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Recife/PE

Segunda Categoria

AO JUÍZO FEDERAL DA 01ª VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE PERNAMBUCO

Processo nº 0808070-25.2020.4.05.8300T

Processo de Assistência Jurídica nº 2020/038-01438

ERMANDRO EUGENIO DA SILVA, já devidamente qualificado nos autos do


processo em referência, por intermédio da Defensoria Pública da União, através do(a) Defensor(a)
Público(a) Federal abaixo nominada, no uso das atribuições conferidas pela Constituição Federal e
pela Lei Complementar nº 80/94, vem, perante Vossa Excelência, apresentar

CONTRARRAZÕES À APELAÇÃO

interposta pela ESTADO DE PERNAMBUCO, pelas razões anexas, requerendo que, uma vez
recebida a presente resposta, sejam os autos remetidos ao Egrégio Tribunal Federal da 5ª Região.

Termos em que pede deferimento.

Recife, 01 de maio de 2023.

ANA CAROLINA CAVALCANTI ERHARDT


Defensor(a) Público(a) Federal

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EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

Processo nº: 0808070-25.2020.4.05.8300T

Processo de Assistência Jurídica nº: 2020/038-01438

Recorrentes: Estado de Pernambuco

Recorrido: Ermandro Eugênio da Silva

CONTRARRAZÕES À APELAÇÃO

Eméritos Julgadores,

1. DA TEMPESTIVIDADE

Primeiramente, registre-se a tempestividade destas contrarrazões, uma vez que a


Defensoria Pública da União foi intimada para apresentá-las no dia 22.06.2020. Considerando a
prerrogativa da Defensoria Pública da União do prazo em dobro, em razão da norma prevista no Art.
44, I da LC 80/94, encontram-se as presentes contrarrazões apresentadas de forma tempestiva.

2. DAS PRERROGATIVAS DA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO


A Defensoria Pública da União tem como atribuição a defesa dos necessitados na esfera
federal, sendo, para tanto, asseguradas aos membros integrantes da Instituição as prerrogativas
previstas pela Lei Complementar 80/94, expressas também no Código de Processo Civil, em seu
Artigo 186, § 1º. São elas, dentre outras:

Art. 44 - São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União:


I – receber, inclusive quando necessário, mediante entrega dos autos com
vista, intimação pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição ou

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instância administrativa, contando-se-lhes em dobro todos os prazos;


(Redação dada pela Lei Complementar nº 132, de 2009);

Assim sendo, requer a observância das prerrogativas previstas na Lei Orgânica da Defensoria Pública
e no CPC, especialmente em relação à intimação pessoal.

3. SÍNTESE DOS FATOS

Trata-se de demanda com pedido de tutela provisória de urgência antecipada proposta


por ERMANDO EUGENIO DA ISLVA, em face da União e do Estado de Pernambuco, em que se
perseguiu o fornecimento da medicação LENALIDOMIDA 25MG, na dose de 01 comprimido de
25 mg ao dia, por 21 dias consecutivos, cada 28 dias, por tempo indeterminado, para o tratamento
da patologia que acomete a parte Autora, qual seja: Leucemia de Células Plasmáticas (CID 10 C90).

Devido à demonstração da probabilidade do direito e do perigo de dano, foi deferido o


pedido de tutela antecipada de urgência à parte autora. Em face de tal decisão, contudo, houve
descumprimento pela parte ré, que ensejou a realização de bloqueio de verbas para aquisição direta do
medicamento pleiteado.

Com a realização do tratamento a parir do fármaco adquirido, no entanto, houve


a extinção do processo sem resolução de mérito devido o óbito datado 04.11.2021. A partir de
tal manifestação da parte autora, a respeitável Sentença embargada pela União extinguiu o
processo condenando a União e o Estado de Pernambuco em honorários a favor da DPU. Em
meio à leitura da decisão, observou-se a seguinte fundamentação:

“Sem ressarcimento de custas por ter sido o autor beneficiário da gratuidade


judiciária. Condeno ainda as rés ao pagamento de honorários advocatícios em
favor da DPU, os quais arbitro em 10% sobre o valor da causa, o que faço
com fulcro no art. 85, § 2o. do CPC, a ser pagos pro rata pelos demandados”.

Inconformada com a sentença, o Estado de Pernambuco interpôs apelação. Entretanto,


conforme será demonstrado adiante, os argumentos trazidos pela recorrente não merecem prosperar.

4. PRELIMINARMENTE

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4.1 DA NECESSIDADE DE APLICAÇÃO DO EFEITO DEVOLUTIVO À APELAÇÃO. DA


NÃO SUSPENSÃO DOS EFEITOS DA SENTENÇA.

Inicialmente, cumpre destacar a necessidade de aplicação do efeito devolutivo à


apelação. Saliente-se que, caso fossem suspensos os efeitos da sentença que julgou procedente o
fornecimento do medicamento pleiteado nestes autos, a parte autora teria sério agravamento do seu
estado de saúde, uma vez que a obrigação de fornecimento da medicação pelas partes rés à parte
demandante apenas seria adimplida após o julgamento do recurso de apelação.
Nesta esteira, a União pleiteia em seu recurso a aplicação do efeito suspensivo à
apelação alegando, in verbis: “...requer seja deferido efeito suspensivo ao presente recurso,
porquanto o perigo de lesão grave ao erário é manifesto pelo desembolso de verba pública para
tratamento de caso específico e particular...”.
No entanto, esse argumento não encontra substrato sólido nem na realidade, nem no
ordenamento em virtude de haver a priorização de gastos não tão necessários como os referentes
à concretização de direitos fundamentais.
Também não se pode imputar ao cidadão os ônus decorrentes da judicialização das
causas de saúde, especialmente porque esta judicialização decorre especialmente da falta de
investimento do Estado na área de saúde. A judicialização, assim, não é causadora de problemas ao
Sistema Único de Saúde, mas consequência da má gestão e da falta de recursos na área e ocorre
porque o cidadão já teve seu pleito indeferido na via administrativa, procurando o Judiciário como
última tentativa para tentar resguardar seu direito à saúde.

Acontece, Excelência, que a parte ré está lançando mão de argumentos frágeis com o
intuito de protelar a efetivação do tratamento médico necessário à parte autora, tratamento este que
garante a sobrevida da parte demandante e efetiva os seus direitos à vida, à saúde e à dignidade da
pessoa humana, preceitos basilares da Constituição da República.
De mais a mais, conforme decido pelo Supremo Tribunal Federal 1, “a cláusula da
"reserva do possível" - ressalvada a ocorrência de justo motivo objetivamente aferível - não
pode ser invocada, pelo Estado, com a finalidade de exonerar-se do cumprimento de suas
obrigações constitucionais, notadamente quando, dessa conduta governamental negativa,
puder resultar nulificação ou, até mesmo, aniquilação de direitos constitucionais impregnados
de um sentido de essencial fundamentalidade.”

1
STF, ADPF 45, Decisão Monocrática Rel. Min. Celso de Mello, j. 29.04.2004, Informativo nº 345

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Por fim, é de se ressaltar que a pretexto da reserva do financeiramente possível não é


dado ao Estado deixar de concretizar o mínimo existencial à dignidade da pessoa humana, ante ao
princípio da supremacia do atendimento ante as exigências econômicas, implícito na Constituição
Federal:

“Tal princípio aponta para o fato de que, diante das necessidades sociais
cobertas pela assistência social, em especial a sobrevivência daqueles que se
encontram em níveis de miserabilidade ou sobrevivência extrema, portanto
em cumprimento ao direito maior e fundamental posto na Constituição
Federal (art. 5º), ponderações sobre rentabilidade econômica ou argumentos
de ordem financeira encontra-se em segundo lugar. Significa dizer que à
Assistência Social incumbe fornecer, pela via de suas prestações, a todos
aqueles que se enquadram na faixa de necessidade legalmente determinada,
os meios para o desenvolvimento de sua condição de cidadão,
independentemente do custo financeiro que isto possa importar ao orçamento
da Seguridade Social”.

Diante do exposto, deve ser indeferido o pedido do estado de Pernambuco visando à


aplicação do efeito suspensivo à apelação.

5. DO MÉRITO
DA POSSIBILIDADE DE PAGAMENTO DE HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA À
DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO. DA RECENTE DECISÃO DO STF.

5.1 DO VÍCIO QUE PERMEIA A SÚMULA 421 DO STJ

De antemão, no mérito, é de rigor ressaltar que, não obstante a existência da Súmula


421 do STJ, em sentido contrário ao que se postulará a seguir, a Lei Complementar nº 80/94,
organizadora da Defensoria Pública, determina, em seu artigo 4º, o seguinte:

“Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:

(…)

XXI – executar e receber as verbas sucumbenciais decorrentes de sua


atuação, inclusive quando por quaisquer entes públicos, destinando-as a

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fundos geridos pela Defensoria Pública e à capacitação profissional de seus


membros e servidores” - grifou-se.

Apesar da expressa possibilidade de pagamento honorários advocatícios


sucumbenciais, ainda que provenientes da pessoa jurídica que lhe remunera, erigida em lei, o
Superior Tribunal de Justiça, em 2010, entendeu que não seriam devidos honorários advocatícios e
editou em enunciado espelhando essa posição:

Súmula 421-STJ: Os honorários advocatícios não são devidos à Defensoria


Pública quando ela atua contra a pessoa de direito público à qual pertença.

O entendimento da súmula 421, segundo decidido em recurso repetitivo (REsp


1199715/RJ, de 2011), também se aplica às ações patrocinadas pela Defensoria Pública contra as
entidades da Administração Indireta integrantes da mesma pessoa jurídica.
Embora o enunciado ainda seja válido nos dias atuais, observa-se que este exala nítido
vício ao apresentar entendimento diametralmente distinto ao do postulado no art. 4º da Lei
Complementar nº 80/94, como o exposto supra.
Seguindo o antigo brocardo jurídico, “onde o legislador não restringiu, não cabe ao
intérprete restringir”. Dessa forma, já que a Lei 80/94 não delimitou a quais pessoas jurídicas o artigo
4º, XXI, da Lei nº 80/94 se aplica, não cabe à jurisprudência fazer tal afunilamento.
Além disso, os honorários advocatícios, objeto do caso em análise, não seriam
destinados ao Defensor Público que atuou no caso, e sim à própria Defensoria Pública da União, isto
é, ao Fundo destinado, exclusivamente, ao aparelhamento da Defensoria Pública e à capacitação
profissional de seus membros e servidores.
Logo, não havendo infração ao artigo 46, III, da Lei º 80/94 2, é imprescindível o
reconhecimento do vício na Súmula 421 do STJ, por apresentar-se oposta ao disposto em lei
complementar.

5.2 DA RECENTE DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

2
. Art. 46. Além das plubicações decorrentes do exercício de cargo público, aos membros da Defensoria Pública da União é vedado:
(…) III – receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens ou custas processuais, em razão de suas
atribuições.

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Mesmo que não se entenda dessa forma, observa-se que, apesar de a Súmula 421 do STJ
ainda estar válida, o Supremo Tribunal Federal apresentou recente julgado em sentido contrário,
conforme exposto a seguir.
A justificativa premente para a edição de tal súmula foi a de que, se a Fazenda Pública
fosse condenada a pagar honorários em favor da Defensoria Pública, aquela estaria pagando um
valor que seria como para ela própria, haja vista ser o orçamento da Defensoria Pública oriundo de
ente público em questão. Assim, se a União ou entidades da Administração Indireta Federal fossem
condenadas a pagar honorários para a DPU, estaria configurado o instituto civil da confusão (art. 381
do Código Civil), já que os recursos da DPU vêm do Governo Federal3.
A confusão ocorre quando, na mesma obrigação, se reúne, em uma única pessoa, a
qualidade de credor e de devedor, conforme previsto no Código Civil, in verbis:
“Art. 381. Extingue-se a obrigação, desde que na mesma pessoa se confundam as
qualidades de credor e devedor”.
Em realidade, nota-se que a concepção exposta na Súmula 421 do STJ parte da
premissa de que a Defensoria Pública seria um órgão subordinado ao Estado ou à União, o que não
prospera. Nesse ponto, ressalta-se que todos os precedentes que fundamentam a existência da
Súmula em questão são anteriores à LC 132/2009, que adicionou o art. 4º à LC 80/94, conferindo
obrigação de pagamento de honorários à DPU. É nessa perspectiva que se posiciona AMÉLIA
SOARES DA ROCHA:

“Verificando-se os precedentes apontados na súmula 421, observa-se que


todos os precedentes são anteriores à LC 132/2009. (…) Dessa forma, a
súmula parece carecer de aplicabilidade, posto que parte da premissa
equivocada de que a Defensoria Pública pertence à pessoa jurídica de direito
público, equívoco que certamente decorre da proximidade da sua aprovação
(03/2010) com vigência da LC 132/2009 (10/2009). Tanto que os precedentes
que lhe deram sustentação foram obtidos antes da LC 132/20094”-grifou-se.

Ademais, impõe-se a transição das Emendas constitucionais 45/2004, 74/2013 e


80/2014, as quais incluíram, respectivamente os parágrafos 2º, 3º e 4º ao art. 134 da Constituição
Federal de 1988, conferindo autonomia para as Defensorias Públicas Estaduais e Federais, in verbis.
3
. CAVALCANTR, Márcio André Lopes. Súmulas do STF e do STJ anotadas e organizadas por assunto. 5ª edição. Salvador.
JusPodvm, 2019, p.36
4
. ROCHA, Amélia Soares da. Defensoria Pública: fundamentos, organizações e funcionamento. São
Paulo: Atlas, 2013, p.109-110.

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"Art. 134 (...)§ 2º Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas


autonomia funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta
orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes
orçamentárias e subordinação ao disposto no art. 99, § 2º.

§ 3º Aplica-se o disposto no § 2º às Defensorias Públicas da União e do Distrito


Federal.
§ 4º São princípios institucionais da Defensoria Pública a unidade, a
indivisibilidade e a independência funcional, aplicando-se também, no
que couber, o disposto no art. 93 e no inciso II do art. 96 desta Constituição
Federal" – grifou-se.

Logo, restando demonstrado que a Defensoria Pública não pode ser considerada como
um mero órgão da Administração Direta, uma vez que apresenta autonomia funcional, administrativa
e orçamentária – o que a faz ter o status de órgão autônomo – revela-se incabível afirmar que
existe confusão quando o Poder Público é condenado a pagar honorários, considerando que os
recursos da Defensoria Pública não se confundem com os do ente federativo5.
Fundamentando-se nessa linha de raciocínio, o STF, em 2017, nos autos da Ação
Rescisória de nº 1.937, julgou de forma específica o cabimento dos honorários à Defensoria
Pública. Ficou decidido que é possível a condenação da União a pagar honorários em favor da
DPU, não havendo, in casu, confusão, justamente em decorrência da autonomia das
Defensorias, conforme elucidado pelas Emendas Constitucionais acima expostas.
Ressalte-se que tal julgado pode ser aplicado a pessoas jurídicas de direito público
distintas dos entes federativos. Isso porque, como entendimento da Súmula 421 do STJ é extensível a
entidades da Administração Indireta, consoante supramencionado, cabe introduzir a mesma linha de
raciocínio à decisão do Supremo, cujo objetivo fora apresentar visão distinta à reclamada pela
Súmula do STJ.

Observe-se a ementa do julgado:

5
. CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Súmulas do STF e do STJj anotadas e organizadas por assunto. 5ª edição. Salvador.
JusPodvm, 2019, p. 38

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Agravo Regimental em Ação Rescisória. 2. Administrativo. Extensão a


servidor civil do índice de 28,86%, concedido aos militares. 3. Juizado
Especial Federal. Cabimento de ação rescisória. Preclusão. Competência e
disciplina previstas constitucionalmente. Aplicação analógica da Lei
9.099/95. Inviabilidade. Rejeição. 4. Matéria com repercussão geral
reconhecida e decidida após o julgamento da decisão rescindenda. Súmula
343 STF. Inaplicabilidade. Inovação em sede recursal. Descabimento. 5.
Juros moratórios. Matéria não arguida, em sede de recurso extraordinário, no
processo de origem rescindido. Limites do Juízo rescisório. 6. Honorários
em favor da Defensoria Pública da União. Mesmo ente público.
Condenação. Possibilidade após EC 80/2014. 7. Ausência de argumentos
capazes de infirmar a decisão agravada. Agravo a que se nega provimento. 8.
Majoração dos honorários advocatícios (art. 85, § 11, do CPC). 9. Agravo
interno manifestamente improcedente em votação unânime. Multa do art.
1.021, § 4º, do CPC, no percentual de 5% do valor atualizado da causa.

(STF. Plenário. AR 1937 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em


30/06/2017, Acórdão Eletrônico DJe-175 DIVULG 08-08-2017 PUBLIC 09-
08-2017) -
grifou-se.

Nessa oportunidade, salientou o Ministro Relator Gilmar Mendes:

"Percebe-se, portanto, que, após as Emendas Constitucionais 45/2004, 74/2013


e 80/2014, houve mudança da legislação correlata à Defensoria Pública da
União, permitindo a condenação da União em honorários advocatícios em
demandas patrocinadas por aquela instituição de âmbito federal, diante de
sua autonomia funcional, administrativa e orçamentária, cuja
constitucionalidade foi reconhecida (...)" - grifou-se.

Tribunais pátrios já estão aplicando o entendimento do STF em suas decisões, como


pode ser observado abaixo:

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DIREITO CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. HONORÁRIOS


DEFENSORIAIS. SÚMULA N. 421-STJ. SUPERAÇÃO
("OVERRULING"). PRONUNCIAMENTO DO PLENÁRIO DO STF (AR
1.937 AgR). REFORÇO DA AUTONOMIA DO ESTADO DEFENSOR.
SUPERVENIÊNCIA DA EC N. 80/2014 (...) I - A superveniência da EC n.
80/2014 e da LC n. 132/2009 - a qual não foi analisada nos precedentes
geradores do enunciado sumular n. 421 -, acarretou a necessidade de
revisão e superação ("overruling") da súmula 421 do STJ. Precedente
do Plenário do STF (AR 1.937 AgR). II - Quando se trata de honorários
defensoriais, o regime de Direito Privado ("confusão") deve ser
afastado em prestígio do adequado regime de Direito Público e de
Direito Processual (regra da sucumbência), a fim de buscar eficiência
(CF/1988, art. 37) - a partir do estímulo ofertado pelos honorários
sucumbenciais -, não somente aos advogados públicos e privados, mas
também aos defensores públicos, em incentivo à defesa do
direito do representado. Aplicação da igual consideração entre os
interesses dos clientes dos advogados privados, do Poder Público por seus
advogados públicos e dos assistidos defensoriais. III - Existência de
manifestação do plenário do STF (AR 1937 AgR) e consequente
superação do entendimento do enunciado sumular n. 421 do STJ por
órgão hierarquicamente superior (STF, Ação Recisória n. 1.937).
Superveniência de superação (overruling) da posição da súmula n. 421
do STJ no TJAM e diversos outros Tribunais Recursais (TJSP; TJDF;
TJRJ TRF1). Decisão contrária aos honorários defensorias implicaria
negativa de vigência à reserva de plenário (art. 97, CF/1988) e
desrespeito à súmula vinculante n. 10 do STF, por negar vigência ao inc.
XXI do art. 4º da LC n. 80/1994. IV - Súmula n. 421 do STJ contraria o
estímulo à solução extrajudicial e pré-processual (CPC, art. 3º), pois o Poder
Público atua com ciência antecipada de que somente será onerado com
eventuais honorários de sucumbência quando a parte for defendida por
advogado privado, não existindo o mesmo estímulo jurídico conciliatório
quanto aos assistidos representados pelo Estado Defensor em razão de visão
do STJ a partir do direito privado (CC/2002, art. 381). V - Defensoria

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Pública possui "personalidade judiciária" para demandar


judicialmente seu próprio interesse em colisão com o interesse do ente
federativo - colidente, no caso, quanto à fixação dos honorários
defensoriais de sucumbência -, tratando-se de aplicação da teoria das
posições processuais dinâmicas ao Estado Defensor pelas quais o agente
defensorial poderá assumir múltiplas posições de acordo com cada
contexto (...) (TJAM - Apelação n.º 0608867-20.2015.8.04.0001. 1ª Câmara
Cível. Desembargador Relator Ernesto Anselmo Queiroz Chíxaro. Data da
publicação: 18/09/18) – grifou-se.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA. DEVER DE


FUNDAMENTAÇÃO. NULIDADE AFASTADA. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA. DEFENSORIA PÚBLICA.
MESMO ENTE FEDERADO. POSSIBILIDADE. APELAÇÃO CÍVEL
CONHECIDA E PROVIDA. I - Não viola o disposto no art. 93, IX, da
CF/88, a decisão que apresenta seus fundamentos de forma sucinta. II -
Após a Emenda Constitucional nº 80/2014, que consolidou a autonomia
orçamentária da Defensoria Pública, são-lhe devidos honorários
advocatícios de sucumbência mesmo nas ações em que patrocina
interesse contrário ao ente federado que integra. Precedente do
Supremo Tribunal Federal. III - Apelação cível conhecida e provida.
Condenação em honorários. (TJAM, Apelação Cível n. 0612236-
90.2013.8.04.0001, Relatora Nélia Caminha Jorge; Terceira Câmara Cível;
j. 20/08/2017; Data de registro: 21/08/2017) – grifou-se.

APELAÇÃO - Obrigação de fazer - Saúde - Autora acometida por neoplasia


maligna - Presente a necessidade de se proteger o bem maior, a vida, correta
a decisão que manda providenciar consulta com exames, tratamento e
medicamentos - Multa reduzida - Verba honorária devida à Defensoria
Pública do mesmo ente - Entendimento firmado no julgamento do AR
1937 pelo E. STF (...)". (TJSP; Apelação / Remessa Necessária 1001029-

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12.2016.8.26.0292; Rel. Renato Delbianco; Órgão Julgador: 2ª Câmara de


Direito Público, j. 23/01/2018; registro: 23/01/2018) – grifou-se.

AUSÊNCIA DE INTERESSE. PERDA SUPERVENIENTE DO OBJETO.


CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DOS HONORÁRIOS
SUCUMBENCIAIS. APELO DO ESTADO SUSTETANDO CONFUSÃO
PATRIMONIAL. APELO DO MUNICÍPIO PUGNANDO PELA
EXCLUSÃO DA CONDENAÇÃO OU A REDUÇÃO DO VALOR,
BEM COMO SEJA RECONHECIDA A SOLIDARIEDADE
ENTRE OS RÉUS. Os ônus sucumbenciais independem da gratuidade de
justiça deferida a parte autora patrocinada pela Defensoria Pública,
impondo-se a condenação dos réus ao pagamento dos honorários
advocatícios, ante a sucumbência reconhecida, ainda que de forma
recíproca, nos termos do artigo 85, caput e seu § 14, do Código de Processo
Civil, segundo os quais a sentença condenará o vencido a pagar honorários
ao advogado do vencedor, sendo vedada a compensação em caso de
sucumbência parcial. Saliento, por oportuno, que o Pleno do Supremo
Tribunal Federal, em recente decisão proferida no AR 1937 AgR,
decidiu por unanimidade de votos que é possível a condenação da União
a pagar honorários advocatícios em favor da Defensoria Pública da
União, não havendo, no caso, confusão em virtude da autonomia
conferida à instituição pelas Emendas Constitucionais nº 45/2004,
74/2013 e 80/2014. Nesse diapasão, entendo que o mesmo raciocínio pode
ser aplicado para os casos envolvendo ações patrocinadas pela Defensoria
Pública/RJ em face do Estado do Rio de Janeiro e suas autarquias, de acordo
com o artigo 181, inciso I, alínea "b", da Constituição deste Estado e o
artigo 4º da Lei Complementar nº 169/2016, que reconhece a independência
financeira e orçamentária da Defensoria Pública Estadual. Nega-se
provimento aos recursos. Fixação de verba de sucumbência recursal". (TJ-
RJ, Apelação n. 0184341-08.2013.8.19.0001, Rel. CLEBER
GHELFENSTEIN,, 14ª Câmara Cível, j. 7/2/2018, p. 8/2/2018) – grifou-se.

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"(...) 4. São devidos os honorários advocatícios de sucumbência à


Defensoria Pública do Distrito Federal em razão da sua autonomia
funcional, administrativa e orçamentária decorrentes das Emendas
Constitucionais nos 45/2004, 74/2013 e 80/2014, bem como da mudança
do art. 4º da LC 80/94, conforme entendimento do STF no julgamento
da Ação Rescisória nº 1937/DF. 5. A CODHAB foi criada pela Lei nº
4.020/2007 como empresa pública dotada de personalidade jurídica de
direito privado. Logo, quer pela decisão do STF no julgamento da Ação
Rescisória nº 1937/DF, quer pela sua natureza jurídica, pode ser condenada
a pagar honorários à Defensoria Pública do Distrito Federal. 6. Recurso
conhecido e provido." (TJ-DFT, Acórdão n.1067942,
20160111144944APC, Rel. DIAULAS COSTA RIBEIRO 8ª T. CÍVEL, j.
14/12/2017, DJE: 18/12/2017. Pág.: 639/644) – grifou-se.

AGRAVO INTERNO. DECISÃO MONOCRÁTICA QUE AFASTOU A


CONDENAÇÃO DO ENTE MUNICIPAL AO PAGAMENTO DE
HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. PROVIMENTO JUDICIAL
REFORMADO NO PONTO. CABIMENTO DE TAL ESTIPÊNDIO
EM FAVOR DA DEFENSORIA PÚBLICA, CONSOANTE DECIDIDO
PELO PLENÁRIO NO STF NO JULGAMENTO DA AR N. 1937.
PLEITO DE HONORÁRIOS RECURSAIS, TODAVIA, REJEITADO.
IMPOSSIBILIDADE DE ARBITRAMENTO DA ALUDIDA VERBA
QUANDO A INSURGÊNCIA É INTERPOSTA NO MESMO GRAU DE
JURISDIÇÃO. PRECEDENTES DO STJ. RECURSO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO. (TJSC, Agravo n. 0307703-
05.2016.8.24.0033, de Itajaí, rel. Des. Ronei Danielli, Terceira Câmara de
Direito Público, j. 24-04-2018) - grifou-se.

Este também foi o entendimento do TRF da 1ª Região, conforme exposto a seguir:

"(...) 2. Hipótese em que o acórdão embargado, antes do julgamento,


pelo Tribunal Pleno da Suprema Corte, do Agravo Regimental na Ação

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Rescisória 1.937/DF, que desautorizou, à luz das Emendas


Constitucionais 74/2013 e 80/2014, entendimento no sentido de não ser
devida verba advocatícia de sucumbência em favor da Defensoria
Pública, se vencida pessoa jurídica de direito público integrante da
mesma Fazenda Pública que a mantém, teve por indevidos honorários
advocatícios de sucumbência, em favor do órgão, por parte da União
Federal. (...)". (TRF-1, ED na AC n. 0008618.02.2011.4.01.4100/RO,
Rel. Carlos Moreira Alves, 5ª Turma, j. 24/1/2018).

Dessa maneira, restando amplamente demonstrado que a


Súmula 421 do STJ apresenta entendimento antigo, que não abriga o previsto
pelas Emendas Constitucionais 45/2004, 74/2013, 80/2014, responsáveis por
conferir acurado agasalho à autonomia funcional, administrativa e
orçamentária das Defensorias Públicas estaduais e federais, é de rigor o
reconhecimento da superação do enunciado do STJ para aplicar-se o recente
entendimento do Supremo Tribunal Federal, nos autos da AR nº 1.937, de
2017.

Após a referida autonomia orçamentária, reputo não ser mais aplicável a premissa da
confusão patrimonial que norteou o entendimento consubstanciado nos julgados que resultaram
naquele enunciado da súmula da jurisprudência do STJ.
Importante ressaltar, nesse sentido, que, posteriormente à edição da desatualizada súmula 421 do
STJ, e já à luz da autonomia da Defensoria Pública da União concretizada pela EC 80/2014, o
plenário da Suprema Corte proclamou ser devido à DPU o pagamento de honorários advocatícios
ainda quando atue contra entes públicos federais.

6. DOS REQUERIMENTOS FINAIS

Ante o exposto, a Defensoria Pública da União requer que seja negado provimento às
Apelação ora contrarrazoada..

Termos em que pede deferimento.

Recife, 01 de maio de 2023.

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ANA CAROLINA CAVALCANTI ERHARDT


Defensor(a) Público(a) Federal

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