império, pela maneira seguinte. […] II. Nenhuma Lei será estabelecida
sem utilidade pública. III. A sua disposição não terá efeito retroativo”. – e a Constituição Federal
de 1891 – “Art 11 - É vedado aos Estados, como à União: […] 3º) prescrever leis retroativas.”
27
Caso, aliás, que comporta exceção à não retroatividade: “Art. 5º, XL – a lei penal não retroagirá,
salvo para beneficiar o réu”.
28
MEDAUAR, Odete, “Segurança Jurídica e Confiança Legítima”, p. 117.
50 Fernando Dias Menezes de Almeida e Aline Aparecida de Miranda
29
“O Princípio da Segurança Jurídica (Proteção à Confiança) no Direito Público Brasileiro e o Direito
da Administração Pública de Anular seus Próprios Atos Administrativos: o Prazo Decadencial do Art. 54
da Lei do Processo Administrativo da União (Lei n. 9.784/99)”.
30
“Segurança jurídica e confiança legítima”.
31
“Os Princípios da Proteção à Confiança, da Segurança Jurídica e da Boa-Fé na Anulação do
Ato Administrativo”.
32
Segurança Jurídica e Proteção da Confiança Legítima - Análise Sistemática e Critérios de Aplicação
no Direito Administrativo Brasileiro.
33
Sem que se ignore a multiplicidade de obras publicadas especificamente sobre o tema, um excelente
panorama comparativo de diversas perspectivas nacionais sobre o assunto pode ser obtido em VV. AA.
Constitution et Sécurité Juridique. Anais da XVe Table Ronde Internationale promovida pelo Groupe d’Études
et de Recherches sur la Justice Constitutionnelle da Université d’Aix-Marseille III. Aix-en-Provence, 1999.
34
Em verdade, remonta ao pensamento antigo o reconhecimento da importância da confiança para
o relacionamento humano, como bem analisa, a partir das idéias de Aristóteles, Camila de Jesus Mello
Gonçalves (Princípio da Boa-Fé – Perspectivas e Aplicações, pp. 37 et seq.).
35
“O Princípio da Segurança Jurídica (Proteção à Confiança) no Direito Público Brasileiro e o Direito
da Administração Pública de Anular seus Próprios Atos Administrativos: o Prazo Decadencial do Art. 54
da Lei do Processo Administrativo da União (Lei n. 9.784/99)”, pp. 3–4.
A promoção da segurança jurídica na Lei de Introdução
às normas do Direito Brasileiro 51
36
“Constitution et Sécurité Juridique – Rapport Français”, p. 60.
37
Tradução livre. Na sequência desse trecho, o autor observa, por consequência desse caráter subjetivo,
que o princípio da confiança legítima “é dificilmente utilizável no âmbito de um contencioso objetivo”.
52 Fernando Dias Menezes de Almeida e Aline Aparecida de Miranda
38
Como mostra Almiro do Couto E Silva, o princípio da proteção à confiança começou a firmar-se
na jurisprudência alemã em torno da questão do limite temporal para que a Administração anule seus
próprios atos, de que decorram efeitos favoráveis aos destinatários [“O Princípio da Segurança Jurídica
(Proteção à Confiança) no Direito Público Brasileiro e o Direito da Administração Pública de Anular
seus Próprios Atos Administrativos: o Prazo Decadencial do Art. 54 da Lei do Processo Administrativo
da União (Lei n. 9.784/99)”, p. 7].
39
Odete Medauar exemplifica com o caso de “promessas ou compromissos da Administração, que geraram,
no cidadão, esperanças fundadas”; e com o caso de “alterações normativas que, mesmo legais,
são de tal modo abruptas ou radicais que suas consequências revelam-se chocantes” (“Segurança
Jurídica e Confiança Legítima”, p. 117).Celso Antônio Bandeira de Mello aponta a impossibilidade de
que alterações em orientações anteriormente firmadas pela Administração agravem ou prejudiquem
a situação de administrados, em dado caso concreto, senão mediante prévia e pública notícia quanto
à nova orientação (Curso de Direito Administrativo, p. 114).
A promoção da segurança jurídica na Lei de Introdução
às normas do Direito Brasileiro 53
Não se pretende, neste estudo, comentar cada um dos mais novos artigos
da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, tampouco o disposto
em sua regulamentação no Decreto nº 9.830, de 10 de junho de 2019,
com exame de requisitos, especificidades e regras de aplicação.
A demonstração que se faz é da presença da promoção da segurança
jurídica na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, expressa
em sua literalidade e como componente do conteúdo da regra.
Com efeito, a partir dos artigos 20 e seguintes, a segurança jurídica
revela-se como cerne das previsões legais, evidenciando-se o empenho
do legislador para que sejam observadas a estabilidade e a previsibilidade
das situações jurídicas.
Exige-se que, nas esferas administrativa, controladora e judicial,
as decisões sejam motivadas, com a demonstração de necessidade
40
A nova LINDB e o direito administrativo: o que esperar?, p. 113.
41
Segurança jurídica e eficiência na lei de introdução ao direito brasileiro, p. 7.
54 Fernando Dias Menezes de Almeida e Aline Aparecida de Miranda
42
“Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores
jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão. Parágrafo único.
A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta ou da invalidação de ato,
contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em face das possíveis alternativas.”
43
“Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação
de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso suas
consequências jurídicas e administrativas. Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo
deverá, quando for o caso, indicar as condições para que a regularização ocorra de modo proporcional
e equânime e sem prejuízo aos interesses gerais, não se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou
perdas que, em função das peculiaridades do caso, sejam anormais ou excessivos.”
44
“Art. 23. A decisão administrativa, controladora ou judicial que estabelecer interpretação ou orien-
tação nova sobre norma de conteúdo indeterminado, impondo novo dever ou novo condicionamento
de direito, deverá prever regime de transição quando indispensável para que o novo dever ou condi-
cionamento de direito seja cumprido de modo proporcional, equânime e eficiente e sem prejuízo aos
interesses gerais.”
A promoção da segurança jurídica na Lei de Introdução
às normas do Direito Brasileiro 55
“Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à validade de ato,
45
contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção já se houver completado levará em
conta as orientações gerais da época, sendo vedado que, com base em mudança posterior de orientação
geral, se declarem inválidas situações plenamente constituídas. Parágrafo único. Consideram-se orien-
tações gerais as interpretações e especificações contidas em atos públicos de caráter geral ou em
jurisprudência judicial ou administrativa majoritária, e ainda as adotadas por prática administrativa
reiterada e de amplo conhecimento público.”
56 Fernando Dias Menezes de Almeida e Aline Aparecida de Miranda
46
“Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos
e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos
direitos dos administrados […].”
47
“Art. 22. […] § 1º Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato, ajuste,
processo ou norma administrativa, serão consideradas as circunstâncias práticas que houverem imposto,
limitado ou condicionado a ação do agente.”
48
Art. 26. Para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na aplicação do direito
público, inclusive no caso de expedição de licença, a autoridade administrativa poderá, após oitiva
do órgão jurídico e, quando for o caso, após realização de consulta pública, e presentes razões de
relevante interesse geral, celebrar compromisso com os interessados, observada a legislação aplicável,
o qual só produzirá efeitos a partir de sua publicação oficial. […].
A promoção da segurança jurídica na Lei de Introdução
às normas do Direito Brasileiro 57
49
Art. 29. Em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos normativos por autoridade administrativa,
salvo os de mera organização interna, poderá ser precedida de consulta pública para manifestação
de interessados, preferencialmente por meio eletrônico, a qual será considerada na decisão.
50
Art. 30. As autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica na aplicação das
normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas administrativas e respostas a consultas. Parágrafo
único. Os instrumentos previstos no caput deste artigo terão caráter vinculante em relação ao órgão
ou entidade a que se destinam, até ulterior revisão.
51
Comentários à Lei nº 13.655/2018 (Lei da Segurança para a Inovação Pública), p. 164.
58 Fernando Dias Menezes de Almeida e Aline Aparecida de Miranda
Conclusão
Bibliografia
Introdução
1.1 O pós-positivismo
2
BARROSO, Luís Roberto. A nova interpretação constitucional. 2. ed. Renovar, 2006. p. 25.
Segurança jurídica: contribuições da LINDB 65
3
Art. 8º do CPC – Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do
bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcio-
nalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência.
Art. 489 do CPC – São elementos essenciais da sentença:
§ 2º No caso de colisão entre normas, o juiz deve justificar o objeto e os critérios gerais da ponderação
efetuada, enunciando as razões que autorizam a interferência na norma afastada e as premissas fáticas
que fundamentam a conclusão.
4
Art. 4º da LINDB – Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes
e os princípios gerais de direito.
Art. 5º da LINDB – Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências
do bem comum.
Art. 20 da LINDB – Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em
valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão. (Incluído
pela Lei nº 13.655, de 2018)
Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta ou da
invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em face das possíveis
alternativas. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
Art. 21 da LINDB – A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a
invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso
suas consequências jurídicas e administrativas. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o caso, indicar
as condições para que a regularização ocorra de modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos
interesses gerais, não se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das
peculiaridades do caso, sejam anormais ou excessivos. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
Art. 22 da LINDB – Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos
e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos
direitos dos administrados.
§ 1º Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato, ajuste, processo ou
norma administrativa, serão consideradas as circunstâncias práticas que houverem imposto, limitado
ou condicionado a ação do agente. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
§ 2º Na aplicação de sanções, serão consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida,
os danos que dela provierem para a administração pública, as circunstâncias agravantes ou atenuantes
e os antecedentes do agente. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
§ 3º As sanções aplicadas ao agente serão levadas em conta na dosimetria das demais sanções de mesma
natureza e relativas ao mesmo fato. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
Art. 23 da LINDB – A decisão administrativa, controladora ou judicial que estabelecer interpretação
ou orientação nova sobre norma de conteúdo indeterminado, impondo novo dever ou novo condiciona-
mento de direito, deverá prever regime de transição quando indispensável para que o novo dever ou
condicionamento de direito seja cumprido de modo proporcional, equânime e eficiente e sem prejuízo
aos interesses gerais.
Parágrafo único. (VETADO).
Art. 24 da LINDB – A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à validade
de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção já se houver completado
66 Ricardo Cunha Chimenti
levará em conta as orientações gerais da época, sendo vedado que, com base em mudança poste-
rior de orientação geral, se declarem inválidas situações plenamente constituídas. (Incluído pela
Lei nº 13.655, de 2018)
Parágrafo único. Consideram-se orientações gerais as interpretações e especificações contidas em
atos públicos de caráter geral ou em jurisprudência judicial ou administrativa majoritária, e ainda as
dotadas por prática administrativa reiterada e de amplo conhecimento público.
Segurança jurídica: contribuições da LINDB 67
5
MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. 4. ed. RT, 2016. p. 46.
68 Ricardo Cunha Chimenti
DIDIER JR., Fredie; OLIVEIRA, Rafael; BRAGA, Paula. Curso de direito processual civil. Salvador:
6
7
Art. 489 [...]:
§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou
acórdão, que [...]
V – se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos deter-
minantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
VI – deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte,
sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento.
Art. 332 [...]
IV – enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local.
70 Ricardo Cunha Chimenti
Conclusão
Introdução
1
Mestre e doutor em Direito do Estado (Direito Constitucional) pela Faculdade de Direito da Universidade
de São Paulo (USP). Especialista em Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários
(IBET). Professor da Escola Paulista da Magistratura (EPM).
2
Não se trata de advogar que tal Decreto-Lei se sobressaia às disposições da Constituição Federal,
mas de reconhecer que suas disposições acabam por irradiar efeitos na interpretação de todo Direito.
74 Thiago Massao Cortizo Teraoka
3
“A ideia é incluir na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-lei 4.657/1942) disposições
para elevar os níveis de segurança jurídica e de eficiência na criação e aplicação do direito público.
Conforme esclareceram os referidos professores, o projeto em apreço propõe medidas para neutralizar
importantes fatores de distorção da atividade jurídico-decisória pública. São eles:
- O alto grau de indeterminação de grande parte das normas públicas;
- A relativa incerteza, inerente ao Direito, quanto ao verdadeiro conteúdo de cada norma;
- A tendência à superficialidade na formação do juízo sobre complexas questões jurídico-públicas;
- A dificuldade de o Poder Público obter cumprimento voluntário e rápido de obrigação por terceiros,
contribuindo para a inefetividade das políticas públicas;
- A instabilidade dos atos jurídicos públicos, pelo risco potencial de invalidação posterior, nas várias
instâncias de controle.
- Os efeitos negativos indiretos da exigência de que as decisões e controles venham de processos
(que demoram, custam e podem postergar cumprimento de obrigações);
- O modo autoritário como, na quase totalidade dos casos, são concebidas e editadas normas pela
Administração Pública.” (SUNDFELD, Carlos Ari.; MARQUES NETO, Floriano de Azevedo. Contratações
Públicas e Seu Controle. 2013: Malheiros, p. 278). Exposição de motivos do Projeto de Lei do Senado
(PLS) 349/2015. Disponível em https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=2919883&t-
s=1630433024434&disposition=inline. Acesso em: 12 out. 2022.
Lei nº 13.655/18: responsabilização do agente público e consequencialismo
nos atos e decisões administrativas e judiciais 75
1. O problema
4
Nesse ponto, deve-se lembrar das lições de Peter Häberle e sua Sociedade aberta aos intérpretes
da Constituição”. Mais recentemente, Peter Härbele escreveu: “Todo aquele que vive no contexto
regulado por uma norma é, indireta ou até mesmo diretamente, um intérprete dessa norma. O desti-
natário da norma participa do processo hermenêutico de forma muito mais intensa do que geralmente
se supõe. Como não são apenas os intérpretes jurídicos da Constituição que vivem a Constituição,
não são eles também os detentores da condição de intérpretes principais da ordem jurídica fundamental.”
(HÄRBELE, Peter. A Sociedade Aberta dos Intérpretes da Constituição – Considerações do Ponto de Vista
Nacional-Estatal Constitucional e Regional Europeu, Bem Como sobre o Desenvolvimento do Direito
Internacional.” . Tradução Gilmar Ferreira Mendes. Direito Público. Outubro/Novembro/Dezembro
de 2007, p. 58. Disponível em: https://www.portaldeperiodicos.idp.edu.br/direitopublico/article/
view/1292/758. Acesso em: 21 out. 2022).
5
A respeito desse tema, escrevi “Mutação constitucional e ativismo judicial”. Cadernos Jurídicos,
São Paulo , ano 16, nº 40, p. 115-130, abr./jun. 2015).
76 Thiago Massao Cortizo Teraoka
6
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Aspectos do direito constitucional contemporâneo. São Paulo:
Saraiva, 2003. p. 189.
7
Cf. FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Aspectos do direito constitucional contemporâneo. p. 189.
Renato Soares de Melo Filho aponta duas razões para o fenômeno (i) teórica insubmissão política,
que leva a prevenção do majoritarismo dos parlamentos; e (ii) delegação implícita da responsabilidade
de tomar decisões em matérias extremamente controversas. Cf. Ativismo judicial em investida ao
estado democrático. Curitiba: Juruá, 2019. p. 38-39.
8
Os exemplos de atividade “acusadamente” política do Poder Judiciário são muitos, passando desde
a criminalização da homofobia, inquérito das “fake news”, combate ao nepotismo, verticalização das
eleições, financiamento público de campanhas etc. Não adentramos em pormenores nem fazemos
juízos de valor. Apenas, reconhecemos o fenômeno como ele existe e é compreendido pela população.
9
A Lei nº 13.655/2018 consagrou a expressão jurisprudência na LINDB, em seu artigo 24, parágrafo único.
10
Vide, por exemplo, o Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014), em seus artigos 2º e 3º de conteúdo
muitas vezes, em tese, colidentes.
11
Artigo 926 do Código de Processo Civil: “Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la
estável, íntegra e coerente”.
Lei nº 13.655/18: responsabilização do agente público e consequencialismo
nos atos e decisões administrativas e judiciais 77
12
“Nas praias de Turismo, pelo mundo afora, existe um brinquedo em que uma enorme boia, cheia
de pessoas, é arrastada por uma lancha. A função do piloto dessa lancha é fazer derrubar as pessoas
montadas no dorso da boia. Para tanto, a lancha desloca-se em linha reta e, de repente, descreve
curvas de quase noventa graus. O jogo só termina, quando todos os passageiros da boia estão dentro
do mar. Pois bem, o STJ parece ter assumido o papel do piloto dessa lancha. Nosso papel tem sido
derrubar os jurisdicionados.”. Voto vista do Ministro Humberto Gomes de Barros – AgReg no RESP
nº 382.736. Disponível em: https://www.conjur.com.br/dl/voto-banana-boat-humberto-gomes-barros.pdf.
Acesso em: 21 out. 2022.
13
“A alta probabilidade de ser responsabilizado pelo exercício de função pública, por causa de um
sistema de controle desfuncionalizado, leva ao medo de responsabilização do agente público. Ao mesmo
tempo que o medo é consequência dos excessos do controle, também é causa, à medida que produz
respostas disfuncionais visando a autoproteção dos agentes públicos, a exemplo do imobilismo decisório
decorrente do medo em decidir, o que pode levar a uma postura mais firme dos órgãos de controle no
exercício de sua atividade. O medo reflete, portanto, a incapacidade de gerir estes riscos, pois o grau
de probabilidade de ameaça é tão alto que naturalmente dá lugar ao medo”. (GULLO, Felipe Ramirez.
Apagão das canetas. In: GULLO, Felipe Ramirez. Análise econômica da responsabilidade da improbidade
administrativa. 2022. Dissertação de mestrado. FGV, 2022, p. 107.
14
GOMES JUNIOR, Luiz Manoel; RODRIGUES, João Paulo Souza; BORGES, Sabrina Nunes. Retroatividade
da nova lei de improbidade administrativa: propostas para o tratamento adequado da lei 14.230/2021
sobre processos em curso. Revista de Processo, São Paulo, v. 47, n. 329, p. 339–368, 2022.
78 Thiago Massao Cortizo Teraoka
15
São exemplos os artigos 3º, V, da Lei da Liberdade Econômica e as alterações que impôs ao Código
Civil, com acréscimos ao artigo 113, alterações no artigo 421 e acréscimo do artigo 421-A.
16
Por exemplo, a terceirização foi amplamente difundida e considerada constitucional pelo Supremo
Tribunal Federal, no tema STF nº 725: “É lícita a terceirização ou qualquer outra forma de divisão
do trabalho entre pessoas jurídicas distintas, independentemente do objeto social das empresas
envolvidas, mantida a responsabilidade subsidiária da empresa contratante.”
17
A reforma trabalhista impôs condenação em honorários de sucumbência, conforme dispositivo inserido
na Consolidação das Leis do Trabalho: “Art. 791-A. Ao advogado, ainda que atue em causa própria,
serão devidos honorários de sucumbência, fixados entre o mínimo de 5% (cinco por cento) e o máximo
de 15% (quinze por cento) sobre o valor que resultar da liquidação da sentença, do proveito econômico
obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa.”
18
Abuso de autoridade: a mordaça passa pelo Senado. Gazeta do Povo, 26 jun. 2019. Disponível em:
https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/abuso-de-autoridade-senado-aprova-mordaca.
Acesso em: 5 set. 2022.
19
Por exemplo: PELUSO, Vinícius de Toledo Piza. PL do Senado sobre abuso de autoridade cria crime
de hermenêutica. Disponível em: https://www.sedep.com.br/artigos/pl-do-senado-sobre-abuso-de-
autoridade-cria-crime-de-hermeneutica/. Acesso em: 5 set. 2022.
Lei nº 13.655/18: responsabilização do agente público e consequencialismo
nos atos e decisões administrativas e judiciais 79
20
Nome dado pelos proponentes do anteprojeto que acabou culminando na Lei de Abuso de autoridade.
Sobre o lamento do antigo chefe da Procuradoria Geral de Justiça, Rodrigo Janot: RICHTER, Andre.
As 10 medidas contra a corrupção não existem mais’, diz Janot. Disponível em: https://agenciabrasil.
ebc.com.br/politica/noticia/2016-11/10-medidas-contra-corrupcao-nao-existem-mais-diz-janot.
Acesso em: 5 set. 2022.
21
“Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente.
22
“Art. 927 […] § 3º Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal
e dos tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos repetitivos, pode haver modulação
dos efeitos da alteração no interesse social e no da segurança jurídica.
23
Lei nº 9.868/1999, artigo 27. Nesse dispositivo, parece-me que a ponderação de consequências práticas
advindas de interpretação judicial é inquestionável. Talvez tenha sido a primeira consagração explícita
do “consequencialismo” como norte de interpretação judicial no direito positivo brasileiro.
24
“Art. 5º Na aplicação desta Lei, serão observados os princípios da legalidade, da impessoalidade,
da moralidade, da publicidade, da eficiência, do interesse público, da probidade administrativa,
da igualdade, do planejamento, da transparência, da eficácia, da segregação de funções, da motivação,
da vinculação ao edital, do julgamento objetivo, da segurança jurídica, da razoabilidade, da competiti-
vidade, da proporcionalidade, da celeridade, da economicidade e do desenvolvimento nacional susten-
tável, assim como as disposições do Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942 (Lei de Introdução
às Normas do Direito Brasileiro).
25
“Sobre o tema, esclarecemos que a multiplicidade de órgãos de controle tem gerado significativa
insegurança jurídica para a celebração de acordos de leniência. Tem-se questionado, por exemplo,
a validade de acordos firmados sem a participação do Ministério Público, bem como a possibilidade
de o Tribunal de Contas rediscutir o valor do dano ao erário. Na prática, essa insegurança tem gerado
um desestímulo à celebração desses acordos.”
80 Thiago Massao Cortizo Teraoka
26
Nas palavras de Rodrigo Fernandes Lima Dalledone e Egon Bockmann Moreira: “Em linhas muito amplas,
o que se buscou foi justamente incutir uma lógica consequencialista no contexto das escolhas públicas
(e do respectivo controle), aumentando os ônus argumentativos dos decisores que operam com termos
jurídicos vagos (princípios e conceitos indeterminados), ao fito de que as decisões administrativas
se tornem realmente efetivas, uma vez que foram tomadas por atores legitimados, seguindo minuden-
tes trâmites procedimentais, ao fim dos quais se submetem a variados níveis de escrutínio público.”
(DALLEDONE; BOCKMANN, 2020, p. 333).
Lei nº 13.655/18: responsabilização do agente público e consequencialismo
nos atos e decisões administrativas e judiciais 81
27
“[…] 6. Substanciado pelo apanhado doutrinário e jurisprudencial, tem-se que a falta de postulação
administrativa dos pedidos de compensação ou de repetição do indébito tributário resulta, como no
caso dos autos, na ausência de interesse processual dos que litigam diretamente no Poder Judiciário.
[…] 7. Dois aspectos merecem ser observados quanto a matérias com grande potencial de judicialização,
como a tributária e a previdenciária. O primeiro, sob a ótica da análise econômica do direito, quando
o Estado brasileiro realiza grandes despesas para financiar o funcionamento do Poder Executivo e do
Poder Judiciário para que o primeiro deixe de exercer sua competência legal de examinar os pedidos
administrativos em matéria tributária; e o segundo, em substituição ao primeiro, exerce a jurisdição
em questões que os cidadãos poderiam ver resolvidas de forma mais célere e menos dispendiosa no
âmbito administrativo. Criam-se, assim, um ciclo vicioso e condenações judiciais a título de honorários
advocatícios cujos recursos financeiros poderiam ser destinados a políticas públicas de interesse social”.
(STJ, REsp n. 1.734.733/PE, relator Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 7/6/2018,
DJe de 28/11/2018.) (BRASIL, 2018b).
28
“[…] 15. Cabe ao autor – quer se trate do Estado, das empresas, ou dos cidadãos – ponderar bem
a probabilidade de ganhos e prejuízos antes de ajuizar uma demanda, sabendo que terá que arcar com
os honorários de acordo com o proveito econômico ou valor da causa, caso vencido. […] 18. Tal situação
não passou despercebida pelos estudiosos da Análise Econômica do Direito, os quais afirmam com
segurança que os honorários sucumbenciais desempenham também um papel sancionador e entram
no cálculo realizado pelas partes para chegar à decisão – sob o ponto de vista econômico – em torno
da racionalidade de iniciar um litígio. […] 20. O art. 20 da “Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro” (Decreto-Lei n. 4.657/1942), incluído pela Lei n. 13.655/2018, prescreve que, “nas esferas
administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores jurídicos abstratos sem
que sejam consideradas as consequências práticas da decisão”. Como visto, a consequência prática do
descarte do texto legal do art. 85, §§ 2º, 3º, 4º, 5º, 6º e 8º, do CPC, sob a justificativa de dar guarida
a valores abstratos como a razoabilidade e a proporcionalidade, será um poderoso estímulo comportamen-
tal e econômico à propositura de demandas frívolas e de caráter predatório.” (STJ, REsp n. 1.644.077/PR,
relator Ministro Herman Benjamin, relator para acórdão Ministro Og Fernandes, Corte Especial, julgado
em 16/3/2022, DJe de 31/5/2022.)
29
“[…] 11. Por fim, sob um prisma da análise econômica do Direito, e considerando as consequências práticas
da decisão – nos termos do art. 20 do Decreto-Lei nº 4.657/1942 (acrescentado pela Lei nº 13.655/2018,
que deu nova configuração à Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDB) -, não se pode
deixar de registrar a relevância para a economia do país e para a diminuição do “Custo Brasil” de
que a atualização dos bancos de dados dos birôs de crédito seja feita por meio dos procedimentos
menos burocráticos e dispendiosos, tais como os utilizados no SERASAJUD, a fim de manter a qualidade
e precisão das informações prestadas.[…]”. (STJ, REsp n. 1.814.310/RS, relator Ministro Og Fernandes,
Primeira Seção, julgado em 24/2/2021, DJe de 11/3/2021.) (BRASIL, 2021b).
30
“[…]. 2. Todo contrato de financiamento imobiliário, ainda que pactuado nos moldes do Sistema Financeiro
da Habitação, é negócio jurídico de cunho eminentemente patrimonial e, por isso, solo fértil para
a aplicação da análise econômica do direito. […] 4. As regras expressas no art. 50 e seus parágrafos
têm a clara intenção de garantir o cumprimento dos contratos de financiamento de imóveis tal como
pactuados, gerando segurança para os contratantes. (STJ, REsp n. 1.163.283/RS, relator Ministro Luis
Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 7/4/2015, DJe de 4/5/2015.)”
31
“[…] 5. “Conforme adverte a abalizada doutrina, o fenômeno denominado ‘judicialização da saúde’
exige redobrada cautela e autocontenção por parte de toda a magistratura, para não ser levada
a proferir decisões limitando-se ao temerário exame insulado dos casos concretos ‘que, somados,
82 Thiago Massao Cortizo Teraoka
correspondem à definição de políticas públicas, feita sem qualquer planejamento (que o Judiciário,
pela justiça do caso concreto, não tem condições de fazer) e sem atentar para as deficiências orça-
mentárias que somente se ampliam em decorrência de sua atuação, desprovida que é da visão de
conjunto que seria necessária para a definição de qualquer política pública que se pretenda venha em
benefício de todos e não de uma minoria. […] (DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Judicialização de polí-
ticas públicas pode opor interesses individuais e coletivos)” (AgInt no AREsp 1619479/SP, Rel. Ministro
LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 29/03/2021, DJe 05/04/2021). Ademais, com a
modificação da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, os arts. 20 a 30 exigem dos operadores
do Direito um viés consequencialista, tanto na tomada de decisões pelas autoridades administrativas –
que passam também a ter um ônus maior de transparência, por meio de consultas públicas -, como
para o Judiciário – que tem inequívoca obrigação legal de levar em conta as consequências de suas
decisões no mundo jurídico, no mundo fático, antes de proferi-las. […] Com efeito, o magistrado deve
levar em consideração que o próprio Judiciário pode afetar claramente os custos das atividades, caso
não aprecie detidamente todas as razões e os fatos das causas trazidas ao Estado-juiz. Muito embora
seja certo que há uma vinculação de todas as relações contratuais à função social, “não se pode
confundir a função social do contrato com a justiça social a ser implementada pelo Estado através de
políticas públicas” (TIMM, 2008, p. 113-125). […] (STJ, AgInt no REsp n. 1.879.645/SP, relator Ministro
Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 27/4/2021, DJe de 4/5/2021).
32
Trata-se de estória que ilustra a dificuldade de se disputar um jogo nos quais as regras são mutáveis,
conforme a partida. Cf. STRECK, Lenio. A Katchanga e o bullying interpretativo no Brasil. Conjur,
28 jun. 2012. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2012-jun-28/senso-incomum-katchanga-
bullying-interpretativo-brasil. Acesso em: 1 set. 2022
33
GOBARDO, Emerson; SOUZA, Pablo Ademir de. O consequencialismo e a LINDB: a cientificidade das previ-
sões quanto às consequências práticas das decisões. Revista de Direito Administrativo e Constitucional,
jul./set. 2020. p. 101.
Lei nº 13.655/18: responsabilização do agente público e consequencialismo
nos atos e decisões administrativas e judiciais 83
34
“Impõe-se que nos demos claramente conta do fato seguinte: toda atividade orientada segundo a ética
por ser subordinada a duas máximas inteiramente diversas e irredutivelmente opostas. Pode orientar-se
segundo a ética da responsabilidade e segundo a ética da convicção. […] Quando as consequencias
de um ato praticado por pura convicção se revelam desagradáveis, o partidário de tal ética não atribuirá
responsabilidade ao agente, mas ao mundo, à tolice dos homens ou à vontade de Deus, que assim criou
os homens. O partidário da ética da responsabilidade, ao contrário, contará com as fraquezas comuns do
homem […] e entenderá que não pode lançar a ombros alheios as consequências previsíveis de sua própria
ação.” (WEBER, Max. Ciência e política: duas vocações. Tradução de Leonidas da Mota. p. 113-114).
35
Cf. GOBARDO, Emerson; SOUZA, Pablo Ademir de. O consequencialismo e a LINDB: a cientificidade das
previsões quanto às consequências práticas das decisões, p .101-102
36
As dificuldades do consequencialismo aqui reduzidas são adaptadas do texto de Joel Pinheiro da
Fonseca, denominado “Sobre o consequencialismo e outras ilusões”, na Folha de S.Paulo, publicado
em 14 jul. 2020. Disponível em: https://www.institutomillenium.org.br/sobre-o-consequencialismo-
e-outras-ilusoes/. Acesso em: 13 out. 2022.
84 Thiago Massao Cortizo Teraoka
AMADEI, Vicente de Abreu. Interpretação realista. In. CUNHA FILHO, Alexandre Jorge Carneiro da;
37
ISSA, Rafael Hamze; SCHWIND, Rafael Wallbach. Lei de introdução às normas do direito brasileiro –
Anotada. Decreto-Lei nº 4.657, de 04 de setembro de 1942. Editora Quartier Latin, 2019. v. 2, p. 73.
Lei nº 13.655/18: responsabilização do agente público e consequencialismo
nos atos e decisões administrativas e judiciais 85
38
“Essa é a brecha para abordarmos o consequencialismo jurídico na atuação do Judiciário brasileiro.
As consequências na argumentação judicial, especialmente nas decisões do Supremo Tribunal Federal,
tendem a não aparecer por aqui como apenas um dos fatores tomados em consideração ou sequer
se aproximam das hipóteses que apresentamos no tópico anterior. A resposta privilegiada na atuação
ativista-consequencialista não é a jurídica, aquela dada pelo direito vigente, mas sim aquela preten-
samente apta a produzir as melhores consequências práticas, sejam elas econômicas, sociais ou
políticas.”. Consequencialismo jurídico: o lugar da análise de consequências em direito e os perigos
do ativismo judicial consequencialista. Revista dos Tribunais, v. 1009, p. 123-135, nov. 2019.
86 Thiago Massao Cortizo Teraoka
Art. 1º.
[…]
§ 1º Consideram-se atos de improbidade
administrativa as condutas dolosas tipificadas nos
arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, ressalvados tipos previstos
em leis especiais.
39
“[…] Relativamente às condutas descritas na Lei n. 8.429/1992, esta Corte Superior possui firme enten-
dimento de que a tipificação da improbidade administrativa, para as hipóteses dos arts. 9º e 11, reclama
a comprovação do dolo e, para as hipóteses do art. 10, ao menos culpa do agente. […] 5. Ressalto que
esta Corte Superior tem a diretriz de que improbidade é ilegalidade tipificada e qualificada pelo ele-
mento subjetivo, sendo indispensável, para a caracterização de improbidade, que a conduta do agente
seja dolosa para a tipificação das condutas descritas nos arts. 9º e 11 da Lei n. 8.429/1992, ou, pelo
menos, eivada de culpa grave nas do art. 10 (AIA 30/AM, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJe 28/9/2011).
O que não ocorreu na hipótese. (STJ, AgInt no REsp n. 1.928.057/MG, relator Ministro Og Fernandes,
Segunda Turma, julgado em 23/9/2021, DJe de 8/10/2021.)
40
No mesmo sentido, Tema STF 1199.
Lei nº 13.655/18: responsabilização do agente público e consequencialismo
nos atos e decisões administrativas e judiciais 87
In: CUNHA FILHO, Alexandre Jorge Carneiro da; ISSA, Rafael Hamze; SCHWIND, Rafael Wallbach.
Lei de introdução às normas do direito brasileiro – Anotada. Decreto-Lei nº 4.657, de 04 de setembro
de 1942. Editora Quartier Latin, 2019. v. 2, p. 165-176. Em acusação aos órgãos de controle afirma:
“Isso porque os servidores públicos têm sido acusados de irregularidades por promotores de justiça
que não têm a menor noção sobre como as coisas se passam na realidade material do dia a dia das
pequenas prefeituras.” Cf. TOMELIN, Georghio. Interpretação consequencial e dosimetria conglobante
na nova LINDB, p. 167.
Lei nº 13.655/18: responsabilização do agente público e consequencialismo
nos atos e decisões administrativas e judiciais 89
42
DE LUCCA, Newton; MACIEL, Renata Motta. A Lei nº 13.874/19 como sinalizador para o mercado: política
econômica? In. CUNHA FILHO, Alexandre J. Carneiro da; PICCELLI, Roberto Ricomini; MACIEL, Renata Mota.
Lei da liberdade econômica anotada. Lei nº 13.874, de 2019. Quartier Latin, 2020. v. 2, p. 73.
43
“Art. 5º. As propostas de edição e de alteração de atos normativos de interesse geral de agentes
econômicos ou de usuários dos serviços prestados, editadas por órgão ou entidade da administração
pública federal, incluídas as autarquias e as fundações públicas, serão precedidas da realização
de análise de impacto regulatório, que conterá informações e dados sobre os possíveis efeitos do ato
normativo para verificar a razoabilidade do seu impacto econômico.”
44
Lei nº 9.638/1981, artigo 9º, III.
45
Art. 14, por exemplo, que trata de renúncia de receita.
90 Thiago Massao Cortizo Teraoka
Conclusões
46
Art. 2º. A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade,
motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança
jurídica, interesse público e eficiência.
Lei nº 13.655/18: responsabilização do agente público e consequencialismo
nos atos e decisões administrativas e judiciais 91
Bibliografia
do Centro de Investigação de Direito Público (CIDP) da FDUL. Membro do Lisbon Legal Theory Group
(LxLTG). Diretor Executivo da revista e-Publica (https://e-publica.pt/). Autor de Contratos adminis-
trativos e boa fé (2019), Derrotabilidade normativa e normas administrativas (2019) e Princípio da
boa fé e decisão administrativa (2011). E-mail: plopes@fd.ulisboa.pt.
96 Pedro Moniz Lopes
modificar a raiz: “até que ponto a boa-fé tem, nos contratos administra-
tivos, operatividade idêntica à que apresenta a respeito dos contratos de
direito privado?”. Todas estas subquestões são, respetivamente, traduções
ou instanciações da “questão” enunciada ao início.
A dimensão teórica da “questão” esconde consequências práticas
da maior importância. Na generalidade dos ordenamentos, as normas
de Direito Civil regulam aspetos da formação, interpretação e execução
dos contratos civis (e, também, da sua invalidação, redução, conver-
são etc.). Por conseguinte, da resposta à “questão” resultam diferentes
consequências. Admitir tout court a aplicação de normas jurídico-civis
aos contratos administrativos (a “resposta positiva”) implicará determi-
nadas consequências em matéria de formação, interpretação e execução
contratual. A “resposta negativa” implicará consequências radicalmente
diferentes em cada um desses pontos. Uma resposta condicionalmente
positiva (a “resposta intermédia”, no sentido da admissibilidade da
aplicação de Direito Civil apenas quando normas jurídico-públicas de
receção o prevejam) justificará um tratamento diferenciador, consoante
as matérias alvo da receção2.
Os operadores jurídicos são diariamente convocados a dar resposta à
“questão” e, simultaneamente, a ser consistentes e coerentes na aplica-
ção daquela, em cada uma das suas instanciações. Não poderão respon-
der positivamente à “questão” e, posteriormente, num cherry-picking
de determinadas matérias (e.g. execução de contrato administrativo),
inverter, sem mais, o sentido da resposta dada. Apenas o poderão fazer
no âmbito da “resposta intermédia”, quando houver justificação bastante
para uma derrogação à “resposta negativa”. Todavia, mesmo aí o
argumento não é definitivo: a existência de lei (lato sensu) que justifi-
que a derrogação apenas desloca o foco da análise para o escrutínio da
coerência do (sub)sistema onde se derroga3. Os sistemas jurídicos são
2
Por exemplo, a “resposta intermédia” implica que a resposta seja negativa em caso de interpretação
(supondo-se que não haja normas jurídico-públicas de receção) e positiva em caso de execução
(supondo-se que as haja). Na tese da “resposta intermédia”, claro está, a “resposta negativa” opera
como “resposta por defeito” (i.e., quando não exista norma de receção a determinar o contrário).
Sobre esta problemática, noutro contexto, cf. LOPES, P. Moniz. Contratos administrativos e boa fé.
Lisboa: AAFDL, 2019. p. 25 et seq.
3
A consistência prende-se simplesmente com a não contradição. A coerência normativa exige que as
premissas de um sistema normativo reflitam uma visão unitária da porção do mundo modelado pelo
sistema normativo e, nessa medida, traduzam as propriedades da compreensividade, da completude,
do suporte argumentativo e da mútua justificação entre as várias partes do todo que constitui o Sistema.
Cf. LOPES, P. Moniz. Balancing principles and “a fortiori” reasoning. In: DUARTE, D.; SAMPAIO,
J. Silva (ed.). Proportionality in law: an analytical perspective. Dordrecht: Springer, 2019. p. 137-157.
Uma “questão de princípio”: a distinta dimensão
da boa-fé nos contratos administrativos 97
4
Cf. LOPES, P. Moniz. Princípio da boa fé e decisão administrativa. Coimbra: Almedina, 2011. p. 96-97;
GUASTINI, R. Los principios en el derecho positivo. In: GUASTINI, R. Distinguiendo: estudios de teoría
y metateoría del derecho. Barcelona: Gedisa, 1999. p. 142 et seq., p. 151 et seq.
5
Sobre o conceito de princípio utilizado em texto, cf. LOPES, P. Moniz. The Syntax of Principles: Genericity
as a Logical Distinction between Rules and Principles. Ratio Juris, v. 30, n. 4, 2017, p. 471-490; Idem.
Derrotabilidade normativa e normas administrativas: o enquadramento das normas regulamentares na
teoria dos conflitos normativos: parte i: a estrutura da norma e a derrotabilidade normativa. Lisboa:
AAFDL: 2019. v. I, p. 157-199.
98 Pedro Moniz Lopes
6
Cf. artigo 200, nº 1, do Código do Procedimento Administrativo. O ordenamento jurídico português
já contemplou uma norma definitória (minimalista) no §2º do artigo 815 do Código Administrativo,
aprovado pelo Decreto-Lei n 31 095, de 31 de dezembro de 1940. Cf. M. Aroso de Almeida, O Problema
do Contrato Administrativo, Coimbra: Almedina, 2018, p. 23.
7
O Código dos Contratos Públicos prescreve, no artigo 280, que se entendem por “contratos administra-
tivos” todos aqueles contratos que: a) sejam qualificados como públicos ou submetidos a um regime
legal substantivamente público; b) denotem uma fungibilidade ou alternatividade entre o contrato
a qualificar e um ato administrativo, ou contratualizem o exercício de ius imperii; c) atribuam ao
cocontratante privado direitos exorbitantes sobre coisas públicas ou funções típicas dos órgãos do
contraente público e; d) sejam submetidos (ou passíveis de submissão), pela lei, a um procedimento
jurídico-público de formação contratual e em que a prestação do cocontratante privado possa rele-
vantemente condicionar ou substituir a realização das atribuições do contraente público. No Brasil,
M. S. Zanella di Pietro reporta-se ao a) critério orgânico (ou critério da sujeição), alusivo às prerrogativas
de ius imperii do contraente público; b) ao critério do objeto, respeitante à incidência contratual
sobre organização e funcionamento de serviços públicos e atividades materialmente administrativas;
c) ao critério da finalidade, que se reporta à funcionalização dos contratos, total ou principalmente,
à prossecução do interesse público; d) ao critério do procedimento, que pressupõe uma tramitação
de formalidades prévias à celebração do contrato, inexistente (pelo menos a título vinculativo)
na contratação privada e; e) ao critério das cláusulas exorbitantes do Direito Comum, atributivas
de poderes especiais, nomeadamente de conformação contratual, a favor do contraente público.
Cf. DI PIETRO, M. S. Zanella. Direito administrativo. 20. ed. São Paulo, Atlas, 2007. p. 235.
8
Afirmando que a distinção entre Direito Privado e Direito Público é fundamental “para delimitar as
noções de ato e contrato administrativo, porque ambas pertencem ao “âmbito do Direito Público”
(§§ 35 e 54 VwVfG)”, cf. MAURER, H. Allgemeines Verwaltungsrecht, München, 2011 (edição espanhola:
MAURER, H. Derecho administrativo: parte general. Traducción de G. Pascual. Barcelona: Marcial Pons,
2011. p. 82.). Cf. LOPES, P. Moniz. Contratos administrativos e boa fé, p. 7-39.
9
O critério foi abandonado fruto da (i) regulação de sujeitos privados investidos de ius imperii por
normas de Direito Administrativo em casos, por exemplo, como os de concessões de serviços públicos,
bem como da (ii) regulação de sujeitos privados por normas de Direito Administrativo, independente-
mente do exercício das funções administrativas, como é o caso das relações jurídicoadministrativas
inter privados. Sobre estas, cf. GONÇALVES, P. Entidades privadas com poderes públicos. Coimbra:
Almedina, 2005. p. 140 et seq., 303 et seq.
Uma “questão de princípio”: a distinta dimensão
da boa-fé nos contratos administrativos 99
10
Cf. SCHMIDT-ASSMAN, E. Das Allgemeinen Verwaltungsrecht als Ordnungs Idee, Grundlagen und
aufgaben der verwaltungsrechtlichern Systembildung, tradução castelhana de Javier Barnes
Vázquez e. al. (Madrid: Marcial Pons, 2003, p. 293-294).
11
A pedra de toque desta teoria modificada – por referência à teoria dos sujeitos – reside, essencialmente,
na abrangência de sujeitos públicos pelo Direito Privado. Contudo, a teoria falha na delimitação do
Direito Privado, que é apenas negativamente recortado a partir do Direito Público.
12
Cf. SOUSA, M. Rebelo de; MATOS, A. Salgado de. Direito administrativo geral. 3. ed. Lisboa: D. Quixote,
2008. v. 1, p. 52. A teoria, sem complemento, não fornece, contudo, qualquer critério para a deteção
das normas que regulam os sujeitos de Direito Privado ou a atividade administrativa de Direito Privado,
as quais são integradas residualmente no conjunto do Direito Privado. Assim, CASETTA, E. Manuale di
diritto amministrativo. 10. ed. Milano: Giuffré, 2008. p. 11.
13
Cf. PANACCIO, C. Nominalism and the theory of concepts. In: CHOEN, H.; LEFEBVRE, C. (ed.). Handbook
of categorization in cognitive science. Amsterdam: Elsevier, 2005. p. 993 et seq.
100 Pedro Moniz Lopes
14
Cf. CORDEIRO, A. Menezes. Do direito privado como direito comum português. In: MIRANDA, Jorge
(coord.). Estudos em Honra de Ruy de Albuquerque. Coimbra: Coimbra Editora, 2006. v. 1, p. 103-130,
em especial quanto à aplicação subsidiária, p. 128-129. A posição do autor é, aliás, transversal a três
escritos: além do anterior, cf. Idem. Contratos públicos: subsídios para a dogmática administrativa,
com exemplo no princípio do equilíbrio financeiro. Cadernos O Direito, Coimbra, n. 2, p. 11-30, 2007;
e Idem. Tratado de direito civil português, i-i, introdução, doutrina geral, negócio jurídico. 2. ed.
Coimbra, 2000. p. 29-34. Ali se refere: “perante qualquer situação carecida de tratamento jurídico,
na ausência de regras especiais – de Direito público ou outras – que tenham uma pretensão de apli-
cabilidade, há que recorrer ao Direito Civil. Trata-se de uma consequência automática da sua natureza
como Direito comum. Digamos que o Direito comum é mais extenso e menos intenso, enquanto o Direito
especial, menos extenso, tem, no seu campo de aplicação, maior intensidade […] assim, o Direito
público será especial em relação ao Direito civil; mas é comum em relação ao Direito fiscal […] o
Direito civil é o mais comum e o mais abstrato de todos os ramos do Direito. Constitui a base a partir
da qual, por especialização, por negação, por complementação ou por inovação se vão erguendo todos
os demais ramos jurídicos normativos”. Trata-se de uma tese que, algo contrafacticamente, Menezes
Cordeiro indica como sendo “geralmente reconhecida pelos administrativistas”. Tal não corresponde,
como se verá, nem ao atual panorama doutrinário, quer em Portugal, quer na Alemanha, de onde a
teoria é transposta, nem ao panorama à data de 2006. Como refere lapidarmente Sérvulo Correia,
“[…] em Portugal, como na Alemanha, o Direito comum para as situações jurídicas administrativas,
entre as quais de natureza contratual, é o Direito Administrativo”. Cf. CORREIA, J. M. Sérvulo. Anot.
ao art. 200. In: QUADROS, F. de et al. (ed.). Comentários à revisão do código do procedimento
administrativo. Coimbra: Almedina, 2016. p. 438.
15
Idem, Contratos públicos, p. 11-30. Para uma crítica mais completa à tese de Menezes Cordeiro,
cf. LOPES, P. Moniz. Princípio da boa fé e decisão administrativa, p. 95-120.
16
A. Menezes Cordeiro (Do direito privado como direito comum português, p. 113-114) cita dois livros de
jusprivatistas alemães: LARENZ K.; WOLF, M. Allgemeiner Teil. 9. ed. München: Verlag C.H. Beck, 2004.
p. 7; e LEIPOLD, D. BGB I: Einführung und Allgemeiner Teil. 3. ed. Tübingen: Mohr Siebeck, 2004. p. 7.
17
Cf. MASING, J. Les prerogatives de controle exercées par l’administration relativement a l’exécution
des marches publics en Allemagne. In: MARCOU G. et al. (ed.). Le controle des marches publics. Paris:
IRJS Editions, 2009. p. 311 et seq.
18
Cf. FROMONT, M. Droit administratif des états europeens. Paris: Thémis Droit, 2006. p. 313 et seq.
Nessa medida, o “contrato público” germânico (“öffentlich-rechtlicher Vertrag”), codificado nos
artigos 54 et seq. da Verwaltungsverfahrensgesetz (VwVfG), não está concebido como um meio para
Uma “questão de princípio”: a distinta dimensão
da boa-fé nos contratos administrativos 101
a contratação, mas como uma alternativa para a emissão de decisões administrativas, especialmente em
casos nos quais as relações jurídico-públicas pré-existentes devam ser modificadas. Cf. STELKENS, U.
Public-private law divide: annual report 2010. Germany, 2011. p. 13. Disponível em: http://www.
ius-publicum.com/repository/uploads/23_11_2011_10_39_Stelkens.pdf.
19
A evolução não foi uniforme, como Stelkens demonstra: “Sem prejuízo do exposto, a transposição das
diretivas foi levada a cabo de modo minimalista, de forma a que, fora do âmbito das diretivas, o proce-
dimento de contratação ainda caía no âmbito do Direito Privado […]. Isto leva a uma completa disjunção
no direito da contratação pública, consoante o contrato caia no âmbito das diretivas europeias ou não.
Esta situação é altamente criticada pela doutrina e jurisprudência administrativistas, que sustentam
que as regras procedimentais para a adjudicação de contratos públicos são regras procedimentais de
Direito administrativo que devem ser aplicadas por tribunais administrativos mesmo se o contrato
subsequente seja um contrato de direito privado. […] Na realidade, as regras sobre a igualdade de
tratamento e transparência no decurso do procedimento de adjudicação de contratos públicos são
definitivamente regras com natureza de Direito Público, no sentido em que estabelecem regras especiais
que são vinculativas para as entidades públicas, mas que não existem para as entidades contratantes
privadas […] Estas regras […] não podem deixar de ter implicações nos contratos subsequentes se e na
medida em que concernem as consequências no caso de ilegalidades (terá um violação dessas regras
pela entidade pública contratante consequências para o contrato subsequente?). A integração destas
regras num regime de Direito Privado parece, portanto, ser problemática e levar a uma mistura que é
insatisfatória, quer de um ponto de vista prático como de um ponto de vista teórico”. Cf. STELKENS, U.
Public-private law divide, p. 12-15. Sobre esta evolução, cf. HUBER, P. The europeanization of public
procurement in Germany. EPL, 7, 2001, p. 33 et seq. Em Portugal, sobre o efeito unificador do direito
europeu, cf. OTERO, P. Legalidade e administração pública. Coimbra: Almedina, 2003. p. 486.
20
A expressão citada é de HORBACH, C. Bastide. Contratos administrativos: conceito e critérios distintivos.
Revista Brasileira de Políticas Públicas, v. 6, n. 1, p. 43-44, jan./jul. 2016.
102 Pedro Moniz Lopes
21
Neste sentido, ESTORNINHO, M. João. Requiem pelo contrato administrativo. Coimbra: Almedina,
1990. p. 35-37.
22
Como afirma Sérvulo Correia, “[…] o legislador continua a perfilhar o postulado de que a natureza
administrativa de certos contratos, desse modo destacados da ampla categoria jurídica do contrato
tal como configurada no Código Civil, depende da incidência de critérios de administratividade,
de preferência normativamente explicitados. Se quisermos, porém, falar sinteticamente em “critério”,
esse é, naturalmente, o da pertença da figura ao Direito Administrativo.” Cf. CORREIA, J. M. Sérvulo.
Anot. ao art. 200, p. 427. Sobre os conceitos derivados, cf. NINO, C. Santiago. Introducción al análisis
del derecho. Buenos Aires: Ariel Derecho, 2003. p. 165.
23
Assim, referindo que a teoria da tradição não pode ser confundida com teorias delimitadoras dogma-
ticamente fundamentadas, cf. MAURER, H. Allgemeines Verwaltungsrecht, p. 86.
24
Já assim, ROSS, A. Tŭ-Tŭ. Harv. L. Rev., v. 70, n. 5, p. 812-825, 1957.
Uma “questão de princípio”: a distinta dimensão
da boa-fé nos contratos administrativos 103
25
Cf. LOPES, P. Moniz. Princípio da boa fé e decisão administrativa, p. 117 et seq.
26
É, aliás, o próprio critério analítico de especialidade (o único critério sólido para a dilucidação da
questão, segundo se entende) que desmente a consideração do Direito Privado como Direito Comum.
Assentando-se que o Direito Privado regula as condutas intersubjectivas privadas (cf. PINTO, C. A. Mota.
Teoria geral do direito civil, p. 42; CORDEIRO, A. Menezes. Tratado de direito civil, I-1, p. 31) e que
o Direito Público regula o exercício das funções (condutas) estaduais, conclui-se que as realidades em
comparação não são nem mais nem menos específicas, mas sim distintas. Só apenas assim não seria se
se considerasse que o Direito Privado corresponderia ao ramo do Direito que regulava, sem mais, todas
as condutas, o que manifestamente não é o caso, desde logo porque todas as normas (primárias) do
ordenamento – enquanto sentidos de dever ser reguladoras de condutas – seriam, sem razão válida
para o efeito, reconduzidas ao Direito Privado. A ser assim, a distinção entre ramos do Direito não
assentaria num critério racional.
27
Refere-se a famosa expressão cunhada por FLEINER, F. Institutionen des Deutschen Verwaltungsrechts.
8. ed. 1928. p. 326. Aliás, não deixa de existir uma visível ligação entre a sustentação radical dessa
solução e uma ideologia política neoliberal, sob a égide da qual o Direito Civil surge como o “único
Direito Comum e único Direito da liberdade, cujos cultores seriam os únicos homens e mulheres
de leis, ao passo que os administrativistas não passariam de ‘juristas de Estado’”. Assim, com vasta
bibliografia, cf. CORREIA, J. M. Sérvulo. Anot. ao art. 200, p. 439.
104 Pedro Moniz Lopes
28
Cf. HAURIOU, M. Précis de droit administratif et de droit public. Reed. da 12. ed. de 1933. Dalloz-Sirey,
2002. p. 21-22. Apontando as causas da génese essencialmente jurisprudencial, associada a um défice de
constitucionalização material, no Direito francês, cf. CORREIA, J. M. Sérvulo. Anot. ao art. 200, p. 438.
29
É a posição que acolhe a adesão, julga-se, da totalidade dos administrativistas portugueses e da
grande maioria dos administrativistas internacionais. Já assim, percorrendo os vários trilhos de inte-
gração de lacunas de Direito Administrativo dentro do ramo macro do Direito Público até chegar aos
princípios gerais de direito, sem recorrer à integração com regras e princípios do Direito Privado,
cf. CAETANO, M. Manual de direito administrativo. 10. ed., 9. reimp. Coimbra: Almedina, 2016. v. 1,
p. 136-137. Afirmando que a “conceção do Direito Administrativo como direito especial […] está superada”,
cf. QUEIRÓ, A. Rodrigues. Lições de direito administrativo. Coimbra, 1976. p. 188. Indicando, em 1980,
que “já vai longe o tempo em que as normas relativas à organização, funcionamento e atividade
da Administração eram encaradas como meras exceções ao Direito Privado, que gozaria, portanto,
do estatuto de direito-regra […] reconhecendo-se [hoje] pacificamente que, se o Direito Privado constitui
o regime regra das relações entre particulares, também o Direito Administrativo é a disciplina comum,
normal, nas relações jurídicas em que a Administração é parte” o que, entre outros aspetos, implica
que “o recurso à analogia com o Direito Privado estaria absolutamente excluído, por isso que não é
possível encontrar casos semelhantes entre um ramo de direito que discipline conflitos de interesses
de peso e natureza essencialmente diversos (o Direito Administrativo) de outro, para o qual os inte-
resses conflituantes são em princípio iguais – o Direito Privado”, cf. OLIVEIRA, M. Esteves de. Direito
administrativo. Coimbra: Almedina, 1980. v. 1, p. 4-75, 167. Em sentido totalmente coincidente, entre
tantos, AMARAL, D. Freitas do. Curso de direito administrativo. 4. ed. Coimbra, 2015. v. 1, p. 157-158;
OTERO, P. Legalidade e administração pública, p. 811; CORREIA, J. M. Sérvulo. Anot. ao art. 200, p. 438;
ANDRADE, J.C. Vieira de. Lições de direito administrativo. 4. ed. Coimbra: IUC, 2015. p. 15; SOUSA,
M. Rebelo de; MATOS, A. Salgado de. Direito administrativo geral, v. 1, p. 80-81; ALMEIDA, M. Aroso de.
Teoria geral do direito administrativo. Coimbra: Almedina, 2015. p. 21. Em Espanha, PARADA, R. Derecho
administrativo i: parte general. 19. ed. Madrid: Marcial Pons, 2012. p. 29; GARCIA DE ENTERRÍA, E.
RAMÓN FERNANDEZ, T. Curso de derecho administrativo. 12. ed. Madrid: Civitas, 2004. p. 45. Nos países
germânicos, MERKL, A. Algemeines Verwaltungsrecht, p. 102-111; SCHMIDT-ASSMAN, E. Das Allgemeinen
Verwaltungsrecht als Ordnungs Idee, p. 295-296. Em países de língua francesa, MOOR, P. Droit admi-
nistratif i: les fondements généraux. Berne: Stämpfli Editions, 1994. p. 115.
30
Cf. GONÇALVES, P. O contrato administrativo. Coimbra: Almedina, 2003. p. 48. No sentido da unificação
dos conceitos, que não se subscreve, cf. ESTORNINHO, M. João. Requiem pelo contrato administrativo,
p. 151 et seq.
Uma “questão de princípio”: a distinta dimensão
da boa-fé nos contratos administrativos 105
31
Em sentido próximo, mas não totalmente coincidente, cf. AMARAL, D. Freitas do. Curso de direito
administrativo, v. 1, p. 149-150.
32
Como refere P. Otero (Legalidade e Administração Pública, p. 795), “[N]o silêncio da lei não é possível
extrair qualquer habilitação justificativa de as entidades do sector público administrativo recorrerem
à aplicação do Direito Privado, antes vigorando um princípio geral de actuação segundo o Direito
Administrativo, enquanto Direito “natural” da actuação administrativa das entidades públicas”.
Sobre os princípios de Direito Administrativo como fator de interpretação, incluindo face a regras
vinculadas, “impondo, por exemplo, uma interpretação mais extensiva ou mais restritiva ou vedando
uma coisa ou outra.” Cf. OLIVEIRA, R. Esteves de. Os princípios gerais da contratação pública.
In: GONÇALVES, P. (org.) Estudos de contratação pública. Coimbra: Coimbra Editora, 2008. v. 1, p. 53-55.
106 Pedro Moniz Lopes
33
Segue-se, com algumas alterações, a exposição em LOPES, P. Moniz. Contratos administrativos e
boa fé, p. 17-25. No plano axiológico, tratar-se-á de princípios que fundamentam valorativamente
todo o sistema normativo. Cf. LOPES, P. Moniz. Princípio da boa fé e decisão administrativa,
p. 96-97, nota 218. Cf., também, GUASTINI, R. Los principios en el derecho positivo, p. 151 et seq.;
TAMAYO, G. Silva. Desviación de poder y abuso de derecho. Buenos Aires: Lexis Nexis, 2006. p. 30-38;
PINO, G. I principi tra teoria della norma e teoria dell’argomentazione giuridica. Diritto & Questioni
Pubbliche, n. 11, 2011. p. 86.
34
Sobre a legalidade em geral, subdividida na legalidade de compatibilidade (do Direito Civil) e
legalidade de conformidade (do Direito Administrativo), transpondo a construção de C. Eisenmann,
cf. CORREIA, J. M. Sérvulo. Legalidade e autonomia contratual nos contratos administrativos. Coimbra,
1987 (reimp. de 2003), p. 58 et seq.; LOPES, P. Moniz. Derrotabilidade normativa e normas adminis-
trativas: o enquadramento das normas regulamentares na teoria dos conflitos normativos: parte ii:
separação de poderes, legalidade e transitividade normativa. Lisboa: AAFDL, 2019. v. 2, p. 162 et seq.
35
Sustentando a existência paralela de uma norma geral e de normas especiais (públicas e privadas)
de boa-fé, cf. LOPES, P. Moniz. Princípio da boa fé e decisão administrativa, p. 207 et seq. Sobre a
boa-fé como norma geral do ordenamento, cf. MERUSI, F. Buona fede e affidamento nel diritto publico:
dagli anni “trenta” all’ “alternanza”. Milano: Giuffré, 2001. p. 137; ANTONIAZZI, S. La tutela del legittimo
affidamento del privato nei confronti della pubblica amministrazione. Torino: G. Giappichelli, 2005.
p. 151; BLANCO, F. Castillo. La interpretación y aplicación del ordenamiento jurídico público: especial
referencia al abuso del derecho. Madrid: INAP, 2007. p. 264-270; MÜLLER-GRUNE, S. Der Grundsatz
von Treu und Glauben im Allgemeinen Verwaltungsrecht: eine Studie zu Herkunft, Anwendungsbereich
und Geltungsgrund. Hamburg: Verlag Dr. Kovac, 2006. p. 13; OLIVEIRA, M. Esteves de. Direito admi-
nistrativo, v. 1, p. 76.
36
AMARAL, D. Freitas do. O princípio da justiça no artigo 266º da Constituição. Studia Iuridica, Coimbra,
n. 61, p. 685-704, 2001. Estudos em homenagem ao Prof. Doutor Rogério Soares.
Uma “questão de princípio”: a distinta dimensão
da boa-fé nos contratos administrativos 107
37
Cf., por todos, OTERO, P. Direito do procedimento administrativo, v. 1, p. 135-285; SOUSA, M. Rebelo de;
MATOS, A. Salgado de. Direito administrativo geral, v. 1, p. 213-217.
38
Cf. OTERO, P. Direito do procedimento administrativo. Coimbra: Almedina, 2016. v. 1, p. 244 et seq.
Qualificando-o como um princípio cardinal da ordem jurídica, cf. GONÇALVES, P. Concorrência e
Contratação Pública (a integração de preocupações concorrenciais na contratação pública). In: Estudos
Em Homenagem a Miguel Galvão Teles. Coimbra: Almedina, 2012. v. 1, p. 482.
39
Vejam-se os considerandos 58, 90 e 101 das Directivas 2014/24/UE e 2014/25/UE do Parlamento Europeu
e do Conselho, ambas de 26 de fevereiro de 2014. Cf. OLIVEIRA, R. Esteves de. Os princípios gerais da
contratação pública, p. 51 et seq.
40
CORDEIRO, A. Menezes. Do direito privado como direito comum português, p. 125-126.
108 Pedro Moniz Lopes
Cf. LOPES, P. Moniz. Princípio da boa fé e decisão administrativa, p. 285: “é de se evitar uma importação
41
42
Segundo Pedro Pais de Vasconcelos, deve ter-se em conta, na tarefa interpretativa, “o modo como
foram executando os negócios no tempo, a atitude negocial que perante eles foram assumindo,
o que os negócios para elas foram sendo durante e ao longo do tempo da duração e da sua execução”
(VASCONCELOS, Pedro Pais de. Teoria geral do direito civil. Coimbra: Almedina, 2014. p. 471).
43
Cf. CORDEIRO, A. Menezes. Tratado de direito civil, v. I-1, p. 218.
44
Para mais desenvolvimentos, cf. LOPES, P. Moniz. Contratos administrativos e boa fé, p. 69 et seq.
Também no sentido do texto, SOUSA, M. Rebelo de; MATOS, A. Salgado de. Direito administrativo geral.
2. ed. Lisboa: D. Quixote, 2006. v. 3, p. 387. O Tribunal Central Administrativo Norte Português já
teve oportunidade de referir que “Diferentemente do que se verifica ocorrer no âmbito dos negócios
jurídico-privados (cf. artigos 236-239 do C.Civil), não existem normas jurídicas que especificamente
110 Pedro Moniz Lopes
disponham sobre os termos a que deve obedecer a interpretação do contrato administrativo, pelo que,
tendo em consideração que a Administração Pública se encontra orientada para a satisfação do inte-
resse público, essas regras interpretativas devem ser procuradas, em primeira linha, no sistema de
Direito Administrativo”. Acórdão TCA-N, de 27 de junho de 2014, proc. 01180/06.7BEBRG. Disponível
para consulta em www.dgsi.pt.
45
Como é entendimento pacífico do Tribunal de Justiça da União Europeia (jurisprudência Pressetext e
outras anteriormente indicadas), quaisquer alterações introduzidas nas disposições de um contrato
público durante a sua vigência – nomeadamente alterações substanciais relativas a “condições que,
se tivessem figurado no procedimento de adjudicação inicial, teriam permitido admitir proponen-
tes diferentes dos inicialmente admitidos ou teriam permitido aceitar uma proposta diferente da
inicialmente aceite” – constituem uma nova adjudicação, neste caso clamorosamente ilegal por
preterição de procedimento prévio. Cf. GONÇALVES, P. Acórdão “Pressetext”: Modificação de Contrato
Existente vs. Adjudicação de Novo Contrato. CJA, n. 73, p. 19; RAIMUNDO, M. Assis. A formação dos
contratos públicos: uma concorrência ajustada ao interesse público. Lisboa: AAFDL, 2013. p. 587 et seq.
46
Cf. CORREIA, J. M. Sérvulo. Legalidade e autonomia contratual nos contratos administrativos, p. 473.
47
Afirmando a conduz à conclusão inversa à do Direito Privado: a da presunção do carácter injuntivo das
normas como critério de interpretação. Cf. CORREIA, J. M. Sérvulo. Legalidade e autonomia contratual
nos contratos administrativos, p. 707-708. O autor esclarece ainda, a este propósito, que, na medida
em que os contratos administrativos formam um instituto do Direito Público, “não parece […] abusiva a
ideia exploratória de que – sob o influxo do princípio da legalidade – a sua utilização deva ser enqua-
drada pelo princípio administrativo da competência em de vez de pela figura da autonomia privada” –
cf. CORREIA, J. M. Sérvulo. Legalidade e autonomia contratual nos contratos administrativos, p. 562.
Uma “questão de princípio”: a distinta dimensão
da boa-fé nos contratos administrativos 111
48
Para mais desenvolvimentos sobre os critérios interpretativos dos contratos administrativos. Cf. LOPES, P.
Moniz. Contratos administrativos e boa fé, p. 96 et seq.
49
Cf. SOUSA, Marcelo Rebelo de; MATOS, A. Salgado de. Direito administrativo geral, v. 3, p. 387;
AMARAL, D. Freitas do. Curso de direito administrativo. 3. ed. Coimbra, 2016. v. 2, p. 493-494. A vontade
real do declarante privado apenas vale conquanto se conforme à legalidade vigente. Cf. OTERO, P.
Legalidade e administração pública, p. 525.
50
Cf. TORGAL, L.; Geraldes, J. de Oliveira. Concessão de atividades públicas e direitos de exclusivo.
ROA, ano 72, p. 1109-1112, 2012.
51
A expressão é de Menezes Cordeiro (Contratos públicos, p. 105).
112 Pedro Moniz Lopes
52
Em Portugal, releva a alínea c) do nº 1 do artigo 5.º e alíneas b) e d) do nº 1 e nº 2 do artigo 46 da
Lei nº 98/97, de 26 de agosto, na sua redação atual [LOPTC].
53
Cf. alínea d) do nº 1 do artigo 46 da LOPTC.
Uma “questão de princípio”: a distinta dimensão
da boa-fé nos contratos administrativos 113
54
Cf. ALMEIDA, C. Ferreira de. Contratos IV: funções, circunstâncias, interpretação. Coimbra: Almedina,
2014. p. 262.
55
A única relevância interpretativa que pode ser dada às condutas posteriores das partes é precisamente
aquela a respeito dos atributos do contrato que não tenham sido postos à concorrência e cuja obrigato-
riedade não resulte de uma legalidade de conformidade estabelecida pelo procedimento concorrencial
e pelas peças do procedimento. De outro modo, facilmente por mero descuido da Administração Pública
surgiriam legítimas expectativas do contraente privado, com efeitos erosivos da legalidade, frustra-
dores das legítimas expectativas dos concorrentes preteridos em contexto concorrencial (e da própria
concorrência enquanto vetor normativo dos procedimentos adjudicatórios) e destrutivos do erário
público e do interesse público aí implicado.
II
A nova Lei de Licitações e Contratos
Administrativos (Lei nº 14.133/21)
711
Introdução
1
Palestrante em curso de extensão e de especialização em Direito Ambiental Artificial (Urbanístico),
Administrativo, Imobiliário, Notarial e Registral, em diversas instituições (por exemplo, PUC/SP-COGEAE,
Escola Paulista da Magistratura – EPM, Universidade SECOVI-SP).
118 Vicente de Abreu Amadei
1. A Lei nº 14.133/2021
2
Por exemplo, em tema de nepotismo: arts. 7º, III, 14, IV, 48, parágrafo único, 122, § 3º, da Lei 14.133/2021,
e a Súmula Vinculante 13/STF.
Por exemplo, em tema de não exoneração do dever de indenização pelo que houver executado e por outros
3
2. História e axiologia
5
Conforme sua ementa, a Lei no 8.666/93 “Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal,
institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências.”.
6
Conforme sua ementa, o Decreto-lei no 2.300/86 dispunha “sobre licitações e contratos da Administração
Federal e dá outras providências”.
120 Vicente de Abreu Amadei
Pública (e, com isso, por exemplo, vem os temas do tratamento isonômico
e da justa competição entre licitantes), a impor, em regra, formalidade
(em processos e atos administrativos) e publicidade.
Tais preocupações, quer em modo rudimentar (como o “incipiente
tratamento no Código da Contabilidade Pública da União”7), quer em modo
aprimorado (com a disciplina das licitações e contratações administrativas
em normas gerais/nacionais, para além dos regramentos próprios de cada
ente federativo, como se extrai das Leis nº8.666/93 e nº14.133/2021,
em atenção aos comandos constitucionais dos arts. 22, XXVII, e 37, XXI,
da CF/88), sempre houve, com maior ou menor dose de fixidez formal,
de transparência pública, de eficiência instrumental e de governança,
bem como de controle moral e de legalidade.
A Lei nº14.133/2021 buscou não só atualizar e concentrar no mesmo
diploma legal toda a matéria de regramento nacional referente à licitação
e à contratação administrativa, ou seja, as normas da Lei de Licitações
(Lei nº8.666/93), da Lei do Pregão (Lei nº10.520/2002) e da Lei do RDC
(Lei 12.462/2011), aproveitando suas melhores ferramentas, mas também,
como informa a primeira raiz legislativa correlata à nova lei, procurou
“[…] agilizar o processo licitatório, simplificando procedimentos, elimi-
nando burocracias desnecessárias e adotando recursos de tecnologia da
informação […]”, considerando, ainda, uma nova “[…] perspectiva quanto
ao relacionamento entre os setores público e privado […]” (de estímulo
à “colaboração” e à “interação”)8.
Assim, afirma-se que o caminhar histórico-axiológico do regime
jurídico da licitação e da contratação administrativa tem em conta
(i) flexibilizar formalidades, sem comprometer a segurança jurídica
e a neutralidade da Administração no processo de eleição de contratantes;
7
MEIRELLES, Hely Lopes. Licitação e contrato administrativo. 15. ed. São Paulo: Malheiros, 2010, p. 27.
Cf. o Decreto 4536/1922, arts. 40, 48 a 54.
8
Parecer do Relator da Comissão de Serviços de Infraestrutura, Senador Francisco Dornelles, ao Projeto
de Lei do Senado (PLS) nº 559, de 2013, da Comissão Temporária de Modernização da Lei de Licitações
e Contratos (cf. o teor integral do parecer no site do Senado Federal. Disponível em: https://legis.
senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=3801195&ts=1630413087372&disposition=inline. Acesso em:
3 out. 2022). Esse projeto é apontado na raiz remota do movimento que desaguou na nova lei de licitações
e contratos administrativos, pois, no Senado, sua raiz próxima é outra, ou seja, o PL 4253, de 2020
(Substitutivo da Câmara dos Deputados ao Projeto de Lei do Senado nº 559, de 2013), observando que,
na Câmara dos Deputados, tramitou como PL 6814/2017.
Nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos: panorama,
princípios e principais modificações 121
Disposições Do âmbito de
preliminares aplicação desta lei
(arts. 1º a 10) Dos princípios
Das definições
9
Entende-se por “uma feição renovada da relação Estado-sociedade”, nas palavras de Odete Medauar,
aquela que, pelo esforço de convergente colaboração, substituiu à “[…] concepção e prática de sepa-
ração dos dois âmbitos” (público vs privado): “seguiu-se, a partir das décadas de 80 e 90 do século XX,
uma concepção e prática de aproximação, de colaboração, de conjugação de esforços entre Estado
e sociedade, entre Administração e sociedade […]” (MEDAUAR, Odete. Estatuto da Cidade MEDAUAR,
Odete; Menezes de ALMEIDA, Fernando Dias (coord.). 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 28).
122 Vicente de Abreu Amadei
10
É o caso de catálogo de padronização de compras, serviços e obras (arts. 6º, LI, e 19, II); de produção,
comunicação, armazenamento e validação dos atos jurídicos em geral (art. 12, VI); de identificação
e assinatura digital (art. 12, § 2º); de pesquisa de notas fiscais e de dados publicada em mídia especia-
lizada, em sítios eletrônicos especializados ou de domínio amplo (art. 23, III e V); de realização da
licitação, em todas as fases (arts. 17, § 2º, e 176, II); de divulgações em geral nos sítios eletrônico oficiais
(arts. 6º, LII, e 176, III, e parágrafo único, I); de habilitação (art. 65, § 2º, 68, § 1º); e de credenciamento
(art. 79, parágrafo único, I). E, ainda, sublinhem-se as prescrições de condicionar a validade e eficácia
dos atos praticados pelos licitantes ao formato eletrônico (art. 12, § 4º), de estimular a audiência
pública, presencial ou a distância, na forma eletrônica (art. 21), e de apresentar por meio eletrônico
planilhas e documentos correlatos às licitações de obras e serviços de engenharia (art. 56, § 5º),
dentre outras medidas próprias das inovações tecnológicas aplicadas à matéria, que, aliás, permeiam
toda lei (no capítulo dos contratos, por exemplo, a formalização dos contratos e seus aditamentos
em forma eletrônica: art. 91, § 3º; no capítulo das disposições gerais, por exemplo, o Portal Nacional
de Contratações Públicas – PNCP, em sítio eletrônico: art. 174).
Nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos: panorama,
princípios e principais modificações 125
11
A busca de eficiência é, a rigor, um propósito que percorre todo conjunto normativo, com ápice na relação
contratual. Assim, emergem na Lei no 14.133/2021 várias ferramentas úteis com esse objetivo, a começar
por vastas e novas exigências de regência dos agentes públicos (arts. 7º a 10) até o esforço de aprimorar
o modo de controle da legalidade pelos órgãos públicos (arts. 169 a 173), passando, por exemplo, pela
padronização de catálogos, editais, termos de referência, contratos e outros documentos (arts. 6º,
LI, 19, II e IV, 25, § 1º, 47, I), bem como pela busca de novos critérios de julgamento (por exemplo
o de “maior retorno econômico”, para “contrato de eficiência” – arts. 33, VI e 39).
126 Vicente de Abreu Amadei
4. Princípios fundamentais
12
MEIRELLES, Hely Lopes. Licitação e contrato administrativo. 15. ed. São Paulo: Malheiros, 2010, p. 51.
130 Vicente de Abreu Amadei
Sobre interpretação realista, cf. AMADEI, Vicente de Abreu. Interpretação realista (em comentário
13
ao art. 20 da LINDB). In: Cunha Filho, Alexandre Jorge Carneiro da; Issa, Rafael Hamze; Schiwind,
Rafael Wallbach (coord.). Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – Anotada, vol. II.
São Paulo: Quartier Latin, 2019.
Nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos: panorama,
princípios e principais modificações 131
“O art. 5º da proposição equivale ao art. 4º do PL nº 6.814, de 2017 (PLS nº 559, de 2013) e traz
14
alguns novos PRINCÍPIOS DA LICITAÇÃO. Pelo último, observar-se-iam na aplicação da lei almeja-
da os princípios da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da probidade administrativa,
132 Vicente de Abreu Amadei
5. Principais modificações
16
É a inteligência que parte da matriz constitucional (art. 37, XXI, CF) e dela, aliás, decorrem importantes
consequências: (i) não se pode criar hipótese de contratação direta sem licitação além daquelas expressas
em lei formal; (ii) há, assim, um rol taxativo das hipóteses de dispensa (não de inexigibilidade, pois,
nesse caso, não há propriamente exceção, mas falta ou carência de pressuposto da licitação – inviabili-
dade de competitividade – a indicar o rol exemplificativo dos casos de inexigibilidade); (iii) a dispensa
indevida de licitação configura prejuízo presumido (dano in re ipsa) e, havendo dolo, configura ato
de improbidade; (iv) lei estadual não pode ampliar hipótese de dispensa de licitação em dissonância
ao previsto na lei geral nacional (STF, ADI 4658, Min. Edson Fachim, j. 25/10/2019).
134 Vicente de Abreu Amadei
17
O Portal Nacional de Contratações Públicas (PNCP) é o sítio eletrônico oficial destinado à divulgação
centralizada e obrigatória dos atos exigidos pela Lei nº 14.133/2021, como condição indispensável para
a eficácia do contrato e de seus aditamentos (art. 94), com acesso no seguinte endereço eletrônico.
Disponível em: https://www.gov.br/pncp/pt-br. Acesso em: 3 out. 2022.
18
Por exemplo, padronização, painel para consulta de preços, sistema de planejamento e gerenciamento
de contratações, sistema eletrônico para a realização de sessões públicas.
Nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos: panorama,
princípios e principais modificações 135
19
Arts. 337-E a 337-O do Código Penal: são, respectivamente, os crimes de “Contratação direta ilegal”,
“Frustração do caráter competitivo de licitação”, “Patrocínio de contratação indevida”, “Modificação
136 Vicente de Abreu Amadei
Conclusão
23
Art. 156: “I – advertência; II – multa; III – impedimento de licitar e contratar; IV – declaração
de inidoneidade para licitar ou contratar”.
24
Considerando, como prescreve o art. 156, § 1º: “I – a natureza e a gravidade da infração cometida;
II – as peculiaridades do caso concreto; III – as circunstâncias agravantes ou atenuantes; IV – os danos que
dela provierem para a Administração Pública; V – a implantação ou o aperfeiçoamento de programa
de integridade, conforme normas e orientações dos órgãos de controle”.
25
Em suma: prescrição em cinco anos da ciência da infração, com previsão de causas de interrupção
(pela instauração do processo de responsabilização) e suspensão (por acordo de leniência e por decisão
judicial que inviabilize a conclusão da apuração administrativa).
26
Inovação legal, com requisitos próprios para ser reabilitado, observando que não se exclui a punição
nem a obrigação de reparação integral do dano.
138 Vicente de Abreu Amadei
Bibliografia
Introdução
Livre-Docente e Doutora em Direito do Estado pela Universidade de São Paulo (USP). Professora-
1
2
Cf. SANTOS, Rodrigo Valgas. Direito administrativo do medo. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020.
3
JORDÃO, Eduardo. Estudos Antirromânticos sobre Controle da Administração Pública. São Paulo:
Juspodivm, 2022.
4
CABRAL, Flávio Garcia. O ativismo de contas do Tribunal de Contas da União. Revista de Direito
Administrativo, Infraestrutura, Regulação e Compliance, São Paulo, v. 5, n. 16, p. 215-257, 2021.
LINDB no Direito Público e a nova Lei de Licitações e
Contratos Administrativos: impactos e convergências 141
5
Também para a improbidade, após Lei nº 14.230/2021, há apenas a situação dolosa, tendo sido afastada
a figura polêmica da improbidade culposa.
142 Irene Patrícia Nohara
NOHARA, Irene Patrícia Diom. Licitação e contratos administrativos. In. DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella
6
(coord.). Tratado de Direito Administrativo. 3. ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2022. v. 6, p. 133.
144 Irene Patrícia Nohara
7
MOTTA, Fabrício; NOHARA, Irene Patrícia. LINDB no direito público. São Paulo: Thomson Reuters Brasil,
2019. p. 120.
8
MOTTA, Fabrício; NOHARA, Irene Patrícia. LINDB no direito público. São Paulo: Thomson Reuters Brasil,
2019. p. 53.
146 Irene Patrícia Nohara
NOHARA, Irene Patrícia Diom. Nova Lei de Licitações e Contratos. São Paulo: Thomson Reuters Brasil,
9
2021. p. 13-15.
148 Irene Patrícia Nohara
Conclusão
Bibliografia
Marcelo Benacchio2
Juiz de Direito no estado de São Paulo
1
Mestre e Doutor em Direito Civil pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Estágio
pós-doutoral em curso na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Pós-graduado
em Direito Público pela Escola Paulista da Magistratura. Coordenador Regional e Professor da Escola
Paulista da Magistratura e Professor Titular de Direito Civil da Faculdade de Direito de Sorocaba,
instituição na qual exerce a função de Conselheiro. Professor convidado nos cursos de pós-graduação
da EPM e PUC-SP (COGEAE). Membro fundador do Instituto de Direito Privado, do Instituto Brasileiro
de Estudos de Responsabilidade Civil e do Instituto Brasileiro de Direito Contratual. Associado ao
Instituto de Direito Administrativo Sancionador.
2
Mestre e Doutor pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Professor do Mestrado e
Doutorado em Direito pela UNINOVE/SP. Professor Titular de Direito Civil na Faculdade de Direito de
São Bernardo do Campo.
156 Alexandre de Mello Guerra e Marcelo Benacchio
Introdução
O ensaio que ora vem a público tem como gênese um artigo feito há
dez anos, no já distante ano de 20123. Naquele momento, sob as luzes
da então vigente Lei de licitações (Lei nº 8.666/93), o nosso propósito
foi examinar em que medida os princípios que regem a teoria geral do
contrato (de Direito Privado) poderiam incidir sobre o regime jurídico de
Direito Administrativo. Dez anos depois, muita coisa mudou, nos contratos,
nos juristas e no Brasil. A Lei nº 8.666/93 cedeu vigência, em larga medida,
à nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos, Lei nº 14.133,
de 1º de abril de 2021.
Em 2021, sobreveio um novo sistema legal de contratações públicas,
iluminado por racionalidade diversa daquela que inspirava a revogada lei.
A nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos (doravante denomina-
da apenas NLLCA) busca realizar, à partida, a eficiência e a celeridade nas
contratações públicas. Tem em mira um ambiente eletrônico de relações
jurídicas, muito diverso daquele que se via no início da década de 1990.
Remanesce, contudo, a mesma questão fundamental: A NLLCA (Lei
nº 14.133/21) admite os influxos da Teoria geral do contrato? O concei-
to de função pública (pedra angular do Direito Administrativo) repele,
em toda medida, o conceito de autonomia privada (pedra angular do
Direito Privado)?
É o desafio que nos propusemos a enfrentar. Em primeiro lugar, será
examinada a evolução e o perfil contemporâneo da Teoria geral do contrato.
Na sequência, nossa atenção será voltada à aplicação da Teoria geral do
contrato aos contratos administrativos. A seguir, o foco da investigação
será a possibilidade de diálogo entre a autonomia privada (núcleo do
Direito fundamental da liberdade nas relações de Direito Privado) e função
GUERRA, Alexandre; Benacchio, Marcelo. Teoria geral dos contratos aplicada aos contratos
3
4
A despeito de realmente haver alguns contratos típicos em Roma (compra e venda, locação, sociedade
etc.), o próprio termo contratus abarcava espécies nas quais a vinculação jurídica obrigacional não
decorria da manifestação convergente de vontades (em oposição ao conceito moderno de contrato,
que tem no elemento consenso o seu núcleo caracterizador).
5
Code Napoléon, art. 1.101. “Le contrat est un accord de volontés entre deux ou plusieurs personnes
destiné à créer, modifier, transmettre ou éteindre des obligations”.
6
Code Napoléon, art. 1.103. “Les contrats légalement formés tiennent lieu de loi à ceux qui les ont faits”.
158 Alexandre de Mello Guerra e Marcelo Benacchio
7
GARCIA, Maria. Limites da Ciência: a dignidade da pessoa humana: a ética da responsabilidade.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. “Conhecem-se várias teorias a respeito da formação da socie-
dade humana, principalmente três, a partir do século XVII, fundadas num tipo de pacto, acordo ou
contrato: o primeiro – sinaliza Arendt (Crises da República. São Paulo: Perspectiva, 1973, p. 77 ss.) –
o exemplo do convênio bíblico, celebrado entre um povo e seu Deus, pelo qual o povo consentia em
obedecer a quaisquer leis relevadas pela divindade todo-poderosa; em segundo lugar, a concepção
de Hobbes, segundo a qual todo indivíduo celebra um acordo com a autoridade estritamente secular,
para garantir segurança, renunciando aos seus direitos e poderes. ‘Chamo isto de versão vertical do
contrato social.’ Em terceiro lugar, o contrato aborígene de Locke – ‘entendendo-se a palavra no sentido
latino de societas, uma aliança entre todos os indivíduos membros que depois de estarem mutuamente
comprometidos fazem um contrato de governo. Eu chamo isto de versão horizontal do contrato social’
[…]” (SERES, Michel. O contrato natural. Lisboa: Instituto Piaget, 1994, p. 60 ss.). refere o contrato
social que teríamos, ‘pelo menos virtualmente, estabelecido entre nós para entrar no colectivo que
nos transformou o homem que somos’, formando a sociedade […]”. (Op. cit., p. 72-73)
8
ALMEIDA COSTA, Mario Julio de. Direito das obrigações. 8. ed. Coimbra: Almedina, 2000, p. 182-183.
Teoria geral do contrato aplicada aos contratos administrativos:
ensaio sobre a função pública e a autonomia privada na Lei nº 14.133/21 159
9
Parte da doutrina refere que esse quadro de intervenção estatal nos arranjos privados gerou a primeira crise
do instituto, nominada de declínio do contrato ou crise do contrato. Mais tarde, aliás, chegou-se a dizer
que o contrato morreu. Todavia, o contrato jamais não morreu (GILMORE, Grant. La morte del contrato.
Trad. de Andrea Fusaro. Milano: Giuffrè, 1999). O que houve foi a modificação dos paradigmas que antes
reinavam, passando a incluir valores sociais nas contratações. Tal perspectiva permitiu considerar os inte-
resses da comunidade em comunhão com o interesse particular dos contratantes. Não apenas para atender
a interesses particulares, passa-se a afirmar que o contrato traz em si também o dever de realização do
interesse social. Foi a chamada compreensão social do contrato.
10
Nos termos do art. 421 do Código Civil, “[…] a liberdade contratual será exercida nos limites da fun-
ção social do contrato […]”. De fato, o contrato tem também sofrido a influência de tensões sociais
e políticas, rendendo ensejo a regras que procuram densificar sua interpretação, como aquelas ex-
traídas da Lei de Liberdade Econômica (Lei nº 13.874/19). Nos termos do parágrafo único do art. 421
em foco, “[…] nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da intervenção mínima e a
excepcionalidade da revisão contratual […]”. O mencionado diploma altera a regra em tela, incluindo,
no Código Civil, o art. 421-A, que merece registro, não apenas por dever ser observado nas relações
de Direito Privado, como também por poder iluminar o ideário de segurança jurídica nos contratos
de Direito Administrativo: “Os contratos civis e empresariais presumem-se paritários e simétricos até
160 Alexandre de Mello Guerra e Marcelo Benacchio
15
Essa nova visão faz com que o fundamento da teoria contratual seja buscado no próprio mercado
(enquanto ambiente em que se operam as trocas econômicas). Toda a construção passa a voltar-se à
eficiência econômica e à livre circulação de bens/serviços. Quaisquer pensamentos limitativos para o
mercado passam a ser considerados modelos ideologicamente ruins. Testemunha-se a tentativa de troca
da ética pelo utilitarismo. A racionalidade econômica, com aprovação científica da Análise Econômica
do Direito, passa a ser o escopo final do contrato. Nada mais nocivo ao Humanismo.
16
De acordo com Maria Garcia, “[…] na Constituição brasileira […] a dignidade da pessoa humana figura
entre os princípios fundamentais que estruturam o Estado como tal, portanto, inserindo-se entre os
valores superiores que fundamentam o Estado, a dignidade da pessoa representará o crivo pelo qual
serão interpretados não somente os direitos fundamentais, mas, ao nosso ver, todo o ordenamento
jurídico brasileiro, nas suas variadas incidências e considerações […]” (Op. cit., p. 207).
17
A ordem econômica na constituição de 1988. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 57.
162 Alexandre de Mello Guerra e Marcelo Benacchio
18
Neoliberalismo & direitos humanos. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 122.
19
SILVEIRA, Vladmir Oliveira da; e ROCASOLANO, Maria Mendez. Os direitos humanos: conceitos, significados
e funções. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 203.
20
Nesse sentido, ver: SARMENTO, Daniel. Direitos fundamentais e relações privadas. Rio de Janeiro:
Lumen Iuris, 2008.
21
ZAGREBELSKY, Gustavo. Il diritto mite. Torino: Einaudi, 2010, p. 15-17.
Teoria geral do contrato aplicada aos contratos administrativos:
ensaio sobre a função pública e a autonomia privada na Lei nº 14.133/21 163
22
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo, cit., p. 215. Ainda: “Costuma-se dizer que,
nos contratos de direito privado, a Administração se nivela ao particular, caracterizando-se a relação
jurídica pelo traço de horizontalidade e que, nos contratos administrativos, a Administração age como
poder público, com todo seu poder de império sobre o particular, caracterizando-se a relação jurídica
pelo traço da verticalidade” (op. cit., p. 215).
23
VERNALHA GUIMARÃES, Fernando. Alteração unilateral do contrato administrativo. São Paulo: Malheiros,
2003, p. 41.
24
Sobre as cláusulas exorbitantes, ver: CRETELLA JUNIOR, J. As cláusulas de privilégio nos contratos admi-
nistrativos. Brasília: R. Inf. Leg. A. 23, n. 89, jan/mar 1986, p. 303-322. Disponível em: https://www2.
senado. leg. br/bdsf/bitstream/handle/id/181681/000421288. pdf?sequence=3&isAllowed=y; PESTANA,
M. A exorbitância nos contratos administrativos. Revista de Direito Administrativo e Infraestrutura | RDAI,
São Paulo: Thomson Reuters | Livraria RT, v. 1, n. 1, p. 141–162, 2021. DOI: 10.48143/rdai/01.mp.
Disponível em: https://www.rdai.com.br/index.php/rdai/article/view/49. Acesso em: 20 nov. 2022;
ARRUDA CÂMARA, J.; PERESI DE SOUZA, A. P. Existem cláusulas exorbitantes nos contratos administrativos?.
Revista de Direito Administrativo, [S. l.], v. 279, n. 2, p. 185–208, 2020.
Sobre o fato do príncipe e fato da administração, ver: CRETELLA JÚNIOR, J. Teoria do “fato do príncipe”.
Revista de Direito Administrativo, [S. l.], v. 75, p. 23–30, 1964. DOI: 10.12660/rda.v75.1964.25735.
Disponível em: https://bibliotecadigital. fgv. br/ojs/index. php/rda/article/view/25735. Acesso em: 20
nov. 2022; GASIOLA, G. G. Fato da Administração: uma revisão bibliográfica. Revista Digital de Direito
Administrativo, [S. l.], v. 4, n. 2, p. 39-68, 2017. DOI: 10.11606/issn.2319-0558.v4i2p39-68. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/rdda/article/view/131769. Acesso em: 20 nov. 2022; MOTTA, T. de L.;
CLEMENTINO, M. B. M. O fato da administração e a revisão dos contratos administrativos a partir da
164 Alexandre de Mello Guerra e Marcelo Benacchio
violação da boa-fé objetiva. Direito Público, [S. l.], v. 15, n. 85, 2019. Disponível em: https:// www.
portaldeperiodicos. idp. edu. br/direitopublico/article/view/2973. Acesso em: 20 nov. 2022; TENÓRIO,
F. G. A anomalia do fato administrativo. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, RJ, v. 23,
n. 2, p. 5-8, 1989. Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rap/article/view/9129.
Acesso em: 20 nov. 2022.
25
Op. cit., p. 258.
26
Segundo Maria Sylvia Zanella di Pietro, há pelo menos três correntes que tratam a conformação dos
contratos administrativos. Para a primeira corrente, é peremptoriamente negada a existência de
contratos administrativos. Para a segunda, todos os contratos celebrados pela Administração Pública
devem ser sempre considerados administrativos. Para outros, os contratos administrativos devem ser
aceitos como espécies do gênero contrato, mas sempre sob um regime jurídico de Direito Público
derrogatório e exorbitante do direito comum (Op. cit., p. 251).
27
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 28. ed. São Paulo: Malheiros,
2010, p. 622
28
O Poder Público, em virtude das suas funções, tem sempre a disponibilidade sobre o serviço público em
relação à fruição dos bens públicos nele envolvidos. Sucede que isso não ocorre em contratos firmados
entre os particulares. Segundo o autor, portanto, os poderes conferidos nos contratos administrativos
nada têm de poderes contratuais: “[…] são poderes relativos à prática de atos unilaterais, inerentes
sobre as competências públicas incidentes sobre aqueles objetos. […] Tais poderes de instabilização
descendem diretamente das regras de competência administrativa sobre os serviços públicos e o
uso de bens públicos. E são competências inderrogáveis pela vontade das partes, insusceptíveis de
transação e, pois, de contratos. […] Tais circunstâncias deveriam ser suficientes para evidenciar que as
relações jurídicas constituídas entre o poder público e o particular sob a égide do regime em apreço
apresentam radical disparidade em relação aos contratos. Daí a inconveniência de abrigar sob um
único rótulo figuras jurídicas tão distintas e submissas a critérios e princípios completamente diversos.
Teoria geral do contrato aplicada aos contratos administrativos:
ensaio sobre a função pública e a autonomia privada na Lei nº 14.133/21 165
Essa argumentação, entretanto, não sensibilizou nossa doutrina e jurisprudência.” (MELLO, Celso
Antonio Bandeira de., 2010, p. 626).
29
A esse respeito, cf.: FRANÇA, Maria Adelaide de Campos. Lei de Licitações e Contratos da Administração
Pública. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
166 Alexandre de Mello Guerra e Marcelo Benacchio
30
MEIRELLES, Hely Lopes. Licitação e contrato administrativo. 14. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.
31
Op. cit., p. 193. Como pontifica Celso Antônio Bandeira de Mello, “[…] os principais contratos admi-
nistrativos seriam os de concessão de serviço público, o de obra pública, o de concessão de uso do
domínio público a eles se acrescendo os contratos de fornecimento em geral e os de prestação de
serviços – como indica Hely Lopes Meirelles.” (Op. cit., p. 627).
32
Op. cit., p. 194.
Teoria geral do contrato aplicada aos contratos administrativos:
ensaio sobre a função pública e a autonomia privada na Lei nº 14.133/21 167
33
NERY, Ana Rita de Figueiredo. A causa do contrato administrativo: Análise do conteúdo contratual como
parâmetro de aplicação do princípio da eficiência. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p. 4. Partindo
da ideia de crise dos paradigmas do Direito Administrativo, afirma: “[…] abre-se essa porta crítica ao
princípio da supremacia do interesse público, que se enraizou a partir da premissa equivocada de que
a pessoa humana existe para servir aos poderes públicos e à sociedade. Vê-se hoje que, em sentido
diverso, cabe ao Estado buscar sua legitimidade como meio para proteção e promoção dos direitos
humanos. […]. Na apreensão dos contratos administrativos, essa interface faz-se ainda mais provocativa,
a uma pela crescente integração público-particular; a duas porque é na seara da consensualidade que
se abre um campo fértil à incorporação de novos elementos teóricos e das técnicas de interpretação
dos contratos, sem que isso vulnere o princípio da legalidade.” (Op. cit., p. 2-4).
34
A respeito do abuso do direito perpetrado pelo Estado, ver: GUERRA, Alexandre D. de Mello.
Responsabilidade civil por abuso do direito. In: GUERRA, Alexandre D. de Mello; BENACCHIO, Marcelo
(Coords). Responsabilidade civil. São Paulo: Escola Paulista da Magistratura, 2015. Disponível em:
168 Alexandre de Mello Guerra e Marcelo Benacchio
https://epm. tjsp. jus. br/Publicacoes/ObrasJuridica/30610? pagina=1. Acesso em: 1 nov. 2022; GUERRA,
Alexandre. Responsabilidade civil por abuso do direito: entre o exercício inadmissível de posições
jurídicas e o direito de danos. Coleção Agostinho Alvim. São Paulo: Saraiva, 2011.
35
GONDINHO, André Osório. Direito Constitucional dos Contratos: A incidência do princípio da dignidade
da pessoa humana. São Paulo: Quartier Latin, 2010, p. 300.
Teoria geral do contrato aplicada aos contratos administrativos:
ensaio sobre a função pública e a autonomia privada na Lei nº 14.133/21 169
36
MARTINS-COSTA, Judith. A re-significação do princípio da segurança jurídica na relação entre o estado e
os cidadãos: a segurança como crédito de confiança. Texto integrante de obra coletiva em homenagem
ao Professor Almiro do Couto e Silva, sob a coordenação do Professor Humberto B. Ávila, com o título:
Almiro do Couto e Silva e a Re-significação do Princípio da Segurança Jurídica na Relação entre o Estado
e os Cidadãos (a segurança como crédito de confiança). Brasília: R. CEJ, Brasília, n. 27, p. 110-120, out./
dez. 2004. Disponível em: https://revistacej.cjf.jus.br/cej/index.php/revcej/article/view/641/821
Acesso em: 1 nov. 2022
Teoria geral do contrato aplicada aos contratos administrativos:
ensaio sobre a função pública e a autonomia privada na Lei nº 14.133/21 171
estado e os cidadãos: a segurança como crédito de confiança. Texto integrante de obra coletiva em
homenagem ao Professor Almiro do Couto e Silva, sob a coordenação do Professor Humberto B. Ávila,
com o título: Almiro do Couto e Silva e a Re-significação do Princípio da Segurança Jurídica na Relação
entre o Estado e os Cidadãos (a segurança como crédito de confiança). Brasília: R. CEJ, Brasília, n. 27,
p. 110-120, out./dez. 2004. Disponível: https://revistacej.cjf.jus.br/cej/index.php/revcej/article/
view/641/821 Acesso: 1.11.2022.
172 Alexandre de Mello Guerra e Marcelo Benacchio
38
Op. cit., p. 116.
39
Sobre o princípio da conservação dos negócios jurídicos, um dos princípios contemporâneos do Direito con-
tratual, ver: GUERRA, Alexandre. Princípio da conservação dos negócios jurídicos: a eficácia jurídico-social
como critério de superação das invalidades negociais. Coleção Teses. São Paulo: Almedina, 2016; GLITZ,
Frederico Eduardo Zenedin. Favor contractus: alguns apontamentos sobre o princípio da conservação
do contrato no direito positivo brasileiro e no direito comparado. RIDB, Ano 2 (2013), nº 1. Disponível em:
https://www.cidp.pt/revistas/ridb/2013/01/2013_01_00475_00542.pdf Acesso em: 1.11.2022.
40
BETTI, Emilio. Teoria Geral do negócio jurídico. Campinas: Servanda, 2008, p. 88.
41
Op. cit., p. 90. Emilio Betti verbera: “Na realidade, o que o indivíduo declara ou faz com o negócio
jurídico, é sempre uma regulamentação dos próprios interesses nas relações com outros sujeitos:
Teoria geral do contrato aplicada aos contratos administrativos:
ensaio sobre a função pública e a autonomia privada na Lei nº 14.133/21 173
regulamentação da qual ele compreende o valor socialmente vinculante, mesmo antes de sobrevir a
sanção do direito […] a previsão a que está ligado o efeito jurídico contém em si mesma um preceito
de autonomia privada, cujo reconhecimento por parte da ordem jurídica representa, na sua essência,
um fenômeno de recepção […]” (Op. cit., p. 229).
42
AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócio jurídico: existência, validade e eficácia. 4. ed. São Paulo:
Saraiva, 2002, p. 134.
43
Op. cit., p. 16. A respeito, v. BITTAR, Carlos Alberto. Teoria Geral do Direito Civil. 2. ed. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 2007, p. 187 ss.
174 Alexandre de Mello Guerra e Marcelo Benacchio
44
“A doutrina alemã, quando da elaboração da parte geral do BGB, como um repositório de conceitos
gerais, começou a desenvolver uma Teoria Geral do Direito Civil, na qual cabe como integrante funda-
mental a Teoria do Negócio Jurídico. […]. O contrato é a figura mais significativa do Negócio Jurídico
e a partir deste é que tivemos o maior desenvolvimento da teoria geral. Daí o dizer de Orlando Gomes
(contratos, 26ª ed. Rio de Janeiro: Forense, p.4): o contrato é uma espécie de negócio jurídico que
se distingue, na formação, por exigir a presença de pelos menos duas partes. Contrato é, portanto,
negócio jurídico bilateral ou plurilateral. Negócio, etimologicamente, mantém relação básica com o
latim Nec otium, não-ócio, evidenciando estreita relação com atividade, daí que, em quase todas as
línguas, sua significação tenha a ver com atividade econômica.” (LOTUFO, Renan. Teoria geral dos
contratos. In: LOTUFO, Renan; NANNI, Giovanni Ettore (coord.). Teoria geral dos contratos. São Paulo:
Atlas. 2011, p. 4-6).
45
ROPPO, Enzo. O contrato. Coimbra: Almedina, 2009, p. 49.
46
REALE, Miguel. História do novo Código Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.
Teoria geral do contrato aplicada aos contratos administrativos:
ensaio sobre a função pública e a autonomia privada na Lei nº 14.133/21 175
47
A respeito do artigo 113 do Código Civil brasileiro, Renan Lotufo assevera que o princípio da boa-fé
objetiva (cláusula geral) não é exclusividade dos sistemas jurídicos de formação romano-germânica.
É também amplamente difundido nos sistemas da Common Law, como comprova a Uniform Comercial
Code, diploma normativo que se aplica pelos Estados norte-americanos. Segundo tal regramento,
em tradução livre, good faith, significa honestidade e observância de razoáveis padrões comerciais
de atuação correta (fair dealing, Section 1, 201[19]).
48
É que a boa-fé objetiva incide sobre todos os negócios jurídicos e se “[…] traduz no dever de cada
parte agir de forma a não defraudar a confiança da outra parte, alcançando todos os participantes
da relação jurídica, não importando o ponto de vista psicológico de uma das partes, servindo como
norte e padrão de conduta a ser seguido […] são meios auxiliares de interpretação o caráter habitual
das relações mantidas entre as partes, manifestações anteriores do declarante e do destinatário,
que reconhecidamente se ligam à declaração, tais como uma expressão típica do declarante,
conhecida pelo destinatário, bem como o lugar, o tempo e as circunstâncias inerentes.” LOTUFO,
Renan. Código Civil comentado. Parte geral. v.1. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 315-316.
49
WIEACKER, Franz. História do Direito Privado Moderno. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,
2004, p. 333-334.
176 Alexandre de Mello Guerra e Marcelo Benacchio
50
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. Op. cit., p. 255.
51
Op. cit., p. 255. “No contrato administrativo, existe uma oferta, feita, em geral, por meio do edital
de licitação, a toda a coletividade (invitatio ad oferendum, acrescento); dentre os interessados que
a aceitam e fazem a sua proposta (referente ao equilíbrio econômico do contrato), a Administração
seleciona a que apresenta condições mais convenientes para a celebração do ajuste. Forma-se, assim,
a vontade contratual unitária (primeiro elemento) […] Isso quer dizer que os contratos administrativos
se enquadram no conceito geral de contrato como acordo de vontades gerador de direitos e obrigações
recíprocos.” (DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Op. cit., p. 255).
52
Segundo Antônio Carlos Cintra do Amaral, nos contratos de Direito privado, as partes estão autorizadas a
contratar tudo o que não for ilegal, em virtude do princípio da autonomia privada. De outro lado,
nos contratos administrativos, a Administração Pública somente poderá disciplinar os interesses autorizados
por lei para assim proceder, em virtude do princípio da legalidade administrativa (Op. cit., p. 190).
53
AMARAL, Antônio Carlos Cintra do. Licitação e contrato administrativo. Estudos, pareceres, comentários.
3. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2010, p. 189.
Teoria geral do contrato aplicada aos contratos administrativos:
ensaio sobre a função pública e a autonomia privada na Lei nº 14.133/21 177
54
Código Civil. Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre
o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da
parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação.
Da Resolução por Onerosidade Excessiva. Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida,
se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a
outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a reso-
lução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.
Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar equitativamente as condições
do contrato.
Art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a
sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva.
55
A esse respeito, cf. GUERRA, Alexandre D. de Mello, PIRES, Luis Manuel Fonseca; BENACCHIO, Marcelo.
Responsabilidade civil do Estado. Desafios contemporâneos. São Paulo: Quartier Latin, 2010, apresentação.
No mesmo sentido, v. NERY, Ana Rita de Figueiredo. A causa do contrato administrativo. Análise do conteúdo
contratual como parâmetro de aplicação do princípio da eficiência, op. cit., p. 4 ss.
56
A esse respeito, v. CANARIS, Claus-Wilhelm. Direitos fundamentais e o direito privado. Coimbra:
Almedina, 2006.
57
PERLINGIERI, Pietro. Perfis do Direito Civil. Introdução ao Direito Civil Constitucional. trad. Maria Cristina
De Cicco. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p. 52-53
178 Alexandre de Mello Guerra e Marcelo Benacchio
58
PERLINGIERI, Pietro, op. cit., p. 54.
59
ARAÚJO, Edmir Netto de. Do Negócio Jurídico Administrativo. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1992, p. 207.
Teoria geral do contrato aplicada aos contratos administrativos:
ensaio sobre a função pública e a autonomia privada na Lei nº 14.133/21 179
60
Op. cit., p. 121. E prossegue: “No regime jurídico de direito privado, as partes estão em relação de
horizontalidade, ou seja, em pé de igualdade quanto aos direitos e obrigações resultantes da relação
jurídica, o que coloca o contrato, no que respeita à sua execução, alteração e demais condições,
em uma sistemática consensual quase absoluta. Já no regime jurídico de direito público, em virtude da
aplicação do princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse individual, a posição das
partes no contrato é a verticalidade, situando o Estado em posição de preponderância sobre o particular
na relação jurídica, possibilitando que o mesmo tome certas medidas ou use certas prerrogativas sem
a aquiescência do contratante particular, embora observando-se certas regras jurídicas protetoras do
interesse privado e do equilíbrio contratual.” (Op. cit., p. 121).
61
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Ainda existem os chamados contratos administrativos? In: Di Pietro,
Maria Sylvia Zanella; Alves Ribeiro, Carlos Vinicius. Supremacia do interesse Público e outros temas
relevantes de Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2010, p. 398/400.
180 Alexandre de Mello Guerra e Marcelo Benacchio
62
Sobre o dever de cooperação das partes na relação obrigacional para o cumprimento do programa
contratual – que se aplica também aos contratos administrativos, ver: COUTO E SILVA, Clóvis V.
A obrigação como processo. São Paulo: Saraiva, 2012; GARBI, Carlos Alberto. A intervenção judicial no
contrato em face do princípio da integridade da prestação e da cláusula geral da boa-fé: uma nova
visão do adimplemento contratual. São Paulo: Escola Paulista da Magistratura, 2014. Disponível em:
https://api.tjsp.jus.br/Handlers/Handler/FileFetch. ashx?codigo=63403. Acesso em: 1 nov. 2022.
63
RICHER, Laurent. Droit des contrats administratifs. Paris: LGDJ, 1995, p. 14-15.
Teoria geral do contrato aplicada aos contratos administrativos:
ensaio sobre a função pública e a autonomia privada na Lei nº 14.133/21 181
64
CORREIA, José Manuel Sérvulo. Legalidade e autonomia contratual nos contratos administrativos.
Coimbra: Almedina, 1987, p. 470.
65
PERLINGIERI, Pietro. Autonomia negoziale e autonomia contrattuale. Napoli: Edizioni Scientifiche
Italiane, 2000, p. 327.
182 Alexandre de Mello Guerra e Marcelo Benacchio
66
Segundo José Lourenço, “[…] o termo heteronomia refere-se ao que se deixa sujeitar; condição de pessoa
ou de grupo que recebe um elemento que lhe é exterior, ou de um princípio estranho a razão e a Lei.
Mais especificadamente, a heteronomia jurídica, para Maria Helena Diniz, é a sujeição do destinatário
da norma a seu comando, independente de sua vontade. Ou, como prefere Lalande, a condição de
uma pessoa ou de uma coletividade receber do exterior a lei à qual se submete.” (LOURENÇO, José.
Limites à liberdade de contratar: princípios da autonomia e da heteronomia da vontade nos negócios
jurídicos. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2001, p. 77).
67
A respeito, elucidativas são as ponderações de Fernando Vernalha Guimarães: “[…] Com o apareci-
mento definitivo da eletricidade, dada sua indiscutível superioridade em relação ao gás, puseram-se
em questionamento os inúmeros contratos de concessão então firmados com as companhias de gás,
detentoras do fornecimento e distribuição do produto à prestação da iluminação pública. Atentou-se
a que a imutabilidade dos contratos de concessão não se poderia sobrepor ao interesse público, ali
representado pelas vantagens que a nova tecnologia haveria de proporcionar à coletividade. Na França,
o surgimento da eletricidade levou muitas cidades a conceder a exploração da iluminação pública,
a partir da nova tecnologia, a empresas outras que não titulares das concessões então vigentes (a gás).
A insurgência das concessionárias titulares das cláusulas de privilégio (exclusividade) levou a discussão ao
Conselho de Estado, que decidiu a favor dessas, reputando que a exclusividade assinada pelos contratos
de concessão dizia respeito a todos os tipos de eletricidade. O Tribunal Francês, em vista dos recursos
apresentados pelas companhias de gás, chegou a condenar, em alguns casos, o poder público a pesadas
indenizações. Mais tarde, o mesmo Conselho de Estado reconsiderou a posição, interpretando as tais
cláusulas de privilégio como que atributivas de um simples direito de preferência, não mais deferindo
às concessionárias o direito de exclusividade em relação às variadas tecnologias de iluminação: “Quando
a Administração quisesse instalar a energia elétrica deveria primeiro pedir à companhia de gás que o
fizesse, e só quando esta se recusasse ficaria livre de contratar com outrem”. A questão sedimentou-se
com o arrêt Gaz de Deville-lès-Rouen, de 10.1.1902.” (Op. cit., p. 111-112).
68
RIVERO, Jean. Direito Administrativo. Coimbra: Almedina, 1981, p. 128.
69
1. No ACO nº 970, o Supremo Tribunal Federal, por voto do Min. GILMAR MENDES, em 17.05.2007,
reconheceu dever incidir princípio da boa-fé aos convênios administrativos (espécie de contrato
Teoria geral do contrato aplicada aos contratos administrativos:
ensaio sobre a função pública e a autonomia privada na Lei nº 14.133/21 183
Conclusão
administrativo). Ainda, foi sublinhada a incidência do princípio da intranscendência das sanções e das
medidas restritivas de ordem jurídica pelo Ministro CELSO DE MELLO nos autos de ACAgRQO nº 1.033/DF.
A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, nos RMS nº 23.640, voto do Min. MAURÍCIO CORRÊA,
em 16.10.2001, afirmou que o fato de o concorrente apresentar uma proposta financeira sem assina-
tura em processo de licitação gera a inexistência do documento em si (apócrifo). Assim decidiu sob o
argumento de se dever atender à boa-fé contratual, impondo-lhe a desclassificação por inobservância
de exigência prescrita no edital.
184 Alexandre de Mello Guerra e Marcelo Benacchio
Bibliografia
70
NEGREIROS, Teresa. Teoria do contrato. Novos paradigmas. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 514.
Teoria geral do contrato aplicada aos contratos administrativos:
ensaio sobre a função pública e a autonomia privada na Lei nº 14.133/21 185
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GLITZ, Frederico Eduardo Zenedin. Favor contractus: alguns apontamentos
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no direito comparado. Revista do Instituto do Direito Brasileiro da Faculdade
de Direito da Universidade de Lisboa, Lisboa, v. 1, p. 475-542, 2013.
186 Alexandre de Mello Guerra e Marcelo Benacchio
Cristiana Fortini1
Advogada
Introdução
1
Doutora em Direito Administrativo pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Presidente do
Instituto Brasileiro de Direito Administrativo. Professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Professora da Faculdade Milton Campos. Professora Visitante da Università di Pisa. Visiting Scholar pela
George Washington University.
2
Especialista em Direito Administrativo, Direito Tributário e Direito Processual pela PUC Minas.
Especialista em Direito Tributário pela Universidade Cândido Mendes. Especialista em Advocacia
Pública pelo Instituto para o Desenvolvimento Democrático. Especialista em Direito Administrativo,
Direito Público, Direito Processual e Direito Constitucional pela Faculdade de Estudos Administrativos
de Minas Gerais. Especialista em Direito Penal e Processual Penal e em Direito Civil e Processual Civil
pela Faculdade Arnaldo. Especialista em Direito Público pelo Centro Universitário UNA.
190 Cristiana Fortini e Caio Mário Lana Cavalcanti
3
Carlos Ari Sundfeld chegou a afirmar que cumprir todas as formalidades da Lei nº 8.666/93 repre-
sentava um “[…] martírio para os milhares de profissionais obrigados a cumpri-la cotidianamente.”.
Cf: SUNDFELD, Carlos Ari. Licitação e contrato administrativo. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1995, p. 11.
4
Nesse sentido: FORTINI, Cristiana; PEREIRA, Maria Fernanda Pires de Carvalho; CAMARÃO, Tatiana
Martins da Costa. Licitações e contratos: aspectos relevantes. 2. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2008,
p. 162-163
5
Nesse sentido, Egon Bockmann Moreira e Fernando Vernalha Guimarães: “Como todos os diplomas
normativos, a Lei 8.666/1993 (doravante LGL) é retrato fiel de seu tempo. Foi originalmente pro-
mulgada depois de período conturbado da História brasileira. Menos de um ano antes, havia se dado
a exposição pública de vários casos de corrupção, culminando no impeachment do Presidente da
República – que representou um teste de força da Constituição e instituições brasileiras. O País passava
por uma reorganização político-administrativa e uma busca de paradigmas éticos para a Administração
Pública. À época, era notório que parte das licitações e contratos administrativos envolvia desvios de
verba pública. Talvez daí advenha a rigidez do tratamento legislativo de alguns temas, que resultou
em críticas negativas: a LGL tida como rígida, supérflua e enigmática – a aumentar os custos, públicos
e privados, naquelas que representam algumas das mais importantes contratações brasileiras. Muitas
vezes tentou-se solucionar os problemas das contratações públicas (sociais, éticos, econômicos,
gerenciais etc.) com recurso ao formalismo.” Cf: MOREIRA, Egon Bockmann; GUIMARÃES, Fernando
Vernalha. Licitação pública: a lei geral de licitações/lgl e o regime diferenciado de contratações/rdc.
2. ed., atual., rev. e aumentada. São Paulo: Malheiros, 2015, p. 29.
Lei nº 14.133/21: a instrumentalidade das formas e
o formalismo moderado no controle administrativo licitatório 191
6
Nesse sentido, cf: OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. A nova lei de licitações: um museu de novidades?,
Direito do Estado, ano 2020, número 474. Também nesse contexto, esclarece José Eduardo Martins Cardozo,
sobre a Lei nº 14.133/21, que alguns doutrinadores “[…] acusam esse diploma legislativo de não ter sido
suficientemente ousado para romper com uma cultura institucional atrasada e burocrática, no âmbito
da prática dos processos licitatórios e dos próprios ajustes contratuais que deles derivam. Afirma-se que
se perdeu, mais uma vez, uma grande oportunidade de se construir novos e revolucionários paradigmas
normativos, ao se bater continência a sentimentos misoneístas e descompassados com as exigências
impostas por um mundo moderno e veloz.”. Cf: CARDOZO, José Eduardo Martins. Artigos 147 a 150.
In: DAL POZZO, Augusto Neves; CAMMAROSANO, Márcio; ZOCKUN, Maurício (coord.). Lei de licitações e
contratos administrativos comentada: Lei 14.133/21. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2021, p. 648.
7
A esse respeito, destacamos que o legislador manteve a natureza pública dos contratos celebrados
com as entidades alcançadas pela Lei 14.133/21, mas revela preocupação com o interesse do mercado
pela contratação. Destacamos a menor tolerância com atrasos no pagamento, maior rigor com a ordem
cronológica, exigência de que os contratos tenham cláusulas prevendo prazo resposta aos pedidos de
repactuação e reequilíbrio.
8
Importante salientar o art. 11 da nova lei que está bem delineado na Portaria Seges 8678/21 que atinge
os entes da esfera federal, exceto as empresas estatais.
9
Exigem-se programas de integridade para contratos de grande vulto (art. 25 § 4º), bem como para
a hipótese de reabilitação (art. 156 § 1º, V), e valoriza-se a existência dos citados programas como
critério para o desempate de propostas (art. 60, III) e como mecanismo de calibragem das sanções a
favor das entidades (art. 163, parágrafo único).
10
O perfil de agente público definido no art. 7 º, em especial o que consta do inciso II, revela que não
se permitirá que qualquer trabalhador deixe suas digitais no ciclo de contratação, já que é necessário
que tenham atribuições relacionadas a licitações e contratos ou apresentam formação compatível ou
qualificação atestada por certificação profissional emitida por escola de governo criada e mantida
pelo poder público.
192 Cristiana Fortini e Caio Mário Lana Cavalcanti
11
Conforme dispõe o art. 11, I, da Nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos.
12
Nesse sentido: THEODORO JUNIOR. Humberto. Curso de direito processual civil. Volume I. 59. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2018, p. 23.
13
Sem que haja identidade, naturalmente.
14
As finalidades do processo licitatório estão insculpidas no art. 11 da Lei nº 14.133/21: “Art. 11. O pro-
cesso licitatório tem por objetivos: I – assegurar a seleção da proposta apta a gerar o resultado de
Lei nº 14.133/21: a instrumentalidade das formas e
o formalismo moderado no controle administrativo licitatório 193
contratação mais vantajoso para a Administração Pública, inclusive no que se refere ao ciclo de vida
do objeto; II – assegurar tratamento isonômico entre os licitantes, bem como a justa competição;
III – evitar contratações com sobrepreço ou com preços manifestamente inexequíveis e superfaturamento
na execução dos contratos; IV – incentivar a inovação e o desenvolvimento nacional sustentável.”.
15
TRF3, Apelação Cível/Remessa Necessária 5021790-36.2018.4.03.6100, Rel. Desembargador Federal
VALDECI DOS SANTOS, 1ª TURMA, julgado em 19/03/2021.
16
Sugere-se, sobre o tema consequencialismo jurídico, a leitura: FRANÇA, Phillip Gil. Algumas conside-
rações sobre como decidir conforme o consequencialismo da Lei 13.655/2018. In: MAFFINI, Rafael;
RAMOS, Rafael (coord.). A nova LINDB. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2020.
17
Sobre o realismo no âmbito da LINDB, André Ribeiro Tosta: “Considerações realistas são argumentos
interdisciplinares voltados a descrever empiricamente a interpretação/aplicação de normas jurídicas
por instituições com nome e endereço e por agentes de carne e osso em ambientes socieconômicos/
políticos reais. São debates que se preocupam não apenas com ‘o Direito’, mas também com o con-
texto dos envolvidos em sua concretização […] Realistas se preocupam em complementar debates
jurídicos tradicionais, que tipicamente focam no ‘quid iuris’ – em apontar qual resposta determina
‘o Direito’, suas normas, seus princípios, seus valores –, com fatores endereçados por outras lentes.
Eles entendem que as normas e a linguagem jurídica gozam de alguma espécie de ‘autoridade’,
mas argumentam que há outras variáveis de ordem prática que impactam no exercício adequado dessa
autoridade […] Para realistas, compreender o Direito Público vai além de compreender os conceitos
jurídicos (primeiro passo), seria preciso também endereçar aspectos concretos, extra jurídicos, que não
são captados pelas abordagens e pelos conceitos jurídicos tradicionais […] A nova LINDB é realista e
demanda posturas realistas; ela positiva regras que limitam os efeitos da indeterminação jurídica em
alguns debates corriqueiros (direcionando desfechos mais coerentes em casos de incertezas) e salienta
a necessidade de decisões públicas (administrativas ou controladoras) que não se pautem apenas
194 Cristiana Fortini e Caio Mário Lana Cavalcanti
pelas normas ou princípios jurídicos cabíveis, mas, também, pelo contexto da decisão. Os arts. 20 e
22 são os que melhor simbolizam essa segunda faceta.” TOSTA, André Ribeiro. Realismo e a LINDB:
amor à primeira vista?. In: MAFFINI, Rafael; RAMOS, Rafael (coord.). A nova LINDB. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2020, p. 6-8; 17-18. Cf. também: TABORDA, Maren Guimarães. Realismo, natureza das
coisas e publicidade: discussão sobre os critérios hermenêuticos da Lei 13.655/2018. In: MAFFINI, Rafael;
RAMOS, Rafael (coord.). A nova LINDB. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2020, p. 33.
18
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Princípios do processo judicial no processo administrativo. Revista
Consultor Jurídico, 10 de dezembro de 2015. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2015-dez-10/
interesse-publico-principios-processo-judicial-processo-administrativo. Acesso em: 5 nov. 2022.
19
MARRARA, Thiago. Princípios do processo administrativo. In: BITENCOURT NETO, Eurico; MARRARA,
Thiago (coord.). Processo administrativo brasileiro: estudos em homengem aos 20 anos da lei federal
de processo administrativo. Belo Horizonte: Fórum, 2020, p. 101.
20
Nesse sentido: LIMA, Arnaldo Esteves. O processo administrativo no âmbito da administração pública
federal: lei n. 9.784 de 29/01/1999. Belo Horizonte: Del Rey, 2014, p. 34 e 35.
Lei nº 14.133/21: a instrumentalidade das formas e
o formalismo moderado no controle administrativo licitatório 195
Nesse contexto, de acordo com Fábio Zambitte Ibrahim: “Em virtude do informalismo, pequenas
21
falhas e omissões, que não comprometam a matéria tratada, podem ser corrigidas posteriormente ou,
até mesmo, ignoradas. Aliás, se passíveis de omissão sem prejuízo para o processo, deveriam ser
eliminadas do mesmo, pois a demanda administrativa deve possuir procedimento o mais singelo
possível.” Cf: IBRAHIM, Fábio Zambitte. Processo administrativo é mais eficaz sem formalidades. Revista
Consultor Jurídico, 10 de outubro de 2012. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2012-out-10/
fabio-zambitte-processo-administrativo-eficaz-formalidades. Acesso em: 05 nov. 2022.
196 Cristiana Fortini e Caio Mário Lana Cavalcanti
22
MARINELA, Fernanda. Direito administrativo. 7. ed. rev., ampl., reformada e atual. Niterói: Impetus,
2013, p. 1105.
23
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 32. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 687.
24
FERRAZ, Sérgio; DALLARI, Adilson Abreu. Processo administrativo. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2012,
p. 125. No mesmo sentido, cf: MARRARA, Thiago. Princípios do processo administrativo. In: BITENCOURT
NETO, Eurico; MARRARA, Thiago (coord.). Processo administrativo brasileiro: estudos em homenagem
aos 20 anos da lei federal de processo administrativo. p. 100-101.
Lei nº 14.133/21: a instrumentalidade das formas e
o formalismo moderado no controle administrativo licitatório 197
25
Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação
de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso suas con-
sequências jurídicas e administrativas Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo
deverá, quando for o caso, indicar as condições para que a regularização ocorra de modo proporcional
e equânime e sem prejuízo aos interesses gerais, não se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou
perdas que, em função das peculiaridades do caso, sejam anormais ou excessivos.
26
FURTADO, Lucas Rocha. Curso de direito administrativo. 3. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2012, p. 267.
27
Como esclarece Raquel Urbano Melo de Carvalho: “Um ato que apresenta desconformidade grave em
face das disposições jurídicas seria objeto de rechaçamento absoluto pelo ordenamento, merecendo
ser expelido mediante ato de invalidação. Já o ato cujo vício for de menor intensidade e que, assim,
não justifica expulsão do sistema, sujeita-se à convalidação […] com efeito, é o interesse público que
fundamenta o entendimento de que há dois institutos aptos a recompor a legalidade violada por um
determinado vício. Isto porque, se uma desconformidade pode ser sanada, não se justificaria a su-
pressão do ato, à luz do próprio interesse social. Não há que se falar em invalidação, se o ato pode ser
convalidado […]”. Cf: CARVALHO, Raquel Melo Urbano de. Curso de direito administrativo. Salvador:
Juspodivm, 2008, p. 433.
28
Nesse sentido: CARDOZO, José Eduardo Martins. Artigos 147 a 150. In: DAL POZZO, Augusto Neves;
CAMMAROSANO, Márcio; ZOCKUN, Maurício (coord.). Lei de licitações e contratos administrativos
comentada: Lei 14.133/21. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2021, p. 651.
198 Cristiana Fortini e Caio Mário Lana Cavalcanti
29
NOHARA, Irene Patrícia. Nova lei de licitações e contratos: comparada. São Paulo: Thomson Reuters
Brasil, 2021, p. 493. No mesmo sentido, Rafael Carvalho Rezende Oliveira esclarece que “[…] a partir
da premissa de que o formalismo na Administração Pública não pode ser encarado de forma absoluta,
o legislador somente autoriza a anulação dos atos irregulares nas hipóteses em que não for possível o
saneamento.”. Cf: OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Nova lei de licitações e contratos administrativos:
comparada e comentada. Rio de Janeiro: Forense: 2021, p. 339.
30
Nesse sentido: NÓBREGA, Theresa Christine de Albuquerque (coord.). Comentários à Lei nº 14.133/2021:
desafios, oportunidades e transformações das licitações e contratos administrativos. São Paulo:
MP Editora, 2021, p. 493.
Lei nº 14.133/21: a instrumentalidade das formas e
o formalismo moderado no controle administrativo licitatório 199
31
Destacam-se, sobre o realismo e consequencialismo jurídicos, os caputs dos arts. 20, 21 e 22 da
LINDB: “Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em
valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão. Art. 21.
A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação de ato,
contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso suas conse-
quências jurídicas e administrativas. Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão
considerados os obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a
seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos administrados.”.
32
Como já dissemos, o próprio final do art. 5º da Lei nº 14.133/21 assevera que os ditames da LINDB
serão observados.
Lei nº 14.133/21: a instrumentalidade das formas e
o formalismo moderado no controle administrativo licitatório 201
33
Nos termos do art. 169 da Nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos: “Art. 169. As contra-
tações públicas deverão submeter-se a práticas contínuas e permanentes de gestão de riscos e de
controle preventivo, inclusive mediante adoção de recursos de tecnologia da informação, e, além de
estar subordinadas ao controle social, sujeitar-se-ão às seguintes linhas de defesa: I – primeira linha
de defesa, integrada por servidores e empregados públicos, agentes de licitação e autoridades que
atuam na estrutura de governança do órgão ou entidade; II – segunda linha de defesa, integrada
pelas unidades de assessoramento jurídico e de controle interno do próprio órgão ou entidade;
III – terceira linha de defesa, integrada pelo órgão central de controle interno da Administração e
pelo tribunal de contas.”
202 Cristiana Fortini e Caio Mário Lana Cavalcanti
34
MOTTA, Fabrício; NAVES, Fernanda de Moura Ribeiro. Artigos 169 a 173. In: DAL POZZO, Augusto Neves;
CAMMAROSANO, Márcio; ZOCKUN, Maurício (coord.). Lei de licitações e contratos administrativos
comentada: Lei 14.133/21. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2021, p. 713.
35
A profissionalização dos recursos humanos, inclusive, é um dos eixos estruturantes da Lei nº 14.133/21.
Nesse sentido, sugere-se a leitura: FORTINI; Cristiana; AMORIM; Rafael Amorim de. Um novo olhar para
a futura lei de licitações e contratos administrativos: a floresta além das árvores. Portal Licitações e
Contratos. Disponível em: www.licitacaoecontrato.com.br. Acesso em: 07 nov. 2022.
36
A Lei nº 14.230/21, que alterou substancialmente a Lei nº 8.429/92, igualmente exemplifica essa
preocupação com a capacitação dos servidores públicos, na diretriz de uma atuação preventiva em
detrimento da meramente repressiva. Nesse sentido, o art. 23-A da Lei de Improbidade Administrativa,
incluído pela Lei nº 14.230/21, que assevera ser “[…] dever do poder público oferecer contínua capaci-
tação aos agentes públicos e políticos que atuem com prevenção ou repressão de atos de improbidade
administrativa.”. Inclusive, há doutrinadores membros do Ministério Público que igualmente defendem
uma atuação do Parquet mais pedagógica e preventiva, em detrimento do viés meramente repressivo.
Cf, nesse sentido: ISMAIL FILHO, Salomão. A importância da atuação preventiva do Ministério Público
ombudsman em prol da boa administração, no combate à improbidade administrativa. Revista do
Conselho Nacional do Ministério Público, improbidade administrativa, n. 5. Brasília: CNMP, 2015, p. 124.
No mesmo sentido: ALMEIDA, Gregório Assagra de. O Ministério Público no neoconstitucionalismo: perfil
constitucional e alguns fatores da ampliação de sua legitimação social. In: CHAVES, Cristiano et al.
(coord.) Temas atuais do Ministério Público: a atuação do Parquet nos 20 anos da Constituição Federal.
2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 17-60; CAVALCANTI, Caio Mário Lana. Comentários à lei
de improbidade administrativa. Rio de Janeiro: CEEJ, 2020, p. 365.
Lei nº 14.133/21: a instrumentalidade das formas e
o formalismo moderado no controle administrativo licitatório 203
Conclusão
Bibliografia
Mestre em Direitos Difusos e Coletivos pela Ponifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
1
Especialista em Direito Econômico e Negocial pela Escola Paulista da Magistratura (EPM). Juiz Eleitoral.
208 Luiz Fernando Silva Oliveira
Introdução
2
Disponível em: https://www.ibge.gov.br/. Acesso em: 27 set. 2022.
3
Jornal Valor Econômico. IBGE estima população brasileira em 212,7 milhões antes de Censo. Disponível
em: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2022/07/22/ibge-estima-populao-brasileira-em-2127-milhes-
antes-de-censo.ghtml. Acesso em: 19 jan. 2023.
A confidencialidade das propostas no diálogo competitivo 209
4
Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942 – Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.
A confidencialidade das propostas no diálogo competitivo 211
5
Oliveira, Luiz Fernando Silva. A nova Lei de Licitação e as futuras eleições: anistia geral a condenados?
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2022.
212 Luiz Fernando Silva Oliveira
6
José Souto Maior Borges. Curso de Direito Comunitário: instituições de direito comunitário comparado -
União Européia e Mercosul. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 597.
7
LIBRO VERDE LA CONTRATACIÓN PUBLICA EN LA UNIÓN EUROPEA: REFLEXIONES PARA EL FUTURO. Bruselas,
27.11.1996 COM (96) 583 final. N° de catálogo: CB-CO-96-627-ES-C. ISBN 92-78-12851-1. Oficina de
Publicaciones Oficiales de las Comunidades Europeas L-2985 Luxemburgo. Disponível em: https://eur-lex.
europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:51996DC0583&from=ES. Acesso em: 7 out. 2022.
A confidencialidade das propostas no diálogo competitivo 213
8
Em português: “Temendo uma potencial infração ao princípio da igualdade de tratamento, o setor
privado mostrou-se reticente em relação à eventual participação em um estudo ou discussão anterior
à publicação do anúncio de concurso sem a garantia de que não será posteriormente excluído dos pro-
cessos de celebração. A Comissão reconhece que, dada a complexidade da maior parte dos projetos,
que podem por vezes exigir soluções totalmente novas, pode revelar-se necessário proceder,
antes da publicação do concurso, a um diálogo técnico entre as entidades adjudicantes e os par-
ceiros privados interessados. Se as entidades adjudicantes, por meio da instituição de salvaguardas
específicas – tanto relativas aos aspectos processuais como materiais – evitam solicitar ou aceitar
informações que teriam por efeito restringir a concorrência, o princípio da igualdade de tratamento
não seria infringido. (grifos nossos)
9
DIRECTIVA 2004/18/CE DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO de 31 de Março de 2004.
Jornal Oficial da União Europeia, Bruxelas, 30 abr. 2004. Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/.
Acesso em: 7 out. 2022.
214 Luiz Fernando Silva Oliveira
10
Directiva 2004/18/CE, artigo 29, n. 3: “As entidades adjudicantes darão início, com os candidatos selec-
cionados nos termos das disposições pertinentes dos artigos 44.o a 52º, a um diálogo que terá por objectivo
identificar e definir os meios que melhor possam satisfazer as suas necessidades. Durante esse diálogo,
poderão debater com os candidatos seleccionados todos os aspectos do contrato.” (grifos nossos)
11
DIRETIVA 2014/24/UE DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO de 26 de fevereiro de 2014 relativa
aos contratos públicos e que revoga a Diretiva 2004/18/CE. Jornal Oficial da União Europeia, Buxelas,
28 mar. 2014. Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/. Acesso em: 7 out. 2022.
A confidencialidade das propostas no diálogo competitivo 215
Segundo a articulista:
12
PEREIRA, Guilherme Abreu Lima e. Diálogo Competitivo. O que é e como essa nova modalidade licita-
tória pode impactar a atuação dos tribunais de contas nas análises prévias dos editais de concessões
comuns E PPP. Cadernos da Escola Paulista de Contas, São Paulo, 2021.
13
SANTOS, Luciana Souza. O diálogo concorrencial. In: Comentários ao Código dos Contratos Públicos.
I Volume, 4. ed., p. 809-840. Gomes, Carla Amado; Pedro, Ricardo; Caldeira, Tiago Serrão Marco
(Coord.). AAFDL. Depósito Legal: 487584/21. Agosto/2021.
218 Luiz Fernando Silva Oliveira
14
Luciana Souza Santos, Op. Cit., p. 816.
15
PORTUGAL. Leis, decretos, etc. Código dos contratos públicos. 12. ed. (Códigos anotados). CDU 346.
Almedina. Biblioteca Nacional de Portugal.
16
HEINEN, Juliano. Curso de Direito Administrativo. 2. ed. rev., atual. e ampl. Salvador:
Juspodivm, 2021, p. 1.108.
A confidencialidade das propostas no diálogo competitivo 219
17
MARINONI, Luiz Guilherme. A ética dos precedentes. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p. 77.
220 Luiz Fernando Silva Oliveira
HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 145-146.
18
A confidencialidade das propostas no diálogo competitivo 221
BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. Uma defesa das regras do jogo. 17. ed. São Paulo:
19
20
NETO, José Cretela. Contratos Internacionais: cláusulas típicas. Campinas: Millenium, 2011, p. 491.
224 Luiz Fernando Silva Oliveira
21
Op. Cit., p. 492.
A confidencialidade das propostas no diálogo competitivo 225
22
HEINEN, Juliano. Curso de Direito Administrativo. 2. ed. rev., atual. e ampl. Salvador:
Juspodivm, 2021, p. 241.
23
CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito Constitucional. 11 ed. rev. e atual. Belo Horizonte:
Del Rey, 2005, p. 803.
A confidencialidade das propostas no diálogo competitivo 227
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Trad. Virgílio Afonso da Silva. 2. ed. São Paulo:
24
Conclusão
25
DIRECTIVA 2004/18/CE DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO de 31 de Março de 2004. Publicado
no Jornal Oficial da União Europeia em 30 abr. 2004. Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/.
Acesso em: 7 out. 2022.
26
DIRETIVA 2014/24/UE DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO de 26 de fevereiro de 2014 relativa
aos contratos públicos e que revoga a Diretiva 2004/18/CE. Publicado em 28 mar. 2014 no Jornal Oficial
da União Europeia. Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/. Acesso em: 7 out. 2022.
A confidencialidade das propostas no diálogo competitivo 233
Bibliografia
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Trad. Virgílio Afonso da Silva.
2. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2011.
ANDRADE DA SILVA, Jorge. Código dos contratos públicos. 12. ed. Coimbra:
Almedina, 2021.
BRASIL. Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942. Lei de Introdução
às normas do Direito Brasileiro. Brasília, DF: Congresso Nacional, 1942.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa
do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 2023.
BRASIL. Lei nº 14.133, de 1º de abril de 2021. Lei de Licitações e Contratos
Administrativos. Brasília, DF: Congresso Nacional, 2021.
BORGES, José Souto Maior. Curso de Direito Comunitário: instituições
de direito comunitário comparado – União Europeia e Mercosul. 2. ed.
São Paulo: Saraiva, 2009.
234 Luiz Fernando Silva Oliveira
1
Mestre em Direito das Relações Sociais (Área de Concentração: Direito Processual Civil) pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Especialização em Direito Empresarial pela Escola
Paulista da Magistratura. Especialização em Direito de Família e Sucessões pela Escola Paulista
da Magistratura. Especialização em Direito Público pela Escola Paulista da Magistratura. Membro da
Academia Paulista de Magistrados.
238 Flora Maria Nesi Tossi Silva
2. Inexigibilidade de licitação
Como bem explica José dos Santos Carvalho Filho4, “[…] na dispensa,
a licitação é materialmente possível, mas em regra inconveniente;
a inexigibilidade, é inviável a própria competição”.
A Lei no 8.666/93, ainda em vigor, enumera os casos de inexigibilidade
de licitação em seu artigo 25. No caput de tal dispositivo legal há indicação
2
NOHARA, Irene Patrícia Diom. Nova Lei de Licitações e Contratos Comparada. São Paulo: Thomson Reuters
Revista dos Tribunais, 2021, p. 304.
3
CAMPOS, Flávia. Comentários à Nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos. São Paulo:
Foco, 2021, p. 49.
4
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 32. ed. São Paulo: Atlas, 2018.
242 Flora Maria Nesi Tossi Silva
5
MARTINS, Ricardo Marcondes. Inexigibilidade de Licitação: Comentários ao art. 74 da Lei 14.133/2021.
in: Cunha Filho, Alexandre Jorge Carneiro da; Arruda, Carmen Silvia L. de; Piccelli, Roberto Ricomini
(coord.). Lei de Licitações e Contratos Comentada – volume II. . São Paulo: Quartier Latin, 2022, p. 359.
6
JUSTEN Filho, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratações Administrativas
(Nova Lei 14.133/2021). São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2021, p. 958.
246 Flora Maria Nesi Tossi Silva
7
FEDERIGH, Wanderley José. A licitação: Notas sobre a sua Dispensa e Inexigibilidade. in: Cunha Filho,
Alexandre Jorge Carneiro da; Arruda, Carmen Silvia L. de; Piccelli, Roberto Ricomini (Coord.). Lei de
Licitações e Contratos Comentada – volume II. São Paulo: Quartier Latin, 2022. p. 333. Mencionado autor
indica que, em 20 de março de 2020, o então Ministro da Saúde baixou Portaria nº 454, que declarou
o estado de transmissão comunitária do novo vírus em todo o território nacional. No Estado de
São Paulo, entrou em vigor o Decreto Estadual nº 64.879, de 20.03.2020, que reconheceu o Estado
de calamidade pública em todo o Estado, em decorrência da disseminação do vírus. Ressalta, ainda,
que, no âmbito do estado de calamidade pública, vários outros instrumentos legais entraram em vigor,
como a Lei Federal nº 13.979/2020, que trouxe as medidas aplicáveis enquanto vigorar o referido estado
de calamidade; o Decreto-Legislativo nº 06 de 20.03.2020, que reconheceu a ocorrência do mencionado
estado de calamidade pública, nos termos da solicitação do presidente da República, encaminhada por
meio de mensagem nº 93, de 18 de março do mesmo ano; a medida provisória 926/2020, que altera
a Lei nº 13.979/2020, para dispor sobre procedimentos para aquisição de bens, serviços e insumos
destinados ao enfrentamento da emergência de saúde pública.
250 Flora Maria Nesi Tossi Silva
8
FEDERIGH, Wanderley José. A licitação: Notas sobre a sua Dispensa e Inexigibilidade. in: Cunha Filho,
Alexandre Jorge Carneiro da; Arruda, Carmen Silvia L. de; Piccelli, Roberto Ricomini (Coord.).
Lei de Licitações e Contratos Comentada – volume II. São Paulo: Quartier Latin, 2022, p. 319-353.
9
ARRUDA, Carmen Silvia Lima de. Novas Hipóteses de Dispensa de Licitação da Lei 14.133/2021. in:
Cunha Filho, Alexandre Jorge Carneiro da; Arruda, Carmen Silvia L. de; Piccelli, Roberto Ricomini
(Coord.). Lei de Licitações e Contratos Comentada – volume II. São Paulo: Quartier Latin, 2022 p. 405.
10
ARRUDA, Carmen Silvia Lima de. Op. cit., p. 405.
11
FEDERIGH, Wanderley José. Op. cit. 339. Considerando os estreitos limites deste trabalho, remeto o
leitor para os estudos aprofundados sobre as licitações dispensáveis, dispensadas e inexigibilidade
de licitação na Lei nº 14.133/2021, e também sobre a nova Lei de Licitações e contratos, realizados por:
1) Wanderley José Federigh. Op. cit, p. 319/353; 2)MARTINS, Ricardo Marcondes. Inexigibilidade de
Licitação: Comentários ao art. 74 da Lei 14.133/2021; 3) ARRUDA, Carmen Silvia Lima. Novas hipóteses
de Dispensa de Licitação da Lei 14.133/2021, p. 377/409; e 4) SADI, Mário. Comentário Geral ao
Capítulo IX da Lei 14.133/2021, p. 417/427. Os quatro artigos em: Cunha Filho, Alexandre Jorge Carneiro da;
Arruda, Carmen Silvia L. de; Piccelli, Roberto Ricomini (Coord.). Lei de Licitações e Contratos Comentada –
Lei 14.133/2021; 5) Marçal JUSTEN Filho. Op. cit. 938/1123; 6) CAMPOS, Flávia Campos. Comentários
à Nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos. São Paulo: Foco, 2021, p. 49/79; 6) THAMAY,
Rennan; GARCIA Júnior, Vanderlei; MACIEL, Igor Moura; PRADO, Jhonny. Nova Lei de Licitações e Contratos
A nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos (Lei nº 14.133/21) 253
Administrativos Comentada e Referenciada. São Paulo: Saraiva-Jur, 2021; 7) SARAI, Leandro (Org.).
Tratado da Nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos – Lei 14.133/2021 Comentada por
Advogados Públicos. 2. ed. ver., atual. e ampl. São Paulo: Editora Jus Podium, 2022; 8) Nova Lei de
Licitações e Contratos: Impactos no Estado de São Paulo – Relatório do Grupo de Trabalho Instituído
pela Resolução PGE-3/2021 para analisar os reflexos da Nova Lei de Licitações e contratos no âmbito da
Administração Pública do Estado de São Paulo, elaborado por Maria Lia Pinto Porto Corona, Eugenia Cristina
Cleto Marolla, Rafael Carvalho de Fassio (coordenador do Grupo de Trabalho).
12
JUSTEN FILHO, Marçal. Op. cit., p. 1093.
254 Flora Maria Nesi Tossi Silva
13
CARVALHO, Guilherme. Da contratação direta indevida prevista na Lei n. 14.133/2021. Revista CONJUR.
Disponível em: https://www.conjur.com.br/2021-set-17/licitacoes-contrtatação-direta-indeivda-pre-
vista-lei-141332022. acesso em: 10.11.2022.
14
JUSTEN FILHO, Marçal. Op. cit., p. 955.
15
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: parte geral. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2011, p. 213.
16
PLÁCIDO e Silva, De. Vocábulo jurídico. 32. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 645.
17
SERPA LOPES, Miguel Maria de. Curso de Direito Civil (Introdução, Parte Geral e Teoria dos Negócios
Jurídicos. Volume 1. 2. ed.. Rio de Janeiro-São Paulo: Freitas Bastos, 1957, p. 438.
256 Flora Maria Nesi Tossi Silva
18
BITTENCOURT, Sidney. Nova Lei de Licitações Passo a Passo. Belo Horizonte: Forum, 2022, p. 502.
19
MODESTO, Paulo. O erro grosseiro administrativo em tempos de incerteza. CONJUR – publicado em
30.07.2020. Disponível em: conjur.com.br/20-2020-jul-30/interesse-publico-erro-grosseiro-administrativo-
tempos-incerteza. Acesso em: 10 nov. 2022.
20
MODESTO, Paulo. Op. cit.
A nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos (Lei nº 14.133/21) 257
21
MODESTO, Paulo. Op. cit.
258 Flora Maria Nesi Tossi Silva
22
MODESTO, Paulo. Op. cit. e DIONÍSIO, Pedro de Holanda. O Direito ao Erro do Administrador Público
no Brasil: contexto, fundamentos e parâmetros. Rio de Janeiro: GZ Editora, 2019. p. 115-162.
A nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos (Lei nº 14.133/21) 259
23
JUSTEN FILHO, Marçal. Op. cit., p. 955.
260 Flora Maria Nesi Tossi Silva
24
JUSTEN FILHO, Marçal. Op. cit. 955.
25
CARVALHO, Guilherme, op. cit.
26
HEINEN, Juliano. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. Lei 14.133/2021. 2. ed.
São Paulo: JusPodium, 2022, p. 451.
27
JUSTEN FILHO, Marçal. Op. cit. 955.
28
CARVALHO, Guilherme, op. cit.
29
HEINEN, Juliano. Op. cit, p. 451.
A nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos (Lei nº 14.133/21) 261
30
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratações Administrativas
(Nova Lei 14.133/2021). São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2021, p. 956.
31
JUSTEN FILHO, Marçal. Op. cit., p. 956.
262 Flora Maria Nesi Tossi Silva
32
JUSTEN FILHO, Marçal. Op. cit., p. 956.
33
JUSTEN FILHO, Marçal. Op. cit., p. 957.
34
JUSTEN FILHO, Marçal. Op. cit., p. 957.
264 Flora Maria Nesi Tossi Silva
MARTINS, Ricardo Marcondes. Inexigibilidade de Licitação: Comentários ao art. 74 da Lei 14.133/21. in:
35
Cunha Filho, Alexandre Jorge Carneiro da; Arruda, Carmen Silvia L. de; Piccelli, Roberto Ricomini (Coord.).
Lei de Licitações e Contratos Comentada – volume II. São Paulo: Quartier Latin, 2022, p. 360-361.
A nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos (Lei nº 14.133/21) 265
36
CARVALHO, Guilherme. op. cit.
266 Flora Maria Nesi Tossi Silva
37
Disponível em: https://www.congressonacional.leg.br/materias/medidas-provisorias/-/mpv/141949.
Acesso em: 10 nov. 2022.
A nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos (Lei nº 14.133/21) 267
38
MODESTO, Paulo. Op. cit.
A nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos (Lei nº 14.133/21) 269
Assim sendo, a LINDB admite que seja sanado o ato jurídico nos
casos em que os efeitos de seu desfazimento sejam excessivamente
nocivos. A decisão de invalidação do ato administrativo deve considerar
as consequências e sopesar o que ocasionará mais danos: a manutenção
ou o desfazimento do ato.
O art. 22 prevê que:
39
AZEVEDO MARQUES, Floriano de. O art. 22 da LINDB e os novos contornos do Direito Administrativo
Sancionador. CONJUR. 22 de julho de 2018. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2018-jul-25/
opiniao-artigo-22-lindb-direito-administrativo-sancionador. acesso em: 10 nov. 2022.
272 Flora Maria Nesi Tossi Silva
SUNDFELD, Carlos Ari. Direito Administrativo – O novo olhar da LINDB. Belo Horizonte: Forum, 2022, p. 147.
40
SUNDFELD, Carlos Ari. Op. cit., p. 148. Mencionado jurista cita em nota de rodapé relativa ao assunto
41
que Floriano de Azevedo Marques Neto e Juliana Palma defendem, nesse cenário, que haveria falta
de articulação entre as instituições de controle, na medida em que seriam poucas as iniciativas de
cooperação entre os entes. A cooperação estaria, ainda, restrita à fase de investigação e à instrução
processual, preservando-se a autonomia de cada ente para conduzir o seu próprio processo de respon-
sabilização (MARQUES NETO, Floriano de Azevedo; PALMA, Juliana Bornarcorsi de. Os sete impasses
do controle da administração pública no Brasil. In: Perez, Marco Augusto; Pagani, Rodrigo (coord).
Controle da Administração Pública. São Paulo: Forum, 2015, p. 33).
A nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos (Lei nº 14.133/21) 273
42
SUNDFELD, Carlos Ari. Op. cit., p. 149.
43
SUNDFELD, Carlos Ari. Op. cit., p. 149-150.
274 Flora Maria Nesi Tossi Silva
uma única vez. Isto porque não é possível o locupletamento sem causa
por parte da administração.
Ademais, incumbe salientar que o parágrafo 5º do art. 21 da Lei de
Improbidade administrativa, com a redação dada pela Lei no 14.230/21
determinou que as penas eventualmente aplicadas em outras esferas
deverão ser compensadas com as sanções aplicadas nos termos da Lei
no 8.429/92. Destarte, as sanções aplicadas no âmbito das licitações e
contratos (art. 73 da Lei no 14.133/2021) deverão ser consideradas na
esfera da improbidade administrativa. No mesmo sentido do aqui apontado,
encontra-se, a título de exemplo, o posicionamento de Juliano Heinen44.
Em conclusão, se houver a contratação com dispensa ou inexigi-
bilidade indevida, devem ser aplicadas as penalidades pertinentes na
esfera cível/administrativa, de indenização ao erário, mas o valor que for
fixado a título de indenização ao erário, deve ser abatido, por exemplo,
de eventual sanção que venha a ser fixada a título de improbidade adminis-
trativa (desde que a situação também se enquadre nas hipóteses previstas
na legislação pertinente).
Lembre-se que os atos irregulares praticados na vigência da nova
lei de improbidade são passíveis de sanção apenas nas hipóteses de
atos dolosos, nos termos da Lei no 8429/92, com as alterações previstas
na Lei no 14/230/2021.
E os atos que ensejam indenização ao erário, nas hipóteses do
art. 73 da Lei 14.133/2021 são os decorrentes de dolo, fraude ou erro
grosseiro (neste se enquadra a hipótese de culpa grave), como analisado
no presente trabalho.
Ressalte-se que a contratação direta indevida não se confunde com
contratação direta ilegal, prevista no art. 337-E do Código Penal Brasileiro:
44
HEINEN, Juliano. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. Lei 14.133/2021. 2. ed.
São Paulo: Juspodivm, 2022, p. 451.
276 Flora Maria Nesi Tossi Silva
Conclusão
45
CARVALHO, Guilherme. Op. cit.
46
NOBRE JÚNIOR, Edilson Pereira. A vedação do ‘bis in idem’ e as sanções administrativas. JOTA.
Disponível em: https://www.jota.info/opinião-e-analise/colunas/direito-administrativo-sancionador/
a-vedacao-do-bis-in-idem-e-as-sancoes-administrativas. Acesso em: 10 nov. 2022.
A nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos (Lei nº 14.133/21) 277
Bibliografia
de São Paulo (FFLCH/USP). Doutora em Direito do Estado pela Faculdade de Direito da Universidade de
São Paulo (FD/USP). Professora Assistente da Escola Paulista de Magistratura (EPM). Formadora pela Escola
Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (ENFAM). Autora do livro “Política e Administração
Pública“, publicado pela Editora Lumen Juris e indicado ao Prêmio Tese Destaque USP 2021.
282 Ana Rita de Figueiredo Nery
Introdução
2
BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Reforma Gerencial de 1995. Disponível em: http://www.bresserpereira.
org.br/rgp.asp. Acesso em: 1 jun. 2021. Bresser-Pereira, aliás, foi um dos grandes idealizadores desse
terceiro ciclo de reformas administrativas. Conhecedor da experiência administrativa internacional,
Luiz Carlos Bresser-Pereira comandou o Ministério da Administração e Reforma do Estado (Mare).
Alteração unilateral do contrato administrativo e a obrigação de
restabelecimento do equilíbrio econômico-financeiro na Lei nº 14.133/21 283
3
Lei nº 14.133/21, Art. 186. Aplicam-se as disposições desta Lei subsidiariamente à Lei nº 8.987,
de 13 de fevereiro de 1995, à Lei nº 11.079, de 30 de dezembro de 2004, e à Lei nº 12.232,
de 29 de abril de 2010.
4
“Art. 5º. Na aplicação desta Lei, serão observados os princípios da legalidade, da impessoalidade,
da moralidade, da publicidade, da eficiência, do interesse público, da probidade administrativa,
da igualdade, do planejamento, da transparência, da eficácia, da segregação de funções, da motivação,
da vinculação ao edital, do julgamento objetivo, da segurança jurídica, da razoabilidade,
da competitividade, da proporcionalidade, da celeridade, da economicidade e do desenvolvimento
nacional sustentável, assim como as disposições do Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942.”
(Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro).
5
Nas lições sempre atuais de Marcos Juruena Villela Souto, “[…] a lógica da função administrativa
e da perpetuação dos poderes administrativos se entrelaça com a lógica dos contratos privados;
e se contaminam mutuamente, sem se anularem. Essa dinâmica é instrumental, todavia, instrumento
posto amoldado – e justificado – pelos interesses públicos e privados implantados na avença.
O que se destaca é que os contratos de direito público, antes de tudo, são contratos, submetidos à estrutura
e às regras essenciais da Teoria Geral dos Contratos. Deste pensar é também Marcos Juruena Villela Souto,
Alteração unilateral do contrato administrativo e a obrigação de
restabelecimento do equilíbrio econômico-financeiro na Lei nº 14.133/21 285
quando escreve que o contrato administrativo se abebera na fonte do direito privado, mais precisa-
mente na teoria geral dos contratos, para captar seus elementos essenciais sobre as quais vai justapor
suas prerrogativas que lhe marcam as características.”. (SOUTO, Marcos Juruena Villela. Licitações
e Contratos Administrativos. 2. ed. Rio de Janeiro: Esplanada, 1994, p. 170).
6
MEIRELES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 202.
7
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 29. ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 314.
286 Ana Rita de Figueiredo Nery
8
Tais poderes são exaustivamente tratados em DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo.
29. ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 314 e seguinte.
9
A expressão foi utilizada por Maria João Estourinho (ESTOURINHO, Maria João. Requiem pelo Contrato
Administrativo. Coimbra: Almedina, 1990, p. 119).
10
Não há que se pensar que o particular que contrata com a Administração é parte fragilizada na relação
contratual; trata-se, muitas vezes, de grande grupo econômico ou de empresa com lastro multinacional.
Contudo, a partir uma observação ampla sobre os contornos dos contratos administrativos (menos
casuística), o que ainda hoje salta aos olhos nessa disciplina é que a decisão do particular de se vincular
à Administração Pública passa antes por uma escolha de se vincular ao nebuloso e instável ambiente
das contratações públicas. Disto decorre o número ainda reduzido de interessados nas contratações,
o alto custo dos financiamentos e, no âmbito doutrinário, o esforço hermenêutico de se adequar
a teoria à prática.
Alteração unilateral do contrato administrativo e a obrigação de
restabelecimento do equilíbrio econômico-financeiro na Lei nº 14.133/21 287
11
ESTORINHO, Maria João. Requiem pelo Contrato Administrativo. Coimbra: Almedina, 1990, p. 119,
citando RAINAUD, Jean-Marie. Le contrat Administratif: volonté des parties ou Loi de Service Public.
Revue de Droit Public, n. 05, Paris, 1985, p. 1192.
12
A fiscalização talvez seja a grande palavra de ordem em termos de execução dos contratos administrativos.
Não obstante ser considerada prerrogativa exorbitante, o exercício eficiente do poder fiscalizatório
poupa o parceiro privado de se submeter a modificações unilaterais, bem como elimina prejuízos da
Administração Pública com atrasos na execução ou termos aditivos que acabam por comprometer
o erário. Dado esse papel preventivo, a fiscalização consubstancia excelente instrumento de preservação
da consensualidade e dos interesses conjugados, quando orientada pela boa-fé contratual e pela lisura
e probidade do agente responsável.
13
“La Administración dispone de um poder originário para controlar el servicio concedido y hacer que se
preste em las condiciones regulamentarias.” (FALLA, Fernando Garrido. Tratado de derecho adminis-
trativo, vol II. Madrid: Tecnos, 1992, p. 364).
288 Ana Rita de Figueiredo Nery
14
Para Maria João Estorinho, esses seriam os três traços essenciais do contrato administrativo. ESTORINHO,
Maria João. Requiem pelo Contrato Administrativo. Coimbra: Almedina, 1990, p. 118.
15
“Cada contrato, quando observado em seu conteúdo, traduz, por um lado, um interesse que decorre
da vontade conjugada das partes; e, por outro, uma vocação a produzir determinados efeitos,
um núcleo de consequências jurídicas, por vezes inerentes ao próprio tipo de negócio, por vezes fruto
da criatividade das partes. Posto perceptível sob o prisma objetivo, o interesse ainda não se apresenta
vinculado aos efeitos contratuais de forma definitiva. Vale dizer que o interesse embute um feixe
de consequências jurídicas muitas das quais prescindíveis; que não passam de projeções indiretas
e acessórias àquele contrato; demasiadamente variadas para compor o núcleo essencial de efeitos
do contrato, isto é, a mínima unidade de efeitos jurídicos esperada pelas partes de forma a atribuir
ao pacto função individual própria. Aqui tem lugar a causa do contrato”. (NERY, Ana Rita de Figueiredo.
A causa do contrato administrativo: análise do conteúdo contratual como parâmetro de aplicação
do princípio da eficiência. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 25).
16
A expressão é referenciada por Maria João Estourinho (Requiem pelo Contrato Administrativo. Coimbra:
Almedina, 1990, p. 140).
Alteração unilateral do contrato administrativo e a obrigação de
restabelecimento do equilíbrio econômico-financeiro na Lei nº 14.133/21 289
17
Nesse sentido, considera-se patente a maior dedicação da legislação administrativa aos instrumentos
e às modalidades de contratação que ao estudo da teoria contratual, o que é salutar na medida em que se
pode a todo tempo recorrer à teoria geral do direito para interpretação dos negócios jurídicos em geral.
18
URUGUAI, Visconde do. Ensaio sobre Direito Administrativo. 2. ed. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,
1960, p. 39.
290 Ana Rita de Figueiredo Nery
19
Ao analisar as influências do Código Civil de 2002 sobre os Contratos Administrativos, Jessé Torres expõe,
por exemplo, que a boa-fé objetiva demanda maior rigor na fiscalização da execução dos contratos
administrativos: “A boa-fé é o substrato da eticidade, traduzindo-se em norma de conduta que salva-
guarda a veracidade do que foi estipulado, a sinceridade e a probidade das vontades manifestadas,
em virtude do que se pode esperar que será cumprido o pactuado sem distorções ou tergiversações,
tendo-se sempre em vista o adimplemento do fim visado ou declarado como tal pelas partes […]”.
PEREIRA JÚNIOR, Jessé Torres. Notas acerca das repercussões no novo Código Civil sobre os contratos
administrativos. Revista da EMERJ, vol. 7, n. 27, Rio de Janeiro, 2004. 21.
20
O espírito do processo de desestatização do Brasil, diversamente do que ocorreu em países europeus,
teve como norte uma questão pragmática, qual seja: a falta de recursos públicos. No caso europeu,
o que se buscava era essencialmente a eficiência de serviços já existentes e universais, que somente
seria atingida com o know-how do setor privado. Essa abordagem é de SOUTO, Marcos Juruena Villela.
Serviços Públicos Concedidos. Boletim de Direito Administrativo, out./2005, p. 1103.
21
Via de regra, cada imposição unilateral da Administração ao particular consubstancia um risco a ser
agregado ao custo do objeto da contratação, o que pode vir a comprometer a eficiência – especial-
mente quando o objeto é a prestação de um serviço – na medida em que o caminho natural para
a autocompensação do parceiro privado é a subtração dos custos da execução.
Alteração unilateral do contrato administrativo e a obrigação de
restabelecimento do equilíbrio econômico-financeiro na Lei nº 14.133/21 291
22
No Decreto nº 2.300/86, o capítulo se intitulava “Da alteração dos contratos” e seus artigos desenharam
a disciplina das alterações unilaterais dos contratos administrativos tal como depois reproduzida pela
Lei no 8.666/93 e agora pela Lei nº 14.133/21.
Alteração unilateral do contrato administrativo e a obrigação de
restabelecimento do equilíbrio econômico-financeiro na Lei nº 14.133/21 293
23
Hely Lopes Meireles e Toshio Mukai.
24
Dentre esses: JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos.
11. ed. São Paulo: Dialética, 2005, p. 553-554; MARQUES NETO, Floriano Azevedo. Contrato Administrativo:
superveniência de fatores técnicos dificultadores da execução da obra. Boletim de Licitações e Contratos,
São Paulo: NDJ, fev./2001, vol. 14, p. 99 e “Alteração de contrato administrativo – Antecipação
de etapas de execução – Intangibilidade das condições econômicas e financeiras originais – Alteração
de regime de execução e pagamento como fator de neutralização dos ônus excedentes – Noção
jurídica da “antecipação de pagamentos” vedada em lei”. In: Interesse Público, vol. 14, 2002,
p. 69-70.; e GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 9. ed. Rio de Janeiro: Saraiva, 2004, p. 611.
Diógenes Gasparini resume sua posição nos seguintes termos: “Os incisos I e II do art. 65 da Lei federal
das Licitações e Contratos da Administração Pública preveem quando é possível a alteração unilateral
e a consensual. Cabe a alteração unilateral nos seguintes casos: ‘a) quando houver modificação do
projeto ou das especificações, para a melhor adequação técnica a seus objetivos; b) quando necessária
a modificação do valor contratual em decorrência de acréscimo ou diminuição quantitativa de seu
objeto, nos limites permitidos por essa Lei“. […] Não observam o limite de 25% as alterações qualita-
tivas que o objeto do contrato pode sofrer. Alterações qualitativas são as decorrentes da modificação
do projeto ou de suas especificações.
Alteração unilateral do contrato administrativo e a obrigação de
restabelecimento do equilíbrio econômico-financeiro na Lei nº 14.133/21 295
25
Nesse sentido, o Acórdão TCU – 215/2009 – Plenário, que tem servido de base objetiva para o exame
casuístico da legitimidade das alterações contratuais qualitativas.
26
“No caso sob exame, os acréscimos de valor se deveram a alterações quantitativas de objeto
e não simplesmente a sucessivas prorrogações de serviços contínuos. Assim, nos termos do art. 65
da Lei de Licitações, o cálculo do limite previsto nos §§ 1º e 2º do dispositivo, deve tomar como
base o valor inicial atualizado do contrato, sem os acréscimos advindos das prorrogações.”
(TCU, Acórdão nº 1.550/2009-Plenário. Rel. Min. Raimundo Carreiro. DJ 15.07.2009). Ainda nesse
sentido: “Observe, como regra, o limite de 25% do valor inicial atualizado do contrato para a alteração
dos quantitativos dos itens contratados, de forma a garantir que as alterações não constituam ‘jogo de
preços’, conforme estabelecido no art. 65, § 1º, da Lei nº 8.666/93“ (TCU, Acórdão 265/2010- Plenário).
Importante trazer que para Marçal Justen Filho na hipótese de prorrogação de serviços contínuos
a base de cálculo do percentual de alteração deverá ser o valor total da avença, consideradas, portanto,
todas as prorrogações.
296 Ana Rita de Figueiredo Nery
27
TÁCITO, Caio. Contrato administrativo – Alteração quantitativa e qualitativa: limites de valor. Boletim
de Licitações e Contratos, mar./1997. São Paulo: NDJ, p. 115-121.
Alteração unilateral do contrato administrativo e a obrigação de
restabelecimento do equilíbrio econômico-financeiro na Lei nº 14.133/21 299
28
Brasil. Supremo Tribunal Federal. Tema 940. Tese: O Estado responde, objetivamente, pelos atos dos tabe-
liães e registradores oficiais que, no exercício de suas funções, causem dano a terceiros, assentado o dever
de regresso contra o responsável, nos casos de dolo ou culpa, sob pena de improbidade administrativa.
300 Ana Rita de Figueiredo Nery
E ainda:
[…] na hipótese de celebração de aditivos
contratuais para a inclusão de novos serviços,
tal qual consta na publicação ‘Orientações para
Elaboração de Planilhas Orçamentárias de Obras
Públicas’ (TCU, 2014), o preço desses serviços deve
ser calculado considerando o custo de referência
e a taxa de BDI de referência especificada no
orçamento-base da licitação, subtraindo desse
preço de referência a diferença percentual entre
o valor do orçamento-base e o valor global do
contrato obtido na licitação, com vistas a garantir
o equilíbrio econômico-financeiro do contrato
e a manutenção do percentual de desconto ofertado
pelo contratado, em atendimento ao art. 37,
inciso XXI, da Constituição Federal e aos artigos 14
e 15 do Decreto n. 7.983/2013.
302 Ana Rita de Figueiredo Nery
29
No mesmo sentido: “Os aditivos para inclusão de serviços novos (art. 65, § 3º, da Lei 8.666/1993) devem
observar, no mínimo, o mesmo desconto inicial do ajuste, ou seja, a mesma diferença percentual
entre o valor global contratado e aquele obtido a partir dos custos unitários do sistema de referência
aplicável.“ (Acórdão 855/2016-TCU-Plenário, Relator: Min. Benjamin Zymler) e ainda: “Na celebração
de aditivos contratuais, deve ser mantido o desconto proporcional oferecido pela contratada em
relação ao valor total estimado pela Administração, de modo a se evitar o “jogo de planilhas“,
tanto para modificação de quantidades de itens existentes quanto para inclusão de novos serviços“.
(Acórdão 1153/2015-TCU-Primeira Câmara, Relator: Min. José Múcio Monteiro).
Alteração unilateral do contrato administrativo e a obrigação de
restabelecimento do equilíbrio econômico-financeiro na Lei nº 14.133/21 303
Constituição Federal, art. 37, XXI: “[…] ressalvados os casos especificados na legislação, as obras,
30
serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure
igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento,
Alteração unilateral do contrato administrativo e a obrigação de
restabelecimento do equilíbrio econômico-financeiro na Lei nº 14.133/21 305
mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências
de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações […]”.
31
Amparando-se no art. 65, inciso II, alínea “d“, a revisão (reequilíbrio) pressupõe que o equilíbrio
econômico-financeiro tenha sido rompido por fato superveniente e imprevisível, ou previsível,
mas de conseqüências incalculáveis. Para que haja revisão do contrato administrativo, é preciso
demonstrar que as cautelas prévias estabelecidas pelas partes, inclusive o próprio reajustamento,
não foram suficientes para assegurar a manutenção do equilíbrio econômico-financeiro, demandando
um procedimento destinado a reordená-lo. Neste segundo caso, evidentemente, não é necessária
a previsão contratual, bastando a demonstração dos requisitos legais para que se pleiteie a recom-
posição da equação econômico-financeira do contrato. GARCIA, Flávio Amaral. Aspectos práticos da
Cláusula de Reajuste nos Contratos Administrativos. In: OSÓRIO, Fábio Medina; SOUTO, Marcos Juruena
Villela (coord.). Direito Administrativo: estudos em homenagem a Diogo de Figueiredo Moreira Neto.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 559.
32
GARCIA, Flávio Amaral. Aspectos práticos da Cláusula de Reajuste nos Contratos Administrativos.
In: OSÓRIO, Fábio Medina; SOUTO, Marcos Juruena Villela (coord.). Direito Administrativo: estudos
em homenagem a Diogo de Figueiredo Moreira Neto. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 559.
33
Neste sentido: “O equilíbrio financeiro ou equilíbrio econômico do contrato administrativo, também
denominado equação econômica ou equação financeira, é a relação que as partes estabelecem
inicialmente, no ajuste, entre os encargos do contrato e a retribuição da Administração para a justa
remuneração da obra, do serviço ou do fornecimento. Em última análise, é a correlação entre objeto
do contrato e sua remuneração, originariamente prevista e fixada pelas partes em números absolutos
ou em escala móvel. Essa correlação deve ser conservada durante toda a execução do contrato,
mesmo que alteradas as cláusulas regulamentares da prestação ajustada, a fim de que se mantenha
a equação financeira ou, por outras palavras, o equilíbrio econômico-financeiro do contrato.“. MEIRELLES,
Hely Lopes. Licitação e Contrato Administrativo. 11. ed. São Paulo: Malheiros, 1996, p. 165.
306 Ana Rita de Figueiredo Nery
“Art. 29 – O salário mínimo, os benefícios mantidos pela Previdência Social e os valores expressos em cru-
34
zeiros nas Leis nºs 8.212 e 8.213, ambas de 1991, serão reajustados, a partir de 1996, inclusive, pela
variação acumulada do IPC-r nos doze meses imediatamente anteriores, nos meses de maio de cada ano.
§ 1º – Para os benefícios com data de início posterior a 31 de maio de 1995, o primeiro reajuste,
nos termos deste artigo, será calculado com base na variação acumulada do IPC-r entre
o mês de início, inclusive, e o mês imediatamente anterior ao reajuste.
§ 2º Sem prejuízo do disposto no art. 27, é assegurado aos trabalhadores em geral, no mês da primeira
data-base de cada categoria após a primeira emissão do Real, reajuste dos salários em percentual
correspondente à variação acumulada do IPC-r entre o mês da primeira emissão do Real, inclusive
e o mês imediatamente anterior à data-base.“
Alteração unilateral do contrato administrativo e a obrigação de
restabelecimento do equilíbrio econômico-financeiro na Lei nº 14.133/21 307
econômico-financeiro. Empresa estatal. In: Temas de Direito Público: estudos e pareceres, vol. 3.
Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p. 266.
308 Ana Rita de Figueiredo Nery
Conclusão
36
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. O Futuro das Cláusulas Exorbitantes nos Contratos Administrativos.
Revista de Direito da Associação dos Procuradores do Novo Estado do Rio de Janeiro, vol. XVII,
Rio de Janeiro: Lumen Iuris, p. 15-16.
37
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo, O futuro das Cláusulas Exorbitantes nos Contratos Administrativos.
Revista da Associação dos Procuradores do Novo Estado do Rio de Janeiro: Parcerias Público-Privadas,
vol. XVII, p. 22.
Alteração unilateral do contrato administrativo e a obrigação de
restabelecimento do equilíbrio econômico-financeiro na Lei nº 14.133/21 311
Vamos começar
Colocando um ponto final
Pelo menos já é um sinal
De que tudo na vida tem fim
Vamos acordar
Hoje tem um sol diferente no céu
Gargalhando no seu carrossel
[…]
É tudo novo de novo.
Bibliografia
38
MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 21. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.
312 Ana Rita de Figueiredo Nery
Introdução
1
Doutora e mestra em Direito Administrativo pela PUC/SP, Assessora de Controle Externo no TCM/SP,
Professora de Direito Administrativo na PUC/SP.
2
EQUIPE ZÊNITE. Lei nº 14.133/21: A nova Lei de Licitações está vigente e é aplicável. Blog Zênite.
Disponível em: https://www.zenite.blog.br/lei-no-14-133-21-a-nova-lei-de-licitacoes-esta-vigente-e-
-e-aplicavel/. Acesso em: 15 nov. 2022.
3
“[…] o dos que s focam em resultados e, para obtê-los, fixam prioridades, e com base nelas gerenciam
a escassez de tempo e de recursos”. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2006-dez-21/
direito_administrativo_oscila_entre_papeis_negocios?pagina=2. Acesso em: 15 nov. 2022.
314 Christianne de Carvalho Stroppa
4
Governança das aquisições compreende essencialmente o conjunto de mecanismos de liderança,
estratégia e controle postos em prática para avaliar, direcionar e monitorar a atuação da gestão das
aquisições, com objetivo de que as aquisições agreguem valor ao negócio da organização, com riscos
aceitáveis. (TCU. Acórdão nº 2.622/2015 – Plenário. Rel. Min. Augusto Nardes).
5
Art. 11. Parágrafo único. A alta administração do órgão ou entidade é responsável pela governança
das contratações e deve implementar processos e estruturas, inclusive de gestão de riscos e controles
internos, para avaliar, direcionar e monitorar os processos licitatórios e os respectivos contratos,
com o intuito de alcançar os objetivos estabelecidos no caput deste artigo, promover um ambiente
íntegro e confiável, assegurar o alinhamento das contratações ao planejamento estratégico e às leis
orçamentárias e promover eficiência, efetividade e eficácia em suas contratações.
6
MOREIRA, Egon Bockmann. Execução de contratos, governança e fiscalização na Nova Lei de Licitações.
Palestra proferida para o Centro de Estudos da PGE de Mato Grosso. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=WKnHSLfpCwU. Acesso em: 15 nov. 2022.
Extinção dos contratos administrativos, recebimento do objeto,
pagamento e nulidade (NLLC, artigos 137-154) 315
7
FERRAZ, Luciano. Contratos na Nova Lei de Licitações e Contratos. In: DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella
(Coord.). Licitações e contratos administrativos: inovações da Lei 14.133/21. Rio de Janeiro: Forense,
2021, p. 572.
8
FERRAZ, Luciano. Contratos na Nova Lei de Licitações e Contratos. In: DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella
(Coord.). Licitações e contratos administrativos: inovações da Lei 14.133/21. Rio de Janeiro: Forense,
2021, p. 214
9
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratações administrativas. São Paulo:
Thomson Reuters Brasil, 2021, p. 1463
316 Christianne de Carvalho Stroppa
vez, e por falha de revisão, a nova Lei faz uso da palavra “rescisão”
(art. 90, § 7º).
Referida substituição pode não ter resolvido os problemas, “[…] pois
cria também problemáticas interpretativas, dado que extinção contratual é
geralmente considerada gênero, do qual decorrem muitas outras espécies
além da extinção implementada por rescisão unilateral da Administração”10.
Ademais, parcela da:
10
NOHARA, Irene Patrícia. Direito administrativo. 10. ed. São Paulo, Atlas, 2020, p. 474.
11
OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Nova Lei de licitações e contratos administrativos: comparada e
comentada. Rio de Janeiro: Forense, 2021, p. 325.
12
GROTTI, Dinorá Adelaide Musetti. Artigos 137 a 139. In: DAL POZZO, Augusto; CAMMAROSANO, Márcio;
ZOCKUN, Maurício (Coord.). Lei de Licitações e Contratos Administrativos Comentada: Lei 14.133/21.
São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2021, p. 610.
13
“Esse direito decorre da ocorrência de fatos supervenientes atribuídos à Administração que impedem ou
agravam a execução do contrato (art. 137, § 2º, I a V). Alguns deles traduzem fatos da Administração,
Extinção dos contratos administrativos, recebimento do objeto,
pagamento e nulidade (NLLC, artigos 137-154) 317
indicando conduta culposa desta e gerando o desfazimento do vínculo pela resolução do contrato”
(CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual direito administrativo. 35. ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 261).
14
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratações administrativas. São Paulo:
Thomson Reuters Brasil, 2021, p. 1462.
15
“Outro ponto de destaque sobre a (in)segurança nas relações público-privadas é a diminuição para
dois meses do prazo para que os parceiros privados possam opor a exceção do contrato não cumprido
ou pleitear judicialmente a rescisão dos contratos em razão do inadimplemento da Administração
Pública (art. 136, § 2º, inciso IV e §3º, inciso II). Estudos demonstram que o atraso nos pagamentos
é um dos motivos mais relevantes para que uma empresa decida por não participar de uma licitação
– especialmente em contratações em que participam micro e pequenas empresas, que necessitam do
adimplemento tempestivo dos negócios jurídicos para manter a liquidez de seus fluxos de caixa [2].
O dispositivo tende a reduzir, portanto, os riscos assumidos pelo contratado de ser levado à ruína pela
necessidade de dar continuidade à execução do contrato administrativo em razão do inadimplemento
público”. (BINENBOJM, Gustavo; TOLEDO, Renato. A exorbitância contratual na Nova Lei de Licitações.
Disponível em: https://www.jota.info/coberturas-especiais/inova-e-acao/a-exorbitancia-contratual-
-na-nova-lei-de-licitacoes-26042021. Acesso em: 15 nov. 2022).
16
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 35. ed. rev. e atual. São Paulo:
Malheiros, 2021, p. 585.
17
Sob a ótica da Lei nº 8.666/1993, o que se “[…] verifica em boa parte das situações é o simples interesse
do contratado de romper o vínculo, às vezes com disponibilidade para concluir algumas tarefas e em
outras situações nem isso. Não há, entretanto, comportamento culposo prévio, não há força maior nem
caso fortuito, não há interesse exclusivo e relevante da própria Administração Pública para extinguir
unilateralmente o contrato. Do ponto de vista da Administração Pública, cabe-lhe, diante desse fato,
verificar se é pertinente aquiescer com o pedido do contratado. Afinal, não há interesse público prévio
que conduzisse à rescisão unilateral do contrato, mas somente o pedido de extinção do vínculo que
coloca uma nova realidade que precisa ser considerada pelo órgão competente.” (CARVALHO FILHO,
José dos Santos. Manual direito administrativo. 35. ed. São Paulo: Atlas, 2021).
318 Christianne de Carvalho Stroppa
2. Recebimento do objeto
18
“Há situações que podem autorizar o contratado a pretender a extinção do negócio jurídico.
No caso, ele terá direito a assim o fazer nas hipóteses listadas no § 2º do art. 137, as quais,
na nossa ótica, são taxativas” (HEINEN, Juliano. Comentários à lei de licitações e contratos ad-
ministrativos. Salvador: Juspodivm, 2021, p. 694)
19
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 35. ed. rev. e atual. São Paulo:
Malheiros, 2021, p. 346.
20
ZUCCO, Fabiano. Extinção contratual com a administração pública: é possível? Disponível em:
https://www.rcc.com.br/blog/extincao-contratual-com-a-administracao-publica-e-possivel/.
Acesso em: 16 nov. 2022.
Extinção dos contratos administrativos, recebimento do objeto,
pagamento e nulidade (NLLC, artigos 137-154) 319
21
FERNANDES, Felipe; PENNA, Rodolfo. Nova lei de licitações e contratos para a Advocacia Pública.
São Paulo: Editora Juspodivm, 2021, p. 235.
320 Christianne de Carvalho Stroppa
22
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratações administrativas. São Paulo:
Thomson Reuters Brasil, 2021.
23
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratações administrativas. São Paulo:
Thomson Reuters Brasil, 2021, p. 1512
24
TORRES, Ronny Charles Lopes de. Leis de licitações públicas comentadas. 12. ed. rev., ampl e atual.
São Paulo: Juspodivm, 2021, p. 716.
Extinção dos contratos administrativos, recebimento do objeto,
pagamento e nulidade (NLLC, artigos 137-154) 321
25
NOHARA, Irene Patrícia. Direito administrativo. 10. ed. São Paulo, Atlas, 2020, p. 482.
26
SOUZA, Alyne Gonzaga de. Art. 140. In: SARAI, Leandro (Org.). Tratado da nova lei de licita-
ções e contratos administrativos: Lei 14133/21 Comentada por Advogados Públicos. São Paulo:
Ed. Juspodivm, 2021, p. 1296
27
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio; ZOCKUN, Carolina Zancaner; ZOCKUN, Maurício. Artigo 140. In:
DAL POZZO, Augusto; CAMMAROSANO, Márcio; ZOCKUN, Maurício (Coord.). Lei de Licitações e Contratos
Administrativos Comentada: Lei 14.133/21. 1. ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2021, p. 631
322 Christianne de Carvalho Stroppa
3. Pagamento
28
FERRAZ, Luciano. Contratos na Nova Lei de Licitações e Contratos. In: DI PIETRO, Maria Sylvia
Zanella (Coord.). Licitações e contratos administrativos: inovações da Lei 14.133/21. Rio de
Janeiro: Forense, 2021, p. 200.
29
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratações administrativas. São Paulo:
Thomson Reuters Brasil, 2021, p. 1513.
30
A Nota de Empenho, em regra, substitui o Termo de Contrato, de conformidade com o art. 62, ‘caput’
e § 4º da Lei nº 8.666/1993 e no art. 95 da Lei nº 14.133/2021.
Extinção dos contratos administrativos, recebimento do objeto,
pagamento e nulidade (NLLC, artigos 137-154) 323
31
Determina o art. 62 da Lei nº 4.320/1967: O pagamento da despesa só será efetuado quando ordenado
após regular liquidação.
32
SANTOS, José Anacleto Abduch. Pandemia e pagamento antecipado. Blog Zênite. Disponível em: https://
www.zenite.blog.br/pandemia-e-pagamento-antecipado/. Acesso em: 16 nov. 2022.
324 Christianne de Carvalho Stroppa
33
Artigo 63 – A liquidação da despesa consiste na verificação do direito adquirido pelo credor, tendo por
base os títulos e documentos comprobatórios do respectivo crédito.
§ 1º – Essa verificação tem por fim apurar:
I – a origem e o objeto do que se deve pagar;
II – a importância exata a ser paga;
III – a quem se deve pagar a importância, para extinguir a obrigação.
§ 2º – A liquidação da despesa por fornecimentos feitos ou serviços prestados terá por base:
I – o contrato, ajuste ou acordo respectivo;
II – a nota de empenho;
III – os comprovantes de entrega do material ou da prestação do serviço.
Extinção dos contratos administrativos, recebimento do objeto,
pagamento e nulidade (NLLC, artigos 137-154) 325
34
Recentemente foi regulamentada pela Instrução Normativa SEGES/ME nº 77/2022.
326 Christianne de Carvalho Stroppa
Em síntese:
Daí por que não nos parece exagerado afirmar que se impõe como
dever do Administrador aproveitar as peculiaridades do mercado, diante de
conjuntura favorável, visando garantir preços estáveis para os insumos de
que necessita para a prestação de suas atividades públicas.
Destarte, por envolver risco de não recebimento das mercadorias,
deve a Administração se revestir de meios suficientes para salvaguardar a
verba pública, com a finalidade de garantir o cumprimento das obrigações
pelo contratado ou de reaver os recursos empregados.
35
FURTADO, Madeline Rocha; VIEIRA, Antonieta Pereira. As Regulamentações da Lei nº 14.133/2021 –
o que ainda virá por aí? ONLL. Disponível em: https://www.novaleilicitacao.com.br/2022/08/02/
as-regulamentacoes-da-lei-no-14-133-2021-o-que-ainda-vira-por-ai/. Acesso em: 16 nov. 2022.
36
TORRES, Ronny Charles Lopes de. Leis de licitações públicas comentadas. 12. ed. rev., ampl e atual.
São Paulo: Ed. Juspodivm, 2021, p. 730.
Extinção dos contratos administrativos, recebimento do objeto,
pagamento e nulidade (NLLC, artigos 137-154) 327
4. Nulidades
37
ZANCANER, Weida. Convalidação dos atos administrativos. Enciclopédia Jurídica da PUC. Disponível em:
https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/8/edicao-1/convalidacao-dos-atos-administrativos.
Acesso em: 19 nov. 2022.
38
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 35. ed. rev. e atual. São Paulo:
Malheiros, 2021, p. 389.
328 Christianne de Carvalho Stroppa
39
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. p. 379.
40
ZANCANER, Weida. Da convalidação e da invalidação dos atos administrativos. 3. ed., São Paulo:
Malheiros, 2008, p. 64-65.
41
“Tais barreiras nada mais são que fatores impeditivos da invalidação, isto é, fatores que impedem o
exercício do dever de invalidar, e que podem ser extraídos do próprio ordenamento jurídico.” (SIMÕES,
Mônica Martins Toscano. O processo administrativo e a invalidação dos atos viciados. São Paulo:
Malheiros, 2004, p. 152-153).
42
ZANCANER, Weida. p. 74.
Extinção dos contratos administrativos, recebimento do objeto,
pagamento e nulidade (NLLC, artigos 137-154) 329
Em suma, mesmo que não válida a condição posta, certo que “[…]
a proteção diretamente conferida pelos princípios gerais do Direito, capitanea-
dos pelos princípios da segurança jurídica e da boa-fé, é, de per si, impeditiva
da invalidação, ou seja, mantenedora dessas declarações estatais”45.
Em complemento à defesa da manutenção dos atos praticados,
destaca-se o contido no art. 20 da Lei nº 13.655/2015, que alterou a
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), in verbis:
43
AURÉLIO, Bruno. Atos administrativos ampliativos de direitos. São Paulo: Malheiros, 2011, p 200,
acréscimo nosso.
44
SILVA, Almiro do Couto e. Princípios da legalidade da Administração Pública e de segurança jurídica
no Estado de Direito contemporâneo. RDP 84/61. São Paulo: RT, out./dez., 1987, grifo nosso.
45
AURÉLIO, 2011, p. 200-201.
330 Christianne de Carvalho Stroppa
46
JUSTEN FILHO, Marçal. Artigo 20 da LINDB — Dever de transparência, concretude e proporcionalidade nas
decisões públicas. Revista de Direito Administrativo, Edição Especial – Direito Público na Lei de Introdução
às Normas de Direito Brasileiro – LINDB – Lei nº 13.655/2018, Rio de Janeiro, nov. 2018, p. 13-41.
Extinção dos contratos administrativos, recebimento do objeto,
pagamento e nulidade (NLLC, artigos 137-154) 331
Conclusão
47
TEIXEIRA JÚNIOR, Flávio Germano de Sena; NÓBREGA, Marcos. A Teoria das Invalidades na Nova Lei de
Contratações Públicas e o equilíbrio dos interesses envolvidos. Disponível em: https://ronnycharles.
com.br/a-teoria-das-invalidades-na-nova-lei-de-contratacoes-publicas-e-o-equilibrio-dos-interesses-
-envolvidos/. Acesso em: 20 nov. 2022.
Extinção dos contratos administrativos, recebimento do objeto,
pagamento e nulidade (NLLC, artigos 137-154) 333
Bibliografia
1
Professor Titular de Direito Administrativo da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
Doutor e Livre-Docente pela mesma Universidade.
2
Especialista em Direito Administrativo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
e Mestra em Direito do Estado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Advogada
associada do escritório Manesco, Ramires, Perez, Azevedo Marques Sociedade de Advogados.
338 Floriano de Azevedo Marques Neto e Natalia de Sousa da Silva
Introdução
MARQUES NETO, Floriano de Azevedo. Uma Lei que Vale pelo que Revoga – Uma Panorâmica Sobre
3
4
PAGANI DE SOUZA, Rodrigo. Em busca de uma administração pública de resultados. In: PAGANI DE SOUZA,
Rodrigo; PEREZ, Marcos Augusto. Controle da Administração Pública. Belo Horizonte: Fórum, 2017.
O regime de nulidades dos contratos
administrativos na Lei nº 14.133/21 341
5
MARQUES NETO, Floriano de Azevedo. Regulação estatal e interesses públicos. São Paulo: Malheiros,
2002, p. 144-170.
6
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 70.
7
Súmula 473. A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam
ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportu-
nidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
342 Floriano de Azevedo Marques Neto e Natalia de Sousa da Silva
8
ZANCANER, Weida. Da convalidação e da invalidação dos atos administrativos. 2. ed. São Paulo:
Malheiros, 2001, p. 110.
9
Sobre o tema, Juarez Freitas: “[…] a afirmação da autonomia e da juridicidade do princípio da boa-fé
ou da confiança do administrado na Administração Pública e, vice-versa, conduz, forçosa e logicamente,
ao reconhecimento de limites – menos formais do que substanciais para decretação da nulidade de um
ato administrativo, ou a anulação do mesmo […]”. FREITAS, Juarez. Repensando a natureza da relação
jurídico-administrativa e os limites principiológicos à anulação dos atos administrativos. in: Estudos
de Direito Administrativo. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 23-24.
O regime de nulidades dos contratos
administrativos na Lei nº 14.133/21 343
10
Sobre esse tema, destacamos a explicação de Marçal Justen Filho: “A temática da invalidação do ato
administrativo no Brasil vinha sendo submetida a enfoque formalista, que se tornou incompatível com
os princípios consagrados na Constituição de 1988. A doutrina costumava repetir lições hauridas no
passado e que traduziam concepções autoritárias do Estado, sem vínculo com o Estado Democrático
de Direito albergado presentemente. Nessa linha, pode lembrar-se o próprio entendimento consa-
grado na Súmula 473 do STF, em que se afirmava que do ato nulo não surgem direitos adquiridos.”.
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos: Lei 8.666/1993.
18. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019, p. 1237.
344 Floriano de Azevedo Marques Neto e Natalia de Sousa da Silva
11
MOREIRA, Egon Bockmann. Súmula 473: é hora de dizer adeus – Ela cumpriu seu papel, mas hoje traz
problemas. JOTA, Brasília, 01/10/2019. Disponível em: https://www.jota.info/opiniao-e-analise/
colunas/publicistas/sumula-473-e-hora-de-dizer-adeus-01102019. Acesso em: 19 jan. 2023.
O regime de nulidades dos contratos
administrativos na Lei nº 14.133/21 345
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. O direito administrativo da crise. In: O Direito Administrativo
12
na Atualidade. Estudos em homenagem ao centenário de Hely Lopes Meirelles. São Paulo: Malheiros,
2017, p. 895.
346 Floriano de Azevedo Marques Neto e Natalia de Sousa da Silva
13
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos: Lei 8.666/1993.
18. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019, p. 1240.
O regime de nulidades dos contratos
administrativos na Lei nº 14.133/21 347
14
TJ/SP, Agravo de Instrumento nº 2256387-56.2019.8.26.0000, rel. Des. Teresa Ramos Marques, j. pela
10ª Câmara de Direito Público em 26/06/2020.
348 Floriano de Azevedo Marques Neto e Natalia de Sousa da Silva
15
TCU, Acórdão n. 2075/2021 – Plenário, rel. Min. Raimundo Carreiro, julg. em 01/09/2021.
O regime de nulidades dos contratos
administrativos na Lei nº 14.133/21 349
16
SILVA, Virgílio Afonso da. O Proporcional e o Razoável. In: Revista dos Tribunais. n. 798, 2002, p. 23-50.
17
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos: Lei 8.666/1993.
18. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019, p. 1130.
O regime de nulidades dos contratos
administrativos na Lei nº 14.133/21 351
Conclusão
Bibliografia
1
Mestre e doutoranda em Direito Público pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Juíza de Direito Titular da 9ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo. Coordenadora da Unidade de
Processamento das Execuções contra a Fazenda Pública (UPEFAZ), setor de precatórios. Coordenadora
do Centro de Apoio dos Juízes da Fazenda Pública (CAJUFA) para o biênio 2021/2022. Diretora da
Associação Paulista dos Magistrados (Apamagis). Foi advogada em 2005 e procuradora do estado de
São Paulo de 2006 a 2008.
356 Paula Fernanda de Souza Vasconcelos Navarro
Introdução
2
GROTTI, Dinorá Adelaide Musetti. Parcerias na administração pública. Revista de Direito do Terceiro
Setor, Belo Horizonte, v. 6, n. 11, 2012. Disponível em: http://dspace.almg.gov.br/xmlui/bitstream/
item/3135/000000FC.pdf?sequence=1. Acesso em: 7 abr. 2022.
358 Paula Fernanda de Souza Vasconcelos Navarro
3
Art. 153 da Lei no 14.133/2021. Os contratos poderão ser aditados para permitir a adoção dos meios
alternativos de resolução de controvérsias.
Meios alternativos de solução de controvérsias na
nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos 361
4
Art. 26 da LINDB: “Para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na aplicação
do direito público, inclusive no caso de expedição de licença, a autoridade administrativa poderá,
após oitiva do órgão jurídico e, quando for o caso, após realização de consulta pública, e presentes
razões de relevante interesse geral, celebrar compromisso com os interessados, observada a legislação
aplicável, o qual só produzirá efeitos a partir de sua publicação oficial.§ 1º O compromisso referido
no caput deste artigo: I – buscará solução jurídica proporcional, equânime, eficiente e compatível
com os interesses gerais; II – (VETADO); III – não poderá conferir desoneração permanente de dever
ou condicionamento de direito reconhecidos por orientação geral; IV – deverá prever com clareza as
obrigações das partes, o prazo para seu cumprimento e as sanções aplicáveis em caso de descumpri-
mento. § 2º (VETADO).” (grifos nossos)
“Art. 27. da LINDB: “A decisão do processo, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, poderá
impor compensação por benefícios indevidos ou prejuízos anormais ou injustos resultantes do processo
ou da conduta dos envolvidos. § 1º A decisão sobre a compensação será motivada, ouvidas previamente
as partes sobre seu cabimento, sua forma e, se for o caso, seu valor. § 2º Para prevenir ou regular a
compensação, poderá ser celebrado compromisso processual entre os envolvidos.” (grifos nossos)
362 Paula Fernanda de Souza Vasconcelos Navarro
4. A arbitragem
Conclusões
Referências
1
Artigo publicado, inicialmente, no site da Escola Paulista da Magistratura – EPM, em março de 2022.
2
Palestrante em cursos de extensão e de especialização em Direito Ambiental Artificial (Urbanístico),
Imobiliário, Notarial e Registral em diversas instituições (v.g. Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo – PUC-SP, Escola Paulista da Magistratura-EPM, Universidade Secovi-SP).
374 Vicente de Abreu Amadei
3
Esse material de interesse ao estudo e à pesquisa, elaborado pelo Centro de Apoio ao Direito Público
(CADIP), denominado Caderno Especial sobre as Alterações na Lei de Improbidade Administrativa
Lei nº 8.429/1992 (Lei nº 14.230/2021) está disponibilizado no site da Escola Paulista da Magistratura,
área de Jurisprudência, CADIP: https://www.tjsp.jus.br/Download/SecaoDireitoPublico/Pdf/Cadip/
EspCadipImprobAdm20211026.pdf?d=1638127284093.
Improbidade administrativa e sua reforma - principais alterações da
Lei nº 14.230/21 e seus impactos nos processos em curso e findos 375
4
Para estudo detalhado e aprofundado dessa matéria, a incluir o histórico das discussões e da evolução
jurisprudencial em torno do elemento subjetivo da improbidade administrativa, remeto o leitor aos
estudos de Vivian Maria Pereira Ferreira, que se tomou por base para o desenvolvimento deste ponto
(FERREIRA, Vivian Maria Pereira Ferreira. O dolo da improbidade administrativa: uma busca racional
pelo elemento subjetivo na violação aos princípios da Administração Pública. Revista Direito GV,
São Paulo, v. 15, n. 3, p. 1-31, 2019).
384 Vicente de Abreu Amadei
5
Para melhor estudo desse ponto, remeto o leitor ao que já escrevi em comentários ao art. 20 da LINDB:
AMADEI, Vicente de Abreu. Interpretação realista (em comentário ao art. 20 da LINDB). In: CUNHA
FILHO, Alexandre Jorge Carneiro da; ISSA, Rafael Hamze; SCHWIND, Rafael Wallbach. Lei de introdução
às normas do direito brasileiro: anotada. São Paulo: Quartier Latin, 2019. v. II.
6
De fato, o art. 28, § 1º, da LINDB, que foi vetado, previa que “Não se considera erro grosseiro a decisão
ou opinião baseada em jurisprudência ou doutrina, ainda que não pacificadas, em orientação geral ou,
ainda, em interpretação razoável, mesmo que não venha a ser posteriormente aceita por órgãos de
controle ou judiciais.” Mas foi vetado com as seguintes razões: “A busca pela pacificação de enten-
dimentos é essencial para a segurança jurídica. O dispositivo proposto admite a desconsideração de
responsabilidade do agente público por decisão ou opinião baseada em interpretação jurisprudencial ou
doutrinária não pacificada ou mesmo minoritária. Deste modo, a propositura atribui discricionariedade
ao administrado em agir com base em sua própria convicção, o que se traduz em insegurança jurídica.”
7
O art. 1º, § 8º, da LIA, voltou ao tema, para prever o mesmo teor excludente de responsabilidade
administrativa: “Não configura improbidade a ação ou omissão decorrente de divergência interpretativa
da lei, baseada em jurisprudência, ainda que não pacificada, mesmo que não venha a ser posteriormente
prevalecente nas decisões dos órgãos de controle ou dos tribunais do Poder Judiciário”. E, na expo-
sição de motivos da Lei 14.230;21, constou que “[…] Não são incomuns ações civis públicas por atos
de improbidade administrativa ajuizadas em razão de o autor legitimado possuir uma interpretação
acerca de princípios e regras destoante da jurisprudência dominante ou em desconformidade com
outra interpretação igualmente razoável, quer seja dos setores de controles internos da administração,
quer dos Tribunais de Contas. Em razão dessa situação de fato, assaz corriqueira, o texto faz incluir
o conceito de “interpretação razoável da lei, regulamento ou contrato. Cuida-se de cláusula aberta
que deverá ser objeto de preenchimento de seu sentido deôntico por parte dos intérpretes da lei e
colmatado pelo Poder Judiciário. A cláusula aberta da razoabilidade da interpretação é necessária,
haja vista a total impossibilidade de previsão de interpretações tidas por razoáveis, quando do momento
legislativo de criação da norma.”
Improbidade administrativa e sua reforma - principais alterações da
Lei nº 14.230/21 e seus impactos nos processos em curso e findos 387
8
“Essa solução importa restrição significativa para a configuração da improbidade”, especialmente
pela fórmula “colocando em risco a segurança da sociedade e do Estado”, que “propicia incerteza”
e exige atenção para se afastar de “interpretações fundadas em argumentação retórica, destituída
de concretude e de evidência da produção da produção efetiva de riscos” (JUSTEN FILHO, Marçal.
Reforma da lei de improbidade administrativa comparada e comentada: Lei 14.230, de 25 de outubro
de 2022. Rio de Janeiro: Forense, 2022. p. 119-120).
9
Essa cláusula de exceção, a rigor, não inova, mas apenas explicita a não configuração ao ilícito, pois onde
já há norma constitucional (art. 5º, XXXIII) ou legal para o sigilo, naturalmente (por congruência lógica)
publicidade não pode haver, e sem dever de dar publicidade, por si, não há como configurar-se ato
ilícito (e, obviamente, ímprobo). Em todo caso, o legislador, para deixar bem evidenciada a restrição
do campo de incidência da norma qualificadora ao ato ímprobo, preferiu apontar como exceção,
o que, a rigor e naturalmente, já se encontrava fora da incidência da figura ímproba. Convém, enfim,
Improbidade administrativa e sua reforma - principais alterações da
Lei nº 14.230/21 e seus impactos nos processos em curso e findos 389
anotar que são inúmeras as hipóteses instituídas em lei orientadas a preservar o sigilo de atos oficiais
(v.g. Lei nº 13.709/2018 – LGPD, em seus arts. 46 a 49; Lei nº 14.133/2021, nova Lei de Licitações e
Contratos Administrativos, arts. 13, 18, §1º, VI, 75, III, “l”, 91, § 1º).
10
“Nomear cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau,
inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção,
chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função
gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas”.
11
“A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o
terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em
cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou,
ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações
recíprocas, viola a Constituição Federal”.
390 Vicente de Abreu Amadei
12
“O conteúdo e a extensão dessa ressalva são incertos” […] e talvez se resolva sua inteligência e
aplicação pela sua adequação à orientação jurisprudencial do STF (RE 579.951) e pelo entendimento
de que a norma tenha o escopo de redução de seu campo de incidência apenas pela atual necessidade
do dolo específico: “enfim, o dispositivo reconhece a punibilidade da conduta, quando eivada de
intenção orientada a uma finalidade ilícita” (JUSTEN FILHO, Marçal. Reforma da Lei de Improbidade
Administrativa comparada e comentada: Lei 14.230, de 25 de outubro de 2022. Rio de Janeiro:
Forense, 2022. p. 126).
Improbidade administrativa e sua reforma - principais alterações da
Lei nº 14.230/21 e seus impactos nos processos em curso e findos 391
13
MATTES, Heinz. Problemas de Derecho Penal Administrativo: História y Derecho Comparado. Tradução
(do original alemão, publicado por Ed. Duncker & Humblot, Berlim, 1977) de José Maria Rodriguez
Devesa. Madrid: Editoriales de Derecho Reunidas (EDERSA), 1979.
392 Vicente de Abreu Amadei
que a partir do final do século XIX, surgiram novos pontos de vista em relação
à teoria do direito penal de polícia, principalmente, com Max E. Mayer
(pois, com ele “se encerra a época do direito penal de polícia, que havia
começado com a teoria, apoiada na ideia do direito natural individua-
lista, formulada ao modo clássico por Feuerbach”14), com Reinhard Von
Frank (ao apontar a necessidade de separar “os delitos graves dos leves,
com tratamento diferenciado de ambos, tanto no aspecto jurídico material
como no jurídico processual”15) e, sobretudo, com James Goldschmidt,
quando, então, já iniciada “a transformação do Estado de polícia do
liberalismo tardio no moderno Estado administrativo”16.
De fato, daqueles novos pontos de vista e com os trabalhos precur-
sores de “Stahl, Lorenzo Von Stein e Otto Mayer, que desenvolveram a
teoria da Administração e do direito administrativo”17, foi possível James
Goldschmidt fixar a “teoria do direito penal administrativo”18, engendrado
pela Administração como poder penal administrativo distinto do poder
penal constitucional (direito penal de Justiça): aquele, para os delitos
administrativos, como fenômeno de Direito Administrativo; este, para os
delitos do Direito Penal19.
Embora a teoria do Direito Penal Administrativo (Goldschmidt) tenha
se fixado e difundido na primeira metade do século XIX, com diversos
debates, críticas e lapidações20, ela passou por algum adormecimento
no período da II Guerra Mundial e, depois, na “evolução do pós-guerra”,
voltou fortemente à cena, o que ficou conhecido como “renascimento
do direito penal administrativo”, especialmente com os estudos de
Eberhard Schmidt sobre o direito penal econômico21, até culminar em 1952
14
MATTES, Heinz. Op. cit., p. 169, tradução nossa.
15
MATTES, Heinz. Op. cit., p. 173, tradução nossa.
16
MATTES, Heinz. Op. cit., p. 177, tradução nossa.
17
MATTES, Heinz. Op. cit., p. 178-179, tradução nossa. Com Stahl, a ideia do cuidado com o bem comum
pela Administração e de que o Estado o deve fomentar, com mais atenção à ordem a ser corrigida,
com função preventiva dos ilícitos, em relação à ordem jurídica punitiva. Com Von Stein, a distinção
entre Administração e administração de justiça, e, daí, a configuração da pena na ordem adminis-
trativa, própria da competência da Administração. Com Otto Mayer, uma maior precisão do objeto
da Administração, no foco da tutela contra perturbações à boa ordem da comunidade frente ao ser
individual, atento à possibilidade de uma pena de conformação a preceitos jurídicos. Confira: MATTES,
Heinz. Op. cit., p. 179/184.
18
MATTES, Heinz. Op. cit., p. 179, tradução nossa.
19
MATTES, Heinz. Op. cit., p.186-194.
20
MATTES, Heinz. Op. cit., p.195-228.
21
MATTES, Heinz. Op. cit., p. 229.
Improbidade administrativa e sua reforma - principais alterações da
Lei nº 14.230/21 e seus impactos nos processos em curso e findos 393
22
MATTES, Heinz. Op. cit., p. 231-238, 485.
23
GARCÍA, Alejandro Nieto Derecho Administrativo Sancionador. 4. ed. Madrid: Tecnos, 2008. p. 173, 177,
tradução nossa.
24
GARCÍA, Alejandro Nieto. Op. cit., p. 177, tradução nossa
25
A Espanha, desde 1992, conta com legislação sobre a matéria: a Lei espanhola 30/1992 contém normas
específicas acerca dos princípios do poder sancionador da Administração (arts. 127 a 133), bem como
do respectivo procedimento sancionador (arts. 134 a 138).
394 Vicente de Abreu Amadei
26
GARCÍA, Alejandro Nieto. Op. cit., p. 565, tradução nossa.
27
GARCÍA, Alejandro Nieto. Op. cit., p. 560-561, tradução nossa.
396 Vicente de Abreu Amadei
28
GARCÍA, Alejandro Nieto. Op. cit., p. 26, tradução nossa.
29
GARCÍA, Alejandro Nieto. Op. cit., p. 26-27, tradução nossa.
Improbidade administrativa e sua reforma - principais alterações da
Lei nº 14.230/21 e seus impactos nos processos em curso e findos 397
30
GARCÍA, Alejandro Nieto. Op. cit., p. 27, tradução nossa.
31
GARCÍA, Alejandro Nieto. Op. cit., p. 562, tradução nossa.
398 Vicente de Abreu Amadei
MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1981. p. 323.
32
A 1ª Seção do STJ definiu pela impossibilidade dessa sanção, que não conta com previsão legal da LIA:
33
Embargos de Divergência em RESP nº 1.496.347-ES, Rel. desig. p/ ac. Min. Ministro BENEDITO GONÇALVES,
j. 24 de fevereiro de 2021: “A Lei Federal n. 8.429/92 é lei especial e posterior à Lei n. 8.112/90,
disciplinando, especificamente, “as sanções aplicáveis aos agentes públicos” que incorrem nos atos de
improbidade ali previstos (grifou-se). Portanto, no âmbito da persecução cível por meio de processo
judicial, e por força do princípio da legalidade estrita em matéria de direito sancionador, as sanções
aplicáveis limitam-se àquelas previstas pelo legislador ordinário, não cabendo ao Judiciário estendê-las
ou criar novas punições, sob pena, inclusive, de violação ao princípio da separação dos poderes”
(voto-vista do Min. Benedito Gonçalves).
Improbidade administrativa e sua reforma - principais alterações da
Lei nº 14.230/21 e seus impactos nos processos em curso e findos 399
34
LORA, Alejandro Huergo, Las sanciones administrativas. Madri: Iustel, 2007. p. 143-153.
35
Op. cit., p. 244.
400 Vicente de Abreu Amadei
36
Neste breve estudo, aliás, procurei apontar por ocasião do artigo que escrevi e foi publicado na
Revista Brasileira de Estudos da Função Pública – RBEFP (AMADEI, Vicente de Abreu. Responsabilidade
Administrativa dos Notários e Registradores. Revista Brasileira de Estudos da Função Pública – RBEFP,
Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 121–147, 2012). Logo, a mesma advertência que então apontei naquela
ocasião sobre essa principiologia vale para o momento reproduzir: “Abstração às questões de filosofia
do direito, que o trato dos princípios jurídicos remete ao tema atual da hipertrofia dos princípios,
inclusa as propostas de delimitação dos conceitos de princípios e normas em ordem a evitar essa
hipertrofia (v.g. a crítica de Alejandro Nieto, in Derecho Administrativo Sancionador, 4ª edição,
2ª reimpressão. Madri: Tecnos, 2008, p. 44/47), procuramos, focado apenas no critério da utilidade,
apontar as proposições gerais ou enunciados de verdades generativas (com potencial de dedução
de outras verdades) pertinentes à matéria, que se revelam, na prática, relevantes, sem pretensão
de atender rigor científico ou esgotar o ponto. Para aprofundamento, indicamos, além da referida
obra de Alejandro Nieto, os estudos de José Armando da Costa (Direito Administrativo Disciplinar,
2ª edição. São Paulo: Método, 2009, p. 55/85, 175, 229/231), de Celso Antônio Bandeira de Mello (Curso
de Direito Administrativo, 27ª edição. São Paulo: Malheiros, 2010, p. 850/859), de Diógenes Gasparini
(Direito Administrativo, 12ª edição. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 242/245, 936/938 e 956), em que
estão apoiadas boa parte das assertivas indicadas”.
37
Daí cabe “mandado de segurança quando a lei não autoriza a imposição da pena aplicada” (STF, RE 84217,
Rel. Min. MOREIRA ALVES, j. 09/04/1976, RTJ 79-01/318 ou RDA 130/186). Como subprincípio derivado
do princípio de legalidade, ainda é possível apontar o da irretroatividade da lei prejudicial; mas,
para discutir o da ir(retroatividade) da lei favorável, em DAS, a análise se fará em item próprio.
38
É a lição de Ricardo Dip, in Registros de imóveis e notas: responsabilidade civil e disciplinar. São Paulo:
RT, 1977. p. 31.
39
A Lei estadual paulista nº 10.177/98 enfatiza a necessidade de observância ao princípio da reserva
legal na criação de “condicionamentos aos direitos dos particulares”, na imposição de “deveres de
qualquer espécie”, na previsão de “infrações” e prescrição de “sanções” (artigo 6º).
Improbidade administrativa e sua reforma - principais alterações da
Lei nº 14.230/21 e seus impactos nos processos em curso e findos 401
40
RIBEIRO, Carlos Vinicius Alves. Comentários ao § 3º, do art. 22, da nova redação da LINDB. In: CUNHA
FILHO, Alexandre Jorge Carneiro da; ISSA, Rafael Hamze; SCHIWIND, Rafael Wallbach (coord.). Lei de
introdução às normas do direito brasileiro: anotada, . São Paulo: Quartier Latin, 2019. v. 2, p. 214.
402 Vicente de Abreu Amadei
41
Op. cit. p. 859.
42
Op. cit., p. 230.
Improbidade administrativa e sua reforma - principais alterações da
Lei nº 14.230/21 e seus impactos nos processos em curso e findos 403
43
OLIVEIRA, José Roberto Pimenta; GROTTI, Dinorá Adelaide Musetti Grotti. Direito administrativo
sancionador brasileiro: breve evolução, identidade, abrangência e funcionalidades. Revista Interesse
Público, Belo Horizonte, ano 22, n.120, p. 83-126, 2020.
44
E, para ele, não há dúvida quanto à necessidade de sua observância. Basta, dentre muitos julgados
e vasta doutrina, apontar o bom precedente do STJ (caso em que se rejeitou a aplicação retroativa
da LIA, i.e., aos fatos ocorridos antes de sua vigência): “ADMINISTRATIVO. LEI DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. APLICAÇÃO RETROATIVA A FATOS POSTERIORES À EDIÇÃO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
DE 1988. IMPOSSIBILIDADE. 1. A Lei de Improbidade Administrativa não pode ser aplicada retroativamente
para alcançar fatos anteriores a sua vigência, ainda que ocorridos após a edição da Constituição Federal
de 1988. 2. A observância da garantia constitucional da irretroatividade da lei mais gravosa, esteio da
segurança jurídica e das garantias do cidadão, não impede a reparação do dano ao erário, tendo em
vista que, de há muito, o princípio da responsabilidade subjetiva se acha incrustado em nosso sistema
jurídico. […]” – (REsp. 1129121/GO, Rel. Ministra ELIANA CALMON, Rel. p/ Acórdão Ministro CASTRO
MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/05/2012, DJe 15/03/2013).
404 Vicente de Abreu Amadei
EXERCIDA PELO CADE. ATOS DE CONCENTRAÇÃO – MOMENTO DE SUA REALIZAÇÃO. ABOLITIO CRIMINIS –
INAPLICABILIDADE – MAIOR RESTRITIVIDADE DA LEI POSTERIOR. […] – (VOTO-VISTA – Rel. Min. Regina
Helena Costa, que ficou como relatora designada) […] VI. Da abolitio criminis. A abolitio criminis é a
supressão de tipo penal, deixando de considerar delito determinada conduta. Enseja a retroatividade
da lei abolicionista e beneficia os acusados e condenados com base no tipo extinto, nos termos do
art. 2º do Código Penal. Em exame acerca da natureza jurídica da norma constante do § 5º art. 54 da
Lei n. 8.884/1994, observo tratar-se de penalidade administrativa, imposta em razão do cometimento
de infração ali tipificada. O tema insere-se no âmbito do direito administrativo sancionador e, segundo
doutrina e jurisprudência, em razão de sua proximidade com o direito penal, a ele se estende a norma
do art. 5º, XVIII, da Constituição da República, qual seja, a retroatividade da lei mais benéfica. Nesse
sentido a jurisprudência desta Corte (1ª TURMA, REsp. n. 1.402.893/MG, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA,
j. em 11.04.2019, DJe 22.04.2019). A aplicação da abolitio criminis pressupõe nova lei, que suprima
ou reduza a pena do infrator pela prática de conduta outrora tipificada como crime. […] Na atual
Lei de Defesa da Concorrência, substitutiva da Lei n. 8.884/1994, a multa permanece e o prazo para
submissão da operação ao CADE tornou-se mais restrito, porquanto a apresentação do ato de concen-
tração deve se dar obrigatoriamente antes da produção de efeitos, sendo certo que esses efeitos não
poderão ocorrer antes da manifestação da autarquia reguladora (Lei n. 12.529/2011, art.88, §§ 2º,
3º e 4º). Logo, não há que se falar em existência de lei penal mais benéfica que viesse a ser aplicada.
Mais rigorosa é a lei posterior, porquanto exige a apresentação prévia do primeiro ato vinculativo da
concentração, sob pena de multa.”
406 Vicente de Abreu Amadei
46
“ADMINISTRATIVO. RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR.
PRAZO PRESCRICIONAL. REMISSÕES GENÉRICAS. LEGISLAÇÃO SUPERVENIENTE ESPECÍFICA. PRESCRIÇÃO.
IRRETROATIVIDADE 1. O ora recorrente, Oficial de Justiça à época, foi investigado por exigir custas
excessivas em processo judicial. O Conselho da Magistratura demitiu-o em 1986, após o regular pro-
cesso administrativo, em decisão ratificada pelo Órgão Especial. Pleiteou-se a revisão do processo,
em 1994, que, rejeitada por maioria de votos, ensejou a impetração de Mandado de Segurança,
o qual foi denegado. 2. A demissão a bem do serviço público do recorrente foi confirmada pelo órgão
especial em 1987, e o ato demissório deu-se em 1989. O pedido de revisão ocorreu mais de cinco
anos depois, porquanto admissível sua propositura, uma única vez, a qualquer tempo (art. 249 da
Lei 10.098/1994). 3. In casu, quando julgado o processo administrativo (1986), não havia norma
sobre prescrição no Código de Organização Judiciária (Lei Estadual 5.256/1966), que tratou da Ação
Disciplinar (arts. 756 e ss.). O acórdão recorrido valeu-se de dupla remissão para aplicar a prescrição
prevista na legislação penal. Essa lacuna normativa perdurou até a edição da LCE 10.098/1994,
que passou a regulamentar expressamente a prescrição da Ação Disciplinar em prazo mais curto,
favorável ao recorrente. 4. Caso a lacuna da legislação local tivesse sido suprida ao longo do PAD
mediante edição de lei nova que regulasse a prescrição no âmbito administrativo, estar-se-ia diante
de norma superveniente que seria levada em consideração no julgamento do processo administrativo
e poderia resultar na sua extinção. 5. Contudo, o pedido de revisão tem prazo aberto e pode ser
apresentado a qualquer momento. A valer a proposição do recorrente, passados 5, 10, 20 ou 40 anos,
havendo mudança na lei a respeito dos prazos prescricionais, todos os processos administrativos que
ensejassem de advertência a demissão poderiam ser rejulgados, adotando-se a legislação eventualmente
mais benéfica. 6. A diferença ontológica entre a sanção administrativa e a penal permite a transpor com
reservas o princípio da retroatividade. Conforme pondera Fábio Medina Osório, “se no Brasil não há
dúvidas quanto à retroatividade das normas penais mais benéficas, parece-me prudente sustentar que
o Direito Administrativo Sancionador, nesse ponto, não se equipara ao direito criminal, dado seu maior
dinamismo”. 7. No âmbito administrativo, a sedimentação de decisão proferida em PAD que condena
servidor faltoso (acusado de falta grave consistente na cobrança de custas em arrolamento em valor
aproximadamente mil vezes maior) não pode estar sujeita aos sabores da superveniente legislação sobre
prescrição administrativa sem termo ad quem que consolide a situação jurídica. Caso contrário, cria-se
hipótese de instabilidade que afronta diretamente o interesse da administração pública em manter em
seus quadros apenas os servidores que respeitem as normas constitucionais e infraconstitucionais no
exercício de suas funções, respeitadas as garantias do due process. 8. Precedente em situação similar
indica: “quanto à alegação de prescrição administrativa, questão que em tese poderia determinar a
anulação do ato que cassou a nomeação do recorrente na função de Oficial do Registro de Imóveis da
Comarca de Palhoça/SC, verifica- se que as leis apresentadas (9.873/99 e 9.784/99) foram editadas após
a ocorrência da nomeação do recorrente em 1992 e após o próprio ato de cassação ocorrido em 1998,
não podendo retroagir para alcançar a situação do recorrente. Precedentes: RESP nº 646107/RS,
Rel. Min. Francisco Falcão, DJ de 14/03/2005; MS 9092/DF, Rel. Min. Paulo Gallotti, DJ 25.09.2006
e EDcl no AgRg no RESP nº 547668/PE, Rel. Min. Gilson Dipp, DJ de 02/05/2005” (AgRg no AgRg
no REsp. 959.006/SC, Relator Ministro Francisco Falcão, Primeira Turma, DJ 7.5.2008). 9. Recurso
Ordinário não provido” (RMS 33.484/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado
em 11/06/2013, DJe 01/08/2013).
Improbidade administrativa e sua reforma - principais alterações da
Lei nº 14.230/21 e seus impactos nos processos em curso e findos 407
47
(i) Ap. 1008189-53.2021.8.26.0344, Rel. Des. ANTONIO CARLOS VILLEN, 10ª Câmara de Direito Público,
j. 25/02/2022: “MOTORISTA. Carteira Nacional de Habilitação. Penalidade. Detran. Pretensão à anulação
de decisão que, em procedimento administrativo, aplicou ao autor a penalidade de suspensão do direito
de dirigir. Pedido fundado na tese de retroatividade das alterações introduzidas no art. 261 Código de
Trânsito Brasileiro pela Lei nº 14.071/2020. Aumento da pontuação necessária para a aplicação da pena
de suspensão, caso, no período de 12 (doze) meses, o infrator não tenha praticado nenhuma ou apenas
01 (uma) infração gravíssima. Sentença que reconheceu a aplicabilidade da nova lei e julgou procedente
a ação. Impossibilidade, pois, além de o autor ter atingido os 20 pontos exigidos na redação original
do CTB, antes da alteração legislativa, o procedimento administrativo se encerrou também antes da
vigência da nova lei. Precedentes. Recursos oficial, que se considera interposto, e voluntário providos
para julgar improcedente a ação”; (ii) Ap. 1000765-92.2021.8.26.0300, Rel. Des. VICENTE DE ABREU
AMADEI, 1ª Câmara de Direito Público, j. 22/02/2022: “APELAÇÃO E REEXAME NECESSÁRIO – Mandado de
Segurança – Pretensão à suspensão dos efeitos de processo de suspensão do direito de dirigir, em razão
da aplicação retroativa da Lei Federal nº 14.071/2020, que aumentou o teto máximo de pontuação para
suspensão do direito de dirigir – Inadmissibilidade – Coisa julgada administrativa configurada – Revisão
retroativa inviável – Norma de natureza administrativa de regulação do trânsito – Ausência de natureza
penal em sentido estrito – Não aplicação do princípio da aplicação retroativa da norma penal mais
benéfica, nem mesmo à luz da teoria do Direito Administrativo Sancionador (DAS) – Não configuração
dos requisitos necessários para concessão da medida – Sentença de procedência da demanda reformada.
RECURSO VOLUNTÁRIO E REEXAME NECESSÁRIO PROVIDOS”.
48
(i) Emb. Decl. 1003043-67.2017.8.26.0248, Rel. Desª. TERESA RAMOS MARQUES, 10ª Câmara de
Direito Público, j. 14/02/2022: “EMBARGOS DE DECLARAÇÃO Improbidade Administrativa – Retroação
de lei nova – Omissões e contradições – Pretensão de rediscussão do mérito do processo –
Impossibilidade: – O princípio da retroatividade da lei nova mais benéfica não se aplica às penalidades
por improbidade administrativa. – Ausente omissões, contradições, obscuridades e erros materiais”;
(ii) Emb. Decl. 1000167-28.2016.8.26.0264, Rel. Des. FLORA MARIA NESI TOSSI SILVA, j. 24/02/2022:
“[…] entendo que não ocorre a retroação da Lei nº 14.230/21, que deu nova redação a diversos artigos
da Lei nº 8.429/92, como pretende a ora embargante, pois a conduta descrita como ímproba nos
presentes autos ocorreu quando ainda não vigente esse novo dispositivo legal. Ora, conquanto a nova
lei exija pronta aplicação de seus dispositivos processuais, na forma do art. 14 do Código de Processo
Civil, o mais trazido por ela, ou seja, em assuntos de direito material, não há essa aplicação por
força do art. 5º, caput, XL, da Constituição Federal, o § 4º do art. 1º da Lei 8.429/92, com a nova
redação, e mesmo o art. 6º, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), pois não
cuidam da chamada novatio legis in mellius, a exigir pronta e imediata aplicação para situações
ímprobas acontecidas antes dessa nova circunstância legal. A ação em que se pretende a condenação
por ato de improbidade administrativa possui índole civil, administrativa. Não possui caráter penal.”;
(iii) AI 2264638-92.2021.8.26.0000, Rel. Des. CARLOS VON ADAMEK, 2ª Câmara de Direito Público,
j. 27/01/2022; “AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA – PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE – AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO –
Impossibilidade, a princípio, de aplicação retroativa da Lei nº 14.230/21, visto que ela não contém
previsão nesse sentido – Inteligência do art. 6º da LINDB – Sem olvidar a polêmica no C. STJ acerca
da possibilidade de retroatividade da lei mais benéfica em se tratando de direito administrativo
408 Vicente de Abreu Amadei
sancionador, mesmo que adotada a posição que admite a aplicação retroativa da Lei nº 14.230/21,
é certo que não verificada a prescrição intercorrente – Mesmo após a edição da Lei nº 14.230/21,
permanece aplicável o entendimento firmado pelo E. STF no julgamento do Tema de Repercussão
Geral nº 897, vez que calcado em norma constitucional (art. 37, § 5º, da CF), logo, prevalecente sobre
norma infraconstitucional (art. 23 da Lei nº 8.429/92, com a redação dada pela Lei nº 14.230/21) –
A ausência de distinção entre o referido precedente vinculante e o presente caso torna inviável o
acolhimento da tutela pleiteada – Inteligência do art. 927, III e § 1º e 489, § 1º, VI, ambos do CPC/15 –
A aplicação analógica da Súmula nº 383 do STF ao caso em tela a fim de preencher a lacuna aberta pela
Lei nº 14.230/21, conforme autorização legal contida no art. 4º da LINDB, também afasta a verificação
da prescrição intercorrente, mormente em homenagem ao princípio constitucional da proibição da
proteção insuficiente, a fim de evitar a nulidade prevista no § 10-F, II do art. 17 da Lei nº 8.429/92, incluído
pela Lei nº 14.230/21 (mantendo-se, pois, a designação de audiência de instrução e julgamento para
a produção da prova oral, atendendo, inclusive ao pedido dos próprios agravantes deduzido ao r. Juízo
‘a quo’), e diante do disposto no art. 206-A do Código Civil – Decisão mantida – Recurso desprovido.”
49
(i) Ap. 1009214-10.2017.8.26.0161, Rel. Des. LEONEL COSTA, 8ª Câmara de Direito Público, j. 22/02/2022:
“RECURSO DE APELAÇÃO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – PRESCRIÇÃO
INTERCORRENTE […] Aplicabilidade, quanto aos processos em curso, das modificações da Lei de
Improbidade Administrativa instituída pela Lei nº 14.230, de 25 de outubro de 2021 – Aplicabilidade
imediata quanto às normas processuais nos termos do artigo 14, do CPC e, por analogia, do artigo 2º,
do CPP – Aplicabilidade imediata e retroativa das normas materiais mais benéficas ao agente, nos termos
do artigo 5º, inciso XL, da Constituição Federal: “XL – a lei penal não retroagirá, salvo para benefi-
ciar o réu” – “Lei penal” que deve ser entendida como sendo todo o jus puniendi estatal – Direito
administrativo sancionador que compartilha com o direito penal, das garantias constitucionais funda-
mentais, tais como, o devido processo legal, o contraditório, a ampla defesa, os princípios da legalidade,
da tipicidade, da culpabilidade, da pessoalidade das penas, da individualização da sanção, da razoabilidade
e da proporcionalidade e, como não poderia deixar de ser, da retroatividade da lei mais benéfica […]”;
(ii) Ap. 1016807-89.2018.8.26.0344, Rel. Des. PAULO BARCELLOS GATTI, 4ª Câmara de Direito Público,
j. 21/02/2022: “Não se olvide que por se tratar de legislação superveniente própria do direito material
sancionador (art. 1º, §4º, da LF nº 8.429/92, com a redação atribuída pela LF nº 14.230/2021), suas dis-
posições devem ser aplicadas de imediato e, inclusive, retroativamente, desde que para beneficiar
o acusado (art. 5º, inciso XL, da CF/88”; (iii) Ap.1000388-26.2018.8.26.0204, Rel. Desª ANA LIARTE,
4ª Câmara de Direito Público, j. 21/02/2022: “APELAÇÃO – IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA […] Alterações
legislativas realizadas pela Lei nº 14.230/2021 – Aplicação retroativa das normas mais benéficas ao
Requerido – Art. 1º, § 4º, da Lei de Improbidade Administrativa – Art. 5º, XL, da CF – Revogação do
art. 11, inciso I, da Lei de Improbidade Administrativa, aplicada retroativamente ao Requerido […]”;
(iv) Ap. 1000508-44.2019.8.26.0104, Rel. Des. OSCILD DE LIMA JÚNIOR, 11ª Câmara de Direito Público,
j. 21/01/2022: “AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA Município de Guarantã – Pretensão de con-
denação do réu a ressarcir os cofres públicos no valor indicado na inicial, correspondente a suposto
dano causado ao erário, por ausência de pagamento de precatório e pagamento apenas parcial de
requisições de pequeno valor, bem como ao reconhecimento dos atos de improbidade administrativa
correspondentes – Ilegalidades que não podem ser equiparadas a atos de improbidade administrativa –
Necessidade de configuração de dolo e de efetivo dano ao erário para que o réu seja condenado, de acordo
com os termos da Lei nº 14.230 de 2021, que promoveu alterações na Lei nº 8.429/92 – Sentença de
improcedência mantida. Recurso desprovido”.
Improbidade administrativa e sua reforma - principais alterações da
Lei nº 14.230/21 e seus impactos nos processos em curso e findos 409
50
Op. Cit., p. 243 e 244, tradução nossa
51
“Las disposiciones sancionadoras producirán efecto retroactivo en cuanto favorezcan al presunto
infractor” (art. 128.2 da LPAC, Lei do Procedimento Administrativo Comum, Lei 30/1992).
52
Arts. 5º, XL, LVII, § 4; 12, II, “b”; 21, XIV; 22, I; 32, § 4º; 37, § 4º; 53; 62, § 1º, “b”; 129, I; 144§ 5º-A;
e 228, todos da Constituição Federal.
Improbidade administrativa e sua reforma - principais alterações da
Lei nº 14.230/21 e seus impactos nos processos em curso e findos 411
53
Op. cit., p. 44-45.
412 Vicente de Abreu Amadei
54
V.g. BLANCHET, Luiz Alberto; MARIN, Tâmera Padoin Marques. A corrupção como violação de direitos
humanos e a necessária efetividade da Lei nº 12.846/13. Revista de Direito Administrativo Constitucional,
Belo Horizonte, ano 18, n. 71, p. 267-294, jan./mar. 2018. Confira: “destaca-se um movimento mundial
de tipificação penal de condutas e, em especial, de regulamentação de instrumentos civis e adminis-
trativos que buscam reparar danos causados ao patrimônio público ou à moralidade administrativa,
considerando que as práticas corruptas, além de prejuízos econômicos, violam direitos humanos,
na medida em que impedem a racional aplicação de recursos públicos em prol de toda a sociedade”
(BLANCHET, Luiz Alberto; MARIN, Tâmera Padoin Marques. Op. cit., p. 274).
55
A Lei 1.097/50, que define os crimes de responsabilidade e regula o respectivo processo de julgamento
contra o Presidente da República ou Ministros de Estado, contra os Ministros do Supremo Tribunal Federal
ou contra o Procurador Geral da República
56
No foco punitivo de pessoas naturais por práticas de corrupção passiva (art. 317) e ativa (art. 333),
além dos demais crimes contra a Administração Pública.
57
Lei Complementar nº 135/2010, que teve por fim alterar a Lei Complementar no 64, de 18 de maio
de 1990, e estabelecer, de acordo com o § 9º do art. 14 da Constituição Federal, casos de inelegibi-
lidade, prazos de cessação e determina outras providências, para incluir hipóteses de inelegibilidade
que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exercício do mandato.
58
Lei nº 12.846/2013, que dispõe acerca da responsabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas
pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira.
416 Vicente de Abreu Amadei
59
Nessa fase de recebimento da petição inicial da ação de improbidade administrativa, é reiterada a
orientação do STJ: “vale o princípio do in dubio pro societate, a fim de possibilitar o maior resguardo
do interesse público” (REsp. 1163499/MT, Rel. Min. MAURO CAMPBELL MARQUES, Segunda Turma,
j. em 21/09/2010).
Improbidade administrativa e sua reforma - principais alterações da
Lei nº 14.230/21 e seus impactos nos processos em curso e findos 421
60
LEONEL, Ricardo de Barros. Nova LIA: aspectos da retroatividade associada ao Direito Sancionador.
ConJur: São Paulo, 17 nov. 2021. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2021-nov-17/leonel-lia-
retroatividade-associada-direito-sancionador. Acesso: 13 abr. 2023.
61
LEONEL, Ricardo de Barros. Op. Cit.
Improbidade administrativa e sua reforma - principais alterações da
Lei nº 14.230/21 e seus impactos nos processos em curso e findos 423
62
Op. Cit., p. 244, tradução nossa.
424 Vicente de Abreu Amadei
Se, enfim, nem ação rescisória é viável, com maior razão é inade-
quada a ação revisional (própria do Direito Penal) para destruir sentença
condenatória de improbidade administrativa, de natureza civil (não penal),
proferida em ação civil (não penal).
Nesse eventual excesso, pois, haverá a necessidade, mais uma vez,
de bem frisar que o fim do Direito Administrativo Sancionador não é o
mesmo do Direito Penal:
63
Op. cit., p. 36, tradução nossa.
Improbidade administrativa e sua reforma - principais alterações da
Lei nº 14.230/21 e seus impactos nos processos em curso e findos 425
Conclusão
64
Op. cit., p. 27, tradução nossa.
426 Vicente de Abreu Amadei
Bibliografia
O reencontro da improbidade
administrativa com o propósito da
Constituição Federal de 19881
Vitor Marques3
Advogado
Introdução
1
Artigo originalmente publicado em DAL POZZO, Augusto Neves; OLIVEIRA, José Roberto Pimenta.
Lei de improbidade administrativa reformada. Revista dos Tribunais, 2022.
2
Livre-docente, doutor e mestre em Direito Administrativo pela Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo (PUC-SP). Professor de Direito Administrativo da PUC-SP. Juiz de Direito titular da 3ª Vara da
Fazenda Pública na capital. Publicou, entre outros, os seguintes livros: Estados de exceção: a usurpação
da soberania popular e Controle judicial da discricionariedade administrativa: dos conceitos jurídicos
indeterminados às políticas públicas. Colíder do grupo de pesquisa Sistema de Justiça e estado de
exceção, vinculado à Faculdade de Direito da PUC-SP.
3
Mestre em Direito pela PUC-SP. Atualmente é Secretário de Justiça do Município de Cotia (SP).
Coordenador da Coordenadoria de Combate à Corrupção da Comissão de Direito Administrativo da
OAB/SP (triênio 2019-2021). Associado do Instituto de Direito Administrativo Sancionador Brasileiro
(IDASAN). Membro do grupo de pesquisa Sistema de Justiça e estado de exceção, vinculado à Faculdade
de Direito da PUC-SP.
430 Luis Manuel Fonseca Pires e Vitor Marques
1. Surgimento da LIA
4
Cf.: BRASIL. Congresso. Câmara dos Deputados. Centro de Documentação e Informação. Quadro histórico
artigo 37, § 4º da Constituição Federal de 1988. Disponível em: https://bd.camara.leg.br/bd/bitstream/
handle/bdcamara/35539/quadro_historico_art.%20037_%C2%A74.pdf?sequence=2&isAllowed=y.
Acesso em: 29 nov. 2021.
5
A simples leitura dos tipos de crimes de responsabilidade contra a probidade na Administração Pública
(art. 9º da Lei nº 1.079/50) é suficiente para verificar a grande abrangência do conceito: “1) omitir
ou retardar dolosamente a publicação das leis e resoluções do Poder Legislativo ou dos atos do Poder
Executivo”; “2) não prestar ao Congresso Nacional, dentro de 60 (sessenta) dias após a abertura da sessão
legislativa, as contas relativas ao exercício anterior”; “3) não tornar efetiva a responsabilidade dos seus
subordinados, quando manifesta em delitos funcionais ou na prática de atos contrários à Constituição”;
“4) expedir ordens ou fazer requisição de forma contrária às disposições expressas da Constituição”;
“5) infringir, no provimento dos cargos públicos, as normas legais”; “6) Usar de violência ou ameaça
contra funcionário público para coagí-lo a proceder ilegalmente, bem como utilizar-se de suborno ou
de qualquer outra forma de corrupção para o mesmo fim”; “7) proceder de modo incompatível com a
dignidade, a honra e o decôro do cargo”.
432 Luis Manuel Fonseca Pires e Vitor Marques
Uma boa medida para a amplitude do gênero de desvios combatidos pela redação original da Lei nº 8.429/92
6
é a tipificação do art. 11, que, além de conter os princípios previstos no art. 37, caput, da Constituição
Federal, agregou conceitos cuja definição é inexistente, como o caso da “lealdade às instituições”.
O reencontro da improbidade administrativa com
o propósito da Constituição Federal de 1988 433
7
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo, p. 973.
8
SANTOS, Rodrigo Valgas dos Direito administrativo do medo: risco e fuga da responsabilização dos
agentes públicos. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020. E-book.
O reencontro da improbidade administrativa com
o propósito da Constituição Federal de 1988 437
9
SUNDFELD, Carlos Ari; KANAYAMA Ricardo Alberto. A promessa que a Lei de Improbidade Administrativa
não foi capaz de cumprir. Publicações da Escola da AGU, v. 12, n. 2, 2020. Disponível em https://
seer.agu.gov.br/index.php/EAGU/article/view/2789.
10
Lembra Rodrigo Valgas que: “No Brasil, proliferam sem maior rigor técnico as teorias da ‘cegueira
deliberada’, do dano ‘in re ipsa’, da teoria do ‘domínio do fato’ no âmbito das condenações por impro-
bidade, alargando-se demasiadamente – sem qualquer suporte normativo consistente – a incidência
aparentemente ‘correta’ da Lei de Improbidade Administrativa” (SANTOS, Rodrigo Valgas dos. Direito
administrativo do medo: risco e fuga da responsabilização dos agentes públicos. São Paulo: Thomson
Reuters Brasil, 2020. E-book).
438 Luis Manuel Fonseca Pires e Vitor Marques
FERREIRA, Daniel. Teoria geral da infração administrativa a partir da Constituição Federal de 1988, p. 264.
11
O reencontro da improbidade administrativa com
o propósito da Constituição Federal de 1988 439
12
OSÓRIO, Fábio Medina. Direito administrativo sancionador, p. 450-451.
440 Luis Manuel Fonseca Pires e Vitor Marques
13
NIETO, Alejandro. Derecho administrativo sancionador, p. 32.
O reencontro da improbidade administrativa com
o propósito da Constituição Federal de 1988 441
ABBOUD, Georges. A (in)dignidade da legislação e o pacote “anticrime”. Consultor Jurídico, 10 jan. 2020.
14
15
FERREIRA, Daniel. Op. cit., p. 276.
O reencontro da improbidade administrativa com
o propósito da Constituição Federal de 1988 443
16
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo, p. 869.
17
GARCÍA DE ENTERRÍA, Eduardo; FERNÁNDEZ, Tomás-Ramón. Curso de direito administrativo, v. 2., p. 201.
18
NIETO. Alejandro. Op. cit., p. 563.
444 Luis Manuel Fonseca Pires e Vitor Marques
Conclusão
19
SANTAMARÍA PASTOR, Juan Alfonso. Princípios de derecho administrativo general, v. 2., p. 392-407.
20
SÁNCHEZ MORÓN, Miguel. Derecho administrativo, p. 664-665.
21
MELLO, Rafael Munhoz de. Princípios constitucionais de direito administrativo sancionador, 2007.
22
FERREIRA, Daniel. Sanções administrativas, 2001.
23
VITTA, Heraldo Garcia A sanção no direito administrativo, 2003.
O reencontro da improbidade administrativa com
o propósito da Constituição Federal de 1988 445
Bibliografia
MELLO, Rafael Munhoz de. Princípios constitucionais de direito administrativo sancionador, p. 101-102.
24
Introdução
1
Doutoranda em Filosofia do Direito PUC-SP. Mestre em Direito Constitucional pela PUC-SP. Mestre em
Direito Constitucional Comparado pela Universidade do Alabama (EUA). Membro do Grupo de Pesquisa
Sistema de Justiça e Estado de Exceção, da PUC-SP.
2
Mestre e Doutor em Direito Civil pela PUC-SP. Estágio pós-doutoral em curso na Faculdade de Direito
da Universidade de São Paulo (FDUSP). Pós-graduado em Direito Público pela Escola Paulista da
Magistratura (EPM). Coordenador Regional e Professor da Escola Paulista da Magistratura e da Faculdade
de Direito de Sorocaba. Professor convidado nos cursos de pós-graduação da EPM e PUC-SP (COGEAE).
Membro fundador do Instituto de Direito Privado, do Instituto Brasileiro de Estudos de Responsabilidade Civil
e do Instituto Brasileiro de Direito Contratual. Associado ao Instituto de Direito Administrativo Sancionador.
448 Alessandra Lopes Santana de Mello e Alexandre de Mello Guerra
3
Para completa compreensão dos elementos técnicos constantes do julgado, ver: https://redir.stf.jus.br/
paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=761505043 Acesso: 1.11.2022.
4
Seguem passagens das falas proferidas pelo Deputado Federal Daniel Silveira nos vídeos divulgados no
site YouTube e demais redes sociais em que participa, in verbis: “[…] Eu quero que o povo entre dentro
do STF, agarre o Alexandre de Moraes pelo colarinho dele, sacuda aquela cabeça de ovo dele e jogue
dentro de uma lixeira; Se continuarem dessa maneira, o STF e a Justiça Eleitoral não vão mais existir
porque nós não permitiremos. É verdade. Nós não vamos permitir que uma justiça eleitoral totalmente
detentora de um monopólio de poder exista. Nós não queremos […] eu não quero como eleitor e cidadão;
mas a Rosa Weber, malandramente, né? Preparando o terreno para você, Barroso fez lá uma portaria
administrativa modificando a contagem dos votos, centralizando no TSE, segundo ela, por orientação
da Polícia Federal que se detectou um risco ao sistema de processo eleitoral, deveria ter investigado e
sanado a questão; quando bater um cabo e um soldado na porta de vocês… não adianta fechar a porta não,
porque vai ser arrombada. Sabe por quê? Porque vocês estão abrindo essa precedência, vocês estão
descumprindo a Constituição. Sim, sim as Forças Armadas podem sim intervir. É o que nós queremos.
Eu confesso que a maioria dos brasileiros pedem isso. Tenho certeza absoluta disso. Sabem por que?
Porque vocês não respeitam a lei. Vocês são tão oligofrênicos […] na verdade não, não são […] vocês
são canalhas mesmo […] que vocês tomam decisões sempre em prol da injustiça. Do crime. O STF não
precisava existir, não precisava. Ele deveria ser extinto […]; claramente tivemos centenas de milhares
de fraudes por todos os 5.570 municípios do Brasil; A Justiça Eleitoral nunca deverá ter existido, ela é
desnecessária é, uma máquina de fazer dinheiro. Uma máquina de fazer dinheiro e dinheiro de corrupção,
450 Alessandra Lopes Santana de Mello e Alexandre de Mello Guerra
vocês não me engam mais e não podem parar com essa porcaria […]” Disponível em: https://redir.stf.jus.
br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=761505043. Acesso em: 1 nov. 2022. Ainda, para ade-
quada compreensão do que se está a tratar, ver: https://www.youtube.com/watch?v=Dg645IucBCw e
https://www.youtube.com/watch?v=ePJFyzVXJAE Acesso 1.11.2022.
5
A respeito, exemplificativamente, ver, no periódico Correio Brasiliense, a matéria intitulada Aos gritos
de “eu autorizo”, bolsonaristas lotam sede das Forças Armadas no Rio. Disponível em: https://www.
Mudou o sistema ou mudou o Direito? Alguns impactos da nova Lei de Improbidade
Administrativa na conformação sociojurídica do sistema de tutela da moralidade 451
correiobraziliense.com.br/politica/2022/11/5048911-aos-gritos-de-eu-autorizo-bolsonaristas-lotam-sede-
-das-forcas-armadas-no-rio.html Acesso: 1 nov. 2022.
6
“DECRETO ___ DE 21 DE ABRIL DE 2022. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe
confere o art. 84, caput, inciso XII, da Constituição, tendo em vista o disposto no art. 734 do Decreto-
Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal; Considerando que a prerrogativa
presidencial para a concessão de indulto individual é medida fundamental à manutenção do Estado
Democrático de Direito, inspirado em valores compartilhados por uma sociedade fraterna, justa e res-
ponsável; Considerando que a liberdade de expressão é pilar essencial da sociedade em todas as suas
manifestações; Considerando que a concessão de indulto individual é medida constitucional discricionária
excepcional destinada à manutenção do mecanismo tradicional de freios e contrapesos na tripartição
de poderes; Considerando que a concessão de indulto individual decorre de juízo íntegro baseado ne-
cessariamente nas hipóteses legais, políticas e moralmente cabíveis; Considerando que ao Presidente
da República foi confiada democraticamente a missão de zelar pelo interesse público; e Considerando
que a sociedade encontra-se em legítima comoção, em vista da condenação de parlamentar resguar-
dado pela inviolabilidade de opinião deferida pela Constituição, que somente fez uso de sua liberdade
de expressão […]” (BRASIL, 2022). Ainda, ver: https://congressoemfoco.uol.com.br/area/governo/
veja-a-integra-do-decreto-de-bolsonaro-que-perdoa-daniel-silveira/ Ainda: https://br.video.search.
yahoo.com/search/video?fr=mcafee&ei=UTF-8&p=daniel+silveira+presidente+decreto+you&type=E-
210BR105G0#id=3&vid=1464fe167bd163434d525e0c17f6fb6f&action=view e https://br.video.search.
yahoo.com/search/video?fr=mcafee&ei=UTF-8&p=daniel+silveira+presidente+decreto+you&type=E-
210BR105G0#id=1&vid=6db17735f5a13a51bbafba3b0ce3c5f5&action=click Acesso: 1 nov. 2022.
452 Alessandra Lopes Santana de Mello e Alexandre de Mello Guerra
7
Para identificação da afável relação de proximidade que anima o relacionamento dos envolvidos, ver:
https://www.youtube.com/watch?v=RB2SIx6Uy9g. Acesso: 1 nov. 2022.
Mudou o sistema ou mudou o Direito? Alguns impactos da nova Lei de Improbidade
Administrativa na conformação sociojurídica do sistema de tutela da moralidade 453
8
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2009, p. 390.
454 Alessandra Lopes Santana de Mello e Alexandre de Mello Guerra
9
Especialmente para os mais jovens leitores, para compreender o contexto, o significado e os nefastos
fins do Ato Institucional nº 5, ver: Vozes do AI-5 (Fantástico, 1998). Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=ZFllFYFyBAQ. Acesso em: 11 jan. 2023. Ainda, Folha de S. Paulo. AI-5, 50 anos:
Vozes no Palácio das Laranjeiras. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=eby7f5PL8eU.
Acesso em: 11 jan. 2023; 1964: Reportagem Especial | O governo Costa e Silva e o AI-5. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=pMgTjvBDi74. Acesso em: 11 jan. 2022.
10
Sobre o conceito de sistema, cf.: LARENZ, Karl. Metodologia da Ciência do Direito. 4. ed. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 2005; CANARIS, Claus-Wilhelm. Pensamento sistemático e conceito
de sistema na ciência do Direito. 4. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2008.
11
Para desenvolvimento das ideias, ver: https://www.conjur.com.br/2013-nov-24/embargos-culturais-
-dimensao-historica-direito-pensamento-savigny. Ainda, SONTAG, Kenny. Tendências teórico-jurídicas
decorrentes da escola histórica do direito: pandectística, germanística e história do Direito na ciência
do direito positivo alemã do século XIX. Revista da Faculdade de Direito da UFMG, Belo Horizonte,
n. 66, p. 421-456, 2015. Disponível em: https://www.direito.ufmg.br/revista/index.php/revista/
article/download/1711/1625. Acesso: 1 nov. 2022.
Mudou o sistema ou mudou o Direito? Alguns impactos da nova Lei de Improbidade
Administrativa na conformação sociojurídica do sistema de tutela da moralidade 455
12
A respeito da unidade do sistema, ver: PIRES, Luis Manuel Fonseca. Interpretação jurídica: Do dogma
da completude ao sistema aberto. In: GUERRA, Alexandre de Mello (coord.). Estudos em homenagem
a Clóvis Beviláqua por ocasião do centenário do Direito Civil codificado no Brasil. São Paulo: Escola
Paulista da Magistratura, 2018. v. 1., p. 57-65. Disponível em: https://www.tjsp.jus.br/download/
EPM/Publicacoes/ObrasJuridicas/cc02.pdf?d=636808302116832601 Acesso: 1 nov. 2022.
13
A respeito da migração da perspectiva estrutural para funcional do Direito, é impossível deixar de referir a:
BOBBIO, Norberto. Da estrutura à função: novos estudos de teoria do Direito. Barueri: Manole, 2006.
Para compreensão mínima da passagem estrutural-funcional do Direito, ler: https://edisciplinas.usp.
br/pluginfile.php/4178086/mod_folder/content/0/6.%20Bobbio%20Norberto%20-%20Estrutura%20e%
20funcao%20na%20teoria%20do%20direito%20de%20Kelsen.pdf?forcedownload=1. Acesso: 1 nov. 2022.
456 Alessandra Lopes Santana de Mello e Alexandre de Mello Guerra
14
LOSANO, Mario Giuseppe. Modelos Teóricos, inclusive na prática: da pirâmide à rede. Novos Paradigmas
nas relações entre direitos nacionais e normativas supraestatais. Revista do Instituto dos Advogados
de São Paulo. São Paulo. V. 8. N. 16, julho/dezembro 2005, p. 264-284.
15
TEUBNER, Gunther. Fragmentos Constitucionais. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 271.
Mudou o sistema ou mudou o Direito? Alguns impactos da nova Lei de Improbidade
Administrativa na conformação sociojurídica do sistema de tutela da moralidade 457
16
FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio. Das Figuras paradigmáticas às figuras imagéticas: reflexões sobre
política e direito a partir de uma fraternidade intelectual com Celso Lafer. In: O Direito, entre o
Futuro e o Passado. 1. ed. São Paulo: Noesis, 2014, p. 79-80.
17
ARENDT, HANNAH. A condição humana. 10 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007, p. 384.
18
A profunda análise crítica que a autora faz da questão do Holocausto, do Tribunal de Nuremberg e do
julgamento de Otto Adolf Eichmann, com merecida justiça, coloca a filósofa no seleto rol das pensa-
doras mais relevantes do século XX. Para um contato inicial com sua notável contribuição, ver: Hannah
Arendt - Julgamento Eichmann. https://www.youtube.com/watch?v=s44XqBj12Oc; Hannah Arendt e
a banalidade do mal. https://www.youtube.com/watch?v=06jufTlnFbU Acesso: 1 nov. 2022.
458 Alessandra Lopes Santana de Mello e Alexandre de Mello Guerra
19
Ob. cit, p. 80.
20
FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio. Ob. cit., p. 80.
21
“Pilatos entrou no pretório, chamou Jesus e perguntou-lhe: És tu o rei dos judeus? Jesus respondeu:
Dizes isso por ti mesmo, ou foram outros que to disseram de mim? Disse Pilatos: Acaso sou eu
Mudou o sistema ou mudou o Direito? Alguns impactos da nova Lei de Improbidade
Administrativa na conformação sociojurídica do sistema de tutela da moralidade 459
judeu? A tua nação e os sumos sacerdotes entregaram-te a mim. Que fizeste? Respondeu Jesus:
O meu Reino não é deste mundo. Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus súditos certamente
teriam pelejado para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu Reino não é deste mundo.
Perguntou-lhe então Pilatos: És, portanto, rei? Respondeu Jesus: Sim, eu sou rei. É para dar
testemunho da verdade que nasci e vim ao mundo. Tudo o que é da verdade ouve a minha voz.
Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade?... Falando isso, saiu de novo, foi ter com os judeus e disse-lhes:
Não acho nele crime algum. Mas é costume entre vós que pela Páscoa vos solte um preso. Quereis,
pois, que vos solte o rei dos judeus? Então todos gritaram novamente e disseram: Não! A este não!
Mas a Barrabás!” (João, 16, 33-40).
22
Sobre o tema, ver: DONNINI, Rogério; DONNINI, Oduvaldo. Responsabilidade civil dos meios de
comunicação. Imprensa livre, mídias sociais, pós-verdade, fake news e deepfake. 2 ed. São Paulo:
Juspodium, 2022.
23
FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio. Ob. cit, p. 79.
460 Alessandra Lopes Santana de Mello e Alexandre de Mello Guerra
24
Para estudo profundo das principais modificações introduzidas pela nova LIA, ver o excelente traba-
lho de: AMADEI, Vicente de Abreu; TAVARES, Maria Laura de Assis Moura (coords.). Alterações na Lei de
Mudou o sistema ou mudou o Direito? Alguns impactos da nova Lei de Improbidade
Administrativa na conformação sociojurídica do sistema de tutela da moralidade 461
Improbidade Administrativa - Lei nº 8.429/1992 (Lei nº 14.230/2021). 3. ed. São Paulo: CADIP – Centro
de Apoio ao Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, 2022. Disponível em: https://www.tjsp.
jus.br/Download/SecaoDireitoPublico/Pdf/Cadip/EspCadipImprobAdm20211026.pdf Acesso: 1 nov. 2022.
462 Alessandra Lopes Santana de Mello e Alexandre de Mello Guerra
Proposições conclusivas
Sobre o conceito de sistema, uma vez mais, ver: LARENZ, Karl. Metodologia da Ciência do Direito.
25
4. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2005; CANARIS, Claus-Wilhelm. Pensamento sistemático
e conceito de sistema na ciência do Direito. 4. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2008.
Mudou o sistema ou mudou o Direito? Alguns impactos da nova Lei de Improbidade
Administrativa na conformação sociojurídica do sistema de tutela da moralidade 463
26
Ob. cit., p. 72.
464 Alessandra Lopes Santana de Mello e Alexandre de Mello Guerra
Bibliografia
Processo Penal. Brasília, DF: Poder Executivo, 2022. Disponível em: https://
www.in.gov.br/en/web/dou/-/decreto-de-21-de-abril-de-2022-394545395.
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Disponível em: https://www.tjsp.jus.br/download/EPM/Publicacoes/
ObrasJuridicas/cc02.pdf?d=636808302116832601 Acesso: 1 nov. 2022.
466 Alessandra Lopes Santana de Mello e Alexandre de Mello Guerra
1. Introdução
GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade administrativa. 9. ed. São Paulo:
1
2
SÃO PAULO (Estado). TJSP. Apelação Cível 0001341-41.1999.8.26.0408; Relator (a): Kleber Leyser
de Aquino; Órgão Julgador: 3ª Câmara de Direito Público; Foro de Ourinhos – 1ª Vara Cível; Data do
Julgamento: 22/03/2022; Data de Registro: 23/03/2022.
3
BRASIL. STJ. REsp 728.341/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 14/03/2017,
DJe 20/03/2017.
4
SÃO PAULO (Estado). TJSP. Apelação Cível 1000529-62.2017.8.26.0242; Relator (a): Marcelo Theodósio;
Órgão Julgador: 11ª Câmara de Direito Público; Foro de Igarapava – 1ª Vara; Data do Julgamento:
28/10/2021; Data de Registro: 28/10/2021.
470 André Acayaba de Rezende
5
BRASIL. STJ. REsp 1.169.153, Primeira Turma, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJe de 24/08/2011.
Dano presumido ao erário e improbidade no procedimento licitatório 471
FREITAS, Daniel Santos de. Improbidade: principais jurisprudências e temas afetados pela Lei 14.230/2021.
6
7
MADALENA, Luis Henrique Braga; GUIMARÃES. Bernardo Strobel; SARLET, Ingo Wolfgang. STF decide
pela irretroatividade parcial da reforma na Lei de Improbidade. Conjur, 5 set. 2022. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2022-set-05/direitos-fundamentais-stf-irretroatividade-parcial-reforma-
lei-improbidade. Acesso em: 3 out. 2022.
8
SÃO PAULO (Estado). TJSP. Apelação Cível 1000557-51.2019.8.26.0083; Relator (a): Coimbra Schmidt;
Órgão Julgador: 7ª Câmara de Direito Público; Foro de Aguaí – Vara Única; Data do Julgamento:
03/10/2022; Data de Registro: 03/10/2022.
Dano presumido ao erário e improbidade no procedimento licitatório 475
9
SÃO PAULO (Estado). TJSP. Apelação Cível 3010759-26.2013.8.26.0451; Relator (a): José Luiz Gavião
de Almeida; Órgão Julgador: 3ª Câmara de Direito Público; Foro de Piracicaba – 1ª Vara da Fazenda
Pública; Data do Julgamento: 15/12/2021; Data de Registro: 15/12/2021.
476 André Acayaba de Rezende
5. Conclusão
revogação dos tipos culposos da LIA, mas não da retroatividade dos demais
tipos, verificando-se entendimentos divergentes na doutrina e na juris-
prudência acerca do alcance do julgamento nesta última hipótese.
Em havendo retroatividade da alteração no Art. 10, inciso VIII da LIA,
entende-se que o julgamento do Tema nº 1.096 do Superior Tribunal de
Justiça estaria prejudicado, sem prejuízo de se oportunizar ao autor da
ação emenda à inicial e eventual reabertura da fase instrutória para
comprovação da perda patrimonial efetiva agora exigido para configu-
ração da conduta.
De outro lado, reconhecida a irretroatividade da alteração, entende-se
que o julgamento do Tema nº 1.096 do Superior Tribunal de Justiça perma-
nece relevante para definir se, sob a égide da redação anterior, o dano ao
erário para configuração da conduta seria presumido (in re ipsa).
6. Referências bibliográficas
BRASIL. STJ. REsp 1.169.153, Primeira Turma, Rel. Min. Teori Albino
Zavascki, DJe de 24/08/2011.
BRASIL. STJ. REsp 728.341/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA
TURMA, julgado em 14/03/2017, DJe 20/03/2017.
FREITAS, Daniel Santos de. Improbidade: principais jurisprudências e temas
afetados pela Lei 14.230/2021. Conjur, 29 jan. 2022. Disponível em: https://
www.conjur.com.br/2022-jan-29/freitas-principais-jurisprudencias-temas-
afetados-lei-14230. Acesso em: 3 out. 2022.
GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade administrativa.
9. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
MADALENA, Luis Henrique Braga; GUIMARÃES. Bernardo Strobel; SARLET,
Ingo Wolfgang . STF decide pela irretroatividade parcial da reforma na
Lei de Improbidade. Conjur, 5 set. 2022. Disponível em: https://www.
conjur.com.br/2022-set-05/direitos-fundamentais-stf-irretroatividade-
parcial-reforma-lei-improbidade. Acesso em: 3 out. 2022.
SÃO PAULO (Estado). TJSP. Apelação Cível 0001341-41.1999.8.26.0408;
Relator (a): Kleber Leyser de Aquino; Órgão Julgador: 3ª Câmara de
Direito Público; Foro de Ourinhos – 1ª Vara Cível; Data do Julgamento:
22/03/2022; Data de Registro: 23/03/2022.
SÃO PAULO (Estado). TJSP. Apelação Cível 1000529-62.2017.8.26.0242;
Relator (a): Marcelo Theodósio; Órgão Julgador: 11ª Câmara de Direito
478 André Acayaba de Rezende
1. Introdução
1
Doutor pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo; Diretor da Escola Paulista da Magistratura
(EPM) – biênio 2020/2021; professor titular na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas).
2
Acórdãos ainda não publicados.
480 Luis Francisco Aguilar Cortez
FRYDMAN, Benoit. O fim do Estado de Direito: governar por standars e indicadores. Porto Alegre:
3
4
Paolo Grossi refere-se à multiplicação de fontes do Direito e a sua “destipificação” (GROSSI, Paolo.
Ritorno al diritto. Roma: Laterza, 2015). Sabino Cassese aponta a transformação da Jurisprudência em
fonte do Direito, fazendo com que o Juiz se torne legislador (CASSESE, Sabino. Le pouvoir des juges.
In: DELVOLVÉ, Pierre (coord.). Le pouvoir. Paris: PUF, 2022. p. 325-336).
5
Emenda Constitucional n. 19/1998.
6
Em especial o artigo 37 da Constituição Federal.
7
Refiro-me aqui as “instituições” como as estruturas formais, embora também sejam assim consideradas
as regras mais duradouras que estabelecem os padrões de comportamento da sociedade.
8
James Madison já alertava que “Ao modelar um governo para ser exercido por homens sobre homens,
a maior dificuldade é esta: primeiro é preciso aparelhar o governo para que controle os governados;
o passo seguinte é fazê-lo controlar-se a si mesmo. A dependência para com o povo é, sem dúvida,
o controle primordial sobre o governo, mas a experiência ensinou à humanidade que precauções
auxiliares são necessárias” (HAMILTON, Alexander; MADISON, James; JAY, John. Os artigos federalistas.
Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. p. 350).
482 Luis Francisco Aguilar Cortez
9
ACKERMAN, Bruce. La nueva división de poderes. Traducción de José Manuel Salazar. México: FCE, 2007.
Também destacando a questão da responsabilidade: ROSANVALLON, Pierre. Le bon gouvernement.
Paris: Seuil, 2015.
10
Os denominados novos riscos para as Democracias apontam para o rompimento do jogo democrático
valendo-se do controle centralizador das próprias instituições democráticas.
O elemento subjetivo e a tipicidade da lei de improbidade no art. 11 da nova lei 483
11
“As causas da corrupção recaem em três grandes categorias: instituições, incentivos e ética pessoal.
[…] Para o enfretamento da grande corrupção, os firmuladores de decisão precisam ser responsabilizáveis
pelas suas decisões” (ROSE-ACKERMAN, Susan; PALIFKA, Bonnie Jo. Corrupção e governo. Tradução de
Eduardo Lessa. Rio de Janeiro: FGV, 2020. p. 625, 629).
12
Descreve o então ocorrido Fernando Gaspar Neisser em sua tese de doutorado A responsabilidade
subjetiva na improbidade administrativa: um debate pela perspectiva penal, orientador Alamiro
Velludo Salvador Neto, São Paulo, 2018.
13
Min. Roberto Barroso, j. 12 nov. 2013.
484 Luis Francisco Aguilar Cortez
3. Improbidade e dolo
14
Dolo genérico – Ag Int no REsp 1.590.530/PB, Min. Herman Benjamin, DJe 6/3/2017.
15
A respeito da evolução dos julgados do STJ ver o trabalho de FERREIRA, Vivian Maria Pereira. O dolo
da improbidade administrativa: uma busca racional pelo elemento subjetivo na violação aos princípios
da Administração Pública. Revista Direito GV, v. 15, n. 3, 2019. Disponível em: https://www.scielo.
br/j/rdgv/. Acesso em: 4 abr. 2022.
16
Alterações introduzidas por meio da Lei 13.655/18.
17
Conforme destaca Vivian Maria Pereira Ferreira em relação à doutrina: FERREIRA, Vivian Maria Pereira.
O dolo da improbidade administrativa: uma busca racional pelo elemento subjetivo na violação aos
O elemento subjetivo e a tipicidade da lei de improbidade no art. 11 da nova lei 485
princípios da Administração Pública. Revista Direito GV, v. 15, n. 3, 2019. Disponível em: https://www.
scielo.br/j/rdgv/a/t4j9F3M36jfcvPddbKMnXFK/?lang=pt. Acesso em: 4 abr. 2022.
18
Especialmente no trabalho de AMADEI, Vicente de Abreu. Improbidade administrativa e sua reforma.
Escola Paulista da Magistratura, São Paulo, 15 mar. 2022. Disponível em: https://epm.tjsp.jus.br/Artigo/
DireitoPublico/81817?pagina=1. Acesso em: 14 abr. 2023; e no meu trabalho: CORTEZ, Luis Francisco
Aguilar. As alterações na Lei de Improbidade e sua aplicação retroativa. Escola Paulista da Magistratura,
São Paulo, 18 mar. 2022. Disponível em: https://epm.tjsp.jus.br/Artigo/DireitoPublico/81858?pagina=1.
Acesso em: 14 abr. 2023.
19
A nova lei afastou, contrariamente à lei civil, a possibilidade de atos culposos configurarem improbidade.
20
Conclusão também adotada pelo STF no já referido julgamento da ARE 843.989.
21
A crescente possibilidade de flexibilização na aplicação do direito penal indica a conveniência de
conexão entre os regimes de responsabilidade sem, contudo, eliminar integralmente suas distinções.
486 Luis Francisco Aguilar Cortez
22
Nesse sentido também não é possível a aplicação de um Direito Administrativo Sancionador integral-
mente correspondente ao Direito Penal na análise da improbidade, o que acarretaria, por via indireta,
o mesmo “esvaziamento” do preceito constitucional.
23
Ressalvadas as diferenças, caminhou nesse sentido a decisão do STF nas Ações Declaratórias de
Inconstitucionalidade 29 e 30, quando deliberou a respeito das mudanças introduzidas pela denominada
Lei da Ficha Limpa (LC 135/10) na Lei das Inelegibilidades (LC 64/90), ao reconhecer que a nova lei
não tinha conteúdo sancionatório mas sim estabelece “requisitos negativos” para habilitação a disputa
de cargos públicos eletivos.
24
Aponta Fernando Gaspar Neisser a necessidade de construção de um modelo intermediário no qual
“a ancoragem do modelo intermediário em ponto mais próximo ao Direito Penal representa a adoção de
um conjunto de garantias do qual não se pode abrir mão em um Estado Democrático de Direito. Seria
perversa a interpretação segundo a qual a mera mudança de rótulo – de Direito Penal para Direito
Civil – autorizasse o Estado a punir sem a observância de um núcleo mínimo de elementos, dos quais
os conceitos de dolo e culpa fazem parte” (NEISSER, Fernando Gaspar. A responsabilidade subjetiva
na improbidade administrativa. 2018. Tese (Doutorado em Direito Penal) – Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2018. p. 258, 260).
25
CARLOS DE OLIVEIRA, Ana Carolina. Direito de intervenção e direito administrativo sancionador:
o pensamento de Hassemer e o Direito penal brasileiro. 2012. Dissertação (Mestrado em Direito
Penal) – Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.
O elemento subjetivo e a tipicidade da lei de improbidade no art. 11 da nova lei 487
26
SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. A expansão do direito penal: aspectos da política criminal nas socie-
dades pós-industrais. Tradução de Luiz Otavio de Oliveira Rocha. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2002. p. 144-151.
488 Luis Francisco Aguilar Cortez
27
MASSON, Cleber. Direito penal: parte geral. 16. ed. Rio de Janeiro: Método, 2022.
28
BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de direito penal. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 322-323.
29
“Para os defensores da teoria causal da ação, assume importância a classificação do dolo em genérico
e específico. O especial fim de agir recebe para seus partidários a denominação de dolo específico.
O elemento subjetivo e a tipicidade da lei de improbidade no art. 11 da nova lei 489
Com o advento da teoria da ação final, esta classificação vem sendo paulatinamente abandonada,
mas por razões pedagógicas continuam sendo mencionadas principalmente nos cursos e manuais de
direito penal.” (PIERANGELI, José Henrique. Código penal comentado. Atualizado por Maria Aparecida
Pierangeli Borelli Thomaz. São Paulo: Verbatim, 2013. p. 61).
30
Conforme também já apontava Vivian Maria Pereira Ferreira, op. cit., p. 11/13.
490 Luis Francisco Aguilar Cortez
4. Considerações finais
31
HASSEMER, Winfried. Los elementos característicos del dolo. Tradução de Maria del Mar Diaz Pita.
Anuario de Derecho Penal y Ciencias penalesia, p. 909-932, 1990.
32
Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e as difi-
culdades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos
dos administrados.
§ 1º Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato, ajuste, processo ou
norma administrativa, serão consideradas as circunstâncias práticas que houverem imposto, limitado
ou condicionado a ação do agente.
O elemento subjetivo e a tipicidade da lei de improbidade no art. 11 da nova lei 491
Referências bibliográficas
33
E existem limites para o próprio reexame de provas (Súmula 7 do STJ).
492 Luis Francisco Aguilar Cortez
Introdução
1
Juíza de Direito Titular da 1ª Vara de Pederneiras.
494 Claudia de Abreu Monteiro de Castro
2
A respeito das motivações que impulsionaram tais mudanças, cito Luiz Carlos Bresser-Pereira:
“A causa fundamental por trás dessa primeira onda de reformas era a crise fiscal do Estado;
o objetivo ilusório, caminhar em direção ao estado mínimo desejado pelos ideólogos neoliberais.
Já nos anos 90, quando essa proposta se demonstrou ser irrealista do ponto de vista econômico
(não produzia desenvolvimento) e político (não tinha apoio dos eleitores), surge uma segunda geração
de reformas, encabeçadas pela reforma da administração pública, que têm como objetivo principal
reconstruir o Estado. Na primeira geração de reformas, já se falava em reforma administrativa mas
era confundida com o mero downsizing” (BRESSER-PEREIRA, 1998, p. 231).
3
De acordo com Fernando Luiz Abrucio: “A crise do Estado afetou diretamente a organização das
burocracias públicas. Primeiro a redução de gastos com pessoal, que era em vista como uma saída
necessária – os discursos das administrações de Thatcher e Reagan representaram o ponto máximo
dessa tendência. Segundo, a necessidade de aumentar a eficiência governamental, o que, para boa
parte dos reformadores da década de 80, implicava uma modificação profunda do modelo weberiano,
classificado como lento e excessivamente apegado as normas. Em suma, considerava-se o antigo modelo
ineficiente”. (ABRUCIO, 2006, p. 176-177).
4
Fruto das discussões que acompanharam o Plano Diretor da Reforma do Estado elaborado em 1995.
496 Claudia de Abreu Monteiro de Castro
5
A questão da má gestão pública, em um marco mais geral, suporta problemas muito complexos e de
efeitos devastadores, que não se reduzem à corrupção ou mais especificamente à corrupção pública
e nem por isso podem situar-se num marco secundário de importância (OSÓRIO, 2022, p. 39).
498 Claudia de Abreu Monteiro de Castro
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou
6
omissão dolosa, que enseje, efetiva e comprovadamente, perda patrimonial, desvio, apropriação,
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta Lei,
e notadamente (redação original).
Responsabilidade pessoal pela ineficiência funcional -
análise à luz das modificações operadas pela lei n. 14.230/21 499
7
Nesse sentido alguns dos parágrafos do art. 1º, que, quase repetitivos, evidenciam a necessidade de
comprovação de dolo:
Art. 1º […]
§ 1º Consideram-se atos de improbidade administrativa as condutas dolosas tipificadas nos arts. 9º,
10 e 11 desta Lei, ressalvados tipos previstos em leis especiais.
§ 2º Considera-se dolo a vontade livre e consciente de alcançar o resultado ilícito tipificado nos arts. 9º,
10 e 11 desta Lei, não bastando a voluntariedade do agente.
§ 3º O mero exercício da função ou desempenho de competências públicas, sem comprovação de ato
doloso com fim ilícito, afasta a responsabilidade por ato de improbidade administrativa.
500 Claudia de Abreu Monteiro de Castro
8
Para tanto, considera-se que a eficiência da Administração, como mecanismo de prestígio aos interesses
públicos primários e secundários, e meio de racionalização das verbas públicas, constitui direito difuso,
abrangido, nesses termos, pelo espectro de proteção do art. 1º, IV, da lei n. 7.347/85: Art. 1º Regem-se
pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos
morais e patrimoniais causados: IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.
9
Embora se trate de lei federal, aplica-se, como vetor interpretativo, aos servidores dos demais entes
federados. Não por outro motivo o dispositivo serviu de fundamento para julgamento no RE 1027633/SP,
Rel. Min. Marco Aurélio, em que se assentou a tese da dupla garantia no que toca ao acionamento direto
do servidor público pelo terceiro que sofrer prejuízo. No caso julgado, tratava-se de servidor municipal.
502 Claudia de Abreu Monteiro de Castro
10
Sobre o tema, para identificação do conteúdo da legitimidade das decisões possíveis, dentro do feixe
da norma de competência, o fator de balizamento deve ser a realização do interesse público. Ensina
Luis Manuel Fonseca Pires que “na competência discricionária encontram-se duas ou mais soluções como
uma pluralidade de opções legítimas, como uma liberdade, um indiferente, dentre as opções que são
definidas prima facie pela norma de competência; e mesmo diante do caso concreto, se persistirem
as opções - ao menos duas -, continuará a existir a discricionariedade administrativa. Sem dúvida
alguma, a escolha por qual ou tal opção concreta deve nortear-se pela melhor opção à realização do
interesse público”. (PIRES FONSECA, 2008, p. 148).
Responsabilidade pessoal pela ineficiência funcional -
análise à luz das modificações operadas pela lei n. 14.230/21 503
ADMINISTRATIVA. AQUISIÇÃO DE BENS COM VALORES SUPERIORES AOS DE MERCADO E SEM OBSERVÂNCIA
DO PROCESSO LICITATÓRIO. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA NA ORIGEM. - Ainda que haja indicações
suficientes, na espécie, de imprudência nas aquisições objeto, calha que apreender uma ilegalidade,
a parte rei, não é o quanto basta para assentar uma correspondente improbidade. Nem toda actio
contra legem é necessariamente actio improba, porque esta última exige, para logo, um atributo
de perversão, de corrupção, de dissolução moral, e, além disto, que se trate de dolo ou culpa com
alguma intensidade (ou seja, não é todo desvio, não é o pecadilho, não é a falta leve). - Além disto,
admitiu-se, na origem, infringência culposa da norma do inciso V do art. 10 da Lei 8.429, de 1992,
conduta que, com o advento da Lei 14.230, de 2021, somente atrairá sanções por sua prática dolosa.
Provimento da apelação do demandado. Não acolhimento do recurso da Promotoria pública da Comarca”
(TJSP; Apelação 1000897-73.2017.8.26.0306; Relator (a): Ricardo Dip; Órgão Julgador: 11ª Câmara de
Direito Público; Foro de José Bonifácio - 2ª Vara; Data do Julgamento: 21/06/2022; Data de Registro:
21/06/2022) (BRASIL, 2022).
Responsabilidade pessoal pela ineficiência funcional -
análise à luz das modificações operadas pela lei n. 14.230/21 505
4. Proposições conclusivas
Bibliografia
Non-Persecution Agreement in
administrative improbity statute:
a new instrument to combat
administrative misconduct
1
A primeira versão deste texto foi publicada na Revista Digital da Escola Superior da Advocacia da
OAB/RJ, v. 3, ano 3, 2021. Disponível em: https://materiais.esa.oabrj.org.br/agradecimento-revista-
-esa-edicao-3. Acesso em: 25 set. 2021. Agora os autores retomam o tema em razão da aprovação da
Lei nº 14.230/2021, que trouxe requisitos específicos para a celebração do acordo de não persecução
civil no âmbito da Lei nº 8.429/1992, a justificar, portanto, uma reflexão acadêmica acerca do novo
quadro normativo hoje vigente a respeito do instituto.
2
Doutora em Direito do Estado. Professora da Escola Paulista da Magistratura. Pesquisadora vinculada
ao Grupo de Pesquisas DPP (Direito e Políticas Públicas) da Universidade de São Paulo (USP).
3
Doutor e mestre em Direito de Estado. Professor da Escola Paulista da Magistratura. Pesquisador vin-
culado ao Centro de Estudos de Direito Administrativo, Ambiental e Urbanístico (Cedau).
510 Alexandra Fuchs de Araújo e Alexandre Jorge Carneiro da Cunha Filho
1. Introdução
4
PEREIRA JÚNIOR, Jessé Torres; MARÇAL, Thaís. A convergência entre cooperação processual e consen-
sualidade administrativa, na gestão do Estado Democrático de Direito. In: OLIVEIRA, Rafael Carvalho
Rezende; MARÇAL, Thaís. Temas Relevantes de Processo Administrativo: 20 anos da Lei 9.784/1999,
Salvador: Juspodivm, 2019. p. 99-111.
Acordo de não persecução cível: um novo instrumento
a serviço do combate à improbidade administrativa 511
5
KOCHEM, Ronaldo. Introdução às raízes históricas do princípio da cooperação (Kooperationsmaxime).
Revista de Processo, v. 251, 2016. Disponível em: http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/
documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/bibli_boletim/bibli_bol_2006/
RPro_n.251.04.PDF. Acesso em: 27 jan. 2021.
6
PEREIRA JÚNIOR, Jessé Torres; MARÇAL, Thaís. Op. cit., p. 102
7
PEREIRA JÚNIOR, Jessé Torres; MARÇAL, Thaís. Op. cit., p. 102.
512 Alexandra Fuchs de Araújo e Alexandre Jorge Carneiro da Cunha Filho
8
DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil. 19. ed. São Paulo: Atlas, 2016. p. 42-43.
Acordo de não persecução cível: um novo instrumento
a serviço do combate à improbidade administrativa 513
9
COSTA, Susana Henriques da. A imediata judicialização dos direitos fundamentais sociais e o mínimo
existencial: relação direito e processo. In: GRINOVER, Ada P.; WATANABE, Kazuo; COSTA, Susana H.
da (coord.). O processo para solução de conflitos de interesse público. Salvador: Juspodivm, 2017.
p. 397-422. p. 404.
514 Alexandra Fuchs de Araújo e Alexandre Jorge Carneiro da Cunha Filho
10
SALLES, Carlos Alberto. Processo Civil de Interesse Público. In: GRINOVER, Ada Pellegrini; WATANABE,
Kazuo; COSTA, Suzana Henriques. O processo para solução de conflitos de interesse público. Salvador:
Juspodivm, 2017. p. 193-228. p.194.
Acordo de não persecução cível: um novo instrumento
a serviço do combate à improbidade administrativa 515
11
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: teoria do direito processual civil,
processo de conhecimento e procedimento comum. 56. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 81-83.
12
“A democracia implica, além da atribuição do poder decisório às maiorias, a instauração de diálogo
permanente com as minorias, de respeito pela posição do outro e de garantia dos direitos Fundamentais,
sem exclusão. Por isto que a administração pública dialógica contrasta com a administração pública
monológica, refratária à instituição e ao desenvolvimento de procedimentos comunicacionais com a
sociedade, mercê da multiplicação das redes sociais e de seus instrumentos de comunicação instan-
tânea, em tempo real” (PEREIRA JÚNIOR, Jessé Torres e MARÇAL, Thaís. Op. cit., p. 104).
516 Alexandra Fuchs de Araújo e Alexandre Jorge Carneiro da Cunha Filho
13
ARAÚJO, Alexandra Fuchs. Participação democrática na administração. São Paulo: Quartier Latin,
2019. p. 22.
14
CHEVALLIER, Jacques. L’État post-moderne. 3. ed., Paris: LGPD, 2008, p. 138 et seq.; ROSANVALLON,
Pierre. Le bom gouvernement. Paris: Seuil, 2015. p. 212-213; MARQUES NETO, Floriano de A.; FREITAS,
Rafael Véras de. Comentários à Lei nº 13.655/2018. Belo Horizonte: Fórum, 2019. p. 105.
Acordo de não persecução cível: um novo instrumento
a serviço do combate à improbidade administrativa 517
15
SILVA, Ana Paula Gonçalves; GABRICH, Frederico de Andrade. Princípio da cooperação: do conflito
à solução consensual dos conflitos. Revista de Processo, Jurisdição e Efetividade da Justiça, 2018.
Disponível em: https://www.indexlaw.org/index.php/revistaprocessojurisdicao/article/view/4032/pdf.
Acesso em 17 jan. 2021.
518 Alexandra Fuchs de Araújo e Alexandre Jorge Carneiro da Cunha Filho
16
ALGAYER, Tassiane Castamann. O acordo de leniência na Lei de Improbidade Administrativa. Revista
Eletrônica AJUFESC, Florianópolis, v. 9, 2020. p. 17.
Acordo de não persecução cível: um novo instrumento
a serviço do combate à improbidade administrativa 519
17
PEREZ, Marcos Augusto. Testes de legalidade: métodos para o amplo controle jurisdicional da discri-
cionariedade administrativa, Belo Horizonte: Fórum, 2020. p. 274.
18
Vide a disciplina prevista para a colaboração premiada na Lei 12.850/2013, com a redação que agora
lhe foi dada pela Lei nº 13.964/2019 (art. 3-A et seq.).
19
Art. 17 da Lei 8.429/1992, em sua redação original: “A ação principal, que terá o rito ordinário,
será proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada, dentro de trinta dias da
efetivação da medida cautelar. § 1º É vedada a transação, acordo ou conciliação nas ações de que
trata o caput”(grifo nosso).
20
Como se pode constatar das matérias veiculadas nas ações diretas de inconstitucionalidade n. 7042 e
7043 propostas em face da nova lei.
520 Alexandra Fuchs de Araújo e Alexandre Jorge Carneiro da Cunha Filho
21
Valendo registrar que mesmo antes da alteração legislativa em comento havia posicionamento no
sentido da viabilidade da celebração de acordos no âmbito das ações de improbidade administrativa
considerando uma leitura sistemática do nosso arcabouço legal que disciplina a matéria (art. 60
da Lei nº 9.099/1995, art. 86 da Lei nº 12.529/2011, art. 3 da Lei nº 12.850/2013 e art. 16 da
Lei nº 12.846/2013). Nesse sentido ver MEGNA, Bruno Lopes. O “compromisso” para prevenir ou
regular a compensação a irregularidades: um “negócio jurídico administrativo-processual”. In: CUNHA
FILHO, Alexandre J. C. da; ISSA, Rafael H.; SCHWIND, Rafael W. Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro: anotada. São Paulo: Quartier Latin, 2019. v. 2, p. 380-388. p. 386; e SCHWIND,
Rafael Wallbach. Celebração de acordos nas ações de improbidade: necessidade de revisão do art. 17,
§1º, da Lei nº 8,429 à luz da evolução legislativa e da noção de self-cleaning do direito europeu.
In: CUNHA FILHO, Alexandre J. C. da; OLIVEIRA, André Tito da M.; ISSA, Rafael H.; SCHWIND, Rafael W.
(coord.). Direito, instituições e políticas públicas: o papel do jusidealista na formação do Estado.
São Paulo: Quartier Latin, 2017. p. 777-797. p. 794 et seq.
22
Os estudantes de nossas faculdades de Direito normalmente são instruídos a pensar na solução de
litígios pelo modelo adversarial, o que, no âmbito do Direito Público, ainda ganha o complicador
pela grande resistência para conciliar que a Fazenda Pública costuma apresentar em juízo, postura
que até pouco tempo atrás era defendida sob a alegação da indisponibilidade do interesse público
aliada à falta de autorização legal expressa para tanto. Quanto a este último aspecto parte da
doutrina sustenta que a introdução do art. 26 na LINDB representaria uma cláusula geral para a
celebração de acordos pela Administração Pública, o que, no contexto examinado, supriria a dita
carência legal. A respeito ver GUERRA, Sérgio; PALMA, Juliana B. de. Art. 26 da LINDB: novo re-
gime jurídico de negociação com a Administração Pública. Revista de Direito Administrativo,
Rio de Janeiro, p. 135-169, Rio de Janeiro, nov. 2018. Edição especial: Direito Público na Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018). p. 138 et seq.; VIANA,
Camila R. Cunha. O artigo 26 da LINDB e a consolidação do direito administrativo consensual.
522 Alexandra Fuchs de Araújo e Alexandre Jorge Carneiro da Cunha Filho
In: CUNHA FILHO, Alexandre J. C. da; ISSA, Rafael H.; SCHWIND, Rafael W. Lei de Introdução às
Normas do Direito Brasileiro: anotada. São Paulo: Quartier Latin, 2019. v. 2, p. 339-344. p. 339;
MARQUES NETO, Floriano de A.; FREITAS, Rafael Véras de. Comentários à Lei nº 13.655/2018. Belo
Horizonte: Fórum, 2019. p. 102 et seq.
23
FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 3. ed. São Paulo:
Globo, 2001. p. 198 et seq.
24
Floriano A. Marques Neto e Rafael Véras Freitas, após ponderarem que a discussão judicial sobre uma
sanção pode demorar anos nos escaninhos do nosso aparato de Justiça, sustentam: “[…] no âmbito de
um Estado Democrático de Direito a sanção deve ser a ultima ratio. É que, como já se teve oportuni-
dade de asseverar de que ‘dessa constatação parte outra de que a sanção não é um fim em si, mas um
dos meios – e não o único – para se evitar o descumprimento de uma obrigação jurídica e para viabi-
lizar a consecução das políticas públicas estabelecidas para um determinado setor’ “(MARQUES NETO,
Floriano de A.; FREITAS, Rafael Véras de. Comentários à Lei nº 13.655/2018. Belo Horizonte: Fórum,
2019. p. 105).
25
Para maiores elementos sobre a visão dos autores deste ensaio a respeito do tema, ver CUNHA
FILHO, Alexandre J. C. da; ARAÚJO, Alexandra Fuchs de. Multiplicando litígios: a eleição da métrica
sentenças-por-minuto como um meio sem fim: que lições podemos extrair da insolvência da UNIMED
Paulistana? In: COSTA, Daniel C. G. da; FONSECA, Reynaldo S. da; BANHOS, Sérgio S.; CARVALHO NETO,
Tarcísio V. de (coord.). Democracia, justiça e cidadania: desafios e perspectivas: homenagem ao Ministro
Luís Roberto Barroso. Belo Horizonte: Fórum, 2020. t. 2, p. 311-327.
Acordo de não persecução cível: um novo instrumento
a serviço do combate à improbidade administrativa 523
Ocorre que esse frenesi, como não deixa mentir o alto nível de
insatisfação dos contribuintes com o serviço público, vem fazendo água,
não habilitando nosso Judiciário a dar a atenção merecida aos fabulosos
crimes cometidos diariamente contra o erário, enquanto, por outro lado,
seus integrantes continuam a produzir estatísticas vistosas no que se
refere ao “batidão” das varas criminais, que geralmente envolve crimes
patrimoniais de porte pequeno a moderado, além do tráfico de drogas,
praticados via de regra por réus pobres e/ou usuários de drogas26.
No âmbito da ação de improbidade a realidade não é diferente.
Quantas ações do tipo envolvem enriquecimento sem causa e prejuízo
aos cofres públicos? Qual o tempo médio de tramitação desses feitos e,
ao final, qual o resultado produzido (em termos de punição dos envolvidos,
recuperação de recursos desviados e aprimoramento do funcionamento
das repartições a evitar que novos delitos da mesma espécie se repitam
no futuro)? Em havendo necessidade de produção de prova técnica nos
respectivos feitos, essa consegue ser realizada, apesar da isenção prevista
no art. 18 da Lei 7.347/8527? Em caso negativo, as instituições competentes
para analisar a matéria, incluindo órgãos acusadores, estão se empenhando
para a solução do impasse?
Entendendo o processo de improbidade como um processo civil de
interesse público, que reclamaria, segundo os ditames de um Estado
dialógico e responsivo28, uma ação estratégica por parte dos atores do
sistema de Justiça com vistas à satisfação de objetivos caros ao bem-estar
da população, imaginamos que esse tipo de análise precise começar a ser
feito pelos integrantes de nossas instituições29.
26
Para uma visão crítica sobre a jurisdição exercida entre nós para esse tipo de crime, ver SEMER, Marcelo.
Sentenciando tráfico: o papel dos juízes no grande encarceramento. São Paulo: Tirant, 2019.
27
Art. 18. Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários
periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé,
em honorários de advogado, custas e despesas processuais (Disponível em: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/l7347orig.htm. Acesso em: 27 jan. 2021).
28
Que, como já apontado linhas acima, esse é justamente o modelo de Estado preconizado pela doutrina
contemporânea que se dedica ao tema, como se vê em CHEVALLIER, Jacques. L’État post-moderne.
3 ed. Paris: LGPD, 2008. p. 82 et seq., p. 239 et seq.; ROSANVALLON, Pierre. Le bon gouvernement.
Paris: Seuil, 2015. p. 212 et seq.; FERRAZ, Luciano. Controle e consensualidade: fundamentos para o
controle consensual da Administração Pública. 2. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2020. p. 88 et seq.
29
Alvissareira a respeito da notícia que o Ministério Público do Estado de São Paulo começou a adotar
como parâmetro de mensuração de suas atribuições critérios como “resolutividade” e “impacto social”
da atuação ministerial, tal como noticiado por EXNER, Tereza Cristina Maldonado Katurchi; SOUZA,
Motauri Ciocchetti de. Novas perspectivas de atuação da Corregedoria-Geral do Ministério Público
524 Alexandra Fuchs de Araújo e Alexandre Jorge Carneiro da Cunha Filho
de São Paulo: mudança de paradigmas. Cadernos Jurídicos, São Paulo, ano 21, nº 55, p. 163-168,
2020. p. 166 et seq.
30
Nesse sentido, ao menos no contexto do direito comunitário europeu, vale registrar que hoje ganha
relevância a chamada “self-cleaning”, em substituição à veia punitiva, como meio de se punir pessoas
físicas responsáveis por crimes e ilícitos cometidos em âmbito empresarial, mas resguardando a pessoa
jurídica respectiva enquanto elemento gerador de riqueza e cumpridor de função social. Logo, o que
se tem no exemplo dado é uma avaliação consequencialista do manejo da competência sancionatória
estatal, que para ser exercida legitimamente passa a depender de um filtro de proporcionalidade.
Sobre o mecanismo, ver SCHWIND, Rafael Wallbach. Celebração de acordos nas ações de improbidade:
necessidade de revisão do art. 17, §1º, da Lei nº 8,429 à luz da evolução legislativa e da noção de
self-cleaning do direito europeu. In: CUNHA FILHO, Alexandre J. C. da; OLIVEIRA, André Tito da M.;
ISSA, Rafael H.; SCHWIND, Rafael W. (coord.). Direito, instituições e políticas públicas: o papel do
jusidealista na formação do Estado. São Paulo: Quartier Latin, 2017. p. 777-797. p. 782 et seq.
31
Quanto ao ponto, relevantes as considerações feitas por Carlos Vinícius Alves Ribeiro sobre balizas a
serem adotadas para o exercício legítimo da atuação extrajudicial do Ministério Público, dentre as quais
está justamente a sua procedimentalização (RIBEIRO, Carlos Vinícius Alves. Ministério Público: funções
extrajudiciais: histórico, natureza jurídica, discricionariedade, limites e controle. Belo Horizonte:
Fórum, 2015. p. 163 et seq.).
32
SOUZA, Luciane Moessa de. Meios consensuais de solução de conflitos envolvendo entes
públicos -negociação, mediação e conciliação na esfera administrativa e judicial. Belo Horizonte:
Acordo de não persecução cível: um novo instrumento
a serviço do combate à improbidade administrativa 525
Fórum, 2012. p. 174-175; SANTOS, Bruno Grego. Transação extrajudicial na Administração Pública.
São Paulo: RT, 2019. p. 280-281.
33
A redação do dispositivo vetado sob o argumento de que seria inadequado reservar apenas ao Ministério
Público a possibilidade de formular proposta de acordo na ação de improbidade, era a seguinte:
“art. 17-A. O Ministério Público poderá, conforme as circunstâncias do caso concreto, celebrar acordo
de não persecução cível, desde que, ao menos, advenham os seguintes resultados: I – o integral res-
sarcimento do dano; II – a reversão, à pessoa jurídica lesada, da vantagem indevida obtida, ainda
que oriunda de agentes privados; III – o pagamento de multa de até 20% (vinte por cento) do valor do
dano ou da vantagem auferida, atendendo a situação econômica do agente. § 1º Em qualquer caso,
a celebração do acordo levará em conta a personalidade do agente, a natureza, as circunstâncias,
a gravidade e a repercussão social do ato de improbidade, bem como as vantagens, para o interesse
público, na rápida solução do caso. § 3º As negociações para a celebração do acordo ocorrerão entre
o Ministério Público e o investigado ou demandado e o seu defensor. § 4º O acordo celebrado pelo
órgão do Ministério Público com atribuição, no plano judicial ou extrajudicial, deve ser objeto de
aprovação, no prazo de até 60 (sessenta) dias, pelo órgão competente para apreciar as promoções de
arquivamento do inquérito civil. § 5º Cumprido o disposto no § 4º deste artigo, o acordo será encami-
nhado ao juízo competente para fins de homologação” (Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art6. Acesso em: 27 jan. 2021).
34
Do que é exemplo a Resolução de nº 1.193/2020-CPJ, de 11 de março de 2020, do Ministério Público do
Estado de São Paulo, a qual refere em sua fundamentação a Resolução nº 179/2017 do CNJ, que antes
da alteração legislativa em comento já admitia a conciliação no âmbito da improbidade adminis-
trativa. Para consulta do primeiro texto (Disponível em: http://biblioteca.mpsp.mp.br/PHL_IMG/
RESOLUCOES/1193.pdf. Acesso em 27 jan. 2021). Para uma discussão sobre o ponto, ver CRHAK,
Victor Gomes. Acordo de não persecução cível. 2021. Monografia (Especialização em Direito Público) –
Escola Paulista da Magistratura, São Paulo, 2021. p. 39 et seq.
35
A anomia parcial, a nosso ver, não impedia a aplicação do instituto, tal como defendido por Gajardoni:
“Primeiro de tudo, acreditamos que a ausência de disciplina legal não é impedimento para a celebração
dos acordos, até por conta do entendimento de que isso já era possível mesmo antes do advento da
lei 13.964/2019. Até que venha a necessária lei em sentido estrito a disciplinar o tema genérica e
nacionalmente, o Conselho Nacional do Ministério Público (art. 130-A, § 2º, da CF) e as Procuradorias
de Justiça, no âmbito de suas atribuições, poderão editar normas administrativas estabelecendo pa-
râmetros mínimos para a celebração dos acordos no âmbito do MP (nacional e estadual)”. GAJARDONI,
Fernando. Primeiros e breves apontamentos sobre os acordos em tema de improbidade administrativa.
Genjurídico, 2020. Disponível em: http://genjuridico.com.br/2020/05/07/acordos-improbidade-
-administrativa/. Acesso em: 1 fev. 2021.
526 Alexandra Fuchs de Araújo e Alexandre Jorge Carneiro da Cunha Filho
36
“Art. 29. Em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos normativos por autoridade administrativa,
salvo os de mera organização interna, poderá ser precedida de consulta pública para manifesta-
ção de interessados, preferencialmente por meio eletrônico, a qual será considerada na decisão.
§ 1º A convocação conterá a minuta do ato normativo e fixará o prazo e demais condições da con-
sulta pública, observadas as normas legais e regulamentares específicas, se houver” (Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del4657compilado.htm. Acesso em: 27 jan. 2021).
37
Art. 17, caput, da Lei nº 8.429/1992. A Lei nº 14.230/2021 pretendeu acabar com a possibilidade de a
pessoa jurídica de direito público lesada propor ação de improbidade administrativa, o que é objeto
de análise pelo Supremo Tribunal Federal enquanto escrevemos o presente ensaio (ver ADI 7.042).
38
Cujo §1º do art. 489 prevê detalhamento acerca do ônus de motivação das decisões judiciais, dispositivo
que potencialmente pode ser empregado para se exigir uma maior fundamentação das escolhas feitas
pelo gestor, isso até por força da redação do art. 15 do estatuto processual, o qual prevê a aplicação
subsidiária e supletiva de tal diploma ao processo administrativo. Tal aspecto é bem lembrado por
NOHARA, Irene Patrícia. Motivação do ato administrativo na disciplina de Direito Público da LINDB.
In: VALIATI, Thiago P.; HUNGARO, Luis Alberto; CASTELLA, Gabriel M. e (coord.). A Lei de Introdução
e o Direito Administrativo brasileiro. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019. p. 3-20. p. 14 et seq.
39
Sobre o dever de motivação contextualizada da ação administrativa, o qual foi normativamente refor-
çado pelo advento das inovações feitas na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro pela Lei
nº 13.655/2018, ver SOUZA, Rodrigo Pagani de; ALENCAR, Letícia Lins de. O dever de contextualização
na intepretação e aplicação do Direito Público. In: VALIATI, Thiago P.; HUNGARO, Luis Alberto; CASTELLA,
Gabriel M. e (coord.). A Lei de Introdução e o Direito Administrativo brasileiro. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2019. p. 51-72.
Acordo de não persecução cível: um novo instrumento
a serviço do combate à improbidade administrativa 527
40
GAJARDONI, Fernando. Primeiros e breves apontamentos sobre os acordos em tema de improbidade
administrativa. Genjurídico, 2020. Disponível em: http://genjuridico.com.br/2020/05/07/acordos-
-improbidade-administrativa/. Acesso em: 1 fev. 2021.
41
Art. 723 do C.P.C. (Dos Procedimentos de Jurisdição Voluntária) – “O juiz decidirá o pedido no prazo
de 10 (dez) dias. Parágrafo único. O juiz não é obrigado a observar critério de legalidade estrita,
528 Alexandra Fuchs de Araújo e Alexandre Jorge Carneiro da Cunha Filho
podendo adotar em cada caso a solução que considerar mais conveniente ou oportuna” (Disponível em:
http:/ www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 3 fev. 2021).
42
Como pondera Marcos Perez: “A importância, na contemporaneidade, de associar-se motivo e processo
administrativo como elementos da legalidade da atuação administrativa está justamente em, com isso,
abrir-se um largo caminho para a atuação do controle jurisdicional da Administração, especialmente
no tocante à discricionariedade. Abandonam-se, desse modo, todos os resquícios da antiga teoria da
imunidade jurisdicional do mérito do ato discricionário” (PEREZ, Marcos Augusto. Testes de legalidade:
métodos para o amplo controle jurisdicional da discricionariedade administrativa. Belo Horizonte:
Fórum, 2020. p. 201).
43
PEREZ, Marcos Augusto. Testes de legalidade: métodos para o amplo controle jurisdicional da discri-
cionariedade administrativa. Belo Horizonte: Fórum, 2020. p. 239 et seq.
44
Vide nota de rodapé 31, supra.
Acordo de não persecução cível: um novo instrumento
a serviço do combate à improbidade administrativa 529
mas que provavelmente sofrerá impacto da decisão a ser dada pelo Supremo
Tribunal Federal quanto ao rol de legitimados a propor ações de responsa-
bilização por improbidade administrativa, a lei passa a prever expressa-
mente a necessidade de recomposição do dano imposto ao erário e/ou de
reversão da vantagem indevida obtida pelo agente como condições para
o desfecho concertado desse tipo de apuração (art. 17-B, caput, I e II).
Além disso, prevê-se, de modo acertado, que a pessoa jurídica
lesada deve ser ouvida no procedimento vocacionado à formulação do
ajuste (art. 17-B, §1º, I)45, que igualmente deverá passar pelo órgão do
Ministério Público competente para analisar pedidos de arquivamento
de inquéritos civis, isso caso a providência se dê antes da propositura da
ação de improbidade (art. 17-B, §1º, II), situação na qual a homologação
judicial também se faz necessária (art. 17-B, §1º, III)46.
A lei ainda estipula que, em havendo dano ao erário, o Tribunal de
Contas deverá se manifestar sobre o montante de ressarcimento previsto
(art. 17-B, §3º), sendo que, quanto às sanções a serem impostas ao infrator,
que expressamente não precisam ser aquelas já previstas na legislação
(art. 17-B, §6º), deverá haver motivação adequada a partir de critérios
já usados em diversos diplomas sancionadores (como a personalidade do
agente, gravidade da conduta e etc., conforme redação do art. 17-B, §2º).
Perante tal quadro nota-se que hoje há balizas legais mais seguras a
demarcar o caminho a ser seguido pelas autoridades nas negociações com
os acusados da prática de atos de improbidade de modo que a solução
concertada possa contribuir para que as ações respectivas possam tutelar de
modo mais eficiente os bens jurídicos resguardados pela Lei nº 8.429/1992.
5. Conclusão
45
A lei fala em “ente federativo lesado”, mas imaginamos que “pessoa jurídica lesada” seria o termo
mais adequado neste contexto, já que não há qualquer razão plausível para se excluir a vítima de um
ato de improbidade, ainda que não ente federativo, do processo de formação do acordo sob exame.
46
No que se refere ao papel a ser desempenhado pela homologação judicial para controle dos termos
do ANPC, ver considerações feitas no item 4.1 deste ensaio.
530 Alexandra Fuchs de Araújo e Alexandre Jorge Carneiro da Cunha Filho
6. Bibliografia
Mestre em Direito Constitucional e Doutora em Direito Processual Civil pela Pontifícia Universidade
1
2
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 30. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. p. 2.
Aspectos processuais e procedimentais da aplicação da nova
Lei de Improbidade Administrativa aos processos em curso 537
3
SILVA FILHO. Edson Alves. LIMA. Martônio Mont’Alverne Barreto. O pensamento constitucional do período
imperial e a formação da administração pública no Brasil. Revista do Programa de Pós-Graduação em
Direito, Salvador, v. 30, n. 2, p. 79-96, 2020.
4
ARAÚJO, Edmir Netto de. O direito administrativo e sua história. Revista da Faculdade de Direito,
Universidade de São Paulo, v 95, p. 147-166, 2000. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rfdusp/
article/view/67460. Acesso em: 12 nov. 2022.
538 Mônica de Almeida Magalhães Serrano
5
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 30. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. p. 36.
6
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 30. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. p. 1.008
Aspectos processuais e procedimentais da aplicação da nova
Lei de Improbidade Administrativa aos processos em curso 539
7
VIEIRA, Evelise Pedroso Teixeira Prado. Direito administrativo. São Paulo: Verbatim, 2011. p. 149.
8
Ibid., p. 150
540 Mônica de Almeida Magalhães Serrano
9
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Corrupção e Democracia. In: Revista de Direito Administrativo.
Rio de Janeiro: Renovar e Fundação Getúlio Vargas, nº226, out./2001.
10
TEIXEIRA, Juliana Ferrer. Corrupção passiva: análise do artigo 317 do Código Penal e sua relação com
as Leis n. 8.429/92, n. 9.034/95 e n. 9.613/98. 2010. Dissertação (Mestrado em Direito) – PUC-SP,
São Paulo, 2010.
Aspectos processuais e procedimentais da aplicação da nova
Lei de Improbidade Administrativa aos processos em curso 541
11
NEHER, Clarissa. Análise histórica mostra que corrupção no Brasil persiste desde o período colonial.
G1, Rio de Janeiro, 12 jun. 2017. Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/noticia/analise-historica-
mostra-que-corrupcao-no-brasil-persiste-desde-o-periodo-colonial.ghtml. Acesso em: 10 nov. 2022.
12
GOMES, Gabriel Gorga. O Jeitinho Brasileiro e a Corrupção. Âmbito Jurídico, 1 ago. 2020. Disponível em:
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-penal/o-jeitinho-brasileiro-e-a-corrupcao/.
Acesso em: 10 nov. 2022.
542 Mônica de Almeida Magalhães Serrano
Rio de Janeiro: Forense, 2022. p. 15. O autor retrata que se trata de matéria “Prefeito de Toronto
viciado em crack pode ter novas revelações “, publicada no Correio Braziliense.
544 Mônica de Almeida Magalhães Serrano
16
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios
e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I – a soberania; II – a cidadania; III – a dignidade da pessoa humana; IV – os valores sociais do
trabalho e da livre iniciativa; V – o pluralismo político.
17
“Art. 166. Os projetos de lei relativos ao plano plurianual, às diretrizes orçamentárias, ao orçamento
anual e aos créditos adicionais serão apreciados pelas duas Casas do Congresso Nacional, na forma do
regimento comum”.
18
Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2184458.
Acesso em: 15 nov. 2022.
Aspectos processuais e procedimentais da aplicação da nova
Lei de Improbidade Administrativa aos processos em curso 545
15 nov. 2022.
546 Mônica de Almeida Magalhães Serrano
20
GAJARDONI, Fernando da Fonseca; CRUZ, Luana Pedrosa de Figueiredo; GOMES JUNIOR, Luiz Manoel;
FAVRETO, Rogerio. Comentários à Nova Lei de Improbidade Administrativa. 5. ed. São Paulo: Thomson
Reuters, 2021. p. 46.
21
MARTINS, Ricardo Marcondes. Estudos de direito administrativo neoconstitucional. São Paulo: Malheiros,
2015. p. 651
Aspectos processuais e procedimentais da aplicação da nova
Lei de Improbidade Administrativa aos processos em curso 547
22
Ibid., p. 653.
548 Mônica de Almeida Magalhães Serrano
23
LEONEL. Ricardo de Barros. Nova LIA: aspectos da retroatividade associada ao Direito Sancionador.
Consultor Jurídico, 17 nov. 2021. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2021-nov-17/leonel-lia-
retroatividade-associada-direito-sancionador. Acesso em: 12 nov. 2022.
24
OLIVEIRA, José Roberto Pimenta; GROTTI, Dinorá Adelaide Musetti. Direito administrativo sancionador
brasileiro: breve evolução, identidade, abrangência e funcionalidades. Interesse Público, 2020. p. 116.
Aspectos processuais e procedimentais da aplicação da nova
Lei de Improbidade Administrativa aos processos em curso 549
OLIVEIRA. José Roberto Pimenta; GROTTI, Dinorá Adelaide Musetti. Direito administrativo sancionador
25
brasileiro: breve evolução, identidade, abrangência e funcionalidades. Interesse Público, 2020. p. 122.
550 Mônica de Almeida Magalhães Serrano
26
GAJARDONI, Fernando da Fonseca; CRUZ, Luana Pedrosa de Figueiredo; GOMES JUNIOR, Luiz Manoel;
FAVRETO, Rogerio. Comentários à Nova Lei de Improbidade Administrativa. 5. ed. São Paulo: Thomson
Reuters, 2021. p. 150.
Aspectos processuais e procedimentais da aplicação da nova
Lei de Improbidade Administrativa aos processos em curso 551
17 abr. 2023.
Aspectos processuais e procedimentais da aplicação da nova
Lei de Improbidade Administrativa aos processos em curso 553
GAJARDONI, Fernando da Fonseca; CRUZ, Luana Pedrosa de Figueiredo; GOMES JUNIOR, Luiz Manoel;
28
FAVRETO, Rogerio. Comentários à Nova Lei de Improbidade Administrativa. 5. ed. São Paulo: Thomson
Reuters, 2021. p. 171.
556 Mônica de Almeida Magalhães Serrano
JOTA, Rossini Lopes. Efeitos da sentença penal absolutória na ação de improbidade administrativa: visão
29
crítica. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 11 fev. 2022. Disponível em: https://www.estadao.com.br/
politica/blog-do-fausto-macedo/efeitos-da-sentenca-penal-absolutoria-na-acao-de-improbidade-
administrativa-visao-critica/. Acesso em: 15 nov. 2022.
Aspectos processuais e procedimentais da aplicação da nova
Lei de Improbidade Administrativa aos processos em curso 557
30
GAJARDONI, Fernando da Fonseca; CRUZ, Luana Pedrosa de Figueiredo; GOMES JUNIOR, Luiz Manoel;
FAVRETO, Rogerio. Comentários à Nova Lei de Improbidade Administrativa. 5. ed. São Paulo: Thomson
Reuters, 2021. p. 196.
31
Embargos de Divergência em Resp nº 1.330.567 – RS (2013/0207404-8) Relator: Ministro Luis Felipe Salomão.
558 Mônica de Almeida Magalhães Serrano
32
GAJARDONI, Fernando da Fonseca; CRUZ, Luana Pedrosa de Figueiredo; GOMES JUNIOR, Luiz Manoel;
FAVRETO, Rogerio. Comentários à Nova Lei de Improbidade Administrativa. 5. ed. São Paulo: Thomson
Reuters, 2021. p. 557.
33
Ibid., p. 558.
560 Mônica de Almeida Magalhães Serrano
35
STF, Pleno, RE 852475, Relator Ministro Alexandre de Moraes – Tema 897 – Prescritibilidade da pretensão
de ressarcimento ao erário em face de agentes públicos por ato de improbidade administrativa.
Aspectos processuais e procedimentais da aplicação da nova
Lei de Improbidade Administrativa aos processos em curso 563
LEONEL, Ricardo de Barros. Nova LIA: aspectos da retroatividade associada ao Direito Sancionador.
37
38
GAJARDONI, Fernando da Fonseca; CRUZ, Luana Pedrosa de Figueiredo; GOMES JUNIOR, Luiz Manoel;
FAVRETO, Rogerio. Comentários à Nova Lei de Improbidade Administrativa. 5. ed. São Paulo: Thomson
Reuters, 2021. p. 51.
566 Mônica de Almeida Magalhães Serrano
6. Conclusões
Referências bibliográficas
Introdução
1
Professor Titular do Departamento de Direito Processual da Faculdade de Direito da Universidade de
São Paulo (USP). Árbitro.
2
Vista a questão sob a óptica da funcionalidade da pessoa jurídica, a apreensão de bens com fun-
damento no art. 4º da Lei n. 9.613/1998 é explicável pela ideia de desconsideração da personali-
dade jurídica inversa. Colhe-se, aliás, da jurisprudência, caso em que se reconheceu exatamente
tratar-se de desconsideração inversa, não obstante, ali, corretamente, ter-se concluído que a
hipótese deveria ser tratada com cuidado (cf. TRF-1, 2ª Seção, MS n. 0066532-97.2014.4.01.0000,
rel. Juiz convocado Leão Aparecido Alves, j. 15.6.2016, p. 28.6.2016). De forma semelhante,
o art. 4ª da Lei 9.605/1998, que trata das sanções penais e administrativas derivadas de condutas
e atividades lesivas ao meio ambiente, dispõe expressamente que “Poderá ser desconsiderada a
pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados
à qualidade do meio ambiente”. Sobre a desconsideração no âmbito do Direito penal, ver: LOBATO,
José Danilo Tavares. Responsabilidade penal da pessoa jurídica: uma inconsistência dogmática e de
princípios. Revista da EMERJ, vol. 13, n. 50, p. 270-271, 2010; FELICIANO, Guilherme Guimarães.
Desconsideração e consideração da pessoa jurídica no Direito Penal Ambiental: convergindo antí-
teses aparentes para a tutela penal do meio ambiente humano. Revista da Faculdade de Direito,
Universidade de São Paulo, v. 108, p. 491-528, 2013; YARSHELL, Flávio Luiz. Desconsideração da
personalidade jurídica no processo pena. Carta Forense, ago. 2018.
570 Flávio Luiz Yarshell
Na doutrina, ver, exemplificativamente: BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Legitimação para Agir.
3
Indeferimento de Petição Inicial. In: Temas de Direito Processual: 1ª Série. São Paulo: Saraiva, 1977. p. 200;
YARSHELL, Flávio Luiz. Tutela jurisdicional específica nas obrigações de declaração de vontade. São Paulo:
Saraiva, 1993. p. 112; WATANABE, Kazuo. Da cognição no processo civil. 3. ed. São Paulo: DPJ Editora, 2005.
p. 92-93; COSTA, Susana Henriques da. Condições da Ação. São Paulo: Quartier Latin, 2005. p. 135;
YARSHELL, Flávio Luiz. Tutela jurisdicional. 2. ed. São Paulo: DPJ Editora, 2006. p. 106-107; BEDAQUE,
José Roberto dos Santos. Direito e processo. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 92-97; LUCON,
Paulo Henrique dos Santos. Relação entre demandas. Brasília: Gazeta Jurídica, 2016. p. 169-170;
YARSHELL, Flávio Luiz. Curso de direito processual civil. 2. ed. São Paulo: Marcial Pons, 2020. p. 334-335.
Na jurisprudência, mais recentemente, ver: STJ, 3ª T., REsp n. 1.991.550/MS, rel. Min. Nancy Andrighi,
j. 23.8.2022, DJe 25.8.2022.
Breves notas sobre a desconsideração da personalidade jurídica
no processo de tutela da probidade administrativa 571
4
Cf. PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de direito privado. São Paulo: RT, 2012. t. 22,
§ 2754, n. 3. Versão e-book baseada na ed. atual. de 2012.
572 Flávio Luiz Yarshell
5
Cf. GONÇALVES, Carlos Roberto. Comentários ao Código Civil brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 2003.
v. 3, p. 171.
6
Cf. DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2019.
v. 4, p. 326-327.
7
Cf. GONÇALVES, Carlos Roberto. Comentários ao Código Civil brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 2003.
v. 3, p. 148-149.
Breves notas sobre a desconsideração da personalidade jurídica
no processo de tutela da probidade administrativa 573
8
Cf. GONÇALVES, Carlos Roberto. Comentários ao Código Civil brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 2003.
v. 3, p. 148-149.
9
Cf. LÔBO, Paulo. Obrigações. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2011. p. 137.
10
Cf. NONATO, Orosimbo. Curso de obrigações. Rio de Janeiro, Forense, 1959. v. 2, p. 171, 177.
11
“O fiador que não integrou a relação processual na ação de despejo não responde pela execução
do julgado”.
574 Flávio Luiz Yarshell
12
Cf. MELLO, Rogerio Licastro Torres de. Responsabilidade executiva secundária: a execução em face do
sócio, do cônjuge, do fiador e afins. São Paulo: RT, 2016. n. 17. Versão e-book baseada na 1ª ed. impressa.
13
Cf. YARSHELL, Flávio Luiz. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica dono CPC 2015:
aplicação e outras formas de extensão da responsabilidade patrimonial. In: YARSHELL, Flávio Luiz;
PEREIRA, Guilherme Setoguti Julio. Processo societário II. São Paulo: Quartier Latin, 2015. p. 214-215.
Nesse mesmo sentido, cf. YARSHELL, Flávio Luiz. Do incidente de desconsideração da personalidade
jurídica. In: CABRAL, Antonio do Passo; CRAMER, Ronaldo. Comentários ao novo Código de Processo Civil.
2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 229.
Breves notas sobre a desconsideração da personalidade jurídica
no processo de tutela da probidade administrativa 575
14
Em semelhante sentido, ver: JUSTEN FILHO, Marçal. Reforma da Lei de Improbidade Administrativa:
comparada e comentada. São Paulo: Forense, 2021. p. 191-192; COSTA, Rafael de Oliveira; BARBOSA,
Renato Kim. Nova Lei de Improbidade Administrativa: de acordo com a Lei n. 14.230/2021. São Paulo:
Almedina, 2022. p. 171.
576 Flávio Luiz Yarshell
Cf. YARSHELL, Flávio Luiz. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica dono CPC 2015:
15
aplicação e outras formas de extensão da responsabilidade patrimonial. In: YARSHELL, Flávio Luiz;
PEREIRA, Guilherme Setoguti Julio. Processo societário II. São Paulo: Quartier Latin, 2015. p. 224.
Breves notas sobre a desconsideração da personalidade jurídica
no processo de tutela da probidade administrativa 577
Cf. VIEIRA, Christian Garcia. Desconsideração da personalidade jurídica no Novo CPC: natureza,
16
E mais:
17
Cf. RODRIGUES FILHO, Otávio Joaquim. Desconsideração da personalidade jurídica e processo:
de acordo com o Código de Processo Civil de 2015. São Paulo: Malheiros, 2016. p. 359-361.
18
Cf. DINAMARCO, Cândido Rangel. Desconsideração da personalidade jurídica, fraude, ônus da prova e
contraditório. In: Fundamentos do processo civil moderno. 6. ed. São Paulo, Malheiros, 2010. t. 1, p. 540.
Breves notas sobre a desconsideração da personalidade jurídica
no processo de tutela da probidade administrativa 579
Assim,
19
Cf. Ibid., p. 538.
20
Cf. VIEIRA, Christian Garcia. Desconsideração da Personalidade Jurídica no Novo CPC: natureza,
procedimentos e temas polêmicos. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 151-154.
580 Flávio Luiz Yarshell
Cf. GRECO, Leonardo. Cognição sumária e coisa julgada. Revista Eletrônica de Direito Processual,
21
22
Cf. DINAMARCO, Cândido Rangel. Execução civil. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 249-250.
23
Cf. TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil. 2. ed. São Paulo: Método, 2012. p. 148.
24
Cf. SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
v. 3, p. 269-270; LIMA, Alcides de Mendonça. Comentários ao Código de processo civil. Rio de Janeiro:
Forense, 1974. v. 6, t. 2, p. 465, 471-472; GRECO, Leonardo. O processo de execução. Rio de Janeiro:
Renovar, 2001. v. 2, p. 7-8; ASSIS, Araken de. Manual da execução. 11. ed. São Paulo: RT, 2007.
p. 202-203; WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia; TALAMINI, Eduardo. Curso
avançado de processo civil. 8. ed. São Paulo: RT, 2006. v. 2, p. 110-111; ABELHA, Marcelo. Manual
de execução civil. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 104; CAHALI, Yussef Said. Fraudes contra
credores. 4. ed. São Paulo: RT, 2008. p. 21-22; PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito
civil. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1981. v. 2, p. 29-30; MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de
direito civil: direito das obrigações. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 1982. v. 1, p. 24-25.
582 Flávio Luiz Yarshell
25
No original: “La caution n’est obligée envers le créancier à le payer qu’à défaut du débiteur, qui doit
être préalablement discuté dans ses biens, à moins que la caution n’ait renoncé au bénéfice de
discussion, ou à moins qu’elle ne se soit obligée solidairement avec le débiteur; auquel cas l’effet de
son engagement se règle par les principes qui ont été établis pour les dettes solidaires”.
26
No original: “Celui qui se rend caution d’une obligation se soumet envers le créancier à satisfaire à
cette obligation, si le débiteur n’y satisfait pas lui-même”.
27
Nesse sentido, ver: PIETTE, Gaël. Cautionnement. In: Encyclopédie Dalloz. Paris : Dalloz, 2016. § 26.
Nessa linha, ver: SIMLER, Philippe; DELEBECQUE, Philippe. Droit civil: les sûretés, la publicité foncière.
6. ed. Paris: Précis Dalloz, 2012. n. 47.
28
No original: “I creditori sociali, anche se la società è in liquidazione, non possono pretendere il pagamento
dai singoli soci, se non dopo l’escussione del patrimonio sociale”. Sobre o tema, ver: CARBONI, Bruno.
Sussidiarietà e diritto di preventiva escussione. Rassegna di Diritto Civile, 2003. p. 28 et seq.
Breves notas sobre a desconsideração da personalidade jurídica
no processo de tutela da probidade administrativa 583
29
Cf. ABELHA, Marcelo. Manual de direito processual civil. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 280.
30
Cf. LÔBO, Paulo. Direito civil: parte geral. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 169-172.
31
Cf. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. 10. ed. Salvador: JusPodivm,
2018. p. 1154.
584 Flávio Luiz Yarshell
32
Cf. YARSHELL, Flávio Luiz. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica dono CPC 2015:
aplicação e outras formas de extensão da responsabilidade patrimonial. In: YARSHELL, Flávio Luiz;
PEREIRA, Guilherme Setoguti Julio. Processo societário II. São Paulo: Quartier Latin, 2015. p. 213-214.
Breves notas sobre a desconsideração da personalidade jurídica
no processo de tutela da probidade administrativa 585
4. A título de conclusão
33
Cf. STJ, 4ª T., REsp n. 1.729.554-SP, rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 8.5.2018, DJe 6.6.2018.
785
1
Doutor e Mestre em Direito Processual pela Faculdade de Direito da USP (FD/USP). Professor Doutor de
Direito Processual Civil da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da USP (FDRP/USP). Diretor Regional
do Instituto Brasileiro de Direito Processual (IBDP). Membro da IAPL (International Association of
Procedural Law). Juiz de Direito do TJSP desde 1998, atualmente atuando como Juiz Auxiliar do STJ.
588 Fernando da Fonseca Gajardoni
2
Disposição repetida na Lei de Corrupção Empresarial (art. 19, § 4º, da Lei 12.846/2013): “O Ministério
Público ou a Advocacia Pública ou órgão de representação judicial, ou equivalente, do ente público
poderá requerer a indisponibilidade de bens, direitos ou valores necessários à garantia do pagamento
da multa ou da reparação integral do dano causado, conforme previsto no art. 7º, ressalvado o direito
do terceiro de boa-fé”. (BRASIL, 2013).
3
Não se deve confundir as medidas judiciais de indisponibilidade de bens e afastamento cautelar do
agente do cargo, previstas nos arts. 16 e 20 da Lei 8.429/1992 (redação da Lei 14.230/2021), com as
medidas administrativas correlatas previstas no art. 44 da Lei 8.443/1992 (Lei Orgânica do Tribunal
de Contas da União). Por elas, a Corte de Contas pode, no início ou no curso de qualquer apuração,
de ofício ou a requerimento do Ministério Público, determinar, cautelarmente, o afastamento temporário
do responsável, se existirem indícios suficientes de que, prosseguindo no exercício de suas funções,
possa retardar ou dificultar a realização de auditoria ou inspeção, causar novos danos ao Erário ou
inviabilizar o seu ressarcimento, sendo possível, ainda, decretar, por prazo não superior a um ano,
a indisponibilidade de bens do responsável, tantos quantos considerados bastantes para garantir o
ressarcimento dos danos em apuração. O STF já teve oportunidade de reconhecer a constitucionalidade
das referidas cautelares administrativas, por considerar que elas não estão sujeitas à reserva judicial
(MS 35.506, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/acórdão Min. Ricardo Lewandowski, Pleno, j.13.10.2022).
Afastamento cautelar do agente público na
“nova” Lei de Improbidade Administrativa 589
4
A obtenção das referidas medidas cautelares de cunho patrimonial, embora não impeça a cessão de bens
e valores pelo agente ímprobo, possibilitará ao Ministério Público oportunamente, à luz dos arts. 792
do CPC e Súmula 375 do STJ, postular o reconhecimento da fraude à execução da operação, desde
que promova a respectiva averbação da restrição nos registros públicos dos bens/direitos cedidos.
Inclusive para fins de garantia do pagamento da multa civil, acréscimo patrimonial resultante da
atividade lícita, danos morais e sociais etc., rubricas não cobertas pela indisponibilidade do art. 16
da Lei 8.429/1992. Para análise mais aprofundada da questão, cf. GAJARDONI, Fernando da Fonseca;
CRUZ, Luana Pedrosa de Figueiredo; GOMES JR. Luiz Manoel; FAVRETO, Rogerio. Comentários à Nova
Lei de Improbidade Administrativa. 5. ed. São Paulo: RT, 2021, p. 295/300.
5
Conforme já anotei em outra seara, o poder geral de cautela do juiz (art. 798 do CPC) é “um poder
supletivo, ou melhor, integrativo da eficácia global da atividade jurisdicional”, com lastro constitu-
cional, decorrente da garantia de acesso à Justiça, que põe a salvo qualquer situação, mesmo não
prevista em lei, que demande tutela jurisdicional (art. 5.º, XXXV, da CF). Em nosso sentir, trata-se,
verdadeiramente, de norma processual em branco, que confere ao magistrado o poder de complementar
o comando normativo diante da situação de risco narrada e conceder tutelas cautelares não especi-
ficadas em lei. Não há como se negar, por isso, certa discricionariedade judicial quando se enfrenta
este tema (embora tal afirmação ainda esteja em fase de prematuro amadurecimento doutrinário).
A parte pode solicitar ao juiz qualquer providência garantidora da eficácia de um futuro ou concomi-
tante processo principal, mesmo que tal providência não tenha sido prevista. E o juiz pode concedê-la,
desde que presente a situação de risco narrada pelo autor (periculum in mora) e a plausibilidade do
direito invocado (fumus boni iuris)” (GAJARDONI, 2010, p. 535). Ver também: GAJARDONI, Fernando
da Fonseca; DELLORE, Luiz; ROQUE, Andre; OLIVEIRA JR., Zulmar. Comentários ao Código de Processo
Civil. 5 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2022, p. 440/442).
6
Marcelo de Figueiredo (2004) faz pertinente crítica ao legislador, por não ter previsto, paralelamente
ao afastamento cautelar do agente do cargo ou função do art. 20, §§, da LIA, a medida de suspensão
obrigatória do contrato administrativo lesivo ao patrimônio público ou à moralidade administrativa,
que a seu sentir seria necessária para resguardar o interesse público e a posição jurídica do Estado
quando o ato de improbidade se relacionar a vícios na contratação (Probidade Administrativa. 5. ed.
São Paulo: Malheiros, 2004. p. 309). Estamos plenamente de acordo com o autor quanto à ideia da
suspensão do contrato, mas não quanto à sua obrigatoriedade, que tanto quanto o afastamento cautelar
do agente público deve ficar a critério da autoridade judicial, conforme as particularidades do caso
concreto (possibilidade de êxito da medida). Em que pese ter a Lei 14.230/2021 perdido a oportunidade
de disciplinar a questão, não se vê óbice para que referida medida (suspensão do contrato adminis-
trativo) seja requerida pelo Ministério Público de modo atípico, com base no regramento geral sobre
o poder geral de cautela do juiz previsto nos arts. 300/301 do CPC. Inclusive há precedente do STJ
admitindo a concessão da medida atípica de suspensão do contrato administrativo, com base no Poder
Geral de Cautela do juiz, no âmbito da ação de improbidade administrativa (REsp n. 1.779.976/GO,
Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe de 3/5/2021).
590 Fernando da Fonseca Gajardoni
7
Interessante precedente do TJSP reconheceu, no regime do CPC/73, a possibilidade de o Ministério
Público, por meio de cautelar inominada (e satisfativa) de busca e apreensão, apreender documentos
e contratos da Prefeitura Municipal de Santa Bárbara D’Oeste, para: “Ação Cautelar. Do Ministério
Público para, em diligência no Paço Municipal, extrair cópias de documentos a instruir inquérito civil
de averiguação de ato de improbidade. Suficientemente fundamentada a concessão. Satisfativa a
medida. Descabida cognição exauriente a comprometer sua eficácia. Esgotou-se a finalidade da ação.
Eventuais danos ocasionados devem ser ressarcidos por via própria. Cabível condenação nas verbas
de sucumbência” (TJSP, Apelação n. 0011389.86.2010.8.26.0533, Rel. Evaristo Santos, 6.ª Câmara de
Direito Público, j. 17.12.2012).
8
No mesmo sentido, cf.: PAZZAGLINI FILHO, Marino. Lei de improbidade administrativa comentada. 3. ed.
São Paulo: Atlas, 2006, p. 191; BUENO, Cássio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual
civil. São Paulo: Saraiva, 2010, v. 2, t. 3, p. 189.
Afastamento cautelar do agente público na
“nova” Lei de Improbidade Administrativa 591
O Supremo Tribunal Federal, em 31 de agosto de 2022, compreendeu que os entes públicos que tenham
9
sofrido prejuízos em razão de atos de improbidade, também estão autorizados a propor ação e celebrar
acordos de não persecução civil em relação a esses atos. A decisão se deu no julgamento das Ações
Diretas de Inconstitucionalidade (ADIS) 7042 e 7043, em que os pedidos formulados pela Associação
Nacional dos Procuradores dos Estados e do Distrito Federal (Anape) e pela Associação Nacional dos
Advogados Públicos Federais (Anafe) foram julgados parcialmente procedentes. Entendeu-se que a
Constituição Federal prevê a legitimidade ativa concorrente e disjuntiva entre o Ministério Público e
os entes públicos lesados para a defesa do patrimônio púbico. Os titulares do direito – isto é, as pes-
soas jurídicas lesadas –, têm legitimação ordinária para defesa do seu patrimônio, sem prejuízo das
hipóteses de legitimação extraordinária, que é o caso do MP quando promove ação de improbidade para
pleitear um direito alheio. A supressão dessa legitimidade ordinária em prol da legitimação extraordi-
nária do MP, por norma infraconstitucional, feriria a lógica constitucional de proteção ao patrimônio
público. Consequência desse entendimento da Suprema Corte é que a Administração Pública, ao tomar
conhecimento do fato (por si ou por terceiros), pode ela mesmo propor as medidas necessárias a
bem da tutela da probidade administrativa (instauração de procedimento administrativo, pedido de
indisponibilidade ou de afastamento cautelar do agente do cargo, empregou ou função, propositura
da ação, celebração de ANPC, etc.), sem necessidade de submeter o caso ao Ministério Público como
originariamente imaginado no art. 7º da Lei 8.429/1992, na redação da Lei 14.230/2021, declarado
parcialmente inconstitucional, sem redução de texto, pela Suprema Corte.
592 Fernando da Fonseca Gajardoni
10
Cf.: STJ, AgRg na SLS 857/RJ, CE, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, j. 29.05.2008.
Afastamento cautelar do agente público na
“nova” Lei de Improbidade Administrativa 593
11
Contra o ato da autoridade administrativa que, com base na lei de regência dos processos administra-
tivos disciplinares, decide pelo afastamento cautelar do agente, tem-se admitido o manejo de medidas
judiciais, tais como o mandado de segurança (Lei 12.016/2009) ou da ação anulatória para reintegração
imediata no cargo, emprego ou função.
594 Fernando da Fonseca Gajardoni
12
De acordo com o STJ, “a perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos, como sanção
por improbidade administrativa, só se efetivam com o trânsito em julgado da sentença condenatória.
Assim, o afastamento cautelar do agente de seu cargo, previsto no parágrafo único, somente se legitima
como medida excepcional, quando for manifesta sua indispensabilidade. A observância dessas exigências
se mostra ainda mais pertinente em casos de mandato eletivo, cuja suspensão, considerada a tem-
porariedade do cargo e a natural demora na instrução de ações de improbidade, pode, na prática,
acarretar a própria perda definitiva. Nesta hipótese, aquela situação de excepcionalidade se configura
tão somente com a demonstração de um comportamento do agente público que, no exercício de suas
funções públicas e em virtude dele, importe efetiva ameaça à instrução do processo” (REsp 929.483/BA,
Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, j. 02.12.2008). No mesmo sentido já se decidiu que o art. 20,
parágrafo único, da LIA, na sua redação originária: “deve ser interpretada com temperamentos quan-
do se refere ao afastamento de prefeito municipal, uma vez que se volta contra agente munido de
mandato eletivo. Por essa razão, a decisão judicial que determina o afastamento de alcaide deve estar
Afastamento cautelar do agente público na
“nova” Lei de Improbidade Administrativa 595
14
“[…] a gravidade dos ilícitos imputados ao agente político e mesmo a existência de robustos indícios
contra ele não autorizam o afastamento cautelar, exatamente porque não é essa a previsão legal”
[…] “A decisão que determina o afastamento cautelar do agente político por fundamento distinto da-
quele previsto no Art. 20, parágrafo único, da Lei 8.429/1992, revela indevida interferência do Poder
Judiciário em outro Poder, rompendo o delicado equilíbrio institucional tutelado pela Constituição” […]
Surge, então, grave lesão à ordem pública institucional, reparável por meio dos pedidos de suspensão
de decisão judicial” […] “Para que seja lícito e legítimo o afastamento cautelar com base no Art. 20,
parágrafo único, da Lei 8.429/1992, não bastam simples ilações, conjecturas ou presunções. Cabe ao juiz
indicar, com precisão e baseado em provas, de que forma – direta ou indireta – a instrução processual
foi tumultuada pelo agente político que se pretende afastar” (STJ, AgRg na SLS 857/RJ, Corte Especial,
Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, j. 29.05.2008). No mesmo sentido: “a mera menção à relevância
ou posição estratégica do cargo não constitui fundamento suficiente para o respectivo afastamento
cautelar” (STJ, AgRg na SLS 1.558/AL, Rel. Min. Ari Pargendler, Corte Especial, DJe 6/9/2012).
15
Por falar em processo penal – embora não se negue a possibilidade de o ato de improbidade apurado
configurar, concomitantemente, ilícito penal – tem se entendido pela impossibilidade de aplicação do
art. 20, § 1º, da LIA, no âmbito criminal, determinando-se, no curso da investigação, o afastamento
cautelar do agente pela prática do crime. Não há previsão legal para de tal medida e, ademais, em tema
de direito sancionatório (penal ou administrativo), as regras prejudiciais ao acusado sempre devem
ser interpretadas restritivamente. Neste exato sentido cf. STJ, RHC 8.749/MG, 5.ª T., j. 05.08.1999,
rel. Min. Felix Fischer.
16
Ver: STJ, MC 7324/AL, Rel. Min. José Delgado, Primeira Turma, DJ 15.02.2004; STF, SL 1241 MC/CE,
Min. Dias Toffoli, DJ 29.08.2019.
17
Ver: STJ, AgRg na SLS 857/RJ, CE, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, j. 29.05.2008.
Afastamento cautelar do agente público na
“nova” Lei de Improbidade Administrativa 597
18
Inclusive há precedente do STJ determinando que se fixe prazo certo para o afastamento e a conclusão
das investigações, pois que “a prorrogação [do afastamento] não pode representar uma interferência
indevida no mandato eletivo” (AgRg na SLS 1957/PB, Rel. Ministro Francisco Falcão, Corte Especial,
j. 17.12.2014).
19
O TJSP já assinalou que o afastamento dos vereadores acusados da prática de improbidade de suas
funções só se justifica quando isso se mostrar necessário para preservar a instrução processual, de modo
que se a demanda já se encontra com a fase de dilação probatória encerrada, o pressuposto para
o afastamento cautelar desapareceu, devendo os agentes retornarem às suas funções (AgIn 236.991-5,
4.ª Câmara de Direito Público, Rel. Des. Soares Lima, j. 12.09.2002).
20
O STJ considerava razoável, antes da Lei 14.230/2021, o prazo de 180 dias para afastamento cautelar do
agente público (AgRg na SLS n. 1.957/PB, Rel. Min. Francisco Falcão, Corte Especial, DJe de 9.03.2015;
AgRg na SLS nº 1.498/RJ, Rel. Min. Ari Pargendler, Corte Especial, DJe de 26.03.2012).
21
Evidentemente, se a instrução se encerrar antes do prazo de 90 dias (ou de sua prorrogação), a medida
deve cessar e o agente retorna ao exercício do cargo, já que não mais subsiste a razão para a manu-
tenção da cautela.
598 Fernando da Fonseca Gajardoni
Conclusão
concreto, o prazo de 180 dias de afastamento pode se alongar, sendo o juízo natural da causa, em regra,
o mais competente para tanto (REsp n. 1.930.633/MG, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma,
DJe de 17.12.2021; AgRg na SLS nº 1.854/ES, Rel. Min. Felix Fischer, Corte Especial, DJe 21.3.2014;
AgInt na SLS 2.790/ES, Rel. Min. Humberto Martins, Corte Especial, DJe 14.12.2020). Não acreditamos
que tal entendimento deixe de ser aplicado no regime da Lei 14.230/2021.
Afastamento cautelar do agente público na
“nova” Lei de Improbidade Administrativa 599
Bibliografia
Introdução
Livre-Docente, Doutor e Mestre em Direito Processual Civil pela Faculdade de Direito da Pontifícia
1
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Professor de direito processual civil e de direito proces-
sual tributário na mesma Faculdade nos cursos de doutorado, mestrado, especialização e graduação.
Presidente do Instituto Brasileiro de Direito Processual (triênio 2022-2024) e membro do Instituto
Iberoamericano de Direito Processual e da Associação Internacional de Direito Processual. Autor,
dentre outros, do Manual do poder público em juízo, publicado pela Editora Saraiva.
602 Cassio Scarpinella Bueno
1. Considerações iniciais
2
Para uma exposição mais detalhada do assunto, cf.: BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado
de direito processual civil. São Paulo: Saraiva Jur, 2022. v. 1. p. 712; 716.
3
Voltei-me ao tema em: BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil.
São Paulo: Saraiva Jur, 2022. v. 1. p. 297; 302.
Tutela provisória na “ação de improbidade administrativa” 603
4
Até mesmo, mas não apenas, em função do disposto no caput do art. 7º da Lei n. 8.429/1992 que,
com a redação dada pela Lei n. 14.230/2021, passou a ser a seguinte: “Se houver indícios de ato de
improbidade, a autoridade que conhecer dos fatos representará ao Ministério Público competente,
para as providências necessárias.”.
5
Monografia fundamental sobre o tema é a de Rogéria Dotti, intitulada Tutela da evidência, que se
volta não apenas à dinâmica daquela modalidade de tutela provisória, mas também à demonstração
de sua razão de ser.
604 Cassio Scarpinella Bueno
6
O tema sempre despertou muito interesse doutrinário e jurisprudencial, mesmo antes das profundas
modificações trazidas pela Lei n. 14.230/2021. Apenas para fins ilustrativos, noticio, a propósito,
que orientando meu no Curso de Especialização em Processo Civil da PUC-SP/Cogeae redigiu mono-
grafia sobre o assunto, apresentada em 2019. Refiro-me ao trabalho de Lucas Pedroso Klain intitulado
A indisponibilidade de bens na ação de improbidade administrativa, publicado no vol. 307 da Revista de
Processo. Em obra coletiva, que tive oportunidade de coordenar, foram vários os autores que se voltaram
ao tema: Carlos Mário Velloso Filho, A indisponibilidade de bens na Lei n. 8.429/1992; Enrique Ricardo
Lewandowski, Comentários acerca da indisponibilidade liminar de bens prevista na Lei 8.429, de 1992;
Evane Beiguelman Kramer, Considerações acerca do sequestro de bens de que trata a Lei 8.429, de 1992:
enfoque da questão sob a ótica da execução da sentença condenatória; Flávio Cheim Jorge e Marcelo
Abelha Rodrigues, A tutela processual da probidade administrativa (Lei 8.429, de 1992); Flávio Luiz
Yarshell, Lei 8.429, de 1992: ação cautelar sem correspondente ‘ação principal’? e José Roberto dos
Santos Bedaque, Tutela jurisdicional cautelar e atos de improbidade administrativa.
Tutela provisória na “ação de improbidade administrativa” 605
7
Eis a tese então fixada: “É possível a decretação da ‘indisponibilidade de bens do promovido em Ação
Civil Pública por Ato de Improbidade Administrativa’, quando ausente (ou não demonstrada) a prática
de atos (ou a sua tentativa) que induzam a conclusão de risco de alienação, oneração ou dilapidação
patrimonial de bens do acionado, dificultando ou impossibilitando o eventual ressarcimento futuro”
(BRASIL, 2014) (Tema 701; STJ, 1ª Seção, REsp 1.366.721/BA, rel. p./acórdão Min. Og Fernandes,
j.m.v. 26-2-2014, DJe 19-9-2014). Desde então, a orientação vem sendo acolhida por ambas as
Turmas da 1ª Seção daquele TribunaL. Assim, v.g.: 2ª Turma, AgInt no AgInt no AREsp 660.851/ES, rel.
Min. Og Fernandes, j.un. 18-5-2021, DJe 9-6-2021; 1ª Turma, AgInt no AREsp 1.547.826/ES, rel. Min
Napoleão Nunes Maia Filho, j.un. 11-11-2020, DJe 17-11-2020 e 2ª Turma, AgInt no REsp 1.842.562/
MA, rel. Min. Herman Benjamin, j.un. 6-10-2020, DJe 18-12-2020.
8
É o que já sustentava no n. 14 do Capítulo 5 da Parte I do meu Curso sistematizado de direito pro-
cessual civil, vol. 2, tomo III. Também em tom crítico, era o entendimento de Fernando da Fonseca
Gajardoni, Periculum in mora presumido nas cautelares sobre bens na Lei de Improbidade Administrativa:
reflexões à luz do CPC/2015 e do tema 701 da jurisprudência do STJ, esp. p. 530/531, destacando,
ainda, a necessidade de ser observada, invariavelmente, a proporcionalidade da medida com os danos
descritos, p. 531/534.
606 Cassio Scarpinella Bueno
Para uma análise do alcance da decisão do STF na ADI 4296, dediquei artigo específico intitulado
9
10
Antes da Lei n. 14.230/2021, a 1ª Seção do STJ chegou a entendimento oposto em sede de recurso
especial repetitivo (REsp 1.862.792/PR, rel. Min. Manoel Erhardt, j.un. 25-8-2021, DJe 3-9-2021,
tema 1055), admitindo que a indisponibilidade recaia também sobre patrimônio capaz de arcar
com a multa civil, ainda que nas hipóteses alcançadas pelo art. 11 da Lei n. 8.429/1992 nas quais,
em rigor, não há dano ao erário. Eis seu enunciado: “É possível a inclusão do valor de eventual mul-
ta civil na medida de indisponibilidade de bens decretada na ação de improbidade administrativa,
inclusive naquelas demandas ajuizadas com esteio na alegada prática de conduta prevista no art. 11
da Lei 8.429/1992, tipificador da ofensa aos princípios nucleares administrativos” . Para a discussão
do assunto em sede de doutrina, v.: Fernando da Fonseca Gajardoni, Periculum in mora presumido
nas cautelares sobre bens na Lei de Improbidade Administrativa: reflexões à luz do CPC/2015 e do
tema 701 da jurisprudência do STJ, p. 538/540.
608 Cassio Scarpinella Bueno
11
Tratando do tema na perspectiva do art. 11 da Lei n. 8.429/1992, antes da Lei n. 14.230/2021,
v., a título ilustrativo: STJ, 1ª Turma, AgInt no REsp 1.748.560/SC, rel. Min. Benedito Gonçalves,
j.un. 10-3-2020, DJe 13-3-2020; STJ, 2ª Turma, AgInt no AREsp 1.402.103/SP, rel. Min. Assusete
Magalhães, j.un. 9-5-2019, DJe 20-5-2019; STJ, 1ª Turma, AgInt no REsp 1.500.624/MG, rel. Min. Sérgio
Kukina, j.un. 3-5-2018, DJe 5-6-2018 e STJ, 2ª Turma, AgRg no REsp 1.299.936/RJ, rel. Min. Mauro
Campbell Marques, j.un. 18-4-2013, DJe 23-4-2013.
Tutela provisória na “ação de improbidade administrativa” 609
12
A jurisprudência do STJ anterior à Lei n. 14.230/2021 era no sentido de admitir a indisponi-
bilidade do bem de família como fazem prova, por exemplo, os seguintes julgados: 2ª Turma,
REsp 1.837.848/SC, rel. Min. Francisco Falcão, j.un. 5-3-2020, DJe 10-3-2020; 1ª Turma, AgInt no
REsp 1.772.897/ES, rel. Min. Sérgio Kukina, j.m.v. 5-12-2019, DJe 16-12-2019; 2ª Turma, EDcl no
AgRg no REsp 1.351.825/BA, rel. Min. Og Fernandes, j.un. 22-9-2015, DJe 14-10-2015 e 1ª Turma,
AgRg no REsp 1.483.040/SC, rel. Min. Benedito Gonçalves, j.m.v. 1º-9-2015, DJe 21-9-2015.
13
Nesse sentido, v. Mauro Campbell Marques, A indisponibilidade de bens em ação civil de improbidade
administrativa: requisitos e limites na jurisprudência do STJ, p. 249/252 e Mirna Cianci e Rita Quartieri,
Indisponibilidade de bens na improbidade administrativa, p. 332.
610 Cassio Scarpinella Bueno
(art. 16, § 9), que admite sustentação oral naqueles recursos quando dirigi-
dos a decisões que versem acerca da tutela provisória, como é a hipótese
aqui referida (art. 937, VIII, do CPC). A expressa previsão do agravo de
instrumento especifica o genérico inciso I do caput do art. 1.015 do CPC,
e acaba sendo reiterada pelo disposto no § 21 do art. 17, incluído pela Lei
n. 14.230/2021. Diante da clareza do cabimento do recurso na espécie,
mostra-se desnecessária que tal demonstração busque fundamente no tema
988 da jurisprudência repetitiva do STJ que quer flexibilizar o cabimento
do agravo de instrumento em situações que não estão expressamente
previstas nos incisos do caput do art. 1.015 do CPC, mas cujo exame
imediato se justifique sob pena de inocuidade de sua reanálise somente
ao ensejo do julgamento da apelação (art. 1.009, §§ 1º e 2º, do CPC).
14
Nesse sentido, dando especial destaque à excepcionalidade da hipótese, v.: STJ, 2ª Turma, REsp
1.779.976/GO, rel. Min. Herman Benjamin, j.m.v 23-2-2021, DJe 3-5-2021; STJ, CE, AgInt na
SLS 2.627/MG, rel. Min. João Otávio de Noronha, j.un, 25-8-2020, DJe 27-8-2020 e STJ, 2ª Turma,
REsp 1.523.385/PE, rel. Min. Herman Benjamin, j.un. 13-9-2016, DJe 7-10-2016.
612 Cassio Scarpinella Bueno
Conclusão
15
Visão crítica do tema é a de Antonio Araldo Ferraz Dal Pozzo e Augusto Neves Dal Pozzo, Afastamento de
prefeito municipal no curso de processo instaurado por prática de ato de improbidade administrativa,
p. 79;88, e a de José Augusto Delgado, Improbidade administrativa: algumas controvérsias doutrinárias
e jurisprudenciais sobre a lei de improbidade administrativa, p. 274; 276.
Tutela provisória na “ação de improbidade administrativa” 613
Bibliografia
16
Foi o que a 1ª Seção do STJ fez, por exemplo, com sua Súmula 212 diante da decisão tomada pelo STF
na ADI 4296 que, no que importa para cá, declarou a inconstitucionalidade das vedações à concessão
de liminar em mandado de segurança nos casos do art. 7º, § 2º, da Lei n. 12.016/2009.
614 Cassio Scarpinella Bueno
Introdução
Doutorando em Direito na Universidade Nove de Julho (Uninove-SP). Mestre em Direito. Professor Universitário.
1
Destaca-se o 1º Núcleo de Estudos da Escola Paulista da Magistratura sobre a Nova Lei de Improbidade
2
Administrativa, coordenado pelo Desembargador Antonio Carlos Villen e pelo Juiz Alexandre de Mello
Guerra, em cujos encontros foi gestada a ideia desta obra coletiva.
618 Rogerio Bellentani Zavarize
3
ARAÚJO, José Henrique Mouta. Alterações na Lei de Improbidade e o CPC/15: necessário diálogo
entre as fontes. Consultor Jurídico, 9 nov. 2021. Disponível em: www.conjur.com.br/2021-nov-09/
mouta-alteracoes-lia-cpc15-dialogo-entre-fontes. Acesso em: 18 maio 2022.
4
TARUFFO, Michele. A prova. Tradução: João Gabriel Couto. São Paulo: Marcial Pons, 2014. p. 54.
5
ALVIM, Arruda. Manual de direito processual civil: teoria geral do Processo, Processo de Conhecimento,
Recursos, Precedentes. 18. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. p. 897.
Produção antecipada de prova na improbidade administrativa 619
6
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. 12. ed. Salvador: Juspodivm,
2020. p. 739.
620 Rogerio Bellentani Zavarize
único destinatário das provas é o juiz, já que elas são produzidas para
muito além da sua exclusiva convicção7.
Há um debate interessante sobre a natureza jurídica da produção
antecipada. Para alguns, trata-se de procedimento de jurisdição voluntária,
por não exigir afirmação de conflito em torno da produção da prova8,
e outros defendem que é contenciosa, pois insere-se no contexto de um
conflito9; e que pode ser uma ou outra, conforme o caso10.
As hipóteses previstas nos incisos I a III art. 381 do Código de Processo
Civil nos casos de improbidade administrativa devem ser tratadas separa-
damente, como proposto a seguir.
7
LANES, Júlio Cesar Goulart; POZATTI, Fabrício Costa. O juiz como o único destinatário da prova (?).
In: DIDIER JR., Fredie (coord.). Grandes temas do Novo CPC, v. 5: direito probatório. Salvador: Juspodivm,
2015, p. 101.
8
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: teoria da prova, direito probatório, decisão,
precedente, coisa julgada e tutela provisória / Fredie Didier Jr., Paula Sarno Braga e Rafael Alexandria
de Oliveira - 14 ed. - Salvador: Juspodivm, 2019. v. 2, p. 165.
9
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil, volume 2: cognição
jurisdicional (processo comum de conhecimento e tutela provisória). 18. ed. rev. atual. e ampl.
São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. p. 379.
10
NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil comentado. 19. ed.
rev. atual. e ampl. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020. p. 1053. No mesmo sentido: MARINONI,
Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Curso de processo civil: tutela dos direitos
mediante procedimento comum. 6 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020.
vol. 2., p. 318.
11
MIRANDA NETTO, Fernando Gama de. Produção antecipada da prova: natureza, cabimento e garantias
constitucionais do processo. In: CÂMARA, Alexandre Freitas; SILVA, Larissa Clare Pochmann da; ALMEIDA,
Marcelo Pereira de (org.). Temas contemporâneos de direito processual: reflexões sobre a vigência do
Código de Processo Civil de 2015. Londrina: Thoth, 2022. p. 307.
Produção antecipada de prova na improbidade administrativa 621
12
ALVIM, Arruda. Manual de direito processual civil: teoria geral do processo, processo de conhecimento,
recursos, precedentes. 18. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. p. 927.
13
CÂMARA, Alexandre Freitas. Manual de direito processual civil. Barueri: Atlas, 2022. p. 403. E-book.
14
Duas obras de referência e vanguarda sobre o tema: NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Ações probatórias
autônomas. São Paulo: Saraiva, 2008; e YARSHELL, Flávio Luiz. Antecipação da prova sem o requisito
da urgência e direito autônomo à prova. São Paulo: Malheiros, 2009.
15
ALVIM, Arruda. Manual de direito processual civil: Teoria geral do processo, processo de conhecimento,
recursos, precedentes. 18. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. p. 928.
16
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil, volume 2: cognição
jurisdicional (processo comum de conhecimento e tutela provisória). 18. ed. rev. atual. e ampl.
São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. p. 378.
622 Rogerio Bellentani Zavarize
17
FUX, Luiz; BODART, Bruno. Processo civil e análise econômica. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021.
p. 61. E-book.
18
FAGUNDES, Cristiane Druve Tavares. Breves reflexões sobre a produção antecipada da prova no NCPC.
In: DIDIER JR., Fredie (coord.). Novo CPC: doutrina selecionada, v. 3: provas. Salvador: Juspodivm,
2016. p. 632.
19
MIRANDA NETTO, Fernando Gama de. Produção antecipada da prova: natureza, cabimento e garantias
constitucionais do processo. In: CÂMARA, Alexandre Freitas; SILVA, Larissa Clare Pochmann da; ALMEIDA,
Marcelo Pereira de (org.). Temas contemporâneos de direito processual: Reflexões sobre a vigência do
Código de Processo Civil de 2015. Londrina: Thoth, 2022. p. 310.
20
DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processual
civil: teoria da prova, direito probatório, decisão, precedente, coisa julgada e tutela provisória. 14 ed.
Salvador: Juspodivm, 2019. v. 2, p. 167.
21
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. 12. ed. Salvador: Juspodivm,
2020. p. 740.
Produção antecipada de prova na improbidade administrativa 623
6. Depoimento pessoal
22
GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios. Processo de conhecimento e procedimentos especiais. In: GONÇALVES,
Marcus Vinícius Rios. Curso de direito processual civil. 16. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. v. 2, p. 105.
23
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil, volume 2: cognição
jurisdicional (processo comum de conhecimento e tutela provisória). 18. ed. rev. atual. e ampl.
São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. p. 381.
624 Rogerio Bellentani Zavarize
pelo autor da ação da presença do dolo exigido para a configuração dos atos
ímprobos (art. 1º, §§1º e 2º da Lei nº 8.249/1992, com a redação atual).
Mas sempre com limitação bem clara: só servirá para esclarecer
fatos, sem deles extrair previa e antecipadamente a pena de confissão,
que ademais, demanda valoração da prova, o que é vedado no procedi-
mento da antecipação (art. 382, §2º do Código).
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça (1ª Câmara de Direito Público). Agravo de Instrumento
24
2048366-70.2022.8.26.0000; Relator: Des. Vicente de Abreu Amadei, 19 abr. 2022. Disponível em:
https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/consultaCompleta.do?f=1. Acesso em: 30 set. 2022.
Produção antecipada de prova na improbidade administrativa 625
como direito do réu. Quando for dele a iniciativa, deve ser autorizada a
antecipação, pois tem assegurado o direito de ser interrogado sobre os
fatos e isso se trata de “explícita garantia”, podendo dele abrir mão se
quiser25. O contrário, não.
Imagine-se a hipótese de o investigado, provável futuro réu, ser porta-
dor de problema de saúde que, em tese, possa dificultar seu interrogatório
mais adiante, no curso da ação principal por improbidade administrativa.
Se lhe é assegurado o direito de ser interrogado na demanda, também
deve ser assegurada a correlata antecipação.
8. Prova testemunhal
9. Prova pericial
26
DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processual
civil: teoria da prova, direito probatório, decisão, precedente, coisa julgada e tutela provisória. 14. ed.
Salvador: Juspodivm, 2019. v. 2, p. 174.
27
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil, volume 2: cognição
jurisdicional (processo comum de conhecimento e tutela provisória). 18. ed. rev. atual. e ampl.
São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. p. 381.
Produção antecipada de prova na improbidade administrativa 627
28
DAVID, Tiago Bitencourt de. Dúvidas e críticas sobre os (ab)usos da ação de produção antecipada de
provas. Consultor Jurídico, 23 dez. 2021. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2021-dez-23/
opiniao-abusos-acao-producao-antecipada-provas. Acesso em: 21 jun. 2022.
29
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil, volume 2: cognição
jurisdicional (processo comum de conhecimento e tutela provisória). São Paulo: Thomson Reuters
Brasil, 2019. p. 386; DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso
de direito processual civil: teoria da prova, direito probatório, decisão, precedente, coisa julgada e
tutela provisória. 14 ed. Salvador: Juspodivm, 2019. v. 2, p. 164.
30
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça (13ª Câmara de Direito Público). Apelação Cível 1003744-12.2017.8.26.0318.
Relatora: Des. Isabel Cogan, 23 jun. 2020.
628 Rogerio Bellentani Zavarize
31
GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios. Processo de conhecimento e procedimentos especiais. In: GONÇALVES,
Marcus Vinícius Rios. Curso de direito processual civil. 16. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020.
v. 2, p. 105; FAGUNDES, Cristiane Druve Tavares. Breves reflexões sobre a produção antecipada da
prova no NCPC. In: DIDIER JR., Fredie (coord.). Novo CPC: doutrina selecionada, v. 3: provas. Salvador:
Juspodivm, 2016. p. 635.
32
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Marcelo Pereira de (org.). Temas contemporâneos de direito processual: reflexões sobre a vigência do
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33
OLIVEIRA, Marco Aurélio Bellizze. Ação autônoma de exibição de documentos: comentários ao julga-
mento do Recurso Especial nº 1.803.251/SC. In: OLIVEIRA, Marco Aurélio Bellizze; RODRIGUES, Marco
Antonio; CABRAL, Thiago Dias Delfino. Processo civil empresarial. São Paulo: Juspodivm, 2022. p. 365.
Produção antecipada de prova na improbidade administrativa 629
Considerações finais
34
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça (3ª Câmara de Direito Público). Agravo de Instrumento 2021197-11.2022.8.26.0000.
Relator: Des. Camargo Pereira, 6 set. 2022.
35
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça (9ª Câmara de Direito Público). Agravo de Instrumento 2212131-91.2020.8.26.0000.
Relator: Des. Décio Notarangeli, 25 set. 2020.
36
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça (6ª Câmara de Direito Público). Apelação Cível 1048677-26.2016.8.26.0053.
Relatora: Des. Maria Olívia Alves, 4 maio 2021.
630 Rogerio Bellentani Zavarize
Referências bibliográficas
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça (6ª Câmara de Direito Público). Apelação Cível
1048677-26.2016.8.26.0053. Relatora: Des. Maria Olívia Alves, 4 maio 2021.
Disponível em: https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/consultaCompleta.do?f=1.
Acesso em: 27 set. 2022.
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça (9ª Câmara de Direito Público). Agravo
de Instrumento 2212131-91.2020.8.26.0000. Relator: Des. Décio
Notarangeli, 25 set. 2020. Disponível em: https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/
consultaCompleta.do?f=1. Acesso em: 27 set. 2022.
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça (13ª Câmara de Direito Público). Apelação
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Disponível em: https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/consultaCompleta.do?f=1.
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