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24/05/2021
Número: 1046470-91.2020.4.01.3400
Classe: AÇÃO CIVIL PÚBLICA CÍVEL
Órgão julgador: 21ª Vara Federal Cível da SJDF
Última distribuição : 19/08/2020
Valor da causa: R$ 500.000,00
Assuntos: Tratamento Médico-Hospitalar
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
DEFENSORIA PUBLICA DA UNIAO (AUTOR)
DEFENSORIA PUBLICA DO DISTRITO FEDERAL (AUTOR)
DISTRITO FEDERAL (REU)
UNIÃO FEDERAL (REU)
Ministério Público Federal (Procuradoria) (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
54884 21/05/2021 17:05 Decisão Decisão
6008
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária do Distrito Federal
21ª Vara Federal Cível da SJDF
PROCESSO: 1046470-91.2020.4.01.3400
DECISÃO
"(2.1) Seja emitida ordem judicial para impor ao Distrito Federal obrigação de fazer
consistente em apresentar em Juízo, no prazo máximo de 5 (cinco) dias, cadastro
atualizado dos pacientes aguardando em lista de espera para o tratamento de
transplante de medula óssea – TMO alogênico, informando, inclusive, a data de
inserção na referida lista;
(2.2) Seja emitida ordem judicial para impor ao Distrito Federal e à União obrigação
de fazer consistente em, no prazo de 05 (cinco) dias, apresentar cronograma para a
retomada do atendimento dos 12 pacientes inseridos em lista que aguardam o
transplante de medula óssea (TMO) alogênico de forma a promover o início do
atendimento de todos no prazo máximo de 15 (quinze) dias, seja no Instituto de
Cardiologia do Distrito Federal, seja no Hospital Sírio Libanês ou, no caso de
impossibilidade, em qualquer hospital da rede particular do Distrito Federal às custas
dos Réus;
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Ministro da Saúde para a tomada de todas as providências necessárias ao fiel
cumprimento da decisão judicial, sob pena de cominação de multa diária a ser
arbitrado por esse Juízo (art. 11, da Lei nº 7.347/85) para o caso de eventual
descumprimento de cada uma das determinações acima;”
Indicam que a situação que ora se apresenta não diz respeito à insuficiência na
prestação do serviço, mas, sim, à total paralisação da oferta do tratamento.
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notícia de uma extensa relação de exames a serem disponibilizados para dar continuidade aos
Transplantes de Medula Óssea no ICDF.
Alegam que a situação narrada aparentemente não encontrou solução, mas não
bastasse isso, houve despacho do ICDF informando para a SES/DF que o espaço físico da
Unidade de Transplante de Medula óssea do ICDF foi destinado para o isolamento de pacientes
acometidos pela COVID-19 e, por este motivo, não havia possibilidade de retomada dos
procedimentos de TMO alogênico.
Ponderam que ainda que houvesse condições de encaminhar pacientes para outras
unidades da Federação, o contexto da Pandemia da COVID-19 aponta que seria uma enorme
insensatez promover o deslocamento de pacientes imunossuprimidos pelo território nacional.
Foi determinada a oitiva prévia da parte ré, ocasião em que o DF informou que, dos
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12 pacientes em lista de espera, 8 já estavam recebendo o pertinente tratamento via TFD, 2 se
encontravam em fase de encaminhamento para TFD e 2 outros não possuíam, no momento,
indicação clínica para a realização do transplante, bem como que já estavam sendo adotadas
providências administrativas para o retorno da realização dos transplantes no DF.
É o relatório. Decido.
Assim, ambos os réus ostentam legitimidade passiva para a presente causa, não
havendo falar em responsabilidade exclusiva ou prioritária de qualquer um deles pelo
cumprimento das obrigações indicadas na peça vestibular.
O direito à saúde está previsto, entre outros diplomas, na Declaração Universal dos
Direitos do Homem (artigo 25º, n.º 1) e na Constituição Federal (artigos 6º e 196).
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dimensão), na medida em que claramente outorga “ao indivíduo direitos a prestações sociais
estatais” (SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais).
A Constituição Federal de 1988 trata o direito à saúde como direito social (artigo
6º), sendo “direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas
que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário
às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (artigo 196).
Por isso, convém que cada caso seja apreciado de forma criteriosa, de modo a
assegurar o mínimo existencial em matéria de saúde das pessoas, atendendo à máxima
efetividade e eficácia desse direito e, naquilo em que for factível, com o menor
comprometimento da reserva do possível, numa atividade de ponderação difícil de se realizar
abstratamente.
Ressalte-se, ainda, que não podem os direitos sociais ficar condicionados à boa
vontade do administrador, sendo de fundamental importância que o Judiciário atue como órgão
controlador da atividade administrativa. Seria uma distorção pensar que o princípio da separação
dos Poderes, originalmente concebido com o escopo de garantia dos direitos fundamentais,
pudesse ser utilizado justamente como óbice à realização dos direitos sociais, igualmente
fundamentais (AgRg no REsp 1.136.549/RS, Relator Ministro Humberto Martins, Segunda Turma,
julgado em 08.06.2010, DJe de 21.06.2010).
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contra a Fazenda Pública (Lei 9.494/97, art. 1º), não impede que seja concedida
liminar, se verificada a ocorrência dos pressupostos legais (CPC, art. 273), em
obséquio aos princípios da razoabilidade, do devido processo legal substantivo e da
efetividade da jurisdição. Precedente do STJ. 3. A União pode ser responsabilizada,
conjuntamente com o Estado-Membro, pelo custeio de medicamentos. Inteligência
do artigo 198, § 1º, da CF, que dispõe que "o sistema único de saúde será
financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da seguridadesocial,
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes".
Precedentes do STJ. 4. Agravo de instrumento a que se nega provimento. (AG
2008.01.00.035820-9/DF – TRF/1ª Região – Sexta Turma – Rel. Maria Isabel Gallotti
Rodrigues – Juiz Federal Convocado Rodrigo Navarro de Oliveira – Julg. em
22/06/2009)
“(...) o primeiro dado a ser considerado é a existência, ou não, de política estatal que
abranja a prestação de saúde pleiteada pela parte. Ao deferir uma prestação de
saúde incluída entre as políticas sociais e econômicas formuladas pelo Sistema
Único de Saúde (SUS), o Judiciário não está criando política pública, mas apenas
determinando o seu cumprimento. Nesses casos, a existência de um direito
subjetivo público a determinada política pública de saúde parece ser evidente. (...)”
E aqui vale registrar que a oferta da terapêutica apenas por meio de Tratamento
Fora do Domicílio, quando há nosocômio local com possibilidade para tanto (há informações nos
autos de que o Hospital Sírio Libanês teria disponibilidade de atender todos os pacientes com tal
demanda, por meio de convênio com o SUS, além disso há mais dois hospitais locais que
realizam o tratamento em tela, de modo poderiam, da mesma forma, serem iniciadas tratativas
com referidos nosocômios), não atende à necessidade dos pacientes locais: primeiro, porque
nem todos os pacientes podem se valer do TFD, seja por questões clínicas, seja porque não
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possuem acompanhantes; segundo, porque é um contrassenso submeter pacientes
imunossuprimidos a deslocamentos, muitas vezes longínquos, em meio a uma pandemia, para
serem tratados.
Nesse contexto, oportuno destacar que não há notícia nos autos da existência de
uma programação, de atos preparatórios, ajustes ou mesmo do retorno da implementação efetiva
da prestação de saúde de transplante de medula óssea alogênico no Distrito Federal, deixando,
dessa forma, os pacientes que necessitam de tal serviço na localidade desassistidos.
Consigno, por fim, que não é possível afastar tal obrigação sob o fundamento de
reserva do possível, pois, na espécie, não restou demonstrada a absoluta impossibilidade de
seu atendimento. Primeiro, porque, tratando-se de política pública aprovada e suficientemente
densificada pelos Poderes competentes, deve ela ser cumprida, valendo-se o Poder Público de
todos os meios econômicos e financeiros disponíveis para efetivá-las (e.g.: remanejamento de
recursos, aumento da arrecadação, redução dos gastos públicos em áreas menos prioritárias
etc.). Segundo, porque, ainda que não haja hospitais públicos realizando o transplante alogênico,
poderão os réus adotar medidas para se valer da prestação de saúde da rede privada, mediante
os pagamentos/convênios respectivos. Terceiro, porque a utilização da rede privada para o
tratamento em comento poderá ocorrer mediante contratação regular pelas formas ordinárias ou,
a depender das circunstâncias, mediante requisição ou contratação com dispensa/inexigibilidade
de licitação, atendidos os correspondentes requisitos legais.
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acima explanada, entendo presente o requisito da probabilidade do direito.
Comino multa de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais) por dia de atraso no
cumprimento desta decisão. Essa multa é cominada apenas ao Distrito Federal. Apesar da
solidariedade em relação à União, cabe principalmente àquele ente (GDF) adotar as medidas
necessárias à implementação (contratação) do serviço de transplante alogênico na rede de
saúde pública local.
Intimações das partes, com urgência, via sistema. Tendo em vista a fixação de
multa, a intimação do GDF também deverá ocorrer através de mandado.
Verifico neste ato que não é possível a intimação via MINIPAC. À Secretaria para
eventual retificação de anotação e intimações.
UMBERTO PAULINI
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