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12 Noções Gerais de Direito A norma de conduta pode ser positiva ou negativa, sob o aspecto
dos direitos fundamentais do ser social, expressos no artigo 5.º da Constituição Federal (CF
de 1988), que se pode resumir em direitos individuais, de propriedade e de atividade. Para
facilitar o entendimento, vale observar que essa indicação de ação positiva ou negativa
encontra vértice no artigo 5.º, II, da CF: Art. 5.º [...] II - ninguém será obrigado a fazer ou
deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; [...] Impõe-se anotar que o império da
lei deve se colocar a serviço da sociedade, regrando ações e omissões de conduta, visando ao
bem comum e à convivência pacífica dos indivíduos do grupamento social. Em exercício de
reflexão sobre o tema, considere-se a seguinte situação: Observando seu direito fundamental
de ir e vir, um indivíduo utilizando um veículo automotor, ao longo de seu trajeto, encontra
um sinal (farol ou semáforo) vermelho e, em um outro ponto, um verde. Em quais das
situações ele está diante de norma de conduta social negativa? E positiva? O desrespeito da
norma posta, em ambos os casos, irá lhe causar a sanção de multa pela autoridade
competente? Comentário: a conduta em ambos os casos é cogente (obrigatória), baixo a
sanção de multa. No caso do farol vermelho, é negativa ao direito de ir e vir; no caso do farol
verde, é positiva ao direito de ir e vir. O regramento ora abordado sofre constantes alterações
com base na evolução da própria sociedade, principalmente da efervescente interação do ser
humano no seio social, com a aquisição de conhecimento do mundo que o rodeia e oriundo
da evolução tecnológica, que altera comportamentos e facilita a inserção do homem na vida
social. Quem de nós, há 30 anos, poderia imaginar que fatos ocorridos em terras longínquas
seriam quase que instantaneamente conhecidos pela quase totalidade dos indivíduos do
Planeta? Essa efervescência, por outro lado, tem interferido nos limites dos direitos
fundamentais dos indivíduos, impondo condicionamentos e restrições a esses direitos. As
restrições limitam os direitos fundamentais, sendo certo, porém, que as condições postas não
inibem o exercício desses direitos, mas o normatizam, em benefício do coletivo, sob o poder
estatal de polícia admi- 12
15 Introdução ao estudo do Direito faculdade ou possibilidade que tem uma pessoa de fazer
prevalecer em juízo a sua vontade, consubstanciada num interesse. Assim podemos tomar
como exemplo a locação de imóvel urbano para fins residenciais: há norma dispondo sobre a
matéria (a Lei do Inquilinato que, como lei, compõe o Direito objetivo). No momento em que
duas pessoas locador e locatário firmam o contrato de locação, esse pacto está sob a luz de
norma jurídica expressa; se uma das partes deixa de cumprir com o contratado, a outra pode
ingressar em juízo e, invocando os preceitos normativos que a amparam, exigir do outro a
satisfação de sua obrigação e/ou a imposição de uma sanção (Direito subjetivo). Elementos e
relação de Direito Em linhas gerais, o Direito compreende um sujeito, um objeto e uma
relação (que assim é o elemento de ligação entre os outros). Os sujeitos do Direito são as
pessoas naturais e jurídicas; logo, o sujeito do Direito é a pessoa em sua posição ativa. O
objeto do Direito é o bem ou vantagem sobre o qual o sujeito exerce o poder conferido pela
ordem jurídica, como (PINHO; NASCIMENTO, 2004, p. 19): os modos de ser da própria
pessoa na vida social (v.g. a existência, a liberdade, a honra etc.); as ações humanas; as coisas
corpóreas e incorpóreas. Assim, objeto é o bem tangível ou intangível sobre o qual recai a
manifestação da vontade. A relação de Direito é o elo de ligação entre o objeto e o sujeito.
Para tratarmos dela, observando sua constituição e seus efeitos, adequado se faz
conceituarmos esse tipo de relação. Dessa forma, mister se faz colacionarmos o que
preleciona Edvaldo Brito (1999, p. 105), como segue: Na sua vida social, os homens travam
certas relações ou sofrem as conseqüências de certos fatos ocorridos na sociedade, que
precisam ser ordenados, regulados, disciplinados, para que se torne possível a coexistência
social. Essa regulamentação de tais relações se faz através de normas jurídicas. [...] A relação
jurídica é, portanto, uma relação de caráter social que adquire substância jurídica, exatamente
porque é regulada pela ordem jurídica. Vários doutrinadores ensinam que a relação de Direito
somente se dá 15
16 Noções Gerais de Direito entre as pessoas; outros fazem distinção entre a atuação sobre
objetos naturais e a ligação de pessoas entre si, a qual denominam de direitos de dominação,
que impõem deveres diretos a outras pessoas. Por seu turno, Nelson Palaia (2005, p. 18)
ensina: Relação jurídica é a vinculação direta ou indireta de duas ou mais pessoas a
circunstância de fato, ou a um bem da vida, disciplinada pela norma jurídica positiva. As
pessoas se relacionam em função das atividades sociais, profissionais e pessoais, em razão de
seus mútuos interesses e visando certas finalidades. Tais relações, enquanto de cunho
meramente pessoal, envolvendo fatos não controvertidos e sem envolver pretensões ou
interesses atuais ou futuros, podem ser consideradas meras relações sociais. Se, contudo, tais
relações sociais envolverem interesses pessoais ou reais, vantagens, prerrogativas,
faculdades, deveres ou obrigações, disciplinados pela norma jurídica, estaremos diante de
uma relação jurídica. Assim, um simples olá ao dono da mercearia é um ato de relação social;
porém, se há a aquisição de mercadoria, contra o pagamento de determinado preço,
aperfeiçoa-se uma operação de compra e venda, uma relação jurídica, um contrato de compra
e venda, que tem previsão e regulação em norma jurídica. Exercício de fixação 1: refletir e
indicar o Direito objetivo, o subjetivo e os sujeitos A, mediante pagamento em parcela única,
liquidada por meio de cheque nominal, adquire da Casa Comercial X um aparelho de som da
marca Z, com tradição imediata. Ao chegar em sua residência, efetua atenta leitura do manual
de instalação e uso para, após, ligá-lo corretamente. Verifica, então, que o aparelho está com
defeito. Imediatamente volta à Casa Comercial, visando à troca. Para tanto, leva a nota fiscal,
na qual estava consignada a garantia de substituição, em caso de defeito, no prazo de 7 (sete)
dias da compra. Entretanto, a troca lhe foi negada pelo gerente da loja, que se limitou a dizer
que o aparelho deveria ser levado a uma oficina de assistência técnica autorizada pelo
fabricante para conserto, sem custo de mão-de-obra e peças. Não concordando com a postura
da Casa Comercial, A propõe uma reclamação perante o Procon exigindo a troca do bem ou a
devolução do preço pago com juros e correção monetária. Base legal: Código de Defesa do
Consumidor (Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990) Art. 18. Os fornecedores de produtos de
consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou
quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes
diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações
constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as
variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes
viciadas. 16
17 Introdução ao estudo do Direito 1.º Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta
dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I - a substituição do produto
por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; II - a restituição imediata da
quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III - o
abatimento proporcional do preço. 2.º Poderão as partes convencionar a redução ou
ampliação do prazo previsto no parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete nem
superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser
convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do consumidor. [...]
Comentário: o Direito objetivo é a própria previsão legal de troca do bem e o direito subjetivo
é a faculdade de exigir aquilo que está posto no ordenamento jurídico. Note que, no caso, A
poderia, por qualquer razão, ter preferido levar e custear o conserto em uma oficina
especializada ou ir à assistência técnica. Não é uma obrigação, mas uma faculdade que deve
ser exercida em um determinado tempo, sob pena de incidência da prescrição ou decadência.
Exercício de fixação 2: refletir e indicar o direito objetivo, o subjetivo e os sujeitos B, viúvo,
por meio de Escritura Pública, constitui usufruto vitalício de um de seus bens consistente no
apartamento n.º 105-A do Edifício N (que lhe tocou individualmente após o inventário dos
bens de sua falecida mulher) para a sua progenitora, com encargo de mantença no estado
recebido, pagamento de impostos, taxas, contribuições de melhoria e taxas condominiais
(ordinárias e extraordinárias). Sobrevindo o falecimento de B, a nua-propriedade do referido
imóvel coube, observada a quota-parte, aos seus 4 (quatro) filhos. Passados 18 (dezoito)
meses do término do inventário, os detentores da nua-propriedade foram notificados de
débitos de IPTU pela prefeitura e, logo em seguida, foram citados de ação executiva de
débitos condominiais. Com base em tais fatos, os detentores da nua-propriedade propõem
ação de desconstituição de usufruto pelo não cumprimento das obrigações pela usufrutuária,
cuja omissão está a colocar o bem em perigo iminente. Base legal: Código Civil (Lei , de 10
de janeiro de 2002): Art Incumbem ao usufrutuário: 17
20 Noções Gerais de Direito Fontes do Direito A palavra fonte significa o lugar de onde
provém alguma coisa. Edgar Magalhães Noronha (apud PINHO; NASCIMENTO, 2004, p.
39) esclarece: é o lugar onde perenemente nasce água. Em sentido figurado é sinônimo de
origem, princípio e causa. Por ser uma criação social, a origem do Direito está na própria
sociedade, fato que enseja que a pesquisa das fontes do Direito se estriba no estudo da origem
da norma jurídica. Assim, as fontes do direito, são: lei; costumes; doutrina; jurisprudência.
Além dessas, temos as formas de integração da norma jurídica: analogia, eqüidade e
princípios gerais de Direito. Lei Para São Tomás de Aquino, a lei é uma ordenação ou
prescrição da razão ao bem comum, promulgada por aquele que tem a seu cargo o cuidado da
comunidade. Em Direito, a palavra lei tem dois sentidos: formal é a disposição cogente
emanada da autoridade competente (função legislativa); material é toda disposição geral e
abstrata pertinente a uma disposição de Direito objetivo. Para a eficácia da lei, é necessária a
existência de uma sanção (privação de liberdade, multa administrativa, embargo de atividade,
interdição etc.). 20
21 Introdução ao estudo do Direito Costumes Grosso modo, podemos definir costume como a
postura normalmente aceita e adotada pela sociedade, em grau de consciente coletivo, perante
determinada situação; é a norma jurídica criada na e pela própria sociedade, de forma
espontânea e apta a gerar uma prática geral. Os costumes podem ser: contra legem (quando
há comum e reiterada desobediência a um comando legal, na crença da inefetividade da lei);
praeter legem (com a adoção de conduta ou prática que não tem previsão nem proibição na
lei); e secundum legem (quando constituem prática com previsão na lei, que remete ao
costume a solução do caso). Outrora, sem lei positiva nesse sentido, pelo costume, em nossa
sociedade havia o hábito de o homem render homenagem à mulher, dando-lhe o direito de
preferência para tomar assento em coletivos. Hoje, no sistema de transporte coletivo do
município de São Paulo, por exemplo, o costume passou para o ordenamento jurídico, que
determina, destacando-se com cor diferenciada, a reserva de assento para uso preferencial de
mulheres em gestação, pessoas com crianças de colo, idosos etc. Jurisprudência Vale notar
que a expressão jurisprudência vem de iurisprudentia, do latim, onde ius é direito, iuris é do
direito, e prudentia (para nós, prudência) significa circunspecção. Então, quando determinada
ação chega aos tribunais, a matéria nela encerrada é submetida a uma criteriosa apreciação,
dando-se uma decisão que, na interpretação dos membros do tribunal, obedece à melhor
exegese do texto legal aplicado aos fatos; um só julgado em certo sentido constitui
precedente; na medida em que cresce o número de ações tratando da mesma matéria e os
feitos vão sendo apreciados e decididos pela mesma forma, sempre no mesmo sentido, esse
elenco de decisões forma uma orientação, denominada jurisprudência. É a reiteração de
decisões proferidas em um mesmo sentido pelo Poder Judiciário, em processos diversos
envolvendo a mesma matéria. Conforme se vê do Novo Dicionário de Aurélio Buarque de
Holanda Ferreira (1995), jurisprudência é a interpretação reiterada que os tribunais dão à lei,
nos casos concretos submetidos ao seu julgamento. 21
22 Noções Gerais de Direito Importante observar que, como dito, esse elenco de julgados
compõe uma orientação, servindo para nortear a todos os operadores do Direito (juízes,
advogados, promotores etc.). Mas, como o cerne da jurisprudência é a interpretação (ou seja:
a forma pela qual se entende melhor aplicável a lei ao fato concreto), a jurisprudência não
compõe regra obrigatória e inflexível. Ao longo do tempo, o sentido dos julgados varia,
adequando o Direito às mudanças sociais. Doutrina Doutrina é o conjunto de princípios que
servem de base para um sistema jurídico, compondo-se das obras escritas, dos preceitos,
opiniões ou ensinamentos dos diversos autores e estudiosos das Ciências jurídicas e sociais,
na produção ou elaboração de conceitos, teses e explicações dos institutos jurídicos. É,
portanto, o estudo reflexivo do sistema jurídico (normas e princípios) elaborado pelos
juristas. Formas de integração do Direito Analogia Diz-se da existência de elementos de
semelhança entre coisas diversas entre si. Juridicamente, é o processo lógico que autoriza o
juiz a adaptar a um caso concreto, não previsto pelo legislador, uma norma que possua o
mesmo fundamento. Pode-se dizer, ainda, que analogia é a operação pela qual se aplica a um
caso não previsto, norma que diz respeito a uma situação prevista, havendo entre elas
identidade de razões, de causas ou de fins. Sua finalidade é suprir lacunas da lei; daí porque
não se refere à interpretação jurídica em si, mas à integração da lei (GUIMARÃES, 1995, p.
68). Eqüidade Conjunto de princípios imutáveis de justiça, fundados na igualdade perante a
lei, na boa razão e na ética, que conduzem o juiz a um critério de moderação ao proferir a
sentença, para suprir a imperfeição da lei ou modificar o seu rigor, tornando-a mais humana e
amoldada à circunstância ocorrente. É a aplicação ideal da norma no caso concreto, sem o
excessivo apelo à letra da lei (GUIMARÃES, 1995, p. 297). 22
23 Introdução ao estudo do Direito Princípios gerais de Direito São critérios maiores, muitas
vezes não escritos, que estão presentes em cada ramo do Direito (GUIMARÃES, 1995 p.
451). Por outro lado, são idéias fundamentais do ordenamento jurídico, e segundo o
jurisconsulto romano Ulpiano, são preceitos do Direito: viver honestamente, não lesar a
outrem e dar a cada um o que lhe pertence. (PINHO; NASCIMENTO, 2004, p. 51) A lei e
sua formação Lei é a norma geral e abstrata, emanada do poder competente e provida de
força obrigatória. A força obrigatória da lei é condição de sua eficácia; a lei possui a
propriedade de ser genérica, na medida em que obriga todos os membros do grupo social a
que estende sua eficácia, e é abstrata na medida em que não visa a situações particulares ou
concretas. A formação e a consumação da lei compreendem três fases distintas: iniciativa;
aprovação; execução. Iniciativa É a faculdade de se propor um projeto de lei, sendo atribuída
a uma pessoa ou a um órgão de forma geral ou especial. Como diz a CF de 1988 em seu
artigo 61: Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro
ou comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao
Presidente da República, ao Superior Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao
Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta
Constituição. Aprovação É a fase de estudo e de deliberação da norma jurídica, por meio de
debates, emendas e discussões dos representantes do povo, visando transformar o projeto em
regra obrigatória. 23
25 Introdução ao estudo do Direito ticais, observada, no caso, a forma federativa, com três
poderes, distintos e harmônicos entre si, em três níveis de governo (CF, art. 59): a)
Constituição; b) emendas constitucionais; c) leis complementares; d) leis ordinárias; e) leis
delegadas; f) medidas provisórias; g) decretos legislativos; h) decretos; i) resoluções.
Vigência da lei A eficácia de uma lei é sedimentada no seu vigor e abrangência no tempo e
no espaço. Segundo disposições da Constituição Federal (CF) e do Código Civil (CC), a lei
começa a vigorar 45 dias depois de oficialmente publicada, salvo se o legislador fixar outro
prazo; a vacatio legis é o lapso temporal contado da data de publicação da lei até a data em
que essa lei entra efetivamente em vigor. Nesse intervalo, a lei já existe, mas fica dormente,
em estado de vacância, não tendo aplicação enquanto não transcorrer o prazo nela própria
previsto, indicado expressamente. É um prazo destinado a facilitar a vida do cidadão, que
assim tem a oportunidade ( tempo suficiente ) para conhecer a lei (texto e objetivos),
preparando-se para dar-lhe o adequado e devido cumprimento. Cessação da obrigatoriedade
da lei A lei, em regra, tem duração indeterminada e só deixa de existir na ocorrência de
revogação expressa (lei nova estabelece a cessação) ou tácita (a lei nova é incompatível com
as disposições da anterior). 25
26 Noções Gerais de Direito Irretroatividade da lei A lei é expedida para disciplinar fatos
futuros, havendo exceções (v.g. aplicação de lei penal superveniente, se mais benéfica).
Ampliando seus conhecimentos Norma jurídica (LISBOA, 2003, p. 150) Vicente Ráo
observa que toda norma jurídica deve conter as seguintes características: utilidade, clareza,
possibilidade, brevidade, honestidade e justiça. A norma jurídica deve regular as relações
sociais. Para tanto, deve ser justa, mantendo a igualdade entre os seus destinatários,
observado o princípio da justiça distributiva. O abandono da igualdade meramente formal e
do critério de justiça comutativa é por demais satisfatório para a sociedade, devendo-se
pugnar para que a lei prestigie o asseguramento da proteção da dignidade da pessoa humana e
a solidariedade social. Desse modo, mesmo os pobres poderão ter o asseguramento de seus
direitos, garantindo-se em favor deles o patrimônio mínimo de subsistência, e assim o Direito
civil alcançará a sua real finalidade (proteger a pessoa, e não o patrimônio). A lei não deve
conter qualquer elemento contrário à moral permanente, que é vislumbrada pelo elaborador
da norma conforme a média social. A lei deve ser útil ao interesse da coletividade em geral
(prevalência dos interesses sociais sobre os meramente individuais ou egoísticos). O assunto
por ela regulado deve ser de factível cumprimento, sob pena de anomia ou desuso do
dispositivo. O conteúdo da norma deve ser claro e preciso em seus termos. Além disso, a
quantidade de leis em um ordenamento jurídico deve ser reduzida, a fim de que não gere
insegurança social. A grande quantidade de normas jurídicas é perfeitamente explicável nos
sistemas legais de origem romano-germânica, porém a normatização excessiva tem o óbice
de gerar a intranqüilidade pelo não conhecimento real da lei. Em que pese a ignorância da
existência de várias leis (ninguém as conhece em sua totalidade), prevalece o princípio da
inescusabilidade da lei. Segundo ele, ninguém pode deixar de cumprir a lei, alegando que a
desconhece. 26
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