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DIREITO PRIVADO

CC, CPC, CDC, ECA e EMP

DIREITO CIVIL

ART. 11 – DIREITOS DA PERSONALIDADE

A doença mental, por si só, configura a ausência de


discernimento para os atos da vida civil?

A enfermidade ou doença mental, ainda que tenha sido


estabelecida a curatela, não configura, por si, elemento suficiente para
determinar que a pessoa com deficiência não tenha discernimento para os atos
da vida civil.

É inconstitucional — por ofensa aos princípios da


proporcionalidade e da dignidade da pessoa humana — norma que prevê o
pagamento da aposentadoria por invalidez decorrente de doença mental
somente ao curador do segurado, condicionado à apresentação do termo de
curatela, ainda que provisório.

STF. Plenário. RE 918.315/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski,


julgamento em 16.12.2022 (Repercussão Geral – Tema 1.096) (Info 1.080).

ART. 927 – RESPONSABILIDADE CIVIL

É constitucional a responsabilização objetiva do empregador


por ato do empregado?

O art. 927, parágrafo único, do Código Civil é compatível com o


art. 7º, XXVIII, da Constituição Federal, sendo constitucional a
responsabilização objetiva do empregador por danos decorrentes de acidentes
de trabalho nos casos especificados em lei ou quando a atividade normalmente
desenvolvida, por sua natureza, apresentar exposição habitual a risco especial,
com potencialidade lesiva, e implicar ao trabalhador ônus maior do que aos
demais membros da coletividade.

STF. Plenário. RE 828040/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes,


julgado em 12/3/2020 (repercussão geral – Tema 932) (Info 969).
ART. 980-A - EIRELI

É constitucional a exigência de valor não inferior a 100


salários mínimos como capital mínimo da EIRELI?

A exigência de integralização do capital social por EIRELIs, no


montante previsto no art. 980-A do Código Civil, com redação dada pelo art. 2º
da Lei 12.441/2011, não viola a regra constitucional que veda a vinculação do
salário-mínimo para qualquer fim, bem como não configura impedimento ao
livre exercício da atividade empresarial.

O art. 980-A do CC não prevê forma de indexação nem qualquer


vinculação que possa interferir ou prejudicar os reajustes periódicos do salário-
mínimo. O sentido da proibição do art. 7º, IV, da Constituição Federal é
proteger a integridade do salário-mínimo como direito fundamental do
trabalhador. Por isso, evitar a vinculação é uma tentativa de evitar o prejuízo
dos reajustes ou de reduzir-lhe o poder de compra real. No caso, a utilização
do salário-mínimo é meramente referencial. O valor do salário-mínimo serve
tão somente como parâmetro para determinação do capital social a ser
integralizado na constituição da EIRELI.

Ademais, a exigência de integralização de capital social não


inferior a cem vezes o maior salário-mínimo vigente no País não representa
obstáculo à livre iniciativa. Isso porque a exigência de integralização do capital
social representa requisito para constituição de uma das formas de pessoas
jurídicas, a EIRELI. Não representa uma condição de acesso ao mercado ou à
atividade empresarial.

STF. Plenário. ADI 4637/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento


em 4.12.2020 (Info 1.001).

CONDOMÍNIO EDILÍCIO

É possível a cobrança, por parte de associação, de taxas de


manutenção e conservação de loteamento fechado de proprietário não-
associado?
É inconstitucional a cobrança por parte de associação de taxa de
manutenção e conservação de loteamento imobiliário urbano de proprietário
não associado até o advento da Lei nº 13.465/2017, ou de anterior lei municipal
que discipline a questão, a partir da qual se torna possível a cotização dos
proprietários de imóveis, titulares de direitos ou moradores em loteamentos de
acesso controlado, que: i) já possuindo lote, adiram ao ato constitutivo das
entidades equiparadas a administradoras de imóveis; ou ii) sendo novos
adquirentes de lotes, o ato constitutivo da obrigação esteja registrado no
competente Registro de Imóveis.

O tema deve ser analisado antes e depois da Lei nº 13.465/2017.

“Loteamentos fechados” (antiga nomenclatura utilizada na prática


antes da Lei nº 13.465/2017) O custo e a lista de exigências necessárias para
se constituir um condomínio edilício é muito grande, especialmente em se
tratando de condomínio de casas, devendo ser observados os ditames da Lei
nº 4.591/64. Em virtude dessa imensa burocracia, se formos pensar em 20 ou
30 anos atrás, iremos recordar que havia pouquíssimos condomínios edilícios
de casas (na linguagem popular: “condomínios fechados” de casas). Ou a
pessoa morava em um bairro residencial (aberto, sem condomínio) ou, então,
em condomínios edilícios de prédios (chamados de condomínio edilício
horizontal). Ocorre que a violência no país cresceu bastante, o que fez com
que as incorporadoras e imobiliárias passassem a oferecer aos consumidores
cada vez mais opções de condomínios edilícios de casas (condomínios
“fechados” de casas), com guarita, vigilantes armados, área de lazer etc. Tais
condomínios, no entanto, são, em geral, muito caros e inacessíveis a boa parte
da população. A fim de se proteger da violência, os moradores de alguns
bairros residenciais começaram a se reunir e a constituir associações de
bairros, recolhendo contribuições dos habitantes daquele conjunto e, com o
dinheiro arrecadado, fizeram cancelas nas ruas, contrataram seguranças
particulares e, aquilo que era um bairro residencial, com acesso livre para
qualquer pessoa, transformou-se em um “loteamento fechado” (ou condomínio
de fato) de casas, com acesso restrito por meio de controle de cancela e
portaria. A ideia parece excelente. O problema é que essa “transformação” era
feita sem a observância da Lei do parcelamento do solo urbano (Lei nº
6.766/79), do Estatuto das Cidades (Lei nº 10.257/2001) e do plano diretor do
Município, já que as exigências burocráticas são imensas e praticamente
impossíveis de serem atendidas por um simples grupo de moradores. Além do
que, no condomínio edilício de casas, o incorporador compra um terreno e as
ruas ali existentes são privadas (particulares), enquanto que no “fechamento”
de um bairro residencial, as casas são privadas, mas as ruas são públicas
(bens de uso comum do povo), o que torna ainda mais questionável a
regularidade desse “fechamento”. Tais bairros que se transformam em
“loteamentos fechados”, por não atenderem a legislação, não existem
juridicamente, sendo, por essa razão, chamados de “condomínios de fato”.

Para pagar os serviços que serão feitos no loteamento fechado


(exs: porteiro, cancela, vigilantes, limpeza etc.), é necessário que os moradores
façam uma cota mensal. É como se fosse uma taxa condominial semelhante
àquelas que são cobradas nos condomínios edilícios. Existe, contudo, uma
importante diferença: no condomínio edilício, o pagamento dessa cota é um
dever dos condôminos previsto em lei (art. 1.336, I, do CC); o condomínio de
fato (ou loteamento fechado), por outro lado, não existia juridicamente e não
havia lei obrigando que os moradores arcassem com essa quantia.

Diante disso, surgiu o seguinte questionamento: antes da Lei nº


13.465/2017 todos os moradores do bairro/conjunto habitacional que foi
“fechado” e “transformado” em um loteamento fechado eram obrigados a pagar
essa taxa de manutenção? NÃO. O STJ apreciou o tema e afirmou o seguinte:

Os moradores que não quiserem se associar ou que não anuíram


à constituição desse condomínio de fato não são obrigados a pagar. Em nosso
ordenamento jurídico, somente existem duas fontes de obrigações: a LEI ou o
CONTRATO. No caso concreto, não há lei que obrigue o pagamento dessa
taxa; de igual forma, se o morador não quis participar da associação de
moradores nem anuiu à formação desse condomínio de fato, ele não poderá
ser compelido a pagar. As taxas de manutenção criadas por associações de
moradores não obrigam os não associados. STJ. 2ª Seção. REsp 1.280.871-
SP e REsp 1.439.163-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para
acórdão Min. Marco Buzzi, julgados em 11/3/2015 (recurso repetitivo) (Info
562).

O fato de o morador se beneficiar dos serviços não é


suficiente para que ele seja obrigado a pagar? Não haveria um
enriquecimento sem causa do morador? NÃO. Não se pode entender que o
morador, ao gozar dos serviços organizados em condomínio de fato por
associação de moradores, aceitou tacitamente participar de sua estrutura
orgânica. Na ausência de uma legislação que regule especificamente a matéria
em análise, deve preponderar o exercício da autonomia da vontade e ninguém
pode ser compelido a fazer algo senão em virtude de lei. Não se pode falar em
enriquecimento sem causa do morador. Isso porque ele é livre para se associar
ou não e, não sendo associado, não pode ser obrigado a pagar. A liberdade de
associação é um direito constitucional e não pode ser mitigado ou contrariado
sob o fundamento do princípio do enriquecimento sem causa.

O legislador, todavia, atento à celeuma envolvendo essa espécie


de organização dos lotes, editou a Lei nº 13.465/2017, que, dentre outros
diversos temas relativos à regularização fundiária, modificou o teor da Lei nº
6.766/79, para nela inserir modalidade de loteamento nominada “de acesso
controlado” (art. 2º, §8º).

A Lei nº 13.465/2017 previu, portanto, a obrigatoriedade de


cotização, entre os beneficiários, das atividades desenvolvidas por associações
de proprietários de imóveis, titulares de direitos ou moradores em loteamentos
ou empreendimentos assemelhados, desde que assim previsto no ato
constitutivo das organizações respectivas.

As disposições da Lei nº 13.465/2017 regularizaram os


“loteamentos fechados” que haviam sido constituídos antes da sua
vigência?

NÃO. As alterações promovidas pela Lei nº 13.465/2017 não se


aplicam às relações jurídicas existentes antes de sua edição, em razão do
princípio da irretroatividade das leis. Em decorrência disso, a mencionada lei
não pode retroagir para conferir às associações (como uma das possíveis
configurações de “administradora de imóveis”) o direito de cobrar de
proprietário não-associado taxas ou encargos relativos ao rateio de serviços
prestados em loteamentos de acesso controlado, nos termos da novel
legislação.

Por força das equivalências estabelecidas pela Lei nº


13.465/2017, abriu-se a possibilidade de cotização entre os beneficiários das
atividades desenvolvidas pelas associações, desde que assim previsto no ato
constitutivo das organizações. Cabe aqui recordar que, por óbvio, a lei se dirige
aos loteamentos regularmente constituídos, ou seja, com aprovação junto ao
poder público municipal e competente registro no cartório de imóveis. Assim,
para que exsurja para os beneficiários o dever obrigacional de contraprestação
pelas atividades desenvolvidas pelas associações (ou outra entidade civil
organizada) em loteamentos, é necessário que a obrigação esteja disposta em
ato constitutivo firmado após o advento da Lei nº 13.465/2017 (e que este
esteja registrado na matrícula atinente ao loteamento no competente Registro
de Imóveis, a fim de se assegurar a necessária publicidade ao ato). Uma vez
atendidos os requisitos previstos no art. 36-A, parágrafo único, da Lei nº
6.766/79, com a redação dada pela Lei nº 13.465/2017, os atos constitutivos da
administradora de imóveis vinculam tanto os já titulares de direitos sobre lotes
que anuíram com a sua constituição quanto os novos adquirentes de imóveis
em loteamentos como decorrência da publicidade conferida à obrigação
averbada no registro do imóvel.

Algumas leis municipais, mesmo antes da Lei nº 13.465/2017,


já autorizavam que as associações de moradores cobrassem essas
contribuições. Essas leis municipais são válidas?

SIM. A edição de leis municipais dessa espécie tem por objetivo


disciplinar a ocupação do solo urbano e está inserida na competência
normativa conferida pela Constituição Federal aos Municípios e ao Distrito
Federal. Nada impede que a matéria seja disciplinada pelo Município no próprio
Plano Diretor ou em ato normativo separado. Logo, se essa cobrança tivesse
sido instituída com base em lei municipal, ela também já era válida, mesmo
antes da Lei Federal nº 13.465/2017.

Assim: É inconstitucional a cobrança por parte de associação de


taxa de manutenção e conservação de loteamento imobiliário urbano antes da
Lei Federal nº 13.465/2017 ou antes de Lei municipal que disciplinasse o tema.
A partir de lei municipal ou da Lei Federal nº 13.465/2017, tornou-se possível
cobrança de cotas dos moradores dos loteamentos de acesso controlado,
desde que: i) este morador já possuísse lote quando entrou em vigor a lei e ele
aderiu expressamente ao ato constitutivo da associação; ou ii) sendo novo
adquirente de lotes, ele estará vinculado se o ato constitutivo da obrigação
estiver registrado no cartório de Registro de Imóveis.
STF. Plenário. RE 695911, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
14/12/2020 (Repercussão Geral –Tema 492) (Info 1.000).

ART. 1.790, CC – UNIÃO ESTÁVEL

1) Aplica-se à sucessão causa mortis na união estável as


mesmas regras da sucessão dos cônjuges?

No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a


diferenciação de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo
ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no artigo 1.829 do
Código Civil.

O art. 1.790 foi declarado inconstitucional.

STF. Plenário. RE 646721/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o


ac. Min. Roberto Barroso e RE 878694/MG, Rel. Min. Roberto Barroso,
julgados em 10/5/2017 (repercussão geral) (Info 864).

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2) É possível o reconhecimento de uniões estáveis


concomitantes?

A preexistência de casamento ou de união estável de um dos


conviventes, ressalvada a exceção do artigo 1.723, § 1º, do CC, impede o
reconhecimento de novo vínculo referente ao mesmo período, inclusive para
fins previdenciários, em virtude da consagração do dever de fidelidade e da
monogamia pelo ordenamento jurídico-constitucional brasileiro.

Em que pese ao fato de o art. 226, § 3º, da CF ter afastado o


preconceito e a discriminação à união estável, que não mais faziam sentido
frente à evolução da mentalidade social, constata-se que, em determinadas
situações, a união não pode ser considerada estável, mas, sim, concubinato,
quando houver causas impeditivas ao casamento, previstas no art. 1.521 do
CC.

STF. Plenário. RE 1045273/SE, rel. Min. Alexandre de Moraes,


julgamento em 19.12.2020 (Repercussão Geral - Tema 529) (Info 1.003).

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3) É constitucional a distinção entre os regimes sucessórios
do cônjuge e companheiro?

É inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre


cônjuges e companheiros prevista no art. 1.790 do CC/2002, devendo ser
aplicado, tanto nas hipóteses de casamento quanto nas de união estável, o
regime do art. 1.829 do CC/2002.

O STF modulou temporalmente a aplicação da tese para apenas


"os processos judiciais em que ainda não tenha havido trânsito em julgado da
sentença de partilha", de modo a tutelar a confiança e a conferir previsibilidade
às relações finalizadas sob as regras antigas (ou seja, às ações de inventário
concluídas nas quais foi aplicado o art. 1.790 do CC/2002).

STF. Plenário. RE 878694/MG, rel. Min. Roberto Barroso, j. em


25/10/18 (Repercussão Geral - Tema 809).

ALIMENTOS

1) É cabível a prisão civil em decorrência da cobrança de


débitos pretéritos?

A prisão por dívida de natureza alimentícia está ligada ao


inadimplemento inescusável de prestação, não alcançando situação jurídica a
revelar cobrança de saldo devedor.

STF. 1ª Turma. HC 121426/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado


em 14/3/2017 (Info 857).

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2) O concubino tem direito ao recebimento de pensão por


morte se estava junto do de cujus no falecimento?

É incompatível com a CF o reconhecimento de direitos


previdenciários (pensão por morte) à pessoa que manteve, durante longo
período e com aparência familiar, união com outra casada, porquanto o
concubinato não se equipara, para fins de proteção estatal, às uniões afetivas
resultantes do casamento e da união estável.
É inconstitucional o reconhecimento de direitos previdenciários
nas relações que se amoldam ao instituto do concubinato, mesmo que a união
tenha sido mantida durante longo período e com aparência familiar.

STF. Plenário. RE 883168/SC, relator Min. Dias Toffoli,


julgamento em 2.8.2021 (Repercussão Geral - Tema 526) (Info 1.024).

ART. 3º, VII, LEI 8.009/90

É possível penhorar bem de família do fiador de contrato de


locação comercial?

A penhorabilidade de bem de família pertencente a fiador de


contrato de locação também se aplica no caso de locação de imóvel comercial.

A exceção à regra da impenhorabilidade do bem de família


contida no inciso VII do art. 3º da Lei 8.009/90 é necessária, proporcional e
razoável, mesmo na hipótese de locação comercial.

É necessária e proporcional, pois os outros meios legalmente


aceitos para garantir o contrato de locação comercial, tais como caução e
seguro-fiança, são mais custosos para grande parte dos empreendedores.
Dessa forma, a fiança afigura-se a garantia que melhor propicia ganhos em
termos da promoção da livre iniciativa, da valorização do trabalho e da defesa
do consumidor.

Já a razoabilidade se assenta no fato de que o fiador tem livre


disposição dos seus bens, o que deixa patente que a restrição ao seu direito de
moradia encontra guarida no princípio da autonomia privada e da
autodeterminação das pessoas, que é um princípio que integra a própria ideia
ou direito de personalidade.

STF. Plenário. RE 1307334/SP, relator Min. Alexandre de Moraes,


julgamento em 8.3.2022 (Repercussão Geral – Tema 1.127) (Info 1.046).

LEI DO DIREITO AUTORAL – L. 9.610/98

É constitucional lei que isenta o pagamento de direito


autorais em eventos sem fins lucrativos?
É inconstitucional lei estadual que isenta o pagamento de direitos
autorais pela execução de obras musicais em eventos sem fins lucrativos
promovidos no âmbito de seu território.

Os direitos autorais se inserem no ramo do Direito Civil, razão


pela qual a norma estadual impugnada é formalmente inconstitucional, pois
afronta competência privativa da União para dispor sobre o tema (CF/1988, art.
22, I). Verifica-se, ainda, ter havido o estabelecimento de novas hipóteses de
limitação patrimonial não previstas na Lei 9.610/1998 (Lei do Direito Autoral),
que é a legislação federal específica sobre o tema e que não é passível de
alteração por norma estadual ou municipal.

STF. Plenário. ADI 6151/SC, relator Min. Edson Fachin,


julgamento em 7.10.2022 (Info 1.071).
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

ART. 42 E SS. – COMPETÊCIA

1) Autor pode optar pelo ajuizamento de demanda contra a


União na capital do Estado?

O art. 109, § 2º, da Constituição Federal encerra a possibilidade


de a ação contra a União ser proposta no domicílio do autor, no lugar em que
ocorrido o ato ou fato ou em que situada a coisa, na capital do estado-membro,
ou ainda no Distrito Federal. Desse modo, o autor, se quiser ajuizar demanda
contra a União, terá cinco opções, podendo propor a ação: a) no foro do
domicílio do autor; b) no lugar em que ocorreu o ato ou fato que deu origem à
demanda; c) no lugar em que estiver situada a coisa; d) na capital do Estado-
membro; ou e) no Distrito Federal.

STF. 1ª Turma. RE 463101 AgR-AgR, Rel. Min. Marco Aurélio,


julgado em 27/10/2015.

STF. 2ª Turma. ARE 1151612 AgR/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia,


julgado em 19/11/2019 (Info 960).

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2) A competência delegada da justiça estadual para julgar


demandas contra o INSS pressupõe a inexistência de vara federal?

A competência prevista no § 3º do artigo 109 da Constituição


Federal, da Justiça comum, pressupõe inexistência de Vara Federal na
Comarca do domicílio do segurado.

Compete a tribunal regional federal, no âmbito da respectiva


região, dirimir conflito de competência entre juiz federal ou juizado especial
federal e juiz estadual no exercício da competência federal delegada.

STF. Plenário. RE 860508/SP, relator Min. Marco Aurélio,


julgamento em 6.3.2021 (Repercussão Geral - Tema 820) (Info 1.008).

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3) Compete à JF o julgamento de causas de insolvência civil


quando houver interesse da União?
A insolvência civil está entre as exceções da parte final do artigo
109, I, da Constituição da República, para fins de definição da competência da
Justiça Federal.

O termo “falência”, contido na parte final do art. 109, I, da CF


compreende a insolvência civil. Por essa razão, compete à Justiça comum
estadual, e não à federal, processar e julgar as ações de insolvência civil ainda
que haja interesse da União, entidade autárquica ou empresa pública federal.

STF. Plenário. RE 678162/AL, rel. Min. Edson Fachin, julgamento


em 26.3.2021 (Repercussão Geral - Tema 859) (Info 1.011).

ART. 85 – HONORÁRIOS RECURSAIS

Art. 85 (...). § 11. O tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários


fixados anteriormente levando em conta o trabalho adicional realizado
em grau recursal, observando, conforme o caso, o disposto nos §§ 2 o
a 6o, sendo vedado ao tribunal, no cômputo geral da fixação de
honorários devidos ao advogado do vencedor, ultrapassar os
respectivos limites estabelecidos nos §§ 2 o e 3o para a fase de
conhecimento.

1) É cabível honorários recursais quando não apresentada


contrarrazões?

É cabível a fixação de honorários recursais, prevista no art. 85,


§11, do CPC/2015, mesmo quando não apresentadas contrarrazões ou
contraminuta pelo advogado da parte recorrida.

STF. 1ª Turma. AI 864689 AgR/MS e ARE 951257 AgR/RJ, rel.


Min. Edson Fachin, julgado em 27/09/2016 (Info 841).

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2) É possível o fracionamento dos honorários decorrente de
uma única ação ajuizada contra a Fazenda por vários litisconsortes?

Não é possível fracionar o crédito de honorários advocatícios em


litisconsórcio ativo facultativo simples em execução contra a Fazenda Pública
por frustrar o regime do precatório. A quantia devida a título de honorários
advocatícios é uma só, fixada de forma global, pois se trata de um único
processo, e, portanto, consiste em título a ser executado de forma una e
indivisível.

STF. Plenário. RE 919269, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em


7/2/2019 (Info 929).

ARTS. 144 A 145 - SUSPEIÇÃO E IMPEDIMENTO

Há suspeição ou impedimento em processos de controle


concentrado de constitucionalidade?

Não há impedimento, nem suspeição de ministro, nos julgamentos


de ações de controle concentrado, exceto se o próprio ministro firmar, por
razões de foro íntimo, a sua não participação.

STF. Plenário. ADI 6362/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski,


julgamento em 2.9.2020 (Info 989).

ART. 487 – SENTENÇA COM RESOLUÇÃO DE MÉRITO

Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz: III - homologar: c)


a renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção.

Existe algum limite processual para se renunciar ao direito


formulado na ação?
É possível reconhecer, também na instância extraordinária, a
possibilidade da homologação do pedido de renúncia ao direito sobre o qual se
funda a ação, quando postulado por procurador habilitado com poderes
específicos, desde que anterior ao julgamento final do recurso
extraordinário.

Lembrando que a DESISTÊNCIA só pode ser requerida ATÉ a


sentença.

STF. 2ª Turma. RE 514639 QO/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado


em 10/5/2016 (Info 825).

EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA

1) Obrigação de fazer sujeita-se ao regime de precatórios?

A execução provisória de obrigação de fazer em face da Fazenda


Pública não atrai o regime constitucional dos precatórios. Assim, em caso de
“obrigação de fazer”, é possível a execução provisória contra a Fazenda
Pública, não havendo incompatibilidade com a Constituição Federal. Ex:
sentença determinando que a Administração institua pensão por morte para
dependente de ex-servidor.

STF. Plenário. RE 573872/RS, Rel. Min. Edson Fachin, julgado


em 24/5/2017 (Repercussão Geral – Tema 45) (Info 866).

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2) Quais são os índices de correção monetária e juros de


mora aplicáveis para as condenações contra a Fazenda?

IMPORTANTE: Com a promulgação da EC 113/2021, TODAS as


condenações da Fazenda devem ser corrigidas pela SELIC, que já inclui os
juros de mora.

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3) É constitucional a execução invertida?

Não ofende a ordem constitucional determinação judicial de que a


União proceda aos cálculos e apresente os documentos relativos à execução
nos processos em tramitação nos juizados especiais cíveis federais, ressalvada
a possibilidade de o exequente postular a nomeação de perito.

Execução invertida: O CPC prevê que a execução contra a


fazenda pública deverá ser deflagrada por iniciativa do credor (exequente), que
apresentará os cálculos do valor que entende devido (art. 534 do CPC). Ocorre
que se percebeu que, na maioria das vezes, o credor é pessoa que dispõe de
poucos recursos e que não tem quem possa fazer esses cálculos. Essa
realidade se mostra ainda mais evidente no caso dos Juizados Especiais
Federais. Pensando nisso, alguns juízes dos Juizados Especiais idealizaram
uma adaptação do procedimento, que ficou conhecida como “execução
invertida”. A execução invertida, em palavras simples, consiste no seguinte:
havendo uma decisão transitada em julgado condenando a Fazenda Pública ao
pagamento de uma quantia considerada como de “pequeno valor”, o juiz do
Juizado Especial Federal intima o Poder Público (devedor) para que este
elabore a planilha de cálculos com o valor que é devido e apresente isso nos
autos para análise do credor. Caso este concorde, haverá o pagamento
voluntário da obrigação e a execução se encerra rapidamente.

O credor será obrigado a aceitar a execução invertida? NÃO. O


credor pode fazer absoluta questão de que os cálculos sejam realizados por
terceiro imparcial (perito do juízo). Em tais hipóteses, ele deverá formular
requerimento expresso, incumbindo ao Estado viabilizar a atuação do perito.

STF. Plenário. ADPF 219/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em


20/5/2021 (Info 1.018).

EXECUÇÃO

O procedimento de execução extrajudicial de imóvel objeto


de dívida hipotecária, previsto no Decreto-lei 70/1966, é constitucional?

É constitucional, pois foi devidamente recepcionado pela


Constituição Federal de 1988, o procedimento de execução extrajudicial,
previsto no Decreto-lei nº 70/66.

STF. Plenário. RE 627106/PR e RE 556520/SP, Rel. Min. Dias


Toffoli, julgados em 7/4/2021 (Repercussão Geral – Tema 249) (Info 1.012).
ART. 966, CPC – AÇÃO RESCISÓRIA

Art. 966.  A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser


rescindida quando:

§ 4º Os atos de disposição de direitos, praticados pelas partes ou por


outros participantes do processo e homologados pelo juízo, bem
como os atos homologatórios praticados no curso da execução, estão
sujeitos à anulação, nos termos da lei.

1) Cabe rescisória contra decisão homologatória de acordo


entre as partes?

A decisão judicial homologatória de acordo entre as partes é


impugnável por meio de ação anulatória (art. 966, § 4º, do CPC/2015; art. 486
do CPC/1973). Não cabe ação rescisória neste caso. Se a parte propôs ação
rescisória, não é possível que o Tribunal receba esta demanda como ação
anulatória aplicando o princípio da fungibilidade. Isso porque só se aplica o
princípio da fungibilidade para recursos (e ação anulatória e a ação rescisória
não são recursos).

STF. Plenário. AR 2440 AgR/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,


julgado em 19/9/2018 (Info 916).

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2) Sentença proferida com base no entendimento vigente do


STF e que, após o trânsito em julgado, houve mudança. Cabe rescisória?

Se a sentença foi proferida com base na jurisprudência do STF


vigente à época e, posteriormente, esse entendimento foi alterado, não se pode
dizer que essa decisão impugnada tenha violado literal disposição de lei para
fins da ação rescisória prevista no art. 485, V, do CPC/1973. Desse modo, não
cabe ação rescisória em face de acórdão que, à época de sua prolação, estava
em conformidade com a jurisprudência predominante do STF.

STF. Plenário. AR 2422/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em


25/10/2018 (Info 921).

Súmula 343/STF: Não cabe ação rescisória por ofensa a literal


dispositivo de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto
legal de interpretação controvertida nos tribunais.

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3) De quem é a competência para julgar a rescisória quando a


União for interessada?

Compete ao TRF processar ação rescisória proposta pela União


com o objetivo de desconstituir sentença transitada em julgado proferida por
juiz estadual, quando afeta interesses de órgão federal.

Compete à Justiça Federal processar e julgar ações rescisórias


movidas por ente federal contra acórdão ou sentença da Justiça estadual.

Isso porque o art. 108, I, b, e II, da CF não traz uma previsão


fechada, taxativa. É preciso ler tal norma em conjunto com o art. 109, I, da CF,
que nada mais é do que uma expressão do princípio federativo e que impede a
submissão da União à Justiça dos estados — com exceção da competência
federal delegada (art. 109, § 3º, da CF).
STF. Plenário. RE 598650/MS, relator Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 8.10.2021 (Repercussão Geral – Tema 775) (Info 1.033).

RECURSOS

1) É cabível a interposição de recurso via e-mail?

O e-mail não configura meio eletrônico equiparado ao fax, para


fins da aplicação do disposto no art. 1º da Lei nº 9.800/99, porquanto não
guarda a mesma segurança de transmissão e registro de dados. STJ. 6ª
Turma. AgRg no AREsp 919.403/DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado
em 13/09/2016.

Qual é o termo inicial do prazo de 5 dias para a parte apresentar o


seu recurso original após encaminhá-lo via fax? É contato da data em que se
encerraria o prazo do recurso. Assim, se a parte encaminhou seu recurso via
fax no 10º dia do prazo, dispondo de 15 dias para tanto, o termo inicial do
prazo para envio do original iniciará a partir do 15º dia. Consigna-se que o
prazo de 5 dias iniciará mesmo sendo dia não útil, a contagem é contínua.

STF. 1ª Turma. HC 121225/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado


em 14/3/2017 (Info 857).

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2) A suspensão dos processos decorrentes de repercussão


geral aplica-se aos processos criminais?

Art. 1.035. § 5º Reconhecida a repercussão geral, o relator no


Supremo Tribunal Federal determinará a suspensão do
processamento de todos os processos pendentes, individuais ou
coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no território
nacional.
O STF fixou as seguintes conclusões a respeito desse dispositivo:

a) a suspensão prevista nesse § 5º não é uma consequência


automática e necessária do reconhecimento da repercussão geral. Em outras
palavras, ela não acontece sempre. O Ministro Relator do recurso
extraordinário paradigma tem discricionariedade para determiná-la ou
modulá-la;

b) a possibilidade de sobrestamento se aplica aos processos de


natureza penal. Isso significa que, reconhecida a repercussão geral em um
recurso extraordinário que trata sobre matéria penal, o Ministro Relator poderá
determinar o sobrestamento de todos os processos criminais pendentes que
versem sobre a matéria;

c) se for determinado o sobrestamento de processos de natureza


penal, haverá, automaticamente, a suspensão da prescrição da pretensão
punitiva relativa aos crimes que forem objeto das ações penais sobrestadas.
Isso com base em uma interpretação conforme a Constituição do art. 116, I, do
Código Penal;

d) em nenhuma hipótese, o sobrestamento de processos penais


determinado com fundamento no art. 1.035, § 5º, do CPC abrangerá inquéritos
policiais ou procedimentos investigatórios conduzidos pelo Ministério Público;

e) em nenhuma hipótese, o sobrestamento de processos penais


determinado com fundamento no art. 1.035, § 5º, do CPC abrangerá ações
penais em que haja réu preso provisoriamente;

f) em qualquer caso de sobrestamento de ação penal determinado


com fundamento no art. 1.035, § 5º, do CPC, poderá o juízo de piso, no curso
da suspensão, proceder, conforme a necessidade, à produção de provas de
natureza urgente.

STF. Plenário. RE 966.177 RG/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em


7/6/2017 (Info 868).

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3) É possível considerar existente a repercussão geral em RE


ainda que o mesmo tenha sido considerado prejudicado?
Determinado indivíduo ingressou com pedido de registro para
concorrer às eleições de Prefeito sem estar filiado a partido político
(candidatura avulsa). O pedido foi indeferido em todas as instâncias e a
questão chegou até o STF por meio de recurso extraordinário. Ocorre que,
quando o STF foi apreciar o tema, já haviam sido realizadas as eleições
municipais. Diante disso, suscitou-se que o recurso estava prejudicado. O STF
reconheceu que, na prática, realmente havia uma prejudicialidade do recurso
tendo em vista que as eleições se encerraram. No entanto, o Tribunal decidiu
superar a prejudicialidade e atribuir repercussão geral à questão constitucional
discutida dos autos. Isso significa que o STF admitiu o processamento do
recurso e em uma data futura irá examinar o mérito do pedido, ou seja, se
podem ou não existir candidaturas avulsas no Brasil. Entendeu-se que o
mérito do recurso deveria ser apreciado tendo em vista sua relevância social e
política.

Vale ressaltar que o CPC/2015 permite que o STF analise o tema


da repercussão geral mesmo que haja desistência do recurso. Confira:

Art. 998. (...) Parágrafo único. A desistência do recurso não impede a


análise de questão cuja repercussão geral já tenha sido reconhecida
e daquela objeto de julgamento de recursos extraordinários ou
especiais repetitivos.

No caso, agora, temos uma espécie de ampliação deste parágrafo


único para também admitir a análise da questão mesmo que o tema concreto
discutido no recurso extraordinário tenha “perdido o objeto” (perdido o interesse
recursal).

STF. Plenário. ARE 1054490 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso,


julgado em 5/10/2017 (Info 880).

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4) Cabe ED contra decisão do presidente do Tribunal que não
admite RE?

Não cabem embargos de declaração contra a decisão de


presidente do tribunal que não admite recurso extraordinário. Por serem
incabíveis, caso a parte oponha os embargos, estes não irão suspender ou
interromper o prazo para a interposição do agravo do art. 1.042 do CPC/2015.
Como consequência, a parte perderá o prazo para o agravo. Nas palavras do
STF: os embargos de declaração opostos contra a decisão de presidente do
tribunal que não admite recurso extraordinário não suspendem ou interrompem
o prazo para interposição de agravo, por serem incabíveis.

STF. 1ª Turma. ARE 688776 ED/RS e ARE 685997 ED/RS, Rel.


Min. Dias Toffoli, julgados em 28/11/2017 (Info 886).

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5) É possível conceder ao recorrente prazo para


complementar a fundamentação de seu recurso?

Art. 932 (...) Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o


recurso, o relator concederá o prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente
para que seja sanado vício ou complementada a documentação
exigível.

O prazo de 5 dias previsto no parágrafo único do art. 932 do


CPC/2015 só se aplica aos casos em que seja necessário sanar vícios formais,
como ausência de procuração ou de assinatura, e não à complementação da
fundamentação. Assim, esse dispositivo não incide nos casos em que o
recorrente não ataca todos os fundamentos da decisão recorrida. Isso porque,
nesta hipótese, seria necessária a complementação das razões do recurso, o
que não é permitido.
STF. 1ª Turma. ARE 953221 AgR/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado
em 7/6/2016 (Info 829).

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6) Cabem honorários em julgamento de ED por Tribunal?

Após 18 de março de 2016, data do início da vigência do Novo


Código de Processo Civil, é possível condenar a parte sucumbente em
honorários advocatícios na hipótese de o recurso de embargos de declaração,
interposto perante Tribunal, não atender os requisitos previstos no art. 1.022 e
tampouco se enquadrar em situações excepcionais que autorizem a concessão
de efeitos infringentes.

Obs: a doutrina entende que, mesmo com o novo CPC, não


cabem honorários advocatícios no julgamento de embargos de declaração,
seja em 1ª instância, seja nos Tribunais. Por todos: Fredie Didier Jr e Leonardo
Carneiro da Cunha.

STF. 1ª Turma. RE 929925 AgR-ED/RS, Rel. Min. Luiz Fux,


julgado em 7/6/2016 (Info 829).

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7) Cabe MS para impugnar decisão que declarou


intempestivo o recurso? Calendário disponível no site do tribunal
comprova feriado local?

É admissível a impetração de mandado de segurança para


impugnar ato judicial que decidiu pela intempestividade de recurso que havia
sido protocolado dentro do prazo legal. Isso porque se está diante de uma
situação excepcional.

O calendário disponível no sítio do Tribunal de Justiça que mostra


os feriados na localidade é documento idôneo para comprovar a ocorrência de
feriado local no ato de interposição do recurso, nos termos do art. 1.003, § 6º,
do CPC/2015.

STF. 1ª Turma. RMS 36114/AM, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado


em 22/10/2019 (Info 957).
ACP – LEI 7.347/85

1) Legitimidade do MP para ajuizamento de ACP e


medicamentos

O Ministério Público é parte legítima para ajuizamento de ação


civil pública que vise o fornecimento de remédios a portadores de certa doença.
Com esse entendimento, o Plenário, ao apreciar o Tema 262 da repercussão
geral, deu provimento ao recurso extraordinário para que, suplantada a
ilegitimidade declarada pelo Tribunal de Justiça, este prossiga no julgamento
da apelação.

A ação proposta é definida pelos termos da petição inicial, que, no


caso concreto, apontou cidadã sem condições financeiras para aquisição dos
fármacos e negativa de fornecimento destes pela Secretaria de Saúde local.
Acontece que a referida peça se mostrou abrangente — tanto no tocante à
narração dos fatos, quanto em relação ao pedido —, aludindo não apenas à
situação daquela paciente como também à dos demais portadores da doença
considerada grave.

Mais do que isso, ao postular pronunciamento condenatório, citou-


se como destinatários pacientes acometidos pela enfermidade. Assim, a
menção ao indivíduo foi meramente exemplificativa. Dessa forma, se revelou
inquestionável a qualidade do “parquet” para ajuizar ação civil pública
objetivando, em sede de processo coletivo o interesse social que legitima a
intervenção e a ação em juízo do Ministério Público, a defesa de direitos
impregnados de transindividualidade ou de direitos individuais homogêneos,
notadamente aqueles de caráter indisponível, porque revestidos de inegável
relevância social, como sucede, de modo bastante particularmente expressivo,
com o direito à saúde, que traduz prerrogativa jurídica de índole
eminentemente constitucional.

STF. Plenário. RE 605533/MG, rel. Min. Marco Aurélio,


julgamento em 15/8/2018. (Info 911).

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2) Compete ao STF a execução individual de sentença


coletiva proferida pelo próprio tribunal?
Não compete originariamente ao STF processar e julgar execução
individual de sentenças genéricas de perfil coletivo, inclusive aquelas proferidas
em sede mandamental. Tal atribuição cabe aos órgãos judiciários competentes
de primeira instância.

STF. 2ª Turma. PET 6076 QO/DF, rel. Min. Dias Toffoli, julgado
em 25/4/2017 (Info 862).

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3) É necessário que a pessoa seja filiada à associação no


momento da propositura da ACP e tenha residência na jurisdição do juízo
para se beneficiar da sentença coletiva?

A eficácia subjetiva da coisa julgada formada a partir de ação


coletiva, de rito ordinário, ajuizada por associação civil na defesa de interesses
dos associados, somente alcança os filiados, residentes no âmbito da
jurisdição do órgão julgador, que o fossem em momento anterior ou até a data
da propositura da demanda, constantes da relação jurídica juntada à inicial do
processo de conhecimento.

STF. Plenário. RE 612043/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado


em 10/5/2017 (Repercussão Geral – Tema 499) (Info 864).

Sobre o mesmo tema, importante relembrar: O disposto no artigo


5º, inciso XXI, da Carta da República encerra representação específica, não
alcançando previsão genérica do estatuto da associação a revelar a defesa dos
interesses dos associados. As balizas subjetivas do título judicial, formalizado
em ação proposta por associação, é definida pela representação no processo
de conhecimento, presente a autorização expressa dos associados e a lista
destes juntada à inicial.

ATENÇÃO: No caso de MS Coletivo a associação NÃO precisará


de autorização de seus membros para ajuizar a ação mandamental.

ATENÇÃO: Sindicatos NÃO precisam de autorização dos


membros da categoria para propor ações coletivos, uma vez que atuam como
SUBSTITUTOS PROCESSUAIS, ou seja, agem em nome próprio defendendo
direito alheio.
STF. Plenário. RE 573232/SC, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
14/5/2014 (Repercussão Geral – Tema 82) (Info 746).

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4) É possível que as associações privadas celebrem acordos


em ACP?

A associação privada autora de uma ação civil pública pode fazer


transação com o réu e pedir a extinção do processo, nos termos do art. 487, III,
“b”, do CPC. O art. 5º, § 6º da Lei nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) prevê
que os órgãos públicos podem fazer acordos nas ações civis públicas em
curso, não mencionando as associações privadas. Apesar disso, a ausência
de disposição normativa expressa no que concerne a associações privadas
não afasta a viabilidade do acordo. Isso porque a existência de previsão
explícita unicamente quanto aos entes públicos diz respeito ao fato de que
somente podem fazer o que a lei determina, ao passo que aos entes privados é
dado fazer tudo que a lei não proíbe.

STF. Plenário. ADPF 165/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,


julgado em 1º/3/2018 (Info 892).

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5) MP possui legitimidade para ajuizar ACP em defesa do


FGTS?

O MP tem legitimidade para a propositura de ação civil pública em


defesa de direitos sociais relacionados ao FGTS.

Na origem, o parquet federal ajuizou ação civil pública que visa ao


tratamento unificado ou à unificação das contas vinculadas ao FGTS
pertencentes a empregado que possui mais de um vínculo laboral. Ao prover
parcialmente embargos infringentes, o tribunal a quo aduziu estar caracterizado
direito individual homogêneo com forte conotação social.

STF. Plenário. RE 643978/SE, rel. Min. Alexandre de Moraes,


julgamento em 9/10/2019 (Repercussão Geral – Tema 850) (Info 955).

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6) É constitucional a limitação territorial das decisões em


ACP?
É inconstitucional o art. 16 da Lei 7.347/1985. Em se tratando de
ação civil pública de efeitos nacionais ou regionais, a competência deve
observar o art. 93, II, da Lei 8.078/1990. Ajuizadas múltiplas ações civis
públicas de âmbito nacional ou regional, firma-se a prevenção do juízo que
primeiro conheceu de uma delas, para o julgamento de todas as demandas
conexas.

É inconstitucional a delimitação dos efeitos da sentença proferida


em sede de ação civil pública aos limites da competência territorial de seu
órgão prolator.

STF. Plenário. RE 1101973/SP, relator Min. Alexandre de Moraes,


julgamento em 7.4.2021 (Repercussão Geral - Tema 1.075) (Info 1.012).

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7) É possível ajuizar ACP após o trânsito em julgado de


sentença em desapropriação para discutir o domínio do bem?

O trânsito em julgado de sentença condenatória proferida em


sede de ação desapropriatória não obsta a propositura de ACP em defesa do
patrimônio público, para discutir a dominialidade do bem expropriado, ainda
que já se tenha expirado o prazo para a Ação Rescisória; Em sede de Ação de
Desapropriação, os honorários sucumbenciais só serão devidos caso haja
devido pagamento da indenização aos expropriados.

O ajuizamento de ACP para discussão da titularidade de imóvel


não ofende a coisa julgada decorrente de ação de desapropriação, mesmo
após o prazo de dois anos para propositura de ação rescisória.

Com efeito, diante da impossibilidade de discussão de matérias


de alta indagação no âmbito das ações de desapropriação, o que inclui o
debate a respeito da dominialidade do bem expropriado, eventual trânsito em
julgado de decisão judicial proferida em ação de desapropriação, limitada à
análise do decreto expropriatório e do valor de indenização, é incapaz de
impedir a discussão jurídica dominial em ação civil pública.

STF. Plenário. RE 1010819/PR, relator Min. Alexandre de Moraes,


julgamento em 26.5.2021 (Repercussão Geral - Tema 858) (Info 1.019).
MANDADO DE SEGURANÇA – LEI 12.016/09

1) Cabe sustentação oral em decisão liminar de MS?


ENTENDIMENTO SUPERADO

Não cabe sustentação oral no julgamento que aprecia o pedido de


liminar formulado em mandado de segurança. Obs: caberá sustentação oral no
julgamento final do MS.

STF. Plenário. MS 34127 MC/DF, MS 34128 MC/DF, Rel. Min.


Teori Zavascki, julgados em 14/4/2016 (Info 821).

Entendimento SUPERADO em virtude da lei 13.676/18, que


modificou o art. 16: Nos casos de competência originária dos tribunais, caberá
ao relator a instrução do processo, sendo assegurada a defesa oral na sessão
do julgamento do mérito ou do pedido liminar. 

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2) MP deve obrigatoriamente se manifestar sobre MS, mesmo


em casos de jurisprudência consolidada?

Em regra, é indispensável a intimação do Ministério Público para


opinar nos processos de mandado de segurança, conforme previsto no art. 12
da Lei nº 12.016/2009. No entanto, a oitiva do Ministério Público é
desnecessária quando se tratar de controvérsia acerca da qual o tribunal já
tenha firmado jurisprudência. Assim, não há qualquer vício na ausência de
remessa dos autos ao Parquet que enseje nulidade processual se já houver
posicionamento sólido do Tribunal. Nesses casos, é legítima a apreciação de
pronto pelo relator.

STF. 2ª Turma. RMS 32.482/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgado


em 21/8/2018 (Info 912).

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3) Cabe MS para declarar lei ou ato normativo


inconstitucional?

O mandado de segurança não é o instrumento processual


adequado para o controle abstrato de constitucionalidade de leis e atos
normativos.
STF. 2ª Turma. RMS 32.482/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgado
em 21/8/2018 (Info 912).

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4) Cabe MS contra ato de ministro que não efetuou o


pagamento de valores atrasados a anistiado político?

Cabe mandado de segurança contra ato do Ministro da Defesa


que não efetua o pagamento dos valores atrasados decorrentes da reparação
econômica devida a anistiado político (art. 8º do ADCT). Diferentemente de
uma ação de cobrança, que é proposta para o pagamento de valores
atrasados, no caso em tela temos um mandado de segurança impetrado para
que seja cumpra norma editada pela própria Administração (Portaria do
Ministro da Justiça).

É claro que o cumprimento efetivo da Portaria irá provocar efeitos


patrimoniais em favor do autor, mas o pedido do MS é que ele seja
reconhecido de forma efetiva como anistiado político. O pagamento dos valores
é mera consequência disso.

STF. Plenário. RE 553710/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em


17/11/2016 (Info 847).

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5) Competência para julgar MS contra ato do Governador que


impacta todos os membros da magistratura?

Compete ao STF julgar mandado de segurança impetrado pelo


Tribunal de Justiça contra ato do Governador do Estado que atrasa o repasse
do duodécimo devido ao Poder Judiciário. Nesta hipótese, todos os
magistrados do TJ possuem interesse econômico no julgamento do feito,
uma vez que o pagamento dos subsídios está condicionado ao cumprimento do
dever constitucional de repasse das dotações consignadas ao Poder Judiciário
estadual pelo chefe do Poder Executivo respectivo. Logo, a situação em tela se
amolda ao art. 102, I, "n", da CF/88.

STF. 1ª Turma. MS 34483-MC/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado


em 22/11/2016 (Info 848).

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6) É possível haver relativização do prazo decadencial de 120


dias para impetração do MS?

Em outubro/2004, a parte impetrou mandado de segurança no


STF. O writ foi proposto depois que já havia se passado mais de 120 dias da
publicação do ato impugnado. Dessa forma, o Ministro Relator deveria ter
extinguido o mandado de segurança sem resolução do mérito pela decadência.
Ocorre que o Ministro não se atentou para esse fato e concedeu a liminar
pleiteada. Em março/2017, a 1ª Turma do STF apreciou o mandado de
segurança. O que fez o Colegiado? Extinguiu o MS sem resolução do mérito
em virtude da decadência? NÃO. A 1ª Turma do STF reconheceu que o MS foi
impetrado fora do prazo, no entanto, como foi concedida liminar e esta
perdurou por mais de 12 anos, os Ministros entenderam que deveria ser
apreciado o mérito da ação, em nome da segurança jurídica.
IMPORTANTE: No caso de MS preventivo, NÃO HÁ PRAZO
DECADENCIAL.

STF. 2ª Turma. MS 25097/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado


em 28/3/2017 (Info 859).

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7) São constitucionais as disposições da lei 12.016 que


limitam a possibilidade de liminar em MS?

É inconstitucional ato normativo que vede ou condicione a


concessão de medida liminar na via mandamental. Impedir ou condicionar a
concessão de medida liminar caracteriza verdadeiro obstáculo à efetiva
prestação jurisdicional e à defesa do direito líquido e certo do impetrante.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou


parcialmente procedente ação direta para declarar a inconstitucionalidade do
art. 7º, § 2º, e do art. 22, § 2º, da Lei 12.016/2009.

O juiz tem a faculdade de exigir caução, fiança ou depósito para o


deferimento de medida liminar em mandado de segurança, quando verificada a
real necessidade da garantia em juízo, de acordo com as circunstâncias do
caso concreto (Lei 12.016/2019, art. 7º, III).

STF. Plenário. ADI 4296/DF, relator Min. Alexandre de Moraes,


julgamento em 9.6.2021 (Info 1.021).
DIREITO DO CONSUMIDOR

RESPONSABILIDADE CIVIL

1) No transporte aéreo internacional aplica-se o CDC ou as


convenções de Montreal e Varsóvia?

Em caso de extravio de bagagem ocorrido em transporte


internacional envolvendo consumidor, aplica-se o CDC ou a indenização
tarifada prevista nas Convenções de Varsóvia e de Montreal? As Convenções
internacionais. Nos termos do art. 178 da Constituição da República, as normas
e os tratados internacionais limitadores da responsabilidade das
transportadoras aéreas de passageiros, especialmente as Convenções de
Varsóvia e Montreal, têm prevalência em relação ao Código de Defesa do
Consumidor.

Atenção: 1) as Convenções de Varsóvia e de Montreal regulam


apenas o transporte internacional (art. 178 da CF/88). Em caso de transporte
nacional, aplica-se o CDC;

2) a limitação indenizatória prevista nas Convenções de Varsóvia


e de Montreal abrange apenas a reparação por danos materiais, não se
aplicando para indenizações por danos morais.

3) as Convenções de Varsóvia e de Montreal devem ser aplicadas


não apenas na hipótese de extravio de bagagem, mas também em outras
questões envolvendo o transporte aéreo internacional.

STF. Plenário. RE 636331/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado


em 25/05/2017 (Repercussão Geral) (Info 866).

1.1) E no caso de danos morais, as convenções também são


aplicadas?

Não se aplicam as Convenções de Varsóvia e Montreal às


hipóteses de danos extrapatrimoniais decorrentes de contrato de transporte
aéreo internacional.
Aplica-se o CDC em detrimento das Convenções de Varsóvia e
Montreal nos casos em que se discute a responsabilidade das empresas de
transporte aéreo internacional por dano moral resultante de atraso ou
cancelamento de voo e de extravio de bagagem.

STF. Plenário. RE 1.394.401/SP, relatora Ministra Rosa Weber,


julgamento em 15.12.2022 (Repercussão Geral – Tema 1.240) (Info 1.080).

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2) Qual é o prazo prescricional para ajuizar ação em virtude


de dano em transporte aéreo internacional?

Qual é o prazo prescricional da ação de responsabilidade civil no


caso de acidente aéreo em voo doméstico? 5 anos, segundo entendimento do
STJ, aplicando-se o CDC. Qual é o prazo prescricional da ação de
responsabilidade civil no caso de acidente aéreo em voo internacional? 2 anos,
com base no art. 29 da Convenção de Varsóvia.

STF. Plenário. RE 636331/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado


em 25/05/2017 (Repercussão Geral) (Info 866).

PLANOS DE SAÚDE

As disposições da lei 9.656/98 retroagem aos contratos


anteriores à sua vigência?

As disposições da Lei 9.656/1998, à luz do art. 5º, XXXVI, da


Constituição Federal, somente incidem sobre os contratos celebrados a partir
de sua vigência, bem como nos contratos que, firmados anteriormente, foram
adaptados ao seu regime, sendo as respectivas disposições inaplicáveis aos
beneficiários que, exercendo sua autonomia de vontade, optaram por manter
os planos antigos inalterados.

STF. Plenário. RE 948.634/RS, rel. Min. Alexandre de Moraes,


julgado em 20/10/2020 (Repercussão Geral - Tema 123) (Info 995).

BANCOS
É constitucional norma que autoriza os bancos a cobrarem
tarifa pela simples disponibilização de limite no “cheque especial”?

Contraria o ordenamento jurídico-constitucional a permissão dada


por resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) às instituições
financeiras para cobrarem tarifa bancária pela mera disponibilização de crédito
ao cliente na modalidade “cheque especial”.

É inconstitucional a cobrança de tarifa bancária pela


disponibilização de limite para “cheque especial”.

STF. Plenário. ADI 6407/DF, relator Min. Gilmar Mendes,


julgamento em 30.4.2021 (Info 1.015).

COVID-19

1) São constitucionais as decisões judiciais que concedem


descontos nas mensalidades em virtude da pandemia?

É inconstitucional decisão judicial que, sem considerar as


circunstâncias fáticas efetivamente demonstradas, deixa de sopesar os reais
efeitos da pandemia em ambas as partes contratuais, e determina a concessão
de descontos lineares em mensalidades de cursos prestados por instituições
de ensino superior.

São inconstitucionais as interpretações judiciais que, unicamente


fundamentadas na eclosão da pandemia de Covid-19 e no respectivo efeito de
transposição de aulas presenciais para ambientes virtuais, determinam às
instituições privadas de ensino superior a concessão de descontos lineares nas
contraprestações dos contratos educacionais, sem considerar as
peculiaridades dos efeitos da crise pandêmica em ambas as partes contratuais
envolvidas na lide.

Ofende a livre iniciativa a interferência em todos os contratos de


modo linear, geral e abstrato, sem a apreciação das peculiaridades de cada
avença, a fim de perquirir a real configuração de abusividade ou desequilíbrio
por fato imprevisível e externo à relação contratual. Com efeito, as decisões
judiciais questionadas retiram a possibilidade de negociação entre as partes,
bem assim a possibilidade de se encontrar o equilíbrio entre a proteção do
consumidor e a manutenção do ensino em tempos de pandemia.

Além disso, a existência de atos decisórios que deferem


descontos gerais e lineares, com disciplinas díspares e percentuais diversos,
viola a isonomia, pois o intenso grau de variabilidade entre as decisões
proferidas por cada Juízo quebra a uniformidade do tratamento do direito
contratual em apreço.

STF. Plenário. ADPF 706/DF, relatora Min. Rosa Weber,


julgamento em 18.11.2021 (Info 1.038).

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2) É constitucional lei federal que institui compensação


financeira a ser paga pela União a profissionais incapacitados/mortos
pela COVID?

É constitucional norma federal que prevê compensação financeira


de caráter indenizatório a ser paga pela União por incapacidade permanente
para o trabalho ou morte de profissionais da saúde decorrentes do atendimento
direto a pacientes acometidos pela Covid-19.

STF. Plenário. ADI 6970/DF, relatora Min. Cármen Lúcia,


julgamento em 15.8.2022 (Info 1.065).
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

PRINCÍPIOS

É constitucional lei estadual que proíbe toda e qualquer


propaganda às crianças nos estabelecimento de educação básica?

É constitucional legislação estadual que proíbe toda e qualquer


atividade de comunicação comercial dirigida às crianças nos estabelecimentos
de educação básica.

Os estados federados têm competência legislativa para restringir


o alcance da publicidade dirigida à criança enquanto estiverem nos
estabelecimentos de educação básica. Essa restrição promove a proteção da
saúde de crianças e adolescentes, dever que a própria Constituição Federal
(CF) define como sendo de absoluta prioridade.

ADI 5631/BA, relator Min. Edson Fachin, julgamento em


25.3.2021 (Info 1.011).

ART. 149, ECA – PARTICIPAÇÃO EM ESPETÁCULOS


PÙBLICOS

Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, através de


portaria, ou autorizar, mediante alvará: (...) II - a participação de
criança e adolescente em: a) espetáculos públicos e seus ensaios;
(...) § 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade judiciária
levará em conta, dentre outros fatores: a) os princípios desta Lei; b)
as peculiaridades locais; c) a existência de instalações adequadas; d)
o tipo de frequência habitual ao local; e) a adequação do ambiente a
eventual participação ou frequência de crianças e adolescentes; f) a
natureza do espetáculo.
Compete à Justiça Estadual ou à Justiça do Trabalho
autorizar trabalho artístico de crianças e adolescentes?

Compete à Justiça Comum Estadual (juízo da infância e


juventude) apreciar os pedidos de alvará visando a participação de crianças e
adolescentes em representações artísticas. Não se trata de competência da
Justiça do Trabalho. O art. 114, I e IX, da CF/88 não abrange os casos de
pedido de autorização para participação de crianças e adolescentes em
eventos artísticos, considerando que não há, no caso, conflito atinente a
relação de trabalho. Trata-se de pedido de conteúdo nitidamente civil.

STF. Plenário. ADI 5326/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em


27/9/2018 (Info 917).

RECOLHIMENTO COMPULSÓRIO DE CRIANÇAS

São constitucionais os dispositivos do ECA que proíbem o


recolhimento compulsório de crianças e adolescentes?

Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: I - ir,


vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários,
ressalvadas as restrições legais;

Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança corresponderão as


medidas previstas no art. 101.

Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando: (...)


II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves; III - por
descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente
imposta.

Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar: I - atender as crianças


e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e 105, aplicando
as medidas previstas no art. 101, I a VII;

Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de competência


constante do art. 147.

Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade,


procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato
infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária
competente: Pena - detenção de seis meses a dois anos. Parágrafo
único. Incide na mesma pena aquele que procede à apreensão sem
observância das formalidades legais.

São constitucionais o art. 16, I, o art. 105, o art. 122, II e III, o art.
136, I, o art. 138 e o art. 230 do ECA. Tais dispositivos estão de acordo com o
art. 5º, caput e incisos XXXV, LIV, LXI e com o art. 227 da CF/88. Além disso,
são compatíveis com a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), a
Convenção sobre os Direitos da Criança, as Regras de Pequim para a
Administração da Justiça de Menores e a Convenção Americana de Direitos
Humanos.

STF. Plenário. ADI 3446/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em


7 e 8/8/2019 (Info 946).

CRIMES ECA

Qual justiça é competente para julgar os delitos dos arts. 241,


241-A e 241-B do ECA?

Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes


consistentes em disponibilizar ou adquirir material pornográfico, acessível
transnacionalmente, envolvendo criança ou adolescente, quando praticados
por meio da rede mundial de computadores (arts. 241, 241-A e 241-B da Lei nº
8.069/1990).

Não haverá, em princípio, competência da Justiça Federal quando


o panorama fático revelar que houve apenas comunicação eletrônica entre
particulares em canal de comunicação fechado, como, por exemplo, no caso de
uma troca de e-mails ou em conversas privadas entre pessoas situadas no
Brasil. Em tais hipóteses, ficando demonstrado que o conteúdo permaneceu
enclausurado (restrito) entre os participantes da conversa virtual, bem como
que os envolvidos se conectaram por meio de computadores instalados em
território nacional, não há que se cogitar na internacionalidade do resultado e,
portanto, nem mesmo de que a competência seria da Justiça Federal.
STF. Plenário. RE 628624 ED, Rel. Edson Fachin, julgado em
18/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 393) (Info 990).
DIREITO EMPRESARIAL

LEI FALÊNCIAS
É constitucional a limitação a 150 salários mínimos dos
créditos trabalhistas e a definição de créditos com privilégio especial?
São constitucionais o estabelecimento de um limite máximo de
150 salários mínimos aos créditos de natureza trabalhista, bem como a
definição de créditos com privilégio especial, conforme previsto no art. 83, I, e
IV, “c”, da Lei 11.101/2005.
É constitucional a precedência conferida aos créditos
“extraconcursais” decorrentes de obrigações resultantes de atos jurídicos
válidos praticados durante a recuperação judicial, ou após a decretação da
falência, e de tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação
da falência.
STF. Plenário. ADI 3424/DF, relator Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 16.4.2021 (Info 1.013).

LEI PROPRIEDADE INDUSTRIAL


É constitucional a prorrogação dos prazos das patentes
quando o INPI não se manifestar no prazo legal?
É inconstitucional o parágrafo único do art. 40 da Lei 9.279/1996,
segundo o qual os prazos de vigência de patentes e de modelos de utilidade
podem ser prorrogados na hipótese de o INPI estar impedido de proceder ao
exame de mérito do pedido, por pendência judicial comprovada ou por motivo
de força maior.
A norma impugnada contraria a segurança jurídica, a
temporalidade da patente, a função social da propriedade intelectual, a duração
razoável do processo, a eficiência da administração pública, a livre
concorrência e a defesa do consumidor e o direito à saúde.
O Plenário, por maioria, modulou os efeitos da decisão de
declaração de inconstitucionalidade, nos seguintes termos:
a) Em regra, a decisão proferida nesta ADI 5529 terá eficácia ex
nunc. Assim, os efeitos da decisão de declaração de inconstitucionalidade do
parágrafo único do art. 40 da LPI são ex nunc, contados a partir da publicação
da ata de julgamento. Logo, ficam mantidas as extensões de prazo concedidas
com base no art. 40, parágrafo único, mantendo, assim, a validade das
patentes já concedidas e ainda vigentes em decorrência do aludido preceito.
b) Exceções. Existem duas situações nas quais a decisão
produzirá efeitos ex tunc: b.1) em relação às ações judiciais propostas até o dia
7 de abril de 2021, inclusive (data da concessão parcial da medida cautelar no
presente processo); e b.2) as patentes que tenham sido concedidas com
extensão de prazo relacionadas a produtos e processos farmacêuticos e a
equipamentos e/ou materiais de uso em saúde. Em ambas as situações, opera-
se o efeito ex tunc, o que resultará na perda das extensões de prazo
concedidas com base no parágrafo único do art. 40 da LPI, respeitado o prazo
de vigência da patente estabelecido no caput do art. 40 da Lei nº 9.279/96 e
resguardados eventuais efeitos concretos já produzidos em decorrência da
extensão de prazo das referidas patentes.
STF. Plenário. ADI 5529/DF, relator Min. Dias Toffoli, julgamento
em 12.5.2021 (Info 1.017).

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