Você está na página 1de 16

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA

UMA BREVE ANÁLISE DA IMPLANTAÇÃO DO NOVO REGIME


JURÍDICO DA URBANIZAÇÃO E EDIFICAÇÃO (RJUE) E SEUS
EFEITOS JURÍDICOS

LISBOA 2021
UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA

UMA BREVE ANÁLISE DA IMPLANTAÇÃO DO NOVO REGIME


JURÍDICO DA URBANIZAÇÃO E EDIFICAÇÃO (RJUE) E SEUS
EFEITOS JURÍDICOS

Dissertação apresentada a disciplina Planeamento


Urbano do Curso de Pós-Graduação em Direito
Imobiliário da Universidade Lusíada de Lisboa sob
orientação do Professor José G. Capitão.

LISBOA 2021
“O mundo precisa de paz. Se, porém, a humanidade não
se lançar, obcecada, a uma terceira guerra mundial, o
que nos deve preocupar não é se as cidades vão viver,
mas como irão viver.

Depende de nós encontrarmos o caminho certo e


depois, resolutos, trilharmos por ele. Se hesitarmos ou
errarmos, poderemos de fato condenar nossos netos a
viver em caóticos amontoados urbanos, dos mais
repugnantes, cercados por barulho ensurdecedor e
fedentina.

Escolher o caminho certo e depois andar por ele requer


fantasia, tenacidade e grandes sacrifícios. No seu início
acha-se um corajoso Sim para a grande cidade, mãe da
civilização, berço da liberdade e do direito, o
resplandecente cenário da vida, pétreo mundo do
homem, sem o qual, no bem ou no mal, no baixo e no
sublime, ele não se teria tornado o que é.”

Wolf Schneider
RESUMO

A formação dos grandes centros urbanos/industriais, através da


acelerada industrialização a partir da segunda metade do século XIX e a necessidade de
implementação de um regimento que consiga delimitar parâmetros de direitos e deveres
do processo de urbanização, será o ponto de partida desta análise que visualiza chegar ao
Novo Regime da Urbanização e Edificação (RJUE) através da explanação a partir da
Revolução Industrial, passando pelas reformas políticas urbanísticas, as atribuições
operativas da Administração Pública e seus planos de ação e responsabilidades, assim
como, apresentamos a amplitude dos objetivos para esta nova revisão jurídica e
consequente implementação do RJUE e seus efeitos legais.

Palavras-chave: urbanização, direitos e deveres, revisão jurídica.

1
Summary

The formation of large urban/industrial centers, through accelerated


industrialization from the second half of the 19th century and the need to implement a
regiment that can delimit parameters of rights and duties of the urbanization process,
will be the starting point of this analysis that visualizes reaching the New Regime of
Urbanization and Construction (RJUE) through the explanation from the Industrial
Revolution, through urban political reforms, the operational attributions of the Public
Administration and its action plans and responsibilities, as well as, we present the
breadth of the objectives for this new legal review and consequent implementation of
the RJUE and its legal effects.

Keywords: urbanization, rights and duties, legal review.

2
NOVO REGIME JURÍDICO DA URBANIZAÇÃO E EDIFICAÇÃO
(RJUE): HISTÓRIA PRETÉRITA E SEUS EFEITOS

A Revolução Industrial, no final do século XIX, foi a responsável em


promover a mecanização dos campos nas primeiras décadas do século XX, não sendo
mais necessária tanta mão de obra no cultivo dos campos nem na pecuária,
consequentemente levando esta mão de obra a migrar para as cidades, que por sua vez os
recebe sem a devida infraestrutura necessária para sua sobrevivência. O acréscimo
populacional citadino provocou a proliferação dos cortiços desencadeando um
crescimento das cidades desprovidas de planeamento, contumaz, as fábricas, instaladas
nas cidades, que absorviam esta mão de obra, porém, não obedeciam a qualquer critério
de higiene, consequentemente sendo altamente poluidoras.
Assim, diante de tão evidente desestabilização, efeito direto da explosão
demográfica nos centros urbanos/industriais, tendo como consequência as modificações
econômicas e sociais que se assistiam, serviram de base para as reformas urbanísticas. O
planeamento das cidades iniciou assim, por ser um contíguo de ensaios urbanísticos e
medidas interventivas por parte do estado que promovessem alguma ordem ao caos
instaurado nos núcleos industriais formados nas grandes cidades.
Desta Forma, ocorreram modificações de grande alcance na formatação
das políticas urbanísticas, que sugeriram uma caracterização qualitativamente díspar do
Direito do Urbanismo. Notamos que o Estado resvala de um urbanismo de polícia e
regulamentador para um urbanismo comprometido que lhe dá uma condição de agente
ativo, participante do processo.
Surge assim, uma ingerência operativa da Administração na
propriedade do urbanismo, o Estado deixa de se ater a criar regras simples de ajuste da
atividade particular de urbanismo, e passa a interceder ativamente no desenvolvimento
de obras urbanas e construções, desde infraestruturas, vias de comunicação e
arruamentos, com o objetivo de reduzir a pressão especulativa. Consequentemente,
nascem as primeiras leis gerais disciplinadoras do urbanismo, com planos normativos,
leis de solos, leis de construção, leis de loteamento urbano etc. O urbanismo de
conciliação vem logo depois, trazendo os planos realizados em colaboração com as
diferentes gestões e a participação dos particulares. A planificação deixa de ser um
instrumento de fins restritos para se tornar complacente a realidade urbanística, decidindo

3
do uso, da ocupação e da modificação do solo, com âmbitos territoriais consecutivamente
alargados até cobrir o território nacional.
Encontramo-nos diante de uma planificação gradualista, com os planos
de escalão territorial menos expressivos, ficando dependentes dos de âmbito mais
dilatado, admitindo-se normalmente, com caráter provisional e prospectiva, oticamente
dinâmica, contendo nortes para a ação planificadora subordinada. Em geral, vai-se
deixando de lado o conceito de direito de propriedade como direito absoluto, acreditando-
se que a seu aumento e limites sejam delineados pela lei e pelo plano. Conforme for, o
emprego social da propriedade leva à sua ligação às orientações nos planos dos interesses
urbanísticos, a ser defendido pela Administração.
Desta forma, a Administração não consegue acompanhar a realidade,
imprimindo um sacrifício desproporcional aos direitos e interesses dos particulares.
Porém, a revisão daqueles regimes jurídicos comporta também alguns riscos, uma nova
lei só é justificável se representar um esforço sério de simplificação do sistema sem,
contudo, pôr em causa um nível adequado de controle público, que garanta o respeito
intransigente dos interesses públicos urbanísticos e ambientais.
Tendo em vista um aumento da responsabilidade dos particulares, é
natural a diminuição da intensidade do controle administrativo a que presentemente se
sujeita a consumação de certas operações urbanísticas, especificamente ao que se refere
o concernente controle prévio, entretanto, este fato não pode nem deve constituir menor
responsabilidade da Administração. A atividade dos particulares e a garantia que esta se
desenvolva no estrito cumprimento das disposições legais e regulamentares aplicáveis, é
papel da Administração que precisa conservar os poderes necessários para fiscalizar.
Como assevera a professora Fernanda Paula Oliveira:
“Em suma, introduziu-se um novo modelo ou paradigma de controlo preventivo
das operações urbanísticas: de um modelo assente essencialmente (diríamos,
mesmo, exclusivamente) na responsabilidade da Administração – em que esta
chama a si a responsabilidade pela garantia da conformidade das intervenções
privadas projetadas com as disposições urbanísticas aplicáveis, mediante a
submissão dos projetos à sua apreciação, emitindo um juízo prévio exteriorizado
num ato administrativo habilitante de toda e qualquer iniciativa –, para um
modelo que aceita formas de controlo partilhado entre a Administração e os
interessados, com base na confiança, mas também numa maior responsabilidade
destes e dos autores dos projetos”.

Assim, com o objetivo primordial de fortalecimento do controle


Administrativo governamental, o Regime Jurídico da Urbanização e Edificação (RJUE)
que agora se estabelece, corresponde a uma manifestação de simplificação legislativa,

4
com a possibilidade de avançar para uma codificação absoluta do direito do urbanismo.
O ajuntamento num só diploma dos vários diplomas jurídicos, com a implantação de um
único regime para regulamentar a elaboração, aprovação, execução e avaliação dos
instrumentos de gestão territorial, estabelece um passo decisivo no sentido de estabelecer
um controle positivado do ordenamento territorial.
Segundo a professora Fernanda Paula Oliveira:
“O objetivo principal da versão inicial do RJUE foi proceder a uma
simplificação legislativa, juntando num mesmo diploma matérias estritamente
relacionadas, mas que se encontravam dispersas por vários diplomas,
particularmente as atinentes aos loteamentos urbanos e obras de urbanização,
às obras particulares de construção civil, às medidas de tutela de legalidade
urbanística, e à conservação do edificado, estas últimas até aí tratadas no
Regulamento Geral das Edificações Urbanas (RGEU)”.

Pretende-se assim, evitar a dispersão e a duplicação desnecessárias de


normas legais, através da clareza e coesão dos relativos regimes jurídicos. Percebemos
um tempo, em que a todo o território nacional encontra-se repleto de planos municipais,
em que se renova a percepção das responsabilidades públicas em seu cumprimento, o
loteamento urbano precisa deixar de ser visto como uma estrutura de substituição da
Administração pelos privados no exercício de funções de planejamento e gestão
urbanística.
As obras de urbanização e operações de loteamento urbano, assim como
as obras particulares, consolidam e solidificam as escolhas contidas nos instrumentos de
gestão territorial, não se diferenciando tanto pela sua origem quanto pelos seus fins.
Observa-se, desta forma, que a lei se afine num diploma único o conjunto das operações
urbanísticas, de tal maneira que, em regra, ambas são de iniciativa privada e a sua
concretização está sujeita a procedimentos iguais de controle administrativo.
A qualificação adaptada para o diploma – Regime Jurídico da
Urbanização e Edificação – com o intuito de traduzir a maior amplitude do seu objeto,
foge à terminologia tradicional.
Assim, não obstante a limitada atenção conferida às normas de técnica
administrativa, ele não se encerra no regime de prévio licenciamento ou autorização das
intervenções de loteamento urbano, obras de urbanização e obras particulares. Além de
conter alguns preceitos do regime substantivo das referidas operações urbanísticas, o
documento abrange a atividade elaborada, por entidades públicas ou privadas, em todas
as fases do processo urbano, desde o efetivo estudo dos solos à construção urbana
inclusive à utilização das edificações implantadas nele.

5
É na trajetória da normatização da verificação antecipada que se sente
mais estável a meta de simplificação de procedimentos que este prospecto visa continuar.
O método sugerido diverge essencialmente daquele que vigora atualmente, ao fazer
alicerçar a diferença das distintas formas de conduta não apenas na consistência de
planeamento atual na área de execução da operação urbanística, mas igualmente no tipo
de cômputo a concretizar. No alicerce destes dois critérios está a avaliação de que a força
do controle que a gestão municipal realiza preventivamente pode e deve diversificar em
função do grau de materialização da colocação subjetiva do privado diante de
determinada afetação.
Igualmente, enquanto os parâmetros urbanísticos de uma presunção já
se encontram definidos em plano ou antecedente ato da Administração, ou embora ela
tenha escassa ou nenhuma importância urbanística, o clássico comportamento de
licenciamento é alterado por uma conduta simplificada de assentimento ou por um
método de mera conversação prévia. A atuação de licença nunca se distingue, no
fundamental, do padrão consagrado na legislação em vigor.
Conforme inovações mais significativas frisamos o começo da
dependência, o prévio debate público dos procedimentos de licenciamento de operações
de loteamento urbano, e a casualidade de ser concedida uma concessão parcial para a
edificação da estrutura de um prédio, mesmo antes da aceitação último do prospecto da
obra.
Num primeiro momento, por se depreender que o impacto urbanístico
causado por um cálculo de loteamento citadino em área nunca abrangida por plano de
detalhe tem implicações na atmosfera urbana que justificam a participação das
populações locais no devido processo de despacho, não obstante conseguir existir um
plano diretor municipal ou plano de urbanização, sujeitos, eles próprios, a um prévio
debate público. Num segundo momento, por existir a crença de que, ultrapassada a fase
de avaliação urbanística do programa da obra, é razoavelmente aceitável admitir o
começo da efetivação dela conforme decorre a fase de avaliação dos respectivos projetos
e sua peculiaridade, reduzindo-se destarte, em termos úteis, o período de espera inevitável
para a materialização de um projeto imobiliário.
O método de autorização caracteriza-se pela escusa de consultas a
entidades estranhas ao município, bem porque de avaliação dos projetos de arquitetura e
das especialidades, os quais são apresentados concomitantemente à solicitação inicial. Ao
minguar substancialmente a intensidade do controlo executado preventivamente pela

6
Administração, o método de permissão envolve indispensavelmente uma grande
responsabilização do impetrante e dos autores dos respectivos projetos, pelo que tem
como contrapartida um regimento mais acanhado de inspeção.
Contumaz, nenhuma obra sujeita a concessão pode ser utilizada sem
que tenha, pelo menos uma vez, sido objeto de uma fiscalização ou revista pelos fiscais
municipais de obras, quer durante a sua realização, seja após a sua conclusão e como
condição prévia da irradiação da respectiva concessão de utilização. igualmente nos casos
em que a execução de uma obra depende de mero aviso prévio, a câmara municipal pode,
través do seu presidente, decidir se ela se subsome ou não à previsão normativa que define
a respectiva forma de conduta, sujeitando-a, se for fato disso, a licenciamento ou
consentimento.
Assim sendo, a desobriga de licença ou concessão não envolvendo
subtração dos poderes de verificação, podendo a obra ser artigo de qualquer das medidas
de guarda da legitimidade urbanística previstas no diploma, para além do emprego das
sanções que ao fato couberem. Para além do seu caule geral, os procedimentos de
licenciamento ou aquiescência sujeitam-se além disso às especialidades resultantes da
espécie de operação urbanística a executar. Em tema de operações de loteamento urbano,
e no que se refere a cedências gratuitas ao município de parcelas para inauguração de
espaços verdes públicos, equipamentos de utilização coletiva e infraestruturas
urbanísticas, estabelece-se, para lá do direito de reversão sobre as parcelas cedidas caso
as mesmas não sejam afetadas pelo município aos fins para as quais hajam sido cedidas,
que o cedente tem a eventualidade de, em alternativa, ordenar o pagamento de uma
reparação, nos termos estabelecidos para a expropriação por utilidade pública.
Consagra-se afinal expressamente o princípio da proteção do efetivo em
matéria de obras de construção, retomando, portanto, um princípio já aflorado nas
disposições do Regulamento Geral das Edificações Urbanas, mas abandonado nas
sucessivas revisões do regime do licenciamento municipal de obras particulares. portanto,
à execução de obras em construções já existentes não se aplicam as disposições legais e
regulamentares que lhe sejam supervenientes, a partir de que tais obras não se configurem
como obras de acréscimo e não agravem a desarmonia com as normas em vigência. Por
esta via se dá um passo essencial na recuperação do acervo construído, já que, sem obrigar
um sacrifício desigual aos proprietários, o regime sugerido permite a execução de um
simultâneo de obras susceptíveis de aperfeiçoar as condições de segurança e salubridade
das construções existentes. A efetivação de uma fiscalização prévia à utilização das

7
edificações volta a estabelecer a regra geral nos casos de obras sujeitas a mera concessão,
em virtude da menor proporção do controlo preliminar a que elas foram sujeitas.
Entretanto, até nesses casos é factível destituir a efetivação daquela
fiscalização prévia, desde que durante a sua efetivação a obra tenha sido inspecionada ou
vistoriada pelo menos uma vez. Apresenta-se, aqui, uma clara escolha pelo reforço da
inspeção em prejuízo do controlo preliminar, na esperança de que este estatuto constitua
um estímulo à reorganização e modernização dos serviços municipais de inspeção de
obras. Para além da declaração das condições legais do início dos trabalhos, junto com o
novo regime de garantias dos particulares, estabelece-se um bloco de regras que
acompanham todas as fases da realização de uma operação urbanística. No que respeita à
utilização e manutenção do edificado, foram recuperadas e atualizadas disposições
dispersas por diversos diplomas legais, designadamente o Regulamento Geral das
Edificações Urbanas e a Lei das Autarquias Locais, obtendo-se, portanto, um ganho de
sistematização e de pronunciação das normas respeitantes às tradicionais atribuições
municipais de polícia das edificações juntamente as relativas aos seus poderes de guarda
da legalidade urbanística.
No poder da inspeção da efetivação das operações urbanísticas
estabelece-se uma diferença clara entre as ações de averiguação do cumprimento das
disposições legais e regulamentares aplicáveis e de inibição das infracções cometidas,
distinguindo neste derradeiro acontecimento as sanções propriamente ditas das medidas
de amparo da legalidade urbanística. Quão a estas medidas, e porque a sua função é única
e somente a de reintegrar a legitimidade urbanística violada, estabelece-se um estatuto
que, sem baixar a energia dos poderes atribuídos às entidades fiscalizadoras, submete o
seu exercício ao cumprimento exato do princípio da proporcionalidade. Segundo Ana
Celeste Carvalho e Sofia David “Os encargos assumidos pelo particular têm que ser
proporcionais à sobrecarga para as infraestruturas existentes sob pena de violação do
princípio geral de direito contratual, o princípio da proporcionalidade e da conexão
objetiva” (artigo 281.º do CCP).
Merece notável ressalto a este propósito o reconhecimento do caráter
provisório do arresto de obras, cuja função é a de precaver a utilidade das medidas que, a
título decisivo, reintegrem a legalidade urbanística violada, incluindo nestas o
licenciamento ou aquiescência da obra. Procura-se oxalá abster a continuação indefinível
da vigência de ordens de arresto que, a razão da prossecução do interesse público,

8
consolidam situações de facto que se revelam ainda mais prejudiciais à atmosfera e à
qualidade de vida dos cidadãos do que aquelas que o próprio embargo procurava abster.
Em relação as garantias, procede-se à mudança da função do
consentimento implícito nas operações urbanísticas sujeitas a licenciamento, sem que daí
advenha alguma perda para os direitos dos particulares. De fato, na continuidade da
revisão do artigo 268.º da Constituição da República Portuguesa propõe-se a comutação
da intimação judicial para a emissão do alvará pela intimação judicial para a prática de
ato legalmente devido como ferramenta privilegiada de asilo jurisdicional.
Ao que versa a citada lei fundamental em seu artigo 268º “Direitos e
Garantias dos administrados”:
1. “Os cidadãos têm o direito de ser informados pela Administração,
sempre que o requeiram, sobre o andamento dos processos em que sejam
directamente interessados, bem como o de conhecer as resoluções
definitivas que sobre eles forem tomadas.
2. Os cidadãos têm também o direito de acesso aos arquivos e registos
administrativos, sem prejuízo do disposto na lei em matérias relativas à
segurança interna e externa, à investigação criminal e à intimidade das
pessoas.
3. Os actos administrativos estão sujeitos a notificação aos interessados,
na forma prevista na lei, e carecem de fundamentação expressa e
acessível quando afectem direitos ou interesses legalmente protegidos.
4. É garantido aos administrados tutela jurisdicional efectiva dos seus
direitos ou interesses legalmente protegidos, incluindo, nomeadamente,
o reconhecimento desses direitos ou interesses, a impugnação de
quaisquer actos administrativos que os lesem, independentemente da
sua forma, a determinação da prática de actos administrativos
legalmente devidos e a adopção de medidas cautelares adequadas.
5. Os cidadãos têm igualmente direito de impugnar as normas
administrativas com eficácia externa lesivas dos seus direitos ou
interesses legalmente protegidos.
6. Para efeitos dos n.os 1 e 2, a lei fixará um prazo máximo de resposta por
parte da Administração.

Isto significa que deixa de ser preciso friccionar a existência de um ato


implícito de aceitação do projeto para consentir o recurso do impetrante aos tribunais para
a aquisição de uma intimação judicial para a emissão do alvará. O privado pode agora
apelar aos tribunais no primeiro instante em que se conferir o silêncio da Administração,
já não lhe sendo exigível que percorra todas as fases da conduta com base em sucessivos
atos de consentimento implícito, com os riscos daí inerentes. E, se o silêncio da
Administração só se confirmar no momento da emissão do alvará, o particular dispõe do
mesmo dispositivo para conseguir uma intimação para a sua emissão.

9
A aceitação tácita tem, portanto, a sua função restrita às operações
sujeitas a mera anuência, o que igualmente é reflexo da maior materialização da posição
jurídica do privado e da consequente menor força do controlo preliminar da sua atividade.
Distintivamente do que acontece hoje, todavia, nestes casos o particular fica isento de
apelar aos tribunais, podendo dar início à realização da sua operação urbanística sem a
prévia emissão do devido alvará desde que se mostrem pagas as taxas urbanísticas
devidas.
Propõe-se uniformemente um novo estatuto das taxas urbanísticas
devidas pela execução de operações urbanísticas, com o objetivo de acabar com a
polêmica sobre se no licenciamento de obras particulares pode ou não ser cobrada a taxa
pela execução, manutenção e reforço das infraestruturas urbanísticas presentemente
prevista no artigo 19.º, alínea a), da Lei das Finanças Locais, clarificando-se se a
efetivação daquelas obras está sujeita ao pagamento da aludida taxa, sempre que pela sua
essência impliquem um acréscimo dos encargos públicos de efetivação, manutenção e
reforço das infraestruturas e serviços gerais do município próximo ou até mesmo superior
ao que resulta do licenciamento de uma operação de loteamento urbano.
Portanto, sujeita-se a efetivação de obras de construção e de ampliação
ao pagamento daquela taxa, afora se elas se situarem no âmbito de uma operação de
loteamento urbano onde aquelas taxas já tenham sido pagas. Desta forma, se alcança um
desfecho que, sem implicar com a estabilidade precária das finanças municipais, distingue
de forma equitativa o regime tributário da efetivação de obras de construção em função
da sua natureza e finalidade.
Pelas mesmas razões, se prevê que os regulamentos municipais de taxas
podem e devem diferenciar a soma das taxas devidas, não somente em função das
necessidades concretas de infraestruturas e serviços gerais do município, justificadas no
devido programa plurianual de investimentos, como também em função dos usos e
tipologias das edificações e, porventura, da respectiva localização.

10
CONCLUSÃO

Juntamente a entrada em vigência do Novo Regime Jurídico da


Urbanização e Edificação (RJUE), passou a existir três formas de método de controlo das
operações urbanísticas: o licenciamento, para os casos normais, a autorização, para os
casos que justifiquem um procedimento ágil e a comunicação prévia, para os casos muito
simples.
O licenciamento, permite certificar a coerência do projeto, de
loteamento/edificação, juntamente com os planos municipais de ordenamento do
território, planos especiais de ordenamento do território, medidas preventivas, área de
desenvolvimento urbano prioritário, área de construção prioritária, servidões
administrativas, restrições de utilidade pública e quaisquer outras normas legais e
regulamentares aplicáveis, bem conforme sobre o uso e a incorporação urbana e
paisagística.
Autorização, os parâmetros de decisão estão definidos com exatidão em
áreas abrangidas por operação de loteamento, mas somente nas situações que não existem
legislação específica, é caracterizada pela escassez de consulta a entidades externas.
portanto, o RJUE não propiciou a simplificação, a rapidez e exatidão adequados ao ritmo
dos atos de urbanização e da edificação, há muitas reclamações, quer pelas entidades
intervenientes, quer pelas empresas, quer pelos particulares, os quais proporcionaram
dificuldades excessivas, injustificadas e redundâncias, devido a implementação do RJUE
e sua aplicação, sua descoordenação entre as entidades intervenientes e a uma total
carência de recurso às tecnologias da informação.
Sendo assim, houve a conveniência de publicar a Lei nº 60/2007 e
Decreto-Lei nº 26/2010, que introduziram a última redação ao RJUE, da análise das suas
linhas gerais, constatasse uma profunda modificação dos meios de controlo prévio, o
impacto da intervenção urbanística e da responsabilização de cada interveniente, o reforço
do sistema sancionatório com propagação dos montantes das coimas e das sanções
acessórias e a possibilidade de intervenção da Comissão de Coordenação e
Desenvolvimento Regional, CCDR, a exigência de medidas de tutela da legalidade
urbanística, sempre que esteja em causa a ressalva de valores ou interesses de âmbito
local, regional ou nacional, consagrando-se um vasto leque de isenções de controlo prévio
nas intervenções de escassa relevância urbanística.

11
Consagrou-se um novo modelo de controle prévio, que contempla dois
grandes tipos de procedimentos, a licença e a comunicação prévia, extinguindo a
autorização e criando um procedimento, o da autorização de utilização, como
procedimento único e comum destinado à utilização das edificações ou suas frações.
O atual modelo tornou mais simples a identificação do procedimento
adequado bem como o acesso à respetiva tramitação, transformações que contribuíram
para diminuir o tempo de espera na obtenção de um alvará de construção, que geraram
impactos positivos, na celeridade do Serviço de Licenciamento Municipal oferecendo,
assim, aos munícipes um serviço célere na obtenção de um alvará de construção,
contribuindo para o progresso e o desenvolvimento econômico e social.
Finalmente, a implantação do RJUE resultou num conjunto de
alterações pertinentes e adequadas ao combate dos estrangulamentos que contribuíram
para agilizar e simplificar todos os procedimentos.

12
BIBLIOGRAFIA

Carvalho, Ana Celeste e David, Sofia. Direito do Urbanismo: Formação Contínua 2014 –
2017. Disponível em: http://www.cej.mj.pt/cej/recursos/ebooks/Administrativo_fiscal/
eb_Urbanismo2014_2017.pdf (Acesso em 20/02/2021).

Correia, Fernando Alves. Manual de Direito do Urbanismo. Volume I. 2ª Ed. Coimbra:


Almedina, 2004.

Decreto-Lei nº555/99. Disponível em: https://dre.pt/web/guest/pesquisa/-/search/655682


/details/normal?l=1 (Acesso em 28/02/2021).

Oliveira, Fernanda Paula. Direito do Urbanismo: Do Planeamento à Gestão. 3ª Ed.


Coimbra: AEDREL, 2018

13

Você também pode gostar