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Referência Bibliográfica:

Projeto de lei nº 4.441/2020. Disciplina o procedimento da Nova Lei de Ação Civil Pública.
Informações do Autor:
Sr. Paulo Teixeira
Breve Resumo da Obra:
Projeto de Lei que disciplina novo procedimento para Ações Civis Públicas. Possui 61
artigos, divididos em 6 capítulos.
O Primeiro capítulo trata das disposições gerais, definindo a aplicabilidade dessa lei para os
procedimentos especiais de tutela coletiva, desde que suas disposições sejam compatíveis com
eles, além de definir a aplicação subsidiária do Código de Processo Civil. Define direitos
difusos, coletivos e individuais homogêneos e a possibilidade de que exista ação civil pública
passiva, contra determinada coletividade. Ainda, define que o objeto da Ação Civil Pública
pode ser a prevenção ou reparação ao meio-ambiente, consumidor, patrimônio público e
social, ordem urbanística, honra, dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos, bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, bem como qualquer outro
direito difuso, coletivo ou individual homogêneo de qualquer natureza.
Ressalta a impossibilidade de utilizar esse tipo de ação para suscitar inconstitucionalidade de
lei como questão principal.
O Artigo 4º estabelece prioridade altíssima para tramitação, ressalvando apenas o
processamento de Habeas Corpus com réu preso.
Uma questão curiosa é a de que o projeto legitima órgãos públicos para a propositura, além de
comunidades indígenas e quilombolas. Além disso, exige pertinência temática para
ajuizamento por entidades e órgãos.
O segundo capítulo trata sobre o procedimento a ser adotado. A competência tem a ver com o
dano sofrido pelo bem jurídico coletivo. Se é de caráter nacional, será competente o foro da
capital do Estado ou do Distrito Federal. Se é de âmbito Estadual, é competente o foro da
capital do Estado. Se for de âmbito local, será competente o foro do local onde ocorreu o
dano. Prevê que a litispendência apenas ocorrerá se houver mesmo pedido, causa de pedir e
grupo protegido, ainda que sejam diferentes os autores ou o tipo de procedimento.
Estabelece requisitos especiais para a petição inicial, além dos previstos no artigo 319 do
CPC, incumbindo o autor de identificar o grupo atingido ou os critérios para identificação de
seus membros, as razões para a legitimação dos autores e demonstrar, mediante certidão, a
inexistência de outra ação civil pública com o mesmo pedido, causa de pedir e interessados
registrada no cadastro do CNJ para ações coletivas.
Permite cumulação, no mesmo processo, de pedido de tutela de direitos difusos, coletivos e
individuais homogêneos.
A homologação de desistência da ação somente poderá ser concedida se houver fundamento
adequado. Não pode haver desistência imotivada e, em caso de abandono, o juiz deverá dar
ciência ao grupo e intimar outros legitimados para assumirem a ação.
Prevê que a propositura da ação civil pública interrompe a prescrição das pretensões coletivas
e individuais baseadas no mesmo conjunto de fatos.
A agência, o órgão ou o ente regulador será necessariamente citado para, querendo, intervir no
processo, quando a decisão interferir em área por ele regulada. É obrigatória a atuação do
Ministério Público como custus legis. Além disso, qualquer legitimado poderá propor ação
coletiva de produção antecipada da prova, que terá por objeto fato que sustente pretensões
difusas, coletivas ou individuais homogêneas.
Não pode haver concessão de tutela antecipada em caráter liminar inaudita altera pars
quando o réu for pessoa jurídica de direito público ou concessionária de serviço público,
devendo o mesmo se pronunciar em audiência de justificação designada ou por escrito no
prazo de três dias.
O terceiro capítulo trata do inquérito civil, estabelecendo que o Ministério Público poderá
instaurar ou requisitar que outra entidade, órgão público ou particulares prestem informações,
certidões e realizem exames ou perícias no prazo que assinalar, desde que não seja inferior a
10 dias úteis. Prevê, ainda, que no decorrer do inquérito civil poderão ser celebrados negócios
jurídicos de direito material ou processual, ainda que não gerem o arquivamento total ou
parcial do procedimento. Só poderá ser utilizado como prova o inquérito civil em casos em
que tenha sido oportunizado o contraditório.
O capítulo quatro trata da autocomposição coletiva, afirmando que o compromisso de
ajustamento de conduta pode ter como objeto a interpretação do direito para o caso concreto e
que eventual celebração não impede, necessariamente, a responsabilização administrativa ou
penal pelo mesmo fato. Inclusive os titulares de direitos individuais em circunstâncias
equivalentes, ainda que não associados às entidades autoras, poderão aderir ao acordo. As
partes requerer ao juiz a interrupção do prazo para a contestação, por prazo não superior a três
meses, ou a suspensão do processo por até seis meses se houver possibilidade de solução
consensual parcial ou total do conflito. Qualquer dos colegitimados à defesa judicial dos
direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos poderá promover a execução do
compromisso de ajustamento de conduta ou acordo coletivo, mesmo que celebrado por outro
colegitimado, contudo, a execução do acordo coletivo pelo Ministério Público, caso não tenha
sido por ele celebrado, será subsidiária e dependerá da demonstração do interesse social,
sendo vedada, em qualquer caso, a execução de indenizações individuais, independentemente
do valor.
O capítulo cinco fala da reparação fluida e dos fundos criados para destinação das verbas
indenizatórias. Reparação fluida é a determinação de que sejam reparados ou incrementados
bens distintos dos prejudicados ou o meio ambiente em localidade distinta da lesada quando
essa alteração resultar em maior benefício. Ainda, pode consistir na distribuição de bens ou
valores ao grupo lesado ou na adoção de comportamentos que beneficiem seus integrantes.
Por fim, pode ser determinada como medida de reparação fluida a redução de preço do
produto ou serviço por prazo determinado ou a limitação da quantidade de itens
comercializados. Importante frisar que tais medidas não podem resultar em lucro ao causador
do dano.
Nas ações que versem sobre direitos individuais homogêneos a reparação dos prejudicados
individualmente é preferencial.
O capítulo seis trata da conversão de ação individual em ação coletiva, caso tal medida seja
requerida por um legitimado para a propositura da ação civil pública cabível. Tal
transformação não poderá ocorrer em se tratando de direitos individuais homogêneos. O autor
originário poderá ser litisconsorte do legitimado que requerer a conversão. Nesse caso, se
houver pedido de natureza estritamente individual, correrá em autos apartados.
Caso o autor originário não concorde, a decisão de conversão será impugnável por Agravo de
Instrumento. Tal conversão impede o ajuizamento de ações individuais.
O último capítulo trata de disposições finais e transitórias.
Citações Literais do Texto:
Páginas Cópia literal do texto: Palavras-chaves:
P. Art. 6. São legitimados para a propositura da ação Legitimidade.
civil pública: I – o Ministério Público; II – a
Defensoria Pública; III – a União, os Estados, os
Municípios e o Distrito Federal; IV – as entidades
e órgãos da Administração Pública, direta ou
indireta, especificamente destinados à defesa dos
interesses e direitos protegidos por esta lei; V – as
associações civis que incluam, entre seus fins
institucionais, a defesa dos direitos protegidos por
esta lei, sendo indispensável a prévia autorização
estatutária ou assemblear; VI – as comunidades
indígenas ou quilombolas, para a defesa em juízo
dos direitos dos respectivos grupos.
P. Art. 7. É competente para processar e julgar a ação Competência.
civil pública: I – o foro do lugar onde ocorreu ou
deva ocorrer a ação, omissão ou o dano, para os
casos de ilícito ou dano de âmbito local; II – o foro
da capital do Estado, para os casos de ilícito ou
dano de âmbito estadual; III – o foro da capital do
Estado ou do Distrito Federal, para os casos de
ilícito ou dano de âmbito nacional.
P. §4o Preenchidos os pressupostos para a sua Declínio de competência.
concessão, o juízo deliberará sobre a tutela
provisória antes de declinar da competência.
P. Art. 8 Uma ação civil pública induzirá Litispendência.
litispendência para outra ação civil pública ou ação
coletiva que tenham o mesmo pedido, causa de
pedir e grupo protegido, ainda que diferentes os
autores ou o tipo de procedimento.
P. Art. 11 Além dos requisitos previstos no art. 319 Requisitos especiais da
do Código de Processo Civil, o autor terá de, na Petição Inicial.
petição inicial da ação civil pública: I – especificar
o grupo cujo direito se busca reconhecer e, quando
possível, os critérios para identificação dos seus
membros; II – demonstrar as razões pelas quais é
um legitimado adequado para a condução do
processo coletivo; III – demonstrar, mediante
certidão, que não há ação civil pública com o
mesmo pedido, causa de pedir e interessados
registrada no cadastro de ações coletivas do
Conselho Nacional de Justiça
P. Art. 12 A desistência da ação civil pública Desistência motivada.
somente será homologada se houver fundamento
adequado. Art. 13 Em caso de desistência
infundada ou abandono, o juiz dará ciência ao
grupo e intimará outros legitimados para assumir a
condução do processo. Parágrafo único. Não
havendo legitimado adequado interessado em
assumir a causa e ouvido o Ministério Público, o
processo será extinto sem resolução de mérito. Art.
14 A ação civil pública não induz litispendência
para as ações individuais baseadas no mesmo
conjunto de fatos.
P. Art. 19 Na decisão de saneamento e organização Saneamento.
do processo, o juiz deverá, sem prejuízo de outras
medidas necessárias de acordo com as
circunstâncias do caso concreto: I - delimitar o(s)
grupo(s) titular do direito(s) objeto do processo; II
- definir, quando necessário, os pressupostos para
que alguém seja considerado membro do grupo; III
- controlar a adequação da legitimação do autor e a
necessidade de ampliação do rol de autores, no
caso de haver muitos grupos ou subgrupos; IV -
identificar as principais questões de fato e de
direito a serem discutidas no processo; V –
verificar se foi juntada aos autos a documentação
de prévia atividade probatória, como a resultante
de produção antecipada de prova e de inquérito
civil ou outros procedimentos administrativos
investigatórios; VI - definir os poderes do amicus
curiae e de eventuais terceiros na decisão que
solicitar ou admitir a sua intervenção, bem como a
necessidade de realização de audiência ou consulta
públicas, fixando-lhes as respectivas regras; VII -
definir as regras sobre participação dos membros
do grupo como terceiros intervenientes em
audiências públicas ou mesmo durante os demais
atos processuais; VIII - proceder imediatamente ao
juízo de admissibilidade dos pedidos formulados,
sobretudo em razão da fixação da competência e
da legitimidade, com a determinação dos ajustes
necessários, tais como ampliação, redução ou
desmembramento dos pedidos, delimitação dos
beneficiários do processo, dentre outros.
P. Art. 22 Além dos elementos e requisitos gerais, a Sentença.
sentença deve: I – ser, preferencialmente, líquida,
ainda que o pedido tenha sido genérico; II – definir
claramente, quando possível, o grupo e os
pressupostos para identificação dos membros do
grupo
P. Art. 33 Caso o compromisso de ajustamento de Termo de ajustamento de
conduta ou o acordo coletivo sejam celebrados no conduta.
decorrer de processo judicial, qualquer
colegitimado que não integre o processo poderá
recorrer como terceiro contra a decisão
homologatória. § 1º. Havendo a possibilidade de
solução consensual, parcial ou total, da
controvérsia coletiva, poderão as partes requerer
ao juiz a interrupção do prazo para a contestação,
por prazo não superior a três meses, ou a
suspensão do processo por até seis meses. [...] Art.
35 O acordo coletivo ou compromisso de
ajustamento de conduta pode ser: I - impugnado
por ação rescisória, caso tenham sido
homologados por decisão transitada em julgado; II
- por ação autônoma de invalidação, nos termos da
lei civil, com intervenção obrigatória do Ministério
Público, nos demais casos. Parágrafo único. Os
colegitimados que não tenham participado do
compromisso ou do acordo coletivo não poderão
desconsiderar seus termos, enquanto não
desconstituídos por decisão judicial.
Comentários Pessoais:
Alguns fatores me chamaram a atenção, dentre eles a previsão de que a Ação Civil Pública
poderia ter por objeto a reparação de dano moral coletivo, a previsão de que a decisão
provisória ou definitiva dessa ação não pode determinar a suspensão da vigência da lei ou ato
normativo, apenas se limitando a afastá-la do caso concreto.
Uma disposição bem interessante, que considero boa, é a de que a Ação Civil Pública será,
preferencialmente, tomada como caso representativo de controvérsia em incidente de
julgamento de casos repetitivos.
A ausência de legitimidade processual não gera a extinção da ação, apenas faz com que o juiz
tenha que promover a sucessão processual, dando ciência ao grupo legitimado e intimando o
Ministério Público e outros grupos para assumirem a condução do processo.
Em caso de ser necessário declinar da competência, o juízo deverá decidir sobre a tutela
provisória antes do declínio.
Ainda, há previsão de cooperação entre juízos para prestar uma tutela mais eficiente ao bem
coletivo.
O projeto de lei, em geral, é bom. O único ponto que tem alto potencial de ser utilizado em
prejuízo da coletividade é a possibilidade de que se firme acordo de ajustamento de conduta
em casos de improbidade administrativa.
O artigo 35 prevê uma espécie de efeito extra partes para o termo de ajustamento de conduta
homologado, prevendo que os colegitimados que não tenham participado do compromisso
não poderão desconsiderar seus termos enquanto não desconstituídos judicialmente.
O projeto de lei retira, um pouco, a legitimidade universal do Ministério Público e não
coaduna com a ideia dos anteprojetos de código de processo civil coletivo de que tal órgão
tem o dever de executar as ações coletivas em caso de desídia dos legitimados. Ainda, há
vedação às execuções individuais de termo de ajustamento de conduta. Tais considerações
podem prejudicar a efetividade da ação civil pública.
A conversão de ação individual em coletiva a pedido de legitimado é questão complexa,
também, já que impede o ajuizamento de ações individuais e seu deslinde pode ser muito mais
moroso. Parece obrigar o autor originário a permanecer na ação coletiva, contra sua vontade.
Tal ponto é negativo no projeto.
Nome do Aluno: Maria Fernanda Gonçalves Ribeiro Ventura

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