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CONCEITOS CORRELATOS: dever, obrigação, ônus, responsabilidade

DEVER
Para Maria Helena Diniz, o dever jurídico pode ser conceituado como “o
comando imposto, pelo direito objetivo, a todas as pessoas para observarem
certa conduta, sob pena de receberem uma sanção pelo não cumprimento do
comportamento prescrito pela norma jurídica” (Curso…, p. 27).

Para Orlando Gomes o dever jurídico “é a necessidade que corre a todo o


indivíduo as ordens ou comandos do ordenamento jurídico, sob pena de
incorrer numa sanção, como o dever universal de não perturbar o direito do
proprietário” (Obrigações…, 1997, p. 6). Mais à frente o autor baiano dá outros
exemplos de dever jurídico:

OBRIGAÇÃO
Conforme salientam Giselda Hironaka e Renato Franco “em sentido mais
estrito, situar-se-á a ideia de obrigação, referindo-se apenas ao dever oriundo à
relação jurídica creditória (pessoal, obrigacional). Mas não apenas isto. Na
obrigação, em correspondência a este dever jurídico de prestar (do devedor),
estará o direito subjetivo à prestação (do credor), direito este que, se violado –
se ocorrer a inadimplência por parte do devedor –, admitirá, ao seu titular (o
credor), buscar no patrimônio do responsável pela inexecução (o devedor) o
necessário à satisfação compulsória do seu crédito, ou à reparação do dano
causado, se este for o caso” (Direito das obrigações…, 2008, v. 2, p. 32).

Ensina Orlando Gomes que “a obrigação é uma relação jurídica, do lado


passivo do direito subjetivo, consistindo no dever jurídico de observar certo
comportamento exigível pelo titular deste” (Obrigações…, 1997, p. 6). A
obrigação, conforme aqui já foi definida, tem também como característica um
caráter transitório, que, às vezes, não é observado no dever jurídico.

RESPONSABILIDADE
Concebido no sentido obrigacional, caso o dever seja descumprido, surge
dessa conduta a responsabilidade = correspondendo a sanções para aquele
que desrespeitou a ordem determinada. Dessa forma, as consequências da
inobservância do dever são amplas: tanto para aquele que não o atendeu
quanto para os demais envolvidos na relação jurídica.

DEVER X OBRIGAÇÃO
Desse modo, o dever jurídico engloba não só as relações obrigacionais ou de
direito pessoal, mas também aquelas de natureza real, relacionadas com o
Direito das Coisas. Também podem ter por objeto o Direito de Família, o Direito
das Sucessões, o Direito de Empresa e os direitos da personalidade. Mantém o
dever jurídico relação não só com o Direito Civil ou Direito Privado, mas com
todos os outros ramos jurídicos.

ÔNUS
Para Maria Helena Diniz, “consiste na necessidade de observar determinado
comportamento para a obtenção ou conservação de uma vantagem para o
próprio sujeito e não para a satisfação de interesses alheios” (Curso…, 2004, p.
28).

Já para Orlando Gomes, o ônus jurídico é “a necessidade de agir de certo


modo para a tutela de interesses próprios” (Obrigações…, 1997, p. 6). São
exemplos de ônus, para o autor baiano: “levar o contrato ao registro de títulos e
documentos para ter validade perante terceiro; inscrever o contrato de locação
no registro de imóveis para impor sub-rogação ao adquirente do prédio”. Pode-
se afirmar, nesse sentido, que o desrespeito ao ônus gera consequências
somente para aquele que o detém. Cite-se, na ótica processual, o ônus de
provar, previsto no art. 333, I, do CPC/1973 e no art. 373, I, do CPC/2015.

DEVER X ÔNUS
Francisco Amaral aponta muito bem a diferença entre dever e ônus, quando
ensina que “a diferença entre o dever e o ônus reside no fato de que, no
primeiro, o comportamento do agente é necessário para satisfazer interesse do
titular do direito subjetivo, enquanto que no caso do ônus o interesse é do
próprio agente. No dever, o comportamento do agente vincula-se ao interesse
do titular do direito, enquanto que no ônus esse comportamento é livre, embora
necessário por ser condição de realização do próprio interesse. O ônus é, por
isso, o comportamento necessário para conseguir-se certo resultado, que a lei
não impõe, apenas faculta. No caso do dever, há uma alternativa de
comportamento, um lícito (o pagamento, por exemplo) e outro ilícito (o não
pagamento); no caso do ônus, também há uma alternativa de conduta, ambas
lícitas, mas de resultados diversos” (Direito civil…, 2004, p. 196).

A encerrar a presente abordagem, transcrevemse as palavras de Orlando


Gomes, que com maestria aponta as diferenças entre todos os conceitos aqui
estudados:
“O dever jurídico pode ser geral ou especial conforme se concentra numa certa
pessoa ou se refira à universalidade das pessoas. Caracterizase por exigir um
comportamento (ativo ou passivo) do sujeito em favor de terceiro, sob pena de
sanção.

DIREITO POTESTATIVO
Para Francisco Amaral “direito potestativo é o poder que a pessoa tem de influir
na esfera jurídica de outrem, sem que este possa fazer algo que não se
sujeitar. (…) Opera na esfera jurídica de outrem, sem que este tenha algum
dever a cumprir” (Direito civil…, 2004, p. 196). Para Giselda Hironaka e Renato
Franco, isso significa que a parte nem convencionou com o titular do direito
potestativo, e nem mesmo se sujeitou ao seu poder, como ocorre em outras
estruturas jurídicas. Mas o exercício do direito potestativo pelo seu titular fará
com que aquele outro se sujeite às consequências advindas da alteração
produzida, em sua própria esfera jurídica (HIRONAKA, Giselda; FRANCO,
Renato. Direito das obrigações…, 2008, v. 2, p. 33).

Já na sujeição jurídica, o sujeito passivo nada tem de fazer (nem ativa, nem
passivamente) para satisfazer o interesse do sujeito ativo. A pessoa tem que se
sujeitar àquela situação, como indica a sua própria denominação. Em suma, a
parte que tem contra si a sujeição, está encurralada. A título de exemplo, em
reforço, podem ser citados os casos da existência de impedimentos
matrimoniais (art. 1.521 do CC), as causas de anulabilidade do casamento (art.
1.550 do CC) e a exigência legal para certos atos, de outorga do outro consorte
(art. 1.647 do CC), sob pena, na última hipótese, de anulabilidade do ato ou
negócio praticado (art. 1.649 do CC).

DIREITOS SUBJETIVOS X POTESTATIVOS


é fundamental frisar que diferem substancialmente entre si os direitos
subjetivos dos chamados direitos potestativos, eis que àqueles contrapõe-se
um dever, enquanto a estes corresponde apenas um estado de sujeição.
Esquematizando:
DIREITOS SUBJETIVOS DEVER
DIREITOS POTESTATIVOS SUJEIÇÃO

No ônus jurídico, finalmente, há necessidade de ação do sujeito, mas não em


benefício de outrem, e, sim, no próprio interesse do agente.
Em suma, o dever e a sujeição atuam em função dos interesses de outrem,
enquanto o ônus opera em prol de interesse próprio.

O direito das obrigações cuida apenas de uma das espécies do dever jurídico,
isto é, daqueles que provocam um vínculo especial entre pessoas
determinadas, dando a uma delas o poder de exigir da outra uma prestação de
natureza patrimonial. A obrigação, em sentido técnico, portanto, pertence à
categoria dos deveres jurídicos especiais ou particulares (Harm Peter
Westermann, Código Civil Alemão – Direito das Obrigações – Parte Geral,
Trad. Bras., Porto Alegre: Fabris, 1983, § 1.º, p. 15)” (GOMES, Orlando.
Obrigações…, 1997, p. 7).

EM RESUMO:

Dever jurídico corresponde à necessidade de comportar-se de certa maneira.


Contrapõe-se ao direito subjetivo. O seu desrespeito gera consequências
amplas para aquele que o descumpriu e para a outra parte.

Responsabilidade: surge em decorrência do descumprimento do dever, em


sentido amplo.
Ônus: dá a ideia de fardo, encargo. Não atendido o ônus, as consequências
serão somente para a parte relacionada ao instituto. Como opera em interesse
próprio, aquele que não o exerce é quem sofre a consequência.

Direito potestativo: “é o poder que a pessoa tem de influir na esfera jurídica de


outrem, sem que este possa fazer algo que não se sujeitar” (Francisco Amaral).

Estado de sujeição: conceito relacionado com o direito potestativo. Não há


escolhas, a pessoa tem que se sujeitar àquela situação.

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