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Resumo
1. INTRODUÇÃO
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Frise-se aqui a necessidade de reflexão que Gaio (2015. p. 288) aponta
sobre as causas e técnicas que provocam o esvaziamento da efetividade dos
instrumentos que possibilitariam reduzir as desigualdades socioubanísticas.
Uma dessas causas ou técnicas seria o deslocamento da competência
legislativa para outros entes federativos.
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Nesse sentido, os segmentos da sociedade, devem buscar os espaços
de participação existentes, de modo a contribuir diretamente tanto na
construção coletiva da política urbana e das políticas setoriais, como na sua
implementação e acompanhamento, como forma de efetivação da gestão
democrática da cidade, com destaque para a necessidade de consideração das
manifestações e proposições populares:
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somam-se às audiências públicas e debates. Defende que o rol exemplificativo
do art. 43 é de emprego obrigatório e vinculado.
Ao tratar das audiências públicas, afirma o autor que as mesmas
possuem eficácia vinculante, podendo ser absoluta, em que a atuação
administrativa se dá conforme o resultado, ou relativa, no que tange à
obrigação de motivar suficientemente uma decisão contrária ao resultado,
sendo que a primeira exige previsão legal.
Quando diferencia os momentos de realização das audiências e sua
consequente eficácia, pondera que a audiência ocorrida na fase instrutória do
processo administrativo importa intensidade informativa mediante o debate,
não sendo vinculante para a decisão. Porém, se a audiência for feita na fase
decisória, o seu resultado será vinculante, desde que haja previsão legal
explícita, uma vez o efeito vinculante não se presume, por importar renúncia de
poder (art. 48, X e XI c/c 61, § 1º, II, e, c/c 84, II, CF/88).
Nota-se que os entendimentos até aqui colacionados revelam a
necessidade do real compromisso com as finalidades dos instrumentos de
participação, dentre as quais se destacam a reformulação das relações entre a
Administração Pública e os administrados (consenso, adesão, confiança,
colaboração); a limitação à discricionariedade administrativa e o aumento do
grau de correspondência entre as políticas públicas e as demandas sociais,
conforme as finalidades elencadas por Martins Júnior (2005, p. 241).
Do ponto de vista do Direito Administrativo, em muito contribuem os
entendimentos de Furquim (2014, p. 100), uma vez que critica a intensa
atividade discricionária da Administração em matéria de planejamento urbano,
preponderância que considera inadmissível no Estado Democrático de Direito.
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4. AS CONFERÊNCIAS MUNICIPAIS DE POLÍTICA URBANA EM
BELO HORIZONTE
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delineando uma etapa pós-conferência. Com isso, foi criada uma comissão,
com representatividade dos setores técnico, popular e empresarial, dentre os
delegados capacitados da IV CMPU, com a atribuição de acompanhar a
elaboração da minuta de Projeto de Lei, bem como o andamento das decisões
da Conferência junto à Câmara Municipal de Belo Horizonte.
Composta por 30 delegados, não há informções suficientes sobre a
atuação desta comissão a não ser, como consta nos anais da conferência,
que a comissão esteve em uma reunião para apresentação da estrutura do
projeto de lei do novo Plano Diretor pela Secretaria Municipal Adjunta de
Planejamento Urbano – SMAPU.
As proposições legislativas resultantes das propostas aprovadas na IV
CMPU estão em tramitação na Câmara Municipal de Belo Horizonte: o PL nº
1.749/15, que aprova o novo plano diretor para o município; o PL nº 1.750/15, o
qual complementa o plano diretor com o detalhamento dos critérios de
aplicação dos instrumentos de política urbana e a Emenda à Lei Orgânica nº
8/15, a qual atualiza dispositivos sobre política urbana.
Frise-se que, no ano passado, foi apresentada a emenda nº 59/16, de
autoria do Executivo, que na verdade é um substitutivo do texto original do novo
plano diretor contido no PL nº 1.749/15. Conforme os dizeres da mensagem
que acompanham a emenda, as principais alterações foram decorrentes dos
plantões técnicos e das sugestões populares encaminhadas.
Sem dúvida, uma etapa pós-conferência, materializada por uma
comissão que possa acompanhar os desdobramentos da conferência,
principalmente na discussão dos projetos de lei dela resultantes, é um
importante avanço em se tratando de transparência e participação, desde que
haja uma composição paritária e representativa, bem como efetiva e diligente
atuação de seus componentes.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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levando à maior divulgação de informações e ao uso de mecanismos com
potencial de oferecer capacitação, participação e controle.
As possibilidades trazidas pela IV CMPU, em especial o
acompanhamento dos resultados por uma comissão de delegados, ganham
especial relevância nesta análise por trazer novos horizontes de maior
influência da sociedade ao longo do processo, inclusive pós-conferência, e,
talvez, maior responsividade pública.
Considerando-se a variedade dos contextos e experiências dos demais
municípios brasileiros, são muitos os desafios para reverter o papel meramente
acessório ou formal dos instrumentos de participação, destacando-se a
importância das conferências de interesse urbano tanto pelos assuntos tratados
quanto pelo caráter amplo de participação e mobilização que propõem.
Considerando-se que o projeto de lei é o resultado da produção dos
consensos oriundos destas instâncias, a vinculação do Executivo decorre do
direito dos cidadãos à participação no planejmento e na produção da cidade,
assim como a uma proposição legislativa revestida de legitimidade e validade.
Para tanto se tornam necessárias garantias legais e procedimentais
claras que levem à participação ampla e efetiva, bem como ao real poder de
influência e controle da população nas decisões no processo de revisão do
plano diretor, visto que a discricionariedade não deveria prevalecer em matéria
de planejamento urbano e gestão democrática.
Os princípios da Administração Pública, em especial o da
transparência e o da motivação, i l u m i n a m possibilidades de consenso,
adesão, confiança e colaboração na condução desse processo de revisão, mas
não sozinhos, uma vez que é preciso sensibilizção dos atores envolvivos para
maior compromisso com os resultados das conferências. A aplicação dos
princípios processuais do contraditório, da ampla defesa e da isonomia
também poderiam corroborar, conforme Thibau (2014, p. 136), tendo em vista a
importância da construção democrática da cidade.
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REFERÊNCIAS
GAIO, Daniel. O fetiche da lei e a reforma urbana no Brasil. In: MAGELA, Geraldo
Costa (Org.); COSTA, Heloísa Soares de Moura (Org.); MONTE-MÓR, Roberto Luís de
Melo (Org.). Teorias e práticas urbanas: condições para a sociedade urbana. Belo
Horizonte: C/Arte, 2015.
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Participativo e Plural. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Direito da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2014.
MARTINS JÚNIOR, Wallace Paiva. Participação popular no Estatuto das Cidades. In:
FINK, Daniel Roberto (Coord.). Temas de Direito Urbanístico 4. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado, 2005.