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DESTINATÁRIOS
DECISÃO
Relata que no dia 09/06/2021 a parte requerida realizou fiscalização no Hospital Regional de Brazlândia,
quando emitiu Relatório de Visita de Análise, apontando a ausência de profissionais enfermeiros nos
setores de Clínica Médica, Berçário e Maternidade, assim como a recorrência dessa irregularidade,
constatada a partir da análise das escalas de servidores.
Aduz ainda que, em face das irregularidades apontadas no relatório, foi instaurado Processo de
Sindicância, no qual, apesar das providências adotadas pela Gerência de Enfermagem, o COREN decidiu
pela aplicação da penalidade de Interdição Ética do Hospital Regional de Brazlândia, a partir das 10h00
do dia 18 de agosto de 2021.
Afirma que, conforme noticiado apenas por meio de Nota à Impressa emitida no dia 13/08/2021, o
exercício da enfermagem estará impedido no âmbito do Hospital, resguardando apenas “o coeficiente
mínimo de profissionais para atendimento dos pacientes internados”.
Sustenta que a medida adotada pela parte requerida “é abusiva e extrema e, por extensão, nociva aos
interesses da população de Brazlândia e de todo o Distrito Federal”, mormente porque não foi observado
o trâmite formal previsto na Resolução/COFEN nº 565/2017, dentre eles a elaboração de relatório pela
Comissão, sua submissão a julgamento no Plenário do Conselho e a notificação formal da Instituição de
Saúde.
Destaca ainda as diversas medidas adotadas pela Gerência de Enfermagem de Brazlândia para garantir o
efetivo de servidores, bem como a ampliação da jornada de trabalho de 10 enfermeiros, a partir da
próxima quarta-feira.
Frisa que “no momento atual, de reconhecida sobrecarga de toda a rede pública de saúde em
decorrência do enfrentamento da Pandemia da Covid-19, a suspensão de serviços hospitalares é medida
desastrosa, que causará danos graves e irreversíveis à população.”
Por fim requer (I) a concessão da tutela de urgência a fim de ser determinado à parte requerida que se
abstenha de realizar a interdição ética do Hospital Regional de Brazlândia; (II) no mérito, a procedência
do pedido e (III) a produção de todos os meios de provas disponíveis.
De início, observa-se que não foi anexada aos autos a nota à imprensa citada na inicial. Todavia, em razão
da data prevista para a interdição temporária e por se tratar de serviço essencial à população, em consulta
ao site do Conselho Regional de Enfermagem do Distrito Federal (COREN-DF), no endereço eletrônico
acessado às 17h32min desta data,
https://www.coren-df.gov.br/site/nota-oficial-coren-df-fara-intervencao-etica-no-hrbz/, localizei a Nota
Oficial, com o seguinte teor:
"O Conselho Regional de Enfermagem do Distrito Federal (Coren-DF) comunica que realizará a
INTERDIÇÃO ÉTICA do Hospital Regional de Brazlândia (HRBz) às 10 horas da próxima quarta-feira,
dia 18 de agosto de 2021. Em face da medida, ficará IMPEDIDO o exercício da Enfermagem no
estabelecimento, sendo resguardado o coeficiente mínimo de profissionais para atendimento dos
pacientes internados, conforme Art. 2º da Resolução Cofen 565/2017.
A interdição ética é uma medida extrema, adotada em regime excepcional, diante de situações de
inequívoca insegurança técnica para trabalhadores e risco iminente para pacientes".
Importante salientar ainda que as alegações de abusividade e inobservância do trâmite formal previsto na
Resolução/COFEM 565/2017 para a aplicação da medida de interdição ética não podem ser analisadas em
juízo de cognição sumária, devendo ser julgadas na sentença de mérito, após a juntada da documentação
necessária e do efetivo contraditório.
De outro lado, em que pesem as irregularidades apontadas pelo COREN-DF, bem como a existência de
previsão legal para aplicação da medida anunciada, os serviços de assistência médica e hospitalar são
considerados essenciais, nos termos do inciso II, do artigo 10, da Lei 7.783/1989, que regulamenta o
exercício do direito de greve.
Não bastasse, há mais de um ano, o mundo vivencia uma situação extremamente delicada com a
pandemia da COVID-19, o que qualifica como ainda mais essenciais os serviços prestados pela valorosa
categoria de enfermeiros. Some-se a isso ainda as aflitivas notícias de transmissão comunitária de uma
nova cepa, com maior poder de disseminação.
Dentro desse contexto, no cotejo dos princípios constitucionais em conflito, é inegável que deve
prevalecer o direito à vida e à saúde da população. Com efeito, Matheus Gallarreta Zuiaurre Lemos, em
artigo publicado na Revista da Escola Judicial do TRT4, Volume 2, número 4, com muita propriedade
conclui:
Por fim, cumpre considerar que a determinação de suspensão da penalidade de interdição ética pode ser
revogada, caso demonstrada a omissão do Distrito Federal em designar o número mínimo de servidores,
mesmo sendo possível fazê-lo. Contudo, o contrário não é verdadeiro. Significa dizer, caso algum
paciente deixe de receber o atendimento médico emergencial de que necessita e tenha seu quadro clínico
agravado, ou mesmo evolua a óbito, a situação será irreversível.
2 _ Dê-se imediata ciência da presente decisão às partes, ao Secretário de Saúde e ao Ministério Público.
Atribuo a esta decisão FORÇA DE MANDADO. Cumpra-se POR OFICIAL DE JUSTIÇA, em horário
especial e em regime de plantão.
Obs: Os documentos/decisões do processo, cujas chaves de acesso estão abaixo descritas, poderão
ser acessados pelo link: https://pje.tjdft.jus.br/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam (ou
pelo site do TJDFT: "www.tjdft.jus.br" > item "Processo Eletrônico - PJe" (lateral direita) > item
"Autenticação de documentos - 1ª Instância".