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Tribunal Regional Federal da 1ª Região

PJe - Processo Judicial Eletrônico

14/05/2020

Número: 1013870-32.2020.4.01.0000
Classe: SUSPENSÃO DE LIMINAR E DE SENTENÇA
Órgão julgador colegiado: Corte Especial
Órgão julgador: Gab. Presidência
Última distribuição : 14/05/2020
Valor da causa: R$ 1.000,00
Processo referência: 1025277-20.2020.4.01.3400
Assuntos: Vigilância Sanitária e Epidemiológica
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
DISTRITO FEDERAL (REQUERENTE)
MINISTERIO PUBLICO FEDERAL (REQUERIDO)
Ministério Público do Trabalho (REQUERIDO)
Ministério Público do Distrito Federal e Territórios
(Procuradoria) (REQUERIDO)
UNIÃO FEDERAL (LITISCONSORTE)
Ministério Público Federal (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
55113 14/05/2020 18:57 STA.inicial Inicial
541
PROCURADORIA-GERAL DO DISTRITO FEDERAL
Procuradoria Especial de Defesa da Constitucionalidade - PRODEC

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR FEDERAL ÍTALO


MENDES, PRESIDENTE DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª
REGIÃO

DISTRITO FEDERAL, pessoa jurídica de direito público interno com endereço


no SAM, Projeção I, edifício-sede da Procuradoria-Geral do Distrito Federal, vem
perante Vossa Excelência, por seus procuradores ao final indicados, interpor PEDIDO
DE SUSPENSÃO DE TUTELA DE URGÊNCIA em face de decisão proferida nos
autos da ação civil pública n. 1025277-20.2020.4.01.3400, proposta conjuntamente pelo
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO
DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS e pelo MINISTÉRIO PÚBLICO
DO TRABALHO, fazendo-o nos termos das razões de fato e de direito a seguir
expostas.

I – Síntese da demanda proposta em primeira instância

Trata-se de pedido de suspensão de tutela de urgência, proposta em face de


decisão proferida pela Excelentíssima Senhora Juíza Federal da 3ª Vara Federal de
Brasília que, acolhendo, em parte, pedido formulado pelo Ministério Público Federal -
MPF, pelo Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios – MPDFT e pelo
Ministério Público do Trabalho - MPT, impediu a retomada gradual das atividades

Gabinete da Procuradora-Geral do Distrito Federal


SAM Projeção I Edifício Sede, 4º andar, CEP 70.620-000 – Brasília-DF
Fones: (61) 3325-3368 e 3025-9676 – Fax: (61) 3325-8602

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econômicas no âmbito do Distrito Federal, suspensas temporariamente em virtude da
pandemia do vírus SARS-Cov-2.

A longa petição inicial, em síntese, apresentando dados técnicos de fontes


diversas, alega que o Distrito Federal não teria comprovado, de forma cientificamente
embasada, haver tomado providências voltadas a permitir, de forma planejada, a
retomada gradual das atividades econômicas na capital federal.

A decisão impugnada, apesar de reconhecer o espaço de discricionariedade


reservado ao Poder Executivo na tomada de decisões estratégicas sobre o combate
à pandemia pelo novo coronavírus, impediu a retomada das atividades econômicas no
Distrito Federal, prevista no Decreto n. 40.674/2020, expedido pelo Excelentíssimo
Senhor Governador do Distrito Federal, para o dia 11 de maio de 2020. Da decisão
destacamos os seguintes trechos:

“A parte autora, em diversos momentos da petição inicial, assevera


que a principal preocupação é que as medidas de flexibilização do
isolamento social sejam implementadas de forma técnica e segura,
com base em dados e evidências científicas e que sejam considerados
os possíveis impactos de cada uma delas para a saúde, a fim de
manter a qualidade de vida dos cidadãos e a higidez do sistema de
saúde.

A questão que aqui se retoma é se compete ao Poder Judiciário, em


questões eminentemente técnicas de saúde pública, interferir em
ações do Poder Executivo e substituir a autoridade administrativa
na tomada de decisão.

(...)

O Governo do Distrito Federal, em 11.03.2020, após a Organização


Mundial de Saúde ter declarado a pandemia de Covid-19 e, à época,
com apenas 02 (dois) casos confirmados, decretou a suspensão, no
âmbito do Distrito Federal, pelo prazo de 05 (cinco) dias, de eventos
de qualquer natureza que exigissem licença do poder público, bem
como atividades educacionais em todas as escolas, universidades e
faculdades das redes de ensino público e privado.

Posteriormente, após a edição de inúmeros outros decretos, foram


ampliadas as atividades comercias suspensas e, por meio do Decreto
no 40.583, de 01.04.2020, estendida a suspensão das atividades

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educacionais até o dia 31.05.2020 e, as demais atividades, até o dia
03.05.2020.

A partir do dia 07 de abril, no entanto, foram editados decretos que


liberaram o funcionamento das agências bancárias e cooperativas de
crédito no Distrito Federal, dos setores moveleiro e de
eletroeletrônica, bem como as atividades do Sistema S, óticas,
escritórios em geral (advocacia, contabilidade, engenharia,
arquitetura e imobiliárias), armarinhos e lojas de tecido, cines drive
in (com restrições), além de cultos, missas e rituais de qualquer credo
ou religião, em estacionamentos das igrejas, templos e demais locais
religiosos, desde que as pessoas permaneçam em seus veículos.

Por meio do Decreto no 40.648, de 23.04.2020, foi determinada a


obrigatoriedade, a partir do dia 30.04.2020, do uso de máscaras por
toda a população em espaços públicos, vias públicas, equipamentos
de transporte público coletivo e estabelecimentos comerciais,
industriais e de serviços no âmbito do Distrito Federal, constando do
referido decreto, de forma expressa, que o Governo do Distrito
Federal fornecerá máscaras à população que não tenha acesso ao
produto, em locais e dias a serem especificados por portaria da
Secretaria de Estado de Governo (vide art. 2o).

Apesar dessas flexibilizações já implementadas, em 02.05.2020 foi


editado o Decreto 40.674, adiando a reabertura de outras atividades
comerciais não essenciais, que ainda permanecem suspensas, para o
dia 11.05.2020.

Causa receio em qualquer cidadão o fato de que, enquanto se contava


com um número relativamente pequeno de casos, se optou pelo
fechamento da grande maioria de serviços não essenciais, e, agora,
quando o número de infectados e mortos ainda se encontra numa
curva crescente, opte a Administração por flexibilizar ainda mais o
isolamento.

Após informações suscitadas por este Juízo, foram apresentadas


justificativas por parte do Distrito Federal que demonstram as
medidas que vêm sendo tomadas tanto para a continuidade do
enfrentamento quanto para a retomada das atividades econômicas,
dentre as quais se destacam os dados constantes do documento
acostado no id. 2281102853, que menciona que a taxa de ocupação
para os pacientes com COVID-19 seria de 28,09% (34 pacientes
para 115 leitos disponíveis para esse suporte), referente ao dia 29 de
abril de 2020, o que sinaliza que a ocupação de menos de 30%
(trinta) por cento dos leitos UTI destinados a atendimento a
pacientes de COVID-19.

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Ademais, segundo informações acostadas, recentemente foram
contratados 151 (cento e cinquenta e um) profissionais de saúde,
sendo 145 (cento e quarenta e cinco) médicos (id. 227587380).

Outrossim, destaca-se também que, além das medidas já


implementadas, serão adotadas outras ações prévias à liberação de
atividades comerciais, a depender do tipo de atividade, citando, em
linhas gerais, algumas recomendações que deverão ser adotadas, tais
como a exigência do uso de máscaras por todos os funcionários,
exigência de que qualquer funcionário acima de 60 anos ou que
apresente algum fator de risco para o desenvolvimento de formas
graves, especialmente comorbidades, não frequente os ambientes de
trabalho, dentre outras (id. 227587380).

Na estratégia de retomada acostada no id. 227617891 constam


medidas de prevenção como sugestões a serem dadas no decorrer da
abertura do comércio.

Já no plano de retomada acostado no id. 227600452, apesar de


parecer que as atividades serão abertas em blocos de 21 (vinte e um)
dias e divididos em semanas, não consta em tal documento nenhuma
política sanitária definida para cada atividade, como constou do
Decreto no 40.602, de 07.04.2020, que explicitou detalhadamente
regras a serem observadas pelas agências e cooperativas de crédito,
públicas e privadas, por ocasião da abertura, como, por exemplo, a
vedação de haver nas equipes de trabalho pessoas consideradas do
grupo de risco, tais como idosos, gestantes e pessoas com doenças
crônicas.

Assim, me parece que, ainda que as ‘sugestões’ possam ser dadas, é


imperioso que fique claro e oficialmente documentado para a
população de um modo geral como se dará́ a retomada das atividades
e que sejam estabelecidos protocolos sanitários específicos para cada
atividade que vier a ser retomada, com orientação da população para
o risco da quebra destes protocolos, estabelecendo medidas de
fiscalização do cumprimento de regras rígidas e coibição de
procedimentos inadequados, endurecendo as medidas em caso de
reiteração de conduta.

É imperioso que as restrições em relação a idosos e grupos de risco


sejam mais detalhadas, precisando estar bem definidas, não só́ quanto
à recomendação de limitação de circulação, mas quanto ao não
retorno ao trabalho presencial, mesmo que estejam vinculados a
atividades que venham a ser liberadas. Preocupa-nos a situação de
risco ao emprego que podem sofrer, o que demanda um pensar do
Governo sobre o assunto.

De todo modo, com a notícia de postergação do prazo de suspensão


das atividades não essenciais para o dia 11.05.2020 e, considerando

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que o Distrito Federal, atualmente, possui capacidade de atendimento
no seu sistema de saúde, uma vez que o percentual de ocupação de
leitos de UTI para os pacientes com COVID-19 é inferior a 30%
(trinta por cento), considero que, por ora, não se justifica a
interferência do Poder Judiciário nas ações do Poder Executivo,
para desfazer a liberação de alguns setores da economia, que,
embora não essenciais, não indicaram ser fatores de aumento
descontrolado de contágio.

Deve, no entanto, a ampliação da flexibilização do isolamento ser


acompanhada de um cronograma de reabertura dos diversos setores
da economia e de diversas medidas acautelatórias que visarão
impedir a propagação da doença, com a implementação de protocolos
sanitários rígidos, claros e que demandam divulgação prévia. São
novos hábitos que estão sendo implementados e, em algumas cidades
que retomaram as atividades, não são fáceis a fiscalização e o
controle.

(...)

O que parece, por ora, é que a parte autora se antecipou às ações do


governo, por não terem sido disponibilizadas informações a
contento, por ocasião da resposta à recomendação conjunta
formalizada pelos requerentes em 13.04.2020, uma vez que a
incerteza do número exato de leitos de UTI totalmente equipados e
reservados para o atendimento de pacientes COVID-19, de efetiva
entrega dos hospitais de campanha no Mané Garrincha e no sistema
prisional, uma divulgação diária de quantitativo de testagens (e seus
resultados) e planejamento viável de sua realização nas áreas com
população carente, um plano de retomada de atividades com melhor
detalhamento de datas e das regras sanitárias a serem observadas em
cada atividade, o planejamento de distribuição de máscaras, passam
a ideia de que a abertura total das atividades comerciais está sendo
realizada sem qualquer fundamento técnico, para atender às
demandas e pressões dos setores econômicos.

(...)

Isto não nos impede de estabelecer premissas a serem mantidas e que,


com certeza, já se encontram dentro do escopo que vem sendo
adotado pelo Governo do Distrito Federal, embora é certo que alguns
planejamentos se frustram em virtude de contratações não
aperfeiçoadas, não chegada de equipamentos, atraso de obras, etc., e
demandam um agir cauteloso, compatível com o adotado ao fechar
escolas e estabelecimentos a tempo de evitar um crescimento
desordenado do contágio e a permitir um melhor aparelhamento do
sistema de saúde.

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Podemos ter dias melhores com o achatamento da curva de contágio,
especialmente se houver um compromisso não apenas do Distrito
Federal e da União, mas da população que precisa ser devidamente
instruída, não tendo duvidas sobre a necessidade de alteração de
hábitos por um período maior.

Por fim, considerando que a discussão está intrinsecamente


relacionada à discricionariedade administrativa, não vislumbrando
este Juízo, por ora, nenhuma ilegalidade, irrazoabilidade ou
desproporcionalidade a justificar a interferência do Poder
Judiciário, é de rigor a manutenção de todas as decisões já tomadas
pelo gestor eleito democraticamente, não se apresentando legítimo,
diante do prazo ainda existente para a divulgação de normativos
relacionados e melhor detalhamento de informações técnicas, que o
Juízo tome decisões relacionadas à contenção da contaminação pelo
coronavírus, sob pena de franca invasão em esfera que não lhe
compete.

Que o medo não nos paralise, mas que a falta de observância do


princípio da precaução não nos leve ao arrependimento e a dores
pelas quais tem passado, notadamente, as populações dos estados do
Amazonas, Ceará, Pará, Rio de Janeiro e São Paulo.

Ante o exposto, CONCEDO EM PARTE A TUTELA DE URGÊNCIA


PARA, POR ORA, APENAS SUSPENDER QUALQUER
AMPLIAÇÃO DO FUNCIONAMENTO DE OUTRAS
ATIVIDADES QUE SE ENCONTRAM SUSPENSAS ATÉ NOVO
PRONUNCIAMENTO DESTE JUÍZO.

Considerando que, trazida a questão ao Poder Judiciário, lhe


compete participar de forma cooperativa e, com o propósito de
observar que tais ações serão efetivamente implementadas pelo Poder
Público, DESIGNO VISITA À SALA DE SITUAÇÃO DO
PALÁCIO DO BURITI, a ser realizada no dia 07.05.2020, às
10:00h, ocasião na qual o Distrito Federal deverá apresentar os
dados complementares referentes ao planejamento de retomada, com
datas por bloco de atividades e regras sanitárias para diferentes
ramos, se for o caso; número de leitos da rede pública e privada,
normais e de UTI, disponíveis e prontos para receber pacientes
portadores de COVID-19, com detalhamento de equipamentos
disponíveis; número de leitos ocupados na rede pública e privada,
com gráficos e comparativos percentuais com número de pacientes
infectados (pessoas contaminadas - doentes recuperados - óbitos);
plano de fiscalização e medidas de contenção em caso de
descumprimento; dados sobre processo de aquisição e planejamento
de distribuição de máscaras; dados sobre processos de contratação e
entrega de leitos de UTI da rede privada; entrega e funcionamento
dos hospitais de campanha no Mané Garrincha e no sistema
prisional; regras sanitárias específicas e planejamento referentes a
transporte público, incluindo, se for o caso, projeção de fluxo em
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diferentes turnos; dados sobre aplicação de testes rápidos,
especialmente o número de testes realizados diariamente por área
administrativa e resultados, bem como medidas adotadas quando o
resultado é positivo; plano de distribuição de máscaras pelo Poder
Público, empregadores e comércio; campanhas de conscientização e
educação da população; plano de atendimento no comércio em
horário específico para população de risco e quaisquer outros dados
que entender pertinentes. Por sua vez, a União deve apresentar dados
de repasse para o Distrito Federal de verbas para testagem, compras
de respiradores, EPIs, UTIs e dados referentes a leitos COVID no
HUB e HFA. Ciente, desde logo, a parte ré que a apresentação dos
dados é fator determinante para a análise da possibilidade de
flexibilização do isolamento no Distrito Federal.” (decisão
impugnada – grifamos)

Após a expedição da decisão acima transcrita, foi realizada, em 07.05.2020, a


visita ao Palácio do Buriti referida em seu dispositivo (uma espécie de inspeção
judicial), no qual foram apresentados à Exma. Sr. Juíza Kátia Balbino de Carvalho
Ferreira, bem como aos doutos representantes do Ministério Público e demais presentes,
uma série de documentos e dados objetivos aptos a demonstrar que o Distrito Federal,
ao programar a retomada das atividades econômicas na capital federal, estava fazendo-o
de forma planejada, ordenada e fundada em dados objetivos e cientificamente
consistentes.

É cabível, em face da decisão acima transcrita, proferida em primeira instância,


pedido de suspensão de tutela de urgência, dirigido ao Excelentíssimo Senhor
Presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª Região.

Conforme estabelece o art. 12, §1º, da Lei n. 7.347/85, “[a] requerimento de


pessoa jurídica de direito público interessada, e para evitar grave lesão à ordem, à
saúde, à segurança e à economia pública, poderá o Presidente do Tribunal a que
competir o conhecimento do respectivo recurso suspender a execução da liminar, em
decisão fundamentada, da qual caberá agravo para uma das turmas julgadoras, no
prazo de 5 (cinco) dias a partir da publicação do ato.” A previsão normativa do uso do
pedido de suspensão da tutela de urgência, como instrumento voltado à tutela da ordem,
da saúde, da segurança e da economia públicas, encontra-se adicionalmente explicitada
no art. 1º da Lei n. 9.494/97, c/c art. 4º da Lei n. 8.437/92.
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Como adiante demonstraremos, a decisão impugnada representa grave invasão do
espaço de competências constitucionalmente reservadas ao Poder Executivo do Distrito
Federal, a revelar ofensa à ordem pública, em suas dimensões jurídico-constitucional e
jurídico-administrativa; e subverte o sistema processual brasileiro, afrontando
novamente a ordem pública, agora em sua projeção jurídico-processual. Vejamos.

II – Dos fundamentos para a imediata suspensão da tutela antecipada


2.1. Da violação à ordem pública, em sua dimensão jurídico-constitucional

É nos momentos de crise que a Constituição deve mostrar a sua força normativa.

Um dos pilares centrais da Constituição, ao lado dos direitos fundamentais e da


forma federal de Estado, é a separação entre os Poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário. A cada Poder, como se sabe, cabem atividades e responsabilidades
precípuas, definidas em normas de competência cujos lindes, ao deixarem de ser
rigorosamente observados, conduzem à paralisia completa do Estado.

A ação civil pública é um instrumento fundamental para a defesa de direitos. Não


pode ser transformada, contudo, no espaço central no qual são tomadas decisões
governamentais, que foi o que se tornou, com todas as vênias, a ação civil pública n.
1025277-20.2020.4.01.3400, no que se refere ao enfretamento do vírus SARS-Cov-2 no
Distrito Federal.

Ao Poder Judiciário cabe a defesa de direitos. Trata-se do Poder responsável pela


prevalência do ordenamento jurídico, resolvendo conflitos de interesses, envolvendo
direitos individuais, coletivos ou difusos, mantendo a paz social. A função
governamental, por sua vez, cabe ao Poder Executivo, assim como a quase totalidade da
função administrativa (serviços públicos, poder de polícia, fomento e regulação). Ao
Poder Legislativo cabe a criação de normas jurídicas primárias e a fiscalização dos
demais Poderes. Essa divisão, fruto de sabedoria prática historicamente acumulada,
liga, a cada função, responsabilidades jurídicas e políticas.

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As escolhas governamentais cabem ao Poder Executivo. É reservado ao chefe do
Poder Executivo o comando do governo. Governo que, é certo, submete-se à
Constituição e às leis, mas que, é igualmente certo, detém, como regra, grande margem
de discricionariedade em suas decisões políticas, sobretudo no que se refere às grandes
escolhas que afetam a vida da sociedade e que derivam de interpretação direta da
Constituição.

As escolhas governamentais ilegais são controláveis pelo Poder Judiciário, é


certo. Mas, uma vez não demonstrada, de forma cabal, a ilegalidade da ação
governamental, como reconhecido na própria decisão impugnada, não cabe ao Estado-
Juiz substituir-se ao Estado-Governo e tomar, no âmbito de processos judiciais, as
grandes decisões políticas que afetam a vida da população. A assunção das decisões
políticas por parte de juízes é uma subversão constitucional que deve ser evitada, assim
como o seria a interferência de interesses políticos em julgamentos que devem se pautar
apenas pelo direito.

A diferença entre a decisão jurídica (competência do Poder Judiciário) e a decisão


política (que cabe aos Poderes Executivo e Legislativo) é uma distinção de linguagem.
A decisão jurídica se vale da linguagem normativa (princípios e regras), prescritiva,
fundada distinção de base entre o que lícito e o que é ilícito, legal e ilegal, válido ou
inválido, para resolver conflitos de interesses. É o que consta – ainda que sob
perspectivas distintas - de autores tão diversos quanto consagrados, como Hans
KELSEN, Hebert HART, Karl LARENZ, Niklas LUHMANN e Ronald DWORKIN. Já
a decisão política, que é também juridicamente balizada pela Constituição e pelas leis,
envolve o sopesamento de interesses diversos - econômicos, sanitários, técnicos, morais,
estratégicos (repartição do poder político, formação de maiorias, etc.) -, num exercício
de razão prática que tangencia, porém absolutamente não se confunde, com a decisão
de aplicação técnica do direito.

O desenho institucional dos Poderes revelas as aptidões de cada qual. A cúpula do


Poder Executivo (Governo) e o Poder Legislativo são estruturados, de forma proposital,
para serem permeáveis a demandas sociais de todas as espécies, decidindo quais delas,
num contexto de escassez, deverão prevalecer. Fazem escolhas políticas, portanto. Já o

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Poder Judiciário, guardião da linguagem normativa, é por natureza hermético e
acessível, como regra, apenas por meio da intermediação de um profissional com
formação técnica – os advogados, públicos e privados, e os membros do Ministério
Público.

O enfretamento da COVID-19, doença perniciosa que surpreendeu o planeta,


envolve decisões estratégicas de política que, num ambiente democrático, devem ser
tomadas com agilidade, no âmbito de uma estrutura institucional aberta à oitiva de todos
os segmentos da sociedade interessados no assunto. A própria ciência está, hoje, a cada
dia, num processo árduo de conhecimento paulatino do vírus SARS-Cov-2 e dos males
que ele causa. Não há unanimidades científicas sobre quase nenhum ponto, e os estudos
em todo o mundo se iniciaram, obviamente, somente após o recente surgimento do
vírus, notificado à Organização Mundial da Saúde em 31.12.2020. É neste contexto,
com o acompanhamento diário da evolução da pandemia, em que são verificados
avanços, recuos e aprendizados paulatinos, que as decisões políticas são tomadas. O
Governo é colocado no centro do problema, enfrentando face a face as questões
sanitárias envolvidas durante todo o tempo, literalmente. Eventuais escolhas tidas
como equivocadas - neste contexto de incerteza, desespero e de necessidade de decisões
governamentais ágeis -, desde que não sejam ilícitas (só cabendo ao Poder Judiciário
entrar em campo quando estiver em causa uma ilicitude, como visto), serão
politicamente julgadas, a tempo e modo. Pelas urnas.

Este é quadro institucional traçado pela Constituição, não só do Brasil, mas de


todos os países que positivaram, em normas, a filosofia política do constitucionalismo,
tal como a conhecemos no ocidente desde o século XVIII. É sobre a divisão organizada
e racional entre tarefas políticas e técnico-jurídico que se erige o Estado de Direito
Democrático. E é a partir dessa divisão, fruto da mais profunda sabedoria histórica, que
cada Estado de Direito, concretamente enfocado, se desenvolve ao longo da sua
particular história. A desconsideração da divisão constitucional dos Poderes, a refletir a
quem cabe a decisão jurídica, de resguardo da ordem normativa (do que é, à luz de
princípios e regras postas, lícito ou ilícito, legal ou ilegal, constitucional ou
inconstitucional), e a decisão política (num sopesamento de interesses do que é
conveniente, do ponto de vista do interesse público, para a proteção da saúde, da

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economia, da educação, etc.), com as respectivas atribuições de responsabilidades,
inclusive perante o eleitorado, só levará a democracia nacional à regressão
qualitativa. Ou seja, à corrosão da estrutura do Estado de Direito Democrático previsto
na Constituição de 1988, que estruturou o Estado de modo a não prever, ao Poder
Judiciário, deveres políticos, no sentido acima definido. O juiz é o tutor, na democracia,
da linguagem normativa do direito posto, e o seu terreno de atuação é o processo
judicial, ao qual só as partes e alguns interessados têm acesso. Ao Governo e ao Poder
Legislativo, que respondem nas urnas, cabem o manejo da linguagem política, exercida
no âmbito de instituições abertas à oitiva dos mais diversos interesses.

Feitas estas considerações, o que se vê, a partir da leitura da decisão impugnada, é


que ela:

• transformou o Juízo da 3ª Vara Federal de Brasília em autoridade


certificadora de todas as escolhas do Governo do Distrito Federal no
que se refere ao combate à difusão do vírus SARS-Cov-2 e ao
tratamento dos pacientes acometidos pela COVID-19. Cada medida,
cada decisão tomada, na prática, terá que ser submetida ao descortino,
avaliação e aprovação do juízo de origem, sob a tutela do Ministério
Público;

• não está a lidar com a aplicação do direito, tarefa do Poder


Judiciário, como a sua própria textualidade revela (a decisão
praticamente não faz referência ao direito, salvo, de passagem, ao art.
3º da Lei n. 13.979/20 e ao princípio da precaução, focando, na
verdade, na avaliação da conveniência e da oportunidade das escolhas
governamentais).

Aliás, a própria petição inicial pouca referência faz ao direito. Sob o argumento
genérico de defesa do direito à saúde, o que se tem é, na verdade, apenas a tentativa de
impor judicialmente as escolhas políticas, de defesa sanitária, que os membros do
Ministério Público entendem ser as melhores. Uma decisão política, portanto, tomada
pelos membros do Ministério Público em conjunto com os seus técnicos, que se quer

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ver prevalecer, pelo braço forte da jurisdição, sobre as decisões e juízo formulados
pelo Governador, pelo Secretário de Estado de Saúde e de toda a sua equipe. Simples
assim. Não é de direito que se trata, mas sim de política, ainda que, para se dar verniz
jurídico aos documentos, se façam pontuais referências ao direito à saúde e ao princípio
da precaução.

O mais recente ato do juízo de primeira instância, inclusive, foi nomear como
auxiliar do juízo um médico Endocrinologista, para informalmente auxiliá-lo na
interpretação dos documentos técnicos fornecidos pelo Distrito Federal. Veja a que
ponto se chegou. Improvisou-se uma espécie de prova técnica simplificada, produzida
sem contraditório, na qual os juízos de um médico que sequer é epidemiologista ou
sanitarista podem vir a prevalecer sobre os debates e decisões tomadas por todo o corpo
da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, levados à decisão pelo Governador do
Distrito Federal. Com todas as vênias, a relação da ilustre magistrada, a quem se deve
todo o respeito, com o referido médico, é nitidamente uma relação de governante-
conselheiro, não encontrado respaldo algum na lógica normativa que deve conduzir o
trâmite de um processo judicial. Estaria isso em sintonia com o art. 2º da Constituição?
Evidente que não. Trata-se de uma nítida subversão da ordem pública, em sua dimensão
jurídico-constitucional, em plena pandemia, a reclamar correção por parte deste Egrégio
Tribunal Regional Federal. Ao Governo, o governo; ao Poder Judiciário, a jurisdição.
Só assim o Estado brasileiro conseguirá agir com o nível de racionalidade que o desafio
do enfretamento ao vírus SARS-Cov-2 exige. A balbúrdia constitucional leva à perda de
capacidade do Estado de enfrentar a pandemia; a perda da capacidade de agir, do
Governo e da Administração, leva a mortes, a desemprego e, aos mais carentes, fome.

Por mais que o juízo de primeira instância esteja imbuído de propósitos nobres, e
disso não se duvida, a hora é de cada Poder fazer a sua parte. Caso contrário, a paralisia
é certa. O enfretamento da crise envolve, politicamente, uma complexidade que não é
captável pelo desenho institucional do Poder Judiciário e do processo judicial, traçado
na Constituição e nas leis.

Não nos parece conveniente trazer matérias da imprensa a processos judiciais. A


imprensa tem o seu papel, fundamental na democracia, mas reportagens e colunas não

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são provas. De toda sorte, como os autos estão cheios delas, tomamos a liberdade de
transcrever parte de artigo publicado pelo Professor Demétrio Magnoli no Jornal Folha
de São Paulo do dia 25 de abril de 2020, que bem retrata do que se está a tratar aqui:

“O físico Neils Bohr, um dos fundadores da teoria quântica, sabia o


que não sabia. “A predição é muito difícil, especialmente sobre o
futuro”, afirmou ironicamente, para explicar que a ciência cuida,
essencialmente, da descrição. É útil recordar sua frase, nesses tempos
em que líderes políticos —com o apoio de não poucos cientistas
presunçosos— enchem a boca para dizer que suas decisões sobre a
emergência sanitária fundamentam-se “na ciência”.
(...)
A ciência faz descrições e, no limite, formula hipóteses probabilísticas
sobre o futuro. Um modelo sobre a pandemia da Universidade de
Washington recomenda que nenhum estado dos EUA reabra a
economia antes de maio —e que alguns deles só o façam no longínquo
julho. Mas, rejeitando o fetichismo, o responsável pelo estudo disse
que “se fosse um governador, certamente não tomaria decisões
baseadas apenas no nosso modelo”.
O modelo da Universidade de Washington reflete, exclusivamente,
uma especialidade científica: a epidemiologia. Não desapareceram,
contudo, na tempestade viral, outros campos do conhecimento, como
a sociologia e a economia (a “ciência sombria”, na definição de
Thomas Carlyle). Essas ciências têm algo a dizer sobre os efeitos não
epidemiológicos do congelamento prolongado de amplos setores da
produção e do consumo.
A maior depressão mundial desde a Grande Depressão terá fortes
implicações sobre a saúde pública. A ONU alerta para o risco de
uma “fome de proporções bíblicas” em países pobres, como
resultado da ruptura do sistema econômico. Investigações
(científicas!) realizadas nos EUA indicam que o desemprego de
longa duração corta a expectativa de vida em algo entre cinco e dez
anos. Há mais coisas sob o sol do que o vírus.
O fundamentalismo epidemiológico (“evitar contágios”) pode ser tão
desastroso quanto a negligência criminosa (“uma gripezinha”). A
saída encontra-se na ciência desfetichizada —ou seja, numa visão
holística da emergência sanitária.
A Alemanha, com folga no sistema de saúde, reduz paulatinamente as
restrições na hora em que ainda se registram milhares de novos
contágios diários. É uma decisão política, certa ou errada, tomada
pelos representantes eleitos, não por epidemiologistas.
Na guerra, o poder deve ser transferido aos generais? Na emergência
sanitária, devemos recorrer ao “governo dos epidemiologistas”? A
resposta democrática é duas vezes “não”. No segundo caso,
inclusive, para não converter a ciência em superstição.” (disponível
em
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/demetriomagnoli/2020/04/feti
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che-da-ciencia-serve-para-politicos-fugirem-a-responsabilidade-por-
suas-decisoes.shtml – grifamos - acesso em 13.05.2020, às 14:31h.)

É com o nível de complexidade discursiva (ou seja, com inúmeras variáveis


sanitárias, econômicas, dúvidas científicas, etc.) acima descrito que lida a política. O
Poder Judiciário não tem vocação institucional, nem conformação normativa, para
tomar decisões governamentais. Por que o juízo científico do Poder Judiciário e dos
membros do Ministério Público deve prevalecer sobre o juízo do Governador e dos seus
auxiliares na área de saúde pública? Não deve. E a reposta negativa se ampara na
Constituição e nos arranjos institucionais que ela traçou.

O Distrito Federal já informou ao juízo ter adotado medidas voltadas a viabilizar a


tentativa de retomada das atividades econômicas na capital federal (decisão esta que, ao
primeiro e eventual sinal de ser inadequada, pode ser revista, com a agilidade que se
requer das decisões governamentais). Antes mesmo da prolação da decisão impugnada,
foram juntados aos autos documentos públicos atestando a disponibilidade de leitos de
UTI, na rede pública, para atendimento de pacientes acometidos pela COVID-19. Aliás,
a própria decisão cita que “uma vez que o percentual de ocupação de leitos de UTI para
os pacientes com COVID-19 é inferior a 30% (trinta por cento), considero que, por ora,
não se justifica a interferência do Poder Judiciário nas ações do Poder Executivo, para
desfazer a liberação de alguns setores da economia, que, embora não essenciais, não
indicaram ser fatores de aumento descontrolado de contágio.”

Após a decisão impugnada, o Distrito Federal complementou a instrução do


processo, trazendo ao processo, inclusive HOJE, dia 14 de maio de 2020, diversos
documentos que reforçam a prova já contida nos autos, no sentido de que:

• os afrouxamentos já realizados das medidas restritivas e os que ainda


serão realizados de forma gradual pelo Poder Executivo estão
devidamente justificados, considerando as evidências técnico-
científicas fornecidas pelos órgãos técnicos;

• houve êxito no achatamento da curva de contágio, que está


apresentando crescimento gradual e controlado, em ritmo que permite
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a ampliação já planejada da capacidade da rede de atenção, com a
devida margem de segurança.

No que se refere à disponibilidade atual e projetada de leitos, por exemplo,


oportuno transcrever informações constantes do Ofício n. 2374/2020-SES-GAB (já
juntado em primeira instância), subscrito pelo Secretário de Estado de Saúde do Distrito
Federal, do dia 08 de maio de 2020:

• Sobre os leitos de UTI disponíveis na rede pública:

“O número de leitos gerais da Secretaria de Estado de Saúde do


Distrito Federal – SES/DF, rede SUS, que estão disponíveis para
receber pacientes acometidos por COVID-19 são os do Hospital
Regional da Asa Norte - HRAN, num total de 252 (duzentos e
cinquenta e dois) leitos, sendo 76 (setenta e seis) ocupados e 176
(cento e setenta e seis) desocupados, no dia 06 de maio de 2020
(30,15% de taxa de ocupação).

O número de leitos de UTI da SES/DF, próprios ou contratados, que


estão disponíveis para receber pacientes com COVID-19, no dia 06
de maio de 2020, é de 172 (cento e setenta e dois) leitos (conforme
tabela anexa – Tabela 01), sendo que 45 (quarenta e cinco) estão
ocupados e 127 (cento e vinte e sete) estão desocupados (dados das
19 horas do dia 06 de maio de 2020), o que significa 26,16% de taxa
de ocupação. Os leitos são classificados como liberados ou
reservados, dos 172 (cento e setenta e dois) leitos totais dedicados à
COVID-19, 168 (cento e sessenta e oito) destes têm equipamentos
necessários para suporte de UTI disponíveis com ventilação mecânica
e 04 (quatro) não contam com ventilação mecânica, para pacientes de
cuidados intermediários.

Estes informados como reservados são aqueles que teriam a tivação e


liberação em até 24 horas para direcionamento de pacientes e que já
têm infraestrutura e recursos humanos para atender pacientes com
suporte avançado, necessário à enfermidade COVID-19.”

• Sobre os leitos de UTI da rede privada:

“Em relação aos dados atualizados dos leitos da rede privada, está
sendo construído um fluxo de monitoramento, considerando o Decreto
40.6779, de 04 de maio de 2020, que determina a obrigatoriedade do

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repasse de informações dos leitos de UTIs privadas, na forma
suplementar ao SUS, ou seja, não contratualizados.

Os leitos de UTI da rede privada, com pacientes confirmados com


COVID-19 são informados diariamente ao Centro de Informações
Estratégicas em Vigilância à Saúde – CIEVS/SVS e constam no
Boletim Epidemiológico diário.

(...)

A Secretaria de Saúde possui contratados um total de 107 (cento e


sete) leitos de UTI na rede privada. Todos os contratos têm origem no
edital de chamamento público n° 05/2009, cujo objeto é o
credenciamento de pessoas jurídicas para prestação de serviços da
terapia intensiva em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal,
Pediátrica e Adulto, em caráter complementar junto ao Sistema Único
de Saúde do Distrito Federal – SUS /DF.

Esta secretaria possui, em fase de contratação e/ou contratadas, a


instalação de mais 156 (cento e cinquenta e seis) leitos de UTI. Sobre
o supracitado credenciamento, estão em fase final de contratação 40
(quarenta) leitos, sendo 06 (seis) com a empresa DOMED
PRODUTOS E SERVIÇOS DE SAÚDE LTDA; 04 (quatro) do
Hospital São Francisco (Serviços Hospitalares Yuge S/A); e 30
(trinta) leitos com o Instituto de Cardiologia do Distrito Federal –
ICDF.

Encontram-se em fase final de contratação com a empresa Instituto


MedAid Saúde – IMAS, 86 (oitenta e seis) leitos para o Hospital da
Polícia Militar. Foram ainda contratados mais 20 (vinte) leitos para o
Hospital de Campanha Arena BSB, com pretensão de aditivo para o
atendimento aos 10 (dez) leitos previstos para o Hospital do
Complexo Penitenciário da Papuda. As referidas previsões de
disponibilidades dos leitos estão listadas no quadro abaixo.

(...)

Por fim, informamos que foi publicado no Diário Oficial do Distrito


Federal – DODF, Edição Extra No 65, de 05 de maio de 2020, o
recebimento de propostas para contratação de instalação de mais 55
(cinquenta e cinco) leitos de UTIs para instalações na rede hospitalar
da Secretaria de Saúde.”

• Sobre os hospitais de campanha:

“Considerando o cronograma de trabalho e os esforços empreendidos


para finalizar as obras do Hospital de Campanha Arena (Estádio

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Nacional de Brasília - Mané Garrincha) e o Hospital de Campanha
dentro do Complexo Penitenciário da Papuda, têm-se as seguintes
datas:

(...)

Verifica-se que as referidas obras encontram-se dentro do


cronograma previsto Ressalta-se que esta previsão está relacionada
às obras de infraestrutura e as de instalação dos equipamentos
necessários.

Quanto ao prazo em que os serviços estarão disponíveis para


atendimento ao público, encaminha-se planilha abaixo com as datas
relacionadas às Etapas em que se encontram as obras e sua previsão
de atendimento externo:

(...)

A previsão para a utilização do hospital de campanha que está sendo


instalado no

Estádio Mané Garrincha é de aproximadamente seis meses.

Com relação ao Hospital de Campanha que está sendo construído no


Complexo Penitenciário da Papuda, ressalta-se que esse poderá ser
aproveitado pela administração do presídio, por se tratar de uma
construção com estrutura permanente e segura, necessitando apenas
de um estudo posterior que será realizado pela Secretaria de Saúde
do Distrito Federal em parceria com a Secretaria de Segurança
Pública.”

• Sobre os testes rápidos disponibilizados à população:

“Diante do cenário de pandemia da COVID-19, tendo em vista as


ações estratégicas para reduzir o risco de transmissão, foi iniciada
em 21/04/2020 a testagem para COVID-19 na população do Distrito
Federal, em locais estratégicos territorialmente, com base na
avaliação epidemiológica, iniciando pelas Regiões Administrativas
com maior incidência de casos confirmados de COVID-19.

Primeira semana da ação (21 a 25 de Abril de 2020), o cadastro foi


feito manualmente, no momento da triagem, na chegada do Drive
Thru, pela equipe de saúde. A par r de 27 de abril de 2020, o Drive
Thru de Testagem para Covid-19 iniciou o cadastramento pelo
sistema desenvolvido pela Secretaria de Economia do DF – SEEC,

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por meio da Subsecretaria de Tecnologia da Informação e
Comunicação – SUTIC, em conjunto com a SES-DF: testa.df.gov.br.

A fim de dar consecução à testagem, a implementação da operação


vem sendo executada por fases:

(...)

Ressaltamos que os casos positivos são notificados ao Ministério da


Saúde e contatados pela equipe de vigilância epidemiológica da
Atenção Primária de cada Região de Saúde. O usuário é orientado
quanto à necessidade de isolamento domiciliar e são monitorados,
por telefone, a cada 48 horas e, nos casos em que a situação
percebida é de agravamento, é realizada visita domiciliar e/ou
encaminhamento para a unidade hospitalar de referência, o Hospital
Regional da Asa Norte - HRAN.”

Eis um rol de documentos já juntados ao processo, inclusive hoje, repita-se,


aptos a demonstrar que as ações governamentais, dirigidas ao enfretamento da COVID-
19 no Distrito Federal, estão todas concatenadas em amplo planejamento formulado
pela Administração Pública:

• Plano de fiscalização elaborado pelo DF LEGAL;

• Nota técnica da CODEPLAN com aspectos demográficos da


população do DF, número de estudantes, casos de COVID-19 já
diagnosticados e tendência para o DF, com projeções de novos casos;
acessos ao transporte coletivo, acesso da população a planos de saúde
privados, casos na Região Integrada do Entorno e do mercado de
trabalho do DF; esboço do plano de retomada das atividades
econômicas;

• Informações da Secretaria de Estado de Saúde sobre número de


leitos da rede pública e privada, disponíveis para receber pacientes,
com detalhamento dos equipamentos disponíveis; plano de
fiscalização e medidas de contenção em caso de descumprimento;
dados sore processos de contratação e entrega de leitos de UTI da rede
privada; entrega e funcionamento dos hospitais de campanha no Mané
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Garrincha e do sistema prisional; dados sobre aplicação de testes
rápidos; dados complementares sobre nomeações de servidores.

• Boletins epidemiológicos da Secretaria de Saúde;

• Dados da Secretaria de Saúde sobre processos de contratação e


entrega de leitos de UTI da Rede Privada;

• Dados da Secretaria de Saúde sobre entrega e funcionamento dos


hospitais de campanha;

• Dados da Secretaria de Saúde sobre informações complementares


acerca das nomeações de servidores para combate à pandemia;

• Dados da Secretaria de Saúde sobre contratações de leitos de UTIs


pelo IGESDF;

• Notas técnicas, condutas e orientações da assistência da Secretaria de


Saúde;

• Currículos dos responsáveis pelas informações da Secretaria de


Saúde;

• Informações da Secretaria de Segurança Pública sobre as ações de


combate à COVID-19 no sistema prisional;

• Gráfico demonstrando a curva comparativa entre EUA x Singapura x


Brasil e DF;

• Projeção da curva de contágio no DF com e sem achatamento;

• Informações sobre testes rápidos realizados, com a tabela do número


de testes e resultados positivos;

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• cronograma de entrega de novos leitos COVID -19 - com suporte
ventilatório;

• Ofício encaminhado pela Secretaria de Estado de Mobilidade ao


Ministério Público do Distrito Federal, contendo as ações adotadas
pela Secretaria no transporte individual e coletivo, “visando o
controle e à contenção dos danos à saúde pública em decorrência da
proliferação do novo Coronavírus”;

• Informação da Secretaria de Estado de Comunicação a respeito da


estratégia de mídia e campanha publicitária informativa da população.

O Distrito Federal, portanto, com foco no interesse público, sobretudo na saúde


da população, está adotando todas as cautelas necessárias para proceder à
flexibilização dos decretos que suspenderam as atividades econômicas no âmbito
local.

Ainda assim, a Exma. Sra. Juíza da 3ª Vara Federal, auxiliada por médico
endocrinologista de sua confiança, e fiada em argumentos tecidos pelo Ministério
Público, insiste em manter suspensa a flexibilização das atividades econômicas no
Distrito Federal, já postergada, em razão do trâmite da ação civil pública originária, para
o dia 18 de maio de 2020. Cada medida sanitária adotada quanto ao tema é submetida
ao crivo judicial, para certificação. A cada informação prestada, o Ministério Público,
que a ninguém responde nas urnas, quer fazer prevalecer o seu juízo sobre como a
pandemia deve ser enfrentada. A ação civil pública n. 1025277-20.2020.4.01.3400, do
ponto de vista estritamente institucional, distanciou-se de sua ontologia
jurisdicional e transformou-se em um fórum de debates sobre as decisões
governamentais de combate à pandemia no Distrito Federal. Fórum este no qual a
opinião final cabe ao Estado-Juiz. Esse estado de coisas, com todas as vênias,
subverte completamente a ordem pública, em sua dimensão jurídico-constitucional, e
faz letra morta o disposto nos seguintes dispositivos constitucionais:

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“Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si,
o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.”

“ Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:

(..)
§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a
abolir:
(...)
III - a separação dos Poderes;”

“Art. 76. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da


República, auxiliado pelos Ministros de Estado.”

“ Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:


(...)
II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior
da administração federal;”

Tais dispositivos, normas de reprodução obrigatória, constam também da Lei


Orgânica do Distrito Federal:

“Art. 87. O Poder Executivo é exercido pelo Governador do Distrito


Federal, auxiliado pelos Secretários de Governo.

“Art. 100. Compete privativamente ao Governador do Distrito


Federal:
(...)
IV - exercer, com auxílio dos Secretários de Governo, a direção
superior da administração do Distrito Federal;”

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça já teve o ensejo de reconhecer a


existência de ofensa à ordem pública em situação análoga à presente, de invasão judicial
das esferas de competência privativa do Poder Executivo:

“AGRAVO REGIMENTAL. SUSPENSÃO DE LIMINAR. ORDEM


DOS ADVOGADOS DO BRASIL. LEGITIMIDADE ATIVA AD
CAUSAM. DEFESA DA FUNÇÃO PÚBLICA INDELEGÁVEL DE
SELEÇÃO DOS RESPECTIVOS MEMBROS. GRAVE LESÃO À
ORDEM PÚBLICA E POTENCIAL EFEITO MULTIPLICADOR.
PEDIDO DE SUSPENSÃO DEFERIDO.
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Número do documento: 20051418571984400000054401513
I - A seleção promovida pela Ordem dos Advogados do Brasil tem
status de função essencial à justiça. Trata-se de um serviço com
caráter público. Controvérsia com evidente interesse público que
resulta da delegação da fiscalização pela Lei nº 8.906, de 1994.
II - A decisão que antecipou os efeitos da tutela invadiu o mérito
administrativo ao avaliar não apenas o comando da questão, mas
os critérios de correção adotados pela banca examinadora. Essa
situação, por si só, é capaz de causar grave lesão à ordem
administrativa, na medida em que a aferição da habilidade dos
candidatos é atribuição exclusiva da Ordem dos Advogados do
Brasil- o legislador infraconstitucional fez a opção de submeter o
exercício da advocacia à avaliação daquela entidade.
III - Decisum que, a um só tempo, substituiu a Ordem dos
Advogados do Brasil no exame da qualificação do autor para o
exercício da advocacia, causando grave lesão à ordem
administrativa protegida pela Lei nº 8.906, de 1994, e tem o
potencial efeito multiplicador.
IV - Interesse público mais bem protegido pela suspensão dos
efeitos da tutela antecipada, ao evitar a atividade de profissionais
reprovados pela Ordem dos Advogados do Brasil, que poderiam
ocasionar danos aos interesses dos clientes que viessem a
representar.
Agravo regimental desprovido.”
(AgRg no RCD na SLS 1.930/SC, Rel. Ministro FRANCISCO
FALCÃO, CORTE ESPECIAL, julgado em 04/03/2015, DJe
20/03/2015 - grifei)

“SUSPENSÃO DE LIMINAR EM MANDADO DE SEGURANÇA -


CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PUBLICO DE TRANSPORTE
COLETIVO DE PASSAGEIROS - ALTERAÇÃO DEFINITIVA DO
ITINERÁRIO PRIMITIVO CONTRATADO - LESÃO À ORDEM
PÚBLICA CONFIGURADA - AGRAVO REGIMENTAL -
MANUTENÇÃO.
1. Na excepcional via da suspensão não cabe análise do mérito da
controvérsia, tampouco se presta à correção de erro de julgamento
ou de procedimento. Cabível, apenas, a análise do potencial lesivo
da decisão impugnada frente aos bens tutelados pela norma de
regência.
2. Há lesão a ordem pública, aqui compreendida a ordem
administrativa, quando a decisão atacada interfere no critério de
conveniência e oportunidade do mérito do ato administrativo
impugnado.
3. Estando evidente o risco de lesão a pelo menos um dos bens
jurídicos tutelados pela norma de regência é de ser deferida a
suspensão de liminar.
4. Agravo Regimental não provido.”
(AgRg na SS 1.504/MG, Rel. Ministro EDSON VIDIGAL,
CORTE ESPECIAL, julgado em 20/03/2006, DJ 10/04/2006, p. 96
- grifei)
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Calha, ainda, transcrever a seguinte passagem do voto condutor do Recurso
Especial n. 1185474/SC, que se adapta perfeitamente ao presente caso:

“Por fim, há ainda uma última questão a ser enfrentada. A atuação


do Poder Judiciário deve ser excepcional, só sendo permitida nos
casos em que as prioridades estabelecidas pela própria
constituição, essenciais à efetivação da dignidade humana, estejam
sendo preteridas em razão de programas governamentais cuja
ausência de relevância seja inconteste.

Pensar diferente seria transformar o Poder Judiciário em órgão


planejador de políticas públicas, em substituição à função
constitucionalmente atribuída ao Poder Executivo, o que
configuraria uma clara violação do princípio da Separação dos
Poderes.” (REsp 1185474/SC, Rel. Ministro HUMBERTO
MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 20/04/2010, DJe
29/04/2010 - grifei)

O Supremo Tribunal Federal igualmente já chancelou a possibilidade de utilização


da suspensão de tutela antecipada para a defesa da ordem pública, em sua dimensão
jurídico-constitucional:

“AGRAVO REGIMENTAL. SUSPENSÃO DE TUTELA


ANTECIPADA. TRANSPORTE PÚBLICO MUNICIPAL.
LICITAÇÃO. OBRIGATORIEDADE. OCORRÊNCIA DE GRAVE
LESÃO À ORDEM PÚBLICA. 1. Ocorrência de grave lesão à ordem
pública, considerada em termos de ordem jurídico-constitucional. 2.
Existência de precedentes do Supremo Tribunal Federal no sentido da
impossibilidade de prestação de serviços de transporte de passageiros
a título precário, sem a observância do devido procedimento
licitatório. 3. Cabimento do presente pedido de suspensão, que se
subsume à hipótese elencada no art. 4º, § 3º e § 4º, da Lei 8.437/92 .
4. Agravo regimental improvido.”
(STA 89 AgR, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno,
julgado em 29/11/2007, DJe-026 DIVULG 14-02-2008 PUBLIC 15-
02-2008 DJ 15-02-2008 EMENT VOL-02307-01 PP-00001)

“AGRAVO REGIMENTAL. SUSPENSÃO DE SEGURANÇA.


OCORRÊNCIA DE GRAVE LESÃO À ORDEM PÚBLICA,
CONSIDERADA EM TERMOS DE ORDEM JURÍDICO-
CONSTITUCIONAL. TETO. SUBTETO. ART. 37, XI, DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA, REDAÇÃO DA EMENDA
CONSTITUCIONAL 41/03. DECRETO ESTADUAL 48.407/04. 1. Lei
4.348/64, art. 4º: subsunção a uma de suas hipóteses. Configuração
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de grave lesão à ordem pública: deferimento do pedido de
contracautela. 2. Possibilidade de ocorrência do denominado "efeito
multiplicador". 3. Alegação de afronta aos princípios do direito
adquirido e da irredutibilidade de vencimentos: matéria de mérito do
processo principal. Inadequação da sua apreciação em suspensão de
segurança, que tem pressupostos específicos. 4. Não-aplicação, ao
caso, do decidido pelo Supremo Tribunal Federal no MS 24.875/DF,
rel. Ministro Sepúlveda Pertence, DJ 06.10.2006. 5. Existência de
precedente do Plenário desta Corte: SS 2.964-AgR/SP, DJ
09.11.2007. 6. Agravo regimental improvido.”
(SS 3000 AgR, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno,
julgado em 27/02/2008, DJe-060 DIVULG 03-04-2008 PUBLIC 04-
04-2008 EMENT VOL-02313-01 PP-00203)

Assim, uma vez vislumbrada violação à ordem pública, em suas dimensões


jurídico-constitucionais e jurídico-administrativas, pela assunção judicial do comando
das ações de combate ao vírus SARS-Cov-2 no âmbito do Distrito Federal, com
subversão da tripartição de poderes prevista na Constituição, necessário se mostra o
acolhimento do presente pedido de suspensão de tutela de urgência.

Os danos causados pela troca de papéis constitucionais aqui retratada são diários.
Seu efeito é a paralisia do Estado, num quadrante onde os Poderes do Estado,
assumindo papéis para os quais não estão vocacionados, seja normativamente, seja até
mesmo pela formação de seus membros, entram em conflito. Enquanto isso, o vírus
SARS-Cov-2 está à solta, a economia vai à bancarrota e a fome dos mais vulneráveis –
que não podem fazer teletrabalho, nem recebem contracheques - já começa a dar vivos
sinais. A suspensão imediata da decisão impugnada, com objetivo de restabelecer a
ordem pública, é de rigor.

2.2. Da violação à ordem pública, em sua dimensão jurídico-processual

A decisão impugnada representa violação à ordem pública, em sua dimensão


jurídico-processual, na medida em que foi proferida por juiz absolutamente
incompetente para examinar a demanda.

De acordo com princípio do juiz natural, ninguém será processado e julgado senão
pela autoridade jurisdicional previamente investida de competência para processar e
julgar a demanda. Desse princípio constitucional estruturante, extrai-se, como
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desdobramento necessário, que a competência não pode ser alvo de manipulação por
parte das partes, com o fito de definir quem será o Juízo competente para processar e
julgar a causa. Nisso se insere a tentativa de incluir a União no processo, sem razão
aparente alguma, somente para justificar a atuação do Ministério Público Federal e o
aforamento da ação perante a Justiça Federal, invocando-se o disposto no art. 109, I e
III, da Constituição.

O que a leitura da petição inicial revela é a cumulação indevida, em um único


processo, de duas ações, uma de competência da uma das Varas de Fazenda Pública
vinculadas ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios; outra de
uma das Varas do Trabalho de Brasília. Explicamos.

Da flagrante ausência de legitimidade da União para figurar no polo passivo

Há um pedido formulado contra a União, genérico. Ocorre que na causa pedir,


narrada ao longo da alentada inicial, não há nada, absolutamente nada, a invocar o
interesse federal na matéria, ou qualquer ação da União que deveria ser objeto de exame
e julgamento por parte da Justiça Federal. Nitidamente, o pedido final formulado contra
o Poder Público federal nada tem a ver com a causa de pedir, sendo, por isso, inepto e
revelador da ilegitimidade passiva da União. Não fosse assim, em toda e qualquer
demanda na qual se pudesse invocar a atividade de coordenação e regulação por parte
das autoridades federais, bastaria inserir um pedido final com esse teor no final de
demanda, ainda que sem fundamento em nenhum fato narrado na causa de pedir, para se
escolher a Justiça Federal como órgão competente para processar e julgar a matéria. O
objeto da ação é nitidamente controlar judicialmente as ações do Governo do Distrito
Federal no contexto do combate à pandemia do vírus SARS-Cov-2. Não há, nesse
objeto, nada que invoque a competência da Justiça Federal, salvo a inserção de
visivelmente deslocados pedidos, ao final, em face da União (alguns dos quais, como
logo adiante se verá, de competência da Justiça do Trabalho).

A invocação de que fundamento da demanda seriam normas internacionais


também não procede. A causa de pedir e o pedido são amparados em normas federais,
no princípio da precaução e no direito à saúde – normas, portanto, de direito interno.

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Não se pode invocar a competência prevista no art. 109, III, da Constituição, para atrair
a competência da Justiça Federal, quando estejam em causa normas que, ainda que
constem também de tratados internacionais, estejam devidamente previstas em atos
normativos outros do direito interno. Um exemplo simples ajudará a ilustrar o que aqui
se quer dizer. Inúmeros direitos fundamentais previstos na Constituição encontram sede
também em tratados internacionais. Serão as causas que envolvem a sua aplicação
aforadas na Justiça Federal? Evidente que não.

Se o direito invocado tem sede ao mesmo tempo na Constituição, nas leis e em


tratados, a violação aos tratados deve ser tratada como indireta, não atraindo a
competência da Justiça Federal.

Da competência da Justiça do Trabalho

A causa de pedir e todos os pedidos, formulados contra a União e o Distrito


Federal, relativos à segurança e saúde no trabalho (pedidos 1.1.1, ‘d’; 1.5; e 2.3.3), são
de competência da Justiça do Trabalho, a teor do art. 114, I, da Constituição:

“Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:


I as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de
direito público externo e da administração pública direta e indireta
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
(...)
IX outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma
da lei.”

Destaque-se parte dos fundamentos dos pedidos acima indicados (pedidos 1.1.1,
‘d’; 1.5; e 2.3.3), desenvolvidos entre as páginas 47 e 53 da petição inicial:

“O Ministério Público do Trabalho (MPT) vem recebendo diversas


denúncias sobre más condições de saúde e segurança de
trabalhadores que se mantêm em atividades essenciais e, de forma
mais acentuada, dos profissionais de saúde. Existem hoje inquéritos
civis em tramitação em face de vários hospitais públicos e privados,
como HRSAM, HRAN, HRT, HRC, Hospital de Base, HUB, HFA,
Instituto de Cardiologia, Hospital Santa Marta, Hospital Home,
Hospital Anchieta, Hospital Sarah Brasília, Hospital Brasília - LAF,

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HMIB, Hospital Santa Lúcia, HNBRA, Hospital Lago Sul - DAHER,
dentre vários outros.

(...)

Na grande maioria das unidades houve aumento da demanda, sem


redimensionamento de pessoal; não há sala de espera separada
para triagem de suspeitos de Covid; não há suficiente provimento
de roupas, alimentação e repouso para os profissionais, nem
equipamentos de proteção recomendados; não há fornecimento de
equipamentos de proteção individual aos profissionais de saúde,
especialmente a máscara N95.

(...)

Ainda que incompleta, da parca resposta recebida ao Ofício,


vislumbra-se a confissão da falta de equipamentos de proteção e a
dificuldade de reposição. Até mesmo a projeção de duração de cada
equipamento o GDF ainda conseguiu fazer em 31/03/20, mas já não
fez em 08/04/20 e nem em 15/04/20, mesmo com requisição expressa
do Ministério Público. A análise a tal resposta encontra-se no laudo
pericial contábil anexo (DOC. 17), elaborado por perito do
Ministério Público do Trabalho. Extrai-se da resposta do GDF e do
laudo pericial, que a Secretaria de Saúde sequer consegue avaliar a
duração de seu estoque de EPI ́s de uma semana para outra, e
mesmo assim publica em média 2 decretos por semana retomando
atividades, com redução do isolamento social, risco de agravamento
de pandemia e de colapso do sistema de saúde, com profissionais
sem condições de saúde e segurança para executarem seu mister.

(...)

Além disso, os trabalhadores também estão desprotegidos, porque a


fiscalização do trabalho está mitigada e praticamente paralisada
por força da MP 927/20. Até mesmo para investigação de acidente
de trabalho, como por exemplo no caso de uma explosão na cozinha
de restaurante funcionando mediante entregas, sempre considerada
prioritária, a fiscalização afirma que agora não irá no local,
conforme documento anexo (DOC.21). Diz a Superintendência do
Trabalho que “Por se tratar de acidente grave, a demanda foi
cadastrada e programada para execução assim que a situação
relacionada à pandemia se normalizar”. Ora, isso significa que se
numa obra houver acidente, num supermercado, num hospital, nem
assim a fiscalização irá agir. Não haverá interdição de máquinas
perigosas, caldeiras, andaimes mesmo em situação de acidente e
todos continuarão em risco. Quando nem a fiscalização repressiva
há, é sinal de que a preventiva muito menos. Então, quanto mais
atividades forem retomadas, mais pessoas estarão sujeitas a riscos
de acidentes e de doenças profissionais, mais máquinas, veículos,

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atividades sem fiscalização e maior a periclitação da saúde e da
vida de todos.” (petição inicial)

Trata-se nitidamente de demanda de competência da Justiça do Trabalho,


indevidamente cumulada com ação proposta perante a Justiça Federal (que, como visto
deveria, ter sido aforada na Justiça do Distrito Federal e dos Territórios). A questão é
objeto de enunciado da súmula de jurisprudência do Supremo Tribunal Federal:

“Súmula 736 - Compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que


tenham como causa de pedir o descumprimento de normas
trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos
trabalhadores.”

Confira-se os seguintes precedentes:

“(...) a jurisprudência da Corte firmou-se no sentido de que, por


voltar-se a ação civil pública a questões referentes ao ambiente, às
condições e à organização do trabalho, é competente para processá-
la e julgá-la a Justiça do Trabalho. Nesse sentido, confira-se a
ementa do RE 206.220-MG, 2ª T., rel. min. Marco Aurélio, DJ
17.09.1999: (...) Este é também o teor da Súmula 736 desta Corte.”
[AI 416.463 AgR, rel. min. Joaquim Barbosa, 2ª T, j. 5-6-2012,
DJE 122 de 22-6-2012.]

“16. Como de fácil percepção, para se aferir os próprios elementos


do ilícito, sobretudo a culpa e o nexo causal, é imprescindível que se
esteja mais próximo do dia-a-dia da complexa realidade laboral.
Aspecto em que avulta a especialização mesma de que se revestem
os órgãos judicantes de índole trabalhista. É como dizer: órgãos que
se debruçam cotidianamente sobre os fatos atinentes à relação de
emprego (muitas vezes quanto à própria existência dela) e que por
isso mesmo detêm melhores condições para apreciar toda a trama
dos delicados aspectos objetivos e subjetivos que permeiam a
relação de emprego. Daí o conteúdo semântico da Súmula 736,
deste Excelso Pretórios assim didaticamente legendada: "Compete à
justiça do trabalho julgar as ações que tenham como causa de pedir
o descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança,
higiene e saúde dos trabalhadores". [CC 7.204, rel. min. Ayres
Britto, P, j. 29-6-2005, DJ de 9-12-2005.]

Assim, é da competência da Justiça do Trabalho a competência para processar e


julgar indevidamente a demanda, indevidamente cumulada na inicial, que tem por
objeto a segurança e a saúde dos trabalhadores.

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Conclusões sobre a questão da competência e violação à ordem pública

Pelo que foi exposto, fica claro que o que se tem, substancialmente, pelo exame
dos termos da petição inicial, é uma ação movida contra o Distrito Federal, cuja
competência seria da primeira instância da Justiça do Distrito Federal e dos Territórios,
cumulada com uma demanda trabalhista, cujo juízo natural seria uma das Varas do
Trabalho de Brasília. Porém, a demanda foi aforada perante a Justiça Federal mediante
o artifício de se incluir nos polos da ação, sem explicação plausível na própria causa de
pedir desenvolvida, o Ministério Público Federal e a União. Tal conduta dos autores,
chancelada pelo Juízo de origem por meio da decisão impugnada, representa grave
violação à ordem pública, em sua dimensão jurídico-processual, na medida em que
sujeita o Distrito Federal a ter as suas políticas públicas avaliadas e monitoradas por
órgão jurisdicional absolutamente incompetente.

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal acolhe há muito a possibilidade do


uso da suspensão de liminar, ou da suspensão de tutela antecipada, como mecanismo
voltados a resguardar a ordem pública, em sua dimensão jurídico-processual. Veja-se:

“EMENTA: CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. MEDIDA


CAUTELAR: LIMINAR. Lei 8.437, de 30.06.92, art. 2º e art. 4º, § 4º,
redação da Med. Prov. 1.984-19, hoje Med. Prov. 1.984-22. ORDEM
PÚBLICA: CONCEITO. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS: C.F.,
art. 37. ECONOMIA PÚBLICA: RISCO DE DANO. Lei 8.437, de
1992, art. 4º. I - Lei 8.437, de 1992, § 4º do art. 4º, introduzido pela
Med. Prov. 1.984-19, hoje Med. Prov. 1.984-22: sua não suspensão
pelo Supremo Tribunal Federal na ADIn 2.251-DF, Ministro Sanches,
Plenário, 23.08 .2000. II - Lei 8.437, de 1992, art. 2º: no mandado de
segurança coletivo e na ação civil pública, a liminar será concedida,
quando cabível, após a audiência do representante judicial da pessoa
jurídica de direito público, que deverá se pronunciar no prazo de
setenta e duas horas. Liminar concedida sem a observância do citado
preceito legal. Inocorrência de risco de perecimento de direito ou de
prejuízo irreparável. Ocorrência de dano à ordem p ública,
considerada esta em termos de ordem jurídico-processual e jurídico-
administrativa. III - Princípios constitucionais: C.F., art. 37: seu
cumprimento faz-se num devido processo legal, vale dizer, num
processo disciplinado por normas legais. Fora daí, tem-se violação à
ordem pública, considerada esta em termos de ordem jurídico-
constitucional, jurídico-administrativa e jurídico-processual. IV -
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Dano à economia pública com a concessão da liminar: Lei 8.437/92,
art. 4º. V - Agravo não provido.”
(Pet 2066 AgR, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO (Presidente),
Tribunal Pleno, julgado em 19/10/2000, DJ 28-02-2003 PP-00009
EMENT VOL-02100-01 PP-00202 - grifei)

Assim, demonstrada a nítida manipulação da competência para processar e julgar


a demanda, é de rigor reconhecimento, no caso, de violação à ordem pública, a atrair a
imediata suspensão da decisão impugnada.

III - Pedidos

Diante do exposto, o Distrito Federal pede a suspensão inaudita altera pars da


tutela de urgência concedida, em parte, nos autos da ação civil pública n. 1025277-
20.2020.4.01.3400, sendo tal decisão, em seguida, confirmada para manter-se a decisão
impugnada suspensa até o trânsito em julgado da ação originária.

Pede, ainda, a intimação do Ministério Público Federal - MPF, do Ministério


Público do Distrito Federal e dos Territórios - MPDFT, do Ministério Público do
Trabalho - MPT, da Ordem dos Advogados do Brasil, da Defensoria Pública da União e
da Defensoria Pública do Distrito Federal, para que, querendo apresentem reposta ao
presente pedido de suspensão de tutela antecipada.

Requer, finalmente, a juntada dos documentos em anexo, bem como a


comunicação ao juízo de origem sobre a suspensão da tutela de urgência concedida;
pede, ainda, que, quanto ao restante das peças e documentos juntados ao processo,
aplique-se por analogia o disposto no art. 1.017, §5º, do CPC, vez que a ação civil
pública originária tramita em meio integralmente eletrônico.

Valor da causa: R$ 1.000,00.

Nestes termos, pede deferimento.

Brasília - DF, 14 de maio de 2020.

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Número do documento: 20051418571984400000054401513
Heloísa Monzilo de Almeida
Procuradora-Geral Adjunta do Contencioso

André Ávila
Procurador-Chefe da PROMAI

Luís Fernando Belém Peres


Procurador do Distrito Federal

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