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11/04/2022 14:58 :: 310005406740 - eproc - ::

Poder Judiciário
JUSTIÇA ESTADUAL
Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina
2ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Florianópolis
Rua Gustavo Richard, 434 - Bairro: centro - CEP: 88010290 - Fone: (48) 3287-6671 - Email: capital.fazenda2@tjsc.jus.br

PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL Nº 5057193-72.2020.8.24.0023/SC


AUTOR: ASSOCIACAO DE PRACAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA - APRASC
RÉU: INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DO ESTADO DE SANTA CATARINA - IPREV

DESPACHO/DECISÃO

Trata-se de ação declaratória e condenatória ajuizada pela Associação de Praças do Estado de Santa Catarina (Aprasc)
em face do Instituto de Previdência do Estado de Santa Catarina (IPREV), em que requer:

1. Seja concedida a tutela antecipada de urgência inaudita altera parte, com a finalidade de suspender a cobrança da contribuição
previdenciária, chamada de contribuição social dos militares, na alíquota de 9,5% sobre o total dos proventos e pensões dos representados
(militares inativos e pensionistas de militares e militares inativos e pensionistas de militares com doenças graves), haja vista que a mesma
padece de ilegalidade visto que proferida contra os comandos constitucionais, bem como em razão da inexistência de lei específica do ente
estadual, para determinar que seja restabelecida a regra anterior de 14% calculado sobre o valor dos proventos e pensões dos representados
que excede ao teto do RGPS ou que excede o dobro do teto para os casos dos representados com doenças graves. (evento 1/1, p. 23)

Ab initio, registre-se que tramita neste Juízo a ação coletiva n. 5032479-48.2020.8.24.0023, ajuizada pela Aprasc, em
que foi deferido o pedido de tutela provisória "para o fim de determinar ao IPREV que se abstenha de aplicar o art. 24-C do Decreto-
Lei n. 667/1969, com redação dada pela Lei n. 13.954/2019, para o cálculo da contribuição previdenciária, restaurando a eficácia do
disposto no art. 61, caput, da Lei Complementar estadual n. 412/2008 em favor dos militares inativos portadores de doença
incapacitante representados pela associação autora".

5057193-72.2020.8.24.0023 310005406740 .V10


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Por outro vértice, observa-se que a ata da assembleia que autorizou o ajuizamento desta demanda e a lista dos
associados presentes adunada aos autos (evento 1/6-7) coincide com os documentos juntados na ação n. 5032479-48.2020.8.24.0023
(evento 10/2-3 daqueles autos), de modo que os representados potencialmente beneficiados com o provimento jurisdicional são
exatamente os mesmos.

Assim, considerando que "as balizas subjetivas do título judicial, formalizado em ação proposta por associação,
é definida pela representação no processo de conhecimento, presente a autorização expressa dos associados e a lista destes juntada à
inicial" (Supremo Tribunal Federal, Recurso Extraordinário n. 573.232/SC, rel. para acórdão Min. Marco Aurélio), forçoso concluir
que existe litispendência entre esta demanda e o processo n. 5032479-48.2020.8.24.0023, quanto ao pedido de afastamento da
cobrança de contribuição previdenciária na alíquota de 9,5% do total dos proventos e pensões dos representados portadores de
doenças graves, com restauração da incidência da alíquota de 14% sobre o valor que excede o dobro do teto do Regime Geral de
Previdência Social.

Por conseguinte, estando a pretensão acobertada pela litispendência já satisfeita no processo n. 5032479-
48.2020.8.24.0023, impõe-se o indeferimento da petição inicial quanto a este pleito, ex vi do art. 330, III, do CPC.

Ainda, ressalte-se que litispendência atinge somente o pedido declaratório, pois não foi formulado pleito de
condenação das parcelas vencidas no processo n. 5032479-48.2020.8.24.0023, motivo pelo qual a pretensão condenatória deduzida
neste feito permanece hígida (pedido "5" da petição inicial).

Doutro lado, é consabido que a concessão da tutela de urgência exige o preenchimento dos requisitos previstos no art.
300, caput, e § 3º, do CPC: a) probabilidade do direito; b) perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo; e c) reversibilidade
dos efeitos da decisão.

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No caso concreto, ressai dos autos que o IPREV, diante da inclusão do art. 24-C no Decreto-lei n. 667/1969, realizado
pela Lei n. 13.954/2019, passou a exigir o recolhimento da contribuição previdenciária na alíquota de 9,5% incidente sobre os
proventos auferidos pelos representados. A norma em voga possui a seguinte redação:

Incide contribuição sobre a totalidade da remuneração dos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, ativos ou inativos, e
de seus pensionistas, com alíquota igual à aplicável às Forças Armadas, cuja receita é destinada ao custeio das pensões militares e da
inatividade dos militares.

Doutro lado, o inciso XXI do art. 22 da Constituição Federal, com a redação dada pela Emenda Constitucional (EC) n.
103/2019, dispõe que compete privativamente à União legislar sobre "normas gerais de organização, efetivos, material bélico,
garantias, convocação, mobilização, inatividades e pensões das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares".

Por conta disso, remanesce aos Estados a competência suplementar para dispor sobre as inatividades e pensões das
polícias militares e dos corpos de bombeiros militares. Consoante ensina José Afonso da Silva, a Constituição Federal

foi omissa, quando deu à União competência privativa para legislar sobre normas gerais: (a) de organização, efetivos, material bélico,
garantias, convocação e mobilização das polícias militares e corpos de bombeiros (art. 22, XXI); (b) de licitação e contratação, em todas as
modalidades, nas diversas esferas de governo, para a Administração Pública, direta, autárquica e fundacional, obedecido o disposto no art.
37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, §1º, III, (art. 22, XXVII). No entanto, não
inseriu a matéria no art. 24, para indicar que os Estados podem legislar também sobre essas matérias, como fez, por exemplo, relativamente
à polícia civil. Não é, porém, porque não consta na competência comum que Estados e Distrito Federal (este não sobre polícia militar, que
não é dele) não podem legislar suplementarmente sobre esses assuntos. Podem e é de sua competência fazê-lo, pois que nos termos do §2º do
art. 24, a competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui (na verdade até pressupõe) a competência suplementar dos
Estados (e também do Distrito Federal, embora não se diga aí), e isso abrange não apenas as normas gerais referidas no §1º desse mesmo
artigo no tocante à matéria neste relacionada, mas também as normas gerais indicadas em outros dispositivos constitucionais, porque
justamente a característica da legislação principiológica (normas gerais, diretrizes, bases), na repartição de competências federativas,
consiste em sua correlação com competência suplementar (complementar e supletiva) dos Estados. (DA SILVA, José Afonso. Curso de
Direito Constitucional Positivo. 37. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2014, p. 508).
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Ainda, observa-se que o § 1º do art. 149 da CF, com a redação dada pela EC n. 103/2019, enuncia que "a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, por meio de lei, contribuições para custeio de regime próprio de previdência
social, cobradas dos servidores ativos, dos aposentados e dos pensionistas, que poderão ter alíquotas progressivas de acordo com o
valor da base de contribuição ou dos proventos de aposentadoria e de pensões".

A interpretação conjunta dos arts. 22, XXI, e 149, § 1º, da Constituição Federal, conduz à conclusão de que é
competência exclusiva dos Estados definir a alíquota e a base de cálculo das contribuições previdenciárias dos inativos militares
e dos respectivos pensionistas.

Esse intelecção foi desenvolvida pelo Min. Luís Roberto Barroso em decisão unipessoal que deferiu pedido de tutela de
urgência em Ação Cível Originária quando determinou "[...] que a União se abstenha de aplicar ao Estado do Rio Grande do Sul
qualquer das providências previstas no art. 7º da Lei nº 9.717/1998 ou de negar-lhe a expedição do Certificado de Regularidade
Previdenciária caso continue a aplicar aos policiais e bombeiros militares estaduais e seus pensionistas a alíquota de contribuição
para o regime de inatividade e pensão prevista em lei estadual, em detrimento que prevê o art. 24-C do Decreto Lei nº 667/1969, com
a redação da Lei nº 13.954/2019". A decisão contém a seguinte ementa:

DIREITO ADMINISTRATIVO. AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA. ALÍQUOTA DE CONTRIBUIÇÃO PARA INATIVIDADE E PENSÃO.
POLICIAIS E BOMBEIROS MILITARES ESTADUAIS. 1. Ação cível originária por meio da qual o Estado do Rio Grande do Sul pretende
não ser sancionado caso aplique aos militares estaduais a alíquota de contribuição para o regime de inatividade e pensão prevista na
legislação estadual (14%), em detrimento de lei federal que determinou que se aplicasse a essa categoria a mesma alíquota estabelecida
para as Forças Armadas (atualmente, 9,5%). 2. Plausibilidade jurídica da tese de que a União, ao definir a alíquota de contribuição
previdenciária a ser aplicada aos militares estaduais, extrapolou a competência para a edição de normas gerais sobre “inatividades e
pensões das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares” (art. 22, XI, da Constituição, com a redação dada pela Emenda
Constitucional nº 103/2019). 3. A interpretação sistemática da Constituição fortalece o argumento de que alíquota da contribuição
previdenciária devida por militares estaduais deve ser fixada por meio de lei estadual que considere as características dos regimes de cada
um desses entes públicos (arts. 42, § 1º, 142, § 3º, X e 149, § 1º, da Constituição). 4. A edição de atos normativos cuja aplicação implicará a
redução das alíquotas de contribuição praticadas pelo Estado revela comportamento contraditório da União – que, de um lado, exige dos

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demais entes públicos que assegurem o equilíbrio de seus regimes próprios de previdência, e de outro, restringe os meios para o alcance
desse objetivo. 5. Existência de perigo na demora, já que o descumprimento da legislação federal sujeita o Estado à aplicação das
consequências jurídicas previstas no art. 7º da Lei nº 9.717/1998 e à negativa de expedição do Certificado de Regularidade Previdenciária,
com prováveis prejuízos à execução de políticas públicas. 6. Medida cautelar deferida. (Ação Cível Originária n. 3.350 MC/DF, j.
19.2.2020).

No mesmo sentido, o Min. Alexandre de Moraes, em 19.5.2020, na Ação Cível Originária n. 3.396, proposta pelo
Estado do Mato Grosso, reconheceu a competência exclusiva do ente para fixar a alíquota da contribuição previdenciária.

Nessas circunstâncias, entende-se presente a probabilidade do direito invocado, consistente na inaplicabilidade da


disposição contida no art. 24-C do Decreto-lei n. 667/1969, pois deve prevalecer o que estabelece o art. 17 da Lei Complementar
estadual n. 412/2008.

A seu turno, o periculum in mora também se faz presente, pois a adoção de forma distinta para o cálculo da
contribuição previdenciária acarreta o recolhimento de valor superior ao realmente devido, importando, pela via reflexa, na
diminuição de rendimentos que têm de natureza eminentemente alimentar.

Destarte, a concessão em parte da tutela provisória é a medida que se impõe.

1. Isto posto, indefiro a petição inicial e julgo extindo o processo, sem resolução do mérito, quanto ao pedido
declaratório de inexigibilidade da cobrança de contribuição previdenciária na alíquota de 9,5% do total dos proventos e pensões dos
representados portadores de doenças graves, com restauração da incidência da alíquota de 14% sobre o valor que excede o dobro do
teto do Regime Geral de Previdência Social, o que faço com fundamento no art. 300, II, combinado com o art. 485, V, do CPC.

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2. Ainda, defiro parcialmente o pedido de tutela provisória (CPC, art. 300) para o fim de determinar ao IPREV que se
abstenha de aplicar o art. 24-C do Decreto-Lei n. 667/1969, com redação dada pela Lei n. 13.954/2019, para o cálculo da
contribuição previdenciária, restaurando a eficácia do disposto no art. 17 da Lei Complementar estadual n. 412/2008 em favor dos
militares inativos e pensionistas representados pela associação autora (evento 1/6-7).

3. Desnecessária a realização de audiência de conciliação em função de que a natureza da ação não admite
autocomposição (CPC, art. 334, § 4º, II).

4. Cite-se o requerido para oferecer contestação em 30 dias (CPC, art. 335, caput, c/c art. 183).

5. Em seguida, intime-se a parte autora para apresentar réplica no prazo legal (CPC, art. 351).

6. Após, abra-se vista dos autos ao Ministério Público.

Intimem-se.

Florianópolis, data da assinatura digital.

Documento eletrônico assinado por JEFFERSON ZANINI, Juiz de Direito, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006. A conferência da
autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico https://eproc1g.tjsc.jus.br/eproc/externo_controlador.php?acao=consulta_autenticidade_documentos,
mediante o preenchimento do código verificador 310005406740v10 e do código CRC 39ad9a21.

Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): JEFFERSON ZANINI
Data e Hora: 4/8/2020, às 15:46:30

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