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ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CURSO REGULAR - DIREITO PROCESSUAL CIVIL


PROCEDIMENTOS ESPECIAIS NO CPC 2015
CPIII B 22022 Dia 08/11/2022

PROCESSOS COLETIVOS:
NOÇÕES GERAIS
Prof. FELIPPE BORRING ROCHA
FELIPPE BORRING ROCHA
Mestre (UNESA) e Doutor (UFF). Professor de Direito
Processual Civil da UFRJ e de cursos de pós-graduação e
preparatórios para concursos públicos. Articulista, palestrante e
autor, dentre outros, dos livros Teoria Geral dos Recursos Cíveis,
Manual dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Princípio da
Jurisdição Equivalente. Membro do IAB, do IBDP e dos
Conselhos Editoriais da Revista de Direito da EMERJ e da
UNINOVE. Defensor Público do Rio de Janeiro.
Blog: Processo Civil em Movimento

Redes sociais:
Facebook: Professor Felippe Borring
Twitter: @felippeborring
Instagram: @felippe_borring
BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, Gregório Assagra. Direito processual
coletivo brasileiro: um novo ramo do direito processual.
São Paulo: Saraiva.
ARENHART, Sérgio Cruz; OSNA, Gustavo. Curso de
processo civil coletivo. Revista dos Tribunais.
BASTOS, Fabrício. Curso de processo coletivo.
Indaiatuba: Foco.
BENJAMIN, Antonio Herman V.; MARQUES, Claudia
Lima; BESSA Leonardo Roscoe. Manual de Direito do
Consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais.
DIDIER JR, Fredie; ZANETI JR, Hermes. Curso de
direito processual civil. vol. IV, Salvador: Juspodivm.
LEONEL, Ricardo de Barros. Manual do processo
coletivo. São Paulo: Malheiros.
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de
processo coletivo: volume único. Salvador: Juspodivm
SENTENÇA COLETIVA
Tipos de pedidos
A tutela coletiva pode mirar tanto uma obrigação
pecuniária (ação indenizatória), como uma obrigação de
fazer, não fazer ou dar (ação mandamental). Para tanto, é
preciso conjugar os arts. 1º e 3º da LACP, com os arts.
536 a 538 do CPC.
Bens jurídicos tutelados
A ação coletiva, em tese, é cabível para tutelar todos os
interesses difusos, coletivos (art. 1º, IV, do LACP) e
individuais homogêneos (art. 21 da LACP), exceto as
questões tributárias e relativas à fundos públicos, cuja
constitucionalidade é controvertida (STF – RTJ
173/288).
Liquidez da sentença
No caso de direitos individuais homogêneos, prevê o art.
95 do CDC que “a condenação será genérica, fixando a
responsabilidade do réu pelos danos causados”. Nada
impede, entretanto, que o julgador fixe, desde logo, o
valor a ser executado ou determine as regras para fazê-lo,
para evitar a necessidade da liquidação de sentença
(TRF2 – AC 2005.51.01.016458-0).
Sistema de isenção de encargos processuais (custas,
taxas e honorários)
Em regra, nas ações coletivas não haverá adiantamento
de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer
outras despesas, nem condenação da associação autora,
salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado,
custas e despesas processuais (art. 18 da LACP e art. 87
do CDC);
Obs.: Apesar dos dispositivos legais, várias decisões
exigem o recolhimento de encargos processuais aos
legitimados coletivos, notadamente no caso de perícias
de valor elevado. Os tribunais superiores, no entanto,
têm reafirmado a isenção (STF – Rcl 15.604/SP);
Obs.: O art. 85, § 7º, do CPC/2015 não afasta a
aplicação do entendimento consolidado na Súmula 345
do STJ, de modo que são devidos honorários
advocatícios nos procedimentos individuais de
cumprimento de sentença decorrente de ação coletiva,
ainda que não impugnados e promovidos em
litisconsórcio (REsp 1.648.238/RS).
Responsabilidade solidária e desconsideração da
personalidade jurídica
Nas ações coletivas, a litigância de má-fé gera a
responsabilização solidária das associações civis e seus
diretores (art. 17 da LACP). Trata-se de hipótese de
desconsideração da personalidade opi legis. Como
retrata regra de restrição de direitos, não tem sido
admitida a sua aplicação às demais ações coletivas, fora
do sistema LACP-CDC.
COISA JULGADA COLETIVA
A autonomia da coisa julgada coletiva
A coisa julgada coletiva e coisa julgada individual
coexistem em dois planos distintos da jurisdição. De
fato, a coisa julgada coletiva afeta a esfera coletiva da
jurisdição, embora os efeitos da decisão coletiva possam
ser aproveitados pelos interessados ordinários na esfera
individual da jurisdição (art. 103 e 104 do CDC);
A coisa julgada individual, por sua vez, pode fazer com
que o interessado ordinário fique numa situação diferente
dos demais interessados ordinários. Assim, p. ex., se o
indivíduo tem contra si uma sentença de improcedência
transitada em julgado, ele não pode se aproveitar dos
efeitos de uma sentença coletiva de procedência sobre a
mesma questão de fundo. Por outro lado, uma sentença
de improcedência coletiva não o impede de buscar seu
direito através de uma ação individual;
Apesar dos art. 103 e 104 do CDC serem confusos, é
possível extrair deles que não há litispendência entre
ações coletivas e ações individuais. Logo, é correto
concluir que os interessados ordinários não estão
abarcados pelos limites subjetivos da coisa julgada
coletiva, mesmo que favoráveis a eles. Na verdade, os
interessados ordinários podem (se quiserem) utilizar para
si dos efeitos positivos da coisa julgada coletiva. Este é o
chamado transporte in utilibus da coisa julgada coletiva.
O transporte in utilibus da coisa julgada coletiva
Em razão da sua autonomia, a coisa julgada coletiva não
inclui em seus limites subjetivos os interessados
ordinários (ressalvados aqueles que se habilitarem na
ação coletiva). Mas os interessados ordinários podem
pleitear para si o transporte dos efeitos positivos da
sentença de procedência coletiva. Isso pode ser feito nos
autos da própria ação coletiva ou por meio de uma ação
individual.
Coisa julgada secundum eventum litis
A coisa julgada coletiva possui diferentes cargas de
eficácia, conforme o resultado de litígio. No sistema
coletivo, a coisa julgada somente ultrapassa os limites
subjetivos da ação coletiva (atingindo os demais
legitimados coletivos ou beneficiando os interessados
ordinários), quando houve uma decisão de mérito.
Coisa julgada secundum eventum probationis
No CPC, a sentença de mérito, independentemente da
sua profundidade probatória, faz coisa julgada material
(art. 487). No sistema coletivo, a coisa julgada coletiva
pode ter diferentes cargas de eficácia, conforme a
profundidade probatória da sentença de mérito;
Assim, se a sentença coletiva for de improcedência “por
falta de provas”, surge apenas a coisa julgada formal
inter partes, não impedindo que o mesmo legitimado
coletivo ou outro legitimado coletivo proponha
novamente a mesma ação coletiva, com novas provas.
Por outro lado, se a sentença for de improcedência com
robusto lastro probatório, a decisão produz coisa julgada
material e atinge também os legitimados coletivos que
não participaram do processo coletivo.
Coisa julgada secundum materiae litis
A eficácia da coisa julgada coletiva pode variar
conforme o tipo de direito coletivo que esteja sendo
tutelado. Assim, no caso de um:
a) direito difuso, a eficácia é “erga omnes”;
b) direito coletivo, eficácia é “ultra partes”;
c) litígio individual homogêneo, a eficácia é “ultra
partes” ou “ultra vitimae”;
Os limites subjetivos da coisa julgada coletiva
A eficácia subjetiva da coisa julgada coletiva pode ser
dividida em:
a) Coisa julgada formal (eficácia inter partes): atinge
apenas as partes do processo coletivo, no caso de
sentença terminativa ou de improcedência por falta de
provas, independentemente do direito coletivo tratado;
b) Coisa julgada material (eficácia erga omnes): atinge
as partes do processo coletivo, os demais legitimados
coletivos e todos os interessados ordinários que estão
inseridos no contexto fático tratado, na hipótese de
sentença de procedência tratando de direitos difusos;
c) Coisa julgada material (eficácia ultra partes): atinge
as partes do processo coletivo, os demais legitimados
coletivos e todos os interessados ordinários que estão
representados no processo, na hipótese de sentença de
procedência tratando de direitos coletivos ou
individuais homogêneos.
Pontos de contato entre a coisa julgada coletiva e o
interessado coletivo
a) Possibilidade de habilitação do interessado ordinário
na ação coletiva como litisconsorte dos legitimados
coletivos (art. 5º, § 2º, da LACP, e art. 6º, § 5º, da
LAP): a coisa julgada coletiva abarca o interessado
ordinário habilitado, tanto em relação aos efeitos da
sentença de procedência, como aos efeitos da sentença
de improcedência (art. 104 do CDC);
b) Possibilidade da suspensão da ação individual em
razão de uma ação coletiva (art. 104 do CDC): O autor
de uma ação individual pode pedir a suspensão da sua
ação individual, no prazo de 30 dias da sua intimação,
para aguardar o resultado de uma ação coletiva tratando
da mesma questão. Neste caso, a decisão de procedência
na ação coletiva produz efeitos na ação individual
(eficácia pan-processual da coisa julgada coletiva);
Obs.: Nesse caso, quando a decisão coletiva transitar em
julgado, o juízo da ação individual deverá “homologar”
o comando emergente da sentença coletiva e julgar a
demanda individual sobre tal premissa. Note-se que a
eficácia pan-processual somente ocorrerá em relação às
questões tratadas na sentença coletiva, que se fizerem
presentes na ação individual. Ademais, o autor da ação
individual pode desistir da suspensão a qualquer tempo;
Limites territoriais da coisa julgada
A Presidência da República, incomodada com a
abrangência da coisa julgada coletiva, resolveu editar
uma medida provisória, alterando o art. 16 da LACP,
para limitar territorialmente a eficácia da coisa julgada
coletiva aos limites territoriais do órgão prolator da
decisão. Apesar de evidentemente inconstitucional, o
STF afirmou que o acréscimo feito era constitucional
(ADIn 1.576);
A limitação territorial do órgão prolator da sentença
coletiva era aplicada ainda que a causa fosse apreciada,
em sede de recurso, por um tribunal superior (ED no
AgRg no RESP 253.589). Não obstante, admitia-se a
flexibilização da limitação, quando fosse possível dar
alcance nacional à sentença coletiva, em decorrência da
natureza do objeto (RESP 411.529), ou quando a própria
sentença coletiva tenha transitado em julgado afirmando
sua aplicação em todo o território (RESP 1391198/RS);
Recentemente, no entanto, o STF declarou a
inconstitucionalidade do acréscimo feito no art. 16 da
LACP (RE 1101937/SP). Decidiu ainda que os efeitos
nacionais ou regionais da ACP devem observar as regras
de competência previstas no art. 93, II, do CDC;
ajuizadas múltiplas ACPs de âmbito nacional ou
regional, o juízo prevento tem competência para o
julgamento de todas as demandas conexas./
1ª QUESTÃO: Ana ingressou com uma demanda em
face do Estado do Rio de Janeiro no ano de 2014,
visando ao recebimento da gratificação "XYZ",
instituída através de decreto-lei no ano de 2008, à
qual faria jus por ter trabalhado no período de 2000 a
2015. Requereu que tais valores fossem apurados em
liquidação de sentença...
Em defesa, o Estado alegou que a servidora não fazia
jus ao benefício, pois a servidora encontra-se inativa
desde o ano 1999 e que o beneficio somente foi
estendido aos servidores inativos através de Lei no
ano de 2013. Ocorre que Ana é beneficiária da
decisão proferida nos autos da Ação Civil Pública que
condenou o Estado a implementar, para os inativos, a
mencionada gratificação. Tal decisão transitou em
julgado em 05 de abril de 2010. Acerca da coisa
julgada, decida a questão de forma fundamentada.
RESPOSTA: APELAÇÃO CÍVEL Nº 0010452-
58.2014.8.19.0007 APELANTE: ESTADO DO RIO DE
JANEIRO APELADO: ANA MARIA CAMBRAIA DE
ALMEIDA RELATOR: DESEMBARGADOR
ALEXANDRE FREITAS CÂMARA Apelação Cível.
Direito processual. Gratificação "Nova Escola".
Demanda individual pretendendo o recebimento dos
valores referentes à gratificação, sendo que tal direito
já havia sido reconhecido em demanda coletiva
transitada em julgado...
Limites subjetivos da coisa julgada. Extensão in
utilibus da coisa julgada do processo coletivo, na
forma do art. 103 do CDC. Coisa julgada que impede o
prosseguimento do processo individual. Extinção do
processo sem resolução do mérito. Recurso
prejudicado. (...) Ora, já havendo coisa julgada que a
beneficia, dado seu alcance in utilibus, existe
impedimento ao regular prosseguimento do presente
processo...
A decisão da demanda coletiva transitou em julgado
antes mesmo da propositura da presente demanda
individual e, na forma do artigo 103 do Código de
Defesa do Consumidor, há na hipótese formação de
coisa julgada ultra partes, estendendo seus efeitos a
todos os profissionais de educação inativos do
Estado do Rio de Janeiro, o que torna inadmissível o
presente processo. Pelo exposto, decide-se por
extinguir o processo sem resolução do mérito).
2ª QUESTÃO: João ingressou com ação individual em
face de Companhia Estadual de Trens pretendendo
que fossem realizadas obras de acessibilidade nas
estações de trem que utiliza para se deslocar para o
trabalho. Um ano após a propositura da mencionada
demanda, o Ministério Público ingressou com uma
ação coletiva pleiteando a realização de obras da
mesma natureza em todas as estaçoes de trem
operadas pela ré...
O magistrado da ação individual determinou a
suspensao do processo até o julgamento da demanda
coletiva. Em seu recurso, o autor alega que o juízo da
demanda coletiva indeferiu o requerimento de
suspensão de todas as demandas individuais em
curso. Afirma que é possível o prosseguimento da
demanda individual, especialmente quando o autor
opta por não ser beneficiado pela sentença proferida
na demanda coletiva, não sendo possível a
suspensão imposta. Acerca da ação civil pública, é
possível que a demanda individual corra
concomitantemente a demanda coletiva?
RESPOSTA: "(...) não obstante a existência de
julgados que determinem a suspensão das demandas
individuais quando houver demanda coletiva em
curso (REsp 1353801/RS; REsp 1110549/RS), o STJ
também possui entendimento consolidado "no
sentido de que a suspensão prevista no art. 104 do
CDC somente se aplica aos casos em que ação
coletiva é posterior à ação individual", hipótese
diversa da tratada no presente recurso, tendo em
vista que a demanda individual é de 2018 e a ação
civil pública é de 2019...
Com efeito, a manifestação do autor no sentido de
que não quer ser beneficiado pelo TAC realizado na
ação civil pública lhe garante o direito de ter o
prosseguimento de sua demanda individual, nos
termos do art. 104 do CDC. (...)" AGRAVO DE
INSTRUMENTO Nº 0060461-69.2019.8.19.0000 Direito
Processual Civil. Ajuizamento de demanda individual
anteriormente à demanda coletiva (ação civil pública
nº 0167632- 82.2019.8.19.0001) sobre adaptação das
estações de trem da Supervia para pessoas com
deficiências...
Entendimento do STJ no sentido de que o direito de
prosseguir com a demanda individual (art. 104 do
CDC) se aplica quando a demanda coletiva for
posterior à individual, hipótese dos autos.
Impossibilidade de se suspender a demanda
individual, diante da vontade do autor em relação ao
seu prosseguimento. Recurso a que se dá
provimento. Data de Publicação: 08/04/2020.///
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PROCEDIMENTOS ESPECIAIS NO CPC 2015
CPIII B 22022 Dia 08/11/2022

AÇÃO POPULAR
Prof. FELIPPE BORRING ROCHA
AÇÃO POPULAR
Histórico
Desde Roma, a actio populare já era usada para a
proteção dos interesses transindividuais, como aqueles
ligados ao culto à divindade, à liberdade de expressão e,
também, ao meio ambiente. As AP eram aceitas porque
através delas o cidadão perseguia fins altruístas,
colimando defender bens e valores supremos das gens;

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Vê-se, então, que a preocupação com os bens públicos e
com a criação de meios jurisdicionais próprios para
defesa dos mesmos é antiga. A mesma lógica da AP
podia ser vista na Inglaterra medieval através do “Case
of Proclamations” de 1611, que visa impedir o rei de
legislar sem o Parlamento;

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No Brasil, a AP surgiu na Constituição de 1824 (art.
157), com natureza penal, visando a coibir crimes como
peculato, suborno, etc. A Constituição de 1891,
entretanto, não tratou dela. Na Constituição de 1934 a
AP voltou a ser regulada, com as características básicas
que a conhecemos hoje. Mas a Constituição de 1937
novamente a aboliu;

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A Constituição de 1946, editada opôs o fim do Estado
Novo, reinstituiu a AP. Foi em sua vigência que foi
editada a Lei 4.717/65, que até hoje regula a AP. Em
seguida, a AP foi transformada em cláusula pétrea pela
Constituição de 1967 (art. 153, § 31). Esse status foi
mantido pela Constituição de 1988, que ampliou
significativamente seu alcance (art. 5º, LXXIII);

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Conceito
A AP é um remédio constitucional posto à disposição de
qualquer cidadão com o objetivo de promover o controle
de atos ou contratos administrativos ilegais e lesivos ao
patrimônio federal, estadual ou municipal, ou ao
patrimônio de autarquias, entidades paraestatais e
pessoas jurídicas que recebem auxilio pecuniário do
poder público (art. 5º, LXXIII, da CF e art. 1º da Lei
4.717/65);

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A AP possibilita que qualquer cidadão tenha o direito
de fiscalização dos atos administrativos, bem como de
sua possível correção, quando houver desvio de sua
real finalidade. Esse direito vem a ser uma forma de
garantia da participação democrática direta do cidadão
na vida pública e na busca pela preservação do
princípio da legalidade dos atos administrativos (direito
político).

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Bens jurídicos tutelados
A Constituição de 1988 dispõe que a AP visa anular o
ato lesivo ao patrimônio público ou entidade que o
Estado participe, a moralidade administrativa, ao meio
ambiente e ao patrimônio histórico e cultural (art. 5º,
LXXIII). Esse rol é complementado pelo art. 1º, § 1º,
da LAP, que fala também em bens e direitos de valor
econômico, artístico, estético ou turístico.

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Prazo prescricional
Aduz o art. 21 da LAP que o prazo prescricional para a
propositura da AP é de 5 anos. Embora a Lei não fixe o
início da contagem, prevalece que ela se inicia a partir
do momento que o ato lesivo se torne público. Maria
Sylvia di Pietro, minoritária, afirma que, no que tange à
reparação de danos, a AP seria imprescritível, tendo em
vista o disposto no art. 37, § 5º, da CF.

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Competência funcional
Se o ato impugnado foi praticado por autoridade,
funcionário ou administrador de órgão da União,
autarquia ou entidade paraestatal da União, por
exemplo, a competência é do juiz federal da Seção
Judiciária em que se consumou o ato. Nos demais casos,
a AP é julgada na Justiça Estadual, perante a vara com
competência fazendária. Toda e qualquer autoridade
será julgada em primeira instância.

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Legitimidade
A legitimidade ativa pertence ao cidadão brasileiro, nato
ou naturalizado, e ao português, no exercício de seus
direitos políticos, inclusive aquele entre 16 e 18 anos. A
prova de cidadania, segundo o § 3º do art. 1º da LAP,
será feita com o título eleitoral. O cidadão menor de 18
anos, no exercício dos seus direitos eleitorais, pode
propor a AP independentemente de assistência;

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A pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação
popular (Súmula 365 do STF). Os sujeitos passivos da
demanda, segundo o art. 6º, § 2º da LAP, são:
a) as pessoas públicas ou privadas;
b) os autores e participantes do ato; e
c) os beneficiários do ato ou contrato lesivo ao
patrimônio público.

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Os pedidos
Os pedidos na ação popular, além de natureza
declaratória (ilegalidade lato sensu do ato ou contrato),
podem ser constitutiva negativa (desfazimento do ato
ou contrato), indenizatória (devolução dos valores
ilegalmente despendidos e reparação pelos danos
causados) e mandamental (fazer, não fazer ou entregar).

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Procedimento
Embora o art. 7º da LAP expressamente disponha que
o rito processual da ação popular será o “ordinário”,
ele tem natureza jurídica de procedimento especial, em
razão das particularidades diferenciadoras presentes na
lei:

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a) Requisição de informações
Ao receber a petição inicial, antes de determinar a
citação, o juiz pode, de ofício ou mediante
requerimento do autor, requisitar as informações que
julgar pertinentes à instrução do processo;

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b) Prazo para contestação
Determinada a citação, o prazo para contestação é de
20 dias, prorrogáveis por mais 20 dias, a requerimento
do réu;

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c) Inclusão de réu no curso do processo
No curso do procedimento, mas antes de proferida a
sentença, caso se descubra a identidade de pessoa
beneficiada ou responsável pelo ato impugnado, esta
deverá ser citada para o processo (art. 7º, § 2º, III, da
LAP). O réu incluído no processo poderá oferecer
contestação e postular pela produção de provas;

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d) Sanção pela demora na prolação da sentença
Se o juiz, injustificadamente, não proferir a sentença no
prazo de 15 dias após concluída a instrução, ficará
privado de inclusão de seu nome na lista de
merecimento para promoção durante dois anos, bem
como, acarretará a perda, para efeito de promoção por
antiguidade, do mesmo número de dias enquanto durar
o retardamento (art. 7º, § 2º, VI, da LAP);

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e) Sucessão processual do autor
Caso o autor desista da ação ou dê motivo a
“absolvição”, a lei exige em seu art. 9o a publicação de
editais, com prazo de 90 dias, por três vezes, no órgão
oficial da imprensa, convocando qualquer cidadão a
prosseguir no feito. O processo só será arquivado após o
decorrer do prazo fixado no edital se nenhum
legitimado ou o MP assumir a sua titularidade (art. 9º da
LAP);

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f) Isenção de custas e taxas judiciais
Embora o art. 10 da LAP disponha que as partes
somente pagarão custas e preparo ao final, o inciso
LXXIII do art. 5º da CF expressamente isenta o autor
popular de custas judiciais e sucumbência. Entretanto,
como forma de coibir abusos, expressamente ficaram
ressalvadas no texto constitucionais as hipóteses de má-
fé.

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g) Remessa necessária
No caso da sentença terminativa ou da sentença
definitiva de improcedência, sua eficácia está
condicionada à confirmação pelo Tribunal. Trata-se da
chamada remessa necessária. A presunção, no caso, é
de que a sentença denegatória pode deixar de proteger
o interesse público (art. 19 da LAP). Além disso,
prevalece que as hipóteses de exclusão previstas no art.
496 do CPC não são aplicáveis à AP./

http://felippeborring.blogspot.com | @felippeborring
1ª QUESTÃO: Renata, residente e eleitora no
município de "X", ingressou com ação popular para
postular a anulação de atos supostamente lesivos ao
patrimônio do Município "Y". O juiz considerou que,
como a cidadã possuía domicílio eleitoral no
Município "X", careceria de legitimidade ad causam
para a propositura de ação popular que tivesse por
objeto a impugnação de atos lesivos ao patrimônio do
Município "Y". Pergunta-se: correto o entendimento
do nobre julgador? Resposta fundamentada.
RESPOSTA: AÇÃO POPULAR. LEGITIMIDADE.
CIDADÃO. ELEITOR. A ação popular em questão foi
ajuizada por cidadão residente no município em que
também é eleitor. Sucede que os fatos a serem
apurados na ação aconteceram em outro município.
Vem daí a discussão sobre sua legitimidade ad
causam a pretexto de violação dos arts. 1º, caput e §
3º, da Lei n. 4.717/1965 e 42, parágrafo único, do
Código Eleitoral...
Nesse contexto, é certo que o art. 5º, LXXIII, da
CF/1988 reconhece a legitimidade ativa do cidadão e
não do eleitor para propor a ação popular e que os
referidos dispositivos da Lei n. 4.717/1965 apenas
definem ser a cidadania para esse fim provada
mediante o título de eleitor. Então, a condição de
eleitor é, tão somente, meio de prova da cidadania,
essa sim relevante para a definição da legitimidade,
mostrando-se desinfluente para tal desiderato o
domicílio eleitoral do autor da ação...
que condiz mesmo com a necessidade de
organização e fiscalização eleitorais. Já o citado
dispositivo do Código Eleitoral traz requisito de
exercício da cidadania em determinada circunscrição
eleitoral, o que não tem a ver com a sua prova.
Dessarte, conclui-se que, se for eleitor, é cidadão
para fins de ajuizamento da ação popular. REsp
1.242.800-MS , Rel. Min. Mauro Campbell Marques.
2ª QUESTÃO: Elvira, pretendendo apurar a
regularidade dos atos administrativos do município
de Saquarema, requereu administrativamente, por
três vezes, determinados documentos. Diante da
constante negativa da municipalidade, interpôs
mandado de segurança visando a obtenção dos
mesmos, para que, posteriormente, instruísse futura
ação popular, na forma do art. 1º, § 4º, da Lei nº
4.717/65...
O juiz indeferiu a petição inicial por ausência de
interesse processual quanto à adequação da via
eleita, e ainda fundamentou que Lei de Ação Popular
possibilita a requisição de documentos referidos pela
autora no curso da ação popular. Pergunta-se: está
correto o magistrado? Resposta fundamentada.
RESPOSTA: O magistrado está correto. O aluno
deverá demonstrar conhecimento dos artigos art. 1º,
§ 4º, e 7º, I, b, da Lei nº 4.717/65.
TJRJ - Mandado de Segurança Originário nº. 0050945-
59.2018.8.19.0000 MANDADO DE SEGURANÇA
ORIGINÁRIO. PRETENSÃO DO IMPETRANTE DE
OBTER CERTIDÕES VISANDO INSTRUIR FUTURA
AÇÃO POPULAR...
POSSIBILIDADE DE OBTENÇÃO POR VIA
ADMINISTRATIVA E, EM CASO DE INSUCESSO, NOS
AUTOS DA PRÓPRIA AÇÃO POPULAR, APÓS
ANÁLISE DA PERTINÊNCIA PELO JUIZ DA CAUSA.
AUSÊNCIA DE INTERESSE PROCESSUAL, NA
MODALIDADE ADEQUAÇÃO. INDEFERIMENTO DA
PETIÇÃO INICIAL...
1. O artigo1º da Lei nº 4.717/65, que regula a Ação
Popular, prevê a possibilidade de requisição das
certidões nos próprios autos quando, por algum
motivo, forem negadas em sede administrativa,
cabendo ao juiz da causa analisar a pertinência de
cada uma. 2. É imperioso que o cidadão justifique a
necessidade em obter os documentos, sendo
insuficiente a mera indicação de que servirá como
lastro probatório em futura Ação Popular, nos termos
do § 4º do artigo 1º da Lei nº 4.717/65...
Precedentes: AgRg no RMS 32.994/RJ, Rel. Ministro
Teori Albino Zavascki, 1ª Turma, julgado em
06/10/2011; RMS 32.740/RJ, Rel. Ministro Arnaldo
Esteves Lima, 1ª Turma, julgado em 01/03/2011; RMS
32.877/RJ, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, 1ª
Turma, julgado em 18/11/2010; MS 0050977-
64.2018.8.19.0000 – Des(a). Luiz Roberto Ayoub,
julgado em 10/10/2018 – 24ª Câmara Cível; MS
0039068- 25.2018.8.19.0000 – Des(a). Alexandre
Antônio Franco Freitas Câmara, julgado em
24/10/2018 – 2ª Câmara Cível...
3. Inexistência de interesse processual na modalidade
adequação, considerando a desnecessidade de
impetração do presente remédio constitucional para o
ajuizamento de ação popular, devendo o feito ser
extinto, sem resolução do mérito, na forma dos
artigos 5º, inciso II c/c 10, caput, ambos da Lei nº
12.016/09 e artigo330, inciso III, do CPC/15. 4.
Indeferimento da petição inicial. Sem custas e
honorários advocatícios.///////
FIM DA APRESENTAÇÃO

MUITO OBRIGADO!!!

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