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AULA - 1 - DECRETO-LEI N. 3.

689 DE 03/10/1941
PROCESSO PENAL I
PROFESSORA: SONIA FÁTIMA BRANDÃO

CONCEITO DE PROCESSO PENAL

O Estado, ente soberano que é, tem o


poder de ditar as regras de convivência e,
para isso, pode aprovar normas que
tenham por finalidade manter a paz e
garantir a proteção aos bens jurídicos
considerados relevantes: vida,
incolumidade física, honra, saúde pública,
patrimônio, meio ambiente, consumidor,
etc.

Essas normas, de caráter penal,


estabelecem previamente punições para
os infratores. Assim, no exato instante em
que ela é desrespeitada pela prática do
delito, surge para o Estado o direito de
punir – jus puniendi - Este, entretanto, não
pode impor imediata e arbitrariamente uma
pena, sem conferir ao acusado as devidas
oportunidades de defesa.

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A solução da lide só será dada pelo Poder


Judiciário após lhe ser apresentada uma
acusação formal pelo titular do direito de
ação. Uma vez aceita esta acusação,
estará iniciada a ação penal, sendo que,
durante o seu transcorrer, deverão ser
observadas as regras que disciplinam o
seu tramitar até que se chegue à decisão
final. A persecução penal, contudo,
obedece ao disposto na Constituição
Federal e nas leis infraconstitucionais
(código de processo penal e as leis
extravagantes), abrangendo os:

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PRINCÍPIOS GERAIS QUE REGEM O


PROCESSO PENAL

PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO


LEGAL

Está previsto no art. 5º, LIV, da


Constituição Federal – ninguém será
privado da liberdade ou de seus bens sem
o devido processo legal.

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PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO –
ENVOLVE AS PARTES (MP E DEFESA)

O réu deve conhecer da acusação para


produzir a defesa e as provas necessárias
(art. 5°, LV, CF).

PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA –


ENVOLVE A DEFESA

O princípio da ampla defesa é dividido


em duas partes:

 Autodefesa: é concretizada pelo direito


de presença, ou seja, o direito de
acompanhar o desenvolvimento do
processo e pelo direito de audiência, ou
seja, o direito de ser ouvido e de se
manifestar ou não.

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 Defesa técnica: é concretizada pela


representação de um profissional
habilitado, podendo ser constituído
(nomeado pela parte), dativo (nomeado
pelo juiz) ou ad hoc (advogado para o
ato, não possui vínculo com o processo).
A defesa técnica será sempre exercida
por meio de manifestação
fundamentada. O Art. 261 do CPP
assegura que nenhum acusado, ainda
que ausente ou foragido, será
processado ou julgado sem defensor.

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PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL

O Estado, na persecução penal, deve


assegurar às partes, para julgar a causa, a
escolha de um juiz previamente designado
por lei de acordo com as normas
constitucionais (art. 5°, LIII, CF: ninguém
será processado nem sentenciado
senão pela autoridade competente). A
preocupação maior desse princípio é
assegurar a imparcialidade do juiz, visto
que, num Estado Democrático de Direito, é
inconcebível que os julgamentos
materializem-se de forma parcial, corrupta
e dissociada do equilíbrio que as partes
esperam da magistratura.

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PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

Encontra-se previsão constitucional nos


arts. 5°, LX, XXXIII, e 93, IX, da CF.

Ocorre que, em algumas situações


excepcionais, a própria Constituição
ressalva a possibilidade de se restringir a
publicidade - quando houver interesse
social ou a intimidade o exigir, o juiz pode
limitar o acesso à prática dos atos
processuais, ou mesmo aos autos do
processo, apenas às partes envolvidas
(art. 5°, LX, CF).

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PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DAS PROVAS


ILÍCITAS

Dispõe o art. 5°, LVI, da CF: “são


inadmissíveis, no processo, as provas
obtidas por meios ilícitos”.

 Prova ilícita por derivação: (frutos da


árvore envenenada ou efeito à distância,
que advém do preceito bíblico de que a
“árvore envenenada não pode dar bons
frutos”). Assim, quando uma prova for
produzida por mecanismos ilícitos, tal
como a escuta ilegalmente realizada, não
se pode aceitar as provas que daí
advenha.

Teoria da proporcionalidade: (teoria da


razoabilidade ou teoria do interesse
predominante), cuja finalidade é equilibrar
os direitos individuais e os interesses da
sociedade, não se admitindo, pois, a
rejeição contumaz das provas obtidas por
meios ilícitos.

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PRINCÍPIO DA ECONOMIA
PROCESSUAL

É incumbência do Estado procurar


desenvolver todos os atos processuais no
menor tempo possível, dando resposta
imediata à ação criminosa e poupando
tempo e recursos das partes.

A edição da Emenda Constitucional


45/2004 (Reforma do Judiciário) tornou o
princípio explícito, dentre as garantias
individuais, passando a figurar no art. 5°,
LXXVIII: “a todos, no âmbito judicial e
administrativo, são assegurados a razoável
duração do processo e os meios que
garantam a celeridade de sua tramitação”.

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PRINCÍPIO DE QUE NINGUÉM ESTÁ


OBRIGADO A PRODUZIR PROVA
CONTRA SI MESMO - NEMO TENETUR
SE DETEGERE

Trata-se de decorrência natural da


conjugação dos princípios constitucionais
da presunção de inocência (art. 5°, LVII) e
ampla defesa (art. 5°, LV) com o direito
humano fundamental que permite ao réu
manter-se calado (art. 5°, LXIII). Se o
indivíduo é inocente, até que seja provada
a sua culpa, possuindo o direito de
produzir amplamente prova em seu favor,
bem como se pode permanecer em
silêncio sem qualquer tipo de prejuízo à
sua situação processual, é mais do que
óbvio não estar obrigado, em hipótese
alguma, a produzir prova contra si mesmo.

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PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE


JURISDIÇÃO

Tem a parte o direito de buscar o reexame


da causa por órgão jurisdicional superior.
Esse princípio é, assim, acolhido pela
maioria dos sistemas processuais
contemporâneos, inclusive pelo brasileiro.

Ressalta-se que o duplo grau de jurisdição


não se trata de princípio absoluto, pois há
decisões que não são passíveis de
recurso, por exemplo: a decisão que
recebe a denúncia ou a queixa; da que
denega a suspensão do processo em
razão de questão prejudicial, etc.

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PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA

Assegura que a ação penal não deve


transcender da pessoa a quem foi
imputada a conduta criminosa. É
decorrência natural do princípio penal de
que a responsabilidade é pessoal e
individualizada, não podendo dar-se sem
dolo e sem culpa. Enfim, a imputação da
prática de um delito, não pode ultrapassar
da pessoa do agente.

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PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DA DUPLA


PUNIÇÃO E DO DUPLO PROCESSO
PELO MESMO FATO

Não se pode processar alguém duas vezes


com base no mesmo fato, impingindo-lhe
dupla punição - no bis in idem -. É óbvio
que seria nitidamente lesivo à dignidade da
pessoa humana ser ela punida duas vezes
pela mesma conduta, o que evidenciaria
não ter fim o poder estatal, firmando
autêntico abuso de direito.

Ademais, se for absolvido, outro processo,


com base no mesmo fato, firmaria igual
abuso. Nesse ponto, cuida-se de previsão
feita no art. 8°, 4, da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos: “o
acusado absolvido por sentença transitada
em julgado não poderá ser submetido a
novo processo pelos mesmos fatos”. Logo,
esse preceito deve ser considerado
assimilado constitucionalmente pela via do
art. 5°, parág. 2°, da CF.

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PRINCÍPIO DA BUSCA DA VERDADE


REAL

Contrariamente à verdade formal,


inspiradora do processo civil, onde o juiz
não está obrigado a buscar provas,
mormente em ações de conteúdo
exclusivamente patrimonial, que constitui
interesse disponível, contentando-se com a
trazida pelas partes e extraindo sua
conclusão com o que se descortina nos
autos, a verdade real vai além: permite que
o magistrado também produza provas.

Deve-se destacar que a busca da verdade


real não quer dizer a ilimitada possibilidade
de produção de provas, pois há vedações
legais que necessitam ser respeitadas,
como por exemplo, a proibição da escuta
telefônica.

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PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE
INOCÊNCIA

Tem por objetivo, garantir,


primordialmente, que o ônus da prova cabe
à acusação e não à defesa. Assim, todo
acusado é presumido inocente, até que
seja declarado culpado por sentença
condenatória, com trânsito em julgado. Art.
5º, LVII, da CF.

Em conformidade com a Súmula 444 do


STJ, não podem ser considerados como
circunstâncias judiciais desfavoráveis os
inquéritos e as ações penais em
andamento, o que violaria o referido
princípio. Uma decorrência do referido
princípio é o do in dubio pro reo – favor
rei

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PRINCÍPIOS QUE NORTEIAM O


PROCEDIMENTO NO TRIBUNAL DO
JÚRI – (JULGAM CRIMES DOLOSOS
CONTRA A VIDA E O CONEXOS)

 Plenitude da defesa: significa que a


defesa pode usar de argumentos não
jurídicos para obter um melhor
resultado

 Sigilo das votações: os sete jurados


votam individualmente na sala especial
sem qualquer interferência externa, de
acordo com a sua convicção e
consciência.

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 Soberania dos veredictos: a decisão


dos jurados é soberana, ou seja, em
grau de recurso o Tribunal de Justiça
não muda essa decisão. Assim, o
recurso tem por finalidade anular o
julgamento sendo o réu submetido a
novo julgamento caso o Tribunal de
Justiça entenda que a decisão dos
jurados foi manifestamente contrária à
prova dos autos.

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FONTES DO PROCESSO PENAL

Este tema diz respeito à origem das


normas processuais, que pode ser
apreciado sob dois ângulos:

FONTES
MATERIAIS/CRIAÇÃO/PRODUÇÃO

No caso do direito processual, o art. 22, I,


da Constituição Federal, dispõe que a
legislação sobre o assunto compete
privativamente à União, que é, portanto,
a fonte material do processo penal.

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FONTES
FORMAIS/REVELAÇÃO/COGNIÇÃO

Dizem respeito aos meios pelos quais o


direito se exterioriza. Dividem-se em:

 Fontes formais imediatas: são as leis


em sentido amplo, abrangendo o texto
constitucional, a legislação
infraconstitucional (leis ordinárias,
complementares, etc), os tratados, as
convenções e as regras de direito
internacional aprovados pelo
Congresso Nacional, bem como as
súmulas vinculantes.

 Fontes formais mediatas: são os


costumes, os princípios gerais de
direito e a analogia.

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SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS

Existem três espécies de sistemas


processuais penais, a saber:
No sistema inquisitivo é o juiz quem detém
a reunião das funções de acusar, julgar e
defender o investigado – que se restringe à
mero objeto do processo. A ideia
fundante deste sistema é: o julgador é o
gestor das provas, o juiz é quem produz
e conduz as provas e onde a confissão
é considerada a rainha das provas.
Também, é neste período que as provas
são tarifadas/valoradas. O testemunho
de um clero ou nobre possuíam valores
muito maiores, por exemplo, ao de uma
mulher. A confissão é absoluta e
irretratável (daí a expressão rainha das
provas).

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SISTEMA ACUSATÓRIO: Diversamente


do sistema inquisitório, sua antítese é o
sistema processual acusatório, que possui
como princípio unificador o fato de o
gestor da prova ser pessoa/instituição
diversa do julgador. Há, pois, nítida
separação entre as funções de acusar,
julgar e defender, o que não ocorria no
sistema inquisitivo.

SISTEMA MISTO: Por fim, o sistema


processual misto contém as características
de ambos os sistemas supracitados.
Possui duas fases: a primeira, inquisitória e
a segunda, acusatória. Tem origem no
Código Napoleônico (1808).

No Brasil é adotado o sistema


acusatório.

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ARTIGO 1º - APLICAÇÃO DA LEI


PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO

O processo penal, em todo o território


nacional, rege-se pelo Decreto-lei n
3.689/41, adotando-se princípio da
territorialidade, segundo o qual seus
dispositivos aplicam-se a todas as ações
penais que tramitem em território brasileiro.

Assim, mesmo que certos atos processuais


devam ser praticados no exterior, como
uma citação, intimação, busca e
apreensão, ouvida de testemunha, etc.,
aplicável será a lei processual penal do
país onde tais atos devam ser
realizados – princípio da soberania - não
podendo ter aplicação a nossa lei. É o
domínio da Lex fori.

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EXCEÇÕES À INCIDÊNCIA DO CPP


PREVISTAS EM SEU ARTIGO 1º.

Nos cinco incisos do artigo 1º do CPP


foram elencadas hipóteses em que este
não terá aplicação, ainda que o fato tenha
ocorrido no território nacional. São elas:

Inciso I – os tratados, as convenções e


as regras do direito internacional: esses
institutos firmados pelo Brasil, mediante
aprovação por decreto legislativo e
promulgação por Decreto presidencial,
afastam a jurisdição brasileira, ainda que o
fato tenha ocorrido no território nacional,
de modo que o infrator será julgado em
seu País de origem. É o que acontece
quando o delito é praticado por agentes
diplomáticos e, em certos casos, por
agentes consulares.

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Inciso II – as prerrogativas
constitucionais do Presidente da
República, dos ministros de Estado, nos
crimes conexos com os do Presidente
da República, e dos ministros do
Supremo Tribunal Federal, nos crimes
de responsabilidade (Lei 1.079/50): esse
dispositivo refere-se aos crimes de
natureza político-administrativos e não aos
delitos comuns. O julgamento dessas
infrações não é feito pelo Poder Judiciário
e sim pelo Legislativo e as consequências
são a perda do cargo, a cassação do
mandato, a suspensão dos direitos
políticos. A condenação não gera
reincidência nem prisão.

Inciso III – procedimento na Justiça


Militar: a Justiça Militar é uma Justiça
especial, conforme art. 124, da CF. Há um
Código Penal Militar, que define os crimes
militares e Processual Penal Militar, que é
o aplicável na composição das lides de
natureza penal militar. Não se trata de foro
excepcional, mas especial.

Os demais incisos estão revogados


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OUTRAS EXCEÇÕES

Nota-se que vem surgindo,


constantemente, leis processuais
estabelecendo normas quanto ao processo
e julgamento de determinadas infrações
penais (leis extravagantes). Lei de
Entorpecentes – nº 11.343/06; Lei nº
9.099/95; Lei n° 11.101/05 (Lei de
Falência).

Assim, o Processo Penal, forma


compositiva de litígios penais, continua
sendo disciplinado pelo CPP.. Ao seu
lado, porém, há leis extravagantes,
alterando, modificando ou dispondo de
maneira especial a respeito do processo
e julgamento.

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ARTIGO 2º - APLICAÇÃO DA LEI


PROCESSUAL PENAL NO TEMPO

No Processo Penal, vigora o princípio da


imediatividade, pois a lei nova tem
aplicação imediata, sem prejuízo da
validade dos atos realizados. Em regra, a
lei processual penal é irretroativa, mesmo
que seja prejudicial ao agente, aplicando-
se aos processos em andamento.

O simples fato de haver no art. 2º,


acentuado “... sem prejuízo da validade
dos atos realizados na vigência da lei
anterior” indica, de logo, não ser
retroativa a lei processual penal, pouco
importando se mais severa ou benigna
isto porque, a Norma de Direito
Processual Penal, tem a ver com os
atos processuais, não com o ato
delitivo.

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Exceção existe quanto ao transcurso de


prazo já iniciado, que corre, como regra
pela lei anterior. Exemplo: o réu, intimado
da sentença condenatória, tem cinco dias
para oferecer o termo de apelação. Se
nova lei entrar em vigor, alterando esse
prazo para dois dias, é óbvio que seu
direito não será prejudicado. Continua ele
com os cinco dias da lei anterior para
recorrer, já que o ato tinha sido
consumado.

LEI PROCESSUAL PENAL NOVA MAIS


BENÉFICA NÃO RETROAGE. ELA É
APLICADA SOMENTE PARA OS CASOS
FUTUROS.

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ARTIGO 3º - INTERPRETAÇÃO DA LEI


PROCESSUAL PENAL

Interpretação extensiva, interpretação


analógica e analogia: o Código de
Processo Penal admite, expressamente,
que haja interpretação extensiva, pouco
importando se para beneficiar ou prejudicar
o réu, o mesmo valendo no tocante à
analogia. Já no Direito Penal material não
se admite a aplicação da analogia, a não
ser que seja favorável ao réu.

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Não confundir interpretação analógica


com aplicação da analogia, pois esta é
forma de preencher lacunas. Não se
deve confundir também com
interpretação extensiva, a qual gira em
torno de uma norma para nela
compreender casos que não estão
expressos em sua letra, mas que nela
se encontram, virtualmente, incluídos,
atribuindo assim à lei o mais amplo raio
de ação possível, todavia, sempre
dentro de seu sentido literal. O alcance
da lei é mais amplo do que indicam
seus termos.

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A LEI 13.964/19, QUE PASSOU A TER VIGÊNCIA EM


23/01/2020 INSERIU OS ARTIGOS 3ºA AO 3ºF, QUE
TRATAM DO JUIZ DAS GARANTIAS, QUE SE
ENCONTRAM SUSPENSOS PELO STF – ADI.

EM UMA BREVE SÍNTESE: o juiz das garantias é


responsável:

 Pelo controle da legalidade da investigação e pela


salvaguarda dos direitos individuais;
 A competência abrange todas as infrações penais,
exceto a de menor potencial ofensivo (pena máxima de
até dois anos)
 Sua competência cessa com o recebimento da denúncia
ou queixa
 Suas decisões não vinculam o juiz da instrução e
julgamento
 De forma alguma o juiz que atuar na fase investigatória
poderá atuar durante a ação penal

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ARTIGOS 4° A 23 - DO INQUÉRITO POLICIAL

É o conjunto de diligências realizadas pela polícia judiciária


para a apuração de uma infração penal e sua autoria, a fim
de que o titular da ação penal possa ingressar em juízo.
Trata-se de procedimento persecutório de caráter
administrativo instaurado pela autoridade policial, a fim de
apurar a existência de infração penal e a respectiva autoria,
por meio de diligências investigatórias.

O inquérito policial também conhecido como informatio


delicti, nada mais é do que a parte investigatória da
persecução penal (extrajudicial), e tem como objetivo servir
de base para a ação penal ou para providências cautelares,
como por exemplo, a prisão preventiva.

É no inquérito policial que produzem provas de real valor,


tais como: perícias, exame do local, exame de corpo de
delito - princípio da imediatividade - que exige a
realização de exames, com a devida urgência, sob pena de
desaparecimento dos vestígios.

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Além dos inquéritos policiais, nossa legislação prevê


outras formas de inquérito. São eles:

1. INQUÉRITO ADMINISTRATIVO, presidido por


autoridade administrativa que, eventualmente, pode
servir de base para o órgão do Ministério Público
promover a ação penal. Admite o contraditório.

2. INQUÉRITO MILITAR, presidido por um oficial da Polícia


Militar, que tem por finalidade apurar as infrações penais
militares.

3. INQUÉRITO CIVIL, que tem como objeto a apuração de


lesão aos interesses difusos e coletivos e é presidido por
um membro do Ministério Público e visa instruir uma
ação civil pública.

4. INQUÉRITO PARLAMENTAR - CPI - Comissão


Parlamentar de Inquérito, tem poderes de investigação
próprios das autoridades judiciais, art. 58, parág. 3°, da
Constituição Federal, tendo sua atuação regulamentada
pela Lei n° 1.579/52, que disciplina o inquérito
parlamentar.

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CARACTERÍSTICAS – (NATUREZA JURÍDICA DO


INQUÉRITO POLICIAL)

 Procedimento escrito: o inquérito policial é formado por


peças escritas (reduzidas a termo - art. 9° do CPP),
porque procura investigar as infrações penais e
respectiva autoria.

 Sigiloso: O sigilo deve ser resguardado pela própria


autoridade que o preside, sempre que cabal e
necessário para a apuração do fato criminoso - art. 20 do
CPP.

A Súmula Vinculante n. 14 do STF determina que: é


direito do defensor, no interesse do representado, ter
acesso amplo aos elementos de prova que, já
documentados em procedimento investigatório realizado
por órgão com competência de polícia judiciária digam
respeito ao exercício do direito de defesa. Note-se que o
direito restringe-se à prova já documentada e não àquela
em procedimento, como por exemplo, escuta
telefônica.

Além de ter acesso aos autos, o defensor também


poderá estar presente no interrogatório do indiciado e na
produção de provas testemunhais. Não poderá, contudo,
fazer reperguntas, dado ao caráter inquisitivo do
inquérito

 Oficiosidade: sua instauração é obrigatória diante da


notícia de uma infração penal (art. 5º, I, CPP),
ressalvados os casos de ação penal pública
condicionada e ação penal privada (art. 5º, II, CPP).

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 Inquisitivo: não se aplica o princípio do contraditório ou


da ampla defesa, pois, se não há acusação formal não
se pode falar em defesa, contudo, com a edição da lei
13.964/19, o suspeito deve ser assistido por advogado,
desde que preenchidos os requisitos do artigo 14-A. O
único inquérito que admite o contraditório é o instaurado
pela Polícia Federal, a pedido do Ministro da Justiça
visando à expulsão de estrangeiro (art. 70 da Lei
6.815/80).

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A LEI 13.964, INSERIU O ARTIGO 14-A:

Art. 14-A. Nos casos em que servidores vinculados às instituições


dispostas no art. 144 da Constituição Federal figurarem como
investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e
demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação
de fatos relacionados ao uso da força letal (morte) praticados no
exercício profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as
situações dispostas no art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal), o indiciado poderá constituir
defensor.

§ 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o investigado


deverá ser citado da instauração do procedimento investigatório,
podendo constituir defensor no prazo de até 48 (quarenta e oito)
horas a contar do recebimento da citação.

§ 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º deste artigo com ausência


de nomeação de defensor pelo investigado, a autoridade
responsável pela investigação deverá intimar a instituição a que
estava vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos,
para que essa, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, indique
defensor para a representação do investigado.

§ 3º (VETADO).

§ 4º (VETADO).

§ 5º (VETADO).

§ 6º As disposições constantes deste artigo se aplicam aos


servidores militares vinculados às instituições dispostas no art. 142
da Constituição Federal, desde que os fatos investigados digam
respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem.”

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AULA – 3 - DECRETO-LEI N. 3.689 DE 03/10/1941 - PROCESSO PENAL I
PROFESSORA: SONIA FÁTIMA BRANDÃO

DISPENSABILIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL

O inquérito policial não é imprescindível para a propositura


da ação penal. Isto se deve porque todas as vezes que o
promotor dispuser de elementos suficientes indicativos da
autoria e da materialidade da infração penal, poderá
oferecer a denúncia - artigos 27; 39, parág. 5° e 46,
parág. 1°, todos do CPP.

VALOR PROBANTE DO INQUÉRITO POLICIAL

O inquérito policial tem conteúdo informativo, tendo por


finalidade fornecer ao Ministério Público os elementos
necessários para a propositura da ação penal. Como não
há contraditório amplo, obviamente não pode constituir
fonte única para a condenação ou absolvição.

Ainda que pesem as críticas feitas, é na verdade a melhor


forma de se obter elementos a respeito de um crime, de
seu autor.

INCOMUNICABILIDADE

O art. 21, parág. Único, do CPP prevê a possibilidade de o


juiz decretar a incomunicabilidade do indiciado por prazo
não superior a 3 dias, visando com isso evitar que ele
prejudique o andamento das investigações. Tal
dispositivo, apesar de não ter sido revogado
expressamente, tornou-se inaplicável em razão do
disposto na no art. 136, parág. 3º, IV, da CF, que veda a
incomunicabilidade, até mesmo quando decretado o
estado de defesa.

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FORMAS DE INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL

 Instauração de ofício/portaria – art. 5º, I, do CPP: a


notitia criminis pode chegar ao conhecimento do
delegado de formas diversas, como por exemplo: por
comunicação de outros policiais; por matérias
jornalísticas, boletim lavrado em sua delegacia, por
informação prestada por outras pessoas. O art. 5º,
parág. 3º, do CPP estabelece que qualquer pessoa do
povo pode levar ao conhecimento da autoridade policial
a ocorrência de uma infração penal – delatio criminis.

Em razão das várias maneiras como o delegado


pode receber a notitia criminis, a doutrina fez a
seguinte classificação:

 De cognição imediata: quando a autoridade fica


sabendo da infração penal em razão do desempenho
de suas atividades regulares

 De cognição mediata: quando toma conhecimento


por intermédio de terceiros (requerimento do ofendido,
requisição do juiz ou do MP, delatio criminis)

 De cognição coercitiva: quando decorre de prisão


em flagrante.

 Requisição judicial ou do Ministério Público – art. 5º,


II, 1ª parte, do CPP: requisição é sinônimo de ordem,
assim, quando o juiz ou promotor de justiça requisitam a
instauração do inquérito, o delegado está obrigado a dar
início às investigações.

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 Requerimento do ofendido – art. 5º, II, 2ª parte, do


CPP: o requerimento não é uma ordem e é cabível
quando os crimes são de ação penal pública
incondicionada (a vítima opta por prestar as declarações
por escrito – o que não se confunde com a
“representação”), condicionada à representação – art.
5º, parág. 4º, sendo certo que o inquérito não poderá
sem ela ser iniciado, ou seja, é necessária a prévia
existência da representação ou ainda nos crimes de
ação penal privada – art. 5º, parág. 5º. Nos crimes de
ação penal privada o inquérito só poderá ser instaurado
se existir requerimento de quem tenha titularidade da
ação (ofendido ou seu representante legal, ou em caso
de morte, o cônjuge, ascendente, descendente ou
irmão). O texto legal não exige que esse requerimento
seja feito por meio de advogado – ao contrário do que
ocorre com o oferecimento da queixa-crime que exige
procuração com poderes especiais (art. 44 do CPP). É
evidente, contudo, que o requerimento também pode ser
feito por meio de advogado contratado ou defensor
público.

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AULA – 3 - DECRETO-LEI N. 3.689 DE 03/10/1941 - PROCESSO PENAL I
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Do despacho que indeferir o requerimento de abertura


de inquérito caberá recurso de natureza administrativa
para o Chefe de Polícia, ou seja, ao Delegado-Geral de
Polícia ou ao secretário de Segurança Pública,
segundo entendimento de alguns. É importante
ressaltar que nem o Ministério Público nem a
autoridade judiciária poderão requisitar, nos casos de
ação penal pública condicionada à representação e de
ação penal privada, a instauração do inquérito policial,
mas somente o ofendido ou quem tenha qualidade para
representá-lo.

 Auto de prisão em flagrante: a palavra flagrante, de


origem latina, significa queimar, arder. Daí a expressão
“flagrante delito”. O delito que ainda está acontecendo,
queimando, ardendo. Por essa razão, a prisão do
agente é admitida sem mandado.

AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE – FORMALIDADES


ARTIGOS 304 A 309 DO CPP

Efetivada a prisão em estado de flagrância, o preso é


encaminhado à autoridade competente para a lavratura
do auto de prisão, pela pessoa do condutor. A
autoridade competente para presidir o auto será aquela
do lugar onde a mesma se efetivou. No entanto, por
não se tratar de ato de jurisdição, será válido ainda que
realizado em local diverso. Se a prisão em flagrante for
realizada em local diverso do cometimento da infração,
incumbe a lavratura do respectivo auto à autoridade
policial em que se deu a prisão, a qual fará em seguida,
a remessa dos autos para o prosseguimento do
inquérito à autoridade que tenha atribuições para tanto.

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AULA – 3 - DECRETO-LEI N. 3.689 DE 03/10/1941 - PROCESSO PENAL I
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Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou


não puder fazê-lo, o auto de prisão em flagrante será
assinado por duas testemunhas, que tenham ouvido
sua leitura na presença deste.

A autoridade policial tem competência para decretar o


valor da fiança (de 1 a 100 salários mínimos) quando a
pena privativa de liberdade máxima for de até 4 (quatro)
anos. Pode a fiança não ser arbitrada no caso do art.
350 do CPP. Nos demais casos somente o juiz pode
determinar.

DA REALIZAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL

O inquérito policial não tem fórmula procedimental a ser


seguida com rigor (ressaltando que a prisão em flagrante
deve obedecer algumas formalidades, sob pena de ser
relaxado – arts. 304 a 309 do CPP), mesmo porque é um
conjunto de peças informativas cuja finalidade é a apuração
de indícios de autoria e prova da existência da infração
penal. Alguns atos mais comuns serão vistos a seguir.

Preservação do estado das coisas: diz o art. 6°, inciso I,


do CPP (com nova redação dada pela Lei n° 8.862/94),
que deverá a autoridade policial diligenciar no local do
delito, preservando o estado das coisas, até a chegada dos
peritos criminais, com a finalidade de se proceder a um
número maior de colheita de provas e evitar qualquer
fraude processual.

 Apreensão de instrumentos e outros objetos:


determina o art. 6°, inciso II, do CPP, a apreensão de
instrumentos usados para a prática do delito e demais
objetos que guardem relação com o fato apurado. A
busca e apreensão dos objetos relacionados com o
crime, quando realizadas no próprio local da infração,
não exigem maiores formalidades. Tal busca, entretanto,

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AULA – 3 - DECRETO-LEI N. 3.689 DE 03/10/1941 - PROCESSO PENAL I
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quando “domiciliar”, somente poderá ser realizada por


ordem judicial, art. 5°, inciso XI, CF. Em outros termos, à
noite, só na hipótese de flagrante delito, desastre ou com
consentimento do morador. Durante o dia, além dessas
formas, por determinação judicial.

 Oitiva da vítima e testemunhas: sempre que possível,


deverá a autoridade ouvir o ofendido pela prática da
infração e as testemunhas que, de qualquer forma,
apresentem elementos para a elucidação dos fatos,
conduzindo-as coercitivamente, se for o caso. Importante
ressaltar, que a testemunha que depuser falsamente ou
se negar a dizer o que sabe em que pese ser essa uma
fase meramente investigatória, estará sujeita às penas
do crime de falso testemunho.

 Reconstituição do crime: a simulação é feita utilizando


o réu, a vítima e outras pessoas convidadas a participar,
apresentando-se, em fotos e esquemas, a versão
oferecida pelo acusado e a ofertada pelo ofendido ou
outras testemunhas. Ressalte-se, entretanto, que o réu
não está obrigado a participar da reconstituição do crime

 Oitiva do indiciado; sua identificação e


incomunicabilidade: deverá a autoridade policial ouvir
aquele contra quem pairam os indícios da prática
delitiva, colhendo informações sobre a vida pregressa,
conduta social e todos os demais dados necessários a
sua segura identificação.

A Constituição Federal, em seu art. 5°, inciso LVII, aboliu


a identificação datiloscópica àqueles já identificados
civilmente. Contudo, com o intuito de coibir o uso comum
de documentos de identidade falsos pelos suspeitos,
essa regra constitucional foi disciplinada pela Lei n°
12.037/09. Dessa forma, a identificação criminal do
investigado passou a ser compulsória quando:

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AULA – 3 - DECRETO-LEI N. 3.689 DE 03/10/1941 - PROCESSO PENAL I
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Art. 3º Embora apresentado documento de identificação,


poderá ocorrer identificação criminal quando:

I – o documento apresentar rasura ou tiver indício de


falsificação;

II – o documento apresentado for insuficiente para


identificar cabalmente o indiciado;

III – o indiciado portar documentos de identidade


distintos, com informações conflitantes entre si;

IV – a identificação criminal for essencial às


investigações policiais, segundo despacho da autoridade
judiciária competente, que decidirá de ofício ou mediante
representação da autoridade policial, do Ministério
Público ou da defesa;

V – constar de registros policiais o uso de outros nomes


ou diferentes qualificações;

VI – o estado de conservação ou a distância temporal ou


da localidade da expedição do documento apresentado
impossibilite a completa identificação dos caracteres
essenciais.

Parágrafo único. As cópias dos documentos


apresentados deverão ser juntadas aos autos do
inquérito, ou outra forma de investigação, ainda que
consideradas insuficientes para identificar o indiciado.

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AULA – 3 - DECRETO-LEI N. 3.689 DE 03/10/1941 - PROCESSO PENAL I
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O art. 5º, LXIII da CF garante ao indiciado o direito de


permanecer calado durante o interrogatório. A autoridade
policial deve zelar para que o termo do interrogatório
também seja assinado por duas testemunhas que
tenham presenciado a leitura da peça para o indiciado.

Sendo o indiciado notificado a comparecer ao Distrito


Policial para ser interrogado, terá o dever de comparecer,
ainda que apenas para ser qualificado, já que o direito de
permanecer calado é em relação aos fatos criminosos. O
art. 260 do CPP admite a condução coercitiva, cujo
mandado pode ser expedido pela autoridade policial,
posto que não equivale a uma ordem de prisão

ATO DE INDICIAMENTO:

É um ato formal que decorre do fato de a autoridade


policial se convencer de que determinada pessoa é a
autora da infração penal. Antes do formal indiciamento, a
pessoa é tratada apenas como suspeita ou investigada.
O indiciamento é um juízo de valor da autoridade policial
e por isso não vincula o Ministério Público que poderá,
posteriormente requerer o arquivamento do inquérito. O
indiciamento gera o lançamento do nome e demais dados
da pessoa no sistema de informação da Secretaria de
Segurança Pública passando a constar da folha de
antecedentes criminais do indivíduo. Em caso de futuro
arquivamento ou absolvição, o desfecho deverá também
ser comunicado à Secretaria de Segurança para que seja
anotado na folha de antecedentes.

Reconhecimento de pessoas e coisas e acareações:


o reconhecimento visa apontar o autor do crime. O
reconhecimento tido como negativo não exclui a autoria,
a não ser que o responsável pelo reconhecimento
convictamente diz que nenhuma das pessoas que lhe
foram apresentadas é a verdadeira autora da infração.

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AULA – 3 - DECRETO-LEI N. 3.689 DE 03/10/1941 - PROCESSO PENAL I
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A acareação é o confronto entre duas pessoas que


prestaram depoimentos divergentes em aspectos
considerados relevantes pela autoridade. Assim, essas
pessoas devem ser colocadas frente a frente e
questionadas a respeito da divergência. A autoridade,
então, deverá lavrar o respectivo termo constando os
esclarecimentos prestados pelos acareados, bem como
se eles mantiveram as suas versões anteriores ou as
retificaram.

Colher informações sobre a existência de filhos,


respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o
nome e o contato de eventual responsável pelos
cuidados dos filhos, indicado pela pessoa
presa. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016 - Dispõe
sobre as políticas públicas para a primeira infância).

DIREITO DO ADVOGADO DE ACOMPANHAR E


AUXILIAR SEU CLIENTE DURANTE O
INTERROGATÓRIO OU DEPOIMENTO NO CURSO DA
INVESTIGAÇÃO

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AULA – 3 - DECRETO-LEI N. 3.689 DE 03/10/1941 - PROCESSO PENAL I
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A Lei nº 13.245/2016 acrescenta o inciso XXI ao art. 7º,


com a seguinte redação:

Art. 7º São direitos do advogado:


(...)

XXI - assistir a seus clientes investigados durante a


apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do
respectivo interrogatório ou depoimento e,
subsequentemente, de todos os elementos investigatórios
e probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou
indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva
apuração:

Discussão quanto à obrigatoriedade da presença do


advogado no interrogatório realizado na investigação
criminal – Lei 13.245/16 A doutrina majoritária e a
jurisprudência sempre entenderam que não é obrigatória a
presença de advogado ou Defensor Público durante o
interrogatório realizado no inquérito policial ou em qualquer
outro procedimento de investigação pré-processual. A
presença da defesa técnica no interrogatório e nos demais
atos da investigação criminal continua sendo facultativa.
Trata-se de um direito do investigado, mas, ao contrário do
interrogatório judicial, este pode optar por não estar
acompanhado de um advogado no ato, sem que isso
acarrete nulidade. O que mudou é que agora a legislação
é expressa ao reconhecer o direito do advogado de, se
quiser, participar do ato, não podendo haver embaraço
da autoridade que conduz a investigação.

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AULA – 3 - DECRETO-LEI N. 3.689 DE 03/10/1941 - PROCESSO PENAL I
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Sanção em caso de descumprimento do inciso XXI. O


inciso XXI prevê que, se for negado o direito de o advogado
participar do interrogatório ou depoimento, haverá nulidade
absoluta desses atos e, por consequência, nulidade
também de todas as "provas" que, direta ou indiretamente,
decorrerem deles.

Exemplo: o Delegado não permitiu que o advogado


participasse do depoimento de uma testemunha do
inquérito policial. Durante o depoimento, a testemunha
revela que viu o investigado, no dia do crime, em um
determinado endereço. A partir desse depoimento, a
autoridade policial pede a realização de uma busca e
apreensão no local e ali descobre a arma utilizada pelo
investigado no crime, além de objetos pessoais a ele
pertencentes. Pela redação do inciso XXI, haveria nulidade
absoluta da oitiva da testemunha e também das "provas"
obtidas com a busca e apreensão, uma vez que tal
diligência foi decorrente das informações passadas pela
testemunha.

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AULA – 3 - DECRETO-LEI N. 3.689 DE 03/10/1941 - PROCESSO PENAL I
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A LEI N. 13.344/2016 ACRESCENTOU O ARTIGO 13-A


Segundo o art. 13-A do CPP, nos crimes de sequestro e
cárcere privado (art. 148 do CP), redução a condição
análoga à de escravo (art. 149 do CP) e tráfico de
pessoas (art. 149-A do CP), sequestro relâmpago (art.
158, §3º do CP) e extorsão mediante sequestro (art. 159
do CP) e envio ilegal de criança ou adolescente para o
exterior (art. 239 do ECA), o membro do Ministério Público
ou o delegado de polícia pode requisitar, de quaisquer
órgãos do poder público ou de empresas da iniciativa
privada, dados e informações cadastrais da vítima ou de
suspeitos. Chama a atenção, além do exíguo prazo
de 24 horas para atendimento da requisição, o
fato de poder ser referir a dados não só do
investigado, mas da própria vítima.

De outro lado, o art. 13-B. do CPP diz que no crime de


tráfico de pessoas, o membro do Ministério Público ou o
delegado de polícia pode “requisitar, mediante autorização
judicial”, às empresas prestadoras de serviço de
telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem
imediatamente os meios técnicos adequados – como
sinais, informações e outros – que permitam a localização
da vítima ou dos suspeitos do delito em curso. Salta aos
olhos a falta de técnica legislativa ao fazer menção à
requisição mediante autorização judicial.

O §3º do art. 13-B do CPP traz novidade ao estabelecer


prazo para a instauração de inquérito policial: o
procedimento policial deve ser iniciado no prazo máximo de
72 horas, contado do registro da respectiva ocorrência
policial.

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AULA – 3 - DECRETO-LEI N. 3.689 DE 03/10/1941 - PROCESSO PENAL I
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PRAZOS DE CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL

Nos termos do art. 10 do CPP, se o indiciado estiver preso


o inquérito deverá ser concluído no prazo de 10 dias. Se o
indiciado estiver solto, tal prazo será de 30 dias,
prorrogável, pelo prazo assinalado pelo juiz se o fato for de
difícil elucidação (art. 10, parág. 3°, do CPP).

EXCEÇÕES

 De acordo com o art. 66 da Lei 5.010/66, no âmbito da


Polícia Federal e da Justiça Federal, o prazo para a
conclusão do inquérito, quando o indiciado estiver preso
será de 15 dias, podendo ser prorrogado por mais 15
dias. Se o indiciado estiver solto, o prazo será de 30
dias, prorrogável por mais 30 dias.

 No caso dos crimes contra a economia popular, o prazo


é de 10 dias, tanto para indiciado solto como preso,
conforme artigo 10, parág. 1°, da Lei n° 1.521/51, sendo
que o promotor tem dois dias para oferecer a denúncia.

 No que tange à Lei de Tóxicos (Lei 11.343/06 - vigorou a


partir de outubro/06), o prazo para a conclusão do
inquérito para o indiciado preso é de 30 dias. Para o
acusado solto o prazo é de 90 dias. Esses prazos podem
ser duplicados, mediante pedido justificado.

 No que tange ao inquérito penal militar o prazo é de 20


dias para indiciado preso e de 40 dias para indiciado
solto, podendo ser prorrogado por mais 20 dias, se o réu
estiver solto.

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CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL - RELATÓRIO

Exauridas todas as diligências, a autoridade policial, sem qualquer


consideração de mérito ou análise valorativa da prova, fará o
relatório (peça que encerra o inquérito policial) que é objetivo e
não opinativo. Ressalte-se, ainda, que a infração penal indicada
pela autoridade policial pode ser “provisória”, podendo ser alterada
pelo promotor, na denúncia ou em aditamento, e até pelo juiz, na
sentença.

O art. 17 do CPP diz que a autoridade policial não pode


determinar o arquivamento do IP, sequer requerer, cabendo tal
prerrogativa ao Ministério Público sendo que a decisão de
arquivar ou não é do Juiz de Direito.

Em se tratando de crime de ação privada, o art. 19 do CPP


estabelece que os autos do inquérito sejam remetidos ao juízo
competente, onde aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu
representante legal, ou serão entregues a eles, mediante traslado
(cópia), se assim tiverem solicitado.

AO RECEBER O INQUÉRITO POLICIAL, O PROMOTOR TERÁ


QUE TOMAR UMA DAS PROVIDÊNCIAS ABAIXO:

REMETER OS AUTOS À POLÍCIA PARA NOVAS DILIGÊNCIAS.


Caso o juiz indefira o requerimento de tais diligências, poderá o
promotor requisitá-las diretamente à autoridade policial (art. 13, II,
CPP) ou mesmo utilizar-se, da correição parcial.

PEDIR AO JUIZ O ARQUIVAMENTO quando há alguma causa


extintiva da punibilidade, falta de condição de procedibilidade,
quando não há suporte probatório mínimo para a promoção da ação
penal, ou pela ausência de indícios de autoria ou pela falta de prova
da materialidade do delito. O juiz jamais poderá determinar o
arquivamento do inquérito sem prévia manifestação do Ministério
Público.

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PROFESSORA: SONIA FÁTIMA BRANDÃO

Ao apreciar o pedido de arquivamento o juiz poderá:

 CONCORDAR COM O PEDIDO (dessa decisão não cabe


recurso, salvo nos casos de crimes contra a economia
popular, em que cabe recurso oficial – art. 7º da Lei n.
1.521/51).

O arquivamento do inquérito policial não enseja


propositura de recurso, bem como não faz coisa julgada
material, em face do que dispõe o art. 18 do CPP e a
Súmula 524 do STF, podendo ser desarquivado desde que
surjam novas provas, ressaltando que a “nova prova” há
de ser substancialmente inovadora e não apenas
formalmente nova.

Arquivamento com fundamento na atipicidade da


conduta: nesse caso, é possível gerar coisa julgada material.
A conclusão extraída pelo Ministério Público (órgão que
Judiciário (órgão que determina o arquivamento), de se tratar
de fato atípico (irrelevante penal) deve ser considerada
definitiva.

Arquivamento com base em excludente de ilicitude ou de


culpabilidade: gera, igualmente, coisa julgada material. Se o
representante do Ministério Público chega à conclusão de não
haver crime, por ter o indiciado (ou mero investigado) agido
sob alguma excludente de ilicitude (estado de necessidade,
legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal, exercício
regular de direito ou consentimento do ofendido), bem como
em situação de exclusão da culpabilidade (erro de proibição
escusável, coação moral irresistível, obediência hierárquica ou
inexigibilidade de conduta diversa), não há cabimento em se
reabrir, futuramente, a investigação policial, a pretexto de
terem surgido novas provas. A única exceção é a exclusão da
culpabilidade por doença mental, tendo em vista a
possibilidade de se aplicar medida de segurança.

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AULA – 4 - DECRETO-LEI N. 3.689 DE 03/10/1941 - PROCESSO PENAL I
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 NÃO CONCORDAR, caso em que remeterá os autos do


inquérito ao Procurador-Geral de Justiça, que poderá (art. 28
do CPP), por sua vez: a) requisitar novas diligências; b)
oferecer a denúncia; designar outro promotor para oferecer
denúncia; c) insistir no arquivamento – estando o juiz obrigado
a acolher esse pedido. Ressalta-se que o Procurador não
pode determinar arquivamento de inquérito.

A LEI 13.964/19, QUE PASSOU A TER VIGÊNCIA EM 23/01/2020


DEU NOVA REDAÇÃO AO ARTIGO 28 DO CPP, PORÉM, SE
ENCONTRA SUSPENSO PELO STF – ADI.

Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de


quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o órgão do
Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à
autoridade policial e encaminhará os autos para a instância de
revisão ministerial para fins de homologação, na forma da lei.

§ 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com o


arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trinta)
dias do recebimento da comunicação, submeter a matéria à revisão
da instância competente do órgão ministerial, conforme dispuser a
respectiva lei orgânica.

§ 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em detrimento


da União, Estados e Municípios, a revisão do arquivamento do
inquérito policial poderá ser provocada pela chefia do órgão a quem
couber a sua representação judicial.”

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AULA – 4 - DECRETO-LEI N. 3.689 DE 03/10/1941 - PROCESSO PENAL I
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Assim, caso o artigo acima (28), após o período de 180


dias de suspensão venha a ser aplicado a situação se
apresentará da seguinte forma:

Antes da lei 13.964/19 Depois da Lei 13.964/19


Ministério Público requeria o Ministério Público ordena o
arquivamento ao juiz que arquivamento e remete os autos
homologava ou não à instância de revisão ministerial
para fins de homologação.
Arquivamento realizado pelo O arquivamento passa a ser
Poder Judiciário. Não cabe realizado no âmbito do Ministério
nenhum recurso Público.

Se a vítima ou seu representante


legal, não concordar com o
arquivamento do inquérito
policial, poderá, no prazo de 30
dias do recebimento da
comunicação, submeter a matéria
à revisão da instância
competente do órgão ministerial,
conforme lei orgânica.

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AULA – 4 - DECRETO-LEI N. 3.689 DE 03/10/1941 - PROCESSO PENAL I
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ANTES DO OFERECIMENTO A DENÚNCIA PODE OCORRER A


PROPOSTA DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL

A LEI 13.964/19, QUE PASSOU A TER VIGÊNCIA EM 23/01/2020,


ACRESCENTOU O ARTIGO 28-A, QUE TRATA DE ACORDO DE
NÃO PERSECUÇÃO PENAL.

REQUISITOS QUE SÃO CUMULATIVOS:

 Que não seja caso de arquivamento do inquérito


 O investigado tem que confessar formalmente a prática da
infração penal
 Não se admite violência ou grave ameaça
 A pena mínima tem que ser inferior a 4 anos.
 O Ministério Público deve analisar se a proposta da não
persecução penal é suficiente para reprovação e prevenção do
crime.

CONDIÇÕES PARA SER PROPOSTO O ACORDO DE NÃO


PERSECUÇÃO PENAL

 Reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na


impossibilidade de fazê-lo.
 Renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo
Ministério Público como instrumentos, produto e proveito do
crime.
 Prestar serviço à comunidade ou a entidade pública por período
correspondente à pena mínima cominada ao delito diminuída de
um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da
execução, na forma do artigo 46 do CP.
 Pagar prestação pecuniária conforme preceitua o artigo 45 do
CP a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo
juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função
proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos
aparentemente lesados pelo delito, ou
 Cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo
Ministério Público, desde que proporcional e compatível com a
infração penal imputada.

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NÃO CABIMENTO DO ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL

 Se for cabível transação penal de competência dos Juizados


Especiais Criminais
 Se o investigado for reincidente ou se houver elementos
probatórios que indiquem conduta criminal habitual, reiterada ou
profissional, exceto se insignificantes as infrações pretéritas.
 Ter sido o agente beneficiado nos 5 anos anteriores ao
cometimento da infração, em acordo de não persecução penal,
transação penal ou sursis processual.
 Se o crime foi praticado no âmbito da violência doméstica

Ressalta-se que o acordo da não persecução penal não se


confunde com as situações pertinentes à Lei 9.099/95, tanto
que se couber as referidas situações estas devem ser
propostas.

No caso de recusa, por parte do Ministério Público em propor


acordo de não persecução penal, o investigado poderá
requerer a remessa dos autos a órgão superior, na forma do
artigo 28 do CPP.

FORMALIZAÇÃO DO ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL

Quanto à proposta ao acordo da não persecução penal é de


caráter exclusivo do Ministério Público

 O acordo de não persecução penal será formalizado por escrito


e será firmado pelo Membro do Ministério Público, pelo
investigado e seu defensor em audiência específica para o ato.
 Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas as
condições dispostas no acordo de não persecução penal,
devolverá os autos ao Ministério Público para que seja
reformulada a proposta de acordo, com a concordância do
investigado e seu defensor. O juiz não tem competência para
alterar o acordo de não persecução penal.
 Homologado judicialmente o acordo de não persecução penal, o
juiz devolverá os autos ao Ministério Público para que inicie sua
execução perante o juízo de execução penal.
 O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender
aos requisitos legais ou quando o MP se recusar à promover a

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adequação. No caso de recusa cabe recurso em sentido estrito


– art. 581, inciso XXV do CPP.
 Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao
Ministério Público para a análise da necessidade de
complementação das investigações ou oferecimento da
denúncia.
 A vítima será intimada da homologação do acordo de não
persecução penal e eventualmente de seu descumprimento.

CUMPRIMENTO OU DESCUMPRIMENTO DO ACORDO DE NÃO


PERSECUÇÃO PENAL – CONSEQUÊNCIAS

 A celebração e o cumprimento do acordo não constarão em


certidão de antecedentes criminais, exceto internamente para
verificar o prazo de 5 anos anteriores.
 Cumprido integralmente o acordo de não persecução penal, o
juízo competente decretará a extinção da punibilidade
 Descumpridas quaisquer das condições o Ministério Público
deverá comunicar ao juízo, para fins de sua rescisão e posterior
oferecimento de denúncia.

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OFERECER A DENÚNCIA (é admissível a simples suspeita de


crime ou opinio delicti) - réu preso: 5 dias; réu solto: 15 dias.
Legislação Especial: crime eleitoral = 10 dias; crime contra a
economia popular = 2 dias; crime falimentar = 5 dias (preso) e 15
dias (solto):

ARTIGO 41 - DA DENÚNCIA OU DA QUEIXA


Manual de Atuação Funcional dos Promotores de Justiça do
Estado de São Paulo – ato normativo n. 675/2010 – conjunto da
Procuradoria Geral de Justiça e Corregedoria Geral do Ministério
Público
(art. 47)

É por meio da denúncia que se inicia a ação penal (e é por meio


do inquérito policial que se inicia a investigação e não a ação
penal). É o ato processual pelo qual o Representante do Ministério
Público leva ao conhecimento do juiz, respaldado em provas
colhidas no inquérito ou em outras peças de informação, a notícia
de uma infração penal.

REQUISITOS DA DENÚNICA – ARTIGO 41 CPP

♣ Exposição do fato criminoso, com todas as suas


circunstâncias:

Nos crimes de autoria coletiva é muito comum o Promotor de


Justiça não especificar, o modo de participação de cada um dos
agentes (usando a expressão: atuando de comum acordo e
identidade de propósito), entretanto, há parte que aceita e outra
não (considerando a denúncia inepta – situação controvertida).

♣ Qualificação do acusado:

♣ Classificação do crime: indicação do dispositivo legal que


descreve o fato criminoso - é o tipo penal infringido pelo agente.
Claro que uma errada classificação do crime não tem força
de invalidar a denúncia, já que o réu defende-se dos fatos e
não do tipo penal indicado.

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Na denúncia o Promotor deve ainda requerer o arbitramento do


valor mínimo de indenização conforme preceitua o artigo 387, inciso
IV do CPP. Deve ainda o promotor observar as situações descritas
no artigo 91-A do Código Penal, acrescentado pela lei n. 13.968/19.

PRAZO PARA OFERECIMENTO DA DENÚNCIA

 Réu preso: 05 dias


 Réu solto: 15 dias.
 Crime eleitoral: 10 dias
 Crime contra a economia popular: 02 dias;
 Crime falimentar: 05 dias (preso); 15 dias (solto)
 Tóxicos: 10 dias.

NÃO-OFERECIMENTO DA DENÚNCIA NO PRAZO LEGAL


CONSEQUÊNCIAS

Estando o indiciado preso e o órgão do Ministério Público não


oferecer a denúncia no prazo legal, várias consequências podem
advir da sua inércia. O indiciado, ou alguém por ele, poderá
impetrar ordem de habeas corpus, alegando estar preso por mais
tempo que o determinado em lei; a vítima ou a pessoa que
legalmente a represente poderá dar início à ação penal por meio da
queixa subsidiária da pública.

Se houver um indiciado solto e outro preso e deva ser


instaurado um só processo contra ambos, o prazo para o
oferecimento da denúncia será de 5 (cinco) dias.

Ressalte-se, ainda, que caso o Promotor de Justiça deixe de


oferecer a denúncia no prazo legal a vítima, conforme art. 29 do CP
pode propor ação penal privada subsidiária da pública

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REJEIÇÃO DA DENÚNCIA OU DA QUEIXA PELO JUIZ – ART.


395 DO CPP

Apresentada a denúncia ou queixa, esta é encaminhada junto ao


inquérito policial (quando tiver) ou outras peças de informação ao
juiz, que poderá recebê-la ou rejeitá-la.

A denúncia ou a queixa pode ser rejeitada quando:

 For manifestamente inepta


 Faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da
ação penal ou faltar justa causa

Se o juiz receber a denúncia ou queixa, tal decisão é irrecorrível


podendo, no entanto, comportar apenas a impetração de ordem de
habeas corpus por falta de justa causa (trancamento da ação
penal).

No caso do não recebimento da denúncia ou da queixa, o


recurso oponível é o em sentido estrito (comporta o recurso de
apelação a decisão que rejeita a denúncia ou a queixa nas
infrações de menor potencial ofensivo - art. 82 da Lei n° 9.099/95)

No que pese o Juízo já ter feito o despacho inicial de recebimento da


denúncia, é certo que após a resposta à acusação com os argumentos da
defesa, é possível fazer um reexame do despacho, ou como se tem
denominado uma rejeição tardia da denúncia.

...Se o réu, na resposta escrita de que trata o artigo 396-A do Código de Processo Penal,
formula alegações de inépcia da denúncia e de ausência de justa causa para a ação penal, deve
o juiz apreciá-las, não podendo escusar-se a conta de que, se o fizesse, estaria concedendo
habeas corpus contra ato próprio. 4. Se o artigo 397 do Código de Processo Penal, em sua
redação atual, autoriza o juiz a até mesmo absolver o réu sem proceder à instrução probatória,
com muito mais razão o dispositivo permite a apreciação de questões processuais capazes, em
tese, de levar à rejeição da denúncia. […] (TRF3, HC 0000139-44.2011.4.03.0000, 2ª Turma,
Rel. Desembargador Federal Nelton dos Santos, j. 29.03.2011).

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LEI 9.099/95 - TERMO CIRCUNSTANCIADO

No procedimento afeto às infrações penais de menor potencial


ofensivo, tornou-se expressamente dispensável o inquérito policial
também para a autoridade policial - art. 69 da Lei n° 9.099/95.

A adequada elaboração do termo circunstanciado pela autoridade


policial é, portanto, fator determinante para que se possa designar a
audiência preliminar de que trata o art. 72.

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ARTIGOS 24 AO 62 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL E


ARTIGOS 100 AO 106 DO CÓDIGO PENAL - DA AÇÃO PENAL
PÚBLICA E PRIVADA

Num primeiro momento, a persecução penal desenvolve-se como


investigação é a fase preparatória da ação, consubstanciada no
inquérito policial, posteriormente, o Estado-Administração pede ao
Estado-Juiz que aplique o direito objetivo ao caso concreto - é a
fase da ação penal, a qual inicia-se com o recebimento da denúncia
(oferecida pelo MP - ação penal pública) ou da queixa (ação penal
privada), pelo Juiz.

A ação penal, considerando-se o sujeito ou titular para o seu


exercício, classifica-se em:

1) AÇÃO PENAL PÚBLICA (INCONDICIONADA E


CONDICIONADA)

2) AÇÃO PENAL PRIVADA

AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA OU PRINCIPAL

O titular da ação penal é o Ministério Público que a promove através


de denúncia, independentemente da intervenção de qualquer
pessoa, inclusive da vítima.

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AULA – 5 - DECRETO-LEI N. 3.689 DE 03/10/1941 - PROCESSO PENAL I
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PRINCÍPIOS QUE REGEM A AÇÃO PENAL PÚBLICA


INCONDICIONADA

OFICIALIDADE

OBRIGATORIEDADE OU LEGALIDADE

INDISPONIBILIDADE

INDIVISIBILIDADE: (parte da doutrina entende que na ação penal


pública não vige o princípio da indivisibilidade, mas somente o da
obrigatoriedade). o entendimento majorante é o de que o
princípio da indivisibilidade é aplicável somente para ação
penal privada.

Sobre o tema, existem duas correntes principais:

SIM NÃO

O princípio da indivisibilidade é O princípio da indivisibilidade é


aplicado tanto para as ações aplicado apenas para as ações
penais privadas como para as penais privadas, conforme prevê
ações penais públicas. o art. 48 do CPP.

Havendo indícios de autoria Ação penal privada: princípio da


contra os coautores e partícipes, indivisibilidade.
o Ministério Público deverá
denunciar todos eles. Ação penal pública: princípio da
Divisibilidade

É o entendimento de Renato É a posição que prevalece no


Brasileiro, Fernando da Costa STJ e STF.
Tourinho Filho, Aury Lopes Jr. e
outros.

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AULA – 5 - DECRETO-LEI N. 3.689 DE 03/10/1941 - PROCESSO PENAL I
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INTRANSCENDÊNCIA

PUBLICIDADE

AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA OU SECUNDÁRIA

Diferentemente da primeira, esta depende da representação do


ofendido ou de seu representante legal, ou ainda, de requisição
do Ministro da Justiça (art. 100, parág. 1º, do CP), para abertura
de inquérito; pois, somente assim dá-se ao Ministério Público,
legitimidade para agir.

Ao contrário da incondicionada, na ação pública condicionada


pode haver retratação da representação (art. 102), porém antes
que seja oferecida (e não recebida pelo juiz) a denúncia
oferecida pelo MP, pois após o oferecimento desta, o MP passa
a ser o titular da ação e este não pode desistir, muito menos a
vítima.

O direito de representação deverá ser exercido no prazo de


SEIS MESES, a contar do dia em que o ofendido ou seu
representante legal vier, a saber, quem é o autor do delito, sob pena
de "decadência" (art. 103, do CP).

Já na requisição do Ministro da Justiça, o legislador não


estipulou prazo para sua requisição. Há entendimento de que, por
analogia, o prazo deve ser de seis meses. Para outra corrente,
enquanto o crime não prescrever pode ser elaborada a requisição.

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AULA – 5 - DECRETO-LEI N. 3.689 DE 03/10/1941 - PROCESSO PENAL I
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PRINCÍPIOS QUE REGEM A AÇÃO PENAL PÚBLICA


CONDICIONADA

OFICIALIDADE

LEGALIDADE OU OBRIGATORIEDADE

PRINCÍPIO DA OPORTUNIDADE OU CONVENIÊNCIA

PRINCÍPIO DA DISPONIBILIDADE OU DESISTÊNCIA - a


desistência deve dar-se antes de oferecida a denúncia

INDISPONIBILIDADE: após o oferecimento da denúncia

INDIVISIBILIDADE (parte da doutrina entende que na ação penal


pública não vige o princípio da indivisibilidade, mas somente o da
obrigatoriedade). o entendimento majorante é o de que o
princípio da indivisibilidade é aplicável somente para ação
penal privada).

Sobre o tema, existem duas correntes principais:

SIM NÃO

O princípio da indivisibilidade é aplicado O princípio da indivisibilidade é aplicado


tanto para as ações penais privadas como apenas para as ações penais privadas,
para as ações penais públicas. conforme prevê o art. 48 do CPP.

Havendo indícios de autoria contra os Ação penal privada: princípio da


coautores e partícipes, o Ministério indivisibilidade.
Público deverá denunciar todos eles.
Ação penal pública: princípio da
Divisibilidade

É o entendimento de Renato Brasileiro, É a posição que prevalece no STJ e STF.


Fernando da Costa Tourinho Filho, Aury
Lopes Jr. e outros.

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INTRANSCENDÊNCIA

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AÇÃO PENAL PRIVADA - QUERELANTE (AUTOR DA


AÇÃO/VÍTIMA) E QUERELADO (RÉU/OFENSOR)

O titular é o ofendido ou seu representante legal (e não o MP.,


embora manifeste-se nos autos, como custus legis - fiscal da lei)
que a promove através de queixa, requerimento que deve ser
elaborado nos moldes da denúncia do MP. Na parte especial do
código, diz: "somente se procede mediante queixa".

Diferentemente da representação, que não exige formalidades,


a queixa equipara-se à denúncia do Ministério Público, e,
portanto, deve estar revestida de todas as formalidades
obedecendo ao rito do artigo 41, do Código de Processo Penal,
sob pena de não ser recebida pelo Juiz

Embora o titular da ação seja o ofendido não quer dizer que pode
punir o ofensor, mas pode apenas requerer a atuação do Estado-
Juiz.

Na ação penal privada, o direito de queixa deve ser exercido no


prazo de seis meses, a contar do dia em que o ofendido ou seu
representante legal vier a saber quem é o autor do fato, sob pena
de "decadência".

Na ação penal privada, pode o ofendido renunciar expressa ou


tacitamente.

RENÚNCIA EXPRESSA: quando há declaração inequívoca, com


assinatura do ofendido ou de seu representante legal.

RENÚNCIA TÁCITA: quando resultante da prática de atos


incompatíveis com o exercício do direito de queixa (exemplo: se o
ofendido janta na casa do ofensor). A indenização não retira do
ofendido o direito de queixa-crime, isto porque, aquela gravita no
campo financeiro, enquanto a última no campo penal.

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A renúncia expressa ou tácita só pode ser praticada "antes" do


recebimento da queixa pelo juiz. Depois de recebida a queixa
pelo juiz, o ato a ser praticado é o perdão do ofendido (art.
105/106, do CP), que não deve ser confundido com o perdão
judicial, que é aquele concedido pelo juiz, nem com a
retratação do querelado.

O perdão do ofendido só é cabível "antes" do trânsito em


julgado da sentença. O perdão também pode ser expresso ou
tácito.

 Se o perdão for concedido a um dos querelados (ofensor),


estende-se aos demais. Todavia, quando há mais de um
querelante (ofendido), o perdão dado por um deles não
prejudica o direito dos outros querelantes (ofendidos) de
prosseguir na ação.

 Caso o querelado (ofensor) recuse o perdão, este não produzirá


efeito. Havendo dois ou mais querelados (ofensores), pode um
deles não aceitar o perdão, caso em que a ação prosseguirá
somente contra ele.

Exemplo: Há três querelados (ofensores) em um querelante


(ofendido), este perdoa apenas um deles, todos os outros
automaticamente serão perdoados.

Exemplo: Há três querelantes ofendidos), um deles perdoa o


querelado (ofensor), os outros dois querelantes podem
prosseguir no processo.

Exemplo: Há um querelante (ofendido) e um querelado


(ofensor), e o querelante o perdoa, porém o querelado recusa o
perdão, o processo continua.

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Conclui-se, portanto, que a renúncia e o perdão, expresso ou


tácito, só é cabível na ação penal privada, e a diferença
existente entre eles é que a renúncia somente pode ocorrer
"antes" do recebimento da queixa pelo juiz (é a desistência de
exercer o direito de queixa) e o perdão ocorre "depois" de
iniciada a ação penal, porém "antes" do trânsito em julgado da
decisão.

DIVISÃO DA AÇÃO PENAL PRIVADA

 EXCLUSIVA, PRINCIPAL OU SIMPLES - quando só o ofendido


ou seu representante legal podem exercê-la.

 PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA - é aquela intentada


pelo ofendido ou por seu representante legal, quando houver
inércia do Ministério Público.

Portanto, cabe ação subsidiária somente quando houver inércia


do promotor, por exemplo; nos casos de ação penal pública,
quando o promotor não oferece a denúncia dentro do prazo (5
dias para réu preso - 15 dias réu solto), o ofendido ou seu
representante legal a promovem através de queixa),
ressaltando que ela permanece como ação penal pública. A
oferta da queixa, pelo interessado, não afasta seu caráter de
ação penal pública.

Tal medida não cabe quando o inquérito policial for


arquivado. Ressalta-se, ainda que a vítima tem o prazo de 6
(seis) meses para propor a queixa subsidiária, iniciando a
contagem a partir do dia que se encerra o prazo para o
Ministério Público oferecer a denúncia. Se a vítima não usar
deste direito (não será extinta a punibilidade do agente pela
decadência já que se trata de ação penal pública), o
Ministério Público pode oferecer a qualquer tempo a
denúncia desde que não tenha ocorrido a prescrição.

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 PERSONALÍSSIMA - é aquela que só pode ser intentada pelo


ofendido, não há possibilidade da figura do representante legal,
de sucessão por morte, apresentação de queixa-crime por
procurador/representante, como por exemplo, o induzimento a
erro essencial e ocultação de impedimento de casamento (art.
236, do CP), que depende de queixa do contraente enganado.

PRINCÍPIOS QUE REGEM A AÇÃO PENAL PRIVADA

 OPORTUNIDADE/CONVENIÊNCIA

 DISPONIBILIDADE

 INDIVISIBILIDADE

 INTRANSCENDÊNCIA

 PUBLICIDADE

PRAZO - DECADÊNCIA DO DIREITO DE REPRESENTAÇÃO E


DE QUEIXA

O prazo decadencial do direito de representação e de queixa (que


não é contado para requisição do Ministro da Justiça) é, em geral
de seis meses (artigo 38, CPP), contado da data em que o ofendido
ou seu representante legal toma conhecimento do fato.

Nos crimes de ação privada, o inquérito só será instaurado


mediante requerimento escrito do ofendido ou de seu representante
legal, quando necessário (esse requerimento não se confunde
com a queixa-crime, que deve ser proposta perante o Poder
Judiciário). Quando o advogado é procurado para promover ação
penal privada e houver necessidade de inquérito, deverá obter a
procuração para ambos os fins: instauração de inquérito e
oferecimento de queixa, ressaltando que na procuração já deve
descrever o fato típico, sob pena de ser rejeitada a queixa-crime.

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Cabe esclarecer que, na ação penal privada, o direito de queixa se


exerce em juízo. É claro que o simples fato de haver a vítima
requerido a instauração de inquérito dentro do prazo não elide
a decadência (ou seja, não suspende a contagem do prazo,
razão pela qual deve o advogado ficar atento quanto à sua
tramitação) pois o que a lei quer é a que queixa-crime seja
oferecida dentro do prazo de seis meses perante o juízo. Já em se
tratando de ação penal pública condicionada à representação a
instauração de inquérito policial suspende o prazo decadencial, vez
que a lei permite (art. 39) seja ela feita perante a autoridade policial,
promotor de justiça e juiz. A queixa-crime não, somente pode ser
proposta perante o poder judiciário.

Não existe decadência no curso da ação penal, visto que a


decadência abrange a perda do direito de queixa e representação,
isto é, antes de iniciar a ação penal. No curso da ação penal
privada pode ocorrer a perempção, já que esta se refere à inércia
do querelante em dar andamento no processo. Assim, não existe
perempção antes da instauração de processo.

Conta-se o prazo de seis meses da data (inclui-se o dia do começo)


em que o ofendido ou seu representante legal toma conhecimento
do fato, sendo certo que, como se trata de prazo decadencial não
há prorrogação, por exemplo, se o último dia for feriado, final de
semana, o protocolo deve ocorrer no dia anterior.

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O que acontece se a ação penal privada não for proposta


contra todos

SE A OMISSÃO FOI VOLUNTÁRIA SE A OMISSÃO FOI INVOLUNTÁRIA

Renunciando o direito de queixa em Se ficar demonstrado que a omissão de


relação a Pedro, isso também beneficiará algum nome foi involuntária (ex: o crime
João. Isso porque o CPP prevê que “a foi praticado por João e Pedro, mas o
renúncia ao exercício do direito de queixa, querelante não sabia da participação
em relação a um dos autores do crime, a deste último), então, neste caso, o
todos se estenderá” (art. 49). Ministério Público deverá requerer a
intimação do querelante para que ele faça
Em suma, se o querelante deixou, o aditamento da queixa-crime e inclua os
deliberadamente, de oferecer queixa demais coautores ou partícipes que
contra um dos autores ou partícipes, o juiz ficaram de fora.
deverá rejeitar a queixa e declarar a
extinção da punibilidade para todos (arts.
104 e 109, V, do CP). Todos ficarão livres
do processo. Se ficar demonstrado que <!- o Se o querelante fizer o aditamento: o
querente (aquele que propõe ação penal processo continuará normalmente.
privada) deixou, de forma deliberada, de
oferecer a queixa contra um ou mais
autores ou partícipes, neste caso, deve-se
<!- Se o querelante se recusar
entender que houve de sua parte uma expressamente ou permanecer inerte: o
renúncia tácita. juiz deverá entender que houve renúncia
(art. 49 do CPP). Assim, deverá extinguir
Ex: João e Pedro praticaram o crime a punibilidade em relação a todos os
contra Maria. Ela propõe a queixa apenas envolvidos.
contra João e deixou Pedro de fora
porque é seu amigo. Entende-se que ela
renunciou tacitamente ao seu direito de Obs.: o querelante só poderá incluir o
processar Pedro. outro autor/partícipe se ainda estiver
dentro do prazo decadencial de 6 meses.
Ocorre que Maria não se apercebeu

Veja um precedente do STJ que


corrobora essa ideia:
(...) O reconhecimento da renúncia tácita
ao direito de queixa exige a
demonstração de que a não inclusão de
determinados autores ou partícipes na
queixa-crime se deu de forma deliberada
pelo querelante.

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CONDIÇÕES DA AÇÃO OU CONDIÇÕES DE PROCEDIBILIDADE

As condições da ação são aquelas que dão ensejo para que


legitimamente se possa exigir o provimento jurisdicional. Tanto a
ação penal como a civil estão sujeitas às condições da ação, são
elas:

POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO - diz respeito à tipicidade


do fato. O pedido deve encontrar proteção legal no direito positivo,
ou seja, deve haver previsão legal. Por exemplo: é impossível
alguém ser processado por incesto, que na nossa lei penal não há
sanção, é fato atípico.

LEGÍTIMO INTERESSE DE AGIR – o autor tem interesse na


demanda quando esta possa lhe trazer alguma utilidade. A utilidade
é aferida por meio da necessidade do provimento jurisdicional e de
sua adequação. A prestação jurisdicional é necessária quando não
se pode obter a satisfação do direito violado por outro meio que não
o Poder Judiciário.

LEGITIMIDADE PARA AGIR (AD CAUSAM) - é pertinente à


titularidade da ação, pois só o seu titular pode propô-la. Por
exemplo: O Ministério Público pode atuar como fiscal da lei nas
ações de natureza privada ou oferecer a denúncia em ação penal
pública condicionada à representação, condições de
procedibilidade. Portanto, sem estas, a autoridade policial não
poderá instaurar o inquérito policial, tampouco o Ministério Público
poderá oferecer denúncia.

Quando o autor não é o titular da ação ajuizada, falta-lhe


legitimação para agir.

Quando faltar uma só das condições da ação ou de procedibilidade,


diz-se que o autor é carecedor de ação. A consequência é que o
juiz, embora exercendo a função jurisdicional, não apreciará o
mérito, cabendo a ele a verificação (o mais cedo possível) das
condições da ação e de procedibilidade, e ausente uma delas ou
todas, deve declarar de ofício, entretanto, se não o fizer de início ou
na sentença final, o processo será nulo ab initio (desde o início),
conforme determina o artigo 564, inciso II, do Código de Processo
Penal. É sem dúvida, um caso de nulidade processual.

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OBSERVAÇÕES GERAIS SOBRE A LEI 9.099/95 E LEI N°


11.313/06 - JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL - (quanto ao
procedimento a matéria é disciplinada em Processo Penal II)

Esta lei abrange os crimes de menor potencial ofensivo.

A COMPOSIÇÃO CIVIL, BEM COMO A TRANSAÇÃO PENAL SÓ


SÃO CABÍVEIS NOS CRIMES CUJAS PENAS MÁXIMAS NÃO
EXCEDAM A DOIS ANOS.

NA AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA A COMPOSIÇÃO


CIVIL NÃO ESTÁ PROIBIDA, PORÉM, NÃO EXTINGUE A
PUNIBILIDADE. PERMITINDO APENAS A APLICAÇÃO DA
TRANSAÇÃO PENAL, QUANDO A PENA "MÁXIMA" FOR DE
DOIS ANOS OU DE IMEDIATO A SUSPENSÃO CONDICIONAL
DO PROCESSO, QUANDO A PENA "MÍNIMA" FOR DE UM ANO.

COM RELAÇÃO AOS CRIMES DE MENOR POTENCIAL


OFENSIVO (PENA MÁXIMA DE DOIS ANOS), APÓS TODOS OS
TRÂMITES LEGAIS - PROPOSTA DO ACORDO CIVIL;
TRANSAÇÃO PENAL; CASO NENHUMA PROPOSTA SEJA
ACEITA PELO AUTOR DO FATO, O PROCESSO SEGUE O RITO
SUMARÍSSIMO.

Com relação aos crimes cuja pena mínima cominada seja de


até um ano, não cabe o acordo civil e nem a transação penal,
mas cabe de imediato a proposta da suspensão condicional do
processo, que não sendo aceita, segue o rito ordinário.

Caso o acusado aceite a proposta, o processo ficará suspenso pelo


prazo de 2 a 4 anos (período de prova), desde que ele aceite
cumprir determinadas condições impostas pela lei e outras que
podem ser fixadas pelo juízo. Período de prova é, portanto, o prazo
no qual o processo ficará suspenso, devendo o acusado cumprir as
condições impostas neste lapso temporal. O período de prova é
estabelecido na proposta de suspensão e varia de 2 até 4 anos.

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AULA – 5 - DECRETO-LEI N. 3.689 DE 03/10/1941 - PROCESSO PENAL I
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Enquanto não há denúncia não há citação, mas sim,


notificação para o autor do fato.

DA CONEXÃO E CONTINÊNCIA - LEI N° 11.313 DE 28 DE


JUNHO DE 2006 NOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS

Manda a lei que no caso de crimes conexos haja reunião dos


processos na Vara Comum (Estadual e/ou Federal) ou no Tribunal
do Júri. A reunião dos processos não constitui fato impeditivo
para aplicação da transação penal e da composição dos danos
civis.

Já não é possível somar a pena máxima da infração de menor


potencial ofensivo com o da infração conexa (de maior gravidade).
Assim, a soma das penas máximas, mesmo que ultrapassado o
limite de dois anos, não pode ser invocada como fator impeditivo da
aplicação da lei 9.099/95.

Outra novidade importantíssima: a nova lei eliminou qualquer


referência ao procedimento do delito. Ou seja: não importa se o
crime conta ou não com procedimento especial. Todos, com
pena máxima até dois anos, são de menor potencial ofensivo.
Assim, se a pena não passa de dois anos, é infração de menor
potencial ofensivo, independentemente de o procedimento ser
especial ou não.

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ARTIGOS 63 AO 68 DO CPP - DA AÇÃO CIVIL - “EX DELICTO”

Podemos conceituar a ação civil ex delicto como a ação que visa a


reparação de um dano, moral ou material, oriundo de um ilícito
penal.

A reparação civil “ex delicto”, permite, portanto, que o dano


ocasionado por um ilícito penal seja reparado não apenas no âmbito
criminal, satisfazendo à sociedade e ao Estado, mas também no
âmbito civil diretamente à vítima ou aos seus sucessores.

DA INDEPENDÊNCIA ENTRE A AÇÃO CIVIL E A AÇÃO PENAL

Conforme já vimos, a responsabilidade civil é independente da


criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do
fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se
acharem decididas no juízo criminal.

Há, portanto, dois tipos de ação civil reparatória de danos por


ilícito penal:

I. Ação civil ex delicto: em sede de processo de conhecimento


– tem por fundamento um delito criminal, cuja materialidade e a
autoria terão de ser provadas em processo de conhecimento,
pois não guarda vínculo algum com a ação penal, ou ainda
quando no ação penal a decisão é absolutória.

II. Ação civil ex delicto: em sede de processo de execução –


decorre de uma sentença penal condenatória transitada em
julgado, posto que esta faz coisa julgada no âmbito civil.

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DA SUSPENSÃO DA AÇÃO CIVIL EM DECORRÊNCIA DA AÇÃO


PENAL

O artigo 64, parág. único do CPP diz que o juiz da ação civil poderá
suspender o curso desta se houver necessidade, diante da
pendência de ação penal, até o julgamento definitivo daquela. A
possibilidade da suspensão visa a evitar decisões contraditórias e
conflitantes.

Assim, a sentença penal condenatória faz coisa julgada no


juízo civil, impedindo que seja novamente discutido o mérito
(se o réu praticou ou não o crime) que gerou a obrigação de
indenizar, restando apenas a sua liquidação e execução
(arbitramento do valor indenizatório). Portanto, a única
discussão que resta a respeito da questão é a do quantum a
ser determinado.

SENTENÇA PENAL ABSOLUTÓRIA – ART. 386 CPP

Em relação à sentença penal absolutória, temos de tomar um certo


cuidado, no tocante aos seus efeitos, posto que estes divergem de
acordo com a fundamentação dada pelo magistrado à absolvição.

Não apenas a sentença penal condenatória gera efeitos no âmbito


civil, mas também a sentença penal absolutória, dependendo de
sua fundamentação.

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AULA – 5 - DECRETO-LEI N. 3.689 DE 03/10/1941 - PROCESSO PENAL I
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DA PRESCRIÇÃO PENAL

Em relação a prescrição da ação penal, esta não gera reflexos na


ação civil reparatória, posto a independência entre ambas.

Há duas espécies de prescrição penal: a prescrição da pretensão


punitiva (ocorre antes do trânsito em julgado) e a prescrição da
pretensão executória (ocorre após o trânsito em julgado).

Portanto, ocorrendo a prescrição penal, seja ela punitiva ou


executória, em nada afeta a ação civil ex delicto.

DA PRESCRIÇÃO PARA PROPOSITURA DA AÇÃO CIVIL EX


DELICTI

O termo inicial da prescrição civil é a data da violação do direito e a


sua contagem inicia-se no dia seguinte após tal violação.

O artigo 200 do CC dispõe que o prazo para a prescrição para a


ação de reparação civil dos danos causados por infração penal
fica suspenso durante a pendência da ação penal, ou seja, não
correrá o prazo prescricional antes da respectiva sentença
penal definitiva.

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AULA – 6 - DECRETO-LEI N. 3.689 DE 03/10/1941 - PROCESSO PENAL I
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ARTIGOS 69 A 87 - DA JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA

Jurisdição é o poder atribuído, constitucionalmente, ao Estado


para aplicar a lei ao caso concreto, compondo litígios e resolvendo
conflitos. Todos os juízes tem o poder jurisdicional, mas não podem
julgar todos os casos, de todas as espécies, sendo necessária
uma delimitação de sua jurisdição. Essa delimitação do poder
jurisdicional dos juízes e dos tribunais denomina-se
“competência”

Competência é a delimitação da jurisdição (do poder de julgar), ou


seja, o espaço dentro do qual pode determinada autoridade
judiciária aplicar o direito aos litígios que lhe forem apresentados,
compondo-os. Assim, não pode, por exemplo, o Ministro do
Supremo Tribunal Federal homologar uma separação consensual –
tem jurisdição (poder de julgar), mas não tem competência para
julgar essa causa.

ESPÉCIES DE COMPETÊNCIA

A doutrina tradicionalmente distribui a competência considerando


três aspectos diferentes:

 Ratione materiae (em razão da matéria): estabelecida em


razão da natureza do crime praticado. Em primeiro lugar,
cumpre determinar qual o juízo competente em razão da matéria,
isto é em razão da natureza da infração penal. Para a fixação
dessa competência importa verificar se o julgamento compete à
jurisdição comum ou especial (subdividida em eleitoral, militar e
política).

 Ratione personae (em razão da função/prerrogativa de


função): estabelecida em razão de acordo com a qualidade das
pessoas incriminadas. Fixada a competência em razão da
matéria, cumpre verificar o grau do órgão jurisdicional
competente, ou seja, se o órgão incumbido do julgamento é juiz
singular, tribunal ou tribunal superior..

 Ratione loci: de acordo com o local em que foi praticado ou


consumou-se o crime – é a regra - ou o local da residência do
seu autor

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(IN)COMPETÊNCIA ABSOLUTA E RELATIVA

 (In)Competência absoluta: a hipótese de fixação de


competência que não admite prorrogação, isto é, deve o
processo ser remetido ao juiz natural determinado por normas
constitucionais ou processuais penais, sob pena de nulidade.
Encaixam-se nesse perfil a competência em razão da matéria -
exemplo: federal ou estadual; cível ou criminal; matéria criminal
geral ou especializada, como o júri, etc., e a competência em
razão da prerrogativa de função - exemplo: julgamento de juiz
de direito deve ser feito pelo Tribunal de Justiça, etc.

 (In)Competência relativa (de foro – territorial) a hipótese de


fixação de competência que admite prorrogação, ou seja, não
invocada a tempo a incompetência do foro, reputa-se
competente o juízo que conduz o feito, não se admitindo
qualquer alegação posterior de nulidade. É o caso da
competência territorial, tanto pelo lugar da infração quanto pelo
domicílio ou residência do réu

Para determinar qual é o foro competente da causa penal, o art.


69 do CPP delimita a jurisdição, assim estabelecida:

I. Lugar da infração
II. Domicílio ou residência do réu
III. Natureza da infração
IV. Distribuição
V. Prevenção
VI. Prerrogativa de função
VII. Conexão e continência

ARTIGO 70, CAPUT - COMPETÊNCIA PELO LUGAR DA


INFRAÇÃO

O legislador considera competente o local onde a infração se


consumou ou no caso da tentativa onde foi efetuado o último ato de
execução. Adotou, portanto, para a determinação da competência,
a teoria do resultado e não a teoria da ação (com exceção do art.
70, parág. 1°). A infração se consuma quando nela se reúnem todos
os elementos do tipo penal.

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DIFERENÇA ENTRE O ART . 6° DO CP E O ART. 70 DO CPP: levando-se


em consideração que o art. 70 do CPP estabelece que a
competência seja determinada pelo “lugar em que se consumar
a infração”, poder-se-ia sustentar a existência de uma
contradição entre a lei penal (teoria da ubiquidade/mista) e a lei
processual penal (teoria do resultado). Ocorre que o artigo 6°
do CP destina-se exclusivamente, ao denominado direito penal
internacional, ou seja, à aplicação da lei penal no espaço,
quando um crime tiver início no Brasil e terminar no exterior ou
vice-versa - é o denominado crime à distância. Para os delitos
cometidos no território nacional, continua valendo o disposto
no art. 70 da lei processual.

HÁ CASOS, NO ENTANTO, EM QUE O LUGAR DA INFRAÇÃO


NÃO É EVIDENTE.

Emissão de cheque sem fundos: a jurisprudência cuidou de


dirimir algumas situações. Desse modo, por exemplo: no crime de
emissão de cheque sem fundo, o Supremo Tribunal Federal, pela
Súmula 521, firmou a competência do local onde se deu a recusa
do pagamento pelo banco sacado.

No caso da apropriação indébita, o entendimento dominante é no


sentido de que o crime consuma-se no lugar onde o agente revela a
inversão da posse, por exemplo: “A”, tendo que viajar e temeroso
de ser furtado, confia a “B” a posse de um quadro pintado por
Portinari, na cidade de Ribeirão Preto.

Entretanto, “B”, ao visitar uma galeria de artes em Campinas, aí


vende o referido quadro - a competência é do juízo da cidade de
Campinas.

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AULA – 6 - DECRETO-LEI N. 3.689 DE 03/10/1941 - PROCESSO PENAL I
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Crime de estelionato comum cometido mediante falsificação de


cheque: nesse caso, o agente emite cheque de terceiro, fazendo-
se passar pelo correntista, falsificando a assinatura deste. Como em
qualquer modalidade de estelionato comum, descrita no caput do
art. 171 do CP; a consumação se dá no momento da obtenção da
vantagem ilícita, e, por isso o foro competente é o do local em que o
cheque foi passado e o agente recebeu os bens. Exemplo: se uma
pessoa faz um compra no shopping de Fortaleza e falsifica o
cheque de pessoa cuja conta corrente é em Natal, o foro
competente é o de Fortaleza, local em que o agente recebeu as
mercadorias compradas – Súmula 48 do STJ.

Crimes de estelionato mediante remessa bancária de valores


de uma cidade para outra: é comum que o estelionatário publique
anúncio de jornal e consiga enganar pessoas de cidades diversas
que, mediante contato telefônico, são convencidas a efetuar
depósito na conta do golpista como forma de sinal para concretizar
um suposto bom negócio. Exemplo: o dinheiro sai da conta da
vítima na cidade X e entra na conta corrente do estelionatário na
cidade Y. O foro competente é o da cidade do criminoso, onde o
valor passou a estar disponível para saque, ainda que o agente só
tenha efetivamente sacado os valores em caixa eletrônico de uma
terceira cidade.

Furto via eletrônico: o foro competente é o do local do banco da


vítima, pois o furto se consuma no momento da subtração.

Falso testemunho prestado em carta precatória: o julgamento


cabe ao juízo onde foi prestado o depoimento falso, ou seja, no
juízo deprecado.

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CRIMES PLURILOCAIS

Apesar do disposto no art. 70, caput, de que é competente o juiz do


local da consumação do delito, uma confusão de conceitos ligados
à regra de fixação da competência, na doutrina e jurisprudência,
tem alastrado a interpretação diversa, movida por medida de
política criminal. Em tema de homicídio doloso ou culposo, o STJ e
tribunais estaduais têm decidido pela competência do juízo no lugar
onde o agente praticou os últimos atos de execução e não o da
morte da vítima. Argumenta-se que é no local da execução ou
do sinistro que o crime gerou intranquilidade social e onde
melhor se fará a colheita das provas, e não o lugar onde a
vítima morreu.

CRIMES FORMAIS

Para a consumação dos crimes formais, o tipo penal não exige a


efetivação do resultado externo à conduta do agente, ou seja, não
se exige o resultado naturalístico.

O foro competente é aquele da atividade, independentemente do


efetivo dano, que é mero exaurimento. Por exemplo: no crime de
concussão, o delito consuma-se com a simples exigência. Vê-se
que há um resultado jurídico e não material. O foro competente é o
local onde foi feita a exigência. O crime de falso testemunho
consuma-se quando colhido o depoimento por precatória, assim, o
foro competente é o do juízo deprecado.

Duplicata simulada: como no caso não há prejuízo financeiro


efetivo, porém, é óbvio que o empresário lançou mão de um meio
fraudulento, tipificou-se como crime o simples ato de “emitir” a
duplicata simulada. O foro competente é o do local onde o agente
emitiu a cártula.

Crime de uso de passaporte falso: de acordo com a Súmula 200


do STJ o juízo federal competente para processar e julgar acusado
do crime de uso de passaporte falso é o do lugar onde o delito se
consumou, ou seja, o do local onde o passaporte falso foi
apresentado para embarque ou desembarque no território nacional,
ainda que a falsificação só tenha sido constatada no exterior.

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Crime de desobediência em sua modalidade omissiva: o foro


competente é o do local onde a perícia deveria ser realizada e não
foi (Santos). Por exemplo: o juiz da comarca de São Vicente
determina a um perito que atua em Santos que realize diligência
nesta cidade (Santos) e lhe encaminhe laudo acerca do que foi
constatado. O perito, entretanto, não cumpre a determinação.

CRIMES QUALIFICADOS PELO RESULTADO

De acordo com a teoria adotada pelo Código, o foro competente é o


do local onde o resultado material se produziu. Dessa forma, por
exemplo: se um menor é abandonado na cidade de São Paulo,
Capital e, em decorrência deste abandono surge um estado de
saúde gravíssimo motivo pelo qual é ele removido para a Cidade de
Bauru, para cuidados médicos, vindo a falecer, considera-se que o
crime consumou-se na Cidade de Bauru vez que nela ocorreu o
resultado majorante da pena e não o do local onde foi abandonado;
o ladrão aponta a arma para a vítima e rouba seu carro, mantendo-
a, porém, no porta-malas do veículo até chegarem próximo a uma
represa, já em outra cidade, onde o assaltante desfere tiros na
vítima matando-a. O crime de latrocínio, evidentemente deverá ser
apurado nesta última localidade.

CRIMES TENTADOS

Nos termos da parte final do art. 70 do CPP, nas hipóteses de


tentativa, a competência é firmada pelo local da prática do último
ato de execução.

Merece destaque a hipótese em que o agente realiza o primeiro ato


de execução em uma cidade e, em seguida, passa para o território
de outra, onde realiza o último ato de execução, sem que consiga
consumar o crime. Exemplo: Plínio, de moto aproxima-se do carro
de Marta, que está parado na estrada que liga as cidades de Itu e
Salto, e efetua disparos contra ela. A vítima, que ainda estava em
Itu, acelera seu carro e depois de 200 metros entra no território de
Salto, onde Plínio consegue alcançá-la e efetuar novos disparos.
Em tal caso a tentativa de homicídio será apurada em Salto.

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ARTIGO 70, PARÁGRAFOS 1° E 2° - CRIMES A DISTÂNCIA

a) Se, iniciada a execução em território nacional, a infração se


consumar fora dele, a competência será determinada pelo lugar
em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução -
parágrafo 1°.

Crime à distância: é aquele que tem a execução iniciada num


determinado país e a consumação termina ocorrendo em outro,
ou vice-versa. Não deixa de ser uma infração penal plurilocal,
embora esse nome seja reservado aos crimes que ocorram
dentro do Brasil, em mais de uma localidade. Quando se trata
de infração abrangendo mais de uma nação, trata-se do delito à
distância. Aplica-se, nessa hipótese, o disposto no art. 6.º do
Código Penal, que adota a teoria da ubiquidade, sendo
competente para apurar o delito tanto a nação onde a execução
teve início, quanto aquela onde ocorreu o resultado.

Competência firmada pelo lugar do último ato executório:


não se trata, nesse caso, de uma tentativa, mas de um delito
cuja consumação dá-se fora do Brasil. Por isso, os atos
executórios cometidos dentro do território nacional ganham
importância, servindo para estabelecer o foro competente, que é
o do lugar onde foi praticado o último desses atos. O parágrafo
em comento é coerente com a já mencionada teoria da
ubiquidade, visto ter o Brasil interesse em punir o delito cujo
início deu-se em seu território, ainda que o resultado se tenha
concretizado no exterior. Afetou a soberania nacional, de
qualquer modo.

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b) Quando o último ato de execução for praticado fora do território


nacional, será competente o juiz do lugar em que o crime,
embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir-se seu
resultado (caso de tentativa) - parágrafo 2°. Ressalte-se, aqui,
que os crimes previstos em tratado ou convenção internacional
e os ocorridos a bordo de navios e aeronaves são de
competência da Justiça Federal.

Competência firmada pelo lugar onde o resultado


concretizou-se: em hipótese inversa à anterior, nota-se que os
atos executórios têm início fora do Brasil, mas terminam
alcançando a consumação – integral ou parcial – dentro do
território nacional. Por isso, mais uma vez, nossa soberania é
afetada, tornando-nos competentes para apurar o delito,
segundo a regra estabelecida pelo art. 6.º do Código Penal. O
foro competente é o do lugar onde o resultado se produz,
embora possa haver mais de uma localidade afetada. Nessa
situação, utiliza-se a regra da prevenção.

ARTIGO 70 - PARÁG. 3° - LIMITE DE DUAS OU MAIS


COMARCAS

Tratando-se de infração, praticada no limite incerto de duas ou mais


comarcas, resolve-se a competência igualmente pela prevenção -
art. 83.

ARTIGO 71 - CRIMES PERMANENTES E CONTINUADOS

Crimes permanentes são aqueles cuja ação prolonga-se no tempo,


pela vontade do agente. Exemplo: cárcere privado e sequestro;
guardar ou ter em depósito substância tóxica que cause
dependência e que não seja permitida. Se o crime for praticado em
duas ou mais comarcas, o juiz que primeiro praticar ato do
processo ou medida a ele relativa torna-se competente - art. 83
- prevenção.

Crimes continuados tratam-se de uma série de crimes que, pelas


condições de tempo, lugar, modo de execução, devem os
subsequentes ser havidos como continuação do primeiro. A
competência, quando se tratar de crime continuado, praticado
em diversas comarcas resolve-se, igualmente, pela prevenção.

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ARTIGO 72 - COMPETÊNCIA PELO DOMICÍLIO DO RÉU

Como dito anteriormente, a regra geral é a de que o acusado deve


ser processado e julgado no lugar onde a infração se consumou e
excepcionalmente, na impossibilidade de poder fixar este foro é que
se deve lançar mão do domicílio ou residência do réu para o
estabelecimento do foro competente.

Assim, não sendo conhecido o lugar da infração, a competência


regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu. Se o réu tiver mais
de uma residência, a competência firmar-se-á pela prevenção. Se,
porventura, o réu não tiver residência certa ou for ignorado seu
paradeiro, será competente o juiz que primeiro tomar conhecimento
do fato. Exemplo: objeto furtado por desconhecido em Goiânia é
encontrado em poder do receptador em Salvador. A polícia,
entretanto, não consegue descobrir em que local o receptador
comprou o objeto. Assim, como a aquisição pode ter-se dado em
qualquer local do país, o foro competente para apurar a receptação
será o do domicílio ou residência do réu.

Não se deve confundir com a regra anteriormente estudada na


qual o crime se consuma em local incerto, na divisa entre duas
comarcas, hipótese em que ambas são competentes, firmando-
se uma delas por prevenção (art. 70, parág. 3º, do CPP). A
competência pelo domicílio ou residência do réu só se aplica
quando for totalmente ignorado o lugar da consumação

Interessante anotar que por vezes o domicílio é legal, pois a própria


lei o determina, por exemplo: do militar em serviço ativo, o local
onde serve; do funcionário público, no local onde exerça suas
funções; do incapaz, o domicílio de seus representantes, e assim
por diante.

Se forem vários os réus, com domicílios e residências


diversos, a competência, então, será fixada pela prevenção.

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ARTIGO 73 - AÇÃO PENAL PRIVADA

Se o crime for exclusivamente de ação privada, o querelante poderá


preferir o foro do domicílio ou da residência do querelado, ainda
quando conhecido o lugar da infração.

O dispositivo em estudo só será aplicado à ação penal


exclusivamente privada, o que permite a inferência de sua
inaplicabilidade à ação penal privada subsidiária à pública, que não
perde sua natureza de ação pública, a despeito da iniciativa do
ofendido, em razão da inércia do Ministério Público.

ARTIGO 74 - COMPETÊNCIA PELA NATUREZA DA INFRAÇÃO

Também chamada de competência material ou em razão da matéria


- ratione materiae, ela é determinada pelas leis de organização
judiciária, pelo próprio Estatuto Processual e pela CF.

Vários são os exemplos que poderiam ser dados no que tange


à competência em razão da matéria.

Parág 1º. Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes


dolosos contra a vida – artigos 121 à 128 do CP., consumados ou
tentados.

Parág. 2o Se, iniciado o processo perante um juiz, houver


desclassificação para infração da competência de outro, a este será
remetido o processo, salvo se mais graduada for a jurisdição do
primeiro, que, em tal caso, terá sua competência prorrogada.

Parág. 3o Se o juiz da pronúncia desclassificar a infração para outra


atribuída à competência de juiz singular, a este remeterá (art. 419
do CPP), mas, se a desclassificação for feita pelo próprio Tribunal
do Júri, a seu presidente caberá proferir a sentença (art. 492, parág.
2º. do CPP)

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ARTIGO 75 - COMPETÊNCIA POR DISTRIBUIÇÃO

Depois de fixado o foro competente em razão do lugar da infração


ou da matéria, quando houver mais de um juiz igualmente
competente na mesma repartição (circunscrição) judiciária, o feito
será distribuído para um deles.

ARTIGOS 76 A 77 - COMPETÊNCIA POR CONEXÃO E


CONTINÊNCIA

A conexão e a continência são fatos, resultantes de vínculos entre


infrações penais ou seus agentes, que alteram o caminho ordinário
de determinação da competência, impondo a reunião, num mesmo
processo, de mais de uma infração ou mais de um agente.

O legislador processual penal optou por definir legalmente os


casos de conexão e continência, mas é possível dizer que a
conexão resulta de vínculos objetivos e subjetivos entre
infrações e que a continência resulta da unidade da ação
delituosa. Ambas têm o mesmo efeito jurídico, que é a reunião
dos processos ou o julgamento conjunto, regra, porém, não
absoluta, porque se houver motivo relevante pode haver a
separação. A conexão e a continência têm um fundamento
funcional, ou seja, o julgamento conjunto facilita a apuração e
assegura a coerência de decisões, como por exemplo, os arts.
79 e 80 do CPP

Assim, por coerência, maior segurança e economia, por vezes é


aconselhável haja um só processo apesar da prática de vários
crimes – prevê a pluralidade de crimes

ARTIGO 76 - DA CONEXÃO

A competência será determinada pela conexão:

I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas,


ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias
pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por
várias pessoas, umas contra as outras;

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II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para


facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir impunidade ou
vantagem em relação a qualquer delas;

III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas


circunstâncias elementares influírem na prova de outra infração.

ESPÉCIES DE CONEXÃO

O liame, o nexo, que estabelece a conexão entre as infrações


praticadas pode ser:

a) CONEXÃO INTERSUBJETIVA - art. 76, inciso I: apresenta-se


sob três modalidades:

I. Simultaneidade ou subjetiva-objetiva ou ainda,


meramente ocasional (é uma reunião ocasional) - art. 76,
I, 1a parte: cuida-se da hipótese de vários agentes
cometerem infrações diversas, embora sejam estas
praticadas ao mesmo tempo, no mesmo lugar sem que
haja prévio ajuste entre eles. A simultaneidade dos fatos e
da atuação dos autores faz com que seja conveniente uma
apuração conjunta, por juiz único. Exemplo: saque
simultâneo a um mesmo estabelecimento comercial, cometido
por várias pessoas, que nem se conhecem.

II. Intersubjetiva por concurso - art. 76, I, 2a parte: quando


duas ou mais infrações são praticadas por várias pessoas
em concurso, embora diversos o tempo e o lugar. Nesse
caso, os agentes estão unidos pela identidade de
propósitos, resultando os crimes de um acerto de
vontades visando ao mesmo fim. Exemplo: sequestradores
em que um executa o sequestro, outro vigia o local, um
terceiro planeja a ação, outro negocia o resgate.

III.Conexão intersubjetiva por reciprocidade - art. 76, I,


última parte: duas ou mais pessoas praticam infrações
(mais de uma) umas contra as outras. Exemplo: lesões
corporais recíprocas, em que dois grupos rivais bem
identificados se agridem. Os fatos são conexos e devem ser
reunidos em um mesmo processo.

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b) CONEXÃO OBJETIVA, MATERIAL, LÓGICA OU


TELEOLÓGICA - art. 76, II: verifica-se quando há vários
autores cometendo crimes para facilitar ou ocultar outros,
bem como para garantir a impunidade ou a vantagem do
que já foi feito. Exemplos: mata o segurança para sequestrar o
empresário

c) CONEXÃO PROBATÓRIA, INSTRUMENTAL OU


PROCESSUAL - art. 76, III: ocorre quando a prova de uma
infração ou suas circunstâncias elementares influir em
outra. Exemplo: assaltante subtrai carro de uma primeira vítima
e com o carro roubado comete, logo depois, um segundo roubo.
Neste caso, o fato de a vítima do segundo crime reconhecer o
réu e afirmar que ele chegou ao local com um carro roubado da
primeira vítima ajuda a prova em relação à infração inicial.

ARTIGO 77 - DA CONTINÊNCIA

A competência será determinada pela continência quando:

I - duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração;

II - no caso de infração cometida nas condições previstas nos arts.


70, 73 e 74 do CP

ESPÉCIES DE CONTINÊNCIA

a) CONTINÊNCIA POR CUMULAÇÃO SUBJETIVA - art. 77, I:


ocorre quando duas ou mais pessoas forem acusadas pela
mesma (única) infração. Neste caso existe um único crime (e
não vários), cometido por dois ou mais agentes em concurso, isto
é, em coautoria ou em participação, nos termos do art. 29, caput,
do CP. Aqui o vínculo se estabelece entre os agentes e não entre
as infrações. Por exemplo, o caso da rixa.

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b) CONTINÊNCIA POR CUMULAÇÃO OBJETIVA - art. 77, II:


ocorre quando uma única conduta delituosa gerar
pluralidade de eventos. É o que se dá com o concurso formal
(motorista que atropela 12 pessoas causando lesão corporal),
com a aberratio ictus (o sujeito erra na execução e atinge pessoa
diversa da pretendida, ou ainda, atinge quem pretendia também)
e com aberratio delicti (joga uma pedra na vidraça com intenção
de praticar um crime de dano e acaba causando uma lesão
corporal em um transeunte), em que os crimes continentes
devem ser objeto de uma única apreciação jurisdicional.

ARTIGO 78 - REGRAS PARA FIXAÇÃO DE FORO - FORO


PREVALENTE

a) CONCURSO ENTRE O JÚRI E OUTRA JURISDIÇÃO - art. 78, I:


quando houver concurso entre a competência do júri e de
outra jurisdição prevalecerá a do primeiro. A reunião é
obrigatória. Exemplo: o agente estupra a vítima e depois a mata
com dois tiros

b) JURISDIÇÕES DA MESMA CATEGORIA - art. 78, II: se houver


conexão ou continência entre diversas infrações penais
cometidas em foros distintos e se observar o concurso de
jurisdição de mesma categoria a competência será
prorrogada, prevendo-se três hipóteses:

I. Infração mais grave - art. 78, II, letra “a”: havendo conexão
ou continência entre fatos puníveis com diversificação de
penas, o foro prevalente será aquele onde tiver sido praticada a
infração mais gravemente apenada. Exemplo: o agente
rouba um carro na cidade de Jundiaí e um furto na cidade de
Campinas. Competente para julgar os dois crimes é a comarca
de Jundiaí.

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II. Maior número de infrações - art. 78, II, “b”: prevalecerá a


competência do lugar em que houver ocorrido o maior número
de infrações se as respectivas penas forem de igual
gravidade. Exemplos: “A” furta três bicicletas em Ribeirão
Preto e mais duas em Marília, o foro competente será o da
comarca de Ribeirão Preto, onde ocorreu o maior número de
infrações.

III.Se as penas forem idênticas e em igual número, firmar-se-


á a competência por prevenção - art. 78, II, “c”: se não for
possível determinar o foro competente pelos critérios já
estudados, terá sua competência prorrogada o juiz do local
que tiver antecedido os demais na prática de algum ato do
processo ou medida a este relativa, ainda que anterior ao
oferecimento da denúncia ou da queixa. Exemplo: “A” furta um
relógio em Ribeirão Preto e outro em Bauru. Como a pena é a
mesma e não ocorreu numa ou noutra comarca maior número
de infrações, não se aplicam as regras anteriores. A
competência será concretizada pela prevenção.

c) JURISDIÇÕES DE CATEGORIAS DIVERSAS - art. 78, III:


prevalecerá sempre a de maior graduação. Por conseguinte,
se um juiz de direito e seu funcionário cometerem uma infração
penal, como o magistrado tem foro especial por prerrogativa de
função - e é julgado pelo Tribunal de Justiça -, ambos serão
processados por este órgão judiciário de segundo grau, que tem
jurisdição mais graduada.

d) JURISDIÇÃO COMUM E ESPECIAL - art. 78, IV: havendo


conexão ou continência entre infrações sujeitas a jurisdição
comum e especial.O alcance dessa regra se limita às
hipóteses de conexão entre crime eleitoral e crime comum,
quando ambos serão julgados pela Justiça Eleitoral.
Exemplo: “A” pratica um crime eleitoral. Sendo descoberta a
prática delitiva por um funcionário da Justiça Eleitoral, “A” o
agride, causando-lhe lesões corporais. Tanto o delito eleitoral
como as lesões corporais serão julgados pela justiça especial.

EXCEÇÃO: ocorrendo um crime eleitoral e um crime doloso


contra a vida haverá separação. O crime eleitoral será julgado
pela Justiça Eleitoral e o crime doloso contra a vida pelo Tribunal
de Júri

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No tocante as infrações sujeitas à Justiça Comum “Estadual” e


Justiça Comum “Federal”, o STJ editou a Súmula 122, firmando
à Justiça Federal o julgamento unificado dos crimes conexos de
competência federal e estadual.

ARTIGOS 79 E 80 - EXCEÇÕES À UNIDADE DO PROCESSO

ARTIGO 79 - SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA DOS PROCESSOS:

A conexão e a continência importarão unidade de processo e


julgamento, salvo:

I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar;

II - no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores.

§ 1o Cessará, em qualquer caso, a unidade do processo, se, em


relação a algum corréu, sobrevier o caso previsto no art. 152 –
doença mental

§ 2o A unidade do processo não importará a do julgamento, se


houver corréu foragido que não possa ser julgado à revelia, ou
ocorrer a hipótese do art. 461 (agora 469)

a) JURISDIÇÃO COMUM E MILITAR - art. 79, I: Exemplos: se


um policial militar e um policial civil cometerem um delito, agindo
em concurso e com identidade de propósitos haverá separação
obrigatória, incumbindo à Justiça Militar o julgamento do policial
militar e à Justiça Comum o julgamento do policial civil; policial
militar comete, em concurso formal, os crimes de lesão corporal
dolosa e abuso de autoridade. Nesse caso haverá separação
obrigatória. Como o delito de abuso de autoridade não é típico à
luz do CPM, será julgado na Justiça Comum, enquanto a lesão
corporal pela Justiça Militar.

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b) JURISDIÇÃO COMUM E DE MENORES - art. 79, II: os


menores de 18 anos são penalmente inimputáveis. Assim, se
um menor inimputável praticar crime em concurso com maior
ficará a disposição do juízo da Infância e Juventude, sujeito a
processo para apuração de ato infracional, enquanto o
imputável será submetido a processo criminal.

c) DOENÇA MENTAL SUPERVENIENTE À INFRAÇÃO - art. 79,


parág. 1°: cessará, em qualquer caso, a unidade do processo,
se, em relação a algum corréu, sobrevier doença mental, de
acordo com o arts. 152 e 149, parág. 2° do CPP.

d) SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA DOS JULGAMENTOS - art. 79,


parág. 2°: aqui se mantém a unidade do processo, separando-
se, entretanto o “julgamento”. Por exemplo: no caso de
concurso de agentes. Um dos réus está presente e o corréu
está com o processo suspenso, conforme artigo 366 do CPP

ARTIGO 80 - SEPARAÇÃO FACULTATIVA DOS PROCESSOS:

O legislador deixa a critério do juiz a separação, desde que


relevante, evitando o tumulto processual e que, não raro, redunda
em nulidades insanáveis e ineficácia dos atos. Exemplos: se vários
forem os acusados e uns estiverem presos e outros em liberdade,
quase sempre é recomendável a separação em relação a esses, se
um dos coautores for menor de 21 anos, o que significa que em
relação a ele a prescrição terá prazo reduzido pela metade; quando
as infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou
de lugar diferentes, a reunião dos processos poderá dificultar
sobremaneira a coleta de provas, posto que, invariavelmente, serão
colhidas por precatória, etc..

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ARTIGO 81 - PERPETUATIO JURISDICTIONIS

Ocorre quando se dá o desaparecimento do motivo que determinou


a reunião dos processos por conexão ou continência.

a) PRORROGAÇÃO DA COMPETÊNCIA - art. 81, caput: ocorre


Exemplos: um deputado estadual e um cidadão comum, em
coautoria, praticam crime de apropriação indébita. Por força do
disposto no art. 74, I, da Constituição do Estado de São Paulo, o
parlamentar deve ser julgado pelo Tribunal de Justiça (ação
penal originária). Ainda, em defluência do art. 77, I, do CPP, o
cidadão também deverá ser julgado pelo mesmo Tribunal. Neste
caso, se aquele juízo absolver o parlamentar, deve julgar
também o corréu.

b) DA COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI - art. 81,


parágrafo único: essa regra (que é uma exceção ao caput do
artigo 81) só tem aplicação na primeira fase do julgamento
pelo júri. Exemplo: “A” é denunciado pelos crimes de homicídio
tentado e lesões corporais dolosas. O juiz do processo penal do
júri desclassifica o crime de homicídio tentado para o delito de
lesões corporais grave, que é competência do juízo singular, a
quem competirá julgar ambas as infrações. Na impronúncia,
por exemplo: “A” é denunciado por tentativa de homicídio,
lesões corporais dolosas e invasão de domicílio. O juiz do
processo do júri, entendendo pela prova colhida no sumário de
culpa que não restou comprovada a autoria do crime de
tentativa de homicídio, impronúncia o imputado. Os crimes
remanescentes da conexão deverão ser julgados pelo juízo
competente, porquanto a do júri não tem sua competência
prorrogada. Na absolvição sumária, por exemplo: “A” é
denunciado pelo crime de homicídio doloso e por estupro.
Tendo em vista que o conjunto probatório demonstrou de forma
inconteste que agiu ele em legítima defesa real o juiz o absolve.
Como o crime conexo de estupro não pode ser abrangido pela
absolvição sumária, o mesmo deverá ser julgado pelo juiz
comum.

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ARTIGO 82 - AVOCATÓRIA

Se apesar da conexão e continência, por equívoco ou


desconhecimento, forem instauradas ações penais diversas, uma
para cada crime, a autoridade de jurisdição prevalente deverá
avocar os processos que corram perante outros juízes – avocar
significa chamar para si.

Permite-se à autoridade de jurisdição prevalente avocar os


processos que tramitam perante os outros juízes, salvo se já
estiverem com sentença definitiva. Nesse caso, a unidade dos
processos só se dará, ulteriormente, para efeito de soma ou
unificação de pena. Exemplo: se o agente cometer dois furtos na
forma continuada e, contudo, forem instaurados dois inquéritos
policiais que resultarem em ações penais, distribuídas em varas
criminais distintas, o primeiro juiz de direito a despachar em relação
à investigação policial terá sua competência prorrogada e deverá
julgar ambos os processos.

ARTIGO 83 - COMPETÊNCIA POR PREVENÇÃO

A competência fixada pelo critério da prevenção dá-se quando dois


ou mais juízes forem igualmente competentes e um deles tiver
antecedido aos outros na prática de algum ato do processo ou de
medida a este relativa, ainda que anterior ao oferecimento da
denúncia ou queixa.

A competência pela prevenção tem como fundamento a


necessidade de impedir que o acusado sofra, pela mesma
infração penal, mais de um processo, um perante uma jurisdição
e outro idêntico perante outra, bem como para impedir que se
demore na propositura da ação penal, sob o pretexto de não se
saber qual o juiz competente.

A competência por prevenção é fixada quando:

 Se a infração é praticada no limite territorial de duas jurisdições


ou quando incerto esse limite - art. 70, parág. 3°.
 Crime continuado ou permanente - art. 71
 Local da infração incerto e o réu não tem residência fixa - art. 72,
parág. 2°.
 Em certos casos de conexão e continência - art. 78, II, c.

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ARTIGOS 84 A 87 - COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE


FUNÇÃO

Essa modalidade de determinação da competência jurisdicional


cuida da prerrogativa que algumas pessoas têm de serem julgadas,
originariamente, por órgãos de jurisdição mais graduada, em razão
das funções que exercem - competência ratione personae.

As normas da Constituição de 1988 que estabelecem as hipóteses


de foro por prerrogativa de função devem ser interpretadas
restritivamente, aplicando-se apenas aos crimes que tenham sido
praticados durante o exercício do cargo e em razão dele.

Assim, por exemplo, se o crime foi praticado antes de o indivíduo


ser diplomado como Deputado Federal, não se justifica a
competência do STF, devendo ele ser julgado pela 1ª instância
mesmo ocupando o cargo de parlamentar federal.

Além disso, mesmo que o crime tenha sido cometido após a


investidura no mandato, se o delito não apresentar relação direta
com as funções exercidas, também não haverá foro privilegiado.

Foi fixada, portanto, a seguinte tese:

O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes


cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções
desempenhadas. STF. Plenário. AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgado em 03/05/2018.

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CRIMES COMETIDOS POR DEPUTADO FEDERAL OU SENADOR

Situação Competência

Crime cometido antes da diplomação como Deputado ou


Senador

Juízo de 1ª
Crime cometido depois da diplomação (durante o exercício do instância
cargo), mas o delito não tem relação com as funções
desempenhadas.

Ex: embriaguez ao volante.

Crime cometido depois da diplomação (durante o exercício do


cargo) e o delito está relacionado com as funções
desempenhadas. STF

Ex: corrupção passiva.

Se o parlamentar federal (Deputado Federal ou Senador) está


respondendo a uma ação penal no STF e, antes de ser julgado, ele
deixe de ocupar o cargo (exemplos: renunciou, não se reelegeu etc)
cessa o foro por prerrogativa de função e o processo deverá ser
remetido para julgamento em 1ª instância?

O STF decidiu estabelecer uma regra para situações como


essa:

• Se o réu deixou de ocupar o cargo antes de a instrução terminar:


cessa a competência do STF e o processo deve ser remetido para a
1ª instância.

• Se o réu deixou de ocupar o cargo depois de a instrução se


encerrar: o STF permanece sendo competente para julgar a ação
penal.

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O foro por prerrogativa de função no caso de Governadores e


Conselheiros de Tribunais de Contas dos Estados deve ficar
restrito aos fatos ocorridos durante o exercício do cargo e em
razão deste.

Assim, o STJ é competente para julgar os crimes praticados


pelos Governadores e pelos Conselheiros de Tribunais de
Contas somente se estes delitos tiverem sido praticados
durante o exercício do cargo e em razão deste. STJ. Corte
Especial. APn 857/DF, Rel. para acórdão Min. João Otávio de
Noronha, julgado em 20/06/2018. STJ. Corte Especial. APn 866/DF,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/06/2018.

OBSERVAÇÕES GERAIS

CRIMES DE RESPONSABILIDADE: são basicamente aqueles


definidos na Lei n. 1.079/50, e o processo e o julgamento
normalmente se dá num Tribunal misto, composto por membros do
Poder Legislativo e do tribunal mais elevado do Estado. A
Constituição Federal, em seu art. 52, II, estabelece que ao Senado
incumbirá o julgamento do Presidente da República e do Vice (nos
crimes de responsabilidade) e Ministros de Estado, quando houver
conexão com o fato praticado por aqueles, sendo que tal julgamento
será presidido pelo Presidente do STF, motivo pelo qual se fala em
Tribunal misto.

Saliente-se, ainda, que nesses crimes de responsabilidade não


haverá a imposição de pena privativa de liberdade, mas tão-
somente perda do cargo e inabilitação para a função pública.

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C O M P E T Ê N C I A – PROCESSUAL PENAL

A CONSTITUIÇÃO FEDERAL PREVÊ A JURISDIÇÃO COMUM


ESTADUAL E FEDERAL.

JUSTIÇA FEDERAL JUSTIÇA ESTADUAL


Compete ao Júri Federal, Compete ao Júri Estadual julgar
processar e julgar homicídios os crimes dolosos contra a vida
praticado a bordo de (arts. 121 a 128 do Código Penal
embarcação privada de e art. 5°, inciso XXXVIII, letra “d”
procedência estrangeira, em da CF. Compete também ao Júri
porto nacional, e contrabando em Estadual os crimes dolosos
conexão com homicídio (por contra a vida praticados por
exemplo: fiscal aduaneiro troca militar contra civil (Lei n° 9.299,
tiros com contrabandista e o de 07.08.96)
mata), bem como homicídio
praticado contra funcionário
federal, ou sendo o funcionário
público sujeito ativo do delito de
homicídio, desde que
relacionado com o exercício de
sua função.
Processar e julgar os crimes Processar e julgar os crimes
contra bens, serviços ou praticados contra a fauna,
interesse da União ou de suas excetuando-se apenas quando o
entidades autárquicas ou fato atingir bens e interesses da
empresas públicas - art. 109, IV, União, como por exemplo a
CF., como por exemplo, no caso pesca ilegal no mar territorial
de pesca ilegal no mar territorial brasileiro
brasileiro1.
Processar e julgar todo e Processar e julgar delito
qualquer crime praticado contra decorrente de acidente de
funcionário público federal, trânsito envolvendo viatura de
quando relacionados com o polícia militar, salvo se autor e
exercício da função - Súmula 147 vítima forem policiais militares
do STJ. em situação de atividade -
Súmula 06 do STJ.

1
Competia à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra a fauna, nos termos da
Súmula 91 do STJ. Ocorre que na sessão de 8 de novembro de 2000, a 3a. Seção do STJ deliberou pelo
cancelamento da referida sumula, que havia sido editada em 21 de outubro de 1993, passando tais
crimes para a competência, em regra, da justiça comum, executando-se apenas quando o fato atingir
bens e interesses da União, como por exemplo, a pesca ilegal no mar territorial brasileiro.

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JUSTIÇA FEDERAL JUSTIÇA ESTADUAL


Processar e julgar crime de Processar e julgar crime em que
genocídio já que se colocam em indígena figura como autor ou
disputa também os direitos vítima - Súmula 140 do STJ
indígenas como um todo.
Processar e julgar crime de Se o delito foi praticado por
falsificação e uso de título de autoridade (agente público)
eleitor, bem como carteira da estadual ou municipal no
OAB e de documentos relativos a exercício dessa função: o crime
estabelecimentos de ensino será, em regra, de competência
governamental. da Justiça Estadual, que é
Compete à Justiça Federal residual.
comum processar e julgar civil
denunciado pelos crimes de
falsificação e de uso de
documento falso quando se tratar
de falsificação da Caderneta de
Inscrição e Registro (CIR) ou de
Carteira de Habilitação de
Amador (CHA), ainda que
expedidas pela Marinha do Brasil
– Súmula Vinculante n. 36.
Processar e julgar os crimes Processar e julgar civil acusado
praticados contra a Empresa de prática de crime contra
Brasileira de Correios einstituições militares estaduais -
Telégrafos, contudo se for Súmula 53 do STJ. É também
franqueada cabe a Justiça competente para julgar crime
Estadual. cometido por guarda civil
metropolitano
Processar e julgar crimes contra Processar e julgar crime contra a
a Organização do Trabalho como Organização do Trabalho, se
um todo atingir direito individual, bem
como o crime de falsa anotação
de carteira de trabalho e
Previdência Social, atribuído a
empresa privada Súmula 62 do
STJ.
Processar e julgar crime de Processar e julgar crime contra
contrabando e descaminho sociedade de economia mista -
Súmula 42 do STJ. Processar e
julgar crimes cometidos contra
agência do Banco do Brasil, da

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JUSTIÇA FEDERAL JUSTIÇA ESTADUAL


Telefônica. É competente
também, para julgar o delito de
emissão de cheque sem fundos
contra a Caixa Econômica
Federal.
Processar e julgar crime comum Processar e julgar contravenção
cometido a bordo (em tese, no penal, ainda que praticada em
seu interior) de navio de grande detrimento de bens, serviços ou
porte, apto a realizar viagens interesses da União ou de suas
internacionais. entidades - Súmula 38 do STJ.
Processar e julgar os crimes Processar e julgar crime
conexos de competência federal cometido em área de fronteira,
e estadual, não se aplicando a porque não existe a ofensa a
regra do art. 78, inciso II, letra bem, serviço ou interesse da
“a”, do CPP - Súmula 122 do STJ União
Processar e julgar crime contra Processar e julgar o crime de
bens tombados pelo Instituto do falsificação e uso de documento
Patrimônio Histórico e Artístico falso relativo a estabelecimento
Nacional, pouco importando particular de ensino - Sumula
tenha ou não havido o registro 104 do STJ.
imobiliário.

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COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - STF


Presidente da República, Vice-
Infrações penais comuns Presidente, Deputados Federais,
Senadores, Ministros do STF,
Procurador-Geral da República,
Advogado Geral da União
Ministros de Estado e
Comandantes das Forças
Infrações penais comuns e de Armadas (estes serão julgados
responsabilidade pelo Senado Federal em
crimes de responsabilidade
conexos com os do Presidente
e Vice), Ministros dos Tribunais
Superiores, Membros do Tribunal
de Contas da União, Chefes de
missão diplomática de caráter
permanente.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA - STJ

Infrações penais comuns Governadores de Estado e do


Distrito Federal
Desembargadores, Membros do
Tribunal de Contas dos Estados
Infrações penais comuns e de e do Distrito Federal, Tribunal
responsabilidade Regional Eleitoral, Tribunal
Regional do Trabalho, Membros
do Tribunal de Contas do
Município, Membros do
Ministério Público da União que
oficiem nos Tribunais.

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SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR - STM


Oficiais Generais das Forças
Crimes militares Armadas, bem como habeas
corpus e Mandado de Segurança
em matéria de sua competência.

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL - TRF


Juízes Federais, Juízes
Infrações penais comuns e de Auditores, Juízes do Trabalho,
responsabilidade Membros do Ministério Público
da União (ressalvada a
competência da Justiça
Eleitoral), Prefeitos (quando
cometerem crimes da esfera
federal)

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL - TRE

Crimes eleitorais e conexos, Juízes e Promotores Eleitorais,


exceção aos crimes dolosos Deputados Estaduais e Prefeitos.
contra a vida.

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA - TJ
Infrações penais comuns e de Juízes de direito e os auditores
responsabilidade da justiça militar, Promotores
Constituição Federal Estaduais e do Distrito Federal
(ressalvada a competência de
Justiça Eleitoral). Delegado-geral
de polícia e o comandante-geral
da polícia militar
Vice-Governador, Secretários de
Infrações penais comuns Estado, Deputados Estaduais,
Procurador-Geral de Justiça,
Procurador-Geral do Estado,
Defensor Público Geral,
Prefeitos.
Infrações penais comuns e de Juízes do Tribunal de Justiça
responsabilidade Militar, Juízes Auditores
Constituição Estadual estadual, Delegado-Geral da
Polícia Civil e Comandante-Geral
de polícia Militar.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA MILITAR - TJM


Crimes militares comuns Chefe da Casa Militar e
Constituição Estadual Comandante-Geral de Polícia
Militar

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COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESPECIAL

JUSTIÇA MILITAR FEDERAL DE PRIMEIRO GRAU


Crimes Militares Conselho Especial de Justiça:
Código Penal Militar formado por um juiz auditor e
quatro oficiais militares sob a
presidência do mais graduado.
Julga Oficiais das Forças
Armadas.
Conselho Permanente de
Justiça: formado por um juiz
auditor e quatro oficiais, três
deles até capitão-tenente ou
capitão e um deles de patente
superior, que é o presidente.
Julga os integrantes das Forças
Armadas não oficiais.

JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL DE PRIMEIRO GRAU


Crimes Militares cometidos por Estrutura idêntica à da Justiça
policiais militares Militar Federal, observando-se de
Código Penal Militar que o civil não poderá ser
julgado pela Justiça Militar –
Súmula 53 do STJ -. O juiz
auditor será o Presidente dos
Conselhos para julgar os crimes
militares cuja vítima seja civil.

JUSTIÇA ELEITORAL
Crimes Eleitorais e conexos. Para julgamento das infrações
Contudo se o conexo for crime penais dessa natureza.
doloso contra a vida há Artigos 289 a 354 da Lei n.
separação do processo; 4.737/65

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COMPETÊNCIA POLÍTICA

SENADO FEDERAL
Crimes de responsabilidade Presidente da República, Vice-
Presidente da República,
Ministros de Estado e
Comandante das Forças
Armadas (estes nos crimes
conexos com os do Presidente e
Vice), Ministros do STF,
Procurador-Geral da República,
Advogado Geral da União e
membros dos Conselhos
Externos do Judiciário e do
Ministério Público.

TRIBUNAL ESPECIAL NO ESTADO


Composição: 5 Deputados e 5 Governador, Vice Governador,
Desembargadores, sob a Secretários do Estado,
presidência do Presidente do Procurador-Geral de Justiça,
Tribunal de Justiça, conforme Procurador-Geral do Estado.
entendimento do STF.

Crime de Responsabilidade

CÂMARA MUNICIPAL
Crimes de Responsabilidade Prefeito Municipal
Art. 4º do Decreto-Lei 201/67

30
PRÁTICA JURÍDICA PENAL – DAS PROVAS NO PROCESSO PENAL
Professora: Sonia Fátima Brandão

ARTIGOS 155 A 250 - DA PROVA

Provar, em apertada síntese, é levar ao conhecimento do juiz os


elementos necessários ao julgamento da causa. Representa o
conjunto de atos praticados pelas partes.

OBJETO DE PROVA

Constitui objeto de prova o fato descrito na denúncia ou


queixa-crime, ou, ainda, aquele alegado pelo réu em sua defesa, e
outras circunstâncias secundárias, desde que reclamem uma
apreciação judicial e influam na verdade real.

O objetivo da atividade probatória é convencer seu destinatário: o


juiz, na medida em que não presenciou o fato que é submetido à
sua apreciação.

MEIOS DE PROVA E SUA ADMISSIBILIDADE

Meio de prova é tudo o que possa ser utilizado para a


demonstração da ocorrência dos fatos alegados e perseguidos
no processo. São os instrumentos necessários para comprovar a
existência ou não da verdade de um fato, contudo alguns meios de
prova não são admitidos:

♣ Prova emprestada: considera-se prova emprestada (ou


trasladada) aquela que é produzida num processo, sendo depois
transportada documentalmente para outro, visando a gerar
efeitos neste. A jurisprudência pátria é uníssona em
proclamar que a validade da prova emprestada está
condicionada à observância ao princípio do contraditório.

♣ Provas ilícitas – obtidas com violação de norma de direito


material: pode decorrer das mais variadas ações, por exemplo:
busca domiciliar sem mandado interceptação telefônica sem
autorização judicial, colheita de depoimento testemunhal sem a
presença do defensor, confissão extraída mediante coação, etc.

1
PRÁTICA JURÍDICA PENAL – DAS PROVAS NO PROCESSO PENAL
Professora: Sonia Fátima Brandão

Sobre a admissibilidade de prova derivada da ilícita, temos a


teoria dos frutos da árvore envenenada, acolhida pela doutrina e
pela Jurisprudência do STF. Segundo essa teoria, todas as provas
lícitas cuja produção resultou de uma prova ilícita ficarão
contaminadas, tornando-se, portanto, nulas. Como exemplo mais
comum temos a situação de uma apreensão de substâncias
entorpecentes numa residência decorrente de informações obtidas
por meio de interceptação telefônica sem a observância do
procedimento previsto na Lei 9.296/96 – a apreensão da droga
seria uma prova ilícita por derivação.

A questão da prova ilícita por derivação, até então tratada pela


doutrina e jurisprudência, ganha expressa regulamentação pela
Lei 11.690/2008, que inseriu ao art. 157, parág. 1º são também
inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando
não evidenciado o nexo da causalidade entre umas e outras, ou
quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte
independente das primeiras.

Quanto à aceitação da prova ilicitamente produzida, há duas


teorias:

1. Prova ilícita por derivação: (frutos da árvore envenenada ou


efeito à distância, que advém do preceito bíblico de que a “árvore
envenenada não pode dar bons frutos”). Assim, quando uma
prova for produzida por mecanismos ilícitos, tal como a escuta
ilegalmente realizada, não se pode aceitar as provas que daí
advenham. Exemplo: graças à escuta ilegal efetivada, a polícia
consegue obter dados para a localização da coisa furtada. A
partir disso, obtém um mandado judicial, invade o lugar e
apreende o material. Note-se que a apreensão está eivada de
veneno gerada pela prova primária, isto é, a escuta
indevidamente operada. Se for aceita como lícita a segunda
prova, somente porque houve expedição de mandado de busca
por juiz de direito, em última análise, estar-se-ia compactuando
com o ilícito, pois se termina por validar a conduta ilegal da
autoridade policial.

2
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Professora: Sonia Fátima Brandão

2. Teoria da proporcionalidade: (teoria da razoabilidade ou teoria


do interesse predominante), cuja finalidade é equilibrar os direitos
individuais e os interesses da sociedade, não se admitindo, pois,
a rejeição contumaz das provas obtidas por meios ilícitos.

Sustentam os defensores dessa posição que é preciso ponderar


os interesses em jogo, quando se viola uma garantia qualquer.
Assim, para a descoberta de um sequestro, libertando-se a vítima
do cativeiro, prendendo-se o processando-se criminosos
perigosos, seria admissível a violação do sigilo das
comunicações, como a escuta clandestina.

Dessa forma, se uma prova for obtida por mecanismo ilícito,


destinando-se a absolver o acusado, é de ser admitida, tendo em
vista que o erro judiciário precisa ser a todo custo evitado,
conforme preceitua a CF, art. 5°, LXXV.1

As provas obtidas por meios ilícitos (com violação às normas


de direito material) são inadmissíveis no processo, constituindo-
se uma garantia constitucional, definida no art. 5°, inciso LVI.

ARTIGO 156 – ÔNUS DA PROVA

A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém,


facultado ao juiz de ofício:

I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção


antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes,
observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da
medida;

II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir


sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre
ponto relevante.

No tocante ao inciso I é nítida a inserção, de traços de


inquisitoriedade, vale dizer, o futuro órgão julgador, antes mesmo
de iniciada a ação penal, poderá determinar a realização de provas

1
Ada Pellegrini Grinover, Antonio Magalhães Gomes Filho e Antonio Scarance Fernandes sustentam
que, quando o próprio réu colhe a prova ilícita para sua absolvição está, na realidade, agindo em legítima
defesa, mas não deixam de destacar que essa aceitação é fruto da proporcionalidade.
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PRÁTICA JURÍDICA PENAL – DAS PROVAS NO PROCESSO PENAL
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urgentes e relevantes, ferindo o princípio da imparcialidade do juiz,


essencial ao desenvolvimento de um processo justo e legal.

O juiz, por seu turno, não é mero expectador das provas produzidas
pelas partes, devendo, na busca da verdade real, determinar
diligências de ofício com o fito de dirimir dúvidas sobre pontos que
entenda relevantes. Não pode, porém, obrigar qualquer das partes
a demonstrar algo2

SISTEMAS DE APRECIAÇÃO DE PROVAS

Sistema da íntima convicção ou da certeza moral do juiz: a lei


não diz sobre o valor de cada prova, fundando-se a decisão
somente na certeza moral do julgador, que decide sobre seu valor e
admissibilidade, por exemplo, no caso dos julgamentos efetuados
pelo Tribunal do Júri, pois, no caso, não há fundamentação sobre a
decisão

Sistema da verdade legal ou formal ou da certeza moral do


legislador: quando a lei impõe ao juiz o respeito a certos preceitos,
atribuindo o valor de cada prova, retirando-lhe a liberdade de
apreciação valorativa.

Sistema da livre convicção ou da verdade real ou do livre


convencimento: quando o juiz forma a sua convicção pela livre
apreciação. É o sistema adotado pelo nosso CPP – art. 155, caput
– O juiz não pode fundamentar sua decisão exclusivamente nos
elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as
provas cautelares não repetíveis – princípio da persuasão
racional

2
A Exposição de Motivos do CPP não deixa qualquer dúvida, dispondo que para a indagação da verdade
não estará sujeito a preclusões. Enquanto não estiver averiguada a matéria da acusação ou da defesa, e
houver uma fonte de prova ainda não explorada, o juiz não deverá pronunciar o in dubio pro reo ou o
non liquet.
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DAS PROVAS EM ESPÉCIE

O CPP relaciona alguns meios de prova, a saber:

1. As perícias em geral - artigos 158 a 184


2. O interrogatório e a confissão do acusado - artigos 185 a 200
3. A palavra do ofendido - artigo 201
4. Os depoimentos das testemunhas - artigos 202 a 225
5. O reconhecimento de pessoas e coisas - artigos 226 a 228
6. A acareação - artigos 229 e 230
7. Os documentos - artigos 231 a 238
8. Os indícios - artigo 239
9. Busca e apreensão - artigos 240 e 250

ARTIGOS 158 A 184 – DO EXAME DO CORPO DE DELITO, DA


CADEIA DE CUSTÓDIA E DAS PERÍCIAS EM GERAL

Perícia é o exame realizado, com a finalidade de instruir o julgador,


por pessoa com conhecimentos específicos sobre matéria técnica
relacionada ao fato criminoso e suas circunstâncias.

A perícia é corporificada por meio de laudo, documento elaborado


pelo perito, que nele deve registrar tudo o que observaram e
concluíram.

CORPO DE DELITO E EXAME DE CORPO DE DELITO

Corpo de delito é o conjunto de elementos deixados pelo crime,


isto é, aquilo que torna o crime ou a contravenção palpável,
sensível, perceptível aos sentidos. Exemplo: o cadáver é corpo de
delito do crime de homicídio

Exame de corpo de delito, por outro lado, é a espécie de perícia


destinada a reunir vestígios materiais deixados pelo fato criminoso,
ou seja, é a perícia realizada no corpo de delito. Exemplo: a
necropsia é exame de corpo de delito do crime de homicídio.

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PRIORIDADE PARA REALIZAÇÃO DO EXAME PERICIAL

A Lei nº 13.721/2018 acrescentou o parágrafo único ao art. 158 do


CPP afirmando que deverá ser dada prioridade à realização do
exame de corpo de delito quando se tratar de crime que envolva:

• violência doméstica e familiar contra mulher;


• violência contra criança ou adolescente
• violência contra idoso ou
• violência contra pessoa com deficiência.

MODALIDADES DE EXAME DE CORPO DE DELITO

 Direto: é o que se realiza por meio da análise, pelos peritos, do


próprio corpo de delito, sem qualquer intermediação

 Indireto: é o realizado sobre dados ou vestígios deixados,


como por exemplo: vestimentas, atendimento hospitalar, pelo,
unhas, etc

OBRIGATORIEDADE DO EXAME DE CORPO DE DELITO

De acordo com o disposto no art. 158 do CPP a exigência do


exame de corpo de delito para comprovação da materialidade,
abrange:

 Infrações que deixam vestígios – delicta facti permanentis: em


relação às quais o exame de corpo de delito é indispensável.
Exemplo: homicídio, falsidade documental, lesão corporal, etc.

 Infrações que não deixam vestígios – delicta facti transeuntis:


para demonstração de sua existência material não é
imprescindível o exame de corpo de delito. Exemplo: injúria
verbal, furto simples, etc.

O exame revela-se imprescindível apenas para o julgamento da


ação referente às infrações que deixam vestígios

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SUPRIMENTO DO EXAME PELA PROVA TESTEMUNHAL

O art. 167 admite que o exame de corpo de delito seja suprido pela
prova testemunhal, quando, por alguma razão, desaparecerem os
vestígios da infração.

Nessa situação, diferentemente do que ocorre quando da


elaboração do exame de corpo de delito indireto, a narrativa da
testemunha em relação à existência do delito é dirigida diretamente
ao juiz, que concluirá sobre a suficiência do relato para a formação
do corpo de delito. É o que ocorre, por exemplo, quando a vítima de
lesão corporal não se apresenta para o exame direto e, por não
procurar atendimento em estabelecimento de saúde, torna inviável
a realização do exame indireto, exigindo que o juiz decida sobre a
existência da infração por meio da análise do depoimento de
testemunha que viu o ferimento.

DO PERITO

A perícia deve ser realizada em regra por perito oficial, portador de


diploma de curso superior (art. 159, caput, do CPP). A atuação de
um perito oficial é suficiente para que a perícia seja válida.

Somente em caso da inexistência de perito oficial é que o exame


poderá ser realizado por peritos não oficiais. Nesse caso a
nomeação será feita sem intervenção das partes (art. 276 do CPP)
e deve recair sobre duas pessoas idôneas e com formação superior
preferencialmente na área específica (art. 159, parág. 1º, do CPP).

Acaso haja necessidade de realização de exame pericial por carta


precatória, a regra é a nomeação do perito pelo juízo deprecado
(art. 177 do CPP). Em se cuidando de perícia complexa que abranja
mais de uma área de saber especializado, é possível designar a
atuação de mais de um perito oficial (art. 159, parág. 7º, do CPP)

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PRÁTICA JURÍDICA PENAL – DAS PROVAS NO PROCESSO PENAL
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FORMULAÇÃO DE QUESITOS E INDICAÇÃO DE ASSISTENTE


TÉCNICO

Faculta-se ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao


ofendido, ao querelante e ao acusado influírem na formação da
prova pericial por meio da formulação e quesitos e da indicação de
assistente técnico (art. 159, parág. 3º)

Quesitos são indagações de ordem técnica dirigidas ao perito com o


intuito de provocar sua manifestação sobre determinado aspecto
relevante do exame. Além das partes, pode o juiz ou a autoridade
policial (se a perícia for determinada na fase do inquérito) formular
quesitos.

VINCULAÇÃO DO JUIZ AO LAUDO

 O vinculatório: o juiz não pode deixar de aceitar o seu


conteúdo, estando, portanto, vinculado à sua conclusão;

 O liberatório: o magistrado não está adstrito à conclusão do


laudo, podendo rejeitá-lo no todo ou em parte desde que haja
fundamentação. O artigo 182 do CPP adotou o sistema
liberatório, até mesmo em razão de o sistema de apreciação
das provas adotado pelo nosso ordenamento jurídico ser o do
livre convencimento motivado.

DA CADEIA DE CUSTÓDIA – LEI 13.964/19

A cadeia de custódia foi definida na Lei como “o conjunto de todos

gio coletado em locais ou

” (art. 158-A, caput, do


CPP).

O seu início, em regra, segundo a lei, decorrerá da preservação do


local de crime. Poderá, no entanto, estabelecer-se a partir de outros
procedimentos policiais ou periciais de detecção da e istência de
vestí io art. -A, , do ). m ambas as hip teses, no
entanto, o a ente p blico que reconhecer um elemento como sendo
de interesse potencial à produção da prova pericial ficará
responsável por sua preservação (art. 158-A, § 2º, do CPP).

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PRÁTICA JURÍDICA PENAL – DAS PROVAS NO PROCESSO PENAL
Professora: Sonia Fátima Brandão

Todos os Institutos de Criminalística precisarão ter centrais de


custódia destinadas à guarda e controle dos vestígios de crimes. Os
materiais coletados deverão permanecer nessas centrais até que a
Justiça autorize o seu descarte.

O respeito à cadeia de custódia não é atividade exclusiva da


perícia; muito pelo contrário, incumbe a todas as agências do
sistema de justiça criminal. Abran e todos os “atores responsáveis
pela sua preservação, inte ridade, idoneidade e valoração”, o que
se inicia na fase de investigação preliminar porém se estende até o
processo criminal, na medida em que alcança “todo o caminho
percorrido pela prova.

Alberi Espindula leciona sobre a cadeia de custódia de prova que:

Claro está que a finalidade da cadeia de custódia é para assegurar a


idoneidade dos objetos e bens escolhidos pela perícia ou apreendidos
pela autoridade policial, a fim de evitar qualquer tipo de dúvida quanto à
sua origem e caminho percorrido durante a investigação criminal e o
respectivo processo judicial. Importante esclarecer que a cadeia de
custódia não está restrita só ao âmbito da perícia criminal, mas envolve
desde a delegacia policial, quando apreende algum objeto e já deve
observar com rigor tais procedimentos da cadeia de custódia. Podemos
voltar mais ainda: qualquer policial seja ele civil ou militar, que for
receptor de algum objeto material que possa estar relacionado a alguma
ocorrência, deve também – já no seu recebimento ou achado – proceder
com os cuidados da cadeia de custódia. E essas preocupações vão além
da polícia e da perícia, estendendo-se aos momentos de trâmites desses
objetos da fase do processo criminal, tanto no ministério público quanto
na própria justiça. Os procedimentos da cadeia de custódia devem
continuar até o processo ter transitado em julgado.

O Código de Processo Penal passa a estabelecer as


seguintes fases da cadeia de custódia enquanto procedimento
de rastreio de vestígios (art. 158-B):

– reconhecimento ato de distin uir um elemento como de


potencial interesse para a produção da prova pericial;

II – isolamento: ato de evitar que se altere o estado das


coisas, devendo isolar e preservar o ambiente imediato, mediato e
relacionado aos vestígios e local de crime;

– fi ação descrição detalhada do vestí io conforme se


encontra no local de crime ou no corpo de delito, e a sua posição na
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área de e ames, podendo ser ilustrada por foto rafias, filma ens ou
croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo pericial
produzido pelo perito responsável pelo atendimento;

– coleta ato de recolher o vestí io que será submetido à


análise pericial, respeitando suas características e nature a;

– acondicionamento procedimento por meio do qual cada


vestí io coletado é embalado de forma individuali ada, de acordo
com suas características físicas, químicas e biol icas, para
posterior análise, com anotação da data, hora e nome de quem
realizou a coleta e o acondicionamento;

– transporte ato de transferir o vestí io de um local para o


outro, utili ando as condiç es adequadas embala ens, veículos,
temperatura, entre outras), de modo a arantir a manutenção de
suas características ori inais, bem como o controle de sua posse;

– recebimento ato formal de transferência da posse do


vestí io, que deve ser documentado com, no mínimo, informaç es
referentes ao n mero de procedimento e unidade de polícia
judiciária relacionada, local de ori em, nome de quem transportou o
vestí io, c di o de rastreamento, nature a do e ame, tipo do
vestí io, protocolo, assinatura e identificação de quem o recebeu;

VIII – processamento e ame pericial em si, manipulação do


vestí io de acordo com a metodolo ia adequada às suas
características biol icas, físicas e químicas, a fim de se obter o
resultado desejado, que deverá ser formali ado em laudo produ ido
por perito;

– arma enamento procedimento referente à uarda, em


condiç es adequadas, do material a ser processado, uardado para
reali ação de contraperícia, descartado ou transportado, com
vinculação ao n mero do laudo correspondente;

X - descarte: procedimento referente à liberação do vestí io,


respeitando a le islação vi ente e, quando pertinente, mediante
autori ação judicial”.

A Lei ainda estabelece que a coleta de vestígios deverá ser


realizada preferencialmente por perito oficial, bem como o seu
necessário encaminhamento à central de custódia, mesmo quando

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PRÁTICA JURÍDICA PENAL – DAS PROVAS NO PROCESSO PENAL
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necessário algum exame complementar (art. 158-C, caput, do


CPP).

Frise-se que todos os vestígios coletados, tanto em sede de


inquérito policial quanto de processo penal, deverão
obrigatoriamente ser remetidos à central de custódia (art. 158-C, §
1º, do CPP), existente necessariamente em cada instituto de
criminalística e com gestão vinculada diretamente ao órgão de
perícia oficial de natureza criminal (art. 158-E do CPP).

ARTIGOS 185 A 200 DO CPP - DO INTERROGATÓRIO E DA


CONFISSÃO

INDIVIDUALIZAÇÃO DO RÉU E PERGUNTAS SOBRE O FATO


CRIMINOSO:

Segundo o art. 186, caput, o interrogatório deverá ser constituído de


duas partes: sobre a pessoa do acusado e sobre os fatos.

1. SOBRE A PESSOA DO ACUSADO: são as perguntas


referentes à individualização. São perguntas que o juiz deve
fazer ao réu a fim de qualificá-lo e/ou individualizá-lo. Tais
perguntas estão elencadas no parág. 1° do art. 187 do CPP. O
réu está obrigado a responder essas perguntas, sob pena de
responder pela contravenção penal de que trata o art. 68 da
LCP. Além disso, tais perguntas devem ser respondidas
corretamente pelo acusado, pois do contrário poderá configurar o
crime tipificado no art. 307 (falsa identidade), do CP. Hoje há
prisão cautelar para o acusado que se recusa a fornecer a
sua qualificação ou até mesmo presta informações
mentirosas.

2. SOBRE O FATO CRIMINOSO: o réu será perguntado sobre o


fato criminoso. As perguntas sobre o fato criminoso, hoje, estão
elencadas no parág. 2° do art. 187. Cabe lembrar, que a tais
perguntas o réu não estará obrigado a responder por força do
que dispõe o art. 5°, LXIII, da CF c/c o novo parág. único, do art.
186 do CPP.

Finalmente, não se deve olvidar que os itens previstos no parág.


2°, do art. 187, do CPP, são meramente orientadores, e o juiz
não está obrigado a seguir exatamente a ordem ali disposta.

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PRÁTICA JURÍDICA PENAL – DAS PROVAS NO PROCESSO PENAL
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Do interrogatório deverá constar a informação sobre a existência de


filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o
nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos
filhos, indicado pela pessoa presa - (Incluído pela Lei nº 13.257,
de 2016 – parág. 10º)

DO DIREITO AO SILÊNCIO NO INTERROGATÓRIO:

Com o advento da Lei n° 10.792/2003 a redação do art. 186, caput,


do CPP foi alterada e foi acrescentado ainda um parágrafo único ao
referido dispositivo. Agora o silêncio do réu não importará em
confissão, assim como não poderá ser interpretado em prejuízo da
defesa. Proibi-se, assim, que do silêncio decorra qualquer
conseqüência desfavorável ao acusado. Essa norma está em
perfeita consonância com os princípios constitucionais da
presunção de inocência, do contraditório e da ampla defesa.

Cumpre ainda observar que o réu também não está obrigado a falar
a verdade. Em tese, a mentira do réu no interrogatório só será
considerada crime se fizer auto acusação falsa (art. 341, CP) ou se
mentir sobre a sua própria identidade (art. 307, CP).

DA CONSIGNAÇÃO DAS RAZÕES DO SILÊNCIO DO RÉU NO


TERMO DE AUDIÊNCIA:

A Constituição Federal (art. 5°, LXII) garante ao acusado o direito


de permanecer calado no interrogatório, e esse mesmo direito
agora também está expresso no art. 186, parág. único do CPP.
Como o acusado tem direito a permanecer calado, obviamente não
havia mais sentido exigir do réu as razões do seu silêncio para o fim
de consigná-las no termo de audiência, como originariamente previa
o art. 191 do CPP.

Diante da nova redação, já há entendimento de que o juiz poderá


consignar no termo de audiência as perguntas formuladas ao réu.
Se este deixar de responder a tais perguntas, caberá ao magistrado
apenas registrar que o réu exerceu o seu direito de permanecer em
silêncio. Entretanto, se o réu quiser invocar uma razão
compreensível para o seu silêncio, nada impede também que o juiz
consigne tal questão no termo de audiência. O que não pode é o
juiz exigir que o réu justifique o seu silêncio.

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PRÁTICA JURÍDICA PENAL – DAS PROVAS NO PROCESSO PENAL
Professora: Sonia Fátima Brandão

DA PARTICIPAÇÃO OBRIGATÓRIA DO DEFENSOR NO


INTERROGATÓRIO DO RÉU E DIREITO DE INTERVIR:

Com o advento da Lei 10.792/2003 a presença do defensor no


interrogatório do réu passou a ser obrigatória, podendo inclusive ter
direito a formular reperguntas no referido ato. Vê-se, claramente,
que a intenção do legislador foi privilegiar o contraditório e a ampla
defesa no interrogatório, exigindo-se a presença do defensor do
réu. Assim, a alteração, permite às partes que, ao final do
interrogatório, possam colaborar com o juiz, lembrando-o de que
alguma indagação importante deixou de ser feita, dentre tantas
previstas no art. 187. Ou mesmo alguma outra questão, ali não
relacionada, mas fundamental para o esclarecimento. Entretanto,
não dispõem elas de direito absoluto à obtenção de respostas a tais
questões, cabendo ao magistrado, dentro do seu poder
discricionário, deliberar se são pertinentes e relevantes - logo, deve
coibir as perguntas tendentes a constranger o réu ou provocá-lo a
confessar, bem como as que forem inadequadas ao caso, como as
gratuitamente invasoras de sua intimidade.

Diante do exposto, cabe ressaltar que a colaboração das partes não


tem o condão de reperguntas como se faz com qualquer
testemunha.

REPETIÇÃO DE INTERROGATÓRIO:

Extrai-se do art. 196, do CPP, com redação dada pela Lei


10.792/03, que a todo tempo o juiz poderá proceder a novo
interrogatório de ofício ou a pedido fundamentado de qualquer das
partes. Em verdade, nesse particular, o art. 196, originariamente já
previa regra semelhante, sendo que a referida lei ordinária apenas
acrescentou que as partes poderão requerer ao juiz a realização de
novo interrogatório.

Esse pedido das partes deve vir fundamentado, sendo que o juiz
não está obrigado a acatá-lo, pois pode entender, diante dos
elementos constantes dos autos, que tal providência é
desnecessária.

Cabe observar, que o interrogatório pode ser realizado em qualquer


fase do processo, inclusive após a sentença, desde que antes do
trânsito em julgado desta. Caso esteja em fase recursal, o
julgamento deste deverá ser convertido em diligência.
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PRÁTICA JURÍDICA PENAL – DAS PROVAS NO PROCESSO PENAL
Professora: Sonia Fátima Brandão

DA NEGATIVA DA IMPUTAÇÃO PELO RÉU:

Com a nova redação dada pela Lei n° 10.792/03, quando o


interrogando negar a acusação, no todo ou em parte, poderá
prestar esclarecimentos e indicar provas. Caso o réu confesse a
autoria, será perguntado sobre os motivos e circunstâncias do fato e
se outras pessoas concorreram para a infração, e quem são elas,
art. 190 do CPP.

DO INTERROGATÓRIO DE CORRÉU:

Prevê o vigente art. 191, do CPP, com redação dada pela Lei
10.792/03, que em havendo mais de um acusado, cada um deles
deverá ser interrogado separadamente, sem que um ouça as
declarações do outro. Nesse particular, não houve qualquer
inovação já que esta mesma regra já era prevista no CPP, no art.
189.

DO INTERROGATÓRIO DOS DEFICIENTES VISUAL E AUDITIVO


E DAS PESSOAS QUE NÃO FALAM A LÍNGUA NACIONAL:

Ao surdo serão as perguntas apresentadas por escrito, que ele


responderá oralmente; ao mudo as perguntas serão feitas
oralmente, respondendo-as por escrito; ao surdo-mudo as
perguntas serão formuladas por escrito e do mesmo modo dará as
respostas.

Caso o interrogando não saiba ler ou escrever, intervirá no ato,


como intérprete e sob compromisso, pessoa habilitada a entendê-lo.
Quando o interrogando não falar a língua nacional, o interrogatório
será feito por meio de intérprete, art. 193. Se o interrogado não
souber escrever, não puder ou não quiser assinar, tal fato será
consignado no termo, art. 195.

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PRÁTICA JURÍDICA PENAL – DAS PROVAS NO PROCESSO PENAL
Professora: Sonia Fátima Brandão

INTERROGATÓRIO POR VIDEOCONFERÊNCIA (ON-LINE) – LEI


11.900/2009:

Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a


requerimento das partes, poderá realizar o interrogatório do réu
preso por sistema de videoconferência ou outro recurso tecnológico
de transmissão de sons e imagens em tempo real, parág. 2º o art.
185. Importante ressaltar que o uso de recursos tecnológicos para a
realização do meio de prova (e de defesa) em questão não poderá
surpreender as partes, vale dizer, realizar-se sem sua ciência. É o
que consta no parág. 3º do art. 185 – da decisão que determinar a
realização de interrogatório por videoconferência, as partes serão
intimadas com 10 (dez) dias de antecedência.

De acordo com o parág. 4º do art. 185, antes do interrogatório por


videoconferência, o preso poderá acompanhar, pelo mesmo
sistema tecnológico, a realização de todos os atos da audiência
única de instrução e julgamento de que tratam os arts. 400, 411 e
531 do CPP. Com tal medida o legislador, adaptando a nova
sistemática na realização de audiências (unas), determina que, em
caso de interrogatório por videoconferência, que deverá ocorrer
como ato de encerramento da audiência de instrução, o acusado
acompanhe a colheita de toda a prova oral também pelo mesmo
sistema.

Em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz garantirá ao réu o


direito de entrevista prévia e reservada com o seu defensor; se
realizado por videoconferência, fica também garantido o acesso a
canais telefônicos reservados para comunicação entre o defensor
que esteja no presídio e o advogado presente na sala de audiência
do Fórum, e entre este e o preso. Parág. 5º do art. 185 – da leitura
do dispositivo, vê-se a necessidade de o acusado contar com dois
advogados em caso de interrogatório por videoconferência: um que
o esteja acompanhando no local em que se encontrar e outro na
sala de audiência no juízo em que tramitar o processo-crime. Neste
caso, deve-se garantir que os advogados falem entre si, a fim de
que se possam realizar todas as perguntas necessárias que
assegurem o exercício da ampla defesa do réu, bem como a este
seja garantido o acesso ao advogado que se encontre na sala de
audiência no fórum, também por algum meio de comunicação.

De acordo com o parág. 6º, a sala reservada no estabelecimento


prisional para a realização de atos processuais por sistema de
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videoconferência será fiscalizada pelos corregedores e pelo juiz de


cada causa, como também pelo Ministério Público e pela OAB.

DA CONFISSÃO

Confissão é a admissão por parte do acusado da veracidade da


imputação que lhe é dirigida. Diz-se que a confissão deve ser
pessoal, porque só é válida feita pelo próprio acusado. Ocorre, em
regra, no ato do interrogatório e quando assim ocorrer, o juiz deverá
indagá-lo sobre os motivos e circunstâncias do fato e se outras
pessoas concorreram para a infração (art. 190)

VALOR PROBATÓRIO DA CONFISSÃO

O valor da confissão é, obviamente, relativo, uma vez que a opção


pelo sistema do livre convencimento do magistrado não deixa
margem para que se atribua caráter absoluto a qualquer meio de
prova. Não se pode considerar a confissão como rainha das provas,
sem que haja outros elementos para formar a convicção do juiz.

Se o acusado não confessar livremente, ou se o fizer a quem não


tenha competência para recebê-la (por exemplo: ao policial
responsável por sua condução), a admissão de culpa não será
confissão no sentido jurídico do termo.

CARACTERISTICAS DA CONFISSÃO – ART. 200 CPP

Divisível: decorre da possibilidade de o juiz tomar como


sincera apenas uma parte da confissão. Exemplo: o réu
confessa a subtração mas nega o emprego de violência

Retratável: consiste na faculdade de o acusado desdizer-se,


ou seja, de apresentar nova versão negando a imputação,
depois de haver confessado. A retratação, todavia, não vincula
o magistrado, que, fundado no exame das provas em conjunto,
poderá decidir pela veracidade da confissão que,
posteriormente, foi objeto de retração.

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DELAÇÃO PREMIADA

É a designação que se dá ao instituo que permite a redução ou


mesmo a isenção de pena do agente que colabora, eficazmente,
em uma das hipóteses legais, para a identificação dos demais
autores ou partícipes da infração, para a localização ou libertação
da vítima.

As hipóteses de delação premiada estão previstas no Código Penal


(art. 159, parág. 4º) e nas seguintes leis extravagantes: Lei n.
7.492/86 (crimes contra a sistema financeiro), Lei n. 8.072/90
(crimes hediondos), Lei n. 8.137/90 (crimes contra a ordem
tributária e as relações de consumo), Lei n. 12.850/13 (crimes
praticados por organização criminosa), Lei 9.613/98 (lavagem de
capitais), Lei n. 9.807/99 (proteção a vítimas e testemunhas) e Lei
n. 11.343/06 (Lei Antitóxicos).

ARTIGO 201 DO CPP - DO OFENDIDO

Ofendido é o titular do interesse jurídico lesado pela conduta


criminosa, ou seja é a vítima, o sujeito passivo do delito.

A figura do ofendido não se confunde com a testemunha. Por não


ser testemunha, o ofendido não será computado no número
permitido de testemunhas.

O fato de a vítima não ter sido em juízo, por si só, não configura
nulidade, se existirem outros elementos válidos para corroborar seu
depoimento colhido na fase extrajudicial, de forma suficiente para
sustentar a condenação.

Sempre que possível, o ofendido deve ser ouvido, ainda que não
tenha sido arrolado pelas partes. Só em hipóteses de absoluta
impossibilidade pode-se prescindir da oitiva do ofendido, como no
caso de falecimento, incapacidade absoluta, desaparecimento, etc.
Se devidamente intimado, deixar o ofendido de comparecer sem
motivo justo, poderá ser determinada a condução coercitiva (art.
201, parág. 1º, do CPP).

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DAS PERGUNTAS AO OFENDIDO:

Sempre que possível, o juiz fará ao ofendido perguntas sobre as


circunstâncias da infração penal, sobre quem seja ou presuma ser o
autor da referida infração e sobre as provas que possa indicar.

A vítima não presta o compromisso de dizer a verdade, portanto,


não pratica o crime de falso testemunho, devendo ser suas
declarações apreciadas com a devida reserva, já que a narrativa
poderá trazer certa carga de tendenciosidade, muitas vezes
provocada por interesses extrapenais, tal como a pretensão de ver-
se indenizada civilmente pela conduta ofensiva do acusado.

A restrição do valor probatório que se faz às declarações da vítima,


em regra, é observada quando são elas o único elemento de
convicção do Juiz e estão em confronto com a versão do acusado.
No entanto, há oportunidade em que a palavra do ofendido alcança
extremo valor probante, principalmente nos delitos praticados na
clandestinidade, quando estão ausentes testemunhas presenciais.
Tal situação é comum nos crimes contra os costumes.

Finalmente, com a edição da Lei 11.900/2009, que alterou o


capítulo do interrogatório no processo penal, doravante torna-se
possível, caso a vítima de um crime se encontre presa, que, caso
arrolada no processo penal para ser ouvida, o seja por
videoconferência. Parágs, 2º. a 5º. do art. 185.

Em virtude das alterações introduzidas pela Lei n. 11.690/2008, as


partes devem endereçar diretamente as perguntas ao ofendido e
não mais por intermédio do juiz, o qual, no entanto, poderá, após as
indagações das partes, complementar a inquirição (art. 212, caput e
parág. único, do CPP).

DIREITOS GARANTIDOS AO OFENDIDO:

O ofendido será comunicado dos atos processuais relativos ao


ingresso e à saída do acusado da prisão, à designação de data
para audiência e à sentença e respectivos acórdãos que a
mantenham ou modifiquem (parág. 2º); as comunicações ao
ofendido deverão ser feitas no endereço por ele indicado,
admitindo-se, por opção do ofendido, o uso de meio eletrônico
(parág. 3º); antes do início da audiência e durante a sua realização,
será reservado espaço separado para o ofendido (parág. 4º); se o
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juiz entender necessário, poderá encaminhar o ofendido para


atendimento multidisciplinar, especialmente nas áreas psicossocial,
de assistência jurídica e de saúde, a expensa do ofensor ou do
Estado (parág. 5º); o juiz tomará as providências necessárias à
preservação da intimidade, vida privada, honra e imagem do
ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo de justiça em
relação aos dados, depoimentos e outras informações constantes
dos autos a seu respeito para evitar sua exposição aos meios de
comunicação (parág. 6º).

ARTIGOS 202 a 225 DO CPP - DAS TESTEMUNHAS

Testemunha é a pessoa física distinta dos sujeitos processuais


chamada a juízo para prestar informações sobre fatos relacionados
à infração, mediante assunção de compromisso de dizer a verdade.

O artigo 213 do CPP prevê que o juiz não permitirá que a


testemunha manifeste suas apreciações pessoais, salvo quando
inseparável da narrativa do fato. A testemunha presta compromisso
de dizer a verdade perante o juiz, sendo que o falso testemunho o
sujeitará às penas do art. 342 do CP. De acordo com o parág. 2º, o
fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que
ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.

O Código de Processo Penal limita o número de testemunhas com


o intuito de impedir a procrastinação do processo. Dessa forma,
prevê a lei, de acordo com o processo, um número máximo de
testemunhas que podem ser arroladas pela acusação e pela
defesa, qual seja:

1. No procedimento ordinário e na primeira fase do procedimento


do júri a acusação e a defesa podem arrolar cada uma, até oito
testemunhas por fato criminoso ou por réu.

2. No plenário do júri (2ª fase do procedimento) são admitidas


cinco testemunhas por fato criminoso ou por réu.

3. No procedimento sumário o número máximo também é de


cinco testemunhas por fato criminoso ou por réu.

4. No procedimento sumaríssimo são admitidas três


testemunhas.

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Se o promotor, por esquecimento, deixa de oferecer testemunhas


com a denúncia, sua falha pode ser suprida pelo juiz, que pode
ouvir de ofício quantas testemunhas forem necessárias, mas as da
acusação devem ser ouvidas antes, observando-se a ordem
processual sob pena de cerceamento de defesa. No entanto, a
inversão da ouvida de testemunha por precatória não induz
nulidade, já que não há prejuízo, e não pode o juízo deprecante
ficar com o processo suspenso à mercê do juízo deprecado.

Não serão computados, para fins de estabelecimento desses


limites, o ofendido, as testemunhas que não prestam compromisso
e as referidas (art. 401, parág. 1º, do CPP) e, ainda, a pessoa que
nada souber que interesse à decisão da causa (art. 209, parág. 2º,
do CPP)

CAPACIDADE PARA TESTEMUNHAR:

Em regra, toda pessoa pode servir de testemunha (art. 202 do


CPP), sem que se exija qualquer qualidade ou requisito para que
possa ser ouvida nessa condição.

A testemunha tem o dever jurídico de prestar depoimento, não


podendo eximir-se dessa obrigação (art. 206 do CPP). O dever de
depor, por sua vez, compõe-se de dois subdeveres: dever de
comparecimento e dever de prestar compromisso.

A falta de colheita, pelo juiz, do compromisso de testemunha que é


obrigada a prestá-lo constitui mera irregularidade e não vicia a
prova3.

3
É pacífico, ademais, o entendimento de que a testemunha que estava sujeita ao compromisso e que, por
omissão do juiz, não fez a promessa solene, incide no crime de falso testemunho.
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PRÁTICA JURÍDICA PENAL – DAS PROVAS NO PROCESSO PENAL
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PESSOAS QUE PODEM ESCUSAR-SE DO DEVER DE


TESTEMUNHAR:

Não são obrigados a testemunhar os ascendentes,


descendentes, cônjuge, irmão, pai, mãe ou filho adotivo do
acusado, conforme previsão do artigo 206 do CPP. Não são
compromissadas.

O depoimento dessas pessoas é, portanto, facultativo e, acaso


optem por testemunhar, delas não será tomado o
compromisso (art. 208 do CPP), o que permite concluir que
serão ouvidas na qualidade de informantes (ou declarantes).

Veja-se, no entanto, que de acordo com o próprio art. 206 do


CPP, na impossibilidade de obter-se ou integrar-se, por outro
modo, a prova, essas pessoas não podem recusar-se a depor,
o que permite concluir que, em tal situação, seu depoimento é
obrigatório.

Além disso, os deputados e senadores não são obrigados a


depor sobre informações recebidas ou prestadas em razão do
exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes
confiaram ou deles receberam informações (art. 53, parág. 6º,
da CF).

O artigo 207 do CPP prevê que as pessoas que, em razão da


função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar
segredo são proibidas de depor. O interessado na
manutenção do segredo, todavia, pode desobrigar aquele que
tem o dever do sigilo desse encargo, o que afasta a proibição
de depor e obriga a testemunha, inclusive, a prestar
compromisso.

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AS TESTEMUNHAS SE CLASSIFICAM EM:

 Diretas (aquelas que viram fatos)

 Indiretas (aquelas que souberam dos fatos por intermédio de


outras pessoas)

 Próprias (as que depõem sobre fatos relativos ao objeto do


processo)

 Impróprias (as que depõem sobre fatos apenas ligados ao


objeto do processo)

 Numerárias (que prestam compromisso)

 Informantes/declarantes (que não prestam o compromisso de


dizer a verdade)

 Referidas (aquelas que são indicadas por outras testemunhas).

 Instrumentária ou fedatária (é a denominação dada à pessoa


que testemunha a leitura do auto de prisão em flagrante na
presença do acusado, assinando o referido auto em lugar do
indiciado, que não quer, não sabe ou não pode fazê-lo, art. 304,
§ 3.º, CPP). Dispensa-se a utilização da testemunha
instrumentária, quando o réu, em juízo, recusa-se ou não pode
assinar o seu interrogatório, consignando-se no termo tal
circunstância.

Testemunhas são pessoas que depõem sobre fatos, sejam eles


quais forem. Se viram ou ouviram dizer, não deixam de ser
testemunhas, dando declarações sobre a ocorrência de alguma
coisa. A pessoa que presencia um acidente automobilístico, por
exemplo, narra ao juiz os fatos, tais como se deram na sua visão.

Qualquer depoimento implica uma dose de interpretação


indissociável da avaliação de quem o faz, significando, pois, que,
apesar de ter visto, não significa que irá contar, exatamente, como
tudo ocorreu. Por outro lado, quando a testemunha depõe sobre o
que ouviu dizer de outra pessoa, continua a declarar um fato, isto é,
está narrando aquilo que lhe contou um terceiro, não deixando de
ser isso uma ocorrência. Entre uma situação e outra a mudança se

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dá no contexto da avaliação da prova, ou seja, o instrumento para


demonstrar ao juiz a veracidade de algo.

A testemunha deve ser intimada pessoalmente e se a mesma


não comparecer à audiência sem qualquer motivo justo, o juiz
requisitará à autoridade policial a sua condução com auxílio de
força pública, se necessário (artigo 218 CPP), além de multa,
processo por crime de desobediência e custas da diligência.

Pode o juiz antecipar a oitiva de testemunha, de ofício ou a


requerimento da parte, nos casos de enfermidade ou de velhice,
quando perceba que ao tempo da instrução essa testemunha
poderá não mais existir (art. 225 CPP).

No caso de a testemunha ser militar, a pessoa não será intimada,


mas sim requisitada na pessoa do seu superior hierárquico. O
presidente da república, o vice-presidente, senadores, deputados
federais, ministros de Estado, governadores, secretários de Estado,
prefeitos, deputados estaduais, membros do Poder Judiciário,
ministros do TCU e ministros do TCE serão inquiridos em local, dia
e hora previamente ajustado (art. 221 CPP). No caso do presidente
e do vice-presidente da República, presidentes do Senado, Câmara
Federal e do STF, o depoimento poderá ser feito por escrito.

DEPOIMENTO DO MENOR INIMPUTÁVEL COMPARSA DO RÉU

É admissível, e nessa hipótese, deve ele ser arrolado,


normalmente, como testemunha, porque, na esfera penal não pode
ser considerado parte da relação processual estabelecida. Tem,
pois, o dever de dizer a verdade (o direito ao silêncio pelo que fez
deve ser respeitada pela Vara da Infância e da Juventude), assim,
exige-se narração fiel do que houve. Se mentir, caso esteja sob
juramento (acima de 14 anos), pode-se tomar providências para
outro procedimento no foro competente. Se menor de 14 anos, deve
ser ouvido apenas como informante.

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CORRÉU COMO TESTEMUNHA:

Não pode ser testemunha, pois não presta compromisso, nem tem
o dever de dizer a verdade. Entretanto, quando há delação (assume
o acusado a sua culpa e imputa parte dela também a outro corréu),
entendem alguns doutrinadores que pode haver reperguntas do
defensor do corréu delatado, unicamente para aclarar pontos
pertinentes à sua defesa.

FALSO TESTEMUNHO EM VIDEO CONFERÊNCIA

O foro competente é o do juízo deprecante. Não há dúvida ser o


delito formal, consumando-se ao final do depoimento, mas, no caso
da videoconferência, há particularidades a ressaltar: a) a assinatura
da testemunha se dará no termo da audiência do juízo deprecado;
b) o registro e a captação do depoimento, porém, ocorrerão
diretamente no juízo deprecante. Logo, a atividade realizada pela
testemunha firmou-se no próprio juízo deprecante, onde terá a
possibilidade de produzir dano à administração da justiça.

PROTEÇÃO À TESTEMUNHA:

Está em vigor a Lei 9.807/99, cuja finalidade é proteger a


integridade física das testemunhas e vítimas coagidas ou
ameaçadas, no curso do processo ou da investigação criminal,
possibilitando-lhes ingressar em programa especial de proteção e
até mesmo, em último caso, alterar a própria identidade, tudo
extensível aos seus familiares íntimos.

A proteção oferecida terá a duração de dois anos, podendo,


excepcionalmente ser prorrogada. Em relação aos réus, poderá o
juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão
judicial e a consequente extinção da punibilidade ao acusado que,
sendo primário, tenha colaborado voluntariamente com a
investigação e com o processo criminal, se (e desde que) de tal
colaboração se chegar à recuperação, total ou parcial do produto do
crime, à identificação dos demais autores e/ou partícipes e à
localização da vítima, com sua integridade física preservada.

É prevista também, ainda em relação ao réu colaborador, a redução


da pena de um a dois terços, quando atingidas as finalidades
anteriormente mencionadas.

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TESTEMUNHA QUE RESIDE FORA DA JURISDIÇÃO

Caso alguma testemunha resida fora da jurisdição, é a chamada


prova fora da terra, será ouvida por carta precatória, sendo que a
instrução criminal não se suspende (art. 222 do CPP). Dessa forma,
a testemunha não será compelida a se deslocar a uma comarca
distinta daquela em que reside, salvo se o quiser fazer
espontaneamente.

Acerca da inquirição de testemunhas por precatória foi inserida pela


Lei 11.900/2009. A partir de agora será possível que, na hipótese
prevista no caput do art. 222 do CP, a oitiva da testemunha seja
realizada por videoconferência ou outro recurso tecnológico de
transmissão de sons e imagens em tempo real, permitida a
presença do defensor e podendo ser realizada, inclusive, durante a
realização da audiência de instrução e julgamento.

Quanto à intimação das partes, firmou-se a jurisprudência no sentido de


que basta a intimação das partes da expedição da carta precatória,
cabendo ao interessado diligenciar no juízo deprecado a data da
realização do ato, a fim de que, desejando, possa estar presente.
Ressalte-se, entretanto, que o não comparecimento da parte interessada
perante o juízo deprecado, a audiência é realizada com advogado ad hoc.

Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação,


temor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de
modo que prejudique a verdade do depoimento, fará a inquirição
por videoconferência e, somente na impossibilidade dessa forma,
determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a
presença do seu defensor.

Em caso de testemunha residente no estrangeiro, em local sabido,


será necessária a expedição de carta rogatória, cumprida pelas vias
diplomáticas. Todavia, o magistrado somente irá deferir a expedição
de rogatória se demonstrada previamente a imprescindibilidade da
medida pela parte requerente, art. 222-A.

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CONTRADITA DA TESTEMUNHA

É a impugnação ou objeção apresentada pela parte, geralmente,


em relação à testemunha arrolada pelo adversário. Diz respeito,
especificamente, às pessoas que não podem depor art. 207do CPP,
ou às que não devem ser compromissadas, art. 208 do CPP.

Após a qualificação da testemunha, a parte interessada


solicitará a palavra, pela ordem, ao juiz para manifestar a sua
impugnação, que será reduzida a termo. Em seguida, o magistrado
ouve a parte contrária. Passa, então, a indagar da testemunha, a
respeito dos fundamentos da contradita realizada. Se a pessoa
confirmar os dados que impugnam seu depoimento, o juiz a
afastará (art. 207) ou colherá seu depoimento sem o compromisso
de dizer a verdade (art. 208). Não confirmado, é possível que a
parte impugnante deseje provar o alegado. Para tanto, pode
apresentar, no ato, documentos a respeito ou levar à presença do
juiz testemunhas que possam em breve depoimento, confirmar o
conteúdo da contradita. Sanado o incidente, o depoimento será ou
não colhido, com ou sem compromisso.

A contradita, em si, não dá causa à não audiência da testemunha.


Ao juiz cabe consignar a contradita e a resposta da testemunha,
compromissando-a e inquirindo-a a seguir. O valor de seu
testemunho será, então, verificado quando da sentença de mérito,
em face da prova carreada para o processo e dos termos da
contradita.

RECONHECIMENTO PELO JUIZ DO PROCESSO EM QUE O


FALSO FOI PROFERIDO

Não implica condenação, nem é julgamento de mérito desse delito.


O magistrado, que cuidou do processo em que o falso foi cometido,
apenas reconhece a sua existência, salientando o prejuízo causado
para a administração da justiça, situação indispensável para a
configuração do tipo penal do art. 342 do Código Penal. Assim,
após tal declaração, cabe ao juiz competente, sob o crivo do
contraditório e da ampla defesa, avaliar se o delito aperfeiçoou-se –
tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade – condenando o réu
(testemunha mentirosa).

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Dispensabilidade do inquérito: é admissível. Caso o


representante do Ministério Público obtenha todas as provas
cabíveis para apresentar denúncia contra a testemunha mentirosa,
dispensa-se a instauração do inquérito. Assim, pode o juiz,
verificando a gravidade do fato e a farta prova já existente no
processo, extrair cópias deste, enviando-as ao Promotor de Justiça,
que poderá ingressar com a ação penal diretamente. Instaura-se o
inquérito somente quando há necessidade de melhor averiguar a
razão das contradições apresentadas pela testemunha no seu
depoimento. Havendo dúvida quanto à configuração do tipo penal
do art. 342, o melhor caminho é a investigação policial.

Condição para haver julgamento da ação penal: é preciso estar


concluído o feito principal, em que o falso foi proferido, considerado
este relevante para o deslinde da ação penal. Assim, pode haver o
início do processo para apurar o crime de falso contra a
testemunha, evitando-se a prescrição, mas deve-se aguardar o
término do outro, para neste haver o julgamento.

Falso testemunho prestado em precatória: a competência para


apurá-lo é do juízo deprecado, local onde o delito foi cometido. O
reconhecimento do falso, no entanto, depende de pronunciamento
do juízo deprecante.

ARTIGOS 226 a 228 DO CPP - DO RECONHECIMENTO DE


PESSOAS E COISAS

Reconhecer é identificar uma pessoa ou coisa. O reconhecimento


pode ser policial ou judicial. Como ensina Hélio Tornaghi
"reconhecimento é o ato pelo qual alguém verifica e confirma a
identidade de pessoa ou coisa que lhe é mostrada, com pessoa ou
coisa que já viu (ouviu, palpou - que já lhe caiu sob os sentidos)".

PROCEDIMENTO NO RECONHECIMENTO DE PESSOAS – ART.


226 DO CPP

Para se proceder ao reconhecimento de uma pessoa, observar-se-á


o disposto no art. 226 do CPP. O reconhecimento será feito perante
uma autoridade policial ou judicial. A pessoa que tiver de fazer o
reconhecimento será convidada a descrever a pessoa a ser
reconhecida. Após, esta última será colocada, se possível, ao lado
de outras que com ela tiverem alguma semelhança, procedendo-se
o formal reconhecimento. O ato poderá ser feito sem que a pessoa
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reconhecida veja a que está realizando a identificação, caso haja


receio da segurança desta última.

Do ato de recognição será lavrado um auto pormenorizado,


subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada a reconhecer e por
duas testemunhas presenciais.

Se forem várias as pessoas chamadas a efetuar o reconhecimento,


determina o art. 228 do CPP que cada um faça separadamente a
prova para evitar qualquer comunicação entre elas, lavrando-se ao
final um só auto, subscrito por todas. No reconhecimento de objeto,
observar-se-ão as cautelas do art. 226 do CPP, no que for aplicável.

Ressalte-se, por fim, que, se o reconhecimento de pessoa ou coisa


não seguir as regras apontadas, tal circunstância não lhe retirará,
tão-somente por esse motivo, o valor probante. O reconhecimento
de pessoa, embora dissociado do procedimento ditado pelo CPP,
poderá ser aceito pelo juiz, de acordo com o sistema da livre
apreciação das provas - entendimento jurisprudencial.

Como já observado, a lei arrola determinados meios de prova, que


não se encerram nas hipóteses elencadas, tanto é verdade que o
reconhecimento por meio de fotografia não está previsto no
CPP, mas tem sido utilizado e aceito pelos Tribunais Superiores,
desde que acompanhado por outros elementos de prova. Assim
como o reconhecimento realizado sem as formalidades ditadas pelo
CPP, a identificação de pessoa ou coisa realizada por fotografia
deve ser avaliada pelo juiz de direito sob a égide do princípio do
livre convencimento.

Quanto ao retrato falado - é meio de investigação e não de


reconhecimento.

Reconhecimento da voz - é possível. Tem valor relativo. Na gíria


da polícia é chamado de “Clichê Fônico”. Dá-se com frequência
nos crimes contra a dignidade sexual.

Na fase policial o reconhecimento de pessoas não exige a


presença de advogado, pois se trata de fase investigatória, mas na
fase judicial há necessidade, por se tratar de processo contraditório.

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RECONHECIMENTO DE COISAS – ART. 227 DO CPP

No reconhecimento de objetos, serão observadas as cautelas


previstas para o reconhecimento de pessoas, no que forem
aplicáveis. Assim, a pessoa chamada a identificar o objeto deve
descrevê-lo e, em seguida, apontá-lo, quando estiver colocado ao
lado de outras coisas semelhantes. Será lavrado, igualmente, auto
pormenorizado, que será assinado pelo reconhecedor, pela
autoridade e por duas testemunhas.

DA RECONSTITUIÇÃO DO CRIME (IMPLÍCITO NO ART. 158 DO


CPP E ART. 7º. DO CPP – FASE POLICIAL)

Trata-se de prova de interesse da acusação, podendo o acusado


estar presente, embora não possa ser ele obrigado a comparecer.

O Tribunal de Justiça de São Paulo já reconheceu que se trata de


"prova de interesse da acusação", sendo "ilegal o ato da autoridade
policial, que intima o indiciado a participar, em caráter coercitivo
desse procedimento de índole probatória", pois, "compeli-lo à
produção da prova constitui constrangimento ilegal, já que não é
ele, paciente, testemunha, porém, indiciado, réu em potencial"
(RJTJSP, 43/343).

Na fase policial a reconstituição pode ser feita com a presença ou


não do possível indiciado, que verificará da conveniência ou não de
sua presença, já que não está obrigado a participar de prova que o
incrimine, dada sua liberdade individual.

Contudo, se a reconstituição se fizer na fase judicial, tratando-se de


prova contraditória, embora o réu não possa ser coagido a
participar, há necessidade que seu advogado seja intimado para o
ato. A presença do defensor, embora também seja facultativa, pode
ser necessária à fiscalização da reconstituição no interesse do seu
cliente.

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ARTIGOS 229 e 230 DO CPP - DA ACAREAÇÃO

Acareação é o ato judicial de natureza probatória em que pessoas


que prestaram declarações divergentes são confrontadas, uma
defronte a outra, na tentativa de dirimir as contradições (cabível
também na fase extrajudicial). A providência tem por finalidade
provocar a retratação, por parte de um dos acareados, em
relação ao ponto do depoimento que se mostra em
antagonismo com o outro relato

PRESSUPOSTOS

A realização da acareação pressupõe:

 Que as pessoas que serão submetidas à acareação já tenham


sido ouvidas em oportunidade anterior

 Que haja divergência entre as declarações dessas pessoas,


referentes a ponto relevante para o resultado final do processo.

Admite-se a acareação (art. 229 do CPP)

 Entre acusados
 Entre acusado ou testemunha e a pessoa ofendida
 Entre testemunhas
 Entre as pessoas ofendidas

Não se admite a acareação entre peritos, uma vez que eventuais


divergências entre eles devem ser solucionadas à luz do disposto
no art. 180 do CPP. Também não se admite acareação entre perito
e assistente técnico.

PROCEDIMENTO

A acareação pode ser requerida pelas partes ou determinada pelo


juiz, de ofício. As pessoas acareadas serão colocadas frente a
frente e, uma vez advertidas das penas do falso testemunho, serão
indagadas pelo juiz ou pela autoridade policial acerca das
divergências e sobre o desejo de manterem ou modificarem a
versão que apresentaram.

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PRÁTICA JURÍDICA PENAL – DAS PROVAS NO PROCESSO PENAL
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Tal como ocorre em relação ao interrogatório, o acusado tem o


direito de manter-se em silêncio por ocasião da acareação a que
venha a ser submetido. Ao final do ato, a autoridade lavrará termo
do qual devem constar as explicações apresentadas pelos
acareados.

ARTIGOS 231 a 238 DO CPP - DOS DOCUMENTOS

Documento é todo objeto ou coisa do qual, sirva para demonstrar e


provar um fato ou acontecimento juridicamente relevante.

O CPP elenca os documentos como um meio de prova e na


definição contida no artigo 232 considera documentos quaisquer
escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares.

Verifica-se, portanto, que o termo documento é empregado


com duas acepções diversas, que podem ser divididas em:

 Documentos em sentido amplo: são todos objetos, não só os


escritos aptos a corporificar uma manifestação humana, como
por exemplo: fotos, fitas de vídeo e som, desenhos, esquemas,
gravuras, disquetes, CDs, entre outros (como e-mail).

 Documentos em sentido estrito: são apenas os escritos, ou


seja, a prova literal.

CLASSIFICAÇÃO DOS DOCUMENTOS

Quanto à finalidade

a) Pré-constituídos – são confeccionados com o intuito de fazer


prova dos fatos neles representados: os documentos pré-
constituídos recebem também a denominação de instrumentos

b) Causais – formados com finalidade diversa que servem


circunstancialmente como prova

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Quanto ao autor

a) Públicos – aqueles formados por agentes públicos em razão de


sua função

b) Privados – são os confeccionados por particular ou, ainda, por


agente público que não esteja no desempenho da função

Quanto à forma

a) Originais – aqueles em que genuinamente o fato foi retratado

b) Cópias – são as reproduções do documento original

Quanto ao meio de formação

a) Diretos: são aqueles em que o fato foi transmitido sem


intermediação para a coisa que o representa, por exemplo, a
fotografia.

b) Indiretos – quando há alguma intermediação entre o fato e a


coisa em que se registra sua ocorrência, por exemplo: o escrito
em que a pessoa que o elabora é intermediária entre o fato e
sua representação.

Quanto à possibilidade de identificação do autor

a) Nominativos – são aqueles que ostentam a identificação de


quem o produziu

b) Anônimos – os que não exibem a identificação de seu autor

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PRODUÇÃO DO DOCUMENTO COMO MEIO DE PROVA

As partes podem apresentar o documento como prova em qualquer


fase do processo, observando-se algumas restrições em sentido
contrário.

Essa possibilidade de apresentação do documento em qualquer


momento do processo está prevista no art. 231 do CPP. Contudo, o
art. 479 do CPP, alterado pela Lei 11.689/2009, impede que esse
mesmo procedimento se proceda à produção ou leitura de
documento que não tiver sido comunicado à parte contrária e tenha
sido juntado aos autos com antecedência de pelo menos três dias.

Há também a vedação legal (art. 233, CPP) de se apresentarem


cartas particulares obtidas ou interceptadas por meio criminoso
não podem ser exibidas em juízo. Essa restrição processual funda-
se no art. 5°, inciso LVI, da CF. O sigilo da correspondência é
inviolável (art. 5°, inciso XII, CF). Excepcionalmente, podem ser
exibidas pelo destinatário, para defesa de seu direito, ainda
que não haja consentimento do signatário.

O documento original, a teor do art. 238 do CPP, junto a processo


findo, quando não exista motivo relevante que justifique sua
conservação nos autos, poderá, mediante requerimento, e ouvido o
Ministério Público, ser entregue à parte que o produziu, ficando
traslado nos autos.

Os documentos em língua estrangeira, sem prejuízo de sua juntada


imediata, serão se necessário traduzidos por tradutor público, ou,
em sua falta, por pessoa idônea nomeada pela autoridade.
A cópia do documento original, desde que autenticada, terá o
mesmo valor daquele (art. 232, parág. único do CPP)

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ARTIGO 239 DO CPP - DOS INDÍCIOS

Conceito de indício: são circunstâncias conhecidas e provadas,


que, tendo relação com o fato, autorizam, por indução, concluir-se
a existência de outra ou de outras circunstâncias (art. 239 do CPP).

O indício e, portanto, o fato devidamente comprovado que, por


indução lógica, faz presumir a ocorrência ou inocorrência do fato.
Entende-se por contraindícios as circunstâncias indiretas que,
uma vez provadas, invalidam os indícios. Exemplo: Caio, que foi
visto no interior de estabelecimento comercial furtado, é
surpreendido na posse de relógio idêntico àquele subtraído da loja
(indício de que foi o autor do furto), mas apresenta documento que
comprova ter adquirido licitamente o bem em ocasião anterior
(contraindício).

VALOR DA PROVA INDICIÁRIA

No sistema de nosso processo, os indícios não são admitidos como


prova do fato, mas apenas as circunstâncias que o rodeiam.

A nossa lei processual se refere à prova indiciária em diversas


oportunidades: indícios veementes da proveniência ilícita dos bens
para o sequestro (art. 126 do CPP); indícios suficientes da autoria
para a hipoteca legal (art. 134 do CPP), para a prisão preventiva
(art. 312 do CPP) ou, simplesmente, indícios da autoria para a
pronúncia (art. 413 do CPP)

DIFERENÇA ENTRE INDÍCIO E PRESUNÇÃO

Indício não é sinônimo de presunção, como alguns entendem: é a


circunstância ou antecedente que autoriza a fundar uma opinião
acerca da existência de determinado fato, ao passo que presunção
é o efeito que essa circunstância ou antecedente produz, no ânimo
do julgador, quanto à existência do mesmo fato.
Indício é o fato, circunstância acessória que se liga ao crime, e por
onde se conclui, que o crime foi consumado, quer que um
determinado indivíduo nele tome parte, quer que haja crime e que
foi consumado de tal ou qual maneira.

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A presunção não é um meio de prova válido, pois constitui uma


mera opinião baseada numa suposição ou numa suspeita. É um
simples processo dedutivo. Os indícios possibilitam atingir o estado
de certeza no espírito do julgador, mas as presunções apenas
impregnam-no de singelas probabilidades e não podem dar margem
à condenação.

ARTIGOS 240 A 250 DO CPP - DA BUSCA E APREENSÃO

A busca e apreensão é a providência de natureza cautelar


destinada a encontrar e conservar pessoas ou bens que interessam
ao processo criminal.

 Busca é a diligência que se faz em determinado lugar com o fim


de aí se encontrar a pessoa ou coisa que se procura

 Apreensão é a medida que se sucede à busca. Desde que


encontrada, a coisa será apreendida. Pode ocorrer também
apreensão sem busca, se o próprio acusado entrega o
instrumento ou objeto do crime (auto de exibição e apreensão).

Tanto a busca como a apreensão podem ocorrer no curso do


inquérito policial ou durante o processo

A busca pode ser domiciliar ou pessoal

BUSCA DOMICILIAR – art. 240, parág. 1º do CPP

Somente poderá se realizar mediante mandado judicial (salvo nos


casos de crimes permanentes onde há a situação de flagrância)

A teor do art. 5°, inciso XI, da CF: “a casa é asilo inviolável do


indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do
morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial”.

Não há dúvida, portanto, de que a garantia constitucional de


inviolabilidade do domicílio não tem caráter absoluto, pois, mesmo
sem o consentimento do morador, pode-se nele ingressar:

 Durante o dia ou a noite, por ocasião de flagrante delito, com ou


sem autorização do morador
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 Durante o dia, sem autorização do morador, mas com mandado


judicial.

 Durante a noite, com ou sem mandado judicial, mas com


autorização do morador.

O mandado deve ser certo e determinado, expedido com objetivo


certo e determinado. Não é possível admitir-se ordem judicial
genérica, conferindo ao agente da autoridade liberdade de escolha
e de opções a respeito dos locais a serem invadidos e vasculhados.

BUSCA PESSOAL – art. 240, parág. 2º do CPP

É aquela que incide diretamente sobre o corpo do agente, quando


houver fundada suspeita de que alguém oculte consigo arma
proibida ou objetos achados ou obtidos por meios criminosos,
instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos
falsificados, munições, instrumentos utilizados na prática de crime
ou destinados a fim delituoso, etc.

A busca pessoal também está automaticamente autorizada quando


realizada no bojo de uma busca domiciliar.

Não mais vige a possibilidade da autoridade policial,


pessoalmente e sem mandado, invadir um domicílio, visto que
a Constituição Federal garantiu a necessidade de determinação
judicial. Logo, não está em vigor parte do disposto no art. 241
do CPP. O juiz, obviamente, quando acompanha a diligência,
faz prescindir o mandado.

O parágrafo 2º do artigo 243 prevê que não será permitida a


apreensão de documentos em poder do defensor do acusado,
salvo quando constituir elemento do corpo de delito. Em regra,
não será permitida a apreensão de documento em poder do
defensor do réu.

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Mas poderá ser feita tal busca nos seguintes casos:

 Se o advogado for partícipe da infração;


 Se o advogado não estiver funcionando como defensor no
processo em que for determinada a busca;
 Se o advogado não possuir os papéis em razão de sua função; d)
- para apreender documentos ou objetos que constituam
elementos do corpo de delito.

Outra questão controvertida diz respeito à busca em repartição


pública. Segundo entendimento do Professor Paulo Lúcio
Nogueira, as divergências não têm razão de ser, pois basta
requisitar o documento e, não havendo atendimento, aí então
expedir-se-á mandado de busca e apreensão, podendo o
funcionário que se negou a entregá-lo estar sujeito a processo por
desobediência, conforme a hipótese – art. 359 do CP.

Deve-se ter presente sempre o princípio do interesse


predominante ou preponderante, pois o interesse público está
acima de certos segredos, que podem ser revelados desde que
tenham pertinência para o esclarecimento ou impedimento de
certos crimes graves, portanto, o sigilo profissional não é
absoluto.

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LEI Nº 9.296 DE 24.07.96 - INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA

A lei em tela, só autorizou a interceptação telefônica em crimes


punidos com reclusão e para fins criminais (investigação ou
instrução criminal).

INTERCEPTAÇÃO Captação da comunicação telefônica


TELEFÔNICA alheia POR TERCEIRO, SEM O
CONHECIMENTO de nenhum dos
comunicadores.
ESCUTA TELEFÔNICA Captação da comunicação telefônica
POR TERCEIRO, COM O
CONHECIMENTO de um dos
comunicadores.
GRAVAÇÃO É a gravação da comunicação
CLANDESTINA telefônica por um dos comunicadores
(autogravação). É clandestina porque
feita sem o conhecimento do outro,
mas é meio lícito de prova.
COMUNICAÇÃO Conversa mantida entre duas pessoas
AMBIENTAL sem a utilização de telefone, em
qualquer recinto, público ou privado
INTERCEPTAÇÃO Captação da comunicação no próprio
AMBIENTAL ambiente dela, POR TERCEIRO, SEM
O CONHECIMENTO dos
comunicadores. Tem a mesma
sustentação da interceptação
telefônica. Exemplo: filmar alguém
subtraindo joias da vítima
ESCUTA AMBIENTAL Captação de uma comunicação, no
ambiente dela, feita POR TERCEIRO
COM O CONHECIMENTO de um dos
comunicadores. Exemplo: crime de
corrupção passiva onde a vítima grava
o exato momento da solicitação de
propina.
GRAVAÇÃO Captação no ambiente da comunicação
AMBIENTAL feita por um dos comunicadores

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Q “ çõ fô ? A
comunicação telefônica, antigamente, restringia-se à conversação
(transmissão de palavras e sons). Hoje a comunicação telefônica
está enriquecida, sobretudo pelo extraordinário desenvolvimento da
informática, que se vale prioritariamente dela para a transmissão e
recepção de dados, imagens e informações.

A telefonia hoje abrange a transmissão e recepção de símbolos,


caracteres, sinais, escritos, imagens, sons ou informações de
qualquer natureza, por meio da telefonia estática ou móvel (celular).

A interceptação de uma comunicação telefônica versa sobre


algo que está ocorrendo, atual; já a quebra do sigilo de dados
telefônicos relaciona-se com chamadas telefônicas pretéritas
(passadas).

Diferença entre interceptação telefônica e quebra de sigilo


telefônico:

A interceptação telefônica dá acesso ao teor da conversa.

A quebra de sigilo telefônico é apenas o acesso à relação das


ligações efetuadas e recebidas por determinada linha telefônica, ou
seja, esta não permite saber o que foi conversado.

A quebra de sigilo telefônico depende de ordem judicial, não


por ser interceptação telefônica, mas sim por envolver o direito a
intimidade.

O ato de gravar, tão-somente gravar, não configura um ilícito


penal. Mas sem sombra de dúvida já configura a violação à
intimidade alheia. Por isso, em regra, não se pode divulgar o
conte do da ravação. A isso se dá o nome de “direito à reserva”
(visa-se a não divulgação daquilo que foi gravado
clandestinamente), que se distin ue do “direito ao se redo” visa-se
evitar que um terceiro capte comunicação alheia). A divulgação
indevida configura o delito previsto no art. 153 do CP. Quem
divulga, sem justa causa, o conteúdo de uma gravação clandestina,
está praticando um ilícito penal. E se existe justa causa? Não há
crime.

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FINALIDADE DA INTERCEPTAÇÃO: o meio probatório que resulta


a interceptação, entretanto, não pode ser utilizado em qualquer
procedimento ou processo. A Lei nº 9.296/96, repetindo o texto
constitucional, delimitou o uso desse meio probatório, que só vale
para fins de investigação criminal ou instrução processual
penal. É muito discutível sua validade para fins outros, ainda que
criminais. omo “facilitar prisão”, possibilitar uma mais rápida
execução de uma pena definitivamente aplicada, etc.

Deve-se observar, desde logo, que a lei menciona “ çã


” não inquérito policial. Sendo assim, pode-se a
interceptação telefônica ocorrer mesmo sem a instauração do
inquérito. Investigação criminal é a que se destina à apuração de
uma infração penal e sua autoria. Pode ser de responsabilidade da
polícia judiciária ou de qualquer outra autoridade administrativa com
atribuição para tanto (art. 4º, do CPP).

Urge esclarecer que a interceptação telefônica somente pode


ser requerida pela autoridade policial e pelo Ministério Público.
Não pode ser requerida por advogado, quando muito, pode
“ ” q q ê-la.

DA CAPTAÇÃO AMBIENTAL – ARTIGOS 8-A E 10-A

Para investigação ou instrução criminal, poderá ser autorizada


pelo juiz, a requerimento da autoridade policial ou do Ministério
Público, a captação ambiental de sinais eletromagnéticos,
ópticos ou acústicos, quando:

I - a prova não puder ser feita por outros meios disponíveis e


igualmente eficazes; e
II - houver elementos probatórios razoáveis de autoria e
participação em infrações criminais cujas penas máximas sejam
superiores a 4 anos ou em infrações penais conexas.

O requerimento deverá descrever circunstanciadamente o local e a


forma de instalação do dispositivo de captação ambiental. A
captação ambiental não poderá exceder o prazo de 15 dias,
renovável por decisão judicial por iguais períodos, se
comprovada a indispensabilidade do meio de prova e quando
presente atividade criminal permanente, habitual ou
continuada.

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PRÁTICA JURÍDICA PENAL – DAS PROVAS NO PROCESSO PENAL
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Realizar captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos


ou acústicos para investigação ou instrução criminal sem
autorização judicial, quando esta for exigida:
Pena - reclusão, de 2 a 4 anos, e multa.

Não há crime se a captação é realizada por um dos


interlocutores.

A pena será aplicada em dobro ao funcionário público que


descumprir determinação de sigilo das investigações que
envolvam a captação ambiental ou revelar o conteúdo das
gravações enquanto mantido o sigilo judicial.

ENCONTRO FORTUITO DE NOVO CRIME E/OU NOVO


CRIMINOSO (FENÔMENO DA SERENDIPIDADE = buscar uma
coisa e encontrar outra)

Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação


objeto da investigação, inclusive com a indicação e qualificação
dos investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente
justificada.

Quando a autoridade requer a interceptação telefônica ao juiz (no


pedido), devem ser indicados os crimes que estão sendo apurados
(a situação objeto da investigação) e as pessoas que estão sendo
investigadas (indicação e qualificação dos investigados). Se durante
as interceptações a polícia descobre crimes novos que não foram
mencionados no pedido da interceptação ou infrator que não foi
indicado no pedido de interceptação, estamos diante do fenômeno
da serendipidade.

Ex. A policia pede a interceptação telefônica para investigar roubo


de carga praticado por A e B mas durante a interceptação descobre
o envolvimento de C e D em tráfico de drogas. A interceptação é
válida como prova do novo crime e novos criminosos descobertos
fortuitamente?

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HÁ DUAS CORRENTES.

1ª corrente: a interceptação é válida como prova do novo crime ou


criminoso descoberto fortuitamente, desde que seja conexo com o
crime para o qual foi autorizada a interceptação telefônica. Assim,
se não houver a cone ão, a interceptação s serve como “noticia
criminis” para iniciar uma nova investi ação em relação a esse
novo crime ou criminoso. Esta corrente prevalece na doutrina
brasileira.

2ª corrente: a interceptação é válida como prova do crime ou


criminoso descoberto fortuitamente, mesmo se não houver
conexão com o crime para o qual foi solicitada a interceptação
telefônica, mas desde que relacionada com o fato criminoso
objeto da investigação. Esta corrente vem prevalecendo na
jurisprudência, pois o Estado não pode se manter inerte diante da
notícia de um crime (STJ, RHC 34.280; STJ HC 33.462 e STF AI no
AR 71.706).

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