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PAULO AFONSO/BA
OUTUBRO/2021
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
CAMPUS VIII – PAULO AFONSO
CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO
Inicialmente, cumpre esclarecer que o Plano Diretor despontou como grande novidade do
Capítulo da Política Urbana da Constituição de 1988. Nesta, ele constitui o “instrumento
básico” da política urbana e sua elaboração é obrigatória para as cidades com mais de
20.000 habitantes.
Contudo, apesar do seu conceito estabelecido no texto legal, ainda se busca uma
construção de uma interpretação adequada desse conceito, com a definição de seu regime
jurídico, torna-se, portanto, uma condição para a institucionalização do urbanismo
brasileiro. Nesse sentido, o direito comparado pode cumprir um importante papel
heurístico, ao revelar como os planos urbanísticos se inserem nos sistemas de
planejamento de cada país.
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No que concerne o Sistema Norte-Americano, cada Estado tem autonomia completa
para regular o urbanismo e para estabelecer unidades de governo local. Os Estados não
atuam diretamente na gestão do urbanismo, mas estabelecem, por meio de leis, as
condições sob as quais atuarão os governos locais. O instrumento central do urbanismo
norte-americano é o zoneamento, que consiste na divisão do território da cidade em zonas
e na especificação detalhada das atividades e das características físicas das construções
nelas permitidas, mediante índices urbanísticos.
Alterações pontuais do zoneamento são admitidas por meio de variances, que são
exceções concedidas administrativamente, a pedido do proprietário. As variances visam
atenuar situações de excessiva onerosidade para um determinado proprietário. Por sua
vez, a alteração do zoneamento pelo Legislativo só pode ocorrer no contexto de uma nova
política de ordenamento do território.
Já no que pese o Sistema Britânico, este é regido por uma lei nacional (Town and
Country Planning Act), que regula qualquer operação de development (urbanização),
tanto na área urbana quanto na rural. O urbanismo é gerido pelos governos locais, mas
estes são tutelados pelo governo nacional, que aprova os planos e pode revogar atos de
licenciamento.
O que singulariza modelo Britânico é o fato de não haver regras precisas sobre o que pode
ou não ser feito em cada terreno. Mesmo os local plans, que são os planos mais
detalhados, não chegam a estabelecer índices urbanísticos específicos para cada terreno.
Eles projetam o uso futuro de cada parte do território urbano, no sentido de seu
adensamento ou da realização de obras públicas, mas não fazem um detalhamento
quantitativo para cada lote.
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Legislativo local. Em ambos os casos, deve-se levar em consideração os planos
urbanísticos existentes e as diretrizes do governo central. Além da simples aprovação ou
recusa de um projeto construtivo, o governo local pode aprová-lo sob condições. Nesses
casos exige-se do empreendedor que sejam feitas obras no entorno, para atenuar o
impacto da edificação sobre a infra-estrutura existente.
Por fim, no que diz respeito ao Sistema Continental Europeu, os países do continente
europeu apresentam um direito urbanístico codificado. Embora possa haver variações em
um ou outro aspecto, a semelhança entre todas as legislações é notável.
Dito isto, a aprovação dos planos é feita por etapas. O processo tem início com a
elaboração de uma versão inicial do plano, elaborada por técnicos de diversos órgãos.
Essa versão recebe então a “aprovação inicial” do governo local e é submetida a um
período de consulta pública, durante o qual pode receber comentários e questionamentos
de qualquer cidadão. Em seguida, o governo local deve decidir se mantém o projeto ou
se promove alguma alteração.
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Fazendo uma breve comparação entre os Sistemas supramencionados, infere-se que,
com relação aos instrumentos de ordenação territorial, o sistema norte-americano
apresenta-se como o mais fragmentado. As normas urbanísticas provêm de documentos
legais cuja aprovação se dá em separado. No sistema continental, os planos tratam de
todos os aspectos do ordenamento territorial, o que muda é a abrangência territorial e o
detalhismo de cada plano. Já o sistema britânico também se estrutura em planos
hierarquizados, mas estes são muito mais genéricos que os continentais.
O modelo norte-americano influenciou fortemente a cidade de São Paulo, que por sua vez
serviu de modelo para muitos outros Municípios. Na maior parte dos Estados brasileiros,
a expressão “plano diretor” designa tradicionalmente um plano abrangente e sem
vinculação jurídica.
De outro lado, o Rio Grande do Sul e o Distrito Federal adotaram um modelo semelhante
ao continental. Seus planos equivalem à soma do mapa oficial e do zoneamento, ou seja,
tanto contém as obras projetadas quanto as normas de uso e ocupação do solo. Não há
uma separação entre plano diretor e lei de zoneamento, uma vez que as normas de
zoneamento são parte do plano, que assume um caráter auto-aplicável e diretamente
vinculante para o Poder Público e os particulares.
Ainda há, no entanto, uma grave omissão na legislação brasileira, que é a definição do
sistema viário. Em muitos Estados, ele não consta de nenhum documento formal, sendo
alterado sem qualquer transparência para a sociedade ou articulação com o planejamento
urbano. A inclusão do sistema viário no plano diretor é uma decorrência lógica do modelo
adotado no Brasil a partir da Constituição de 1988, que tem clara inspiração no sistema
continental europeu. Tal entendimento deve ser claramente consagrado na legislação
federal, mas pode ser desde já adotado, mediante uma interpretação sistemática do direito
brasileiro.