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Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

CAPÍTULO 2 - COMO MONITORAR AS POLÍTICAS


PÚBLICAS DE DESENVOLVIMENTO URBANO
SUSTENTÁVEL (DUS)?

Neste capítulo demonstraremos no contexto atual das cidades brasileiras a importância


do monitoramento e da avaliação das políticas urbanas. Em especial, a importância do
Plano Diretor para se buscar o desenvolvimento urbano sustentável, incluindo as pautas
propostas pela Nova Agenda Urbana, ODS e ODUS. É importante que os sistemas de
monitoramento e avaliação sejam construídos de forma participativa, e se mantenham
atualizados. Eles devem integrar as políticas urbano-ambientais e os instrumentos
de planejamento e execução orçamentários (Planos Plurianuais, Lei de Diretrizes
Orçamentárias). Para isso, discutiremos neste capítulo experiências de monitoramento
de políticas urbanas realizadas em cidades brasileiras.

2.1 O monitoramento do desenvolvimento urbano sustentável,


a nova agenda urbana e os objetivos do desenvolvimento
sustentável (ods)
Utilizar instrumentos de monitoramento e avaliação de políticas públicas ainda é uma
prática relativamente recente no Brasil. Principalmente se comparado com os EUA e a
Europa.
Segundo Januzzi (2018), estrutura-se no Brasil um sistema de políticas públicas mais
amplo em objetivo e escala desde a Constituição de 1988 e, posteriormente, no início
dos anos 2000. Ele tem um caráter universal e é combinado com ações redistributivas
(universalismo com equidade). Essas políticas e programas passam a exigir que se
estruture um sistema de monitoramento e avaliação pela dimensão, complexidade e
volume de recursos aplicados. Em 2003, cria-se então a Secretaria de Avaliação e Gestão
da Informação (SAGI), no Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, atual
Ministério da Cidadania.

Consolidou-se na gestão pública federal uma robusta estrutura metodológica a partir


dessa estrutura institucional. Vêm sendo disponibilizadas à sociedade várias publicações
com os resultados da avaliação das políticas e programas sociais públicos, entre eles
Bolsa Família, Programa Cisternas, Luz para Todos, Pontos de Cultura e Programa de
Aquisição de Alimentos (PAA).

Ainda temos muito a avançar no monitoramento e avaliação municipais de políticas e


programas de desenvolvimento urbano. Principalmente se comparado com a experiência
das políticas sociais.
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A Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001 (Estatuto da Cidade), art. 42, inciso III prevê
que o Plano Diretor tenha um sistema de acompanhamento e controle. Porém, não
havia na lei um detalhamento desse sistema. O detalhamento foi dado quatro anos depois
da edição do Estatuto da Cidade por uma resolução do então Conselho das Cidades
(ConCidades). A Resolução nº 34, de 1 de julho, estabelece em seu art. 6º:

Art. 6º. O Sistema de Acompanhamento e Controle Social previsto pelo art. 42,
inciso III, do Estatuto da Cidade deverá:

I – prever instâncias de planejamento e gestão democrática para implementar e


rever o Plano Diretor;

II – apoiar e estimular o processo de Gestão Democrática e Participativa,


garantindo uma gestão integrada, envolvendo poder executivo, legislativo,
judiciário e a sociedade civil;

III – garantir acesso amplo às informações territoriais a todos os cidadãos;

IV – monitorar a aplicação dos instrumentos do Plano Diretor e do Estatuto da


Cidade, especialmente daqueles previstos pelo art. 182, § 4º, da Constituição
Federal.

Podemos observar avanços na elaboração


VOCÊ SABIA ?
Os instrumentos previstos no art. 182
de Planos Diretores, pois 100% das da Constituição Federal (BRASIL, 1988)
cidades com mais de 100 mil habitantes e tratam da garantia do cumprimento do
princípio da função social da propriedade
87% das cidades de 20 a 100 mil habitantes pelo poder público municipal. Ele usa
possuem PD (UNIC, 2015). O mesmo para isso o parcelamento e edificação
pode ser dito sobre a regulamentação compulsórios e o IPTU progressivo.
Além da desapropriação com pagamento
de instrumentos que tenham a função através de títulos da dívida pública de
social da cidade como objetivo. Porém, há imóveis não edificados, subutilizados ou
poucas avaliações sistematizadas sobre não utilizados que não sejam aproveitados
adequadamente (função social da
seu impacto concreto nos territórios propriedade).
municipais.

A grande maioria dos Planos Diretores


aprovados depois de 2001 já incorpora os
instrumentos urbanísticos e ambientais

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previstos no Estatuto da Cidade. O objetivo
PARA MAIS
é garantir o pleno desenvolvimento das INFORMAÇÕES e
funções sociais da cidade e uma série SOBRE O TEMA
de direitos, como a democratização do VER TAMBÉM OS
acesso à terra urbanizada e o direito a MÓDULOS 1 e 4
cidades sustentáveis.
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A Pesquisa de Informações Básicas Municipais (MUNIC) realizada pelo


IBGE anualmente coleta uma série de informações sobre os municípios
brasileiros. No entanto, não é possível saber quantas cidades brasileiras
possuem Conselhos Municipais de Política Urbana ou correspondentes.
São instâncias de planejamento e gestão democrática de implementação
e revisão do Plano Diretor. Também não é possível saber quantas possuem
sistemas de acompanhamento e controle de sua implementação como
determina o Estatuto da Cidade. A última pesquisa federal conduzida
sobre o tema é de 2015.

Podemos concluir que mesmo em algumas metrópoles e grandes cidades


brasileiras não há sistemas de monitoramento nem estão disponibilizadas
informações sobre a implementação de seu Plano Diretor e demais políticas
urbanas. Também é possível encontrar cidades onde foram implementadas
iniciativas para acompanhar e controlar políticas e programas. Porém,
elas foram descontinuadas ou apresentam informações desatualizadas.
A Secretaria de Estado de Gestão do Território e Habitação (SEGTH)
reconhece essa fragilidade das cidades brasileiras em documento que
discute a metodologia de implementação do Observatório Territorial de
Brasília:

[...] a despeito de iniciativas pretéritas no sentido de implantar o


monitoramento de alguns dos temas que perpassam a política de
desenvolvimento urbano, a construção de indicadores que monitorem
a melhoria da qualidade urbana e ambiental das nossas cidades tem
ficado restritas ao controle orçamentário. (DISTRITO FEDERAL,
2018).

Rua (2010) afirma que se reconhece formalmente no Brasil esse tema em


documentos oficiais e científicos. Porém, ele não ocorre na prática em
processos sistemáticos e consistentes de modo a contribuir com a gestão
pública. A autora afirma que o consenso no discurso não seria suficiente
para se tomar esses processos como ferramentas de gestão. A tendência
é frequentemente entendê-los como “[...] um dever, ou até mesmo como
uma ameaça, impostos por alguma instância de governo ou por organismos
financiadores internacionais” (RUA, 2010).

Há um avanço da participação social nos processos de discussão e


deliberação das políticas de desenvolvimento urbano, ainda que impactada
pelas restrições impostas pela pandemia da COVID-19. Experiências de
monitoramento de Planos Diretores em algumas cidades do país parecem
indicar uma mudança de postura das lideranças municipais. Esse instrumento
passou a ser considerado mais importante do ponto de vista gerencial e como
facilitador do diálogo entre o poder público e a sociedade. Apresentaremos
algumas experiências brevemente no próximo subcapítulo.
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2.2 A importância do monitoramento integrado entre


políticas de desenvolvimento urbano e os instrumentos de
planejamento e gestão orçamentária
Como vimos no Módulo 6, o sistema orçamentário
é hoje composto pelo Plano Plurianual, pela Lei de
Diretrizes Orçamentárias e pela Lei Orçamentária

6
PARA MAIS
Anual. Ele foi estabelecido pela Constituição INFORMAÇÕES
SOBRE O TEMA
Federal de 1988 e somente com a aprovação do
VER TAMBÉM O
Estatuto da Cidade em 2001 passou a ser exigida
MÓDULO 6.
a ligação desses instrumentos com o planejamento
urbano através do Plano Diretor. O § 1o do art. 40
da Lei nº 10.257/2001 estabelece que:

Art. 40. O plano diretor, aprovado por lei municipal, é o instrumento básico da
política de desenvolvimento e expansão urbana.

§ 1º O plano diretor é parte integrante do processo de planejamento municipal,


devendo o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e o orçamento anual
incorporar as diretrizes e as prioridades nele contidas.

Figura 7: Diretrizes e instrumentos da política urbana


Fonte: Adaptado de Lacerda et al. (2005). Elaboração gráfica do Labhab (2022).
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Uma das dimensões do desenvolvimento sustentável é a econômica.


Por isso, é impossível pensar o planejamento urbano descolado
do planejamento orçamentário, já que os programas, projetos e
ações propostos no Plano Diretor só são possíveis por meio de uma
destinação mais racional dos recursos financeiros (Figura 7).

Segundo Buba (2019), priorizar e utilizar melhor o dinheiro público


seria o caminho para reduzir os problemas urbanísticos da maioria
dos municípios no quadro atual de falta de recursos públicos. No
entanto, passaram-se mais de vinte anos da obrigatoriedade da
integração entre os dois sistemas de planejamento e gestão (urbano e
orçamentário). Mesmo assim, essa integração ainda não se concretizou
na maior parte das administrações públicas municipais. Um dos
motivos foi a opção dos gestores em concentrar os investimentos
em determinadas áreas que geralmente já têm infraestrutura,
prejudicando áreas precárias que precisam de investimentos. Há
ainda os casos de Planos Diretores desatualizados, mal elaborados
tecnicamente, construídos sem a participação popular ou utilizados
de propósito para favorecer certos setores e grupos de influência.

Outra questão estrutural parece ser a diferença temporal da validade


do Plano Diretor. A sua total implementação deve ocorrer em um
período de 10 anos. A validade dos instrumentos orçamentários é de
no máximo quatro anos (PPA) e de um ano para a LDO e a LOA.

A maioria dos programas e ações previstos no Plano Diretor tem


expressão territorial, ou seja, são sujeitos à espacialização. A
integração dos dois sistemas possibilitaria que os investimentos
também fossem mais facilmente espacializados no território.

Wissenbach (2018) realizou um estudo sobre a territorialização


(georreferenciamento) do gasto público na cidade de São Paulo,
entre 2014 e 2017. Concluiu que identificar a dimensão territorial
do gasto é decisivo. Essa prática permitiria entender melhor a
efetividade das políticas públicas para reduzir as desigualdades. A
localização das despesas aproximaria a população da administração
pública, tornando os números mais concretos e dando sentido para a
discussão pública. Wissenbach (2018, p. 26) afirma que entre 2014 e
2017:

[...] a prefeitura não sabe informar a localização de 75% do


orçamento público, considerando o universo das ações que
claramente deveriam ter sua localização identificada. Ao
mesmo tempo, só sabe dizer, efetivamente, para onde vai 3%
do gasto público realizado (liquidado).
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2.3 Como As Cidades Monitoram O Desenvolvimento Urbano


Sustentável
No início da década de 2000, o Estatuto da Cidade criou a previsão legal para monitorar e
avaliar políticas e programas de desenvolvimento urbano nas cidades brasileiras. Mesmo
assim, ainda há muito a ser feito.

Apresentaremos a seguir as experiências dos Planos Diretores de São Paulo e de Belo


Horizonte. Eles são exemplos de monitoramento do desenvolvimento sustentável.
Apresentaremos também a experiência de Fortaleza no monitoramento dos ODS e do
Instituto Cidades Sustentáveis ao criar o Índice de Desenvolvimento Sustentável das
Cidades.

O Quadro 5 traz alguns outros exemplos de cidades que criaram um Sistema de


Monitoramento. Isso estava estabelecido no texto-base dos seus respectivos Planos
Diretores Municipais.

Quadro 5 – Exemplos de cidades onde há previsão


de monitoramento do Plano Diretor
Fonte: Elaboração própria.

Cidades Lei do Plano Diretor Previsão de monitoramento do


PD
Lei nº 8.655, de 30 de julho Sistema Municipal de
Belém de 2008 Planejamento e Gestão

Lei Complementar nº 111, Sistema Integrado de


Rio de Janeiro de 1º de fevereiro de 2011 Planejamento e Gestão Urbana

Manaus Lei Complementar nº 002, Sistema Municipal de


de 16 de janeiro de 2014 Planejamento Urbano

Lei Complementar nº 482, Sistema Municipal de Gestão da


Florianópolis de 17 de janeiro de 2014 Política Urbana

Lei nº 14.771, de 17 de Sistema de Monitoramento e


Curitiba dezembro de 2015 Controle do Plano Diretor

Lei nº 9.069, de 30 de junho


Salvador de 2016 Salvador Dados

Lei nº 18.770, de 30 de Sistema de Informação e


Recife dezembro de 2020 Memória da Cidade do Recife

Lei Complementar no 349, Programa de Controle e


Goiânia de 4 de março de 2022 Monitoramento
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2.3.1 MONITORAMENTO DE PLANOS DIRETORES DE SÃO PAULO E DE BELO


HORIZONTE

2.3.1.1 Monitoramento e Avaliação do Plano Diretor Estratégico da cidade de São


Paulo

O desenvolvimento e implementação do Sistema de Monitoramento e Avaliação do


Plano Diretor Estratégico (PDE) da cidade de São Paulo foi estabelecido pelos arts. 358
e 359 da Lei Municipal nº 16.050, de 31 de julho de 2014. Os artigos se referem ao
Sistema Municipal de Informações e ao Sistema Municipal de Planejamento que
regulamentam o monitoramento e avaliação do PDE.

A lei estabelece o alcance e como o monitoramento e a avaliação devem ser realizados.


Também determina a cobertura mínima do monitoramento e da avaliação, que deverá
conter os resultados alcançados pelo PDE, pelas Macroáreas e Zonas Especiais.
Além dos avanços em ações prioritárias nos sistemas urbanos e ambientais, e do
desempenho de todos os instrumentos de política urbana e de gestão ambiental
(incisos I, II e III do § 2º, art. 358).

A cobertura mínima determinada na lei é de 128 objetivos, 133 ações estratégicas e 38


instrumentos de política urbana e gestão ambiental. Eles deverão ser monitorados com
pelo menos um indicador cada, o que mostra a complexidade e o volume de informações
necessárias.

A lei estabelece a obrigatoriedade de se publicar anualmente o relatório de


atualização dos indicadores de monitoramento e avaliação. Em cumprimento a essa
determinação, foram criados e disponibilizados para acesso público os relatórios anuais
de 2015 a 2021. Assim, é possível conhecer o processo de construção e aprimoramento
dos indicadores selecionados, bem como o do sistema de monitoramento e de sua
plataforma de disponibilização pública, MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DA
IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DIRETOR ESTRATÉGICO.

A apresentação dos indicadores

?
reproduz as dez estratégias propostas
pelo PDE para a cidade até o ano de
VOCÊ SABIA 2029:
Lançada em dezembro de 2016, 1. Socializar os ganhos da produção da
essa plataforma aberta de gestão
cidade;
urbana encontra-se disponível
para acesso público. Ela recebe
2. Promover o desenvolvimento
atualização constante dos dados
e complementação de novos econômico;
indicadores. Disponível em: https://
monitoramentopde.gestaourbana. 3. Assegurar o direito à moradia digna;
prefeitura.sp.gov.br/.
4. Incorporar a agenda ambiental ao
desenvolvimento da cidade;
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5. Orientar o crescimento da cidade nas proximidades do transporte público;

6. Preservar o patrimônio e valorizar as iniciativas culturais;

7. Reorganizar as dinâmicas metropolitanas;

8. Fortalecer a participação popular nas decisões do rumo da cidade;

9. Melhorar a mobilidade urbana; e

10. Qualificar a vida nos bairros.

O sistema de monitoramento foi construído tendo a possibilidade de leitura dos


indicadores para as cinco unidades territoriais de análise: Município, Macroárea,
Macrorregião, Subprefeitura e Distrito Administrativo. Os dados são de 2002 a 2021. No
entanto, a base de dados vêm de bancos de dados com formatos, metodologias e período
de coleta dos dados muito diferentes. Essa diferença também se reflete nos indicadores,
variando as opções de agregação/desagregação espacial e temporal.

Segundo relatório de 2021,


atualmente a plataforma
APROFUNDE-SE disponibiliza 192 indicadores e
Caso tenha interesse em conhecer mais 262 variáveis para consulta, com
sobre as estratégias do PDE de São Paulo, gráficos e mapas temáticos. Esses
em uma linguagem clara e acessível, indicadores são alimentados
consulte a publicação Plano Diretor
Estratégico do Município de São Paulo. por 33 bancos de dados (SÃO
Estratégias ilustradas. PAULO, 2021). Todos os dados e
informações nesse sistema estão
SÃO PAULO. Prefeitura municipal. Plano
Diretor Estratégico do Município de São disponíveis para download em
Paulo: estratégias ilustradas. São Paulo, formato aberto para garantir a
2014. transparência e o controle social.
Disponível em: https://gestaourba- É possível acessar a ficha técnica
na.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/ de cada indicador, do instrumento
uploads/2015/01/Plano-Diretor-Es- urbanístico ou ambiental a que
trat%C3%A9gico-Lei-n%C2%BA-16.050-
de-31-de-julho-de-2014-Estrat%C3%A- se relaciona, além de visualizar
9gias-ilustradas.pdf e fazer o download da tabela de
valores do indicador.

Em um ano (nov./20 a nov./21), a plataforma registrou a visita de 6.154 pessoas. É


possível acessá-la também em libras, em conformidade com a política de acessibilidade
(SÃO PAULO, 2021).

As Figuras 8 e 9 mostram a tela inicial da plataforma e um exemplo de indicador


disponibilizado nessa plataforma, respectivamente. O indicador mostrado na Figura 9
é a Participação da quantidade de imóveis notificados por categoria de ociosidade na
cidade de São Paulo. Ele monitora a aplicação do Parcelamento, Edificação e Utilização
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Compulsórios (PEUC). O indicador desse exemplo apresenta a distribuição territorial


de imóveis notificados por categoria que caracteriza o imóvel como ocioso. Todos os
imóveis não edificados, subutilizados ou não utilizados são considerados ociosos, como
define o PDE.

Figura 8: Tela inicial da plataforma de Monitoramento e


Avaliação da Implementação do Plano Diretor Estratégico da
cidade de São Paulo (SÃO PAULO, 2022).
Fonte: Plataforma de Monitoramento e Avaliação da
Implementação do Plano Diretor Estratégico da cidade de
São Paulo (SÃO PAULO, 2022). https://monitoramentopde.
gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/
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Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

Figura 9: Indicador da Participação da quantidade de imóveis notificados, por categoria de


ociosidade (não edificados, subutilizados ou não utilizados) na cidade de São Paulo
Fonte: Plataforma de Monitoramento e Avaliação da Implementação do Plano Diretor Estratégico da
cidade de São Paulo (SÃO PAULO, 2022). https://monitoramentopde.gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/

Uma estrutura institucional garante o funcionamento da plataforma. Ela é mantida pela


equipe técnica permanente da Coordenadoria de Planejamento Urbano, ligada à Secretaria
Municipal de Urbanismo e Licenciamento (SMUL), da Prefeitura de São Paulo. Foi também
criado o Comitê Intersecretarial de Monitoramento e Avaliação da Implementação
do Plano Diretor Estratégico (CIMPDE), com atribuições e composição definidas
pelo Decreto nº 57.490/16, alterado pelo Decreto nº 57.950/2017. Esse comitê é
formado por representantes de diferentes áreas da prefeitura e do Conselho Municipal
de Desenvolvimento Urbano (CMPU). Ele conta com a participação popular, composta
pelo poder público e pela sociedade civil. O objetivo é garantir que o monitoramento e
avaliação do Plano Diretor seja resultado de um processo de aperfeiçoamento contínuo,
coletivo, interdisciplinar, participativo e democrático.

2.3.1.2 O monitoramento da Política Urbana de Belo Horizonte

O monitoramento da política urbana de Belo Horizonte está previsto na Lei nº


11.181, de 8 de agosto de 2019 (BELO HORIZONTE, 2019). Seu objetivo é acompanhar
como a organização da cidade está respondendo à orientação das leis urbanísticas.
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Principalmente como ela responde aos programas e projetos, associados às ideias da


Nova Agenda Urbana (NAU) e ao Objetivo do Desenvolvimento Sustentável 11 (ODS
11). Ele deve permitir a leitura da transformação urbana no tempo e verificar a aderência
aos parâmetros urbanísticos na ocupação e no uso do território. Além disso, permitir
acompanhar os resultados do estímulo para transformar uma certa área ou característica
urbana; dentre outras possibilidades.

A vigência do Plano Diretor de Belo Horizonte teve início em fevereiro de 2020, como
previsto em sua lei de aprovação. O monitoramento também teve início no mesmo ano.
Portanto, é um sistema mais recente. Alguns aspectos da política urbana também já eram
monitorados por outro sistema construído pela Prefeitura de Belo Horizonte. Trata-se
do Sistema Local de Monitoramento de Indicadores ODS de Belo Horizonte, criado no
Observatório do Milênio de 2018. Esse sistema monitora não apenas os temas do ODS
11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis, mas também de todos os outros Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável.

Os indicadores construídos e selecionados pela prefeitura foram organizados em 11


dimensões de monitoramento. Isso foi feito a partir de grupos de estratégias adotadas
na política urbana e que respondem aos conceitos da NAU e do ODS 11 (Figura 10). É
possível acessá-los por meio de dois tipos de painéis: os painéis exploratórios e os de
indicadores.

Os painéis exploratórios permitem que a população faça análises qualitativas,


quantitativas e espaciais, combinando conjuntos diferentes de informações relacionadas
a um tema (BELO HORIZONTE, 2020). Os painéis de indicadores organizam a atualização
e a divulgação dos indicadores de acordo com cada dimensão de monitoramento. Esse
tipo de painel possui menos informações combinadas, permitindo uma análise mais
aprofundada do comportamento do indicador (BELO HORIZONTE, 2020). Há ainda uma
descrição completa do indicador, a nota técnica de sua construção e a possibilidade de
aplicar filtros (por exemplo, recortes territoriais).

O monitoramento de Belo Horizonte possibilita a leitura por unidades territoriais, zona


de uso, bairro e região, com dados de anos diferentes. No entanto, há também variações
entre os indicadores quanto às opções de agregação/desagregação espacial e temporal.
Isso depende da disponibilidade dos dados.

Atualmente, a plataforma disponibiliza 23 indicadores da Dimensão Compacidade e


Policentrismo para consulta. Eles estão disponíveis em: https://prefeitura.pbh.gov.br/
politica-urbana/planejamento-urbano/base-de-dados/monitoramento.

A Figura 11 mostra um exemplo de indicador disponível na plataforma: Densidade


Construtiva Licenciada por ano de aprovação na cidade de BH. Esse e mais 22
indicadores foram propostos para monitorar o desenvolvimento urbano em favor do
maior adensamento construtivo e populacional. Além disso, para concentrar atividades
econômicas associadas à qualificação urbanística nas áreas que o Plano Diretor considera
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Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

como centrais. Pretende também responder às seguintes perguntas: as áreas centrais da


cidade seguem o conceito de compacidade? Elas seguem o conceito de policentrismo?
(BELO HOROZONTE, 2022).

Os indicadores para as outras categorias estão em construção e ainda não estão


disponíveis para o público. Todos os dados e informações presentes nesse sistema estão
disponíveis para download em formato aberto para garantir a transparência e o controle
social. É possível acessá-lo em libras, em conformidade com a política de acessibilidade,
assim como na plataforma de São Paulo.

Figura 10: Dimensões do


Monitoramento da
Política Urbana e da NAU na
cidade de Belo Horizonte .
Fonte: Belo Horizonte (2022).
https://prefeitura.pbh.gov.br/
politica-urbana/planejamento-
urbano/base-de-dados/
monitoramento

Figura 11: Indicador de


Densidade Construtiva
Licenciada por ano de
aprovação na cidade de Belo
Horizonte
Fonte: Belo Horizonte (2022).
https://prefeitura.pbh.gov.br/
politica-urbana/planejamento-
urbano/base-de-dados/
monitoramento
42
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

2.3.2 MONITORAMENTO DOS ODS: OBSERVATÓRIO DE FORTALEZA E O ÍNDICE


DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DAS CIDADES

A Agenda 2030 e os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) surgiram em


2015 como um grande pacto supranacional para enfrentar os principais desafios globais.
Ele foi assinado pelos 193 Estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU),
incluindo o Brasil. Assim, criou-se uma ambiciosa agenda comum para as nações de todos
os continentes.

O compromisso que depende da atuação direta das cidades precisa ser adaptado para
cada escala local, pois foi formulado na escala dos países. Como traduzir os compromissos
definidos pela ONU em metas e indicadores monitoráveis, capazes de serem medidos
e comparados ao longo do tempo, de modo que se possa acompanhar e avaliar a sua
evolução?

No Brasil, o IBGE monitora os ODS nacionalmente por meio de 63 indicadores. Alguns são
de autoria própria, outros são de outras organizações. Os indicadores procuram medir as
qualidades ambiental e de vida da população, o desempenho macroeconômico do país,
os padrões de produção e consumo, e a governança para o desenvolvimento sustentável
(IBGE, 2015). Pode-se encontrar localmente um número grande de iniciativas tanto do
poder público local quanto de organizações da sociedade civil. Elas construíram sistemas
e plataformas para monitorar a implementação da Agenda 2030 e dos ODS.

É importante lembrar que Desenvolvimento Urbano Sustentável (DUS) tem relação


direta com o ODS 11. Mas, para que as cidades alcancem o DUS é importante que os
outros 16 ODS também sejam alcançados, considerando as muitas dimensões do
desenvolvimento sustentável (econômica, social, ambiental, cultural).

A seguir apresentaremos duas experiências brasileiras. Uma é desenvolvida pelo Poder


Público municipal, o Observatório de Fortaleza. A outra é o Índice de Desenvolvimento
Sustentável das Cidades, uma iniciativa do Instituto Cidades Sustentáveis (ICS), na área
do Programa Cidades Sustentáveis (PCS).

2.3.2.1 Observatório de Fortaleza

O Observatório de Fortaleza – Políticas Públicas e Governança Municipal foi criado


pela Prefeitura de Fortaleza em 2019, como vimos na aula magna deste módulo. Ele deu
continuidade ao antigo Observatório da Governança Municipal (OGM). Seu objetivo é
“[...] produzir, difundir e promover o acesso ao conhecimento sobre políticas públicas,
oferecendo subsídios para a tomada de decisão das lideranças públicas e contribuindo
para a qualificação da governança municipal” (FORTALEZA, 2022).

Monitora-se os ODS para a cidade de Fortaleza relacionando os 17 ODS às ações


propostas nos 34 planos setoriais do Plano Fortaleza 2040. Isso inclui os planos de
desenvolvimento urbano e o Plano Plurianual (PPA) 2018-2021. Na plataforma do
43
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

Observatório de Fortaleza é possível consultar um conjunto de indicadores chamado


Indicadores 2040. Esses indicadores estão estruturados em sete temas: Equidade
Territorial, Social e Econômica; Cidade Conectada, Acessível e Justa; Vida Comunitária,
Acolhimento e Bem-Estar; Desenvolvimento da Cultura e do Conhecimento; Qualidade
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais; Dinamização Econômica e Produtiva; e
Governança Municipal.

Mais informações podem ser obtidas em: https://observatoriodefortaleza.fortaleza.


ce.gov.br/.

2.3.2.2 Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades – Brasil (IDSC-BR)

A metodologia do IDSC-BR foi elaborada pela rede Sustainable Development Solution


Network (SDSN), da ONU. Seu objetivo é reunir conhecimentos técnicos e científicos da
academia, da sociedade civil e do setor privado para apoiar soluções em escalas locais,
nacionais e globais. Lançada em 2012, a SDSN já desenvolveu índices para diversos
países e cidades do mundo (INSTITUTO CIDADES SUSTENTÁVEIS, 2022).

O IDSC-BR vem sendo construído pelo Instituto Cidades Sustentáveis, organização


da sociedade civil que reúne duas iniciativas principais: o Programa Cidades
Sustentáveis (PCS) e a Rede Nossa São Paulo (RNSP). A proposta do IDSC-BR é
apresentar uma avaliação ampla do necessário para se atingir as metas dos ODS nos
5.570 municípios brasileiros. Usa para isso os dados mais atualizados disponíveis em
fontes públicas e oficiais do Brasil. Ao todo, o índice é composto por 100 indicadores,
referentes às várias áreas de atuação da administração pública.

A pontuação do IDSC varia de 0 a 100, sendo o máximo interpretado como a porcentagem


do desempenho ótimo. Portanto, a diferença entre a pontuação obtida pela cidade e
o valor 100 é a distância em pontos percentuais que uma cidade precisa superar para
atingir o desempenho ótimo (INSTITUTO CIDADES SUSTENTÁVEIS, 2022).

Os mesmos 100 indicadores foram aplicados a

?
todas as cidades do país para gerar pontuações
e classificar as cidades em um ranking (Figura
VOCÊ SABIA 12). Pode haver diferenças entre a posição
A descrição mais das cidades na classificação final por causa
detalhada da
metodologia pode ser
de pequenas distâncias na pontuação do
encontrada no site IDSC (INSTITUTO CIDADES SUSTENTÁVEIS,
criado especialmente 2022).
para divulgar os
resultados do O ranking do IDSC-BR informa que os
índice: https://idsc.
cidadessustentaveis.
ODS seriam mais facilmente atingíveis em
org.br cidades médias e pequenas, já que entre
as 100 primeiras cidades, a única capital é
44
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento urbano sustentável

Florianópolis (90ª posição). Quando se fala de grandes


cidades, apenas Campinas, Niterói e Ribeirão Preto AULA 2
situam-se nesse intervalo além de Florianópolis. As dez MÓDULO 7
cidades com maior pontuação nesse índice estão todas
localizadas no estado de São Paulo. São Caetano do Sul
está classificada em primeiro lugar. O Sudeste ainda
se destaca com muitas cidades entre as 100 primeiras,
seguido pela Região Sul do Brasil.

O índice também apresenta os Painéis ODS, além Aula 2 - Como monitorar


da pontuação e da classificação de cada cidade. Ele as políticas públicas de
Desenvolvimento Urbano
representa visualmente o desempenho dos municípios Sustentável?
nos 17 ODS. Utilizou-se um sistema de classificação por
cores: verde, amarelo, laranja e vermelho. Eles indicam o
nível de desenvolvimento de cada município em relação
aos objetivos: quanto mais próximo do vermelho, mais
distante de alcançar o ODS (INSTITUTO CIDADES
SUSTENTÁVEIS, 2022).

O IDCS-BR também apresenta limitações e lacunas na


obtenção de dados, assim como todo monitoramento
e avaliação que utiliza indicadores. Isso impossibilita
cobrir todas as dimensões dos ODS. Uma das principais
lacunas de dados é a inexistência ou a desatualização dos
dados públicos, principalmente os relacionados ao meio
ambiente, ao acesso à justiça e à transparência financeira.

Figura 12:
Distribuição
espacial do Índice
de Desenvolvimento
Sustentável das
Cidades – Brasil
(IDSC-BR)
Fonte: Instituto
Cidades Sustentáveis
(2022). https://idsc.
cidadessustentaveis.
org.br/

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