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Poder Judiciário
JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária do Rio Grande do Sul
1ª Vara Federal de Cruz Alta
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PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL Nº 5001947-26.2023.4.04.7121/RS


AUTOR: GREICE SAMARA ALVES
RÉU: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS

SENTENÇA

1. RELATÓRIO

Trata-se de ação em que GREICE SAMARA ALVES postula, em face do


Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, a concessão de benefício de prestação continuada
à pessoa com deficiência (NB 712.844.310-0, DER 17/03/2023).

É o sucinto relatório na forma do artigo 38 da Lei n.º 9.099/1995 c/c o artigo 1º


da Lei n.º 10.259/2001.

2. FUNDAMENTAÇÃO

Preliminar de renúncia aos valores que excedam o teto de 60 (sessenta)


salários mínimos na data da propositura da ação

Alega o INSS que a parte autora deveria ser intimada para


renunciar aos valores que superem o teto dos Juizados Especiais Federais.

Sem razão. Para apuração do valor da causa, tratando-se de execução de dívida


de prestação continuada, considera-se o somatório das parcelas vencidas acrescida das 12
parcelas vincendas a contar do ajuizamento da demanda, nos termos do artigo 3º § 2º, da Lei
nº 10.259/2001 c/c artigo 292 do CPC, sendo tal critério válido apenas para a fixação da
competência.

Por sua vez, o artigo 17, §4º, da Lei 10.259/01, prevê a possibilidade de
expedição de precatório para pagamento do débito, se o valor da execução ultrapassar a
alçada do Juizado Especial Federal.

Logo, não se confunde o valor da causa com o valor da condenação.

A interpretação sistemática de tais regras excluiu a aplicação do art. 39 da Lei n.


9.099/95 do âmbito dos Juizados Especiais Federais, uma vez que a quantia que
exceder sessenta salários-mínimos pode ser objeto de execução por meio de expedição de
precatório, o que afasta a admissibilidade da renúncia para definição de competência.

Assim, rejeito a preliminar.

Da prescrição

5001947-26.2023.4.04.7121 710019263178 .V3


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Não tendo transcorrido 05 (cinco) anos entre a DER e o ajuizamento da ação,
não há prescrição a reconhecer.

Rejeito a prejudicial.

Do mérito

Dos requisitos para concessão do benefício assistencial

O benefício assistencial requerido pela parte autora é previsto no art. 203, V, da


Constituição, estando regulamentado no art. 20 da Lei 8.742/93.

A concessão do benefício pressupõe basicamente o preenchimento de dois


requisitos: (i) idade avançada ou deficiência e (ii) a inexistência de disponibilidade
econômica, própria ou do grupo familiar, que permita prover as necessidades básicas.

Em relação ao primeiro requisito, deve a parte autora contar com no mínimo 65


anos ou possuir impedimento de longo prazo que, nos termos dos §§2º e 10º do art. 20 da Lei
8.742/93, é aquele de natureza física, mental, intelectual ou social, o qual, em interação com
uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena na sociedade em igualdade de
condições com as demais pessoas, produzindo efeitos pelo prazo mínimo de dois anos.

No que tange ao requisito relativo à miserabilidade, nos termos do inciso I, § 3º


do art. 20 da Lei n. 8.742/93, a miserabilidade estaria presente na medida em que a renda per
capita mensal da família do idoso ou do deficiente fosse inferior a 1/4 do salário mínimo.

Cumpre referir que a Lei nº 13.982/2020 incluiu o art. 20-A na Lei nº 8.742/93,
o qual ampliou o critério de aferição da renda familiar mensal per capita para até ½ salário
mínimo, em razão do estado de calamidade pública decorrente do coronavírus (Covid-19).
No entanto, a Lei nº 14.176/2021 revogou o art. 20-A, restabelecendo o critério de 1/4 do
salário mínimo (atual parágrafo 3º do art. 20). Acrescentou, ainda, o § 11-A ao art. 20,
segundo o qual por meio de regulamento poderá ser ampliado o limite da renda mensal para
até 1/2 do salário mínimo.

Desse modo, na falta de regulamentação referida no art. 11-A, atualmente o


critério para aferição da renda per capita deve ser considerado equivalente a 1/4 do salário
mínimo.

De toda maneira, não se pode perder de vista que a percepção de renda familiar
acima do patamar estatuído em lei não encerra presunção absoluta de que indivíduo não
atende ao requisito socioeconômico aqui tratado. Nessa linha, o Supremo Tribunal Federal
declarou a inconstitucionalidade parcial, sem pronúncia de nulidade, do art. 20, §3º, da Lei n.
8.742/1993 (RE 567985, com repercussão geral reconhecida, Relator: Min. MARCO
AURÉLIO, Relator p/ Acórdão: Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em
18/04/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-194 DIVULG 02-10-2013 PUBLIC 03-10-
2013). Destarte, entendeu-se que é a efetiva miserabilidade, e não necessariamente a
renda, que deve nortear a averiguação acerca do preenchimento do requisito em

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comento. Tanto é assim que doravante adveio inovação normativa que consolidou em lei
referido entendimento jurisprudencial. No ponto, de acordo com o §11º do art. 20 da lei de
regência, com redação dada pela Lei n. 13.146/2015, "para concessão do benefício de que
trata o caput deste artigo, poderão ser utilizados outros elementos probatórios da condição
de miserabilidade do grupo familiar e da situação de vulnerabilidade, conforme
regulamento", com prioridade, no contexto da ampliação do critério em tela, aos seguintes
aspectos listados pelo art. 20-B da Lei n. 8.742/1993, incluído pela Lei n. 14.176/2021:

I – o grau da deficiência;.

II – a dependência de terceiros para o desempenho de atividades básicas da vida diária; e.

III – o comprometimento do orçamento do núcleo familiar de que trata o § 3º do art. 20 desta


Lei exclusivamente com gastos médicos, com tratamentos de saúde, com fraldas, com
alimentos especiais e com medicamentos do idoso ou da pessoa com deficiência não
disponibilizados gratuitamente pelo SUS, ou com serviços não prestados pelo Suas, desde que
comprovadamente necessários à preservação da saúde e da vida.

Outrossim, de acordo com o § 14º do art. 20 da Lei 8742/93, incluído pela


Lei nº 13.982/2020, o benefício de prestação continuada ou o benefício previdenciário no
valor de até 1 (um) salário mínimo concedido a idoso acima de 65 (sessenta e cinco) anos de
idade ou pessoa com deficiência não será computado, para fins de concessão do benefício de
prestação continuada a outro idoso ou pessoa com deficiência da mesma família, não será
computado no cálculo da renda familiar.

Dito isso, passo à análise do caso concreto.

​Caso concreto

Deficiência

​ ara avaliar o quadro de saúde da parte autora, foi designada perícia médica
P
(especialidade: Clínico geral), em que a parte autora foi diagnosticada como portadora de
F31.4 - Transtorno afetivo bipolar, episódio atual depressivo grave sem sintomas psicóticos;
M54.5 - Dor lombar baixa; M50 - Transtornos dos discos cervicais; M51 - Outros transtornos
de discos intervertebrais; M75 - Lesões do ombro.

A conclusão do laudo pericial, suficientemente fundamentada, foi a seguinte:

Conclusão: com incapacidade temporária


- Justificativa: A autora tem quadro de doença do estado mental (F31.4 - Transtorno afetivo
bipolar, episódio atual depressivo grave sem sintomas psicóticos) em seguimento com
psiquiatra no CAPS desde 04/2020 (atestado de 14/07/2023) em uso de Haldol decanoato,
clorpromazina e quetiapina. Tem quadro de obesidade grau III com IMC acima de 50 Kg/m².
Tem queixas de dores na coluna e em ombro direito. As manobras semióticas constataram
síndrome do manguito rotador e lombociatalgia. Comprova seguimento com ortopedista de
CRM 21107 atestado de 23/05/2023 (múltiplos códigos de doenças ortopédicas M511, M545,
M758, M751, M722). Faz seguimento com médico da USF CRM 49204.
Há quadro de doenças que causam impedimento de longo prazo para atividade laboral, vida
independente e participação plena em sociedade em igualdade de condições com as demais

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pessoas.
- DII - Data provável de início da incapacidade: 17/03/2023
- Justificativa: DER 17/03/23
- Caso a DII seja posterior à DER/DCB, houve outro(s) período(s) de incapacidade entre a
DER/DCB e a DII atual? A DII é anterior ou concomitante à DER/DCB
- Data provável de recuperação da capacidade: 2 anos ou mais
- A recuperação da capacidade laboral depende da realização de procedimento cirúrgico?
NÃO
- O(a) examinado(a) apresenta transtorno relacionado ao uso de substância(s) psicoativa(s)
(ébrio habitual e/ou viciado em drogas ilícitas) ou está impossibilitado de exprimir sua
vontade em razão de causa transitória ou permanente? NÃO

Não obstante a conclusão pericial, verifico que as doenças que acometem a


parte autora são de natureza temporária, todas suscetíveis de tratamento. Tanto é assim que o
perito estima que é possível sua reabilitação em dois anos, daí porque não considero
caracterizado o impedimento de longo prazo que a lei conceitua para o enquadramento na
condição de pessoa com deficiêcia com o propósito de percepção de benefício assistencial de
prestação continuada.

Desse modo, não preenchido o requisito da deficiência, fica prejudicada a


análise do requisito socioeconômico.

Tutela de urgência

Considerando a ausência de probabilidade do direito ao benefício pleiteado,


conforme análise supra, incabível o deferimento da tutela de urgência nos termos do artigo
300 do Código de Processo Civil.

3. DISPOSITIVO

Ante o exposto, julgo improcedentes os pedidos formulados na presente ação,


resolvendo o mérito nos termos do artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil.

Defiro a gratuidade de justiça.

Condeno a parte autora ao ressarcimento dos honorários periciais adiantados


pela Seção Judiciária do RS. Suspensa, no entanto, a exigibilidade, em razão da gratuidade de
justiça deferida.

Há isenção de custas no primeiro grau de jurisdição, forte no art. 54 da Lei nº


9.099/95, c/c o art. 1° da Lei nº 10.259/01.

Apresentado o recurso, intime-se a parte contrária para apresentação de


contrarrazões, em 10 dias. Apresentadas ou não as contrarrazões, remetam-se os autos à
Turma Recursal.

Com o trânsito em julgado da sentença, baixem-se os autos.

Publicação e registro automáticos. Intimem-se.

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Documento eletrônico assinado por ANDRE AUGUSTO GIORDANI, Juiz Federal Substituto na Titularidade Plena,
na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de
março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico
http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador 710019263178v3 e do
código CRC 2258f0ef.

Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): ANDRE AUGUSTO GIORDANI
Data e Hora: 26/1/2024, às 15:1:26

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