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Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro

Gabinete da Terceira Vice-Presidência

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Recursos Especial e Extraordinário Cíveis nº 0007579-44.2019.8.19.0061


Recorrente: ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Recorridos: ELISÃNGELA DE OLIVEIRA LOPES E CENTRO DE ESTUDOS
JURIDICOS DA DEFENSORIA PUBLICA GERAL DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO – CEJUR

DECISÃO

Trata-se de recursos, extraordinário e especial, tempestivos, fls.


1131/1144 e 1145/1158, com fundamento nos artigos 105, inciso III, alínea “a” e 102,
III, alínea “a”, da Constituição Federal, interpostos em face de acórdão da Terceira
Câmara Cível, fls. 1039/1053, assim ementado:

“APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO À SAÚDE.


OBRIGAÇÃO DE FAZER. MEDICAMENTO.
SOLIDARIEDADE. O direito à saúde tem base no
princípio da dignidade da pessoa humana (art.1º, III da
CRFB), e constitui uma garantia a todos assegurada,
competindo aos entes públicos a responsabilidade
concorrente e solidária de concretizá-lo, nos termos dos
art. 196 e 198 da CRFB/88. Cabe salientar que o STF no
julgamento do RE 855178, com repercussão geral,
analisando o Tema nº 793, sedimentou a orientação acerca
da solidariedade dos entes federativos em relação à
responsabilidade nas demandas prestacionais na área de
saúde, prevendo a possibilidade do “[...] ajuizamento da
ação contra um, alguns ou todos os entes estatais [...]”
(ARE 1168297 AgR-segundo / RJ). Portanto, resta
evidente a responsabilidade do município apelante, diante
da inquestionável solidariedade entre os entes públicos, no
cumprimento da determinação judicial para o
fornecimento gratuito de medicamentos e a prestação dos
serviços de saúde àqueles que deles necessitem. Apelo do
município que não prospera. Cabimento da condenação do
Estado ao pagamento dos honorários sucumbenciais em
favor da Defensoria Pública, haja vista que restou
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superada a tese da confusão patrimonial. Assim, não


assiste razão a editilidade. Sentença que se reforma, de
ofício, para condenar a municipalidade ao pagamento da
taxa judiciária. Recursos dos entes públicos aos quais se
nega provimento.”

Nas razões recursais do recurso especial, o recorrente aduz ofensa aos


artigos 6º, I, “d”, 7º, II, 20, 21, 22, 23, 36, §2º, 52, todos da Lei nº 8.080/90, bem como
ao artigo 381 do Código Civil e discorre sobre a Súmula 421 do STJ. Sustenta a
impossibilidade de condenação de pagamento de honorários advocatícios em favor
da Defensoria Pública, diante de ocorrência de confusão, pois a Defensoria Pública
Geral do Estado, órgão do Estado do Rio de Janeiro, se torna credora do próprio
Estado do Rio de Janeiro. Argumenta que tanto a Defensoria Pública, quanto o seu
Centro de Estudos Jurídicos são órgãos do próprio Estado do Rio de Janeiro.

Nas razões recursais do recuso extraordinário, o recorrente alega


violação aos artigos 134, 165, 167 e 168 da Constituição Federal, sob o argumento de
afronta à matéria sumulada pelo STJ, especialmente na Súmula 421. Sustenta a
ilegalidade do pagamento de honorários pelo Estado em favor da Defensoria Pública,
com a ocorrência da confusão e, ainda, ofensa à razoabilidade e aos princípios
constitucionais do orçamento público.

Manifestação do MP às fls. 1168/1169 deixando de opinar acerca da


admissibilidade dos recursos interpostos.

Contrarrazões ao recurso especial, fls. 1172/1176, não havendo


manifestação quanto ao recurso extraordinário, conforme certidão de fls. 1177.

É o brevíssimo relatório.

Do Recurso Extraordinário

A questão suscitada no recurso extraordinário é objeto de debate


perante o Supremo Tribunal Federal, por meio do Tema nº 1.002 (“Discussão
relativa ao pagamento de honorários à Defensoria Pública, em litígio com ente
público ao qual vinculada.”), objeto do RE nº 1.140.005RG/RJ, com repercussão
geral reconhecida, porém ainda não julgado em seu mérito.

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Encontrando-se, porém, a questão pendente de julgamento de mérito


para fixação da tese que deverá ser observada pelos demais Tribunais nacionais, a
hipótese é de se determinar o sobrestamento do feito, sem realização, por ora, do
exame de admissibilidade do recurso.

Do Recurso Especial

Conforme jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, o


reconhecimento da repercussão geral da matéria constitucional, nos termos do art.
1.036 do CPC/2015, justifica o sobrestamento, pela instância ordinária, dos recursos
especiais, que tragam em seu bojo a mesma questão jurídica a ser definida pelo
Supremo Tribunal Federal, tal como se dá no caso destes autos. A propósito, vale
referência o seguinte julgado:

“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. MATÉRIA


SUBMETIDA A JULGAMENTO UNIFORMIZADOR.
DEVOLUÇÃO DOS AUTOS À ORIGEM.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ACOLHIDOS.
I - Verifica-se que a matéria tratada nos autos foi admitida
para julgamento de uniformização jurisprudencial - Tema
n. 1.147 - Definir: 1) qual o prazo prescricional aplicável
em caso de demanda que envolva pedido de ressarcimento
ao Sistema Único de Saúde na hipótese do art. 32 da Lei n.
9.656/1998: se é aplicável o prazo quinquenal previsto no
art. 1º do Decreto n. 20.910/1932, ou o prazo trienal
prescrito no art. 206, § 3º, do Código Civil; 2) qual o
termo inicial da contagem do prazo prescricional: se
começa a correr com a internação do paciente, com a alta
do hospital, ou a partir da notificação da decisão do
processo administrativo que apura os valores a serem
ressarcidos.
II - Consoante a jurisprudência desta Corte, o
reconhecimento da repercussão geral da matéria
constitucional, nos termos dos art. 927, 1.036, 1.040
do CPC/2015, justifica o sobrestamento dos recursos
especiais, na instância ordinária, que tragam em seu
bojo a mesma questão jurídica a ser definida pelo
STF ou STJ.
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III - Também a admissão do recurso, como repetitivo por


esta Corte, autoriza o sobrestamento. A mesma sistemática
deve ser adotada para os casos de admissão de
Procedimento de Uniformização de Jurisprudência. Assim,
a Corte de origem pode declarar prejudicados os recursos
que se oponham a acórdão que se conforma com o decidido
pelo STF e STJ ou se retratar. Nesse sentido: EDcl nos
EDcl no AgInt no AREsp n. 1.666.390/RS, relator
Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, julgado em
29/3/2021, DJe 8/4/2021; AgInt no REsp n.
1.911.163/RN, relator Ministro Herman Benjamin,
Segunda Turma, julgado em 22/3/2021, DJe 5/4/2021;
EDcl nos EDcl no AgInt nos EDcl nos EDcl no AgInt no
AREsp n. 1.615.441/RS, relator Ministro Marco Buzzi,
Quarta Turma, julgado em 15/12/2020, DJe 17/12/2020;
EDcl no REsp n. 1.792.034/CE, relator Ministro Herman
Benjamin, Segunda Turma, julgado em 25/6/2019, DJe
2/8/2019.
IV - Embargos acolhidos para tornar sem efeitos as
decisões e votos proferidos nesta Corte e determinar a
devolução dos autos ao Tribunal de origem.”
(EDcl nos EDcl no AgInt no AREsp n. 2.032.818/SP,
relator Ministro Francisco Falcão, Segunda Turma,
julgado em 15/12/2022, DJe de 19/12/2022.)

À vista do exposto, DETERMINO O SOBRESTAMENTO dos recursos


extraordinário e especial interpostos, nos termos da fundamentação supra.

Publique-se.

Rio de Janeiro, 19 de março de 2023.

Desembargador MALDONADO DE CARVALHO


Terceiro Vice-Presidente

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