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O

Acordo
Perfeito
MARJA
Quando o amor não é suficiente para
vencer as barreiras do ódio e do sofrimento, o
amor se perde e se acaba?
É possível o amor florescer em um
coração ressecado e ferido?
ÍNDICE
Capítulo 1 - Fim de Tarde
Capítulo 2 - De volta ao lar
Capítulo 3 - Mãos ao alto
Capítulo 4 -Encontro inesperado
Capítulo 5 - Fartura
Capítulo 6 - Raízes
Capítulo 7 - Fim da linha
Capítulo 8 - Chão de terra
Capítulo 9 - Sem forças
Capítulo 10 - Alucinações
Capítulo 11 - Mudanças
Capítulo 12 - Próximos
Capítulo 13 - Ataque
Capítulo 14 - Raiva
Capítulo 15 - Afeição
Capítulo 16 - Intimidade
Capítulo 17 - Simplesmente amor
Capítulo 18 - Feridas
Capítulo 19 - Íntimos
Capítulo 20 - Silêncio
Capítulo 21 - Curiosidade
Capítulo 22 - Traição!
Capítulo 23 - Dependência!
Capítulo 24 - Indesejáveis
Capítulo 25 - Atrás da Porta
Capítulo 26 - A noite dos sonhos?
Capítulo 27 - Medo
Capítulo 28 - O Capítulo
Capítulo 29 - Amor...
Capítulo 30 - Êxtase
Capítulo 31 - Tensão
Capítulo 32 - Fogo!
Capítulo 33 - Limite!
Capítulo 34 - Briguinhas
Capítulo 35 - Perigo
Capítulo 36 - Surra
Capítulo 37 - Cuidados
Capítulo 38 - Revirando o Baú
Capítulo 39 - Colocando a cabeça no lugar
Capítulo 40 - Suspiros no ar
Capítulo 41 - Abelhuda
Capítulo 42 - O Cavalheiro de Gesso
Capítulo 43 - Saindo dos eixos
Capítulo 44 - Um dia antes do terremoto
Capítulo 45 - Visita inesperada!
Capítulo 46 - Unha e Carne
Capítulo 47 - Dignidade
Capítulo 48 - Sem forças para lutar
Capítulo 49 - Novo acordo perfeito
Capítulo 50 - Pequena Sedução
Capítulo 51 - Do jeito que me pega
Capítulo 52 - Esperem por mim
Capítulo 53 - Varrendo para baixo do tapete
Capítulo 54 - Tanto sacrifício
Capítulo 55 - Cutucando a onça
Capítulo 56 - Plano sangrento
Capítulo 57 - Presente inesquecível
Capítulo 58 - Tudo que vai...volta
Capítulo 59 - Ai
Capítulo 60 - Serpente no ninho
Capítulo 61 - Paz e solidão
Capítulo 62 - Haja paciência
Capítulo 63 - Ciúmes
Capítulo 64 - De costas para o amor
Capítulo 65 - Revoada
Capítulo 66 - Mordida de cobra
Capítulo 67 - Solidão
Capítulo 68 - Tolices
Capítulo 69 - Xadrez
Capítulo 70 - Lembranças
Capítulo 71 - Desenganos
Capítulo 72 - Promessas provocantes
Capítulo 73 - Terremoto
Capítulo 74 - Explosão
Capítulo 75 - Desfecho Final
Capítulo 76 - Morrendo por dentro
Capítulo 77 - Um passo de cada vez
Capítulo 78 - De volta a vida
Capítulo 79 - A ferro e fogo
Capítulo 80 - Sem modo
Capítulo 81 - A ciranda da vida
Capítulo 82 - Passando a perna no destino
Capítulo 83 - As chagas do amor
Capítulo 84 - O sol brilha
Capítulo 85 - Fel
Capítulo 86 - Antídoto
Capítulo 87 - Bem diante do nariz
Capítulo 88 - Quase confissão
Capítulo 89 - Entreolhares
Capítulo 90 - Não diga que não falei de flores
Capítulo 91 - A força
Capítulo 92 - Por trás do ódio
Capítulo 93 - Medo de você
Capítulo 94 - Estilhaços
Capítulo 95 - Sem acreditar
Capítulo 96 - Chocolate com amor
Capítulo 97 - A rosa dos ventos
Capítulo 98 - Amabilidades
Capítulo 99 - Londres
Capítulo 100 - Um novo mundo
Capítulo 101 - A primeira rusga
Capítulo 102 - Caramujo
Capítulo 103 - Tecendo mágoas
Capítulo 104 - Bem me quer, mal me quer
Capítulo 105 - Desencantos
Capítulo 106 - Dois lados da mesma moeda
Capítulo 107 - Gêmeas
Capítulo 108 - Acabando com a noite
Capítulo 109 - Atrás das sombras
Capítulo 110 - O troco
Capítulo 111 - Ideia de mestre
Capítulo 112 - Primeira tentativa
Capítulo 113 - Sem paragem
Capítulo 114 - Fatalidades e escorregões
Capítulo 115 - Culpe o amor
Capítulo 116 - Engraçadinho
Capítulo 117 - Dos dois lados
Capítulo 118 - Cheiro de amor no ar
Capítulo 119 - Segredos do passado
Capítulo 120 - Bajulação
Capítulo 121 - A grande presença entre nós
Capítulo 122 - Sem laços
Capítulo 123 - Cada vez mais apaixonada
Capítulo 124 - Desgosto
Capítulo 125 - Flores de tecido
Capítulo 126 - Orgulho
Capítulo 127 - Vaidades e tolices
Capítulo 128 - Trapos e linhas
Capítulo 129 - Quanto mais, melhor
Capítulo 130 - Sorrisos e tropeços
Capítulo 131 - Revelando o passado
Capítulo 132 - Adeus ao futuro
Capítulo 133 - O susto e o riso
Capítulo 134 - Dos pedacinhos
Capítulo 135 - Ventos e garoas
Capítulo 136 - Pedras no caminho do amor
Capítulo 137 - Segundas Intenções
Capítulo 138 - Perto do fim
Capítulo 139 - Esperanças desfeitas
Capítulo 140 - Um passo além do precipício
Capítulo 141 - Apego a vida
Capítulo 142 - Por tudo que o amor nos trás
Capítulo 143 - Dias melhores virão
Capítulo 144 - Minhas razões de viver
Capítulo 145 - Depois da tempestade
Capítulo 146 - Ternura
Capítulo 147 – Mais um pouco
Capítulo 148 – Ou sim ou não
Capítulo 149 – Sim
Capítulo 150 – O casamento dos sonhos
Capítulo 151 – O Casamento real
Capítulo 152 – Lua de Mel
Capítulo 153 – Sem Fim
Capítulo 154 – Diante do Futuro
Capítulo 155 – Por Tudo que você me faz
Capítulo 156 – O Futuro dos Apaixonados
Capítulo 1 - Fim de Tarde

1827
Estados Unidos
New Orleans, Lousiana

Os cavalos estavam inquietos naquela


noite escura de fim de maio. Os mais velhos
diriam que isso era sinal de um mau presságio.
Um presságio de morte ou tragédia. Mas os mais
novos apenas ririam e prosseguiriam com suas
vidas.
Como aconteceu naquela noite.
A revelia da vontade de seus pais, a
pequena Anne e sua irmã Helena seguiram para a
cidade atrás de suprimentos e medicamentos tão
logo a noite começou a findar, e o sol ainda não
despontara. O sol mal se anunciava entre as
nuvens quando as duas saíram de casa.
A cidade tinha crescido muito desde que
a ferrovia havia sido instalada, e as fazendas e
propriedades ao longo do vale tinham um maior
aproveitamento, agora que bastavam poucas horas
para obter proventos que os mantivesse.
A carroça seguiu pela árida estrada de
chão, e Anne reclamou, pedindo à irmã que
diminuísse a velocidade, mas Helena apenas lhe
sorrira e continuara tocando os cavalos com a
perícia de uma jovem de dezessete anos que
crescera cuidando da família.
Eram as últimas de uma penca de filhos,
somados em mais de doze. Filhos homens que se
perderam na guerra, nos tempos de seca, e em
brigas de bar e estrada. Filhos que deixaram
apenas as lágrimas e de que pouco Helena se
lembrava. O último deles fora morto a pouco mais
de cinco anos, e desse ela lamentava, pois era o
que a ensinara a cavalgar.
Seu pai, muito doente para tocar a
fazenda, permitira que a filha apesar de mulher,
cuidasse dos negócios, e era sua única alternativa
desde que numa tempestade, num acidente infeliz,
se tornara inválido.
Um peso para a família, pois se ao menos
estivesse morto, outro homem poderia tomar sua
esposa e cuidar de suas filhas.
Mas esse homem não existia em tal
lugar.
Os fazendeiros da região eram todos
velhos conhecidos, e não passavam de raposas
velhas atrás de ouro. Qualquer um acabaria com a
vida de Madeleine e venderia suas filhas como se
vende gado.
Por isso o velho Antenor resistia em sua
cama, postergando o sofrimento de sua vida inútil.
Nesse tempo vira a filha tornar-se o
homem da casa, cuidando dos animais e
aprendendo a atirar. Ela cuidava do gado e
mantinha os agregados com rédea curta.
Havia doçura em sua face, apesar de
tudo, ainda havia doçura em sua face, e ela
sempre se lembrava de trazer um pedaço de tecido
para sua mãe costurar um vestido para a irmã.
Essa sim que pensava, que Anne deveria
ser uma dama e casar-se com um homem
estudado. Ele a levaria para outra cidade e faria
dela uma mulher feliz. Era o sonho da família.
Para Helena, restava a rudeza e a solidão, mas ela
não parecia pensar nisso. Tinha metas.
Cuidar da família era uma delas.
Aquele dia não deveria ser diferente dos
outros. Buscar ração e alimentos. Ervas e
remédios. Uma ida rápida, pois deveria chegar
antes que anoitecesse e as estradas se tornassem
ainda mais perigosas.
Anne não parecia notar a troca de olhares
entre Helena e os homens do outro lado do cabaré
da cidade, que as mediam atentamente, desde seus
movimentos nada femininos ao retirar os sacos de
milhos da carroça, até seu grito exigindo que a
irmã ficasse perto.
Anne tinha treze anos e era linda demais
para ficar só. Vestia-se com esmero e cuidado. Era
de uma beleza clássica que despertava o interesse
de qualquer homem. Por isso tanto zelo. Cuidado
extremado com sua honra.
Helena por sua vez abandonara os
vestidos bem cortados, por um mais simples, o
qual não se preocupava se estaria sujo ou não. Por
ela, usaria calças como os homens e o coldre da
arma a mostra, mas isso mataria sua mãe de
desgosto.
As duas não demoraram dentro do
armazém. Apenas um par de horas para trocar o
milho por tudo que precisavam.
Em dado momento Helena olhou em
volta atrás da irmã e não a encontrou.
Colocando a ração atrás da carroça ela
saiu pra procurá-la. Alguns conhecidos a
cumprimentaram, mas não era atrás deles que
estava.
Seu pânico amornou quando enxergou
Anne conversando com outra menina. Ela arrastou
a menina aos berros para a carroça e as lágrimas
de Anne não a comoveram.
Por dentro estava rachada, mas por fora
tinha que ser dura. Anne merecia um futuro maior
e melhor do que cuidar da terra, ou cuidar de
filhos que morreriam cedo como acontecera com
os filhos de sua mãe.
Anne iria ser feliz, ela pensou
conduzindo a carroça pelas estradas de chão.
O trajeto fora rápido, pois o sol ainda
queimava sobre suas cabeças. De volta a casa,
Anne ajudou a irmã a levar os medicamentos para
dentro de casa.
Helena estava tirando os sacos pesados
de ração da carroça quando ouviu o grito.
Um grito terrível de pânico.
O sangue gelou em suas veias e ela
correu para dentro da casa, tirando a arma das
costas, onde escondia sob o colete do vestido.
A sala de madeira estava vazia, mas
tinham marcas de barro na sala. As marcas no
chão levavam para um dos os quartos e ela abriu a
porta, esperando encontrar sua mãe ou seu pai.
Nada. Estava tudo vazio.
Um novo grito, e ela correu para a
cozinha vendo marcas de barro pelo chão, que
saiam pela porta aberta.
Sempre correndo ela foi atrás dessas
marcas. No caminho, encontrou um dos cavalos
abatido e perdeu o ar, desesperada para encontrar
Anne e os pais. O celeiro era o único esconderijo e
quando entrou avistou pés. Atrás da porta haviam
pés e ela reconheceu o caseiro, que tanto a ajudava
no trabalho pesado.
Ele não era o único, haviam outros
homens, que cuidavam do gado e das plantações.
Todos mortos. O sangue corria pelo chão e ela
sentiu o pânico paralisá-la.
Não havia mais gritos e isso era ainda
mais aterrorizador.
Saindo do celeiro ela andou por trás da
construção onde ficava o bebedouro dos cavalos.
A primeira imagem que teve foi da
boneca no chão. Manchada de barro, a boneca de
Anne estava jogada na lama. A segunda imagem
foi de um dos seus sapatos.
Preparando-se para o que veria, ela
empurrou os sacos de milho que estavam
amontoados atrás do celeiro e viu. Um homem
grande e corpulento. Vil o bastante para ter
rasgado as roupas de uma criança e possuí-la a
força, violava sua irmã. Com um pano velho no
rosto, Anne parecia sufocada e não se mexia. Ele
ao contrário, sem se dar conta, continuava com
suas investidas, tomando aquilo que roubara para
si.
Helena ergueu a pistola velha, mas que
ainda funcionava e o som dela sendo destravada o
fez saltar para longe tentando achar sua arma, mas
antes que o fizesse a bala cravou em sua cabeça e
passou direto indo alojar-se em alguma árvore
longe dali.
O corpo caiu ao chão sem valer mais
nada, e ela ficou de pé esperando que algo
acontecesse. Alguém aparecesse e dissesse que
isso não estava acontecendo.
Mas ninguém apareceu e Helena andou
lentamente até o corpo da irmã, girando-a e
tirando-a daquela posição indigna para qualquer
cristã. Arrumou seu vestido para cobrir seu jovem
corpo, e destampou sua face, acariciando seu
rostinho de anjo, agora sem vida.
Fechou-lhe os olhos, pois estes ainda
estavam abertos e segurou-a contra o corpo,
abraçando-a uma última vez.
Havia um silêncio total a sua volta. Um
silêncio total dentro dela.
Helena queria chorar e gritar, implorar
para que aquilo não fosse verdade, mas a
obrigação a fazia forte e ela deixou Anne onde
estava e partiu procurando pelos pais.
Estivera fora tempo suficiente para o pior
ter se dado e não se surpreendeu ao encontrar os
corpos. Seu adorado pai, ela pensou ao se ajoelhar
ao lado do corpo e passar as mãos por sua barba
branca e longa. Seu amado e idolatrado pai, tão
triste e tão insultado pela vida.
Ao seu lado o corpo de sua mãe, uma
mulher que tivera tanta beleza no passado, mas
que a tristeza tratara de matar aos poucos.
Ela tinha certeza, de todos, Madeleine
fora a que menos sofrera, pois já estava morta há
anos. Eram inegáveis as marcas de sangue em
suas pernas, e as roupas rasgadas não negavam
que aquele animal não tivera respeito sequer por
uma senhora.
Maldito dia que a fizera sair de casa logo
cedo.
Ao menos agora, estaria morta junto com
sua família.
Capítulo 2 - De volta ao lar

Rony Parker desceu do cavalo olhando


em volta sem compreender o porquê dos olhares.
Haviam poucas pessoas na cidade e essas o
olhavam como se ele carregasse a peste consigo.
Tratando de amarrar o cavalo ele entrou
no velho bar, pedindo uma bebida bem forte. O sol
quase queimara seus miolos e tantas horas sobre o
lombo do pobre animal não fizera bem nem para
ele, nem para o cavalo.
O velho atrás do balcão olhou-o
atravessado e serviu-o enquanto sua mulher, uma
mulher muito baixa e gorda, tirava uma criança
pequena de perto dele.
-O que tem essa cidade? – Ele perguntou
após um gole da bebida forte. – Parece que todos
viram uma assombração!
-Não gostamos de forasteiros. – Ele disse
sério olhando-o atravessado e deixando que visse
a arma em sua cintura.
-Não sou um forasteiro. - Ele disse em
defesa – Estou voltando, amigo. Pode guardar
isso! – Ele apontou a arma e o homem não pareceu
nada convencido.
-Não me lembro de já ter visto sua cara
por aqui. – Ele respondeu.
-Sou Ronald Parker, filho de Artur
Parker. – Ele falou e os olhos do homem se
estreitaram.
-O pequeno Parker que foi estudar fora do
país? - Ele perguntou.
-Sim, agora não mais tão pequeno assim.
– Sorriu - Estou de volta à cidade. Agora diga o
que aconteceu para tanto medo?
O velho Sr.Ernest olhou para a mulher e
então em volta, antes de falar:
-Têm sido tempos difíceis, filho. Tempos
difíceis desde que a ferrovia chegou. – Era como
se contasse um segredo.
-A ferrovia trouxe o progresso. Meu pai
contou-me em uma carta como aumentaram os
negócios por essas bandas. – Ele disse sabendo
que haveria mais do que mágoa por uma ferrovia.
-Sim, ninguém nega isso, mas ela
também traz forasteiros. Pessoas sem parada, meu
filho. E a desgraça os acompanha por onde
passam.
-O que quer dizer? – Por um instante ele
pensou na família. Nos pais e nos irmãos.
-Um demônio, filho. – Ele disse fazendo
o sinal da cruz e sua mulher fazendo o mesmo –
Um homem sem piedade desceu daquele trem e
fez a maior desgraceira que essas terras já viram.
Tem um mês, mas as pessoas não conseguem
esquecer!
-E o que esse homem fez? - Ele estreitou
os olhos, mas quem respondeu foi à mulher do
dono do bar, a velha Gertrudes, que tudo via, e
tudo comentava. Sua língua estivera muito calada
no último mês, por medo.
-Lembra-se da fazenda ao sul da colina,
que faz divisa com a fazendo do seu pai? A
fazenda do velho Antenor? – Ele maneou a cabeça
concordando, mas na verdade não lembrava, fazia
muitos anos que saíra daquele local – Pois bem,
meu filho. Um forasteiro escondeu-se na casa, e
no finzinho da noite, atacou toda uma família –
Ela disse com voz sofrida – Antenor, a mulher, os
empregados. Até mesmo os cavalos esse
desgraçado matou! E não satisfeito, levou a vida
da pequena Anne, filhinha mais nova. Uma
criança que era um verdadeiro anjo! Toda uma
família morta! Uma judiação!
-Ele foi preso? - Era realmente uma
tragédia que o fez se arrepiar, pois na capital eram
comuns esses relatos.
-Não. Foi morto. Anne e a irmã mais
velha estavam na cidade quando aconteceu. A
pobrezinha foi atacada primeiro, e a irmã acabou
por matar o infeliz. Pobre criança, ter uma morte
nas costas! – Gertrudes lamentou.
-Pobre menina, pois agora que começará
sua desgraça. – O velho instigou.
-A família não olhará por ela?
Ele vivia em uma cidade maior, e as
mulheres não eram tão cobiçadas como em terras
como aquela, mas no interior, era desse modo.
-Não sobrou ninguém, meu filho. A
pobre tem ficado sozinha naquela casa, dormindo
sob o teto onde toda a família morreu e cuidando
sozinha do gado e das plantações. E sabemos que
o pior está por vir. Quanto tempo pode uma
mulher jovem e sozinha viver em paz nessas
terras? Uma pena. Uma pena mesmo.
Rony concordou pensativo. Não era um
assunto do seu interesse. Bem ou mal, ele saíra
daquela cidade aos dez anos para estudar em uma
escola interna. E hoje aos vinte e quatro anos, era
um jovem doutor.
Com o diploma nas mãos voltara ao lar,
apenas e unicamente para dar o orgulho que a
família queria. Depois, voltaria à cidade, e
cuidaria de sua vida.
Pagando a bebida ele se despediu e foi
embora.
Desamarrava o cavalo quando algumas
pessoas cruzaram a ruela de terra em direção ao
prédio ao lado do bar.
Eram homens velhos e uma jovem.
Ela vestia-se de preto, um vestido
simples e de gola alta, que cobria seus braços e
colo. Os cabelos estavam presos em um lenço,
talvez para abrigá-los do vento. Ela olhava para
frente, sem ver e sem ouvir.
Não chamava muita atenção, não fosse à
áurea de ódio a sua volta. Desistindo dessa
imagem, ele montou no cavalo e colocou o chapéu
sobre os cabelos ruivos, pondo-se na estrada
novamente.
De volta ao lar, ele estava de volta ao lar.
Capítulo 3 - Mãos ao alto

As palavras não entravam em sua mente.


Porque eles falavam tão baixo e tão pausadamente
como se ela não fosse capaz de entender?
Helena esperou que o homem atrás da
mesa se calasse para tomar a voz, visto que
falavam sem lhe dar oportunidade de participar
das decisões.
-O que há de errado com a fazenda? - Ela
elevou a voz para que eles se calassem – Sou a
única herdeira e sei dos meus direitos! Porque não
posso fazer o pagamento da hipoteca? O que esta
acontecendo, Sr.Ford?
O homem olhou de rabo de olho para o
advogado de pé no fundo da sala e olhou então,
para ela.
-A hipoteca da fazenda foi adquirida por
seu pai Srta.Johnson e há poucos anos foi tomado
no nome de seu irmão, que Deus o tenha. Com a
morte de ambos, a fazenda passa a ser do Estado
até que a dívida seja saldada.
-Desde a morte do meu irmão tem sido eu
a pagar a dívida. – Ela defendeu-se – Não falhei
um único mês! Por que não posso continuar
pagando?
-Porque agora estabeleceu um risco que o
banco não está disposto a arcar. – Ele informou
sério – Sem seu pai, o risco de deixar essa dívida
em aberto é muito grande. Tente entender.
-Tenho sido o homem da casa há anos! –
Ela exasperou-se – Sabe que continuarei pagando
não sabe? – Apelou, pois ele era um grande amigo
de seu pai em vida.
-É claro que sei. Mas o banco entende
que o risco da fazenda ser tomada por terceiros é
muito grande, e nesse caso a dívida não poderia
ser cobrada e o prejuízo seria todo nosso.
-Como assim? Tomada? Sou a herdeira! –
Levantou-se desconcertada.
-É a herdeira, Srta.Johnson, mas também
é uma mulher. E o risco de ser roubada agora que
está só é muito maior. E esse risco definitivamente
não é atraente ao nosso empreendimento.
-Fala com tanta frieza. - Ela disse
horrorizada - Não vêem, estou sendo roubada por
vocês, e não por outro qualquer! Querem me
tomar o único bem que me resta! - Esbravejou.
-Não veja desse modo. Estamos lhe
dando um prazo. – Ele tentou acalmá-la, sentindo
muita pena.
-Um prazo? Trinta dias para arrumar o
dinheiro que levaria anos para juntar? Trinta dias
para que? Para que eu deixe meu passado e meu
futuro para trás? É isso? Estão tirando a fazenda
de mim!
Essas palavras doeram nela, mas era a
única verdade.
-Por favor, Srta.Johnson! – Ele elevou a
voz também – Um mês é um prazo razoável para
que pague ou arrume um tutor. Um homem para
cuidar...
-Um homem para me roubar antes que
vocês o façam! Não! – Ela gritou – Não podem
tirar a fazenda de mim! Não acredito em uma
única palavra do que dizem! Vou escrever para o
dono do banco, para o juiz, não vou entregar
minha vida desse modo!
-Acalme-se, Srta.Johnson – O advogado
do banco tentou acalmá-la segurando seu braço e
Helena o empurrou com força, soltando-se.
-Não me toque! – Gritou – Nenhum de
vocês tem alma!
O gerente do banco ainda gritou que
ficasse, mas ela saiu em disparada, os passos
rápidos e a corrida mais rápida ainda.
Conduziu a carroça para fora da cidade
como se o próprio demônio a guiasse. Não
bastasse a dor da perda, ainda tiravam o chão de
sob seus pés!
As milhas que a separavam da cidade
foram percorridas com pesar e raiva. As lágrimas
de frustração se misturavam as lágrimas de
tristeza enquanto pensava em sua família.
Estar sozinha no mundo era muito mais
fácil de aceitar, do que conviver com a raiva e o
ódio de passar por tanta humilhação.
Todos enchiam a boca para dizer que o
infeliz que os assassinara era um monstro, mas
todos eles faziam o mesmo, apunhalando-a sem
dó!
Desde a morte de sua família ela vivia
sozinha naquela casa, cuidando do gado e da
plantação ela mesma. Ninguém queria trabalhar
naquelas terras depois das mortes, e Helena fazia
tudo, tentando tocar a vida, apesar de saber que
não poderia fazê-lo para sempre.
Tinha emagrecido muito, e a comida
estava cada vez mais escassa, visto que não
conseguia cuidar da plantação sozinha e estava
produzindo menos do que o dono da venda
aceitava pela troca dos mantimentos.
Se ainda negociava com ela, era mais por
pena, do que por vantagem financeira.
Fechando os olhos ela conduziu os
cavalos com pressa. A mente agitada e a raiva a
fazendo cega para o resto do mundo. Estava
chorando, fato raro em sua jovem vida, e cega pela
indignação ela enxugou o rosto com as mãos e não
viu nada a sua frente.
Não viu o homem que estava de pé no
meio da estrada de terra acenando para que
parasse. Não que ela fosse parar, nunca faria isso
estando sozinha, mas quando abriu os olhos tudo
que pode pensar foi que colidiria com ele.
Puxando as rédeas, ela tentou segurar os
cavalos sem sucesso. Mais puxões e os cavalos
pinotearam e empurraram a carroça para trás, e
Helena precisou de toda sua força para não
tombar.
Quando finalmente os cavalos se
aquietaram e a carroça parou de se mover, ela
estava dolorida, com os braços sem força de tanto
apertar os relhos.
Imóvel ela puxou o ar antes de sair da
carroça com as pernas trêmulas. Foi quando se
lembrou do homem e imediatamente apanhou a
arma na parte de trás do vestido negro.
Ele estava próximo e ergueu os braços
para cima quando ela apontou a arma.
-Não se aproxime! – Ela gritou, tentando
andar na estrada, de forma a proteger a carroça e
se proteger. – Não se aproxime!
Rony olhou para aquela pequena mulher,
convicto que ela atiraria se ele desse um passo em
sua direção.
Estava em sua face e em seus olhos.
Ela atiraria para matar.
Capítulo 4 -Encontro inesperado

Era uma mulher pequena e muito jovem.


Seu vestido preto tornava sua pele
assustadoramente pálida e seus cabelos estavam
desalinhados pelo vento e pelo tranco de manter os
cavalos controlados.
Ele levara um tremendo susto achando
que causaria uma desgraça quando a vira perder o
controle das rédeas. Sem poder fazer nada ele
assistiu de camarote a luta entre a força dos
animais e a força dela, ao manter as rédeas presas
e o controle.
Apesar de pequena ela crescera diante do
seu olhar, tornando-se gigantesca. E agora,
desconcertada e um pouco trêmula, pois o susto
fora imenso, ainda era capaz de manter a arma em
risque, o braço firme e a pontaria certeira.
-Eu não vou atacá-la! – Ele gritou de
volta – Meu cavalo foi picado por uma cobra. –
Ele indicou com a cabeça o belo animal tombado
sobre a relva ao longo da estrada.
-Não se aproxime mais! - Ela gritou
novamente, se afastando alguns passos sem tirar
os olhos dele, e ficando mais perto do animal. Em
sua pata dianteira havia marcas de sangue e ela
constatou que o belo animal estava perdido.
-Ele precisa de ajuda! – Rony disse
angustiado – Posso colocá-lo em sua carroça?
Tenho certeza que meu pai pode...
Antes que ele terminasse a frase ela
apontou a arma para a cabeça do animal e
disparou. Um tiro seco e preciso e o animal parou
de se mover e sofrer.
-Mas que diabos você fez! - Ele gritou
aproximando-se imediatamente, num reflexo e
sendo parado por ela. Pela arma apontada em sua
direção.
-Não havia mais nada a fazer a não ser
acabar com seu sofrimento. - Ela avisou.
-Eu não acredito! Como pode atirar desse
modo? – Havia incredulidade em sua expressão –
Poderia ter feito algo por ele! Poderia ter... Feito
algo!
-Siga seu caminho. Essas estradas são
perigosas. – Ela avisou, se aproximando e subindo
na carroça ainda com a arma nas mãos.
-Estou indo para a fazenda de Artur
Parker. – Ele disse mais ameno, pois ela não
estava para brincadeira – Não fica longe daqui...
-Sei onde fica. – Ela cortou seca.
-Pode, por favor, me dar uma carona?
Sou filho de Artur. – Ele pediu e por um segundo
pensou ter visto algo mais suave em seu olhar.
Mas durou apenas um segundo. Ela
tornou a apontar a arma dizendo friamente:
-Se afaste.
Rony sequer pensou em desobedecê-la.
Andando para fora da estrada, ficou ao lado do
cavalo morto observando-a partir.
A carroça ia longe quando ele baixou as
mãos, incrédulo. Esse tipo de coisa só podia
acontecer naquela terra perdida, pensou. Se
contasse uma coisa dessas para seus amigos da
faculdade, eles não acreditariam!
Olhando para cima, para o céu que
começava a dar sinais de escurecer, ele começou a
andar, querendo ao menos saber quem era aquela
mulher completamente louca.

O dia caía no céu quando Helena chegou


à fazenda. O aspecto largado havia tomado conta
da fachada, pois sozinha ela não dava conta de
capinar todo o mato. Mal conseguia cuidar da
plantação e dos animais. Mas isso ia mudar. Em
alguns dias os homens da cidade esquecer-se-iam
das mortes e do medo e viriam atrás de emprego,
pois naquela época do ano era difícil arrumar
qualquer coisa que não fosse no campo. Convicta
disso, e tentando se agarrar a essa esperança, ela
entrou na casa depois de arrumar os cavalos e
fechar o celeiro. Com passos urgentes ela foi
diretamente para seu quarto. Com a casa toda
trancada, como vinha mantendo nos últimos dias
de solidão, ela arredou o roupeiro de madeira,
pesado e velho e com as mãos ela puxou uma
tábua solta do chão, retirando algo de lá.
Levantando-se do chão, ela colocou o pequeno
pano amassado sobre a cama, e desembrulhou.
Era um longo cordão de ouro com pérolas
e diamantes. Seu único bem além da fazenda.
Pensando muito ela chegou à conclusão de que
não poderia deixar isso ali, caso eles tirassem a
fazenda dela. Fechou os olhos fortemente. Triste
destino.
Ela ficou de pé e abriu o vestido com
dificuldade, pois os botões eram atrás. Resignada
colocou a joia dentro do espartilho que mantinha
seu corpo preso na roupa. Carregaria seu único
bem junto dela por garantia. O destino não
poderia tirar-lhe mais nada, pensou. Guardando o
tecido velho, ela arrumou o roupeiro no lugar e
sentou-se na beira da cama, sentindo o peso da
responsabilidade que tinha sobre os ombros.
Evitava pensar em tudo que perdera. Evitava
pensar nos pesadelos que a atormentavam todas as
noites. Tinha muito que fazer para se lamentar
pela vida. De pé, Helena respirou fundo antes de
sair da casa e trancar tudo novamente. O sol ainda
estava ardendo sobre sua cabeça, e amarrando o
lenço nos cabelos ela foi para o celeiro. Ainda
havia muito trabalho a sua espera...

Rony andou por algumas horas até


finalmente chegar à frente da fazenda onde
nascera. Ele se apoiou na porteira e ficou olhando
para a casa. O tempo tinha parado. Algo dentro
dele explodiu ao ver a casa.
Algo que supunha ter morrido ao entrar
naquela escola interna contra sua vontade.
Quantas noites ele havia chorado em sua cama,
dizendo a si mesmo que homem não chora
enquanto pensava em sua mãe. Com os anos a
saudade morrera, visto que um mundo se abrira
diante dele, cheio de novidades e conhecimento,
um mundo tão diferente do mundo ao qual
pertencia.
E esse mundo gritava diante dele. A terra
sob seus pés. O sol sobre sua cabeça. Por mais
que os anos houvessem apagado de sua mente,
aquela terra estava dentro dele. Ele assistiu a
porta da casa abrir, uma casa mais simples do que
ele se lembrava, e uma roliça mulher sair
acompanhada de uma bela jovem. A senhora
carregava uma bacia grande cheia de água e a
jovem carregava um balde com frutas. A jovem
ruiva, ele não teve dúvidas, só podia ser sua
irmãzinha Alice. Lembrava-se dela, embora
fizesse muito tempo desde que a tenha visto.
Elas conversavam, e quando a roliça
senhora virou-se em direção ao portão, viu aquele
homem alto, ruivo e expressivo olhando para ela
com a mesma expressão de quando se olha para
algo muito bonito e verdadeiro. Levou um
segundo para Sandra Parker reconhecer o franzino
filho naquele homem austero e elegante, apesar da
roupa suja e da pele molhada de suor. Levou
apenas um segundo para seu grito cortar o silêncio
do dia, e a bacia cair aos seus pés quando ela se
pôs a correr em sua direção. Estava em casa. Ele
finalmente estava em casa.
Capítulo 5 - Fartura

Faziam muitos anos que Ronald Parker


não via a família pessoalmente. E era como se
esses anos nunca houvessem passado. Depois de
um farto jantar ele passara muitas horas contando
de sua vida na cidade grande.
A essa altura o diploma estava nas mãos
de sua mãe, e ela havia derramado algumas
lágrimas silenciosas, antes de erguer os olhos para
ele e dizer:
-Isto me custou o meu filho. Mas valeu a
pena – ela disse cheia de significado e Rony
surpreendeu-se ao responder, algo que ele sequer
sabia que estava dentro dele.
-Ele pertence à família, mas eu pertenço a
esse lugar.
De seu canto Artur Parker não disse
nada. Vira seus filhos crescerem e passarem pelas
mesmas dificuldades que ele cuidando da terra e
do gado. Seu último filho homem deveria ter outro
destino. Mas quem sabe, ess fora seu erro grande
erro?
Hoje, via com clareza que a rudeza da
terra era o melhor caminho para a sua vida, e
quem sabe, houvesse sido o de seu filho também.
-Era o melhor que poderíamos querer
para você. Uma vida de estudo. – Sandra disse
sentida e Rony sorriu.
-Estou de volta, mãe – ele apanhou a mão
de sua mãe – E não sei se quero ir embora.
-Não há muito trabalho para um
advogado por esses lados. – Artur disse pensativo
– Exceto por alguma disputa de terra de vez em
quando... Porém como a ferrovia a cidade irá
crescer, mas se pensa em fazer fortuna, aqui não
será o melhor lugar. – havia alguma hesitação em
seu pai e Rony sorriu compreendendo seu zelo.
-Tenho economias - ele disse pensando
nisso agora – Posso comprar alguma terra. Posso
começar de algum lugar. Só não quero ir embora
novamente.
-Que bom, meu filho – Sandra disse a
beira das lágrimas – é um sonho tê-lo aqui, ao
meu alcance!
-É muito bem vindo a essa casa – Artur
disse emocionado, fitando com orgulho o homem
a sua frente – Seus irmãos ficarão surpresos com
sua vinda, eles vivem reclamando de sua ausência.
-Não é fácil deixar a cidade – ele admitiu
– o trabalho sempre nos prende e o tempo parece
que some. – disse com certa mágoa.
-Seu irmão Ducan casou-se esse ano.
Recebeu a carta que ele lhe mandou? – Sandra
perguntou docemente, olhando o filho com
idolatria.
-Sim, recebi. A noiva é linda, pelo que
pude ver na foto – ele sorriu lembrando-se da foto
em preto e branco que viera com a carta – E os
outros? O que se fez deles?
-Ducan é funcionário do único banco que
temos na cidade. Poderá vê-lo no fim de semana,
quando volta para a casa com a mulher. Phill é um
arruaceiro, ainda não tomou jeito, mas ganha
algum dinheiro com o trabalho junto ao gado.
Quanto a Percival... – Artur parou como se
faltasse a ele palavras para falar do filho -... Ele é
um funcionário do juizado local. Verá no que ele
se transformou com seus próprios olhos – havia
desgosto em sua voz.
-Não ligue para seu pai – Sandra disse
sorrindo – Percival é um homem de bem. É o que
importa.
-Sim - Artur disse ainda com desgosto –
Marcelo e Cosme trabalham no comércio. Pode
vê-los quando formos à vila comprar
mantimentos. Quanto a sua irmã – ele olhou com
afeto para a calada menina que os observava. –
Será uma linda professora quando seus estudos
acabarem. Com sorte, conseguirá um bom
casamento.
Rony olhou para a irmã com
encantamento. Ela tinha se transformado em uma
linda jovem. Deveria ter uns dezesseis anos, ou
um pouco mais, e era linda. Ele ainda lembrava-se
das brincadeiras e gritos pelo jardim.
Vê-la assim tão bonita fez com que
pensasse em seu amigo John. Ele era filho de um
importante casal da alta sociedade e passara
muitos anos ao seu lado na escola interna. Era um
homem íntegro e honesto e poderia facilmente se
apaixonar por ela.
Quando partira John dissera que
escrevesse quando estivesse instalado, para que
ele pudesse vir conhecer o local onde ele nascera.
E pensando nisso agora, ele achava que deveria
escrever o mais rápido possível.
-Diga filho, veio a pé da cidade até aqui?
– Artur perguntou pensando nisso.
-Não – ele disse com a sombra de um
sorriso incrédulo – Meu cavalo foi mordido por
uma serpente – notou a expressão de sua mãe, e se
apressou a acalmá-la – tive que deixá-lo para trás.
-Que lástima! – Artur disse.
-Não tive escolha. Uma louca terminou
com a vida do pobre – ele disse lembrando-se
disso.
-Como assim? – Sandra perguntou
assustada ao ouvir o relato a seguir.
-Sim, deve ter sido Helena. – Artur disse
ao ouvir tudo – Mas ela agiu certo. Ele não teria
salvação. Livrou o pobre animal do sofrimento.
-Pobrezinha – Sandra disse maneando a
cabeça – Triste destino dessa moça. Ela e Alice
eram amigas a alguns anos atrás, quando o irmão
morreu. Depois disso, pouco se vê dela por esses
lados.
-Helena esqueceu que tem amigos –
Alice disse em tom de mágoa.
-Helena tem muitos problemas a qual se
ater, querida. E agora, uma amizade talvez não
seja mais possível - Artur disse. – com a morte
dos pais, suas terras serão tomadas e só Deus sabe
o que será de sua vida. O fim da pobre, nós já
sabemos, não é, Sandra?
Ela concordou um pouco triste e Rony se
pegou pensando que aquela estranha jovem da
estrada era a mesma a qual o dono do bar na
cidade lhe contara da tragédia.
Não era de se admirar que estivesse tão
na defensiva.
O fim de qualquer mulher sozinha e sem
provento eram os cabarés e a pobre nem mesmo
beleza possuía, pensou.
Uma vozinha dentro dele teimou em
alertá-lo de quão decidida e forte ela era, mas ele
sufocou essa voz, dizendo a essa conciência que o
destino daquela moça não era da sua conta.
-Não sei como consegue, dormir na casa
onde a família foi assassinada – Alice disse
assustada só de pensar – Dizem que ela tirou o
assassino de sobre a irmãzinha apenas para matá-
lo. Eu nunca poderia fazer isso. Morreria de
tristeza.
-Isso nunca acontecerá com você, querida
– Sandra disse imediatamente – A família de
Helena se despedaçou e parte da culpa era de seu
pai, que criou os filhos como empregados da
fazenda. Homens xucros que não evoluíram. A
maioria morreu de forma estúpida e os que
viveram, fugiram para não serem mortos e se
perderam nesse mundo de Deus. E agora cabe a
pobre se erguer.
-Outro dia a vi carregando o milho pela
cidade. Uma mulher não deve fazer isso – Alice
disse culpando-a – todos devem pensar que é um
homem!
Rony reconheceu nela a típica
implicância adolescente.
-Alice tem mágoa pela forma como elas
se afastaram – Sandra explicou e a filha não
retrucou provando que era verdade – Mas não veio
até aqui para ouvir sobre Helena – seu sorriso se
alargou – Não posso acreditar que meu filho está
de volta! E é um doutor! Um doutor! - ela disse
orgulhosa abraçando o filho apertado.
Rony fechou os olhos desfrutando
daquele abraço. Ele esquecera como era o abraço
de mãe. Mas agora, tinha a oportunidade de
retomar o tempo perdido e o faria ali, naquela
cidade e naquela terra.

A noite caia lentamente e ela sufocou o


medo, quando a luz do lampião foi apagada.
Precisava poupar óleo. E não havia mais nada
que pudesse fazer. A casa estava arrumada e
limpa, a comida fora ingerida rapidamente, pois
não sentia fome.
Lavada a louça, restara apenas o quarto
para deitar-se e dormir um pouco, e debaixo das
cobertas ela fechou os olhos.
Somente agora, tantas horas depois se
pegou lembrando do homem na estrada. Era um
almofadinhas despreparado para aquele local.
Com sorte, algum coiote o pegara no
caminho, pensou amarga, tentando esquecer do
olhar de asco dele em sua direção quando atirara
no cavalo.
Poderia ter sido falsa e o incentivado a
cuidar do animal, mas isso apenas aumentaria o
sofrimento do bicho. E quanto aquele homem, não
queria pensar nele. Não queria mesmo.
Abraçando-se na escuridão, ela tentou
abafar o som que chegava aos seus ouvidos.
Eram os gritos de Anne, que
permaneciam em sua lembrança vindo cobrar dela
sua morte. Se houvesse entrado com ela na casa,
ao menos Anne estaria viva.
Contendo um soluço, enterrou o rosto nos
travesseiros, quando o choro cortou o silêncio da
noite. Não podia ceder e desabar, mas era mais
forte que ela, e em momentos como aquele, a
solidão a fazia frágil.
Na escuridão, ela ouviu sons vindos da
rua, e sentou-se, apanhando a arma. Eram sons da
noite, dos cavalos e do mato, mas ela tinha medo.
Muito medo.
Capítulo 6 - Raízes

Rony havia esquecido como era bom


estar em casa. Havia dez dias que estava entre os
seus e cada dia parecia que era melhor que o
outro. Dias que fluem facilmente, tão diferentes de
alguns dias na cidade, quando o mundo parecia
parado.
-Não sei se é uma boa ideia – Artur disse
de pé ao seu lado.
Os dois estavam apoiados na cerca que
delimitava a fazenda dos Parkers e fazia fronteira
com os Johnson.
Ao longe era possível ver a casa e os
campos, e era uma pena um lugar tão bonito e
produtivo estar tão abandonado. E isso se dera
mesmo antes da morte dos Johnson.
-Percival garantiu que até o final desse
mês a fazenda será leiloada – ele disse pensativo –
tenho parte do dinheiro e seria perfeito podermos
estender a fazenda por mais alguns hectares. Além
disse é um ótimo investimento.
-Mas é caro demais, meu filho – ele disse
e lá no fundo de sua voz havia mais. Algo que o
incomodava.
-Posso conseguir um empréstimo no
banco. – ele disse pensativo e empolgado com a
ideia – É perfeito. Arremato a propriedade
facilmente.
-Sim, à custa de uma desgraça – Artur
disse mascando fumo e cuspindo longe.
-Não é minha culpa, pai. Eu nem estava
aqui quando aconteceu. São apenas negócios –
defendeu-se.
-Mas e Helena? – ele perguntou ainda
pensativo.
-Se ela é tão boa no trabalho como dizem,
pode ficar um tempo. Pense pai, é melhor para ela
trabalhar num local onde a respeitem, do que ir
para a rua, não é?
Artur concordou, mas havia algo o
incomodando.
-Porque não me diz o que pensa – ele
falou ao pai e Artur sorriu.
-Uma coisa que passou pela cabeça de
sua mãe, e confesso, estou pensando muito nisso.
– ele contou – Helena não pode continuar com a
hipoteca, o banco não quer se arriscar por ser
mulher, mas se ela se casar, seu marido terá
direito a continuar pagando a hipoteca, e acredite
a propriedade sempre gerou o suficiente para o
pagamento, mesmo rendendo pouco, e com a mão
firme de um homem que possa investir em poucos
anos a dívida estará quitada. Penso se não seria
um bom investimento.
-Casar com ela? - Ele quase riu.
-Não precisa ser você. – ele disse
pensando ainda – Phill e os gêmeos ainda não se
casaram. Com um pequeno empurrão eles podem
se decidir.
-Aprovaria um casamento com essa
mulher? - ele fitou o pai com incredulidade. – é
mais fácil casar com um homem, do que com ela!
-Você a viu num péssimo momento, meu
filho. Venha, quero apresentá-los.
-Para que? - ele protestou – Já tive uma
amostra do que ela é capaz!
-Se quer comprar a propriedade é melhor
lhe fazer uma oferta de trabalho antes, ou o cavalo
será apenas um presságio do que ela fará com
você – ele disse numa zombaria e Rony foi
contrariado atrás do pai.
Imagine ele se casar com aquela louca?
Nem em sonhos!

Helena teve dificuldades para recolher as


cabras e quase não conseguiu reunir o gado em
seu cercado, ponderando que teria que vender
algumas cabeças, pois não conseguiria cuidar
delas todas sozinha.
Tirando o lenço que prendia seus cabelos
ela soltou a trança e parou na varanda da casa,
olhando ao longe.
Dois cavalos seguiam pela rua de terra e
imediatamente, ela apanhou a arma escondida sob
a roupa. Conhecia Artur Parker, mas não estava
em uma posição favorável. Não custava ficar
alerta. Deixando a arma na cintura, ela esperou.
O homem que o acompanhava era o
mesmo que vira na estrada. Pelas suas contas,
deveria ser o sexto filho, que pouco ela conhecera.
Estava suada e cansada do árduo trabalho e tudo
que precisava era sentar-se e descansar uns
minutos, mas não demonstraria fraqueza.
Respirando fundo, ela esperou. Artur
cruzou a porteira e fechou-a antes de subir
novamente em seu cavalo e se aproximar a frente
do filho.
-Helena – ele cumprimentou tirando o
chapéu e olhando para ela com olhos estreitos –
Como vai indo por aqui?
-Vou indo bem – ela respondeu seca e
direta, olhando para ele.
-É um trabalho puxado - ele disse
observando ao redor – mas está fazendo um bom
trabalho - ele acrescentou e notou sua expressão
suavizar apenas por um segundo – pensei em
mandar alguns homens meus trabalharem aqui e
ajudá-la – ofereceu.
-Porque isso agora? - ela perguntou não
gostando do modo como ele olhava em volta.
-Podemos apear? - ele perguntou
notando a arma em sua cintura.
-Prefiro que não - ela foi sincera e ele
meneou a cabeça concordando.
-Como queira. Esse é meu filho, Ronald,
não deve se lembrar dele. Estudava fora. – Artur
olhou bem para ela, e então para o filho –
Podemos conversar a sós, Helena? Um instante?
Ela olhou para Artur Parker em dúvida.
Fora um leal amigo do seu pai, mas também era
seu vizinho de cerca. O mesmo que não movera
uma palha para ajudá-la em todos esse dias de
sofrimento.
-Preciso entrar – foi categórica.
Artur olhou para o filho e esperou.
-Meu pai quer lhe fazer uma proposta –
ele tomou a frente, detestando o ar autoritário e
arrogante dela – Uma proposta que vai beneficiá-
la.
-Que proposta? – perguntou apenas por
curiosidade, pois não estava interessada em nada
que pudessem lhe oferecer.
-Essa fazenda é grande demais para ser
cuidada por apenas uma pessoa – ele disse direto,
deixando seu pai de fora – tenho o dinheiro para
arrematá-la no leilão que o banco vai oferecer no
final do mês. Estou decidido a fazer isso –
imediatamente notou a expressão dela mudar de
surpresa para horror. – Não é algo discutível. E
por favor, não se atreva a erguer sua arma para
mim novamente – ele disse apesar dela estar
imóvel e paralisada pelo susto - meu pai contou
como é eficaz com a fazenda e em como manteve
esse lugar nos últimos anos. Posso mantê-la como
agregada no início até conseguir se estabelecer.
Helena olhou para aquele homem que
falava como alguém que nunca morou naquela
terra, e então para seu pai.
Será que ele não entendia o que estava
dizendo? O que significava para ela? Vinha se
agarrando a esperança vã de não aparecer
comprador. De não haver ninguém sem coração
capaz de tirar suas terras dela. Quem sabe desse
modo, mostrando ao banco que era capaz de
pagar, e sem comprador, eles pudessem aceitá-la e
manter a hipoteca até o fim?
Mas agora, vendo seu rosto sorridente,
ela soube que o mundo não prestava. Tantos dias
pensando e tentando se convencer que aquele
assassino não passava de um doente e que nem
todas as pessoas eram assim, e ela via essa vã
esperança cair por terra.
-Não é comigo que deve falar, e sim com
o banqueiro – ela disse friamente. – Quanto ao
trabalho, não o quero. Se não tiverem mais nada a
dizer, por favor, vão embora.
Com o pouco de orgulho que ainda lhe
restava, ela virou as costas pronta a trancar-se
dentro de casa e desabar. Segurava o pranto.
Segurava um grito de perda. Segurava o mundo
em suas costas. Mas não desabaria na frente
daquele engomadinho sorridente! Não mesmo!
-Espere, Helena! – Artur gritou e ela
parou. – Em nome da amizade que tive com seu
pai, me ouça!
Contrariada ela se virou e ficou ao longe,
olhando apenas para Artur.
-Não era essa a proposta que vim lhe
fazer. Meu filho é um idealista. Um doutor, não
entende nada dessa vida que temos aqui – ele
disse mais brando – Acredita que o pequeno Rony
me voltou com um diploma de advogado? – ele
riu e ela não teve humor para achar graça – Eu
pensei numa ideia mais justa para todos nós.
Tenho quatro filhos solteiros. Phill, Marcelo,
Cosme e Rony. Casando-se com um deles, essa
fazenda continua sendo sua, e ao mesmo tempo da
nossa família. O que diz? Uma troca justa?
-Não quero me casar. Não vou me casar –
ela disse séria. Nada no mundo a faria se casar.
-Ao menos pense nisso, filha - ele disse
ameno, entendendo sua dor – Meu filho tem
condições de investir na fazenda e fazê-la
prosperar e como sua esposa teria todo o direito à
fazenda. Seria uma vida confortável. Muito
melhor do que a vida que tem levado ou a que vai
levar quando a fazenda for leiloada. Sabe disso,
Helena. É uma jovem inteligente. Juntar o
patrimônio de duas famílias vizinhas é uma ideia
acertada, ainda mais na sua situação. – ele olhou
para Rony que não parecia nada feliz com essa
ideia – embora Rony seja cabeça dura, ele sabe
que não tem todo o dinheiro. Essa solução seria a
saída perfeita para os dois. Rony conseguiria se
estabelecer aqui, como é de sua vontade, e você...
levaria a vida com mais tranquilidade.
-Não – ela disse decidida, achando a
coisa mais estúpida do mundo estar ouvindo
aquilo! Como ela poderia sequer cogitar a ideia de
passar um minuto ao lado daquele homem?
Impossível.
-Vamos, pai. Ela não quer ouvir - ele
disse decidido a ir embora. Levar um não de uma
mulher desesperada era o fim.
Era só olhar para ela para notar o quão
perto essa mulher estava de cair. Magra demais,
pálida demais. Seu corpo parecia dançar no
vestido que já era pequeno demais, prova que ela
emagrecera subitamente nos últimos dias. E se
algum dia houve suavidade em seu olhar, com
certeza, havia sido no passado, um passado muito
distante.
-Pense Helena, muitas pessoas fazem
isso. Casamentos de conveniência são comuns.
Resolveria o problema dos dois. Você diz que não
quer se casar, muito bom que seja assim, não terá
que se arrepender por ter um casamento de
fachada e Rony, terá as terras que deseja. Um lar,
uma esposa que cuide da casa. É a melhor troca.
Sem brigas, sem sofrimento. Vamos, diga ao
menos que irá pensar sobre isso.
-Não! – ela foi categórica.
-Esqueça pai, ela é boa demais para mim
– ele ironizou.
-Não pedi que viessem aqui – ela disse
cansada.
Por um segundo ele notou isso, que ela se
deixou ver cansada. Profundamente cansada.
-Esse sol está nos matando, Helena –
Artur disse sorrindo - Porque não nos deixa entrar
e nos oferece um café.
-Eu... Não tenho café - ela disse fechando
os olhos – por favor, vão embora.
Sentia-se humilhada.
Parte de sua máscara de força estava no
cão, e ela virou-se entrando na casa. Seus passos
eram firmes, mas seus ombros estavam caídos.
Rony olhou para o pai se sentindo um
escroto. Era a vida daquela jovem que estava
perdida e ele lidava como se fosse apenas um
negócio entre empresários da capital.
Viver naquele local exigiria mais do que
conhecimento, ou dinheiro. Exigiria respeito.
Sentiu- se um pouco temeroso sobre a
reação dela se o visse andar pela propriedade, mas
ele apeou do cavalo e olhou em volta. Era uma
fazenda e tanto e estava bem cuidada. Dentro do
possível, estava bem cuidada.
Valia o sacrifício de casar-se com uma
megera. Uma megera de fibra, mesmo assim, uma
megera. Conhecera muitas mulheres em seu
tempo de farra, e muitas delas seriam incapazes de
segurar uma pá. Pensando na vida que teria como
fazendeiro, sim, essa mulher seria perfeita.
Talvez seu pai tivesse razão.
Capítulo 7 - Fim da linha

O prazo que o banco dera a ela se findou


naquele dia, e Helena estava de pé esperando ser
recebida pelo banqueiro. Tinha na bolsa o valor
para o pagamento daquele mês e muita esperança
de conseguir um milagre.
Passaram-se dois meses e nada
acontecera. Cuidava dos campos e já aparecera
alguns interessados em trabalhar. Bastava agora, o
banco permitir que continuasse com aquilo que
era seu de direito.
Viera preparada, pois sabia que haveriam
pessoas interessadas na compra da fazenda.
Queria que o banco tivesse a ideia de que tudo
estava bem, por isso cuidara com esmero da
aparência.
O vestido era antigo, mas pouco usado, e
tinha um rosa pálido, que deixava sua pele ainda
mais pálida, mas graças ao pó de arroz que sua
mãe tinha, um resto que sobrevivera junto com
sua vaidade, ela dera cor as faces e escondera as
marcas do sol.
Carregava uma bolsa delicada, onde
guardara o dinheiro e alguns documentos que
provavam seu legitimo direito a terra. Os cabelos
estavam soltos, presos apenas em um dos lados,
por uma bela presilha que seu irmão lhe dera antes
de morrer. Não tinha jóias, e a única que tinha
estava escondida sob sua roupa íntima, caso o pior
viesse acontecer.
Ela quase saltou quando foi convocada a
entrar. O gerente do banco pareceu surpreso em
vê-la tão bonita e foi mais amável que da última
vez em que se viram. Ouviu atentamente seu
pedido, seus argumentos.
Em dado momento entrou um homem
alto, e ela reconheceu como sendo Percival Parker.
Sentiu um aperto no peito. Ele a cumprimentou
educadamente, mas o aperto prevaleceu, enquanto
era levada a outra sala para esperar.
Por uma hora ela esperou, sentindo o
medo crescer.
Quando a porta se abriu, ela levantou-se
imediatamente, olhando com raiva ao ver quem
era.
-Somos os únicos interessados na fazenda
- ele disse rapidamente, olhando para ela e
franzindo as sobrancelhas. – Pedi uns minutos
para conversarmos antes de fazer minha proposta
de arremate.
Helena afastou-se olhando para outro
lado, tudo para não olhar para ele.
Com isso ele teve um minuto de
liberdade longe de seu olhar ferino para analisar o
que via.
No fim de tudo seus irmãos tinham razão.
Phill chegara a dizer que se casaria se ela
quisesse, pois ele lembrava do quanto ela era doce
e bonita antes da morte do irmão, mas ele
duvidara. Mas parecia que era verdade.
Com roupas limpas e bem cortadas, ela
estava vistosa. Ainda muito magra, mas era a vida
difícil que levava a coitada. Tinha cabelos longos
e cacheados, bonitos e chamativos, assim soltos.
Seu colo era tentador, como o colo das moças
sedutoras e seu rosto era mais do que uma
máscara de raiva e rancor. Era uma face bela.
-Tenho metade do valor para adquirir a
fazenda. A outro metade será um longo
empréstimo com o banco, bem mais caro que o
valor da hipoteca. Estou lhe dizendo isso para que
entenda que não estou lhe fazendo um favor. Meu
pai achou que deveria elucidar isso.
Ela olhou para ele com dúvida no olhar e
ele se aproximou notando que ela estava aberta
para conversar, do seu jeito, mas estava.
-Casamos, você herda a fazenda, sem
que o banco possa causar problemas, poupo meu
dinheiro para investir na plantação e no gado. Em
poucos anos pagaremos a hipoteca e seremos
livres de qualquer dívida. Todo o ganho das terras
será para nossa vida e nosso conforto. É um bom
negócio, não é? - ele perguntou e ela não disse
nada – Se nos casarmos o banco vai aceitar. Pela
lei seu marido pode assumir a dívida. Conhece
minha família, sabe que não faríamos nenhum mal
a você. Não perde nada aceitando esse acordo.
Ela fitou-o demoradamente. Tinha um
turbilhão de emoções passando em sua mente, e
todas elas estavam em seus olhos.
-Não quero me casar com homem algum
– ela disse por fim.
-Um casamento de conveniência - ele
lembrou-a – Seremos casados e nos respeitaremos,
mas não é necessário fingirmos o que não
sentimos. – Ele tentou uma aproximação, mas ela
se afastou.
-Não desejo homem algum – ela tornou a
afirmar – Não quero dividir minha vida com um
homem. Não quero e também não terei filhos.
-Esse pensamento está errado, Helena –
ele disse sério – Se eu comprar a fazenda, ou
qualquer outro o fizer, estará na rua. Quanto
tempo acha que demoraria para algum homem
tomá-la? Quanto tempo demorará para estar
grávida de algum bastardo? Diga-me. Acha que
sua vida será pior vivendo ao meu lado, e tendo
uma vida ao lado de alguém que quer cuidar de
você e do que é seu?
-Porque não volta para a cidade? Tem um
diploma, não tem? Porque quer ficar aqui? - ela
perguntou do nada, como se isso fizesse toda a
diferença.
-Porque toda minha família está aqui. E
um homem sem família não é nada.
-Meu pai lutou a vida toda para manter a
fazenda - ela disse a si mesma.
-Então faça isso por ele. Saímos daqui, e
o juiz de paz nos casa em meia hora. Meu irmão já
falou com ele, está tudo acertado, até o final do
dia, a fazenda será sua novamente. Será nossa.
-Não quero que encoste em mim – ela
disse finalmente, passando uma das mãos
nervosamente sobre a face - não quero que homem
algum encoste em mim.
Então, era isso. Rony pesou os pós e
contras. Ela cederia com o tempo, pensou. Nunca
conhecera uma mulher que resistisse muito tempo
em uma decisão de virtude.
-Posso viver com isso.
-Não, não entendeu – ela disse séria e seu
olhar quase o assustou – se tentar tocar em mim,
eu o mato. – era um aviso. – não pense que terei
piedade. Já matei uma vez, e não me custa fazer
isso de novo! Não pense que isso não acontecerá.
Teremos quartos separados.
-Como quiser - ele concordou abalado
por essa nova revelação.
-Não pense que é o culpado por essa
decisão – ela disse fazendo força para não soar tão
acusadora - apenas... não poderá ser diferente.
-Temos um acordo. Faremos o melhor
para nós dois. Posso tocar em sua mão? – ele
pediu estendendo a mão em sua direção – Eles
esperam que saiamos daqui de braço, como
qualquer casal apaixonado. Ou ao menos como
qualquer casal que entrou em acordo sobre casar-
se e constituir uma família juntos - ele sorriu para
ela, e Helena levou muito tempo até estender a
mão e deixá-lo segurar a sua.
Ela quase a puxou de volta, ele notou.
Mas se manteve firme quando saíram da sala, e
falaram rapidamente com o banqueiro.
Em uma hora eles saíram da sala do juiz
com uma certidão de casamento assinada por ele.
Eram marido e mulher, mas pareciam mais dois
estranhos fazendo um negócio entre si.
E foi essa a impressão que o banqueiro
teve ao vê-los saírem de lá com o documento que
garantia a anulação do leilão. E foi tomado por
essa certeza que ele decidiu se proteger de algum
eventual golpe.

Helena Johnson Parker não o convidou a


entrar na casa. Ela ficou na varanda e olhou para
ele, esperando que dissesse algo.
-Estarei aqui amanhã cedo - ele disse
acabando com o pesado silêncio entre eles – É só
o tempo de apanhar minhas coisas e falar com os
trabalhadores que meu pai arrumou para nós - ele
garantiu. – Estarei indo a cidade logo cedo, quer
que eu traga algo?
-Eu não sei – ela ergueu a face orgulhosa
– Tem comida suficiente para uma pessoa, e
minha família não tinha muitos móveis, se quiser
conforto não achará aqui – ela explicou, mas soou
como uma acusação.
-Estarei de volta ao meio dia. Vou
comprar mantimentos.
Achou melhor não retrucar a sua indireta.
Antes de sair da propriedade ele se voltou e teve
que alertá-la, com a sombra de um sorriso.
-E quanto à arma, deixe-a na casa. Não
quero nenhum acidente por aqui - ele avisou.
Ela nem se deu ao trabalho de responder.
Estava óbvio o que pensava.
Capítulo 8 - Chão de terra

Precisamente ao meio dia ele chegou


acompanhado de duas carroças e alguns homens.
Helena tinha terminado de ordenhar as vacas e
estava guardado o leite em tonéis quando os viu.
Andou lentamente em direção a porteira, odiando
o som das vozes e dos risos. Haviam crianças ali.
-Venha conhecer nossos agregados – ele
gritou, fazendo-se ouvir e ela se aproximou a
contra gosto. – Esses são os Suarez - ele disse
apresentando um senhor baixo e pálido e uma
mulher, linda e faceira. Ao redor dela várias
crianças pequenas. Ela parecia estar grávida, mas
não dava para saber, pois tinha um corpo muito
cheio de curvas. – Suarez e Juanita. Ele irá me
ajudar com o gado e a plantação e Juanita cuidará
da casa.
Juanita era toda sorrisos, mas sua
expressão fechada a desmotivou de tentar uma
aproximação, e ela se distraiu segurando uma das
crianças perto de si. Era possível ver que seu
marido era bem mais velho que ela.
-Mais tarde apresento todos os
agregados. Agora, mostre a casa a Juanita e ajude-
a a se acomodar na casa dos fundos. Precisam
decidir como farão para servir a comida aos peões
– ele disse, sem notar a expressão azeda e o ódio
em seu olhar. – Trouxe mantimentos para a
semana, e algumas provisões extras para o gado.
O choro de uma das crianças quebrou sua
linha de raciocínio e Juanita apanhou um menino
de não mais de dois anos, sorrindo para ela e
olhando para a casa, a espera que se decidisse.
-É por aqui - ela disse seca e mortalmente
ferida em seu orgulho.
Juanita gritou para que as crianças não
atrapalhassem os homens e os menores foram
atrás dela.
Helena assistiu aquelas pessoas entrarem
em sua casa, as crianças andando por todo lado, e
Juanita quis primeiro ver a cozinha, falando sem
parar:
-Vamos precisar de um forno maior, mas
meu homem pode fazer um para nós - ela disse
analisando o local – precisaremos também de uma
mesa maior! Onde os homens comiam antes...? -
ela parou antes de mencionar a tragédia.
-Eles apanhavam seu prato e comiam
onde quisessem – ela respondeu gelada.
-Na fazenda Parker, Sandra tem um jeito
diferente. Vai gostar querida. – Ela garantiu
pondo a mão sobre seu braço e Helena se afastou,
mantendo distância entre as duas.
-A casa dos fundos fica atrás do celeiro.
Não se preocupe não houve nenhuma morte dentro
da casa – ela disse seca e um pouco sarcástica, se
afastando. Parou quase tropeçando em uma das
crianças.
-Tenho seis filhos, seu marido disse que
não havia problema das crianças ficarem comigo
durante o dia – ela disse um pouco sem jeito –
bom homem esse, tem sorte.
Helena fechou os olhos por um segundo.
-Faça como combinou com ele – ela disse
saindo da cozinha e da casa.
Rony avistou quando ela saiu
rapidamente da casa, e pelo canto dos olhos
seguiu-a, tentando não parecer interessado e
continuou falando com os homens, mesmo quando
notou que ela se afastava demais da casa.
Helena correu assim que estava longe o
bastante para não ser vista. Correu até chegar ao
riacho que cortava a propriedade.
Seu coração estava partido em muitos
pedaços. Ver a casa de sua família ser invadida
desse modo era torturante. Logo ela que cuidara
de tudo nos últimos anos ser relegada a receber
ordens de um estranho!
Um estranho que agora era dono daquilo
que era seu! Sentando-se na relva, ela olhou para
as águas daquele lago deixando as lágrimas de
raiva correr em sua face. Era ódio puro que a
corroía.
Ficou ali muito tempo, esperando que a
raiva fosse embora, mas ela não foi. O que faria
agora? Não sabia.
Rony achou que ela não voltaria. Estava
prestes a ordenar uma busca, quando a avistou
voltar a passos lentos. O sol havia decido, e a
tarde ia longe quando ela voltou.
Passos lentos de quem não quer voltar
para casa. Ele estava na varanda, e cerrou os olhos
mirando-a, ela tinha o lenço nas mãos, e os
cabelos estavam soltos e molhados. A roupa
estava úmida denunciando que ela estivera no
lago.
Aquela mulher era um quebra cabeças,
pensou. Seria como andar em areia movediça a
convivência ao seu lado. Tentando não expressar
sua insatisfação ele esperou que estivesse a alguns
passos de si para falar.
-Por onde andou? - Ele tentou não soar
tão acusador, mas não conseguiu.
Notou que ela engoliu em seco, antes de
responder:
-Estava no lago – doía dar satisfações.
-Perdeu o almoço. – ele acusou irritado –
Por alguma razão, Juanita guardou um prato para
você. Se dê ao trabalho ao menos de agradecer,
uma vez que não a ajudou em nada.
-E o que deveria fazer? – ela perguntou
falsamente humilde.
-O que fazia antes?
-Cuidava de tudo sozinha – ela disse
friamente, com um desafio na voz.
-Agora, vai ajudar Juanita no que ela
precisar. O trabalho aqui fora é para os homens.
-É mesmo? – ele a viu sorrir pela
primeira vez e era um sorriso tão irônico que ele
sentiu vontade de bater em uma mulher pela
primeira vez na vida – Não parece que seja capaz
de cuidar da fazenda junto com os outros homens.
Para ser franca, acho que nem sabe o que é
trabalho de homem.
-Temos um acordo – ele disse ficando
furioso – Essas pessoas estão aqui para tocar essas
terras. Sinto muito se antes era diferente. Não vou
me matar fazendo um trabalho que não dou conta
sozinho. E quanto a você, baixe a crista e seja
educada. – ele ordenou e ela mediu forças,
mantendo o olhar duro – e quando sair, diga aonde
vai.
-Ter direito a essa terra, não o faz meu
dono – ela avisou – Cuide da sua vida, que da
minha, cuido eu. – Concluiu aumentando o tom de
voz.
Rony estava cheio daquela garota. Por
mais que seu pai tenha pedido que fosse paciente,
paciência tinha limite!
Seguindo-a para dentro da casa, ele
segurou seu braço fazendo-a parar bruscamente:
-Baixe sua voz ao falar comigo! Não vou
aceitar gritos nessa casa!
-ME SOLTA! – ela gritou sacudindo o
braço para se libertar – NÃO ME SEGURE! –
gritou fazendo força para ser solta – EU MANDEI
ME SOLTAR!
Por um segundo ele sentiu medo daquele
olhar furioso. Mas foi só por um segundo.
Segurando seu outro braço ele a fez parar:
-Nunca mais grite na minha cara, está
ouvindo? - contrariando suas próprias palavras,
ele gritou a centímetros dela – NÃO SOU
OBRIGADO A OUVIR SEUS GRITOS!!!!
Os dois pareciam prestes a entrar em uma
briga de socos quando o choro cortou o silêncio
mortal entre eles. Era uma das crianças de Juanita
que olhava para os dois.
Subitamente consciente do que fazia ele a
soltou. Helena manteve-se de pé a custo, pois
tremia de raiva e impotência. Queria poder atirar
nele e encerrar essa fase de sua vida.
-Juanita está cuidando das galinhas – ele
disse sem poder olhar para ela – faça-o parar de
chorar.
Helena olhou para o menino que chorava
e então olhou para Rony sem saber o que fazer.
Não aceitava ordens, mas não tinha
escolha, tinha? Desajeitada, ela apanhou o menino
no colo. Ele mordia os dedos da mão enquanto
fartas lágrimas corriam em seu rostinho
contorcido de sofrimento. Helena afastou sua
mãozinha e tentou balançá-lo para calá-lo, mas ele
não parava.
Ficando de costas, ela o levou para a
cozinha, longe do olhar dele. Sozinha, ela
manteve-se de costas para a porta, enquanto falava
com o bebê e passava a mão em suas lágrimas
acalmando-o.
Helena entendia sua dor, ele tinha medo.
Estava longe da mãe e tinha medo.
Não conhecia esse mundo a sua volta, e
apenas sentia medo.
Assim como ela.
Capítulo 9 - Sem forças

A noite caiu sem que qualquer um


pudesse notar. Havia muito a ser feito e quando
Juanita finalmente colocou o jantar todos estavam
exaustos. Os homens comeriam na rua, pois ainda
não havia um lugar para eles. Rony preferira ficar
com eles, só para não precisar olhar para ela.
Juanita não era do tipo que conseguia
ficar quieta por muito tempo, e apesar de notar o
clima tenso, as palavras saíam de sua boca com
muita facilidade.
-Até o final do verão teremos um
galinheiro cheio – ela disse empolgada em dividir
isso com ela – a ideia foi minha, eles nem
pensaram nisso. Com o espaço atrás da casa dos
fundos, podemos criar as galinhas e deixá-las no
poleiro dos passarinhos. É só não fazerem corpo
mole. Pedi ao meu marido que construa um forno
para nós. Um que possamos fazer muito pão. E a
mesa um dos rapazes vai fazer nas horas vagas.
Pensei em construirmos um toldo e colocar a mesa
ali. – Ela disse e Helena ergueu os olhos da sopa
e do pão, mirando a mulher.
-Não será prático tirarmos a mesa para
rua todos os dias - ela opinou – Meu pai queria
construir um segundo celeiro, mas paramos a
construção quando meu irmão morreu. Faltou
pouco. Podemos servir a comida ali, e alguns
homens podem dormir nesse local, se colocarmos
camas – ela opinou.
-É uma boa ideia - Juanita sorriu. – Será
mais fácil também.
-Tínhamos uma horta para a família
antes... - ela perdeu um pouco do apetite ao falar
do passado. – mas não tive mais tempo para
cuidar.
-Podemos trabalhar nela amanhã cedo, o
que me diz? – Juanita perguntou comendo com
avidez. – Guardei um pouco de leite para nós duas
– ela confidenciou depois de olhar para trás e ver
se nenhum homem estava ouvindo. Levantou-se e
apanhou uma jarra – Tome bastante, vai ajudá-la a
ganhar peso – ela disse maternalmente – Eu
sempre bebo muito leite, para dar conta dos
meninos. Os homens não precisam de tanto, já
que comem mais que nós. – disse rancorosa.
Helena bebeu praticamente todo o copo e
quase reclamou quando ela colocou mais.
-Gostaria muito de dizer que entendo
como se sente, eu também tive que aceitar muita
coisa na vida – Juanita falou muito baixo e Helena
não pode mandá-la parar – Meu marido é velho. É
pobre. É difícil viver assim às vezes, mas ele cuida
de mim e dos meus filhos. Ele me ajuda e eu o
ajudo. A felicidade vem com o tempo. Fica mais
fácil se não pensar nas tristezas. – ela deu um
suave tapinha em sua mão e Helena olhou para ela
curiosa:
-Onde viviam antes?
-Conheci Suarez a uns dois anos. Eu já
tinha cinco dos meus filhos e carregava o sexto
sem saber - ela sorriu – ele me tirou do cabaré e
me deu uma vida digna. Viemos para essas
bandas no início do ano, e Sandra me chamou
para a cozinha. Boa mulher sua sogra. Ensinou-
me a cozinhar e cuidar da casa. Ela disse que
seríamos perfeitos para ajudar nesse começo de
vida.
Havia sinceridade nos olhos daquela
mulher e por um segundo Helena ficou feliz que
estivesse ali. Não era fácil viver desse modo.
Sempre sozinha.
-Eu vi a arma embaixo do colchão – ela
sussurrou – eu mesma tenho uma escondida. Não
se livre dela, pode precisar – Juanita sussurrou e
Helena definitivamente gostou dela.
Nessa hora Rony entrava pela porta dos
fundos e pegou uma imagem que achou que não
veria. Era um sorriso tímido, e doce. Não era um
sorriso de verdade, mas era quase um.
-Eu arrumei a cama e o quarto – Juanita
disse levantando, e havia um pouco de malícia em
sua voz – tem água fervendo nos tonéis, vou levar
um pouco para o quarto. Deve se banhar, antes de
ajudar seu marido a fazê-lo. – lembrando-se de
algo ela parou - Casaram-se ontem certo?
Ela meneou a cabeça concordando e a
mulher sorriu algo que só ela mesma entenderia.
-Cuido da louça amanhã cedo – ela disse
antes de sair e fechar a porta dos fundos.
Rony trancou a porta e andou pela casa
deixando-a sozinha.
Ele andava com a naturalidade de quem é
dono, ela pensou magoada. Não deixaria a louça
para a manhã seguinte. Levantando-se ela
arrumou os pratos, apanhando inclusive a pilha
dos pratos das crianças e dos homens. Eles
haviam raspado o prato e ela teve que admitir que
era bom ver a fazenda movimentada de novo.
Nos últimos anos eles tinham apenas três
pessoas ajudando e era muito pouco. Ela apanhou
um pouco da água quente, e colocou sobre a louça
para ajudar a soltar a sujeira, reservando o resto
para os banhos. Não prepararia o banho dele, nem
que sua vida dependesse disso, mas queria tomar
um banho morno.
Esqueceu dele pelos próximos minutos,
ocupando sua mente com o trabalho. Estava quase
terminando quando ele voltou.
-Fechei a casa. Estou pensando em fazer
travas para as janelas e portas – ele comentou
sentando-se a mesa – Tem café?
De má vontade, ela conferiu o bule e
serviu um pouco do café morno que sobrara. Não
olhou para ele e voltou à atenção para a louça.
Ele também não disse nada, observando
calado a louça ser limpa e colocada para secar. Ela
terminou e enxugou as mãos no pano de prato,
indo arrumar o armário e apanhando um balde
para a água. Ele continuou calado enquanto ela
levava água quente para o quarto, em três viagens.
Terminado, ela conferiu o que sobrara de
água e decidiu que não tinha mais nada a fazer ali.
-Espere – ele disse com a voz mais
calma, pedindo paciência aos céus só de pensar
em falar com ela – temos assuntos a resolver.
-Foi um longo dia – ela disse, querendo
fugir de qualquer conversa.
-E vai ser mais longo ainda se não
falarmos logo - ele acrescentou e contrariada ela
cruzou os braços. – Levei minhas coisas para o
quarto do casal, pois vi que seus pertences estão
no outro quarto. Visto que apenas nós dois
ficaremos na casa a noite, ninguém deve notar os
quartos separados. A menos que você queira
mudar de ideia.
-Arrumo os quartos antes de Juanita
chegar – foi à única coisa a dizer, se eximindo de
responder.
-Notei que não há trancas nos quartos -
ele disse olhando para ela que somente naquele
momento lembrou disso.
-Meus pais nunca acharam importante
chaves nos quartos – disse tensa.
-Eles tinham razão. – ele levantou-se
também. – Eu decidi muitas coisas sozinho, e
agora preciso que confirme minhas decisões. Não
sou um homem do campo. Posso estar errado – ele
disse num tom de trégua e ela quase baixou a
guarda, enquanto ele contava das decisões sobre o
gado e a plantação. – Na minha família os homens
acreditam que as mulheres não devem fazer o
trabalho pesado. Devem cuidar da casa e da
família. Eu cuido lá de fora, e você cuida aqui de
dentro. É um bom acordo não é?
-Não, se pretende ficar com tudo que a
fazenda gerar – ela disse pensando friamente.
-Estou investindo muito dinheiro aqui –
ele alertou e ela manteve o olhar fixo nele.
-Mas a terra é minha. – disse duramente.
-O que sugere? - ele resolveu testar o
terreno antes de entrar em uma longa e
desgastante discussão.
-Primeiro a fazenda. Depois meio a meio.
Rony achou que ela não aceitaria outro
acordo. E tinha total razão. Ela sequer ouviria
outra sugestão.
-Se o tempo colaborar e a chuva vier,
poderemos ter um bom lucro até o fim da estação.
É muita coisa para guardar em casa. Pretendo
abrir uma conta para mim no banco e sugiro que
faça o mesmo. É o melhor meio de guardar
dinheiro – ele avisou, concordando com ela.
-Uma conta? – ela ficou um pouco
confusa, sem querer mostrar que não entendia
nada disso.
-Seu pai tinha uma conta no banco não
tinha? – ele perguntou intrigado. – Para ter
adquirido a hipoteca, ele deveria ter algum
dinheiro guardado e provavelmente numa conta.
Imagino que tenham liquidado esse valor com a
hipoteca ao longo dos anos. Mas qualquer um
pode abrir uma conta, menos mulheres solteiras.
Como é casada – havia um sorriso irônico que ele
não pode conter – posso abrir uma conta em seu
nome.
-Posso fazer isso sozinha? – era uma
pergunta direta e não deixava dúvidas de sua
opinião sobre ele.
-Infelizmente o marido precisa autorizar –
ele sentiu uma pontada de prazer ao dizer isso.
-Entendo – ela sentia a incontrolável
vontade de gritar, mas se conteve. – Nessas
contas... é possível guardar qualquer bem?
-Alguns bancos da capital guardam jóias,
e objetos de arte, mas aqui, no interior, apenas
dinheiro vivo. – Ele explicou notando seu súbito
interesse. Talvez ela estivesse escondendo algo
que não pudesse contar.
-Depois de aberta a conta, preciso de
você quando for usá-la?
-Não - ele respondeu prestes a perguntar
para que ela usaria sem ele, mas achou melhor
calar a boca e não entrar em uma guerra estando
tão cansado.
-A água está esfriando, se quiser tomar
um banho – ela orientou pretendendo sair, mas ele
ainda tinha muito que falar.
-Temos que tomar cuidado com Juanita -
ele disse surpreendo-a – é uma boa mulher, mas
pode falar mais do que deve. Ela não deve saber
que dormimos em quartos separados. Ninguém
deve saber. O banco pode voltar atrás com o leilão
se houver a suspeita desse casamento ser uma
farsa.
-Isso é possível? – sentiu o sangue parar
em suas veias, ficando ainda mais pálida diante
dessa possibilidade.
-Sente-se – ele pediu e ela o fez, chocada
demais para reclamar de seu pedido. – Me formei
advogado e tive oportunidade de advogar em um
grande escritório de Londres e defendi alguns
casos parecidos. É mais comum do que pensamos
esse tipo de acordo. Há um casamento e não a
consumação dele. O banco revoga o leilão e após
alguns meses, o casal pede a anulação do
casamento.
-Um casamento pode ser anulado?
Ele tentou ignorar o tom interessado de
sua voz e não se sentir ofendido.
-Pela lei sim, pela Igreja nenhum
casamento pode ser desfeito. Mas pela lei, o
casamento é desfeito e o homem em questão tem
direito a metade das terras, e esse tipo de luta
judicial leva anos, sendo o banco o perdedor no
fim. Como vê, é um golpe comum. Não é minha
intenção e suponho, não seja a sua. Mas o banco
vai ficar de olho, e qualquer boato sobre nossa
situação pode desencadear um ataque. Estou
gastando tudo que tenho para fazer a fazenda
funcionar. Não terei como lutar com banqueiros.
Seremos dois na rua.
Ela teve quer morder a língua para não
dizer que ele ao menos tinha sua família e um lar,
mas se conteve, afinal, ele não tinha culpa da vida
ter sido amarga para ela.
-Juanita não irá notar nada – ela garantiu
levantando e dando a conversa por encerrada.
-Quanto a nossa briga de mais cedo... –
ele tentou falar, mas ela já estava longe.
Rony sentou-se pesadamente. Seriam
longos dias. Longos dias ao lado dela.
Capítulo 10 - Alucinações

Helena prendeu os cabelos no alto da


cabeça, sem notar que alguns fios estavam
rebeldes ao longo de sua face e costas. A água
estava quase fria, mas ainda quente o bastante
para tirar parte do cansaço do dia.
Ela tinha encostado a porta e retirado o
vestido e as vestes de baixo, entrando na água com
prazer. A banheira estava no meio do quarto, e era
na verdade um grande balde de madeira,
suficientemente grande para uma pessoa entrar.
Era ali que sua mãe se banhava todas as noites.
Helena preferia o rio, visto que o trabalho a
massacrava demais, mas agora, havia muitas
pessoas trabalhando na fazenda para se dar a esse
luxo.
Suspirando ela fechou os olhos. Por mais
que fosse difícil conviver com tantas pessoas ao
redor, tomando conta daquilo que era de seus pais,
e desfrutando daquilo que eles lutaram por anos
para manter inteiro e próspero.
Infelizmente, por mais que a vida
tentasse concertar todas as maldades que lhe
impusera, Helena estava fechada em sua dor e não
era capaz de aceitar essas bênçãos.
Recostada no encosto de madeira, ela
fechou os olhos, tentando deixar o mundo fora da
sua mente. Esquecendo de tudo e todos por apenas
alguns minutos.

Rony não carregou água quente para o


quarto, ele saiu para a rua, e atrás da casa, onde
havia um antigo chiqueiro, ele improvisou um
banheiro. Havia pensado nisso durante a tarde, e
com restos de madeira eles ergueram uma
proteção. Nu, ele jogou um balde de água sobre
ele mesmo e limpou a pele o melhor que pode.
Para ser franco, estava cansado demais para se
importar com limpeza.
Mas fazia anos que ele não sabia o que
era isso. Na capital, ele tinha banhos quentes e
toalhas felpudas. As servas sempre dispostas a
ajudá-lo com longos banhos e se fosse sincero,
com bem mais que banhos.
Ele se achava um homem de sorte, tivera
seus anos de estudo com amigos fiéis e
afortunados, e desfrutara do bom e do melhor,
mesmo que isso não fosse o mais importante para
ele.
Sacudindo a cabeça para livrar os cabelos
ruivos do excesso de água, ele passou uma toalha
pelo corpo, e amarrou na cintura, caçando as
roupas e voltando para dentro da casa, trancando a
porta e seguindo para o quarto. A noite estava
escura e a casa na mais completa penumbra. Ele
seguiu diretamente para seu quarto, mas algo
chamou sua atenção. A porta ao lado da sua
estava entreaberta.
Obviamente não era um descuido. Ela
não era dada a descuidos, ele percebera mais cedo
que aquela porta estava rachada e não fechava
completamente. Teria que concertar isso também.
Empurrando esse pensamento para longe,
ele viu a luz que pairava pela fresta e imaginou se
ela ainda estaria no banho.
Ele tentou conter o impulso por um
minuto, não era justo fazer isso, mas ela era sua
mulher, não era? Era normal ao menos ter
curiosidade! Além disso, nunca fora santo. Em
relação às mulheres, ele nunca fora um santinho.
Cauteloso, pois se ela o pegasse no flagra era um
homem morto, ele espiou.
O lampião estava aceso sobre uma
mesinha e iluminava parte do quarto, onde ela
estava afundada na água. Ele podia ver apenas seu
rosto, seu pescoço, e ombros, o resto estava
protegido pela beirada da banheira de madeira.
Ela estava dormindo ou apenas
descansando, e ele pode contemplar seu rosto com
mais calma, sem seu olhar acusador sobre ele.
Tinha uma face miúda, todo seu corpo era miúdo,
mas a face de queixo fino e nariz perfeito era
moldado por uma maxilar tenso e uma
sobrancelha tensa. Mesmo relaxada, pensamentos
pesados a tornavam tensa. Os olhos castanhos,
quase mel, estavam fechados e ele notou que ela
estava quase imóvel.
O pescoço era longo, e desembocava em
ombros perolados, a clavícula mansa, um lugar
perfeito para as mãos de um homem descerem
mais e mais. Sentindo o quanto era homem, e o
quanto de tempo estava sozinho, ele sentiu o corpo
reagir. Deveria entrar e tomar aquilo que era seu
pela lei. Possuir aquele corpo pequeno e apagar
daquela face o olhar arrogante que o mandava se
afastar.
Fazer a pequena megera gritar de prazer e
implorar por mais.
Tentando a todo custo conter esse
impulso ele assustou-se quando ela se mexeu na
água, talvez incomodada pela água que esfriava e
se preparou para se afastar quando ela se moveu
para levantar.
Não era de espiar mulheres indefesas,
mas ela não era uma mulher qualquer era a sua
mulher e tinha esse direito, e também, estava
longe de ser indefesa. Ela tomou impulso e ficou
de pé na água, deixando que a água escorresse por
seu corpo antes de apanhar a toalha de sobre a
borda da banheira.
Ele engoliu em seco, contemplando
aquilo que a expressão de ódio dela escondia. Seu
torso era fino, os seios muito empinados e
pequenos, mas que logo estariam cheios, quando
ela ganhasse peso, e mesmo agora eram perfeitos
para o toque e deveriam ser macios como o
inferno!
A cintura era tão fina, que poderia dar a
volta com as duas mãos e ainda sobrariam dedos!
A barriga mais plana que ele já vira na vida, sem
uma única dobra. Os quadris eram arredondados e
sobreviveram a magreza, desembocando em coxas
macias e peroladas, com pernas suaves e
tornozelos bonitos. Ele molhou os lábios olhando
para sua intimidade, os pelos castanhos claros,
ralos e poucos, ocultando seu maior segredo num
triângulo perfeito e macio.
Suas mãos coçavam e ele precisou de
força sobre humana para não invadir aquele
quarto. Esperando, ele viu quando ela secou os
ombros, os braços, o tronco e saiu da banheira
secando os pés e a costas. Tinha um traseiro
redondo e delicioso e ele pode se imaginar
tomando aquilo para si.
Contendo a respiração, ele observou
calado quando ela jogou a camisola de mangas
longas sobre o corpo fresco e cálido e soltou os
cabelos que caíram pela cintura, em ondulados
delicados e castanhos. As madeixas cobriram seu
rosto quando ela tirou a roupa de cama, e afofou
os travesseiros. Arrumaria a bagunça do banho na
manhã seguinte, agora tudo que podia sonhar era
em dormir e esquecer de tudo e todos. Ele mudou
de ideia sobre entrar, quando ela tirou a arma
debaixo do colchão e colocou no criado mudo, ao
alcance de sua mão ágil. Ele esperou que ela
apagasse o lampião e estivesse coberta para
dormir para ir para seu próprio quarto. Ele jogou
as roupas sujas no chão e sentou-se na beira da
cama, tentando acalmar o corpo e a mente.
Estava excitado e não tinha jeito.
Acreditara que vez ou outra iria ao cabaré e teria
alguma diversão, se a mulher com que se casara
negava isso a ele, mas agora, tinha ideia do
quanto seria difícil. Queria agora, e queria ela.
E o desejo quando tem nome e
sobrenome, não pode ser apagado. Muito menos
trocado!
Capítulo 11 - Mudanças

Juanita gritou uma última vez antes de


sair atrás de um de seus meninos. Ela tinha pouca
paciência com as crianças, mas não batia pelo que
Helena notava, apenas arrastava os pequenos pela
orelha e os fazia ficarem quietos na base do grito.
Quando isso acontecia, ela apenas
desviava o olhar e continuava cuidando dos seus
afazeres. Elas debateram nada harmoniosamente o
destino de cada uma naquela manhã de sol forte, e
Helena decidira ceder. Juanita não aceitava um
não e estava disposta a cuidar sozinha da horta.
Sobrou para ela cortar o pão e separá-lo
em bacias, e fazer o mingau que serviriam junto
com o café forte e amargo. Elas tentariam variar o
café da manhã, mas enquanto não houvesse uma
produção maior de leite, não poderiam fazer
manteiga, muito menos servir ovos, visto que as
galinhas ainda não estavam pondo.
Faziam três dias que eles estavam
naquela fazenda, e parecia de uma forma muito
disforme, que sempre viveram ali. Helena
admirava essa forma de se adaptar, pois para ela,
estava sendo muito difícil.
O trabalho havia diminuído, não podia
negar, seu corpo agradecia a trégua, mas sua
mente e seu coração estavam sendo massacrados.
-O que estão fazendo? – ela ouviu Juanita
perguntar ao marido Suarez quando ele passou
apressado.
-Derrubamos a cerca – ele apontou o
local a distância – o gado estava escoando por ali -
ele disse arfante, carregando madeira e
ferramentas. – Em uma hora estaremos aqui para
o almoço. – ele avisou e ela riu.
Aparentemente era uma piada deles.
Helena não disse nada. A cerca havia
sido construída há poucos anos atrás pelo seu
irmão. Fora a última coisa que ele fizera, antes de
morrer em uma briga de bar. Sentindo-se
subitamente sufocada, ela entrou na casa com uma
desculpa qualquer.
Não ia sobrar nada da sua família. Rony
falava em trocar as madeiras velhas das portas,
trocar o telhado, pintar a casa. Desviar o curso do
lago para terem uma veia de água mais perto do
gado e da plantação.
Falava empolgado sobre terminarem a
obra do celeiro extra, para acomodar os
empregados e garantir o local das refeições, por
ideia dela mesma, mas mesmo assim, ela via com
maus olhos.
O chiqueiro onde sua mãe cuidava de
seus porcos com tanto esmero havia sido levado
para longe da casa, afinal, ele não gostava do
cheiro e no seu lugar havia um chuveiro. Algo
improvisado, a manivela. Ela não sabia como ele
fizera funcionar, mas era um invento e tanto.
Algo que apenas um homem estudado
poderia conhecer. Na cozinha, ela tirou farinha e
outros ingredientes para preparar o almoço.
Ficou pensativa sobre o que fazer.
Tinham muitos grãos, mas nenhuma carne, o que
não era de admirar, poucas pessoas comiam carne
naquela região. Tinha um resto de carne seca, mas
ela sabia que Juanita estava guardando para o
Domingo, quando os empregados iriam a cidade
para a missa, e teriam um almoço mais
caprichado. Só para a família, como ela dizia.
Para Juanita eram todos uma grande
família. Infelizmente, ela não conseguia sentir-se
assim.
Ela preparou o feijão e esperou que a
massa ficasse boa. Não tinham carne, mas ela fez
panquecas com as verduras que ele comprara no
armazém há três dias, elas estragariam se não
fossem consumidas e depois de separar algumas
sementes e mudas para colocar na horta que
Juanita arava, ela preparou tudo.
Tinham guaraná em pó, e ela colocou um
pouco no café, esperando que eles não
reclamassem, seus irmãos e pai adoravam, mas
esses homens eram estranhos para ela.
Eles não reclamavam da comida de
Juanita, e nem poderiam, ela colocaria o ousado
para correr se fizesse isso, e além do mais, ela
cozinhava maravilhosamente bem.
Sabia que para ela não diriam nada,
primeiro, por ser a dona da fazenda, e segundo,
por sempre estar mal encarada. Já ouvira alguns
sussurros quando passava.
Comentários grosseiros sobre o patrão
não conseguir desamarrar a cara da esposa. Algo
que homens falavam entre si, mas que a irritava
muito.
Esquecida do tempo, ela terminou o
almoço a tempo de ouvir outro grito de Juanita.
Esse era diferente, mais assustador e ela correu
para a porta da cozinha para ver o que se passava.
Três homens vinham apressados,
apoiando Rony. Ele tinha um pano ao redor de um
dos braços e parecia muito pálido. Ela sentiu uma
palpitação ao ver o sangue.
Quando chegaram mais perto, Juanita
entrou correndo, empurrando-a para o lado,
enquanto eles o traziam logo atrás dela.
-O que aconteceu? – ela perguntou tensa,
esperando não ser mais uma desgraça.
Suarez tirou o pano, revelando o braço
ensanguentado. Ela se aproximou, tentando ver a
ferida. Suarez olhou para Juanita e ela se afastou.
Helena franziu a sobrancelha sem entender. Havia
um corte aberto, bem feio, era verdade, mas nada
que justificasse tanta alarde.
-Só isso? – ela perguntou sem conter a
ironia.
-A foice quase arrancou meu braço – ele
disse furioso – Acha pouco?
-Não, claro que não - ela disse séria,
segurando uma risada. Fazia dias que não ria,
meses na verdade, mas ela se conteve – Voltem ao
trabalho – ela mandou apontando os homens –
Volte para a horta, Juanita. Eu cuido dos pontos.
-Tem certeza? – Suarez perguntou em
dúvida sobre uma mulher conseguir fazer isso.
-Não se preocupe, e cuide do seu trabalho
- ela insistiu. Esse gostinho de ver o doutor levar
os pontos, ninguém lhe tiraria. – o almoço está
pronto, Suarez. Ajude a levar para o celeiro, sim?
Os homens não vão gostar de ver sangue perto da
comida.
O homem obedeceu ainda em dúvida e
enquanto ela fervia água e apanhava o material
necessário, Rony pensou se era prazer o que via
em seu rosto sério.
Ele mal podia mover o braço, mas isso
não parecia comovê-la.
Helena colocou água em uma vasilha e
apanhou toalhas limpas assim como uma garrafa
de cachaça que Juanita escondia para si. Ela
gostava de um trago quando ninguém estava
vendo, mas como dizia, era apenas para dar contas
das crianças sem enlouquecer.
Passando a agulha de costura no fogo, ela
garantiu o mínimo de higiene para a situação e ele
se pegou pensando quantas vezes ela fizera isso na
vida.
Puxando uma cadeira, ela sentou perto
dele, colocando a bacia sobre a mesa sem pressa.
Ela preparou a agulha com linha e deixou
sobre a toalha, apanhando a garrafa com olhos
brilhantes. Ele conteve a respiração quando
esticou o braço e ela derramou a bebida cheia de
álcool sobre a pele aberta. Teve que fazer força
para não gritar de dor.
Os olhos castanhos brilhavam com tanta
satisfação que ele engoliu em seco, imaginando se
ela não teria lhe rogado pragas a ponto dele se
ferir.
-Feche os olhos se quiser – ela disse
sádica e ele teve a confirmação que se divertia
vendo sua dor.
A agulha passou por sua pele num
movimento ágil e no fundo foi melhor assim, ela
sabia o que fazia, e não estava abalada pelo
sangue, como muitos homens, mesmo marmanjos,
ficariam.
Foram momentos de pura tortura, mas
que logo terminaram. Seis pontos bem feitos,
depois ela limpou a ferida novamente, e fechou a
garrafa da bebida, limpando a pele com a toalha
limpa.
-Espere – ela pediu sumindo para dentro
da casa. Quando voltou trazia um tecido de
algodão limpo nas mãos e amarrou em volta do
ferimento, prendendo as pontas num nó suave. –
Pode almoçar agora - ela disse limpando a bacia e
o sangue da mesa, sem olhar para ele.
-Obrigado – ele disse sabendo que ela
não se importava por ele estar verdadeiramente
agradecido.
Helena parou o que fazia e olhou para ele
sabendo que só restava uma alternativa, falar a
verdade antes que ele ouvisse da boca de outra
pessoa.
-Suarez o respeita, por ter família e ser
grato pela casa que o deixa ocupar e por algum
conforto que sua família tenha. Os outros não. Se
for fazer algazarra por cada machucado que tiver,
eles nunca mais o respeitarão. É um corte
superficial, não era preciso que os homens
deixassem o trabalho para trazê-lo até aqui. Da
próxima vez aguente e não os deixe ver que está
doendo.
-É isso que faz? – ele perguntou sério –
Esconder que está doendo?
-É o que todas as pessoas fazem – ela
disse tentando não se deixar abater pela armadilha
de seus olhos azuis, que a cada dia pareciam-lhe
mais intensos e vivos.
-Espere um pouco – ele pediu – Preciso
de um minuto antes de ir - ele pediu.
Ao contrário dela, não tinha problemas
em admitir que sentia dor e se mostrar fraco. Isso
não o fazia menos homem. Mas naquela terra de
pessoas simples, ela tinha razão, a força é o que
vale.
-Escrevi para um amigo de Londres. Vou
convidá-lo para uma visita assim que ele
responder – comunicou-lhe.
-Faça como quiser - ela deu de ombros,
sentido a raiva voltar, era assim sempre que ele
agia como se fosse o único dono.
-Não, você não entendeu – ele falou mais
alto, para que ela olhasse para ele, nem que fosse
com raiva, mas olhasse para ele – Não posso
mentir para John. Não posso esconder o que
acontece dele. Ele verá assim que pôr os pés aqui.
Queria que soubesse disso.
-Como disse, faça como quiser.
Ela jogou o pano manchado no cesto
abaixo do forno, e limpou as mãos na água, antes
de secá-las.
-Não é apenas uma visita. Quero
apresentá-lo a minha irmã Alice - ele contou
sorrindo um pouco – Acho que pode haver um
casamento entre eles. Conhece minha irmã, não
conhece?
-Sim, conheço – disse distante, tentando
apagar essa lembrança de quando a vida era boa e
todos que amava viviam ao seu lado.
-Pensei que ela poderia ficar aqui
também, quando ele vier. Para aproximá-los - ele
continuou notando o momento exato em que ela
estreitou os olhos, chegando à conclusão que ele
logo diria.
O que ele mais apreciava nela, era a
inteligência aguçada e sua capacidade de ver além
do que as pessoas diziam.
Com Helena não era preciso repetir duas
vezes. Gostaria de poder dar a ela a oportunidade
de estudar mais, como ele fizera. Com certeza ela
dominaria o mundo!
-E onde ela dormiria? - havia uma
sobrancelha erguida no alto e ele quase sorriu.
Sentia-se pego em uma molecagem no colégio
interno tendo que se explicar para as freiras.
-Eu durmo no chão - ele disse em tom de
desculpas – Não estou quebrando nosso acordo.
Mas Alice tem dezesseis anos e precisa de um
noivo. John é perfeito. É estudado, rico, viajado,
dará uma vida de rainha para ela. Não pode me
culpar por querer dar um empurrãozinho!
Helena ficou calada, pensativa.
Era um futuro desses que tanto planejara
para Anne.
Doía terrivelmente pensar nela. Evitava
isso a todo custo, mas todas as noites acordava
ouvindo seus gritos, como se aquele dia estivesse
se repetindo infinitamente, noite após noite.
-Quando seu amigo chegar poderá dormir
com os agregados no celeiro. – disse amarga. –
Ou com você em seu quarto – ela disse petulante.
– é melhor irmos ou não sobrará nada para nós.
Mal deu um passo ele se pôs entre ela e a
porta.
-Não pode agir desse modo apenas por
vingança! – ele acusou.
-Não estou agindo por vingança! – ela se
defendeu afastado-se – Se o seu amigo saberá de
tudo, não haverá surpresa se Alice dividir o quarto
comigo, ou ele dividir com você!
Ela tinha razão, ele engoliu em seco. É
claro que tinha razão, o problema era ele
arrumando desculpas para ficar mais íntimo.
Ainda tinha vívido na mente as imagens da outra
noite. Seu corpo delicado, sua pele macia, lhe
tiravam seu sono e sua paz!
-Não dividirei o quarto com você ou com
qualquer homem!
-E porque isso? Acaso está esperando
alguém aparecer? - ele disse irônico, mas esse
pensamento fazia sentido – É esse o problema?
Espera algum homem voltar?
-Não – ela disse séria, cruzando os
braços – Não quero comer comida fria.
Rony deixou-a ir indo atrás. Ela tinha
passos duros e urgentes de quem sempre anda
sozinho. Os dois entraram no celeiro e as risadas
pararam imediatamente, os homens se aquietando
e comendo em silêncio.
Era óbvio que riam dele. Helena lançou-
lhe um olhar mortal como quem fala “eu não
disse?”, mas não teceu comentários, indo sentar-se
ao lado de Juanita.
-Como se sente? – Suarez perguntou em
tom brando e ele quase agradeceu pela discrição.
-Estou bem – ele disse envergonhado da
própria fraqueza.
Helena baixou o rosto, mas era quase
visível um sorriso em sua face. Ela encobriu o fato
pondo pão na boca, mas ele desejou ter a mão
pesada de alguns homens e lhe dar uma surra.
Desejou do fundo do seu coração.
Capítulo 12 - Próximos

Já era de madrugada quando Rony


acordou.
Ouviu um choramingo baixo e pensou se
seria um sonho. Ficou deitado no escuro apurando
os ouvidos esperando ouvir algum som que
merecesse atenção.
Nada. Virando-se para o lado, ele
maltratou o travesseiros com socos, tentando achar
o sono. Estava cada vez mais difícil.
Na próxima semana os homens estavam
querendo ir ao cabaré e restava a ele se conter.
Tinha que poupar o dinheiro e não fazia sentido
ser visto no cabaré tendo uma esposa jovem em
casa.
Por outro lado, estava no limite. A prova
estava em seu braço, em um ferimento que doía
como o inferno. Uma das muitas vezes em que seu
pensamento ficara perdido, distante e perdido nas
lembranças de um corpo morno e frágil a sua
disposição a apenas uma parede de distância. Tão
disperso que isso lhe custara um ferimento.
Um homem tem seu limite, pensou,
cobrindo o rosto com o braço enquanto afastava
aquelas lembranças.
Nos últimos três dias ela se mantivera
longe do seu caminho, fazendo de tudo para não
cruzar a sua frente. Ele até gostava no sentindo de
não haver brigas. Por outro lado, ela continuava
fechada como uma ostra, e ele querendo mais que
tudo que ela cedesse.
Mas ceder como, se era tratada como
uma sócia?
Poderia tentar cortejá-la, mas tinha medo
de fracassar, afinal, às vezes, ela lhe punha medo.
E se isso acontecesse, a convivência seria infernal.
Ele fechou os olhos, precisando
urgentemente dormir, quando ouviu novamente o
som baixo e abafado.

Helena viu o corpo tombar para o chão


quando aquele homem a soltou. Seu corpo
pequeno, que sempre era protegido como uma flor
caiu como uma boneca sem vida, os olhos abertos,
mirando-a completamente sem vida. Seus gritos
ecoando em seus ouvidos, os gritos que sua mãe
deveria ter emitido ao ser brutalmente estuprada.
Os gritos de seu pai inválido ao ver e não poder
impedir.
Os gritos que ela guardara para si como
recordação de um dia que jamais esqueceria.
Esses gritos ficaram mais altos, e ela sentiu
aquelas mãos sujas correrem por seus braços
finos, segurando-a com força, rasgando sua
camisola e mantendo-a presa entre ele e a cama.
Podia sentir seu cheiro de álcool, tabaco e suor,
podia sentir seu bafo e ver seus olhos injetados
daquele torpor de loucura.
Não era Anne que havia morrido ali, era
ela. Era seu corpo que estava sem vida, gelado e
abandonado sobre a terra seca. Eram seus olhos
que perdiam a cor e o calor abandonava a pele.
Ela se debateu, e tentou gritar, mas a
morte estava agarrando-a com braços gelados e
severos, e não tinha onde se abrigar, ou onde
segurar, ela seria levada em suas asas diretamente
para o inferno, pois sua alma morrera sem paz.
Ela tentou abrir os olhos, quando esses
braços a tiraram da cama e a sacudiram com
força, mas a única coisa que pode fazer foi
entreabrir os olhos pesados e debater-se na
tentativa de soltar-se e fugir.
Tentou apanhar a arma na mesinha, mas
na luta, ela escapou de suas mãos e caiu ao chão,
ficando fora de seu alcance.
Ela tentou gritar, mas a mão tapou seus
lábios quando ela tentou morder, e ela chutou,
debateu, empurrou, tudo em vão.
O peso sobre ela era demais para seu
corpo exaurido dos últimos meses de trabalho
forçado sob o sol e sua má alimentação, vencida
pela tristeza e saudade. O peso sobre ela a venceu
e Helena parou.
Não tinha mais forças, não podia com a
morte.
Não podia mais lutar.
Imóvel, ela tentou respirar, mas estava
cada vez mais difícil e sentiu a mão soltar seu
rosto, e gentilmente afastar seus cabelos do rosto.
Ela entreabriu os olhos e fitou na escuridão,
descobrindo que não era um sonho.
Estava em sua cama, sobre os lençóis
bagunçados, depois de uma luta corporal intensa,
a qual perdera. Era um homem sobre ela, e
quando num relance viu seus olhos, ela sentiu o
peito rachar.
É claro que tinha que ser assim.
Rapidamente as lágrimas subiram aos
seus olhos ao constatar que por mais que quisesse
acreditar no contrário, não havia contos de fadas.
O mundo é feio, e o pior restava a ela.
-Foi só um sonho - ouviu sua voz forte e
rouca, tão perto que o hálito quente queimou sua
pele unida das lágrimas.
Ela fechou os olhos quando ele soltou
uma das mãos, e começou a tatear sobre a cama, e
ela sentiu-o roçar em sua perna.
Rony agarrou o tecido das cobertas que
estavam bagunçadas e reviradas e puxou sobre
ela.
-Feche os olhos e durma – ele disse
novamente, e ela abriu os olhos sem entender, ele
a soltara e o corpo estava agasalhado e coberto –
Foi apenas um sonho, volte a dormir.
Ela escondeu o rosto no travesseiro,
confusa, e cansada demais para lutar. Quis dizer
que não era apenas um sonho. Eles estavam
mortos.
Mas não disse nada, apenas fechando os
olhos e obedecendo.
Rony ficou no escuro por uns instantes,
esperando que ela adormecesse. Seu braço
latejava pelo esforço físico de segurá-la, mas
tivera que detê-la antes que se machucasse.
Não era apenas um sonho, bem sabia.
Eram pesadelos aos quais ele não podia
compreender ou ajudá-la. Notando sua respiração
apressada normalizar, ficou aliviado e ao mesmo
tempo consternado.
Durante o dia nunca conseguia uma
aproximação como a que tinha agora. Tão perto a
ponto de aspirar o cheiro de terra e cozinha que ela
exalava. Em outros tempos ele não gostaria desse
cheiro, mas ali, naquela vida de campo, era o
melhor dos aromas. Cheiro de cabelos lavados
com água e sabão, cheiro de pele limpa e cálida.
Adormecida era apenas uma menina
desprotegida. Uma criança cheia de medos e
lembranças. Rony queria que ela falasse, dissesse
do medo e da agonia, e contasse como se sentia,
mas ela não o faria, sobretudo a ele.
Era tentador ficar ali, e deitar-se ao seu
lado. Quem sabe acordando em seus braços, sem
ser forçada a nada, ela cedesse?
Tomado pela tentação, ele se deitou no
espaço ao redor, encostando a cabeça no mesmo
travesseiro que ela usava e pondo o braço
machucado sobre sua cintura.
O desejo se tornou mais forte ao sentir o
balançar de seu corpo cada vez que ela respirava,
o corpo morno aquecendo o seu como labaredas
fortes demais para que um homem pudesse
suportar. Sua nuca lisa, os cabelos ele afastou para
ver melhor o pescoço e colo alvo.
Ele aspirou profundamente seu perfume,
tentando lembrar se alguma outra vez em sua vida
sentira aquele apreço por um perfume de mulher.
Talvez não.
Ficou tenso quando seu corpo se moveu,
e ela girou na cama, o sono um pouco mais
inquieto e ele não pensou antes de aconchegá-la
ao seu corpo. Ela se aquietou, os braços
encolhidos contra o próprio corpo, deixando-se ser
abraçada de um modo que o encantou.
Jamais suporia haver tanta fragilidade na
mulher dura e gelada que o recebera em sua vida a
contra gosto. Admitia, estava encantado pela
curva suave de seus ombros, parcialmente
revelado pela gola ampla da camisola pueril,
atraído pela curva de seu queixo teimoso, e sem
sobra de dúvidas, pelos lábios rosados e úmidos.
Sem a rudeza e a linha tensa sobre eles, eram
lábios convidativos e sedutores e era um milagre
nenhum homem a ter querido para si antes dele.
Incapaz de conter o impulso, ele baixou o
rosto, e encostou os lábios nos dela. Muito suave e
virginal, para não despertá-la. Ela sequer se
mexeu sem perceber nada.
Supunha ele que esse seria seu primeiro
beijo. Dada a estranha emoção em seu coração,
poderia ser o dele também.
Ela entreabriu os lábios em seu sono, e
não o viu sorrir, apertando-a contra seu peito e
fechando os olhos. Amanhã seria um novo dia, e
aquela mulher não seria mais a estranha que o
odiava.
Seria sua mulher, e o aceitaria.
Capítulo 13 - Ataque

O sol entrava pela pequena janela do


quarto e o incomodou. Rony abriu os olhos e
sentiu novamente aquele cheiro ao seu redor e
sorriu. Bem, era manhã e ele estava vivo, sendo
assim, tudo ficaria bem.
Ninguém poderia negar que era um
homem corajoso.
Movendo-se na cama, ele piscou,
saltando a seguir ao ver-se diante do pior dos seus
pesadelos.
Helena estava de pé em frente à cama,
segurando sua arma, apontada para ele.
-Abaixe isso! – ele mandou pensando
agora no que dera em sua cabeça para dormir
naquela cama!
-Disse que o mataria se fizesse isso.
Sua voz era neutra e seca. Ela faria o pior
se ele não achasse um jeito de sair dessa situação
e rápido!
-Está enganada! Não encostei um dedo
em você!
-E o que faz nessa cama? – seus olhos
estavam límpidos e suaves e isso o assustou ainda
mais.
-Teve um pesadelo, eu entrei para que
não se machucasse com a arma. Foi só isso. Devo
ter pegado no sono, estava cansado - ele mentiu
engolindo em seco quando ela engatilhou a arma –
Eu nem me lembro de ter dormido aqui!
Havia urgência em sua voz, pois ela
atiraria, não tinha a menor dúvida disso! De pé
próxima a porta, ela ainda vestia a camisola e os
cabelos estavam soltos, e apesar de muito pálida e
com expressão de ódio, achou-a ainda mais linda.
Ao inferno, ele estava perdido!
-Solte essa arma! – ele ficou furioso,
quem ela achava que era para apontar-lhe uma
arma? – EU MANDEI ABAIXAR ISSO!
-Quebrou o nosso acordo. – ela disse
ainda mais suave, e ele teve certeza de que estava
morto!
-Não exagere! Eu não fiz nada de mal!
Prometo que isso não acontecerá mais!
-Não acredito em você – ela disse seca e
direta.
-É isso que quer fazer? SE ME MATAR,
ELES TIRAM A FAZENDA DE VOCÊ!
Seu grito a fez pensar, ele notou. Sua
mente aguçada lhe dizia para pensar e deixá-lo ir,
mas seu emocional queria que ele pagasse.
Pagasse pelas emoções contraditórias que
sentira ao abrir os olhos e ver-se diante do rosto
adormecido a centímetros dos seus. Da sensação
estranha e única que a percorria da cabeça aos pés
ao sentir seu corpo apertado contra o dela, um
calor que não vinha do começo da manhã de sol
forte. Vinha dela. De dentro dela.
E isso ela não poderia perdoar.
-Eu juro, não vai se repetir, eu coloco
trancas nas portas dos quartos e isso jamais
voltará a se repetir! - ele disse novamente. –
Helena, você não é uma assassina. Não quer fazer
isso de verdade! Baixe a arma e me deixe sair.
Ela olhou para seus olhos e decidiu se
valia o risco ou não. Bem, na verdade tivera todas
as oportunidade do mundo de atacá-lo ou algo
parecido e não o fizera.
Tremendo de raiva por ter que ceder e
manter o patrimônio que seu pai lutara tanto para
manter, ela baixou a arma.
Ele soltou o ar, o alívio evidente em sua
face. Medindo o terreno ele se levantou da cama e
se aproximou, ela ficou de lado esperando que ele
passasse pela porta, a arma ainda na mão, o braço
caído, ela sentia o peso de ter fraquejado.
Rony tinha que sair e escapar, mas a
tentação era forte demais agora que já se atirara
aos lobos e a guerra fora declarada de qualquer
modo!
Num impulso, ele girou o corpo e agarrou
seu braço, tirando a arma de sua mão, assustada
ela se moveu para trás tentando se afastar, mas ele
não deu tempo. Agarrou seu quadril e a puxou
contra seu corpo, usando a mão que segurava a
arma para direcionar sua cabeça e beijá-la.
Era como beijar um ouriço enraivecido,
ela se debateu e chutou, e ele aprofundou o toque,
tentando abrir seus lábios sem sucesso.
Empurrando-a contra a parede ele a pressionou
usando a força do corpo tão maior que o dela, e
guardou a arma na calça do pijama nas costas,
tomando o cuidado de segurar suas mãos
delicadas, dispostas a matá-lo se lhe desse chance.
-ME SOLTA!!! - ela berrou ferozmente
quando ele soltou seus lábios, mas ele ignorou,
segurando-a para um novo beijo.
Isso estava excitando-o além do que
poderia suportar, o corpo jovem mexendo contra o
dele, os quadris enlouquecendo-o, e era impossível
que ela não sentisse pelo tecido fino da camisola o
quanto ele a queria.
-NÃO GRITE NA MINHA CARA!!! -
ele gritou de volta, quando ela virou o rosto de
lado, os olhos tentando achar uma saída, ver algo
que pudesse ser sua salvação.
Desesperada ela tentou morder seu
ombro, ou pescoço ou qualquer lugar que pudesse
atingir, e ele tratou de grudar os lábios novamente
nos dela, antes que Helena alcançasse seu intento
e lhe arrancasse um pedaço!
Pega de surpresa entregou-lhe os lábios
prontos para um beijo. Rony segurou com doçura
em sua cintura, esperando que ela pudesse notar a
diferença, e aprofundou o beijo, roçando os lábios
e aproveitando seu descuido para explorar o
interior aveludado com sua língua experiente.
Tocou sua língua na dela, e sentiu o impacto disso
em seu corpo frágil, o susto e o desconhecido. Ela
não estava gostando ou aproveitando, ela apenas
queria que parasse.
Como homem era humilhante e
frustrante. Sentir tanto desejo por alguém que o
odiava a ponto de não ser capaz sequer de desejo
físico. Antes de desistir totalmente, ele tentou uma
última vez, amansando o beijo e suavizando o
contato e pegando-a totalmente desprevenida para
a suavidade e o carinho.
Ele desceu uma das mãos para sua perna,
e puxou sua perna sobre a dele, encaixando-se
entre suas coxas, e moendo os quadris contra os
dela, para que sentisse a maravilha do desejo de
um homem contra seu corpo, e uma das mãos se
apoderou de um seio jovem, deliciando-se com o
toque que apenas sonhava há dias e noites.
Redondo e firme, ele amassou a pele
entre os dedos, lamentando a camisola entre eles,
mas era possível sentir o mamilo intumescido e
isso era uma evidente dica do que ela
verdadeiramente sentia e achando não sentir tanta
rejeição, pois ela não empurrava mais, ele desceu
os lábios por seu pescoço, beijando o queixo e
molhando um caminho até seu ombro, onde a
camisola revelava muito e se deleitou na carne
tenra, perdido nos próprios desejos.
Tão concentrado que não notou. Não
percebeu tanta malevolência como algo
premeditado e na primeira brecha a dor o sufocou.
Ele soltou sem notar uma das mãos pequenas e
esta agarrou seu braço ferido e apertou sobre a
ferida sem dó ou piedade.
Ele gritou soltando-a imediatamente.
Mas ela não parou.
A dor o sufocou, mas a raiva foi maior e
ele a agarrou novamente, jogando sobre a cama,
com ódio mortal. Sangue estava correndo
novamente, e a dor era horrível. Ela sentia prazer
em machucá-lo e ele agarrou seu tornozelo quando
ela tentou fugir, e a fez cair de cara na colchão,
aos gritos.
Pela primeira vez na vida sentiu o
impulso quase incontrolável de bater em uma
mulher. Essa mulher estava acabando com seu
juízo! Largando-a, ele se virou para sair do quarto,
e quando o fez, a porta bateu com força atrás de si.
Não foi para seu quarto, foi direto para a
rua, dando a volta na casa, em direção ao campo,
onde poderia respirar ar puro. Acalmar-se e
esquecer daquela infeliz desgraçada que o tirava
de seu juízo e o fazia cometer os piores atos!
Capítulo 14 - Raiva

Sozinha no quarto, ela correu para a


porta, se apoiando atrás dela na vã infantil
tentativa de barrar a passagem dele caso tentasse
voltar. Seu corpo tremia e ela escorregou para o
chão, sem poder conter as lágrimas que vinham à
revelia de sua vontade.
Assustada, ela cobriu as pernas com a
camisola e juntou as pernas ao queixo, se
abraçando num canto, amedrontada e solitária.
Seu corpo doía pelos apertos e pela força
que usara contra ele, e seu corpo estava estranho.
Sentia os seios inchados e doloridos, latejantes e
isso não era culpa dele, assim como entre suas
coxas uma sensação estranha a tomava e a fazia
querer coisas que não saberia nomear. Sua
respiração estava fraca e arfante, mas não sabia se
era por conta dessas sensações ou da luta.
Ela passou uma das mãos sobre o seio e o
sentiu palpitante. Sem compreender o que se
passava, ela retirou a mão, assustada. Sentira essa
mesma estranheza ao acordar e sentir o quão perto
ele estava.
Fechando os olhos, ela tentou esquecer-se
do rosto másculo a centímetros do seu. Tentou
apagar a imagem dele adormecido, viril e protetor,
abraçando-a como se fosse de porcelana, tentou
em vão esquecer a sensação deliciosa que sentira
naquele momento.
Essas lembranças não iam embora, assim
como o gosto de seus lábios sobre os dela. O que
fora aquilo, ela não sabia! Suas línguas se
tocando, os movimentos de seu quadril contra o
dela... fechando os olhos fortemente, ordenou-se a
esquecer!
Ela pulou assustada quando a porta abriu
e alguém entrou.
-Oh, pobrezinha! – a voz de lamento a fez
olhar para Juanita em pânico. – O que esse animal
fez com você? – ela se aproximou e Helena
afastou-se acuada – Não vou te machucar, sou
mulher como você, nunca machucaria outra igual
a mim – ela disse apenada.
Helena deixou-se tocar e as lágrimas
eram demais para conter. Sentia vergonha. Muita
vergonha.
-Ouvi os gritos, não podia intervir, mas
ouvi os gritos. Ele te bateu, foi isso? Eles fazem
isso às vezes, são animais, todos os homens, são
animais!
Helena deixou que ela a abraçasse, sem
saber por que permitia e Juanita continuou
falando, e lamentando a sorte de todas as
mulheres.
-Não chore, às vezes Suarez também me
bate. Só quando bebe, mas eles são assim – ela
acariciou seu rosto tentando sorrir - era pior no
cabaré... acredite, era pior no cabaré! – havia
mágoa em seu olhar e Helena entendeu o quanto
essa mulher escondia de sua dor para viver e
sobreviver.
-Ele... não me bateu – disse confusa,
sentindo-se estranha ao dizer essas palavras.
-Não? Vocês estavam gritando tanto... –
ela ajudou-a a se levantar e sentar na beira da
cama.
Envergonhada, Helena não conseguiu
encarar a mulher.
-Porque não estavam em seu quarto? –
Juanita perguntou olhando em volta, para a cama
desarrumada.
-Estou bem agora - ela disse baixo, não
querendo explicar. – Por favor, gostaria de ficar
só...
Juanita ficou em dúvida por um instante,
mas incomodada e magoada de ser excluída ela
concordou e deixou-a.
Helena ficou um longo tempo encolhida
sobre a cama remoendo sua desgraça e a vida
terrível que se apresentava diante dela.

O trabalho rendeu naquela manhã. A


raiva o impulsionava e ele foi um tirano cobrando
dos homens mais do que eram capazes de fazer e
exatamente ao meio dia eles estavam prontos para
mandá-lo calar a boca, quando Juanita avisou que
a comida os esperava na mesa.
Ela também não estava com o melhor dos
humores e eles não ousaram reclamar.
Rony sentou-se para almoçar sem o
menor apetite. Por ele engoliria um copo de leite e
estaria de bom tamanho, mas tinha que comer e
ter forças para acompanhar o trabalho no campo,
ou não poderia mais continuar com essa vida. Ser
fazendeiro era muito diferente de ser advogado.
Era um trabalho de força e resistência e ele tinha
que acompanhar esse ritmo, pois era a vida que
escolhera.
A empregada lhe lançava olhares
inconfundíveis e ele se pegou pensando nas coisas
horríveis que estariam passando por sua cabeça
sobre o tipo de homem que era. A ausência de
Helena era notada, claro, mas ele não diria nada.
Se ela não queria comer, azar o dela!
Terminado o almoço, ele partiu com os
outros para a plantação. Era fim de tarde quando
voltaram. A cerca estava reconstruída e
reforçaram um dos lados da propriedade, tendo
inclusive permitido que um dos empregados,
Rúbeo construísse uma casa ali nos fundos, na
divisa entre a fazenda dos Johnson e Parkers. Um
casebre para orações. Algo sobre a cidade ser
longe demais para ir a todas as missas de
domingo.
Exaurido, ele apanhou o prato e decidiu
jantar fora do celeiro. Queria paz e silêncio.
Sossego para se martirizar pela péssima ideia de
se deixar levar pela vontade de comprar aquelas
terras. Que ideia infame achar que poderia
conviver com aquela mulher louca!
O sol descia no poente e era um
espetáculo único, algo que não se via nas cidades
de capitais. Aquele silêncio também era raro.
Terminou o prato ouvindo o som dos
risos que vinham do celeiro, adaptado como
refeitório. Isso o irritou profundamente.
Deixando o prato no chão, na área de
trás, ele entrou achando que aquele era o momento
perfeito para conversar com Helena.
Não que esperasse que ela ouvisse ou
algo parecido, mas ao menos poderia demonstrar
que estava arrependido.
Não que estivesse, na verdade ele queria
mais, mesmo assim ela não queria e não era
homem de forçar uma mulher. Não que
pretendesse desistir, apenas mudaria de estratégia.
Enquanto trabalhava no campo ele tivera
algumas idéias. Não havia mulher no mundo que
resistisse a sedução. Presentes e agrados. Talvez
demorasse, mas ele teria paciência dessa vez.
Ainda mais agora que sua arma estava
muito bem escondida.
Olhando na cozinha, onde esperava
encontrá-la jantando não a achou, ele seguiu para
a sala e nada. Deveria tentar o quarto.
Deu duas batidas suaves, esperando ouvir
sua resposta e ao não ter resposta, ele entreabriu a
porta.
Também estava vazio.
Capítulo 15 - Afeição

-Helena ficou no quarto o dia todo –


Juanita disse aflita – Ela não queria conversa. Eu
não percebi que saiu.
Rony apanhou a arma e colocou no
coldre, vestindo as botas e apanhando o chapéu
antes de sair, ignorando a pobre Juanita que
desconsolada carregava um de seus filhos, este
chorando em seu colo e exigindo sua atenção.
Não podia deixar aquela louca um
minuto sozinha, pensou furioso! Aquela mulher
era uma cruz em suas costas, pensou revoltado,
montando no cavalo e dirigindo-se para o maldito
lago.
Alguns peões lhe contaram que ela
passava muito tempo lá, e eles viram que ela
estava sentada perto do riacho, pensando. Pois
bem, ele a encontraria e a traria arrastada pelos
cabelos se fosse necessário!
A decisão o fez ter pressa e estava longe
em poucos minutos.

Helena virou uma página lendo sem


realmente ler. Era um dos livros de seu pai, um
em francês. Ela lia sempre que tinha tempo, o que
não acontecia muito nos últimos anos, e seu
francês estava enferrujado, por isso estava sendo
lento o processo de entendimento.
Ler sempre a acalmava e desviava sua
mente de qualquer pensamento angustiante.
Ela olhou para o lago, notando que a
tarde havia caído e a noite se erguia no céu
manchando as nuvens com um azul escuro, quase
negro. Esperaria mais um pouco para voltar, não
se sentia pronta para vê-lo ou ouvir as desculpas
que lhe daria.
Ronald Parker era um homem polido
quando lhe interessava e com toda a certeza
saberia enganá-la com suas falsas justificativas.
Infelizmente Helena sentia-se
desesperada demais para lutar o tempo todo. Se
olhasse para trás quase não podia lembrar-se de
toda a privação e trabalho árduo. Esses poucos
dias de trégua eram uma bênção para seu corpo
cansado, mas não conseguia desfrutar.
Parecia tão errado. Seu alívio em troca da
vida das pessoas que amava. Era tão vil, mesmo
que a escolha não houvesse sido sua!
Manteve os olhos fechados por um
instante, lembrando do som suave da voz de sua
mãe, na porta da casa, chamando-a para comer.
Ela o fazia todos os dias, com um olhar condoído
de dó ao ver a filha trabalhando como um dos
homens.
Ela nunca dizia nada, apenas limpava as
mãos no avental e a conduzia para dentro de casa
com uma mão sobre o ombro, dando a filha o
pouco de conforto que tinha para lhe dar.
Sua mãe de olhar tristonho e expressão
apagada que apenas se iluminava ao ver Anne e
ao fazer planos de seu futuro tão mais feliz que o
dela. Ela havia notado que desde a morte de seu
irmão, sua mãe deixara de falar do futuro de sua
filha Helena, para falar apenas de Anne. Em sua
mente, a consciência de uma mãe que não poderia
mudar o triste destino de sua filha.
E esse era um dos punhais que a
matavam dia a dia.
Ela ouviu o som ao longe do cavalo, mas
não olhou para trás, continuou sentada na margem
do lago, lendo calmamente. Quantas e quantas
vezes, naqueles últimos dois meses, não se pegara
pensando em como seria bom entrar naquelas
águas e deixar a vida para trás?
Dezenas de vezes, mas lhe faltava
coragem.
Rony parou a poucos metros, olhando
para a imagem tão integrada a paisagem. Helena
usava um de seus vestidos antigos, com as
bainhas carcomidas pelo uso. Era acinzentado e
contribuía para lhe dar um aspecto triste. Os
cabelos estavam soltos, apenas uma velha fivela
prendendo mexas atrás, mexas encaracoladas que
caiam numa cascata macia por suas costas. Estava
sentada na grama sobre um pedaço de pano e
tinha um livro aberto sobre as mãos, os olhos
pousados nas páginas, embora tivesse certeza que
não lesse uma palavra sequer escrita.
Tinha o olhar distante e perdido, e
quando olhou para o lago pensou no que ela seria
capaz para se livrar daquela vida que não a
agradava. Engolindo em seco apeou e deixou o
cavalo amarrado em uma árvore, então se
aproximou.
Tudo o que não desejava era assustá-la,
por isso andou o mais ruidosamente possível.
Perto, ela ergueu o rosto em sua direção e então,
voltando à atenção ao livro.
-Está tarde para ler – ele disse sério.
Helena não respondeu, achando que ele
não merecia que se desse a esse trabalho.
-Quando sair avise Juanita - ele mandou,
ficando mais próximo – Quero saber por onde
anda.
-Por quê? - foi impossível não perguntar.
-Porque se você sumir perco meu
investimento. - Não eram as palavras que a
conquistariam, pensou. - e também porque não
quero viver minha vida na insegurança.
-Não finja se importar comigo – ela disse
em tom suave, mas por dentro estava mordida.
Raiva pela audácia de tocá-la, raiva pela audácia
de achar que podia lhe dizer esse tipo de coisa!
-Vamos passar os próximos anos de
nossas vidas desse modo? Como inimigos? É isso
que você quer?
Era uma pergunta e tanto. Fechando o
livro, Helena levantou-se arrumando a saia do
vestido e apanhando o lenço que há muito tempo
deixara de ser vistoso, era desbotado e gasto.
-Quanto a essa manhã... – ele tentou falar
quando notou que não haveria resposta.
-Aguardo que coloque a tranca – ela disse
friamente – quanto a minha arma, não se
preocupe, tenho outra.
Era educada, e mortal.
Rony sentiu o impulso de sorrir. É claro
que teria outra! Helena, essa fera em forma de
mulher, deveria ter um estoque de armas.
-Não há razão para usá-la, o que se
passou essa manhã não se repetirá a menos que
guarde essa arma fora do alcance de qualquer um
que não tenha consciência do que faz. – ele
avisou – ontem a noite estava com ela nas mãos, e
não estava acordada. E mesmo que fosse manhã,
poderia ser uma das crianças de Juanita. Pense no
que aconteceria se cometesse um desatino desses.
Ela baixou os olhos por um instante, mas
não esmoreceu.
-Juanita acha que dormirmos no mesmo
quarto. Nenhuma de suas crianças entrará no
quarto – ela disse espertamente e ele sorriu.
-O que está lendo? - mudou o assunto
antes que virasse uma briga interminável.
Ela olhou dele para o livro. Havia ironia
em seu olhar, descaso ao nada responder. Irritado,
ele puxou o livro de suas mãos e ela deu um passo
para trás, provando que não acreditava em suas
promessas de não tentar nada novamente.
-Lê em francês? – perguntou surpreso.
-Meu pai me ensinou – disse seca.
Ele sorriu a uma lembrança distante,
devolvendo-lhe o livro.
-Nunca tive paciência para francês.
Aprendi muito, mas idiomas, não são meu forte –
havia um traço de diversão em sua voz – ser o
único caipira e ainda afrontar seu professor de
francês não fazem de um garoto o mais aceito de
uma escola interna - ele disse sorrindo a essa
lembrança perdida.
Helena não sorriu. Era exatamente isso
que ele pensava dela? Que era uma caipira. Toda
sua família, inclusive os Parkers eram caipiras.
-Você nunca sorri? – ele perguntou
decidido a pôr uma trégua entre eles.
Ela não respondeu. Não tinha como
responder sem entregar tudo que lhe ia ao coração.
É claro que sorria. Quando a família vivia e ela
olhava para sua irmãzinha, esses sim eram os
mais belos sorrisos de sua vida. Quando o irmão a
ensinava a andar a cavalo, ela ria contra o vento
que despenteava seus cabelos. E ria muito, quando
sentava ao lado de seu pai na cama, e lia para ele,
rindo de suas correções em seu francês imperfeito.
Ela muitas vezes fingia errar apenas para que ele
se sentisse útil e a corrigisse.
Mesmo sem responder, isso estava em
sua face de uma forma tão brutal que ela se
afastou andando para a casa. Rony não tentou
pará-la ou oferecer-lhe o cavalo para que não
andasse tanto.
Por um segundo havia tanta dor em sua
face que ele teve vergonha de cobrar-lhe o que
quer que fosse.
Capítulo 16 - Intimidade

O domingo veio como um bálsamo para


Rony. Uma semana de tanto trabalho quase
acabara com ele. Confessava humildemente que
quando pequeno ajudava o pai e os irmãos na
fazenda, mas depois de passar tanto tempo no
colégio interno e mais tantos anos trabalhando
num confortável escritório, ele perdera o preparo
físico para o campo.
Exaurido, ele dormiu até as nove da
manhã. Havia acordado durante a madrugada para
ouvir os homens prepararem-se para ir a cidade.
Eles usavam a desculpa de ir a missa, mas era
apenas uma escapada para beber e varar a noite de
sábado no cabaré. Curariam o porre durante o
domingo e ainda ganhariam a bênção divina.
Sábios homens, ele pensou, se movendo
na cama, acordando com o corpo excitado de mais
uma noite de sonhos comprometedores. Se em
uma semana sua situação com Helena não se
resolvesse, ele iria ao cabaré, escolheria uma das
mais baratas e faria o que tinha que fazer!
Acordando irritado para um domingo
ensolarado ele ouviu o som de passos indo e
vindo. Suarez avisara-lhe que pelo acordo, eles
não trabalhariam até o meio dia de domingo. Seria
um tempo para sua família que era tão grande.
Rony pensou em liberá-los à tarde também usando
apenas os préstimos de Juanita, pois ainda não
descobrira se Helena era capaz de cozinhar e não
envenená-lo.
As duas famílias almoçariam e jantariam
juntos e nos domingos que desejassem ir à missa,
iriam juntas para usar da força de dois homens
para conduzir a carroça caso um deles exagerasse
no vinho.
Tinha que confessar que simpatizava com
Suarez. Um homem atípico, visto que tinha
poucos mais de quarenta anos, era discreto e
cristão, mas escolhera para si a mais amoral das
mulheres, tirando-a do cabaré e levando consigo
os filhos bastardos, e se fosse sincero, filhos que
não conheceriam jamais os próprios pais pois ela
era incapaz de saber entre tantos.
Movendo-se na cama, ele se forçou a
levantar desejando entregar-se a preguiça, mas se
frustrando ao pensar que seria mais agradável
deixar-se levar pelo ócio se tivesse um corpo ao
seu lado, um corpo qualquer não. Um corpo em
específico.
Certo que Juanita ainda não aparecera
primeiro pelo silêncio da ausência das crianças, e
depois pela certeza que Suarez não abriria mão de
sua mulher uma agradável manhã de domingo, ele
saiu do quarto atrás do barulho que o acordara.
A cozinha estava vazia, embora o forno
estivesse aceso. Seguiu pelo corredor, direto para a
sala. Era uma ampla sala, e ele saltou quando a
água quase acertou seus pés descalços. Helena
havia jogado um balde de água sobre o chão no
exato momento em que ele pisou na sala.
Ela parou e olhou para ele com uma
sobrancelha erguida de desaprovação afastando o
olhar ao notar seus trajes. Tivera irmãos e ver
homens de roupas íntimas não era uma novidade,
embora, não conhecesse muito de sua anatomia,
como a maior parte das moças de sua idade
criadas dentro dos padrões de rigorosa severidade
e castidade.
Em livros, às vezes ela lia
impropriamente alguma descrição, mas nada que
ajudasse se pensasse na vida real. O tecido pouco
revelava e ela não quis olhar, apanhando o
esfregão e continuando com a limpeza.
-Juanita não pode fazer isso? - ele
perguntou aumentando sua irritação matinal.
-Pedi a Juanita que ficasse com a família
aos domingos. Eles comerão conosco, apenas isso
– ela informou sem ânimo.
-Porque fez isso?
-Porque ela tem uma grande família - ela
disse seca.
Não fora por uma razão egoísta e isso o
aliviou. Talvez Helena tivesse salvação afinal.
-Precisa de ajuda? – era uma oferta
infame, visto que não queria que ela fizesse esse
tipo de trabalho pesado.
-Não.
Soou a seus ouvidos como se dissesse:
“Não da sua ajuda!”
E provavelmente era exatamente isso a
que se referia.
-Deve ter algo que eu possa fazer - ele
insistiu recebendo um olhar amargo. – O quarto
no fundo da casa... Posso retirar os entulhos e
separar o que vai para o lixo - ele ofereceu.
Helena sentou-se sobre os tornozelos com
o esfregão nas mãos.
-São objetos e roupas dos meus
familiares. Prefiro ver pessoalmente – ela disse
fria como uma geleira.
-Como queira - ele achou que era um
terreno perigoso para se aventurar.
-Olhe o pão se quer fazer algo útil – sua
voz era rouca e pastosa, aborrecida. Louca para
livrar-se de sua presença desagradável.
Obedecendo como um menino birrento,
vestiu-se e sentou-se em uma cadeira, observando
o forno. Não que cuidasse dele propriamente, não
sabia como cuidar de pão, mas aproveitava o
tempo para pensar.
Pensar em decisões simples, mas que
tornavam seu dia a dia complicado. Estava
pensando quando ela surgiu conferindo o forno, se
os pães estavam no ponto. Ele observou calado ela
retirar os pães com esforço, o calor deixando-a
corada e com a pele um pouco suada. Era manhã,
e o calor era infernal.
Helena prendera os cabelos crespos em
um coque, mas depois de tanto trabalho eles
escapavam da prisão e caiam por seu rosto,
embaraçados.
Deixando os pães sobre a mesa para
descansarem e esfriarem, pois não deveria guardá-
los e abafá-los ainda quente, ela notou o olhar
exagerado em sua direção.
-É apenas pão – ela disse em defesa.
-Tem feito o pão todos os dias? – havia
uma ruga de surpresa em sua testa.
-Juanita são gosta de fazê-los – disse
petulante.
-É mesmo? – havia dúvida em sua voz.
-Juanita não me deixa fazer nada - ela
confessou exasperada, numa expressão de quem
aguenta uma situação muito difícil – Não me
deixa fazer nada. Apenas o pão.
-Ela quer que ganhe peso - ele contou,
recebendo um olhar surpreso. – Está magra
demais.
-Sempre fui assim - defendeu-se, sem
saber se ficava ofendida ou lisonjeada por alguém
se importar.
-Contratei Juanita para cuidar da casa -
ele contou esperando poder acalentar seu coração
aflito – Entenda Helena, não é uma atitude contra
você. Apenas... Os homens da minha família não
permitem que suas mulheres passem dificuldades.
– ela não compreendeu e ele continuou – a vida é
difícil, e mesmo nos piores momentos, meu pai
não permitiu que minha mãe se martirizasse em
trabalhos pesados. O mesmo acontece com meus
irmãos. Além disso, terá muito trabalho com os
filhos que nascerem e Juanita não poderá fazer
isso por você, ou cuidar deles do modo que uma
mãe cuidaria.
Suas palavras caíram no vazio e Rony
poderia jurar que ela estava imóvel.
-Pensei ter deixado claro que não
haveriam crianças – sua voz era mortalmente seca.
-Sim, entendi perfeitamente, mas sou
homem e você é uma mulher. Somos jovens ainda,
mas um dia irá precisar de um marido e querer
um. E então, as crianças surgirão. Seria melhor se
fosse na nossa mocidade, mas não vou insistir.
Sua naturalidade a desconcertou.
-Bem vi sua capacidade de aguardar.
Era possivelmente a primeira alfinetada
que era dirigida apenas a ele, e por algo entre eles,
pensou.
-O que esperava? Pode esconder-se com
roupas feias, e rosnar para qualquer um que se
aproxime, mas isso não pode esconder que é uma
mulher. E por mais que me odeie, eu vou querer
repetir isso de vez em quando – ele piscou,
querendo que ela entendesse que não era uma
ameaça.
Helena não tinha respostas para ele, e
isso acontecia muitas vezes. Ele diria algo, e ela
ficaria em silêncio. Não por não querer responder,
mas apenas por não achar resposta.
Costumava ficar do mesmo modo quando
Anne falava com ela, e ria, sorria e fazia planos
para o futuro com uma espontaneidade que Helena
não conhecia ou reconhecia em si mesma.
-Troque de roupa – ele disse tirando um
dos pães de suas mãos, enrolando em um pano de
prato.
-Para que? – perguntou se afastando.
-Vamos fazer um piquenique na beira do
riacho – ele disse sorrindo diante da ideia genial
que tivera.
-Para que? – insistiu, sem notar que era
repetitiva e intransigente.
-É domingo, o dia está lindo, e sei que
aprecia ler na beira do lago. Quero descansar e
aproveitar o dia em momentos agradáveis.
Tomaremos nosso desjejum e aproveitaremos o ar
do campo – havia jovialidade em sua voz e ele
suspirou quando notou que ela não parecia tão
empolgada assim – Helena, não vou atacá-la ao ar
livre!
-Juanita...
-Deixaremos um bilhete. Juanita é de
casa, desfrutará do café sem se preocupar conosco.
Afinal, estamos em lua de mel, o que há de
estranho em querermos privacidade?
-Não terminei de limpar a casa – ela
disse, negando seu convite.
-A casa está limpa - ele respondeu
ficando irritado. Era impressionante a facilidade
com que ela o tirava do sério! – Helena, não
dificulte o que é simples. Apanhe seu livro, vista
algo limpo, e me acompanhe a beira do rio. Não
precisamos ser amigos, ou íntimos para dividir um
café da manhã, precisamos apenas ser civilizados,
e isso, tenho certeza que é.
Era por isso que Helena evitava tanto
conversar com ele. Rony tinha um jeito de dobrá-
la a sua vontade e sempre fazer com que
concordasse com ele.
Sumindo para o quarto, ela o deixou na
dúvida se aceitara o convite ou não. Ele arrumou
uma cesta com o café da manhã antes que ela
voltasse, na esperança de convencê-la.
Helena trocou o vestido com mais esmero
que o necessário. Era verde claro, com o corpete
mais justo, ou fora mais justo no passado, agora
ficava solto no busto. Ela vestiu a roupa íntima e
ajustou o vestido sobre o corpo magro.
Ela apanhou o livro e o lenço, e antes de
amarrar os cabelos desistiu. Eles estavam presos e
mal arrumados. E era uma lástima.
Sem querer pensar na razão, soltou-os e
prendeu com uma fivela atrás, apenas duas mexas
que poderiam cair sobre seus olhos. Olhando-se
no espelho, se repreendeu.
Porque isso agora?
Ignorando a própria pergunta, voltou à
cozinha, encontrando-o com uma cesta arrumada e
um meio sorriso ao vê-la arrumada. Corando,
tratou de desviar o olhar.
-Tem manteiga – ela disse, apontando
para uma garrafa escondida sobre o armário.
Os olhos de Rony brilharam.
-Juanita fez – ela explicou – Ainda não
há o bastante para compartilhar com os
empregados – lamentou.
-Vamos a cavalo – ele avisou, abrindo a
porta dos fundos e esperando que passasse.
No pátio um dos meninos de Juanita
brincavam com o irmão e Rony chamou-o para dar
o recado à mãe sobre eles terem saído, mas a casa
estava aberta para que entrassem e desfrutassem
do conforto de uma cozinha maior.
Não contou a Helena, mas trouxera
bastante comida para o almoço também. Quem
sabe, com sorte, ele não conseguiria dobrá-la? Ao
menos um pouquinho?
Capítulo 17 - Simplesmente amor

O que era para ser um agradável passeio


matinal tornou-se uma verdadeira trincheira de
guerra. Helena tinha o dom de impor barreiras
desde as mais simples, até as mais sofisticadas.
A primeira briga começou quando Rony
sugeriu que ela subisse no cavalo como uma dama
e não um peão. Ele subiu, e esticou a mão para
que ela viesse e sentasse a sua frente com a cesta
nas mãos.
De queixo erguido, ela dissera que
poderia selar outro cavalo rapidamente. Então, ele
ousara dizer que não era necessário, ambos
cabiam naquela cela sem problemas.
Então, nada mais normal do que ela dizer
que iria aproveitar e andar um pouco. E nada mais
normal, que como homem, se negasse a ir de
cavalo enquanto ela andaria a pé.
E o resultado fora um cavalo sendo
puxado pelas rédeas, enquanto pastava
mansamente em volta deles, uma mulher olhando
para algum lugar distante, e um homem furioso,
tentando recitar algum mantra para se acalmar.
Antes do casamento, seu pai lhe
aconselhara que fosse paciente. E ele era. Mas
tinha convicções que pareciam cair por terra dia
após dia. Ela não seria uma esposa dócil e
generosa. Seria uma esposa birrenta e virtuosa
demais para aceitá-lo em seu leito.
Com raiva nublando sua mente ele
decidiu que aquela noite a espiaria novamente.
Vinha refreando esse impulso em respeito, mas se
ela não o respeitava, porque ele lhe dedicaria tal
sentimento?
Enlevados em rancores, ambos chegaram
à margem do riacho, que justamente naquela
manhã decidira ser hostil, e suas águas mais
rápidas e turbulentas, acabando com qualquer
esperança de Rony de convidá-la para um banho
em suas águas, normalmente calmas.
Haviam tido uma desavença sobre isso
durante a semana, onde proibira seus banhos,
visto que algum peão poderia ver. E ele não queria
outros homens vendo sua mulher sem roupa, por
mais que ela respondesse irritada que jamais se
banhara nua naquele rio.
Hoje, porém, estavam sozinhos, visto que
Suarez e sua família não seriam indiscretos a
ponto de abordar um casal em lua de mel, e
suspeitava que Suarez estava mais do que feliz em
ficar com sua mulher por um tempo maior do que
o pouco tempo livre que lhes sobravam com tanto
trabalho.
Rony observou a forma ríspida como ela
estendeu uma toalha de mesa sobre a relva e pôs a
cesta sobre ela, sentando-se e começando a
separar as iguarias.
Gestos coreografados, de quem prefere
agir, a interagir.
Rony sentou-se a manta totalmente
relaxado. Esticou as pernas na relva e aproveitou a
sombra que a árvore ao redor deles garantia. Era
tão agradável estar parado, sem fazer nada depois
de uma semana de tanta correria e trabalho árduo.
Trabalho árduo esse que era realizado
apenas por sua pequena e ferina esposa. Ficava se
perguntando em momentos como aquele, como
conseguira dar conta de tanto trabalho sozinha e
por tanto tempo.
Assim, sentada sobre os calcanhares,
com a brisa fresca que vinha do rio, os cabelos
balançado suavemente ao seu redor, corada pela
caminhada e possivelmente ainda pela indignação
da última discussão, parecia uma criança ainda
mais nova e sensível. Incapaz de segurar uma pá,
quando mais uma arma.
Ela colocou sobre seu prato uma fatia de
pão e uma rosquinha de polvilho, derramando a
seguir o forte café em sua xícara. Helena levava a
sério o acordo de cuidar da sua parte do trabalho.
Ele cuidava de fora, e ela de dentro. Não era esse o
acordo? Pois é. Fazia tudo mecanicamente, como
se devesse isso a ele, e não porque quisesse fazer.
E por mais que soubesse que deveria ser
assim, isso o incomodava profundamente.
Helena parou o que fazia satisfeita em ver
os pratos arrumados e cheios, não podia reclamar
da fartura.
A mesa estava cheia pela primeira vez
em anos e isso se devia aos investimento de Rony
na fazenda e disso teria que ser eternamente grata.
Pega de surpresa por esse pensamento, ela parou o
que fazia.
-O que foi? - ele notou a sutil mudança
em sua expressão e se perguntou mais uma vez o
que se passaria em sua mente privilegiada. Helena
era tão inteligente que o confundia. Poderia estar
pensando mil coisas e ainda assim esconder dele.
-Nada - disse recuperando o controle de
si mesma.
Ele não deveria saber que lhe tinha
gratidão.
Rony não insistiu provando o pão ainda
morno e decidindo que gostava muito da sua
comida. Havia notado que o pão que comiam era
melhor que qualquer outro que já provara, mas
achava que se devia a Juanita.
-Se importa de fazer o jantar essa noite? –
ele perguntou pondo em palavras seu íntimo
pensamento.
-Não, não me importo – a curiosidade foi
mais forte, não pode conte-la – Por quê?
-Porque tenho curiosidade de provar sua
comida – respondeu com a mesma distinção que
ela lhe fazia perguntas.
Aguardou que ela corasse, ou o inquirisse
em dúvidas, mas Helena não era como as outras
jovens que conhecera em sua vida. Ela se fechava
em copas e debatia com ela mesma os assuntos de
sua relevância. E Rony tinha medo das conclusões
que tirava.
-Nunca provei um pão como esse e olha
que minha mãe sabe cozinhar como ninguém! –
preferiu esclarecer e minar sua chance de
interpretá-lo mal.
-Mamãe cozinhava em um hotel em
Londres quando moça. Ensinou-me desde
pequena a fazer pratos elaborados – ela deixou
escapar, pensativa e ele aproveitou essa rara
oportunidade:
-Seus pais não nasceram aqui?
-Papai era um escritor - ela sorriu de leve
a essa lembrança e ele foi apanhado de surpresa
por essa pequena imagem. – Conheceu minha mãe
quando se hospedou no hotel onde ela trabalhava
com a família. Mamãe tinha apenas doze anos,
mas era muito bonita... Depois se casaram, e meu
pai voltou para cuidar da fazenda quando a
herdou. Seus planos eram de juntar dinheiro e
viajar pelo mundo, mas não saíram mais daqui.
Seus olhos brilhavam ao falar dos pais,
como se estivessem vivos e ao seu lado e seu
pequeno sorriso era mais do que ele podia estar
preparado para receber. Quase não conseguiu
prestar atenção as suas palavras, atraído por sua
face mais suave.
Empolgado em receber um sorriso seu
resolveu seguir por esse caminho, trazer-lhe boas
lembranças.
-Seu pai publicou algo conhecido?
-Oh, não! - ela disse imediatamente,
orgulhosa dos feitos de seu pai em vida – papai
era jornalista. Escreveu dezenas de crônicas e
reportagens.
-Talvez tenha lido algo escrito por ele –
disse pensativo – Meu amigo John tem uma vasta
coleção de jornais em sua biblioteca pessoal e
muitas horas gastamos em pesquisas ao longo de
nossa vida acadêmica – contou notando seu olhar
interessado. – John também é advogado, com
maior vocação confesso, e desfruta de uma vasta
coleção de manuscritos também.
-Seu amigo é um homem de sorte – ela
disse menos rude.
-Sim, sua família sempre deu valor à
instrução, assim como a minha, e vejo que a sua
também. Sabe ler e escrever, muitas mulheres por
aqui não sabem – esperava que ela pudesse aceitar
um elogio.
-Papai nunca foi um homem do campo,
mas se dedicou toda a vida ao trabalho. Fui à
única que ele ensinou a ler e escrever. Meus
irmãos aprenderam na escola local, mas
estudaram pouco para ter tempo de ajudar na
fazenda – contou com uma sombra cruzando seu
rosto, e ele tratou de desviar o assunto.
-Alice aprendeu a ler e escrever na escola
também. Porque não frequentou as aulas com ela?
-Houve muitas mortes na minha família...
Meu pai não confiava de deixar os filhos na cidade
por muito tempo – justificou – Não poderia, no
entanto ter professor melhor.
-Tenho certeza disso. Bem se nota ao
conversar com você que tem instrução. – ela
franziu a sobrancelha graciosamente e Rony
continuou aproveitando a trégua entre eles –
conheci jovens com mais estudo, que eram
incapazes de articular uma frase interessante. Ou
incapazes de um raciocino lógico e sagaz.
-Acha que sou capaz disso? – estranhou e
quem ficou surpreso foi ele por não saber.
-É claro. Basta ver o que fez pela fazenda
nesses últimos tempos. Com poucos empregados,
mesmo assim, rendeu o bastante para a hipoteca
estar em dia. E depois, completamente sozinha
conseguiu manter o funcionamento. É preciso
sagacidade para tomar decisões coerentes em
momentos difíceis. – notou que sua expressão
começou a fechar e ela olhou para as águas do rio,
analisando suas palavras – Helena, quero dizer
algo a respeito da morte da sua família. O que
penso sobre isso, mas não quero que se ofenda.
-Porque me ofenderia? – ficou na
defensiva.
-Porque admiro quem foram seus pais,
mas tenho uma opinião sobre os erros que
cometeram e que a levaram a essa situação.
-O que está dizendo? - ela tirou os
cabelos da face, quando o vento os moveu e tinha
os olhos fixos nele com dureza.
-Não posso julgar seus irmãos, eu não
ouvi praticamente nada sobre eles, mas meu pai
me contou muito sobre seus pais nos últimos anos
de suas vidas. Critico a decisão deles em terem-na
permitido cuidar da fazenda como um homem. Tê-
la colocado no lugar de seu irmão foi um erro.
-Meu pai não podia fazer o trabalho
pesado...
-Sei disso, por isso deveria ter arrumado-
lhe um marido. São muitos os homens que
concordariam em casar-se com uma moça
educada, bonita e herdeira de uma boa fazenda
como essa. Havia com certeza um homem que
pudesse cuidar de você e da sua família, foi um
erro não terem feito isso.
-Meu pai jurou que nunca me forçaria a
nada – ela disse séria – Não desejava casar-me e
respeitou minha vontade até o último dia de sua
vida!
-E sua irmã? Tinha idade para casar, não
tinha?
Helena baixou os olhos, negando-se a
contar todos os segredos de sua família. Mas não
poderia permitir que a lembrança de seus pais
fossem maculadas por ele!
-Anne deveria se casar com um homem
diferente dos homens daqui.
-Diferente como? – havia curiosidade e
espanto em sua pergunta.
-Anne era uma menina muito alegre,
muito bonita e gentil. Sabíamos que algum dia um
homem a conheceria e a levaria daqui. Anne não
era para essa terra, era para conhecer o mundo,
como meus pais não puderam fazer – havia
melancolia em sua voz e Rony teve ganas de
sacudi-la até fazê-la acordar.
Seus pais eram boas pessoas, mas
encheram sua cabeça com essa ideia da irmã
merecer o mundo, enquanto ela merecia o trabalho
pesado. Talvez não tenha sido proposital, mas foi
isso que aconteceu.
-O mundo é muito grande Helena – foi
apenas seu comentário, algo que queria dizer
muito mais que isso.
Como acontecia muito, ela guardou a
resposta para si.
-Podemos viajar a Londres no outono se
os negócios estiverem indo bem – ele mudou
drasticamente de assunto. - Até lá suspeito que
terei total confiança em Suarez para deixar a
fazenda em suas mãos e poderemos visitar alguns
lugares bonitos. Viajou alguma vez?
-Não - ela disse, e havia uma ponta de
repreensão em sua voz.
Outra jovem estaria exultante, mas não
ela.
Helena se punia escondendo-se da vida e
da sorte.
-Diga-me, quantos anos exatamente tem?
– ele perguntou pegando-a de surpresa – Não
houve tempo para nos conhecermos antes do
casamento, não é? – sorriu para ela, mordendo sua
rosquinha. – Vamos, coma mais um pouco – ele
incentivou quando ela dispensou o pão, sem
apetite.
Helena olhou para a comida com um
enjoo súbito. Não gostava de estar ali, ou melhor,
não gostava de gostar de estar ali! A culpa corroía
seu espírito e trazia uma sensação ruim de peso
sobre seus ombros.
-Completei dezessete mês passado - ela
disse olhando para longe, o olhar neutro, mas que
escondia grande dor.
Ele engoliu em seco imaginando o
aniversário solitário, de uma órfã, sozinha naquela
casa, fazendo todo o trabalho duro.
-Sou sete anos mais velho que você – ele
disse querendo vê-la sorrir novamente – é pouca
coisa se pensarmos na sociedade como um todo.
-Porque diz isso? – às vezes ele a
confundia se referindo a uma vida que ela
desconhecia.
-Na corte, muitos casamentos são
arranjados entre famílias e é comum homens de
sessenta anos desposarem meninas de quinze.
Uma lástima.
Helena preferiu novamente se calar, a
dizer que todo casamento era uma lástima. Estava
escrito em sua testa as palavras que não disse e ele
olhou para cima, analisando o céu profundamente
azul acima da sua cabeça.
Helena por um segundo quis lhe
perguntar em que estava pensando, mas se
assustou com essa voracidade em conhecer seus
pensamentos.
-Como mais um pedaço – ele insistiu
novamente, e ela mordeu um pedaço do doce com
relutância. Notara que ela comia muito pouco, e
quanto dizia pouco, era quase nada. Muitas vezes
na mesa de almoço ou jantar lhe dava aflição ver
alguém comer menos que nada e dar-se por
satisfeito. – Sobrou mais uma rosquinha - ele
estendeu o doce em sua direção e ela olhou
negando com a cabeça. – Ora, Helena, é só uma
mordida, não vai te matar!
Contrariada e ao mesmo tempo incapaz
de contestar e lutar, ela se inclinou e mordeu a
massa macia. Por um segundo Rony decidiu que
tinha sido uma péssima ideia.
Seus lábios rosados se abriram para uma
mordida pequena e discreta, e o doce escapou
sobre o canto direito e ficou ali enquanto ela
mastigava pausadamente. Sem poder refrear o
impulso, ele estendeu uma das mãos para limpar o
doce atrevido com o dedo. Não foi mais que um
toque de anjo, e ela não se afastou, pega de
surpresa ficou congelada no lugar.
Talvez achando que a cena do quarto se
repetiria, ou apenas congelada pelas emoções. Ele
não sabia, e ela também não.
Porque não jogava café quente sobre ele e
o mandava para o inferno? Porque o azul do céu
parecia ter se refletido em suas pupilas brilhantes
e cativantes e porque ela não conseguia afastar o
olhar?
A resposta era simples. Era a mesma
resposta para todas as suas perguntas anteriores.
Porque não o matara quando o encontrara
dormindo em sua cama abraçando-a? Porque não
arrancara a arma de suas mãos quando a beijara a
força? Porque não dizia todas as respostas que lhe
vinham à mente quando ele tentava vencê-la com
seus argumentos joviais?
Porque estava apaixonada. E porque seu
coração já reconhecia isso, apenas se recusava a
dizer a ela, que inocente não entendia nada de
amor.
Ela não sabia que quando ele engoliu em
seco, tenso e subitamente corado, com o corpo
palpitante por apenas um toque de nada, era pela
mesma razão. Razão que ainda não conhecia,
assim como ela.
Ambos estavam apaixonados, e não
sabiam.
Capítulo 18 - Feridas

Helena se afastou e não era de se


surpreender. Ela desviou o olhar e isso o irritou
mais do que deveria.
O que essa mulher queria afinal?
-Seus pais tiveram um casamento feliz? –
perguntou com segundas intenções.
Ela ficou claramente em alerta e baixou
os olhos, pensando onde ele queria chegar.
-Meus pais foram muito felizes apesar
das dificuldades e tristezas – foi sincera.
-Não quer ter um casamento feliz como
eles tiveram? - ele foi direto ao ponto e ela fixou o
olhar no dele.
Era um homem experiente e sabia quando
uma jovem estava tocada pelas palavras de um
homem, mas vindo de Helena, era impossível
saber.
-Duas pessoas podem ter um casamento
feliz sendo apenas amigos – ela afirmou.
-Sim, mas não somos amigos. E não
parece que deseje minha amizade.
Helena gostaria de poder contar-lhe a
razão de não querer sua amizade. A razão de não
querer acordar todos os dias e ver o sol brilhando.
A razão era aquela dor que insistia em apertar seu
coração. Aquela dor insuportável que apertava sua
garganta naquele momento e a levava para longe
dele e da vida.
Deveria ter estado em casa naquele dia.
Era seu destino. A vida a tirara de seu caminho, e
agora ela era obrigada a sobreviver sem as pessoas
que amava.
Escondendo dele seus sentimentos, ela
apanhou o livro sobre a manta e achando ser capaz
de falar sem mostrar-lhe o que ia ao peito, ela
disse:
-Se importa?
Rony ficava chateado com essas fugas.
Era deixado no centro de uma conversa e
abandonado, como se a sua companhia não
significasse nada.
-Fique a vontade – disse de má vontade.
Helena segurou o livro e tencionou
levantar-se para se afastar e ler com calma, mas
ele segurou seu pulso, causando uma sensação
estranha dentro dela. A mesma sensação que
sentira quando acordara ao seu lado.
-Não vá - ele pediu – Não vou atrapalhar
sua leitura.
Seu primeiro impulso foi jogar o livro
sobre ele, mas se conteve, voltando a sentar e
abrindo o livro.
-Não gosto que fiquem me olhando
enquanto leio – avisou sentindo irritação por não
saber nomear o que sentia.
-Não irei ficar olhando se você ler para
mim – ele sorriu e ela maneou a cabeça.
-Não disse que nada entende de francês?
– provocou.
-Sim, mas gosto do som. Além disso,
pode traduzir para mim não pode? – ela não
respondeu e ele insitiu – Não pode?
-É claro que sim – disse contrariada.
Rony colocou a cesta de lado, e se deitou
na manta, aproveitando a sombra da árvore e
sorrindo para ela, quando lhe lançou um olhar
desaprovador.
Abrindo o livro, optou por começar pelo
inicio. Lia com fluência, mas vez ou outra era
preciso parar e tentar lembrar-se da palavra. Sem
seu pai, ela não lia tanto quanto deveria e estava
correndo o risco de perder a fluência.
As páginas passaram lentamente, e em
nenhum momento ele a atrapalhou, quando
Helena parou, ele disse:
-Do que se trata?
-Oh. Esqueci que estava aí... – disse sem
perceber.
Rony tentou não se ofender, mas foi
difícil. Nunca antes uma jovem esqueceu-se dele
estando em sua presença.
-Gosta de ler. Tinha notado – tentou
contornar e ela corou.
Aparentemente ela corava apenas quando
as pessoas pareciam entendê-la ou falar algo que a
fazia pensar em si mesma. Ficou pensando no que
ela diria se a contasse o que vinha sonhado todas
as noites.
-É um romance – disse sucinta – Terei
mais atenção.
Cumprindo a promessa, ela recomeçou a
ler, traduzindo cada parágrafo com fluência. Rony
nem percebeu quando a manhã passou
rapidamente. O livro estava pela metade, e logo
ele, que nunca fora de ler, divertia-se com as
aventuras do casal apaixonado do texto.
Num trecho em especial o casal
aventurava-se pelas paisagens inóspitas do deserto
e ela parou de ler quando notou que ele ria.
-Quem sabe um dia nós não visitemos
esses lugares? – ele disse sempre rindo, e ela
sorriu mesmo sem querer.
Rony ainda ficava baqueado pelos seus
raríssimos sorrisos.
-São lugares muito distantes de casa – ela
negou.
-Está é a graça. A aventura!
Mesmo que negasse, seus olhos
castanhos brilhavam intensamente diante dessa
possibilidade e teve certeza que já pensara nisso
outras vezes. Conhecer o mundo, talvez?
-É melhor voltarmos, ou perderemos o
almoço – sugeriu olhando para ele com
expectativa.
A própria Helena não sabia se queria ir
ou não. Era agradável conversar com Rony. Mais
agradável do que deveria!
-Hum...trouxe comida extra – ele sorriu
mostrando o fundo do cesto, onde haviam mais
algumas iguarias surrupiadas do armário bem
fiscalizado de Juanita – O que me diz? Almoço ao
ar livre e depois um banho no lago?
-Fui proibida de banhar-me no lago – ela
disse maldosa, com rancor sobressaindo nos
lábios.
-Sim, apenas quando os empregados
estiverem na fazenda. A água deve estar deliciosa
– ele esperava poder seduzi-la com esse convite.
Quem sabe teria sorte e conseguiria ao
menos um beijo, dessa vez de livre e espontânea
vontade?
Os dois ficaram novamente em silêncio, e
Rony desejou ter uma força sobrenatural, e poder
entrar em sua mente.
Ela comeu em silêncio, e ele não insistiu.
Fosse qual fosse sua decisão, acataria. Mesmo
porque não tinha como arrastá-la para o lago. Era
mais forte e alto, mas não faria isso a uma jovem.
Mesmo uma turrona e cabeça dura como
Helena!
O almoço foi a base de pão, roscas e
algumas maças. Algo singelo, mas delicioso.
Sentido a barriga estufada, teve vontade de tirar
uma soneca.
Preferencialmente, tê-la em seus braços
para um siesta. Poderia imaginar-se deitado sobre
a manta, abraçando-a delicadamente, enquanto ela
mantivesse a cabeça recostada em seu peito,
adormecida e frágil, como naquela noite em que
estivera em seus braços durante toda a noite.
Um breve olhar para seu rosto e essa
ideia dissipou-se imediatamente. Helena havia
comido muito pouco novamente, e sentiu vontade
de ordenar-lhe que comesse mais. Mas por hora,
era melhor ganhar sua companhia, se desejava
mesmo consumar o casamento.
Seu pai diria que era um calhorda
pensando desse modo, mas não tinha escolha, a
única coisa em que pensava dia e noite era em ter
seu corpo sob o dele, sobre uma cama, ou relva...
ou fosse onde fosse!
Helena tentou ignorar o modo como era
observada, tentando entender o que significava.
Rony era homem, disse a si mesma, poderia ser
mais gentil que a maioria, mas tinha a mesma
alma sórdida de todos os homens!
-Venha, um mergulho deve aplacar esse
calor infernal! – ele sorriu, levantando-se e
estendendo a mão em sua direção.
Helena olhou dele para o lago. Que mal
havia em um mergulho no lago? Nenhum, se
Rony cumprisse o prometido de não forçá-la a
nada!
Receosa, aceitou sua mão, e segurou
firme para erguer-se. O calor queimava sua pele,
mas estava acostumada, então, não era essa a
razão de suas bochechas estarem tão coradas.
Também não poderia ser o simples fato
de estar na presença de um homem, visto que
aprendera a lidar com eles desde pequena.
Segurando sua mão como se fosse uma
requintada dama, sendo apresentada a sociedade,
Rony a conduziu até as margens rochosas do
lago. Algum dia, quando as finanças estivessem
controladas, a levaria em um baile da corte. Por
certo seria o alvo de todos os olhares, visto que
mesmo trajando roupas simples, Helena era altiva
e aristocrática. Um ar de altivez, com um olhar
selvagem e ferino que atiçava o pensamento de
qualquer homem!
-Deve virar-se – ela disse afastando-se e
esse afastamento era também emocional. – Para
que eu possa entrar na água.
Decidido a não perder essa oportunidade,
ele virou-se. Ouviu em silêncio o som do vestido
caindo sobre a grama seca, assim como os
sapatos. Estava quase desistindo de ser paciente e
delicado, quando ouviu o som da água. Deveria
saber que Helena mergulharia, ao invés de entrar
na água delicadamente como as outras mulheres
que conhecera até então.
Era um espírito livre aprisionado em
roupas femininas e padrões.
Virando-se ele viu o exato momento em
que ela emergiu, os cabelos longos espalhados
sobre as águas calmas e o rosto sorridente.
Era um sorriso de puro contentamento.
Um sorriso único que ainda não pudera ver e que
imaginava que não existisse.
Ela olhou para ele e o sorriso diminuiu
talvez se lembrando que não estava só como de
costume.
Rony engoliu em seco, quando ela virou-
se dedicando toda sua atenção ao banho. Tirou as
botas, sem desviar o olhar de seu corpo esguio e
pequeno, e tirou rapidamente todo o resto das
roupas.
Estava ansioso, como um garoto
inexperiente indo atrás da primeira rapariga que
lhe deu atenção na vida! Mergulhou, e emergiu
olhando em volta.
Helena não estava a vista e ele girou o
corpo, os pés no fundo do lado. A água não era
muito funda, para ele que tinha um metro e
noventa. Mas para ela, era o bastante para um
afogamento!
Alarmado, quase enfartou quando ela
surgiu logo atrás dele.
-O que você está fazendo? – ele
perguntou exasperado.
-Desculpe - ela sorriu – Estava
mergulhando – seu sorriso se alargou. – Gosto de
ficar sob a água.
Seu irmão lhe dera muitas surras quando
pequena por conta desse estranho hábito.
-Não faça mais isso! – ele disse repressor
e ela fechou a expressão diante da reprimida –
Deveria ao menos ter me avisado! Levei um susto!
-Por quê? – ela não controlou a própria
língua – Como viúvo herda a fazenda!
-Bem se vê que não entende nada de leis.
– ele disse venenoso pela insinuação.
Helena afastou-se nadando para longe.
Ser chamada de ignorante não era fato raro. Desde
que passara a cuidar da fazenda, muitas pessoas a
chamavam de coisas tão degradantes quanto.
Xucra. Assexuada. Bruta.
Uma palavra a mais, uma a menos, que
diferença fazia?
Nenhuma. Então porque se sentia tão
magoada?
Capítulo 19 - Íntimos

Helena submergiu nadando de olhos


abertos, para ver o fundo do lago e ganhar
confiança. Ignorou-o por uns dez minutos, até
sentir algo a tocando, eram mãos que seguravam
seu tornozelo e mesmo a contra gosto, ela debateu-
se rindo.
Seu irmão tinha o hábito de fazer isso
também. Mas não era seu irmão. Era seu marido.
Estranho, não pensava nele desse modo. Marido.
Era uma brincadeira, disse a si mesma,
sem perceber que começava a confiar demais nele!
Rony riu com ela, divertindo-se enquanto
eles brincavam dentro da água. Em algum
momento, a brincadeira foi embora, e se viu
abraçando-a. O corpo molhado e escorregadio
contra o seu corpo forte e voraz.
Helena ainda ria quando percebeu a
diferença. Não era uma brincadeira de irmãos.
Não era sequer uma brincadeira! Era o abraço de
um homem em uma mulher que pela lei lhe
pertencia. Um arrepio cruzou sua espinha ao
erguer o olhar e ver o azul profundo, perder a
tonalidade clara para tornar-se azul escuro.
Não sabia o que era, mas havia perigo em
seu olhar. O perigo de estar vestida apenas com a
roupa de baixo, as peças de algodão surrado, que
molhadas não ofereciam barreira a nada.
Apenas revelavam e ofereciam suas
curvas ao olhar e ao toque. Helena baixou os
olhos, não conseguindo manter o olhar. Foi pior.
Seus olhos captaram diretamente a imagem do
peito largo e musculoso.
Músculos definidos, pele clara e macia,
de quem vivera a vida longe do trabalho braçal.
Ela colocou uma mão entre eles, empurrando-o
com menos força que o desejado.
Há essa hora, em outra situação, estaria
aos berros, empurrando-o e chutando, procurando
avidamente algo para usar em sua defesa. Mas ali,
no meio da água morna do lago, com os braços
dele em volta da sua cintura, a única coisa que fez
foi empurrá-lo insignificantemente com uma das
mãos e virar o rosto, quando sentiu que ele a
beijaria.
Foi a pior das decisões. Rony aproveitou
aquela pele bronzeada pelo sol forte, e correu os
lábios pelo pescoço delgado. Subiu pelo queixo
provando o gosto de sua pele, e acariciando a
bochecha. Ela empurrou com um pouco mais de
força, juntando as duas mãos espalmadas sobre o
peito, sentindo inadvertidamente, o bater
acelerado do coração de Rony sob seus dedos.
Suas mãos subiram pelas costas, e
apertaram o corpo frágil contra o dele com a
audácia de quem sabia que estava sendo aceito.
Ela não lutava. Era o melhor dos incentivos!
Por isso, segurou sua face e a obrigou a
olhar para ele.
-Por favor, não faça isso – ela pediu
baixo, havia algo em seus olhos que quase o fez
parar. – Disse que não faria...
Sim, ele dissera. Mas não podia cumprir
tal promessa. Baixando o rosto, abocanhou seus
lábios entreabertos em um beijo profundo. Doce, e
suave, para que ela entendesse que não era seu
desejo forçá-la. Um beijo que a tornou mole em
seus braços ele notou, as mãos em seu peito não
empurravam mais, apenas tocavam. Segura, ela
arqueou o corpo e ele aninhou-a firmemente contra
si, desesperando-se de desejo com o contato
revelador dos seios rijos contra seu peito, das
pernas suaves, roçando as suas, com a cintura
fina, a mais fina que vira na vida, em suas mãos.
Por baixo da água, Helena tentou chutá-
lo, mas escorregou, ficando tão perto e entregue
que ele aprofundou o beijo, roubando-lhe a
capacidade de pensar. Ela tinha escorregado, e ele
precisou buscá-la para que o beijo não se
quebrasse.
Uma sereia, pensou romântico demais.
Uma escorregadia e molhada sereia. O que diria
se a chamasse assim, pensou?
Esquecendo qualquer pensamento, ele
praticamente dobrou-lhe o corpo enquanto roçava
os corpos e a fazia nadar com ele. Sim, ele a
levava para a margem, onde poderia deitá-la sobre
a grama e possuí-la.
Ver seu corpo enxuto e deliciar-se com a
boa sorte que o fizera ambicionar aquela fazenda!
Seu planos, contudo foram frustrados
quando a bela criatura em seus braços encontrou
apoio para os pés na parte mais rasa do lago. Ele
gemeu quando a dor correu por sua canela e não a
soltou apesar disso, separando os lábios e rindo
dos seus esforços.
Como pudera subestima-la?
-Helena...
-Me solte! – ela exigiu, empurrando-o
com o controle readquirido, e ele desejou calá-la
novamente e fazê-la esquecer das brigas.
O fez, selou os lábios nos seus, depois de
agarrar sua coxa e erguer seus pés, para longe do
chão e para longe do apoio. Desse vez, Helena
não correspondeu ao beijo mesmo que quisesse e
estivesse arfante, simplesmente cerrou os lábios e
não permitiu que a beijasse como queria.
Megera irritante, pensou, deixando a
delicadeza e impondo sua presença. Se ela queria
na marra, seria ao seu gosto!
Esse tipo de sentimento, Helena
reconhecia e não se confundia. A força era o que
lhe impunham e era a única forma de defender-se
desde que aprendera a falar!
-Eu disse não! – ela gritou depois de
morder-lhe o lábio.
Rony afastou-se e a soltou, sentindo a dor
e a confusão, a megera mordera sua boca! Sangue
vertia e ele levou as mãos a ferida, vendo o
sangue.
Seu torpor durou um minutos, tempo
suficiente para ela sair da água a correr até suas
roupas. Furioso desejou segui-la, mas a imagem o
entorpeceu por um segundo.
Vestindo apenas as calças curtas de
renda e algodão, e o colete íntimo de mangas
longas, ambos grudados a pele e transparente, ele
deliciou-se com a visão dos seios arrepiados pela
brisa e quis crer que pelos toques íntimos, de
costas, ela apanhou o vestido e ele admirou as
nádegas redondas e firmes, os quadris
arredondados e o triângulo de pelos que era apena
uma pálida sombra através do tecido.
Os cabelos longos corriam por todo seu
corpo, em todas as direções e ele tomou
consciência que ela o mordera!
Saindo da água, tencionou segurá-la, mas
Helena afastou-se com passos urgentes, o vestido
colocado de qualquer jeito sobre a pele molhada e
ainda desabotoado nas costas, pois jamais poderia
conceber a ideia de ficar mais um segundo que
fosse ao seu lado!
Rony vestiu a calça, e somente ela, e
correu atrás de Helena, agarrando seu braço e
fazendo-a parar:
-Mentiu para mim! - ela gritou, soltando-
se com um puxão digno de um homem pesado e
forte.
-Não menti! – defendeu-se tentando
agarrar seu braço novamente.
-NÃO ME TOQUE! DEVERIA SABER
QUE ERA COMO TODOS OS OUTROS
HOMENS! ANIMAIS, TODOS OS HOMENS
SÃO ANIMAIS!
Havia tanta raiva em sua face, tanto ódio
que ele parou com as tentativas de tocá-la.
-Sou seu marido! Não vou desonrá-la,
pois somos casados! – defendeu-se sem conseguir
entendê-la – Não sou qualquer homem!
-SIM, VOCÊ É! VOCÊ É UM HOMEM,
E ODEIO TODOS VOCÊS!
Ela parecia a beira das lágrimas, e ele
achou que tinha mais, muito mais do que ficara
sabendo.
-Ele... Ele te forçou, não foi? Forçou sua
irmã e fez o mesmo com você? – perguntou sério.
-Não te interessa! – ela gritou, virando-se
e correndo para longe.
-HELENA!
-ME DEIXE EM PAZ!
Rony ficou onde estava tomando ar e
paciência. Ela que voltasse sozinha. Claro, muito
simples.
Sentindo a fúria crescer dentro dele, foi
atrás. Achando que a encontraria correndo para
casa, surpreendeu-se ao vê-la apoiada contra uma
árvore, respirando descompassadamente. Não
chorava. Era altiva demais para chorar.
Gemeu quando o viu e tentou ir, mas ele
a segurou com força dessa vez.
-Quero que ouça de uma vez, e não pense
que vou repetir. – ele rosnou, chegando ao fim
todo seu limite de compreensão – Não sou como
os homens que conheceu, mas exige que me porte
como eles, ao me tratar como os trata! E daqui pra
frente, serei exatamente do modo que espera! –
vendo seus olhos se arregalarem, ele continuou –
Não vou tocá-la, pois nesse momento meu desejo
morreu. Não a quero e jamais voltarei a olhar para
você desse modo. Viva reclusa e sem paixão, é
problema seu! Mas, na frente dos outros, será a
mais dócil das esposas, está ouvindo? Pegue
nossas coisas, arrume seu vestido, e voltemos
como se nada houvesse acontecido.
Ela estava confusa. Muito confusa,
desolada, talvez, mas Rony não se importava
mais. Tinha raiva de suas recusas e ela já provara
milhares de vezes que não o desejava.
-Entendeu? – insistiu, os lábios cerrados
de raiva.
Por alguma estranha razão ela esperou
que fosse beijada novamente. A força. No meio
das árvores. E ele quase a beijou. Quase.
-Sim – respondeu virando o rosto e
sentindo um alívio indiscutível quando foi solta.
Tentando não reparar em seu andar
sedutor, ou notar a excitação ainda evidente em
seu corpo, observou-a voltar para a margem do
lago, apanhando e arrumando os pertences de
ambos.
Ele vestiu-se e aproximou-se levando o
cavalo pela rédea, andando ao seu lado, sem trocar
uma só palavra.
Capítulo 20 - Silêncio

Fazia exatamente um mês desde a última


parcela paga da hipoteca e Helena o seguiu
calada. A carroça parou no meio fio da estrada de
chão, e Juanita desceu, gritando com os filhos,
para que não fossem longe.
Pelo canto dos olhos, notou que Suarez
disse algo em seu ouvido e tocou-lhe a cintura
opulenta, causando um sorriso em sua mulher.
Afastando o olhar, ela desceu ocupada em arrumar
a saia do vestido.
Preferia voltar a usar as roupas de antes.
Roupas que um dia foram de seus irmãos. Calças
compridas e camisa com colete. Era mais prático
do que longas saias. Normalmente só a as usava
quando ia a cidade, para não chocar os habitantes
do vilarejo.
Naquela segunda feira, esperou
pacientemente enquanto Rony discutia algumas
coisas com Suarez e o despachava para suas
tarefas. Juanita ficou próxima a carroça,
esperando-os.
Rony andou rapidamente, em direção ao
banco e ela o seguiu sem dizer nada.
Eles não se falavam, era fato. Alguns
comprimentos, algumas palavras ásperas, e só.
Três longas semanas sem conversarem
sobre nada que não se resumisse a fazenda.
Helena sentia uma pontinha de culpa, pois Rony
tinha sua parcela de razão.
Rony desejava provar o gosto de sua
comida e dividir o leito. Coisas com as quais, toda
mulher deseja que o marido também queira.
Juanita sentia orgulho de ter um marido ao redor
dela.
Sua atenção se desviou quando entraram
na pequena agência bancária. Não havia
movimento, as poucas pessoas que viviam na
cidade, não eram o suficiente para causar grande
espera.
Albert Ford, gerente do banco os recebeu
com um sorriso amarelo. Ainda se lembrava da
última vez que os vira, e não era uma visita a qual
aguardasse ansioso.
-Aqui está a parcela da hipoteca – Rony
entregou o dinheiro e após conferir nota por nota o
velho olhou-o por sobre a borda de seu óculos.
-Tem feito bons negócios, Sr.Parker?
-Sim, bons negócios – não quis entrar em
detalhes.
-Imagino, tem sido uma boa vida de
casado? – ele disse olhando para Helena, tão
atipicamente quieta.
-Uma vida sossegada – ele respondeu
sem vontade de entrar em detalhes sobre os
silêncios aborrecidos e os olhares de culpa.
-Devo dizer-lhe que apreciamos muito
sua pontualidade – Sr.Ford disse ao entregar-lhe o
recibo.
-Desejo também abrir uma conta para
minha esposa – ele disse sério, sem olhar para ela.
-Uma conta? – ele olhou para Helena em
dúvida – Não é comum, Sr.Parker.
-Sei disso. Desejo que tenha sua conta
independente para suas compras pessoais sem
aborrecer-me com suas futilidades.
Helena engoliu em seco ,ofendia-se, mas
sem contrariá-lo.
-Oh, sim, entendo! – o velho homem riu,
lembrando-se que se tratava de um homem da
cidade com outros hábitos. – Aqui, assine
Sra.Parker - ele estendeu um documento, e ficou
obviamente irritado quando ela puxou-o com
força, visto que não tencionava soltá-lo, para ler
em minúcia cada frase.
Rony conteve a vontade de sorrir. Claro,
desconfiada como era, leria até a última das letras,
para não restar dúvidas sobre o que estaria
assinando.
Notara que não tinha tantas reservas em
relação a Juanita, e pensou em contar-lhe que
haviam mulheres muito mais perigosas que o mais
inescrupuloso dos homens, mas não seria o
primeiro a ceder.
Ela queria do jeito mais difícil, então,
teria exatamente o que desejava!
Depois de alguns minutos de estresse
para o Sr.Ford finalmente ela assinou. A letra era
corrida e espichada, nada floreada e ilustrada
como a caligrafia das moças da capital. Era a letra
de quem escrevia rápido, e suspeitou que ela
possuísse o talento de seu pai para a escrita.
Terminado a obrigação, os dois saíram
sem notar a expressão da velha raposa, por detrás
de sua mesa, meneando a cabeça em
desconfiança.
Juanita escolhia os alimentos, e em dado
momento, sentindo-se estúpida e inútil, Helena se
afastou. Pelas portas do armazém, ela notou que
algumas pessoas se aproximavam e gemeu
angustiada ao reconhecê-las. Esperando uma
graça divina que a tornasse invisível, tentou
esconder-se no fundo da venda, atrás de uma pilha
de conservas.
-Ora, ora, se não é ela! – uma das moças
sussurrou maliciosa, era morena de olhos claros, e
chamava-se Marie Jane.
Juanita virou-se para trás, notando as
duas jovens, vestidas com luxo e suas expressões
vazias.
-Dizem que ele lhe tirou a honra – uma
delas, Susan, a loura deu risinhos – E que sua
única escolha foi comprar um marido usando a
fazenda como dote!
Juanita largou o saco de fermento que
analisava e encarou-as. As duas explodiram em
risinhos e pararam quando a notou olhando feio
para elas. Era uma mulher bastante grande e rude,
e parecia-lhes conhecida. Uma das mulheres do
cabaré, talvez?
Achando ter cessado os comentários
indesejados, Juanita voltou as compras e Helena
suspirou aliviada. Aparentemente sua paz duraria
pouco. Pela porta, Rony entrou atraindo atenção
sobre si.
Não era novidade para ninguém que o
jovem Parker voltara para casa com um diploma
nas mãos e gestos finos.
Ele usava uma boa camisa e calças de
qualidade, com as botas de couro lustroso. O
colete estava aberto, e não havia sentido em vestir
casaco naquele calor infernal. As duas olharam-no
da cabeça aos pés, medindo a possibilidade de um
compromisso.
-É ele? – uma delas disse o mais baixo
que achou possível. Ainda assim, alto o bastante
para chamar a atenção e se fazer ouvir por ele.
-Sim, papai contou que teve que amarrá-
la para consumar o casamento – ela disse maldosa
– mesmo assim, casamentos podem ser anulados.
É o que papai disse.
-Será? – a morena olhou muito
interessada – Acha que se ela morrer ele se casaria
com alguém daqui?
-Acho que vai anular o casamento, e ficar
com a fazenda para si. – a louca insistiu.
-Eu casaria com ele – a morena disse e
ambas começaram a rir novamente, de um jeito
afetado que Rony achou graça.
Em Londres, nos grandes saraus e bailes
de debutante, ele via alguma graça nesse tipo de
sedução. Porém ali, naquele local, com as mãos
cheias de calos, isso não fazia sentido.
-Oh. Olá, Helena – uma delas disse como
se visse o demônio diante de si, quando a notou
aproximar-se.
Longe de cumprimentá-las, ela apenas
disse seca:
-Esqueceu da farinha.
Juanita bateu na própria testa
resmungando sobre estar ficando boba e começou
a conversar com o dono do armazém.
-Como vai a vida de casada? – a louca
encheu-se de coragem, sorrindo em desafio.
Helena teve vontade de mandá-las para o
inferno, mas no lugar disso apenas separou o pote
de balas e acrescentou ao balcão sobre a pilha que
Juanita fizera ali.
-Os meninos tem me ajudado com as
galinhas – ela explicou e Juanita sorriu grata pela
lembrança de seus meninos.
Eram crianças de sorte, pensava. Filhos
de cortesã que cresceriam sobre a proteção de um
bom homem e poderiam trabalhar para um
senhorio honrado como Rony Parker. Era uma boa
sorte. Muitos nascidos como eles, acabam virando
ladrões e foragidos.
-Pegue alguns metros de tecido – ele
disse a Juanita – e o que for necessário para
costurar alguns vestidos.
-Algo em especial? – ela perguntou
olhando para Helena, mas ela deu de ombro,
imaginando que eram presentes a sua mãe e irmã.
-Verde. Pegue algo verde e lilás. – ele
indicou seco, sem querer demonstrar que tinha
notado cores e tecidos.
Juanita concordou sorrindo
disfarçadamente.
As duas jovens pareciam impacientes por
terem sua chance de falar e serem notadas.
-Mamãe é uma costureira de mão cheia!
– a loira disse afetadamente – Fui eu mesma quem
fez esse vestido! – ela fez questão de exibir o traje
amarelo, com fitas no busto e que moldava sua
cintura e seios saltitantes. Eles praticamente
escalavam para fora do decote.
-Sabe fazer isso, Juanita? - ele perguntou
apreciando o vestido e o corpo dentro dele.
-Não – ela disse fechando a expressão.
Era do interior.
-Acha que pode fazer alguns vestidos
como o que veste? - ele perguntou a jovem e ela
inflou o peito, de orgulho por ter atraído sua
atenção.
-Oh, sim! Com ajuda de mamãe, posso
fazer lindíssimos vestidos! Tenho algumas revistas
da capital, com lindos modelos...!
-Conhece a fazenda Johnson? - ele
recebeu um sim afetado e sorriu – Apareça por lá
para tirar as medidas. Quanto ao pagamento
falaremos pessoalmente.
Achando tratar-se de um flerte ela abriu
seu melhor sorriso.
-De certo a de precisar de sapatos! – a
morena se fez notar, sem poder conter a inveja –
papai pode fazer belos sapatos!
-Sim, veremos isso outro dia - ele disse
sem interesse e a loira sorriu ainda mais.
Houve uma inconfundível troca de
olhares entre a loira e Rony.
Tão claro e óbvio seu significado, que
Helena desviou o olhar, tocando sobre a louça de
uma prato. Não via claramente o que tocava,
apenas não queria olhar para eles.
Notando seu interesse pelo jogo de pratos
e xícaras, esperou que se afastasse para juntá-los
as compras. Não que desejasse agradá-la disse a si
mesmo.
Não era nada disso! Desejava apenas
uma casa confortável, onde pudesse receber
visitas!
-Devo acrescentar algo mais? – Juanita
perguntou com um tom repressor, que deixa claro
sua opinião sobre o flerte de Rony com a jovem
Susan, a qual ele nem sabia o nome, ou se
lembraria dali a meia hora!
Hostilizado, teve certeza que Juanita
falava mal dele para Suarez e notou o exato
momento em que ele deve ter deixado escapar que
iria ao cabaré. Juanita olhou para ele com tanto
asco, que se sentiu tentado a lembrá-la de onde
viera!
-Vamos, Helena! – ela disse irritada –
Vamos a casa da Sra.Berta! – Juanita tentou
arrastá-la, mas ela negou veemente.
-Não, prefiro esperar aqui – de modo
algum ela iria até a casa de chás. Detestava o
olhar de piedade da simpática velhinha e não
desejava ser alvejada por perguntas sobre sua vida
de ‘casada’.
-Bem, eu irei, não quero ficar aqui como
uma tonta esperando-os!
Furiosa, ela marchou em direção a casa
de chás, uma das únicas lojas que possuía um
resquício de sofisticação da capital. Suarez
retomou seu trabalho, colocando as compras na
carroça e ajudando a juntar todos os meninos que
corriam pela rua.
-Porque Juanita está tão brava? – ela
perguntou a Suarez, e ele olhou em direção ao
patrão em dúvida sobre responder ou não.
Rony livrou-o da situação, respondendo
diretamente e sem rodeios:
-Irei ao cabaré. – era como se dissesse
que o dia estava bonito – quer vir, Suarez?
-Não. Juanita me mata se eu pisar nesse
lugar. – ele resmungou, como se lá no fundo
desejasse ir.
-Em uma hora estarei de volta – ele disse
esperando que ela ficasse magoada, mas sabendo
que não aconteceria.
Helena não lhe tinha nada além de
desprezo.
Humilhada, fitou os próprios pés.
Deveria ter ido com Juanita.
Recusou-se a observá-lo se distanciar, e
olhou para o lado oposto. Suarez perguntou aonde
iria, mas ela apenas disse que não demoraria.
Não ficaria sentada esperando-o voltar,
sabendo que estaria traindo-a.
Pois bem, não era uma traição.
Então, porque se sentia tão ferida?
Capítulo 21 - Curiosidade

Sua certeza esmoreceu quando se


aproximou do cabaré. Suarez lhe informara que
por causa da ferrovia, elas atendiam durante o dia.
Para ele, era perfeito. Um encontro rápido, para
saciar sua necessidade mais básica, e então, voltar
para casa como se nada houvesse acontecido.
Recriminou-se pela sensação
desagradável. Culpava-se, quando a única culpada
era Helena.
Parecia-lhe que o destino o empurrava
para ela, ou era apenas incapaz de ignorar sua
presença. Tanto, que olhando em volta, notou-a
andar para longe de Suarez.
Deixe-a em paz, pensou, Helena não
quer sua companhia!
Mesmo assim, foi impossível não segui-
la. Deixando a imagem do cabaré de lado, ele viu
quando Helena seguiu em direção ao boteco da
vila. Era um lugar de homens, e alguma coisa
estava querendo ali.
Ela ficou de pé um bom tempo olhando
para a porta, antes de continuar sua caminhada.
Curioso, escondeu-se para não ser notado.
Era um homem naturalmente curioso,
mas sentia que em relação à Helena estava
tornando-se exagerado e possessivo como nunca
fora com mulher alguma. Tinha impulsos de
vigiá-la, e sempre precisava tê-la em seu campo
de visão. Saber o que fazia, aonde ia, e com quem
falava. E, sobretudo, contorcia-se para saber o que
pensava.
Ela atravessou a pequena estrada de chão
e dirigiu-se para a Igreja. Estranhou, visto que ela
não era fervorosa como as demais carolas que
conhecera em sua vida acadêmica. Sanando sua
curiosidade, ela andou mais um pouco,
contornando a pequena capela, e aproximando-se
de portões altos e madeira.
Ele sentiu uma pressão desagradável no
peito por julgá-la mal e segui-la. Era o cemitério
da cidade. Não era grande, mas tinha muitos
túmulos.
Não muito longe, ela parou e ajoelhou-se
na terra, de frente para uma lápide. Deveria deixá-
la só com sua tristeza, mas não pode. Escondendo-
se, ficou perto o bastante para ver e ouvir.
Ela passou uma das mãos sobre a singela
cruz fincada no chão batido, onde havia o nome de
seus pais. Tirou a terra que sujava a escrita, e
parece-lhe como se fosse um carinho e não um
cuidado.
Ela era firme como uma rocha, e não
derramou nenhuma lágrima. Não orou ou falou.
Apenas deixou-se ficar alguns minutos pensativa,
talvez orando em silêncio.
Levantando-se ela andou um pouco até
uma parte onde ficavam as sepulturas infantis. Era
ali onde Anne estava enterrada. Infelizmente seu
irmão havia perdido a vida pela pistola de um
ladrão, que jogara seu corpo no rio que cortava a
cidade, e fornecia água para toda a região.
Ajoelhando-se em frente à cruz pintada
de branco, numa singela homenagem a Anne, ela
sussurrou muito baixo, e ele quase não ouviu:
-Sinto muito, Anne. Sinto tanto tê-la
deixado ir só...
Ele sentiu um aperto no peito, e ficou
tenso.
-... Não cumpri minha promessa de ficar
ao seu lado e protegê-la sempre. Sinto muito...
Poucos minutos, e ela levantou-se, para
voltar à cidade quando notou pés por de trás de
uma tumba alta e trabalhada, de algum fazendeiro
muito rico. Procurando a pistola atrás do colete do
vestido ela apontou, dizendo friamente:
-Quem está aí?
Ela viu os pés se esconderem atrás do
concreto e engatilhou a arma.
-Não atire - ele disse, esperando que ao
menos reconhecesse sua voz - Sou eu.
Helena sentiu a incontrolável vontade de
atirar. Rony a sufocava. Não tinha direito sequer a
chorar seus mortos!
-Porque está me seguindo? – não baixou
a arma, mas permitiu que ele saísse de trás da
tumba.
-Eu... - o que diria?
-Não importa - ela disse finalmente
baixando a arma – Não quero saber!
-Helena... – ele quis explicar, não era o
melhor lugar, mas quis explicar que a única coisa
em que pensava vinte e quatro horas por dia era
em sua mulher que o renegava. Tinha palavras
românticas na ponta da língua, mas ela virou-lhe
as costas, andando rápido e para longe – Helena,
espere.
-Preciso voltar – ela disse seca – Não terá
dificuldade em encontrar o cabaré!
Culpa o remoeu. Era humilhante a
qualquer senhora saber que seu marido estaria nos
braços de outra mulher. Mas Helena não era
qualquer senhora, era uma megera e lhe negava os
direitos de marido!
-Não precisaria ir ao cabaré se cumprisse
suas obrigações! - ele gritou farto de seus ‘não me
toques’.
-Não me importo que vá ao cabaré – ela
respondeu malcriada, corada, e isso o deixava em
dúvida sobre a veracidade de sua frase – Não me
importo se flerta com as moças da cidade! Isso é
problema seu!
Agora sim, ele teve a confirmação, de
que estivera notando o flerte. Que estava com
raiva por causa disso! Erguendo uma sobrancelha,
maroto, ele instigou:
-Hum, uma doce jovem, se me permite
dizer...
-Uma pena que não tenha perdido toda a
família, para que pudesse tê-la roubado as terras e
desposado-a, não é? – ela acusou numa ironia
tamanha que ele corou.
-Ao menos agora não estaria arrependido!
–ele esbravejou.
-Ainda está em tempo de anular o
casamento – ela ameaçou – Sei que posso
encontrar outro que assuma o posto!
-É claro que pode! - ele satirizou – com
sorte um que lhe dê a surra que está merecendo!
-Talvez não seja preciso – ela alfinetou e
ele ficou furioso.
Para bom entendedor meia palavra basta,
não é? Dizia claramente que para outro homem se
entregaria. O problema era ele! Não sentia desejo,
muito menos libido! O que Rony ouvia eram
palavras vãs! Tivera ela em seus braços, e sabia
muito bem que gostara! Ao menos, acalentava
essa suspeita!
-É melhor voltarmos para casa – ele disse
conformado.
-Não – disse birrenta, sem notar – Faço
questão que vá ao cabaré!
-É mesmo? – ele ficou além de surpreso,
ofendido.
-Sim, ao menos desse modo, talvez me
deixe em paz!
-Acontece que se for ao cabaré, irei gastar
o pouco que nos sobrou após o pagamento da
hipoteca e da compra dos mantimentos! É isso que
quer? Ver seu dinheiro ser perdido em bebidas e
mulheres? – perguntou sério.
-Não – disse petulante – A minha parte
estará muito bem guardada, quanto a sua, faça o
que bem entender!
Criança mal educada era isso que era! Só
não a agarrou pelo braço e arrastou com ele para a
carroça, por estarem no meio da rua, e depois, por
respeitar os mortos.
-É o tumulo de sua irmã? – ele perguntou
desviando o assunto.
-Sim. Anne foi sepultada junto às
crianças apesar de ter sido maculada – contou,
estremecendo sem saber a razão – Não foi sua
culpa, ou vontade, então, o vigário a considerou
infanta e pura como no dia em que nasceu. – disse
triste, mas sem ceder à tristeza.
-Porque não os enterrou na fazenda? – era
um pergunta direta.
-Porque não sabia por quanto tempo
permaneceria em minhas terras. – foi sincera –
Quanto tempo levaria até um homem destruir o
que sobrou da minha vida! – havia muito rancor
em sua voz.
-Não são todos os homens que são assim.
Muitos são dignos e honestos – defendeu-se -
Veja meu pai e o seu. Homens bons.
-Tão bom que é, seu pai ignorou minha
situação durante um mês, mesmo sendo visinho
de cerca! Tão bom, que não fosse o proveito que
tiraria, jamais teria posto os pés na fazenda –
revidou – Quando tinha saúde, meu pai ajudou
várias vezes o seu em épocas de seca, pois sempre
tivemos sorte de ter o lago em nossas terras, e
quando meu pai precisou na morte de meu irmão,
onde estava seu pai para ofertar-lhe uma mão
amiga? Um consolo que fosse?
-Tenho certeza que meu pai fez o que
pode para... – o riso dela o pegou desprevenido,
era algo desagradável, carregado de cinismo.
-Ele sentou-se e esperou o inevitável
acontecer, apenas para mandar o filho querido
roubar o que nos pertencia! Foi isso que ele fez!
-Não pode falar assim do meu pai! Deve
ter havido um bom motivo para que não os
ajudasse!
-Sempre há um bom motivo! – ela
revidou – Não tente me convencer da santidade
dos homens, Parker. Para ser franca, não tente me
convencer de qualquer coisa que seja! Estou
cumprindo minha parte do acordo, ajudando-o a
fazer fortuna! A única coisa que espero é que me
deixe em paz! Pare de me seguir! Pare de falar
comigo!
-É isso que deseja? De verdade?- por um
segundo sua expressão desmentia suas palavras,
mas então, ela voltou a endurecer.
-Sim, é só o que desejo.
-Será do seu jeito – ele arrumou o chapéu
sobre a cabeça e disse – Volto em uma hora.
Helena ficou de pé, esperando que
estivesse longe, para soltar o ar preso nos pulmões
e olhar para a singela cruz que indicava que ali
morava um anjo. Abaixando-se ela tocou sobre a
terra, onde metros abaixo os restos mortais de sua
irmã descansavam.
-Porque me deixou para trás, Anne? Por
quê?
Capítulo 22 - Traição!

O cabaré não era nada além de uma casa


de madeira de dois andares, com um bar.
Algumas mesas e oito mulheres. Duas ruivas, que
obviamente não o atrairiam, pois lembravam sua
irmã e sua mãe, três morenas, com longos cabelos
negros, e pele clara como leite, duas louras, de
estonteantes olhos verdes, que eram lindas como o
nascer do sol, provavelmente aparentadas e uma
jovem sorridente, de cabelos castanhos, feitos em
cachos nos ombros.
A primeira vista, não chamaria atenção,
tanto que servia as bebidas. Usava um vestido
vermelho sangue e os ombros desnudos. Uma flor
entre os seios destacavam sua pele perolada pelo
sol. Bebendo lentamente sua bebida,
reconhecendo o whisky falsificado, fez sinal para
que se aproximasse.
Se abanando com seu leque cor púrpura,
ela sorriu maliciosa, adorando a própria sorte, pois
era um homem muito apanhado.
Um belo jovem, para quem estava
acostumada a velhos beberrões.
-Deseja um quarto, meu senhor? – Ela
perguntou sorrindo provocativa e deixando ver
mais de seu decote.
-Um quarto, na mesa, ou no chão. – ele
sorriu para ela, deixando a cadeira para trás e
enlaçando-a – Mostre-me sua cama.
A jovem se arrepiou da cabeça aos pés, e
puxou-o pela mão em direção as escadas,
causando inveja em suas colegas, que ficaram
cochichando.
No quarto, ela mal fechou a porta, ele
agarrou-a pela cintura. Ela jogou a cabeça para
trás rindo e enlaçando-o com desejo. Ah, a volúpia
jovem! Era uma beleza!
Entregue, a jovem roçou-se nele, de
forma inegável, elevando uma das pernas e
prendendo em sua cintura. Incentivado, Rony
desceu beijos apaixonados por seu pescoço,
ombros e colo, agarrando a frente do vestido e
baixando-a. Seios pequenos, e pontiagudos
saltaram para sua boca, e ele lambeu e abocanhou
com pressa e fervor.
Não tinha o hábito e nem necessidade de
pagar por sexo, sempre o tivera de bom grado de
mulheres experientes e interessadas em
relacionamentos passageiros. Mas hoje, admitia,
perdera totalmente a compostura!
A jovem gemia, correndo as mãos por
seus ombros e cabelos, enlevada de prazer e
desejo. Desistindo de esperar, ele levou-a para a
cama, e ergueu seu vestido cheio de babados,
descobrindo que não vestia nada por baixo. Era de
se esperar, facilitava seu trabalho, mas ele nem
ligou!
Abriu as calças apressado e tombou
sobre o corpo jovem, ouvindo seu pedido cantado
em gemidos:
-Beije-me, amor. Beije-me, meu amor!
Antes de possuir aquele corpo, permitiu-
se um momento de carinho, beijando-a. A jovem
tinha pressa em agradar, e beijou-o com todo seu
afinco e experiência. Era uma amante dedicada, e
tocava-o por todo o corpo.
Tinha desejo, e mostrava-lo com carinhos
e atitudes. Envaidecido, Rony sugou-lhe os seios,
oferecendo-lhe prazer, muito prazer. Erguendo o
rosto para um novo beijo, ele sorriu diante do belo
rosto, de profundos olhos castanhos que o fitava
em expectativa. Os cabelos longos, ondulados da
cor do mel espalhados pela roupa de cama, os
braços erguidos pedindo mais dele e do que fazia.
Mas aquele não era o verdadeiro rosto. A
verdadeira face tinha ruge e batom, e não uma tez
natural e macia. Muito menos curvas tão
generosas. A verdadeira fonte de seus desejos,
sequer estava ali, e diante dessa constatação ele
afastou-se, sentindo-se assustado por essa
inesperada visão.
A jovem ficou surpresa, é claro, e tentou
convencê-lo a ficar, mas depois de receber seu
pagamento o deixou ir apesar da decepção por ter
ficado sem a consumação do ato que lhe trouxera
tanto desejo.
Rony saiu daquele antro como se o
demônio o perseguisse em pessoa e atravessou a
cidade furioso. Não bastava infernizá-lo nos
sonhos, agora Helena o perseguiria até mesmo
acordado!
Desejando ocultar a humilhação, ele
respirou fundo várias vezes antes de se aproximar
do local onde deixara a carroça. Os cavalos
bebiam água, e Juanita tinha um dos seus meninos
no colo, enquanto Helena segurava um deles, de
uns quatro anos, pela mãozinha.
Do outro lado da rua, um grupo de
homens olhava na mesma direção que ele, e um
deles fez um comentário e riu logo a seguir
Juanita, mais experiente, cutucou Suarez e ele
colocou uma das mãos na arma em sua cintura,
andando para mais próximo delas, e mandando
seu recado aos homens. Suarez era um homem
franzino, mas seu olhar era de um gigante quando
se dispunha a defender sua família.
O engraçadinho, que parecia sentir muito
humor, andou na direção deles, e Suarez o
acompanhou com o olhar, quando atrevido, ele
moveu seu chapéu num comprimento
inconfundível, com um sorriso provocador:
-Dia, moça – ele disse a Helena e passou.
-Você o conhece? – Juanita perguntou e
ela negou – Forasteiros! Acham que são os donos
da cidade! - reclamou, ficando surpresa ao vê-lo.
-Podemos ir, patrão? –Suarez perguntou
apressado, achando estranhando sua presença.
-Sim – disse seco, e sem olhar muito para
eles.
Envergonhado pela própria fraqueza,
subiu na carroça e esperou que Juanita e Helena
colocassem todas as crianças na parte de trás, e
Suarez se acomodar ao seu lado, para levar os
cavalos.
De volta à estrada, quase uma hora
depois, Juanita sussurrou para Helena, como se o
impulso fosse forte demais para controlar:
-Seu marido está furioso!
-Talvez tenha brigado com alguém – ela
disse sem querer pensar nisso. Nesse estranho
sentimento de melancolia que a tomava ao pensar
onde estivera.
-Hum, não sei. Muito cedo para
baderneiros. – Juanita disse pensativa, com seus
anos de experiência – não diga a ele, mas só há
uma razão para um homem sair tão rápido e tão
furioso de um cabaré!
-Qual? – Helena perguntou interessada.
-Deve ter falhado em seu propósito –
Juanita disse com um sorriso debochado.
-Acha que não tinha dinheiro suficiente?
– não entendeu de imediato.
-Querida, que Suarez não me ouça, mas é
uma dádiva quando um homem desses entra em
um cabaré! O dinheiro é o de menos! – seu tom
baixou ainda mais, e era claro que não queria que
o marido ouvisse esse tipo de lembrança de seu
recente passado.
-Então, o que saiu errado? – perguntou
inocente.
-Ele deve ter falhado – notando que ela
não entendia, exasperou-se de seu excesso de
inocência para uma mulher casada – Não teve
desejo suficiente por nenhuma delas para
consumar o ato – soltou um risinho ao notar que
Helena corou ao finalmente compreender. – é bem
feito! Onde já se viu desperdiçar dinheiro e tempo
tendo uma flor de mulher em casa!
Havia sim rancor em sua voz, e ela tentou
não defendê-lo, afinal, a culpa era sua que ele
procurasse outras. Porém, lá no fundo estava de
bom humor quando chegaram à fazenda.
Helena notou que se acostumava à nova
rotina, pois ao ouvir as reclamações de Juanita
sobre suas pernas estarem doloridas, ofereceu-se
para fazer o jantar. Contrariada, ela concordou
desde que pudesse ajudar. Helena estava
aprendendo a admirar aquela forte mulher que
agarrava a vida honesta com as duas mãos, com o
desespero de quem não quer ver os filhos sendo
criados na pobreza e desonestidade. Desdobrava-
se com esmero no trabalho, para que Suarez
estivesse sempre contente e não tivesse
reclamações.
Alguém tão ferido, pela difícil vida que
levava, mas sempre tinha uma esperança na voz
de que tudo melhoraria.
Quando Rony entrou na cozinha, para
avisar que tomaria um banho, o jantar estava
quase pronto. Ele chegou a tempo de ouvir a
história que Juanita contava:
-Meus pais me venderam quando tinha
apenas oito anos. Eu não os culpo. Foi à fome e a
promessa um futuro melhor para os outros filhos
que os fez agir assim. Anos depois, quando era
moça, procurei-os, mas não estavam mais vivos. –
ela suspirou – Meus irmãos me contaram que
mamãe chorou minha falta até o último dia de sua
vida. Foi um alento. Mesmo assim, sinto a falta
deles. Não posso nem imaginar como tem sido
difícil para você, querida, a perca tão recente de
sua família – ela disse com ternura e Rony
esperou pelo grito que viria e se surpreendeu
quando ela parou de mexer a comida na grande
panela e virou-se para Juanita.
Estava linda, com o rosto afogueado pelo
calor das brasas e um tanto suado. Mas o olhar era
triste e ela deu um pequeno sorriso para a
empregada.
-À noite... posso ouvir suas vozes – ela
disse baixo e ele estremeceu – Sei que são apenas
sonhos, mas parece tão vivo e real que acordo com
a sensação de... Fracasso.
-E porque teria fracassado? – Juanita fez
eco à pergunta que ele queria fazer.
-Meu pai e minha estavam mortos há
muitos anos. Quando meu irmão morreu o resto de
felicidade que tinham se esvaiu. Então, a morte,
por mais cruel que tenha sido, foi um alívio. No
entanto, Anne... Minha irmã não entendia de dor
ou sofrimento. Era apenas um anjo que teria um
futuro maravilhoso. Eu deveria ter cuidado dela,
protegido-a!
Sua veemência chocou Juanita, que
perguntou direta e severa:
-E quem protegia você?
-Eu me protegia. – ela respondeu
rapidamente.
-Onde seus pais estavam para deixar uma
menina inocente se proteger e proteger a irmã? -
ela acusou e Helena abriu a boca para protestar –
Perdoei e entendi meus pais, porém nunca encobri
seus erros. Então, não faça o mesmo sobre os
seus! – ela levantou-se e se aproximou dela, pondo
as duas mãos em seu rosto miúdo – Graças a
Deus, agora tem um marido para olhar por você.
Seja gentil, e cuide para que esse laço dure a vida
toda. A existência de uma mulher só é muito triste
Helena.
Ele notou que essas palavras mexeram
com ela, mas como era de esperar, se afastou, e
virou-se para a panela, encerrando a conversa.
-Vou pedir a Rony que me ajude com as
panelas – ela disse tensa.
Ele se afastou e escondeu, para que ela
passasse sem ver que ouvia sua conversa.
Era bom saber, que em sua ausência, o
chamava pelo primeiro nome.
Talvez na sua ausência, Helena pensasse
nele de outra forma.
Capítulo 23 - Dependência!

A semana correu no calendário de forma


abrupta, culminando naquela quarta feira atípica.
A chuva caia desde cedo e recolhido os animais,
sobrava apenas esperar o tempo melhorar.
Os empregados preferiram aproveitar que
o trabalho teria de esperar e enfrentar a chuva,
para ter algumas horas de diversão na cidade, e
Rony concordara, pois visto a impossibilidade do
trabalho e se usassem seus cavalos pessoais, por
ele estava tudo bem, desde que não reclamassem
de dinheiro depois. Apesar da vontade de
acompanhá-los, lembrou-se do fiasco da última
tentativa e preferiu ficar.
Quase se arrependeu, ao notar que
passaria o dia com a silenciosa Helena. Juanita e o
marido estavam em casa, pois uma de suas
crianças tinha febre desde a noite passada.
Preferiram comer em sua própria casa também, e
quando ele voltou dos estábulos a comida já
estava fervendo nas panelas.
Era pouca, visto que apenas os dois
almoçariam.
Ela apenas ergueu os olhos para ele, e
devotou toda sua atenção para a comida.
Sentando-se a mesa, ficou observando-a por trás.
Costas retas, pescoço altivo. Ombros pequenos, de
braços finos, porém fortes.
Não olharia para baixo, pois há dias que
estava no limite do autocontrole e não desejava ser
esfaqueado no chão de sua cozinha, caso tentasse
um carinho em sua esposa.
Helena colocou a cesta de fatias de pão
sobre a mesa e a panela fumegante. Então
arrumou as roupas e dirigiu-se a porta.
-Aonde vai? – ele perguntou e era a
primeira frase composta que trocavam em sete
dias.
-Ver se Juanita precisa de ajuda – era
com certeza a primeira resposta composta em sete
dias!
-Ela não precisa e se precisar, nos chama
– ele disse seco – Sente-se e coma.
Ordens vindas dele sempre eram uma
agressão direta. Conformada com seu destino de
desaforos sentou-se e começou a comer em
silêncio.
Algumas garfadas e desistiu, pois a
comida tinha gosto de lama. Mais tarde comeria
uma fruta ou tomaria um copo de leite.
Encerrando o almoço, começou a recolher as
louças quando ele notou:
-Não pode comer só isso – disse
perdendo a capacidade de fingir indiferença.
-Estou saciada – respondeu distante.
-Não, não está. Ninguém pode estar
saciado após duas colheres de sopa. Agora, sente-
se e coma. Sairá dessa mesa quando houver
terminado seu prato.
Refreando o impulso de jogar o prato de
sopa quente sobre ele, obedeceu.
Mais algumas colheradas e bílis subiram
a sua garganta. Parou certa de que vomitaria se
insistisse. Rony notou seu tom esverdeado e
estreitou os olhos, uma possibilidade nascendo em
sua mente.
-Sente-se mal? – perguntou engolindo em
seco, ao chegar à conclusão mais acertada depois
de notar seu comportamento.
-Apenas enjoo. – ela disse afastando o
prato e esperando pelas reclamações.
Então, era isso. A realidade bateu a sua
porta tão forte, que quase derrubou a madeira
frágil que era seu coração.
-Quando pretendia contar? – perguntou
perdendo também o apetite.
Como se manteve calada por não saber
sobre o que referia, ele insistiu:
-Espera um filho? – não soou como uma
pergunta, mas sim uma constatação.
Surpresa, Helena não respondeu nada,
tentando descobrir de onde viera essa ideia.
-Não preciso ouvir isso! – ela levantou-
se, ao entender que ele a considerava como uma
mulher qualquer.
-É claro, como não notei antes? – ele
perguntou indo atrás dela, quando se dirigiu para
a sala, querendo fugir dele.
-Acaso está louco? – ela virou-se
revoltada e furiosa. Em um segundo esse homem
era capaz de ascender uma fogueira de ódio e
rancor em seu coração – Não consumamos o
casamento, como poderia esperar um filho?
-Tudo se encaixa - ele concluiu – aversão
a comida, a insistência em se afastar de mim, de
não dividir nem o mesmo quarto! É claro, eu
perceberia quando a barriga despontasse!
-Meu Deus, esse homem enlouqueceu! -
ela disse descompassada.
Helena se pegou sem entender porque a
incomodava tanto que ele pensasse isso. Porque
esse desespero de provar o contrário?
-Esteve claro o tempo todo, como pude
não notar?
Rony parecia tão desolado quanto ela, e
por um segundo, sentiu o impulso de tocá-lo e
convencê-lo que estava errado. Mas se conteve.
-Eu... Não estou grávida – disse com
ponderação, não querendo que notasse sua
intenção de desmotivá-lo a crer em tal besteira –
Se estivesse, teria contado quando firmamos o
acordo do casamento – como sua expressão
deixava claro que não acreditava nisso, insistiu –
Casou-se motivado pela fazenda, porque ocultar
tal fato? Além disso, se pretendesse enganá-lo,
mais prático seria ter consumado o casamento e
dito que o filho era seu!
Seu intelecto sempre o surpreendia, e
apesar de inclinado a acreditar nela, tinha suas
dúvidas.
-Muitas mulheres interrompem a
gestação – ele acusou e ela arfou ofendida.
-Se fosse assim, por que se importar? –
acusou de volta – Nosso acordo eliminou certos
aspectos de um casamento. E um deles, é a
preocupação do que o outro faz desde que não
traga consequências para o outro!
-Uma coisa é casar-se com uma mulher
intocada, outra é ter uma meretriz sob o mesmo
teto! – ele acusou – Aceito que negue a mim o que
nega a todos. Agora, se souber que têm amantes,
não serei tão compreensivo! – disse, transtornado
em como ela tinha o dom de descontrolá-lo.
-E acaso, não tem amantes, Parker? –
perguntou antes de reter a frase. – Além do mais,
não precisa insistir em consumar o casamento
apenas por medo de perder a fazenda. Já disse,
não pretendo desfazer o acordo!
-Um homem tem suas necessidades,
ainda mais quando é casado com uma mulher que
lhe desperte desejo – ele explicou esperando que
pudesse ter uma oportunidade de se aproximar,
agora que quebraram o silêncio de uma semana.
-Vá ao cabaré novamente se é sua
vontade – disse ciumenta, mas sem saber.
-Para que? Nenhuma delas me desperta
atenção como você – ele galanteou.
Percebeu seu desconforto, quando ela se
afastou alguns passos.
-Não quero saber de seus sentimentos –
ela disse se protegendo de suas mentiras – Muito
menos é necessário que minta apenas para ter a
consumação do casamento. Já disse e torno a
repetir, isso não acontecerá!
-Por quê? Sou tão desprezível assim? –
havia mágoa em sua voz e ela notou.
-É claro que não! – ela disse gelada –
Não quero um marido, e nunca quis. Também,
nunca ocultei isso. Casou-se conhecendo minhas
imposições! Agora, não insista mais!
-Não posso prometer não insistir – ele
sorriu malicioso e notou que Helena corava apesar
do olhar de aviso. – Parece que não irá parar de
chover – ele disse pensativo. – Temos o dia todo
para não fazermos nada.
Ela não respondeu, provavelmente
pensando sobre como livrar-se dele diante das
circunstâncias.
-Acredito se diz que não está grávida –
ele disse de repente, para sua surpresa – Vou
perguntar algo e gostaria de uma resposta sincera.
– ela apenas meneou a cabeça sem confiar em si
mesma para falar – Diz que não devo me
preocupar com uma anulação do casamento.
Então, me pergunto se ainda é virgem.
Helena afastou o olhar, pensativa. Se
dissesse que sim, ele continuaria insistindo, mas
em caso de negativa poderia sentir-se mais
tranquilo e até perder o interesse. Por isso,
erguendo o rosto, ela negou:
-Não achei que importasse para seus
planos.
Rony sondou seu rosto, para ver se
mentia. Era impossível, no entanto saber, visto
que Helena escondia seus sentimentos muito bem.
Aquela era uma dúvida que nascera em
sua mente há alguns dias. A possibilidade de
estar ocupando o lugar de outro homem, ou
somente o fato de ter uma mulher ainda mais
machucada do que supunha.
-Foi consentido? – era uma pergunta que
escondia outra.
-Sim – confessar alto o que não se fez,
era mais fácil que aguentar as consequências de
ter um homem atrás dela o dia todo!
Mesmo quando se mantinha afastado,
sentia seu olhar procurando por ela a todo instante
e isso mexia com seus sentimentos de um jeito
desagradável.
De um jeito que não sabia lidar.
-Alguém da cidade? Alguém com quem
vou cruzar sem saber? – seu tom seco não passou
despercebido.
-Não. – preferiu não criar fatos que a
pudessem confundir no futuro.
-É por causa dele que se nega a consumar
o casamento?
-A comida está esfriando – ela disse para
cortar o assunto – Deve estar com fome ainda!
-Você também vai comer mais um pouco!
– ele disse em tom de ordem, tentando digerir a
grande nova informação.
A gelada Helena Johnson tivera desejo e
amor por algum homem, que possivelmente ainda
estava em seu coração, entranhado o bastante para
impedi-la de dormir com o próprio marido.
Alguém chegara antes, e roubara o que
era seu por direito!
Mesmo dizendo a si mesmo que sua
vontade de ter a fazenda era maior que qualquer
outra coisa, ainda assim, já não se sentia tão
eufórico com o trabalho como nos primeiros dias.
Algo estava matando seu entusiasmo, e
esse algo estava bem na sua frente, ocultando seu
olhar e suas emoções.
-Venha me fazer companhia - ele
suavizou o tom, deixando uma brecha para sentir
que estava no domínio.
Concordou dizendo a si mesma, que era
por vontade própria e não por submete-se as suas
vontades. Os dois sentaram-se frente a frente na
pequena mesa de madeira, comendo em silêncio a
sopa que ela esquentou.
Alguns minutos depois, Rony quebrou o
silêncio desejando ouvir sua voz novamente,
depois de uma semana de longos silêncios. Sem
contar o último mês onde quase não se falaram, a
não ser que contasse os berros como conversa!
-Pretendo arrumar a sala de jantar, para
que façamos nossas refeições com mais conforto -
ele testou o terreno, visto que Helena era avessa a
mudanças. – Gostar de Juanita, não deve fazer
com que você se torne uma empregada – ele notou
o exato momento em que ela ficou tensa, e se
corrigiu – Três anos cuidando da fazenda é mais
trabalho do que uma dama deve ter para uma vida
toda! A fazenda está dando lucros, e acredito que
possamos crescer ainda mais, sendo assim, terá
tempo para você mesma. Longe do trabalho
doméstico.
-Tempo para mim? – ela não
compreendeu.
-Sim, tempo para você – ele sorriu,
achando encantador o corado de suas faces.
-Tempo para fazer o que? – havia uma
ponta de desespero em sua voz.
Rony notara que ela não era de ficar
parada contemplando o mundo, como as outras
moças que conhecera faziam felizes, em apenas
sentar e olhar o movimento da rua, dentro dos
elegantes cafés londrinos.
Helena precisava estar sempre ocupada.
Era quase compulsivo!
-Tempo para fazer tudo que desejar – ele
sorriu novamente.
-Mas e se desejar ajudar no serviço de
casa?
Rony não pode evitar uma gargalhada.
Helena era insistente como o demônio! E mais
esperta que muitos intelectuais a qual tivera o
prazer de conhecer!
-Faça como quiser, mas deixe o trabalho
pesado para Juanita. Não quero vê-la cozinhando
em tonéis ferventes, ou limpando o chão. – era
impossível dissolve-la de suas idéias.
Helena mordeu a língua para não
responder algo ríspido.
-Teremos o dia para nós, e deveríamos
aproveitar - ele disse sugestivo e quando recebeu
um olhar desconfiado, sorriu ainda mais – O
quarto que está atulhado de velharias. Podemos
arrumar tudo no sótão. O que me diz?
-São lembranças da minha família –
havia um inegável tom de aviso em sua voz.
-Por isso mesmo que devemos guardá-las
em outro local mais apropriado. – Ponderou –
Pretendo transformar esse quarto em um escritório
ou sala de estudos. – notou seus olhos brilharem e
continuou – Temos um quarto de hóspedes, além
do de casal, que servirá perfeitamente quando
recebermos algum hóspede. E quem sabe, no
verão que vem, podemos pensar em um aumento,
para ter mais quartos, quando as crianças vierem.
Onde seus irmãos dormiam? – a bombardeou com
informações, esperando que seus planos não a
desagradassem caso não lhe desse tempo para
pensar.
-Meus irmãos eram muito mais velhos
que eu e minha irmã, e quando nascemos à
maioria não morava nessa casa, e os que
moravam, logo... Faleceram.
-Acredito que dividiam os dois quartos -
ele deduziu – Na capital as mulheres não tem
tantos filhos, e veremos isso logo. Como elas
fazem para evitá-los. Ter filhos é uma benção,
mas tantos ficam impossíveis de lidar – continuou
seus planos, notando seu olhar, e começando a
ficar preocupado com seu silêncio a cerca do
assunto. – Podemos colocar os livros do seu pai
em estantes, e tê-los a mão para...
-... educar suas crianças? – ela deduziu,
sorrindo mansamente.
Rony concordou, animado com sua
evolução. Claro, era necessária apenas uma boa
conversa. E deixar o tempo agir.
-Sim, para isso também. – ele concordou
sorrindo.
-Talvez seja mesmo uma boa ideia
aumentarmos o curral, se pretende comprar uma
égua parideira - ela disse ácida – para ter seus
filhos, lógico – ela ampliou o sorriso e ele
percebeu que suas mãos tremiam de raiva contida.
-Falava desse modo com seu pai? – ele
perguntou abandonando a comida.
-É claro que não! – ela disse furiosa.
-Então, não fale assim comigo. –
mandou, voltando a comer. – Não são filhos que
gerará agora. São filhos, para quando colocar a
cabeça no lugar e entender que é minha mulher!
Ou, ao menos, entenda que é uma mulher! – era
para ofender!
-E porque todas as mulheres precisam ter
filhos e cuidar de um marido para serem
mulheres? - ela perguntou a queima roupa,
demonstrando agora, que além de antagonista a
sua presença, era também uma feminista
fervorosa.
-Porque o mundo não aceita outro
comportamento – ele respondeu, perdendo o
humor definitivamente.
-Ouvi dizer que nas cidades maiores, as
mulheres trabalham e se sustentam, sem precisar
de maridos, e que algumas até mesmo... Tem
filhos sozinhas e os criam, assim como... – o
corado em sua face o fez se distrair do que ela
dizia -... Tem relações amorosas com quantos
homens desejarem!
-Sim, esse comportamento existe, e
pessoalmente sou a favor de que cada pessoa,
homem ou mulher, viva do modo que lhe faça
feliz. Mas estamos aqui, e não em outra cidade, e
a menos que manifeste desejo de viver desse
modo, terá que se adaptar a vida que escolheu.
-E se eu quiser viver como essas
mulheres? – perguntou com a honestidade que lhe
era característica.
-Se for mesmo o seu desejo espere um
tempo, para que não haja dúvidas sobre a posse
definitiva da fazenda, e com o que lhe for cabido
do lucro das terras, poderá ir para onde bem
entender, e viver como quiser! – agora, o apetite
definitivamente evaporara.
Helena afastou o olhar, sem entender de
onde viera à súbita tristeza que a deixou muda.
Ficou além de surpreendida por quão fácil ele
aceitava se ver livre dela, também agoniada ao
perceber que não desejava outra vida além da que
tinha.
-Tem uma estante no sótão. – ela disse
depois de um tempo em silêncio, mudando
drasticamente de assunto – Papai guardava seus
livros e manuscritos, mas ela ficou velha demais.
Se quiser, pode reformá-la.
Helena tão cordata era uma agradável
surpresa.
Rony continuou a refeição com a sombra
de um sorriso na face. Ela não queria ir embora,
muito menos ser tão independente assim. Ou
quem sabe, e otimistamente pensando, quisesse
ficar com ele.
Terminada a refeição, e depois de tanta
confusão em um simples almoço, ele ajudou-a a
lavar a louça. Ela não repudiou sua ajuda, mas
também não permitiu nenhum contato.
O quarto onde ficavam guardados
objetos, roupas e móveis velhos, era o maior
cômodo da casa. Rony olhou sonhador para aquele
espaço todo, imaginando sua escrivaninha e livros
acadêmicos. Seus pertences ainda se encontravam
na residência de John, em Londres e esperava que
ele pudesse lembrar-se de trazê-los quando o
visitasse.
Lembrou-se com carinho dos seus anos
de hóspede na residência Harrison, outro jovem
poderia sentir-se ofendido de ter permanecido
sobre a guarda financeira de seu amigo rico, mas
não Rony. Primeiro, pois não usurpava nada de
John, era o próprio Rony quem custeava seus
pertences e outros gastos. Apenas morava na casa
de seu solitário amigo de tantos anos de
confinamento no colégio interno.
E agora olhando em volta, se pegou
pensando aonde viera se meter!
Longe da agitação de Londres, longe de
seus amigos mais fiéis. E, sobretudo, longe das
mulheres que o idolatravam. E tudo para que?
Olhando em volta ele notou que era
observado. Perdido naquele olhar de chocolate e
mel, ele sorriu maneando a cabeça.
Parece que no fim, a vida sempre tem sua
razão.
Capítulo 24 - Indesejáveis

A silenciosa faxina estava longe de


acabar, quando ambos foram pegos de surpresa
por um barulho vindo da entrada da fazenda.
Parando o que fazia, olhou para Helena em
dúvida.
Visitas não eram comuns, e seus pais não
viriam sem avisar.
-Podem ser ladrões! – ela disse no tom de
acusação, como se essa possibilidade fosse sua
culpa.
-Ladrões não batem na porta! – ele
respondeu, seguindo para a sala e Helena o
seguiu.
Abrindo a porta, a primeira coisa que
notaram foi uma carruagem cara e luxuosa, com
alguém que acenava desesperadamente, tentando
chamar atenção. De pé, diante deles, sob a chuva
intensa, uma serviçal segurava uma sombrinha
muito pequena para seu corpanzil.
-Minhas senhoras desejam visitá-los - ela
disse apontando para a carruagem.
-Susan – Helena disse ao notar que ele
não sabia de quem se tratava – Chamou-a para
costurar vestidos.
Seu tom dizia mais que isso, e Rony
olhou para ela tentando entender de onde viera
isso.
-Ajude sua senhora a entrar. - ele mandou
esperando que isso não lhe custasse o dia todo.
Ouvir conversas de jovens tolas não era
sua ideia de diversão, ainda mais quando
desperdiçava todo um dia de possíveis tentativas
de seduzir Helena. Ou ao menos, suavizá-la um
pouco!
Helena notou sua irritação e se perguntou
a razão.
Decidindo que não havia nada para ela
ali, pretendia sair de mansinho, quando ele
perguntou:
-Aonde pensa que vai?
-Não precisa de mim para recebê-la! –
lembrou-o.
-Preciso sim, é minha esposa e vai
receber minha convidada. E fará isso sorrindo.
Não quero que digam que além de carrancuda,
minha mulher também é mal educada!
Helena não se deu ao trabalho de
responder, pois Susan e sua mãe andavam
apressadas em direção a eles. Anos atrás, tivera o
azar de conviver com a moça nas aulas de
catecismo, e tinha péssimas lembranças de suas
piadas e risinhos sobre seus vestidos simples e
barras da saia cheia de lama.
Para Susan, era feia desengonçada e
pobre.
Em parte tinha sua razão, pensou triste,
mesmo assim nada lhe dá o direito de ofender e
magoar as pessoas gratuitamente!
-Oh, Rony! – ela chegou à varanda,
fugindo da chuva abundante, e oferecendo a mão a
ele, que se acercou dela ajudando-a nos degraus. –
Quanta chuva! Quase nos acidentamos nessas
estradas enlameadas!
Seu entusiasmo foi refreado, assim como
sua aproximação desproporcional junto ao corpo
de um homem casado, pela presença de sua mãe.
-Deixe-me passar, Susan – a velha
Eleonora afastou a filha e ofereceu a mão para
Rony sorrindo friamente – Meu filho, essa chuva
está gelada!
-Claro que está. - ele disse simpático –
Entrem e se abriguem do frio e do vento!
Helena controlou a língua para não dizer
que o dia estava chuvoso, mas não era para tudo
isso! E frio? Elas deviam ser muito sensíveis!
Dentro da casa, Rony ofereceu o sofá
baixo e um tanto desconfortável, sem demonstrar
abalo pelas precárias condições da mobília.
-Que ideia fazermos uma visita em um
dia como esse! – Eleonora insistiu, limpando
respingos de seu vestido de veludo verde musgo.
– Saímos ainda cedo e achamos que não passaria
de uma garoa fina! E olhe agora, o céu está caindo
sobre nossas cabeças!
Helena mordeu a língua para não dizer
que chovia do mesmo modo desde a madrugada!
-Querido Rony, onde estão seus criados?
– Susan perguntou olhando em volta – Preciso
urgentemente limpar a chuva de minhas vestes!
-Nossa criada está de folga, por conta da
chuva - ele disse sorrindo ao som de uma voz doce
e carinhosa, fato único depois de tanto tempo
sendo ignorado – Infelizmente, não tivemos tempo
de estruturar a casa para receber visitas.
-Oh, não se preocupe! Com o toque de
uma mulher, essa casa pode se transformar em um
lugar agradabilíssimo! – Eleonora disse,
ignorando totalmente a silenciosa presença de
Helena, de pé, longe deles.
Rony olhou para ela, e estendeu a mão
em sua direção, convidando-a a sentar-se ao seu
lado, e não deixando alternativa que não aceitar.
-Perdoem minha esposa, não está
acostumada a receber visitas - ele disse em tom
carinhoso, quando sentou-se ao seu lado e nada
discretamente tentou soltar a mão, que ele prendeu
firmemente entre as suas tentando não rir de sua
vã tentativa de livrar-se do contato. – Tem sido um
longo tempo desde que se preocupou com
etiqueta.
-Bem se vê! – Susan resmungou, olhando
para a mãe, achando talvez não ter sido ouvida.
-Acredito, tenham presa para ver os
tecidos que compramos – ele disse empolgado e
Helena aproveitou a deixa para puxar a mão e
levantar-se.
-Pedirei a Suarez que sele um cavalo e
busque sua mãe e sua irmã. Não deve demorar
nada, a fazenda é vizinha da nossa!
Desesperada para livrar-se das visitas, ou
ao menos, afastar-se ela estranhou quando ele
tornou a segui-la, desta vez levantando-se e
ficando muito perto com um meio sorriso:
-Porque deve buscar minha mãe e minha
irmã?
Ela pensou em mandá-lo soltar seu braço,
mas não era um aperto, era apenas um toque, e as
duas não entenderiam porque um marido não deve
tocar sua esposa!
Frente a frente, tão perto, olhando em
seus olhos profundamente azuis, fato que muito
evitava, era difícil se lembrar do por que não
deveria deixá-lo tocá-la e esse pensamento a
assustou terrivelmente!
-Não se pode fazer vestidos sem tirar as
medidas – ela disse baixo, sem notar que a voz
estava um pouco presa.
Ele sorriu, baixando um pouco o rosto,
sabendo bem que não podia fugir e tinha que ficar
ali, aguentando isso.
-Aposto que sou capaz de dizer suas
medidas, só de olhar. – era uma provocação, mas
talvez apenas ela pudesse notar, visto que ele
sorriu para as visitas, sem notar seu abalo. Ou
fingindo não notar – Por mais que adore seus
trajes de mulher de fazendeiro, admito, gosto de
ver minha mulher bem vestida e coberta por
tecidos bonitos. Tenho certeza, que nossas nobres
visitantes poderão ajudá-la nisso.
-Claro que sim! – Eleonora disse
apressada, ansiosa para atrair atenção sobre a
filha, incomodada com aquela troca de olhares
entre Rony e Helena. – Susan possui mãos de
fada! Não acreditaria no que é capaz de fazer com
uma agulha nas mãos!
Rony riu lembrando-se de algo, e
arregaçou a manda de sua camisa, mostrando o
antebraço.
-Não acreditam no que Helena é capaz
com uma agulha nas mãos!
Susan cobriu os lábios, chocada ao ver as
marcas, do que foram pontos. Estavam
cicatrizados e a marca sumia a cada dia, mesmo
assim, era uma marca bastante significativa.
-Uma dama não deve costurar um
ferimento! Meu Deus! Como é possível agir como
um homem a tal ponto!
Seu choque não irritou Helena, bem pelo
contrário. A enfureceu, tanto que não mediu
palavras:
-Deveria tê-lo deixado sangrar até a
morte, pois esse sim seria o comportamento digno
de uma dama!
Rony soltou uma longa risada, puxando-a
com ele novamente para o sofá.
-Helena tem uma língua ferina – ele disse
sem apagar o sorriso – Não foi um ferimento tão
sério assim, mas muito doloroso. Admiro
mulheres que sabem agir no momento certo! Cada
uma, a seu modo.
Era um duplo elogio, mas soou a Helena
como uma ofensa. Compará-la a Susan, era como
dizer o quanto eram diferentes! Água e vinho!
-Será necessário que chame sua criada,
pois temos que tirar as medidas – Eleonora disse,
quebrando o assunto e levando a conversa para
onde desejava.
-Não chamarei Juanita e a tirarei da
cabeceira da cama do filho doente apenas por
umas medidas! – ela reclamou, contendo uma
palavra, quando ele segurou novamente sua mão,
em um aviso.
-Creio que possam usar nosso quarto
para terem privacidade, enquanto preparo um café
para nós – ele disse cordato. – Helena,
acompanhe nossas visitas até nosso quarto.
Era um mudo pedido de que fosse gentil.
Tremendo pelo esforço de não gritar e
sair correndo ela levou as duas víboras até o
quarto que fora de seus pais e agora era de Rony.
Era ali que ele dormia, e era ali também que
estavam as roupas da própria Helena, pois fingiam
muito bem dividirem o mesmo quarto!
Notou o olhar de Susan sobre cada
pequeno objeto masculino e notou o jeito como
Eleonora olhou-a ao ver que notava tal fato.
Cutucando a filha, ambas tiraram linhas e fitas,
para tirar as medidas.
-Tire o vestido. – Susan disse fria e
contrariada.
-É mesmo necessário? – retrucou amarga.
-Bem, se não quer tirar, saiba que os
vestidos ficarão largos – ela disse como se não se
importasse de verdade se ela estaria vestida em
trapos ou não.
Cada segundo mais irritada, ela tirou o
vestido mantendo a combinação. Sentiu os olhos
da velha Eleonora sobre seu corpo e quis mandá-la
parar de olhá-la desse modo. O que esperava? Era
uma mulher como qualquer outra!
-Magra demais. – ela resmungou,
olhando para a filha com desdém – Teremos que
aumentar o enchimento no peito se não quiser
parecer uma tábua!
-Não sou uma tábua! - ela revidou
olhando para o decote exagerado de Susan, e para
seus seios extremamente grandes – não são todas
as mulheres que se assemelham a vacas leiteiras!
-Seu marido tem razão, tem uma língua
ferina! – Eleonora reclamou, enquanto passava a
fita em volta de sua cintura e anotava os números.
-Nenhum vestido pode esconder a falta de
modos de uma mulher – Susan alfinetou e ela não
respondeu, cansada desse joguinho.
-Está sendo paga para costurar, e não
para julgar – Helena não resistiu.
-Como pode ser tão grosseira? – Susan
parou o que fazia as faces coradas de raiva, e
frustração.
-Apenas termine logo – Helena pediu,
afastando o olhar.
A tortura durou mais alguns minutos
silenciosos, e quando as três saíram do quarto,
Rony notou instantaneamente a expressão dela.
Algo que beirava o ódio.
Ele havia retirado os pacotes de tecido da
dispensa e os deixado na sala, e sorriu quando
Susan soltou uma exclamação de apreciação:
-Minha nossa, que tecido lindo! Lilás é
minha cor favorita! – ela sorriu talvez
esperançosa.
-Sempre apreciei uma bela mulher
vestida em lilás – ele disse, e vagou os olhos de
uma para a outra, mãe e filha a espera de mais.
Por um segundo, Rony se pegou
pensando se os bons partidos eram tão poucos
naquela cidade, que uma mãe ponderasse a
possibilidade da filha ter por amante um homem
casado, ou quem sabe, a doce Susan, não fosse
apenas uma costureira!
-Esse tom ficará perfeito em sua esposa –
Eleonora disse, apanhando um tecido verde
musgo, de sua maleta de pertences, linhas, e
agulhas. – É um brocado trazido por meu marido
de uma de suas viagens. Quando viu Helena no
armazém, Susan lembrou-se desse tecido. Que
obviamente, lembra muito Helena!
Sim, pensou Helena, esse tecido
lembrava-a do mesmo modo que uma poça de
vômito!
Era um tecido escuro, sem detalhes, ou
enfeites. Apenas algo sóbrio e fechado, como um
manto sem graça e pesado. Algo que uma viúva
usaria, ou uma carola velha e mal amada! A
expressão de Rony ao ver o tecido era engraçada, e
ele pensou um minuto antes de responder.
-Definitivamente, não entendo de tecidos.
Mas sei que gosto de verde e lilás e quero minha
esposa vestida nessas cores. – era uma recusa
discreta, e Helena quase morreu de alívio.
Não que se importasse com roupas e
jóias, mas não queria desfilar por aí com algo
escolhido por Susan e sua mãe!
-Imagino que na capital tenha visto
mulheres extremamente bem vestidas! – Eleonora
alfinetou, bebericando seu café enquanto media a
expressão de Helena e enquanto sua filha oferecia
uma visão privilegiada de seu decote ao apanhar
sua xícara de sobre a mesinha de centro.
-Sim, participei dos mais sofisticados
bailes e festas de debutantes. – ele respondeu
vago, não querendo fornecer qualquer informação
que pudesse virar mexericos depois.
-Deve ter sido uma surpresa e tanto ter
que casar-se tão repentinamente! – Susan disse
agitada, por finalmente ter tocado no assunto que
queria. – Entre tantas damas, ter que escolher...
Uma do interior; deve ter sido surpreendente!
-Helena e eu estávamos prometidos a um
longo tempo – ele mentiu, e Helena arregalou os
olhos de surpresa.
-Oh, é mesmo??? – Susan pareceu perder
o fôlego e então sorriu, numa máscara de irritação
– Que bela história de amor...
-Sim, uma bela história de amor - ele
disse com humor inegável, adorando ver as faces
coradas de indignação da jovem sorridente
demais.
-Como disse, não viemos para demorar –
Eleonora apressou-se a dizer, levantando-se –
Com uma chuva dessas não me arisco a demorar!
-Mas, mamãe, nem conversamos ainda
sobre a corte! – Susan implorou e ela tornou-se a
sentar.
-Não devemos tomar o tempo de um
casal ainda em lua de mel, Susan – talvez ela
esperasse ser contrariada, e ficou decepcionada
quando ele voltou a falar.
-É bom receber vistas, preparemos o
almoço e então, partirão escoltadas por meu
empregado, Suarez. É perigoso duas damas
sozinhas por essa estrada, mesmo na presença de
uma criada e de um cavalariço.
Tomando a preocupação de Rony como
algo mais, Susan sorriu feliz e emocionada.
-Porque não nos acompanha
pessoalmente? Tenho certeza que papai adorará
conversar com um homem tão instruído!
-Não deixarei a fazenda e Helena
sozinhos enquanto meus empregados não
voltarem da cidade. – ele desculpou-se – Terei
outras oportunidades de conhecer seu pai.
-Papai contou que é formado em direito –
ela mudou drasticamente de assunto ao ver que
perdera sua oportunidade de ficar a sós com ele.
-Sim, sou advogado.
-Imagino teve oportunidade de advogar
em seus anos em Londres – Eleonora sugestionou
esperando arrancar-lhe mais informações.
-Sim, durante algum tempo – foi
propositalmente vago.
-Trouxemos alguns modelos para que
escolha – Susan disse empolgada – São caras
revistas, tome cuidado com elas! – disse severa,
quando as colocou nas mãos de Helena.
Rony detestou o som disso, e segurou as
revistas, antes que ela pudesse fazê-lo.
-Faz tempo que não temos uma leitura
agradável, pois ainda não tive tempo de escrever
pedindo alguns livros e revistas. – pôs panos
quentes, sentindo um sentimento inconfundível de
raiva ao ver a forma que elas tratavam Helena. –
Veja Helena, se gosta de alguma delas, para que
possamos pedir exemplares na capital.
Ela aceitou as revistas de sua mão, sem
entender porque ele estava sendo tão gentil e
agradável. Protegê-la desse desprezo de Susan era
algo que não esperaria dele.
-Está quase na hora do almoço - ela disse
sem abrir uma única revista – Preciso começar o
almoço, ou não teremos nada a oferecer. Se me
dão licença – ela levantou-se engolindo sem seco
por ter que cozinhar para elas.
Ele não disse nada, mas sentiu uma ponta
de rancor ao ver o modo como ela rejeitava sua
tentativa de protegê-la.
A conversa continuou e ele mal viu o
tempo passar animado com os assuntos tolos de
ambas, o que o fazia sentir um pouco de ternura
pela vida que deixara para trás. Lembranças
agradáveis. Mas apenas lembranças.
Helena ouvia o som das vozes e dos risos,
e sentia a raiva crescer enquanto despejava a
comida na panela e deixava o fogo agir. Não
caprichava e só Deus sabia o esforço que fazia
para não envenenar a comida dele!
Achando ter chegado ao seu limite de
autocontrole, numa risada particularmente alta de
Rony, ela fechou os olhos, apagando o fogo ao
notar que o guisado estava pronto.
Reunindo calma, pensou em chamá-los,
mas ouviu a voz de Rony avisando que iria ver
como andava o almoço. Ela esperou que
aparecesse na sala, e chegou a abrir a boca, mas
ele sussurrou antes de se dirigir ao quarto:
-Só mais um instante. Preciso pegar algo.
Bem, ao menos, ele também não estava à
vontade com as visitas.
Chateada, ela esperou. Era impossível
não continuar ouvindo as vozes e se aproximou da
sala, para ouvir melhor:
-Oh mamãe, ele é tão maravilhoso! –
Susan exclamou suspirando – Papai poderia
conseguir convencê-lo a casar-se comigo, não
poderia?
-Susan, ele é casado. Esqueceu de
Helena? – Eleonora chamou-a a razão.
-Ora, mamãe! – ela disse irritada em ser
contrariada – toda a cidade sabe que é um
casamento de conveniência para agarrar as terras
do velho Johnson. Tão logo consiga o que quer,
ele anulara o casamento! Por isso digo, o melhor é
que papai fale logo com ele, para garantir que
quando isso acontecer, nos casemos o mais rápido
possível! Afinal, será bom para ele ser genro do
juiz.
-Mas e Helena? - ela perguntou num tom
afetado.
-O que tem ela? – um risinho nojento fez
revirar as entranhas de Helena – ficará no lugar
que é seu desde o dia em que nasceu: a sarjeta!
Ela que mendigue, ou vá trabalhar na estação de
trem se quiser sobreviver, há muitas mulheres
perdidas lá!
-Não seja cruel, Susan – Eleonora
repreendeu sem muita autoridade.
-Não estou sendo cruel. Rony precisa de
uma mulher feminina e delicada. Não uma cão
raivoso e mal educado! Onde já se viu, mamãe!
Olhe para ela! Carrancuda! Descuidada! Notou
seus cabelos? Lã pura!
Imediatamente, ela tocou os próprios
cabelos, chocada por ouvir isso.
-E a pele? Parece uma velha, cheia de
manchas! E o corpo? Meu Deus, pobre homem,
não tem uma curva sequer a que se apegar! –
Eleonora concordou com a filha no mesmo tom
debochado e Helena ficou de boca aberta, chocada
demais para pensar nisso.
Nunca pensara em si mesma como
alguém bonito. Mas ouvir dessa forma, a fazia
sentir a última das criaturas!
-Ouvindo atrás das portas?
Ela saltou ao sussurro feito em seu
ouvido. Rony estava a centímetros, atrás dela,
apreciando o espetáculo de ver Helena preocupar-
se com os próprios cabelos.
-São mexeriqueiras – ele alertou,
passando por ela e voltando a sala. – O almoço
está na mesa. Minha senhora – ele estendeu a mão
elegantemente à matriarca e Helena quase correu
de volta a cozinha, servindo os pratos e antes que
pudesse conter o impulso, ela cuspiu no prato que
serviria a Susan.
Não sabia por que fizera isso, não era um
ato cristão, mas a raiva que a consumia também
não era cristã! Segurando o prato, para certificar-
se que seria da sua vítima, colocou-o diante de
Susan, que nada discretamente sentou-se ao lado
de Rony, do lado direito, onde se senta a esposa,
com ele na cabeceira.
Tomando seu lugar do outro lado, Helena
observou com prazer a primeira colherada.
-Hum... não sei o que pôs aqui, mas está
delicioso – Susan disse, sempre sorrindo apenas a
Rony.
-Minha esposa tem mãos de fada! – ele
disse apanhando sua mão na marra e levando aos
lábios para um singelo beijo de cumprimento.
Olhos mais aguçados como os de
Eleonora apanharam mais que os olhos de Susan
poderiam ver. Ela, nova e inexperiente, captava o
movimento de retirada, Helena tentando soltar a
mão, mas sua mãe, uma raposa velha, via os olhos
da moça brilharem, quase hipnotizada por aquele
simples gesto.
Ou eles estava tendo um começo de
casamento estranho, ou aquilo era um joguinho. E
se a segunda hipótese estivesse certa, Susan não
teria a menor chance!
-Diga-me, Rony, querido, diga-me como
eram os jantares na corte...
Helena continuou apenas escutando, sem
realmente prestar atenção a conversa, sentindo a
raiva diminuir ao pensar que “Rony, o querido”
merecia que colocasse mesmo veneno em seu
prato!
E quem sabe, não o fizesse?
Capítulo 25 - Atrás da Porta

A carruagem ia longe, quando Rony


entrou. Helena terminava a louça do almoço e
estava ainda mais séria que antes. Ele desejou não
ter pedido à moça que viesse fazer os vestidos.
Assim, não teria perdido o pequeno avanço que
tivera com ela antes da chegada das duas.
-Não gostou dos tecidos? – ele perguntou
esperando que fosse ao menos sincera, coisa que
normalmente ela era. Franca até demais!
-São bonitos – ela respondeu, sem olhar
para ele.
-Susan tirou suas medidas? – queria
puxar conversa e restabelecer o vínculo de antes.
-Sim – respondeu de má vontade.
-Serão vestidos adoráveis – ele
sugestionou um elogio.
-Onde os usarei? – ela perguntou
finalmente.
-Em casa, para sairmos, passearmos no
jardim. Uma senhora deve estar bem vestida para
seu marido – ele disse num tom divertido.
-Porque fala assim? - ela parou o que
fazia, o encarando.
-Assim como? – cruzou os braços
divertindo-se.
-Refere-se a mim como esposa! Não é
necessário! – reclamou.
-E acaso não é minha esposa? Como deve
um marido chamar sua mulher? – seu sorriso se
alargou – Talvez prefira ser chamada de querida.
-Oh, sim, querido Rony! – ela satirizou
num tom amargo e não se virou para ver seu
sorriso tornar-se gigantesco.
-Isso se chama ciúmes, Helena - ele
opinou, notando o som da panela ao ser largada
dentro da bacia ecoar por toda a cozinha.
Helena não respondeu, mas pela forma
como jogou os pratos, e os copos, ele soube que
era melhor afastá-la de sua arma, ou seria um
homem morto.
-Susan quer que peça anulação e case-se
com ela, pois o pai é juiz e o ajudará a roubar
minhas terras. Ouvi quando disse isso a sua
detestável mãe! – acusou veemente.
-Notei que essa jovem é bastante
desinibida. Por um instante, cheguei a pensar que
fosse uma cortesã. – admitiu, ignorando sua
acusação.
-É mesmo? – ela virou-se incapaz de
conter-se – Talvez seja mais interessante que as
jovens ignorantes e mal cuidadas do cabaré!
-Bem, sim, não minto quanto a isso – ele
disse para provocá-la - No entanto, não tomo
cortesãs por amantes. Elas dão muito trabalho e
sempre acreditam ter direito sobre os homens!
-Faça como quiser, apenas esteja avisado,
que se anular o casamento, caso com qualquer
outro antes que tenha a possibilidade de por as
mãos sobre minhas terras! – ameaçou.
-E negará a ele o que nega a mim? –
acusou, irritado profundamente com essa ameaça.
-Talvez não! - ela disse consciente que
estava comprando uma briga para o resto do dia.
-Helena, se não quer que eu veja Susan,
apenas diga. – ele recolheu para si a raiva, e
preferiu suavizar a briga que se seguia
imprescindível.
-Não me importo se a vir! Não me
importo com nada que faça! – disse sem reação,
pois lá no fundo era isso mesmo que desejava que
não a visse nunca mais! – Apenas lembre-se que
Susan é filha de um juiz, e apesar de ser uma...
apesar dos pesares, qualquer atitude impensada, e
pode acabar preso.
-Conheço as leis, não é preciso que me
lembre das consequências de deitar-me com uma
donzela – ele disse sentindo-se ofendido – nunca
seduzi uma moça, ou deflorei uma virgem. Todas
as mulheres que tive sempre foram adultas,
resolvidas e independentes. Por isso, não faça
insinuações!
Ela ergueu o queixo, pensando em
quantas mulheres teriam sido. Muitas, pelo visto.
-Não sou como seu amante, que a
abandonou sozinha e seguiu seu caminho, por
isso, se pensa em fazer comparações, desista!
Ele também tinha mágoas, afinal, fora
privado do privilégio de ser seu primeiro homem,
e não pensava apenas no corpo, mas sim nos
sentimentos.
Helena corou, principalmente, por
precisar puxar pela memória para lembrar sobre o
que ele falava. Referia-se a sua mentira do outro
dia! Esperava que não pudesse ler na sua fronte, a
clara evidencia de que não sabia mentir.
Sua querida mãe, sempre lhe dissera que
era possível ler em seus olhos suas mentiras.
Esperava que ele não fosse tão esperto assim!
-A propósito, quero saber seu nome – ele
exigiu.
-Para que? – um princípio de horror
apossou-se dela, tentando se afastar.
-Se estiver na cidade, quero tomar
satisfações de seu comportamento.
-Oh, meu Deus! - ela exclamou, tentando
não parecer acuada.
Tomando seu comportamento como medo
pelo amante, ele concluiu:
-Não vou matá-lo ou tentar algo físico,
não se preocupe – ele disse a voz carregada de
ironia – apenas quero me certificar que ele nunca
mais se aproxime!
-Não... Não vai acontecer - ela apresou-se
a dizer.
-E como posso ter certeza? – ele insistiu.
-Ele... Ele... Era de outra cidade, estava
de passagem... eu, nem ao menos sei seu nome
completo - ela torceu o pano de prato nas mãos.
A fúria de pensar nesse homem era tanta,
que não percebeu a sempre controlada Helena
corada e insegura. Ela ficava assim quando
mentia, mas ele não percebeu.
-Como pode ter se deitado com um
homem que sequer sabia o nome? – havia
indignação em sua voz.
-Eu... hã...aconteceu – ela não achou bom
prolongar demais aquela mentira.
-É capaz de sentir paixão por um
estranho? - ele acusou um gosto amargo na boca.
-Paixão? – não era uma palavra que
usasse muito. Embora conhecesse seu significado,
não pensava em si mesma como alguém capaz de
paixão!
-E o que mais motivaria uma jovem a se
entregar a um completo estranho? – ele questionou
com a expressão fechada e ela achou melhor calar
a boca e se afastar.
Deixá-lo pensar o que quisesse!
-Preparei logo cedo algo para depois do
almoço – ela apontou uma travessa sobre a mesa,
que ocultara das visitas. – Vou levar um pedaço
para Juanita e os meninos. Sirva-se – ela tinha o
tom mais calmo e ponderado, e ele tomou isso
como à prova do quanto ela amava esse homem
sem nome e sem rosto.
Calava-se para preservar a vida dele!
Sentiu um gosto amargo, mesmo ao
provar a iguaria doce e saborosa. Pensativo, ele
pensou nisso um segundo. Helena desperdiçava
sua mente e seus talentos, enfurnada naquela
fazenda.
Ele se orgulhava de ter se formado, mas
sabia, que fora parte por sorte, e parte por
empenho, era inteligente, mas um pouco
desleixado para os estudos. Helena por sua vez,
era esperteza e naturalmente disciplinada.
Pensando nisso, ele procurou papel e
caneta. Iria escrever uma carta para John e
esperava que essa pudesse alcançá-lo antes de sua
viagem.

Helena conseguiu escapar dele durante o


resto dia, tendo passado algumas horas na
companhia de Juanita e sua família, ajudando a
cuidar do menino, que perecia na cama. Era o
último filho, de dois anos e Helena sentiu
terrivelmente ver o pequeno daquele jeito, visto
que passava muito do seu tempo ocioso olhando o
menino.
Quando regressou a casa, preparou o
jantar e se refugiou no quatro, depois de encher a
tina para seu banho.
O jantar fora silencioso, e apensar de
saber que era observada, não houve brigas ou
conversas. Era ao mesmo tempo um alívio e uma
maldição que ele a deixasse em paz.
Dentro do quarto, Helena tirou o vestido e
ficou com a combinação, esperando a aguar
amornar. Apesar da chuva, o calor não dera
trégua, e a água estava fervente.
Sentindo um súbito aperto em seu
coração, sentou-se na cadeira, em frente à
penteadeira. Ela tinha uma grande espelho, antigo,
porém bonito e conservado, e inadvertidamente,
pôs-se a analisar o que via sentido aquele aperto
intensificar-se.
Susan tinha razão, era feia e sem graça.
Rony esperou que Helena levasse a água
para se banho, para seguir discretamente em
direção ao corredor. Era nesse momento, quando a
casa ficava silenciosa, apenas os dois dividindo
aquele teto, que ele adquiria alguma alegria com
aquele casamento.
Era torpe e feio, mas tornara-se um
homem obcecado por uma mulher.
Logo ele, que nunca perdera tempo
analisando suas amantes, ou prestando atenção
nos trejeitos femininos, agora se via escravo de
sua obsessão de ver e analisar cada pequeno
movimento de Helena.
Aproximando-se da porta, ele sentiu
alívio ao notar que ela não vira a porta soltar o
trinco como acontecia todas as noites. Era uma
porta velha e provavelmente, tão habituada ao
fato, não dava mais atenção.
Assim como sua presença não lhe
causava mais tanto medo, visto que a arma
deixara sua cabeceira e pernoitava em sua gaveta
do criado mudo.
Hoje, ela estava sentada em frente à
penteadeira, observando-se no grande espelho. Ele
engoliu em seco, a respiração suspensa, esperando
para ver e desejando poder entrar em sua mente e
descobrir o que pensava.
Olhar profundo, aquela mulher tinha um
olhar profundo e penetrante e era um mistério total
para ele.
Ela apanhou uma escova de cabelos, e
soltou os fios presos em sua nuca, alisando os
cabelos ondulados com as cerdas macias da
escova.
Usava a roupa de baixo e um dos ombros
estava à mostra, pois a gola ampla escorregava em
seu corpo pequeno. Eram roupas de uma mulher
maior, talvez sua mãe. Esse pensamento o fez
lembrar-se de comprar roupas íntimas e outros
pertences para ela.
Nada que lembra-se os mortos.
De repente, ela parou os movimentos e
fitou o espelho, sussurrando:
-Lã... lã é o que ela tem dentro da cabeça!
Rony sorriu com a descoberta
inacreditável. Sua ácida mulher tinha vaidade.
-Uma tábua – ela voltou a sussurrar
abandonando a escova e olhando para os cabelos
longos e brilhantes – como se todas precisássemos
ser vacas leiteiras – ela disse ferozmente,
deslizando uma das mãos pelo pescoço e descendo
mais.
Ele sentiu o ar faltar a sua volta, quando
ela levantou e tirou a parte de cima, ficando com o
tronco nu.
Não era a primeira vez que a espiava nua,
mas era a primeira vez que a via olhar o próprio
corpo.
Ela ficou olhando para os próprios seios,
e ele quase gemeu quando as mãos pequenas
correram sobre os seios firmes, empinados e
macios. Suas mãos comicharam em agarrá-los e
apertá-los levando-o a boca, para sugá-los com
sofreguidão.
Não eram seios pequenos demais,
pensou. Eram seios perfeitos para suas mãos! Ela
vinha ganhando um pouco de peso e andava mais
corada e com aparência mais saudável, mesmo
assim, a magreza era devastadora e quase podia
ver suas costelas. E por alguma razão, isso o
excitava tanto ou mais do que as carnes mais
opulentas da mais afortunada das mulheres.
Ela pareceu chegar a uma conclusão,
analisando o próprio estômago, e pondo a mão
sobre o umbigo. Era uma barriga lisinha e ele
podia fechar os olhos e sonhar em como seria
apoiar sua cabeça ali, ouvindo o vai e vem de sua
respiração.
Helena sorriu de leve, maneando a cabeça
e afastando-se do espelho.
-Quanto bobagem... – ela disse para o
vazio, andando diretamente para a tina de água.
Rony salivou ao ver a calçola descer e a
deixar nua diante do seu olhar. Aqueles cabelos
cobrindo ombros e costas, aqueles quadris,
aquelas pernas... era uma tentação quase
insuportavelmente forte para lutar contra!
Ela ergueu uma da pernas, para entrar na
tina de madeira, e ele tentou espichar-se e ver
detalhes do recanto que se escondia entre os
cachos castanhos entre suas pernas, mas o
momento foi muito rápido e passou. Para sua
sorte, ela girou para a esquerda por um segundo,
ele pode admirar-lhe as nádegas redondas e
firmes. Uma visão gloriosa!
Ela deixou-se escorregar e ser coberta
pela água, com um gemido de satisfação e esse
som foi diretamente enviado para sua virilha.
Seria mais uma longa noite, revirando na cama
sozinho e cheio de péssimas e luxuriosas idéias!
Talvez ela gemesse desse modo ao ser
possuída.
Esse pensamento quase esfriou seu
desejo, ao pensar nela apaixonada, deitada sob o
corpo de outro homem, se entregando. No
momento em que a raiva o fazia repudiá-la,
Helena inocentemente ergueu uma das pernas para
analisar os pés.
A visão era tão adorável, que não pode
furtar-se a manter-se de pé espiando por mais um
tempo, a mente longe de qualquer pensamento que
não envolvesse seu corpo e o desejo que ele
despertava.
Ele mexeu-se incomodado com a ereção
que apertava suas calças de forma dolorosa.
Dentro do quarto, ela esfregou a esponja
nos pés. Tornozelos e panturrilhas, tirando a
sujeira do dia. A esponja deslizou pelas coxas, e
ela subiu rapidamente as mãos, sentindo um calor
nas entranhas.
Um calor que vinha subindo por seu
corpo, e culminando numa vontade incontrolável
de se tocar, embora ela não soubesse como fazê-
lo. Uma vez, lera em um livro mais ousado de seu
pai, lido as escondidas, que as mulheres, tal como
os homens, poderiam aliviar-se com as mãos. Mas
não tinha ideia do que isso significava.
Talvez por isso, fugisse de lavar sua
intimidade com a esponja. Passou-a pelos seios,
sentindo o formigamento ficar mais intenso, à
medida que a aspereza do material roçava seus
mamilos subitamente rijos. Dobrando o rosto para
o lado, ela fechou os olhos, deliciando-se com
aquela estranha sensação.
Quando abriu-os, viu seu reflexo no
grande espelho da penteadeira, e ficou tensa, pois
não era apenas o único reflexo que via. A porta
levemente aberta escondia um par de olhos azuis,
espreitando.
Fascinada, antes de ficar indignada,
notou que aquele homem a espiava.
Provavelmente não era a primeira vez!
Um terrível rubor tomou conta de sua
face, e nada tinha a ver com a quentura da água,
ao perceber que ele a vira nua. E provavelmente
mais de uma vez!
Oh, Deus! Ela fechou os olhos com força,
lembrando-se que ele a vira tocar em seu próprio
corpo atrás de defeitos.
Assolada pela vergonha e por outro
sentimento que não saberia nomear tão pouco
descrever, pensou se deveria sair daquela tina,
apanhar sua arma, e dar-lhe uma lição. Sim, era o
que deveria fazer!
Contrariando o bom senso, ela não sentiu
raiva. Muito menos vontade de brigar. Sentiu a
quase compulsiva vontade de se exibir e saber se
ele gostava do que via.
Envergonhada consigo mesma, afundou
na banheira, quase submergindo. Molhou os
cabelos, e a cabeça.
Contrariando seu bom senso, ela apanhou
o sabão e passou nos cabelos lentamente. Quantas
e quantas vezes, não teria sido observada antes?
Não queria nem pensar nisso!
Limpando as madeixas, ela tirou o sabão
e esfregou a esponja sobre a pele que ainda
faltava. Sentindo um arrepio na nuca, ela resolveu
sair da água e enfrentar o que estava a sua frente.
A vergonha, o constrangimento, todos
deram lugar a uma sensação desconhecida de
prazer e poder ao erguer-se, deixar a água correr
por sua pele por um segundo e então sair, tocando
com os pés o chão de madeira.
Tinha algo de libertino e amoral em estar
nua e exposta ao próprio marido, sem que ele
soubesse que tinha sido pego espiando atrás da
porta. Era como dar o troco, de uma forma muito
feminina, deixando-o penar em seu próprio plano
de obter prazer.
Ela vestiu a camisola sobre o corpo ainda
molhado, achando que as mãos tremulas jamais
conseguiriam ter coordenação suficiente para
secar-se como deveria sem deixar a toalha cair.
Coberta, recuperou um pouco do bom senso, e
enfurnou-se sob as cobertas rapidamente, virando-
se de lado, na direção do espelho, de costas para
ele.
Congelada no lugar, lembrou-se da arma,
e da precaução que deveria ter ao seu lado.
Engoliu em seco, os olhos abertos, tentando
imaginar se ele entraria ou não.
No completo silêncio, ela ouviu apenas o
bater descompassado do próprio coração.
Não queria que ele entrasse e
reivindicasse seus direitos de marido! Mas
também, não estava fazendo nada para evitar, caso
ele o fizesse!
Desconcertada pela própria atitude
imprudente, e com o acelerado de seu coração, ela
esperou.
Do outro lado da porta, ele não notou que
era igualmente observado pelos olhos castanhos
que espreitavam através do espelho. O espetáculo
havia chegado ao fim, e a realidade crua o pegava
outra vez. Ela estava adormecida, e distante como
sempre. Por mais que aqueles poucos minutos de
intimidade roubada o enchesse de esperança,
ainda assim a solidão a sua volta o obrigava a
encarar a realidade, e deixar aquele corredor, para
se enfiar embaixo daquele chuveiro improvisado
fora da casa!
Precisava de água gelada para aplacar o
desejo latejante e evidente em seu corpo, e
precisava também de um pouco de tempo longe
dela.
Dentro do quarto, ela viu quando Rony
foi embora, e ficou profundamente decepcionada.
Por alguma louca razão, hoje, naquele
momento de inconsequência, o teria deixado
entrar.
Um único segundo de loucura, mas o
teria deixado ficar!
Capítulo 26 - A noite dos sonhos?

No meio da noite, Helena acordou ao ter


o ombro sacudido de leve.
-Helena, acorde! – ele disse baixo,
segurando o lampião acesso em uma das mãos –
Helena, acorde, e pegue sua arma.
Ela ficou em alerta ao ouvir a palavra
arma, e saltou da cama, olhando para ele com
acusação.
-Tem alguém rondando a fazenda – ele
avisou em tom baixo – ouvi passos, vi alguém
dando a volta na casa.
-Algum... Empregado? - ela sussurrou,
sentindo um frio intenso tomar conta de suas
entranhas ao se lembrar que sua família fora
emboscada muito cedo, numa manhã escura.
-Não. Alguém gordo e baixo demais para
ser um dos empregados – ele estendeu a mão,
depois que ela apanhou a arma – Venha, fiquemos
juntos.
Sem saber por que, aceitou sua mão, e o
deixou levá-la, junto de si em direção a cozinha.
Um passo atrás dele, com o grande braço
em volta de sua cintura, ela tinha a respiração
suspensa, assustada e temerosa sobre abrirem a
porta.
Normalmente não era assustada, muito
menos covarde, mas estava sensibilizada e tinha
que admitir que boa parte de seus pesadelos
consistiam em ser apanhada durante a noite por
um assassino forasteiro!
Talvez por isso estivesse sendo tão difícil
diferenciar a realidade dos pesadelos!
-Só use a arma se precisar - ele alertou,
enquanto se aproximava da porta.
Os dois pararam um segundo, ao ouvir
um gemido sofrido e o barulho seco de algo
caindo sobre a área de madeira atrás da casa. Um
peso morto talvez, mas novos gemidos
anunciaram que era alguém muito vivo!
Abrindo a porta, ele deixou Helena atrás
de si, e apontou a sua própria arma para o intruso.
A princípio não viu nada, até olhar para baixo e
ver um grande homem, gordo, velho, e
resmungando, a face muito vermelha e ao mesmo
tempo pálida.
-Minha nossa! Santo Deus! – ele gritou
ao vê-los e ao ver a arma apontada em sua direção
– Não atire! Pelo amor de Deus, não atire!
O grito fez Rony acordar e reconhecer o
homem. Baixando a arma, ele estendeu o lampião
para ver melhor.
-Sr. Ford? - ele perguntou incrédulo – É o
senhor?
-Sim, meu filho, sou Albert Ford! Agora,
por Deus, abaixe essa arma e venha me ajudar!
Soltando um suspiro de alívio e ao
mesmo tempo de irritação, Rony virou-se para
uma pálida Helena, entregando o lampião.
Foi preciso toda sua força jovem para
erguer o homem e carregá-lo para dentro da
cozinha. Colocando-o sobre uma das cadeiras, ele
notou que o velho sangrava em uma das pernas.
-O que aconteceu? – perguntou fitando o
velho homem, com amargura pela forma como os
abordou e pelo susto que lhes dera.
Helena estava pálida como uma
assombração e desgrudou os olhos do velho indo
até ela, segurando seu rosto entre as mãos e
perguntando:
-Você está bem, Helena?
Ela apenas maneou a cabeça,
concordando, mas não se afastou. Tremia, ele a
levou diretamente para uma das cadeiras, antes
que caísse.
-Aqui, beba um gole de água – ele
encheu o copo com água límpida, e ela bebeu
avidamente.
-Não desejava assustá-los – o velho
banqueiro disse apenado pelo estado da jovem, ao
lembrar-se do que se passara com toda sua família
há tão pouco tempo.
-Porque estava rondando a fazenda? –
Rony foi direto ao ponto.
-Não, não estava rondando. Vi as luzes
apagadas e decidi ficar aqui atrás até amanhecer.
Não queria correr o risco de levar uma bala! – ele
explicou sentido à dor na perna, pois esfregou a
coxa com os dedos roliços.
-E porque está ferido? Onde estão seus
homens?
Era sabido que o banqueiro nunca saia
sem seus capangas, seu cargo exercia muito poder
inclusive sobre homens de muita influência e não
eram poucos que o viam como uma pedra no
sapato!
-Precisei sair da cidade, e não pude
esperar a chuva passar. A carruagem atolou na
estrada e meu cavalariço tentou em vão colocá-la
novamente na estrada. Tolo homem foi mordido
por uma serpente e deve estar morto há essa hora
– ele disse com irritação, ao pensar no fato – tive
que vir andando! Cai na estrada e acredito, cortei a
perna em uma pedra – ele lamentou.
Rony olhou para ele com um pouco de
desprezo ao imaginar a cena lastimável desse
homem abandonando seu servo a morte e
acomodando-se em sua varanda esperando
amanhecer!
-Helena, apanhe água e curativos – ele
pediu mansamente, pois ela ainda parecia muito
pálida – Vista algo quente – ele pediu, notando
que a roupa branca estava praticamente
translúcido sob a pouca claridade amarelada que
vinha da chama.
Não desejava aquele homem asqueroso
passando os olhos sobre Helena!
De volta à cozinha, num acordo não
verbal, ela cuidou da ferida, sempre mantendo
muita distância daquele porco que a atirara aos
leões apenas para por as mãos sobre sua terra!
Terminado, ergueu os olhos para Rony,
como que pedisse para acabar logo com aquilo!
Ele tinha que se livrar daquele homem asqueroso!
-Terá que passar a noite aqui Sr.Ford.
Amanhã um de meus empregados irá levá-lo de
volta a cidade para que possa tratar melhor de sua
ferida – ele disse com uma ponta de mentira na
voz, pois estava pouco se lixando se ele morresse
vítima de alguma infecção ou não! – Infelizmente,
ainda não contamos com muito luxo ou conforto,
apenas com o quarto que usamos para banho – ele
disse ao lembrar-se da banheira que poderia
delatar o fato de não dormirem no mesmo quarto.
– Helena, por favor, prepare a cama e um banho,
se for à vontade do Sr.Ford
-Oh, não, não quero mais ver água – ele
disse bufando ao notar o estado das roupas – mas
aceito uma cama quente e algumas toalhas para
me secar!
Com um olhar de acusação explícito, ela
se afastou para arrumar a cama, onde até então
estivera deitada.
A próxima hora correu muito rápida, e
quando o homem finalmente se recolheu, ele
segurou-a pelo ombro, notando que além de
cansada ela estava sobressaltada.
-Precisamos nos recolher - ele avisou
muito baixo, talvez com medo de ser ouvido.
-Pode ir dormir, prefiro ficar aqui - ela
ergueu o queixo em desafio e ele se perguntou
onde mesmo ela deixara sua arma!
-Escute, não acha muita coincidência
esse homem vir parar aqui? Justamente aqui?
-Foi um acidente na estrada – ela alegou
insegura, pois havia pensando o mesmo que ele.
-Sim, houve um acidente, mas não muda
o destino. Ele vinha para cá. Ou por que razão não
seguir para a fazenda do meu pai, que fica mais
próxima? Ele passou direto pelos portões Parker e
seguiu para cá! Mesmo ferido!
-Acha que... Quer espionar? – afastou-se
dele, tentando recobrar o bom senso, e não deixá-
lo pegar por hábito essa mania de falar sempre tão
perto dela!
-Acho que sim. Acho que mais que isso,
quer colher provas que nosso casamento é uma
fraude.
-Mas não é. Estamos casados e
pretendemos continuar assim – ela argumentou
tensa.
-Sim, nós sabemos, mas a mera palavra
desse homem e todos duvidarão! – notando sua
expressão de entendimento, continuou – Somos
um casal jovem, é estranho não dividirmos o
mesmo quarto. Alguns casais mais velhos o
fazem, mas não é nosso caso. Iremos dormir, e
acordar como um casal normal. E ele não verá
nada demais e terá ido embora antes que tenha
tempo de se irritar com sua presença – tentou
sorrir para ludibriá-la – Além disso, já dei muitas
provas de que não pretendo atacá-la!
-Espia meus banhos! - ela cuspiu a frase
com sua sempre assustadora franqueza.
Ele notou, que poderia facilmente corar
pelo flagra. Justo ele, que sempre fora um grande
sem vergonha, incapaz de corar diante de uma
mulher!
-E você deixa! - ele acusou de volta, ao
perceber esse detalhe.
Ter essa verdade esfregada em sua cara, a
tirou do eixo. Furiosa, pensou em virar o lampião
sobre ele, e talvez prevendo o ato, ele o tirou de
sua mão.
-Venha, podemos discutir no quarto se
faz tanta questão!
Era uma clara provocação, mesmo assim
o seguiu.
Entrar em seu quarto, e virar-se ao ver a
porta ser fechada, era quase como profanar um
sarcófago sagrado. Algo proibido e libidinoso, e
mesmo que esse homem fosse seu marido, ainda
assim não concebia a ideia de deixar um homem,
bom ou ruim, ter direitos sobre ela!
De pé, no canto do quarto ela apenas
observou-o se mover, arrumando as cobertas
reviradas de sobre a cama onde estivera se
revirando insone durante toda aquela noite.
Rony olhou para ela, notando seu olhar.
Por alguma estúpida razão, Helena vinha notando
em si um comportamento que antes odiava nele.
Essa mania insistente de sempre estar olhando
para ela, era repetido dela para ele.
Algo irracional e desagradável!
-Deite-se, ainda podemos dormir
algumas horas – ele tentou dar um ar de
naturalidade, embora seu coração estivesse
acelerado, por ter o alvo de seu desejo ali, a um
toque, prestes a entrar na mesma cama que ele.
Precisava lembrar-se na manhã seguinte
de tratar muito bem o Sr.Ford, aquela alma
abençoada em sua mesquinhez que viera a
transformar em realidade sua maior fantasia!
Esperava que ela não pudesse ler em sua
face à expectativa um tanto quanto infantil que o
acometia.
-Durmo no chão – ela sugeriu, mas ele
negou com a cabeça.
-Juanita veria – ele tentou infantilmente
sabendo que era uma desculpa esfarrapara que
nem em um milhão de anos, Helena engoliria.
-Se ousar tocar em mim, eu o mato.
Ele sentiu aquela ameaça ir diretamente
para sua parte mais íntima e pensou em que tipo
de homem poderia ter uma ereção diante de algo
assim.
O tipo alucinado por um mulher pensou,
tal como um cachorrinho, procurando com os
olhos a imagem de sua dona. Ela andou de cabeça
erguida em direção a cama, e com movimentos
simples e comuns, enfiou-se entre as cobertas,
cobrindo todo o corpo.
De lado, virada na direção da parede, não
percebeu o quanto frágil estava presa entre ele e a
parede de concreto. Poderia facilmente lhe tomar a
força o que ela negava.
Visto não ser mais pura, não poderia ser
condenado por exigir e forçar a situação! Qualquer
juiz lhe daria razão!
Mas a ideia de ver mágoa e dor em seu
olhar o impediu de ceder ao impulso, e a única
coisa que fez foi deitar-se ao seu lado e apagar o
lampião.
Helena respirava muito baixo, muito
suave, quase sem som algum e ele sentia o calor
vindo do seu lado, e apesar de senti-la imóvel,
sabia que estava acordada.
Assim como ele, não poderia dormir.
No seu canto, ela continha a respiração a
cada movimento ao seu lado. Era um homem
irrequieto, já percebera isso. Durante o dia, nada o
fazia ficar calmo e sem atividade, e aparentemente
à noite, tinha os mesmos ímpetos.
Sentindo um súbito arrepio ela ordenou-
se que dormisse.
Mas obviamente, seu corpo não atendeu!
Capítulo 27 - Medo

Albert Ford não parecia notar as olheiras


de ambos, muito ocupado em tagarelar sobre a boa
noite que tivera e sobre o divino pão que lhe era
servido.
Longe de sentir-se elogiada, Helena
sentia-se cansada. Não eram nem sete horas, mas
estava exausta. Sem Juanita, preparar todo o café
da manhã e assar tantos pães a deixara acabada,
mas era necessário, visto que os empregados
haviam regressado pela manhã e estavam
famintos pelo alimento que os deixaria de pé pela
manhã toda.
Com alguma ajuda de um abatido
Suarez, ela serviu o café e correu para estar na
cozinha quando Ford acordasse.
-Realmente, estava faminto – ele disse,
pondo as mãos sobre sua enorme barriga de chope
– Faz muitos anos que não saboreava um pão tão
divino! – seus olhos brilhavam, olhando na
direção de Helena que ficou de costas, ocupando a
mente com suas tarefas apenas para não ter que
olhar para aquele porco imundo!
-Mandei um dos meus empregados para
buscar sua carruagem, para podermos fazer o
concerto e enterrar seu cavalariço – ele disse,
bebendo seu café lentamente.
-Obrigado, filho - ele disse com olhos de
rapina, analisando o homem a sua frente e então
lembrando-se da mesma face abatida e de
profundas olheiras que notara em Helena – Diga-
me, é boa a vida de fazendeiro? Ou a cidade
grande ainda está em seu sangue?
-Acho que a cidade grande nunca esteve
no meu sangue – ele disse sendo sincero – É uma
vida difícil, o trabalho é pesado, mas é
reconfortante ver as melhorias que fizemos. O
senhor gostaria de vê-las mais tarde?
-Sim, sim, se conseguir andar, ficarei
encantado em ver toda a fazenda! – ele olhou de
um para o outro, e então sorriu, deduzindo que
aquelas olheiras tinham nome e sobrenome: Lua
de mel! – Mas, diga-me, filho, como foi que vocês
dois se acertaram em tão pouco tempo?
Era uma pergunta a qual ele esperava.
Helena aparentemente também, pois não se
abalou, continuando a lavar a louça, olhando para
ele por sobre a cabeça do velho Ford. Era um
olhar que dizia: Vamos, minta!
-Para ser franco, não nos acertamos. - ele
sorriu, olhando também por sobre o homem, para
ela que estava de pé, com os olhos arregalados –
Houve sim um acordo, entre nossos pais e isso foi
a muitos anos atrás.
-Oh, é mesmo? – ele pareceu deveras
interessado!
-Sim, quando voltasse com meus estudos
completos, Helena e eu nos casaríamos, unindo
nossas fazendas em uma única e bela propriedade
Johnson-Parker.
-Fico surpreso em saber, visto que Helena
tocou essa fazenda praticamente sozinha por tanto
tempo – ele não parecia disposto a soltar o osso, e
insistia em pegá-lo em uma provável mentira.
-Claro, foi uma tristeza, quando meu
cunhado morreu, e papai me escreveu para que
não voltasse ainda, visto que faltava pouco para
concluir meus estudos. O senhor deve saber como
é caro manter um filho em uma faculdade em
Londres.
-Oh, sim, meu filho quase me leva a
falência e ainda me volta sem um diploma! – ele
lamentou a má sorte e Rony sorriu, vendo que
fisgara seu peixe.
-Como dizia, ficou acordado que
esperaríamos, e quando meu pai me escreveu, vim
imediatamente para ocupar meu lugar de noivo, e
posteriormente marido.
-Sim, foi uma tragédia – ele disse
fazendo o sinal da cruz e olhou para ele com olhos
arregalados ao lembrar-se de algo – Diga, houve
alguma das mortes dentro da casa?
-Não. Nenhuma das mortes foi dentro da
casa – Helena disse seca, pois odiava tocar
naquele assunto.
-Menos mal, é um péssimo agouro – o
velho resmungou – Penso nas razões de seu pai ao
negar auxílio à Helena durante todo o tempo antes
do casamento. Foram dois longos meses sozinha
nessa casa, a mercê de todos os riscos!
Para essa questão ele não tinha resposta,
e engolindo sem seco tentou achar uma saída.
-Eu não deixei que me ajudassem! -
Helena falou, surpreendendo-o pelo seu rápido
raciocínio – o Sr.Parker deixou alguns homens
guardando a propriedade a distância. Mas não o
deixei me ajudar, estava muito... inconformada
para aceitar ajuda – ela falava pausadamente,
numa mentira tão clara, para quem a conhecia que
era surpreendente que o homem não percebesse!
-Bem fez seu pai. Não se deve forçar uma
mulher quando ela está nervosa. – ele disse
machista.
Rony viu quando ela revirou os olhos de
impaciência e sorriu.
Esse sorriso não passou despercebido a
Ford, que com olhar experiente, soube exatamente
o que queria dizer!
Helena deu graças quando eles se
afastaram, indo para o pátio atrás de cavalos.
Que passassem o dia na rua, era melhor
que ter que aturar aquele homem dentro de sua
casa! Apressada, correu ao quarto para esconder
qualquer sinal de sua presença e afastou o grande
armário, notando que a joia de sua mãe, que
escondia estava protegida.
Aliviada, arrumou o quarto e então o
quarto principal, fingindo não notar que fora ali
que passara a noite mais desconcertante de sua
vida.
Era algo sobre a qual não queria pensar.
Decidida, arrumou a casa, e partiu para a
casinha de Juanita para ver se precisava de
alguma coisa.
Ocupou parte da manhã em consolá-la e
ajudar a cuidar do pequeno Ruan, que não parecia
capaz de se recuperar. Triste, com a possibilidade
do menino morrer, ela voltou à cozinha para
preparar o almoço. Surpreendeu-se ao ver que
tanto Rony quanto o Sr.Ford conversavam na sala.
Eles conversavam sobre gado e a
plantação, e quando a notaram Rony estendeu a
mão convidando-a para sentar-se com eles.
-Preciso preparar o almoço. Juanita não
pode deixar o filho.
-Ele está piorando? – perguntou notando
em sua face certo abatimento.
-Não, mas também não está melhorando
– disse suspirando – Vou preparar o almoço.
-Tem uma mulher prendada – Ford disse
a ele pensativo – Não pensaria que Helena é tão
dedicada como esposa, vendo-a brigar comigo por
causa das terras! Se soubesse antes... – ele deixou
a frase no ar, e Rony pode perceber sua expressão
mudar ao notar que ele entendera uma sugestão no
ar -... Um homem viúvo há muitos anos poderia
repensar sua chance de ser feliz, filho.
Rony fez uma expressão de incrível nojo
ao imaginar o que teria sido da vida de Helena se
caísse nas mãos asquerosas de um homem como
Albert Ford. Corrupto, ladrão, e quem sabe
estuprador, porque não? Quantas vezes não vira
casos na corte, de jovenzinhas inocentes sendo
jogadas as garras de velhas cortesãs para serem
treinadas na arte da prostituição, apenas por serem
pobres e órfãs?
-Helena é uma mulher de respeito e
continuará sendo – ele alertou em tom baixo, ao
notar o olhar sonhador do homem.
-É claro que sim, filho, um homem da
minha idade não espera competir com um
rapagão! – ele riu de um humor só dele – mesmo
assim, um velho homem solitário pode sonhar,
não é?
-Não com a minha mulher – ele alertou e
ambos se calaram com a súbita chegada de Helena
trazendo um café.
Ela agradava o homem com o mesmo
desprendimento de quem cuida de uma cobra,
apenas para usá-la para picar seu pior inimigo.
Queria o velho homem forte e saudável, apenas
para colocá-lo porta a fora!
Não passou despercebida a Helena o
clima tenso, e esperava sinceramente que Ronald
não resolvesse brigar com Ford depois de
recomendar tanto zelo e cuidado com o hóspede!
Voltando a cozinha, ela saiu da casa
dedicando atenção a horta, onde com ajuda de
dois dos filhos de Juanita, trouxe para casa tudo
que precisava para o grande almoço dos
empregados. Duran, o mais velho, tinha uns treze
anos, e Helena pediu que ajudasse com os ovos,
apanhando-os na granja. O garoto, muito feliz em
ajudar, tagarelou sem parar sobre como queria ser
um grande fazendeiro como o patrão ou então, um
grande homem da terra como seu padrasto.
Num impulso, Helena virou para ele e
disse:
-Aprenda a cuidar da terra, Duran, mas
quando tiver idade, daremos um jeito para que vá
estudar!
-Mesmo? – ele parou surpreso, era um
menino de pele queimada, e Helena suspeitava
que algum escravo pudesse ser seu pai biológico,
e não um cliente do bordel onde Juanita trabalhou.
Tinha grandes olhos verdes e feições bonitas, e
seria sem dúvidas um homem muito bonito
quando crescesse.
-Sim, se pudermos, ajudaremos seus pais
nisso. Agora, peça a Suarez para me trazer leite,
sim?
-Pode deixar! - ele saiu correndo, como
uma lebre com os irmãos atrás dele, sorridente
como um menino que ainda não sabe a sorte que
tem!
Ela estava quase terminando de cortar os
legumes, para colocá-los numa panela, num
grande sopão com pão caseiro e ovos, quando
Duran voltou arfante, com uma novidade:
-O que foi? – ela perguntou sorrindo.
-Tem uma mulher procurando pelo
patrão! - ele disse contente em ajudar.
-Uma mulher? – franziu o cenho, só de
pensar que seria Susan e sua mãe novamente –
Rony está na sala com sua visita. Avise-o.
Por nada no mundo perderia seu tempo
anunciando aquelas duas!
Ela ouviu vozes e esperou quase se
esquecendo do incidente, quando Rony voltou com
certo pavor na face.
-Pelo amor de Deus, Helena! - ele disse
alarmado e ela largou o que fazia.
-O que aconteceu? – ela largou as fatias
de pão que cortava e encarou-o.
-A Sra.Barth está aqui! – ele disse como
se fizesse sentindo.
-Qual o problema? – ficou aliviada, quase
sorrindo – A Sra.Barth é parteira e está sempre
indo de uma fazenda a outra. Muitas vezes, parou
por aqui para beber um pouco de água e descansar
as pernas. É uma mulher de saúde frágil. Não
deve se incomodar com sua presença.
-Será que não vê? - ele ficou surpreso
com sua naturalidade – Uma parteira pode fazer
exames, Helena, que nos deixariam em maus
lençóis!
-Ora, pare com isso – ela disse com
desdém – Sra.Barth é uma boa mulher.
Surpreso por vê-la crer tão cegamente em
alguém, ele quase se acalmou.
-Foi ela quem me trouxe ao mundo –
Helena comentou e ele ficou quase cego pelo seu
pouco caso.
-E isso faz dela uma santa? – ele jogou na
cara dela.
-O que você acha que a trouxe aqui? –
perguntou irritada.
-O velho Ford aparece aqui, agora a
parteira da cidade, muita coincidência não é?
-Não, não há coincidência nenhuma. A
Sra.Barth sempre está por aqui. Você não sabe,
não é daqui – era uma acusação, e ele respondeu a
altura.
-Pois lhe digo, eles estão de combinação.
Não sou cego, Helena. Está na cara deles!
-Se é como diz, o que faz aqui lhes dando
tempo para tramar as nossas costas?
Suas ásperas palavras o excitaram.
Qualquer Padre diria que estava
possuído! Excitar-se com rudeza e acusações,
quando poderia ter o amor e dedicação de uma
boa mulher? Qualquer uma, mesmo a oferecida
Susan.
Voltando para a sala, ele enfrentou a
longa e desgastante conversa que se seguiu.
Assuntos tolos que em nada o agradavam, pois
não o enganavam. Não havia nenhuma mulher
para parir na fazenda de seu pai, e tampouco
acreditava que uma senhora tão velha pudesse ter
vindo de cavalo desde a cidade, até ali. É claro
que alguém a trouxera em uma carroça!
Ou carruagem. Era isso em que pensava
durante todo o tempo que esforçou-se a ser
educado.
Helena não conseguia deixar de pensar
em como ele era tolo, quando Duran apareceu na
porta dos fundos e ela o mandou entrar. O menino
não quis, pois tinha os pés descalços cheios de
barro, pois ajudava na plantação.
Ele tinha prazer com a terra e ela sorriu
ouvindo o que dizia. Então, mandou-o para casa
olhar por sua mãe e seu irmão adoentado, e
pensou no que acabara de ouvir.
Temendo ter que dar razão a Rony,
chamou-o na cozinha com descrição, e ele olhou-a
em expectativa.
-Suarez voltou – ela avisou, sem olhar em
seus olhos e quando o fez decidiu que deveria
começar a evitar contato visual com aquele
homem! Como sempre, ele queria falar baixo,
pausado, e quase em seu ouvido! – Não encontrou
a carruagem, muito menos o cavalariço ou seu
corpo sem vida. Não havia nada na estrada. Mas
haviam marcas de rodas de carruagem seguindo
nessa direção, e elas acabaram pouco antes dos
limites da fazenda, seguindo em recuo.
-Um estratagema sem dúvidas. – ele
chegou à conclusão óbvia - Mandou o cavalariço
embora de propósito, só não esperava machucar-
se.
-Acha que o cavalariço trouxe-a hoje, a
seu mando?
Como sempre, surpreendia-se com sua
capacidade de completar os raciocínios lógicos.
-Que outra explicação teria para tanta
coincidência? – soltando o ar que estava preso em
seus pulmões, ele sugeriu – Termine o jantar e
sorria. Vamos empanturrar esse porco e rezar para
que ele tenha uma indigestão!
Ela conteve um sorriso, e precisou de
toda sua força de vontade para não rir. Ele sorriu
ao notar que ela fazia força para não rir, e tocou
sua face, pronto para implorar que risse para ele.
Ou de algo que disse, ou dele que fosse, mas que
risse, para que soubesse como era seu riso.
Conhecia seus sorrisos, mas queria ouvir o riso.
Ela olhou para ele, e o humor sumiu de
ambas as faces e ela entreabriu os lábios, surpresa
pela proximidade que permitira, e antes que os
dois pudessem se decidir, pela proximidade, ou
afastamento, os passos pesados os alertaram que
tinham companhia.
Mesmo assim ele não se afastou. Não
queria tirar as mãos de sua pele macia. Muito
menos fugir do mel que tinha seu olhar.
-Muito bom o cheiro da comida...
Eles ouviram a voz pastosa de Ford e se
separaram, a tempo de vê-lo parar de falar e os
dois intrusos olharem para ambos com expressões
muito parecidas.
-O jantar está quase pronto! – ela
anunciou, afastando-se corada e arfante, mesmo
sem haver razão para tanto.
Ford olhou para a Sra.Barth e então riu:
-Filha, me de um pedaço de pão ou
mordo o pé de sua mesa. A fome e o vinho, ainda
acabarão comigo!
Era uma brincadeira, mas ela o serviu a
contragosto, tratando a Sra.Barth com certa frieza
agora que tinha suspeitas parecias com as de
Rony.
Rony. Quando ele deixara de ser Parker,
para ser Ronald, e então, Rony, ela não sabia. Era
uma das coisas que não conseguia controlar,
assim como a satisfação que tomava conta dela ao
cuidar de outros interesses que não fossem apenas
a plantação e o gado.
Estava contente demais com seu dia a
dia, e estava começando a ficar preocupada com
essa súbita mudança!
O jantar foi rápido, com Ford devorando
praticamente tudo que havia sobre a mesa. Helena,
que não era dada a comer, agradeceu quando
Rony salvou um pouco do guisado colocando-o
em seu prato, usando seus longos braços para
alcançá-lo antes que Ford o fizesse, caso contrário,
dormiriam sem jantar!
A viúva Barth conversava sem parar e em
dado momento o assunto ficou picante demais,
pois ela descrevia um incidente com um senhor
bastante velho e sua jovenzinha esposa, algo que
lhe rendera um enfarto na noite de núpcias.
-Nada que não fosse merecido – Helena
sussurrou entre dentes, e Rony disfarçou seu
comentário áspero com um pigarrear dando o
jantar como encerrado.
Helena praticamente gemeu e alívio
quando a cobra disfarçada em banqueiro anunciou
que iria deitar e tão logo, a parteira o segurou
sendo levada para o quarto que ela e Rony
deixaram limpo há dois dias. Foi um alívio que
não quisessem se banhar, pois definitivamente,
não estava disposta a carregar baldes de água por
causa daqueles dois!
E se Ford conseguia passar tanto tempo
sem banho, azar o dele! Ela fazia questão de
banhar-se todas as noites!
Foi um momento tenso. Ela esquentou
água, sentindo os olhos dele sobre ela. Descobrir
que era observada em seus banhos não era pior do
que admitir que sabia ser observada!
-Coloque um móvel contra a porta - ele
disse baixo – Ford pode sair do quarto e xeretar.
Ela não respondeu nada, engolindo a
resposta ácida, pois sua garganta estava apertada
de agonia. Então, essa noite, ele não a espiaria!
Não era melhor assim?
Observou-o sair para a rua, e ouviu o som
da água, daquele estranho modo de se banhar que
ele inventara, e pensou em achar uma desculpa
para espiá-lo também. Tão rápido quanto surgiu,
ela afastou esse pensamento!
Imagine!
Estava ficando louca!
Horrorizada, tratou de trancar-se no
quarto, como ele dissera e se banhar. A pele
estava febril e Helena achou melhor não demorar
na água quente. Era como se estivesse com febre!
Havia vestido a camisola, e um casaco
sobre ela, e terminava de se arrumar quando ele
bateu a porta suavemente.
Ela engoliu em seco, fechando os olhos,
pensando na longa noite insone que tinha pela
frente.
Afastando a mesa que colocara contra a
porta, para impedir qualquer entrada indesejada,
ou mesmo que fosse espiada por olhos que não
fossem de um azul profundo, ela esperou que ele
entrasse.
Rony fechou a porta e recolocou a mesa
no lugar, prendendo a porta, e aproximando-se da
cama, onde sentou-se tirando os sapatos.
Não trocaram muitas palavras, mas ela
ficou de pé, estática, na parca luz do lampião
observando-o despir-se.
Ele tirou a camisa e virou-se para ela
sorrindo.
Foi só então que notou que olhava para
ele descaradamente!
Capítulo 28 - O Capítulo

-Deite-se, Helena, foi um longo dia. – Ele


disse baixo, sem querer prolongar-se em brigas ou
palavras ásperas. Não quando poderia ter seu
corpo perfumado e ainda quente do calor do
banho, perto do seu.
Mesmo sem tocá-la, era deliciosa a
sensação de proximidade.
Tanto, que descontraído, deitou-se sobre
as cobertas, apenas com a parte de baixo, os
braços atrás da cabeça, e sorriu, sem resistir a
uma provocaçãozinha à toa:
-Está quente, não é?
Ela lhe lançou um olhar mortal e colocou
o lampião sobre a mesinha, perto da porta,
diminuindo a luz enquanto dobrava algumas
roupas e colocava em uma gaveta. Procurava
postergar o momento de deitar-se, mas cansada,
não poderia ficar de pé eternamente, ainda mais
com os olhos dele correndo sobre seu corpo.
Apagando a chama ela tateou no escuro
até encontrar a cama e subir nela. O ingrato sabia
o quanto seria difícil achar seu lado sem usar o
lado dele! E talvez fosse esse seu plano,
desconcertá-la até a loucura!
Irritada, engatinhou no colchão, até achar
o travesseiro. Ajeitando-se embaixo do fino lençol
e precisou puxá-lo, pois ele estava sobre ele.
Usando de mais força, liberou uma parte para si e
ouviu seu riso na escuridão.
Sob a proteção do véu da escuridão a sua
volta, ela se permitiu sorrir.
-O que faremos com esses dois?
Ele falou baixinho para o vazio, e ela se
perguntou se falava com ela, era estranho e novo
conversar na escuridão, sobre uma cama, com um
homem.
-Tratá-los bem e depois mandá-los
embora?
Ele riu na escuridão, e ela quase o
acompanhou, pois não dissera esperando ser
engraçada, mas era bom saber que ele achava
graça do que os outros achavam ser grosseria.
-Sim, mas deve estar preparada para algo
constrangedor – Ele disse, esperando não
sobressaltá-la.
-Do que está falando?
A voz feminina no vazio do quarto o
deixava em alerta sobre o quanto era homem, e
sobre o quanto a desejava.
-A parteira pode fazer exames que
ultrajariam uma senhora casada. Não haverá
desculpa para negar-se a comprovar a consumação
do casamento.
-Como assim? – Havia uma nota de
horror em sua voz e ele explicou calmamente, sem
compreender o porquê disso.
-Advoguei na capital, e participei de
vários casos de disputa de terras. Normalmente,
quando é um casamento falso, os noivos recusam
o exame de um médico, pois marido algum é
obrigado pela lei a expor a esposa ao olhar e toque
de outro homem, mas muitas vezes, banqueiros e
juízes se valem de artifícios, como o uso de
parteiras, para confirmar as fraudes. Se amanhã
Ford tocar nesse assunto, tente não ficar irritada,
ou mostrar grosseria. Será um momento
constrangedor, mas, depois ficaremos em paz. –
Havia decepção em sua voz, e ela notou.
-Em paz...?
-Sim, depois que ela confirmar que foi
deflorada, eles irão embora, e não haverá mais
razão para nos perturbarem!
Mesmo convicto havia desânimo em sua
voz, visto que ela pertencera a outro. Tomando seu
súbito silêncio mortal como confirmação, ele ficou
a pensar no infortúnio de desejar uma mulher que
tinha paixão por um estranho, mas era incapaz de
olhar para o próprio marido!
-Ford pode... – Sua voz soou no escuro,
quase o assustando -... Ficar com a fazenda caso
eu... Oh.
Não era uma pergunta e ele se perguntou
por que estaria pensando nisso.
-Espero que não tenha a boa ideia de
encher-se de pudores e não permitir a
confirmação! – Ele reclamou, ficando irritado com
tantos melindres.
Helena moveu-se na cama, e ele esperou
que se virasse e dormisse, mas ela moveu-se
demais, e quando ouviu seus passos no chão,
estreitou os olhos, até ver a chama do lampião
sendo acessa e sua palidez surgir de pé, no meio
do quarto, olhando para ele.
-Não deve sair do quarto, eles vão
estranhar – Ele reclamou, mas ela não disse nada,
engolindo em evidente dificuldade.
As palavras estavam travadas em sua
garganta, tamanho o nó que havia se instalado ali
desde que ouvira suas palavras. Medo, sim, medo
de perder a fazenda a qual vivera toda sua vida, e
era seu único porto seguro, e um medo ainda pior,
de perder a vida que tinha agora, e que por mais
que jurasse odiar, ainda assim, era a vida que
pedira a Deus todas as noites nos dias de
infortúnio e tristeza!
-O que foi? Está passando mal? – Ele
sentou-se na cama, e quando ela ergueu o olhar
em sua direção assustou-o pela gama de
sentimentos que havia ali.
-Menti.
A palavra ecoou no ar se perdendo na
noite e na luz fraca que os envolvia. Se fosse outra
mulher, pediria ao menos uma dica sobre a que se
referia, mas vindo de Helena, a quem prestava
atenção até nos mais insignificantes movimentos,
ele soube incisivamente, e foi como se tirasse um
peso de seus ombros.
-Volte para a cama Helena!
-Não! – Ela disse seca – Menti sobre...
-Sei sobre o que mentiu – Ele disse seco,
mas por dentro dando cambalhotas de felicidade –
Apenas se deite e durma, veremos amanhã o que
acontece.
Sádico, jogava toda a responsabilidade e
culpa sobre ela. Surpresa, Helena o fitou pensando
se ele não sugeriria nada mesmo.
-Não posso perder a fazenda! – Ela disse
com uma ponta de desespero na voz.
-Gastei tudo que tinha aqui, e terei que
recomeçar do zero. Assim como você. – Cínico,
ele pensou. Era um calhorda!
Não queria depois ser acusado por ter
sugerido algo que a contrariasse.
-Porque mentiu, Helena? – Teve que
perguntar.
-Porque não me deixava em paz – Ela
respondeu com a franqueza de sempre.
-E achou que isso me afastaria? – Era
bem típico dela, pensou - Não fique tão
preocupada, podemos morar um tempo na casa
dos meus pais. Depois, consigo meu trabalho de
volta e terá que se acostumar a morar na cidade
grande. Não será o fim do mundo.
Ela arregalou os olhos a mera sugestão de
ir a Londres, ou talvez, fosse apenas surpresa por
ele insinuar que não ficaria sozinha no mundo.
Olhando-o desconfiada, ela falou com voz séria e
seca:
-É possível consumar o casamento
rapidamente?
Nossa! Quanto romantismo, ele pensou,
amargando aquela verdade, mas por outro lado,
controlando-se para não gritar e pular como um
garotinho que ganhara um brinquedo desejado de
Natal!
-Sim, é preciso apenas um momento –
Ele engoliu em seco, sem conseguir conter o
desejo avassalador que o percorreu ao olhar para
ela, e sua expressão pensativa.
-Uma vez, me prometa, será apenas uma
vez!
Havia fúria e ordem em sua voz, e era
uma pena que não soubesse, mas em troca de
amá-la, seria capaz de oferecer a própria alma em
sacrifício! Tudo que desejasse!
-Tem minha palavra! – Disse no mesmo
tom sério, e esperava conseguir ocultar a
empolgação.
-O que espera que eu faça?
Era uma pergunta e tanto, ele pensou; a
resposta saltando aos seus lábios, mas a contendo.
Esperava que despisse a roupa e ficasse de quatro
para ele. Ou então, deitada com as pernas abertas,
ou quem sabe ainda, de joelhos o levanto em seus
lábios? Tinha muitas respostas para sua pergunta!
-Deite-se, é apenas o que precisa fazer -
Ele disse docemente, saindo da cama e lhe dando
espaço para deitar em seu lado da cama.
Helena deitou-se e se cobriu,
escorregando para o meio da cama, muito perto da
parede, e ele deixou, pois não desejava brigar logo
agora!
Ele colocou o lampião ao lado da cama
sobre um móvel e notou seu olhar e sorriu para
acalmá-la:
-Não se importe com a luz – Pediu.
Ela conteve a vontade de responder que
preferia mil vezes ver o que estava acontecendo a
ficar no escuro a sua mercê!
–Onde colocou sua arma? - Ele
perguntou tentando aparentar desinteresse, não
desejando acabar com um tiro na cabeça ao menor
toque!
-No armário – Ela disse, apontando o
guarda roupas e ele sorriu aliviado.
-O que vai fazer? – Perguntou quando ele
tencionou baixar a calça justa do pijama.
-É preciso que eu tire isso – Ele explicou
e ela afastou o olhar, enquanto a roupa descia para
o chão.
Estava nu, no mesmo quarto que Helena
e nunca se sentira tão distante dela. Mais isso
mudaria, pensou, no momento que a tivesse, isso
mudaria!
Com o corpo em brasa deitou-se e tocou
seus cabelos, mas ela se afastou.
-Preciso estar sobre você – Ele avisou,
começando, bem de pouco, a se irritar.
Era um sentimento que nunca antes
trouxera para a cama quando junto de uma
mulher!
Ela apenas concordou com um aceno e
ele subiu sobre seu corpo, sentindo-se um gigante.
E não foi apenas isso que sentiu. Sentiu um aperto
no estômago ao constatar que Helena não estava
abalada.
Tirando certo asco em sua face, não havia
sinal de abalo.
Como poderia ter nojo dele?
-Helena, olhe para mim – Pediu e ela
olhou em seus olhos, evitando baixar os olhos e
ver seu corpo – Sabe quem sou, e não me
confunda com o homem que cometeu tantos atos
desprezíveis contra sua família – Alertou e notou
sua expressão mudar, talvez um pouco mais
suave.
Incentivado, desceu as mãos para seus
quadris arredondados, sentindo seu corpo
enrijecer, cada músculo tenso, e tocou a barra da
camisola, tencionando subir o tecido e tirá-lo de
seu corpo.
-Não é necessário! – Ela disse com voz
controlada.
-É claro que é necessário! – Ele reclamou.
-Não, não é! Apenas faça o que tem que
fazer! – Ela elevou um pouco a voz e a fúria em
seus olhos cor de mel, fez eco à fúria que surgiu
no olhar dele.
Mesmo naquele momento, ela o rejeitava.
Então era isso, seria do jeito mais difícil,
o único jeito que ela conhecia na vida! Se quisesse
sofrer, azar o dela!
Decidido, sungou o tecido sem muito
cuidado até a altura das coxas, separou sua coxas
e se colocou entre elas, segurando sua cintura,
quando tentou se afastar.
Foi quando lhe segurou a cintura que
notou o quanto pequena era. Minúscula, perto
dele. Helena tinha ossos muito frágeis, e mesmo
seu peso poderia machucá-la, não era apenas
magreza excessiva, era seu físico delicado e suave.
Ele, uma pedra gigantesca a esmigalhar
uma delicada flor. Esse pensamento o fez sentir-se
um lixo.
Olhou para sua face e sua decisão
estremada em não querê-lo. Era uma menina que
não sabia nada da vida. Tinha dezessete anos, e
muitas marcas em seu frágil coração, e seria essa
noite, talvez, uma das mais dolorosas lembranças,
caso ele agisse como ela, ditado pela raiva.
-Não posso fazer desse modo – Ele
alertou, se afastando um pouco, e fazendo-a
lançar-lhe um olhar desconfiado.
-Juanita achou mesmo que não conseguia
quando não demorou no cabaré – Ela alfinetou.
-Juanita que cuide de sua própria vida! –
Ele quase gritou ofendido. – Não posso machucá-
la desse modo. É a primeira vez, e vai sofrer além
do necessário!
-Não me importo! – Ela disse brava.
-Mas eu me importo! Como posso deixar
machucada por dias a mulher com quem vou
passar o resto da minha vida, apenas por ela ser
teimosa demais para aceitar as coisas como elas
são?!
Um pouco surpresa, por sua explosão, ela
não disse nada.
-Helena, alguns poucos beijos e estará
preparada. – Ele barganhou.
-Não quero! – Ela disse sincera.
Não era fácil também para ela, e se fosse
outra mulher, estaria aos prantos. Mas não
Helena. Ela não chorava, apenas o feria com sua
indiferença e rejeição!
-Prefere a dor e o desconforto? – Insistiu,
notando que ela engolia em seco, em dúvida.
Sem notar, ela dobrou uma das pernas, e
vê-la a sua disposição, tão sensual, e ao mesmo
tempo tão sensível, era uma dádiva e ao mesmo
tempo uma maldição.
-Olhe para mim, Helena – Pediu baixo e
rouco – Olhe para o meu corpo.
Era um pedido, mas soou como uma
ordem, e ela se negou.
-Não é preciso, é um homem, já sei disso!
-Meu Deus, como é difícil mulher! - Ele
indignou-se, frustrado. – Tem ideia do quanto
mais fácil seria tomá-la de uma vez e saciar a
vontade que sinto desde que nos casamos? Porque
acha que estou tentando te convencer? Vai ficar
machucada!
-Eu já disse que não me importo! – Ela
insistiu, tencionando se levantar, mas ele a
segurou presa na cama.
-É mesmo? Tem certeza? – Havia algo
possessivo em seu olhar e ela respondeu o rosto
tão perto do seu.
-Tenho!
Ele estava sobre ela novamente,
segurando seus braços com força e os rostos muito
próximos, muito enraivecidos.
-Vai ser como você quer!
Era um último aviso, e ele afastou suas
pernas, usando o quadril, e posicionou-se. O
tecido da camisola estava incomodando, meio
preso entre suas pernas, e quase o impedindo de
achar o caminho, mas ele achou.
Ela queria dor e desconforto, pois bem,
era o que lhe daria!
Sentindo-se um estuprador, ele parou um
segundo, olhando em seu olhar assustado.
Sem esperar que voltasse atrás, guiou
uma das mãos para seu sexo, e apontou-o na
direção decidido a cometer a maior maldade que
um homem pode cometer contra uma mulher: ferir
sua sexualidade.
Erguendo o olhar para ela, soube que não
adiantava falar. Com Helena não adiantava falar!
Aproveitando que os rostos estavam tão
próximos, beijou-a, cobriu seus lábios com desejo,
mas ela virou a cabeça para o lado impedindo-o.
Segurando-a, ele tentou mais algumas vezes,
esquecendo a penetração que ainda não
acontecera, para tentar beijá-la.
Enquanto se afastava e se debatia, ele
acabou rindo. Seu riso a fez parar e encará-lo
como se fosse um louco.
-Tornou-me um velho ranzinza perto de
enfartar no enlace das núpcias – Ele disse baixo,
referindo-se ao excessivo esforço que o tal homem
das histórias da Sra.Barth fizera!
Ela relaxou sob o peso da brincadeira e
corou, e ele aproveitou para acariciar sua face.
-Não me torne um desses homens,
Helena – Pediu baixo, numa nova tentativa de
beijá-la.
-Não quero um beijo seu – Ela avisou –
Não quero que me beije daquele jeito! – Referiu-se
aos beijos roubados das últimas vezes.
-Ah, mas eu já te beijei de outra forma -
Ele disse deliciando-se com sua surpresa –
Enquanto dormia nos meus braços, eu encostei
meus lábios nos seus, e sequer sentiu. Foi assim –
Ele disse, escorregando os lábios sobre sua
bochecha. – Posso mostrar como foi?
-Não... – Sua voz soou mais fraca, mais
insegura e ele tentou de novo.
Não foi mais que um selinho. Um roçar
de lábios. Mas quando se afastou ela estava
desconcertada.
-Mais um Helena – Ele pediu – Apenas
para que esteja preparada para mim...
Sim, confundi-la funcionava melhor do
que enfrentá-la.
-Seu corpo ficará mais quente, sua
intimidade úmida, e então, poderei entrar sem feri-
la – Ele explicou enquanto beijava sua face, sua
testa, a extensão do nariz, das bochechas. Molhou
seu queixo e deslizou para seus lábios, que
entreabertos de surpresa o receberam suaves e
inocentes. – Não me morda... – Avisou.
Aliviado, ele beijou-a com carinho e
ternura, para não assustá-la com o tamanho da
paixão que o assolava e esse carinho mexeu com
ela.
Sim, Helena não pode negar ou dizer não,
apenas o deixou beijá-la, era diferente das duas
outras vezes. Ele era gentil e doce, e ela deixava o
que lhe permitia sentir, e absorver tudo daquele
momento.
O quão quente era o interior de sua boca,
o quão macio e escorregadio era o contato com sua
língua, o quanto eletrizante eram as duas línguas
se tocando e se testando. Ele provocava, recuando
e acariciando seus dentes e o céu da boca e
quando aprofundava novamente, duelando com
sua língua, não apenas tirava seu fôlego, como sua
paz.
O corpo másculo estava sobre o seu, e
além de absurdamente pesado, era tentador. Os
quadris estreitos entre suas pernas, sua
masculinidade empurrando contra o tecido de sua
camisola, o corpo serpenteando sobre o seu, as
mãos graúdas em sua cintura, e agora, subindo até
encontrar seus braços e a guiar para um abraço.
Ela até colaborou enlaçando seu pescoço, os dedos
agarrando os cabelos ruivos e amassando os fios
sedosos, numa carícia não percebida.
Ele pressionou o sexo contra sua pélvis e
saboreou o estremecimento que a perpassou.
Helena não lhe era indiferente, e essa certeza o
encheu de autoconfiança. O beijo acabou quando
ambos precisaram de ar, mas ele não deixou que
ela tivesse tempo para pensar. Prosseguiu,
beijando seu pescoço e descendo em direção ao
colo, enquanto suas mãos buscavam a barra da
camisola e a erguiam de uma vez só.
O tecido subiu, e espalhou os cabelos
castanhos por todo o travesseiro e ele admirou o
efeito, notando que era observado. Arfante, ela
esperava por mais. Por mais que negasse, ela
esperava por mais, e ele estava ansioso por lhe dar
mais e mais!
Aspirando o perfume daqueles cabelos
ele deslizou a língua por seu pescoço, molhando a
pele e arrancando gemidos involuntários. Esse
som foi direto para seu sexo, que relegado em
segundo plano, exigiu atenção. E Helena lhe deu
atenção, mesmo que involuntariamente, ao se
mexer e sem querer, roçar a barriga em seu
comprimento.
Ela ficou tensa e ele sussurrou:
-É assim mesmo.
Olhos nos olhos, ele achou que ela tinha
perguntas, mas não as faria.
-Você é linda! - Ele olhou seu corpo,
admirando agora de perto, o que sempre via na
semi-escuridão de um lampião. – Ainda mais
linda de pertinho...
Pensou ter visto um sorriso em sua face,
mas esqueceu-se de tudo quando ela tentou se
ajustar embaixo do seu peso, e isso provocou um
profundo gemido nele.
Ela se assustou e ele segurou sua face,
notando suas narinas dilatadas, a respiração
difícil, os lábios separados. Ela estava assustada,
ou excitada. Ou quem sabe, os dois?
-Faça de novo! – Pediu, e viu seus olhos
se arregalarem, antes de seu pequeno quadril se
mexer sob ele.
-Oh! Você é deliciosa! – Ele gemeu antes
de reivindicar sua boca em um profundo beijo
molhado.
Helena não pensou em afastá-lo, embora
sua mente a mandasse fazer exatamente isso, e em
dado momento, sua mente se desligou até que
sentiu aquelas mãos enormes em seus seios.
Soltou-se de seu beijo incrédula, e ele desceu a
cabeça diretamente para seu peito, abocanhando
um mamilo, que sugou com força e avidez,
causando nela um choque de prazer.
As mãos apertavam e erguiam ambos os
seios, enquanto ele deixava de sugá-lo para
lamber o mamilo do outro seio, passando a língua,
mordiscando e então, sugando ávido do mesmo
modo que fez com o outro. Nada satisfeito, ele
voltou para o outro, e tomou-o na boca mais um
pouco, passando o braço por suas costas, quando
ela arqueou as costas em sua direção oferecendo o
quadril para seu corpo aprofundar o carinho.
Em sua inocência, ela não compreendeu
sua intenção ao descer a língua por seu umbigo,
enquanto suas mãos separaram suas pernas, largo
o bastante para o que pretendia.
Ela ficou tensa e tentou afastá-lo quando
notou sua atenção demasiada, num misto de
vergonha e medo. Queria ter sua arma, para
impedi-lo de prosseguir! Mas não tinha!
E suas mãos, que antes sabiam bater e
empurrar, agora sabiam apenas correr pelas costas
largas e impressionantes, segurando-se como a
uma tábua de salvação!
-Não faça isso! – Ela pediu baixinho, o
rosto contorcido em medo e vontade, e ele desistiu
voltando a beijá-la, apenas por não querer magoá-
la, muito menos retroceder ao pequeno avanço que
fizera com sua adorada esposa.
Sua mão seguiu pelo caminho que fizera
com a boca, e tocou-a entre as pernas, lançando
um olhar para baixo, para finalmente ver com
clareza o recanto que vinha tirando seu sono!
Com as mãos, sondou-a, notando o
quanto estava úmida e pronta. Era um vale
escorregadio e rosado, pouco oculto pelos poucos
pelos castanhos, sua inocência protegida pelos
lábios carnudos e deliciosos que cobriam sua
entrada. Era perfeita, e ele desejou se afundar
dentro dela sem pensar nas consequências!
Helena sentiu vergonha, mas também,
sentia orgulho, pela forma como era observada.
Desejo, paixão, não sabia o que era isso, até estar
deitada sob aquele homem!
Reivindicando o que era seu, posicionou-
se entre suas pernas, e ela desejou se cobrir,
levando uma das mãos para tapar a visão, mas ele
afastou-a, pondo sobre seu peito.
Helena assistiu a própria mão correr
sobre aquele peito largo e sem notar juntou a
outra, acariciando e sentindo os contornos tensos e
rijos. Seus olhos desceram pelos ombros largos, e
desceram pelos músculos peitorais, pelos bíceps, e
tríceps, pelos mamilos masculinos, aos quais
correu os dedos sobre, ouvindo seu gemido
agoniado, e então pelo umbigo côncavo e fundo,
que levava a uma penugem muito leve,
avermelhada, que seguia em direção a sua virilha,
onde ela arregalou os olhos vendo pela primeira
vez algo da anatomia masculina e entendendo
porque temia feri-la.
Era enorme! Um homem terrivelmente
grande! Os quadris eram estreitos e as nádegas
rijas e perfeitamente masculinas, assim como as
coxas cobertas de pelos avermelhados, mas seu
sexo, era de longe o mais impressionante. Longo,
grosso e ereto, apontava para sua barriga, como
um monumento ao poder feminino.
Sua mão quase o tocou, mas ela retesou-a
a tempo, olhando para ele com olhos brilhantes.
Ele soube que era agora ou nunca, pois se
lhe desse tempo para pensar, ela pararia!
Dobrando o corpo sobre o dela, guiou-se
a sua entrada, forçando de leve. Como por magia,
resvalou para dentro sem dificuldades. Gemeu
como um garoto inexperiente, ao sentir o calor e a
umidade que o circundava e ouviu seu gemido de
rendição. Mais um pouco, decidiu empurrando
quase convencido que seus medos eram
infundados, ela não sentia dor, mas foi uma
sensação que durou pouco. Ali estava à prova
incontestável de sua inocência, a barreira,
impedindo sua passagem.
Helena tinha fechado os olhos para
desfrutar da deliciosa sensação de ser penetrada,
quando ele parou e ela arregalou os olhos ao sentir
algo percorrê-la da cabeça aos pés. A dor estourou
sobre seu corpo trêmulo de prazer, quando ele
forçou mais um pouco.
Terrível e mortal, ela sentiu-se ser
rasgada e conteve a exclamação de dor, até
quando se tornou insuportável e gemeu, pedindo
que parasse.
-Só mais um pouco – Ele implorou, pois
não podia mais parar.
Rezando para que passasse logo, Helena
sentiu quando ele começou a sair e agradeceu pela
trégua, mas durou pouco, ele investiu com
precisão e força, rompendo seu hímen e causando
a dor física mais intensa que já sentira na vida.
Apertou as unhas em suas costas, e quis
gritar, mas ele abafou suas lamúrias com um
beijo. Havia parado de se mover, imóvel, esperava
por ela.
Helena sentiu a dor ir embora, e o
membro pulsar dentro de si, assim como o contato
do peito contra seus seios, era deliciosamente
excitante. Se eram um só? Não. Eram mais que
isso, eram dois corpos fundidos em um!
Ele fechou os olhos quando sentiu um
aperto no sexo. Ela o apertava que era o inferno!
Estreita e apertada, isso o matava de vontade de
continuar, mas tinha que esperar que estivesse
mais calma.
Achando ter controle o bastante, ele
dirigiu os dedos para aquele ponto especial onde
uma mulher sente prazer, roçou os dedos sobre o
clitóris que se escondia entre os pelos macios. Ela
afastou os lábios de seu beijo e gemeu,
incentivando-o sem saber.
Quando Rony moveu os quadris saindo
totalmente de seu corpo, ela abriu os olhos,
apavorada com a ideia de ter acabado. Sentia em
cada poro um pedido por mais, embora não
soubesse que mais era esse. Ele não podia parar!
Antes que pudesse verbalizar seu medo,
ele voltou. Preenchendo-a totalmente, ele voltou.
Com um gemido profundo, penetrou-a fundo.
Sentiu bater em seu útero e regressou indo e vindo
lentamente, para não machucá-la.
Para seu total desespero, ela passou uma
perna por seu quadril, e isso a abriu mais,
facilitando as investidas e o ritmo aumentou.
-Helena... – Ele resmungou contra seu
ouvido, deitando-se totalmente sobre ela, os
cotovelos apoiados nos travesseiros ao lado da
cabeça de Helena.
Esse movimento aprofundou o contato, e
ela sentiu-se dominada e prensada de uma forma
deliciosa. Ele ia e vinha e ela o acompanhava
tentando não perder o ritmo, e arranhou seu peito,
quando ele ficou mais furioso, rápido e fundo. As
mãos delicadas correram por suas costas, sem
saber que esses arranhões e apertos o levavam a
loucura. Ele sentia o peito roçar nos mamilos
duros e desejou ser menos calhorda e pensar mais
nela. Colocou uma das mãos em seu quadril,
forçando mais contra ele, e agarrou um seio
jovem, apertando e apertando, até ouvir seus
gemidos aumentarem.
Forte, sim, era forte e intenso. Era a
realização de um sonho e era a coisa mais linda
pela qual ele já passara sobre uma cama.
Assim colados, Helena afundou o rosto
em seu pescoço, corada, perdida e entregue,
beijando a pele que achou ali e mordiscando seu
ombro.
Foi quando ele agarrou seu quadril e a
obrigou a parar. Arremessando-se diversas vezes
com a fúria da paixão, ela abriu os lábios,
sufocada pelas sensações, consciente de cada
cheiro, cada toque, cada penetração, os músculos
retesados, tensos, esperando por algo, e esse algo
crescia mais e mais em seu ventre e fazia os dedos
dos seus pés se contraírem e sua vagina se contrair
ainda mais, tornando as entradas quase
impossíveis, mas ele não parava.
E foi nesse enlevo que ela gritou,
mordendo seu ombro com força, Helena gritou,
quando o orgasmo atingiu seu corpo como um
chicote sobre a pele.
Era a sensação mais grandiosa e deliciosa
que já sentira na vida.
Uma descarga elétrica correu sua pele e a
tornou uma cavidade funda, molhada, quente e
apertada. Rony mordeu os lábios sufocando o
grito, mas deixando um rugido escapar quando
seu orgasmo o levou ao seu. Suas contrações, seus
tremores internos, tudo isso o fez viajar, e perder a
compostura e o cuidado e se arremessar como um
louco, até sentir seus testículos apertarem numa
sensação profundamente forte, e o prazer soterrá-
lo em uma camada de suor e luxúria.
Helena mal se recuperou quando ele
tremeu sobre ela, despejando em seu corpo jatos
de um líquido viscoso, que escorria pelas suas
pernas, quanto mais ele insistia em penetrá-la,
apesar de ter terminado.
Nunca teria fim, eles pensaram juntos;
aquilo não podia ter fim.
Mas teve, aos poucos, o ritmo morreu, e
os corpos pararam.
Helena estava completamente espremida
sob o peso de seu corpo, ele notou, se movendo e
não conseguindo, pois ela segurava-o fortemente
pelas costas, com suas mãozinhas delicadas,
porem ásperas do trabalho forçado dos últimos
anos. Não desejava afastar-se, mas ela respirava
pesadamente, e ele não queria barrar-lhe o ar de
que tanto precisava. Rolando para o lado, ele
lamentou quando os corpos se separaram,
sentindo uma fisgada no ombro direito, notou que
fora mordido.
Lembrava-se disso e do prazer que lhe
trouxera sentir os dentes perfeitos mastigarem sua
pele no âmago do prazer. Por outro momento
desses, deixaria até arrancar-lhe um pedaço!
Sorrindo na quase penumbra, ele a puxou
para seu peito e Helena não o impediu,
encaixando-se na curva de seu pescoço, nua,
suada e satisfeita.
-Durma. - Ele sussurrou quando notou
que ela olhava para ele esperando que dissesse
algo – Amanhã falamos.
Ela queria agradecer, pois se sentia
incapaz de defender as próprias convicções
naquele momento.
Exaustos, e mais próximos como nunca,
ambos adormeceram.
Capítulo 29 - Amor...

O som das vozes e gritos acordou-a. Os


empregados haviam regressado, e não havia
dúvida disso. Seus gritos eram o indício de mais
um dia puxado de plantio. Eles eram homens
grosseiros, mas fortes o bastante para aguentarem
o ritmo do trabalho pesado.
Esse pensamento sumiu de sua mente
quando entreabriu os olhos, e notou que era mais
uma manhã que acordava ao lado de Rony. Mas
não apenas uma manhã comum, pois na noite
anterior permitira que ele a possuísse.
Esse simples pensamento fez um arrepio
percorrer sua espinha e ela fechou novamente os
olhos, fingindo dormir quando ouviu o som de
passos dentro do quarto.
Eram passos pesados, porém, silenciosos,
num contraste de quem não queria acordar a
mulher que ressonava tão serena entre os lençóis
amarrotados.
Ela evitou o susto quando ele se
aproximou e acariciou seus cabelos, antes de se
afastar e deixar o quarto. Claro, tinha muito
trabalho a fazer e não poderia ficar na cama o dia
inteiro! Assim como ela também não podia se dar
esse luxo!
Movendo-se, Helena descobriu que o dia
estava claro e havia amanhecido há muitas horas,
visto a intensidade do sol que entrava pela janela
aberta coberta pela cortina.
Rony deveria ter aberto para ventilar o
quarto e garantir seu maior conforto. Era
desconcertante pensar que ele se preocupava com
seu bem estar, ou pior, que a conhecia tão bem, e
em tão pouco tempo, a ponto de saber aquilo que a
deixaria feliz ou não, confortável ou não!
Segurando o lençol contra o copo nu, saiu
da posição de bruços a qual acordara e sentou-se.
Seus cabelos estavam despenteados e
embaraçados, corou ao lembrar-se que isso se
devia aos toques e carícias que ele fizera com suas
mãos imensamente gentis. Helena passou uma das
mãos nas mexas, colocando atrás da orelha e
fechando os olhos, para relembrar aqueles
carinhos inesquecíveis.
Alarmada com o rumo dos pensamentos,
abriu os olhos e fitou a cama com pavor. Estava
dormindo sobre o colchão puro, pois se lembrava
brevemente dele ter tirado os lençóis no meio da
noite, com cuidado para não acordá-la. Estavam
sujos e úmidos, e eram incômodos, e ela
agradeceu sua sensibilidade naquele momento,
mas agora, ficava chocada de ver o resultado de
sua noite de núpcias tardia, embolado sobre o
chão num emaranhado de tecido inútil.
Haviam se tornado um casal, no sentido
real e bíblico, isso a assustava. Não queria ter um
marido, ou filho, ou outra família que pudesse
perder. Não podia ter noites como aquela, ou
corria risco de se apegar a ele.
Esse pensamento causou uma imensa
tristeza, e ela se pegou divagando se não teria se
apegado definitivamente aquele Rony mal criado e
provocador. Claro que não!
Ele era arrogante e ambicioso, e levava
seus dias com dedicação fervorosa em irritá-la e
revirar sua vida de cabeça para baixo!
Não gostava de suas idéias sempre
certeiras, não gostava de sua mania de olhar para
ela o tempo todo e, sobretudo não gostava da
forma como reivindicara seu corpo e a fizera
esquecer-se de tudo em seus braços!
Helena ficou assustada quando a porta se
abriu de leve e alguém espiou, relaxou ao ver o
rosto de Juanita.
-Posso entrar? Ronald disse para te
acordar e arrumar o quarto – Ela disse com um
sorriso gigantesco entrando e fechando a porta.
– Ele levou as visitas para conhecer o
gado e os peões – Ela começou a juntar as peças
de roupa no chão, e olhou para ela maliciosa
– Uma boa ideia tirar aqueles abutres de
casa e lhe dar um momento de paz.
Helena ajeitou melhor o lençol, sentindo-
se estúpida por ter vergonha de uma mulher tão
boa quanto Juanita.
-Como está o seu filho? – Perguntou
tentando desviar atenção.
-Acordou sem febre – Ela disse com
tamanho alívio que Helena sorriu. – Levante-se
para que possa por um lençol na cama.
Helena enrolou-se e levantou, observando
enquanto ela arrumava a cama. Não sabia para
onde olhar, ainda mais por Juanita saber
exatamente o que se passara naquele quarto.
-Pronto, pode voltar a deitar – Ela disse
sempre sorrindo.
-Não! Vou me vestir e ajudar na
cozinha... – Ela começou a falar, mas Juanita
negou.
-Ordens de seu marido, Helena. Que
passe a manhã descansando.
-E porque isso? - Ela perguntou com uma
ponta de revolta na voz.
-Porque é um homem preocupado com a
esposa – Juanita escondeu um sorriso e Helena
corou furiosamente – Por favor, não fique com
vergonha. Não é a primeira mulher que vejo
depois de ser deflorada. Esqueceu-se de onde vivi?
Raramente Juanita se referia a sua vida
anterior a Suarez, e Helena sentiu-se uma mulher
sem moral.
-Pedi que não se envergonhe – Ela tornou
a dizer seu sorriso crescendo – Deixe-me levar
esses lençóis e lavá-los antes que seus hóspedes
voltem e possam ver as manchas. O correto seria
exibi-los, mas visto o tempo que se passou desde
as bodas, não seria uma boa ideia!
Helena olhou para ela e sua jovialidade,
sentindo um nó se formar em sua garganta.
-Você sabia?
-É claro que sim. Uma mulher sabe
quando a outra não conhece nada do amor. –
Juanita sorriu, ocupada em arrumar o quarto –
Deve saber Helena, o que se passar dentro de sua
casa, ficará aqui. Não sairá uma palavra de minha
boca, nem mesmo a Suarez.
-Por quê? – Ela perguntou incapaz de se
conter.
-Porque gosto desse trabalho – Ela disse
dando de ombros, mas ao notar seu semblante
carregado, ela parou e olhou-a – Também já fui
moça, e também tive tristezas, vejo-a e é como se
me visse. Creio já ter dito antes, é uma mulher de
muita sorte, e não desgoste seu marido. Ele é
único. Não verá outro igual.
-Porque diz isso? – Aquele nó em sua
garganta aumentou consideravelmente.
-Porque é um homem viril – Ela
respondeu simplesmente – E mesmo assim, não a
feriu. Outro a teria violentado, pois é seu direto de
marido.
-Alguma vez você foi...? – Helena não
teve coragem de continuar a frase e viu uma
sombra passar por sua face.
-Tornei-me mulher muito cedo, e lembro
apenas de duas vezes em que desejei um homem.
– Ela disse com um olhar sorridente – A primeira
vez, já era moça feita e vivia no cabaré, quando
conheci o pai de Duran. Era um escravo muito
bonito, com olhos verdes como as folhas das
árvores... O que não é comum - Ela sorriu e seus
olhos brilharam – Ele trazia vários doces, e só me
tomou quando o fiz de graça, por amor. Uma
única vez – Ela pôs as mãos sobre o ventre – Não
poderia deixar outro me tocar por meses, por esse
motivo tive certeza ao ver os olhos de Duran, que
ele era seu pai.
-Disse que foram duas vezes – Ela disse
curiosa e ao mesmo tempo apenada pelo
sofrimento de Juanita.
-Quando Suarez apareceu em minha vida,
soube que tinha achado um ombro para me apoiar,
e quando me deitei com ele, o fiz de coração,
dando tudo de mim, para fazê-lo feliz! – Ela
sorriu.
-Não o ama, não é?
-Aprendi a amar. – Ela disse sorrindo e
afastando a tristeza – Faça o mesmo, pois a partir
de agora, seu marido será o centro da sua vida.
Sua única preocupação é agradá-lo e garantir-se
uma existência cheia de satisfação e saúde. Ser
viúva é uma desgraça. E não quer isso, ainda mais
agora!
-O que tem agora? – Ela sentiu uma
ponta de rebeldia.
-Agora, é sua esposa de fato e dessa
união, talvez nasça um herdeiro nos próximos
meses – Havia empolgação em sua voz e Helena
não soube de imediato a que ela se referia – Sua
mãe nunca lhe disse que basta uma noite para
gerar um filho? Pois bem, basta uma noite. Seu
marido é um homem saudável, seu pai teve sete
filhos, é de esperar, que ele repita o feito!
Seu tom zombeteiro quebrou algo dentro
dela, e sua palidez, fez Juanita se aproximar e
ajudá-la a sentar-se na beira da cama.
-Sente-se, está passando mal?
-Não – Ela disse quando o torpor passou
– Sabe algum meio de evitar isso?
Seu tom era rude, e Juanita demorou a
entender o que dizia.
-Não quero filhos. Deve haver alguma
meio de evitá-los!
-Sim, claro que há. Mas não vejo
necessidade que os evite!
-Por favor, Juanita, é apenas por um
tempo...
Estava em sua face que era mentira e
Juanita leu claramente em sua fronte o medo, a
ansiedade e a confusão.
Pobre, menina, ela pensou tentando sorrir
e acalmar seu coração tão ferido.
-Prepararei todas as manhãs um chá para
você. – Disse suave, contendo a vontade de
abraçá-la, pois Helena era esquiva demais e não
sabia se aceitaria um carinho seu – Apenas não
conte a seu marido, ele pode ficar desgostoso com
meu trabalho e me mandar embora!
-Ele não faria isso! Não permitiria!
Juanita apenas sorriu sem querer tirar-lhe
a ilusão de poder. O que poderia uma mulher
contra os desejos de um marido? Nada. Não era
justo, mas era assim que o mundo agia com as
mulheres menos afortunadas, que não tivessem
um brasão e o sobrenome refinado de alguma
família importante.
-Deite-se enquanto preparo seu banho –
Ela sugeriu – Irá desejar estar banhada e vestida
quando aquele homem asqueroso voltar – Ela
mudou o tom ao referir-se ao Sr.Ford – Um porco
imundo! Não se banha há dois dias! Como pode
tal coisa!
Helena não deu ouvido, as suas
reclamações, e assistiu-a sair, perdida em meio à
confusão de sentimentos. Deitou-se encolhida,
uma das mãos sobre o ventre liso, pensando no
que seria dela se houvesse uma semente sendo
gerada em seu ventre.
Não poderia amá-lo, não teria amor
depois de tantas percas e se ainda houvesse, seria
ainda pior, pois a dor seria novamente
insuportável quando o perdesse!
Um menino pensou.
Se fosse um menino, teria os olhos claros
e azuis de Rony e seria encantador perder-se na
inocência maliciosa e brincalhona que ali
houvesse e quando sorrisse um sorriso de dentes
perfeitos e brancos, em lábios grossos e
avermelhados, seria um sorriso cativante que faria
seu coração de mãe saltitar cada vez que
regressasse, imponente sobre um cavalo, ao lado
do pai.
Não, meneou a cabeça, afastando aquele
olhar, não deveria querer que isso acontecesse!
Uma noite, no seu caso, não seria o
suficiente! Acreditaria nisso e nunca mais deixaria
essa loucura se repetir. Primeiro, por não desejar
um marido, e segundo, não poderia correr o risco
de engravidar!
Para isso, manteria Rony longe dela!
Não abriria mão dos chás que Juanita
prometera, pois homens são criaturas animalescas
e ainda não estava totalmente convencida que não
era como os outros, e caso a obrigasse a ter
relações, desejava estar protegida!
Decidida, esperou Juanita voltar com a
água e enquanto esperava, fechou os olhos,
tencionando descansar.
Seu traiçoeiro corpo a condenava a
lembrar do acontecido, pois estava dolorida abaixo
da cintura e essa ardência incomoda a obrigou a
lembrar da intimidade partilhada com seu marido.
Os toques, os beijos, as carícias, a união
devastadoramente intensa e profunda... Um
involuntário suspiro escapou de seus lábios e ela
abafou um sorriso de pura felicidade ao lembrar-se
da forma como fora protegida em seus braços
durante toda a noite, onde dormira tranquilamente
pela primeira vez em meses. Não tivera pesadelos,
ou insônia.
Fora uma noite perfeita. Uma linda
lembrança que a acompanharia enquanto vivesse.
Rony tivera razão ao dizer que estaria
muito machucada se não o permitisse conduzi-la,
pois apesar de toda sua gentileza, senti-se um
pouco dolorida. Nada que superasse a sensação de
bem estar e paz que sentia.
Seus suspiros eram inevitáveis e
desconhecidos, pois não se lembrava de outro
momento em que estivera assim!

Rony mal conteve a empolgação ao entrar


na cozinha. Deixara os homens comendo no
estábulo que adaptaram e era o novo alojamento,
depois de se certificar que Ford e a parteira
estivessem enchendo suas barrigas com farta
comida, e que Helena estaria na casa, ele rumou
em sua direção.
Como esperava, ela estava cortando os
pães e arrumando-os em uma bacia, e quando o
notou, ela baixou o rosto e continuou como se
estivesse sozinha.
Não era a recepção que esperava, mas
talvez estivesse envergonhada.
Aproximando-se, ele ficou a centímetros,
e se preparava para beijar seu pescoço quando ela
se afastou. Nada discreta, pensou, começando a se
irritar.
Helena não podia rejeitá-lo depois da
noite passada. Ah, não podia mesmo!
-Prepare nossa comida, comeremos aqui
hoje – Ele avisou, esperando que apreciasse a
privacidade, mas ela apenas deu de ombros.
Helena era assim mesmo, pensou
relevando, e tentando uma nova aproximação. Ela
preparava seu prato, e foi fácil encurralá-la entre a
pia e o fogão.
Ela parou o que fazia e esperou.
-Helena – Ele disse com voz mansa –
Olhe para mim.
Era um pedido, e apesar de poder negar,
ela obedeceu.
Ele sorria, com a face incrivelmente feliz,
e com os olhos também.
-Como está se sentindo essa manhã? -
Ele perguntou suave, tocando sua face, e ela não
se afastou de imediato.
-Bem. – Era uma resposta curta e
resumida para agrupar tantas emoções!
-Sinto-me o homem mais afortunado do
mundo – Ele acariciou sua pele com gentileza –
Sinto não ter te acordado, mas quis tirá-los da
casa, para lhe dar privacidade.
-Eles não suspeitaram de nada? - Sua voz
era distante, mas ele demorou a notar.
-Creio que não. – Ele sorriu – Juanita foi
discreta com suas roupas – Ele informou,
deixando claro que apreciava isso – Helena vamos
ao quarto, desejo...
-Não - Ela afastou sua mão, antes que
terminasse sua frase e pudesse fraquejar – Preciso
terminar o que fazia!
-Não, não precisa. Precisa olhar para
mim e deixar a vergonha de lado – Sorriu para
tranquilizá-la.
-Não estou com vergonha! - Mentiu
bravamente.
-Que bom! Pois não é necessário – Ele
abriu seu maior sorriso e por um segundo ela
quase cedeu diante de sua espontaneidade –
Venha! Quero namorá-la um pouco – Ele tentou
seduzi-la, e ela se viu perguntando:
-No meio do dia?
-Sim. Porque não? – Com ambas as mãos
em seu rosto, ele mergulhou em seu olhar,
querendo que Helena pudesse ler em seus olhos o
tamanho do ardor que o consumia.
Tolamente, acreditara que ao consumar o
casamento, consumaria também a paixão e a
necessidade que nutria por seu corpo de mulher.
Mas estava errado, e esse desejo só fazia
aumentar, a cada segundo, aonde as lembranças
da noite anterior lhe vinham assolar a memória.
Helena quase o deixou ter êxito em sua
sedução, por um segundo, fraquejando, mas então,
o racional prevaleceu, e afastou-se de suas mãos,
fugindo dele e do acelerar de seu próprio coração.
-Helena?
Ele ficou surpreso, olhando para ela, que
colocava o prato sobre a mesa, enchia um copo
com água fresca e refrescante e esperava que se
sentasse a mesa, em seu lugar de marido e
proprietário.
-O que está fazendo, Helena?
-Seu almoço está servido. Não vou
acompanhá-lo, pois já almocei.
-Espere um momento, Helena – Ele disse
começando a entender. – Está fazendo de conta
que nada aconteceu? É isso?
Helena esforçou-se a olhar para ele.
-Sei o que aconteceu, e sei a razão para
que acontecesse. E sei também, que prometeu ser
uma única vez – Sua voz mostrava uma calma que
estava longe de sentir!
-Isso foi antes! – Ele disse sentindo a
euforia daquela manhã se esvair diante dele. – Foi
uma noite perfeita. Helena, não pode querer
ignorar o que aconteceu!
-Fico-lhe grata por ter sido sensato e não
ter permitido que me machucasse além do que
fosse preciso, mas não devemos repetir tal fato. É
desnecessário!
-Desnecessário? – Ele segurou seu braço,
e era uma das primeiras vezes que o fazia com
força, quase machucando. - É desnecessário o meu
carinho e atenção?
Ela engoliu em seco, refreando um
pedido de desculpas. Não era experiente, mas
sabia que depois de tudo que sentira na noite
passada, estaria magoando-o ao repudiá-lo. Rony
era muito impetuoso e ofendia-se com seu
descaso. Não sabia a razão, mas sempre se
ofendia com sua rejeição!
-Tenho lhe dito, não desejo um marido,
seja ele qual for. – Afirmou, sentindo o baço
latejar, quando ele a soltou, olhando-a com
aspereza.
-Não posso acreditar em tamanha
besteira! – Ele disse nervoso, perturbado com essa
realidade que sequer passara por sua mente. Sabia
o quanto ela era esquiva e difícil, mas depois de
ter sido sua, de uma maneira tão apaixonada, nem
mesmo Helena poderia negar a atração e o amor
que nascia entre eles!
Ou quem sabe, para ela fora apenas à
descoberta da paixão. Um ato que não
compensava a infelicidade de ser sua mulher.
-Você não tem um coração de pedra – Ele
alertou, e havia um tom de aviso em sua voz –
Helena, agir desse modo, depois do que aconteceu
entre nós, não pode ser tratado como algo banal!
Está me causando mágoa à toa!
-Não é meu desejo causar mágoa! – Ela
engoliu um nó que se formava em sua garganta –
Isso sequer deveria acontecer! Estou cumprindo
minha parte do nosso acordo! Cuido da casa, sou
complacente com suas decisões e não o trato mal!
Por seu lado, também tem cumprido sua parte!
Então, porque deveria haver mágoas?
-Sabe, talvez, talvez eu esteja enganado, e
você realmente não tenha um coração!
A raiva o impediu de notar sua
expressão surpresa, e magoada. A mesma raiva
que o fez desistir dela, e sair da cozinha e da casa,
como se fosse perseguido por demônios famintos
por sua alma!
Sozinha, Helena caiu sobre a cadeira,
olhando para um ponto qualquer, os olhos
embaçados. Havia chorado quando seu irmão
morreu, e quando enterrou seus pais e sua irmã,
mas fora apenas em momentos de desespero e
parecia tão bobo e pequeno chorar por causa de
Rony, e mesmo assim, ela estava ali, a beira do
mais completo pranto!
Não conseguia impedir. Não conseguia
afastar a sensação ruim de ter visto mágoa e dor
em seu profundo olhar azul. Aqueles olhos a
devoraram em paixão e carinho a noite passada, e
agora, apenas lhe lançaram desprezo e
incompreensão.
Não podia deixá-lo pensar que não tinha
sentimentos, ou pior, que não tinha sentimentos
por ele! Era mentira! E Rony precisava saber
disso!
De pé, ela deu alguns passos
inconsequentes, quando se obrigou a parar. O que
esperava fazer? Ir atrás dele e dizer que se
importava? Como poderia, depois pedir que se
afastasse?
Sempre soubera que não seria fácil. No
dia em que desposara aquele homem soube que
sua vida nunca mais seria simples.
Limpando as lágrimas da face, ela olhou
apenada para o prato intocado. Ele sentiria fome.
O trabalho era árduo e duro e ele sentiria fome se
ficasse sem almoçar!
Obrigando-se a ser prática, e jurando a si
mesma que não se importava que ele a odiasse,
Helena separou o prato e cuidou para que
estivesse embrulhado em um pano de prato limpo
e assim pudesse ser levado por mãos inquietas,
sem derrubar seu conteúdo.
Segura de si, ou ao menos, capaz de
fingir estar certa das próprias decisões, ela saiu da
casa atrás de Duran, o filho mais velho de Juanita.
Depois de pedir que levasse ao seu patrão
quando estivesse mais calmo, ela voltou para a
casa, e enfurnou-se no quarto, desejando não ter
tantas recordações dentro daquelas paredes.
Juanita notou seu comportamento
anormal e triste, mas não disse nada. Era melhor
manter-se de fora, embora maneasse a cabeça em
desagrado pelo seu comportamento!
Furioso, Rony rumou para o celeiro
decidido a dar uma lição em Helena. Praguejando,
ele fechou as portas e fitou os cavalos que estavam
em suas baias, e mirou o alvo de seu desejo, a
poucos passos.
Sentindo o sangue ferver em suas veias,
ele apanhou um martelo de ferro grande e pesado,
e empunhou-o firmemente, sem hesitar.
Se ela queria assim, assim seria!
Helena não se importava com ele! Não
ligava para sua gentileza e cuidado! Nada que
fizesse conquistaria o afeto daquela louca infeliz!
Remoendo sua fúria, ele se aproximou,
sequer pensou antes de agir.
A carroça estava a sua frente, pronta para
levar Ford e a Sra.Barth de volta à cidade, e a roda
foi seu alvo.
Rangeu os dentes ao ouvir a madeira
quebrar, repetiu as marteladas pesadas e
enfurecidas, mais vezes que o necessário e só
parou quando a carroça vergou para o lado,
pendendo sobre a roda esmigalhada.
Um sentimento de satisfação o percorreu
ao ver o resultado de seu trabalho. Helena odiaria
isso, e saber que causaria medo e desespero em
sua adorável e doce esposa foi a mais doce das
vinganças que poderia arquitetar!
Oferecera-lhe palavras de conforto e
carinhos apaixonados, toda a paciência e amor que
um homem poderia dispor, e o que ela lhe dera em
troca? Desprezo! Asco! Rejeição!
Se Helena não podia amá-lo, então, que o
odiasse!
Seu sorriso era um tanto demente ao
ouvir passos, e quando olhou para a porta e
avistou Suarez o fitando com curiosidade e
interrogação, havia uma alegria quase infantil em
seu olhar!
Capítulo 30 - Êxtase

A noite se anunciava com o sol caindo no


poente, e Helena olhou pela porta da cozinha que
ficava sempre aberta, para permitir o acesso deles
e de Juanita, esperando vê-lo se aproximar.
Um dia todo longe dela. O que esperava?
Rony sempre achava desculpas, ao menos
duas ou três vezes ao dia, para vir a casa
infernizar sua vida com sua presença e seus
olhares desconcertantes, e hoje, não deveria ser
diferente, mas fora.
Ela olhou para o chão, se perguntando
como poderia ser diferente. Havia magoado e
ofendido aquele homem, e ele não a perdoaria por
isso!
Sentia um aperto no peito ao pensar
nisso, mas não podia negar, era um passe para sua
liberdade, pois quanto mais ele a detestasse, mais
longe se manteria!
Quase sem perceber, pusera-se a vigiar
sua volta. Ford e a Sra.Barth estavam jantando,
mas ela não tinha fome. Raramente tinha fome,
mas hoje, sobretudo, seu apetite desaparecera.
-A cerca está dando trabalho. – Ela ouviu
Juanita dizer contrariada dentro da cozinha sendo
obrigada a suportá-los, pois a anfitriã estava
perdida em seus pensamentos e lamentos. – O
Sr.Parker está reconstruindo um grande trecho que
cerca as terras que fazem divisa com seus
familiares.
Ela ouviu Ford instigar a conversa e
afastou-se, cruzando os braços e segurando o xale
sobre os ombros. Estava começando a esfriar e
isso queria dizer que em poucas semanas o outono
chegaria. Até lá o plantio estaria terminado e o
gado gordo o suficiente para ser vendido.
Conhecia todo o procedimento, mas era a
primeira vez que via isso acontecer alheia a sua
participação, e pior, era a primeira vez em que
estava feliz em não fazer parte disso.
Fechando os olhos, ela pensou ter ouvido
passos, mas teve certeza que era o pequeno Duran
correndo atrás das galinhas que Juanita cuidava
com tanto zelo.
Pensativa, ela lamentou a vida que tinha,
lamentou não ir ver as sepulturas dos pais e da
irmã, e lamentou estar ali, esperando-o. Não era
necessário, disse a si mesma. Ele conhecia o
caminho!
É claro que conhecia apenas não queria
voltar!
Talvez, ele tivesse desistido e ido para a
casa de seus pais. Talvez jantasse e dormisse lá
como punição. Ou quem sabe, não se desse ao
trabalho de voltar!
Com uma sensação ruim, ela olhou para
o céu, que estava cada vez mais avermelhado e
pesado, e achou que a noite seria terrível, como
aquele anoitecer acinzentado e aquela brisa fria.
Gostaria de ter o poder de mudar tudo,
nunca ter cruzado com Rony e não estar agora,
com aquele peso no coração!
Homem odioso!
Não podia compreendê-lo, embora
exigisse sua compreensão!
Rony parou a uma curta distância
esperando para ver o que Helena faria. Um dia
todo longe dela sem que cedesse a tentação de vê-
la, era quase um milagre!
Vira quando ela saíra da casa para olhar
o céu, e se perguntava em que ela pensava. Helena
era o grande mistério de sua vida. Entendê-la era
um desafio cada vez maior.
Agora, olhando para o nada, ele poderia
romanticamente supor que estivesse preocupada
com sua demora, ou sentida pela discussão de
mais cedo, mas não se enganaria em vão.
Ela não o queria.
Provavelmente, estava apenas fugindo da
presença de Ford.
Esse pensamento reavivou a raiva de
mais cedo, quase aliviada no árduo trabalho no
campo.
Sentindo-se observada, ela virou-se
quando os passos tornaram-se mais próximos.
Engoliu em seco, afastando o olhar, culpada, ao
vê-lo caminhar em sua direção.
No mínimo, ele a sacudiria e tentaria
colocar em sua mente a marra suas opiniões. Mas
se pensava que estava de boa, esperando-o, estava
muito enganado! Seus olhos ficaram arregalados,
quando ele passou reto por ela.
Sem um único olhar. Como se não
existisse.
Engolindo em seco, subitamente
enfurecida, ela o seguiu. Não para falar com ele,
ou vê-lo, mas ansiosa para ouvir suas explicações
por tanta demora!
Não que esperasse que dissesse algo a
ela, uma vez que a falsa animosidade entre eles
havia finalmente ruído, mas ao menos a Ford ele
se explicaria!
Calada, observou-o com olhos de fúria
mal contida por ter sido ignorada. Nem um único
olhar desde que chegara!
Ele sorria para Juanita e devorava seu
prato, pois era um homem constantemente
faminto, e adorava comer! E adorava doces,
agradecendo a Juanita pela deliciosa torta de
maçã, quando sabia melhor que ninguém que era
ela quem fazia os doces naquela casa!
Cínico!
-Esperava ir embora ainda essa noite
filho – Ford lamentou, devorando um pedaço de
cordeiro.
Essa frase despertou o interesse de
Helena, principalmente quando Rony parou de
comer, e olhou para ela diretamente, antes de
responder com uma satisfação tão grande na voz
que a desconcertou:
-Tivemos um problema com a roda da
carroça. Suarez foi à cidade arrumar outra.
-Não haveria uma na fazenda de seu pai?
Sim, ela pensou. O velho estava coberto
de razão!
-Infelizmente não – ele abriu um glorioso
sorriso provocador, e estreitou os olhos, quando a
viu sair apressada da cozinha.
Juanita não demorou a segui-la levando
consigo uma bacia de água quente.
Bem, perderia seu banho, logo hoje que
tinha planos para puni-la por sua mal criação.
Puni-la por não gostar dele!
Sim, era o que faria!
Era irracional, porém Helena destruía
toda sua capacidade de pensar!
Levou mais de uma hora para que Ford
desistisse de vencer a luta contra o vinho que
Rony empurrou para ele durante todo o jantar. Era
um homem fraco. Um porco. A viúva parteira logo
se recolheu, pois aparentemente sua paciência em
ficar ali havia se esgotado, e Rony olhou para
Juanita com olhar acusador quando ficaram
sozinhos, e ela não se moveu um centímetro
sequer, até ter terminado a louça.
Quando finalmente a casa ficou
silenciosa, ele soube que era o momento que
esperava desde aquela manhã. Desde a noite
passada para ser sincero. Pois depois de terem
feito amor, ele ficara ainda mais desejoso de sua
jovem esposa.
Dera-lhe descanso e paz, e ela o retribuíra
com quatro pedras nas mãos! Virando mais um
copo de vinho, ele se levantou e marchou para o
quarto.
Helena deixara a porta fechada como ele
ordenara, mas aquele pesado móvel não deveria
estar atrás da porta até agora. Helena estava
pedindo!
Com raiva acumulada, ele empurrou a
porta com toda sua força e o móvel cedeu, abrindo
uma brecha que ele usou para entrar, depois
empurrou a porta e recolocou o móvel no lugar,
para prendê-la enquanto não arrumassem trancas.
Prometeu a si mesmo que aquela louca
não teria as chaves quando colocasse fechaduras
naquelas portas. Caso contrário, era capaz de
mantê-lo na rua para sempre!
Virando-se em sua direção, encontrou-a
escovando os longos cabelos. Um olhar e ela
fingiu não notá-lo. Vestia a camisola de dormir e
estava sentada do seu lado da cama, e ele
imaginou o quanto queria que ela dormisse ali, no
seu canto, em seus braços, como na noite passada.
Percebendo onde estava ela levantou-se
apressada e colocou a escova de cabelos sobre a
penteadeira, tentando não olhar para ele através do
espelho.
Não conseguiu. Ele arrastou o pesado baú
que ficava no canto do quarto e colocou aos pés da
cama, e ela virou-se indignada, pois era por ali
que subia na cama para dormir, visto que a cama
ficava encostada na parede.
Perdeu a vontade de reclamar, quando ele
a encarou com desafio, esperando que fosse ela a
primeira a jogar lenha na fogueira de rancor que
queimava entre eles. Mas Helena se calou.
Não daria o braço a torcer nem que sua
vida dependesse disso!
Fervendo de ódio, esperou que ele
dissesse algo, qualquer coisa que fosse! Não era
possível que não fosse tentar fazê-la mudar de
ideia! Ele estava sempre tentando fazê-la mudar
de ideia sobre tudo! Se dissesse que o céu é azul,
ele a tentaria convencer que é rosa! Era assim!
Sempre assim!
Tentando não parecer tão abalada, ficou
mexendo em seus pertences sobre a velha
penteadeira, fingindo não notar quando ele
começou a se despir.
Dessa fez, ele não seria o primeiro a
ceder. Não mesmo!
Notou que ela não conseguiu conter-se e
quase sorriu, quando após quinze minutos de
pesado silêncio ela se rendeu:
-O que aconteceu com a carroça?
A voz de Helena era aguda, e ela estava
nervosa.
Bem, conseguira tirar a Srta. Gelo do seu
pedestal. Sentia-se um rei. Ainda não, pensou. Ela
ainda não provara o gosto da sua revolta!
-A roda quebrou. Só isso. – ele tentou
não sorrir ao lembrar-se de seu arrombo de ódio
ao destruir a roda e arquitetar seu plano de
vingança!
-Só isso? - ela virou-se incapaz de ignorar
tanta coincidência.
-Sim, o que mais espera que diga?
Era um desafio, e Helena comprou seu
olhar.
Era em momentos como esse que ele
sentia o sangue ferver e não era apenas de raiva.
Era muito mais, era desejo. Forte e intenso,
correndo em suas veias!
-Algo deve ter acontecido para que a roda
quebrasse – ela disse num tom de inegável
acusação, entre dentes, segurando os gritos que
teimavam em querer escapar de sua garganta
diante de sua falsa inocência.
-E o que acha que aconteceu? - ele despiu
a camisa e ela afastou o olhar, tudo para não olhar
para ele e ver o que perdia. Não quis verbalizar
sua suspeita, por isso deixou em suspenso, a
verdade pairando entre eles – Acha que posso ter
destruído a roda para me vingar de você? Que
posso ter planejado te seduzir durante várias
noites, mantendo Ford no quarto ao lado? É isso
que está pensando?
Teve que olhar para ele procurando por
revolta ou quem sabe sinceridade. Se ao menos ele
não estivesse sorrindo! Uma punção de medo
correu dentro dela, e se não fosse tão covarde
admitiria que o acelerado de seu coração nada
tinha a ver com medo.
-Não pode fazer isso. Jurou que nunca me
obrigaria a nada!
Disse em tom baixo, rouco. E isso o
deixou em alerta.
-Não vou obrigar, por mim, pode gritar a
vontade que eu paro na hora. Mas só se você
gritar e pedir para parar.
Ele deu um passo em sua direção e ela se
afastou, dando um passo para trás.
-Porque isso? – Havia pânico em sua voz.
-Porque no momento que gritar, vai
assumir a perca da fazenda. Ford saberá de tudo.
E perdera além das terras, o grande sacrifício que
fez a noite passada. Tudo irá voar pela janela! –
Havia muita ironia em sua voz e ela quis fazer
mesmo isso. Jogar tudo pela janela!
Acuada, ela olhou para ele com rancor.
Então, era tudo mentira. O doce calor do carinho,
quando dissera a noite passada que cuidaria dela
caso perdessem a fazenda. Era apenas uma
mentira. Não somente mentira, assim como sua
promessa de não ser como os outros homens!
Rony quase desistiu ao ver uma sombra
de tristeza passar por seus olhos, mas não
esmoreceu.
-Porque não vai ao cabaré? - ela disse
com voz fraca, pois não era algo que desejava. Por
alguma maldita razão, sentia vontade de gritar só
de pensar nisso.
Essas sensações já existiam dentro dela,
mas desde a noite passada, pareciam mais fortes,
mais vívidas.
-Porque não quero. Já disse isso mais de
uma vez!
Era impossível não se irritar com ela!
-Quando Suarez volta?
-Quer saber por quanto tempo vai ter que
me aguentar te perturbando?
Havia tanto rancor em sua voz, que
Helena nem se deu ao trabalho de responder.
Acuada, ela pensou em como se livrar
dessa situação.
-Eu não quero que aconteça de novo –
Ela disse com a voz mais fraca do que gostaria.
-É uma pena, porque eu quero! – Ele
sentiu prazer em colocá-la numa posição de
fragilidade.
Quem sabe assim, sentisse um décimo da
sensação terrível que se abatera sobre ele depois
da sua rejeição!
-Afinal, qual o problema de dormir com
seu próprio marido?
Ele deixou escapar inconformado com
sua expressão de desalento.
Ela não respondeu, e ele esperou, mais
nada. Helena tencionou sair do quarto, mas foi
pega na própria armadilha, pois aquele móvel
impedia sua passagem.
Ele observou quieto, suas tentativas de
arrastá-lo e então, perdeu a paciência:
-Não vai sair desse quarto. Fique quieta!
Ela ergueu o queixo e continuou tentando
movê-lo, até fazer Rony perder totalmente
qualquer resquício de paciência.
-Eu disse para parar!
Ignorando-o do mesmo modo como fora
ignorada ainda a pouco, fora da casa, ela
continuou com suas tentativas falhas e ele
aproximou-se segurando seu braço e arrastando-a
para longe da porta.
-Mandei parar! – Ele rugiu baixo, mas
perigoso e ela ergueu o queixo em desafio,
tentando soltar-se.
-E quem disse que faço o que manda?
Erroneamente, ela segurou seu braço,
para tentar fazê-lo soltá-la, mas a única coisa que
conseguiu foi um arrepio a percorrendo dos pés a
cabeça ao sentir sua pele quente e os pelos de seu
antebraço em sua pele suave.
Odiava aquele homem, odiava-o com a
mesma força que o desejava e isso era
insuportavelmente assustador:
-Sou seu marido, querendo ou não.
Afastar-me não muda o fato – Ele disse ainda
mais baixo a voz mais grossa pelo desejo de ser
tocado por ela, mesmo que fosse apenas um toque
de raiva – Porque não aceita o inevitável?
-Porque não quero... – As palavras
morreram em sua boca, antes que pudesse dizê-
las. Ele não deveria saber o mal que a afligia, ou
ficaria fraca diante dele!
-O que você não quer? – Ele segurou-a
com mais força, e ela desistiu de se soltar,
achando que ele merecia sentir a mesma raiva que
ela.
-Não quero um filho seu! – Praticamente
cuspiu as palavras na cara dele, a fronte cheia de
ódio.
Era um ódio falso, pois o queria muito
mais do que repudiava, mesmo assim, era
impossível agir de outra forma, visto que não
sabia como lidar com tantos sentimentos
conflitantes.
Era a mais descabida mentira! Não
desejava um filho que pudesse perder. Não deseja
um marido que a deixasse um dia. Mas quem
sabe, sentindo o quanto o detestava ele desistisse?
-Deveria ter pensando nisso antes de
dizer sim no altar - Ele disse sem saber como
responder aquela afronta.
-Eu pensei! Disse-lhe com todas as
palavras! Agora, não se faça de injuriado e me
deixe em paz!
Novamente tentou se soltar, mas ele
apenas riu dos seus esforços.
-Vou deixá-la em paz, Helena. Quando
estiver satisfeita e quieta nos meus braços, terá
toda a paz que deseja – Era uma promessa erótica,
mas que a paralisou de medo pela verdade
escarrada.
-Não faça isso – Ela tentou pedir, mas
sua própria arrogância juvenil a impedia de ser
humilde – Não me obrigue a isso!
-Já disse que não a obrigo a nada. Grite
Não, e eu paro! A escolha é toda sua!
Achando que ela cederia, ele soltou-a
para ver o que faria.
-Juanita disse que os homens sabem
evitar isso... - Seus lábios tremiam, e ele achou
que iria chorar.
-Sim, eu sei evitar. Mas acontece que EU
quero um filho. – Dizia isso apenas para feri-la,
pois jamais a faria passar por isso se não fosse seu
desejo!
-Não vou carregar um filho seu! – Sua
expressão de desalento passou, pois se ele queria
feri-la, ela também queria fazer o mesmo com ele!
-Ah, vai sim! – Ele riu, andando pelo
quarto e tirando os sapatos – Como uma doce
esposa apaixonada, vai carregar quantos filhos
Deus nos mandar. – Havia sim, muita ironia em
sua voz – E também criará todos os filhos
bastardos que eu trouxer para essa casa! Porque é
essa sua obrigação!
Nunca em sua vida, pensaria desse modo,
mas queria tira-la do sério.
-Faça isso, e lhe dou um filho de outro
homem! De vários outros! – Ela ameaçou – Me
obrigue Ronald, e me deito com todos os
empregados dessa fazenda! Eu juro que...!
Não terminou sua frase, pois ele a
segurou com força, calando suas palavras
amargas.
-Vou trancá-la nesse quarto para o resto
de sua vida se voltar a repetir isso.
A frase era suave, mas tão intenso seu
olhar, que a calou.
Como se detestasse a ideia de tocá-la, ele
a soltou e ela quase caiu. Suas pernas estavam
fracas. Toda ela estava bamba. Não sabia se de
raiva, medo ou outra coisa.
Essa ‘outra coisa’ que deixava
seu coração acelerado, a respiração rala e seu
corpo tremulo. Aqueles olhos azuis, pensou,
deveria evitar perder-se neles!
Fingindo indiferença, como se não
estivesse afetado pelas suas ameaças e, sobretudo,
pela sua presença, ele moveu-se pelo quarto.
-Tire a camisola! – ele disse em tom
banal, tentando não parecer tão ansioso quanto se
sentia.
-Não! – Ela disse baixo, se mexendo pelo
quarto, em direção a cama, e por um segundo, se
ele fosse outro homem, e ela outra mulher, poderia
até achar que preferisse a cama, a fazer amor de
pé no meio do quarto. Mas era Helena, e ele sabia
o quanto era ardilosa!
Contendo o riso, ele a deixou subir na
cama, e se aproximou, tirando a calça e o resto da
roupa. Estava nu, observando-a subir na alta
cama, e engatinhar pelo colchão em direção a
parede atrás de algo.
Esse ‘algo’ se encontrava escondido sob
o pesado colchão, e era sua arma, a mesma que ela
deveria querer usar contra ele, para intimidá-lo.
Contendo o impulso de rir de sua vã
tentativa de fugir, ele segurou seu tornozelo.
Poderia ter agarrado-a, mas não resistiu ao ver a
poderosa e gélida Helena chocada.
Ela teve que parar e olhou para trás, em
sua direção alarmada.
-Me solte! – Ela exigiu, naquela posição
ingrata e constrangedora. – Me deixa!
Balançou o tornozelo e ele segurou com
mais força, adorando o movimento rítmico de seu
traseiro, cada vez que ela tentava se soltar.
Esquecendo da vingança, ele subiu na cama de
joelhos e segurou seu quadril, deixando-a em
pânico.
-Não! – Ela não gritava, mas havia algo
patético em sua expressão de completo
desamparo.
-Sou pior que a sarjeta, Helena – Ele
lembrou-a disso, irônico, lembrando-se do porque
queria magoá-la forçando-a ao que não queria
fazer. – A escolha é só sua!
Ela calou-se, sem saber o que fazer ou
dizer. Não poderia gritar. Não poderia perder a
fazenda. Não poderia perdê-lo... Perder a vida que
tinham. Essa súbita consciência a fez sentir fúria.
Não seria subjugada! Não mesmo!
Com uma tentativa de coice, quis acertá-
lo, mas ele apenas riu, segurando suas pernas e
mantendo seu quadril erguido, quando ela quis se
mover e quem sabe rolar para a cama, e fugir dele.
-Não se mova! – Era uma ordem, e
quando ela não obedeceu, ele lhe deu uma
palmada suave na nádega esquerda.
Ela arfou incapaz de falar ou reclamar.
Não era uma agressão, e pareceu mais
uma carícia, pois era muito suave e ele manteve a
mão ali, acariciando seu corpo com intimidade.
Assustada, sentiu quando ele puxou a camisola e a
levou acima de seu quadril, deixando-a nas suas
costas, revelando seu corpo.
Ela fechou os olhos, morta de vergonha, e
sabendo que agora não teria volta. Nua, estava
exposta de uma forma que nunca pensou ser
possível uma mulher ficar frente ao marido!
-Por favor... – Ela quase implorou, sem
saber que era para que parasse ou não.
Rony fingiu, em seu íntimo, que era um
pedido por mais. Suave, mas decidido, ele
encostou-se às curvas suaves de sua mulher,
apertando as nádegas macias entre seus dedos e
correndo os dedos pelas suas coxas, enquanto
curvava-se sobre ela, beijando suas costas.
Seu quadril masculino entrou em total
atrito com sua pele, e ela sentiu o membro se
acomodar ali, perigosamente íntimo, e tentou
aproveitar seu descuido para se afastar, mas ele
manteve-a firme em suas mãos.
-Linda como uma raposa traiçoeira – Ele
disse suave, mas sincero – Se não me quer, por
que eu a quero tanto?
Ela não soube o que responder, e ele não
queria respostas. Não queria mesmo!
Sua frase a deixou quieta, e Rony
aproveitou-se desse momento de confusão, para
mover-se e olhar bem para ela. Era uma bundinha
redonda e morena, curvas certas e harmoniosas de
uma mulher pequena. Mas ele podia ver suas
coxas apertadas uma contra a outra, tentando
talvez defender-se de seu olhar, mas não
adiantava, ele via o que desejava. Lábios úmidos e
rosados, esperando por mais.
Ele gemeu, colocando a mão entre suas
pernas e ela apertou ainda mais as coxas, barrando
sua passagem. Era de esperar que não fosse
colaborar. Por isso insistiu, e seus dedos logo
acharam caminho.
Muito molhada, pensou, esfregando os
dedos longos naquela região tão delicada. Ela não
gemia, ou emitia sons e ele desejou ver seu rosto,
mas não daria o braço a torcer. Mergulhou um
dedo testando o caminho, e ela arfou, fazendo-o
sorrir. Ela olhou para trás, mesmo sem querer, e
permitiu sem querer que visse o brilho em seus
olhos.
O mesmo brilho da noite passada,
quando sucumbira aos seus braços. Aquecido pela
constatação de que ela não o detestava tanto
assim, ao menos na cama não lhe era indiferente,
ele prosseguiu.
Mergulhou o dedo longo até a metade,
ouvindo o som assustado que escapou de seus
lábios. Ela merecia um beijo, pensou, por ser tão
linda e doce, merecia um beijo.
Doce? Esse pensamento quase o fez rir,
ao lembrar-se da sua convicção de não querê-lo.
Ela merecia ser tratada com o mesmo descaso que
o tratava!
Lembrando-se da razão de estar
subjugando-a, ele tirou a mão, achando ter ouvido
um lamento, e endireitou o corpo, roçando a ponta
de seu pênis inchado e rijo em seus lábios úmidos,
dizendo com a voz rouca pelo desejo.
-Grite não, e eu paro! – Era um aviso e
um desafio.
-Não quero! – Ela disse, tentando não se
mover, tentando não se forçar contra ele, tentando
refrear a vontade incontrolável de se oferecer –
Não faça!
-Vou gozar minha semente dentro de
você, e tão profundamente, que irá implorar por
mais! - Ele grunhiu, enquanto se empurrava sem
gentileza.
Helena fechou os olhos, mordendo os
lábios para não gritar. Seu corpo foi lançado à
frente, pelo impacto, mas ele a segurou firme pela
cintura, mantendo-a no lugar, enquanto assistia
seu membro desaparecer dentro dela.
Ele jogou a cabeça para trás, quando a
delícia de possuí-la passou por ele e o fez
consciente do quanto queria aquela mulher.
Aquele querer doentio era desconhecido para ele
até ver Helena pela primeira vez!
E isso também o assustava, tanto quanto
a necessidade de se fazer presente dentro dela.
Dentro do seu corpo, de seu coração e de sua
alma!
Contrariando seu desejo de puni-la, ele se
retirou com cuidado para não machucá-la. Ela não
lamentou, ou reclamou, manteve-se quieta, e de
cabeça baixa, os cabelos impedindo-o de ver o que
sentia, ou pensava.
Incapaz de se conter, diante daquele vale
liso, escorregadio e delicioso que descobria
sempre que estava dentro dela, ele mergulhou
novamente, sentido o acesso mais fácil, agora que
ela fora deflorada na noite passada. Era apertada,
mas não a ponto de se ferir com a presença de um
corpo masculino.
Esses movimentos lentos o tiravam do
sério, e precisando vê-la, ele esticou as mãos e
afastou a camisola, agarrando os seios que
balançavam a cada investida. Ela soltou um som,
um gemido baixo, de quem não quer se revelar e
ele obrigou-se a penetrá-la mais forte, apenas para
fazê-la gemer novamente.
Com o rosto um pouco de lado, pode vê-
la de olhos fechados, e gemendo, mesmo que
tentasse conter o som. Essa certeza, de que estava
com ele naquele momento de prazer, o fez perder o
controle e começar a investir rápido e forte.
Helena baixou a cabeça ao sentir os
movimentos contra seu flanco, se acelerarem. Ele
estava em todos os lugares. Suas mãos apertando
seus seios, seu membro preenchendo-a em cada
pequeno cantinho de sua intimidade, suas coxas
contra as pernas, seu cheiro, sua presença...
Ela abriu os lábios, sem notar que
precisava de ar, quando aquela mesma sensação
da noite passada a tomou de assalto, contrariando
seu desejo de dizer não. Gemendo, ela se rendeu,
sentindo e assentindo ao prazer que a percorria da
cabeça aos pés.
Perdido em seu próprio desejo, ele não
soube dizer se o tremor que a percorria era de
prazer ou dor. Suas pernas delicadas tremiam, e
parecia sofrer em suportar o peso que ele forçava
sobre ela, e Rony se moveu apenado de seu
esforço.
Helena abriu a boca para xingar quando
ele parou no exato momento em que ela sentia o
mundo começar a rodar sob seus olhos fortemente
fechados, ele a soltou e ela sentiu sua falta, mas a
fazia deitar, e um pouco de lado, ela olhou para
ele.
Rony viu algo selvagem em sua face, e
em sua expressão arfante e cobriu-a com seu corpo
novamente, agora deitada, afastando suas pernas o
mais largo que pode, e penetrou-a novamente,
profundamente, buscando seus lábios entreabertos
para um beijo.
Helena quis negar-se aos seus beijos, mas
os movimentos entre suas pernas eram gostosos
demais para que se desse ao luxo de lutar. Ele
entrava e saia se apoiando nos braços. As mãos
em cada lado do seu corpo, a parte superior do
corpo grudada a seus seios, e ela deixou-se beijar,
correspondendo com a mesma loucura que ele. Era
um beijo desesperado e mesmo sem saber como,
seus braços finos agarravam suas costas, uma das
mãos agarrando sua nádega firme e talhada pelo
trabalho árduo. A outra mão desistiu de seus
cabelos fartos e ruivos e juntou-se a outra, sem
notar, sem perceber que o puxava mais para
dentro, cada vez mais dentro!
Ele gemeu a esse contato e ela o sentiu
avançar, todo dentro de seu corpo, era quase
insuportavelmente prazeroso senti-lo desse modo.
Os movimentos rápidos, fortes, intensos,
molhados e quentes. Ouvia o som molhado que se
formava cada vez que suas intimidades se
encontravam, e ouvia também o som de seu beijo
cheio de língua e mordidas suaves. Ouvia,
cheirava e sentia.
Ela jogou a cabeça para trás quando foi
demais para ela, e ele ergueu seu tronco, batendo
forte dentro de sua intimidade aberta para recebê-
lo. Lambeu seus seios, mordendo um dos mamilos
muito excitados e endurecidos pelo desejo. Ela
soltou um grito baixo, e ele aumentou a
velocidade, sentindo aquele corpo derretido sob o
dele.
Helena movia o quadril mais devagar,
recebeu seu desespero, incapaz de acompanhá-lo
como deveria, mas não havia reclamações, ela não
podia fazer nada se estava paralisada.
Uma de suas mãos correram para seu
ombro masculino e apertou a carne com força,
querendo que ele olhasse para ela. Era estranho,
mas queria olhar em seus olhos. Depois de um dia
todo sem se olharem, ela queria seu azul
profundamente doce, perdido em seus olhos.
Rony se perdeu nas nuvens de prazer que
viajavam nas pupilas castanhas e sorriu
docemente, tendo-a tão entregue e perto de gozar.
Helena arfava e gemia, e correspondia, e
se desse sorte, nunca mais poderia esquecer-se
daquele momento enquanto vivesse, pois ele se
esforçava para levá-la ao limite.
Ele baixou a cabeça, olhando para a
junção de seus corpos e então, gemeu também, se
entregando e permitindo-se gozar com ela. Ela
quase o acompanhou, mas o sorriso na face dele, a
fez perceber, por sobre a nuvem de prazer e
desejo, que ele vencera.
Subjugada. Vencida.
Ele tinha o que queria e ela mesma lhe
entregava de bandeja!
Apesar disso, não conseguia conter as
sensações que a engoliam e a sugavam para o
mundo que Rony criava para ambos quando a
possuía. Ele tinha os olhos fortemente fechados,
gemendo e investindo como um louco e ela
percebeu o quão perto sua mão direita estava da
beirada da cama e da parede.
Ele pagaria pelas sensações desesperadas
que a percorriam. Fechando os olhos por um
segundo ela quase desistiu, até sentir o contato
gelado da arma em seus dedos.
Rony congelou no lugar, quando sentiu
algo gelado tocar seu peito. Parou na mesma hora.
Estava profundamente dentro daquela
mulher que apontava uma arma diretamente para
o seu coração.
Ela tremia da cabeça aos pés, e ele sentiu
seu corpo apertar o dele, ondulando intimamente a
cada funda respiração. Descabelada, corada,
arfante. Ela o encarava.
-Helena... – Ele não sabia nem o que
dizer, olhando dela para a arma.
-Pare agora! – Ela disse com uma força
de vontade que não sabia que existia.
-Não! – Ele disse ignorando a arma, e se
movendo para frente. Sentiu o dedo engatilhar a
arma e o som alto o fez olhar em seus olhos. Ela
engoliu em seco e ele se ajoelhou entre suas
pernas, mantendo a penetração, mas olhando para
ela, um pouco longe da arma, mas perto o bastante
para matá-lo a queima roupa. – Não vou parar.
Ele avisou, segurando seus joelhos
erguidos e continuando as investidas. Ela não
atiraria.
-Eu juro que atiro – Ela disse fraca,
olhando-o pelos olhos semicerrados, pois a
pequena interrupção apenas aumentara a sensação
de estar próxima ao cume do amor – Eu atiro se
não parar...
-Atire! – Ele disse ficando mais ousado,
mais forte, mais rápido – Você me mata de
qualquer jeito!
Ouvir essas palavras ditas em sua voz
entrecortada, a deixaram a beira do precipício. Ele
gemia mais forte agora, e a arma pesava em suas
mãos, sempre olhando para ele. Seu membro
inchou dentro dela, e ela sentiu-se sendo rasgada,
tão forte era o desejo e a paixão.
Desesperada por mais, gemeu, e agarrou-
se a ele, puxando seu corpo sobre o dela, a arma
esquecida em suas mãos, enquanto abraçava seus
ombros e seu pescoço. Ele apoiou uma das mãos
no colchão e segurou sua cabeça com a outra,
beijando como um louco sedento pela água da
vida, que apenas ela poderia lhe ofertar.
Aquele beijo foi o que faltava para a
sensação crescer em seu ventre e se espalhar.
Pegava fogo, sua pele pegava fogo. Aquele
fogareiro a consumiu e ela gritou quando o
orgasmo a cobriu em seu manto de sensações
deliciosas. Rony assistiu seu prazer e acelerou,
querendo acompanhá-la.
Helena aproveitou aquelas sensações ao
máximo, seu corpo ficando mole e suave sob o
dele, apenas recebendo seus empurrões, vendo-o
cavalgar atrás da mesma sensação que ela.
Incapaz de resistir ela assistiu ao prazer que
cruzou a face masculina, e ouviu seu gemido
longo e profundo ao gozar. Ele era perfeitamente
lindo sentindo prazer, pensou, sentindo mais que
isso. Ele tremia, e num segundo de bom senso, ela
lembrou-se do que acontecia quando ele gozava.
Um fio de desespero a percorreu e tentou
se afastar. No exato momento em que ele
ejaculava, ela se afastou, e ele escapou de dentro
dela. Abrindo os olhos de susto ele segurou-a com
as duas mãos, e a prensou na cama, penetrando-a
novamente, apenas pela delícia de obrigá-la a
aceitar sua semente.
Chocada, ela conteve a sensação de
prazer que a percorreu com esses movimentos. Era
uma devassa! Uma cretina, uma...! As palavras
lhe faltaram quando o prazer voltou. Voraz e
inconsequente, tão forte quanto o anterior, ela
gemeu fechando os olhos e se deixando levar pelo
prazer. Rony levou uma das mãos entre suas
pernas, tocando sobre seu clitóris quando ela
começou a gozar novamente, desejando
enlouquecê-la.
Aquela pequena bruxa o estava matando
de prazer!
Exausto, ele deixou-a gozar o quanto
quis, aguentando até o fim apesar da exaustão, e
então despencou sobre seu corpo macio, quando
ela deu o último gemido de êxtase.
Levou um minuto para lembrar-se e
conseguiu mover-se o bastante para puxar seu
braço e ver a arma em sua mão. Helena abriu os
olhos, encarando-o sem saber o que deveria estar
sentindo.
Sobre ela, ainda segurando-a com
carinho, o corpo pesando sobre o dela, a
intimidade de estar entre suas pernas macias, ele
agarrou sua mão e tirou a arma. Ela estava toda
mole embaixo dele, e não ofereceu resistência.
Com a sombra de um sorriso, ele abriu a
arma e mostrou a ela, o compartimento das balas
vazio. Seus olhos castanhos ficaram chocados
encarando-o, ele sorriu:
-Não sou tão louco assim – Ele explicou,
roçando os lábios nos seus – Enquanto Ford
estiver nessa casa será minha mulher, querendo ou
não.
Aquela altura, depois de tudo, ela não
tinha forças para lutar, mas não concordou.
Amanhã seria outro dia e suas forças voltariam,
pensou, esperando placidamente.
Ele colocou a arma na mesinha ao lado
da cama, e baixou a cabeça para beijá-la. Helena
deixou, sentindo aquele delicioso prazer de estar
em seus braços.
Havia um nó em sua garganta diante das
palavras dele, de como a subjugara a sua vontade
apenas por ser mulher e estar em uma posição
difícil, dependendo dele e de Ford.
Movendo-se, ele a deixou mais
confortável, deitando-se ao seu lado, e antes que a
puxasse para seus braços, Helena virou-se de lado,
longe dele, e abraçou ao próprio corpo, como se
pudesse se proteger de seu olhar.
Essa atitude o feriu mais profundamente
do que suas palavras o fizeram naquela manhã.
Fazê-la desejá-lo não era o suficiente. Sentindo-se
o último dos homens, ele puxou o lençol sobre
eles, e a cobriu, protegendo-a de si mesmo, e
virou-se para o outro lado, deixando-a só, já quer
era isso que desejava.
Não viu suas lágrimas, nem ouviu seus
soluços baixos, pois estava muito cansado e
exaurido do ato de amor, tanto que adormeceu
mesmo sem querer. Ela não chorava por causa
dele, mas pela vida que a fizera ter medo de amar.
Não queria perder novamente. Não podia perder
mais nada em sua vida.
Quando Ford fosse embora, eles se
afastariam para sempre. E com o tempo ela o
esqueceria.
Esqueceria.
Capítulo 31 - Tensão

A primeira coisa que ele pensou ao


acordar era que estava ficando completamente
louco. Não havia outra resposta. Depois da noite
anterior, ele passara toda a noite perdido em
sonhos com seu amigo John Harrison.
Movendo-se na cama, ele sorriu,
imaginando a cara que seu amigo não faria se
soubesse que povoava seus sonhos. Eram sonhos
confusos, onde via John em algumas situações
que viveram no internato.
Tentou lembrar-se do dia anterior, se
havia pensando em John, ou falado dele, pois,
normalmente sonhos refletem nossas lembranças e
pensamentos do dia anterior.
Nu, ele sentiu os lençóis em volta dele e
chutou-os para longe. Passou ambas as mãos pelo
rosto querendo afastar o sono, e abriu os olhos.
Helena estava quase terminando de
vestir-se quando ele acordou. Ficou imóvel, pega
de surpresa por seu sorriso, e pela súbita visão de
sua nudez. Confessava, ainda não tinha visto seu
corpo sem ser no ato de cópula, e era tão belo
quanto em estado excitado.
Corada por ter esse tipo de pensamento,
virou-se de costas e começou a abotoar o vestido,
sabendo que não conseguiria sair antes de um
confronto visto que ele estava acordado.
Tentando aparentar a mais completa
calma, esperou.
Rony sentou-se na cama, olhando para
ela, e esqueceu completamente os sonhos confusos
com seu melhor amigo, lembrando-se da noite
passada. A megera estava vestida e pronta para
fugir dele. Era de se esperar.
Bem, na verdade, era de se surpreender
que não o houvesse assassinado enquanto dormia.
Sorriu ao lembrar que bem que ela tentara fazer
isso, apontando a arma em sua direção. A bendita
pistola estava na mesinha ao lado da cama, e ele
apanhou conferindo que estava sem as balas.
Havia tido a ideia de tirá-las de lá, e pedira ao
menino Duran que entrasse no quarto as
escondidas de sua mãe e fizesse esse serviço por
ele.
Não era tão louco a ponto de afrontá-la
com uma arma nas mãos!
Maneando a cabeça, ele deixou a arma no
mesmo lugar que estava antes, e olhou para ela
novamente. Helena prendia os cabelos, e ele
desejou ordenar-lhe que não o fizesse. Queria vê-
los soltos, e abraçá-la, apenas pelo pequeno prazer
de enterrar o rosto em seus perfumados cabelos
crespos.
Subitamente, ele franziu a testa ao
perceber que nunca a tivera em um abraço
espontâneo, um que não fosse ao enlevo da
paixão, quando ruía sua indiferença.
Não era homem de contentar-se com tão
pouco.
Pretendia reclamar disso e exigir que ela
repensasse sua postura, quando ela virou-se e
tencionou sair do quarto.
Mesmo que não olhasse para ele, Rony
pode ver suas olheiras e as marcas vívidas do
choro. Foi como levar um poderoso soco.
Havia despencado exausto e não lhe dera
atenção necessária. E sua Helena estivera
chorando por sua causa! Pela forma que a tratara.
A culpa o fez baixar os olhos quando ela
o notou olhar. Vergonha. Como homem, sentia
vergonha de ter causado sofrimento a sua mulher.
Engolindo em seco, sentiu-se o pior dos
homens. Uma coisa era achar que estaria forçando
algo que Helena também desejava, apenas era
turrona demais para admitir, outra bem diferente,
é saber e ver o quanto a magoava e usava de seus
sentimentos.
Ela não gostava dele. Era fato. Sentir
desejo físico a fazia sofrer. E sofrer por não o
desejar. Ponto. Não iria mais insistir.
Derrotado, deixou-a sair do quarto, sem
falar nada.

Desconcertada, ela saiu do quarto. Havia


dado-lhe tempo para abordá-la. Todo o tempo do
mundo para interceptá-la! Mas nada, ele a deixara
sair sem vontade de conversar com ela.
E o que esperava? Havia apontado uma
arma para ele em meio ao...! Deus! Ela parou no
corredor, e cobriu o rosto com as mãos,
inconformada ao lembrar-se de sua loucura! Havia
apontando a arma para o peito de seu marido,
enquanto ele apenas a possuía, como era seu
direito, e até mesmo dever!
Horrorizada disse a si mesma que
precisava de tempo. Havia chorado durante toda a
noite, e sentia o corpo moído do cansaço e do
choro.
-Bom dia, Helena.
A voz animada de Juanita logo cedinho a
irritou. Não queria ver seu sorriso de mulher feliz
e amada. Não queria mesmo!
-Aqui, tome. Seu chá – ela disse olhando
em volta como se tivesse medo que a ouvissem.
Helena não pediu explicações e apressou-
se a apanhar a xícara.
-Oh, não! Esse não! – Juanita riu, tirando
a xícara de suas mãos – a outra xícara.
Tinha duas sobre a mesa e Helena bebeu
seu chá avidamente, desesperadamente rezando
que fizesse efeito. Não queria e não podia
engravidar!
-O que é isso? – Apontou a outra xícara e
Juanita riu baixo e maliciosa.
-É para Suarez – Ela tornou a sorrir,
olhando-a com zombaria.
-Ele está doente? – Pensou se não teria
pegado a doença de seu enteado, o pequeno
menino que ardera em febre por dias!
-Não, mas eu estou – Vendo que não
entendia, ela riu baixo – Suarez é um homem
velho; não tem a vitalidade de seu marido, por
isso, às vezes... Preciso de mais – Notando seus
olhos se arregalarem, percebeu que agora ela
entendia quando se referia a esses assuntos – Um
incentivo, para que ele de conta de me satisfazer!
-Juanita! - Ela criticou, tentando não
sorrir de sua expressão maliciosa.
-É só um chá. Aprendi no cabaré. O fará
arder essa noite! Pois levanta até defunto!
Mesmo sem querer, Helena sorriu, e
quase riu. Juanita deu uma gostosa gargalhada e
ela acabou acompanhando-a.
Isso foi à gota d’água, pensou Rony,
vendo-a rir com Juanita. Ao seu lado, chorava. Ao
lado dos empregados ria.
Sem um único bom dia ele passou por
ambas, e bateu a porta atrás de si.
Helena era capaz de sorrir para o próprio
demônio, menos para ele! Furioso, ele desejava
poder bater em alguma coisa para aliviar toda a
raiva e frustração.
Seus sorrisos, ele pensou. Queria tanto
seu sorriso, tinha seus gemidos, seu corpo
contorcido de prazer, mas não tinha seus sorrisos.
Era incapaz de fazê-la sorrir!
A única certeza era que de todas as
mulheres do mundo, aquela era a única que não o
suportava!
Contrariando a razão ele dirigiu-se ao
campo, para o trabalho, desejando ser esse seu
único pensamento e sua única preocupação, como
era até pouco tempo atrás, quando a única coisa
que desejava era se estabelecer perto da sua
família!
Helena esperou o café da manhã e
esperou ele estar longe para sair da casa e ir ao
lago. Ficaria ali até sentir-se capaz de enfrentá-lo
novamente. Havia esquecido de apanhar um livro,
mas não se importou, pois se achava incapaz de
concentrar-se na leitura. Sua mente estava
ocupada em pensamentos tolos e ela se culpava
por ser capaz de esquecer tão rápido de sua vida
anterior a chegada de Rony.
Como podia simplesmente aproveitar?
Aquela vida não era sua, deveria ter sido de Anne,
sua irmã! Ela sim teria um marido como Rony e
desfrutaria de todas as belezas que a vida pode
trazer. Helena ainda desejava poder viver sua vida
só, dedicada a cuidar de seus pais.
Ela sentiu um impulso quase
incontrolável de entrar na água do lago, e mandar
as ordens de Rony às favas! Ele não tinha direito
de pedir nada, depois da forma como havia a
encurralado na noite anterior! Apesar disso, ela
refreou o impulso e ficou olhando para o lado, sem
ânimo para enfrentar os desafios de provocá-lo.
Ficou por várias horas, sentada,
aproveitando a paz e o silêncio, até ouvir o som de
cascos. Um pouco sobressaltada, olhou em volta,
até notar que era alguém sobre um cavalo.
Uma linda égua branca, com crina
marrom, quase dourado. Sobre a cela, uma linda
moça ruiva olhava para ela com rancor. Helena
conhecia muito bem aquela doce jovem que a
esnobava.
Alice Parker fora sua melhor amiga desde
o dia que saíra de seu berço! Unidas como irmãs,
viviam juntas, inclusive em longas tardes de
brincadeiras no lago. Aprendera a nadar junto com
ela e seus irmãos. Não convivera com Rony, pois
ele fora embora quando ela era apenas uma
criança de três anos, e Alice tinha quase a mesma
idade que ela.
Alice vestia um lindo vestido verde, com
muitos detalhes e bordados, e ela lembrou-se de
como a Sra.Parker, ou melhor, Sandra Parker era
ótima com a costura. Deveria tomar cuidado, pois
agora, ela também era uma Sra.Parker
Um súbito arrepio a percorreu ao
lembrar-se da noite passada e de como ele a
tomara como esposa, nas duas vezes em que
estivera sobre seu corpo!
Seu coração estava descompassado e
esperou que ela se aproximasse num trote lento.
-Olá, Helena.
Ela disse com amargura, e era sempre
esse seu tom quando ambas se encontravam.
Sabia que no fundo Alice nunca a perdoara por ter
deixado sua amizade. Ela mesma sentia muita
falta de sua amiga ruiva e apimentada. Muita
falta! Tanta, que não pensava nisso, ou
desmoronaria!
Mas nunca tivera oportunidade antes de
contar a ela.
Quando seu irmão morrera, e seu pai a
colocara a frente da fazenda, soube que deveria se
afastar de Alice, afinal, elas eram a sombra uma
da outra, e não queria levar Alice pelo caminho
que trilhava.
Andava em locais onde homens de todos
os tipos circulavam, e nunca sabia se voltaria para
casa viva, ou intocada. Fazia negócios, discutia
preços, e era um milagre nunca ter sido abusada
ou ferida, pois muitas vezes passaram por apertos
frente a agregados bêbados e violentos.
Então, como poderia levar Alice consigo?
Era melhor que ela a odiasse, a odiar sua
família, pois tinha certeza que os Parker logo as
afastaria. E não poderia culpá-los, por isso, ela
mesma tomara a iniciativa!
-Olá, Alice – Disse em tom rouco, pois
havia chorado muito a noite passada e sentia a
garganta dolorida.
-Lindo dia para um passeio, não é? – Ela
ironizou olhando em volta e então pousando os
olhos azuis sobre ela – Meu irmão me deu
permissão para entrar em sua fazenda sempre que
eu desejar! Espero que não se importe, afinal,
agora as terras são dele!
Helena se controlou para não responder a
altura, mas sabia que Alice não tinha amadurecido
nem um décimo do que ela amadurecera. Não
poderia culpá-la por ser apenas um moça ingênua
e sentimental. Na verdade, deveria parabenizá-la e
esperar que a vida a conservasse desse modo até o
dia que tivesse realmente que crescer e
amadurecer.
-Fique a vontade. Sempre foi bem vinda
nas minhas terras – Ela disse sem rancor,
levantando-se e ficando mais próxima, para tocar
no cavalo.
Amava cavalos, e nunca tivera
oportunidade de ter um animal tão vistoso e bem
cuidado, de raça tão importante.
-É mesmo? Lembro-me de ter me
proibido de avançar pela cerca!
Ela disse incapaz de conter a acidez.
Helena lembrava-se desse dia, quando a
mandara embora de suas terras.
-Foi há muito tempo, já havia esquecido
– Disse, não querendo brigar com ela.
-Engraçado, eu não esqueci! - Ela disse
séria e Helena sorriu para a antiga amiga.
-Sempre foi rancorosa, também me
lembro disso – Ela sorriu ainda mais quando Alice
avermelhou e olhou para ela com ódio mortal.
-Disse a meu irmão, que era contra esse
casamento, mas ele não me ouviu! – Ela disse em
represaria e isso a feriu.
Alice sabia exatamente quem ela era.
Havia apenas ela no mundo, que poderia dizer
quem era a verdadeira Helena, ou ao menos, quem
ela fora um dia. As outras pessoas que a
conheciam estavam mortas. Talvez por isso tenha
doido tanto ouvir isso.
Afastou-se do cavalo e olhou para o lago,
tensa, a voz presa na garganta.
-Espero que tenha um bom passeio.
Deu-lhe as costas e começou a andar para
longe. Não queria mais chorar. A noite passada
havia sido o suficiente para uma vida toda!
-Como sempre, vira as costas e vai
embora! – Alice gritou se aproximando, pois tinha
descido do cavalo.
Helena parou e virou-se para ela,
tentando não perder a razão e agir do mesmo
modo que ela.
-Não estou virando as costas para você.
Estou permitindo que prossiga seu passeio sem
minha interferência uma vez que parece não me
suportar!
-E não suporto mesmo! Rony disse que
está feliz, e minha mãe age como se acreditasse,
mas eu sei que é mentira! E vou deixar bem claro,
espero que ele te abandone assim que tiverem a
prova desse casamento ser verdadeiro!
-Que prova? - Ela perguntou sem
compreender.
-Ora! Vi quando meu pai falou a Rony,
que com um filho, teriam a prova e viveriam em
paz! Ou você acha que meu irmão gosta de você?
Ela sentiu as pernas lhe faltarem, e achou
que fosse desmaiar. Tanto interesse, tanto desejo...
era tudo mentira.
Subitamente, uma lembrança a fez
sufocar a dor e perguntar:
-Quando seu pai disse isso?
-Ontem – Ela respondeu rápido demais.
-Ontem Rony esteve todo o dia com
Suarez cuidando do gado - Ela disse, pois Juanita
lhe contara.
Pega no flagra em sua mentira, Alice
avermelhou e subiu em seu cavalo.
-Espero que meu irmão logo caia em si e
tome consciência da besteira que fez se casando
com você!
Helena não se deu ao trabalho de
responder.
Observou-a galopar para longe, e pensou
em como Alice havia crescido e ficado bonita.
Ácida quando se dirigia a ela, mesmo assim, uma
linda jovem. Rony tinha razão ao querer que seu
amigo viesse de Londres conhecê-la. Seria
praticamente impossível não se apaixonar por ela.
Sorriu, pensando na sorte que Alice tinha
e não se dava conta!

Seu passeio se prolongou pela manhã, e


quando ela voltou para almoçar, os empregados já
haviam almoçado e voltado para o trabalho.
Inclusive, Rony levara Ford para conhecer os
limites da propriedade e a velha viúva estivera na
casa de Juanita, conversando com ela sobre
assuntos que Helena ainda não sabia quais eram.
A casa estava vazia e por isso ninguém a
viu. Ela apanhou uma maçã, e chamou Duran para
passear com ela. Não queria ficar sozinha, e o
menino lhe faria companhia. Ele e seu irmão, o
pequeno Ruanzito, tão branquinho e de olhos tão
claros quanto suas sobrancelhas muito loirinhas e
seu cabelo que mais lembrava ouro puro. Eles
andaram um pouco e Helena parou ao lado deles
para observar as ovelhas do outro lado do cercado,
na propriedade Parker, de Artur e Sandra Parker.
Os meninos eram acostumados à
privação e não reclamaram quando ela disse que
não iriam se aproximar, mas, no entanto, não
resistiu a permitir que eles subissem em algumas
árvores e apanhassem algumas frutas silvestres.
Os meninos lhe faziam companhia e ela
esqueceu-se dos problemas até o meio da tarde.
Eles voltaram com as mãos e as camisetas cheias
de frutas, e Helena mastigava o pedaço de uma
laranja quando ouviu as vozes alteradas.
Suarez estava dando bronca em um
empregado e humilde o rapaz baixava a cabeça.
Rony tinha razão, Suarez era um homem especial
e de confiança. Era mirrado e parecia fraco, mas
crescia quando se dispunha a fazer valer sua
vontade.
Ele tinha um pulso forte e era respeitado,
por se fazer respeitar.
Os meninos ficaram ali observando o
padrasto lidar com a situação e ela voltou sozinha
o resto do caminho, terminando sua laranja e
pensando em coisas mais agradáveis.
Era estranho, mas com os dias passando,
ela achava cada vez mais difícil se lamentar.
Sorriu vendo Juanita mexendo e fuçando
naquele estranho modo de se banhar que Rony
inventara. Ela olhava tudo e parecia muito, mas
muito interessada.
-Céus, Helena, onde esteve o dia todo? -
Ela perguntou assim que a viu, e se não tivesse
melhorado o humor, com certeza, Helena a teria
lembrado que era apenas uma empregada e não
sua dona – Pois saiba que seu marido está com
um humor insuportável! Esteve duas vezes em
casa com uma desculpa qualquer, mas sei que
estava atrás de você e quando não a achou, tratou-
me como uma... rapariga!!!- Ela parou não
querendo lembrar que já fora isso e um pouco
mais!
-Não o leve a sério – Ela disse sorrindo
ao pensar que ele não repetira a indiferença do dia
anterior. Não resistira a xeretar!
-Não levo, mas sua visita sim! Ele
conseguiu irritar o velho Ford e agora, eles estão
oficialmente se estranhando.
Helena não quis se meter, mas
subitamente parou, olhando para ela e ficando um
pouco chocada ao dar-se conta de algo.
-Juanita... Seu marido não havia ido à
cidade? Quando voltou?
-Suarez... – Ela parou o que fazia e corou
pega no flagra – Suarez não foi à cidade.
-Como não? – Sua face ficou pálida como
gesso.
-Hum... – Juanita afastou o olhar,
sabendo que aquilo não iria prestar! – Seu marido
mandou outro empregado... É isso.
-Ele disse que enviou Suarez! – Elevou a
voz, sentindo a verdade cair em sua cabeça como
uma bomba.
-Deve ter se confundido com os nomes...
– Ela não olhava para Helena e isso era o mesmo
que admitir sua mentira, visto que Juanita sempre
olhava nos olhos!
Juanita olhou para ela e sua expressão e
soube que não a convenceria. Suspirou e pôs
ambas as mãos em sua farta cintura, olhando para
a patroa com exasperação.
-Certo, ele mentiu. Mandou um dos
empregados no lugar de Suarez, por que... porque
precisava dele aqui. Foi isso.
-Não poderia abrir mão de Suarez por um
dia? – Havia ironia em sua voz.
-Helena, seu marido me manda embora
se souber que Suarez tem-me contato suas
conversas e que eu estou contando a você! Pense
nos meus filhos antes de contar a ele! – Ela disse
nervosa.
-Minha boca é um túmulo! – Ela
assegurou, decidida que não precisava ouvir para
entender. Já sabia exatamente o que ele quisera
fazer com essa atitude!
-Ele deu ordens para que o rapaz fique na
cidade por alguns dias. E que só volte semana que
vem, com uma desculpa qualquer. Tenho a
impressão que ele quer... Manter o velho Ford
aqui por mais tempo – Ela tinha uma expressão de
quem sabia à razão, mas achava melhor não
contar.
-Ele não tem o menor senso de respeito
por mim – Ela disse a si mesma e quando notou
que Juanita ouvia e entendia, ela corou.
-Helena, ele é seu marido!
-Oh, sim, ele é meu marido – A raiva a
sufocou e teve que fechar os olhos para não gritar.
Rony, que ouvia a conversa das duas,
estava imóvel, esperando sua explosão.
Há alguns minutos a vira se aproximar da
fazenda na companhia dos dois meninos e a
seguira, querendo pega-la sozinha e descontar nela
a frustração de não a ter visto o dia todo. Mas ela
avisou Juanita e Suarez e Rony achou melhor
esperar e ver o que se passaria.
Fora descoberto, mas ela sabia de seus
planos. Manter Ford no quarto ao lado para
obrigá-la a saciar essa horrível necessidade que o
consumia. Agora, tinha a confirmação. E daí? Ela
o detestava de qualquer forma!
-Porque não... Conversam? Ele pode ter
uma forte razão para fazer isso. – Até mesmo
Juanita estava insegura com essa possibilidade.
-Não se preocupe, sei suas razões! – A
fúria soltou sua língua a ponto de não ter mais
volta – Ronald tenta compensar o fato de não ser
homem o bastante para mim, usando a presença
de Ford para me subjugar! É apenas esse intento!
Pois quando esse abutre for embora, não o
aceitarei em meu quarto, nem mesmo sob tortura!
Suas palavras pesaram entre as duas, mas
Juanita pode ler a mentira em sua face. Helena era
uma jovem apaixonada e as jovens apaixonadas
são sempre extremistas. Seus olhos diziam mais, e
ela lia perfeitamente em suas entrelinhas, por isso
apenas acenou concordando, imaginando que
Rony teria outras razões, e que estava enganada,
sobretudo, nos encantos dele não serem
suficientes.
É claro que eram! Mas orgulhosa Helena
nunca admitiria!
-Deixemos isso de lado, Helena – Ela
disse tentando acalmá-la – Me ajude a entender
como ele fez isso, para que possa fazer um para
nós. Não aguento mais carregar água para os
meninos!
Helena a seguiu, e ambas ficaram
analisando a engenhoca com interesse.
De longe Rony sentiu o mundo ruir aos
seus pés. Que grande mentirosa ela era! Quase
desfalecera em seus braços de tanto prazer e para
ser franco, tivera que dar tudo de si, visto o quanto
prazer ela lhe exigira, e agora mentia
descaradamente!
E pior, para Juanita, que tinha aquela
língua comprida!
Fechando os olhos, ele conteve o ímpeto
de bater nela e invadiu a casa, deixando para trás
o som da porta batendo com força.
Helena olhou na direção por onde ele
avançara e sentiu o coração parar diante de sua
força e presença. Juanita parou o que fazia para
sorrir. Pela forma como sua patroa olhava o
marido, era de imaginar o quanto o estivesse
massacrando na cama.
Mas não diria isso a ela. Não mesmo!
As duas continuaram olhando a
engenhoca e Helena percebeu como era bem
elaborada, bombeando água do poço ao lado da
casa, diretamente para um sistema artesanal que a
levava para o lugar desejado. Impressionante.
Havia muitas coisas impressionantes
nele, pensou e se recriminou, arrumando as roupas
e achando uma desculpa qualquer para entrar na
casa antes de Juanita!

Rony bebia um copo de água quando ela


entrou e o olhou como se fosse seu inimigo, como
não disse nada sobre saber de Suarez, ele também
não tocou no assunto.
Era muito cedo para jantar, mas ele sentia
fome, por isso, apanhou um pedaço de pão e
Helena, contrariada até os ossos, cumpriu sua
parte do acordo, apanhou uma das xícaras de
sobre a pia e derramou um pouco de chá e serviu a
ele junto com pão e frutas. Ele que se
empanturrasse! Os outros empregados não vinham
para casa comer no meio do trabalho. Só o fracote
Parker!
Decidiu que era melhor odiá-lo do que
pensar nele! Ele comeu de pé, olhando para ela
com insistência.
Detestava aquela louca, como a
detestava! Longe um do outro, cada um de um
lado da cozinha, poderiam massacrar um ao outro
com os olhos. Apesar da raiva, não paravam de se
olhar. Desafio, sim, era um desafio, para saber
qual dos dois cederia primeiro!
Ambos desistiram quando Juanita entrou
na cozinha e pigarreou para chamar a atenção dos
dois. Ela andou para a pia, e olhou dentro da jarra
virando-se para Helena:
-Querida, onde está o chá de Suarez?
Não entrou em detalhes, mas quando ela
arregalou os olhos, e olhou para Rony ela soube.
Ele terminou de beber pedindo mais, ao
que hesitante Juanita o serviu com o resto do chá,
sem saber se era o certo, mas sem coragem de
contar nada. Helena parecia petrificada.
Paralisada, observou-o sorver o último gole e se
afastar, para bem longe dela!
Apavorada, ela olhou para Juanita. E
agora?
Capítulo 32 - Fogo!

Juanita e Helena não puderam conversar,


pois logo que Ford apareceu contrariado, todos se
calaram e elas começaram a preparar o jantar.
Umas duas horas depois, Rony voltou na
companhia de Suarez. Helena olhou atentamente e
notou que ele estava bastante nervoso e
transpirava bastante. Sumiu para dentro da casa, e
ela não teve coragem de segui-lo, até Juanita
cutucá-la e sussurrar:
-Veja se ele está bem...
Indecisa, ela foi atrás. Encontrou-o na
sala, olhando para o vazio. Tinha sentando no sofá
e estava com uma expressão esquisita.
-Juanita colocou o jantar na mesa.
Avisou, assustando-o.
-Já vou - Ele disse sem olhar para ela.
Estava corado, era verdade, o pescoço
muito vermelho, a pele tinha uma camada fina de
suor e ele enxugou a testa com o braço, olhando
para ela desconfiado.
-O que foi? - Ele perguntou rude,
engolindo seco ao vê-la.
-Parece estar doente – Ela disse tensa,
mordendo o lábio.
Ele fechou os olhos e gemeu, causando
nela um arrepio por dentro. Não sabia, mas ele
estava no limite. Vê-la, ouvi-la, estava levando-o
no limite!
Era como se houvesse uma fogueira
queimando dentro dele e não conseguia controlá-
la. Sim, ele estava doente, e sua doença não tinha
cura!
-Comerei mais tarde – Ele avisou,
fechando os olhos e tentando conter a vontade
incontrolável de gritar e correr atrás dela pela
casa, jogá-la sobre a mesa e possuí-la na frente de
todos.
Helena ficou apreensiva, achando que ele
estava mesmo doente. E era tudo culpa sua! Dera
aquele maldito chá para ele e agora, um homem
saudável, estava doente!
Sem saber o risco que corria se
aproximou e ficou a sua frente, dobrando o corpo
em sua direção e colocando a mão delicadamente
sobre sua testa para sentir se tinha febre. Estava
aparentando estar febril!
Quase imediato ao seu toque, ele segurou
seu pulso, e abriu os olhos olhando para ela com
algo assustadoramente potente em suas pupilas
claras, agora escurecidas, quase negras.
-Não me toque – Ele mandou, com voz
rouca.
-Preciso ver se tem febre - Ela defendeu-
se, puxando o braço e insistindo.
-Não se preocupe; não se verá livre de
mim tão cedo – Ele ironizou.
“Porco”, ela pensou, insistindo.
Empurrando sua mão para longe, ela
colocou a sua sobre sua testa, conferindo que ele
estava quente. Deslizou os dedos por sua
bochecha e então, no pescoço, a pele ardia e
estava úmida sob seus dedos e ela teve que olhar
para longe, pois ele a encarava.
-Está com febre – Ela avisou a culpa a
corroendo – Vou pedir a Juanita que traga água
fria para um banho, isso deve baixar a febre...
-Não – Ele tornou a segurá-la, e Helena o
encarou sem entender porque disso.
Tinha algo em seu olhar que a queimou
por dentro.
-Não estou doente – Ele rugiu, sem ouvir,
ou ver nada além dela. Seu cheiro, ela cheirava a
pão quente, pois estivera fazendo-os até pouco
tempo atrás, cheirava a mato, a ar livre. Seu cheiro
era enlouquecedor.
Helena estava distraída, se culpando, e
quase gritou quando ele a puxou para si. Sentada
em seu colo, não teve tempo para gritar ou
reclamar.
O beijo a pegou desprevenida era
verdade, mas isso não era desculpa suficiente para
deixar e corresponder. Havia ardor e urgência e
quando o enlaçou pelo pescoço, seu quadril entrou
em contato com seu corpo excitado e ele gemeu,
aprofundando o beijo.
Zonza, ela deixou-se levar, e saltou
assustada quando ouviu a voz de Ford muito
perto. Sendo a única lúcida, ela empurrou-o e
levantou-se quase caindo, pois as pernas estavam
moles como geleia.
Ford estava de pé, olhando para a
cozinha, e quando olhou para eles, não havia nada
anormal, ou amoral.
Sem saber para onde olhar, morta de
vergonha, ela praticamente correu para a cozinha
afastando-se do perigo.
Juanita notou seu corado e ocultou um
sorriso, servindo-os e despedindo-se, pois estava
na hora de cuidar da sua família. Helena desejou
poder ir com ela quando Rony voltou junto com
Ford.
Foi um jantar tenso. Ele comia pouco, e
não tirava os olhos dela. Helena tentava não
perceber, ou não levar em conta, pois ele parecia-
lhe muito doente, mas era claro para Ford e a
parteira que deveriam ir dormir cedo. Ford nem
mesmo teve coragem para questionar a razão de
tanta demora para partirem.
Helena ficou aliviada ao ver que todos
deixavam a mesa, mas sua paz durou pouco, pois
ele continuou sentado, olhando para ela. Tensa,
achou melhor não testar sua sorte indo banhar-se.
Não com ele rondando!
Fingindo normalidade, arrumou a louça
sobre a pia, e quase desmaiou de alívio quando ele
saiu da casa. Deixando a porta apenas encostada,
ele saiu.
Seu alívio durou pouco, pois o tempo foi
passando e nada dele voltar. Estava tarde, Helena
abriu a porta e olhou em volta, notando que na
casa de Juanita não se via mais a luz do lampião,
e imaginando pelos roncos que se ouvia na casa,
que Ford já estava dormindo também.
Rony parecia tão fora de si agora a pouco,
que ela se viu preocupada. Era só o que lhe
faltava! Matar o próprio marido envenenado,
afinal, não tinha ideia dos dotes clínicos de
Juanita!
Mas isso não resolveria todos seus
problemas? Ver-se livre dele definitivamente?
Esse pensamento fez seu coração acelerar e ela
fechou a porta, deixando um pouco aberta, apenas
para não ficarem trancados do lado de fora e
achou melhor procurá-lo.
Não precisou ir longe. Rony estava
olhando as estrelas, não muito longe, e apesar da
noite escura, ela pode ver o quanto ele estava
perdido em pensamentos. Ainda parecia-lhe
doente, mas havia algo vivo em seu olhar e por um
segundo sentiu a vontade quase incontrolável de
aproximar-se e abraçá-lo.
Fechando os olhos, ela segurou o lampião
nas mãos e se aproximou, tocando seu ombro,
para não assustá-lo.
Foi um toque rápido, e ele virou-se em
sua direção como se ela houvesse se
materializado, direto dos seus sonhos, e estivesse
ali para realizar todas as suas fantasias.
-Está tarde, precisa entrar – Avisou e seu
tom complacente o fez sorrir.
-Sentindo minha falta na cama? – Ele
perguntou notando que ela vestira a camisola e
soltara os cabelos, estava pronta para dormir.
-É claro que não! – Ela deu um passo
para trás, ficando descompassada com sua
ousadia. – Ford foi dormir, cheio de dúvidas sobre
onde estaria, e porque está tão enfurecido! Acaso
esqueceu-se dele?
Pego no flagra, ele olhou além dela,
novamente para as estrelas.
-Não sei o que se passa comigo – Ele
disse baixo, rouco, uma de suas mãos pousou
sobre o próprio peito e ele pareceu esfregar uma
dor imaginária ali – Sinto o corpo arder.
-Disse que tem febre. Deve me deixar
fazer uma compressa fria e...
-Não estou doente! – Ele reclamou. Abriu
os braços, como se fosse abraçar as estrelas e
gemeu, e ela se arrepiou da cabeça aos pés. –
Estou com... – Parou olhando para ela e sabendo
que Helena se ofenderia e se irritaria com ele –
Vamos entrar!
Ela sentiu medo no exato momento que
ele disse isso, pois era quase como uma ameaça.
-Dessa vez, a arma está carregada - Ela
avisou, dando alguns passos adiante, indo na sua
frente. – É melhor que não tente nada!
Ele grunhiu, e parou, deixando-a ir.
Armada, ele não poderia tentar nada. E o
que faria com aquele sentimento que o estava
massacrando desde que a vira há poucos horas
atrás? Sentia um calor infernal nas entranhas e o
tesão estava enlouquecendo-o.
-É a última noite de Ford nessa casa - Ele
segurou seu braço fazendo-a parar e ficar frente a
frente com ele.
Ela perdeu a voz por um segundo, assim,
tão perto. Detestava quando ele a puxava para si e
insistia em falar tão perto, tão íntimo!
Gostaria de ser fria e dizer-lhe que era
capaz de ouvi-lo a uma distância civilizada, que
não era necessário que sempre falasse em seu
ouvido! Mas não conseguia pensar com frieza
quando ele a pegava desse modo!
-Mentira! - Ela disse entre dentes, a
lembrança de sua artimanha, vindo à tona.
-Acha que sou mentiroso? – Ele ficou
descompassado com essa informação.
-Eu não acho! Tenho certeza! Mente para
Ford, mente para mim! É um mentiroso, sempre
tirando proveito de todos! Mentiu para ter minhas
terras! E agora mente, mantendo Ford preso aqui,
apenas para me... Me... Ultrajar!
-Ultrajar? Que eu saiba você também
gostou das minhas mentiras para Ford – Havia um
tom sensual em sua voz que a deixou de lábios
entreabertos, um calor se espalhando rapidamente
por seu corpo e turvando sua capacidade de
pensar.
Estava ficando cada vez mais difícil fugir
dele, agora que sabia exatamente o que
aconteceria se o permitisse avançar!
-Ou pensa que não sei ler o seu corpo?
Que não a sinto derreter nos meus braços?
-Cale a boca! – Ela puxou o braço e se
livrou do aperto.
-Porque chorou? – Ele perguntou a
queima roupa e ela se afastou, quase correndo em
direção a casa.
Em dado momento, quando ele acelerou o
passo, ela começou mesmo a correr, mas ele era
mais alto, e em poucas passadas barrou sua
passagem.
-Eu quero saber por que chora? O que fiz
de tão mau para te causar dor? Vamos, responda!
Ela parou um pouco arfante e o mirou em
seus olhos, desejando não ter feito isso.
-Aqui fora não pode me obrigar a nada! -
Ela respondeu, desbocada, desafiando-o com um
olhar e sorriso irônico.
-Quer que entre com você? - Ele
provocou e ela se fechou ainda mais em sua raiva.
-Você quem sabe, não esqueça, a arma
está carregada!
Essa era uma verdade.
Enfurecido, e terrivelmente excitado, a
deixou ir.
Helena parou na soleira da porta,
erguendo o lampião e olhando para ele. Rony
havia desistido e agora, a deixava ir. Ainda
parecia doente demais!
Rumando na mesma direção ele começou
a se despir. Ela não pode evitar sentir como se o
tempo houvesse parado. De pé, ficou esperando,
olhando, devorando cada movimento. Ele tinha os
olhos fixos nela, e despia peça por peça, apressado
para livrar-se do desconforto das roupas. Ela corou
quando viu a exatidão de seu desejo.
Ele estava pronto para o amor, o corpo
rijo, iluminado pela luz do luar. Abrindo a água
com a alavanca, ele colocou-se sob a água fria e
Helena estava congelada no lugar.
Oh, Deus!
Ele era absolutamente lindo. O corpo
perfeito. A presença marcante. Tudo era marcante.
Os cabelos ruivos molhados foram jogados para
trás e ele olhou em sua direção, um olhar ferino,
baixo e perigoso, enquanto seus lábios
vociferaram:
-Entre na casa!
Contrariando sua ordem, ela se
aproximou, iluminando-o com a pouco luz. Ele
apoiou ambas as mãos na parede da casa, onde
apoiava a bica por onde saia à água, e baixou
novamente a cabeça, sentindo seu olhar percorrê-
lo da cabeça aos pés.
Seu sexo se contraia, de pé, exigindo
atenção e ele gemeu, pois senti-la perto era um
tormento, e ele logo faria uma loucura.
-Não deveria ficar na brisa da noite,
tomando banho gelado se está doente! – Ela tentou
achar uma desculpa para ficar ali, devorando-o
com os olhos.
-Já disse que não estou doente! – Ele
praticamente gritou furioso por não ser deixado
em paz naquela situação horrível para ele, como
homem – Porque insiste nisso? – Vendo sua
expressão culpada, ele ficou incrédulo - Tentou
me envenenar?
A frase caiu no vazio e sua face contou a
verdade a ele.
Incrédulo, ele enfiou a cabeça embaixo
da água, sentindo uma fisgada no coração ao
pensar nisso.
-Não é isso! – Ela recuperou a voz e disse
baixo, a beira das lágrimas sem saber a razão –
Não era para você beber!
-E o que não era para beber? – Ele gritou,
cuspindo água, e ela tremeu, olhando para ele
como se olha para uma guloseima deliciosa. Tão
viril. Tão másculo. Tão furioso!
-Juanita fez um chá para Suarez – Sua
voz ficou presa em sua garganta – era só para...
Para... Hum... Não era para fazer mal!
-Um chá para Suarez... – Ele sussurrou, e
ao entender, soltou uma espécie de grito de ódio,
batendo na parede e quase derrubando a calha que
conduzia a água – É por isso! É por isso que estou
queimando por dentro!Maldita Juanita!
-Ela não tem culpa! – Mais um passo, e
ela estava sentindo os respingos de água em seus
pés – foi minha culpa! Peguei a jarra errada! Não
quis te causar qualquer desconforto!
-Desconforto... – ele riu ironizou,
virando-se de frente para ela e se exibindo – Estou
desse jeito a horas, achando que enlouqueci, e
você chama isso de desconforto?
Ela se calou, primeiro porque ele estava
verdadeiramente irado, e depois porque olhar para
seu corpo causava-lhe um descompasso no
coração. Um aperto em suas entranhas e sentia as
mãos coçarem de vontade de tocá-lo.
-Rony...
-Não, não diga meu nome desse jeito... –
ele pareceu implorar, deixando a raiva e voltando
para a água, que parecia incapaz de acalmá-lo –
entre em casa, Helena!
-Foi minha culpa, não desconte em
Juanita!
-Ela que leve suas coisas para sua casa!
Aquela meretriz de uma figa!
Ele estava cego pelo desejo, e era incapaz
de pensar no que quer que fosse!
-Não diga isso, ela não merece!
-A santa Helena, que pensa em todo
mundo menos em mim! – ele rosnou furioso,
olhando para ela através de uma camada de
cabelos molhados. – entre em casa, Helena.
Não era apenas um pedido, era mais, e
ela arfou o lampião quase caindo de suas mãos,
pois elas tremiam.
-Eu...
-Entre. Na. Casa! – ele disse cada palavra
pausadamente, e quando se moveu, ela olhou para
baixo, molhando os lábios subitamente secos.
Estava quase sem ar, sem saber por quê.
Ele tinha as nádegas firmes, as coxas rijas e as
panturrilhas talhadas por mãos generosas, as
costas eram fortes, e se retesavam cada vez que ele
se movia, como agora, quase de lado, e ela sentia-
se atraída por seu membro, que parecia hipnotizá-
la.
-Sinto muito... – ela tornou a dizer a voz
totalmente sumida.
Rony olhou para ela, e para seu corpo, e
sentiu o pênis se contrair dolorosamente, por isso
levou uma das mãos a ele, e apertou, causando
nela um sobressalto. Ela deu um passo para trás,
mas não se afastou mais e ele olhou-a com olhos
experientes.
Seus seios estavam excitados, os
mamilos de pé e ele sabia que não era pela brisa
noturna, muito menos por medo.
-Venha aqui, Helena – ele disse baixo e
ela olhou em seus olhos, completamente
ensandecidos, e sentiu medo.
Medo de ceder.
-Fez isso a mim, agora, venha cá.
Ela fechou os olhos, culpada por tê-lo
colocado naquela situação e, sobretudo, culpada
por querer ir.
-Sinto muito – desculpou-se, deixando o
lampião no chão, para lhe dar um pouco de luz. –
Isso não vai se repetir.
Ele quase gritou de frustração, quando
ela tencionou se afastar, ou não, visto que ficou
parada, olhando para ele, mas especificamente,
para sua ereção. Helena gostava de se punir, e
puni-lo, mas a paciência e autocontrole de Rony
chegara ao fim, e com um puxão nada delicado, a
trouxe para baixo da água com ele.
-Não! - ela gritou histérica ao sentir a
água fria sobre sua cabeça, molhando-a
completamente.
-Quieta! – ele bradou, cobrindo sua boca
com sua mão gigante.
Sim ele era gigante!
Prensada contra ele, ela não pensaria em
gritar novamente. Eles seriam ouvidos e vistos.
Tentou morder seus dedos, mas ele
gemeu a esse contato, olhos nos olhos, e sem
poder evitar, acabou beijando seus dedos, e ele
tirou a mão, libertando seus lábios, mas não seus
olhos...
Capítulo 33 - Limite!

Helena não pretendia fugir, mas se


pretendesse, ele não daria chances, muito menos
oportunidade, ao agarrá-la pelas nádegas firmes, e
subir seu corpo delicado. Ela enlaçou as pernas
em seu quadril, e ele quase riu de alívio, pois ela
queria tanto quanto ele!
Nesse enlevo, correu as mãos em suas
coxas, expostas pela camisola que subira e estava
cobrindo apenas o essencial, e encaixou-se ali,
sem esperar permissão, ou sem temer machucá-la,
já não se importava.
Cerrando os dentes, ele penetrou-a.
Longo, profundo e direto.
Jogou a cabeça para trás gritando como
um homem a beira da loucura. Estava morto, e
indo diretamente para o paraíso.
Helena agarrou-se a ele, recebendo seu
descontrole no mais íntimo de seus recantos,
segurando-se a ele para não cair.
Tão forte, ela pensou, sentindo-se pulsar
ao redor dele. As coxas apertando seus quadris e
desejando mais, muito mais.
-Rony... – ela gemeu quando ele se
moveu indo e voltando lentamente a princípio.
Ele abriu os olhos e olhou para ela, mas
não lhe deu atenção.
Sentia muito, mas não poderia lhe dar
atenção. Não mesmo!

Um som o havia acordado e um pouco


amedrontado o velho Ford saíra atrás da razão do
barulho. Uma espiada e notara o quarto do casal
vazio. A porta da cozinha estava aberta, e ele
baixou a luz do lampião, e espiou. Arregalando os
olhos e contendo o ar.
Via uma imagem que nunca achara
possível!
Seu anfitrião fazia amor com a esposa,
sob as estrelas para quem quisesse ver! O rapaz
parecia desesperado e o velho homem não o pode
culpar.
Sua jovem esposa estava em seus braços,
vestindo nada além da camisola transparente pela
água, os seios jovens e empinados, jogados para
frente, implorando carinhos enquanto ela tinha a
face jogada para cima, banhada pela lua, enquanto
gemia e se contorcia.
Rony golpeava seu pequeno corpo como
um homem ensandecido, e as coxas frágeis se
retesavam a cada ida e vinda, como se ela fosse se
quebrar a qualquer momento.
Ou não. Ford perdeu o ar quando Rony
desceu o rosto, e abocanhando o seio com sua
boca aflita, através do tecido molhado, ele sugou o
seio todo, levando tudo que podia em sua boca e
ela segurou sua cabeça, mantendo-o ali, enquanto
se empurrava contra ele. Não era apenas o Parker
quem tinha perdido o juízo!
A calada e hostil Helena, o levava em seu
corpo com a mesma ousadia que a mais faceira
das cortesãs, e Ford engoliu em seco quando ela
começou a se empurrar mais rápido e mais forte, a
ponto dele gemer forte e se descontrolar jogando
seu corpo contra o seu, ambos se chocando com
pressa.
Havia fogo no ar, e Ford poderia sentir o
calor e o desejo pairando sobre ele como uma
onda insuportavelmente forte.
Quando Rony ergueu o rosto e a beijou,
os corpo ficaram ainda mais aflitos, mais
apaixonados, e a mão delicada de Helena agarrou
a calha por onde corria a água e segurou-se a isso,
enquanto sua outra mão amassava seus cabelos
ruivos entre seus dedos, os lábios devorando os
dele, com o mesmo desejo e tesão que Rony, com
a diferença que ela não estava sob efeito de
nenhum poderoso afrodisíaco.
O beijo não se interrompeu por vários
segundos e quem o quebrou foi Helena ao precisar
de ar, o corpo convulsionando, as coxas retesadas,
trincadas em volta do quadril másculo, obrigando-
o a dar tudo de si.
A boca de Rony devorava seu pescoço,
sugava seus seios, a mantinha cativa de seus
toques enlouquecedores e Ford achou que perdera
realmente uma oportunidade e tanto quando
ameaçara a jovem. Poderia ter uma esposa
prendada e apaixonada, ou não, visto que jamais
daria conta de tanta libido!
Assustado com o gemido profundo de
Rony, chegando finalmente ao ápice, ele correu de
volta para dentro da casa e entrou em seu quarto
fechando a porta, achando que estava velho
demais para esses sobressaltos!
Rony sentiu-se sugado dentro da
cavidade molhada e quente que Helena lhe
oferecia, e quase desfaleceu quando ela gozou,
moendo-se contra ele e levando tudo de si.
Ela escondeu o rosto na curva do pescoço
masculino, quando o prazer a cegou e tudo que
pode fazer foi deixar-se ficar em suas mãos, sem
se importar em estar segura ou não, se cairia ou
não.
Em seus braços, ela gemeu uma
reclamação quando ele saiu de dentro dela, e
conseguiu reunir coragem para levantar a alavanca
e acabar com água.
Ela não ergueu o rosto, enquanto ele a
carregava para a casa, sem se afastarem, as pernas
delicadas em volta dele, e seus braços também.
Soltou-o apenas quando foi colocada
sobre a cama. Languidamente, olhou para ele, que
colocou um dedo sobre seus lábios calando
qualquer palavra.
Ele saiu, e ela ouviu o som da porta dos
fundos sendo trancada, e seus passos de volta,
assistiu placidamente a porta do quarto sendo
fechada e escorada pelo móvel, e olhou para ele,
ainda excitado, e engoliu em seco.
Oh Deus, foi só o que pode pensar.
Estava lânguida e satisfeita, mas ele... Estava
apenas começando!
Andando em sua direção com uma
expressão animalesca, ele subiu na cama, e ela
tentou se afastar, ao que ele sorriu:
-Isso, sinta medo - ele incentivou e ela
sorriu, mesmo sem querer.
Era um sorriso malicioso, e ela nem sabia
disso, mas ele sabia, e correspondeu, subindo as
mãos por suas pernas, seus tornozelos, suas
panturrilhas, suas coxas, levando a camisola com
elas.
O tecido subiu e sumiu antes que
protestasse, embora, ela sabia que não o faria.
Aquele sorriso era seu, ele pensou. Um sorriso só
seu!
Incentivado, ele olhou aquele corpo todo,
com atenção redobrada para sua barriga. Tão lisa!
Tão pequena!
Como um alucinado, ele agarrou aquela
pequena cintura, e começou a lamber a pele, o
umbigo, esfregou o rosto na pele, sentindo o
estômago dela tremular com mil borboletas que
brincavam ali dentro, deixando-a fraca e instável.
Apoiada nos cotovelos ela jogou a cabeça
para trás, sentindo e sentindo, sem controle de
suas emoções. Ele subiu a face e abocanhou um
mamilo, e ela gemeu mais forte, pois ele a
amamentava vorazmente, diferente da primeira
vez que a acarinhara daquele mesmo modo.
Passava de um seio ao outro, apertando,
mordendo, sugando, afrontando sua resolução de
não permiti-lo fazer isso.
Rony agarrou seus cabelos molhados,
enroscando os dedos nos fios enquanto a beijava,
roçando o quadril entre suas pernas, e a
atormentando, a ponto dela erguer o quadril sem
notar, convidando-o a mais.
Ela também ardia, e ele quebrou o beijo,
sem aviso, descendo entre suas pernas.
-Não... – ela tentou protestar, mas ele a
empurrou na cama, deitada, e se colocou ali, a
cabeça cheirando seu odor natural, misturado ao
cheiro do desejo e do sexo.
Helena achou que fosse morrer de
vergonha, quando ele deslizou os dedos por sua
intimidade e roçou o clitóris, penetrando-a com
dois longos dedos.
-Oh... – ela fechou os olhos, sem perceber
que se movia contra ele, indo e vindo em seus
dedos atrevidos.
-Quer mais? - ele perguntou beijando sua
virilha, acima dos pelos claros, sua barriga, e suas
coxas – peça mais...
-Não... – ela protestou, mas o modo como
se mexia a contradizia vergonhosamente. – Oh...
Ele a viu entrar naquele mundo de
antecipação e achou que valia o sacrifício de não
ouvi-la implorar, mesmo porque, estava
impossível conter o desejo avassalador que o
acometia naquele momento.
Vorazmente, ele a beijou intimamente.
Lambeu ao redor de seus dedos, sobre o clitóris e
ela arregalou os olhos olhando o que ele fazia. A
pequena diabinha era além de pragmática,
curiosa. Assustada, olhou tudo, desde o modo que
ele passava a língua sobre o pequeno caroço
intumescido, até quando retirou os dedos e
começou a chupar o mel que escorria ali.
Foi demais para ela, que tombou na
cama, fechando os olhos e se entregando ao
desconhecido. Rony lambeu e chupou, desfrutando
daquele gosto incomum, gosto de paixão, e
pensando freneticamente que era a mais saborosa
das mulheres que já tivera o prazer de provar.
Era um gosto de desejo, amor e
inocência.
Embora não houvesse muita inocência na
forma como ela se contorcia e se empurrava contra
sua língua. Alucinado, pôs-se a chupar com força,
fazendo-a se contorcer, as pernas tentando chutá-
lo, sem, no entanto abalá-lo ou fazê-lo parar. Ela
ergueu o torço da cama, os braços agarrando os
travesseiros quando o prazer a corroeu por dentro.
Era doentio, era selvagem e ela se
contorcia desesperadamente, levada ao extremo, e
Rony não pode mais esperar, parou e se ajeitou,
colocando a ponta de seu pênis na entrada
molhada e brilhante. Estava levemente entreaberta
por seus dedos e ele passou a mão ali, sentindo a
quentura e lhe dando um suave afago, antes de
mergulhar um pouco de seu membro.
Helena choramingou, pedindo mais, e ele
avançou, até estar todo dentro.
Os braços apoiados ao lado de sua
cintura, ele mantinha-se longe, investindo
rapidamente, e levando-a a um lugar desconhecido
até poucos dias atrás. Ainda não se recuperara dos
dois orgasmos anteriores e sentia-se em brasa,
sendo arremessada sem dó de um lado para o
outro!
Rony retesou o quadril, tenso como o
inferno, sem achar paz ou satisfação. Havia
gozado embaixo do chuveiro, mas seu corpo não
dava pistas de se acalmar, ou sua ereção amenizar,
iria levar a noite toda para conseguir aplacar
aquele desejo todo!
E pobre Helena, era a vítima de seu
arrombo. Suas pernas macias estavam irrequietas,
uma delas trincada em seu quadril, enquanto a
outra corria pelo lençol sem parar, assim como
suas mãos, era como se quisesse se agarrar a algo
e fugir.
Ele lembrou-se da arma, e pensou em
segurar suas mãos, mas naquele exato momento
não pode pensar em nada, o corpo mergulhando
profunda e irreversivelmente nela. Era o inferno e
o paraíso, e quando seu braço fino voou em sua
direção, Rony teve certeza que era seu fim!
Ela iria matá-lo!
Em vez de se afastar, ele cerrou os dentes
para não gritar e avançou, quase erguendo seu
quadril, selvagem e descontrolado.
Mas o tiro não veio, ela sequer segurava
uma arma. A única arma eram seus dedos
impacientes, que quase arrancaram seus cabelos
em apertos fortes e ele gritou bombando
alucinadamente naquele corpo macio.
Helena se contorceu, achando que
perdera completamente os sentidos e aquela não
era ela! A sensação era tão forte, tão
maravilhosamente selvagem que ela sentia-se sair
do colchão e tentava parar, tentava continuar,
tentava qualquer coisa que pudesse aplacar e
acabar com tudo!
Tentava inutilmente voltar à vida real,
aos sentidos reais, mas não conseguia, não
enquanto aquela fogueira estivesse dentro dela,
consumindo-a e deixando-a tensa e loucamente
envolvida por aquele homem.
Rony jogou os quadris, investindo
intensamente, e no momento que a sentiu
endurecer embaixo dele, soube que era o momento
que tanto esperava. Ela se retesou da cabeça aos
pés. Os dedos dos pés se enrolaram e suas coxas
tremeram, o membro que a rasgava inchou e bateu
furiosamente em seu útero e ela rachou. Quebrou
em mil pedacinhos, deixando-se levar pelo prazer
e sua fúria incondicional.
Rony não pode parar, mesmo quando ela
se acalmou, não pode parar ainda estava ereto e
pronto, e apesar de gozar junto com ela, ainda era
pouco! Maldito desejo!
Olhando para ela, quase desfalecida
sobre ele, olhou mais abaixo, e parou. Sua pélvis
estava vermelha e inchada e estava castigando sua
mulher com tanta brutalidade!
Retirou-se delicadamente e ela gemeu, e
gemeu dolorosamente quando ele tentou acariciar
seu clitóris. Estava completamente satisfeita e
olhou em seus olhos tão adoravelmente sua, que o
desejo o sufocou doloroso nele também.
Incontrolável a sensação que o fez subir,
puxando-a para baixo, e como uma boneca de
pano ela se deixou levar, e Rony em um momento
de insanidade, segurou sua cabeça, encostando
seu membro em seus lábios.
Ela tentou dizer algo, mas ele não ouviu,
forçou caminho e cansada, ela entreabriu os
lábios, sem saber exatamente o que ele pretendia
até sentir aquilo em sua garganta.
-Hum... – ela tentou falar, mas não
conseguiu e ele fechou os olhos, gemendo.
Empurrou sua cabeça, fazendo-a
conhecer o ritmo, e manteve-se assim por pouco
tempo. Não dava mais, pensou. Não conseguia
pensar, o raciocínio o abandonou e ele deixou-se
penetrar aqueles lábios doces, usufruindo do calor
de sua boca, como um veludo líquido que o levou
ao completo delírio!
Helena fechou os olhos, desconsertada,
apenas fazendo o que Rony queria, pois não tinha
escolha, estava presa.
Apavorada, ela sentiu algo acontecer e
segurou na base do pênis, ajudando assim a
controlar o ir e vir, e em dado momento, ele ficou
todo dentro de sua garganta, parado e pulsando e
ela preparou-se, sem saber para que, até que os
jorros de um líquido grosso, salgado e estranho
inundou sua boca.
Achou que sufocaria, até descobrir que
podia engolir aquilo, e não parava! Era tanto e tão
intenso que estava sufocada quando parou. Rony
caiu em si quando a nuvem de prazer passou e o
deixou zonzo. Helena estava presa na cama, entre
ele e o colchão, seu corpo em sua boca, e ela
tentava tossir e respirar. Culpado, afastou-se,
deixando-a respirar, e ela tossiu, buscando ar,
deitada de lado, estava vermelha e suja. Suja não.
Estava coberta por seu gozo e isso não era algo
sujo!
Cuidadoso, ele a abraçou, puxando o
lençol para limpá-la e ela nem se mexeu,
deixando. Quando terminou, ele a beijou, lento e
calmamente. Segura em seus braços ela tinha os
olhos semicerrados e exausta não protestou
quando ele a colocou sobre ele, como um delicioso
cobertor. Era só disso que precisava, ele pensou.
Antes de praticamente desmaiar de cansaço, ela
olhou para Rony, e o viu adormecido. Uma pena,
pois ele não a viu sorrir. O mais lindo dos seus
sorrisos. E apenas para ele, e por ele.
Capítulo 34 - Briguinhas

Os passos iam e vinham e em certo


momento Helena ouviu sussurros no corredor.
Mas o som logo foi embora, e ela fechou
novamente os olhos, se aconchegando ao corpo
morno que a mantinha presa em seus braços.
Não precisou pensar para saber quem era.
Estava deitada nos braços de seu marido, Rony.
Seu marido e seu maior inimigo.
Quando ele dissera que a faria sua por
todos os dias em que Ford estivesse em casa, ela
não imaginou que cumpriria a palavra com tanto
empenho. Pegou-se inadvertidamente sorrindo.
O que estava acontecendo com ela afinal?
Movendo-se levemente, para não o
acordar, descobriu-se completamente nua, sobre
seu corpo quente e branco como a neve. Ele tinha
a pele muito limpa, sem manchas ou feridas, era
uma pele de homem bem cuidado e ela imaginou
quando o vira a primeira vez que não duraria uma
semana sobre o sol escaldante, mas se enganara.
Ele tinha sorte, pensou, lembrando-se da
própria pele queimada e manchada. Sentiu uma
pontada de vergonha de si mesma e se recriminou.
Permitiu-se ficar em seus braços, mas
uma força dentro dela a lembrou que precisava
sair dali. Estava deixando-se confundir e levar, e
estava desistindo de suas convicções!
Não podia deixar-se manobrar! Quando
tudo acabasse e ele fosse embora, seria ainda pior!
Ficaria novamente sozinha, sua vida teria que ser
refeita, e não poderia se reerguer se passasse
novamente pela dor que fora a perda de seus pais e
irmã!
Não se enganava; um dia ele iria embora.
Provavelmente quando a hipoteca estivesse
saldada e pudesse vender as terras. Esse
pensamento causou-lhe um apertou no peito e
achou que fosse chorar.
Estava muito emotiva e estava na hora de
mudar isso!
Decidida, se afastou, com muito cuidado
e logo se viu livre de seu aperto, de pé ao lado da
cama. Ele estava completamente vencido pelo
cansaço e pelo esforço da noite passada, e ela
maneou a cabeça para apagar as lembranças
começando a se mover.
Havia uma bacia de água sobre a
penteadeira, para a higiene matinal, e depois de
limpar a face, Helena molhou uma fronha limpa e
limpou-se. Ombros, seios, e sua intimidade. Mais
tarde tomaria um banho completo, agora, queria
apenas tirar todos os vestígios de Rony de sobre
sua pele. Olhando para trás ficou imóvel quando
ele se moveu na cama, resmungando e parecendo
procurar algo.
Sentia falta do seu corpo ao seu lado.
Helena conteve a vontade incontrolável de voltar
ao seu lado e deixar-se levar. Não podia!
Resoluta, vestiu-se quase correndo e
deixou o quarto.
Na cozinha, Juanita sorriu maliciosa
quando a viu, e antes que pudesse tecer algum
comentário, Helena lhe disse aonde iria e saiu
apressada.
Pouco depois, Rony acordou. Sentindo-se
roubado, descobriu-se sozinho na cama, e no
quarto. Apressado, vestiu-se e saiu atrás de sua
mulher.
Abotoava a camisa quando Juanita, um
tanto insegura, lhe contava do paradeiro de
Helena.
-Essa louca insuportável! – ele praguejou
sumindo para a rua tão rápido que não deu tempo
para Juanita tentar falar sobre a noite passada.
E ela que chegara a achar que os dois se
entenderiam afinal!
Rony apanhou o cavalo, e saiu em
disparada para o caminho que com certeza Helena
seguia. Seu cavalo não estava no celeiro, e se fosse
rápido conseguiria alcançá-la!

Helena desistiu de cavalgar quando a dor


entre suas pernas se tornou insuportável. Por isso
desceu do cavalo e pôs-se a andar.
Aquele bárbaro!
Seus pensamentos para Rony naquele
momento não poderiam ser mais assustadores,
visto que teria que andar quilômetros por sua
causa! Infame!
Decidida, rumou em direção a cidade,
mesmo que isso a levasse a exaustão! Iria a pé,
mas traria a roda para a carroça, nem que sua vida
dependesse disso!
Não teria mais uma noite como a
anterior! De forma alguma!
Um suspiro escapou de seus lábios,
mesmo que tentasse afastar a mente desses
pensamentos. Biltre! Ingrato! Sem escrúpulos!
Admitia que estava cansada, o corpo
dolorido e sentia muito sono, e isso se devia aos
exercícios exagerados da noite passada e era tudo
culpa dele! Claro, fora ela quem o envenenara com
os chás de Juanita, mas naquele momento,
tentando afugentar os sentimentos que a corroíam,
ela culpava Rony, para não admitir o que sentia de
verdade!
Seus passos eram rápidos, mas não o
bastante para um cavalo.
Rony avistou-a a distância e parou por
um segundo. Ela andava rapidamente, o cavalo
seguindo pelas rédeas e se perguntou por que não
montava.
Espertamente cortava caminho pelo lago
e nem mesmo as águas calmas e serenas podiam
atrair sua atenção. Para ser franca, demorou a
prestar atenção o bastante para ouvir o trote do
cavalo que a seguia.
Quando o notou, sentiu vontade de gritar
e acelerar, mas não o fez, olhou para outra direção
e apurou o passo, querendo deixá-lo para trás.
-Onde pensa que está indo? – ele gritou,
deixando o cavalo num trote lento, para ficar ao
lado dela, olhando-a como se de repente Helena
houvesse criado duas cabeças.
-Não é da sua conta – ela respondeu
ácida, ainda sem olhá-lo.
-É minha mulher, tudo que faz é da
minha conta! - ele respondeu e ela não pode mais
se conter. Teve que olhar em sua direção.
Se olhar matasse, não duvidava, cairia
morto aos pés dela naquele momento. Era insano
saber que depois de tanto carinho e dedicação,
Helena ainda o detestava!
-Que seja – ela resmungou e continuou
andando, sem se abalar.
Ao menos por fora, era fria e distante,
pois por dentro, estava quebrada só de olhar para
ele. Ou melhor, de evitar olhar para Rony! Depois
da noite passada... Não podia olhar para ele!
O corado em sua face o alertou de quais
eram seus verdadeiros pensamentos!
A bruxa azeda pensando nos momento
íntimos que desfrutaram? E porque não? A
diabinha podia negar, mas se divertira tanto
quanto ele na noite passada!
-Não vou permitir que vá sozinha a
cidade! – ele avisou, apeando do cavalo e
segurando com força a rédea que ela trazia nas
mãos.
Helena não esperava essa atitude e se
afastou, largando as rédeas, antes que ele pudesse
tocá-la.
Seu susto a sua proximidade o deixou
transtornado.
-Não haja como se a houvesse ferido a
noite passada! - ele reclamou ao entender sua
hesitação.
-Por que não me deixa em paz? - ela
lamentou se afastando ainda mais.
Não precisava do cavalo, decidira que
teria de ir andando não é? Então, Rony que fizesse
bom proveito do animal!
Voltou a caminhar apressada e ele
desistiu dos cavalos, tendo de escolher entre os
animais que pastavam na grama, com grande
interesse, ou sua mulher inconsequente que
acreditava que seu corpo magro aguentaria uma
ida a pé a cidade!
Se aquela mulher continuasse assim, logo
conseguiria seu intento. Receberia a surra que
estava lhe faltando desde pequena, e cada vez
mais, ele sentia vontade de ter coragem para isso!
Claro, era sua raiva falando mais alto!
-Espere!
-O que você quer? – ela perguntou,
virando-se aflita.
Ele estava lhe dando nos nervos! Ô
homem irritante! Será que não conseguia passar
um minuto longe dela? Em sua inocência para o
amor e nervosismo, ela não percebeu que isso era
o que todas as mulheres desejavam secretamente
de seus maridos! Um amor que o fizesse procurá-
la há todos os instantes, mesmo que isso não fosse
viável, ainda assim, era uma fantasia romântica
que ela tinha, materializado, como realidade!
-Não pode ir sozinha a cidade! Que tipo
de marido eu pareceria deixando minha esposa ir
sozinha a cidade?
-Sempre fui sozinha! - respondeu.
-Isso foi antes, quando não havia
ninguém para cuidar de você!
Por alguma razão essa frase despertou
uma fera dentro dela.
-Volte para seu trabalho, Parker, e me
deixe fazer o que tenho a fazer!
-O que? Buscar uma roda para a carroça?
– ele ironizou.
-Alguém tem que fazer isso não é? –
alfinetou. – Ou acha que Ford ficará vivendo
conosco o resto de sua miserável vida?
-Eu vou à cidade - ele deu o braço a
torcer, pois ela tinha razão. – Suba no cavalo e
volte para casa agora!
-Acha que manda em mim? – Ela teria
rido se não estivesse com tanta raiva.
-Eu não acho, tenho certeza – ele se
aproximou e ela deu um passo para trás, nervosa.
As faces se tingiram de um corado mais forte e ela
cruzou os braços sobre o peito, quando sentiu os
seios enrijecerem.
-Nos seus sonhos - ela resmungou,
esperando que ele desaparecesse da sua frente,
mas obviamente, isso não aconteceu!
-Está enganada, nos meus sonhos,
fazemos outras coisas – ele respondeu sorrindo
sem vergonha e a deixando de pernas bambas –
quer saber dos meus sonhos, Helena?
-Não – ela respondeu rápida demais.
-É uma pena, porque você está em todos
eles – tentou rachar sua armadura de auto proteção
com humor e sedução, mas seu olhar forte e
decidido lhe deu uma dica que não adiantava nada
que tentasse comove-la.
Com um olhar de desprezo, ela deu-lhe as
costas novamente e tencionou seguir seu caminho,
mas ele a fez parar com a voz séria, enraivecido
pelo seu pouco caso.
-Pois saiba que quando voltar Juanita não
estará mais na fazenda!
-Porque não? – não pode abster-se.
-Porque se não me respeita como marido
e contraria minhas ordens, eu não te respeito como
esposa e demito sua criada, por quem tenho vários
motivos para desgostar! Vê? É muito simples!
-Não pode demitir Juanita! Ela me ajuda
com a casa e Suarez é seu melhor empregado! –
bradou achando que ele jogava verde com ela e
seus sentimentos para convencê-la a fazer o que
queria.
-E quem lhe disse que vou demitir
Suarez? Acha mesmo que ele abrira mão de um
trabalho de capataz, por Juanita? Por filhos
bastardos e uma mulher de cabaré? Está sendo
ingênua, Helena.
Aquelas palavras ditas com uma pitada
de humor a desconcertaram.
Por mais que não admitisse, precisava e
apreciava a presença de Juanita e seus filhos. Ela
lhe fazia companhia e ajudava-a a entender o
mundo novo que estava diante de seus olhos, sem
perceber, ajudava-a a não enlouquecer diante dos
caminhos estranhos de esposa e submissa!
Além disso, os que seriam das crianças e
da bondosa Juanita se fossem abandonados por
Suarez? A pobre teria que voltar ao cabaré de
onde lutara tanto para sair!
Medindo sua decisão, ela acabou
movendo a cabeça e sem palavras concordando
com ele.
Voltaria para casa, como uma servil e
dócil esposa.
E essa noite, quem sabe, realmente o
envenenasse.
Não seria difícil, pensou. Afinal, ele
adorava sua comida e estava sempre elogiando
seus doces! Uma pitadinha pensou, e estaria livre
para sempre daquele sorriso vitorioso!
-Sabia que tomaria a decisão certa – ele
disse com o sabor da vitória nas palavras.
Ela fechou os olhos, cega pela revolta.
Decisão certa? Não houvera decisão! Fora
coagida a aceitar sua ‘decisão certa’!
Como podia estar casada com um homem
desse tipo? Usava seus sentimentos para se
beneficiar!
Cafajeste! Seus olhos estavam cegos para
a verdade dele estar certo, e ela olhou-o se
afastando, em direção aos cavalos, que pastavam a
alguns metros
De repente uma fúria incontrolável
apoderou-se dela, ao sentir que perdera o direito
sobre sua vida, e tudo que pode ver foi uma
grande pedra no chão, ao alcance de suas mãos e
tudo que pode sentir, foi adrenalina aliada a
sensação de vingança por poder feri-lo.
Talvez por isso, não refreou o impulso, se
abaixou e em questão de segundos apanhou a
pedra e arremessou em seu alvo.
Certeira, porém um tanto trêmula a pedra
quase acertou seu alvo.
Rony não acreditou quando a grande
pedra passou bem ao lado de sua cabeça e se
esquivou, mas nem precisava, pois ela errara o
alvo. Surpreso, virou-se para ela incrédulo.
Helena recuou um passo quando
percebeu o que fez e viu sua expressão.
A surpresa foi embora, e a fúria o
dominou.
Mais alguns passos, ela desejou correr
para longe dele. Sua expressão lhe deu medo. Pela
primeira vez desde que se casaram há dois meses,
sentia medo daquele sempre espirituoso homem.
-Rony... - um pedido de desculpas estava
na ponta de sua língua, mas ela não conseguiu
dizer, apenas esperou.
-Primeiro me aponta uma arma – ele
disse baixo – Então, me envenena. E agora isso –
apanhou a pedra no chão, e analisou o tamanho e
o peso. – Quer me ver morto não é?
-Não o envenenei! – ela protestou
desesperada por defender-se – eu... Foi um
engano. E não era veneno!
Rony não pode deixar de notar a
expressão engraçada em sua face, ao lembrar-se
da noite passada. Era um misto de vergonha e
culpa. Infelizmente, sua paciência com ela acabara
e nem mesmo seu charme poderia dobrá-lo!
-Não vou mandar duas vezes Helena. –
ele avisou, refreando a vontade de bater nela –
Cale a boca e volte para casa sem reclamações!
-Mas eu...
-Estou a um passo de perder a cabeça e te
dar um surra, e eu nunca bati numa mulher. – ele
avisou, com os olhos soltando chispas e ela se
calou. –Você me agrediu primeiro, é um milagre
que eu me controle! Não me teste ainda mais
Helena!
Fechando os olhos, ela cedeu. De cabeça
baixa, dirigiu-se ao cavalo e segurou as rédeas.
-Peça desculpas pela pedrada - ele
mandou azedo.
Helena estava muito perto, segurando as
rédeas do cavalo, e ele segurou seu braço,
fazendo-a olhar para ele.
-Não me pediu desculpas por ter me
atacado a noite passada, como se fosse um animal!
– ela acusou ácida.
-Não pedirei desculpas por ter sido
envenenado por você e Juanita – ele repreendeu
severo em seu tom.
-Então, como posso pedir desculpas de
me defender de um bruto? - ela respondeu mal
criada.
Naquele momento ele sentiu a
incontrolável vontade de beijá-la. Deitar seu corpo
sobre a relva a beira do lago e lhe fazer amor,
como fizeram na primeira noite, lento e suave,
delicioso e profundo, para mostrar-lhe que não
precisavam viver numa eterna guerra. E depois, se
não surtisse efeito, pensaria na surra que vinha
merecendo!
-Se defendesse ontem à noite. Não hoje!
Ou acha que não ouvi seus gemidos e seus gritos?
– disse bem dentro de seus olhos, o hálito quente
em sua face – Gostou tanto quanto eu!
-Isso só prova que estou tão fora de mim
quanto você! – ela respondeu furiosa, e ao mesmo
tempo frágil.
-É o que acontece no amor Helena. A
gente fica fora de si – ele sorriu, e era tão sem
vergonha que ela teve certeza que ele dizia isso
para todas as mulheres com quem passava a noite!
-Odeio você – ela disse entre dentes,
suave.
-Eu sei – a soltou sentindo algo muito
ruim em ouvir suas palavras – Daqui para frente,
não encosto mais em você – era mentira, mas a
raiva o impulsionava a feri-la e rejeitá-la como se
sentia ferido e rejeitado – nem que implore,
encosto novamente em você! Agora suba nesse
maldito cavalo antes que eu esqueça que é uma
mulher!
Sua urgência e força a fez sentir pena de
si mesma.
-Não posso... – disse sentindo-se
humilhada pela sua condição de mulher.
-O que não pode dessa vez? - ele tinha se
virado de costas para tentar acalmar o sangue que
corria forte em suas veias.
Viver nesse pé de guerra com Helena o
levava rapidamente pelo caminho do infarto se
continuasse desse jeito! Nervoso, irritado, tenso!
-Não posso ficar sobre o cavalo.
Sua voz baixa o surpreendeu e quando
olhou para ela notou que estava além de
maravilhosamente envergonhada, humilhada.
Ela não entraria em detalhes. Por alguma
razão Helena achava que entendia charadas. E em
se tratando dela, entendia!
A culpa varreu a raiva e ele segurou as
rédeas do cavalo, e então, as do próprio animal e
disse sem querer dar o braço a torcer, mas
também esperando que entendesse que era uma
trégua.
-Vamos andar um pouco.
Helena olhou-o como se agradecesse que
não fizesse comentários sobre isso.
Ao lado dele, andou rápida,
acompanhando seu ritmo, e em menos de meia
hora estavam de volta a casa.
Nem bem entraram, e um furioso Ford os
abordou!
Capítulo 35 - Perigo

Helena sabia que falavam dela. E porque


não falariam?
Respirou fundo e olhou para Rony. Ele
havia tomado conta da situação, acalmado o
Sr.Ford e sorrido com seu impressionante sorriso,
os dentes brancos e uniformes hipnotizaram o
velho asqueroso, assim como os lábios fartos e
sensuais. Ao menos era assim que ela se sentia
toda vez que o via sorrir e talvez Ford ficasse
encantado, só que de outro modo!
O resultado fora algumas explicações
esfarrapadas, sobre a carroça do Sr.Parker estar
disponível e ir buscá-la na propriedade dos pais.
Obviamente uma raposa velha como Ford notou
que havia algo estranho, mas não questionou.
Tudo que desejava era ir embora, antes que
estivesse acostumado demais para aceitar a
solidão de sua própria mansão próxima ao banco.
A comida cheirosa, os doces da anfitriã,
as conversas inteligentes de Rony Parker... Tudo
isso o fazia desejar ter companhia esperando-o em
casa, e em alguns momentos, depois de ter
assistido ao rompante de paixão do casal, quase se
pegara flertando com a pobre viúva Sra.Barth; a
mulher fizera questão de ignorá-lo, mas agora,
tinha certeza que era mesmo hora de partir!
Sentado na carroça ao lado da viúva,
mantiveram uma conversa animada, pois Rony era
um homem de falar de muitas novidades e planos.
A calada Helena, como era de esperar, manteve-se
silenciosa e contrariada, e o homem se perguntou
como uma mulher tão bem amada poderia ser tão
sisuda!
Finalmente na cidade, livraram-se dos
dois e Rony olhou para ela, suspirando. Mesmo
ambos brigados, não resistiu a comentar:
-Sinto como se houvesse tirado um peso
das minhas costas!
-E tirou – ela respondeu de volta, olhando
em seus olhos.
Droga, porque ainda permitia que ele
olhasse em seus olhos?
Ambos se afastaram e entraram no
armazém. Não tinham grandes compras a fazer,
mas ele não aceitaria ficar sem farinha depois de
provar os bolos e guloseimas que Helena sabia
fazer. Era um pequeno capricho, mas ao pegar um
pote de nozes ele virou-se para Helena:
-Me diga que sabe usá-las - praticamente
implorava.
Em Londres o empregado de John, Alfred
fazia tortas de nozes e era sua maior fraqueza. Era
um homem de emoções fortes e tinha uma queda
por nozes.
Helena teve vontade de frustrar-lhe o
desejo, mas acabou sorrindo e maneando a cabeça
antes de apanhar o pote e colocar sobre o balcão.
Ele tinha cinco anos de idade quando gostava de
algo!
Rony aceitou isso como um bom sinal,
afinal, ela lhe faria um pequeno capricho! Sinal
que não lhe era tão indiferente assim!
Animado, ele conversou com o velho
dono do armazém, ficando alerta quando ele
começou a contar:
-Filho, nós ficamos preocupados com o
banqueiro! – dizia sem saber que Rony o acolhera
– quando o cavalariço voltou ferido de cobra à
beira da morte, dizendo que o Sr.Ford havia se
separado dele, todos pensamos no pior!
Helena estava tensa ouvindo isso, ao seu
lado, imóvel.
-A Sra.Barth foi às fazendas vizinhas, já
que tinha visitas a fazer, e era esperado que
mandasse notícias, mas parece que também
sumiu!
Os dois apenas sorriram, e continuaram
as compras.
Num canto, longe dos ouvidos atentos ela
deixou escapar:
-Eu estava certa – acusou.
-E como poderíamos saber? - ele
defendeu-se.
Ela nem se deu ao trabalho de responder,
apanhando um saco de ervas e jogando no balcão
com força, mostrando claramente sua
contrariedade.
Bem, eles ficaram neuróticos e tiraram
conclusões apressadas! Mas não era o fim do
mundo, era?
Sorriu, pensando na pobrezinha Helena
que fizera o sacrifício de se entregar a ele por
nada!
Era um calhorda, mas estava feliz em vê-
la injuriada!
Lançando um olhar sobre o armazém,
separou algumas peças de roupas que estavam
expostas. Roupas íntimas de mulher, e esperou-a
se afastar para pedir que a mulher do dono do
armazém apertasse as costuras, pois Helena era
pequena para as peças.
Ela não suspeitou de nada.
Rony não pode deixar de notar que ela
observava com muita atenção uma arma. Era
quase nova, e mais potente do que tinha. Um
arrepio o percorreu ao se aproximar e nada
discreto tirá-la de suas mãos, decidindo confundi-
la e desviá-la, e não enfrentá-la:
-Gostaria de visitar a sepultura de seus
pais?
Helena pretendia brigar, mas sua
expressão mudou ao ouvir sua sugestão.
-Sim, gostaria muito.
-Apanhe algumas flores – ele sugeriu e
ela negou.
-Minha parte do dinheiro acabou – ela
confessou, e havia mesmo uma pequena
quantidade de compras suas.
-Oh sim, e não posso fazer uma gentileza
para minha mulher? – esperava que pudesse
entender uma brincadeira – Aceite como um
pedido de desculpas pela noite passada... Quero
dizer, por ter permitido que ficasse machucada por
minha causa...
Ele mesmo corou um pouco, e ela olhou
para o outro lado escondendo um sorriso, e se
apressou em separar algumas flores. Algo singelo,
afinal, não era dada a ostentação.
-Oh, Deus!
O gracejo chamou atenção e Helena quis
ter força suficiente para derrubar as paredes e
poder sair do armazém sem precisar passar pela
porta e pela pessoa que entrava e os fitava com
olhos arregalados.
-Rony, que saudades!
A forma como agarrou sua mão e a
segurou fez o sangue de Helena ferver.
-Boa tarde – ele disse sorrindo e
deixando-se apertar – Como tem passado...
Susan? – confessava, demorara a lembrar seu
nome!
-Muito bem! Oh, suas encomendas estão
prontinhas! Ainda não tivemos oportunidade de
entregar, pois com o medo pelo desaparecimento
do Sr.Ford meu pai não achou proveitoso que
saíssemos pelas estradas! – seu olhar era
encantado.
-Muito prudente seu pai – soltou-se e
sorriu encorajador – Talvez possamos apanhar os
vestidos ainda hoje – olhou de relança para
Helena.
-Vou ao cemitério – ela disse rápida,
querendo fugir de Susan, sua mãe e sua
maravilhosa e harmoniosa família feliz! – Nos
encontramos na carroça em uma hora?
-Sim, é uma ótima ideia – ele disse,
sorrindo para ela.
Helena saiu do armazém decepcionada
por ter concordado tão rápido, e sem saber que
apenas o fizera por saber o quanto a irritava passar
algum tempo com Susan e sua mãe!
Naquela tarde, não se demorou no
cemitério. Orou, e lamentou sua má sorte, mas
não se demorou. Tinha uma ideia fixa na cabeça!
E aproveitaria que seu marido a deixou em paz por
tão pouco tempo, para por essa ideia em prática!
Aquele homem a sufocava!
Com passos duros, decidida, entrou no
único bar de homens que havia na pequena
cidade, fora o cabaré.
-O que faz aqui moça? – o garoto, atrás
do balcão arregalou os olhos, pois não era
esperado moças vestidas como senhoras ali
dentro!
-Chame seu pai - ela mandou.
Algo em seu olhar o fez obedecer, e ela
olhou em volta, agradecendo por haver apenas um
homem numa mesa bebendo. O velho apareceu
pouco depois, olhando-a com olhar esperto. Não
precisava ser um gênio para saber o que a moça
fazia ali!
-Preciso que veja uma coisa – ela disse
direta, pois seu pai fizera muitos negócios com
aquele homem ao longo dos anos.
-Está com você? – ele perguntou ansioso
e ela olhou em volta, chamando atenção do
homem para o fato de querer privacidade.
-Aqui, venha me mostrar – ele abriu uma
passagem no balcão e ela entrou em outra sala
com ele.
Foi uma conversa rápida. Como não
levara a joia consigo, apenas explicou-lhe o valor
estimado. Combinaram para dali a um mês
quando voltassem para as compras do mês. Não
pagaria muito, mas já era o bastante para que
fizesse um pé de meia, para quando Rony fosse
embora e ela voltasse à vida miserável que tinha
antes! Helena saiu apressada quando notou que
estava em cima da hora para encontrá-lo! Tão
apressada, que não notou que era seguida pelo
mesmo homem que estivera dentro do bar a
pouco.
Ele seguiu aquela pequena mulher pelas
ruas, tomando cuidado para não ser visto. Estava
prestes a abordá-la quando ela parou. Olhava
numa determinada direção, e ofegou.
Helena olhou para a cena à frente,
incrédula, ou nem tão incrédula assim! Rony
trocava um aperto de mãos de cavalheiros com o
pai de Susan. O homem sorria esbanjando
felicidade e ao seu lado, Susan parecia
emocionadíssima! Oh, Deus! Eles estavam
acertando o casamento! Seria isso? Bem, era a isso
que Susan se referira outro dia, na fazenda.
Acertarem o casamento, para quando ele a
abandonasse!
Achando que nunca mais conseguiria
acalmar o bater acelerado de seu coração, ela
andou a passos lentos até ele. Em seu encalço, o
homem parou e desistiu. A jovem tinha um
marido ou irmão, então, não era uma boa ideia.
Virando as costas ele entrou no armazém,
cheio de idéias.
Rony avistou Helena se aproximando no
momento em que ficou sozinho novamente. Havia
acertado com o juiz, pai de Susan, que daria uma
olhada em alguns contratos e processos
acumulados em seu escritório.
Seria bom usar um pouco do seu
conhecimento e ao mesmo tempo, receber um
pagamento extra. Quem sabe assim, em poucos
meses pudessem ir a Londres? Adoraria mostrar a
cidade a Helena, e faria muito bem a ela conhecer
outros lugares e ver outras pessoas!
Ela não disse nada, apenas subiu na
carroça e esperou que ele fizesse o mesmo.
Ele respirou fundo antes de subir e tomar
as rédeas do cavalo.
Um longo caminho o esperava e naquele
silêncio gritante, seria o inferno.

Como esperado, Helena não disse palavra


alguma até metade do caminho, quando ele não
suportou mais o silêncio, e puxou assunto:
-Comprei as fechaduras que prometi para
as portas.
Se ela ficou surpresa, ou agradecida, não
demonstrou.
-Inicialmente vamos instalar na porta da
biblioteca e de apenas um dos quartos – ele disse
notando que ela parecia em dúvida.
-Não temos uma biblioteca.
-Ainda não, mas vamos cuidar disso
quando chegarmos. Quero arrumar do melhor
modo possível, e será lá que guardaremos
documentos importantes, e algum dinheiro, por
isso as trancas são tão necessárias.
-Uma delas ficará no meu quarto? – ela
perguntou direta, fitando-o com profundidade.
-Sim, mas apenas se me disser que as
quer por segurança e receio de ficar só, e a noite,
numa casa onde já aconteceu uma tragédia,
porque se disser que é por minha causa, além de
me magoar, vai me deixar humilhado. – ele disse
sério, notando sua expressão de extrema dúvida –
Helena, eu estou brincando com você! - ele
soltou uma risada, notando que ela continha a
vontade de sorrir – Sei que não me quer no seu
quarto, e não posso prometer não te atazanar no
meio da noite. Dei um grande azar, Helena, com
esse casamento, eu dei um grande azar!
Como sempre, ele a deixava incerta, e
contrariando sua personalidade, ela teve que
perguntar:
-Exatamente qual foi o azar, Rony?
Ele sentia um aperto e um calor, cada vez
que ela o chamava por seu nome, ou seu apelido,
mostrando que não lhe era tão indiferente assim!
-Tive muitas amantes, Helena, mas nunca
desejei nenhuma delas com tanta vontade e
possessão. E quando acontece, é justamente pela
única que não me corresponde. É ou não é um
azar?
Apesar de tudo, não estava mal
humorado. Estava gostando de perturbá-la.
-As mulheres de Londres não esperam
compromissos? – ela perguntou seca, ignorando
propositalmente a declaração de paixão.
-É claro que esperam, mas nunca tive
nada com donzelas inocentes. – ele respondeu
sorrindo – Cresci no internato, e quando fiz
quatorze anos fui à primeira vez em um bordel. O
tio de um dos meus colegas queria levar o
sobrinho para se tornar homem e acho que ficou
com pena de mim, que não tinha dinheiro para ir e
do meu amigo, John, que apesar de ter fortuna,
não tinha o pai para conduzi-lo. Acabamos os três
num cabaré. Apavorados e assustados até a morte,
foi como saímos de lá! – ele riu da lembrança.
-Por quê? - ela perguntou sem querer
admitir que estava curiosa.
-Ele nos levou em uma local barato, e as
mulheres eram assustadoras! Não eram feias, mas
eram velhas e a maioria desdentada e suja. Foi um
trauma e nenhum de nós quis saber de mulher até
os dezesseis anos, quando conhecemos um bordel
de verdade. No aniversário de John, fizemos uma
vaquinha e o levamos ao melhor cabaré da cidade!
Obviamente não tínhamos o valor todo, só ele
entrou, ficamos do lado de fora, até que a dona do
lugar se apiedou de nós e nos convidou a entrar.
Naquela noite lavamos muita louça e esfregamos
muito chão para pagar, mas foi com certeza uma
noite de revelações! – havia um ar sonhador em
sua face – Depois disso, juntávamos o que
tínhamos para comparecer ao cabaré de Mercedes
D’Looar! – ele sorriu notando que ela não achava
graça nenhuma – Helena, eu era só um garoto
conhecendo o desconhecido. Só vim a aprender a
fazer amor de verdade quando adulto, e fora do
internato.
-Oh, é mesmo? - ele não pode deixar de
notar a ironia.
-Sim, trabalhávamos para um escritório
de advocacia e com o que ganhava às vezes ia com
John atrás de cortesãs.
-Disse que não gostava de cortesãs – ela
lembrou.
-E não gosto, mas não quer dizer que não
gostava antes – votou a sorrir da lembrança – Mas
acredite, o desejo em nada é comparado ao desejo
correspondido, que tenha afeto e respeito – ele
olhou em seus olhos, e ela afastou os seus,
olhando em volta.
-O que o pai de Susan queria? – tinha que
perguntar. Não podia ficar corroendo a ideia de ele
ir embora com Susan a qualquer momento!
-Ele tem alguns processos acumulados,
visto que não dá conta de todo trabalho. Quer que
o ajude com isso, e vou ganhar um extra. O que
acha? Pronta para ganhar outros vestidos, e talvez,
viajar um pouco?
-Porque diz isso? – ficou surpresa, a testa
franzida.
-Dinheiro extra, Helena, para sermos um
pouco felizes.
-Não gaste seu dinheiro comigo. –
avisou.
-Mas eu quero gastar – ele respondeu
tentando não se irritar – Uma viajem a Londres
não a interessa? Conhecer outro país? Conhecer a
cidade onde me criei? Podemos ficar na casa de
John, ele gostará de ter companhia!
-Vá sozinho – resmungou.
-Não quero ir sozinho – ele resmungou de
volta, seu humor evaporando.
-Isso não é problema meu - mordeu a
língua para não dizer que levasse a adorável
Susan! Ou quem sabe, os futuros sogros? Afinal,
estavam até trabalhando juntos!
-Sabe o que é pior? É que gosto de
conversar com você! – ele reclamou, indignado –
Porque tem que sempre ser tão desagradável,
quando tudo que desejo é conversar?
-Não temos muito que falar – tentou
defender seu ponto de vista.
-Assuntos não nos faltam. O que falta é
vontade de colaborar.
-Certo... – ela deu de ombro, erguendo o
queixo como num desafio – Comece.
Rony lutou contra, mas não pode evitar o
riso. Segurando as rédeas, ele usou uma das mãos
para agarrar a sua a força e levar aos lábios para
um beijo.
No resto do caminho, ele não soltou sua
mão, enquanto tentava manter um diálogo. Ela
tentou várias vezes se livrar, mas ele não deixava e
acabou desistindo, dizendo a si mesma, que era
apenas mais inteligente colaborar do que lutar em
vão!
Capítulo 36 - Surra

Juanita sorriu quando os viu entrarem na


propriedade com a carroça. Eles tinham as mãos
dadas e ela sorriu ainda mais quando a viu puxar a
mão com força para livrar-se do aperto, e desceu
apressada em direção aos pacotes e sacos de
farinha.
Ela reclamou algo quando ele tirou um
deles de suas mãos e disse algo que a contrariou.
-Não, Helena – ele disse sério – Não vai
carregar isso.
-E porque não? - ela pôs as mãos na
cintura – era eu quem carregava as compras! Não
me trate como se fosse frágil!
-Não é frágil – ele disse segurando um
sorriso – É delicada.
Com essa frase se afastou com o peso
maior e ela ficou para trás desconcertada. Não
tinha respostas quando ele dizia coisas desse tipo.
Confusa, apanhou o embrulho dos vestidos e o
seguiu.
Na cozinha Juanita arrumava os
mantimentos nos armários e soltou uma
exclamação de prazer ao abrir um embrulho.
-O que é? – Helena se aproximou, vendo-
a erguer suaves peças de seda e algodão macio.
Eram peças íntimas em branco e rosa pálido. – O
que é isso?
Virou-se para Rony com uma ruga de
indagação na testa. Provocador usou do fato de
estar atrás dela, e quando ela virou-se, salpicou
um beijo em seus lábios, que entreabertos de
surpresa, não o repudiaram.
Foi um beijo rápido e casto, e ele sorriu
quando ela não disse nada.
-Quero que ponha todas as roupas dela
fora. – ele disse a Juanita. – Deixe apenas as de
seu tamanho e as mais novas.
-Sim, senhor - ela disse baixando a
cabeça e ocultando o sorriso.
-Não preciso de roupas novas – ela
reclamou, sem muita energia, quando recuperou a
voz.
Fora pega de surpresa pela agradável
sensação de ser acarinhada.
-Precisa e merece - ele esbanjou sorrisos,
tocando as peças e analisando.
-E porque mereço? Se não contribuo para
nada? Não me deixa trabalhar da plantação, nem
cuidar do gado, nem cuidar da casa! Não faço
nada de útil! - ela reclamou, mas ele preferiu não
levar em consideração suas reclamações.
-É claro que faz algo útil, Helena - ele
piscou para Juanita antes de continuar.
-É mesmo? E posso saber o que faço para
merecer presentes? – havia petulância em sua voz.
-Você me faz um homem feliz. Não é
razão suficiente? – ele a olhou com olhar inocente
esperando sua resposta malcriada.
-Fazia – ela disse comprando seu olhar –
não se esqueça das fechaduras nas portas!
-Mesmo assim, ainda continuo um
homem feliz – ele replicou – Juanita, pode
preparar um lanche? Helena não comeu nada
desde que saímos.
-Ela não tomou café da manhã também -
Juanita disse em reprovação.
-Não estou com fome - defendeu-se.
-Não perguntei se está com fome – ele
disse jovial – Me acompanhe em um lanche,
Helena – pediu.
-Não vai me deixar em paz se não fizer
isso? – perguntou conformada.
-Exatamente – ele sorriu – Quero que
esteja alimentada e bem vestida.
-Por quê? – não perguntava exatamente
as razões, mas sim, onde esperava chegar com
isso!
-Porque vamos visitar meus pais e quero
que eles vejam como minha mulher está bonita e
bem cuidada – ele continuava com aquela
expressão esperançosa.
-Não quero visitar seus pais – ela disse
decidida e pensou ter ouvido um gemido de
desgosto vindo de Juanita. Olhou para ela, e pode
jurar, que se Rony não estivesse ali, ela lhe faria
um sermão.
-Sei disso, mesmo assim, é capaz de
fingir, não é? – perguntou achando que nada
minaria seu bom humor depois de ter conseguido
um beijo roubado. Mesmo um inocente beijinho!
-Sinto muito, mas não posso esquecer a
forma como o seu pai abandonou o meu, depois de
jurar amizade e aproveitar-se dele, em tempos de
vacas gordas! – seus olhos lhe disseram isso e ele
parou para ouvir.
-Ainda não posso crer que meu pai tenha
feito isso – ele maneou a cabeça.
-Pois fez. Um ano antes do acidente que
deixou meu pai preso a uma cama, houve uma
grande seca, e somente nossa fazenda conseguiu
passar quase ilesa, pois tínhamos o lago em
nossas terras. Nessa época, meu pai cedeu
inúmeros animais, empregados e parte do plantio,
para que o seu pai saldasse as dívidas! Para que
ele não falisse! E um ano depois,quando meu pai
precisou que alguém o ajudasse, nem mesmo uma
visita de cortesia, por amizade que fosse ele
recebeu! Minha mãe lamentava o dinheiro perdido
ajudando o seu pai! No entanto, meu pai
lamentava o amigo que o abandonou! Sofreu por
isso por meses! Quando... - ela se calou, pois não
tencionava abordar essa parte do assunto, mas era
inevitável, tinha muita raiva dentro de si!
-Continue Helena - havia compreensão, e
ela se perguntou por que não a mandava se calar,
afinal, era de seu pai que falava!
-Quando... Afastei-me de Alice, o fiz
porque seu pai pediu.
Havia surpresa em sua face e ela não
controlou mais as palavras.
-A vida que estava levando iria macular
Alice, e era melhor que ela me odiasse, a odiar a
família, pois teriam que mandá-la para longe para
nos afastar. Conhece o gênio da sua irmã!
-Foi por isso que terminaram a amizade?
-Não – ela confessou - Eu não tinha mais
interesse em amizades – em parte era mentira,
mas sentia-se muito exposta contanto essas coisas.
-Porque meu pai faria isso? – ele
perguntou a si mesmo.
-Não acha que ele seja capaz? – havia
desafio em sua voz – Acaso não notou o quanto
parecia disposto a empurrá-lo para um casamento
comigo? Agora, a fazenda Parker é a maior da
região. - era uma conclusão simples.
-Meu pai tem seus erros, assim como o
seu. Não o julgue, ou farei o mesmo sobre o seu –
ele disse em tom de aviso.
-O meu pai errou muito, mas estava
desesperado e sozinho. E o seu? Ao que sei
ambição não é uma moléstia grave, mas ao que
parece, em sua família, é hereditário.
Humilhado, ele não pode responder a
altura. Enquanto não falasse com seu pai sobre
isso, não brigaria com Helena.
-Uma visita rápida, não precisamos nos
demorar. Faz mais de dois meses que nos
casamos, minha mãe insiste em vê-la e dar os
parabéns, afinal, não tivemos uma cerimônia
como deveríamos! Não vou obrigá-la, mas vou me
ofender com sua recusa. – ela avisou.
-Por favor, Juanita, me ajude a levar os
mantimentos para a dispensa. – pediu, terminando
a discussão, sem uma resposta definitiva.
Não iria com ele. Era fato. Se Rony
insistisse, poderia ceder e isso a desconcertava.
Desde o momento em que o tivera sobre seu
corpo, e desfrutara daqueles momentos tão
íntimos, sentia a incontrolável vontade de sempre
lhe dizer ‘sim’ e controlava-se a todo instante para
não transparecer!
-Juanita, peça a Duran chamar Suarez.
Preciso que me acompanhe a fazenda do meu pai.
Ele deve trazer alguns empregados – notou o
interesse dela, mas como não questionou, também
não ofereceu justificativa.
-Suarez deve levar alguma ferramenta de
trabalho? - era um jeito sutil de Juanita perguntar
por que levaria trabalhadores para sua visita
pessoal.
-Fiz uma troca com meu pai. Dois
empregados que entendam de gado, em troca de
dois dos seus empregados que entendem de
carpintaria – ele contou, sem esboçar a verdadeira
intenção – Vamos reformar o segundo andar para
que esteja habitável até o Natal.
Os olhos de Juanita brilharam
intensamente e Helena se perguntou o que
acontecia. Onde fora parar sua voz, e porque
estaria muda, apenas ouvindo.
-Que maravilha, Sr.Parker sempre me
questionei porque não usar o segundo andar!
-Seu estado é lastimável, mas com uma
reforma, teremos mais espaço e proteção.
-Sim, sim, tem toda razão!
Juanita estava deliciada, mas Helena não.
Seu pai odiava o segundo andar daquela casa, pois
após seu acidente, nunca mais pudera subir e se
refugiar na sala de estudos onde guardava seus
livros, que eram seu único consolo na vida que
não escolhera mais tivera que aceitar viver!
Rony não a consultara antes de tomar
aquela decisão, e ela se ressentiu.
Se ele percebeu, fingiu que não,
deixando-a sozinha e desaparecendo atrás de
cavalos, da carroça que devolveria, e dos
empregados.
A mágoa tornou-se irritação, ao pensar
em como era fácil sua posição de tomar todas as
decisões sozinho! Estava nas mãos daquele
homem odioso, e a cada dia o detesta mais por
isso!
-Seu marido não gosta quando sai sem
avisar aonde vai, Helena – Juanita disse, uma hora
depois quando tencionou sair para um passeio,
pois se continuasse trancada dentro de casa
enlouqueceria!
-E eu não gosto de dar satisfações cada
vez que vou sair! –ela reclamou, descontando na
empregada sua frustração.
-Ora, menina, ele não lhe pede nada
demais! Às vezes Helena, tenho vontade de lhe dar
umas palmadas para ver se deixa de ser infantil e
assume sua postura de esposa! Pobre homem, faz
tudo para agradá-la. Nem ao menos se deu ao
trabalho de ver os vestidos e prová-los! Coisa mais
linda do mundo, e você fica esnobando!
-Eu não faço isso... – ela tentou se
defender.
-Sim, é exatamente isso que você faz! Se
esse homem não estivesse tão interessado em você
e na vida que poderiam ter juntos, já teria perdido
a paciência e ido embora! Por isso, ouça alguém
que tem mais experiência que você e deixe as
portas do seu quarto abertas para ele, e o trate com
o devido respeito ou um dia, ele terá ido embora,
por sua culpa!
-Pois saiba que Rony vive dizendo que é
uma intrometida que fala demais! E ele tem toda a
razão!
Furiosa com a audácia de Juanita saiu da
casa desejando ter um momento de paz que fosse!
Um mergulho no lago e esfriaria a
cabeça!

Uma conversa longa com Artur Parker, e


Rony soubera que apesar dos esforços de seu pai
em explicar, não dissera toda a verdade. Faltava
alguma coisa, alguma informação que lhe negava.
Artur era um homem honrado, o que o
fazia pensar em suas razões para ter se portado de
forma tão estranha em relação aos vizinhos e,
sobretudo, no interesse com o casamento.
Lembrava-se vividamente de sua insistência,
sobretudo, ao questionar todos os filhos solteiros,
cobrando-lhes aquele que faria a grande alegria de
juntar as duas famílias.
Com isso na cabeça, Rony deixou a casa
dos pais, ouvindo as mazelas e reclamações de
Alice sobre Helena e fingindo não ouvir. Sua irmã
era uma flor de beleza, mas seu gênio era espinho
puro! Teria que manter aquela linda boca rosada
fechada, ou seu amigo John estaria no primeiro
trem de volta a Londres tão logo ela dissesse
coisas delicadas e sensíveis como as que acabara
de ouvir: “Meu irmão livre-se dela! Ninguém
saberá! Pode dizer que Helena se afogou no lago!
Aliás aquela lá adora se exibir nua! Tenho certeza
que deve estar te traindo com algum empregado!
Por isso o trata tão mal!”
Alice falava da boca para fora, mas era
irritante. Muito irritante.
John Harrison era conhecido por sua
paciência e capacidade de ouvir e entender, mas
em se tratando de uma megerazinha como Alice,
teria que ser um santo para casar-se com ela! Um
santo, ou um homem apaixonado, pois ele próprio
tornaria a se casar com Helena, a despeito de
todos os percalços!
Helena era difícil, e ele não era um
homem paciente. Em outros tempos, ela não teria
a menor chance com ele. Por um segundo mediu
esse pensamento e sorriu. Claro que teria. Ele
ainda era o mesmo homem, o que mudara, era
estar apaixonado.
Que Deus o protegesse, mas estava
apaixonado por aquela megera!
Em certo momento se pegou sorrindo. E
não é que para desespero de Helena ele dera um
jeito de arrumar uma cópia para aquela fechadura?

Helena odiou ficar sentada sem nada para


fazer, pensando. Não queria ficar em casa com
Juanita enchendo sua cabeça a favor de Rony, pois
apenas ela sabia de sua vida e de seus
sofrimentos. Não seria esposa de ninguém!
Fora esse o acordo!
Aceitar aquele homem uma vez em sua
cama não a fazia sua esposa! Afinal, fora obrigada
a cooperar! Ele a usara para ter prazer e satisfação
e ainda deveria lhe ser grata?
Não, com certeza que não!
Rony Parker havia usado de sua
dificuldade financeira para se adornar das suas
terras! E ainda tivera covardia o bastante para
confundi-la e fazê-la crer em um risco imaginário,
para forçar uma intimidade que não desejava!
Maldito espertalhão!
Até mesmo naquele lugar, que era o seu
favorito, perto das árvores, olhando as águas
calmas, sentia-se perturbada. Porque aquele
maldito não saia dos seus pensamentos? Quando
não estava pensando no quanto era odioso, estava
tendo pensamentos desconcertantes sobre como
era bom olhar para ele, ouvir sua voz e sentir seu
toque!
Fechou fortemente os olhos, num impulso
decidindo nadar para esquecer e ocupar a mente!
Sim, porque não? Rony não estava na
fazenda! Não poderia irritá-la por causa disso
também! Além do mais, seria uma grande
vingança se algum empregado visse! Talvez, em
sua raiva, pudesse até nadar nua, fato que nunca
fizera antes!
Porque não? Ele não era seu marido, não
o aceitava como marido, então, porque seguir suas
ordens? Num ato de rebeldia, ela tirou os sapatos
e soltou os cabelos.

Entre as árvores o mesmo homem que a


seguira na cidade espreitava. Havia esperado que
houvessem ido embora para apanhar seu cavalo e
seguir na mesma direção. Não era segredo que
aquele era o casal Parker.
O marido jovem, e estudado, viera da
cidade grande para dar o golpe na pobre órfã. Era
dono de suas terras, de seu futuro, e admitia, tinha
uma linda mulher. Observou quando ela livrou os
pequenos pés dos sapatos e soltou os cabelos
longos e ondulados.
Sim, uma linda mulher.
Não tinha tempo para perder, muito
menos fantasiar. Com o lucro de seu roubo teria
muitas e lindas cortesãs e não perderia tempo com
uma moça de interior, por mais bonita que fosse!
Além disso, era mulher de outro, e com
um bom dinheiro ele poderia comprar uma
virgem. Um sorriso nasceu em sua face e ele
guardou a arma, pois não precisava de artifícios
para dar conta que uma coisinha pequena como
ela!
Sorrateiro, esperou enquanto ela parecia
em dúvida sobre entrar ou não na água. Com um
profundo suspiro, Helena desistiu.
Com raiva de si mesma, desistiu sem
saber por que, ou talvez, apenas não podendo
admitir a si mesma que não queria brigar com
Rony. E não queria mesmo.
Desolada, compreendeu que apesar de
seus esforços estava se apegando a Rony. Sentia
vontade de abraçá-lo e permitir que a abraçasse.
Hoje mesmo, na volta para casa, quando segurara
sua mão, tivera vontade de sorrir e apertar-lhe os
dedos com o mesmo carinho que ele o fazia.
Poderia até ter lhe acariciado o rosto, ou ter
beijado-o.
Na cozinha, mais cedo, quando lhe
roubara um casto beijo, sentira o coração
disparado e imediatamente, se pegara pensando
que era uma pena Ford ter ido embora!
Como era possível sentir-se dessa forma?
Como poderia suportar a dor quando ele fosse
embora? Quando o mundo ruísse novamente ao
seu redor?
Como faria para se proteger dele?
Helena tentou não chorar. Tentou não
sentir pena de si mesma, e se odiou por ser capaz
de esquecer-se da imagem dos pais e da irmã
apenas para ficar pensando em um homem.
Odiou-se por trair aquilo que acreditava, e se
render a ele o tempo todo!
Helena secou o rosto quando pensou ter
ouvido passos. Oh, Deus, ele não a deixava em
paz um segundo sequer! Pronta para ter que lutar
contra ele e seu olhar desconcertante, se virou,
mas não era Rony.
Era um homem estranho, desconhecido.
-Calma moça - ele disse erguendo as
mãos nuas, em sinal de paz – Não vou lhe fazer
mal. Não precisa ter medo!
-Não estou com medo!- respondeu
automaticamente – Essa propriedade é particular,
não permitimos estranhos! O que faz aqui?
Mais que nunca, desejou estar com sua
arma em mãos, mas desde que se casara e passara
a esmorecer diante dos riscos, tornando-se crédula
numa falsa proteção masculina, que passara a
esquecê-la em casa quando saía.
-Vi a moça na cidade – ele se aproximou
e em sinal de coragem, Helena permaneceu no
mesmo lugar, esperando afugentá-lo com sua
certeza. – E vi que tem algo para mim.
-É mesmo? – havia ironia em sua voz – E
o que tenho para você?
A amargura em sua voz quase o assustou.
Estava acostumado a presenciar esse tipo de
sentimento em pessoas diferentes. Não em jovens
com rosto de porcelana. Seu olhar frio quase o
gelou. Quase.
-Ouvi quando negociou o colar – ele
disse sorrindo ao notar sua surpresa – Uma moça
chama atenção num bar – ele manteve o sorriso
dando outro passo e desta vez, Helena se afastou.
Não era burra. Isso não ia prestar.
-Perdeu seu tempo. – ela disse tentando
aparentar frieza – Meu marido tirou o colar de
mim. Como vê, já fui roubada - era mentira, mas
ele não teria como saber!
-Está mentindo. Não teria ido sozinha a
um bar daquela categoria se não o houvesse feito
antes! Sabia exatamente o que estava
fazendo – ele ironizou – conheço o seu tipo, dona.
Você não presta. Tenho pena do seu marido. Mas
talvez... Eu faça um favor a ele. – riu – Me
entregue a joia.
-Não posso entregar aquilo que não
tenho! – ela sentiu o medo crescer quando os olhos
dele brilharam – É apenas um cordão de ouro.
Não é nada demais! Não tem valor algum!
-Não foi o que andei ouvindo por aí – ele
debochou cada vez mais próximo – Não adianta
correr, eu te alcanço – ele avisou – Agora me diga,
onde está escondido.
-Eu... Não sei – ela mentiu.
Como poderia dizer a ele que estava
dentro da casa? Aquele homem não deixaria
barato, invadiria a casa e só Deus saberia dizer o
que faria com Juanita e seus filhos e com os
homens na plantação, não haveria como evitar!
Tinha que pensar rápido, muito rápido...
-De onde você é? – ela perguntou quando
algo surgiu em sua cabeça.
-De onde eu sou? – ele riu incrédulo – de
muito longe, moça.
-Eu... Poderia querer alguém para me
levar daqui – ela sentiu a boca seca e continuou –
Apanho o colar e lhe dou, em troca que me leve a
Londres. Não será necessário cometer nenhum
desatino. O que acha?
-Acho que está mentindo – ele acusou.
-Porque acha que fui sozinha tentar
vendê-la? Para fugir!
Helena era uma mulher de expressão
imutável e o homem ficou claramente em dúvida
sobre sua veracidade.
-Tire a roupa – ele mandou em voz firme
e ela ofegou, surpresa.
-Por quê? – deu um passo para trás.
-Acha que sou tolo? As mulheres
escondem seus mais preciosos bens nas roupas,
moça. Não é a primeira que tenta me enganar!
-Eu... – as palavras lhe faltaram, pela
primeira vez em semanas se viu sozinha,
desamparada e completamente a mercê do perigo.
Por um segundo cogitou a ideia de gritar
por ajuda, mas naquela distância, seria impossível
ser ouvida. A menos que conseguisse se
aproximar da plantação.
A casa ficava a uma distância maior, mas
se cortasse caminho pelo bosque, mato adentro,
poderia ser ouvida e tinha certeza que os
empregados de Rony não lhe negariam socorro.
Talvez prevendo sua fuga, o homem se
aproximou segurando seu braço. Felizmente, era
magra e ele bruto demais para prever a destreza de
alguém acostumado a lutar até o fim, por isso
conseguiu soltar-se, e correr.
Helena virou as costas e disparou em
direção as árvores. Lamentou estar descalça os pés
se ferindo, mesmo assim não parou ou olhou para
trás.
Sabia que era seguida, mas não deu
espaço para o desespero. Costumava vencer seu
irmão em longas corridas e poderia vencer esse
estranho! Era só acreditar e não se desesperar.
Helena teria conseguido, tinha certeza
que sim, não fosse uma pedra pontiaguda no chão.
Ela pisou e gritou de dor no momento que sentiu a
pele romper e o equilíbrio se perdeu.
Aproveitando-se disso, arfante, o homem
agarrou-a por ambos os braços e jogou-a contra
uma árvore.
Helena lutou, empurrando-o com braços e
pernas, mas um poderoso soco em sua face, a fez
parar. Aturdida por alguns segundos, sentiu as
grandes mãos apalparem seu corpo. Isso a fez
acordar do torpor e empurrá-lo com toda sua força.
Achou que estava livre, mas ele agarrou seus
longos cabelos, puxando-a de volta, enquanto ria.
-Volte aqui, vadia! - ele empurrou-a
contra a árvore novamente, e acertou-lhe outro
soco. Dessa vez Helena chegou a ver o mundo
enegrecer diante de si, mas não desfaleceu.
O homem agarrou seu pescoço e o ar foi
completamente embora.
Com a mão livre, apalpava seus seios,
sua barriga em volta do seu quadril. Procurava
algo, a joia que ela mesma fizera propaganda!
Como era tola!
Ele prendeu uma das pernas entre as suas
e riu quando ela tentou afastar suas mãos, olhando
para ele através de olhos turvos. Sua têmpora
latejava, seu pé machucado espalhava dor por toda
sua perna e o queixo estava repuxando, como se
estivesse quebrado.
Ela ouviu um som, e fixou o olhar nele,
debatendo-se quando viu o canivete em suas
mãos.
-Não me obrigue a gastar uma bala com
você, sua rameira – ele esbravejou, sentindo
prazer em bater. Gostava de bater em mulheres, e
esse era um antigo hábito que cultivava. Para ele,
uma mulher ficava ainda mais linda apanhando!
Atirou-a no chão, e Helena achou que
poderia fugir, mas um chute acertou seu estômago
e seu corpo se redobrou, as mãos procurando no
chão de terra e mato algo para segurar e atirar em
seu algoz. Mas não havia nada além de mato e
grama seca.
Ele se aproveitou que ela tentava ir
embora, e agarrou seus cabelos, puxando-a de
volta. Meio caída, meio erguida, ela sentiu a dor
correr por seu colo e busto quando ele colocou a
navalha ali, e puxou para baixo, cortando o tecido
e a pele, até dividir ambos ao meio e poder ver o
que desejava.
O tecido da roupa íntima ficou
estraçalhado, mas ele não deu atenção. Segurou a
renda e puxou com força, destroçando o vestido na
ânsia de achar a tal valiosa joia que poderia
comprar sua liberdade para um local bem longe
daquele inferno de interior.
Não achando nada, não se deu por
vencido, puxando a saia para cima, e passando as
mãos por suas pernas, penetrando através da
roupa de baixo, procurando um local qualquer que
pudesse ter amarrado ou escondido a joia.
Helena se debateu furiosamente,
principalmente quando notou que aquilo o
excitava. Massacrar uma mulher o excitava.
Lembrando-se do que acontecera a sua família, a
Anne e sua mãe antes da morte, ela mordeu
furiosamente o ombro daqui animal e correu.
Suas pernas não a sustentavam e uma de
suas mãos segurava a própria cabeça, pois estava
zonza, tão zonza que não viu que cairia até estar
no chão.
-Por favor, me deixe ir – ela pediu
quando o homem a girou e acertou-lhe um tapa
com força.
-Fique quieta, cadela! – arrancou um
grito de dor quando Helena bateu o quadril contra
o chão, ao ser jogada e chutada novamente.
Aquela dor foi mais forte que as demais e
ela achou que morreria.
-Onde está? – ele insistiu, acertando-lhe
um chute nas costelas – Eu perguntei onde está!
Como não houve respostas, Helena
preferia morrer a ver sua casa destruída por aquele
homem, ele continuou batendo.
Em dado momento tirou a arma das
calças e engatilhou. Limpou o suor da face e rindo
apontou a arma em sua direção. Caída no chão,
Helena olhou para ele por entre os cabelos
desalinhados e o sangue, que parecia cobrir toda
sua face. A dor era tanta que não sabia de onde
vinha.
-Eu não vou perguntar outra vez! – ele
avisou.
-NÃO ESTÁ COMIGO! – conseguiu
gritar, apesar da dor.
Não queria morrer, por mais que achasse
que sim, ela não queria morrer. Não agora, que era
mais feliz. Não agora, que a fazenda estava salva.
Queria honrar a mãe e o pai que dedicaram toda
sua vida em nome daquelas terras. Não queria
morrer jovem!
Por mais que se sentisse uma traidora
para com seus entes, ela desejava a vida.
-MENTIRA! ONDE ESCONDEU? - ele
gritou novamente, dessa vez, Helena olhou para
ele com firmeza antes de responder um palavrão.
Se fosse morrer, ao menos morreria com
honra!
-MERETIZ DE UMA FIGA! – ele
guardou a arma, decidido a sentir o sangue dessa
vadia nas mãos. Uma mulher com tanto sangue
nas veias, merecia uma morte lenta, sofredora.
Merecia a tortura!
Cada gota de sangue desperdiçado
lentamente! Usando as mãos, ele a ergueu, apenas
pelo prazer de jogá-la longe, no chão. Helena
sentiu que não demoraria a perder os sentidos,
mas não desistiu. Agarrou uma pedra, como fizera
pela manhã, mas dessa vez, ela quis acertar!
Sua pontaria sempre foi precisa, e apesar
da dor, conseguiu acertar seu alvo. Ele soltou um
urro segurando a cabeça, onde o sangue jorrou, e
cambaleou por um segundo, procurando equilíbrio
e gritando palavrões.
Foi sua oportunidade, gritando por
socorro, ela tentou correr. Conseguiu alcançar
uma clareira, que não ficava muito longe do seu
objetivo, mas seu corpo a traiu, e não conseguiu
seguir, escorregou para o chão, desmaiando.
Quando ele a alcançou, estava semi-
consciente, havia horror em sua face ao vê-lo,
mas não disse nada, não tinha mais forças. Rindo,
ele esbravejou o quanto ela era perfeita para
apanhar.
Uma mulher de brios sempre era mais
prazeroso de surrar, do que uma jovem obediente e
amedrontada. Helena não conseguiu sequer
gemer, quando ele começou a chutá-la.
Vários golpes, que lhe acertaram as
costelas, o vente, os quadris, as pernas. Um deles
acertou seu ombro e ela quase gritou, pois a dor
era sufocante.
Empurrando-a de barriga no chão, ele
colocou o pé sobre sua coluna obrigando-a a
manter o rosto contra o chão batido, sentindo o
gosto da terra na boca.
Não conseguia respirar.
-Não quero mais nada de você, sua
imunda – ele vangloriou-se – Acha que posso
deixá-la viva para contar o que estou fazendo?
Acha que permitirei que fuja? Não, belezinha.
Não mesmo!
Ela gemeu em resposta, mas queria era
gritar e esbravejar que ao morrer, sua alma
voltaria sedenta a levá-lo ao inferno junto com ela!
Mas as forças haviam abandonado-a e não pode
falar apenas respirar mais forte, lutando contra o
estremecimento de dor que a perpassava a cada
respiração funda e difícil.
-Quem sabe, se implorar, eu não a deixe
ir? - ele riu, insistindo com os chutes até vê-la
imóvel – não ouse morrer ainda, sua meretriz de
uma figa! – ele se abaixou, agarrando seus cabelos
e erguendo-a como a uma boneca de pano.
Uma das mãos pequenas tentou soltar o
aperto, mas desistiu.
Com uma última tentativa de luta, ela
desistiu.

Rony ainda estava intrigado com o


comportamento do pai e frustrado com Helena,
quando voltaram pelo bosque. Aproveitou para ver
a extensão das cercas e conferir a necessidade de
aumentar a segurança naquela área. Por causa do
lago, muito se negligenciou aquela região.
Suarez era um homem acostumado a usar
armas, e talvez, pudesse ter segredos no passado,
mas a boa da verdade é que por trás daquele
homem franzino e quieto, havia um homem capaz
de prever a desgraça.
Desde a saída da fazenda, ele insistia em
ficar, dizendo ter um pressentimento, mas Rony
não acreditava nessas coisas, por isso mantinha-se
calado, uma das mãos na arma em sua cintura,
olhando para todos os lados, talvez esperando uma
emboscada, embora seu patrão não possuísse
inimigos, além claro, da própria esposa!
No entanto, segundo Juanita, a pobre
menina, estava mais assustada com o casamento e
o amor, do que propriamente furiosa ou
desgostosa com o marido. Era um alívio, pois não
seria o primeiro homem emboscado no leito, que
Suarez veria. E esse homem, Rony Parker lhe
despertava afeição.
Acostumado a prestar atenção aos
mínimos detalhes, ouviu sons baixos e distantes
de luta. Poderia ser uma conversa, um casal
aproveitando a privacidade das árvores, ou mesmo
crianças brincando, mas algo no ar lhe alertava
que era uma briga.
-Por ali - ele disse a Rony – Vamos por
ali.
-Suarez - ele reclamou, pois vinham
discutindo sobre isso desde a saída da fazenda.
-Vou sozinho – ele disse, apressando o
trote do cavalo.
Rony não era de abandonar um amigo,
fosse ele pago ou não para protegê-lo, e o seguiu.
A poucos metros, em meio à clareira, seu
coração parou diante da cena mais aterrorizante
que poderia supor ver.
Um homem completamente desconhecido
mantinha Helena pelos cabelos, numa posição
bastante ingrata. Havia sangue, muito sangue e
suas roupas estavam rasgadas, sujas e ela parecia
sem ação, talvez desmaiada.
Mas ele não ficou para ver, desceu do
cavalo antes que este parasse por completo e
correu em direção ao homem, apanhando-o de
surpresa, ao jogar-se sobre ele com fúria. Helena
caiu no chão, mas ele nem viu.
Cego pelo ódio e pela revolta imobilizou
o homem, que não parecia ser tão forte e
destemido com um homem que possuísse o dobro
do seu tamanho e força. Era um covarde. Não
tivera grande reação quando se viu diante de outro
homem, sabia bater apenas em mulheres!
-COMO OUSA ENCOSTAR NA
MINHA MULHER?!
A face do desconhecido estava retorcida
pelos socos e pelo sangue, mas Rony não parou
até ter certeza de tê-lo matado.
Suarez observava a uma curta distância,
porém Rony nem notou, se aproximando de
Helena.
Sua querida Helena estava aos pedaços
no chão. Quebrada. Uma simples boneca de
porcelana pisoteada. Teve medo de tocá-la e feri-la
ainda mais, no entanto, precisava conferir se
estava viva.
Seu coração batia tão forte e tão alto
dentro do peito, que achou que fosse explodir.
Ergueu sua cabeça e apoiou em seu braço,
conferindo que respirava fracamente. Seu peito se
movia muito devagar e Rony olhou para seu
corpo, a roupa amassada, suja e rasgada, uma das
pernas parecia estar na posição errada e seu ombro
um pouco mais baixo que o normal.
Estava ferida.
Como pudera deixar isso acontecer?
-Helena? – chamou baixinho – Helena eu
estou aqui, pode me ouvir? Abra os olhos, Helena.
Deixe-me ver seus olhos, por favor. Não me deixe
assim...
Suas palavras caíram no vazio, pois ela
não respondeu, ou olhou para ele. Rony sequer
percebeu que aquele homem não estava morto, e
mesmo ferido, apanhou a arma com gestos lentos
e mirou em seu alvo. Teria acertado em cheio em
Rony, pelas costas, se Suarez não fosse atento e
rápido. Ao som do tiro, Rony virou-se assustado,
com Helena nos braços e olhou para seu inimigo.
Ele jazia morto, com um tiro no peito, e sua arma
pendendo em mãos, na posição em que estivera ao
mirar nele. Olhou agradecido para Suarez, mas
não havia tempo para conversar. Temendo ferir
Helena por dentro, com o balanço do cavalo, Rony
pôs-se a andar, quase correr, em direção a casa.
Em seus braços, seu mais precioso bem.
O precioso cristal que enfeitava sua vida
e que agora estava em pedacinhos em suas mãos...
Capítulo 37 - Cuidados

Juanita gritou ao vê-los se aproximarem,


e passado o susto, apressou-se a abrir bem a porta
a dar passagem para Rony. Ele levou-a
diretamente para o quarto deles e a depositou com
cuidado sobre o colchão.
-Deus do céu! O que aconteceu? – Juanita
olhou a menina naquele estado e então, olhou para
Rony, talvez supondo errado. Mas havia tanto
desespero em sua face que mudou de ideia.
-Não sei o que aconteceu – Rony disse a
voz tremendo um pouco – Não sei por que
aconteceu!
-Ela está...? – Juanita tocou sua pele, no
pescoço, para sentir a respiração – Oh, bom Deus,
está viva! Pobrezinha, está toda machucada!
-Eu sei – ele não tirava os olhos de
Helena, sem reação. Sem saber o que fazer.
-Patrão – Suarez chamou da porta, o
chapéu nas mãos, em sinal de respeito – Vou
juntar alguns homens para vistoriar a fazenda,
pode haver outros como ele.
Rony concordou com a cabeça.
-Mande um deles trazer um médico.
Suarez concordou e saiu, sendo seguido
por Juanita que desapareceu por alguns minutos.
Ele se aproximou da cama, e tocou o
rosto machucado, como se isso pudesse acalmar
seu medo. Segurou sua mão, no braço que não
estava machucado e sentiu-se desamparado por
não poder fazer nada.
-Preciso de ajuda para despi-la – Juanita
disse regressando com uma bacia de água morna e
uma toalha limpa, alem de uma garrafa de uísque
pela metade.
Rony concordou, segurando-a com todo
cuidado, deixando-a sentada. Juanita rasgou o que
sobrou do tecido, cortando do lado esquerdo, para
não sacrificar ainda mais o ombro inchado. A
seguir descobriu seu tronco, e então puxou o
vestido pelos quadris, abafando um som de pena
ao ver o estado do quadril e das costelas.
-Ao menos esse animal não a desgraçou
– Juanita sussurrou, retirando as últimas peças de
roupas, e conferindo que não havia ferimentos
sugestivos em suas coxas e intimidade.
Rony fechou os olhos, pois não queria
dizer nada, não queria pensar nisso agora, quem
era aquele homem. E de onde Helena o conhecia!
Juanita começou a limpar a terra e o
barro de sua pele e de sobre as feridas e o fez
rapidamente, olhando para o ombro deslocado.
-É melhor o colocarmos no lugar agora
que a pobrezinha está desacordada – ela disse e
Rony engoliu em seco.
-Sabe fazê-lo?
-Que Suarez não ouça, mas as moças do
Cabaré sempre apanham, não é a primeira vez que
faço isso!
Ele deixou-se comandar, e Juanita o
mandou levantar e esperar. Ela segurou Helena de
modo a deixá-la imóvel e então, direcionou-o
sobre o que fazer, e como fazer.
Com um movimento rápido, certeiro e
forte, ele recolocou o ombro no lugar, com um
som desagradável do osso se movendo. Helena
pareceu sentir a dor, mas não se moveu.
Juanita tinha razão, era melhor que fosse
agora.
-Acha que a perna está quebrada? – ele
não sabia como podia estar fazendo essas
perguntas sem, no entanto desabar de ódio, pena,
e algo maior, que não sabia definir, um sentimento
horrível de presenciar sua Helena naquele estado.
-Acho que não, mas pode ter uma costela
quebrada – ela disse apalpando-as. Havia uma
marca arroxeada formando-se e a pela estava
muito ferida. – Só o médico pode ver a perna, eu
não sei dessas coisas.
-Está fazendo um bom trabalho – ele
disse agradecido e ela sorriu.
-Ela vai sentir muita dor – ela avisou ao
derramar a bebida de álcool puro sobre os cortes
em seu busto, e barriga. Ela se mexeu, e Juanita
terminou o mais rápido que pode – Só espero que
isso não a estrague por dentro – ela disse baixo
passando a mão sobre o enorme hematoma em sua
barriga – Há outro no quadril e nas costas. Esse
homem queria deixar sua marca, sem dúvidas.
-Ela lutou – ele disse convicto – Tenho
certeza que lutou.
-Disso não tenho a menor dúvida! –
Juanita concordou – Não há nada que possamos
fazer, além de passar um unguento nas feridas e
esperar o médico. – Juanita apanhou uma
camisola limpa e com a ajuda de Rony vestiram-
na – Não é bom sinal que fique desmaiada tanto
tempo.
Rony apanhou a garrafa de uísque e
posicionou sob seu nariz, esperando que o cheiro
de uísque barato pudesse substituir o álcool.
Estava com a respiração suspensa,
esperando. Ela se mexeu, e os olhos se
entreabriram um pouco, e imediatamente, tentou
se afastar.
-Helena, sou eu, não se mexa, sou eu,
Rony. Não vou machucá-la – ela não parecia notar
a diferença entre ele e o seu agressor – olhe para
mim amor, sou eu, seu Rony. – abraçou-a contra
seu peito, cuidadoso com seus ferimentos - Não se
mexa tanto, pode se ferir ainda mais. Helena, fique
calma, está tudo bem agora.
Ela se acalmou um pouco, sentindo seu
cheiro, seu calor, reconhecendo sua voz, seu toque,
e um soluço escapou de seus lábios. Começou a se
lembrar e a lágrimas vieram, pois apesar de ser
forte, não era de ferro.
-Ele está morto, não pode mais feri-la –
ele prometeu – vou ficar aqui, do seu lado, nada
vai te machucar de novo.
Ele a colocou sobre o colchão, e limpou
as lágrimas em sua face, arrumando seus cabelos
sobre o travesseiro e notou como seus lábios
cortados, limpos do sangue, porém marcados pela
agressão tentavam se mover apesar da dor.
-Dói - ela disse baixinho.
-Onde dói mais? – perguntou para se
localizar e poder dizer ao médico, caso ela
perdesse os sentidos novamente.
-Ombro... - ela tentou olhar para o local,
mas estava zonza demais -Oh... Não consigo...
-Não se mexa mais – ele pediu – A perna
dói?
-Um pouco... – lágrimas correram em sua
face e ela perguntou recuperando um pouco da voz
perdida - Ele... Ele... Oh...?
-Não – ele beijou sua testa, o único lugar
que não tinha machucado, o resto estava inchado –
não, ele não fez isso. Embora, preferia que
houvesse abusado de você a espancá-la desse
modo. – desabafou e ela não respondeu nada.
Fechou os olhos e quando os abriu, Rony ficou
aliviado, pois dormir após traumas não era um
bom sinal.
-Foi culpa minha... – ela sussurrou,
sentindo- se culpada.
-Não, não foi. Agora, não pense nisso.
Precisa descansar, o médico vai demorar. Juanita
está preparando algo para a dor.
-Rony...
-Estou aqui – ele manteve sua mão na
dela, mas sem apertar – Vamos conversar um
pouco, enquanto o médico não chega o que acha?
– sorriu para distraí-la, mas Helena não era tão
fácil de ludibriá-la.
-Por que... Está fazendo isso?
-Porque pode ter batido a cabeça, e não
quero que durma enquanto o médico não a ver –
ele foi sincero, pois Helena preferia a verdade
sempre.
-Não... – ela parou quando ficou difícil
falar por causa dos lábios feridos. – Porque está
aqui?
É claro que ela perguntaria esse tipo de
coisa. Era típico dela.
-Porque não tenho nenhum outro lugar a
qual deseje estar. – ele beijou sua mão e ela
gemeu, pois havia uma escoriação profunda atrás
do braço, e ele não vira ainda.
-Desculpe. Está difícil achar todos os
seus machucados... – ele tentou sorrir para distraí-
la e ela soltou um som como quem acha graça. –
Mas não se preocupe, vamos remendá-la aos
pouquinhos.
-Tadinha, vai assustá-la – Juanita
reclamou voltando com uma bacia menor, com um
líquido de cheiro estranho. Atrás dela um calado
Duran trazia uma jarra e uma xícara. – Coloque
ali – ela disse ao filho – Ele ficou assustado,
porque machucaram sua patroa favorita.
-Helena tem um admirador – Rony
brincou e ela olhou para ele com olhos atentos,
olhos que lacrimejavam, e ela não queria mais
chorar.
-Vai doer um pouco – Juanita avisou,
pedindo ao filho que saísse e fechasse a porta.
Por vários minutos passou o unguento
pela pele ralada, cortada e esfoliada. Helena tentou
não lamentar diversas vezes, mas a dor era muita.
Estava chorando, quando Juanita passou uma
esponja com o remédio entre os seios onde ele
cortara a pele com canivete, felizmente, de forma
superficial.
-Suarez o matou – Juanita informou – ele
acha que seria prudente se livrar do corpo e não
avisar as autoridades.
-Por quê? – Rony estranhou.
-Porque esse homem pode ter comparsas
ou amigos. Não quer atrair vingança para sua casa
quer?
-Suarez tem razão. – Helena disse baixo.
-A perna dói muito? – Juanita perguntou
espelho das dúvidas de Rony.
Ela apenas maneou a cabeça, se
arrependendo ao sentir o mundo rodar a sua volta.
Juanita apalpou a região, e não achou
nada estranho. Uma coisa a menos.
-Às vezes as feridas mais feias, são as
menos importantes – ela tentou fazer graça – nos
deu um susto Helena, da próxima vez, não saia
sozinha sem avisar aonde vai!
-Juanita está errada – ele disse baixo
quando estavam sozinhos novamente – tem o
direito de andar livremente pelas terras que são
suas, eu que como marido devo primar pela sua
proteção, e proteção da fazenda, me perdoe
Helena, por não ter feito isso.
Ela fechou os olhos, sentindo a culpa
remoê-la. A fazenda era segura. Mas nenhuma
segurança é suficiente quando um dos dois é
inconsequente!
Pensou em Juanita, tão boazinha e
preocupada, e sentiu uma pontada de dor ao
pensar que ela e seus filhos poderiam estar
mortos, por causa de sua inconsequência!
Lágrimas quentes rolaram em sua face e Rony
sentiu a dor da culpa também aflorar.
-Não chore amor, isso me corta o coração
– ele disse muito triste, muito pesaroso e beijou
novamente sua testa, e sua bochecha, a que não
estava tão machucada.
Mesmo com seu pedido, ela chorou.
Chorou ao pensar no que poderia ter acontecido
por sua culpa e no que aconteceu.

-O ombro me parece bem - o médico


disse sério. O Sr.Nut era um homem baixo, calvo
e magro. Muito magro. Tinha bigodes longos e era
muito paquerador, fato que fizera Suarez ficar
dentro da casa ao lado da esposa o maior tempo
possível.
Naquele instante, ele parecia mais
interessado em Juanita e em como ela entendia de
cuidar de ferimentos, do que na paciente.
-E a perna? – Rony insistiu, pois o
homem não conseguia se concentrar.
-A perna está machucada, mas nada que
alguns dias de repouso, com o pé sobre uma
almofada não resolva. Nada de andar. Vai doer
mais amanhã quando o trauma da batida tiver
passado. Ela quebrou uma costela também, e
estou preocupado com as marcas nas costas.
Foram pancadas fortes e muitas vezes podem
comprometer os movimentos, mas isso só o tempo
vai poder dizer. Ela precisar de repouso, ficar na
cama até a perna desinchar. Precisa beber as
beberagens e os remédios que receitei e precisa se
alimentar melhor. Está muito anêmica, mas isso
vocês já devem saber. Atenção para o inchaço no
olho, se em três ou quatro dias não ceder, me
avisem, não queremos que ela perca a vista, não
é? – se era para ser uma piada não teve a menor
graça, pensaram – Acho que o que essa menina
mais precisa, para ser franco, é de um pouco de
sorte, mas isso, infelizmente, não posso lhe dar.
-Não seria mais prudente passar a noite
aqui? – Rony levantou ansioso – Ela pode precisar
de ajuda no meio da noite.
-Não, não creio – ele discordou – Fique
calmo, os machucados são feios, mas vão sarar.
-Sei disso – ele concordou relutante.
Helena iria melhorar. E ele? Iria passar
aquela dor horrível que sentia?

Na manhã bem cedo, Helena despertou.


Sentia dor no corpo todo, mas principalmente na
perna e nas costelas. O ombro estava dormente,
mas ela notou que não parecia tão pesado como no
dia anterior. Havia comido na cama, e agora,
esperava Juanita voltar para entrar na banheira
que já estava cheia há algum tempo, a água
esfriando.
Estava quase adormecida, pois os
medicamentos lhe traziam muito sono quando a
porta abriu e Rony apareceu com uma bacia de
água limpa.
-Bom dia - ele lhe sorriu e sem querer, ela
retribuiu. – Espero que esteja sentindo-se melhor
essa manhã.
-Estou dolorida. Em todos os lugares. –
não era uma reclamação.
-Era esperado – ele concordou, colocando
a água sobre o criado mudo. – Juanita está
cuidando do almoço. – era quase uma
justificativa.
-Vai me dar banho? – ela perguntou
surpresa.
-Sim. – ele tentou não parecer tão
empolgado com a ideia. – Primeiro vou tirar os
restos de remédio de sobre as feridas, Dr.Nut
recomendou que ficassem limpas e arejadas para
não haver infecção.
Helena observou seus movimentos,
achando que Rony a considerava uma imbecil ou
algo assim. De qualquer forma, cuidava dela, e
tinha que lhe ser grata.
Por isso se calou enquanto ele tirava o
remédio das feridas dos braços e dos arranhões
das pernas.
-Consegue levantar o braço? - ele
perguntou ajudando-a a sentar na cama.
-Acho que não – era verdade, não
conseguia erguer sem causar dor no ombro.
-Não force. Vamos dar um jeito. Por
agora, o melhor é usar as roupas antigas, que são
mais largas. – disse pensativo, conseguindo passar
a camisola por sua cabeça e desnudá-la.
Helena baixou a cabeça, envergonhada de
si mesma e por estar nua.
-Não fique envergonhada – ele ergueu
seu queixo, olhando em seus olhos – Continua
linda, apenas está machucada.
Ela não respondeu, pois não se
considerava linda antes, quanto mais agora.
-Se me ajudar a entrar na banheira, tomo
banho sozinha – ela disse baixo, não querendo
brigar.
-E me tirar esse pequeno prazer? Acha
que sou um homem de perder a grande
oportunidade da minha vida? Hein? – piscou para
ela – Eu fantasiava sobre isso quando te espiava -
confessou, apanhando-a nos braços.
Sentir aquele corpo pequeno junto ao seu
era uma tortura, e se recriminou por pensamentos
tão feios, quando ela estava doente e desprotegida.
Gentilmente depositou-a na banheira e
ela gemeu alto, os olhos s enchendo de lágrimas,
pois a dor era horrível.
-Quer sair? – perguntou desesperado ao
ver que a água em contato com os machucados
despertava ainda mais dor.
-Não. Está passando. A água ajuda a
aliviar a dor, mas primeiro, dói muito – disse,
erguendo a mão e espalhando água por seu ombro
machucado. Rony a imitou, se ajoelhando ao lado
dela, e espalhando água por seu pescoço, e
ombros, antes de apanhar a esponja e mergulhar
na água.
Ela não era boba, sabia que havia muitas
perguntas que Rony evitava lhe fazer, e que não
escaparia para sempre das respostas. Mas por
agora, preferiu se calar.
-Sente muita dor ao redor do olho?
Consegue ver com clareza? – ele perguntou
tentando não parecer tão preocupado quanto
estava.
-Sim – ela notou seu esforço para não
assustá-la – Uma vez levei um soco do meu
irmão, ele não era muito cuidadoso, e era um
homem forte. Foi sem querer, estava me
ensinando a brigar, para me defender. Fiquei duas
semanas com o olho roxo – era bom lembrar essas
coisas – Dói, mas vejo com clareza.
-Isso é bom. Avise ao sentir qualquer dor
anormal, está bem? Não precisa se fazer de forte,
nem esconder a dor Helena.
Ela não respondeu nada. Baixou os olhos,
e olhou para si mesma, nua dentro da água. A
banheira era grande pensou, e ficou surpresa
consigo mesma, ao imaginar que poderia convidá-
lo a entrar com ela.
Corou tão fortemente, que chamou sua
atenção.
-Está tudo bem, Helena? Quer sair?
-Estou bem – ela disse rápida demais, e
ele notou sua estratégia de não olhá-lo nos olhos.
Um sorriso nasceu em seu rosto ao
entender.
-Não se preocupe, também estou
pensando besteiras - disse muito perto de sua
orelha, beijando a região. Ela encolheu o rosto,
sentindo o contato arrepiar sua pele. – Mas não é
hora para isso, Helena – ele chamou quando
percebeu que continuava envergonhada. – Porque
está tão quieta? Deveria estar brigando comigo por
estar tão perto!
-Não posso me cuidar sozinha agora – ela
confessou – Eu...
-Não diga isso – ele pediu, fazendo-a
olhar para ele – Se tem alguém capaz de se cuidar
e fazer isso muito bem, essa pessoa é você.
Cuidou de toda uma família. Nesse momento está
frágil, e não precisa fazer tudo sozinha, tem a
mim, tem a Juanita. Terá Alice – ele sorriu ao
notar sua expressão – Eu sei, ela não é a melhor
enfermeira que poderia lhe arranjar. Não posso
descuidar da fazenda e Juanita precisa cuidar do
serviço. Minha mãe se ofereceu para ajudar, mas a
essa altura da vida, meu pai disse que não sabe
mais viver sem ela ao seu lado – ele sorriu – acho
que o entendo.
Ela fingiu não notar sua insinuação e
continuou olhando para ele.
-Alice ficará no outro quarto até a
chegada de John. Até lá espero que o segundo
andar esteja reformado.
-Seu amigo lhe escreveu? – perguntou
curiosa, tentando ignorar a forma como ele lavava
suas costas com a esponja úmida e ensaboada.
-Ainda não, mas conheço John. Não
resistirá a ideia de me ver casado com uma moça
do interior – ele sorriu ainda mais ao pensar nisso
– Não sei o que deve tê-lo surpreendido mais, eu
estar casado, assumir uma vida de fazendeiro, ou
estar feliz com uma moça do interior. – riu - Pode
não parecer, mas já fui um homem sofisticado.
-Você é sofisticado – ela respondeu,
olhando-o com certeza.
-É estranho não é? Pois diria o mesmo de
você. Tem o porte de uma dama. O refinamento e
a cultura.
-Não diga essas coisas – ela pediu.
-Eu sei que não gosta dos meus
galanteios, mas sei também, que é apenas porque
tem medo de não resistir a eles – brincou.
Helena sorriu, apesar dos lábios
machucados e ele parou de esfregar suas costas
para receber esse sorriso.
-Gosto quando sorri para mim.
Helena não respondeu, e Rony não
insistiu. Mesmo porque, era uma tortura e uma
benção banhá-la. Sua mente o recriminava por
desejá-la, estando ela tão machucada e submissa,
mas o corpo estava consciente de cada detalhe da
proximidade de ambos.
Ele passou a esponja em seus braços,
cuidadoso, subindo para seu pescoço, e seu colo,
com muito cuidado ele passou a esponja sobre os
seios, ignorando os mamilos rígidos e fingindo
não notar a pele arrepiada. Queria lavá-la sem a
barreira da esponja, com as próprias mãos, mas
temia a própria reação. Evitou o corte entre os
seios, e esfregou a barriga lisinha, e seguiu em
direção a suas pernas. Terrenos menos perigosos.
Movendo-se, apanhou um pé ensaboando
e notando que ela sorria novamente, em cócegas.
Olhou para ela, e ela comprou aquele olhar que
dizia que outra hora, ele aproveitaria a informação
de que sentia cócegas.
Tomou todo cuidado do mundo com a
perna machucada, mas confessava que alisara e
acarinhava a outra perna até ouvir um suave
suspiro escapar de seus lábios.
Aproximou a esponja de sua parte íntima
e Helena o olhou com um aviso nos olhos.
Sentindo-se incapaz de ser integro diante daquela
tarefa, pôs a esponja em sua mão e se afastou
fingindo buscar uma toalha. Tudo para não ver
uma cena que com certeza o excitaria muito.
Helena esperou que ele voltasse, depois
de se limpar e quando Rony aproximou-se para
lavar seus cabelos, teve que fechar os olhos e
desfrutar.
Ele ensaboou as madeixas e alisou os fios
entre os dedos, de uma forma que nunca achara
ser possível um homem fazer. Rony enxaguou
seus cabelos, e enrolou uma toalha menor, antes
de tirá-la da água.
O corpo miúdo molhou-o por inteiro, mas
era um prazer inenarrável, por isso lamentou ao
sentá-la sobre a cama e apanhar uma toalha.
Secou seu corpo com proposital lentidão
desfrutando daquela tarefa e notando pelas faces
coradas e pela pele arrepiada, que ela também
desfrutava.
-Irei lhe banhar todos os dias – ele disse
como se fosse uma promessa de amor.
-Com Alice na casa, não é preciso que se
dê a esse trabalho.
Ela não resistiu, ele pensou. Helena não
poderia resistir a lhe frustrar o desejo de abusar
dela!
-Pois discordo. Alice pode afogá-la na
água da banheira, e não sei se quero correr esse
risco.
Helena deixou-se ser cuidada, como
jamais pensou que faria.
Rony ficou frente a frente, enquanto
vestia-lhe uma camisola limpa, uma que fora
comprada no dia anterior. Era rosa pálida, com
renda no busto. Quando olhou para Helena, ela
tinha os olhos fixos nele.
Devolveu aquele olhar e disse:
-Não me olhe desse jeito Helena, ou faço
uma besteira – avisou.
-Que besteira? – perguntou para provocá-
lo.
-A mesma besteira que está na sua
cabeça ao me olhar assim.
Ela engoliu em seco, e o brilho de desejo
desapareceu de seu olhar e Rony parou de secar
seus cabelos, entendendo que não dava mais para
fugir da verdade.
-Vai me contar o que aconteceu?
Não pareceu que ela responderia, mas
quando o fez, havia lágrimas em seus olhos.
-Sim.
Capítulo 38 - Revirando o Baú

-Você o conhecia, não é? - Rony


perguntou direito. – A causa das suas lágrimas
não foi à agressão, é forte demais para se abalar
desse modo, então, só pode ter sido o fato de ele a
ter ferido. De se importar com a morte daquele
desgraçado!
-Eu nunca o tinha visto em toda a minha
vida – ela disse surpresa e automaticamente na
defensiva.
-Não minta para mim, Helena. Quando
estivemos na cidade com Juanita e Suarez, esse
mesmo homem a cumprimentou. Eu lembro. Vi o
modo como a olhou, como se a conhecesse.
-Era um provocador - ela disse depressa,
um crescente de pânico por ele achar isso – queria
briga! Apenas isso! Eu... – fechou os olhos,
sentindo a cabeça latejar. – Não o conhecia! Juro
que não.
-Porque estava chorando, se não pela
morte daquele homem? – tinha cruzado os braços
e estava à espera de uma resposta.
Helena não queria responder, pois sentia
a culpa remoê-la.
-Eu... – a dor em sua costela quebrada a
fez arfar ao tentar sentar-se.
Rony imediatamente ajudou-a a se
recostar nos travesseiros, levantando-os contra o
dossel da cama.
-Helena – ele chamou baixo, sentando-se
ao seu lado – Esse homem queria algo de você, é
isso? Posso não ser o homem mais observador do
mundo, mas me parece óbvio que ele queria algo.
Se fosse um estuprador, teria ido até o fim. Porque
surrar uma mulher indefesa? Uma emboscada no
meio do mato, por quê?
-Enquanto... – as palavras se recusavam a
sair de seus lábios machucados. Culpa. -...
Enquanto conversava com Susan, eu... Fiz algo
que chamou atenção daquele homem.
-E o que você fez? – perguntou, tentando
não interromper sua confissão. Sua mente previa
dezenas de possibilidades terríveis. Helena era
imprevisível!
-Fui ao bar – ela disse olhando em seus
olhos, pois não fugiria da situação. Por mais que
se envergonhasse e sentisse culpa. – Várias vezes
estive lá no passado a mando do meu pai.
-E porque foi a um bar onde só há
homens? – uma ruga se formou em sua testa.
-O dono... Compra artigos de valor.
O entendimento cruzou a face de Rony
que a encarou incrédulo.
-E tem algo de valor para vender? – havia
uma pontada de amargura em sua voz.
Helena maneou a cabeça, concordando.
Sentia uma incrível vontade de se defender e nem
sabia por quê.
-Minha mãe me deixou um colar de ouro
com pedras preciosas, e tenho o guardado todo
esse tempo para o momento em que ficasse
sozinha e na rua. Com tanta gente entrando e
saindo tive medo de continuar escondendo aqui...
-Sozinha e na rua? E quando exatamente
isso poderia acontecer? Achei que soubesse que
mesmo se perdermos um dia a hipoteca, ainda
assim, tenho minha profissão e não passaremos
necessidades enquanto tiver minha família para
me apoiar. Que minha família, agora, também é
sua. Helena? - ele chamou quando notou que ela
não o olhava mais.
-Não será minha família quando ficar
com a fazenda e casar-se com Susan – ela deixou
escapar.
-Quando? Disse: Quando? – ele não
acreditou no que ouvia!
-Eu... Achei que fosse a melhor opção
que tinha!
-A melhor e única opção que tinha era
falar comigo!
-Mas e se você... – ela parou antes de
terminar a frase.
-Termine o que ia dizer – mandou.
-Rony... – havia um tom de súplica em
sua voz e em seu olhar.
-Diga. Não tem outro jeito, termine sua
frase, para que eu possa entender o que está se
passando nessa sua cabeça!
-Sei que gosta de dinheiro - ela olhou
para ele, não havia acusação, apenas constatação.
-E isso faz de mim um ladrão?
-Estava confusa... - “com meus
sentimentos”, pensou, mas não disse - pensei
bobagens! Confesso que ao chegar à fazenda,
havia por decidido pôr todo o dinheiro em uma
conta. Não achei de verdade que fosse me roubar!
-Não consegue mentir para mim – ele
avisou, pois não acreditava em uma palavra
sequer. Helena o achava capaz de roubá-la!
-E não foi você quem pensou que eu tinha
me envolvido por esse homem? Depois de ter-lhe
jurado que não havia homem algum em minha
vida antes de conhecê-lo? Também não pensou o
pior de mim?
-Onde está essa joia? – ele perguntou
seco, sem querer admitir que estivesse certa.
-No outro quarto. Atrás do roupeiro,
numa falha do assoalho – respondeu humilde.
Rony saiu do quarto, e Helena tocou o
rosto, onde o olho doía. As lágrimas que continha
escaparam, mas ela as limpou antes que ele
voltasse.
Quis achar um jeito de dizer a ele, fazê-lo
entender, que não podia evitar. Sabia que um dia
ele iria embora. Com Susan, ou sozinho, um dia
seria deixada para trás.
Seus pais a deixaram para trás, Anne a
deixara para trás. Não seria diferente com Rony.
Sentiu uma grande falta de ar, e buscou
ar. A dor em suas costelas estava quase
insuportável. Sentiu novas lágrimas, mas essas
eram de dor física, e quando Rony voltou com
aquele pequeno embrulho nas mãos, encontrou-a
tentando limpar as marcas de choro.
-Está doendo muito, não é? – perguntou
apenado.
-Parece que nunca mais voltarei a
respirar sem sentir dor – disse perto de voltar às
lágrimas.
Ele se aproximou, e fez um carinho em
seus cabelos, sentindo-se reconfortado por não ser
afastado. Pelo contrário, ela se aproximou um
pouco, apesar de não poder se mover.
Instigado, Rony sentou-se ao seu lado na
cama, apoiando sua cabeça em seu ombro,
tomando cuidado com o ombro machucado e suas
costelas.
-Sinto uma dormência nas costas – ela
disse baixo – Não consigo mexer meu corpo
direito...
Um princípio de pânico o fez gelar.
Aqueles chutes em suas costas poderiam ter
deixado sequelas, ao menos, fora isso que Dr.Nut
dissera. Era uma possibilidade, mas não lhe diria
agora. A mente tem muito poder, e Helena era
teimosa e capaz de se prejudicar, apenas por ser
incapaz de afastar-se do medo e da culpa.
-Isso é normal, amanhã já terá passado –
tentou tranquilizá-la, apesar do acelerado do
próprio coração. Não suportaria vê-la invalida em
uma cama.
Era egoísta, mas não suportava a ideia de
perder a vitalidade de seu olhar e a força de seu
corpo ao agarrá-lo para si, com pernas e braços
sobre a cama. Helena definharia dependendo dos
outros todos os dias de sua vida, e ele não
suportaria ver isso acontecer diante dele. Por isso
afastou o medo, e tentou distraí-la.
-Sinto-me tão cansada – ela sussurrou,
olhando para suas mãos, e tocando-as. – Era da
minha mãe... E antes, pertenceu a minha avó. A
única coisa de valor que sobrou.
-Seu pai sabia da existência desse colar?
-Não. Minha mãe disse-lhe que havia
perdido quando vieram para cá cuidar da fazenda.
Eram tempos difíceis, mamãe era muito moça e
não queria perder a única lembrança de sua
família. Depois, creio, esqueceu-se dela.
-Mas você encontrou – instigou-a a falar.
Helena raramente se abria, e era sua oportunidade.
-Sim, encontrei e ela me deu. Não sei por
que não guardou para Anne. Ela ficaria tão linda
se usasse essa joia em uma festa na corte.
-Tenho certeza que sua irmã ficaria linda.
– não quis contrariá-la, pois ela tinha essa ideia
distorcida de si mesma, e ele odiava o egoísmo
daqueles pais que a levaram a crer que era
inferior. – É uma joia valiosa, sem dúvidas.
Poderemos colocar em sua conta no banco,
Helena. Não é necessário vendê-la. Pode guardá-
la como recordação, mantê-la segura.
-Mas você disse que bancos não guardam
objetos – ergueu o rosto de seu ombro surpresa.
-Sim, mas pensei que se referisse a coisas
tolas. Bobagens de moças, não esqueça, convivi
com muitas meninas fúteis em Londres. E depois,
pensei que fosse algo da fazenda, talvez uma
recordação sem valor. Mas quanto a jóias, sim,
pode guardá-las.
-Como pude ser tão ignorante? - ela
perguntou ficando sonolenta.
-Não é ignorante. Nunca mais diga isso
de si mesma. – ele pediu deixando a joia de lado e
segurando sua mão e beijando a palma – quando
estiver curada, vamos ao banco guardar seu colar
para quando estivermos ricos e pudermos esbanjar
na corte, irá aparecer uma rainha ao usá-lo com o
mais belo dos vestidos! Posso imaginar! Você
pode imaginar isso, Helena?
-Sim, posso – ela sussurrou. – Oh, Rony,
eu quase causei uma desgraça...
-Sim, mas já passou. – garantiu-lhe.
-Não... Ele iria achar a fazenda – havia
uma nota de horror em sua face – não havia
ninguém aqui para defender Juanita e as
crianças... Como meus pais, não havia ninguém
aqui para defendê-los...
Os medicamentos faziam seu efeito, e
Helena adormeceu em seu ombro. Rony ajeitou-a
deitada na cama e a cobriu, apesar do calor que
fazia, colocou um lençol fino sobre seu corpo. Seu
coração estava quebrado pela mulher que tinha a
sua frente.
Enfrentara a morte, para não ver crianças
desamparadas passarem pelo horror da perda, ou
quem sabe, por uma morte horrenda.
Helena era corajosa, e destemida, mas
assim, adormecida, lhe causava mais que
admiração, causava-lhe ternura. Tanto que a
despeito dos próprios compromissos, ficou boa
parte da manhã contemplando-a e velando seu
pesado sono.

No meio da tarde, após dormir várias


horas, Helena acordou com o som de vozes
alteradas. Imediatamente sentiu todo o corpo
retesar, sentindo-se frágil e desprotegida por não
poder levantar-se. Estava começando a ficar em
pânico quando ouviu a voz de Rony mais alta que
as demais.
Uma sensação de proteção a pegou
desprevenida e o medo foi embora, e só então,
conseguiu perceber que as demais vozes eram de
mulher e não de homem.
Ela ouviu uma batidinha na porta e então,
essa se abriu. A cabeça morena e os olhos
incrivelmente verdes de Duran apareceram pelo
vão e ele disse incerto:
-A mãe mandou avisar que trará seu
jantar em minutos.
-Já é tão tarde, Duran? Quanto tempo
dormi? – perguntou com dificuldade, pois agora
seus lábios estavam mais inchados e doloridos.
-Desde a manhã. Não almoçou, mas a
mãe disse que precisava dormir.
O menino parou de falar, quando algo ou
alguém surgiu atrás dele, e como uma flecha, ele
sumiu, a porta foi aberta e Rony apareceu,
conduzindo alguém.
-Sente-se melhor?
Parecia ser sua frase favorita desde o dia
anterior.
-Sim... – era claro e evidente que não.
Mas ela não diria. Estava voltando ao seu auto
controle e começava a se fechar novamente.
-Trouxe Alice para lhe fazer companhia -
ele revelou a jovem contrariada atrás de si –
Juanita não gostou muito, mas Alice está de
acordo em cuidar de você até que melhore.
A forma como a jovem olhou para o
irmão deixou claro sua opinião verdadeira.
-Ainda demoro a voltar para casa – ele
avisou e se aproximou, beijando sua testa, com
carinho – Peça a Alice para ler para você. Ela
precisa aprender Francês.
Alice lançou-lhe outro olhar mortal
quando o irmão saiu com um sorriso em sua
direção.
Sozinhas, as duas não trocaram nenhuma
palavra.
Helena não sabia o que dizer, sentia
vergonha por estar naquele estado e Alice não
parecia nada comovida. Bem pelo contrário,
poderia até estar satisfeita.
O pesado silêncio foi quebrado por uma
apressada Juanita, que olhou atravessado para a
belíssima jovem ruiva vestida em tecido amarelo,
com delicados bordados no decote, e pousou uma
bandeja sobre a cama, ao lado de Helena.
-Ajude-a com o jantar – ela disse seca e
Alice soltou um profundo suspiro, contrariada -
Ordens de seu irmão.
Alice esperou a mulher sair para se
aproximar, sentar na beira da cama e apanhar a
tigela com sopa e uma colher. Colherada cheia
atingiu os lábios doloridos de Helena e ela gemeu,
pois estava quente.
Engoliu com dificuldades, mas não
reclamou.
-Meu irmão me jurou que seu amigo irá
gostar de mim – Alice disse finalmente – Se for
boa com Rony, nos apresentará – seus olhos azuis
brilharam intensamente – e quem sabe, se gostar
de mim, e eu dele, poderemos nos casar.
-Quer se casar? – perguntou surpresa,
pois Alice sempre dissera que não queria casar-se,
queria ser livre.
Apanhada em flagra por ter seus sonhos
românticos, ela corou.
-É boa a vida de casada, mamãe vive
dizendo que é – ela disse baixo, como se não
quisesse confessar que tinha esses tipos de
pensamentos.
-Não precisa cuidar de mim – ela afastou
a mão de Alice e tomou a colher, pois além de
estar queimando, não queria favores por obrigação
– Digo a seu irmão que o tem feito. Leia se quiser
- ela apontou uma pilha de livros que estava sobre
a penteadeira.
Com um olhar enviesado, Alice apanhou
um dos livros e sentou-se do outro lado do quarto,
dedicando-se totalmente a leitura.
Ignorando Helena e sua dificuldade em
segurar o prato e erguer a colher. Vez ou outra deu
uma espiada para ver como ia, mas apenas se
levantou quando ela terminou. Tirou a bandeja e
saiu de perto.
Alimentada, não demorou em o sono
abatê-la novamente.
Estava muito casada, seu corpo exausto, e
seu emocional estava em frangalhos.
Alice finalmente desgrudou os olhos das
páginas que não conseguia ler, pois sua mente
estava fervilhando e se levantou cuidadosa. Cobriu
Helena, sua ex-melhor amiga e sentiu a garganta
apertar ao olhar com atenção a feridas em sua
face. O olho estava muito roxo, inchado e feio,
assim como as escoriações em toda a face. Seu
braço direito estava imóvel, e pelo inchaço de seu
ombro, a causa vinha dali. Ela estava toda
surrada.
O aperto em sua garganta aumentou, e
seus olhos ficaram turvos. Sentia pena, e dó. Mas
não só de Helena. Dela também, que não tinha
mais sua melhor amiga.
Como sentira falta de Helena, pensou.
Fez um carinho em seu rosto e se afastou.
Não eram mais amigas, e era mais fácil
odiar Helena do que sentir sua falta.
Capítulo 39 - Colocando a cabeça no lugar

Rony praticamente correu para casa.


Eram quase dez da manhã e pelas suas contas,
Helena deveria estar despertando. Iria lhe dar um
banho, por isso tanta presa. Era um cretino, mas
não podia evitar a ansiedade.
Cruzou com Juanita e apressou-se para
dentro da casa. Esperava ter a oportunidade de
acordá-la. Quem sabe com um suave beijo de bom
dia? Não, ainda não, seus lábios estavam
machucados ainda.
Desejou não ser tão bruto e ter se
lembrado de trazer uma flor. Sim, poderia ter
apanhado um ramalhete de flores do belo jardim
que sua mãe mantinha! Mas na pressa de deixar o
trabalho e vir para casa, esquecera.
E se pensasse bem, Helena poderia achar
demais. Não sabia se ela gostava de flores. Sabia
que apesar de desmerecê-lo, ela usava as louças
que lhe comprara. E usava as roupas de baixo,
mais isso não era mérito, estava doente e não
conseguia gritar com as feridas em seu rosto.
Se bem, que se ela quisesse gritar, tinha
certeza que o faria!
Nada era capaz de barrar-lhe a passagem
quando Helena estava decidida a passar!
Ele respirou fundo antes de abrir a porta
do quarto. A casa estava silenciosa e a primeira
coisa que viu, foi que ela lia um livro. Recostada
contra os travesseiros, lia calmamente.
A segunda coisa que notou, foram seus
cabelos molhados, penteados para trás, longe da
face. E a terceira coisa que notou, foi Alice
arrumando uma pilha de roupas.
-O que faz aqui, Rony? – ela perguntou
sem entender – Não deveria estar trabalhando?
-Sim... Mas achei que daria banho em
Helena, como fiz ontem.
Havia tanta decepção em sua voz, que era
impossível não notar. Alice olhou de um para o
outro, e então respondeu:
-Um homem não deve banhar sua esposa.
É... Amoral que faça isso! Além do mais, tem uma
empregada e também estou aqui. Não há porque
abandonar o trabalho por causa disso!
-Alice, não fale nesse tom comigo – ele
repreendeu, mas sem muita autoridade.
O belo nariz arrebitado de sua
apimentada irmã se elevou e ela revirou os olhos,
sabendo que não poderia freá-la, por mais que
desejasse.
-Desculpe, meu irmão – eram as
desculpas mais falsas que já ouvira na vida.
-Está desculpada - aproximou-se e beijou
a irmã, aproveitando para despentear os cabelos
cuidadosamente cuidados e penteados.
-Oh, não faça isso! – ela reclamou,
correndo para o espelho enquanto ele a deixava,
com um sorriso e se aproximava da cama.
-Bom dia, Helena.
-Bom dia, Rony – ela respondeu,
abandonando a leitura e olhando para ele.
Havia mais em seu olhar, uma coisa
diferente. Um desafio. Ele gostou de saber que
estava melhor, pois a fragilidade não lhe caia bem.
Preferia penar nas mãos de Helena, desde que ela
estivesse consistente e forte como era seu normal.
Tinha medo de vê-la desabar e não ser capaz de
ampará-la.
E descobrira nesses últimos dois dias,
que precisava dela ao seu lado. E precisava muito!
-Não me esperou – ele disse baixinho,
pois Alice velava a conversa, impedindo-os de
falar mais abertamente.
-Sinto muito – era mentira, ele pensou.
-Eu deveria saber que não a pegaria
desprevenida para sempre – ele reclamou,
beijando sua testa e olhando para seu olho roxo.
Analisou os cortes no lábio, e os arranhões e os
achou menos feios que ontem. – Como está o
ombro e a perna?
-Consegui mexer o braço sem tanta dor –
havia quase um traço de alegria na voz – Mas
ainda não consegui dobrar as pernas. – ela disse
pensativa – não consigo mover a perna sã... O
médico não disse se isso é normal também?
Uma sombra cruzou os olhos azuis e ele
desviou o olhar para suas pernas, cobertas pela
manta e tentou sorrir.
-Ele disse que precisa de repouso –
escapou da resposta – Alice, porque não faz uma
massagem? Uma boa massagem deve ajudar a
circulação do sangue nas pernas de Helena.
Alice iria negar, mas algo em seu olhar a
fez mudar de ideia. Havia um traço de desespero,
e ela olhou para Helena achando que tinha mais
do que preocupação exacerbada.
-Preciso voltar ao trabalho, já que Helena
conseguiu me enganar - tentou fazer graça,
apanhando sua mão e beijando os dedos.
-Tenha um bom trabalho, meu irmão –
Alice disse meiga, e ele sorriu.
Era momentos como esse que enganavam
os olhos de um homem, pensou. Uma face
angelical, olhos azuis como o céu, e cabelos lisos
e brilhantes, um conjunto capaz de cegar os olhos
de um homem, ainda mais quando a voz era suave
e o sorriso meigo. Mas Alice não era meiga. Era
uma fera. Manhosa sim, mas também, muito
arisca.
Pobre, John. Estava começando a ter
pena da enrascada em que colocaria o amigo. Mas
se a sua própria enrascada era uma dica, poderia
dizer que John seria um homem muito feliz. E
nada entediado. Embora, pudesse às vezes se
pegar pisando em ovos!
Esses pensamentos eram agradáveis, mas
não subjugavam outros pensamentos mais
profundos. Sentia medo.
Medo de pensar no que aguardava em
suas vidas, caso Helena ficasse permanentemente
ferida. Não podia aceitar tal coisa, ou sequer
aceitar esse pensamento!
Voltou ao trabalho para esquecer. Para
impedir-se de pensar sobre isso, e também, para
descontar no esforço braçal todo o medo e
frustração!

Alice lia o livro sem vontade. Helena


dormia calmamente na cama, mas ela não
conseguia parar de pensar. Rony escondia alguma
coisa.
Fazia pouco tempo que reencontrara seu
irmão, mas como os demais, era transparente e
sua alma estava em seus olhos. E ver medo e dor,
quando deveria haver alegria em ver a mulher se
recuperando, era algo preocupante.
Talvez estivesse feliz com o pensamento
de enviuvar, decepcionando-se com sua boa
recuperação.
Não.
Esse pensamento não condizia com o
homem desesperado que fora buscar-lhe em casa,
para ajudar a cuidar da mulher. Muito menos
condizia com o homem honesto e íntegro que seu
irmão se apresentara ser.
Intrigada, ela abandonou a leitura
aproximando-se da janela aberta, admirando a
paisagem. Por ficar em uma área privilegiada com
o bosque e o lago perto, o ar naquelas bandas era
mais ameno. Menos quente. Menos seco. Era
agradável.
Suspirando, pensou no amigo de seu
irmão. Estava ansiosa pela sua chegada. Conhecia
John Harrison a muitos anos, de ouvir falar e de
seus sonhos também. Sorriu.
Seu irmão sempre escrevia sobre ele, e
suas aventuras a seu lado. Castigos no internato,
passeios, dramas. E desde que aprendera a ler, ela
devorava aquelas cartas, lendo e relendo,
adorando saber o que John Harrison fazia ou
deixava de fazer. Tornara-se para ela um distante
sonho e surpreendia-se de Helena não se lembrar
do quanto falara sobre ele, dia após dia, exaltando
as qualidades que apenas supunha ter.
Era encantada por um homem que só
existia em suas fantasias, mesmo assim, era um
cálido sonho que parecia possível de realizar-se,
agora que Rony o traria ali!
Ansiosa, não notou que Helena havia
acordado.
-Parece sonhadora – ela sussurrou da
cama, sem se mexer de entre os lençóis, apenas
olhando para sua etérea imagem exaltada pela luz
do dia que a banhava pela janela.
-Penso em John - confessou, esquecendo
momentaneamente a mágoa pela amiga.
-Nunca se viram Alice. – lembrou-a
desse ‘detalhe’.
-Sim, mas iremos nos ver em breve–
sorriu sonhadora – Papai está ansioso para que as
obras dessa casa fiquem prontas antes que John
chegue!
-É certo um pai lançar a filha aos braços
de um estranho? – Helena perguntou surpresa.
-Sim, quando a segunda opção é vê-la
casada com algum peão beberrão! – suspirou –
Meu pai tem medo que fique solteirona por falta
de boas opções, e se Rony garante que seu amigo
é um bom partido... Papai não quer perder a
oportunidade!
Helena sabia que quando dizia ‘papai’
não se referia a Artur, mas sim, a ela mesma.
-Diga-me uma cosia Helena - ela falou
após um pequeno momento de hesitação. – Como
é... Como é a vida de casada?
-Seu irmão e eu não somos casados.
Temos um acordo – foi sincera.
-Sim, mesmo assim, Rony contou que
vocês são um casal. – ela confidenciou notando a
ex-amiga ficar escarlate de constrangimento. –
Contou também que está feliz com esse
casamento, o que me faz querer saber como é a
vida de casada!
Alice não tinha pena dela, pensou. Queria
vê-la ofendida e humilhada. Embora, admitisse
que não se sentia assim. Ser esposa de Rony não
era causa de vergonha e se surpreendia por esse
tipo de conclusão!
-Não quero falar sobre isso – ela decidiu
ser má com Alice, do mesmo modo que era.
Sabia quanto sua amiga ruiva era curiosa
e isso a mataria!
-Ora, Helena! Não seja malvada! Sabe
que minha mãe jamais me contaria os detalhes
ultrajantes! Quer que seja ignorante na minha
noite de núpcias?
-Sim, é exatamente o que desejo.
Alice mediu forças com ela, mas por fim,
conteve o ato de implorar e fechou-se em sua
irritação. Helena teria rido se não estivesse tão
dolorida.
Alice era terrível, e terrível era também a
falta que sentira de sua amiga! Falta da sua voz,
das suas atitudes mimadas e intempestivas. Até
mesmo de sua crueldade crua. Alice era
desbocada e falava tudo que pensava! Certa ou
errada, ela afiava as garras e arranhava para valer!
No entanto, era mais divertido quando
assistia, e não quando era o alvo!
-Quer um pouco de água? – Alice
perguntou lembrando-se das ordens de Rony sobre
enfiar-lhe comida goela baixo!
-Sim... - arregalou os olhos quando a
água veio acompanhada de leite, pão macio, e
biscoitos. – Não tenho fome.
-E quem se importa? – Alice fingiu
indiferença, cortando o pão em pedaços mínimos,
para que pudesse comer sem se ferir ainda mais.
– Já disse, tenho que obedecer meu irmão.
-Espero que John seja bem feio – Helena
grunhiu antes de engolir o maldito pão.
Alice teria rido, mas não queria dar o
braço a torcer. Ela não gostava mais de Helena! E
parte disso, era não achar graça de seu costumeiro
mau humor e de sua acidez natural!

-O que está acontecendo?


Rony perguntou tão logo pôs os pés
dentro da casa. Juanita lavava os pratos
calmamente como se não ouvisse os gritos vindos
do quarto.
-Sua irmã conseguiu o que desejava –
Juanita disse satisfeita – Alguém finalmente
perdeu a calma com ela!
Rony não deu atenção e correu para o
quarto.
Pela porta aberta avistou Alice de pé,
vermelha, esbravejando. Helena tinha a face ainda
mais enrugada, pela dor e pela raiva.
-O que está fazendo, Alice? - ele entrou,
agarrando seu braço e tentando tirá-la do quarto.
-Foi ela quem começou! – Alice gritou
empurrando-o e se soltando. Ela estava quase
chorando, mas ele sabia que por trás disso, não
havia raiva, mas sim tristeza – Foi ela!
-Acalme-se! – ele mandou, mas Alice
afastou-se, limpando as faces e olhando para
Helena com ódio.
-Eu a odeio! – ela esbravejou.
-Cala a boca, Alice! – havia mais que
ordem em sua voz, havia raiva – sou seu irmão,
tem que me respeitar!
-Respeitar? Casou-se com uma louca e
quer respeito?
-Eu mandei calar a boca! – ele perdeu a
calma, tentando arrastá-la para fora do quarto,
mas ela bateu pé e soltou-se.
-NÃO! NÃO PODE ME CALAR! DIGO
APENAS O QUE TODOS PENSAM! HELENA
É LOUCA! INTRATÁVEL! CRUEL! É UMA
PENA QUE NÃO TENHA MORRIDO!
Nem bem terminou de proferir essas
palavras, a mão de Rony caiu sobre seu rosto. Era
a primeira vez na vida que batia em uma mulher e
era a primeira vez na vida que Alice apanhava.
Chocada, ela deu um passo para trás, as
lágrimas correndo, o pranto irrompendo.
-Oh meu Deus, Alice! – ele não acreditou
no que havia feito. Tentou abraçá-la, mas Alice
tentou se afastar, não conseguindo – Me perdoe,
irmã. Não queria fazer isso, lhe juro! Não queria
feri-la!
Alice se deixou abraçar, chorando.
-Eu me descontrolei... Por favor, me
perdoe. – estava horrorizado com a própria
atitude, ainda mais com a tempestade de emoções
que o corriam da cabeça aos pés, ainda sob o
impacto das palavras da irmã. A ideia de Helena
morrer, o fez perder a cabeça.
Estava no limite há dois dias, mas Alice
não tinha culpa disso.
-Por favor, irmã, diga que me perdoa. –
implorou novamente, acariciando seus cabelos,
culpado.
Alice não respondeu, e Rony afastou-se,
segurando seu rosto entre as mãos e forçando-a
olhar para ele:
-Não pode dizer essas coisas Alice, e
esperar que não cause emoção. Não pode rogar a
morte de alguém, e esperar que não cause revolta.
Não deveria bater, nunca deveria bater em uma
mulher, mas não posso ouvir esse tipo de coisa e
ignorar. Tirou-me do sério, mas estou arrependido.
Por favor, diga que me perdoa.
-Não quero que Helena morra... – ela
balbuciou entre o choro, abraçando o irmão –
Porque me sinto assim?
-Porque é jovem e está magoada – ele
olhou para a irmã com afeição – Peça o que quiser
Alice, eu lhe dou; apenas me deixe reconquistar
sua afeição!
Alice afastou-se dele, muito magoada, e
não olhou para Helena. Apanhar era algo doloroso
não apenas fisicamente. Era algo horrível. Estar
frágil diante de um homem.
-Vou contar para o papai desse tapa – ela
ameaçou.
-E vai contar também que roga pragas
para a minha família? – ele surpreendeu-a com
essa pergunta – Vai ter coragem de dizer a nosso
pai que é cruel o bastante para desejar ver minha
família destruída?
-Ela não é sua família! – argumentou
fracamente.
-Sim, é. A escolha foi minha, e espero
que respeite isso. É imperdoável o que fiz, mas
não se esconda atrás do fato de ser mulher para
esconder o que você fez!
-Eu... – Alice pareceu entender a
dimensão do que fizera ao olhar para a expressão
do irmão.
Orgulhosa, olhou para Helena, que estava
chocada demais para se manifestar e então, olhou
de volta para o irmão.
-... Podemos falar em particular meu
irmão?
Rony olhou para Helena, mas ela não os
olhava. Fitava a colchão sobre a cama com
demasiado interesse.
Na sala, longe dos ouvidos de Helena,
Alice virou-se para o irmão.
-Não me bateria se não houvesse dito
mais que uma praga. – era uma verdade – O que o
faz tão sensível? O que tem Helena que o deixa
tão nervoso? Diga-me!
Rony engoliu em seco, olhando para a
determinação da irmã.
-Não saberei o tamanho do dano, até ver
Helena andar novamente - ele contou, sentindo
agora isso ser verdade. Não era apenas um
pensamento. Era uma espera.
-Oh, Deus! – Alice cobriu os lábios
assustada e esqueceu-se de tudo. A briga, a razão
para brigar com ela! – Helena sabe?
-Não – ele baixou o rosto, sentindo-se
pequeno. Miserável. – Não contei ainda.
-Não conte - ela apressou-se a dizer –
Helena sempre pensa nas coisas ruins antes das
boas! Não conte! É apenas uma possibilidade...
Talvez não aconteça.
-Eu sei – ele estendeu a mão em sua
direção – Me perdoe, Alice.
Ela maneou a cabeça, abraçando-o.
-Eu que peço perdão... Se soubesse!
-Porque brigavam? – ele perguntou agora
que se sentia perdoado.
-Helena se recusa a contar sobre a noite
de núpcias! – ela confessou, sem nem ao menos
corar – Como posso me casar se não sei o que
acontece?!
Rony sorriu, apesar dos olhos cheios de
lágrimas, ele sorriu. Sua irmã era uma alegria.
-Prometo convencê-la a contar.
-Faria isso por mim? – ela perguntou em
expectativa.
-É isso, ou eu mesmo contar – ele disse e
ela riu suavemente.
Um riso triste, mas já era um riso.
Capítulo 40 - Suspiros no ar

Os dias passaram correndo, e numa


quarta feita, quase um mês depois da agressão,
Helena decidiu que não aguentava mais. Não
sobreviveria a mais nenhum dia com Alice ao seu
redor, ora tratando-a como uma inválida, ora
atazanando sua vida.
Pouco via Juanita, pois se recusava a
estar no mesmo cômodo que Alice, visto que as
duas não se acertavam, e voluntariosa, Juanita não
baixava a cabeça para quem quer que fosse.
Sem contar, o drama de passar seus dias
trancada naquele quarto. E sem contar também,
que sentia falta de mais.
Nos primeiros dias não sabia o que era
esse ‘mais’, no entanto, passada a confusão de
seus sentimentos, sabia muito bem que a falta que
sentia era de Rony. Ele não dormia no quarto,
dormia no quarto de hóspedes, enquanto era Alice
quem dividia a cama com Helena. Segundo ele,
era pesado e grande demais para correr o risco de
rolar sobre ela e feri-la. Conversa, sabia que era
apenas conversa. Rony não tinha coragem de
admitir que estiva com raiva, ou ao menos sentido
pelo fato de ter posto em risco a fazenda.
Sua resignação havia chegado ao fim,
junto com a maior parte das dores. Sentia-se
menos dolorida, menos inchada.
O olho estava quase curado. Podia abrir e
fechar os olhos sem pesar, e dormir sem medo de
não enxergar ao abrir os olhos!
O ombro tinha desinchado, e conseguia
mover o braço e a mão, apenas não conseguia
segurar e apertar com força ainda. Ontem
conseguira manter a colher na mão para levar aos
lábios várias vezes, antes de sentir dor, o que em
muito a agradável!
A perna havia desinchado e não sentia
nenhuma dor! Apenas suas costelas ainda
incomodavam, mas não era uma dor tão forte para
que ficasse enfurnada naquela cama!
Sempre que Alice saia de perto, ela
levantava e arriscava uns passos, para exercitar a
perna e garantir que não estaria enferrujada
quando melhorasse, mas eram sempre às
escondidas, para não ter que ouvir os discursos de
Alice, e principalmente de Rony, sobre não
levantar sozinha, para não se ferir, que ainda não
estava pronta para sair da cama e essas coisas
todas que a tiravam do sério!
Decidida, ela afastou as cobertas e sorriu
consigo mesma ao ver sua oportunidade surgir,
num raro momento em que Alice lhe dera espaço.
Fora preparar a banheira para seu banho e era
agora, ou nunca!
Sentia todo o corpo dormente de tanto
ficar deitada, mas isso não era empecilho.
As pernas estavam pesadas, e quando ela
pousou os pés no chão, sentiu um formigamento
horrível.
Esperou uns segundos, para ver se
passava, e como nada aconteceu, decidiu forçar.
Segurando-se na borda da cama, tentou levantar.
Ficou uns dois segundos de pé antes de cair
sentada de novo.
Sabia que essa fadiga se devia a ficar
tanto tempo na cama, sem fazer exercícios. Era
disso que precisava; uma caminhada para soltar os
músculos dormentes!
Apressada para não ser pega em
flagrante, ela tentou de novo. Dessa vez a dor nas
costas apareceu, mas não foi forte o bastante para
abalar sua decisão. Tomando fôlego, ela tentou
novamente se erguer, ariscando mais que a poucos
passos pelo quarto. Andou até a porta e
entreabriu.
Sorriu quando avisou o pequeno Duran,
nem tão pequeno assim, visto que seria um
homem muito alto quando crescesse, ele vivia
dentro da casa, e suspeitava que fosse uma
precaução de Rony, pois caso algum comparsa
daquele ladrão aparecesse, o menino correria e
chamaria ajuda. Chamou-o baixinho, e quando o
menino entendeu o que desejava, não teve
coragem de contrariá-la.
Helena sorria de orelha a orelha quando
sentiu novamente o gostinho da liberdade!

Como um presságio, Rony soube que


algo estava errado quando avistou Alice na
varanda esperando por ele. Ela estava muito
vermelha e tensa.
-O que aconteceu? - ele perguntou direto.
-Helena saiu - ela disse com a voz um
pouco estranha.
-Helena foi levada? – um toque de pânico
apareceu em sua voz. Talvez aquele ladrão não
estivesse sozinho afinal!
-Não! Um dos empregados a viu sair com
Duran, filho da empregada. Eles foram... Passear,
eu acho.
-Ela saiu... Andando? – era difícil saber o
que estava sentindo naquele segundo enquanto
esperava a resposta.
-Deve ter ido correndo, porque não a
vimos sair!
Mal terminou de falar, e seu irmão
irrompeu para longe. Alice não o seguiu, afinal,
era assunto de casal, e a cada dia que passava
naquela casa e os via juntos, mais e mais se
convencia que tanto Helena quando Rony haviam
sido apanhados na própria armadilha. Aquele
acordo de casamento mais parecia uma pálida
lembrança!
Rony apeou do cavalo quando avistou os
dois. Duran brincava no lago, mas Helena estava
sentada na relva macia, rindo e falando com o
menino.
Nos últimos dias ela estava sempre mal
humorada. Ranzinza e reclamona, o que
compreendia, afinal, ele mesmo enlouqueceria
dentro de um quarto o dia todo!
Olhou para ela, e sentiu o coração parar
quando ela apoiou-se no braço que não sofrera
ferimentos e se levantou.
-Duran, me ajude aqui! - ela pediu gentil,
e o menino correu para fora da água, oferecendo o
braço para que ela se apoiasse – Vamos para casa,
antes que ELE de por minha falta.
Havia uma ênfase no ‘ele’ que ditava a
regra de sua ironia. Ele também era conhecido
como seu inimigo, vulgo, marido.
O possível descontentamento que poderia
sentir por te burlado sua ordem de ficar no quarto
e repousar, foi completamente subjugado, pela
felicidade de vê-la andando livremente.
E livre, era como Rony sentia-se, ao
finalmente, tirar de sobre os ombros o medo por
sua saúde.
-Muito tarde para isso - ele falou de
longe, assustando os dois – Te peguei, Helena. No
flagra.
-Oh – ela olhou para ele, e por incrível
que parecesse, havia divertimento em seu olhar –
Achei que um passeio seria mais saudável que
morrer de tédio ao lado da sua irmã.Ou pior,
esganar Alice.
Ele se aproximou e ofereceu as rédeas de
seu cavalo para o menino, que em dúvida, acabou
soltando a patroa e cuidando do cavalo.
-Leve-o – ele mandou e o menino não
precisou de uma segunda ordem para montar e
disparar. Adorava cavalos e não perderia a
oportunidade de montar um belo animal como
aquele. – Arrumou um comparsa para suas fugas?
-Acho que sim – ela concordou cordata, e
sentiu-se um pouco instável sem o apoio de
Duran. – Acho que vou cair – ela estendeu uma
das mãos em sua direção e foi o que ele precisou
para se aproximar.
Helena pedindo sua ajuda, querendo seu
apoio, era demais para seu coração massacrado
pelo medo e pela angústia durante aqueles
terríveis dias de espera!
Ele segurou seu rosto entre as mãos,
antes de beijá-la, olhou em seus olhos, vendo a
confusão e algo mais, antes que ela fechasse os
olhos.
Um longo mês sem beijar seus lábios,
pensou, mesmo quando os ferimentos
melhoraram, ele não se sentiu capaz de tocá-la
enquanto sentia tamanha aflição. Afastara-se para
permitir sua cura, para não atrapalhar, não causar
mais dano. Tinha medo de causar mais sofrimento
caso não se controlasse e lhe fizesse amor.
Agora, o medo tinha ido embora, e ele a
beijou.
Encostou seus lábios, apreciando o modo
instintivo e convidativo como Helena abriu os
seus, pedindo por mais. Mas ele demorou a lhe
dar o que desejava. Usufruiu do calor, apoiando
uma das mãos em sua cintura, para segurá-la e lhe
dar apoio, e fez carinhos em seu rosto com a outra,
enquanto massageava os lábios macios com os
seus.
Helena soltou um suspiro nada discreto,
pouco antes de Rony aprofundar o beijo. Sua
língua seguiu o caminho para dentro de sua boca,
e ela gemeu baixinho, talvez esperando que ele
não notasse.
Era delicioso sentir a forma como suas
mãos pequenas se agarraram a cintura masculina,
não por querer mais apoio, e sim, por querer tocá-
lo. A língua masculina provocou a feminina, até
ser impossível não corresponder. E quem gemeu
foi ele, ao sentir o quanto aquele beijo estava
tornando-se quente e avassalador.
Tomado pelo desejo, quebrou o beijo por
um segundo, para erguê-la nos braços, e então,
colou seus lábios novamente, continuando de onde
pararam, com o mesmo fervor e intento.
Acharia o melhor lugar para deitá-la na
grama e então, fariam amor. Ali, sobre o sol
quente, ele saciaria aquela fome que o queimava
por dentro. E que queimava Helena também.
-Oh, não! – eles não ouviram o grito a
distância – Rony!RONY!
Ele quebrou o beijo, olhando em volta, e
então, para trás, até avistar sua irmã correndo em
sua direção.
Em seus braços, Helena demorou um
segundo para conseguir desgrudar os olhos de seu
rosto e olhar para onde ele olhava.
-Que susto! Porque não voltaram com
Duran? – ela estava ofegante.
Rony tinha uma frase na ponta da língua,
mas a conteve. Alice era inocente em relação ao
que se passava entre um casal, e não poderia dizer
a ela que fosse embora, pois desejava possuir a
esposa em plena luz do dia, ao ar livre!
Precisava resguardá-la para ser inocente
até o casamento. Depois, seria problema do
marido dela!
-Estamos voltando, Helena ainda não
pode subir no cavalo - ele explicou, sorrindo e
esperando não parecer tão mentiroso quanto se
sentia.
Alice não era burra, e pelo modo como a
cunhada mantinha os braços em seu pescoço, e
estava corada, percebeu que havia mais, muito
mais!
Por enquanto, ela aceitava as mentiras,
mas ainda tinha esperanças de arrancar de Helena
a verdade sobre a noite nupcial.
Nem que para isso tivesse que parar de
implicar com ela!
Helena gostaria de ter forças para
protestar ao ser colocada sentada não cama, mas
seus argumentos morreram quando avistou a
banheira cheia de água e notou a forma como
Rony olhou para ela.
-Deixe, eu faço isso – Rony avisou a
irmã, ansioso para livrar-se dela.
-Ora Rony, se estou aqui, não precisa...
-Alice - ele a fez parar ao ficar sério e
usar seu nome completo – Quero um momento a
sós com minha mulher. Vá dar um passeio.
Alice inflou de revolta por ser tratada
como uma criança e também de curiosidade, e
sem alternativa, saiu fechando a porta atrás de si.
-Vou mandar Alice de volta para a casa
dos meus pais – ele resmungou.
-Ela tem ajudado bastante – ela disse
pensativa – Porque quer mandá-la embora?
-Porque Alice é uma enxerida - ele
respondeu, sentando-se ao seu lado, e pondo as
mãos nas suas costas, nos botões que prendiam o
vestido.
-Ela é curiosa e está ansiosa para se casar
– contou.
-Pobre John. Tenho medo de perder o
amigo - ele brincou e ela conteve um sorriso.
-Não diga isso. Alice será uma esposa
muito dedicada – havia um traço de confiança em
sua voz – embora, não entenda, porque alguém
queira tanto se casar!
-Não? Não tem uma suspeita da razão? -
ele provocou, aproveitando, para descer o vestido
por seus ombros, e beijando seu pescoço – Posso
pensar em uma razão ao menos...
-Para isso, não é necessário casar-se - ela
afastou-se um pouco.
-Tem toda razão - achou melhor não
testar sua sorte provocando-a!
-Porque está concordando comigo?
Sempre tenta me fazer mudar de ideia!
Helena olhou-o a espera de uma resposta
sincera.
-Quero fazer amor com você, Helena –
confessou humilde.
-Por isso não quer me irritar? – um
vendaval de emoções explodiu dentro dela diante
dessa conversa, e o rumo que estava levando-os
para outro lugar!
-Não posso tirar de você o que não quiser
me dar. Não quero te machucar – ele tocou sobre
uma das marcas em sua barriga, abaixo dos seios,
ainda cobertos pelas roupas íntimas.
-Continuo não querendo esse casamento
– disse um pouco sem vontade, sem ênfase.
-Sentiu minha falta? – ele decidiu investir
ao notá-la mais acessível. – Sei que senti a sua.
-Dormiu no outro quarto todos esses
dias... - ela deixou escapar e soou como uma
cobrança.
-Não podia correr o risco de te esmagar
se rolasse para seu lado da cama - ele contou feliz
ao constatar que sentira mesmo sua falta.
Helena corou, sem saber por que estava
tão feliz em constatar que suas conclusões sobre
ele estavam erradas.
Para ser franca, várias de suas conclusões
apressadas haviam caído por terra nos últimos
dias. Primeiro, ele não desejava casar-se com
Susan, ou não teria a salvo daquele malfeitor.
Seria prático e proveitoso tornar-se viúvo.
Estaria livre e com a fazenda, mesmo assim, a
protegeu e salvou. Cuidou de suas feridas e vinha
tratando-a como a uma princesa.
Rony não desejava livrar-se dela. Essa
constatação aquecia seu sangue e a fazia ferver
por dentro. Se por um lado sentia aquela sensação
de contentamento, por outro o perigo era ainda
maior. Aceitar Rony em sua vida trazia
implicações que não suportaria!
Rony sentiu o exato momento em que
Helena ficou tensa. Não barrou seus carinhos, mas
ficou muito séria e tensa.
-Helena – ele chamou sua atenção,
segurando seu queixo e olhando em seus olhos –
Não me afaste, não depois do susto que levei.
-Não tive a intenção que nada disso
acontecesse! – ela lamentou, empurrando-o e se
afastando.
Relembrando toda a culpa, Helena
levantou, agradecendo não sentir tanta
instabilidade.
-Acha que a culpo? Helena, o único
culpado está morto! – notando que nada que
dissesse a faria pensar o contrário, e achando que
não tinha tempo para fazer sua cabeça, pois não
desejava perder o momento a seu lado, pôs as
mãos em seus ombros, contornando-os, a curva
suave e seguindo para seus braços.
-Eu o trouxe até aqui! – ela se afastou,
mas ele insistiu, abraçando-a e pousando o rosto
contra o seu.
-Involuntariamente. Sua única intenção
era se proteger de um medo imaginário de ser
roubada, nunca poderia supor que chegaria a
acontecer algo assim!
Helena gostou de ouvi-lo falar desse
modo, e embora fizesse sentido, se recusava a
acreditar que não fosse sua culpa!
Ele notou como ela fechava os olhos e se
recostava em seus braços e achou melhor tirar as
preocupações de sua mente. Soltou o abraço e
terminou de soltar o vestido, fazendo-o cair e
revelar o corpete de rendas e os calções íntimos
que usava. Era bom ver que usava seus presentes.
Afastou seus cabelos para soltar os
botões e fitas que prendiam a seda, e aproveitou
para sentir seu perfume e distribuir beijos
inocentes por todo seu pescoço e ombro.
O tecido escapou do seu corpo e foi parar
ao chão, junto com a última peça que a cobria.
Rony tirou a roupa por uma perna, segurando-a
com carinho para que não desequilibrasse e então,
fez o mesmo com a outra. Sentiu o impulso quase
incontrolável de sentá-la na cama, abrir suas
pernas e provar novamente seu sabor.
Mas hoje, Helena não merecia apenas
paixão devastadora, ela merecia cuidado. Não
podia correr o risco de causar-lhe dor!
Por isso, contentou-se em despir seu
corpo e ajudá-la a entrar na banheira. Quis tomá-
la nos braços, mas Helena sentia-se bem para
andar, não seria ele quem a impediria, ainda mais
depois do medo e da aflição de pensar que isso
não seria mais possível!
Helena deixou o corpo relaxar ao entrar
em contato com a água. Andar havia tirado todas
as suas forças, e sabia que se devia ao fato de ter
ficado tantos dias sem se exercitar. Fechou os
olhos e saboreou o momento de relaxamento,
quase se esquecendo de Rony.
Abriu os olhos ao sentir que ele
derramava água sobre seus ombros, talvez para
chamar sua atenção. Fixou o olhar nele, e esperou.
-Quando percebeu que podia mover a
perna sem dor? - ele perguntou, não querendo
parecer interessado demais, muito menos contar a
ela do que poderia ter lhe acontecido de verdade.
-Hum... Uns quatro dias depois eu já
andava pelo quarto quando ninguém estava vendo
– contou, ainda olhando para ele.
-Porque não me contou nada? – ele ficou
perturbado por achar que poderia ter evitado todos
aqueles dias de medo!
-Primeiro. Alice estava sensível por causa
da briga que tiveram. Achei melhor não irritá-la
tentando sair da cama. Em segundo, você parecia
pior que ela, reclamando o tempo todo. E terceiro,
apesar de não terem me dito nada, eu sabia da
possibilidade de ficar com sequelas. Achei melhor
não contar enquanto não tivesse certeza que estava
tudo bem.
-Você sabia? – ele ficou imóvel, fitando-a
e Helena encolheu os ombros. – Como ficou
sabendo?
-Rony, não sou tola – havia um traço de
irritação na sua voz – feri uma costela e desloquei
o ombro, e tudo o que faziam eram me perguntar
da minha perna, que sinceramente, era o menor
dos meus problemas! Foi fácil deduzir que algo
estava errado!
-Não disse nada. Achei que não
soubesse.
-Desculpe, talvez devesse ter contato
antes - ela estava confusa com sua desolação.
-Sabe o inferno que foi passar todos esses
dias esperando que acontecesse um milagre e você
pudesse levantar daquela cama? – havia nele,
também, um traço de confusão.
-Agiu como se não quisesse que eu
fizesse esforços – ela defendeu-se.
-E não queria – ele sorriu – temos um
problema de comunicação Helena. Precisamos ser
mais claros um com o outro. – ele apanhou a
esponja, mas desistiu dela, esfregando as próprias
mãos em seus ombros.
Helena quase pulou de susto e outros
sentimentos. Sentiu o coração acelerar, quando
ele a ajudou a se mover, para que tivesse acesso as
suas costas e pudesse lavar a pele.
Eram movimentos delicados e gentis,
deliberados, ou não, visto que Rony apenas
usufruía do prazer de tocá-la.
A pele lisa era estimulante, a pele
uniforme e macia. Havia marcas roxas, mas ele
podia ignorá-las, pois seu desejo era maior que
qualquer outra coisa.
Helena suspirou quando as mãos subiram
para seus ombros novamente, e ele ajudou-a a se
recostar na tina de madeira. Ele alisou seus braços
limpando sujeiras imaginárias, apenas com o
intuito de arrancar outros suspiros.
Cada braço ganhou atenção redobrada
quando ela fechou os olhos para apreciar o
contato.
Helena quase gemeu quando as mãos
subiram para seus seios. Gentilmente, acariciou a
pele, como quem apenas limpa, e não desfruta.
Passou o sabão sobre ambos, lavando-os com
dedicação.
Suas palmas formigavam pela sensação
dos seios macios embaixo delas, os bicos rijos
acariciando a palma de sua mão. Helena tinha os
pelos dos braços completamente arrepiados e sua
respiração estava acelerada, por isso investiu,
sabendo que não seria rejeitado.
Embalou um dos seios em concha, e
apertou até ouvir um lamento de prazer. Seus
dedos rolaram sobre a ponta, estimulando o bico.
Pequenos apertões, puxões suaves. Tudo para
enlouquecê-la, e depois repetir o mesmo com o
outro seio.
-Abra os olhos - ele pediu baixo, para não
quebrar o encanto.
Obediente, ela olhou, e Rony baixou a
mão grande e calejada pelo trabalho da fazenda,
fazendo carinhos em sua barriga, evitando contato
com a área ainda sensível das costelas.
Rony queria que visse como seus dedos a
tocavam. Entre suas pernas, ele desceu os dedos,
lavando aquele recanto secreto. Ela entreabriu as
pernas imediatamente, colaborando e facilitando,
enquanto ele passava a mão para espalhar o sabão.
Os olhos castanhos pareciam
hipnotizados e ouviu um gemido de surpresa
quando ele passou o grande dedo indicador entre
os lábios maiores, quase a penetrando.
-Oh... – ela não conseguiu esconder um
gemido mais forte e Rony a beijou.
Não conseguiu beijá-la como queria, pois
ela não estava interessada em beijos. Estava mais
interessada nas sensações que ele provocava, com
seus dedos longos e atrevidos.
Sorrindo, ele aprofundou o toque,
sentindo o corpo pequeno se retesar.
-Oh, Rony... – ela envolveu seus ombros
com os braços, quando a sensação ficou mais forte
e mais intensa.
Seus dedos apertaram a malha da camisa
de Rony, desejando rasgar o tecido e desnudá-lo,
para sentir seu corpo quente e firme sobre o dela,
mas não teve coragem, ou palavras para pedir tal
coisa.
Deixou-se levar, sentindo e desfrutando
daquelas sensações imensamente fortes e
calorosas.
Ele introduziu parte do dedo em sua
intimidade, enquanto escovava os dedos sobre o
clitóris, sentindo-a estremecer e gemer contra seu
ombro. Estava em uma posição ingrata, e
pretendia entrar na banheira com ela.
Deixou-a rapidamente, e tirou a camisa.
O fato de Helena observar calada e não reclamar
trouxe uma onda de excitação devastadoramente
forte, e ela ofegou quando avistou sua ereção livre
das roupas.
Seu suspiro o fez quase sorrir, não
estivesse absurdamente tenso. Entrou na tina de
água, e ela moveu as pernas para lhe dar mais
espaço. Imediatamente após sentar-se, ele agarrou
os belos tornozelos, e puxou-a para si.
Helena mordeu os lábios quando se
sentiu exposta e fraca. Deixaria que fizesse o que
desejasse com seu corpo, pois era exatamente isso
que desejava!
E o pior, é que não sentia um traço de
arrependimento!
-Sente alguma dor? - ele perguntou numa
última tentativa de se parar.
-Não – ela mentiu, pois naquele momento
dor alguma poderia fazê-la fugir disso! Não estava
pensando com clareza, e era até bom, pois ao
deixar de pensar, se permitia sentir sensações
únicas de prazer e contentamento.
-Recoste-se - ele pediu com suavidade,
mantendo suas pernas abertas ao redor de seu
quadril, se movendo, ajoelhado contra o fundo de
madeira. Precisou erguer seu quadril para ficar na
altura certa para o que tinha em mente, mas não se
arrependeu.
O atrito direto entre os sexos tirou seu ar,
e ele manteve uma das mãos apertando um seio,
enquanto a outra segurava o próprio membro e o
roçava contra os grandes lábios, investindo e
parando, num movimento de provocação, que
desejava prepará-la e enlouquecê-la.
-Hum... Não faça isso – ela pediu,
mordendo o lábio enquanto mantinha os braços
em seu pescoço.
-Não gosta? – pontuou a pergunta
esfregando a cabeça de seu pênis em seu clitóris e
ela fechou os olhos, saboreando.
-Eu... Oh...
Não desejava que gozasse ainda, por isso
parou, continuando a provocá-la mais abaixo, e
em dado momento, penetrou a cabeça em seu
sexo, sentindo o calor e a umidade, que ali dentro
era mais viscosa e consistente que a água a sua
volta, sendo inconfundível. Gemeu, esperando que
ela se acostumasse, visto que fazia vários dias, e
eles tinham um desajuste físico muito grande.
Não precisou esperar muito, pois Helena
passou a perna que não fora ferida por suas costas
e o puxou com braços fortes em sua direção,
erguendo o quadril para frente, até obrigá-lo a
resvalar para dentro de si num movimento único e
profundo.
Ela choramingou com os lábios
entreabertos buscando ar, os olhos fechados,
apertados, suportando a pressão da união e
também, a devastadora profundidade do desejo
que a consumia e ameaçava trasbordar enquanto o
sentia acomodado e pulsante bem fundo dentro de
si.
Rony não resistiu àqueles lábios macios,
e beijou-a, lenta e eroticamente, enquanto girava
os quadris estreitos e a fazia choramingar
novamente de prazer. Não se movia, estava lá
dentro, deliciando a ambos com essa união.
O beijo cresceu, e foi impossível
permanecer parado, impossível não atender aos
apelos de ambos, e ele se mexeu, saindo
lentamente, observando o modo como ela olhou
para baixo, analisando o membro rijo e
avermelhado pelo sangue que o fazia inchar
assustadoramente maior que quando plácido, e
observou assolada pela imagem, aquele
monumento roçar sua abertura e sumir lentamente
para dentro.
Seu gemido foi alto e Rony cobriu seus
lábios em um beijo mais guloso, menos
premeditado, e completamente entregue.
Perdidos nos braços uns dos outros, eles
não ouviram nada.
Capítulo 41 - Abelhuda

Alice cansou da conversa de Juanita, uma


pessoa tão pertinente e intrometida que lhe tirava
do sério e contrariando seus avisos sobre ver o que
não devia, decidiu entrar e ver porque Helena
gemia.
Somente o estúpido do seu irmão para
impor dor física a uma mulher tão machucada!
Decidida que ele merecia um sermão sobre não ser
bruto e grosso, ela abriu a porta e entrou com um
protesto na ponta da língua:
-Senhor! – o grito escapou de seus lábios,
enquanto cobria-os em choque, ao ver a cena à
frente.
Seu irmão estava nu, sobre o corpo de
Helena, que parecia ter desaparecido dentro da
tina, não fosse seu rosto e seus cabelos. Ele se
movia com rapidez e os dos falavam sem nexo, até
que ele olhou para cima e a viu, parando entre
chocado e furioso.
-Oh, Deus! –ela não sabia o que via, mas
não conseguia tirar os olhos.
-Me solte!- ela ouviu Helena dizer
rapidamente o empurrando para longe.
-Helena... –ele protestou, mas estava
sendo fortemente empurrado para longe e não teve
alternativa que não fosse se ocultar sob a água,
para não tirar a inocência dos olhos de sua irmã.
-Sai, Alice – Helena mandou, corada, a
face furiosa – Saia agora!
Alice ainda estava imóvel e Rony teve
que gritar para que caísse em si:
-PARA FORA, ALICE!
Imediatamente ela saiu correndo, o
choque passado, e a vergonha a inundando. Seus
passos correndo fizeram eco no chão de madeira, e
um riso alto vindo da cozinha alertou que Juanita
ria, satisfeita de ver sua crista caída ao chão!
-Helena ... –ele tentou tocá-la, mas ela se
afastou, sem olhar em sua direção.
-Quero sair daqui – ela disse, tremendo, e
sem saber se conseguiria desvencilhar as pernas
das dele ou se conseguiria se erguer sozinha.
Entendendo errado, ele saiu e a ajudou,
apanhando-a no colo, e levando-a para a cama,
estendendo-se ao seu lado, mas Helena protestou
imediatamente, ao sentir sua ereção tocar sua
coxa, e não olhou.
-Minhas costelas estão doendo –ela disse
seca e seu olhar dizia que era mentira.
-Depois falo com Alice – ele sorriu –
ainda vamos achar graça disso... – ariscou um
beijo, mas ela o empurrou.
-Quero me vestir – ela exigiu,
empurrando-o com convicção.
-Helena, vai me deixar assim? –ele
segurou sua mão colocou-a sobre sua ereção antes
que ela pudesse impedi-lo.
Helena sentiu uma vertigem ao lembrar-
se daquela noite quando tivera aquela ‘coisa’ em
sua boca, e desejou fazer o mesmo agora, mas não
era o momento, e devia agradecer a Alice por ter
impedido-a de cometer tão loucura!
Estava desprotegida sem os chás de
Juanita e não queria correr o risco de engravidar!
-Não! –ela tentou sair da cama, e ele
desistiu, furioso.
-Tome! Se vista! – furioso e
dolorosamente excitado seguiu o próprio conselho
de costas para ela.
Não falou ou olhou para ela, ou não se
controlaria. Saiu do quarto e da casa como se
fosse perseguido pelo próprio demônio e segundos
depois da porta da cozinha fechar-se com uma
pancada, Alice correu para o quarto, abrindo a
porta e olhando para Helena em expectativa.
Helena terminava de vestir as roupas de
baixo e apanhou numa gaveta um dos vestidos
novos, que ainda não usara. Era verde claro, com
lindos babados e bordados. Era justo no busto,
mas nada que a desagradasse. Tinha mangas
curtas, o decote arredondado. Não era muito
exagerado, e era perfeito para seu gosto.
E seria perfeito para que Rony soubesse,
ao vê-la usar, que não o rejeitava o tempo todo.
Vestida, olhou para Alice resignada.
Sentou-se na cama, pois se cansava
rápido, e disse:
-Você venceu, sente-se.
Alice não precisou de um segundo
convite, sentou-se ansiosa, pois seria hoje que
descobriria finalmente o que se passava na noite
de núpcias!!!!!!

-Está tremendo – Alice observou suas


mãos quando se sentou ao seu lado na cama.
Helena estava rubra, e suas mãos
tremiam, assim como seu peito arfava.
-Você me assustou ao entrar no quarto
sem bater – mentiu, pois seu tremor e sua
respiração ofegante eram resultado dos
sentimentos avassaladores que experimentava
quando àquele homem diabólico possuía seu
corpo, e pior, aumentado pelo desejo não saciado
que a deixava frágil.
-Ouvi gemidos, achei que Rony estivesse
sendo pouco gentil. Afinal, homem não sabe dar
banho em uma mulher!
Sua veemência quase fez Helena rir,
lembrando como ele era mestre em banhá-la!
Atencioso, dedicado, suave...
Maneou a cabeça, afastando essas
lembranças.
-Independente do que ouvir, não deve
nunca entrar no quarto de um casal, Alice. Seus
pais nunca lhe disseram isso?
-É claro que disseram, mas eles são meus
pais. É diferente. – parecia-lhe óbvio isso!
-Alice...- sorriu.
Como no passado, ambas estava lado a
lado, e Helena quis segurar suas mãos e contar-lhe
como era.
Como era incrível a sensação que a
queimava e a deixava completamente entregue e
irracional. Quis contar-lhe como eram as caricias,
a posse, os movimentos...o delicioso momento de
langor que a envolvia e abatia quando
terminavam...mas não sabia como fazer isso,
como entrar nesses detalhes.
-Diga-me o que acontece, Helena – ela
pediu, e havia uma petulância infantil tão grande
em sua face, que Helena sentiu um gostinho
especial ao pensar em uma pequena vingança
pelos dias de tirania que Alice lhe impusera ao
cuidar dela com a mesma dedicação que um
carcereiro faria!
-Oh, sim, o que acontece? -ela tentou não
rir – Acha que deve mesmo saber? Não é melhor
esperar pela noite de núpcias, para que seu futuro
marido a ensine?
Se Alice não estivesse tão ansiosa e
curiosa teria notado sua expressão de diversão, por
enganá-la tão premeditadamente. Ah, lhe daria o
troco!
-Preciso saber, para não ter medo ou
pudor! – ela instigou e Helena fingiu dúvida antes
de começar a falar.
-Deve vestir sua camisola e esperar seu
marido no leito – ela contou, como se realmente
houvesse feito isso – Quando estiverem juntos,
deve deixá-lo abraçá-la, para que parte dele
penetre em seu corpo.
-Como isso é possível? – havia horror em
sua voz.
-Bem...será um abraço apertado. Seus
corpos ficaram muito juntos e ele a beijará. Nesse
momento, sua língua irá tocar a sua, e a união
estará selado.
-Por isso falam em beijo de língua... –ela
disse pensativa – outro dia, mamãe, me criticou
por falar nisso, claro, falava algo obsceno sem
saber! – ela deduziu – Mas, Helena, porque Rony
estava...nu? ambos estavam nus!
-Sim – ela concordou, louca por uma boa
gargalhada – Os homens gostam de sentir o corpo
nu, mas não é regra. Com as roupas é como
acontece, ou sem elas.
-Um beijo de língua – Alice voltou a falar
consigo mesma, feliz em finalmente saber a
verdade.
-Sim, um profundo beijo de língua –
Helena sorriu e Alice retribuiu sem perceber que
em sua sede de conhecer, estava sendo ludibriada.
-É bom? Para a mulher, é bom? Ouvi
dizer que dói!
-E quem lhe disse isso? – Helena
perguntou.
-Ouvi uma empregada falando lá em
casa, mas não ouvi toda a conversa, minha mãe
não deixa que me contem sobre essas coisas! –
reclamou.
-Não, não dói. A menos que seu marido
não seja muito gentil. O que não será o seu caso,
se John for uma almofadinha pomposo igual ao
seu irmão.
Desdenhou, ignorando o pulsar de seu
corpo, a mera menção dele.
-Tenho certeza que John será um
cavalheiro! Mas Helena...- pareceu lembrar-se de
algo – E se ele quiser me beijar? Deixo?
-Só deve deixar, quando estiverem
casados. Acaso me vê beijar seu irmão na frente
dos outros? Ou em outro lugar, que não seja o
quarto? – agora sim, o riso quase lhe escapava.
-Nem mesmo um beijo de irmãos? –
havia decepção em sua voz.
-Beijos no rosto e toques suaves nos
lábios, desde que não o deixe beijavá-la no interior
dos lábios. Isso acabará com sua virtude, e caso,
não lhe peça em casamento, estará perdida para
outro homem!
-Que terrível! Nos romances que leio
sempre há ardentes beijos! – Alice lamentou.
-Sim, e é por isso que nossas mães nunca
gostaram que lêssemos esses livros – usou isso
como apoio a sua mentira.
Alice soltou um profundo suspiro,
levantou e alisou a saia do vestido.
-Bem, não é nada demais, afinal. – disse
petulante.
Helena deu de ombros, observando-a sair
do quarto com o nariz de pé, uma criança birrenta
e agora contrariada. Ela deitou-se pois se sentia
cansada e enterrou o rosto no travesseiros para
abafar o riso, pensando em sua expressão de
pânico quando John a tentasse beijar!
O riso cresceu, quando imaginou seus
berros de indignação! Rindo, ela brindou Juanita
com um enorme sorriso quando ela apareceu com
seu café da manhã, ralhando falsamente sobre ser
uma péssima cunhada. Juanita, no entanto, não
parecia nem um pouco disposta a desfazer o mal
entendido!!!!

Rony ignorava tudo que lhe era dito. Não


conseguia prestar atenção as palavras de Suarez,
ao colocá-lo a par de uma discussão entre dois
empregados. Aparentemente a razão era uma
jovem da cidade,que andava a brincar com os
dois.
Ele estava irritado e contrariado, o desejo
subjugado, justamente no momento em que
Helena cedia sem que precisasse lutar com ela!
Viera de bom grado aos seus braços,
quase espontaneamente, e era um grande milagre!
Tinha que achar um jeito de livrar-se de
sua irmã ou Alice acabaria com seu casamento!
Sem prestar muita atenção deu algumas
instruções e decidiu voltar para casa, almoçaria
mais cedo com Helena e tentaria algum avanço.
Acharia um jeito de manter Alice ocupada e
tentaria novamente fazer amor com a mulher que
estava em sua cabeça atormentando-o!
Um pequeno sorriso nasceu no seu rosto
ao pensar em seus gemidos e na sua entrega sem
reservas. Aquela mulher acabaria com ele.
Havia levado sua paz e sua concentração
para o trabalho e agora, levaria também sua
masculinidade, ao enxotá-lo do quarto como um
animalzinho de estimação inconveniente, que
exige carinho da dona.
Estava irrequieto e reclamando sem
motivos, descontando toda sua frustração sexual
em Suarez, que fingia nem ouvir, quando um
rapazola que cuidava do gado apareceu correndo,
informando que avistara uma carruagem seguindo
pela estrada em direção a fazenda.
Rony esqueceu seus problemas com
Helena, ponderando e rogando aos céus que não
fosse nenhum destempero a trazer infortúnios a
sua vida.
Bastavam as semanas de medo e agonia,
vendo Helena sofrer com dor e ainda temendo por
sua saúde! Tudo que não precisava era de mais
problemas!
Capítulo 42 - O Cavalheiro de Gesso

Helena estava de pé na varanda,


esperando avistar ao longe quem seria a visita.
Metade de Helena pedia aos céus que não fossem
Susan e sua mãe, com o único intuito de perseguir
e seduzir Rony, mas a outra metade, pedia que
fosse, pois ao menos, conhecia os perigos que a
visita lhe traria!
Havia levantado quando Alice avisara
que alguém se aproximava. Imediatamente,
mandara a cunhada para dentro do quarto e que se
trancasse, enquanto Rony não voltava. O pequeno
Duran havia chamado alguns empregados que
esperavam na frente da casa, armados.
Podia ser exagero, mesmo assim, não
estava pronta a baixar a guarda.
Custava-lhe muito ficar de pé, estava
cansada, mas Juanita estava na cozinha com os
filhos, e cuidando do almoço.
As porteiras foram abertas para a
carruagem passar, e esta era sofisticada e luxuosa,
toda em negro, com cavalos majestosos, animais
belíssimos, e de linhagem impecável!
O cavalariço parou os cavalos, e o outro
rapaz vestido com as melhores roupas que um
empregado poderia usar, desceu e abriu a porta da
carruagem.
A primeira coisa que Helena viu, foi à
bengala. Inútil, porém em sinal de status social.
Ela foi colocada para fora, antes de um pé
masculino, calçado em sapatos lustrosos. O resto
do corpo o seguiu e um homem desceu,
agradecendo ao rapaz com um movimento do
chapéu, enquanto se recompunha e olhava em
volta.
Era jovem, vestia-se impecavelmente,
num fraque caro, tinha na face um óculos redondo,
que não escondia o brilho dos olhos verdes
intensos, assim como os mesmos óculos não
poderiam ocultar o tom da pele,e os lábios que
abriram um sorriso simpático ao avistar Helena.
Ele tinha uma postura íntegra e sociável,
e imediatamente, Helena gostou do que viu. Como
se gosta de um doce sem nem mesmo prová-lo.
Simpatia pura e simples.
-Senhorita – ele tirou o chapéu,
aproximando-se, fato raro, pois os homens de
poder normalmente eram apresentados por seus
subalternos – Procuro por Rony Parker -ele disse
com voz mansa, calma e serena.
-E a quem atribuo à visita? -seu tom
jocoso ascendeu um brilho no olhar verde.
Ele abriu um belo sorriso, cordial, mas
também divertido.
-Deve ser Helena Johnson – ele observou,
analisando-a de uma forma agradável, pois ao
contrário da maioria dos homens não lhe analisava
as formas do corpo, mas sim, detalhes como a face
altiva, a voz e a estatura mínima.
-Estou em desvantagem, pois não sei com
quem falo – ela ironizou, deixando claro que não
retribuiria sua simpatia, por mais que lhe fosse
difícil.
-Um amigo, Srta.Johnson. Um amigo –
ele dirigiu-lhe outro sorriso, estendendo a mão em
sua direção – Permita que me apresente como se
deve?
Helena negou, um olhar irredutível.
-Estou ouvindo claramente o que diz,
pode apresentar-se daí mesmo onde está!
-Pois vejo meu amigo não mentiu em sua
descrição – ele disse a si mesmo, deliciado com a
constatação – Estou aqui a contive de Rony.
Chamo-me John Harrison.
-É mesmo? – ela não ficou surpresa, pois
sabia dessa visita.
-Me convida a entrar, Srta.Johnson? Foi
uma longa viagem – ele era tão simpático que
doía.
Mas Helena não se deixava abater por
simpatia. Não mesmo!
-Rony não deve demorar a voltar,
Sr.Harrison.
Com essas palavras virou-se para um dos
empregados e disse em alto e bom som:
-Mantenha o Sr.Harrison sobre suas
vistas. E me avise quando seu patrão voltar!
O empregado pareceu querer argumentar
sobre deixar um homem daquela posição e estirpe
na rua, e no sol, mas se calou. Não seria ele a
ousar contrariar Helena. Não mesmo! Já ouvira o
bastante sobre sua precisão com armas para se dar
a esse luxo!
John ficou boquiaberto quando a porta se
fechou e os dois empregados o encaminharam
para fora da propriedade.
Finalmente dava razão às cartas de Rony!
E não é que seu amigo arrumara sarna
para se coçar???

Rony avistou a carruagem do outro lado


da porteira. Estava aberta, e um homem estava de
pé, perto dos cavalos, descomposto.
Havia tirado o fraque, aberto a camisa
impecavelmente branca, e dobrara as mangas,
além de tirar os sapatos e as meias. Ele se
abanava com o chapéu e a bengala que era usada
para comprovar seu status social jazia esquecida
no chão quente. Ele suava tanto que seus óculos
estavam embaçados.
Com breve olhar e notou seus homens
guardando a entrada da porteira. Não era preciso
ser gênio para saber que John havia conhecido a
hospitalidade de Helena!
A alegria de ver seu grande amigo John
foi maior que sua irritação pelo comportamento
mal educado da esposa e ele avançou, exigindo
mais do cavalo.
Ao ouvir o trote, John virou-se para ver
quem era e alívio o percorreu ao ver Rony.
Estava quase se convencendo que
morreria sob aquele sol escaldante! Sentia sede.
Sentia a pele ardente. Estava perto de ter um
desmaio.
Céus, não era homem de verdade, era
uma mocinha reclamando do calor! Um homem só
percebe o quanto é acostumado à boa vida,
quando se vê diante da vida rústica e ele estava a
apenas um dia naquele lugar e já tinha a sensação
de ter entrado num universo paralelo!
Rony desceu do cavalo e entregou-o a um
dos empregados dando ordens para que abrissem
a porteira e ajudassem com a carruagem.
-John! -ele disse ao ver seu amigo
completamente descomposto – Uma visão que
vale uma vida!
-Não ria meu amigo, sua noiva é o
demônio! -ele,gritou de volta, aproximando-se
para um abraço de irmãos.
-Noiva não! Esposa! – disse ao soltarem-
se, a despeito do olhar chocado de John – Não
recebeu minha última carta?
-Deixei Londres há dois meses – ele
contou, sorrindo – tive compromissos a resolver
antes da viagem para cá! Uma pena ou teria
trazido um presente de casamento!
-Sua presença é um presente – Rony
disse com sinceridade - Vamos entrar, não esta
acostumado a esse calor!
-Tem certeza que não levarei um tiro? –
ele perguntou um pouco incerto.
-Nem mesmo eu tenho essa certeza,
amigo – ele respondeu, e atrás da brincadeira
havia um traço de verdade. – Vamos entrar, quero
lhe apresentar Helena!
-Não seria melhor pularmos essa parte? –
havia um tom de horror em sua voz.
-Não tire conclusões antes de ver aqueles
olhos castanhos, John. Eles farão gato e sapato de
você, assim como acontece comigo – ele garantiu,
conduzindo-o para a casa – Helena é um rocha.
Nunca a subestime.
-Não sei se essa é uma grande qualidade
em uma mulher - ele ficou um pouco em dúvida,
encarando o amigo – não era esse o seu tipo de
mulher!
-Não, não era, o que prova, que não
conhecia as coisas boas da vida!
John procurou em sua face algum traço
de piada, supondo que o amigo estava
completamente louco!
-Terá o sol fritado seus miolos? -ele
questionou indignado.
-Não, mas terá essa sensação ao ver
minha irmã –ele avisou,ao que John estacou no
chão, a metros da casa.
-Seu convite foi apenas uma estratégia de
alcoviteiro?
Rony olhou para ele sem compreender
sua expressão séria.
-Sim, foi. –ele concordou – É minha
irmã. Quero o melhor para ela. É meu amigo, e
quero o melhor para você. Vê maldade nisso? –
foi sincero, como aliás, sempre fora com John.
-Não – concordou, menos tenso – Sabe
que não sou propriamente entusiasmado com a
ideia do casamento! – avisou.
-Isso porque ainda não conhece Alice –
ele disse tão seguro que os olhos de John
brilharam.
Os dois seguiram, e desfeito o
desconforto, Rony abriu-lhe a porta e esperou que
entrasse.
A casa era simples, mas Rony pretendia
melhorar. Agora que tinham reformado o segundo
andar, faltavam móveis, mas espaço sobrava.
-Sente-se -ele indicou e John não se fez
de rogado, atirando-se ao sofá.
O calor o deixara vermelho e suado, e
tudo que podia querer era água. Água cristalina.
Que aplacasse aquela fogueira que queimava suas
entranhas.
-Juanita, traga algo gelado – Rony pediu
quando a mulher surgiu curiosa, analisando o
estranho – e traga Helena também.
-Devo chamar sua irmã? -ela perguntou
com um tom de maldade na voz que não passou
desapercebido.
Rony achou melhor sorrir e disfarçar
antes que John percebesse o mal estar entre as
mulheres daquela casa, parte tocado do gênio
explosivo e petulante de sua irmã!
-Sim, peça a Alice para acompanhar
Helena, ela não deve fazer esforços em demasia
enquanto não se recuperar totalmente!
Juanita deu de ombros, pois sabia muito
bem de suas intenções casamenteiras. Por ela tudo
bem, desde que ficasse livre daquela menina
mimada e gritona!
John ainda lamentava o calor,
relativamente recomposto, visto que abotoara a
camisa e arrumara as mangas, para não parecer
que desrespeitava as mulheres daquela casa,
quando as duas surgiram.
A primeira delas, conhecia, era Helena.
Ela andava com a postura de quem manda, e não
pede favores. Queixo altivo, pescoço reto, olhar
firme. Para John que conhecia um pouco da alma
humana, era possível ver doçura no fundo
daquelas pupilas castanhas. E notou que Rony
tinha razão, aquela pequenina mulher podia fazer
gato e sapato de um homem, e nem mesmo dar
valor a isso!
Tinha a face bonita, o corpo perfeito, e os
cabelos muito delicados e suaves, longos o
bastante para fazer um homem perder-se em
fantasias sobre tê-lo em volta de si numa noite de
amor. Mas esses pensamentos não tinham lugar
em sua mente, não com o olhar de encanto do
amigo bem ao seu lado.
Rony admirou o vestido, pois era a
primeira vez que vestia um dos vestidos novos e
justamente no dia em que quase voltaram a fazer
amor. Isso só podia ser um sinal. Um sinal que
Helena não o detestava tanto assim!
Levando em conta o grande silêncio
estabelecido, Rony aproximou-se e apanhou a mão
de Helena, trazendo-a mais próxima.
-Helena, esse é meu grande amigo, John.
Falei sobre ele dezenas de vezes, e agora, ele está
aqui para nos visitar e nos agradar com sua
presença numa estadia, que espero, seja longa! -
como ela analisou John mas não teceu
comentários, ele disse contendo um palavrão, visto
que passava vergonha por sua causa – Diga a
John do imenso prazer que é tê-lo em nossa casa,
Helena, ou ele sentira que não é bem vindo.
Era um desafio e Helena olhou para ele
como quem espera que um raio despenque do céu
diretamente para a cabeça ruiva.
-É um grande prazer tê-lo em nossa casa
-ela disse azeda e falsa, e aos ouvidos de John
soou como um convite a se retirar.
Era melhor ter esbravejado, pensou Rony,
suspirando.
Helena estava mal humorada e se
conhecia uma mulher, como sabia ser capaz de ler
o corpo feminino, esse mau humor se devia a
paixão recolhida e não consumada daquela
manhã. Apenas por isso sorriu e relevou seu
ataque de cinismo!
-E é um prazer conhecê-la, Sra.Parker –
ele cumprimentou a distância, visto não parecer
ter interesse em uma aproximação.
-Está é minha irmã – Rony estendeu a
mão para a jovem que estava escondida atrás de
Helena e que John não notara ante o ataque feroz
de rejeição de Helena.
John contemplou a mão delicada que
Rony segurava e então seguiu observando o braço,
os ombros, o colo, onde um decote sóbrio permitia
ver os cálices de seus seios brancos como leite. A
pele era lindamente viva, ressaltada pelo tecido
rosa do vestido. A cintura era fina, nem tanto,
comparada a de Helena, mas as duas não tinham
um físico parecido.
A irmã de Rony tinha carnes em todas as
partes. Seios fartos, quadris redondos. Perfeita,
como deveria ser uma mulher para ter seus filhos e
cativá-lo para uma vida toda!
Mas esse corpo, poderia ser como de
tantas outras, pensou, olhando para o rosto da
moça e imaginando que como sempre, perderia o
interesse tão logo visse o rosado forçado das faces,
e os lábios em um sorriso afoito em agradar.
Mas não encontrou nada disso. O rosto
da jovem era expressivo e redondo, com olhos
azuis claros e profundos, as bochechas eram
coradas, mas não pelo encanto juvenil, mas sim,
de fúria contida. Esse corado avermelhava seu
pescoço e a tornava um tomate incandescente!
E ela sabia disso, tanto que soltou a mão
do irmão e afastou o olhar. John se perguntou se
teria dito algo para ofender a moça,mas esse
pensamento não perdurou, visto que não pensava
direito não com a visão de seus lábios úmidos e
cheios, pedindo por um beijo.
A jovem era um anjo, pensou, decidido a
exigir que Rony arrumasse um Padre naquele
momento, para que pudesse cumprir suas
obrigações e arrastá-la o mais rápido possível para
a primeira cama que encontrasse!
-John – havia um tom de aviso na voz de
Rony, e John afastou o olhar a contra gosto,
entendendo que Rony não poderia permitir tal
olhar de um homem para sua virginal irmã.
Pensar nisso, só aumentou o furor em seu
sangue e Rony pôs-se a frente da irmã.
-Alice, quero que conheça John Harrison.
Os olhos da jovem o fitaram por breves
segundos, com acusação e ele ficou confuso.
-É um prazer verdadeiro conhecê-la,
Srta.Parker – ele apressou-se apanhar sua mão
para um beijo.
-Igualmente, Sr.Harrison. – a voz doce, o
fez erguer os olhos de seus dedos e sorrir.
Era claro, ouviria aquela voz pelo resto de
sua vida, em seu ouvido, ao acordar! Olhou para
Rony e soube pelo sorriso do amigo, que já
esperava por isso.
Claro, Rony era conhecedor das
mulheres, e sabia avaliar uma pedra preciosa
quando a tinha em mãos, e naquele momento,
tinha duas em suas mãos!
Água e vinho, Helena e Alice.
-Me chame de Alice -ela disse ao
amansar a expressão, respirando fundo.
Fora um verdadeiro choque encontrar o
alvo de sua paixão platônica, desvelando-se em
olhares e sorrisos para sua cunhada, sem nem
mesmo notá-la! Sentira o mundo ruir ao seu redor,
levando com ele seus sonhos!
Isso, até notar algo em seu olhar. Oh, ele
era tão mais perfeito que em seus sonhos!
-Me chame de Alice – Rony imitou
sussurrando ao ouvido de Helena que se arrepiou.
Ele imitava o jeito derretido da irmã e Helena
olhou para ele com falsa repreensão.
-Vou buscar refrescos – ela disse notando
que cedia, e se afastando dele.
-Helena- Rony segurou em seu braço,
com um olhar de quem implora – John é meu
amigo.- era um pedido para que fosse educada e o
tratasse bem, não desmerecesse e o fizesse passar
vergonha.
-Sei disso – respondeu baixo, no mesmo
tom que ele – no entanto, não é nada meu, e não o
quero aqui!
-Já falamos sobre isso! – ele elevou a voz,
mas nem John e nem Alice notaram entretidos
um com outro.
-Você falou. Eu apenas ouvi.
Sim, ela tinha razão.
Rony deixou-a ir e olhou para o amigo e a
irmã.
Sentiu uma pontinha de inveja de John,
por ter a possibilidade de casar-se com uma
mulher que o amaria.
Capítulo 43 - Saindo dos eixos

Rony ainda engolia em seco a desfeita de


Helena, após o almoço, quando disse estar
cansada e precisar se deitar. Obviamente, exigiu
ajuda de Alice, o que causou raiva na ruiva, que
com um olhar, revelou a John a exatidão de seu
gênio. Era um olhar forte e furioso e tinha certeza,
haveria gritos sempre que fosse contrariada.
Bem, seria tolo se não suspeitasse disso,
visto que Rony era um homem esquentado quando
mexiam com seus brios! Divertido, ele analisou a
expressão do amigo ao observar Helena se afastar
da mesa e desaparecer pela casa.
-Tenho a impressão que tem vivido uma
guerra, Rony – ele disse bebendo um gole do
vinho que Rony abrira em sua homenagem.
-Contei-lhe a história de Helena na carta
que falava do meu casamento, mas visto que não a
recebeu, não deve saber de nada ainda – ele disse
pensativo. – depositou a taça na mesa e seu
semblante mudou ao falar do assunto – Helena
cuidou sozinha dessa fazenda durante os últimos
três anos, após a morte do irmão. Ela cuidava da
irmã mais nova, da mãe e de seu pai inválido. Um
mês antes da minha chegada, um homem
assassinou toda sua família, os empregados e
mesmo alguns animais, e sobrou apenas ela. – a
expressão de John era tão reveladora, que Rony
sorriu triste – Sim, foi ela quem cuidou de tudo
sozinha. A fazenda seria leiloada, eu me
endividaria para adquiri-la, então, um casamento
nos pareceu à melhor saída.
-Suponho, ela não tenha a mesma opinião
– John disse depois de ouvir o resumo.
-Para Helena a melhor saída seria eu
desaparecer da face da terra – havia um toque de
rancor em sua voz.
-E Helena sabe que está apaixonado por
ela? – John foi direto na ferida.
-Não creio que faria muita diferença para
ela – não queria descontar em John sua amargura,
mas era inevitável.
John abriu um grande sorriso e Rony
fulminou-o.
-Acha graça?
-Acho que mereceu. Tantos anos partindo
corações, é justo que tenha sua parcela de
sofrimento! – seu sorriso, tornou-se um riso curto.
-Nunca parti corações! Sempre fui
sincero com minhas amantes!
-A sinceridade não impede que uma
mulher se apaixone! – John lembrou-o desse
detalhe.
-Seja lá como for, esse casamento é ao
mesmo tempo uma benção e uma tortura!
-Diga, como tem sido durante as noites –
John tinha um sorriso malicioso e sem vergonha
na face e Rony maneou a cabeça.
-Dessa vez não haverá detalhes, John.
Não espere que lhe conte! Helena é minha mulher
e isso muda tudo!
-Não me parece que o receba de braços
abertos na cama! – John riu.
-Helena diz não. Mas quando se rende, é
outra história! – ele deixou escapar e John ergueu
a taça em sua direção brincando:
-Um brinde aos seus esforços
recompensados!
-Estou amansando Helena aos poucos,
mas não me engano, não casei com uma doce
jovem cheia de sonhos, me casei com uma mulher
que presa a realidade e tem fortes ideais. Helena é
culta e inteligente como nunca antes vi uma
mulher ser, e acredite, não tente ludibriá-la, ou
ocultar fatos, ela saberá.
-Por isso em sua carta, a última que
recebi, pediu que trouxesse tantos livros?
-Sim. São para Helena. Gostaria de poder
colocá-la em uma faculdade, como a que
cursamos, mas não seria possível, não aceitam
mulheres e também...confesso, sou egoísta demais
para ficar longe dela. No entanto, quero que tenha
a sua disposição todo conhecimento que possa
ajudá-la a crescer e se desenvolver. Ama a leitura,
e sei que escreve, por isso quero incentivá-la.
-Meu Deus, é amor de verdade – dessa
vez o tom de brincadeira havia sumido da voz de
John, e seu olhar era de surpresa real.
-Não está mais surpreso do que eu –
Rony disse submisso a sua nova condição.
-Precisará me contar essa aventura em
detalhes, Rony. Ainda estou incrédulo com a
mudança que deu em sua vida.
-Vou contar tudo, John, mas antes...me
diga, o que achou de Alice?
-Deveria nunca mais falar com você,
Rony, por me colocar numa enrascada dessas -ele
disse confiante –Sua irmã tem a beleza de um
anjo. Confesso, me casaria com ela hoje mesmo!
-Como amigo, sinto-me no dever de
alertá-lo sobre seu gênio forte. Alice não é
propriamente...dócil. – sutis palavras para não
descrever a megera que sua irmã poderia ser.
-Percebi esse fato – ele foi sincero – olhos
como os de sua irmã não se encontram com
facilidade, Rony. Nunca antes havia conhecido
uma mulher com a alma nos olhos – não era
apenas um elogio.
-Sorte sua, amigo, pois Helena esconde
os sentimentos com muita facilidade. Nunca jogue
pôquer com ela! Tira-lhe as calças! – brincou.
-Poderia ser um homem feliz se ela o
fizesse – John provocou notando sua expressão
mudar – e claro, não fosse Helena, uma mulher
casada com meu melhor amigo!
-Acontece, John, que em relação à
Helena, não sou um homem racional – ele contou,
num inevitável tom de aviso.
John guardou essas palavras, mesmo
achando desnecessários, visto ter seu pensamento
cativado pela sétima Parker.
-Pois quanto a mim, não vou mentir.
Vejo sua mulher como uma jovem linda e arredia.
Sinto vontade de me aproximar a ela, e talvez se
deva ao fato de entender parte do que sente. Não
esqueça, perdi minha família antes de ter a chance
de conhecê-los. Fui órfão a minha vida toda.
Talvez pudesse ajudá-la a superar a dor e a
revolta.
-Pois não tente – Rony disse sério, uma
sensação horrível de pensar nos dois próximos –
Helena é assunto meu, John. Detestaria que fosse
pivô de uma briga entre nos!
-Bem, se o ciúme o cega, só posso
resignar-me! – John respondeu e Rony teve que
concordar com ele.
Pela primeira vez em sua vida sentia um
ciúme doentio e uma possessividade inconcebível.
Precisava vê-la há todos os instantes, ouvir sua
voz, sentir sua pele. Era um querer desesperador.
Em suas ilusões chegara a crer que no
momento que a possuísse, esse desespero partiria,
pois seria oriundo do desejo de desbravar e
subjugar, mas contrariando sua lógica, tornara-se
ainda mais forte e arrebatador!
-Quanto a Alice – Rony mudou
drasticamente de assunto – tenho certeza que meu
pai ficaria feliz com sua visita.
John quase engastou com o vinho. Sim,
pensara em casamento no instante que vira a linda
moça, mas falando em ‘pais’ desse modo, sentia-
se prestes a ir a forca.
-Rony, prefiro ter calma. Confesso que a
ideia de me casar com sua irmã está na minha
cabeça, mas também confesso que isso se dá pela
vontade de levá-la a minha cama. É sua irmã, mas
não vou lhe mentir! É linda. E qualquer um vê que
é inocente como um anjo! Mas um casamento
precisa de mais. Não quero passar o resto da
minha vida ao lado de uma mulher a qual desperte
apenas meu desejo de homem.
-Sabia que arrumaria uma desculpa
qualquer para fugir do casamento! – Rony
brincou, pois o conhecia muito bem.
-Não desejo me casar, se for para ser um
casamento infeliz. Me de alguns dias, para
conhecer melhor sua irmã e dar oportunidade que
ela me conheça. Se a atração evoluir, então, sim,
ficarei feliz em falar com seu pai e marcar a data o
mais rapidamente possível!
Rony concordou com um aceno,
imaginando que não demoraria muito John estaria
com uma aliança no dedo! Alice não era de
desistir fácil e com tanta beleza e disposição em
conquistar, John seria presa fácil.
Seus olhos voltaram-se para Juanita que
cuidava da louça do almoço silenciosa e então,
para a bandeja que ela preparava. Era uma xícara
com chá.
Havia notado que todas as manhãs servia
Helena com esse chá e estava inclinado a acreditar
que sabia sua serventia, e se assim o fosse, teria
que tomar providencias!
Não podia mais permitir aquela mulher
interferindo em seu casamento!

Helena escondeu o rosto no travesseiro,


querendo apagar a voz de Alice de seus ouvidos.
Ela não parava de tagarelar sobre John Harrison.
Ele era bonito demais, simpático demais,
bem vestido demais, atencioso demais, cavalheiro
demais...oras, isso, era óbvio! E não fora essa
também a primeira impressão que tivera de Rony?
E olhem só o homem machista e mandão
com quem se casara! Um bruto, um selvagem,
um...!
Seus olhos fechados, tentavam esconder a
imagem dos dois naquela tina de madeira. A água
havia tornado sua pele tão sensível...o corpo
quente sobre o dela e dentro dela, oh, fora um
momento apenas, tão rápido e por tão pouco
tempo, mas sentira aquilo tudo preenchendo e
tornando-a sensível e fervente!
Se ficasse quieta, poderia ainda sentir os
caminhos que ele tocara e imaginar que aqueles
dedos ainda estava sobre seu corpo.
Era isso que Alice arrumaria para sua
vida! Um grande problema!
-Diga-me, Helena, como é estar
apaixonada! -ela pediu em tom de suplica – quero
saber se o que sinto é forte o bastante para um
casamento!
-Não deve perguntar a mim, não sinto
nada pelo seu irmão – resmungou.
-Não seja mal humorada, Helena, e me
diga o que achou de John – sua voz era doce, e ao
dizer o nome de John era quase melosa.
Helena revirou os olhos, achando
inconcebível que Alice fosse tão tola e não notasse
que seria usada para satisfazer todos os desejos de
um homem e viveria a sombra dele por toda sua
vida solitária e infeliz!
-Estou curada, Alice, não precisa ficar o
tempo todo perto de mim, porque não acha algo
para fazer?
-Porque sempre é tão carrancuda,
Helena? Eu não pedi para vir cuidar de você! –
Alice respondeu ficando furiosa com sua rejeição.
-E tão pouco eu pedi que viesse! – Helena
sentou-se enfrentando seu olhar.
-Porque está tão irritada comigo? – os
belos olhos azuis se arregalaram e um sorriso
malicioso formou-se em sua face – É porque
interrompi o que fazia com meu irmão ainda cedo?
Havia expectativa em sua voz, e Helena
pediu paciência aos céus.
-Alice, eu realmente quero que me deixe
em paz. – era um pedido, mas soou como uma
ameaça.
A mágoa foi evidente no olhar de Alice e
as duas foram distraídas pela entrada de Juanita.
Helena apanhou a xícara com
entusiasmo, pois pela manhã quase se rendera e
estava desprotegida!
Era inconcebível! Não era tola, estava
curada, apenas precisava de repouso, e isso não
seria barreira para Rony. Aliás, naquela manhã
não fora!
Sendo assim, o melhor que fazia, era
prevenir-se contra seus ataques!
-Cuidado, pode não fazer efeito logo –
Juanita avisou, olhando acusadora para Alice,
lembrando-se que não tinha mais liberdade para
falar com a patroa como antes.
-Obrigado, lembrarei disso. Juanita,
pode trazer Ruanzito para me fazer companhia?
Seu tom era doce, mas era uma
armadilha. Não que Juanita se importasse de ficar
um pouco livre de seu filho menor! Não mesmo!
Às vezes, choro e fraldas molhadas podem
enlouquecer a mais sã das mulheres!
Helena tinha uma brilhante ideia em sua
mente. E sorriu amplamente quando ela voltou
com o pequeno menino. Alice não admitia, mas
também apreciava estar com um bebê em seus
braços. Ruanzito era calminho, e Helena o colocou
a seu lado na cama, enquanto lia um livro.
Escolheu um com figuras, e quando Rony
entrou no quarto, no meio da tarde, esperando
encontrá-la sozinha, pois Alice estava na
companhia de John, deu-se conta de sua
artimanha.
Com o menino no colo, o livro sobre o
colchão, ela lia calmamente enquanto o menino
batia palminhas toda vez que ela mudava a
entonação da voz, para indicar a mudança dos
personagens.
Com certeza, era um modo de afastá-lo e
manter distância, pois sabia que Rony não
desistiria de consumar o ato de mais cedo, mesmo
assim, ele não conseguiu sentir raiva dela.
Sorriu, e quando ela o notou, sorriu sem
querer para ele. O menino era um empecilho, era
verdade, mas ele estava satisfeito de vê-la junto a
uma criança.
Quem sabe em breve, o menino risonho e
contente em seus braços, seria o filho de ambos?
Seus olhos vagaram para a mesinha de cabeceira
e ele viu a xícara esquecida ali.
Olhou novamente para ela, e então saiu.
Daria um jeito em Juanita, era a única
forma de ter Helena por completo. Era uma pena,
pensou, era uma pena, mas Juanita teria que ir
embora.
O jantar não foi muito animado, com o
mau humor que se instalara em Helena reinando e
contagiando Rony. Ele olhava para ela a todo
instante a ponto de envergonhá-la, e terminar o
jantar mais cedo, a despeito da deliciosa carne
assada e do purê.
Rony também encerrou o jantar, pois
perdera o apetite. Era um dia de festa, seu melhor
amigo chegara de viagem, e tudo que podia pensar
era naquela maldita tina de água, seus corpos
unidos por tão pouco tempo!
John parecia se divertir com o
comportamento do amigo e não se importava com
a falta de conversa entre eles, visto que isso o
permitia falar com Alice livremente. Ela era tola,
como era esperado que fossem as moças de sua
idade, e estava quase o cansando.
Sempre acontecia o mesmo. Encantava-
se com a beleza e luminosidade de uma jovem,
apenas para descobrir que esse encanto não
duraria muito. Procurava profundidade. Procurava
algo especial.
Apesar do desencanto, ele não conseguia
afastar os olhos dela. Havia alguma coisa que lhe
dizia que Alice não o permitia ver como realmente
era.
Haviam conversado durante a tarde,
poucos momentos, vigiados pelos olhos atentos de
Juanita, e ele notara que suas respostas eram
evasivas e seu sorriso afetado demais e
desnecessário.
Estreitando os olhos, perguntou:
-Sabe tocar algum instrumento, Alice?
Ela olhou para o prato vazio a sua frente
e então para o irmão antes de dizer:
-Papai nunca achou que uma mulher
devesse aprender a tocar.
Era uma resposta diplomática e Rony
maneou a cabeça rindo.
-Alice é incapaz de fazer qualquer coisa
com as mãos. Não sabe tocar, não sabe cozinhar, é
uma negação bordando! Definitivamente não tem
aptidão para nada!
-Oh, meu irmão! – ela ficou púrpura de
indignação e envergonhada e John riu.
Sim, era isso que desejava, ver a
verdadeira Alice Parker!
-E a leitura? Algum autor favorito? – ele
notou que Rony se descontraia vendo a irmã sofrer
de um mal sem cura.
Não sabia a pequena Alice, que para
homens como John, e até mesmo Rony, o trivial
não cativa.
-Eu... –ela não respondeu, ficando triste.
Uma punção de humilhação.
-Minha irmã perdeu a língua! – Rony
provocou – Agora se arrepende de todas as más
criações que fez para não aprender a cuidar de
uma casa!
-Não fale assim, meu irmão – ela pediu
baixo e envergonhada.
-Alice tem razão, não fale assim, Rony –
ele também achava graça em brincar com a
apimentada Parker. A força que fazia para não
estourar era louvável!
Não sabia, mas tudo que desejava era vê-
la explodir. Saber exatamente o que estaria
levando ao casar-se com ela!
-Gosto de ler revistas – ela disse
humilhada. – Não tenho um autor favorito.
-Revistas? Algum tipo em especial? – ele
insistiu, notando seus olhos soltarem chispas de
raiva.
-Revistas de moda – ela respondeu,
sentindo-se do tamanho de uma ervilha.
O riso de seu irmão contribuía para
sentir-se estúpida!
-Ainda bem que trouxe algumas -John
disse apenado – imaginei que tendo uma mulher
em casa, apreciaria revistas de moda.
-Fala de Helena? – Alice quase riu – Não
creio que ela goste disso!
-E porque não? -ele instigou, gostando
de travar debates, quando Alice não estava
ocupada tentando parecer ser alguém que não era.
-Helena é sisuda demais para ler revistas!
Ama livros e ama mais que tudo, mandar nos
outros! – sua voz ergueu um tom e ganhou a vida
que ele esperava ver e ouvir.
-Pensei que fossem amigas – John jogou
verde, verdadeiramente encantado com o que ela
revelava no calor da emoção de falar mal de
Helena.
-Amigas? E alguém consegue ser amigo
daquela...- ela conteve o palavrão que diria, fruto
do convívio com irmãos homens e corou.
-Acredito que não é apenas Helena quem
tem uma personalidade forte – John sugeriu e ela
ficou tensa.
-Alice é uma megera – Rony disse e ela
inflou chocada – Não se deixe enganar pelo rosto
de anjo.
-Rony!
-Porque meu amigo não pode saber seus
defeitos? -ele perguntou para arreliar.
-Está tarde, vou dormir -ela optou por
não responder, pois tinha medo e vergonha de
contar que queria conquistá-lo.
-Não precisa fugir, Alice – ele continuou
impiedosamente irmão mais velho – John já sabe
dos meus planos em casá-los!
-Oh! -ela ficou vermelha da cabeça aos
pés e diante do riso dos dois a raiva a consumiu –
Pois saibam que prefiro casar-me com um burro
xucro do que com um almofadinha afeminado!
Suas palavras quebraram o riso e ela saiu
correndo em direção ao seu quarto, ambos
ouvindo o som da porta batendo.
-Bem, meu amigo, aí está à verdadeira
Alice. –Rony disse indulgente.
-Deve ser algo nos ares do campo, meu
amigo, pois agora sim, estou pronto para ver seu
pai.
Rony não duvidou. Mas também não
concordou. Um dia era muito pouco. Esperava que
ambos se conhecessem melhor. Não queria que
John vivesse uma guerra como a que vivia com
Helena, por mais aprazível que fosse, era
desgastante, e John já sofrera muito na vida. Não
precisava de um casamento infeliz para completar
sua trajetória de sofrimentos!
Capítulo 44 - Um dia antes do terremoto

Helena ouvia as vozes na sala, e sentia a


raiva consumi-la. Deixara a mesa do jantar cedo,
mas agora, passava da meia noite. Estivera certa
que essa noite seria uma longa batalha para
defender-se de Rony, mas não.
Ele sequer lembrara-se dela. Deitada de
lado, olhava para a porta com amargura. A cama a
seu redor estava vazia, pois Alice ocupava agora o
quarto ao lado. Uma pena, pois teria que suportar
a insistência de Rony!
Ou não, uma vez que achado
entretimento melhor que ela, desistira. Era isso,
uma grande novidade na vida de Rony, e no
momento que lhe surgia outra, a esquecia.
Mordendo o lábio, ela pensou que nunca
mais vestiria aqueles vestidos, ou aquelas roupas
íntimas que lhe dera! Nunca mais cozinharia
doces para ele! Nunca mais...! Seus pensamentos
foram interrompidos, quando os risos cessaram.
Passos a alertaram que alguém subia ao
segundo andar.
E tantos outros passos seguiam para o
corredor. Apressadamente, fechou os olhos, para
que não a encontrasse acordada!
Não lhe daria o gosto de vê-la esperar por
ele!
A porta do quarto se abriu e Helena
soube que poderia tê-la trancado se quisesse. E ele
sabia também!
Rony havia optado por instalar a
fechadura naquele quarto, com a desculpa de ser o
melhor quarto e que deveria dormir ali enquanto
estivesse machucada e queria garantir sua
proteção. Uma versão tola que não a convencera
em nada!
Por seu lado, também não impôs
argumentos quanto a isso! Como agora, em vez de
trancá-lo do lado de fora, deixara a porta apenas
encostada. Poderia facilmente mentir que era para
que Alice pudesse entrar a vontade, mas Rony não
acreditaria.
-Não finja dormir, Helena – ele disse
baixo, enquanto se movia pelo quarto.
Resignada, e sabendo que seria
infantilidade insistir, abriu os olhos, procurando
por sua imagem. Rony tirava as roupas na semi
escuridão e ela afastou o olhar.
-Perdi a hora na empolgação de rever
John -ele contou sorrindo, sentando-se na beira da
cama para tirar as botas e as meias – Mas não
bebi, se é o que pensa. Nada além de duas taças
de vinho.
Helena mordeu a língua para não dizer-
lhe que não era da sua conta, que não se
importava se bebia uma taça, ou um vinhedo
inteiro!
-Falaremos de John amanhã quando
acordarmos. – ele continuou falando com ela –
Nem acredito que deitarei ao seu lado depois de
um mês- havia alívio em sua voz e Helena olhou
para ele finalmente.
Havia um ‘que’ de derrota em sua
expressão, ao parar e olhar para ela. Estava sem a
camisa, e as botas, apenas com a calça. Torturante
intimidade!
-Foi o maior susto da minha vida – ele
suspirou ao dizer, tocando seu tornozelo por sobre
o lençol e acariciando a perna com delicadeza,
pois ainda se curava. – Depois, óbvio, da vez que
me apontou a arma na estrada e matou meu
cavalo!
Ele brincou, para descontraí-la, mas
Helena não sorriu e continuou calada.
A mão gigantesca subiu pelo seu quadril,
e não se afastou, sentia-se estranhamento fraca
desde àquela manhã, quando entendera que Rony
Parker, ao seu modo, se preocupava com ela! Ele
fez carinhos ali e Helena afastou o olhar.
-Não fique calada -ele pediu, deixando a
mão vagar pelas suas costas e se aproximando.
Helena sentiu-se pequena, assim,
encolhida na cama.
-Não tenho nada para dizer – respondeu.
Rony comprou seu olhar por alguns
instantes e então cedeu, levantando-se e tirando a
calça.
-Sei qual é seu problema e saiba que não
passei o dia muito melhor! – sua naturalidade era
desconcertante e Helena sentiu o impulso de
mandá-lo sair e deixá-la em paz, mas não pode. –
Não fique envergonhada por estar tensa -ele pediu
quando a notou corar – é normal do ser humano
sentir raiva, e tensão, ao sentir-se frustrado!
-Não estou frustrada – disse num fio de
voz.
-Sim, você está. – ele insistiu, sorrindo –
Assim como eu estou. Estávamos pertinho de
matar a vontade, depois de um mês, e fomos
interrompidos. Não seria humana se não estivesse
frustrada sexualmente, Helena!
-Não fale assim – ela pediu, sem saber
por que se sentia tão inerte. Talvez se devesse ao
sono, que vinha sentindo muito ultimamente!
-Não falo, se for sincera comigo – ele
disse andando nu pelo quarto.
Helena fechou os olhos, para tirar aquela
imagem da mente, mas não pode. Confessava,
precisava olhar para ele!
Rony subiu na cama, pelos pés da
mesma, visto que Helena ocupava seu lado e se
aproximou.
-Rony – ela disse baixo e ele sentiu um
arrepio da cabeça aos pés.
-Me diga o que deseja, Helena – ele
encostou o corpo contra o dela, de lado, sentindo
os contornos e sua mulher e contendo a respiração
quando ela respirou mais forte, tocada pelo desejo.
-Não me sinto bem para brigar, por favor
– era verdade, sentia-se sem forças para isso!
-E porque brigaríamos? Helena,
consumamos nosso casamento. É minha mulher,
não vamos desfazer o casamento de forma
alguma! Porque não posso tocá-la?
-Porque eu não quero um casamento, já
falamos sobre isso! – exaltou-se e tentou sentar,
mas a dor ainda que fraca em suas costelas, a fez
deitar, de frente agora, para fugir do contato com o
corpo forte.
-Está sentido dor – ele pousou a mão
sobre sua barriga, através da roupa de cama e dos
lençóis alisando a pele num carinho. – Não vamos
brigar, Helena – concordou com ela – Me diga, os
chás que Juanita lhe dá, são para evitar uma
família não são?
-Porque acha isso? – perguntou rápida
demais, entregue demais! Não sabia mentir para
esse homem!
-Juanita já foi meretriz. Não precisa ser
muito esperto para juntar as coisas e chegar à
conclusão óbvia! – havia um traço de raiva em sua
voz, mas achou melhor não quebrar a pouca paz
que estabelecera entre ambos, falando de seus
planos para Juanita.
-Penso que não ouviu minhas condições
para esse casamento – ela disse desgostosa – não
terei filhos.
-Eu ouvi. –ele disse subindo a mão para
perto de seus seios e fazendo uma suave
massagem. – Apenas me diga, Helena, porque
não podemos ser um casal normal, com filhos?
Helena sentiu o impulso de responder e
abrir seu coração. Falar do medo, do abandono.
Mas não pode, calou-se. Para desespero de Rony,
ela se calou.
-É claro que não vai me responder -ele
beijou sua testa, resignado – Pense comigo,
Helena, se está protegida e não haverá filhos,
porque não podemos fazer amor?
Ela o mirou sem resposta, os olhos
brilhantes e os lábios úmidos, como se pedisse um
beijo. Antes de sucumbir ele decidiu vencê-la pela
confusão e não pelo embate.
-Estranhos fazem amor, Helena.
Lembram-se quando falamos de mulheres na
capital que escolhem seus amantes? Pois bem. É
apenas um ato entre duas pessoas que se
respeitam e se desejam – achou por bem não
assustá-la falando em amor.
Helena ouviu suas palavras e ignorou a
dorzinha em seu coração que lhe dizia que era
apenas isso que existia entre eles. Respeito e
desejo.
-Diga que não gosta dos meus beijos, que
não gosta dos meus carinhos e de me ter em seu
corpo. Diga, Helena e não insisto mais. – era
mentira, mas ela não precisava saber disso, não é?
-Sinto-me indisposta – ela respondeu,
como se fosse uma verdadeira resposta.
Com Helena era assim, meias palavras
que diziam tudo. Hoje, sentia dor e não o permitira
amá-la, mas deixava aporta aberta para os outros
dias! Sorrindo ele a beijou sobre a ponta do nariz.
-Quero muito fazer amor,Helena, mas
posso esperar. Amanhã, me diga que permitirá
que lhe faça amor sem precisar segura-la a força.
-Rony... – ela ficou sem reação, pois
estaria entregando seu coração se fraquejasse.
-Apenas diga, Helena...
A forma como disse seu nome, ou os
beijos suaves sobre seu rosto, toques tão
carinhosos que a fizeram tremer perdida em
sentimentos confusos.
-Amanhã o deixarei fazer amor comigo –
ela disse sem pensar, sem pesar os pros e os
contras.
-Me faz o homem mais feliz desse
mundo, Helena. – ele confessou, beijando-a
finalmente nos lábios.
Um beijo com sabor de desejo, porém
lendo e doce. Rony queria deixá-la excitada, mas
não a ponto de se agitar e também não desejava
ficar insone a noite inteira, por isso sorriu quando
se separaram, notando sua surpresa:
-Posso ser gentil, se me der à
oportunidade de mostrar-lhe – justificou-se,
apanhando sua mão e pousando sobre sua cintura,
ajudando-a a virar-se para seu lado, de frente para
ele. – Durma nos meus braços, Helena, não tenha
medo de mim.
Helena suspirou quando sua cabeça
pousou em seu peito, e seu corpo ficou quase
sobre o dele. Não era a primeira vez que estavam
assim, mas era a primeira vez em que o deixava
saber que queria estar ali, em seus braços.
Relaxando, ela sentiu seus carinhos em
suas costas e em seus cabelos e sentiu também
que o sono havia fugido. Quase voltou atrás e
pediu que fizesse amor com ela agora mesmo, mas
lembrou-se que o chá de Juanita poderia não ter
feito efeito ainda. Por isso manteve-se em silêncio.
Um curto silêncio.
-Não consigo dormir – disse baixinho, e
Rony sorriu na escuridão.
Helena era sempre tão calada, que saber
que desejava falar, e principalmente, falar com ele,
era entusiasmante!
-Deseja conversar sobre John? -ele
perguntou testando o terreno.
-Não, mas você deseja, não é? – ergueu
um pouco o rosto, olhando para sua expressão
culpada.
-John tem sido minha família a vida toda.
Sinto muita felicidade em tê-lo por perto, mesmo
que não seja uma longa visita – confessou.
-Por isso deseja que se case com Alice? –
ela não notou quando sua mão começou a traçar
círculos pequenos sobre seu umbigo, e então, mais
acima, sentindo a pele máscula e os músculos, a
pele quente e o coração se acelerar.
Rony suspirou, colocando um dos braços
atrás da cabeça e Helena se moveu para longe,
fazendo-o ficar prematuramente alarmado. Ela
apenas ascendeu à luz do lampião ao lado da
cama, e voltou à posição anterior, inclusive com
as caricias em seu peito.
Rony estava muito atraente, languido e
relaxado e quem suspirou foi ela, se perguntando
se deveria ser sempre assim a vida de casados.
Essa intimidade toda!
-Acredito que é mais um meio egoísta de
tentar trazê-lo para perto – confessou – Casando-
se com Alice, tenho certeza que algumas vezes ao
ano, terá que vir pessoalmente trazê-la para ver
nossos pais. Além claro, de ter certeza que o
marido da minha irmã é o melhor homem
possível!
-E ele é mesmo tudo isso? – perguntou
sem maldade.
-Sim – ele disse olhando para seus olhos
brilhantes e se perguntando por que tanto interesse
em John – O que achou dele, Helena?
-Parece igual a você -ela respondeu e por
um segundo ele ficou tenso – é sensível demais,
com gestos delicados para um homem.
-E acha que sou assim? -havia ironia em
sua voz.
-Não pode negar que era assim quando
chegou – ela lembrou-o, sem fugir ao seu olhar.
-Sim, e você era...exatamente como é
agora -ele mesmo riu, ao chegar a essa
constatação. Helena escondeu o rosto em seu peito
e ele soube que era para não ser vista rindo de
uma piada sua – O sangue de fazendeiro que há
nas minhas veias falou mais alto, e sou, o que
sempre fui, Helena. Os anos em Londres me
fizeram esquecer, apenas isso.
-Acha que será um grande casamento? –
ela perguntou mudando de assunto.
-Bem, Alice acabou de chamar John de
almofadinha afeminado, sendo assim, não sei se
haverá casamento. –ele informou e ela sorriu.
-Talvez John não se importe – ela disse
mansa.
-Umas palavras feias não podem matar o
interesse de um homem que sabe o que quer -ele
informou sério e ela corou.
-Acho que posso ter feito uma maldade
com Alice – ela contou, sem poder conter a
vontade incontrolável de dividir tudo com ele.
-Que tipo de maldade? – ele ficou em
alerta, não que suspeitasse de Helena, mas ela não
era propriamente uma santinha!
Ela abafou um risinho contra seu peito e
Rony riu diante do som novo. Helena dando
risinhos? Seu coração estava disparado diante
dessa nova mágica que descobrira em sua mulher!
-Alice insistiu para saber como
era...aquela hora. – era um assunto difícil para
Helena tocar, sendo assim, tinha uma boa razão
para que ela fizesse isso. – naturalmente, não lhe
contaria!
-Não acha que ela deva saber? – ele
estranhou.
-Não. Ela merece o susto – disse séria e
ele sorriu entendendo. Alice cairia do pedestal no
momento em que fosse colocada em uma cama,
com seu marido sobre ela! Como acontecera com
Helena!
-E o que disse a ela então? – ele a juntou
mais perto, sentindo o perfume de seus cabelos e
deixando o braço vagar, contornando seu quadril e
pousando a mão em sua coxa coberta pela
camisola.
-Disse que o casamento é consumado
com um beijo de língua- disse isso séria e ele
desabou no riso no instante seguinte as suas
palavras.
-Não ria tão alto! Ela vai ouvir!-ela pediu
dando-lhe um tapinha no peito e Rony segurou
sua mão, junto ao peito.
-É uma mulher muito cruel, Helena -ele
ainda ria – Admito que seja uma grande estratégia
e lição!!! Desse modo, tenho certeza que não
deixará John avançar o sinal!
-Se for do agrado de Alice,nada a fará
desistir de John! – ela disse convicta.
-Porque não conta a ela a razão de terem
se separado? Tenho certeza que Alice iria tratá-la
melhor – ele disse vendo o quanto Helena gostava
de Alice.
-Acha que Alice viverá feliz em Londres?
A rapidez com que mudou de assunto o
alertou sobre não forçá-la.
-Acredito que Alice será feliz em
qualquer lugar onde estiver seu marido e sua
família –ele disse diplomata, esperando que ela
entendesse a indireta.
O silêncio foi sua resposta.
-Helena? – ele chamou baixinho quando
notou que ela estava quase adormecendo.
-Sim... – sussurrou em meio a um
suspiro.
-Você é feliz ao meu lado?
Era um pergunta simples, mas ela não
respondeu. Primeiro, porque estava quase
dormindo, e não entendeu ou não ouviu a
pergunta e segundo, porque ele tinha certeza que
jamais responderia isso!
Rony apagou o lampião, e respirou fundo,
antes de tentar adormecer.
Era mais fácil dormir com Helena em
seus braços, pensou, antes de se entregar ao sono.
Era mais fácil esquecer os problemas, as
preocupações com a fazenda, os pensamentos
agitados com a chegada de John...era mais fácil
desligar o mundo, quando estava em seus braços...
Capítulo 45 - Visita inesperada!

Os dedos abriam os botões de pérola da


camisola lentamente, possivelmente para não
acordá-la. Helena se pegou lembrando que até
pouco tempo atrás não o deixaria chegar tão perto!
Estava fraquejado, afinal, nesse último mês,
sequer lembrava onde havia ido parar sua arma.
Alice dissera não querer aquilo por perto,
e ela também não insistiu.
Era estranha a forma como vinha
sentindo-se. Nos primeiros dias daquele
casamento a única coisa em que podia pensar era
na família perdida. Ouvia as vozes em seus
sonhos, via seus rostos sempre que fechava os
olhos, e sentia um sentimento de perca gigantesco
no peito. Mas agora, cada vez mais raramente se
pegava pensando neles.
Sentia falta de Anne, de sua mãe e de seu
pai, além das longas conversas que tinham, mas
não era mais um sentimento ruim, era saudade. A
culpa parecia ter ido embora, e Helena lamentava
esse fato. Sentira tanto medo nos dias de solidão
antes de casar-se! Sem a família, sem proteção...
Sem Rony!
-Acorde Helena - ele sussurrou em seu
ouvido, enquanto afastava os dois lados abertos da
camisola, revelando seu corpo nu.
O corte entre os seios havia cicatrizado e
havia apenas uma marca avermelhada onde a pele
se recuperara. Sobre as costelas havia ainda uma
grande marca roxa em tons escuros, e ela havia
tirado a faixa há alguns dias, sinal claro que
estava realmente melhor. Mesmo assim, Rony
ainda tinha receio de feri-la.
-Você me prometeu que faríamos amor.
Lembra? – ele beijou sua testa, enquanto seus
dedos seguiram pelos ombros, e pelo braço numa
caricia despretensiosa.
-Bom dia Rony - ela disse abrindo os
olhos e focando-se nele.
Olhou para si mesma, nua e exposta, mas
não sentiu vergonha alguma. Corou, sim, era
verdade, não era tão experiente a ponto de não
sentir constrangimento diante de um homem, mas
não era vergonha propriamente, era apenas algo
que vinha da rígida criação moral que recebera na
infância.
-Desejo amá-la agora - ele disse,
descendo beijos por sua face, e seu pescoço.
Sentiu seu suspiro, e se pegou pensando se amá-la
calmamente seria tão arrebatador quando amá-la
no furor da paixão renegada!
-Mesmo que precise deixar Alice sozinha
com John? - ela desafiou-o com o olhar.
Havia divertimento em seus olhos e ele
achou isso quase mais atraente que seu corpo
exposto.
-Confio em John - ele disse incerto, nada
disposto a deixar Helena escapar.
A mão graúda desceu pela sua barriga,
tocando sobre o umbigo, sentindo o leve tremor
que estava ali, como se seu estômago estivesse
inquieto. E estava. Havia um frio percorrendo-a e
culminando em seu ventre, tornando-a ansiosa e
estranha, por mais calma que pudesse parecer.
-Terá de ser à noite – ela disse convicta,
porém sem saber se resistiria.
-É preciso mesmo essa bobagem de chás?
– havia uma nota de irritação em sua voz e ela o
empurrou gentilmente, fechando a camisola.
-Prefere que crie seus filhos sem amor?
Era um ponto interessante, e Rony
pensou em dizer-lhe que duvidava de suas
palavras. A Helena que ele conhecia era capaz de
amar. Via a forma como agia e tratava os filhos de
Juanita, e havia muito carinho e amor em seus
gestos. Havia sim, muito sentimento e emoção
dentro dela para que acreditasse nessa bobagem
que ela inventara para si.
Porém, como poderia com argumentos
bater de frente com sua dor?
Rony não era de se render fácil, por isso,
voltou a tentar, introduzindo uma das mãos entre
suas coxas, e ela poderia facilmente fulminá-lo
com seu olhar de rancor.
-Não é apenas Juanita quem conhece
meios de evitar filhos Helena – disse suave,
querendo seduzi-la – eu tenho meus truques
também.
A raiva pareceu dar lugar à curiosidade,
mas ela não perguntaria. Definitivamente, Helena
não perguntaria!
-Está dizendo isso apenas para me
enganar – disse convicta.
-Não – ele sorriu de sua expressão
exasperada – Estou dizendo isso porque meu
desejo é maior do que minha consciência. Se
confiar em mim, posso provar-lhe o que digo.
-E como saberei que não está mentindo?
– perguntou na defensiva.
-Vai saber no exato momento em que
acontecer – notou seus olhos brilharem por
curiosidade – Às vezes em que fizemos amor
foram suficientes para que saiba o que acontece
Helena. E saberá a diferença. Quando acontecer,
notará imediatamente a diferença!
Havia em sua voz um traço de humor e
ela se pegou pensando em como alguém poderia
ser tão leve e espontâneo.
-Corro o risco de ser ludibriada – ela
disse, sem acusação, apenas uma constatação, e
ele entendeu que era uma brincadeira, o mais
perto de uma piada que ela poderia chegar.
-Sim, corre – ele concordou no mesmo
tom.
Helena riu, olhando em seus olhos e
mordendo o lábio.
Tinha tantos medos, mas estava cada vez
mais difícil lembrar-se deles quando estava nos
braços de Rony!
Rony tinha razão, não havia razão para
não serem um casal de verdade, pois ele
concordava em não ter filhos. Concordava em
aceitar seu medo. Esse homem a protegera e
cuidara dela num momento tão difícil!
Se fosse apenas um homem ambicioso,
seria mais prático ter desejado a viuvez, não é?
Esse pensamento vinha consumindo sua
capacidade de resistir desde o dia em que ele a
salvara.
Esse e tantos outros pensamentos e
Helena entreabriu as pernas, confirmando que
confiava em sua palavra. Aliviado, Rony afastou a
camisola, ajeitando-se sobre ela, para não
machucá-la.
-Olhe para mim Helena – ele pediu e ela
obedeceu – Dessa vez não faremos outros
carinhos, porque não posso esperar. Essa noite, no
entanto, lhe prometo que mostrarei tudo àquilo
que ainda não conhece.
Era uma promessa e ela concordou, sem
entender a que se referia, se existia mesmo mais
do que já andaram fazendo!
Oh, Deus!
Sua respiração se acelerou, quando uma
das mãos confirmou o quanto ela estava pronta,
passando os dedos em sua intimidade, antes de
ajeitar o quadril e começar a penetrá-la.
Helena fechou os olhos, desfrutando e
deixando ser desfrutada!
A sensação era arrasadora, e gemeu
quando ele avançou mais um pouquinho. O braço
musculoso estava ao lado da sua cabeça, onde ele
apoiara o cotovelo no travesseiro, e ela não
resistiu, beijou o músculo arrancando dele um
gemido mais fundo, ao parar, procurando seus
lábios.
-Rony!
O gritinho do outro lado da porta o fez
grunhir, afastando os lábios de Helena e olhando
para a porta incrédulo.
-Não acredito nisso – ele sussurrou,
fazendo sinal para que ela não fizesse barulho,
para que Alice fosse embora.
-Rony, meu irmão, acorde! – as batidas
eram mais fortes e ele não pode ignorar.
-Estamos levantando Alice! Deixe-nos!
Sua irritação trouxe uma chama dentro do
corpo de Helena, pois a cada grito, seu corpo se
retesava e a penetrava mais fundo.
-Oh... – ela gemeu baixinho, abraçando-o
com ambos os braços e ele lhe deu atenção,
sorrindo ao notar seu prazer.
-Hoje mesmo Alice vai embora! – ele
desabafou, antes de beijá-la profundamente.
-Rony, abra a porta! – Alice exigiu – Há
visita para você, meu irmão!
-Já disse que estou indo! – ele gritou
novamente, e Helena arfou de prazer, pois ele nem
notava o tamanho do desejo que despertava, se
movendo um pouco, para ajeitar-se.
Tinha a atenção na porta, como se
esperasse que Alice fosse invadir a qualquer
momento, e sorriu quando ela se moveu, tentando
fazê-lo se mover.
O quadril delicado se moeu contra ele,
aprofundando a penetração, e então recuando,
num ritmo lento e difícil, pois ele era muito
pesado para forçá-lo a fazer o que não queria!
-Azar o seu irmão, porque sua visita vem
de Londres!
O grito de Alice o fez desviar a atenção
de Helena. Outra visita de Londres?
-Não! – ela reclamou, segurando-o pelo
braço, alarmada por querer se afastar.
-Uma visita de Londres... O que pode
ser? – ele perguntou, preocupado.
-Algo do seu antigo trabalho...? – ela
sussurrou; o cérebro trabalhando a despeito do
corpo – Rony, não...
-Não o que? – ele perguntou parado,
esperando que ela pedisse.
-Não... Não pare – pediu em tom de
súplica.
-Oh Helena, eu não pararia! – ele beijou-
a, agarrando seus cabelos com ambas as mãos e
investindo em sua intimidade com calma, porém
com veemência.
Do outro lado da porta Alice estava
ficando desesperada, ainda mais quando a visita
tirou a capa que vestia na sala. Ela abafou um
grito, e voltou a bater na porta desesperadamente:
-Rony, Jesus amado, meu irmão! Venha
logo!
O desespero em sua voz o alertou de algo
errado e teve que parar.
-Me espere – ele avisou, se afastando.
Helena não acreditou que isso estivesse
acontecendo de novo! Fúria cresceu, e ela pensou
seriamente em arrastar Alice de volta para casa
pelos cabelos! Quanta inconveniência!
Sentindo um ardor entre as pernas ela
sentou-se na cama, olhando para ele se vestir.
-Quero ir com você – ela pediu, e ele
entendeu.
A ajudou a se levantar e depois que se
vestiu, fechou seu vestido, parando para beijá-la
nos lábios entreabertos, ao notar seu vermelhão.
Colheu-a em um abraço quase tirando seus pés do
chão, soprando em seu ouvido uma doce
promessa:
-Essa noite, nada nos afastará.
Era a promessa de um homem obstinado
e ela sorriu.
Rony estava começando a se acostumar
com sorrisos. Ela sorria para ele com certa
frequência, e esse tipo de sorriso era novo, era um
riso alegre. Feliz.
Segurando sua mão, ambos saíram do
quarto, e Alice olhou-os com surpresa pelas mãos
dadas e ao mesmo tempo horror.
-O que aconteceu? – ele perguntou
irritado com a irmã menor.
-Sua visita... John... Está fazendo às
vezes de anfitrião... – ela estava tão insegura e
corada que Helena duvidou do que seria.
Aflito por achar ser outro problema Rony
avançou, soltando sua mão para não arrastá-la
com ele.
Logo atrás dele, Helena chegou à sala, a
tempo de ver John sentado em uma poltrona, e no
sofá uma mulher loura, muito bem penteada e
vestida, com as roupas mais lindas e caras que
Helena já vira em sua jovem vida. Ela ergueu o
rosto apreensivo na direção deles e seu rosto se
iluminou no instante em que viu Rony,
levantando-se com destreza inacreditável para seu
estado, e atirando-se em seus braços:
-Oh, Rony, meu amor! - ela irrompeu em
prato – Minha vida! Achei que nunca o
encontraria!
Rony não retribuiu a saudação olhando
para John por cima de seu ombro. Não retribuiu o
abraço, surpreso demais para afastá-la. E quando
a moça afastou-se o suficiente para olhá-la, a
surpresa foi tamanha ao ver seu estado, que não a
impediu. Por isso, Alexia Lil sua ex-amante o
beijou bem no meio de sua sala.
Capítulo 46 - Unha e Carne

Foi um beijo curto, pois ele a afastou,


olhando diretamente para sua barriga.
Conhecia aquela mulher como sendo uma
das mais lindas e exuberantes de Londres, tendo
seu corpo perfeitamente esculpido por mãos
generosas! Era conhecida em seu circulo social
como o “o anjo do amor”, e várias vezes Rony
havia concordado com essa designação.
Hoje, no entanto, sabia que suas táticas
eram falhas e aquilo que considerara sublime em
seus tempos de inexperiência, eram apenas
ataques sexuais comuns e rotineiros na cama de
um homem vivido.
Porém uma barriga de nove meses não
era o que esperaria de sua ex-amante! Ainda mais
em sua casa! Diante de Helena!
-Minha vida, eu o procurei tanto em
Londres! – ela falava entre as lágrimas – Oh bom
Deus, John não quis me dizer onde estava! Como
pode? Olhe meu estado, amor! Foi uma luta
encontrá-lo a tempo! Veja! – ela sorriu olhando
para a barriga dilatada – Vê? Nosso filho Rony!
Eu o achei a tempo de vê-lo nascer! Oh, amor!
Estou tão feliz!
Alexia o abraçou novamente, um abraço
rápido, segurando seu rosto e rindo feliz como
uma criança.
-John me contou do seu noivado! Sabia
que era mentira! Como poderia noivar e me deixar
para trás? Hã? Na cidade me disseram que vivia
com uma mulher nessa casa, mas deveria saber
que era sua irmã! Imagine se me abandonaria logo
agora! Se nosso amor seria tão pequeno, minha
vida!
Em sua felicidade transbordante ela não
notou-o paralisado, mas notou logo atrás a feia e
pálida criatura, estagnada e prostrada ao chão, em
choque. Helena viu seu olhar de reconhecimento e
não acreditou que aquilo estivesse acontecendo
bem diante dela!
Um gosto amargo estava em sua boca, e
um súbito frio se instalou na boca de seu
estômago, e diante de seus olhos apenas a imagem
dos lábios pintados de carmim, grudados ao lábios
cheios e doces de Rony.
Seu marido! Seu Rony!
-Oh, aí está! – Alexia disse convicta –
Estava começando a achar que não tinha criadas!
Vamos querida, apanhe minhas malas na varanda
e leve-as para o quarto do seu patrão! Mas
cuidado com a frasqueira! Não quebre nenhum
dos perfumes, sim? – vendo sua expressão ela
olhou para Rony e maneou a cabeça – Agora sou
sua patroa, vá de uma vez! Não queira testar
minha paciência, querida. Mais tarde veremos
algo mais... Adequado para que use ao me servir.
– ela disse medindo-a da cabeça aos pés com
repulsa.
Helena sentiu o sangue gelar em suas
veias. Engoliu em seco, e foi difícil, pois engolia
um grito e o choro, tudo junto.
Os olhos estupidamente azuis pálidos da
sua visita miravam-na com certa dúvida diante de
sua atitude pouco sutil. Era uma mulher bem
vestida, elegante. E seu rosto lembrava um anjo.
Fazia com que Alice e Helena parecessem
espantalhos diante de si e de sua vestimenta. A
face estava corada, mas havia muito ruge em suas
faces para saber se era natural ou apenas
consequência de sua maquiagem.
-Santo Deus... – Alice sussurrou,
achando que a qualquer momento haveria uma
gritaria do tamanho do mundo! Previamente,
segurou o braço de Helena e falou – Venha
Helena, vamos para a cozinha.
-Querido, deixa sua criada ignorar um
capricho meu? – Alexia sorriu para ele incrédula,
e Rony percebeu a dimensão do que aconteceu ali.
-Alexia? – ele perguntou tolamente.
-E quem mais seria, Rony? – seu sorriso
poderia iluminar uma noite escura.
Era tão linda como um anjo. A beleza
estonteante realçada pela maternidade.
-Sente-se, Alexia – John tomou a
dianteira ao notar o choque de seu amigo.
-Querido? – Alexia começou a ficar
incerta ao notar sua palidez e sua expressão de
choque – Querido?
Eram duas mulheres com expressão
muito parecidas. Helena parecia tão sem chão
quanto Alexia ao notar sua surpresa em vê-la.
Alexia estendeu uma das mãos enluvadas
em renda e tocou sobre seu peito, onde o coração
batia, sorrindo ao ver como seu coração estava
acelerado pela camisa.
-O que esta fazendo aqui, Alexia? – Rony
perguntou se afastando e olhando para Helena. Ela
tinha uma expressão muito parecida de quando a
conheceu, e seu olhar direcionado a ele, era um
olhar de magoa, rancor e humilhação.
Quase esqueceu-se de Alexia, diante do
perigo desse olhar, mas sua voz doce o trouxe de
volta a realidade:
-Ah, meu querido! John foi tão malvado
com nós dois! Recusou-se a contar-me seu
paradeiro! – falou com ares de raiva – Foi preciso
um detetive segui-lo para descobrir para onde
vinha! Eu o segui claro! Não pude vir ontem, pois
precisava repousar da longa viagem - ela
contornou o ventre e havia emoção em seu olhar –
Veja, era apenas uma semente quando partiu, e
agora, é um fruto criado, pois faltam poucos dias
para o nascimento!
-Rony – Alice disse suave – Porque não
nos apresenta sua amiga? – era uma sugestão para
que explicasse aquela situação toda.
Mas a explicação era ainda pior, pensou!
-Alexia Lil. Mais conhecida como Lil -
ele sintetizou.
-Srta. Lil – Alice cumprimentou e antes
que a tocasse para um comprimento, Rony a
impediu.
-Alexia é uma cortesã – ele avisou
engolindo em seco e afastando a irmã virginal de
perto da má influencia.
-Não fale assim, amor. Sabe que por você
mudei minha vida - ela disse magoada, a
expressão de choro ressurgindo rapidamente.
-Não. – ele disse seco – Minha vida é que
mudou. Não estou noivo. Estou casado.
Alexia olhou para a pequena feiosa perto
dele, tão ultrajada e soltou um risinho incrédulo.
Só poderia ser aquela criatura!
-Oh, pobrezinho. Como puderam obrigá-
lo a isso?
Seu tom de desdém ridicularizou Helena
ao extremo, e depois de tanto tempo calada,
finalmente falou:
-Tem razão, como puderam obrigá-lo a
isso?
Era uma mulher a beira de cometer
assassinato, e sua frase dizia isso.
E se houvesse justiça naquele mundo,
que enterrassem Rony e Alexia na mesma cova,
assim pouparia espaço e trabalho! Visto que tanto
um como outro não mereciam uma gota de suor de
um coveiro!
-Não se preocupe Srta.Lil, minha criada
levará suas coisas... Para o inferno, junto com a
Srta! – ela rosnou.
Alexia deu um passo para trás,
amedrontada.
-Que falta de educação! – disse com
expressão coquete.
-Falta de educação é uma cortesã em
minha casa! Ponha-se daqui para fora! E você! –
ela apontou para Rony – Vá com sua amante!
Com sua família – havia desdém ao olhar para a
barriga gigantesca. – Saiam daqui os dois. Ou
melhor, os quatro! – apontou John e Alice. – Leve-
a para a casa de seus pais!
-Helena... – ele tentou segurá-la, mas ela
soltou-se com um empurrão, furiosa como poucas
vezes sentira-se em sua vida.
Aquele abraço, aquele beijo, diante dos
seus olhos, era um punhal cravado em seu
coração! Aquela mulher esperava um filho! E
agora, ele iria embora!
Como pudera abaixar a guarda? Como
pudera ser tão tola?
-Saia! Nunca o quis aqui dentro! – acusou
com ódio.
Todo o carinho, toda a entrega de antes
havia se transformado em ódio. Sentia-se traída!
Espezinhada! Humilhada! Ridicularizada!
-Não diga isso sem me ouvir primeiro! –
ele mandou no mesmo tom, segurando seus braços
para que não fugisse dele – John tire Alexia daqui!
– ele não pediu, mandou, esquecendo a polidez.
-Não vou a lugar algum!- Alexia disse
calma, fitando Helena com desprezo – Essa
mulher é louca! Ronald exijo que a tire dessa casa
imediatamente! Como pode achar que me trocaria
por... Isso? Não creio que seja verdade!
-Chega, Lil – John disse enfadado,
apanhando o casaco e a capa da mulher e
segurando seu braço para lhe dar apoio – Vamos
até o carro de aluguel que a trouxe. Pode voltar
amanhã quando todos estiverem mais calmos.
-Nem pensar! – Alexia soltou-se batendo
o leque nervosamente em suas mãos – Ronald
Parker! Prometeu-me casamento! Prometeu-me
seu coração! E não sairei daqui de mãos vazias! É
sua obrigação cuidar de mim e do nosso filho!
Ele sequer ouviu as palavras, não com
Helena furiosa pretendendo fugir de suas mãos
como areia no vento. Se a deixasse ir, talvez não
houvesse mais volta. Jamais ouviria uma palavra
sua que fosse! Tiraria suas próprias conclusões e o
descartaria para sempre de sua vida e de seu
coração!
-Deixe essa maltrapilha ir! Ronald! Olhe
para mim! – ela tornou a exigir e quem perdeu a
paciência foi ele.
-Essas são as roupas que posso dar a
minha esposa e se é tão pouco para você, sinto
muito! – ele respondeu raivoso e Alexia mudou
imediatamente a expressão para algo choroso.
Era experiente o suficiente para saber
quando dera um passo em falso.
-Meu bem, não estou pensando direito.
Como poderia achar que o encontraria casado? E
casado com uma mulher perturbada? Meu amor,
essa terra é tão quente, estou a tanto tempo
viajando para encontrá-lo... Oh... Temo ter
prejudicado minha saúde e minha capacidade de
pensar!
Notando que Rony parecia ter mais
interesse na mulher magrela que se debatia para
escapar, ela fez a única coisa digna na sua atual
situação. Deixou o leque escorregar das mãos, e
aproveitando-se da presença próxima de John logo
atrás de si, forjou um desmaio, usando de toda a
pompa e circunstância a qual aprendera a usufruir
em beneficio próprio.
Se isso não atraísse sua atenção, nada
mais o faria!

Rony não soube o que fazer, com uma


mulher furiosa em seus braços e outra fingindo
um desmaio nos braços de John. Alice olhava para
os dois com desconfiança, e ela não segurou um
comentário áspero:
-Parece que Srta.Lil conhece intimamente
a ambos...
-Infelizmente, temo ter que confirmar –
John disse com sinceridade, comprando seu olhar.
Em seu julgamento, havia algo nascendo
entre eles, e seria honesto com aquela jovem
birrenta, antes que sua vida virasse de pernas para
o ar.
Não desejava estar na pele de Rony, mas
sabia que tinha sua parcela de culpa nesse
episódio lamentável.
-Como se atreve a colocar uma meretriz
sob o meu teto? – Helena perguntou furiosa.
-Não seria a primeira – ele respondeu no
mesmo tom, sentindo a pele delicada dos pulsos
dela entre os seus dedos apertados. – Mantenha as
duas aqui – ele disse a John, antes de tomar à
dianteira.
Praticamente arrastou Helena para o
quarto.
Capítulo 47 - Dignidade

Dentro das paredes, que até a pouco eram


testemunhas do amor e do desejo, ele a prendeu,
trancando a porta e ficando com a chave.
-Helena, escute o que tenho a dizer! – ele
pediu começando a se desesperar.
-Fale! Fale mais das suas mentiras! – ela
retrucou, se afastando ao ser solta.
Humilhação corria em suas veias. O
ciúme apertava sua garganta. Via tudo vermelho,
por isso fechou os olhos.
-Eu lhe disse que não suportava cortesãs.
Essa é a razão! – ele disse exasperado – Deixe-me
contar minha história com Alexia, antes que pense
o pior de mim, deixe que conte o que se passou
entre nos dois na corte!
-Não me interessa! - ela gritou de volta,
surda a qualquer desculpa – Não quero saber!
-Vai me culpar sem me ouvir? -ele
elevou a voz sem querer – Não me obrigue a...
-A me fazer escutar? -ela ironizou
exibindo os punhos avermelhados.
Na presa de segurá-la e prendê-la a ele,
impedindo sua fuga, não notou o quanto era bruto.
-Sinto muito, Helena -ele tentou se
aproximar, mas ela escapou.
-Não encoste em mim! – avisou.
-Não vejo Alexia há meses, ela mesma
admitiu que não sabia do meu paradeiro – ele
tentou explicar, afastando-se para não provocar
sua fúria - Deixe-me explicar...
-ELA ESPERA UM FILHO SEU!!!
Bem, isso resumia a situação.
-Não, Helena, não é nada disso!
-DISSE QUE ME FARIA CRIAR SEUS
BASTARDOS! ERA DISSO QUE FALAVA?! -
não era definitivamente uma pergunta.
Pego pela própria língua, ficou sem ação
um segundo.
-Disse coisas em nossas brigas, que não
se aplicam a nossa vida, Helena, do mesmo modo
como disse coisas que sequer levei em
consideração – ele tentou explicar, achando que ao
menos um deles precisava se acalmar.
Notou a forma como ela apoiou uma das
mãos sobre as costelas e a forma como respirava
rapidamente, e soube que ela estava sentindo dor.
-Sente um pouco, Helena. Se machucar
não vai ajudar em nada!
O olhar que ela lhe lançou era sujo. Um
olhar de desprezo e repulsa. Acuado por esse
olhar, ele elevou a voz sem notar:
-Se não se sentar deixo-a trancada nesse
quarto até me ouvir!
Esperou por segundos eternos até que
cedesse. Provavelmente mais pela dor, do que pela
sua ameaça, mas Helena sentou-se na cama, a
respiração se acalmando.
Provavelmente chegando à conclusão que
preferia estar fisicamente bem para enfrentá-lo!
-Conheci Alexia há três anos numa festa
– ele começou a contar e afastou os olhos dos de
Helena, pois não suportava a acusação expressa
neles – Nunca fui um santinho, Helena. Viver na
corte, sem um tostão no bolso, me fez aprender
que não podemos desperdiçar as oportunidades
que aprecem na nossa vida, e Alexia foi uma
grande oportunidade. Era jovem, precisava de
uma companhia feminina, e não tentarei lhe
explicar como funcionam os instintos básicos de
um homem, pois conheço a forma como pensa e
sequer tentará entender! – suspirou pelas
lembranças – o fato é que precisava de uma
amante, mas não estava disposto a gastar com
prostitutas ou cortesãs. Desejava naquela época
abrir minha própria firma de advocacia. Foi
quando John terminou seu caso com Alexia. Ele
sempre disse que era uma mulher fácil de conviver
e que era discreta, e era exatamente isso que
precisava: discrição. Por isso, quando ela veio até
mim de espontânea vontade e me convidou a sua
cama, sem cobrar, agarrei a oportunidade. –
Helena poderia matar com o olhar, pensou, mas
preferia isso, a deixá-la pensar algo ainda pior a
seu respeito – Tive uma amante bonita e dedicada,
e sempre soube que ela mantinha seus clientes.
Era um acordo vantajoso para ambos! Então, no
inicio do ano passado, ela jurou que não queria
mais a vida que levava e parou com o trabalho de
cortesã. Eu sempre fui sincero, e disse a ela, que
não haveria casamento. E Alexia deixou claro que
largava a profissão por sua causa e não minha! Há
alguns meses, ela contou da gravidez, confesso
que sequer acreditei que fosse verdade, pois não
menti ao fizer que conheço meios de evitar isso.
Nunca, nos meses em que tive relações com
Alexia ejaculei em seu corpo. – era curto e
grosso, mas ou era isso ou era nada. – Deixei
claro que tínhamos chegado ao fim. Ela pareceu
entender.
-Não pode jurar que não é seu filho!
Juanita disse...nenhum métodos é garantido para
evitar uma gravidez – sua voz tremia, e se fosse
outra mulher, acharia ser ciúme, ou magoa, mas
vindo de Helena era raiva.
-Alexia também não pode jurar que o
filho é meu – disse com paciência – Helena, ela
mentiu para mim durante meses, e confesso, fiz de
conta que acreditava em suas mentiras, pois era
mais cômodo para mim. Continuou a receber seus
clientes pelas minhas costas, e foi essa uma das
grandes razões para que não me apaixonasse por
ela. É uma mentirosa. Agiu pelas minhas costas.
Helena baixou os olhos, lembrando que
ela mesma agira pelas costas dele, tentando
vender seu único bem de valor. Talvez lendo sua
mente, ele sorriu:
-Suas razões, Helena, eram razões
inocentes que prejudicaram apenas a si mesma, já
as razões de Alexia são menos altruístas. Ela
deseja um tolo para casar-se. Um homem
facilmente manipulável. Uma cortesã não pode ser
uma mulher respeitada na sociedade e ao mesmo
tempo continuar tendo sua fortuna e seus amantes.
Ao meu lado, pensou que poderia ter ambos.
-Como sabe que ela não parou...com o
que fazia? – precisava saber de todos os detalhes,
talvez, para odiá-lo com mais força!
-Houve um dia, a última noite que
passamos juntos. Eu fui até sua casa contar que
viajaria para ver minha família e que ficaria
alguns meses longe de Londres. Passamos a noite
juntos, e pela madrugada, parti. Acontece, que
esqueci o relógio que meu pai me deu anos atrás,
ao me deixar no internato. Não deixaria essa
lembrança para trás e voltei. Como possuía as
chaves, entre e fui direto para seu quarto. Claro,
não esperou sequer que trocassem seus lençóis –
havia um traço de lamento em sua voz – Apanhei
e o relógio na mesinha e sai sem que ela me visse,
e duvido que poderia ver. Estava de quatro, sob o
corpo de outro homem. Um dos muitos que
recebeu naquela mesma noite. Eu fiquei escondido
e contei, foram quatro. – ele riu dessa lembrança.
Mas era um riso sem humor. - Foi a última noite
juntos. Depois, pedi a John que não contasse do
meu paradeiro. E quando voltasse a Londres, se
ela insistisse, daria um jeito de acabar com suas
esperanças. Por isso, Helena, não sou o pai dessa
criança, e se por ventura o for, jamais poderemos
saber.
-Pelo que notei essa mulher não condiz
com a jovem apaixonada que está na sala dessa
casa! – havia muita amargura em sua voz.
-O que viu agora a pouco não passa de
teatro, Helena. Alexia conhece os homens como a
palma de sua mão. É experiente para saber jogar
com os sentimentos. Ela jamais me abordaria
cobrando com clareza. Ela chora, abusa nas
palavras de amor, e desmaia. É isso que as
cortesãs fazem.
-Mesmo em um avançado estado de
gestação? – havia sim um traço de dúvida em sua
voz e ele se aproveitou disso.
-Alexia está aqui, única e exclusivamente
por causa disso. Uma cortesã grávida não lucra.
Está sem clientes e sem um protetor, pois esse
filho não me passou garganta à baixo como
esperava que acontecesse ainda em Londres.
Agora, ela espera arranjar um homem para cuidar
dela, provavelmente, até estar recuperada e poder
voltar a sua antiga vida de luxo e glamour. Como
vê, não é uma linda história de amor. – ironizou.
-Mas é uma boa história – ela disse
amarga – mas que não muda o fato dessa mulher
estar aqui dentro, cobrando-lhe casamento!
-Alexia pode cobrar o que quiser, mas
não devo nada a ela. Estou casado e feliz com essa
situação – era uma tentativa de amansá-la, mas
que faliu quando ela se ergueu, emburrada.
Sim, dessa vez, ela estava mais do que
apenas zangada, estava emburrada e entendimento
o fez sorrir sem notar.
-Do que está rindo? – havia veneno na
sua voz.
-Não estou rindo, estou surpreso. Helena,
está com ciúmes de mim?
-Realmente, é um homem de grandes
ilusões – ela disse mordendo a língua e contendo
um gigantesco ‘sim’ que desejava escapulir de sua
boca.
-Me diga se acredita em mim – ele pediu
tocando seu braço e não se surpreendendo que o
afastasse com aquele mesmo olhar sujo que o
desagradava.
-Livre-se dela e talvez acredite -ela
ameaçou.
-É o que pretendo fazer – suspirou
aliviado, por sair com vida daquele quarto –
Helena, venha comigo, esteja do meu lado, para
que ela entenda que não há espaços para outra
mulher em minha vida – pediu insistindo em tocá-
la.
-Não toque em mim, Parker – ela rosnou,
afastando-se e esperando que abrisse a porta.
Como um cordeiro, ele destrancou a porta
e deixou que passasse. Helena aceitou andar a seu
lado, a raiva tornando seus passos duros e ela
sentiu dor nas pernas, por exigir tanto de si
mesma.
Na sala a ilustre visita estava recuperada
e ansiosa. Olhava para John, com cobiça, mas
havia desistido de avançar sobre ele e sua fortuna
há muitos anos, e sobretudo agora, entendia que
não poderia competir com uma linda jovem pueril,
como a irmã de Rony. Não no estado desagradável
em que se encontrava!
Sua face se animou ao ver Rony de volta.
Estava tudo resolvido em sua mente, convenceria
Rony a anular o casamento com àquela mulher
horrível, e então, se casariam! Simples!
-Meu querido! – ela não se levantou, pois
ainda fingia um mal estar.
-Fique sentada, Alexia – ele pediu,
olhando de John para Alice – Alice, ajude Juanita
na cozinha.
Alice pensou em negar, pois desejava
participar da conversa, mas a grosseria de Helena
calou seus protestou.
-Faça o que seu irmão mandou, Alice.
Cabisbaixa, ela sumiu da sala, apenas
para espiar pela cozinha, ignorando os chamados
de Juanita para que não fizesse isso. Em poucos
minutos, eram duas ouvindo atrás das portas!
-Diga-me, minha vida, que mandará essa
mulher embora, e anulará esse casamento ridículo!
-E por que acha que faria isso, Alexia? –
perguntou em tom cansado.
-Ora! Rony! Olhe para ela! Olhe para
mim! Teremos um filho! Não quer seu filho sem
nome, quer? Além do mais...qualquer um nota que
essa mulher não serve para você! Seja lá os
artifícios que usou para obrigá-lo a se casar, pode
escapar! Peça a anulação! John será sua
testemunha que foi obrigado! – ela apontou para
John que deixou claro em sua expressão que não
participaria disso!
-Alexia, não fui obrigado a me casar,
para ser franco, eu quem obrigou Helena a me
aceitar – suas palavras ecoaram no vestíbulo, e por
um segundo, Alexia se viu sem respostas.
Apenas um segundo.
-Entendo que a novidade o tenha encanto.
Uma caipira! Mas, Rony...essa jovenzinha jamais
poderá acompanhá-lo em Londres!
-Minha vida não é mais em Londres,
minha vida é aqui – ele disse calmamente.
-Então, é isso – ela definiu, sorrindo –
Ela é rica. – havia vitória em sua face – um pai
rico que o obrigou a casar-se! Inacreditável, Rony!
-Por favor, Alexia, sente-se e escute
atentamente -ele pediu.
Talvez notando a seriedade da situação,
ela sentou-se. Rony olhou para Helena, e tocou
seu braço sabendo que não poderia rechaçá-lo em
frente à Alexia.
-Sente-se também, Helena. Ainda precisa
descansar e convalescer – pediu e ela obedeceu,
apenas para não causar mais demora em livrar-se
daquela intrusa.
-Oh, Deus, além de rica, é doente? –
Alexia ironizou – Jesus, não posso culpá-lo por
ter tentado a aceitar esse casamento! Meu
querido, não o condeno. Se a saúde dessa mulher
é frágil, apenas esperemos sua morte.
Ela falou com tanta naturalidade que
Helena respondeu no mesmo tom:
-É bom que saiba, que se pretendia
morrer um dia, agora, farei de tudo para durar um
século!
Era uma frase irreal, e John sorriu com
carinho, olhando a pequena fera que defendia seu
lar, sem nem perceber. Rony notou esse olhar, mas
tinha algo mais sério em que pensar.
-Como pode uma mulher falar como um
homem? -Alexia fingiu choque.
-E como pode uma mulher ter tantos
amantes, a ponto de nenhum deles assumir seu
filho?
Rony pensou que não precisava se
defender, tendo Helena ao seu lado.
-Foi isso que Rony lhe disse? –ela fingiu
choque, e ele esperou que Helena pudesse
reconhecer o fingimento. – Desculpe, querida, mas
não é verdade. Terei um filho de seu marido, ou
melhor dizendo, do seu ex-marido, por que é
impensável que me troque por você!
-Não sei, rameiras são facilmente
esquecíveis -ela disse com desdém. – Afinal, são
muitas. Ou acha, que assim como você, Parker lhe
tinha exclusividade?
Notou os belos olhos claros se
arregalarem de surpresa, fitando Rony.
-Pelo que sei foi ele que a abandonou e
sequer disse onde estaria.
Aquilo deveria encerrar a conversa, mas
Alexia era treinada para sair das piores situações.
-Vejo, que meu amor, não arrumou uma
esposa, mas sim um peão para defendê-lo. Devo
temer um tiro?
John explodiu em uma longa risada, e
Alexia o fitou como se tivesse duas cabeças.
-Não duvide, Alexia – ele respondeu por
Rony – que corre mais perigo com Helena do que
com o mais corajoso dos peões.
-Outra razão para permitir que meu Rony
seja feliz. Anule o casamento!
Ela quase esbravejou, ao notar admiração
na voz de John. Conhecia aquele solitário homem,
e sabia muito bem que arrancar admiração de
John Harrison era dificílimo!
Isso a assustou, tanto quando o olhar de
carinho de Rony. Haviam raras mulheres que uma
cortesã não pudesse vencer usando seu corpo e sua
sensualidade. Raríssimas mulheres tão
interessantes e apaixonantes, que mantivessem os
maridos a despeito da cama.
-Ronald só sai desse casamento morto –
ela disse levantando-se e olhando com desprezo
para Alexia – Até uma hora atrás, não me
importaria que fosse embora, mas agora, faço
questão que ele fique! Que apodreça ao meu lado!
Para que me pague tamanha humilhação!
Essas palavras o deixaram mudo. Não
olhou para John humilhação também crescendo
dentro dele.
Um suave “oh” chamou atenção para o
fato de Alice estar ouvindo atrás das paredes. John
ergueu-se imediatamente, ansioso para tirar sua
possível prometida daquele ambiente, achando
que se desejava aquela mulher casta, e pura, tinha
que zelar por isso, e surpreendendo-se por pela
primeira vez na vida se importar com isso.
-Prometi a Alice um passeio pela
fazenda, meu amigo – ele disse quebrando o
pesado silêncio hostil – Deverá ser o caso de
fazermos isso agora. O que me diz?
-Não saíram sozinhos – ele disse
descontando em John sua frustração.
-Aguardem um minuto, Sr.Harrison.
Faço-lhes companhia – Helena disse depois de
engolir em seco.
Esperava que fosse barrada, mas ele a
deixou ir. Rapidamente, apanhou um livro e um
longo lenço, saindo para a cozinha.
John aproximou-se de Rony esperando
que ele pedisse que não fossem, mas ele apenas
maneou a cabeça concordando.
-Mantenha as duas fora por um tempo.
Vou me livrar desse problema.
John concordou, esperando achar um
jeito de dizer a ele que não sentisse pena de si
mesmo, pois sabia que aquelas palavras eram
falsas. Helena não controlara a própria fúria.
Apenas isso.
Alexia segurava um sorriso quando ficou
sozinha com Rony.
Por um segundo ele se pegou pensando
em como era triste. Quanto o sorriso que desejava
lhe era negado novamente.
Capítulo 48 - Sem forças para lutar

Helena deixou o lenço sobre a grama e


sentou-se fingindo abrir o livro e ler. Dar alguma
privacidade a cunhada era o mesmo que dar
privacidade a si mesma.
Esperou que estivessem longe, falando
entre si de costas perto do lago, para deixar as
lágrimas virem. Segurava-as desde o momento em
que vira aquela mulher nos braços de Rony.
Aquele beijo despertara um ódio tão
grande em seu interior que não pudera conter. As
palavras dele tinham lógica, era uma ex-amante.
Não era comum para mulheres, mas
rotina para os homens. Não deveria se importar,
não significava nada, mesmo assim a raiva a
consumia.
Não havia razão para choro disse a si
mesma, limpando as faces. Mas não conseguia
parar.
Como pudera dizer aquelas coisas sobe
ele?
Lembrou-se do carinho entre eles. Da
forma como estavam se entendendo e lamentou a
própria fraqueza. Tinha razão desde o princípio.
Aquele homem não era para ela, muito menos
para aquela terra!
Logo se cansaria e iria embora!
Talvez, antes do previsto!
Alexia era uma mulher de luxo e talvez se
estivesse disposta a dar-lhe tudo que desejava, ele
nem mesmo estivesse em casa quando voltassem!
Esse pensamento a fez derramar lágrimas
solitárias e silenciosas.
Ao longe, Alice olhou para trás, tentando
ver se Helena estava bem. Ela parecia limpar as
faces e ela sentiu um aperto ao notar que sua
amiga chorava.
-Gosta de Helena não é? – John
perguntou astuto – A hostiliza, mas no fundo a
aprecia.
-Fomos amigas a vida toda - ela disse
lamentando a boca grande que a fazia contar o que
não devia – Quando seu irmão morreu, acabou
com nossa amizade. Abandonou-me.
John sentiu-se tocado pela dor quase
infantil naquele olhar e segurou seu queixo para
que olhasse para ele.
-Não pensou que talvez não houvesse
lugar para uma jovem como você na nova vida
que se apresentava diante dela?
Confusa por sua pergunta, ele continuou:
-Helena passou a ter muitos
compromissos de homem e muitos riscos também.
Como poderia levá-la consigo?
-Não teria me importado! – ela disse
corajosa e ele sorriu.
-Mas eu teria, fico feliz que ela tenha tido
lucidez por vocês duas. – não era apenas um
galanteio.
Alice se perdeu naquele olhar verde,
corando ao notar o quanto perto estava os rostos; a
milímetros. Lábios cheios, John tinha lábios
cheios e ela se pegou perdida em devaneios.
Se ele a beijasse seria sua perdição. Mas
se não a beijasse ficaria decepcionada!
-Não fique encabulada. Não vou beijá-la
com Helena tão perto – ele soltou-a sorrindo
diante de tanta inocência.
-Não pode me beijar - ela disse sem
pensar.
-Nunca foi beijada? - ele se surpreendeu.
Era bonita demais para nunca ter sido cortejada.
-E como poderia? Não sou casada! –
havia horror em sua voz – e desejo me casar!
-E porque não se casaria? Por causa de
um beijo? – ele ficou surpreso novamente.
-Se pensa tão pouco de uma união entre
homem e mulher, talvez não devêssemos passear
juntos – ofendeu-se.
Talvez ele achasse que fosse uma caipira
boba. Que servisse apenas para diversão!
-A união de um homem e uma mulher,
quando esta é de família e de respeito, deve se dar
apenas após o casamento. Mas um beijo não é o
mesmo que a consumação! – ele disse como se
fosse óbvio.
Imediatamente após essas palavras ela
olhou em direção a Helena e depois para ele,
confusa e curiosa.
-Helena... - ela sentiu o sangue esquentar
e corou de vergonha, e humilhação - ...disse que a
consumação era com um...oh...
-Beijo? - ele abriu um lindo sorriso ao
entender o sentido de seu medo e receio – Ela lhe
disse isso? - também olhou em direção a jovem
que fingia não prestar atenção em nada além do
livro. – Alice, olhe para mim.
Ela estava morta, e a vergonha era seu
caixão!
Nunca mais olharia para esse homem
enquanto vivesse!
-Tem curiosidade para saber o que se
passa no leito nupcial?
-Eu... Sei que não deveria... – ela fugiu ao
seu olhar e ele não parava de sorrir.
-Saiba que não é com um beijo. Nem
mesmo o mais delicioso dos beijos pode tirar a
castidade de uma mulher. Não vou lhe contar os
detalhes. Não tenho esse direito. – a ideia de tê-la
tão inocente na noite de núpcias fez seu sangue
correr mais rápido nas veias – Mas saiba que a
consumação se dá de outra forma.
-Não pode ao menos... Dar uma pista? –
havia tanta curiosidade em seus olhos que o fez
notar o quanto essa menina seria voraz após ser
feita mulher.
-Posso apenas dizer, que se usa das
partes baixas dos corpos do homem e da mulher. –
ele quase riu de sua surpresa.
Reunindo dignidade, ela sorriu:
-Não devemos falar sobre isso – ela olhou
para o lado e ele fez o mesmo.
-Tem razão. E sobre o que deseja falar?
-Fale-me sobre Alexia.
Era um assunto delicado e ele demorou
até achar as palavras certas.
Helena sentiu que as lágrimas secavam,
mas a aflição e a agonia pareciam crescer cada vez
que dizia a si mesma que ele não fizera questão de
impedi-la de sair. Parecera até mesmo satisfeito
em ficar a sós com Alexia.
Pondo o livro de lado olhou para Alice e
John. Conversavam a uma distância decente e ela
esperava que a ex-amiga fosse mais feliz que ela!
Que não aprendesse as duras lições que
vinha aprendendo!
Levou um pequeno susto ao ver a forma
como John segurava a mão de Alice e levantou-se
apressada, achando que era sua hora de ser a
cunhada estraga prazeres.
Seria uma vergonha para Rony ter a irmã
desonrada dentro de sua própria casa, sob suas
vistas, e seria também uma lição, mas era Alice, e
Helena queria o melhor para ela!
-Sr. Harrison! - ela disse em tom gelado,
pondo–se entre ambos – Porque não nos conta do
seu trabalho na capital? Tenho certeza que deve
ser um assunto fascinante!
Alice a olhou com olhar assassino.
Melhor isso do que um olhar de
desespero ao se ver desgraçada. E de desgraça
Helena entendia muito bem!
Pelas próximas duas horas eles seguiram
vendo a fazenda, com Helena logo atrás seguindo
a passos lentos. Vez ou outra John tentava trazê-la
a conversa, pois era uma mulher de opiniões
interessantes, mas ela se esquivava.
Podia não ser mais amiga de Alice, mas
lhe queria muito bem, e não se imporia entre os
dois, não quando ela se esforçava tanto para ser
vista e desejada!
Quando John perguntou-lhe se não estava
cansada, ela confessou estar exausta e se
surpreendeu em como era fácil abrir seu coração
para aquele homem de olhos verdes tão sinceros.
Olhos que não lhe cobravam nada. Que
não lhe tiravam nada!
John apresou o passo ao notar a palidez
excessiva de Helena.
Manteve o braço dado a Alice, mas
também se manteve próximo o bastante para
amparar Helena caso ela desmaiasse. Parecia
próxima a isso.
O estado emocional evidente em seu
semblante carregado. Ela os fez entrar pela porta
dos fundos onde Juanita tinha uma espécie de
discussão com Rony.
-Não - ela disse em alto e bom tom.
-Não tem querer - ele insistiu, mas se
calou quando John entrou com Alice e depois
Helena. Ela não olhou em sua direção.
-Sente-se, Helena – Juanita puxou uma
cadeira, praticamente a sentando. – Menina, está
pálida!
-Trouxe-a imediatamente quando notei
seu estado de exaustão – John informou.
-Não percebi o quanto estava cansada –
ela disse com tom derrotado.
-Suas forças voltarão depois que se
alimentar.
Helena concordou com a cabeça e aceitou
um copo de suco, o que para Rony foi uma afronta
direta. John tinha-lhe mais autoridade do que ele,
como marido.
-Diga irmão, o que fez com sua visita –
Alice perguntou olhando de esguelha para Helena
que virou o rosto.
-Alexia ficará no quarto que ocupava - ele
disse seco, notando a irmã ficar chocada –
Dormirá no segundo andar, em um quarto ao lado
de John - ele disse e havia aviso em sua voz. -
Preciso falar com você John. Na saleta.
-Mas, Rony, porque ela ficará? – Alice
perguntou recuperando-se do susto.
-Fez uma longa viagem e está para dar a
luz a qualquer momento. Não pode voltar agora
para Londres, e na cidade não conhece ninguém.
Também não possui dinheiro consigo para uma
dama de companhia. Não seria humano mandá-la
embora agora.
-Desumano é mantê-la aqui dentro –
Alice disse irritada, olhando para Helena.
Às vezes não se continha e dava mostras
de sua personalidade. Se bem que depois de sua
explosão noite passada era um milagre que John
não estivesse ofendido e não houvesse tocado no
assunto. Afinal, fora chamado de ‘afeminado’!
-Juanita, vá desfazer as malas da Srta.Lil
– ele mandou pela última vez.
-Sinto muito, estou muito ocupada - ela
resmungou uma nova negativa.
Rony parou, e fitou-a longamente antes
de mandar:
-Não estou pedindo, estou mandando, e
se não está disposta a cumprir suas obrigações
pegue suas coisas e seus filhos e vá embora! Não
pago seu salário para que me responda!
-Arrume as coisas da amante de seu
patrão Juanita – Helena disse seca e direta – Não
desobedeça.
Nem que o houvesse esfaqueado doeria
tanto, pensou.
Ele saiu da cozinha e as deixou para trás.
John o seguiu, pois sabia que teriam uma longa
conversa sobe Alexia.
-Vou à fazenda do meu pai, ele precisa
saber o que meu irmão está fazendo! Colocar uma
meretriz sob esse teto! – Alice disse horrorizada.
Helena viu a expressão de Juanita
endurecer, e disse surpreendentemente calma:
-Não faça nada. Juanita agora a ordem é
minha: prepare tudo que essa mulher desejar – ela
disse sentindo-se subitamente fraca. – Alice, por
favor, mantenha-se longe dela. É uma má
companhia para uma moça. Tenho certeza que
John não verá com bons olhos uma amizade entre
ambas.
Ao levantar-se achou estar tendo uma
tontura, mas logo passou. Sentia o coração
palpitante e as pernas um pouco trêmulas. No
quarto, fechou a porta, mas não se lembrou de
trancá-la. Deitou-se e virou para o outro lado,
querendo morrer!
Capítulo 49 - Novo acordo perfeito

Helena havia adormecido. Cansada pela


estafa física e emocional, havia adormecido. Rony
desistiu de abordá-la e saiu do quarto. Tinham
muito a falar, mas apenas quando estivessem em
pé de igualdade. O almoço estava na mesa, e a
despeito do olhar de desprezo de Alexia diante da
comida caseira e das louças simples, ele
conseguiu comer bem.
Juanita preparou uma bandeja para
Helena e antes de sair conteve uma resposta ao
ouvir a pergunta da visita:
-Meu pobre Rony, quanto sofrimento
uma mulher doente não deve lhe trazer! Qual o
mal que a aflige além claro, da pouca beleza?
Não ficou para ouvir a resposta e não
houve de qualquer forma, grandes respostas.
-Helena teve um acidente há poucos dias,
ainda está convalescendo, no mais, sua saúde é de
ferro!
-Não negue meu querido, este casamento
o faz infeliz. – Alexia insistiu.
-Para quando é seu filho? - ele perguntou
desejando que fosse o mais breve possível.
-Uma semana no máximo - ela disse
orgulhosa – verá como se parece com você,
quando nascer um belo menino ruivo de olhos
azuis!
-Assim como metade das crianças de
Londres - ele retrucou. – Não é meu filho Alexia.
E mesmo que fosse jamais terei como saber.
-E não pode acreditar em mim depois de
tudo que vivemos? – havia um traço de fragilidade
em sua voz.
-Alexia – John pediu em voz cortante –
Respeite a casa de Rony. Está aqui por piedade.
Não torne tudo mais difícil.
Alice olhou para John como se olha para
um herói.
Rony perdeu o interesse no pequeno
embate entre Alexia e John quando Juanita voltou
com a bandeja intocada.
-Helena ainda dorme? – Alice perguntou
preocupada.
-Não. Mas está enjoada. A comida não
lhe desce. Eu no seu lugar estaria do mesmo jeito,
pois há um sapo atravessado em sua garganta do
tamanho dessa rapariga! – ela disse olhando para
Alexia e então para Rony.
-Não aceito ser chamada dessa forma! –
Alexia repreendeu-a e Juanita soltou um risinho
irônico.
-Usa roupas melhores que as que usei,
mas ainda assim é mais sórdida que a pior das
rameiras. Ao menos de onde vim não se ousava
bater na porta das senhoras decentes atrás de seus
maridos! Se havia um pingo de vergonha na cara
das meretrizes e de seus amantes!
Rony soltou um palavrão antes de sair da
mesa e da cozinha.
Para ele chegou ao limite toda aquela
situação!
Com Helena acordada, não havia porque
fugirem da conversa que precisavam ter!

Helena estava de pé, limpando o rosto em


água fria quando ele entrou. Estava enjoada e
tonta, e a água ajudava a refrescar o calor. Quando
o viu entrar e trancar a porta desejou desmaiar ou
morrer, assim, fugiria do confronto!
-Sente-se bem? - ele perguntou reparando
em sua palidez.
-Como poderia? – ela rebateu.
-Pensei ter me explicado. – ele devolveu.
-Oh sim, explicou-se. O que não tem
explicação é a razão para sua amante continuar na
minha casa!
-Nossa casa! - ele corrigiu, detestando
seu tom de voz.
-Essa casa foi construída pela minha
família. Não importa quanto tempo passe, essa
sempre será apenas a minha casa! – respondeu
imóvel, com medo de se mover e revelar o quanto
estava zonza.
-Adquiri o direito a casa no momento em
que nos casamos e posso decidir quem fica e
quem sai!
-Sim, e exerce esse direto a revelia da
minha vontade – ela satirizou. – Primeiro Alice,
depois John e agora sua amante. Tenho medo de
perguntar quantas pessoas ainda terei que suportar
sob o meu teto apenas para satisfazê-lo!
-Não tenho culpa que tenha aceitado se
casar! Porque não disse não e se livrou disso, hein
Helena? – ele ironizou maldoso, querendo feri-la
do mesmo modo que ela fazia com ele.
-Não jogue sobre mim a responsabilidade
de suas mentiras! – ela resumiu, cuspindo fogo.
-Minhas mentiras?
-Convidou sua irmã apenas para oferecê-
la para seu amigo rico! Acha que sou tola? Está de
olho na fortuna de John! Estreitando os laços com
sua fortuna e prestígio! E o convidou mentindo
que desejava sua amizade, quando seu único
intento era fazê-lo ser seduzido por sua irmã! E
agora aparece uma mulher enganada por suas
mentiras de amor! Um grande mentiroso é o que
você é!
-Nunca menti para John. Nunca quis um
tostão de sua fortuna! - ele sentiu-se indignado,
não por John que o conhecia, mas por ver sua
Helena pensando essas coisas horríveis dele! –
Alice está aqui para ajudar em sua recuperação. E
depois, para me permitir ter uma desculpa para
usar o quarto que é meu por direito! - ele estava
realmente indignado – Porque minha esposa acha
muito justo me chutar do quarto como um menino
bobo!
-Sorte minha fazer isso ou a esta altura
essa cama poderia estar insuportavelmente cheia!
Ultrajado com a insinuação avançou em
sua direção.
-Não ouse me intimidar fisicamente! – ela
alterou a voz – não posso me defender!
Ele estacou no chão, incrédulo.
-Pensa tão mal de mim?
Ela afastou o olhar, para que não
soubesse da verdade sobre seus pensamentos.
-Sinto que seja incapaz de compreender e
aceitar Helena. Alexia foi minha amante, eu
sequer a conhecia nesse tempo. Não mando na
vontade das pessoas e não sabia de sua vinda. Não
me peça para jogar na rua uma mulher grávida e
sozinha a beira do parto!
-Porque não pode ficar na casa de seus
pais? – era uma pergunta válida.
-Minha mãe jamais permitiria – ele
confessou.
-É uma vergonha, eu sei. – ele se
aproximou menos indignado – Sente-se irritada e
ofendida, eu também sei disso. Alexia é terrível,
mas não deve ouvir as coisas que ela diz. Não
deve acreditar em suas mentiras Helena. Sou eu
quem vive ao seu lado. Não descumpri nenhuma
das promessas que lhe fiz. Porque não pode
aceitar e acreditar em minhas boas intenções?
-Não quero essa mulher aqui! –
reafirmou.
-Tão pouco eu quero. Pense Helena no
escândalo que será se Alexia e seu filho morrerem
por causa do parto após a mandarmos embora.
-Ela não morrerá no parto apenas por não
a acolhermos!
-Mas sem cuidado e assistência, poderia
acontecer e não estou disposto a me defender a
Ford sobre minha amante e um filho morto!
-Não me venha com essa história de novo
Parker! - ela exigiu, ficando sem reação quando
ele fechou os olhos, inconformado e lhe deu as
costas.
-Ford pode acreditar em nosso
casamento, mas não vai se arriscar a perder
dinheiro diante de um escândalo! Não finja que
não sabe disso!
-E agora você quer me dizer que vai
recomeçar com suas armadilhas novamente? – ela
desafiou.
-E por acaso será preciso?
Era uma pergunta maior. Perguntava se
depois de tudo que viveram até aquele momento,
ela seria capaz de virar as costas para o que
sentiam e voltar a tratá-lo com indiferença.
-Dessa vez não haverá nenhum Ford no
quarto ao lado! - ela disse adorando saber que o
perturbava e irritava. Era bom para que sentisse o
gosto da fúria, assim como ela sentira diante
daquele beijo em Alexia. E principalmente diante
da eminência de que outros beijos aconteceriam
bem diante do seu nariz!
-Pensa que Alice não nos entregaria? - ele
debochou – ela te detesta! Ao primeiro grito de
recusa ela vai ter o prazer de nos denunciar e ‘me
livrar’ de você! - ele reforçou a dúvida sobre a
segurança que ambos tinham naquele acordo
precário.
-Pense Parker, ela pode até contar a Ford,
mas as consequências não serão piores que a
humilhação que passará diante de sua família!
Acaso acha que vão duvidar dela? – notando que
não entendia sentiu prazer em explicar – O que
seus irmãos dirão de um homem incapaz de
despertar qualquer sentimento em uma mulher tão
insignificante quanto eu? O que eles dirão quando
souber que é preciso dominar e forçar para ter
aquilo que os outros têm de livre e espontânea
vontade! Dirão pelas suas costas que não é
homem suficiente para uma mulher!
Era verdade, ele pensou seus irmãos não
lhe diriam isso, mas estariam penando.
-Estive certo desse o começo! É uma
louca! - usou de ofensas para escapar dessa
verdade.
-Pior ainda. Tão pouco viril a ponto de
ser rejeitado por uma louca!
Havia satisfação em sua face. Ela
acertava em cheio, e ele não podia dizer nada.
Acuado, com as mãos na cintura andou
em volta de si, procurando uma saída.
Apesar da raiva, ela não pode deixar de
admirar sua estatura, seu porte e sua presença. Era
um homem forte e decidido e seus olhos lhe
diziam que acharia uma saída. Helena o colocara
contra a parede, mas ele reverteria o jogo.
Disso ela tinha certeza!
Por um segundo, Helena se perguntou se
era isso que desejava secretamente. Que ele
achasse um jeito de desfazer as coisas a seu favor.
Dobrá-la. Obrigá-la a aceitar o que sua
personalidade e sua auto defesa repudiavam!
Ele parou olhando para ela com
amargura, esticando o braço em sua direção num
gesto de irritação, como se apontasse para ela.
-É seu direito me rejeitar. Mas saiba que
é meu direito te punir por isso. Não faça ares de
medo, sabe que não vou te punir fisicamente! –
havia uma sombra de satisfação nele também ao
dizer – Hoje mesmo sua criada estará na rua.
-Juanita? – ela nem soube por que
perguntou.
-Tem um bom tempo que decidi mandá-
la embora. E agora é a hora. – notando que estava
sem palavras ele completou – Você me faz
sangrar, eu te faço sangrar também. É assim entre
nós Helena. Priva-me do que mais desejo. E eu te
privo de algo que lhe faça bem. Até que um dia
realmente nos odiemos.
Simples assim, ela pensou.
Rony estava coberto de razão.
-Juanita não tem para onde ir com os
filhos – era quase como se apelasse para seu bom
senso.
-Mais uma razão para pensar Helena.
-O que quer dizer com isso? – seu sangue
gelou em suas veias, mas o pulsar acelerado de
seu coração desmentia qualquer medo.
-Você me dá o que eu quero, e eu faço o
que te faz feliz – ele quase sorriu. – Afinal, o tipo
de homem que sou não tem escrúpulos em
manipular a própria esposa!
-Quer algo em troca da permanência de
Juanita? E o que você quer?
Estava em seus olhos que ela sabia muito
bem o que ele queria! E sua respiração ter se
acelerado era um claro indício que além da revolta
em ser acuada, ela sentia mais, um sentimento de
antecipação inexplicável!
-Quero que cumpra seus deveres de
esposa - disse amaciando o tom, pois sabia que
Helena iria chiar!
-E quais exatamente são meus deveres de
esposa? – era uma pergunta suave, mas que
escondia sua verdadeira intenção.
-Estar ao meu lado na cama todas as
manhãs em que acordar. Sorrir sempre que me
ver, e me beijar sempre que voltar. Não fugir de
mim. E principalmente, vir de boa vontade aos
meus braços à noite para fazermos amor. São
essas as suas obrigações!
-Sorrisos falsos, beijos sem sentimento e
entrega sem valor – ela repetiu apenas para
magoar.
-Exatamente isso - ele concordou
deixando claro que não estava brincando.
-Acha que me prestarei a isso a vida toda
por causa de Juanita? -jogou verde – Aprecio sua
companhia, mas não há esse ponto!
-O resto da vida não, uma semana - ele
barganhou, achando melhor baixar o preço antes
que ela desistisse!
Afinal, não era tolo. Nem louco.
-Não faria a maldade de mandar Juanita
embora - ela disse a si mesma.
-Quem fará a maldade é você, Helena.
Dizendo não, será você que a colocará no olho da
rua!
-Uma semana... - ela repetiu, sentando-se
na beira da cama, e apoiando uma das mãos no
colchão.
Pensativa, pesou os prós e os contras.
Bem lá no fundo, uma voz a alertou que
não era necessário ceder. Afinal era dona daquela
casa e tinha sua parte dos lucros. Poderia
recontratar Juanita quando bem entendesse, por
mais que isso significasse uma guerra! Mas havia
o fato de Juanita ser maltratada todos os dias,
mesmo que não acreditasse que Rony fosse capaz
disso...
-E a sua amante? Fará parte do acordo? –
ela perguntou para irritar novamente.
-Alexia é um peso nas minhas costas.
Além disso, não é certo manter relações com uma
mulher a beira de dar a luz.
Não negava a possibilidade se ela não
estivesse grávida.
Se não fosse tão cabeça dura ou não
estivesse com tanto ciúmes, teria notado que não
insistiria tanto em fazer amor com a mulher se
quisesse ter a amante.
-Sete dias – ela praticamente rosnou –
Sete dias de farsa!
-Exatamente - ele cruzou os braços –
começando por essa noite naturalmente. Afinal,
vamos recomeçar o que começamos ontem e hoje.
Ela fechou os olhos humilhada.
-Só vou fazer isso porque preciso de
Juanita comigo – ela defendeu-se, sem dizer
claramente o ‘sim’. – Não o quero perto de mim!
-Sim, eu sei. Deixou isso bem claro agora
a pouco, diante de Alexia e de John. Todos nós
sabemos como me deseja bem longe da sua vida,
não é necessário repetir.
Ele não demonstrou alegria com o
acordo. Muito menos euforia. Apenas virou as
costas e saiu do quarto batendo a porta atrás de si.
Helena sentiu algo estourar em seu peito,
sem saber por que vinha chorando tanto.
Conteve os soluços, mas não pode evitar
o pranto. Deitou-se e puxou um travesseiro,
abafando contra ele o indigno som do choro.
Chorava por ela, pela fazenda, por seus
pais. Por Rony que não a deixaria em paz jamais.
Mas chorou principalmente pela imagem ainda
viva em sua memória daquele beijo que Alexia Lil
dera em Rony bem na sua frente!
Do outro lado da porta, Rony esperou
antes de se afastar. Pretendia apenas recuperar o
controle antes de voltar à cozinha, mas ficou
estarrecido ao ouvir seu choro.
Não era algo esperado de Helena, ela não
chorava com frequência. Nem pela família
perdida, nem por nada!
No final de tudo, talvez ele apenas fosse
pior que qualquer outra dor que pudesse feri-la.
Derrotado, regressou para terminar seu
almoço.
Capítulo 50 - Pequena Sedução

A tarde se arrastou. E como uma grande


afronta, Helena se fez presente. Talvez para minar
seu autocontrole, ou sua paciência, mas bem da
verdade, é que se fez presente a cada segundo.
Depois de remoer a raiva e o choro,
decidira que o melhor a fazer era frustrar-lhe a
farra! Destruir sua felicidade e fazer da vida dele
um grande inferno!
Como agora, sentada em seu sofá, ao
lado de Alice. Falava sobre francês, idioma que
John dominava perfeitamente. No outro sofá,
Alexia esperava o momento de se fazer notar. O
que era difícil visto que a pequena megera atraia a
atenção dos dois homens.
Em dado momento, um debate se fez
entre Helena e John, quando ele a desafiou a
conversar em francês. Para ela, uma grande
novidade. Era acostumada a ler e escrever, e
poucas vezes trocar algumas frases com seu pai.
Descobriu então, que tinha fluência no
idioma falado também! Algo que arrancou risadas
de John, quando ela entendeu suas piadas sujas
em francês e respondeu a altura. Alice parecia
muito incomodada, mas perdoou Helena quando
ela disse em dado momento:
-É muito bom em francês, Sr.Harrison.
Tenho pensando muito em ensinar Alice, mas com
estou convalescendo...- deixou a sugestão no ar.
-Tenho certeza que posso começar seu
trabalho, Sra.Parker – ele sorriu de volta,
apreciando mais uma oportunidade de ficar a sós
com Alice.
-Por favor, me chame de Helena. Não
gosto de ser tratada como Sra.Parker – ela disse
gentil, mas a acidez em sua voz era destinada ao
calado homem, em seu canto, observando com
olhos de profundo desgosto.
-Naturalmente – ele reclamou em seu
canto, atraindo atenção de Alexia.
A loura abriu os lábios para falar, mas
Helena foi mais rápida:
-Não há lugar mais agradável para
aprender do que na margem do lago – disse
pensativa – a brisa refresca o calor e ajuda a
pensar melhor! Posso pedir a Duran, que os
acompanhem todas as tardes para um passeio e
claro, para que Alice possa se instruir. – seu
sorriso era apenas para irritar Rony – Como deve
saber, Sr.Harrison, Alice está em idade de casar-
se...
-Helena... – Alice sussurrou,
avermelhando rapidamente.
-...e como não há muitas opções de bons
partidos, tenho certeza que em breve Alice será
levava a corte de Londres para escolher o melhor
dos interessados!
Sua língua era afiada, e Rony teve que
fazer força para não admirá-la. Ela deixava claro a
John o que perderia se não tomasse uma decisão
rápida. Para um bom entendedor, estava bem
óbvio. Alice em um salão da corte seria o mesmo
que um bife suculento em um banquete de
tubarões. Seria cortejada a desposada antes que
John tivesse tempo de dizer ‘não’.
Consciente disso, John se moveu
desconfortável. Helena poderia jogar a cunhada
em seus braços, mas referia mostrar-lhe o que
perderia!
-Talvez não seja necessário – ele disse
entre dentes, desconte com a ideia de algum outro
homem desposando-a. era uma imagem
desagradável!
-Oh, não me diga que pensa em
casamento, John! – Alexia soltou um risinho
desagradável, falando com intimidade – Nunca
desejou casar-se!
-Não era realmente um assunto que
despertasse meu interesse. –ele esperava poder
fugir. – olhou para o amigo, e achou que
precisava de ajuda – diga-me, Rony, me
arrependeria de abrir mão das minhas convicções
ante-casamento?
-Depende – ele disse olhando para
Helena.
-Depende do que exatamente? – John
insistiu.
-Ora, John, depende do que deixara para
trás! – Alexia manifestou-se levantando com
dificuldade, e aproximando-se de Rony, tocou
sobre seu peito, e descansou o rosto em seu
ombro. – Diga, amor, preferia ter esperado por
mim, não é? – seus lhos azuis claros miravam
Helena com o olhar de uma mulher dissimulada.
-Levando-se em consideração que nesse
exato momento estaria esperando o nascimento do
seu filho em uma casinha de subúrbio, com a
despensa vazia e sem o menor conforto, imagino
deva agradecer ao fato de não ter ‘esperado’ por
você - ele respondeu atravessado.
-A pobreza nunca me assustou! -ela
disse batendo o pé graciosamente no chão.
Helena riu. Um risinho desagradável que
fez Alexia olhar em sua direção:
-Porque ri? Vê graça em meu amor
incondicional por Rony?
-Não, para ser franca, me perguntava
qual a motivação que a levou a vida de cortesã.
Terá sido uma mãe doente, ou uma avó a beira da
morte? Deixe-me pensar! Não, claro que não, deve
ter sido para manter alguma pobre orfanato, ou
quem sabe, ajudar a caridade!
-Acha que sou ambiciosa? - Alexia
fingiu surpresa.
-E existe alguém que não ache?
Sua voz era suave, mas cortante.
-Mamãe me contou que se aprende
francês desde cedo em Londres!– Alice elevou a
voz, cortando a discussão, visto que não queria
perder esses momentos ao lado de John.
Ele entendeu, e engatou uma simpática
conversa sobre a corte, que serviu unicamente
como desculpa para olhar diretamente para ela, e
seu decote.
Helena fingia prestar atenção, mas ao
notar que Alexia sussurrava palavras no ouvido de
Rony, levantou-se. Normalmente ele a seguia,
para tirar sua paz onde quer que fosse, e contando
com isso para afastá-lo de Alexia, ela refugiou-se
na cozinha, tocando uma maçã de sobre a cesta de
frutas, pois sentia muito apetite.
Rony observou um pouco surpreso
quando ela mordeu a fruta. Não era hora do jantar,
e normalmente, mesmo sob pressão, ela comia
menos que nada. Sendo assim, vê-la
espontaneamente se alimentar era um choque
agradabilíssimo!
-Gostaria de um banho no lago? – ele
perguntou num impulso.
-Fui proibida -ela disse azeda.
-Não, não foi proibida. Apenas pedi que
não o fizesse sem minha presença – lembrou-a.
Aquele olhar sujo continuava ali, direto
em seu coração e ele engoliu em seco.
-Temos um acordo, Helena, não pretendo
quebrá-lo. Será apenas um mergulho para
refrescar o calor. Além disso, preciso me afastar
dela um pouco!
-É mesmo? E porque não foi trabalhar? –
havia ironia em sua voz.
-Porque tenho medo que vocês duas se
matem na minha ausência – havia uma pitada de
humor em sua voz – e claro, não posso deixar
John sozinho com Alice e Alexia. Seria cruel.
-Não se preocupe com Alice. – ela disse a
voz macia não o enganando – sua preocupação
maior deveria ser sua mulher e seu filho.
Ele fechou os olhos por um segundo
pedindo paciência aos céus.
-Preocupo-me com minha mulher que
não permite que tenha o filho que desejo – ele
contornou a situação, notando uma sobrancelha
subir em sua testa, em desaprovação – quanto a
qualquer outra, esqueça. Não me interessa.
-Se você diz -ela deu de ombros, não
querendo admitir a satisfação com a resposta.
-Me dê uma mordida – ele pediu se
aproximando e ela pensou em negar, mas
lembrou-se que sua parte no acordo, era tratá-lo
como a um marido, então, apenas estendeu a fruta,
mas ele não apanhou, segurou seu pulso enquanto
se curvava para abocanhar um pedaço da polpa
suculenta.
Aqueles lábios cravados, sorvendo o
alimento a hipnotizaram enquanto ele olhava para
ela. Engoliu em seco se afastando, mas ele não
deixou. Enlaçou sua cintura, a despeito de sua
resolução em não permitir, e disse baixo:
-Essa noite, irei mordê-la – era uma
ameaça.
Suas pernas ficaram moles e ela disse a si
mesma que era parte do acordo para não
prejudicar Juanita, e o deixou beijá-la.
A fruta estava ali, não totalmente
mastigada, e Helena sorveu com sua língua o
gosto agridoce juntamente com o gosto de Rony,
sentindo que escorregaria se ele não estivesse
segurando-a.
Sua mão liberta pousou no pescoço
masculino, os dedos dentro dos cabelos ruivos e
ele gemeu aprofundando o beijo.
Em dado momento, os lábios quase se
separam quando ele mudou a posição da cabeça,
cobrindo seus lábios pequenos com os seus.
Era macio, era selvagem e duro, sim, os
músculos ao seu redor, eram rijos e entre as
pernas de seu marido, mais rijo ainda,
pressionando outra ela. Contra seu estômago fino.
E quem gemeu foi ela. Nada ostensivo, apenas
desejoso.
-Agora nos dois temos gosto de maçã -
ele sussurrou deixando seus lábios quando o ar
faltou – Isso mesmo, é exatamente isso que espero
durante essa semana, Helena.
-É mesmo? – infelizmente não conseguiu
impregnar o descaso e desrespeito que desejava.
Estava tonta de desejo!
-Exatamente. Então, quer se refrescar em
minha companhia?
Assim, de perto, o azul de seus olhos em
seus olhos, o hálito quente em seu rosto, as mãos
grandes em seu corpo...fechou os olhos, antes de
concordar com um aceno da cabeça.
Triunfante ele se afastou e fez uma
carranca ao ver que eram observados. Alice
parecia muito interessada em ver um beijo
explicito, mas tanto Alexia quanto John não
pareciam tão felizes assim. John descontraído,
mas um pouco constrangido e Alexia batendo
furiosamente o leque em suas mãos impacientes!
-Será maravilhoso nos refrescarmos as
margens de um lago! -Lila disse imediatamente
pensando em uma saída. – Não poderia ter ideia
melhor, meu amor!
-Infelizmente, esse passeio ficará paras
outro dia – Rony disse mantendo Helena um
pouco escondida atrás de si.
-Mas acabei de ouvir seu convive... – ela
disse esperançosa.
-Esse passeio ficará para outro momento
– ele respondeu, sorrindo, e enlaçando os dedos na
mão de Helena – Vamos dar uma olhada no pasto.
O que acha, Helena?
-Preferia ficar... – era um habito, ele
pensou. Contrariá-lo era um habito!
-É claro que prefere – ele respondeu
menos irritado que há poucos minutos atrás.
O mundo se abrira diante dele, lindo e
ensolarado!
-Estaremos para o jantar – ele avisou e
antes de sair se voltou, com palavras um pouco
ásperas – John...lembre-se do que conversamos.
John apenas concordou e afastou o olhar.
Era um homem experiente e sabia muito
bem o que fariam nas margens lago. Para ser bem
franco, ver a expressão entregue e indefesa de
Helena, as faces coradas, os cabelos um pouco
bagunçados e os lábios inchados, lhe revelara um
lado apaixonado e passional de Helena.
Uma jovem pequena e delicada, que
praticamente desapareceria nos braços de Rony,
não fosse sua presença impregnante e o efeito que
tinha sobre aquele homem tão alto e forte.
Ele sorriu para Alice e a chamou para
sala, esperando que sua voz doce pudesse tirar de
dentro dele a sensação ruim que a imagem do
casal entrosado em um beijo arrebatador lhe
trouxera.

O clima hostil foi restabelecido no


instante em que Rony esperou que ela subisse no
cavalo.
-Realmente não é necessário – ela
reclamou, quando notou que ele subira também –
Sou uma excelente amazona!
-Sei disso, é melhor do que eu, inclusive
– reconheceu – Porém não quero que caia caso
sinta-se indisposta. Ainda está convalescendo!
-Está exagerando!
-Não, não estou!
Sua ênfase a fez se calar, quando os dois
avistaram a imagem de Juanita tratando as
galinhas. Seus filhos ao seu redor, com exceção de
Duran que passava bom tempo do seu dia na casa,
como um pequeno escudeiro vigiando a
residência.
-Juanita é uma boa empregada - ela
disse esperando talvez comove-lo.
Rony engoliu em seco e montou o cavalo,
logo atrás de Helena. Ela endureceu o corpo, as
costas retas, mas ele ignorou passando um braço
por sua barriga, trazendo-a para junto de seu peito.
Primeiro, por segurança, e depois pelo prazer que
esse contato lhe proporcionava!
-Não tenho reclamações quanto ao
serviço – ele contou, conduzindo o cavalo com
vagar em direção ao bosque. – o grande problema
de Juanita é sua intromissão em nossa vida
particular.
-Juanita é leal a mim – ela disse de
repente ao pensar em suas palavras – assim como
Suarez é leal a você.
-É uma situação totalmente diferente,
Helena – incomodou-se com essa perspectiva de
verdade.
-Como? Suarez não me contou dos seus
planos em manter Ford aqui! E não o fez em
lealdade a você! Do mesmo modo que o
acompanha e zela por sua segurança a despeito
do teor de suas ordens! E o mesmo faz Juanita!
-Ela está sempre contando segredos que
não são dela! – retrucou.
-Apenas quando insisto! – defendeu-a. –
Pedi algo para me livrar da possibilidade de ter
filhos e ela obedeceu. Não foi uma ordem, mas ela
sabe o quanto é importante para mim.
Rony sentiu culpa, pois também sabia o
quanto era importante para ela.
-Helena – ele falou baixo, bem junto ao
seu ouvido – Cumpra seus deveres e esqueço
nosso acordo.
-Não – ela respondeu fechando a
expressão.
Ele suspirou profundamente contrariado.
Helena era difícil.
Claro, ter sua ex-amante dentro de sua
casa não era um afrodisíaco com a qual ele
pudesse contar! Bem da verdade, tinha todas as
razões do mundo para detestá-lo!
-Espere -ele mandou, ao chegarem em
frente ao lago e apear.
Pela rédea conduziu o cavalo até a
sombra de uma árvore e segurou-a pela cintura
para tirá-la de sobre o animal.
Helena pretendia reclamar e dizer que
durante toda sua vida descera de cavalos sem
ajuda de ninguém, mas se calou, diante do contato
daquelas mãos.
O corpo pequeno resvalou contra o peito
largo e Helena deu graças quando os pés
pousaram sobre o chão e pode se afastar!
Não lhe daria a satisfação de ver o quanto
mexia com seus sentimentos!
-Deixará que me refresque em paz? -ela
perguntou dando-lhe as costas.
-Não deseja minha companhia? – ficou
surpreso.
-Claro que não!
Rony mediu sua decisão, achando ter
ouvido um tremor atípico em sua voz, e achando
haver ali uma pequena mentira, mas não podia ter
certeza, visto que não via seus olhos.
-Não a importunarei.
Ela virou-se surpresa, sem crer. Ele
também não podia crer que estivesse se
resignando tão fácil!
Porém tinha uma dívida para com
Helena, uma dívida de culpa, depois de
chantageá-la, impor a presença de Alexia e ainda
por cima, fazê-la chorar.
-Aproveite seu banho, Helena, apenas
evite mergulhar -ele recomendou, falsamente
submisso.
Desconfiada, ela se afastou e começou a
desabotoar o vestido. O ombro estava curado, mas
girar o braço nesse ângulo ainda era um pouco
doloroso, mas não reclamou.
Rony ficou de pé apreciando o
espetáculo, que Helena não suspeitava estar
oferecendo a seus olhos carentes de olhar para ela.
O vestido foi desabotoado com torturante lentidão,
a as costas macias ficaram expostas quando ela
tirou-o. Um movimento de quadril, e ele caiu ao
chão, sendo descartado.
Usava o colete íntimo sem a costumeira
camisa fina, pois o dia era terrivelmente quente,
sendo assim, sua barriga estava à mostra e sua
cintura delgada também. O calção íntimo não era
barreira para um homem imaginativo.
Ela livrou-se dos sapatos e soltou os
cabelos longos, que esvoaçaram quando a brisa
soprou na direção oposta e ela os tirou do rosto,
olhando para trás, como se precisasse sondar se
tinha sua atenção.
E tinha. De uma forma estranha, não
havia nada em volta, apenas ela.
Andando em direção ao lago, não
esperou comentários, apenas entrou cuidadosa na
água, e nadou para a parte mais funda,
mergulhando apesar de sua recomendação.
Rony andou até a margem, o calor o
fazendo abrir a camisa e tirar o colete que usava,
assim como os sapatos. O sol brilhava alto, e
fulguroso.
Porém não era tão quente quanto o
sangue que corria em suas veias. Muito menos,
tão quente quanto o calor que queimava suas
pupilas olhando para os cabelos que corriam por
suas costas, molhados e pesados, enquanto ela me
movia, aproveitando a água.
Depois de um pequeno exercício para
fortalecer as pernas e os braços, ela parou de
nadar, e mergulhar e apenas boiou. Estava tão
refrescante que se pegou olhando em direção a
Rony, com uma incontrolável vontade de
conversar.
Ele esta perto da margem, suado e
encalorado, metade das roupas no chão.
-Será que tem um lugar para mim em
toda essa extensão de água? -ele perguntou, mais
alto que o normal, pois ela estava relativamente
longe.
-Não, não há – ela respondeu no mesmo
tom, nadando para mais perto.
-Vai me deixar queimar embaixo desse
sol, Helena? Não tem pena de mim? – era uma
brincadeira, e ela afastou o olhar para não se
deixar levar.
-Peça a sua amante que prepare-lhe um
banho frio. Deve ser o bastante para aplacar seu
calor!
-Hum, não sei. É um calor que vem de
dentro, e nunca antes o senti com Alexia. Então, o
que me sugere, Helena? Como posso aplacá-lo?
-Não me interessa seus sentimentos -ela
respondeu ficando mal humorada.
-A mim interessa os seus, por isso estou
perguntando se posso me juntar a você. É um
pedido, Helena.
Ela soltou um terrível suspiro de
descontentamento antes de dar de ombros:
-Faça como quiser.
Era o mais próximo que chegaria de um
convite. Resignado, tirou a camisa e a calça e
mergulhou. Manteve a roupa íntima apenas para
não irritá-la!
Aproximou-se e envolveu sua cintura
com um braço, e Helena colocou as mãos em seu
peito, apartando-se dele.
-Não irei beijá-la a força, não se
preocupe - fez referência a vez que o fizera,
aquele mesmo lago – Quero apenas abraçá-la.
-Por quê? -perguntou petulante.
-Porque é bom e me faz sentir inteiro. Já
teve essa sensação alguma vez, Helena? De ter
achado aquilo que lhe faltava para ser feliz?
Em dúvida se era apenas um gracejo ou
não, ela nada respondeu.
-Venho pensando muito em esquecermos
esse acordo que nos uniu em casamento. Em
esquecer as razões iniciais e pensar apenas no
nosso futuro. O que me diz, Helena, podemos
fingir que nos casamos agora, por querer?
-Sinto-me um papagaio, sempre me
repetindo – ela disse acida – Não quero um
marido!
-Mas não sou qualquer marido – ele
tentou manter a calma – sou o seu marido!
-E que diferença faz? -perguntou direta.
-Faz toda diferença! Sou um homem de
mente aberta, quero vê-la estudar e se desenvolver
intelectualmente, quero que me ajude a cuidar da
fazenda, quero que seja feliz. Gosto de ouvir sua
opinião e levo sempre em conta o que me diz. Não
sou opressor, ou violento, sou o homem perfeito
para uma mulher como você!
-Uma mulher como eu? – às vezes, ela se
deixavas enfeitiçar por suas palavras, e perdia um
pouco o foco.
-Uma mulher voluntariosa, ceticista,
intelectual demais para nossos padrões sociais, e
sobretudo, doce como torta de nozes – ele sorriu
notando sua confusão. Não era acostumada a ser
elogiada.
Raramente sua mãe lhe dizia como era
bonita, ou elogiava seus cabelos, quando ainda
pequena, ao trançá-los. Porém depois que
crescera, raras vezes alguém lhe dizia algo bonito.
Todos os elogios eram para Anne, a graça da
família!
-É meu doce preferido, Helena – ele
explicou, notando como suas mãos pararam de
empurrar, e apenas tocava a pele. E exatamente
sob as palmas pequenas, parecia queimar, como
um raio de sol particular, a espalhar uma fogueira
dentro de seu peito.
-Não fale desse jeito comigo -ela pediu
baixo, afastando o olhar.
-De que jeito? – perguntou, mas já sabia
a resposta.
-De um jeito que não sou capaz de
argumentar – ela explicou.
-Não quero que argumente – ele sorriu,
sentindo o prazer de ser desejado. – Quero me
divertir ao seu lado. E quero que se divirta ao meu
lado. Podemos fazer isso, como amigos?
-Sim – ela concordou, relaxando em seus
braços, e ele manteve os braços em volta de sua
cintura, entrelaçando os dedos.
Os pequenos pés estavam soltos na água,
e ele sorriu ao dizer:
-Apóie seus pés sobre os meus.
Ela encostou a ponta dos dedos sobre
seus pés que estavam apoiados no fundo do lago e
era preciso ficar literalmente na ponta dos pés,
para ao menos nivelar a altura dos rostos.
-Você é tão pequena...-ele disse baixo e
rouco, os olhos fixos em sua roupa íntima
molhada e transparente.
Suas mãos tocavam a pele nua de sua
cintura, e uma das mãos desceu sobre seu traseiro,
contornando a região com um gemido de
apreciação.
-Não faça isso... – ela pediu, evitando
contato visual. Suas mãos pousaram sobre os
antebraços dele, e ela segurou-se quando ele
começou a girar fazendo-a rodar na água. Era
perigosamente divertido.
-Por que não?- beijou seu pescoço,
aspirando seu perfume.
-Porque não combinamos nada sobre o
lago – ela alfinetou – Além disso não há ninguém
aqui para ver como sou boa esposa!
-E essa é única razão para aceitar meus
carinhos? Ainda mais cedo estava feliz em deixar
que a tocasse!
-Isso foi antes...de saber quem realmente
você é -ela disse, talvez para ofender e causar seu
afastamento, visto ser incapaz de resistir por si só!
-Acha que sou um homem ruim por ter
tido uma amante? Uma cortesã? Não fui eu quem
escolheu essa vida para Alexia! Não fui eu quem a
incentivou a deitar-se com tantos homens a ponto
de não saber quem é o pai de seu filho! Ou pior,
não fui eu quem a ensinou a dar golpes!
-Mas foram tantos homens, parecidos
com você, que ao usufruir de seu corpo e sua
ambição, a fizeram ser assim!
-Não pode acreditar nisso! -ele estava
chocado.
“Não, não acredito mesmo!”, pensou,
mas não disse!
-Importa em que acredito? – notando sua
expressão amarga, ela continuou, certa que assim
ele se afastaria definitivamente – Ela está
hospedada na casa que diz ser sua. Isso diz muito
sobre o tipo de homem que é.
-Exatamente a que se refere?
-Mantém essa mulher sobre seu teto, pois
como diz, ela passa por um momento difícil
financeiramente sem seus clientes habituais,
então, nada mais natural que após o parto ela o
recompense com seus préstimos.
-E porque eu imploraria sexo com você,
se tenho isso em mente? – havia incredulidade em
sua voz.
-É um homem cheio de vontades que não
consigo compreender.
Era isso. Rony soltou-a, mas tomou
cuidado para ter certeza que não afundaria e se
afastou. Mergulhou para esfriar a cabeça
Nadou por uma meia hora, sem olhar em
sua direção. O dia quente ficou para trás, o corpo
refrescado, porém a mente fervilhando. No fundo
de sua mente a constatação que aprendera a
adivinhar suas atitudes e perceber quando atacava
para se defender.
Helena mentia, apenas para afastá-lo.
E o que ele poderia fazer? Sentia-se
ofendido e rechaçado!
Quanto mais lhe oferecia amor, mas
arisca ela ficava!
Talvez a chave de tudo fosse lhe oferecer
apenas o que conhecia: indiferença e solidão!!!!!
Capítulo 51 - Do jeito que me pega

A noite chegou antes que Helena


estivesse preparada para isso. Dessa vez, abriu
uma garrafa de vinho antes que um dos homens
manifestasse vontade, e era claro seu intento.
Manter Rony preso a uma conversa com John
noite adentro.
Tão óbvio que Rony não tocou no vinho.
Resignada com a própria má sorte,
Helena despediu-se cedo, sabendo que ele ficaria
preso a John por algum tempo. E aproveitou essa
liberdade, para banhar-se e preparar o cenário
certo para o que tinha em mente.
Usando a roupa de baixo, ela apanhou o
pó de arroz de sua mãe, e passou fartamente em
suas faces, até ficar mortalmente pálida. Sorrindo,
ela mirou-se com satisfação.
Assim, com os cabelos soltos, ela parecia
cansada e doente. Subindo na cama, ela se cobriu,
e fechou os olhos, esperando.
Rony tinha um histórico de proteção que
atestava contra ele e se tudo corresse bem, seria
uma noite a menos!
Contendo um sorriso pela própria
esperteza, ela esperou.
Não precisou esperar muito. Depois de
dois alarmes falsos desde o dia anterior, Rony se
apressou a despachar John, certificar-se que ele
estava em seu quarto e Alice adormecida, para
passar em frente à porta de Alexia, sem um único
olhar e entrar no quarto de casal.
Trancou-o e virou-se cheio de
expectativa em direção a mulher que o esperava
na cama.
Sua expectativa de exauriu no segundo
em que seus olhos se pousaram sobre ela. Outro
marido jamais se daria ao trabalho de notar ou se
importar, mas ele via claramente sua palidez
excessiva e sua placidez, que era incomum.
Deitava, ela estava passando mal.
-Está tão pálida- ele disse se
aproximando – O que tem?
-Não sei...minhas costas doem – disse
baixo e fingida.
Um soco o acertou no estômago ao ouvir
isso. Helena vinha fazendo muito esforço.
Nadaram algumas horas no lago. E andara a
cavalo, quando deveria repousar!
-Doem as costelas? – precisava
perguntar, o desespero vindo rapidamente, e
deixando sua face igualmente pálida.
-Não – ela começou a se arrepender
quando notou sua preocupação. – Talvez...fosse
melhor dormir...uma noite tranquila, para a dor
passar.
Algo no fundo dos olhos castanho o
confundiu.
Havia uma espécie de ânsia, talvez de ser
descoberta a tempo em alguma loucura
impensada.
Um rápido olhar em volta e notou o
pequeno estojo de pó de arroz branco aberto, o
mesmo que as moças mais coradas usavam
abundantemente em Londres para parecerem
pálidas e inocentes. De costas para ela, retirou a
camisa e os sapatos e então a calça, falando
calmamente:
-Tem razão, Helena, uma noite tranquila
fará bem a sua saúde.
Seria decepção em sua face?
Achando ter entendido, ele ocultou um
sorriso, sentindo um calor se espalhar por seu
corpo. Pobre, Helena, essa noite, ele a reviraria ao
avesso, como punição a sua tentativa de enganá-
lo!
-Vire-se – ele pediu se aproximando.
-O que? -ela ficou tensa.
-Vou fazer uma massagem em suas
costas para aliviar a dor – ele passou uma das
mãos em sua bochecha em um carinho, que na
verdade apenas tencionava confirmar a verdade.
Helena deixou escapar um suspiro, e ele
não soube se era de arrependimento pela atitude
infantil, de expectativa, ou de frustração. Era uma
incógnita para Rony o que passava naquela
cabecinha linda!
Virando-se de costas, ele olhou a mão
suja de pó de arroz e sorriu, maneando a cabeça
incrédulo. Voltou-se para ela, os olhos estreitos,
enquanto a observava afastar o lençol e ficar de
lado.
-Vire-se de costas, Helena – ele mandou
novamente.
Podia jurar que ela estava se lembrando
da segunda vez em que a amou, numa posição
muito parecida, e parte dele se aqueceu a essa
lembrança. Mas hoje, não haveria lembranças.
Haveria realidade!
Rony subiu na cama, e passou uma das
mãos em seus cabelos, afastado-os de suas costas.
-Vou tirar sua roupa, para que fique mais
confortável - ele avisou, notando o brilho que
surgiu em seu olhar.
-Estou sempre nua na sua frente – ela
disse em tom de acusação e ele sorriu.
-Isso mostra como sou um homem
esperto – brincou, mas ela não sorriu.
-Ou aproveitador – ela retrucou, ofendida
– Está tirando proveito de meu carinho por
Juanita.
Rony parou de desabotoar o colete da
roupa íntima e afastou as duas partes, ajudando-a
a erguer a barriga e poder tirá-lo. Helena não
tinha ideia de como o magoava ouvir que tinha
carinho por outras pessoas. Era um homem cego
de egoísmo, a ponto de sentir ciúmes de qualquer
ser capaz de despertar-lhe afeto.
Ainda mais que ele, apesar de fazer-lhe
amor com tanto carinho e dedicação, era incapaz
de achar os caminhos para seu coração!
-Está mais encorpada, Helena -ele disse
zombeteiro, ao tirar a última peça e fitar
gulosamente suas costas, suas nádegas e suas
pernas. – Ainda muito magra, porém, mais
saudável.
-Mamãe era uma mulher pequena – ela
justificou, sentindo ternura ao lembrar-se de sua
mãe.
Dobrou os braços e acomodou a cabeça
sobre eles, olhando para ele de lado, e nem parecia
tão constrangida ou contrariada quanto gostaria de
fazer parecer!
-Pequena como você? – ele perguntou
espalhados seus cabelos sobre as costas nuas, e
sentindo o desejo incontrolável por todo o corpo.
Fazia força para não avançar, pois gostava de ter
momentos de conversa com sua retraída e
escorregadia esposa!
-Acho que era menor, tinha a altura da
minha irmã...e era muito magra
também...Acredite, sempre fui a mais alta da
minha família. Meu pai também era um homem
franzino.
-Alta? Você é pequenina como uma fada,
Helena -ele sorriu, passando os dedos por sua
coxa, num carinho despretensioso.
-E como pode saber o tamanho de uma
fada? – perguntou intransigente.
-Sandra, minha mãe, me contava
histórias de fadas quando era bem pequeno, e
ainda vivia com minha família. As fadas são
pequenas, cabem na palma das mãos, e são
rápidas, sagazes e espertas. Alem de terem lindas
asas coloridas para voarem por todo o céu!
-É uma visão romântica - ela fez pouco
caso, tentando não se emocionar por ser
comparada a pequenas fadas, que em seu conceito
eram seres tão especiais.
-Sou um homem romântico – ele disse, o
hálito quente soprando em sua pele, quando ele
beijou seu ombro.
Decidindo que era hora de fazê-la
cumprir suas obrigações para com ele, Rony
deslizou as mãos por suas costas lisas e sentiu o
momento exato em que ela enrijeceu cada músculo
do corpo.
-Achei que me pouparia essa noite...- ela
deixou escapar e ele respondeu de imediato:
-Por causa de um pouco de pó de arroz
nas faces? Nem pensar, Helena. Vai ter que se
esforçar mais para me enganar!
Pegá-la no flagra era delicioso, pois
Helena parecia dividida entre o choque de se ver
sendo apanhada em flagrante, e sentimentos que
ele não seria capaz de compreender.
-Como pode obrigar uma mulher a isso?
– acusou enraivecida por seu sorriso satisfeito e
prudentemente achando melhor não retrucar sobre
seu flagrante!
-Não estou obrigando -ele justificou-se –
Fizemos um trato. Honrei a minha parte, agora,
honrara a sua! A menos que queira quebrar nosso
trato...
-Não, não quero perder a companhia de
Juanita – ela disse rapidamente.
-Então, pare de reclamar – ele respondeu,
decidindo que seu auto controle havia realmente
chegado ao fim.
Ver seu corpo nu, ao alcance de seus
dedos e ficar apenas conversando, era além de
uma tortura, uma grande maldade consigo mesmo!
-Quero um abraço, Helena – ele mandou,
e ela olhou-o sem crer.
Fechando os olhos para sufocar um
comentário áspero, sentou-se na cama, puxando o
lençol na tentativa de se cobrir, mas ele arrastou o
tecido de suas mãos, e se viu nua. Rony estava
sentado, de lado, numa posição que a permitia
admitir o trabalho de suas coxas musculosas e de
sua intimidade pronta.
Sua má vontade fez a excitação de Rony
aumentar e Helena pode contatar o fato, quase
hipnotizada. Seu membro se movia no ar,
enrijecido e pulsante, e pensou em como abraçá-lo
sem tocar ‘naquilo’.
Sentia nos lábios o gosto, mas era apenas
uma lembrança, que deveria ser desagradável.
Mas não era. Subitamente, o pensamento, de que
aquela pele coberta por pelos ruivos, poderia ser
tão saborosa quanto àquela parte em especial, a
fez engolir em seco.
-Helena? – ele chamou, passando uma
das mãos em seus cabelos crespos.
Esse toque a fez conter um gemido e se
mover.
De cara virada, achando que assim
poderia esconder o prazer que sentia, se
aproximou. Manteve-se de joelhos na cama, pois
ele era alto, enlaçou os braços em seu pescoço e
aproximou o corpo.
Manteve o rosto baixo, e ele enlaçou sua
cintura, para estreitar o carinho. Não era um
abraço de verdade, um que pudesse falar sobre
sentimentos. Era apenas uma obrigação.
Tensa, ela não desfrutava, ao contrário
dele. Aspirando profundamente o perfume de seus
cabelos, ele deslizou as mãos por suas costas,
sentindo a fragilidade, perdendo os dedos nos
cachos castanhos, e achando deliciosa a sensação
de estar pele com pele.
Helena se arrepiou da cabeça aos pés e se
detestou ao sentir um tremor a percorrer da cabeça
aos pés ao ser abraçada daquele modo. Estava
imóvel, com medo de se mover. Cada movimento
das mãos de Rony distribuía novos arrepios por
sua pele, e sentiu os seios pesarem, os mamilos
apertados e dolorosos contra o peito largo.
Rony a trouxe mais perto, e os copos se
roçaram, deliciosamente e por mais que ela
tentasse esconder, ao olhar para cima, para o rosto
de Rony, se entregou.
Toda a vontade, estava ali, em sua face.
Em seus olhos, em seus lábios entreabertos
pedindo por um beijo.
-Me beije -ele mandou novamente, as
graúdas mãos descendo e segurando as nádegas ,
ao que ela se sobressaltou, ondulando contra o
corpo que a sustentava.
Ao se mover, ela ergueu o rosto em sua
direção, mas não era suficiente. Era muito alto!
Ô, homem, irritante!
O sentimento de irritação misturado as
sensações que a percorriam, trouxeram um corado
inconfundível a seu rosto, e um brilho perolado em
seus olhos, mais escuros pela paixão.
Com a mão, ela segurou seu rosto e
baixou-o, pois ele não facilitava para ela! Tendo-o
onde precisava, aproximou os lábios, para um
suave contato.
Um toque quase inocente, não fosse a
presença entre eles, se fazendo notar, Helena arfou
ao contato úmido dele contra sua barriga. O beijo,
que pretendia ser inocente, cresceu, por culpa dela.
Sem nem perceber a própria urgência,
Helena passou a língua nos lábios cerrados de
Rony, até que ele os entreabriu e a deixou passar.
Faminta, ela aprofundou o beijo, e ele
correspondeu.
As mãos em suas nádegas apertaram e a
fizeram subir o corpo, e Helena nem percebeu,
ocupada em corresponder ao beijo com o mesmo
empenho que ele, uma das mãos acariciando o
rosto bonito e sempre tão vivo e alegre, a outra
mão, passando por seu braço, sentindo os
músculos, apertando a carne tenra com
indiscutível prazer.
Todo o corpo masculino era talhado para
impressionar, tanto, que ela estava impressionada,
sobretudo com sua força, ao agarrá-la e a colocar
sobre ele. Ainda sentado, Rony a fez abrir as
pernas e montá-lo.
Helena se afastou, gemendo, e um pouco
chocada.
Ambos olharam para baixo, e Helena,
agilmente, apanhou o lençol e o colocou sobre
eles. Corada, a ponto da pele estar quente e o
coração palpitante, esperou alguns segundos antes
de olhar para ele.
-Eu quero ver -ele disse, adorando a
forma como ela pareceu implorar para que não
fizesse isso.
-Eu... – queria pedir para ser poupada,
mas não o fez. Seria mostrar fraqueza, e não
admitia isso, por isso, fez o que queria, tirou o
lençol e olhou para ‘aquilo’.
Ela estava montada sobre seu quadril e
seu membro repousava entre ambos, e Helena não
conseguiu para de olhar.
-Diga que me deseja agora – ele pediu, os
dentes travados pelo desejo, o sangue corria nele
mais forte e denso, e estava no limite, mais um
segundo e perderia a cabeça!
-Se o disser será uma mentira -ela
desafiou.
-Não minta,Helena – ele mandou,
apanhando um seio na palma de suas mãos – Seu
seio está inchado – ele desceu a boca para sua
orelha, mordiscando a pele e arrancando um
suspiro involuntário – o bico está durinho em
minhas mãos, a pele arrepiada...sinto seu perfume,
o cheiro do seu sexo, e aposto como está úmido,
esperando por mim...
-Oh, não diga essas coisas... – ela quase
implorou, fechando os olhos e desfrutando dos
beijos que desciam para seu seio, a língua atrevida
molhando um dos mamilos rosados, chupando-o
para dentro de sua boca, sugando e tirando sua
capacidade de raciocínio.
-Me mostre, Helena, me mostre o quanto
está molhada – ele pediu e como não houve
respostas, ele apanhou sua mão direita e levou-a
até abaixo, mas Helena ficou assustada, quando
seus próprios dedos roçaram em seu recanto mais
íntimo.
A sensação a fez queimar e quase saltou,
perante a onda de prazer que a queimou. Nunca
havia se tocado daquele modo, muito menos ao
sentir um queimor tão grande!
-Toque-se do mesmo modo que eu a
toquei das outras vezes –ele pediu, mas ela tirou a
mão apressada, olhando para os dedos molhados.
Rony sorriu de sua inocência, e segurou
seu pulso levando os dedos úmidos a boca,
sorvendo aquele delicioso gosto.
-Você tem gosto de mel, Helena – ele
assegurou e amparou suas costas, quando ela
tremeu da cabeça aos pés diante daquela
sensação.
Seus lábios estavam entreabertos, ela
precisava de ar, e não conseguia lembrar como era
respirar!
Esse homem era completamente louco!
Insano! Apesar disso, se pegou deslizando uma
das mãos por seu peito, sentindo os músculos de
sua barriga tremularem sob seus dedos ingênuos e
arfou quando ele a puxou para mais perto.
-Desça sobre mim – ele mandou.
Poderia acabar com a tortura e o fazer,
mas queria vê-la ceder.
-Não posso fazer isso -ela disse em
pânico, ao notar o que dizia.
-Já estive dentro de você antes, hoje
mesmo, lembra-se? Não precisa ter medo! Nos
encaixamos perfeitamente...
Seu beijo em sua face arrancou um
gemido baixo,pois a pele estava incrivelmente
sensível.
-Eu o odeio – ela lamentou e ele sorriu.
-Não, não me odeia. –ele garantiu,
beijando seu ombro, enquanto acariciava seus
seios – me ama, Helena. Ainda não sabe, mas me
ama.
-Ao inferno que o amo! -ela queimou,
quando se moveu, para ao menos acabar logo com
isso. Choramingou quando seu centro entrou em
contato com ‘aquilo’.
Um soluço de prazer escapou quando
desceu, sentindo-se ser penetrada. Rony achou
que seria devagar, mas Helena o surpreendeu.
Tão logo o sentiu entrar, ela forçou o
quadril, até o ter no mais fundo de seu corpo,
partindo-a em milhares de pedacinhos.
-Oh. –ela gemeu, afundando o rosto em
seu peito.
Rony a amparou sentindo seu gozo. As
coxas sensíveis, tremularam ao seu redor, e ele a
fez erguer o rosto, para um longo beijo.
Helena não queria um beijo, queria
respirar, por isso o empurrou com ambas as mãos,
e Rony soltou seus lábios, notando a forma como
ela olhou para baixo.
Estava todo dentro dela, e Helena olhava
a forma como estava apoiada em seu quadril, os
poucos pelos castanhos em contato direto com os
pelos púbicos ruivos. Ela gemeu, e se moveu,
ainda sensível, pois o prazer a deixara muda, e
surda para tudo a sua volta.
Seus gemidinhos baixos o maltrataram e
Rony afundou o rosto em seu pescoço, entre os
cabelos, numa tentativa de se controlar.
-Rony... – ela mordeu o lábio, ao descer
novamente, e abraçá-lo pela cintura, apertando
suas costas -...não posso fazer sozinha...
-Pode, é claro que pode - ele disse em
seu ouvido, beijando-a a seguir.
Helena o amaldiçôo por se afastar, antes
do beijo se aprofundar, e ficou surpresa, quando
ele se deitou. Sentiu-se abandonada, montada
sobre seu quadril, sem ter onde se agarrar.
Rony segurou suas mãos, e as colocou
em seu peito, erguendo seu quadril com as mãos, e
ensinando-a o ritmo certo.
-Assim, Helena, assim... – ele fechou os
olhos, gemendo.
Helena não acreditou que estivesse
participando disso!
Aquele homem a fazia abrir mão de tudo
em que acreditava e jogava no lixo sua força de
vontade. Tanto, que ao ver de olhos fechados,
sentiu falta daquele olhar azul sobre ela, e
querendo sua atenção novamente, dobrou o corpo
para frente, nivelando os corpos e roçando o seios
sobre o peito masculino. Ele gemeu mais forte,
segurando sua bunda e apertando a carne,
enquanto a puxava para frente e para trás.
Ela se deixou penetrar com força, cada
vez mais rápido e gemia, sem se importar se
estava se revelando ou não. Esqueceu do mundo!
Ele inchou de tal modo que Helena quase
gritou, pois a posição era ingrata para ela, e
precisou se mover, achando que sentada
incomodaria menos, e esse foi seu erro, pois ao
voltar à posição anterior, ele grunhiu, ficando
ainda mais violento.
As mãos pequenas se mantiveram sobre a
barriga de Rony, enquanto ela ia à vinha, o quadril
pequeno se empurrando e retirando com a mesma
presa e rapidez que ele o fazia. Era escorregadia, e
molhada e Rony precisou de muita coragem para
encarar o ato sem gozar imediatamente após ela
começar a se mover.
Olhou para ela, tão dominadora, e ao
mesmo tempo tão frágil olhando para ele enquanto
ficava cada vez mais desamparada, na eminência
do orgasmo e Rony decidiu acabar com seu
sofrimento, porem antes que a tocasse sobre o
clitóris, ela lançou a cabeça para trás, olhos
apertados, os cabelos acariciando as panturrilhas
de Rony a cada movimento de sua cabeça e os
seios pedindo por beijos, de seus lábios gemidos
angustiados que culminaram em um pequeno
grito, quando ela tremeu da cabeça aos pés,
gozando.
Ele agarrou sua mão, quando ela abriu os
olhos, e tornou a fechá-los, o prazer se mostrando
forte demais para que pudesse falar.
Seu interior tornou-se tão apertado que
quase o impediu de voltar, quando saiu
brevemente, para lhe dar a oportunidade de
respirar. Infelizmente, não podia esperar, e
segurando o pênis com força, ele empurrou para
dentro, forçando.
Helena lamentou, mas não impediu.
Rony cerrou os dentes, gemendo e falando
besteiras, se deixando levar para o cume, onde ela
estivera até um segundo atrás. Não sabia que seus
gemidos, e suas palavras rudes, podiam reacender
a paixão, e quando ela tombou o corpo para frente
novamente, se movendo com a mesma presa, ele
trincou os braços em suas costas, segurando-a
exatamente do jeito que desejava.
Bombou como um desesperado,
percebendo que ela não correspondia mais, apenas
se deixava sacudir pelos movimentos pesados.
Sua face estava suada e irreconhecível, naquela
entrega que apenas ele poderia despertar em
Helena e num beijo forte, ele gozou.
Como um animal enfurecido, ele a
castigou, arrancando de seu corpo pequeno tudo
que podia lhe ofertar.
-Não pare... – ela disse baixo, em seu
ouvido, e Rony, ainda não recuperado de seu gozo,
gemeu ao entender que teria de continuar.
Não que estivesse reclamando, mas
Helena lhe arrancava todas as forças!
Num ato heróico, ele a beijou, molhando
sua pele com língua, saliva e desejo, num beijo
arrebatador, enquanto se movia mais lentamente.
Helena sentiu as pernas tremerem quando
começou o atrito direto entre aquela parte sensível,
o clitóris, com a base do pênis. Cada movimento a
fazia roçar em seu púbis, e os pelos e a pele
masculina a afagada de um jeito enlouquecedor,
enquanto aquele membro mantinha-se dentro dela,
sem se mover mais que o suficiente para
enlouquecê-la. Seus seios estavam espremidos
contra ele, e o atrito era bom demais!
Nesses movimentos lentos e constantes,
ela sentiu àquele calor crescer e transbordar em
um orgasmo que fez os dedos de seus pés se
enrolarem e deixou sua boca seca, e a fez se
afastar, enterrando o rosto no peito de Rony,
gemendo seu nome, quando o mundo escureceu e
então se iluminou em muitas cores vibrantes...
Rony acariciou suas costas, até senti-la
mais calma e sorriu ao pensar que a fizera gozar
três vezes num único ato. Era seu Recorde sobre
uma cama, mas não diria isso. Helena era muito
apaixonada, e era uma das razões que o deixava
tão enciumado sempre que pegava um olhar mais
comprido de John em sua direção!
-Rony... – ela disse baixinho, erguendo o
rosto de seu peito –...preciso me mexer...
Rony a girou na cama, e a colocou no
colchão com todo cuidado que seria destinado a
uma rainha. Helena fechou os olhos, aproveitando
os sentimentos que a faziam tão fraca e entregue.
Ele fez carinhos em seus cabelos, seu rosto, seus
seios, mas não eram carinhos para excitar, e sim,
acarinhar.
-Amanhã eu a quero na cama, quando
acordarmos -ele recomendou baixinho para não
sobressaltá-la – quero um beijo de bom dia, e uma
abraço.
-Odeio você... – ela disse sonolenta, se
virando para o outro lado, mas dessa vez ele soube
que não era uma recusa, descobrira que sua
fadinha gostava de dormir de lado. E descobrira
também que quando dizia o quanto o odiava, era
para não dar o braço a torcer, por isso ignorou-a, e
deitou-se atrás dela, abraçando-a e adormecendo
também, a face acomodada naquele ninho de
cabelos macios, aspirando seu perfume e sentindo
seu corpo quente, e acolhedor...
Capítulo 52 - Esperem por mim

Helena foi a primeira a acordar naquela


manhã. Notou que era muito cedo e ainda estava
escuro lá fora, por isso levantou e espiou pela
fresta da janela, conferindo que era madrugada
ainda.
Aproveitou para vestir a camisola e
arrumar as roupas que ficaram sobre o chão
quando ele se despira. Não sentia muito sono, pois
vinha dormindo muito durante o dia. Pensativa,
considerou que era hora de combater aquela
terrível sonolência que se abatia sobre ela depois
do almoço.
Olhando para Rony conteve um suspiro.
Dormia profundamente, na mesma posição em
que ela também estivera até acordar. Estava de
lado, precariamente coberto pelo lençol e roncava.
Rony sempre roncava, mas não era um
som que a desagradasse ou impedisse de conciliar
o sono. Era um som agradável, pois a fazia sentir-
se acompanhada.
Parte de Helena lembrou-se de Alexia no
quarto ao lado, e decidiu que uma pequena
vingança poderia afugentar seu mau humor, e com
certeza, garantiria alguma sensação de alívio,
depois de todo o ódio que sentia!
Sorrateira, saiu do quarto. Descalça,
tomou cuidado para não ser ouvida, e na cozinha
encheu uma jarra de água fria. Sorrindo, ela andou
de volta, o mais silenciosa possível. Parou em
frente ao antigo quarto que usava, o mesmo que
Alexia Lil usava para dormir.
Conhecia as madeiras velhas daquela
casa, e ainda ouvia os gritos de reclamações de
sua mãe sempre que lavavam o chão e a velha
porta inchava e emperrava. Helena derramou água
sobre o batente da porta e na própria madeira da
porta, garantindo que a porta estaria bem fechada.
Em poucas horas, quando o mormaço da
manhã chegasse, aquelas madeiras velhas seriam
responsáveis por agradáveis horas de clausura
para sua hóspede.
Sorrindo consigo mesma deixou a jarra
na cozinha e voltou ao quarto. Rony continuava
adormecido, e se mexeu na cama, roncando mais
alto e falando palavras soltas. Helena mordeu o
lábio, se aproximando e sentando na beira da
cama para observá-lo dormir.
Sob seu olhar guloso algo se passava sob
o lençol branco. Um volume inconfundível que a
fez estreitar os olhos e estranhar. Gostaria de
acordá-lo e perguntar se isso era normal, visto que
dormia tão calmamente.
Mas obviamente, não faria isso.
Com as mãos aflitas, tentada a tirar a
camisola e se acomodar novamente ao seu lado,
ela olhou para o outro lado.
E foi assim que Rony a viu, tão logo
abriu os olhos. Olhando para longe, as mãos
apertadas, pousadas sobre as pernas, como sempre
tensas.
Ao menos não fugira.
Já era um alívio.
Com olhos deliciados pela imagem de
sua Helena docilmente esperando que acordasse,
apoiou um dos braços atrás da cabeça enquanto a
outra mão se apoiou sobre o peito, e esperou pela
sua paciência se esgotar e decidir acordá-lo!
Não precisou esperar muito, ela logo se
cansou e olhou para ele, acusadora.
Será que até mesmo dormindo de boca
fechada e inofensivo era capaz de despertar fúria
em Helena? Era um pensamento divertido.
-Bom dia Helena - ele disse sorrindo,
muito provocador.
-Bom dia – ela disse engolindo um
palavrão.
Era sua parte, ser cordata e gentil. E
assim o faria.
-Quero meu beijo de bom dia – ele avisou
e ela olhou discretamente para aquele relevo em
seu lençol e Rony também olhou para baixo – Não
se importe com isso, é fisiológico – ele explicou
notando seu rubor. – Dormir ao lado de uma
mulher desejável e perfumada faz isso a um
homem.
-Acontece que essa mulher desejável e
perfumada cumpriu sua obrigação ontem à noite e
só voltará a fazê-lo hoje à noite. – avisou
levantando-se e contendo um sorriso diante do
efeito de sua ironia.
-Me de meu beijo antes que fique azeda
demais – ele mandou, relevando sua maucriação.
-O dia está amanhecendo, levante-se e se
vista. Deve dar o exemplo para seus empregados -
ela disse esperando que entendesse que não se
aproximaria enquanto não estivesse vestido.
-Separe minhas roupas - ele notou seu
olhar surpreso e explicou – O que foi? Minha mãe
sempre ajudou meu pai a se vestir!
-Por acaso pareço com sua mãe? - ela
ridicularizou.
-Graças a Deus não, ou me sentiria um
depravado – ele riu de bom humor – Desista
Helena, nada poderá estragar meu humor. Depois
da noite de ontem serei eternamente bem
humorado!
Seu humor esfuziante não a contagiou, e
quando ele se ergueu nu em pêlo e andou até ela,
Helena virou-se de costas separando rapidamente
as roupas que vestiria.
Rony abriu mão da provocação e
abraçou-a por trás. A despeito da tensão ela não o
repudiou.
-Não brigue comigo tão cedo Helena.
Não hoje que te quero arrumada e gentil ao meu
lado.
-Para que? – desconfiou de suas atitudes.
-Para me sentir apoiado, ou acha que não
me incomoda ter uma mulher dentro da minha
casa exigindo que assuma seu filho bastardo? Ela
dorme sobre nosso teto, come nossa comida e tudo
em que posso pensar é no problema que pode me
trazer. Na capital todos sabem que Alexia é
cortesã. Mas aqui...
-Acha que poderá ter problemas judiciais
por causa dela? – ficou surpresa.
-Espero que não – apertou-a em seus
braços, mantendo seus braços imóveis, quem sabe
para se garantir contra um tapa ou empurrão – é
ainda mais perfumada pela manhã... – ele elogiou
beijando sua nuca. – Meu beijo Helena, quero
meu beijo.
Era uma criança mimada, ela pensou.
Sem alternativas, ou ao menos, mentindo isso para
si mesma, virou-se em seus braços e o beijou.
Fizera isso na noite passada, mas agora tinha um
significado diferente.
Não tinha a noite como desculpa ou suas
exigências maliciosas. Deveria ser um beijo
rápido e desprovido de sentimentos.
Mas não foi.
Como na noite anterior, provocou para
ser correspondida, exigindo dele o mesmo que
Rony exigia dela! A única diferença é que não
admitia isso!
Diante da paixão de seu marido, estava
quase inclinada sobre a penteadeira, quando
lembrou-se da razão para estar beijando-o!
Empurrou-o e saiu do aperto de seus
braços.
-Esperei que acordasse, lhe dei bom dia e
um beijo. Posso ir agora?
Medindo sua decisão, ele concordou.
Nada, pensou enquanto a observava se
vestir, nada nesse mundo poderia minar seu bom
humor!
-Esteja pronta para um passeio quando eu
voltar - ele disse roubando-lhe um beijo rápido
antes de sair do quarto e se apressar para o
trabalho.
Ouviu sua voz conversando com John na
cozinha e o chamando para desjejuar com ele e os
agregados no refeitório, e ao ouvir o silêncio
reinar saiu atrás de Juanita e o café da manhã.
-Acho que estou doente - ela disse para
Juanita ao terminar de comer uma fatia de pão e
apanhar outra.
-Porque diz isso?
-Nunca senti tanta fome em toda minha
vida!
-E isso é um problema? – Juanita
estreitou os olhos, curiosidade aliada a
reconhecimento.
-Nunca tive muito apetite. Não sei por
que isso agora!
-Deve ser por causa da sua recuperação -
Juanita se apressou a dizer – Passou por um mês
difícil e seu corpo está repondo as forças... –
Juanita colocou um copo de leite adoçado em sua
frente e praticamente empurrou em direção a sua
boca para que bebesse.
Helena terminou o café e sentiu-se
pesada por ter comido tanto, tanto que quando
Alice surgiu na cozinha alegre e sorridente,
provavelmente por muito sonhos doces que tivera
com John, ela saiu apressada da cozinha.
Precisou de vários minutos na sala para
conter o forte enjoo que se apoderou dela. Quando
se recuperou um pouco notou que Juanita estava
de pé olhando para ela, enquanto enxugava as
mãos num pano de prato.

Helena esperava que Alice desistisse,


olhando tudo com um olhar complacente. A
cunhada tentava há alguns minutos fazer a porta
ceder. Juanita estava ao seu lado, mas apenas
assistia assim como Helena.
-Já disse, quando essa porta emperra não
a nada que se possa fazer a não ser esperar –
Helena disse sorrindo gentil.
Lá dentro, o choro de Alexia aumentou,
assim como o sorriso de Helena.
-Helena! Não podemos deixar uma
mulher grávida presa nesse quarto! – Alice
argumentou.
-Porque não? Se ela tiver um mal estar
pode nos avisar não pode? Aí sim, derrubaremos a
porta. – Helena sugeriu – Sabe quanto custa
substituir uma porta? Teríamos que encurtar a
estadia de John nessa casa, pois não teremos com
o que alimentar tantas bocas!
Quase imediatamente Alice desistiu.
Corada por ser tola a ponto de se preocupar com a
visita, mas decidida a ponto de não querer se
prejudicar pela mesma, ela desistiu.
-Srta. Lil! Ouça-me com atenção – Alice
falou mais alto para ser ouvida – Em poucas horas
a madeira deve ceder e a porta abrirá.
-Oh, não me abandone aqui dentro!
-Estamos aqui Srta.Lil não está
abandonada! Levarei seu café da manhã... Pela
janela – Alice pareceu incerta.
-Se eu não estivesse tão gorda pularia
essa maldita janela!
O esbravejo de Alexia fez Helena ocultar
um riso satisfeito.
-Seu irmão não pensará em você se
souber do mal que aflige essa aí – Helena avisou,
com ares de descaso e foi para a cozinha.
Juanita a seguiu e disse apresada:
-Ficarei de olho nessa daí. Mas se aceita
um conselho Helena, tire seu marido da casa por
um tempo. Será uma lição para essa outra!
-Não é minha intenção... – ela tentou
explicar, pois aparentemente Juanita sabia o que
fizera.
-É claro que é sua intenção! – Juanita
afirmou – É preciso que mostre quem é a dona da
casa! Sobretudo, quem manda de verdade, pois às
vezes um marido pode tomar as dores da casa,
mas uma esposa pode e deve controlar o que se
passa em seu lar na ausência dele! O que os olhos
não vêm, o coração não sente! É preciso que
mostre a ela que tem suas armas!
-E porque eu faria isso? – tentou soar
desinteressada.
-Porque é em sua mão que há uma
aliança. Foi a sua fazenda que o fez melhorar de
vida e são seus esforços para conduzir a casa com
perfeição que o faz um homem saudável e bem
cuidado! E ela? Vai apenas se refestelar no que lhe
pertence? Lute pelo que é seu!
-Não sei do que está falando Juanita –
jamais admitiria que era exatamente isso que
estava fazendo – Terei que fazer o que Rony
manda. Fizemos... Um acordo. Por enquanto terei
que obedecê-lo.
-Um acordo? – os olhos de Juanita
brilharam de curiosidade.
-Não deveria estar preparando o almoço?
- ela cobrou, apenas para desviar o assunto.
Juanita detestava ser cobrada e com
alguns resmungos começou a mexer em suas
panelas com olhares ressentidos que Helena
preferiu ignorar.

Com jeitinho, Alice conseguiu calar as


reclamações de Alexia e seu choro, e conseguiu
fazer isso antes que Rony voltasse com John da
plantação. John tinha a camisa dobrada nos
antebraços e alguns botões abertos.
Estava suado e as calças sujas.
-Meu irmão, teve coragem de levar John
para arar terra? – perguntou horrorizada.
-É claro que não, ou me ariscaria a perder
o plantio - caçoou.
-Rony me mostrou como acontece a
preparação da terra e não resisti. Me ofereci para
ajudar – ele esclareceu, sorrindo de orelha a orelha
– é uma boa vida essa de fazendeiro – completou.
-De certo, uma vida tola para um homem
com seu poder e estilo de vida – Helena se fez
notar, desafiando-o a falar o contrário.
-Reconheço estar me questionando à
razão da energia elétrica ainda não estar
disponível por esses lados, visto que na cidade
está disponível. – ele disse diplomata.
-E essa é a única coisa que o incomoda
na vida do campo? – havia simpatia na voz de
Helena deixando Rony mudo, apenas olhando de
um para o outro com uma expressão azeda.
-Confesso, precisaria de um grande
estimulo para me mudar para o interior - ele olhou
de Helena para Alice, e a jovem corou ao ser alvo
de seu olhar.
-Tenho certeza que a vida em Londres
deve ser adorável – Alice apressou-se a dizer,
desesperada com a ideia de ele acreditar que parte
de casar-se seria ter que desistir de sua vida em
Londres!
John sorriu agradecido e apressou-se a se
desculpar e pedir licença para trocar-se.
-Está graciosa – Rony elogiou ao notar
que ela vestira o vestido lilás que era seu
preferido. Realçava sua pele e seus olhos
castanhos e com os cabelos soltos, apenas uma
presilha prendendo duas mechas atrás ficava ainda
mais encantadora.
-Obrigada – ela aceitou o elogio, os olhos
brilhando intensamente de indignação pelo
papelão de ser dócil com ele.
-Gostaria de tomar um refresco antes de
nosso passeio? – ele perguntou e ela afastou os
olhos um pouco culpada.
-Helena acabou de devorar metade do
meu pão – Juanita disse animada com essa
novidade e seu olhar malicioso parecia querer
alertá-lo de algo, mas ela não disse mais nada e
ele não insistiu.
Detestaria que Helena percebesse não
haver a menor pretensão de demitir aquela mulher.
Às vezes, na hora da raiva pensava nisso, mas era
apenas consequência de seu sangue quente.
-Espero que tenha guardado um
espaçinho em seu estômago Helena, pois está
prestes a devorar a melhor comida que já
experimentou em sua vida – ele tocou sobre seu
estômago num suave afago e ela reteve o ar, sem
entender por que.
Cobriu a mão de Rony com a sua, e
afastou gentilmente com a desculpa de apanhar
um lenço para os cabelos.
-Deixe-os soltos – ele pediu.
Juanita notou algo estranho, pois ela não
o questionava, argumentava ou se rebelava.
Aceitava placidamente suas ordens.
Em outra jovem, suporia terem
finalmente entrado em uma trégua, mas ao notar a
forma desafiadora como ela olhava para o marido,
soube que era algo entre eles, algo que não deveria
tentar entender.
Assim como não devia comentar ainda
sobre suas suspeitas.
Juanita esperou que ambos saíssem e
estivessem longe para ir até em casa procurar suas
agulhas de tricô. Queria ter certeza se ainda às
tinha ou se precisariam comprar novas, afinal, o
inverno por aqueles lados era rigoroso, e se
estivesse certa precisaria urgentemente de um
enxoval...
-Não perguntará onde estamos indo? –
ele questionou conduzindo o cavalo lentamente.
-É claro que está me levando a casa dos
seus pais – ela disse placidamente.
-Achei que não houvesse percebido – ele
respondeu surpreso.
-Só porque mudou o caminho e pegou um
desvio para me confundir?
Rony poderia ter corado se não houvesse
feito de propósito.
-Esqueci que sempre sabe tudo – ele
retrucou e ela suspirou – Porque não está
reclamando? Sei que não gosta da minha família.
-Se engana. – ela disse, tendo que admitir
que estava se acostumando rapidamente a
obedecê-lo... – Sempre adorei a Sra.Parker. E
simpatizava com seu pai e seus irmãos. Isso até...
Descobrir que não eram quem pensava que eram.
-Está enganada Helena, sei que aconteceu
alguma coisa, meu pai não me contou, mas sei que
tem mais nessa história do que sabemos.
-É sua família, isso não deve incomodá-
lo.
Essa frase o incomodou muito.
-Sei que gostará do almoço que minha
mãe preparou – ele quis mudar de assunto.
-Não tenho escolha. – ela disse olhando
para frente sem encará-lo – Gostando ou não, não
tenho escolha.
Novamente Rony sentiu aquela sensação
ruim. Odiava a ideia de ver Helena oprimida.
Queria que fosse livre e feliz. Mas livre e feliz ao
seu lado. Por isso não poderia abrir mão de sua
companhia, e as noites eram muito solitárias sem
o seu corpo ao seu lado!
Egoísta, se calou.
Ao avistar a fazenda de seus pais, ele
soltou um profundo suspiro de contentamento e
quando olhou para baixo, deu-se de cara com os
profundos olhos de Helena sobre ele. Talvez
tentando entender o que se passava em sua mente.
-Não tem ideia de como senti falta de
todos eles – ele explicou antes de apear. – Venha.
Dessa vez ela saltou do cavalo antes que
Rony pudesse apanhá-la pela cintura. Ele ficou
entre irritado e deliciado com seu jeito. Tentava
ser dócil, mas era difícil para alguém como ela!
-Porque não trouxe Alice e John? – ela
perguntou enquanto ele entregava o cavalo a um
empregado.
-Porque é um almoço só para nós quatro
- ele explicou – Não quero meu irmãos fuxicando
logo na primeira vez em que vem visitar meus
pais.
-Tem medo que ouça a verdadeira
opinião deles a meu respeito? Nada poderá ser
pior do que as coisas que Alice já me disse. – ela
disse segura, mas havia algo em seu olhar, algo
frágil que o fez sorrir e tomar seu rosto em suas
mãos dizendo muito perto:
-Tenho muito mais medo das coisas que
você poderia dizer sobre mim. Afinal, sua opinião
a meu respeito ainda me causa arrepios!
-Não lhes diria mais do que a verdade –
sua falsa doçura arrancou o riso fácil de Rony.
-Minha doce Helena, não me envergonhe
na frente dos meus pais. – pediu humilde,
apanhando suas mãos e beijando-as sem afastar os
olhos dos seus – Prometo-lhe consentir um desejo
se for boazinha comigo – notando o brilho esperto
em seus olhos apressou-se a esclarecer – um
desejo cabível!
-Me deixe em paz e estarei satisfeita – ela
rebateu.
-Pois que assim seja. Te deixarei em
paz... Hoje à noite, depois que for minha e estiver
sonolenta demais para brigar comigo! – seu
comentário foi sussurrado, e ela lamentou a
sensação de calor que a dominava e também
lamentou a oportunidade perdida.
Poderia ter lhe cobrado alguma regalia.
Esse pensamento a chocou. Desde quando
pensava nisso? Desde quando precisava de um
marido para lhe dar bobagens e futilidades? E por
Deus, desde quando as queria?
Desde que lembrara o que era vaidade,
pensou, e saber a resposta também a chocava.
Queria estar bonita e, queria estar bonita para ele.
-O que foi? – ele perguntou ao notar que
ela fechava os olhos, uma expressão indecifrável.
-Nada – afastou-se ao ouvir som de vozes
e passos.
-Vamos entrar - ele disse animado,
colocando sua mão sobre seu braço e a
conduzindo em direção a casa.
Sentindo-se ofendida por ser obrigada a
suportar tal humilhação ela pensou na mãe. Sua
desgostosa mãe, chorando pela dor de seu pai ao
ser abandonado pelo melhor amigo e também pelo
dinheiro que naqueles momentos tanta falta lhes
faziam! Lembrou-se de sua mãe e lembrou-se
também que a família Parker não lhes fizera mal
algum. Apenas negaram-se a estender uma mão
em socorro de seus vizinhos.
Não era um crime, mas era uma
vergonha.
E Helena jamais esqueceria isso.

Sentada na sala de estar dos Parkers ela


conteve a incrível vontade de rir. Pai e filho
conversavam sobre o gado e a colheita da próxima
estação, enquanto Sandra falava sem parar sobre
casamento.
Sentada, com as mãos pousadas sobre as
pernas, ela pensou em como seria caso levantasse
daquele sofá, atravessasse a sala e agarrasse Rony
pelos cabelos, batendo-lhe a cabeça contra a
parede até ver o sangue escorrer e estar finalmente
livre dele.
Era um pensamento odioso.
-Querida, tenho certeza que irá se deliciar
com o almoço que preparei! – Sandra garantiu,
querendo agradar sua nora que não dera um único
sorriso desde que chegara.
-Tenho certeza que sim – ela respondeu
educada.
Rony afastou o olhar de seu pai ao ver o
desespero de sua mãe. Era o inferno agradar
Helena quando ela estava contrariada. Por alguma
razão guardava consigo todas as mágoas do
mundo.
-Deixe-a, mãe. Helena está aborrecida
novamente - ele disse sorrindo e viu sua mãe
relaxar um pouco.
-Aborrecida? Não diga que Rony está
sendo um mau marido! - ela aproveitou para puxar
assunto.
-Não, seu filho é o melhor homem do
mundo – Helena respondeu sorrindo.
Sua expressão era tão falsa que Sandra
desistiu. Com uma desculpa qualquer arrastou
Helena para a cozinha com a desculpa de ver se o
guisado estava pronto. Sozinho com Artur, Rony
desfez o sorriso.
-Helena sempre foi uma jovem difícil e
geniosa – Artur relevou.
-Ela é doce quando quer – ele confessou
– o problema é que nunca quer! Helena sente
necessidade de afastar todas as pessoas, eu sou
seu principal alvo! – maneou a cabeça.
-É uma menina que perdeu muita coisa
Rony, que ainda não entende esse mundo como
ele é. De tempo ao tempo e ela se adaptará a vida
que tem. – ele aconselhou e Rony sorriu com
escárnio.
-Está enganado, Helena conhece o mundo
muito melhor que nós dois juntos, e é exatamente
por isso que age assim – ele defendeu-a, sorrindo
triste – se ao menos falasse do assunto, talvez
fosse mais fácil.
-E porque não a ajuda a desabafar? –
Artur perguntou.
-Porque Helena simplesmente me odeia –
ele respondeu, baixando os olhos envergonhado e
com aquela sensação horrível ao admitir essa
verdade que cortava seu coração.
Olhando o semblante derrotado do filho,
Artur colocou uma das mãos em seu ombro
atraindo sua atenção e sorrindo:
-Não esqueça filho, o ódio é a outra face
do amor.
A chegada súbita de Sandra avisando que
o almoço estava servido os obrigou a mudar de
assunto, mas essa constatação ficou na cabeça de
Rony, fazendo-o pensar em Helena sobre outro
ângulo.
Sandra possuía uma jovem,
possivelmente descendente de índios que servia a
mesa, e Helena sorriu para ela, pensando que até
pouco tempo atrás Juanita trabalhava ali.
-Essa é Aporah, está me ajudando por
uns tempos. O marido está doente, por isso não
podem seguir viagem. São de Nova York. Vão
atravessar o mundo esses dois! – Sandra contou ao
notar seu interesse – Ela está esperando um
menino, e apesar de terem posses em Nova York,
aqui estariam na miséria. Artur ficou em dúvida
sobre ter estranhos em casa, mas, não pude deixá-
los na rua!
-Claro, como poderia fazer isso? – Helena
ironizou, disfarçando o fato enquanto bebia um
gole de água.
Rony desejou achar um meio de calá-la.
Mas achou que não tinha esse direito. Correra esse
risco ao impor-lhe uma visita nunca desejada.
Conhecia seus rancores.
-Diga-nos Helena, como tem se
comportado Alice – Artur pediu, mudando
drasticamente o assunto.
-Ela tem uma personalidade difícil – ela
resumiu e Artur sorriu.
-Sempre foi impressionante que
pudessem ser amigas, pois não é muito melhor
que Alice.
-Não somos mais amigas.
Ela disse olhando em seus olhos e
cobrando-lhe com esse olhar o peso da
humilhação daquela tarde, onde cansada, suada e
tentando a todo custo alimentar o gado
praticamente sozinha, tão poucos dias após a
morte do irmão, ainda de luto, Artur surgira em
seu cavalo apenas para pedir-lhe que deixasse sua
filha em paz agora que era uma perdida.
Não usara essas palavras, e nem fora
preciso.
-Agora são cunhadas – Sandra interferiu
– mais que amigas, são irmãs agora.
-Sim – ela respondeu sem conseguir
digerir tanta hipocrisia.
-Talvez fosse melhor meu pai, que nos
contasse porque negou auxílio ao seu amigo.
Helena acha que assim o fez – Rony resolveu
acabar logo com aquilo.
Artur não respondeu, mas a troca de
olhares entre ele e a esposa disse mais que mil
palavras. Ele bebeu um longo gole de vinho e fitou
Helena profundamente.
-Contei a seu pai minhas razões e ele me
mandou embora. Fiz o melhor que pude diante da
situação. Não vou me justificar Helena. É capaz
de entender que há muitas coisas na vida que
devem ficar enterradas. Sinto falta de meu amigo,
mas sei que ele nos abandou muito antes de sua
morte e sua mãe... Precisava achar um culpado.
-Ele queria apenas uma visita sua – ela
disse de queixo erguido, a lembrança doendo
dentro de si.
-E só eu sei como desejei vê-lo nos meses
antes de sua morte. Mas não foi possível. Ele
tomou suas decisões, não concordei com elas.
Tenho uma família, sete filhos, sendo um deles
uma jovem muito nova e a quem preciso zelar pelo
futuro. Não posso faltar. Não posso partir por
causa dos erros dos outros. É uma jovem
inteligente Helena, e sabe julgar as pessoas.
-As pessoas são o que suas atitudes
refletem – ela afirmou – o que importa as razões
frente às ações? – havia intolerância em sua voz.
-Uma interferência minha teria mudado
alguma coisa?
-Nunca vamos saber – ela respondeu
automaticamente.
-Acredita quando digo que tive uma forte
razão para ter feito o que fiz?
-Não – ela foi sincera.
-Meu Rony obrigou-a a vir? – Sandra
interrompeu e notou o filho ficar envergonhado.
-Sim – ela não mentiria mais.
-Oh, isso é terrível. Os homens dessa
família têm esse horrível costume de serem
mandões. – ela sorriu, mudando totalmente o
assunto – não o deixe mandar em você.
-Sandra... – Artur interrompeu, não
gostando daquele rumo.
-Precisa saber que os homens dessa
família são facilmente dobrados com vinho e um
pouco de atenção – ela revelou.
Helena não conteve um pequeno sorriso
verdadeiro diante dessa verdade.
-Helena, agora é nossa filha também.
Não podemos mudar o passado, mas podemos
recomeçar o futuro. – Sandra segurou sua mão, os
olhos turvos – Não deixe que uma tragédia
estrague esse laço entre nossas famílias.
Helena não pensava desse modo, mas
acabou concordando com a cabeça apenas para
não causar maior desconforto.
-Sinto muito, minha filha, por não ter as
respostas que esperava – Artur desculpou-se e
olhando naqueles olhos azuis, tão iguais aos de
Rony, soube que falava a verdade.
Havia sim uma verdade escondida, mas
esse homem íntegro não podia contar. Todos têm
uma razão, e se pensasse em sua vida notaria estar
errada, e as razões raras vezes, poderiam ser mais
importantes do que as ações.
-Sinto estar sendo tão desagradável – ela
também se desculpou e Rony, calado ao seu lado
achou que explodiria de tanto orgulho.
-Pois não sinta! – Sandra afastou as
lágrimas ao entender que estava tudo superado.
Ao menos por enquanto – Nos conte de John
Harrison. Rony garante ser o homem ideal para
Alice!
O assunto mudou e também mudou a
expressão de Rony enquanto ouvia Helena falar
mais animada e fluente. Seus olhos brilhavam ao
contar de John. Estava desprovida de barreiras ou
indiferença.
Apesar do apetite inicial, ele sentiu a
fome o abandonar enquanto Helena devorava sem
notar o almoço.
-John é um cavalheiro – ela disse por fim
ao assegurar Sandra que não haveria nenhum risco
de John abusar de sua filhinha. Olhou para Rony
com um sorriso meigo que não o enganou. Havia
vingança em seus olhos. – Tem se portado
maravilhosamente bem, apesar do desagradável
fato de dividir nossa hospitalidade com uma
cortesã.
Rony empalideceu ao seu lado, jamais
supondo que ela teria coragem de contar.
-Uma cortesã? – Sandra ficou um pouco
chocada.
-Sim, a amante de seu filho. A mesma
que está prestes a dar a luz a um filho seu. E que
ele hospedou em minha casa – havia ainda muita
calma em sua voz.
Como um assassino ao dar uma facada
pelas costas.
-Ronald Parker!
O grito de Sandra o fez manter a língua
dentro da boca enquanto ouvia seu sermão.
Enquanto tentava se explicar ela comia
calmamente a sobremesa, olhando para ele
satisfeitíssima.
Capítulo 53 - Varrendo para baixo do tapete

Eles voltaram no meio da tarde em


silêncio. Helena havia se tornando muito mais
agradável depois de ter acabado com os nervos de
Sandra e consequentemente com os nervos de
Rony.
Conversara com Artur sobre técnicas de
plantio e sobre cavalos. Muito surpreso ele ouvira
uma confissão dita com tanta naturalidade que o
chocou.
-Sempre quis ter um cavalo de porte!
Nossos cavalos são para o trabalho e não tem uma
raça nobre. Meu irmão tinha um, mas nunca me
deixou montar e quando morreu, seu cavalo
desapareceu.
Rony guardou esse comentário em sua
mente para o futuro. Um futuro que não incluísse
os gritos histéricos de Sandra Parker.
Quando entraram na casa ela rumou
direto para a cozinha sabendo que ele a seguiria.
Não havia ninguém, por isso ela colocou seu
plano em ação. Antes que ele pudesse abrir a boca
para brigar ela tirou um recipiente e descobriu
pondo sobre a mesa.
-Fiz hoje cedo – mostrou e ele.
Rony olhou da torta de nozes para
Helena. Era sem dúvidas um plano bem armado.
Ela preparara a moeda que barganharia seu perdão
depois de humilhá-lo diante dos pais dele.
-Há mais alguma coisa que queira que eu
releve? – ele perguntou olhando para ela cúmplice.
-Posso ter deixado sua amante trancada
no quarto o dia todo – ela respondeu suave,
cortando uma generosa fatia do doce e estendendo
para ele em um pratinho com colher. – Pedi a
Juanita que escondesse.
-Acha que comerei tudo sozinho?
-É um homem grande. – não era um
elogio, mas sim um teste. – Notei que tem um
bom apetite.
Helena vinha se descobrindo como
mulher, e saber que tinha poder sobre ele era
gratificante!
Ainda não descobrira que o maior poder
que possuía era ela mesma, mas vinha
descobrindo aos poucos do que era capaz!
Rony sorriu, rendendo-se ao seu charme.
-Não poderá me enrolar sempre – avisou
provando o doce. – Às vezes tenho vontade de
levá-la a Londres para apresentá-la aos chefes
doceiros das melhores doçarias. Mas tenho medo
de perdê-la diante de alguma proposta irrecusável!
-Porque diz isso? – não compreendia a
que se referia.
-Tem um talento natural Helena – ele
apanhou sua mão e beijou a palma – suas mãos
são capazes de criar os doces mais saborosos que
já provei. Se não acredita em mim, John pode
confirmar.
-Qualquer um pode cozinhar bem... – ela
ficou envergonhada, pois ainda era desconcertante
o modo como ele falava com ela. Elogiava seus
dotes todo o tempo!
-Sim, qualquer um pode cozinhar bem,
mas cozinhar como você é dádiva de poucos – ele
insistiu em segurar sua mão – sente-se ao meu
lado e prove. Está delicioso.
Audaz, ele estendeu a colherinha com o
doce em sua direção e ela abriu a boca, tentada
pelo gosto doce, e também pela expressão
animada de Rony.
Parte sua exultava em saber que sequer se
importara por ter aprontado contra a ex-amante.
Será que no fundo, fizera isso apenas para testar
até onde ia seus sentimentos para com aquela
cortesã?
-Está delicioso não é? -ele perguntou.
-Não gosto muito de doces – ela
confessou e ele abriu um lindo sorriso.
-E do que mais não gosta Helena?
-Não gosto de ficar sem saber as coisas
que vão acontecer – ela confessou sentindo-se
péssima por isso. – Eu...
-Não precisa explicar. Entendo
perfeitamente. Também não gosto de ser deixado
de lado.
-Eu percebi – ela resmungou e ele
instigou-a a falar mais – está sempre atrás de
mim, parece que me segue como uma sombra!
-Sinto, mas não posso evitar. É algo novo
para mim também, pois nunca fui possessivo com
as mulheres. – ele terminou o doce e pediu mais.
Helena o serviu sem esconder o prazer de
fazer isso. Tinha algumas defesas baixas e ele
adorava ver que se tivessem oportunidade,
poderiam conversar e interagir com paz e sossego.
Ela era uma companhia maravilhosa.
-Não posso deixar de relevar ter contado
a minha mãe sobre Alexia. É seu direito estar
aborrecida comigo.
-Como se sentiria se eu colocasse um ex-
amante dentro da sua casa? – ela perguntou a
queima roupas.
Rony sentiu um gosto amargo na boca e
abandonou o doce, empurrando o prato,
desgostoso.
-Não possui ex-amantes – ele disse
amargo – era virgem. Não repita isso nunca mais.
-Poderia ter um ex-namorado. Alguém a
quem tenha amado no passado – ela provocou,
olhando para ele e empurrando o prato para ele de
volta – Coma, fiz porque pediu lembra-se?
Desfazendo a carranca, ele retomou o
prazer de provar seu doce e observou quando ela
levantou-se e cortou metade da torta embalando-a.
-O que vai fazer? – perguntou curioso.
-Deixei uma péssima impressão com sua
mãe – ela contou de costas, a voz um pouco
insegura – pedirei a Duran que leve, como um
pedido de desculpas.
-Minha mãe entendeu exatamente o que
sente – ele disse, levantando-se e a fazendo girar
de frente para ele – Ela sabe que é completamente
apaixonada por mim e que esteve lutando a tarde
toda para não me agarrar e fazer amor comigo
bem no meio de sua sala. Viu, é simples!
-Nossa, quanta modéstia – ela disse
espantada pelo gracejo e pensando se não havia
um fundo de verdade nisso. Sem notar suas mãos
se apoiaram em seus antebraços fortes, e ela
percebeu o quanto estava confortável ali.
-Depois do jantar, arrume uma desculpa
para se recolher mais cedo. Quero que me espere,
sob os lençóis, sem vestir nada. – ele disse baixo,
rouco e excitado.
-E pretende me deixar esperando-o por
quanto tempo exatamente? – havia provocação em
sua voz.
-Tempo suficiente para relembrar John
que não pode seduzir minha irmã, me certificar
que ambos estejam em seus quartos deitados e só.
Não é muito tempo Helena – lhe sorriu.
Ela maneou a cabeça.
-Prometi a Alice que veria as revistas de
moda que John trouxe da capital – ela desculpou-
se, satisfeita em negar a ele aquele capricho – Por
alguma razão Alice acha que gostarei de ver esse
tipo de coisa.
-Talvez porque são amigas e ela te
conheça – ele provocou frustrado.
-Ou talvez, por só ter a mim e uma
cortesã como companhia feminina. A escolha
acaba sendo muito óbvia não é?
Rony teve vontade de sacudi-la para fazê-
la cair em si e parar de menosprezar a si mesma!
-Envie Duran, minha mãe ficará
encantada – ele mudou de assunto.
-Farei isso tão logo me solte – havia um
quase riso em sua voz.
-Decisão difícil – ele fingiu pensar – Me
contento em fazer planos para mais tarde – disse
ao soltá-la contrariado.
-Pois não se esforce demais. Pretendo
cumprir minha obrigação e dormir rapidamente –
ela retrucou, fingindo concentrar toda sua atenção
em embalar o doce.
-Me dê mais um pedaço, para lembrar o
quanto pode ser doce quando quer – ele retrucou
também, esperando que o atendesse.
Não estavam brigando, apenas se
alfinetando e Rony poderia jurar que havia um ar
menos tenso entre eles dois.
Alguns minutos depois, no mais
completo silêncio ambos comiam a tal torta, e era
sem dúvida o último pedaço existente, e ambos
nem notaram que dividiam o mesmo prato,
quando John e Alice regressaram junto a Duran.
Alice abriu um sorriso envergonhado quando
notou que o irmão olhava para seu rubor com
atenção demasiada e apressou-se a fugir de
perguntas indiscretas.
John parecia incapaz de encarar o amigo.
Arrumou algum pretexto e desapareceu também.
Helena levantou-se e seguiu Alice, achando ter
notado algo em suas roupas. Conseguiu alcançá-la
antes que fechasse a porta de seu quarto e com
olhos arregalados, Alice a viu entrar. Em poucos
segundos estava chorando desolada.
-É sangue em sua roupa? – Helena a fez
levantar da cama, olhando para seu vestido onde
havia uma marca de sangue na altura das virilhas
– Isso é sangue?
-Oh Helena, não conte a Rony! – ela
implorou – Por favor, ele brigará com John! A
amizade será destruída! Além disso, John me
prometeu casamento!
-Alice... – ela a fitou incrédula - Não
creio que possa ter feito isso!
-Eu... Foi minha culpa – ela se apressou a
dizer – Eu... Dei um dólar para o menino de
Juanita nos deixar sozinhos na lago. John não
sabia de nada! Queria apenas um beijo! Juro
Helena, queria apenas beijá-lo! Mas os beijos não
tiveram fim... Eu... Oh... Foi tudo tão lindo! – seu
sorriso se abriu formidável diante da lembrança –
na beira do lago, foi tão lindo... Tão perfeito...
Jamais me arrependerei...
-Foi uma traição para seu irmão! Seu
amigo e sua irmã o traíram! Tenho que contar!
-Não faça isso! Papai é capaz de matar
John! Ou obrigá-lo a casar-se comigo!
-É claro que se casará com você! –
Helena estava definitivamente furiosa com Alice e
John.
-Obrigado? Acha que desejo viver o
inferno em que você e Rony vivem? Jamais
obrigarei John a nada!
-Meu Deus, como é tola! – Helena
segurou seu braço e a forçou a sentar-se na cama,
aflita demais para ser carinhosa – e se esse
homem for embora? Alice, e se ele disser que não
foi ele? Como vai provar? Está longe de sua casa,
há outros homens nessa fazenda, muitos
empregados! Nenhum juiz no mundo vai acreditar
na sua palavra se o adversário for um homem tão
rico como John! É bem provável que sua família
perca tudo tentando reparar sua honra! Como pode
agir sem pensar?
-Eu... Eu o amo – ela disse, tremula –
Helena... Eu não pensei... Eu...
-É claro que não pensou! – ela revidou
furiosa – Agora não adianta lamentar!
-Não lamento... Do fundo do meu
coração. Não posso lamentar algo que me fez tão
feliz - ela disse, chorando dividida entre tantos
sentimentos.
Helena lembrou-se de sua primeira noite
e em como aquilo mexera com seu coração.
Não era a mesma pessoa desde aquela
noite.
-Não contarei a Rony por enquanto.
Esperarei até John pedi-la em casamento. Mas
saiba que se isso não acontecer, a
responsabilidade será toda sua Alice. Contará a
sua família e aceitará o que vier sem reclamar!
-Do que está falando? – havia pânico em
sua voz.
-Desonrada, terá que se conformar em
casar com o melhor homem que seu pai puder
achar. Mesmo que não o ame – ela foi categórica.
– E tem mais – notou o medo nos olhos azuis –
Isso não pode voltar a acontecer, por mais que o
ame, por mais que ele insista, por mais que lhe
faça promessas. Se amanhã até o fim do dia não
lhe pedir em casamento, se afaste!
-Por quê? O mal já está jeito! – ela disse
assustada.
-Porque será ainda pior se ficar grávida. –
lembrou-a.
-Acha que posso... – ela ficou em pânico.
-Não – disse apenas para tranquilizá-la –
Controle seu amor Alice, para não se prejudicar e
levar a ruína toda sua família. Mesmo que John
seja um canalha, ainda assim não merece morrer,
muito menos um de seus familiares merece passar
o resto da vida numa prisão.
-Eu o amo tanto Helena – ela derramou
lágrimas aflitas e Helena compadeceu-se.
Sentou ao seu lado na cama e abraçou-a
como no passado. Com todo seu carinho.
-Dê uma oportunidade a John, diga-lhe
porque não o deixará se aproximar mais. Se for
honrado e estiver apaixonado a pedirá em
casamento. E se não o for... É melhor que case
com outro a viver uma vida de amarguras.
-Acha... Que ele me ama? – havia muita
fragilidade em sua voz.
-Acho que John é um bom homem. Se
lhe fez amor sabendo que é virgem, é porque tem
fortes idéias a seu respeito. Apenas não se
conteve.
-Isso é possível? Um homem não se
conter? – perguntou cheia de esperanças.
-Homens pensão como animais quando
estão... Desejosos de uma mulher. – ela disse
corando um tanto envergonhada.
-Aprecia... Do mesmo modo que eu
apreciei quando meu irmão a tem por esposa? –
Alice precisava conhecer mais.
-Odeio dizer que sim – ela revelou antes
que pudesse conter as palavras. –Agora, tire esse
vestido e me espere. Trarei água para que se lave.
E me deixe sumir com esse vestido antes que
Juanita o veja. Ela é boa, mas tem uma língua
cumprida e não gosta de você.
Apressada, Helena ajudou-a a tirar o
vestido e as roupas íntimas, reconhecendo marcas
vermelhas na pele branca de sua amiga, e vendo o
pequeno sorriso que ela emitia ao notar também.
-Não sorria desse jeito. – ela mandou,
sorrindo também – O que tem nessa cabecinha?
Vento?
-Amor – Alice disse rapidamente –
Tenho amor em minha cabeça e em meu coração!
-Sim, sim, o amor. Como não pensei
nisso? – ela ironizou, fazendo uma trouxa com o
vestido e o calção íntimo. Escondeu-os entre um
lençol velho e disse antes de sair.
-Espere e reflita. Não pode deixar seu
irmão suspeitar disso!
Apressada, ela quase morreu de susto ao
dar-se de cara com Rony na sala, perguntando-lhe
porque lavaria roupas tão tarde.
-Alice... É impossível que beba vinho
sem destruir alguma peça de roupa – ela disse
apressada e nervosa – É seu melhor vestido, não
seria agradável se ficar com uma mancha.
Num canto da sala, John tinha a cabeça
baixa e quando ela o olhou ele ficou ainda mais
envergonhado. Seus olhos verdes lhe diziam que
jamais poderia olhar novamente para o amigo de
cabeça erguida.
-Melhor será avisar Alice que Juanita
terminou o jantar – ele disse se aproximando e
Helena se afastou segurando a trouxa de roupas
contra o peito, apavorada.
-Acho melhor que ela não desça. Vou
levar água para que se refresque e a deixarei
deitada. Pobrezinha, pegou muito sol essa tarde e
está com os nervos a flor da pele - disse olhando
para John.
-Não será possível que tenha sido picada
por algum inseto venenoso? – Rony perguntou
lembrando-se que a irmã era alérgica a abelhas
desde a infância.
-Não, e se o fosse, teria sido uma cobra
peçonhenta – revidou com ódio, olhando para
John com amargura.
Culpado, ele não ousou defender-se e
sem entender aquela troca de olhares, Rony
deixou-a ir.
Havia algo acontecendo entre Helena e
John e que Deus o ajudasse, mas isso não iria
acabar bem.
Capítulo 54 - Tanto sacrifício

Havia uma ruga em sua testa, uma ruga


que indicava seu estado de preocupação. Durante
toda aquela refeição, Helena não falara.
Sobretudo, o silêncio de John era gritante.
Talvez cumprindo seu pedido, ou apenas
ansiosa para fugir daquela situação
desconfortável, ela arrumou uma desculpa e se
recolheu mais cedo.
Embora tentasse pensar de forma
positiva, que estava ansiosa pela noite que teriam,
uma vosinha interna o alertava que era
imaginação e esperança tola. Helena estava
escondendo algo.
Talvez o mesmo segredo que John lhe
escondia. Não era cego. Podia ver claramente o
arrependimento de John. O nervoso.
Uma súbita imagem dele se declarando a
sua mulher, o fez levantar-se da mesa e encerar o
jantar. Se fosse isso, ele jamais perdoaria John.
Não poderia imaginar a própria reação
diante de Helena, mas sabia que nunca mais seria
capaz de confiar e amar alguém. Talvez a
perdoasse, não sabia. A simples ideia era
sufocante demais para pensar no assunto.
Precisando urgentemente aliviar essa
sensação, apressou o passo para o quarto. Entrou,
e fechou a porta, a tempo de vê-la desabotoando o
vestido.
Surpresa, fitou-o, pois esperava que
demorasse um pouco mais.
-O que fez durante toda a manhã em que
estive fora?
A pergunta era direta. Essa fora a
primeira oportunidade que teriam a sós desde que
John chegara, nos demais dias sempre estivera
próximo.
-Como assim? – parou o que fazia o
vestido esquecido.
-quero saber exatamente o que fez
durante toda a manhã e não minta, ou saberei! –
exigiu furioso com a ideia de traição.
-O que acha que fiz? – ficou na defensiva
– Acordei, tomei café da manhã, conversei com
sua irmã, preparei sua torta...arrumei o quarto,
hã...me livrei de sua amante por algumas
horas...e...
-E? -ele se aproximou os olhos nublados
pela desconfiança.
-Descasquei batatas para o almoço! –
afastou-se irritada – Isso, até aparecer e me levar à
força para ver seus pais! Porque esse
interrogatório? O que pensa que fiz?
-Está falando a verdade? – agarrou seu
braço com força e ela ficou assustada.
-Pergunte a Alice, esteve comigo a
manhã toda – era algo sério, o bastante para
deixá-lo fora de si. – Porque está tão furioso?
-Acaso não sabe? -ele não conseguiu
afastar a imagem dos dois juntos, pelas suas
costas – Acaso não notou o olhar de John sobre
você?
-O que...do que está falando? – confusa,
não tentou se soltar.
Sua expressão era tão sincera, que ele
soltou seu braço, segurando seu pulso, e
acariciando onde a pele avermelhara.
-Tenho reparado no modo como John a
olha. Com tanto interesse, tanta admiração...ele
tentou uma aproximação? Disse-lhe como se
sente? Fez-lhe elogios? Prometeu-lhe algo em
troca de seus carinhos?Diga a verdade, Helena!
Chocada, ela se afastou.
-Está falando do seu melhor amigo – ela
lembrou-o – o mesmo homem que está fazendo a
corte para sua irmã! Como pode achar que estaria
me falando coisas românticas pelas suas costas?
Ou pior, que eu estivesse ouvindo?
-Não é segredo para ninguém que me
detesta – ele lembrou-a.
-Tem razão – concordou, ofendida.
Ofendida demais para brigar. Com raiva
sufocando, ela terminou de desabotoar o vestido, e
desceu-o, ficando só com as roupas de baixo.
-Helena – ele chamou, achando que a
conversa não podia acabar ali.
Ela não respondeu. Como aquele homem
poderia achar que era tão fútil e falsa a ponto de
envolver seu melhor amigo em uma trama de
sedução?!!!!!!
A magoa cresceu tão rápido, que ela não
se deteve. Tirou a roupa sem se importar se era
observada ou não. Soltou os cabelos, com ódio,
quase arrancando os fios, e enfiou-se embaixo do
lençol, dizendo com voz amarga:
-Quero dormir, então, por favor, se
apresse.
Seu tom, sua petulância, contribuíram
para que a fogueira que o queimava em ciúme e
dúvida aumentasse e extrapolasse.
-Abra as pernas – ele mandou quando
ficou nu e subiu na cama.
Furiosa, ela ergueu o lençol revelando as
pernas, e somente elas, e entreabriu-as.
-Abra mais – ele mandou sufocado pelo
desejo e ódio.
A imagem de John vendo-a desse modo,
conhecendo-a tão intimamente, o fazendo cego
para a realidade.
E a realidade, era Helena de braços
cruzados sobre o peito, mantendo o lençol no
lugar, tensa, e rija, incapaz de olhar para ele sem
querer arrancar sua cabeça e colocar na parede,
como um adorno!
Deveria gritar aos quatro ventos que fora
incapaz de guardar a honra da irmã, e garantir
assim sua completa humilhação diante de toda a
sua família, apenas não o faria pelo bem de Alice.
Jamais por causa dele!
-Olhe para mim – mandou, enquanto se
ajeitava entre suas pernas, de joelhos.
-Para que, se estarei pensando em John?
– provocou.
-Eu mandei olhar para mim – ele disse
entre dentes, o desejo correndo em suas veias, as
mãos tentando arrancar o lençol, mas ela
segurando com ambas as mãos. – Pare com isso,
Helena!
-Não ouse gritar comigo! -ela gritou de
volta – Quer que sua amante saiba do pouco
respeito que tem por mim? – fez referência a
Alexia que dormia no quarto ao lado.
-É por isso que quer me dar o troco
usando John? Esperava mais de você! – ele jogou
o lençol do outro lado do quarto, agarrando seus
braços e segurando-os contra o lençol.
-Esperava mais o que? Como poderia
traí-lo se não me deixa respirar? Não consigo dar
um passo sem que esteja atrás de mim como uma
sombra! – ela reclamou, sentindo os olhos se
enxerem de lágrimas – Não me acuse de cosias
que sabe que não sou capaz de fazer! Não me
julgue pelo seu próprio comportamento! Muito
menos me culpe pelas suas fantasias! Pelas suas
desconfianças!
Essas palavras o fizeram parar e fita-la
com amargura. Helena tinha toda a razão. Estava
cego de ciúmes, por isso não via que John seria
incapaz de traí-lo, assim como Helena seria
incapaz de ser amoral.
-Não consigo tirar essa imagem da minha
mente –ele tentou explicar.
-Que imagem? – ela perguntou com a voz
tremula, apesar de não querer chorar. Vinha tendo
esses rompantes de choro por qualquer coisa e
detestava isso!
-Vocês dois sozinhos, trocando
carinhos...beijos. – ele falou olhando para seus
olhos, sem saber se ela poderia entendê-lo.
-Está me culpando por algo que está
apenas na sua cabeça? – perguntou incrédula.
-Estou louco - ele concordou.
-Pois acho que deve pedir perdão a John
por pensar tão mal dele!
-E a você? Não devo perdão? – perguntou
sem compreender.
-Não. Não me deve nada, nem eu lhe
devo algo. Não somos nada um do outro. Não me
importo com você! E ficaria feliz se me deixasse
em paz!
Estava ferida por sua desconfiança.
Mortalmente ferida.
Rony soltou seus braços e se afastou,
apesar da ereção. Apanhou o lençol e colocou
sobre ela. Deitou-se ao seu lado embaixo do
lençol.
Surpresa, ela esperou algum movimento.
-Quando estiver mais calma,
continuaremos – ele disse pensativo e Helena
olhou para seu baixo ventre, e ele pegou esse olhar
– Não se preocupe, estarei aqui, esperando por
você. – tentou uma brincadeira.
-Pensei que os homens não pudessem se
conter quando...- calou-se antes de expressar sua
curiosidade.
Não era mais uma virgem boba, sabia
muito bem o que era desejo e como se consumava
tal sentimento. Conhecia melhor o sexo que
muitas mulheres casadas que nunca tiveram um
marido tão entregue a paixão. Mas em alguns
aspectos ainda era ignorante.
-É doloroso conter o desejo, Helena – ele
apoiou-se em um dos braços, para olhar para ela,
se perguntando se notava que a raiva havia ido
embora. – Para um homem, é além de tudo
doloroso fisicamente, mas não é desculpa para se
cometer desatinos contra uma mulher, além do
mais, sempre é possível se aliviar sozinho. Mesmo
porque, a dias do mês, que uma mulher não pode
satisfazer o marido. – sorriu para ela – quando
tivermos uma relação todos os dias, Helena,
haverá o período de sua menstruação, em que
teremos que achar outra forma de satisfazer o
desejo. Aliás, me diga quantos dias do mês, terei
que esperar.
-Não falarei com você sobre isso! -ela
disse chocada.
-Porque não? Sou seu marido.
-Um marido que me acha capaz de ter
amantes? – alfinetou.
-Um marido que sente ciúmes. Helena,
nunca fui assim, está sendo difícil lidar com um
sentimento tão novo. – desculpou-se.
-Três dias – ela disse de repente,
envergonhada.
-três dias é uma eternidade. Teremos que
achar um meio de passar o tempo nesse período –
sorriu malicioso.
-Se esquece que não pretendo dormir com
você quando acabar os sete dias?
-Se esquece que ficaremos casados para o
resto da vida? -ele devolveu no mesmo tom,
menos tenso. – Não seja má, Helena, me toque.
Deixe-me mostrá-la os outros modos de fazer
amor que existem.
-Para que? – perguntou, tentando acalmar
o acelerado coração que batia alucinado dentro do
peito.
-Para que possa desmaiar de prazer nos
meus braços – prometeu. – Além disso, devemos
aproveitar essa semana, visto que não haverá
outras. – argumentou, para confundi-la e
conseguir o que desejava.
-Eu...- engoliu em seco – não quero
conhecer nada disso. Por favor, acabe logo com
isso para que possa dormir! -pediu, com um tom
de desespero na voz.
Rony olhou para ela agredido em seu ego.
Por mais que dissesse a si mesmo, que Helena
tinha medo do amor, de se apegar, ainda assim,
doía ser rejeitado.
-Deite-se contra os travesseiros – ele
mandou, cansado desse jogo de tentar agradá-la.
Era hora de pensar só em si mesmo. Teria o prazer
que buscava, e se ela gozasse bom para ela, pois
não se esforçaria muito para agradá-la!
Um pouco incrédula por seu tom, ela
puxou os travesseiros e recostou as costas contra
eles, mantendo os braços cruzados sobre o peito.
Rony afastou o lençol, e a descobriu
novamente. Ela cerrou as pernas, bem fechadas,
mas ele não estava mais se importando.
Excitado, ajoelhou-se e apanhou o pênis
manipulando, enquanto a forçava a abrir as
pernas. Dessa noite ela tiraria uma lição. Somente
a possuiria quando estivesse perto do fim, para
deixar-lhe com o gosto do desejo. O mesmo gosto
amargo que carregava consigo em cada minuto do
seu dia.
Mantendo os olhos fixos em seus seios
médios, empinados e túrgidos, continuou se
masturbando, enquanto devorava com os olhos os
mamilos rosados, eriçados e pontiagudos, que se
enrugavam diante do seu olhar. Seguiu o olhar
para sua barriga lisinha, o umbigo côncavo e
diminuto, que parecia pedir um beijo.
As coxas firmes, pelo habito de montar,
as pernas curtas, porém bem desenhadas, o vale
escorregadio, rosado e úmido entre suas pernas
parcialmente separadas...precisou empurrar seu
joelho e segura-lo com uma das mãos para abri-la
a seu olhar.
Tão pequena, tão suave...cheirava tão
bem, e ele quase sucumbiu. Jogou a cabeça para
trás, quando sentiu àquele familiar calor subir por
sua espinha, e seu pênis enrijecer ainda mais em
sua mão, enquanto os movimentos aumentavam a
ponto de gemer, e fechar os olhos, mas não por
muito tempo, se tinha a viva imagem do seu tesão
diante de si.
Inquieta, Helena estava sem fôlego,
observando a beleza do homem que estava diante
de si. Selvagem e totalmente sem pudor,
mostrando a ela uma face nova do amor. Ingênua,
não sabia de seus planos em frustrá-la.
Ela tentou fechar as pernas, mas Rony
não deixou, não sabia que não era de vergonha,
era apenas para tentar aplacar a sensação que
crescia em sua intimidade, uma necessidade tão
grande que achava que explodiria se não fosse
tocada. Sentia o corpo em brasas e o ar faltando,
como se ele estivesse junto dela, possuindo-a.
Era tão erótico olhar, tão intenso, que o
aquela sensação em seu ventre a fez desejar se
tocar. Como na noite passada, por os dedos lá
embaixo e aliviar aquela dor. Mas não faria. Não
tinha coragem!
Irrequieta, molhou os lábios quando ele
gemeu mais forte, e se aproximou. Ansiosa,
ergueu o quadril, para recebê-lo. As pernas
trincaram em volta dele, e sufocou um grito
quando foi profundamente penetrada. Uma das
mãos agarrou o travesseiro enquanto a outra
agarrou o ombro de Rony, desejando que não se
movesse ainda. A sensação de abundância era tão
grande, o pulsar no fundo do seu corpo tão
excitante, o calor tão inacreditável, que ela fechou
os olhos, sentindo o prazer tremer tudo dentro
dela. Ele tentou se erguer e começar a se mover,
quando roçou sem querer sobre o ponto mais
sensível, e ela dobrou uma das pernas, contra sua
coxa masculina, se contorcendo sob ele.
-Hum... Oh... hum - os gemidos dela o
surpreenderam, e parou no mesmo instante.
Não era isso que planejava!
Refreando o impulso de investir, ele saiu.
Helena ergueu o quadril desesperada ao sentir
todo aquele comprimento inchado saindo de
dentro de seu corpo.
-Rony... – era um profundo gemido de
lamento e ele tremeu da cabeça aos pés pelo
esforço de se conter.
Masturbou-se como um louco, o desejo
tão intenso que ameaçava consumi-lo.
De olhos bem fechados, estava quase
acabado, quando sentiu. Um suave toque sobre
sua mão, que o fez parar e abrir os olhos.
Helena estava sentada, longe dos
travesseiros e tentava tirar sua mão e substituir
pela dela. Achando que não sobreviria a isso, ele
deixou.
A mão pequena se fechou com a pressão
certa em volta da carne sensível, e ele se pegou
gemendo completamente entregue.
Poucos movimentos, não precisou de
muitos, por mais que ela estivesse curiosa e
quisesse que demorasse mais, ele apertou a face
numa dor desesperada, e gozou aos gritos.
Helena estava incrédula e fascinada,
observando a forma como ele reagia, e olhou para
si mesma, onde o liquido branco escorria, por seu
pescoço e seios,e achou que não estava certo que
diminuísse em sua mão.
Soltando-o, se deitou novamente, com as
pernas separadas e mal conseguiu falar:
-Rony...?
Ele olhou para sua mulher que o
esperava, e achou que morreria. Helena não
percebera seu intento em frustrá-la. Achava que
fazia parte do ato. Passando uma das mãos pela
face, ele limpou o suor e se preparou para o
combate.
Não a deixaria frustrada, não assim, tão
exposta e pedinchona.
Era uma evolução incrível, e sentia-se na
obrigação de cumprir seu dever...esse pensamento
o fez sentir-se o homem mais viril desse mundo!
Deitando-se entre suas pernas, ele deixou
a cabeça pousar em seus seios, e abocanhou um
deles, sugando e mordendo, enquanto ela se mexia
embaixo dele, urgente por mais.
Sentindo que enrijecia rapidamente,
esfregou-se contra seus grandes lábios, ajudando-a
a ter algum alívio enquanto a natureza o fazia
pronto novamente.
Chupou, lambeu e mordeu seus seios,
quase com reverencia, adorando o modo como ela
estava presa sob ele. Seu peso, deveria sufocá-la,
mas o modo como ela se esfregava e se oferecia
dizia o contrário.
-Helena, seu corpo é tão quente...tão
macio – ele disse, erguendo o dorso para beijá-la.
Um beijo que Helena correspondeu, quase
arrancando seus cabelos, em puxões que não
deixavam dúvida sobre sua vontade.
Torturador, esfregou o pênis sobre seu
clitóris, até sentir que ela abandonava seus lábios
a beira de se confrontar com apenas isso. Só que
agora, era ele quem queria mais!
Ao inferno com vingança!
Olhando para baixo, se encaixou e
escorregou lentamente para o interior aveludado.
Saboreou todo o caminho, surpreso, ao sentir os
beijos que ela lhe dava no pescoço. Ergueu a face,
deixando que os lábios macios subissem por seu
queixo, contornando o maxilar, as bochechas até
achar os lábios. Seus carinhos tímidos, eram
quase mais eróticos que a sensação de estar dentro
de sua carne tenra.
-Continue com os beijos, Helena – ele
pediu, suando, e se movendo lento e
pausadamente, rodando os quadris para
enlouquecê-la.
Ela obedeceu, descendo os lábios pelo
pescoço, chupando a pele, sem saber que isso
garantiria marcas no dia seguinte. Desceu os
lábios para seu ombro, tento que parar para gemer
e se contorcer, pois o prazer era devastador. Com
uma missão, seguiu beijando a pele retesada,
depositando beijos úmidos, pelo peito amplo, sem
saber de onde tirara a ousadia para lamber os
mamilos masculinos, mas sentindo que era
exatamente isso que deveria fazer.
Os grunhidos de Rony a incentivaram, e
ela precisou parar quando num arremesso mais
fundo, perdeu a capacidade de pensar. Agarrada a
ele, se rendeu aos gemidos, de olhos fechados,
forçado os quadris a acompanhar o vai e vim forte.
Helena passou aos braços pela cintura de
Rony, e trancou as pernas em suas costas, no
momento em que ele alcançou a maior penetração
possível, e o prensou ali, tão fundo quando era
possível ir. Ele não deixou, pois tinha planos para
ela, e num movimento brusco, soltou-se,
empurrando-a, na cama, até estar de costas. Seu
rosto contra o travesseiro, e antes que reclamasse,
ele voltou.
Helena choramingou, pela brusca
entrada, mas não reclamou. Deitada de bruços,
sentia-se sendo empurrada contra o lençol a cada
funda investida. Rony manteve suas pernas bem
separadas enquanto ia e vinha, entre suas nádegas
roliças. Não estava de quatro, estava deitada, e
desse modo tornava-se ainda mais apertada, e
Rony cerrou os dentes, sem aguentar tamanha
pressão devastadora.
Helena sentia o corpo todo espremido,
roçando nos lençóis, e de repente, em sua pele
hiper sensível essa fricção foi tão prazerosa e se
entregou novamente. Ele batia com força, contra
ela, enchendo o quarto com o cheiro do sexo, e os
gemidos e aquela onda de prazer crescia de tal
modo que a sufocava. Helena estava mordendo o
tecido do lençol, quando ele baixou a cabeça e deu
uma forte mordida em sua nadega direita.
Ela gritou contra o travesseiro, sua bunda
se erguendo com força e se chocando contra ele,
enquanto gozava profundamente.
Rony também gozou no instante em que
ela se tornou uma prisão firmemente fechada em
volta do seu pênis, levando tudo dele. Suas pernas
estavam retesadas, esticadas e tensas, e ele saiu,
para aliviar sua tensão.

-Não faça isso! –ela reclamou, e ele


voltou.
-Não posso mais. Foi demais para mim,
me dê um instante – ele sussurrou, caindo sobre
ela. Estava profundamente fincado, mas imóvel.
Por uns cinco minutos, ele esperou se
recuperar, antes de se afastar. Helena não
reclamou dessa vez, agradecida por ele ter lucidez
o bastante para deixá-la descansar.
-Você é maravilhosa – ele beijou seu
ombro, deitando ao seu lado, acariciado suas
costas nuas e seus cabelos – Me diz se te fiz feliz,
Helena. – pediu, insistindo na caricia em seu
ombro.
-Porque acha que o seu amigo se
interessa por mim?
Ele ficou tenso diante da pergunta.
Estava completamente fora de área diante das
emoções divididas com ela, e Helena estava
pensando em John? Seria isso?
-Estava tentando lembrar se alguma vez
ele foi desrespeitoso e não tenha notado – ela
franziu as sobrancelhas e Rony percebeu que ela
tinha pensamentos preocupados e não românticos.
-Esqueça esse assunto, Helena, sou um
homem louco de ciúmes. – ele aconselhou,
sorrindo para que ela se acalmasse.
Helena sorriu de volta, tão relaxada que
poderia levitar. A princípio, durante todo o ato
seus músculos pareciam rijos e de pedra, tensos ao
extremo, mas ao terminar, sentia-se mole e sem
forças. Um profundo suspiro escapou de seus
lábios e Rony adorou saber que era a razão de seus
suspiros.
-Amanhã à noite, quero sentir seus lábios
por todo meu corpo – ele avisou, beijando-a por
vários minutos.
Quando se separaram, ele a fez rolar em
seu peito, e descansar a cabeça sobre seu coração.
-Disse que me morderia – ela lembrou,
do dia anterior, quando prometera isso.
Sua mão grande correu sobre a bunda de
Helena até ouvir seu gemido de dor, e lamentou a
própria imprudência.
-Não era para ter sido com força.
Desculpe.
-Não peça desculpas a mim, mas a suas
visitas, quando não puder me sentar a mesa. –ela
retrucou e ele soltou uma gostosa gargalhada.
-Você é a alegria da minha vida, Helena
-ele disse ainda rindo, e roubando-lhe um último
beijo, antes de se ajeitarem para dormir.
Com o lampião apagado e o mais
completo silêncio, algum tempo depois, ouvindo
os roncos de Rony, Helena ergueu a cabeça ao
ouvir passos no segundo andar. Passos muito
leves e o som de uma porta sendo aberta e
fechada.
Alice não tinha juízo! Se não estivesse
tão cansada, e languida, teria lhes dado um
flagrante, mas não nessa noite, pensou, se
aninhando novamente aquele peito forte.
Adormeceu ao som dos roncos de Rony,
inebriada pelo cheiro de sua pele e pelo calor do
seu corpo...
Capítulo 55 - Cutucando a onça

A todo instante, os olhos de Alice se


erguiam do prato e fitavam John com devoção.
Helena poderia entender o que sentia. Esse
sentimento vinha tomando conta de sua vida, com
tal força, que precisava lutar bravamente contra o
impulso de ficar olhando para seu marido. Odioso
marido.
-Rony, minha vida, essa manhã me fará
companhia? – a voz melodiosa de Alexia quebrou
a paz e o sossego da mesa do café da manhã. –
Passei um dia terrível, meu amor, trancada
naquele quarto, esperando que me resgatasse!
-Sinto muito, Alexia – ele disse – Tenho
trabalho a fazer, quem sabe, mais tarde possa
levá-la para um passeio. – disse para fugir da
situação, mas ficou surpreso quando foi alfinetado
indiretamente:
-Quem sabe, o Sr.Harrison. Não pode
acompanhá-la, visto que são íntimos?
John quase se engasgou com o café,
achando uma desculpa qualquer para se negar e
sair da mesa. Helena tinha prazer em ser
desagradável quando sentia-se enfurecida, e Rony
sentou as suspeitas aumentarem.
John enfurecera sua mulher por alguma
razão!
O café não durou muito tempo, a despeito
da qualidade do café e do pão. Rony saiu para o
trabalho, e Alexia refugiou-se no quarto, para
fugir do convívio com Helena.
Sozinhas na mesa, visto que Juanita
estava lavando roupas, Helena sussurrou:
-Como pode ir ao quarto dele?
-Como sabe? – Alice ficou surpresa –
Achei que estivessem dormindo! – ela sorriu
maliciosa – Acaso meu irmão a deixa acordada
durante toda a noite?
-Não seja desinibida, Alice! Se o seu
irmão suspeitar que sabe dessas coisas, vai estar
em apuros!
-Não exagere, Helena! – Alice suspirou –
Pensei muito sobre isso. Se John...eu disse ‘se’ ele
não quiser se casar comigo, irei poupar a todos da
vergonha. Vou para um convento.
-Fácil decisão, não é? – Helena ironizou.
-Sei apenas que não poderei me casar
com outro homem! Jamais deixarei outro me
amar! Amo tanto John!
-Acaso sabe a fortuna que é manter uma
mulher em um convento? – Helena replicou
irritadiça.
-Papai pagou os estudos de Rony! Porque
não pagaria minha estadia em um convento? –
havia petulância em sua voz.
-E a falta que fará a sua família? A sua
mãe? Acaso pensa que será tão fácil assim
abandonar a todos que a amam? Pense, Alice!
-Helena... –ela lacrimejou e Helena
amenizou o tom de voz.
-Acho o mais prudente, esperar pelo
pedido de casamento. Depois, é melhor manter
tudo em sigilo. Esta me entendendo? Se ele não
falar nada, você também não fala! A menos que
aceite um casamento obrigado, então, me avise
para darmos o flagrante, de outro jeito um homem
com tanto poder jamais será levado ao altar!
-Faz tudo parecer tão sórdido! – Alice
ficou chocada.
-Sórdido não, prático. Sórdido é desonrar
uma menina e não assumir a responsabilidade! –
tentando se acalmar, ela disse pensativa – talvez
devesse aproveitar que seu irmão não está e falar
com John sobre o casamento.
-Oh, não faça isso! Não quero que ele me
ame por obrigação! – Alice desesperou-se – O
aceito apenas por amor!
-Certo, fale baixo! Não quer que alguém
nos ouça, quer? De qualquer forma, não posso
mais ficar a sós com John... – deixou escapar.
-Porque não? – Alice ficou na defensiva.
-Porque seu irmão é completamente louco
e sente ciúmes até do melhor amigo!
-Como...como assim?
Helena não notou que para Alice era um
assunto sério, pois para ela era uma completa
bobagem!
-Rony acha que tem algo especial no
modo como John me olha. Mas sabemos que seu
irmão é um parvo! Então, porque levá-lo a sério?
Levantando-se, ela juntou a louça suja e
disse:
-Me ajude a lavar a louça.
-Porque acha que pode mandar em mim?
– Alice perguntou ficando escarlate de raiva.
-Não posso, e não estou mandando. Mas
não ficará nessa casa como uma inútil apenas
arrumando problemas! – alfinetou – Alice, faça
algo de útil, e pare de pensar em besteiras! Se o
seu irmão não estivesse tão exausto...poderia ter
sido ele a ouvir seus passos e não eu!- disse com
uma ponta de horror na voz.
Alice ficou em silêncio e ajudou a secar
os pratos, até que em determinado momento,
incapaz de manter a boca fechada, ela cutucou
Helena com o braço e disse risonha:
-Exausto, é?
Helena não pode evitar de sorrir e logo
elas riam. Era como voltar aos velhos tempos,
onde ainda eram amigas.
Obviamente, que o humor não durou
muito, pois Alexia surgiu na cozinha,
atrapalhando a vida de Helena, que em uma
carranca, começou a maltratar os pratos e os
talheres.
Uma hora depois, Helena arrumou uma
desculpa qualquer para tirar Alice de perto de
Alexia. Mesmo tendo perdido a virgindade e
transformando-se em uma mulher, Alice ainda era
muito imatura e ingênua e essa mulher seria
terrível companhia para ela.
Afinal, Alice não precisava de mais
conselhos para fazer besteiras!!!!
Ao proteger Alice, ela se viu frente a
frente com Alexia e sozinha. John havia se
trancado em seu quarto, com uma desculpa
qualquer, e Juanita estava cuidando das roupas.
Tentando não se importar com ela,
cuidou da cozinha,sentindo seus olhos fixos em
cada movimento seu. Olhava minuciosamente,
cada detalhe, a procura de defeitos.
Em outros tempos, Helena não ligaria.
Mas aquela mulher havia dividido a cama de
Rony e o conhecera do mesmo modo que o
conhecia. Em outras noites do passado, fora
aquela loura quem adormecera exausta em seus
braços!
Esse pensamento a fez bater uma gaveta.
-Pode me servir um copo de água? –
Alexia perguntou acariciando a barriga, no entanto
sem dedicar um único olhar. Tinha os olhos
gelados, fixos em Helena – é católica, Helena?
-Sra.Parker -ela ironizou, detestando ter
aquela mulher falando seu nome.
-É católica, Sra.Parker? – ela insistiu,
bebendo sua água com lento cuidado.
-Sim, porque a pergunta? – por mais que
detestasse lhe dar atenção, não podia evitar a
vontade de brigar.
-Sabe que Deus não apreciaria que um
bebê nascesse sem o seu pai?
-Sinto muito, Srta.Lil, mas comigo pode
poupar seu discurso de cortesã! Não sou
manipulável como as outras senhoras que deve ter
conhecido. Não vou me deixar manipular por fé.
Sou católica, conheço a bíblia, e conheço também
tipos como você.
-era de esperar que uma mulher tão feia,
tivesse grande amargura pelo mundo a sua volta –
Alexia respondeu, sofredora por ver seu discurso
ir ralo a baixo!
-Sua opinião a meu respeito não me
importa – Helena disse, segura por fora, mas
tremendo por dentro.
-Tento não sentir pena de uma criatura
tão desagradável, mas não consigo. Pobre Ronald,
tendo que conviver com tanto recalque! Sente
prazer em fazer a vida dele um inferno? – disse
calmamente.
-E porque deduz que sua vida seja um
inferno? – não conseguiu evitar a pergunta.
-Rony, meu amor, sempre foi um homem
voraz. Sempre apreciou a beleza e o prazer. E
agora, deve lamentar a má sorte que o faz ter em
sua cama, uma mulher como você.
-Não discutirei minha vida conjugal com
uma cortesã.- definiu.
-Pois deveria, ao menos, poderia dar-lhe
alguns conselhos sobre como dar prazer a Rony.
Pois obviamente, ele deve estar frustrado com...o
que possui.
Helena sentiu o impulso incontrolável de
contar a ela da forma como era perseguida dia e
noite por Rony. Mas não o fez.
Helena não percebeu, por não ter tanta
experiência, mas seu olhar dizia claramente a
Alexia. Dizia o quanto era satisfeita, e o fazia um
homem satisfeito, e havia tanta certeza em seu
olhar que Alexia quase desistiu.
Uma pena que a própria Helena não
sabia desse poder.
Frente a olhos sagazes, Helena era um
livro aberto. Uma jovem com muitas tragédias,
sempre na defensiva, tentando se proteger. Era
uma faísca de fogo sempre pronta a se incendiar.
Alexia notava claramente seu coração apaixonado,
mas também notava sua relutância em apreciar e
viver esse amor. E com sentimentos desse tipo ela
sabia jogar.
-Acaso não se importa em ver seu marido
infeliz? – Alexia insistiu.
-Acha que o libertando do nosso
casamento estarei contribuindo para sua
felicidade? – Helena fez ares de inocente – Acha
mesmo que um homem jovem, honesto, com um
futuro brilhante, será feliz ao ter o estigma de
carregar uma cortesã desqualificada e um filho
bastardo nas costas?
-Helena – uma voz atrás dela a fez se
calar.
Juanita segurava uma bacia de roupas
contra o quadril volumoso,e um de seus meninos,
que já tinha idade suficiente para entender o que
ouvia, do seu lado.
-Juanita, eu não penso isso sobre você! –
apressou-se a dizer, em pânico ao ver seu olhar
magoado.
-Aqui não é o melhor lugar para
discutirem – ela lembrou a Helena – Para ser
franca, não há razão para uma senhora discutir seu
casamento com uma rameira. – virando-se para
Alexia, disse – Volte para seu quarto, não deve
desfilar por aí. Quer que seu filho nasça numa
cozinha?
-Essa casa é minha, não eleve a voz para
mim – Alexia disse furiosa – Enquanto meu
homem estiver aqui dentro, não pode me
maltratar!
Juanita soltou uma gostosa gargalhada,
fitando a outra com reconhecimento.
-Porque finge não ver a verdade?
Era uma conversa que Helena não
entendeu. Ambas trocaram um longo olhar e
faltou experiência de vida para que Helena
entendesse que as duas sabiam que o casamento
deles era insolúvel. Eram um casal apaixonado.
Nada poderia intervir, nem mesmo o poder de
uma cortesã.
-Prepare um lanche, serviçal. Não me
faça exigir que Rony te puna pela ousadia! –
Alexia levantou-se com dificuldade, indo para a
sala de estar, como se fosse à dona daquela casa.
Juanita ignorou o comentário, mas
Helena sentiu o sangue ferver.
Como uma locomotiva, foi atrás.
-Enquanto estiver dento da minha casa,
não dará ordens a quem quer que seja! –
esbravejou, recebendo de volta um olhar satisfeito
e languido.
-E porque não? Rony, é meu. Tão meu
quanto jamais saberá, sua coisa sem graça! Tenho
poder sobre ele, um poder que jamais conhecerá.
Ele está impressionado com a gravidez, mas assim
que meu corpo voltar a forma antiga, estará
rendido e voltaremos a ser o casal de sempre! Ou
não percebeu suas intenções ao me deixar ficar?
-E quais seriam suas intenções? – Helena
ironizou, as mãos na cintura, pronta para o
combate.
-Manter-me nessa casa, é claro. Talvez
encontre um sanatório para você. Isso e muito
comum em Londres. Esposas loucas são
internadas para que seus maridos possam ser
felizes ao lado de uma boa mulher lúcida!
-Acredito que quem mereça um sanatório
é você! Como ousa entrar em minha casa e...
-Ouso! – Alexia elevou a voz – Ouso
porque sei que a ambição falou mais alto que o
amor! Que Rony se deixou levar por seu gênio
esquentado e entusiasmado! Esse casamento é um
meio para um fim! – ela apontou um dedo para
Helena – Não permitirei que o único homem que
amei fique preso a uma mulher horrível, detestável
e feia!
-Sua opinião a meu respeito não me
interessa! – Helena disse seca e ofendida,
tentando conter a vontade de esganar àquela
mulher insuportável.
-A minha opinião é a mesma de Rony!
Fico com pena do meu amor, ao pensar na
tragédia que são suas noites, tendo que tocar uma
mulher tão...tão asquerosa! Tem a postura de um
homem, e um corpo digno de pena!
-Não sabe o que está dizendo! – Helena
sentiu o controle se esvaindo a ponto de ter que
apertar as mãos com força para não avançar sobre
ela.
-Sei o bastante sobre os homens para
saber que Rony está se sacrificando para aguentar
o fardo de estar ao seu lado! Porque não tenta ser
humana e o liberta desse compromisso ridículo?
Deixe-o ser feliz ao meu lado! Pois sempre fui eu
quem desejou, sempre foi em meu corpo que
encontrou o prazer e a paz!
Helena não queria mais ouvir isso. Algo
muito ruim subiu a sua garganta e ela
praticamente saiu correndo da sala. Alexia
recostou-se nas almofadas, um sorriso de puro
contentamento na face.
Na escada, John olhou para ela, e
maneou a cabeça. Era muita humilhação para uma
jovem que já sofrera tanto. Lila comprou seu olhar
e ele desistiu, subindo novamente para seu quarto.
Não deveria se meter, afinal, Helena não era sua
esposa.
Mas se fosse, não permitiria que fosse
tratada daquele modo! Indignado, jogou o livro
sobre a cama com força este caiu ao chão com um
barulho forte.
Era um homem confuso e mais que
nunca, assustado pelas escolhas que teria de fazer.
Juanita ouviu os passos apressados, mas
não deu importância, pois ainda estava magoada
com as palavras de Helena sobre cortesãs. Era
uma magoa irracional, mesmo assim, estava
magoada.
No quarto, Helena mal conseguiu fechar
a porta e trancá-la, antes de correr até a bacia que
ficava sobre a mesinha para a higiene matinal.
Sentiu o gosto do vômito e uma forte
contração no estômago. Então, o enjoou passou e
ela pode se sentar na beira da cama, com as
pernas tremulas. Usando uma tolha, limpou os
lábios, sentindo o coração acelerado.
Aquelas palavras horríveis ecoava em sua
mente, porém em vez de estar menosprezada e
infeliz, como outras moças estariam, Helena
estava em fúria!
Provaria àquela meretriz de quem Rony
realmente precisava! Mostraria a ela quem era a
dona do seu desejo! Se alguma vez em sua vida,
houvera sentido algo por aquela cortesã, fora no
passado, ele mesmo o dissera.
Uma vozinha a alertou para não acreditar
cegamente, mas ela a desacreditou.
Mostraria a Alexia Lil do que era capaz!
Apesar do impulso incontrolável de se
vingar, precisou se deitar por uns minutos para o
mundo voltar ao seu eixo e a tontura passar.
A presença daquela mulher estava
deixando-a doente.
Quando saiu do quarto e pediu ajuda a
Juanita para limpar a bagunça que fizera, teve que
se afastar, pois o cheiro do vômito embrulhava seu
estômago.
-Sinto muito, mas minha raiva quase me
sufocou – ela se desculpou vendo-a limpar os
vestígios indignos.
-Diga, Helena, isso tem acontecido
muito?
-Não – ela sentou-se na beira da cama,
quando Juanita terminou de limpar – Sinto tanta
raiva dessa mulher que me sinto zonza e enjoada.
Sei que quando ela for embora, melhorarei!
-É claro que sim – Juanita sorriu,
desviando os olhos rapidamente.
-Juanita, sobre o que disse agora a
pouco...não pensava em você. Para mim, é a mais
digna das mulheres. Sabe disso, não sabe? –
Helena perguntou baixo, incerta, pois novamente
não se expunha tanto.
-Sim, eu sei – ela concordou suspirando,
desconsolada – Todos temos dificuldade em lidar
com o próprio passado. Não é a única a ter seus
fantasmas a perseguindo. – bateu em sua mão
com gentileza. – Agora, levante, para que possa
arrumar o quarto. É melhor que se deite um pouco,
ajudará na náusea.
-Acha que estou doente? – Helena se
preocupou.
-Não, mas precisa descansar. O médico
disse que levaria muito tempo até estar recuperada
totalmente! – olhou para ela de canto de olho.
-Tem razão – ela sorriu, olhando Juanita
trabalhar.
Depois de um curto silêncio, tomou
coragem:
-Juanita...posso fazer uma pergunta?
-É claro que sim, Helena – disse
distraída.
-É uma pergunta muito pessoal – havia
incerteza em sua voz. Timidez também.
-Então pergunte! – ela sorriu, sem dar
muita atenção.
-O que uma mulher pode fazer para que
seu marido grite a noite toda? – perguntou de um
fôlego só.
Juanita quase deixou cair à trouxa de
roupas sujas que carregava. Surpresa e então
satisfação passaram por sua face, antes de abrir
um amplo sorriso e começar a falar...

John se refugiou no celeiro observando


alguns cavalos que estavam esperando para serem
exercitados. Talvez trouxesse de Londres alguns
garanhões para que Rony começasse uma criação.
Era um lugar propicio, e seria seu presente de
casamento atrasado.
Um aperto em seu coração o fez sentir
culpa. Como pudera enganar seu melhor amigo?
Trair sua confiança e espezinhar sobre sou
hombridade? A família Parker não merecia
tamanha traição.
John estava gelado, apesar do calor do
dia, só de pensar se descobrissem, antes do pedido
formal do casamento. Pelos olhares de Helena,
apostava como ela já sabia. Não era de se admirar,
àquela mulher tinha olhos que liam a alma. Sorriu
a esse pensamento, mas o medo e a insegurança
eram maiores.
Não amava Alice. Ainda não, pensou.
Fora fisgado por um espírito livre de amarras e um
gênio explosivo. Sua pele o encarava, sendo
delicada como seda. E seu corpo o levara a
loucura com sua inocência e frescor. Possuí-la
fizera de John o homem mais feliz desse mundo e
essa sensação de plenitude ainda o acompanhava.
Queria aquela jovem curiosa, obstinada e
briguenta. Queria estar ao seu lado para sempre.
Durante anos fugira da ideia de casamento, pois
tinha medo de ter seu futuro interrompido como de
seus pais, muito cedo, muito jovens, deixando um
filho sem amor de mãe e pai. Mas o medo não
poderia governá-lo para sempre.
Tinha tanto a agradecer a Rony e o fizera
com uma apunhalada nas costas. Nos anos no
internato, onde era apenas um garoto órfão e
tímido, encontrara no igualmente tímido e triste
menino ruivo, amizade e respeito. Eles cresceram,
fizeram outros amigos, e desabrocharam para a
vida, sempre companheiros e muitas vezes,
gostava de pensar em Rony como sendo seu
irmão.
Sentira muito orgulho, ao saber que Rony
queria que desposasse sua irmã. Pois era a prova
mais fiel do amor que tinham um pelo outro.
Entregar sua irmã a sua confiança era a prova.
John tinha nas mãos a culpa e o agradecimento.
Não poderia viver com ambas dentro de
si. Num rompante, decidiu contar tudo. Pediria
Alice em casamento, como eram seus planos,
muito antes de terem feito amor, mas antes
contaria tudo a Rony. Encararia como homem as
consequências de seus atos.
-Não faça isso.
John parou ao ouvir uma voz atrás de si.
-Se está pensando em fugir, não faça. E
se está pensando em contar a Ronald, também não
faça.
-Por que acha que fugiria? – ele encarou
Helena, ofendido.
-Não estou pensando nada. Estou apenas
aconselhado. Vi quando se refugiou aqui. É óbvio
que está perturbado. Alice tem a cabeça de vento!
Sonhadora e romântica! Mas você é um homem
prático e sabe que tem uma decisão a tomar. Essa
decisão mudará a vida de Alice.
-Decidi me casar com Alice muito antes
de termos...muito antes. – ele garantiu.
-Ainda bem, isso simplifica tudo – ela
respirou aliviada –pois saiba que não permitiria
que saísse daqui sem cumprir com suas
obrigações!
-Hoje mesmo contarei tudo a Rony e
anunciarei o casamento – ele garantiu a certeza
crescendo dentro dele.
-Não! – ela olhou-o cheia de razão – Não
conte nada! Fale do casamento, e o apresse. Mas
não conte como traiu sua amizade.
-Acha que Rony não me perdoara?
-Acho que não perdoara a si mesmo,
Sr.Harrison. – suspirou – Não que me importe
com ele, mas vai assumir a culpa por não ter
cuidado da irmãzinha.
John sorriu, achando que para quem não
se importava com Rony, ela estava bem
empenhada em protegê-lo!
-Preciso ir... – Helena disse olhando em
volta e ele estranhou – Não deixe Alice achar que
está sendo obrigado, ou ela jamais o aceitará!
-Obrigado? Porque ela pensaria isso?
Não houve respostas, pois Helena se
apressou a sair do celeiro, não que estivesse com
medo de Rony os ver juntos, muito menos,
estivesse com medo de despertar ciúmes, muito
menos se preocupando com ele, mas queria evitar
uma situação difícil.
Mentindo a si mesma, ela se apressou
para a casa. Infelizmente não foi rápida o bastante,
pois Rony viu quando saiu do celeiro, olhando
para os lados, numa clara postura culpada. Logo
depois, John saiu de cabeça baixa.
Depois de ver isso, Rony não voltou para
a casa. Almoçou no celeiro junto com os peões.
Capítulo 56 - Plano sangrento

O segundo prato foi colocado sobre a


mesa, antes que tivesse oportunidade de pedir. Era
uma torta vermelha e suculenta, e apesar de seus
esforços em estar irritado, sua desconfiança e
ciúme havia cedido desde o momento em que
chegara em casa, emburrado e irritado.
No mesmo instante em que seu pé fora
colocado dentro de casa, Helena começará a
paparicá-lo. Inicialmente, ficara desconfiado, mas
passado o choque inicial a delícia de ser bem
tratado por Helena superara qualquer outro
sentimento ruim que tivesse alimentado durante
todo o dia.
-Rony, minha vida, esperei por nosso
passeio, durante todo o dia! Onde esteve que me
esqueceu? – Alexia disse e havia um sorriso tão
cativante em sua bela face, que Helena conteve um
grito histérico.
-Estive trabalhando – ele respondeu,
ocupado com a sobremesa.
Alexia lançou um olhar a Helena,
provavelmente de revolta. É claro que a loura
sabia que aquele homem tinha um fraco por doces.
Que sua cabeça, seu pênis e seu estômago,
andavam de mãos dadas!
-Seu trabalho é em Londres, meu amor.
No escritório do Sr.Loren. Tão logo crie juízo,
lembrará disso! Tenho certeza!
Seus gestos afetados fizeram Helena
sorrir. Ela provou um gole do vinho que estava
em seu copo e notou que Alice também sorria para
ela.
-Não entendo porque sua irmã e
sua...essa mulher riem de mim, minha vida! –
Alexia disse avermelhando as faces, enquanto
batia uma das mãos sobre o ventre, irritada.
-Gostaria de mais um pedaço, Rony? –
Helena perguntou amavelmente, notando seu prato
vazio.
-Sim, obrigada. – ele agradeceu,
ignorando o desabafo de Alexia.
Seus olhos acompanharam os
movimentos de Helena, enquanto se levantava,
cortava o doce e regressava, pondo a sua frente,
com um sorriso tão doce quanto falso.
Ele segurou sua mão, levando aos lábios,
desconfiado.
-Está muito gentil essa noite, Helena –
ele observou.
-Posso ser gentil quando desejo –
respondeu, tão doce que ele teve que rir.
-Me esconde algo? – havia o ciúme ali,
em seu olhar, mas não estava com raiva, nem cego
para a realidade. Helena não o trairia.
-Talvez - soltou a mão, olhando para
Alexia com vitória.
Ocupado com sua doçura, Rony sequer
notou que era apenas um peão num jogo de egos
entre duas mulheres dominadoras. Mas John,
notou.
E não gostou.
-É quase dez horas da noite – ele disse
com voz firme – O adiantado da hora nos diz que
deveria estar deitada, Alexia. Está a dias do parto,
não deve se esforçar.
-Ora, John, sabe melhor que ninguém
que participar de jantares e beber um bom vinho,
nunca me foi um esforço! – ela sorriu.
-Minha mãe sempre disse que uma
mulher grávida não deve beber vinho – Alice disse
inocente, se encolhendo na cadeira diante do
risinho de Alexia.
-E o que mais sua mamãe lhe disse?
Era para ser um comentário de
brincadeira, mas soou dolorosamente ofensivo.
Helena levantou-se imediatamente, feliz
em ter sua oportunidade.
-Ajudarei a se acomodar, Srta.Lil.
Era isso, pensou Rony. Ela estava sendo
doce e gentil apenas para esconder sua real
intenção de matar Alexia às escondidas! Esse
pensamento quase o fez rir, deixando-a ir até onde
precisava para acalmar sua mente e seu coração.
Alexia estava tensa, ao entrar no mesmo
quarto com a reservada Helena. Sabia o quanto
inflamara o ego daquela mulher, suas palavras,
seus gestos, seus toques em seu marido...não era
boba!
Um arrepio de medo a percorreu quando,
sem uma única palavra, Helena juntou sua
camisola de sobre um móvel e colocou sobre a
cama, aproximou-se dela, e deu três fortes puxões
para soltar os colchetes das costas de seu vestido,
que naquele estado de avantajada gravidez jamais
poderia soltar sozinha.
Soltou também o botão que prendia a
saia do vestido, praticamente arrancando o véu
que Alexia mantinha sobre a cabeça, num exagero
de recato. Mas que era a última moda em Londres.
Terminado seu trabalho, ascendeu o lampião para
garantir que ela tivesse muita luz para iluminar a
longa noite que esperava que sua rival tivesse!
-Sabe, Srta.Lil... – Helena disse, antes de
sair, detendo-se na porta, olhos muito brilhantes -
...pensei sobre o que me disse mais cedo a respeito
dos desejos de Ronald. Acredito que palavras, são
vãs quando alguém está se iludindo
propositalmente...então...acho que posso mostrar-
lhe o que se passa de verdade dentro dessa casa.
-Como assim? – Alexia sentou uma ponta
de medo.
-Fique acordada e mantenha os ouvidos
bem abertos.
Sem uma única palavra, Helena deixou-a
no quarto, fechando a porta.
-Fico feliz, John, que tenha se decidido
por uma visita ao meu pai – Rony disse na
cozinha sem perceber nada anormal.
Bendita burrice, pensou Helena. Estava
na cara de John a razão! Óbvio em sua expressão
culpada!
-Talvez papai não esteja na fazenda –
Alice disse, sua voz magoada, sem olhar para
ninguém.
Era tola o bastante para acreditar que a
expressão de culpa, era na verdade relutância.
-Nosso pai virá de onde for pois espera
ansioso essa visita! – Rony riu, erguendo a taça
em um brinde.
Que Deus conservasse aquele homem
com tanto entusiasmo, pensou Helena, incrédula.
Rony podia ser cego quando queria!
Maneando a cabeça, chegou à conclusão
que era o excesso de açúcar, deixando-o agitado
como faria com uma criança de cinco anos!
-Confesse, John, pretende pedir a mão de
minha irmã em casamento? – Rony instigou
deliciado com essa certeza.
-E não foi esse meu desejo desde o dia
que pus meus pés nessa terra? – ele respondeu
erguendo a taça num comprimento e olhando para
Alice, que baixou os olhos, a beira das lágrimas.
-Porque chora, minha irmã? – Rony
pergunto surpreso por suas lágrimas silenciosas.
-É felicidade! – Helena apressou-se a
responder por Alice – Não é? Está tão feliz que
não consegue expressar-se?
Alice apenas maneou a cabeça
concordando.
-Não se arrependerá, meu amigo. O
casamento é uma dádiva – Rony riu, sem notar
que Helena lhe servia mais vinho e o incentivava a
beber.
Mais alguns goles e ele estaria com a
língua enrolando. Por dentro, ela ria. Nesta noite
não pretendia repudiá-lo, bem pelo contrário, poria
em pratica tudo que Juanita lhe contara sobre
caricias, mas primeiro, queria ter certeza, que não
lembraria disso na manha seguinte!
Caso contrário jamais a deixaria em paz!
-É melhor pararmos com o vinho, John-
ele disse de repente, lembrando-se de algo – Ou
ficaremos tontos e cairemos apagados sobe o chão
da cozinha! – era uma brincadeira, mas que
escondia um recado a Helena.
-Não me importo com um pouco de
comemoração! – John sorriu, o sorriso ficando
mais solto agora que a bebida fazia seu efeito –
Sabe, meu amigo, eu o invejo – ele ergueu a taça,
mas Rony um pouco mais lúcido, não o
acompanhou – Invejo sua decisão em mudar sua
vida, achar seu lugar no mundo. Encontrou um
lugar onde está sua raiz, onde pode saber quem é.
Metade dos homens morre sem conseguir esse
feito! – ele baixou o vinho e por um segundo,
mostrou a todos o tamanho da dor que carregada
em seu coração.
-John... – Alice estendeu a mão sobre a
mesa e tocou na dele suavemente, olhou para o
irmão, que não se manifestou.
Para Rony um suave toque de uma
menina que estava apaixonada, para John o suave
consolo de uma amante doce e meiga, que estava
para mudar sua vida.
-Será você a luz que mudará minha vida,
Alice? -ele perguntou sério, olhando
profundamente em seus olhos.
-É tudo que mais desejo – ela respondeu,
seus olhos a entregando no tamanho da devoção
que a consumia.
-Tudo que desejo é você...ao meu lado –
ele respondeu de volta, beijando sua mão.
-Chega, John, hora de dormir – Rony
levantou-se achando que havia mais intimidade
entre os dois que poderia supor. – Amanhã cedo
iremos à casa dos meus pais comunicar sua
decisão. Tenho certeza que haverá uma linda festa
de noivado no fim de semana.
-Noivado? Sequer me perguntou se
desejo me casar, meu irmão! – Alice disse
atrevida.
-Alice! – Helena protestou em pânico.
-Espere, Helena. Minha irmã tem razão –
ele disse zombeteiro – Diga agora, Alice, se não
aceita o pedido eu John fará manha cedo. Não
deseja ser a Sra.Harrison?
Ele havia cruzado os braços, olhando a
bela face de anjo de sua irmã corar. John focalizou
os olhos naqueles lábios rosados que beijara tão
poucas vezes.
Confessava que a culpa o martirizava,
pois não dera o melhor de si na primeira vez que a
tivera. Havia sido afoito, o desejo o cegando, fato
que ela não notara, pois sentira prazer e ainda não
entendia que havia mais. Para John era novidade
esse descontrole.
Como agora, prestes a dar a volta na
mesa e beijar aqueles lábios úmidos, rosados e
suaves.
-Isso é loucura... –ele deixou escapar,
olhando em volta.
-Suba, John – Rony deu alguns tapinhas
em seu ombro, entendendo muito bem o que o
efeito do vinho e a beleza de sua irmã estavam
fazendo com ele.
Infelizmente, Alice ainda não entendia.
Parecia confusa com essa frase. Era loucura pedir
sua mão depois de tudo que viveram juntos?
-Essa noite, dormirei no quarto de Alice,
e vocês duas dividiram o nosso quarto – ele disse
desapontado, porém incapaz de conceder a ideia
de John dormir bêbado no quarto ao lado de sua
tentadora e virginal irmã.
-Não! – Helena ficou alarmada, pois
havia desafiado Alexia e não passaria por covarde
ou mentirosa – Ronald! Assim, faz seu amigo crer
que não confia em sua amizade! – ela apelou.
Um lento e sensual sorriso se formou na
face de Rony ao constatar que sua relutante
esposa, queria aquela noite tanto quanto ele.
Claro, em sua mente, suas razões eram mais
íntimas, mais românticas, mas o resultado foi o
mesmo.
Tratou de livrar-se de John levando-o
para o quarto do segundo andar.
Sozinhas, Helena apressou-se a distender
o rosário sobre Alice, antes que ele voltasse.
-Ouça, bem, Alice, não sou sua mãe!
Mas passarei essa noite acordada, vigiando, e
espero não ouvir seus passos!
-Porque ouviria? Vamos nos casar –ela
disse com amargura – Oh, Helena, como não
percebi que John não sente nada por mim?
-John está apaixonado, Alice. Não
comece a complicar o que é simples! – ela sentiu o
zelo tornar-se carinho e não notou quando abraçou
a ex-amiga, até sentir-se sendo abraçada de volta
– Vai se casar! Não acredito que vai se casar!
-Nem eu acredito! Oh, Helena, ele é tão
perfeito! Quero tanto que ele me ame!!!
-Alice, ainda não notou que o mal que
aflige John é o sentimento de culpa? – ela
perguntou se afastando para olhar em seus olhos –
Acha que traiu a confiança de Rony!
-Será por isso que deseja casar-se? – ela
ficou em pânico, medo e dor estampados em sua
face.
-Se assim fosse, porque estaria prestes a
contar a Rony? Simplesmente se casaria e levaria
essa verdade para o túmulo! Não alimente
tristezas inexistentes!
-E não é exatamente isso que faz? – Alice
contra-atacou.
-Suba e durma – ela mandou,ao ver Rony
se aproximar – Sonhe com seu casamento. Pois a
realidade não é tão bonita quanto os sonhos! –
desdenhou, sem controlar a vontade que ele
ouvisse isso.
Sozinhos na cozinha, após uma boa noite
tímido de Alice, Helena começou a juntar a louça
do jantar.
-Deixe isso para Juanita, amanhã ela
arruma – ele mandou, cruzando os braços e
observando-a com um sorriso.
-Porque está rindo? – ela perguntou na
defensiva.
-Não estou rindo, estou sorrindo.
-E porque está sorrindo? – não desistiu da
resposta.
-Porque sou um homem feliz. Vou casar
meu melhor amigo com minha irmã a despeito de
saber que estão me escondendo alguma coisa, e
tenho uma esposa doce, meiga e generosa, que irá
me contar agora mesmo o grande segredo que tem
impedindo John de me olhar nos olhos desde
ontem.
Helena precisou se recompor da surpresa.
Não podia simplesmente contar. Ele faria um
escândalo!
-Quando contar, ficará furioso por ter
guardado segredo -ela explicou, deixando a louça
e se aproximando, apanhando sua mão – Porque
não conversamos no quarto onde não podem nos
ouvir?
-Não ficarei furioso se me contar a razão
do seu silêncio – ele avisou.
Guardando coragem, ela o acompanhou
até o quarto, esperando que fechasse a porta.
-É um segrede de Alice e saiba que tenho
tentado resguardá-la! Não a deixei só! Inclusive
falei com John, e o fiz ver a verdade sobre isso!
-Falavam de Alice, no celeiro? -era um
alívio.
-Claro que sim! Rony, me jure que não
vai gritar, ou atacar qualquer um dos dois! Muito
menos que irá contar ao seu pai ou seus irmãos!
-É tão sério assim? – ele ficou
desconfiado.
-Seu amigo está se roendo em culpa, e
não vai ajudar em nada se ele for embora! Ou pior,
Alice diz que não se casará se achar que ele está
sendo obrigado!
-E porque John seria obrigado? – o
entendimento fez seus olhos soltarem faíscas de
ódio, e ela deu um passo para trás.
-Alice...ela o tentou, Rony. Sei que não
há desculpas, e em parte a culpa é minha, pois
sabia o quanto ela estava curiosa e ansiosa pela
descoberta do amor e deveria ter lhe alertado!
Ela...
-John fez amor a minha irmã? – sua voz
era calma, mas havia uma veia pulsando em seu
pescoço.
A decisão de contar-lhe a verdade e ser
totalmente sincera, escorreu pelos seus dedos.
Rony não queria a verdade. Seria demais para ele
naquele momento.
-Eles se beijaram – mentiu – Foram
apenas beijos, mas John sente que traiu sua
confiança.
Rony demorou um segundo para se
conformar com a ideia de não saber se era verdade
ou não. Muitas vezes, Helena era um livro aberto,
mas em outras, era difícil saber se blefava ou não.
Nessa noite, preferiu acreditar que não
lhe mentiria.
-Sabia que John a beijaria -ele confessou
– Não posso culpá-lo, apenas esperava que
demorasse mais algum tempo.
Aliviada, Helena sorriu. Notou seu olhar
e corou.
-O que foi agora? – ela perguntou
desconfiada.
-É que estou começando a me acostumar
com seus sorrisos. Notou que sorri mais
facilmente para mim do que quando nos
conhecemos? – ele se aproximou, predador.
-Não nos conhecíamos...tão pouco era um
momento feliz em minha vida – ela desculpou-se.
-Acha que não sei disso? – ele se
aproximou, erguendo seu queixo para olhar em
seus olhos – Apesar do modo como nos casamos
tenho que confessar me sinto como se a
conhecesse a vida toda. Como se houvesse sido
apaixonado por você desde o dia em que nasci.
-Palavras -ela disse se afastando, com o
coração acelerado.
-É o único modo que posso usar para me
expressar, Helena, com palavras. Gostaria de
poder agir, mas não me deixa tocá-la. Não
espontaneamente.
-E o que toques podem dizer sobre amor?
Até onde sei tocava sua ex-amante, mas jura que
não a ama – desafiou-o, sentindo o calor do ciúme
subjugar o sentimento de candura pela declaração
de amor.
-Então, vamos brigar novamente? – fugiu
do assunto, pois seria terrível explicar obre os
vários tipos de amor que existem, justamente
explicar para Helena que se negava a escutar
quando o orador era ele!
-Não. Não vamos mais brigar –
respondeu, contendo a vontade de bater em Rony.
Olhou para a parede, a frágil parede que
separava seu quarto do quarto de Alexia e achou
que esta merecia saber exatamente com quem
estava lidando!
Não era bonita, sofisticada ou entendia da
vida em Londres, muito menos tinha gestos finos e
falava sobre as últimas modas ou escândalos da
corte, mas tinha seu poder.
Rony vivia atrás dela, e mesmo que não
soubesse dar um nome a razão que o fazia
persegui-la, ainda assim, havia uma razão. E
nessa noite, Helena faria com que Alexia Lil
soubesse disso!
-Ainda não me disse, esposo, o que devo
fazer essa noite...
Capítulo 57 - Presente inesquecível

Rony sentiu uma corrente de adrenalina


correr seu corpo. Era assim que Helena aparecia
em seus sonhos. Feliz em amá-lo e servir-lhe. Mas
sonhos, são sonhos, não é verdade? A realidade
pode ser ainda melhor, pensou.
-O que deseja fazer, Helena? – tentou
manter a calma e não saltar sobre ela como um
homem faminto.
-Eu...- seus olhos baixaram e ela corou
um tanto, antes de reunir coragem - ...não posso
decidir sozinha. Pensei que pudesse, pois Juanita
foi bem detalhista, mas não posso! Eu...- sentia-se
tão nervosa que achou melhor desistir.
-Pediu conselhos a Juanita para me
agradar? – apenas a surpresa por essa constatação
já era o suficiente para garantir sua satisfação e
plenitude.
Um sorriso malicioso e sensual em sua
face a fez corar violentamente.
-Pedi conselhos para não ser tão boba e
assustada o tempo todo – desmentiu. – se é para
acontecer, que ao menos, saiba o que estou
fazendo!
Rony fingiu acreditar e se aproximou um
pouco mais.
-Diga a mim o que deseja aprender e
ensinarei, Helena. Não deve jamais ter vergonha
de perguntar o que lhe cause incerteza. Sou seu
marido, seu amante e seu amigo. Não um inimigo.
Essas palavras a deixaram muda.
-Sempre me pergunto o que pensa
quando se cala – ele disse, tocando seu rosto, para
olhar em seus olhos.
-Nem mesmo eu sei o que penso quando
me deixa sem palavras – confessou, sem saber
porque as palavras saiam de sua boca com tanta
facilidade.
Sorrindo diante de sua entrega, ele se
afastou e olhou para ela, abrindo os braços num
convite.
-Diga exatamente o que deseja que lhe
mostre, Helena.
-Apenas desejo que goste –ela disse
humilde, sem ocultar um pequeno sorriso
satisfeito.
No fundo de sua consciência, Rony sabia
que havia algum intento por trás de tamanha
doçura, mas a satisfação de ser agradado por ela
era tão grande, que subjugou essa voz, e estendeu
a mão em sua direção:
-Tire minha roupa, Helena – pediu,
engolindo sem seco.
Contendo o impulso de ralhar e
argumentar que poderia muito bem despir a si
mesmo, e que não entendia de onde tiraria prazer
com isso, ela obedeceu.
Seus dedos tocaram os botões da camisa
com obstinação, mas antes que pudesse terminar
seu trabalho, eles começaram a tremer de
antecipação. Era um estranho prazer em sua
entranha, vindo do simples ato de intimidade que
era despir seu marido.
A camisa se abriu, e com as mãos
tremulas, tocou seus ombros, mantendo-as ali
mais que o necessário, até derrubar o tecido por
seus ombros e retirá-la por seu braços. Imóvel,
Rony deixou-se cuidar. Não ofereceu ajuda, mas
também não resistiu em momento algum. Apenas
ficou olhando seus gestos decididos e inocentes.
Nada afetados, como os gestos de outras mulheres
que tivera em seu passado.
Helena era autentica e explosiva. Uma
combinação difícil, e ao mesmo tempo
empolgante.
Com o peito desnudo, Helena desceu as
mãos para seus quadris estreitos, sem notar que
deslizava as mãos pelo peito e barriga, sobre o
umbigo, se embrenhado nos suaves pelos ruivos
que nasciam ali em direção as virilhas.
Por trás da calma, havia um vulcão, e ela
respirava difícil, as mãos quase não a obedecendo,
por mais que achasse tolo tanto calor e aqueles
arrepios apenas por um gesto tão simples quanto
tirar as roupas de um homem!
Suas mãos tocaram o cinto de couro, e ele
disse baixo e rouco:
-Primeiro os sapatos, Helena.
Ela lhe lançou um olhar sujo, que
contribuiu para o frisson que apertava sua
garganta e seus testículos. É claro, não estava feliz
em ser submissa, por mais que resolvesse ser
boazinha por alguma razão misteriosa!
Se ajoelhando, ela retirou um dos
sapatos, e então o outro, não esquecendo as meias.
Erguendo-se de volta, ela retomou seu lugar,
antes, colocando os cabelos soltos para trás,
concentrada em sua tarefa.
Os dedos quase não conseguiram puxar o
cinto, e soltá-lo. Deixou-o pender, solto em volta
de sua cintura, e abriu o primeiro botão da calça.
Por um segundo achou que suas mãos não
obedeceriam a continuar, pois sentia um estranho
frio nas entranhas. Essa noite faria coisas, que
jamais sonhara existir e tinha certeza que não
esqueceria enquanto vivesse!
Sem saber que esse súbito frio, era
expectativa, ela puxou o zíper com cuidado, pois
seria terrível feri-lo. A calça ficou frouxa em seus
quadris e ela pôs as mãos nos dois lados, puxando
para baixo.
Ajoelhou-se novamente, para tirar as
calças perna a perna, sem pressa. Para ela, os
movimentos eram rápidos, mas para Rony era
lenta tortura.
Contendo o embaraço tolo que a fez
corar, tirou-lhe a roupa de baixo, antes que
perdesse a coragem. Havia notado, que desde o
momento em que se pusera a abrir os botões de
sua camisa, ele havia ficado excitado, como se o
mais sutil dos toques pudesse causar o efeito de
um tufão em seu corpo, e agora, perto, ela olhava
para a comprovação desse efeito.
Ergueu os olhos para ele, e Rony engoliu
em seco, antes de sentar-se na beira da cama, e
dizer com a voz ainda mais pastosa que antes:
-Tire sua roupa.
Helena respirou fundo e levou as mãos
aos botões do vestido, na parte de trás. Não
demorou muito, pois eram fáceis de soltar. Sem
prestar muita atenção em si mesma, tirou-o, e
então, repetiu o mesmo ato de abrir os botões do
colete íntimo.
Rony olhou para seus movimentos
comuns, movimentos de rotinha e não achou que
houvessem movimentos mais sensuais que esses.
Helena não tentara despi-lo com gestos afetados
ou falsos, muitos menos se expunha com a
arrogância que as outras mulheres faziam.
E essa simplicidade, era erótica e
estimulante. Tanto, que Rony fechou os olhos por
um segundo para não se revelar e gozar como um
adolescente excitado com a primeira mulher que
possui!
Quando o colete caiu ao chão, ele
admirou os seios perfeitos, do tamanho certo para
suas mãos, corados, os mamilos ainda suaves,
dois pontos de algodão rosado esperando por suas
caricias. Eram deliciosos e quando ela ficou de
perfil, para baixar a calça íntima, ele admirou o
contorno de meia lua que eles formaram em seu
torso.
Quando a última peça foi descartada, ela
mexeu os cabelos, que atrapalhavam e não seria
capaz de notar que àquelas madeixas longas
caindo sobre o peito eram uma imagem
devastadora para seu auto controle.
-Venha até aqui, Helena –ele mandou
calmamente, contrariando a própria presa,
levantando-se e esperando por ela. – e me beije.
nua, andou decidida até seu marido,
enlaçando seu pescoço com as mãos, sem no
entanto ter maior contato com seu corpo. Rony
deixou, e esperou pacientemente.
Helena sempre perdia as reservas no
calor do desejo e foi exatamente isso que
aconteceu. Encostou os lábios nos dele,
aprofundamento o beijo e se deixando apertar,
quando ele enlaçou sua cintura, grudando os
corpos.
Gemeu suavemente ao contato delicioso
do corpo quente contra o seu. Ter aquele corpo
tímido, cheio de curvas certas, grudado ao seu era
tentador, e Rony apanhou-a no colo, antes que
Helena pudesse protestar.
Curvou-a sobre o meio da cama, e
quando pretendia deitar-se sobre ela, Helena
colocou ambas as mãos sobre seu peito, para
afastá-lo.
-Disse que me ensinaria... – ela falou
baixo, com a voz presa, pela mesma razão que ele
sentia-se incapaz de falar.
Aquela mulher nua, pernas entreabertas,
cheirando a desejo, disposta a aprender com ele,
era o fim e o começo para qualquer homem de
sangue quente!
-Tem certeza que não corro o risco de
levar um tiro? – brincou e ela riu suave, mas riu.
-Depende do quanto me fará perder as
estribeiras – ela brincou de volta, e ele sentiu o
pênis palpitar de expectativa.
-Diabinha, venha cá.
Empolgada, e esquecida da sua estratégia
de vingar-se de Alexia, se ajoelhou aos pés da
cama, olhando para ele, de pé a sua frente. Estava
mais do que disposta a colaborar com a carreira de
professor de Rony! Mais que disposta!
Tendo-a ao seu alcance, Rony acariciou
seu rosto, afastando seus cabelos de sua face,
admirando os olhos castanhos que o fitavam em
expectativa.
-Já fizemos isso, Helena, mas não da
forma delicada como deveria ter lhe mostrado. –
com as mãos ele se acariciou, atraindo toda a
atenção de Helena – Toque-o como fez na outra
noite...
Excitada, ela fechou uma das mãos em
volta do membro, sentindo o volume, o peso e a
textura. Noite passada fizera isso, mas sem
intenção, fora apenas instinto, mas nessa noite,
teria tempo para analisar o que faria.
-As duas mãos, Helena- ele pediu,
mordendo o lábio, para sufocar o prazer, e deixá-la
ter todo tempo necessário para matar sua
curiosidade, esperava, que antes que isso o
matasse!
Com as duas mãos em volta do membro
pulsante, Helena olhou para ele. Era um homem
lindo. Seus olhos brilhavam ao dizer:
-É um homem bonito – disse a revelia de
sua própria vontade.
Não queria dizer! Não queria elogiá-lo!
-E você, é a criatura mais sexy que já
conheci – ele segurou seus cabelos, e acariciou seu
rosto, enquanto sentia seu toque tímido – sua
resistência, me excita. Sua agressividade me deixa
louco, suas negativas me fazem querer mais, por
alguma razão, quanto mais tenta me afastar, mais
perto quero estar!
Diante desse desabafo, ela não respondeu
nada.
Era desconcertante. Profundo demais.
Rony confundia sua dedicação com rendição, e ela
sentiu uma pontada de dor ao pensar em como
ficaria magoado se soubesse de seus planos.
Talvez, como um pedido de desculpas,
ela intensificou os carinhos. Beijando seu umbigo,
e refazendo uma trilha de beijos por seu peito, e
barriga, ela seguiu masturbado aquele monumento
ao desejo feminino.
Longo, grosso, e rijo, avermelhado na
larga ponta triangular, despertou o desejo de
Helena em provar tudo aquilo que Juanita a
recomendará.
Jamais saberia de onde saíra à vontade e
a coragem, mas ela aproximou o rosto, passando a
língua suavemente sobre a ponta, onde brilhava
úmido por aquele mesmo liquido salgado que
provara a um mês atrás.
Rony fechou os olhos, gemendo, e ela fez
de novo. Deslizou a língua pelo comprimento
todo, sentindo o gosto e o calor, depois, muito
suave, beijou a glade, beijos curtos, e tímidos,
pois era a primeira vez em sua vida que vazia isso.
-Dentro, Helena, coloque dentro da sua
boca – ele pediu, a beira de uma convulsão de
prazer. Seus dentes estavam trincados pela força
que fazia em se controlar.
A pequena diabinha estava adorando
descobrir e conhecer, e isso estava matando-o! Era
tão bom e ao mesmo tempo torturante. Sua
inocência era o mais poderoso afrodisíaco
existente!
Incentivada, ela entreabriu os lábios, e
colocou um pedaço.
-Chupe! – ele mandou, perdendo a
compostura – Coloque todo em sua boca e chupe!
Pretendia lhe dar oportunidade de
conhecer e descobrir, mas não dava mais para
conter.
Um pouco assustada com onde estava se
metendo, ela fez. Colocou o membro o mais fundo
que conseguiu, sem engasgar e chupou. Como
quando era criança e sugava um doce, ansiosa
pelo sabor adocicado.
Rony grunhiu uma espécie de grito e ela
fez de novo.
-Helena – ele puxou os cabelos,
mostrando-lhe como queria. Os quadris estreitos
se movimentavam contra sua boca ditando o
ritmo, e ela adorou sentir aquilo tudo, aquele
descontrole todo, sendo só por sua causa.
Juanita lhe dissera que era suportável,
mas ela estava enganada. Era delicioso! Sentia
entre as pernas, uma viscosidade, que escorria
pelas coxas, e sequer havia sido tocada. Um
pulsar doloroso, de ser possuída, um vazio que
apenas ele poderia preencher!
Mesmo querendo mais para si mesma,
continuou, os sons de sucção inconfundíveis,
assim como os gemidos de Rony que preenchiam
todo o quarto, e possivelmente poderiam ser
ouvidos no outro quarto, onde Alexia estava.
Querendo ouvir seus gritos, não por
causa de Alexia, mas pela satisfação de ser ela a
causadora, aprofundou os movimentos, chupando
rápido e voraz, levando uma das mãos que antes
seguravam a base do pênis, para baixo, e tocando
os testículos, apertando-os entre os dedos, como
Juanita dissera para fazer.
-Diabos...não faça isso! –ele gritou,
puxando seus cabelos a ponto dela reclamar de
dor, mas não parar.
Rony olhou para aquela mulher decidida
e gemeu antes de ter coragem suficiente para pará-
la. Helena não gostou nada, principalmente
quando ele a empurrou na cama, deitando-a com
as pernas para fora da cama.
-Quero vê-la -ele disse urgente,
afastando suas pernas, e Helena as dobrou
apoiando os pés na beirada de madeira da cama.
Os braços se apoiaram nos cotovelos e ofegou
quando Rony encaixou-se entre suas coxas, e
deslizou uma das mãos sobre sua intimidade,
afagando, excitando e bulinando com os dedos. O
ápice, que a fez gemer e jogar a cabeça para trás,
em êxtase, foi quando deslizou o dedão para
dentro. Ele riu suavemente quando ela rebolou
contra ele, pedindo por mais.
-O que você quer? - ele perguntou
lambendo seu pescoço, como um gato.
-Mais... – gemeu quando ele obedeceu,
rindo ao substituir do dedão por dois dedos mais
longos – Oh...mais...
Não era exatamente seus dedos a que se
referia, mas ele estava apenas lhe devolvendo o
tesão de antes.
-Acha que aguenta mais...? – ele brincou,
lambiscando seus lábios com a língua e Helena o
catou para um profundo beijo, segurando seu
rosto, enquanto uma das mãos correram para
baixo, e se ele não a estivesse segurando teria
caído contra o colchão, mas Rony tinha total
controle sobre os corpos, e quase o perdeu, quando
as mão atrevida, apertou sua ereção, levando-a ao
local desejado.
-Aguento tudo que puder me dar – ela
disse ao soltar seus lábios, e também seu pênis.
Ofegante, voltou a posição anterior, se
oferecendo para aquele ‘mais’ que a
desconcertava.
Precisou morder os lábios para não gritar
quando ele a penetrou. Longa, e angustiantemente
fundo. Apesar de conter os gemidos, Rony não os
evitava e ela tornou-se hiper sensível prestando
atenção aqueles sons eróticos.
As mãos fortes subiram por seu corpo e
seguraram em seu pescoço, segurando sua face,
enquanto começava a se mover, com velocidade e
profundidade. Desse modo, foi impossível para
Helena se mover, apenas tinha o corpo sacudido e
empurrado para frente para trás, enquanto a
impressionante ereção a partia em duas, e
produzia sensações inconfessáveis.
Era sua culpa,pensou,se contorcendo de
prazer, despertara aquela fera e agora, ele a
subjugava. E que forma de ser subjugada!
-Ah... Ah... Ah... Ai... Rony... Ah...
Seus olhos se fecharam com força, o
prazer tão evidente, e vindo tão rápido e tão
intenso que Helena achou que morreria. Suas
costelas doíam pela pressão e pela posição, mas a
pequena dor não conseguia apagar a intensidade
do prazer.
-Oh... – não deveria ser ela a estar
gritando. Mas não conseguia mais conter-se.
Suas mãos agarravam a beira da cama
com desespero, o rosto de Rony a polegadas do
seu,e tentou beijá-lo,mas ele não deixou, perdido
naquele mundo só dele, penetrando seu corpo
como se pertencesse apenas e somente a ele, e ela
não tivesse direto a lamentar a força exagerada!
Olhando em seu rosto, ele lambeu seus lábios,
soltando seu rosto, e ela caiu para trás na cama,
extasiada. Rony agarrou ambos os seios,
apertando-os enquanto se empurrava fundo dentro
daquele corpo estreito e molhado.
Helena choramingou, e gemeu, sempre
agitando os quadris, oferecendo a ele a libertação
que ambos precisavam, e quando os quadris
pequenos pararam de se mover e ela tentou
segura-lo, empurrá-lo ou chutá-lo, Rony soube que
era o momento do gozo, por isso parou, e saiu por
alguns segundos.
Arrancada daquele mundo particular,
olhando para ele zangada e sua zanga não durou
muito. Rony estava vermelho, o peito arfante,
passando as mãos em seu rosto para afastar o suor
e os cabelos. O pênis balança em sua direção tão
perto de onde o precisava, e Helena apenas
esperou pacientemente que voltasse.
Ou não tão paciente, visto que estava
inquieta e ansiosa para retornar àquela sensação
maravilhosamente única!
Rony não olhou para ela, apenas para
aquele recanto avermelhado, úmido e palpitante e
achando ter controle bastante para enlouquecê-la
novamente, voltou a penetrar aquele corpo tão
adorado.
Pousos movimentos, um entra e sai leve e
adorado, com os olhos de Helena atentos aquela
imagem única. Isso, até a grande mão calejada ser
colocada sobre sua vulva, o dedo atrevido
pressionado o clitóris e o ritmo aumentar.
Ela caiu novamente para trás, a cabeça
rodado de um lado para o outro quando o prazer a
feriu.
-Oh... – aquela onda subiu por suas
virilhas em direção ao seios e então, queimou suas
faces pela agonia e o esforço físico.
-Oh... – aquele dedo rodando sobre seu
clitóris mandava uma descarga bombástica para
seu centro e os movimentos rítmicos daquele pênis
inchando dentro dela era mais que poderia
suportar.
-Oh... –ele forçava mais e mais, pois ela
estava absurdamente tensa, o corpo travado,
molhado, mas travado em volta de seu pênis
enquanto o orgasmo a consumia. Rony teve que
parar, não dava mais para mexer, ela estava
apertada demais para não se machucar.
Observou apaixonadamente aquela
barriga lisinha se contorcendo, o corpo
convulsionando, enquanto ela rebolava pedindo
mais, apesar do prazer recebido.
Dedilhando com empenho, ele dobrou o
corpo, Agarrando um seio e o erguendo em
direção a sua boca. O mamilo se encaixou em seus
lábios e ele o sugou com força, lambeu e mordeu,
voltando a se mexer, quando o gozo a deixou mais
suave, e tão molhada que sentia escorrer pelas
coxas dele também. Movimentos leves, suaves,
profundos e enlouquecedores e Helena tentou
abraçá-lo, tentou explicar que não podia sentir
mais anda, mas era mentira, podia sim!
Aquela onda voltou mais forte, mais
cruel, e Helena sentiu o mundo tremer, enquanto
seu corpo tremia junto, entendeu o braço e
agarrando os cabelos ruivos, a ponto dele gritar,
pela dor e pelo tesão, enterrando-se tão fundo e tão
forte que ela gritou. Gritou de dor, gritou de
prazer, gritou de raiva por sentir tanto prazer,
contorceu-se em seus braços, enlaçando sua
língua na dele quando a beijou faminto.
Mais um movimento, e ele gozaria, tinha
certeza disso, e Helena o empurrou quando
percebeu isso também.
-Helena... – reclamou, mas ela tentava
tira-lo de sobre si, de dentro do seu corpo.
-Deita na cama – ela pediu tremendo e
gaguejando – Deita...
Sem saber o que pretendia, e com as
pernas tremendo, ele saiu de dentro dela, ouvindo
seu choramingo, pois estava muito inchado.
Engatinhando na cama, ele deitou-se nos
travesseiro, observando-a se mover arte ele, apesar
de tremer muito. Ela parou na altura da sua
cintura e os cabelos macios cobriram sua virilha
quando baixou a cabeça e o tomou na boca.
-Oh, Deus... – foi a única coisa que pode
dizer antes de se perder.
Ela não se fez de rogada, chupou e
lambeu com força e intento, arrancando dele gritos
furiosos e um gozo intenso, que derramou dentro
de sua boca grande quantidade de sêmen.
Helena engoliu tudo, cada gota,
desfrutando tanto disso que estava novamente
palpitante e quente.
Continuou chupando, mesmo quando ele
amoleceu em suas mãos.
-Helena, chega, não posso mais – ele
implorou, sorrindo cafajeste, quando ela parou.
Ela fechou os olhos com força sentindo a
palpitação crescer e Rony sentou-se pondo uma
das mãos entre suas pernas ao entender qual era o
problema.
Ela agarrou seus ombros, colando o corpo
ao dele quando os dedos longos acharam o lugar
certo, e a trouxeram novamente ao clímax.
Não precisou muito, ela estava hiper
sensível, e bastou um dedo longo dentro em uma
massagem firme e movimentos sobre o clitóris
inchado e ela quebrou em seus braços, mordendo,
gemente, xingando e lamentando a má sorte em
deixar-se levar.
Ele riu quando ela se acalmou,
abraçando-a contra ele.
-Não ria de mim – ela pediu a cabeça
escondida em seu ombro, os cabelos escondendo
sua expressão exausta.
-Não estou rindo de você, embora, não
deva xingar seu marido desses nomes feios, não
na cama. – debochou e ela se encolheu em seus
braços, talvez sem lhe dar atenção. – Vem, deita
comigo.
Num misto de vergonha tardia e
sentimento de culpa, ela manteve o rosto
escondido em seu peito.
-Ao menos uma vez, tenho que ser grato
a Juanita -ele disse pensativo, ainda com humor
na voz, enquanto seu coração tentava se conter, e
voltar ao normal o corpo morto para qualquer
atividade que exigisse esforço físico.
-Não diga isso. – ela fugiu de seus
braços,se virando para o outro lado, e ele
acompanhou-a, abraçando-a por trás, beijando seu
ombro.
-Não fique com vergonha de mim Helena.
– provocou.
-Não estou com vergonha de você – era
verdade. – Acaso não sabe como essas paredes
são finas... – agora que seu plano dera certo,
estava envergonhada, pois áquea mulher nojenta
saberia o quanto gostava de fazer amor com seu
marido!
-Fala de Alexia estar nos ouvido?
-Essa mulher tem nome. – cortou,
rangendo os dentes – Alexia Lil. Porque insiste
em referir-se a ela com tanta intimidade?
-Esqueceu, que fomos íntimos? –
respondeu, não gostando nada do seu tom.
-Como poderia se continua no quarto ao
lado do meu?
-É uma estadia curta, por pena, Helena.
Pensei ter deixado isso bem claro. – irritado,
sentou-se na cama, coberto pelo lençol fino.
-Claro, que sim, de qualquer forma, me
tira a privacidade dentro de minha própria casa!
Ela dá ordens em minha empregada, me humilha,
tenta dar conselhos libidinosos a minha cunhada,
flerta com o futuro noivo de minha cunhada e
ainda como não bastasse, acha que pode ensinar o
que meu marido gosta ou não gosta! – deixou
escapar, e meio a raiva incontida.
-Alexia fez isso? – não era uma surpresa.
-Não deveria ter dito isso – ela lamentou.
Rony começou a pensar no súbito
comportamento doce de sua mulher. Afável,
meiga, disposta a agradá-lo em público...tudo
para devolver a Alexia a humilhação que lhe era
imposta. Talvez...sentiu um gosto amargo na boca,
ao lembrar de seu olhar de triunfo ao vê-lo
gritando de prazer ainda a pouco.
Afastou-se dela, olhando para o teto.
Não fora desejo. Muito menos rendição.
Apenas vingança. Usado justamente por Helena.
-Sente-se vingada? – perguntou seco.
Helena, virou-se em sua direção
segurando o lençol para se proteger de seu olhar, e
ao notar o olhar duro e frio, sentou-se, numa
tentativa de não parecer tão frágil e desprotegida.
-Sim – confessou.
Rony saiu da cama imediatamente após a
resposta. Vestiu as calças e a camisa, assim como
os sapatos.
-Onde vai? É madrugada! –ela ficou
incrédula com seu comportamento.
-Vou para qualquer lugar onde não
esteja.
-Porque não tenta o quarto da sua
amante? -ela retrucou, sentindo o peito doer
diante da rejeição. Era a primeira vez desde que o
conhecerá que não desejava ficar ao seu lado!
-Talvez faça isso – ele não explodiu,
como sentiu vontade, mas a dor era inevitável.
-Não, não vai fazer!!!! – ela se moveu,
ajoelhada na cama, jogando um travesseiro em
sua direção, lamentando não ser uma pedra – VAI
FICAR NESSE QUARTO!!!!
-Não, eu não vou! Já teve sua vingança,
Helena. Fique feliz com o que tem!
-Não! Não admito que faça isso! – seu
rosto estava contorcido, com a ideia de ter
provocado tanto ódio a ponto de ser traída – Se
fizer isso, juro, amanhã mesmo, me deito com o
primeiro empregado que demonstrar interesse! –
ameaçou – e não estou brincando!
-Faça isso! -ele desdenhou, olhando para
ela com desafio – Que seja esse o fim do nosso
casamento!
Ele saiu e bateu a porta com força atrás
de si. Sem pensar no que fazia, Helena enrolou-se
no lençol e seguiu-o. Encontrou Rony na sala, se
preparando para tomar a grande decisão que
mudaria sua vida. A raiva o mandava ir atrás de
Alexia, mas o medo de terminar mesmo com o
casamento o detia.
-Tem coragem de me virar as costas? -
ela indagou, magoada.
Rony ficou surpreso em vê-la atrás dele.
Helena nunca lançava um segundo olhar em sua
direção. Sempre o deixava ir!
-Me enganou. Me usou para medir forças
com Alexia! Como quer me sinta a seu respeito? –
ele se aproximou magoado e espezinhado.
-Eu só queria que ela desistisse e fosse
embora de uma vez! Que nos deixasse em paz! -
ela respondeu, ficando desesperada. Não percebeu
que elevava a voz, a ponto de gritar, até ouvir
passos.
Rony olhou para o lato da escada, e
avistou John de pé surpreso, usando as roupas de
dormir, ele olhava para os dois, ainda mais
surpreso.
Ciumento, ele se pôs entre a imagem
semi-nua de Helena e os olhos maliciosos de seu
melhor amigo.
-Volte a dormir, John -ele mandou
exasperado – Estamos...conversando.
-Está tudo bem? Tem certeza? – John
parecia incerto, talvez temendo a segurança do
amigo. Helena parecia ser do tipo capaz de fazer
grande estrago quando furiosa.
-Sim, apenas estamos tentando nos
entender. Helena é louca, e não posso mudar isso!
– a raiva era maior que a prudência.
-Seu infeliz! – ela disse atrás dele, se
movendo, mas Rony a segurou.
-Suba, John, não quero nenhum homem
olhando para minha mulher sem roupas!
-Não estou sem roupas! – protestou,
quando John se afastou e ficaram sozinhos.
-Volte para a cama, Helena – ele mandou
em tom baixo, rouco – Volte para a cama, cale sua
boca e durma antes que eu perca a cabeça com
você!
-Ao diabo que vou me calar por sua
causa e... RONALD!!!!
Rony cansou de sua histeria. Com um
movimento ágil e não esperado, ergueu-a nos
braços e jogou sobre o ombro. Chocada, ela não
teve reação, até ser jogada sobre a cama, em seu
quarto.
-Deite e cale essa maldita boca. – ele
avisou, tentando não olhar para seu corpo nu, onde
o lençol escorregara revelando os seios empinados
e tentadores.
Ela se calou, não pela ordem, mas sim,
pela surpresa. Ele trancou a porta, e enfiou-se na
cama, de costas para ela. Ofendida, por ser capaz
de deixá-la falando sozinha, Helena levantou-se,
soltou o lençol e vestiu a camisola, entrando
embaixo das cobertas para tentar dormir. De lado,
a cabeça apoiada no travesseiro, não achou
maneiras de se aquietar.
Depois de uma eternidade, ela ouviu os
inconfundíveis roncos de Rony e respirou aliviada.
Sem nem se dar conta do que fazia, virou-se de
frente para as costas musculosas e se aproximou.
Ele não saberia, então, que mal havia sentir um
pouco de calor humano...?
Na penumbra, enlaçou o braço sobre a
cintura masculina e aconchegou os seios contra as
costas dele. Segundos depois, também
adormeceu...
Capítulo 58 - Tudo que vai...volta

A manhã não trouxe o esquecimento,


muito menos o perdão, e a primeira coisa que
Helena viu ao acordar, foi um homem
completamente vestido e pronto para deixar o
quarto.
Pensou em chamar Rony e pedir
desculpas, mas o orgulho sufocou sua consciência
pesada e um súbito enjoo a fez deitar a cabeça no
travesseiro, perdendo a cor nas faces.
Era essa constante sensação de raiva
contra Alexia Lil que a consumia! Rony tentou
ignorar Helena, fingir que não estava acordada, ou
pior, que não parecia doente, mas não pode.
Aproximou-se da cama, e dobrou o corpo em sua
direção.
-Não voltarei para o almoço – disse,
atraindo sua atenção total.
-Por minha causa? -ela perguntou baixo,
sem nexo, provando que ainda pensava na briga
da noite passada.
-Não, mas poderia ser se eu tivesse o
mínimo juízo – contou – Vamos levar algumas
cabeças de gado até a fazenda do meu pai. Ele
precisa de alguns reprodutores. Em troca teremos
ovelhas. – notou sua surpresa – Alguma vez criou
ovelhas, Helena?
-Não – era uma ideia muito interessante.
-Devo me ocupar até tarde. Dê-me meu
beijo, antes que me vá.
Helena sentou-se na cama, mas não o
beijou.
-Eu não posso beijá-lo – disse com a
sensação de culpa crescendo dentro de si.
-E porque não? – desconfiança o fez
mudar a expressão.
-Estou com vontade de vomitar. Não vai
querer sentir o gosto na minha boca nesse
momento – foi sincera, temendo que sentisse uma
maior rejeição.
-Está doente? - levou a mão a sua testa,
mas ela afastou.
-Juanita diz que faz parte da minha
recuperação. Acho que tem razão, mas esses
enjoos pela manhã são cansativos... – disse
pensativa. – Rony, sobre a noite passada, eu...
-Quando voltar falaremos disso -ele
garantiu, beijando sua testa – Descanse um pouco,
fará bem para o enjoo.
-Sim – ela concordou, deitando-se.
Rony a deixou deitada, e se apressou para
a cozinha, conseguindo achar Juanita sozinha.
-O que acha dos enjoos de Helena? -foi
direto ao ponto, temendo uma possível
consequência da agressão passada.
-Ela é mulher a mais de um mês, tem um
marido viril, e não teve sangramento algum depois
da surra que levou. – Juanita disse sem prestar
muita atenção – Sei apenas, que estou precisando
de lã para o enxoval.
Como parecia incapaz de entender, ela
secou as mãos num pano de prato e olhou para ele
com olhos maliciosos.
-Tenho dado a Helena um chá de
camomila todas as manhãs, e ela acha que é para
impedir uma gravidez. Se disser a ela que está
grávida, ficará anda mais arredia e nervosa. É
melhor que descubra apenas quando for seguro.
-Seguro? – achava que não estava
ouvindo direito.
-Sim, sim, depois do terceiro mês é mais
seguro.
-Helena está grávida? – havia tanta
surpresa em sua voz que Juanita quase riu.
-Pode ser que sim... Oh, Deus, é claro
que sim, não adianta tentar esconder. Tive mais
filhos que pode uma mulher ter e ainda fingir que
não sabe reconhecer os sinais.
-Eu vou ter um filho? – as palavras lhe
saíram muito tolas.
-Fale baixo, essa casa tem muitos
ouvidos – ela recomendou – Agora saia, vá
trabalhar.
-Helena precisa saber para se cuidar – ele
disse pensativo.
-Ora. –ela pôs as mãos na ampla cintura
– a natureza sabe o que faz. Além do mais, estou
de olho nela. E não haverá certeza até sua regra
descer esse mês. Até lá, não fique muito feliz.
Rony concordou, colocando o chapéu, e
saindo da casa, aturdido. Pelo sim, e pelo não,
Juanita achou melhor começar a cuidar do
enxoval...

Helena achou que havia cochilado apenas


alguns minutos quando acordou novamente. O sol
brilhava alto, inundando o quarto com sua luz.
Prova que Juanita estivera a li arrumando o quarto
e abrindo as janelas. Agradecida, ela se
espreguiçou e quase morreu de susto ao ver uma
imagem diante da cama, olhando para ela
fixamente.
-O que está fazendo aqui? – mais que
nunca, Helena desejou ter sua arma nas mãos.
-Vim lhe dizer que desista desse jogo –
Alexia disse com os olhos vermelhos e a voz
rouca, como alguém que chorou muito – Fui...Sou
cortesã. Mas tenho um coração. Não importa que
tenha sido fraca, e desejado o dinheiro acima do
amor, ainda assim tenho um coração! Apaixonei-
me uma única vez na vida! E não será você a
roubar esse único amor! Então, ouça bem minhas
palavras, sua coisa sem graça, quando meu filho
nascer, Rony voltará a ser meu. Eu o
enlouquecerei com meu corpo perfeito, e os gritos
da noite passada serão pálidas lembranças quando
estiver em meus braços!
-Como se atreve a entrar no meu quarto e
dizer essas tolices? – Helena só não levantou a
tirou pelos cabelos dali, pois ainda estava
baqueada pelo sono e por uma gastura que vinha
se repetindo todas as manhãs.
-Eu soube a verdade. Rony só quer a
fazenda, soube do acordo. Soube de tudo. Quando
meu bebê nascer, daremos um jeito em você e
ficaremos com essa fazenda. Será assim, pois se
Rony acha que só desejo dinheiro, provarei que
não é assim, viverei toda minha vida nessa
pobreza, nessa fazenda horrível, apenas por amor.
E você, terá o fim que merece!
-E o que fará comigo, posso saber? Vai
me matar? – Helena ironizou.
-Porque não? Talvez tenha uma cova
aberta para você ao lado dos seus familiares!
Antes que Helena pudesse ter forças para
avançar sobre ela, Alexia saiu do quarto,
deixando-a para trás.
Helena deitou-se furiosa. Lágrimas de
raiva e rancor vieram a seus olhos e ela secou-as
com ódio.
-Helena, bom dia! – Alice disse com
entusiasmos, entrando no quarto. – Hoje está um
lindo dia! Oh, um lindo dia para ser pedida em
casamento! Sabia que Rony vai aproveitar a ida à
casa de papai e levar John...Helena o que foi? –
aproximou-se da cama, ao ver que chorava.
-Sai daqui, Alice e não fale comigo. – ela
disse ríspida.
-Por quê? – ficou surpresa.
-Contou aquela mulher do meu
casamento, não contou? Do porque nos casamos?
Sua expressão era tão vivamente culpada
que Helena sentiu o gosto amargo da raiva.
-Contou da morte dos meus pais? De
como sou sozinha e como estou nas mãos do seu
irmão? O que mais contou a ela?
-Helena, não foi por mal...ela fez
perguntas e é uma companhia tão agradável
que...além disso, não sabia que era segredo!
-E não é, tem toda a razão. Agora,
apenas saia!
-Helena!
-Falou o que queria, Alice, agora, ouve o
que não quer! Se prefere conversar com àquela
mulher, é problema seu, mas não fale da minha
vida para ela! Conte de suas noites com John, ou
talvez eu deva fazer isso! – disse para magoar –
afinal, ela é de tamanha confiança!
-Não percebi que fazia mal – Alice disse,
ficando as lágrimas – Oh, Helena! Ela...usou isso
contra você?
-Apenas saia e me deixe sozinha! E daqui
para frente, não entre no meu quarto sem bater! –
mandou, virando de costas para Alice, para
esconder o choro de humilhação e ciúmes. Até sua
ex-melhor amiga, agora cunhada, gostava daquela
cortesã!
E gostava mais de Alexia do que dela,
com quem crescera!
Talvez, no fim de tudo, a mulher certa
para ocupar seu lugar fosse Alexia Lil!

John achou que seria atrevimento se


aproximar. Conhecia o gênio de seu amigo, e
confessava, era uma verdadeira surpresa seu
ciúme em relação a uma mulher.
Nunca antes o vira tão transtornado.
Helena alimentava as galinhas e ele
admirou o efeito do sol sobre os crespos de seu
cabelo longo. Alguns fios maios claros, davam o
efeito de raios de sol entre o castanho e por um
segundo ele se perguntou por que não viera com
Rony quando o convidara para visitar sua terra
natal. Teria tido também, a oportunidade de
conhecê-la antes de ser casada e apaixonada pelo
seu melhor amigo.
-Sr.Harrison – ela disse, congelada no
lugar. A bacia com milho esquecida nas mãos.
-Por favor, Helena, já pedi que me chame
de John -ele sorriu, segurava um livro e os olhos
de Helena não conseguiram se afastar do objeto –
Trouxe muitos livros a pedido de Rony. Ele lhe
disse?
-Não. – admitiu retomando o trabalho.
-Deve ter esquecido – ele amenizou.
-Com certeza – havia um traço de ironia
em sua voz.
-Se for seu desejo, posso separar alguns
para que leia – ele sugeriu achando agradável seu
olhar brilhando por algo que viera dele.
-John... – ela olhou-o, apesar do sol forte
que machucava suas vistas – Alice espera que a
ame. Acha que pode fazer isso?
John ficou tocado pela sinceridade
daquela mulher. Olhando para um ponto vazio,
decidiu partilhar com ela da mesma sinceridade.
-Perdi meus pais quando tinha menos de
um ano. Foram assassinados. Um crime nunca
solucionado, fui criado por empregados e colocado
em uma escola interna por meu tutor, onde passei
boa parte da minha infeliz infância. Acha que
posso saber o que é amor?
-Alice foi criada por uma família
amorosa e grande o bastante para mimá-la, como
a uma princesa. É a única filha mulher, e sabe
disso. Os homens daquela família matarão por ela,
e por sua felicidade! Talvez, apenas devesse deixá-
la mostrar-lhe o que é amor.
-E você, descobriu o que é o amor,
Helena?
Ela sorriu de leve, voltando a tratar as
galinhas antes de responder.
-Sempre fui amada por minha família. –
contou – No entanto, se refere-se a seu amigo, está
enganado. É apenas um almofadinha ambicioso,
que fica contente em ter comida quente e uma
cama arrumada para deitar. Tanto faz, o
responsável pelos mimos. Eu...ou até mesmo essa
cortesã, qualquer mulher esta de bom tamanho!
-Não sei se está certa -ele disse
analisando-a a procura de mentira, e não
encontrou – Conheço Rony desde muito cedo e
nunca o vi desse modo.
-O que diz? – não pode ocultar a
curiosidade.
-Rony deve ter lhe contado sobre Alexia –
ele notou o modo como sua face endureceu diante
desse nome – Quando me cansei dela como
amante, não me envergonho de contar, pois é
comum em minha posição, encontrei um
cavalheiro menos afortunado, mas que tomaria
conta dela por um tempo. Algo também comum
na corte. Qual não foi minha surpresa, que Alexia
quisesse Rony a despeito do dinheiro. Não
interferi apenas ao notar que da parte dele era
apenas diversão. Se não o fosse, teria dado um
jeito de separá-los. Uma mulher com as ambições
de Alexia pode destruir um homem de origens
pobres. Mas isso, não vem ao caso. Deixe-me
contar o que me surpreendeu. Foi a primeira vez
que vi Ronald demonstrar sentimentos por um
mulher. E ainda assim, apesar de seus encantos,
não se importava que dividisse sua atenção com
ouros homens. Tão pouco se importava com seu
bem estar. E agora, vejo-o enciumado de minhas
singelas intenções de conversar sobre francês com
sua esposa. Algo tão inocente, que seria motivo de
risos, não fosse o tamanho do sentimento que ele
lhe dedica.
Se Helena se perturbou com suas
palavras, não demonstrou. Sua atenção totalmente
voltada para as galinhas.
-Alice tem sonhos tolos, como todas as
moças. Acredito que para ela a consumação que
tiveram, é apenas parte de um desses sonhos. Ela
não sabe o que é desejar de verdade, ou entende de
sentimentos profundos. Por muitos anos, se
alimentou de sonhos platônicos, lendo as cartas do
irmão, e sonhando com o afamado John Harrison
– confidenciou – Para ela, não passa de um conto
de fadas. Mas sabemos que a realidade não é
assim. Desonrada, sua vida está perdida. Um
casamento sem amor, será a pior das escolhas
também. Peço, John que não faça isso com ela.
Case-se, dê seu nome, e tente amá-la, pois ela o
fará. O tratará como o melhor dos homens, e deve
fazer o mesmo.
-É o que pretendo. Parte de mim...não
entende o que sente. Sinto que estou confuso.
Quando vi Alice, meu coração sem encheu de
ternura e sentimentos que nunca conheci, e meu
corpo conheceu uma luxuria que não sabia existir.
Um descontrole, que me levou a conhecer...não foi
apenas um ato entre dois corpos, senti que foi
mais. Foi...não tenho palavras para expressar
como me senti – manou a cabeça.
-Porque está confuso?
-Porque parte de mim desejaria ter estado
aqui antes de Ronald. –confessou.
Helena entreabriu os lábios entre surpresa
e perplexidade. Não queria ouvir esse tipo de
coisa! Meu Deus!
-John, conheço segredos demais. – ela
negou com a cabeça, se negou a ouvir mais –
Quando meu marido souber tudo que lhe escondo,
estarei com problemas. Pense nisso, antes de
repetir esse tipo de coisa!
-Não disse por galanteio ou intenções
fúteis. Não espero seduzi-la. Digo, pois sinto
como se fosse mais que uma conhecida. Sinto que
posso falar e me abrir e que poderá me mostrar o
caminho certo. É loucura, mas confio em suas
palavras, Helena. Confio, como se fosse...- as
palavras morreram em sua boca e ela abriu um
lindo sorriso.
-Como se fosse sua mãe? – riu – Deveria
me ofender, John!
-Eu diria irmã e não mãe. – ele corou.
-E faz diferença? -ela jogou milho para a
mais rabugenta das galinhas, sua preferida, muito
grande, amarela e aredia, e que só comia depois
que todas as outras estivessem satisfeitas e o
milho fosse só dela. Talvez por isso tivesse tanta
simpatia pela velha galinha, ou pelo fato, de pôr
os ovos mais graúdos e formidáveis de todo o
galinheiro!
-Não, creio que não. Casando-me com
Alice, serei irmão de Ronald. E será minha irmã,
Helena. E talvez, possa lhe falar sem ser as
escondidas -ele brincou e ela riu.
-É ainda mais tolo que seu amigo –
garantiu.
Seus olhos pegaram a imagem tímida de
Alice, se aproximando, e elevou a voz.
– Alice! Falávamos de seu enxoval! –
sabia que colocaria John em uma posição difícil –
Dizia que precisamos ir à cidade, comprar tudo
que precisa para os primeiros dias de casada!
Aliás seu futuro noivo, ainda não nos disse onde
pretende morar após o casamento!
Alice encarou-a em dúvida sobre se
aproximar, pois ainda sentia-se mal em ter feito
sua cunhada chorar por sua causa!
Demorando o olhar sobre Alice, John
começou a falar, sem saber de onde vieram as
palavras. Juraria diante de um Padre que não
pensara nisso antes, nenhuma vez, mas a fluência
em que as palavras lhe vinha, lhe desmentiria
vergonhosamente!
-Acredito que comprarei uma propriedade
nessa região, para quando viermos de visita. E
também, pretendo passar alguns meses, para que
Alice se habitue a vida de casada e a mim, antes
que partamos definitivamente para Londres. Desse
modo, precisaremos mais que apenas um enxoval.
Precisaremos de uma fazenda, um administrador,
moveis e empregados.
-Tenho certeza que papai pode ajudá-lo
nisso – ela respondeu timidamente. –
Talvez...Rony possa cuidar disso também.
-Não – Helena disse decidida – Há muito
trabalho aqui. Assumiu mais trabalho junto ao
juiz, e com a chegada do inverno, ficará exausto.
O melhor para a prosperidade das duas fazendas,
será um administrador.
Alice e John se entreolharam e Alice
conteve um sorriso. É claro que Helena não deseja
ver Rony trabalhando além da conta. Mas jamais
admitiria.
-Porque...não falamos do casamento? –
John perguntou subitamente nervoso, diante de
sua futura noiva.
-Sim, aproveitem a presença de Juanita
para conversarem – Helena indicou a casa.
-Helena... – Alice pretendia protestar,
pela falta de privacidade e liberdade e ela a
encarou de volta.
-Diga. – era um desafio.
Alice se calou, corada pela indignação.
-Helena tem razão – John estendeu a mão
e apanhou a de Alice, olhando em seus olhos com
verdadeira adoração. – Vamos aproveitar e tomar
decisões antes que seu irmão volte e façamos uma
visita a seu pai.
Alice o seguiu, andando sobre nuvens ao
seu lado.
Helena maneou a cabeça incrédula,
enquanto alimentava as galinhas.
John e Alice teriam um longo caminho
até compreenderem que poderiam ser felizes
juntos, pensou.
Era bom saber que havia mais alguém no
mundo que podia entender sua sensação de
desamparo pela perca de seus pais. Era
reconfortante e tranquilizador saber que não
estava sozinha no mundo.
Helena gritou para um dos meninos de
Juanita trazer o irmão menor, o pequeno Ruanzito,
para que ela cuidasse, e voltou para a casa, tendo
a delicadeza de entrar pela porta dos fundos e não
atrapalhar a conversa de John e Alice na sala.
No quarto, ela deu boas vindas ao
menino que estava aprendendo a falar e algumas
vezes errava e a chamava de ‘mãe’. Nesses
momentos, com o peito acelerado, ela o corrigia
para ser chamada de ‘tia’.
Gostava de cuidar das crianças e sorriu
quando avistou Duran aparecer com uma pilha de
livros novos.
John era um cavalheiro! Animada,
perguntou ao menino se gostaria de ler para eles, e
ele a surpreendeu ao confessar que mal sabia ler.
Surpresa e indignada com Juanita, ela se
dispôs a corrigir esse grave erro!
Helena não notou, mas do outro lado da
parede, no quarto ao lado, Alexia estava sentada
em sua cama, escutando tudo que se passava. Sua
voz meiga, falando com o menino, sua voz
repreensiva ensinando Duran quando ele errava
alguma palavra e reclamava que não queria
aprender, pois dava trabalho, e sem dúvidas, seu
riso, quando um dos meninos dizia, ou fazia algo
engraçado.
Alexia ouvia, com lágrimas nos olhos.
Não eram lágrimas de dor. Não mesmo, suas
lágrimas de dor evaporaram na noite passada,
depois de tanto chorar!
Agora, suas lágrimas eram de ódio!
O mais profundo dos ódios.
Aquele, que apenas quem perde, sente.
Capítulo 59 - Ai

Juanita estava ocupada com os filhos,


esperando e observando o passeio de Alice com
John perto do rio. Detestava ser ama de
companhia da caçula dos Parkers, mas desde que
seu patrão chegara, mais cedo, pedindo que saísse
com a irmã e o amigo, não se opusera.
Deixara seus afazeres e aproveitara para
levar seus filhos para gastar energia correndo e
brincando no lago.
Rony se certificou que Alexia estava no
quarto, talvez dormindo ou lendo, para procurar
por Helena.
Era meio da tarde, estivera falando com
seu pai e negociando e achara por bem levar John
no dia seguinte quando Artur não estivesse
negociando a venda de gado com outros
fazendeiros da região.
Era dia, o sol queimava alto, e ele
precisava falar com Helena.
Passara toda aquela tarde, angustiado,
tentando compreender se era possível que as
suspeita de Juanita estivesse certas. E porque
não?
Sendo verdade que seus chás eram
inofensivos, ela estivera desprotegia durante todas
às vezes que fizeram amor.
Encontrou-a no terceiro cômodo do
primeiro andar, aquele que dia a dia se convertia
em biblioteca.
Estava distraída tirando pó de uma
grande estante de madeira, que ele trouxera do
segundo andar e colocara ali há alguns dias atrás.
Havia uma mesa grande de madeira maciça, muito
conservada, com gavetas e chaves, e estava no
meio da sala, com várias pastas de processos.
Aliás, precisava ditar seus relatórios. Na capital
havia um rapazola, aprendiz e ainda estudante,
que taquigrafava.
Cruzando os braços, ele analisou o
balançar de seus quadris enquanto tirava o pó de
uma prateira mais baixa, gingando sem perceber e
cativando seu olhar.
Olhar esse que ficou pequeno ao ver a
pilha de livros novos que ela se desdobrava em
zelo, colocando um a um na estante vazia. Helena
gostava de ler, era essa a razão para tanto cuidado,
ou o fato de serem livros trazidos por John?
O que afinal, estava se passando entre
sua esposa e seu melhor amigo?
Helena virou-se e quase caiu de susto,
não esperava por ele tão cedo!
-Rony! - ela tentou recompor-se e não
parecer tão assustada.
-Sim. Esperava por outra pessoa? –
perguntou esperando pega-la no flagra.
-Oh, sim, esperava por Alice e John. Eles
foram conversar sobre os planos para depois do
casamento. Juanita prometeu vigiá-los, mas sabe
como ela e Alice se estranham...o que foi? Está
com raiva? – estranhou. – Ah, é claro, que está
com raiva!
Havia se esquecido da discussão da noite
passada, mas ao lembrar corou e voltou sua
atenção aos livros, tão poucos livros, mas tão
preciosos!
Ficou tensa, quando Rony se aproximou.
-Tem algo para me dizer sobre a noite
passada? – ele a coagiu.
-Creio que não. Sabe exatamente o que
fiz, e porque fiz. Não cabe mais falar do assunto –
desconversou.
-É mesmo? Para mim ainda existem
muito pontos a serem elucidados. Como por
exemplo, porque me usou para vingar-se de Lil?
Por um segundo, ela fechou os olhos com
força, lutando contra a voz interior que a impedia
de revoltar-se.
-Pedi que a chame por seu nome, e não
um apelido de amantes! – esbravejou.
-Lil é seu nome. Acaso não sabe que
cortesãs costumam ter nomes específicos em sua
profissão? – era uma provocação – não é um
apelido de amor, é apenas seu nome de prostituta.
-Pois a chame como quiser, não me
importa! – voltou sua atenção aos livros, não
querendo admitir que estava feliz em ouvir isso!
-A mim, pareceu que se importa, e muito,
principalmente quando estava aos berros na noite
passada. Ou se esqueceu?
-Posso ter esquecido – ela concordou –
Acaso esqueceu que essa mulher ficaria apenas
poucos dias? Logo fará uma semana e ela continua
sob meu teto! – argumentou, querendo fugir de um
confronto.
-Helena, olhe para mim – ele mandou e
ela ignorou – vire-se e olhe para mim, pois é a
última vez que tocarei nesse assunto.
Relutante, obedeceu. Com expressão
condoída, esperou.
-Não há necessidade que prove sua
superioridade em minha vida, deixei muito claro a
Alexia que sou casado e desejo permanecer desse
modo. Quem deve mostrar a todos o rumo do
nosso casamento sou eu, o marido. A única pessoa
nesse casamento que usará calças, sou eu. Não
trave combates pelas minhas costas, não desejo
ser usado ou ver alguém ser usado pelas minhas
costas, em uma guerra que não deve existir aqui
dentro! Em poucos dias, ela ira embora, mas
podem haver outras. Outras mulheres
interessadas, assim, como não fingirei que homem
algum irá olhar para você. Porém, isso não lhe dá
o direito de agir a sua própria vontade!
Helena soltou um som que mais
lembrava um riso. Indignada, jogou o pano que
tirava o pó longe e apontou o dedo na direção de
Rony:
-Não fale como se fosse o grande homem!
Nem ao menos posso falar com John por que não
me deixa me aproximar! Acha que isso é muito
melhor do que eu mesma fiz?
-Achou mesmo que mostrar a Alexia que
sou um homem satisfeito na cama poderia afastá-
la? – ele riu ao pensar nisso – Para mulheres como
Alexia isso não importa. Ela tiraria um pai de
família da cabeceira de seu único filho moribundo
se assim o que quisesse! Nada a faz desistir! Seu
corpo é seu triunfo!
-E dizendo isso, acha que me sinto
aliviada? – ironizou.
-Deveria. Não desejo outra mulher, mas
isso sou eu quem deve deixar claro as outras
mulheres e não você. – contra-atacou.
-Sendo assim, o mesmo vale para mim.
Daqui para frente, não deve me impedir de
conversar com seu amigo – disse com
tranquilidade.
-É tão importante estar com John?
Helena suspirou ruidosamente, irritada
até os ossos. Sentiu vontade de revirar os olhos.
-Me pergunto se insiste nisso apenas para
me enlouquecer – respondeu. – Não é possível que
acredite estar interessada no noivo de Alice!
-Eles não são noivos ainda – Rony disse
como se fizesse sentido.
-É claro que não! Como foi que não
pensei nisso antes? Ainda há tempo de arrumar
minhas coisas e fugir com ele no meio da noite! -
ironizou.
Helena dera um ar de enfado, pois para
ela, não passava de uma ironia tola, tamanho era o
absurdo, por isso, voltou à atenção aos livros. Para
Rony no entanto, suas palavras tinham outro
significado.
Com um puxão agarrou seu braço e a fez
se voltar, incrédula pelo arrombo. Afinal, ao seu
ver, nem estavam brigando de verdade!
-É esse seu plano? Abandonar-me?
Por um segundo, Helena ficou em dúvida
sobre rir ou confirmar.
-Deus, que homem irritante! – ela
esbravejou se soltando com um movimento brusco
– Como pode um homem ser desse modo? Acaso
seu pai não lhe ensinou que homens não são tolos
e sentimentais como donzelinhas de dez anos,
cheias de fitas cor de rosas e sonhos tolos de
casamento? Porque fugiria com qualquer outro
homem, se tudo que desejo está aqui? Acha
mesmo que abandonaria a fazenda da minha
família?
-Como posso saber? Seu coração é de
pedra! - a mera possibilidade de ser abandonado
por outro homem o fez cego para sua inocência.
Helena não respondeu nada, não tinha o
que dizer. Tinha um coração de pedra? Era mesmo
isso que pensava dela? Pois então!
Dar-lhe-ia conta dessa verdade!
-Se lhe interessa saber, não o
abandonaria por outro homem qualquer. John
seria uma opção e se não se casar com Alice,
talvez, eu parta com ele, se assim o desejar. Não é
o que espera de uma mulher com coração de
pedra?
Era exatamente isso que ele esperava
ouvir, não era. Pronto. Poderia ficar tranquilo!
A despeito de suas palavras, seus olhos
lacrimejavam. Deus, porque isso tinha que
acontecer o tempo todo? Sempre fora capaz de
esconder o que sentia!
-Porque está chorando? – ele perguntou
com raiva.
-Não estou chorando! – se revoltou.
-Sim, está chorando! Por quê? – segurou
seu braço com força e ela sentiu que não poderia
conter mais as lágrimas.
-Eu não sei por que choro. Não sei por
que estou sempre chorando! – tentou se afastar,
mas ele não deixou.
A raiva infundada, por ciúmes, deu lugar
à compreensão. Essas súbitas mudanças de
humor, a fraqueza pela manhã. Seu apetite...as
palavras de Juanita lhe faziam cada vez mais
sentido, e no lugar de um aperto de desamor, Rony
abraçou-a com carinho, mesmo Helena tentando
fugir.
-Não há nada errado em chorar um
pouco, ainda mais quando seu marido é insensível
e ciumento demais –ele tentou acamá-la, tocando
seus cabelos, beijando o topo de sua cabeça e
fazendo carinhos em suas costas. – Helena, olhe
para mim.
-Não gosto de olhar para você – ela disse
com a voz abafada contra seu peito. Sentia-se tão
tola! Mortificada!
-Mentirosa – ele cochichou em seu
ouvido, tentando fazê-la rir.
-Porque grita comigo e depois...? – tentou
se afastar, ele apertou-a com mais vontade.
-Disse-lhe uma vez, Helena, o amor me
faz perder a razão – se ela houvesse erguido o
rosto teria visto seu sorriso de pura felicidade ao
pensar na possibilidade não confirmada de ser pai.
Pai de um filho de Helena.
-Não gosto de vê-lo feliz – ela disse
amargurada.
-Isso, já havia notado - seu sorriso se
alargou ainda mais. – Esqueçamos Alexia, ou
John. Pensemos em nos dois.
-Pensar em nos dois..? – ergueu os olhos
secos, pois aquela onda de emoções havia
passado, e esperou que elucidasse seu ponto de
vista.
-Temos decisões a tomar, Helena. O
inverno chegará em poucos meses, temos que
decidir a venda do gado, a plantação, temos que
preparar a terra para o novo plantio. Temos muitas
decisões sobre a fazenda e sobre nos dois.
Ele tinha razão.
-A única decisão que gostaria de ter
agora, é sobre quando vai se dignar a trazer os
livros do segundo andar para cá – ela disse direta,
pois com suas costelas se recuperando não se
ariscava a carregar tanto peso.
-Para que precisa de tantos livros,
Helena? – ele lamentou.
-Para me ocupar o tempo. Ou acha que
sua companhia me basta?
-Tenho certeza que não.
Rony soltou-a contra gosto, sabendo que
eram apenas alfinetadas, sem o intuído de ferir.
Para seu bem, e pelo bem do avanço que
tinha estabelecido com Helena, se sujeitou a seis
viagens desconfortáveis naquelas escadas antigas,
com pilhas de livros pesados e empoeirados.
Estava com a cabeça cheia de pó quando terminou
e reclamou do ar claustrofóbico dentro da sala.
Havia uma janela, mas Helena se recusava abrir
enquanto não estudasse o estado de cada livro,
para saber quais poderia ficar expostos a umidade
e quais precisavam de absoluto cuidado.
-Livros? O que têm eles? Nunca consegui
ver muita graça – ele comentou após algum tempo
relegado a segundo plano, talvez por inveja de sua
atenção ao poeirentos livros.
-Talvez por ser um brutamontes – ela
disse passivamente, entretida e quase esquecida de
sua presença.
-E brutamontes podem fazer tudo,
suponho? – ele perguntou divertido, abandonando
a poltrona antiga em que estava sentado atrás da
mesa e se aproximando sorrateiro da porta.
Tranco-a antes que Helena pudesse notar,
entretida com os livros.
-Brutamontes são capazes de tudo, menos
gentileza – ela quis ofender, e esperava que
entendesse intuitivamente que era apenas uma
forma de se aproximar, chamar sua atenção para
ela.
-De tudo? -ele perguntou se
aproximando por trás, olhando sua presa, tão
inocente, perdida em seu mundo de apreciação
literária. Afinal, livros são seguros. A menos,
claro, que Ronald Parker esteja por perto! – De
tudo mesmo?
-Há-há – ela disse sem muito interesse,
lendo um trecho ao acaso de um antigo livro.
-Até mesmo...disso?
O entendimento veio depois do gritinho
de surpresa. Helena foi apanhada por braços
fortes, e prensada contra a parede com tanta
rapidez que não acreditou em suas intenções até
ter a boca aprisionada.
Suas mãos agarraram a camisa de Rony
na altura dos ombros, e após alguns movimentos,
socos em seu peito, os dedos ficaram
esbranquiçados de tanto apertar o tecido. Ele
segurava sua cintura e a mantinha imóvel, os
lábios devorando os seus.
Não precisava corresponder, era só cerrar
os dentes e ele teria que parar, mas abriu a boca de
livre e espontânea vontade, ansiando e
participando avidamente do beijo.
A fogueira que sempre a queimava
quando era tocada por Rony, começou a incendiar
em seu ventre, e sentiu-se frágil.
Seus olhos estavam fechados, assim
como os de Rony, mas ele acabou abrindo os seus,
para olhar a entrega de Helena. Ela era tudo em
sua vida, e em momento como aquele, suspeitava
que teriam um lindo futuro juntos.
Uma das mãos de Helena subiu para seus
cabeços, e foi o incentivo que precisou para
deslizar as suas para baixo, e erguer suas coxas
para cima.
-Hum...dói – ela reclamou,sentindo uma
fisgada em suas costelas.
Quando ele a colocou no chão de volta,
ela lembrou-se que não deveria permitir.
-Ora, não faça isso! – ela reclamou. Sem
muita vontade, era verdade.
-Porque não? -ele perguntou tentando
soltar seu vestido. Mas os botões eram nas costas.
-Porque não quero! Já lhe disse, só
participo desses atos...por causa de Juanita!
-Santa Helena. – ele debochou.
Ela tentou impedir, mas acabou
deixando-o agir. Cansado das tentativas
frustradas, ele a girou em seus braços, e Helena
apoiou as duas mãos na mesa de madeira, para
não cair enquanto ele soltava o corpete do vestido.
O dia era quente, e ela abrira mão das
roupas de baixo em excesso, usando apenas o
colete íntimo e as calças que iam até os joelhos.
Pouco algodão para os padrões da sociedade, e tão
leve e indigno, para se usar no meio da tarde, na
biblioteca de sua casa!
-Tão perfumada – ele sussurrou
aspirando o perfuma de seus cabelos, depois de
solta-los sem muito cuidado, era um homem de
dedos grandes demais para manejar delicados
pregadores de cabelo – seus cabelos cheiram
a...a...não sei a que cheiram, mas é o cheiro mais
maravilhoso que já senti!
Helena sentiu vontade de rir e dizer que
era cheiro de pão recém feito, e que o cheiro
estava por toda a casa, mas achou melhor, levar
como um elogio, visto que esse homem era um
comilão!
-Sua pele cheira a lavanda – ele disse
roçando o nariz em seu cangote. – e é macia como
uma pétala de rosas – suas duas mãos se juntaram
em seus quadris e desceram, para as coxas,
sentindo o algodão fino moldar-se as formas,
sendo tão erótico como se estivesse nua.
Helena retesou o corpo quando as mãos
subiram, depois de tocar as rendas de seu calção
íntimo, quase nos joelhos. Aquelas mãos se
aproximaram de uma região pouco protegida pelo
tecido fino e Helena pode sentir o tecido se esticar
sobre seus poucos pelos púbicos quando ele
passou aquelas mãos por seus flancos, quase
levando-a a crer que a tocaria ali. O simples toque
do tecido entre suas pernas foi o suficiente para
levar sangue a sua face e corar suas bochechas.
Apoiada na mesa, sequer pensou na
possibilidade de mandá-lo parar. Era impensável!
Fechou os olhos, sentindo aquelas mãos vagarem.
Rony levou os dedos para cima, na
porção de pele que ficava a mostra, sobre seu
umbigo. Ela arfou e tentou se afastar, mas Rony
soube que era mais uma reação de apreciação que
um rechaço.
Os dedos, aqueles dedos sedutores,
entraram pelo tecido do colete e ele apertou um
seio entre os dedos, deixando Helena sem ar.
Sentiu um pouco de dor, algo incomum, mas o
prazer subjugava o incomodo.
Quando ele apertou o outro seio,
mantendo os dois num delicioso aperto, ela gemeu
de lamento. A dor era um pouco mais forte, mas
ele logo os soltou e arrancou o colete, pondo-se a
acariciar com doçura, usando a palma das mãos
sobre os mamilos sensíveis.
A sensação de peso nos seios cresceu
assim como sua boca secou e certas regiões se
umedeceram vergonhosamente. Ele pressionou o
quadril contra o dela e Helena precisou de toda
sua força para não gemer, sentindo o membro
pressionado contra suas nádegas .
Lembranças da noite passada inundaram
sua mente e tudo em que pode pensar foi em tê-lo
em seus lábios novamente. Pensamento infame!
Sem se dar conta, separou um tanto as pernas e ele
sorriu contra seu pescoço, mas ela não viu.
A língua quente e molhada desceu por
seu pescoço e ombro e então voltou, indo se
refugiar atrás de sua orelha e deitando a cabeça
em seu peito, ela gemeu, rendida. Era tão bom!
Tão delicioso sentir àquelas mãos em seus seios e
aquela língua em sua orelha, que ficaria assim por
horas.
Uma das mãos abriu mão de seu seio e
percorreu seu estômago ainda lisinho, entrando
pelo elástico da roupa íntima. Imediatamente ela
juntou as pernas, num reflexo, querendo conter as
emoções. Rony esfregou os dedos sobre a vulva,
acariciando o monte de Vênus e seu dedo
conseguiu caminho entre as coxas apertadas,
apenas o suficiente para sentir a umidade e
desistir.
Insistiu nos toques em suas virilhas, sem
forçar. Mas Helena era dura na queda, e parecia
mais interessada nos carinhos em seu pescoço e
seios, e com a experiência que tinha, soube que
era o melhor caminho para seduzi-la.
Seguiu acariciando-a até sentir que era
impossível para ela manter a resistência e suas
pernas se afastaram ligeiramente e pode
escorregar os dedos ali. Molhada, ela estava
inundada de desejo, e o orgulho o fez se afastar
rapidamente e baixar o tecido por suas pernas,
ficando na altura perfeita para tirar por suas
pernas. Helena vestia apenas o colete
dependurado no corpo revelando completamente
os seios, mas ele o deixou ali, sedutor, lembrando-
o do quanto era honrosa e honesta, sua mulher fiel
e dedicada. Só dele.
Esse pensamento machista o fez arder e
antes de se erguer, ele deu uma profunda lambida
sobre a marca clarinha de seus dentes numa das
nádegas roliças. Fizera aquela marca há dois dias,
e quase sumia. Enquanto beijava a pele de suas
costas, ele abriu a calça, e a deixou cair aos pés,
tirando-a de qualquer jeito, até ficar nu da cintura
para baixo. Chegou a abrir a camisa, mas não a
tirou, muito ocupado em soltar o colete dos braços
de Helena.
Nua, ela não se moveu, mas olhou para
trás, questionando o que faria, ou apenas
questionando a demora.
Engolindo sem seco, ele juntou o corpo
ao dela, sentindo a macies de suas nádegas
embalando-o. Se roçou vergonhosamente como
um adolescente, excitado e angustiado. Seu
gemido sofrido o fez lembrar que tudo era para
ela.
Tudo era para Helena sentir-se desejada e
amada.
Devorando suas costas retas, ergueu seus
cabelos para cima, lambendo toda a pele, em
direção as nádegas .
Ela se contorceu, as mãos agarradas à
beirada da mesa, em quase desespero, quase
inclinada sobre o tampo de madeira.
Chegando ao destino, ele separou as
rechonchudas nádegas e apreciou o que se
desvendava. Seu centro rosado, empapado,
brilhante com viscosidade que o levaria a ser
aceito dali a minutos. Meteu-lhe a língua entre as
dobras, achando delicioso o calor e o rebolar
involuntário dela contra seu rosto.
Precisou segura-la no lugar, enquanto a
curvava mais um pouco e a chupava. Primeiro os
grades lábios, mais próximos, sugou o mel que
escorria a li, e penetrou-a com a língua em
movimentos rápidos, seguindo com a língua para
cima, raspando sobre o broto maduro que se
erguia entre os pelos castanhos, inchado.
Era diminuto, mas se eriçava sob sua
língua e quando Helena esbravejou um palavrão,
esfregou com mais força, chupando aquele
pequeno caroço até ouvir seus gritos angustiados.
Helena se contorceu, sentindo o mundo
girar em círculos longos, lentos e misteriosos,
enquanto seu corpo respondia intensamente, vivo
e pulsante, sentindo um aperto tal em suas
entranhas que achou que fosse perder os sentidos.
Colocou os lábios na própria mão,
dobrando o corpo contra a mesa, mordendo os
dedos, enquanto aquela dor íntima no mais
profundo de seu sexo a torturava.
Rony moveu as mãos, e usou dois dedos
para sondá-la, antes de se erguer e se posicionar.
Ela não pareceu notar que havia parado,
esperando que continuasse, com o mesmo intento
de antes.
Sentindo-se o maior e mais sedutor dos
homens, posicionou-se, as pernas afastadas, a
coluna reta, e o pênis endurecido como ferro, e
pincelou contra as dobras molhadas antes de
entrar.
Helena gemeu em profundo êxtase
quando o sentiu no fundo, bem no fundo,
pressionando as bolas em suas nádegas . Rony
não parou como faria normalmente, para esperá-la
se acostumar, começou os movimentos rápidos e
fortes, enlouquecido pela imagem de sua bunda o
devorando. Era um pervertido, e pobre Helena,
tinha que suportá-lo!
Inclinado, Rony apoiou uma das mãos
mesa, praticamente dobrado sobre ela, sem notar
que agarrava junto um pouco dos seus cabelos, e
diante desse puxão, ela tremeu o corpo vítima de
um orgasmo que a fez deslizar e quase cair.
Mas ele não deixou que saísse do lugar.
Apertada, precisou se inclinar, para tê-la mais
aberta, suas contrações agarrando-o como um
punho de ferro. Ofegante continuou, arrancando
dela novos gemidos e sentiu o exato momento que
inchou pronto a gozar. Foi quando agarrou sua
bunda com as duas mãos, e afastou-a para abri-la,
e expor aquilo tudo a seu olhar e Helena começou
a falar sem parar, perdia naquele lugar que
somente ele poderia levá-la:
-Mais forte, mais forte...mais forte...mais
forte...Oh, mais forte, mais forte!
As investidas seguiram o ritmo de sua
voz, e um momento de total descontrole, ele saiu,
e voltou, e saiu novamente, completamente
maravilhado pelo sulco que o rodeava, e escoria
pelas coxas aveludas e voltou a se arremessar, no
exato segundo que ela desceu um pouco o corpo.
A cabeça de seu pênis encostou e
pressionou mais acima, e ela gritou.
Rony não pode parar, agarrou sua cintura
e manteve-a no lugar enquanto aquele pequeno
orifício o ordenhava. Empurrou com mais força.
Estava doendo nele também, quis lhe dizer, o
tesão estava doendo nele também, por isso forçou
a despeito de seus gritos.
Helena gritou como uma desesperada
quando sentiu a mudança. Ele acertou o lugar
errado, mas não parou. Empurrou com força e
sentiu entrar, era diferente de tudo que já sentira.
Sentia o mesmo prazer, era diferente. Como cortar
o dedo em um espinho e a despeito da dor, sentir
prazer ao lamber a ferida.
Era profano, e quando mais longe ele ia
mais ela esperneava para escapar.
Ensandecido, ele saiu e empurrou
novamente, mas não passava da cabeça. Muito
apertado, o anel a sua volta não se estendia, mas
aceitava até onde conseguira alcançar.
Agarrando-a, ele se forçou várias vezes
até sentir que avançava um tanto mais, e Helena
se debatia ainda mais para escapar. As pernas
finas e delicadas tremiam, e ela berrava. Não
entendia o que dizia, mas não podia parar.
Jogando o corpo para trás, grunhiu como
um homem a beira do precipício e jorrou sua
semente fundo naquele orifício apertado.
Helena parou de se mover quando sentiu
alívio. A pressão havia sumido quando o liquido a
preencheu, escorrendo por suas coxas, caindo a
manchando o chão.
Mas era um alívio a dor intensa que a
fizera gritar até perder o ar e a voz.
Rony soltou sua cintura e a soltou do
aperto, retirando o membro e olhando para o
estrago.
-Não olhe...não me olhe assim... –ela
balbuciou, os olhos injetados, vermelhos e
nublados pelo prazer inexplicável que apertara
suas entranhas e esmigalhara seu bom senso,
durante aquele momento louco.
A despeito dos gritos, obtivera tanto
prazer que achara que morreria. Morreria nua, na
biblioteca, nos braços de um devasso, sendo
profanada. Era uma frase terrível, mas não
conseguia pensar em outra melhor!!!
-É linda. É a mulher mais linda que já vi
–ele acalmou-a, amparando seu corpo e a
apanhando no colo.
Helena reclamou quando foi colocada na
poltrona larga, atrás da mesa. Ele puxou o móvel,
e ganhou espaço. Notando seu desconforto em
ficar sentada, puxou seu quadril para fora da
poltrona, deixando seu torso deitado contra o
veludo. Ela tentou esconder o rosto nos braços,
sobre o braço da poltrona, mas ele desceu o rosto
entre suas pernas e ela precisou se mover, para
tentar pará-lo.
-Para, chega, não faz mais isso!
Era mentira, queria mais. Seus olhos
pediam. E ele obedecia ao desejo e não a ela.
Baixou a boca sobre sua vagina e lambeu
tudo que havia ali. Desde a pinta na sua coxa, na
dobrinha entre a virilha e os grandes lábios, até o
ânus, com suas pregas frouxas e castigadas.
Lambeu, chupou e a revirou do avesso.
Em dado momento ela apoiou o pé em
seu ombro, e começou a chutá-lo para empurrá-lo,
e notou que era esse seu costume, quando estava a
beira do clímax, chutar e espernear para recuperar
o controle. Por isso, segurou seu pé, e ergueu,
dobrando seu joelho contra os seios sensíveis.
Helena jogou o corpo para trás, levando
os quadris e o peito da poltrona, quando se sentiu
partida ao meio pelas sensações que se
aglomeravam em seu ventre.
Suas mãos tocaram os próprios seios,
coisa que nunca fizera na vida, e apertou os
mamilos com a mesma força em que ele chupava.
Ela não gritou, apenas soltou um profundo suspiro
quando o prazer se foi. Seu corpo se acalmou e
Rony soltou seu tornozelo, e afastou o rosto,
depois de sugar todo seu gozo.
Extasiada e exausta, ela não protestou
quando ele ajeitou-a na poltrona, esquecida da dor
e do desconforto na relação que tivera pela
primeira vez.
Um sorriso presunçoso nasceu no rosto
de Rony ao acariciar seu estômago, notando que
as marcas da surra haviam desaparecido quase por
completo, e que naquele ventre liso, talvez
houvesse um filho crescendo. Presunçoso também
pelo estrago que fizera em Helena.
Ajoelhado no chão, ao seus pés esperou
que ela recobrasse o senso de direção e lhe
lançasse um olhar furioso ao tomar consciência do
que fizera com ela.
-Como pode fazer isso? – perguntou
rouca, pois sua voz sumira junto com os berros
que soltara.
-Foi maravilhoso, e sei que não te
machuquei. Gostou tanto quanto eu. – ele
respondeu e ela se curvou na poltrona em sua
direção.
Aquele olhar sujo e febril o encantava e
quando ela agarrou seu cabelo com uma das mãos
aproximando os rostos, o excitou terrivelmente.
Infelizmente seu corpo estava morto, exaurido
incapaz de qualquer reação pela próxima hora.
-Eu juro que se fizer algo assim
novamente, coloco um facão bem afiado embaixo
do travesseiro e te livro do que mais ama e presa
nessa sua inútil vida – rosnou, tão lindamente
furiosa, que ele a beijou.
Longo e profundo, molhando seus lábios
com saliva e paixão.
-Agora me solte – ela mandou largando
seus cabelos com a mesma força que quase os
arrancara ao juntar as faces. – Eu te odeio.
-Não. Você me ama – garantiu.
-Tanto quando amarei ver sua cara essa
noite – ela resmungou apartando-se dele,e quase
caindo ao tentar levantar-se.
Rony riu suavemente apanhando as
roupas e jogando para ela, ainda sentada, vestir o
vestido desprezando as peças íntimas.
-Por quê? – perguntou inocentemente.
Helena testou as pernas antes de levantar,
e tentar andar com alguma compostura em direção
a porta e destrancá-la. O vestido jazia aberto nas
costas, mas não se importou.
-Porque desperdiçou sua maldita noite ao
meu lado. – respondeu e saiu apressada. Pasmo,
ele a deixou ir.
Capítulo 60 - Serpente no ninho

Alice olhou para Helena com a sensação


de culpa remoendo-a. Achava que sua expressão
fechada na mesa do jantar, era resultado da magoa
que lhe causara pela manhã. John ergueu os olhos
do vinho e contemplou a linda jovem, e seu olhar
tristonho, se perguntado por que não teria lhe
contado a razão de tanta tristeza.
Não era apenas medo de ser apanhada,
estava feliz em casar-se. Desejou estar a sós para
questionar a razão de seu silêncio. Com a sombra
de um sorriso, conscientizou-se que em apenas
poucos dias, tornara-se escravo da voz de uma
mulher.
Mulher não. Menina. Apesar de ter se
apoderado de sua virgindade, Alice era inocente
em muitos sentidos. Via o mundo com tanta
inocência que o emocionava.
Correu os olhos sobre a sala, e observou
como Helena parecia entretida com o livro que
tinha nas mãos. Rony fizera questão que fizesse
sala, e ela não hesitara em apoderar-se de um
livro. Era uma forma sutil de desafiá-lo.
E o que Rony esperava? A pobre fazia
sala para a ex-amante de seu marido!
John estreitou os olhos, notando que ela
corava. Pegou-se tentando lembrar se havia nesse
livro alguma passagem indiscreta, mas logo
sorriu. Aparentemente a causa de seu corado,
eram seus próprios pensamentos.
-Não olhe para Helena desse modo –
Alice disse baixo, ao seu lado – Me envergonha.
-E de que modo olho para sua cunhada?
Os dois estavam lado a lado, enquanto
Alexia estava esparramada sobre uma poltrona.
No outro sofá Rony estava ao lado de Helena,
observando-a calado, aquela sala tão silenciosa,
que irritava.
-Com...- ela engoliu em seco, contendo
uma palavra imprópria, porem muito usada por
seus irmãos mais velhos, em suas conversas no
meio da noite.
Muitas vezes, ela levantara da cama para
ouvir atrás das portas e tentar entender um pouco
sobre o que acontecia entre um casal.
-Com? – John insistiu.
-Com desejo de homem. –ela afastou o
olhar, indignada.
-E de onde tirou essa ideia? – viu seus
olhos azuis soltarem faíscas e continuou – creio
ser inocente demais para criar em sua mente a
possibilidade de seu futuro noivo pretender deitar-
se com sua cunhada! Ainda mais, sendo eu,
melhor amigo de seu irmão!
-Porque...acha que não pensaria isso?
-Porque é uma jovem doce. Ao menos,
acredito ser terna demais para tal maldade –
esperava que fosse sincera.
Alice baixou os olhos envergonhada.
-Srta.Lil me contou como era mulherengo
em Londres, e disse que reconhece seu interesse, e
que deseja Helena. – foi sincera.
-Alexia é uma cortesã e mente com a
mesma facilidade com que respira.
Raiva o tomou ao pensar nas coisas
picantes que aquela mulher deveria estar
colocando na cabeça de Alice.
-Ronald – sua voz soou forte demais para
uma calorenta noite entre amigos.
-Diga, meu amigo – ele falou absorto,
bebendo seu vinho com a mente em outro lugar.
Nada no mundo poderia estragar seu humor!
-Amanhã cedo mande um de seus
empregados reservar um hotel na cidade. Encontre
uma parteira e garanta que nada falte. Pagarei.
-Porque isso agora? – ele estreitou os
olhos perdendo o humor ao ver a seriedade de
John.
Helena abandonou a falsa leitura com o
coração acelerado diante da ideia de se livrar de
Alexia.
-Quero Alexia longe de Alice – ele
respondeu apesar do falso ofegar ofendido de
Alexia.
-E o que fiz? -ela perguntou coquete.
-Tem falado de assuntos maliciosos com
uma jovem solteira, uma dama de família, não
uma qualquer! – ele alterou a foz e Rony se ergueu
revoltado.
-O que disse a minha irmã? – Perguntou
a Alexia sem paciência para seus joguinhos.
-Não disse nada errado! Contei-lhe do
tempo em que fui...próxima a John. Apenas isso.
se vão casar, que mal há que ela saiba de seu
passado?
-Não acredito que não tenha dito palavras
ou descrito atos que minha irmã não deva
conhecer! -ele reclamou.
-Rony, amor da minha vida, solte meu
braço. Não sou uma caipira desengonçada que
seja surrada e cale a boca! – ela agrediu.
-O que quer dizer? – ele não acreditou no
que ouvia.
-As paredes tem ouvidos, e não o culpo
por ter dado uma lição nessa coisinha sem graça -
ela amansou a voz – querido, deixe John com seu
ciúmes e venha falar comigo em particular – pediu
acariciando seu rosto.
Helena esperou com a respiração
suspensa, que a defendesse, e desmentisse, mas
não o fez. Contrariando sua expectativa, levou
Alexia para a biblioteca.
Para a biblioteca.
Helena engoliu o pranto. Não podia
chorar. Por mais que doesse a ponto de perder o
ar.
-O que será que eles têm para conversar a
sós? – Alice perguntou maliciosa.
-Porque não nos diz? - Helena perguntou
ferina – São tão amigas. Deve saber de seus
segredos!
-Helena! -ela reclamou, olhando para
John com medo do que pensaria dela.
-É bom que John saiba que se casa com
uma mulher capaz de ter amizade com uma
cortesã. Assim, estará preparado para as traições e
maledicências que trará a vida dele!
-Não diga isso, Helena! -ela levantou-se
rubra.
-Porquê não? Acaso não foi o que fez
pela manhã? – ela também se levantou – Vou me
deitar. Boa noite – disse seca, apressou o passo
para o quarto.
Na sala, Alice sentou-se pesadamente
sobre o sofá.
-John...não fiz por querer – ela tentou
explicar – Achei que...pudesse ter uma amiga,
depois que...Helena me abandonou, nunca mais
tive uma amiga – sentiu lágrimas nos olhos e não
teve coragem de olhar para ele.
-Terá muitas amigas – ele consolou,
apanhando sua mão e beijado a pele com ternura
– mas para isso, terá que aprender a entender as
pessoas. É próprio da idade que se deixe levar por
sorrisos aduladores. Ensinarei-te a reconhecer as
pessoas que não lhe são boas de verdade.
-Mesmo? – um pequeno sorriso nasceu
em sua face – Não está zangado comigo?
-Estou zangado com seu irmão que
permite essa situação continuar e com Alexia que
se aproxima de ti, apesar do meu pedido para que
se afaste.
-Tenho a impressão que Rony gosta de
mantê-la aqui – Alice confidenciou – Sabe por que
meu irmão age assim?
John riu suavemente, acariciando uma
longa mexa de cabelo ruivo que lhe caia ao ombro.
-Rony quer que a esposa sinta ciúme.
Helena é muito fechada, ele tenta chamar sua
atenção – contou.
-Ora! Pois por minha atenção, jamais terá
que fazer algo assim! John, só faço pensar em
você! – contou, entre um longo suspiro de
vergonha.
-Não se acanhe, pois sofro toda a noite,
lembrando de nos dois. Desejando estar contigo
novamente– ele confidenciou
-Eu poderia...
-Não. Não quero agir desse modo. Pelas
costas de Rony. Desejo tê-la após o casamento,
com todo o respeito que merece – tranquilizou-a.
-Não pode ao menos, me beijar às vezes?
– perguntou atrevida, pousando uma mão em sua
perna. Quase sobre o joelho.
-Pois, se o fizer, acabarei te deitando
nesse sofá e saindo dessa casa dentro de um
caixão – provocou.
-Pois iria contigo -garantiu, com a
doçura de uma moça apaixonada.
-Então, é melhor que nos dois
permaneçamos vivos – a fez sorrir, acariciando
seu rosto, com ternura. – Amo seu sorriso, Alice.
Faz-me sentir vontade de sorrir também. Sorrir
sem razão, como um bobo.
-John... – suspirou se inclinando em sua
direção.
-Alice, suba para seu quarto! – Rony
disse erguendo a voz ao entrar na sala e encontrar
sua irmã reclinada sobre um homem.
-Boa noite, meu irmão – ela disse
levantando-se, arrumando a saia do vestido, e o
beijado na face com uma expressão tão angelical,
que varreu sua fúria e o fez retribuir seu beijo,
num afago fraternal.
-O que fez com Alexia? – John perguntou
com uma ponta de divertimento.
-Adverti que saíra dessa casa no dia que
nascer seu filho. Não posso correr o risco de ser
considerado responsável por ela.
-É tão difícil sua situação? – John se
interessou no mesmo momento.
-Agora, creio que não. Paguei três
parcelas da hipoteca e tudo corre bem. Mas não
posso correr o risco de perder a fazenda. Helena
ama essas terras e fez de tudo para conservá-las.
Não é direito que as perca por minha causa.
-Ao menos seu casamento parece estar
assegurado – John tratou de assegurá-lo –
Qualquer um vê que perturba Helena.
-Sim, tenho sobre ela o mesmo efeito que
um doença fatal. Ela me odeia. Essa tarde...-
conteve-se antes de falar tudo. Em outros tempos
não teria contido a vontade de falar. -...me fez
perder, novamente, o controle sobre minhas
ações. Helena parece fria como uma geleira, mas é
apaixonada e voraz. Pragueja com a mesma
voracidade com que beija.
-Deseja que fique invejoso? – John
provocou – Espero que seu pai concorde com um
casamento rápido. Sua irmã é de enlouquecer
qualquer homem. Sabe, nunca fui paciente antes.
-Me contaria se houvesse feito algo que
me envergonhasse frente minha família, não é? –
Rony deu-lhe a oportunidade de confessar os
beijos que dera em sua irmã.
-Se tivesse coragem, sim, contaria –
respondeu, incapaz de confirmar.
-Então não conte – ele respondeu,
respirando fundo e digerindo essa verdade. –
Aquilo que não sei, não posso tomar partido. Faça
a minhas costas, John, pois a decepção mataria
meu pai.
-Rony... – ele abriu a boca para confessar.
-Não sou tolo. – Rony definiu,
levantando-se – A presa desse casamento também
é minha. – Foi um longo dia, John.
-Sim, foi um longo dia. Não o prenderei.
Sei que tem presa de deitar-se – maliciou sorrindo.
-Vá dormir, John. – ele reclamou
falsamente ofendido.
Sozinho na sala, Rony maneou a cabeça,
pois John tinha razão.
No quarto, entre as cobertas, Helena se
pegou pensando no que estariam fazendo na
biblioteca. De certo, o mesmo que fizeram naquela
tarde.
Virada contra a porta. Afundou o rosto no
travesseiro, se conscientizando, que no fim, tudo
daria no mesmo. Fosse Susan, ou Alexia, o certo,
e que ele iria embora.
Sempre soubera. Então, porque a
surpresa? Porque a dor?
Sentia-se desperta demais, e queria
dormir antes que ele aparecesse no quarto com seu
olhar sedutor e seu sorriso malicioso!
Passara o resto do dia, após o encontro da
tarde, de cabeça baixa, morrendo de vergonha.
Aquele homem tinhoso tivera a ousadia de fazer
aquelas coisas com seu corpo! Deus!
Só de pesar, sentia uma forte vergonha!
Como queria ter sua mãe ao seu lado,
para perguntar como se livrar desse sentimento.
Não que tivesse coragem para contar a ela do
acontecido, que por certo a deixaria incrédula, mas
sim, perguntar como se livrar daquela sensação de
estar encurralada.
Mentira, ao afirmar que não teria nada
nessa noite. Se a tocasse, cederia.
Angustiada, sentiu um frio no estômago e
se encolheu em seu canto, contra a parede. Não
ouvia vozes na sala, porque não vinha se recolher
e dormir?
Porque esse maldito homem tinha tanta
disposição? Passava o dia sobre um cavalo
fiscalizando o trabalho e ajudando, e a noite era
capaz de ficar acordado em longas conversas, sem
contar sua disposição para...perturbá-la.
Ao menos não ouvia sons vindos do
quarto que aquela mulher insuportável dormia.
Sinal que estava só.
Fechando os olhos, ela se moveu na
cama, incomodada com a dor em seus seios.
Estavam sensíveis, e tinha alguns dias que a
irritava para dormir de bruços. De lado, ela
abraçou o travesseiro e tentou dormir.
Estava quase conciliando o sono quando
ouviu passos e a porta sendo aberta.
Rony despiu-se e entrou nu na cama,
decidido a reverter o jogo a seu favor.
-Helena? – abraçou seu corpo, e não foi
afastado.
-Me deixe – ela resmungou, adormecida.
-Não pode estar dormindo, eu quero você
-ele beijou seu ombro, enlaçando sua cintura e a
apertando contra si, de conchinha. Ergueu uma de
suas pernas e colocou sobre sua própria coxa,
querendo abrir caminho, mas ela nem se mexeu.
-Helena? – insistiu.
Tentou de novo, acariciando seus seios
sobre a camisola fina. Apertou o seio jovem,
sentindo o bico enrugar sob a caricia. Sorriu.
-Não aperte, dói – ela disse quase
desperta – me deixe dormir...
-Não quer dormir de verdade – ele
sugestionou, mas parou quando ela se moveu,
virando-se em sua direção, e se encolhendo contra
ele.
Toda quietinha, inocente e inofensiva.
Dormia em seus braços como um anjo e ele
conteve a decepção. Apertou-a contra si e teve que
se contentar em desfrutar apenas sua presença.
Apagou o lampião e abraçou-a, deixando
que dormisse e descansasse em seus braços.
Na escuridão, ele sorriu e beijou sua
testa, enquanto ela respirava mornamente contra
seu pescoço.
Pensou no filho que poderia estar sendo
nutrido e protegido dentro de Helena naquele
momento e acariciou sua barriga com cuidado
para não acordá-la.
Logo, também dormia.

No outro quarto, Alexia desgrudou o


ouvido da parede, onde tentara ouvir alguma
coisa. Hoje estavam silenciosos e não pode ouvir a
conversa, muito menos o ato em si.
Não conseguira trazer lucidez a mente de
Rony, muito menos conseguira que aquela cadela
desnutrida e feia largasse o osso e o abandonasse,
mas poderia usar de outras armas para acabar com
aquele casamento.
Sentou-se na cama, e acariciou a barriga
sorrindo.
A tola Alice lhe dera munição para a
guerra e assim que seu filho nascesse ela venceria.
De um jeito ou de outro.
Capítulo 61 - Paz e solidão

A água quente caiu sobre a madeira da


tina com o som característico, e Helena quase
gemeu de prazer ao imaginar-se dentro da água
fervente.
Depois de uma manhã toda na cama,
sentindo-se a última das criaturas, enjoada e
dolorida, havia criado forças para levantar,
devorar o almoço como se não houvesse vomitado
a manhã toda e então, ao se ver livre, preparar um
delicioso banho.
Juanita estava em casa aproveitando um
descanso, enquanto Alice e John estavam na
fazenda Parker na companhia de Rony. Esperava
que fosse uma longa conversa com Artur e que
isso lhe garantisse algumas horas de liberdade.
Helena sorriu ao imaginar a expressão de
raiva de Alexia ao descobrir sua artimanha.
Pedira a Duran, seu fiel escudeiro, que
não lhe negava nenhum pedido, mesmo correndo o
risco de ser castigado pelo patrão, que trouxesse
um falso recado de Rony.
Algo sobre a esperar no lago para uma
conversa íntima. O menino deveria garantir que
ela ficara um bom tempo por lá aguardando.
Afinal, era impossível precisar quanto
tempo exatamente levaria na conversa do
casamento de Alice.
Sorrindo, ela terminou de por a água e
ficou satisfeita.
Um longo e caprichado banho, e estaria
nova em folha.
Era vergonhoso que para ter alguma
felicidade em sua própria cassa era preciso que
usasse de estratagemas.
Feliz com sua traquinagem, Helena
voltou apressada a cozinha e apanhou um bolinho
de leite que sobrara da sobremesa.
Do jeito que andava comendo, logo
ganharia todos os quilos que Juanita vivia
tentando fazê-la ganhar! Matreira, voltou ao
quarto sem notar que tinha platéia.
Rony soube que ela planejava algo
quando despachou a todos da casa. Não o enganou
em nada, quando pôs Duran na prensa o menino
contou de seu pedido.
Ciumento, decidira deixar John na casa
de seu pai tratando do pedido de casamento, e
voltou mais cedo, na esperança de pegá-la no
flagra.
Esperara por alguns minutos e descobrira
sua grande razão. Um banho. Pela quantidade de
água, um longo banho.
Reconhecia que Helena precisava de um
momento a sós. Deveria ter ido embora quando
percebera suas intenções, mas não pode esquecer
o prazer que sentia quando a espiava em seus
banhos algum tempo atrás.
Sorrindo a essa possibilidade aproximou-
se sorrateiro do corredor e esperou ouvir seus
passos, e o som de uma gaveta sendo aberta. As
únicas gavetas eram do guarda roupas e estaria de
costas para puxá-la, sendo assim, testou o trinco e
constatou que se esquecera de trancar a porta.
Afinal, porque faria isso, se a única razão para sua
necessidade de privacidade era a presença
inconveniente dele?
Helena tinha prendido os cabelos no alto
da cabeça com um pregador de prata antigo que
provavelmente fora de sua mãe. Usava uma das
camisolas com botões minúsculos em toda a
extensão da frente.
Era evidente que planejara todo um
ritual. As janelas estavam fechadas, as cortinas
impedindo qualquer resquício de sol de entrar no
quarto e lembrá-la que era dia. O quarto estava
arrumado, toalhas limpas e secas sobre a cama,
seu vestido, que usaria depois, dobrado em uma
cadeira.
Acompanhou os movimentos suaves
através da fresta aberta da porta, e sorriu quando
ela mediu a temperatura da água com verdadeiro
prazer.
Começou a abrir os botões mínimos da
roupa de baixo e ele reteve o ar, molhando os
lábios subitamente secos com a língua.
Helena parou de desabotoar os botões e
tentou lembrar-se onde deixara o sabonete. Sim,
estava ao lado da tina, em seu braço de apoio.
Mais tranquila, terminou de abrir a camisola,
tentando não se lembrar da vez que o próprio
Rony fizera isso, deixando-a nua sob suas mãos.
Um súbito calor a fez apressar a entrada
na água. Deixou cair à camisola e andou a passos
lentos para a banheira cheia de água.
Rony conteve a respiração quando ela se
abaixou para testar a temperatura com a ponta dos
dedos da mão. Fora exatamente assim que a tivera
na tarde passada. Desejo correu em suas veias e se
conteve para não avançar e estragar esse momento
de pura beleza.
Helena suspirou ruidosamente, entrando
com um pé na água morna. Era um dia quente, e a
água não ajudava muito contra o calor, porém era
melhor que água fria.
Deslizou para dentro da água, deitando-
se com languidez.
Gemeu ao conforto morno a sua volta,
relaxando cada músculo tenso. Do outro lado da
porta, quem gemeu sem som foi Rony. Ouvir seus
gemidos era uma angústia.
Helena relaxou dentro da banheira,
desfrutando do calor e do conforto que sentia em
seu corpo. Confessava que estava dolorida. Em
mais que um lugar. Sentia uma ardência incomum
entre as pernas, e, sobretudo entre as nádegas.
Uma ardência que nunca antes sentira em sua
vida.
Pensar na causa era proibido e
impensável, porém, naquele momento de solidão
se permitiu lembrar.
Se remexeu na água, achando
desconfortável estar ali sozinha. Entreabriu os
olhos e apanhou a esponja e o sabão.
Pelo visto aquele demônio de homem não
a deixaria em paz nem para descansar e relaxar!
Vinha perturbá-la em sua mente!
Passou a esponja distraída pelos braços
tentando esquecer os tórridos momentos naquela
biblioteca. Conseguiu essa proeza por exatos dois
segundos, até que a imagem nítida de Rony nu
dançou sobre seus olhos. De pé, perto da janela do
quarto, ao levantar, completa e despudoradamente
nu. Fechou os olhos lembrando-se de cada detalhe
daquele corpo, achando que a água estava ficando
quente demais a sua volta.
Assim como a pele clara era quente e
febril, sempre que tocava aquele homem irritante,
sua pele era febril. Os ombros largos e febris. O
peito amplo e com músculos exatos, sempre febris
por sobre seu acelerado coração. Seu umbigo
maravilhosamente masculino e febril. Oh, a
adorável marca de nascença sobre a virilha,
coroando os pelos ruivos na caída de seu
estômago, era tão febril...
Parou com os movimentos em seu braço
e abandonou a esponja na água. Fechou os olhos
tentando aplacar a febre que estava em sua pele
também.
Aquele grosseirão! Estarrecida,
irrequieta, cometeu o erro de tocar sobre a própria
barriga e se arrepiou. Ele sempre estava tocando
sua barriga. Dizia que era lisinha e que adorava
por as mãos ali...
Inadvertidamente, deixou os dedos sobre
a pele, imaginando que eram as mãos graúdas e
atrevidas.
Sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
Não podia sentir desejo. Não era possível sentir
isso tão pouco tempo após ter feito amor. Afinal,
estivera com um homem no dia anterior!
Ou será que podia?
Como uma resposta as suas próprias
dúvidas, deslizou a mão mais abaixo, perto das
virilhas. Calor correu por seu corpo e aqueceu sua
pele. Recostou a cabeça na borda da banheira, os
olhos fechados, saboreando a sensação de
quentura que a tomava.
Uma sensação agradabilíssima, sempre
que sua mão corria sobre a pele.
Do outro lado da porta, Rony inchou
dentro das calças ao notar a mudança. Helena
estava excitada.
E se tocava.
Timidamente, descobrindo como fazê-lo,
mesmo assim se tocava. Uma das mãos acariciava
o estômago, mas pela expressão de prazer, logo
descobriria como continuar.
Incapaz de ficar quieto, arriscou,
empurrando a porta e entrando no quarto o mais
silencioso possível. Tinha que ver de perto. Ver
detalhes. De pé, em frente à banheira, ficou
olhando para sua mulher.
Helena sentiu um olhar de fogo sobre a
pele e fantasiou que se abrisse os olhos, estaria
sob o olhar azul cheio de desejo.
Era uma fantasia, mesmo assim, gemeu
de contentamento ao tocar um seio. Na tarde
passada, havia segurado-os e apertado os bicos,
em meio ao desfalecimento de prazer e obtivera
uma sensação muito aprazível ao se tocar.
Sua mão direita se colocou sobre um seio,
e apertou delicadamente. Arfou suavemente diante
da umidade que nascia em seu corpo. Os dedos
correram sobre o mamilo e os apertou com força.
Mordeu o lábio diante da sensação que a fez
pressionar ambas as pernas na tentativa de aliviar
a sensação de queimação que se instalara em seu
centro.
Esfregou as pontas dos dedos sobre o
mamilo, sentindo a sensação crescer e a urgência
aumentar. De olhos fechados, imaginou que Rony
estava ali, tentando separar suas pernas e entrar
entre elas. Gemeu.
Não deixaria que fizesse isso, então, ele
acharia modos de vencê-la. Colocaria um joelho
entre suas pernas e a manteria imóvel, aberta e
imóvel, receberia seu corpo.
Oh, aquele pedaço de carne palpitante.
Tão grande e duro, roçaria de leve e então seria
empurrado polegada a polegada, atirando-a aos
poucos, até preencher cada espaço, cada
centímetro...
Consternada, deslizou a mão que estava
sobre o estômago e os dedos tocaram a junção
entre as pernas. Sem perceber o que fazia,
entreabriu as pernas e deslizou os dedos devagar.
Rony aguentou, contendo o impulso de
despir as roupas e arrombá-la com uma forte
penetração, e assistiu de camarote, os dedos finos
e curtos entrarem entre as pernas entreabertas. Um
dedo seguiu para baixo, e roçou diretamente sobre
os lábios, separando-os.
Helena ia direto ao mais interessante.
Esfregou sobre a umidade ardente, sentindo-se
inundada, e então, rolou aquela umidade sobre o
clitóris, arfando quando um clarão a pegou de
surpresa.
Era tão bom. Quase tão bom quando ter
aquele membro gigantesco correndo dentro de seu
corpo.
Oh, teria que separar as pernas para
acomodá-lo, separá-las largo o bastante para não
haver empecilho para aquele devastador
arrombamento.
Gemeu mais alto, quando seus dedos
acharam a marcha certa, acompanhando as
investidas que estavam apenas em sua mente, tão
vividas, que ditavam o ritmo de seus dedos. Os
quadris dele fariam movimentos loucos e ela se
agarraria aos seus cabelos com a mesma volúpia
que se agarrava ao seio jovem, apertando-o e
roubando de seu corpo uma resposta imediata.
Seu quadril balançou sob a água, os
dedos invadindo seus caminhos secretos e Helena
gemeu mais alto, quando o dedo encontrou a fenda
e deslizou um tanto para dentro, só um pouco não
poderia fazer mal...
Oh, aquele homem horrível, a martelaria
contra a cama, pregando dentro de si os pregos do
orgasmo, e ela ergueria os quadris como uma
louca, aceitando sua brutalidade e se
movimentando contra ele, no mesmo ritmo que
seus dedos a penetravam.
-Oh... – ela gemeu, tombando a cabeça
para o lado, gemendo e se arqueando na água,
enquanto o prazer superava as lembranças.
De pé, Rony abriu as calças, sem poder
ver e não participar.
Helena sentiu o corpo ficar tenso e estava
a um segundo de algo maior, o corpo retesado e
pronto para acabar num delicioso prazer quando o
som de passos a fez abrir os olhos.
Pânico a fez parar e gritar:
-NÃO! SAIA DAQUI!
-Helena... – não tinha palavras para
expressar o tamanho do tesão que o percorria, e
nem mesmo sua fúria pode fazê-lo parar.
-NÃO SE APROXIME DE MIM! – ela
gritou levantando-se da água, sem saber o quão
erótico era seu corpo salpicado por água, correndo
por suas curvas – NÃO TINHA O DIREITO DE
ME ESPIAR! NÃO TINHA O DIREITO DE
VER... EU TE ODEIO!
Pulou fora da banheira e se afastou, mas
ele nem ligou, tirou a ereção de sua prisão e se
aproximou, olhando única e exclusivamente para
sua vagina. Estava úmida pela água, pingos
d’água deixando-a suculenta.
Como um desvairado seguiu-a pelo
quarto, se apressando a derrubá-la na cama antes
que pudesse chegar à porta.
-ME SOLTA! NÃO SE ATREVA...! OH!
– as palavras morreram quando ele abriu suas
pernas sem gentileza alguma e puxou seus
tornozelos até estar na atura certa, na beira da
cama.
Helena se debateu e com um chute
conseguiu fugir, querendo dar a volta na cama,
escapar, mas ele a prendeu contra os travesseiros.
Ela estava de lado, ele nem notou, apenas
ergueu sua perna e a penetrou, segurando sua
perna erguida.
Não estava interessado em Helena,
apenas em sua intimidade aveludada e ensopada
de desejo por ele.
-NÃO! – ela fechou os olhos com força,
sufocando o prazer que a percorria diante da
penetração forte - NÃO! NÃO! NÃO! NÃO... oh,
diabos, não! – a força a sacudia, e Helena mordeu
o travesseiro, o corpo sendo sacudido como se
fosse de pano.
Não era isso que fantasiava há um
minuto? Se deixou levar, pois era impossível fazer
qualquer coisa além de aproveitar. Naquela
posição gritou quando o pênis cresceu, inchado e
potente, afundando em suas dobras, empalando-a
sem piedade alguma.
Rony a girou quando sentiu que poderia
ser desconfortável, e se deitou sobre ela,
diminuindo o ritmo, o corpo prensado, roçando em
seus seios, as barrigas se tocando, os braços de
Helena o rodeando pelos ombros, assim como as
pernas.
Em silêncio os gemidos se seguiram, os
movimentos de quadril não pararam e a cama
tremeu. Helena agarrou-se no profundo beijo que a
consumia, e agarrou o travesseiro atrás de si
quando o prazer a tocou.
Forte e rápido, culminou em um grito,
detido pelos lábios de Rony. Ele sorveu seu grito,
mordendo sua boca e descendo para seu queixo.
As pélvis unidas, ele ainda mantinha as fundas
penetrações, e Helena sentiu que gozaria de novo,
no exato momento em que ele quebrou.
Grunhindo, ele se entregou ao prazer e antes que
pudesse parar Helena o beijou no rosto,
sussurrando:
-Não pare agora... Oh, amor, não pare
agora...
“Oh, amor”, ele pensou assustado com o
tamanho do desejo que o correu ao ser chamado
de forma tão carinhosa. Lhe daria tudo que
desejasse. Segurando seu quadril contra o colchão,
deixou-a imóvel e se ajoelhou entre suas pernas,
afastando-as largo e se arremessando com força,
do jeitinho que Helena tanto apreciava.
Ela se contorceu, uma das mãos
agarrando ainda o travesseiro, enquanto a outra
tocava sobre o próprio seio.
Rony agarrou essa mão, e levou aos
lábios, chupando os dedos, os mesmos que
estiveram a tocando há pouco tempo atrás. Helena
olhou, choramingando de prazer e se arrepiou
quando ele colocou sua mão sobre seu sexo, e
deixou os dedos úmidos pousados ali.
Instintivamente, o tesão subjugando o
pudor, Helena se tocou. Circulou o clitóris com
vontade, enquanto era penetrada por uma lança de
paixão e levou apenas alguns minutos para ser
apanhada pelo prazer.
Seus dedos ficaram imóveis sobre seu
clitóris, o quadril trancado contra Rony,
aninhando seu pênis bem fundo, tocando os pelos
púbicos enquanto ela arquejava. Rony também
gritou, mas ela não ouviu; surda para qualquer
som além do pulsar desesperado do próprio
coração.
Sentindo o frisson ir embora, baixou o
quadril, sentindo aquilo tudo ser tirado polegada a
polegada, até deixar um vazio cansado sobre seu
corpo.
-Aprecio seu desejo - ele sussurrou,
deitando todo o corpo sobre o dela para cobri-la
num abraço – Aprecio vê-la se satisfazer. Nunca
mais tenha vergonha de mim, ou medo. – Helena
não olhou em seus olhos, mas ele a fez olhar, ao
beijar sua boca com tanta suavidade – Da próxima
vez, me convide a participar. – sorriu-lhe safado –
será mais divertido, garanto.
-Rony... – ela sorriu também, cansada
pela atividade intensa – Meu banho?
-Quer que eu saia? – perguntou a contra
gosto, lambendo sua pele e acariciando seus seios.
-Era algo só meu. Não tinha o direito de
me espiar. - tentou argumentar, macia e saciada
demais para brigar.
-Tem razão – ele concordou – A água
deve estar quente ainda. – se moveu, apanhado-a
no colo.
Andou até a banheira e a depositou,
ficando de pé e soltou seus cabelos.
Arrumou as próprias roupas e como
ainda estava vestido, apenas fechou as calças e
arrumou a camisa dentro do cinto.
-Aproveite seu banho. E não se esqueça
de trancar a porta para se vestir. – se aproximou
da porta e piscou antes de sair – Alguém pode
espiar.
Quando ficou só, Helena riu. Deveria
estar furiosa. Mas não estava. Homem endiabrado
esse.
Seu riso feliz o fez sorrir do outro lado da
porta. Com uma indescritível felicidade dentro do
peito, deixou a casa indo para a fazenda de seu pai
continuar com a negociação do casamento de
Alice.
E quando a Alexia? Não se lembrou de
desfazer o mal entendido...
Capítulo 62 - Haja paciência

Alexia entrou na casa furiosa. Seus pés


doíam terrivelmente e sentia a pélvis incomoda.
Chegando a cozinha, imediatamente Juanita notou
seu modo de andar.
-Está para nascer não é? – perguntou um
pouco apenada de sua expressão desesperada.
-Não sei. Acho que sim – ela olhou para
Helena que lavava a louça ao lado da empregada –
Porque faz serviço de casa?
-Não é da sua conta – respondeu,
colocando um prato limpo dentro do armário.
-Espero que nasça o mais breve possível
– Alexia contou angustiada – Sinto-me limitada!
Não posso fazer nada! Além disso... São longos
meses de abstinência.
-Deve ficar na casa. Não haverá ninguém
para ajudá-la se estiver na rua quando a bolsa
estourar – Juanita informou.
-E quem poderá me ajudar aqui? Algum
médico das proximidades?
-Já fiz muitos partos, inclusive os meus –
Juanita riu ao notar a expressão de horror de
Alexia – A vida de uma rameira não é tão
diferente de uma cortesã. Sempre estamos
solitárias nos momentos mais difíceis.
Essa frase tocou Alexia e sua expressão
despertou pena. Uma profunda pena em Helena.
Conhecia essa sensação de abandono. De medo
por estar só.
-Está servida Srta.Lil? – ofereceu um
prato, onde haviam delicados e saborosos bolinhos
de chocolate. Era um gesto de solidariedade e
Alexia estendeu o braço e apanhou um deles.
-Obrigada – ela agradeceu, e sentou-se
em uma das cadeiras. – A vida não tem sido fácil
nos últimos tempos...
-A vida de ninguém é fácil – Juanita
disse com rispidez. – Porque não procura sua
família?
-Meu pai... Ficou feliz quando um
cavalheiro da corte se interessou por cuidar de
mim. Nunca mais o vi depois que parti de minha
cidade natal. Nunca conheci minha mãe...
-Quantos anos tinha? – Helena perguntou
curiosa.
-Treze.
O silêncio reinou.
-Deve haver alguém importante – Juanita
disse – Sempre temos alguém importante para nos
ajudar a aguentar essa vida.
-Eu tinha alguém importante – ela olhou
com rancor para Helena – Amei Rony desde o
primeiro dia em que o vi. Uma pena, pois era
amante de John e supus que jamais me aceitaria
como mulher. Passei dois anos apaixonada, até ter
coragem de abordá-lo. John havia cansado de
mim, e me aproximei de Ronald. Foram os anos
mais felizes da minha vida. E agora, nosso filho
irá nascer.
-Seja sincera – Juanita parou o que fazia
– Como pode ter certeza que é o pai?
-Acaso não sabe quem é o pai dos seus
filhos? – ela revidou.
-Como poderia? – retrucou de volta.
Alexia levantou-se ofendida e virou as
costas sem um único agradecimento pela
compaixão que lhe tiveram ainda há pouco.
-Não se importe com ela Helena.
Algumas mulheres realmente nasceram para essa
vida. Vejo em seus olhos, o amor não subjuga a
vocação. – riu de sua própria frase – Algumas de
nós realmente foram desgraçadas e caíram na
vida, outras, mesmo que tivesse tido sorte e uma
boa vida, ainda assim, terminariam do mesmo
jeito.
-Não me importo com ela. – disse com
rancor – Apenas desejaria que fosse embora.
-Então, porque não a manda embora?
Arrume uma charrete, coloque-a dentro e a
despache para a casa dos seus sogros. – Juanita
sugeriu.
Helena mordeu o lábio, por raiva de
concordar com Rony, ainda mais em voz alta.
-Ela pode nos trazer problemas, Juanita.
Sério problemas. Ficaremos sossegados quando
essa criança nascer e ela for embora.
-E quem garante que irá embora?
-Rony disse que irá embora – ela
respondeu pensativa.
Juanita sorriu ao notar o quanto estava
envolvida. Rony isso... Rony aquilo. Helena nem
percebia o quanto estava mudada!
-Mudemos de assunto Helena – ela disse
animada, jogando verde para colher maduro. – Me
diga, sabe bordar?
-Um pouco. Mas não espere grande coisa
de mim – disse divertida, dando boas vindas a
uma conversa menos séria.
-E crochê? Sabe?
-Um pouco – corou – Por favor, não me
diga que espera isso de mim!
-Não, mas pretendo ensinar sua cunhada.
Ela me pediu para aprender a bordar e fazer
crochê. Deseja impressionar o noivo – sorriu
amigável.
-Achei que você e Alice não se
suportassem! – disse surpresa.
-Bem, temos nossos atritos. Mas é uma
boa moça. Além disso, quer se casar, e eu quero
que se case e vá embora – riu, arrancando de
Helena um sorriso – Porque não a incentiva?
Tenho agulhas e alguma linha naquele cesto –
apontou uma cestinha – Tenho certeza que fazer
um enxoval de bebê irá deixá-la toda encantada! O
que me diz?
-Acha mesmo que Alice irá se interessar?
– duvidou.
-É menos chato que bordar toalhas e
colchas. Além disso, seu noivo irá trazer as rendas
mais caras e belas da Europa. Vá Helena, faça
esse gosto a sua cunhada.
Um pouco desconfiada, porém
concordando que precisava de uma distração,
apanhou a cesta e foi para a sala atrás de Alice.
Seria bom que ambas tivessem uma distração.
Algo que não as fizesse lembrarem-se de homens.
Alice estava em apuros até esse
casamento se realizar. Enquanto ela... Nem queria
pensar em sua situação atual!
Rony conversava com John sobre
cavalos, enquanto Alice apenas escutava.
Helena ficou corada ao olhar para ele e
lembrar-se de mais cedo. Nossa! Aquele homem
já vira tanto dela... Rubra, sentou-se ao lado de
Alice, ignorando-os.
Rony concentrou-se nas palavras de John,
mas quase derrubou o vinho que bebericava,
quando a viu tirar da cesta pequenas peças de
linho branco.
-O que é isso? – Alice perguntou
deliciada com as pequenas peças infantis.
-Juanita tem costurado. Disse que é
perfeito para que aprenda a bordar. Peças
pequenas serão menos enfadantes que grandes
colchas ou toalhas. E será um estímulo a mais!
Alice sorriu passando a mão sobre a
camisetinha mínima, e emocionada olhou para
John. Encontrou-o olhando para Helena.
-Não me diga que terei um sobrinho –
Alice sussurrou, para encobrir o desconforto.
-É claro que não! - Helena apressou-se a
esclarecer – Suspeito que Juanita queira que
façamos seu trabalho. Pode estar esperando um
bebê e não quer contar ainda. Ela e Rony se
estranham às vezes – deixou subentendido.
-A mim não importa nem um pouco suas
razões. Quero aprender a bordar. Quero muito
bordar um lenço com os iniciais de John e lhe
presentear no dia do nosso casamento. – disse
empolgada.
-Vamos começar, ou não aprenderá a
tempo – ela tentou não sorrir de sua empolgação.
Do jeito que Alice era, o mais próximo
que chegaria a bordar, seria se Helena se passasse
por ela! Sorrindo consigo mesma, começou a
ensinar. Era estranho, e os pontos ficavam tortos,
afinal, ela também não era muito boa nisso, mas
depois de uma meia hora as duas se divertiam
com os erros.
-Notou como Helena anda saudável? –
Rony perguntou a John, falando muito baixo e
tentado a dividir seu grande segredo com alguém.
Andava orgulhoso demais guardar total segredo!
-Ela parece recuperada. – John
concordou.
-Não, você não a viu antes. Muito magra
e abatida. Agora esta saudável. – havia muito
orgulho em sua voz.
-O casamento lhe fez bem, é o que quer
dizer? – John sentiu um aperto no peito ao ver seu
olhar sobre Helena. Um olhar de posse.
-Não – ele abriu um sorriso que poderia
iluminar toda a cidade – Juanita me confidenciou
que suspeita que esteja grávida.
-E lhe importa se sua empregada está
grávida? – John estranhou.
-Falo de Helena – ele ainda sorria;
absorto em sua felicidade – Helena não suspeita, é
claro. Juanita acha melhor que saiba quando for
mais seguro. Diz que os primeiros meses de uma
gravidez são complicados para um moça tão
nervosa.
-Helena está grávida? Acha possível? –
havia uma nota de desamparo na voz de John.
-Porque não? – achou melhor esclarecer –
Nos casamos há três meses, e apesar de fugir de
mim como o diabo foge da cruz, ela tem me
recebido em seu leito, e sou um homem afinal –
achou melhor esclarecer – É a primeira vez que
não me cuido com uma mulher, e é bem possível
que tenha plantado minha semente!
-O que o faz pensar que Helena
engravidaria tão rápido assim?
-A mãe dela teve doze filhos. Minha mãe
sete. Não acho que teremos problemas de
fertilidade – sorriu.
-Um filho – John olhou demoradamente
para Helena, então baixou os olhos.
-Não está feliz por mim John? –
perguntou detestando sua expressão decepcionada.
-Um filho, muda o casamento. Fortalece
os laços. É claro que estou feliz por você.
Era quase como se dissesse estar feliz por
ele, e não por Helena.
-Talvez, apenas não fosse o melhor para
Helena nesse momento. Ela é muito triste por
causa do casamento – John completou, talvez com
o intuito de magoar.
-Acha que faço Helena infeliz? – Rony
ficou na defensiva.
-Não negue, Helena não esbanja
felicidade – John lembrou-o.
-Parece que andou pensando muito nos
sentimentos de Helena. – Rony não conteve a
alfinetada.
Os dois ficaram em silêncio alguns
instantes, observando as duas conversarem no
sofá, enquanto Alice ria sem parar das instruções
errôneas de Helena, que resultavam em pontos
desastrosos.
-Helena está tecendo o enxoval do
próprio filho e não sabe – Rony teve que sorrir
diante dessa certeza.
-Acha certo mantê-la ignorante sobre
algo tão importante? – Rony não respondeu
imediatamente – Tem medo que ela provoque a
perca?
Rony não respondeu.
-Se tem esse medo, o melhor é não terem
a criança. Pode ser pior para o casamento. – John
sugeriu e Rony teve que conter o impulso de bater
em seu melhor amigo.
-Vou contar uma coisa, John. Algo
íntimo, que não desejaria jamais dividir com outro
homem, mas sendo você meu amigo, prestes a ser
cunhado, e pela consideração que lhe tenho, irei
contar para matar de vez qualquer interesse que
possa ter em minha Helena – antes que John
pudesse negar ele olhou bem dentro dos seus
olhos – Não negue e me ouça com atenção.
Helena mente cada vez que me desdenha. Quando
estamos a sós sua pele queima e seu coração
acelera. Mas ela não quer me aceitar. Não quer
aceitar marido algum. Tem medo do futuro. E isso
inclui um filho. Manter segredo é um modo de
protegê-la de si mesma. Helena não quer e não
precisa de outro homem, pois em meus braços se
derrete. Sua boca grita não, mas seu corpo implora
por mais. Não estou mentindo. Desde que me
casei, nas vezes em que me permitiu tocá-la,
quase me matou de exaustão, e nunca fui um
homem fraco na cama. Por isso, tire qualquer
fantasia de sua mente. E de seu coração.
-Ora Ronald, acaso nunca viu uma
mulher sentir paixão? – John disse ciumento das
palavras que ouviu.
-Está querendo me desafiar John? – ele
mudou de postura, o ciúme o pondo a ver tudo em
vermelho – Está dizendo que quer minha mulher?
-Eu não disse nada disso. Estou feliz com
a escolha que fiz. – ele mudou a postura, ao notar
o rumo que suas palavras estavam levando-o –
Gosto de Helena como se gosta de uma irmã. Não
confunda as cosias!
-Pois me parece que quem está confuso é
você! – ele disse, fechando os punhos de vontade
de esmurrá-lo.
-Meu irmão! – Alice disse muito perto
dos dois – Olhe só!
Ela estendeu a ele um pano muito
delicado bordado. Era o bordado mais feio que já
vira na vida, mas ele apanhou de suas mãos
suaves e prestou uma falsa atenção, atento que
Alice não percebera a briga.
-Diga a verdade! Está bonito? – havia
expectativa em seus olhos, querendo chamar
atenção de John.
-Está muito bonito, Alice - ele disse
beijando sua testa e acarinhando o rosto da irmã
com gentileza e carinho fraternal. – Não esta,
John?
Ele engoliu em seco, e respondendo
sorrindo:
-É o bordado mais bonito que já vi -
mentiu, para ganhar seu lindo sorriso.
-Pois, não esperarei o casamento! Vou
bordar-lhe um lenço com suas iniciais agora
mesmo! Para que use e se lembre de mim!
John apenas sorriu, tentando empolgá-la,
mas pensando como era tola. Como uma jovem
protegida dos males do mundo deveria ser.
Sentada, observando os dois homens,
Helena achou providencial mandar Alice
interrompê-los. A ruiva não percebera o clima
tenso, mas ela percebera.
Alice sentou-a ao seu lado, tagarelando e
quando Helena notou que a briga parecia prestes a
recomeçar, levantou-se com uma desculpa
qualquer e se aproximou de Rony.
Ele ficou surpreso quando ela veio de boa
vontade, tocando seu braço.
-Me concede alguns minutos, esposo?
Seu tom doce, e seu toque carinhoso
amenizaram sua expressão e a seguiu até a
cozinha.
-O que pensa que está fazendo, Ronald?
– o tom mudou totalmente quando estavam a sós –
Brigando com John as portas do casamento de sua
irmã? Acaso enlouqueceu?
-John é meu amigo, Helena, me resolvo
com ele sem sua interferência!
-Por mim, tudo bem, faça como quiser;
desde que não atrapalhe a vida de Alice! A pobre
está apaixonada e qualquer um vê o modo como
ele a olha! Serão felizes juntos, se você não
estragar tudo! – criticou.
-Acredita que estejam apaixonados? –
duvidou.
-John me disse isso há pouco tempo.
Aliás, me disse que estava confuso. É um homem
solitário a beira do casamento. Não o deixe ainda
mais nervoso, Ronald!
-E porque o deixaria nervoso? – estreitou
os olhos, com acusação.
-Você me deixa nervosa com seu ciúme!
Imagine John! Deve estar em pânico com suas
insinuações! Um homem pode ter amizade e
simpatia por uma mulher sem desejar dormir com
ela! E se é incapaz de ver isso, é por ser um
insensível!
-Acaso lhe pareci insensível ainda a
pouco, no quarto? - ele provocou.
-Volte para a sala e peça desculpa a John
pelas suas grosserias, antes que ele se encha e vá
embora, e com toda a razão!
-Acalme meu ciúme Helena, me trate
como se deve, na frente de John.
Ela soltou um profundo suspiro de
resignação.
-Não mereço que desconfie de mim desse
modo. Não quando é você quem coloca suas
amantes dentro de casa – desabafou.
-Não desconfio de você. Desconfio da
possibilidade de se apaixonar por outro – contou
surpreso que ela ficasse tão cínica a respeito dessa
possibilidade.
-E acaso isso não é óbvio? O que espera?
Quis um casamento de conveniência. Pode se
apaixonar, assim como eu. Mas amar outra
pessoa, não quer dizer que vamos descumprir
nossas obrigações.
Sua crueldade o fez segurar seu braço e
encará-la com revolta.
-Não haverá paixões, Helena. Eu a tranco
no quarto para o resto dos seus dias se suspeitar
que esteja apaixonada por outro homem!
-Não deve ser difícil uma mulher se
apaixonar por um homem que não faça ameaças!
– ela provocou falando no mesmo tom – Largue
meu braço e contenha sua imaginação! – rosnou –
A menos que me queira ver dar um escândalo e
colocar sua amante porta a fora!
-Não consegue completar uma frase sem
trazer Alexia ao assunto. Quem está com ciúme,
hein, Helena? – ele soltou-a, com uma ponta de
satisfação – Sente-se ao meu lado e deixe que me
aproxime.
-Se é o que precisa para parar de
infernizar a vida do pobre John! – ela concordou
martirizada, sem saber por que seu coração estava
acelerado.
Ambos voltaram para a sala, e
encontraram John muito próximo a Alice. Ele
tocava seu rosto e pareciam ter saído de um longo
beijo, pois os lábios de Alice estavam vermelhos e
sua face corada. Quando os notou, John se afastou
imediatamente, engolindo em seco. Alice fingiu
interesse em seu bordado, imóvel, temendo que o
irmão a questionasse sobre tanta proximidade.
Sentindo-se o pior dos irmãos, Rony
fingiu não ver, apenas pela satisfação de saber que
John estava realmente encantado por outra mulher
que não fosse Helena.
Ele sentou-se no outro sofá e Helena
sentou-se ao seu lado, deixando que tomasse sua
mão entre as suas. Olhou para ele quando pensou
que não seria vista, pois Rony mantinha os dois
olhos em Alice e John.
Admirou a pele branca do pescoço. E a
orelha, grande e arredondada, perfeita para
completar o rosto anguloso e quadrado. Os
cabelos em sua nuca eram convidativos, tão ruivos
e macios ao toque.
Seu perfil era atraente, com a sombra de
um sorriso nos lábios cheios e carnudos, lábios
que sabiam sugar, morder e lamber. Molhou os
lábios subitamente secos, e olhou para sua
bochecha, seu nariz e suas sobrancelhas.
Contornos perfeitos para os olhos azuis, como dois
pedaços de céu, lapidados para sua face.
Helena estremeceu e afastou o olhar,
sentindo-se subitamente tímida diante do calor
daquelas mãos que seguravam as suas. Olhou
para o chão, sentindo o coração acelerado. No
lugar do chão, fixou o olhar na coxa firme, o
tecido da calça repuxado para acolher o músculo
proeminente.
Rony apertou seus dedos e ao erguer os
olhos, pegou-se sendo observada.
Olhos azuis presos no castanho de suas
pupilas.
Talvez tivessem dito algo, não fosse o
risinho malicioso de Alice. Falava deles,
obviamente.
-Tenha compostura, meu amigo – John
brincou, rindo junto a futura noiva.
-Vá dormir, John - ele disse mal criado,
sorrindo.
O mal estar entre eles não perdurou como
sempre acontecia. As brigas eram passageiras,
assim como tinha que conter seu ciúme.
-Meu irmão, quando iremos à cidade?
Papai sempre me levava uma vez por semana para
ver as novidades e fazer compras com mamãe.
Sinto-me um passarinho, preso em uma gaiola. –
ela reclamou.
John olhou para ela, ternura
transbordando dentro de seus olhos diante de sua
delicadeza.
-Iremos na próxima semana, quando
comprarei provisões e me reunirei com o juiz.
Antes tenho que arrumar alguém para tomar os
ditados e por em ordem os processos. E claro,
esperar Alexia dar a luz, para levá-lo conosco para
a cidade.
Ele sentiu o quanto Helena relaxou ao seu
lado, a simples ideia de se livrar de Alexia e lhe
sorriu.
-Arrumarei um local para que fique até
viajar para Londres. – completou.
-Não deveria levá-la de volta? Não é
perigoso uma mulher viajar sozinha? – Alice se
preocupou.
-Ela veio com suas próprias pernas, e
voltará desse modo! – Helena respondeu,
indignada – a menos, que queria lhe fazer
companhia Alice!
-Helena! – Alice se ofendeu. – Como
pode pensar isso?
-Continue sendo amiguinha de Alexia e é
o que todos pensarão! -ela respondeu emburrada.
Rony ao seu lado riu e beijou sua mão,
atraindo sua total atenção ao simples gesto e
acelerando seu coração.
-Helena está com ciúmes da atenção que
dá a Alexia – ele contou a Alice.
-Não sei por que. – Alice deu de ombros,
sentindo a mágoa ascender ao lembrar que não
eram mais amigas.
-Alice – John chamou-a baixo – Peça
desculpas a Helena por sua súbita amizade com
Alexia.
-E porque faria isso? – ela se horrorizou.
-Porque é sua família, e não pode ofender
sua cunhada desse modo. – disse enérgico.
-Oras! - ela se indignou petulante.
Helena sorriu, adorando ver o dilema que
havia em Alice. Agradar o noivo, ou se rebelar.
-Alice - a voz de John soou autoritária e
ela riu com deboche.
-Nem meu pai me dá ordens John
Harrison! - ela afastou-se, empurrando sua mão,
fervendo – Não ouse me tratar como uma criança!
Meus problemas com Helena não são da sua
conta!
-Alice? – ele se surpreendeu, deliciado.
-Desista, John. – Rony sugeriu – Elas
não querem nossa interferência.
-É a primeira frase sensata que vejo sair
de sua boca, esposo – Helena provocou e Alice
concordou; ambas se apoiando.
Rony riu, pois para contrariá-los, elas se
juntavam.
-Me diga Rony, onde pensa arranjar um
ajudante? – John mudou o assunto, para não
começar uma guerra de interesses femininos.
-Ajudante?
A voz morna de Alexia anunciou sua
chegada. Ela andava a passos difíceis, e sentou-se
pesadamente numa poltrona.
-Posso ajudá-lo minha vida, sabe que sou
letrada e culta – se ofereceu.
-Não pode me ajudar, está para dar a luz
a qualquer momento. Além disso, logo partirá –
fez questão de lembrar – Pensei que Helena
pudesse me ajudar nisso – sugeriu olhando para
ela com expectativa – O que me diz?
-Receberei parte de seus lucros nesse
trabalho? – perguntou impertinente, o nariz
erguido em desafio.
-Tudo que é meu lhe pertence, Helena –
ele galanteou, sorrindo – Sim, lhe pagarei um
salário – Sabia que isso faria toda a diferença para
ela.
Não pelo dinheiro, mas pela igualdade
entre ambos.
-Posso ajudá-lo. Não me deixa fazer nada
em casa. Ao menos será uma distração!
-Se quer trabalho, porque não ajuda os
peões? – Alexia provocou.
-Faria isso se Rony deixasse – respondeu
simplesmente e sinceramente.
-Meu Deus, é uma mulher terrível! Pobre
Rony. – Alexia lamentou. – Imagino como deve
ser terrível deitar-se com uma mulher que age
homem!
Helena olhou firmemente para Rony,
desafiando-o a não defende-la.
-Alexia. – ele disse com calma – Não foi
convidada a essa casa, mas está sendo bem
tratada. Então, desfrute da estadia sem causar
problemas. – ele pediu com voz suave, um pouco
terna.
-Como posso desfrutar? Até agora não
me deu sequer um beijo de verdade, meu amor.
Tem ideia do tamanho da saudade que sinto?
Havia em sua voz sinceridade e ele sorriu
pesaroso. Era uma pena uma moça tão jovem e
bonita ter a vida tão complicada.
-Tenho certeza que encontrará um grande
amor, depois que partir – ele tentou ser gentil,
apertando a mão de Helena entre seus dedos ao
senti-la tão tensa.
Alexia olhou para as mãos e afastou o
olhar, cheio de lágrimas. Mirou as peças de roupa
que Alice tentava bordar e sorriu:
-Prepara um enxoval para mim, meu
amor? – sua voz era doce.
-Não. É apenas uma distração para Alice.
– ele explicou.
-Nosso bebezinho tem um enxoval
completo. Se quiser, posso mostrar a Alice. Está
no quarto – ela disse com segundas intenções.
Alexia levantou-se e olhou para eles,
notando a hesitação.
Alice olhou para o irmão e então para
John quase como quem implora. Queria muito ver
um enxoval de roupas da corte!
-Seja breve Alexia – John disse tenso, e
Alice lhe agradeceu com um lindo sorriso antes de
levantar e seguir Alexia em direção ao quarto.
-Desculpe Rony, não posso negar o que
quer que seja a sua irmã – ele desculpou-se com
ares de riso.
-Alice fará gato e sapato de você – ele
maliciou – Tive esperanças que não fosse
apanhando com eu fui.
Ao seu lado, Helena suspirou de
antipatia.
John disfarçou o olhar em sua direção,
tentando não prestar tanta atenção a Helena.
Rony olhava apenas para ela, que
desafiava seu olhar, sem recuar.
John não ouviu o que ele perguntou
muito baixo, quase em seu ouvido, mas a viu corar
e quebrar o contato visual, em claro
constrangimento.
-Desperdicei minha oportunidade da
noite novamente? – Rony falou muito baixo e ela
afastou imediatamente o olhar.
-Se prometer deixar John e Alice em paz,
posso repensar sua situação – ela respondeu num
tom um pouco tremulo
Os olhos de Rony brilharam de prazer,
mas ela se apressou a dizer:
-Mas pelo amor de Deus, seja mais
calmo e menos... Impulsivo. Preciso ter uma noite
de sono em paz. – ela criticou, para não dizer a
verdade.
-Prometo ser suave como uma pluma –
ele brincou.
-Homem detestável – ela ofendeu,
soltando-se e saindo apressada para a cozinha,
apenas para que ele não visse seu sorriso, ou o
notasse o acelerado de seu coração.
Rony riu, adorando a forma como Helena
vinha se rendendo.
Capítulo 63 - Ciúmes

Rony ficou um bom tempo no corredor do


segundo andar, depois de ter visto com seus
próprios olhos que tanto John, quanto Alice
estavam deitados e dormindo.
Sabia que vinham trocando beijos pelas
suas costas, e os beijos são o primeiro passo para
o sexo. E se isso acontecesse jamais se perdoaria.
Quando achou seguro, desceu as escadas
e se aproximou do quarto que Alexia usava.
Entreabriu a porta e espiou. Ela dormia de lado, as
costas voltadas em sua direção.
Menos mal. Juanita o alertara mais cedo
que estava prestes a dar a luz, e Rony tinha que
confessar que estava nervoso com a possibilidade
dela morrer dentro de sua casa.
Ele sorriu ao pensar em Juanita. Nesses
últimos dias vinha mostrando que poderia ser leal
a ele também. Sua amizade a Helena, a fazia
afável e dedicada quando direcionado a patroa.
Pelo bem de Helena, até se aliava a ele!
Manter uma gravidez em segredo é algo
complicado, ainda mais ao tentar esconder da
própria grávida! Esperava conseguir confirmar o
fato, antes que Helena suspeitasse.
Ao entrar no quarto encontrou-a
desembaraçando as pontas dos cabelos crespos.
Vestia a camisola que Rony mais gostava. Era
feita de uma seda muito leve, o colo recoberto por
uma renda que permitia ver sua pele. Como os
seios de Helena eram de tamanho médio, a seda
não cobria os mamilos, e a renda permitia que
visse os montículos rosados.
Rony lembrou-se de seu pedido por ser
mais delicado, e menos enfático, e conteve o
impulso de tomá-la nos braços e fazer-lhe amor
desesperadamente apaixonado.
-Precisa de ajuda? – se aproximou da
penteadeira, ficando por trás, olhando a imagem
dos dois refletidos no espelho.
-Terminei de penteá-los – ela pousou a
escova sobre o móvel e olhou para ele. – Além
disso, vou cortá-los amanhã cedo.
Helena sentia-se boba falando dessas
amenidades com Rony. Nunca antes tivera apenas
assuntos tolos, e agora as grandes novidades de
sua vida eram os cabelos que cortaria, e a
evolução quase nula de Alice em seus bordados
caóticos!
-Por quê? – ele tocou os fios, com
reverência – gosto deles assim como estão!
-Dão muito trabalho – apesar de o
coração ter acelerado, ela tinha que contrariá-lo.
No fundo não desejava cortar, mas ao ver
as madeixas artificialmente enroladas de Alexia,
chegara à conclusão que teria que cortá-los se
quisesse penteá-los de modo mais apropriado.
Alice mantinha os cabelos num
comprimento que permitia penteados mais
sofisticados, e achava que era hora de fazer o
mesmo.
-Não corte os cabelos Helena – ele pediu,
colocando as mãos em seus ombro e acariciando a
pele.
-E porque não? - rebelou-se, esperando
uma justificativa que valesse a pena!
-Porque adoro o modo como eles
emolduram seu rosto. Adoro como caem sobre
mim, ou como se espalham no travesseiro quando
fazemos amor... Não me faça essa desfeita!
-É apenas cabelo – ela deu de ombros,
deixando na dúvida se cortaria ou não.
-É o seu cabelo – ele contrariou, sorrindo
– Me faça esse gosto, e deixe-os como estão.
-Estão todos dormindo? - ela mudou de
assunto se recusando a prosseguir.
Não sabia como agir quando Rony se
dispunha a fazer elogios, ou falar de sentimentos.
-Sim – respondeu, seguindo com as
carícias em seus ombros. – Dispa-se para mim,
Helena.
-Não – ela negou – Concordei apenas
para que deixe John e Alice em paz. Não ouse me
dar ordens!
-Certo, será do jeito que desejar – disse
malicioso.
-Pois eu desejo que deite e durma, e me
deixe dormir também - resmungou, enquanto se
livrava de suas mãos e subia na cama, virando-se
em direção a parede, coberta até a cintura.
Ficou quieta, escutando seus movimentos
no quarto, e estranhou que não argumentasse.
Confusa com tantos sentimentos dúbios fitou a
parede a sua frente, enquanto ele se despia e
esperava que se vestisse para dormir.
Rony entrou na cama e se cobriu,
estendendo os braços para abraçá-la e a trazer
para perto. Helena se virou em sua direção
instintivamente.
-Prometo ser gentil e suave. – ele disse
muito baixo - Nem vai perceber que estou aqui –
era uma brincadeira, e Helena sorriu.
-Só não me deixe com mordidas e roxos
de novo – ela sugeriu, tão graciosamente corada
que ele ergueu seu queixo para um beijo de anjo,
muito leve.
Helena sentiu aquele beijo molhado tocar
sua alma, e pousou uma das mãos em seu peito,
acariciando a pele nua.
-Faça de novo – ele pediu, reiniciando o
beijo com mais fervor.
Helena descobrira o que esse homem
gostava e espalmou as mãos em seu peito,
enquanto era mantida entre seus braços. Alisou a
pele do peito, alisando e provocando os mamilos
masculinos, separou os lábios e desceu-os pelo
pescoço forte, descendo mais, até abocanhar um
deles com a língua e os dentes.
Rony gemeu, acariciando seus cabelos e
sentindo a tortura que era ter essa mulher tão
cordata apenas para ele.
-Me toque lá embaixo, Helena - ele
pediu, mordendo o lábio de paixão.
Ela obedeceu, procurando caminho pela
colcha fina até achar sua ereção.
Estava a meio caminho e seus olhos
fizeram perguntas.
-Faça carinho, e ele estará pronto em um
minuto – esclareceu.
-Porque tenho que fazer isso? – ela
questionou num impulso de rebeldia.
-Porque gosta de fazer? – ele provocou. –
Porque é assim ser casada, Helena. Dar e receber
carinho e prazer. Não precisa se defender e brigar
o tempo todo. Eu adoro ficar assim, e você não
gosta?
Ela não respondeu, e Rony não se
surpreendeu por isso. Suas mãos delicadas
fizeram carinhos apaixonados embaixo do lençol e
Rony fechou os olhos, incentivando-a com
palavras de amor.
Helena beijou seu pescoço, e Rony não
pode deixar de sorrir ao lembrar que ela achava
mesmo que passaria uma vida toda celibatária!
Não com toda essa paixão!
Incentivado, ele virou-a na cama, e ficou
com por cima de seu corpo, afastando suas pernas
e erguendo sua camisola com um movimento
rápido.
-Hei! – ela reclamou quando ele deixou a
camisola sobre seu rosto, sem tirá-la totalmente.
-Desculpe – ele riu, enquanto gentilmente
ajudava a tirar o tecido do nó que formou em seus
cabelos, ainda rindo ele beijou-a – Me faz agir
como um adolescente, Helena – comunicou,
olhando seu corpo miúdo com olhos de fome. –
Um adolescente muito apaixonado...
-Sei – ela ergueu um pouco o quadril,
pois ele a apertava contra o colchão.
-Deliciosa - ele apoiou as mãos ao seu
redor, atacando seu pescoço com beijos e chupões.
Helena deixou o desejo fazendo dela uma
mulher maleável e boba, gemendo e incentivando
seu inimigo a usufruir de seu corpo
vergonhosamente!
-Ainda doem? – ele perguntou tocando
um seio com a mão, roçando o mamilo na palma
da mão.
-Um pouco – ela foi sincera, e ele baixou
o rosto, substituindo as mãos pela boca. Nada de
sugar ou morder, apenas a língua, traçando
círculos em volta e provocando a pele eriçada. –
Isso é...
-Fale não se acanhe – pediu insistindo
nos carinhos que arrancavam suspiros e gemidos
baixos.
Helena agarrou em seus ombros,
esfregando a perna em sua coxa, pedindo por
mais.
-... É muito bom. Sinto... Um calor aqui
dentro – tocou sobre o ventre e ele desceu os
lábios para seu umbigo.
-Isso se chama tesão – adorou ouvir seus
gemidos ficarem mais altos – e chama-se também
amor. Você me ama Helena.
Hoje ela ouviu e não retrucou. Não
concordou, mas também não negou.
-Diga, Helena – ele ergueu o torço
olhando em seus olhos, analisando seu rosto
enquanto pedia – Diga que me ama – se ajeitou
entre suas pernas, sentindo os movimentos
ansiosos que ela fazia com o quadril pedindo por
mais. – Diga: Eu te amo.
-Porque diria? - ela virou o rosto para o
outro lado, acariciando seu peito e pedindo por
mais – Faça. – pediu com a respiração arfante.
-Diga que me ama – ele insistiu e ela
negou com a cabeça. - Diga Helena, uma vez só,
mas diga!
-Porque, se é mentira? – perguntou
desesperada, pelo tamanho do sentimento que
nasceu dentro dela diante desse pedido.
Rony avançou, penetrando-a lentamente
enquanto fitava seus olhos profundamente, os
braços de Helena se erguendo para enlaçar seu
pescoço e grudar os corpos.
Ela soluçou, as pernas o mais afastadas
possível, as coxas tremulas.
-Não importa, minta! Mas diga! – ficou
imóvel, o corpo tenso e dolorido pela espera –
Diga que me ama, mesmo que seja mentira.
-Não. – ela desafiou, olhando para baixo,
entre eles.
O lençol havia escorregado totalmente, e
estavam nus sobre a cama, entrosados,
entrelaçados e tão íntimos que causava uma dor
aguda em seu ventre.
-Não pare... Rony, por favor, prometeu
que seria gentil comigo – ela apelou desesperada
para continuar.
-Eu quero ouvir – ele baixou o rosto para
beijá-la – Uma vez apenas, mentira ou não, quero
ouvir que me ama.
Helena gemeu quando ele começou a se
mover lentamente. Muito devagar, deixando uma
sensação absurda de vazio, apenas para voltar,
preenchendo cada centímetro de seu interior com
sua presença pulsante e quente.
-Isso é tão bom - Helena lamentou,
sentindo os beijos molhados que ele distribuía em
seus mamilos, sentindo aqueles dedos habilidosos
roçando sobre seu ponto mais sensível, esfregando
o clitóris com tanta precisão que a deixou em
chamas.
-Diga – ele pediu novamente, penetrando
mais fundo e mais lento – Diga, Helena!
-É mentira – ela avisou, acompanhando
suas fundas e intensas penetrações.
Quase não se moviam; um amor lento e
torturante.
Uma das mãos de Helena agarrou seus
cabelos, fazendo-o jogar a cabeça para trás, como
uma fera acarinhada e domesticada, enquanto os
sexos se bolinavam e se encaixavam numa dança
própria.
Helena desceu as mãos para suas coxas
masculinas, acariciando a pele rude, e agarrando
seu traseiro, apertando a carne musculosa e
gemendo quando Rony avançou mais rápido. Sua
perna subiu e enlaçou a coxa firme de Rony, se
moendo e se entregando.
Dentro e fora, o movimento aumentou e
os gemidos acompanhavam aquela cavalgada,
Helena perdendo o senso de direção a cada funda
entrada, e a cada torturante retirada.
Esfregando com dedos urgentes, ele a
levou a um ponto onde as luzes piscaram sob suas
pupilas, e o calor era tão forte que precisou se
agarrar a Rony, abraçando-o com braços e pernas,
convulsionando a seu redor.
Com as pernas ao redor de sua cintura,
sentiu-a tão aberta que avançou mais rápido, se
perdendo naquele calor úmido, aveludado e
ondulante. O ritmo não era mais calmo, era forte,
e o suor corria nas costas de Rony, sob os dedos
de Helena que acariciavam desesperadamente
cada polegada que pudessem alcançar, perdida
num beijo de puro desejo e tesão.
As línguas se misturavam e se caçavam,
imitavam os movimentos de seus sexos, o corpo
de Helena ficou absurdamente tenso, apesar de ele
ter tirado os dedos, sentindo aquele majestoso
membro estufar cada polegada de espaço que
havia dentro de seu pequeno corpo. Rony afastou
os lábios, gemendo e respirando com dificuldade
enquanto acariciava seu rosto vermelho pelo
esforço de acompanhá-lo naquele arroubo de
prazer.
-Diga – ele pediu com as palavras
entrecortadas – uma única vez, diga.
-É mentira – ela disse desesperada, um
mundo de cores saltando diante de seus olhos
abertos, enquanto o orgasmo a fazia prisioneira –
é mentira... Oh Rony, é mentira, mas eu te amo!
Um explosão aconteceu dentro dela, e
precisou soltar as pernas e erguê-las alto e
afastadas quando ele inchou dentro de seu corpo a
ponto de provocar uma dor sufocante. Ele gozava
com a mesma vontade que ela, o mundo real
desaparecendo ao redor dos dois, como se não
existisse mais nada além dos corpos e das almas
entrelaçadas.
Helena foi a primeira a voltar a si, o
corpo mole, sendo sacudido pelos movimentos que
Rony ainda insistia em continuar.
Olhando aquele rosto tão adorado, úmido
de suor, avermelhado e contorcido pelo prazer, os
olhos azuis límpidos como um céu de verão, ela
acariciou seus cabelos e procurou seus lábios,
oferecendo a ele o conforto que faltava para
aquietar seu corpo.
Era um beijo meigo e suave, e os corpos
pararam. Helena o empurrou gentilmente para
libertar sua intimidade um pouco dolorida, e ao
retirar o membro, sentiu nos dedos a umidade e
viscosidade que estava espalhada entre os dois,
principalmente nos lençóis.
Era o gozo de seus corpos e sem ter
vergonha alguma, ela apenas se alinhou e o deixou
tombado sobre seu corpo.
-Você é perfeita – ele disse baixo, para
não quebrar clima entre eles – Juro, é perfeita para
mim como mulher alguma nunca foi.
-Durma – ela pediu no mesmo tom, não
querendo falar.
-Mas eu te amo, Helena – ele beijou seu
queixo e o canto de sua boca, sorrindo como uma
criança feliz ao ganhar um presente de Natal.
-Durma, Rony – ela insistiu, não
querendo falar disso.
-Era mesmo mentira? - ele ergueu forças
para se mover e a trazer para seus braços sobre
seu peito.
Helena tinha fechado os olhos e o
abraçado com força, o corpo relaxado como
sempre acontecia após o amor.
-Helena?
-Durma, ou vá para o sofá da sala – ela
disse começando a se irritar.
Seu corpo estava mole, mas ainda
poderia arrumar alguma força para fazê-lo se
calar.
-Você me ama – ele concluiu sorrindo.
-Se você acha... – deu de ombros,
esfregando o rosto em seu peito.
-Eu te amo, Helena – ele ainda sorria e
ela ergueu os olhos em sua direção.
-Rony, eu sinto muito, mas não amo
ninguém. – ela disse séria – Nunca mais vou amar
na minha vida. Por isso não quero um marido.
Para não ser obrigada a mentir.
Essas palavras apagaram seu sorriso e ela
baixou os olhos, mortificada.
-Sinto muito – insistiu sentindo sua
mágoa.
-Não peça desculpas – ele beijou o topo
de sua cabeça.
Helena não demorou muito a adormecer,
exausta, mas ele ainda ficou acordado um bom
tempo, pensando na sensação maravilhosa de
saber que era amado. Helena dizia não, mas seus
olhos gritavam sim.
E ele estava disposto a acreditar em seus
olhos.
Era noite quando Rony acordou com um
ruído de passos. Helena dormia em seus braços
profundamente, e não moveu um músculo sequer
quando se soltou e saiu da cama.
Em pânico momentamente ao pensar que
poderia ser John e Alice, ele se apressou a checar.
Aliviado, viu na sala Alexia sentada no
sofá com uma expressão abatida. Vestia a
camisola e os seios estavam praticamente nus, seu
ventre dilatado evidente. Era uma linda mulher,
não fosse o péssimo caráter. Numa poltrona, John
estava sentado, ainda vestido, com expressão
desolada.
-Me deixe em paz, Alexia - ele dizia em
voz baixa e abafada, um pouco enrolada.
Rony notou que havia uma garrafa de
vinho ao seu lado.
-É uma linda menina, sua noiva – ela
dizia com a voz de uma serpente.
-Não fale de Alice. Não ouse pôr seu
nome em suas conversas maliciosas.
-John, John... Não pode me enganar. Está
apaixonado pela pequena Alice – ela sorriu
esperta – Mas é um sentimento fugaz. Vejo em
seus olhos o amor verdadeiro, como poucas vezes
vi antes. E esse amor, é dedicado a outra mulher.
-Porque está acordada? – ele disse
ríspido, afastando o olhar.
-Porque não consigo dormir. Sinto dor -
ela sorriu – Porque não desabafa, John? Já fomos
tão amigos, além de amantes. Está completamente
enlouquecido por aquela mulher insignificante,
não é?
-Você é louca – ele se apressou a dizer.
-Não entendo o que tem nessa mulher.
Rony... Parece querê-la e você... Também.
-Não fale de Helena. Não tem esse
direito. Não fale de mim, ou dela. Não se atreva a
tecer mentiras e insinuações – ele ameaçou
furioso. – Respeito meu amigo e respeito sua
esposa. O resto é invenção sua!
-Respeito não tem a ver com amor ou
paixão. – Alexia alfinetou – Se ela quiser ficar
com você, teria respeito?
-Sim – havia verdade em seus olhos.
-Mesmo queimando de paixão? – ela
instigou.
-Para que serve minha paixão para uma
mulher que tem um marido?
-Isso nunca foi um empecilho para um
homem e uma mulher apaixonados John!
-Helena é decente e respeita o casamento.
Pare com suas insinuações. O que sinto... Não é
da conta de ninguém!
-John, eu estou falando como uma amiga
– se não houvesse bebido o bastante para ter a
mente turva, John teria notado o brilho
dissimulado em seu olhar – Me conte como se
sente. De verdade.
-Sinto-me confuso - ele confessou – Meu
coração dispara quando estou com Alice. Sinto
como se o dia se ascendesse e ficasse colorido
como nunca antes esteve. Penso ser capaz de
sentir felicidade. Mas quando olho para Helena...
O que sinto por Alice parece pequeno. Pequeno
diante do sentimento que me ataca. Quero...
-O que você quer quando vê Helena? –
ela instigou.
-Quero abraçá-la e confortá-la. Nunca
antes me senti assim por mulher alguma.
-Isso é amor, John – ela sorriu – Amor
verdadeiro.
-Quando a vejo com Rony parece tão
errado me sentir desse modo. Seu lugar é aqui,
com ele. Os dois combinam.
-Não, eles não combinam, vivem um
inferno! Como poderiam combinar?
-Nem sempre o amor é fácil – ele
respondeu.
-Porque não conta a ela como se sente e
espera para ver sua reação? Talvez ela o ame em
segredo!
“E todos os meus problemas estariam
resolvidos”, pensou Alexia.
-Eu já disse como me sinto. Helena não
deu importância, diz que a quero como irmã.
-Bobagem. – Alexia riu suavemente –
Entendo de homens e de mulheres. Rony está
sendo enganado, ela está apaixonada por você,
John. E você por ela. Faça um favor a todos nós,
seja sincero e a leve daqui.
-Está louca – ele levantou-se e cambaleou
– Louca e errada!
Alexia observou-o sair e sorriu consigo
mesma. Sentia dor, por isso não conseguia dormir.
Grande sorte encontrar John também acordado, se
remoendo em culpas.
Acariciando o ventre, chegou à conclusão
que estava no caminho certo.
Rony, aquela fazenda, e todo o dinheiro
que viesse dali seria dela! Só dela!
Rony esperou John ir dormir para voltar
ao quarto. Pouco lhe importava se Alexia ficaria
acordada a noite toda ou não.
Sentia sobre os ombros o peso das
confissões de John.
Ele estava apaixonado por Helena.
De volta ao quarto, trancou a porta e
ficou observando a mulher que dormia
inocentemente. Não lhe contara que John lhe
falara sobre seus sentimentos.
Porque Helena mentira? Seria por amor a
John?
Capítulo 64 - De costas para o amor

-O que está acontecendo? – Juanita


perguntou baixinho observando Alice bordando do
outro lado da sala, longe de Helena. Alexia muito
perto lendo uma revista.
-Não faço nem ideia. – disse com rancor,
abandonando o bordado, e olhando para a
conversa íntima de Alexia e Alice – Aposto como
essa mulher tem feito a cabeça de Alice.
-Helena, seu marido mandou avisar que
não almoça em casa. Ficará na plantação, junto
aos empregados que estão construindo a cerca
perto do bosque. – ela disse em tom conspiratório
– Porque não aproveita e leva seu almoço?
-Porque faria isso? -ela ficou na
defensiva imediatamente.
-Porque é bom ter seu marido na palma
da mão quando o filho dessa aí nascer. Nunca se
sabe o que passa na cabeça de um homem quando
nasce um filho homem, ainda mais quando a
esposa lhe nega filhos – era uma sutil critica.
-Rony tem razão quando diz que se mete
demais na nossa vida – ela reclamou rancorosa
pelo puxão de orelhas.
-A escolha é sua, mas acreditei que
estivesse lutando para manter o patrimônio que
seus pais construíram. – Juanita lembrou –
Separei um prato, Duran vai levar para Suarez.
Porque não o acompanha?
Irritada, ela concordou. Primeiro, sentia
vontade de andar e arejar a cabeça, e segundo
fazia muito tempo que não se interava dos afazeres
da fazenda. Deveria sentir falta do trabalho, mas
não sentia.
Seria hipocrisia se dissesse o contrário!
Com Duran ao seu lado, ela andou
lentamente em direção a plantação, observando o
milho, e as hortaliças que cresciam, e em meio a
uma conversa interessante, pois o menino sabia
tudo sobre o que o padrasto vinha fazendo junto
ao patrão, ficou sabendo que em algumas semanas
chegariam às primeiras ovelhas.
O trabalho na cerca estava pela metade, e
Helena avistou primeiro Suarez que estava
sentado próximo a uma árvore , mexendo em sua
arma. Duran correu para o padrasto e Helena
olhou em volta, até ver Rony.
Ele estava recostado embaixo de uma
árvore, aproveitando a sombra.
Mais perto, notou a roupa suada pelo
trabalho, as marcas de olheiras em seu rosto, e se
perguntou por que não teria dormido se depois de
fazerem amor, sempre dormia a noite toda.
Um pouco insegura, sobre falar com
Rony depois de ter dito que o amava, se
aproximou. Afinal, deixara claro que era uma
mentira!
-Rony? – chamou baixo para não
sobressaltá-lo se estivesse dormindo.
Ele abriu os olhos, e procurou pela voz,
até enxergá-la de pé a sua frente.
-Trouxe seu almoço – ela mostrou o prato
enrolado em um pano de prato. Havia um cantil
com água fresca em sua outra mão.
-Não precisava -ele disse sério, enquanto
ela se ajoelhava perto dele.
-É impossível que não esteja com fome –
ela ralhou.
-E isso importa? - retrucou.
-Porque está falando assim comigo? O
que fiz de errado? – ela ficou na defensiva.
-Tem me escondido coisas – ele jogou,
notando sua face empalidecer.
Helena pensou em Alice. É claro que ele
ainda não sabia, ou a casa teria caído sobre sua
cabeça, visto que Rony era um homem
esquentado. Sendo assim, ele testava.
-O que acha que lhe escondo? – arrumou
o prato, e entregou a ele.
Rony apanhou o prato, apreciando o
cheiro da comida bem temperada. Algumas
garfadas depois e Helena estendeu o copo o cantil.
-John lhe fez declarações de amor – não
era uma pergunta, mas uma acusação.
-Não, ele não fez – ela maneou a cabeça e
ele olhou para a trança que usava. Não cortara os
cabelos.
Por causa de seu pedido, não os cortara!
-Tem certeza? – insistiu notando seu
corado. Helena afastou os olhos, indecisa, então
suspirou e explicou:
-Tente ver do modo que eu vejo: seu
amigo não conhece nada sobre sentimentos.
Nunca teve uma mãe para abraçá-lo, ou um pai
para aconselhá-lo. Não teve irmãos para se
preocupar, muito menos conflitos, pois sempre foi
rico e todos o idolatram por isso. O mais perto de
uma família que tem, é você. O que não ajuda
muito, pois não é um homem eloquente ! – sorriu
– John está apaixonado por Alice, mas é um
sentimento que ele não conhece, então, não sabe
reconhecer. Do mesmo modo que sente um
carinho especial por mim, o mesmo carinho que
tenho sentido por ele. Um carinho que antes, eu
sentia pelo meu irmão. Eu conheço esse
sentimento, e sei dar um nome a ele. John não.
-Simples assim? -ele ironizou.
-Acho que você deseja complicar tudo –
ela resmungou segurando o cantil enquanto ele
comia.
Mesmo no meio do trabalho rural, ele não
perdia as maneiras elegantes da corte,e apesar da
presa, e da fome, era cuidadoso com o alimento.
Helena apreciava seus modos, por isso
apenas observou-o comer em silêncio. Quando ele
terminou, ela segurou o prato, enrolou e deixou
num canto, oferecendo a água.
-Estava muito bom – ele agradeceu, ainda
desconfiado.
-Agradeça a Juanita, estou em falta com
ela. – disse envergonhada – Não tenho ajudado
em casa como deveria.
-É a dona da casa, Helena. – lembrou-a.
-Mas isso não faz de mim alguém capaz
de ver o trabalho e ignorá-lo! Se não fosse...- se
calou a tempo.
-Me conte – ele pediu, se recostando na
árvore e puxando-a com ele.
Helena se aconchegou naquele peito
imenso, e deixou-se ficar ali, os braços enlaçando-
o.
-Tenho sentido muito sono. Posso dormir
o dia todo! Um absurdo! E quando levanto...sinto
o impulso de comer como se fosse minha última
refeição e depois...fico enjoada e me arrastando
pela casa! É horrível! Juanita me disse que isso
está acontecendo por causa do que sofri...
-Ela está certa – se apressou a concordar,
sorrindo – Dormia tão profundamente hoje cedo,
que não tive coragem de acordá-la – contou – por
isso fiquei sem o meu beijo.
-Desde que fizemos esse acordo, nunca
mais me beijou -ela acusou.
-Eu a beijei a noite passada – ele lembrou
sorrindo.
-Sim, mas fora da cama, sou sempre eu
quem o beija.
-Tenho que aproveitar o pouco tempo que
me resta. Ainda lembro como é viver ao seu lado,
sem receber sequer um olhar.
-Queixas e mais queixas. – ela deu de
ombros, fingindo não se emocionar com suas
palavras.
Também lembrava como era viver sem
seus abraços e beijos.
-Não cortou os cabelos -ele disse baixo,
acariciando seu rosto com ternura.
-Não estou com disposição para longas
brigas -mentiu.
Não poderia dizer que fizera isso apenas
para agradá-lo!
-Não precisamos brigar nunca mais,
Helena. Eu te amo, e você me ama. Não há espaço
para brigas.
-Achei que tivesse entendido que era
apenas uma mentira para agradá-lo – ela disse
ríspida.
-Sim, apenas uma mentira – ele riu de
sua indignação.
-Porque me preocupei se teria fome? -ela
se afastou, arrumando o vestido amassado e
levantando - Saiba que sua irmã esteve à manhã
toda conversando com sua amante. Nem mesmo a
presença de John a inibiu!
-Estou começando a penar se não é hora
de Alice voltar para casa – ele disse pensativo.
-Terá coragem de preferir sua amante a
sua irmã? – seu tom endureceu assim como sua
face.
-Já tivemos essa conversa antes – ele
retrucou perdendo a paciência.
-Sim, e já discutimos por causa de John
outras vezes e está sempre voltando a esse
assunto!
-Nunca teremos paz, não é? – ele
perguntou cansado.
-Não. – ela admitiu – Poderíamos ter um
convívio sossegado se me respeitasse. Se não me
obrigasse a aceitar seu estilo de vida, suas
amantes, e seus amigos, e não tentasse me
subjugar e obrigar a...satisfazer seus desejos!
-É falta de respeito um marido sentir
desejo por sua esposa? – ele disse incrédulo.
-Sim, é falta de respeito se havia dado
sua palavra de que isso não aconteceria! – furiosa,
ela virou-se e gritou – Duran! Vamos embora!
O menino correu atendê-la, pois seu berro
poderia ter deixado o mais corajoso dos homens
amedrontado! Assim como seu olhar furioso.
-Desfaça essa carranca! Quando voltar
para casa, não quero ver cara feia! -ele gritou de
longe, apenas quando ela estava longe demais
para atacá-lo.
Helena parou, virou-se e lançou-lhe um
olhar tão feio e furioso que teve certeza que
deveria dormir de olhos abertos essa noite se não
quisesse correr o risco de ser morto dormindo!
Recostado contra a árvore ele olhou
sorrindo na direção de Suarez.
-Mulher geniosa – disse-lhe Suarez,
como sempre de poucas palavras.
-Helena está grávida – ele contou, o
orgulho extrapolando o bom senso.
-Juanita diz que é melhor que não saiba –
Suarez disse entre dentes, com um meio sorriso –
As mulheres de gênio forte são sempre as
melhores.
-Juanita é uma mulher de fibra – ele
elogiou, pois nunca dissera a Suarez como era
grato por sua mulher tratar Helena como uma
filha. – Helena precisa muito de seus conselhos.
-Tome cuidado, Juanita pode ter
conselhos que o deixarão de molho por uma
semana. – havia tanta malícia em sua face séria
que Rony riu.
Os dois se recostaram para esperar os
empregados voltarem do almoço e Rony ficou
pensando nas palavras de Helena sobre John.

Helena estava tão furiosa quando Rony


voltou para o almoço que era possível ver uma
aura negra a sua volta. Alexia Lil passara a tarde
toda fazendo comentários sobre a intimidade que
dividira com Rony na capital, e contando dos
planos que tinha para quando eles fossem embora
juntos.
Alice ouvia atentamente, mais
interessada em ouvir sobre a vida na corte. Mesmo
assim, incentivando a rival de Helena a ofendê-la.
Fervendo ela respondeu alguma cosia que
John lhe perguntou sem tirar os olhos de sobre
Alexia e Alice. As duas conversavam baixo, e em
dado momento Alice olhou em sua direção com
tanto ódio no olhar, que a deixou em dúvida sobre
interferir ou não. A ideia de se aproximar de
Alexia desmotivava qualquer sentimento de
proteção que pudesse ter em relação à Alice.
Desconfortável ajudou Juanita à por o
jantar na mesa, e despediu-se dela com a
promessa de cuidar de Ruanzito na manhã
seguinte. Na porta de casa, fitou olhando para o
chuveiro onde Rony tomava banho a noite e seu
olhar ficou perdido nas lembranças de quando
estivera com ele, sob a água e o luar.
Pensamentos inconfessáveis e Helena
achou que morreria diante do acelerado de seu
coração ao ver Rony se aproximando com seu
andar predatório. Ele sabia. Sabia exatamente em
que pensava.
Horrorizada por ser tão transparente,
entrou na casa e fugiu.
Respirou aliviada quando todos sentaram
a mesa, supostamente em paz, para jantar.
Depois de alguma conversa tola de
Alexia e alguns comentários entre John e Rony, a
quieta Alice se manifestou.
-Soube que saiu e esteve fora boa parte da
tarde, Helena – ela disse com indiscutível raiva.
-Levei o almoço de Rony e Suarez – ela
respondeu encarando a ex-amiga sem entender
onde queria chegar.
-Durante tanto tempo?
-Estive passeando um pouco, gosto de
andar pela fazenda – era quase como se estivesse
se desculpando e odiou isso.
-Mesmo? Coincidência que John tenha
passado várias horas fora, olhando a fazenda.
Achei que tivessem se encontrado no caminho...
-Se houvesse acontecido, haveria algum
problema? – Helena perguntou testando e tentando
entender onde ela queria chegar.
-John é praticamente meu noivo – ela
disse apertando o garfo entre as mãos, furiosa.
-Estive conhecendo a fazenda, pois se
pretendo comprar uma, devo me inteirar da vida
de fazendeiro. Não vi Helena – ele disse, surpreso
com a reação exagerada.
-É mesmo? – havia magoa, rancor, raiva
e quase desespero em seu tom.
-Acha que estou mentindo? – ele desafiou
esperando sua sinceridade.
-Alice, se tem algo a dizer, diga de uma
vez! – Rony interrompeu olhando de Helena para
John, desconfiado e com uma sensação horrível na
boca do estômago. Ciúme.
-Helena e John estiveram juntos no
celeiro. Alguém os viu...juntos. – ela disse com a
voz tremula, quase chorando.
-E quem é essa pessoa? – John perguntou
ofendido.
-Importa? Meu noivo e minha cunhada
são...são...
-O que John e eu somos? Diga, Alice! –
Helena elevou a voz, ofendida e magoada com sua
capacidade de falar essas coisas a seu respeito.
-SÃO AMANTES!!!! – ela levantou-se,
jogando os talheres sobre a mesa com um som
desagradável de porcelana quebrando –
AMANTES!
-Vá para seu quarto, Alice! – Rony
também levantou-se, olhando para a irmã com
incontido ódio – Vá para seu quarto até aprender a
não dizer mentiras!
-Eu não minto! Alguém viu os dois se
beijarem! Se tocarem! Teriam rolado no femo se
não fossem interrompidos! Se não acredita em
mim pergunte como o vestido de Helena está
rasgado! Pergunte! – apontou para Helena com
sarcasmo.
-Meu vestido não está rasgado – ela
respondeu imediatamente, levantando-se – Vou
buscá-lo e espero que isso sirva para calar suas
palavras, sua ingrata!
Helena apanhou o vestido que usara para
seu passeio, tirou-o do cesto de roupas sujas, e
trouxe para a cozinha, sem se dar ao trabalho de
olhar para ele.
-Eu disse! – Alice gritou histérica, ao ver
o rasgo na saia – São amantes! Amantes!
-Eu não sei como está rasgado, não
estava quando cheguei – Helena não acreditou no
que viu – Juanita me viu chegar, estava com o
vestido intacto!
Seus olhos buscaram os de Rony,
notando a dúvida, a forma com olhava para a
roupa e então para ela.
-Eu não acredito que está dando razão a
sua irmã! – ela se afastou um passo e o vestido
caiu sobre a mesa, em cima dos elaborados pratos
de Juanita, mas ninguém se importou pois não
haveria mais jantar.
-EXIGO QUE DIGA O NOME DA
PESSOA QUE ESTÁ FALANDO DE MIM
PELAS MINHAS COSTAS! – Helena ficou
desesperada por não ter defesa – Se é meu marido
obrigue sua irmã a contar quem anda espalhando
mentiras a meu respeito! – ela exigiu, mas Rony
não disse nada.
-CALE A BOCA! UMA ADULTERA
NÃO TEM DIREITO A EXIGIR NADA! COM
O MEU NOIVO...! Helena, como pode! O meu
noivo, o homem que amo! – as lágrimas corriam
em sua face e Helena olhou para a bela face e
desistiu de se proteger.
Não adiantava.
-Acredite no que quiser. Entrei nesse
casamento para proteger minhas terras, se o seu
irmão quiser ir embora, a escolha é dele. Não me
importa o que pensam de mim. Sei o que fiz e o
que não fiz. Acredite nas palavras de uma pessoa
que sequer tem coragem de assumir as fofocas que
faz!
Helena pretendia sair, quando a mão de
Rony agarrou seu braço e a fez parar.
-Esse vestido estava inteiro quando
voltou para casa? -ele perguntou tão sério e tenso
que ela respondeu, apesar dos pesares.
-Sim, estava intacto.- engoliu em seco.
-Esteve com John no celeiro? – ele
perguntou ainda naquele tom que a assustava.
-Não,e antes que pergunte, não estou...é
claro que não dormiria com outro homem! Sou
casada! – puxou o braço com força.
-Alexia, vá pra seu quarto – Rony disse,
sem olhar para a ex-amante, e ela entendendo a
seriedade, partiu, sorrindo por dentro. – Se a
pessoa que lhe disse que John e Helena são
amantes, foi Alexia, eu não vou continuar com
essa conversa, Alice -ele encarou a irmã que
chorava e ela parou de soluçar – Se teve coragem
de dizer algo tão grandioso baseado nas palavras
de Alexia, eu vou tirar meu cinto e lhe dar uma
surra como está merecendo! Está me ouvindo?
-Eu... – Alice estava consternada – Ela
disse que viu com seus próprios olhos! Deu-me
uma prova! –ela apanhou o vestido se agarrando a
essa certeza.
-Um vestido pode ser rasgado por
qualquer um – ele disse contendo a voz, louco
para sacudir a irmã e dar-lhe uma lição – John,
estou envergonhado do comportamento de minha
irmã, e vou entender se quiser desfazer seu
compromisso. –ele ainda estava tão tenso que
Helena foi quem ficou desesperada.
Olhou para a expressão de John e teve
medo que ele aceitasse. Desesperada ela interferiu:
-John não pode desfazer o compromisso!
É um homem maduro, pode ver que Alice é muito
tola! Ciumenta, porque é tola! Essa...essa cortesã
fez sua cabeça! Alice não merece que...
-Não a defenda, Helena – Rony mandou
– Não defenda quem a acusa!
-Rony... – olhou para Alice, e lembrou-se
de que tivera intimidade demais com John para
ficar sem marido. -Alice é muito criança para
entender os truques de uma cortesã! - ela tentou
uma última vez.
-Não sou uma criança! – ela disse entre
as lágrimas, sem coragem de encarar John ou
qualquer outra pessoa.
-Não vou desfazer o compromisso – John
disse desgostoso – Mas estou envergonhado
demais para permanecer nessa casa, meu amigo.
-Não vai a lugar algum, John – Rony
olhou para a irmã – Vou levá-la de volta para a
casa de nossos pais amanhã cedo, arrume suas
coisas e agradeça a Deus John ser tão
compreensível!
-Rony...irmão, eu...
-SUBA AGORA!
Alice saiu correndo aos prantos. John
chegou a dar alguns passos, talvez tentado e
comovido ,querendo consolá-la, mas lembrou de
seu comportamento egoísta e parou.
-Nunca encostaria um dedo em sua
mulher, Ronald – ele frisou – Helena é honesta e
não permitiria que fizesse isso de qualquer
maneira. Confie no que digo, nunca lhe menti na
vida!
-Eu confio que não aconteceu nada -ele
disse pouco convicto – O jantar acabou para mim.
Havia desgosto em sua voz, e Helena
suspeitou que não fosse apenas pelo
comportamento da irmã. Rony tinha muito ciúme
de pensar nos dois juntos. E agora, sua mente
doente, deveria estar trabalhando para criar um
cenário que a deixaria muito mal diante de seus
olhos.
-Vou tirar a mesa – ela informou,
retirando os pratos e talheres.
-Deixe para amanhã – ele disse com voz
séria - John, teremos uma conversa amanhã cedo.
-Não vou mudar de ideia em relação à
Alice. Quero me casar com ela. Isso não mudou.
-Amanhã – ele cortou – Vamos dormir,
Helena.
Ela não negou, deixando-se levar pelo
braço para o quarto. Era só o que lhe faltava! Ser
acusada de um crime que não cometera!
Rony trancou a porta e não olhou para
ela. Sentindo o sangue ferver por causa da forma
como era tratada não se controlou:
-Viu? Viu no que deu colocar sua amante
dentro dessa casa? Não bastava me humilhar,
agora, ela incentiva sua irmã a se comportar como
uma qualquer! Está feliz?
-Não. – ele engoliu em seco, olhando
para seus olhos com uma gama de rancor – Não
estou feliz.
Para Helena soou com um duplo
sentindo. Rony não estava feliz ao seu lado? Era
isso?
Assustada com o medo que nasceu dentro
dela, começou a se trocar para dormir. Ele tirou a
roupa em silêncio e entrou sob o lençol antes dela,
fitando o teto seriamente.
Sentindo-se ignorada, Helena vestiu a
camisola e subiu na cama, ao lado de Rony. Bem
mais perto que normalmente ficaria.
Notando esse detalhe, ele olhou
longamente para Helena e maneou a cabeça:
-Não quero.
Dizendo isso se virou para o outro lado, e
cruzou os braços, num claro sinal que a estava
esnobando. Helena esperou um quinze minutos,
para ver se ele se arrependia, mas nada. Em pouco
tempo ouviu seus roncos e desistiu de esperar.
Virou-se para o outro lado também, e fitou o
escuro a sua frente, com o coração apertado.
Rony acreditava que era capaz de traí-lo?
Capítulo 65 - Revoada

Era bem cedo quando Helena estava na


varanda da frente da casa, observando Rony
colocar as malas de Alice na carruagem de John.
Por insistência, ele levaria Alice pessoalmente e
aproveitaria para ter uma conversa com Artur.
Rony insistira para que Duran fosse com eles na
carruagem, mas Helena sabia que em algum
momento do caminho, o menino iria parar junto ao
cocheiro.
Era inevitável, pois Duran amava cavalos
e não perderia a oportunidade de conduzir raças
tão valiosas, e John e Alice não perderiam a
oportunidade de conversarem a sós sobre o
acontecido.
Suspirando, ela acenou para Alice, mas
não teve seu cumprimento retribuído. Triste, saiu
andando pelo gramado em direção a Rony. Ele
observava a carruagem se afastar e tinha as mãos
na cintura, contrariado.
Ela sabia que tivera uma conversa com
John logo cedo, mas não pudera ouvir o que
diziam, pois falavam muito baixo. Segurando o
xale em volta dos ombros, ficou bem perto e Rony
olhou para ela.
-John é uma boa pessoa – ela disse baixo,
não querendo irritá-lo – Não merece que desconfie
dele.
-Não desconfio. Sei que não aconteceu
nada entre vocês dois – ele respondeu frio e
distante.
Não acontecer nada não queria dizer que
ambos não quisessem que acontecesse, e esse
pensamento o estava matando!
-Será que eles marcarão a data? – tentou
mudar o assunto.
-Meu pai está procurando uma fazenda
para John. Depois, eles marcarão a data.
-Talvez pudesse se interessar pela
fazenda dos Gueen. Não fica muito longe daqui, e
soube que o filho do velho Gueen anda metido
com dividas de jogo – ela sugeriu e os olhos de
Rony a estudaram em cada detalhe.
-Seriam nossos vizinhos – foi um
comentário carregado de ironia.
-Não exatamente. – defendeu-se - Pensei
apenas que quando forem para Londres, seria bom
terem fronteira com a fazenda de Alice, afinal um
administrador precisa ser fiscalizado.
-John me contou que não quer que eu
fiscalize a fazenda que ele comprar – era
definitivamente uma acusação!
-Não foi isso que eu disse – ficou na
defensiva – Há muito trabalho aqui. Além disso,
notei que tem o desejo de retomar parte do seu
trabalho de advogado, e isso tomará muito tempo.
Pedi que não o sobrecarregasse. Foi só isso!
-E porque pediu? – havia uma nota de
acusação em sua voz.
-De que me serve um marido caindo
pelos cantos de cansado? – retrucou.
Estava ficando nervosa, e suspirou,
sentindo-se tonta. Sentia muito sono e estava
enjoada desde que pusera os pés para fora da
cama.
-Tem razão – ele disse analisando sua
expressão cansada – Está com frio? – notou a
forma como segurava o xale.
-Um pouco – admitiu.
A manhã estava quente e abafada, mas
ela tinha vestido um vestido de mangas longas.
-Está abatida também – colocou ambas
as mãos em sua face. – Não tem febre.
-Estou um pouco nauseada. – confessou,
sentindo-se frágil diante desse homem tão forte e
grande. - Não sei o que tenho, mas estou tão
cansada.
-Venha, vou te levar para a cama – ele a
ergueu no colo, e Helena enlaçou seu pescoço sem
se opor.
Dentro de casa, Juanita os acompanhou e
ajudou-a a mudar de roupa, vestindo uma
camisola mais confortável. A face de Helena
estava esverdeada, e a náusea mais forte.
Prevenida, Juanita colocou uma bacia ao
seu lado no chão, recomendando que a chamasse
quando precisasse, e com um discreto empurrão
levou Rony para o corredor.
-Estava demorando - ela disse sorrindo –
Helena só tinha enjoos . Agora, está tendo o pior
de uma gravidez.
-Ela está bem? – perguntou preocupado.
-Oh sim, ela vai vomitar até se
arrepender de ter aberto as pernas e então, vai
dormir um pouco. Vou fazer um chá e ajudá-la.
-Deveria contar – ele disse pensativo.
-Não, é melhor não. Já são bem ruins os
enjoos , não precisa de um ataque dos nervos para
completar! – ela sorriu batendo em seu ombro com
divertimento – Não é primeira mulher do mundo a
passar por isso. Só é a primeira a não notar – ela
riu e Rony maneou a cabeça, inconformado.
-Vou entrar e lhe fazer companhia – se
ofereceu.
-Imagina! - Juanita deu de ombros – Sua
parte já está feita, e bem feita! Agora é a vez dela.
– riu da própria piada – Volte para o trabalho e
cuide de fazer essa fazenda lucrar. Um filho em
tão pouco tempo de casamento é sinal que haverá
muitos outros!
Embevecido com essa possibilidade ele
voltou ao quarto para ver se ela estava bem.
Helena estava pálida, e parecia prestes a vomitar
quando o viu e lamentou.
-Eu vou trabalhar, me avise se piorar está
bem? – ele perguntou beijando sua testa.
-O que eu tenho, Rony? – havia um gosto
horrível e amargo em sua boca, por isso fugiu de
um beijo, não queria que ele sentisse esse gosto.
Rony beijou em sua bochecha, sorrindo
ao mentir:
-É resultado dos remédios que tomou
para as costelas.
-Oh Deus, isso é tão horrível – ela
colocou uma mão sobre o estômago - Vá, vá
trabalhar Rony. Não quero que fique aqui.
-Mas eu quero te fazer companhia – ele
beijou sua mão e Helena o empurrou.
-Não quero que fique vendo – ela
reclamou - Além do mais, o trabalho não pode
esperar por você!
-Sempre brigona - ele sorriu deixando-a
finalmente.
Helena esperou a porta fechar para dobrar
o corpo, apanhar a bacia no chão e pôr tudo para
fora. Quando terminou ergueu os olhos e avistou
Juanita com expressão compadecida. Ela tinha
uma toalha limpa nas mãos e uma bacia com
água.
Depois de vomitar mais algumas vezes,
ela ajudou-a e insistiu para que comesse um
pedaço de pão e bebesse um copo de leite. Isso
acalmou seu estômago e ela conseguiu descansar.
Juanita fechou a porta, quando ela adormeceu.
Quando entrou na cozinha foi recebida
por Alexia, desconfiada:
-O que tem a mulher de Rony?
-A pobrezinha sofre dos nervos. Não
notou? – ela respondeu dissimulada. – Helena é
muito nervosa. É um mal de família.
-Nervos? - ela perguntou ainda
desconfiada.
-Sim, às vezes tem seus ataques. É assim
desde criança – Juanita começou a lavar a louça
do café.
-Desde criança? Então, ela passa mal
desse modo desde criança por causa dos nervos? –
começou a acreditar.
-Não é uma pena? Uma moça tão doce,
sofrer desse modo dos nervos!
Acreditando, Alexia sentiu-se aliviada.
Por um segundo achara que aquela megera estaria
grávida. Se fosse o caso teria que dar um jeito nela
antes que a criança nascesse. Mas se era apenas
problemas de nervos era uma benção, pois Rony
não aguentaria muito tempo uma mulher louca!
Juanita observou-a rir, e ficou aliviada
por ter acreditado. Aquela mulher era meticulosa e
trapaceira, e não seria nada bom se soubesse da
gravidez.

Depois de um dia todo fora, Rony voltou


ansioso para casa. Estava no celeiro guardando o
cavalo quando um de seus empregados se
aproximou. Era um rapaz baixo e sempre tímido.
Ele falou rapidamente e disse que iria partir no dia
seguinte.
Sentindo o mundo ruir sob seus pés, ele
voltou para casa. Antônio Dias lhe dissera uma
verdade que não queria conhecer. Dissera que
estava contando apenas porque iria partir e não
desejava ver um patrão tão bom ser feito de bobo.
Que muitas vezes vira Helena e John
juntos no celeiro, em conversas íntimas. Nunca
vira nada físico, mas havia muito sentimento entre
eles, e que resolvera alertar o patrão, pois era uma
boa pessoa e não merecia uma traição.
Não eram amantes, mas estavam
apaixonados. Era quase tão pior do que serem
amantes! Abatido, ele marchou para casa, e olhou
acusador para a imagem que o esperava na porta.
Do lado de fora, Helena o esperava na varanda.
-Oi - ela disse sorrindo.
Sim, ela sorria para ele. Parecia muito
animada e corada. Mais saudável do que pela
manhã quando a deixara de cama.
-Está de pé? – perguntou distante.
-Sim! O mal estar já passou há horas! –
ela apanhou sua mão e segurou – Dormi um
pouco e acordei nova em folha! Até cozinhei!
-Cozinhou? - ele engoliu em seco.
-Dei folga para Juanita, coitada, tem
tanto trabalho! Servi o jantar para sua amante...
Quero dizer, sua ex-amiga, e ela está no quarto,
pois a proibi de sair de lá! Sem Alice e sem John,
deve saber, ele ainda não voltou e acho que vai
dormir na casa de seus pais... Bem... Eu pensei
que poderíamos jantar em paz.
-Jantar em paz? - ele ainda a olhava com
desconfiança e mágoa.
-Sim, comer sossegados, sem brigas ou
conversas estranhas! – ela sorriu.
-Porque esse súbito bom humor? John
mandou notícias?
-Sim, ele mandou um bilhete dizendo que
está tudo bem, e Alice já conversou com os pais –
disse inocente, sem notar a tensão que o fez se
afastar.
-Vou me lavar antes de comer – ele se
afastou, mas Helena segurou sua mão.
-Não quero que diga que não cumpro
minhas obrigações – ela disse antes de beijá-lo.
Um beijo casto, rápido e tímido, pois não
queria mostrar seu verdadeiro desejo de estar com
ele. Corada, afastou-se para servir a mesa.
Rony sumiu para dentro do quarto,
lavando o rosto e as mãos, e trocando a camisa
suja do trabalho por outra limpa.
A raiva dera lugar a mágoa e a
constatação que aquele casamento fora um erro. A
fazenda não lhe despertava mais o interesse do
princípio, e não havia mais sentido fazer planos de
vida com uma mulher apaixonada por outro
homem!
-A comida vai esfriar – ela chamou na
porta do quarto, observando-o secar o rosto e
encará-la com mal disfarçada fúria.
-O que cozinhou? – perguntou apenas
para mudar de assunto.
-Batatas assadas e frango. Pobre Juanita,
está chateada comigo por ter sacrificado uma de
suas galinhas. – abriu um lindo sorriso – Mas
estou com tanta vontade de comê-la! Até sonhei
ontem à noite com um suculento prato de galinha
cozida! Tem arroz branco e molho também! E, fiz
algo doce – ela corou muito quando notou que
estava se revelando.
-Torta de nozes? - ele tentou se
descontrair.
-É a última, pois acabou a farinha.
Precisamos ir à cidade! E rápido! Juanita está
desesperada por causa do pão. Os homens não
ficam sem pão no café da manhã!
-Deveria estar descansando - ele alertou,
olhando para ela.
Helena estava corada e radiante.
-Dormi a manhã toda! - ela reclamou –
Pensei em depois do jantar, começarmos a
trabalhar nos processos que precisa analisar. O
que acha?
-Perfeito – em outro dia ele exultaria em
vê-la tão carinhosa e dedicada, mas hoje, estava
arrasado.
Era culpa, disse a si mesmo. Estava
apaixonada por John e se culpava por isso.
A mesa estava impecável, mas a comida
tinha gosto de areia em sua boca. Em dado
momento, Helena parou de comer e olhou para ele
ressentida.
-Está ruim não é?
-Está delicioso - ele respondeu
atravessado.
-Está sentindo falta de mais gente? Quer
que chame aquela mulher? Isso melhorará o gosto
da comida? – seu incomum bom humor se esvaiu,
e ela desistiu de comer.
Infelizmente não podia parar, estava
obcecada com a ideia de comer galinha. Com ódio
voltou a comer, sem encará-lo.
-Não comece, Helena - ele mandou,
irritado.
-Começar com o que? Quem está me
tratando com indiferença é você! - ela reclamou,
mastigando a comida com raiva.
-Não é indiferença, estou apenas cansado
– mentiu.
-Não seria hora de contratar mais gente? -
ela perguntou, lembrando que nos bons tempos a
fazenda tivera mais funcionários do que tinham
agora.
-Estou pensando nisso. Primeiro temos
que ir a cidade, vender parte do que colhemos e
pagar a hipoteca. Depois, farei as contas.
-Tenho economizado minha parte... Se for
necessário – ela deu de ombros.
-Guarde seu dinheiro para suas compras
pessoais, Helena - ele mandou sério.
-Gostaria de comprar um brinquedo para
Ruanzito quando formos à cidade - ela disse
pensativa – Ele é pequeno demais para brincar
com os irmãos, e não tem brinquedos de sua
idade.
-E não é problema de Juanita? - ele
alfinetou.
-Pobre Juanita, como pedir dinheiro para
brinquedos de um filho que não é de Suarez? É
um bom homem, mas não é um santo! Além
disso, o menino me faz companhia – ela
argumentou. – E é seu aniversário no próximo
mês!
-Guarde sua energia, logo terá uma
criança para ocupá-la – deixou escapar em sua
amargura.
Helena deixou de comer, fitando-o como
se olhasse para o próprio demônio.
-Pretende criar o filho de sua ex-amante?
É isso?
-É claro que não, Helena – lembrou-se
que Helena não deveria saber ainda da própria
gravidez – Me refiro aos filhos que teremos.
-Deseja mesmo começar com esse
assunto? - ela lamentou ter tido a ideia de fazer
aquele jantar.
-Não. Não desejo – tomado de um
sentimento maior que a raiva, ao lembrar que essa
mulher carregava seu filho e padecia de todos os
sacrifícios que o corpo feminino padece para
conceber, Rony segurou sua mão e levou aos
lábios. – Seu jantar está delicioso e a companhia é
a melhor parte. Não sinto falta de nada.
-Mas está aborrecido comigo - ela puxou
a mão ressentida.
-Esteve no celeiro com John alguma vez?
- ele perguntou a queima roupas.
Aturdida, Helena concordou.
-Sim, estive – foi sincera. – Por quê?
-Empregados os viram juntos no celeiro
várias vezes. – ele respondeu desistindo da
comida. Perdera o apetite.
-Pois garanto que foi apenas uma vez, e
falamos sobre Alice.
-Sobre John se casar? – distorceu suas
palavras.
-Não. Sobre ele assumir sua
responsabilidade depois de... - conteve a verdade -
... De beijá-la e iludi-la. Pode ter acabado nossa
amizade, mas sempre terei afeto por Alice, não
permitirei que passe dificuldades. Ainda mais nas
mãos de algum homem! – era uma acusação
indireta.
-Não falaremos mais disso – ele
resmungou.
-Que importa? Falando ou não o assunto
está presente. – ela lembrou-o com mágoa.
Terminaram o jantar em silêncio e ela
apenas resmungou que Juanita lavaria a louça na
manhã seguinte. Os dois entraram na biblioteca e
ele admirou o modo como ela organizara os livros
e revistas que John trouxera a seu pedido. Havia
um grande livro aberto sobre a escrivaninha e ele
folheou.
-Tenho lido quando estou sozinha ou na
sala, fazendo companhia a John. Não poderia
deixar Alice sozinha com ele, e também, não
desejava monopolizar sua atenção – ela explicou.
-Monopolizar sua atenção? – ele ironizou.
Helena fechou os olhos por um segundo
pedindo paciência aos céus. Tentar uma trégua
com esse homem era a pior coisa que já decidira
na vida!
-Por onde devo começar? - ela mudou de
assunto.
-Sente-se aqui – ele apontou a cadeira ao
frente da grande mesa. – Está confortável? Pode
ser demorado.
-Sim, sempre fiquei por longas horas
lendo para meu pai, sentada em uma cadeira como
esta. – explicou.
-Vou ditar então – havia um tom de
repreensão em sua voz, e ela apanhou o papel e a
caneta.
Rony era coeso e direto em suas
considerações. Era interessante acompanhar seu
raciocínio, embora, vez ou outra, não se continha e
pedia alguma explicação ou dava uma opinião.
Pacientemente, ele explicava ou ouvia.
Em duas horas tinham evoluído e ela
estava cansada. Mas não reclamou.
-É um trabalho cansativo. – Rony
comentou – John sempre teve mais vocação do
que eu.
-Porque escolheu advocacia? – ela
perguntou curiosa.
-Eu lhe disse uma vez Helena, ser pobre
em Londres é complicado. As boas oportunidades
estavam no meu grupo de amigos e no circulo
social que frequentava por causa dessas amizades,
e boa parte dessas pessoas tinham ligações com o
mundo da lei. Advogados, juízes, escrivães.
Pareceu lógico seguir o caminho mais fácil.
-Fez um bom trabalho – ela ironizou, pois
era nesse tom que Rony vinha lhe tratando durante
toda a noite. – Posso ir dormir ou devo esperá-lo?
Perguntou com indiferença, levantando e
entregando o trabalho.
-Porque não me esperaria? – ele retrucou.
-A noite passada não teve interesse que o
esperasse.
Ótimo, agora ele sabia que estava
incomodada com isso!
-A noite passada Alice verbalizou o que
todos temos visto. – ele acusou.
-Que John e eu somos amantes?
-Que estão apaixonados - ele insistiu.
-Bem, se todos vêem isso, então, deve ser
verdade – retrucou com a pouca dignidade que lhe
restava.
-Está gostando dessa situação não é?
Dois homens aos seus pés! – ele levantou-se com
os olhos nublados pela raiva, e Helena deu um
passo para trás ofendida.
-Se estivesse aos meus pés nesse
momento, eu o esmagaria Parker! –disse entre
dentes, irritada – Posso ou não ir dormir? É sua
maldita última noite e não quero que me acuse de
quebrar nosso acordo! Por isso decida-se logo!
Tomando sua revolta como proteção a
John e não como ultraje sorriu com sarcasmo.
-Vamos ao quarto, para que possa
desfrutar daquilo que jamais será de John.
-Meu Deus! - ela estacou, olhando para
ele com horror.
Aquele homem achava mesmo que estava
apaixonada por John? Pior, que estava se
oferecendo a John?
-Esse joguinho que está fazendo com nós
dois me dá nojo – ele queria que sentisse um
décimo ao menos da mágoa que sentia.
Foi para o quatro, mas ela demorou um
segundo para segui-lo. Aquela frase queimou
dentro de Helena. Nojo? Ele tinha nojo dela?
Humilhada, seguiu para o quarto,
sentindo o corpo pesado. Sem forças para se
defender e causar nele a mesma mágoa e dor que
sentia.
No quarto, Rony despira as roupas e a
esperava na cama. Sem olhar em sua direção,
Helena despiu o vestido, e com um rápido olhar
para ele, despiu o resto das roupas.
Como odiava esse homem!
Não podia simplesmente engatinhar
sobre a cama, nua! Mas ele se importava? Claro
que não!
Sentou-se na beira da cama, do lado dele,
e esperou. Tinha um dos braços sobre os seios e os
joelhos curvados para não se expor tanto.
Rony se moveu e ela entrou nos lençóis,
se cobrindo e esperando.
-Espero que não esteja pensando em John
– ele disse com amargura.
Helena quase riu. Esse homem realmente
era louco!
-Porque pensaria? Quem parece não
conseguir parar de pensar em John é você! – havia
uma ponta de divertimento em sua voz e ele
estreitou os olhos.
-Acha divertido brincar com nós dois? -
ele sentiu o sangue esquentar de raiva
-Não, mas você parece ansioso para
trazer John para essa cama!
Suas palavras o deixaram pronto para a
briga. Ela tinha coragem de provocá-lo?
-Quer me enlouquecer, é isso?
-Quero é que me deixe em paz! –
finalmente mostrou a irritação e o ódio que sentia
– Se não me desejou na noite passada, porque
pretende fazer isso agora? Deixe-me em paz!
-Está com raiva porque não a quis na
noite passada? – ficou surpreso.
-Vá para o inferno! – ela virou-se,
olhando para o espelho, e viu seu olhar confuso e
seu sorriso triunfante. Fechou fortemente os olhos
com raiva.
-Estava furioso com as palavras de Alice
- ele explicou tocando seu ombro, e escorregando
a mão por seu braço, até alcançar o lençol e tirá-
lo.
Helena se manteve quieta, os braços
protegendo seus seios. Não queria ceder aos seus
caprichos. Seria bem feito não colaborar!
Rony a fez girar, e ficar de costas.
Olhando-o com ódio mortal, ela deixou que
separasse suas pernas, e notou que ele também
não estava com a melhor das expressões, estava
contrariado e amargo por desejá-la apesar das
desconfianças.
Esperava que fosse consumar o ato, por
isso fechou os olhos se recusando a participar.
Helena queria irritá-lo e desafiá-lo
simplesmente com o ato de repudiá-lo. Rony
olhou para seu corpo despido e perdeu um pouco
da raiva. Fingia desinteresse, mas não estava
tensa, ou martirizada, estava relaxada e entregue.
Cínica, cobria os seios, mas deixava a
mostra o mais interessante!
Olhando aquele corpo corado, a pele
perolada num tom bronzeado, um pouco mais
pálido, agora que não pegava tanto sol
trabalhando na plantação, sentiu o desejo arder ao
observar as curvas de seus joelhos, as coxas lisas e
macias, os tornozelos finos e delicados. A entrada
de suas virilhas, naquele recanto triangular,
parcialmente oculto pelas pernas fechadas.
Suas mãos coçavam para tocar aquela
penugem macia entre suas pernas, e cedendo a
tentação, separou seus joelhos. Helena ficou tensa
e ele quis provocá-la.
Entre seus joelhos, deslizou os dois dedos
entre os pelos, sentindo a textura e acariciando em
movimentos circulares sobre o clitóris. Ela ofegou,
mas continuou fingindo desinteresse.
Ótimo. Se ela queria ser hipócrita, ele
também seria!
Descendo o rosto, deu uma profunda
lambida em sua fenda e ela gemeu, abrindo os
olhos apressadamente, surpresa e deliciada.
Sorrindo, ele agarrou seus braços e a fez
descobrir os seios, e indignada, Helena tentou
empurrá-lo.
-Fique quieta! – mandou, mas ela se
debateu.
-Se você não me quis ontem, eu não o
quero agora! – ela recusou tão pateticamente que
ele riu.
-E é por isso que está molhando os
lençóis? – esbarrou um dedo entre seus grandes
lábios, exibindo a umidade viscosa que havia ali.
-Oh. – ela se calou – Você é um porco!
-Sou mesmo? – quando falou, seu hálito
soprou sobre sua intimidade e ela ficou sem
palavras.
Sorrindo malicioso, afundou a língua em
sua intimidade, e o mundo desapareceu para
Helena. Rony sugou e lambeu; a língua deslizando
com pressa por cada canto, cada relevo, sem parar.
A ponta da língua parou mais tempo sobre o
clitóris lambendo com movimentos rápidos e
Helena apertou seu ombro, arranhando a pele
quando as sensações cresceram.
Torturador, Rony subiu e beijou seu
umbigo, impedido seu gozo prematuro.
Impaciente, Helena ergueu o quadril
pedindo por mais, mas ele ignorou. Seus olhos
focalizaram em sua face, os olhos fechados, os
lábios entreabertos buscando ar, enquanto gemiam
baixo, o rosado de suas bochechas se
intensificando quando mais a provocava.
Era uma tentação. Rony ergueu o corpo
para beijar sua boca e reivindicar seu carinho
quando espiou o espelho e notou o quanto erótico
eram os dois juntos refletidos. O corpo tenro de
Helena sob o dele, as pernas entrelaçadas, os
braços unidos. Uma imagem para a vida toda. Se
fosse um pintor retrataria essa imagem em uma
tela, mas como não era, guardaria em sua
memória!
-Helena – ele chamou, esfregando a coxa
entre suas pernas. Ela se moveu, se esfregando de
volta. – Venha comigo – ele mandou e ela abriu os
olhos.
Helena não entendeu o que queria. Rony
sentou-se na borda cama, de frente para o espelho.
-Levante-se.
Ela sentiu o chão frio embaixo da planta
de seus pés e se arrepiou. Estava nua, de pé, na
parca luz do lampião, tendo uma de suas mãos
seguras por Rony.
-Sente-se aqui. Quero te ver.
Helena achou algo inocente, e sentou-se
em seu colo. Ele fechou as pernas, e ela sentou
contra sua barriga sentindo em suas costas o
contato daquele ereção que a deixava tensa e
molhada. Gemeu ao contato e ele agarrou seus
seios.
As mãos de Rony agarraram os seios, e
apesar do desconforto que sentia neles nos últimos
tempos, não protestou, pois cada aperto queimou
no fundo de suas entradas, e quando Rony
começou a beliscar seus mamilos, sugando seu
pescoço, ela deitou a cabeço para o lado
entreabrindo os olhos e vendo o reflexo de ambos
no espelho da penteadeira.
-Oh, Rony... – ela choramingou diante da
sensação de aperto em seu ventre, desejando tanto
tê-lo dentro de si que poderia explodir a qualquer
momento.
-O que você quer, Helena? Peça! – Ele
exigiu; aquela imagem dos dois sendo erótico e
estimulante e levando-o ao limite do autocontrole.
Helena queria tudo, queria sua língua em
seus seios, queria seu membro dentro de si. Queria
aqueles dedos enlouquecendo-a. Queria mais.
Queria morrer em seus braços apenas para reviver
com um beijo demorado e deliciosamente
selvagem.
-Faça – ela pediu, sem detalhes, incapaz
de se expressar.
Rony queria mais, queria ouvir os
detalhes, mas não dava para torturá-la sem
torturar a si mesmo. Feliz com o que tinha, soltou
seus seios e segurou sua cintura, fazendo-a se
erguer um pouco. Helena não entendeu sua
intenção até sentir a cabeça do pênis cutucando
sua entrada. Naquela posição era difícil, e Rony a
forçou para baixo, mordendo a boca para não
gritar quando começou a entrar.
-Apertada, é tão apertada! – ele grunhiu
quando entrou finalmente. Helena estava
literalmente sentada sobre ele, tão íntimos quanto
dois seres podem ser. Homem e mulher, sem
dúvidas ou indagações.
Apoiando as mãos em suas coxas
peludas, Helena subiu e desceu, sendo guiada por
Rony, gemendo e se contorcendo a cada investida.
Forte e quente. Duro e palpitante.
Tinha os olhos fechados, e respirava
arfante, exultante pelas sensações inacreditáveis
que seus corpos alcançavam juntos.
Sobre ele, fincado em seu íntimo, não era
mais a Helena, interiorana e sofrida, era uma
mulher sexy e selvagem, levando seu homem à
loucura.
Rony segurou seu braço e o pôs sobre seu
ombro, trazendo-a para tão perto que ela gritou,
pois ele separou suas pernas, uma a cada lado de
suas coxas, mantendo-as afastadas, enquanto
descia a boca para lamber e chupar seus seios.
Helena jogou a cabeça para trás, os
cabelos dançando em volta deles e ergueu os seios
mais altos, para serem chupados. Rony puxou a
pele tenra e mordeu, arrancando suspiros e
reclamações desconexas. Lá embaixo seu membro
entrava e saia com velocidade, e ele encarou o
espelho olhando para Helena.
Sentada contra ele, as costas apoiadas em
seu peito, aberta sobre seu mastro, totalmente a
mostra, era delirante.
-Olhe, Helena – ele sussurrou em seu
ouvido – Olhe para nós dois!
Sem entender, ela olhou para o espelho e
conteve a respiração. Parou os movimentos
encarando ‘aquilo’ a sua frente.
Não podia ser ela mesma! Oh Deus, não
podia!
-Não pare - ele massageou seus seios,
enquanto se movia mais devagar, entrando e
saindo com cautela, pois estava hipnotizada pelos
movimentos. – Não pare, Helena.
-É tão... - ela não tinha palavras – Oh
Rony, é tão íntimo! – Enlaçou seu peito com o
braço livre, deixando as sensações subjugarem
seu intelecto, os olhos fixos no reflexo dos dois.
-É delicioso! - ele acelerou, vendo-a
fechar os olhos incapaz de mantê-los abertos. –
Goze Helena, quero vê-la gozar.
Atendendo ao seu pedido, ela acelerou os
movimentos de quadril, e Rony assistia de
camarote o membro sumir e reaparecer entre suas
dobras. Sua vagina inchada, úmida e rosada,
aberta para recebê-lo, mesmo agora que
aumentava próximo ao gozo.
Helena choramingou, descendo com
força, resistindo ao prazer que se anunciava em
seu ventre, querendo prolongar a sensação, e levou
uma das mãos para baixo, sem notar que se tocava
sobre o clitóris.
Um toque rápido, pois ao notar, ela tirou
a mão rapidamente. Rony colocou a sua, não
desejando forçá-la quando estava tão perto do
prazer final.
Pulando sobre ele, Helena sentiu o
mundo girar a sua volta e as idas e vindas
violentas a fizeram se chocar contra ele como uma
desesperada. Tão perto, não via nem ouvia nada,
olhos bem fechados, um seio sendo chupado
enquanto aqueles dedos magníficos trabalham em
sua intimidade castigada pela sua masculinidade.
As sensações cresceram de tal modo que
Helena sentiu o tremor a percorrer da cabeça aos
pés no instante que a sensação em seu clitóris foi
demais, e correu sobre cada tensão nervosa de seu
corpo, incendiando aquele ponto especial dentro
dela, bem no fundo de seu canal vaginal, onde
aquele pênis fabuloso acariciava sem trégua em
cada funda penetração.
Ela não ouviu o próprio grito, pois foi
abafado pelo beijo molhado e desesperado que
Rony lhe deu, gozando junto ao sentir seu
orgasmo apertá-lo em ondulações
desesperadamente deliciosas.
Quando o arrombo passou, ele olhou para
o espelho e viu que Helena também olhava. Havia
muito sêmen escapando dela, e suas coxas
estavam completamente meladas pelo próprio
gozo e o dele. Era uma imagem terrivelmente
reveladora.
-Preciso me mexer – ela disse tão baixo
que ele mal ouviu.
Rony fechou as pernas, permitindo que as
dela se juntassem, ela se apoiou na cama para
erguer o quadril, gemendo ao se retirar. Rony teve
um vislumbro de seu vale úmido e arrombado e
quis mais. Helena não aguentaria outra dessas,
pensou, sorrindo ao vê-la cambalear. De pé, se
apoiou no encosto da cama para não cair, as
pernas tremendo.
Rony também levantou, apanhou sua
camisola que estava descartada no chão, e usou-a
como toalha, se limpando. Havia causado uma
grande confusão na beira da cama, mas poderiam
dormir sem trocar os lençóis, por isso estendeu a
mão para ela e a guiou para a cama. Com carinho,
surpreendendo-a, limpou entre suas pernas,
sentindo seu estremecimento, e descartou o pano,
deitando ao seu lado, puxando os lençóis e
puxando-a para seu corpo.
Sentindo o cheiro daqueles cabelos
crespos e macios, ele sentiu também o cheiro de
sexo, e gozo e suspirou contente.
-Talvez... – Helena disse baixo, a mente
confusa, não a impedindo de lembrar o quanto se
sentia humilhada.
Primeiro, na noite anterior a rejeitara.
Naquela manhã a tratava com atenção e
carinho incomum, e a noite a desdenhava, e
acusava de traí-lo.
“Esse joguinho que está fazendo com nos
dois me dá nojo”
A voz de Rony ainda ecoava em seus
ouvidos. Nojo. Como poderia viver com essa
humilhação? Apesar de estar em seus braços, não
podia esconder e negligenciar a sede de vingança
de causar-lhe a mesma dor e decepção.
-Talvez não esteja fazendo nenhum
joguinho com você e John – sua voz era muito
baixa mesmo, o corpo languido e satisfeito, a face
escondida em seu peito.
-Helena... – ele desejou dizer que não
importava mais, que estava louco de ciúmes e
perdendo o sentido de verdade, mas ela não
deixou.
-Talvez apenas... Esteja apaixonada por
John.
Essas palavras ficaram sobre ele. Levaria
esse sussurro para o tumulo. Seu pior medo, seu
pior infortúnio.
Helena amava John.
Quando conseguiu assimilar a surpresa, o
choque, o horror, tentou se afastar. Empurrou-a
para longe e pretendia saltar da cama, não sabia o
que faria, mas não poderia ficar ali!
Também não foi longe, pois os gritos
cortaram o silêncio da noite.
Capítulo 66 - Mordida de cobra

Aqueles gritos histéricos doíam em seus


ouvidos. Helena daria tudo para não estar naquela
casa presenciando isso. Rony estava de pé,
olhando para o vazio de um ponto qualquer,
pensativo e imune aos gritos.
Helena daria tudo para saber o que se
passava em sua mente. Aflição, talvez.
Aflição e medo. Afinal, poderia acreditar
que era seu filho que estava nascendo naquele
exato instante.
Apreensiva, ela esperava sentada no sofá,
sentindo o medo corroer seu bom sentido. Aquela
criança teria cabelos ruivos e olhos azuis, e Rony
se apaixonaria por ela, e pela mãe do bebê. Então,
em dias, sairia de sua vida, e nunca mais o veria.
Helena pensou ter ouvido alguém chamar
seu nome, e ao erguer a face viu o rosto de Duran,
avisando que a mãe precisava de ajuda. Com um
olhar em direção a Rony, seguiu o menino.
Rony reconheceu aquele olhar cheio de
decepção e amargura. Era obrigada a colaborar
com a mulher que a ofendia e humilhava. Era fato.
Fato também, que precisava ver com seus
próprios olhos que Alexia estava bem e seu filho
saudável. Precisava também de testemunhas, pois
Alexia sempre foi ardilosa.
A pouco enviara Suarez à fazenda Parker,
em busca de John. Seu grande amigo, seria além
de um apoio nesse momento de conflito, como seu
apoio caso Alexia fizesse algo que pudesse lhes
prejudicar.
Passaria por cima de seu orgulho e da dor
insuportável que esmigalhava seu coração desde a
madrugada quando ela admitira seu amor por
John.
Havia uma voz que insistia em lembrá-lo
que Helena era perita em atacar para se defender,
e que não seria a primeira vez que ela diria algo
ofensivo para se vingar de algo que ele dissera ou
fizera. E essa mesma voz o chamava de tolo por
acreditar nela.
Novos gritos vindos do quarto de Alexia
o deixaram ainda mais nervoso. Queria aquela
mulher viva e seu filho saudável, para que pudesse
ir embora o mais rápido possível!
No quarto, Helena tentou ignorar a
imagem abatida de Alexia sobre a cama, os
impecáveis cabelos louros espalhados lindamente
sobre o travesseiro, os seios fartos saltando para
fora do decote generoso de sua camisola de seda,
imprópria para um parto. Juanita havia
recostando-a contra os travesseiros, mas ela
insistira em ficar deitada, o que segundo Juanita,
atrasava o parto. Suas pernas estavam afastadas, e
sua bela expressão estava contorcida e suada.
-Preciso que alguém empurre a barriga
dela para baixo – Juanita disse olhando
brevemente para Helena. Ela estava imóvel ao
lado do menino Duran.
-Sinto muito, mas não quero ajudar - ela
disse sendo sincera.
-Que é isso Helena! É bom que veja um
parto, para saber com é! – Juanita deu de ombros
– Vamos Helena!
-Ela que faça tudo sozinha – afirmou sem
mover nenhum pé na direção de ajuda.
-Duran, venha me ajudar – Juanita pediu
também suada pelo esforço de trazer a criança ao
mundo, e virou-se para Helena extremamente
irritada – Ao menos esquente mais água e limpe
uma faca afiada. Separe algumas toalhas também,
não fique apenas olhando!
Conteve a vontade de jogar na cara delas
que Alexia era culpada por sua antipatia! Mas
calou-se e obedeceu.
Esquentou água, higienizou uma faca
pequena e afiada, para cortar o cordão umbilical,
visto que não tinha em casa nenhuma tesoura em
bom uso. Separou as toalhas mais velhas, para
não perdê-las quando ficassem irreparavelmente
machadas de sangue, e voltou ao quarto.
Não era cristão tanta indiferença, mas
não podia evitar.
Dissera a seu marido que amava seu
melhor amigo de quem tinha um ciúme doentio. E
para puni-la, o destino decidira trazer ao mundo
na mesma noite, o filho que poderia separá-los
para sempre.
Alexia estava aos berros quando
regressou, Juanita falando frases de conforto,
apesar de estar irritada com sua pouca
colaboração.
-Isso... – Juanita disse empolgada, sem
notar que Helena entrara no quarto – Isso. Isso
mesmo! Oh, Deus, é um bebê perfeito! – ela riu ao
erguer o bebê, e lhe dar um sonoro tapa no
bumbum, rindo quando o choro invadiu o quarto,
acima dos gritos de lamento de sua mãe.
-Dói tanto, faça parar de doer! - Alexia
lamentava, tão pálida quanto os lençóis brancos
abaixo de seu corpo. Juanita estendeu-lhe o bebê
ensanguentado, mas ela virou o rosto, os braços
caídos ao longo do corpo, sem forças e sem
vontade de segurá-lo.
Contrariada com seu comportamento,
Juanita pousou o recém nascido sobre a cama, e
fez um gesto para que Helena se aproximasse com
a água.
Usando uma das toalhas limpas, limpou
o corpinho que tremia e esperneava chorando
desesperadamente, pois aquele mundo era novo e
estranho, frio e triste sem o calor de sua mãe, e o
conforto de seu ventre. Quando terminou, enrolou
o bebê e ergueu olhando para Alexia que não o
desejava.
-Segure enquanto termino com a placenta
- ela praticamente lançou a crianças aos braços de
Helena.
-Oh, não diga que há mais... Por favor, eu
imploro bom Deus que não seja outro incomodo
para minha vida! – Alexia chorou
desesperadamente, sentindo as contrações que a
fizeram expelir a placenta.
-Pobre criança – Juanita lamentou ao
terminar com Alexia e ela cair num sono
profundo. – Tem fome, mas não tem um seio para
alimentá-lo. Essa bruxa tem os peitos cheios de
leite! Mulher sem coração! – havia verdadeira
raiva em Juanita – Deixe-me segurar um pouco.
Esquente um pouco de leite, deixei uma
mamadeira limpa sobre a pia, caso essa mulher se
negasse a amamentar.
-Como sabia...?
-Basta olhar para ela para saber quem é.
-Juanita? – ela chamou antes que saísse –
É menino?
-Uma menina – ela disse apenada –
Pobre infeliz, estará na vida antes que tenha tempo
de dizer ‘mamãe’. – disse desconsolada.
Helena esquentou leite e olhou para o
calado Rony que entrava na cozinha.
-Sua amante não quer segurar a criança
ou alimentá-la - disse acusadora.
-Ouvi o choro – disse com um tom
estranho, não parecia interessado.
E não estava. Tinha um filho seu
crescendo dentro de Helena, e era apenas essa
criança que tinha seu interesse de pai.
-É uma menina. – ela contou analisando
sua feição em busca de indícios de sua
empolgação – O que vai fazer agora? – perguntou
a queima roupas.
-O que acha que farei? Precisará de
alguns dias para estar recuperada do parto e poder
seguir viagem. – contou, aliviado por não ter
havido nenhuma morte.
-Não tem curiosidade de ver a criança?
Ver se é sua? - ela jogou em sua cara, com raiva.
-Mesmo que fosse minha cara, ainda sim,
não poderia saber se é minha. Tem ideia de
quantos homens como eu existem em Londres? -
ele riu - Sou um tipo comum Helena, comum na
cama de Alexia.
Ela sentiu o impulso quase incontrolável
de dizer que ele era tudo, menos comum. Mas se
calou.
-Talvez fique aliviado de saber que a
menina é morena. Tem os cabelos castanhos
escuros – Juanita apareceu na cozinha. Cansada –
Cabelos muito escuros para serem de uma mulher
loura e de um homem ruivo. Deve ser filho de um
homem moreno. Tem os olhos negros e a pele
castanha. Poderia ser sua irmã, Helena – ela fez
graça – é um bebê pequeno, e será uma mulher
pequena também. – Volto para minha casa,
preciso dormir. Estou exausta.
-Não volte amanhã cedo, durma e
descanse – Helena recomendou – Eu chamo se
acontecer alguma coisa com ‘ela’.
-Não, não, prefiro descansar à tarde –
Juanita disse sorrindo cúmplice para Rony – Não
vai querer fazer trabalho pesado estando doente,
não é, Helena? O que lhe disse? Descanse pela
manhã para que a indisposição passe.
-Já está na hora dessa indisposição
passar - reclamou e Juanita riu.
-Não se preocupe, logo passará –
garantiu com um duplo sentido. – A criança vai
chorar daqui a poucas horas, lhe dê outra
mamadeira. Aquela lá não vai mover um músculo
para cuidar da menina! – disse irritada, enquanto
saia da casa – Ah, escolham um nome, a
pobrezinha precisa de um nome cristão e precisa
ser batizada, antes que os pecados de sua mãe a
maculem.
-Juanita acha que sua amante fará da
filha uma fonte de renda – Helena explicou
quando ficaram novamente sozinhos.
-Não duvido – ele concordou dando de
ombros – Todavia, não é da nossa conta.
-Simples assim? – ela desacreditou em
seu desprendimento.
-O que espera que faça? Não posso
oferecer ajuda a menina sem arcar com sua mãe e
suas ameaças. O melhor é nos desprendermos
disso enquanto a tempo – estava cansado.
-Tenho pena da criança – disse pensativa
– sem pai, e com uma mãe dessas, que é a mesma
coisa que não ter mãe.
-Deseja ajudá-la? Não gostaria de criar
uma criança que não seja minha, mas se for sua
vontade não me oporei – sugeriu para agradá-la.
-Não. Elas não são problemas nossos.
Sinto pena, mas não quero carregar sua amante
em minhas costas para o resto da vida! - disse
convicta.
Seu senso de caridade tinha limites.
-É exatamente como me sinto.
Os dois se calaram quando o som de
choro veio do quarto. Helena olhou para ele com
ódio. Era a única mulher na casa, e era meio óbvio
quem teria que cuidar daquela criança.
-É bom que repense a possibilidade de
arrumar alguém para cuidar delas. Nem que traga
Alice de volta! Porque não vou fazer isso!
O choro derreteu seu coração e Helena foi
para o quarto, contrariada. Apanhou o bebê da
cama improvisada, um berçário antigo de Juanita,
e o levou para a cozinha.
-Posso vê-la?
-É claro – ela mostrou o bebê e ele
estendeu o dedo mexendo na mãozinha minúscula
da recém nascida.
– É bonitinha. – ele sorriu com
reconhecimento – Sei que parecerá estranho, mas
essa menina me lembra alguém.
-Quem? - ela suspendeu a respiração.
-Alexia tinha um empregado, sempre me
garantiu que não tinha intimidades com seus
subalternos, mas era um homem bem apanhado, e
Alexia nunca foi de se guardar para quem quer
que fosse! Não lembro seu nome completo, mas
seu primeiro nome era Leandro. Acho que era
grego, tinhas essas feições.
-Porque não a chamamos de Leandra? -
ela sugeriu, um brilho maligno no olhar.
Seria como dizer com todas as palavras
que sabiam quem era o pai verdadeiro daquela
criança.
-Chame como quiser. Duvido que Alexia
queira essa menina.
Helena alimentou a menina e a levou de
volta ao quarto para seu sono.
Com a casa silenciosa novamente,
naquele comecinho de manhã, Helena olhou para
o marido que se vestia no quarto, pois dali a
poucas horas estaria no trabalho, Helena esperou
que dissesse algo.
Afinal, afirmara amar outro homem
enquanto estava em seus braços!
-Nosso acordo chegou ao fim – ele disse
com voz forte, notando seus olhos ficarem
arregalados pelo súbito entendimento – Os sete
dias que nos uniam!
Helena nem tentou explicar porque
achara que se referia ao casamento em si.
-Sim, acabou. Finalmente acabou –
reuniu todo o orgulho que possuía, e jogou sobre
Rony - Me deixará em paz?
-Terá toda a paz que deseja. Minha
vontade era não dormir mais nesse quarto. Se o
faço, é para não levantar suspeitas. Assim que
Alexia se for, dormiremos em quartos separados.
-Porque chamou John? – ela perguntou
antes que saísse.
No fundo temia que o confrontasse e
perdesse sua grande amizade por causa de uma
mentira.
-Está com medo? – havia inconformação
em sua voz.
-Irá desfazer o compromisso de sua irmã
e terminar sua amizade, por causa do que disse? –
quase soou como uma afirmação.
Sua expressão negou a ela a resposta, e
Helena sentiu a culpa corroer seu orgulho.
Era só o que faltava! Alice sozinha,
desonrada e talvez grávida, e sem um marido!
Tudo por causa dela!
-Acreditaria se dissesse que menti? –
perguntou, sentindo uma dor quase física ao dar o
braço a torcer.
-E por acaso diria? - ele pôs na parede.
-O que esperava que dissesse depois de
me acusar de ser capaz de jogar com dois
homens? – ela achou que isso era uma explicação.
-Mentiu? - ele ficou muito perto, a
centímetros fitando seus olhos com profundidade,
sabendo que em raros momentos como aquele, ela
se revelava pelos olhos.
-Menti.
Rony não disse nada, se acreditava ou
não, apenas se curvou e roubou-lhe um beijo
profundo, sem abraços, sequer a tocou. Apenas as
bocas se encontraram e se acariciaram com
ternura, e aquele fogo que costumava arder entre
eles.
-Um último beijo de despedida - ele disse
com maldade, piscando, sorrindo e saindo do
quarto.
Porco! Apesar do pensamento, Helena
sorriu.
O sol brilhava no céu quando Helena
ouviu o choro novamente. Apesar de o bercinho
estar perto da cama, Alexia apenas tinha as mãos
tapando os ouvidos e quando Helena entrou, ela
esbravejou:
-Faça se calar! Não suporto seus berros!
Ignorando-a, Helena embalou o bebê e o
colocou novamente sobre o berço, dizendo
friamente:
-Deve amamentá-lo.
-Nem pensar! Não deixarei marcas nos
meus seios! Já me bastam os estragos que me fez
durante todos esses meses!
Helena olhou para ela com um
sentimento que beirava o asco.
-Acontece que não gastarei um centavo
com leite para seu filho. Ou amamenta, ou sai
daqui com um filho morto de fome nos braços!
-Acha que me importo? – Alexia olhava
para a criança entre as mantas – Acha que
verdadeiramente me importa?
-A mim importa. – disse aproximando-se
da cama. – Se nega alimento a seu filho, eu nego
alimento a você. Simples.
-Não teria coragem! Rony não deixaria!
-A casa é minha, Rony é meu. Como
todo homem, não se importa com o que acontece
em casa em sua ausência – era uma mentira
vergonhosa, mas viu o horror nas faces de Alexia,
e ela abaixou um lado da camisola revelando um
seio gordo, rechonchudo, muito branco e de
mamilos grandes, largos e escurecidos pela
gravidez.
Colocando o bebê em seus braços, notou
seu horror quando começou a mamar. Alexia
chorava, e era de raiva e nojo.
-É uma menina. Rony até escolheu o
nome – Helena disse com voz meiga.
-É mesmo? – havia um brilho de
esperança em sua face – Rony afeiçoou-se a
menina?
-Acho que sim, escolheu um belo nome.
De um amigo em comum, creio eu.
-Que nome? - ela sorriu. Esquecida da
criança em seus braços.
-Leandra – disse com sabor, as palavras
deliciosamente fluídas.
A face de Alexia corou e o choro
irrompeu, grossos soluços sacudindo seus ombros,
e Helena retirou o bebê saciado de seus braços,
pois não parecia se importar se o derrubaria.
Cuidando para que arrotasse, colocou-a
adormecida no berço improvisado.
-Porque chora? Teve um parto fácil, tem
uma filha saudável.
-Mulher cruel! É uma mulher cruel! - sua
voz tremia entre os soluços – Minha última
esperança se esvai e ri!
-Esperanças de que? – pressionou.
-RONY ME AMA! - ela gritou histérica
– ME AMA! Nossa filha deveria abrandar seu
coração. ELE FICARIA COMIGO! SEM
CULPAS! RONY É MEU! – seu pranto aumentou
e Helena olhou com pena para o bebê antes de
sair.
Aquela mulher era o que de pior existia
em um ser humano.
Helena pretendia começar o café da
manhã quando se sentiu tonta. Estava na cozinha
quando o mundo rodou a seu redor.
Tentou se apoiar na pia, mas não
alcançou a madeira a tempo. Seu corpo escorregou
para o chão, quando mãos fortes a ampararam...
Capítulo 67 - Solidão

Rony terminava de fiscalizar o trabalho


quando Duran apareceu correndo, aos gritos,
chamando por ele.
Ficou irritado achando ser algo com
Alexia, até o menino lhe dizer que John estava na
fazenda e o chamava com urgência. Não entrou
em detalhes, pois haviam outros empregados por
perto, e não queria falatórios.
Rony irrompeu na casa, avançando até
encontrar a porta do quarto aberta. Avistou John
de pé perto da janela, olhando para a rua, aflito.
Helena estava deitada, adormecida, apesar de estar
vestida.
-Rony! - John pareceu feliz e aliviado ao
vê-lo – Ainda bem que não demorou! Helena...
-O que está fazendo aqui? No meu
quarto, com minha mulher?
Havia tanta hostilidade em sua voz que
John deu um passo para trás, em sinal que não
queria saber de brigas.
-Helena desmaiou. Mal tive tempo de
ampará-la antes que caísse no chão e se
machucasse. Faz alguns minutos. Pedi ao garoto
que o chamasse imediatamente!
-Que drama fazem vocês homens! – a
inconfundível voz de Juanita o fez olhar para trás,
para a mulher que entrava com uma vasilha com
água. – Saiam os dois!
-Helena está bem? – Rony perguntou
nervoso, achando-a pálida demais.
-A pobrezinha vai passar por todos os
sintomas desagradáveis da gravidez. Com o azar
que ela sempre tem, não é de surpreender! - ela
riu, apontando para a porta – Vou ajudá-la. Agora,
me faça o favor de ir à cidade comprar os
mantimentos que faltam? Nessa fase ela precisar
comer bem.
-Não há risco de me ausentar com
Helena...? – ele também estava pálido.
-Pelas minhas contas, ainda faltam quase
oito meses. Isso vai acontecer outras vezes. Tudo
que ela não precisa é de um marido super protetor!
Aproveite e mostre ao Sr.Harrison a fazenda dos
Gueen. Eles estão com dívidas de jogo...
-Eu sei – ele cortou tenso ao olhar para
Helena desacordada -Farei isso. Mas antes, vou
esperá-la acordar.
-Espere lá fora – Juanita disse taxativa,
não querendo um homem babão atrapalhando-a.
Helena acordou com algo gelado sobre
sua testa. Um pouco zonza, viu Juanita tirar uma
compressa de sua testa.
-Eu desmaiei... – disse confusa.
-Acontece – ela sorriu e segurou sua mão
como uma mãe faria - Vai descansar um pouco.
-Rony... - ela não terminou a frase, mas
ele sim.
-Estou aqui – ele estava na porta, de
braços cruzados.
Juanita saiu do quarto e Rony encostou a
porta.
-Irei à cidade. Faltam mantimentos e
preciso pagar a hipoteca. Prometo guardar sua
parte no banco.
-Eu... Pode me trazer algumas coisas? -
ela perguntou angustiada. Ele iria sozinho à
cidade e provavelmente falaria com o juiz, pai de
Susan.
-Peça o que quiser – ele segurou sua mão,
ajudando-a a sentar na cama, recostada nos
travesseiros.
-Preciso que compre algo de criança, para
Ruanzito, e não reclame! – avisou – Preciso de um
pote de balas para os meninos de Juanita. É um
pagamento justo, eles me ajudam com as galinhas
e os porcos. – Rony apenas sorriu, deixando-a
falar. - Poderia... Levar algumas flores ao túmulo
dos meus pais e o de Anne? – ela baixou os olhos
– Faz tempo que não faço isso, não quero que
achem que me esqueci deles...
Com o coração apertado por Helena, ele
concordou.
-Vou lhe trazer um presente Helena – ele
prometeu.
-Por quê? – ela estranhou.
-Porque um marido traz um presente para
a esposa? – provocou – Quero agradá-la. Fazê-la
sorrir. Vê algum mal nisso?
-Tenta me ludibriar - ela acusou sorrindo
sem querer.
-Antes, eu morria por fazê-la sorrir sabia?
- ele beijou sua testa pegando-a de surpresa – E
agora sorri para mim espontaneamente. Sabe que
isso quer dizer que me ama?
-Não. Quer dizer que me acostumei a
você. Como alguém se acostuma a um chinelo
velho – ela ridicularizou.
Ele riu gostosamente, apreciando o modo
como tentava mentir para ele.
-Hoje a noite vai me escorraçar de sua
cama Helena? – testou o terreno.
-É claro que sim – ela deu de ombros.
-Mesmo que lhe traga um lindo anel de
ouro, ou um vestido de seda? – ele mesmo riu.
-Atreva-se a gastar o pouco que temos
com supérfluos e nunca mais entrará nesse quarto!
- ela ameaçou falsamente brava.
-Hum, então, há uma possibilidade de
voltar a sua cama - ele disse exultante.
-Não podemos dormir em quartos
separados enquanto essa... Sua ex-amante estiver
aqui dentro. – tentou não parecer tão interessada
em tê-lo perto de si.
-Admiro seu sacrifício Helena – ele
ironizou sorrindo. – Mesmo que não queira, lhe
trarei um presente.
-Se quer me dar um presente, traga linhas
e agulhas. Juanita quer que façamos um enxoval
para presentear Alice.
-Trarei tudo que Juanita pedir – ele
garantiu, rindo por dentro.
Com carinho, fez uma carícia em seu
rosto, desejando arduamente contar a ela que esse
enxoval era para o filho deles. Que Juanita era
peça importante do futuro deles, visto que era boa
parteira e entendia tudo de bebes. Que essa
mulher, com quem implicava se tornara sua aliada
para proteger Helena.
-Irei demorar. Levarei John para ver a
fazenda dos Gueen. Não faça esforços, nem se
preocupe com nada. Promete-me?
-Rony – ela disse com voz baixa e
preocupada -Se eu estivesse muito doente, me
contaria?
-Sim, contaria. Não está doente Helena.
Está convalescendo. O médico me avisou que
seria assim. Não se preocupe, em poucas semanas
estará novinha em folha!
-Espero que sim. Detestaria enfrentar o
inverno doente – ela disse pensativa.
Rony não se aventurou a responder, pois
ela enfrentaria o inverno no pior estágio da
gravidez. Mas não era o fim do mundo, Helena era
muito reclamadora quando estava entediada!
Foi embora à contra gosto, levando John
consigo.
John estava cheio de formalidades, tenso
e constrangido, e demorou um bom pedaço da
viagem até tocar no assunto.
-Alice contou aos pais que sente ciúmes
de mim com Helena – contou, esperando sua
reação.
Estava derretendo sob o sol forte, e havia
se desfeito de boa parte do fraque durante o
caminho. Viajar de charrete não era a mesma
coisa que andar de carruagem, protegido do sol
escaldante.
-E minha irmã tem razão? – foi sua
indiferente pergunta.
-Cada dia se torna mais claro para mim o
sentimento que tenho dentro de mim. Estou
apaixonado por Alice, mas detesto seu
comportamento imaturo. Sinto-me atraído pela
maturidade de Helena. Mas não é um sentimento
que me envergonhe.
Rony não respondeu nada. Manteve os
olhos na estrada.
-Alice me fará feliz. – John
complementou – É estranho, pois jamais achei que
fosse ter essa certeza em relação a alguma mulher.
-Sou possessivo em relação à Helena –
Rony tentou explicar, desconfortável – E ela gosta
de me testar e provocar. Não me peça para
explicar nosso relacionamento, é complicado. Mas
saiba, não perdoarei o homem que se impor entre
nos dois.
-Sabe, acredito que está errado – John
disse pensativo – A relação de vocês dois não é
complicada, é simples.
-Simples? – Rony sentiu ganas de rir
histericamente.
-Helena tem medo. É simples, o medo é
irracional. Ela ataca para se defender de tudo e
todos. Para ela, não sou um risco. Não desperto
suas emoções de forma intensa e não cobro
retribuição a minha amizade. Notou como ela é
próxima de sua empregada e de seus filhos? Pela
mesma razão. É algo que não a ameaça.
-Eu sou uma ameaça a Helena? - ele
perguntou incrédulo, olhando para o amigo como
se ele estivesse louco.
-Ela sente algo por você, e sente que irá
sofrer novamente por sua causa. E tem medo de
perder. Tem medo da dor da ausência e da solidão.
John explicou com tanta convicção que
Rony acreditou. John entendia de solidão, mas não
era um homem fechado como Helena.
-Porque Helena é assim? Quero dizer,
John, você é aberto às pessoas. Não as afasta!
-E por acaso sabe o preço que pago por
ser assim? – ele perguntou com amargura –
Quando um amigo sai de sua vida e se muda para
o outro lado do mundo, e é a última ligação que
você tem com o que considera uma família, é
como se tornar órfão novamente. É difícil de
explicar.
-Porque não me disse como se sentia? –
ele perguntou surpreso.
-Porque é sua vida. Assumo o risco.
Helena, no entanto, ainda não está pronta para
assumi-lo do mesmo modo.
-E o que faço? Como faço para que esteja
pronta? – havia um traço de desespero em sua voz.
-Espera – John disse sorrindo – Esperar é
a única solução, pois só o tempo vai curá-la.
-É claro, paciência é meu ponto forte –
ele ironizou e John riu mais leve depois dessa
conversa franca.
-Pense na recompensa.
Rony teve que rir, pois era difícil ficar
chateado com John. E era inacreditável que
estivesse desconfiando de seu melhor amigo.
-Terá a oportunidade de me acompanhar
ao banco e conhecer as mazelas da vida de um
fazendeiro pobre - ele disse brincalhão.
-Admita Rony, quer me exibir para seus
oponentes - ele brincou de volta.
-Bem, isso também – ele concordou, no
mesmo tom, afinal, um homem do prestigio de
John ao seu lado com certeza amenizaria os
ânimos e desconfianças de seus opressores.
-Rony, nós seremos cunhados, porque
não me deixa...
-Não se atreva a terminar essa frase, John
- ele cortou, sem se abalar – Posso ter fingido
acreditar no benfeitor anônimo que custeava meus
livros e uniformes novos quando meus pais não
podiam pagá-los, mas não deixarei que isso se
repita agora que sou adulto. Tenho uma dívida de
gratidão muito grande para com você, e não gosto
de me sentir em dívida!
-Fala muita tolice para um homem tão
esperto – John deu de ombros – Me apresentou
sua irmã, saldou todas as dividas que pudesse ter
entre nós e ganhou saldo para a vida toda!
-Vá brincando John. Alice pode fazê-lo o
homem mais feliz do mundo, mas também pode te
destruir. É bom ser atento.
-Sua irmã é inestimável – havia um ar
sonhador em sua face ao lembrar-se do toque
macio de seus seios, e os gemidos surpresos e
apaixonados, enquanto a fazia sua; perdido em
sua feminilidade aveludada...
-John? - Rony, insistiu após chamá-lo por
duas vezes e não obter respostas.
-Desculpe, minha mente ia longe. – ele
tentou não parecer tão culpado quanto se sentia...
-Bem sei onde está sua mente – Rony
sorriu malicioso, achando serem pensamentos
fantasiosos sobre o que faria com Alice e não com
o que ‘já’ fizera!
-Diga-me John, aceitará ser padrinho do
meu filho?
-Helena está de acordo? – ele perguntou
inocente.
-Estará quando souber da gravidez, tenho
certeza. – Rony confessou.
-Pois bem, serei o padrinho mais feliz
desse mundo, desde que ela não me persiga
armada por ter participado desse seu plano para
enganá-la!
-Não seja estraga prazeres, John. Vou ser
pai. Cabe a mim, proteger minha mulher e meu
filho.
-Sempre foi capaz de meter-se nas mais
sinuosas confusões – John maneou a cabeça, não
querendo parecer que o apoiava – Que seja um
menino, para que possa seguir os passos do pai e
infernizar a vida de todas as cortesãs de Londres! -
ele gargalhou de sua expressão.
-Será um fazendeiro. – ele disse
orgulhoso – Terá estudo e conhecerá o mundo,
mas terá alma de fazendeiro e se casará com uma
mulher e sossegará quando for sua hora – disse
convicto – Ou... - um sorriso nasceu em seu rosto
diante desse pensamento súbito - ...será uma linda
menina arisca e respondona e ficarei grisalho
antes que ela complete dez anos, tentando manter
os pretendentes afastados!
-Sobreviveria a duas Helenas em sua
vida? – John protestou.
-Sou um homem resistente.
-Eu diria corajoso.
Os dois riram e seguiram conversando,
deixado de lado as dúvidas e brigas.
Na cidade, a primeira parada foi para
vender o milho e garantir a troca dos outros
produtos no armazém. Então, seguiram para o
banco, onde Rony apresentou John a seu irmão
Ducan, e então ao Sr.Ford.
O banqueiro ficou tão encantado com a
presença de John e seu relógio de ouro preso ao
colete, que mal prestou atenção em Rony.
Quando saíram de lá, entre comentários
nostálgicos sobre Ford, os dois fizeram uma
parada no armazém para comprar os mantimentos.
Rony lembrou-se de todos os pedidos de Helena e
após alguma dúvida, separou um presente.
Sorrindo, arrastou John, que reclamava do calor,
até o cemitério para uma parada rápida.
De volta à carroça, eles seguiram para a
propriedade do juiz, onde morava Susan.
Helena vagou pela casa, sozinha. Passado
a indisposição matinal, ela não tinha nada a fazer
ou com quem falar. Juanita tirara um momento
para os filhos e os levara ao lago. Alexia e sua
filha estavam no quarto. Até mesmo Duran saíra!
Sozinha, ela vagou pela casa, se
perguntou por que, de repente, era tão estranho
estar solitária.
Na cozinha, ela observou o silêncio,
lembrando quando sua mãe estava sempre ali,
atarefada, tentando dar conta de todo o serviço e
ainda cuidando de seu pai. Desde pequena
crescera na barra de sua saia, seguindo-a, porém,
sem receber atenção.
Seu pai ficava no quarto, sempre deitado,
ou recostado contra os travesseiros e nas poucas
vezes que o via acordado, era para reclamar da
própria infelicidade, ou para ler e distraí-lo. Não
havia conversa. Não havia atenção.
E quando Anne nascera, ficou ainda mais
de lado, até Anne ter idade o bastante para ser sua
amiga. Fora a primeira vez em sua vida que tivera
companhia de verdade!
Até a morte de seu irmão a privar do
pouco tempo que tinha entre os afazeres
domésticos e os cuidados com seu pai. Levava
seus dias num terrível silêncio, sempre
trabalhando.
Fechou os olhos ao lembrar-se da morte
de seus pais, e em como tudo parecera quieto e
calmo. O ar mais fraco, como se o vento não
ousasse soprar e levar com ele o cheiro da morte.
Suspirando ruidosamente ela voltou para
a sala, lembrando dos dias atarefados e do
cansaço que a deixava a beira da exaustão.
Lembrou-se das noites, amedrontada, sozinha
naquela casa, temendo ter o mesmo fim de seus
pais.
Ela sentiu que tremia ao reviver essas
lembranças, que não eram mais tão vividas como
no início.
Olhou em volta para a sala limpa e
arrumada, e pensou em como tudo mudara tão
rápido. Cada dia havia mais móveis, mais
modernidade, mais novidade.
Anne teria sido tão feliz de ter um marido
que lhe trouxesse visitas e presentes, como Rony
fazia. Que cuidasse da decoração e quisesse ter
tudo bonito para agradá-la. Sua mãe teria sido tão
orgulhosa se Anne houvesse vivenciado essa vida!
Lamentando ter sobrevivido, ela sentou-
se no sofá, mordendo o lábio, aflita.
Hoje à noite, Rony a procuraria na cama.
Tinha certeza disso.
Teria de dizer não e recomeçar todas as
discussões. Esse pensamento era angustiante.
Precisava encerrar essa intimidade toda.
Estava indo longe demais! Não podia mais negar
que apreciava sua companhia e apreciava estar em
seus braços. Mas isso não queria dizer que se
sentiria assim para sempre!
Quando estivessem afastados e o tempo
varresse de sua lembrança as emoções e desejos,
seriam apenas dois estranhos vivendo juntos, ou
quem sabe dois amigos. Então, quando ele se
fosse, não sentiria sua falta.
Poderia ficar contente em ter sua
independência de volta! Esse pensamento a deixou
nervosa, e Helena levantou-se desejando não estar
tão sozinha. Era tolo, pois era momentâneo, uma
coincidência terem saído e ela ficado, mesmo
assim, a solidão agora a assustava.
Desconcertada, ela entrou no quarto de
sua hóspede, conferindo que estava acordada. O
bebê estava ao seu lado na cama, mas ela apenas a
olhava, sem contato.
-Porque está tudo tão silencioso? –Alexia
perguntou.
-Porque todos saíram – ela respondeu –
Posso? – apontou o bebê e Alexia deu de ombros.
Helena apanhou a menina, com uma
sensação de carinho gigantesca. Era deliciosa a
sensação de ter um bebê em seus braços! Tentou
não pensar que poderia ter um bebê seu, e ter esse
sentimento todos os dias de sua vida, mas
recriminou-se.
Não poderia sofrer como sua mãe sofrera,
recebendo um filho atrás do outro dentro de um
caixão.
-Gosta da menina? – Alexia perguntou.
-Gosto de crianças – foi evasiva, notando
que a recém nascida era atenta ao que se passava
a sua volta, com seus olhinhos castanhos – Você
não gosta?
-Gosto – respondeu – Gosto de crianças,
só não gosto do que fazem com a nossa vida.
-O que quer dizer? – ninou a menina,
olhando para a face tão bela de Alexia e tão vazia.
-Essa criança acabará sendo minha vida e
terei que fazer escolhas que não serão boas para
mim em nome dela. E um dia, quando ela se for e
se casar, e me esquecer, irei me arrepender.
-É uma mulher egoísta – Helena acusou.
-Sim, é o que sou – concordou.
-Porque não arruma uma família que
queira criá-la? – sugeriu Helena.
-Acha que Rony a criaria? – havia
esperança em seus olhos.
-Se você não fosse à mãe, eu poderia
permitir – ela confessou.
-E quem está sendo egoísta agora?
-Talvez sejamos parecidas – Helena
retrucou um tanto amarga.
-Não a entendo – Alexia maneou a
cabeça – Tem Rony, tem um lar, tem a atenção de
todos, e parece infeliz!
-Sua filha está dormindo – ela mudou de
assunto. – Vou colocá-la no berço.
-Rony foi à cidade? – Alexia também
mudou o assunto, pois ambas estavam sozinhas e
querendo companhia.
-Sim, fazer as compras de mantimentos –
explicou.
-Será que ele trará um presente para
mim? Afinal, acabei de ter uma filha! Agora, ele é
pai.
Helena sorriu, e havia humor.
-Talvez traga um presente sim –
concordou, achando que Alexia não podia ser real!
E com certeza, Rony era capaz de lhe
trazer um presente, e se isso acontecesse, seria
obrigada a arrancar os olhos dele com as próprias
unhas!
-Porque não foi com Rony a cidade? –
Alexia perguntou desconfiada.
-Porque não quis – ela respondeu, saindo
do quarto.
Péssima ideia achar que encontraria
distração que não fosse briga com aquela mulher
desumana!
Passaram-se mais uma hora e Helena
estava quase enlouquecendo quando ouviu o som
da carroça e a movimentação dos empregados.
Aliviada por não estar mais sozinha, sentiu
vontade de correr ao encontro de Rony, quando o
avistou descendo da carroça e ajudando a retirar
as compras. Ele lançou-lhe apenas um olhar a
distância, enquanto continuava o trabalho.
Helena cruzou fortemente os braços para
conter o impulso de correr até ele e abraçá-lo.
Estava ficando boba como Alice! Nunca antes
tivera esses impulsos infantis!
-John, eu não tive a oportunidade de
agradecer por ter me ajudado hoje cedo - ela sorriu
para um envergonhado John quando os dois
entraram na casa.
-Não se importe com isso, Helena – ele
não parecia muito à vontade, depois das acusações
de Alice.
-Por favor, não faça cerimônias! Alice é
uma tola! Não acredito que qualquer outra pessoa
adulta possa levar em consideração as besteiras
que inventou! – ela olhou de relance para Rony,
mas ele não reagiu à provocação, apenas estendeu
um braço e a puxou para si. – O que está
fazendo?! – protestou.
-Impedindo-a de dizer algo que me irrite
– ele disse com um humor maravilhoso, antes de
beijar seus lábios rapidamente, num selinho
debochado.
-Trouxe minhas encomendas? - ela o
afastou, envergonhada.
-Sim, é claro que trouxe. Estive no
túmulo de seus pais e deixei flores também –
notou seu sorriso nascer e ficou surpreso quando
espontaneamente ela o beijou na bochecha.
-Obrigada, significa muito para mim –
por trás da tristeza em relembrar os familiares
mortos, havia a felicidade de estar se recuperando
disso.
-Trouxe-lhe um presente também – ele
fez ares de mistério.
-Saiba que sua amante também espera
um presente seu – ela alfinetou.
-Bem, trouxe um presente para Alexia
também - ele disse ainda sorrindo.
John notou o exato segundo que a
expressão de Helena mudou.
-É mesmo? – ela ficou gelada. – Tenho
certeza que ela irá adorar seu presente.
-Não é meu presente, é nosso presente -
ele esclareceu, estendendo a ela um pequeno
embrulho – Acha que pode deixar uma criança
inocente dentro de sua casa sem um pingo de
atenção e carinho? – notando sua desconfiança ele
insistiu – Vamos Helena, seja superior.
-O que você comprou? – não queria ter
nenhuma surpresa desagradável ao abrir o
presente na frente de Alexia e dar-se de cara com
um presente entre amantes.
-Apenas algumas fraldas – ele garantiu –
Juanita pediu, pois Alexia não havia comprado
nenhuma em seu enxoval - ele satirizou. – O que
não é de se surpreender...
Com um profundo suspiro, olhando em
seus olhos tentando encontrar resquícios de
mentira, ela concordou.
-E o seu presente? Não o quer? - ele
perguntou malicioso.
-Abrirei mais tarde – deu ares de
indiferença, recebendo nas mãos o embrulho um
pouco maior.
Rony concordou sabendo que era
mentira. Helena aguentou firme durante uma hora,
ouvindo as novidades sobre a fazenda dos Parkers
e sobre a bronca que Alice recebera da mãe por
seu comportamento.
Sentira pena ao pensar na ex-amiga
sendo repreendida, pois Alice não aceitava ser
corrigida. Nisso ambas eram muito parecidas!
Aguentou a curiosidade, até mesmo ajudou
Juanita a preparar o jantar, esperou todos terem
comido e a louça estar lavada, Juanita ter ido
embora, e os dois homens estarem conversando na
sala, para correr para o quarto. O embrulho estava
sobre a cama, e com mãos nervosas ela rasgou o
papel. Era tecnicamente o primeiro presente que
Rony lhe dava. Os vestidos, e as roupas de baixo
eram apenas coisas necessárias para sua
apresentação como esposa e não via como um ato
de carinho. Ela abriu o papel e conteve a
respiração. Eram algumas roupas de criança.
Camisetinhas, dois xales e um conjunto que era
usado em batismos. Uma súbita emoção a fez
tremer os dedos e por isso não ousou tocar nas
peças.
-São para que treine o enxoval de Alice -
ele explicou da porta, onde a observava.
Helena parecia tão perturbada que sua
coragem em contar havia se esvaído. Não estava
pronta ainda para saber.
-É claro... Como pude esquecer? – ela
falou consigo mesma tocando uma das peças.
Embaixo um embrulho menor chamou
sua atenção e afastou um pouco a emoção e o
susto. Por um segundo chegara a pensar que
aquele enxoval fosse para ela e para... Um filho
deles. Mas que ideia! Rony sabia muito bem que
não teria filhos!
-O que é isso?
-Um mimo – ele sorriu quando ela abriu
a caixa e retirou uma presilha dourada com
pérolas e cristais.
-É lindo – ela acariciou a joia sentindo o
toque gelado do metal, e sentiu as bochechas
coradas – Não espere nada em troca desse
presente! – avisou mordaz e ele jogou a cabeça
para trás, rindo.
-Espero apenas fazê-la sentir-se feliz -
disse falsamente humilde.
-Mentiroso – ela reclamou, levantando-se
e prendendo um dos lados dos cabelos longos,
observando-se no espelho. Infelizmente, sempre
que se olhava naquele espelho a única imagem
que via eram os dois, fazendo amor, na noite
passada...
-John passará a noite aqui e amanhã cedo
irá para a fazenda de meu pai, buscar Alice para ir
à cidade, eles precisam tratar dos documentos do
casamento. Falar com o Padre. Se estiver disposta,
podemos ir todos juntos à tarde, e aproveita para
sair um pouco.
-Sua mãe não pode acompanhá-los? –
perguntou desconfiada.
-Iremos almoçar com o Sr.Simon, o juiz.
Ele fez o convite e não pude recusar. Foi um
pagamento muito bom que me deu em troca dos
meus serviços e disse ter um negócio lucrativo
para mim. Não posso ir sem minha esposa.
-Almoçar com a família de Susan? – ela
quis rir histericamente. Então, quis gritar.
Esbravejar e jogar aquela maldita presilha em sua
cabeça, ou fazê-lo engoli-la!
Não era um presente, era uma armadilha.
Queria empetecar a feia e sem graça roceira, para
não se envergonhar em público! Magoada, retirou
aquilo dos cabelos com nojo.
-John e Alice estarão lá conosco, não se
esqueça.
-Porque precisamos ir?
-Por causa do dinheiro. Helena, eu posso
conseguir um preço ótimo pelas ovelhas, mas
preciso investir para criá-las. Com o dinheiro
extra, será possível.
-Porque precisa tanto de dinheiro? Não
pode viver com o que tem? – ela acusou furiosa
por ter que passar por essa humilhação.
-Porque preciso de dinheiro? – ele ficou
ofendido – Estou ouvindo isso da mesma mulher
que quase perdeu tudo pela falta de dinheiro?
Helena acha que desejo morrer um dia e saber que
deixei uma filha sozinha e desamparada no
mundo? Como fez seu pai? Não mesmo! –
defendeu-se – Meu pai trabalhou duro a vida toda
para garantir que nada nos faltasse, e dinheiro é
sim um bem necessário. Não compra dignidade,
mas garante que minha mulher não tenha que
perder a sua. Ou que eu tenha que abrir mão da
minha dignidade e dos meus filhos por causa de
um prato de comida!
-Não quero ser olhada como se fosse um
palhaço em um circo!
-E quem a olharia assim? - ele se
aproximou.
-Não se faça de bobo. O juiz só tem
interesse em seu trabalho para seduzi-lo com o
dinheiro! Até o final do ano estarei na rua e você
casado com Susan! – desabafou.
-Se fosse esse meu desejo, porque não
partir com Alexia? Tem ideia de quanto essa
mulher pode gerar de dinheiro com seu corpo? –
havia amargura em sua voz.
-Sim, mas nesse caso não seria genro de
um juiz e não teria prestígio e respeito frente a sua
família – encheu a boca para falar, venenosa –
Mas se é essa sua vontade, serei gentil e farei esse
papel patético ao seu lado! Mas saiba que não
ficará com minha fazenda! Quando for embora, irá
pobre e pé rapado como chegou aqui! – elevou a
voz, furiosa.
-Sua bruxa! - ele esbravejou com raiva de
seu desprezo – Sequer se importa se vou embora!
Só quer saber dessa maldita fazenda! Talvez eu a
deixe sim, mas não será por causa de dinheiro ou
fortuna! Será por não suportá-la!
-É um favor que me faz! - ela gritou de
volta, jogando aquela maldita presilha no chão, do
outro lado do quarto.
O som da peça batendo na parede e
caindo ao chão os fez calar as vozes alteradas, e
Rony olhou aquele objeto abandonado, sentindo
como se fosse ele mesmo. Helena o jogava fora. A
despeito do quanto quisera se enganar, não sentia
nada por ele. Era fato consumado. Helena jamais o
amaria. Pretendia convencê-la a aceitar seu ponto
de vista, mas ela carregava seu filho e não teria
coragem de bater de frente com ela, tão nervosa e
agitada. A única coisa que poderia fazer para
recuperar seu orgulho era sair.
John na sala ouvia os gritos, e ouviu
quando a porta da cozinha bateu com força,
anunciando que Rony saíra da casa de modo
intempestivo. Com receio, ele andou pelo corredor
ouvindo o que se passava dentro do quarto. Ele
não viu Helena apanhar a joia no chão, e segurá-la
junto ao peito profundamente arrependida, ao
notar que uma das pérolas soltara e jazia inútil no
chão.
Mas ouviu seu choro quando ela enterrou
o rosto no travesseiro extravasando aquela dor
abominável que apertava seu coração e tirava seu
ar...
Capítulo 68 - Tolices

O silêncio na mesa do café era


descomunal. Sandra Parker tentava animar a
conversa sem sucesso. De um lado Alice lado a
lado com John, ainda envergonhada demais para
fitá-lo sem sentir vontade de chorar pela própria
tolice.
Do outro lado Helena e Rony, silenciosos
e magoados, com carrancas que poderiam assustar
até mesmo fantasmas. Se bem que a expressão de
Helena era mais de arrependimento do que raiva,
ao contrário de Rony. Nas cabeceiras, Artur e
Sandra tentando puxar assunto. Péssima ideia de
trazer todos para o café da manhã, para seguirem
na carruagem de John, mais apropriada para um
almoço de negócios. Em certo momento,
enquanto Sandra contava sobre o nascimento de
Rony, esperando garantir risadas a John que ainda
não conhecia as histórias de família, Alice ergueu
as vistas do prato e olhou para a cunhada bem a
sua frente.
Helena notou que era observada e afastou
os olhos, pois não estava para conversa naquela
manhã.
Tivera uma noite terrível, imóvel e tensa,
deitada ao lado de um homem que a detestava.
Rony esperara que estivesse dormindo, ou
fingindo dormir para entrar no quarto, deitar
vestido e virar-se para o outro lado. Noite quente,
abafada e horrível.
Helena adormecera de exaustão antes que
pudesse ouvir seus roncos inconfundíveis o que
significava que estivera acordado boa parte da
noite. Talvez por isso estivesse abatido.
Voltando a atenção para o prato, sentiu o
estômago revirar ao colocar um pedaço de fruta na
boca. Um aperto na boca do estômago e temeu
vomitar na mesa.
Homem odioso sabia que precisava de
boa parte da manhã para se recuperar dos
sintomas daqueles remédios que tomara, mas não
tivera um pingo de compaixão, nem mesmo ao vê-
la esverdeada sacudindo em cima daquela carroça!
-Helena, está tudo bem querida? – Sandra
parou de falar, notando sua expressão de
desespero, tentando conter a onda de vômito.
-Sim, estou bem – engoliu o gosto ruim
que estava em sua boca e bebeu um gole de suco
de amora.
-Está doente, Helena? Pode ser uma
virose de verão – ela disse amável, e Helena
maneou a cabeça.
-É efeito dos medicamentos que precisei
por conta... Do incidente de dias atrás – não
desejava trazer a tona aquelas lembranças
dolorosas.
-Fico aliviada que não seja nada sério –
ela disse e Helena tentou sorrir.
-Desculpe Sra.Parker, eu... Oh Deus, eu
preciso...! – em pânico, saiu correndo da mesa,
esperando achar o banheiro antes de causar um
estrago no chão limpíssimo da casa de sua sogra.
Sandra espantou Alice para que fosse
atrás dela e ajudasse.
-Efeito dos medicamento? – Sandra
questionou olhando para Rony.
-Juanita acha melhor que não saiba da
gravidez, só Deus sabe o que essa louca faria com
o bebê – ele disse amargo. Detestando o som das
próprias palavras, corrigiu-se – Tivemos uma
briga horrível ontem à noite, e não deveria tê-la
tirado de casa. Helena está grávida, mas ainda não
sabe.
-Deus! Que notícia feliz! - Sandra levou
as mãos aos lábios, as lágrimas de felicidade
inundando seus olhos – Meu primeiro neto! Oh
meu querido, quanta alegria! Voltou para casa, e
agora me dá um neto!
-Fale baixo, mamãe - ele sorriu, pois
estava incrivelmente orgulhoso – Helena é uma
pedra em meu caminho.
-Não fale assim Ronald, Helena lhe dará
um filho. – Artur disse, entre orgulho do filho e
orgulho de si mesmo por ter sugerido e em parte,
coagido o filho a se interessar por aquele
casamento. – Precisa de toda sua atenção e
respeito!
-Sei disso, pai. Temos essas brigas que
me deixam fora de mim... - ele tentou explicar.
-Pobrezinha, uma mulher em seu estado
não controla os nervos! Rony! – Sandra
repreendeu – Peça desculpa a Helena!
-Nem ao menos sabe o que aconteceu,
mãe – ele disse sentindo-se um menino mimado.
-E isso importa? Um netinho, Ronald! Se
não tratar Helena como se trata uma rainha, eu
mesma darei um corretivo em você!
-Mãe... – ele sorriu olhando para seu
rosto redondo, corado e bonito, sua mãe era roliça
e baixinha e parecia incendiar quando sentia raiva.
Olhou então para John, que tentou não sorrir do
modo infantil como era tratado – Helena pode ser
uma megera quando quer. – foi sua defesa.
-Hã, seu pai me chamava de coisas bem
piores quando nos casamos e brigávamos e
estamos casados a trinta e cinco anos - ela disse
decidida e Artur apenas riu.
-Deixe os dois Sandra.
-Vocês homens são insuportáveis – ela
disse orgulhosa, levantando-se, - vou preparar
uma canja leve e colocar Helena de cama até o
enjoo passar...
-Nem pensar, nós temos um
compromisso - ele disse resoluto – Ela disse que
estava bem para ir à cidade – ele mentiu.
-Vai punir seu filho pelas brigas dos
dois?
-Não fale disso na frente de Helena, ela
vai ficar louca quando souber. Não quer ouvir
falar de engravidar - ele disse um pouco
desesperado ao ouvir passos.
Pálida e abatida, ela voltou à sala de
jantar, onde era servido o café da manhã, com
Alice logo atrás. Aparentemente ainda não haviam
feito as pazes.
-Como se sente, Helena? – Sandra
perguntou sorrindo amplamente, analisando cada
curva de seu corpo em busca de improváveis
sinais da gravidez, ainda tão recente.
-Estou bem – ela garantiu, mentindo.
-Não seria melhor irmos antes que o sol
fique muito quente? – Alice perguntou
timidamente, sempre olhando para John.
-Talvez fosse melhor Helena ficar e deitar
um pouco... – Sandra tentou.
Helena rezou secretamente por isso. Tudo
que precisava era deitar e descansar, mas é claro
que seu algoz não permitiria!
-Alice tem razão. É melhor irmos - Rony
concordou levantando-se.
Helena sorriu para Sandra, pensando em
como seria bem feito se vomitasse sobre Rony.
Ah, ele podia ter certeza, se houvesse
oportunidade com certeza miraria nele! Com toda
a sensibilidade de um homem cavalheiro, e um
tanto oportunista, John ajudou Helena a entrar
primeiro, garantindo assim que estivesse junto à
janela da carruagem, ao lado de Alice. Desse
modo, garantiria ar fresco para Helena e sua
expressão indisposta, e garantiria uma visão
privilegiada do decote de Alice, pois estavam
frente a frente.
Alice olhava para John um pouco
assustada, pois sair e marcar a data legal e
religiosa de seu casamento era um passo
gigantesco. Maior que terem feito amor, era um
compromisso para a vida toda.
-Espero termos tempo antes do almoço
para comprar algumas peças do enxoval. – John
disse para quebrar o silêncio - Talvez o tecido para
o vestido de noiva.
-Não terei um vestido feito na corte de
Londres? – Alice perguntou sem controlar a
própria intempestividade.
-Levaria muito tempo para ir a Londres
escolher um vestido – Helena resmungou, uma
das mãos sobre o estômago, desejando que ao
menos se decidisse entre pôr tudo para fora ou
engolir o vômito definitivamente! – Tempo
demais.
Sua olhada para Alice fez calar seus
protestos.
-Mamãe pode costurar meu vestido -
Alice tentou concertar a reclamação antes que o
mau humor de Helena a fizesse revelar algo que
acabaria com sua felicidade!
-Oh, não se preocupe – Helena ironizou –
Susan ficará encantada de fazer isso – olhou para
Rony com muito desprezo – Talvez, já tenha um
vestido de noiva costurado para lhe emprestar!
-Minha mãe fez um vestido de noiva para
mim, há um ano, mas não quero usá-lo – ela
confidenciou a Helena, lembrando-se de John e
corando, pois não desejava falar sobre isso na sua
frente.
-Porque mamãe lhe fez um vestido? –
Rony perguntou, sorrindo para a irmã.
-Porque mamãe estava ficando
desesperada! Acreditou que me casaria com Billy
Dee. – ela falou como se fosse inacreditável e pelo
sorriso de Helena realmente era!
-É um beberrão. Muito bom com cavalos,
é verdade, mas é um beberrão com o dobro da
nossa idade! - ela esclareceu – Rico, mas um
porco!
-Helena, não fale assim, irá parecer que
minha mãe estava me vendendo! – Alice indignou
– Para minha mãe o caminho mais feliz para uma
mulher é o casamento – ela explicou – Não queria
me ver sozinha e triste.
-Como todas as mães – John
tranquilizou-a – Fico feliz de ter chegado a tempo.
Alice corou, e disfarçou o sorriso de
malícia, ao lembrar-se daquele momento tão
íntimo entre os dois. John era, o primeiro e único a
lhe despertar paixão e estaria para sempre em seu
coração!
-Quem sabe Billy Dee ainda tenha sua
oportunidade... – Helena resmungou, querendo
que o mundo sofresse junto dela.
Alice ficou tensa, olhando para o irmão a
procura de entendimento. É claro, se os Parkers se
desentendessem com John por conta do
acontecido, talvez o único que aceitasse uma noiva
desonrada fosse o torpe Billy!
Alice pretendia reclamar dela, quando
olhou para sua face pálida e o modo como parecia
tentar conter a ânsia de vômito e sentiu pena.
Tristemente, lembrou de si mesma, sentindo
náusea ao provar uma das deliciosas tortas de
chocolate de sua mãe. Helena estava grávida,
esses sintomas eram comuns na gravidez. Então,
isso queria dizer que também estava grávida?
Claro que não! Fazia apenas uma semana que
acontecera, era impossível ter sintomas assim tão
rápido! Aliviada por afastar esse medo irracional
da mente, ela puxou conversa com John sobre o
que deveria comprar e o que ele esperava que
comprasse.
-E quem serão nossos padrinhos? – Alice
perguntou sorrindo.
Estavam quase chegando à cidade, e o
cocheiro os conduzia por uma curva fechada que
fez a carruagem sacolejar.
Helena levou uma das mãos à boca e
virou o rosto para a janela. Culpa corroeu dentro
de Rony e ele olhou para ela, tentando achar um
jeito de se desculpar. Em nome da raiva, a fazia
sofrer desnecessariamente!
-Rony será nosso padrinho, se aceitar –
John disse orgulhoso – obviamente sua esposa
será a madrinha.
-É uma honra, John – Rony agradeceu,
mas Helena não disse nada.
Gostaria de dizer que estava envaidecida
e feliz com o convite, mas não diria. Estava
magoada com Alice e não daria o gosto a Rony de
saber que gostaria de entrar de braço com ele em
uma Igreja. Afinal, não se casaram no religioso,
apenas vergonhosamente no cível.
-Não podemos ser padrinhos – ela disse
amarga – A menos que o Padre não se importe.
-Se importar com o que? – Alice
perguntou curiosa.
-Não nos casamos na Igreja, graças a
Deus. – ela desdenhou.
-Porque não se casaram na Igreja? – John
olhou acusador para Rony.
-Seu amigo estava com muita pressa para
pôr suas mãos gananciosas sobre minhas terras
para se dar a esse trabalho!
-Helena – Rony sentiu o sangue ferver,
achando que merecia isso. – Podemos marcar uma
cerimônia religiosa se for de sua vontade, apenas
não fale desse modo!
-Eu? Entrar numa Igreja ao seu lado? –
ela desdenhou novamente – Não enquanto for
capaz de pensar e gritar! Recuso-me a levar essa
farsa diante de um altar.
Rony olhou para John e Alice e conteve a
vontade de responder. Merecia toda sua revolta.
-Oh Deus, será que não chegaremos
nunca? – ela reclamou, achando que começaria a
chorar a qualquer momento se não saísse logo
daquela carruagem.
Era a primeira vez que andava em uma
carruagem com tanto luxo, mas era abafado e
apertado, e sacudia tanto ou mais que a charrete.
Precisava por os pés na terra e sentir o estômago
novamente no lugar.
-Quer encostar a cabeça no meu ombro?
– Alice perguntou baixo – Pode fechar os olhos e
descansar um pouco.
Helena apenas concordou e encostou-se a
Alice, a garganta embargada pela emoção. Sua
melhor amiga.
Como sentira falta de seu carinho...
Baqueada, ela sentiu o enjoo diminuir, ou
ao menos se acalmar.
-Deveria ser mais calmo, meu irmão.
Helena deveria ter ficado em casa descansando...
Sonada, ela mal ouviu as palavras de
Alice.

Helena teve a impressão de ter


adormecido quando a carruagem parou. John
havia descido e segurava a porta aberta, esperando
por eles. Helena ergueu o rosto e olhou para Alice,
envergonhada da própria fraqueza. Alice desceu,
sendo apoiada por John e o ar pareceu queimar
diante da forma como os dois se olhavam. John
distendeu toda sua atenção a noiva, e Helena
respirou fundo quando aceitou a ajuda de Rony
para descer.
Ele se aproveitou do momento, para
segurar sua cintura e ficar próximo, falando baixo
em seu ouvido:
-Sinto muito tê-la trazido apenas por
vingança. Não quero que se sinta mal por minha
causa.
Havia tanta sinceridade em sua voz e em
seus olhos que ela ficou envergonhada.
-Não queria ter jogado a presilha no chão
– admitiu, a culpa falando por ela – não queria
que houvesse quebrado. Eu gostei muito dela...
-Eu notei que está usando-a – ele disse
contente por terem se resolvido sobre isso.
-Sim, mas perdi uma das pérolas, por
minha própria culpa! – reclamou, enroscando o
braço no dele, enquanto seguiam John e Alice,
que conversavam mais a frente.
-O que importa é que gostou – ele disse
para acalmá-la – Não deveria provocá-la e irritá-la
quando está doente. O culpado sou eu.
-Tem razão, a culpa é toda sua – retrucou
e ele riu.
Durante um bom tempo, Helena
manteve-se de braço dado com Rony,
aproveitando a segurança e o conforto, numa hora
de tanta indisposição, mas conforme a manhã foi
passando e o mal estar indo embora, ela separou-
se e juntou-se a Alice na escolha de roupas e
objetos.
Alice não parecia ter muito apego ao
dinheiro, sobretudo se era de seu noivo rico, por
isso esbanjava sem dó.
Em dado momento, John e Rony
conversavam sobre a criação de cavalos que John
pretendia construir na fazenda que adquiria,
quando Helena aproveitou a distração do marido
para apanhar a arma que estava à venda e levar ao
balcão, negociando com o dono do armazém a
compra a fiado.
-Helena, para que vai comprar isso? –
Alice perguntou horrorizada.
-Seu irmão sumiu com minhas armas. Ele
acha que viverei para sempre com uma arma sem
balas... Ledo engano! – disse orgulhosa de si
mesma, ao fechar o negócio e guardar a arma na
bolsa que trazia nas mãos. Era de praxe se
arrumar para um almoço. E fazia sua parte de
esposa dedicada, pensou quase revirando os olhos.
– E você não viu nada, entendeu Alice?
-Por mim tudo bem, desde que não use
contra mim ou contra John – ela deu de ombros.
-Ele contou que o filho de sua amante
nasceu? – Helena perguntou amargurada com
isso.
-Sim, e mamãe está cobrando que a
mande embora. – confidenciou.
-Como se adiantasse alguma coisa – ela
resmungou – Espero que John não seja tão
descarado com suas amantes, e não as coloque
dentro de sua casa.
Alice ficou olhando para Helena com o
coração na mão.
-John não terá amantes fora do casamento
– disse convicta.
-Já disse isso a ele? – debochou.
-Não, mas ouvi Rony dizer a John que
depois que se casa, um homem não sente mais
vontade de ter outras mulheres. – ela disse com
ingenuidade.
Helena largou o enfeite de gesso que
analisava, com medo de derrubá-lo. Olhou na
direção dos dois homens, abalada pelo
pensamento de Rony realmente não querer outra
mulher depois de ter se casado e de ser
plenamente feliz e satisfeito com ela, como vivia
dizendo. Notando seu olhar, ele lhe sorriu e
Helena afastou-se procurando por Alice.
A cunhada reclamava de não ter achado
nenhum tecido que gostasse para o vestido de
noiva, e se afastou para olhar as prateiras do
fundo. Helena olhou novamente para Rony
notando que ele conversava com o dono do
armazém, provavelmente sobre a próxima venda
do milho, e pescou a imagem de John saindo de
fininho atrás de Alice, nos fundos escuros do
armazém. Quanta audácia! Temendo um
escândalo, se aproximou de Rony, desviando sua
atenção. Pelos minutos seguintes fez das tripas
coração para cativar sua atenção e impedi-lo de
sentir falta da irmã. Chegou ao cúmulo do
desespero, quando sorriu tolamente de uma piada
feita por ele.
-Onde se meteu Alice e John? – ele
perguntou em dado momento.
-Estamos aqui, irmão – Alice respondeu
perto, fingindo interesse por alguma coisa, muito
corada, os lábios vermelhos e as mãos tremulas.
Helena arregalou os olhos ao notar a barra de seu
vestido torta, como se houvesse sido erguida e...
-Está ficando tarde, um chá com bolinhos
seria perfeito antes do almoço – ela disse olhando
para John com fúria mortal – O que acha
Sr.Harrison? Há uma finíssima casa de chás do
outro lado da rua...
Era uma indicação de sua raiva e sua
fúria, Helena o faria gastar para pagar a dívida
que tinha com ela. Impor dessa forma, sabendo
que ela conhecia o que estava se passando entre e
Alice!
-Sim, será perfeito. – Alice comemorou,
sem notar o que se passava.
-Faça isso de novo, e conto tudo ao seu
irmão – ela cochichou quando teve a oportunidade
– Como pode fazer isso em um lugar visível?
Alice! Enlouqueceu?
-Não fizemos nada! – ela avermelhou,
sussurrando – Eu disse que sentia muita saudade,
principalmente daquela sensação que me fez sentir
quando fizemos amor e John... Acho que o fiz
perder o controle –sorriu maliciosa -... Ele apenas
me tocou sob a saia. Apenas isso!
-Apenas isso! Sabe como vai acabar essa
história? John morto, Rony preso e eu sem
marido! E você... Casada com algum beberrão
imundo!
Era para assustar, e pela palidez de Alice,
conseguiu seu intento. Finalmente na refrescante
casa de chás, elegante para uma região tão
simples, Helena pediu o prato mais caro e um chá.
Precisou beber algumas xícaras até sentir o
estômago firme e se arriscar nas bolachinhas de
mel. Finalmente devorou o prato, sem nem
perceber se eles conversavam ou não.
-Será um touro e não um bebê – John
brincou, cochichando para Rony. – Veja como ela
come com gosto.
Rony sorriu, a voz embargada. Um filho.
Aquela criança quebraria o muro que Helena
havia erguido em volta de seu coração e traria luz
e alegria para a vida dos dois. Sorriu para ela,
incentivando-a a falar sobre os doces que sua mãe
fazia com mel, enquanto John e Alice se
entreolhavam divertidos com o flerte na voz dos
dois...
Capítulo 69 - Xadrez

John se perguntava por que aquele


comportamento parecia tão irritante. Era de hábito
na corte ser paparicado e tratado com maior boa
vontade, depois de descobrirem que era o maior
herdeiro de Londres, ao ver de muito, um herdeiro
sortudo, pois já nascera de posse da herança.
Vendo o modo como a esposa do juiz se
desvelava em cuidados para com Alice, como se
ela fosse de cristal, após saber do noivado, e o
modo como tratava Helena com descaso, era
revoltante.
Eleonora era uma águia de rapina, e via
longe. Garantir uma amizade afortunada era o
passaporte para sua filha desfilar pelos salões da
corte londrina, atrás de um marido fornido de
ouro!
Quantas vezes não tivera que fugir desse
tipo de mulher? Desse tipo de mãe desnaturada
que venderia a filha pela maior pilha de ouro
disponível?
O almoço tornara-se bastante
desagradável diante da comida mal feita e da
sobremesa nauseante. Obviamente eles tiveram
todo o cuidado de elaborar um vasto cardápio
Francês, com os melhores pratos servidos na corte,
mas não encontraram quem pudesse executá-los
com o mínimo de sucesso.
Helena aproveitou a saída de Rony, John
e o juiz para a sala de estudos, numa conversa
profissional, para se aproximar da varanda. Era
uma casa de dois pisos, gigantesca, e a brisa na
varanda era mais acolhedora do que o calor
insuportável dentro da casa.
Helena sentia-se excluída. Alice
conversava animadamente com a irmã mais nova
de Susan, e não lhe davam margens para
participar da conversa, pois eram assuntos que
não faziam parte de sua vida.
Últimas notícias da corte, provavelmente
pescadas de alguma revista. Quem casou com
quem, qual o estilista da moda, e tantas outras
coisas que se lia em revistas modernas.
-Não é justo, mãe!
Ela ouviu o sussurro e se aproximou da
grande cortina que protegia a sacada. Espiou e
avistou Susan e sua mãe conversando segredos,
pelas costas das visitas.
-Acalme-se. Seu pai terá oportunidade de
falar nesse assunto.
-Pois que fale hoje! Mamãe, até mesmo
Alice conseguiu um noivo bem apanhado e rico. E
olhe para mim, sozinha e sem perspectivas! Não é
justo que Helena tenha um marido tão bonito e
esperto! Ela não merece!
-Sim, todos nós sabemos disso! Deixe
seu pai cuidar disso da sua maneira. Você sabe,
sempre há um jeito de resolver esse tipo de
situação.
-Como minha mãe? – ela faltava pouco
espernear, chorosa.
-Seu pai tem ótimos planos para Ronald,
em poucos meses serão como pai e filho. Não se
preocupe o que é seu desejo, seu será - ela sorriu
para a filha que pareceu se acalmar.
-Papai o fará me amar também? - ela
perguntou petulante e mimada.
-Não será preciso, que homem não a
amaria? Dê tempo Susan, tempo para que seu pai
ache a melhor maneira de ganhar a confiança dele.
-Porque não desfazem esse casamento de
mentira? Papai não contou que muitos casamentos
são desfeitos na corte por causa da loucura da
esposa? Então! Helena é louca!
-Mas é a herdeira de sangue com direito
naquelas terras, Susan. Antes do casamento, foi
fácil para seu pai tentar tomá-las, mas com o
casamento tudo muda. Dê tempo, eles ficarão
amigos, e Rony dependerá cada vez mais do
dinheiro que podemos lhe dar, em questão de
meses, ele aceitará um empréstimo, sanará a
dívida da hipoteca, e poderá se livrar de Helena!
-Mas... Mas e se ele não quiser? - Susan
falou muito baixo, e assustada com essa ideia.
-Faça com que queira – Eleonora
incentivou sorrindo. – Terá muitas oportunidade
de vê-lo a sós. Aproveite para tentá-lo. Seu corpo
é sua arma. Seja doce e submissa. Seja tudo que
Helena não é.
-Obrigado, mamãe – ela disse abraçando
a mãe – Não sei o que seria de mim sem sua
ajuda!
Enojada com a conversa que ouvia,
Helena regressou a sala, decidindo se vingar
assumindo sua postura desagradável. Faria com
que pagassem por tanta humilhação!
Comportara-se durante todo o almoço,
embora calada. Mas agora... Estava livre de
culpas!
-Oh, é mesmo? – ela intrometeu-se na
conversa entre Alice e a irmã de Susan – Não me
admira que sua irmã ainda tenha o tecido de seu
vestido de noiva, afinal, ainda não conseguiu um
marido!
Alice ficou olhando-a em total surpresa.
Uma sombra de riso nasceu em sua face, mas a
conteve.
-É mesmo inacreditável que as duas
estejam ou casada ou noiva – a voz de Susan, que
obviamente ouvira sua frase anterior, soou muito
alta e aguda, voltando ao pequeno grupo para
atacar e se defender – Muita sorte Alice, seu irmão
ter arrumado-lhe um marido – sua voz era
carregada de ironia e Alice corou ofendida – A
gratidão do Sr.Harrison deve ser-lhe de muita
valia, ou não estaria se casando tão bem!
Notando a face de Alice mudar de cor e
seus olhos se enxerem de lágrimas, Helena tocou
sua mão para acalmá-la, e falou baixo, apenas
para que ela ouvisse:
-Não se preocupe, agora vem à parte em
que ela me acusa de ter comprado um marido.
Susan sentou-se próxima, sem ouvir seu
comentário.
-Claro! Grande sorte de Helena ter a
fazenda para dar em troca de um bom casamento...
-Sim, grande sorte, ou estaria solteirona –
ela disse com veneno.
As faces impecáveis de Helena a fizeram
corar e ela se ergueu. Estava prestes a brigar
quando sua mãe apareceu na sala, com uma
pequena empregada atrás dela, não parecendo ser
mais que uma menina de quatorze anos,
carregando uma bandeja grande demais e pesada.
Triste destino de uma órfã. Em seu ventre
as marcas de uma gravidez já avançada.
Escravizada e possuída pelos patrões como se não
tivesse valor. Pobre infeliz, teria sido esse o
mesmo destino de Helena, ou até pior, se não
houvesse se casado com Rony.
Esse pensamento provocou-lhe um
arrepio no corpo.
-Um refresco para o calor – Eleonora
cortou a discussão, com o olhar de um falcão,
hábil na arte de vencer guerras – Soubemos que
tem uma hóspede, Helena. Uma amiga de seu
marido vinda de Londres...
-Oh não, é uma amiga de meu noivo –
Alice se apressou a dizer. -Uma viúva de um
grande amigo de meu noivo e meu irmão. Sofria
terrivelmente de dores, e precisou refugiar-se em
um local calmo e sereno para ter seu filho. –
mentiu.
Helena olhou para ela sem entender por
que disso. Alice estava defendendo-a?
-Não é o que dizem os boatos – Eleonora
abriu seu mais falso sorriso de desdém – Dizem se
tratar de uma cortesã!
-É mesmo? E quem perderia tempo
inventando tanta maldade? – Alice se fez de
ofendida. – A Srta.Lil é uma mulher de muito
respeito, mas não é surpresa que cause inveja. É
uma mulher muito abastada e bela.
Discretamente sendo chamada de
invejosa, Eleonora mudou drasticamente de
assunto.
-Porque mentiu? – Helena perguntou
quando ficaram sozinhas por alguns minutos.
-Porque tenho sido má e mesquinha.
Minha mãe mandou que fosse simpática com você
e me penitenciasse pelo que disse... A seu respeito
e de John...
-Sandra é muito sensível. – ela disse sem
querer mostrar tanta gratidão.
-Helena... É possível uma mulher saber
que espera um filho, mesmo tão pouco tempo
passado? – Alice sussurrou.
-Toda mulher deve ser capaz de saber –
afirmou, ironicamente, sem saber que ela própria
não sabia – Mas se tiver alguma suspeita, não me
conte, ou a culpa me matará!
-Vai me ajudar se eu...? – Alice olhou-a
em seus olhos.
-Estará casada antes que precise ajuda –
ela disse decidida.
-Não se minha mãe der por falta dos
panos que uso todo mês – se referia a sua
menstruação.
-Faz muito pouco tempo! Uma semana! –
Helena disse horrorizada.
-Mas tenho a sensação que logo terei a
confirmação – ela disse convicta – Estou ansiosa
por isso... Eu... Não devo ter juízo!
Helena olhou longamente para ela e
sorriu.
-Diga a sua mãe que a convidei a voltar
para minha casa – sucumbiu. – Mas te aviso, se
der atenção aquela mulher novamente, eu mesma
a levo de volta!
-Parece minha mãe falando – Alice riu.
Helena também sorriu.
De longe, Susan observava-as
lamentando não ouvir a conversa.
-Veja como são felizes – ela disse amarga
para sua mãe.
-Venha, é sua chance – Eleonora a puxou
pelo braço.

Rony ocultou um sorriso quando viu a


jovem entrar na sala de seu pai. Sentado em uma
das confortáveis cadeiras, representava seu papel
muito bem.
O jovem tolo que não percebia ser
manipulado. Até mesmo John tinha o olhar
divertido ao seguir o velho Simon a adega, onde
supostamente guardava vinhos envelhecidos e de
ótima qualidade.
A Rony restara aguardar a armadilha.
Perguntava-se qual seria o verdadeiro
plano. Dar-lhe um flagrante em situação de
desonra de sua filha e obrigá-lo a desfazer seu
casamento para desposar Susan, ou apenas
ludibriá-lo com dinheiro até torná-lo dependente?
Por certo a segunda opção seria a mais
provável para um jogador experiente como o pai
da jovem.
-Prove as bolachinhas, Rony. Fui eu
mesma quem fez.
Ele sorriu para a adorável face corada de
Susan e provou um dos doces. Não era ruim, mas
não agradava a um homem que tinha a
oportunidade de comer os doces mais saborosos
do país.
-Diga que está uma delícia – ela lhe
sorriu, malícia e doçura unidas para enlouquecer e
tentar um homem.
-Está uma delícia – deu-se por satisfeito
quando ela se aproximou, sentando-se ao seu lado.
-Papai diz que é um homem muito
inteligente e com um próspero futuro Rony...
Ele quase sorriu ao modo afetado como
dizia seu nome. Soava como “Ronnnnnyyy”,
parecendo um gatinho novo miando por fome.
Enquanto Helena esbravejava seu nome como
quem canta uma praga de morte!
-... Não pensa em voltar a Londres?
-Um dia talvez... Apresentar Helena a
corte. – sabia que isso enfureceria a jovem.
-Não creio que ela soubesse se portar –
sorriu com deboche.
-É necessário altivez e dignidade para se
portar e ser respeitado na corte, e esses atributos
transbordam em Helena. Agora, se me der licença,
não é de bom tom manter a porta fechada estando
sozinha com um homem casado – ele mesmo
levantou e abriu a porta, notando sua expressão de
desapontamento.
-Helena não parece ser o tipo de mulher
que dá atenção suficiente a um marido – ela disse
dócil.
-Não parece porque não é. Um encontro
perfeito, se me permite dizer, pois também não
sou o tipo de homem que gosta de certa atenção
feminina.
-Todos os homens gostam de ter uma
mulher delicada e feliz ao seu lado. – ela insistiu,
começando a irritá-lo.
-Helena é delicada e feliz, mas não é
fútil. Nem afoita. É controlada e racional. Faz os
melhores doces que um homem pode comer, fala
francês e conhece muito sobre cultura, pois tem o
vicio da leitura. É uma parceira para qualquer
homem, pois cuida da casa e se necessário do
plantio. Tem as qualidades que me interessam.
-Ah sim, mas não é uma mulher bonita! –
ela disse com recalque.
-E como é uma mulher bonita? - ele
perguntou-lhe.
-Ora – Susan levantou-se arrumando a
saia do vestido e se aproximando – uma mulher
com a pele clara como o leite, os cabelos bem
penteados e as formas arredondadas dentro de um
vestido que mostre o quanto ela gosta de cuidar-se
para o marido – inclinou-se de modo que pudesse
ver seus seios, e quase os mamilos, tamanho
decote.
- A beleza é questão de gosto – ele disse
pensativo – A mim, Helena é perfeitamente bela
do jeito que é. Aliás, mais bonita que as outras
mulheres, exatamente por não ser igual a tantas.
-Está sendo gentil, pois ela está na sala! –
Susan pôs as mãos na cintura, revoltada.
-Não estou sendo gentil. Estou dizendo
que aprecio minha mulher. Como ela é.
Com essas palavras, ele a conduziu para
o corredor, para fora da comprometedora
privacidade daquela sala.
Andando atrás dela, sorriu pensando que
agora, o juiz teria que aumentar o preço se
quisesse tê-lo. Afinal, um marido apaixonado é
ainda mais caro que um marido insatisfeito!
Mudar a cabeça de um homem é ato fácil, no
entanto, o coração nem sempre é previsível. Na
sala, Helena sentiu o gosto amargo nos lábios ao
vê-los juntos e sozinhos. Como sempre, se
apressava em confiar naquele homem!

Rony fechou a porta da carruagem e


encarou a mulher emburrada a sua frente. Haviam
se despedido da família do juiz há uma meia hora,
quando Susan e sua mãe lhe sugeririam uma
senhora que tinha muitos tecidos, pois seu marido
era vendedor ambulante. Sem paciência para ver
tecidos e rendas, ele preferira ficar na carruagem,
notando que Helena odiaria mais um minuto que
fosse daquele show de horrores que era para ela
fazer seu papel de boa esposa.
-Tem algo a irritando? Gostaria de saber
para poder me defender - ele sorriu, estendendo o
braço a apanhando sua mão. A carruagem era
pequena para um homem grande, e Helena estava
bem diante dele, seus pés quase se tocando.
-Ouvi uma conversa entre Susan e sua
mãe - ela disse séria, sem puxar a mão.
-Uma conversa sobre como estão me
enganando e manipulando para que me case com
Susan? – antecipou-se sorrindo diante de sua
surpresa – é um bom plano, querem me fazer
dependente do dinheiro do juiz. Os processos
rendem uma boa quantia, e supostamente farei
dívidas que me manterão interessado em ter um
padrão de vida melhor. Então, um belo dia, eles
pararão de me chamar, e a única alternativa para
manter o estilo de vida a qual estarei acostumado,
será me livrar de você e casar-me com Susan. –
resumiu ainda sorrindo.
-Porque está rindo? Aprecia o plano? –
tentou puxar a mão.
-Não, mas aprecio o fato de ser capaz de
percebê-lo. Helena, não perder uma boa
oportunidade, não quer dizer que estou me
deixando manipular. O dinheiro extra será
investido da fazenda, e em breve terá um retorno.
Sendo assim, quando me colocarem na parede,
não sentirei falta de nada. Terei apenas me usado
da ganância e arrogância do juiz e sua família.
-Porque estava em encontros fortuitos
com Susan se não aprecia seu golpe? – ela acusou,
sentindo os carinhos que ele fazia em suas mãos.
-Acredita que ela tentou me seduzir com
biscoitinhos? - ele riu – a pobre não sabe que esse
marido aqui, já foi pego pelo estômago – notou
que ela tentava não sorrir da brincadeira – e fui
pego também, pelo coração e por outras partes que
não cabe comentar...
Ela sorriu agora, incapaz de controlar a
vontade de rir.
-Tirar proveito de quem nos quer atacar é
uma dádiva, Helena.
-Não aprecio esse tipo de jogo - ela
tentou resistir a seu charme.
-Não é um jogo. Daqui a alguns meses,
encerraremos nosso trabalho em comum, Susan
arrumara algum infeliz que aceite suas condições,
e seguiremos nossa vida.
-É um biltre. – ela resmungou.
-Um biltre que não abrirá mão desse
casamento. Se conforme com isso Helena, está
presa a mim para o resto dos seus dias, que espero
sejam muitos.
-Com a sorte que tenho, viverei até os
cem anos aturando-o ao meu lado – tentou
resmungar, mas soou mais como uma brincadeira
entre amantes.
-Não seja ranzinza, Helena.
Notando que apesar dos pesares ela
sorria, se aproveitou e a puxou para seu colo.
-O que está fazendo...? - ela tentou lutar,
mas foi presa em seus braços, sentada em seu
colo.
-Estou beijando minha mulher.
E como beijou. Sem lhe dar tempo para
reagir, tomou seus lábios em um beijo meigo e
profundo. Helena segurou-se em seu braço e a
outra mão enlaçou seu rosto, fazendo carinhos
involuntários.
Aquela boca úmida era uma tentação, e
quando Rony mordeu seu lábio inferior, Helena
penetrou sua boca com a língua, sem notar que
estava ansiosa e tomando a dianteira.
Rony correspondeu, aquecido, o corpo
dando sinal, pressionando as nádegas suaves, e
com movimentos rápidos, sem quebrar o beijo,
subiu parte do vestido, achando um jeito,
desajeitado de baixar suas roupas de baixo.
-Não - ela se afastou assustada,
empurrando-o.
-Alice... John... - ela estava sem ar, mas
ele não parou com os movimentos, buscando seus
lábios rosados para outro beijo longo e guloso.
Queria achar um jeito de subir seu
vestido, mas o melhor era deitá-la sobre o estofado
e...
Um som abafado de surpresa o fez
desgrudar o rosto, e olhou para a porta da
carruagem aberta. John tivera a discrição de fechá-
la um segundo após Alice abri-la.
-Meu Deus, que vergonha...! – Helena
saiu de seu colo, sentando-se desajeitadamente em
seu lugar, alisando os cabelos embaralhados, e
arrumando precariamente o vestido,parando
apenas para lançar-lhe um olhar de repreensão –
Olhe só o que você fez!
-Estou olhando, e adorando – ele flertou
roubando-lhe um último beijo rápido antes de
abrir a porta.
Alice tentava parar de rir, e parecia
corada, pois se abanava com um leque.
Provavelmente algum comentário malicioso entre
os noivos.
-Podemos ir para casa? – Rony perguntou
a John, para certificar-se que tudo fora resolvido.
A data do casamento fora marcada ainda pela
manhã, tanto no civil quanto na Igreja e estavam
todos cansados e esfomeados, pois o almoço fora
intragável. Morrendo de vergonha, Helena se
encolheu em seu canto, sem coragem de olhar para
aquele desavergonhado!
Capítulo 70 - Lembranças

Helena bebeu e comeu com pressa,


quando chegaram em casa após o longo passeio a
cidade. Estava faminta, pois mal tocara no almoço
e o lanche da finíssima casa de chás não fizera
sequer cócegas na sua fome magistral.
Terminou o lanche de Juanita, sozinha,
pois John levara Alice para casa, e Rony tivera
assuntos da fazenda a resolver logo ao chegar.
Saciada, ela colocou uma das mãos sobre
o ventre, achando que estava estufada.
Desse jeito, logo pareceria um dos leitões
que Juanita engordava para as festas de final de
ano!
Suspirando de contentamento,
completamente esquecida daqueles tempos de
penúria e fome, sozinha naquela casa sem saber
como seria o dia de amanhã, Helena resolveu sair
ao ouvir o som de riso.
Pela porta da frente, ela andou pouco até
encontrar a razão de tanta animação masculina.
Um pequeno grupo de homens, todos
com armas nas mãos, um deles arrumando uma
fileira de garrafas velhas sobre um tronco da
cerca. No centro do grupo, Suarez ensinava o mais
novo a segurar a arma e como puxar o gatilho.
De canto, Rony incentivada o menino.
Um menino. Nada além de um menino. Helena
podia ver outra imagem, mais antiga, de seu pai
de pé, ali mesmo ensinando seu irmão a atirar. Ele
ria orgulhoso lhe entregando sua primeira arma,
ao qual o rapazinho empunhara de peito erguido,
embevecido pela honra de ser homem.
Helena se viu, menor, espiando o irmão e
o pai com uma velha boneca de pano suja e
remendada, brincando não muito longe dali,
curiosa.
Sua mãe, no mesmo lugar que ela estava,
de pé na varanda, fazendo o sinal da cruz e
rezando pela alma do filho, que já sabia não
demoraria a perder.
Um menino com uma arma.
Com passos duros ela saiu da inércia e se
aproximou da roda de homens, que abriram
caminho. Com fúria ela arrancou a arma das mãos
de Duran e virou-se para Suarez, cuspindo
marimbondos.
-Duran é apenas um menino! Não vai se
matar usando uma arma!
Suarez olhou de seu rosto afogueado para
o do patrão dividido entre reclamar e obedecer.
-Helena, devolva a arma – Rony mandou,
mas ela sequer olhou em sua direção.
-É o filho mais velho de Juanita! O
homem que vai protegê-la! Não vou permitir que
carregue uma arma e se mate! Está ouvindo? –
berrou na cara de Suarez – Duran, volte para casa!
O menino sempre a obedecia, mas hoje,
estava na dúvida.
-Já tenho idade para atirar –ele tentou
barganhar.
-Não, não tem! Vai aprender a mirar, e
achar que é homem! Na primeira briga, irá
empunhar essa arma contra alguém que realmente
saiba usá-la e acabará dentro de um caixão, sendo
entregue a sua mãe! – intimidou o menino que a
despeito de sua linda cor morena, estava pálido.
-Helena, chega – Rony segurou-a e tirou
a arma de suas mãos – Voltem ao trabalho –
mandou os empregados embora, pois não
deveriam continuar presenciado o fato. – Vamos
conversar sobre...
-Não! -ela se soltou, empurrando-o a
despeito dos olhos de seus empregados, mirando e
esperando quando o patrão daria uma lição em sua
mulher rebelde. – Juanita sabe que tende matar
seu filho? -ela acusou Suarez.
A face do homem endureceu, e seu
orgulho obrigou-o a responder:
-Este filho também é meu, pois o
alimento e crio, dona.
-É mesmo? - ela ironizou – Pois então,
ensine-o a ser homem de verdade antes de ensiná-
lo a usar uma arma!
-É o que estou fazendo – ele respondeu
seco e direto, as mãos na cintura. Tinha quase a
mesma altura de Helena e era franzino, mas tinha
uma aura forte e dura, do mesmo modo que
Helena – Um dia poderei faltar, e Duran cuidará
da mãe e dos irmãos. E não sei se esse dia será
hoje, amanhã e ou daqui a muitos anos!
-Ele acabará morto! -ela esbravejou, a
lembrança dos irmãos que não conhecerá vividas
em sua mente e em seu coração, o som dos
soluços de dor de sua mãe, chorando a morte de
cada um deles, vivos em sua lembrança.
-Chega! – Rony gritou, calando-os –
Suarez, volte ao trabalho. Duran, entre na casa,
falo com você mais tarde. Helena, venha – ele
agarrou seu braço, de uma forma que não pode
soltar-se.
Arrastada, foi levada para o quarto. Rony
trancou a porta e jogou-a sobre a cama.
-O que está fazendo, Helena?
-Ele vai se matar! Essa arma vai ser a
desgraça de Duran! O pobrezinho estará morto
antes do fim do verão! -ela respondeu, sentindo a
emoção transbordar – é sempre igual! Sempre!
-Não, não é! Todos os meus irmãos
aprenderam a atirar desde cedo e...
-Eles não andavam armados! – ela gritou
– Eu nunca vi um irmão seu armado! Sabe o que
um menino faz com uma arma? ELE SE MATA!
-Helena... – Rony esperou. Ela tinha
muito o que por para fora.
-Não importa para Suarez! Nunca
importa para os homens! Seu orgulho lhe basta!
Ter um filho viril! Mas quando voltam dentro de
um caixão, nenhum de vocês fica perto para ouvir
o choro das mães e das irmãs! O que importa, é
que haja outro filho homem para ensinar a atirar!
É sempre igual!
-Helena, se acalme – ele sentou-se na sua
frente na cama, tentando acalma-a – Não fique
nervosa, falarei com Suarez. Eu prometo que o
Duran não vai carregar uma arma. Está me
ouvindo?
Afastou os cabelos macios de sua face, e
suas lágrimas o comoverão.
-Havia tanta vida nele... – ela se referia
ao irmão, que perdera a alguns anos atrás – Como
em Duran...
-Nada vai acontecer ao menino de Juanita
– ele prometeu – Helena, não chore, meu amor...
-Estariam vivos, Rony, se meus irmãos
estivessem aqui, minha família estaria viva. –
havia dor, e desespero em seus olhos – Minha
mãe...meu pai...Anne estaria comigo! Viva! – ela
segurou seu braço, o desespero das lembranças
tão recentes, dando-lhe grande força.
Seus soluços cortaram seu coração e
Rony a deixou chorar, pois não havia palavras que
pudesse dizer para consolar e aquietar seu
coração.
-Chore, Helena, desabafe tudo que a
machuca... – ele tentou abraçá-la, mas Helena se
afastou.
-Não quero chorar! O que me resta? –
empurrou-o, mas Rony não a deixou levantar,
segurando seus braços, e mantendo segura perto
dele. – Perdi tudo! Tudo que confiava! Eu
era...feliz. Segura! E agora...o que me resta? -
seus olhos ficaram perdidos.
Ver aquele menino segurando uma arma
despertou nela todos seus medos mais secretos,
alimentados por seu completo caos emocional e
hormonal. Rony não queria falar, queria que ela
falasse.
-Uma nova vida, Helena, tem uma nova
vida...
-Sem minha família? Que vida é essa? –
seus olhos baixaram, as lágrimas correndo, o
choro calando suas palavras – Jurei que nunca
abandonaria Anne, e agora, ela está enterrada na
terra, solitária e fria, sem mim!
-Pelo amor de Deus, Helena, não diga
uma coisa dessas! – ele sentiu pavor só de
imaginar Helena morta, ao lado da irmã.
Abraçou-a, pois agora, o desespero era
dele também.
-Eu quero minha mãe, meu pai e minha
irmã...eu preciso deles comigo – era um pedido
inacessível, e desesperado de quem não teve
oportunidade de se desfazer da dor como deveria.
Enrodilhada em seu colo, ela chorou.
Como nunca havia chorado antes. Era o mesmo
choro desamparado de quando estivera sozinha
naquela casa escura, no dia em que voltara do
enterro, abatida e chocada demais para falar ou
lamentar.
O mesmo choro da manhã seguinte,
quando descobrira que estava sozinha no mundo.
Havia apenas uma diferença.
Os braços a sua volta, que a amparavam,
a voz rouca e emocionada, que sussurra bobagens
para acalmá-la. O calor daquele corpo onde estava
agarrada, que lhe dava forças.
Chorou por muito tempo, sem saber mais
porque chorava.
Pela família perdida, pelo futuro que
teriam ao seu lado, e que jamais aconteceria, pela
nova família que criava a seu redor, com Rony e
que um dia também iria embora.
Por Rony que a deixava fraca e
manipulável e que iria embora com Susan, Alexia
ou qualquer outra que aparecesse.
Chorou por si mesma, que sempre ficaria
para trás...

-Helena está mais calma? – Juanita


perguntou quando ele apareceu na cozinha.
Estava abatido, era noite, mas eles
ficaram no quarto muitas horas. Primeiro, ela
havia chorado muito, e depois adormecido de
estafa emocional, então, fora a vez dele, precisar
de um tempo ao seu lado.
Deitou-a na cama, e a deixou mais
confortável, trocando suas roupas, e deixando-a
nua, sob as cobertas. Ficara um bom tempo
olhando-a dormir enquanto pensava em tanto
sofrimento para uma mulher tão pequena. Tão
frágil. Tão boa.
-Adormeceu – ele disse apenas, sentando
pesadamente numa das cadeiras em frente a mesa.
-Disse a Suarez que não gosto dessa ideia
de armas -ela disse enraivecida- mas você acha
que ele me ouviu? Acha que algum homem nos
ouve?
Seu discurso era muito parecido com o de
Helena e Rony estava começado a achar que eles,
homens, fazia suas mulheres sofrerem
desnecessariamente, apenas por machismo e
idealismos errôneos.
Com raiva e tristeza, aquela mulher
enxugou as mãos no avental e olhou para ele com
os olhos úmidos.
-Não quero perder meu filho, como a mãe
de Helena perdeu os seus. Fale com Suarez, ele o
ouve. Peça que não insista nessa ideia, ou...vou
pegar meus filhos e ir embora. Não posso viver ao
lado de um homem que não me ouve!
-Suarez estava ensinando o menino a
atirar. Isso não quer dizer que lhe dará uma arma
– defendeu o empregado, cansando –Foi um longo
dia, vou me recolher.
-Cuide de Helena – Juanita disse ainda
nervosa – não a deixe tão irritada e nervosa. Não é
bom para a criança, nem para ela. – pediu,
também encerrando seu dia – fiz uma canja, é só
esquentar se tiver fome.
-Tenha uma boa noite, Juanita, e não se
preocupe.
Ela tentou concordar, nervosa demais
para isso.
Ver o filho, tão novo, com uma arma nas
mãos a deixou abalada demais para interferir, e
ver sua patroa fazê-lo foi um bálsamo para seus
medos. Não podia brigar com seu marido, Suarez
fazia muito por ela. Tinha que pensar nos outros
filhos, que tinham um teto, um lar, comida e
afeição de um bom homem.
Rony apanhou uma jarra de água e voltou
ao quarto. Fechou a porta, se despiu e entrou na
cama, com Helena.
Ela tinha o sono irrequieto, mas se
acalmou quando a abraçou.
-Rony...? – ela acordou, presa no pesado
sono e olhando-o com olhos confusos.
-Estou aqui – beijou sua testa – durma
querida, durma que estou aqui.
Naquela noite, Helena teve sonhos com
sua família.
Sonhos diferentes, com eles vivos, felizes
e recomeçando suas vidas, suas almas embaladas
por luzes coloridas e piscantes.
Sonhos confusos, onde todos estavam em
paz.
Capítulo 71 - Desenganos

Era uma manhã chuvosa. Helena acordou


e se moveu, sentindo a cabeça latejar. Havia
chorado muito tempo no dia anterior, e agora, sua
cabeça parecia que iria explodir.
Sentia vergonha e constrangimento pela
forma como agira. Sentia-se um lixo. Virou-se
para o lado, querendo se afundar nas cobertas e
esconder-se do mundo.
Estava quentinho na cama, e confortável
demais para que se desse ao luxo de querer
levantar. O dia estava começando lá fora, e estava
tudo silencioso.
Era assim em dias de muita chuva. A
correria para guardar as ferramentas, e os animais
que pastavam, e então, não havia nada a fazer
além de sentar e esperar.
Gemeu de contentamento quando sentiu
um carinho na cabeça, em seus cabelos.
-Bom dia, Helena.
A voz era morna em seu pescoço, e a
arrepiou da cabeça aos pés.
-Bom dia – ela respondeu a voz muito
rouca, pelo choro da noite anterior. Movendo-se
na cama, ela notou que estava nua.
Muito justo, ele a colocara para dormir, e
sendo Rony exatamente como era, se aproveitaria
para tê-la nua a seu lado. Não estava chateada, ele
era assim. Não perdia uma boa oportunidade!
Os carinhos em seus cabelos
continuaram,e ela ronronou.
-Já conversei com Suarez – ele falou
baixo, beijando seu pescoço - Ele não dará a arma
para Duran, mas insiste que aprenda a atirar.
-Muito justo –ela concordou, tremendo ao
lembrar da emoção que sentirá na tarde anterior. –
Eu...não queria envergonhá-lo na frente de seus
empregados – escondeu o rosto no travesseiro.
-Não envergonhou – ele garantiu – Fiquei
preocupado.
-Por quê? – ela girou para olhá-lo nos
olhos. Estava apanhada em uma armadilha, pois
estava agora em seus braços.
-Porque você é sempre durona - ele
brincou, roçando os lábios em sua bochecha – não
gosto de vê-la chorar – ele acrescentou.
-Porque estou nua? – quis mudar o
assunto e não sentir-se frágil novamente.
-Porque sou obcecado pelo seu corpo nu.
– fez graça para fazê-la rir.
-Queria que os filhos de Juanita tivessem
um destino diferente dos meus irmãos – ela disse
baixando os olhos.
-Eles terão. Suarez não é como seu pai.
Não pretendia deixar Duran andar sozinho com
uma arma. Sua ideia, era ensiná-lo a proteger a
família, apenas quando ele próprio não pudesse
fazê-lo.
-Eu...perdi o controle quando vi o
menino com a arma...foi assim com o meu irmão e
poucas semanas depois estava morto.
-Vamos esquecer esse assunto, Helena. O
que aconteceu com sua família não se repetirá.
-Como pode ter certeza? - ela questionou
precisando muito acreditar nisso.
-Porque pretenso educar meus filhos e
ensiná-los a pensar sempre na mãe e nos irmãos,
antes de se meter em uma briga – ele disse
sorrindo, mas com um ‘que’ sério no olhar.
-Rony... –ela pretendia agradecer pela
forma como estava sendo tratada, mas lhe fugiu as
palavras.
-Diga –ele instigou adorando o modo
como ela olhava para sua face, para seus lábios,
desejosa de um beijo.
-Eu...hã...
Cada vez mais próximos, Rony praguejou
quando o forte choro do bebê no quarto ao lado
quebrou o momento e Helena se afastou um
pouco.
-Juanita está em casa, com os filhos,
deixou o café pronto, e Alexia alimentada. Não
havia sentido em ficar aqui dentro e deixar os
filhos enlouquecendo Suarez! –ele riu e saiu da
cama, pois já estava vestido a bastante tempo –
não se atreva a sair dessa cama. – avisou antes
de sair do quarto.
Deitada, ouviu o som dos passos até a
porta ao lado, ouviu a porta ser aberta, e ouviu o
som de vozes, que falavam amenidades.
Ciumenta, esperou que ficassem em um silêncio
que entregasse atitudes de amantes, como beijos,
mas não ouviu nada, além dos passos que
voltavam, e o do choro da criança que cessava.
Ele andou pela casa, e Helena esperou.
Deveria se levantar, vestir e cuidar da
casa, mas estava com preguiça.
Era algo novo, sentir preguiça.
Ouviu a porta abrir mas não abriu os
olhos, preferiu o travesseiro macio. Rony se
aproximou e ela sentiu o cheiro de pão quente,
leite e manteiga. Seu estômago revirou.
Virou o rosto para o outro lado,
nauseada.
-Está enjoada de novo? -ele perguntou.
-Sim – respondeu.
-Juanita sugeriu que comesse - ele
avisou.
Normalmente Juanita sabia como
acalmar seu enjoo matinal, só por isso deu
ouvidos. Sentou-se na cama, cobrindo o corpo
com o lençol e olhou com desgosto para a comida.
-Ela está acordada? – perguntou
mordendo um pedaço do pão quentinho.
-Acordou mais cedo, tomou o café e
voltou a dormir – ele explicou observando-a
comer. – Sequer se mexeu com o choro da neném.
-Quando ela vai embora? – perguntou
engolindo a comida com sacrifício.
-Logo. Beba – ofereceu o copo de leite.
-Não precisa ficar aqui, pode ir trabalhar
-ela disse não querendo parecer que apreciava sua
companhia e sua atenção.
-Não há muito o que fazer num dia de
chuva como hoje – lembrou-a – podemos passar a
manhã toda na cama, se você quiser – era uma
sugestão maliciosa.
-Gostaria de ficar mais um pouco...-
confessou – até o enjoo passar...
Rony conteve a vontade de rir e lhe dizer
que só passaria dali a uns oito meses, mas se
conteve.
-Gostaria de uma massagem?
-Não é necessário – ela tentou não sorrir
de sua decepção, devolvendo o copo e o prato
vazio e se recostando nos travesseiros.
Havia um brilho de desafio em seus olhos
e Rony adorou esse clima ameno entre eles. Tirou
os sapatos e entrou na cama, sob os lençóis, para
lhe fazer companhia.
Sua mão pousou sobre seu ventre,
fazendo carinhos em sua barriga tão lisinha, sobre
o lençol. Em poucos meses, essa mesma barriga
estaria pesada e arredondada e Rony estava
ansioso por isso. Seu coração apertado de vontade
de lhe contar a verdade.
Que esperavam um filho. Que em poucos
meses seriam pais.
Haveria uma criança com o sangue de
ambos, Parkers e Johnson, e que ambas as
famílias teriam continuação através dessa e de
tantas outras crianças que viriam.
Que era o homem mais feliz do mundo ao
saber que seriam mais que marido e mulher,
dividiriam a maior responsabilidade do mundo, de
criar um filho juntos.
-O que foi? – ela notou o momento que
sua expressão mudou para algo profundo e
intenso.
-Quero fazer amor com você – ele disse
simplório, não exigindo, apenas pedindo.
Helena afastou os olhos, pois não
conseguia dizer não. Não assim, calma, serena, no
conforto e no calor de seus braços. Era quase
impossível...
-Não estou protegida – agarrou-se a essa
verdade para não se render.
-Prometo evitar – ele resumiu, pois agora,
ela conhecia muito do amor, e sabia exatamente a
que se referia.
-Não me sinto bem - tentou uma última
vez.
-Seremos suaves – ele seduziu, correndo
uma das mãos por seu braço, num carinho suave.
– E breves.
-Vai achar que porquê cedi uma vez, irei
ceder sempre – negou, se afastando de seus
carinhos.
-Helena! – ele riu – Não seja chata. Está
chovendo, estamos na cama, sozinhos, sem nada
para fazer...é um dia atípico!
-Então, irá se valer disso apenas quando
chover? – provocou, mas ele riu.
-Não seja uma mulher má, Helena. – ele
apanhou sua mão e colocou sobre a calça, sobre a
braguilha – Veja como estou, apenas de estar ao
seu lado sem ser rejeitado...
Ela não tirou a mão, mas também não
disse sim, ou fez qualquer tipo de carinho.
-Ficará chateado, mas não sinto a menor
vontade – tirou a mão.
Era verdade, era estranho. Notando sua
expressão sofredora pela rejeição, ela sorriu. Um
sorriso misterioso que o encantou.
-Eu quero, mas não quero...é estranho.
-Me explique – disse um tanto ofendido
em sua masculinidade.
-Sinto desejo, mas não sinto a menor
vontade do ato em si - foi franca como sempre em
sua vida.
Rony engoliu a desfeita, e tentou não se
incomodar, tentando lembrar a si mesmo que os
hormônios de uma mulher grávida são confusos e
se Juanita estivesse certa sobre Helena padecer de
todos os piores sintomas da gravidez, então, ele
acabaria sofrendo junto com ela.
-Posso aguardar que melhore – disse com
os resquícios de orgulho masculino que lhe
sobrara intacto.
-Quando melhorar, não será tão fácil me
convencer – lembrou-o.
-Como sempre, me desafiando. – ele
respondeu no mesmo tom, acomodando-a contra
seu ombro, ambos recostados nos travesseiros. -
Helena?
-Sim? – agora que havia comido, e o
enjoo se acalmara, estava ficando sonolenta
novamente.
-Desejo um filho – ele decidiu que era
hora de tocar no assunto. Contar a verdade.
-Pois então, o tenha – ela disse
indiferente. – Com outra mulher.
-Qual o problema de ser mãe? Achei que
fosse o desejo secreto de qualquer mulher! –
reclamou.
-Não sou qualquer mulher!
Incomodada pelo teor da conversa, se
afastou, achando por bem fugir dele o mais rápido
possível.
-Aonde vai? -ele perguntou sentando na
cama, e observando-a equilibrar o lençol enquanto
vestia uma camisa longa e diáfana de algodão,
colocando o vestido por cima, sem ligar para as
roupas íntimas.
-Vou ler – respondeu irritada.
-Ler? – ele também se irritou, achando
um absurdo preferir os livros de John à sua
presença!
-Porque não? – revidou, prendendo os
cabelos em um coque na nuca, olhando-o com os
olhos brilhantes, pois mexia com ela sempre que
falava de filhos.
-Ao menos faça algo de útil, se não pode
me tratar como um marido -reclamou. – Faça
algo para nosso almoço.
-E o que você deseja comer? -ela
ironizou com falsa expressão doce.
Rony pensou em dizer: adoraria lamber o
gosto de sua pele, morder os bicos dos seus seios,
sorver os líquidos de seu gozo e engolir os gritos
do seu prazer. Mas Helena não merecia ouvir, não
quando ficava desse modo, intratável!
-Algo doce? – sugeriu para irritá-la ainda
mais.
Antes de sair do quarto, dirigiu-lhe
aquele olhar sujo que sempre o excitava. Mais
tarde, pensou. Mais tarde daria um jeito de vergar
sua vontade e subjugá-la! Por hora, se
conformaria.

Helena terminou o jantar, e chamou os


meninos de Juanita para ajudarem a levar para o
celeiro onde os empregados comiam. Cansada,
sentou-se na cadeira, bebendo um gole de água.
Sentia-se tão cansada. Tão doente.
Precisava ver um médico. E com urgência! Aquilo
não era normal. Decidida a mandar um
empregado chamar o médico na cidade, ela sorriu
para o rosto arfante de um dos meninos, que não
tinha mais que seis anos, e era gordinho, com
fofas bochechas rosadas.
Ele deu o recado do padrasto e saiu
correndo, e Helena levantou-se num pulo em
direção ao quarto onde o preguiçoso Rony dormia
sossegadamente, antes do almoço, aproveitando o
raro descanso.
-O que houve? -ele perguntou, acordado,
e se arrumando para ir trabalhar, apesar da chuva.
-Um dos homens está com febre e
calafrios, pode ser uma peste. – disse assustada.
-Deve ser gripe -ele desmereceu.
-Viveu sua vida longe, não sabe o efeito
de uma epidemia! – havia pânico em sua voz. –
Alguém precisa buscar um médico! Rápido!
-Eu vou -ele disse abotoando a camisa.
-Está louco? Não pode ir até o galpão! Se
for contagioso, pode morrer e todos os sacrifícios
serão perdidos quando me tomarem a fazenda!
Em seu medo não notou sua magoa.
Sacrifícios. Estar casada com ele era um grande
sacrifício.
-Mande Suarez ou outro – ela respirou
fundo – Talvez eu também esteja contaminada, e é
por isso que estou doente. – sentou-se na cama,
engolindo em seco.
-Fique dentro de casa, Helena – ele
acusou lembrando-se do bebê. Não podia correr o
risco de sua saúde ser afetada. Não agora!
-Se estou doente, não posso ficar aqui,
posso contaminar outras pessoas! – desesperou-se.
-Seja lá o tem, não é contagioso, ou eu
estaria doente também. Se acalme. E deite um
pouco, está pálida.
-Mas, eu...
-Fique no quarto até sabermos o que está
acontecendo – ele mandou – Lembre-se, se você
perecer, eles me tomam a fazenda, e só Deus sabe
o que outro fazendeiro fará com ela – tentou
apelar, para que ela não saísse de jeito nenhum.
Assustada com a lembrança da última
epidemia que assolara aquela região, e fizera
muitos mortos, em poucos dias, Helena obedeceu
sem questionar.
Ouvia os movimentos no pátio, os
homens agitados, mas não saiu.
Era noite alta, quando Rony voltou.
Nervoso, ele tirou a camisa, e só então,
olhou para ela.
-Não é uma epidemia. – comunicou –
mas é preciso cuidado. Pode se espalhar. Separei
os homens, os que estão com sintomas ficarão nos
dormitórios. Os saudáveis, ficarão no celeiro onde
servimos as refeições, é temporário, mas deve
bastar para afugentar o risco de contaminação.
-Mas e Juanita? E as crianças? E nós?
-Ela cuidará da cozinha e das roupas,
mas não terá contato com os homens, inclusive
Suarez, que ficará no celeiro. As crianças estão
proibidas de sair de casa. E nós, ficaremos aqui,
saindo o mínimo possível.
-E o médico?
- Está a caminho -respondeu cansado.
Ele apanhou algumas roupas e voltou-se para ela
contrariado - Dormirei no quarto do segundo
andar, posso ter apanhado algum vírus.
-Mas... – ela quis argumentar, mas não
havia muito sentido.
Deixou-o ir.
Rony saiu do quarto, com a imagem de
sua mulher, deitada na cama, aflita e sozinha, mas
não havia outro jeito, não podia correr o risco de
contaminá-la, mesmo que com uma simples gripe.

Na manhã seguinte, Rony sentiu a falta


de Helena ao seu lado, e saiu bem cedo. O médico
havia chegado poucos minutos antes dele chegar
ao celeiro.
Atendeu aos três homens que jaziam de
cama. Depois de várias recomendações, foi
embora. Aparentemente a razão não era tão
preocupante, mas eram desolador suas
consequências.
Um de seus empregados não parecia ter
salvação, enquanto um mensageiro da fazenda de
seu pai e de outras duas fazendas vizinhas,
mandaram avisar que enfrentavam o mesmo
problema.
Na cidade, a mesma coisa. O veio de
água que passava atrás da Igreja da cidade estava
contaminado. Alguns animais que beberam
unicamente lá, morreram a seguir, e os homens
que o fizeram, estavam doentes.
Por sorte, havia outros veios de água na
cidade, e eles, contavam com o lago e outras
nascentes de água pura. Ao menos não haveriam
outras vítimas agora que a razão era conhecida.
De volta em casa, era meio da tarde, e
sentia não ter mandado notícias. Juanita havia
levado seus filhos para a casa principal,
desesperada com a ideia de Ruanzito pegar a
doença, pois estivera adoentado a bem pouco
tempo atrás.
A cozinha estava barulhenta e Rony
desviou de um dos meninos, se perguntando por
que Juanita não tinha filhas.
-Onde está Helena? – perguntou
desviando de dois meninos que brincavam
embaixo da mesa e observando os dois meninos
que estavam brincando em cima dela!
-No quarto. Sorte dela, não precisa
aguentá-los – disse irritadíssima – SAIAM
DESSA MESA AGORA!!!! – berrou e as crianças
desceram da mesa, correndo para a sala. – Oh,
como gostaria que calassem a boca – ela
resmungou.
-Hei – Rony falou bem mais ato que a
gritaria – Chega de gritos aqui dentro! Se ouvir
uma reclamação de sua mãe novamente, coloco
vocês de castigo! Entenderam?
Aparentemente sua voz rouca e alta, fez
os meninos pararem e olharem para ele com
obediência, até um deles começar a rir, enquanto o
mais gordinho e fofo, se aproximou e chutou sua
canela.
Juanita correu atrás do menino,
desistindo e furiosa gritando para ele que eles
fossem para a sala.
-Suarez é um santo – Rony disse
lamentando a canela dolorida.
-Sim, ele é – Juanita concordou – nunca
ergueu a mão para nenhum deles, mas também,
nunca precisou. Eles o obedecem, basta um olhar,
e eles obedecem.
-É mesmo? E porque não me
obedeceram? – ele perguntou curioso.
-Não sei, mas é bom que descubra ou
Helena tomara a rédea da educação dos filhos –
era uma observação que soou como ameaça.
Helena o detestava, então, seus filhos o
odiariam. Era bom começar a pensar em como
agir com autoridade...
-Durma aqui essa noite – ele disse –
Suarez não pode voltar para casa ainda.
-Acha...que ele está bem?
Apesar de sua expressão sempre forte,
Juanita demonstrou grande fragilidade no olhar ao
perguntar.
-Não está contaminado. Por garantia é
melhor que fique com os outros. – ele acalmou-a.
-Certo.
Ela voltou sua atenção ao pão que
amassava, mas havia algo mais lento e triste em
seus movimentos. Sentia medo.
No quarto, Helena lia calmamente,
indiferente ao barulho das crianças, com Ruanzito
brincando sobre a cama. Sua voz era calma, e em
dado momento ela parou olhando para o menino
que mordia uma pequena bola de pano, feita por
Juanita.
-Não está prestando atenção, não é? -sua
voz era muito doce – Pois deveria, as mulheres
gostam de homens que leem, sabia? -deixou o
livro um pouco de lado, brincando com ele e rindo
– homens que sabem declamar poesias...meu pai
fazia isso...lia lindas poesias para minha mãe! Oh,
não jogue no chão, vai sujar – ela riu quando o
menino desceu da cama e apanhou a bola,
jogando de volta sobre a cama – Acho que não
tem jeito, vai ser um homem sem modos! Mas
quer saber...? –ela apanhou o menino e o trouxe
para seu colo, abraçando-o - Tem algumas
mulheres que gostam de brutamontes...
Rony sentiu o coração disparar. Era tão
carinhosa, tão doce, e seria uma mãe incrível.
-Esqueci de contar -ele ouviu uma voz
atrás de si, e virou-se para Juanita, que estava
sussurrando - Helena sangrou essa manhã.
-Isso quer dizer...?
-Que talvez estivesse errada...
Dizendo isso voltou aos seus afazeres.
Um engano não era incomum nesses casos. Ele
olhou para o chão, sentindo-se como alguém que
perdeu algo muito precioso.
Capítulo 72 - Promessas provocantes

Uma semana e três dias era seu limite.


Helena bateu o livro com força sobre o móvel da
sala, e levantou-se. Achando que usaria as mãos
para estrangulá-la apanhou novamente o pesado
livro para ocupá-las, e saiu da sala.
Alexia e sua filha monopolizavam cada
segundo do dia, cada atenção, cada segundo,
desde que ela pudera sair do quarto livremente,
sem dores do pós-parto.
Hoje, estava decidida a por um ponto
final nisso. Nem que para isso tivesse que usar a
arma que comprara e mantinha escondida de
Rony.
Os pais de Alice acharam por bem
mantê-la e a John por um tempo na casa dos
Parkers para que pudessem conhecer melhor o
noivo da filha, e sem os dois, Alexia fazia da vida
dela um inferno.
Longas noites de conversa com Rony.
Risos e sorrisos. Piadas particulares, entre
amantes. Assuntos que ambos sabiam que jamais
poderia opinar, pois eram assuntos de Londres.
Excluída, assistia de camarote.
Helena passava boa parte das noites
acordada tentando ouvir sinais que ele andava
pela casa, e estivesse frequentando seu quarto,
visto que não tentara voltar a dormir com ela no
quarto principal.
Havia sempre o risco de contágio, mas
até mesmo o mais enfermo dos homens havia
sobrevivido e já dava sinas de voltar ao trabalho,
então, a única explicação para seu afastamento,
era ter achado outra distração e estar cansado dela.
Essa constatação vinha alimentando seu
ressentimento, e tornando sua autoconfiança um
nada. Sentia-se abandonada. Sentia-se sozinha e
doente.
Sentia saudade. Por mais terrível que
fosse admitir, sentia saudades. Como era possível
sentir saudade de uma pessoa a quem se vê todos
os dias?
Com passos duros, ela marchou para a
biblioteca, onde ele estava lendo alguns processos.
Todas as noites sentavam-se para discutir e por o
papel suas conclusões e documentar tudo que
fosse necessário, mas nessa noite em especial, ele
pedira tempo para se inteirar e ler com calma.
Pois calma, era o que Helena não tinha
mais!

Rony escorou a cabeça contra o assento


da cadeira, tentando afastar as lembranças da vez
em que a possuíra naquela mesa. Faziam poucos
dais, mas pareciam anos.
Refreando o desejo a mais de uma
semana dormia em um quarto separado, até
descobrirem o que a magoava. Juanita estava
confusa, ele também.
Helena ficara menstruada, mas
continuava com os mesmo sintomas.
Poderia ser algo pior. Talvez uma doença
desconhecida...distraído, não ouviu a porta da sala
abrir, e não olhou na direção de Helena, para notar
sua consternação.
Estava perdido em auto-piedade, e
frustração. Queria tanto aquela mulher que a dor
era física!
Acordava todas as manhãs com a
sensação de solidão e vazio, descia para o
primeiro andar, espiava Helena dormindo, mas
não tinha coragem de se aproximar. Iria abusar
dela, sem saber ainda, se lhe fazia mal ou não!
-Juanita foi à casa de seus pais.
A voz macia não o sobressaltou, apenas
chamou sua atenção. Era uma imagem que
agradável seus olhos. Helena vestida de lilás, os
cabelos emoldurando o rosto saudável, as
bochechas coradas e os olhos brilhantes.
Carregava um pesado livro, mas isso era habito.
-Sim, ela me contou mais cedo –
aprumou-se na cadeira, tentando esconder seus
sentimentos.
Juanita tinha dúvidas. Nunca soubera de
uma mulher grávida que menstruasse. Por isso,
procurava na ex-patroa, experiente, respostas para
esse impasse.
-Acho que ela está grávida e não quer nos
contar ainda – Helena se aproximou, adorando ter
uns momentos a sós.
Poder sentar-se ao seu lado, e
simplesmente conversar. Ouvir sua voz rouca e
máscula, e mais que isso, ouvir seu riso. Alegre e
espontâneo, trazendo cor e graça para sua vida
triste...
-Se assim o for, logo saberemos – deu de
ombros, engolindo em seco, temendo ser pego –
Sente ao meu lado, Helena. – convidou deixando a
cadeira e sentando no pequeno sofá que colocara
ali, para lhes dar conforto enquanto estivessem
trabalhando.
Poderia negar, e se rebelar, tocando logo
no assunto que a trazia a sua presença, mas algo
dentro de Helena a fez se calar. Sentou-se ao seu
lado, colocando o livro sobre os joelhos.
Ao sentar, moveu-se desconfortável,
sentindo uma das costuras do vestido apertando.
-Como tem se sentido pela manhã? -ele
perguntou os olhos fixos nela.
-Ontem não tive indisposição, nem hoje.
Creio que o que tive, passou finalmente – foi
sincera.
-Que bom – ficava feliz em ver sua saúde
restabelecida, mas triste, por não ter o filho que
tanto desejava.
-Ronald...
-Helena...
Ambos pararam, se olhando. Helena se
calou, pois não queria brigar. Ele se calou, pois
ela não estava pronta para a sua desilusão em não
ser pai.
-Sinto sua falta ao meu lado na cama –
ele contou, acariciando sua face. – Sente minha
falta também?
-Porque sentiria? –afastou o rosto,
achando que estava subitamente louco.
-Porque lhe faço companhia e aqueço
seus pés gelados no meio da noite... – brincou.
-Não tenho os pés gelados – foi sua débil
defesa.
-Tem sim. Toda quente, mas com os
pezinhos gelados – provocou, beijando atrás de
sua orelha.
-Não foi para isso que vim até aqui! -ela
se afastou se recusando a cair em sua sedução.
Ainda mais naquela biblioteca, onde tinha
lembranças desconcertantes...
-E porque veio me procurar? Afinal,
sabemos o quanto minha presença a incomoda. –
ele cruzou as pernas desafiador, elegante e ao
mesmo tempo másculo, como um predador.
-Sua amante.
Helena havia se erguido e o encarava de
pé, os olhos fixos nos seus.
-Fala de Alexia?
-E acaso tem outro amante sua nessa
casa?
-Sim, minha esposa é também minha
amante. A única que possuo, aliás – notando seu
rubor, tentou não sorrir.
-Para você é tudo uma grande
brincadeira! Tem coragem de rir! Vivo um inferno
dentro dessa casa por sua causa, e ousa achar
graça?
-Inferno? -ele perdeu o sorriso – e posso
saber a causa de tanta raiva?
-E ainda me pergunta! Sabe o que tem se
passado aqui dentro? É claro que não! Está
ocupado demais com seus próprios interesses! Sua
amante tem me levado a loucura! Anda pela casa
como se fosse dona, dá ordens em mim e em todas
as pessoas que encontra! Me critica e ofende a
todo instante! Ousa gritar comigo! Grita com
Juanita, com seus filhos!
-E porque você permite isso? -ele
respondeu no mesmo tom furioso – Porque não se
defende? Não precisa ser protegida de alguém
como Alexia, pois é mais forte e totalmente capaz
de colocá-la em seu lugar! – jogou em sua cara.
-É o que faria se não passasse o dia
todo...doente. – sentia-se fraca em admitir a
própria instabilidade. Lágrimas de ódio molhavam
seus olhos, mas ela se recusava a chorar!
A culpa o assolou por não ter pensado
nisso. É claro que Helena não tinha tanta
disposição para estar sempre na defensiva,
inclusive estava sempre fugindo de brigas com
ele, fato atípico.
-Helena, eu sinto muito...
-Sente? Tem certeza? Ela fala aos quatro
ventos que você aprecia sua presença nessa casa!
Fica contando dos planos que tem de vender essa
fazenda, para comprarem um lindo sobrado em
Londres, para criarem a filha de vocês dois longe
daqui! Conta como será maravilhoso gastar o
dinheiro com vestidos e joias! – ela gritou com
ódio - ela fala para mim, e para quem quisere
ouvir! Não me importo que sejam imensamente
felizes juntos – esbravejou – mas não com o que
me pertence! Não rindo da minha cara!
-Helena, eu não achei que Alexia pudesse
agir assim, acabou de ter um filho e...
-E? Ela esta melhor que eu!Anda pela
casa toda, passeia pela fazenda, esfregando na
cara de todos a filha do patrão! Seus empregados
devem estar as gargalhadas pelas minhas costas! –
acusou.
-Alexia fala com os empregados? –
perguntou intrigado.
-Isso o surpreende? – pôs uma das mãos
na cintura, venenosa, invejosa e ciumenta – O
celeiro anda bem movimentado desde que a
criança nasceu...
-Isso explica tudo – disse aliviado.
-É bom saber que alguém tem respostas!
– não conseguiu mais olhar para aquele homem
estúpido.
-Há pouco tempo um empregado veio me
contar que você e John tinham um caso. Que era
testemunha. Achei estranho e não lhe dei crédito.
Agora sei a origem dessa mentira. Provavelmente
Alexia o pagou com promessas.
-Está me dizendo com essa cara
sorridente, que sua amante espalha boatos sobre
minha índole e moral enquanto se deita com os
homens dessa fazenda? Talvez não devesse ficar
surpresa com sua súbita vontade de dormir
sozinho!
Não pretendia gritar ou praguejar, mas a
raiva era maior que o bom senso!
-Está ressentida pela minha ausência? –
ele sentiu ganas de pular e gritar, comemorando.
-Não! É claro que não! – se afastou um
pouco mais, querendo desesperada achar algo para
jogar nele e apagar aquele olhar de contentamento.
-Está com ciúmes de Alexia e com raiva
porque não a procurei mais. – concluiu.
-Meus Deus, é completamente louco!
Insano! Fora de si! – acusou, sentindo aquela
horrível vontade de chorar diante dessas verdades.
-Helena, admita, sente minha falta –
provocou, segurando-a pela cintura, e abraçando-
a, por mais que ela virasse o rosto e tentasse fugir
– Pois saiba, apenas me afastei com medo de
contaminá-la com a enfermidade que assolou
nossos empregados...
-É mentira! – acusou, tentando se soltar –
há vários dias sabemos que não é contagioso...!
-Sim, é verdade – como contar a ela, que
temia machucá-la enquanto não soubesse se
estava grávida ou doente? – mesmo assim senti
medo. Pode me condenar por não querer ferir
minha mulher?
-Posso condená-lo por muitas outras
coisas! – empurrou-o com as duas mãos
espalmadas em seu peito.
Livre, irritada, e magoada com seu pouco
caso, marchou para fora, com Rony em seu
encalço.
No corredor ouviu a voz de Alexia,
falando com a filha na sala. Ela ergueu o olhar
para Helena e aquela troca de olhares a fez tremer.
Tinha medo daquela mulher, um medo irracional.
Inconsciente as razões, sentiu um
embrulho no estômago e pousou uma das mãos
sobre o vente, como se estivesse se protegendo.
Rony logo atrás de Helena se comoveu
com seu problema e estava prestes a dizer que
levaria Alexia embora naquele mesmo minuto,
quando ela se virou em sua direção, os olhos
brilhantes em decisão ferrenha.
-Mande-a embora – sua voz era dura e
certeira, como o gole de um vinho intoxicante –
mande-a para longe dessa casa e lhe dou tudo que
quiser!
-Helena? – estranhou, achando não ter
entendido.
-Diz que sente minha falta, se é verdade,
tem que aceitar. Uma noite como tenha sonhado.
Farei e deixarei que faça o que quiser, desde que
ela vá embora!
-Tem ideia do que está me oferecendo,
Helena? – ele ficou a centímetros dela.
Alexia não podia ouvi-los, mas podia ver,
e Helena o beijou. Segurou seu rosto másculo e
grudou seus lábios úmidos nos dele, sorvendo o
gosto de sua boca e o calor de sua língua. Um
beijo apaixonado, mas também vingativo.
-Será tudo seu. Mande-a embora. – era
uma serpente tentando no paraíso.
Intoxicado com as promessas de amor,
desejo e prazer em seu olhar, ele se deixou
manipular como um menino tolo. Concordou com
um aceno, incapaz de falar.
Desejo corria em suas veias. Grosso e
pulsante, e ele olhou acima da cabeça de Helena,
mirado Alexia como se mira um inseto asqueroso.
-E onde será?
Não era uma conversa muito inteligente,
mas Helena entendia exatamente o que dizia!
-Na sala, no quarto, na biblioteca...no
chão, na mesa, na cama...onde quiser , quantas
vezes quiser. Mande-a embora!
Sua voz era tão decidida, que Rony quase
ergueu suas saias e a possuiu ali mesmo, no
corredor, entre a cozinha e a sala, na frente de
Alexia e sua filha recém nascida.
-Estarei de volta em poucas horas – ele
disse no mesmo tom, algo no ar entre eles, algo
tão forte e intenso que era impossível desgrudarem
os olhos um do outro.
Helena deu um passo para lado para que
ele passasse. Parada, observou satisfeita a
expressão de horror na face de Alexia. Choque e
horror enquanto ouvia as palavras de Rony
atentamente...

Positivamente era o dia mais feliz de sua


vida, pensou Helena, observando a charrete ser
preenchida com as malas de sua rival.
Alexia estava de pé, com a elegância de
quando a vira pela primeira vez e olhava com asco
para a menina que jazia em seus braços. Seus
olhos alcançaram a imagem de Helena na varanda
da casa, e esta sorria.
Alexia a faria pagar por esse sorriso. A
faria pagar! Abafando o choro, ela entregou a
menina a um dos empregados, para poder subir
naquela charrete horrível. Então, a criança foi
novamente colocada em seus braços. O fardo que
carregaria para toda sua vida, pensou, amargando
essa verdade.
Rony havia estado na casa de seus pais e
pedido que a recebessem por uns dias, até poder
seguir viagem. A despeito dos gritos indignados
de sua mãe, Artur ouvira a voz da razão e aceitara
abrigá-la.
Parado de pé, em frente a carroça, ele
falou rapidamente com um dos empregados, que a
levaria.
-Rony, meu único amor, não me mande
embora – ela tentou uma última vez, chorando -
Estou aqui por sua causa, pelo amor que temos!
Por favor, suplico, não me mande embora!
-Verá que é a melhor decisão para todos
nós, Alexia- ele tentou ser gentil.
-Não! É a melhor a decisão para essa
mulher monstruosa! Meu amor, livre-se dela! Vai
destruí-lo, meu amor!
Seus gritos histéricos fizeram Helena
apertar as mãos, para se impedir de perder a
compostura, aproximar-se, e arrastá-la pelo chão
pelos cabelos.
-Alexia – mais perto, Rony apanhou sua
mão enluvada em seda, e beijou os dedos galante
– Eu a conheço muito bem para me deixar
encantar por seu olhar, seu sorriso e suas falsas
palavras. Mas há muitos outros homens que se
deixaram levar. Encontre um deles e se case. Dê
um lar a sua filha. E seja feliz.
-Como posso ser feliz sem você? – ela
chorou, desesperada, pela eminente perca.
-Sempre foi feliz, e sem mim – ele
garantiu, sem se comover.
-Está enganado – havia tanta verdade em
seu olhar, que quase o convenceu. – Descobri a
felicidade apenas quando o conheci. Não é
mentira. Pela primeira vez em minha vida, não é
mentira.
Sua frase terminou em um fio de voz, e
ele soltou sua mão, dando ordens para o rapaz
seguir o caminho com a carroça.
Os soluços de Alexia cortaram o silêncio
da fazenda, e pode se ouvir por vários minutos,
enquanto a charrete se afastava.
Rony subiu os degraus até a varanda e
encarou sua mulher, os olhos brilhantes.
-Cumpriu sua promessa – ela disse
tocando seu peito, onde o coração de Rony batia
descompassado. – Deseja que cumpra a minha
promessa agora? – havia expectativa em sua voz e
seu olhar.
Afinal, sentia saudades dele. Tanta que
estava perto de chorar.
-Está tão pálida – ele tocou seu rosto. –
Tem certeza que a indisposição passou? – ficou na
dúvida.
-É apenas um pequeno enjoo. Achei que
tinha passado...- confessou.
Rony sentiu vontade de gritar de alegria,
tomando sua mão entre as suas.
-Deite um pouco. Posso esperar.
-Mas... – era ela quem não queria e não
podia esperar! Óbvio, não diria isso a ele!
-Quero que participe e aprecie. A única
vertigem que deve sentir em meus braços, é de
prazer – ameaçou, se afastando quando o calor
entre eles aumentou demais. – Pedirei a Juanita
que lhe faça um chá.
Longe dela, recuperou o controle.
Entraram na casa, e ela foi para o quarto, dando
boas vindas a sua cama, a estabilidade que lhe
trazia.
Rony, seguiu para a cozinha, encontrando
Juanita preparando o almoço.
-Finalmente teve lucidez – ela disse
apreciativa – Aquela mulher me dá nos nervos.
Falava de Alexia.
-O que minha mãe lhe disse? -perguntou
ansioso – Helena voltou a sentir os enjoos essa
manhã!
-Era de esperar – Juanita sorriu para ele,
notando sua tensão, sua ancia e sobretudo, sua
esperança – Nunca aconteceu comigo ou outra
mulher que tenha visto grávida, mas Sandra me
garantiu que pode acontecer. Que demorou a saber
que esperava sua irmã, Alice, pois sangrou dois
meses seguidos antes de parar. Sendo assim...
-Helena está mesmo grávida – ele sorriu
– Eu vou ser pai!
Em sua euforia, ele abraçou a mulher,
que lhe deu tapinhas nas costas, felicitando-o.
-Sim, e vai ser um pai morto se ela o
ouvir! – riu – Conte a ela com cuidado.
-É o que farei. Amanhã. – lembrou-se da
noite que teriam e sorriu ainda mais – Amanhã eu
contatei que teremos um filho!
Juanita voltou à atenção ao serviço
ignorando o rapaz. Era o contentamento do
primeiro grande amor. Um sentimento único, que
nunca mais se repetiria em sua vida, pensou. A
alegria incomum e desconhecida pelo primeiro
filho. A felicidade desconhecida nos braços da
primeira mulher a amar. Essas sensações jamais
se repetiriam, pois quando voltassem a acontecer,
não seriam mais novidade. Se é que voltassem a
acontecer. Melancólica, Juanita lembrou-se que
nunca mais amara depois de ter pertencido ao pai
de Duran. Mas com sorte, esse fato não se
repetiria com o casal Johnson-Parker.
Capítulo 73 - Terremoto

Helena estava pronta para admitir a


verdade. Estava ansiosa. Tentara mentir a si
mesma, inventar desculpas, mas a única verdade
era que queria estar com Rony.
Por isso propôs uma vergonhosa troca,
quando poderia muito bem tê-la expulsado
daquela casa. Outra mulher simplesmente o teria
convidado a sua cama, mas Helena... Não, não
podia baixar a guarda!
Talvez, depois dessa noite, o deixasse
dormir no mesmo quarto. E porque não? Os chás
de Juanita ajudavam, e não engravidaria.
E também, não fazia sentido viver uma
guerra dentro de casa, quando a única coisa que
precisava fazer era deitar em sua cama, abrir as
pernas, e suportá-lo por alguns poucos minutos.
Sorriu a esse pensamento infame. Era
bem mais que isso! Estava apegada a esse
homem! Vergonhosamente apegada! O que não
queria dizer muita coisa visto que logo passaria.
Era assim que deveria acontecer.
Entusiasmo, e então, decepção.
Em pouco tempo, talvez poucos meses,
não poderia nem olhar para ele! Era assim em todo
casamento não era? Sua mãe sempre parecera
apenas amiga de seu pai.
Decidida que não havia riscos, ou
tentando se convencer disso, Helena terminou de
se arrumar.
Era noite, estavam sozinhos em casa e
Rony estava tomando seu banho. Fechou os olhos
imaginando a água escorrendo em sua pele
branca, banhada pelo luar...
Surpresa pela nitidez dessa imagem
colocou a escova de cabelo na penteadeira e
levantou-se.
Vestia um penhoar que era novo, e nunca
usara. Era longo, de seda clara, com rendas
delicadas nas bordas. Estava nua sob ele, e sentia
o coração acelerado cada vez que a seda tocava
sua pele ardente.
Havia se banhado mais cedo e tomado
cuidado para colocar algumas pétalas de flores na
água, para adicionar um aroma floral à pele.
Cuidara dos cabelos com muita atenção, secando-
os com cuidado, para que os crespos ficassem
delicados e soltos, macios ao toque.
A pele estava macia também, o aroma
suave de flores irradiando de cada poro.
A cama estava arrumada, os lençóis
trocados e limpos, o quarto impecável. Estava
tudo perfeito. Faltava apenas Rony.
Ou não. Ouviu seus passos no chão de
madeira e se sentiu apreensiva. Não era sua noite
de núpcias ou coisa parecida, e sabia agora,
melhor que qualquer mulher o que se passaria
sobre aquela cama, mas estava nervosa!
Terrivelmente ansiosa e nervosa! Dera-
lhe a permissão para fazer o que quisesse com seu
corpo, e por mais que tentasse ser espirituosa,
conhecia o senso de oportunidade de Rony, e tinha
certeza do que ele iria querer!
Oh, e como sabia!
Sentiu uma punção, uma palpitação em
seu âmago, entre suas pernas, e lamentou a
própria imaginação!
Com a respiração suspensa, disfarçou a
emoção que a deixava frágil demais fingindo
arrumar os travesseiros sobre a cama como se isso
fosse muito importante!
Rony entrou, e não pode deixar de notar
que Helena disfarçava o interesse. Vestindo
apenas a calça aberta, pois não havia mais
ninguém na casa além deles, com o peito ainda
brilhando pela água do banho e os cabelos
molhados, ele jogou a toalha em um canto, e se
aproximou.
-Se arrumou para mim, Helena?
Ela virou o rosto em sua direção, tão
rápido que poderia ter quebrado o pescoço,
tamanha força.
-Oh, sim. – disse recuperando a
compostura – Uma pessoa pode ser vestida
cuidadosamente, até mesmo para ser enterrada.
Não sabia?
-Sim, sabia – ele respondeu sorrindo. –
Está linda.
-Não fiz nada para isso – revidou
nervosa.
Estava tentando achar palavras para lhe
dizer que o permitiria dormir com ela nas noites
seguintes. Mas estava difícil achar um meio de
fazê-lo sem parecer que cedia, ou que se vergava a
sua vontade!
Rony estava tão descuidado, tão másculo,
que seu coração estava disparado, as pontas dos
seios rijos e incômodos, obrigando-a a cruzar os
braços para que não se sobressaíssem sobre a seda
fina.
-Sinto cheiro de rosas – ele disse se
aproximando.
Deveria ser essa a sensação de uma frágil
ovelhinha ao avistar uma ágil e cruel raposa se
aproximando.
-Coloquei pétalas na água do banho –
confessou, sem saber por que apreciava tanto o
brilho em seus olhos.
Baixou o olhar só para uma checagem
rápida, afinal, tinha o direito de sentir-se mulher
ao notar o volume sob a calça.
-Estou assim o dia todo, desde que me fez
promessas – ele acusou, parando muito perto, mas
sem tocá-la – Duro como aço. Dolorido como a
morte. E tudo por sua causa.
-Eu não entendo – ela maneou a cabeça,
sem conseguir afastar os olhos.
-Eu também não. – contou, prendendo-a
em sua teia de sedução, cativa de seu olhar
sensual. – Sinta o que faz comigo. – era uma
ordem.
Não havia dúvidas.
Tensa, estendeu a mão direita e tocou
sobre a braguilha aberta da calça. O volume era
imenso e se contraiu contra seus dedos.
Retraída pelas sensações que contraiam
seu ventre e umedeciam suas pernas, intensificou
o contato, envolvendo o volume com a palma da
mão.
-Espere – ele pediu afastando seu toque –
Venha até a sala.
-A sala? – ficou em alerta, sem entender
o que queria. – Estamos aqui, no quarto... Porque
quer ir para a sala?
-Porque sempre que entro em casa pela
porta dos fundos, lembro de nós dois fazendo
amor sob as estrelas. Agora, quando entrar pela
porta da frente, lembrarei de nós dois, naquele
sofá velho e empoeirado que herdou junto com a
fazenda! – havia uma pitada de humor em sua voz,
mas ela não achou graça.
-Ora vamos, não quer isso de verdade! –
ela protestou.
-Foi sua promessa. – sabia que no fundo
ela estava tão empolgada quanto ele!
-Que homem irritante – ela reclamou,
puxando a colcha da cama e levando-a com ela
enquanto marchava para a sala.
Na sala, Rony observou-a estender a
colcha sobre o sofá e ficar de pé olhando para ele
com expressão contrariada.
Rindo por dentro ele sentou, mas fez
sinal negativo quando ela pretendia fazer o
mesmo.
-Não. Quero outra coisa de você – disse
malicioso. – Tire o que está vestindo. – mandou.
Revirando os olhos de desgosto,
obedeceu. Abriu a faixa delicada que prendia o
tecido em sua cintura e abriu o penhoar,
deixando-o cair pelos ombros. Poderia ter feito um
charme, mas estava com a boca seca e ansiosa.
Fanfarrão! Sem escrúpulos.
-Sabe rezar Helena? – ele perguntou
lutando contra o riso ao ver sua expressão - Então,
fique de joelhos.
-Não vou beijar uma boca que blasfema!
– avisou, corando de raiva pela grosseria.
-Tudo bem, não irá beijar minha boca por
enquanto – ele riu, se inclinando para frente
quando ela se ajoelhou no chão, e tomou seu rosto
nas mãos, beijando a ponta do seu nariz
arrebitado. – Só quero vê-la sorrir, Helena. É uma
brincadeira! Sorria para mim.
Revirando os olhos ela sorriu. Era
incontrolável. Merecia quantos sorrisos Helena
pudesse dispor! Gozador! Palhaço!
Contrariando suas palavras anteriores,
Rony reivindicou um beijo. Possuiu seus lábios
com cobiça, exigindo uma resposta urgente.
Quando os lábios se separaram, ela tinha as mãos
em suas coxas em apoio, e uma expressão de
quem quer mais.
Rony afastou-se, recostado nas
almofadas, as pernas afastadas, permitindo-a ficar
entre elas, ajoelhada no chão. Completamente nua,
os seios macios, empinados e graúdos, mais
cheios que outrora, fato que apenas ele poderia
notar, pois tinha verdadeira fixação em seus seios.
O ventre continuava liso, sem sinais, assim como
o resto do corpo, mas os seios estavam mais
volumosos, inchados.
Os mamilos ainda suaves, e ele mantive o
olhar fixo neles, admirando o trabalho da natureza
naqueles montinhos aveludados, tão pequenos que
se enrugavam diante das promessas de seu olhar.
Helena deixou que a olhasse, mas quando
notou que os belos olhos azuis desciam mais ela
tratou de distraí-lo, não querendo ser observada
com tanta malícia. Ainda tinha um tanto de pudor
da adolescência de moça virgem e protegida dos
olhares masculinos.
Não sabia se exibir sem corar.
Ele teve sua atenção roubada quando os
dedos finos se moveram sobre sua calça. O tecido
foi forçado para baixo, junto com a roupa íntima, e
ele ajudou erguendo o quadril até estar nu.
-Isso é tão devasso – ela disse a si
mesma, mas ele ouviu.
-Por quê? – ele perguntou
orgulhosamente exibido, acariciando a ereção que
ela libertara, e satisfeito quando ela substituiu sua
mão pela dela.
Mãos de fada, com toque de seda. Fechou
os olhos saboreando as sensações infladas que
percorreram seus testículos.
-Porque tenho que gostar de fazer isso? -
ela apertou seu membro na base, e ele gemeu, pois
era um aperto de quase revolta. – ele não quebra
não é? – perguntou curiosa, movendo-o nas mãos,
como se faz com um brinquedo curioso.
-Não. – respondeu, ficando sério ao
pensar que Helena poderia estar planejando algo
do tipo para se livrar dele.
-Bom – ela respondeu enigmática
deixando-o na dúvida sobre ser ‘bom’, pois
poderia divertir-se com ele sem medo, ou se era
‘bom’ pois poderia torturá-lo e machucá-lo sem se
preocupar com o constrangimento de contar ao
médico como o ‘quebrara’!
Helena sentiu a mão direita ficar úmida
quando apertou a parte superior contra a palma, e
isso facilitou os movimentos. Concentrada,
continuou movendo-o, sacudindo e infernizando
Rony, causando as maiores sensações que podia
aguentar.
Interessada em como isso parecia bom,
curvou o rosto e repetiu um ato de dias atrás.
Engoliu a cabeça bem devagar, fechando os olhos
para apreciar o sabor levemente salgado, o calor, a
textura, sentir o volume que preenchia sua boca
com tanta veemência. Como se provasse um
delicioso doce, tirou da boca com um suave
“ploc”.
Animada pelos sons dos gemidos e
também pela sensação quente que enchia seu
corpo de pequenos tremores, voltou a chupá-lo,
colocando o mais fundo que conseguia sem
engasgar.
Rony quase saltou do estofado, sentindo
aquele chupão profundamente. Precisou de toda
sua força de vontade para não gozar
imediatamente em sua boquinha exigente.
Tão concentrada, tão excitada, os seios
pulando suavemente a cada movimento, as pernas
levemente afastadas, deixando a mostra aqueles
lábios vaginais tão pequenos e tão suaves, que
suas mãos coçaram de vontade de tocá-los.
Seus cabelos cobriam suas costas nuas e
seus ombros, caindo algumas mexas sobre os
seios, e ele gemeu mais alto quando ela apertou
com tanta força na base de seu pênis, que causou
uma dor profunda de êxtase e medo.
Ele apertou as mãos no estofado,
gemendo e arquejando contra as sensações
profundas de prazer, suando e praguejando contra
a própria incapacidade de se conter.
Helena afastou os lábios no momento em
que sentiu que inchava em sua língua e palpitava
forte. Não queria engolir, só de pensar seu
estômago revirava, e não era uma sensação que
queria ter ali, agora, e com tanta vontade de
prosseguir.
Usando as mãos como conchas, ela
manipulou-o por vários segundos, vendo seu rosto
se contorcer de prazer, vermelho e enrugado na
testa, pela força que fazia para não sucumbir.
Apaixonada pela imagem pôs mais
pressão até Rony praguejar alto e soltar um urro
no momento em que o gozo foi maior que sua
vontade de evitar. Um forte jato saiu, espirrando
para cima e espalhando-se sobre eles. Em sua
barriga musculosa e definida, sobre Helena, em
seus seios e ventre, escorrendo sobre a colcha que
protegia o estofado.
Quando diminuiu a quantidade de
líquido, ela recolocou na boca, para limpar o que
sobrava sem o comprometimento de precisar
engolir tanta coisa.
Rony lamentou quando ela parou. Helena
acariciou suas coxas peludas e de músculos fortes,
sem nem perceber o que fazia.
Havia uma expressão inocente em seu
rosto que contradizia vergonhosamente seu sorriso
levado e malicioso.
Rony levou alguns segundos para se
recuperar, por entre as pestanas entreabertas
observou aquele corpo pequeno e sedutor se
erguer, e se mover ao seu redor. Helena sentou ao
seu lado no sofá, beijando seu ombro, e seguindo
para seu pescoço. Ele apreciou sua iniciativa,
correndo um dos braços por trás dela, e apertando
suas nádegas roliças.
Os beijos seguiram por vários instantes,
molhando seu peito, arrepiando sua pele e o
deixando novamente em pé, pronto para o sexo.
As mãos de Rony entraram em seus cabelos,
reivindicando sua boca para um beijo de tirar o
fôlego. Tomando a dianteira novamente; ele a
empurrou no sofá até estar deitada, com ele entre
suas macias coxas.
Correu os dedos pela pele dela, e notou o
pequeno tremor que a fez gemer e fechar os olhos.
Aquela barriga lisinha sempre tirava seu fôlego,
assim como o caminho que levava a sua
feminilidade, um triângulo perfeito, e tão pequeno
que era inacreditável que pudesse suportá-lo.
Ela gemeu, sentindo o fogo do seu olhar,
e ele ergueu as vistas, espreitando sua face corada.
Seus olhos brilhavam, seus lábios pediam beijos...
-Quer que eu te beije? Aqui? – encostou
os dedos entre suas pernas, sobre a área molhada
sem, no entanto aprofundar o toque.
Helena sentiu como um pequeno choque,
e maneou a cabeça concordando.
-Diga o que você quer Helena, ou não
saberei o que fazer – ele instigou.
-Hum... Você é um canalha – ela
reclamou, se contorcendo, tentando de algum
modo obter mais contato.
Rony deixou um dedo escorregar mais
para dentro e Helena perdeu o juízo, se
empurrando avidamente contra aquele dedo
atrevido.
Gemeu, sentindo o dedo entrar
completamente e ele colocar outro. Como uma
desavergonhada, ficou empurrando para dentro e
para fora, pois ele estava imóvel, apreciando o
show.
-Você é tão linda... – ele disse sentido
seu calor, seus apertos internos, e amando o modo
como ela estava molhada e pronta. – quer que eu
te chupe, Helena? Fale!
-Por favor, você sabe que eu quero! - ela
reclamou, incapaz de parar o próprio quadril. –
Rony, por favor!
Incapaz de lhe negar um pedido tirou os
dedos e segurou seu quadril com as duas mãos,
antes de descer o rosto. Aspirou o cheiro doce e
suave que ela exalava; cheiro de cio, e lambeu
muito de leve sobre a fenda encharcada.
Um toque de nada, tão leve que poderia
nem ter sido sentido se não estivesse tão excitada.
-Oh... – ela dobrou uma das pernas e
Rony se preparou para ser chutado, mas ela não o
fez; apenas se contorceu, quase gozando.
Estava muito perto, e tudo sem ser
tocada. Ter descido sobre ele havia lhe deixado no
ponto, como se apenas lhe dar prazer lhe bastasse
para o próprio prazer, e Rony teve que concordar,
pois ele próprio estava quase lá de novo.
Afastando as dobras de seus grandes
lábios, ele chegou finalmente aos pequenos, que
era ínfimos pedaços de pele que não podiam
esconder o vale delicioso à frente. Sua língua
penetrou ali, saboreando o gosto doce, rodando e
penetrando aquele recanto, enquanto Helena se
contorcia, oferecendo seus gemidos como
retribuição.
Torturando a mulher em suas mãos, Rony
subiu a língua, roçando sobre o clitóris sem
pressa, dominador e voraz, arrancando dela
pequenos gritos de incentivo. Com as duas mãos,
agarrou sua bunda e apertou a carne, erguendo seu
quadril, abocanhando o pequeno caroço, sugando
com força.
Helena soltou seus cabelos e agarrou os
ombros fortes, amassando os músculos entre os
dedos, cravando as unhas, apertando e causando
uma dor que foi direito para seus testículos.
Chupando e mordendo, Rony sentiu
quando ela começou a se contrair e passou um
dedo, depois outro, colocando-os bem fundo, num
movimento muito rápido de entra e sai. Ela gritou,
gozando para ele, que ergueu os olhos analisando
cada reação em sua face.
Derretida, era assim que Helena estava;
derretida em um líquido doce e cheiroso, que
corria de sua fenda e encharcava suas mãos e sua
boca. Derretida em um amolecer de cada osso,
completamente saciada.
-Helena – ele ronronou seu nome,
subindo sobre ela, seus quadris estreitos se
insinuando entre suas pernas levemente curvadas,
pois o prazer a deixara completamente relaxada.
Ela pousou as duas mãos em suas
nádegas másculas, sentindo o contrair daquela
carne a cada movimento de aproximação.
Ele roçou os quadris, esfregando seu
membro contra sua pélvis e sua barriga, e Helena
gemeu, apertando a carne sobre suas mãos.
-Perfumada – ele sussurrou enquanto
beijava seus seios, querendo e precisando
reacender nela a mesma chama que ainda o
consumia – perfumada e macia, você me deixa
louco, Helena.
Algo em seu olhar traia a tranquilidade
de sua voz. Uma necessidade primitiva que o fez
avançar, penetrando em sua vagina úmida e ainda
palpitante do recente gozo.
-Oh... - Helena engoliu um soluço
quando entrou todo, sem dificuldades. Talvez
fosse a posição, recostada contra o braço do sofá,
talvez fosse o quanto úmida estava e relaxada,
mas entrou sem esforço nenhum, fato incomum.
Eram movimentos lentos, Rony tinha
outra coisa me mente. Isso era apenas para ela,
apenas para satisfazê-la antes dele se satisfazer,
mas como sempre, perdeu o controle antes que sua
mente pudesse registrar o que acontecia.
Helena arquejava, perto do orgasmo,
quando ele se forçou a parar.
-Aonde você vai? - ela perguntou
surpresa e apavorada quando ele se afastou,
empurrando-se para trás. Seus olhos castanhos
fitavam sua ereção com o desejo evidente e
anunciado, e tentou agarrá-lo, mas Rony segurou
suas mãos mandando:
-Vire-se.
-Mas eu quero...
-Disse que faria tudo que eu quisesse. –
lembrou arfante, e num fio para mandar tudo para
o inferno e terminar o que começaram!
-Rony... – ela estava prestes a implorar
para que não parassem, mas desistiu, pois não era
de voltar atrás em sua palavra. Sentando-se no
sofá, ela ficou de joelhos e se virou de costas.
Como não era boba, e sabia muito bem o
que prometera e o quanto ele era esperto, Helena
segurou com ambas as mãos no braço do sofá,
ficando de quatro.
-Relaxe... – ele disse suave, soprando seu
ouvido e arrepiando sua pele.
-Muito fácil para você falar – ela
reclamou completamente zonza e com as pernas
moles pela excitação.
-Serei gentil – prometeu.
-Mentiroso.
Realmente, era um mentiroso.
Nada no mundo o faria parar, nem
mesmo se ela implorasse!
-Não sinta medo – ele pediu, se
posicionando.
-Não tenho medo de nada! – ela
praticamente gritou quando ‘aquilo’ cutucou um
local que até bem pouco tempo era puro e intocado
– Oh, meu Deus. – ela fechou os olhos em
verdadeiro pânico.
Rony desistiu de penetrá-la, pois estava
muito tensa, e colocou os dedos no lugar,
acariciando o interior aveludado de sua
intimidade, até estarem úmidos. Ela gemia e se
contorcia, e ele subiu um dedo, forçando a
passagem no canal apertado de seu ânus.
Não mentiria dizendo ser a primeira vez
que fazia isso, ou que era novidade. Várias vezes
tivera esse prazer nos braços de mulheres que hoje
não lhe diziam nada, então, sabia o que estava
fazendo. A única novidade era ser a primeira
mulher que conhecia que não estava preparada
para siso.
Forçou o dedo que entrou fácil. Helena
saltou, pela surpresa e pela delícia, aceitando
melhor do que da última vez.
-Mais um pouco Helena, só mais um
pouco – ele pediu, segurando sua cintura e a
puxando com força contra a mão, deixando o dedo
entrar mais fundo.
Ela grunhiu gemendo, e a outra mão de
Rony entrou entre suas pernas, acariciando seu
clitóris para lhe distrair a mente e aquecer o corpo.
Quando achou que estava suficientemente
relaxada, puxou o dedo e introduziu mais um.
Helena não pareceu notar a diferença, o
que era bom, pois não sentia dor.
De olhos fechados, se deixou levar,
gemendo a cada investida. Era estranho, novo e
absurdamente devasso, mas era tão aprazível que
sentia o ventre se contraindo de antecipação.
Sentindo que estava finalmente no ponto,
Rony tirou os dedos e se posicionou. Encostou a
cabeça do pênis e forçou. Escorregou lentamente,
e ele gemeu, pois era apertado como o inferno!
Mais um pouco e ele parou, pois da outra
vez não passara dali. Forçando, sentiu quando ela
se retesou e reclamou de dor. Mais um pouco e ela
gritou para que parasse.
Doía de um jeito estranho, e a palpitação
dolorosa fez companhia à outra palpitação entre
suas pernas. Dobrando o corpo ela encostou a
cabeça no braço do sofá, os seios balançando
contra o estofado a cada penetração.
Fundo, o mais que supôs conseguir, ele
gritou, o prazer sobressaindo a qualquer fantasia.
Agarrava seus quadris e chocava-se contra sua
carne como um louco. Ela ainda gritava que não,
mas não havia mais desespero ou medo em sua
voz.
-Toque-se – ele disse em seu ouvido,
curvando o corpo, e chupando seu pescoço – toque
em seu corpo Helena, por favor, acabe logo com
isso!
Só deixaria fluir o sentimento do prazer
quando tivesse certeza de tê-la saciado, e estava
ficando desesperado.
Helena não quis se tocar, não queria
acabar com aquilo. Era feio admitir, mas era
deliciosa a pressão, o calor, à vontade por um
‘mais’ que nunca vinha.
Talvez ele tivesse razão... Devesse se
tocar.
Desceu um dos braços e esfregou sobre
sua parte mais sensível, que praticamente pingava
de tesão. Aquela brasa queimou e incendiou seu
ventre de tal modo que suas pernas quase não a
sustentaram. Ele mordia seu pescoço, investia e
saia rapidamente, seus testículos batendo contra
sua fenda, e Helena quis sentar-se sobre ele, e o
sentir novamente em seu canal apertado.
Quis tanto e com tanta força, que gozou
se contraindo e apertando-o em seu orifício mais
impensável de ser provado. Rony achou que
morreria quando foi esmagado pela força de seu
gozo. Ele próprio estourou e gozou furiosamente,
enchendo-a com seu esperma. Ficou bombeando
várias vezes, mesmo sabendo que não havia mais
nada dentro de si e que ela precisava descansar.
Quando terminou, saiu e escorregou pelo
sofá, sentando. Recostou a cabeça para trás, o
corpo respirando com dificuldade, o peito arfando,
a pele vermelha pelo esforço, suor correndo e
molhando seu rosto, seu peito e todo o mais.
O pênis ainda estava endurecido, mas era
apenas uma reação natural, e ele fechou os olhos,
cansado, satisfeito e derrotado. Helena vencera.
Até mesmo quando cedia, ela ainda assim o
vencia!
Acabado, extorquido e domesticado. Era
assim que se sentia. Curvando-se a uma vagina
aveludada e cremosa. Era homem afinal, não tinha
cérebro. Acabado. Era um pensamento hipócrita e
pouco machista, mas era a verdade, e apesar de
tudo entendia os trinta anos de casamento de seus
pais.
Entendia agora o sentido da palavra
‘fidelidade’. Não tinha a ver com respeito. Tinha a
ver com achar a vagina certa. Obviamente, não
diria isso em voz alta, não se quisesse viver para
ter trinta anos de casamento com Helena!
Inocente, não viu o modo como era
observado. Helena se mexeu no sofá, olhando para
ele e sua ereção. Sentia o corpo exausto, mas tinha
uma coisa dentro dela, um vazio, e tudo que pode
pensar foi em engatinhar silenciosamente e subir
sobre ele.
Rony abriu os olhos quando ela montou
sobre suas pernas, achando que queria um beijo e
um abraço. Foi pego de surpresa, quando ela
baixou sobre ele, introduzindo-o inteiro, sem
aviso.
-Helena?
-Oh... Não fale... – ela o beijou.
Grudou os peitos contra seu tórax,
amando a forma como seus mamilos eram
atiçados contra sua pele, sentindo aquele mastro
preencher cada pequeno vazio que pudesse haver
dentro de si.
Segurou as mãos de Rony, e jogou seus
braços fortes em volta de sua própria cintura,
sussurrando em seu ouvido:
-Me pegue!
Era uma ordem, e ele obedeceu, olhando
seu rosto vivamente iluminado pelo desejo e
prazer. Helena pulava sobre sua ereção, em busca
de mais, beijando-o, mordendo, exigindo e
obtendo mais e mais.
A sensação de ser partida era
deliciosamente íntima, e a pequena dor das
invasões era estimulante, criando dentro dela uma
devastadora sensação de querer mais.
Ela fechou os olhos bem fortes quando
não pode mais conter as sensações, o corpo
tremulando e se movendo desesperadamente.
-Mais... Mais... Mais... Mais... – ela
balbuciava sem nexo, acompanhando cada
penetração.
Em dado momento suas costas
enrijeceram, seu corpo ficou tenso e no segundo
seguinte, tudo estourou. Como uma explosão de
cores, levando-a a um grito desesperado de prazer.
A sensação mais forte que sentira naquela noite,
levou consigo toda sua força.
Despencando contra o peito suado de
Rony, ela nem se mexeu quando ele a fez sentar-se
em suas pernas, como uma boneca de pano,
encolhida contra ele.
Rony surpreendeu-se com o que
poderiam fazer juntos. Havia tido tanto prazer que
ainda sentia as mãos tremendo, no entanto, não
conseguira mais ejacular. Não havia mais nada
dentro de si. Helena levara tudo, fato raro em seu
histórico sexual.
Esperou um pouco para se acalmar, antes
de tomá-la nos braços e se erguer.
-Não se atreva a me derrubar – ela disse
em seu ouvido, os braços enlaçados em seu
pescoço.
-Não me atreverei – ele garantiu,
entrando no quarto e a colocando na cama com
toda sua gentileza. – Vou buscar um copo de
água, você quer?
-Sim - ela suspirou, mordendo o lábio –
Precisa tirar a colcha do sofá ou Juanita saberá
que foi lá que... Bem... – corou, e não terminou a
frase.
Rony andou pela casa nu; livrando-se do
pano manchado e trazendo água para os dois.
Helena bebeu seu copo todo, voraz.
-Está melhor agora? – provocou,
deitando-se ao seu lado, cobrindo-os
precariamente com o tecido fino do lençol.
-Não está de todo ruim – bocejou, se
enrolando contra ele, o rosto em seu peito,
completamente relaxada.
Rony sorriu abraçando-a. Não a abraçara,
mas sim ao contrário.
-Porque está rindo? - ela teve força e
disposição para perguntar – Está rindo de mim?
-Não. Estou rindo de mim. – ele
respondeu enigmático.
Com medo da resposta, Helena se calou.
Pretendia perguntar mais, mas o sono venceu e ela
adormeceu antes de ouvir o primeiro ronco de
Rony...
Capítulo 74 - Explosão

Os primeiros raios de sol queimavam no


horizonte quando Rony acordou com o som
ensurdecedor de algo batendo contra a porta.
Gritos na rua indicavam que havia problemas.
Helena acordou tão assustada quanto ele, e
quando Rony levantou-se e vestiu apenas a roupa
íntima, buscando sua arma que estava escondida
dentro de uma gaveta, Helena também pulou da
cama assustada.
Vestiu o penhoar que usara na noite
passada, e não se lembrou da própria arma. Estava
assustada e o seguiu até a sala.
Novas batidas.
Alguém batia com muita força e quando
uma vidraça estourou entenderam que na verdade
eram pedras.
-Pedras? – ele gritou - QUEM É O
MALDITO JOGANDO PEDRAS NA MINHA
CASA?
Seu grito fez Helena tremer.
A pessoa que jogava as pedras cessou e
eles ouviram o som de outros gritos, de homem.
Batidas na porta anunciaram que o audacioso
invasor achava que seria recebido.
Furioso, Rony abriu a porta quase
arrancando o trinco, à arma em risque. Como um
raio, uma massa de tecido amarrotado entrou
empurrando Helena para fora do caminho. Pela
porta aberta, avistaram John desmontando do
cavalo, com a mesma expressão furiosa que havia
nas faces de Alice.
-AQUI! – ela jogou algo sobre Rony,
furiosa demais para fazer sentido – AQUI ESTÁ
A PROVA! NINGUÉM ACREDITOU EM MIM,
MAS ESSA É A PROVA!
-O que está acontecendo? – Helena
perguntou chocada com o que acontecia.
Alice estava aos prantos, descontrolada, a
roupa amassada e o cabelo desgrenhado.
-EU DISSE QUE A LEVARIA DE
VOLTA! – o grito de John e sua invasão na casa
fizeram Helena se calar.
Ele não parecia muito melhor, a roupa
amarrotada, a camisa aberta e solta pela pressa de
se vestir. Os cabelos espetados, os óculos mal
colocados na face.
Ele agarrou o braço de Alice e sua fúria
era tanta que não ligou par aos dois:
-PARA MIM CHEGA DE SUAS
GROSSERIAS E MALCRIAÇÕES! Chega Alice!
– ele ordenou - Controle-se! Seus pais esperam
que a leve de volta! E não vou fazer isso se estiver
nesse estado...
-Hipócrita! - ela se soltou, massageando o
braço ferido pela sua própria brutalidade –
Hipócrita! Mentiroso! Infiel!
Seu corpo se dobrou num pranto
compulsivo e Helena a acudiu sendo empurrada
com tanta força que foi ao chão. Rony apressou-se
a ampará-la, temendo por sua saúde e do filho que
carregava.
-MERETRIZ! CORTESÃ! VADIA! –
Alice estava fora de si, e apanhou um enfeite de
sobre uma mesa ao lado do sofá jogando na
parede com toda sua força até espatifar-se no chão
– LEIA, MEU IRMÃO! Leia as palavras tórridas
que seu amigo escreveu para sua mulher! LEIA!
Rony soltou Helena, apanhou a caderneta
de sobre o chão, olhando para John.
-É meu diário particular, e não escrevi as
palavras que estão aí – ele avisou com os olhos
amedrontados – não sei como, é minha letra, mas
não escrevi!
-Afinal, qual a razão desse escândalo? –
Helena elevou a voz incrédula – quebrou uma
vidraça! Poderia ter acertado alguém! Alice
deveria estar em casa, com seus pais, seu noivo e
não...
-O que? Não deveria ficar fora de mim ao
ler a exatidão da traição que sofri? Não devo ficar
louca de dor pelo meu noivo e pela única pessoa
que chamei de amiga na vida? ME TRAÍRAM!
Como pode, Helena?
Alice escorregou, se apoiando no sofá, o
pranto roubando suas forças.
-O que diz nesse diário? – ela perguntou
a John.
Petrificado pela sordidez da situação, ele
apenas respondeu:
-Até ontem contava das minhas
impressões dessa terra. Hoje, há um relato
completo de nossas relações íntimas em seu
quarto, pelas costas de seu marido – disse amargo.
A face de Helena empalideceu de tal
modo que achou que ia desmaiar, então, uma
risada escapou e ela gargalhou:
-Porque escreveu isso, John? É alguma
brincadeira que não compreendo?
-Eu não escrevi. – ele disse – É o que
tenho gritado para Alice desde o amanhecer
quando ela encontrou-o.
-Encontrou? Simples assim? Seu diário
particular, zanzando pela casa, a ponto de
qualquer um encontrá-lo? – ironizou.
-Como eu disse, até ontem ele era meu.
Agora, não o reconheço.
Helena suspirou olhando para Rony e
estendendo uma das mãos, notando que ele lia.
-Me deixe ver essa tolice.
Como ele não lhe entregou ela se
aproximou para ler junto. Depois de um parágrafo
corou fortemente e olhou para Rony, achando que
essas palavras eróticas lembravam muito que eles
mesmos haviam feito naquela sala há poucas
horas atrás.
-Quanta bobagem. É sua letra? –
questionou.
-Sim, é sua letra – Rony fechou o diário
olhando para John com algo que a assustou – É
ficção?
-O que quer dizer? - ele perguntou mais
alto, acima do choro de Alice.
-Ora Alice, cale a boca e escute! – Helena
se irritou definitivamente – Se quer resolver a
situação, escute!
-O QUE TEM PARA RESOLVER? – ela
teria avançado em Helena se ela não tivesse se
escondido atrás da sólida proteção que
representava o corpo de Rony.
-É uma fantasia? Um desejo secreto? É
sua letra John. Não há engano. Tenho que saber se
é uma fantasia ou se é real.
-Ah, pelo amor de Deus! - Helena não
acreditou nisso, olhando para John cúmplice.
-Não olhe para ele desse modo! – Rony
elevou a voz a fazendo ficar muda de espanto – É
a letra de John. Está entendendo, Helena? Não é
uma mentira ou um rasgo em um vestido. É a letra
de John.
Sua veemência a calou, e o choque da
desconfiança deixou uma expressão horrível em
sua face.
-Não é a minha letra, mas se prefere crer,
então, prefiro assumir ser uma fantasia – ele disse,
baixando a cabeça humilhado.
Não tinha conhecimento sobre como
àquilo era possível, mas preferia levar a culpa a
estragar o casamento de seu amigo. Não poderia
ver uma mulher levar a responsabilidade pelas
mentiras e crueldade de outra pessoa.
-Rony – Helena segurou em seu braço –
Conhece esse homem desde crianças. Como pode
achar que faria algo dessa natureza? Eu... Não
posso crer que seja tão cruel a esse ponto!
-Prefiro assumir a culpa pelo que não fiz
a causar danos – John lamentou olhando para
Alice – Como posso me casar com alguém
incapaz de ouvir o que digo? – era um lamento
infeliz, pois doía admitir que Alice o fizesse
infeliz a revelia do tamanho do amor que lhe
tinha.
-Nem pense em desmanchar esse
casamento! – Helena ergueu a voz furiosa com a
ideia de ele usar isso para se livrar de suas
responsabilidades.
-Porque tanto interesse nesse casamento,
Helena? – Rony agarrou seu braço sem aviso,
trazendo-a bem perto, olhos nos olhos, com uma
fúria que ela desconhecia – Pretende ocultar seus
pecados casando John? Ou talvez apenas facilitar
sua presença para encontros nas minhas costas?
Muda, não respondeu nada.
Estava zonza, com uma vertigem horrível
de ser pega daquele modo abrupto, mas não
reclamou, também não respondeu. Não podia
contar a verdade sobre Alice e John.
-RESPONDA! - Ele a sacudiu com força,
obrigando John a interferir.
-Não faça isso, Rony. Vai se arrepender
de machucar sua mulher! – ele tentou apelar para
sua razão.
-Minha mulher! Tem certeza que é
apenas minha mulher? – mudando de alvo, ele
soltou Helena que se apoiou no sofá, sentando-se,
pois suas pernas não a sustentavam – Tem certeza
que sabe que Helena é minha mulher?
Frente a frente, altos e imponentes, os
dois pareciam prestes a se agredirem.
-Não escrevi as palavras que leu. Mas
não posso provar. Então, assumo a culpa, mas
assumo sozinho. Seja lá o que esta acontecendo só
tem a ver com nós dois, Ronald – ele disse se
apegando a razão – Não deveria ter vindo, esse
não é meu lugar. Achei que pudesse ter uma
família ao lado de sua irmã, e talvez ser feliz, mas
ela não está preparada para ser esposa. É mimada
e inconsequente. Não poderá se casar, pois não
ouve.
-COMO PODE DIZER ISSO? – Alice
saiu da inércia, avançando pela sala, as lágrimas
correndo, sua face transfigurada em dor e revolta –
COMO PODE DIZER ISSO DEPOIS DE...
Suas palavras morreram, pois Helena
agarrou seu braço segurando-a e tirando sua
atenção.
Rony olhou para a palidez de Helena e
então para John.
-Tirou a virgindade da minha irmã? – foi
sua pergunta seca e direta ao entender.
-É claro que não – Helena tentou
interferir – é claro que eles não...
-CALE A BOCA, HELENA! - ele gritou
enfurecido, empurrando John com ambas as mãos.
Ele não se defendeu, mas andou para trás em sinal
de alguém que não quer briga. – CONFESSE!
Alice parou de chorar no momento em
que entendeu o que acontecia. Rony tinha
esquecido a arma sobre o sofá, e Helena apanhou
sem ter onde esconder, pois vestia o penhoar.
Apavorada por isso, se afastou em direção ao
quarto. Alice barrou sua passagem. Olhou para
arma em suas mãos e deixou-a passar
conscientizando-se do que fizera.
-Meu irmão, eu não quis dizer isso... Eu...
- gaguejou apavorada.
-DIGA A VERDADE! – ele gritou na
cara de John.
-Sim, eu fiz amor com sua irmã. –
assumiu a culpa – Vergonhosamente usei de sua
confiança e não pude me controlar.
-Eu não acredito nisso! – Rony avançou.
Sendo barrado por Helena que voltava do quarto.
Ela ficou entre os dois homens.
A única que coisa que enxergava era sua
Helena defendendo a vida de outro homem.
-Chega! Vocês dois precisam conversar
e...
-SAI DA FRENTE! - ele mandou,
agarrando-a pelos ombros e empurrando para o
sofá. Helena caiu sentada, e não teve tempo de se
erguer antes do primeiro soco atingir John.
Ele cambaleou, mas não fugiu.
-SEU FILHO DA PUTA! – ele acertou
outro soco. – DESONROU MINHA IRMÃ
EMBAIXO DO MEU NARIZ! – outro soco e
John quase caiu.
Desesperada por John não se defender,
Alice se intrometeu.
-Foi minha culpa! Eu o tentei! Foi minha
culpa! Eu juro irmão! Foi minha culpa! – sendo
empurrada por John que temia que ela se
machucasse em meio à briga, Alice chorou – Por
favor, não briguem! Por favor, não o machuque
irmão!
-Se afaste, Alice – Helena a chamou,
puxando-a pela mão para longe dos dois.
-Minha irmã, John – ele limpou o suor da
testa com o antebraço nu. E nem notou que vestia
apenas a calça íntima, vestida na presa de ver o
que se passava na rua – Confiei e abusou da
minha irmã!
-Eu quis contar – John limpou o sangue
que fluía de sua boca em sua camisa até então de
linho caro, e não teve coragem de fitá-lo – Só
Deus sabe como quis contar. Faltou-me coragem.
-É verdade – Helena argumentou, se
aproximando imprudentemente – Eu pedi que não
contasse. Eles vão se casar. O mal está feito,
acabou. Não há razão para brigarem! Serão
cunhados!
-NÃO HAVERÁ CASAMENTO! –
Alice gritou a voz estrangulada – Não posso me
casar com um homem que ama outra mulher! Que
se casa comigo por obrigação!
-Não é verdade! – ele argumentou
olhando para Alice com dor no olhar. Tentou se
aproximar, mas reacendeu o ódio em Rony.
Avançando sobre John os dois acabaram
no chão, entre socos.
-Meu Deus! – Helena não sabia o que
fazer – Olhe o que você fez! – virou-se para Alice
furiosa - Vá chamar alguém antes que eles se
matem!
Alice saiu correndo, e Helena correu para
a cozinha apanhando um balde com água.
Frenética, ouvindo angustiada o som da briga; os
gritos, as ofensas vindas da sala, ela voltou
correndo.
Sem pensar duas vezes, jogou a água fria
sobre os dois.
O susto os separou. Rony levantou-se,
havia sangue em seu queixo e nariz.
-Oh Deus, vocês querem se matar? – ela
perguntou olhando de um para o outro com um
dor no peito horrível ao ver o estado de ambos.
Molhados, suados e sangrando. John
tinha os óculos quebrados, a lente espatifada, e
sangue corria em sua boca.
-Onde está minha arma? – havia algo tão
horrível nos olhos azuis, que Helena não conteve a
vontade de chorar, e se aproximou. – Vou matar
esse desgraçado e honrar minha família!
-Não fale isso. – assustada, abraçou-o
pela cintura, esperando acalmá-lo e acalmar o
medo que sentia – Por favor, não pense nisso!
Rony sentiu a fúria aumentar. Helena
chorava por John. Pela possibilidade de fazer mal
a ele! A dor era tamanha que ele olhou para John
como quem olha para o pior inimigo.
Esse olhar cortou o coração de John, que
baixou a cabeça, achando insuportável ficar ali.
-Por favor, John, vá embora – ela pediu –
Por um tempo, vá embora até ele se acalmar.
-São amantes – ele disse baixo,
afastando-a com repulsa – são amantes.
-Não, não somos - disse convicta –
Acredite em mim, em seu melhor amigo. Seja
adulto!
-É infiel. – ele constatou.
-E porque negaria? Não acordamos nada
sobre fidelidade! Esqueceu? – com raiva jogou
isso em sua cara – Ouça o que digo! Está louco
pelas criancices de sua irmã!
-Como vou encarar meu pai depois disso?
– olhou para ela com tanta dor nos olhos, o
orgulho destruído, que ela sentiu o coração
quebrar.
-Ninguém precisa saber. Eles se casam. É
um bom casamento. Não faça disso uma tragédia!
O ódio ferveu dentro de Rony, estava
prestes a mandar tudo para o inferno e lavar a
honra da família quando Alice voltou correndo
com Suarez meio vestido as pressas, com sua
arma na mão.
-Suarez! – Helena sentiu alívio correr por
suas veias – Leve John daqui. Pelo amor de Deus,
tire-o daqui!
-Tire-o daqui ou o mato! – Rony gritou.
Culpado, John não respondeu e se deixou
levar.
Alice correu até a varanda observando
John subir no cavalo a qual pegara de seu pai na
presa de segui-la. Alice achara aquele maldito
diário ao acordar, ao lado de sua cama, lera e
então saíra da casa como um cometa atrás de
explicações.
Perturbado, John subiu no cavalo, mas
ignorou o empregado de Rony, seguindo sozinho
em direção oposta da casa dos Parkers. Seguia
para a cidade.
Ele iria embora.
Melhor assim. Não suportaria um
casamento sem amor. Culpa. Remorso. Eram os
únicos sentimentos que John lhe tinha. Lágrimas
correram em suas faces.
-ME SOLTE!
Dentro da casa Rony afastou-se
brutalmente, não deixando Helena se aproximar.
Furioso, marchou para o quarto atrás de
suas roupas. Iria se vestir e ir atrás de John.
Talvez o matasse. Talvez não.
Estava perdido.
Helena sabia do perigo de bater de frente
com um homem descontrolado, mas não temeu ao
segui-lo. Dentro do quarto ela segurou-o quando
ele tentou se afastar.
-Por favor, me escute – pediu, quase
implorando.
-Cale a boca, não quero ouvir sua voz. –
ele avisou, sentando-se na beira da cama.
Ficou vários minutos sentado fitando o
vazio, pensando nos últimos acontecimentos e
suas incoerências.
Quando Helena o viu enterrar a cabeça
entre as mãos desesperado se aproximou
ajoelhada no chão, na altura de seu rosto.
-Eu descobri no dia que aconteceu. Alice
arrumou um modo de ficar sozinha com John no
lago. Aqui dentro de casa, não conseguiria.
Juanita não compactua com essas coisas. Nem eu.
Contou-me do modo como o tentou. Tente
entender Rony, seu amigo está apaixonado e não
soube controlar o próprio sentimento. – sua voz
era suave, como o conto de uma flauta mansa
querendo acalmar uma fera – Alice nem percebeu
a loucura que cometeu. John... Ficou arrasado de
culpa. Eu o fiz prometer que não contaria. Que se
casariam e ele assumiria a responsabilidade pelos
atos impetuosos. Foi esse o grande segredo que
tínhamos; nada além. Nunca houve nada entre
nós. Eu... Talvez tenha sido apenas isso,
imaginação e fantasias, e John tem vergonha de
assumir. Não pode culpar um homem por sonhar,
pode? – achou melhor ir pelo caminho mais fácil.
– É a única família que John possui. Pense nisso. -
mesmo nela havia tristeza ao dizer isso.
Rony ergueu os olhos, havia lágrimas de
raiva e dor nas pupilas azuis.
-Como acha que me sinto? É um irmão a
quem esmurrei! – disse entre dentes, a voz presa
pela emoção.
-Sim, e todos os irmãos brigam – ela
amenizou – Não é porque nunca aconteceu antes
que é o fim do mundo. Rony pense. Não faz
sentido! - tentou sorrir, tudo para acalmá-lo – Não
quero nem o marido que tenho quanto mais um
amante! Se desejasse outro, porque ainda estaria
aqui? John é rico, simplesmente pagaria a
hipoteca e teria a fazenda e a liberdade. Não é
assim? Que sentido faz ter um amante desse
modo?
-John traiu minha confiança. – era seu
último apelo de ódio falando.
-Sim, e você traiu a dele ao sequer lhe dar
uma chance de se explicar – revidou.
-Agora eu sou o culpado? – revoltou-se.
-Alcoviteiro, jogou sua irmã nos braços
de John! – lembrou-o – como pode exigir que John
tenha autocontrole quando você não o tem?
-Fantasias... São apenas fantasias? - ele
ergueu uma das mãos e tocou seu rosto, deixando-
a um tanto assustada sobre ser um carinho ou uma
ameaça.
-Divagações tolas. Todos as temos. John
apenas foi tolo de colocá-las no papel.
-Isso não muda o fato de minha irmã
estar desonrada – ele enrijeceu o maxilar, o
orgulho virado em nada.
-Ora, homem, não seja tolo! Alice
terminaria sua vida casada com um homem xucro,
apanhando e sendo infeliz ao lado de algum
beberrão pobre e malcriado! Trouxe para ela um
bom partido, que a tratará como uma rainha. O
que importa se já consumaram o casamento?
Ninguém precisa saber!
-Tão simples? - ele ironizou.
-Casamos para ter uma fazenda
hipotecada, e segundo você isso também fazia
sentido – atirou de volta, no mesmo tom.
-John sempre foi como um irmão – ele
disse em tom arrependido, limpando o sangue da
boca com culpa.
-Um irmão que há essas horas está indo
para cidade, sem escolta, exibir seus sapatos
caros, seu relógio de ouro pendurado no colete e
sua linhagem real, em algum bar, enchendo a cara
e se expondo a ser morto por algum infeliz que
esteja de passagem. – lembrou-o. – John será
roubado e morto antes que tenha tempo de pedir
desculpas por ter quebrado seu nariz!
-Quebrei seus óculos, não o nariz – se
defendeu.
-Então se lembre disso da próxima vez
em que perder o controle – disse amarga. – Vai
atrás dele?
-Vou – decidiu, apesar da contrariedade.
– Ele vai se casar com Alice ainda essa semana!
-Que assim seja. E se ela não aceitar,
então, a culpa será dela. Que vire meretriz ou
freira. Terá feito sua parte de irmão.
-Acha que cumpri minhas obrigações? –
ele perguntou com um tom doloroso de culpa na
voz.
-Fez mais por Alice do que ela merece –
lembrou-o, apressada em separar suas roupas.
Rony se vestiu rapidamente, parando
surpreso quando ela surgiu no quarto com uma
toalha molhada. Helena limpou o sangue em seu
rosto e o corte em sua boca.
-Quando voltar eu farei um curativo. –
disse envergonhada pelo excesso de zelo.
-Porque convenceu John a não me contar?
– ele perguntou, barrando sua passagem – Porque
mentiu para mim?
-Era uma coisa que não queria saber. –
ela confessou - Quis evitar que dois amigos
brigassem sem razão. John é um bom homem e
vai fazer Alice feliz. Eles se apressaram, é
verdade. Mas não é por isso que quatro pessoas
precisam ter suas vidas destruídas! Se você
matasse John, perderíamos a vida de um homem
honesto, perderia a sua vida, pois seria preso.
Alice perderia sua honra diante da sociedade a
acabaria casada com um homem horrível, ou
então, num convento, desperdiçando sua
mocidade. E eu... Perderia a fazenda – não quis
dizer que perderia o marido. Soaria muito
romântico.
-Tem razão – ele disse seco – Preciso ir.
-Sim, precisa.
Helena sentiu vontade de lhe contar que
ontem a noite iria pedir para que dormisse com ela
no quarto, como um casal, que esse convite se
estendia a toda a intimidade que ele desejasse.
Mas não disse nada, apenas o deixou ir.
Abalada pelas últimas emoções ela
andou a passos lentos para a sala. Alice estava
sentada no sofá, em estado de choque, ou algo
assim.
Fechando os olhos, Helena pediu ajuda
aos céus para dar conta de tantos problemas.
Capítulo 75 - Desfecho Final

A caderneta de John estava sobre o sofá,


o mesmo em que ela fizera amor com Rony na
noite passada, e Helena se aproximou. Sentia uma
pontada de dor no abdômen e gemeu.
Alice olhou em sua direção, talvez se
lembrando de algo. Dos pedidos incessantes de
sua mãe Sandra, sobre não chatear Helena e
causar-lhe problemas na gravidez.
A dor era forte, e ela sentou-se.
-O que foi? – Alice perguntou assustada.
-Uma dor forte. – estava quase sem ar –
Pode me trazer um pouco de água?
Por dentro, Alice tremia quando voltou
com a água. Helena bebeu todo o conteúdo do
copo sentindo a dor ir embora lentamente.
-Estou melhor. Muita agitação – ela
reclamou segurando o pulso de Alice quando ela
tentou se afastar – Sente-se ao meu lado, vamos
ter uma conversa.
-Não. Eu não tenho nada para dizer... -
Alice quis espernear, mas o olhar duro de Helena
a fez parar.
-Isso é bom, pois não vai dizer, vai ouvir
– ameaçou. Alice sentiu-se ao seu lado e Helena
notou que ainda estava de penhoar. – Rony
entendeu que não deveria ter brigado com John.
Vai achá-lo e tentar concertar o que fez.
Provavelmente a raiva vai passar e John vai
pensar com clareza. Vai se arrepender de ter
desistido do casamento.
-Não vou me casar com um homem que
não me ama! – ela respondeu segurando aquele
maldito diário entre as mãos.
-Alice, meu pai tinha um livro de notas
como esse. Os homens que tem muito em que
pensar costumam tê-los. Eu quero que leia com
atenção. Desde o começo. Note a diferença. John
escreveu sobre assuntos de negócios, porque então
escrever algo tão pessoal? Não lhe parece
estranho?
-Homens apaixonados fazem coisas
estranhas – ela disse, odiando o tom da própria
voz.
-Agora entendo – Helena disse, achando
que havia apenas um modo de convencê-la – Você
não ama John.
-O que? – Alice arregalou os olhos – Sou
louca por ele!
-Não. Não é! Qualquer mulher
verdadeiramente apaixonada ficaria grata ao
destino pela oportunidade de se casar com o
homem que manda em seu coração!
-Mas ele ama você!
-E daí? Mesmo que fosse verdade, ainda
assim, não haveria nada entre nós! Casada, teria
todas as oportunidades do mundo de fazer John se
apaixonar por você, já que insiste em crer que ele
não te ama. Será que é cega? Será que não vê a
realidade?
-Ama meu irmão? – Alice perguntou a
queima roupas notando seu rubor e a forma como
agarrou as abas do penhoar, como se estivesse se
lembrando de algo que pudesse responder essa
questão por ela.
-Não estamos falando de mim! Abra bem
os seus ouvidos Alice! Vai perder seu noivo, e não
é para mim ou para qualquer outra mulher! Vai
perdê-lo por não a suportar mais!
-Não sabe o que diz... – Alice pareceu
insegura.
-Me diga Alice, porque John se
descontrolou com você a ponto de trair tudo em
que acredita; trair a amizade de Rony apenas para
tê-la, e comigo, supostamente acreditando que me
ame, nunca tentou nada? Nem um toque, nem um
olhar malicioso. Nada!
-E quem entende os homens? – Alice
tentou não ficar por baixo.
-Eu entendo o que faz seu irmão perder a
cabeça. – confessou - Ele fica dizendo... Fica
repetindo que me ama, e sendo verdade ou não,
está sempre tentando me convencer a ceder. Está
sempre tentando tocar em mim. Vai dizer que
John não faz o mesmo com você?
-John é respeitoso... - Alice suspirou
confessando – nos beijamos o tempo todo.
-Ele sente desejo e ternura. É mais que a
maioria dos casamentos tem! – avisou.
-Meu irmão é um marido apaixonado.
Não tenho o direito de querer o mesmo? – ela
revidou magoada.
-Apaixonado? Pois olhe em volta e vera a
razão de tanto amor. Seu irmão é ganancioso. É o
único sentimento que envolve nosso casamento! –
não diria jamais sobre seu coração acelerado
sempre que aquele homem se aproximava. – Ouça
com atenção: não quero seu noivo. Nem para
marido, nem para amante. Se for verdade que ele
me ama, estará desiludido e livre para qualquer
outra mulher. Se você não o quiser, haverá outras.
O que prefere? Amar e ter uma oportunidade de
ser amada, ou casar-se com um homem por quem
não sente nada?
-Virarei freira – ela disse petulante.
-Pois que então seja! Case-se com John,
honre sua família, pois foi você quem trouxe a
vergonha ao nome Parker, e então, vá para um
convento! – decidiu – Falarei com sua mãe sobre
sua súbita vocação! Não se preocupe.
Alice temeu que fizesse mesmo isso. Mas
Helena não faria agora.
A dor havia voltado e ela se queixou.
Ficou um bom tempo no sofá tentando recuperar a
compostura, dizendo a si mesma que seu
emocional era culpado por suas dores físicas.
Levou quase uma hora para que Rony
encontrasse o rastro de John. Não estava no caro
hotel da cidade onde era esperado que um homem
de seu porto buscasse refúgio. Muito menos na
finíssima casa de chás.
Estava quase desistindo, quando uma
movimentação chamou sua atenção. Instinto o fez
desmontar o cavalo e avançar em direção ao pior
local da cidade.
O mesmo bar imundo de onde saíra o
homem que ousara bater em Helena e acabara
morto e enterrado em uma cova rasa, no meio do
mato, escondido de todos. Um forasteiro sem
nome e sem escrúpulos, como a maioria dos
homens que frequentavam aquele lugar.
Logo na entrada, avistou a briga. John
provocava um grandalhão enquanto enchia a cara
com o uísque barato e falsificado, ao qual não era
acostumado.
Bêbado como um gambá, mal podia ficar
de pé.
A camisa manchada pelo sangue da outra
briga que se envolvera mais cedo, estava aberta. A
calça suja pelo pó das estradas. Os sapatos
lustrosos, manchados de barro. Ele suava muito, e
tinha os olhos desfocados, pois as lentes de seus
óculos estavam quebradas e ele os perdera no
caminho.
John ria e tirava sarro com a cara do
brutamonte, provocando e querendo briga.
Estava sem rumo, perdido e sem chão.
Perdera o melhor amigo. Perdera a noiva. Era
acusado de ser vil e desonesto. Frustrara a todos
que confiavam nele, e mentira.
Suas mentiras criaram a teia onde ele se
debatia. Deveria ter contato a Rony no mesmo dia
em que perdera o controle e possuíra Alice.
Estariam casados, felizes e não haveria mais
dúvida sobre sua lealdade.
Pouco se importando se aquele
grandalhão iria quebrar seu pescoço ou não, ele
fez uma piada sobre sua óbvia ignorância e maus
modos, arrancando risadas dos outros homens a
sua volta, que instigavam uma boa briga. Loucos
para verem o rico e mimado almofadinhas feito
em pedaços!
John gargalhou quando o homenzarrão
tentou acertá-lo. Desviou-se e ele caiu contra
algumas mesas perto dali. Ainda rindo, sentiu o
sangue aquecido pelo álcool e pela adrenalina de
descontar em alguém toda sua raiva.
Que o mundo explodisse! Ele não tinha
mais nada porque lutar!
Seus olhos doeram por forçá-los a
enxergar e manter-se alerta. Via claramente a
imagem de sua doce Alice, gemendo em seus
braços, a pele clarinha, arrepiada e macia sob seus
dedos. Ouvia seus sussurros de amor em seu
ouvido, e a agonia o fazia mais inconsequente.
Em seu íntimo desejava poder provar que
era inocente, achar um meio de provar que não
escrevera aquelas maledicências. Que estivera
esquecido de Helena e as emoções que ela lhe
despertava desde que passara a ficar hospedado na
casa dos Parkers.
Tudo em que pudera pensar e sentir, fora
o calor da pele de Alice inalcançável ao seu toque.
Seu perfume virginal, seus lábios rosados.
Perdera isso, a inocência e a pureza que o
destino colocara em suas mãos! Perdera tudo!
Farto daquele sentimento de desespero
avançou contra o homem, esmurrando-o e
sentindo-se o grande poderoso.
-CHEGA!
Ele ouviu um grito, e uma massa de carne
e cabelos se interpôs entre os dois, impedindo que
o homem gigantesco lhe acertasse um soco que
provavelmente lhe tiraria a consciência.
-Solte-o! – Rony acertou o homem,
jogando-o longe.
Olhou para a imagem patética de John, e
estava prestes a gritar até obrigá-lo a ouvir a voz
da razão quando o homem se recuperou e
avançou. Assumindo a briga, ele livrou-se do
homem mais facilmente que John faria em seu
estado de embriagues.
Certo da vitória ficou surpreso quando o
homem tirou a arma da cintura e apontou para
John. Seu assunto era com o cara da cidade
grande, rico e metido que queria briga. Além
disso, um pouco de ouro não faz mal a ninguém.
Rony lutou com o homem, a arma entre
eles dois, tentando impedi-lo de acertar John ou
qualquer outra pessoa. John caiu no chão quando
tentou ajudar. Quase no mesmo instante ouviu o
som de um tiro.
Com os olhos fechados, ele se protegeu,
cobrindo o rosto com os braços.
Em seu estado de embriaguez, esperou
pacientemente o momento em que a dor lacerante
do tiro fatal levaria sua vida insignificante para
junto de seus pais.
Como nada acontecia, se moveu, achando
que agora sentiria a dor, pois deveria estar
anestesiado pelo susto e choque de ser baleado.
Olhando em volta, registrou os
movimentos apresados, o homem fugindo, seus
amigos o seguindo, e quando conseguiu fixar o
olhar, nem mesmo sua miopia o impediu de ver.
De pé, com as mãos na barriga onde o
sangue vertia, Rony tentou falar. Palavras de
perdão e pedido de ajuda. Mas o som não saiu. O
mundo escureceu e ele caiu de joelhos antes de
tombar para frente.
Morto. John via, mas não acreditava.
Morto.
Seu melhor amigo. Seu único irmão. Sua
única família.
Ele matara Ronald Parker.
O coração de John saltou no peito ao
avistar a fazenda. Seguia sobre o cavalo de Rony,
enquanto logo atrás dois homens vinham trazendo
uma charrete com o corpo.
Vê-lo baleado e sem vida lhe trouxera a
lucidez que o álcool lhe tirara, e a primeira coisa
que fizera fora arrumar um modo de levá-lo até o
único médico da cidade. O desgraçado estava na
fazenda Gueen e era longe, e primeiro teria que
passar pela fazenda Johnson-Parker.
Aturdido, havia mandado um homem
muito bem pago na frente, atrás do médico.
Agora, avistando a porteira da fazenda,
seu coração parecia que ia parar.
Na varanda, de pé, observando quem se
aproximava ao longe, Helena protegeu os olhos do
sol, tentando distinguir quem seria. Conforme
foram se aproximando, ela avistou John. Animada
pela ideia de tudo ter finalmente se resolvido,
virou-se para dentro da casa chamando por Alice.
Voltando a atenção para os homens que
se aproximavam, não encontrou a imagem de
Rony. Ele deveria estar junto, afinal fora buscar
por John!
Seus olhos passearam pelos homens
sobre as celas dos cavalos e então para a carroça.
Foi quando seus olhos pescaram a imagem de um
braço que pendia para fora da carroça. Uma pele
pálida, com sangue pelas mangas da camisa.
Não foi preciso ver mais.
Deu um passo para trás, e quando Alice
chegou até ela olhando com expectativa para John,
era tarde para dizer qualquer coisa. Ela olhou para
a expressão da cunhada onde um desespero a
deixara paralisada, e sem compreender, olhou
novamente para os homens que entravam pela
porteira.
Seus olhos azuis viram finalmente o
motivo de tanto horror, e de seus lábios escapou
um grito desesperado enquanto corria em direção
ao irmão morto.
Helena ouviu seu grito e a assistiu correr.
Seu corpo estava paralisado. Não podia se mexer,
não podia pensar. É claro que um dia isso
aconteceria.
Sozinha. Estaria novamente sozinha.
Rony há abandonaria uma hora ou outra,
mas preferia mil vezes não estar ali para vê-lo
morto. Achando que não poderia haver dor pior
que a da perca dos pais.
Mas estava enganada.
Juanita correu pelo pátio, atraída pelo
grito de Alice, assim como os outros empregados.
John desmontou do cavalo amparando
Alice que chorava desesperadamente sobre o peito
do irmão. Ele a abraçou e a afastou de Rony para
não aumentar seu ferimento. Ela se deixou levar,
tomada pelos braços fortes do noivo.
Quando ergueu os olhos, John notou a
figura simplória na varanda.
Não havia lágrimas.
Não havia desespero.
Mas o que havia em seus olhos, ele não
saberia nomear.
Ia além da sua compreensão.
Capítulo 76 - Morrendo por dentro

-O médico! – Alice se ajeitou agarrando o


braço de John, enquanto Rony era carregado para
dentro da casa. – Onde está o médico?
-Está a caminho, não vai demorar - ele
garantiu muito perto de Helena, olhando para ela,
esperando alguma reação. – Helena...
-Ele está vivo Helena – Alice afastou-se
de John e tocou no ombro da cunhada, notando
que estava gelada como uma pedra de granito em
noite de chuva.
Sabia que não seria para sempre.
Congelada no lugar, sentiu a garganta apertar.
Não podia ser para sempre. Nunca era.
-Helena – Alice insistiu – Helena! – ela a
sacudiu, segurando seus ombros com força e
empurrando-a para frente e para trás – Rony está
vivo! Precisa de ajuda!
Sem parecer ouvir, ela olhou para Alice e
então para John.
Alice comprou o olhar de John, sabendo
que ela estava em estado de choque.
Tomando as rédeas, Alice a puxou pelos
braços e Helena se deixou levar. Estacou quando
foi empurrada para dentro do quarto.
Rony estava deitado na cama. A roupa
ensanguentada. Estava morto.
-Deixou-o morrer – ela disse baixo, e
John sentiu como se fosse uma facada em seu
peito – Deixou-o morrer.
-Rony está vivo! – Alice disse chorando
sem saber o que mais dizer – Veja, ele respira
ainda – ela levou sua mão até o peito de Rony,
onde o peito subia e descia num respirar muito
fraco. Muito lento.
Helena sentiu a pele sobre os dedos. As
sensações explodiram dentro dela, e sem entender
o que se passava, sentiu que as pernas dobravam e
o corpo perdia a força. Escorregou, ficando ao seu
lado na cama.
Só então percebeu que era ela quem
chorava desesperadamente, apertando o tecido
fino da camisa sob seus dedos quando Juanita
apareceu no quarto.
-Não faça assim, Helena - ela ajudou-a a
se afastar, mas Helena empurrou-a querendo tocá-
lo novamente. – Alice, vá à fazenda de seus pais
buscá-los. Leve Duran – Juanita tomou as rédeas
– Sr.Harrison, vá atrás do médico.
-Eu...
-Vá de uma vez! Aquele preguiçoso não
virá a menos que alguém importante o chame! -
ela mandou sabiamente calma.
-Não posso deixar Helena assim – Alice
disse, fitando a empregada com tanta
determinação que ela concordou
–Mandarei Duran sozinho. Tire-a daqui
enquanto tiro a roupa manchada de sangue – ela
olhou com pesar – pobre homem!
-Não fale assim – Alice pediu baixinho,
tentando levar Helena.
Como uma boneca de pano, se deixou
levar. Na cozinha, desabou sobre a cadeira. Alice
pretendia dizer algo, mas ela não ouviria. O
pranto a fazia surda. Cobrindo o rosto com as
mãos, ela soluçou interminavelmente.
Alice se ajoelhou no chão, e ficou com o
rosto na mesma altura, fazendo-a olhar em sua
direção.
-Você o ama – ela disse suavemente,
afastando os cabelos de Helena de sua face – Não
pode desabar agora. Não agora. Helena seja forte,
por favor. Rony... Precisa de você.
-Não, não precisa. Ele vai me deixar...
Sua voz era tão sofrida, seu olhar tão
magoado, que Alice chorou com ela.
-Não, não vai. Não conhece meu irmão?
Ele jamais vai deixá-la em paz! Nem que para isso
viva mil anos! – tentou fazê-la sorrir – Helena,
vamos cuidar de Rony enquanto o médico não
vem.
Ela maneou a cabeça negando. Alice
levantou-se e se afastou, pois não poderia mais
deixar o irmão abandonado. Sozinha, Helena
achou que nunca mais respiraria sem sentir aquele
sufoco no peito, aquela opressão.
Há poucas horas estivera em seus braços
e agora, estava partindo e abandonando-a.
Suas mãos estavam molhadas pelas
lágrimas e ela lembrou-se de como ele adorava
segurá-las e mostrar o quanto era capaz de causar-
lhe emoções com esse simples gesto.
Como viveria sem ele?
Fechando os olhos com força, pensou ter
ouvido um sussurro ou algo assim. Era a
lembrança lhe trazendo o som de sua voz,
sussurrando seu amor em seu ouvido durante a
noite, quando achava que ela estava
profundamente adormecida.
Contendo os soluços, ela limpou as
bochechas e os olhos, secando as lágrimas.
Se ele estava vivo, havia uma esperança.

Juanita notou o momento em que ela


entrou e enxotou Alice.
-Me ajude a trocá-lo – mandou e Helena
obedeceu.
Achando que poderia cair no choro a
qualquer momento se concentrou nas ordens de
Juanita. Tirou sua calça e suas cuecas. A camisa
fora cortada para não atrapalhar, e agora jazia em
farrapos no chão. Juntas o colocaram bem no meio
da cama, de modo a não ficar desconfortável.
Helena recebeu a pequena bacia com
água limpa, um pedaço de pano limpo e molhou-o
na água, olhando para a ferida.
Era feia e sangrava. Logo abaixo das
costelas, perto do umbigo. Um buraco mínimo,
mas que fazia tanto estrago quanto possível. O
rosto bonito estava pálido sobre a barba que
crescia sem cuidado, pois não tivera tempo para
higiene naquela manhã. Parecia apenas dormir
calmamente.
Ternura a fez acariciar seus cabelos
ruivos, antes de começar a limpar a ferida.
-Ele vai sangrar até a morte. Não dará
tempo de o médico chegar – Juanita disse em seu
canto, tensa.
Havia medo naquela mulher, e não
apenas pela vida do jovem homem, mas pela vida
daquela menina a quem se afeiçoara como a uma
filha. O que seria de Helena se perdesse seu amor?
Mais uma perca. Mais uma ferida em seu coração
não cicatrizado. Poderia ser destrutivo.
Seria destrutivo.
-Se não removermos a bala o
sangramento não irá parar – ela elevou a voz,
ganhando a atenção de Helena.
-Sabe fazer isso? – ela perguntou baixo,
rouca, sem voz.
-Eu vi fazerem. Mas não teria coragem. –
ela confessou – é preciso tirar a bala com uma
faca afiada. Está inconsciente, mas se acordar será
uma dor terrível. Sem falar no sangue. E na
responsabilidade. Não poderia fazer. – ela mostrou
as mãos que tremiam – Não sou tão forte assim,
Helena.
-Então me diga como fazer – ela disse
decidida, abandonando a limpeza que não exercia
efeito algum, pois o sangue não estacava. – Traga
o que for preciso e me mostre como fazer.
-Tem certeza? – a voz de Juanita
fraquejou.
-Tenho.
Não era uma opção. Não havia uma
opção.
Sentada ao lado de Rony esperando, para
ela foi um tempo longo demais. Tão pálido e tão
assustadoramente quieto.
Sua mão segurava a dele, esperando que
a qualquer momento se movesse e acordasse,
dizendo estar tudo bem. Mas não aconteceria.
Juanita reapareceu, as mãos ainda
trêmulas, carreando água e toalhas.
-Passei no fogo, está quente – lhe
entregou uma grande faca de cozinha com uma
ponta afiada e fina, o cabo enrolado em um pano,
para não queimá-la.
-O que eu faço agora? - ela perguntou
sem expressão ou emoção.
Fria. Tinha que ser fria.
-Limpe a ferida com álcool – A voz de
Juanita estava muito baixa, engasgada.
Não tinha tanta força interna a ponto de
achar normal ter a vida de alguém em suas mãos.
Por outro lado, já vira homens fortes e saudáveis
morrerem sangrando como porcos abatidos, por
causa de tiros acertados na barriga.
Um local doloroso e fatal se não houvesse
socorro.
Helena molhou o uísque numa das
toalhas e passou sobre a ferida num movimento
decidido e firme. A dor provocada o fez se mover,
mas não acordar.
Melhor assim.
-Precisa achar a bala e tirá-la para fora –
Juanita explicou, se afastando e deixando-a ter
espaço e luz para ver o que faria.
Helena se inclinou analisando o pequeno
buraco por onde a bala entrara. Não havia como
ver muita coisa. Controlando as mãos para não
tremerem, encostou a ponta da faca e introduziu-a
pela abertura, até sentir que tocava algo sólido
demais para ser carne ou osso.
Tremendo por dentro, aprofundou a
lâmina, Juanita tendo que correr para segurar
Rony, pois seu corpo tremia pela dor.
Alheia a tudo e concentrada no que fazia,
abriu caminho e começou a empurrar a bala para
cima. Depois do que pareceu uma eternidade, mas
não passou na verdade de segundos, o artefato de
ferro e aço, subiu a superfície e ela retirou com os
dedos.
Imediatamente, o sangue subiu e jorrou,
deixando-a em pânico.
-Passe mais álcool – Juanita mandou,
correndo a apanhar mais toalhas limpas.
Helena pressionou o tecido embevecido
em uísque, e a pressão ajudou há estancar um
pouco o sangue. No entanto quando soltou o
sangramento voltou.
-Me dê mais toalhas – Helena pediu,
tendo uma ideia. Dobrou duas toalhas e
pressionou sobre a ferida, usando as duas mãos
para fazer força. – Separe mais toalhas!
Juanita correu a obedecer, e Helena
esperou.
Manteve as mãos sobre as toalhas
pressionando o ferimento por quase uma hora.
Tensa, imóvel e muda, esperou a chegada do
médico.
Dr.Nut chegou apressado, sendo
praticamente arrastado por John e Artur Parker. O
franzino homem parecia assustado, tendo sido
tirado à força da cabeceira de outro doente. Por
sorte o filho dos Gueen não tinha nada além de
uma forte ressaca mal curada.
A última coisa que o médico, ou John, ou
Artur poderiam esperar ao entrar naquele quarto,
era ver Helena estancando o sangue.
-Tiramos a bala – Juanita foi logo
avisando, pois Helena não tinha condições de
falar. Mostrou o que sobrara da bala depois de ter
estourado e penetrado no corpo de Rony. – O
sangramento diminuiu desde que mantivemos a
pressão sobre a ferida.
-Sim, sim – o médico disse abrindo sua
maleta e retirando alguns objetos. – Pode soltar,
filha – ele disse para Helena.
Ela olhou para o médico, e então para as
próprias mãos cheias de sangue e demorou mais
de um minuto para obedecer. Tinha medo que tão
logo cessasse a pressão, o sangue voltasse a jorrar
com força. Mas nada aconteceu.
Sentindo-se dolorida, os braços
enrijecidos pela força empregada, foi amparada
por John, que a segurando pelos ombros, afastou-a
da cama para dar passagem ao médico.
-Meu filho – Artur se aproximou – Como
isso pode acontecer com meu filho?
Sua expressão incrédula era dolorosa
demais para John encarar.
Com a desculpa de tirar Helena dali, saiu
do quarto. Alice correu até eles, fitando as mãos
dela machadas com o sangue de Rony, o vestido
também estava manchado.
-Mamãe já sabe? – perguntou num fio de
voz.
-Não. Seu pai achou melhor não contar
ainda. – explicou – Ajude Helena a se limpar –
ele pediu.
-Sim – aproximou-se dela – Vem Helena,
vamos subir.
Helena se deixou levar, sem saber
exatamente por que falavam com ela naquele tom
pausado e comedido. Talvez Rony estivesse
morrendo nesse exato momento e não quisessem
lhe contar...
Alice lavou suas mãos com água limpa e
ajudou-a a trocar o vestido sujo por um limpo.
Abotoou-o nas costas e prendeu seus cabelos
numa trança.
Todo o tempo Helena não se importou.
-Foi muito corajosa retirando a bala – ela
disse surpresa, não por sua coragem, mas por sua
fibra – Helena...
-Não quero falar – ela cortou, fitando o
vazio que havia dentro de si, olhando apenas para
as próprias mãos.
-Vamos descer; talvez Dr.Nut já tenha
um parecer – disse para tentar animá-la.
Na sala, John esperava nervoso, andando
de um lado ao outro.
-Você atirou? – Helena perguntou assim
que o viu.
-Não – ele respondeu num tom de auto-
penitência – Mas é como se houvesse apertado o
gatilho. – não tinha como erguer os olhos e
encarar Helena.
A dor que havia em seu olhar seria o
bastante para matá-lo de vergonha e culpa.
-Rony me defendeu de uma briga e levou
o tiro por mim. Era eu quem deveria estar morto.
Eu quem deveria estar sangrando a beira da
morte...
-Deus! Não diga isso! – Alice soltou um
gritinho correndo para abraçá-lo – O que seria de
mim se o perdesse?
Ele deixou-se abraçar com vergonha de si
mesmo.
-Fui fraco. Não me defendi o bastante,
me curvei. Causei toda a dor que sente, Helena.
Nada que eu disser mudará isso. Mas sinto muito.
-Não sinta – ela disse fria e distante.
Era impossível saber o que pensava.
Sentindo-se vazia, se sentou no sofá
quando uma dor correu sua barriga e a fez querer
fechar os olhos e gemer. Controlou-se e esperou
que passasse. Suas pernas estavam tão fracas.
Suas vistas tão turvas.
-Helena, tem algo que possa fazer para
ajudá-la nessa hora? – Alice perguntou, se
esforçando para controlar as lágrimas.
-Não - disse cortante.
-Helena, eu... - John tentou falar, mas ela
não deixou.
-Não quero saber.
Era verdade não queria saber como John
se sentia.
Sensibilizada, Alice gentilmente
conduziu John para fora da sala, lhe dado espaço.
Helena nem notou. Quando seu pai
sofrera aquele acidente na estrada e ficara numa
cama para toda a vida, era apenas uma menina,
mas entendeu a dimensão do fato vendo a mãe
sofrer. Então, quando vieram contar da morte de
seu irmão, ela presenciara dentro de si o que era
dor.
A perca. A falta. O vazio. Não tiveram
um corpo para enterrar, e a dor havia sido
sufocada pelo trabalho e as novas obrigações para
com a família.
Até o dia que perdera os pais e Anne.
Não deveria haver dor mais forte que
essa. Sua mãe, seu pai. Sua irmãzinha inocente e
angelical. Perdê-los fora como perder o senso de
direção. Não saber que era e para onde iria.
Sentira raiva, medo, dor.
Hoje, enquanto sentia o sangue quente de
Rony correndo entre seus dedos e assistia sua pele
cada vez mais pálida, mais quente, febril, ela
sentira outra coisa.
Uma espécie de dor que deixara sem
forças. Seus braços estavam vazios. Suas mãos
insensíveis. Sua mente vazia e seu coração
apertado de um modo que parecia que iria sufocar.
Aflição, dúvida, medo. Se ele a deixasse
o que seria dela? O que seria de suas noites? De
seus dias? Quem estaria ao seu lado para tentar
transformá-la em uma mulher melhor?
Preferia mil vezes que ele fosse embora
com Susan ou Alexia, a vê-lo morto. Como
gostaria de voltar atrás e desfazer todas as vezes
que lhe disse que não se importava.
Pois se importava. Tanto que sentia o
peito doendo. Queria voltar ao quarto, deitar-se ao
seu lado e dizer que não poderia continuar
sozinha. A dor a sufocou ao pensar que nunca
mais veria seu olhar azul, vivo e malicioso.
Nunca mais veria seu sorriso zombeteiro,
obrigando-a a se rebelar contra sua sedução.
Jamais ouviria sua voz rouca dizendo o quanto a
desejava, ou sentiria seu corpo possuir o seu com
ardor e força!
Seria sozinha novamente, mas de uma
forma mais triste. Seria a solidão da saudade de
seu marido, seu amante e seu amigo. Perderia tudo
em um minuto de fraqueza de John.
Queria sentir raiva de John, mas não
conseguia. Sufocada pela dor da impotência,
levantou-se e caminhou para fora de casa. No
pátio, andou rapidamente ao longo da cerca, sem
notar que o menino Duran a seguia.
Havia visto a patroa sair de casa a passos
muito rápidos, e não pensou duas vezes em segui-
la. Seu patrão havia lhe dado ordens expressas de
sempre zelar por sua segurança, e era isso que
faria!
Helena só percebeu que corria quando
chegou às margens grandes do lago. Seu corpo
tombou sem forças, e ela baixou a cabeça quando
as lágrimas vieram. Não era vergonha de chorar.
Era para não ver as águas calmas e serenas e
lembrar-se dos beijos e abraços tocados dentro do
lago.
Para não ver que o dia era bonito e
luminoso enquanto sua vida estava ruindo a seus
pés. Que havia uma escuridão infinita dentro
dela, e a dor era horrível demais para que pudesse
pensar.
Ao longe, Duran esperou atrás de uma
árvore. Não se aproximaria.
Helena chorava e ele não sabia o que
fazer com uma mulher chorando.
Em algum momento, Helena notou o
menino, mas isso lhe trouxe uma onda de choro
compulsivo, pois sabia, eram ordens de Rony para
protegê-la.
Como viveria sem esse homem?
Como viveria sem seu amor?
Capítulo 77 - Um passo de cada vez

Helena acordou no quarto de hóspedes.


Assustada, sentou-se na cama achando que tudo
não passara de um grande pesadelo.
Olhou para as roupas limpas, para o
vazio do quarto. Estava em casa. E haviam vozes
vindas do primeiro andar.
Vozes de homens. Homens alterados.
Sentindo como se houvesse sido revirada
do avesso e estivesse se recuperando de uma longa
enfermidade, tal fraqueza, se colocou de pé,
calçou os sapatos e se dirigiu as escadas.
Medo a paralisou nos primeiros degraus.
Será que queria mesmo saber como Rony estava?
Uma das vozes a fez tremer. Era uma voz
de homem muito parecida com a de Rony. Desceu
as escadas e dirigiu-se para a cozinha. Na porta,
analisou as pessoas.
Artur Parker estava sentado, a cabeça
apoiada nas mãos, cansado e preocupado. Alice
estava ao seu lado, uma das mãos tocando seu
ombro e consolando o pai.
Dr.Nut estava na outra ponta da mesa,
pálido diante da reação dos gigantescos homens a
sua volta. Eram muitos. Todos os irmãos de Rony.
A voz alterada que ouvira era de Ducan,
dirigido a John.
A discussão foi interrompida quando
Ducan avisou Helena.
-Aproxime-se, minha filha – Artur
estendeu a mão, mas Helena não se aproximou.
-Papai – Alice se fez notar – Helena
ainda não sabe – lembrou-o.
Estivera chorando na beira do lago por
muito tempo e quando adormecera exausta, quase
num desmaio, onde suas forças a abandonaram,
fora o menino Duran quem a trouxera no colo.
Direto para a cama, para descansar. Não
poderiam esquecer que esperava um filho.
-Helena – John se aproximou, ajudando-a
a dar os passos que ela hesitava. – Está pálida,
precisa comer e sentar.
-Não quero nada – ela reclamou se
afastando dele.
Alice levantou-se e a puxou pela mão em
direção a mesa. Ela sentou sem reclamar.
-O Dr.Nut ficará aqui na fazenda até que
Rony se recupere – Artur disse, segurando suas
mãos pela mesa.
-Se recupere? – ela sussurrou, olhando
dentro daqueles olhos tão azuis quanto os de
Rony. Longe da vivacidade costumeira dos
Parkers, havia abatimento e medo.
-Rony ficará bem. Vai sobreviver. – ele
disse tentando sorrir, mas a situação era tensa
demais para isso – Graças a você e Juanita, ele vai
viver.
-Eu não fiz nada... – tentou se soltar, mas
ele não deixou.
-Fez. Retirou a bala que o faria sangrar
até a morte. Estacou o sangue e impediu-o de
perder mais forças. Não é isso doutor?
Dr.Nut manifestou-se sério.
-Ronald Parker é um homem forte. Mas
perdeu muito sangue. Se não houvessem agido
rápido, não haveria nada que pudesse fazer. –
explicou – Agora, a única coisa a fazer é esperar
que a febre ceda e que se recupere. Se não houver
nenhuma infecção, escapará dessa.
-Não fiz nada - ela disse tensa – Juanita
me orientou, não teria feito se não fosse ela –
constrangida e tensa se afastou.
-Não diminua seu mérito - Artur mandou
– Viverei mil anos e não terei palavras suficientes
para agradecer o que fez por meu filho. Sua
coragem o salvou.
-Papai – Alice disse num meio sorriso –
Não faça isso com Helena, ela fica retraída com
elogios – conhecia muito bem a cunhada e amiga
– Deixe-a lamber as próprias feridas do jeito dela.
-Sim, tem razão – ele soltou suas mãos e
ela se encolheu em sua cadeira, sem jeito com
tantos olhares. – Quero que saiba Helena, que sou
um homem satisfeito em saber que ajudei meu
filho a escolher a mulher certa.
Sem palavras para responder afastou o
olhar. John estava encolhido em um canto, e era
claro que era o alvo dos gritos anteriores.
-Meu irmão escapou por pouco – Ducan
disse alterado, o rosto muito vermelho, numa
presença muito parecida com o do próprio Rony –
E não graças a ele – apontou John.
-Foi uma briga de bar – Helena disse com
voz cortante – John e Rony tiveram uma
discussão. São dois homens tolos e brigaram por
um motivo fútil. Seu irmão foi atrás de John para
pedir desculpas – notou a surpresa na face de John
– ele irá querer seu amigo aqui quando acordar.
-É mesmo? Ou é você quem quer John
aqui? – Ducan perguntou e ela ergueu o queixo em
desafio.
-Cale a boca Ducan – Artur disse mais
alto que a voz do filho – não ouse ofender sua
cunhada em sua própria casa. Confio no
julgamento de meu filho, e se ele deu a vida para
proteger a vida de John, é porque é um homem
valoroso.
-Ah pai! – Ducan pareceu incrédulo –
eles são amantes!
-Não, não são – Alice disse com voz
arrependida – Eu demorei a ver isso... A Srta.Lil
conhecia muito bem John... Foi sua... Amiga
íntima por muitos anos. Talvez ela conhecesse sua
letra e soubesse reproduzi-la. Sei que é capaz
disso. Helena não tem culpa de meu ciúme. Muito
menos John.
Aceitando aquelas palavras, Helena
sentiu parte do peso em seus ombros aliviar.
-Preciso que Alice fique para me ajudar –
pediu – Assim como preciso de John. Sei que
Rony confiaria nele para administrar a fazenda
enquanto... Recupera-se – não quis pensar na
possibilidade disso não acontecer. – Não posso
cuidar de tudo sozinha. - não era tão difícil admitir
afinal.
-É mesmo? – Ducan carregou na ironia –
Até onde sei sempre fez isso sozinha. O que
mudou agora?
Helena não respondeu, mas Marcelo
sussurrou algo para o irmão que o calou. Eram
gêmeos calados quando o assunto era sério como
agora, mas normalmente eram divertidos e
palhaços. Mas hoje, ninguém queria rir.
Helena se perguntou o que teria sido dito
entre os irmãos, mas fosse o que fosse fez Ducan
se calar.
Helena pensou em explicar a ele as
razões para não poder mais assumir tudo sozinha,
mas não pode. Era íntimo demais. Ser cuidada e
protegida ascendera dentro dela uma necessidade
gigantesca de ser mulher e esposa.
Cuidar da casa e do marido, não poderia
deixá-lo sozinho em uma cama e ir cuidar da
fazenda. Tinha que ser prática, no entanto.
Poderia deixar os irmãos de Rony
cuidarem de tudo, mas não queria.
-Suarez pode orientar John - ela disse
convicta. – e Alice precisa me ajudar com a casa.
-É hora de irmos – Artur anunciou –
Helena dará conta de cuidar de tudo a seu modo –
havia censura no olha do patriarca ao notar a
expressão contrariada de Ducan – Preciso contar a
Sandra. Parto com a convicção de que meu filho
vai sobreviver. Não pense o contrário Helena. E
não esqueça: tem essa família ao seu lado. Não
está sozinha.
Engolindo em seco, ela não respondeu.
Os irmãos de Rony foram embora com
singelos cumprimentos, o médico foi até o quarto
ver o paciente, e quando ficou só com John e Alice
ela encarou ambos, antes de dizer séria e seca:
-É a última vez que falaremos sobre isso,
pois tenho mais em que pensar, irão se casar o
mais breve possível. Tão logo Rony possa ficar de
pé chamaremos o Padre e se casarão. Não vou
permitir que essa vergonha continue. Não estou
perguntando se quer ou não, Alice. Seu irmão
quase morreu por seu excesso de vontades e
ciúmes. Chega. John, eu sei que sente culpa, e
deve sentir, para que pense duas vezes antes de
agir desse modo de novo. Sua vida também faria
falta. Não a destrua. Preciso que me ajudem com a
fazenda. Mas isso não quer dizer que não sou eu
quem manda aqui na falta de Rony. Entenderam?
-Não posso me casar se John não me ama
– Alice disse com o coração nos olhos.
-Pode e vai – ela disse ameaçadoramente
– se ousar falar novamente com Alexia, ou dar
ouvidos ao que ela diz, eu mesma encontrarei um
cabaré e a colocarei lá, junto com Alexia. Para que
sejam unha e carne! – horror diante da ameaça fez
Alice se calar, pois não duvidava de Helena
quando ficava furiosa.
De pé, Helena virou-se para John.
-Troque de roupa. Precisa falar com
Suarez e se inteirar do trabalho.
-Helena, eu sinto muito, jamais teria
entrado em uma briga se soubesse que...
-Que é errado? Que acaba em tragédia? –
completou por ele, incapaz de deixar que John
saísse dessa achando que seus problemas eram
desculpa para suas atitudes – Guarde suas
desculpas. Palavras não têm o poder de concertar
as atitudes erradas.
Com essa certeza, Helena os deixou
sozinhos.
Na porta do quarto deles, ela parou
assustada com a ideia de entrar e vê-lo novamente
a beira da morte.
Juanita a notou e abriu totalmente a porta
para que entrasse. Subitamente formal, teve medo
de olhar para a cama e vê-lo indo lentamente para
outro mundo, o mundo dos mortos.
Juanita fez um gesto significativo para o
médico que se afastou da cama dizendo:
-Acredito que o almoço seria bem vindo
– disse a Juanita - Mesmo um velho homem como
eu pode ainda conservar sua memória e lembrar-se
de como é deliciosa sua comida Juanita.
-Sim, e também deve se lembrar como é
zeloso o meu marido – ela riu-se, conduzindo-o
para fora do quarto.
Helena mal ouviu a porta fechar lhe
dando privacidade. Ergueu os olhos e finalmente
fitou seu corpo sobre a cama.
Não havia marcas de sangue. Tudo
estava limpo, inclusive a ferida, enfaixada em sua
barriga. Seu peito estava nu, o lençol cobrindo-o
até a cintura.
Um dos pés estava descoberto, e Helena
sentiu um nó se formando em sua garganta ao
cobri-lo. Tirou a mão rapidamente, como se um
simples toque pudesse machucá-lo.
Se aproximando mais, ela olhou para seu
rosto. Adormecido, aparentava tanta fragilidade.
Pálido, os lábios sempre cheios e bonitos estavam
arroxeados e quebradiços. Aparentava calma, um
sono pesado, mas seu peito se movia muito pouco.
Respirava difícil, e seu olho acostumado a
conhecer cada centímetro daquele corpo, e cada
pequena reação, notou seu pescoço avermelhado e
o começo dos ombros, como se estivesse febril.
Helena tocou a pele do braço que
descansava caído sobre a cama e notou que era
exatamente isso. Febre.
Febre alta, que consumia suas forças.
Tentando entender o que se passava
dentro de si mesma, puxou a única cadeira do
quarto e sentou-se ao lado da cama, muito perto.
Suas mãos tocaram em seu braço e ficaram ali,
sentindo-o.
Esse homem não podia morrer.
Era jovem demais, persistente demais,
eloquente demais. Precipitado, arrogante,
engraçado. Era homem demais para morrer.
E principalmente, era o amor da sua vida.
Nunca lhe dissera.
Se houvesse morrido, jamais saberia.
-Rony – ela disse muito baixo, esperando
que em algum lugar de seu sono, pudesse ouvir –
Eu ia pedir que fizesse parte da minha vida. Só
não sabia como fazê-lo.
Era verdade. Não iria pedir que dividisse
sua cama. Era mais que isso.
As lágrimas corriam em sua face. Eram
lágrimas silenciosas.
Seus pais e Anne sabiam do tamanho do
seu amor. Sempre dizia a sua mãe o quanto a
amava. Sempre abraçava a irmã e lhe contava do
carinho e ternura que sentia por ela.
Mas Rony não. Nunca dissera. Nunca o
permitira se aproximar.
-Não morra – disse muito baixo – Apenas
não morra.
Sua voz se perdeu no silêncio do quarto,
mas ela não notou.
Permaneceu na mesma posição velando
seu sono, sem notar nada a sua volta.
Culpa, remorso e medo.

Alice olhava para Helena sem coragem


de se aproximar ou se fazer notar. Havia aberto a
porta, pronta para se oferecer a ajudar. Mas ao ver
sua cunhada e amiga tão compenetrada em sua
própria dor, se acovardara.
Era amor que via em seus olhos.
Envergonhada por ter desconfiado de Helena em
relação a John apenas ficou quieta, esperando ser
notada.
Passou-se um bom tempo até que
entendesse que ela não notaria.
Talvez estivesse errada sobre os próprios
sentimentos. Alice achou seu próprio amor muito
pequeno perto que via no olhar de Helena.
Um amor mesquinho e covarde.
Ciumento e arrogante demais para perguntar antes
de tirar conclusões.
Fechou a porta deixando os dois
sozinhos, pois tinha certeza que a simples
presença de Helena junto a Rony seria o bastante
para ajudá-lo a se recuperar.
Juanita estava na cozinha preparando o
almoço, que fora relegado a segundo plano
quando avistou Alice. John lhe contara
brevemente da decisão de Helena a cerca da
fazenda, e ela teve que concordar.
-Mandei Duran buscar algumas roupas
suas e de John na fazenda de seu pai – disse sem
olhar para ela, sem interesse.
-Eu... Poderia ter ido junto.
-Não, não poderia. Pegue uma galinha no
galinheiro. Mate e faça uma canja, enquanto
preparo o almoço dos homens. Eles devem estar
famintos.
-Uma... Uma canja? – seus olhos se
arregalaram.
-Helena não deve comer nada pesado
agora. E se por milagre, seu irmão acordar, será
bom que coma alguma coisa.
-Mas eu... Nunca matei uma galinha
antes... – havia horror em sua face.
-Acabou com a vida de sua cunhada e de
seu irmão. – ela disse séria e direta, parando o que
fazia e encarando-a – Agora, eles tentam se
reerguer. Helena está colocando-a em seu lugar,
nas atividades da casa, e Helena faz canjas. Então,
você também fará.
Alice não argumentou.
A culpa era grande demais para que
fizesse isso.
Uma hora depois, John voltou de uma
longa conversa com os empregados,
tranquilizando-os sobre Rony e seus empregos,
quando avistou a cena mais inusitada que poderia
imaginar ver.
Nos fundos da casa, sentada nos degraus,
com a saia do vestido sungada acima dos joelhos
presa entre as pernas, Alice equilibrava uma bacia
sobre um degrau, enquanto arrancava as penas de
uma galinha morta. Fumaça escapava da água
quente e corava suas faces, enquanto o suor corria
entre seus seios.
Ficou observando, e sorriu quando ela
terminou e fechou os olhos como se agradecesse
aos céus.
Pela porta, Juanita aparece e lhe estendeu
uma bacia limpa e uma longa faca. Falou algo, e
Alice apanhou-a com pânico nas faces.
Era óbvio que Juanita não facilitaria o
seu lado. John quase sentiu pena ao vê-la cortar o
animal, com uma expressão de pena, nojo e
horror.
Alice tinha que crescer. E não seria ele
quem barraria seu aprendizado.
Ela ergueu os olhos em sua direção e
então, afastou-se carregando a bacia para dentro.
John, por sua vez, seguiu seu caminho,
pois havia muito trabalho. Não ousaria deixar a
fazenda afundar. Cuidar e zelar do patrimônio de
Rony era o mínimo que poderia fazer depois de
quase lhe roubar a vida.
Capítulo 78 - De volta a vida

Havia um gosto ruim em sua boca. Como


se houvesse mastigado algo muito amargo e seco.
Rony tentou engolir saliva, mas não conseguiu.
Sua boca estava completamente seca. A garganta
doía a um ponto que achou que sufocaria ao abrir
a boca para tentar falar.
Sem som, não havia voz. Tentou mover a
cabeça, mas o pescoço estava tenso e rijo e não
conseguiu. Abriu os olhos azuis sentido a dor da
claridade a feri-los. Piscou rapidamente, tentando
afastar a dor.
Seu corpo estava pesado, e não conseguiu
se mexer.
Pânico grudou em seu coração ao
lembrar-se da briga no bar. O som do tiro. O
cheiro da pólvora. A dor dilacerante em seu corpo
ao ser atingido.
Talvez estivesse morto.
Mas a morte não poderia ser tão clara,
nem ter cheiro de rosas. O aroma impregnava o
quatro. Sim, ele estava em seu quarto, em sua
casa. A menos que fosse um sonho, ou o paraíso
fosse feito de sonhos.
Não, ele não era tão bonzinho que
pudesse ir direto ao paraíso, sem antes passar pelo
purgatório! Nem tão devoto que pudesse receber
por paraíso seu lar e aqueles que ama.
Só poderia ser um sonho. Um sonho
realístico demais.
Rony pensou ter ouvido vozes.
Obviamente seus sonhos de paraíso não
incluíam homens caipiras e sem modos que
voltassem da plantação e do cuidado com os
animais aos gritos, como animais furiosos.
Então, não era um sonho.
Se não estava morto, nem sonhando,
então onde estava? Em casa?
Forçando o corpo a obedecer virou o rosto
e olhou em volta, a porta do quarto estava aberta,
o sol inundava cada centímetro, pois as janelas e
as cortinas estavam abertas. Uma brisa refrescante
aplacava o calor, mesmo assim, ele achou que o
lençol sobre ele era demais.
A constatação de que estava vivo foi o
bastante para sentir a aflição ir embora. E com a
mente livre, tudo que pode pensar foi em onde
estaria Helena.
Poderia agora mesmo estar comemorando
a eminente viuvez.
Quase podia vê-la, vestida de negro,
como na primeira vez que a vira, segurando uma
rosa vermelha diante de seu caixão. Haveria um
brilho de vitória em seu olhar e ela sorriria.
Então diria algo do gênero: “Viu? Você
foi antes de mim!”
Rony sentiu um arrepio ao pensar em
deixar Helena. Mesmo que a morte o levasse, não
poderia deixá-la. Helena não poderia ficar sozinha
outra vez. Não era justo.
Não era honrado de sua parte quebrar
todas as promessas que lhe fizera! Sentindo uma
ardência no peito ao imaginar o quanto a faria
sofrer, sentiu o impulso de sair daquele quarto.
Usando de toda sua força de vontade, ele
se mexeu, a despeito da dor em sua barriga onde
sentia a ferida.
Sentou na cama, gemendo de dor e pelo
esforço. Que merda, isso doía que era o inferno!
Os olhos estavam turvos, mesmo assim
ele deu impulso para levantar. Seria de um golpe
só, ou não conseguiria achar forças para tentar de
novo.

-Oh meu Deus! – Helena gritou deixando


cair às toalhas limpas no chão.
Não teve tempo de pensar antes de correr
e ampará-lo.
Estava chegando à porta quando avistara
Rony levantando e cambaleando.
Desesperada, o segurou se colocando
como uma muleta, deixando-o de pé o suficiente
para sentar-se na cama, reclamando e praguejando
contra a dor. Sua testa estava molhada de suor, e
ela tocou sentindo a febre.
Todo o corpo forte suava a ponto de
molhá-la, umedecendo suas roupas e seus cabelos
pelo simples toque.
Ele colocou um dos braços em volta de
sua cintura e a apertou de tal modo, escondendo o
rosto em seu pescoço, que Helena fechou os olhos
para agradecer a Deus que estivesse tocando-a e
estivesse vivo para isso.
-Você está aqui – ele disse baixo, a voz
confusa e abafada pelos seus cabelos crespos.
-Sim, eu estou. Agora me solte –
empurrou-o o mais gentil que pode, tocando sobre
a ferida, onde o sangue começou a aparecer pelas
ataduras – Conseguiu reabrir a ferida! - reclamou,
empurrando-o de volta para os travesseiros –
Deite-se!
-Helena...
-Deite-se Ronald!
Contrariado, deitou-se e colaborou,
enquanto Helena colocava suas pernas embaixo do
lençol e o dobrava na altura de sua cintura.
Notou que suas mãos pequenas tremiam.
Sua face estava indiferente e passiva, mas suas
mãos tremiam. Reunindo coragem para tanto
esforço, segurou uma delas, mas Helena se soltou.
-Preciso refazer o curativo. Não se mova.
Não pode sangrar novamente.
Ela não ergueu o olhar para ele. Rony
acompanhou seus movimentos rápidos pelo
quarto, juntando tudo que precisava. Seus gestos
eram comedidos e eficazes. Descobriu a ferida,
limpou o sangue, passou o remédio, cobriu com
gaze e voltou a passar as faixas por seu abdômen,
protegendo a ferida de infecções.
-Levei um tiro – ele disse debilmente,
confuso.
-Sim, você levou um tiro – ela olhou para
ele e não pode sustentar o olhar.
-John...
-Ele está bem, não sofreu nada. Você...
Está desacordado há quatro dias. Tem febre. Não
pode se agitar – concluiu, tentando se afastar.
-Não te deixei sozinha – ele disse os
olhos quase fechados.
-Não, não me deixou sozinha – ela
respondeu, sentindo uma grande faca cravar em
seu coração.
Eram longos dias sem ele. Longos dias
controlando sua febre e rezando para que não
houvesse infecções. Quatro longos dias sem
pensar, e sem sentir. Afastara totalmente o
pensamento de morte. Afastara totalmente o
pensamento de amor.
Comia, dormia, e velava seu sono. O
Dr.Nut havia se hospedado no segundo andar e
era praticamente seu prisioneiro. O pobre homem
ficara assustado quando Helena lhe garantira que
só sairia daquela casa quando Rony estivesse
andando.
A força que a deixava em pé era a
esperança.
Vê-lo semi-acordado, tentando levantar
despedaçara seu coração. Ele estava vivo e a cada
dia, mais forte.
-Precisa descansar. Tem muita febre –
disse, mesmo que ele não pudesse entender.
-Sempre tenho febre junto a você... – ele
sussurrou e ela sorriu.
Sim, aquele era seu Rony, que nunca
perdia uma boa oportunidade.
-Pois então, se cure rápido, porque estou
sensibilizada e posso acabar me deixando enganar
– prometeu, sentindo uma vontade opressora de
chorar. Chorar de felicidade.
-Oh, mas eu já estou curado... – ele
queria mostrar a ela, mas acabou adormecendo
antes que tivesse oportunidade.
Helena soltou o ar, fraca
emocionalmente. Ele acordara finalmente. Ao
longo dos quatro dias estivera acordado sim, mas
sempre delirando. Comia pouco, bebia pouca
água. Febre, calafrios, delírios.
Testou sua temperatura, aliviada por não
estar tão alta. Um banho de esponja com água
bem fria ajudaria a baixar a temperatura.
Apanhou a água e uma esponja, e
começou a molhar sua pele. Os braços. Os
ombros. Tomou todo cuidado para não molhar as
ataduras que o protegiam.
Tomava a tarefa com afinco como uma
enfermeira dedicada. Ordenava-se a não pensar
que era seu marido, e que estivera as portas da
morte.
Terminava de esfregar uma de suas
pernas, quando sentiu que era observada. Sandra
Parker, visita constante sorriu-lhe.
-Deixe que eu continuo, Helena. Vá
descansar um pouco – ela disse com sua voz
sempre tão doce que a encantava e fazia agir como
desejava.
-Rony estava desperto, tentando sair da
cama. Tem febre, mas pareceu quase lúcido e...
-Vou tomar cuidado e vigiá-lo. Do jeito
que meu menino é teimoso, é capaz de fugir do
quarto!
Helena concordou entregando-lhe a
esponja e observando calada a mãe cuidar do
filho, com tanto zelo que trouxe lágrimas aos seus
olhos.
-Arrumei a cama do quarto ao lado, vá
deitar-se. Sei que está enjoada. – Sandra mandou
com voz meiga.
Era impossível negar alguma coisa
aquela mulher de gestos doces e preocupados. No
corredor, passou por Alice, que apressada corria
pela casa com a roupa suja embaixo do braço.
Pobre Alice, escravizada por Juanita.
Felizmente, nem mesmo sua mãe a alertara do
fato. Era uma boa lição para sua mente
desocupada.
Entrando no quarto ao lado, ela deitou-se
na cama sentindo uma grande satisfação.
Com um resmungo, soltou alguns botões
do vestido, achando que estavam justos demais.
Talvez estivesse inchada. O que era impensável,
visto que vomitava todas as manhãs.
Suspirando, virou-se de lado sorrindo.
Rony estava vivo e se recuperando.
E quando estivesse de pé, totalmente
curado, lhe contaria o grande segredo do seu
coração.
Pediria que fosse seu marido em todos os
sentidos.

No sétimo dia, Rony reclamava pela


quinta vez com sua mãe sobre ser tratado como
um bebê quando ela surgiu.
Como uma imagem saída de seus sonhos,
Helena surgiu a sua porta, vestida de lilás.
Ele parou de comer, o que vinha
ameaçando fazer se sua mãe insistisse em tratá-lo
como um menino de cinco anos. Mas a razão era
outra que não teimosia.
Sempre que acordava, Helena estava
deitada, vítima de enjoos e tonturas. E quando
adormecia, ela estava acordada. Não tinha
oportunidade de vê-la. De ouvir sua voz.
-Talvez tenha mais sorte do que eu,
Helena – Sandra piscou para Rony enquanto
levantava e oferecia a ela o prato com mingau. –
Esse menino é muito teimoso e esta decidido a
não comer.
-Não me nego a comer, se for alimentado
pela pessoa certa – fez um gracejo com os olhos
brilhantes.
Helena tomou o lugar de sua sogra sem
dizer nada.
Algumas colheradas depois, ele segurou
seu pulso, obrigando-a a olhar para ele.
-Não está feliz por me ver?
-Tenho o visto todos os dias –
desconversou.
-Sabe a que me refiro. - Ele estava sério.
-Precisa comer. Logo poderá sair da
cama, talvez sentar na varanda e tomar um ar mais
fresco. Mas antes, precisa recuperar suas forças –
mudou o assunto.
-Tirou a bala, minha mãe contou. – se
recusou a comer, fazendo-a olhar para ele.
-Por favor, coma enquanto o mingau está
quente – havia muita apatia nela, e isso o
preocupou.
-Não quero mingau. Quero que olhe para
mim e não minta!
-Deveria me sentir culpada em querer que
coma e descanse? – ela ficou emburrada ao ser
pressionada.
-Não, mas é culpada de salvar minha
vida e depois me ignorar!
-Não o ignoro! – levantou-se - se está tão
bem para brigar, então coma sozinho!
-Helena! – ele baixou o tom, ao sentir
uma fisgada onde o tiro o acertara.
-Viu? Não pode se mover e se
sobressaltar! – ela reclamou, deixando a tigela e a
colher de lado para olhar o ferimento mais de
perto. – Afinal, o que você quer?
-Quero que fale comigo. Responda as
minhas perguntas. Segure minha mão.
Sua franqueza a deixou muda.
Perturbada, sentou-se na beira da cama,
mais perto do que deveria e segurou sua mão.
Rony apertou seus dedos e pareceu imensamente
satisfeito.
-É verdade que tirou a bala? Que
controlou o sangramento até o médico chegar?
-Juanita teria feito se não estivesse
nervosa – tentou desviar o assunto.
-Foi muito corajosa – ele disse olhando
para ela, que não olhava para ele. Seu perfil era de
uma mulher controlada, mas ele sabia muito bem
como era difícil para Helena dizer o que sentia.
Expor dessa forma o quanto estava abalada. –
Ficou assustada?
-Nunca havia feito isso na vida... - não
queria esmorecer, mas olhou para ele – Havia
muito sangue...
-Sim, havia – ele ergueu sua mão até a
boca e beijou seus dedos, notando que agora seus
olhos estavam fixos nele – Salvou minha vida.
-Dr. Nut...
-Você salvou minha vida – cortou-a,
deixando claro que não havia meia conversa sobre
isso.
-Salvou a minha, apenas o retribui – ela
tentou se soltar, referindo-se a quando fora salva
da agressão, mas ele não deixou.
-Não se afaste. Preciso de você perto de
mim. Quase morri, Helena.
Era verdade. Ela ficou calada, tentando
não pensar nisso. Quase morrera.
Rony sentiu uma dor forte no coração ao
ver o quanto ela estava frágil. Sua Helena era
sempre uma rocha. Ele a puxou para mais perto e
ela se deixou levar. Desejava beijá-la e mostrar-
lhe o quanto estava grato, mas não podia, pois seu
corpo não estava recuperado o bastante. Por isso
apenas beijou sua testa, surpreso quando ela
soluçou e escondeu o rosto em seu ombro.
Surpreso e feliz em ver o quanto ela o
apreciava, abraçou-a pelas costas, acariciando
seus cabelos e deixando que chorasse.
Fora preciso levar um tiro e quase morrer
para Helena admitir que o quisesse bem, e embora
não o fizesse com palavras, podia ler em sua
expressão, em sua linguagem corporal.
Deixou-a chorar e sussurrou em seu
ouvido para acalmá-la.
-Estou vivo, não chore.
-Não estou chorando!
-Não, tem razão. Não está chorando por
minha causa... – disse com humor, sentindo dor ao
tentar rir – Helena, olhe para mim, quero ver seus
olhos.
Obediente, deixou que lesse sua alma em
seus olhos, e não o rejeitou quando a beijou. Por
sua própria culpa, o beijo cresceu, com Helena
beijando-o com toda sua saudade e necessidade. O
vira praticamente morto e agora estava sob suas
mãos, a pele quente e viril. Vivo e pulsante.
Ele gemeu quando a dor ficou
insuportável e ela se afastou assustada, olhando
para o ferimento.
-Não se afaste! – ele reclamou.
-Não vou me afastar – prometeu ofegante.
– É melhor que coma, o mingau está esfriando –
desconversou, porém sem se afastar. Estava ao seu
lado na cama, sentada, enquanto ele estava
recostado nos travesseiros.
-Mamãe disse que tem se sentido pior
durante as manhãs – ele disso com descaso,
olhando para ela com ansiedade.
-É uma dor forte. O Dr.Nut diz que é
normal. Que logo passará.
-Dor forte? - ele empalideceu.
-Não é nada. – deu de ombros – Coma
mais um pouco.
Mais uma colherada, e ele sorriu,
estendeu uma das mãos para tocar seu ventre,
sendo para ela apenas um toque de carinho e
paixão, e para ele um zelo, carinho para com o
filho que nasceria.
-Quero que volte para nossa cama – ele
disse convicto.
-Não! – pôs o prato de lado, pois havia
chegado ao fim – Posso virar a noite e esmagar
seu ferimento.
-Impossível, não se mexe quando dorme
– disse convicto, afinal, conhecia seu sono. – Sinto
falta de companhia. As noites são longas.
-Deixe de ser fingido, nos revezamos em
vigiar seu sono – protestou.
-Não é a mesma coisa. – revidou.
-Se o Doutor concordar, eu volto a dormir
aqui. – avisou, tentando parecer indiferente.
-Ele disse que seu mal estar é normal? –
ele perguntou ainda acarinhando sua barriga.
-Bem, sim. – deu de ombros.
Não sabia Helena que lhe dissera isso a
pedido de Sandra Parker.
-Porque John está cuidando da fazenda? –
ele perguntou, era um assunto difícil e o
incomodava.
-Porque eu mandei. Alice está cuidando
dos trabalhos domésticos e John da administração.
Nada mais justo que ajudem depois de todo mal
que causaram. – foi sincera.
Havia rancor em sua voz. Por culpa de
John ele fora atingido. Simples, não era um
sentimento racional.
-John não tem culpa que eu seja burro o
bastante para me colocar na frente de uma arma
para defendê-lo – ele disse assustado com seu tom
de rancor.
-Mas é culpado de ter feito amor a sua
irmã. É culpado de não ter ido embora tão logo
começou a ficar confuso sobre seus sentimentos.
-Não, eu o incentivei a agir assim,
confiando demais nele.
-Ora, desde quando isso é razão para
alguém se aproveitar? – levantou-se. – Deixei algo
no forno.
-Ah, não vá – ele reclamou – quero sua
companhia.
Ele sorria, apesar da dor.
-É um péssimo paciente - ela disse
sorrindo. – Não demoro a voltar. Posso ler se
quiser. Algo para distraí-lo...
-Vou adorar desde que prometa que
deitará ao meu lado enquanto ler – barganhou.
Helena não disse sim, muito menos não.
Deixou-o sozinho com a sombra do que era a
felicidade. Se não estivesse fraco e dolorido, seria
o dia mais feliz de sua vida.
Podia ver o muro que Helena construíra
em volta de si ruindo lentamente diante de seus
olhos.
Poucos minutos depois, ela voltou com
um livro e um prato com biscoitinhos fumegantes.
Um cheiro delicioso o fez sorrir e recebê-la em
seus braços.
Surpreso, ficou imóvel quando ela se
acomodou e o beijou espontaneamente. Um doce e
rápido beijo, enquanto se recostava com ele nos
travesseiros e abria o livro.
Uma leitura agradável e leve, sobre
aventureiros apaixonados, uma leitura que o
deixasse sonolento e pudesse descansar seu corpo
fraco pela enfermidade. Rony mal provou os
biscoitos antes de adormecer, o rosto apoiado em
seu ombro.
Esperava que fosse um sono que pudesse
durar a noite toda. Precisava daquele descanso.
Amanhã, pensou Helena, amanhã lhe
diria como se sentia. Que o queria como marido
com todas as responsabilidades que isso traria.
Sorrindo, ela ficou mais um pouco,
usufruindo o bem estar de apenas estar ao seu
lado, ouvindo sua respiração e sentindo o calor de
sua pele...
Capítulo 79 - A ferro e fogo

Os primeiros raios da manhã acordaram


Helena. Suspirando, ela sentiu o corpo morno ao
seu lado e suspirou. Havia se rendido e dormido
na mesma cama, apesar do temor de machucá-lo.
Por sorte, acordava na mesma posição em que
deitara na noite anterior.
De lado, próxima, mas não o tocando.
Rony dormia calmamente, e ela tocou sua testa
para sentir se ainda havia febre.
Um pouco febril, porém, menos
assustador que nos últimos dias. Se
espreguiçando, ela sentia uma felicidade tão
grande dento de si por saber que estavam juntos e
que teriam uma chance de recomeçar, que nada
poderia obscurecer seu sorriso e seu bom humor.
Observou satisfeita que Sandra Parker
deveria estar na casa, pois a janela estava aberta,
aliviando um pouco o calor, e havia uma tigela
com mingau numa bandeja, além de uma xícara
de chá, obviamente para ela.
Sorrindo, curvou o corpo e beijou
delicadamente os lábios de Rony, não desejando
acordá-lo ainda. Precisava de um pouco de sono
para recuperar as forças pra se curar mais rápido.
Quando se afastou, notou seus olhos
azuis, muito claros, fitando-a com surpresa e
satisfação.
-Não desejava acordá-lo – desculpou-se.
-Acordei há bastante tempo, desde
quando minha mãe entrou no quarto – ele contou
feliz em notar que ela estava linda, macia e
perfumada ao seu lado. – Dormiu comigo...
-Bem, alguém tinha que fazê-lo – tentou
dar um ar menos importante ao seu feito – Sua
febre baixou...
-Mesmo? Porque me sento muito
quente... – ele provocou, adorando o modo como
ela corou.
-Não diga isso.
-Porque não? A mulher que amo salvou a
minha vida, e está ao meu lado, linda e sensual, e
não tenho o direito de ficar animado?
-É um fanfarrão! – ela se afastou,
maneando cabeça e negando-se a deixar-se levar
por sua sedução. – Preciso limpar a ferida e
desinfetá-la. Além disso, alguém precisa fiscalizar
o que John anda fazendo. Sabe, Suarez está sendo
de muita valia, John é muito novo nisso, não tem
nem ideia do que está fazendo!
-Não é preciso que John me substitua! –
ele disse com uma sombra em sua face e ela parou
de arrumar as cobertas e fixou o olhar nele.
-John não o esta substituindo. Está
apenas cumprindo seu dever depois de colocá-lo
em uma briga de bar e quase causar sua morte!
Muito justo que tenha sua parcela de sofrimento. –
respondeu com naturalidade. – Alice não lhe
contou que tem certeza que a letra de John foi
falsificada por aquela mulher, sua amante... Digo
sua ex-amiga Alexia Lil?
Era louvável o esforço que fazia para não
brigar e não causar comoção em Rony.
-Alice nunca tem tempo para
conversarmos – ele contou, notando o lindo sorriso
que nasceu em sua face – Tem feito minha irmã de
doméstica Helena?
-Sim, e não vi ninguém reclamar. Nada
de gritos, esperneio ou reclamações. Alice está
quase humana, se me permite dizer – ironizou,
recebendo uma risada de Rony como presente.
-Vem aqui Helena – ele estendeu uma
das mãos em sua direção.
Helena vestia apenas a camisola, a
preferida dele, que tinha mais renda que tecido, e
se ajoelhou sobre a cama, ficando bem perto.
-Não pode fazer esforços – lembrou-o.
-Quero apenas um beijo de bom dia –
disse inocente.
Helena se curvou ainda mais, os cabelos
longos caindo sobre o peito de Rony, as mãos
apoiadas no colchão e encostou os lábios nos dele.
Era um beijo calmo e doce. Não queria agitá-lo.
Uma das mãos de Rony subiu para sua
cabeça e a trouxeram mais perto, o beijo crescendo
rapidamente.
-Rony, não – tentou se afastar.
-Alguns beijos não vão me matar. –
garantiu com os olhos brilhantes – Tranque a
porta, Helena...
-Isso vai machucá-lo... – ela disse
tentando ser racional.
-Seremos vagarosos e cuidadosos –
seduziu-a, lambendo seus lábios com a língua.
Helena correspondeu a mais esse beijo,
esquecendo das implicações e saindo da cama.
Estava prestes a trancar a porta como Rony pedira
quando ouviu o som de vozes alteradas.
-Quem esta gritando? - ele perguntou
confuso.
-Não sei, mas está na hora de deixar bem
claro que escândalos, gritos e brigas estão
proibidos nessa casa! - ela disse fechando a
expressão e se apoiando na janela aberta, olhando
para fora para descobrir o que é que estava
acontecendo. – Eu não acredito!
Ela se afastou da janela, pálida e furiosa.
-O que está acontecendo lá fora? –
perguntou se alterando.
-Fique aí mesmo! - ela disse mal criada, a
fúria crescendo tão rápido que via tudo vermelho
diante dos seus olhos.
-Helena! Diga-me o que está
acontecendo!
-Não ouse levantar! – ela gritou,
enquanto revirava o conteúdo de uma gaveta até
achar o que procurava.
-Helena! – ele arregalou os olhos ao ver a
arma em suas mãos.
-Está na hora de resolver esse problema
do meu jeito! – avisou ante de sair e trancar a
porta por fora, impedindo-o de sair do quarto.
Rony chamou seu nome várias vezes, até
que a dor o fez se calar.
Helena marchou para a porta da frente, a
arma nas mãos. Daria uma lição nessa sem
vergonha, ah se daria!
Alice estava de pé na varanda, tentando
espantar a visita indesejada. Alexia estava vestida
impecavelmente, toda em vermelho, o corpo tão
sedutor e as faces tão meigas que encantariam o
mais forte dos homens. Ela deu um passo para trás
quando Helena surgiu na varanda, com um olhar
que causava medo.
-O que está fazendo aqui? – foi logo
perguntando.
-Quero ver Rony. Tenho que ver o
homem da minha vida antes que ele morra!
-Cale a boca, sua louca! Ele não vai
morrer! – Alice interferiu.
-Entre em casa, Alice – Helena mandou,
e quando Alice notou a arma em suas mãos ficou
completamente imóvel - eu mandei entrar!
Correndo, obedeceu, correndo também
para encontrar John ou alguém que impedisse
Helena de fazer uma besteira.
-Por sua causa Rony quase morreu – ela
disse furiosa – Por suas mentiras e intrigas! Como
ousa vir até aqui? Como ousa pôr seus pés em
nossas terras depois de tudo que fez?!
-Rony é meu homem! Não saio daqui
sem vê-lo! Sem confortá-lo! Saia da frente sua
roceira! – Alexia pareceu perder o medo, tentando
avançar.
Helena apontou a arma diretamente para
seu belo rosto e Alexia saltou para trás, pavor em
suas faces.
-Eu deveria ter cuidado de você do meu
modo há muito tempo atrás! Deixar Rony tomar a
dianteira com uma vadia como você foi à maior
loucura! Não merece ponderação, merece um tiro
na cara para aprender a ter respeito!
-Não pode atirar! Sua louca! Não pode
me matar!
-E por que não? Quem vai reclamar sua
morte? Quem vai reclamar a morte de uma
cortesã? – ironizou, notando sua palidez. Alexia
estava perto de um desmaio de medo. - Vou te
mostrar o que acontece quando uma vadia se mete
com uma mulher louca! Louca de ódio! Saia da
minha fazenda agora!
Seus gritos haviam atraído a atenção dos
empregados, mas ninguém ousava interferir.
-Louca! – Alexia ainda provocava, talvez
achando que não atiraria – Sua louca! Rony é
meu! Rony...
O som de um tiro cortou o ar e Alexia
saltou para o lado, quando a bala atingiu o chão
de terra seca bem ao seu lado, levantando poeira.
-AH!- seu grito histérico fez eco a outro
tiro que acertou o lado esquerdo, muito perto dos
seus pés – Pare! Pare com isso! Não atire!
Desesperada, Alexia se movia ao som
dos tiros tentando escapar, sem notar que não
mirava para acertar.
-SAIA DA MINHA FAZENDA
AGORA! SAIA DA MINHA VIDA! – um tiro
acertou acima da cabeça de Alexia, levando seu
chapéu elegante para o chão.
Esse grito foi particularmente
horrorizado, e Alexia correu em direção ao cavalo
que a trouxera. Havia um garotinho que
obviamente viera puxando as rédeas pelas mãos,
enquanto ela seguia sobre o lombo do animal,
como uma rainha.
-Não ouse! – Helena gritou com a arma
apontada agora para a cabeça de Alexia – Vai
voltar a pé.
-Mas eu... Eu... Oh, Deus... – Alexia
pareceu prestes a um desmaio, a face até então
bela suada, e o medo tornando-a uma máscara de
horror e feiura. A pesada maquiagem borrada e
escorrendo pela tez branca.
-Vá embora agora! Não me ouviu? – seu
dedo no gatilho se moveu e Alexia saiu correndo,
sabendo em seu íntimo que mais uma vez e ela
acertaria.
Um dos meninos de Juanita correu para
fechar a porteira, e parecia achar aquilo tudo
muito divertido. Olhando para a platéia a sua
volta, ela abaixou a arma dizendo:
-Voltem ao trabalho!
Irritada, virou-se para entrar em casa
dando-se de cara com a expressão chocada de
Alice e com a expressão divertida de Sandra
Parker.
-O que fez, Helena? – Alice perguntou
ainda horrorizada.
-Resolvei o problema do meu modo –
disse cínica – Cansei de esperar que ela tomasse
vergonha na cara!
Sandra apenas maneou a cabeça e
mandou a filha caçula voltar a fazer o almoço ao
lado de Juanita e assar mais pão, enquanto abria
um lindo sorriso para a nora.
Helena voltou para o quarto, destrancou a
porta e entrou.
Rony estava esperando por ela, aflito,
pois ouvira os tiros.
-O que aconteceu? – perguntou.
-Nada. – disse aliviada, e sentindo-se
livre de toda a agonia que sentira nos últimos
tempos desde que Alexia entrara em sua vida –
Não aconteceu nada de importante...
Ela sorria tão bonita e satisfeita que ele
sentiu um arrepio de medo.
-Ouvi tiros, Helena! – exigiu uma
resposta.
-Cansei de esperar que resolvesse o
problema Alexia do seu jeito – disse séria – Então,
eu mesma resolvi! E não me venha dizer que pode
nos causar problemas! Alexia Lil já é um
problema! – havia rudeza em sua voz e ele
suavizou a própria expressão.
-Tem razão, Helena. Não soube lidar com
a situação. Desculpe-me.
Vendo sua expressão tão séria, ela deixou
a arma sobre cômoda e se aproximou, sentando na
cama, muito perto dele.
-Fez o que deveria fazer. É um homem
que acredita nas pessoas. Felizmente ou
infelizmente, eu não sou assim. Sei quando uma
pessoa não presta e não acredito em sua
recuperação até ver seus atos. Agora, tenho
certeza que aquela uma não terá mais coragem de
se meter na nossa vida!
-Não a machucou não é? – ele acariciou
seu rosto e ela fechou os olhos, sentindo uma
fisgada de ciúmes por sua preocupação com
Alexia.
-Atirei para errar. Dessa vez atirei para
errar – era uma clara ameaça.
-E de onde surgiu essa arma? Com balas?
- ele perguntou irritado, olhando para o objeto – Já
não disse que não quero armas em suas mãos?
-Disse. – ela concordou – Acontece que
não manda em mim. E se está tão bem para
brigar, não precisa que eu fique de babá! –
afastou-se irritada.
Rony pretendia brigar mais, mas parou.
Helena nem percebeu o show que executava
enquanto se trocava na sua frente. Tirou a
camisola pela cabeça revelando as costas suaves
que logo foram cobertas pelos cabelos, revelando
suas nádegas redondas e apetitosas e as pernas
curtas e finas, curvilíneas.
Andando pelo quarto, apanhou as roupas
de baixo, vestindo a calça íntima e colocando o
colete sobre os seios, enquanto fechava os botões
perolados, virou-se de frente, talvez esperando
conversar, mas se calou diante da intensidade do
seu olhar.
Seus dedos quase não conseguiram
fechar os botões, mas quando conseguiu, vestiu o
vestido apressada e trançou os cabelos.
-Vai me deixar sozinho? – ele perguntou
chantagista.
-É claro que não. Vou pegar um livro e já
volto.
-Mande John vir me ver – ele pediu antes
que saísse – ele não vai fugir de mim para
sempre... - disse para o vazio do quarto, quando
ela fechou a porta.
Rony estava quase convencido que aquele
tiro viera para o bem e não para o mal. Paparicado
por Helena. Acarinhado por Helena. Bem tratado,
beijado, elogiado... Helena estava sendo
exatamente como ele sempre sonhara!
E era melhor que em seus sonhos, com
toda a certeza! Ela parou as garfadas do seu
almoço que lhe dava na boca, com toda a gentileza
de uma mulher apaixonada e olhou para trás.
De pé, esperando permissão para entrar,
John estava imóvel, um chapéu na mão, as roupas
gastas pelo suor e o trabalho no campo. Afinal, em
Londres ninguém sabia que linho e seda não
sobreviveriam a um dia de plantio!
-Pode nos deixar a sós Helena? – pediu e
ela negou.
-Precisa comer – justificou, mas na
verdade não queria deixá-los sozinhos.
-Helena – ele recusou uma garfada de
comida, exigindo que lhe desse espaço.
-Vou ficar no corredor – avisou.
-Não, não vai – ele mandou. – Quero
privacidade, Helena.
-Sim, eu sei que quer. Privacidade para
abrir os pontos e fazer a ferida sangrar
novamente? – jogou em sua cara, e ele fechou a
expressão.
-Vamos apenas conversar. – barganhou.
-Então, porque não posso ficar?
-Porque falaremos de você – ele
respondeu pacientemente.
-Mais uma razão para que eu fique! –
irritou-se.
-Helena, não me faça brigar com você.
Precisamos de apenas alguns minutos para
conversar.
Desconfiada, acabou aceitando. Quando
passou por John, carregando a bandeja, disse em
alto e bom tom, para que Rony ouvisse e
entendesse:
-Ele não pode se exaltar. Mantenha os
ânimos frios!
John nem ousou responder. Alguns
passos para dentro do quarto e John parou.
Cabeça baixa. Culpa o fazia submisso e
humilhado.
-Para quando é o casamento? – Rony
perguntou sério, mas havia algo em seu olhar, um
brilho que John não notou. Algo quase
zombeteiro.
-Antecipamos para daqui a sete dias –
respondeu formal.
-E Alice aceitou?
-Ela não tem muita escolha quanto a isso.
– respondeu, engolindo a seco – Helena não lhe
deu direito a escolha. Vai se casar obrigada.
-Pobrezinha, tenho certeza que deve estar
às lágrimas – ele brincou, mas John não notou,
achou ser uma ironia.
-Está cuidando da minha fazenda – ele
disse notando o rubor manchar as faces de John.
Era constrangimento por algo que ele não
sabia.
-Infelizmente, creio estar atrapalhando
mais do que ajudando. Helena exigiu que
compensasse o mal que fiz, mas se não fosse seu
capataz, confesso, estaria perdido.
-É bem feito para que pense duas vezes
antes de desonrar a irmã de alguém!
-Ronald, eu... – ele conteve-se a tempo,
pensativo -... Deveria dizer que sinto muito, mas
não posso. Alice é tudo que sempre quis. Não
sinto ter conhecido-a ou me descontrolado, e isso
faz de mim o pior dos homens!
-Sim, faz – Rony concordou.
-Estou sinceramente arrependido de ter
ido naquele bar. De ter bebido e nos colocado
naquela situação. Se houvesse morrido eu...
Jamais me perdoaria!
-É sua culpa ter usado de minha
confiança e ter possuído minha irmã. Mas
também é culpa minha ter deixado-o logo lado a
lado com a ovelha, e acredite quando digo, não sei
qual dos dois é o lobo e qual é a ovelha. Alice será
sua punição John. Terá que conviver com a
megera até o fim dos seus dias, e me certificarei
que cuide muito bem dela nem que isso lhe custe
sua paciência e sua fortuna!
-Alice não é uma megera! – apressou-se a
defendê-la – Passou por um grande susto, e é uma
pena, mas não me deixa me aproximar e consolá-
la – admitiu – Rony, tem ideia do que seria da
minha vida se houvesse morrido? A culpa me
assolaria até o fim dos dias! Eu...
-Hum, você fala muito de culpa, John –
ele cortou – Estive a um passo da morte, mas não
vou mentir dizendo que isso me mudou ou me fez
ver algo diferente em mim mesmo. Continuo o
mesmo homem, o mesmo que não perde uma
oportunidade na vida. Mesmo assim tive tempo
para pensar e me acalmar. Se a irmã não fosse
minha, e o desejo fosse meu, pode ter certeza que
teria feito o mesmo. Não sou um santo, e não
posso pedir que seja um. O assunto Alice está
superado, desde que esse casamento saia o mais
rápido possível. E não se atreva a dizer que é
culpado pelo que acontece novamente, o único
culpado foi quem apertou o gatilho!
-Fui fraco e não o apanhei – John
confessou humilde – Deveria tê-lo detido e
garantido que fosse preso, mas fiquei louco
quando vi que havia sido atingido. Não pensei.
-Acho minha vida mais importante do
que a prisão do homem que atirou em mim –
ainda havia um tom zombeteiro em sua voz.
Ria por dentro da expressão de John.
Havia lhe perdoado há muito tempo, quando
entendera que ambos estiveram errados naquele
momento absurdo.
-Tenho uma confissão a fazer – John
tinha a expressão pesada – Peço que me ouça até
o fim.
-Fale – instigou, já sabendo o que
ouviria.
-Amo Helena. – Colocou para fora – não
me pergunte que tipo de amor, pois ainda não sei.
Amo Alice, um amor que me faz arder e desejar,
mas não sinto isso por Helena. Tenho medo de ser
um amor ainda maior, por ser platônico, mas
jamais, ouça, jamais tomei ou tomarei liberdades
com ela. Pretendo construir uma família ao lado
de Alice, e ser feliz. Não quero perder meu melhor
amigo por um sentimento que jamais vou dar
ouvidos. Um sentimento que não muda quem eu
sou, ou a minha honestidade. Ronald...
-Não precisa continuar – aquele assunto
era pesado demais para ele naquele momento –
Não falaremos mais disso. Helena não será um
assunto entre nós dois, não com cunho amoroso. É
minha mulher, sei que um dia a amará desse
modo John, como amiga.
-É tudo que mais desejo. Que me perdoe
pelas mentiras, que me perdoe pelas palavras
ásperas e, por ter o colocado em uma situação de
risco. Além disso, não tenho palavras para
agradecer por ter me defendido. Essa bala era para
mim...
-Hum, ainda bem que não acertou.
Maricas como é, já estaria morto – gozou, vendo o
amigo sorrir – Deixe de marra, John. Eu estou
vivo! Dói que é o inferno, mas estou vivo! Além
disso, Helena está que é só doçura comigo.
Seu sorriso aliviou o coração de John que
também sorriu.
-Dr. Nut fez um bom trabalho com você,
mas se Helena não houvesse tirado a bala e
estancado o sangue, estaria morto – contou – Ele
ficará aqui até que esteja recuperado, mas ainda
não tenho certeza se é por medo de Helena, ou por
vontade de fazer jus à gorda recompensa que lhe
dei por seus préstimos. E nem pense em reclamar
do pagamento – ele disse notando que Rony
falaria algo – é o mínimo que posso fazer depois
de... Tudo.
-Não reclamo – sorriu sem vergonha –
pague um tanto a mais pelo silêncio dele. Helena
não deve saber ainda do bebê. Sinto que estou
quase a dobrando, mais um pouco e posso contar
sem medo.
-Está enganado. Helena vai se derreter
quando souber da criança. Não é tão dura quanto
parece e... – notando seu olhar, John se calou – É
uma moça apaixonada, ficará feliz em ser mãe.
-John, você sempre foi meu amigo. Não
deixarei que dúvidas e intrigas mudem isso.
Dissemos coisas duras e feias, mas nada foi de
coração. Esqueçamos tudo isso.
-Não posso esquecer. – John confessou –
mas posso superar. Fiz e disse coisas das quais
não me orgulho, mas não deixarei que isso
controle minha vida.
-Muito menos que abaixe sua cabeça –
ele lembrou, detestando a postura humilhada com
que John se apresentara diante de si.
Ele concordou e os dois se olharam com
reconhecimento. Teriam trocado um abraço de
irmãos se Rony não estivesse deitado, imobilizado
por algum tempo ainda.
Helena conteve a curiosidade e o receio
por quase meia hora, até não suportar mais e nada
gentilmente achar um jeito de arrastar Alice para o
quarto. Precisava saber o que conversavam; se
discutiam ou se fizeram as pazes!
Não podia continuar na aflição!
Foi Alice quem quebrou o clima de
harmonia entre os dois. Ela trazia uma bacia cheia
de água morna e algumas toalhas. John se
apressou a tirar o peso de suas mãos e pousar no
chão.
Ela vestia um vestido mais velho e
surrado, do tipo que não faria falta se estivesse
manchado ou sujo. Os cabelos, antes cuidados e
impecáveis, estavam presos em um coque frouxo,
algumas mexas caindo sobre a face. Sua aura
radiante havia sido renegada, e agora, exibia uma
expressão culpada e triste.
-Fizemos as pazes, minha irmã – Rony
avisou – John tem meu consentimento para
desposá-la, pois voltamos a ser como irmãos.
Porque não sorri? O que a faz tão triste?
Alice conteve a vontade de dizer que não
queria se casar com um homem apaixonado por
outra, mas a mostra do que aconteceria caso o
resto da família descobrisse de sua desonra a
impediu de responder.
-Alice não está acostumada ao trabalho
de casa – Helena cortou antes que ela dissesse
alguma tolice.
-É isso, minha irmã? – ele insistiu e ela
concordou com um aceno.
-Talvez seja hora de John levá-la para um
passeio – ele disse, sorrindo para a irmã e para o
amigo – Confio que serão prudentes.
-Rony... Não é uma boa ideia – Helena
disse alarmada com a ideia deles dois aprontando
outra.
-Porque não? Um piquenique na beira do
lado? Sempre é uma boa ideia! Além do mais, se
casam em uma semana, Helena.
-Bem, se você diz - disse ranzinza –
Agora, seria possível que descansasse?
-Sim, seria possível – sorriu-lhe
provocador.
Helena esperou que Alice e John saíssem
para trancar a porta.
-Porta trancada? Devo me assustar?
-Não, a menos que tenha medo de água –
brincou – Vou lhe dar banho – avisou.
-Um banho de esponja? – desdenhou.
-Sim, não quer? – sorriu-lhe maliciosa.
-Depende de onde você pretende lavar –
devolveu, sentindo o sangue ferver.
-Tenho que lavar tudo. – ela respondeu,
tentando não rir de sua expressão esperançosa –
Mas se não quer, chamo sua mãe.
Rony soltou uma gargalhada, reclamando
da dor, e ao mesmo tempo rindo, até que o riso
morreu, e Helena tirou o lençol que o cobria...
Capítulo 80 - Sem modo

O bom humor de Rony havia se esvaído


totalmente até o final daquela semana. Há três
dias do casamento de Alice, estava sentando e até
se arriscara a andar uma vez. Um curto passeio até
o corredor, barrado pelo gritos de sua mãe.
Aliás, estava farto de sua mãe. Estava
farto de Alice. Estava farto de Juanita. Estava
farto de Helena.
Tudo em que podia pensar era em sair
daquela casa de mulheres. Era egoísta, pois era
cuidado como um príncipe, mesmo assim, estava
cheio de tanto paparico!
Sua algoz resplandecia felicidade, desde
que os enjoos pareciam ter ido embora. Sentia
muito sono, e haviam desenvolvido uma estranha
rotina. Dormiam juntos todas as noites, e
permaneciam na cama até o meio da manhã
quando a preguiça de Helena ia embora. Depois
disso, lhe fazia companhia. Aí estava o problema.
Uma solidária e caprichosa companhia. E
platônica. E dessa vez, a culpa não era de Helena!
Fechou os olhos humilhado ao lembrar-se
da primeira vez que ela lhe dera banho de esponja.
O que prometia ser uma das experiências mais
eróticas da sua vida se mostrara um completo
fiasco, quando a despeito de todas as tentativas
inocentes de Helena em seduzi-lo não obtivera
resultado.
Ela não comentara nada. Nem mesmo
nas vezes seguintes. Mas ele não tinha dúvidas
que ela saiba!
-Porque está tão irritado? – ela perguntou
na tarde anterior, quando passava a esponja úmida
por suas pernas, cuidadosa e assexuada como
deveria ser uma enfermeira – Achei que gostasse
de se lavar!
-Eu gosto, e gosto principalmente que
você o faça – resmungou – por mais que não
demonstre...
Ela olhou para ele em dúvida sobre ter
entendido, e continuou esfregando a pele, até
chegar aos pés, onde esfregou as plantas e entre os
dedos.
-Não espera se curar da noite para o dia,
não é? – ela perguntou enigmática, como quem
pergunta por metáforas.
Na ocasião se recusou a responder. Não
queria falar sobre isso. Nem mesmo com o médico
se deu ao luxo de falar. Como expor sua
impotência diante de outras pessoas? Nem pensar!
Hoje, depois de almoçar e se despedir de
sua mãe, ele finalmente ficou sozinho com Helena.
Sandra voltava para casa, pois com o filho se
recuperando e bem cuidado, não havia mais nada
para fazer ali.
Sentada numa cadeira ao lado da cama,
Helena costurava quieta e pensativa.
-Algo errado com os vestidos que lhe dei?
– perguntou para puxar assunto.
-Não – respondeu sem erguer os olhos
para ele – Devo estar ganhando peso. As costuras
estão apertadas – respondeu ao acaso.
É claro que estava ganhando peso. Em
poucas semanas não entraria em nenhuma de suas
roupas. Sorriu, mas ela não notou entretida com as
agulhas e linhas.
-É uma surpresa descobrir que entende de
agulhas. – ele sorriu – desperdicei dinheiro com
Susan.
-Se atreva a esperar que costure vestidos
e verá o que faço com as agulhas – respondeu
ciumenta por ele tocar no nome da outra.
Rony apenas sorriu, entendendo que seu
mau humor era por outra razão. Assim como o
dele. Pensativo fitou o teto em busca de respostas.
Terminando o trabalho com o vestido, ela
olhou para Rony, tão quieto e ofuscado por medos
tolos. Aquele homem era um idiota!
-Quer que leia para você? – perguntou, já
prevendo a resposta.
-Não – respondeu a expressão fechada.
-Poderia trazer o tabuleiro de xadrez e...
-Não - negou veemente.
-Quer ficar sozinho para dar respostas
mal educadas para as paredes? – ironizou.
-Se as paredes não me responderem de
volta – retrucou.
-Porque tanta raiva? Está se recuperando
tão bem!
-Oh sim, me recuperando muito bem –
ele satirizou, ainda olhando para o teto.
-O que tem? Gostaria que fosse diferente?
Que estivesse fraco e sofrendo?
-Não, claro que não. Mas ao menos, teria
razões para não me sentir menos homem!
-Levou um tiro, esteve às portas da morte.
E ainda se atreve a pensar nisso? – perguntou
irritada.
-Então, também notou? – vergonha e
humilhação o fizeram olhar para ela com
acusação.
-Notei exatamente o que? – ela instigou.
-Que não estou me portando como
homem!
-Quanta tolice. Perdeu muito sangue. Seu
corpo está se recuperando, mas é um processo
demorado, não pode esperar estar em todo seu
vigor masculino em tão poucos dias! – respondeu
surpresa por ele não saber.
-Pensa isso? – ele estava surpreso.
-Gostaria que chamasse o médico para
lhe explicar? – havia tanta ironia em sua voz que
ele fechou a expressão.
-Não preciso de nenhum homem sabendo
que não posso satisfazer minha mulher!
-O mal dos homens é pensar com as
partes íntimas. – ela ofendeu, levantando-se e
levando consigo o vestido.
-Aonde vai? – perguntou dependente de
sua companhia.
-Vou preparar água para seu banho. Quer
comer algo antes?
Rony procurou por provocação ou
maldade em sua voz e face e não encontrou.
-Aceito um pedaço de bolo – deu o braço
a torcer.
Helena ocultou um sorriso enquanto saia
do quarto. Na cozinha, serviu um pedaço generoso
de bolo em um pratinho, apanhou suco de laranja
e ainda um cacho de uvas. Aquele homem gostava
de comer, e precisava se alimentar.
-Meu irmão está menos irritado essa
manhã? – Alice perguntou num raro momento de
descanso.
-Não está irritado, está preocupado –
confessou, olhando para Alice e mordendo o lábio
antes de confidenciar, como nos velhos tempos
quando dividiam todos os segredos – Acha que
está curado e não se conforma em não...
Manifestar reação... Diante de mim.
-Se refere a...? – Alice soltou um risinho
e provocou – Porque não o ajuda?
-Alice! – ficou chocado com sua ousadia
– Já deveria saber que seus piqueniques na beira
do lago com John não dariam em boa coisa! –
disse resignada.
-Ele não me ama, mas ao menos deseja –
disse ficando triste – como gostaria de impedir
esse casamento, ao menos, até John me amar... –
lamentou.
-Será mais fácil que a ame se estiverem
juntos, todos os dias na mesma casa e na mesma
cama – ela instigou - não acha?
-Talvez tenha razão – deu de ombros
roubando uma das uvas – não conte a ninguém,
mas acho que estou grávida. Não sangrei esse
mês. E tenho sentido indisposição todas as
manhãs... – ela confidenciou.
-Indisposição todas as manhãs...? –
largou a bandeja assustada, lembrando de suas
próprias indisposições. Sua palidez alertou Alice
sobre ter falado demais.
Apressada se corrigiu.
-Dizem que as mulheres grávidas não
menstruam. É verdade?
-Sim, é verdade – alívio varreu seu susto
ao lembrar-se de sua regra, sempre em dia. –
Prepare água morna, sim?
-É claro – Alice disse submissa e
conformada com seus dias de escravidão – Tente
ser boazinha com Rony... Ele está passando por
uma situação muito difícil!
-Deixe de ser fingida, Alice - ela
repreendeu quase sorrindo – Quer me ver... Fazer
essas coisas! Maliciosa, é o que é!
-E por acaso não faz? – ela perguntou
certeira vendo Helena corar – Oh, você faz! –
surpresa irrompeu num riso malicioso – John não
deixa que eu faça. Diz que sou muito delicada
para essas cosias... tolo, pois moro de vontade de
chup...
-Alice! – ela cortou corando furiosamente
– Saia da minha frente e cale-se! Quer que eu
morra de vergonha aos seus pés?
Alice ainda ria maliciosa quando Helena
entrou no quarto e fechou a porta.
Rony estava sentado, recostado nos
travesseiros e comeu para distrair a mente. Helena
saiu novamente, buscou a água e trancou a porta.
Ele suspirou resignado, humilhado e submisso.
De cara amarrada, deixou-se despir como
uma criança faria.
-Porque não me ajuda? – perguntou para
distraí-lo.
-Prefiro que você faça - resmungou,
rejeitando a esponja.
-Não gosto quando faz assim – ela
reclamou.
-Assim como? Irritado? De má vontade?
Ranzinza? Emburrado? – ele ergueu uma
sobrancelha em ironia – Não parece muito justo,
Helena. Pois é assim que se dirige a mim.
-É diferente – ela tentou explicar.
-Porque é diferente? – insistiu.
-É alguém diferente de mim. – foi sua
simples resposta.
Nu, sobre o lençol, ele tentou achar
alguma reação em seu rosto, mas ela não
demonstrava nada.
Helena se ocupou da tarefa, tentando não
prestar atenção nas coxas musculosas, as virilhas
formidáveis. Muito menos ao peito que atraia seu
olhar e fazia suas mãos formigarem por um toque.
Tinha que cuidar dele, e não podia fazê-lo
se ficasse pensando besteiras!
Lavou-o com a dedicação de uma mãe.
Quando chegou às virilhas, afastou qualquer
pensamento malicioso.
A espoja deslizou sobre o membro
adormecido que repousava para o lado.
Nos outros dias, apenas moveria a
esponja para lavar abaixo e pararia, mas hoje, as
palavras de Alice inundavam sua mente com
bobagens!
Sem saber de onde tirava coragem para
tanto, ergueu o membro nas mãos, percebendo o
quanto era grande, mesmo em repouso. Passou a
esponja em todo o comprimento, assim como em
seus testículos. Gestos delicados e gentis, que
ficaram um tanto mais possessivos.
Não havia resultado. Seria uma grande
mentirosa se dissesse não se preocupar. Não que
houvesse alguma ligação entre um tiro na barriga
e a impotência masculina, mas o susto e o medo
podem fazer horrores com a mente humana!
Audaz, moveu cuidadosamente aquele
pedaço de carne. Rony notou o exato momento em
que a enfermeira foi embora e Helena apareceu.
Seus dedos o tocavam com cuidado demasiado,
mas tinham uma intenção muito clara.
Sentiu o prazer daquele contato, sentiu o
desejo correr nas veias, mas não teve a mínima
reação física. Furioso consigo mesmo, afastou
suas mãos.
-Deixe, não vai acontecer nada – era um
profundo e desgostoso lamento.
-Feche seus olhos Rony – ela pediu numa
voz tão doce e aveludada que ele obedeceu.
Os movimentos carinhosos cessaram, e
na escuridão de seus olhos fechados, escutou e
sentiu seus movimentos, quando Helena sentou na
cama, muito perto, o corpo curvado sobre sua
cintura masculina.
Segurando o pênis flácido nas mãos, ela
tocou com a ponta da língua. O contato era
diferente de quando ereto. Era estranho...
Procurando reações, sugou com cuidado, até sentir
que endurecia.
Muito pouco, mas endurecia. Animada,
aprofundou o membro na boca, acariciando-o com
a umidade de seu interior, a língua trabalhando
para agradá-lo e encher de sangue suas veias e de
plenitude seu ser.
Em outro dia comum, ele não demoraria
tanto a reagir, para ser franca, já estaria à beira do
gozo, mas hoje, não era um dia comum.
Usando de todo seu esforço e
conhecimento adquirido nesses poucos meses de
casada, pôs em prática tudo que sabia. Sugou,
chupou e lambeu, ate ter entre seus dedos um
lindo e ereto pênis em sua homenagem.
Olhou para a expressão de prazer na face
de Rony e contrariando seu próprio prazer,
sabendo que não poderiam ir até o fim, decidiu
por uma pequena vingança.
Soltou-o e tirou da boca, aprumando as
roupas e guardando a esponja e a bacia no chão.
Rony abriu os olhos, esperando que ela retornasse,
talvez sem as roupas íntimas, montasse em seu
quadril, mas quando Helena se adiantou para
aporta, soube que não aconteceria.
-Helena! – chamou angustiado.
-Aí está. Espero que agora pare de se
lamuriar! - disse com indiferença falsa.
Rony ficou sozinho, fitando a ereção que
o machucava por mais.
Apensar dos pesares sorriu.
Não podia se zangar, tinha que lhe ser
grato.
-Mas e meu desejo de lhe retribuir? –
perguntou impedindo-a de sair.
-Não pode se mover! – lembrou-o.
-Posso sim. Acaso não notou que estou
quase curado?
Era uma visão tentadora. Nu, excitado e
belo. Mas não podia ser fraca!
-Pois se perde pelo ‘quase’. Deixei um
livro na cabeceira. Volto mais tarde!
Apressada para fugir, saiu e fechou a
porta.

Naquela noite jantou com as visitas. Toda


a noite se reunia com Rony e jantavam no quarto,
mas hoje, envergonhada, preferira jantar na
cozinha.
Sabia que atrapalhava a conversa de John
e Alice e sabia muito bem a razão dos olhares
enviesados de Alice em sua direção.
Eles viviam uma espécie de casamento
antecipado. Almoços e jantares íntimos. Quartos
no segundo andar não vigiados. Passeios no lago
sozinhos.
Negligenciados, estavam se acostumando
a vida de marido e mulher, mesmo sem a bênção
do Padre.
-Porque não janta com meu irmão essa
noite Helena? – Alice perguntou com tato.
-Porque ele merece ficar sozinho por
algumas horas. Está muito aborrecido e me
aborrecendo também!
-Meu irmão acha que a bala o afetou em
outras partes... – ela riu maliciosa para John – Eu
disse a Helena que mostrasse a ele que está
enganado...
-Alice! – ela brigou corada – Não fale
desses assuntos na frente de John!
-Qual o problema? Somos todos
experientes – disse com tanta petulância infantil
que Helena não controlou a vontade de humilhá-
la.
-Experiente? E o que sabe uma rapariga
que se deita pelo mato, comparada a uma senhora
casada? – seu olhar era de desafio e Alice corou
revoltada.
Seu olhar para John exigia que a
defendesse, mas ele apenas maneou a cabeça.
-Não é certo falar de assuntos tão íntimos
na frente de um homem que não seja marido de
Helena. Sei que podem achar um momento mais
apropriado para suas conjecturas Alice.
-Como queira, meu noivo – sua falsa
submissão não enganava ninguém.
Helena estava envergonhada, ainda mais
ao constatar que obviamente Alice contaria todos
os detalhes da conversa que tiveram a John.
Alice serviu o jantar e serviu o copo de
vinho para John e para si própria, e para Helena
água. Ela não costumava beber, por isso não se
importou.
Algum tempo depois na sala, John
serviu-se de Uísque e deixou o copo sobre a
mesinha no meio da sala, dedicando sua atenção a
Alice que lhe fazia perguntas sobre a fazenda que
ele ambicionava comprar. Artur negociava com os
Gueen a compra da fazenda, enquanto ele cuidava
dos interesses de Rony.
Helena estava aflita de voltar ao quarto
depois do que fizera à tarde. Sentia um pouco de
vergonha, mas o calor em suas entranhas era a
prova de sua submissão e alma pervertida.
Se Rony insistisse um pouquinho... Ela
fechou os olhos, apanhando o copo de John e
levando aos lábios, bebendo num gole só! Seu pai
sempre dizia que o uísque enervava os sentidos e
nos poupava da realidade.
Sentindo a ardência em sua garganta e
uma tontura, quase derrubou o copo ao tentar por
de volta no lugar.
-Não deve beber Helena, não está
acostumada! – Alice alertou, tirando o copo de
perto dela.
-Estou bem... – respondeu sentindo a voz
enrolada.
Como prova levantou-se e tropeçou nos
próprios pés.
-Acho melhor me deitar...
Nenhum dos dois ousou contrariá-la. O
álcool subira totalmente a sua cabeça, pois não era
acostumada a beber nada forte.
Com passos tortos, vigiados a distância
por Alice e John que trocavam sorrisos, ela entrou
no quarto.
Rony estava quase adormecido pelos
medicamentos, quando ela entrou batendo a porta
sem querer, soluçando.
Ele notou que não chorava, era um soluço
diferente. Suas faces estavam coradas e ela ria
sozinha.
Helena tirou o vestido e a roupa de baixo
e vestiu a camisola, ao contrário, sem nem notar.
Engatinhou sobre a cama, despencando
ao seu lado, olhando para o teto.
-Você bebeu, Helena?
-Um golinho – disse rindo, como se fosse
uma grande piada – Nossa, como está quente aqui
dentro...
-Não deve beber! – reclamou, pois estava
grávida.
-Huhum... Foi um copinho só... Bem
pequenininho... – mostrou o dedo, como se fosse
uma criança muito mimosa – Oh, como sua pele é
quente... – disse sentindo calor que vinha de seu
corpo.
Encostou-se contra ele, passando uma
das penas sobre as dele e cheirando seu pescoço.
-Tão quente...
-Está bêbada, Helena. Não está
acostumada com álcool. – ele achou a coisa mais
incrível do mundo vê-la desse modo,
descontrolada e frágil, perdida em seu mundo
interior sem as inibições que normalmente tinha.
-Porque não me beija... Eu quero um
beijo... - cruzou as pernas nas dele, se roçando
provocativamente – Oh, quanto calor sinto aqui
embaixo!
Uma de suas mãos tocou sua virilha
sobre a camisola e gemeu, se esfregando nele mais
um pouco.
-Helena... – ele era um homem honesto,
que jamais abusaria de uma mulher bêbada. Além
disso, estava machucado...
-Oh... – ela gemeu, se tocando sobre o
tecido e ele fixou o olhar em sua face, seus olhos
turvos.
Talvez Helena nem lembrasse na manhã
seguinte...
Rony tentou acariciá-la e lhe dar prazer,
mas ela não deixou. Agitada pelo álcool ficava se
mexendo sem parar e ele acabou rindo quando se
enrolou na camisola. Ajudou-a tirar o tecido,
contemplando o corpo que se revelou.
Ela se balançou no lençol, exibindo o
corpo sem vergonha alguma. Seus seios eram
erguidos o tempo todo, assim como abria e
fechava as pernas, sem nem perceber.
Rony se apoiou em um braço, e colocou
uma das mãos entre suas pernas, para aliviá-la do
peso do desejo que o álcool trazia a seu corpo. Era
uma reação química. Alguns bêbados choram,
outros brigam, e alguns como Helena, querem
sexo.
Sem travas, ela estava toda soltinha. Uma
tentação!
Seus dedos a encontraram molhada e
aberta, e a sondou com saudade. Fazia mais de
dez dias que não a possuía...
Alguns toques depois e ela se contorceu
chegando ao clímax para sua total surpresa.
Gemendo exageradamente, ela alcançou o ápice,
arquejando e se oferecendo.
Tentado ao extremo se moveu na cama,
tomando cuidado com o ferimento em sua barriga
e se colocou entre suas pernas.
Com toda certeza, Helena arrancaria suas
vísceras na manhã seguinte quando descobrisse!
Excitado com o pensamento de ouvir seus gritos e
talvez, até levar alguns tapas, penetrou-a
gentilmente.
Totalmente relaxada pela bebida não
ofereceu a menor resistência, e Rony começou as
investidas achando que o prazer superava a dor
física. Alguns movimentos depois, ele notou que
seu quadril feminino parava de se mover, e ela
estava imóvel.
Merda! Helena apagara!
Frustrado, pensou em parar. O mais
digno a fazer era parar, não era?
Bem... Ela não teria como saber que
continuara após seu desmaio, teria? Além disso,
não era um estupro. Era sua mulher e pedira por
isso! Estava bêbada, verdade, mas ele não era um
santo!
Decidido a aproveitar, continuou
penetrando seu doce e cálido corpo, observando
seus lábios entreabertos pelo sono, seus seios
balançando com as investidas, e antes que
pudesse mudar de ideia, gozou.
Conteve um grito de prazer para não
acordá-la, e gozou tudo que podia dentro de seu
pequeno corpo. Quando terminou, beijou sua
boca, mesmo que não fosse correspondido.
Caindo de costas na cama, posou uma
das mãos sobre a ferida do tiro, cansado e
satisfeito.
Sentia dor, mas o relaxamento do
orgasmo superava qualquer sofrimento!
Era um cretino, e provavelmente um
cretino morto quando Helena acordasse e notasse
o que fizera, mesmo assim, era um cretino feliz!
Capítulo 81 - A ciranda da vida

Três dias depois, a chuva caía do céu


como se jamais fosse parar. O céu estava negro,
uma tempestade como poucas vezes Helena vira
em sua vida. Ela olhou para Alice sentada no sofá,
com a expressão desanimada.
Tentou animá-la, mas era claro que
mentia.
Seria impossível para o Padre vir realizar
a cerimônia.
Vestindo o horrível vestido de noiva que
sua mãe fizera há um ano, ela segurava um
ramalhete de flores do campo. Tinha na cabeça a
presilha que Rony dera a Helena e que enfeitava
seus cabelos.
Todos os seus irmãos com exceção de
Percival estavam presentes.
Rony estava sentado ao seu lado, e
segurou sua mão, quando notou que ela poderia
chorar de decepção a qualquer momento.
Embora seus irmãos não entendessem a
razão de tanta pressa no casamento a ponto de não
esperarem a cerimônia na Igreja, estavam ansiosos
em verem a irmã caçula casada com um homem
como John, de posses e prestígio.
John olhava para a noiva de coração
partido. Alice dizia que não queria aquele
casamento, mas havia um brilho de lágrimas em
seus olhos azuis que o fazia sangrar por dentro.
Cansado de esperar, e ansioso para
colocar finalmente a aliança em seu dedo,
apanhou o chapéu que usava para o trabalho e que
estava se tornando cada vez mais familiar e
finalmente avisou:
-Vou a cidade buscar o Padre!
Sandra pareceu aliviada, e Helena sabia
que sua sogra era esperta demais para não
entender a razão de tanta pressa. E tão esperta,
que não tocava no assunto para não causar uma
desordem na família.
-É um temporal, John – Marcelo disse de
seu canto – Nada fará o Padre Maken sair da
sacristia com essa chuva!
-Não importa! Eu o trago amarrado se for
necessário! – ele disse ansioso para se casar,
ansioso para se redimir, ansioso para fazer amor
com Alice sem ser às escuras!
-Não será necessário, John – Helena se
aproximou, entregando a ele um guarda chuvas –
Prometa uma contribuição para as reformas da
Igreja e ele se dará por convencido.
Sua inteligência sempre surpreendia, e
Helena se afastou, pois os demais irmãos de Rony
eram burros e brutos demais para entender uma
amizade inofensiva.
John saiu da casa e Rony estendeu a mão
em sua direção. Para não armar uma cena diante
da família dele, ela aceitou seu toque e até sentou-
se ao seu lado.
-Não fale comigo, Parker - ela resmungou
antes que ele dissesse alguma coisa.
Rony não conteve o riso. Phill, sempre
despojado e compreensivo, riu para ele, e Rony
explicou malicioso, no intuito de irritá-la ainda
mais:
-Tomei liberdades com Helena quando
estava alta pela bebida, e agora ela não me perdoa.
-Eu não acredito que esteja dizendo isso
ao seu irmão! – soltou-se furiosa.
Havia três dias que não o perdoava.
Lembrava-se claramente daquela indigna
manhã! Havia acordado, e tentado se mexer,
quando sua cabeça dera sinais de uma ressaca.
Dolorida, ergueu a cabeça apenas o suficiente para
vê-lo.
Conferiu se estava bem, se a ferida não
sangrava, se ele respirava e não aparentava febre.
Então, notou que seu pijama estava
descido até o meio das coxas, e que havia uma
expressão muito satisfeita em sua face. Olhando
para si mesma, odiou o que viu.
Deitada, uma das pernas dobradas em
um ângulo muito revelador, completamente
despida, com uma viscosidade inconfundível que
havia secado, e retesava contra sua pele íntima
quando tentou se mover...
Indignada, havia constatado o inevitável.
Havia bebido apenas um copo de Uísque, uma
inocente dose, porém mais que o suficiente para
que ele abusasse de seu corpo!
Flashes do ato inundaram sua mente, até
a lembrança de ter desmaiado.
Filho da mãe!
Havia saído da cama e vestido a
camisola, segurando a cabeça que latejava
enquanto ia para a cozinha.
Era uma mulher vingativa, sempre fora.
Desde pequenininha era assim. Se o seu
irmão lhe dava um chute, ela lhe devolvia dois.
Sem pensar muito no que fazia, esperou
Juanita sair atrás de um de seus filhos para se
aproximar e apanhar uma faca de sobre a pia da
cozinha. Ela estivera cortando carne e estava suja
de sangue.
Melhor ainda! Sorrateira, visto que não
queria chamar atenção, entrou no quarto, vestiu-
se, e penteou os cabelos e então, calculadamente,
colocou a faca sobre a cama, pertinho dele, depois
de esfregá-la com cuidado nos lençóis.
Satisfeita, saíra do quarto atrás de algo
para a dor de cabeça.
Meia hora depois quando conversava
com Alice e Juanita na cozinha, lamentando a
ressaca, ouvira o grito.
Um grito típico de maricas. Pânico
completo. Sorrindo, dissera para que não se
importassem, não era nada. Então, outro grito a
fez rir:
-HELENA!
Apenas rira e levantara, atendendo ao seu
chamado.
A primeira coisa que viu foi um homem
muitíssimo pálido. A segunda era a faca nas mãos
dele. Mãos que tremiam levemente.
-O que foi? Porque os gritos? – sorriu
inocente.
-Sua...! Como teve coragem? Quase me
matou de susto! – ele parecia um tanto roxo e ela
quase gargalhou – Outro dia, avisou que usaria
uma faca para... Deus me livre, me capar! E olha
isso aqui...! – apontou a faca ensanguentada.
-Fico feliz em saber que ouve as coisas
que digo, apesar de ignorá-las – se fez de boba,
olhando para ele com doçura – mas ainda não sei
a que se refere.
-Armou para que eu achasse que... - ele
passou uma das mãos no rosto, assustado até os
ossos – conseguiu. Fiquei apavorado achando que
tinha me capado! Levei um segundo para perceber
que não, mas já era tarde. Meu coração quase
abandonou meu corpo!
-Mesmo? Pois deve fazer companhia ao
seu juízo, que também o abandonou faz tempo! –
deixou a postura inocente, se aproximou e
arrancou a faca de suas mãos – Dessa vez, foi um
susto! Da próxima...
-O que? Vai se privar do que tanto ama? -
ele provocou, mesmo que ainda estivesse pálido.
-Abusou de mim! Estava indefesa e
abusou de mim! – defendeu-se.
-Abusei? Helena! É minha esposa!
Estávamos fazendo sexo consentido! Você apagou
e eu...
-Você o que? Teve a consideração de
parar? Ou pelo menos me acordar?
-Desculpe se me descontrolo com você a
ponto de esquecer o que é certo ou errado! – jogou
em sua cara.
-Como posso confiar em um homem que
abusa de mim?
Não havia raiva verdadeira, era apenas
ultraje.
Ele sabia, mas não podia fazer nada.
-Como posso confiar em uma mulher que
me assusta desse modo? – ele revidou.
-Não é uma surpresa que eu não o queira!
– ela ofendeu com um olhar irônico.
-Me recuso a discutir sobre meus direitos
de marido! – revidou, passado o susto, vinha à
raiva.
-Acredita ter direitos sobre mim? – ela
poderia facilmente ter rido. Gargalhado.
Não o fez apenas porque Alice abriu a
porta do quarto. Tinha certeza, escutava atrás da
porta, depois de algumas explicações
esfarrapadas, cada um seguiu seu caminho.
E a partir daquela manhã ambos estavam
numa guerra muda, que não ouve e não fala.
Trocavam farpas. Olhares raivosos e insinuações.
Mas no final, não deixavam de estar próximos.
O que era engraçado, pois quando se
conheceram passavam o maior tempo possível
afastados!
-Acaso ainda não domou sua esposa, meu
irmão? – de seu canto, Ducan provocou.
Helena soltou um risinho irônico e Ducan
se dirigiu totalmente a ela:
-Acha que disse algo engraçado?
-Não, mas pensava onde estará sua
esposa a essa hora. Alguma razão para não trazê-
la no casamento de sua irmã?
Era como colocar o dedo dentro de uma
ferida profundamente dolorosa. Carmen, a mulher
de Ducan era arrogante e não tolerava qualquer
forma de vida que não fosse luxuosa. Vivia
reclamando e resmungando da casa em que vivia e
falando mal dos outros.
Nunca colocaria os pés numa casa
simples, por mais que estivessem crescendo e
melhorando os móveis e a casa. Carmen era
superior.
-Uma pergunta pertinente, meu irmão –
Rony instigou, gostando de ver Ducan corar de
raiva – Não se importe com Helena, somos dois
homens que se perderam por mulheres
voluntariosas!
Ambos riam dela! Enfurecida, Helena
marchou para a cozinha, achando que se ficasse
mais um minuto naquela sala cometeria
assassinato.
-Não seja cruel, meu filho - Artur
interferiu, achando graça – Helena está grávida,
Ducan. Merece consideração.
-E por acaso Rony sabe quem é o pai
dessa criança? - ele disse, parecendo arrependido
no instante seguinte a própria frase.
Artur levantou-se com a imponência que
um patriarca tem em sua família e segurou o
filho pela lapela do blazer.
-Seu irmão não merece que fale desse
modo de sua mulher dentro de sua casa! Acaso viu
ou sabe algo sobre Helena que não saibamos?
-Não – ele respondeu humilde.
-Acaso tem algo a nos dizer que levante
dúvida sobre a moral de Helena? Sobre sua
fidelidade?
-Não, pai – ele respondeu de cabeça
baixa.
-Sendo assim, não blasfeme contra sua
família novamente, ou todos poderão falar de sua
mulher também!
Rony achou ter visto algo entre pai e
filho, como se Artur soubesse algo sobre Carmen
que pudesse humilhar Ducan.
E Rony não duvidava. Carmen era
arrogante demais para ser uma dócil esposa.
-Não é necessário que me defenda, meu
pai – Rony assumiu a dianteira – Sei a mulher que
tenho. – sorriu de uma doce lembrança – Se algum
homem, inclusive eu, conseguir alguma coisa com
Helena sem esforço, bem, ele será um homem de
fibra e terei que admirá-lo!
Marcelo e Cosme foram os únicos
capazes de rirem de sua piada.
-Helena não é uma mulher fácil de
conviver – seu sorriso mudou – mas é a melhor e
mais honesta companheira que um homem pode
ter. Estou feliz com o filho que terei, e sei que ela
ficará feliz quando souber. Então, se alegre por
mim, irmão.
-Uma mulher que não sabe que está
grávida? – Marcelo brincou – gostaria de ter
conhecido algumas iguais a esta...
Era uma franca piada, e todos riram, o
clima tenso sendo quebrado pelo som de pessoas
se aproximando.
-John está de volta tão rápido? – Alice
perguntou surpresa, e quando John entrou
acompanhado de Percival, ela ficou assustada –
Deus! Não digam que o Padre está morto!
O Padre Maken era bem velhinho,
beirando os noventa anos, se não mais que isso, e
vivia rogando a todos os cantos do mundo que sua
hora estava chegando.
Com a sorte de Alice, não duvidava nada
que morreria as portas de celebrar seu casamento!
-Encontrei Percival no caminho – John
tranquilizou-a – ele traz notícias da cidade.
Pela tensão de John era possível notar
que o assunto era sério.
Helena voltou à sala e ficou próxima a
Sandra, curiosa.
Percival segurava o chapéu nas mãos, e
olhou para Helena incerto sobre o que dizer.
-O que aconteceu? Alguma coisa com o
Padre Maken? – Artur se preocupou.
-O Padre pede desculpas, mas a idade o
impede de enfrentar a tempestade. Pede que
remarquem a cerimônia... – ele soltou o ar, tenso,
olhando o tempo todo para Helena – Há uma
confusão no fórum. Tentei aplacar a situação, mas
não pude. É certo que receberá uma intimação em
breve, Rony. Não gostaria de ser o portador dessa
má notícia, mas... Não há outro meio.
-Uma intimação? – Rony levantou-se,
segurando sobre a ferida que cicatrizada a olhos
vistos, mesmo assim causava dor – E porque seria
intimado?
-Uma intimação do juiz, para que se
explique, e é bem provável que o Ford o chame
para uma longa conversa...
-E o que posso ter feito para que isso
aconteça? - ele parecia tão incrédulo que Percival
limpou a garganta, olhando novamente para
Helena.
-Por certo ainda não sabem que a
Srta.Alexia Lil esteve com o juiz essa tarde...
A expressão de Rony dizia claramente o
que ele pensava. Esperava por isso!
-Se o problema é Alexia não devo me
preocupar. Não devo nada a ela! – sorriu, aliviado
-Ela alega que deve. Ronald, a situação é
mais séria que apenas uma cortesã histérica. Ela
alega, e trouxe documentos que provam que
você... - olhou novamente para Helena, talvez
temendo que ela pulasse sobre ele ou algo
parecido.
De braços cruzados, ela esperava
intrigada e com um pressentimento horrível no
peito.
-... Que você se uniu a ela em matrimônio
em Londres.
Um pesado silêncio caiu sobre todos.
Rony estava em dúvida sobre ter ouvido direito.
Helena sentiu como se não houvesse entendido o
sentido exato das palavras.
-São documentos aparentemente
verdadeiros – Percival continuou – é impossível
alegar legalidade dos documentos sem uma
contraprova, mas... Até ser desfeito o mal
entendido, o Sr.Ford pretende... Estou fazendo
uma suposição, mas acredito que ele vá pedir a
desocupação da fazenda e o leilão imediato.
-Que documentos ela apresentou? – John
perguntou ao notar que Rony estava
completamente mudo de surpresa.
-Uma certidão de casamento lavrada num
cartório em Londres e assinada pelo juiz de paz
daquela comarca.
-Isso não quer dizer nada – John lembrou
– Toda certidão deve ser registrada, e haverá uma
similar no cartório de origem. Basta trazermos
uma declaração de que não há casamento algum!
-Sim, mas levará tempo – Rony disse
pensativo – aquele filho da mãe do juiz está
ansioso para me casar com sua filha. E o
banqueiro em por as mãos na fazenda. Não vão
esperar! Eu deveria saber que Alexia teria uma
carta na manga! – com ódio de si mesmo olhou
para Helena.
Ela não teve uma reação de ódio ou um
acesso de cólera. Abatida, saiu da sala, se
refugiando no quarto.
Era ao fim. Como previra desde o inicio.
Perderia a fazenda, perderia Rony e tudo que
amava.
Talvez fosse seu destino: Ser só.
Capítulo 82 - Passando a perna no destino

Tão logo Rony foi atrás de Helena, John


se afastou de toda a família Parker, se refugiando
na varanda, tendo olhado de um modo para Alice
que ela não teve dúvidas sobre precisarem
conversar.
Saindo discretamente na casa, sem que
não lhe dessem falta em meio à discussão que se
armou sobre como resolverem o problema, ela
encontrou John.
Sério, ele se virou para a noiva com os
olhos verdes brilhantes, e com algo que a
encantou.
-Faria uma loucura comigo? – ele
perguntou direto, sem meias palavras.
-Já fiz uma loucura com você – ela
respondeu, segurando aquele tolo ramalhete nas
mãos, sentindo-se vazia e estúpida por ver suas
ilusões perdidas diante dos problemas de seu
irmão.
-Sim, mas a loucura que peço não fará
mal a ninguém, muito menos a nós – ele se
aproximou, sorrindo tão bonito e empolgado, que
Alice sentiu o coração derreter.
-O que tem em mente?
Enquanto John explicava, ela ouvia
atentamente.
-Rony saberá que fez isso por Helena –
Alice disse se afastando dele magoada.
-Não vê Alice, que faço isso pelos dois?
Para que um casamento tão bonito não acabe! -
defendeu-se – E faço por nós dois, pois não
poderia deixá-la pára trás por tanto tempo! Diga
que aceita – segurou seu rosto entre as mãos, os
olhos verdes hipnotizando-a.
Alice ponderou que não lhe contara sobre
a suspeita de esperar um bebê, sendo assim, John
realmente a desejava ao seu lado.
-Mamãe ficará magoada... – era uma
última tentativa de ser racional e responsável.
-Sua mãe pode entender o amor – ele
justificou notando como os olhos azuis como o
céu, límpidos e expressivos se umedecera de
emoção e expectativa – Venha comigo, Alice! Não
pense!
-Sim, John! Eu vou!
John soltou seu rosto e apanhou sua mão,
e em meio a sorrisos incrédulos e olhares
apaixonados, os dois saíram correndo na chuva,
subiram na carruagem, e sem que ninguém
notasse, estavam na estrada, indo em direção à
cidade...

Helena não estava no quarto.


Praguejando contra a dor e a sensação de perca,
ele a procurou na cozinha. Um dos meninos de
Juanita brincava com um carrinho de madeira e
indicou a porta dos fundos, provavelmente por
onde ela passara.
Não precisou procurar muito. Ela estava
ao lado da casa protegida pela área dos fundos.
-Helena, precisamos falar, entre na casa –
ele pediu nada disposto a andar na lama ou na
chuva.
-Eu não quero falar, por isso sai da casa –
respondeu.
-Acontece que eu tenho que falar, você
querendo ouvir ou não, e não posso pegar essa
chuva. Vai entrar ou vai me obrigar a fazer uma
besteira?
-Estou ouvindo o que diz, não preciso
entrar! – reclamou.
-Helena, não faz assim. – ele pediu,
cansado.
Muito cansado.
Helena olhou em sua direção. Estava
pálido e obviamente sentia dor. Dando o braço a
torcer entrou na cozinha e pretendia se afastar
quando foi abraçada.
-Não se afaste por causa de Alexia – ele
pediu assustado com o que estava acontecendo –
Daremos um jeito nisso...
-Sempre teve medo dela. Do que ela
poderia fazer! – afastou-se, por mais tentador que
fosse ficar em seus braços – tinha medo que ela
contasse que já era casado!
-Não! Helena!
Ela não ouviu, empurrou-o e escapou.
-Tudo faz sentido agora! Não poderia
contar a seu pai que já era casado com uma
cortesã que esperava um filho de outro homem!
Foi por isso que fez tanta questão de voltar!
Ninguém saberia de seu pecado, não tão longe!
Tanto medo que o banqueiro soubesse que não
dormíamos juntos... Era apenas receio que ele
exigisse explicações, que ele xeretasse sua vida e
descobrisse seu casamento!
-Juro que não é verdade! Nunca me casei
em segredo com Alexia! Porque esconderia isso de
John? Diga-me, porque esconderia isso do meu
melhor amigo?
-Não sei! - ela gritou confusa. –
Vergonha talvez, afinal, ela também era mulher de
John!
-Helena, me escute, eu nunca fui casado!
Nunca houve uma mulher capaz de me fazer
cometer essa loucura! Não até conhecê-la! Não
posso lhe provar agora, mas posso provar!
Escreverei a um grande amigo de Londres, é juiz,
e irá me enviar os documentos necessários para
provar minha inocência!
-Não haverá tempo! Será que não ouviu
seu irmão? – lágrimas se formaram em seus olhos,
mas ela não notou, gritando com ele – Vou perder
minha fazenda! Vou perder a única coisa que me
resta! - alarmada, lembrou-se que era tudo culpa
dele! – Eu poderia ter pago a hipoteca sozinha! Se
não houvesse surgido um comprador, se você não
houvesse surgido com seus gestos falsos e
dissimulados, eu teria conseguido! Por sua causa
perderei a única coisa que me sobrou na vida!
-Não, não é a única coisa que lhe resta!
Sim, irão tirar a fazenda de nós. Será leiloada e
vendida. – vendo a dor em sua face, baixou o tom
de voz, não querendo assustá-la. –Essa venda será
desfeita quando eu provar que estão errados.
Recuperaremos as terras Helena.
-É mentira! – acusou.
-Não, não é! Provando a veracidade do
nosso casamento, Alexia será presa, e a fazenda
recuperada. Não estou brincando, não é um blefe.
Teremos que esperar, nossa vida será muito difícil,
mas vamos recuperar tudo. Eu juro que vamos!
-Está falando besteiras! – se esquivou de
seu toque.
-Querer cuidar de você é besteira? –
atirou em sua cara.
-Porque se importaria?
-Porque é minha mulher, a única mulher
que carrega meu nome e possui meu coração – sua
voz era carregada de sinceridade – Helena,
acredite, não estou mentindo. Se estivesse, o mais
acertado seria estar fazendo as malas e me
preparando para fugir. Bigamia é crime, Helena.
-Crime? - ela empalideceu.
-Um crime que não me preocupa. Alexia
conseguiu estragar nossos planos, mas não nosso
casamento ou nossa felicidade. Está me
entendendo?
-Eu... Não sei se acredito em você. – foi
sincera.
-Não pode ao menos me dar um voto de
confiança? – pediu humilde.
-O que quer dizer? – afastou-se, cruzando
os braços, olhando para seus olhos com pavor.
Sim, tinha pavor de ficar sozinha
novamente. Pavor de ficar sem a presença daquele
homem divertido e sedutor.
Havia tanta cor em seus dias, que só de
pensar em ficar só, via tudo preto e branco. Não
queria perder a fazenda, mas a ideia de perdê-lo
era ainda mais dolorosa.
-Fique do meu lado e me apoie.
Era um pedido difícil.
-Não posso permitir que encoste em mim
novamente, pode não ser meu marido. – avisou –
além do mais, não quero que outras pessoas
saibam.
-Helena... - ele pensou em argumentar.
Estavam se acertando, estavam caminhando para
uma vida juntos, e ele estava prestes a lhe contar
do bebê. Como voltar atrás?
-Não pode ser de outro jeito! – ela disse
alarmada com a ideia dele se recusar.
-É a única mulher da minha vida – ele
insistiu.
-Nesse momento, não é o que todos
pensarão – avisou com a expressão indecifrável.
-Não sinta medo, Helena – ele pediu
comovido com seu olhar angustiado – Vou dar um
jeito, eu juro que vou resolver isso. Tenho... Tenho
um valor pequeno, depois dos gastos com a
fazenda, mas posso tentar usar isso a nosso favor.
Posso conseguir um empréstimo, eu não sei.
Tenho que pensar com calma, mas uma coisa eu
posso te dizer com toda a certeza: nada nesse
mundo vai me afastar de você!
Helena estremeceu e virou-se de costas,
para que não visse o tamanho da emoção que a
percorria. Limpando as faces, ela tirou as marcas
das lágrimas, olhando acusadora para a imagem
de Ducan que não anunciara a chegada.
-John e Alice sumiram – ele avisou seco
e direto.
-John e Alice? – Helena maneou a cabeça
incrédula.
-Sabe onde estão? – Ducan disse
acusador.
-John está com pressa para se casar – ela
disse sorrindo.
Que ao menos alguém pudesse ser feliz
pensou.
-Alice estando com John está protegida. –
Rony constatou, sentando em uma cadeira, suas
forças praticamente nulas – Preciso que Percival
leve um recado ao juiz. Pode chamá-lo? Preciso ir
para o quarto, não me sinto bem...
Helena admirava em Rony sua
capacidade de pedir ajuda. Não tinha problemas
em admitir a própria dor.
-Chame seu irmão – ela repetiu,
despachando Ducan – Eu o ajudo a ir para o
quarto...
Ducan olhou de um para o outro, talvez
indeciso sobre deixar o irmão nas mãos dela, mas
ao notar o modo carinhoso como Helena servia de
muleta, apoiando um dos braços de Rony em seus
ombros pequenos, ajudando-o a levantar e andar
para o quarto, voltou à sala, envergonhado dos
próprios pensamentos rudes a respeito daquela
mulher.
Parte sua lamentava as próprias escolhas,
ao casar-se com Carmen.

-Deus, quanto azar – Rony lamentou ao


se recostar contra os travesseiros – Levo um tiro, e
agora perco tudo que tenho. Só pode ser azar.
-É o azar da minha vida respingando em
você – ela disse como se fosse uma praga, um
tanto ácida – Juanita vive dizendo que sou
azarada.
-Juanita não sabe de nada – ele
resmungou, abrindo a camisa para conferir o
curativo – Essas faixas estão me apertando...
Estou sem ar.
-As faixas estão como deveriam estar,
respire fundo, é apenas impressão sua – ela
acalmou-o.
Pensativa, se afastou para a penteadeira,
olhando para o espelho.
-E se você for preso? - ela perguntou de
repente – O que acontece se for preso?
-Não serei preso, ao menos não
imediatamente – ele esclareceu, numa careta de
dor e raiva ao pensar nisso – O primeiro passo
será uma investigação de todos os documentos
apresentados. Se eu não provar a veracidade do
que alego, então, serei preso. O que não
acontecerá, pois estou falando a verdade.
-Tem certeza? – era uma pergunta válida.
Rony fitou-a por instantes, analisando a
pequena mulher a sua frente. Com um olhar duro,
de quem não se surpreende com mais nada na
vida, ela o enfrentava, desafiando-o a magoá-la.
Suspirando, ele deixou-a vencer.
-Tenho toda a certeza do mundo –
respondeu.
-É bom que tenha mesmo! – a voz séria
de Percival parado na porta do quarto cortou o
dialogo entre eles, e olhou para o irmão critico –
Grande confusão essa! Saiba, não é bom para
minha carreira ter um irmão investigado!
-Fico horrorizado em ser uma mancha em
sua carreira, Percival – Rony respondeu com um
sorriso velado, quase com humor – Agora, me
conte exatamente o que Alexia contou. Quero
saber cada palavra!
-Trouxe uma cópia do depoimento dela –
ele tirou de dentro do paletó um documento muito
bem dobrado - Não deveria ter feito isso, mas o
juiz não dará por falta – esclareceu um pouco
envergonhado.
Não era de sua personalidade correr
riscos. Não era mesmo!
-Lhe sou grato, irmão – Rony agradeceu,
sabendo como era difícil para ele quebrar regras.
Helena saiu do quarto enquanto ele lia e
conversava com o irmão, mas não teve sossego.
Sandra a interceptou levando-a para a sala. Eles
debatiam se deveriam ou não ir atrás de John, e
Sandra parecia um pouco desesperada sobre eles
descobrirem a razão de tanta pressa.
-Alice lhe contou? – Helena sussurrou
para a sogra que a olhou com um olhar de
reconhecimento.
-Não foi preciso, conheço minha filha -
ela disse apreensiva – Sei que está cuidando dela,
Helena.
-E alguém consegue cuidar de Alice? -
ela perguntou irônica, mas com uma pitada de
humor. – não é preciso tanto escarcéu! - ela disse
acima das vozes de todos os homens.
Afinal, por maior que fosse o homem,
nunca se intimidou.
-Alice está com o noivo. Eles têm pressa
em casar. É apenas uma loucura de dois
apaixonados!
-E acaso sabe onde levam as loucuras de
apaixonados? – Marcelo perguntou, sem humor
dessa vez.
-Se estiverem casados, espero que os
levem para uma vida plena e cheia de felicidade! –
encarou o homem com um sorriso sádico – Porque
não aguardam que John retorne? Se eles não
voltarem casados, eu mesma ofereço a arma para
que lavem as manchas na honra de sua irmã! –
ironizou. – Se bem, que do jeito que é difícil achar
um bom partido nessa terra, deveriam beijar o
chão que John pisa!
-É o que faz? – Ducan perguntou incapaz
de se conter.
-Não, mas tenho certeza que sua mulher o
fará quando descobrir o quão rico John é! –
respondeu a altura.
Ducan se calou, e Helena sentiu-se
culpada por usar dessas palavras duras para
encerrar uma discussão como essa, tão sem
sentido.
-Vamos nos sentar e aguardar – Artur
disse, acalmando os ânimos – Helena, filha,
porque não nos serve alguns dos seus deliciosos
bolinhos? Rony falou tão bem de seus doces!
Era uma tentativa de acalmar a todos e
ela ficou grata, murmurando algo como “não
demoro”, antes de sumir para a cozinha.
Exausta, ela sentou-se numa das cadeiras
da cozinha, e apoiou o rosto numa das mãos,
sentindo uma horrível vontade de chorar.
E se ele fosse mesmo casado?
Essa pergunta martelava em sua mente.
Um casamento errado, com a mulher
errada, mesmo assim, um matrimônio que
invalidava a união de ambos.
Se fosse verdade, não haveria nada entre
eles. E se mesmo assim, Rony preferisse viver
com ela? O que faria? O mandaria embora? Quer
dizer, ambos iriam embora, mas e depois, viveria
com um homem casado com outra?
-Meu filho não mentiria, Helena.
Ela olhou acusadora para a visão sempre
tão conciliadora de Sandra.
-E como pode ter certeza? Passou muito
anos sem vê-lo. – perguntou sem notar que uma
lágrima corria em sua face, de mágoa, dor e medo.
-Porque eu olho em seus olhos, e
reconheço o meu menino que foi embora tão
pequeno. Ele não mente para nós. Nunca mentiria.
-Se engana, é um mentiroso! – ela
lembrou que ele era metido a estratégias para
conseguir o que queria.
-Não em assuntos sérios! Rony é um
gozador, e sabe aproveitar o bom da vida. Culpa
nossa, que deixamos um menino sozinho em uma
escola fria e sem sentimentos. Ele é o homem que
deveria ser. Honesto, bondoso e sincero com quem
ama. Não duvide disso – ela se aproximou e fez
um carinho nos cabelos de Helena.
Ela segurou o pranto, mas não pode
evitar algumas lágrimas.
-Eu o mato se for casado com aquela
mulher! – confessou entre lágrimas.
-E terá minha permissão para fazê-lo se
for verdade – Sandra disse sorrindo. – Agora,
limpe esse lindo rosto, me diga onde guarda os
pratos e os talheres, e vá cuidar de seu marido.
Helena obedeceu, lembrando-se de sua
própria mãe. Era fácil gostar de Sandra. Mesmo
sendo ela mãe do homem detestável que a
colocava em todos os tipos de situação inusitadas.
No quarto, Percival discutia com Rony
como falar com o juiz e sobre um documento que
Rony ditava para Percival, e que deveria ser
entregue com urgência ao juiz e ao banqueiro.
Ele levantou os olhos em sua direção,
reconhecendo as marcas de choro, e odiou Alexia
com todas as suas forças!

Anoitecia, e a impaciência dos homens


Parker crescia. Depois de aplacar os ânimos por
mais vezes que podia contar, Sandra estava
adormecida num canto do sofá enquanto os filhos
jantavam, numa confusão de vozes masculinas
que poderiam assustar outras mulheres.
Juanita se apressara a servir o jantar e ir
embora, visto que Suarez não a queria perto de
tantos homens. Ciúmes, ou apenas zelo. Fosse o
que fosse ela não ficaria para saber o resultado.
Restara a Helena servi-los e se encarregar
que não voltassem ao assunto ‘John’.
Ignorando a conversa e o riso alto e
irritante, ela serviu Ducan novamente, achando
que aquele homem comia demais para seu gosto.
Era de fato, alguém acostumado a comer apenas
quando ia visitar a mãe, pois a esposa se recusava
a cozinhar.
Com um longo olhar irritado para ele, ela
sorriu para Marcelo, que contava uma de suas
piadas sujas, e esperou que estivessem todos
comendo para revirar os olhos.
Da cabeceira da mesa, Rony piscou o
olho para ela, como quem pede desculpas por isso.
Ela sorriu sem querer, se conformando em jantar
de pé, na pia. Tudo bem, não tinha muito apetite
mesmo.
A possibilidade de ser a amante de seu
próprio marido lhe tirara o apetite!
Perdida em seus pensamentos, assustou-
se com a movimentação que se seguiu. Alguém
chegava barulhento e aos risos, e ao ouvir a porta
ser aberta e a voz de Sandra, todos saíram em
disparada para a sala.
Alice tinha o mais lindo e apaixonado
sorriso na face, apesar do vestido molhado e dos
cabelos imundos pela chuva. Havia barro
vermelho quase até seus joelhos e o mesmo em
John.
-A carruagem atolou aqui perto! - ela
contava para a mãe. – Pai! -ela gritou estendendo
a mão para ele, mostrando a aliança – Estou
casada, pai!
-Minha filha! – ele a acolheu em um
abraço; alívio de pai em sua face, enquanto olhava
para o genro – Que loucura foi essa John? Roubar
minha filha!
-Não pude me conter Sr.Parker – ele
disse com um sorriso idiota e igual ao de Alice em
sua face – O juiz nos casou e o Padre marcou a
cerimônia para quando voltar! Aqui está a
comprovação! – estendeu a Rony a certidão de seu
casamento com Alice. – Alice é oficialmente a
Sra.Harrison!
-Parker Harrison! – ela corrigiu – Jamais
deixarei de ter o nome de meu pai! – seu belo
sorriso se aliou as lágrimas de felicidade – É o dia
mais feliz da minha vida, mãe!
-E é o meu também! – Sandra disse com
a voz embargada enquanto desconjuntava a filha
em um abraço maternal. – Minha filhinha está
casada, Artur!
-E por pouco não fica viúva! – Marcelo
disse com algo de aviso na voz – Se não voltasse
com essa certidão Harrison, não sei não...
Para contrariar as palavras, ele lhe deu
um abraço de irmão, assim como os outros.
Quando John olhou para Rony, parecia
um pouco temeroso.
-Onde pensam morar agora? – Artur
perguntou.
-Farei uma oferta irrecusável aos Gueen
amanhã bem cedo, quero ter a fazenda garantida
para quando voltar – ele disse feliz em contar –
não me importo de ser roubado, só quero garantir
que tenhamos nossa fazenda o mais rápido
possível!
-Voltar de onde? – Rony perguntou
intrigado.
-Irei a Londres, buscar pessoalmente as
provas de sua inocência. Por isso não pude
esperar. Não poderia deixar Alice. Ela ficará, pois
é uma longa viagem, mas ficará minha esposa –
havia uma conversa em seu olhar que apenas
John, Helena e Sandra poderiam entender – não
poderia conceber a possibilidade de outro homem
desposá-la em minha ausência.
Era uma boa desculpa para ocultar outros
fatos.
-John convenceu o juiz a esperar, meu
irmão! Precisava ver como é influente! Ele ouvia
como se fosse uma serpente sendo encantada por
um mago! - ela disse com encanto único de uma
moça apaixonada – E Ford? Nunca vi um homem
parecer tão apaixonado por outro! Se John
quisesse, tenho certeza que ele trocaria de lugar
comigo!
-Não diga tolices, filha! – Sandra criticou
sua malícia.
-Porque esteve vendo o banqueiro? –
Rony perguntou desconfiado.
-Não poderia partir e deixar para trás
uma situação dessas. Não depois de passar as
últimas duas semanas trabalhando e sentindo na
pele o sacrifício que faz para manter essa fazenda.
Não é direito que uma mulher como Alexia
destrua isso, uma mulher, que me culparei pela
vida toda por ter apresentado a você! – baixou os
olhos, envergonhado – Por isso... Eu não lhe dei
um presente de casamento... Então... Bem... – ele
tirou um documento de dentro do casaco, que
estivera a salvo num bolso, esperando o melhor
momento – Paguei a hipoteca em seu nome.
Suas palavras caíram sobre Rony com a
força de uma tonelada. Olhou diretamente para
Helena. Era isso. John a amava a ponto de fazer
uma coisa dessas. E agora, todos saberiam.
Capítulo 83 - As chagas do amor

-Pagou em nome de Ronald? – a voz de


Helena não enganava.
-Sim, pareceu ser a atitude mais acertada
– ele respondeu sem compreender sua fúria.
-E porque não em meu nome se sou a
única herdeira por direito?
-Confesso que não pensei nisso na hora.
Pareceu-me o mais acertado, pois Rony tem
conhecimento nesses tramites legais. – ele engoliu
em seco, envergonhado – Não pretendia causar
um ultraje...
-Não mesmo? Pagou uma dívida que não
lhe dizia respeito! – Rony respondeu
extremamente ultrajado – Me humilhou, John.
-Como? Desde quando querer o bem de
um amigo é causar humilhação?
-Quem me dera ser humilhado dessa
forma – Cosme interrompeu, numa tentativa de
acalmar os ânimos – Entendemos seu gesto, John.
Qualquer um aqui faria o mesmo se tivesse
condições. Com exceção de Percival, claro, que
não tem coração.
Era uma clara provocação, que Percival
ignorou.
-Como efetuou o pagamento, John? –
Percival perguntou, sendo mais prático – Preciso
estar preparado, pois se não encaminhar os
documentos corretamente Ford lhe passará uma
rasteira!
-Sei disso. Tomei o cuidado de transferir
uma quantia significativa de Londres para cá,
quando estive com Rony na cidade. É o suficiente
para comprar a fazenda dos Gueen e quitar a
hipoteca. Acreditem, fiz o que fiz motivado por
apenas um sentimento. O de ver meu melhor
amigo e sua mulher em segurança. Esse dinheiro
para mim não significa nada. Envergonho-me
dizer, mas é primeira vez em minha vida que fiz
uma compra que não tivesse razões fúteis. Agora,
além de amigo, e única companhia que tive em
minha vida toda, é também meu cunhado. Se não
pode aceitar, pense em sua irmã. E no gosto que é
para ela lhe presentear.
-Não vou aceitar. – ele disse decidido.
-Prefere ter sua família na rua? – Artur
perguntou, acima das vozes de todos.
Rony sentiu-se o pior e menor dos
homens fitando seu pai. É claro que não poderia
tirar a fazenda de Helena. Que não poderia ver seu
filho nascer sem um teto.
Humilhado, não pode encarar John.
Era o amor de John que falava mais alto.
Seu amor por Helena. Como poderia um homem
suportar tal fato?
-Tão logo fique provado que a certidão de
casamento de Alexia é falsa, o negócio poderá ser
desfeito – Percival argumentou.
-Não. – John sentiu vontade de sumir –
eu paguei a hipoteca. Isso não tem ligação com a
investigação de bigamia.
-Porque todos estão tão furiosos? – Alice
perguntou incrédula – é o dia mais feliz da minha
vida! John é meu marido! Como prova de seu
amor, ajudou meu irmão! O que há de mais nisso?
O dinheiro não lhe faz falta!
-Como acha que me sinto recebendo algo
tão valioso que não poderei retribuir? - Rony
perguntou com um gosto amargo na boca.
-Mas Rony, você me entregou sua irmã.
Jamais poderei lhe retribuir tal fato. O dinheiro
não é nada.
John era sincero, mesmo assim, Helena
estava incerta sobre aceitar o presente.
Se Rony se negasse a aceitar, teria que
concordar com ele.
Fechou os olhos pensando nesse absurdo
que passara em sua mente! Meu Deus, desde
quando Rony decidia por sua vida? Desde quando
a vontade e orgulho de um marido era mais
importante que sua fazenda?
-Pague a hipoteca para John – Helena
disse, atraindo a atenção sobre si – Para ele não
faz diferença, então, não se importará de receber
parcelado. Muda o credor, mas a dívida é a
mesma, e seu orgulho continua intacto.
-É necessário falar de dinheiro justamente
agora? – havia decepção na expressão de Alice –
Eu me casei... É errado querer que todos fiquem
felizes?
-É claro que não! – Helena sorriu incerta
sobre se aproximar – Parabéns, Alice, sei que
serão muito felizes!
Alice não pareceu ter incertezas, e se
jogou em seus braços, num abraço de amizade e
irmandade.
-Não teve uma festa – Helena disse com
pesar, pois sabia o quanto era importante para a
amiga – Nem a sua cerimônia no religioso!
-Ah, mas isso é o de menos! Fisguei um
milionário! – ela riu, e John teve que sorrir, pois
Alice era uma criança de empolgação e felicidade.
– Quem sabe, quando John voltar de Londres,
possamos nos casar na mesma cerimônia? O que
acham? Um casamento duplo?
Sua empolgação não atingiu nem Helena,
nem Rony.
Refreando uma resposta rude, ela se
afastou, com medo de estragar a alegria de Alice.
-Devem estar famintos! Porque não
voltamos a jantar? – Helena sugeriu, cansada e
ansiosa, para ver todos alimentados e indo
embora!
Tinha muita coisa em sua mente, mas seu
corpo se recusava a assimilar tudo. Cansada, ela
voltou à cozinha e separou mais pratos, achando
que estava com os olhos embaçados pela fumaça
que escapava do fogão.
Achou que colocava um dos pratos sobre
a mesa, e mal ouviu o som de algo caindo e
quebrando.
Seus olhos não viram nada, nem sentiu
dor ao cair no chão.
Então, o mundo desapareceu e tudo ficou
escuro.

-Eu já lhes disse mais de mil vezes! Não


devem criar tensões e agitação em volta de
Helena! Percival deveria ter contado de Alexia em
particular e vocês dois, Alice e John, não
deveriam ter fugido para se casar e deixado esses
homens loucos e nervosos! Pobrezinha, Helena
esteve nervosa o dia todo! Se houvesse caído um
centímetro mais a frente, teria batido a cabeça na
beirada da mesa! Nesse momento, quedas podem
ser fatais para ela e oh, ela está acordando!
A voz de Sandra lhe vinha muito
distante, e ela quis pedir que não parasse de falar
por sua causa.
-Como está se sentindo, minha filha? –
perguntou, abrindo um pouco o seu vestido,
independente dos olhares masculinos, afrouxando
o tecido para que pudesse respirar, quando ela
tocou o corpete do vestido, sentindo-se sufocada
pelo tecido estreito.
-Sinto uma dor horrível... – ela disse um
pouco zonza, tocando sobre o ventre.
-Uma dor? – Sandra empalideceu – É a
primeira vez que sente isso?
-Já senti outras vezes, mas nunca tão
forte... - choramingou sem notar, quando tentou
mover-se e a dor a sufocou.
-Saiam! – Sandra empurrou os filhos –
Ducan ajude a levar Helena para o quarto!
Seu semblante carregado anunciou que
era hora dos filhos se calarem. Ducan a carregou
do sofá ao quarto e a depositou na cama. Sem se
importar com as outras pessoas, ela se dobrou
sobre a cama, achando que morreria, tamanha era
a dor.
-Vá chamar Juanita, e mande alguém
buscar Aporah! Rápido! – ela mandou assustada
ao notar que tinha febre. – Vá Ducan!
Culpado por ter provocado a cunhada, ele
saiu correndo, sem dar ouvidos as perguntas de
Rony, este entrou no quarto enquanto sua mãe
despia Helena.
-Chame sua irmã para me ajudar –
Sandra disse sem dar ouvidos as suas perguntas.
-Helena não está bem? Não é apenas um
enjoo? – havia pavor em sua face.
-Espere lá fora – Sandra exigiu
visivelmente nervosa - Apenas espere lá fora,
Rony!
-Mas mãe, eu quero saber!
-Helena está com febre e deve ter ficado
assim o dia todo sem que notássemos...
-Helena nunca reclama de dor. – ele
contou olhando para a mulher, praticamente
desmaiada na cama.
-Há marcas de sangue em suas pernas.
Com toda a agitação, não deve ter percebido que
sangrava – ela disse séria – Sangramento não é
bom sinal.
-O bebê? – ele empalideceu.
-Helena está perdendo o bebê. Agora,
saia e me deixe cuidar dela – havia doçura em sua
voz para ludibriar o filho e livrar-se dele.
Atordoado, Rony voltou à sala.
-Como ela está? – John perguntou
preocupado.
-Está perdendo meu filho – respondeu,
caindo sobre o sofá, esquecido do ferimento.
-É minha culpa – John disse desolado –
Não deveria ter fugido com Alice. Helena é tão
ligada a Alice, deveria saber que se preocuparia...
- John estava tão pálido que parecia prestes a cair
a qualquer momento.
-Se importa que eu perca meu filho? –
havia um pouco de surpresa em Rony.
-Estarei perdendo meu afilhado, suponho
– John disse sincero – Me fazia feliz a ideia de
uma criança em minha vida... O filho de meu
melhor amigo, seria uma criança muito bem
vinda. – lamentou.
-Sem o filho, Helena estará livre – Rony
testando terreno, talvez querendo que ele se
entregasse.
-Por certo, haverá outros meninos depois
desse – John disse convicto, ignorando a
insinuação– Muitas mulheres perdem os primeiros
filhos, mas isso não quer dizer que não terão
outros. Pense nisso, Rony.
Rony nada respondeu. Tinha a convicção
que John ficaria feliz em não ter a gravidez como
barreira entre ele e Helena, e estava desconcertado
com sua tristeza.
-Não pensemos no pior – aconselhou
Artur, apenado do filho – Sandra entende muito de
gravidez, e Helena é uma mulher forte. Talvez ela
segure a criança.
Sua certeza não foi retribuída por Rony.
Helena era muito frágil, mas não diria isso ao pai.
Os sintomas da gravidez, os enjoos e as tonturas,
a deixaram muito fraca nos últimos tempos, e seu
corpo vinha passando por constantes tensões.

Cerca de uma hora depois, a bela Aporah


chegou, acompanhada de seu marido, carregando
uma cesta de ervas. Ela entrou calada, direito para
o quarto de Helena.
Seu marido trocou poucas palavras,
esperando em um canto com o chapéu nas mãos.
Era um belo índio, e Alice sempre continha
suspiros quando o via. Tinha os cabelos muito
longos, na cintura, lisos e negros como a noite,
assim como seus profundos olhos. Eram olhos
estreitos e puxados, num rosto quadrado e
anguloso, a pele queimada, marrom como a terra
depois do plantio.
Seu corpo era magro, mas era possível
ver os músculos. Era baixo, bem mais que os
homens de sua família, mas sua presença
compensava, e o tornava um homem gigantesco.
-Não tem nada para fazer na cozinha? –
John lhe perguntou ao notar que prestava muita
atenção ao homem.
-Não, mamãe pediu que ficasse aqui e
esperasse ser chamada – respondeu calmamente.
Havia trocado o vestido molhado e sujo
por outro limpo. Cheirava a água limpa, pois se
lavara rapidamente.
Seus irmãos tinham ido embora, pois a
noite caia rapidamente e a chuva não dava trégua.
Apenas Ducan esperava, culpado demais para
negar sua ajuda.
-Prefiro que espere na cozinha – John
insistiu olhando para ela com desconfianças.
Notando a conversa, Rony maneou a
cabeça ao ver John com ciúmes. Observando os
dois, podia ver o que Helena queria dizer com
John estar apaixonado por Alice. Mas paixão não
é amor.
Um poderoso cheiro de ervas tomou
conta da casa, e Rony levantou-se nervoso,
tentando entrar no quarto, sendo escorraçado por
Sandra.
-Eu vou dormir agora – ela disse cansada
– Seu pai e eu, não temos mais idade para uma
noite insone, além disso, amanhã precisarei estar
de pé, para ajudar a cuidar de Helena. Juanita
ficará com elas.
-O que sua empregada está fazendo?
-Aporah conhece muito sobre ervas, seu
povo é muito sábio. Ela disse que pode fazer com
que Helena segure a criança. Para nós, só resta
esperar.
-Mas eu quero ficou ao lado da minha
mulher – ele tentou ver o que se passava dentro do
quarto, mas ela não deixou – Estou preocupado,
quero saber o que está acontecendo!
- Aporah sabe o que faz – ela disse severa
– Se quer sua mulher e seu filho sãos e salvos,
sente-se e espere. Ou melhor, deite e duma, está
pálido e está se recuperando. Ducan pode ficar
acordado e cuidar de tudo.
-Não, eu quero...
-Não discuta comigo – ela mandou –
Arrume um quarto para mim e seu pai, e que seja
longe do quarto onde Alice e John dormirão. Seu
pai é ciumento. Sorte que minha filha já teve sua
primeira noite, ou seria deveras constrangedor! -
ela disse notando sua surpresa – Acha que não
saberia?
-Achei estar fazendo o certo. – ele
explicou - Sinto por não ter evitado...
-Não sinta. Alice fez o que precisava para
segurar John. E graças a Deus, conseguiu um bom
casamento!
-Fala como se o houvesse seduzido! Alice
é só uma menina! – surpreendeu-se.
-Acha mesmo que não o seduziu? Ou
Helena não o seduz o tempo todo? Nós mulheres
fazemos isso, filho. – ela fez um carinho na face
surpresa do filho – Não devem notar, mas estão
sendo seduzidos a cada segundo. – sorriu-lhe. –
Artur, meu amor, está tarde. – ela dirigiu-se a
sala.
De repente, Rony viu mais nos gestos da
mãe do que maternidade. Viu o modo doce como
ela olhava para o marido, e o toque em seu ombro
ser mais que delicadeza feminina. Sua mãe era um
exemplar perfeito de feminilidade.
Esperta, doce e sedutora.
Todas as mulheres são assim, supôs. Eles
apenas eram cegos demais para notar o quanto se
deixavam encantar por seus gestos e sorrisos.
-Sua mãe tem razão – John se manifestou
- Ficarei acordado e...
-John! – Alice chamou assombrada –
Ducan é perfeitamente capaz de cuidar de tudo!
Afinal, passou todo o dia destratando Helena!
-Sei disso – Ducan disse entre dentes, de
cabeça baixa.
-Preciso de ajuda com as escadas – Rony
lamentou, mas estava dolorido e sentia vertigem.
-Não poderia dormir no quarto ao lado de
Helena? – Alice perguntou com tato – O segundo
andar não é tão grande para tantas pessoas...
Estava apavorada com a ideia de fazer
amor num quarto ao lado do quarto dos pais e do
irmão. Tinha seus pudores afinal!
Cansado de conversar, ele seguiu para o
quarto, caindo na cama com um gemido de dor e
descontentamento.
No quarto ao lado sua mulher perdia seu
filho.
E essa dor era maior que qualquer dor
física.

Helena não sabia o que estava


acontecendo. Estava num estado semi consciente e
chegou a se desesperar ao ver um rosto estranho
diante de si. Sentiu alguém segurar sua mão com
carinho e sussurrar para que não se preocupasse.
Era a voz de Juanita, e ela relaxou por alguns
instantes.
Tempo suficiente para lembrar-se do
rosto desconhecido e notar um cheiro
extremamente doce no quarto.
Estava deitada na cama, vestindo a
camisola fina, os cabelos espalhados no
travesseiro. Sentia um peso sobre o ventre, e
olhando para baixo reconheceu algumas pedras
sobre sua barriga.
Em seus braços tinha uma substância
estranha, a causa do cheiro doce, como um
unguento passado sobre a pele. Nas pernas, a
mesma coisa, por isso a camisola estava sungada
até os meios de suas coxas.
-Juanita... – sussurrou a voz presa.
-Tudo bem, Helena. Essa mulher é
Aporah. Ela sabe como cuidar de alguém doente.
Deu-lhe alguns chás que fizeram o sangramento
parar, e agora está fazendo um ritual, que acredita
poder trazer suas forças de volta – ela olhou para
índia, concentrada em seus mantras.
-Porque estou doente? – Helena engoliu
com dificuldade.
Juanita apertou sua mão com mais força,
incerta sobre contar. Era a melhor hora, precisava
saber.
Olhou para Aporah que parou o que fazia
para olhar para Juanita.
-A alma não está pronta para a verdade –
a índia disse com voz forte e suave, como uma
pena ao vento – E as forças não voltarão se tiver
medo.
Juanita olhou para Helena em dúvida.
-Do que ela está falando? – ela
perguntou, sentindo uma ardência no corpo, como
se estivesse em chamas.
-São enigmas de índio, não tente entender
sua cultura, vamos respeitar. Aporah salvou sua
vida.
-Eu devo ter alguma doença, ou não teria
perecido... – insistiu.
-Existem doenças que não se conhece,
Helena – Juanita acalmou-a – Não se preocupe,
está quase curada.
-Eu... Sinto tanto sono... - lutou para
manter-se acordada – Rony...
-Está no quarto ao lado, dormindo. Ele
também precisa se curar – explicou para deixá-la
mais tranquila. – Descanse. Quando voltar a
acordar, estará curada.
-Eu quero vê-lo... – ela disse começando
a delirar.
Juanita assistiu Aporah passar as mãos
por seu rosto, sentindo a febre e molhando um
pano em uma confusão de ervas, que esfregou em
sua pele febril.
-... Quero vê-lo...
Seguiu delirando por vários minutos, até
se acalmar. Aporah disse-lhe algo, e Juanita
assentiu, antes de sair do quarto.
Na segunda batida, Rony abriu a porta,
insone e preocupado.
-Não deve falar, ou perguntar nada.
Apenas fique ao seu lado, para que Helena se
aquiete – disse apressada.
-Ela está bem? E o bebê? – seu nervoso o
fez tão vermelho que parecia prestes a explodir.
-Está segurando a criança. Mas está com
febre e agitada. Ficará feliz em saber que chama
por você. – sabia que isso o faria muito feliz.
-A única que coisa que me fará feliz é
que fique boa – ele contrariou, seguindo Juanita.
Ao entrar no quarto quis fazer mil
perguntas, mas se calou.
Sentou ao seu lado na cama, e segurou
sua mão.
-Estou aqui, Helena. Não tenha medo de
nada, estou aqui para te proteger. A você e ao
nosso filho.
Quase imediatamente foi recriminado por
Aporah, e não falou mais sobre a criança.
Por uma longa noite, zelou pelo sono
agitado, e observou calado aquela mulher tão
diferente e tão sábia cuidar das duas pessoas mais
importantes de sua vida. Sua mulher e seu filho.
Capítulo 84 - O sol brilha

-Estou decidida – ela disse com voz firme


– nunca mais ficarei doente.
Juanita tentou não sorrir, e ela continuou.
-Não vou mais ser surrada, ou ficar tão
magra que meus ossos apareçam. Não vou mais
deixar meu marido levar um tiro, ou que minha
cunhada ou quem quer que seja grite dentro da
minha casa, e me recuso a ter enjoos ou
desmaios. Está decidido!
Ela deixou a colher dentro do prato de
mingau e olhou sorrindo para Juanita.
-Que bom. Fico feliz que tenha decidido
isso! – ela respondeu no mesmo tom de
brincadeira.
Helena sorriu novamente, comendo mais
um pouco.
-Porque Aporah foi embora sem falar
comigo? – ela perguntou, sentida.
-Aporah disse que levou sua doença, e se
ficasse e tivesse contato com você, poderia
devolvê-la. É coisa de índio, não tente entender.
-Gostaria de lhe agradecer – disse
pesarosa.
-Não se preocupe, seu marido agradeceu.
Deu a Aporah e a seu marido um bezerro. – sorriu
– Não poderão levar quando seguirem viagem,
mas para eles, o que importa é o sentido do gesto.
-E onde está Rony? – perguntou
magoada.
-Seu marido esteve na cabeceira de sua
cama por três dias. Não acha que tem direto há
sair um pouco?
-Não foi isso que quis dizer! – defendeu-
se – Não sou mesquinha a ponto de esperar que
ele ficasse ao meu lado!
-Mesmo assim, Rony ficou. – ela
garantiu, notando que gostava do que ouvia – Ele
saiu cedo, para levar John à cidade. Alice ficou,
está arrasada.
-Não me diga que mais alguma coisa
ruim aconteceu! – Helena desistiu de comer,
perdendo o apetite.
-Não é isso. Continue comendo, ou não
vai sair dessa cama hoje, como lhe prometi –
Juanita reclamou - John embarca hoje para
Londres, é só isso.
-Hoje? Mas ele não se despediu de mim!
– ficou surpresa.
-Seu marido acha que ele pagou a
hipoteca por amor a você. Tudo que John deseja é
manter distância e não complicar as coisas ainda
mais. E se quer saber, concordo com ele.
-Não me engano Juanita, ele pagou a
hipoteca a pedido de Rony. De que outro modo
poderia ficar com a fazenda sem permanecer
casado?
-Do que está falando? – Juanita não
entendeu.
-Para mim está tudo muito claro! Rony
achou que nunca seria descoberto; que seu
casamento com Alexia nunca viria à tona! Agora,
na eminência de ser preso, ele resolveu o
problema do modo mais simples. Com a hipoteca
paga, quem terá interesse nessa história? É por
isso que não posso mais adoecer. Preciso estar de
pé e forte, para me reerguer quando...
Suas palavras foram paradas por Juanita
que fez um gesto de silêncio.
-Não fale em coisas negativas, Helena. Se
quiser mesmo se recuperar, coma e se fortaleça. O
futuro há Deus pertence. Lembre-se sempre disso!
Helena terminou o mingau e suspirou.
Juanita tinha razão.
-Será que posso levantar e andar um
pouco? – perguntou ansiosa por um sim.
-Aporah disse que saberia a hora de
levantar.
Sorrindo, ela deixou o prato de lado e
saiu da cama. Não foi tão ruim, não sentia mais
dor, ou enjoo, ou tontura. Saudável era uma boa
palavra para descrevê-la!
-Alice está na cozinha? – perguntou.
-Está na sala, da última vez que a vi, aos
prantos – havia uma pontinha de prazer em sua
voz.
Helena sentia pela ex-amiga, e aproveitou
para andar um pouco. Ficar de cama era novidade
na sua visa, e estava se repetindo muito.
-John já partiu - Alice disse assim que a
viu.
-E essa é a única razão para que eu saia
da cama depois de três dias convalescendo? –
ironizou.
-Quis dizer que meu irmão também saiu.
– mudou o sentido da própria frase em beneficio
próprio.
-Porque está emburrada? - perguntou,
sentando-se ao seu lado no sofá.
-John partiu sem mim – respondeu como
se fosse óbvio – Três dias de casados e ele partiu
sem mim!
-E o que você esperava? Pelo que entendi
John não partiu em visita a Londres!
-O que quer dizer? – Alice olhou para ela
como quem olha para algo muito especial por
onde virá a resposta que livrará sua alma da
agonia e da dor do abandono.
-Será uma longa e penosa viagem de
trem, e então de navio até Londres, e quando
chegar, John não vai participar de festas e
reuniões como imagina, então, não teria nada para
você fazer além de sentar e esperá-lo. É mais
prático que vá sozinho e traga os documentos que
seu irmão precisa. Em outro momento, quando
estiver acostumada a vida de casada, irão para
Londres. Acaso não foi isso que John lhe
prometeu?
-Tenho certeza que se estivesse casado
com você teria levado-a! – disse indignada.
-É claro que sim! Não sou do tipo de
mulher que ficaria choramingando e reclamando
pelos cantos por um pouco de solidão. Alice, você
precisa amadurecer!
-Como posso amadurecer se todos me
tratam como uma criança? – questionou.
-A tratamos do exato modo que se
comporta - revelou.
-Tenho quase certeza que estou grávida...
E se John demorar muito a voltar?
-Em um mês ele estará de volta –
garantiu.
-E se ele não voltar? – insistiu.
-John quis se casar antes de partir. Quis
protegê-la em sua ausência. Acha que ele fugiria
de suas responsabilidades?
-Não – concordou.
-Então, pare com essas tolices e me ajude
a dar um passeio! – sorriu animada.
-Um passeio? – Alice torceu o nariz, nada
disposta a dar passeios.
-Quero pegar um pouco de ar puro agora
que não me sinto doente. Vamos até o lago!
-Não estou disposta para nadar! – Alice
disse implicante.
-Então, levemos o material para bordar,
ou não gostaria de fazer o enxoval para seu
bebezinho?
Alice mordeu a língua para não dizer que
antes de ter seu bebê, teria um sobrinho para
vestir. Concordando, ela chamou Duran para
acompanhá-las.
Enquanto Alice bordava, Helena entrou
no lago. Duran se mantinha sentado a distância,
cuidando da patroa.
Rony olhou para o menino e piscou. Ele
se levantou e tratou de esperar perto das árvores.
Sorrateiro, ele se aproximou do lago, olhando para
a irmã, que ao vê-lo levantou-se e juntou os
apetrechos que usava, colocou na cesta e correu
até Duran, ambos indo embora rapidamente para
não atrapalharem.
Na beira do lago, o vestido de Helena
descansava, assim como seus sapatos e seu xale.
Observando-a nadar nas águas calmas,
ele tirou a roupa rapidamente e entrou o mais
cuidadoso possível para não se fazer notar. Iria dar
um susto em Helena, um que a deixaria trêmula e
talvez a fizesse gritar.
Sorrindo antecipadamente, ele agarrou-a
por trás, esperando que se debatesse.
-Quanta demora pra nada – ela disse com
voz suave, quase risonha.
-Não está assustada? – surpreendeu-se.
-Por quê? Faz mais barulho que um touro
furioso no campo! - ela se afastou, nadando para
longe com o olhar cheio de humor. – Eu o vi no
instante que pôs os pés na grama!
-Impossível! Não fiz barulho algum!
-Fez sim! Qualquer um poderia ouvi-lo a
quilômetros daqui!
Seu riso, mesmo que tirando sarro dele,
era delicioso de ouvir.
-Se me ouviu, e viu, e não me mandou
embora, devo deduzir que desejava minha
presença? – nadou em sua direção, estreitando-a
contra o peito, enlaçando-a pela cintura.
-Não desejo mais brigas – confessou.
Seu sorriso morreu.
-Não aguento mais brigas...
-Vai me deixar te beijar, porque não quer
mais brigar? – perguntou, sentindo a euforia ir
embora.
Helena pensou em dizer que não, que
havia decidido a muito tempo, antes mesmo de ser
baleado, que o convidaria a fazer parte de sua
vida, mas lembrou que ele poderia ser mesmo
casado e tê-la enganado todo esse tempo!
Lembrou-se também de seu plano, muito bem
executado, de ter a fazenda em seu nome, usando
John para isso. Por isso se calou.
-Não posso deixá-lo me beijar, porque
não sei com quem é casado, se comigo ou com
aquela outra. – afastou-se gentilmente.
Apesar de ter escapado de seus braços,
manteve as mãos nas dele, e Rony entrelaçou os
dedos nos dela, deixando que fosse.
-Alexia continua na casa dos meus pais –
ele contou pesaroso – Não quis falar com ela, não
temos nada para discutir. A essa altura, mesmo
que tirasse a queixa, ainda assim, serei
investigado.
-Porque ela não foi embora? – Helena
tentou soltar as mãos, para fugir dele, indignada,
mas ele não deixou.
-É melhor deixá-la debaixo dos nossos
olhos. Meu pai colocou dois empregados para
vigiá-la vinte e quatro horas por dia.
-E isso basta? - ela questionou – Pelo que
sei, ela seduz qualquer homem a sua volta! –
havia algo de recalque em sua voz.
-No que me diz respeito, não causa efeito
algum. Helena, eu reaprendi a fazer amor quando
a conheci, e não sinto saudades das antigas
experiências – confessou.
-Não é muito justo comigo, pois não tive
experiências para comparar – não era uma
provocação propriamente.
-Gostaria de ter tidos outros homens? – a
frase soou estranha em seus lábios. O ciúme quase
tirou sua voz.
-Talvez. Poderia ter uma opinião mais
verdadeira sobre esse assunto se houvesse um
comparativo. – foi sincera.
Ele não teceu comentários, e Helena
notou que lutava para não dizer exatamente o que
pensava.
-Não deveria estar nadando – ele disse
trocando rapidamente o assunto.
Tudo que Helena não precisava agora era
de uma explosão de ciúmes!
-Nem você – ela tocou sobre a ferida em
sua barriga. Ele não usava mais o curativo tinha
dois dias. A ferida, não era nada mais que um
pequeno buraco cicatrizando. A pele ainda um
pouco roxa em volta, e a marca dos pontos, três
pontos que o Dr.Nut dera para que curasse mais
rápido.
-Somos dois inconsequentes? – ele
brincou, esperando seu sorriso.
-Talvez – ela disse pensativa – O que
acontece agora?
Havia em seus olhos castanhos uma
indagação muito profunda que ele não entendeu.
-Exatamente sobre o que está
perguntado?
Helena se afastou, nadando para longe, e
então, saindo do lago. Sua camisa íntima estava
encharcada, grudando em seu corpo.
Rapidamente, ela vestiu o vestido e deixou os
sapatos de lado, para esperar o corpo secar um
pouco antes de calçá-los. Sentou-se na margem,
sobre a grama quente e suspirou ruidosamente. Os
cabelos estavam molhados e ela jogou-os para
trás, para não cair na face. Rony fez o mesmo, e
sentou-se ao seu lado sob o sol forte, depois de
vestir a calça.
-Quando John voltar – disse séria – Ele
vai voltar não é?
-Sim, ele vai voltar – respondeu num tom
baixo, embora quisesse gritar e sacudi-la até
arrancar dela a razão para tanto interesse na
viagem de John!
-Preciso saber... Com sinceridade, o que
vai acontecer quando ele voltar.
-E você não sabe? – agora, não
compreendia mais nada!
-Não! – sua voz era resoluta, olhando
para as águas claras do lago – Tive tempo para
pensar enquanto estava de cama. Acho muita
loucura achar que Alexia tenha atravessado o país
com um documento falso. Que tenha se motivado
a isso. O mais plausível, é acreditar que fui
enganada.
-Enganada? Nunca fui tão sincero com
uma mulher quanto sou com você! – exasperou-se
– inicialmente meu interesse foi pela fazenda,
deixei claro! Não menti! Mas precisou apenas vê-
la poucas vezes para meu interesse mudar! Será
que um homem não tem direito a mudar de ideia?
A se apaixonar?
-Tem, tem todo direito! – ela respondeu
no mesmo tom – Mas sabemos que não é do tipo
que muda de ideia! Estava tudo planejado, e
agora, eu vejo com clareza! Não podia continuar
em Londres, pois não queria levar adiante um
casamento com uma cortesã! Vir para sua cidade
natal não foi um desejo de infância, foi
providencial! Por isso tanta pressa em investir e
fincar raízes! Minha desgraça lhe caiu do céu!
Pode disfarçar seus erros casando-se com uma
órfã, que ninguém poderia proteger ou pedir
informações! Uma mulher que estaria em suas
mãos! Tanta insistência na presença de John, não
era nada além de necessidade! Se casando com
Alice, ficaria mais fácil explicar o porquê dele
pagar a hipoteca em seu nome! Tudo planejado!
-Não sabe o que está dizendo!
-Está enganado! Desde que o conheci
soube que havia algo muito errado! – levantou-se,
calçou os sapatos, mas não pode evitar olhar para
ele.
Contra o sol da manhã, os olhos azuis
brilhavam tão azuis quanto o céu sobre sua
cabeça. Olhos que a distraiam e a faziam fraca.
-Soube quando mudou seu jeito de agir,
que estava me enganando! Quando veio a minha
casa com seu pai, estava incrédulo da
possibilidade ultrajante de me desposar! E então,
de repente, está loucamente apaixonado? Por
favor, não sou tão boba assim!
-Helena... – ele não acreditava no que
estava ouvindo.
-Sabia que havia algo errado! Só não
conseguia juntar as peças desse seu quebra
cabeças! Mas agora, tudo está claro como o dia!
Pode estar feliz com a vida que tem hoje, mas
nada pode apagar o que fez no passado!
Cessou as palavras, sem ar pelo
desabafo. Não gritara ou brigara. Apenas colocara
para fora exatamente o que estava pensando.
-Vai se arrepender dessas palavras
quando John voltar e provar que digo a verdade. –
ele também levantou, uma mão sobre a ferida do
tiro, pois ainda havia uma pequena dor quando se
mexia bruscamente – A única resposta que vejo
para atitude de John é o fato de ser apaixonado por
você.
-Pense o que quiser – ela respondeu,
afastando o olhar e cruzando os braços sobre o
peito.
Rony olhou para ela e para baixo,
notando que o vestido estava cada vez mais
apertado na cintura. Se não estivesse procurando,
talvez não notasse, mas havia um pequeno
inchaço em sua barriga. Coisa mínima que
poderia até ser sua imaginação.
Helena carregava seu filho. Graças à
natureza que era sabia a fazia mais calma,
provavelmente seu instinto de fêmea a protegendo
e protegendo a cria, mesmo que não soubesse
ainda. Ela se resguardava de uma briga, para não
se ferir.
-Me acusa de tê-la enganado, e eu te
acuso de ter despertado amor no meu melhor
amigo. Nenhum de nós vai saber se está certa até
John voltar – disse calçando as botas e encarando
sua mulher.
Ela afastou os olhos e se retraiu. Pensava,
mas não dizia. Como no inicio, quando se
conheceram, e fugia o tempo todo, escondendo
dele seus pensamentos.
-Sou com você, exatamente do jeito que
vê. Dizem que palavras mentem, mas gestos não.
Olhe nos meus olhos e diga o que vê. – ele tocou
sobre um de seus braços que estavam cruzados, e
Helena maneou a cabeça.
-Enquanto John não voltar, não quero que
se aproxime. – afastou-se – Não confio em você.
Com essas palavras, ela foi embora.
Simplesmente virou as costas para ele e para tudo
que dividiram juntos, e foi embora.
Ele contou até dez para não segui-la e
arrastá-la de volta para o lago, fazer-lhe amor e
provar que era seu marido, e nada, muito menos
um documento falso, poderia apagar isso. Mas se
conteve.
Não queria Helena à força. Não depois de
ter provado seu carinho espontâneo e sua doçura.
Helena entrou em casa e trocou de roupa.
Ouviu a conversa e as lamúrias de Alice sobre
estar sozinha, e contou o tempo mentalmente.
Fazia mais de duas horas que o deixara na beira
do lago, tanto tempo que seu vestido havia secado
no varal, e seus cabelos também.
Agora, apesar dos pesares, e de tudo que
disse, estava conversando com um dos meninos de
Juanita sobre ir até lá e ver se o patrão precisava
de alguma coisa.
Rony ainda convalescia de um tiro, e
muito tempo no sol poderia ter causado um
desmaio ou algo assim.
Desistiu de fazer isso quando o avistou,
vindo de outra direção, com o semblante
preocupado.
-Entre em casa, Helena.
-Por quê? – estranhou.
-Meu pai está trazendo uma pessoa que
quer nos ver – ele disse nervoso.
-Quem?
-Nem ele sabe. Mandou um empregado
dar o aviso. Entre em casa e prepare algo para nós.
Seja lá o que for dessa vez, quero me livrar logo!
Essas visitas estão começando a me irritar. Sinto
saudade do tempo que éramos apenas nós dois
nessa fazenda! - ele reclamou, não propriamente
com ela, mas reclamou.
Helena entrou e ajudou Juanita a preparar
um lanche e algo para beber, então trocou
novamente de roupa, por algo mais apresentável,
notando que Rony fizera o mesmo. Cerca de uma
hora depois, ele entrou na casa acompanhado.
Artur não viera, mas mandara seus
homens de confiança escoltando o desconhecido.
Havia vários deles na rua esperando.
Alguns eram empregados Parkers, outros do
homem que os visitava.
Uma carruagem ainda maior e mais
luxuosa que a de John estava sob o sol, perto da
porteira. Um empetecado cocheiro olhava para
tudo a sua volta com indiscutível nojo e
estranheza.
Vestia luvas brancas, fraque cheio de
babados na gola e uma peruca. E olhe que era
apenas um empregado!
Rony o recebeu, e seu semblante fechou
ao reconhecer o nome.
Helena manteve-se a distância, na sala,
observando-o silenciosamente. Era um homem
muito alto, quase da mesma altura que Rony,
tinha cabelos escuros, encaracolados e olhos muito
castanhos. Os traços eram fortes, mas havia uma
sutileza na face que o tornava simpático. Deveria
ter por volta de cinquenta anos, mas seu porte
físico não ficava para trás em nenhum garoto
jovem.
Tinha um porte elegante e austero, as
roupas impecáveis. Vestia um fraque de corte
perfeito, as lapelas endurecidas por goma, uma
camisa de seda, os sapatos de couro brilhante e a
bengala em uma das mãos, se ousasse dizer, era
feita em ouro puro e madeira nobre. Sua cartola
ficara na carruagem, assim como outros luxos
desnecessários.
Para olhos atentos como os de Helena,
poderia ver pequenos gestos de rebeldia, como os
dois primeiros botões abertos da camisa
impecável, e um singelo relógio de bolso,
aparecendo em seu colete. Bem mais simples do
que era de esperar em um homem de tanto poder e
fortuna.
-Ronald Parker - ele disse com voz
cortante e por um segundo, Rony jurou que
conhecia esse homem, esse modo de olhar.
Já ouvira seu nome em Londres, dezenas
de vezes, mas nunca o vira pessoalmente.
-Sim – ele se pôs em alerta – Sou Ronald
Parker, mas não sei por que me procura.
-Me chamo Conde de Valença. – ele
disse com a arrogância que era esperada ao falar
em tal título – Edgar Françoar de Valença.
-Conheço seu título, morei em Londres
até pouco tempo atrás. Não imagino, no entanto, o
que o traz a minha casa.
Rony confessava, andava ressabiado com
pessoas estranhas!
Edgar olhou para ele por um longo
momento e então, seus olhos alcançaram a
silenciosa imagem de Helena.
Ela sentiu aqueles olhos fixos nela.
Medindo, analisando, como se estivesse surpreso
e curioso. Algo da rudeza de sua expressão
suavizou ao dizer enfim:
-Vim por causa da tragédia que se abateu
sobre essas terras. Pelas mortes.
Rony olhou para Helena, sabendo que ela
preferiria saber do que se tratava antes de se
envolver.
-Porque teria interesse nas mortes? –
perguntou, indicando o sofá para que se sentasse.
-Confesso, fiquei sabendo das mortes há
dois dias quando cheguei à cidade. Vim por causa
dessa carta – ele entregou a Rony – Madeleine me
escreveu para que viesse.
-Madeleine? – ele olhou para Helena que
se aproximou ficando de pé ao seu lado. Como era
de praxe, as mulheres não deveriam intervir em
uma conversa formal. – A antiga proprietária
dessa fazenda se chamava Madeleine.
-Sim, ela e seu marido Antenor. Eu os
conheci; isso foi há muitos anos. Vim por causa
da menina. Infelizmente, sei que cheguei tarde
demais. – ele baixou os olhos envergonhado, e
com algo de dor em seus olhos que era
inconfundível – Nos últimos dois dias tenho me
perguntado se devera ir embora ou ficar. Sei que o
desejo de Madeleine seria que ficasse e salvasse o
que ela mais amava: a alma de sua filha. Vou
reconhecê-la, mesmo que morta, a levarei para ser
enterrada junto aos meus familiares, onde é seu
direito e vontade de Madeleine.
-Sua filha? – ele estranhou.
-Leia – ele indicou a carta – Madeleine
me escreveu há três anos, por uma desgraça essa
carta se perdeu, pois estava viajando. Encontrei
faz poucas semanas e me dirigi para cá. Soube na
cidade que cheguei tarde demais.
Rony leu a carta atentamente, e quando
terminou, olhou para ele.
-Explique o que isso quer dizer – pediu
incerto. Sem devolver a carta, ele segurou-a,
achando melhor guardar isso consigo.
Se estava entendendo do jeito certo, isso
não ia ser nada bom!
-Conheci Madeleine há dezoito anos,
quando vim para essa cidade a trabalho. – notando
a expressão de Rony, ele sorriu – Por muitos anos,
na juventude, desafiei meu pai e meu título, e
segui um circo. Sim, fui palhaço! O melhor que a
Europa já viu! – havia orgulho em sua voz, e
suavidade em seu olhar, lembrando de um tempo
feliz – Madeleine levou os meninos, seus filhos,
para verem o circo, e foi assim que nos
conhecemos. Fiquei mais de seis meses nessa
cidade por causa dela. Havia tanta tristeza em sua
face, tanta dor que... Houve apenas uma noite, e
quando ela engravidou, decidi que fugiríamos. No
dia combinado, ela desistiu. Contou ao marido,
que aceitou a traição e o filho dessa traição.
Apesar das dificuldades, ela amava aquele
bastardo. Dei a ela o endereço de meu pai, onde
me encontrar se mudasse de ideia, ou precisasse
de algo. Larguei o circo e voltei para casa.
Confesso, esperei todos esses anos por essa carta.
– ele suspirou diante dessa lembrança triste –
Nessa carta, ela conta de seu medo e sua aflição,
pois Antenor mostrou a ela que nunca a perdoou.
Com a morte do último de seus filhos vivos, ele se
vingou da menina, colocando-a no trabalho
pesado, ignorando ajuda de amigos e conselhos.
Madeleine tinha medo pela menina, pois ao
mesmo tempo em que Antenor a amava como
filha, um amor quase maior que sentia pelos
outros filhos que teve também a odiava, por
lembrar a mim e a traição.
-Teve uma filha com Madeleine? – Rony
ainda não acreditava no que ouvia. – Quem
garante que era mesmo sua?
-Não leu a carta? Madeleine não mentiria
para mim. Você não a conheceu. Madeleine tinha
algo no olhar, que não deixava dúvidas sobre sua
honestidade.
Embora não a houvesse conhecido, Rony
reconhecia esses traços em Helena.
Ela estava de pé, pálida, e olhava para
longe.
-Sente-se ao meu lado - ele disse a ela,
que não desobedeceu – Essa é minha esposa – ele
contou, achando que o homem levaria um bom
susto quando falasse o inevitável – Madeleine teve
duas filhas mulheres, uma delas, morreu na
tragédia. Seu nome era Anne e tinha quatorze
anos.
-Não. O nome da menina era... - ele
parou olhando para Rony com algo desesperado
no olhar – Meu Deus, eu cheguei tarde! –
desespero o fez levantar – Se estivesse aqui,
poderia tê-la ajudado!
-Acalme-se Conde – ele disse, mas o
homem parecia descompensado.
-O que deve ter acontecido com ela?
Sozinha, sem família...
-Na carta não diz o nome dessa moça? –
ele lembrou e o Conde sorriu, achando que o
desespero poderia enlouquecer um homem são.
Impotente sobre o que fazer. Como encontrar a
própria filha!
-Só haveria um nome possível. Eu pedi a
Madeleine, que se fosse uma menina, tivesse o
nome da minha mãe. Ela morreu no parto e nunca
a conheci.
-E que nome seria esse?
Rony deduzira o óbvio, e pela palidez de
Helena ela também.
-Helena.
O nome pesou na sala, e em meio aquele
silêncio todo, ela se levantou e saiu daquela sala.
Da sala, eles ouviram o som da porta dos
fundos abrindo, e a voz de Juanita gritando:
-Helena, o almoço não vai demorar, não
vá longe!
Aquele homem olhou para ele com
surpresa e incredulidade, e Rony disse
simplesmente:
-Sente-se – quando ele o fez, continuou –
Minha esposa chama-se Helena, e é filha de
Madeleine e Antenor. Os antigos proprietários
dessa fazenda. Estamos casados a pouco mais
quatro meses.
-Helena... – ele sorriu, levantando-se de
um salto – Minha filha... Aquela jovem é minha
filha?
-Sim, se isso tudo for verdade ela é sua
filha.
Rony assistiu a felicidade em sua
essência nascer na face daquele homem. Um
brilho único de alegria e saudade.
-Ela é linda. É... Linda – havia algo de
incrível em suas palavras.
-Sim, mas é uma jovem intensa. – contou
– Não tem passado por bons momentos desde a
morte da família. Vou lhe contar tudo que
aconteceu, para que saiba onde está se metendo.
-Helena... Ela é uma jovem boa? – havia
dúvidas em sua voz.
-Integra, honesta e sincera. Não vai achar
outra mulher igual. Mas a vida a tem machucado
muito. Foi ela quem matou o assassino dos pais.
Permaneceu mais de um mês vivendo nessa casa
sozinha, cuidando de tudo. Passou os anos
anteriores, sendo um peã dessa casa. – inclinou-se
para frente – quero saber exatamente o que você
quer com Helena.
-Eu quero reconhecê-la como minha filha
– ele disse sério, convicto e deixando clara sua
posição – E levá-la comigo para Londres, onde é
seu lugar.
Capítulo 85 - Fel

Helena não foi longe. Duran a seguia de


perto, então, nem adiantava ir longe. Ela sentia o
peso do que ouvira, e estava confusa. Quando o
menino perguntou timidamente porque estava
chorando, ela resmungou que acabara de descobrir
que tinha outro pai.
Por vários minutos, ficou sentada
embaixo de uma árvore, atrás do celeiro, tentando
ordenar os pensamentos, até que Duran, de pé
perto dela, olhou para o céu, e falou com a
inocência de uma criança:
-Seria um dia feliz se pudesse conhecer
meu verdadeiro pai.
A simplicidade de uma criança não
poderia ser ignorada.
Deveria ser um dia feliz, saber que não
estava sozinha no mundo quando achara que não
tinha mais ninguém. Porém isso significava que o
homem que tanto amou não era seu pai. Que a
lembrança de sua mãe era falsa, pois sempre lhe
ocultou a verdade.
Mentiras. Toda a sua vida era feita de
mentiras!
Ela fungou e escondeu as lágrimas
quando Duran olhou além dela e saiu rapidinho de
perto.
-Leia isso.
Rony ficou muito perto, e entregou-lhe a
carta.
Ela não queria ler.
-Precisa confirmar se é a letra de sua mãe
– ele insistiu.
Helena manteve o papel dobrado na mão,
mas não se manifestou.
-Mande-o embora – ela pediu limpando a
face das lágrimas.
-É o que deseja? – sentou ao seu lado,
embaixo da árvore.
-Sim – devolveu a carta, mas ele não
aceitou.
-Esse homem pode ir embora, mas a
dúvida ficará dentro de você Helena. Leia.
Incerta, olhou apenas para ele, ignorando
ainda o papel.
-Minha mãe não era de falar muito. -
contou, como se apenas pensar não fosse o
bastante. Queria achar a lógica disso tudo –
Quando era pequena, ela pouco falava. Às vezes
contava da infância enquanto me ensinava a
cozinhar. Mas quando estávamos em família, ela
falava muito pouco. Eu nem a conheci direito,
nem sei se tinha algo para conhecer. Aceitei o fato
dessa vida difícil e suas escolhas terem-na feito
entristecer e murchar aos poucos, até não sobrar
nada. Mas meu pai... – sua voz subiu um tom –
ele nunca perdeu a vivacidade! Sempre havia um
brilho de curiosidade e sagacidade em seus olhos,
como se o mundo fosse pequeno para seus
desejos! Mesmo quando estava preso naquela
cama, inválido, sempre havia tanto entusiasmo
pela vida em sua voz! Ele sempre me tratou como
a favorita. Nem mesmo Anne o fazia sorrir tão
bonito! Não pode ser mentira Rony! O que via em
seus olhos não pode ser mentira!
-Esses dias meu pai me disse que o amor
e o ódio andam juntos – ele explicou, tirando a
carta de suas mãos para não pressioná-la – Ele a
amava. Mas sempre temos algo mau dentro de
nós, e esse outro lado o fez agir errado. Eu lhe
disse o que pensava sobre as escolhas dele.
Mesmo os bons homens podem ter atitudes
erradas Helena.
-Mas esse homem... O que ele quer
afinal? – um que de indignação a fez levantar do
chão e andar em volta de si mesma – O que ele
quer de mim a essa altura da vida?!
-Quer conhecê-la. Afinal, é seu pai.
Nunca a procurou em respeito a sua mãe e a
felicidade dela. Agora, tudo é diferente. Sobretudo
para você, que não tem mais família de sangue –
ele se aproximou e afastou seus cabelos do rosto,
notando a forma atenta como o ouvia, alisou seus
cabelos e então sua face – Sou sua família, e
estamos construindo um lar. Mas esse homem tem
seu sangue, além disso – ele ergueu novamente a
carta – Era a vontade de sua mãe. Disse que ela
falava pouco, então, esse deve ser seu último
desejo em vida. Leia.
Com as mãos trêmulas, ela apanhou o
papel.
-Quero ficar só – pediu.
-Ficarei logo ali – ele indicou o celeiro,
onde havia um pequeno banquinho. – Chame se
precisar.
-Não vou precisar - ela disse se
afastando.
Ele não insistiu. Era um momento seu.
Uma dor sua, melhor não forçar.
Helena desdobrou o papel. Estava velho e
manchado, com o que poderia ser resto de café.
Imediatamente reconheceu a letra arredondada e
bonita de sua mãe.
“Querido Conde,
Faz muitos anos que tive que esquecê-lo.
Jurei a mim mesma que jamais
lembraria novamente dos meus pecados.
Desejei esquecer o quanto fui feliz em
tão poucos momentos. Mas, por mais que me
negasse lembrar, essa sensação sempre me
acompanhou.
Tivemos uma filha, Conde.
Como sempre foi seu desejo, teve uma
filha. Chamei a menina de Helena. Então veja,
não esqueci seu pedido.
Esqueci seus beijos e seu amor, mas não
esqueci seu pedido.
A vida tem sido difícil. Cruel até. Dos
filhos que tive, sobrou-me apenas Helena a quem
me apoiar. Ela tem quatorze anos agora, é uma
bela menina.
Têm seus olhos, seus cabelos, sua pele,
seu modo de agir. Fala como você. Anda como
você. Quando me olha, às vezes, tenho vontade
de me esconder, pois o vejo diante mim, como se
me cobrasse à escolha errada que fiz.
Errei, amado Conde.
Errei, meu palhaço.
Fiquei por meus filhos e estão todos
mortos. Meu marido não pode cuidar da fazenda,
faz anos já.
Noto agora, que nunca me perdoou. Ele
faz de nossa filha uma empregada. Não importa
o quanto implore pela sua saúde de menina, por
sua honra, ele não me escuta. Sente prazer em
vê-la cuidar de tudo sozinha. Sente prazer em me
ver implorar.
Por isso escrevo, e só por isso, na
esperança que leia essa carta.
Tenho medo que meu marido destrua
nossa filha.
Helena ama esse homem como um pai,
com idolatria, e nada vê.
Mas eu sei que sua vida está com os dias
contatos, e que a culpa é toda minha que fiz a
escolha errada.
Por favor, busque-a.
É muito tarde para mim e para minha
família, mas Helena é meu coração, não posso
vê-la murchar e morrer diante mim.
Leve-a daqui. Salve nossa filha.
Da mulher que sempre o amou.
Madeleine”

Helena só percebeu que chorava quando


notou as lágrimas que pingavam sobre a folha.
Agora percebia que no fundo, conhecia mais de
sua silenciosa mãe do que do pai sempre
exuberante e falante.
Ele não a amava. Sentia apenas prazer
em ter o que era de outro homem. Tinha seu amor,
para que Madeleine sofresse.
Aquele homem roubara-lhe o direito de
amar. Havia entregado seu amor mais inocente a
alguém que a odiava. Engasgada pela dor, virou-
se na direção de onde estava Rony, e não disse
nada.
Ele andou poucos passos em sua direção
e ficou bem perto, esperando que dissesse algo.
-Não posso lidar com isso – ela devolveu
a carta – mande-o embora.
-Por quê? – perguntou firme – Porque
não quer lidar com a ideia de mais alguém amá-
la?
-Mais alguém? – ironizou - E por acaso
alguém me amou nessa vida? Minha mãe mentiu
para mim, meu pai... Antenor me usou para ferir
minha mãe! É desse tipo de amor que você fala?
Havia tanta ironia em sua voz, que ele
sentiu doer dento de si.
-Falo do amor que sinto. É disso que falo.
-Tenho certeza que não quer discutir isso
comigo nesse momento.
Pelo veneno em sua voz, teve que
concordar com ela.
-Apenas entre e fale com ele, se ainda
quiser, eu o mando embora.
-Ele é rico não é? - ela desdenhou.
Era óbvio que dizia para feri-lo, e
conseguiu.
-Mande-o embora! – ela insistiu.
-Faça você mesma, já que é tão boa com
as palavras – ele disse irritado e ofendido – Mas
saiba que ele quer levá-la para Londres com ele.
Afinal, essa deve ser sua chance de se livrar de
mim!
Helena sentiu que o mundo havia parado
de girar e recomeçado no sentido contrário.
Ir embora? Deixá-lo? Não, seria ele a
deixá-la. Não é?
-Tenho certeza que isso o deixaria muito
feliz – rebateu.
-Nesse momento, sim – a raiva falou
mais alto. – Precisa me agredir, então faça. Mas
não o mande embora antes de ouvir o que tem a
dizer!
Ela não respondeu, e Rony tirou a carta
de suas mãos, com um longo suspiro de decepção.
-Ele veio de longe, deixe-o vê-la e falar o
que sente. Depois, mande-o embora. Se não quer
ouvir, faça ao menos por caridade. – notando que
cedeu, continuou – vou guardar isso comigo, como
prova do que ele está dizendo. Confesso, estou
desconfiando até da minha sombra.
Helena sentiu uma vontade quase
incontrolável de dizer-lhe para não agir assim, que
ele não era esse tipo de pessoa. Que seu
entusiasmo e confiança na vida e nas pessoas
eram bonitos demais para se perder. Mas não
disse nada.
Não queria que Rony se transformasse
em alguém amargurado e ressabiado como ela.
Não mesmo!
Ele tinha um espírito feliz e humorado.
Não merecia a melancolia!
Séria e com a expressão fechada, seguiu
para dentro da casa.
Na sala, o Conde bebia um refresco
enquanto aguardava. As marcas de expressão em
sua face se acentuaram ao vê-la. Logo atrás, Rony
se moveu, deixando claro que sairia se ela
quisesse.
Helena não pediu que ficasse. Não
esmoreceria desse modo. Mas algo no olhar que
lhe dirigiu, alertou-o sobre precisar de sua
presença.
Ela sentou-se em frente ao Conde,
olhando fixamente para ele. Seus olhos buscavam
confirmar as palavras de sua mãe. Os olhos, os
cabelos, os traços... Sim, eles eram parecidos.
Mas isso não os fazia pai e filha.
Acabava de conhecê-lo!
-Quero que saiba que sempre desejei
conhecê-la. – ele tomou à dianteira, pois por ela,
não diria nada. – Nunca soube com certeza se era
menino ou menina, nem se havia nascido bem,
mas dentro de mim, sempre cultivei a esperança
de ser uma linda menina. E estava certo. É uma
lindíssima menina – havia encanto em sua voz.
-Não sou uma menina. Sou casada – ela
disse cortante.
-Sim, tem razão. É uma linda senhora –
havia graça em sua voz – uma linda senhora
jovem. Desculpe se faço graça, mas gostaria de
ver seu sorriso.
Ela olhou para Rony que vivia dizendo o
mesmo, e então, olhou novamente para o Conde,
séria e quase brava.
-Casou-se após a perca de seus pais,
então, devo deduzir que tenha lhe faltado
alternativas.
As palavras do homem deixaram Rony
em alerta. Tenso, esperou pelo que viria.
-Uma mulher jovem e sozinha com uma
boa propriedade em suas mãos... Precisava de um
protetor. Sou seu pai, e preciso saber em primeiro
lugar, se esse casamento é por amor.
-Não, não é – ela disse com toda a
dignidade que sempre a levara a usar de sua
honestidade, doa a quem doer! E doeu em Rony –
Ronald iria tomar a fazenda de mim, foi por isso
que nos casamos.
O desprezo com que aquele homem o
olhou o fez sentir-se o último dos homens.
-Helena, não foi bem assim! – interferiu,
sentindo fúria ao ser ofendido desse modo.
-Oh, é mesmo? – ela ironizou com
desprezo.
Rony só não respondeu por causa da
fisgada de dor que o fez empalidecer. Estava
quase curado, mas às vezes sentia como se a
ferida repuxasse.
Imediatamente, ela se levantou e sentou-
se ao seu lado.
-Está doendo? Deveria se deitar! – alertou
– O médico disse que deveria tomar o remédio e
se deitar sempre que sentisse dor! – soou mais
como uma acusação do que como uma
recomendação.
Notando a forma como ele olhava para o
Conde, ela suspirou:
-Peço a Alice me fazer companhia nessa
conversa. Não se preocupe saberá de cada palavra
dita! – era novamente uma acusação.
Com um grito nada discreto ou educado,
ela chamou por Duran, sua sombra, e o menino
apareceu correndo e arfante, prova que às vezes
esquecia-se de sua tarefa e brincava com os
irmãos no pátio. O menino ajudou-o a ir para o
quarto enquanto Alice tomava seu posto.
Curiosa, ela sentou-se olhando
maravilhada para o homem bem vestido. Parecia
prestes a fazer perguntas quando Helena mandou-
a se calar.
O Conde sorriu, pois ela tinha um
péssimo gênio, assim como ele. Quantas e
quantas brigas ele não tivera com seu pai em sua
mocidade por ser tão genioso? Diversas!
Ele refletiu sobre o modo como essa doce
jovem tratava o marido quando ele não podia se
defender, nem dela, nem dos outros. Tratava-o
com cuidado e zelo, carinho explicito. Tão
diferente das palavras grosseiras e acusações.
Eram um casal apaixonado,
provavelmente enfrentando problemas no amor. E
de problemas ele entendia!
-Seu marido é um bom homem? - ele
perguntou direto, querendo sanar logo as dúvidas
práticas.
-Meu irmão é ótimo! - Alice respondeu
por ela, mas se calou quando ela lhe lançou um
olhar de morte.
-Não é a pior pessoa que conheci – disse
com descaso.
-Preciso saber se deseja desfazer esse
casamento. Tenho meios para isso.
-É um assunto a ser pensado – ela disse
ainda muito distante, ignorando a exclamação de
surpresa de Alice. – Diz que é meu pai, mas não
sei o que deseja de mim.
-Desejo conhecê-la, cumprir o desejo de
Madeleine e cuidar de você. Zelar por sua
felicidade. Tudo aquilo que é dever e honra de um
pai. Não tive outros filhos, e me casei muito tarde.
Passei minha vida toda esperando que um dia
Madeleine se arrependesse... Há oito anos eu
conheci uma mulher e nos casamos, mas não
houve filhos, e creio que não haverão, pois minha
esposa era viúva quando a conheci e passou
muitos anos casada, sem ter tido filhos.
-Não precisa sentir-se na obrigação de
cuidar de mim. Não preciso de um homem para
zelar por minha segurança! Sou capaz de me
defender sozinha!
-Helena não está mentindo! – Alice disse
aos cochichos – Meu irmão foi seriamente ferido a
bala, e foi Helena quem retirou a bala, estacou o
sangue e o salvou!
-Alice, por favor – ela pediu cortês, mas
com algo na voz que dava medo. – essa conversa
não é sua!
-Sim, mas que mal há que o Conde saiba
como é a própria filha? – Alice disse petulante –
Helena é ácida como limão, e pode ser muito cruel
quando quer magoar alguém. E é difícil de
agradar ou amolecer com palavras! Terá que ter
muita paciência, ou ser um santo para aguentá-la!
-E seu irmão é um homem paciente ou
um santo? - ele perguntou a jovem de sorriso fácil,
mas sem desgrudar os olhos da filha.
-Ronald é um gozador. – foi ela quem
respondeu, como se isso dissesse mais que um
simples comentário.
-Creio ter sido desse modo quando
conheci sua mãe - ele disse sonhador – Madeleine
dizia que eu via cor nas nuvens de chuva.
Helena calou-se, pois às vezes, sua mãe
dizia o mesmo. Quando Helena era pequena e
olhava para as nuvens, ela dizia para que
procurasse cor nas nuvens de chuva. Nunca
entendera o que isso queria dizer.
Era apenas uma lembrança de seu
verdadeiro pai. Com o peito doendo pela mulher
que sua mãe nunca pudera ser, Helena deu a
conversa por encerrada.
-Não temos nada a dizer Conde Valença.
Acredito que seja meu pai. A carta é de minha
mãe, reconheço a letra. Cumpriu sua obrigação.
Estou viva e saudável. Não há mais nada a fazer
aqui.
-Se engana! Protegê-la era meu intento,
mas não apenas isso! É minha filha e quero
conhecê-la! Saber seus gostos, conhecer sua
personalidade... Não quer me conhecer?
No íntimo, sim, ela queria. Mas por fora
a dúvida a assolava.
-Trouxe um presente, na esperança de
encontrar minha filha – ele disse sorrindo e
mudando de estratégia – Como não sabia se era
homem ou não, achei mais prudente trazer algo
que pudesse ser do gosto de ambos os sexos...
-Não desejo presentes – ela rejeitou a
pequena caixa que ele lhe estendeu.
-É o brasão de minha família. O seu
brasão – ele insistiu.
Com dedos firmes, que traiam seus
verdadeiros sentimentos, aceitou a caixa e abriu.
Havia um anel discreto e liso, com o símbolo de
um dragão perfurado por duas espadas, cravado
no ouro. No centro um rubi vermelho e grande o
bastante para valer uma fortuna.
-Precisará ser ajustado – ele disse
sentindo-se sem assunto, diante da intensidade
daquela jovem enigmática.
Era impossível saber se gostava ou não.
-Helena, convide seu pai para se
hospedar aqui – Alice sugeriu – Meu marido
viajou a Londres, e era ele quem ajudava meu
irmão na fazenda enquanto ele se recupera. Se o
seu pai quiser, tenho certeza que Rony apreciará
um pouco de ajuda.
Era um jeito discreto de Alice tentar
aproximá-los.
-Não acho uma boa ideia – ela negou.
Devolveu o anel silenciosamente, colocando-o
sobre a mesinha, no centro da sala entre ambos.
-Não faça essa desfeita a seu pai – Alice
apanhou-o e tirou da caixa – Veja com é bonito!
Papai tem um empregado que lida com ouro, sei
pode ajeitá-lo para servir em seu dedo! – disse
com entusiasmo. – Experimente Helena.
Contrariada, pôs o anel num dedo, depois
no outro, até que serviu.
-Parece que já a conhecia – ele disse
pensativo.
Seus olhos se encontraram e ela achou
que conhecia esse homem há mais tempo que
aquelas poucas horas.
Seu pai.
Subitamente emocionada, levantou-se
alisando a saia do vestido e tentando soar natural,
apesar do aperto na garganta:
-O almoço deve estar na mesa. Pode ficar
se quiser.
Alice deu um sorriso encorajador ao
Conde, como quem diz que isso era um grande
avanço vindo de Helena, por isso ele concordou.
Helena deixou nas mãos de Alice toda a
diplomacia e responsabilidades de uma anfitriã, e
sumiu dentro da casa, refugiando-se no quarto.
É claro que sabia que Rony estava ali.
Ele precisava descansar um pouco, e ela sabia que
ele estaria ali. Talvez por isso, inconscientemente
escolhera aquele lugar como refúgio.
Ficou de pé, segurando no trinco da
porta, o coração acelerado e o choro prestes a
irromper, quando ele estendeu os braços em sua
direção.
Deveria ser forte e procurar um lugar
solitário para desmoronar.
No entanto, contrariando o bom senso,
percorreu o caminho até a cama em um segundo,
subiu no colchão e mergulhou em seus braços,
chorando. Rony abraçou-a enquanto os soluços
sacudiam seu pequeno corpo, e acariciou seus
cabelos e suas costas, sussurrando palavras de
conforto.
Mas Helena não ouvia. Só precisava do
conforto de estar no calor dos seus braços,
sentindo seu cheiro familiar e a proteção que ele
representava.
Com o rosto enterrado em seu peito forte,
os braços em volta de sua cintura masculina, se
deixou ficar, amparada e cuidada.
-Tudo vai ficar bem Helena – ele
sussurrou em seu ouvido – Apenas confie. E tudo
ficará bem...
Capítulo 86 - Antídoto

-É curioso, por muitos anos hostilizei


meu pai por ser severo. Então, um belo dia,
descobri por que tantos segredos. – Edgar contava,
regado a vinho, na mesa do jantar, num humor
invejável, que apenas um homem feliz poderia ter
– Meu pai era francês, de uma família tradicional,
e foi hostilizado e rechaçado pela família quando
escolheu e se casou com minha mãe, uma simples
camareira espanhola. Ainda muito jovem herdou o
título e a fortuna de meu avô, e partiu para a
Inglaterra atrás do anonimato. Meu pai ainda vive
na França; minha mãe, que Deus a conserve,
morreu ao dar a luz. Tive uma irmã, do segundo
casamento de meu pai, mas infelizmente, ele ficou
viúvo novamente. Nunca teve sorte no amor,
assim como eu.
-Deve ser algo de família – Helena
resmungou, enquanto devorava seu prato.
Edgar sempre sorria diante de seus
ataques de mau humor.
Há três dias ele partilhava da
hospitalidade da filha e do genro, e assistia
maravilhado a guerra entre eles, uma guerra por
amor e poder. Não tinha dúvidas que Rony seria
vitorioso, mas era delicioso ver de camarote a
força de vontade da filha.
-Quando pretende ir embora? – Helena
perguntou, sem meias palavras.
Vinha suportando aquela situação a três
longos dias, sua paciência havia chegado ao fim.
-Pedi a seu pai que fique até a volta de
John – Rony informou sem segredos.
-Contou a ele?
Helena parou de comer, incrédula e
humilhada.
-Sim, contei. É seu pai e quer assumir a
responsabilidade sobre seu bem estar e sua
felicidade. Estou sendo acusado e serei
processado. Se algo me acontecer... Alguém
precisa cuidar de você.
-Pensei que não estivesse com medo –
disse azeda, a voz carregada de ironia – que
Alexia estivesse mentindo. Mas pelo visto, já
conta com o pior – desistiu de comer,
abandonando o garfo.
-Não ponha palavras em minha boca –
ele pediu comedido, mas com uma vontade
incontrolável de gritar.
-Não é necessário, é muito bom com as
palavras, aposto como deve ter se desfeito em
lamúrias para conquistar o apreço de seu
afortunado sogro.
Ofendido, ele também desistiu de comer.
Nem parecia a mulher que se apoiara em
seus braços há tão poucos dias atrás. Nesses três
últimos dias ele vinha provando o inferno na terra
ao seu lado.
Arisca, azeda e desbocada, estragava
qualquer momento de paz com palavras salgadas e
acusações.
Estava magoada com o homem que a
criara e mentira sobre seu amor fraternal, quando
tudo que desejava era vingança. Estava
descontando em todos, sobretudo nele sua
frustração e raiva.
Fisicamente estava recuperada, mas
emocionalmente estava um caos. Nem mesmo
Juanita tinha paciência com ela, e mantinha-se
distante para não lhe dar respostas para as mau
criações.
Se ela não mudasse seu comportamento
rápido, teria que enjaulá-la e cortar suas garras!
Quase sorrindo a esse pensamento, ele disfarçou a
graça com um gole de água, pois evitava vinho
desde o tiro.
É claro que ela notou seu semblante
menos carregado e isso lhe foi uma ofensa
pessoal.
-Termine seu jantar – ele mandou, pois
atualmente ela sentia muita fome. Era melhor
comer agora, do que depois beliscar bolos e doces,
como tinha se tornado seu hábito.
-Acha que manda em mim – ela deu de
ombros, cruzando os braços em frente ao peito. –
diga, terá coragem de me forçar na frente de seu
sogro tão rico de posses?
Escorria veneno em seus lindos lábios e o
desafio em seus olhos não o deixavam em paz.
Tinha o antídoto para esse mau humor,
mas não podia fazer nada ali com outras pessoas
presentes.
-Creio que ele não me culparia por lhe
dar umas palmadas bem merecidas – revidou,
rindo de sua expressão emburrada.
Com certeza, lidar com humor,
desmerecendo suas agressões deixavam-na ainda
mais furiosa.
-Me enganou, ultrajou já sendo casado!
Faz-me viver em pecado, e tem coragem de rir de
mim?
-Não é o que fazem os adultos? Riem das
criancinhas birrentas? Pois crianças birrentas
sempre são engraçadinhas – era uma provocação
clara.
-Engraçadinha ou não, estarei livre de
você quando John voltar e trouxer as provas de
como me enganou. Então, poderei ter novamente
minha liberdade!
Furiosa deixou a mesa, e eles ouviram a
porta ser batida com toda a força. Alice suspirou,
como se isso não fosse novidade, e Rony pousou a
taça sobre a mesa, e sorriu para o sogro com
humor, dizendo:
-Nos recolheremos mais cedo hoje. Alice
cuide do nosso convidado, sim?
-Meu irmão, não posso fazer isso. – ela
disse corando – Sou casada, não posso ficar
sozinha com um homem na ausência de meu
marido.
-Ah, os idealismos românticos – Edgar
disse sorrindo e piscando para Alice – Está tarde
para todos nós ficarmos de pé. Também me
recolho. Espero que minha filha não lhe cause
uma noite insone.
Rony apenas sorriu, pois ele esperava
exatamente o contrário!
Helena descontava sua raiva e frustração
nas gavetas quando ele entrou no quarto. Bateu
uma delas com tanta força, que Rony teve a
impressão que ela pendeu um pouco torta. Não se
admiraria se houvesse quebrado-a.
-Não se atreva a falar comigo. – ela
avisou, entre dentes.
-Não vou falar com você – ele avisou,
segurando-a.
Helena tentou passar por sua sólida
presença, querendo se trocar para dormir, mas ele
não deixou. Segurou seu pulso.
-Não grite. Quer que seu pai ache que
além de infantil é uma selvagem?
-Esse homem não é meu pai! – ela disse
por lábios fortemente serrados.
-Sinto muito que isso faça com que o pai
que sempre amou seja uma calhorda, mas o Conde
é seu pai. E está aqui, implorando uma migalha
do seu amor. Eu já me conformei com seu gênio
insuportável, mas ele não precisa ser hostilizado!
-É claro que não, ou perderá os benefícios
de um sogro rico! – puxou o braço com força e
ódio, mas ele não soltou. Ela quase gemeu de dor,
porque estava machucando.
-Machuca não é? – ele apertou mais forte
– Eu sei que machuca – não falava propriamente
do aperto que a deixaria roxa – mas acredite,
também dói quando pisa em quem a ama. –
segurando seu outro pulso à fez andar para trás,
em direção a cama – Vou acabar com essa sua
raiva, essa sua fúria. E não ouse gritar!
-Não pode me obrigar! – ela esperneou
quando eles caíram na cama, Rony sobre ela. –
Será estupro, porque não quero!
-Então que seja! – ele disse no mesmo
tom, beijando-a a força.
-Não – ela empurrou-o com todas as suas
forças, mas ele não se moveu um milímetro
sequer.
Os lábios masculinos eram de ferro sobre
os seus, e não havia sedução, mas sim punição.
Punição pelas palavras ásperas, pelas atitudes
feias.
-Eu não quero! – ela esbravejou, tentando
se soltar, mas ele a cobriu totalmente com o peso
de seu corpo – é casado com outra! Me solta! Não!
-Sou casado com você – ele segurou seu
rosto, para que não ficasse fugindo de seu beijo –
Casado apenas com você.
Ela olhou seus olhos, e parou de lutar.
Haviam lágrimas em seus olhos, e ela não queria
chorar. Queria ser beijada, acariciada e abraçada.
Deixar toda a tensão se esvair do corpo quando o
prazer a deixasse totalmente suave e leve, como
uma pluma ao vento. Precisava disso.
Precisava tanto disso...!
-Não posso te possuir ainda – ele disse
em seu ouvido, enquanto lambia sua orelha e
sugava o lóbulo sensível. Suas mãos apertavam
seus seios, e ela fechou os olhos, curtindo as
sensações mágicas – Está convalescendo ainda, e
não posso te possuir completamente – ele não
podia contar, mas fora recomendado por Aporah
que não a penetrasse pelo próximo mês. Uma
precaução para que não houvesse outra ameaça de
perca. – mas posso te dar prazer. Te fazer voar
Helena. Voar em meus braços...
Seduzida, ainda tentou escapar virando o
rosto, mas não adiantou, ele beijou sua bochecha,
lambendo a pele macia com desejo.
Seguiu mordendo seu pescoço, e
arrancando dela um gemido involuntário.
-Não precisa gritar quando quiser minha
atenção. – ele falava bem baixinho em seu ouvido
– estou sempre prestando atenção em você. Não
posso tirar meus olhos de sobre seu corpo, seu
rosto, seus gestos... É tudo sobre você e para você,
Helena – ele afrouxou o vestido, mas não o tirou.
Observou como era sedutora uma mulher
de seios nus, mas ainda usando seu vestido pudico
e de moral indiscutível.
Os seios estavam saltados para fora do
decote, que os empurravam bem para cima, os
mamilos salientes, enrijecidos e pontiagudos, tão
sedutores que Rony beijou sobre uma das pontas,
e então sobre a outra, como uma reverência.
-Agora sei de onde vem sua pele tão
sensual, e seu gênio tão forte. Tem sangue
espanhol – ele galanteou – por isso é tão quente,
tão sensual, tão fogosa... – sua grande mão
deslizou entre os dois seios, apenas para cobrir um
deles e apertar suavemente.
-Não sou sensual... - tentou desmentir.
-Sim, é.
-Não diga essas coisas... – tentou afastá-
lo, apesar de estar completamente excitada.
-Digo por que é verdade. Tudo em que
posso pensar é em abrir suas pernas e me afundar
em seu corpo até ouvir seus gritos por mais e
mais... – ele roçou o nariz em sua bochecha até
ver um pequeno sorriso em seus lábios – É a
primeira vez que sorrir nos últimos dias.
-Não tenho tido motivos para sorrir – ela
afastou os olhos.
-Se quiser me visto e pinto de palhaço,
como fazia seu pai, só para vê-la sorrir – sugeriu,
e ela riu mesmo sem querer.
-Sei que faria isso. Mas não creio que
pudesse viver com essa imagem.
Ele também riu, pois era assim que a
desejava, com os olhos brilhantes e um sorriso nos
lábios.
-Diga que também me deseja Helena.
-Não posso – seu sorriso morreu – é
casado com outra!
-Deus! Já fui condenado mulher! De que
adianta John buscar provas da minha inocência, se
já fui condenado! – exasperado, moveu-se até
estar completamente sobre o pequeno corpo. – Se
fui condenado como um bandido, não pode me
culpar por agir como um!
-Rony! Não se atreva! – ela brigou, mas
no fundo de seus olhos havia consentimento. – Me
violentou na noite em que me excedi no uísque e
vai fazer isso novamente?
-Exatamente – ele respondeu, nem um
pouco interessado em cair em seu joguinho de
culpas.
-Eu vou gritar! Estou avisando vou gritar
tão alto que todos os seus empregados vão saber
que me obriga a... Hum... – foi calada por um
beijo intenso.
Rony mergulhou a língua no fundo de
sua boca, sorvendo toda a doçura que ela lhe
negava.
Um beijo molhado, guloso e
interminável.
Enquanto a beijava, empurrou as saias do
vestido para cima, e puxou o calção íntimo para
baixo. Ela se debateu para impedir, mesmo presa
no beijo, e ele abandonou o tecido enroscado em
suas canelas.
-Mulher irritante! - ele praguejou,
cobrindo seus lábios com uma das mãos.
Helena arregalou os olhos, torcendo o
corpo para se soltar.
Era uma mulher pequena e
aparentemente frágil, mas quando se dispunha a
lutar, tinha a força e a bravura de um gigante.
Chutando, quase o acertou entre as pernas, e se
protegendo, Rony pressionou suas pernas entre as
delas, imobilizando-as.
As mãos esmurravam suas costas e
empurravam, mas ele não podia fazer nada. Não
tinha tantas mãos quanto necessário para domar
aquela gata selvagem!
Supondo que sairia daquela cama
arranhado e mordido, deixou-a bater e aranhar o
quanto quis.
A mão livre desceu para a pele rosada
que estava a mostra, embalando seu sexo com a
palma da mão, como num abraço. Sentiu todo o
calor, toda a umidade, a maciez dos poucos pelos,
a quentura inconfundível dessa junção.
Sentindo o toque, ela se aquietou como se
estivesse recebendo a dose poderosa de um
calmante. Provavelmente era isso que vinha
precisando para se acalmar!
Sua rendição durou apenas até notar sua
satisfação em domá-la, tão rápido e tão fácil!
Enfurecida, mordeu os dedos que tampavam seus
gritos, até que a dor o obrigasse a soltá-la.
-Sua...! – ele sacudia a mão ferida, vendo
a marca de dentes. – Não vai fugir não! – gritou,
segurando-a pela cintura quando Helena tentou
fugir.
Montando sobre ela, ficou de joelhos na
cama, as pernas de cada lado de sua cintura.
Olhando-a do alto de sua posição dominante,
admirou os seios que arfavam e imploravam por
beijos, tão excitados que deveria ser doloroso ter
os bicos tão rijos, e admirou principalmente seu
choque.
Naquela posição poderia espernear o
quanto quisesse, não podia fazer nada!
Lembrando-se da primeira vez que esteve
assim, na noite em que bebera os chás misteriosos
e afrodisíacos de Juanita, ele abriu a calça e ela
tentou fugir de todas as formas.
-Desse jeito vai se machucar! – ele avisou
malicioso, libertando a ereção, que balançou
muito próxima aos seios macios.
-Não vou colocar isso na minha boca! –
disse com desprezo.
-Porque não? Sei que gosta de prová-lo.
-Ao inferno que gosto! Não faça isso! –
ela gritou quando ele se inclinou mais a frente.
Rony riu quando viu a revolta passar e se
tornar surpresa. Malicioso como era, esfregou o
pênis em seus seios, alisando a pele com sua
rigidez. Gemeu quando a glande teve contato com
os mamilos endurecidos e forçou mais contato,
apertando a cabeça do membro contra eles.
Deliciado, encaixou-o entre os seios, e segurou-os
para fazer uma gostosa cama para ele.
Embalado entre os seios, começou os
movimentos de vai e vem, notando que as
bochechas de Helena esquentavam e coravam,
enquanto ela assistia, com os quadris tentando se
erguer como se quisesse alguma coisa.
Seus dedos apertavam a carne sensível
dos peitos, enquanto sentia o prazer subjugar a
consciência. Ela estava pressionada, e deveria ser
desconfortável. Além disso, estava sobre sua
barriga, e apesar de não deixar o peso sobre ela,
tinha medo de feri-la. Aproveitou mais alguns
minutos, achando que estava sendo egoísta, e
soltou seus seios, notando como arfava de desejo.
Sem lhe dar tempo para pensar, dobrou
sua perna para o lado, o máximo que podia com o
empecilho da roupa em seus tornozelos, e aspirou
seu cheiro de mulher antes de meter-lhe a língua
entre as dobras molhadas.
Involuntariamente, ela dobrou as duas
pernas para os lados, e abriu-as completamente
para suas caricias, suas mãos agarradas aos
cabelos ruivos, empurrando-o para lá com
ousadia.
Aquela língua maravilhosa trabalhava
para enlouquecê-la, lambendo rápido e voraz
sobre seus lábios úmidos, sobre seu clitóris
enrijecido, sobre os pelos claros e curtos.
Lambidas em suas virilhas, na união das coxas
com a vagina.
Ele sugou sobre a pele de uma pinta
marrom que tinha bem ali, naquela dobra íntima e
ela gemeu, fechando os olhos e caindo o corpo
para trás, sobre o colchão.
Sugando, Rony fez muitos carinhos com
os dedos, achando que morreria de prazer junto
com ela, tendo seu membro em uma das mãos.
Em algum momento, o prazer mudou e ele sentiu
um pouco de dor. Ficar curvado ainda lhe causava
dor, e Helena notou a mudança, empurrando-o.
Desesperado achando que ela pararia,
tentou impedi-la, mas Helena se ajoelhou e
empurrou-o na posição em que estivera
anteriormente, deitada no colchão. Sem dizer
nada, abriu sua camisa, deixando-a aberta, mas
aproveitando toda aquela pele desnuda.
Suas mãos pequenas correram sobre os
músculos dos peitos, os dedos arreliando os
mamilos masculinos, tão menores e rijos que os
femininos. Rony grunhiu quando aquelas mãos
desceram pelo umbigo, sobre a ferida, numa
caricia terna.
Seria uma carícia de amor, se ela não
estivesse beijando seu pescoço e descendo uma
das mãos para o botão de sua calça. Livrando-o da
calça e da cueca, tirou o excesso de tecido por
suas pernas, e voltou a se aconchegar, sem dizer
nada, cobrindo sua boca com a sua.
Um beijo longo, tendo os cabelos
compridos sobre ele, como uma adorável cortina.
-Não posso te penetrar – ele relembrou,
quando ela tirou o calção totalmente e montou em
sua cintura – Helena, é melhor não... – sua força
de vontade se esvaiu diante daquela mulher que
montava em seu corpo.
Usando o vestido, ela tinha os seios
sacudindo muito perto de sua boca, mas fugiu
quando tentou abocanhá-los. Sentando-se reta, a
saia ampla do vestido cobrindo-os, sentou-se onde
queria.
-Apenas um pouco - ela disse baixinho,
os olhos nublados pelo desejo – Só um pouco, e a
gente para...
Um pedido desses não poderia negar.
Roçou sua parte íntima tão molhada sobre a
cabeça ereta de seu membro, e começou a descer
bem de leve.
Quando estava entrando pela metade, ele
segurou seus quadris, parando-a.
-Helena, não podemos fazer isso – ele
lembrou num resquício de bom senso.
-Oh, só um pouquinho... - ela pediu
novamente, indo e vindo, no pouco que ele
deixava entrar.
Não era a satisfação completa de ser
preenchida por aquele membro divino, mas para
quem não tinha nada, era um começo.
Sendo firmemente impedida de descer
mais, Helena ergueu o vestido apressada, olhando
para baixo. Rony achou lindo vê-la arfante,
corada, os cabelos caindo pelos ombros, e em
volta dela, enquanto erguia a saia até a altura da
barriga, olhando para a junção de ambos.
Havia um terço dele para fora, que não
permitia entrar, mas Helena estava bem feliz com
os dois terços que tinha! Fechando os olhos, ele
achou que morreria.
Ela o ordenhava, com apertos
enlouquecedores, e precisou de toda sua força para
não mergulhar mais.
-Mais rápido! Mais rápido!... – ela pediu,
sem tirar os olhos de sua fenda, engolindo-o
gulosamente – Oh, mais rápido... Rony, mais
rápido...
Maldoso, Rony desceu uma das mãos,
contornando seu quadril, e tocou diretamente
sobre seu clitóris, escondido entre suas dobras.
Ela gritou um som que mais lembrava um miado,
acelerando os movimentos do quadril, enquanto
aquela onda crescia em seu ventre.
Tê-lo pela metade, fazia sua mente
trabalhar e lembrar-se de todas as vezes que
estivera atolado até o fundo. Os movimentos
circulares sobre seu nervo a deixara muda de
repente, os lábios a procura de ar, fechando
fortemente os olhos, enquanto pulava sobre ele.
Eram empurrões curtos, desconexos, nada
apropriados para uma mulher que quisesse
agradar seu marido.
Era algo só para ela. Usufruía dele, sem
se importar com seu prazer.
Tão forte, tão intenso, sua mente e seu
corpo trabalhavam para fazê-la gozar.
-Ah... Ah... Ah... Ah... Ah... – seus
movimentos ganharam força, mas ele aguentou,
pressionando o clitóris num pequeno apertão.
Helena sentiu as coxas retesarem, o
ventre repuxar e a vagina trincar em volta de seu
pênis. Estava completamente tensa quando aquela
sensação queimou de sua feminilidade para o
resto do corpo.
Então, tudo relaxou e ela moveu-se para
frente e para trás, ficando com ele dentro de si.
Movimentos languidos e preguiçosos, dobrando o
corpo para beijar sobre o coração de Rony, havia
mirado sua boca, mas não chegou até ela.
Por alguns segundos foi suficiente. Rony
acariciava seus cabelos, seu pescoço, seus ombros,
os seios pesavam sobre seu peito, e esse carinho
lhe deixava aquecida. Mole e sonolenta.
Suspirando, se afastou sentando.
-Helena... – ele estava preparado para
tentar alcançá-la se fosse fugir.
-Quer fazer... O que fez antes? – ela
perguntou olhando para sua ereção não satisfeita.
Sua mão delicada passou sobre o colo, deixando
claro a que se referia.
-Quero - admitiu, apreciando uma oferta
de paz.
-Mande-o embora então – era uma
deslavada chantagem.
-Não posso Helena, dessa vez eu não
posso. Esqueça o dinheiro, esqueça a posição
social. Se eu faltar, ele poderá ampará-la até que
eu possa... Voltar.
Helena olhou para seus olhos a procura
de mentira. Um pouco desconcertada, mas nem
tanto quanto gostaria ao não encontrar indícios de
falsidade, suspirou ruidosamente.
-Nunca diga que sou uma mulher má –
seus ares de dama indo à forca o fizeram sorrir,
quando ela se estendeu sobre a cama, esperando
por ele.
Rony se posicionou, tomando cuidado
para não pressioná-la com seu peso e posicionou-
se novamente entre seus seios.
-Isso é tão bom... Tão macio... Tão
delicada é a sua pele.
Helena apenas assistiu sua entrega,
sempre esperando. Ao contrário da última vez em
que o sugara que estava com enjoos e má vontade,
dessa vez, sua boca salivava para provar seu gosto
e engolir tudo. Esperou que ele gozasse, e o pênis
estivesse prestes a esguichar para apanhá-lo com
sua boca e sugar com força, tomando tudo.
Surpreso ele teria caído de sobre ela, se
não se apoiasse com ambas as mãos no colchão,
uma de cada lado de sua linda cabeça castanha.
Ela chupou e engoliu tudo, limpando-o e
deixando-o vazio.
-Oh Deus, você é deliciosa – ele
choramingou de prazer quando se afastou. – Quer
mais? – perguntou levando os dedos entre suas
pernas, mas ela negou com a cabeça.
-Estou cansada... – disse deitada ao seu
lado.
Estavam agora, lado a lado, se olhando.
Ela vestia o vestido, mostrando quase até o
umbigo, e era provável que não houvesse
sobrevivido nenhum botão para contar a história.
As pernas estavam nuas, pois o vestido estava
sungado até as suas coxas. Rony usava apenas a
camisa aberta, mas nenhum deles se importou
com roupas confortáveis.
-Precisa deixar de se incomodar com um
passado que não pode mudar – disse gentil – O
que passou não volta. Aceite a realidade.
-E se ele... For igual ao homem que
acreditei ser meu pai? E se for tudo mentira e
entusiasmo? – frágil, deixou que a visse insegura.
-Ao menos assim saberá que deu tudo de
si.
-É o que faz? Dar tudo de si para as
pessoas? – perguntou se aproximando, e Rony a
envolveu num abraço, ambos de lado. Ele apoiou
o queixo no topo de sua cabeça pensativo.
-É o que tento fazer... Mas às vezes é
difícil, posso sair arranhado...
Helena olhou para seu antebraço
arranhado por ela, e pela mão que ele mostrava
com sua mordida e sorriu.
-Durma, Helena. Amanhã é outro dia. –
notando que fechava os olhos, beijou-a muito
suave – outro dia e outra oportunidade de fazer
tudo diferente.
Ainda com o som de suas palavras em
seus ouvidos, ela adormeceu.
Capítulo 87 - Bem diante do nariz

“Outro dia e outra oportunidade de


fazer tudo diferente”
Essa frase fazia sentido a cada segundo.
Helena havia acordado cedo e disposta, como não
acontecia há meses, saiu da cama e deixou-o
dormir.
Antes mesmo de Juanita chegar para seu
trabalho, já havia tirado Alice da cama, e as duas
trabalhavam na cozinha. O café da manhã estava
pronto e fresquinho antes das cinco da manhã.
Para muitos era madrugada, mas para o trabalho
da fazenda, era dia claro!
Com um ânimo que parecia renovado, ela
preparou o pão, colocando Alice para amassá-lo.
Preparou até mesmo biscoitos para os
empregados! Alice reclamou do gasto
desnecessário, mas Helena deu de ombros.
Para a família, um delicioso bolo de
nozes.
Quando Juanita chegou para o trabalho,
insone e com Ruanzito chorando agarrado em suas
pernas, apenas resmungou um bom dia enviesado
e foi cheirar suas panelas, enquanto Helena
apanhava o menino e ia para o quarto onde seu
novo pai dormia.
Ela bateu duas vezes na porta, enquanto
sussurrava bobagens para o menino, acalmando
seu choro.
O Conde abriu a porta com sono,
surpreso por ser acordado pela filha.
-O café da manhã está quase pronto – ela
disse um pouco tímida.
-Descerei em minutos... Ou melhor, quer
entrar e conversar enquanto termino de me vestir?
Insegura, e verdadeiramente tímida,
seguiu para dentro do quarto. Edgar estava
completamente vestido, mas tinha a camisa
faltando alguns botões para fechar, estava
descalço e despenteado.
Ele lavou a face com a água de uma bacia
que estava no canto do quarto, e secou-se com
demasiada calma, como se estivesse dando-lhe
tempo para se adequar a estar sozinha com ele,
com a porta apenas encostada.
O convite induzia a uma conversa, e o
fato de ter aceitado entrar, conduzia a aceitação de
que precisam conversar.
Helena colocou o menino de pé sobre a
cama e segurou seus bracinhos, para que ele não
sentasse. Ruanzito era preguiçoso, mas já andava
e corria para todos os lados com os irmãos, mas
quando estava dentro de casa, queria ser mimado.
-Não me contaram que era avô – o Conde
disse olhando para o menino com uma expressão
estanha, e Helena levou um susto.
-Não é meu filho. É filho de Juanita. Ela
tem muitos – deixou o menino sentar e brincar
com o travesseiro, prestando atenção no Conde.
O Conde notou como ela deixou as mãos
caídas ao longo do corpo, fechadas e tensas. Era
uma menina tensa.
-Não fique nervosa na minha presença. –
ele pediu gentil - Meu único desejo é conhecê-la
melhor, saber seus gostos, suas alegrias, e se
possível ser o responsável por seus sorrisos. – uma
nuvem cobriu os olhos dele ao dizer – Não pude
fazer Madeleine sorrir. Sinto por isso até hoje.
-Mamãe nunca foi feliz. Ela não gostava
dessa fazenda como meu... Como Antenor gostava
– confessou, baixando os olhos – Mamãe sonhava
em ir a Londres e cozinhar em grandes doceiras.
Conhecer as lojas movimentadas e ver as ruas
apanhadas de gente. Antenor prometeu isso a ela
quando se casaram.
-Madeleine era só uma criança quando se
casou – ele disse apenado – assim como você
também é muito nova. Não podemos mudar o
passado, Helena, mas podemos mudar o futuro.
Não estou aqui para interferir em sua vida, mas se
estiver infeliz, posso ajudá-la.
Helena não teve coragem de olhar para
ele. Não queria falar sobre seu casamento e a
possibilidade de desfazê-lo, ou simplesmente
abandoná-lo. Por isso mudou rapidamente de
assunto.
-Tenho me comportado com muita
grosseria e gostaria de dizer que me arrependo.
Não é justo da minha parte.
-Pelo contrário. – ele se aproximou, mas
não o bastante para assustá-la – Fiz uma escolha
errada ao abrir mão de você e de sua mãe.
Madeleine tinha o direto a escolher a vida que a
fazia feliz, mas você não. Era apenas uma semente
crescendo em um ventre. Deveria ter ficado nessa
cidade e visto-a crescer, mesmo que a distância.
Interferido quando necessário. Mas fui fraco e
achei que a dor de perder um amor seria menor a
distância. Estava errado sobre isso também.
-O passado não muda, não é mesmo? –
ela tentou sorrir, usando de suas palavras – todos
fazem coisas estranhas quando estamos sofrendo...
-Gosto de seu marido, Helena – ele disse
ficando sério demais – me preocupa, no entanto,
sua ambição. Você mesma disse várias vezes
que...
-Oh, não leve a sério o que digo quando
estou furiosa – ela tentou rir para espantar a
seriedade da situação – sou muito desbocada e
sempre... Desconto ‘nele’.
-Então, está dizendo que Ronald é um
bom marido?
Era uma pergunta simples.
Bons maridos não colocam suas mulheres
de quatro no sofá da sala e praticam sodomia!
Não mesmo! Bons maridos não levam
tiros em bares, ou praticam sexo com suas
mulheres estando bêbadas e desmaiadas!
Mas maus maridos também não se
preocupam em vê-las sorrirem, muito menos
desejam suas esposas do modo como Rony a
deseja!
Sua expressão fácil a entregava, em todos
os sentimentos conflitantes, e o Conde estendeu a
ela uma das mãos, num mudo pedido de trégua e
entendimento.
-Vamos descer, o cheiro do café está me
deixando faminto.
-Sim, claro – ela aceitou o toque,
ajudando o pequeno Ruanzito e sair da cama e lhe
dar a mão.
Os três desceram as escadas, e na sala
Rony os esperava. Havia se vestido, e tinha os
cabelos molhados. Helena quis lhe perguntar se
havia lavado a cabeça em água fria como era seu
horrível hábito! Aquilo acabaria num grave
resfriado! E um resfriado enquanto convalescia de
um tiro era desesperador demais para cogitar!
-Bom dia, Conde – Rony cumprimentou
sorrindo, sem tirar os olhos de Helena, que corou
furiosamente quando ele olhou para seu decote,
claramente lembrando-se da noite passada e do
que fizera em seus seios. – sente o cheiro? Helena
cozinhou para nós e está prestes a provar as
melhores guloseimas que já teve a honra de
comer!
Edgar riu de seu entusiasmo, olhando
para o modo envergonhado da filha.
Alguma coisa acontecera durante a noite,
e ela evitava olhar para o marido. O menino de
Juanita correu para a cozinha, e Helena nem
tentou impedir, pois teria que passar por Rony.
Estava constrangida pelo modo como usara do
corpo masculino para se satisfazer. Do modo
selvagem como o instigara a possuí-la!
O Conde, interpretando seu
constrangimento de forma errônea, notou naquele
exato momento que seu genro tinha a camisa
dobrada acima dos cotovelos, pois fazia muito
calor, e pode ver claramente as marcas e arranhões
na pele. Seus olhos se chocaram ao encontrar
marcas de dentes em sua mão esquerda.
Olhando para a filha cabisbaixa, e
achando que havia apenas um modo de um
homem punir uma esposa malcriada, e que
aquelas marcas eram prova incontestável que a
filha sofria maus tratos, foi curto e grosso ao dizer:
-Desejo levar Helena comigo para
Londres o mais rápido possível.
A frase pesou no ar entre eles.
Helena olhou para o homem com o
coração disparado. Ir embora? Ele estava louco?
Aquela era sua casa! Sua vida, seu marido
estavam ali! As palavras, no entanto, ficaram
presas em sua boca.
-Helena conhecerá Londres, mas não
desse modo – Rony foi diplomático – Poderemos
fazer uma visita em breve e...
-Quero tirar minha filha definitivamente
daqui. – ele cortou. Pondo-se em frente à Helena,
numa postura que poderia ser de proteção.
-Não pode levar minha mulher para longe
de mim – Rony encarou-o, por mais que desejasse
ser afável, não aceitaria isso!
De forma alguma perderia Helena! Nem
que para isso precisasse brigar com seu pai.
-Não permitirei que minha única filha,
minha única herdeira em bens e título fique nessa
casa mais nem um minuto. Desejo sua felicidade,
e para mim, está claro que não a encontrará nesse
lugar, e muito menos ao lado de um marido
espancador!
Rony olhou para as próprias mãos e
braços, para onde ele apontava.
-Um marido espancador? E porque as
marcas estão em mim e não em Helena?
Ela achou que desmaiaria. As vistas
estavam turvas. A qualquer momento os dois se
engalfinhariam bem na sala, e na sua frente.
-Decida agora, Helena – Edgar disse,
olhando para a filha com severidade.
-Decidir...? – aflita, olhou para Rony e
então para ele.
-Não posso ter certeza se é feliz ou não,
precisará me dizer. Deseja ficar nessa casa, com
esse homem, ou deseja a liberdade e futuramente
outro marido? Em minha posição social, nada é
impossível! Não é preciso que fique sua vida toda
presa a um casamento infeliz como fez sua mãe!
-Isso mesmo, Helena. Decida – Rony
instigou, furioso com a ousadia do sogro.
Helena não sabia, mas para ele tanto
fazia sua decisão. Por nada no mundo sairia
daquela casa! Se fosse preciso a sequestraria e
sumiria no mundo com ela! Mas não permitiria
que fosse apartada de si, sendo sua vontade ou
não!
Helena puxou ar com força.
Os dois esperavam uma resposta.
Não podia simplesmente virar as cosas
para tudo que era seu. Claro, como dissera o
Conde, com dinheiro poderia ter a fazenda de
volta. Não era impossível para quem tinha
dinheiro.
Estava livre como um passarinho. Não
precisava ficar.
Agoniada, sentiu um aperto no peito,
como se estivesse sufocando. Iria embora.
Não era seu sonho mais secreto? Acabar
com aquele casamento torturador?
Não, não era. Como poderia mentir a si
mesma? Não podia viver sem esse homem
infernal!
Não podia ir embora.
E não poderia dizer que queria ficar. Não
conseguia admitir. Tinha que pensar.
E pensar rápido.
Os dois a encaravam a espera de sua
resposta, e se não fosse rápida, eles decidiriam por
ela. Só de pensar que poderia estar entrando em
um trem para longe, sem Rony, já era o bastante
para sua mente embaralhar.
Homem dos infernos!
-Não posso partir – ela disse afinal,
talvez querendo ganhar tempo.
“Pense rápido, Helena”, disse a si
mesma.
-Pode partir. E deve fazê-lo se for sua
vontade. Diga minha filha. Diga se quer partir ou
não!
Posta na parede, ela se afastou dos dois.
Estava acuada, e Rony sabia. Só de olhar
ele sabia.
Passando uma das mãos na testa, pensou
em simular um desmaio, mas quando se
recuperasse teria que responder de qualquer
forma. E poderia ser um incentivo ao Conde achar
que não estava com boa saúde e levá-la contra a
sua vontade!
-Eu não posso partir – respondeu
novamente, acuada ao extremo.
-E porque não? – o Conde tentou se
aproximar, mas ela se afastou.
Ao notar que estava muito perto de Rony,
se afastou, assustada ao olhar para ele. Estava
furioso com o Conde ou com ela.
Tanto fazia.
Tinha que pensar rápido.
-Porque não pode ir embora? – o Conde
tornou a repetir, muito perto, muito decidido a
arrancar dela uma resposta.
Rápido. Rápido. Rápido...Precisava de
uma resposta rápido!
-Porque estou grávida.
As palavras saíram de sua boca sem que
o cérebro houvesse processado-as. Um súbito
alívio fez seu coração bater mais leve. Tinha uma
desculpa para não partir!
Era perfeito.
Mas e agora?
Em pânico pelo que dissera, saiu
correndo.
O que mais faria?
Tentou se trancar no quarto, mas a porta
foi forçada. Ela tentou com todas as forças resistir,
mas Rony irrompeu no quarto. Ele trancou a porta
e encarou-a.
Pronta para uma briga, arregalou os olhos
quando ele abriu um lindo sorriso e se aproximou,
segurando suas mãos, orgulhoso e feliz.
-Quando descobriu? Juanita lhe contou?
A pergunta não fez sentido. Encarando-o,
teve certeza que esse homem estava louco!
-Esperaríamos, Aporah concordou que
não era a melhor hora... Achei que contaríamos
mais a frente – ele falava coisas sem sentido. – Foi
difícil conter esse segredo, mas deveria saber que
descobriria! Sempre tão esperta! Diga-me, sabe há
muito tempo?
-Saber...?
Rony registrou sua confusão. Estava
lívida, completamente atordoada, e não fazia ideia
do que ele falava.
-Mentiu para o seu pai? – ele perguntou
de repente, achando estar entendendo tudo errado.
-Eu... - ela puxou as mãos, soltando-se e
impondo uma distância segura entre eles. Não
teve coragem de olhar para ele. -... tinha que dizer
algo!
-Então, não sabia ainda da gravidez! – ele
ficou aparvalhado com a descoberta. – Mentiu
porque não quer ir embora!
-Que gravidez? – ela quis bater nele por a
estar confundindo.
-Está grávida, Helena – não havia mais
como esconder, ele decidiu.
-Eu disse isso apenas para ganhar tempo.
Para não ter que... - ela parou ao entender – Disse
que Juanita sabe que estou grávida?
-Foi ela quem me contou. Faz pouco mais
de um mês que notamos.
-Eu não estou grávida! - ela manou a
cabeça desacorçoada – imagine! Os chás de
Juanita...
-São calmantes, ineficazes, pois continua
nervosa como sempre – ele tentou fazer graça.
Ela ficou olhando para ele.
Um olhar parado. Chocada demais para
falar.
-Juanita notou que seu apetite mudou,
sentia enjoos matinais. Fraqueza, desmaios...
Sintomas inegáveis de uma gravidez.
-Impossível – ela disse se apegando a
lógica – Eu sangrei esse mês. É impossível!
-Isso nos confundiu, mas minha mãe
disse que é possível, que já passou por algo assim
antes e Alice nasceu logo depois. Helena...
Ela se afastou no instante em que tentou
tocá-la.
-Os mal estares... Eu achei que estivesse
doente! – sua voz se alterou.
-Lhe garanti que não era para se
preocupar. Mantive-me afastado quando os
empregados adoeceram, pois tinha medo de
contaminá-la sem querer e contaminar o bebê
também.
-Deus... Não é possível! Eu fui surrada!
Não poderia ter me mantido grávida depois disso!
Se estivesse grávida eu o perderia! – sua voz
estava definitivamente alterada agora.
-Não há palavras para descrever um
milagre, Helena.
-Não. Está fantasiando! Porque não me
contariam? Se estivesse grávida, porque manter
segredo logo de mim? Ou acha que quando a
barriga crescesse eu não notaria?! – algo mudou
em sua expressão e ela sentou na beira da cama,
achando que desmaiaria – meus vestidos... Estão
tão apertados!
-É claro que iria saber, Helena. Quis
contar logo, mas Juanita me convenceu que seria
melhor esperar passar os três primeiros meses.
-Por quê?
Sua voz soou rachada, vulnerável.
-Porque, primeiro você passou por uma
longa recuperação, não precisava de mais
sobressaltos, depois... Juanita achou que ficaria
muito nervosa com a descoberta e poderia...
Poderia fazer mal ao bebê.
-Eu faria mal ao bebê? - seus olhos se
arregalaram.
-Não, seus nervos alterados poderiam
fazer mal a gravidez, como, aliás, fizeram. Quase
o perdeu três dias atrás, Helena. A índia que
trabalha para meus pais pode curá-la. Mas quase o
perdeu.
-Como puderam me esconder isso?! –
furiosa, de repente, levantou-se e enfiou o dedo
diante do rosto de Rony, cobrando-o – Sabe as
bobagens que fiz? Eu não sabia que corria riscos!
Acaso é louco?
-Helena...
Ela se afastou novamente, escapando dele
e de sua tentativa de acalmá-la.
-Jamais teria me metido na história de
John e Alice se soubesse que esperava um bebê!
Tem ideia de quanta tensão passei? De como me
senti mal por agir as espreitas, acordada a noite,
vigiando se Alice iria ou não para o quarto de
John?! Deus, jamais teria deixado aquela cobra
chamada Alexia sob o mesmo teto que eu e meu
bebê! Como pode deixar Alexia aqui dentro
sabendo que eu esperava um filho? Você é
completamente insano!
Surpreso com sua revolta foi ele que não
entendeu.
-Eu teria contado se fosse mais calma! –
revidou – Agora mesmo, está gritando, mesmo
sabendo que espera um filho!
Ter essa verdade jogada em sua cara à fez
se calar.
-O que senti eram enjoos ? – ela
perguntou de repente.
-Sim, e é por essa razão que se sentiu tão
mal e por tanto tempo. Aporah cuidou de você no
outro dia e me recomendou que não lhe fizesse
amor completamente por um mês, para que esteja
completamente curada. Pela mesma razão.
-Nossa, como sou tola – ela disse para si
mesma. – Como pude não perceber...?
-Não se culpe, sempre há muito em que
pensar, Helena. Sua vida não tem sido fácil. – ele
falou manso, para não sobressaltá-la – Sente-se –
ele pediu apontando a cama.
Aturdida ainda, sentou-se. O vestido
repuxou nas costuras, e ela deu-se conta do quanto
era óbvio.
-Mas eu não posso ter um filho - ela disse
baixinho.
-E porque não? É mulher. É saudável,
porque não poderia ter um filho?
-Porque ele vai morrer e eu vou... Morrer
junto, como aconteceu com minha mãe. A cada
filho morto, ela morria um pouco. – confessou,
sentindo tanta dor dentro de si que lamentou ser
capaz de sentir alguma coisa.
-Isso não vai acontecer. Nosso filho não
será um agregado xucro e criado para ser um
brigão. Será um homem culto. Saberá se portar e
cuidar da mãe. E se for uma menina... Bem, ela
saberá se cuidar se puxar a você.
Nem seu senso de humor pode abrandar
seu desamparo.
-Deus, e se nascer como você? - ela disse
de repente – Nunca mais terei paz na vida! Será
um gozador e vai irritar muita gente!
-Helena, nós não vamos recriar a história
dos seus pais, porque não somos como eles. Olhe
para mim – pediu, sentando ao seu lado - Acha
que não terá amor para um bebê seu?
-Não sei – foi sincera.
-Mas eu sei. Tem tanto amor aí dentro
que trasborda – ele tocou sobre seu coração –
Amor o bastante para defender Alice, para
defender minha amizade com John. Para cuidar
dos meninos de Juanita e temer pela vida de
Duran, como se fosse seu irmão. Amor o bastante
para ser capaz de salvar minha vida. Helena, você
é feita de amor. Por isso sofre tanto. Porque ama
demais.
-Serei uma mãe horrível – disse
consciente disso – nem ao menos podia me contar
da minha própria gravidez!
Rony riu de seu desespero. Ela se deixou
tocar, e Rony segurou seu queixo, beijando seus
lábios muito de leve.
-Seremos pais horríveis, nós dois. A
menos que comecemos a nos entender.
-Sempre se aproveitando de uma
oportunidade... – ela disse, começando a sorrir.
-Vamos ter um filho juntos. Não somos
mais inimigos, Helena.
-Nunca foi meu inimigo – ela disse, e
consciente da quase declaração, corrigiu – Apenas
não o suporto.
-Acha que pode me suportar por algumas
horas? - ele perguntou mudando a abordagem,
segurando sua mão e a ajudando-a a se levantar.
-Por quê? – ficou desconfiada.
-Porque vamos passear. Ir à cidade e
encomendar um lindo enxoval de bebê, além de
vestidos novos para você – ele sorriu quando
notou um pequeno sorriso em sua face – Vai
precisar de roupas maiores e mais folgadinhas
quando estiver redonda como uma bolinha de
pingue-pongue...
-Ainda não o perdoo por não ter me
contado antes! - ela avisou – Poderia ter sido mais
cuidadosa! Ah, quando penso nas coisas que fiz,
sem saber que poderia me fazer mal...!
-Não fique assim – ele abraçou-a e
Helena o abraçou com força pela cintura,
escondendo o rosto em seu peito.
Quando notou que ela não o soltaria tão
cedo, entendeu que apesar de receber a notícia
com mais suavidade que o esperado, ela estava
muito emocionada.
-Quer ficar um pouco aqui? Podemos
deitar e eu fico te abraçando até que sinta vontade
de me bater novamente... O que acha? – tentou
alegrá-la.
-É melhor falar com meu... Com meu pai
– ainda era difícil se referir a ele assim – Estou
presa a você para o resto da vida, e agora é
verdade – seu ar de descaso e desdenho quase o
ofendeu.
Helena limpou o que poderiam ser
lágrimas em sua bochecha, mas ele não teve
tempo de ter certeza e então sorriu muito de leve,
envergonhada.
-Preciso mesmo de vestidos maiores.
Rony conteve um largo sorriso para não a
ofender. Ofereceu a mão, mas ela recusou. Se
recompondo, abriu a porta e saiu, deixando-o para
trás.
Não fora tão ruim, pensou. Ao menos
ainda estava vivo para contar essa história aos
netos.
Antes que ela chegasse à cozinha, ele
sussurrou em seu ouvido:
-Mentiu ao seu pai para não ter que me
deixar.
-A fazenda está em seu nome - ela
revidou nada disposta a cooperar.
-Seu pai é um homem rico. Poderia ter a
fazenda que quisesse! – argumentou.
-Eu quero essa! - ela olhou para trás, com
um ‘que’ de desprezo que o excitou – além disso,
um filho não deve crescer longe do pai, por pior
que ele seja.
Engolindo essa resposta, ele acercou-se
de seu braço e a levou junto dele para a cozinha.
O Conde não comia. Estava obviamente
nervoso, e se levantou no momento em que eles
entraram no recinto. Juanita sorriu para Helena, e
havia tanta sinceridade em seus olhos, e felicidade
por finamente saber, que Helena sentiu vontade de
abraçá-la.
-Fui eu quem fez as marcas em Rony –
ela disse ao pai, antes que o assunto recomeçasse
– não peça que explique como – corou
furiosamente. – ainda a pouco, não estava com
medo dele, estava constrangida.
-Preciso ter certeza que não corre riscos
nesse casamento – ele exigiu.
-É claro que não corro riscos – ela disse
cansada dessa conversa – nós brigamos o tempo
todo, mas isso não quer dizer que nos odiamos.
Apenas não nos suportamos.
-O que Helena quer dizer é que me ama,
mas não vai admitir jamais – ele completou.
-Como alguém pode amar um homem
completamente louco?
Ignorando sua acidez, ele sorriu.
-Vamos ser pais. As brigas vão acabar
porque Helena vai se acalmar. Não vai?
Havia desafio em seu olhar.
-Sim, eu vou. – ainda bem que alguém
não poderia morrer por admitir algo desse tipo, ou
Helena estaria morta agora mesmo!
-É melhor que se acalme, Helena –
Juanita interferiu – Mulheres nervosas na
gravidez, geram crianças agressivas. Não quer ter
um menino brigão, quer?
Sabendo que esse era um ponto delicado,
Juanita passava seu recado.
-Não é fácil ficar calma o tempo todo –
ela disse começando a se desesperar.
-Pois se esforce, assim como todos nos
esforçaremos para que nada a aborreça. – Juanita
ficou mais perto, talvez incerta sobre
demonstrações de carinho na frente do Conde –
Foi difícil guardar esse segredo, mas também foi
divertido, vê-la tão tontinha, sem notar nada! –
havia muita doçura em sua face, e Helena
procurou-a espontaneamente para um abraço. –
Está feliz com o bebê não é?
Helena recebeu esse abraço de mãe com a
garganta apertada.
-Me enganou sobre os chás, e deveria
estar furiosa. Mas não estou. – confessou.
-Então, é a prova de que não fiz nada
errado – a voz de Juanita também parecia
embargada. – Sente-se e coma. Precisa se
alimentar cada vez melhor!
-Sairemos para comprar o enxoval, agora
que Helena sabe de tudo. – Rony contou e os olhos
de Juanita brilharam.
-Venha conosco – Helena pediu, mas
Juanita negou com um movimento da cabeça.
-Leve sua cunhada, ela precisa de um
descanso.
Alice que estava acordada há horas e
cuidava do galinheiro nesse exato momento, e
Helena pediu licença para sair e procurá-la. Havia
um brilho risonho em sua face, e seus olhos
brilhavam com genuína felicidade.
Rony sentou pesadamente na cadeira, e o
sogro olhou-o sem compreender.
-Não é fácil conviver com Helena. Ela se
protege o tempo todo. Ter cuidado de tudo sozinha
por tanto tempo e ter perdido a família a fizeram
ter medo da felicidade. Quando nos casamos, se
negava a ser minha esposa de fato, não queria
engravidar, tinha pavor dessa ideia. Não quis um
marido para não se apegar a ninguém. Às vezes,
eu consigo dobrá-la, como ontem à noite, ela
briga, tenta me ofender e me afastar, mas sempre
acaba se entregando. É uma moça adorável.
Apaixonada pela vida. Antes de morrer, os pais
conseguiram enfiar em sua cabecinha que ela não
tinha direito a ser feliz. Que a irmã mais nova
deveria ter um futuro brilhante, enquanto ela
merecia o trabalho árduo e o sofrimento. E Helena
não quer ver que estavam errados. Esse tipo de
coisa deixa uma pessoa marcada. Então Conde,
ainda vai ver marcas como essa – ela mostrou a
mão - ou coisa pior, porque ela luta como uma
gata selvagem para não demonstrar o que
realmente quer. E não posso fazer nada, a não ser
levá-la ao extremo, e ver se de alguma forma, ela
começa a ver a vida de outro modo.
O Conde ouviu quieto.
Devia um pedido de desculpas ao genro,
mas ele não era o tipo de homem de se desculpar,
e não parecia que Ronald fosse o tipo de homem
que necessitasse de pedidos de desculpas.
Por isso, ambos apenas seguiram
conversando, sem tocar na discussão de pouco
tempo antes.

Alice ergueu os olhos e enxotou uma


galinha antes de desdobrar o corpo e finalizar a
tarefa de alimentá-las.
Helena andou até ela e ficou parada
olhando para Alice com expectativa.
-Eu estou grávida, já sabia? – perguntou
direta.
-Sim... Rony teve que me contar, eu sou
insuportável demais, não queria que te irritasse
nesse momento difícil.
-Sim, é insuportável, mas precisarei de
ajuda com o enxoval – segurava um sorriso de
contentamento.
Alice soltou um risinho, achando graça.
-E acaso não estava bordando seu próprio
enxoval, Helena?
Surpresa, ela compreendeu que tinha
razão.
-Juanita!
-Sim, ela é muito esperta – Alice riu –
Meu irmão achou que fosse detestar a ideia de ter
um filho. Como se sente?
-Enganada. – confessou – Mas não posso
mentir que não entendo a razão...
-Rezo para também estar grávida. – ela
confidenciou. – Quero saber se está feliz, Helena?
-Precisamos nos apressar, ou não teremos
muito tempo para as compras, pois sairemos
tarde! - ela fugiu da pergunta, virando as costas e
voltando para casa.
Alice ficou olhando-a ir, o pensamento
longe. Pensava em John e na solidão que sentia.
Capítulo 88 - Quase confissão

Rony tinha as sobrancelhas enrugadas na


testa, analisando seu bom humor e sua vivacidade.
Era tão atípico vê-la contente! Depois de negar as
insistentes ofertas do Conde em trazer o enxoval
da corte, Helena deixara claro que estava satisfeita
com um enxoval comprado no armazém da
cidade, e que ela e Alice poderiam bordar as
peças.
A mera sugestão de encomendar vestidos
com Susan em determinado momento, a fez parar
e olhar para ele com fúria nos olhos.
Ele deveria estar ansioso para ver seu
flerte. É claro. Embora um sogro juiz não se
comprasse a um sogro Conde, Rony não era de
desprezar as oportunidades, como ele mesmo
dizia.
Repetiu mentalmente as palavras de
Juanita sobre mulheres grávidas nervosas gerarem
filhos agressivos. Precisou contar até mil antes de
concordar com apenas um aceno.
Ficou de pé no quarto de Susan, usando
apenas as roupas íntimas, enquanto mãe e filha
tiraram suas medidas.
-Sempre tão magra – Susan desdenhou –
Não sei por que seu marido quer lhe dar mais
vestidos. Eles lhe caem terrivelmente mal.
-Preciso de vestidos novos por causa do
bebê – respondeu com falsa casualidade –
Vestidos de grávida, e espero que saibam fazê-los.
E um vestido de festa, pois meu pai é um Conde.
-Seu pai? – A mãe de Susan superou a
surpresa pela gravidez, em nome de um peixe
maior. – Seu pai está morto, querida.
-Meu verdadeiro pai – ela disse no
mesmo tom – Acaso não viu a carruagem lá fora?
Mãe e filha deixaram-na de pé sobre o
banquinho onde tiravam as medidas e correram
para a janela, olhando para a rua.
-Ele está muito feliz com o neto.
-Não está grávida! – Susan disse a beira
das lágrimas. Lágrimas de ódio. – Porque Rony
não veio pessoalmente contar?
-E porque meu marido viria lhe contar da
minha gravidez? – Helena sentia prazer em
machucá-la – Ele tem seus assuntos para tratar.
Não tem tempo para essas tolices. Se não podem
fazer os vestidos... – estava prestes a sair da
banqueta quando a mãe de Susan interferiu.
-Posso fazer modelos mais soltinhos, e
outros próprios para a gestação. Precisará também
de roupas íntimas apropriadas. Susan, busque
uma agulha no seu quarto – ela disse com uma
expressão que não deixava dúvidas sobre querer
tirar sua filha inexperiente do combate.
Raposa velha pensou Helena.
-Esperto de sua parte, Helena. Quase me
enganou com sua expressão contrariada. – a velha
disse quando ficaram sozinhas – um filho sempre
prende um homem!
-Imagino que sim – disse com pouco
caso, achando que a mulher estava mais
incomodada do que ela!
-Um pai Conde? Isso quer dizer que será
uma Condessa quando ele morrer...
-E meu marido será um Conde – ela
lembrou, erguendo as vistas para a mulher.
A mãe de Susan parou de tirar as
medidas, sustentando o olhar.
-Um Conde viúvo é sempre um bom
partido – ela disse afinal, mudando a seguir o
assunto.
Helena não disse mais nada, mas estava
pálida quando saiu do banquinho. Apressou-se
para vestir o vestido e até mesmo deixou aquela
asquerosa mulher abotoá-lo, tudo para poder sair
dali o mais rápido possível.
Era uma ameaça de morte.
Na sala, Helena fez sinal para que Alice
levantasse. Sua vontade era berrar e esbravejar,
deixando claro que não tinha medo de suas
ameaças. Mas tinha um filho em sua barriga. Uma
criança que não quisera, mas que existia, e agora,
seria o centro de sua vida, e só por ela se acalmou.
-Não quero mais os vestidos – ela disse
calma como nunca, encarando a mãe de Susan, e
ignorando as perguntas de Susan – Pedirei a meu
pai que traga um enxoval da corte – era apenas
para humilhá-las – Duvido que meu marido
continue mantendo negócios com seu pai agora
que não precisamos de dinheiro.
Susan pretendia argumentar, mas sua
mãe a impediu. Orgulhosa, abriu a porta e as
deixou saírem. Sabia quando ganhava, mas sabia
também quando perdia.
Na carruagem, muito maior que a de
John, apenas Rony e o cocheiro as esperavam.
-Onde está o Conde? – Alice perguntou
acomodando-se no estofado.
-Mostrei a ele onde fica o cemitério. Ele
precisava ficar só. – contou notando a palidez de
Helena – Encomendou os vestidos?
-Não. Desisti – contou, respirando
aliviada por não estar mais naquela casa.
-Brigou com Susan? – ele perguntou já
prevendo o inevitável.
-Não. Foi algo que a mãe dela me disse.
– nem sabia por que estava contando estas coisas.
-E o que ela lhe disse? – ele estava
sentado ao seu lado, esperando que contasse.
-Contei que tenho um pai Conde, ela
estava me provocando e quis... Colocá-la em seu
lugar. – estava envergonhada do próprio
comportamento egoísta – ela disse que um dia
seria uma Condessa, e obviamente, você seria um
Conde. E que... Um Conde viúvo é um bom
partido. Soou como uma...
-Ameaça de morte? – ele segurou sua
mão – Esta na hora de definitivamente cortar
relações com o Juiz e sua família. Subestimei o
desespero deles em casar a filha. – havia um traço
de preocupação em seu rosto.
-Aonde vai? – ela segurou sua mão,
quando ele pareceu querer sair da carruagem. –
Não é necessário essa conversa ser agora! –
reclamou – É um covil de cobras. Termine o
trabalho que ele lhe deu, e encerre o contato com
ele, sem um combate.
-Está preocupada comigo? – ele sorriu
satisfeito diante dessa possibilidade.
-Ah, meu Deus, esse homem não me dá
um minuto de sossego! – puxou a mão,
contrariada – Preciso de tecido, Juanita pode fazer
alguns vestidos para mim. Não preciso de laços e
de fitas afinal!
-Não havia decidido ficar mais calma? –
Alice perguntou sussurrando – Está sendo nervosa
de novo!
-E você? Está vigiando meus nervos? -
ela respondeu mal educada.
-E o que mais tenho a fazer? – Alice disse
desgostosa – queria que um milagre trouxesse
John de volta. Ou ao menos tivesse a confirmação
que... – olhou para o irmão em dúvida -... Que
tanto espero.
-Ela acha que está grávida – Helena
contou, decidida a se acalmar e não guardar mais
nenhum segredo. – Seria bom ver mais alguém
sofrendo, afinal.
-Não sinto enjoos fortes como os seus.
Mas tenho vertigem às vezes... E não... Bem, não
tive minha regra esse mês – ela estava corada por
falar essas coisas diante do irmão.
-Irá parar com o trabalho pesado, Alice -
ele disse olhando para a irmã com tanto carinho
que doeu em Helena. – John sabe?
-Não. Só contei até agora para Helena.
-John ficará muito orgulhoso quando
souber – ele tinha certeza disso.
Alice pareceu precisar ouvir algo assim.
-De qualquer modo, preciso buscar a
intimação da qual Percival falou. Se não o fizer,
dará a impressão que estou me escondendo. – ele
suspirou desanimado. – Ao menos, segundo
Percival, a história do tiro não vazou. Não havia
nenhum conhecido no bar naquele momento.
-É necessário que o acompanhe ao
gabinete do juiz? – Helena perguntou, incomodada
com essa ideia.
-Não. – ele sorriu, levando sua mão aos
lábios e beijando a pele com carinho. – Prefiro que
me espere na casa de chás. É mais fresco, e pode
comer e beber um delicioso chá na minha
ausência – disse galante.
Alice disfarçou um sorriso, olhando para
fora da carruagem, enquanto se aproximavam do
cemitério. Edgar esperava em frente ao portão.
Tinha a expressão triste e desolada, mas Alice
notou como fez esforço para não demonstrar ao
juntar-se a eles.
-Deseja visitar sua família, Helena? –
Rony perguntou e ela afastou os olhos, maneando
a cabeça.
-Hoje não... Ainda é cedo.
Quis explicar que não era capaz de
encarar todo o passado de sofrimento e privação,
sabendo que boa parte de seu sofrimento fora
culpa do homem a quem tinha tanto amor.
As duas desceram na casa de chás,
depois de Rony e o Conde ficarem diante do
prédio onde ficava o gabinete do juiz. Alice estava
animada com a ideia de tomar um delicioso chá,
levando-se em conta que raramente ia até ali, pois
os pais não tinham razão para gastos tão pouco
eloquentes.
Ela sentou-se numa das mesas e mostrou
a Helena algo dentro de sua bolsinha de mão.
-John deixou comigo, para que usasse em
sua ausência. Hoje, sou eu quem pagará nosso
chá. – ela disse orgulhosa.
Helena maneou a cabeça, e mandou-a
guardar aquilo antes que chamasse muita atenção.
Era estranho estar em um lugar bonito e
tão a vontade. Usava um vestido novo, e estava
arrumada, coisa incomum em seu passado. Pelo
visto, era verdade quando diziam que as pessoas
se acostumam muito rápido com a vida boa e os
prazeres do luxo.
-Peça o que quiser, eu pagarei – Alice
lembrou-a quando ia fazer seu pedido.
Enquanto Alice fazia seu monólogo,
contando a velhinha que era a dona do local sobre
seu casamento fugido, e a novidade da gravidez de
Helena, ela se dedicou a escolher o que comeria.
-Helena? Posso fazer uma pergunta? –
Alice falou com voz hesitante.
-Se eu disser que não, você ficará calada?
– ela perguntou sorrindo.
-Não mesmo! – ela também riu – Não
ficou brava como Rony achou que ficaria ao saber
do bebê. Confesse, está feliz não está?
-Vai contar ao seu irmão? - ela
perguntou, enquanto admirava o delicioso bolo
que era colocado diante de si. Chá gelado e suco
de frutas. Em outros tempos não teria apetite para
tanto!
-É claro que não. Somos amigas, não
posso contar seus segredos, assim como não conta
os meus! – ela disse como se fosse óbvio.
-Somos amigas? – Helena desistiu de
comer, imóvel, olhando para Alice em expectativa.
-Sempre fomos. – ela disse envergonhada
– Estava magoada e sentindo muito a sua falta
para perceber isso. Eu... Sinto muito por todas as
vezes que te ofendi Helena. Nunca foi por
maldade pura, mas sim porque sentia muito a sua
falta.
-Eu... – Helena não sabia o que dizer.
Não era boa com palavras ou demonstrações de
sentimentos. Sentindo a garganta apertar, ela
apenas maneou a cabeça e Alice teve a
sensibilidade de mudar de assunto.
Mesmo que falassem de amenidades,
havia um brilho de lágrimas nos olhos de Alice, e
em dado momento Helena segurou sua mão sobre
a mesa e sorriu:
-Eu sinto muito também.
-Ótimo. – ela disse apertando sua mão –
temos que ser maduras agora que seremos mães –
ela disse e as duas acabaram rindo.
-Tão madura quanto uma maçã verde –
Helena alfinetou.
As duas conversavam e riam, enquanto
devoravam os deliciosos lanches, quando o sorriso
morreu na face de Helena.
-O que foi? – Alice perguntou olhando
em volta a retendo a ar – Eu não acredito!
-Não levante! – Helena mandou com voz
cortante.
O doce em sua boca tinha virado azedo e
precisou respirar fundo antes de desviar os olhos
da imagem provocadora, e olhar para Alice com
superioridade.
-Não falaremos com esse tipo de gente!
Não se atreva a falar com ela!
Helena se convenceu que era a melhor
postura. Retomou a colher e insistiu em comer até
o fim seu doce, sob o olhar insistente de Alexia
Lil. Ela estava sozinha, tão bem trajada e pintada
que doía em Helena notar as diferenças entre
ambas. Tão linda e tão desejável, Alexia
pertencera a Rony por muito tempo.
Seus encantos e sexualidade foram o
bastante para manter o interesse dele por meses, e
olhando para ela era impossível achar que não
existia nada entre eles. Um homem pode
enlouquecer com tanta beleza. Até mesmo casar-
se num engano, num enlevo de paixão.
Sentia tanto ciúme que seus olhos
estavam cheio de lágrimas e seu maxilar doía de
tanto que apertava os dentes para não gritar e ir
embora.
Durante quase uma hora manteve-se
firme, enquanto Alice conversava amenidades
para distraí-la.
-Não quer mesmo ir embora? – Alice
sussurrou – Podemos esperar Rony em outro
lugar...
-Não sou eu quem deve sair – ela
respondeu novamente, decidida a não ceder.
Estava quase decidindo, quando para seu
total alívio, uma cabeça ruiva surgiu pela porta da
frente da doceria.
Estava sério e irritado, mas sua expressão
suavizou quando encontrou seu olhar. Um belo
sorriso em sua direção que não pode apagar sua
raiva, e humilhação.
-Rony, é melhor irmos – Alice disse
ansiosa, olhando para Helena.
-Imagine, aqui está mais fresco! Além
disso, preciso de algo gelado. A conversa com o
juiz foi extremamente...
Helena pousou a mão sobre seu
antebraço, num toque que o fez se calar. Rony
tinha uma voz alta, e ela olhou na direção de
Alexia, deixando óbvio a que se referia.
-Talvez seja melhor irmos – ele decidiu,
mas ela maneou a cabeça.
-Já disse, não sou eu quem deve sair.
-Está abatida. – ele não podia tirar os
olhos de Alexia, a raiva sobrepondo-se a
preocupação com Helena – E é tudo culpa minha
que não mandei essa mulher embora quando
chegou a nossa casa!
-Pare de falar tão alto, e beba se está com
sede – ela reclamou, oferecendo-lhe seu copo de
suco. – Não estou abatida, estou irritada, mas isso
não é razão para irmos embora. Recuso-me a sair
como se fosse à errada nessa história perversa!
Afinal, sou eu quem deveria exigir que ela fosse
posta para fora! – respirou fundo – Me conte como
foi à conversa com o juiz.
-Ficou impressionado em conhecer um
Conde de verdade – ele sorriu para o Conde, que
apenas retribuiu o gesto, ocupado com seu
refresco – isso até descobrir que é meu sogro.
Quando contei da veracidade do nosso casamento,
e da ida de John a Londres atrás das provas legais,
e, sobretudo do nosso bebê, ele ficou
definitivamente fora de si.
-Não entendo o porquê disso. – o Conde
disse injuriado – Está seguindo leis próprias, pois
não há embasamento algum para as ameaças que
fez!
-Ele esperava um bom momento para me
dar um golpe e arranjar um casamento para a
filha. – Rony explicou – creio que pensa, que se
não me casarei por vontade, será a força. E Alexia
lhe trouxe a munição para usar contra mim. Não é
preciso ser muito inteligente para saber que não
sou o tipo de homem que preferiria ser preso a
casar com uma jovem bonita e bem nascida - ele
ironizou – nunca pensei que meu senso de
liberdade e espontaneidade me levasse a isso!
-Ambição, você quer dizer – ela retrucou
– se não fosse tão ambicioso não estaríamos nessa
enrascada!
-Se não fosse minha ambição também
não estaríamos casados, Helena! – lembrou-a
brandamente.
-É exatamente disso que estou falando –
ela retrucou calmamente.
Com a sombra de um sorriso, encarou-o
esperando que tivesse coragem de dizer que não
tinha razão. Rony pensou em arquitetar um longo
discurso sobre não se rebelar contra o marido, mas
apenas sorriu e curvou-se para beijá-la. Um beijo
modesto e discreto, para não ofender quem
estivesse olhando.
-Não faça isso em público – ela reclamou
com os lábios muito perto dos deles.
-Venha comigo ao cabaré e não faço em
público – ele sugeriu.
-Do que está falando? – empurrou-o
chocada demais para acreditar no que ouvia.
-Acaso não sabe que o cabaré também
tem quartos para uma noite só? – controlava a
vontade de rir.
-Acha que iria a um lugar desses? –
gaguejou o corpo pegando fogo diante da mera
sugestão.
Rony notou como afastou o olhar, as
mãos um pouco trêmulas. Queria apenas provocá-
la, mas ao notar sua excitação, sentiu o fogo correr
em suas veias também.
-Entramos pela porta dos fundos,
ninguém verá... – sussurrou quase em seu ouvido.
-Meu pai... Sua irmã... – ela pôs um das
mãos sobre seu peito empurrando-o um pouco,
para tentar respirar. Seu cérebro não achava
grandes desculpas para dizer não. – Oh, não me
proponha esse tipo de coisa...
-Tem razão – ele segurou o riso vendo
sua decepção – Não podemos fazer isso,
recomendações de Aporah. Lembra?
Helena conteve um grito de raiva e
frustração. Como pudera esquecer? Revoltada,
fechou a cara e virou o rosto para o outro lado,
tentando puni-lo com sua indiferença.
O Conde e Alice conversavam sobre
Londres e sobre John, a quem Edgar conhecia de
alguns encontros políticos e sociais. Entretidos,
não prestavam atenção neles.
Porém, de outra mesa, Alexia não tirara
os olhos de sobre eles. A maneira como Rony
cochichava a seu ouvido. A maneira como olhava
para ela. Rony não era um homem de cochichos.
Dizia o que tinha a dizer e ia diretamente à cama.
Objetivo e direto.
Aqueles sorrisos de flerte inocente e
sedutor, como se apesar do casamento, ainda
estivesse seduzindo-a e conquistando-a, trouxeram
lágrimas a seus olhos e revolta ao seu coração.
Vivia como uma prisioneira na fazenda
Parker, mas havia escapado ao saber que Rony
estaria na cidade, na esperança de vê-lo e explicar
sua loucura de amor.
Ele era seu. Era a única coisa que lhe
importava! Se não fosse seu, que apodrecesse na
cadeia, não se importava!
Helena comprou o olhar daquela
mulherzinha, sabendo o que pensava. Achava que
estavam brigando por conta das mentiras sobe o
falso casamento. Mas estava muito enganada.
Certo ou errado, não se desfaria desse
casamento. Estava decidida a manter seu
casamento, e a causa era secreta demais para que
se permitisse confessar.
Rony acompanhou aquela troca de
olhares, imaginando como poderia um homem
achar que entenderia duas mulheres tão diferentes.
Helena e Alexia eram água cristalina contra vinho
intoxicante.
Embora, muitas vezes, Helena tivesse o
mesmo efeito de uma bebida forte e de
procedência desconhecida. Como agora, seu olhar
não deixava margens para dúvidas sobre até onde
iria para defender o que desejava.
Desviando o olhar, Helena voltou-se para
Rony que estava inclinado em sua direção.
-Quando será que poderei sentir os
movimentos? – ela perguntou baixo, incauta,
arquitetando uma doce vingança.
-Do bebê? – ele sorriu achando ser seu
interesse verdadeiro – Em poucas semanas – ele
notou a forma como ela olhou para Alexia,
provocadora.
-Não pode sentir nada ainda? – ela
segurou sua mão, e colocou sobre sua barriga.
Ele entendeu na mesma hora. Esfregava
na cara de Alexia a gravidez. Verdadeira e
legalmente grávida de Rony. Um trunfo.
Alexia mordeu o lábio ao ver a forma
carinhosa como ele acariciava a barriga de Helena.
Não havia dúvidas da razão daquele toque.
Tremendo, ela levantou-se, chamando atenção
pelo estardalhaço, e andou meio caminho em
direção a eles, até mudar de ideia e partir.
Vitoriosa, ela empurrou-o para longe,
ocultando um sorriso de satisfação.
-Deveria me magoar em ser usado? – ele
provocou.
-Não, a menos que tenha provas
concretas e em mãos de que não me enganou já
sendo casado – ela retrucou.
Certo, ele não era de se ofender fácil,
pensou. Achando que ela merecia esse pequeno
momento de revanche, deu de ombros, entrando
em uma conversa com o Conde.
Por vários minutos, mantiveram uma
conversa, enquanto ela se mantinha silenciosa.
Helena observava seus gestos
harmoniosos em se servir e beber, sua educação e
refinamento em total harmonia com seus gestos
másculos. Era difícil admitir, mas não abriria
mão desse homem.
-Podemos ir agora? – Alice perguntou de
repente, quase sorrindo pelo modo sonhador como
Helena olhava para Rony sem que ele notasse.
-Preciso ver tecidos – Helena informou
subitamente irritada.
Seus próprios pensamentos sensuais, a
deixavam envergonhada e cabisbaixa. Não tinha
controle sobre si mesmo, e era algo constrangedor
e assustador!
À noite, a casa estava quieta quando
Rony se despediu do Conde. Eles haviam sentado
na sala para conversar sobre sua situação em
relação às acusações de Alexia e a posição que o
juiz tomara.
Helena havia ido se deitar mais cedo,
silencios e quieta. Algo a incomodara além de ter
visto Alexia. Algo mais profundo que não lhe
causara apenas raiva. Causara-lhe pensamentos
profundos e desconcertantes.
O quarto estava na penumbra, à exceção
de uma vela acessa ao lado da cama. Helena
estava deitada de lado, do lado de Rony, e abriu os
olhos quando ele entrou.
Se ela não queria conversar, por ele tudo
bem, estava cansado, mais do que gostaria de
admitir. Com movimentos lentos, despiu-se e
deitou-se, fazendo Helena se mover para o lado.
Ele gemeu de contentamento ao sentir a
maciez dos travesseiros.
-Está cansado? – ela perguntou baixinho.
-Sim. E você?
-Exausta – confessou, atenta a olhar para
ele, na pouca luz que os banhava.
-Está magoada comigo por ter visto
Alexia? – perguntou apagando a luz da vela.
O escuro foi bem vindo para Helena.
-Não. Tenho outras razões, mas hoje,
não estou brava com você – foi sincera.
-Fico feliz – ele riu no escuro.
Era uma sensação única conversar com
um homem, na intimidade de um quarto, no
escuro com a certeza de que não queria estar em
nenhum outro lugar que não fosse esse!
-Queria não estar tão cansado – ele
revelou, tateando no escuro, até achar a curva do
seu quadril e puxá-la para seus braços.
Helena riu suavemente, quando ele lhe
fez cócegas na barriga ao acariciá-la. Seu sorriso
foi morrendo e se apagando, na escuridão, ele não
viu. Acariciava o filho, dizendo a ele o quanto o
queria.
O quanto o esperava e desejava. Uma
menina talvez, para alegrar seus dias. E lhe dar
muitos cabelos brancos com sua teimosia e
impertinência, tal qual a mãe.
-Nunca quis um marido – ela disse na
escuridão, depois de um tempo de completo
silêncio.
Ele ainda tocava-a, acarinhando e
relaxando seu corpo, para o sono que sentia cada
vez mais próximo.
Não queria admitir. Não concebia a
possibilidade de relevar o que guardava tão
intimamente dentro de si. Estaria frágil quando ele
soubesse.
Engolindo em seco, achando que
sufocaria com tantos segredos guardados no peito,
lembrou-se do medo e da dor ao achar que estava
morto.
Rony sentiu sua tensão e beijou sobre
seus cabelos, abraçando-a contra o corpo, achando
que Helena tinha mais a dizer apesar do longo
silêncio.
-Também nunca quis um bebê – ela
confidenciou.
Preparando-se para o pior, ele esperou.
Era verdade. Tivera pavor à vida toda,
sobretudo após a morte do irmão e da família, de
ter um filho que pudesse morrer ou ser apartado
dela. Tinha medo da dor.
E ter um marido ambicioso e
aproveitador não ajudava muito a afugentar esse
sentimento! Era provável que ele fosse mesmo
casado com Alexia em segredo, e que tivesse
culpa em ter ambicionado outro casamento apenas
para seu bem pessoal.
Era provável também que seu interesse
nesse momento se devesse apenas ao pai Conde.
Mas era notável também, que sempre estivera da
mesma forma para com ela. Desde antes, pobre,
mal cuidada e gritona. Sempre atencioso e
amoroso.
E principalmente, seu olhar era o mesmo.
Refugiando o rosto contra seu pescoço,
ela deixou-se ficar abraçada, uma perna sobre as
dele, o braço em sua barriga enquanto ele
mantinha os braços em volta dela, uma das mãos
acariciando seus cabelos com tanto carinho que
quase lhe causava lágrimas nos olhos.
-Helena? – estava começando a se
desesperar, esperando o momento em que diria o
quanto o odiava e detestava a ideia de ser mãe.
-Eu quero. – ela respondeu, sem entrar
em detalhes.
-Quer um marido ou um bebê? – o alívio
o fez ficar em alerta.
-Não sei o que fazer – ela admitiu, sem
notar que não respondera.
-Não faça nada - apertou-a gentilmente
entre os braços, aumentando a intimidade –
Apenas guarde as garras e me deixe te levar.
-Você? Mas e se me levar a um
precipício?
Ele sorriu, e sabia que ela sorria no
escuro também.
-Então, já sei que cairemos ambos, pois
me levará com você, não é, amor?
Ela quase gemeu diante do chamado
carinhoso.
-Hum-hum – acomodou-se melhor,
achando que não tinha muito sentido confessar
seus verdadeiros sentimentos se ele aprecia
conhecê-los melhor que ela mesma!
-Quero um beijo de boa noite – ele disse
no escuro, a voz um pouco rouca pela emoção de
achar que ela finalmente diria o que tanto esperava
ouvir. Mas estava enganado. Ou era medo, ou
apenas não havia nada a confessar.
-Sempre quer um beijo de boa noite – ela
respondeu, se movendo e procurando seus lábios.
Os dois riram quando ela beijou sua bochecha por
engano.
Foi um beijo curto e doce, e alinhando-a
novamente em seus braços, ele murmurou:
-Quando passar esse mês, e puder tocá-
la, vou querer mais que apenas um beijo de boa
noite.
-Grade novidade – ela resmungou,
adormecendo em seguida.
Rony sorriu, e achou que deveria ser o
suficiente. Helena queria o bebê a aceitava um
marido. Então, deveria ser suficiente.
Ou não?
Capítulo 89 - Entreolhares

Duas semanas e meia depois, Rony


ainda se surpreendia em quantas mudanças
haviam ocorrido em Helena desde que descobrira
a própria gravidez.
Dócil, ela se esforçava ao máximo para
manter-se serena e calma. Para ajudá-la nessa
árdua tarefa, ele mantinha-se afastado, sem forçar
intimidade.
Juanita costurara dois vestidos novos e
ela vestia um deles, de um tom de verde muito
claro e alegre. Ele tinha uma delicada faixa na
cintura, para ser amarrado enquanto estivesse
magra, e poder ser usado solto quando
engordasse.
Por enquanto, ela tinha apenas um leve
inchaço, mas não poderia afirmar, pois não a via
nua há vários dias.
Nesse momento, no finzinho da tarde, ela
estava arrumando a cozinha enquanto Alice
lamuriava pelos cantos. Reclamava a falta de
John. Reclamava dos enjoos que foram embora
muito cedo e sua regra mensal que viera
surpreende-la. Reclamava da índia Aporah que lhe
dissera que não carregava um filho. Reclamava do
mundo enquanto Helena sorria.
Corada, animada e feliz, era claro para
qualquer um que brilhava.
Observando-a a distância, esperou que
Juanita saísse para os fundos da casa para
alimentar as galinhas para se aproximar.
Infelizmente seu intento foi barrado pela chegada
do Conde. Ele estivera na cidade e parecia muito
nervoso.
Depois de convidá-lo a uma conversa
particular, Rony fechou a porta do escritório e ele
andou nervosamente pelo quarto.
-Tenho algo a contar – ele secou o suor
da testa, nervoso – Teria contado ao chegar, mas
a felicidade de ver minha filha superou minha
coragem. E depois, vê-la tão frágil e grávida,
minou minha capacidade de contar. – parou e
olhou para Rony seriamente – agora, sou obrigado
a contar à verdade que escondi. E preciso que me
ajude.
-Que verdade?
-Estive viajando, isso é verdade, mas não
foi a única razão que me impediu de receber a
carta de Madeleine. – dor e arrependimento
estavam visíveis em seu olhar – Minha mulher
recebeu a carta em minha ausência e fez uso dela.
Quando regressei há poucos meses, soube que
havia contratado dois matadores para achar e
assassinar Helena. Claro, não assume, mesmo
assim, soube da verdade através de um empregado
de confiança. Viajei imediatamente para cá, mas
cheguei tarde. Acreditei que fosse Anne a minha
filha morta, até saber da verdade. Mas, outra coisa
me preocupava. Eram dois assassinos, e um deles,
está morto. O outro, não há sinal. Algumas
pessoas dizem que desapareceu. Outras, que foi
morto. O fato, é que mantive minha mulher sobre
vigilância. Praticamente presa em nossa casa, até
decidir o que fazer com ela, mas para minha
desgraça ela escapou.
-Como sabe disso? – Rony estava pálido.
-Ela mesma me enviou um bilhete,
enquanto estava na cidade. Esta hospedada aqui
mesmo. Nega veemente a autoria dos crimes. A
proibi de vir até aqui, mas não sei até onde vai sua
audácia!
-Porque ela tentaria matar Helena? -ele
perguntou desconfiado.
-Meu casamento sempre foi apenas uma
conveniência social, nunca houve amor entre nós.
Michelle era viúva e estava em dificuldades,
sempre foi uma linda mulher. Pareceu satisfeita
em casar-se com um nobre, mesmo que não
passássemos muito tempo juntos. Ela nunca me
deu um filho e Helena é minha única herdeira.
Michelle não se arriscaria a perder minha fortuna.
Vejo isso claramente agora. Infelizmente, não via
antes!
-Está dizendo que a mandante dos
assassinatos está na cidade? E virá até aqui? – ele
estava muito pálido agora – Tem ideia do que
passara com Helena quando souber?
-Porque acha que estou desesperado?
Guardar sua segurança física é minha maior
preocupação! Não pensei ao vir. Não pensei que
minha mulher pudesse ser louca a esse ponto!
-Esse assunto não pode sair daqui – ele
disse ansioso, a palidez sendo substituída pela
raiva – se essa mulher tiver coragem de vir até
minha casa, eu a expulsarei. Não permitirei que
cause mais dor e sofrimento a Helena!
-Meu medo, é que sua intenção seja
terminar o que começou – o Conde sentou-se
pesadamente, aturdido – É claro que reconhecerei
Helena como filha, e estou em cargas de me
separar de Michelle. Ela ficará sem um centavo.
-Se ela cometeu esses crimes, seu lugar é
na cadeia! – Rony disse revoltado.
-Como provar? Meu empregado de
confiança está morto, foi assassinado. Minha
única esperança é encontrar o comparsa que fugiu.
-Talvez não seja tão simples assim. Há
poucas semanas um homem atacou Helena e meu
capataz o matou. Enterramos no mato, para não
chamar atenção. Pelo interesse dele em Helena,
talvez, fosse o comparsa do assassino que Helena
matou.
-Sendo assim, não há provas. – ele
levantou-se novamente.
-E o que fará? Não permitirei que essa
assassina se aproxime de Helena!
-Não há nada que possa fazer, além de
tirar-lhe o dinheiro que usufrui. Posso conseguir
que Michelle seja enviada a um convento ou
hospício, onde de verdade, é seu lugar. Mas
primeiro, necessito voltar a Londres. Levá-la-ei
comigo, não se preocupe. Não fará mais mal a
Helena.
-Não contarei a ela sobe isso. Deve
prometer, Conde, que ela não saberá. – pediu,
achando que uma revelação dessas logo quando
começava a ser feliz, seria terrível demais para
Helena suportar.
-Darei minha vida para que ela não seja
ferida novamente – o Conde disse desolado.
A conversa foi interrompida, pela porta
sendo aberta. Helena entrou e pareceu surpresa em
encontrá-los ali dentro, conversando.
-Aconteceu alguma coisa? – perguntou
mansamente.
-Não – o Conde apressou-se a dizer,
levantando e tocando a filha com uma liberdade
que Helena consentia desde que baixara a guarda
diante dele e de Rony. Seu carinho em seu rosto
tornou-se triste ao dizer – Preciso voltar a
Londres, não posso me ausentar mais, por causa
dos negócios. Mas volto, e creio definitivamente,
para viver próximo a você, minha filha.
Surpresa por saber que iria embora, e
principalmente por desejar ficar perto, ela sorriu
agradecida.
-Quando partirá? – perguntou sem saber
por que exatamente estava triste.
-Em dois dias. – notando a mudança em
seu olhar, ele sorriu – não se aflija. Volto antes
que tenha tempo de pôr ao mundo meu neto – ele
garantiu.
-Tem seus negócios, deve ir se é
necessário – ela garantiu, escondendo o desagrado
e a emoção.
Era o mais perto de uma demonstração
de afeto explicito que teria.
-Preciso preparar a viagem. Devo voltar
amanhã cedo, para me despedir – ele avisou antes
de sair para fazer as malas.
Não contou a Rony, mas voltaria à
cidade, junto a seus mais bem treinados homens
de confiança e levaria Michelle com ele para
Londres, para dar cabo de sua existência. Um
hospício seria o ideal, mas deixaria ordens de
fazerem o que fosse necessário para que ela nunca
mais voltasse a ser um risco para sua filha.
-Algo aconteceu e não querem me contar
– ela disse tão logo a porta se fechou atrás do
Conde – Algo ruim com John? Algo que Alice
não pode saber?
-Definitivamente não – ele negou
veemente. – São negócios que a aborreceriam.
-Mente para mim –constatou, respirando
fundo.
-Omito. – ele confessou – Não é o
suficiente saber que é não bom que saiba nesse
momento?
-Não, não é – respirou fundo novamente.
Vinha se esforçando duramente para
mudar seu comportamento e não dar tanta
importância a insignificâncias. Ela mesma mentira
sobre Alice e John. Ter segredos é algo natural e
até sadio.
-Hoje acabou o prazo de espera – ele
disse mudando de assunto. – Lembra-se? Não
precisamos mais esperar para fazermos amor...
-E quem lhe disse que faremos...isso? –
ela desconversou.
-Você disse que queria o bebê e um
marido! – argumentou.
-Estou grávida, e estou me cuidando. Não
farei essas coisas, podem fazer mal – foi sincera.
-Juanita não lhe falou sobre isso? – havia
um tom de desamparo em sua voz – Sobre essas
coisas de mulher?
-Sim, ela falou. – contou calmamente,
apanhando um livro na estante – Relações não
fazem mal...mas não quero correr riscos
desnecessários, afinal, já fiz isso demais durante
muito tempo sem saber!
Era uma acusação.
-Entendo - disse de má vontade sem
poder argumentar. Ela tinha razão em puni-lo por
ter feito segredo.
Não sabia que suas razões era mais
profundas. Tinha medo. Em seu interior, sentia
como tendo confessado seus sentimentos. Então,
deixar que ele lhe fizesse amor era tão íntimo e
profano, que causava arrepios em sua pele.
Os dois ficaram frente a frente
desconfortáveis.
Era sempre assim nos longos dias que
viviam. Ele estava começando a retomar as
atividades do dia a dia, do trabalho da fazenda,
mas ainda passava algum tempo de resguardo por
causa da dor. Mantinham-se num acordo mudo,
onde não poderiam avançar a linha invisível que
ambos criaram em volta de si próprios.
Rony mantinha distância para não
subjugá-la pelo próprio desejo, pois não confiava
em si mesmo no quesito Helena. Tinha receio de
lhe fazer amor muito selvagemente e causar-lhe
dano.
E Helena impunha distância por motivos
muito parecidos, agravados pelo medo de se
entregar totalmente. Estava com um pé do outro
lado da linha, e quando a cruzasse não teria volta,
seria sua mulher para sempre. Com ou sem
casamento. Com ou sem amor, ela estaria em suas
mãos e nem sequer se importaria com as
consequências!
-Quer ler um pouco antes do jantar? – era
uma oferta de paz, e ele concordou.
Os dois deixaram a saleta, e sentaram-se
na sala, muito próximos. A voz macia o
hipnotizava suavemente, como se um veneno
muito potente estivesse em suas cordas vocais. A
maneira como a olhava, devorando seus traços, o
pescoço esguio para uma mulher tão pequena, os
braços fortes e finos, o colo delicado e os seios que
se pronunciavam ali...
-Desse jeito não posso ler – ela avisou, ao
parar e olhá-lo com acusação.
-Não posso evitar.
Helena revirou os olhos, decidida a não
se irritar.
-É louvável o esforço que faz para não se
importar -ele continuou atiçando-a.
-Pois não sabe o quanto me custa não
arrancar seu olhos – ela revidou, virando uma
página do livro.
-Sei apenas o quanto me custa, não
arrancar as suas roupas – ele continuou naquele
tom sedutor que a tirava do sério.
-É desse modo que espera que eu não
fique nervosa e grite? – fechou o livro desafiando-
o.
-Sinto falta dos seus gritos – sorriu.
Era impossível saber se ele se referia
realmente aos gritos de ódio, ou aos de prazer. Ela
suportou seu olhar malicioso, decidida a não se
deixar vencer.
Para o seu bem, ou não, eles foram
interrompidos pelo Conde, que descia a escada de
malas prontas. Não tinha muita coisa consigo.
Helena levantou-se triste, mas sem saber
como demonstrar.
-Não será uma viagem longa, garanto –
ele disse olhando para ela, com tanta ternura que
lhe doeu o coração –Seja uma esposa comportada
e continue se cuidando, Helena. Volto em poucas
semanas. Sentirei imensamente sua falta. Sentirá a
minha?
-Acho que sim – não foi muito enfática,
mas seus olhos diziam tudo que o Conde
precisava saber.
-Entendo plenamente o que Madeleine
disse na carta, quando referiu-se a você como
sendo seu coração – ele disse contendo a vontade
de abraçá-la, para não ofende-la – Agora, é o meu
coração também, e não posso esquecer a
felicidade que traz a minha vida.
-Eu...- ela se afastou um passo,
encontrando Rony logo atrás de si. Ele sustentou
seu corpo, um braço possessivo em sua cintura,
impedindo-a de fugir de algo que lhe fazia bem.-
...espero que tenha uma boa viagem.
-Espero o mesmo, e principalmente voltar
o mais rápido possível.
Edgar se aproximou, falando mais baixo,
e piscando, numa singela brincadeira, que Rony
riu alto ao ouvir:
-Tem certeza que não quer vir comigo,
Helena?
Ela sorriu e acenou enquanto ele saia da
casa.
Rony acompanhou-o até a carruagem e
pela porta aberta, ela observou os dois
conversarem em cochichos. Contou até dez para
sufocar a vontade insana de obrigá-los a contarem
o que escondiam dela.
E precisou contar até vinte para sufocar a
vontade de gritar com Rony por deixar seu pai ir
embora. Ele vivia dizendo que faria tudo para vê-
la feliz, mas não tentara convencer o Conde a
ficar.
Não havia notado o quanto se importava
com o Conde, até sentir as lágrimas no rosto.
Aquele homem era diferente dos outros. Era um
debochado, como Rony. Piadista, austero apenas
em momentos sérios, e muito fácil de se
apaixonar.
Apoiada no batente da porta, ela limpou
as lágrimas, antes que Rony visse. Ele era capaz
de ter um chilique se a visse chorando.
-Não consigo parar de chorar, o tempo
todo – ela reclamou baixinho, quando notou que
Alice se aproximava.
-Quer que eu faça alguma coisa? Um
chá? Um doce? É só pedir!
Desde que suas suspeitas por uma
gravidez, haviam sido frustradas, Alice vinha se
dedicando a gravidez de Helena com carinho
esmerado. A ponto de quase irritá-la.
-Quero ir para a cidade, e me despedir
como deveria ter feito – ela confidenciou, num dos
raros momentos de fraqueza.
-Helena, eu sinto tanto que seu pai tenha
que partir justamente agora que se conheceram!
Tenho certeza que é algo muito importante ou ele
não a deixaria!
-Será? – não pode evitar perguntar, os
olhos cheios de lágrimas.
-Porque duvida? – ela sorriu, puxando-a
pela mão em direção a cozinha onde o jantar
estava na mesa esperando.
Na varanda, Rony esperou que as duas
entrassem antes de entrar. Ouvira o singelo pedido
de Helena, aquele que jamais confessaria em voz
alta, e muito menos para ele.
Não poderia deixá-la sofrendo. Não
mesmo!

Helena terminou seu banho e se secou,


antes de vestir-se. Sentia falta das tentativas de
sedução de Rony, mas não podia reclamar, visto
que cumpria seu pedido em deixá-la em paz.
Magoada com a partida do Conde, movia-se
lentamente pelo quarto. Vestiu a calça íntima,
achando que as fitas nas pernas, próximas aos
joelhos estavam apertadas, ela soltou-as e amarrou
novamente, mais frouxa. Separou a camisola, mas
antes de vesti-la observou-se atentamente no
espelho. Distraída somente notou que a porta
havia se aberto e fechado atrás de Rony, quando
entrou.
Silencioso, observou o modo como
permaneceu de pé em frente ao espelho. Os
cabelos caiam por suas costas, macios e sedosos,
tão brilhantes quanto seda, e era capaz de notar
essa diferença, pois quando a conhecera, embora
fossem madeixas lindas, não eram tão vivas e bem
cuidadas.
Helena olhava no espelho procurando
algo. Os seios estavam inegavelmente maiores,
mais cheios. Era a prova mais clara de sua
gravidez, pois estavam quase duas vezes maiores
que o normal. A cintura estava muito fina, mas
quando ela virou de lado ele pode ver o inchaço
que as roupas escondiam. Uma curva inegável
abaixo do umbigo, que desembocava em uma
pequena barriguinha. Em outras mulheres que
conhecera, seria apenas um dobra de vinho e
doces, uma demonstração de saúde, mas em
Helena, era a prova concreta de seu filho
crescendo em sua barriga. Ela tocou sobre a
barriga, com uma expressão indecifrável, e ergueu
os olhos para o espelho, notando-o. Não tentou se
cobrir ou fugir, apenas olhou para trás e disse um
pouco desconcertada:
-Há alguns dias ela cresceu...não estava
assim...simplesmente, apareceu...
-Está crescendo e aparecerá ainda mais,
não precisa ficar assustada. – explicou.
-Juanita diz que vou engordar a partir do
quinto mês, que moças magras como eu escondem
a gravidez até o quinto mês e depois arredondam.
– contou.
-Vamos esperar e ver se acontece – ele se
aproximou, tocado por ela não fugir – Eles estão
lindos – olhou para seus seios, e ela fez o mesmo.
-Estão pesados – contou, corando um
pouco – Juanita me faz beber muito leite...para
ela, é como se o bebê fosse nascer amanhã!
-É que ele sugará seu seio. Ela se
preocupa que tenha leite para ele. – mais perto,
ficou a sua frente, esticando o braço e passando a
mão suavemente sobre um seio – Pensa em como
será um filho em seus braços?
-Não – confessou – Não consigo sequer
imaginar como será. Você consegue?
-Não – ele sorriu – Descobriremos juntos
como será. – era um presságio.
Ela concordou com uma aceno, mas não
se afastou. Deixou-o correr a mão pelo seu ventre,
inclusive juntar as duas mãos em volta de sua
cintura.
-Está linda. Cada dia, mais linda – ele
elogiou, antes de inclinar-se para beijá-la.
-Não – ela impediu, virando o rosto, e
impondo distância entre eles, com as mãos em seu
peito – Não quero brigar, já disse. Não me obrigue
a fazer isso!
-Helena – ele reclamou, insistindo em
mantê-la em seus braços – Espera um filho meu,
não há mais nada que possa usar como desculpa
para não ser minha mulher! Então, porque se
nega, se eu sei o quanto gosta de fazer amor? O
quanto se entrega e goza quando fazemos amor?
-Não diga siso! – afastou-se, quase o
empurrando, conseguindo se soltar, pois ele não
desejava feri-la. Apressada vestiu a camisola
ocultando a nudez – Não farei amor até o bebê
nascer. É minha decisão, e não tente mudar!
-Mas o que tem a ver uma coisa com a
outra? Está inventando desculpas para fugir de
mim! – aumentou a voz, sentindo-se rejeitado. –
não fará mal alguma fazermos amor!
-E quem lhe garante isso? – ela retrucou
cruzando os braços com petulância.
-Helena, a gravidez tem sobrevivido até
mesmo à agressão que sofreu. Não acha que se
fosse perdê-lo, teria sido nesse momento?
-Acontece, Ronald, que cria sua é como
vaso ruim, não quebra! – ela agrediu, com raiva
por ele não respeitar seu desejo de proteger e
cuidar do bebê.
-Mais uma razão para não me dizer não!
– ele quase gritou. Ofendido, sentia vontade de
sacudi-la até arrancar-lhe um sim.
-É bem típico de alguém como você!
Passa meses escondendo um segredo de mim,
escondendo a gravidez, com medo que eu fizesse
mal ao bebê. E quando sou eu quem quer ter
cuidado, não se importa nem um pouco!
-Ah, então, é esse o problema? Está me
punindo por ter ocultado a gravidez!
-Está enganado! Estou tentando preservar
minha saúde. A saúde do meu filho! – reclamou.
-Nosso filho! Não vai começar a se referir
a ele desse modo, como se fosse apenas seu! Não
permitirei que crie nosso filho como um inimigo
do próprio pai! – avisou.
-Acha que faria uma coisa dessas? Que
seria tão perversa e egoísta a esse ponto?
Havia magoa em sua voz, e ele maneou a
cabeça, derrotado. Sentou-se na beira da cama, e
estendeu uma das mãos em sua direção em um
pedido de trégua. Ela aceitou o contato, apenas
para ser trazida a seu colo.
Desconfiada, sentou-se sobre suas
pernas, esperando o momento em que ele trairia
sua confiança.
-Sinto muito, não deveria tratá-la desse
modo. Tem se esforçado para cuidar da gravidez e
estou sendo egoísta. Estou assim por causa do
desejo. É tudo culpa do desejo que sinto. Estou
tenso e frustrado, mas não é sua culpa. É minha
culpa desejá-la a esse ponto!
-A mim, ou a qualquer mulher –
duvidou.
-Se assim fosse, não estaria aqui, mas
sim em um cabaré. –ele retrucou adorando sentir
seu cheiro de flores.
-E por acaso não foi em um cabaré
quando me neguei a ser sua mulher? – ela acusou,
os braços em volta de seus ombros, e a face
apoiada em seu ombro, vergonhosamente traindo
sua convicção em afastar-se.
Ele riu baixo, estreitando-a e levantando-
se. Ela segurou-se com força em seus ombros,
mas Rony a deitou na cama gentilmente, enquanto
tirava a roupa para dormir.
-Isso ocorreu pois estava me provocando.
Além disso, não nos amávamos ainda. Estava me
apaixonando, mas não sabia – contou com
naturalidade achando encantador o modo irônico
como ela o olhou – Para minha total vergonha,
não cumpri minha missão.
-E posso saber por quê? – perguntou
corando, pois era óbvio o que ele pensava.
Não tinha problemas em satisfazer sua
mulher. Mais que uma vez, inclusive. Ele tirou as
calças e as meias, e deitou-se também, cruzando
um dos braços atrás da cabeça enquanto olhava
para ela com um meio sorriso no rosto.
-Escolhi uma rapariga que era pequena e
magrinha, e tinha os cabelos crespos, e longos.
Usava um vestido bonito e uma linda flor
vermelha no decote do vestido. Eu queria tirar sua
roupa bem devagar e aplacar todo o meu fogo
naquele corpo tão sucessível. Ela não disse não.
para ser franco, ficou bem decepcionada quando
disse que ia embora. Acontece, Helena, que ela
tinha cheiro de perfume forte, e o batom era
vermelho demais. Eu queria o seu cheiro de água e
flor. Seus lábios rosados e sua pele macia. E você
não estava lá.
-Mente tão bem que poderia me
convencer – ela disse ao fim de sua narrativa e
Rony riu.
Era estranho como às vezes achava graça
do que os outros consideravam grosseria. Deitada
de lado, Helena cobriu a barriga com uma das
mãos, acariciando e sentindo o estranho volume
que crescia a revelia do seu esforço. Era a natureza
agindo sobre seu intelecto. A suprema vontade da
vida, criando outro ser dentro dela.
-Aposto como ela deve permear seus
sonhos, como algo não resolvido – ela disse um
pouco rancorosa.
Ele virou a face em sua direção notando
seus olhos brilhantes. Era o brilho do ciúme,
convertendo sua voz e seu olhar em algo mais
venenoso e azedo.
-Talvez sim – atiçou desejando do fundo
da alma despertar nela sua paixão.
-Vá atrás dela então – retrucou, virando-
se para o outro lado – Apague a luz, ou não
poderei dormir e descansar!
Ofendida, sua mente pensava. Rony
sorriu e apagou a vela, satisfeito em ver Helena
perturbada com ciúmes. Se não tinha seu amor,
nem sua paixão, ao menos, tinha seu ciúme.
Capítulo 90 - Não diga que não falei de flores

Quando a carroça parou em frente à


ferrovia, Helena sentiu as mãos suarem e
tremerem. Havia confidenciado a Alice seu desejo
de despedir-se do pai de forma correta. Não
achara, porém, que Rony faria essa maldade com
ela, de levá-la até ali.
Mais cedo naquela manhã, o cocheiro do
Conde viera à fazenda, avisar que estava à
disposição de Helena, assim como a carruagem
permaneceria para seu uso, pois o Conde preferia
a viagem de trem.
Emocionada por ver que os sentimentos
do Conde eram verdadeiros, ela concordou num
impulso com a proposta de ir se despedir dele.
Porém agora, estava nervosa e arrependida.
-Quero ir sozinha – ela pediu tensa.
Não havia muitos movimentos quando os
dois chegaram à linha do trem, onde avistaram o
Conde de pé esperando pela hora do embarque. O
trem esperava também, que a hora da partida
chegasse para abrir suas grandes portas.
-Tem certeza? – preocupado, sondou seus
olhos, mas ela não permitiu que olhasse para eles.
Queria guardar para si algum resquício de
orgulho.
-Sim.
Ele deixou-a ir, observando a uma parca
distância.
Helena estava particularmente linda
naquela manhã. Usava um vestido verde claro,
que Juanita se esforçara para ficar formoso, e
apesar da simplicidade, tinha um decote muito
amplo e revelava mais que os vestidos anteriores.
Tinha uma linda faixa na cintura que o mantinha
rente ao corpo, e moldava as curvas ainda
praticamente intactas.
Os cabelos estavam presos em um dos
lados pela presilha que lhe dera há semanas atrás,
e usava luvas, e a bolsa que mantinha junto às
mãos, como se temesse que ele encontrasse algum
segredo ali dentro.
Contendo o ar, tensa, se aproximou do
Conde, que talvez prevendo sua presença, se
voltou surpreso e ao mesmo tempo fascinado pela
sua aparição.
De longe, Rony avistou alguns dos
homens do Conde, que mantinham uma linda e
bem vestida mulher a vários metros de distância.
Ele quis se aproximar e descobrir se era a
mandante dos assassinatos, e puni-la com as
próprias mãos, conteve-se apenas por saber que os
fiéis agregados do Conde não o permitiriam sujar
as mãos com tão pouco, e além disso, não podia
chamar a atenção de Helena para o fato. Ainda
não.
Felizmente, a mulher era mantida virada
para outro lado, e olhou na direção dele. Pareceu
interessada na figura solitária do jovem e bonito
homem que a fitava. Ela até sorriu achando
desejável o fato de um homem tão apanhado olhá-
la com tanto interesse.
Desviando o olhar, ele procurou não olhar
para Helena para não levar o interesse daquela
mulher para o Conde e a filha. Não era nada bom
que ela conhecesse o rosto de Helena.

-Vim... - ela começou a dizer, mas as


palavras engasgaram em sua garganta -... Eu não
disse às coisas que gostaria... Eu...
O Conde imediatamente segurou suas
mãos entre as dele, abrindo seu melhor sorriso:
-Depois de conhecer sua mãe, não houve
um só dia em que não tenha lamentado tê-la
deixado. Eu pensava no filho que não conhecia.
Pensava naquela boa mulher que tinha me amado
por tão pouco tempo. Nunca fui tão infeliz do que
nos anos que se seguiram Helena. Mas hoje,
vendo-a aqui, para se despedir, eu sei que tudo
valeu à pena. Te amo como filha, não tenha medo
desse sentimento.
-Eu sinto não ser uma pessoa mais fácil –
ela disse sufocando as lágrimas para dizer tudo
que sentia – Deveria ter dito ontem... Que sentirei
imensamente sua falta. Não apenas como pai,
porque é difícil esquecer que tive um pai por toda
minha vida, sendo ele maldoso ou não, errado ou
não. Sentirei falta do amigo. Do protetor. Sentirei
falta de você.
Rony observou discretamente o momento
em que Helena abraçou espontaneamente o
Conde. Um abraço forte que ele invejou. Fazia
tantos dias que não se abraçavam assim.
Para ser franco, ela nunca o abraçara
espontaneamente daquele modo. No enlevo da
paixão, era a fome do amor falando mais alto, mas
assim, sem razão, jamais o tocaria.
O apito do trem os separou e ela pareceu
sorrir a distância, acenando com a mão enluvada
enquanto ele entrava no trem e seguia pelos
corredores. Despedindo-se pela janela.
O trem partiu poucos momentos depois, e
ela demorou um pouco para voltar até ele. Quando
o fez, havia apenas marcas das lágrimas, ela se
recompôs antes de se aproximar.
-Podemos ir – ela disse mansamente.
Quando ergueu os olhos, ele teve certeza
que havia naquele olhar segredos não revelados.
-Preciso passar na venda e quitar as
compras feitas fiado – ele disse deliciado com essa
nova expressão no rosto dela – Está tudo bem? Foi
boa a conversa com o Conde?
-Disse a ele... Que sentiria sua falta. –
contou, enquanto andavam até a carroça. – Ele
pediu que lhe desse isso – estendeu a mão, onde
havia uma massa de notas dobradas – Claro,
metade é meu – informou só como lembrete.
-Não preciso do dinheiro do seu pai.
Fique com ele – disse um pouco magoado.
-Está bem. Mas usarei para você – ela
disse baixando olhar quando tentou olhá-la
novamente.
-O que está aprontando, Helena? –
perguntou pondo a carroça em movimento.
-Nada. O Conde me deu seu endereço em
Londres. – mudou de assunto.
-Sei onde o Conde mora. Várias vezes
ouvi falar sobre ele, é um homem muito
importante. Mas nunca antes havíamos nos
conhecido pessoalmente. Se eu soubesse que tinha
uma filha como você, teria ido atrás dele eu
mesmo!
Era para ser um gracejo, mas ela fingiu
não achar graça.
-Tem certeza que não quer um pouco do
dinheiro? – insistiu – É muito para gastar sozinha.
-Faça bom uso. E guarde um pouco.
Crianças dão despesa. – ele ralhou quando
pararam diante do armazém, e apressou-se a
ajudá-la a descer.
Agora, estando grávida, não desceria
mais sozinha. Estava sempre pedindo ajuda,
mesmo que não falasse verbalmente.
Não ousava se arriscar
desnecessariamente.
-Uma única criança, não esqueça –
lembrou-o.
-Pensei ter dito que não queria mais
brigar – ele sugestionou, levando-a para dentro do
estabelecimento.
Rony pagou as dívidas, inclusive da arma
que ela deixara por pagar, e procurou-a com o
olhar. Helena estava perto da porta e retribuiu o
olhar antes de sair.
Intrigado em porque ela sairia sozinha,
sem falar com ele, ainda mais depois de um olhar
tão revelador, Rony foi atrás.
Ela andava a passos rápidos afastando-se
pela estrada de chão. Vários metros de distância,
ele seguiu, ficando estático quando ela se
aproximou do velho prédio onde ficavam as
poucas raparigas que trabalhavam no cabaré.
E o que Helena tinha para fazer ali
afinal?
Era um antro!
Por um segundo achou que a ideia dela
estar indo tirar satisfações com a cortesã com a
qual quase a traíra era uma ideia absurda e
exagerada.
Mas vindo de Helena, tudo era possível!
Controlando o alarde, seguiu-a. Ela bateu
na porta dos fundos com grande familiaridade,
como se conhecesse o que fazia. Ele observou a
mulher mais velha que atendeu e sorriu, deixando-
a entrar.
Estarrecido, bateu fortemente na porta
apenas um minuto depois dela ter entrado. A
mesma mulher abriu a porta.
-Onde esta a mulher que acabou de entrar
aqui? - ele empurrou a porta, forçando a
passagem.
-Lá em cima, segunda porta a direita –
ela disse ocultando um sorriso.
Como um raio, confuso e furioso, cortou
o amplo salão com passadas rápidas e subiu as
escadas num sopro só. Não bateu na porta,
arrombou-a, ou teria arrombado, se a porta não
houvesse se aberto no momento em que ele entrou.
-O que está fazendo aqui? – ele agarrou
seus braços com ódio – De onde conhece essas
pessoas?!
-Me solte. – ela disse num tom calmo - A
Sra.Dolores sempre comprou nosso milho. É uma
boa pessoa. Emprestou-me o quarto. Foi só pedir.
– puxou o braço com força. – Ela não é um bicho
de sete cabeças só por ser prostituta, além disso,
eu sabia que me seguiria!
-O que está fazendo? Que brincadeira é
essa?
Ele estava nervoso, suarento e bravo.
Helena ficou de costas para ele, mexendo
em sua bolsa. Retirou algo e prendeu na roupa,
mas ele não viu o que era.
-Um homem nervoso é o mesmo que um
touro descontrolado. – ela seguiu falando com voz
mansa – Além disso, não quero um homem em
minha cama fantasiando com outra mulher! Por
isso, se dê pôr satisfeito, pois provavelmente isso
jamais voltará a acontecer!
Rony sentiu a raiva fugir rapidamente,
assim como a cor das suas faces. Ela tinha uma
linda rosa vermelha no decote do vestido, entre os
seios mais volumosos e que se sobressaiam.
Exatamente como ele confidenciara. A
mulher dos seus sonhos, era ela mesma.
-Eu deixei a rapariga, pois era você quem
eu queria – ele lembrou.
-Queria? Não quer mais?
Só então, notou que ela também estava
ansiosa, nervosa e tensa.
-Está fazendo isso para me agradar – a
constatação levou sangue quente diretamente para
sua região mais íntima.
-Não! Estou fazendo isso para que pare
de agir como um homem descontrolado. Se o
desejo o faz instável, cumprirei meu dever.
Apenas uma vez. Depois, aprenda a se controlar
sozinho!
Duvidando de suas palavras ele se
aproximou, mas Helena tentou se afastar, quase
arrependida dessa louca brincadeira.
Quisera apagar de sua mente à imagem
da outra mulher, e agora, tinha um homem
faminto diante de si!
Em um momento de extremado pudor,
tentou fugir dele, arrependida pela péssima ideia,
porém ele agarrou seu braço, puxando-a para si
com muita força.
-Oh, Deus... – ela tentou pedir que
parasse, pois havia desistido dessa bobagem
quando a beijou.
Não apenas beijou. Num golpe de força,
ergueu-a acima, tão alto que Helena sentiu as
pernas trincarem em volta da cintura de Rony,
como fizera em outra vez, há tempos atrás. Talvez
uma das vezes em que conceberam a criança que
crescia em seu ventre.
Não perdeu muito tempo pensando nisso,
pois sua boca lhe tirava a capacidade de pensar.
Enrolada em seu corpo, arfou quando foi
jogada sobre a cama.
De pé, ficou observando com olhos
ardentes seu corpo esticado sobre o lençol barato,
a saia enrolada em seus joelhos, a perna dobrada,
os seios saltando sobre seu peito arfante.
Aquela rosa vermelha entre os seios
atiçava seu desejo e punha seu sangue fervendo,
as pétalas suaves em contado com a pele
bronzeada, deixando-o louco. Sem saber por onde
começar a tocá-la, observou o modo como ergueu
os braços acima da cabeça, oferecendo o corpo.
Rony curvou-se, as duas mãos segurando
em sua cintura, subindo para cima enquanto dizia:
-É um tormento em minha vida, Helena.
Quando mais se nega, quanto mais diz não, mais
eu te desejo. É veneno no meu sangue, e não posso
mais viver sem o seu carinho e a sua paixão! Sua
bruxa, me enfeitiçou!
Ela riu, nem um pouco ofendida.
-Não é a pior coisa da qual já me
chamaram – provocou, enquanto ele erguia a saia
do vestido pelas pernas revelando as coxas.
-Pois de hoje em diante, ninguém mais
dirá nada sobre você! Não permitirei que a
ofendam! – disse possessivo.
-Estou num quarto de cabaré! O que acha
que dirão de mim? – continuou provocando – não
me importa o que dizem. Não me importo com
quem não se importa comigo!
-Está em um quarto sujo e fedorento
apenas para me agradar – ele disse vitorioso.
-Disse que usaria o dinheiro de meu pai
com você – ela lembrou-o e Rony parou os
movimentos em suas pernas.
-Pagou por esse chiqueiro? –
surpreendeu-se. Helena era mão de vaca, e sabia o
valor do trabalho árduo para juntar o dinheiro que
colocaria comida em sua mesa. Não gastava em
vão!
-Paguei para que não se lembre das
outras vezes em que esteve em um lugar como
esse – foi sua resposta simples.
-O que quer dizer? – muitas vezes ela
tinha uma lógica muito peculiar.
-Os homens estigmatizam lugares como
esse. Como o lugar onde se deitava com Alexia.
Lembram-se de suas amantes e do cheiro do
pecado que há aqui dentro. Pois sei que sempre se
lembrará disso, mas sua última lembrança, a mais
vívida, será essa, onde estou eu e não uma vadia
qualquer!
-Tudo isso porque ousei lhe contar
daquela mulher que arrumei para te substituir? –
surpreendeu-se.
-Vai falar sobre ela? - uma ruga de
preocupação por não ter sua total atenção surgiu
em sua testa e ele se curvou, beijando-a.
Helena apoiou as mãos em seus ombros
enquanto ele a pressionava contra a cama. Seu
peito, seu quadril, suas pernas, tudo a pressionava,
e ela sentiu queimar contra sua barriga sua ereção.
Ergueu o quadril de encontro ao dele, se roçando e
pedindo por mais.
Rony beijou-a com a mesma intensidade
com que era correspondido. Profundamente
envolvido naquele beijo, sentiu o coração disparar
quando um dos pezinhos delicados subiu por sua
canela, acariciando e pedindo mais.
Gemendo, rolou na cama, trazendo-a
sobre seu quadril.
Helena quebrou o beijo, sentindo-se no
poder. Aqueles seios estavam hipnotizando-o, e
Rony agarrou-os apertando através do tecido,
moendo-os com suas mãos, apreciando o
espetáculo que lhe forneciam.
A flor entre eles caiu em sua mão e Rony
lançou-a para o lado, antes de girá-la novamente
sobre a cama, exultando quando ouviu seu riso
excitado. Malvado, apanhou a rosa e esfregou
delicadamente em sua bochecha. Helena tremeu
da cabeça aos pés pela sensação inesperada.
Não foi lento e deliberado, mais sim
ansioso e selvagem, roçando aquela flor em seus
seios, enquanto puxava o tecido delicado do
vestido a ponto de quase rasgá-lo. Seus seios
estavam nus, e as pétalas passaram sobre ambos,
nada brandamente, apenas arrepiando a pele e
deixando os mamilos rijos e pontiagudos. O seio
esquerdo estava rijo primeiro e ele abocanhou o
direito que ainda estava suave, enrijecendo-o com
sua saliva e seus dentes. A língua brincou
enquanto a flor ficou esquecida em sua mão.
Helena empurrou-o com tanta força que
rolaram novamente, ela ficando por cima
novamente, colocando o seio em sua boca, tão
depravadamente quanto ele agarrou suas nádegas
por baixo do vestido. Não havia gentileza entre
eles, apenas instinto.
Agarrando sua bunda, ele cravou os
dedos na pele, causando gemidos e movimentos
desgovernados em sua parceira. Ela arfava e se
mexia, espalhando sobre ele seus cabelos,
rebolando lindamente atrás de mais.
Rony chupava seu seio, mastigando o
mamilo, enquanto ela se empurrava contra seu
quadril.
Helena poderia facilmente chegar ao
ápice apenas com o toque em seu seio, tão
sensível sentia-se. Bem da verdade não era apenas
ele quem ardia em desejo durante todos aqueles
dias.
Por isso estava tão formal com ele. Por
medo do próprio sentimento!
-Se fizer isso mais um pouco, me
vencerá! – ela gemeu em seu ouvido, acariciando
seus cabelos ruivos com tanto carinho e sedução
que ele soltou o peito, deixando o mamilo
molhado, e agarrou seus lábios para um beijo
molhado, aumentando a palpitação entre suas
pernas.
-Peça, Helena – ele mandou, soltando
seus lábios, apenas pelo prazer de morder o lábio
inferior, enquanto sua mão atrevida tentava
alcançar mais a fundo pelas dobras de suas
nádegas.
-Não peço – ela afirmou – Pegue a força
se quiser. Não é assim que os homens fazem em
lugares com esse?
Sua voz tremeu tanto, que ele achou que
estava com medo. Mas não era medo, era tesão.
Puro e simples tesão.
Se a dona daquele lugar soubesse o
quanto Helena era fogosa e apaixonada, por certo
não a deixaria sair jamais, e faria fortuna com sua
paixão!
-Quer saber como os homens fazem em
lugares como este? – sorriu sádico, descendo a
boca para morder sobre o seio, arrancando dela
uma reclamação. Suas mãos correram para fora de
seus calções íntimos, puxando o tecido para fora
de seu corpo, e antes que Helena tivesse voz para
reclamar, sentou-se a levando com ele.
De joelhos sobre seu quadril, ela
reclamou quando ele puxou suas pernas e as
cruzou em volta de sua barriga.
Com mãos experientes ergueu seu
vestido, tirando-o pela cabeça, libertando seu
corpo completamente nu para sua apreciação e
diversão. Ela não vestia o colete íntimo, e não
duvidava que se devesse ao fato de não mais servir
em seus seios voluptuosos.
A rosa, ainda resistindo ao ataque de
paixão, voltou às mãos de Rony, e Helena fechou
os olhos quando as pétalas deslizaram por seus
seios em direção a barriga. Mais abaixo, sobre seu
umbigo, passando pelo revelador inchaço na
barriga, causando um arrepio tão profundo ao
descer mais, que achou que desfaleceria de
antecipação.
Ele passou a flor pela emenda de suas
coxas, sobre seu sexo, e ela tentou fechar as
pernas, mas não podia, pois estavam em volta
dele. Era uma sensação deliciosamente perigosa.
Seus gemidos eram todo o incentivo que
precisava, e segurando a flor pelo caule, ele
esfregou suas pétalas exatamente sobre a umidade
que havia ali. Helena sentiu a cabeça rodar, os
olhos fechados, ondulando contra aquela caricia
inusitada.
Sentia-se a porta do prazer, quando abriu
os olhos e pediu:
-Você! Agora!
Não era um diálogo, mas Rony substituiu
a flor pela ponta de seu dedo. Não aprofundou o
carinho, mesmo assim ela saltou como em choque.
Exasperada pela sensação que crescia e ameaçava
trasbordar, Helena levou sua mão ao rosto dele,
acariciando a pele e fazendo-o olhar em seus
olhos.
Beijou-o com tanto empenho e dedicação
que Rony deixou-a agir. Devorando aqueles lábios
cheios e doces, Helena ondulou, enquanto
ajeitava-se na posição certa para o que tanto
queria.
Havia o empecilho das roupas, pois ele
estava completamente vestido, então, lhe restou
apenas seguir acariciando-o com beijos e
mordidas, até que Rony perdeu a cabeça e a
colocou de quatro sobre a cama.
Nervoso, passou à rosa praticamente
despetalada por suas costas, comemorando
quando ela tentou escapar toda arrepiada. Abriu as
calças tão rápido e arrancou a camisa antes dela
ter tempo de reclamar pela demora.
-Tudo, tire tudo - ela disse olhando para
ele enquanto escapava sentada na cama, as pernas
dobradas, escondendo seu maior segredo. Os seios
saltaram junto a sua respiração arfante e ele
decorou cada curva. Desde os cabelos
despenteados aos dedos dos pés, tão pequenos que
lhe despertava ternura.
Era tão obsceno estar numa cama onde
dezenas de homens e mulheres haviam feito amor
e usufruiu do prazer de seus corpos, que Helena
sentia-se uma dessas mulheres. Podia fechar os
olhos e imaginar um grande pirata tomando-a a
força, depois de lhe pagar algumas moedas de
ouro.
Ao abrir os olhos, constatou que a
realidade não era menos colorida que a fantasia.
Seu pirata não era violento ou rude todo o tempo,
mas era vil e pecador, roubando-lhe a sanidade e
obrigando-a a aceitar que seu corpo tinha desejos
inconfessáveis.
Ansiosa, mal podia esperar por ele e seu
toque. Controlava os nervos para não se tocar.
Graças a sua boa sorte, não precisou esperar
muito. Rony subiu na cama, e saltou sobre ela,
devorador. Seu corpo branco era uma imagem
inesquecível, montando sobre ela.
Gigante, se posicionou depois de nada
delicadamente apartar suas pernas, empurrá-la
contra os travesseiros, e se encaixar ali.
-É desse modo que fazia com as outras? –
perguntou num fio de voz, trancando as pernas em
volta de suas coxas, os pés tocando suas
panturrilhas.
-Não sei, não posso me lembrar como era
antes – grunhiu, cutucando-a com a ponta de seu
pênis. Entrou só um pouco, o bastante para sentir-
se ensopado com seu mel primoroso. – Relaxe –
mandou, abocanhando seu seio e a fazendo gemer.
Ela tentou dizer que estava relaxada, mas
não tinha voz. Apenas abandonou-se a sua
vontade, esperando.
Estremecendo, Rony puxou-a mais para
baixo, arrancando os travesseiros detrás de sua
cabeça e jogando-os no chão.
-Quer me enforcar, mulher? - ele
reclamou, quando não conseguiu penetrá-la. –
soltando-se de seus braços, se ajoelhou entre suas
pernas, e pousou uma das mãos em seu ventre,
enquanto a outra a abria de um modo que a fez
soluçar de prazer.
Seu corpo foi se acostumando a invasão e
quando o sentiu bem fundo, Helena soltou o
gemido que segurava junto à respiração. Tão
profundo que causava lágrimas em seus olhos.
Rony ergueu o olhar, contemplando a maravilha
de ter sua mulher completamente a sua mercê.
Ele acariciou a lateral de seu quadril e as
pernas, tirando-as de ao redor dele e
escancarando-as, a ponto de Helena gemer mais
alto, os olhos fixos na imagem entre eles.
De joelhos, Rony se apartou, saindo
totalmente. Ela soluçou, pegando-o de volta com
uma das mãos e o guiando para dentro de si
novamente.
-É assim que você quer? – ele provocou
as duas mãos espalmadas em suas coxas, sentindo
como tremiam suas pernas.
Apenas seus quadris se moviam,
penetrando-a rápido e forte, com movimentos tão
deliciosos, que Helena achou que fosse desmaiar.
Talvez fosse a saudade, ou a experiência de serem
um casal explosivo juntos, mas dessa vez parecia
ainda mais gostoso que das outras vezes.
Helena estendeu os braços para segurar
seu rosto, acariciar seu pescoço, puxando-lhe os
cabelos e fazendo-o dobrar o corpo contra ela. O
peito firme grudou-se contra os seios macios, e ela
arquejou, empurrando o quadril contra ele,
embalando-o em sua seiva.
Cada vez mais fundo, ela pensou,
agarrando seus ombros e segurando-o contra si
com quase desespero. O roçar insistente do peito
em seus seios estava levando-a a loucura, e
quando ele baixou o rosto e mordeu seu mamilo
ela gritou, devolvendo-lhe as sensações, ao passar
as duas pernas sobre suas costas. Ele rugiu um
palavrão quando a sensação ficou tão forte que
achou que explodiria.
Tornando as investidas mais longas e
fundas, sentiu quando bateu em seu útero,
chegando ao limite do que Helena poderia
suportar.
Espremida entre ele e o colchão, ela
estava completamente entregue, suarenta, o corpo
úmido pelo calor, grudado ao dele em cada
pequena polegada. Os cabelos completamente
despenteados sobre o lençol atraíram seus dedos, e
Rony embrenhou-os nas mexas, enquanto batia-se
furiosamente em sua sensível fenda.
Exasperada pela sensação que vinha cada
vez mais forte e mais altiva, deixando-a
completamente imóvel e apertada, ela gritou
quando sentiu a dor das investidas. Seu interior se
fechava e serrava sua entrada pelas ondulações de
seu quase gozo, e Rony forçava, provocando nela
arrepios de tesão.
Rony sabia que deveria diminuir o ritmo
para não machucá-la, porém não conseguia fazer
nada além de aumentar a velocidade e a força, a
cada empurrão dos quadris pequenos. Se estivesse
doloroso, ela reclamaria, disse a si mesmo como
justificativa.
Nesse momento, achando que o mundo
era uma grande onda de eletricidade que a
queimava, Helena beijou a primeira parte dele que
alcançou. Beijou e mordeu seu pescoço,
arrancando dele um grunhido animalesco,
enquanto puxava os cabelos longos e castanhos
que estavam em seus dedos, contra o colchão.
Helena fechou os olhos, apagando a
imagem do rosto de Rony contorcido a procura do
prazer, naquela dor íntima que o tornava selvagem
e voraz. Jogou a cabeça para trás, achando que
morreria quando todo seu corpo se retesou e ele
afundou-se tão forte e tão grosso que a fez tremer,
a plenitude do orgasmo levando-a a arquear o
corpo o máximo que pode para tirar dele todo o
calor e contato que pudesse.
Gritou tão alto que achou que furaria os
tímpanos, mas na verdade o som soou baixo e
gutural, como um lamento, o corpo
convulsionando enquanto o prazer a soterrava
sobre aquele mar de emoções.
Tão apertada, tão rija e tensa, que Rony
gozou completamente envolvido e agasalhado em
seu interior.
Tão tensa, e então, tão relaxada, Helena
desmoronou no segundo seguinte, as pernas
caindo ao redor dele, sem força alguma para
manterem-se erguidas.
Rony precisou de alguns segundos para
erguer o rosto de seu pescoço, onde desançara a
face depois daquele cataclismo, soltou seus
cabelos, esfregando a mão em uma de suas
bochechas, limpando o suor que corria ali.
Helena abriu os olhos lentamente, tão
castanhos e suaves, tão honestos que a única coisa
que Rony pode fazer foi beijá-la.
Sentiu gosto de sal, e não sabia se era
gosto de suor, pois ambos estavam completamente
úmidos, ou gosto de lágrimas. Nem Helena
saberia dizer se eram lágrimas ou não, pois estava
completamente sem força para notar qualquer
coisa além dos lábios abertos, cansados e
preguiçosos, que se massagearam sem pressa,
sentindo o gosto, saboreando o gosto de desejo
saciado.
-Foi incrível – ele disse ao se afastar,
olhando em seus olhos.
Helena olhou para baixo, onde ainda
estavam unidos, e Rony sorriu, saindo lentamente.
Ela gemeu, pois era muito grande mesmo. Seu
suspiro de contentamento o fez sorrir como uma
criança ao ganhar um lindo presente de Natal.
-É a mulher mais incrível que já conheci
– ele continuou elogiando. Saiu de cima de
Helena, e gemeu de puro cansaço e contentamento
quando suas costas tocaram o colchão.
-É sempre assim? Em lugares como esse?
– ela perguntou baixinho, olhando para ele com
curiosidade e petulância.
Não se afastou, nem ao menos se deu ao
trabalho de fechar as pernas, parecia
completamente sem forças.
Ele riu, achando que era realmente
cômico.
-Não. – afirmou – Nunca, ouça bem,
nunca antes foi assim com mulher alguma. Não
estou mentindo.
-E como era antes? – ele perguntou,
dobrando uma das pernas de um jeito tão bonito
que Rony virou-se para ela, beijando seu ombro e
tocando sobre sua barriga.
Eram carinhos relaxados, pois estavam
satisfeitos.
-Era bom. Eu achava que era ótimo.
Nunca tive problemas em satisfazer minhas
parceiras – notou o modo como seus olhos
faiscaram e ficaram mais escuros, e achou que
estava muito frágil falando sobre assuntos que a
pusessem com ódio.
Helena poderia facilmente arrancar seu
coração com as mãos, e ele sequer se defenderia!
-Não sabia que poderia ser melhor que
isso. Sabe por que gosto tanto de fazer amor com
você, Helena? – seus beijos seguiram por seu
braço, voltando ao ombro, com torturante lentidão.
-Por quê? – perguntou curiosa, e ao
mesmo tempo hipnotizada com seus carinhos.
-Porque me sinto indo diretamente para o
céu. Uma sensação que me leva tão alto quanto é
possível um homem chegar.
Helena não respondeu se acreditava ou
não, mas deixou-o entrelaçar os dedos nos seus.
Batidas na porta fizeram Helena rir
baixinho e se mover.
-A Sra.Dolores disse que podia ficar
apenas um pouco. É seu melhor quarto.
-Jura? Esse pardieiro é o melhor quarto? -
ele ergueu as sobrancelhas, incrédulo.
-Da próxima vez, preciso me lembrar de
convidar um homem menos luxuoso. – ela disse,
enquanto pensava num modo de levantar-se e
apanhar as roupas sem se expor tanto.
Passada a loucura da paixão, estava um
pouco constrangida.
-Se fizer isso, lembre-se que os dois
acabarão em um caixão.
Não havia humor em sua voz.
Definitivamente, não havia.
Mas também não havia raiva. Apenas
aviso. Rony saltou da cama e se vestiu, ajudando-
a a fazer o mesmo. Enquanto Rony se ocupava de
calçar as botas, ela apanhou a rosa praticamente
estraçalhada de sobre a cama e guardou-a em sua
bolsa, como lembrança.
De mãos dadas desceram as escadas,
passando entre as raparigas que àquela hora do
dia, sem muito que fazer, apreciavam uma boa
fofoca. Quase saindo, Helena avistou uma moça
muito parecida com ela, e imaginou que havia
sido ela com quem Rony quase fizera amor.
Pelo olhar de ódio que lançou a jovem,
esta soube que nunca mais veria aquele homem
naquele cabaré.
E estava certíssima.
Se Rony tivesse amor à vida, esqueceria
completamente os tempos de farra e somente
lembrar-se-ia dela quando pensasse em uma
cama!
Capítulo 91 - A força

O riso e as vozes mais altas alertaram


Rony e Helena que a casa estava movimentada.
-O que acha de irmos embora? – ele
perguntou segurando sua mão e sorrindo – Não sei
se quero mais problemas.
Ela não pode evitar sorrir e manear a
cabeça, soltando-se dele.
-Se fossem problemas, Alice não estaria
rindo – disse meiga – Coragem. – indicou que
entrassem.
-Porque não entra primeiro? – ele
provocou e ela segurou o riso.
Sua vontade era abraçar aquele homem e
dizer o quanto o queria bem.
-Porque é homem e deve me proteger.
Havia tanto cinismo, ao dizer essa frase
machista que ele quase gargalhou. De mãos
dadas, por incidência de Rony, os dois entraram
em casa. A primeira coisa que eles viram, foi
Alice de pé, tão feliz quanto bonita. Usava um
colar tão caro e tão brilhante que poderia
facilmente ofuscar. Usava brincos e uma tiara,
combinando. Ao seu lado, John. Vestido
impecavelmente, como quando o vira pela
primeira vez, pensou Helena. Rony soltou sua
mão, apanhando John num abraço de irmãos.
-Ele voltou – Alice disse baixo, apenas
para Helena ouvir.
-E porque não voltaria? – ela sorriu para
a amiga, que abandonara definitivamente o ar
sofrido e triste das últimas semanas.
-John me trouxe de presente – ela tocou
reverentemente o colar em seu pescoço. Sua mão
tremia de emoção – Veja como é lindo...como
brilham as pedras...
-Diamantes, se chamam diamantes –
Helena corrigiu, tocando-as – São geladas. –
achou adorável – Ficaram maravilhoso em você,
Alice.
Rony e John se separaram e antes que
pudessem dizer algo, Helena se aproximou.
-Seja bem vindo, John! – abraçou-o,
ignorando a mão que ele erguera em
cumprimento.
Um abraço espontâneo, pensou Rony,
invejoso e ciumento. Será que só teria paz quando
John estivesse fora de sua vida?
Um abraço muito rápido, que mal teve
tempo de aquecer o coração de John. Helena
parecia tão radiante, tão saudável que John se
emocionou.
-Como foi à viagem a Londres? – ela
perguntou ao se afastar, consciente que deveria ter
pensando antes de abraçar John.
-Não foi uma viagem agradável. Passei
todos esses dias tentando encontrar a
documentação necessária para provar sua
inocência – ele disse a Rony – Por fim, preparei o
relatório que prova que saiu de Londres solteiro e
totalmente desimpedido. – a expressão de John
mudou ao continuar – A primeira coisa que fiz,
ainda mais cedo, foi procurar o juiz e entregar o
relatório.
-E ele? Enfiou o rabo entre as pernas
finalmente? – perguntou irritado ao lembrar-se de
quanto sacrifício para fugir de um golpe.
-Para ser franco me desagradou a
maneira com que lidou com as provas. Com pouco
caso, desrespeito. Foi um custo que me entregasse
as comprovações do casamento que teve com
Helena. Se quer minha opinião, verdadeira, direi
que a muito essa situação saiu do controle. Não é
algo para a justiça comum. É pessoal.
-Sei disso e não me surpreende – ele
disse entendendo plenamente o que John queria
dizer.
-Agora está tudo bem, não é? – Alice
interferiu – Rony apresentou as provas de sua
inocência. O que mais pode haver contra ele?
-Essas provas existem? – Helena
perguntou, desconfiada.
-Sim, esses são os originais – John
entregou a ela uma pasta em couro e fita, muito
sofisticada, onde estava a papelada. Helena leu
quieta e atenta.
Ao terminar, ergueu os olhos para Rony,
com algo de alívio e vergonha.
-Parece que estava dizendo a verdade,
afinal – ela devolveu os documentos a John.
-Se não pensasse sempre o pior sobre
mim, não teria essa dúvida sobre sua cabeça. – ele
irritou-se com sua postura.
-Não respondeu minha pergunta, marido
– Alice insistiu, enganchando seu braço no dele.
-Oficialmente não há razão para dar
seguimento a tal disparate, mas o juiz pode fazê-
lo. Em alguns casos, não aceitando a legalidade de
algum documento, pode exigir a prisão temporária
até averiguar a situação de bigamia.
-Ou anular a segunda união realizada. –
Rony completou – Xeque mate para o juiz.
Solteiro, me absolverá de todas as acusações. E
estarei casado com aquela cobra peçonhenta antes
que tenha tempo de derramar uma lágrima por
mim – disse a Helena. – obviamente minha
escolha é muito clara – ele disse.
John concordou com um aceno, mas
Helena parecia não saber a resposta.
-É claro que não anularei meu casamento,
Helena! – ele disse indignado por não saber disso
– Vou enfrentar o processo e pagar para ver. Ele
não terá coragem de me manter por muito tempo
na cadeia.
Alice sentou-se pesadamente sobre o sofá
da sala, cobrindo os lábios com uma das mãos,
chocada.
-Meu irmão será preso?
-Não é para tanto desespero, Alice – ele
consolou – Não poderá me manter preso mais do
que poucos meses...
-Poucos meses? – Alice gritou,
levantando-se assustadíssima – Precisa falar com
papai! Alguém tem que trazer o juiz a razão! Não
pode prender um inocente! Seja por um minuto, ou
por um ano! Está errado!
-Deve haver outro modo – Helena disse
séria, olhando para John com rigidez, cobrando
dele uma solução – Há uma outra maneira, não é
verdade?
-Bem, em situações inusitadas, sempre
há saídas inusitadas – ele disse com ar pensativo
andando pela sala, seus olhos brilhavam com a
esperteza de um homem que aprendera a defender
causas usando do intelecto e da sagacidade. –
Oficialmente, Rony não foi intimado. O juiz
sequer recebeu os documentos oficiais dizendo
que faria uma diligência até aqui para intimá-lo
pessoalmente, sendo assim, tudo que ouvimos,
todas as ameaças são meramente verbais. Rony é
um homem livre nesse exato momento, inclusive
para não estar aqui quando receber a intimação.
-Fugir? Esta sugerindo que eu fuja? –
Rony avermelhou diante dessa sugestão.
-Sim! Fuja, irmão! Esse calhorda jamais
se dará ao trabalho de procurá-lo! – Alice opinou
quase chorando.
-Não me refiro a uma fuga – John
abraçou Alice, acariciando seus cabelos para
consolá-la de seu susto. – Uma viagem. Sim, que
maldade há em uma longa viagem? Não estará
negando-se a receber a intimação, apenas
demorara a responder a ela. Pense, se estiver em
Londres, terá todas as oportunidades de informar o
que se passa ao nosso velho e conhecido Juiz
Demetrius. Provara que é vítima de uma armação
e de quebra, escapará de alguns indigestos dias na
cadeia.
-E me livro definitivamente da filha do
juiz -ele concordou, olhando para Helena – não
posso viajar sozinho.
Helena não acreditava no que ouvia. Eles
falavam com tanta naturalidade sobre assuntos
que a deixavam pálida e gelada.
Primeiro, a possibilidade de ser preso.
Não era um piquenique, era a prisão! Meses longe
dela, sofrendo e sendo maltratado dentro e um cela
suja e fria!
Depois, falavam sobre fuga, sobre sumir
e abandonar tudo. Livre, porém longe dela. E
agora, falavam de viagem.
-Por quê? -ela se afastou, achando a sala
subitamente fria.
-Não vou deixar minha mulher sozinha.
Muito menos sabendo de tudo que acontece por
aqui. A fazenda é nossa, mesmo que não tenha
perdoado John por isso, mas é nossa. Suarez pode
cuidar de tudo assim como Juanita cuidará da
casa. Meu pai...
-Não vou sair daqui! – ela disse
assustada com essa ideia – Vá sozinho!
-Helena! Prefere que eu seja preso? – que
ficou surpreso foi ele.
-Não posso deixar a fazenda! Não vou
fazer isso! Vá sozinho se é tão necessário!
-Vai comigo sim! Não posso deixá-la
sozinha!
-E porque não? – ela quase cuspiu as
palavras, com ódio – Sou capaz de cuidar de mim
mesma, não preciso de você para nada!
-Mentira! Precisa de mim, tanto quanto
preciso de você! Não deixarei minha mulher e meu
filho para trás! Vai comigo, nem que para isso
tenha que levá-la amarrada!
-Você que tente! -ela tentou se afastar,
mas Rony segurou-a com força.
-Vá ao quarto e apanhe a arma dela – ele
disse a Alice – Na gaveta das roupas íntimas. Dê
a John – ele mandou, tendo que segurar Helena.
Ela esperneou, e se debateu, mas Rony
segurou-a por trás. Um braço em sua cintura, o
outro, cobrindo sua boca para que não gritasse.
Assim que Alice voltou, John guardou a arma de
Helena em sua cintura, por trás do elegante terno.
-Quanto tempo temos até o juiz aparecer
com a intimação? -ele perguntou, ainda
imobilizando-a.
-Amanhã pela manhã deve estar aqui.
Tem pressa, depois de ter visto os documentos
verdadeiros. – ele informou. Imaginado o que
Rony tinha em mente.
-ME SOLTE! - ela gritou quando ele
soltou seus lábios. – EU TE ODEIO! SOLTE-ME!
-Quanto mais gritar, mais eu aperto! – ele
avisou, mas não surtiu efeito. – Droga, Helena!
Tendo que usar uma força física que não
pretendia, ele tapou novamente seus lábios,
sentindo a dor dos chutes e das pancadas que ela
dava contra seus braços e peito. Quando lhe
acertou sobre a ferida da bala, ele quase a soltou.
-Escute – ele disse em seu ouvido, mas
ela não parou – escute um momento! Helena, pare
de me bater e escute!
Talvez a autoridade em sua voz, ou o
cansaço, a fizeram parar numa trégua, que não
prometia durar muito.
-Me escute, amor, é do seu interesse –
achou que poderia amansá-la com palavras de
carinho mas o chute que ela deu em sua canela o
fez mudar de ideia – Coopere, viaje comigo, e
prometo lhe dar algo em troca. Peça o que quiser.
Como ela pareceu se acalmar, ele
descobriu seus lábios, apenas para ouvir seu grito
de ódio:
-QUERO QUE MORRA!
Não tinha o que fazer. Cobriu novamente
sua boca, e a arrastou para o quarto de hospedes.
Depois de checar que a janela estava bem fechada,
jogou-a sobre a cama.
Helena estava de pé em um segundo,
selvagem, mas não rápida o suficiente para
impedi-lo. Rony trancou a porta por fora, e gritou
para Duran chamar o padrasto e montar guarda na
janela, para Helena não fugir.
Ignorando os gritos furiosos que ela
expelia, nada gentil ou amorosa, virou-se para
Alice, como se nada estivesse ocorrendo:
-Faça as malas de Helena. E as minhas,
tenho assuntos a tratar com papai antes de
viajarmos.
Tentando se recompor, olhou para John
que lhe disse:
-Viajaremos com vocês - olhou para
Alice – Posso arrastá-la para o quarto se assim o
quiser – provocou-a.
-Não é necessário. Vou com meu marido,
onde quiser. – ela disse tão doce que causou inveja
a Rony.
-Daqui a pouco escurece. Temos muito o
que fazer antes da viagem. – Rony disse
respirando fundo e tentando controlar a raiva, a
emoção e a vontade de destrancar aquela porta e
pedir perdão de joelhos.
Depois de ordens expressas, Juanita
começou a arrumar as malas. Todos ignoraram os
gritos. Mas eles estavam lá.
Helena gritou todos os palavrões, ofensas
e pragas que conhecia, até sentir-se esgotada.
Reteve o impulso de quebrar os moveis,
quando lembrou-se do bebê. Chorando, sentou-se
na cama, desesperada demais para lamentar. Não
queria ir embora. Não queria deixar sua vida para
trás. Estava destroçada pelo desrespeito, pela
insensibilidade e pouco caso de seus sentimentos.
Depois daquela linda manhã em seus braços,
sentir-se tão pequena e insignificante quebrava
seu coração em pequenos pedaços.
-Helena?
Ela ouviu um chamado baixo, através da
porta e reconheceu a voz de Alice.
-É por amor, Helena. É para não te perder
que meu irmão está fazendo isso – falou rápida,
com medo de ser ouvida. – Vou com John onde
ele for. Faça o mesmo. Se aproximando da porta
ela respondeu:
-Se eu jurar que vou me comportar, abrirá
a porta?
-Oh, Helena...
Haviam se passado umas três horas
desde que Rony a trancara. Alice estava com o
coração esmigalhado de ouvir seu choro.
-John me proibiu, não posso decepcioná-
lo! – lamentou quase chorando.
-John está de acordo com isso? – ficou
chocada, como se alguém houvesse lhe jogado
água muito gelada direto na face.
-Tem medo que Rony vá para a cadeia.
Meu irmão é muito teimoso e obstinado, não
anulará o casamento jamais! Uma viagem é a
melhor escapatória. Helena, se ama meu irmão,
um pouquinho que seja, colabore!
-Vá para o inferno – ela disse chorando
amargamente – todos vocês são iguais!
-Não, Helena...eu sinto tanto!
Helena se encheu de esperanças ao ver o
trinco mexer, então um grito nada discreto
interrompeu o movimento:
-Deixe-a trancada! -era Juanita aos
berros, depois de gritar um de seus filhos – Se
Helena não ama e não colabora com o próprio
marido, é melhor que fique trancada!
-Mas... – Alice iria defendê-la.
-Sigo meu marido, onde ele for. Você
fará o mesmo. Nossos maridos são bons homens,
vivendo para dar tudo de bom para nós, o que é
uma raridade! E Helena? O que tem ela de tão
diferente de nós? Está me ouvindo, Helena? -ela
elevou a foz para não deixar dúvidas sobre estar
falando para ela – Cuide de seu filho, pare de
gritar e chorar! Uma viagem a Londres não lhe
fará mal algum!
-Eu não quero ir! – ela disse rachando,
num choro de pura dor – Não posso deixar a terra
dos meus pais...Juanita, não posso deixar tudo
para trás...
-Estarei aqui, Helena. Juro-lhe, ninguém
colocará um dedo sobre à casa de seus pais, eu lhe
juro, menina, agora não chore mais. Tem um
marido bom, e deve ajudá-lo. Depois, se quiser,
livre-se dele, mas agora, obedeça!
-Vai cuidar da fazenda? – suas palavras
estavam muito fracas, pois ela tremia da cabeça
aos pés.
-Como se fosse minha! Juro-lhe de
coração.
-Eu o odeio, Juanita – ela apenas disse,
sem concordar. Referia-se a Rony.
-E com toda a razão – ela sussurrou para
Alice, e até mesmo ela teve que concordar com
um aceno. Amava o irmão, mas essa maldade era
horrível de se ver. Tirar de Helena a única coisa
que lhe causava segurança era um verdadeiro
pecado!
Sozinha novamente, ela deitou-se na
cama, quando achou que estava um pouco zonza.
Não adoeceria por causa daquele cretino! Queria
estar forte para se vingar. Nem que vivesse mil
anos, mas se vingaria!
Capítulo 92 - Por trás do ódio

O primeiro trem partia antes do


amanhecer. A carruagem do Conde trouxe-os num
silêncio mortal. A carroça trazia as malas. Ducan
e os irmãos seguiam-nos de perto, talvez temendo
que Juiz ficasse sabendo e tentasse impedi-los.
Faltavam poucos minutos para o trem
partir, quando Helena notou que o menino Duran
parecia muito nervoso, e carregava uma pequena
trouxa.
Notando o interesse, o menino pigarreou
ao dizer, sentindo-se muito importante:
-O patrão disse que devo ir para cuidar de
sua segurança.
Helena não respondeu. Sentiu o choro
preso na garganta. Concordou, e o menino sentiu-
se ainda mais importante. Ia vigiá-la em Londres.
Ao seu lado, esperando pelo trem, Alice
não se continha de entusiasmo. Nem mesmo
sentia ciúmes, de ver John segurando firmemente
no braço de Helena.
Ordens de Rony, que não podia se
aproximar dela sem causar uma nova guerra. Fora
um verdadeiro inferno convencê-la a vestir-se para
a viagem e quando vira as malas prontas, Helena
apenas fechara a expressão em uma máscara de
ódio.
Antes de deixarem a fazenda, no entanto,
ela quase desmoronou quando Juanita se
aproximou em um momento de distração de Alice
e John e lhe entregou um embrulho.
-Guarde com você, mas não faça
nenhuma besteira. Ouviu?
Era sua arma, a mesma que Rony
escondera no dia anterior. Ela não agradeceu, mas
Juanita a conhecia bem demais para precisar
dizer. Bastava olhar em seus olhos.
-Lembre-se: quanto mais nervosa, mais
agressivo será a criança. – ela fizera o sinal da
cruz diante de sua testa como sua mãe teria feito,
num pedido de proteção – Se enjoar no trem ou no
navio, fique deitada e feche os olhos, diminuí o
mal estar pelo movimento. – recomendou.
Afastando essa lembrança, olhou para
Duran seriamente:
-Sua mãe concordou?
-A mãe sabe que é o melhor para mim, e
o pai queria que eu viesse – disse orgulhoso – um
homem tem que ser homem desde cedo!
-Tolice. Tem só treze anos! - ela
lembrou-o.
-Catorze na semana que vem – o menino
revidou e Helena ergueu o queixo em sinal de que
não aprovava sua petulância. Duran fingiu não
notar e se afastou para ajudar a guardar as malas
no trem.
-Será uma linda viagem, Helena – Alice
tentou melhorar seu humor – Por favor, sorria.
-Como posso rir de minha desgraça? –
ela perguntou.
-Está cuidando do seu marido, e por
consequência de seu filho, e de si mesma. Não
seja tão má! – Alice insistiu.
-Espero que nunca em vida lhe tirem tudo
que ama. – Helena disse muito magoada – mas se
um dia acontecer, entenderá por que não posso
sorrir!
Virou-se, após soltar-se do aperto suave
de John, virando-se para o outro lado, para que
não vissem suas lágrimas.
O som do apito do trem avisou-lhe que
em poucos minutos estaria partindo. Era o
primeiro dos três apitos que avisavam a partida.
Sentiu algo sufocar sua garganta e temeu cair no
pranto, ao lembrar-se que não se despedira de sua
mãe e de Anne, e seu pai. Mesmo que desiludida,
tinha muito amor pelo homem que a criara. Nem
mesmo uma flor tivera oportunidade de levar ao
cemitério antes de partir.
John e Alice conversavam baixo, para
não causar-lhe maior comoção quando Helena
notou que era observada. Uma moça, atrás de uma
pilastra, segurando sua sombrinha chamativa,
espreitava.
-Aquela não é Susan? – foi Alice quem
perguntou, com uma pitada de desespero na voz –
Oh, Deus, Rony não conseguira fugir a tempo!
-Não é uma fuga – John lembrou-a –
enquanto não foi intimado, não é uma fuga. O
trem parte em alguns minutos, não há o que temer.
– tranquilizou-a.
-A menos que tenha enviado seu cocheiro
para avisar o juiz a mais tempo. Onde está seu
amigo? – Helena se recusava a pronunciar o nome
de Rony desde que ousara trancafiá-la como um
animal.
-Deveria estar despachando as malas,
mas não o vejo mais – John disse preocupado,
olhando em volta.
-John, procure-o. Pode ter sido levado! Só
Deus sabe do que o juiz é capaz para casar sua
horrível filha!
John pareceu em dúvida se era boa ideia
deixar Helena sozinha com Alice, temendo que ela
fugisse. Ao se decidir e se afastar em direção aos
carregadores, Helena olhou para as mãos de Alice.
-Guarde sua pulseira e seu anel em sua
bolsa – mandou sem tirar os olhos de Alice,
enquanto tirava as próprias luvas e guardava.
-O que pretende fazer? – havia medo em
Alice.
Conhecia Helena a tempo bastante para
saber que aquele olhar era perigoso.
-Eu disse, e ninguém me houve.
Diplomacia não funciona com algumas pessoas!
-Helena? – tocou seu braço em sinal de
cuidado, e pedido de prudência.
-Lembra-se do filho dos Gueen? Quando
nos importunava e éramos apenas crianças de seis
anos. Lembra do que fizemos? – perguntou
maquiavélica.
-Helena...- seu tom agora era de puro
prazer, ao olhar para Susan e se afastar de Helena.
Susan não tinha medo de Alice, bem pelo
contrário. Ficou encantada quando Alice abordou-
a, para conversarem sobre como Alice ajudaria a
atrasar o irmão para que ele ficasse e pudesse ser
apanhado.
Tão encantada que a seguiu até os fundos
da estação.
Há muitos anos, quando não tinham mais
que seis anos, Helena e Alice decidiram que
precisavam se livrar do filho mais novo dos
Gueen. Ele tinha nove anos, era mais alto e
grande, e implicava com as duas, inclusive
impedindo-as de brincar no lago.
Os pais das duas não levaram em
consideração por serem apenas meninas e
crianças. Então, numa tarde de outono,
arquitetaram um elaborado plano para que o
menino nunca mais as importunasse.
Alice o engabelara, com sua conversa
mansa, e olhar doce, levando-o até o lago.
Brincariam de esconde-esconde. Helena os
esperava atrás de um árvore e o acertara na cabeça
com um galho de árvore. Depois, elas o
amarraram em um tronco de árvore e foram
embora.
Uma noite inteira amarrado no bosque e
o menino aprendera a lição. Jamais voltara a se
aproximar de uma das duas.
Helena esperou que estivessem onde
precisava, e se aproximou.
Susan imediatamente arregalou os olhos
e tentou se afastar, mas Alice barrou sua
passagem.
-Porque está aqui?
-Eu os vi na cidade. – ela contou
assustada – Achei que o seu pai Conde estivesse
indo embora! Mas vejo, que me enganei! Estão
fugindo!
-Fugindo não! – Alice corrigiu-a – Somos
livres para viajarmos!
-E para onde vão? – ela perguntou
batendo o pé no chão, enraivecida.
-Mandou avisar seu pai? – Helena
interrompeu a conversa, contendo a fura.
-O que você acha? – Susan ironizou – Em
alguns minutos estarão aqui! E Rony não será
apartado de mim!
-Apartado de você? – nem Alice
acreditava no que ouvia.
-Não se impressione, Alice, isso é o que
acontece quando uma mulher não encontra um
marido. Fica desesperada! – sem tirar os olhos de
cima de Susan, entregou sua bolsa a Alice e esse
simples gesto, fez Susan dar um passo para trás.
-O que pretende fazer, sua louca? – ela
olhou em volta, notando o quanto estavam longe,
sem serem vistas pelos transeuntes.
-Acha que seu pai consegue chegar antes
do terceiro apito? – perguntou ao ouvir a segunda
chamada do trem.
-Não posso deixar o homem da minha
vida ir embora! – Susan alterou-se, a beira das
lágrimas – Não é homem para você! Merece
alguém melhor! Alguém educado! Fino! Alguém
como eu! Sua...sua coisa sem graça! Feia!
Estúpida!
-Acontece, que Rony não vai casar com
você – ela disse ficando a centímetros de Susan –
Sabe porque?
-Por quê? – Susan perguntou sarcástica.
-Porque mortas não casam! – ela gritou,
empurrando Susan contra a parede do terminal.
-Meu Deus!- Susan Gritou, quando caiu.
Helena revirou os olhos. Será que não
aguentava um empurrãozinho de nada?
-Não pode me bater! – ela gritou no chão,
chorando.
-Não estou te batendo! – Helena curvou-
se e agarrou seus cachos feitos artificialmente,
estragando seu penteado ao fazê-la levantar-se,
pelos cabelos. – Estou te dando um aviso.
-ME SOLTE! – Ela chorava de dor, e
Alice olhou para Helena, que não parecia muito
interessada em soltar seus cabelos.
Com um doloroso puxão, ela soltou-a.
-Faremos uma longa viagem, e quando
voltar, espero que esteja casada. Caso contrário,
arrumo um meio de casá-la com o primeiro
indigente que saltar desse trem! Está me ouvindo?
-Não pode fazer isso! -ela riu
sadicamente, alisando a cabeça, em dor.
-Um pai Conde pode conseguir muito
mais que um pai juiz. Não esqueça disso! Estou
tendo que deixar tudo que amo para trás por sua
causa! Juro que não terei dó de alguém que me faz
tanto mal! Está entendendo?
-Louca, é isso que é! Uma louca! – Susan
chorou desesperadamente, de medo que pudesse
ter como cumprir suas ameaças – Eu o amo!
Quero esse homem para mim! Se preciso for, entro
nesse trem e parto com ele no seu lugar! Vê, meu
amor não tem pudor! Porque não fica e me deixa ir
em seu lugar?
Alice olhou para Helena para constatar se
estava considerando essa possibilidade ou não.
Ficar era tudo que sonhava!
-E fazê-la feliz? – Helena riu irônica,
apanhando a bolsa das mãos de Alice – Prefiro
apodrecer ao lado de Ronald, apenas pelo prazer
de vê-la infeliz!
Com essas palavras, virou as costas e se
afastou com Alice correndo atrás dela. Havia
soado o terceiro aviso, e se não corressem não
chegariam a tempo.
John estava desesperado, olhando em
volta, tentando achá-las. Rony gritava alguma
coisa acima do som do motor do trem, que estava
a segundos de partir.
Quando as avistou, ele gritou um
palavrão, correndo para agarrar o braço de Helena
com toda sua raiva e força.
Helena nem tentou soltar-se, e foi
arrastada para dentro do trem. As pessoas
olhavam, e humilhada, espezinhada e magoada,
foi empurrada para um acento, rente a janela. Ele
sentou-se ao seu lado, e logo John e Alice
sentaram-se a frente dos dois.
Ele estava vermelho e arfante. Olhava
para longe, se recusando a olhar para ela.
Ninguém ousou dizer nada.
Helena olhou pela janela, sem ver nada a
sua volta. Sentia a dor de ser submetida aos
desejos alheios.
Rony, sentia a dor de quase tê-la perdido.
Achara que tinha fugido. Que o abandonara. Quis
pedir desculpas pelo modo que a agarrou e
arrastou, pelo modo como a trancara no dia
anterior, mas não tinha condições. Não agora, com
tantas emoções conflitantes dentro de si.
O trem finalmente deu partida e quando
se movimentou, Alice agarrou a mão de John
sorrindo para ele, feliz e a beira das lágrimas. Era
doloroso se afastar dos pais e dos irmãos, mas era
também um momento feliz. Conheceria Londres e
a vida do marido.
Quando a estação ficou para trás, Helena
finalmente entendeu que não tinha volta. Com o
coração quebrado, tocou o vidro da janela, que
estava quente pelo sol escaldante.
Sua vida ficava para trás.
Não iria chorar. Ordenou-se que não
chorasse.
Não o reconhecia mais como marido e
dava graças a Deus por não ter lhe dito que o
queria.
Agora, mais que nunca, odiava Ronald
Parker.

No meio da madrugada chegaram à


primeira parada. O trem parou na estação e todos
desceram. John alugou uma carruagem, e falou
brevemente, sobre ficarem em um hotel até a
manhã seguinte, quando partiriam novamente.
O próximo trem tinha acomodações
próprias e seria o último até o porto de onde
seguiriam viagem para Londres.
Sem falar nada, fato que se repetiu por
todo aquele fatigante dia, Helena seguiu-os. Alice
estava exausta e abraçada a John durante todo o
caminho na carruagem, mas Helena, apesar de
sentir-se próxima a perder os sentidos, mantinha-
se tensa e rija.
Nunca mais deixaria aquele homem
colocar as mãos sobre ela!
John resolveu tudo rapidamente, e
conseguiram dois quartos em uma estalagem. Era
simples, mas tinha uma cama, e era o que
importava.
Sem forças para brigar, Helena deitou-se
vestida e fechou os olhos. Queria morrer. Abatida,
sentia vontade de morrer. Não fosse pelo filho em
sua barriga, desejaria a morte.
Rony entrou no quarto e tirou as roupas,
deitando na cama, cansado e abatido. Tudo que
desejava, era abraçar Helena e pedir perdão.
Implorar que entendesse suas razões. E
para que?
Para mais briga? Não tinha certeza de ser
capaz de suportar mais disso. Virou-se em sua
direção, sorrindo ao ver o modo como estava
adormecida. Porque Helena não podia ser mais
acessível, como no dia anterior, quando lhe
entregara seu corpo e seu amor de um modo tão
intenso que ainda o deixava mudo e comovido de
emoção e desejo? Acariciou seus cabelos, e seu
rosto, abraçando-a.
Se ao menos pudesse convencê-la da
importância do seu amor. Mas como?
Capítulo 93 - Medo de você

Rony entrou na cabine com receio de


acordá-la. Helena ergueu os olhos para ele e
voltou à atenção para o livro. Era o segundo dia de
viagem, e graças à boa influência de John
conseguiram boas cabines. Acomodações
pequenas, claro, mas confortáveis.
Helena estava sentada na cama, o móvel
que ocupava quase todo o espaço. Apenas duas
malas foram abertas para que pudessem apanhar
roupas limpas. O resto continuava fechado,
esperando a chegada.
Ignorando-o totalmente, tentou
concentrar-se na leitura.
-O almoço será servido em poucos
minutos. John reservou uma mesa perto da janela,
onde pode ver a paisagem. Não quer almoçar fora
da cabine?
Era uma tentativa quase ingênua de
conciliação.
Apenas maneou a cabeça numa negativa.
Recusava-se a falar com ele. Tinha três dias que
não se dirigia a ele nem direta, nem indiretamente.
Não lhe importava se estava magoado ou
irritado com seu comportamento. Queria feri-lo,
do mesmo modo como se sentia ferida.
-O almoço não será servido nessa cabine.
Se quiser comer, terá que dar o ar de sua graça –
ele avisou, abrindo a porta e saindo depois de um
olhar de raiva por não ter se dignado sequer a
erguer os olhos em sua direção.
Quando ficou sozinha, Helena jogou o
livro com toda sua força contra a parede, desejado
arduamente que fosse seu rosto.
Uma hora depois, foi obrigada a sair e se
dirigir ao vagão onde os passageiros faziam sua
alimentação. Para irritá-lo, preparou-se com
esmero, e ensaiou sua melhor expressão de
descaso.
Não lhe daria o gosto de vê-la sofrer! Não
mesmo!
-O bife está uma delícia – Alice alertou –
mas as batatas cozidas estão sem gosto!
-Alice – John disse em voz baixa – Não
deve tecer comentários indiscretos na frente dos
garçons. É deselegante.
-É deselegante dizer que a comida está
ruim, se de fato, ela está mal feita? – seu
temperamento a obrigou a desafiá-lo.
-Sim, é deselegante – ele tornou a dizer
com voz calma, os olhos brilhando de luxúria
diante de sua expressão afogueada pela raiva de
ser corrigida.
-Terá que aprender a se portar Alice –
Helena disse mansamente – John é conhecido e
afamado, terá que comparecer em eventos
requintados, e não será com seus modos de peão
xucro que poderá acompanhá-lo!
-E acaso seus modos são melhores que os
meus? – ela ironizou.
-Posso não usar meus bons modos, mas
isso não quer dizer que não os tenha – ela disse
ainda suave, sabendo que seu súbito bom humor
tiraria Rony do eixo. – mamãe me ensinou como
me portar em uma mesa, mesmo que me falte o
traquejo social das moças mais acostumadas.
-Isso não será problema. Minha
governanta será por certo, uma tutora para ensinar
Alice a se portar – John contou.
-Serei ensinada? Como uma criança? –
ela parou de comer.
-Sim, é uma ótima ideia John – falar com
ele diretamente era uma afronta direta a Rony, que
sentado a sua frente, encarava-a com indiscutível
contrariedade – Não é apenas uma viagem de
passeio Alice. Londres será seu lar, e deverá ser
uma dama para cuidar da vida social de John.
-Pensei que pretendesse passar um tempo
perto dos meus pais antes de ficarmos
definitivamente em Londres – ela empalideceu.
-Sim, pretendia. Primeiro cuidaremos do
caso do seu irmão. Depois, veremos.
Calada, Alice baixou a cabeça, comendo
calada. Pensativa e insegura.
Helena comeu com grande satisfação,
enquanto sentia os olhos de Rony sobre ela. John
tentou de todos os modos achar um assunto que
pudesse distrair os quatro, e talvez, arrancar de
Rony um sorriso, ou de Helena uma palavra
amável para com o marido.
Mas foi tudo em vão. Silêncio
constrangedor instalou-se entre eles.
Tão constrangedor que nem mesmo os
garçons se atreveram a se aproximar até que
terminassem.
-É uma linda vista – Alice tentou puxar
assunto enquanto provavam a sobremesa – John, é
verdade que em Londres a temperatura é mais
amena?
-A essa época do ano, no verão, o frio é
mais modesto.
-Fico feliz. Um pouco de frio seria
adorável! – ela disse empolgada - quem sabe ver a
neve!
-Não creio que fiquemos até o inverno –
John continuou falando, pois nem Rony e nem
Helena se manifestavam – Talvez em dois meses
possamos voltar.
Helena poderia ter incendiado Rony com
a intensidade do olhar que lhe lançou. Dois
meses? Passariam dois longos meses longe de
casa?
-Dois meses é muito tempo, amor – Alice
disse carinhosa, olhando para Helena – é mesmo
necessário?
-Sim, não creio ser possível voltar antes.
-Mas, querido...
-Não insista, Alice – John pediu, com
algo repressor na voz.
-Para seu governo Sr.Harrison, nem
mesmo meu pai ousa falar nesse tom comigo. Se
for meu desejo, insisto quantas vezes quiser! – ela
jogou o guardanapo com raiva sobre a mesa e se
ergueu.
O garçom que se aproximava com uma
bandeja foi seu alvo, num desafio direto a John:
-A comida está um lixo! Diga isso ao
cozinheiro!
John demorou um segundo para sair do
torpor que se abateu sobre ele e levantar-se, com
um pedido de desculpas e apressar-se atrás de
Alice.
Sozinha com o inimigo, Helena
agradeceu polidamente ao garçom, que
constrangido, acalmou-se da indelicadeza de Alice
ao achar estar sendo paquerado.
Era uma linda jovem com olhos cor de
chocolate. Ele sorriu e se afastou, não sem um
profundo olhar para seu decote.
-Até quando pretende me ignorar? –
Rony perguntou direto, sem meias palavras.
Com um suspiro de resignação ela olhou
para ele, mas não respondeu.
-Será que é incapaz de entender por que
fiz isso? Helena, ao menos olhe para mim.
Quase se arrependeu, diante do olhar
irônico e magoado que recebeu. Cansado ele
baixou a cabeça:
-Não poderia deixá-la para trás.
-Porque não? – foi incapaz de se controlar
- A fazenda está em seu nome. Não havia sentido
em me arrastar com você! – ela abandonou os
talheres com tal grosseria que chamou atenção dos
outros viajantes em suas mesas.
-Minhas razões em trazê-la são maiores
que a fazenda! – disse indignado – Não queria
deixá-la sozinha, a mercê de qualquer perigo!
Como poderia protegê-la estando longe de mim?!
Carrega meu filho, quero protegê-los. Preciso tê-la
perto de mim. Isso é claro como água! Helena, não
posso e não quero viver longe de você!
A esse ponto várias pessoas prestavam
atenção na discussão.
-Se isso fosse verdade, teria respeitado
minha vontade!
-E ficar para ser preso? – ele jogou em
sua cara.
-Se é mesmo inocente, não deveria temer
a prisão!
-Não é o caso de ser inocente ou não. Fui
apanhando em uma armadilha, e sabe melhor do
que eu! Se parasse de agir como se eu fosse o
culpado pela morte da sua família seria capaz de
ver isso com clareza!
A essa altura ele gritava.
Ela estava pálida como gesso. Não
respondeu nada em troca, mas permaneceu lívida
e um pouco trêmula pela raiva dele ter ousado
falar nas mortes de seus familiares como algo
comum e sem importância.
-Não quero que permaneça ao lado de
John, mesmo que Alice esteja presente – ele
alertou, aproveitando toda a adrenalina para deixar
claro seu ponto de vista – Londres é o lar de John,
não se mostre muito a vontade ou ele achara que
tem interesse. Será um inferno recomeçar com as
desconfianças infundadas!
-Infundadas por quê? – ela revidou
furiosa – John é um homem atraente. E muito bom
comigo. Jamais me arrastaria a força e me
humilharia desse modo!
-Mas não são pelos beijos de John que
você implora! – ele jogou em sua cara.
Ofendida, ela levantou-se pronta para
deixá-lo falando sozinho. Mas Rony ousou segura-
la na frente de todos os passageiros.
-Me solte! – ela pediu, cuspindo
marimbondos – Está me humilhando na frente de
todo mundo!
-Estou sendo humilhado por você desde o
dia em que nos casamos! – ele elevou a voz –
Afaste-se de John! Está entendendo? Vi a forma
como olha para ele, como fala com ele, como sorri
para ele! Não aceito mais isso!
-Seu hipócrita! - ela soltou-se com um
puxão e correu, deixando o garçom parado a meio
caminho com sua bandeja de sobremesa.
Exaltado, a seguiu.
Helena pretendia trancar-se em sua
cabine e deixá-lo na rua, quem sabe, dormindo no
corredor, mas ao avistar John, outra ideia
desenhou-se em sua mente.
A vingança tinha um gosto
saborosíssimo!
Avançando, completamente
descontrolada, ouvindo os passos de Rony logo
atrás ela avançou até John.
-Helena, o que esta acontecendo...?
Não terminou sua frase, ela parou diante
dele e o beijou.
Sem saber de onde saíra à coragem para
tanto, beijou John bem na frente de Rony, Alice e
outras pessoas que passavam pelo corredor.
Levou dois segundos para John afastá-la.
Dois exatos segundos, onde quase se entregou ao
sabor daquele beijo. Um beijo de raiva, rancor e
vingança, mas que quase despertou nele
sentimentos inconfessáveis.
Lábios doces, mas com algo perigoso,
que ameaçava despertar loucas paixões.
Segurando seus braços, afastou-a
notando que estava à beira de um ataque de
nervos. Estava assim há três dias, mas Rony não
fazia nada para ajudá-la a superar a dor de deixar
seu lar e a tristeza de não ser ouvida. Olhando
além dela, sentiu medo de ser alvo de Rony.
Soltou Helena imediatamente, evitando olhar
diretamente para os dois.
Não tinha culpa, mas estava morrendo de
medo de ser acusado.
Consciente do que fizera, ela se afastou
de John, tentando achar um modo de se desculpar.
Foi quando passou o torpor e lembrou-se dos
passos atrás de si. Não teve coragem de olhar para
trás. E nem precisou.
O puxão em seu braço foi o alerta para
que parasse. Mas era impossível, mesmo sabendo
estar errada, não podia parar e se render.
Tentou se soltar, mas foi arrastada pelo
corredor, tentando a todo custo se soltar. Ouviu o
grito de John pedindo que Rony tivesse calma e
olhou para trás, pedindo ajuda, mas ele não se
moveu.
Era tudo culpa dela, que despertara o pior
de Rony, e nem mesmo John a ajudaria!
Segurando o braço de Rony, ela tentou se
soltar, quase escorregando, mas ele não parou até
chegar à cabine, abrir a porta e trancá-la.
-Eu quero sair! – tentou
desesperadamente abrir a porta, batendo e
chutando, mas parou quando ele avançou em sua
direção – Não se aproxime de mim!
Assustada, apanhou uma pequena estatua
que servia de adorno e ergueu como se fosse um
pedaço de pau ou algo assim, para se defender e
ameaçá-lo.
-Beijou John. – ele disse baixo, furioso
demais para gritar.
Uma veia saltava em seu pescoço, e ela
teve vontade de gritar.
-Beijou outro homem – ele aproximou-se
mais e ela sentiu a parede em suas costas,
deixando cair o bibelô sem saber por que se sentia
tão assustada. – Sua boca não é mais minha.
Beijou outro.
-Está parecendo um louco! – ela acusou,
acuada – Me deixe sair daqui!
-Está com medo? Não pareceu sentir
medo enquanto devorava a boca de John na minha
frente!
Ele ergueu uma das mãos e agarrou seu
pescoço, fazendo Helena gemer de medo.
-Não vai me bater! Jurou que nunca faria
isso!
-Isso foi antes de ser pisado e traído! Mas
não vou te bater! Vou fazer o que tanto quer,
Helena – havia algo de selvagem em seu olhar – A
única coisa capaz de acalmá-la e trazê-la de volta
a razão!
-Não ouse! – ela gritou, antecipando o
pior.
-Não grite na minha cara!
Seu berro fez o corpo todo de Helena
tremer, seus joelhos fraquejaram e sentiu uma
palpitação tão forte entre as pernas que achou que
fosse desmaiar.
Sem fala, entreabriu os lábios como quem
pede beijos.
Lábios que tocaram os de John, ele
pensou furioso. Lábios que dividiram seu gosto
com John, seu melhor amigo. John, um homem
que não era ele!
Com desmedida emoção esfregou uma
das mãos em seu rosto, sobre seus lábios, e ela
tentou se debater, mas ele só parou quando a pele
avermelhou.
-Ainda sente o gosto dele? – gritou
arrastando-a para o outro lado do quarto – Ainda
sente o gosto de outro homem em sua boca?
-Não! - ela gritou, controlando o choro,
quando ele jogou-a na cama – Me deixa sair
daqui, Ronald! Estou com medo, me deixa sair!
Normalmente essas palavras o
comoveriam e pararia, mas não hoje.
-Está com medo? – ele retrucou ofendido.
-Você beijou Alexia na minha frente! –
ela avisou de volta – Porque não poderia beijar
outro homem? – tentou empurrá-lo e seguiu
tentando enquanto ele lutava para mantê-la
deitada, arrancando a faixa que decorava seu
vestido na cintura.
-Ela me beijou, é bem diferente do que
você fez! Queria estar com John não é?
-Não! Eu juro que não! – debateu-se, o
medo tão grande que achou que explodiria. –
Rony, não me machuque! O bebê... – não pode
terminar o choque a calou.
Rony segurou seus pulsos e prendeu com
a faixa de tecido verde que adornava seu vestido
até segundos atrás.
-Ronald! – pânico a fez começar a gritar.
Pedia ajuda, implorava que alguém o fizesse
parar. Isso até sentir algo em seu rosto. Ele abafou
seu grito com um pedaço da própria camisa que
rasgou e amarrou em seu rosto.
De olhos arregalados ela tentou de todo
modo se soltar, mas ele ergueu os braços em
direção ao dossel da cama e amarrou-os com o
que sobrou da fita verde.
-É isso que você quer? – ele gritou, o
corpo curvado sobre ela – é isso que você sempre
quer não é? Me enlouquecer, tirar meu juízo, me
levar ao limite! Vou te dar o que quer, Helena!
Vou te fazer esquecer de John e de qualquer outro
homem! Quando terminar com você, a única coisa
que poderá pensar é em como está feliz com esse
casamento, entendeu? – segurou seu rosto com
força, para que olhasse dentro de seus olhos –
Entendeu?
É claro que não respondeu, nem tinha
como. Um sentimento tão violento tomou conta
dela, que Helena parou de pensar. As pernas
tremiam, o ventre se contraria. Era desejo. Santo
Deus, o sangue corria em suas veias sem controle,
e sentia a roupa íntima colada em seu sexo,
tamanha era a inundação de querer que havia ali.
Estava molhada, e vergonhosamente excitada, e se
não fosse possuída em um minuto morreria.
Ergueu as pernas para cima, como quem
quer chutar, mas ele não entendeu que não queria
chutar, queria segurá-lo pela cintura, e fazê-lo
descer o corpo sobre o dela, penetrando-a.
Quando se debateu, tentando soltar as
mãos, não era para se defender, era para agarrá-lo
e trazê-lo bem fundo dentro de si. Tentou gritar, a
voz abafada, mas não era um pedido de ajuda, era
um pedido para que não parasse! Para que não
tivesse pena ou dó!
Capítulo 94 - Estilhaços

Rony subiu as camadas de tecido, e


baixou o calção íntimo, apartando suas pernas.
Quis achar algo para amarrá-las, mas não
encontrou,então se conformou em ser chutado.
Curvou o corpo entre elas, e aspirou o perfume.
Era um perfume forte, mais duro, mais
ácido, o perfume de uma mulher muito excitada.
Separou os lábios, para ver o que havia ali, e
sentiu o coração acelerar ao encontrar seu melado
escorrendo pelas coxas.
Havia muito, estava inundada. Olhou
para cima, e encontrou-a de olhos fechados, talvez
chorando, ou não, agora estava em dúvida. Queria
puni-la, mas desconfiou que a estivesse
recompensando.
Seus dedos desenharam todo seu sexo,
decorando os contornos, enquanto esfregavam
sobre ele. Ela se contorceu e Rony desceu um dos
dedos, deixando-a enlouquecida, quando roçou
seu ânus.
Ela queria, e queria agora, e tentou
mostrar a ele o tamanho de sua presa, mas não
pode fazer nada além de grunhir e gemer, com
aquele pano entre seus lábios.
Rony pressionou até ter seu dedo
afundando ali, sentindo o solavanco que ela deu,
erguendo uma das pernas para facilitar. Ele desceu
a língua, lambendo enquanto entrava a saia com
seu dedo, naquele orifício apertado.
Querendo vê-la ser punida, colocou mais
uma dedo, enquanto socava outros dois dedos da
outra mão em sua vagina. Ela pinoteou com os
quadris, e teria berrado se não estivesse com a
boca coberta.
Imitando os movimentos de copula, ele a
levou a beira de um clímax tão intenso que Helena
estava chorando, quando a língua dele tocou sobre
o clitóris.
Dentro, ela pensou, tão dentro...oh,
fora...dentro...oh, Deus...era tão devasso, tão
incrível, tão único...achou que arrebentaria o pano
com os dentes, quando ele tirou os dedos
abruptamente.
Não teve tempo para lamentar, sua língua
substitui-os, e ela fechou os olhos lamentando o
dia em que nasceu e ao mesmo tempo
agradecendo a Deus por ter nascido e poder
usufruir dessa tortura.
O dedo voltou e Helena quis agradecer de
joelhos quando sentiu atolado em seu orifício mais
apertado.
Suas penas se moviam, seus quadris
buscavam mais e Rony ergue os olhos, analisando
aquele momento. Sua vagina estava aberta, pelo
efeito dos seus dedos recém retirados. Os grandes
lábios afastados, os pequenos avermelhados pela
sua língua, seu clitóris enrijecido, sobressaindo
entre os pelos claros. Subiu o dedão, pressionando
ali, sobre o caroço, adorando o modo como ela
saltou.
Tentou pensar num modo de tirar seu
vestido sem solta-la. Seu dedo se movia rápido, e
ele descobriu como fazê-lo, Helena quase saltando
pela falta do seu toque. Curvando-se sobre ela,
agarrou o tecido sobre o busto, e diante do seu
olhar arregalado, puxou-o com toda força.
Ouviu o som do tecido cedendo e mudou
de tática. Agarrou as costuras nos ombros,
rasgando primeiro o ombro direito, depois o
esquerdo, inclusive as mangas. Depois, foi só
puxá-lo para baixo, como se faria com uma
boneca.
Ela não usava mais o colete íntimo, pois
todos estavam ficando pequenos e apertados, e
seus seios saltaram, querendo atenção.
Rony se afastou, ficando de pé, enquanto
tirava a camisa, a calça, a roupa íntima e as botas,
olhando para suas pernas abertas, que ela não fez
o mínimo movimento para fechar. Ensandecido,
pela visão, arrancou as botas e as meias, e subiu
na cama, de joelhos entre suas pernas, agarrou o
pênis endurecido e colocou-o em sua borda
encharcada, empurrando-o.
Estava tão molhada e ansiosa que bastou
alguma pressão e entrou. Fundo, e quente, atolou-
se em sua cavidade, apreciando o grito sufocado
que ela emitiu.
Um grito de desespero, mas não de dor,
como ele pensou, mas sim de prazer. Rony a
marcaria, para que nenhum outro homem pudesse
tocá-la, sem que lembrasse desse momento.
John agora conhecia o prazer o seu beijo,
mas jamais conheceria o prazer do seu corpo.
Descontrolado, caiu sobre ela, ignorando as regras
sobre não esmagar sua parceira na cama, e
desabou o corpo sobre ela, enquanto investia, a
princípio devagar,
Helena fechou os olhos com muita força,
sorvendo o impacto, arrepiada ao sentir o peito
contra os seios, o ventre suave contra a barriga
musculosa, as penas entrelaçadas, os beijos em
seu pescoço, as mordias em seus ombros...
Daria o céu para ter as mãos livres e
poder amassar os cabelos ruivos entre seus dedos,
e mais, daria as estrelas para poder beijá-lo e dizer
o quando o amava.
-Hum....hum...hum....- ela gritava “eu te
amo”, com todas as forças do seu pulmão, mas ele
não entendia, pois sua boca estava amarrada.
Entendia grunhidos e gemidos, mas não ouvia as
palavras.
Helena seguiu gritando ‘eu te amo’,
deliciada com a liberdade que confessar causava
sobre ela. Seu quadril se chocava ao dele,
querendo mais, buscando mais, oferecendo e
apanhando o que desejava.
Ele balançava o corpo, e a cama
balançava junto, ela ia e vinha sobre o colchão,
achando que morreria incendiada, tamanha
fogueira dentro de seu sexo.
Molhada, apertada e escorregadia, ela o
sufocava e levava ao êxtase.
Helena gritou quando o pênis inchou
profundamente socado dentro dela, tão largo e
grande que a fez tremer da cabeça aos pés, as
pernas bem aberta para suportá-lo. Ele arremeteu-
se para dentro e para fora, levando-a com ele, e no
terceiro empurrão forte, ela gritou, abafado pelo
tecido, gozando desesperadamente.
Rony soube que tinha gozado, quando
seu corpo escorregou contra o dele, sem ossos.
Helena não lutava mais, apenas o recebia. Estava
completamente sem forças para participar.
Achando que a rasgaria, ele levou os
dedos entre suas pernas, e alcançou um dedo no
buraco estreito de seu ânus, enquanto ficava um
pouco de lado, erguendo sua perna bem alto.
Foi como levar uma espetada, e Helena
ficou incrédula pelo tamanho do desejo que correu
suas veias. Preenchida desse modo era agonizante
e ao mesmo tempo delicioso. Rony saiu de sobre
ela, por mais difícil que fosse, substituindo os
dedos pelo membro.
Ela mal teve tempo de gemer pela
invasão, ele colocou três dedos longos em sua
feminilidade encharcada pelo recente gozo.
Helena soluçou de prazer, recebendo as
investidas, achando que dessa vez, sim, morreria
de prazer. Tão preenchida e usada como uma
vadia de cabaré, ultrajada pela própria entrega.
Teria gritado todos os nomes feios e palavrões que
conhecia se não estivesse com a boca amordaçada.
Nada podia substituir sua grossura dentro
dela, mas seu inchaço desproporcional em seu
outro local, substituía qualquer ausência.
Arqueado os seios, ela afundou o quadril
contra seus dedos, recebendo duas penetrações
como resposta, rebolando nisso como uma
descontrolada. Ele não a deixou seguir, pois tinha
fome de possuí-la.
Acelerou os movimentos e tudo que ela
pode sentir foi ardência, prazer e aquela maldita
necessidade de levá-lo tão fundo quanto pudesse.
Sua perna se dobrou contra a barriga
dele, quando o orgasmo a consumiu, e Rony
avançou, deixando-se gozar bem fundo, em seu
recanto íntimo.
Precisou de várias investidas, mais
lentas, para sair tudo que havia guardado dentro
de si para ela. Retirou os dedos e então, retirou o
pênis.
Exausto, ficando sentado sobre o joelhos,
observando como escorria dela, seu gozo espesso
escorria para o lençol, assim como seu creme
incolor e suave, escorria de sua intimidade
também para o lençol.
Vergonha se abateu sobre ele, ao ver seu
estado.
Afastou-se e levantou-se, o pênis flácido
e acabado, assim como suas pernas estava
acabadas. Mal podia se manter de pé.
Ela estava de olhos fechados, marcas de
lágrimas em seu rosto. Rosto amordaçado. Seus
braços presos, o tronco avermelhado, os seios
vermelhos pelos carinhos grosseiros, o pescoço
marcado por seu chupões. Suas pernas estavam
torcidas num angulo estranho, uma para cada
lado, os quadris completamente relaxados.
Ele não notou que eram apenas sinais de
seu completo relaxamento.
Aturdido, apressou-se a soltar as amarras
da cama, incerto sobre solta-la e ser atacado.
Mesmo correndo o risco, soube que merecia
morrer por ter feito isso.
Soltou seus pulsos, e seus braços caíram
sem vida, um contra a barriga e outro sobre o
colchão, completamente sem forças.
Começou a soltar a mordaça e sentiu o
coração apertado quando os cabelos se prenderam
no nó e sentiu que a machucaria, se quisesse solta-
la.
Helena nem sem mexeu quando deu um
puxão, desprendendo os cabelos crespos do tecido.
Inerte, ela abriu os olhos, mas não disse
nada.
Rony se afastou, achando que era melhor
assim. Não queria ouvir. Atônito com a própria
fraqueza, vestiu-se quase correndo.
Cobriu-a com o lençol, e saiu da cabine,
trancando-a. Quando passasse a dor e o
atordoamento, ela tentaria fugir, e agora, mais que
nunca tinha motivos para isso.
Como um zumbi, sem coragem de
encarar o mundo e admitir que era um estuprador,
ele chegou ao fim do vagão, olhando os trilhos que
ficavam para trás. Era um covarde, desertor, um
homem sem escrúpulos.
Ouviu passos, e não se virou, havia muita
vergonha em seus olhos.
-Irmão? – era a voz hesitante de Alice –
Onde está Helena?
-Na cabine – ele respondeu seco, com
medo de revelar o que fizera a ela.
-Ela está bem? – havia algo frágil na voz
de Alice – Eu posso vê-la?
-Está descansando – ele disse achando
que poderia chorar de vergonha.
Sua irmã não perguntaria, mas era claro o
medo.
-Não bati nela – disse em tom acusador.
Era homem, mas sabia que certas violências são
mais graves que uma surra.
-John...- ela ficou lado a lado com o
irmão, segurando em seu ombro, achando um
pouco assustador como ele olhava para os trilhos.
– John me disse que não foi um beijo de amor.
Que Helena estava brigando com você...é
verdade?
Olhando para a irmã, descobriu nela o
mesmo tipo de dúvida e medo, e desamor.
-Helena não sente nada por John – ele
sabia disso. Mesmo assim agia como um canalha!
-John me jurou que não sentiu nada nesse
beijo. Sentiu apenas medo de ser mal interpretado.
Não sei o que pensar -ela confessou, olhando
triste para o irmão.
-Tenho medo das loucuras do meu
casamento respingarem no seu, irmã. Não deixe
que meu ciúme, cegue também o seu amor. John é
inocente e incapaz de uma traição desse porte.
Não o culpe.
-E você? Não vai culpá-lo também?
-Culpo apenas a mim mesmo -ele
declarou. Fechando os olhos com força.
Helena despertou confusa e assustada.
Sentou-se num impulso, sentindo muito medo.
Estava sozinha e o medo cresceu exatamente por
isso.
Onde Rony estaria?
Nua, levantou-se e quase caiu, pois as
pernas estavam fracas e tremulas. Cuidadosa,
andou até a porta e tentou abri-la. Estava
trancando por fora.
Parte do medo foi embora. Era sinal que
não queria que fugisse e voltaria. Fechando os
lhos, ela voltou para a cama e se cobriu, deitando
de lado.
Sentia o corpo tão calmo, tão languido,
tão sereno, que nem mesmo o pulsar em seus
braços por terem ficado erguidos numa postura
incômoda, ou a ardência em suas regiões tão
íntimas e tão inconfessáveis, poderiam incomodá-
la.
Esperou pelo que achou ser horas, até
ouvir o som de passos e o trinco se mexer. Estava
escuro lá fora, as luzes do trem acessas, então,
havia dormido por toda a tarde.
Não era de admirar, depois de tudo que
sentira estava exausta. E esfomeada. Sentia tanta
forme que achou que fosse gritar.
Rony entrou e fechou a porta, pronto para
pedir perdão de joelhos. Helena estava acordada e
deitada.
Imaginou que a encontraria sentada na
cama, vestida com uma arma nas mãos, esperando
para matá-lo lentamente.
Continuava sob os lençóis, e parecia
muito serena para quem sentia ódio. Ela baixou os
olhos envergonhada, e ele pretendia abrir a boca,
quando ela falou primeiro:
-Sinto muito por ter beijado John.
Era a última coisa que esperava ouvir em
sua vida.
-Podemos jantar no quarto? – ela disse
segurando as lágrimas de vergonha – Estou com
vergonha do que fiz, não posso sair daqui.
Helena estava com vergonha, mas não era
um décimo do que ele sentia. Pretendia dizer isso
a ela, quando sentou-se cobrindo os seios com o
lençol:
-Podemos jantar antes de brigar?
Estou...faminta. – era humilhante pedir alguma
coisa, mas estava realmente faminta.
Ele concordou com um aceno, saindo
novamente. Helena limpou o rosto, quando as
lágrimas caíram. Ele nunca a perdoaria por ter
beijado John!
Afundou o rosto no travesseiro,
desejando chorar e arrancar de dentro de si a
culpa. Mas não era hora. Saindo da cama, ela
procurou um vestido limpo desistiu, pois suas
mãos tremiam muito. Se conformou com uma
camisola larga e vestiu, sentindo o corpo
dolorido.
Encontrou o vestido verde no chão,
rasgado e analisou as costuras, achando que
poderia consertá-lo sem problemas. Gostava
daquele vestido, pois Juanita fizera com todo
carinho!
Dobrou-o e colocou sobre a mesinha, no
canto do quarto. Sentindo um pouco de frio, pois
anoitecia, refugiou-se embaixo das cobertas,
pensando no que dizer para convencê-lo que não
beijara John por querer, mas por raiva.
Estava se martirizando, quando ele
voltou.
Cabisbaixo, Rony entrou com uma
bandeja, trancando a cabine novamente. Olhou
para o vestido dobrado do outro lado do pequeno
quarto. Olhou para ela arrumada e tão plácida.
Dessa vez, havia causado uma ferida tão
profunda, que não se permitia chorar ou brigar.
Depositou a bandeja sobre a cama, mas
ficou de pé, enquanto ela descobria o que o
garçom preparara para eles. Pensou ter visto uma
expressão de prazer quando ela sentiu cheiro de
massa e molho quentinho. Haviam dois pratos e
talheres, mas Helena serviu apenas um prato, e
encheu um copo, com medo que virasse sobre a
cama, e com preguiça de levantar e puxar a mesa
que havia no canto do quarto.
-Esta quente ainda – ela disse num tom
de ‘pedido de paz’ que Rony não notou, perdido
em suas culpas.
Havia gritado que o amava, mesmo que
não pudesse se fazer entender, confessara o amor
que sentia. E isso lhe dava a serenidade necessária
para compreender que precisava pedir perdão.
-Massa fria é um horror – ela tentou mais
uma vez, estendendo um garfo em sua direção;
Rony olhou em seus olhos, e engoliu em
seco. Ela não fugiu quando se aproximou. Nem
quando sentou perto dela, apanhando o garfo e
comendo uma garfada do macarrão.
Havia algo de íntimo em comer no
mesmo prato. Ela segurou o copo com água e
entregou a ele, quando engoliu.
-O cheiro esta picante -ela tentou sorrir –
Acho que o sal deve estar forte.
Ela tinha razão, estava saldado, assim
como ele se sentia: nu, em carne viva, rolando
sobre o sal.
Depois de um longo gole de água,
observou-a comer e sorrir, antes de correr a ser
acudida pela água.
-Espero que os outros passageiros
estejam com tanta forme quanto eu – ela tentou
fazer graça – ou o cozinheiro terá trabalho com o
desperdício...
Rony segurou sua mão, para que ela não
comesse mais. Olhou em seus olhos, e disse, o que
lhe engasgava a garganta:
-Eu te estuprei.
Capítulo 95 - Sem acreditar

-Juanita me alertou sobre me acalmar –


ela respondeu após uma longa pausa, sentindo os
olhos úmidos – Eu tento, juro que tento, mas não
consigo. É mais forte que eu. Ter...ter deixado
minha casa, eu não...não queria ter gritado, ou me
negado a vir, mas não posso evitar!
-Isso não muda o que eu fiz – ele disse
soltando suas mãos, e Helena começou a entender
que ele sentia-se culpado – Trouxe-a contra sua
vontade. Tranque-a num quarto, como se não
fosse minha mulher, como se fosse um animal
qualquer! Arrastei-a até a estação de trem,
subjuguei-a com minha vontade e como um
animal, a violentei.
-Eu beijei outro homem na sua frente –
ela argumentou.
-Não é desculpa para uma violência! –
ele levantou-se nervoso.
-Violência? – ficou confusa – não houve
violência...
-Amarrei suas mãos e amordacei sua
boca! – ele virou-se para ela furioso consigo
mesmo – A impedi de pedir ajuda, de dizer não!
-Mas eu não disse não! – ela respondeu
no mesmo tom, suspirando – Todas às vezes que
tenta falar comigo, o agrido. Não é de se
surpreender que tenha me amarado! Teria sido
agressiva outra vez! E com certeza teria gritado
todos os tipos de ofensas. Não tem culpa de estar
farto!
-Não estou farto – surpreendeu-se – Fui
insensível a sua dor, a sua dificuldade em deixar
sua casa para trás. Mas, Helena, se eu fraquejasse,
deixasse a escolha em suas mãos, não teria vindo
comigo! Eu não poderia deixá-la para trás! Esses
dias não tem sido fáceis para você, eu não
respeitei isso. Mas não tem sido fáceis para mim
também. Nunca antes me senti ameaçado. Sempre
fui livre. Criado longe da minha família, sempre
fui livre, mesmo com as rígidas normas da escola
interna. Eu me rebelava e não acatava. Nunca
antes me senti privado do direito de escolha e
agora, não sei como lidar com essa situação! Se
vou preso, deixo minha mulher e o filho que não
nasceu, sozinhos. Tente entender minhas razões!
-Eu entendo – ela abaixou os olhos, para
que ele não visse que estavam úmidos – Minha
casa é a única coisa que ainda é meu. – admitiu -
não tenho mais onde segurar...
-Uma casa não pode dar-lhe o retorno que
espera. Não tem capacidade para te apoiar e
ampará-la. Não deposite sua confiança e bem
estar num lugar.
-E onde vou depositar minha confiança?
– havia desamparo em sua voz e ele notou que
lacrimejava.
-Em mim. Sou a única pessoa que pode
segura-la, e você é a única pessoa que pode me
segurar. –afirmou, sério.
-Seus pais, seus irmãos...
-São passado. Cresci longe, eles jamais
me conhecerão como sou inteiramente e jamais
poderia me abrir com eles da forma como posso
fazer com você. O que não muda, minha
hipocrisia, ao querer que confie em um estuprador!
-Não diga isso de si mesmo! – ela
repreendeu – Não foi uma violência!
-Eu a forcei! Que outro nome dá a isso? –
irritou-se.
-Eu não sei! Não sou a criatura mais fácil
de se lidar!- explodiu também – Porque não me
ouve? Estou tentando pedir desculpas pela forma
como venho agindo nos últimos dias! Desculpas
por ter beijado John, por ter agredido-o tantas
vezes pude! Ora, homem irritante, vive insistindo
que diga essas coisas, e quando o faço, não quer
ouvir ou entender!
Rony escutou seu desabafo. Aproximou-
se da cama, se inclinou em sua direção e segurou
seu rosto entre as mãos:
-Te machuquei? – era um pergunta direta.
-Não – lutou para não corar.
Aquele homem precisava ser
tranquilizado, para poder continuar seguindo em
frente, sem culpas.
-Seja sincera, está machucada? Não fui
gentil.
-Meus pulsos estão doloridos, e meus
braços também. – confessou, pois ele precisava
saber para se acalmar. Corando, precisou conter a
vontade de rir de vergonha ao completar – E estou
ardida em algumas partes inconfessáveis.
-Feri aquilo que mais cuido – ele disse
pensativo e Helena também tocou seu rosto para
fazê-lo olhar para ela.
-Não me sinto ferida – confessou
novamente.
-Está confusa – ele disse pesaroso – Por
isso me perdoa tão fácil.
-Não quero mais brigas, tenho que me
acalmar – ela pediu – Se eu digo que não me
machucou, tem que acreditar em mim.
-Porque está tão cordata? – ele desconfiou
por um instante.
-Porque estou calma – ela disse, corando
tanto que o deixou desconfiado. Ela segurou um
sorriso ao confessar – Sempre fico assim, depois
que...- fechou os olhos com força, achando que ele
precisava ouvir para se acalmar - ...que
sinto...tudo que sinto naquela hora que...ah...
-Depois que goza?
-Não fale isso! – repreendeu – Mamãe
sempre dizia que não se deve falar nessas coisas
com um homem!
-Isso não pode mais se repetir. Não posso
ter esses impulsos. Sequer pensei no nosso bebê!
-Não vai mais me tocar? – havia algo de
desespero em sua voz e ele quase sorriu ao notar
que desejava o contrário.
-Queria ser forte e prometer isso, mas não
posso. Apenas, daqui para frente, sempre pedirei
sua permissão. Se disser não, será não!
Helena mordeu o lábio, quando ele se
afastou. Não era uma boa decisão aquela!
-Mas eu sempre vou dizer não – contou,
com uma expressão de desagrado – Mesmo que
tenha decidido, dias atrás, antes que fosse
baleado, que iria convidá-lo a ser meu marido de
verdade, inclusive no leito, mesmo assim, seria
incapaz de dizer sim – falava muito rápido, muito
nervosa – Não consigo dizer sim! Não consigo
aceitar, eu não...
-Está tentando acalmar minha culpa – ele
sentiu um calor delicioso no coração ao notar que
se importava com ele. – Não precisa dizer essas
coisas apenas para que não me culpe!
-Mas eu não estou dizendo para que não
se culpe! Eu realmente...
-Não vamos discutir, lembra-se? – ele
tentou sorrir – é uma decisão que preciso acatar.
Jamais voltarei a possuí-la sem o seu ‘sim’.
Ótimo, pensou, Helena. Meses pensando
em como dizer a ele que o desejava em sua vida,
e simplesmente, Rony não acreditava!
Contendo a vontade de mandá-lo plantar
batatas, ela tentou uma garfada do macarrão agora
frio, e ele sorriu ao notar sua carreta.
-Vista o penhoar – ele entregou-lhe o
tecido – Vamos a um lugar!
-De camisola! Rony não posso andar pelo
trem de camisola!
-Ninguém irá nos ver! E prometo, na
volta, passar na cozinha e pedir ao cozinheiro que
prepare algo comestível para você! O que me diz?
-Digo que é louco! – ela resmungou,
levantando-se da cama, vestindo o penhoar, e
fechando-o com um nó apertado na cintura.
Calçou os chinelos e o seguiu, para fora da
cabine...

Helena seguiu-o pelos corredores,


seguindo vagão após vagão, sempre se
espreitando quando algum passageiro viesse em
sentindo contrário. Estava sorrindo, dos
comentários de Rony, quando chegaram ao
destino final.
Ela levou um segundo para perceber que
estavam no último dos vagões. Olhou para os
trilhos que ficavam para trás e sentiu-o atrás de si,
as mãos em sua cintura.
Tentando ocultar um sorriso, virou o
rosto para trás e perguntou:
-Devo me preocupar em ser atirada nos
trilhos?
-Não – ele também sorriu ao responder –
Desde que jure que jamais beijará outro homem,
não corre o menor risco! – ele também brincou.
-Não posso fazer essa promessa – ela
sorriu, afastando os longos cabelos do rosto, pois
ventava e eles esvoaçavam a sua volta – Posso ter
um menino, e esse menino um dia será um homem
feito, e o beijarei sempre que tiver oportunidade!
-Neste caso, sua promessa não se aplica!
-ele envolveu um dos braços em sua barriga e ela
sentiu a solidez de seu corpo contra o dela.
Despertou-lhe um desejo diferente, o
incontrolável desejo de se apoiar a suspirar.
-Porque me trouxe aqui? – perguntou por
fim, vencida pela curiosidade.
-Olhe bem para a paisagem que
deixamos para trás – ele pediu, a voz rouca, em
seu ouvido.
Helena percebeu que estava escuro, a luz
que iluminava ao redor era do próprio trem, e
permitia que visse os trilhos por qual passavam
rapidamente, as árvores, a terra, os arbustos e
tantos outros detalhes da paisagem, que não
conseguiria explicar em palavras.
-É terra, Helena- ele seguiu dizendo –
Terra, mato, árvores, um chão solido, que fica para
trás. Amanhã, quando amanhecer, estaremos
longe daqui, mas essa terra ainda estará aqui. E
assim será por dias, meses e anos. O que não
acontece com as pessoas. Elas crescem, ficam
doentes, morrem. Ou não tão
melodramaticamente, apenas partem, ou casam,
ou se mudam. As pessoas são o que importam na
vida. Sente falta dos seus pais, e sentirá falta de
Juanita e seus filhos nas próximas semanas em
que estivermos longe. É essa sensação que
importa. Estarei com você, e a protegerei das
aflições e das pessoas que tentarem magoá-la.
Mas não poderei fazer isso, se me tratar como um
inimigo para sempre. Não se apegue a terra, se
apegue a mim. Ao filho que teremos e a vida que
construiremos juntos. Será mais fácil viver e ser
feliz, se fizer isso.
Calada, absorveu cada uma das suas
palavras e manteve uma das mãos sobre o braço
que a envolvia. Rony tinha razão.
Apesar disso doía terrivelmente lembrar-
se do que deixara para trás.
-Jurei que nunca deixaria Anne. E agora,
ela está sozinha. Totalmente sozinha – foi seu
argumento.
Rony sentiu sua dor e se odiou por não
ter entrado em sua vida antes, quando era possível
mudar tudo. Ter se casado e assumido a fazenda, e
hoje, toda sua família estaria viva e feliz. Mas
nem sempre os sonhos são capazes de mudar a
realidade.
-Sua irmãzinha não está sozinha. Helena,
ela está entre os anjos do céu, que é para lá que
vão as meninas boas. Sua mãe deve de estar ao
lado dela, cuidando e zelando por ela. Nunca mais
estará sozinha, e se estivesse viva, tenho certeza,
exultaria em ver sua felicidade!
Helena não respondeu. Ficou olhando
para a terra que ficava para trás. Haviam três dias
que deixaram a cidade. Estavam a muitos
quilômetros. Rony tinha razão em parte. A vida
não para, longe ou não de casa.
-Podemos ficar um pouco aqui? –
perguntou com voz tão baixa que o emocionou.
-Ficaremos o tempo que desejar.
Helena pensou em insistir sobre o fato de
serem um casal definitivamente mas disse a si
mesma, para se lembrar, da acusação de Alexia
Lil. Não podia acreditar tão cegamente.
Suspirou, e se recostou contra seu peito
largo, sem notar que se deixava amparar
totalmente.
Rony segurou-a, abraçada a si como um
protetor, sentindo uma forte dor dentro de si, ao
lembrar a forma como abusara dela. Tão jovem
para ser tão sofrida.
Um pai explorador, que ousou brincar
com seus sentimentos e seu futuro, uma mãe
insegura. Um bárbaro ataque que levou a vida de
sua família. Uma surra tão absurda quanto sua
capacidade de estuprá-la!
Como pudera fazer isso? Era um covarde.
Um arrogante covarde!
Helena moveu-se em seus braços, ficando
de frente, o rosto em seu peito, tocando-o sobre o
coração. Quando ela ergueu os olhos, havia algo
malicioso em sua expressão e em seu sorriso, ao
dizer:
-Essa noite não vou dizer não.
Emocionado, estreitou-a contra seu peito,
erguendo-a um tanto, para sentir seu corpo colado
ao seu. O vento movia seus cabelos e ele deixou-
os cobrirem seu ombro, enquanto olhava em seus
olhos profundamente.
Pretendia pedir perdão novamente,
implorar sua compaixão, mas não falou nada,
apenas desceu os lábios sobre os dela. Um beijo
sereno. Um toque casto e sensível.
Um pedido de perdão não verbal.
Helena sentiu aquele carinho, dentro de si
um aperto de amor tão grande, que enlaçou seu
pescoço, tentando compensar a diferença de
altura, escalando em seu corpo. Abriu os lábios
sobre os dele, pedindo por mais.
Um longo beijo de amor, com desejo e
sedução. Um beijo de carinho e perdão.
Jamais voltaria a beijar outro homem.
Não havia outro beijo tão perfeito!
Envolvente, profundo e misterioso. Seu
beijo era quente e intoxicante. Envolvida, mal
percebeu a razão, quando Rony se afastou. Um
pigarrear atrás dos dois e uma luz irritante sobre
eles.
Era o vigia do trem, com sua lanterninha
irritante. Contendo um sorriso, Rony deu uma
desculpa qualquer, enquanto os dois saiam
apressados dali.
No meio do caminho, em um corredor
qualquer, ela soltou a risada que estava presa em
sua garganta, e parou-o, roubando-lhe um beijo.
Um novo beijo, ou apenas a continuação do
anterior. Não importava!
Ele colocou-a contra a parede e desceu as
mãos por seus quadris, desejando aprofundar o
contato. Ela gemeu em resposta, lembrando de
mais cedo e desejando com todo seu ser voltar
para aquela cama!
-Buscarei algo na cozinha para nós – ele
disse arfante, desvencilhando-se dela, e levando-a
para o camarote de ambos. Abriu a porta, e
esperou que entrasse – Não demoro!
-Sei que não vai demorar -ela disse
convencida, erguendo uma sobrancelha, além de
maliciosa muito convicta de sua sedução sobre
ele.
Rony quase não foi. Se não estivessem
famintos e ela estivesse grávida, teria mandando o
mundo as favas e entrado com ela.
Helena deixou-o trancar a porta por fora,
para que não abrisse nas curvas que o trem fazia, e
despiu a camisola. Não ia precisar dela!
Sorrindo como uma boba, depois de tanta
tensão, ela entrou embaixo dos lençóis, pois a
temperatura era bem friazinha, e esperou.
Rony demorou cerca de quinze minutos
para conseguir algo comestível. Eles tinham
apenas pão e chá, mas era o suficiente. Com uma
bandeja, ele entrou e fechou aporta.
Helena sentiu-se despertar de seu cochilo,
alertada pelo cheiro do chá e do pão quentinho.
Sentou-se, sonolenta, e cansada e Rony parou no
meio do quarto, um momento para admirá-la.
Segurando o lençol, para não mostrar a
nudez, os cabelos caindo sobre os ombros
delicados, as mexas reluzentes e macias. Os olhos
entreabertos, um suspiro adorável escapando de
seus lábios ao ver a bandeja.
Sentou-se ao seu lado, entregando a ela o
pão e segurando a xícara do chá, observando-a
comer gulosamente. Era uma visão e tanto, depois
de tanto tempo vendo-a apenas beliscando a
comida. Houvera um tempo em que Helena se
satisfazia com apenas uma ou duas colheradas de
sopa. Um absurdo!
Satisfeito, esperou que terminasse, e
ajudou-a a deitar contra os travesseiros. Helena
enlaçou as mãos na sua camisa, nos olhos um
pedido por mais. Rony beijou sua testa e
acomodou-a entre os lençóis, acariciando-a por
apenas alguns segundos, antes que adormecesse
novamente.
O desejo queimava em seu corpo, porém
não ignoraria sua necessidade por descanso e paz.
Comeu um pedaço do pão, e se despiu entrando
em ela, embaixo das cobertas.
Helena o esperara livre das roupas,
pronta para se entregar. Talvez agora, eles
pudessem finalmente se entender e ser um casal.
Quem sabe, depois de tanta desventura, pudessem
encontrar a felicidade!
Sorrindo, ele ajeitou-a em seus braços e
adormeceu quase imediatamente.
Capítulo 96 - Chocolate com amor

-Seu irmão está me enlouquecendo –


Helena resmungou, depositando a xícara de chá
sobre o pires.
-Notei que Rony está muito cuidadoso
com você – ela observou rindo.
-Cuidadoso? – ela ironizou – Se ele
perguntar se estou me sentindo bem mais uma
vez, juro que me jogo do trem! Ou melhor, jogo
ele do trem! – exasperou-se.
-Confesse a verdade, Helena! Estamos
sozinhas, confesse porque meu irmão está desse
modo! John...ele acha que Rony pode ter cometido
um despautério naquela noite em que
brigaram...para ser franca, tenho a mesma opinião.
Além disso, meu irmão age como um homem
muito arrependido e culpado!
-Rony não fez nada! –disse convicta –
Está convencido que fez, mas digo que não!
-Helena, tem muita diferença entre ver
desculpas na atitude dos outros por se sentir
culpada, e realmente Rony ser inocente. Se ele
ousou erguer a mão para você...
-Deus, não! – ficou chocada – Como pode
pensar isso do seu irmão? Rony não permitira que
alguém me machucasse, muito menos ele mesmo!
É por isso que anda tão incomodado! Está se
culpando por ter...- calou-se a tempo, primeiro por
notar que falava alto demais, chamando atenção
de uma senhora na mesa ao lado, e segundo, pois
não queria contar algo tão íntimo a Alice!
-Por quê? Não me deixe pensar mal do
meu irmão, Helena! Sossegue minhas dúvidas! É
minha melhor amiga, e não posso ter sossego se
achar que meu irmão, que amo tanto, é capaz de
maltratá-la!
-Vamos andar um pouco? – ela
perguntou após um momento de silêncio.
Não ousava falar desse assunto com
tantos ouvidos atentos. Era um viagem cansativa e
sobretudo, entediante. Qualquer assunto tornava-
se uma constante fofoca, e sabia muito bem que
seu nome estava na boca de todos os passageiros
após a briga em publico e seu beijo em outro
homem, sendo casada. Não se importava com
essas pessoas, mas não sabia quantas delas
encontraria em Londres, por isso, era melhor ser
discreta!
Alice enganchou o braço no dela, as duas
riram uma para outra, enquanto se afastavam,
pelos corredores, passando pelas poltronas onde
os passageiros mantinham-se nas fatigantes horas
dentro daquele trem.
-Conte-me, Helena- Alice insistiu, aos
cochichos.
-Conto se prometer que jamais contara a
John!
-Não posso prometer. Não tenho segredos
com meu marido!
-Então, não posso lhe contar – foi
decidida, e Alice suspirou.
-Juro que não conto, mas por favor,
Helena, não me torture mais! O que foi de tão
grave que meu irmão lhe fez? – disse desesperada
por tanta curiosidade.
-Acredite, não acho que foi tão sério
assim. Mas Rony está decidido a crer que foi!
Como alguém pode compreender esse homem? –
divagou – Ele crê...Rony está decidido, e nem
mesmo eu pude mudar sua maneira de pensar e...
– se calou quando um senhor passou por ambas,
num educado cumprimento -..por mais que me
esforce, ele sente-se culpado!
-Por quê? Helena! Não me torture com
tanta curiosidade! – Alice exasperou-se, tal qual
uma criança, ansiosa pela resposta de uma grande
curiosidade infantil.
-Por ter agido de um modo muito
intempestivo. Eu o provoquei, é claro. Mas ele não
entende isso! Acha que...me estuprou.
Suas palavras fizeram Alice parar,
cobrindo os lábios para sufocar um grito histérico:
-Me diga que ele fez isso e o renego como
irmão! -ela disse sufocada, assustada e a beira das
lágrimas.
-Não seja tola, Alice, ele não fez nada
disso! Por certo, me amarrou e amordaçou, e não
pararia se eu pedisse, mas de qualquer forma...é
certo que eu desejaria a consumação! Não houve
uma vez sequer que não tenha querido, mesmo
dizendo não! E Rony sabe disso!
-Assim tão simples? – Alice estava
tentando se refazer do susto – amarrou suas mãos?
Amordaçou-a? Deus! Que brutalidade! Que
crueldade! Ronald deveria se punir pelo resto da
vida por um ato tão vil e...
-Está dizendo tolices novamente – ela
repreendeu, voltando a andar lentamente, com
Alice ao seu lado – Eu...até apreciei.
-Apreciou? – Alice parou novamente,
elevando a voz sem notar – Como pode uma
mulher gostar que seu marido a amarre a
amordace?
Uma senhora muito velha passou por
ambas olhando para Helena com repreensão e
Alice corou, assim como Helena, por terem-se
feito ouvirem:
-Como pode gostar de uma brutalidade
dessas? – Alice repetiu, falando baixo, com
vergonha de serem ouvidas novamente.
-Eu sempre gosto quando ele...- era difícil
admitir mas Alice a conhecia desde o dia em que
saíra do berço, e era fácil retomar o tempo de
confidencias e juras de amizade eterna - ...é
loucura, mas deixaria que repetisse tudo
novamente, se ele quisesse!
-Foi tão bom assim? – Alice ficou
realmente surpresa – Achei que só fosse possível
uma mulher sentir prazer com delicadeza e
cuidado. Mesmo estando com meu marido há
vários dias, ainda acho incomodo em certos
momentos...
-Acredito que para cada mulher é de um
jeito e não me orgulho de gostar de ser...subjugada
– engoliu a palavra ‘agredida’ para não chocar
Alice.
-Como pode gostar disso? Detesto
quando John age de forma mais impetuosa! -ela
disse chocada.
-E por quê? – foi Helena quem parou,
fitando–a com curiosidade – O que tem de errado
em um pouco de...digo, excesso de ímpetos?
-Você não sabe? Um homem deve ser
carinhoso e delicado com sua mulher!
-Não pode haver carinho e delicadeza em
fazê-la sentir-se bem, seja do modo que for?
Gostei do que aconteceu. Não posso mentir! Não
posso colocar culpa em Rony, do que eu gostei!
Talvez seja pervertido, ou feio, mas gostei.
-Disse isso ao meu irmão?
-Claro que não! Morro, mas não admito.
– ela respondeu, cheia de razão – tentei
tranquilizá-lo deixando claro que não me importo,
e não me senti agredida, mas ele não entendeu!
Aquele homem nunca entende o que eu digo!
-Mesmo eu estou tendo dificuldades de
entendê-la, Helena! Acaso contou ao meu irmão
do aviso que demos em Susan? De como impediu-
a de avançar e ameaçar nossa viagem? Quem sabe
sabendo que queria vir com ele, Rony se acalma.
-Mas eu não queria vir! – ela disse
imediatamente corada.
-Mas não fez nada para fugir quando teve
chances! Amo John, mas sei que ele é fraco em
relação às mulheres, jamais teria impedido-a de ir
se quisesse! Naquela ferrovia, Helena, ditou o
rumo do seu destino! A escolha foi sua! Se
houvesse fugido, tudo teria mudado! Com certeza,
não o teríamos deixado ficar. John e eu havíamos
decidido que se você fugisse, o levaríamos a força!
Não poderíamos correr o risco de ver Rony na
cadeira por um crime que não cometeu, e se não o
amasse, não faria sentido destruir sua vida por um
amor não correspondido!
-Eu não o amo! – ela afastou-se de Alice,
como se houvesse levado um tapa – É claro que
não o amo!
-Aceitou a gravidez com surpreende
benevolência, defendeu seu casamento para
Susan, e está aqui, defendendo Rony de um ato no
mínimo, repreensivo! E quer me convencer que
não o ama? Mesmo que não a conhecesse, como
de fato conheço, suas atitudes falariam por si só e
me contariam a exatidão do seu sentimento!
Helena, quando vocês dois se olham, chega a dar
uma emoção em que vê! É explicito o sentimento.
Se eu não acreditasse em amor, e não fosse
romântica, passaria a ser depois de vê-los juntos!
Diante de uma defesa tão fervorosa,
apenas se calou.
-Deixei-a abatida? – Alice perguntou
preocupada.
-Não. Estou pensativa, apenas isso – ela
confessou, deixando-a engatar o braço novamente
no seu.
-Diga a meu irmão que o quer bem, isso
o acalmará. Tenha certeza! Agora, esqueça as
dúvidas e me conte os detalhes. Quem sabe, não
ouso pedir a John que também me amarre?
Era uma brincadeira para vê-la rir e
ambas cruzaram um corredor, se esquivando de
alguns passageiros. Helena ria tanto, na
companhia de Alice que saltou assustada, com um
pequeno som de susto, diante de um homem de
pé, a sua frente.
Era uma sólida constituição física
privilegiada. Homem forte, alto, bonito. Seus
olhos azuis, além de curiosos mostravam o prazer
de vê-la rir.
-Posso questionar a razão de tanta
alegria? – ele perguntou, os olhos fixos em
Helena.
Alice olhou do irmão, para John, ao seu
lado, e sorriu, ao responder por Helena:
-Estava ouvindo histórias interessantes e
muito instrutivas sobre amarras e mordaças, meu
irmão. Como sabe, Helena é uma eximia
contadora de histórias!
Imediatamente Rony se constrangeu,
corando da cabeça aos pés, a face avermelhou,
inclusive suas orelhas, e seu olhar mudou, para
algo menos vivo e brilhante e Helena disse antes
que pudesse se conter, apenas pelo prazer de tirar
a tristeza de seu lindo olhar de céu.
-Contar uma história feliz sempre é algo
fácil!
-Uma história feliz? – ele perguntou
engolindo em seco, ao notar algo malicioso em
seu olhar:
-Uma história onde duas pessoas ficam
felizes, sempre é uma história feliz, não é? –
provocou, pelo simples prazer de vê-lo corar.
-E como pode uma história com
mordaças e amarras ter um final feliz? – John
perguntou, ingênuo sem saber a que se referiam.
Alice aproximou-se do marido e tocou-o
sobre o peito, sussurrando algo para ele, e
levando-o para longe. Nem, Rony, nem Helena
notaram a falta de qualquer um deles.
-Não deveria me surpreender por contar
isso a minha irmã! -ele disse naquele tom
arrependido que a irritava tanto.
-Contei porque ela insistiu em saber a
razão de seu exagerado ataque de gentilezas.
Quando entendeu, me deu total razão!
-Razão sobre o que? – ele se aproximou
ficando tão perto que lhe tirou o ar.
Helena sufocou um pequeno sorriso,
olhando em volta, antes de repetir:
-Razão por querer repetir tudo de novo.
Mal disse as palavras se afastou, a passos
rápidos, pois não queria continuar aquela conversa
no meio do corredor.
-Helena, tenho me culpado pelo que fiz.
Não posso acreditar que não me julgue e condene.
– ele disse segurando-a e fazendo-a olhar para ele
– Como pode ter apreciado o que fiz?
-Você apreciou? – ela se aproximou, algo
no olhar que o fez engolir em seco.
-Sim, mas...estava numa posição de
dominação. – disse martirizado pelo próprio
descontrole.
-Não foi à primeira vez em que me
subjugou. E nunca antes teve dúvidas sobre...ter
apreciado – teve a decência de corar ao dizer,
confirmando que gostava de se entregar a ele. –
Escute, Rony...- sem nem perceber tocou o lapela
de sua casaco, correndo os dedos pelo tecido – É
ridículo que se culpe, e mantenha distância, por
algo que para mim é uma doce lembrança.
-Não diga isso, Helena, a menos que
esteja disposta a dividir sua cama comigo – ele
segurou sua mão, tocando os dedos com os lábios,
sorrindo ao ouvir o suspiro que ela deixou escapar.
-Estou insana, e não posso me
compreender. Sei que é um homem de aproveitar
as oportunidades que a vida lhe dá e sei também,
que não deixará em pune minha fraqueza
momentânea.
Seu sorriso, fez abrir-se covinhas em suas
bochechas e Rony apreciou tanto a imagem que
poderia ficar toda a vida olhando para ela.
-Bem, se não quer, tenha uma boa tarde,
Sr.Parker – ela soltou a mão, entendendo seu
silêncio como uma negativa.
-Espere! – ele a seguiu acompanhando
seus passos duros e revoltados.
Ela dobrou um corredor, e ele a segurou,
contra a parede de metal, para que não fossem
vistos.
-Me pegou de surpresa, Helena! Passo
meses implorando por seus carinhos, e não quer
que me surpreenda quando os oferece
espontaneamente?
Era para ser uma graça, mas ela não
sorriu. Ficou olhando para ele, que a segurava
contra a parede.
-Desculpe, estou sendo grosseiro
novamente – ele soltou-a imediatamente, e ela
abriu os lábios, falando sem pensar.
-Não me importo se for grosseiro...
-Aqui? A luz do dia? - ele perguntou se
aproximando novamente, e Helena sentiu-se frágil
e pequena.
-Se você quiser... – ela deu de ombros,
deixando claro que não se importava – Como
disse antes, estou completamente insana.
-Insana e bela, devo dizer – ele sorriu,
deixando a culpa de lado momentaneamente.
Baixou o rosto, beijando seu queixo, e descendo
por seu pescoço – Prometo ser carinhoso e
delicado.
-É um homem de grandes atitudes. Não
consegue ser delicado! – ela brincou, fazendo-o
parar o que fazia e olhar para ela com algo de
desafio no olhar.
Afastou-se dela, e se recompôs.
-Rony? – não desejava irritá-lo, bem pelo
contrário, por isso surpreendeu-se com sua atitude.
-Procure Alice e distraia sua mente
conversando sobre Londres. – ele disse se
controlando – Preciso cuidar de uma coisa antes
de irmos para a nossa cabine.
-Mas eu achei que...? – afastou o olhar,
sentindo-se rejeitada.
-Devo cuidar de algumas coisas agora –
ele dispensou-a, segurando um sorriso diante de
sua decepção.
Helena observou-o se afastar apressado e
sentiu algo muito desagradável em seu coração.
Rejeitada?
Rony, que sempre implorava por sua
atenção, a estava rejeitando?

Uma hora depois, Helena afastou o olhar,


decidida a não mais esperar por Rony. A conversa
de Alice a tirava do sério, não que não fosse
agradável, mas estava a dez dias escutando-a e
estava cansada de futricos e futilidades.
Alice era um amor, mas em doses
exageradas, fazia desejá-la ter sua arma em mãos
para calar suas tolices.
Remoendo, que sua raiva, era fruto da
rejeição, sorriu educadamente para John, que
ainda mantinha muita distância dela. Ele deveria
estar constrangido por ter sido envolvido em suas
brigas matrimoniais.
Helena não sabia, no entanto, que as
razões de John eram outras. Cada vez mais
confuso, se refugiava em Alice e seu corpo
delicado e macio para esquecer a sensação única
daquele beijo. Nem fora um beijo propriamente!
Tivera o prazer de sentir o toque quente
de seus lábios, e uma corrente elétrica cruzara seu
corpo e sua alma.
Calhorda, tentava esquecer dessa
sensação mantendo-se longe o bastante para não
tornar a sentir aquela sensação novamente!
-A vida em Selthouse é muito agradável-
Helena ouvia vagamente John contando a Alice –
Meu pai construiu a casa especialmente para
agradar aos gostos e caprichos de minha mãe,
quando eram apenas noivos. É uma obra
relativamente jovem, se comparada às demais
construções.
-Viveremos em Selthouse, querido? –
Alice tinha aquela voz doce e meiga que o fazia
esquecer das aflições.
-Sim. Nessa casa, passo o maior parte do
meu tempo, por causa dos negócios. No entanto,
gosto muito da propriedade no campo, onde posso
caçar.
-Quando fala desse modo, sinto que
nunca mais verei meus pais e minha terra, não
com essa vida tão atribulada.- Alice lamentou e
Helena sentiu-se desconfortável quando notou o
modo como John tentou consolá-la, achando que
atrapalhava-os.
-Estou cansada, vou me recolher – ela
sorriu, despedindo-se e deixando-os a sós.
Lentamente, sentindo os pés pesados e
um pouco inchados, ela dirigiu-se para a cabine.
Sentia sono, era verdade, mas metade de sua
letargia se devia a dor de ter sido renegada.
Oferecera seu corpo e seu amor, e ele a afastara!
Suspirando, ela tocou sobre a barriga,
fato corriqueiro, e seguiu seu caminho tentando
concentrar-se naquele simples prazer de acariciar
o filho, que ainda não nascera.
Alice costumava dizer, que Helena seria
uma mãe zelosa e preocupada, sempre cuidando
dos filhos, mas ela tinha medo de não ser assim.
Medo de afastar-se do próprio filho, do mesmo
modo que fazia com Rony.
-Sra.Parker – o guardinha que fazia as
rondas nos corredores, abordou-a educadamente,
como sempre surpreendendo Helena com o
excesso de formalidades – O Sr.Parker pede sua
presença em sua cabine.
Uma vez cumprido seu dever, ele seguiu
pelo corredor e Helena suspirou novamente:
-É por causa desse comportamento, que
seu papai acabará me enlouquecendo – ela se
pegou murmurando para o bebê e sorriu.
Certa que enfrentaria uma situação, no
mínimo irritante, bateu na porta da cabine. Não
era esperto manter as portas abertas, primeiro por
causa dos bens pessoais, e segundo por causa das
curvas e constantes mudanças pela qual o trem
passava. Sobressaltos e tremores eram comuns.
A porta foi aberta, mas não viu Rony.
Entrou e estranhou a pouca iluminação. Foi
quando notou.
A luz estava apagada, e haviam velas por
todo ambiente. Velas acessas, iluminando o
ambiente com uma luz avermelhada.
Girou em torno de si para contemplar
melhor. Haviam vasos de flores espalhados sobre
o pequeno ambiente, e ao fitar a cama, ela conteve
um grito de pura satisfação.
Lindas pétalas coloridas de rosas cobriam
todo o lençol.
Surpresa, olhou para Rony. Ele tinha uma
expressão curiosa, observando suas reações.
-Achei que houvesse...me rejeitado – ela
confessou, sem notar.
-Merecia algo melhor do que ser levada
para um canto qualquer. É minha mulher. Merece
o mundo, Helena. – disse romântico. – Gostou?
-Onde conseguiu as flores?
Ele riu diante da pergunta lógica. Era
típico dela! Em meio a um rompante de
romantismo, se apegar a uma informação
totalmente lógica!
-Não foi fácil. Para minha sorte a mulher
do cozinheiro é uma senhora muito agradável e
romântica. Ajudou-me a surrupiar alguns vasos.
No entanto, não falaremos disso – ele tinha
trancado a porta e olhava para ela com
expectativa.
-Gosto do perfume – ela disse tocando
sobre as pétalas de uma flor, num dos vasos.
-Sabia que iria gostar – ele sorriu, feliz
como uma criança, por ter agradado-a. – Helena,
não fiz tudo isso em vão – aproximou-se – Quero
fazer amor com você.
-É claro que quer – não havia ironia em
suas palavras, apenas a sombra do que seria um
riso – Isso é chocolate? – ela perguntou ao avistar
um prato sobre o criado mudo – Deus, quanto
tempo não como chocolate puro!
Esquecendo-se dele, em prol de algo
maior, seus hormônios descontrolados quando
relacionado a comida, apanhou um pedaço,
mastigando com uma expressão tão prazerosa, que
Rony teve que perdoá-la por esquecer-se dele e de
suas palavras de amor, tão ensaiadas durante a
última hora.
Helena comeu uns três pedaços, até
lembrar-se dele, e estender um em sua direção.
-Eu quero que prove – ela disse quando
ele negou.
Rony se aproximou, enlaçando sua
cintura com um dos braços, trazendo-a contra ele.
Sua outra mão, guiou os dedos de Helena até sua
boca, para que pudesse morder o chocolate.
Helena observou fascinada aqueles lábios
cheios e avermelhados, abocanharem o doce,
tocando seus dedos no processo. Sentiu um
arrepio, e tinha certeza que tinha suspirado de
satisfação.
-Está gostoso, não é? - perguntou sem
notar o tom malicioso da própria pergunta em si.
-Sim, e ficará ainda melhor – era uma
promessa, que a fez sentir as costas enrijecessem
de expectativa.
Rony sentiu sua tensão, e esfregou as
mãos em suas costas, para relaxá-la.
-Se eu disser que a amo, o que me dirá
em troca? – provocou, olhando em seus olhos,
bem fundo, com interesse inegável de vê-la
derreter em seus braços.
-Direi que simpatizo com você, mas
apenas em algumas ocasiões. – respondeu no
mesmo tom que ele.
Rony lhe sorriu, entendendo que jamais
admitiria. Respirou fundo, continuando sua
decisão em seduzi-la carinhosamente.
-E se disser que o desejo me queima e me
enlouquece cada vez que a olho. O que me dirá em
troca?
-Direi que é um homem de sangue
quente. – fugiu da resposta.
-E se eu quiser saber, se causo o mesmo
efeito em você? O que me dirá? – insistiu, notando
um gracioso rubor cobrir suas bochechas e a fazer
olhar para baixo, prestando demasiada atenção ao
pescoço masculino, apenas para fugir e não
revelar a intensidade do próprio sentimento.
-Direi que nem sempre é possível saber
de tudo!
-Defendeu-me para Alice! Depois do que
fiz, para ser defendido, devo supor que gostou, e
muito! O que me leva a crer que sente o mesmo
desejo ardoroso que eu. – disse convencido,
estreitando-a nos braços.
Helena pousou ambas as mãos em seu
peito, ao sentir-se embalada e presa contra ele. Era
uma sensação deliciosa de aconchego!
-Porque pergunta, se já sabe a resposta?
-Porque não posso ouvir de sua própria
boca o quanto me deseja?
-Porque talvez não seja algo que se
escute. Mas sim, que sinta.
Desarmado, ele maneou a cabeça, os
olhos brilhantes.
-Não posso vencê-la em uma discussão.
Receio não ter sua sagacidade e inteligência,
sempre me sinto um ignorante quando tenta me
subjugar com suas opiniões!
-Cursou uma faculdade, e viveu em
Londres, não é um ignorante! –surpreendeu-se.
-Existe um tipo de inteligência que não
vem do estudo. – baixou o rosto para beijar sua
testa. – é a mulher mais inteligente que tive o
prazer de conhecer, a mais esperta e a mais sagaz.
E a mais bonita, também!
-E você – ela começou a falar, e Rony
sentiu um aperto no peito, esperando por um
elogio – é o homem mais mentiroso que já
conheci!
Dessa vez não era uma acusação. Era um
divertimento, que dizia-lhe que não estava
disposta a entregar seus verdadeiros sentimentos
assim tão fácil.
-Helena, você me põe louco com seu
jeito, com suas maneiras e com seu corpo.
Completamente louco!
Foi sua frase, antes de beijá-la.
Capítulo 97 - A rosa dos ventos

Helena correspondeu com a mesma


intensidade ao beijo, mostrando impaciência
quando ele diminuiu o ritmo, beijando-a
lentamente.
-Calma, Helena – ele disse
interrompendo o beijo por alguns segundos,
deixando-a na expectativa por mais – lentamente,
faremos tudo lentamente dessa vez...
-Rony, eu...
-Quieta, me deixe fazer tudo lentamente
dessa vez – ele calou-a com um suave selinho,
apanhando sua mão e levando-a até os pés da
cama.
Helena teve a decência de corar um
pouco, enquanto ele abria os botões de seu
vestido, descendo-o pelas costas, pelos quadris,
até cair ao chão.
Vestia apenas a camisa de dormir por
baixo do vestido, pois vinha sentindo as roupas de
baixo apertadas em certas partes. Ele não teceu
comentários, mas pareceu entender enquanto
abria a fita que mantinha o decote amplo preso.
Logo o tecido escorregava para o chão, esquecido,
junto ao vestido.
Helena fez de seus ombros largos um
apoio paras ambas as mãos, enquanto esperava
que ele se despisse. Correu as mãos sobre a pele,
entrando por dentro da camisa, acariciando o peito
masculino com reverencia e intento. Rony gemeu,
e deixou, pois era raro Helena deixar que visse sua
intenção de tocá-lo. Seu prazer em fazê-lo!
Rony tirou a camisa e abriu a calça,
lembrando-se dos sapatos. Carinhosamente, quase
com reverência, apanhou Helena no colo. Ela se
deixou levar, sendo colocada gentilmente no
centro da estreita cama.
Percorrendo seu corpo com os olhos, tirou
os sapatos e as calças, ficando nu em tempo
recorde.
Geralmente, nesse momento, não seria
sereno, ou gentil. Apenas se juntaria a ela e daria
asas ao desejo. Mas hoje, havia planejado algo
maior. Uma sedução calma e delicada. Faria amor
com Helena sem presa e sem afobamento.
Mostraria com toques e carinhos o tamanho do
seu amor e apreço. Faria com que Helena sentisse
ser a mulher mais desejável e amada da face da
terra, nem que para isso essa noite tivesse que
durar eternamente!
-Trouxe o jantar para nós – ele disse
engolindo em seco – Vinho, chocolate...o que você
quer?
-Não posso beber vinho – lembrou-o
achando adorável o esforço que fazia para agradá-
la a despeito da própria ereção. Deveria ser
maldosa e fazê-lo jantar e comer sobremesa, antes
de permiti-lo fazer-lhe amor! Mas hoje, sentia-se
boazinha e não faria essa maldade! – E não sinto
fome nesse momento.
Rony teve vontade de agradecer a Deus
por isso. Sentia seu autocontrole praticamente
nulo, em relação a esposa.
-Embora – ela começou a falar apenas
pelo prazer de obrigá-lo a esperar – sinta a
incontrolável vontade de testar até onde iria sua
convicção de ser suave e comedido. – sorriu diante
de sua expressão contrariada – mas não farei isso,
sinto-me muito submissa para fazer isso!
-Submissa? Será que devo amarrá-la
mais vezes? – ele tentou uma brincadeira.
-Não esqueça da mordaça – ela retribuiu
sua brincadeira arrancando dele uma linda
gargalhada.
-O que aconteceu para que ficasse tão
meiga para comigo? – ele deitou-se ao seu lado na
cama, acariciando seu rosto – Desde que nos
conhecemos tenho feito de tudo para atrair sua
atenção e sua afeição e nada deu resultado. E
agora, quando deveria me detestar, se aproxima?
Vai me contar que milagre aconteceu em nossas
vidas e que eu não notei?
-Mas você notou esse milagre. Notou
antes de mim, e ainda me recinto por isso – ela
pousou uma das mãos sobre o ventre. – Juanita
me recomendou ser mais calma e compreensiva.
Se tenho um marido aproveitador, devo me
conformar, não é? Travar discussões não o
mudarão!
-Helena! – ele fingiu braveza – Fale a
verdade, sente vontade de estar nos meus braços,
não é? Por isso releva meus erros!
-É tão importante que admita? –
perguntou surpresa, por ele precisar ouvir.
Rony era um homem naturalmente
confiante e seguro de si e da reação que causa nas
pessoas, seja de simpatia, ou de paixão. Por isso
vê-lo depender de sua opinião era ao mesmo
tempo desconcertante e assustador!
-Sim, é importante ouvir – ele confessou,
traçando carinhos em seu pescoço, enquanto ela
fechava os olhos, tentando se concentrar.
-Susan estava na estação ferroviária.
Ameaçava denunciá-lo e não permitir que
embarcasse – contou, antes que perdesse a
coragem.
-E como foi que não a vi? – perguntou
surpreso.
-Enganei John e com ajuda de sua irmã, a
colocamos em seu lugar.
-Teria embarcado se não a houvesse
obrigado? É isso que está tentando me dizer?
-Estou tentando dizer que me importo se
estará preso ou não – confessou, fechando os
olhos, sentindo um arrepio quando ele passou as
mãos pelo seu braço, tão perigosamente perto e
íntimo.
Rony curvou o corpo sobre o dela, a face
bem próxima a sua, olhando em seus olhos, antes
de dizer:
-Me aceita como marido? – ele
perguntou, sério e decidido a definir
definitivamente a situação entre eles.
Helena tentou afastar o olhar. Conservou
os olhos em seu pescoço, no pomo de adão,
decidida a não olhar em seus olhos.
Queria, e precisava dizer que sim. Era
seu marido, seu amigo, seu protetor e seu amante,
e precisava desse homem como precisava do ar
que respirava! Mas admitir, causaria uma
profunda mudança dentro dela! Distrairia todas as
suas defesas e estaria frágil diante dele e do
mundo!
-Prometo tentar aceitar – optou pela
diplomacia.
-Olhe em meus olhos, Helena, e diga se
me aceita como marido! – ele exigiu.
Chegar a esse ponto, era uma avanço
inestimável e não perderia a oportunidade de
deixá-la em suas mãos. Helena precisava confiar
em alguém, e principalmente se entregar ao amor.
Helena ergueu os olhos, mas não disse
nada. Deixou-se perder naquele olhar azul, tão
carinhoso e generoso, que lhe oferecia amor e
respeito, e pedia em troca apenas o mesmo
sentimento, a mesma entrega.
Atacada por um intenso sentimento de
dor, ela pousou uma das mãos sobre o peito de
Rony, onde o coração batia acelerado e baixou os
olhos, olhando para os próprios dedos, que
sentiam a pele quente, a carne tenra e o acelerado
de seu coração. Ele era vivo e real. E estava ao seu
lado.
-Eu não posso – ela disse num fio de voz,
erguendo novamente o olhar e esperando que ele
pudesse aceitar – não posso falar. Não posso. Eu...
-Certo, você não pode – ele se afastou.
Sentindo o vazio, a solidão de ter seu
corpo nu e quente apartado do seu observou-o
sentar-se nos pés da cama, sem olhar para ela.
Decepção. Causara decepção em Rony.
Helena sentou-se, olhando para as costas
musculosas e atraentes, esperando alguma reação.
Rony sentia a profundidade de seu olhar, mas não
se sentia pronto para lhe dar uma resposta.
Queria ouvir. Era humano, e queria ouvir
de sua boca o tanto que o queria.
Culpada, Helena se moveu, abraçando-o
pelas costas. Colou seu corpo contra o dele,
passado os braços por sua barriga e repousando o
rosto em suas costas.
Rony sentiu aquele abraço. Era uma
demonstração de seu afeto e não podia repudiar
um ato que demonstrava tudo que não conseguia
falar.
-Vamos nos casar numa Igreja em
Londres? – perguntou, esperando colocá-la na
parede o suficiente para se entregar aos
pouquinhos.
-Jesus amado – ela sussurrou, mais para
si mesma, do que para ele.
-John e Alice farão uma cerimônia
religiosa. E nós? Decida, Helena!
Era a hora da decisão. Ou dizia sim, ou
acabava com os sentimentos dele para com ela!
-Aceito me casar com você...numa Igreja.
Espero um filho e precisamos da benção de
Deus... – ela respondeu por fim.
Quase imediatamente, Rony virou-se e
apanhou seu rosto nas mãos para um beijo.
Beijou-a com o ardor de quem ouve um ‘eu te
amo’ pela primeira vez.
-Não usarei um vestido de noiva
pomposo! –avisou rapidamente, quando o beijo
acabou, passando a ponta da língua sobre os
lábios, desejando mais.
-Prometo que escolherá um vestido ao
seu gosto – seu sorriso a fez sorrir também.
-Não pense que haverá outra lua de mel!
– avisou novamente, tentando parecer mais
repreensiva do que realmente se sentia – Somos
casados, e já estou grávida, não é necessário essas
frescuras que Alice vive dizendo!
-Como quiser, Helena! Sua vontade é lei!
-Cínico – ela reclamou, sorrindo sempre.
Os olhos azuis brilhavam com algo tão
intenso que ela se pegou suspirando ruidosamente.
-Acha que minto em meu desejo por
você? -ele provocou, levando uma de suas mãos
até a prova irrefutável de seu desejo.
Helena envolveu os dedos naquela parte
em especial, e aceitou seu beijo.
-Acho que disfarça muito bem sua
verdadeira repulsa, esposo – ela brincou quando o
beijo acabou.
-Por certo que sim – ele entrou em sua
brincadeira – Minha esposa, também é perita em
disfarçar sua repulsa. Nesse momento, ninguém
seria capaz de afirmar o quanto me detesta!
Helena riu, deixando-se empurrar
suavemente em direção aos travesseiros.
Colaborou plenamente, recostando-se nas
macias penas de seus travesseiros, e separou as
pernas para que ele se acomodasse sobre ela.
Rony gemeu pelo prazer de ser recebido com tanta
colaboração. Quase havia esquecido como era
aprazível a sensação de ser bem vindo sobre uma
mulher desejosa de sua companhia.
-Sei que um dia irá gritar o quanto me
ama – ele disse vitorioso, e ela sentiu que não era
mais uma obrigação dizer.
-Quando esse dia chegar, saberemos que
enlouquecei finalmente!
-Sim, do mesmo modo que saberemos
que sou o homem mais feliz do mundo! – revidou
a altura, insinuando-se entre suas pernas.
-Oh, Rony, chega de falar – ela pediu
mansamente, esperando por mais – Ser gentil, não
quer dizer que tem de ser tolo!
-Estou sendo tolo? – ficou surpreso.
-Sim, tolo por não ver que estou ansiosa!
– confessou, tomando uma atitude. – Culpa dos
meus hormônios, Juanita disse que eles ficam
loucos na gravidez. Se não fosse isso, não seria tão
fraca!
Tentou justificar sua iniciativa, de
empurrá-lo contra o colchão, se sentado sobre sua
cintura.
Seus cabelos caíram sobre eles, e Rony
sorriu, silencioso, apenas deixando-a fazer tudo
que desejava. Helena ficou parada, esperando que
desse o próximo passo.
-Rony...
Sua voz pedia mais. Lábios separados,
rosados e convidativos, pedindo um profundo
beijo de língua. Mas ele conteve a vontade,
deixando-a livre para o que quer que tivesse em
mente.
-Rony? – insistiu para que ele fizesse
alguma coisa.
-É tudo para você, Helena –ele disse tão
apaixonado que doeu em seu coração – Como
você quiser.
-Mas eu prefiro quando você...- calou-se
ao notar que estava mostrando demais de seus
próprios sentimentos e desejos.
Achando inconcebível tanta entrega e ao
mesmo tempo perdendo a capacidade de pensar
com careza, moveu-se sinuosamente sobre ele.
Seus seios tocaram o peito musculoso, e
ela gemeu, serpenteando o corpo contra o dele.
Sua barriga tocava sobre a barriga masculina, e
essa sensação era muito gostosa, assim como a
sensação de queimação dentro dela, enquanto
roçava sua parte mais íntima contra a evidente
ereção entre as pernas de seu marido.
Seu pênis estava deitado sobre a barriga
dele, e cada giro de seu quadril fazia com que ela
se roçasse contra aquela carne intumescida e
quente. Gemendo, fechou os olhos, mantendo os
braços para frente, segurando nos ombros fortes
de seu marido.
Rony deixou-a mover-se por vários
minutos, suportando a pressão de não gozar
enquanto ela não estivesse completamente pronta.
Helena não tinha a mínima ideia do
quanto era sensual, gemendo sobre ele,
enlouquecendo-o com seus toques e a macies de
seu corpo.
Puxando-a mais para perto, ele elevou
seu corpo, e abocanhou um seio. Helena gemeu
pelo choque e pela ausência da sensação que a
queimava da cintura para baixo.
Curvada sobre ele, teve a bunda agarrada
pelas duas mãos fortes, enquanto ele amamentava
seu seio, enlouquecendo-a. em dado momento, ele
soltou o seio, e sua língua ficou passando sobre o
bico torturantemente devagar, atiçando a
arrepiando cada pelinho do seu corpo.
Suas mãos femininas corriam por seu
peito, e seu ombro, enquanto tentava achar um
jeito de beijá-lo por todo o rosto, sem sucesso.
Lá embaixo sentia a ponta do membro
cutucando e quase entrando a cada movimento
ousado que ela fazia com o quadril, mas ele não
deixava que consumasse a união.
O bárbaro, agarrava as carnes de suas
nádegas com vontade, amassando a pele com os
dedos, arrancando dela gemidos de agonia e
prazer.
O seio estava avermelhado e sensível,
quando ele passou para o próximo.
-Oh, não chupe desse modo... – ela
lamentou quando sentiu um cutucão
particularmente delicioso lá embaixo, ao mesmo
tempo em que ele engolia seu pequeno mamilo
entre os lábios – Oh...como é bom...
Seguiu-se uma sequência de palavras
desconexas, até que Rony não pode mais esperar.
Com toda a agilidade que possuía sentou-se na
cama, levando-a consigo. Helena quase gritou
quando foi penetrada apenas um pouco. Não era a
ideia dele ainda, foi por acidente, tão próximos
estavam.
Rony empurrou-a e Helena tirou os
braços de seu pescoço, encarando-o em dúvida
sobre o que fazia. Sorrindo, ele começou a deitá-la
para trás. Com as pernas em volta da sua cintura,
Rony empurrou-a deitada entre suas próprias
pernas, observando aquele vale delicioso a sua
frente.
-Linda, sempre linda – ele elogiou,
tocando-a exatamente lá.
Helena respondeu esfregando-se em seus
dedos com desespero. Curvando-se, ergueu os
quadris delicados e deslizou a língua ali, em
movimentos rítmicos e circulares.
Desesperada por satisfação, Helena
gemeu, e se contorceu, esperando que tivesse fim
antes que perdesse o pouco de bom senso que
ainda lhe restava.
Aquela língua era deliciosa e sabia muito
bem onde tocar. Rony lambeu entre os lábios
menores, sorvendo o gosto, e espalhando umidade
sobre o restante. Seu cheiro era tão suave e
aprazível que sentiu-se cada vez mais perto de
uma vergonhosa libertação.
Helena delirava vítima de seu ataque de
prazer, sentindo o corpo tremular atrás de mais e
mais daquela sensação grandiosa. Sua cabeça
girava de um lado para o outro, espalhando os
cabelos no lençol branco, seu torso erguia-se todo
o momento. Seu quadril era prisioneiro das
grandes mãos, mantendo-a fortemente contra suas
caricias íntimas.
Aquelas lambidas fizeram-na
choramingar quando a sensação cresceu a tal
ponto que achou que sufocaria.
Rony sentiu-a tremer embaixo de suas
mãos, e sugou com força, até ouvir seus gritos.
Tremula, Helena convulsionou quando o prazer a
cegou. Tão forte que achou que desmaiaria.
Que erro achar que um pouco de
gentileza estragaria o ímpeto de prazer ao qual
sempre chegava! Aos poucos ela foi retornando ao
normal, arfando em busca de ar, e entreabrindo os
olhos a tempo de vê-lo se posicionando.
Era uma posição nunca experimentada
por Helena, e achou fantasio assisti-lo segurar o
membro e posicioná-lo, tirando-o da posição em
risque, para colocá-lo no local adequado. Tão
adequando que Helena sentiu-o penetrar um pouco
e Rony parar.
-Você é tão macia – ele elogiou notando
que tinha seu olhar na sua direção – sua pele é
como seda.
Sua mão direita subiu por sua barriga
acariciou seus seios e desceu novamente pela
barriga, que começava a despontar.
-Não pare – ela pediu quando ele não fez
menção de mover-se novamente.
-Quero fazer gentilmente, para não
causar-lhe sobressalto – ele disse com o que
sobrara de seu autocontrole.
-Estou sobressaltada por estar sendo tão
devagar! -ela reclamou, oferecendo o corpo, as
pernas separadas largo, querendo mais e mais,
como uma desesperada.
Rony tentou não rir e dizer o quanto
ficava eufórico com sua necessidade por mais dele
e do sexo que partilhavam, segurou suas pernas
firmemente e investiu.
Tão devagar, centímetro a centímetro,
fazendo Helena fechar os olhos, morder os lábios e
jogar a cabeça para trás gemendo.
Suas mãos delicadas agarraram as
canelas de Rony, perto dela, acariciando os pelos
ruivos e sentindo a musculatura forte e máscula.
Segurando-a pela frágil cintura, ditou um
ritmo lento e provocante, indo e vindo devagar,
como se estivessem dançando uma música
instrumental.
Uma suave música que apenas seus
corpos conheciam.
Completamente desorientada, Helena
permitiu que ele ditasse os movimentos,
recebendo-o bem fundo, e retribuindo se abrindo o
máximo possível para acomodá-lo.
-Estou te machucando? – ele perguntou
em determinado momento, temendo estar indo
muito rápido, fundo e forte.
-Não. Oh, não, não mesmo! – ela
respondeu, entre suspiros, olhando para ele,
notando seu peito vermelho pelo esforço, sua face
corada e seus olhos brilhando com algo tão
perigoso que a fez gemer e erguer mais o quadril,
engolindo-o profundamente. – Rony, por favor,
mais forte...!
-Não – ele negou –
Devagar...assim,Helena, devagar...sem presa, sem
presa...
Ele respirava com tanta dificuldade
quanto ela, e Helena fincou as unhas em suas
canelas, usando o quadril para tentar impor seu
ritmo.
Rony não era um homem bonzinho e
prova disso, foi quando uma de suas mãos deixou
sua cintura, para acariciar seu clitóris. Seus dedos
circularam sobre ele, enlouquecendo-a.
-Tão bom, tão bom. Tão bom, Rony, oh, é
tão bom, amor, tão bom...
Ela delirou, o orgasmo a levando ao cume
do prazer, entregando em palavras, gestos e
gemidos o tamanho do amor que sentia.
Rony acelerou os movimentos, quando
ela gozou, acreditando que terminaria e não faria
mal algum um pouco de ação depois de tanto
carinho e cuidado.
Claro, não esperava que Helena fosse
corresponder. Segundos após o clímax, ela se
deixou levar, e quando ele a puxou, para que
sentasse sobre seu colo.
Se deixou levar como uma boneca de
pano, enlaçando os braços em seus ombros, o
rosto em seu pescoço, beijando a pele que havia
ali, até encontrar seu lábios e lhe roubar um beijo
profundo e cheio de paixão.
O ritmo mudou, Helena pode finalmente
acelerar os movimentos e por estar numa posição
que facilitava, controlar o ato. Forte, ela
empurrou-se várias vezes, gemendo e gritando
quando outro orgasmo a atacou sem dó, levando-o
ao mesmo nível de excitação e ambos gozando
juntos e abraçados.
Vagamente ela sentiu-se inundada por
seu gozo, e lamentou quando ele se moveu,
levando-a com ele, deitada sobre seu corpo.
Lamentou também a falta de seu membro entre
suas pernas.
Estava saciada ao ponto de sentir as
pernas moles e as mãos tremulas, mas estaria
plenamente feliz em continuar se ele demonstrasse
interesse!
Entre suspiros, adormeceu, ouvindo o
som da respiração de Rony,que quase
imediatamente também adormecera.
Capítulo 98 - Amabilidades

-Entendeu, Duran? – Alice perguntou


pela milésima vez, encanando o menino que
apenas concordou com a cabeça, escondendo um
saquinho de veludo nas vestes – Não levante
suspeitas sobre você e por nada nesse mundo
conte ao meu irmão! É um segredo nosso, está
bem?
O menino pareceu claramente em dúvida
sobe sua lealdade e Alice sorriu o mais doce que
pode, para ludibriá-lo.
-Pense, menino, é para o bem de Helena!
Londres pode ser uma cidade muito fria! Ela
espera um bebê. Queremos o melhor para ela não
é?
Notando que o vencia, ela sorriu
amplamente satisfeita com seu feito.
-Pronto, fique com uma das moedas para
você, sim? E não esqueça: é um segredo!
Duran concordou e correu para pelo
corredor quando foi chamado pelo guardinha do
trem. Era um menino muito ativo, e estava
adorando a experiência de viajar num trem
caprichoso e luxuoso como aquele. Fizera amizade
com todos os serviçais e aprendia o oficio com
cada um deles, quando não estava ajudando o
patrão com algum assunto, ou em sua cabine no
fundo do trem, perto da cozinha, onde conseguia
apanhar as sobras dos doces e das comidas,
deleitando-se com tanto requinte.
-Segredo? - A voz de John quase a matou
de susto. Culpada, tentou parecer o mais inocente
possível ou virar-se:
-John, não o ouvi se aproximar!
-Sim, notei sua distração – ele disse com
um olhar desconfiado, diante de sua falsa
inocência – Alice, é melhor me contar o que esta
aprontando!
-Desse modo me ofende, marido – ela
fingiu susto, e tristeza, sorrindo a seguir, pois era
claro que ele não acreditava – Por favor, marido,
deixe-me com meus segredos tolos. Que não
fazem mal a ninguém!
-Sou curioso sobre o que a faz ter
interesse – ele disse pensativo, olhando para o
corredor onde o menino estivera a pouco tempo –
Porque não recorreu a mim?
-Não desejava cansá-lo com tolices! –
disse sorrindo e se aproximando. – Não me
permitirá ter segredos, John?
-Infelizmente não – ele disse tímido, e
desgostoso desse fato – Duran é apenas um
menino, mas há muitos homens nesse trem que a
olham de modo malicioso...era um bilhete que
entregava a ele? Resposta a algum homem
interessado em sua beleza?
Surpresa, Alice não soube o que
responder.
-A convivência com meu irmão, está o
tornando um homem ciumento, John? – provocou,
irritada com essa faceta nova do marido – Por
favor, não ouse tentar me controlar ou controlar as
coisas que faço!
John não respondeu, se afastando pelo
corredor, talvez ofendido, ou apenas desconfiado
de suas razões para não contar a ele seus segredos.
Não era um homem cego, vira inúmeros
cavalheiros, alguns casados e outros solteiros,
olhando para ela com desejo e admiração!
-John, espere! – ela segurou-o triste por
ser a causa de sofrimento no marido – Não achou
um disparate meu irmão querer levar Helena para
o local onde morava quando solteiro? Você
mesmo disse que era um lugar frio e horrendo!
Um lugar para homens solteiros e livres! Não para
uma mulher grávida e delicada! – John ergueu
uma sobrancelha, ridicularizando o ‘delicada’.
Helena poderia ser mais firme que um homem
acostumado com a guerra! – Sabe a que me refiro.
Dei dinheiro para que Duran pague o dono do
local para não recebê-los. E não me olhe desse
modo! Meu irmão tem pouco dinheiro, terá que
aceitar nossa hospitalidade por algum tempo! Não
se zangue, mas não achei outro modo de...
-Preocupou-se em vão, minha querida –
ele disse orgulhoso de suas boas intenções – Não
permitirei que Rony tenha esse comportamento
apenas por orgulho. – sorriu e piscou para ela –
Acidentalmente, nossa carruagem irá quebrar bem
diante da casa do Conde.
-Oh, John! – ela riu – Somos muito
malvados!
-Tem toda razão! – ele concordou
buscando-a para um abraço apertado que faria
muitas jovens casadas corarem!
Malvados ou não, preocupavam-se com o
casal intempestivo Parker. E essa preocupação se
estendeu pelos próximos dias, e quando deixaram
o trem para embarcar no navio, tanto Rony quanto
Helena estavam mais calmos e atenciosos entre si.
Uma trégua. Enquanto observavam o porto ficam
para trás, Helena segurou com força no braço de
Ronald, sem perceber que pedia ajuda e amparo.
Era medo, quis lhe dizer, quando ele a abraçou e
beijou o topo de sua cabeça, sem achar necessário
falar sobre o que a abatia. Medo da vida que
mudava tanto. Mas dessa vez um medo sob
controle. Seria uma longa viagem e ela nunca
estiver no mar. Por isso, tão logo o navio entrou
em movimento, pediu para ir ao quarto. Precisava
deitar e controlar os enjoos. Infelizmente esses
mesmos enjoos seriam seus companheiros de
viajem pelo próximo mês inteirinho...
Capítulo 99 - Londres

-Devemos chegar a Londres dentro de


poucas horas – Rony disse pensativo, um mês
mais tarde, enquanto comia um pedaço de carne,
de seu almoço.
Helena havia comido pouco, reclamando
de indisposição. Não eram enjoos , mas o balanço
constante do mar a deixava indisposta, um tanto
tonta e estafada. Sentada a seu lado, diante da
mesa do almoço, ela arriscou uma mordida em um
legume e achou que isso era mais aceitável que a
carne que lhe embrulhava o estômago.
-Nossas malas estão prontas, preciso
apenas trocar de roupas – ela disse calmamente,
como vinha acontecendo desde a hora que
acordara em seus braços, depois de mais uma
noite de amor terno e doce que vinham
experimentando desde que embarcaram no navio –
Sinto dizer, mas não tenho roupas de frio. E a
temperatura está caindo rapidamente!
-É verão, mesmo assim alguns dias são
mais frescos. Compraremos o que for necessário
quando desembarcarmos – ele garantiu um pouco
incerto disso, pois tinha pouco dinheiro.
-Está mesmo convencido que seu antigo
patrão o receberá de braços abertos, não é? – ela
ironizou, pois também pensava na questão
financeira dessa viagem.
-Sr. Loren sempre simpatizou comigo. É
amigo do juiz Demetrius, que tem uma dívida de
gratidão comigo.
-Não me diga que ele também tem uma
filha para casar! – ela ironizou e ele riu, pois não
era uma ofensa, era uma piada. Do jeito de
Helena, mas era uma piada.
-Não, ele só tem filhos homens. Um
deles, o mais novo participou de um duelo há três
anos atrás. O pobre menino mal sabia segurar
uma arma, e me escolheu como padrinho. Era uma
tragédia anunciada, pois o opositor é um militar
de grande porte. Mestre nas armas. Restava a
Demetrius esperar receber o filho morto em casa,
quando tive a ideia de duelar por ele. – ele sorriu a
lembrança – o opositor, sempre foi um homem
esquentado, que me tinha desafeto por causa de
minha amizade com John. Foi preciso apenas
algumas pequenas ofensas e ele ficou bem feliz
em trocar o par de seu duelo!
-Participou de um duelo? – chocada, ela
parou de comer.
-Não foi tão sério assim! Helena, eu não
tinha um bom nome a zelar, como Demetrius.
Paguei o lacaio de Wood para tirar as balas de sua
arma, e propositalmente errei o tiro. Tudo não
passou de uma grande armação vergonhosa para
os dois lados. Como vê salvei o rabo do filho de
Demetrius...desculpe, salvei a vida do pequeno
Simon – ele mudou as palavras quando a notou
corar. – Está corada, Helena? Sempre ouve
palavrões dos empregados da fazenda!
-Sim, mas isso nunca quis dizer que não
me envergonhava por presenciá-los – baixou os
olhos, apenas para não vê-lo rir dela.
-Como dizia, Demetrius ficará feliz em
me ter de volta a firma de advocacia. E o Sr.
Loren, sempre apreciou sua felicidade! – riu e ela
não pode se furtar a dizer:
-Aprendeu mesmo a cuidar de si, estando
sozinho, não é?
-Não me foi dada outra escolha – ele
confessou – Um pouco de necessidade, outro
pouco de desvio de conduta...e sou o que sou.
Como sempre diz, um aproveitador.
-Acho que a palavra que melhor o define
é ‘provocador’.
Uma senhora na mesa ao lado pareceu se
engasgar ao ouvir uma esposa falar desse modo
com seu marido.
-E posso saber por quê? – ele ficou
curioso.
-É provocador o modo como desafia a
sociedade com suas idéias inovadoras e sua
conduta. Tem algo de calhorda em sua forma de
pensar, mas suas atitudes sempre condizem com a
moral e a dignidade. Você pega o que quer, mas
não tira nada de ninguém. É um jogo dúbio.
-Talvez seja desse modo – ele concordou
pensativo, tentando ignorar os engasgo da velha
matrona da outra mesa, que os olhava como se
visse fantasmas. – Peço apenas, que estando em
Londres, guarde sua verdadeira opinião sobre as
pessoas e suas atitudes para os locais privados, ou
seremos linchados de Londres e teremos que
voltar correndo para casa!
Ela sorriu, pois não falava a sério.
-Apenas não tente chocar a todos,
Helena. Aprecio seu modo de pensar e me causa
satisfação ouvi-la. Mas existem outras pessoas...-
ele olhou de relance para a mulher, que ainda
fitava Helena com repreensão. - ...que podem se
ofender. Em Londres as mulheres não usam
armas, ou batem em homens, muito menos gritam
com os maridos – ele avisou docemente, os olhos
brilhando – Não atraia muita atenção sobre si
mesma.
-Porque não? –estranhou.
-Com sua beleza, personalidade e um pai
Conde, corro o risco de ser tirado de cena em
nome de algum nobre de berço, que fique
irremediavelmente apaixonado por você! – ele foi
sincero, mas ela achou se tratar de uma
brincadeira, pois não via a si mesma desse modo.
-Não pretende travar novos duelos, não
é? – sua súbita seriedade o fez sorrir, deduzindo o
medo de perde-lo – afinal, isso também chamaria
atenção desnecessária! – mudou o tom para que
ele não achasse que se importava.
-Não, claro que não. Meu tempo de farra
acabou. Agora sou marido e pai. Não posso me
dar ao luxo de ser inconsequente. – satirizou.
-Irritante – ela reclamou, pois reconhecia
o deboche em sua voz.
-Prometo ser um cordeiro, Helena – ele
disse mais sério agora e ela concordou, afastando
o olhar.
-Não tenho dúvidas quanto a isso, esposo
– debochou também.
Rony riu enquanto a incentivava a comer
um pouco dos legumes.
-Alice me disse que está preocupada com
o lugar onde moraremos – ela comentou
banalmente, por mais que não admitisse, confiava
nele e em seu julgamento – tem medo que me leve
para algum hotel de solteiros. Segundo ela, um
lugar não apropriado a uma dama.
-Digo certas coisas para Alice, apenas
pelo prazer de vê-la indignada – ele confidenciou
– Minha irmã é muito tola e infantil. E o pior
disso, é que faz John agir do mesmo modo que ela
– Helena e ele trocaram um sorriso cúmplice, pois
isso era mesmo verdade e ela também já notara o
fato – Gosto de dizer coisas que a faça ter no que
pensar. Alugarei uma casa para nós. Algo
modesto, mas confortável e apresentável. Não se
preocupe quanto a isso.
-Pensei que desejasse hospedar-se com o
Conde - ela ficou surpresa. – Ou com John.
-John e Alice terão bastante problemas
para se adaptarem a nova vida. Seriamos um peso.
Além disso, não estou certo se posso conter meu
ciúme. – foi sincero – quanto ao Conde, não é uma
visita de cortesia, não estamos aqui para manter
contatos, estamos aqui para resolver meu
problema e me livrar da cadeia – havia um pouco
de amargor em sua voz – visitaremos o Conde se
for seu desejo, mas não seremos seus hospedes.
-Porque não? Desculpe, se insisto, mas
você é um boa vida nato. Não consigo vê-lo abrir
mão de uma estadia regada a luxo sem algum
assombro!
-Meu Deus, que boa ideia faz de mim
Helena! – ele riu com gosto, mesmo que a senhora
da outra mesa tenha se engasgado novamente. –
Não esqueço que seu pai sentiu-se no direito de
interferir em nosso casamento quando achou que a
maltratava. E temos momentos de desacordo em
nosso casamento, e não poderei permitir que por
estar em sua casa, ele ache que pode agir desse
modo novamente!
-Mas, Rony, estamos...- ia dizer que
estavam de bem, mas se conteve – estamos
mantendo a cordialidade entre nós.
-Mas quem garante quanto tempo durará?
– ele brincou, com um fundo de verdade.
-Tem razão – ela teve que concordar,
envergonhada.
-De qualquer forma será bom termos um
lugar só nosso. Uma casa que possa cuidar do seu
jeito, Helena. Passarei o dia ocupado com o
trabalho e não poderei lhe dar atenção.
-E desde quando isso me incomoda?
Havia uma nota de desafio em sua voz
que o fez sentir o coração acelerar.
-Prometo não estar cansado demais a
noite – ele rebateu, causando mais um engasgo na
falsa carola da outra mesa.
-Sinto apenas não ter trazido alguns
livros -ela lamentou.
-Trouxe material para bordar, não trouxe?
Então capriche no enxoval do nosso filho – disse
machista.
-Arrumarei o que falta para a viagem –
ela disse contrariada pelo seu comentário.
Pretendia levantar, mas ele tocou sua
mão, mantendo-a no lugar.
-Desculpe, não desejava ser grosseiro.
-É um homem machista – acusou.
-Sou, mas estou tentando me flexibilizar,
desde que me casei com a mulher mais
determinada e independente da face da terra. Tente
entender que também é difícil para mim. E por
favor, termine seu almoço.
-Espero não ser sempre eu a ceder – era
um aviso, mas ela voltou a comer.
Dessa vez a paz se estabeleceu antes da
guerra, e Rony tinha consciência do esforço que
Helena fazia para se adaptar aquela situação. Irem
a Londres a assustava e arrancava dela todas as
suas convicções e sonhos. Estava longe de casa e
sentia medo.
Fazia muito tempo, mas ele ainda
lembrava desse sentimento, quando se vira
sozinho em Londres, sem os pais, naquela escola
interna.
Num gesto de carinho, chocante para a
época, ele segurou sua mão e beijou. Helena sorriu
desafiadora e ele beijou novamente, antes de soltá-
la.
Na mesa ao lado, a velha matrona,
levantou-se indignada e deixou o vagão.
E nem Rony, e nem Helena, sentiram sua
falta!

Alice estava em estado de completo


êxtase desde que o navio chegara ao seu destino
final. Depois de seu susto inicial com o
movimento, e as roupas das pessoas que iam e
vinham apresadas, ela começara a tagarelar sem
parar, observando o porto, os trabalhadores, as
pessoas diferentes que passavam diante delas.
Por sorte, notando a palidez de Helena,
John afastara a mulher do outro casal, deixando-o
um tempo para que Rony segurasse
carinhosamente o braço de Helena no seu.
-Está tudo bem? – ele perguntou fazendo-
a parar e olhar para ele.
-São muitas pessoas – foi sua débil
observação.
-Em poucos minutos estaremos na
carruagem. – ele tranquilizou-a – tente prestar
atenção no que vestem, e como andam,
falam...verá que são pessoas normais,como nós.
Não há razão para se assustar.
Pela primeira vez, Helena não o
desmentiu sobre estar assustada. Manteve um
aperto torturador em seu braço durante todo o
caminho até a carruagem alugada. Mesmo dentro
dela, manteve as mãos nas dele, não recamando de
seu excesso de zelo.
-Ficaremos em uma das casas de aluguel
do Sr.Lourenço. Ele deve ter uma boa casa para
alugar por uma pequena temporada – Rony contou
notando a irmã corar – Duran me devolveu suas
moedas, Alice -ele piscou para a irmã que corou
ainda mais – e também me contou do seu pedido
ao cocheiro para parar em frente à casa do Conde,
John.
Constrangido, John apenas sorriu.
-Nos ofende, que não queira ficar em
nossa casa, irmão - Alice disse sincera.
-Não tome como ofensa. Helena e eu
precisamos de um lugar nosso. E será por um
breve período, logo voltaremos para casa. –
olhando para Helena, sugeriu: - afaste a cortina e
olhe para a fora, Helena. É um bom modo de ir
conhecendo Londres.
-É muito grande – ela disse observando
as construções e o vai e vem das pessoas nas
calçadinhas.
-Sim, é muito grande. E muito
movimentado – Alice disse excitada espiando pela
janela também. – John! Nossa casa é como essas
que vejo?
John concordou momentaneamente, ao
notar sua surpresa e apreensão.
-Meu Deus, como conseguirei cuidar de
um lugar tão grande? – ela ficou imediatamente
tensa, amedrontada.
John olhou para Rony indeciso. Para ser
franco sua casa era uma das maiores mansões de
toda Londres e era pelo menos dez vezes maior
que as casas que passavam rapidamente pela
janela, enquanto a carruagem seguia pela estrada
asfaltada.
Apreensiva, Alice estava empalidecendo
rapidamente.
-Tenho uma governanta e um mordomo,
Alice. Sua função será apenas conferir se tudo
estará a seu gosto no trato com a casa – ele
procurou tranquilizá-la.
-Deus, porque foi se casar com uma
mulher de interior? – ela sussurrou – Serei um
fiasco!
-Impossível – ele disse sorrindo de seu
medo – Impossível que seja menos que perfeita.
-John... – ela suspirou relaxando.
Rony olhou para Helena maneando a
cabeça.
-Não se preocupe, Helena, não haverá
grande dificuldade em cuidar do quarto e sala que
alugarei para nós – ele fingiu imponência para vê-
la rir.
-John disse que em dois meses iremos
embora. Não é preciso mais que alguns poucos
cômodos para que tenhamos conforto. –
concordou.
-Rony, tranque sua mulher em casa. –
John provocou – Quando souberem o quanto é
econômica, irá juntar uma fila de homens a sua
porta!
-John, não queira me assustar, já estou
suficientemente preocupado em como manter a
língua de Helena dentro de sua boca em público!
Havia um traço de seriedade em sua voz
e John bem compreendeu. Helena e sua
sinceridade eram um perigo!
-Pensarei no que disse hoje à noite,
quando estivermos acomodados – ela sussurrou
em seu ouvido, arrepiando-o da cabeça aos pés –
sobre manter minha língua dentro da sua boca...
Sem palavras, ele sentiu que corava. Não
era fato comum corar e precisou de todo seu
autocontrole para não deixar o próprio corpo
reagir. Também não era fato comum, Helena lhe
fazendo promessas obscenas!
-O que foi, irmão? – Alice fitou-o com
estranheza, quando ele fingiu um engasgo se
movendo desconfortável. – Está se sentindo bem?
Será que tem febre...?
Helena sorriu e apoiou Alice em seu
pensamento, mesmo que tivesse certeza que o mal
que o afligia era outro.
Para atormentá-lo, disse:
-Isso mesmo? Será que tem febre? Uma
viagem tão longa, ainda se recuperando de um
tiro...- contendo o sorriso, testou sua pele,
passando uma das mãos por sua testa, sua
bochecha e seu pescoço, sentindo o calor que o
atormentava, extravasando em sua pele, e no
acelerado de seu coração que sentia pulsar através
do pescoço – Não, estou enganada, não tem febre.
Tirou a mão, puxando outro assunto
qualquer com Alice, olhando-o de canto de olho,
feliz em vê-lo desconfortável.
John passou a contar as duas sobre os
bailes da corte e dos amigos que por certo teria
que convidar para uma recepção, pois tinha
negócios, e sempre o olhando de rabo de olho,
Helena ficou imensamente feliz ao notar que não
prestava atenção em nada que diziam, ocupado em
tentar restabelecer o autocontrole e não ser pego
em flagrante com o corpo em estado de excitação.
Satisfeita consigo mesma, não percebeu
que o olhar malicioso também era dele, que lhe
cobraria a promessa sensual assim que tivesse
oportunidade para isso!
Uma hora depois a carruagem cortou o
movimentando centro de compras, e Alice grudou
a face na janela, olhando tudo com olhos de
criança. Helena por seu lado sentiu parte do
entusiasmo ir embora.
Era tudo tão grane. Tão assustadoramente
grande. Se perdesse Rony na multidão, numa mais
o encontraria! Era um pensamento infantil, e que
demonstrava muita fragilidade, mas era assim que
se sentia.
Empolgada, Alice mal notou quando a
carruagem parou e o cocheiro abriu a porta. John
desceu primeiro, seguido de Rony. Ajudando a
irmã e Helena a sair a seguir, Rony segurou a mão
de Helena, ficando os quatro diante de uma
mansão impensavelmente grande.
Helena olhava tudo em volta, sentindo a
sensação de opressão ir embora rapidamente. Era
imensamente grande com suas construções e
quando um casal passou muito próximo, ela
analisou as roupas, os chapéus, as luvas. Olhou
tudo com interesse, sem notar que soltava a mão
de Rony e se afastava um pouco para ver tudo com
algo novo dentro dela.
A cidade era linda, barulhenta e
incrivelmente desafiadora!
Sentindo seu encantamento, Rony
apanhou sua mão novamente, antes que ela se
afastasse, e atraiu sua atenção para si, sorrindo ao
dizer:
-Volte aqui, passarinho, ou vou te perder
entre as pessoas.
-É tudo muito bonito – ela sorriu, como
quem pede desculpas.
-Sim, mas é uma cidade traiçoeira,
lembre-se disso – ele sugeriu, esperando conter
seu encanto.
-Vamos entrar – John convidou, ansioso
e nervoso sobre a reação de Alice.
Até aquele momento ela não parecia ter
entendido que aquela era sua nova casa.
Estarrecida, ela olhou em volta, por toda a
extensão da construção e pareceu prestes a sair
correndo.
-Venha – ele estendeu a mão para Alice,
que hesitou em aceitar o contato.
-Essa casa é mesmo sua? – ela sussurrou
intimidada.
-Sim, e agora, é nossa – ele sorriu,
conduzindo-a pelo portão. Quase imediatamente,
surgiram dois empregados. John os cumprimentou
e deu ordens.
Apanharem as malas, prepararem um
lanche, e avisar a criadagem que os
recepcionassem em minutos na sala principal.
Helena sorriu quando Duran tropicou em uma
pedra, ocupado demais em olhar em volta, para
tanta beleza e riqueza.
Helena estava impressionada, é claro.
Mas o que mais chamou sua atenção foi a
naturalidade de Rony em meio a todo luxo. Não
podia esquecer que vivera ali por um tempo,
usufruindo da boa hospedagem que John poderia
lhe oferecer.
Quando as grandes portas se abriram,
Alice quase chorou. Olhou para Helena em
verdadeiro pânico. Era tudo imenso. Havia tanto
luxo, tanto valor, que temeu tocar em algo e
quebrar. Sentia-se com cinco anos de idade,
temendo desagradar aos pais.
-Sra.Macomber, essa é minha esposa
Alice – ele apresentou.
A Sra.Macomber o recebeu com um
abraço, e havia muita familiaridade entre eles.
Era uma senhora baixinha e roliça e
imediatamente seu sorriso se abriu, abraçando
Helena.
Ela não soube como corresponder ao
abraço, e John pigarreou, desfazendo o engano.
-Essa é a Sra.Parker esposa de Ronald.
Lembra-se dele, não é? Pois sim, minha esposa é
essa linda ruiva, que nesse momento está
descompassada com a nova vida – ele piscou para
a mulher que desfeito o engano, aproximou-se de
Alice com olhos curiosos.
-John, meu filho, sua esposa me olha
como um animalzinho assustado! Pobrezinha! – a
farta senhora apanhou as mãos de Alice, que
estavam geladas – Criei seu marido, desde a morte
da minha querida Lilian, criei esse menino como
se fosse meu! Tenho certeza que ele não escolheria
a mulher errada. Por isso, não sinta medo da sua
nova vida. Sim? Vamos, fale comigo, menina,
para que saiba que não é muda!
Helena riu suavemente, enquanto Alice
mantinha-se em pânico.
-Dê-lhe um momento para que se
acostume – Helena sugeriu – Alice sempre foi a
mais medrosa! Precisará de um momento para se
refazer do susto!
-E você? – a mulher de cabeços
platinados, apontou um dedo acusador para Rony
– Como pode casar-se? Achei que morreria
solteiro! Que se não pudesse casar-se comigo, não
casaria com nenhuma outra! – ela ralhou, numa
brincadeira óbvia.
-Desculpe, Gertrudes, mas Helena me
apanhou de surpresa. – ele piscou para a velha
senhora – Uma herdeira rica...não pude resistir!
-Menino! – a Sra.Macomber ralhou
olhando novamente para Alice –Vou preparar um
lanche, para que suas cores voltem. Tão linda! –
ela disse a John – Veja esses olhos, como são
azuis! – ela ergueu o queixo de Alice
impressionada – Pele de leite, lábios rosados,
olhos tão sinceros...posso entender o que o
encantou nessa jovem, John! Um anjo!
-Não se iluda, minha irmã está longe de
ser um anjo!
-Sua irmã? Espertalhão! – a
Sra.Macomber repreendeu-o – Por isso tantos
convites a conhecer sua terra natal! É claro que
John não resistiria a tantas virtudes!
Acanhada, Alice aproximou-se de John
sentindo-se analisada e julgada.
-Querida, não se assuste comigo – a
velha se aproximou, sorrindo carinhosa – Conheço
esses dois meninos há anos, e me dou libertadas
com ambos! Não tinham pais presentes, alguém
precisava cuidar da educação dessas duas bestas
feras! São duas jovens muito preciosas – ela disse
olhando para Helena – Criaturas muito preciosas!
-Reforce o lanche, Gertrudes – Rony
disse malicioso – Helena espera um bebê para
daqui a poucos meses e tem estado faminta o
tempo todo!
-Um bebê! – a mulher parecia muito
emocionada, mas não disse nada. Ficou olhando
para os dois com emoção, até notar o menino atrás
deles – E esse menino?
-É filho de uma empregada. Cuida de
Helena na minha ausência – Rony explicou –
Duran, cumprimente a Sra.Macomber
O menino o fez e ela pareceu enfeitiçada
pelos olhos verdes do menino. Não parava de
comentar sobre sua pele escura e seus olhos tão
claros. John suspirou aliviado quando ela
despediu-se para providenciar o lanche, levando
Duran com ela, e eles puderam finalmente ir para
a sala de chá.
Helena estava muito interessada em cada
detalhe da decoração, surpresa por ter interesse em
algo tão fútil.
Rony guiou Helena diretamente para o
belíssimo sofá, acomodando-a entre as almofadas
de veludo.
-Sente-se cansada? – sentou-se ao seu
lado, notando que estava um pouco pálida.
-Um pouco – ela admitiu – Sinto-me
cansada às vezes...
-É a gravidez – garantiu, beijando sua
mão, como um agrado por dividir com ele seu
segredo.
Alice ainda mantinha uma expressão
estranha e preocupada, John ajoelhou-se a sua
frente, tomando suas mãos entre as suas:
-Me conte o que a deixa tão apreensiva,
meu amor – ele pediu condoído com seu receio.
-Olhe para mim, John. Como poderei ser
dona de tanto luxo? Sou apenas uma roceira.
-É uma jovem simples, do interior.
Minha mãe também era assim, sabia? Meu pai
comprou-lhe vestidos, e a ensinou a se portar. E
foi um homem imensamente feliz ao se lado, ate o
último minuto de sua vida. Coisas matérias não
me importam, Alice.
Rony afastou o olhar, deixando-os
conversarem com liberdade, e olhou para a
mulher, que tinha os olhos fechados. Ele recostou-
a contra si, e Helena encostou a cabeça em seu
ombro, mantendo os braços em volta do braço
dele, sem nem notar.
-John – ele chamou com voz baixa, para
não sobressaltá-la – Deixe minha irmã respirar,
ela ficará bem. – ele sorriu para a irmã – veja, tem
sua primeira missão como dona dessa casa, Alice.
Peça a governanta que arrume um quarto para
Helena repousar enquanto saio e alugo uma casa
para nós. Preciso também avisar o Conde de nossa
chegada, e posso demorar algumas horas.
-Precisa encontrar o Sr.Loren e suplicar-
lhe o emprego de volta – John lembrou-o com um
sorriso debochado – Além disso, precisamos falar
com Demetrius sobre sua situação.
-John, por favor, não me deixe sozinha! –
Alice implorou, quando ele se levantou e olhou-a
do alto de sua altura impressionante.
-É a dona dessa casa, para acertar e errar.
– ele alertou-a esperando tranquilizá-la – lembre-
se disso, Alice.
-Sim, me lembrarei – ela disse obediente.
De seu lado, Rony acomodou Helena
contra as almofadas e levantou-se. Ajeitou seus
cabelos e suas pernas sobre o sofá antes de virar-
se para a irmã.
-Deixe-a descansar um pouco, e depois a
acorde. Essa posição não é muito confortável. E
lembre-se de dizer a ela onde fui.
-Está bem, irmão –disse tensa.
Os dois saíram, e Alice se viu sozinha.
Olhou em volta várias vezes, sentada,
tensa, e imóvel. Manteve os dois braços rentes ao
corpo em pânico sobre estragar ou quebrar alguma
coisa. Que ideia casar-se com um homem tão rico!
Afinal, o que ela entendia desse mundo
de glamour?
Nada! Era uma ignorante roceira!
-Sua casa é linda, Alice!
A empolgação de Helena a fez sentir-se
ainda pior. Helena tocava em tudo e mexia nas
estatuetas e nos quadros. Estava encantada com os
pintores famosos que apenas ouvira falar quando
o homem que a criara era vivo e lhe contava sobre
arte.
Notando o sofrimento de Alice, e
achando que era um absurdo, ergueu um pequeno
vaso, que tinha certeza não era de nenhum autor
famoso e jogou no chão com toda a força.
Alice gritou em pavor quando viu os
pedaços no chão.
-Helena! O que você fez? – apavorada,
ela parecia sem chão.
-Pegue. – estendeu outro vasinho – Jogue
você também!
-Enlouqueceu? Tudo nessa casa é
caríssimo! – disse tirando de suas mãos e
segurando como se fosse à coisa mais importante
do mundo.
-Vai me punir por ter quebrado uma
louça de sua casa? Irá me odiar, ou parar de falar
comigo por causa disso?
-É claro que não! – Alice finalmente
voltou a respirar, pois o susto parecia menor.
-Então, porque John deixaria de amá-la
por causa de algo tão pequeno?
Helena colocava o dedo na ferida. Alice
olhou para o pequeno vaso nas mãos e então olhou
para ela. Era verdade.
Tinha medo do que afinal? Sentindo-se
menos medrosa, jogou timidamente o bibelô no
chão. O barulho de algo caindo e estraçalhando
sobre o chão ecoou pelo amplo salão e Helena
sorriu diante de sua expressão menos sofrida.
Após dormir por uma hora, Helena
acordara e provara de um delicioso lanche da
tarde. Depois disso ficara muito tempo observando
as obras de arte, procurando um modo de tirar
Alice daquela sensação de auto-depreciação.
-Pensei ter ouvido barulho de algo
caindo... – A Sra.Macomber apareceu pela porta
olhando para as duas, em busca de respostas para
os objetos quebrados.
Helena olhou para Alice, pois afinal, ela
era a dona da casa.
-Foi um pequeno acidente – ela disse um
pouco insegura – Poderia providenciar a limpeza?
-Sim – ela sorriu gentil – Por sorte, são
peças de pouco valor.
-Creio que sim – Alice respondeu menos
tensa. -Helena! Que situação criou!
-Ora, você também quebrou um deles,não
se esqueça!
-Tenho medo de decepcionar John – ela
admitiu.
-É claro que vai decepcioná-lo. Assim
como ele irá desiludi-la em algum momento. Mas
isso não quer dizer que vão se separar. O amor é
assim.
-E o que você entende de amor, Helena?
Vive dizendo que odeia meu irmão!
-Não o odeio o tempo todo – ela admitiu,
maliciosa.
-Eles vão demorar a voltar – Alice disse
sentida – Rony monopoliza toda atenção de John!
-Não fale mal do seu irmão, esta se
hospedando em uma casa alugada, apenas para
não atrapalhá-los! – defendeu-o, sem saber de
onde saíra essa defesa ardorosa.
-Porque não procura o Conde? Sei que
ficaria feliz em recebê-la em sua casa!
-Tão feliz que Rony teme que não me
deixe ir embora. – ela sorriu – Rony é muito
possessivo.
-Engraçado como não ouço rancor em
sua voz ao falar do meu irmão. Antigamente,
falava dele com tanto desprezo – Alice provocou.
-Porque não me ajuda a me recolher, em
vez de ficar me provocando? – Helena mudou
rapidamente de assunto – me sinto tão cansada...
-Ah,como gostaria de estar grávida
também! – Alice lamentou.
-Nesse momento é melhor que não esteja.
Tem muito que aprender e está diante de um
mundo novo. Haverá muito tempo para pensar em
filhos. Afinal, o meu não foi planejado!
-Em poucos meses estará gorda e feia.
Será minha vingança por ter engravidado antes de
mim – Alice brincou.
-Mas quando voltar ao meu corpo de
sempre, ainda terei um bebê –ela respondeu para
irritá-la, divertindo-se com sua expressão
emburrada – Não tem curiosidade de ver o quarto
que dividirá com John?
-Tenho – ela confessou – Acha que o
amor é diferente em um lugar assim? – perguntou
sentida.
-O que quer dizer?
-Fizemos amor na grama verde, na beira
do lago, e é a lembrança mais doce da minha vida.
Estivéssemos juntos no quarto do segundo andar
da sua casa. Um quarto simples, Helena. Uma
cama simples, sem exageros. Mas aqui, tudo é tão
bonito, tão caro, tão soberbo...será que John
espera que seja sofisticada, do modo que esse
ambiente é sofisticado?
-Seria louco se esperasse isso de você.
Um homem que se case com uma moça simples,
sabe o que está levando para casa. Porque não
relaxa, e aproveita o bom que a vida está lhe
oferecendo?
-Me sinto tão assustada – ela estava a
beira das lágrimas – Não sente medo?
-Não tanto quanto você. Quer dizer, não
ficarei aqui para sempre, não é meu destino. Não é
uma mudança de vida. Entendo seu receio, mas se
apegando a ele, estará destruíndo suas chances de
ser feliz.
-Pedirei a Sra.Macomber que prepare um
quarto para você. E também, pedirei que me
mostre onde dormirei. – ela disse esperando a
empregada retornar.
-Alice, não precisa esperar. A casa é sua.
Alertada para esse fato, ela e Helena
deram as mãos e foram atrás da governanta.
Capítulo 100 - Um novo mundo

A carruagem era aberta e permitia que


visse todo o esplendor da cidade. Helena tinha
esquecido completamente do medo, do susto, e
principalmente de Rony, ocupada em admirar
cada detalhe daquele local grandioso.
A carruagem precisou parar por um
momento, pois um grupo de mulheres passava
numa espécie de caravana, ou algo assim. Uma
jovem muito nova estendeu a ela um panfleto.
Admirada, Helena agradeceu e segurou em suas
mãos, olhando para aquelas pessoas tão
diferentes.
Vestiam-se com tanta cor, tanto viço!
Algumas jovens usavam casacos sobre os
vestidos, que lembravam uniformes, e olhando
para o panfleto com mais atenção, ela leu:
“Escola Preparatória Para Mulheres
Rosie Nell”
Preocupado, Rony tirou de suas mãos e
sussurrou:
-O juiz Demetrius não aprova que as
mulheres estudem, e precisamos de seu apoio.
Não se encante por essas feministas, Helena!
-Para ser franca, não é minha cabeça que
está a prêmio – disse revoltada, tomando de sua
mão o panfleto e olhando para aquelas simpáticas
mulheres.
Uma delas, um pouco mais velha, talvez
notando seu interesse e sua roupa mais simples e
interiorana, em contraste com a bela carruagem e
o homem bem vestido ao seu lado, achou
interessante se aproximar.
-Sou Roxanne Lammer! - ela disse após
um cumprimento – Gostaria de se juntar a nosso
grupo? Temos reuniões todas às quintas as noites,
no Rosie Nell, a partir das oito horas da noite.
Podemos...
-Não obrigada – Rony respondeu por ela
– Estamos apenas de passagem. Tenha uma boa
tarde, senhora.
Furiosa pelo seu atrevimento, Helena
precisou pedir ajuda aos céus para não arrancar
seus olhos em público! Que audácia!
Seus olhos mostraram o que a mulher
queria saber, seu furor interno, e antes de se
afastar ela tornou a dizer:
-Oito horas. Todas as quintas. No Rosie
Nell!
Helena acenou para a mulher, e a
carruagem voltou a se movimentar quando as
pessoas passaram e seguiram em direção aos
estabelecimentos.
-Não se atreva a responder por mim outra
vez – ela disse tentando não se exaltar – Sei meu
lugar e sei me comportar. Não preciso ser tratada
como uma criança em público!
-Não era minha intenção - ele desculpou-
se – Muitos desses grupos podem ser perigosos...
-Que perigo há em pobres mulheres
quererem aprender a ler e escrever? – perguntou
na defensiva.
-Não me referia aos grupos, mas aos
dissabores que despertam em outras pessoas.
Muitos estão jurados de vingança, porque existem
homens que acreditam que suas mulheres terem
opiniões próprias pode danificar seus pacíficos
casamentos – ele explicou pacientemente – Antes
da minha partida, um desses grupos foi atacado, e
uma jovem ferida mortalmente, sobrevivendo
graças a sua boa sorte. Não desejo que passe por
perigos desnecessários!
-Entendo – disse, fechando a expressão
por ele estar certo.
Rony analisou-a e sentiu-se culpado por
agir de um modo tão dominante. Tudo que não
desejava era anular sua espontaneidade tão rara.
-Prometo me informar sobre esse grupo, e
se tiver boa fama, poderia acompanhá-la a uma
dessas reuniões. O que acha? – sugeriu, apenas
para vê-la sorrir.
Surpresa, Helena olhou para ele sem
entender.
-Diz isso para me acalmar e para me
ludibriar. Assim que eu esquecer o assunto,
também o fará – acusou.
Rony afastou o olhar, pois ela acertara em
cheio.
-Veja, aquela é nossa casa – mudou o
assunto, salvo pela aparição da casa que alugara.
Um pequeno sobrado se revelou diante
dos olhos de Helena. Estava localizado entre dois
outros sobrados maiores, e parecia um pouco mais
antigo que eles. Era pintado em amarelo, as
janelas se sobressaindo, pois ocupavam a maior
parte das paredes. Quem quer que tenha
construído aquela casa gostava de ar livre e sol, ou
não teria gostado de tantas aberturas!
Helena apreciou a cerca, o pequeno
jardim, e olhou para cima, imaginando que
haveria um sótão no segundo andar, pois sua mãe
costumava dizer que casas antigas tinham sótãos.
Entretidas em olhar tudo, desceu da
carruagem com ajuda de Rony e deixou que a
conduzisse em direção ao charmoso portão.
-É uma casa linda – ela disse encantada.
-É pequena e antiga, e com certeza não é
a melhor de Londres, mas ficaremos apenas dois
meses, e está mobiliada, também teremos ajuda de
uma empregada. Foi uma sorte achá-la!
-Sim, foi uma sorte. Podemos entrar? –
perguntou ansiosa.
-Sim, podemos.
Rony não estava gostando nada de seu
entusiasmo com Londres. Claro, desejava que
estivesse à vontade e feliz, mas esse encantamento
todo era perigoso vindo de Helena. Seus planos
eram muito simples: conseguir proteção do juiz
Demetrius e voltar para casa como um homem
livre.
De modo algum em seus planos,
encontrava-se a ideia de arrastar novamente
Helena para dentro de um trem, ainda mais com o
pai Conde, que poderia lhe mostrar todas as
maravilhas da cidade grande!
Estremecendo, ele abriu a porta e ela
entrou.
-O último dono dessa casa era uma
senhora viúva, com mais de oitenta anos, por isso
a decoração é tão conservadora e antiga – ele
explicou – O Sr.Lourenço não teve coragem de
mudar nada na decoração quando adquiriu essa
casa. O que acha? É do seu agrado?
Helena olhou para os móveis de madeira,
simples e caprichosos. Para as toalhas de crochê e
para os bibelôs de gesso e cristal. Era um pouco
exagerado, mas era lindo.
-Sim, é do meu agrado – concordou,
olhando para o chão, e decidindo silenciosamente
se livrar daqueles tapetes. Era de uma cor escura,
marrom, e a desagradou profundamente. Mas o
restante da casa era um primor.
-Temos algumas horas para nos
acomodar antes de recebermos o Sr.Lourenço. Ele
mora na casa ao lado, e fez questão de nos visitar.
Conhecerá sua filha, Luana.
-Uma filha? – ficou em alerta – Alguém
do seu passado novamente?
Sua ironia não passou despercebida.
Esperando não começarem outra briga se
aproximou e abraçou-a.
-Luana Lourenço é uma criatura peculiar.
Muito bem educada, não se preocupe. É noiva e
vive com o pai, pois a mãe é falecida. Poderão ser
amigas se controlar sua língua e não zombar da
jovem.
-E porque zombaria dela? – empurrou-o
achando que estava falando bem demais daquela
moça.
-Saberá quando a conhecer – riu para ela,
insistindo em abraçá-la.
Contrariada, rendeu-se ao seu abraço,
mantendo o rosto erguido em sua direção como
quem espera um beijo.
-Quer conhecer o quarto? – era uma
pergunta maliciosa.
Um longo suspiro escapou de seus lábios
ao negar com a cabeça.
-Quero conhecer a casa, e a empregada, e
preciso desesperadamente comer algo com açúcar.
-E eu? Onde fico na sua lista de
necessidades? – provocou, adorando ter momentos
como esse ao seu lado.
Desde que confessara seu amor,
amordaçada, Helena sentia-se quase livre das
amarras que a impediam de ser uma esposa
dedicada à apaixonada. Mas às vezes tinha suas
reservas, como agora.
Lutando contra a vontade de enlaçá-lo
pelo pescoço, colar os corpos e dizer o quanto o
desejava e amava, ela o afastou novamente.
-Receba as malas e mande Duram me
ajudar a desfazê-las. Essa deveria ser sua
prioridade! - Revidou, esperando que pudesse
entender que não era uma rejeição, era apenas sua
incapacidade de se entregar totalmente!
-Precisarei sair e buscar alimento. Aqui
não há armazéns. Devo voltar em uma hora. É
tempo suficiente para que se instale?
-Creio que sim...
Helena foi pega de surpresa por um beijo.
Um longo beijo.
Sorrindo puramente satisfeito, ele deixou-
a após esse beijo.
Sozinha, ela olhou em volta.
A vida em Londres era muito diferente,
mas não era assim tão desagradável...

Para total horror da empregada, Helena


tentava tirar os tapetes com a ajuda de Duran. A
moça era jovem, não deveria ter mais que catorze
anos, se chamava Anna, o que arrancara de
Helena um sentimento de carinho imediato ao
lembrar-se da irmã. Era muito suave e angelical,
com olhos amendoados e cabelos negros.
Parecia vivamente encantada com o
menino da roça que falava engraçado e morria de
vergonha de olhar para ela. Helena temeu ter
problemas mantendo os dois na mesma casa, mas
conhecia o senso de dever de Duran para com a
família, e teria uma boa conversa com ele assim
que ficassem a sós.
Anna ajudou-a a erguer uma das pontas
do pesado tapete, e entre risos enrolaram-no por
um bom pedaço, até descobrirem que as duas
outras pontas estavam pregadas ao chão, para que
antiga proprietária não tropeçasse por conta de sua
avançada idade e tivesse uma feia queda.
Desgostosa, ela esperou que a menina
voltasse com um martelo, e censurou Duran
quando ele disse que a ajudaria.
-Sua mãe me mata se tiver que voltar
com essa menina para casa, por sua causa! – ela
avisou entre dentes, notando o menino ficar todo
constrangido – As moças decentes não podem se
casar desse modo Duran. Respeite-a!
Ele não respondeu nada, mas estava tão
envergonhado quando a menina voltou que
parecia prestes a sumir pelo buraco que
encontraram no chão, embaixo do tapete.
Batidas na porta da frente fizeram Anna
se apressar enquanto arrumava o avental que
usava sobre o simples vestido, e arrumava os
cabelos negros em seu coque delicado.
-A Srta. Lourenço – Anna apresentou,
dando passagem para a jovem atrás de si.
Helena não entendia porque todos
pareciam ter tantas formalidades em Londres.
Mesuras e cumprimentos exagerados a todo
instante!
-Boa tarde. Sou Luana Lourenço! – a
jovem disse com entusiasmo.
Olhando para ela, Helena se perguntou o
que deveria dizer. Era loura, magra e da sua
altura. Tinha um corpo comum, mas o que
destacavam eram seus olhos azuis claros, que
pareciam sorrir. Tinha uma expressão sonhadora,
a qual assustava Helena, pois não sabia lidar com
pessoas sonhadoras.
-Boa tarde. Helena Johnson... Helena
Parker – corrigiu, apresentando-se um tanto
incerta sobre o que fazer.
-Meu pai mandou pedir desculpas por
ele, mas não pode vir. Oferece nosso respeito e
nosso desejo que sejam bem vindos! A casa é do
seu gosto? Soube que é recém casada! E que
espera um bebê! Posso ajudá-la com o enxoval?
Posso levá-la a casa de uma costureira
maravilhosa, mas acho que ela só faz roupas para
funerais... - ela pareceu se perder em sua própria
frase e então sorriu como se não fosse nada
demais.
-Estou tentando trocar o tapete – ela
respondeu, sem saber exatamente o que dizer. Era
como ver um ser de outro planeta diante de si.
Tão extrovertida. Tão confusa. Agora
notava sua roupa atípica. Usava um colete
masculino sobre o delicado vestido verde pistache.
Havia abotoado a peça e mantinha o relógio preso
ao bolso, como os homens costumavam fazer, mas
não era uma feminista. Era apenas descuidada e
precisava carregar um relógio consigo, ou sempre
perderia a hora de voltar para casa!
Não carregava bolsas, pois sempre as
perdia. Do mesmo modo que usava os longos
cabelos louros soltos, pois em sua cabeça, nenhum
coque durava muito tempo!
Seguiu contando esse fato a Helena que
ficou de pé diante dela, sem saber o que
responder. Se é que ela esperava uma resposta.
Igualmente de pé, Duran esperava olhando de
uma para a outra, enquanto a menina Anna
continha o riso.
-Seu marido sempre dizia coisas
engraçadas – por fim ela terminava seu monólogo
– Não achei que se casaria. Mas se achasse talvez
houvesse pedido a papai que pedisse minha mão
para ele. Mas isso foi antes de ser pedida por
Leonard! Você precisa de ajuda com o tapete?
Helena concordou com um movimento da
cabeça, achando que depois de vinte minutos de
monólogo ela não poderia mesmo lembrar-se de
seu comentário inicial.
Pela próxima hora teve ajuda para tirar
todos os tapetes da casa, que eram muitos, mas
seus ouvidos estavam prestes a explodirem.
Aquela jovem falava pelos cotovelos, joelhos e
orelhas.
Helena havia dito uma palavra ou duas
ao longo da tarde, mas havia tido muito tempo
para pensar, no tempo em que sua mente vagava
entre as frases intermináveis de Luana.
-Acho que me esqueci de dizer, mas
papai gostaria que jantassem conosco essa noite! –
ela disse ao recuperar o fôlego depois de
carregarem um pesado tapete enrolado até o
deposito, atrás da cozinha.
-Sinto muito, mas ainda tenho que
desfazer as malas e tirar o pó de toda a casa... –
tentou negar.
-Oh, mas ajudo você a desfazer as malas.
Sabe que sou perita nisso? Vivemos viajando!
Mostre-me onde estão as malas!
Helena sorriu o mais simpática que pode,
e enquanto ela subia as escadas a revelia de sua
vontade, virou-se para Anna pedindo que cuidasse
do pó e preparasse um lanche para elas, e deu
ordens expressas que Duran ficasse no jardim,
cuidando quando o patrão chegasse, e também
vendo o que poderia fazer com as flores que
estavam mal cuidadas.
Bem da verdade, queria tirá-lo de perto
da tentação que Anna representava. Não custava
afastar o mel do urso não é?
Pedindo paciências aos céus rumou para
o segundo andar.

Rony entrou em sua nova casa, sentindo


falta do ar do campo, do calor e do cheiro dos
animais. Impensável sentir-se assim, logo ele que
gostava tanto de Londres. Se fosse totalmente
sincero, admitiria que estava sentindo-se preso em
uma jaula, louco para tirar o casaco, desabotoar
parte da camisa, arregaçar as mangas e subir em
um cavalo para vistoriar o pasto a céu aberto!
Liberdade. Era disso que sentia falta!
Chamou por Helena duas vezes antes de
ser atendido. Ela correu pelo corredor e parou no
alto da escada, com expressão desesperada.
Desceu tão rápido que ele pensou em uma
desgraça.
-Pelo amor de Deus, não aguento mais! –
ela sussurrou.
Começando a se assustar, olhou para
cima, onde uma massa loura surgiu com seu
sempre estranho sorriso.
-Que bom que voltou! Meu pai nos
espera para o jantar! Cheguei a dizer a Helena que
com toda essa demora deveria ter sido atacado por
algum militar que esteja na cidade! Não seria o
primeiro! Todos dizem que eles estão por aí,
procurando briga, e como sempre foi esquentado e
desagradável, não admiraria se tirasse um deles do
sério! – desceu, falando sem parar – Se bem que
eles devem estar ocupados com...
Seguiu falando, mas Rony não prestou
atenção olhando para Helena e piscando.
-Desculpe – ele sussurrou – Não previa
isso.
Havia algo risonho nele, e suspirando
conformada ela apenas disse:
-Tirei os tapetes.
Capítulo 101 - A primeira rusga

A noite foi solitária.


Helena acordou sozinha na imensa cama
de colchão de penas. Porque será que tudo em
Londres era feito com penas? Travesseiros,
chapéus, colchões... Suas costas doíam, e seus pés
estavam inchados.
Isso não se comparava com a irritação
dentro dela. A três noites, Ronald Parker não
dormia em casa.
Entendera a primeira noite, ainda na casa
de John. Chegara muito tarde, junto a John depois
de muitas horas conversando com o tal juiz que os
ajudaria. Nada mais justo que pegar no sono em
uma poltrona e não se lembrar de subir e se deitar
ao lado de sua mulher! Na segunda noite, já na
casa deles, depois do enfadante e estranho jantar
junto à família Lourenço, composta apenas de pai
e filha, havia aparecido com uma desculpa sobre
precisar falar com urgência com alguém que
somente poderia atendê-lo à noite.
E o mesmo se repetira na noite seguinte.
Não que sentisse falta dele na cama, não mesmo.
A essa altura queria mais é que morresse e a
deixasse em paz! Aquele cretino brincava com
seus sentimentos! Achava que era tola para não
saber que estava metido em algum cabaré de
cortesãs!
Com raiva, afastou as cobertas e
levantou-se. Bocejou asperamente, achando
delicioso o arzinho frio da manhã. O sol brilhava
lá fora, indicando um longo dia ensolarado e
talvez, calorento.
Separava o que vestiria quando ouviu a
suave batidinha na porta.
-Entre, Anna!
Todas as manhãs a menina achava que
deveria vesti-la. Na primeira vez achara estranho e
quase morrera de rir, mas agora, estava achando
bem agradável ter ajuda para prender os cabelos e
abotoar o vestido.
-Bom dia, Sra.Parker. – ela entrou
sorrindo, resplandecendo como sempre.
Não importava o quanto pedisse, ela não
conseguia chamá-la pelo primeiro nome. Dizia
que eram muitos anos cuidando da casa de outras
senhoras, e tinha pegado o hábito de chamá-las
respeitosamente.
-Bom dia, Anna – sorriu-lhe agradecida
diante da bacia com água fresca.
-A Srta. Lourenço esteve aqui mais cedo,
disse que não poderia esperar que acordasse, pois
tinha uma aula no Rosie Nell. Mas viria mais
tarde. Deixou algumas roupas para a senhora.
-Roupas? – lavou o rosto e secava-o com
uma toalha.
-Sim, disse que notou que quase não tem
roupas apropriadas para Londres, e como ela não
usa as dela, por que nunca se lembra de usá-las,
achou que seria agradável emprestá-las. Devo
mandar de volta?
Helena ficou pensativa. Deveria declinar,
mas era uma oferta sincera. Rony se esquecera
dela e de que precisaria de roupas novas, então,
porque não aceitar a bondade de alguém que não
tinha malícia?
Luana era assustadora a primeira vista,
mas era também tranquilizadora a longo tempo.
Não era apegada a excesso de mesuras, ou de
cumprimentos tolos, muito menos falava
pomposamente.
-Não. Vou aceitar sua oferta. Anna, você
pode colocar uma panela no fogo com leite? Vou
fazer uma torta para presentear os Lourenço!
-A senhora sabe fazer tortas? – perguntou
surpresa.
-Sim, você não sabe?
-Não – disse decepcionada – Mas ajudo a
Sra.Lammer nos domingos a preparar as tortas da
casa de chás – disse orgulhosa de si mesma.
-Roxanne Lammer? – lembrou-se desse
nome e do panfleto que recebera - é dona de uma
casa de chás?
-Sim. A maior e mais bonita da cidade.
-Me conte sobre ela, e lhe ensinarei a
fazer tortas Anna! – brincou para ganhar seu
sorriso.
Anna seguiu lhe contando sobre a vida
dessa intrigante mulher, e Helena a incentivava a
continuar falando. Depois de vestida, Helena disse
a Anna:
-Desça e tranque as portas, Anna. Peça a
Duran para colocar algum móvel bem pesado
contra as portas da frente e dos fundos.
-Mas, Sra.Parker?
-Apenas faça o que eu pedi Anna –
sorriu-lhe.
Estar em Londres e ter admitido que se
casaria com ele em uma Igreja, e principalmente,
que não o repudiava, não a fazia ser outra pessoa,
e se Ronald Parker não sabia disso, ficaria
sabendo hoje!

O trinco girou, mas a porta não abriu.


Rony disse algo a John, e tirou a chave do bolso,
se perguntando se Helena haveria saído sem ele.
Tinha certeza que o trinco estava solto, mas a
porta não cedeu um centímetro sequer.
-Talvez tenha emperrado – John sugeriu,
exausto da noite insone.
-Talvez – ele disse desconfiado.
Os dois seguiram para os fundos da casa,
e o mesmo se repetiu. Voltando a porta da frente,
ele bateu com força por vários minutos, até que
Anna aparecesse numa das janelas do segundo
andar, ela olhou para baixo e desapareceu no
instante seguinte.
Achou que finalmente abriria a porta,
mas nada aconteceu. Olhou para a janela e gritou
a plenos pulmões que Anna abrisse a porta.
Novamente, alguém apareceu na janela.
Helena fitou a imagem do seu marido lá
embaixo olhando para ela com indagação.
-Helena! O que há de errado com a porta?
– ele gritou irritado, tentando forçá-la novamente.
-Não há nada de errado com a porta – ela
respondeu num tom que não enganava.
-Está me impedindo de entrar em casa? –
ele deduziu furioso.
-Nem ao menos cogitei que quisesse
entrar em sua casa! – ela ironizou – Porque não
volta para o lugar onde tem passado suas noites?
Com essas palavras, fechou a janela.
-Disse a ela onde estava passando a
noite? – John perguntou com cuidado, pois ele
parecia prestes a explodir de ira.
-É claro que não! Como contar a Helena
que a assassina de toda sua família fugiu e tentou
matar o Conde?
-Ao menos deveria ter inventado uma boa
desculpa. – ele apontou para a janela. – é melhor
ir até em casa para tomar o desjejum e pensar em
como vai resolver esse problema com Helena.
-Não. Em algum momento ela terá que
sair – disse petulante, sentando-se num degrau da
escadinha que desceu da porta em direção ao
jardim.
-Se é assim que vai ser, preciso ir. Sua
irmã é mais compreensiva, mesmo assim, sei que
está irritada com meus sumiços.
Despediu-se de John e observou-o partir
em sua carruagem.
Desde sua chegada a Londres, estivera
cheio de idéias sobre mostrar a cidade a Helena,
apresentá-la a amigos e conhecidos, resolver o
problema que os fizeram irem até ali.
Mas uma visita ao Conde o alertara da
situação que vivia. Atacado pela prisioneira, ele
convalescia de cama, e mantinha seus homens na
busca de sua ex-mulher. Como genro, tomara para
si a incumbência de ajudar a coordenar as buscas,
visto que o Conde era um homem solitário e não
tinha um homem de confiança desde que seu
secretário fora demitido por ter compactuado com
os planos de sua louca mulher. Não era, portanto,
um assunto que pudesse contar a Helena.
Furioso consigo mesmo por não ter
previsto que sua simples explicação sobre precisar
resolver um ‘negocio’ não seria suficiente para
tirar qualquer ideia errada de sua cabeça, esperou.
Uma hora teria que sair.

-Sra.Parker! Sra.Parker...! – Anna disse


com voz frágil – seu marido continua sentado no
mesmo lugar.
-Deixe-me ver – ela afastou a cortina e
espiou. A menina tinha razão.
Eram duas da tarde e Rony continuava
sentado no mesmo lugar.
E se ela estivesse errada? Coitado.
Mas e se estivesse certa? Soltou a cortina
e olhou para a empregada exasperada.
-Quero que lave o chão Anna – ela pediu
subitamente.
-Mas eu lavei ontem...
-Lave de novo – mandou – e quando
terminar traga a balde de água suja aqui em cima
para mim.
Talvez suspeitando de suas intenções, a
menina obedeceu.
Voltando a janela, Helena olhou para o
homem que continuava sentado. Ele parecia
irrequieto e furioso.
Cínico, queria ver se fosse ela a passar
três noites dormindo fora de casa!
Anna demorou uma meia hora para
terminar a limpeza. Quando subiu as escadas,
encontrou Helena no mesmo lugar, os braços
fortemente cruzados.
-Aqui está.
Helena abriu mais a janela e apanhou o
balde. Apoiou-o no encostou e virou-o sem dó ou
piedade.
Primeiro ouviu o gemido de surpresa e
então um grito furioso. Depois, afastando o balde,
curvou-se sobre a janela vendo o estrago.
Molhado pela água suja e fétida, Rony
havia levantado e olhava para cima, diretamente
para ela, com surpresa e incredulidade.
-Se não abrir essa porta eu juro que vou
arrombá-la! – ele gritou ao recobrar a fala.
Algumas poucas pessoas que passavam
pela rua, pararam para olhar o que se passava.
A única resposta de Helena foi fechar a
janela na sua cara, ignorando-o. Era óbvio que não
poderia mantê-lo preso na rua para sempre!
Aquela era sua casa, mesmo assim, sentia-se
reconfortada dando-lhe uma lição.
Talvez ela também fosse cínica, pois lá
no fundo sabia que Rony não estivera com outra
mulher. Era apegado demais a ela para isso. A
menos, claro, que estar novamente em Londres
houvesse extinguido com todo o amor e desejo que
sentia por ela.
Inquieta com essa possibilidade apanhou
um livro e sentou-se para ler numa poltrona ao
lado da cama. Anna arrumava as roupas num belo
baú que havia aos pés da cama, e ainda era
possível sentir o cheiro de pão quente recém tirado
do forno que empesteara toda a casa.
Humilhado, Rony levou um minuto para
digerir o torpor que o fazia suar de nervoso.
Aquela bruxa! Imundo pela água, ele saiu da
frente da casa. Não poderia fazer mais uma cena e
atrair atenção desnecessária. Estava em Londres
para se salvar e não arruinar sua vida de vez!
Furioso, observou a parte de trás da
cozinha onde havia uma janela aberta. Cheiro de
pão quente inundava todo o pequeno jardim dos
fundos, onde haviam ervas plantadas e algumas
flores mal cuidadas. Seu estômago quase traiu sua
sede de vingança!
Sentindo as entranhas se revirarem só de
pensar no momento em que poria suas mãos sobre
Helena e provavelmente estrangularia seu lindo
pescoçinho, ele subiu naquela pequena e estreita
janela, e pulou para dentro da cozinha, se
perguntando como não pensara nisso antes.
Subiu as escadas correndo, ansioso por
ouvir seus gritos de perdão.
Helena estava tão entretida com a leitura
que se esqueceu de Rony e de Anna. A menina
saiu do quarto e arregalou os olhos no meio da
escada ao ver o patrão subindo furioso e
encharcado, se encolheu para que passasse, com
receio pela patroa.
Helena estava entretida, mas parou de ler
por um instante, pois na trama a mocinha do
romance se perguntava como seria depois que seu
bebê nascesse. Helena se perguntou o mesmo.
Haveriam fraldas sujas, mamadeiras e
muito choro e noites em claro. Mas e o resto? Ela
sentiria esse amor incondicional que as mães
dizem sentir? Sabia apenas que sentia uma
sensação de proteção tão forte que a impedia de
fazer as atividades que sempre executava. Hoje
mesmo, deixara Anna amassar o pão apesar de
saber que era perfeitamente capaz disso.
Tinha receio de perder o bebê. E esse
receio cresceria e viraria esse amor incondicional a
que as mães se referem? Será? Será que Rony
sentia o mesmo que ela, ou seria indiferente como
muitos homens eram?
Pensando nisso deixou o livro no encosto
da cadeira e tocou sobre o ventre sentindo o
contorno de sua barriga. Estava cada dia mais
inchada, e se fosse sincera admitiria que aquele
inchaço era mais que isso.
Seu rosto havia arredondado um pouco,
assim como seus seios estavam mais cheios. O
que antes era apenas uma curva arredondada
abaixo do umbigo, agora era uma dilatação visível
quando despia as roupas.
Ficou acariciando seu bebê, esperando
que ele pudesse sentir o bem estar que a mantinha
naquele estado de pura elevação ao pensar que
seria mãe.
Rony irrompeu no quarto com a
velocidade e a brutalidade de um homem furioso.
Pretendia gritar com Helena até que ela
entendesse a repercussão de seus atos, fazendo-a
engolir aquele seu maldito orgulho. Mas parou ao
vê-la tão calma, serena e dedicada ao filho.
A fera dentro de si se acalmou vendo-a
acariciar o bebê em sua barriga.
Quando o notou Helena ficou com a
respiração suspensa.
Era hora da briga e da discussão, mas ele
não disse nada. Não gritou e não brigou.
-O Conde me pediu ajuda. Seu secretário
foi demitido e o Conde esta convalescendo. Como
genro, pediu que o ajudasse. Não quis preocupá-
la. – ele disse sem saber por que estava se
desculpando com a mulher que o trancara do lado
de fora de casa e tivera a audácia de jogar água
suja sobre ele.
-O Conde está bem? – havia uma ruga de
preocupação em sua testa.
-Sim, foi apenas uma queda da escada.
Nada demais. É um homem muito rico, tem
muitos cuidados. Agora está melhor e pode
receber visitas.
Era estúpido ficar ali a sua frente,
ignorando o próprio estado.
Helena levantou-se um pouco insegura e
limpou a garganta antes de dizer:
-Vou preparar seu banho.
Quando ela tencionou passar por ele,
como se nada houvesse acontecido, Rony segurou
seu braço. Helena ficou exatamente ao seu lado,
no sentido contrário, olhando diretamente para
seus olhos azuis. Havia rancor ali.
-Espera sair dessa situação intacta? - ele
perguntou rouco, pois ela estava tão perfumada e
pueril, que o fez arder de desejo.
-Não... Por isso pretendo lhe dar banho.
Não ousou retê-la mais tempo. Soltou-a
imediatamente, não era uma rejeição, mas sim, em
um mudo incentivo para que não demorasse a
preparar esse banho. Helena desceu as escadas
com as pernas bambas, e na cozinha a pálida
Anna a esperava.
-Prepare água para o banho de Rony – ela
disse com voz tensa.
Soltou o ar que prendera na ânsia de fugir
de uma briga. Uma das mãos pressionou o próprio
estômago, sentindo o ar escapar enquanto ela ria.
Bem, dessa vez escapara. Das próximas vezes, era
melhor perguntar antes de agir!
Capítulo 102 - Caramujo

Anna corava a cada balde de água quente


que trazia ao quarto.
Rony havia tirado a camisa encharcada e
os sapatos, respeitando a presença da menina,
manteve o resto das roupas. Calada, do outro lado
do quarto, Helena esperava que a banheira
estivesse cheia.
Completamente sem jeito, olhando para o
patrão com olhos apreciativos vez ou outra, a
pequena Anna deixou-os, fechando a porta.
-Tranque – disse Rony, sem muita
vontade de conversar com ela depois do indigesto
banho de água suja.
-Porque não me contou sobre meu...
Sobre o Conde? – era estranho chamá-lo de pai,
embora a palavra estivesse em seus lábios mais
vezes do que poderia admitir.
Rony tirou a calça enquanto observava-a
trancar a porta, preparar a água com sais e separar
as toalhas. Vestia um vestido perolado, quase
branco, com decote quadrado com um corte
moderno e sofisticado, embora não fosse da alta
costura. Era relativamente simples.
-De onde veio esse vestido? – o ciúme
subiu a cabaça – Mandei que não saísse na minha
ausência!
-Já disse mil vezes que não acato suas
ordens! - ela rebelou-se, tentando conter a fúria,
pois prometera a si mesma que pequenas coisas
não a incomodariam mais, não enquanto estivesse
grávida e provavelmente depois, quando nascesse
o bebê teria que se controlar também, para que a
criança não fosse criada em um ambiente hostil!
-Quem lhe deu esse vestido? – não era
uma simples pergunta.
-Acha que aceito vestidos de homens? - a
pergunta era muito simples – Acredita que em três
dias em Londres, minha beleza estonteante faria
os homens jogarem vestidos pela minha janela? –
carregou na ironia – Está me confundindo com
alguma musa do amor, meu querido.
A despeito de sua ironia, Rony
respondeu:
-Para mim não me surpreenderia nem um
pouco se algum homem a estivesse cortejando
pelas minhas costas!
-Sou casada e estou grávida! Que homem
iria me querer? Além disso, não sou tão bela ou
prendada que...
-Diga agora onde conseguiu esse vestido!
– agarrou seu braço, fitando-a dentro dos olhos.
Helena estava surpresa. Visivelmente
surpresa.
-Luana Lourenço me emprestou. Disse
que não os usa, e é um alívio que alguém possa
usá-los antes que saia de moda. Satisfeito em
saber?
-Devolva-os – ele disse, erguendo uma
das mãos para acariciar seu rosto, um pouco
arrependido do arrombo de ciúmes - não
precisamos da caridade dos outros! Posso comprar
roupas para minha mulher!
-Ninguém disse o contrário. Luana é uma
moça diferente, ela não tem esses apegos sociais.
Para ela estou fazendo um favor em usar as roupas
que ganhou, mas não gosta de ter que vestir!
-Os Lovegoods devem estar pensando
que não posso sustentar minha própria família! –
ele se afastou sentindo o gosto da humilhação.
Helena não havia pensado por esse
prisma. Rony era um homem muito orgulhoso e
lutava para sobreviver, e não aceitava ser
escorraçado por outras pessoas. Por outro lado,
Helena não queria desfazer-se dos vestidos que lhe
caíram tão bem.
-Luana é uma boa amiga, a primeira que
conheço aqui em Londres. Não gostaria de magoá-
la por apenas algumas semanas de uso. Logo, não
me servirão mais.
Rony virou-se a procura de enganação e
encontrou.
-Está bem, gostei dos vestidos – admitiu
irritando-se profundamente em ter que admitir
detalhes tão bobos – Pelo que vi nas revistas, por
aqui se usam vestidos exageradamente enfeitados,
e as roupas que Luana me emprestou são mais do
meu agrado e gosto. Mas se quer tanto que as
devolva...
-Não, não precisa devolve-las – disse
sentindo-se culpado – Faremos um almoço para
agradecer...
-Não é necessário, fiz uma torta e eles
adoraram. Infelizmente não sabe, pois não esteve
em casa nos últimos dois dias completos – foi
impossível não soar acusadora.
-Estive cuidando de assuntos pessoais do
seu pai. Ele não tinha ninguém de confiança para
fazê-lo!
-Imagino que não há mensageiros na casa
do Conde. Por isso não houve nenhuma
oportunidade de comunicação! – ironizou,
profundamente magoada com seu pouco caso para
com ela!
-Ficou preocupada com minha ausência?
– não era uma surpresa, mas era deliciosa a
sensação de sentir-se querido. Helena corou e
afastou a face, se virando para arrumar algumas
roupas.
-Não sei onde fica a casa de John e Alice,
muito menos tenho dinheiro para pagar um
cocheiro para me levar à casa do Conde. Acha que
não tinha razões para me preocupar em ser
abandonada sozinha em uma cidade que não
conheço?
-Não me darei ao trabalho de responder a
isso – ele disse tão irritado que se despiu e entrou
na água morna, fechando os olhos e pedindo a
Deus toda paciência do mundo. Apoiou os braços
nas beiradas da banheira, deixando-se relaxar
depois de dois dias completos dentro de uma
carruagem procurando por aquela desvairada que
ousara tentar matar o Conde.
Estava moído de cansaço, mas não podia
reclamar ou Helena perguntaria as razões. Afinal,
cuidar de negócios financeiros não era tão
cansativo assim! Devia supor que ao menos
dormiria algumas horas na casa do Conde, fato
que não ocorrera!
Helena fitou o homem que repousava. Se
fosse cega, poderia fingir não notar as olheiras e
os vincos de preocupação em sua testa. Mas não
era, e ainda por cima insistia em sentir aquela
preocupação exagerada com sua saúde!
Parte da raiva havia ido embora, e ela se
pegou despindo o vestido e se aproximando da
banheira. Com a camisa diáfana, mesmo molhada,
não seria tão trabalhoso secar quando um vestido
de tantas camadas de tecido!
Na fazenda, bastavam uma hora sob o sol
escaldante e as roupas estavam secas, mas
naquele clima mais ameno, era um milagre secar
as roupas, pois Londres era uma cidade muito
úmida, mesmo no verão.
Ajoelhou-se no chão e apanhou a
esponja, ensaboando-a e molhando na água morna
antes de começar a esfregar o braço direito.
Ele não abriu os olhos, mas resmungou
algo como um gemido de apreciação.
Helena não era boba para se deixar
enganar por suas mentiras. Eram mentiras de boas
intenções, mesmo assim mentiras. Ele estava
muito cansado, tenso e sujo, a despeito da água
mal cheirosa de antes, para ter estado cuidando
das finanças do Conde. Alguma coisa mais séria
acontecera, e por mais que odiasse ficar de fora de
uma situação, preferia não saber.
-Rony... – ela falou baixinho, e ele não
respondeu, mas sabia pelo ritmo de sua respiração
que estava acordado – Eu não quero saber a
verdade do que está acontecendo. Não agora.
Depois que o bebê nascer, me conte. Porém, não
saber os detalhes, não quer dizer que precisa
mentir para mim...
Sem respostas, seguiu esfregando a pele
dos ombros, com atenção redobrada para o
pescoço. Não era a primeira vez que o banhava,
fizera isso quando estivera convalescendo, mas era
a primeira vez que fazia isso sem seu total
interesse e atenção.
Talvez estivesse certa, e estar em Londres
novamente fizera-o esquecer de seu desejo por ela.
A espuma se espalhou pelo peito amplo,
e ela suspirou rodando a esponja pelos mamilos
masculinos, sentindo a incontrolável vontade de
usar as mãos. Para que? Ele não estava
interessado mesmo!
Confusa por essa súbita constatação de
ser descartável para Rony continuou. Esfregou sua
barriga, suas coxas. Languidamente, ele esticou as
pernas na banheira, permitindo que ensaboasse
seus pés que estavam sobre a borda por ele ser
alto demais.
Pronta para admitir que seu marido não a
queria mais, voltou a ensaboar sobre a barriga,
com muito cuidado, pois deixara por último
limpar sobre a ferida cicatrizada.
Quem olhasse diria ser apenas uma ferida
pequena cicatrizando, mas ela sabia que era mais
que isso, e com muito cuidado juntou água nas
mãos nuas e jogou cautelosamente sobre ela,
usando os dedos para ensaboar sobre a pele nova
que cobria o que antes fora à entrada de uma bala.
Pensou ter ouvido um resmungo vindo de
Rony, mas era apenas o barulho da água que
derramava sobre aquela barriga bem feita.
Conteve um suspiro, quando apanhou
novamente nas mãos a bendita esponja decidida a
acabar logo com isso.
Era delicioso tocá-lo e vê-lo nu, mas
saber que não lhe despertava reação alguma era
angustiante.
Seguindo, ensaboou suas partes íntimas
cuidadosamente, erguendo os olhos e esperando
vê-lo prestar atenção a isso. Nada. Deveria saber,
pois continuava placidamente amolecido em seu
ninho de pelos ruivos.
Grande coisa!
Irritada, jogou a maldita esponja dentro
da água e apanhou água nas mãos, jogando sobre
sua cabeça ruiva. Ele abriu os olhos, assustado,
pois estivera num gostoso cochilo, e olhou para
ela assustado, até entender que estava lavando
seus cabelos.
Havia fechados os olhos para descansar
um segundo, e quando ela começara a massagear
sua pele com tanta delicadeza, fora inevitável ao
seu corpo exausto apagar completamente.
Irritadíssima, ela esfregou sabão nas mãos e então,
em seus cabelos, fazendo-o achar que poderia
arrancá-los se pusesse apenas, mais um pouco de
pressão.
Terminado com aquela tarefa que para
ela era penosa, após ser rejeitada, enxaguou os
cabelos, quase o matando afogado ao empurrar
sua cabeça para dentro da banheira com força.
-Está limpo – resmungou levantando-se e
estendo-lhe uma toalha.
No instante em que ele segurou o tecido
felpudo, ela se afastou, batendo uma gaveta ao
tirar suas roupas limpas de dentro dela. Roupas
impecavelmente dobradas, e cuidadosamente
arrumadas para seu conforto.
Conforto que ele aparentemente nem se
importava em notar!
-Precisa de mais alguma coisa?
Rony notou sua secura e raiva, mesmo
assim, saiu do banho, secando-se sem entender o
que fizera.
Até mesmo perdoara Helena pela desfeita
de há pouco tempo atrás!
-Sinto cheiro de pão quente. – ele disse
sorrindo para ver se ela amolecia um pouco a
expressão.
-Vou pedir a Anna que prepare um café
para você – ela disse seca.
-Anna? Não pode preparar meu café? -
ele estranhou.
-Não – disse séria.
-Mas eu quero que você prepare meu
café! Gosto do modo como cozinha para mim!
-Não faço mais trabalhos pesados. Para
ser franca, não faça mais nenhum tipo de trabalho.
Não até o bebê nascer. – avisou, sentindo uma
pontinha de vingança na própria voz.
-Não pode ao menos preparar o café?
Gosto do modo como faz o café. Do gosto que o
seu café tem. – pediu, enrolando a toalha na
cintura e se aproximando.
-Talvez não deva tomar café. Tantas
noites acordado, será melhor um leito morno, para
que possa dormir calmamente.
Aquele velho e conhecido olhar de
mágoa, rancor e ironia estavam de volta,
culpando-o de algo que não fazia a mínima ideia
do que era! E pelo visto, Helena não lhe contaria!
-Pode ao menos separar minhas calças? –
pediu humilde, sentando na beira da cama,
cansado – Estou cansado. Talvez tenha razão, e
precise dormir um pouco.
-Porque não faz isso? – sugeriu
falsamente preocupada com ele.
Cínico. Mal chegara a Londres e
esquecera-se dela!
Lembrando-se de suas palavras sempre
carinhosas, insistindo em dobrar sua vontade e lhe
fazer amor, Helena sentiu que seus olhos ficavam
úmidos. Para que fazê-la acreditar que era
especial, se mal chegara a Londres e esquivava
dela?
Para que?
-Helena, venha cá – ele pediu ao notar
que ela estava magoada por alguma razão que não
eram as noites passadas fora. Lembrava-se de suas
palavras, ainda no banho, pedindo que não a
sobrecarregasse com informações que lhe
fizessem mal nesse momento.
-Não. Estou com raiva de você. – foi
sincera. – Pedirei a Anna que traga leite e pão.
Rony deixou-a sair sem saber o que dizer.
Talvez ela esperasse que a levasse para passear e
mostrasse a cidade. Mas Rony não sentia vontade
de exibi-la a outros olhares, muito menos queria
que se encantasse com aquela cidade!
Para ser franco, pretendia manter Helena
trancada em casa o maior número possível de
horas!
Somente assim garantiria sua
colaboração quando voltassem.
Estava ficando muito preocupado.
Helena não lamentara de saudade uma
única vez. Não falara nos pais, na irmã, na
fazenda, em Juanita, nos meninos de Juanita...
Não lamentara uma única vez! E para ser franco,
parecia contente demais cuidando daquela casa!
Era só o que lhe faltava!
Perder Helena para a cidade de Londres!
Desconsolado, jogou a toalha longe e
deixou-se cair contra o colchão, fechando os olhos
para pensar melhor.
Em poucos minutos, dormia
profundamente.
Pouco tempo depois, quando Anna voltou
correndo do quarto, com a bandeja e as mãos
tremulas, Helena perguntou o que se passara, mas
ela não dissera nada, apenas deixara a bandeja
sobre a mesa e saíra correndo, corada e
gaguejante.
Aflita, subiu e entrou no quarto. Rony
dormia esplendorosamente nu sobre a cama.
Pobre Anna, era inocente demais para ver um
homem nu!
Ela também já fora assim, até ser
deflorada por esse homem!
Sem conter a vontade de tocá-lo se
aproximou, dizendo a si mesma que apenas o
cobriria e sairia, deixando-o dormir. Mas não foi o
que fez. Ficou de pé, correndo os olhos por cada
curva, cada relevo, cada pedacinho daquele corpo
masculino, com atenção redobrada os seus lábios,
as mãos e, sobretudo ao seu falo, repousante e
inerte.
Sentiu a boca cheia de água, e precisou se
conter para não tirar as roupas e deitar-se ao seu
lado, fazendo-lhe amor com a boca e as mãos, e
todo o corpo feminino!
Inocente a paixão que despertava, Rony
virou de lado, e Helena pensou em como deveria
ser agradável morder aquelas nádegas carnudas e
então, quem sabe... Assustada com o rumo dos
próprios pensamentos, deu um passo para trás.
Não podia desejar um homem que se
tornara indiferente a ela! Era humilhante demais!
Sabia que com o tempo isso acontecia
com os casais, mas não esperava que acontecesse
tão cedo. Logo quando decidira aproveitar dessa
sensação e das incríveis emoções que lhe
despertava!
Sem saber que o que sentia nesse
momento era frustração sexual e, sobretudo
paixão, saiu do quarto e fechou a porta atrás de si.
Tinha mais o que fazer do que ficar lamentando
um marido que não a queria mais!
Capítulo 103 - Tecendo mágoas

O mau humor reinava na carruagem.


Depois de alugar uma carruagem, juntamente com
o cocheiro, Rony convidara Helena para ver o
Conde.
Haviam passado uma noite terrível, e as
marcas dessa noite estavam no rosto de ambos.
Cansado, havia dormido parte da tarde, e
quando se juntou a ela para o jantar, encontrou
uma Helena calada e emburrada. Séria e ranzinza.
Mais tarde, prontos para dormir, recebera
um não descarado ao encontrá-la deitada, imóvel e
fingindo dormir.
Frustrado, decidiu não obrigá-la a nada,
depois do que fizera no trem. Apenas deitou-se e
fingiu dormir também.
Se Helena não o queria mais, não havia
nada que pudesse fazer. Jamais voltaria a forçá-la!
Era manhã, e bem cedo, e cortavam
Londres num silêncio profundo de quem não quer
conversar, apesar de ter muito o que falar!
Duran havia ficado em casa, apesar dos
esforços de Helena em convencê-lo a levá-lo com
eles.
-Deixe o menino aproveitar um pouco o
tempo, Helena. – ele dissera como justificativa
para não levá-lo.
-Sim, tenho certeza que ele aproveitará.
Mas saiba que será você que reparará o mal que
ele fizer!
Sem compreender exatamente o que ela
dizia, seguiu para a carruagem, apenas pelo prazer
de irritá-la, embora tenha ficado intrigado e
aborrecido com seu silêncio.
Ao seu lado, Helena torceu as mãos sobre
os joelhos, sentindo que as pessoas olhavam muito
para eles.
-Porque olham tanto para nós dois? – ela
perguntou, pois não podia mais suportar a
curiosidade e o incomodo.
-Lourenço – ele disse com um meio
sorriso – é um bom senhorio, mas é também
fofoqueiro. Londres inteira deve estar comentando
sobre a chegada da filha desconhecida do Conde
Edgar Françoar de Valença.
-E como sabem que sou eu? – sentiu-se
insegura.
-Sou amigo de John e já frequentei muito
as rodas sociais por causa disso. Se ele espalhou
que sou casado com essa filha misteriosa, então...
É óbvio que é você – esclareceu.
-Está querendo dizer que sou piada para
todos eles?
-Não, estou dizendo que é a novidade do
momento.
-Isso soa terrivelmente fútil – disse
mordaz.
-Soa e é fútil. Londres é fútil.
Helena manteve-se em silêncio por um
instante, enquanto a carruagem dobrava uma
esquina.
-Nunca fui uma pessoa fútil – achou
melhor esclarecer.
-Disso não há a menor dúvida – ele
suspirou.
Da próxima vez alugaria uma carruagem
fechada para que não se sentisse tão afetada. Mas
elas eram mais caras e precisava economizar, ou
teriam que recorrer ao Conde ou a John, coisa que
detestaria precisar fazer!
-Tenho pensando muito Helena, sobre
mantê-la em casa o maior tempo possível, longe
da agitação e dos olhares. O que me diz disso?
Helena poderia facilmente tê-lo jogado
para fora da carruagem em movimento. Rony
desejava prendê-la em casa, como um animal em
uma jaula?
-Sempre fui livre – ela disse em tom seco,
como vinha fazendo desde o do dia anterior.
-Uma senhora casada não tem liberdade
em Londres – ele reclamou, sabendo muito bem a
que se referia.
-Trouxe-me a Londres apenas para me
prender – afirmou, magoada – Espera que aceite
isso?
-Porque tem estado tão arredia desde
ontem? Eu lhe expliquei porque dormi fora! – não
suportou mais desconhecer suas razões.
-Essa viagem o transformou – ela disse
muito baixo, olhando para um dos lados da rua,
onde várias pessoas passavam.
Rony não soube a que se referia, mas
achou melhor não insistir e causar uma discussão
bem no centro de Londres, no meio de tantos
olhares famintos por escândalos de estação.
Todos os anos acontecia o mesmo.
Alguma debutante ou senhora casada se evolvia
em algum grande escândalo que embalaria os
falatórios de todos os salões de baile da cidade.
Alguns escândalos passariam rapidamente, outros
se arrastariam para o ano seguinte.
Uma filha bastarda do homem mais rico
e influente de Londres era um grande escândalo,
subjugado pela necessidade de tirar partido. Por
isso desejava proteger Helena. Protegê-la das
pessoas interesseiras. E principalmente, protegê-la
desse mundo de glamour que poderia macular seu
coração honesto e seu caráter forte e correto.
O cocheiro parou os cavalos em frente a
uma mansão que tirou o fôlego de Helena.
Afastada do centro, era divinamente bem
construída e desenhada. Não havia nada em sua
estrutura e fachada que pudesse recriminar.
-Essa é a residência oficial do Conde de
Valença – Rony disse contrariado, ajudando-a a
sair da carruagem. - uma das muitas que possui
em Londres e em vários outros países.
Nunca em sua vida pudera supor que um
dia o dinheiro, poder social e o luxo esfuziante
fossem lhe causar dor, medo e rejeição. Tinha
receio que Helena se apegasse aquele estilo de
vida e não houvesse lugar em sua vida para um
marido interesseiro e desagradável.
-O Conde sabe de nossa visita? – ela
perguntou ao ser guiada até a majestosa porta de
entrada.
-Sim, nos aguarda em sua sala pessoal –
ele disse, cumprimentando o mordomo com
desenvoltura e conduzindo-a para o amplo salão
de entrada.
Sem que notasse, Helena admirou seus
gestos e sua postura enquanto se dirigia ao
empregado, avisando de sua chegada e pedindo
que providenciasse o necessário para o conforto de
Helena.
Havia algo natural em Rony, que o fazia
agir com tanta propriedade num ambiente como
aquele.
-É por aqui – ele segurou sua mão para
lhe indicar o caminho.
-Espere, me deixe olhar essa sala – pediu
baixinho, admirada com as lindas esculturas e os
quadros nas paredes.
-Gosta de arte? – sorriu, vendo seu
encantamento.
-Não é lindo? – perguntou se referindo as
imagens pintadas com tanto talento.
-Sim, é muito lindo – respondeu, sem
tirar os olhos dela.
Sua expressão de deslumbramento a fazia
tão bonita que era quase incontrolável a vontade
de beijá-la no meio do amplo salão.
-O Conde nos espera – quebrou o
encanto, antes que fizesse algo que o
contradissesse bem no meio do salão da casa do
Conde.
Helena olhou para ele com tanta
decepção em seu olhar que o feriu.
Ela lutava para manter-se impassível,
sem lutar contra aquele sentimento que a
sufocava. Desejava quebrar algo na cabeça ruiva
para chamar sua atenção, ou gritar até furar seus
tímpanos, para que voltasse a olhar para ela, mas
não faria nada disso.
Pensou em seu filho e o seguiu, sentida
por não ter mais sua completa dedicação.
Londres lhe roubara Ronald.

O Conde estava de pé, em frente à lareira,


segurando-se em uma bengala de madeira nobre e
ouro. Vestia-se elegantemente, mas parecia um
pouco pálido. Sua expressão séria, e a sombra de
preocupação apagou-se de sua face no momento
em que viu o genro adentrar sua sala pessoal, onde
encontrava paz e sossego em meio a sua vida
atribulada de negócios e compromissos sociais.
A imagem do jovem sempre sorridente e
espirituoso era agradável, mas a imagem da jovem
atrás dele, fez seu velho coração se acelerar.
Usando um vestido rosa claro, em seda,
num corte delicado e cheio de babados, os cabelos
presos em um coque modesto, luvas de renda e
uma bolsinha presa no punho, Helena era a
imagem vívida de tudo que o fazia feliz. Sua filha.
Sua amada filha.
-Helena – ele disse saboreando o som, e
principalmente, saboreando o prazer de olhar em
seus olhos novamente – que alegria que esteja qui!
Estendeu uma das mãos para ela, e
Helena se aproximou, aceitando seu contato, e
aceitando sobretudo, que mantivesse sua mão
entre as suas por mais tempo que o necessário.
-Está linda, minha filha – analisou-a
atentamente – Nota-se meu neto! – disse surpreso,
com o suave relevo em sua cintura.
-Mesmo? - ficou surpresa, sorrindo
abertamente – Desculpe Conde, mas creio ser sua
vontade de vê-lo e não a realidade. As roupas não
permitem que veja o contorno ainda!
-Não me chame de Conde – ele pediu
emocionado, levando sua mão aos lábios – me
chame de pai. É o que sou, seu único pai.
-Fizemos uma ótima viagem até aqui –
ela começou a contar – Pensei em vê-lo antes,
mas... Ronald não quis – havia mágoa e rancor em
sua voz, e o Conde olhou para o genro antes de
responder:
-Não desejava que me visse de cama por
causa de um único tornozelo machucado! Perdoe
minha vontade de agradá-la!
-Ser meu pai faz de você alguém que
deseje ver num momento de dor – ela confessou,
sentindo os olhos úmidos. – Senti muito sua
partida!
-Não tanto quanto eu senti deixá-la – ele
deixou sua mão para acariciar seu rosto delicado.
– Agradeço ao seu marido por tê-la trazido a
Londres, mesmo que isso signifique que ele esteja
em perigo de ser preso – sorriu, numa grata
brincadeira que a fez sorrir.
-Acredito que não será a primeira vez e
nem a última que ele colocará a todos nos frente
uma situação dessas! O senhor deve saber, mas
ele é muito provocador. O mal do qual sofre, foi
causado por ele mesmo!
-Helena... – delicadamente Rony tentou
calar suas palavras ácidas.
-Cortesãs, jovens enganadas, pais
furiosos... Quem pode culpar alguém por querer
prendê-lo? Comete erros e deve ser punido! – era a
raiva de ontem que falava por ela.
-Deseja sua prisão? – perguntou o Conde.
Rony não era tolo para não saber o que de
verdade perguntava. Se houvesse o mínimo desejo
de livrar-se de um marido incomodo, o Conde não
se faria de rogado e se aproveitaria de sua situação
para afastar o mal que afligia sua única filha. Não
era um homem ruim, era apenas desesperado em
agradar alguém tão difícil de ser agradado.
Rony o compreendia, e esperou ansioso
pela resposta de Helena.
Ela soltou um profundo suspiro de
desconsolo antes de responder:
-E qual prisão poderia dar conta dele? –
ridicularizou – Por certo, mal teria tempo de
respirar aliviada antes que me aparecesse à porta,
mal vestido, mal alimentado, e aos berros atrás de
mim! Conformo-me com meu destino.
O Conde sorriu, adivinhando que por trás
de sua piada havia uma verdade de amor.
Se Rony fosse preso, se manteria ligada a
ele, mesmo na prisão. Era essa sua mensagem, e
Rony não pode compreender.
-Não encontrará outro homem que
suporte os afrontamentos de sua filha, Conde - ele
disse para esconder o mal estar que sentia e a
humilhação.
-Muito menos outro tão bom em contas e
leis – ele sugeriu, trocando um olhar cúmplice
com Rony, pois se referia as noites perdidas no
encalço de sua ex-mulher, Michelle de Valença.
-Sentem-se – o Conde lembrou-se das
boas educações, permitindo que Rony o apoiasse
pelo braço para cruzar a ampla sala e sentar-se em
um sofá luxuoso – e me contem, porque não está
morando comigo, com todo o conforto que posso
oferecer.
Helena olhou para Rony esperando que
ele respondesse.
-Se deixar Helena sem nada para fazer,
ela é capaz de enlouquecer o mais são dos
homens. Em nossa casa alugada, ao menos terá os
afazeres para se preocupar. – preferiu a
diplomacia, e não abrir seu coração revelando o
medo de perdê-la para a vida luxuosa que o Conde
poderia lhe oferecer.
-Compro-lhe uma adorável casa, filha. É
só me dar seu consentimento – ele disse ansioso
para agradá-la.
-Não será necessário – juntou toda sua
dignidade para negar – estou confortável onde
estou.
-Mesmo assim, não pode me negar o
gosto de lhe dar presentes. – ele pediu com uma
nota de humildade e talvez desespero na voz.
Nada parecia agradá-la o suficiente.
-Helena apreciará alguns vestidos novos,
apropriados para a cidade e uma carruagem a sua
disposição, preferencialmente fechada – Rony
decidiu por ela.
-Aparentemente meu marido não quer
pagar por meus vestidos – ela disse rancorosa –
Aceita livrar-se do infortúnio com muita
facilidade!
-Pelo contrário, deixo seu pai lhe dar um
presente, para que ele não se ofenda com seu
pouco caso e seu descaso com os sentimentos
alheios – ele alfinetou de volta – Estou
acostumado a ser insignificante para você, mas o
Conde ainda tem esperanças de ser importante em
sua vida.
Todo o rancor de ser ignorado estava em
sua voz, e Helena se perguntou o porquê disso.
Talvez estivesse tão arrependido daquele
casamento agora que estava em Londres, que além
de perder o desejo por ela, perdera também a
paciência.
-Me arrume outro marido meu pai, pois
esse não há de durar muito com a língua comprida
que tem – ela vociferou.
O Conde pareceu perder as palavras por
ser chamado de pai. Helena notou o erro, mas não
teceu comentários, assim como Rony que apenas
maneou a cabeça. Estava sobrando naquela
conversa entre pai e filha, e se fosse sincero,
estava sobrando na vida de Helena também.
A chegada do mordomo, com uma criada
trazendo uma bandeja acabou com o impasse.
Rony aceitou apenas o chá, pois confessava,
andava enjoado de uns tempos para cá. A comida
da casa do Conde era boa, assim como da menina
Anna, mas não era a mesma coisa que comer a
comida de Helena.
Era egoísmo seu, pois estava grávida e se
cuidando o máximo possível, mas se pegou
pensando que ao menos, podia assar um bolo para
ele. Um pequenino que fosse... Mas porque faria
isso por um homem que detestava?
-Seu marido está muito pensativo hoje –
o Conde sugestionou e ela não sorriu.
Séria, olhou para a própria xícara de chá
antes de responder.
-Sim.
Desconfortável não disse mais nada.
Um silêncio tenso se estabeleceu. Teria
se estendido por horas se dependesse de Helena e
Rony. Mas o Conde não deixaria nada interferir
em seu dia ao lado da filha.
-Amanhã cedo começo no meu antigo
trabalho – Rony explicou em determinado
momento.
-O Sr.Loren há muito tempo cuida de
alguns dos meus importantes negócios – o Conde
disse com um meio sorriso – pedirei a ele que o
designe para cuidar pessoalmente de alguns
trabalhos inacabados por meu secretário pessoal.
-Não será possível – ele alertou – Não se
ofenda, mas não quero ser insubstituível quando
for embora.
-Insubstituível? – o Conde pareceu
compreender, mas teve que ouvir para se
convencer.
-Não sou tolo Conde de Valença. Sou seu
genro. Helena sua única filha. Se demonstrar a
lealdade que espera de mim, me prenderá a você e
a sua fortuna através de ofertas irrecusáveis.
Tenho uma mulher e terei um filho, e acabarei
cedendo. Não será muito diferente do que
tentaram me fazer, e por causa disso estou aqui,
tentando recuperar minha liberdade.
-O que há com aquela fazenda para
prender a todos que amo? – o Conde perguntou
amargurado por essa verdade.
-A decisão de viver em Londres deve ser
nossa... Meu pai – Helena tomou partido, tocando
sobre a mão do Conde, que repousava em sua
porta, sobre a calça.
-Não posso ao menos ajudar? Oferecer
conforto, pelo pouco tempo que tenho ao lado da
minha filha? – pareceu desconsolado.
Helena acabou sorrindo, e Rony
estranhou seu sorriso. Vê-la sorrir para outra
pessoa, mesmo que fosse seu pai, sempre lhe
causava uma pontada de ciúmes.
-Se puder disponibilizar uma emprega
para ajudar no serviço, agradeceria. A menina que
me ajuda é muito nova, não deve trabalhar tanto.
E poderia conseguir uma escola para o menino de
Juanita? Veio conosco para me vigiar.
-Vigiar não, acompanhá-la na minha
ausência - Rony disse contrariado.
-Lhe conta tudo que faço! – recriminou.
-E o que esperava? – revidou. – Preciso ir
agora, antes que... - conteve a vontade de dizer
que precisava sair ante que arrebatá-la em seus
braços e calar suas ofensas com beijos ardentes e
de preferência, fazer isso sem a interferência das
roupas! – Venho buscá-la antes do jantar.
Era um aviso direto para que ela não
saísse sozinha.
Acompanhou-o com os olhos por toda
sala, até que saísse finalmente. O Conde
acompanhou seu olhar e a intensidade, até mesmo
quando ela baixou os olhos, olhando para a xícara
que estava em sua mão. Havia muita tristeza, e
não conseguia disfarçar.
-Está infeliz com seu casamento? – não
era propriamente uma pergunta.
-Achei que não – ela deixou escapar, sem
saber por que seus olhos estavam cheios de
lágrimas.
Sem saber por que não conseguia se
conter, pousou a delicada xícara de porcelana na
bandeja de prata e olhou para o pai.
-Ronald é outro homem em Londres.
-Porque diz isso? – o Conde demonstrou
toda sua preocupação, segurando suas mãos entre
as suas, sentindo como estavam geladas – Me
pareceu o mesmo jovem que conheci. O mesmo
temperamento, a mesma fibra.
-Sim... Mas estar em Londres... - não
sabia por que as palavras não paravam de sair de
sua boca -... Fez com que esquecesse de mim.
Pronto, verbalizara toda a dor dos últimos
dias.
O Conde observou aquele olhar de dor e
secou gentilmente uma lágrima que corria na face
de sua filha, pensando em como era bobo o
primeiro amor.
Com a certeza que palavras não
afastariam sua incerteza, abraçou-a, consolando
seu coração quebrado.
Helena deveria sentir-se envergonhada,
mas não estava. O choro guardado rompeu seu
autocontrole e ela derramou todas as lágrimas
guardadas dentro de si desde a tarde anterior,
quando nem mesmo seu toque íntimo tivera o
poder de atrair a atenção de Rony.
Capítulo 104 - Bem me quer, mal me quer

Rony não entraria naquele quarto por


nada no mundo. O som de vozes femininas era
infernal, e os risos demais para ele e sua irritação
crescente. Há poucos minutos, o Conde lhe
informara que Helena estava em um quarto, que
seria seu quarto sempre que o visitasse, e recebia
algumas jovens que cuidariam de providenciar um
toalete completo para ela.
Ele não ouvia a voz da mulher, muito
menos seu riso, e saber que não se divertia era um
alento. Andava pisando em ovos, tendo pesadelos
com o dia que Helena alegaria não querer mais
acompanhá-lo de volta, preferindo a vida de
Londres.
-Gosto desse tecido.
Ele ouviu sua voz um pouco irritada, e
então, escutou uma resposta que o fez conter a
respiração, sabendo que a jovem ouviria algo bem
desagradável a seguir:
-Querida, não pode usar vermelho. É
casada, jovem, e espera um filho. Essa cor é para
uma senhora, se fosse mais escuro, ou para uma
cortesã. Preferem que pensem que não tem
dignidade para escolher seus vestidos?
-Prefiro que pensem que sou capaz de
escolher o que gosto – ela respondeu azeda.
-Seu marido não aprovará que use tal cor!
– a moça insistiu.
Achando que Helena poderia fazer a
moça começar a chorar a qualquer momento,
bateu levemente na porta antes de entrar.
As vozes e os risos pararam. Rony
entrou, e o silêncio se manteve. Havia quatro
jovens que exibiam vestidos e tecidos, e outros
adornos.
-Minha esposa deve ser atendida em
todos os seus desejos – ele disse calmamente,
quase as hipnotizando com sua voz e sua postura
– se não é moda usar vermelho, passará a ser
daqui por diante, pois a filha do Conde pode usar
o que desejar, e todas as moças devem respeitar
sua vontade.
As moças engoliram seus comentários
ásperos e olharam para Helena com uma inveja
que ela não pode compreender. Sentada na cama,
com vários vestidos a sua volta, estava abatida e
cansada. A tarde toda nessa função de escolher
roupas havia acabado com seus nervos, sua
paciência e seu bem estar.
-Os melhores tons para sua pele são o
marrom, o bege e algo alaranjado. – uma delas
seguiu dizendo e mostrando as cores – deve usar
muitos babados no busto, para esconder a falta
deles e...
-Odeio essas cores – ela disse irritada –
quero branco e...
-Branco? Oh, querida! – a jovem riu tão
futilmente que arrepiou Rony. – com seu tom de
pele, irá parecer uma das escravas que trabalham
no mercado! É bom não realçar esse traço
desagradável...
-Não a nada de errado com minha cor.
Não sou pálida, só isso. Quero vermelho, verde,
amarelo e rosa. Gostei muito desse tom... – ela
respondeu separando os tecidos que desejava.
-Salmão – Rony disse de seu canto
esquecido por elas – Não se esqueça do lilás.
Gosto de vê-la usando lilás.
-E o que mais devo escolher? Penas? –
mostrou a ele um chapeuzinho adornado por
lindas penas.
-Não. São muito exageradas – sorriu,
entendendo seu joguinho. Não era provocação, era
apenas um modo de ser orientada sobre o que
deveria escolher, sem parecer ridícula diante da
sociedade, e também, não trair seus gostos –
prefira chapéus pequenos, que não escondam seus
cabelos. Presilhas simples, pois não quero que use
coques sofisticados, gosto de seus cabelos soltos –
ignorou o som indignado de uma das costureiras –
não compre sapatos desconfortáveis apenas pelos
enfeites. Não esta acostumada a eles, acabará com
bolhas e calos.
-Uma senhora deve usar espartilho – a
jovem interrompeu, querendo se fazer notar – Um
bom espartilho para lhe moldar a silhueta...
-Estou grávida, não posso usar isso – ela
olhou com verdadeiro horror para a peça que
lembrava um instrumento de tortura – Além disso,
não quero babados nos vestidos. Quero modelos
simples, sem exageros.
-Mas o modelo que esta usando é muito
simples! – uma das costureiras disse em pânico –
Próprio para uma filha de pastor ou talvez, de um
professor. Não a filha de um Conde!
-Porque as senhoritas não deixam os
tecidos e os vestidos, Helena escolherá com calma
em outra oportunidade. Está cansada – ele disse se
erguendo de seu posto de observador para salvá-la
desse momento sufocante.
-Não é preciso. Elas já sabem do meu
gosto. – Helena segurou uma capa de veludo entre
os dedos – Devo ficar com essa capa esposo?
Havia em seus olhos um mudo pedido de
socorro.
-Sim, e deve ficar com mais duas capas, e
alguns desses xales – ele orientou, pois era
conhecedor das roupas femininas, pois sempre
admirara profundamente o bom gosto de uma
mulher bem vestida. – meias quentes, e alguns
guarda-chuvas. Não é necessário que compre
maquiagens – ele apontou a delicada caixa com
amostras de maquiagens – Gosto de sua pele
como é, e não quero que a estrague sua expressão
facial natural. Mas não me importo se quiser
escolher alguns perfumes.
-Preciso de algo suave. Sinto enjoo com
os perfumes que me trouxeram – contou a ele,
sentindo-se completamente sozinha naquelas
escolhas complicadas.
-Existem perfumarias maravilhosas que
podemos lhe mostrar Sra.Parker – uma das jovens,
ruiva e bonita, com o rosto redondo e malicioso,
levantou-se com uma camisola nas mãos,
aproximando de Rony – Será de seu agrado,
senhor?
Ele olhou para a jovem tão próxima, com
o olhar de inconfundível malícia, e tomou a peça
de suas mãos.
-Sim, é do meu agrado. – disse
devolvendo-a para as mãos da sorridente jovem.
Helena sentiu como se levasse um tapa.
Aquela jovem sorridente, bonita e bem cuidada
era do seu agrado. Agora que estava em Londres,
sentia desejo por aquela jovem, assim como
sentiria por tantas outras que cruzassem seu
caminho.
-Estou cansada, não quero escolher mais
nada – disse indiferente, por dentro ardendo de
ciúme.
-Ah, não pode deixar de olhar as luvas, as
meias, as fitas...
-Quero todas – ela elevou a voz para calar
os protestos das jovens – todas! Pronto. Podem ir
agora!
Seu tom soou como uma ordem, e as
quatro saíram rapidamente.
-Cuidado, Helena, até o fim da estação
será conhecida por sua arrogância – ele caçoou.
-Não era minha intenção ser arrogante.
Queria apenas ficar só – confessou humilde.
-Ficar só tem sido um luxo que não temos
tido ultimamente – Rony admitiu sentando-se ao
seu lado na cama, e olhando seu rosto corar –
Sinto falta da fazenda – confessou – você sente
falta da nossa vida na fazenda?
O orgulho a impediu de confessar que
não sentia tanta falta da fazenda como sentia dele.
De sua presença, de seus braços a sua volta, de
seus beijos... De seu simples olhar, procurando
por ela onde quer que estivesse!
-Sinto falta da calmaria – preferiu a
diplomacia a bater de frente com ele.
-Sinto falta dos momentos de sinceridade
de antes – ele contou, fazendo-a olhar para ele sem
compreender – Estar grávida e temerosa, não deve
impedi-la de dizer o que sente; fazer-me saber o
que a incomoda. Diga de uma vez por que está tão
irritada. Tínhamos uma trégua, estávamos nos
entendendo. – ele exigiu.
-Infelizmente temos noções diferentes de
entendimento – ela disse amarga.
-Mesmo? Posso saber exatamente qual
foi meu crime? – perguntou, começando a sentir
que explodiria a qualquer momento, tomaria
aquela pequena diabinha pelos ombros,
sacudindo-a até colocar juizo em sua linda
cabeçinha!
-Nenhum. – respondeu com falsa calma –
Ficaremos para o jantar? Meu pai mandou
preparar deliciosos pratos para nós... – mudou
drasticamente de assunto.
Seria humilhação demais admitir que
sentia falta dele. Mesmo estando ao seu lado!
-Jantaremos com o Conde – ele disse
depois de um longo olhar preocupado. – Ele
deseja abordar um assunto com você, mas achou
melhor que a preparasse primeiro – disse
seriamente, mas com algo de riso nos olhos – não
quero enganá-la, então, vou direto ao ponto. –
quando Helena estava quase sem ar de
curiosidade, temor e receio, disse – Haverá um
baile em sua homenagem em três dias.
-Um... Um o que? – sentiu que
empalidecia pensando a frente, nas implicações
desse fato.
-Baile – repetiu, estendendo uma das
mãos para segurá-la pela cintura, mesmo estando
sentada, parecia prestes a desmaiar.
-E porque haveria um baile em minha
homenagem? – segurou em seu braço, sem notar o
tom desamparado da própria voz.
-Helena, você é única sabia disso? –
sorriu ternamente – Não parece saber que é a
única filha do homem mais rico de Londres. O
poder e prestígio do Conde se estende por muitos
outros lugares, e apresentar sua filha é o mesmo
que apresentar sua sucessora. Um dia Helena,
tudo isso lhe pertencerá.
-Eu não quero nada! – um fulgor a
dominou – Não saberia o que fazer com tantos...
Recursos.
-Sempre haverá um administrador, não se
preocupe, além do mais, o Conde é jovem e tem
boa saúde, viverá muitos anos para que possam
recuperar o tempo perdido – afagou seu rosto,
notando sua surpresa com o carinho – Helena, me
diga se está infeliz.
-Não há razões para estar infeliz – ela
argumentou, se afastando dele. Levantou-se e
arrumou a saia, detestando ter que se afastar, mas
achando mais seguro do que seguir o impulso
quase incontrolável de agarrar-se ao seu pescoço e
implorar seus carinhos!
Era vergonhoso sentir-se dependente de
um homem. Um homem que poderia deixá-la a
qualquer momento, disse a si mesma, e que era
bem provável que estivesse prestar a fazer isso.
-Não quero participar de nenhum baile.
Sei que o Conde vai entender...
-Helena, não faça isso, não tire desse
homem o pouco de orgulho que ainda lhe sobrou
na vida.
Rony estava de frente a ela, em poucos
passos segurava seu rosto, acariciando-a com
tanta ternura que ela sentiu que todas as suas
aflições eram infundadas!
-Apresentá-la a sociedade é um gesto de
puro orgulho, pois mostrará ao mundo o quando a
deseja em sua vida, e o quanto lhe quer bem.
Negando-lhe esse capricho, estará rejeitando sua
afeição. Não acha que ele já sofreu muito tendo
perdido o grande amor de sua vida, sua mãe?
-Sou capaz de suportar um baile? –
perguntou a ele, na esperança de ser encorajada –
nunca fui a um baile. Jamais em minha vida estive
em algum tipo de festa. Não sei me portar, e não
sei como as outras pessoas devem se portar! –
argumentou, sentindo-se encurralada.
-Deve se portar com o mesmo ar nobre
que sempre ostentou. Apenas não deve se deixar
irritar e enfurecer por qualquer comentário, ou se
isso acontecer, não deve deixar que transpareça.
Deve sorrir o máximo possível, e deixar que as
pessoas a olhem até sanar sua curiosidade.
-Haverá comentários mordazes a meu
respeito – assumiu, envergonhada.
-Porque diz isso? – estranhou.
-Não tenho a beleza das outras jovens.
Nem o refinamento. Meu casamento é suspeito de
fraude, e estou grávida sem ter me casado com a
benção de Deus. Sou ilegítima, e estou sendo
apresentada a corte com anos de atraso! Não acha
o bastante para que falem de mim?
-Não se esqueça de acrescentar a sua lista
o fato horrível de ser casada com um
advogadozinho, pobre, ambicioso, que sempre
viveu a sombra de seu amigo rico. – sorriu para
acalmar seus medos – Não esqueça que também
sou alvo desses falatórios. Haverá outras fofocas
Helena, como o apressado casamento de John
Harrison com uma moça desconhecida,
coincidentemente minha irmã caçula. Dirão que
ele a desonrou e o forcei a se redimir, o que não é
de todo errado – piscou para ela – Alexia espalhou
por todos os salões antes de sua partida que iria
atrás de mim, e que deveria retratar sua honra,
muitos se perguntarão onde ela está, e se dei um
fim nela e na criança. Como vê, este ano
oferecemos um banquete para os abutres que
adoram uma boa maledicência!
-Como pode zombar de todas as tristezas
de nossa vida? - Perguntou entre um suspiro de
resignação.
-Zombo porque nada disso
verdadeiramente importa. Apenas eu sei o que se
passa em meu coração e o que está em minha
mente.
-E o que está em seu coração? –
perguntou antes que pudesse conter a própria
língua e o desejo de perguntar-lhe.
-Está em meu coração o desejo ardente
de... – olhou profundamente em seus olhos,
achando ter visto neles o mesmo desejo que havia
nele, e o mesmo ardor de ser correspondido -...
Voltar a provar de seus deliciosos doces. –
terminou num gracejo, beijando suas mãos, com a
carícia delicada de um homem que toma todo
cuidado possível para não subjugar sua mulher. –
Devemos descer e aproveitar da companhia do
Conde.
Helena sentiu-se rejeitada novamente.
-Preciso lavar o rosto e... - engoliu em
seco, sentindo-se frágil demais. Sua boca estava
seca e seus olhos úmidos. Detestava o modo como
vinha sentindo-se em relação a ele.
-Entendo, foram muitas horas de tortura –
ele apontou alguns vestidos sobre a cama,
sorrindo enquanto saia e fechava a porta atrás de
si.
Helena sentou-se na cama, alarmada
pelos sentimentos que a corroíam.
Aquele homem a fazia fraca, e detestava
sentir-se desse modo!
Tinha que ser forte! Não podia curvar-se
diante da apatia de ser deixada de lado pelo
homem que... Apreciava. A palavra amor estourou
dentro de sua cabeça, mas ela rejeitou, sentindo-se
mais forte ao recorrer à raiva e deixar o carinho de
lado.
Se Rony não a queria e preferia Londres e
as moças aprumadas e fúteis, ela estava pouco se
importando!
Capítulo 105 - Desencantos

Um dos novos vestidos havia chegado no


dia anterior, com todos os acessórios necessários
para que o vestisse e ostentasse uma
personalidade marcante diante da sociedade
Londrina.
Helena estava de pé em frente à cama,
olhando para aquele vestido como quem olha para
seu caixão.
Não deveria ser mal agradecida. Olhou
em volta, para o lindo quarto da casa que Rony
alugara para ambos há uma semana. A cama tinha
dossel e quatro colunas, que sustentavam um teto
de onde caia suavemente uma cortina
transparente, de uma renda tão fina que acariciava
seus dedos sempre que a tocava. Elas ficavam
presas durante o dia, para que o quarto ficasse
ainda mais bonito com as roupas de cama macias
e bem feitas à mostra.
Um guarda roupas no lado esquerdo,
onde também ficavam uma mesinha e duas
cadeiras, ricamente talhadas. Do lado direito do
quarto, próxima a ampla janela que dava para a
rua, havia uma cômoda, e uma grande poltrona
em veludo com grandes almofadas. O tapete no
chão era ricamente trabalhado, e o lustre no teto
encantador.
Um ambiente não tão luxuoso, porém
perfeito para a mulher que deveria vestir aquela
roupa dos sonhos. Uma mulher que
definitivamente não era ela!
Helena usava uma camada das muitas
que possuía a anágua que deveria usar embaixo do
vestido, e usava também um espartilho justo, mas
que não a sufocava. Era necessário para que o
vestido se mantivesse com perfeição no seu
corpo. Havia passado pó de arroz nas faces, para
suavizar sua expressão deprimida, e usava um
perfume muito sutil que Rony trouxera no dia
anterior.
Tinha cheiro de rosas, e por um segundo
ela sentiu a tristeza ir embora, ao lembrar-se
daquela tarde de insensatez quando o levara ao
bordel da cidade, e usara para ele uma rosa entre
os seios. Apegara-se a ideia dele ter pensado nisso
ao comprar aquele perfume. Ou quem sabe, se
lembrara dos momentos íntimos e delicados
divididos sobre a cama cheia de pétalas de rosas,
ainda no para Londres.
Sua esperança, no entanto durara bem
pouco, pois indiferente, havia saído pouco depois
de lhe dar o presente. Falava sobre trabalho e
estava nervoso.
Sr.Loren para cá... Sr.Loren para lá.
Detestava esse homem sem nunca o ter visto na
vida! Roubava cada minuto de atenção que Rony
poderia lhe dar!
Deus, lá estava ela novamente se
lamentando por ter perdido sua afeição! E acaso
não sabia desde sempre que isso aconteceria?
Rony não foi embora, nem a abandonou, porém,
mais exasperante era perdê-lo e ainda sim manter-
se ao seu lado, assistindo de camarote seu
interesse por Londres!
Quem sabe, quando voltassem para a
fazenda, estando de volta à vida do campo, ele
voltasse a se interessar por ela e pela vida dos
dois? Talvez...
-Não! – disse em voz alta, falando para
aquele estúpido vestido – Não aceitarei migalhas!
Quando voltassem para a fazenda,
esqueceria definitivamente daquele homem!
Usaria a estadia em Londres como um antídoto
para todos os sentimentos que tinha dentro de si.
Arrancaria Ronald de seu pensamento e do seu
coração, e se concentraria apenas no bebê que
carregava! Com o tempo, poderiam ser apenas
bons amigos.
Ou quem sabe, conhecidos com um filho
em comum. Que assim fosse! Nunca quisera esse
casamento! E agora, sem o argumento da fazenda,
lhe parecia cada dia mais inconcebível que
houvesse amarrado sua vida aquele biltre de olhos
sedutores!
Olhos que antes a seguiam onde quer que
estivesse, e que agora, fugiam cada vez que o
olhava.
Tocada por aquele desinteresse todo,
Helena olhou novamente desgostosa para aquele
maldito vestido. Era a prova incontestável do
quanto ele sentia falta de Londres!
Estava ansioso para vesti-la como as
outras moças, desfilar com ela como um troféu.
Ledo engano!
Ronald descobriria que tinha os dois pés
esquerdos para a dança, e que era incapaz de
seguir um ritmo sem tropeçar ou cair. Descobriria
amargamente que Alice tentara lhe ensinar a
dançar em várias ocasiões, e por fim, desistira
quando seus pés não tinham mais lugares para
pisões!
Descobriria também que costumava ficar
zonza com o cheiro da fumaça de charutos, e
frequentemente sentia ânsia de vômito, mesmo
antes da gravidez, em lugares abafados e com
muitas pessoas!
Descobriria que o detestava e mais que
isso, sentia repulsa de sua presença ao seu lado, e
mostraria para todos os convidados que Ronald
Parker não passava de um cachorrinho preso na
coleira de ouro que a filha do Conde representava!
Amargurada, seguiu apenas olhando para
o vestido que repousava placidamente, como se
risse do seu sofrimento!
-Que perca de tempo – disse para si
mesma – Com tantas propriedades onde poderia
andar a cavalo e respirar o ar puro, o Conde
resolve justamente me trancafiar em um salão de
baile! Só pode ter sido ideia de Ronald! Aposto
como está ansioso para dançar com suas antigas
amantes!
Fechou os olhos ao lembrar-se desse
pequeno detalhe.
Como distinguiria entre a multidão as
mulheres com quem ele tivera um relacionamento
íntimo?
Como saberia quais foram suas amantes?
Entre todas as mulheres bonitas, bem
nascidas, e principalmente educadas, e com todos
os traquejos que ele tanto aprecia, como poderia
saber com quais ele dormiu? Com quais fez amor
durante noites e noites, entregando seu prazer e
seu desejo tão frivolamente que a deixava com
uma sensação horrível na boca do estômago só de
pensar!
Sentindo aquele desespero da ignorância
apoderar-se dela, Helena apanhou a delicada
bolsinha que descansava sobre a cama e jogou na
parede com toda sua força. Por sorte errou o
grande espelho da linda penteadeira, mas acertou
um pequeno quadro que tremeu na parede, mas
não caiu.
-Senhora!
O som de surpresa de Anna que entrava
no quarto abafou o som que escapou de seus
lábios quando constatou o que fizera e o por que.
-Eu... Está na hora de arrumar-se,
Sra.Parker – ela disse fingido não notar o que se
passava.
Anna deixou uma bacia com água sobre a
mesinha e abaixou-se para apanhar a bolsa,
colocando sobre a cama como se nada fosse nada.
-Já fiz minha higiene – disse irritada.
Anna estava muito corada, e parecia
respirar rapidamente.
-Oh, desculpe senhora, esqueci
completamente!
Tão envergonhada que Helena perguntou-
se qual a razão de seu esquecimento, visto que a
menina era tão cuidadosa e prestativa, ainda mais
agora, que estava muitíssimo agradecida por ter
sido transformada em dama de companhia,
livrando-se assim do fardo de cuidar dos serviços
domésticos.
Era sem dúvidas uma honra ser dama de
companhia da filha do Conde de Valença, e
quando partissem, ela poderia ser contratada por
outra família num trabalho que muito a agradava.
-Esqueceu? – seus olhos procuraram
indícios, e ao notar o decote torto do vestido de
Anna e sua franja delicada, que sempre descia
bem penteada sobre sua testa, um tanto torta e mal
cuidada, deduziu o que se passava – Duran está na
sala com meu marido?
Ao som do nome do menino, ela saltou
de olhos arregalados.
-N-n-não sei... Eu... Não o vi... Posso
descer e procurar se a senhora q-quiser...
-Não será preciso – ela disse obtendo a
resposta que desejava diante de seu nervoso e
constrangimento. Suas bochechas tão vermelhas
que poderia ter um desmaio a qualquer momento
– para ser absolutamente franca, desejo que fique
o mais longe possível dele!
Anna era jovem, mas não era boba, e
trocou logo de assunto.
Helena sentou-se diante da penteadeira, e
deixou que Anna mostrasse vários penteados
possíveis.
-Gostaria de deixá-los soltos... – disse
sonhadora, mas diante do olhar de horror de Anna,
refletido no espelho, suspirou – Faça algo simples,
Anna. Detestarei passar a noite com o pescoço
reto, morrendo de medo de balançar a cabeça e
ficar descabelada!
Anna riu de sua frase, achando ser uma
graça. Helena deixou-a rir, e até sorriu, traindo
sua própria irritação.
Anna torceu seu cabelo num delicado
coque, com a presilha que Rony lhe dera a algum
tempo atrás, presa num dos lados de forma
charmosa e simples. Os brincos de perolas foram
postos nas orelhas com certo horror, pois embora
tivesse as orelhas furadas, não se lembrava de
alguma vez ter usado brincos tão pesados.
Claro, era apenas impressão sua, pois
eram delicadas pérolas. Penteada, restou-lhe a
única opção de calçar os sapatos delicados, de
cetim e fitas, e erguer os braços para que o vestido
fosse placidamente colocado e acomodado em seu
corpo.
Quando Anna começou a fechar os
inúmeros botões surgiu o primeiro problema. A
menina tentou disfarçar, mas Helena sentiu seus
discretos puxõeszinhos na altura da cintura.
-Ficou pequeno? – ela perguntou
chocada.
-A costureira deve ter se errado com o
tamanho – Anna tentou consolar.
-Duvido, aquela mulher me virou do
avesso para tirar todas as medidas! Deixe-me
conter o ar – ela puxou o ar, o bastante para
encolher a barriga e Anna abotoar os últimos dois
pequenos botões.
Quando soltou o ar, sentiu-se apertada,
mas nada desesperador.
-Estou engordando a cada dia –
confidenciou – Minha barriga deveria estar maior!
-A senhora vai arredondar no próximo
mês, minha mãe sempre dizia que moças
magrinhas engordam mais para o fim da gestação!
– ela tentou acalmar sua ânsia.
-Foi exatamente o que minha amiga
Juanita me disse – falou saudosamente,
lembrando-se de Juanita e seus filhos, sentia falta
das conversas e, sobretudo do pequeno Ruanzito.
-Não deve se apresar, a natureza sabe o
que faz – aconselhou ajudando-a a colocar as
longas luvas. Então o colar, que viera junto com o
vestido e os demais adornos. Era de ouro, um fio
muito fino, com uma pérola na ponta. Discreto e
de pouco valor, mas exatamente do seu gosto.
-Pronto – Anna entregou-lhe a bolsa – A
senhora está linda.
Helena olhou-se no espelho por longos
momentos. O vestido era vermelho, num tom que
mais lembrava um vinho forte. Tinha o decote
triangular que realçava o busto, agora mais
avolumado. Os ombros estavam desnudos, pois as
mangas eram delicados filetes que caiam abaixo
do ombro, num lindo drapeado. O corpete do
vestido realçava cada curva, moldando, mostrando
e escondendo. Sua saia era longa e rodada, e
quando andasse, haveria um forro de renda
vermelha graciosamente a mostra. Tão bonito era
o vestido, que precisou tocar sobre o broche que
adornava o decote. Simples, sem babados, pensou
satisfeita.
-Não é a cor da estação, muito menos o
recomendado para um baile de apresentação...
Mas está divino, Sra.Parker
-Acha que passarei vergonha?
-Outra mulher com menos beleza e
menos personalidade talvez sentisse desconforto,
mas se me permite dizer, combina perfeitamente
com seus olhos e com seu rosto, tão expressivo!
-Anna, no próximo baile a levarei, com o
intuito de me defender para todos que ousarem
zombar de mim! – brincou, agradecida por seu
elogio.
-É um elogio verdadeiro, Sra.Parker, e
tenho certeza que o Sr.Parker pensará o mesmo
quando a vir tão bonita!
O mesmo Sr.Parker que dormia na ponta
da cama para não encostar nela? Sentindo que a
amargura estava a um passo de regressar afastou-
a, arrumando um fio de cabelo imaginário.
Seria impossível saber quem eram as
amantes que Rony encontraria na festa, e também
seria impossível saber quais delas ainda eram
presentes em sua vida, e talvez, a causa de sua
rejeição.
Olhando-se no espelho duramente, jurou
a si mesma que só sossegaria quando John lhe
contasse a triste verdade sobre todas as amantes
que Rony tivera em Londres! Queria conhecer
cada uma delas, por nome e rosto!
Desse modo estaria preparada quando
cruzasse com essas mulheres e fosse hostilizada,
ou quem sabe, apanhada nas teias de uma falsa
amizade. Envenenada e preparada para o pior,
Helena seguiu Anna para a sala.

Rony esperava na sala, vestido e pronto


para se apresentar diante da sociedade de Londres
como o genro do Conde de Valença. Há pouco
tempo atrás seria um triunfo sobre seu nascimento
pobre. Mas hoje, era uma teia que o prendia a
cada respiração. O Conde não era um homem de
desistir facilmente, e pelo número de processos
sobre sua mesa com o nome do Conde, poderia
dizer que estava em franca execução de seu plano
de envolvê-lo com seus negócios.
Irritado, cruzou a perna sobre o joelho e
estendeu os braços em volta do encosto da cadeira
onde estava sentado. Fazia tempo que não vestia
um fraque elegante e cuidadosamente preparado.
Tentou lembrar-se dos últimos bailes que
frequentara em Londres, mas as lembranças eram
pálidas em relação às profundas lembranças dos
últimos meses de sua vida.
O corpo morno e nu de Helena se
contorcendo sob o seu era uma lembrança muito
mais poderosa! Continha a paixão para não
subjugá-la novamente, mas estava cada dia mais
difícil. A noite passada precisara dormir no canto
da cama, longe do calor do seu corpo, ou faria
uma bobagem!
Pensando em sua desgraça, de desejar e
não ser desejado, relembrando cada momento de
amor, cada palavra de afeto, cada imagem que
fizera seu coração acreditar que era correspondido,
Rony nem percebeu que não estava mais sozinho.
Helena sentiu vontade de sair correndo.
Estava de pé, esperando ser notada, mas os olhos
azuis estavam longe, pensativos, indo atrás de
alguma lembrança que o tornava insensível a sua
presença.
Antigamente, estaria ansioso esperando-
a. Agora... Ignorava sua presença tão facilmente
que sentiu vontade de chorar.
Perdido em seus pensamentos profundos
e dolorosamente eróticos, só percebeu sua
presença quando Anna pigarreou discretamente
para atrair seu olhar. Levantando-se em um salto,
ficou diante dela.
Levou um baque tão grande diante da
mulher que estava de pé, esperando alguma
reação sua, que não pode fazer nada, apenas olhar
e olhar. Vestida com um belo vestido vermelho,
penteada e cuidada, Helena estava linda, cativante
e sensual. Seus olhos demoraram muito tempo no
decote, contendo o impulso incontrolável de
cobrir-lhe os seios, para que homem algum
pudesse olhar para eles do modo que fazia. Helena
notou sua expressão contrariada e afastou o olhar.
O desagradava tão profundamente que não tinha
palavras para se expressar. Rony via diante de si
uma linda rosa sendo colhida no jardim da
inocência, desabrochando para o sol com tanta
entrega que seus olhos brilhavam, talvez de
expectativa. Não sabia ele que o brilho de seus
olhos, era o brilho das lágrimas.
Capítulo 106 - Dois lados da mesma moeda

A mansão Valença estava


impecavelmente iluminada. Os belos jardins
resplandeciam com luzes que afastavam a noite e
mostravam todo esplendor de uma obra
arquitetônica de gosto refinadíssimo.
Dentro, o hall de entrada estava
concorrido, com várias pessoas entrando e sendo
guiadas pelos empregados treinados e
competentes que os conduziam ao salão principal.
O salão principal estava tão
adoravelmente adornado que encantava muitos
dos visitantes. John conversava com o Conde, com
Alice ao seu lado, pois haviam chegado há algum
tempo. Tempo demais, pensava Alice. Tempo
demais para ser relegada a segundo plano.
As pessoas que passavam olhavam para
ela, como quem olha para uma empregadinha que
acompanha seu senhor.
A roupa cara não podia disfarçar a
insegurança. Muito menos o desgosto pelo modo
crítico com que era observada.
Sorrindo para John, na esperança que não
notasse sua infelicidade, correu o olhar sobre o
amplo salão, analisando as pessoas e as roupas
que usavam.
Seus olhos pousaram na mulher de
vermelho que entrava no salão e sentiu um
lampejo de ódio. John moveu a cabeça no mesmo
momento em que os outros presentes o fizeram, e
havia um brilho em seu olhar, um brilho
inconfundível.
Novamente Helena roubava a atenção de
John!
De braço com Rony, porém mais distante
que nunca, deixou que a guiasse entre os
convidados em direção ao Conde.
Seu coração batia acelerado, e talvez
houvesse tropeçado se não estivesse sendo
conduzia com tanta segurança por Rony. As
pessoas cravaram o olhar sobre ela, medindo e
avaliando até onde merecia interesse.
-Respire fundo – Rony disse em tom
baixo, sem mover um músculo para olhá-la – Olhe
para frente, como se não estivesse abalada ou
incomodada com os olhares. Desse modo,
pensarão que é confinante e segura, e se
desmotivarão a tentar ofendê-la ou desestabilizar.
– aconselhou.
-É desse modo que age? – retrucou,
olhando para ele, que olhava para frente sem olhar
para nenhum outro lado.
-Não preciso olhar para saber que me
chamam de ‘o pobretão Parker’ ou ‘o capacho do
Sr.Harrison. Se eles não souberem que me abala,
irão parar. Agora, se deixar que saibam como me
sinto, irão zombar e tornar minha estadia
insuportável.
-Como manter contatos desse modo não
é? – havia ironia em sua voz e Rony olhou para
ela, sem entender a causa.
-Sim, tem razão.
Era estranho o modo como Helena vinha
tratando-o. Tão diferente da mulher quase
amorosa que decidira lhe dar uma trégua. Tinha
certeza que a ofendera de algum modo, apenas não
sabia qual.
-Sinto-me uma atração de circo – ela
confessou quanto estavam no meio do salão – não
podemos andar mais rápido?
-Para que todos saibam que está
incomodada? Não. Esse baile é em sua
homenagem, não permitirei que seja humilhada de
qualquer modo, intencional ou não.
A veemência de suas palavras deixou-a
na dúvida sobre estar certa a cerca de seus
sentimentos. Havia horas que a excluía. Havia
outras que a fazia sentir-se protegida e amada. Era
uma contradição.
Não deveria estar surpresa, afinal,
Ronald Parker era a contradição em pessoa!
Olhando para aquele homem aprumado,
jovial e tão bonito que lhe arrancava suspiros,
Helena chegou a sorrir. Um pequeno sorriso que o
surpreendeu, e ao corresponder, sentiu que não
existia mais ninguém naquele salão além dos dois.
Orgulhoso, seguiu pelo longo salão
ostentando em seu braço sua joia mais preciosa,
que era Helena, e o filho que carregava em sua
barriga, ainda não perceptível.
Sentindo que talvez não fosse tão
verdadeira a ideia de rejeição, Helena se deixou
levar pelo salão sem notar mais os olhares, ou os
cochichos. Só tinha olhos para Rony.
-Que estranho par!
Ouviu o cochicho quando se
aproximaram do Conde.
-Veja como ela é... – a mulher se calou
quando Helena olhou geladamente em sua
direção.
Um olhar de fogo por trás de Rony, um
olhar que ele não veria e não poderia repreender...
-Helena – ele chamou sua atenção
sorrindo – Não assuste as pessoas.
É claro que ele notaria. Prestava atenção
em cada pequeno movimento seu, mesmo quando
parecia não estar olhando para ela, ou se
importando!
-Gostaria de ter minha arma comigo –
desabafou.
-Metade dessas pessoas também gostaria
de ter uma arma – ele olhou para ela com algo
terno no olhar – Somos o alvo, mas logo haverá
outros além de nós.
-Veja, aquela é sua irmã? - ela perguntou
ao avistar algo rosa e brilhante. – Deus! Como
está linda!
-Sim, está linda – não era um elogio para
a irmã propriamente, mas achou melhor se calar,
pois estavam se aproximando do seleto grupo em
volta do Conde, que se equilibrava de pé com
muito esforço.
John tinha os olhos fixos em Helena, e
isso o desagradou. Tirando seu braço do braço de
Helena, segurou-a pela mão, fazendo-a andar
elegantemente em direção ao Conde.
Entusiasmado, o Conde aceitou a mão
que Rony lhe entregava, e com um beijo sorriu-
lhe.
-Helena – apreciou dizer seu nome – Está
absolutamente linda essa noite minha filha.
-Obrigada – sentiu-se incapaz de dizer
muitas cosias. Estava tão tensa!
-Está rodeada de amigos, não se sinta
oprimida. – ele sugeriu.
Helena baixou os olhos sem saber como
se expressar.
Sentia falta de ar, o vestido muito
apertado. Sentia vertigem, muitas pessoas a sua
volta. Sentia dor nos pés de ficar em pé, seus pés
inchados da gravidez. Sentia uma sensação de
enjoo devido aos nervos.
Iria gritar, desmaiar ou morrer.
Dramática, sim. Aquela sensação era horrível!
-Helena precisa sentar-se – Alice disse ao
seu lado, irritadíssima.
John apressou-se em apontar um local
calmo, onde poderiam sentar e se refrescar. Helena
notou o olhar de Alice, e sentou-se ao seu lado,
entendendo como se sentia.
-É uma tortura – ela sussurrou para
amiga.
-Também se sente desconfortável? – ficou
surpresa – Achei que estivesse enjoada por causa
do bebê!
-Não, eles não param de nos olhar – disse
nervosa.
Alice ficou olhando para ela, e então
sorriu.
-Gostaria de ter sua capacidade de fechar-
se em copas. Parecia tão segura cruzando o salão
ao lado de Rony, nesse vestido tão... Hã... Lindo.
-Pareço uma ave cheia de plumas – ela
disse irritada – o que me deu na cabeça de vestir
vermelho? – falou mais a si mesma que para
Alice. – Seu irmão disse para ignorar e olhar em
frente. Foi o que fiz.
-John não me disse nada disso – ela disse
triste.
-E não deveria. Para John isso é natural,
faz parte do que ele é – explicou.
-Erro meu em me casar com ele – Alice
disse muito baixo, como quem fala consigo
mesma.
-Por quê? Olhe para você mesma! Está
linda nesse vestido, usando essas jóias. Parece...
Parece uma flor! É seguramente a mulher mais
bonita desse baile! De toda Londres!
-Então porque John não tirou os olhos de
você durante todo o tempo em que percorram o
salão? – ela perguntou desabafando.
-Olhe para mim, quem não me olharia
com esse vestido?! – reclamou desgostosa.
Alice até sorriu, querendo acreditar que a
única razão era essa.
-Use meu leque se precisar – Alice
ofereceu notando que estava encalorada.
-Porque não escolhi um vestido como o
seu? – Helena se lamentou, achando que
estouraria as costuras a qualquer momento.
Alice achou melhor não dizer que seu
próprio vestido havia sido escolhido por uma
tutora que a ensinaria a se portar. Uma belíssima
escolha, mas que não se comparava ao seu próprio
vestido. Foi uma terrível amiga, por não sossegar
seu coração dizendo que estava linda, original e
com tanta personalidade que assustava a todos os
demais.
Um vestido perfeito para Helena.
Desconfortável, Helena precisou fazer
forças para não começar a chorar ali mesmo.
Olhou em volta, para aqueles rostos
desconhecidos, ouvindo a voz de Rony numa
animada conversa com John e o Conde.
-Aqui, aqui, aqui! Papai!
Metade dos convidados do Conde
olharam assustados para a criatura vestida de
verde limão que corria pelo salão. Um senhor
roliço e muito parecido com ela correu ao seu
encontro, e sorrindo um para o outro se
aproximaram do Conde.
-Quem é essa? – Alice ficou bem feliz em
ver alguém que chamasse mais atenção que elas.
-Alguém que não se importa com o que
pensem dela – Helena respondeu,
cumprimentando amavelmente Luana e seu pai.
Helena abriu um lindo sorriso quando
Luana começou a conversar, e inocentemente
Alice tentou acompanhar seu raciocínio. Algo
totalmente impossível!
Era uma distração em toda tensão que
sentia.
A música tocava mais animada, e Helena
começou a prestar atenção ao ritmo enquanto
ouvia o Conde conversar com Rony e o pai de
Luana, olhando para ela de vez enquanto.
Num desses olhares, ela lhe sorriu para
encorajá-lo a continuar conversando com o pai de
Luana, que não era muito diferente da filha.
Aparentemente o Sr.Lourenço não se atinha a
convenções, como por exemplo, de não se
apresentar a um completo desconhecido, ainda
mais do porte do Conde.
Seguiu-se uma hora de completo
marasmo, ouvindo as músicas idênticas a seu ver,
ouvindo a conversa incansável de Luana. Vez ou
outra se perguntava de onde ela tirava tantos
assuntos. Assim como, vez ou outra olhava na
direção de Rony, apenas para encontrá-lo
empenhado em conversas com homens
importantes.
Uma vez ou duas, o Conde a apresentava
a alguém, mas aparentemente, a filha do Conde
deveria ser vista e não ouvida.
Entediada, a ponto de disfarçar um longo
bocejo com o leque, Helena olhou para frente,
notando que era observada por olhares curiosos,
mas sem maldade. A mulher era um pouco fora de
forma, mas usava roupas adequadas, e estava
muito bem penteada e orientada sobre como se
portar.
Ela lhe sorriu muito familiarmente, e
Helena lembrou-se imediatamente que aquela
mulher era Roxanne Lammer.
Anna lhe contara tantas coisas sobre essa
mulher que sentiu muita vontade de conhecê-la.
-Luana! – disse mais alto do que a voz
dela, para que parasse de falar e prestasse atenção
nela. Tinha descoberto que essa tática dava certo.
– Como faço para conversar com alguém se não
fomos apresentadas?
-Pode pedir que alguém as apresente, ou
simplesmente esbarrar nessa pessoa – disse tão
inocente que Helena riu de sua esperteza. – Mas
se não quiser seu pai ouvindo sua conversa...
Quero dizer, se quiser privacidade, sempre pode se
valer de uma ida ao toalete.
Então Luana não era tão boba assim!
-Helena – Alice segurou sua mão quando
ela pareceu prestes a levantar – Tem coragem de
andar entre essas pessoas que não param de olhar
para nós? – havia horror em sua voz.
-Sim, você não? – notando que ela
parecia prestes a afirmar seu medo, chantageou –
Me deixara sozinha, Alice?
-Temo que sim – ela se acovardou.
Decidida, Helena levantou-se atraindo a
atenção dos homens perto de si. Luana foi mais
rápida do que ela em explicar porque se afastaria.
Decididamente, até mesmo Helena teria sido mais
delicada ao referir-se ao fato de ir ao banheiro.
Notou a força que Rony fazia para não rir de seu
embaraço.
Seguindo Luana, dirigiu-se para o lado
oposto do salão, percebendo inadvertidamente o
quanto era fácil ignorar as pessoas e seguir em
frente. Afinal, não fizera isso por anos? Que
diferença havia entre os olhares recriminadores
que a seguiam enquanto cuidava da fazenda como
faria um homem? Que diferença havia dos
cochichos maldosos sobre sua virtude?
A única diferença era que se vestiam com
sedas e ostentavam joias caríssimas!
Decidida, passou propositalmente
devagar diante de uma roda de mulheres,
curvando-se num cumprimento discreto diante de
Roxanne Lammer.
Ela lhe devolveu o cumprimento e sorriu.
Esperou dois minutos antes de discretamente
segui-la.

Por um momento, o vermelho chamou


sua atenção como faria com um belo touro
reprodutor. Foi um simples farfalhar de tecido
próximo a ele, e um vulto vermelho passando
muito rápido, em direção a uma das salas íntimas
e privadas da mansão.
Sua acompanhante, a qual pressionava
desavergonhadamente contra uma parede, com o
corpete do vestido abaixado, deixando a mostra
seus seios brancos como leite, sequer notou seu
olhar fugindo de suas curvas e procurando a
imagem em vermelho.
Uma sombra vestindo verde interpôs
entre seu olhar e o alvo da sua curiosidade. Uma
terceira mulher entrou sorrateiramente naquela
sala, e ele achou melhor afastar-se dali com sua
acompanhante. Era uma bela viúva, as portas de
se casar novamente com um General, e não seria
ele quem ficaria ente os dois nesse matrimônio tão
lucrativo. Muito menos contrariaria infortúnios
com um superior!
Sua gentileza era apenas um ato muito
ensaiado enquanto a convencia a sair daquele
canto escuro, alegando um possível escândalo.
Satisfeito em se livrar da jovem, que não
despertava mais seus interesses, voltou ao salão de
festas, admirando as belas jovens que o olhavam
com cobiça.
Não vestia seu uniforme militar desde
que fora dispensado, ou melhor, expulso do cargo
que ocupava. Não era uma surpresa, seu pai vivia
tentando mantê-lo à custa de muito suborno, mas
ter se descontrolado na primavera passada lhe
redera um castigo e tanto.
Num arrombo de luxúria, álcool e
autoconfiança, havia estrangulado a pequena
Polyana até a morte. Era a filha de um pastor, uma
simples menina de quinze anos, que seduzira e lhe
rendera maravilhosos momentos na relva macia
dos prados da casa de seu pai. Mas para seu total
infortúnio, ao ser apanhando dormindo ao lado do
corpo sem vida, descobrira que aquela jovem era
na verdade sobrinha de um General, e por conta
disse seria preso sumariamente.
Por certo, seu pai ainda estava pagando a
alta conta que rendera sua liberdade. Apesar dos
infortúnios momentâneos, não perdera seu
prestígio, apenas o cargo.
Olhando em volta, um sorriso de puro
escárnio e desprezo grudou-se em sua face ao
notar Harrison e seu fiel capacho conversando
com o Conde de Valença.
Grande surpresa, onde o maricas
Harrison estivesse, o grande aproveitador Parker
estaria também! Era difícil para Wood saber qual
dos dois lhe despertava mais desprezo.
Obviamente, Harrison viera primeiro.
Colegas de internato, era natural que os dois
meninos mais ricos da escola fossem amigos. Mas
Harrison logo o abandonou, alegando que não
gostava das mesmas brincadeiras que ele. Afinal,
o que havia de errado em cortar o rabo dos gatos,
ou matar passarinhos com estilete para depois
abri-los ao meio e ver o que tinha dentro?
Nada errado, até que o viu batendo num
dos meninos mais fracos da escola. Fora o fim da
amizade, que para ser franco, nunca fora muito
inseparável. Tinha seis anos, mas ele lembrava
muito da chegada do Parker. Pobretão! Tornara-se
amigo inseparável do maldito Harrison!
Um gozador petulante, que usufruía do
poder de Harrison e só por causa disso não podia
atingi-lo.
Houvera um momento particular quando
o enganara num duelo três anos atrás. Ódio e
ressentimento sempre fizeram parte da sua vida, e
havia algo de prazeroso em odiar ao Parker.
Observou-o trocar palavras íntimas com o
Conde, e pensou que o menino de ouro Harrison
estava bem acompanhado. Era a mulher mais
linda que já vira na vida. Rosto de anjo, um corpo
perfeito e tentador. Aqueles seios que saltaram do
decote o fascinaram, brancos como leite puro.
Seus lábios eram rosados e seus olhos azuis
como... Como os do Parker. Seu sorriso se
alargou, sentindo parte de si vingado.
Então, o pobretão Parker dera uma
rasteira no esperto Harrison? Casar sua irmã
pobretona com um dos homens mais ricos da
cidade? Tinha que tirar o chapéu, e apesar do
desafeto, era capaz de elogiar um comportamento
cafajeste de bom gosto quando presenciava um.
Por um momento pensou que doce seria a
vingança, seduzindo a mulher do Harrison!
Naquele instante ele a fazia erguer-se e a levava
para dançar.
Analisou. A jovem tinha aquele olhar de
encantamento, e com certeza, levaria muito tempo
para convencê-la a ceder, e sem dúvidas seria
preciso muitos momentos a sós. E esses
momentos não aconteceriam. Suspirando
desconsolado, por sua ideia não ter procedência,
ouviu um som abafado de horror e seguiu o olhar
de repreensão de uma velha senhora, muito
fofoqueira.
Foi então que viu o vermelho novamente.
O vivo vermelho de um coração batendo com
vida. O vermelho do sangue correndo vivo e
quente nas veias. O vermelho da paixão.
Uma mulher pequena. Sim, pequena, a
pele queimada pelo sol, as curvas delicadas e os
cabelos castanhos, prometiam ondulações quando
soltos. A simplicidade do corte do vestido e a
ousadia da cor não negavam seu espírito forte.
Tão forte que por um segundo os olhares
se encontraram e ele sentiu algo novo. Nunca
antes sentido.
Havia um furacão dentro daquela
pequena mulher. Seus olhos eram fogo puro, o
fogo da vida. Não havia mentiras no modo
desdenhoso como o olhou. Aquele olhar que dizia
que tinha nojo de homens que olhavam desse
modo para uma mulher.
Atraído como um imã seguiu muito de
perto, ouvindo sua voz ao conversar com sua
acompanhante, e era uma voz segura e franca.
Pode imaginar seus gemidos sobre uma
cama. Com sorte, seria uma debutante, era jovem
para isso! Ah, deveria ser virgem e pura como
uma rosa selvagem pronta para ser colhida!
Enervado pelo deleite de imaginar-se
tirando sua inocência e lhe ensinando os caminhos
do amor, até apagar aquele olhar forte e torná-la
submissa e doce como um cordeirinho, estreitou
os olhos ao ver o Conde recebê-la com um enorme
sorriso.
A filha do Conde? A filha bastarda do
Conde?
Impossível casar-se com ela. Rica. A
palavra ecoou em sua mente. Rica como nenhuma
outra! Teria sua virtude, então fugiria com a
pequena labareda de fogo que era a filha do
Conde. Não haveria alternativa além de casá-los e
evitar um escândalo. O Conde teria que relevar
seu desvio do passado e aceitá-lo.
Teria uma fortuna incalculável!
Em completo êxtase, estreitou os olhos
quando o maldito Parker a tomou pela mão e lhe
sorriu.
Cuidadoso para não ser visto, tomou uma
jovem para dançar quando o ruivo a levou para
dançar.
Próximo o bastante para ouvir, mas longe
o bastante para não ser visto, estacou imóvel, no
meio do salão ao ouvir as palavras de Rony:
-Essa noite está se alongando demais.
Não vejo a hora de voltar para casa, Helena. Sente
a mesma pressa que eu? – havia desejo em seu
olhar. – Me responda, esposa.
Era uma ordem, e ela pareceu demorar
muito para responder:
-Porque não dormimos aqui? Meu pai
ficaria muito feliz se usássemos o quarto que
decorou para mim.
-Um colchão de penas? – Rony piscou
para ela – Está querendo me seduzir, Helena?
-Não ousaria tanto, esposo.
Havia tanta ousadia em seu olhar, e tanta
malícia em seu olhar que Wood sentiu um gosto
amargo na boca.
Sua deusa de fogo pertencia ao Parker. O
infeliz chegara primeiro e lhe roubara o prazer de
ensinar-lhe os prazeres do sexo. Como um soco,
lembrou-se que toda aquela fortuna seria do
maldito Parker!
Não! Sentiu vontade de gritar e matá-lo
ali mesmo!
-Além disso – sua deusa de fogo seguiu
falando – sinto sono, e esse vestido está me
apertando. Tenho engordado.
Por alguma razão essa observação fez o
Parker rir de puro contentamento enquanto a
estreitava contra o peito.
-Estava na hora do meu filho se mostrar –
foi sua resposta simples e eles se calaram, numa
troca de olhares que o desanimou.
Não havia nada para ele. O verme Parker
chegara primeiro!
A menos que... Uma ideia se formou em
sua mente, e a certeza da vingança o animou a
seguir, dançando sem afastar o olhar de sua
pequena deusa que queimava em chamas pelo
salão, rodando em seu vestido vermelho...
Capítulo 107 - Gêmeas

-Meu pai se empenhou – ela disse


pensativa enquanto era conduzida pelo salão,
notando que outros casais também se animaram
para dançar. – É um belíssimo baile.
Seu excesso de educação arrancou dele
um riso divertido.
-Helena, esses bailes são sempre chatos,
cansativos e muitas vezes insuportáveis! Para mim
não precisa esconder o quanto está desconfortável!
Penso que o único momento prazeroso que teve,
desde que chegamos, foi ao refugiar-se em alguma
sala particular para conversar com Roxanne
Lammer!
Surpresa, Helena errou o passo e quase
pisou em seu pé. Rony soube conduzi-la de modo
que isso não acontecesse. Sem saber o que
responder, deslizou uma das mãos de seu ombro
em direção ao seu braço, descansando os dedos no
músculo forte que se escondia sobre a roupa.
Não notou que nos casais ao redor, as
mocinhas a imitaram. Rony notou esse fato por
ela, achando melhor não comentar que era algo a
ser admirado. Como filha do Conde, tendia a ser
alvo da admiração das mocinhas debutantes, e via
de regra, elas a imitariam. Sem sombras de
dúvidas, no próximo baile, o salão estaria lotado
de mulheres usando vermelho!
-Vejo cada pequeno movimento seu, ouço
cada suspiro que dá. Não tente me enganar,
Helena. Notei quando fez um sutil sinal para atrair
a atenção dela, e como ela a seguiu pouco depois.
Além disso, demorou muito para uma simples ida
ao banheiro!
-Eu não quero falar sobre minhas
conversas pessoais – ela disse petulante, olhando
para baixo, onde seus pés seguiam seus
movimentos automaticamente – Como posso estar
dançando? Eu nunca dancei...
-Estou te levando – ele disse olhando em
seus olhos - Se me deixar conduzi-la, nunca
perderá o ritmo – era uma oferta intensa demais
para que se desse ao luxo de responder ali, no
meio do burburinho de vozes e do som da música
tocada em suas melodias belas e harmoniosas.
-Madame Lammer é uma mulher que
sabe manipular as pessoas, Helena – ele mudou de
assunto, pois sabia que não poderia arrancar-lhe
algo que não quisesse lhe contar – Tem feito
muito pelas mulheres de origem simples, e isso é
louvável. Mas, em contraponto, existem
consequências para seus atos. Ela é alvo constante
de ameaças e ódio de muitas pessoas influentes.
Deve lhe ter feito mil propostas e enchido sua
cabeça com a ideia de feminismo e direitos iguais
e...
-Não. – ela disse categórica, com algo de
desafio no olhar – Roxanne tem uma doceria.
Falamos sobre bolos e tortas. Como vê, não foi
mais que uma conversa privada.
-Helena - ele disse com a voz um pouco
mais alta, exasperado. Conteve a irritação
estreitando-a mais contra si, indo além do que a
decência permitiria em público – Não tente me
enganar! Não sou tolo para imaginar que Lammer
desperdiçaria a possibilidade de ter o apoio do
Conde para sua escola de mulheres! Quero que
escute e entenda de uma vez! Há diferenças entre
uma escola preparatória para mulher e uma escola
que prepara as mulheres para a rebeldia e
perdição!
-Meu Deus! – ela ficou chocada – Não
acredito que esteja dizendo um absurdo desses!
Que perdição pode haver em ser capaz de cuidar
de si mesma?
-Acha que é isso que ela ensina? –
revidou.
-E você? Esteve em alguma aula de
madame Lammer para saber o que ela ensina?
Helena parou de dançar, encarando-o
com desafio. As mãos estavam unidas, mas
estavam imóveis.
-Ela lhe fez um convite? – não era apenas
uma pergunta, era uma exigência.
-Talvez sim... Talvez não – desafiou.
-Fez ou não fez um convite?
Rony soltou suas mãos, e sua expressão
daria medo, mas em Helena apenas ascendeu o
pavio que estava absurdamente curto desde que
chegaram a Londres e ele a esquecera
completamente.
-Não me darei ao trabalho de responder
novamente a sua pergunta. Não é da sua conta.
-Sou seu marido, tenho o direito de saber
tudo que faz! – sua voz soou acima do som da
música e alguns casais pararam para observá-los.
-E acaso tenho eu o direito de saber tudo
que faz? – revidou, no mesmo tom.
-Do que está falando?
Com o sangue fervendo por ele ser cínico
a ponto de não ter se dado conta que há quatro
dias não encostava um dedo sequer sobre ela,
virou-lhe as costas e deixou-o plantado no meio do
salão de danças.
A vergonha de ser abandonado não foi
maior que a raiva. Seguiu-a no mesmo passo
rápido, e nem mesmo a presença do Conde se
colocou entre eles.
-Quero saber sobre o que estou sendo
acusado! – ele exigiu, a despeito da surpresa do
Conde, e do silêncio que se instalou entre as
demais pessoas com as quais conversava.
-É tão cínico que não é capaz de
adivinhar?
-Como pode falar desse modo depois de
tudo que... – ele conteve as palavras, sentindo-se
como alguém que implora. Orgulhoso, assentiu
com a cabeça – Tem razão, aconteceu algo que
devo adivinhar. Esse sim é um comportamento
racional!
Calada, afastou o olhar, sentindo o peito
doer dentro daquele vestido apertado, tamanho
esforço fazia para respirar e não esbravejar e gritar
seu ódio.
“Você me abandonou”. Sim, queria gritar
com todas as letras!
O pior tipo de abandono. Vê-lo todos os
dias, mas não ter mais sua atenção ou seu
interesse!
-Preciso tomar ar – ela disse ao Conde,
como quem pede desculpas por estar à beira das
lágrimas.
Rony deu um passo na direção dela, mas
o Conde sorriu e deu-lhe um tapa amistoso em seu
ombro.
-John, faça-me o favor de mostrar a
sacada, desse modo, minha filha poderá tomar
tanto ar quanto seja necessário.
John pareceu muito constrangido, mas
aceitou. Alice olhou-o magoada, e com um olhar
de desculpas ele conduziu Helena para longe do
movimentado salão de festas.
Ardendo de raiva, com lágrimas piscando
em seus olhos, Helena segurou o braço de John
fazendo-o parar antes que estivessem longe
demais.
-Me diga quais – ela pediu, fazendo força
para não chorar.
Estava no limite. Mais um dia sem seu
olhar, seu interesse e sua dedicação e iria
enlouquecer!
-Do que fala? – Infelizmente John não
prestava tanta atenção nela para saber o que
estava pensando ao usar de tão poucas palavras.
-Amantes. Mostre-me quais dessas
mulheres foram amantes dele!
-Helena, isso é... Não tem importância.
Ronald é seu marido e...
-Apenas diga! – sua fúria e o aperto de
suas unhas delicadas em seu braço, o fez achar
melhor saciar sua curiosidade, ou qualquer outro
sentimento que a levasse aquele estado de nervos
– E não minta! Não me obrigue a perguntar uma a
uma quem se deitou ou não com ele!
Amedrontado, e certo que seria
exatamente isso que faria, olhou pelo salão,
achando um azar horrível que várias estivessem
presentes naquele baile.
-Diga de uma vez John!
-No fundo do salão, vestida de amarelo,
com a coroa de diamantes nos cabelos –
discretamente ele apontou para uma linda mulher,
com a pele muito clara e os cabelos loiros. Linda
como o nascer do sol – É a viúva Sophie.
Enviuvou muito jovem e teve vários amantes. Pelo
que sei, passaram poucos momentos juntos.
Helena precisou contar até dez para não
chorar. Aquela mulher era divina, ainda mais
linda do que Alexia Lil, se é que isso era possível!
-Quem mais? – esforçou-se para
perguntar, pois sua garganta estava apertada.
-Reconheço a Sra.Winters – ele olhou
para uma mulher gordinha, muito rosada e
sorridente, que conversava com um cavalheiro.
Era baixinha e roliça. – Tem um grande coração a
Sra.Winters, foi abandonada pelo marido muito
jovem, e teve poucos relacionamentos depois
disso. Pelo que sei casou-se recentemente com um
General. É uma mulher de respeito, não pode ser
culpada por ter relacionamentos, afinal, estava
sozinha e abandonada.
-E suponho, Ronald deve ter sido uma
grande distração para ela!
Havia tanto rancor em sua voz que John
estendeu uma mão e tocou em sua face, fazendo-a
olhar para ele:
-Tive muitas mulheres antes de me casar
com Alice. É permitido aos homens, e não se faça
de tola ou ingênua fingindo não saber. Certo ou
errado, não se pode mudar o mundo com uma
simples vontade, ou apagar o passado. Rony é um
homem íntegro que sempre foi discreto com suas
amantes.
-Bem vi o quanto – ela afastou-se de
John, batendo numa das mãos furiosamente o
leque que Alice lhe emprestara. – Alexia Lil foi
uma de suas mais dóceis amantes, suponho!
-Todos nós temos direito a ter um erro na
vida – ele tentou remediar à situação.
-Mais alguma mulher?
-Aquela é Roxanne Lammer – ele
apontou a mulher jovial, sem notar seus olhos se
arregalarem de surpresa - Pelo que soube na
época, foi apenas uma noite.
-Uma... Noite? – horrorizada, olhava para
a mulher tão simpática e doce que a encantara
numa conversa inteligente há pouco tempo atrás.
-Sra. Lammer é uma mulher a frente do
seu tempo, optou por não se casar. Tem filhos e
conduz sua própria vida.
-Ela... Esteve comigo, conversou e não...
Tocou nesse assunto! – exasperada olhou para
John em busca de respostas.
-E porque falaria? Uma noite que não
significou nada para ambos além de distração e
um pouco de entretenimento.
-Mas... Mas... Ela é...
-Uma mulher? – ele sorriu – Sim, é uma
mulher que não acha necessário apaixonar-se para
ter prazer. É madura o bastante para não desistir
de uma amizade por causa de uma noite sem
importância.
-Uma noite sem importância – essas
palavras soaram estranhas em sua boca – Como
uma... Uma noite pode ser sem importância?
-Sempre é sem importância quando não
há amor – havia algo muito doce no olhar de John
– Não é preciso que lhe diga isso, entende melhor
do que eu de amor.
Helena ficou na dúvida se lhe dizia isso
por conta de uma conversa tida meses atrás,
quando lhe dissera que conhecia o amor, por ter
amado a família, ou se insinuava que amava
Rony.
-Ainda deseja saber mais? – perguntou,
notando a confusão em seu semblante.
-Sim. – precisava saber!
-Vejo mais duas mulheres. A Srta.Lizette
DeLuy e Srta.Mariette DeLuy.
-Irmãs? – a palavra mal saiu de sua boca,
notou algo mais – Gêmeas?
As moças eram idênticas. Altas, bem
feitas, com cabelos negros e rostos
inconfessavelmente pecaminosos de tão bonitos.
-As duas são bonitas e disponíveis, não
pense que é grande coisa para elas.
-São... Cortesãs?
-Não. São ricas. Apreciam o prazer e
sabem tentar um homem. Posso afirmar por
experiência própria que as excita o jogo de
seduzir, e raramente vão ao leito sem a companhia
uma da outra.
-Não quero mais ouvir! – ela quase
gritou, chocada, assustada e magoada. – Terá esse
homem se deitado com todas as mulheres do
mundo?
-É claro que não! Para os padrões de
Londres, posso dizer que Rony foi quase um santo
– sorriu para aliviá-la – Não pense que foram
fáceis os anos de Rony em Londres. A maior parte
do tempo estava estudando. Sei que parece
estranho falar isso, mas nem ele, nem eu,
tínhamos grande aptidão para os estudos, e
enquanto eu pude contar com a benevolência dos
professores por causa do meu nome e prestígio,
Rony teve que contar com incontáveis horas de
clausura sobre os livros. Talvez por isso não goste
muito de ler... – sorriu – Poucas vezes saíamos do
internato, e fomos quase monges por muitos anos.
Depois disso, havia muito trabalho para ser feito,
muitos compromissos, e as vezes que havia
oportunidades para diversão, ele aproveitava. E
não posso culpá-lo por isso. Você pode?
-Talvez Alice devesse ter aproveitado
todas as oportunidades de diversão que teve antes
de conhecê-lo! E o mesmo eu deveria ter feito
antes de conhecer Rony! Não é disso que se
refere?
Com esse feroz ataque deixou-o plantado
no chão, sozinho e pensativo.
Cega pela raiva e pelo ciúme andou para
longe das pessoas conhecidas, e esbarrou em
alguém em seu caminho. Desequilibrou, mas não
a ponto de necessitar ser segurada daquele modo.
Transferindo a raiva para seu ‘salvador’
empurrou-o nada gentilmente.
-Perdão, senhora – a voz era macia, e
quando ergueu os olhos foi apanhada pela imagem
de lindos olhos acinzentados. – Deseja companhia
para retornar em segurança ao salão?
-Não, claro que não – afastou-se, olhando
para o homem que ousara tocá-la e agir como se
fossem conhecidos – Deixe-me passar, por favor.
-Com toda certeza – o loiro sorriu um
sorriso que não a enganou em suas intenções.
Era um homem alto, da mesma altura que
John, mas que não alcançava Rony, ficando para
trás em alguns poucos centímetros. Os cabelos
eram platinados, penteados para trás, o que
salientava o rosto bonito de grandes olhos cinzas,
penetrantes e sedutores.
-Sinto dizer senhor, mas continua no meu
caminho – era uma observação mordaz.
-Desculpe, não pude evitar – ele fez uma
singela mesura e deixou-a passar – Posso ao
menos pergunta o nome da dama?
-Não se faça de bobo, todos aqui sabem
meu nome. Helena Parker, a filha bastarda do
Conde. Não é o que dizem pelas minhas costas? –
jogou sobre ele toda sua raiva e frustração.
-Como um cavalheiro que sou não a
deixarei em desvantagem. Meu nome é Falcon
Wood.
Ela não se preocupou em responder a sua
mesura, querendo apenas sair dali, encontrar
Ronald e arrancar seus olhos com as unhas!
Gêmeas! Gêmeas! Gêmeas!
Fechou os olhos, pedindo paciência aos
céus.
-Tenho um nome incomum, assim como
o seu – ele continuou falando – Helena não é um
nome comum.
-Sim, tenho certeza que não é. Mas não
se preocupe, não estava em desvantagem, pois já
ouvi seu nome antes. Agora, se me dá licença,
preciso passar.
Comprou seu olhar, desafiando-o a não
deixá-la ir. Que homem impertinente! E não era
uma impertinência boa não!
Respirando fundo, achou que perderia os
sentidos, quando avistou uma das Senhoritas
DeLuy conversando muito perto do local onde
estava o Conde e Rony. Ela olhava em sua
direção, devorando-o com os olhos.
Furiosa, passou a língua nos lábios
tentando umedecê-los, pois estavam muito secos.
Sua respiração estava arfante, sua pele quente.
Queria que aquele baile acabasse e aquelas
pessoas explodissem! Um soluço escapou de seus
lábios e ela sufocou a vontade de gritar. Gêmeas!
Sentindo como se algo corroesse seu coração com
profundas mordidas, sentiu-se pequena e inútil.
Roxanne Lammer... Porque ele não dissera que
foram amantes?
“Há diferença entre uma escola
preparatória para mulheres e uma escola que
prepara as mulheres para a rebeldia e perdição!”
Fora essas suas palavras. E falava com
conhecimento total de causa! Engasgada com o
choro, viu tudo ficar negro diante de si por um
segundo. Apoiou uma das mãos numa parede e
respirou fundo várias vezes antes de decidir-se.
Acabaria com aquele casamento. Não havia
alternativa.
Desistiria desse marido mentiroso,
mulherengo e interesseiro! Ao inferno com Ronald
Parker!
Furiosa como nunca estivera na vida, sem
saber que na verdade a razão de tanto desespero
era o ciúme, ela olhava para aquele homem com
olhos de pura paixão.
Vendo sua presa tão frágil e a sua mercê,
Wood se aproximou quando ela pareceu prestes a
desmaiar.
-A senhora me daria à honra dessa dança,
Sra.Parker?
A voz veio de longe, penetrando em seus
pensamentos confusos e em meio a sua mágoa e
rancor avistou aquela mão branca,
impecavelmente cuidada, estendida em sua
direção.
E quando olhou para a face sorridente de
Wood, a única coisa que viu foi o corpo de Rony
embrenhado no das gêmeas, em uma cama.
Sedenta por vingança colocou sua mão sobre a
dele, se arrepiando pela sensação que a percorreu
da cabeça aos pés. Tinha algo nesse homem de
olhos cinzentos.
Algo muito perigoso, mas o bom senso
desapareceu quando se lembrou de Rony,
Roxanne e as gêmeas.
Capítulo 108 - Acabando com a noite

Rony esperava o regresso de Helena para


tirá-la daquele baile e ter uma conversa com ela.
Furioso, precisou de todo seu autocontrole para
não agarrá-la, jogar sobre o ombro seu corpo
frágil, e subir para o quarto, apenas para dar o que
ela tanto queria!
Bebeu uma taça de vinho inteira em um
único gole, ouvindo muito longinquamente a voz
do Conde lhe dizendo para ser paciente com
Helena, a voz de Alice relembrando-o que estava
grávida e nervosa.
Blá, blá, blá. Estava cheio dos ‘não me
toques’ de Helena!
-Oh, Deus – ele ouviu o sussurro de
Alice, e notou o modo assustado com que ela
olhou para o centro do salão.
Alguma debutante tropeçara no pé de seu
parceiro, ou coisa mais boba ainda. Não deu
atenção.
-Venha meu genro, vamos conversar na
minha saleta particular. Precisa se acalmar – o
Conde disse, cheio de melindres, olhando na
mesma direção que Alice.
-Não. Vou esperar a louca da sua filha
aqui mesmo! – disse revoltado.
-Não se refira a minha filha desse modo!
– o Conde demonstrou sua clara irritação, batendo
a bengala ao qual se apoiava no chão lustroso e
caro.
-Me refiro a minha mulher do jeito que eu
quiser! – revidou.
Cheio de tudo e todos, olhou finalmente
na direção em que Alice olhava com tanto pavor.
Helena mal sentiu quando foi levada em
direção aos casais que dançavam. Seus olhos
estavam fixos na imagem de Rony, que a distância
não a notava. Chegou a ver Alice fazer-lhe sinais
para que não fizesse isso, mas não deu
importância.
Começou a perceber o próprio erro,
quando aquele homem a enlaçou pela cintura,
apertando seu corpo contra o dele, de uma forma
que a incomodou. O braço de Wood apertava em
suas costas, moldando-a de um modo tão íntimo
contra seu corpo, que ela sentiu contornos que
definitivamente não deveria sentir!
-Perdão, não posso evitar meu corpo
corresponder à paixão que sentimos – ele disse em
seu ouvido, roçando os quadris contra os dela.
Alarmada, sentiu o contato de suas
virilhas e reconheceu o desejo masculino,
pressionando sua barriga de uma forma horrível.
-Paixão que sentimos...? – olhou para ele
com horror.
Ele sorria. Wood tinha certeza que a
pequena mulher em seus braços tremia de paixão.
Era inevitável, era um homem desejável, e já
tivera mulheres o suficiente para saber o quanto
poderia excitar uma fêmea com um único abraço.
-Conheço seu marido, não se preocupe.
Sei o infortúnio que vive – ele continuou falando
em seu ouvido, sentindo-a completamente
enrijecida em seus braços, tensa. – Despertou
minha paixão e meu amor no momento em que a
vi, mesmo que a distância. Perdoe meu
atrevimento, mas permito-me tal atrevimento, por
sentir que desperto o mesmo desejo em você.
Que audácia!
Helena quis empurrá-lo e no mínimo
chutar-lhe as partes íntimas, mas não o faria em
consideração ao Conde. Não poderia arruinar o
baile que fizera em sua homenagem!
Corada de indignação, sentiu-se sendo
arrastada pelo salão, tentando acompanhar os
passos rápidos da dança, achando que cairia e
seria pisoteada por aquelas pessoas que dançavam
rapidamente a sua volta.
Do outro lado do salão do baile, Rony
precisou de alguns segundos para entender o que
via.
Falcon Wood dançava de corpo colado
com uma mulher vestida de vermelho. E essa
mulher era Helena.
Uma mulher que o permitia colar o peito
em seus seios. Grudar as coxas em suas coxas.
Que permitia que corresse as mãos sujas de Wood
por suas costas e sussurrasse em seu ouvido. Não,
se fosse a sua Helena, ele precisaria matar Wood.
Rony sentiu que o Conde segurava em
seu ombro enquanto dava uma ordem a um
empregado, para que trouxesse sua filha até ele.
Então, era mesmo Helena. Não era apenas uma
ilusão. Não eram seus olhos pregando-lhe uma
peça?
Com um movimento brusco, livrou-se da
mão do Conde.
Helena tentou impor alguma distância,
sentindo-se a cada passo, mais pressionada contra
o corpo bem proporcionado. Não era aquele corpo
que desejava que a pressionasse desse modo! Não
mesmo!
-Por favor, me solte - ela pediu, tentando
não chamar atenção sobre eles – Sou casada!
-Sim, um inconveniente. Saiba, minha
deusa de fogo, que não a criticarei por sentir
desejo por mim. Meu corpo reconhece o seu, e
tudo em que posso pensar é em beijá-la!
-Não se atreva! – tentou empurrá-lo – Sou
casada! Estou grávida do meu marido! Não quero
ser tocada por outro homem!
-Não minta, pequena. Por que aceitou
dançar comigo, além de me desejar com o mesmo
ardor que a desejo? - ele sorriu, apertando sua
cintura – Atrevo-me a beijá-la aqui, em público,
para que todos saibam que roubou meu coração!
-Não faça isso!
Helena estava decidida a livrar-se dele, e
teria feito isso, não fosse uma interrupção.
Em um segundo Wood a apertava a ponto
de sufocá-la, e no instante seguinte, havia sido
apartado dela e estava no chão.
Braços conhecidos a puxaram para longe
da briga, e embora olhasse para trás durante todo
o caminho, não conseguiu ver muita coisa. O
lacaio do Conde a fez entrar numa saleta
particular, e um segundo depois o Conde e Alice
haviam entrado e a porta se fechado atrás deles.
-O que pensa estar fazendo sua menina
tola? – o Conde perguntou, olhando para ela com
tanta crítica que se sentiu pequena.
-Eu...
-Uma mulher casada não dança com
outro homem, a menos que seu marido conceda!
Muito menos permite ainda mais em público, que
um homem a toque do modo como aquele
bastardo a tocava! Deseja que toda Londres se
refira a você como uma mulher sem moral? Que
pensem que não passa de uma prostituta?!
-Era apenas uma dança! – ela tentou
argumentar.
-Conde – Alice colocou-se entre eles,
antes que pai e filha dissessem mais ofensas e se
magoassem irreversivelmente – Quando Helena
fica furiosa com meu irmão, faz coisas tolas para
irritá-lo. Confesse, aceitou dançar com esse
homem para ofendê-lo não foi?
Helena se recusou a responder, mas o
Conde o fez por ela:
-Tenha certeza que o ofendeu! Outro
homem jamais voltaria a olhar para uma esposa
capaz de tal humilhação! Menina tola! Dei-lhe a
oportunidade de livrar-se de um marido
indesejado, e não aceitou! Não humilhe o pobre
rapaz, se não o quer isso pode ser resolvido
facilmente!
-Pobre rapaz! Pobre rapaz! Pobre rapaz! –
ela levantou-se jogando sobre o Conde toda a sua
raiva.

John lutou para separar os dois corpos.


Wood era um homem sem fibra, mas era bom de
briga, por causa dos anos espancando meninos
menores que ele. Rony, por sua vez, era bom de
briga, pelos anos em que se defendera de
valentões iguais a Wood. Havia um silêncio no
salão, todos os olhares direcionados para os dois
homens que se atacavam em socos. A música
havia cessado, os músicos mais interessados no
espetáculo do que em fornecer diversão.
-Chega, Rony! – ele agarrou a massa
ruiva e segurou-o, enquanto o lacaio do Conde
segurava Wood para longe de Rony.
-Não! – ele tentou se soltar – Vou matá-
lo! E depois vou matá-la!
-Não, não vai! – mais dois cavalheiros se
aproximaram para ajudar John a segurá-lo, pois o
ódio o fazia frenético.
-Minha mulher! – ele gritou para Wood –
Nunca mais aproxime-se da minha mulher!
Sua resposta foi uma risada longa,
enquanto Wood se soltava do rapaz e limpava o
sangue do rosto, passava as mãos nos cabelos,
aprumando-se, com um sorriso triunfante.
-Doce como mel – ele disse provocador.
Foi preciso segurá-lo com mais força,
conseguindo arrastá-lo pelo salão, enquanto Wood
era retirado por dois seguranças do Conde. Aos
poucos o silêncio chocado do salão se quebrou
pelo burburinho e então as vozes altas, debatendo
o acontecido.
Os músicos retornaram sua missão de
entreter, e a música voltou a tocar, enquanto as
debutantes debatiam fervorosamente entre
suspiros, a sorte de uma mulher ser disputada por
dois homens tão bonitos e de tanto porte.
John não acreditava que deveriam levá-lo
para o mesmo lugar onde estivesse Helena, mas
não havia outro lugar completamente privativo, e
subir as escadas com Rony furioso e tentando se
soltar seria impossível.
No instante em que eles irromperam pela
porta, Helena praticamente correu para o fundo da
saleta, próxima a lareira, bem longe dele. Tão
arredia quando uma mulher que sabe que errou e
que seus erros terão consequências podia sentir-
se!
John não o teria soltado, mas os outros
homens o fizeram e a única coisa que pode fazer,
foi se apressar a tirá-los dali, saindo também, para
que não houvesse dúvidas que tudo estaria bem,
ou os mexericos aumentariam ainda mais!
Rony ficou parado, de pé, olhando para a
mulher que até a pouco era a razão da sua vida.
Helena manteve o olhar no dele, desafiando-o.
Depois de tudo ainda o desafiava! Wood a tivera
em seus braços. Provara de suas curvas, não
duvidava que a houvesse beijado, embora não
fosse seu estilo. Falcon Wood não era homem de
beijos.
-Tenho certeza que essa situação pode e
deve ser resolvida com calma e ponderação – a
voz autoritária do Conde impedia-os de
continuarem em silêncio, desafiando um ao outro
– Tenho certeza que o biltre cavalheiro que ousou
dançar daquele modo com uma dama casada, não
deve ter lhe dado alternativa. É seu primeiro baile,
não se envergonhe filha, de admitir que não
soubesse ser errado dançar daquele modo com um
homem em público – ele lhe ofertava a
oportunidade de mentir e escapar.
Gêmeas. A palavra gritou em sua cabeça
e ela ergueu o queixo, sem poder afastar o olhar do
azul intenso que queimava em sua direção.
-Não. Eu quis dançar com ele.
-Viu, irmão? Helena queria apenas
dançar, não é isso, Helena? Apenas dançar? –
Alice tentou desesperadamente contornar a
situação, pois pela expressão dos dois, algo muito
ruim aconteceria.
-Não! – ela por fim explodiu – queria
mais que dançar!
-É mesmo? – ele deu um passo para
frente e Helena se moveu pela sala, andando para
longe – E o que mais você queria?
-Queria que me abraçasse! Queria que
me apertasse! Queria que me beijasse! – gritou,
sem que ele pudesse saber que se referia ao que
desejava que o próprio Rony fizesse com ela –
Feliz? Agora sabe o que eu queria!
-Queria e conseguiu se expor ao ridículo!
– ele sentia a raiva tão forte dentro de si, que
poderia facilmente passar por cima do Conde, que
astuciosamente, se colocara parcialmente em seu
caminho, barrando a passagem em direção a sua
filha, que verdadeiramente merecia ser
estrangulada! – Expôs seu pai ao ridículo! Expôs
John e Alice, seus amigos, ao mais completo
ridículo! Expôs o filho que carrega e expôs a si
mesma! Como uma vadia, se roçando naquele
assassino desgraçado!
Suas palavras tiveram seu efeito e ela
empalideceu.
-Não sabia não é? Uma menina da idade
da sua irmã, violentada a assassinada no mesmo
leito sujo pelo sangue da sua inocência! É para
esse homem que quer se entregar? Então vá! –
furioso, abriu a porta da saleta, apontando para o
corredor – Vá de uma vez!
-Quem deve ir embora é você, seu
mentiroso, hipócrita!
Alice tinha certeza que seus gritos eram
ouvidos do salão.
-Precisam parar! – ela tentou dizer para
acalmá-los – Conversarem com calma! São
marido e mulher, não podem...
-Meta-se com seu marido! – Helena
gritou para ela, furiosa com sua ousadia de
interferir – Não deveria estar correndo atrás dele?
Alice não respondeu, magoada. Era isso
que merecia por tentar ajudá-la a se livrar do anzol
ao qual se prendera?
-Procure seu marido e peça que encerre o
baile – o Conde pediu a ela. - Tentarei colocar
juízo na cabeça desses dois!
Alice não relutou, pois a mágoa a fazia
querer que Helena fosse para o inferno.
-Não permitirei que se ofendam – ele
disse quando os três ficaram sozinhos. - Minha
filha não é uma mulher sem moral, muito menos
meu genro é um mentiroso. Contenham-se!
-Acontece que essa situação não é da sua
conta, Conde – Rony disse fervendo, só tendo
olhos para ela.
Infelizmente nenhum dos dois poderia
olhar para outro lugar que não fosse o outro!
-Tudo que é relativo à minha filha é da
minha conta!
-Não, não é! Pela lei é minha esposa, e
somente eu decido o que é da conta dela! Não se
meta entre nós! – sua raiva infelizmente
respingava no Conde. – não tem direitos legais
sobre ela, não é reconhecida como sua filha, e se
permito que seja próximo a minha mulher deve ser
agradecido e não se meter entre nossos assuntos!
-Assuntos que agora, dizem respeito a
toda cidade de Londres! –ele disse orgulhoso e
ofendido pela postura do genro – Ambos – olhou
para Helena então para Rony – mancharam meu
nome com um escândalo, dentro da minha casa,
num baile oferecido por mim, para apresentá-los
formalmente a sociedade e deixar claro meu
apreço. Devo relevar e aceitar o que se passou
aqui dentro? O que devo pensar de ambos, meu
genro e minha filha?
-Não importa o que pensa – Rony foi
categórico – Quero ficar a sós com minha mulher.
-Imagine se deixarei um homem no seu
estado de nervos sozinho com minha filha!
-Não se preocupe, meu pai, esse daí não
tem coragem para fazer nada além de gritar com
mulheres indefesas!
Seu desprezo alertou o Conde de que
talvez defender sua filha não fosse a atitude mais
acertada. Olhou demoradamente para ela,
lembrando-se de dias atrás quando lhe confessara
seu sofrimento pelo marido ter outras distrações e
não lhe dar mais a atenção desejada. Estava às
voltas com a forma mais antiga de uma mulher
chamar atenção de seu marido. O ciúme.
-Sejam discretos, e ao menos subam para
o quarto, para resolverem esse dilema – ele
sugeriu, chegando à conclusão óbvia de que o
único remédio para a dor que os dois padeciam era
a privacidade de uma reconciliação apaixonada. –
usem a escada particular.
Não era um pedido, era uma ordem.
-Não vou a lugar algum com esse
homem. – ela disse entre dentes, furiosa com o
Conde também.
-Claro que não, prefere assassinos como
o Wood – ele desdenhou.
-Não ouse dizer o que eu gosto ou deixo
de gostar! Seu... Seu...!
-Chega! Calem-se os dois! – finalmente o
Conde perdeu a paciência - Gritem o quanto
quiserem, mas façam isso longe dos meus ouvidos
e dos ouvidos dos meus convidados!
Engolindo essa desfeita, Helena
praticamente marchou pela sala, passando bem
longe de Rony, seu vestido farfalhando a sua
volta, enquanto andava a passos duros que
ecoavam pela saleta.
Sua esperança era chegar antes dele no
quarto e se trancar.
A escada privada era mais estreita do que
a escada principal, que majestosa adornava o hall
de entrada, por siso foi fácil escapar de um
confronto, pois seria praticamente impossível
subirem lado a lado.
Sua felicidade por ter chegado primeiro
ao quarto foi substituída por pânico quando
descobriu que a chave não estava na fechadura.
Estava sobre o criado mudo ao lado da cama, e
correu, na vã esperança de apanhá-la a tempo e
trancar a porta.
O estrondo atrás de si a fez saltar,
consciente que aquela chave não servia mais para
nada agora que ele estava dentro do quarto.
Deixou a chave cair e olhou para ele, constatando
que não haveria conversa.
Não mesmo! Covarde, correu para o
banheiro, aliviada quando não ouviu seus passos.
Foi então que ouviu o som da porta sendo
trancada. Seu coração estava acelerado, e ela
olhou em volta do pequeno vestíbulo à procura de
algo para usar contra ele.
Por um segundo se perguntou se
enlouquecera. Era o mesmo Rony que sempre a
defendia! Por maior que fosse a ofensa, ele não
bateria nela! O máximo que faria seria... Respirou
fundo ao lembrar-se da última vez em que
discutiram desse modo. O prazer que sentira
ultrapassava todos os limites. Sentiu as pernas
bambas ao pensar nisso.
Precisou se apoiar numa das paredes,
pensando em porque fizera isso. Provocava um
furacão quando tudo que desejava era a calmaria!
Inferno! Era ele o culpado! Como podia julgá-la
por dançar com um mau caráter, quando era ele
quem se deitava com duas irmãs ao mesmo
tempo? E gêmeas!
Sentindo as brasas da raiva reacender,
saiu do seu esconderijo, para encontrá-lo
esperando por ela no meio do quarto. Não havia a
menor sombra de dúvida sobre seu estado de
exasperação e raiva.
-Eu quero ficar sozinha – ela disse afinal,
depois de longos segundos de olhos nos olhos,
desafiando um ao outro a ceder.
-Não – ele disse gelado – Não quer ficar
sozinha. Quer um amante na sua cama. Quer um
homem qualquer lhe fazendo companhia!
-Isso é mentira! Deixe de ser dramático!
-A mulher que eu vi lá embaixo, naquele
salão, nos braços do Wood, queria sexo. Queria
que todos soubessem o que aconteceria quando o
imbecil do seu marido virasse as costas! - Seu
pescoço estava avermelhando rapidamente à
medida que a fúria o consumia, e os poucos
passos que o separaram não foram o bastante para
afastar também o rancor – Sabe o que todos
comentarão pelas minhas costas? Que eu sou
traído! Que a mulher com quem me casei deita-se
em qualquer cama quente onde haja um homem!
Vão chamá-la de meretriz, e pôr dúvidas sobre o
nascimento do meu filho! Será chamado de
bastardo, mesmo que lhe dê meu nome, pois daqui
para diante, todos saberão que se deita com outros
homens!
-Isso é mentira! - ela aproximou-se,
gritando na sua cara, com a voz quase rouca de
tanto ódio – Está mentindo!
-A única mentira aqui é você! – ele
revidou na mesma moeda – Se queria outro
marido, porque não disse ao Conde? Pouparia-me
tanto trabalho!
-Tanto trabalho? – as palavras soaram
um pouco frágeis, sem entender o que se passava.
-Aceite Wood como marido – disse com
dureza. Aspereza – com sua fortuna eminente, ele
não se negará a casar com uma mulher de segunda
mão. Usada. Para ser franco, vai comemorar tudo
que lhe ensinei! Eu, por minha vez, volto para
minha vida, talvez até aproveite para me casar
com Susan. – seu choque era tão evidente que ela
sequer respondeu, quando mais respirou diante
dessa sugestão – uma mulher que não me exponha
ao ridículo se agarrando com o homem que fez da
minha vida um verdadeiro inferno, e que passou
anos perseguindo John! Um homem que não vale
a sola sapato que usa! É isso que você quer,
Helena? – deu mais um passo em sua direção,
ficando tão perto que ela sentiu na face o hálito
quente de sua respiração tão acelerada quanto à
dela – Uma palavra, e eu mesmo busco Wood
para ocupar meu lugar em sua cama!
Era uma ameaça tão forte que ela tremeu
da cabeça aos pés. Só de pensar nos apertos
daquele homem em seu corpo sentiu um embrulho
no estômago. Estava sendo colocada contra a
parede. Era isso. Jogava sobre ela a culpa de seu
descontrole, quando na verdade a culpa era toda
dele! Inacreditável ao ponto que ele chegava para
reverter o jogo a seu favor!
-Para que? Devo querer outro traste para
que? – ela perguntou com toda a coragem que
havia dentro de si.
-Ele a beijou?
Se Rony desse mais um passo ela sairia
correndo. Não tinha a menor dúvida sobre isso.
-Uma pena, não houve tempo – provocou.
-Marcaram um encontro? – esse passo
estava muito próximo de ser dado, e olhando no
fundo do azul de seus olhos, sentiu que estava
perdida.
-Como disse, não houve tempo. Mas... –
afastou-se, esperando que ele notasse todo seu
desprezo. Perto da cama, ela olhou para ele com
olhos miúdos. Olhos de rapina, de cobra
preparando o bote -... Tenho certeza que não
demorará para se fazer notar novamente. Como
sabe, a filha do Conde não é difícil de ser notada –
ela mesma não se reconhecia falando desse modo
– Sabe do que ele me chamou? “Minha deusa de
fogo”.
Quase riu quando ele mudou a postura,
enrijecendo o maxilar, as mãos tensas na cintura.
Podia ver os nós dos dedos esbranquiçados pela
força que ele fazia para não avançar sobre ela.
- Minha deusa de fogo – ela repetiu – me
pergunto se foi pela cor do vestido, ou pelo toque
do meu corpo.
-Não importa - ele disse manso demais,
os olhos fixos nela – Ele estará morto antes que
tenha oportunidade de descobrir.
Se houvesse gritado, teria uma resposta
para lhe dar. Mas não. Sério. Completamente
sério.
Controlado? Então era assim? Enquanto
ela sentia sua falta e sofria as agulhadas do ciúme,
ele estava controlado?
Rony fazia força para se controlar e não
repetir a miserável atitude que tivera no trem.
Esforçava-se além do que era capaz para não
agarrar seu cabelo e beijá-la até arrancar de sua
memória o contato de outro homem!
-Durma aqui – ele disse entre dentes,
uma veia saltando em seu pescoço. – é melhor
dormirmos separados essa noite.
Sua frase soou como uma explosão em
sua mente. Ele queria dormir sozinho? Usava de
seu deslize como desculpa para talvez,
corresponder aos sorrisos da Srta.DeLuy? Ou
melhor, das senhoritas DeLuy! Cínico! Mentiroso!
Verme!
Rony não chegou a dar um passo em
direção a porta quando algo passou rente a sua
cabeça e espatifou-se contra a porta, ao mesmo
tempo em que ouvia seu grito:
-Gêmeas!
Virou-se para olhar para ela sem entender
o que dizia
-Gêmeas! - Helena apanhou outro enfeite
e jogou com toda sua força nele, errando apenas
porque foi mais rápido e se afastou.
-Viúva Sophie!
Achando que havia enlouquecido apenas
saiu da frente, quando a bela escova de cabelos
cruzou o ar em sua direção.
-Sra. Winters! Seu hipócrita! – pegando a
primeira coisa que viu pela frente, Helena lançou
o vasinho adornado por rosas coloridas, sem vê-lo
espatifar-se contra a parede, espalhando água e
flores pelo tapete caríssimo que adornava o quarto.
-Gêmeas! Uma mulher não é o
bastante!Quer dormir sozinho? É claro que quer!
– frenética, agarrou um atiçador da lareira e
apontou para ele, vendo-o parar e ficar imóvel,
com a ponta pontiaguda em sua direção. –
Roxanne Lammer!
A essa altura, Helena não percebia as
lágrimas que corriam de seus olhos, ou notava que
estava aos berros, muito menos percebia que
aquele atiçador entre eles era quase uma ameaça
de morte.
-G.ê.m.e.a.s – disse pausadamente, as
imagens dos dois corpos femininos entrosados ao
dele sobre uma cama – Como eu te odeio!
O atiçador era muito pesado, então jogou
no chão, alcançando uma estatueta de porcelana
que voou pelo quarto, acertando um espelho que
balançou e quase caiu, mas não se espatifou por
milagre.
Rony começara a entender a que se
referia quando ela mencionara o nome de suas ex-
amantes, uma a uma, com atenção redobrada para
a fúria a cada vez que se repetia ‘Gêmeas’ em sua
boca.
Helena estava descabelada, o vestido
vermelho rivalizando com suas bochechas e olhos
avermelhados.
-Como ousa me criticar – Ela esbravejou,
notando o estado em que estavam e o desabafo
que fizera – Eu te odeio. Eu te odeio tanto! – era
verdade, era a mais perfeita verdade!
Fora de si, reclusa em sua própria ira,
não o viu se aproximar, mas quando notou,
empurrou-o. Era estranho, porque o empurrava
enquanto uma de suas mãos agarrava seu braço.
-Eu te odeio!
Ele tentou segurá-la, mas não conseguiu.
Helena avançou sobre ele, querendo no mínimo,
arranhar todo aquele rosto debochado, mas sem
saber como, acabou em seus braços.
Aquela mulher que avançou sobre seu
corpo fez Rony perder o controle e erguê-la para
cima com pressa, raiva e paixão. Segurou suas
pernas em volta de sua cintura e a levou para a
parede, grudando suas costas frágeis contra o
papel de parede sofisticado. Era um quarto dos
sonhos, como uma princesa de contos de fadas
merecia, mas Helena não era uma princesa, era
uma bruxa. Uma bruxa que gritava, esperneava e
ameaçava acabar com seu juízo.
Uma bruxa que quase morreu de agonia e
ansiedade quando ele rasgou a anágua que usava.
Uma bruxa que gritou apaixonadamente
quando a penetrou...
Capítulo 109 - Atrás das sombras

Helena sentiu o choque, e então fechou os


olhos, saboreando aquilo que vinha desejando
tanto nos últimos dias. Longo, profundo, grosso e
macio. Quente, deslizando cada vez mais forte
para dentro do seu corpo que estava
completamente pronto para recebê-lo.
Rony apertava o corpo pequeno a cada
empurrão, o rosto abafado contra seu pescoço,
sentindo-a completamente perdida naquele mundo
de prazer.
Não era bom o bastante, o vestido
atrapalhava, e o peso das camadas de tecido
estavam deixando seus joelhos doloridos.
Carregando-a, jogou-se com ela sobre o meio da
cama, continuando com os movimentos.
Jogou a cabeça para trás, rugindo como
um animal ferido diante do inexorável prazer que
o percorreu ao afundar-se dentro daquela mulher
fervorosamente apaixonada. Helena o empurrou
em determinado momento, e ele sentiu um
princípio de pânico ao pensar que pararia de
corresponder ao ato.
Com toda a força que a raiva havia lhe
dado, Helena empurrou-o, Rony levando-a com
ele, e quando se viu sobre seu corpo, ela esqueceu
qualquer intuito de vingança, descendo o quadril
sobre o dele com tanta força que sentiu um pouco
de dor.
Mas não importava! Nada importava!
Finalmente, finalmente, finalmente,
finalmente, finalmente...
Oh, finalmente ele estava dentro dela!
Seu corpo tombou sobre o dele, suas
mãos apoiadas em cada lado da cabeça ruiva,
usando esse apoio para dar impulso para subir e
descer sobre ele com força e rapidez. Ele tinha a
cabeça atirada para trás, os olhos fechados e
gemia muito, vítima dos seus ataques.
Helena tinha o vestido caindo sobre eles,
meio enrolados entre suas pernas, e sentia o tecido
entre eles, incomodando, mas não impedindo o
que faziam, vestida inteiramente de vermelho,
levando seu marido para um mundo onde a única
cor predominante era o rubro da paixão.
Rony segurou em sua cintura ajudando-a
a seguir os movimentos, todo corpo pequeno
grudado ao dele, a intimidade tão avassaladora
que se deixou guiar por ela.
Desse modo acabaria esfolado. Quis rir
de sua pressa, de sua vontade, mas não tinha
coragem, pois era a mesma sensação que tinha. O
mesmo desejo de chegar a um lugar onde os dois
se entendiam.
O mundo do prazer era o único mundo
que dividiam em paz.
Um mundo em comum, onde se
compreendiam e se aceitavam.
Ela gritou, se contorcendo, e certo de que
acabaria machucando-a, pois estava cada vez mais
apertada e frenética, ele girou o corpo com toda
sua força até ter seu corpo sob o dele. Saiu do seu
recanto mágico e a girou novamente.
De joelhos, no meio da cama, Rony a
segurou deitada de costas, enquanto puxava seu
odioso vestido vermelho. Vários puxões e o tecido
não cedeu, precisou erguê-la quase de quatro para
arrancar os botões que o prendiam com um forte
puxão. A seda cedeu, e ele deu vários solavancos
nada gentis até ter livrado seu torso. Tirar pelas
pernas foi mais fácil e ele reclamou palavras
desconexas quando viu a anágua rasgada se
impondo entre eles.
O tecido era mais frágil, e cedeu no
primeiro puxão.
Tão frágil quando o corpo pequeno em
suas mãos. Emocionado com a fragilidade daquela
estrutura óssea, as costas tão lisas, miúdas e o
bumbum tão arrebitado, guloso e macio, curvou-se
para beijar suas costas, devorando a pele, e
descendo mais e mais enquanto ela se contorcia
sob o calor e a umidade de seus beijos.
Helena se moveu, se contorcendo sob os
beijos deliciosos, remexendo-se na busca por
mais, suas mãos para trás, tentando tocar suas
coxas masculinas, mas encontrando apenas o
tecido como resposta. Frustrada, gemeu sem saber
que seus gemidos o enlouqueciam tanto quanto a
óbvia necessidade impressa em seu corpo que se
esfregava contra ele.
Incapaz de conter-se por muito tempo, ele
se colocou entre suas coxas, e a penetrou num
único movimento profundo. Ela gritou algo como
‘não pare’, mas ele não entendeu direito, pois
estava mordendo o lençol, e sua voz saia abafada.
Segurando em sua cintura, ele a puxou
para trás, erguendo-a e fazendo ambos ficarem de
joelhos sobre a cama.
Helena se contraiu, as coxas retesadas
pela posição difícil para alguém tão pequena.
Insensível, Rony recomeçou os movimentos,
sentindo o exato momento em que a paixão
sobrepôs ao limite do corpo e ela se pôs a gemer
em prazer.
Suas mãos arrancaram a presilha de sua
cabeça, libertando seus cabelos que se espalharam
entre eles, num emaranhado perfumado que o
enlouqueceu.
Helena esfregou-se contra ele, mal
notando que ele ainda estava vestido, suas mãos
correram por trás, tentando segurar sua cintura, ou
seu peito, sentir sua pele, mas ao encontrar as
roupas, subiu mais, achando um porto nos cabelos
ruivos. Dobrou-se o máximo que pode para beijá-
lo.
Rony tomou seus lábios, uma de suas
mãos agarrando seu seio, o braço cruzado sobre
seu frágil corpo, apertando-a de uma forma que
trouxe borboletas a sua barriga, num carrossel de
cores e sentimentos.
Os dois se moviam numa dança única, os
quadris grudados, seu fabuloso pênis afundando o
máximo possível, pouco saindo a cada estocada.
Os lábios se buscavam e se amassavam gulosos,
querendo mais e mais, como se apenas a união
íntima de seus sexos não fosse o bastante.
Helena gemeu e gemeu, soltando-o em
busca de ar, sua cabeça se movendo e se
esfregando em seu ombro, enquanto ele agarrava
com mais força, afundando suas nádegas contra
suas coxas masculinas a cada penetração.
-Me pega! – ela implorou – Me pega
Rony, me pega assim, oh, por favor...
De joelhos sobre a cama, ambos
dançavam uma dança única, subindo e descendo,
os corpos quentes, vermelhos e começando a suar,
pois apensar da temperatura amena, os
movimentos eram frenéticos.
Tão dentro, era apenas nisso que Helena
pensava, tão dentro e fundo quanto o amor que
sentia por aquele homem!
Finalmente eles eram um. Finalmente ele
olhava para ela. Gritou quando uma mordida em
seu pescoço descarregou uma carga de energia e
desejo por suas veias, os movimentos dos quadris
de ambos levando-a a um ápice onde não havia
volta.
Não havia volta. Jamais abriria mão
desse homem!
Seu corpo ficou tenso, o pênis pareceu
crescer dentro dela, quando suas coxas apertaram
e seu corpo convulsionou sendo dominado pela
dor de um grande orgasmo.
Rony foi sugado pelo seu gozo,
libertando-se quando ela tremeu e o ordenhou
selvagemente dentro de si. Incapaz de controlar-se
tombou com ela, pesando sobre seu corpo.
Helena praticamente desapareceu sob ele,
sendo possível ver apenas o grande corpo de
homem que a cobria como um grande cobertor.
Por alguns minutos o único som dentro
do quarto era o som alto e angustiante das
respirações alteradas, e o farfalhar das cortinas
que a brisa movia, vinda da janela aberta.
Vagamente consciente, Rony tentou se
mover, mas ela segurou-o. Seu braço estava
caindo ao redor dela, e Helena segurou-o trazendo-
o para mais perto do seu rosto, onde beijou a pele
e recostou-se no calor que era oferecido.
Deveria estar esmagando-a, mas também
não tinha nenhuma força de vontade para soltá-la.
Queria e precisava repreendê-la pela
atitude que vinha tendo, pois era seu dever de
marido impedi-la de se expor daquele modo, mas
não podia fazer isso agora. Não diante de uma
demonstração de ciúmes tão raro e tão direto.
Wood era uma arma para atingi-lo.
Uma faca afiada e cortante, que
apunhalara seu coração, mas que não causara a
morte, e sim a cura.
Helena sentia o mesmo ciúme doentio
que ele, e isso era sinal de amor não era? Sua
mente madura alertou-o do fato que muitas vezes
o sentimento de possessão podem ser mais fortes
que o do amor, em casos de ciúmes doentios,
porém, Rony desconsiderou esse pensamento.
Reconhecia seus sentimentos, pois eram
os mesmos que sentia.
-Cheira a rosas – ele sussurrou, sentindo
seu cheiro, roçando o nariz em seu cangote.
-O Conde escolheu esse perfume... – ela
respondeu no mesmo tom, sem condições de
erguer a voz.
-Não, não foi ele. Eu comprei o perfume
que está usando. Assim como comprei o colar que
usa. – informou sem dar muita atenção ao fato.
Helena conteve a respiração. O perfume
era do seu exato gosto, do mesmo modo que o
colar. Rony escolhera pessoalmente?
Inconsciente aos seus pensamentos, Rony
seguiu cheirando sua pele, sentindo a maciez da
pele ao longo da sua coluna, se perguntando como
aguentara quatro dias sem tocá-la. Era um louco
ou um santo!
Helena ficou imóvel, sentindo os beijos
molhados descerem por seu corpo enquanto sentia
sua rigidez novamente pressionada contra suas
nádegas. Rony a queria novamente. Essa
constatação preencheu de luz e alegria cada
recanto do seu coração tristonho e escurecido pela
dor da rejeição.
Rony gemeu quando notou que não havia
nenhum traço de recusa no modo como ela ergueu
o quadril de encontro a sua ereção. Pelo contrário,
se oferecia e pedia por mais. Orgulhoso, seguiu
beijando-a por todo o caminho dos ombros, braços
e costas, enquanto tirava o casaco do fraque, a
gravata e a camisa.
Seria impossível retirar a calça sem se
mover, por isso foi obrigado a se afastar. Helena
moveu-se também, e por um segundo teve medo
que fugisse.
Para sua tranquilidade, ela se virou de
costas contra o colchão e ficou olhando para ele,
esperando por ele. Imagem deliciosa pensou,
enquanto retirava os sapatos, as meias, a calça e
as ceroulas. Imagem infinitamente deliciosa!
Sua mulher deitada, a sua espera. Os
seios macios, empinados e cheios, esperando por
seus beijos, os mamilos suaves e rosados,
esperando serem atiçados e enrijecidos por sua
língua. A barriga havia arredondado nos últimos
dias, e podia ver um contorno definido que o
vestido escondia. Pelas pernas um pouco
afastadas, pode ver que estava avermelhada e
provavelmente ficaria dolorida e inchada. Mas
naquele momento nenhum dos dois se importava
com o depois!
-Posso ver nosso filho – ele disse se
juntando a ela na cama, cobrindo seu corpo com o
dela – Sua barriga está crescendo, Helena. Vê? –
sua mão contornou sobre o inchaço e ela
concordou. – posso vê-lo em seus seios, em sua
barriga, posso imaginá-lo em seus braços – disse
carinhosamente enquanto beijava sua barriga,
acariciando-a com tanta gentileza que trouxe
lágrimas aos seus olhos.
-Posso sentir seu cheiro, sua pele
arrepiada... Porque me maltrata se me deseja do
mesmo modo que a desejo?
Não era uma pergunta que desejasse
resposta, e com efeito, beijou-a na esperança de
que não respondesse.
Seu corpo sobre o dela, e Helena subiu
ambas as pernas prendendo-o na esperança de que
não se afastasse. Abraçou-o com braços, pernas e
corpo, esperando que não quisesse se afastar.
Helena continuava tão úmida e
escorregadia que a penetração se deu
naturalmente, começando a mágica dança do amor
imediatamente.
Um amor calmo, saciado, como quem
quer apenas reafirmara posse sobre o outro
coração.
E era exatamente isso que ambos
queriam. Reafirmar a posse e o desejo latente que
os tornavam escravos um do outro.
Em nenhum momento os lábios se
separaram, embora se afastassem ocasionalmente
para respirar, ainda assim as bocas estavam se
roçando, os gemidos se misturando, os olhos
focando um ao outro. Durante todo o tempo, a
única coisa que se ouviu foi o som molhado que
seus sexos produziam a cada invasão, e o barulho
do chão sendo arranhado pelo vai e vem dos pés
da cama contra o chão, pois o móvel seguia os
movimentos dos corpos.
O carinho, a mágica de se amar deu lugar
à completa paixão, a agonia do êxtase e a busca
incansável por mais.
Os movimentos não pareciam o bastante,
os beijos, os gemidos e sussurros não eram o
bastante, havia mais, muito mais. Helena segurou
seu rosto, fixando o olhar no dele antes de beijá-lo
uma vez mais, dessa vez com toda a paixão
refreada, querendo apagar daqueles lábios a
lembrança de outros beijos, de outras amantes.
Por sua vez, Rony agarrou sua coxa,
segurando-a ainda mais perto, enquanto
aumentava as penetrações, levando-a diretamente
para aquele turbilhão de emoções que a deixavam
fora de si.
Os corpos estavam colados, e o suor do
corpo de Rony misturava-se a pele de Helena, o
cheiro másculo a inebriando, e nada no mundo
poderia ser mais poderoso que o cheiro do seu
homem, o suor do seu corpo enquanto a fazia sua,
marcando-a com sua semente.
Ela arfou baixinho quando gozou. Um
som que mais lembrava um soluço e um lamento.
Um lamento por ter acabado, um soluço pela
emoção tão profunda que a deixava
completamente trêmula, arrepiada e fraca.
Rony se moveu várias vezes antes de
conseguir parar. Era como se seu corpo ainda
quisesse continuar apesar da paixão satisfeita. Foi
se acalmando, sentindo os beijos meigos que ela
distribuía por seu pescoço e queixo. Olhou para
baixo, para sua Helena que assistia seu prazer, e
pouco a pouco foi se controlando, até permitir-se
descansar sem seus braços.

A música havia cessado totalmente


quando Rony abriu os olhos e acordou. Lembrou-
se automaticamente de ter pegado no sono poucos
segundos depois de fazer amor com Helena pela
segunda vez, após a horrível briga que tiveram.
Horrível e vergonhosa discussão.
Discussão? Fora mais que isso, com toda certeza!
Rony ainda estava na cama, deitado no sentido
contrário aos travesseiros, nu e perdido num
emaranhado de resto de roupas rasgadas e lençol
retorcido.
O vestido vermelho estava em pedaços
embaixo dele, e lânguido, procurou com os olhos o
alvo da sua sempre constante atenção. Parte sua
imaginava que houvesse fugido, outra parte lhe
dizia que o fato de ter vivido para acordar já era
um começo animador! Avistou a imagem de
Helena e franziu as sobrancelhas sem entender o
que se passava com ela. Estava de pé, enrolada
num dos lençóis caríssimos que arrastava no chão,
tão maior que seu corpo. Havia afastado um pouco
a cortina para olhar pela janela. Era uma dessas
janelas de corpo todo, e a brisa da noite fazia seus
cabelos ondularem ao sabor da brisa.
Helena sentia os olhos arderem
observando as luzes que enfeitavam o jardim, as
pessoas indo embora em suas luxuosas
carruagens.
-Helena – ele chamou com medo de
surpreendê-la e irritá-la.
-Estraguei o baile do Conde – sua voz
falseava.
-Sim, estragou. – ele apoiou a cabeça
num cotovelo olhando para ela com censura –
Causou uma situação que dificilmente será
esquecida tão cedo.
Helena afastou os olhos das pessoas que
iam embora, e soltou a cortina. Virou-se para ele
com olhos vermelhos, sem olhar para ele
diretamente.
-Quem lhe contou das mulheres que tive
antes de conhecê-la? – ele perguntou direto, sem
meias palavras.
-John - sua voz ainda parecia frágil
demais. – Eu o pressionei.
Não era preciso grandes explicações.
Helena seria capaz de fazer o próprio capeta
chorar se quisesse. Suas técnicas de coação
aliadas a sua expressão, colocavam medo até no
mais corajoso dos homens.
-Antes ou depois de aceitar dançar com
aquele bastardo?
Helena olhou em sua direção, sem
entender o porquê dessa pergunta, qual o intento.
-Antes – sentia tanta vontade de chorar
que a voz saiu áspera e esganiçada. Uma voz
horrível.
-Prometeu que não beijaria outro homem.
Mentiu para mim – ele jogou na sua cara, com
uma sensação de desconsolo que a assustou.
-Mas eu não o beijei! – defendeu-se,
dando um passo para frente – Tão pouco permiti
que me abraçasse daquele modo! Ele barrou
minha passagem, eu o mandei sair. Pretendia
voltar ao salão e ir embora. Era essa minha
vontade. Mas ele me convidou para dançar e eu
quis...
-O que você quis? – não era uma
pergunta, pois não havia alternativa.
Ou respondia, ou respondia. Sem meios
termos ou opções. Fugir seria assumir sua
sentença de culpa. Acuada, suspirou e maneou a
cabeça, inconformada de ter se colocado nessa
situação.
-...Aquele homem me achou atraente –
ela disse, como se resumisse tudo.
-Foi por isso que aceitou dançar com ele?
Porque a achou atraente?
Soberano em sua nudez, olhava para ela
como se estivesse diante de uma mulher
completamente louca. Tudo bem, Helena nunca
lhe fizera grande sentido, tendo seu modo
particular de agir e pensar, mas hoje, estava
convicto que não entendia uma palavra que ela
dizia! Sempre que achava estar no caminho certo,
Helena o desviava. Ou o caminho para o coração
de Helena estava fechado para ele, ou realmente
era uma mulher complicada!
-Ele disse se chamar Falcon Wood –
definitivamente mudava de assunto – Isso é
verdade?
-Porque quer saber? – perguntou na
defensiva.
-As coisas que disse sobre ele? São
verdades? – deu um passo em sua direção. Queria
achar um jeito de explicar que a sensação de
opressão que sentira nos últimos dias havia
passado, e se sentia tranquila.
-Sim. Deseja mesmo falar sobre aquele
rato? – notou o modo como ela olhou para seu
corpo nu. – Disse que ele a oprimiu durante a
dança. Tem certeza que é verdade? – havia mágoa
em sua voz.
-Sim, juro que sim! – indignou-se –
Confesso, achei que seria notada se dançasse com
outro homem! Em meio a tantas amantes, deveria
prestar atenção ao ver sua esposa dançando com
outro!
-Ser notada? – havia algo perigoso no
modo como ele olhou para ela – Está dizendo que
não a noto o bastante?
Pega no flagra, ela sustentou seu olhar,
mas acabou desistindo, afastando-se para perto da
janela novamente.
-É esse o problema, Helena? – saltou da
cama, andando até ela. – Não lhe dou suficiente
atenção? Acaso não lhe disse que isso aconteceria
quando chegássemos? Que os custos dessa
viagem seriam altos e que precisaria de todo meu
tempo para trabalhar e render o suficiente para que
não nos faltasse nada? Não lhe disse?
-Sim, disse – não olharia para ele por
nada do mundo naquele momento de ser posta na
parede.
-Então? – ele ironizava, e ela não
aguentou.
Virou-se para ele com raiva.
-Disse que passaria o dia todo fora. Não
disse que andaria silencioso pelas escadas e
dormiria no canto da cama! Muito menos que não
notaria que usava o vestido mais escandaloso do
mundo! Poderia ter vindo nua nesse baile que não
teria notado!
Rony olhou para seu rosto afogueado e
para os belos olhos castanhos que não deixavam
dúvidas do que se passava ali. Confusão e então
entendimento o fizeram sorrir, sem crer nas
próprias conclusões. Helena se encolheu quando
ele se aproximou e tomou seu rosto entre as mãos,
beijando a ponta do seu nariz Era um provocador,
debochando de seu mal!
-Fez toda essa confusão essa noite apenas
porque não demonstrei interesse em você nos
últimos dias?
Sem saber como negar essa verdade, não
respondeu nada. Sabia que estava corando de
timidez, e era uma tolice. Ter vergonha de querer o
próprio marido?
-Não reparou no meu vestido – foi sua
estranha explicação.
-Não. Não reparei. Estava muito ocupado
olhando para você e tentando conter a vontade de
jogá-la sobre meu ombro e subir para o quarto –
foi sincero – Helena, tem me colocado louco com
suas negativas delicadas. Não me diz não, mas me
afasta o tempo todo! Jurei a mim mesmo que não
a tocaria contra sua vontade por nada neste
mundo! Por isso durmo na ponta da cama, com
medo de tocá-la e por tudo a perder! Entende meu
dilema?
-Não olha para mim! - ela acusou, sem
crer em suas palavras.
-Não olho para você? – ele quase riu –
Acha que poderia me notar olhando-a, se não está
olhando na minha direção? Helena! Nos últimos
dias sempre que me aproximo você se afasta
correndo! A única forma que achei de presenteá-la
foi colocando meus presentes juntos aos presentes
do Conde! Acaso não notou que só tem olhos para
Londres, minha pequena?
-Porque escolheu pessoalmente o perfume
e o colar? – perguntou, precisando muito dessa
resposta.
-Porque se dependesse dessas moças
daqui, iria cheirar a fruta cítrica e usar colares
pesados e ostensivos, e pareceria como elas, vazia
e sem graça. Quis que cheirasse suavemente,
queria sentir seu cheiro natural. E queria ver seu
belo colo acolher uma suave perola como uma
rosa acolhe uma gota de orvalho nas manhãs.
Porque você perguntou a John sobre minhas
antigas conhecidas?
-Amantes, quer dizer – ela se afastou
instantaneamente ao ouvir isso.
-Eu perguntei por que, Helena! – insistiu
vendo-a atravessar o quarto, fugindo dele e do seu
olhar inquisitivo. – Vamos, responda! Estou sendo
compreensivo, muito mais do que merece! Depois
do que fez na festa, se roçando no Wood... No
mínimo deveria mandá-la para uma longa estadia
bem longe de Londres, talvez em uma casa de
campo do Conde, na Austrália! Ou na Escócia, ou
ainda...
-Eu entendi! – elevou a voz para calar
suas verdades. – é o melhor homem do mundo –
debochou mordaz – Queria conhecer as pessoas a
minha volta. Saber quem de verdade gosta de
mim. Como Roxanne Lammer, que se aproximou
de mim, mas não me contou que vocês dois...
Enfim, é essa a minha razão.
-Apenas isso? – desacreditou totalmente,
sabendo que sua curiosidade na verdade era fruto
do ciúme. – Pois saiba que Madame Lammer não
escondeu esse fato irrelevante por maldade.
Acredito, que por vergonha.
-Vergonha? – estranhou.
-Helena, você é uma mulher encantadora,
e suas idéias são... São avançadas, ela deve ter
ficado admirada e encantada em tê-la discursando
em seu grupo de mulheres. E quanto ao que se
passou no passado... Lammer tinha quase
quarenta anos quando nos conhecemos, seu filho
mais velho tem minha idade. Da minha parte, foi
oportunidade e luxúria. Da parte dela, solidão e
necessidade física. Nada orgulhoso para nenhum
de nós. Entende porque não contei? Pela mesma
razão que ela.
-É mesmo? E as outras?
-Quer que me desculpe por ter um
passado antes de conhecê-la?
-É claro que não – racionalmente era um
absurdo, mas emocionalmente achava que sim,
deveria desculpar-se!
-Notei seu grande interesse no quesito
gêmeas DeLuy. – notou no mesmo instante sua
postura mudar. – São mimadas. O que elas
querem elas tomam para si. Uma fantasia num fim
de noite, muito vinho e amigos tolos tão bêbados
quanto eu. Fui o escolhido. Cedi. Não foi um ato
de amor ou respeito. Foi apenas algo sem
significado.
-Muitos atos sem significado na sua vida,
marido – ela jogou em sua cara com acidez.
-Sim, mas não vou lamentar meu passado
– avisou – controle seu ciúme.
-Ciúme? – a palavra saiu com horror de
seus lábios – Ciúme? Ciúme?
-Sim, ciúme. Por ciúmes cometi a
insensatez de atacar o rato do Wood em público, e
por ciúmes se atreveu a dançar com ele. Ciúmes, a
face amarga do amor!
-Ora seu...! Amor! O que sinto por você é
apenas... Se o comprei com minha fazenda então,
não ouse esquecer a quem pertence! – jogou em
sua cara, querendo que ele sentisse um décimo da
raiva que sentia. – Meses de amargura a seu lado,
não esqueça que seu amigo pagou para livrá-lo de
mim! Não esqueça que me passou essa rasteira, e
se tive que engolir essa, terá que engolir minha
companhia! E se eu não gosto de suas amantes,
esteja certo, que deixarei claro sempre que quiser!
-É mesmo? Porque começou a se
comportar como essas filhinhas de papai mimadas
da corte? – cada vez mais próximo, colou-a contra
a parede, olhando em seus olhos com a mesma
labareda de raiva que brilhava nos olhos
castanhos. – Não viverei o resto dos meus anos de
vida ao lado de uma nova Alexia Lil. Decida-se,
Helena!
Engolindo o orgulho, pois ele estava
coberto de razão ao dizer que estava se portando
como as mulheres que tanto detestava, fugiu de
seu aperto, andando a passos tortos, pois estava
dolorida dos arroubos de paixão de mais cedo.
Com pesar, retirou de sobre a cama os restos de
seu vestido, que esperava guardar como
lembrança de seu primeiro baile em Londres, e
arrumou os lençóis o mais apresentáveis possível
naquelas circunstâncias.
Ignorando-o o máximo possível, ela
deixou o lençol cair, sentindo os olhos dele sobre
seu corpo nu, e então entrou rapidamente entre os
lençóis da cama, se cobrindo.
-Amanhã teremos uma longa conversa
sobre Wood – ele informou fazendo o mesmo que
ela.
-Eu sei – seu olhar dizia mais que isso, e
Rony se virou até estar sobre ela.
-Será uma longa conversa sobre como a
punirei pela ofensa que cometeu ao Conde, a mim,
a John e a todos os convidados – afastou suas
pernas, adorando o modo como ela deixou-o agir,
soltando um profundo suspiro de antecipação. –
entende isso?
-Sim... Entendo, esposo – respondeu com
falsa amabilidade.
-Bom – fingiu acreditar – Agora se cale.
– mandou, penetrando-a profundamente, com uma
estocada só, sem esperar ou avisar, arrancando
dela um gritinho de prazer e dor.
Com a mesma falsa cordialidade das
respostas, fingiu aceitar a ordem. Afinal, do que
mesmo eles falavam? Não sabia.
Capítulo 110 - O troco

Helena suspirou, acordando de um


pesado sono, sentindo na pele o toque gentil da
seda e do linho dos lençóis.
Passou os braços pelo travesseiro,
afundando o rosto e achando que pegaria
novamente no sono. Sentiu um revirar no
estômago e achou que era fome. Mas não era. Era
medo e culpa.
O dia havia amanhecido, e haveria sem
dúvidas um confronto. Um não, vários.
Resignada, ouviu o bater suave na porta e
virou-se a tempo de ver a porta abrir, e uma
sorridente moça entrar com um vestido nos
braços. Suspirou enquanto se esforçava a sorrir
simpática.
Não haveria como evitar o momento que
se seguiria, e se Rony havia descido antes e
perdido a oportunidade de acordá-la e aproveitar-
se dela, é porque o caso era mesmo seríssimo.
Um sorriso se alargou em seu rosto ao
lembrar-se das palavras dele. Não olhara para seu
vestido vermelho, pois estava muito ocupado
olhando para ela. Tocou sobre o pescoço e desceu
os dedos para a correntinha que repousava
próxima aos seios. Um pingo de orvalho sobre
uma rosa... Suspirou novamente, notando que a
jovem olhava para ela com olhares sonhadores.
Sim, quis dizer a ela, era uma mulher
feliz lembrando-se de uma noite maravilhosa nos
braços do homem amado.
Levantou-se naquele clima de
contentamento e se deixou vestir, ainda achando
engraçado ter alguém para fazer isso para ela.
Foi quando descia as escadas que o peso
de suas atitudes assolou. O que diria ao Conde?

A primeira pessoa que ela viu ao entrar


na saleta, o local preferido do Conde, foi Alice.
Ela olhou-a com algo de superior no olhar e
Helena se preparou para o pior.
John estava sentado ao lado do Conde,
numa conversa baixa que cessou imediatamente
ao vê-la parada diante da porta. O alvo de seu
constante descontentamento estava de pé,
analisando um livro. Era na verdade um livro de
contas, usado pelo Conde para controlar suas
finanças.
-Entre, Helena – o Conde chamou-a,
notando seu desconforto. – Não tenha medo, não
pretendo dar-lhe as palmadas que Madeleine
deveria ter lhe dado quando menina.
Havia troça em seu olhar, mas ela sentiu-
se ainda pior. Sua mãe teria morrido de desgosto
se houvesse presenciado o escândalo que
provocara na noite anterior. Desrespeitara seu pai,
seu marido e as pessoas que estavam desejosas de
conhecê-la.
-Por favor Conde, não faça isso com
Helena – Alice pediu sorrindo – Quando fica com
raiva perde o controle. E meu irmão,
voluntariamente, trata de enfurecê-la!
Emocionada com a defesa de Alice,
Helena se aproximou dela, achando mais seguro
do que enfrentar aqueles homens temerários!
-Concorda com os atos de Helena? – John
perguntou surpreso.
-Não, mas não a culpo. É difícil quando
seu marido esquece que é casado e a trata como
uma conhecida distante. Aparentemente, Londres
tem esse efeito sobre os homens. Com exceção do
Conde, que é sempre atencioso conosco!
Agredido, John ficou olhando para ela
sem saber o que responder.
-O que quer dizer, Alice? – ele pareceu
confuso, sem saber que errava.
-Desde o berço, mesmo brigadas, nunca
passamos tantos dias sem nos ver. Mas algum de
vocês dois lembrou-se que não conhecemos
Londres? Simplesmente, nos esqueceram em casa!
– ela acusou, olhando do irmão para John – Uma
tutora para me ensinar a me vestir, uma mulher
horrível que soube apenas dizer o quanto sou
caipira! Nem ao menos se deu ao trabalho de
fingir afeição, afinal, se meu marido não se
importa, porque ela se importaria?
-Isso quer dizer que devo mantê-la longe
de Wood? – John perguntou irritado, numa clara
ofensa.
-Não. Mas pode me manter longe de
qualquer homem que seja no mínimo mais gentil
que você – ela não parou e não pararia até dizer o
que a amargurava.
-Nos dê licença, Conde, mas preciso ter
uma conversa privada com minha mulher – John
disse sem tirar os olhos de sobre Alice.
-O Jardim é muito agradável a essa hora
da manhã, se me permite sugerir – o Conde disse
em tom enfadado e divertido.
Alice e John deixaram a sala, e o Conde
olhou para Rony que não dissera nada ainda.
Desconfortável com seu olhar, Helena arriscou-se:
-Bom dia, Rony – não que houvesse
ironia em sua voz, mas havia uma sugestão disso.
-Bom dia, minha deusa de fogo.
Ela conteve um palavrão. É claro que ele
não se esqueceria disso!
-Acaso os dois não resolveram esse
assunto ontem à noite? – o Conde pareceu se
irritar também.
-Resolvemos – Rony disse com amargor
– mas não é um assunto facilmente esquecido,
afinal, sua filha não se dignou sequer a pedir
desculpas pelo comportamento horrível da noite
passada.
-Como se sente essa manhã, Helena? – o
Conde levantou-se, mais ágil agora, o pé se
recuperando.
-Me sinto bem, o quarto é maravilhoso,
dormi muito confortável – elogiou, aceitando sua
mão e indo com ele em direção ao sofá.
-Pedi que preparassem um café da manhã
completo, e aguardei para tomar em sua
companhia – ele confidenciou – quero aproveitar o
tempo que temos, visto que vocês partirão em
breve – ele olhou acusador para Rony – A menos,
claro, que desejem ficar mais tempo.
Helena olhou para Rony, achando que
seria um bom momento para deixá-lo no suspense.
-Ainda estou pensando, meu pai –
chamá-lo de pai estava cada vez mais natural. –
Eu... Gostaria de pedir desculpas pelo que fiz. Sei
que não posso apagar os falatórios e, sobretudo a
ofensa pessoal, depois de tanto empenho em me
apresentar às pessoas que lhe são importantes,
mas gostaria de oferecer meus sinceros
sentimentos, pois se houvesse pensando, nunca
teria dançando com aquele homem!
-Estou certo ao supor que Wood a
desagradou?
-Sim. – confessou corando.
-Permiti que partisse, pois não tinha
certeza de seus sentimentos – o Conde seguiu
falando como se Rony não estivesse ali presente, e
ela se ressentiu por isso. Afinal, ele era seu
marido!
-Fico contente que tenha ido embora! Não
pretendo ver aquele homem nunca mais.
-Bom – ele olhou para ela com adoração
– Embora, não possa culpar seu marido por duelar
com ele.
-Duelar? - a palavra escapou de seus
lábios, olhando para Rony com verdadeiro horror
– Será tolo a ponto de duelar?
-E porque não? É o que faz um marido
para salvar a honra de sua mulher. Se não o fizer,
todos dirão que é uma mulher sem moral.
-Meu Deus! – horrorizada, olhou para o
Conde, apenas para descobrir que ele concordava
com esse despautério. - Uma vez contou que esse
homem é um homem de armas! Será morto, seu
tolo!
-É mesmo? E de quem será a culpa? – ele
revidou, notando o modo como ela ficou séria.
-Está brincando quando fala em duelo. –
disse convicta.
-Não. Não estou brincando. Tanto, que
marcarei o casamento na Igreja para a próxima
semana, assim, meu filho será legitimado antes...
Do resultado final do duelo.
Sua expressão de incredulidade era
cômica para Rony, que não tinha a menor vontade
ou intenção de duelar. Um dia morreria, mas não
por causa de Wood!
Não era um homem de armas como
Wood, e não era arrogante o bastante para
desqualificar as qualidades do oponente apenas
por não gostar dele!
Do mais, Helena não tinha interesse em
Wood. Tinha apenas querido vingar-se por causa
da dor do ciúme.
-Ele pode fazer isso? – ela perguntou ao
Conde, quase sem ar – Duelar?
-É um homem livre e adulto. Sim, não há
oposição. Quem será seu padrinho?
-Pensei em John, mas ele é responsável
por minha irmã, e caso algo saia do controle, não
concebo a ideia de deixar minha irmã viúva e
desamparada. O mesmo acontece com meu sogro.
– disse com naturalidade, sabendo que o Conde
não era tolo para supor que faria mesmo essa
besteira! – Pensei em meu bom amigo, Leonard.
Faz algum tempo que não o vejo.
-O noivo da menina Lourenço? É um
bom rapaz. Tenha pena da jovem, que não achará
outro noivo capaz de compreendê-la – era uma
piada que Helena não registrou, olhando para
Rony, chocada demais – Meu valete é um homem
discreto. Será um padrinho perfeito, além disso, é
bom com armas, caso Wood trapaceie.
-Não precisará trapacear. Minha pontaria
não é lá essas coisas – ele devolveu, olhando para
ela com expectativa.
-Estão falando isso para me fazer sentir
culpa – arriscou, notando que nenhum dos dois
parecia brincar – Não é?
A chegada do valete do Conde, alertando
que o café da manhã estava servido, foi à deixa
para que eles não respondessem.
O Conde saiu primeiro, mas não teceu
comentários quando Helena segurou o braço de
Rony, impedindo-o de ir.
-Teria coragem de correr o risco de
morrer em um duelo apenas para me punir? –
perguntou amedrontada de até aonde ele iria para
provar que ela estava errada.
-Não é uma punição. Outro homem teve
coragem de abusar da minha mulher, sou obrigado
a limpar sua honra com sangue – até mesmo ele
sentiu-se um pouco tolo falando assim. – No mais,
não tenho certeza da exatidão de seus sentimentos,
Helena, sendo assim, só me resta me livrar de
Wood ou vê-la fugir com ele num futuro próximo.
-E seu eu jurar que isso jamais
aconteceria? – segurou mais forte na manga de
sua camisa, apavorada.
-Infelizmente, minha irmã tem toda
razão. Quando sente raiva, torna-se irracional.
Não posso crer em seu juramento. – desvencilhou-
se de sua mão que o apertava dolorosamente,
saboreando sua expressão desamparada.
-Está mentindo – ela maneou a cabeça,
decidida a não acreditar nele – É um homem que
gosta de uma boa vida! Jamais se arriscaria a
morrer sabendo que um dia será herdeiro do
Conde!
-Duvida do quão louco é capaz de me
pôr? – ele perguntou dessa vez, quase acreditando
em suas próprias palavras – Duvida do efeito
enlouquecedor que tem sobre mim?
-E o maldito juiz Demetrius? Não pode
falar com ele, resolver tudo e voltarmos para a
fazenda ainda esta semana? Estaria tudo
resolvido! – ela argumentou, sem notar que
respirava rapidamente, como se estivesse acuada
por um animal selvagem, a beira de lhe dar o bote.
-Não. E mesmo que fosse possível, a
única forma de limpar seu nome, é matando o
Wood. – disse com dignidade, vendo a pouca cor
de suas faces desaparecerem.
-Você mesmo disse que ele é especialista
em armas! Vai acabar morto!
-Sim, mas nesse caso, seu nome estará
limpo, pois a defendi até a morte – fez uma
mesura, abrindo novamente a porta da saleta – o
café da manhã a aguarda Helena. Não deixe o
Conde esperando.
Imóvel, assistiu-o sair e deixá-la para
trás.
Duelar? Aquele louco iria duelar por sua
culpa?
Deus, o que fizera?

Rony falava em voz baixa com o Conde


quando ela surgiu na sala principal onde serviam
o desjejum. Ereta e tensa, sentou-se na cadeira ao
lado da cabeceira, próxima ao Conde e de frente
para Rony. Ao lado de Rony, John comia
silenciosamente, enquanto Alice, ao lado de
Helena tinha os olhos fixos na xícara de café.
Rony quase sorriu diante da expressão
compenetrada de Helena. Sentia-se culpada e
assustada com a ideia de causar sua morte. Em
poucos dias estaria tão desesperada que imploraria
por sua vida, admitindo seu amor por ele. Era um
ótimo plano esse, reverter o mal de Helena a seu
favor.
Sorte sua, que o Conde fosse um homem
que tivesse tantas afinidades com ele próprio, ou
estaria em uma enrascada. Poderia contradizê-lo e
contar de seu plano, e então, Helena o desdenharia
ainda mais. Mas o Conde de Valença entendia
sua vontade de fazê-la se render e acabar com
aquele orgulho imbecil.
Imagine sua surpresa ao levantar-se
naquela manhã, se vestir, enquanto olhava Helena
dormir pensando no que faria com ela, e optar por
descer e se recompor definitivamente da noite
passada antes que voltassem a conversar, e ao
chegar à saleta encontrar o Conde, pronto para lhe
revelar um grande segredo.
Helena estivera magoada por seu
afastamento, e mais que isso, lamentara para o
Conde a solidão de não ter mais seu apresso.
Segundo suas próprias palavras: ‘Rony não me
olha como fazia antes’.
Após ouvir, decidira que a única forma
dos dois se entenderem para sempre, seria se ela
revelasse a ele o seu amor. Sem meias palavras.
Precisava dizer em voz alta e em bom tom, para se
libertar daquele maldito orgulho, e principalmente
do medo de amá-lo.
Helena não olhou para Rony, decidida a
não tocar mais naquele assunto de duelo. Tinha
uma ideia em mente, e a colocaria em pratica tão
logo fosse para casa.
-John? – ela chamou de repente, atraindo
a atenção de todos naquela silenciosa e tensa mesa
– Alice poderia ficar na minha casa essa tarde?
-Por quê? – foi inevitável a John
perguntar.
-Isso mesmo Helena, responda por que
John há de permitir que seu pássaro aprisionado
tenha um momento de liberdade – Alice ironizou.
-Precisamos conversar – ela disse
olhando de um para o outro incrédula. – Além
disso, quero saber um pouco sobre as roupas
certas a usar.
-Quer que eu leve a tutora? – Alice
parecia horrorizada.
-Para que? Sempre teve bom gosto, Alice.
Além disso, se não podemos nos vestir como
gostamos, de que serve o dinheiro para as roupas?
Tenho certeza que Luana pode nos dar uma plena
orientação!
Rony quase sufocou com um gole de café
diante dessa observação. Luana Lourenço era um
desastre!
-Além disso, Anna, a menina que cuida
das minhas roupas, sabe tudo sobre Londres, e já
trabalhou em várias casas refinadas. Saberá nos
orientar!
-Acha mesmo? – ainda havia mágoa na
voz de Alice – Acha que conseguiria me livrar
dessa tutora que me humilha? – era
definitivamente uma agressão a John.
-Bem, sou eu quem manda em minha
casa na ausência de meu honrável marido –
Helena satirizou – se desejo mandar alguém
embora, eu o farei. Pense, com toda a fortuna do
seu marido, não deve ser difícil mandar um
empregado embora.
-Alice não se atem ao trato da casa –
John disse com desgosto. – Passa os dias
dormindo ou lamentando não ter nada para fazer.
Olhando para os dois, Helena se pegou
pensando em como era irritante, lamentável e
chato um comportamento assim entre marido e
mulher. Se agredindo em público. Olhou para
Rony, que aparentemente pensava o mesmo.
-John – ela disse sorrindo – Você não
pode colher uma flor em um jardim, e esperar que
ela sobreviva, bela e vistosa longe da água.
John nada respondeu.
-Talvez, meu amigo, deva passar o dia
todo olhando para Alice, quem sabe isso aumente
seu viço – Rony alfinetou.
Aquele olhar sujo que Helena reservava
apenas para ele quase o fez salivar.
-Ou quem sabe, duele e morra, assim ela
estará livre para casar-se novamente com alguém
que lhe de valor – ela alfinetou de volta.
O Conde riu, atraindo atenção de Helena.
-Esqueça seu marido, Helena, ele toma
muito do seu tempo e do seu pensamento. Agora,
quero sua atenção toda para mim, filha.
Ela sorriu para o pai, mas não sem um
olhar de rancor para Rony, que voltou sua atenção
para o café, enquanto olhava para os dois.
-Conte-me como vai meu neto – o Conde
pediu. – Aguardo a chegada dessa criança com
tanta expectativa!
-Poderá ser uma menina – Rony disse
apenas pelo prazer de frustrar-lhe.
-Que seja. Se tiver o temperamento de
minha filha, sei que minha linhagem estará
assegurada! Além disso, nunca vi uma criança
crescer, será inacreditavelmente novo e
maravilhoso ver uma vida desabrochar! – ele
parecia tão empolgado, que Helena não teve
coragem de relembrá-lo que vivia em Londres.
-Como tem sido seus enjoos ? – Alice
perguntou, talvez para mudar o rumo dos próprios
pensamentos tristes.
-Não tenho mais enjoos , mas ainda sinto
um pouco de cansaço e sono. Ontem... – calou-se
ao notar que revelaria algo indesejado.
-Não esconda nada de nós, minha filha.
-Ontem durante o baile, houve um
momento que achei que desmaiaria – confessou –
Estava muito nervosa - corou.
-Se houvesse se mantido próxima ao seu
marido, e do seu pai, não haveria razões para
sentir-se nervosa – Rony alfinetou, olhando em
seus olhos com profundidade – Quase perdeu
nosso filho, Helena. Isso não faz muito tempo.
Porque não pode simplesmente se aquietar?
-Preciso comprar o enxoval do bebê – ela
mudou drasticamente de assunto – posso dispor de
uma carruagem e um cocheiro meu pai?
-Sim, mandarei Olfrey estar a seu dispor
daqui para frente – ele era todo sorrisos para a
filha e Rony maneou a cabeça.
Helena fazia gato e sapato do Conde,
assim como fazia com ele. Uma pequena mulher
capaz de apaixonar até o mais resistente dos
homens.
Helena se perguntava em que Rony
estaria pensando para sorrir daquele jeito tão
carinhoso. Talvez, pensasse no passado, em uma
das irmãs DeLuy ou quem sabe nas duas juntas!
Ou quem sabe, pensasse na noite passada.
Não permitiria que ele duelasse. Nem que
para isso tivesse que tomar providencias que o
desagradariam.
-Precisa também escolher um vestido de
noiva, pois marcarei a cerimônia para a próxima
semana. – Rony lembrou-a, adorando a forma
como ela olhou para ele.
Olhos brilhantes, numa dúvida de
sentimentos. Felicidade de saber que casariam,
pois secretamente sonhava com isso, e o medo que
cumprisse sua promessa de duelar.
-Como quiser, Rony - disse falsamente
cordata. – Terminei de comer. Será que poderia
me mostrar os jardins?
Surpreendido por seu pedido, não ousou
negar. Até o Conde parecia surpreso.
Helena tinha uma ideia para livrá-lo de
um duelo, mas seria mais prudente convencê-lo a
desistir do que por seu audacioso plano em ação.
Eles andaram por alguns minutos até a
beira de uma fonte em meio a várias árvores. Ela
suspirou e olhou para ele, banhada pelo sol da
manhã que se infiltrava entre os galhos e folhas,
brilhando as ondas suaves de seus cabelos e
deixando-a encantadora e sedutora.
-Sinto falta da fazenda – ela disse
olhando em volta, para a falsa liberdade que estar
entre a natureza lhe dava – Há pouco verde em
Londres.
-Infelizmente sim – concordou, esperando
que dissesse a verdade sobre esse passeio.
-Perdoei o que me fez no trem – disse
finalmente.
-Ah, essa é sua ideia de perdão: uma
barganha?
Helena fechou os olhos e quando os
reabriu, encarou-o com um brilho malicioso no
olhar:
-Porque não pede logo de uma vez que eu
pague minha dívida com você... Na cama? –
desafiou-o.
-Acha que seria essa a punição que lhe
daria? – fingiu espanto.
-Sim.
-O homem que não olha para você? –
havia um pouco de mágoa em sua voz.
-Fale logo o que quer de mim, não
suporto ficar esperando que se decida! – reclamou,
disfarçando um longo bocejo.
-É mesmo? – petulante Rony aproximou-
se, com um olhar de vingança. – Está com sono?
Acaso não dormiu o suficiente ontem à noite? –
havia diversão em seu olhar.
-Sabe que não – ela pousou uma das
mãos sobre seu peito, onde o coração batia
acelerado, por de trás da pele quente. – Não me
deixou dormir, Rony.
-Não pareceu que desejasse dormir,
Helena – ele abraçou-a, arrancando dela um
involuntário suspiro de contentamento, quando
baixou a cabeça, e lambeu seu pescoço abaixo da
orelha.
-Vai aceitar o que posso oferecer em troca
de absolvição? – convicta, encarou seus olhos
azuis, achando ver diversão em seus olhos.
-Não será preciso, pediu que fosse seu
marido, e não preciso mais de estratégias para tê-
la em nossa cama. – disse seguindo uma trilha de
beijos por seu pescoço, indeciso sobre descer ou
subir. – Além disso, seu crime merece retaliação.
E Wood não pode ficar em pune!
-Ora, pare de falar besteiras! – empurrou-
o notando o sorriso de deboche em sua face –
Quer mesmo me ver culpada não é? Quer me
enlouquecer? Pois saiba que daqui para frente não
irei colaborar! Posso não me negar a partilhar sua
cama, mas não vou colaborar!
-É mesmo? – agradavelmente surpreso e
sentindo-se desafiado, ele estreitou-a em seus
braços – É guerra, Helena? Está me desafiando?
-Estou apenas apelando para seu juízo! –
foi enfática.
-Preciso trabalhar agora. Volte para o
quarto e durma um pouco, depois leve Alice para
espairecer. É mais forte que ela, Helena. Ajude-a a
ver as mudanças que estão ocorrendo em sua vida,
antes que ela magoe John. E quando chegar a
noite, me espere com um bolo quentinho, feito por
você. E mais que isso, me espere pronta para uma
longa noite de amor.
Helena riu. Talvez para ocultar as batidas
de seu coração, aceleradas e descompassadas, ou
apenas por achar graça de seu machismo. Até ele
sorria da própria tolice.
-Não esqueça, Helena, pode ser nossa
última noite juntos.
Rony tinha se afastado, mas piscou ao
partir. Homem sem coração! Como podia fazer
graça! E se ele morresse mesmo? Será que era
incapaz de pensar no desespero que ela sentiria?
Arrepiada ao lembrar-se da dor que
sentira quando o vira baleado e aparentemente
sem vida sentiu uma grande e repentino frio e
decidiu voltar para a casa.
Iria por em prática seu plano.
E de uma coisa tinha certeza, esse duelo
não aconteceria!
Capítulo 111 - Ideia de mestre

Luana mostrava algumas imagens nas


revistas que tinha espalhado sobre o sofá.
-... Não gosto de costureiras. Nem
tutoras. E que Deus me livre das governantas! –
ela dizia com seu ar sonhador – para ser franca,
coloquei fogo no vestido da minha última tutora,
então, Leonard sugeriu que não tivesse mais
nenhuma pessoa no meu encalço o dia todo. Não
que tenha colocado fogo em sua saia de propósito,
foi um acidente... Mesmo assim, veio a calhar.
Gosto de comprar meus vestidos pessoalmente,
olhando as lojas. É cansativo, mas adorável.
Helena e Alice dessa vez ouviam seu
monólogo de vinte minutos sobre vestidos,
costureiras e tutoras com verdadeiro interesse,
absorvendo cada palavra. Por mais estranhas, e só
Deus para saber como Luana conhecia palavras
estranhas!
-Conhece lojas onde poderíamos comprar
roupas adequadas? – Alice perguntou, tentando
não parecer tão desesperada quando se sentia.
-Sim, mas algumas só de passagem, pois
nunca entrei.
Alice olhou para Helena antes de
estender sua bolsa na direção de Luana e abri-la,
perguntando enquanto corava, pois esses assuntos
de dinheiro ainda eram um mistério para ela:
-Isso é suficiente para comprar alguns
vestidos?
Luana espiou em sua bolsa e soltou um
longo assobio.
-Sim, mais que suficiente. Para ser
franca, poderia comprar uma ilha na na América
do Sul! E ainda sobraria para...
-Certo! – Helena levantou-se antes que
Luana começasse seu discurso – Anna, peça ao
cocheiro para preparar a carruagem. E mande
Duran ao mercado, não quero que ele vá conosco!
-Senhora... Ele não saberá escolher as
melhores frutas – ela explicou corando.
Certo, pensou Helena. O garoto criado na
roça não saberia escolher as melhores frutas?
Quase riu.
-Ele pode acompanhá-la, mas por tudo
que é mais sagrado, Anna, lembre-se que esse
menino está sobre a minha guarda, e que você não
tem família. E principalmente, quero o bem dos
dois.
Apesar de viver reclamando sobre não
querer a responsabilidade de levar Anna consigo
para casa, principalmente por ter sido desonrada
por Duran, no fundo sabia que de um modo ou de
outro havia se afeiçoado a menina e não poderia
partir e deixá-la sozinha no mundo.
Sem coragem para responder, Anna fugiu
da sala.
-Que problema, Helena – Alice ria dela.
-O único problema que tenho é seu
irmão! – ela sentou-se pesadamente – Luana,
conhece um homem chamado Wood?
-O pai ou o filho? De qualquer modo os
dois não valem muita coisa...
-O filho, suponho. Falcon Wood.
-Sim, o filho. – pela primeira vez, Luana
não parecia ter muito a dizer.
-Sabe onde seria possível encontrá-lo?
-Sim, mas é inconcebível que alguém
queira encontrá-lo. É uma pessoa estranha, o
Wood. Bonito, rico, jovem. Deveria ser um dos
grandes partidos de Londres, mas... Há algo
sombrio nele.
-Eu senti isso – Helena concordou.
-Então, porque quer encontrá-lo? – Alice
estava assustada e boquiaberta.
-O tosco do seu irmão quer duelar com
ele! – ela contou, notando seu choque – Pensei em
apelar ao Conde, mas ele concordou com essa
loucura! Acredito que se oferecer uma grande
soma em dinheiro, ele pode desistir do duelo.
Afinal, esse tipo de homem gosta de dinheiro, não
é verdade?
-Sim, soube que o pai dele está
endividado, pois usou sua fortuna para manter o
filho longe da cadeia – Luana confidenciou – Não
conte ao meu pai, muito menos a Leonard... Mas
uma vez, ele ousou me beijar a força. Ele faz isso,
agarra as jovens e as beija. Aquelas que se
deixarem seduzirem acabam como a pequena
Polyana: mortas. Ou abandonadas, o que vier
primeiro.
-Meu irmão não participaria de um
duelo... – Alice estava pensativa, pois não
condizia com o irmão que conhecia.
-Esse homem não tem noção de nada!
Luana, me diga onde posso encontrá-lo!
-Será prudente? – até mesmo ela pareceu
em dúvida.
-Por favor!
Incerta, Luana confidenciou um endereço,
e automaticamente completou:
-Não diga a meu pai que sei onde ele
mora atualmente, ouvi sem querer, não era minha
ideia saber essas coisas.
-Ele é tão ruim assim? – Alice perguntou
– Pareceu um homem tão bonito!
-Só por fora, Alice, só por fora – Helena
disse, enquanto levantava-se e sentava a uma
mesa no canto da sala, apanhava papel e tinta,
escrevendo uma curta carta, ao qual dobrou e
endereçou. – Anna!
A jovem apareceu sorrindo, com farinha
no avental. Havia ensinado-a a fazer um delicioso
pão de ervas, e agora ela fazia quase todos os dias,
feliz em agradar a patroa.
-Leve essa carta a esse endereço quando
voltar do mercado. É muito importante que Duran
não veja – ela colocou uma moeda na palma da
mão da jovem – Não faça perguntas, apenas leve.
E não conte para ninguém!
-Sim, senhora.
Depois que a jovem saiu, Alice olhou
para Helena e disse:
-Acho que isso é um completo erro!
-E o que devo fazer? Deixar seu irmão se
matar? – revidou, magoada.
-Não. Porque não diz a ele o quanto o
ama? Isso resolveria tudo! Tenho certeza!
-Não comece, Alice! Não comece!
-Leonard gostou quando disse que o
amava. – Luana disse sonhadora, tocando os
lábios, diante de uma longínqua lembrança – pena
papai ter nos pego enquanto fazíamos... Oh... - ela
calou-se espontaneamente.
-Quando pretendem se casar? – Alice
perguntou, ocultando o sorriso diante da revelação
da outra.
-Precisamos esperar. Leonard está
viajando com os pais. Eles sofreram um acidente
quando ele era apenas um bebê e hoje, eles tem a
saúde frágil. Sei que voltará a qualquer momento,
pois me escreveu contando o quanto tem
saudades.
Alice suspirou diante de um amor tão
simples...
Helena mal as ouviu, pensando em ver
aquele homem novamente. Era um despautério ir
sozinha vê-lo, mas qual opção tinha?

Anna mal ouvia as palavras do jovem


que andava perto dela. Estava preocupada. Em seu
bolso pesava a responsabilidades de uma carta
que a assustara até os ossos.
Tinha quatorze anos, mas não era
inexperiente ou tola. Sozinha no mundo já vira de
tudo um pouco. ‘Pobre de mim’ ,pensou.
Conhecia o nome escrito naquele
envelope, e principalmente o endereço. Sua
adorada patroa, tão gentil e preocupada com ela,
estaria em grande perigo nas garras daquele
homem.
Em uma rua fechada, Duran esbarrou o
braço no dela, e Anna o olhou, afastando o olhar
cheio de lágrimas.
O menino a fez parar perguntando o que
se passava.
Como contar? Aquela carta pesava em
seu bolso.
Sem saber por que se viu contando.
Como se as palavras fossem simples e fosse fácil
contar. Se viu abrindo seu coração:
-Há um ano, um cavalheiro veio a um
baile onde servia com minha mãe. Quando a festa
acabou, os convidados foram embora. Alguns
ficaram para passar a noite. Esse cavalheiro entrou
nos aposentou de minha mãe durante a noite. Eu
dormia no chão, aos pés da cama, e vi tudo. Ele
abusou dela. Depois, culpou-a por roubo. Fomos
colocadas na rua. Era inverno, muito frio. Minha
mãe morreu de peste. Pneumonia, talvez. Nunca
soube ao certo. Certo dia, quando mendigava no
mercado, esse cavalheiro reparou em mim, e me
colocou a força em sua carruagem. Abusou de
mim e depois... Me jogou na neve, acho que para
morrer, pois havia me batido muito. Uma
senhora... Madame Lammer me encontrou, cuidou
das minhas feridas e me ajudou a conseguir um
emprego. – ela não notou que não chorava.
Não era capaz de chorar. Qualquer
lágrima que houvesse dentro de si havia
desaparecido com o tempo.
-A Sra.Parker pediu que entregue uma
carta para esse mesmo homem. Tenho medo que
ele faça o mesmo com ela. A desgrace para
sempre.
Duran não respondeu nada, mas aceitou a
carta que ela estendia, talvez dividindo a
responsabilidade dessa decisão com ele.
Ele não estranhava que ela não chorasse.
Ao longo dos anos, vira sua mãe perder a
capacidade de chorar diante da dor. Ele mesmo
pouco chorava.
Anna o viu rasgar a carta e jogar no chão,
em pedacinhos. Então, lhe deu o braço, para que
não andasse sozinha.
Emocionada, com o coração leve, Anna
seguiu orgulhosa ao seu lado pelo mercado. Era a
primeira vez que alguém lhe dava o braço sem
sentir vergonha.
-Aquela é Madame Lammer – ela
apontou uma senhora que ia pouco distante deles.
– Ela odeia esse cavalheiro a quem me referia.
Acho que o odeia mais do que eu.
Duran olhou para a senhora de cabelos
arrumados e roupa bem cortada. Largando o braço
de Anna, ele andou em sua direção.
Roxanne soltou um gritinho de
empolgação quando viu os grandes olhos verdes
na face marrom do menino. Era uma linda visão.
As palavras do menino, no entanto, a deixaram
sem ação por um segundo.
Pensativa, mandou-o cumprir suas
obrigações, pois dali para frente, Wood era um
problema dela.
Como era a vida, pensou Lammer,
finalmente o destino lhe dava uma oportunidade
de colocar suas mãos sobre um Wood.

Helena ainda sufocava o riso quando as


três deixaram uma casa de tecidos. Era uma loja
muito bonita e a dona muito simpática.
Verdadeiramente encantada em atender as
necessidades de duas jovens belas e ricas, e
principalmente mal orientadas, as instruiu e
atendeu pessoalmente.
Muitos vestidos e acessórios depois, as
três deixaram a loja aos risos, depois de Alice ter
confundido um delicado chapéu de penas com um
espanador.
-Como poderia saber que as mulheres
usariam isso na cabeça? – ela dissera nada
delicadamente, arrancando risos de todos na loja.
-Não se preocupe, madame. Com sua
beleza, pode dizer o que quiser - a proprietária se
apressara a dizer, encantada com a beleza de
Alice.
-Queria tanto ter algo para fazer – Alice
disse quando as três andavam pela calçadinha, em
direção ao cocheiro que as esperava como um cão
de guarda.
-Porque não tenta ler? – sugeriu Helena.
-O dia todo? – ela desdenhou.
-Poderia aprender a costurar – Luana
sugeriu – é bem visto que mulheres ricas tenham
suas lojas de vestidos.
-Sou uma negação com as agulhas.
-Sabe cantar? – Luana perguntou – tocar
piano?
Alice gemeu em sofrimento.
-Eu ocupo meus dias lendo os jornais e
escrevendo para alguns deles, mas meu pai não
sabe. No entanto, sou insignificante, a mulher de
John Harrison chamaria muito mais atenção!
-E o que ela escreveria se não gosta nem
de ler? – Helena provocou.
-Helena! – Alice também riu, as duas se
cutucando, ameaçando derrubar os pacotes que
carregavam.
A dona da loja insistira em oferecer uma
empregada para ajudá-las, mas elas não quiseram,
seria tolice pedir a alguém carregar aquilo que
elas podiam fazer tão facilmente.
-Pode me visitar todas as tardes se quiser
– Helena ofereceu solidária.
-Mas e quando forem embora? – Alice
aprecia tão desesperada que Helena sentia vontade
de rir. Era cruel da sua parte, mas muitas vezes
alguém tão amigo, podia ser patético.
-O que fazia em sua casa antes de casar?
– Luana olhava para ela, curiosa e interessada em
seu caso aparentemente sem solução.
-Ajudava minha mãe nos trabalhos
domésticos – disse, suspirando de saudades de
casa.
-Ao menos tentou conversar com a
criadagem e descobrir se há algo que possa fazer?
Talvez ajudar a governanta com as decisões da
casa. – Helena sugeriu.
-Os criados não deixam que me
aproxime. Falam de mim pelos cantos. Dizem que
sou da roça, e que John deveria teria se casado
com alguém mais digno.
Helena parou no meio do caminho,
fazendo-as pararem também.
-Eles dizem isso? – Alice concordou com
um aceno, triste como nunca em sua vida – E por
que você ainda não provou que eles estão
errados?!
Sua veemência a fez corar.
-Acha que conseguiria? – ela estava
prestes a chorar.
-Acho, e se John não pensasse o mesmo,
não teria se casado com você!
-Ele se casou apenas porque havíamos... -
se calou para não contar a verdade diante de
Luana.
-Pobrezinho dele, que não sabia que
deflorar uma virgem o levaria ao altar! Use a
cabeça Alice, ele falava em casamento muito antes
de perder o controle. Está sendo tola e abrindo
mão do seu marido. Ninguém pode culpá-lo por se
decepcionar com uma mulher que não faz nada
para ser admirada! Ninguém lhe disse que seria
fácil ser casada.
-Por que minha vida não pode ser simples
como a sua Helena? Rony a ama, não há dúvidas.
Mas John... Não sei o que sente por mim.
-Rony me ama? – Helena ironizou para
esconder o efeito dessas palavras sobre ela.
-Pois sim! - Alice insistiu, mas Helena se
negou a ouvir, recomeçando a andar, e mudando
drasticamente de assunto, o que fazia Luana rir a
todo o momento, antes claro dela iniciar um de
seus monólogos, dessa vez sobre política, e fazer
tanto Helena quando Alice se calarem, afundarem
os corpos nos estofados macios da carruagem e
suspirarem.
Seria um longo caminho para casa, e as
duas se entreolharam, suspeitando que estariam
com os ouvidos doendo quando chegassem em
casa...
Capítulo 112 - Primeira tentativa

Rony havia chegado em casa há pouco


tempo. Cansado, sentira o cheiro do jantar ainda
na porta. Havia apenas o som das vozes de Anna e
Helena, que conversavam na cozinha.
Aliviado por não terem visitas, passou
por Duran, que comia em seu canto, acostumado a
não fazer as refeições na mesa, ele preferia sentar-
se num degrau da escada, e comer com o prato na
mão, como fazia em casa com os irmãos.
Anna havia tirado um bolo do forno ha
pouco tempo, e o decorava enquanto Helena
cortava pedaços de um pernil e colocava em uma
travessa. Ele saberia diferenciar o cheiro da sua
comida, mesmo que estivesse entre dezenas de
outras cozinheiras.
Havia algo picante no ar, embora ela
raramente usasse pimenta. Era algo só dela, um
truque que jamais descobriria.
Ao notá-lo, ela apenas dirigiu-lhe um
rápido olhar, e voltou sua atenção para o que
fazia. Rony trocou algumas palavras com Anna,
antes que a menina dissesse que precisava ir, e
cuidaria da louça na manhã seguinte.
Rony não disse nada, afinal, o trato da
casa era de responsabilidade de Helena. Somente
ela sabia dos acordos que tinha com os
empregados. A ele cabia apenas desfrutar da paz e
do sossego doméstico.
-Precisa convencer Duran a sentar-se a
mesa, e também, a se afastar da Anna antes que
ele faça uma besteira. – ela disse antes que
pudesse se manifestar – O Conde mandou-o de
volta hoje cedo, porque não se acertou na escola.
Não quis me contar o que o incomodou. A única
coisa que sei, é que ele vai estudar querendo ou
não. Como homem, deve entendê-lo, suponho.
Seu ar distante não o atingiu. Cruzou os
braços, olhando-a cuidar do resto do jantar, com
gestos delicados e comedidos, tão femininos que o
faziam encantado.
-Falarei com ele amanhã cedo. Quando
não estiver tão cansado. Alice esteve aqui essa
tarde?
-Sim. – lançou-lhe um rápido olhar antes
de voltar ao forno.
-Poderia tentar ajudá-la a se adaptar a
Londres – sugeriu.
-Está insinuando que estou adaptada a
Londres?
-Sim, está adaptada. – disse com um
toque de amargura na voz – Surpreendentemente
adaptada.
-Preferia que estivesse sofrendo? -
encarou-o.
-Se isso me desse uma pista sobre o que
vai acontecer no dia em que decidir ir embora, sim
preferiria que estivesse sofrendo em estar aqui.
-Acha que posso querer ficar em
Londres? – surpresa, parou o que fazia para olhar
para ele.
-Depois de ter dito que não olho para
você desde que cheguei a Londres, não sei mais o
que pensar – aproveitou para tocar no assunto.
-Fiz bolo – ela desconversou.
-Percebi. Cumpriu minhas ordens com
maestria – ele provocou.
Helena parou para arrumar a travessa de
arroz e salada, e olhou para ele com disfarçada
calma. Esse homem fazia seu pulso acelerar e
sabia despertar dentro dela algo muito difícil de
controlar.
-Sim, é o que se faz a um homem
condenado. Dar-lhe boas lembranças para quando
não estiver mais entre os vivos. Ou apenas -
debochou - sinto-me tão feliz na eminência da
minha viuvez que quero ser gentil com todos!
Rony riu como se fosse uma alegre piada.
-Não diga essas coisas, Helena. Não sou
bom com armas.
-Não é bom em muitas coisas. – ela
revidou arrogante.
Não o deixaria perceber o quanto a
magoava que insistisse naquele duelo.
Principalmente nas coisas que precisaria fazer
para impedi-lo de cometer esse desatino!
-Pensei que fosse bom no que importava
– ele se aproximou, e Helena decidiu que o faria
sofrer como punição.
-Não sei. Sempre me esforço para gostar
de sua presença, mas confesso ser um trabalho
sufocante.
-Está dizendo que não gosta que a toque?
– acariciou uma longa mexa de seus cabelos,
sentindo os cachos das pontas enrolarem
graciosamente entre seus dedos.
-Estou dizendo que daqui para frente não
farei o mínimo esforço para suportá-lo. – foi
taxativa.
-Inclusive essa noite? Irá se opor ao meu
carinho?
Helena sentiu seu hálito quente em seu
pescoço e respirou fundo para não sucumbir.
-Não. Deixarei que faça o que quiser
comigo. Apenas, não colaborarei ou participarei
com alegria. – respondeu, contendo o riso diante
de sua expressão.
-Está me punindo por duelar?
-Pense o que quiser, Rony. – ergueu a
travessa e a colocou entre eles, obrigando-o a
soltar seus cabelos e dar um passo para trás – Está
com fome? Espero que sim, pois fiz sua comida
preferida.
-Não sei se me sinto envaidecido, ou se
espero uma facada nas costas – ele debochou,
ajudando-a a carregar à travessa.
-Na dúvida, decida-se pelos dois.
Rony ajudou-a a se sentar, notando
discretamente que seu vestido se avolumava em
sua cintura quando se sentava.
Na próxima vez que Helena
engravidasse, ele se certificaria de empanturrá-la
com toda a comida necessária para engordá-la
desde os primeiros meses, pois mal podia suportar
a vontade de vê-la ostentando uma grande barriga,
abrigando seu filho.
-Fez compras essa tarde? – perguntou
enquanto ela lhe servia um generoso prato de
carne de porco, arroz, saladas e batatas cozidas.
Não era a comida da moda em Londres, mas
agradava ao seu estômago, um estômago de
fazendeiro. Além disso, o cheiro e o gosto eram
divinos!
-Sim. Dessa vez acertei nas roupas, tenho
certeza. – disse confiante – Alice está tão triste
com o pouco caso do John. Deveria falar com ele.
Alice precisa de algo para fazer até se acostumar
com o marasmo de Londres!
Rony olhou para ela através do garfo que
estava carregando um pedaço absurdamente
grande de carne, e franziu as sobrancelhas.
-Acha Londres cansativa?
-Estamos falando de Alice – lembrou-o,
mordendo a carne com verdadeiro prazer. Comer
era uma delícia, e não conseguia lembrar-se do
tempo onde achava a comida repugnante.
Às vezes se pegava pensando se havia
sido por causa da morte de seus pais, da depressão
que sentira, onde tudo perdera o sentido e a
vontade de morrer era maior que os pequenos
prazeres da vida, ou se era por causa da gravidez
que aumentara seu apetite, mas bem da verdade,
era que descobrira um novo prazer.
-John anda ocupado, e a culpa é nossa.
Quando tudo se acalmar eles se entenderão.
-Se você diz – sua voz soou desgostosa,
enquanto observava-o comer com prazer.
Pensativa, fingiu descaso ao perguntar:
-Quando será o duelo?
Rony ergueu os olhos do prato, com um
sorriso no canto dos lábios, e ela se perguntou
onde estaria a graça de arriscar a própria vida
apenas para provar que ela estava errada!
-Depois de amanhã, logo cedo.
-Quanto cedo?
-Nos primeiros raios da manhã. Porque o
interesse Helena?
-Porque com sorte, até a tarde meu pai já
me conseguiu outro marido – ironizou.
-Não deve ser muito difícil para uma
deusa de fogo arrumar pretendentes – ele usou o
mesmo tom, embora houvesse aquele ar
irritantemente sorridente em sua face.
-Qualquer um que não seja burro o
bastante para duelar – alfinetou. – Talvez, eu
procure por gêmeos. Deve ser interessante...
-Tenha certeza que sim – ele provocou,
notando o modo como ela ficou pálida.
O mero pensamento de Rony com as
gêmeas teria acabado com seu apetite, não fosse a
compulsão por mais. Seu estômago roncava e ela
tinha que ouvi-lo, pois pensaria no bebê e não
naquele homem descarado e sem juízo a qual
tinha que chamar de marido!
Rony comia com prazer, fingindo não
notar suas tentativas de irritá-lo e causar sua
desistência do duelo.
Continha a vontade de gargalhar das suas
tentativas de não demonstrar a preocupação e o
desespero pela ideia de um duelo.
Pobrezinha, não sabia que tudo não
passava de uma armação para fazê-la admitir seus
sentimentos.
No dia marcado, ele sairia na companhia
do valete do Conde, iria passar um ou dois dias
fora, e quando ela estivesse bem desesperada, de
preferência aos prantos, voltaria lamentando ter
ganhado o duelo, mas ter sido atacado. Ou algo do
gênero.
Ainda não decidira os detalhes.
Sabia apenas que ouviria um ‘eu te amo’,
nem que para isso tivesse que levar outro tiro!
-Em que está pensando?
Helena havia parado de comer, olhando
para ele. Talvez estivesse pensando nas gêmeas.
Oh, cruz sobre sua cabeça!
-No duelo – respondeu convicto. E não
era mentira!
-O que acontece se vocês dois errarem a
mira? – perguntou, tentando se apegar a essa
possibilidade.
-Teoricamente, o duelo estaria empatado
e acabado, mas homens como Wood não param
até acertar. Tenho o dever de acertar Helena, ou
nem preciso me dar o trabalho de correr.
Sua ideia era deixá-la em pânico, e pelo
arregalado dos olhos castanhos, sabia que andava
pelo caminho certo.
-Homem estúpido. – ela resmungou. –
não entendo. Saiu da nossa casa para não ser
preso. Disse que não pagaria com a própria vida
por algo sem importância. Então, porque agora
aceita morrer por algo tão estúpido?
-Porque se refere a você – ele apanhou
sua mão sobre a mesa, embalando seus dedos,
sentindo-a permitir – Não quero que falem seu
nome em meio a fofocas!
-Isso é uma tolice! Continuarão falando
caso morra!
-Ao menos, saberá a amplitude do meu
amor – Rony achava que a qualquer momento
cairia no riso. Seria inevitável. Não tinha uma veia
de ator.
-E se eu já souber? Não precisa duelar se
eu disser que acredito!
Rony começou a sentir a esperança que
ela revelaria seus sentimentos antes do previsto.
Levando sua mão aos lábios, beijou a pele
carinhosamente:
-Estará em minha mente e em meu
coração, e a levarei comigo mesmo na morte - ele
garantiu galante.
-Não diga isso! – horrorizada, arrancou a
mão de entre as suas, pálida e sem ar diante desse
pensamento horrível. – Não terá coragem de
duelar!
-É nisso que se apega? – ele não pode
evitar sorrir.
-Se terminou seu jantar, gostaria de me
recolher cedo – ela disse séria. – Anna trabalha
com sua amiga Madame Lammer à noite,
ajudando-a no preparo dos doces que vende em
sua doceria, por isso a dispensei tão cedo. Sendo
assim, ainda preciso de ajuda com o vestido. Não
sei por que as roupas de Londres possuem tantos
botões! E tão pequenos!
-Helena, te ajudarei com o vestido, não se
irrite por tão pouco. E me responda, sentirá minha
falta se eu me for?
Com o som abafado de um palavrão, ela
o deixou sozinho na cozinha, rindo para as
paredes. Se ele conseguisse enlouquecer Helena,
quem sabe ela se revelasse.
Duran estava na porta quando ele parou
de rir, e Rony olhou para o rosto do rapaz
reconhecendo muito dele próprio no garoto.
-Se você tocar na menina Anna, vai se
casar com ela. Casando-se com ela, terá que
enfrentar sua mãe. Esteja avisado. Helena quer
que estude, e é bom que faça isso, ou serão os
meus ouvidos que ela encherá com suas
reclamações – piscou para o menino – Agora me
diga, Helena tem feito algo que me desagrade?
-Não, senhor – o menino disse com
aparente sinceridade.
-Foram as compras? Apenas as compras?
– insistiu.
-Apenas as compras – ele afirmou.
Convicto da lealdade do menino para
com ele, Rony pediu que colocasse os pratos na
pia e fosse dormir, pois na manhã seguinte o
levaria com ele para o trabalho, para quem sabe,
lhe dar um incentivo para estudar.
Duran fez o pedido, pensando consigo
mesmo que não era uma boa ideia dedurar a
patroa. Ainda mais depois do que Anna lhe
contara!

Helena livrou-se dos sapatos enquanto


ouvia o som dos passos na escada. Se fosse
totalmente sincera, admitiria que gostava de viver
naquela casa.
Se não fosse tão orgulhosa, pediria ao
Conde que lhe construísse uma casa como aquela
na fazenda. Seria adorável. As paredes de madeira
lisa e pintada em tons claros. As escadas
encantadoramente trabalhadas... Mas era um
desejo bobo.
Precisava cuidar de sua vida com o que
Deus lhe dera, e não almejar além de suas posses.
Essa viajem a Londres era um sonho de princesa,
mas não era sua realidade. E bem dentro dela, não
queria que fosse mesmo sua realidade!
Livre dos sapatos e das meias retirou
duas camadas de tecidos que faziam a saia do seu
vestido ter a forma que deveria ter, e ao dispensar
o tecido, decidiu que não sentiria falta disso
quando voltasse para casa!
Definitivamente não sentiria falta disso!
Estava distraída tocando a correntinha em
seu pescoço quando a porta abriu e ele entrou.
Rony não havia comentado sobre o fato
de ela usar todos os dias aquela joia mimosa que
lhe dera, assim como o perfume, mas havia sim
notado e sentido muito orgulho desse fato.
-Não respondeu minha pergunta agora a
pouco, Helena – ele disse fechando a porta e se
aproximando.
Afastou seus cabelos pondo-os sobre seu
ombro, e começou a abrir os botões do vestido
azul claro de uma seda finíssima.
-Qual pergunta? – olhou-o por sobre o
ombro, curiosa
-Sobre Londres – a tarefa de abrir sua
roupa era tão excitante que sentia sua
masculinidade dando sinais claros de vida dentro
de sua calça. – Sobre o que acha verdadeiramente
sobre Londres.
-É uma cidade bonita – disse sonhadora –
a primeira vista é assustadora, mas depois, a
beleza, o brilho, as cores... Tudo se confunde e
parece o lugar mais lindo do mundo! – seu sorriso
se apagou enquanto ela meditava sobre que dizia –
mas depois, o tempo passa, e é possível ver que
nem todas as cores podem esconder o apagado dos
corações e dos olhares. É uma cidade triste,
morrendo por dentro. As pessoas são falsas, ou
vazias, ou reclusas demais para saber como são.
Tem horas que me sinto apaixonada por Londres,
mas têm outras que gostaria de ir embora, e é uma
vontade tão grande que sinto vontade de chorar!
Comovido com sua revelação, virou-a em
seus braços e a abraçou.
-Sinto muito, Helena, não passar os dias
ao seu lado.
-Sinto-me sozinha sem Juanita, sem as
crianças dela... – confessou, o rosto escondido em
seu pescoço -... Sem o som da fazenda, dos
homens gritando no trabalho. Eu... Sinto falta do
cheiro do mato e do som dos animais. Não
deveria, mas sinto um vazio enorme.
-Não diga isso – ele pediu triste por ela –
não me diga o quanto a faço sofrer! – estreitou o
abraço, quase lhe tirando o ar.
-Não duele – ela disse baixo, mas ele
ouviu.
-Por quê? Porque não quer que eu duele?
-Não quero que meu filho nasça sem
conhecer o pai – ela disse com voz entrecortada, e
Rony apertou-a ainda mais, afundando o rosto em
seus cabelos, sentindo seu cheiro.
-Existem coisas que um homem deve
fazer. – ele atiçou, esperando que ela se rendesse.
-Mesmo que isso o mate? – sua voz era
abafada, e ele sentiu o movimento delicado dos
lábios contra sua camisa quando ela falava.
-É o preço a se pagar por ser homem.
-Um homem tolo você quer dizer – ela
reclamou, tentando se afastar.
-Um homem completamente apaixonado
– ele corrigiu, erguendo seu queixo para olhar em
seus olhos – Me dê uma razão para que eu não
duele.
-Seu filho não é razão suficiente?
-Um pai sem honra não é o que o meu
filho merece! – maneou a cabeça. – Apenas uma
razão, Helena.
-Terei que me casar de novo, para ter um
pai para o meu filho, e sabe o quanto não quero ter
um marido. Estou acostumada com o traste que a
vida me deu, então tenha pena de mim, pois vou
morrer se tiver que aturar outro!
Rony riu, beijando-a na testa, ainda
rindo.
-Deixe-me tirar seu vestido – ele pediu,
girando-a em seus braços para ter acesso as costas
onde dezenas de botões o esperavam.
Ambos estavam num impasse. Ele não
cedia, e ela não confessava.
Helena afastou o medo da mente,
lembrando a si mesma que amanhã cedo teria seu
encontro com Wood e o convenceria a desistir
daquele maldito duelo!
As mãos graúdas abriram os botões com
rapidez, espalmando as palmas na pele das costas
revelada pelo tecido. Ela se negava a usar os
espartilhos, e como não encontrara nenhuma
costureira que pudesse fazer os coletes simples
que usavam antes, simplesmente se conformara
em não usar nada por baixo dos vestidos.
O tecido desceu por seus ombros, as
mãos de Rony acariciando sua clavícula enquanto
ela puxava o vestido para baixo. Caiu ao chão, e
ela se moveu, livrando as pernas.
Rony a recostou contra seu corpo,
acariciando seus cabelos, enquanto Helena
fechava os olhos e aproveitava aqueles carinhos
quase desumanos para quem tinha a ferrenha
decisão de não demonstrar interesse.
Helena deixou-o tirar sua anágua,
roçando o corpo rijo e masculino contra ela,
enquanto se movia a sua volta, tirando suas
roupas.
-Quero que se deite e me espere – ele
sussurrou em seu ouvido.
Abrindo os olhos, um pouco atordoada,
andou até a cama e deitou-se sem se preocupar em
se cobrir. Assistiu-o despir a camisa e o resto das
roupas com pressa.
-Abra as pernas, quero vê-la – ele pediu
enquanto se livrava da roupa íntima.
Não se faria de boba, pensou Helena,
permitiria que fizesse o que quisesse com ela
nessa noite. Provaria a ele que viver era muito
mais importante que um tolo orgulho.
Recostou-se contra os travesseiros e
separou as pernas o bastante para revelar pouco.
-Mais – ele mandou, se aproximando da
cama, os olhos fixos.
Separando as coxas, ela sentiu o ar da
noite tocar sobre suas dobras mais íntimas. Rony
permaneceu de pé aos pés da cama, olhando para
ela com a fome de um homem privado de alimento
por muito tempo.
Cinco dias, ela pensou. Cinco longos,
solitários e nublados dias!
Suas coxas estavam separadas, e Rony
admitiu o trabalho de Deus ao compor o corpo da
mulher. Delicado e forte ao mesmo tempo.
Coxas rijas e firmes, em contraponto com
sua intimidade tão frágil e delicada. Um botão de
rosa que ele colheria com seu corpo e sua paixão.
Admirou o triângulo pequeno com poucos pelos, e
admirou ainda mais a barriga que se estendia
sobre ele. Uma curva arredondada e latente,
prometendo que em breve estaria distendida e
cheia.
Seus quadris estavam mais lardos, era
inegável. Os seios maiores.
Linda e abusada, pensou, ao vê-la fechar
as coxas brevemente, como se estivesse se
agradando. E talvez estivesse, pois a intensidade
do olhar de Rony era o bastante para colocá-la em
chamas.
Ele subiu na cama, e não demorou muito,
estava sobre ela. Helena suspirou satisfeita
quando sentiu o corpo pesado sobre o dela. A pele
de Rony sempre era muito quente, muito firme, e
áspera em lugares interessantes, como as palmas
das mãos. Ele serpenteou sobre seu corpo,
enquanto a beijava Helena curvou todo o corpo, se
oferecendo.
O beijo era lento e suave, provocador,
com mordidas que lhe roubavam o ar. Um beijo
molhado, e quando Rony lambeu o céu da sua
boca ela correspondeu, entrelaçando a língua na
dele, pedindo mais.
Rony tentou quebrar o beijo, para beijar
mais abaixo, mas ela não deixou, envolvendo suas
costas com as mãos e exigindo que o beijo
continuasse.
Helena gemeu quando ele afastou-se
depois de beijá-la e deixá-la tão excitada com esse
beijo, como nunca estivera na vida. Mentira,
sempre ficava desse modo quando a beijava!
Sorriu sem notar, diante desse
pensamento e ele olhou-a intrigado, antes de beijar
seu queixo, suas bochechas, seu pescoço e descer
por seu pescoço.
Sua língua traçava um caminho de fogo
por seu pescoço, em direção aos seios, e Helena
arqueou-se, hiper sensível. Quis lhe contar que
estava super sensível nos seios, que era como
jogar gasolina sobre fogo, mas não teve palavras
para se expressar quando ele circulou com a
língua sobre um mamilo durinho e empinado.
Lambeu e chupou avidamente, enquanto
ela gemia e se contorcia, esfregando seu sexo
contra sua coxa máscula, que jazia entre suas
pernas. Achando algum alívio nisso, ela esfregou-
se na pele, sentindo os pelos ruivos e os contornos
e fechou os olhos, apreciando a masturbação
quase tanto quando o chupar lento de seus bicos
doloridos.
Rony ergueu a cabeça em dado momento,
observando seu prazer e não resistiu a provocá-la:
-É desse modo que pretende não
colaborar, Helena?
Pega pela própria língua, ela olhou para
ele através de olhos nublados pelo desejo e correu
seu rosto com as mãos, parando para tocar seus
lábios com os dedos, enquanto ele tentava morder
os dedos, fazendo-a sorrir sensualmente antes de
ter os dedos dele tocando sua boca do mesmo
modo que fizera com ele. No entanto não tentou
morde-lo, pelo contrário.
-Mudei de ideia – ela disse rouca pela
paixão, segurando sua mão, e levando uma dos
dedos a sua boca.
Engalfinhou todo o dedo, chupando-o
com verdadeiro prazer. Rony ficou imóvel,
sentindo sua sedução e mais que isso, sentindo um
aperto tão grande em suas bolas que quase gozou
ali mesmo, a um passo de fazer amor.
Mesmo assim não teve forças para fazê-
la parar. Esfregou-se contra sua barriga, tentando
aliviar um pouco do desejo, esfregando o
comprimento do pênis em sua pele macia.
Helena adorou quando ele fechou os
olhos, se roçando nela como um cachorro no cio.
Era exatamente isso que esperava de seu homem,
completa entrega, e que jamais se lembrasse de
suas ex-amantes. Podia ter uma boca só, mas
sabia usá-la! Não eram duas como as gêmeas,
mas tinha tudo que ele precisava para ser feliz!
-Quero prová-lo – ela disse ao soltar seus
dedos, e colocar sua mão sobre o seio, que ele
apertou como um condenando aperta as grades de
sua sela.
Rony sequer cogitou a possibilidade de
negar, mas se houvesse parado para pensar, lhe
perguntaria por que mudara de ideia.
Rolando para o lado, caiu contra os
travesseiros, gemendo quando o corpo morno de
Helena subiu sobre ele.
Lá estava ela novamente, montando sua
coxa, espertamente, tinha afastado as pernas de
Rony e em vez de montar sua cintura, montara
sobre sua coxa, enquanto dobrava o corpo para
chegar onde queria e precisava!
Seus cabelos cobriam o peito de Rony
quando ela dobrou-se para beijar seus mamilos.
Deveria ser gentil e cheia de delicadezas, como era
esperado de uma dama, mas Helena nunca se
prendera a convenções, e atacava seu amante com
a mesma paixão que ele demonstrava. Lambeu os
mamilos pequenos e retesados, tão diferentes dos
seus, suas costas se curvando e se flexionado
numa deliciosa dança, que erguia seu bumbum e
atraia as mãos de Rony para apertar a carne e
esfregá-la contra sua coxa, atiçando seu clitóris e
tudo mais que houvesse no caminho.
Arisca, seguiu sugando seus peitos de
homem, lambendo a pele, descendo pela barriga
em direção ao umbigo.
Sua boca abriu-se completamente sobre o
umbigo, enfiando a língua ali, imitando os
movimentos que ele faria nela dali a pouco. Rony
gemeu, delirando com a insinuação e pedindo
silenciosamente que não parasse.
Quando se satisfez de provocá-lo, ela
subiu a língua por seu peito, deixando uma
lambida de pura fagulha de fogo espalhada por
sua pele, antes de roubar-lhe um beijo. Um beijo
duro, faminto, e Rony dobrou a perna para não
perder o contato lá embaixo, seguindo
estimulando-a, com os movimentos circulares que
ela fazia em sua coxa.
Helena quebrou o beijo, apenas pelo
intento de retomar sua missão. Desceu as mãos e
então o rosto sobre a parte que lhe interessava.
Sentiu Rony agarrar seus cabelos e mantê-los nas
mãos como se fosse um arreio, enquanto a
observava olhar e tocar seu membro.
Duro como aço, tremia em suas mãos,
pronto para tudo que desejasse. Com um olhar de
pura malícia em sua direção, Helena lambeu os
lábios, arrancando dele um gemido de
antecipação. Ela apertou a mão em volta dele,
apoiando a outra mão no colchão, pondo a língua
para fora da boca e lambendo bem lentamente
sobre a cabeça.
Rony urrou pelo choque do primeiro
toque, mas não reclamou. Não mesmo! Se ela
queria lento, seria lento! Revirando os olhos,
gemeu quando ela seguiu lambendo todo o
comprimento, sem pressa para evoluir.
Beijos estalados, mordidelas suaves,
lambidas longas e curtas, dedos e mão apertada
em volta, manipulando-o naquele ritmo
preguiçoso... Estava prestes a chorar e implorar
por alívio, quando ela cobriu-o com seus lábios
rosados e o levou para dentro.
Helena aguentava muito, e achou que
poderia engasgar, mas não aconteceu. Levou-o ao
fundo, o máximo que pode e voltou atrás, tirando-
o com um suave ‘ploc’. Os quadris de Rony se
ergueram como se tentando encontrar sua boca
novamente.
Satisfeita, olhou para ele, que a olhava
com ansiedade e paixão, e desceu o rosto
novamente, colocando-o outra vez em sua
garganta. Decidida a lhe dar uma razão para viver,
começou a chupá-lo com força.
Rony se esqueceu de respirar pelos
próximos minutos indo da agonia da antecipação
há agonia do êxtase em poucos segundos.
Helena tirou-o da boca a poucos
segundos do êxtase. Sentia o pênis inchar em suas
mãos e boca, e acariciando suas bolas sentia o
endurecimento daquela carne. E o frenético
aumento dos gemidos e movimentos.
Decidida, montou em sua cintura antes
que Rony tivesse tempo para lamentar. Desceu o
quadril de uma vez, colocando todo o
comprimento para dentro de si. Gritou
mansamente pela invasão, pois estava atirando
seu corpo, tão inchado e grosso quanto era
possível estar!
Ouviu o grito de agonia de Rony, e quase
desistiu daquela posição quando ele agarrou seu
quadril forçando-a a descer novamente. Era tão
bom, e ao mesmo tempo tão ruim que a fazia
querer gemer e chorar ao mesmo tempo.
Sensível ao seu desconforto, ele lambeu
os dedos e esfregou sobre o clitóris, fazendo-a
gemer e se mover mais rápido. Era o que faltava.
O prazer fazia seus joelhos temerem, e as
investidas tiravam sua capacidade de pensar.
Estava no controle até dois minutos atrás
não estava?
Ele a segurou para baixo, todo dentro
dela, fazendo-a sentir seus pelos públicos contra
pele e girou o quadril, torcendo-se dentro dela.
Helena gritou, sentindo o fogo a consumir. Seus
peitos saltavam, se movendo enquanto pulava
sobre ele. Rony a fazia subir e descer com força e
tirou os dedos de seu clitóris quando sentiu o
quanto estava molhada a fácil de penetrar.
Desesperada para dar vazão aquela
agonia que endurecia seu corpo e retesava cada
pequeno músculo, jogou as costas para trás,
apoiando as mãos no colchão atrás de si.
Rony olhava para a imagem mágica de
sua vagina escancarada em volta de si, e a barriga
deliciosa, curvada para trás, jogando os seios para
o alto, e não aguentou mais.
Segurou seu quadril mantendo-a parada e
se arremeteu várias vezes dentro dela, lhe
arrancado gritos desesperados de paixão,
necessidade e prazer.
Helena perdeu a noção do que acontecia,
e quando o sangue aqueceu em suas veias, seu
ventre incendiou e ele achou um lugar dentro dela,
seu membro esfregando rudemente sobre aquele
ponto sensível bem dentro dela, ouviu uma música
distante, uma canção que seu corpo entoava
enquanto convulsionava, tremia e gozava.
Fechou-se ao redor dele no momento em
que gozou e Rony gritou quando foi apertado e
ordenhado. Não dava mais para mover. Ela estava
apertada como uma virgem. Impossível seguir.
Preso em suas contrações, ele gozou como um
animal selvagem, agarrando suas coxas macias e
femininas, marcando a pele com sua força e
Helena gemeu mansamente, voltando à realidade.
Esperou que ele terminasse para se
mover. Lentamente subiu o quadril, separando-se
dele. Vergonhosamente, correram pelas suas
pernas muito sêmen, e outros líquidos que a
fizeram corar. Olhando para ele, se curvou
beijando seu rosto, sussurrando:
-Desista do duelo – pediu mansa.
-Helena...
-Apenas pense nisso – pediu novamente,
se esfregando contra o membro que ainda estava
rijo, não por desejo, mas pelo excesso de sangue
que ainda correia em suas veias. – Pense em
porque vale à pena desistir dessa ideia ridícula.
Rony sentiu os beijos meigos em seu
rosto e ofegou quando ela se afastou. Helena olhou
para seu membro, todo molhado, e lambuzada e
teve uma ideia de como convencê-lo a não desistir
dela.
Rony abriu os olhos rapidamente,
surpreso quando ela subiu sobre ele. Não sabia se
aguentava outra cavalgada dessas! Pensou
sinceramente em declinar e deixar para dali a
alguns minutos, quando recobrasse as forças,
quando ela roçou a cabeça de seu pênis em um
local muito íntimo.
Ela o encostou onde raramente havia
contato, e empurrou um pouco para dentro,
olhando para baixo, tentando ver o que fazia. Seus
cabelos crespos eram uma cortina que não o
impediam de ver.
Helena sentiu um pequeno choque
quando entrou um pouco. Saltou graciosamente,
gemendo de desconforto.
Estava muito lubrificado, então deslizou
mais fácil depois que a cabeça entrou. Seus
gemidos eram mais de manha do que de dor ou
lamento.
Soltando-o, afundou o quadril para baixo,
até tê-lo o mais profundo possível.
Rony estava em órbita, apanhado na sua
rede, gemendo, rendido e frouxo, como um
homem sem vontade, sendo completamente
controlado por uma mulher.
Daria-lhe a alma se ela pedisse. Helena
começou a se mover para cima e para baixo
lentamente enquanto ele arrombava seu ânus,
achando aquela posição ingrata. Não desistiria de
fazer-lhe todas as vontades, de agradá-lo, e tinha
certeza do quanto apreciava esse modo devasso de
fazer amor.
Não era a sétima maravilha para ela, mas
era excitante olhar o modo como ele se deleitava,
os olhos fechados, grunhindo e gemendo com os
lábios abertos em busca de ar. Teria o beijado se
não fosse impensável curvar o corpo com aquilo
enfiado em seu... Bem, não era uma posição que
lhe favorecesse!
Por outro lado o erotismo do momento
mandava ondas e mais ondas de desejo e tesão por
todo seu corpo. Enquanto ele gemia e se contorcia,
ela agarrou um seio, acariciando o mamilo como
ele sempre fazia, e fantasiou que eram seus dedos
longos e deliciosos.
Helena soluçou de prazer quando sentiu
que ele lhe tocava o diminuto clitóris, e abriu os
olhos vendo-o olhar para ela. Seus dedos longos
circulavam molhados sobre sua carne e ela se
ofereceu mais, movendo-se um pouco mais
rapidamente sobre ele, enquanto os dedos faziam
sua mágica.
Rony sentou-se num golpe ágil e agarrou
seu seio com a boca sugando, enquanto seus
dedos tentavam entrar dentro dela, mas não
conseguiam por causa da posição.
Helena empurrou seu ombro, como se
pedisse que parasse. Estremeceu em seus braços
quando o prazer a cegou, e enterrou o rosto em seu
pescoço, aspirando o cheio dos cabelos ruivos,
cheiro de loção pós barba e suor, e saltou como se
levasse uma espetada quando ele gozou
novamente, derramando tudo dentro dela outra
vez.
Ele soltou um som agoniado que
lembrava um berro de animal, e tinha o belo rosto
contorcido pelo prazer. Helena não resistiu a beijá-
lo, sugando seus gritos e respirando junto com ele
enquanto ele parava de se mexer e a erguia para
libertá-la.
Beijaram-se por vários minutos, e Rony a
deitou na cama, descansando o rosto em seus
seios.
Helena suspirou várias vezes,
relembrando o prazer, e notou que ele estava
quase adormecido.
Sorriu antes de adormecer também,
pensando que agora não haveria mais duelo.
Capítulo 113 - Sem paragem

Anna arrumava a bacia com água morna,


a toalha e a escova de cabelos sobre a mesinha do
quarto, quando Helena despertou na manhã
seguinte.
A cama estava vazia ao seu redor, os
lençóis desarrumados e embolados a sua volta.
Estava coberta, mas o estado dos seus cabelos, e
da própria cama em si, além do fato de estar
dormindo nua era um indicio do que se passara
naquela cama, e embora Anna não tivesse mais
sua inocência, não sabia como se dava o fato.
Wood havia causado seu desmaio antes
de abusar dela. Corada de vergonha, esperou que a
patroa dissesse algo.
-Bom dia, Anna – ela disse sonolenta, se
movendo na cama, e espreguiçando-se
languidamente. – Onde está Rony?
-Saiu bem cedo, senhora. Levou o menino
com ele. – ela corou ao falar de Duran – Disse que
tem muitos preparativos para o duelo e não pode
esperá-la acordar. Pediu também que a deixasse
dormir o tempo que quisesse!
Helena sentou-se na cama, como se
houvesse levado um choque.
-Duelo? Ele ainda vai duelar? – havia
horror em sua voz.
-Eu não sei, senhora – Anna não sabia o
que responder.
Pelo resto da manhã, não teve coragem de
falar com a patroa. Helena estava tensa e a beira
de um ataque de nervos. Tinha certeza que depois
da noite passada ele desistiria desse maldito
duelo!
Tinha absoluta certeza!
Era manhã, mas estava em cima da hora
para o encontro que marcara com Wood.
Frustrada, se vestiu e penteou apressada, descendo
para a cozinha e bebendo uma xícara de café antes
de pedir a Anna que chamasse uma carruagem de
aluguel.
Sua ordem era mandar o cocheiro do
Conde ao mercado buscar as compras do dia, e
assim teria oportunidade de sair sem ser vista.
Na rua, ela avistou Luana no jardim a
casa ao lado, mas não parou para conversar, vestiu
as luvas correndo antes de entrar na carruagem e
dar graças por ela ser fechada.
Tensa, passou o caminho todo rezando
silenciosamente para que Wood aceitasse o
dinheiro e não tentasse nada contra ela. Tinha um
filho em sua barriga, disse a si mesma, deveria
desistir dessa loucura! Mas era a vida de Rony que
estava em risco, e ela tinha que ir em frente!
Com sorte, ele se conformaria só como
dinheiro!
Esperança vã; tinha certeza que um
homem com sua má fama pediria muito mais que
apenas dinheiro. Afastando esse pensamento, se
agarrou na certeza que o convenceria a aceitar o
dinheiro do Conde.
Dinheiro esse que não tinha consigo,
disse a si mesma.
Triste destino ter que consertar os erros
daquele fanfarrão.
A carruagem seguiu por várias ruas e
Helena sentiu o coração apertar de medo quando
entrou por uma vila muito pobre e escura, e
avistou alguns homens mal encarados nos becos.
Nunca antes sentira medo frente a
desafios, mas agora a vida era outra. Seu filho era
um inocente dependendo das ações loucas de sua
mãe!
Ah, como ela odiava Ronald Parker!
Se o livrasse daquele duelo, iria fazê-lo
pagar! Ah se ia!
A carruagem parou e o cocheiro abriu a
porta, aparentemente indiferente ao lugar.
-A senhora precisa de companhia? – ele
perguntou curioso.
-Não. Espere aqui – mandou, não
precisava de pessoas comentando seu encontro
com um homem que não era seu marido!
Ela andou por vários metros antes de
entrar em uma ruela. Era dia claro, mas as
construções eram muito juntas e os prédios altos e
velhos, lançando sombra por todos os cantos.
Diante da casa certa, parou. Num canto,
haviam vários olhos que a olharam com
inconfundível interesse.
Aparentando indiferença, bateu várias
vezes na porta. Sua ideia, melhor dizendo, sua
fantasia infantil, não era precisar subir a casa de
Wood, mas sim que ele a esperasse na rua, em
frente à casa.
Realmente Ronald não valia tanto
sacrifício! Não valia mesmo!
Irritada e, sobretudo, assustada, bateu
mais algumas vezes na porta, vendo um dos
homens se aproximar perigosamente.
Parecia inofensivo, era baixinho e curvo,
usando uma boina, quando estava perto o bastante
para ver seu rosto, sentiu-se gelada. Havia um
sorriso malicioso em sua face, e uma expressão de
quem achara um pote de ouro no meio do deserto.
-A moça está procurando o diabo louro?
– sua voz era rasgada, mas ela decidiu não julgar
o livro pela cama.
-Procuro Falcon Wood. Ele sabe de
minha vinda – esperava assim afugentá-lo.
-Imagino que sim, pois fugiu há dois dias
– o homem riu, sendo acompanhado dos amigos
que se aproximaram sem que ela notasse – Talvez
a moça possa se responsabilizar pelo que ele deve.
-Ele tem dívidas? – falava mais para
prolongar o momento, e atrasar o embate, do que
por curiosidade.
-De jogo. A moça sabe como ele é – falou
com intimidade.
-Sinto muito, mas não tenho dinheiro
comigo. Ele me deve também – acrescentou,
dando um passo para trás – Devo ir agora...
-A moça não pode ir sem nos dizer como
ficaremos sem nosso dinheiro – ele disse cada vez
mais perto.
Helena media mentalmente suas
possibilidades de correr com os sapatos
aprumados e as várias camadas de tecido, chegar
à carruagem a tempo do pior, quando ouviu
passos.
Droga, mais bandidos!
Suando de nervoso, ela encarou aqueles
homens ameaçadoramente.
-Não tenho responsabilidade pelo que
Wood faz! Deixem-me em paz!
Aparentemente ela não os assustava. Que
ideia ir até ali sem sua arma! Burra! Mesmo que
corresse, em que o cocheiro poderia ajudá-la
contra seis homens, possivelmente todos armados?
Helena deu vários passos para trás,
olhando em volta a espera de algum milagre.
A única coisa que viu foi um homem
gigante se aproximando.
Era tão alto e corpulento, que tirou seu
fôlego. Deveria ter mais de dois metros, era negro
como a noite, sua cabeça inteiramente raspada.
Sua camisa já vira dias melhores, pendia aberta e
rasgada em vários pontos. Seus pés descalços.
Deus! Estava perdida! Ele carregava nas
mãos uma barra de ferro, e quando ficou bem
perto dela, Helena achou que desmaiaria.
-Esses homens estão incomodando-a,
madame?
Sua voz soava como a voz de um gigante.
Sua face era bronca e severa e Helena maneou a
cabeça concordando, afirmando que sim.
-O que desejam com a senhorita aqui
presente? – ele virou-se para os homens que se
entreolharam – Talvez eu possa ajudá-los no lugar
dela.
O homem mais franzino ainda olhou
longamente em direção a Helena, tentado talvez a
insistir, mas desistiu. Quando eles viraram as
costas e andaram para longe ela disse com voz
falha:
-A carruagem me espera na outra rua.
Eu...
-Acompanharei a senhorita – ele disse
sério, sem deixar margens para discussão.
Helena concordou ainda assustada, sem
saber se poderia confiar nele.
Andou ao seu lado, em seu passo lento,
como se ele soubesse que ninguém teria coragem
de abordá-los. Era um homem capaz de assustar
até o mais forte dos homens.
O cocheiro pareceu prestes a sair
correndo quando o viu.
-Leve a madame diretamente para casa –
ele disse com sua voz potente, erguendo-a com
facilidade pela cintura e colocando-a dentro da
carruagem com uma única mão, poupando-a de
subir os degraus com seus pés trêmulos.
O cocheiro apenas concordou com um
aceno, mudo.
-Espere – ela disse antes que ele se
afastasse – Me diga seu nome!
-Adolph, madame – ele disse como se
soubesse que um nome pomposo desses não
combinava com ele – Me chamam de Ogro,
senhora.
-Ogro? – fitou-o incrédula – Não posso
crer que o chamem assim tendo um nome tão
bonito! Adolph, preciso lhe agradecer – ela abriu a
bolsa e retirou um saco com moedas. Antes que
ele pudesse negar ela disse – por favor, cometi
uma loucura vindo aqui, estou grávida, e só Deus
sabe como lhe sou grata! Por favor, aceite.
Compre sapatos para seus pés!
O homem olhou para ela humilhado, e
Helena entendeu sua sensação, pois muitas vezes
na vida sentira-se desse modo.
-Vive aqui? – perguntou quando ele
aceitou o saco de moedas com sua mão gigante.
Sempre achara Rony um homem enorme,
mas aquele era verdadeiramente um monstro!
-Vivo na rua, senhora. Não sou um
vagabundo. Meu senhor não precisou mais dos
meus serviços – ele disse com um resquício de
orgulho que a convenceu que era um bom homem.
– não há muito trabalho para um homem do meu
tamanho.
-Muito menos para uma mulher do meu –
ela disse pensativa, lembrando-se de como era
difícil trabalhar sendo tão frágil. Ele não entendeu,
e ela sorriu – Preciso de um cocheiro. – disse sem
pensar. - Venha a minha casa. Apenas me
prometa não contar a ninguém de onde me
conhece, tão pouco que me viu aqui! Mandarei o
cocheiro vir buscá-lo em menos de uma hora. Por
favor, esteja aqui. Ele concordou sem parecer crer.
Helena fez um sinal para que o cocheiro
seguisse e não conseguiu desgrudar os olhos
daquele homem tão grande e corajoso.
Em casa, ela tremia quando Anna a
recebeu na escada. Depois de pedir ao cocheiro
que voltasse para buscá-lo, ela sentou-se na sala,
chorando de nervoso.
-A senhora está bem? – Anna parecia em
pânico.
-Não – confessou.
-Devo chamar alguém?
-Não, não precisa. Estou nervosa. Vai
passar – o medo a deixou lentamente, enquanto
Anna lhe fazia companhia.
Não pudera falar com Wood. E agora? O
duelo aconteceria!
Pouco mais de uma hora depois, o
cocheiro voltou e Anna lhe pagou pelo serviço.
Quinze minutos depois, Helena ouviu palmas.
Anna olhou pela janela e cobriu os lábios com
uma das mãos assustada.
-Deixe, falo com ele – ela sorriu para
acalmar a menina e abriu a porta.
-Madame - Adolph ainda parecia
incrédulo sobre o que estava lhe acontecendo.
Curvou-se respeitosamente, e quando
ergueu os olhos, Helena assustou-se. No beco não
vira seu rosto em detalhes, mas agora estava
diante os olhos mais maravilhosamente verdes que
já vira na vida. Olhos idênticos aos de Duran.
-Deus do céu!
-Perdoe-me, senhora – ele deu um passo
para trás, mas ela sorriu.
-Eu que peço desculpas. É um homem
muito bonito, nunca vi olhos como os seus! – disse
empolgada – Verá que tenho um empregado, um
menino, que tem olhos como os seus!
O homem pareceu além de constrangido,
um pouco surpreso.
-Precisará de um uniforme, e deverá ser
feito sob medida. Não há dúvidas disso! Anna! –
ela gritou, se voltando para a escada, atrás da
menina – Chame a costureira. Aquela que meu pai
mandou; a de expressão azeda... E desfaça essa
cara, esse é Adolph, um amigo. Não tenha medo
dele!
Assim como Helena, Anna quase
desaparecia perto dele.
Era um gigante.
Uma ideia se formou na mente de
Helena, e com um sorriso, ela sentiu as esperanças
se renovarem, em sua cabeça uma nova ideia de
como evitar aquele maldito duelo!
Adolph comia com gosto, sentado no
degrau da escada dos fundos, pois não havia
cadeiras naquela casa que o suportassem.
Serviram-lhe arroz e carne, fato raro. Era um ex-
escravo e estava acostumado a ser mal tratado.
Helena olhava para ele com um brilho no
olhar que o intrigava.
-De onde você é? – Helena lhe perguntou,
curiosa.
-Não sei. Fui vendido muito pequeno, e
não lembro onde nasci – ele contou sem sombra
de mágoa, o tempo havia curado suas feridas.
-Tem família, Adolph?
-Não tenho mais pais ou irmãos. Estão
todos mortos.
-Sinto muito, também perdi minha
família – contou sentida por ele.
-Também sou órfã – Anna disse achando
algo em comum com o gigante.
-Têm mulher e filhos? – Helena seguiu
seu inquérito, pensando bem à frente.
-Não, madame - ele engoliu a comida,
achando engraçado tantas perguntas – Não tenho
mulher ou filhos.
-O que fazia em seu antigo trabalho?
-Cuidava dos cavalos do meu antigo
patrão. Ele tinha muitos. Ele casou-se e sua
mulher não gostou de mim, disse que a assustava.
– comentou brandamente, acostumado a isso.
-Por quê? Que mulher tola! Um homem
grande é sinal de proteção. Muito me admira que
não esteja fazendo a segurança de algum homem
de poder. Sabe Adolph, estou de passagem em
Londres. Em dois meses volto para minha casa,
que é longe daqui. Uma fazenda – disse
sonhadora, notando seus olhos brilharem – Se
quiser, e meu marido concordar, pode voltar
conosco. Sempre precisamos de braços fortes para
o trabalho e os seus... Minha nossa, são capazes
de fazer o trabalho de dez homens!
-Se for do agrado do senhor seu marido,
terei prazer em servir – ele disse humilde.
-Só me prometa não abaixar sua cabeça
para o meu marido. Ele é muito mandão – ela
brincou e ele até sorriu, ocupado com a comida.
O homem se perguntava por que a jovem
rondava em volta dele como abelha no mel.
Chegando a conclusão óbvia, só lhe
restou esclarecer logo de uma vez:
-Desculpe, madame, sei que meu porte
passa uma falsa ideia, mas não faço trabalhos
obscuros – ele disse engolindo um último pedaço
de carne e olhando para ela com desconfiança.
-Oh não, não quero que faça nenhum
trabalho obscuro! Imagine! – seu sorriso podia
iluminar Londres de tão empolgado – Preciso
apenas que seja meu cocheiro e prometa não
contar aonde vou. E também, preciso de um
pequeno favorzinho. Coisa muito pequena!
-Um favor? Qual? – Anna perguntou ao
seu lado, se roendo de curiosidade.
Olhando para os olhos verdes e astutos
daquele homenzarrão, disse:
-Preciso que sequestre o meu marido.
Capítulo 114 - Fatalidades e escorregões

O mau humor havia se instalado em


Rony ao longo da manhã. O sol brilhava alto, o
dia estava lindo, e havia acordado bem humorado
e feliz como raras vezes em sua vida. Tinha tudo
para ser um dia perfeito.
Isso, até o Sr. Loren pedir-lhe que fosse
pessoalmente entregar uma pilha de intimações.
Ser o homem dos sonhos de Helena dava
trabalho, e o impedia de pedir dinheiro ao Conde,
por isso, submetia-se a isso.
Mentiroso, disse a si mesmo. Não queria
que o Conde tivesse influência sobre você e sua
vida, e que não lhe tirasse Helena. Essa era a
verdade!
Infeliz, seguiu andando pela estradinha
de terra, esperançoso de ver uma carruagem
passar por ali. Ledo engano, pois teria que andar
alguns quilômetros até voltar à cidade.
O lado bom. Era que lhe dobrava tempo
para pensar. Pensar em Helena, na vida dos dois,
pensar no fatídico baile e suas consequências.
Pensar em sua vida antes e depois do
casamento.
Lembrou-se quando decidiu voltar para
casa, mostrar seu diploma aos pais e dizer que era
um homem de verdade, capaz de cuidar de si
mesmo, e que não investiram seu dinheiro à toa.
Que toda a saudade e separação não
haviam sido em vão.
Hoje era capaz de admitir que parte de
sua decisão de voltar, se dera pela necessidade
feroz de voltar aos seus. Ver os irmãos com aos
quais brincava quando pequeno, ver a irmã menor,
que era apenas um bebê quando partiu. Ver a mãe,
que guardava na mente a imagem bela e bondosa,
sempre carinhosa e amorosa, mesmo quando eles
a enlouqueciam com suas traquinagens. Ver seu
pai, e dizer a ele que eram iguais.
Tinham o mesmo sangue nas veias e o
mesmo amor pela terra.
Não esperava de jeito nenhum, encontrar
uma mulher tão determinada, bonita e arredia
como Helena. Sempre preferira as moças dóceis.
Era de imaginar que elas não o atrairiam para
casar, pois gostava de uma boa briga.
Sorrindo, ele cogitou o que diria a ela
quando retornasse do suposto duelo. Havia
pensando em algo dramático, como pedir a John
para surrá-lo e deixar algumas marcas para passar
mais veracidade, ou quem sabe, cair de propósito
da carruagem em movimento para ganhar algumas
escoriações, tudo para garantir mais veracidade ao
seu plano.
Decidira, porém, que a pobrezinha estaria
tão desesperada e frágil que poderia ser demais
para ela. Melhor se concentrar em dramatizar o
mínimo possível a situação!
Sorte sua Wood ter deixado Londres. No
início, achara que o Conde tinha algo a ver com
sua fuga, mas sua verdadeira surpresa diante da
notícia o inocentara. Alguém menos civilizado que
Rony, finalmente se cansara do maldito Wood e o
colocara em seu devido lugar.
Suas dívidas de jogos eram lendárias, e
não se admiraria se alguém o houvesse
pressionado obrigando-o a juntar sua existência
insignificante e asquerosa e fugir para um buraco,
assim como os ratos fazem ao sentir medo.
Torcia, para quem quer que o estivesse
procurando, ter sucesso em sua busca. Nada lhe
daria mais prazer que assistir seu funeral.
Pensando nas mil razões para odiar
Wood, seguiu andando. Umas duas horas depois,
ele chegou finalmente a cidade. Tinha algumas
moedas no bolso, e quase se ajoelhou de alívio
quando ouviu o som de uma carruagem que se
aproximava.
Fez sinal para chamar a atenção e se
aproximou. O cocheiro mal lhe dirigiu o olhar, um
homem pequeno e enrugado, mas o que importava
eram os assentos macios e a proteção contra o sol.
Ainda tinha dois mandatos para entregar,
e só Deus para saber o quanto ele apreciaria torcer
o pescoço ossudo do Sr.Loren
O homem sabia o quanto odiava fazer
esse tipo de trabalho, normalmente condicionado
aos iniciantes, e parecia se divertir com sua
desgraça.
Como se ele fosse bobo e não soubesse
que havia o dedo rico do Conde nisso. Não era
segredo que o desejava como seu secretário
pessoal, cuidando e sendo treinado, para um dia
assumir o controle sobre sua fortuna.
Bem mais suave que o pai de Susan, mas
tão ardiloso quanto!
Decidido a não ceder, parou em outro
endereço e fez sua entrega. Sempre era uma
situação desconfortável intimar as pessoas. Nesse
caso em particular, uma jovem viúva com uma
filha de colo. O marido havia morrido e deixado
apenas uma casa simples. Como o único filho era
mulher, a pouca herança iria diretamente para um
primo distante.
O homem dera ordens expressas de
vender a casa e remeter o dinheiro o mais breve
possível. A pobre mulher ouvira com atenção e
orgulho, mas ele sabia o tamanho da humilhação e
dor que sentia.
E sabia também, que o Sr.Loren nesses
casos, geralmente, agia como o advogado do diabo
e tirava vantagens. Provavelmente venderia a casa
por procuração, por um valor maior do que
informaria ao primo ambicioso do pobre falecido.
Seria pouco dinheiro, mas ao menos a viúva teria
como recomeçar.
Infelizmente não eram todos os casos em
que poderia interferir. Seu último destino era uma
casa, onde os filhos deveriam ser retirados pela
justiça. Seriam levados para um orfanato por
causa de maus tratos a abusos.
Rony não entendia certos tramites da lei.
Porque avisar com antecedência se era óbvio que o
pai estuprador e agressor fugiria com as pobres
meninas para longe e nunca mais seria visto,
enquanto as pobres criaturas viveriam suas vidas
sendo constantemente abusadas?
Pensou no infortúnio de Helena, ao lhe
tirarem a fazenda quando se conheceram. O
mundo não é justo para as mulheres, e ela tinha
toda razão ao afirmar isso.
Terminado sua tarefa, praguejou ao ver
que o cocheiro havia ido embora.
Merda. Logo num dos bairros mais
desagradáveis da cidade.
Só lhe restava apurar o passo e sair dali o
mais rápido possível.
Não muito longe dele, Adolph seguia
seus passos. Uma sorte Rony ter resmungado na
mesa do café, antes de sair, diante de Anna que
teria que ir até aquele bairro. Desse modo, fora
fácil manter vigília esperando a hora que um
homem alto, ruivo e de postura rebelde passaria
por ali.
O homem nunca vira o ruivo antes, mas a
descrição de sua nova patroa era exata e precisa.
Toda a postura do ruivo indicava descaso e
desenho social. Em sua larga experiência, já vira
muitos homens como ele terminarem mal por
causa de suas atitudes impensadas.
Seguindo-o a uma curta distância,
disfarçou os passos, acostumado a andar
escondido e não ser visto, para não causar
comoção por causa do seu inexorável e intolerável
tamanho.
Adolph lutava contras as dúvidas,
preferindo acreditar naquela pequenina mulher
que lhe estendera a mão e lhe fora caridosa. Não
era fácil acreditar depois de tantas desilusões na
vida, e ainda tinha dúvidas sobre qual era seu
intento em relação ao jovem marido.
Não seria a primeira vez que uma moça
desejaria a viuvez prematura. Ele não era
assassino, e se fosse esse o caso, acharia um modo
de deixar aquela situação antes de se envolver
ainda mais.
Rony sentia os pelos de sua nunca
arrepiados, como se o seu corpo o prevenisse que
algo estava prestes a acontecer.
Não ouvia os passos, mas tinha certeza
que havia alguém atrás dele.
Merda.
Não tinha dinheiro com ele, ou algo de
valor, além do relógio de seu pai que sempre
carregava no bolso do colete, então, acabaria
morto em uma vala.
Merda.
Um enfrentamento era impensável em
sua situação de desvantagem. Restava-lhe tentar
fugir através da esperteza.
Adolph era acostumado a analisar a
reação das pessoas a sua volta, por isso não
demorou a notar a estranha tensão sobre os
ombros do homem a quem deveria atacar, muito
menos lhe passou despercebido o andar mais
pesado, como se estivesse esperando algo
acontecer.
Era um homem esperto, como dissera sua
nova patroa. ‘uma raposa velha, esperando para
mordê-lo. Tome cuidado, aquele homem não
presta. ’ Fora essas as palavras dela,
desmerecendo o marido, com um brilho tão
apaixonado nos olhos, e um tom de voz tão
amoroso por trás do fel, que não o enganou
quando aos seus sentimentos.
Se a moça não estivesse tão apaixonada
pelo marido, não teria aceitado essa tarefa.
Rony dobrou uma esquina, mas ao
contrário que muitos fariam, não aproveitou para
correr. Dependurou-se em uma janela de um
prédio quase em ruínas, e esperou que seu algoz
mostrasse a cara.
Antes de ter tempo para analisar seu
opositor, pulou sobre o homem que o seguia.
Arrependeu-se no mesmo instante. Foi
lançado no ar por braços fortes, e erguido como se
não passasse de um menino de dez anos.
Adolph quase riu de sua tentativa de
escapar. Pegar-lhe de surpresa, não queria dizer
que teria chances. Outros homens já tentaram
coisa parecida e sem sucesso.
Tirou o ruivo de sobre seus ombros e
acertou-lhe um soco bem dado no queixo.
Rony mal viu o vulto vindo em direção ao
seu rosto, e tudo ficou negro. Antes de ser puxado
para a escuridão total, ainda pensou, que
definitivamente, aquele não era o seu dia de sorte!
O plano era bem simples, pensou
Adolph. Achar um galpão abandonado que, aliás,
ele conhecia muitos, pois eram em locais assim
que vinha dormindo clandestinamente desde que
perdera o emprego e o teto sobre sua cabeça.
Achado o lugar, deveria levar o ruivo até
lá, e amarrá-lo por algumas horas, mais
precisamente, até o meio dia do dia seguinte.
Aparentemente, havia algum acontecimento no dia
seguinte que a mulher não queria que ele
participasse.
Cumprida sua tarefa, ajustou as cordas
nas mãos do homem e inspecionou seu rosto.
Nada mal. Não ficaria um roxo tão grande assim,
pois não batera com muita força.
No passado, descobrira que um simples
soco seu poderia quebrar o pescoço de um
homem. Por conta disso sempre era cuidadoso
com suas brigas.
Satisfeito com o próprio feito, Adolph
fitou a cama de jornais que havia no chão, num
canto do casebre abandonado. Havia passado
várias horas acordado durante a noite planejando
como faria para apanhar o ruivo, e mais umas
tantas horas esperando-o naquele beco. Sem
contar que há muitos dias não se alimentava
direito, e mesmo um homem grande como ele
sentia fraqueza de vez em quando.
Atirou-se no chão, satisfeito em poder
dormir algumas horas. Cruzou um dos braços
sobre o peito, e sentiu o contato gelado de um
pingente de prata que carregava em seu pescoço.
O único bem que homem algum tivera coragem de
tirar-lhe.
Fora dado a ele há muitos anos atrás, pela
única mulher que amou na vida. A única que não
tivera medo do seu tamanho, e o vira como um ser
humano digno de amor e respeito. Lembrando-se
daquele rosto, adormeceu.
A dor o fez acordar. Seu maxilar latejava
e sua cabeça pesava.
Tentou se mover, mas estava amarrado,
sentado numa cadeira. Suas mãos presas para trás,
seus pés amarrados também.
O ar cheirava a mofo e a animal morto.
Pela quantidade de ratos que deveria haver ali, não
o surpreendia ter sido sequestrado pelo rei de
todos os ratos, e que serviria de banquete.
Maneando a cabeça para se livrar do
torpor, olhou em volta, procurando o gigante que o
sequestara. Encontrou-o e conteve um palavrão,
apenas para não o acordar.
Como alguém poderia escapar daquele
mostro? Era grande e largo como uma parede!
Que merda! Grande, grande merda!
Não podia simplesmente ser assaltado,
surrado e sequestrado como as outras pessoas
normais? Tinha que ser vítima de um ogro, com o
qual não teria a mínima chance?
Rancoroso, ponderou que era tudo culpa
de Helena, a grande pé-frio da sua vida. Desde
que a conhecera fora vítima de um tiro, tinha uma
ameaça de prisão pairando sobre sua cabeça, e
agora, era sequestrado . Ô mulher para atrair
desgraças!
Se concentrando para pensar em uma
saída, chegou à inevitável conclusão que não
poderia lutar contra o gigante-do-pé-de-feijão.
Teria que aproveitar seu sono de princesa para
escapar. Ótimo, como se não houvesse feito isso
antes.
Anos atrás, quando tinha doze anos
Wood e seu bando, ainda no internato, haviam-no
prendido e amarrado no sótão, um lugar aonde
ninguém ia, e que era esquecido pelos professores.
Haviam-no amarrado na mesma posição que
estava agora, e ido embora, deixando-o com a
certeza que morreria de fome, sede e frio, pois era
inverno.
Naquela ocasião lhe restara apenas uma
saída, e se fosse bem franco, não fora a mais
inteligente. Juntando coragem e fôlego, ele moveu
os dedos, no curto espaço que havia entre as
cordas. Na ocasião usara da mão direita, mas
nesse caso, preferia a esquerda, para não
machucar sobre uma lesão antiga.
Com os dedos da mão oposta, forçou o
dedo mínimo, até sentir o osso estalar. Segurou o
grito de dor, praguejando em silêncio contra o
próprio azar. Porque aquele filho da puta não
sequestrava o Conde? Ele sim, tinha dinheiro!
Passada a raiva, oriunda da dor, forçou as
cordas, agora que libertara espaço. Libertou a mão
esquerda, ignorando a dor lacerante e o ódio
sufocante por ter que passar por isso novamente.
Sem tempo para pensar muito, soltou-se e
livrou os pés das cordas. Pelo visto, seu
monstrengo sequestrador não era muito
inteligente, ou muito interessando, pois não
prendera os pés com a mesma força que as mãos.
Satisfeito, se perguntou se deveria ou não atacá-lo.
Um ronco particularmente alto o alertou que não
seria necessário. Se fosse rápido, estaria fora dali
antes que acordasse e desse por sua falta.
Apanhando um trapo velho do chão, amarrou o
dedo quebrado contra os demais dedos, para
minimizar o estrago, e achou um modo de sair
dali, dando graças pela janela não estar presa ou
trancada. Na rua, tomou fôlego antes de se por a
correr.

Era noite quando Rony chegou em casa.


Suado, cansado e dolorido, ele bateu com força na
porta, até ter certeza que Helena acordaria. Dentro
de casa, ela não dormia ainda, nervosa sobre o
sequestro ter dado certo. Animada, achando ser
um recado de Adolph sobre o sucesso do
sequestro , quase morreu de susto a se ver diante
de Rony.
-Fui sequestrado – ele disse com voz
cansada, forçando a entrada, uma vez que ela
parecia em choque – Deus do céu, fui sequestrado
! Por sorte consegui fugir!
Ela observou-o cair sobre o sofá, exausto.
Pobrezinha, estava tão assustada que o fitava com
espanto e pavor. Como poderia culpá-la, se ele
mesmo ainda sentia o medo correndo em suas
veias em forma de adrenalina.
-Sequestrado ? – conseguiu gaguejar.
-Sim, devem achar que tenho dinheiro
por causa do seu pai – olhou para ela com súplica
– Helena, me ajude a subir, preciso de um banho
antes de procurar as autoridades. E preciso cuidar
disso.
Ela olhou para sua mão ferida e se
aproximou, tocando de leve seus dedos, pálida.
-Não é nada demais, quebrei meu dedo
para me livrar das cordas.
Nada demais? Esse filho da mãe escapara
de um homem que mais parecia uma muralha! E
pior que isso, ainda duelaria!
-Uma pena, não poderá segurar uma
arma - ela disse pensativa, avaliando as vantagens
de seu plano falho.
-Hum, eu atiro com a mão direita – ele
disse sem notar sua expressão mudar. Filho da
mãe!
Como podia? Esse homem era feito de
sebo? Como podia escorregar desse modo?
Adolph era enorme e esperto!
-Helena, não fique olhando para mim
desse modo! Chame um médico! Preciso de uma
tala – ele reclamou notando sua imobilidade.
Em sua inocência para o que se passava,
achou que se devia ao susto de vê-lo ferido.
-Anna! – ela correu para a cozinha. Por
sorte a menina ainda não fora embora – Corra até
a farmácia no fim da rua. Chame o farmacêutico, e
diga que é um dedo quebrado que deve ser
colocado no lugar!
-Mas, senhora, o médico mora a duas
casas daqui. É melhor eu chamá-lo e...
-Não! – seu grito a fez se assustar – Faça
o que eu pedi!
Por um segundo Anna ficou na dúvida
sobre suas intenções. Mandar cartas para homens
perigosos, encomendar o sequestro do marido...
-Anna, ele vai duelar amanhã cedo com
Falcon Wood – disse baixo em tom desespero –
Faça o que eu pedi.
Anna compreendeu imediatamente seu
medo. Aquele homem era o demônio! Seu
sorridente, perspicaz e lindo patrão não tinha a
menor chance contra as trapaças dele! Vendo a
menina tirar o avental e se apressar a arrumar os
cabelos, antes de sair, ela disse muito baixo,
sussurrando:
-Peça que ele traga um tônico para o
sono. Um bem forte. – olhando em volta,
acrescentou – Preciso colocar um leão para
dormir.
Capítulo 115 - Culpe o amor

O farmacêutico ignorou metade das


coisas que Rony dizia, pois ao chegar Helena o
chamara em um canto, avisando-o da triste
situação de seu marido. Após beber, batera a mão
ao cair, e agora estava inventando uma história de
sequestro , tudo fruto da confusão causada pela
bebida. Resmungando, o farmacêutico apenas
amaldiçoara os beberrões que o obrigavam sempre
a sair da cama à noite, para cuidar de suas
enfermidades, não dando ouvidos a nada que
Rony dizia.
-Sim, sim, vamos chamar as autoridades
– Helena dizia sem parar, enquanto o farmacêutico
colocava uma talinha em seu dedo. Enfaixando-o
junto aos demais dedos.
-Não está quebrado, apenas destroncado
– ele disse carrancudo, quando terminou o
trabalho e Helena lhe entregou algumas moedas –
Em uma semana pode tirar a atadura e livrar-se da
tala. E da próxima vez, juízo.
Rony não entendeu a que se referia, e
olhou para Helena buscando uma explicação.
-É um velho gagá – ela desconversou –
Venha, vamos para o quarto. Precisa tomar um
banho e dormir um pouco. O farmacêutico deixou
um tônico... Para ajudar a relaxar – baixou os
olhos esperado que ele não visse a mentira
expressa no seu olhar.
Que droga, estava ficando cada vez mais
difícil manter as mentiras!
Amuada e culpada pelas mentiras,
seguiu-o escada acima, levando consigo o
vidrinho com o tônico para o sono. Rony entrou no
quarto e jogou-se na cama, gemendo de
contentamento por estar em casa e a salvo.
-Não sei o que aconteceu. Num minuto,
aquele ogro me atacou, e no minuto seguinte
estava amarrado em um deposito velho. Sorte
minha ter acordado antes que ele me matasse!
-Você... Viu a pessoa que o sequestrou? –
sua voz gaguejou.
-Sim, e com sorte poderão prendê-lo, tão
logo de queixa contra ele. Um homem daquele
tamanho, não passa despercebido! Inferno, como
dói – ele lamentou olhando para a mão – sorte
minha já ter passado por isso uma vez, tive que
quebrar o dedo da mão direita para me livrar das
cordas que Wood usou para me prender no sótão...
-Rony... Precisa beber o tônico – ela se
aproximou nervosa e a beira de um colapso.
-O meu banho... – ele a fitou com olhos
perspicazes, notando seu desespero e sorrindo ao
achar que era por causa do medo dele ser
sequestrado .
-Assim que beber o tônico eu preparo seu
banho! – apressada encheu um copo com água,
pois à noite sempre deixavam uma jarra de
porcelana com água, caso sentissem sede durante
a noite – Aqui, beba tudo de uma vez!
-Tudo? – ele perguntou com uma careta
de repulsa. – Tem um cheiro horrível!
-Por favor, é para o seu bem! Beba! –
estava prestes a agarrar seus cabelos ruivos e virar
o vidro goela abaixo, quando ele bebeu todo o
conteúdo num gole só, reclamando do gosto ruim
e do cheio ardido.
-Venha, deite nos travesseiros – ela sentia
a culpa prestes a sufocá-la – Fique confortável,
vou tirar seus sapatos e...
-Helena – ele disse com olhos que
perdiam o foco rapidamente – O que está
acontecendo... Estou sentindo um sono estranho...
-Não fale. – ela sentou-se ao seu lado na
cama, alisando seu cabelo, até vê-lo fechar os
olhos e tombar a cabeça para trás, completamente
apagado.
-Graças a Deus – ela agradeceu, num fio
de autocontrole, achando que se isso não desse
certo, então, era seu destino duelar, e ela não
poderia fazer nada!
Mentira! Se ele fosse duelar, ela iria
junto, mas impediria essa loucura!
Sentindo-se a última das criaturas deixou
o quarto. Na cozinha, Anna a olhou compadecida,
e estendeu uma bacia com água morna, para que o
lavasse.
-Será que vai dormir muito tempo? –
perguntou com as mãos tremulas.
-O farmacêutico disse que dormiria um
dia inteiro – ela disse boazinha.
-Não queria fazer isso. Se ele me ouvisse,
se ouvisse a razão, não teria feito uma coisa
dessas! Eu juro que não!
-É claro que não, senhora. Ninguém
pode culpá-la por querer salvar a vida do seu
marido.
Agradecida, Helena lhe sorriu.
-A senhora gostaria que eu dormisse aqui
hoje? Caso precisem de algo, conheço Londres, a
senhora não.
-Faria isso?
-É claro que sim! – disse feliz em ajudar
– A senhora não tem culpa de ter que fazer o que
deve ser feito! Ah... Se o homenzarrão... Quero
dizer, Adolph voltar, digo o que?
-Diga que está tudo bem. Que não se
preocupe com as autoridades, pois não vai haver
queixa alguma. Amanhã, quando Rony acordar,
vou contar toda a verdade.
-Terá coragem? – Anna ficou incrédula.
-Tive coragem para sequestrá-lo e dopá-
lo. O que pode ser pior que isso? – perguntou
infeliz.
-Poucas coisas, senhora – Anna
concordou.
Helena teve que sorrir, mesmo que fosse
de sua própria tragédia.

Helena terminou de limpá-lo e cobriu-o


com uma manta, pois começava a esfriar. Ainda
estava tão nervosa, que não conseguira sequer
aproveitar o prazer de tocá-lo. Sentira-se horrível,
se aproveitando de um homem inconsciente.
Cumprira seu dever de cuidar dele. Cínica, como
cuidava dele se era causadora de seu mal?
Vestida para dormir, entrou embaixo da
manta, e tocou sobre a mão enfaixada que
repousava sobre a barriga de Rony. Culpa sua.
Totalmente culpada! Ferido, pobrezinho.
Aconchegou-se contra o corpo musculoso
e quente, e pousou o rosto em seu peito. Quando
acordasse, lhe pediria desculpas de joelhos se
fosse preciso.
Contaria do seu desespero e de suas
razões. Afastando a dor do medo, ela sorriu na
penumbra, tendo apenas uma pequena lâmpada ao
lado da cama acesa como testemunha. Não
haveria duelo.
Se aquele homem, Wood, era tão horrível
como diziam se vangloriaria de Rony ter desistido
e contaria vantagem, mas aí seria muito tarde para
marcar outro duelo, pois Rony não teria razões
para isso.
Só um imbecil para não entender seu
gesto, ao sequestrá-lo e dopá-lo! Só esperava não
assustá-lo muito...
Mortificada com as consequências dos
próprios atos, Helena não conseguiu conciliar o
próprio sono.
Adormecia e acordava em poucos
minutos, num sono agitado, permeado de
pesadelos com um Wood sorrindo satisfeito, com
o coração de Rony batendo entre seus dedos. Da
última vez que acordou quase aos berros, notou
que o sol entrava pela janela. Raios tímidos de um
começo de manhã. Levantou-se e olhou para a rua.
O relógio sobre a mesinha marcava cinco e doze
da manhã.
Mais algumas poucas horas e estaria livre
da ameaça de duelo. Estava comemorando por
dentro, observando o movimento da rua, quando o
ouviu.
-Helena?
A voz era pastosa e confusa. Oh, não!
Como podia estar acordado?
-Rony, volte a dormir, é noite ainda – ela
disse soltando a cortina e se apressando a fechar a
janela, para esconder qualquer raio de sol. Voltou
à cama e se aconchegou a ele, que tinha os olhos
sem foco, perdido entre o mundo do sono e da
realidade.
-É madrugada, amor. Durma –
amorosamente, beijou seu rosto, e passou uma das
pernas sobre as dele para acalmá-lo.
-Hum... Madrugada – ele balbuciou,
voltando a dormir.
Aliviada, ela escondeu o rosto em seu
pescoço, sentindo seu cheiro de homem, e se
apegando a esperança de que não voltasse a
acordar. Esperança vã. Meia hora depois, ele
voltou a acordar. Novamente, conseguiu acalmá-lo
e fazê-lo dormir.
Como esse homem podia ser capaz de
frustrar seus planos! Seria também insensível a
um tônico que derrubaria a maioria dos homens?
Só podia ser para testar sua paciência!
Na quinta vez, ele fez menção de
levantar-se, num estado tal de confusão, que
Helena o puxou de volta para a cama
bruscamente, fazendo a única coisa que poderia
para contê-lo. Empurrou-o de volta para a cama, e
ao notar que ele tentava abraçá-la, confuso e
perdido em algum sonho que lhe causava
excitação, com ardor e sonolência em seu
semblante, afastou sua calça, baixando o pijama.
Ele estava à meia ereção, provando que
era capaz de tirar sua paz, até mesmo dopado.
Ouvindo seus sussurros desconexos, algo sobre
precisar ir trabalhar, querer estrangular o Sr.Loren
e depois voltar para a fazenda, coisas que não
faziam o menor sentido, ela começou a
gentilmente estimulá-lo, até sentir crescer em sua
mão.
Ele continuava falando enquanto gemia
baixinho, talvez sem perceber exatamente o que
acontecia, mas se pudesse deixá-lo exausto, talvez
se entregasse ao efeito do tônico para o sono.
Para cima e para baixo, moveu os dedos
com carinho, temendo que um exagerado ataque
de paixão pudesse tirá-lo daquele torpor induzido.
Vários minutos depois, enquanto se
deliciava acariciado seu membro duro entre os
dedos, ouviu seu choramingar e recebeu nos dedos
seu gozo. Pacientemente, limpou-o com uma
toalha e cobriu-o, observando-o pegar no sono
definitivamente.
Caiu ao seu lado na cama, começando a
se irritar. Droga, agora quem estava com vontade
era ela!
Quase desejando que ele acordasse,
Helena pensou se poderia aproveitar-se dele.
Porque não? Uma vez ele fizera isso quando ela
estava bêbada, não fizera? Que mal havia?
Oras! Você o drogou! Esse pensamento a
fez se conter.
Excitada, deitou-se sobre a manta,
correndo os dedos da mão direita sobre a camisa
de dormir, exatamente sobe os seios. Os bicos
estavam rijos e esperando por carinhos.
Gemeu sofrida e virou-se para o outro
lado, com o travesseiro entre as pernas. Até que
era agradável ficar assim, ajudava a aliviar aquela
dor entre suas pernas.
Horrorizada por ser capaz de pensar em
sexo diante da eminência de uma tragédia, pois
quando ele acordasse seu casamento estaria
seriamente abalado, jogou o travesseiro nos pés da
cama, e afundou o rosto no outro travesseiro que
estava sob sua cabeça.
Incapaz de dormir, sabendo que ele
poderia acordar novamente a qualquer momento,
ficou pensando, nos prós e nos contras.
Rony gostava bastante de dividir a cama
com ela, e isso era um ponto a favor. Estava
esperando seu filho, outro ponto a favor. Ele
gostava da vida de fazendeiro, e gostava
principalmente do modo como ambos se
entendiam no trato da fazenda, um ponto bem
grande a seu favor. É um homem obstinado e
determinado, e jamais a deixaria antes de obter
sua rendição. Um ponto totalmente a seu favor!
Por outro lado, o desdenhava em público, um
ponto contra ela.
Uma vez jogara uma pedra nele. Outra
vez apontara uma arma para ele, na cama. Outra
vez o rejeitara aos berros na frente de todo mundo
– Oh, essa última se repetia muito, aliás – sem
contar que beijara John bem na sua frente. Pontos
extremamente negativos!
E como poderia esquecer: dançara com
Wood em público. Marcara um encontro com
Wood. Mandara alguém sequestrá-lo. Dopara-o.
Deus, ela só tinha pontos negativos! Quando
acordasse, Rony daria graças ter uma razão para
se livrar dela!
Mortificada, jurou a si mesma que se
escapasse dessa, seria a mais cordata e dócil das
esposas. Seria uma filha amável, uma amiga
gentil, uma patroa generosa e uma amante
dedicada. Faria valer a pena sua paciência.
Ao seu lado, Rony se remexeu, atiçando
novamente dentro dela, o medo e o desejo.
Virando-se para seu lado, Helena apanhou o braço
forte e passou sobre sua cintura, ajudando-o a
virar-se para seu lado, ficando frente a frente.
Aninhou o rosto perto do dele, depois de beijar
amorosamente seus lábios.
-Dorme, amor. Dorme só mais um
pouquinho...
Aninhada desse modo, sentiu o sono
chegar de mansinho. Não havia mal nenhum em
tirar um pequeno cochilo. Repousar seu corpo
cansado emocionalmente e fisicamente, e ainda se
preparar para o dia seguinte, quando o teto de sua
casa cairia sobre sua cabeça.
No fundo, soubera que esse homem seria
um problema desde a primeira vez que o vira
naquela estrada pedindo ajuda, ao lado do cavalo
envenenado por mordida de cobra. Algo em sua
mente gritara bem alto para corresse para bem
longe dele, pois aqueles olhos azuis inesquecíveis
poderiam mexer com seu mundo, e colocar tudo
de cabeça para baixo. Uma pena não ter dado
ouvidos a sua mente, e sim ao coração.
Capítulo 116 - Engraçadinho

As escadas nunca lhe pareceram mais


escorregadias ou estreitas do que naquela manhã.
Cambaleando, Rony se apoiou no corrimão,
trocando os pés de um lado para o outro, como se
estivesse dançando uma música lenta.
Ergueu o pé, mas o degrau fugiu. Onde
estaria o degrau? Olhando em volta, ele não viu
para onde o degrau havia corrido! Quando olhou
para o pé novamente, enxergou o degrau.
Ah, ali estava ele! Rindo sozinho,
colocou os dois pés nesse degrau e deu um
pulinho sobre ele, se glorificando por ter
recuperado o degrau fujão!
Ah, mas a luta não havia acabado! O
próximo degrau também tentou fugir. E o próximo
também!
Confiante que terminaria a árdua tarefa
de descer as escadas resvalou faltando quatro
degraus, e se agarrou ao corrimão.
Não! O corrimão havia fugido também!
Precariamente apoiado no chão de tapete
macio, ele encarou o corrimão, que havia
reaparecido por magia.
Olhou para ele, e como quem
confidenciasse um segredo, começou a tecer um
sermão sobre não desaparecer bem na hora que o
seu senhor precisasse dele.
Compenetrado, teceu um longo sermão,
com a voz enrolada, e foi desse modo que Helena
o encontrou.
Descalço, com a calça do pijama colada
ao corpo, a camisa pendendo sobre o corpo,
completamente desalinhada e amassada. Seus
cabelos ruivos espetados e amarrotados para todos
os lados.
Helena deixou-o dialogar com o
corrimão, achando graça.
Ela havia descido mais cedo, quando o
relógio a reconfortara afirmando passar das duas
da tarde. Salvo do duelo, deixou-o dormir em paz,
enquanto se banhava, vestia e descia para
almoçar, pois seu bebê não podia padecer por
causa dos pais inconsequentes que tinham.
Quase gargalhou quando ele tentou
montar o corrimão, dizendo que iria domá-lo, para
não voltar a fugir de seu senhor.
-Rony! – ela o puxou de volta pela
camisa, rindo – Deixe o corrimão em paz, ele não
pode entendê-lo!
-Hã? – ele virou-se, procurando em volta
de si mesmo, como se procurasse alguma coisa
girando em torno de si. – Quem?
-Rony, sou eu – ela segurou-o para que
parasse.
-Helena? – ele quase errou a pronuncia de
seu nome, maneou a cabeça várias vezes
repetindo.
-Helena, é este o nome. – ela segurou seu
rosto, olhando em seus olhos sem foco.
-Helena? – enrolou a língua, e ela sentiu
o coração apertar.
Tadinho; estava completamente fora do
eixo.
-Venha sentar comigo no sofá, amor – ela
o puxou gentilmente em direção ao sofá da sala de
estar, ricamente adornado em sua madeira lustrosa
com detalhes em dourado e estofado gracioso.
Rony despencou sobre o sofá, jogando-se
contra ela, meio deitado, meio sentado, as costas
apoiadas em seu peito, e Helena ajudou-o a deitar
em suas pernas com a cabeça sobre suas coxas.
-Está com muito sono, querido?
-Hum... Não – seu bocejo desmentiu-o
vergonhosamente – Hum... – ele acomodou-se e
fechou os olhos.
-O dedo está doendo muito? – perguntou
arrependida.
-O dedo? – olhou para a mão enfaixada e
sentou-se correndo, apavorado – onde estão os
meus dedos? Eles fugiram!
-Aqui, eles estão aqui – disse
pacientemente, segurando carinhosamente sua
mão e mostrando as pontas dos dedos que se
sobressaiam à atadura – viu, eles não fugiram.
-Ainda bem – ele disse aliviado,
deitando-se novamente – ainda bem.
-Sim, ainda bem – ela se curvou e beijou
sua testa, enquanto ele fechava os olhos. Acariciou
seus cabelos ruivos, com toda a gentileza de uma
mulher apaixonada. – gosto muito dos seus
dedos, Rony. Eles não podem fugir.
Ele riu e ela o acompanhou, adorando o
modo como o efeito do tônico para o sono o
abalava.
-Também gosto dos seus dedos – ele
olhava para cima, com seus olhos adoravelmente
abobalhados, azuis e límpidos – E da sua boca...
-Gosta da minha boca? – instigou,
sorrindo.
-Seu pescoço... Sua barriga... Tão
lisinha... Como uma boneca de porcelana, sua pele
tão macia... Sua barriga não vai fugir, não é? - ele
tentou sentar-se novamente, assustado e Helena o
puxou de volta.
-Não, olhe! Minha barriga está aqui, no
lugar de sempre. Crescendo com o nosso
bebezinho – ele tocou sua barriga, os dedos
espalmados, enquanto seus olhos se arregalaram
tão bonitos e vivos, mesmo perdidos na confusão
causada pela química, que Helena se curvou e o
beijou.
Terminou o beijo, molhando seu lábio
inferior com a língua, num carinho malicioso,
pena que ele não tinha a menor consciência do que
fazia!
-Você me beijou... – ele disse surpreso.
-Beijei – concordou.
-Me beijou espontaneamente...
Sua incredulidade a fez pensar se suas
recusas haviam causado nele dúvidas sobre seus
sentimentos. Rony sempre parecia tão convicto do
quanto ela o desejava e queria; que era
surpreendente pensar que tinha dúvidas sobre ela.
-Beijei sim – concordou de novo, dando-
lhe corda para ver o que ele revelaria.
-Me beijou... Porque gosta de mim... –
ele abriu aquele seu sorriso fácil e encantador, tão
inocente, em sua essência mais terna, em volto
pelas sombras da semi-consciência.
-Gosto de você, gosto muito de você – ela
confessou.
-Gostar não é amar – ele disse ficando
sério.
-E por acaso posso amar alguém que eu
não goste? – provocou, sorrindo quando ele
gargalhou.
-Esperta demais para uma mulher... Meu
pai dizia, quando eu era pequeno, para ter medo
das mulheres inteligentes demais... – disse
pensativo.
-Por quê?
-Porque elas percebem o quanto sou
burro.
Helena gargalhou, livre de medos, pois
ele estava num mundo a parte.
-E porque seu pai casou com Sandra?
Porque ela não era inteligente? – seguiu
acariciando seus cabelos, uma das mãos pousada
sobre seu peito, sentindo o coração acelerado sob
a palma.
-Nããããoooooooooooooo. Mamãe é
inteligente. Mas vale a pena, porque é boa de
cama. Ou deve ser, ou meu pai teria uma amante.
Ou várias... Sei lá... Do que estamos falando
mesmo?
Ele sacudiu a cabeça tentando lembrar.
-Você estava me contando como gosta de
fazer amor comigo – ela mentiu, arrancando um
suspiro de seu apaixonante Rony abobalhado.
-Sim, e como gosto. Nossa...
-É melhor que as duas gêmeas juntas? –
cutucou, mordendo o lábio, seu senso de decência
dizendo-lhe para que não tirasse proveito dele
naquele estado.
Rony assobiou baixinho, num gesto tão
machista e masculino, que precisou se controlar
para não reclamar, e lembrar-se que estava em
outro planeta naquele exato momento.
-Melhor que a viúva e a madame
Roxanne juntas? – perguntou amarga.
-Melhor assim – ele abriu os braços,
abraçando-os bem largos, como faria uma criança
para mostrar o tanto a mais que apreciava sua
companhia.
-E as outras mulheres? Houve outras não
foi?
-Quem? – ele pareceu aturdido – Hum...
Mulheres... Gosto muito de mulheres... – sua mão
agarrou seu seio, e Helena desistiu de um dialogo
produtivo.
-Quieto. – recompôs sua mão no lugar e
ergueu as vistas para Anna que esperava acanhada
na porta da sala, vinda cozinha.
-Devo servir o almoço para o Sr.Parker?
Helena olhou para ele pesarosa. Queria
ficar mais um pouquinho com esse Rony bobinho.
-Não, prepare um pouco de café bem
forte e reforçado. Preciso despertá-lo totalmente,
para conversarmos. – suspirou enquanto Rony
brincava com uma das fitas do seu vestido.
-Adolph disse que ficará na cidade até a
senhora mandar chamá-lo. Acho que está receoso
de ser acusado.
-É melhor assim. – ela concordou. –
Rony, vamos levantar, preciso te levar para a
cozinha. Anna! Corre com esse café!
Tentava empurrar a muralha ruiva para
levantar do sofá. Rindo, conseguiu convencê-lo a
levantar.
-Helena, onde está você? – ele perguntou,
errando novamente seu nome, quando não a viu a
sua frente – Você fugiu?
-Aqui, Rony, estou aqui. Do seu lado –
segurou sua mão sã e o puxou gentilmente para a
cozinha – Vamos tomar um café quentinho? Você
quer? Está com fome?
Rony se deixou guiar com tanta entrega,
que ela sentiu o coração apertar de culpa.
Se ele a perdoasse por tudo, passaria a
ser a mulher mais calma, serena, dócil, obediente
e doce de todo o mundo.
Pobre bebezão, com uma mulher tão má e
voluntariosa. Não era a primeira vez que faria essa
promessa, mas esperava ser a última. Com a ajuda
de Anna, colocou-o sentado na cadeira e serviu o
café bem amargo e quente.
Ele reclamou muito, fazendo uma grande
bagunça ao seu redor.
-Acho melhor colocá-lo para dormir mais
um pouco – Helena disse por fim, parte sua
aliviada de não precisar enfrentá-lo logo.
Antes que pudesse ajudá-lo a levantar,
Rony tombou para frente, adormecendo sobre a
mesa, com o rosto em cima do braço.
Helena gemeu baixinho, culpando a si
mesma por todas as suas desgraças.
Tinha uma vontade incontrolável de
correr para a casa do Conde, se trancar em seu
quarto e pedir que a protegesse. Pois quando Rony
acordasse, tiraria seu couro. Não, no exato sentido
da palavra, mas acabaria com seu orgulho e
prepotência.
E merecidamente.
Rony acordou daquele torpor com o
balanço desajeitado embaixo dele. Abriu os olhos
e olhou em volta, dando de cara com uma muralha
de pele e pelos. Estava no colo de alguém.
Um homem o carregava como se fosse
uma donzelinha.
Estava em seu quarto, sendo carregado
para a cama. Em alerta, debateu-se obrigando o
homem a soltá-lo. Com um movimento ágil,
afetado pelo estranho torpor a qual era vítima,
conseguiu pegar o homem de surpresa, e apesar de
não o derrubar, o fez se abaixar para escapar de
cair.
Com rapidez, apanhou a arma que ficava
na gaveta do criado mudo.
Só então, olhou para quem o carregava.
Era o mesmo homem gigante que o
sequestrara! Mas como?
Teria sonhado a sua fuga? O dedo
dolorido em sua mão era a prova que não. Tinha a
lembrança vivida de ter voltado para casa e
encontrado Helena.
Helena! Aquele desgraçado o seguira até
em casa!
-Onde está minha mulher? – ele gritou
apontando a arma para Adolph.
Com um dos joelhos no chão, o homem
olhou para ele, sem responder nada, apenas depois
de ponderar, respondeu:
-Calma, senhor. A Sra.Parker estará aqui
em um minuto.
-Mentira! O que fez com minha mulher?
Como não obteve respostas, pois Adolph
não desejava enfurecê-lo ainda mais, apontou a
arma para a cabeça do homem:
-Levante-se! – ordenou.
Quase se arrependeu, porém não atiraria
em um homem rebaixado ao chão. De pé, chegava
facilmente aos dois metros e mais alguns
centímetros. Ronald era muito alto, mas não tanto
assim! Talvez houvesse um certo exagero, mas era
bem mais alto que ele que tinha um metro e
noventa e dois.
Ombros largos, como uma parede de
concreto, usava uma camisa cara, de linho de boa
qualidade, a calça justa mostrava músculos nas
coxas do tamanho de toras de madeira. Seus pés
eram tão grandes quanto suas mãos. O rosto era
expressivo, com a cor se sobressaindo contra os
olhos verdes.
Aturdido, quase puxou o gatilho quando
a porta do quarto, que estava apenas encostada
abriu-se. Helena parou surpresa e assustada.
-Helena, você está bem? – ele perguntou,
no momento não assimilando que ela estava livre
e faceira até um segundo atrás.
-Rony, abaixe a arma – ela disse suave,
olhando de um homem para o outro.
Era claro como o dia que Adolph não
estava nada feliz em ter uma arma apontada para
seu rosto.
-Esse homem me sequestrou! – ele contou
– Está dentro da nossa casa! Quero que saia agora
daqui, Helena, e chame as autoridades. Dou conta
dele. Agora vá e se proteja!
Nervoso, sentiu-se confuso e a mente um
pouco embaralhada.
Helena baixou o rosto, a beira das
lágrimas.
-Rony, não faça isso. Adolph não me fará
mal. Ou a você.
-Sabe o nome desse homem? – fitou-a
sem entender.
-Rony... – as palavras lhe faltaram.
-Saia logo daqui, Helena! - ele exigiu.
-Adolph, desça e vá cuidar dos seus
afazeres. Anna precisa de ajuda nas compras
agora que Duran está estudando – ela disse com
naturalidade, andando até o homem e tocando
gentilmente sobre seu braço, para acalmá-lo, pois
era um homem de sangue quente e muito grande
para ser irritado.
-Como à senhora desejar – ele fez uma
educada mesura, sem nunca afastar os olhos de
Rony, e se virou para deixar o quarto.
Em outra ocasião não teria dado sequer
um passo antes que Rony o impedisse. Mas a
postura de Helena o confundiu.
-O que está acontecendo aqui, Helena?
-Guarde essa arma – ela disse séria –
Achei que tivéssemos passado dessa face se
apontar armas um para o outro. – andou
nervosamente até perto dele.
Rony guardou a arma na gaveta e virou-
se para olhar em seus olhos.
-Achei que ele houvesse te machucado –
disse pesaroso, e ainda nervoso.
-Adolph? Não! Ele é grande e assustador,
mas só por fora – sua voz estava muito baixa, era
verdade, mas isso era culpa do enorme nó de
choro que havia se formado em sua garganta.
-Conhece esse homem? – sua postura
enrijeceu; intrigado e arrepiado com a suspeita
sobe sua lealdade para com ele.
-Sim, é nosso cavalariço. Devolvi Olfrey
para meu pai. Ele era muito ranzinza. – seu ar de
naturalidade foi traído pelo nervoso de suas mãos,
e pelo ato de morder o lábio.
-Este homem me sequestrou! – disse
indignado.
-Não, ele não fez isso. – ela ergueu os
olhos para olhar nos dele, já que confessaria seu
pior pecado, desde que nascera. – Eu o sequestrei.
Capítulo 117 - Dos dois lados

-Preciso sentar, estou zonzo e não entendi


uma palavra do que disse – ele disse, achando que
estava ouvindo coisas.
-Entendeu sim. É exatamente como eu
disse. Tramei seu sequestro .
Agora que dissera, as palavras vinham
com mais facilidade, mais naturalidade. Pronto,
tinha colocado para fora!
-Não faria uma coisa dessas. Não é capaz
de desejar o mal de outra pessoa! Não mesmo! –
ele negou, sentando na beira da cama, pois o
mundo achara por bem começar a rodar,
justamente agora!
-Não fiz por mal – ela se apressou a
explicar – Adolph me pediu emprego. Deve ser
porque sou filha do Conde... - optou por não falar
nesse momento sobre a carta que enviara a Wood,
muito menos do modo como conhecera Adolph –
Quando o vi, soube que com aquele tamanho todo
daria conta de você. O convenci a segui-lo e
prendê-lo. Não deveria machucá-lo. Apenas
amarrá-lo e deixá-lo preso por um dia. Jamais
poderia supor que conseguiria fugir e que se
machucaria para escapar!
-E porque diabos quis me sequestrar?
-Quis mantê-lo preso, para que não fosse
ao duelo. – confessou humilde
-Que duelo? – ele perguntou revoltado
pelo que ouvia, sem entender.
-O duelo! – ela disse exasperada.
-Não tem merda nenhuma de duelo, sua
desvairada! - ele levantou-se, incrédulo por ela ter
feito algo dessa magnitude.
Helena não via o risco em que o expusera
e expusera a si mesma. E se esse Adolph fosse um
mercenário?
-Está confuso pelo efeito do tônico. Deve
passar em algumas horas – ela garantiu, tentando
se aproximar – Adormeceu lá embaixo e pedi a
Adolph que o trouxesse para cama. Precisa dormir
mais um pouquinho para se recuperar...
-Tônico? Que tônico?
-O tônico para o sono que lhe dei quando
o sequestro não surtiu resultado.
-Você me drogou? – a confusão passou
bem rápido, olhando para seu rosto corado.
-Perdeu o horário do duelo. Não vou
pedir desculpas. Teria morrido!
-Eu estou entendendo direito? Armou um
sequestro para me impedir de duelar? Não
obtendo resultado, me drogou para que eu
dormisse? Foi isso que você fez?
-Rony, eu sinto muito, me senti
terrivelmente má fazendo isso! Não desejava seu
mal, eu juro que não! Não me deu alternativas!
Iria duelar e morrer! O que esperava que eu
fizesse? Sentasse e esperasse seu corpo ser
entregue na minha porta?! Eu tive que pensar no
meu bebê, que não deve ter a infelicidade de
nascer sem pai! Eu pedi tanto, mas me ignorou!
Implorei que esquecesse essa tolice, que aquele
homem não significava nada para mim, mas me
deixou muito claro que não aceitaria desistir dessa
ideia insana! O Conde nem ao menos se deu o
trabalho de ficar do meu lado! Eu não tive escolha!
-Eu não acredito nisso – ele olhava
incrédulo para a mulher a sua frente.
Desesperada, Helena tentou se
aproximar.
-Me desculpe, fiz uma tremenda
confusão. Mas não vi outro jeito! Eu... Rony?
Onde está indo?
-Estou saindo daqui – ele passou por ela,
com pressa.
-Não! Está confuso ainda, por causa do...
Tônico – tentou segurar a manga da sua camisa,
mas ele soltou-se com força – Precisa descansar!
Ronald!
-Me deixa em paz, Helena! Me deixa em
paz!
Ela o seguiu e parou na porta,
observando-o atravessar o jardim, vestindo apenas
roupas de dormir e pés descalços, subir na
carruagem, no lugar do cavalariço.
-Rony! – ela ainda chamou, mas ele foi
embora.
-Ronald! – insistiu, mas a carruagem
havia dobrado a esquina.
Na rua, poucas pessoas notaram o
acontecido, mas no jardim ao lado, Luana parou
de cuidar das roseiras, olhando para ela. Anna
havia seguido-a e estava ansiosa para ajudar a
patroa.
Pálida e desamparada, ela virou-se para a
menina.
-Ele não vai me perdoar nunca –
sussurrou, sofrida.
-Senhora, volte para dentro de casa. As
pessoas estão olhando... – Anna apelou.
-Pois que olhem! Odeio essa cidade!
Odeio essas pessoas!
Com seu grito, correu para dentro de casa
e para as escadas. Queria chorar em paz!

Os lacaios do Conde não tentaram


impedi-lo de entrar. As portas estavam abertas
para ele e invadindo a sala particular do Conde,
ele jogou-se no primeiro sofá que encontrou.
-Sua filha é louca. E perigosa. Eu soube
disse na primeira vez que a vi, quando matou meu
cavalo. Naquele dia eu pensei: vou ficar longe
dessa maluca! Caipira maluca! Era o que eu teria
feito! Mas não, maldita ambição! Quis a droga da
fazenda, e porque não, uma esposa boa com a
terra e cordata? Que ledo engano! Que merda!
Olhou para o Conde que o fitava com
surpresa, sentado atrás de sua imponente mesa,
ele apenas disse:
-Mandou me sequestrar, e não satisfeita
me dopou – mostrou a mão ferida.
-Suponho, então, que seu plano de duelo
tenha dado errado.
-É claro que sim! Ela encontrou um ogro
para me sequestrar! Mulher doida!
-Contou a ela sobre a mentira a cerca do
duelo? – o Conde perguntou se acalmando.
-É claro que não!
-Pobre de minha filha, tentando proteger
seu marido de qualquer forma. Uma pena que
Madeleine não tenha me amado acima das
convenções. É um homem afortunado, se me
permite dizer.
-Oh, é mesmo? Um dia ela ainda me
mata dormindo! Ouça isso, pois um dia, ela o fará!
-E nesse dia, tenho certeza que merecerá
as consequências de seus atos. Ou acha que
mentir e deixá-la apavorada e desesperada em seu
estado, durante dias, é uma atitude nada
repreensiva?
-É diferente – ele disse, o rosto afogueado
pelo nervoso. Passou as mãos pelo rosto e pelos
cabelos, sentindo-se estúpido por estar vestido
daquele modo na frente do Conde.
-Cada um sabe o tamanho da dor que
carrega. Helena está grávida e nervosa. Ao menos
ela sabe que está aqui?
-Deve ter deduzido – ele deu de ombros.
-Sim. Deve ter deduzido – havia ironia na
voz do Conde – Uma mulher nervosa, grávida e
sem juízo, deve ter deduzido onde estaria – com
uma ironia tão pesada na voz, o Conde balançou
uma pequena sineta que estava sobre sua mesa.
Seu valete pessoal entrou na sala com
uma mesura.
-Prepare roupas e sapatos para esse rapaz
de pouca tolerância. E leve esse bilhete para
minha filha. E por favor, traga vinho. Acredito
precisar de alguns goles para suportar as brigas
inconvenientes desses dois. Ah, e prepare a
carruagem, estarei com minha filha em uma hora.
-Porque alguém iria querer estar com
essa louca? – Rony resmungou.
-Tenho segredos a contar a minha filha.
Ela precisa saber que nunca houve duelo.
-Não mesmo! – Rony quase pulou do sofá
– Se fizer isso sou um homem morto!
-E por quê? – o Conde pareceu chegar
onde desejava. – Por tê-la feito se desesperar a
ponto de tomar atitudes insanas apenas para
preservar a saúde e a vida de um homem que
brinca com seus sentimentos? Ouça Ronald, se
minha filha não estivesse apaixonada por você, já
teria resolvido essa situação do meu jeito.
-É mesmo? – ele tentou não parecer
curioso ou atingido pela ameaça.
-Claro que sim, nada tão definitivo como
deve estar pensando. É um bom rapaz, e gosto do
seu jeito filho, mas é minha filha quem padece dos
males do amor ao seu lado.
-Faça-a baixar a crista e calar a boca, que
não teremos razões para brigar! Tem ideia de
como Helena é difícil? – Rony soltou um profundo
suspiro de pesar – é arredia, mordaz, e tem uma
língua ferina que irrita e ao mesmo tempo encanta!
É tão esperta e inteligente que preciso pensar mil
vezes antes de tentar vencê-la num argumento! É
uma diabinha de criatividade e ousadia! É o céu e
o inferno viver ao seu lado! Não culpe um homem
por chegar ao seu limite com ela!
-E devo ousar me meter nessa história, e
dizer que você, não é o homem mais eloquente e
fácil de lidar que já conheci – o Conde notou sua
expressão e levantou-se, mostrando que havia
abandonado a bengala, apesar de ainda mancar
um pouco.
Uma sobrancelha ruiva subiu alto em sua
testa, fitando o Conde com interrogação.
-É um bom rapaz, mas padece dos males
do mundo, principalmente a impaciência. Quer
arrancar de Helena uma confissão que ela não está
pronta para fazer. Tem a arrogância de passar por
cima de tudo que ela sofreu, apenas pelo prazer de
ouvi-la admitir o que sente. Não tem a prudência
de aceitar e entender que certos prazeres podem
ser dolorosos.
-E de que modo dizer que me ama pode
causar-lhe dor?
-Não sei. Apenas Helena sabe. Seja
paciente. Isso fará de você um marido melhor, e
um homem mais calmo. Muitos homens vivem
toda uma vida ao lado de esposas que jamais lhe
terão qualquer sentimento. Se dê por satisfeito por
apenas ter que esperar.
-Está tentando dizer que devo perdoá-la?
-Relevar. A palavra certa é relevar.
Rony ficou olhando para o Conde, como
se ele estivesse louco. Relevar? Talvez devesse
levar-lhe flores e bombons, tudo para premiá-la
por tê-lo assustado até os ossos, o sequestrado , e
ainda tê-lo deixado vulnerável ao ser dopado!
-Eu era um homem que vivia em paz
antes de me casar com sua filha – foi seu débil
protesto.
-Sim, e era também um homem solitário
que não tinha a felicidade de ser amado.
Rony quase riu. Seriam essas as palavras
exatas de seu pai, se tivesse a oportunidade de
presenciar esse momento lamentável.
-Não posso deixá-la achar que me tem
em suas mãos – ele ainda tentou se apegar a isso.
-Faça como quiser, mas não deixarei
minha filha na ignorância – o Conde ameaçou
sutilmente.
-Vou ter que ceder, não é? – ele
perguntou, sentindo-se ser colocado na prensa –
Eu mesmo tenho que contar. Ela me mata duas
vezes se descobrir por outra pessoa.
-Helena é uma mulher sagaz, e está em
maus lençóis. Barganhe com ela, Rony – ele
sugeriu como uma piscadela – Agora, por mais
que aprecie sua companhia, gostaria de fazê-lo
apenas quando estivesse vestido, limpo e calçado.
Dispensado pelo Conde, Rony quase saiu
da saleta em direção ao quarto que era de Helena.
Arrependido, voltou e encarou o Conde.
-Me dê alguns dias para dar uma lição
em Helena. Ela não pode passar em pune.
O Conde sorriu; como se esperasse por
isso.
-Tem três dias para fazê-la se arrepender
de seus atos. Depois, eu mesmo conto sobre sua
mentira deslavada. Agora, vá dormir um pouco.
Grande graça, pensou Rony deixando-o.
Ser piada do Conde.

Helena não havia saído da cama desde


que Rony saíra. O Conde havia chegado à meia
hora, sentou-se e esperou que ela descesse.
Quando Anna cansou de insistir que ela fizesse
esse agrado ao pai, o Conde resolveu subir, apesar
do pé ainda machucado. A filha estava deitada,
com sua camisola, entre as cobertas, o rosto nos
travesseiros. Ele abriu a porta e não pode deixar
de admirar seus cabelos crespos espalhados pela
cama. Lembravam os cabelos de Madeleine, que
vira de cabelos soltos apenas uma vez, quando
fizeram amor. Helena não disse nada, mas o
deixou se aproximar da cama, escondendo um
sorriso.
-‘Ele’ esta com você? – ela perguntou
baixo e rouca, prova que estivera chorando por
muito tempo. Aliás, as provas eram claras. Olhos
vermelhos, palidez.
-Não. Ronald ficou na mansão, não se
preocupe com ele, foi diretamente ao meu
encontro, desfazer-se em reclamações sobre a
impetuosidade de minha filha.
Helena soltou um pequeno gemido de
desgosto, olhando para o Conde, que se
aproximou e sentou-se perto dela, afagando suas
costas.
-Vejo muito de mim em seus gestos,
Helena. Em minha juventude foi muito sagaz e
impetuoso. E muitas vezes, agi por impulso, ou
por covardia. Ter medo é uma praga, nos faz cego
a realidade – notou o modo como ela fechou os
olhos, agoniada. – Seu marido é um jovem
especial, porque está apaixonado, mas não será
assim para sempre se não conservar esse amor
que, diga-se de passagem, deve ser recíproco.
Helena moveu-se entre as cobertas e
sentou-se na cama, recostada contra os
travesseiros.
-Não cuido do meu marido. Não cuido do
meu bebê. Senti uma cólica forte ainda a pouco, e
vou perdê-lo por minha própria culpa! Aporah me
disse para ser calma! – novas lágrimas correram
em seu rosto, e o Conde sorriu, acariciando suas
bochechas.
-Nunca é tarde para seguir as
recomendações médicas. Conversei com Rony e
ele está disposto a relevar o que aconteceu. Mas
precisa mostrar a ele o quanto está arrependida.
-Não vai acreditar no meu
arrependimento! Como pode acreditar em algo que
eu diga depois do que fiz?- limpou algumas
lágrimas, olhando para o pai com súplica.
-Palavras não são necessárias quando se
tem as armas certas. Ele voltará para casa essa
noite, e estará magoado e revoltado. Seja paciente,
não bata de frente com ele, diga sim para tudo.
Seja compreensiva e entenda sua indignação.
Faça-o sentir que errou, mas está consciente disso
e disposta a mudar por causa dele.
-Mas eu nunca mudaria por causa de um
homem...!
-Sim, é claro que não mudaria, mas ele
não precisa saber não é? Ronald é vítima da
mesma cegueira que você minha filha, a cegueira
do amor. Alguns carinhos, palavras gentis, e ele a
perdoará.
-Acha isso? De verdade? – havia
fragilidade em sua voz e na sua face.
-Que falta lhe faz Madeleine, não é? Para
lhe ensinar sobre esses assuntos do coração – ele
disse pesaroso.
-Não sei. Mamãe não era feliz, e acho
que nunca foi. Que nunca entendeu o que se
passava em seu coração. Caso contrário, como
poderia deixá-lo ir? – ela disse pensativa – Mamãe
teria sido feliz ao seu lado, Conde. Muito feliz.
-Se você diz – ele concordou, emocionado
– Está bem? Disse que se sentiu mal agora a
pouco? Devo chamar um médico?
-Não. Foi a dor da vergonha. Não posso
me exaltar. Pedirei a Anna para preparar um litro
de chá de camomila por dia, mas juro, que daqui
para frente serei calma e dócil como um pônei!
Nem que para isso enlouqueça! – disse convicta.
-Não será necessário tanto, tenho certeza.
– o Conde riu – O que acha de um jogo de cartas?
Trago o tabuleiro, e poderemos conversar
enquanto nos distraímos. Isso dará um tempo para
que seu marido se acalme, recobre os sentidos
perdidos com o excesso de sono, e ainda nos
garantirá alguma diversão.
-Jogo só a dinheiro, Conde, mas devo
avisá-lo que sou uma larapia de mão cheia no
jogo! – disse mais calma e alegre.
-Hum, sorte minha ser o ‘Conde das
mãos leves’, segundo meus amigos mais íntimos.
Assim, não corro o risco de ser depenado!
-Oh, mas eu desejo depená-lo! - ela
brincou rindo – Preciso comprar o enxoval do
bebê, e preciso também contribuir para os estudos
de Duran, ainda estou em dúvidas se devo
matriculá-lo em uma escola permanente, ou levá-
lo de volta. Rony sempre diz que preferia ter sido
educado perto da família, então, fico dividida, pois
ele é tão culto, e letrado, e...
-Acho que essa decisão não é sua minha
querida. – ele beijou sua testa, antes de levantar-se
– Deixe a mãe do menino decidir.
-Pobre Juanita, se ela pudesse ver seu
menino em Londres! – sentiu pena por não ter
podido trazê-la – Adoro Anna, mas sinto falta dos
seus cuidados para comigo. Juanita me faz muita
falta.
-Se é seu desejo, eu mando buscá-la – o
Conde ofereceu.
-Imagine! Por causa de tão pouco tempo?
Nem pensar! – antes que o Conde se afastasse,
segurou sua mão – Acha que Rony vai me
perdoar?
-Tenho certeza que sim.
O Conde saiu do quarto, atrás de Anna
para buscar as cartas, e possivelmente mais dois
integrantes para o jogo, pensando que a grande
dúvida, não era se Rony a perdoaria. Mas sim, se
ela o perdoaria quando descobrisse sua mentira.
Capítulo 118 - Cheiro de amor no ar

A primeira coisa que Rony viu ao voltar


para casa foi Anna voltando das compras do
mercado, ao lado do Ogro que o sequestrara.
Ficou parado em frente ao portãozinho da
casa, observando-os. Anna falava animadamente,
enquanto ele fingia prestar atenção em seu
falatório adolescente e feminino, carregando as
dezenas de sacolas, como quem carrega um
travesseiro de penas.
Anna o cumprimentou rapidamente,
corada, e apressou-se a entrar, talvez com medo de
ser interrogada sobre os recentes crimes de sua
patroa. Adolph manteve-se a sua frente, talvez
esperando suas ordens.
-Quanto Helena lhe pagou para me
sequestrar? – perguntou com voz forte, esperando
que se não pudesse coagi-lo com seu físico, ao
menos faria com sua postura.
-Não cobrei, senhor. Recebi um trabalho
e terei um teto sobre minha cabeça. Não preciso
de mais nada. – foi sincero.
-Imagino – ele disse olhando-o com
atenção – Minha mulher não manda nessa casa,
ainda preciso decidir se quero um cavalariço que
receba ordens de mulheres descontroladas e
nervosas.
-Tem toda razão, senhor - Adolph engoliu
o orgulho, querendo se apegar aquele trabalho
com unhas e dentes.
-Posso relevar esses últimos
acontecimentos. Mas terá um custo. – disse
pensativo – Helena é arisca, deve ter notado,
precisa de freios. Seja seu cavalariço, mas não se
esqueça que sua lealdade deve ser destinada a
mim. Sou eu quem pode garantir-lhe um bom
emprego quando formos embora daqui – ele
barganhou.
-A Sra.Parker me convidou para ser
agregado em sua fazenda – ele ponderou
educadamente.
-A fazenda me pertence. Sou eu quem
escolhe meus empregados. Seja leal a mim e terá
uma vida tranquila.
-Sim, senhor! - ele concordou com os
olhos brilhantes.
-Notou que Helena tem um gênio difícil.
Deve saber o que significa isso em uma mulher
bonita. O poder que pode ter sobre um homem.
-Deus fez as mulheres serem espertas,
apenas para nos causar cabelos brancos, senhor –
ele concordou.
-Vamos ver se isso vai dar certo. Desde
que não me sequestre mais, tudo ficará bem – ele
achou por bem acabar com aquela estranha
conversa.
Adolph seguiu para os fundos da casa,
levando as compras consigo e Rony entrou em
casa, ouvindo as vozes que vinham do segundo
andar.
Era riso de homem. Vozes de mulheres.
Que bom saber que Helena se divertia
enquanto ele estava se recuperando de seus
ataques de completa loucura!
Ingrata!
Seguindo a passos pesados até o segundo
andar, observou pela porta entreaberta o que se
passava.
O Conde jogava baralho sentado ao redor
da pequena mesa circular que ficava no canto do
quarto. Ao seu lado, Alice e Luana reclamavam de
seus lances nada honestos.
Da cama, Helena ria muito, enquanto
acusava o pai de ter escondido cartas embaixo do
traseiro.
-Eu vi! - ela disse entre o riso.
-Não, não! Como pode ofender um
cavalheiro desse modo? Quanta ofensa! – ele disse
em tom de deboche, se negando a se levantar.
-Ora, papai, seja corajoso e nos deixe rir
de sua vergonha! - ela riu, sem notar o quanto
doce era com o Conde.
Mas Rony notou o modo emocionado
como o homem olhou para ela.
-Vergonha. Sim, que vergonha! – ele
disfarçou a emoção, lançando a ela um belo
sorriso.
Rony chegou à conclusão que fora do
Conde que Helena puxara a esperteza. Abriu a
porta com um movimento chamativo, atraindo a
atenção de todos.
Não lhe passou despercebido que Helena
estava deitada, vestindo roupas de dormir, o que
indicava um mal estar ou algo parecido. Apesar de
seus esforços, não pode desviar os olhos dela,
principalmente quando o notou e parou de rir.
Conteve o ar, talvez assustada. Deveria
ter medo! Outro marido em seu lugar lhe daria
uma boa surra, ou simplesmente se livraria dela,
enviando-a para outro país, para uma longa
estadia em algum hospício.
Mas não ele, que era tolo o bastante para
se apaixonar pela própria esposa!
-Meu genro, achei que demoraria mais
algumas horas para se recompor – o Conde disse
sorrindo-lhe – venha me ajudar a ganhar dessas
doces jovens. São lindas, mas não entendem nada
de cartas!
-Oras! – Alice jogou suas cartas sobre a
mesinha – o Conde só fez roubar desde que
começamos a jogar! A única pessoa que
conseguiu vencê-lo foi Helena, o que não é
novidade, pois é perita em trapacear no jogo de
cartas!
-Fico contente que todos estejam se
divertindo – ele disse com amargura.
Luana ocultou um risinho quando Alice
comentou algo com ela.
-Acho que minha visita chegou ao fim.
John nem sabe que sai! Estava na saleta, cuidando
de seus negócios, quando o lacaio do Conde me
buscou para passar a tarde com Helena – ela
levantou-se e andou até a cama, fingindo não
notar que havia uma situação incomoda entre o
casal – Me avise se estiver sentindo-se melhor. Ou
se precisar de ajuda de qualquer natureza!
Alice se curvou para abraçá-la, e
sussurrou um incentivo em seu ouvido antes de
convidar Luana para descer com ela.
-Venham tomar chá amanhã à tarde –
Helena convidou antes que saíssem, e as duas
concordaram.
-Pelo visto, tem sido uma tarde muito
agradável. – ele disse rancoroso, e o Conde
levantou-se.
-Não ficará para jantar? – Helena
perguntou quando ele se curvou para se despedir.
-Não. – ele apenas piscou para a filha,
deixando-os sozinhos.
-Tem se divertido na minha ausência,
Helena? – ele perguntou, fechando a porta atrás de
si.
-Nem tanto. Meu pai me fez companhia
para me distrair, pois estava muito... Angustiada.
-É mesmo? Não posso imaginar o por
que! – ele tornou a ironizar.
-Por favor, não me faça sentir pior do que
estou me sentindo!
Rony estudou seu rosto quando ela
baixou a cabeça, envergonhada. Suas mãos
amassavam o lençol nervosamente. Seus cabelos
estavam soltos, emoldurando um rosto triste. Se
ao menos pudesse fazê-la sorrir... Não! O que
estava pensando! Helena era responsável por tudo
que lhe acontecera!
-E como exatamente está se sentindo? –
ele perguntou num tom que não deixava dúvidas
sobre a repreensão.
-Me sinto como... – ela chegou a olhar
para ele, mas desistiu, baixando os olhos,
envergonhada -... Sinto-me como alguém que traiu
a confiança de alguém que lhe quer bem. Não foi
intencional. Não pensei em seus sentimentos, no
medo que sentiria, ou que poderia se ferir. Na
verdade, não pensei em nada além de mim
mesma! Agora, penso em tudo que poderia ter
dado errado! Nos malefícios que poderia ter
causado! – ela maneou a cabeça, quase chorando –
Deveria ter aceitado sua decisão. Era o certo.
Quando penso que... Poderia ter causado uma
desgraça!
-Tem razão ao dizer que a decisão era
minha. – ele se aproximou, ainda sem demonstrar
tendência a perdoá-la – Porque está na cama? Está
doente?
-Não, a menos que a culpa seja uma
doença. Nesse caso, acho que morrerei – ela disse
com sinceridade, olhando finalmente em seus
olhos – Tive uma pequena dor. Nada demais.
Estava muito agitada, e não posso ficar nervosa! –
ela empalideceu ao lembrar-se disso -... Não posso
ficar nervosa. Mas insisto em me desgastar! Do
jeito que ajo, acabarei matando nosso bebê!
A culpa em sua voz cortou seu coração.
-Não diga tolices – ele sentou perto dela
na cama, e ergueu a mão para acariciar seu rosto,
mas ela se afastou com um suave gemido, antes
que as lágrimas corressem. Era a sua mão
machucada. – Helena, não chore – pediu sem
saber como lidar com um choro que nem deveria
existir. – Não foi nada demais, afinal. Estou com
raiva, e não seria humano se não estivesse. Mas
não precisa se culpar. Afinal, não aconteceu nada
de tão terrível assim!
-Como não? Eu o sequestrei! Eu o dopei!
Jesus! Tem toda razão quando diz que sou louca! –
ela escondeu o rosto entre as mãos, e a culpa
cortou o coração de Rony.
Suas atitudes foram induzidas por suas
mentiras.
Era fato.
-Helena, me responda uma coisa – ele
afastou suas mãos, para ver seu rosto.
Os olhos castanhos brilhantes de
lágrimas se ergueram para ele, e o encantaram.
-Tentou impedir o duelo porque me ama?
Ela mordeu os lábios, e chegou a abrir a
boca umas duas vezes para responder.
-Porque uma pessoa tenta impedir um
duelo? – ela perguntou a ele, engolindo em seco.
Lhe diria ‘eu te amo’, um dia. Tinha certeza disso,
mas não seria agora. Não quando sentia esse
medo sufocá-la – Deixaria alguém se matar por
algo sem sentido? É o pai do meu bebê! É meu
marido, não o escolhi, mas é meu marido.
-É por isso que evitou o duelo? Porque
está acostumada a minha presença? – era uma
sutil facada em seu coração.
-Sabe que não – ela disse baixinho,
afastando novamente os olhos dos dele.
Era o mais perto de uma declaração de
amor que receberia.
Maneou a cabeça, desconsolado.
-Helena, o que eu faço com você? – ele
disse pesaroso, começando a sorrir.
-Disse a meu pai que vou me conter
daqui para frente, nem que para isso eu suba pelas
paredes, juro que nunca mais farei nada
impulsivo! Juro! – em sua anciã para provar o que
dizia, abraçou-o espontaneamente.
-Tem certeza? Não é correto jurar em
falso, Helena – brincou, acariciando suas costas
com as mãos.
-Pode me perdoar, Rony? – ergueu o
rosto em sua direção, ansiosa por um sim.
-Não, mas posso relevar – afastou seus
cabelos de seu rosto e beijou sua testa – Seremos
os dois mais controlados e calmos. E precisamos
desesperadamente conversar sobre os assuntos que
nos incomodam. Como por exemplo, ter um
gigante conduzindo a carruagem do Conde – ele
traçou os contornos de seu rosto com a mão boa, e
ela suspirou.
-Nunca antes me impediu de contratar
quem considerasse adequado ao trabalho - era sua
única defesa.
-Sim, mas não pode me criticar por
investigá-lo antes de permitir que a leve de um
lado para o outro, cidade a fora. Amanhã não se
atreva a sair com ele.
-Rony... - fitou-o incrédulo.
-Um pedido muito pequeno depois de
tudo que estou deixando para trás, Helena. –
avisou.
-Ficará me olhando desse modo para
sempre? Prefiro que não me perdoe! – reclamou.
-E como estou olhando-a?
-Com decepção! – afastou-se e pretendia
levantar, mas ele a segurou no mesmo lugar.
-Acho que alguém se esqueceu de sua
própria resolução em não se exaltar. – sorriu-lhe.
– Me faça esquecer o que você fez, Helena. Para
que eu possa confiar novamente em você – ele
pediu com voz rouca.
-Mais cedo, antes do meu pai chegar,
achei que estivesse sentindo o bebê – ela
confidenciou, em tom baixo, um pequeno e
misterioso sorriso nos lábios – mas não era nada
além de gazes – ela mesma riu – mas por um
segundo, achei que fosse o bebê se mexendo
dentro de mim...
-Não deve demorar – ele disse com a
mesma emoção no rosto – agora não demorará,
para que ele se mecha. Vai me contar quando
acontecer?
-Sim. É claro que vou!
-E vai me contar quando me desejar ao
seu lado na cama? – provocou, esfregando a ponta
do nariz na curva da sua bochecha.
-Acho que não preciso, sempre sabe
quando eu... Quando eu quero. – sorriu tímida,
apesar de tudo.
-Se eu não estivesse com o corpo todo
mole e frouxo por causa do tônico que me deu,
testaria sua teoria – ele garantiu – Agora, a única
coisa que eu quero é deitar ao seu lado e dormir
até o ano que vem!
-Ah, me desculpe! - ela repetiu, passando
os braços por seus ombros e o abraçando
novamente. – Me desculpe!
Rony enterrou o rosto em seu pescoço,
aspirando seu perfume. Ao menos não fora tudo
em vão afinal, ganhar um abraço seu, espontâneo,
era quase mais importante que ouvi-la confessar
seu amor.
Por isso correspondeu aquele abraço,
deixando-se levar para o seu lado, e recostando a
cabeça em seu ombro.
Sentiu seus movimentos, suas mãos
delicadas abrindo seu casaco, seu colete, tirando
sua camisa, suas calças, seus sapatos. Mas o resto
do sono que ainda sentia foi mais forte, e ele
apagou.
Helena riu diante do homem belamente
nu a sua frente. Nu em pelo, com uma ereção
despontando em resposta ao seu toque, e roncando
alto e furiosamente.
Tinha razão sobre conversarem mais.
Adorava conversar com Rony, o único problema
era que as vezes, certos assuntos causavam
desconforto.
Ajoelhada sobre a cama, ela agradeceu a
Deus não ter havia o maldito duelo. Outro ronco e
ela gargalhou, deitando ao seu lado, aliviada e
apaixonada.
Anna suspirou aliviada quando as vozes
se calaram. Não era uma mexeriqueira, mas havia
ficado preocupada com sua boa patroa, sempre tão
generosa para com ela.
Seu marido deveria estar furioso, e por
precaução, mantivera os dois ouvidos bem
abertos. Não seria a primeira vez que uma senhora
acabava espancada por decisão de seu marido.
Detestaria ver sua querida patroa
sofrendo.
Aliviada, Anna desceu as escadas e de
cabeça baixa ela cruzou com Duran. O menino
tinha um caderno sobre a mesa, e tentava escrever.
Parecia frustrado. Anna fingiu não notar, e seguiu
seu trabalho, arrumando o jantar. Uma hora
depois, ela olhou para o menino.
-Está muito difícil? – ela perguntou com
medo de irritá-lo.
-Sou muito burro. A professora disse isso
– ele lamentou, derrotado.
-Oh, que despropósito! Não é burro!
Apenas não conhece esses assuntos. Tão pouco eu
conheço... Mal pude aprender a ler e escrever.
Mas sei fazer contas! Mamãe me ensinou antes de
morrer! – sentiu-se importante dizendo isso.
-Eu gosto da terra. Não sei por que a
patroa quer tanto que eu estude – ele não parecia
desgostar de verdade do estudo, apenas estava
frustrado.
-Madame Helena, me contou que perdeu
um irmão. Deve pensar em você com o mesmo
carinho que tinha por ele. Não seja mal
agradecido. Um dia terá um bom emprego e
poderá cuidar de uma família – corou ao dizer
isso.
-Será?
-Tenho certeza – disse empolgada,
corando muito sempre que o menino fixava o olhar
sobre ela.
-Eu... – Duran olhou para baixo,
envergonhado antes de dizer – Trouxe algo para
você. – ele mexeu no bolso do casaco, uma cópia
das roupas que Rony usava como uniforme em seu
tempo de escola, e tirou um pequeno embrulho –
As meninas da minha turma vivem falando
disso... Achei que gostaria.
-Gastou dinheiro comigo? Duran! Achei
que estivesse economizando para enviar algum
para sua mãe! – ela ficou horrorizada.
-Eu não comprei. Ajudei a fazer um
trabalho, carregando as compras da minha
professora outro dia, e ela me deu de presente.
Disse que deveria dar para minha mãe, ou minha
irmã. Mas mamãe não usaria, e não tenho irmãs –
estendeu a ela.
Anna sorriu recebendo o pequeno
embrulho. Abriu o papel, e cobriu os lábios com
uma das mãos, os olhos cheios de lágrimas.
-É lindo. Nunca ganhei um presente
antes... – era um delicado broche de prata, sem
grande valor, porém muito mimoso – Vou usar
para ir à Igreja todos os domingos! Obrigada!
Obrigada!
Sua empolgação fez Duran rir, contente
em agradá-la. Anna nem percebeu o modo como
ele a olhava. Seus cabelos negros, belamente
presos em sua cabeça, com a franjinha sobre os
olhos amendoados. A pele clarinha como leite, tão
diferente da sua. Seus quadris suaves, o balanço
do seu andar...
Afastou o olhar, tentando se concentrar
no estudo. Mas era impossível!
Capítulo 119 - Segredos do passado

Três dias depois, ninguém ousava tocar


no ocorrido na semana que se passara. Rony se
vestia para o trabalho quando Helena acordou.
Espreguiçou-se, aconchegada em meio aos lençóis
deliciosamente macios. Ela olhou em volta, até
encontrar o alvo de sua atenção.
Ela usava a camisola que estava presa
entre suas pernas, e quando se moveu, revelou as
pernas delicadas e bem feitas que Rony admirou
através do espelho, enquanto arrumava a gravata.
-Bom dia – ele disse malicioso, olhando-
a se mover e sentar na cama, numa posição
inconscientemente sexy. A ampla gola da camisa
escorregara em seus ombros, e o ombro direito
estava à mostra, revelando o seio direito, e se
Helena notou, não demonstrou se incomodar.
-É muito cedo ainda? – ela perguntou
sonolenta.
-Um pouco. Hoje é um dia especial
Helena, consegui marcar uma reunião com o juiz.
-Porque não me acordou mais cedo? – ela
perguntou subitamente acordada, diante do fato –
Precisarei no mínimo de uma hora para me vestir
e pentear! Não que me importe com isso, mas pelo
que notei, faz toda diferença nessa cidade! –
reclamou.
-Não avisei antes, pois é uma reunião de
cavalheiros. O juiz é muito antiquado. Além
disso, o Sr.Loren estará presente, e ele é
incrivelmente machista.
-Detesto esse Sr.Loren, ele o faz trabalhar
como um burro de carga! – ela disse sem notar
que Rony se alegrava em saber que se preocupava
com seu bem estar.
-Guarde sua opinião para si, pois
dependemos da boa vontade destes homens. –
lembrou-a.
-Não será necessária minha presença? –
parte sua estava decepcionada por ser tão
descartável. Afinal, era parte integrante daquele
problema, e se fossem totalmente sinceros, a mais
interessada!
Afinal, se ele houvesse mentido, seria a
vítima. A mulher enganada e desonrada, que
estaria com a honra arruinada diante de todas as
pessoas! Sem contar que seria um papelão
horrível!
-Sua presença é imprescindível. – ele
contou, se aproximando da cama e apanhando seu
queixo entre os dedos, para olhar fundo em seus
olhos – sua presença é vital e inexorável. Sem ela,
não existo.
-Bobalhão – ela reclamou, tentando não
rir – Sabe a que me refiro!
-Aqui em Londres temos um padrão a
seguir. Terei a reunião que me ocupará boa parte
do dia. Como de praxe, os convidarei para um
jantar, para que conheçam minha esposa, meu
sogro e minha harmonia familiar. Isso deve bastar
para confirmar que somos um casal feliz. Claro,
depois de conferirem toda a papelada que prova
nosso casamento, e principalmente prove que eu
era solteiro antes do nosso enlace.
-Devo oferecer um jantar? – ela reteve o
ar, apavorada – Nunca ofereci um jantar para
ninguém! Quero dizer, um jantar sofisticado, para
pessoas sofisticadas! Eu não tenho nem ideia de
como fazer isso!
Num segundo Helena estava de pé sobre
a cama, apavorada e ao mesmo tempo agitada.
Elétrica era a palavra certa.
-Não posso oferecer um jantar! Eu nem
consigo manter o penteado por mais de uma hora
sem parecer uma mulher que saiu do hospício!
Eu...
-Hei, pequena, calma – ele ergueu os
braços, segurando suas mãos, adorando vê-la ter
chiliques de moça boba. – Anna conhece os
macetes, pode ajudá-la a preparar o jantar. Além
disso, estou pensando numa coisa mais caseira,
menos formal. Prepare uma das suas comidas
deliciosas e os seus doces divinos. Compre vinho
e champanhe. Vamos empanturrá-los e embebedá-
los. O que me diz? Pegá-los pelo estômago?
-Acha que é o bastante? – havia
fragilidade em sua voz, medo de não agradar.
-É impossível um homem ficar
indiferente aos seus dotes culinários – assegurou,
enlaçando sua cintura, e tirando-a de sobre a
cama.
Nesse processo, ficaram abraçados,
Helena com os pés sobre os dele, pois estava
descalça.
-Posso fazer a torta de nozes que tanto
gosta – ela disse abraçada aos seus ombros, os
olhos fixos em sua boca carnuda e sorridente. – E
não se atreva a me chamar de pequena na frente
das visitas. – lembrou desse detalhe.
-É mesmo? E devo chamá-la de meu
amor? Minha querida? Meu desejo eterno? Minha
fada? Minha princesa... – conciliou um beijo em
seus lábios a cada sugestão.
-Prefiro o meu próprio nome, se não se
importa - ela fingiu não se abalar – Ou terei de
chamá-lo de ‘meu gigante’. O que não é verdade,
pois não é o maior homem da casa desde que
contratei Adolph!
-Mas ainda sou o maior homem a fazer
amor com você, não se esqueça disso – alfinetou –
Não se esqueça nunca disso!
-E como poderia? Se também é o único?
– ela sussurrou erguendo os olhos para seus olhos.
O azul escureceu rapidamente pela
paixão. Um suspiro de antecipação escapou de
seus lábios antes de se oferecer para um beijo. Um
beijo que não veio.
Rony soltou-a e se afastou.
-Não posso beijá-la. Tenho que sair
agora, ou me atraso. Se eu a beijar, vamos voltar
para a cama, e perco a reunião! – lamentou.
-É tão fraco assim? Não resiste a um
único beijo? – ela provocou.
Rony havia deixado-a sozinha, e ela
voltou para a cama, estendendo o corpo
languidamente sobre o lençol. Suas pernas
estavam sedutoramente à mostra, assim como os
braços erguidos para cima, as mãos pequenas
entre os próprios cabelos, o rosto corado, os seios
arfantes.
Rony pensou em negar, mas não pode.
Apanhando o chapéu e sua caderneta de notas,
onde guardava a papelada necessária para reunião,
olhou para ela como quem olha para um diamante
muito bonito, valioso e exclusivo.
-Sou fraco. – admitiu – Com você, sou o
mais fraco dos homens. Agora preciso ir, cuidar
do nosso futuro.
-Vá – ela se moveu na cama, deitando de
lado, e olhando-o através de olhos de pura
admiração, pois estava muito bonito vestido
elegantemente – Cuidarei de um delicioso jantar
de fazendeiros. Avise-os para não almoçarem, e
estarem com os estômagos bem vazios hoje à
noite, pois irei saciá-los como nunca antes foram
saciados em suas vidas!
Havia uma promessa sensual em sua voz,
e ele engoliu visivelmente em seco antes de sair e
fechar a porta.
Helena ficou um bom tempo olhando
para a porta fechada, sonhadora.
Estava começando a adormecer
novamente quando Anna bateu e entrou.
-Anna! - ela disse Feliz em vê-la –
Preciso tanto de você! Tanto!
-É mesmo? - ela disse pacientemente,
pois aprendera a conhecer a patroa e saber de seus
ataques, tanto de mau humor, quando de bom
humor. E não era tola para não ligar essas
mudanças diretamente ao seu jovem e bonito
marido. E pelos assobios de alegria do Sr.Parker,
não era de surpreender que estivesse sorrindo de
orelha a orelha.
-Tenho tanto a fazer! Preciso buscar Alice
em casa, descobrir onde achar Luana, pois aquela
não tem paragem e está sempre nos lugares mais
inacreditáveis! Depois tenho que ir ao mercado
escolher pessoalmente todos os ingredientes!
Depois preciso comprar louças e talheres, pois não
temos nada realmente apresentável, tenho que
separar o que vestir, o que vou usar nos cabelos,
tenho que preparar o melhor jantar que já fiz na
vida e ainda preciso fazer tortas! Muitas tortas!
Deus, eu tenho que fazer tantas coisas! Não vai
dar tempo! Deus, como vamos conseguir servir o
jantar com a cozinha suja? Será que dará tempo
para preparar tudo e ainda escovar a cozinha até
que brilhe? Agora entendo por que mamãe sempre
reclamava de não ter uma sala de jantar!
Anna sorria quando ela terminou seu tolo
monólogo.
-Posso pedir a Adolph ir buscar a
Sra.Harrison em casa, enquanto a senhora se
prepara e veste. O Sr. Lourenço está em casa,
então deve saber onde está a filha. Posso
acompanhá-las ao mercado, pois sei onde achar
mais facilmente todos os ingredientes que possa
precisar. Quanto aos talheres... Sei que Madame
Lammer ficará feliz em emprestar algumas peças.
Poderá também usar sua cozinha, em sua doceria.
Ela já a emprestou dezenas de vezes a outras
senhoras de bom nome na corte!
-Madame Lammer? – Helena sentiu um
gosto amargo na boca.
-Sim, ela vive elogiando-a e falando da
vez em que conversaram, lamentando não a ver
mais. Disse que espera ansiosamente um convite
seu para visitar-lhe.
-Acha que poderia mesmo usar sua
cozinha? – ficou tentada, pois não haveria tempo
para cozinhar e limpar, não até a noite.
-Tenho certeza! Madame ficará
emocionada ao vê-la cozinhar, pois é a melhor
cozinheira que já vi, e tenho certeza que Madame
Lammer pensará o mesmo!
-Anna, Anna, cuidado, está me
acostumando mal. Como viverei sem os seus
elogios quando for embora? - ela levantou-se e
abraçou a menina.
-Não sei senhora, mas sentirei muito a
falta de alguém tão bom para mim.
-Não posso começar esse dia chorando! –
ela reclamou – Me ajude com o banho, assim
poderemos dar conta de tudo em tempo!
-Primeiro, pedirei a Adolph que busque
suas amigas – Anna lembrou.
-Isso mesmo! – incentivou-a – Rony
levou Duran com ele para o trabalho?
-Sim – Anna corou ao ouvir o nome do
menino.
-Anna, por favor, não se apaixone por
Duran – ela pediu – Preciso devolvê-lo para sua
mãe, e detestaria que ele a desonrasse!
-Será impossível, senhora. Alguém já o
fez – ela disse triste, cabisbaixa – Não foi por
querer. Eu não pude sequer lutar. Duran não corre
perigo ao meu lado.
-Sinto muito, Anna. Também fizeram
mal a minha irmã, e teriam feito o mesmo comigo,
se não tivesse tido sorte – ela suspirou – Eu
poderia pedir ao meu pai para conseguir-lhe um
marido...?
-Não! - ela disse apressadamente – quero
me casar por amor! Como a senhora, quero um
marido que eu ame, e que me ame. Não tenho
receio do trabalho pesado, e sei que um dia
encontrarei um companheiro bom. Eu quero
amor, Sra.Parker.
-Se é o que deseja – ela sorriu, para
disfarçar a pena que sentia daquela boa moça, e
também para disfarçar a emoção de ver alguém
que os via diariamente, acharem que eram
apaixonados.
Anna não demorou muito tempo para
trazer água para seu banho e ir cumprir suas
obrigações. Helena relaxou na água, acariciando
sua barriga onde o bebê crescia.
Estava visivelmente redonda, e dilatada.
Ninguém diria só de olhar que era gravidez, mas
para ela que conhecia o próprio corpo, era notável
a diferença.
Suspirou e relaxou aproveitando a água
morna. Os enjoos haviam passado, mas o sono
era permanente. Em momentos como aqueles, de
completo silêncio, sentia o sono rondando. E era
prazeroso poder recostar-se e aproveitar essa
sensação.
Muito vagamente ainda se lembrava das
horas de exaustivo trabalho na fazenda, solitária e
sofrendo. Mas era uma lembrança tão vaga, que
sua nova vida, seu casamento e seu bebê, iam
criando novas lembranças e tornando as antigas e
tristes recordações, apenas apagados resquícios de
sofrimento passado.

O movimento do mercado quase as


confundiu. Culpa de Luana que se perdera delas
durante uma das vezes em que Helena se
concentrara na escolha dos produtos adequados
para o que tinha em mente.
Segundo Anna, a honrável Srta.Lammer
as aguardava, tão logo comprassem todo o
necessário para a arte da culinária. Desconfiada de
tanta bondade, mas ansiando pelo momento de
confrontar a ex-amante de seu marido, Helena
escolheu com cuidado cada ingrediente.
Em dado momento, ela avistou Anna
escolhendo alguns legumes, e viu Alice entretida
com alguns tecidos. Olhou em volta e não viu
Luana.
Era só o que lhe faltava! Olhando em
volta, pensou ter visto um nuance de vestido
amarelo berrante passando entre duas bancas.
Seguiu em sua direção, esperando trazer a ovelha
desgarrada de volta.
Não era Luana quem estava naquele
beco. Mas sim um cachorrinho muito pequeno e
maltratado. Todo sujinho e magricela. Helena se
aproximou, mas ele se afastou. Indo atrás dele,
pois fazia muitos anos que não tinha um cachorro,
ou que via um de perto, seguiu-o até o fundo do
beco.
Ouviu uma voz sussurrar alguma coisa, e
notou que alguém se escondia num canto. Havia
muito lixo e o cheiro era terrível.
Curiosa, avançou até ver um pedaço de
tecido amarelo. Seus olhos viram pés descalços e
subiram, analisando a mulher que estava
encolhida naquele beco, tão encolhida e assustada
quanto o cachorrinho que ela segurava contra o
peito.
-Por favor, não o tire de mim – ela disse.
Repetia essa frase sem parar.
-Não vou tirá-lo de você – disse apenada
– O que está fazendo nesse lugar?
-É minha casa – ela disse muito baixo,
olhando para os lados, como se esperasse que
alguém a obrigasse a sair dali – Mademoiselle,
aqui é quente. Tem um teto. Posso dormir.
Helena notou que atrás daquela parede
deveria ter um forno bem grande, pois as paredes
eram sujas de carvão. Provavelmente seu calor
irradiava o dia todo, e talvez à noite, o que
permitia um certo calor, contra o frio intenso das
noites londrinas.
A mulher era esguia, pode ver. O vestido
estava velho e muito sujo, assim como sua pele.
Seus cabelos estavam presos num coque, mas
eram escuros como a noite, talvez lisos, e
contrastavam com seus olhos cor de violeta. A
pele era clara, mas havia ganhado uma cor
bronzeada pelo sol.
-Não pode uma mulher viver aqui – ela
disse horrorizada – Deve ter uma família! Como
se chama?
-Não sei – ela disse olhando para o
cachorrinho que tremia em seus braços. – Mas ela
se chama Jô.
Então era uma cadelinha. Sorrindo triste,
Helena olhou para as duas fêmeas naquele beco.
Humana e animal, unidas no pior infortúnio.
-Porque não sabe seu nome? – perguntou
interessada – Como é possível não saber seu
próprio nome?
-Eu vim de longe – ela disse sonhadora,
perdida em uma lembrança, ou talvez sonho – vim
para me casar. Ah, um casamento dos sonhos,
com o homem dos meus sonhos... Mas acordei
aqui.
-Como assim, acordou aqui? – deu um
passo para frente, mas ela se encolheu tanto que
desistiu de se aproximar mais.
-Eu não sei. Lembro de ter descido do
navio... Como se fosse uma princesa. Mas então,
as luzes se apagaram, e eu estava aqui... Deitada
na rua. Não consigo lembrar meu nome... Nem
que dia é hoje... - ela seguiu dizendo, sonhadora. –
Oh, vai ter uma jantar em sua casa! - ela pareceu
resplandecer e até se aproximou um pouco, antes
de temer novamente e se afastar.
-Como sabe? - estranhou.
-Candelabros de jantar – ela apontou sua
sacola de tecido onde estavam os dois candelabros
que comprara – Não são os certos. Deveriam ser
mais longos, para velas finas. Não é elegante usar
velas grossas num jantar formal.
-Porque não? – aquela mulher vivia em
seu próprio mundo, mas Helena não era cega para
não reconhecer seu jeito de falar, pausado e
educado, as palavras fluentes e rítmicas.
Seus gestos graciosos, sua beleza
clássica.
-Não pode servir um jantar com o calor
da vela no rosto dos convidados. Velas grossas
queimam mais rápido – ela explicou.
-Sabe como servir um jantar elegante?
-É tão fácil! – ela sorriu, mas então seu
sorriso morreu quando ouviu um som alto –
Precisa ir embora! Eles não podem me ver!
-Eles quem? – surpresa, observou-a se
esconder atrás de algumas caixas e entulhos, e
estava tão encolhida que era impossível ver que
havia alguém ali.
-O que é isso?
Uma voz alta e grossa a assustou.
Virando-se se deu de encontro com um
homem todo aprumado. Era gordo e barbudo, e
segurava uma bengala nas mãos, como se fosse o
dono de toda a certeza e conhecimento do mundo.
O homem ao seu lado era baixinho e esquisito, e
olhou-a como o mesmo desdém.
-O que faz uma mulher em um beco
como esse? Que despautério! – o mais gordo disse
– Acaso seu marido ou seu pai não lhe ensinaram
que uma dama não deve andar por becos? Onde já
se viu!
-Desculpe senhor, devo ter me perdido –
ela disse, engolindo a resposta azeda que estava
na ponta da sua língua.
-Perdido? Típico das mulheres! São
capazes de se perderem até mesmo dentro de uma
carruagem! As mulheres que conheço, todas sem
exceção, são tolas, incapazes de acharem o
caminho certo! – riu o mais afortunado deles.
Helena pediu paciência aos céus, mas um
filme passou em sua mente, sobre como era capaz
de ser melhor que um homem, e ao passar por eles
não pode evitar de responder:
-Não me admira senhor, que as mulheres
que conheça se esforcem ao máximo para se
perder do senhor. Nesse exato momento sua
arrogância me faz desejar ter me perdido em outro
beco. Com licença – com uma mesura educada,
cheia de sarcasmo e deboche, se afastou de cabeça
erguida.
Ainda ouviu os insultos e comentários
chocados, mas estava tão satisfeita consigo
mesma, que foi atrás de suas companheiras de
compras.
Com o decorrer da manhã, esqueceu-se
completamente do incidente com os elegantes,
porém desagradáveis cavalheiros.
Por outro lado, não conseguia se esquecer
da mulher naquele beco. Seria uma pessoa
desmemoriada, ou apenas uma mulher fora de seu
juízo?
Capítulo 120 - Bajulação

A doceria da Madame Roxinne Lammer


era agradabilíssima. Não que Helena tivesse
grandes comparativos, pois a única casa de chás
da cidade que nascera não chegava a ser um
comparativo digno.
Depois de serem cordialmente atendidas
por uma jovem uniformizada, foram conduzidas
para os fundos do prédio.
-Por aqui, senhoras – a jovem abriu a
porta e Anna sorriu para ela, indicando o caminho
a partir dali.
O prédio era muito antigo, porém
conservado. Paredes pintadas e limpas. Tapetes
agradáveis. Ao chegarem à cozinha, Helena
suspirou. Havia um forno gigantesco, uma mesa
de madeira e vários utensílios. Duas jovens
uniformizadas lavavam a louça em um canto, e
olharam para elas com admiração.
Não era à toa, pensou. Alice parecia uma
rainha usando um vestido bordado, com tecido
muito caro e fino. Uma trança mantinha seus
cabelos afastados do rosto, e causavam um efeito
devastador, pois realçava seus olhos azuis e os
lábios avermelhados.
Atraia a atenção também pelo número de
jóias que usava. Para Helena que a conhecia desde
a infância, era possível notar que nem todas as
jóias do mundo poderiam ocultar sua apatia.
-Sra.Parker!
A voz empolgada cortou seus devaneios,
e ela precisou voltar sua atenção para Roxinne
Lammer que adentrava o ambiente, através de
outra porta, que deveria desembocar na dispensa.
-Como esperei poder revê-la!
Helena analisou a mulher que estava a
sua frente. Era mais alta que ela, tinha o busto
cheio, como uma mulher que teve um ou dois
filhos. A cintura era robusta, mas não gorda.
Deveria ter coxas grossas também, pois seus
braços eram fortes. Seu rosto não era
especialmente bonito, mas suas sobrancelhas eram
muito bem feitas, e seus cabelos eram muito
louros e brilhantes.
Um traço em comum com Alexia Lil.
Roxinne se apressou a segurar suas
mãos, com tanto carinho que a confundiu.
-Estive esperando um convite para
conversarmos! Não tive audácia de abordá-la, pois
não desejava causar-lhe problemas com seu
marido ou seu pai!
A palavra ‘marido’ causou-lhe um
arrepiou, e nada discretamente, soltou suas mãos.
-Não me contou que conhecia meu
marido – acusou.
Roxinne olhou em volta, notando que
eram alvo dos olhares de todas as mulheres
presentes.
-Então, essa foi a razão de seu
afastamento – ela suspirou, olhando em volta –
porque não conversamos por um minuto em
particular? Minhas queridas ajudantes podem
começar a cortar os legumes e separar os
ingredientes, basta que as oriente. Devo
acrescentar que estou ansiosa para provar de sua
culinária tão elogiada! - ela sorriu para Anna e a
menina correu a distribuir ordens, pois conhecia o
cardápio que Helena elaborara.
Helena achou por bem não responder aos
elogios. Seguiu-a em direção a uma saleta, num
fim de um longo corredor.
-Anna me contou sobre a importância do
seu jantar. Omitiu os detalhes, mas me garantiu
que precisará de tudo perfeito!
-E está disposta a me ajudar?
Sua acidez não passou despercebida por
Roxinne, que afastou o olhar, notando que ela não
sentaria, mesmo tendo lhe indicado a cadeira
forrada em veludo.
-Agora percebo que lhe causei uma
grande ofensa, Sra.Parker. Não havia notado. De
coração, não havia percebido – ela sentou-se
pesadamente em uma de suas poltronas.
-Não aprecio conversar com pessoas que
me conhecem e escondem isso. Sabia quem eu
era, e não me refiro a ser filha do Conde. Sabia
quem era meu marido, e sabia também o tamanho
da intimidade que possuem!
-E deveria ter lhe dito? – ela pareceu
querer rir. – Como poderia ter abordado esse
assunto? Um assunto totalmente esquecido por
mim.
-É mesmo?
-Sim. Entenda, quando tinha sua idade,
meu pai morreu e me deixou uma grande fortuna.
Não desejei me casar, não encontrei um grande
amor, ou um companheiro que pudesse me
acompanhar vida a fora. Tive quatro filhos, de
amores diferentes. Orgulho-me da vida que tenho,
mas às vezes... É uma vida solitária. Uma noite,
um belo rapaz de sorriso fácil me cativou. Mas
não prendeu minha atenção além de alguma
diversão e uma conversa interessante. Uma noite
como tantas outras. É jovem demais para entender
de solidão...
-Não, não sou. – cortou-a, começando a
compreender – Não significou nada?
-Não – Roxinne sorriu – Não contei, pois
não sabia se deveria. As jovens recém casadas não
falam das amantes anteriores de seus maridos, a
maior parte delas, sequer fala a palavra ‘amante’.
-Ele tentou procurá-la? – perguntou
achando que podia confiar naquela mulher de
olhos sagazes.
-Não. Fugimos um do outro, pois sempre
fomos cordiais, e tal ato foi vergonhoso de nossa
parte. Meu filho tem a idade do seu marido. Senti-
me horrível depois, e sei que por conhecer meu
filho, Ronald sentiu-se desconfortável em ser
tratado como um brinquedo de uma noite. Deve
estar pensando em como é possível uma mulher
agir desse modo. Estou errada?
-Não consigo me imaginar numa cama
com outro homem... Mas antes, não conseguia me
imaginar tendo esses limites ou pensamentos.
Sempre cuidei de mim, nunca precisei de um
homem para ser feliz.
-Está apaixonada. Não conheço esse
sentimento, mas reconheço em você os sinais.
Está tomando satisfações de uma mulher com o
triplo da sua idade, um quarto da sua beleza e
viço, e tudo isso por uma noite que aconteceu há
anos atrás, antes de conhecê-lo. Se isso não é
ciúme, não sei o que é!
Helena não ousou responder. Não tinha
argumentos para defender-se. Era ciúme. Puro e
único.
Tomaria satisfações de todas as mulheres
que ousaram estar com ele antes dela. Pronto,
simples assim. Estaria com cem anos, velhinha e
enrugadinha, apontando sua bengala para todas as
sexagenárias desavergonhadas que ousassem
olhar para ele!
-Esqueça o que dizem sobre uma mulher
independente e capaz de cuidar de si mesma não
precisar de um homem. É mentira. Precisa de
amor como qualquer outra. Eu teria me casado se
houvesse me apaixonado. Simples assim.
-Eu a vi no meu segundo dia em Londres.
Entregou-me um panfleto – Helena sorriu para ela
– Rosie Nell. Oito horas.
Roxanne riu ao ver que ela ainda
lembrava.
-Todas as quintas-feiras. – complementou
– Ajudo mulheres simples a aprender uma
profissão. Porque não me ajuda? Poderia ensinar
outras mulheres a cozinhar como você?
-E como pode saber que cozinho bem?
Anna gosta de mim. Não é um julgamento parcial.
– sorriu para Roxanne.
-Cozinhar é uma arte, e como todas as
artes, só podem ser realizadas por pessoas
especiais. E posso ver o quanto é especial. Está
em seus olhos, um furor interior inconfundível. A
força em você. O tipo de força que faz uma pessoa
permanecer em pé.
Helena sentiu o peso dessas palavras
dentro de si. Não era uma mulher forte. Curvara-
se a um casamento, inicialmente sem amor,
apenas por medo do que seria feito de sua vida.
Era fraca.
-Deve ter ouvido muitos boatos sobre
mim – ela disse pesarosa – sobre minha família.
Sobre... O baile. – baixou o rosto, envergonhada.
-Sim, ouvi muitos boatos, e pobre Conde,
tem sido acusado de ter mantido uma filha em
segredo. Quanto a sua procedência, não há
nenhum especulação verdadeira, suponho. Dizem
que veio do interior, que vivia em uma fazenda,
com sua mãe e posteriormente com seu marido.
-É o que dizem? – surpreendeu-se.
-Sim. E quanto ao baile... Já deve saber o
que dizem – ela deu de ombros.
-Sim. Dizem que estou envolvida com
aquele homem. – corada, sentiu pena de si mesma.
-Não, minha querida, é claro que não!
Todos comentam como Wood foi indiscreto e
cafajeste em abordá-la daquele modo, e em como
seu marido demonstrou ser apaixonado e protetor!
Como pode pensar que haveria maledicências
sobre a filha amada do Conde? Não, imagine!
-Mas Rony jurou que eu estava difamada!
-Impossível, ninguém ousaria pensar mal
da filha do Conde. A jovem cativante e vibrante,
que impressionou a todos dançando com seu
marido pelo salão de baile... – ela disse sonhadora
– todos comentam de seu lindo e original vestido.
De seus cabelos encaracolados e naturais, de suas
jóias discretas... De seu olhar brilhante e de sua
coragem em vir a Londres. Os comentários ácidos
ficam por conta da honra do Conde e de seu
marido. As debutantes a tomaram como exemplo.
Querem ser como você, e ser a princesa também!
-O que dizem do meu pai e do meu
marido? – não fazia sentido, pensou.
-Oh, o de sempre. Dizem que um nobre
não podia e não queria assumir uma filha
bastarda. Que Ronald Parker foi esperto em
encontrar essa jovem e se casar com ela,
obrigando o Conde a tomar uma atitude!
-Mas isso é mentira! – indignou-se –
Mentira! Ronald não sabia quem eu era quando
nos casamos!
-Sim, todos sabem disso. Mas precisam
falar de alguém desde que o Conde de Torrilan
fugiu com o namorado cocheiro – confidenciou e
piscou para ela, rindo.
-Rony me disse que... Ele iria duelar com
Wood por causa dos comentários sobre minha
honra. Sobre o meu bebê.
-Está grávida? Oh, que benção! Não, não
mesmo. Acredito que poucas pessoas devem saber
que espera um filho. Mas claro; isso explica tudo!
– ela disse pensativa.
-A que se refere? – estranhou.
-Ouvi de uma fonte segura sobre um
encontro seu com Wood – ela foi direto ao ponto.
-Pretendia pedir que desistisse do duelo!
Rony é péssimo com armas! Não teria a menor
condição de duelar com um perito! – exasperou-se.
-Perito? Falcon Wood? – ironizou –
Aquele verme não é perito em nada na vida!
Conhece armas, claro, é militar, mas é um
beberrão. Quanto a Ronald, soube que tanto ele
quanto John, são sumidades na arte do tiro. Um
duelo entre eles, por certo, seria uma fatalidade
para a família Wood! Embora, não tenha sabido
de nenhum duelo. E sou, talvez, uma das mulheres
mais bem informada de Londres.
-Eu não entendo. Anna lhe contou sobre
meu encontro com Wood?
-Morris Wood, o pai, é um homem que
causou muitas tristezas em minha vida e família.
Apanhar o rato do filho, é um modo de sentir o
gosto da vingança!
-Ele não apareceu em nosso encontro –
ela disse olhando para Roxanne com apreensão –
Por sua causa?
-Falei com alguns conhecidos, que
liquidaram as dívidas de jogo que pesavam sobre
ele. Aquele rato não ousaria ficar e encarar os
homens para quem devia. Seres de pior espécie
que ele próprio! Não deixaria que um homem
como aquele tivesse a oportunidade de se
encontrar a sós com você. Entenda, para ele, é um
pote de ouro. Conheço aquele desqualificado.
Acharia um modo de destruir seu casamento, e
casar-se com você!
-Isso não seria possível! – Helena negou
veemente.
-É mesmo? Pois se ele a violentasse, e a
mantivesse presa a ele por muitos dias, não
sobraria alternativa. Ronald teria que abdicar do
direito de ser seu marido, pois a vergonha
destruiria sua vida. E seu pai... Teria que
recuperar sua imagem, casando-os. Seria horrível
demais.
-Não. Não conhece Rony! Esse plano
nunca daria certo! Ele o mataria por ter me
machucado! E quanto ao meu pai, duvido que me
fizesse infeliz por causa da opinião dos outros!
Sua convicção surpreendeu Roxinne.
-Seu marido não se importaria de outro
homem a tocar?
-Rony é muito possessivo. Mas saberia
que não foi consentido.
Roxinne não argumentou mais, sorriu
cordial e levantou-se.
-Entende por que interferi? Agora, ao
saber que seu casamento é tão feliz, fico ainda
mais contente de ter intervindo nos planos daquele
homem! Seria uma lástima duas pessoas tão
apaixonadas sofrerem.
Helena corou violentamente. Seria tão
óbvio assim o tamanho do amor que vinha
nutrindo por aquele homem? Seu marido, bonito,
ágil e tolo?
-Ainda não entendo porque Rony me
disse que duelaria, e se esforçou tanto para me
convencer dos boatos, e de que não venceria
Wood. – disse pensativa.
-Bem, é inteligente demais para não
chegar à conclusão óbvia. – Roxinne quase riu
diante de seu suspiro inconformado.
-Era tudo mentira. Não havia duelo. Não
havia boatos, não havia risco algum. – verbalizou
o que ambas pensavam.
-Exatamente. Acho que seu marido usou
da tática mais antiga, para chamar atenção de sua
jovem e apaixonada esposa. O medo.
Helena riu. Por alguma razão havia tanta
graça nisso, que se viu rindo descontroladamente,
Roxinne acompanhou-a no riso, sem saber do que
riam. Era incontrolável a vontade de rir, quanto
alguém ri bem na sua frente, com tanta vontade.
-Do que estamos rindo? – ela perguntou
curiosa.
-Bem feito para ele! – ela disse limpando
as lágrimas de riso – Bem feito para o grande
impostor que ele é! Para impedir esse duelo, eu o
sequestrei. Não dando certo, o dopei durante um
dia inteirinho. Agora eu sei, um dedo destroncado
foi pouco! Merecia ter quebrado o nariz!
-Meu Deus! Não fez essas coisas!
-Sim, eu fiz. – aprumou as roupas – Ele
não tinha o direito de mentir para mim! Mas como
já o fiz sofrer por seus atos, mesmo sem saber de
nada, não há razão para não me sentir vingada.
-Contará a ele, que sabe de tudo?
E estragar a paz restabelecida entre eles?
Helena se indagou.
-Não sei. De verdade, não sei.
Uma batidinha, e Anna entrou, avisando
que estavam prontas para começarem.
Deixando o assunto Ronald de lado,
Helena se esforçou para se concentrar no jantar.
Era quase impossível, no entanto,
esquecer de sua mau criação. Vez ou outra, as
outras mulheres a notavam parar, sorrir e manear
a cabeça, pensando nos porquês dele querê-la
desesperada com sua possível perca. Será que era
mesmo para chamar sua atenção? E será que
fizera isso pelas mesmas razões que ela fizera, ao
dançar com Wood?

Começava a escurecer em Londres,


quando a carruagem parou em frente à pequena
casa. Helena espiou pela fresta da cortina e saiu
em disparada em direção à cozinha. Anna
apareceu na sala, se arrumando antes de abrir a
porta.
Alice surgiu na sala, ao lado de John.
Ambos contrariados. As expressões eram fechadas
e sombrias. Helena sabia muito que o casamento
dos dois não ia bem, e apesar de ter seus próprios
problemas para resolver, se convenceu que era
hora de colocar John na linha. Recebê-los ajudou
a conter um pouco da sua ansiedade. Mal podia
esperar. Aqueles dois homens tinham o poder de
mudar sua vida. O Sr.Loren a quem tinha
profundas mágoas, por fazer Rony de escravo, e o
Sr.Demetrius, um homem tido como machista e
irritadiço quando mulheres se envolviam em
conversas. Essa noite seria a perfeita anfitriã.
Mesmo que isso lhe custasse seus nervos.
Estava nervosa, ansiosa e a beira de um chilique.
Ao menos a chegada de Alice serviu para
distraí-la a ponto de não ouvir o barulho da
carruagem chegando. Alice lhe contava sobre a
mais recente briga com John, quando a porta se
abriu e Rony entrou, orgulhoso, indicando o
caminho para os dois homens.
O Sr.Loren torceu vividamente o nariz
diante da simplicidade da casa. O Sr.Demetrius
olhava tudo com curiosidade.
Helena estava sentada, quando a voz de
Rony a tirou da animada conversa.
-Sr.Demetrius, Sr.Loren, quero
apresentar-lhes minha esposa, Helena.
Ele estendeu a mão em sua direção,
sorrindo para encorajá-la.
Helena olhou para ele por um segundo,
antes de aceitar sua mão e levantar-se. Não passou
despercebido a Rony o ambiente decorado com
flores, o chão lustroso, o aroma de flores do campo
exalando por todo ambiente.
Assim como não passou despercebido o
vestido lilás, num tecido acetinado, que
evidenciava seus seios, e principalmente sua
cintura, delatando a curva acentuada que se
formava dia a dia em sua barriga.
Seguiam rendas e bordados pelas
mangas, que lhe chegavam aos cotovelos, o decote
era quadrado e sóbrio, apesar de revelar uma
porção generosa de colo. A saia não era tão ampla
como exigia a moda, mas era o exato gosto de
Helena.
Ela trazia no pescoço a corrente que ele
lhe dera, os brincos que o duque lhe presenteara, e
tinha os cabelos soltos, presos em um dos lados,
com a simplória presilha que ele lhe dera ainda na
fazenda. Quando Helena passou por ele, exalou
um delicioso perfume de rosas. Seu sorriso era
verdadeiro e suave, quando cumprimentou
educadamente aos homens.
Rony ficou pensando nessa súbita
mudança. Até valia a pena ser sequestrado e
drogado, se fosse para tê-la tão educada e
carinhosa!
-Mas ora, se não é a jovem sem educação
do mercado! – o gracejo surpreso do Sr.Loren
pegou Rony de surpresa.
-A rebelde! Como pode ser sua mulher,
Ronald!? Uma dama que fala como essa mulher
não pode ser casada com um homem de bem!
Helena tinha os olhos arregalados.
-Era cedo quando cruzamos com uma
jovem no mercado, estava em um beco, e teve a
ousadia de nos ridicularizar quando tentamos
ajudá-la! – Demetrius informou – Jamais
imaginaria que essa jovem sem um pingo de
respeito fosse sua mulher! – Demetrius fincou o
chapéu de volta a cabeça, e chegou a virar as
costas para ir embora, quando Rony se
desesperou:
-Deve haver algum engano! Minha
mulher é um doce, nunca elevou a voz para mim!
Ou para qualquer outra pessoa em toda sua vida!
Alice chegou a se engasgar, pois
bebericava um copo de vinho, e disfarçou com
uma tosse discreta, que passou despercebida, mas
não a John, que retirou o copo de suas mãos.
Ela tomou isso como uma afronta,
afastando o olhar, magoada, por isso não notou o
olhar carinhoso dele, querendo protegê-la de se
envergonhar em público, derramando vinho.
-Como lhes contei, Helena perdeu a
família recentemente, foi vítima de um sórdido
plano para roubar as terras que possuí. Um plano,
que graças ao meu bom amigo John, pude impedir
de se concretizar. Criou-se, ao lado de minha
irmã, ambas aprendendo a serem verdadeiras
damas. Como verá essa noite, é prendada e muito
cuidadosa em agradar ao marido e cuidar da casa.
Não consigo imaginá-la sendo descortês ou rude
com quem quer que seja! Helena, esclareça esse
mal entendido – ele mandou, segurando seu braço,
como os maridos deveriam fazer. Ele comprou seu
olhar, talvez lhe implorando que não o
contradissesse em público.
-Não posso dizer nada, esposo. Passei o
dia todo em casa, preparando o jantar. Caprichei
em vários pratos e várias sobremesas, e não tive
tempo de pôr o pé para fora de casa. Sinto muito,
mas não sei o que dizer.
Sua falsa humildade parecer erguer uma
dúvida, primeiramente em Demetrius, que a
mediu dos pés a cabeça.
Ele olhou para Loren e então para ela
novamente.
-É possível que seus olhos velhos tenham
nos enganado, Loren? – ele perguntou a queima
roupas.
-E os seus? – ele devolveu a pergunta,
nada convencido disso.
-Ora, meus amigos – John interrompeu –
A prova do que Helena diz está na cozinha,
esperando por nós. Tenho certeza, um banquete
digno dos deuses!
-Um banquete facilmente comprado em
qualquer casa refinada – Loren desdenhou.
Helena ferveu por dentro, pronta para
colocá-los porta a fora. Para sua sorte, Rony
salvou-a de fazer isso.
-Duvido que não mudem de ideia depois
do jantar. Verão com seus olhos como vivo bem!
Não é comida que encontrarão em Londres. É
comida de fazendeiro, meus amigos. A melhor e
mais saborosa comida que já tiveram o prazer de
provar! E os doces! Deus do Céu, eu mataria para
manter essa mulher cozinhando para mim pelo
resto dos meus dias!
Demetrius parecia mais convencido de
seu engano, e com água na boca, se acalmou mais
facilmente. Ainda desconfiado, Loren concordou
em sentar-se, sempre analisando Helena em todos
os detalhes.
-Um infeliz incidente – Rony explicou
pouco depois quando Loren puxou um assunto
desagradável. – Como sabem, era o primeiro baile
que Helena participou em sua vida. Viu-se presa
numa situação constrangedora, por um homem
desprezível como Wood. Um biltre sem moral,
que não pode respeitar nem mesmo os enjoos e
mal estares de uma senhora grávida.
-Por isso não se defendeu? – Demetrius
olhou dela para sua barriga, e ela acenou com a
cabeça, achando que mais uma hora sorrindo
desse modo, como tonta, e ela grudaria
permanentemente esse sorriso na face.
-Homens como Wood não devem ser
discutidos em um jantar tão agradável como o que
meu amigo oferece – John sugeriu, servindo mais
uma taça de vinho a Demetrius. – Além disso, é
de conhecimento público que Helena é filha do
Conde de Valença. Estiveram no baile que ele
ofereceu?
-Não, infelizmente não fomos convidados
– Sr.Loren respondeu com rispidez.
-Uma falha imperdoável – Rony
observou.
-Sem sombras de dúvidas, uma falha
imperdoável! Um baile oferecido pelo Conde de
Valença. Seria uma honra ser convidado!
Havia um tom libidinoso na voz de
Demetrius, e Rony apertou os dedos de Helena
entre os seus, pois estavam sentados lado a lado, e
ela olhou para ele com explícito receio.
-Talvez... – ela suavizou a voz de tal
maneira que Rony mal podia acreditar que aquele
gatinho manso fosse sua mulher. -... Não pude
aproveitar meu baile. Talvez se eu pedisse, meu
pai pudesse reparar a falha terrível de não ter
convidados doi cavalheiros tão importantes para
nossa família, e promover outro baile em minha
homenagem.
Rony poderia ter rido.
-Uma ideia louvável, minha senhora –
Demetrius falou como se estivesse sufocando, o
peito inchado de orgulho.
Até mesmo o orgulhoso e desdenhoso
Sr.Loren, parecia comovido com essa
oportunidade de aparecer diante da sociedade
londrina como alguém querido pelo Conde de
Valença.
-Uma ideia esplêndida, minha querida –
Rony sorriu-lhe – Não sei se costuro sua boca para
que não grite em becos, ou se a beijo até perder o
fôlego – ele sussurrou em seu ouvido.
-Nem uma coisa, nem outra – ela
sussurrou de volta.
Mais alguns minutos de conversa,
torturantemente bajuladora, e Anna anunciou que
a mesa estava pronta. Aliviada pela tortura estar
se desenrolando, Helena foi conduzida a cozinha,
onde a mesa os esperava.
Até mesmo Rony ficou surpreso. A louça
era de qualidade e bom gosto. A disposição dos
alimentos estava perfeitamente harmônica. Mas
nada se comparava com o cheiro suculento da
carne de carneiro, ou o cheiro do pernil. Muito
menos o cheiro do frango assado com especiarias.
Batatas, saladas e vários outros
acompanhamentos, todos regados a muito vinho e
mais conversa bajuladora. O ponto alto foi a
sobremesa. Demetrius chegou a lamentar ter
comido tanto, sua elegância deixada de lado,
quando abriu os botões do seu colete, segundo ele
garantindo espaço para as tortas.
Rony foi servido de torta de nozes, sua
preferida. Alice preferiu um mousse delicado e
rico feito com morangos e calda. John mal pode
degustar sua torta de chocolate, observando com
desejo Alice inocentemente sorver o morando
cortado, que enfeitava seu doce. Demetrius e
Loren provaram de tudo um pouco, e graças ao
vinho, ou a comida, ou aos dois, até o final da
noite estavam rindo e conversando alto,
esquecidos do incidente do beco. Quando foram
embora, não cansavam de repetir sobre o baile que
o Conde poderia vir a consentir dar, em
homenagem a sua delicada e pueril filha.
-Delicada e pueril – Rony resmungou,
quando ambos ficaram sozinhos na sala - Megera,
isso sim.
-Pelo menos não sou bajuladora. –
devolveu, começando a subir as escadas.
-Ah, é sim. Um baile para Demetrius e
Loren? Se isso não é bajulação, então, estou
destreinado na arte de agradar os mesquinhos,
turrões e mãos de vaca! – ele riu.
-Não sou bajuladora, mas não me
importaria de ser um pouco bajulada – ela segurou
no corrimão – Meus pés doem. Estão inchados.
Quero deitar e dormir até o próximo século!
Rony subiu os degraus, ficando um pouco
mais baixo que ela, mantendo sua mão a
centímetros da dela, sobre o corrimão.
-Deseja que a coloque na cama, Helena?
– sua pergunta soou aveludada. Sedutora.
-Sim, desejo – concordou, num tom
muito parecido com o dele. Rony se inclinou e a
beijou languidamente, sem presa. Um beijo de
amor, sem que se tocassem. Os lábios agiam
sozinhos, e o calor queimou dentro de Helena. Ela
ergueu um dos braços e colocou sua mão sobre
seu ombro, seguindo o contorno másculo, até
embrenhar os dedos em seus cabelos ruivos e
espessos. Ele ronronou e o beijo se aprofundou.
Capítulo 121 - A grande presença entre nós

A quinta feira amanheceu nebulosa. Um


prelúdio que o outono abandonava Londres e o
inverno se aproximava. Helena fez um gesto para
que Anna andasse mais rápida, enquanto
agradecia mentalmente a insistência dela, para
que vestisse o casaco de veludo vermelho, com
gola redonda e punhos com babados de rendas,
sobre o vestido cor de pêssego.
Estava quentinho, e Helena apressou
Anna mais uma vez. A uma pouca distância
Adolph as acompanhava, carregando suas sacolas.
O gigante que antes promovia curiosidade e medo,
agora, era motivo de cochichos por ser serviçal da
filha do Conde. Muitos nobres desejariam tê-lo
como agregado. Indiferente aos cochichos, Helena
entrou no prédio pela porta dos fundos, e como de
costume, Adolph esperou na rua.
-Achamos que não viria! – Roxanne foi a
primeira a se aproximar quando Helena entrou.
-Tive que esperar meu pai sair. Rony saiu
cedo, mas meu pai apareceu para ver como eu
estava passando – contou, tirando o casaco, pois
ali dentro estava quente e agradável. – Onde ela
está?
-Está num dos quartos. A pobrezinha está
muito assustada!
Helena concordou e subiu pelas escadas
em direção ao segundo pavimento do prédio. O
Rosie Nell era um antigo prédio que fora
reformado, e tinha seu primeiro andar usado
como salas de aulas, enquanto o segundo abrigava
mulheres desafortunadas.
Era terça feita, e não havia reuniões, o
que para Helena era melhor. Afinal, dizer a Rony
que sairia às oito da noite, numa quinta feita, e
não alegar seu paradeiro seria dar-lhe uma
confissão de culpa! Sua participação no Rosie Nell
era discreta e se dava nos dias não oficiais, como
agora, sendo duas da tarde. Há duas semanas,
quando se encontrara com Roxanne, não
imaginava como iria gostar de seu trabalho
voluntário. Muito menos suporia como seu
casamento poderia ser agradável e harmonioso se
controlasse seu gênio e relevasse algumas coisas.
Não contara a Rony que sabia de sua mentira
sobre o duelo, e assim, a paz se mantinha.
Suspirou lembrando-se das noites de amor, dos
banhos demorados, permeados de carícias... Das
conversas sobre o futuro, sobre o bebê.
Helena bateu gentilmente na porta, no
fim do corredor. Anna insistiu na batida quando
não foram atendidas. Uma senhora de mais de
oitenta anos abriu a porta, reclamando que a essa
altura da vida, seus ouvidos lhe pregavam peças.
Rindo, as duas entraram e fecharam a porta.
-Há quanto tempo ela chegou? – Helena
perguntou a Rosa, uma das ajudantes de Roxanne
que cuidava da mulher.
-Hoje pela manhã. Foi uma sorte
encontrá-la – Rosa explicou, enxugando os
cabelos negros da jovem, enquanto ela se encolhia
na cama – infelizmente, tivemos que trazer “ele’
junto – ela apontou desgostosa para o cachorrinho
molhado que tremia perto da lareira acessa.
-Eu me lembro dele – Helena sorriu, se
aproximando e apanhando o cãozinho nos braços.
-Senhora, ele vai molhar seu vestido –
Anna lamentou, querendo achar um modo de
livrá-la do cão.
-É só um vestido - Helena avisou – Se
lembra de mim? – perguntou para a mulher que
estava sentada na cama.
-Perdi minha casa – ela disse a beira das
lágrimas – agora não poderei mais voltar.
-Aquela não era sua casa. Ficará aqui até
podermos descobrir quem você é, e de onde vem!
– Helena avisou-a.
Desde que se juntara ao Rosie Nell, tinha
se dedicado a encontrar a mulher que conhecera
naquele beco.
-Encontramos isso escondido no forro
velho do vestido que ela usava – Rosa estendeu a
ela um pequeno papel.
Helena não conseguia ler as palavras,
mas reconheceu o símbolo que enfeitava o papel
de fina qualidade. Era o brasão do Conde de
Valença.
-Algum problema, Sra.Helena? – Anna
ficou preocupada.
-Não, nenhum – ela desconversou. – Ela
me disse que vinha de longe – disse pensativa,
pois não reconhecia o endereço no verso do
bilhete, mas a palavra França era legível. – Você
vem da França?
-A minha Jô – ela estendeu os braços
para pegar sua cachorrinha, e Helena estendeu o
animalzinho para ela.
-Rosa, Sra.Winters podem, por favor, nos
esperar lá embaixo?
-Tem certeza, Sra.Parker? – Rosa
perguntou olhando para as duas com aflição.
Ela concordou, e quando ficaram
sozinhas, notou que a mulher olhava fixamente
para Anna.
-Essa é Anna. Ela cuida de mim –
explicou sentando-se perto dela, que para seu
alívio não se afastou – Assim como você cuida da
sua cachorrinha.
A mulher estava vestindo um vestido
simples, mas limpo. As voluntárias do Rosie Nell
costuravam vestidos com doações de tecidos, para
ajudar os mais carentes. Com os cabelos
molhados, mechas negras que desciam até sua
cintura, os olhos vilotas se destacavam em sua
palidez.
-Sabe que lugar é este?
Ela maneou a cabeça.
-É um lugar onde boas mulheres se unem
para ajudar aquelas que estão sós no mundo.
Daremos-lhe um nome, e se não pudermos lhe dar
seu passado de volta, ao menos lhe daremos um
futuro. Não posso ficar aqui muito tempo, mas
todas nós cuidaremos de você.Precisa me
prometer que não terá medo. – Helena fez carinhos
na cachorrinha, esperando que ela pudesse sentir-
se próxima dela. Assim como sua dona.
-Jô gosta de você – ela disse
simplesmente.
-E eu gosto da Jô – sentiu um aperto no
peito, ouvindo-a tão frágil e perdida em seu
mundo próprio. – Me diga como gostaria de ser
chamada?
-Eu não sei meu nome – ela disse
olhando para as mãos de Helena.
-Você gosta? – perguntou mostrando sua
aliança para ela – Sou casada.
-Eu ia me casar. – ela disse convicta –
Não sei com quem, mas ia ser uma viagem de
sonhos.
-Eu sei, me disse isso quando nos
conhecemos. Pode se lembrar de quantos anos
tem?
-Não. Mas eu me lembro de ouvir alguém
me chamar de Elly. – disse confusa – não sei...
Faz tanto tempo...
-Sabe onde conseguiu essa marca? –
Helena perguntou, estendendo o braço e tocando
em sua testa, onde havia uma pequena cicatriz,
oculta pelos cabelos. Era uma marca feia. Talvez
um golpe, ou ferimento que lhe roubara os
sentidos e a razão.
-Não. – disse apreensiva.
-Tudo bem, isso agora é o de menos.
Precisa aprender a ser útil, Elly. Vou chamá-la
assim. Precisa ajudar essas boas mulheres, pois
assim, poderá continuar aqui e continuaremos a
nos ver. Espero conseguir descobrir quem você é.
Está bem?
-Sim.
Helena sorriu e acariciou a cachorrinha
mais uma vez antes de se despedir e sair do
quarto.
-A senhora não deveria vir escondida do
seu marido – Anna lembrou-a – Ele pode não
gostar!
-Vamos embora em um mês. Ele não vai
saber, a menos que você conte! – lembrou-a.
-Senhora! Prefiro cair morta a seus pés, a
deixar uma palavra sequer escorregar por minha
língua! - ela disse dramática.
-Pois eu prefiro que faça fofocas a cair
morta aos meus pés, Anna! – provocou-a – Venha,
me ajude a descer, morro de medo de tropeçar e
cair.
-Sim, senhora.
Helena não sabia de onde saíra esse
excesso de frescura, mas desde que sua barriga
despontara, ela vinha tendo medo de descer
muitos degraus, escorregar e cair. Dava graças por
ter Adolph para ajudá-la a subir na carruagem e
descer, pois nas mãos dele não corria o menos
risco de escorregar. E pobrezinho de Duran, fazia
dele seu acompanhante onde quer que fosse.
Chegando em uma das salas destinadas
as aulas de inglês e literatura, ela sentou-se numa
das cadeiras, bem no fundo , acompanhando as
aulas. Gostava de aprender mais. Colocou uma
das mãos sobre o ventre, que estava a cada dia
mais dilatado, provando que a teoria de Juanita
estava certa, e que agora, com cinco meses
completos, ela finalmente engordaria, e prestou
atenção a cada palavra dita por Roxinne. Helena
passou toda à tarde na companhia daquelas
mulheres, que como ela, já haviam sofrido muito
na vida, e nem todas tinham sua sorte. Era tarde,
quando ao perceber a hora, as duas se apressaram
a vestir seus casacos e voltarem para casa.
Rony fingiu muito interesse no jornal que
lia, quando ouviu a porta abrir. Fingiu não saber
de onde Helena vinha. Com Adolph do seu lado,
sabia de cada passo dado pelo seu passarinho, e
estava tranquilo com sua segurança, pois o
homem era uma muralha. Só não a confrontava
com essa história, para não abalar a paz que havia
entre eles. Suas noites eram tão doces e
açucaradas, assim como a cozinha que agora vivia
cheia de doces e bolos.
Era agradado, como todo marido sonhava
ser. Além disso, escondia dela a verdade sobre a
mentira do duelo, e tinha que se cuidar. O Conde
não contara, por concordar que a paz era muito
importante nesse momento, e a cada dia vinha à
casa de sua filha, acompanhar o crescimento de
sua barriga. Sabia inclusive, que seu zelo era
tanto, que vinha tirando as medidas de sua
barriguinha todos os dias, e anotando, para não
perder nada sobre o crescimento do neto.
Anna entrou seguida de Helena, e ele
observou as duas mulheres conversando, enquanto
Anna ajudava a tirar seu casaco e livrar-se das
luvas. Às vezes ele se perguntava se aquela
criatura sorridente e carinhosa era mesmo Helena.
-Chegou cedo! – ela disse, parando o que
fazia, surpresa ao vê-lo despojadamente sentado
no sofá.
-Agradeça ao seu pai. Ele exigiu minha
presença em seu escritório, para confiscar suas
contas pessoais. Isso me rendeu uma tonelada de
trabalho e problemas, mas ao menos pude trazer o
material a ser analisando para casa.
-Talvez possa ajudá-lo! – se ofereceu.
-É claro que pode. Sente-se ao meu lado,
Helena – ele sorriu para ela, e Anna quase correu
para a cozinha, corada.
-Anna tem uma quedinha por você – ela
disse sorrindo – Sabia disso?
-Sim, ela cora e foge toda vez que nos vê
juntos. – ele também riu.
-Sim, mas nada se comprara a paixonite
que sente por Duran. E ele por ela. Estou ficando
preocupada, estão sempre juntos, e parecem tão
mais íntimos... Outro dia quase os apanhei se
beijando, tenho certeza disso! Disfarçaram, mas
eu conheço aquele olhar!
-Que olhar? – ele perguntou falsamente
curioso.
-O olhar que um homem tem, após beijar
uma mulher.
-E como é esse olhar? – Rony estava cada
vez mais perto, e ela fingiu não notar.
-Um olhar de vitória. Olhar de predador
após abocanhar sua presa!
-Quanto romantismo! Mas tem sua razão
– ele concordou, acariciando seu braço, coberto
pela manga do vestido. – Onde estavam?
Passeando no mercado?
-Sim - ela afastou o olhar, mentindo para
ele. Estava se tornando difícil mentir para Rony, e
ela se perguntava por quê.
-Foi um bom passeio? Encontrou tudo
que procurava?
Ela o olhou como se temesse alguma
coisa. Rony lhe sorriu para que Helena não
notasse que a provocava.
-Comprei tecidos e linhas para costurar o
enxoval do bebê – ela disse olhando para suas
mãos, e não querendo encará-lo.
-Pode comprar tudo pronto Helena, tenho
como pagar – sentiu-se ofendido.
-Sim, eu sei. Mas assim me ocupo e
ajudo Alice há ocupar seu tempo também. Além
disso, estamos aprendendo como costurar, e isso é
maravilhoso! – sorriu radiante.
-E onde estão aprendendo isso? –
instigou.
-Anna... Ela está nos ensinando –
gaguejou.
-Mesmo? Que bom. – deixou esse
assunto de lado, curvando-se para beijar seu
pescoço – O juiz Demetrius enviou um oficial
para entregar os documentos oficiais para o pai de
Susan. Em duas semanas ele deve estar de volta,
com a comprovação do arquivamento desse caso,
e a garantia legal da minha total isenção de
responsabilidade frente as acusações sofridas.
-Em duas semanas? – Helena o empurrou
nada gentil.
-O que foi?
-Vamos embora em duas semanas? Em
apenas duas semanas? -
Pelo horror em sua voz, Rony previu que
teria uma grande surpresa.
-Helena, não queria vir para Londres. O
que está acontecendo com você?
-Nós íamos nos casar. Lembra-se? Na
Igreja! – reclamou.
-Faremos isso quando voltarmos.
Acredito que o Conde nos acompanhará, pois ele
mencionou algo sobre querer ver o neto nascer. –
esperava que isso a acalmasse e ascendesse sua
vontade de voltar.
-Mas e Alice? – ela perguntou olhando
para ele com aflição – Ela não gosta de Londres,
precisa de mais tempo para se adaptar! E Anna, o
estudo de Duran, ele está indo tão bem na escola!?
Como fica essa casa, está toda arrumada ao nosso
gosto, e o baile que meu pai disse que daria? Não
posso deixar Londres depois da má impressão que
você mesmo disse que eu causei! – não pode
contar, mas queria ficar mais tempo participando
do Rosie Nell.
-Um baile pode ser organizado em menos
de duas semanas. Quanto a Duran, acredito que o
menino prefira voltar para a família, e continuar
seus estudos em casa. Anna é uma boa
empregada, conseguira uma boa colocação, não se
preocupe com ela. Adolph irá conosco, pois é forte
como um touro, e vai ser muito útil na fazenda.
-Mas... Mas e...?
-Tem mais alguma razão para não querer
ir embora agora? – ele instigou. Helena olhou para
ele com olhos que pedem algo.
-Eu nunca quis um marido. – ela
lembrou-o – não gosto de dar satisfações.
-Não sou apenas seu marido, Helena. Sou
seu melhor amigo também – ele garantiu.
-Mesmo? Então porque não podemos ser
sinceros um com o outro? – ela perguntou
levantando-se e andando pela sala.
-Somos sinceros um com o outro – ele
seguiu-a, segurando seus ombros e a abraçando
por trás – Eu pelo menos, não lhe tenho segredos!
-É mesmo? – havia ironia em sua voz – E
o falso duelo? Não foi uma mentira? -
As mãos de Rony ficaram rijas em volta
de seus ombros.
-Não ouse insultar minha inteligência
dizendo que não sabe do que estou falando – fez
questão de alertá-lo.
-Eu pretendia contar. – foi sua débil
resposta. Não imaginava ser pego, por isso não
tinha nenhuma explicação coerente no momento.
-É claro que pretendia – ela virou-se para
ele e sorriu – Já sei disso há muito tempo, e sei
também que os boatos a meu respeito não existem.
-Se sabe disso, porque não me cobrou
uma justificativa? – olhou em seus olhos a procura
de rancor, mas encontrou apenas um nuance de
diversão.
-Bem, eu não poderia me vingar de modo
mais apropriado do que o sequestrando e
dopando-o, poderia? Depois das últimas brigas eu
pretendia ficar o mais calma possível, por isso,
relevei seu ato de total cafajestismo em relação a
mim.
-É mesmo? Tem razão em sentir-se
vingada - ele olhou para a mão, onde o dedo havia
se recuperado, depois de vários dias de dor e
limitação – E tem mais razão ainda em não querer
brigar. Pois essa também é a razão para que eu
finja não saber que se encontra com Roxinne
Lamber no Rosie Nell. Todas as terças feiras, para
não levantar suspeitas. E que ainda por cima, na
maior parte das vezes, leva Alice com você.
-Eu... Como soube? – ela estava pálida de
surpresa. – Adolph! Grande fofoqueiro! – disse
zangada.
-Desde que me conformei que Anna pode
manipular os brios adolescentes de Duran, tive
que arrumar outro ajudante. – disse com
naturalidade – Então? O que me diz? Estamos
tendo uma conversa de amigos? Amigos e
confidentes?
-Acho que se fossemos amigos de
verdade, poderia pedir sua ajuda em uma tarefa
muito difícil e complicada, e que tenho certeza que
um marido me diria para esquecer. – usou seu
melhor tom sedutor, que, aliás, descobrira possuir
e usou contra Rony.
-E que tarefa seria essa? – perguntou
afagando seu rosto com adoração e uma expressão
que deixava clara sua vontade de beijá-la.
-Descobrir por que um envelope com o
brasão do Conde de Valença, endereçado para a
França, estava nas roupas de uma pobre mulher
desmemoriada que vivia na rua. – ela tirou o papel
da bolsa que estava sobre o sofá e entregou a ele,
que olhou com curiosidade – É uma mulher muito
culta. Pode se notar pelo modo que fala e se porta.
Mas não sabe quem é. Vive nas ruas há oito anos,
dependendo da caridade de estranhos. Sinto muita
pena dela, e uma vontade incontrolável de ajudá-
la!
-Porque não fala com seu pai? Ele deve
saber do que se trata. – sugeriu.
-Não poderia falar com ele, sem contar-
lhe das minhas mentiras, e causar...
-Brigas? – ele sorriu languido, piscando
para ela sedutor.
-Isso – ela sorriu de volta – Além disso,
sei que pode conversar com meu pai de modo
mais satisfatório do que eu. Meu pai teria receio
de me chocar, caso haja alguma informação
constrangedora envolvendo essa mulher.
-Acha que se trata de uma amante do
Conde? – franziu a testa.
-Não sei. Ela lembra-se apenas de ter
vindo de longe, eu supus que viesse da Franca,
para se casar. Talvez esteja confundindo
casamento com outro envolvimento qualquer.
Além disso, é uma mulher jovem, deve ter uns
trinta anos, e é lindíssima.
-Isso fica comigo – ele dobrou o papel e
colocou no bolso. – não quero que se preocupe
com isso. Falarei com o Conde. Agora me
responda, acha mesmo que essa não é uma
conversa de amigos? Que a confiança que
dividimos não vai além do matrimônio?
-Acho que é uma conversa de amantes, e
não amigos. Por que se fosse apenas meu amigo,
eu não poderia convidá-lo para me ajudar a tirar o
vestido e esfregar minhas costas quando estiver no
banho – disse maliciosa, querendo ter a última
palavra.
-É bom mesmo não ser apenas seu
amigo, ou teria que contar que vi um dos seus
bolos na vitrine da doceria de Roxinne. – ele
confidenciou.
-Eu posso ter dado a ela a receita – disse
movendo os dedos agilmente, para soltar o nó de
sua gravata.
-Deus! Helena, nunca deixe de ser
carinhosa comigo, está bem? – ele a puxou para
um abraço de urso, envolvendo-a da cabeça aos
pés com seu corpo – Esses últimos dias tem sido o
paraíso em vida. Nossa vida pode ser sempre
assim. Sabe disso não sabe? Sempre felizes. Basta
sermos sinceros e pacientes um com o outro.
-Está feliz, Rony? – ela suspirou fraca,
sem ossos pela emoção.
-Como se pudesse explodir de felicidade
a qualquer momento – ele garantiu, segurando seu
rosto entre os dedos e fitando seus olhos com
profundidade – E você? Está feliz Helena? - Ela
soluçou baixinho, os olhos vítreos.
-O que foi? – ele perguntou preocupado.
-O bebê mexeu – sua voz soou como um
murmúrio.
Capítulo 122 - Sem laços

-Está sentindo alguma dor? – ele soltou-a


e olhou imediatamente para baixo, como se
esperasse ver algo diferente.
-É claro que não! – ela gemeu e apanhou
rapidamente sua mão – Sinta! Está mexendo de
novo! Deus! Está mexendo!
A mão de Rony espalmou sobre o alto de
sua barriga, exatamente no local onde um pequeno
pé chutava.
-Está sentindo também? – ela perguntou
com a voz quase sumida.
Rony olhava fascinado para sua barriga,
para o milagre que fizeram juntos e quando ergueu
os olhos, notou que ela fazia força para não
chorar.
-Sim, sinto o mesmo que você.
-Não, é impossível que sinta o mesmo
que eu. Tem... Tem um ser humano, uma pessoa
dentro de mim, com vontade própria, com querer e
necessidades. Eu... Estou fazendo tudo certo, ou
ele não estaria bem, não é? Está feliz aqui dentro?
Será que está feliz crescendo dentro de mim?
Era uma pergunta totalmente incoerente,
e Rony sabia que só havia uma resposta, tão
incoerente quando sua pergunta:
-Não há lugar mais perfeito no mundo
para que ele ou ela cresça Helena. O ventre de sua
mãe.
-Ele esta se mexendo tanto – ela limpou o
rosto, onde sentia a umidade das lágrimas e riu –
Será que está reclamando de todas as
inconsequências que fiz desde que o gerei?
Rony riu abraçando-a com um braço e
mantendo uma das mãos sobre sua barriga
redondinha.
-Deve ter muito que reclamar então –
beijou seu rosto, emocionado como ela. – Será a
criança mais amada desse mundo. A mais bem
cuidada, a mais bem tratada. Será uma menina ou
um menino muito...
-Menino! – ela corrigiu, surpreendendo-o
– é um menino.
-É mesmo? E como pode saber? –
instigou-a a falar, adorando o modo como ela
falava do bebê, com tanta naturalidade e afeição.
-É claro que só pode ser um menino. Vai
crescer e ser igual a você, e vai me deixar louca. É
essa sua missão, Rony, me enlouquecer – havia
doçura em sua voz e ele riu.
-Tem toda razão, Helena – num
movimento ágil apanhou-a no colo. – Vou te levar
lá para cima, e vamos aproveitar que não temos
visitas – ele ouviu seu riso deliciado – fato raro,
mas não temos visitas, e vamos começar nossa
noite mais cedo. O que me diz?
-Digo que antes preciso jantar – ela riu ao
ouvir seu riso alto. Riso de homem. Riso másculo.
Arrepiada, enlaçou seu pescoço e deixou-
se levar para cima, dócil como uma mulher que se
sente protegida deve ser.
No quarto, Rony a colocou sobre a cama,
levantando-se a seguir.
-Rony, fica aqui – ela pediu, sentindo o
bebê se mexendo dentro de si – Ele está tão
agitado! Porque será que está tão agitado?
-Porque descobriu que pode se comunicar
com sua linda mamãe – ele galanteou, beijando-a
levemente, e se afastando antes que ela pudesse
puxá-lo de volta – Vou buscar seu jantar.
Ela deixou-o ir, encantada com os
movimentos dentro de si.
Era estranho, uma realidade diferente de
tudo que já vivera até ali. Havia sido filha, irmã,
amiga. Mais tarde descobrira o que era dor,
sofrimento, privação.
Tivera seu corpo surrado, vítima da dor
física. E tivera também o prazer de conhecer o
amor carnal, as carícias de um homem, seu
membro dentro de seu corpo estreito. E tudo isso,
eram sensações únicas e que se preiteiam dentro
dela e de seu coração.
Mas sentir seu filho se mexendo dentro
de si era novo e único, e não havia qualquer
sensação no mundo que se comparasse.
Num momento de fraqueza lembrou-se
de sua mãe. Queria tanto tê-la ao seu lado,
ensinando-a a ser mãe. Ouvi-la lhe explicar o que
fazer com os mamilos doloridos, ou o que fazer
sobre os pés inchados. Como agir com
naturalidade agora que sua barriga estava a cada
dia maior. Como se sentir bonita para seu marido.
Com uma súbita aflição no peito, abraçou
o travesseiro, achando que era tolice chorar, mas
sentia falta de sua mãe. Falta de sua irmã. Falta de
ter alguém para ajudá-la. Para lhe dizer que ser
mulher é a maior dádiva da vida, e gerar um filho
é a suprema missão da vida de uma mulher.
Rony voltou ao quarto com uma bandeja.
Colocou-a na mesa redonda, que ficava num canto
do quarto e trancou a porta procurando por
privacidade.
Quando olhou para a cama, notou que
Helena estava chorando.
-O que foi? – ele perguntou, se juntando a
ela na cama, acariciando seu rosto, fazendo-a
olhar para ele e sair do esconderijo que era o
travesseiro. – Porque está chorando?
-Minha mãe... Ela não está comigo,
Rony. – girando em seus braços, escondeu o rosto
em seu peito, tentando não chorar mais – Eu
queria tanto que ela estivesse aqui comigo. Me
dissesse como é ter um bebê.
Respeitando seus sentimentos, ele
acariciou-a calmamente, para confortá-la. Beijou
sua testa, quando achou que estava mais calma e
disse:
-Sua mãe não está aqui, mas isso não
quer dizer que esteja sozinha, Helena. Tem a mim,
tem ao Conde. Tem Alice para dividir suas
dúvidas de mulher, e tem a minha mãe, sua sogra,
não se esqueça, para orientá-la nesse momento. E
tem Juanita, que entende de crianças como
ninguém. Nada pode substituir sua mãe, mas
podemos ao menos tentar.
-Eu não sei se mamãe teria ficado feliz
em me ver grávida – ela disse pesarosa – Acho
que teria lamentado por mim.
-Sua mãe não sabia o que era felicidade,
mas se estivesse viva, veria que seu neto será
criado com amor e educação, e que será uma
menina educada, ou um menino com
responsabilidades, não serão baderneiros.
-Menino! Eu já disse que será menino –
ela corrigiu.
-Sim, tem razão, será um menino – se
corrigiu, sorrindo enquanto a embalava em seus
braços.
-E se eu morrer no parto? – sua pergunta
o fez gelar.
-Não repita isso, Helena! Não vai
acontecer! – um estremecimento de medo o
percorreu, mas disfarçou.
-Roxanne disse que mulheres pequenas
como eu podem morrer no parto, pois meu corpo
não aguenta a força que precisa ter na hora...
-Alguém precisa cortar a língua de
Roxanne por dizer essas besteiras!
-Não, ela disse outras coisas muito úteis
– se afastou um pouco, sentando-se e secando o
rosto com as palmas das mãos, enquanto contava
– me disse como acontece o parto, os detalhes.
Como deve se cuidar do cordão umbilical do
recém nascido. O que ele deve comer logo que
nasce; como deve ser agasalhado... Ela foi muito
bondosa me contando essas coisas. Além disso,
está me ensinando a costurar, e Alice tem adorado
as aulas!
-Só por isso a perdoo – ele disse ainda
sentido por suas palavras – não quero que pense
mais em morte, Helena. Esqueça essa palavra e se
for preciso esqueça sua família pelos próximos
meses. Não quero vê-la chorar ou sofrer, precisa
estar bem fisicamente, e principalmente aqui
dentro – ele colocou um dedo sobre sua testa – e
aqui dentro também – o dedo tocou sobre seu
peito, onde estava o coração. – Pense apenas em
como é maravilhoso que tenha sobrevivido,
Helena.
-E porque é maravilhoso? – ela perguntou
– Sinto tanto que tenham partido!
-Se não estivesse aqui, ele não existiria –
acariciou sua barriga – Eu seria o mesmo homem
sem objetivo de sempre, o Conde seria o mesmo
homem triste e solitário, e Alice se casaria com
um beberrão. Viu? Sua presença é imprescindível
nas nossas vidas!
-Que azar o meu, me casar com um
palhaço! – ela reclamou, rindo e concordando com
ele – estar viva para tê-lo é maravilhoso, tem toda
a razão – concordou, tocando sobre as mãos dele,
que faziam carícias em sua barriga.
Rony não respondeu, pois a emoção de
vê-la encontrar alegria na vida que tinham, era
maior que sua capacidade de articulação. Por isso
beijou sua testa e seguiu beijando seu rosto, até
fazê-la sorrir e se inclinar para encontrar seus
lábios.
-Trancou a porta? – ela sussurrou no
mesmo momento em que seus dedos agarraram
seus cabelos ruivos, puxando-o para si, num beijo
mais fundo e forte.
-Tranquei – ele respondeu, mordendo seu
lábio e afastando-se um pouco – quer alguma
coisa de mim, Helena?
-Não, a menos que você queira alguma
coisa de mim – ela provocou, soltando-o com
segundas intenções.
-Está com fome, Helena? – testou o
terreno.
-Estou – ela disse mordendo os lábios, e
lambendo a pele onde ele estivera beijando até um
segundo atrás.
-E quer jantar?
-Não – respondeu sorrindo diante do seu
sorriso safado.
-Quer tirar o vestido e ficar mais
confortável? – ele perguntou nada malicioso, não
fossem seus olhos, que brilhavam com paixão.
-Quero – respondeu quase inocente.
-E quer que eu tire o seu vestido?
-Hum-hum. - concordou, girando na
cama, até ficar de costas para ele.
-Não é mais apropriado que chame Anna
para ajudá-la? Posso estragar seu adorável vestido
lilás... – ele provocou soprando em sua nuca,
enquanto falava perto da sua orelha.
-Não, não, prefiro que se arrisque – ela
disse sorrindo contra os travesseiros.
-E se eu estragar o vestido? – ele insistiu,
vendo-a rir, e adorado aqueles risinhos de mulher
apaixonada que Helena vinha presenteando-o nos
últimos dias.
-Eu peço a Roxanne para me ajudar a
concertar, afinal, ela vai entender a causa –
alfinetou, sabendo que ele entenderia que era o
ciúme obrigando-a a fazer isso.
-Tenho certeza que sim, afinal, sou
irresistível – ele passou uma das mãos sobre o
peito, enfatizando essa afirmação.
Ela olhou-o com algo sujo no olhar, como
se medisse sua loucura ao provocá-la daquele
modo.
-Há um grande forno em Rosie Nell. –
avisou – Cabe um homem do seu tamanho, e
tenho certeza que cabe uma mulher do tamanho de
Roxanne!
-Que feio, Helena, chamar sua amiga de
gorda! – acusou, fingindo-se de inocente.
-Então, a considera esguia? – seus olhos
soltavam chispas, e estava quase desistindo da
sedução, tentada a acertar-lhe a cabeça com o
travesseiro.
-Considero todas as mulheres do mundo
esguias, Helena. Sou um cavalheiro e apreciador
profundo da beleza feminina. Não é porque estou
casado que deixarei de ver beleza nas mulheres!
-Oh, é mesmo? – ela se virou
irritadíssima. Isso que podia se chamar de uma
atitude capaz de quebrar qualquer clima.
-Sim! Que mal há de achar as mulheres
bonitas? Algumas pessoas apreciam a natureza,
outras os animais, eu aprecio a beleza feminina.
Não há mulher feia. Todas são belas, e não posso
me fingir de cego para agradá-la!
-Ora, você! - ela não acreditou em sua
cara de pau.
-O que eu disse de errado? Preferia que
fosse do tipo de homem que vê defeito em todas as
mulheres? Afinal, o que há de errado em um
pouco de carne? – revidou sem entender.
-Não acredito! – ela se levantou da cama,
e atravessou o quarto, tudo para não responder o
que havia de errado.
-Helena, volte aqui e me diga qual o
problema!
-Gosta de carnes, Sr.Parker? Pois deveria
saber que não as tenho! Nunca tive! – acusou.
-Sim, e quem disse que me importo?
Aprecio as mulheres, Helena, e seu corpo me
enlouquece! Se fosse gordinha como Roxanne, eu
apreciaria suas curvas, se fosse alta como um
gigante, eu apreciaria sua estrutura longa, e sendo
magrinha e delicada, eu me comovo com sua
fragilidade e enlouqueço com suas curvas certas e
proporcionais. Quer me condenar por isso? Por me
excitar pela mulher que é?
Ela bufou, ao notar que ele tinha razão.
Homem irritante.
-Helena? – estendeu a mão em sua
direção, pedindo que relevasse e entendesse seu
lado.
-É do tipo de homem que pode se
interessar por qualquer mulher – ela disse com
uma ponta de revolta.
Nunca saberia qual poderia ser a
concorrência.
-Por qualquer uma, não. Apenas por
você. Helena, estamos casados há quase seis
meses e não olhei para mulher alguma além de
você. Isso quer dizer alguma coisa não é? –
insistiu. – Não me deixou te tocar por três meses e
eu me contive, e não fui capaz de procurar outra.
Olhe para mim, em vez de ficar envergonhada da
criancice que está fazendo!
Ela olhou para ele, sentindo vergonha,
mas incapaz de conter o orgulho.
-Grande coisa, também acho vários
homens atraentes – deu de ombros como se não
significasse nada.
-É mesmo? Que homens? – uma veia
saltou em seu pescoço e ela instigou.
-John é um homem muito bonito. – deu
de ombros, como se não fosse nada – Seus irmãos
Marcelo e Cosme, e saiba, só parei para pensar
neles quando soube do seu caso com gêmeas, me
fez pensar nessa possibilidade...
-Quer que eu fique com ciúmes? – ele
perguntou perdendo a calma com ela.
-Não! Porque sentiria ciúmes, se é algo
tão natural?
-Certo, provou seu ponto de vista, agora
venha até aqui, tire essa droga de vestido, e abra
suas pernas para mim, antes que eu perca a calma
e grite com você!
Sentindo as pernas trêmulas e o coração
acelerado, Helena começou a acreditar que era
uma mulher estranha. Gostava de ser intimada a
abrir a pernas. Isso! Só poderia ser uma perversa!
-É desse modo que fala com sua mulher?
Não sou uma das raparigas dos cabarés que
costumava frequentar quando solteiro! – reclamou,
movendo-se no quarto e ficando de costas para
que ele pudesse abrir os botões do vestido.
-Se fosse uma delas, eu não perderia meu
tempo conversando e tentando entender seu ciúme
– ele instigou.
-Confunde ciúmes com zelo – ela disse
orgulhosa.
Rony riu, chegando ao último botão e
colocando abruptamente, ambas as mãos por
dentro do tecido e agarrando seus seios.
-Oh – ela gemeu, surpreendida – Não
aperte, eles doem.
-Onde exatamente doem? – perguntou,
beijando seu pescoço com suavidade.
-As pontas -ela disse tentando não corar.
-Os mamilos?
-Sim... – deixou o rosto cair para o lado,
para lhe dar total acesso ao pescoço e o colo.
-Onde mais sente dor?
-Rony...
-Responda. Não quero machucá-la.
-Nos meus pés... Estão sempre inchados.
Rony resmungou alguma coisa que ela
não entendeu, e se moveu, tirando seu vestido. O
tecido correu pelas suas pernas e se avolumou no
chão, enquanto ela era carregada para a cama em
seus braços.
-Quero você inteirinha – ele
confidenciou, deitando-a no colchão.
-Inteirinha? – ela sorriu, relaxando contra
os travesseiros.
-Inteirinha. De baixo para cima e de cima
para baixo – ele riu enquanto mordia sobre o seu
umbigo, arrancando dela uma gargalhada.
-Por baixo e por cima? – ela perguntou
maliciosa, rindo as gargalhadas quando ele parou
de mordê-la e olhou-a surpreso.
Helena flertando, provocando e
seduzindo-o era um milagre, e riu junto dela,
adorando o modo como se contorcia para fugir das
cócegas que lhe fazia.
Seu riso era feliz. Simplesmente feliz.
Sem conversa, sem aumentos, era apenas
feliz.
Rony ficou se perguntando se talvez não
fosse melhor permanecerem em Londres, visto que
ela parecia desabrochar desde que viajaram.
Porém algo lhe dizia que essa mudança era
interna. Vinha do tempo que curava suas feridas, e
vinha também da maternidade que lhe trouxera
amor e generosidade ao coração.
-Quero fazer tudo com você essa noite –
ele disse quando o riso se acalmou – Posso?
-Tudo o quê? – fingiu inocência, os olhos
castanhos úmidos pelas lágrimas de riso, e
também com a malícia que a deixava bela como
um gato, que pretendia pular para a liberdade
oferecida por uma janela aberta.
-Beijá-la inteirinha, só para começar –
sua língua correu por sua bochecha e desceu para
seu queixo – Quero prová-la com minha língua.
Helena não respondeu se podia ou não,
apenas enterrou as mãos em seus cabelos,
exigindo um beijo. Já não era mais a menina
assustada que permitira seu marido consumar o
casamento apenas para não perder a fazenda.
Agora, era uma mulher, e sabia muito
bem o quanto era prazeroso fazer amor. E mais
que isso, sabia exatamente o que desejava, e como
fazer para obter esse prazer. Tudo isso com um
único homem.
Aquele ruivo medonho, que revirava suas
entranhas com um simples olhar.
Ousada, ela empurrou-o e com as mãos
baixou o calção íntimo, ficando totalmente nua
sobre a cama, com exceção das meias que vinham
até o meio das coxas. Rony olhou-a, medindo sua
beleza.
Seus ombros estavam curvados, pois ela
havia se apoiado sobre os cotovelos, os braços
para trás. Os seios saltavam a frente, redondos e
harmoniosos, com os bicos macios, um pouco
mais escuros. O rosado da pureza havia dado
lugar ao corado da maternidade, assim como a
barriga lisinha havia dado lugar ao arredondado
ventre de quase quatro meses. Seu umbigo
prometia saltar durante a gestação, e estava
começando a se sobressair.
Seus quadris estavam mais redondos, era
verdade, as coxas se conservavam macias e finas,
assim como suas pernas e seus braços.
Infelizmente seus tornozelos estavam inchados e
seus pés pareciam dolorosamente redondos.
Helena aguentou seu olhar, deixando-o
ver cada pequena mudança que acontecia em seu
corpo. Seu rosto se conservava magro e fino, como
antes, mas o resto...
Suspirou ruidosamente.
-É incrível o que pode fazer uma semente
no corpo de uma mulher. – Rony filosofou
acariciando sua coxa com uma das mãos
espalmadas, subindo mais acima com muito
vagar.
-A semente da vida? – ela perguntou
procurando por sua carícia, deitando nos
travesseiros.
-A semente do amor – ele beijou sua
barriga com todo o carinho de pai que havia
dentro dele.
-Hum... – ela gemeu, fechando os olhos,
esquecendo todos os sentimentos maternais e se
concentrando nos sentimentos sensuais que suas
caricias lhe despertavam.
-A cada dia mais linda – ele sussurrava
palavras de elogio a cada beijo que subia por seu
corpo.
-Rony – ela o puxou para si, olhos nos
olhos – Eu quero ação – pediu – Não vou quebrar!
Pare de agir como se eu fosse feita de gesso!
-Gesso? Porcelana. Helena, sua pele é
pura porcelana – ele galanteou, rindo da sua
exasperação – quer ação? Será do seu jeito então!
Com um puxão, ele se colocou entre suas
pernas, ainda vestido, e a cobriu, abraçando-a
daquele modo íntimo, roçando-se contra ela. O
toque do tecido da calça entre suas coxas a
fizeram gemer, e rodopiar os quadris de encontro
aos dele, procurando mais daquele doce afago.
Uma de suas pernas se dobrou e o movimento
ajudou a roçar sua intimidade contra a braguilha
da calça, onde o volume de seu membro a deixava
em brasas.
Helena correu as mãos por seu peito,
sobre a camisa e puxou o tecido para fora da
calça, enquanto ele sustentava o peso do corpo nos
braços esticados. Ela correu as mãos pelos braços,
sentindo os músculos apertados e rijos, os
antebraços se movendo e se contraindo.
Com os olhos injetados de paixão, rasgou
os botões que prendiam a camisa e correu os
dedos pelo peito amplo, sentindo os músculos de
seu peitoral sob as palmas, os músculos
masculinos retesados, os músculos de sua barriga
em suaves ondas, aquela penugem suave de pelos
ruivos que desciam do umbigo em direção ao cós
da calça.
Abraçou-o, as mãos correndo por suas
costas, achando que se incendiaria apenas de tocá-
lo.
Rony desceu o corpo para beijá-la,
inebriado pelo poder de suas carícias. As mãos
trêmulas de Helena iniciariam um processo
desesperado de arrancar as roupas dele, sem
deixá-lo quebrar aquele beijo intoxicante.
A camisa foi fácil, arrancou-a de seus
ombros pelos braços, mantendo-o preso pelo
quadril. Mas a calça era mais difícil.
Tateou os botões, sem ver, pois tinha os
olhos fechados, enquanto correspondia ao seu
beijo molhado e saboroso. Tinha gosto de café.
Rony bebera café em algum momento do dia, e o
gosto estava ali, tão amargo e forte quando o
desejo que a obrigava a agir sem cautela ou
coordenação.
Arfante, afastou-se do beijo, os lábios
vermelhos e machucados, vociferando:
-Tire! Tire agora! – ela mandou ansiosa,
esperando enquanto ele tirava a calça e o resto das
roupas, sem se afastar muito, pois ela o mantinha
preso contra ela.
Nu, foi pressionado contra o seu corpo
macio, enquanto exigia dele um beijo de língua,
para marcar seu coração com aquele carinho
delicioso.
Beijar era o céu, mas ela queria mais.
Muito mais.
-Quieta – Rony mandou, segurando seus
braços, para que ela não tomasse conta do ato. –
Fique quieta.
Calada, Helena engoliu a desfeita, mas se
aquietou. Ao menos não o pressionava mais,
embora suas unhas machucassem as coxas de
Rony quando ele se ajoelhou entre suas pernas.
Correu as unhas desde os quadris até os
joelhos, por entre os pelos ruivos, arrancando dele
um gemido gutural, que não o impediu de seguir
com seu intento. Rony precisava sentir seu gosto,
provar seu desejo e mostrar a ela o quanto a
queria, mais que físico, queria ver seu prazer. Dar-
lhe prazer.
Helena se contorceu quando sua cabeça
baixou sobre ela, sem aviso. Gemeu e agarrou
seus cabelos quando sentiu aquela língua úmida e
irrequieta mexendo com suas partes sensíveis.
Diretamente sobre o clitóris, sem rodeios,
lambendo o botão, e descendo mais, lambendo a
fenda, onde seu sabor o intoxicou.
-Rony – ela gemia seu nome sem parar,
esperando que parasse, ou a fizesse parar, pois
aquilo estava indo rápido demais. – Oh, Rony...
Eu quero mais, não... Oh, não pare! Não ouse
parar!
Ele sorriu e voltou a lamber, pois ela
estava confusa sobre sua própria vontade. Não
podia culpá-la.
Tão saborosa, tão molhada, tão
perfumada.
Se refestelando em seu sexo, mordeu
gentilmente sobre o nervo e ela retesou todo o
corpo, pressionando as coxas contra sua cabeça.
Ele usou uma das mãos para apartá-las, e a outra
para abri-la expondo sua passagem rosada, seu
buraco pronto para ser preenchido. Seu dedo
entrou ali, e ela rebolou para facilitar, enquanto ele
chupava sobre seu clitóris com bastante força.
Tinha planos de enlouquecê-la, mesmo
que para isso, seu desejo fosse desprezado. Sentia
o lençol roçando em sua ereção, e se espremeu
contra o colchão querendo aliviar a dor da paixão.
-Hum... Mais... Eu quero você, Rony...
Mais... – ela agarrou o travesseiro erguendo uma
das pernas. Seu pezinho pousou em suas costas,
empurrando-o para longe, e Rony intensificou a
chupada e o dedo entrou mais rápido, sabendo que
estava a beira de rachar.
-Assim... Assim... Oh, filho da mãe, não
pare agora! – ela gritou desesperada quando ele
mudou de posição para fugir dos seus chutes nada
gentis em suas costas.
Para calar seus palavrões, ele enterrou a
língua bem fundo dentro dela, e chutou ali,
fazendo-a esquecer o que dizia e arquejar todo o
corpo, agarrada aos lençóis. Os nós dos dedos
brancos enquanto apertava o lençol e o travesseiro.
Helena viu tudo azul durante um longo
momento. Como se estivesse à beira de um
desmaio. Seu corpo tremulou e se contorceu,
enquanto ele aumentava e diminuía o ritmo,
chupando, mordendo e penetrando sem dó ou
trégua. Quando achou que não seria possível ficar
mais tensa, ele sugou gentilmente sobre ela, e
Helena gritou.
O fogo queimou tão quente dentro dela,
que poderia ter levitado tão leve sentia-se quando
o fogo se apagou.
-Você goza muito – ele disse, esfregando
os dedos em sua fenda, onde corria seu gozo –
Sabia disso? – lambeu os dedos untados, olhando
para ela com ardor – Seu gozo corre em meus
dedos.
-Não diga isso – ela corou de vergonha e
de tesão, e tentou fechar as pernas, mas ele não
deixou.
-Hum, eu quero estar dentro de você – ele
negou, deixando suas pernas abertas e
escancaradas para ele.
-Eu quero que faça aquilo antes – ela
pediu quando ele subiu sobre ela.
-Hoje não – ele tentou ser honrado e ser
doce com sua mulher grávida.
-Nunca mais fez aquilo. Faça agora. – ela
pediu se mexendo embaixo dele.
-O bebê... – ele tentou explicar, tremendo
pelo esforço de se conter.
-Hum... Cale a boca, Rony, e faça. –
ergueu as pernas bem alto sobre suas costas.
Rony gemeu e se posicionou.
Uma espetada rápida, era o que Helena
esperava. Mas Rony foi maldoso nessa noite e a
penetrou bem devagar. Estava melada de seu gozo
e seu pênis deslizou com certa facilidade para
dentro do seu ânus. Gemeu, querendo ser beijada e
acarinhada enquanto ele se aproveitava do seu
corpo.
-Me beije - ela pediu.
-Você não gosta, não é? – ele perguntou
só para checar, enquanto se retirava com
extremado cuidado.
-É diferente. Fica melhor... Daqui a
pouco – tentou explicar, fechando os olhos quando
começou a sentir seus testículos batendo contra
ela a cada investida – Oh, vai melhorando... Vai...
Oh...
A princípio era o impacto. A força, a
profundidade, depois vinha o calor, o desejo
irracional que não pode ser saciado dessa forma.
Como uma bola incandescente, que sabe que não
pode explodir.
Rony bombou com força, saboreando
aquele corpo que se oferecia. Gemia muito forte, o
rosto escondido em seu pescoço, aspirando seu
cheiro, o cheiro dos seus cabelos macios, que eram
o berço para sua face.
Helena agarrava suas costas, e tinha
grudado os seios contra o seu peito, e pelos seus
gemidos, sabia que a estava levando ao mesmo
estado de excitação que se encontrava.
Agarrados daquele modo sentia-se como
se fizesse parte daquele corpo grande, musculoso e
audaz. Era como se Rony fosse parte de seu
próprio corpo e talvez por isso, tenha se erguido
tanto, empurrando-se contra ele, e obrigando-o a ir
o mais fundo possível. Sentiu a dor, e essa
sensação tornou tudo tão aprazível, tão mais forte,
mais real, mais picante que se viu gozando.
A sensação estourou e Rony bombou
mais rápido conforme ela ia se remexendo e
escalando seu corpo, em busca de mais.
Empalando-a com rapidez agora, ele pôs
uma das mãos entre eles e grudou os dedos,
rolando-os sobre o clitóris e ela gritou, seus berros
enlouquecendo-o, principalmente quando ela
estremeceu e tentou bater nele, para revidar a
sensação que a enlouquecia.
Inspirado, Rony soprou sobre seu rosto,
querendo que ela gozasse mais uma vez.
-Não, não, não, não, não, não... Não...
Não... Não! – Seu gritinho o fez explodir na
mesma hora. Helena o empurrou sem querer. Pois
nessas horas, ela ficava irracional, e ele escapou
de seu orifício, gozando em suas coxas e fazendo
uma grande lambança.
Ela abriu os olhos e ficou olhando para
ele, enquanto ele apertava seu pênis e tentava
exprimir tudo que havia dentro de si guardado.
Rony foi perdendo a velocidade aos poucos, e caiu
para o lado, não querendo causar-lhe desconforto
com seu peso sobre a barriga redonda e macia que
agora era parte do seu bonito corpo.
Helena lambeu os lábios e esperou um
pouco, enquanto ele respirava com força,
recuperando suas forças.
Ela estava saciada, completamente
saciada, mas havia dentro de si algo pedindo por
mais. Querendo mais.
Rony olhou para ela e os dois sorriram.
Helena se moveu primeiro, tendo recuperado um
pouco do ar que lhe faltava, afinal, ele quem
realizara a maior parte dos movimentos e deveria
estar exausto.
Carinhosa, usou a camisa que ainda
estava num canto da cama para limpa-lo. Segurou
o pênis quase flácido e limpou todos os vestígios
do ato, pois achava mais higiênico assim. Rony
não disse nada, mas sabia o que ela fazia e
respondia ao carinho e cuidado, crescendo em
suas mãos.
Com um sorriso misterioso ela se moveu
para longe dele, e se sentou perto dos travesseiros.
Ficou de costas para ele, e segurou do dossel da
cama.
Era um convite que homem algum
recusaria, e Rony atendeu seu chamado. Não
precisaram falar nada, ele agarrou sua cintura e
usando uma das mãos guiou a ereção inchada até
achar o lugar e entrar profundamente.
Helena reclamou, choramingou, mas ele
não parou. Inchado, seguiu penetrando aquele
lugar só seu, causando nela uma série de reações.
Esquecido de suas reclamações anteriores agarrou
seus seios, amassando em suas mãos e ouvindo-a
gemer de dor e prazer.
Bombou em seu sexo, com força e
rapidez. Era molhada, era escorregadia e quando
mais gemia mais prazer ele sentia. Jogando o
corpo para trás, Rony enfiou-se até o fundo,
penetrando-a dezenas de vezes com muita força.
Ela soluçava e se contorcia, até que Rony
segurou seus quadris e impediu-a de se mover.
Helena agarrou mais forte o dossel da cama e
gritou, puxando o ar com força, sendo partida em
duas.
Era isso que queria. Era disso que
precisava. Não pare, pensou, mas não conseguiu
falar, a cabeça abaixada entre os braços, a face
suada, os cabelos desgrenhados cobrindo os seios
e as costas. “Não pare”.
Sua boca estava aberta, procurado ar,
procurando as palavras para se expressar, mas seu
cérebro estava em branco, atento apenas aquela
rocha que a partia e partia e partia sem piedade.
Ele curvou-se sobre ela, e Helena
finalmente conseguiu gritar, a cabeça tocando
naquele pondo escondido bem dentro dela, e o
contato espertou em seu clitóris, quebrando-a em
mil pedacinhos. Fascinada, envolvida e
completamente zonza, soltou as mãos e escorregou
nos travesseiros. Rony seguiu segurando seu
quadril alto, apesar dela ter se curvado para a
cama e seguiu bombeando, construindo nela mais
e mais prazer. Com gás renovado, sentiu-a gozar
em seu pênis, e explodiu um minuto depois contra
seu corpo frouxo e exausto. Saiu daquele recanto
com cuidado, girando-a na cama para ver seu
rosto. Antes de olhar para cima, olhou para baixo
e passou os dedos delicadamente sobre sua fenda,
que estava avermelhada e pingando.
Pobrezinha de Helena pensou caridoso,
com um sorriso preguiçoso na face. Ela olhou para
ele por entre os cabelos, e o ar de displicência e
cansaço, e sorriu com a mesma malícia que ele.
-Estou com fome – ela disse depois de
alguns minutos recuperando o fôlego.
-O jantar esfriou. Quer que esquente? –
ele ofereceu, saindo da cama completamente nu e
apanhando a bandeja. Quando se virou para ouvir
sua resposta sorriu.
Helena havia apagado. Adormecera nua,
descoberta, e se estivesse consciente iria querer ter
fechado as pernas e conservado alguma discrição.
Desistindo do jantar, se juntou a ela na cama e
apagou as luzes. Cobriu os dois e ela se aninhou
na curva do seu pescoço, esparramada sobre seu
corpo. Se esse não era o paraíso, ele não sabia o
que era bom na vida.
Capítulo 123 - Cada vez mais apaixonada

A apatia de Alice fez Helena olhar para


John com raiva. Será que ele não notava que sua
ausência e indiferença estavam acabando com o
amor tão frágil e inexperiente que Alice sentia?
Uma fragilidade que provinha de sua
imaturidade.
Discretamente, para não chamar atenção
de Rony, que conversava com o Conde, ela se
aproximou de John, enquanto fingia observar os
livros na estante, livros que recobriam toda uma
parede, desde o chão até o teto.
-Porque Alice está sempre triste, John? –
ela perguntou suavemente, olhando para ele com
segundas intenções.
Quem os visse, diria que falavam do
tempo ou dos livros. Nunca assuntos profundos.
-Não se adaptou a Londres – ele disse
apreensivo por ter que responder a ela sobre esse
assunto.
-É mesmo? – ela fingiu surpresa – Fico
surpresa em saber, pois temos saído bastante para
passear, e Alice parece muito contente com a
cidade.
-Não sei o que lhe dizer – ele tencionava
se afastar, mas o olhar que Helena lançou sobre
ele o fez mudar de ideia imediatamente.
-Seja franco, ao menos seja franco
consigo mesmo – ela desafiou-o.
-É o riso – ele disse depois de um
instante de silêncio.
-O que há de errado com o riso de Alice?
– virou-se para ele, esquecida de parecer casual.
-Não há nada errado. É simplesmente
divino. Alegra cada pedacinho da casa. Faz meu
dia parecer formidável, e me faz sentir como se o
mundo fosse absurdamente feliz.
Helena olhou para ele esperando mais.
Sempre havia mais.
-Achei que estivesse pronto para enterrar
o passado e esquecer a dor de crescer sem meus
pais. Mas estava errado. Dessa vez, se perder
Alice, será ainda pior. Terei perdido tudo.
-Entendo.
Ela quis reclamar ou brigar com ele, mas
não pode. Era exatamente isso que sentia às vezes.
Pousou uma das mãos sobre o ventre, pensativa.
Olhou para Alice, apenas para encontrar
seu olhar ressentido sobre eles. Sorriu para ela, e
se afastou de John, aproximando-se da amiga para
distrair sua mente das besteiras que pensava.
Apertava-lhe o coração imaginar que em poucos
dias iria embora, e não veria Alice por longos
períodos.
As duas permaneceram sentadas, de
mãos dadas, conversando sobe o bebê por mais de
uma hora, até que o Conde retornasse com Rony
de uma conversa particular.
-Minha filha, tenho que dizer que está
linda essa manhã – ele elogiou, aproximando-se e
a tomando pelas mãos.
-Obrigada – ela aceitou o elogio, e
apertou suas mãos com carinho.
A cada dia aquele homem conquistava
um lugarzinho em seu coração. Sorriu para ele, e
olhou para Rony. Ele parecia ligeiramente
preocupado.
-Conversamos sobre sua recente amiga –
o Conde explicou, ajudando-a a retornar ao seu
lugar no sofá e sentando-se ao seu lado.
-Reconheceu o envelope? O timbre de sua
família? – ela perguntou ansiosa.
-Nossa família. – corrigiu-a – o brasão de
nossa família. Sim, reconheci. Confesso, tenho
muitos negócios na França. Mas poucos deles me
ocupo pessoalmente, e a caligrafia no envelope é
minha. Lembro de apenas uma ocasião há oito
anos em que tenha escrito pessoalmente para meu
administrador em Paris.
-Essa carta foi endereçada a quem? –
perguntou ansiosa por desvendar esse mistério.
-Como disse, foi endereçada ao meu
administrador na França. Era uma carta que se
referia ao meu casamento. Minha esposa foi
trazida da França para nos casarmos. Não foi algo
romântico. Michelle era uma jovem solteira, sem
filhos, numa situação pouco feliz financeiramente,
e tinha interesse com esse casamento. Poucos
meses após essa carta, ela chegou.
-Veio por navio? – começava a fazer
sentido – é claro que veio por navio! Que outro
modo haveria? – ela falou consigo mesma – Diga,
mais alguém veio com ela da França?
-Na ocasião recordo-me de Michelle ter
vindo com sua dama de companhia. Ela deixou-a
antes de chegarem a minha casa, lembro-me que
Michelle reclamou muito por causa de sua fuga.
-Sabe o nome dessa mulher? Se tem
família em Londres? Sabe por que ela fugiu?
-Helena – Rony chamou-a para conter
sua empolgação – Sabemos por enquanto que se
chama Margaret De Hart. Trinta anos, professora
de letras. Apenas informações vagas.
-Margaret? Não, ela disse que se lembra
de ser chamada de Elly. Uma lembrança de
infância. Dizem que são as únicas que perduram
até mesmo na loucura. Não é o que dizem?
-Ela deve estar confusa, minha querida,
pois Elly era o apelido de infância de minha
esposa. Na ocasião, trocamos algumas cartas,
tenho algumas guardadas, mas estão em outra
propriedade. Mandarei meu valete buscá-las ainda
hoje. Escreverei para meu administrador em Paris,
e pedirei que envie um retrato da dama de
companhia que acompanhava Michelle. Isso a
acalmará?
-Sim - ela sorriu mais tranquila – Quero
muito ajudá-la, papai.
-Deus abençoe seu coração generoso –
ele disse beijando suas mãos e Helena maneou a
cabeça.
-Minha motivação é mais egoísta.
Devolvê-la a sua família, me faria esquecer que
não posso encontrar a minha - confessou humilde.
O Conde apenas concordou, lembrando-
se de Madeleine e compartilhando com ela essa
dor profunda da perca.
-Helena tem um pedido a lhe fazer,
Conde – Rony falou, para que o sentimento de
melancolia não estragasse aquela bela manhã de
bom humor.
Helena estava radiante desde que
levantara, e depois da noite passada, ele também
estava em estado de graça. Ela olhou para ele com
verdadeira adoração antes de sorrir.
-É um pedido estranho, e estou
envergonhada de fazê-lo – contou.
-Não há razão para vergonha – ele
garantiu, piscando para Rony sem que ela visse.
Claro, já havia discutido a situação com o sogro.
-Preciso oferecer um baile – ela corou –
Depois do que fiz, não deveria sequer tocar nesse
assunto, mas me comprometi com o juiz
Demetrius e o Sr.Loren – suspirou – Eu os conheci
no mercado e deixei uma péssima primeira
impressão, e só me restou bajulá-los. Eu...
Prometo que serei educada e gentil dessa vez.
-Um baile? – Alice choramingou ao seu
lado – Outro baile?
-Esse baile será diferente, Alice – ela
incentivou – Não será mais o primeiro. Já
sabemos o que nos espera.
-E minha filha promete que não haverá
rompantes ou gritos? - o Conde fingiu severidade.
-Prometo. Serei uma verdadeira dama. –
sorriu – Não poderia ter um rompante de qualquer
modo, estou grande demais para isso.
O Conde tocou sua barriga, como fazia
sempre. Rony desviou o olhar para ver John
olhando para aquela barriguinha com algo
estranho na face. Não tinha como saber os
sentimentos que o faziam covarde.
Ter um filho seria uma bênção e ao
mesmo tempo uma maldição, pois a dor seria
terrível ao perdê-lo. Era nisso que John pensava,
mas tanto Alice quando Rony interpretavam-no de
modo errado.
-Redonda, eu diria – Conde provocou-a, e
Helena riu.
-Não diga isso. – Alice pediu
compadecida – não sabe que para uma mulher sua
vaidade é tão importante quanto o ar que respira?
O Conde seguiu provocando-as por um
bom tempo, num animado debate sobre a
futilidade feminina, e Rony se manteve a
distância, permitindo que Helena estreitasse cada
vez mais os laços que a unia ao Conde.
Cinco dias depois e o baile aconteceu.
Dessa vez, Helena preferiu chegar bem cedo, junto
com Alice e John, e esperar os convidados ao lado
do Conde. Nada de desfilar em meio a todos
atraindo demasiada atenção para si mesma.
-Vê? – Rony cochichou em seu ouvido,
estavam sentados lado a lado – Vejo Helenas por
todo o salão – era uma brincadeira e ela sorriu.
Vinha sorrindo muito, aliás.
Ele tinha razão. Uma em cada três jovens
vestia vermelho, e tinha os cabelos penteados de
um modo muito parecido com ela.
-Uma pena que escolhi uma cor tão banal
essa noite – ela devolveu a piada, olhando para
seu vestido lilás.
-Um alívio para os pais aqui presentes –
ele revidou. – embora que essa cor ressalte sua
pele e seus olhos, e fazem seus cabelos parecerem
ainda mais brilhantes – era um gracejo
apaixonado, e provavelmente apenas seus olhos
viam esses detalhes. – cachos delicados e suaves...
– enroscou os dedos nas mexas que caiam em seus
ombros, e seus olhos se encontraram.
Helena escolhera um vestido lilás, novo,
que era realmente adorável. O decote era ousado,
destacando os seios, que em dois montes
generosos se agitavam a cada respiração e
segundo ela, deveriam ser ressaltados, pois eram
passageiros e quando seu corpo voltasse ao
normal depois do parto, iriam diminuir. As
mangas eram curtas, bordadas em fios de ouro que
se estendiam sobre o busto e caiam pela ampla
saia.
Era um vestido que pouco acentuava,
evidenciando ainda mais a gravidez. Helena
estava cheia dos corpetes e fitas que a apertavam.
Queria a libertada de um tecido solto, que a
permitisse se mover.
Seus cabelos estavam presos por duas
mexas no alto da cabeça, caindo o restante solto,
numa cascata de cachinhos naturais.
Tão bem humorada estava, que até fizera
o gosto do Conde, de vê-la usando uma das tiaras
de sua mãe falecida, a Condessa de Valença.
Espanhola, era uma tiara quadrara e estreita, que
enfeitou plenamente o penteado escolhido por
Helena.
Olhando nos olhos azuis, Helena se
esqueceu do baile. Talvez ele visse algo de bonito
nela, para estar sempre a olhando, pensou. Do
mesmo modo que ela o achava o homem mais
bonito do mundo.
Do mundo não. Do SEU mundo.
-Ora, vejam!
O nada discreto grito empolgado quebrou
o clima entre eles, e Helena precisou de um
segundo para lembrar onde estava antes de olhar
para quem os interrompia.
Demetrius e sua robusta esposa estavam
bem na frente de ambos, e Rony levantou
imediatamente.
-Com tem passado, Sr. Demetrius?
-Imensamente bem! Deus é testemunha
de como tenho sido feliz desde que recebi o
convite para esse baile! Um belíssimo baile!
Belíssimo baile!
Helena sorriu simpática para a senhora
que apenas revirou os olhos. Parecia acostumada
ao enfado que era seu marido.
-Minha esposa e eu mal podíamos
esperar pela oportunidade de agradecer-lhe pela
ajuda. Esclarecer os fatos sobre nossa situação é...
– Rony tentou bajular um pouco, para que ele não
voltasse atrás.
-Mil perdões, meu marido, mas tenho
certeza que meu pai está ansioso para conhecer o
Sr. Demetrius. Têm falado muito em ser
apresentado ao senhor, e acabo de vê-lo olhando
para cá – Helena disse sorrindo;
-É mesmo? – o juiz virou-se na direção
do Conde com tanta velocidade que a senhora ao
seu lado suspirou ruidosamente, acostumada com
sua falta de modos e agilidade. – Devo me
apresentar? Será?
-Meu pai não é de cerimônias, e já
falamos tanto do senhor, que o tem por um amigo
próximo – incentivou, achando que se tivesse uma
vassoura em mãos o enxotaria dali a vassouradas.
-Sendo assim... - ele fez um cumprimento
rápido, arrastando a pobre mulher com ele pelo
salão.
-Quanta crueldade, Helena. Seu pai não
merece essa cruz – Rony brincou, sentando-se ao
seu lado novamente.
-Sei disso, mas não me acho capaz de
suportar ser bajuladora essa noite. – passou uma
das mãos no ventre – além disso, quero aproveitar
meu baile, como não fiz da primeira vez.
-Podemos dançar um pouco – ele
ofereceu acariciando sua mão, que corria sobre o
ventre.
-Gostaria de dançar uma música com
John – ela disse pensativa, sem notar que o ciúme
o fez se retesar e se afastar – Ele precisa ouvir
umas poucas e boas pela insensibilidade com
Alice – seguiu contando – Entendo que tenha
medo de sofrer, mas deveria ter pensado nisso
antes de casar-se com ela!
Sua indignação o acalmou um pouco, e
Rony maneou a cabeça negando.
-Eu falarei com ele, Helena. Essa noite,
não quero que dance com nenhum homem além de
mim – disse possessivo.
-Prometi uma dança ao meu pai – ela
retrucou.
-Um dança? Posso sobreviver a isso – ele
segurou sua mão e ela tentou não rir dele.
-Não precisa sentar e ficar ao meu lado a
noite toda. Tem seus assuntos a discutir com
outros cavalheiros presentes. E, além disso,
gostaria de conversar com Alice, Luana,
Roxinne...
-Está cansada da minha companhia? –
provocou.
-Apenas considero que a distância
aumentaria a saudade – ela respondeu no mesmo
tom.
-Hum, sinto-me tentado a me sentir
lisonjeado. Mas não ouso tanto – ele piscou para
ela. – Venha, vamos dançar uma música, depois
prometo que a deixo em paz por algum tempo.
Helena seguiu-o até a pista de dança,
ocultando um sorriso. Sentia-se orgulhosa por não
temer aquele baile. Orgulhosa por estar ali,
fazendo parte da vida do Conde. Por ter um
marido tão gentil, e por saber que sua vida estaria
completa quando seu filho nascesse.
Sentia tanto orgulho!
Os olhares não a incomodavam mais,
eram olhares de curiosidade ou admiração, ou
então, de desprezo. Mas os sentimentos bons
compensavam aquelas pessoas mesquinhas que
lhe tinham péssimos sentimentos mesmo sem
conhecê-la.
-Está adorável essa noite, Helena – ele
elogiou depois de alguns rodopios.
-Não se atreva a me soltar – ela disse um
pouco apavorada, pois não sabia dançar.
-Não corre perigos em meus braços – ele
garantiu, rindo de sua própria bobeira – Somos
dois tolos apaixonados, já percebeu?
-É claro que não – ela desconversou. –
Embora, que a afirmação tem seu fundo de
verdade. Que é um tolo, ninguém nega.
-Não seja ranzinza, Helena – ele
provocou, girando-a pelo amplo salão.
-Tenho medo de tropeçar – confidenciou,
olhando para os pés, enquanto eles seguiam
dançando em perfeita harmonia.
-Seu corpo foi feito para acompanhar o
meu, não se preocupe – ele garantiu.
Seus olhos se encontraram, e Helena
subiu uma das mãos que estava em seu ombro,
seguindo as regras impostas pela sociedade, e
deixou os dedos entrarem entre seus cabelos
ruivos, acariciando-os quase inconscientemente,
tentada a beijá-lo.
-O que aconteceria se me beijasse aqui?
No meio dos convidados? – ela perguntou
maliciosa.
-Seria um escândalo – ele respondeu no
mesmo tom, beijando sua testa. – Tenho certeza
que a saleta do Conde está vazia. – sugestionou.
Helena estava tentada a aceitar, quando a
música parou.
O Conde atraia a atenção de todos, a voz
elevada acima do burburinho agitado dos
convidados.
-Esta noite é especial para mim – ele
disse, estendendo uma das mãos em direção a
Helena – Apresento formalmente, minha querida
filha a todos os meus amigos e colaboradores,
pessoas queridas que me acompanham durante
toda a vida. Helena, uma flor que veio embelezar
minha vida, e me trouxe de presente um neto, que
será minha razão de viver, e um genro, que temo
se tornará como um filho para mim. - a emoção do
Conde era visível, esperando por ela.
Helena gelou, imóvel. Não esperava por
isso.
Rony colocou sua mão em seu braço,
num gesto de pura elegância, que condizia com a
ocasião. Dando-lhe o apoio necessário, levou-a
pelo amplo salão, desfilando com Helena e
expondo-a a todos os olhares.
Não era sua intenção constrange-la, mas
sim, enaltecê-la e expor orgulhosamente sua
esposa.
Heroicamente, ela andou ao seu lado, de
cabeça erguida, os olhos fixos em seu pai. A
imagem do pai doente, amargo e deitado numa
cama, ensinando-a a repudiar a generosidade
alheia e a bondade, se tornando cada vez mais
distante.
Amava aquele homem que a criara. Esse
amor estaria sempre em seu coração. Um amor,
porém, que não regia mais seus atos, muito menos
ocupava seu coração nesse momento.
Seu marido, seu filho e seu pai. Eram as
únicas pessoas que tinham um lugar cativo em seu
coração. Seus amigos, seus tão bons amigos
faziam parte daquele lugar especial que as pessoas
conservam em seu peito, para aqueles que se
fazem importante, mesmo sem laços de sangue.
Rony entregou-a ao Conde, que beijou
sua mão com verdadeira adoração.
-Não faça isso comigo – ela pediu muito
baixo, contendo as lágrimas de emoção, com seu
sorriso desmentindo suas palavras.
-Não farei – ele beijou-a na testa também
fazendo um sinal para a orquestra que retornou a
tocar uma bela valsa.
A guiou em direção ao salão, para
valsarem, três gerações unidas naquela noite. Pai,
filha, e neto. Em poucos meses, aquele bebê
estaria naquela casa, mesmo que em visita,
marcando aquele lugar como seu.
O Conde conduziu-a por todo o salão,
orgulhoso, ensinando-a os passos que não
conhecia e conversando sobre assuntos que a
deixavam menos tensa e receosa de tropeçar.
Observando-os de longe, Rony cercou-se
de uma taça de vinho, observando o magnífico
tecido lilás rodopiando pelo salão, engrandecendo
a beleza de Helena e tornando seu rosto radiante
ainda mais bonito.
-Helena está linda essa noite, irmão –
Alice aproximou-se dele, timidamente.
-Onde está John? – ele perguntou
olhando me volta.
-Conversando com alguns conhecidos. –
ela desconversou, sempre olhando para a amiga. –
Helena está tão feliz. Tão diferente do que era.
Quando pequenas, sempre era sorridente e feliz.
Depois a alegria a abandonou, conforme a vida
endureceu seu coração. Mas agora, parece que a
alegria voltou a reinar em sua vida. Tudo graças a
você, meu irmão.
-Não, a felicidade de Helena vem do fato
de ter aberto seu coração para as mudanças em
sua vida. Acredito que quando deixamos a
fazenda, ela pode deixar para trás o medo de se
perder de tudo que conhece como seguro. Aqui,
sente-se livre. Descobriu que a felicidade está
junto daqueles que a amam, e não preso a um
pedaço de terra.
-Acha mesmo que a felicidade está junto
daqueles que nos amam? – Alice perguntou,
olhando para ele com pura fragilidade.
Rony abandonou seu copo e ergueu o
queixo de sua irmã olhando em seus olhos.
-O que a deixa tão infeliz, Alice?
Saudades de casa? – perguntou tentando entender.
-E o que me sobra além da saudade e do
arrependimento? - ela se afastou, lutando contra as
lágrimas.
-John não a trata bem? – estava surpreso,
subestimara as mágoas que havia entre o casal.
-Sim, me trata muitíssimo bem, como
trataria um desembargador ou administrador de
suas propriedades. Até mesmo me concede alguns
minutos de seu dia, para dizer-me bom dia ou boa
noite, depois de despencar exausto ao meu lado! –
corou ao notar a própria indiscrição – Eu poderia
ter me casado com um homem que não amasse,
mas ao menos não conheceria a dor da indiferença
e do descaso! – ela desabafou - Irmão, como
lamento não ter me casado antes de conhecer
John! Lamento tanto! Hoje, poderia ser feliz.
Suas palavras soaram pesadamente em
volta dos dois, e Rony olhou além de Alice,
avistando John que se aproximava. Pela sua
expressão tinha certeza que ouvira apenas a última
parte.
Alice olhou para trás, mas não se abalou
ao vê-lo. Apenas olhou para outro lado, evitando
contato visual.
-O Sr.Demetrius pede uma minuto de sua
atenção, Rony – ele disse friamente – gostaria de
lhe apresentar sua enteada.
Alice olhou para Rony com um meio
sorriso, talvez por achar graça, talvez por pirraça a
John, ao mostrar-lhe ser indiferente a sua mágoa.
-Cuidado meu irmão, ainda não está livre
de uma Susan. Não precisa de outra!
-Tenho certeza que não é essa a intenção
do Sr.Demetrius – ele sorriu ternamente, temendo
pelo coração de sua irmã.
-É uma boa moça, mas já passou da
idade e da beleza para se casar. Não tem um bom
dote, nem ao menos tem bons assuntos. Creio que
ele pedirá um favor em nome da pobre jovem.
-Um favor? – Alice olhou para o marido
com desafio no olhar. – Que tipo de favor?
-Pedir a filha do Conde, e suas belas e
educadas amigas que circulem com a moça por
alguns dias, para quem sabe, despertar o interesse
de algum jovem interessado em casar-se – John
respondeu em tom de desafio.
-E quem seriam as belas e educadas
amigas de Helena? – Alice ironizou – Luana
Lourenço? – ela chegou a fazer uma careta diante
da pergunta. Uma travessura de criança que fez
John desanuviar a expressão e responder num tom
de provocação.
-Bem, o noivo da Srta.Lourenço está de
volta, e parece ver muitos encantos em sua noiva,
pois está apressando o casamento. Quanto a sua
amiga mais antiga, sem dúvidas possui encantos
suficientes para conquistar qualquer homem que
deseje. Embora, sua educação seja considerável.
-Qualquer homem? Duvido. – ela
respondeu, seu sangue queimando e corando sua
face – Estou longe de ser capaz de conquistar um
homem.
-Se me derem licença, preciso bajular o
juiz Demetrius – Rony disse querendo se livrar
daquela situação.
Deixou-os sozinhos, notando, mesmo que
a distância que a discussão prosseguia.
Infelizmente não podia controlar a vida da irmã,
não tinha mais esse poder.
Desviou o olhar e ficou olhando para
Helena que dançava com um senhor de cabelos
brancos, era um coronel do exército, parceiro do
Conde em vários negócios.
Não teria ciúmes dele, mas por via das
dúvidas, manteve os dois olhos em ambos. Helena
sorriu simpática para ele, e conversavam. Em
dado momento ela olhou em volta, obviamente
entediada, e achou-o em meio à multidão.
Procurava por ele.
Ela esquivou o olhar, disfarçando, e ele
retornou sua missão, paparicando Demetrius.
Não havia maior satisfação do que
descobrir que Helena procurava por ele..

A noite prosseguiu mesmo após a partida


dos convidados e o encerramento oficial do baile.
Helena não imaginava que fosse tão cansativo ser
uma dama da sociedade.
Seus pés doíam, seus ouvidos latejavam
pela música alta e constante. Seus lábios estavam
secos, pois o vinho era abundante, e a água
escassa. Afinal, quem beberia água em um baile
regado a champanha importado?
Esfomeada e cansada, ela acompanhava o
jogo de cartas entre o Conde, Demetrius, Loren,
Rony, John e o Coronel Staub, um velho amigo do
Conde.
As mulheres estavam à parte, embora
Helena sentisse vontade de jogar. Tinha como
companhia Alice, a esposa de Demetrius, a
enteada do mesmo, a tímida Lily. Do outro lado da
saleta íntima do Conde, a filha do Sr.Loren,
Amanda Loren, observava os enfeites e bibelôs
caros.
Helena não havia simpatizado com a
moça, embora se esforçasse para retribuir sua
simpatia. Lily pelo contrário, era tímida e calada,
mas nada que a incomodasse, pois até bem pouco
tempo, a própria Helena não era de falar muito.
-Hum, que enfadonho que os cavalheiros
tenham abdicado de nossas companhias em nome
das cartas – Amanda disse naquele seu tom jocoso
que deixava Helena irritada.
-Um bom jogo de cartas pode renovar um
homem – o Conde disse sorrindo para a moça,
sem desviar a atenção das cartas.
-Sim, e entediar uma mulher. – ela disse
impertinente.
-Não a nada de interessante em homens
velhos e casados, principalmente para uma moça
solteira – o Sr.Loren disse olhando para a filha
com repreensão.
-Papai. – ela pareceu se aprumar, sendo
cutucada daquele modo – Sabe que adoro uma boa
conversa!
-Ora, mas porque tanto silêncio? – Rony
brincou – Onde já se viu tantas mulheres
silenciosas?
Helena olhou para ele, contendo a
vontade de responder-lhe algo que o faria se
irritar. Quanto machismo!
-Estamos cansadas, meu irmão – Alice
reclamou – e como disse a Srta.Loren, entediadas
sem nossos maridos, pais e irmãos.
-Não seja estraga prazeres, Alice. As
cartas são mais interessantes do que suas
reclamações – Rony provocou-a.
-Quanta consideração, Ronald – Helena
olhou para ele, instigando-o a desafiá-la.
Amanda olhou de um para o outro, e se
aproximou da mesa onde o jogo continuava.
-Acredito que seja um bom jogador,
Sr.Parker. - ela disse observando seu jogo. Ele
pareceu incomodado com a indiscrição, mas não
se afetou demais.
Helena olhou para a jovem que apoiava
uma das mãos no encosto da alta cadeira que ele
ocupava e curvava o corpo em sua direção, com o
falso intento de espiar suas cartas.
Ela era ruiva e alta. Ele não se
interessaria por uma mulher que lembrasse sua
mãe e sua irmã, pensou. Não precisava se
preocupar.
-Não tenho o hábito, e acredito que
apenas a prática garante a perfeição – ele
respondeu com a sombra de humor na voz.
-Porque não joga, Srta.Loren ? – Helena
sugeriu para ver se ela se intimidava e se afastava.
-Que ideia esplêndida! – Amanda bateu
palmas frivolamente – Sou uma exímia jogadora!
Por favor, senhores, me permitam jogar um pouco!
Eles se entreolharam e o Sr.Loren foi o
primeiro a ter um pouco de prudência.
-Baralho não é um divertimento a altura
de uma dama. Sente-se e converse sobre bordados
– ele resmungou.
Irritada, Amanda fez uma expressão de
criança contrariada e inclinou-se um pouco mais
em direção ao baralho, oferecendo uma visão
privilegiada para Rony.
Ameaça ou não, aquela mulher era uma
sem vergonha, pensou Helena.
-Sinto tanto calor – Alice resmungou –
Não deveria ter vestido veludo.
-Está completamente enganada – Helena
corrigiu-a – Está linda e foi sem dúvidas a mulher
mais bonita de todo o baile. Não acha, Srta.
Demetrius? – tentou incluir a tímida enteada do
juiz.
-Sim. – ela baixou a cabeça,
constrangida.
Era da altura de Helena, um pouco mais
cheia e corpo. Tinha um rosto simpático com
delicadas covinhas nas bochechas quando sorria.
O problema é que não sorria. Seus olhos eram
castanhos e sua pele corada, pois estava sempre
envergonhada. Poderia ser muito bonita se não se
escondesse em roupas quase fúnebres.
-São seus olhos, Srta. Demetrius – Alice
brincou com ela – Sinto-me ainda mais tola do
que Helena naquele vestido vermelho – fez um
gesto de descaso com a saia de seu vestido verde.
-Cuidado, irmã. Soa como uma debutante
irritante e infantil – Rony alertou-a de seu lugar,
querendo instigá-la.
-Acha que todas as debutantes são
irritantes e infantis, Sr.Parker? – Feliz em voltar
ao assunto, Amanda andou pela sala, atraindo a
atenção de todos.
-Preciso confessar que algumas são
irritantes – ele deu de ombros.
-Mas não sua esposa, suponho? – ela
entrou finalmente no assunto que lhe interessava.
-Helena nunca debutou. Mas poderia ter
sido irritante e infantil se o fizesse – piscou para
Helena que não gostou nada do comentário.
Na verdade não gostava da atenção
demasiada daquela coisinha sem graça!
-Nunca debutou? Como é possível?
Casar-se sem ter debutado? –ela fez ares de ofensa
– Acaso havia alguma imperfeição que a
impedisse de ser apresentada a sociedade?
Helena olhou para Rony esperando sua
defesa. O Conde olhou para ele com o mesmo
intento.
Rony olhou para o jogo, depois para
Helena e por fim para Amanda, baixando as cartas
antes de dizer em tom de conspiração.
-Helena tem um grande defeito, Srta.
Loren. Um defeito imperdoável e que a impediu
de debutar.
-E qual seria esse defeito? – ela
perguntou encantada, achando dividir um segredo
com ele.
-Eu a conheci antes dela debutar. E uma
vez tendo a conhecido, não a permitira dividir suas
intenções com outros cavalheiros. É esse seu
grande defeito. Um marido ciumento e possessivo.
Decepcionada, ela olhou para Helena que
declinou do direito de resposta, pois ele não
merecia ser lembrado que não deveria flertar com
outras mulheres, mesmo que de brincadeira!
-É um homem de fortes paixões,
Sr.Parker? - ela insistiu.
Seu pai chegou a pigarrear como quem
pede moderação. Se ela ouviu, ignorou, com seu
sorriso de pura malícia.
-Porque não pergunta a mim, Srta.
Loren? – Helena interferiu, o sangue subindo a
cabeça mais rápido do que previra.
-E porque o faria? Os homens não
costumam revelar suas verdadeiras paixões a suas
esposas! – ela jogou seu veneno sobre Helena.
-E suponho que conheça muitos homens,
para ter tal certeza!
Helena sabia que deveria ter mordido a
língua antes de chamar a ‘donzela’ em questão de
vadia.
O sangue também pareceu subir a cabeça
do Sr.Loren, mas ele olhou para o Conde e perdeu
a vontade de responder. Estreitar laços com o
Conde de Valença fazia aceitável ate mesmo
aguentar as malcriações de sua intolerável filha
caipira!
-Helena – o Conde disse em tom baixo, e
isso a enfureceu.
-O que foi Conde? Disse algo que não
estivesse na mente de todos desde que a Srta.
Loren começou a flertar abertamente com meu
marido?
-Chega, Helena – Rony pediu
abandonando as cartas.
-Não se meta, meu irmão – Alice pediu
em tom de riso – algumas pessoas precisam ouvir
certas coisas para mudarem seu comportamento!
-É mesmo? – John perguntou de seu
canto.
Mantivera-se calado durante toda a noite,
depois de ouvir que sua mulher lamentava se casar
com ele. E agora, mais uma alfinetada. Ele
abandonou as cartas e levantou-se.
-Acredito que a noite tenha acabado para
mim. Com sua licença, Conde – com uma mesura
ele olhou para Alice desafiando-a não obedecê-lo.
Fechando o leque com raiva, e batendo-o
em sua mão ela levantou-se e sem dizer nada,
muito menos se despedir, passou por ele, saindo
emburrada. John a seguiu logo a seguir.
Nem mesmo a interrupção pode calar os
protestos de Amanda.
-Papai, quero ir embora daqui! Nunca fui
tão ofendida em toda a minha vida! - ela bateu o
pé no chão, irritada.
-Ofendida? – Helena levantou-se em
postura de combate – Arrume um marido se tem
pressa para casar, mas não tem o direito de flertar
com o marido alheio, ainda mais em público!
Estou errada, Srta. Demetrius?
Em sua raiva queria um apoio. A jovem
não era acostumada a tomar partido sobre nada,
mas dessa vez apenas achou melhor ir para o lado
mais interessante.
-Uma dama não deve chamar atenção
sobre si, ainda mais de um cavalheiro
comprometido.
-Viu! – Helena deu um passo a frente, e
Rony levantou-se.
-Chega. Essa bobagem ultrapassou os
limites. Conde, receio ter que levar sua filha
imediatamente para o quarto.
-Tenham uma boa noite – ele disse
prosseguindo com o jogo, como se nada estivesse
acontecendo.
Helena deixou-os falando sozinhos, e se
apressou para seu quarto. Quando bateu a porta
atrás de si notou que havia repetido o mesmo
comportamento de sempre.
Como podia ter sido novamente irritada e
de pavio curto?!!!!!
Rony não fizera nada, a não ser escapar
dos flertes!
Arrependida, sentou-se na cama, tirou os
sapatos e a tiara que o Conde lhe presenteara.
Enterrou o rosto nas mãos, humilhada.
-Foi extremamente desagradável de sua
parte ofender uma pessoa tão dispensável quanto
ela! – ele disse ao entrar a fechar a porta atrás de
si. – Por que se rebaixou a isso?
-Eu me rebaixei? – encarou-o com dó de
si mesma.
-Sim. Rebaixou-se a um ponto indigno.
Pior que o comportamento daquela moça! Sou seu
marido, e sou em quem usa calças!
-Não me pareceu que ela quisesse que as
usasse por muito tempo – revidou com raiva de si
mesma.
-Porque esse escândalo todo? Essa moça
não faz parte da nossa vida! Acha que sentiria
desejo por uma mulher que se parece com a minha
mãe? – havia horror em sua voz.
-É claro que não! Sei que não gosta de
ruivas. – afirmou com prioridade.
-Então, porque em nome de Cristo,
chamou a pobre infeliz encalhada de oferecida na
frente de todos?
-Eu não a chamei de oferecida! – tentou
se defender, mesmo sabendo que estava errada.
-Faltou apenas usar a palavra! Porque,
Helena? Porque esse papelão todo?
Ele realmente estava com raiva.
E não era para menos.
-Estou cansada e não estou pensando
direito. Foi por isso que...
-Não minta! Admita! Porque fez essa
cena? - exigiu com olhar autoritário.
-Estou com ciúmes! – ela gritou com ódio
– Satisfeito!???????
Louca de vergonha, enterrou o rosto
novamente nas mãos, querendo desaparecer dentro
de um buraco.
-Não. Não estou nem um pouco
satisfeito. Quero saber por que sente ciúmes. –
havia ordem em sua voz.
Helena pensou em mandá-lo para o
inferno.
-Está aborrecido com a cena que fiz. Não
é? – perguntou engolindo um choro de vergonha.
-Sim, estou. Porque sente ciúmes?
-E a caso você não sente ciúmes? – tentou
fugir da pergunta.
-Sinto, mas sei por que sinto. Sou
possessivo porque a amo. E você? Porque sente
ciúmes?
-Eu não posso falar disso – desconversou
rapidamente, apavorada.
-Não sabe a razão? Helena olhe para
mim!
Ela o fez. Olhou em seus olhos e não
pode mentir.
-Eu sei a razão. É o que quer ouvir? Sim,
eu sei a razão! – a vergonha havia ido embora,
mas um sentimento de pesar a sufocava – Por
favor, não me obrigue a dizer. Eu não posso dizer!
-Porque não?
Ela não respondeu. Baixou os olhos e não
respondeu nada.
-Helena?
-Seja paciente comigo. Não me obrigue a
dizer.
Havia choro em sua voz, e ele sentiu a
raiva passar. O Conde tinha razão, isso causava
dor em seu pequeno passarinho.
-Não é que ela não tenha merecido ser
chamada de oferecida – ele mudou o assunto e ela
riu.
Um riso triste, olhando para ele
agradecida.
Tão agradecida por ter deixado o assunto
morrer por hora, que levantou-se e o abraçou.
Descansou o rosto em seu peito e
enlaçou-o pela cintura.
Rony abraçou-a de volta, acariciando
seus cabelos e procurando os botões de seu
vestido. Quando Helena ergueu o rosto, suas
bocas se encontraram ávidas e desejosas de mais.
E os desentendimentos foram esquecidos
completamente por aquela noite.
Capítulo 124 - Desgosto

Amanheceu chovendo furiosamente.


Helena espiava pela janela da carruagem
desgostosa. Tinha planos de usufruir de uma
manhã de sol, indo até o Rosie Nell com Luana e
Alice, e quem sabe, com o Conde de Valença,
para ver a misteriosa mulher que se empenhava
em ajudar.
Mas com a chuva, sua vontade de sair
minguava. Os cavalos trotavam mais devagar,
para que a carruagem não balançasse tanto,
enquanto desviassem das poças de água.
Era uma manhã melancólica.
-Pode me ajudar com as contas do seu pai
– Rony disse, retomando o assunto interrompido
sobre a frustração de seus planos de passeio.
-Se não se importar, vou me deitar um
pouco quando chegar - ela disse melancólica,
recolocando a cortina no lugar.
-Sente-se indisposta? – Rony preocupou-
se notando sua palidez.
-Não – ela disfarçou graciosamente um
bocejo. – O baile me desgastou muito. Não
deveria ter dançando quase todas as músicas que
tocaram.
Rony lhe sorriu, observando-a com
atenção. Usava um dos vestidos que mantinha na
casa do Conde, era bem simples, e os sapatos
muito confortáveis, prova que seus pés doíam. Os
cabelos estavam trançados, um tanto
displicentemente.
-Deve aproveitar a vida, Helena. Talvez
demore até que possamos voltar a passar uma
temporada em Londres – disse banalmente.
-Uma temporada? - estranhou.
-Sim, uma temporada inteira. – Recebi
uma carta de Suarez, e aparentemente está tudo
sob controle na fazenda. Levando em conta os
lucros, agora que... - ele calou-se antes de tocar
em um assunto que Helena desconhecia – Os
lucros vão indo bem, o que nos permite planejar
uma temporada inteira em Londres. Porém, com
um recém nascido não é prudente longas viagens.
-Porque não me conta o assunto que me
esconde? Aliás, deve ser o segredo que anda aos
cochichos com o Conde e John. – ela disse sagaz.
-Tenho medo que não entenda minhas
razões - ele admitiu.
-Tente me explicar. Sabe que estou me
esforçando para entender tudo que me diz – seu
tom era tão calmo e sereno que Rony sorriu.
-Sente-se aqui do meu lado, Helena – ele
pediu, ajudando-a a se mover no estreito espaço e
sentar ao seu lado. – Vou ser pai. Não tenho as
mesmas prioridades de antes – ele tentou explicar
seu ponto de vista – Se eu faltar a você e ao bebê,
sei que terá minha família apoiando-a, e terá bons
amigos como John, e seu pai. No entanto, não
quero deixá-la desamparada como fez seus pais –
ele notou o modo como ela se encolheu – É um
assunto que ninguém gosta de tocar. A morte.
Mas é necessário pensarmos nela de vez em
quando, sobretudo quando jovens, para não
colocarmos o orgulho a frente de nossas
necessidades reais.
-Do que está falando? - ela não se
aproximou cruzando os braços, detestando ser
lembrada que a morte existe e os ronda.
-Estou falando de John ter pago a
hipoteca da fazenda, e da dívida que passei a ter
para com ele. O Conde se ofereceu para pagar essa
dívida a John, por conta do seu dote – foi direto ao
assunto.
-Meu dote? – agora ela estava
verdadeiramente surpresa.
-O dote da filha de um Conde é pelo
menos cinco vezes maior que o valor da fazenda,
mas não aceitei o excedente. Como disse, não
quero partir e saber que deixei uma dívida nas
costas do meu filho. Muito menos que vive de
favor na casa do avô por não ter sido amparado
pelo próprio pai! – disse esperando fazê-la
entender – Recusei o direito ao dote, não me casei
com você pelo dinheiro do Conde...
-Casou-se pela fazenda – lembrou-o
acidamente.
-Sim, mas hoje, não mais teria essa
atitude – foi sincero – Dote algum no mundo pode
pagar as alegrias que tenho com esse casamento.
Diga que entende o que estou dizendo, Helena. Sei
que não é mesquinha a ponto de não entender meu
receio.
-Eu entendo. – ela suspirou e descruzou
os braços - Só estou surpresa de ter um dote.
-Um senhor dote, você quis dizer – ele
provocou – Poucas jovens tem a sorte de ter um
pai Conde. Para ser franco, para ter esse título
muitos homens até mesmo abdicariam do dote.
-Fala como se o casamento fosse
vantajoso para você – ela disse com uma pontada
de rancor.
-E por acaso não é? – ele sorriu sem
vergonha – tenho uma mulher que adoro, que é
minha companheira e que me faz imensamente
feliz. O sexo é fantástico. E vou ser pai. Só vejo
vantagens em estar casado.
Helena não respondeu nada, pois o brilho
de sinceridade em seus olhos era desconcertante.
-Não posso me queixar que aceite um
dote. É seu direito, e até mesmo dever de um pai.
Conheço-o para saber que odiava dever a John –
foi sincera.
-Odeio a sensação de me aproveitar de
John. Quando era mais novo, as vezes precisava
fingir que não sabia que ele me ajudava
financeiramente com meus livros e uniformes.
Havia um tutor anônimo que sempre me mandava
roupas e livros. Um dia descobri que era John
quem pedia a seu administrador fazer isso. Fiquei
amargando essa descoberta durante dias, sem
saber o que fazer, até entender e aceitar que para
John era um modo de mostrar sua amizade e o
quanto me apreciava. Então, me restou fingir que
não sabia, porque amava John como um irmão e
tinha muita vergonha de precisar da sua ajuda.
-John nunca ficou sabendo que
descobriu? – ela abraçou seu braço, encostando a
cabeça em seu ombro, triste pelo menino pobre
que Rony fora um dia. Longe da família, sem
amor ou carinho.
-Um dia contei, mas já éramos adultos e
acabamos rindo dessa história. Quando casei
Alice com John, me senti como se houvesse pago
essa dívida de gratidão. Ajudá-lo a encontrar a
felicidade seria o único modo de pagar tudo que
fez por mim.
-E Alice só faz trazer tempestades para a
vida de John – ela lamentou.
-Acho que John precisa disso. Eles são
perfeitos um para o outro, mas John tem muito
que aprender. E Alice o fará achar o caminho
certo.
Helena permaneceu calada, pensando que
Rony ter entrado em sua vida causou o mesmo
efeito. Ele a trouxe para o trilho certo e agora, era
capaz de entender coisas que lhe pareciam
inacreditáveis até poucos meses atrás.
-Nosso bebê está mexendo? - ele
perguntou vendo-a quieta.
-Sim, está agitado desde que descobriu
que um dia se casará bem e receberá um farto
dote. Puxou ao pai, tenho que me conformar.
Rony riu abertamente, acariciando seu
rosto, fitando seus olhos brilhantes.
-Se refere à ganância?
-Sim, e a tudo o mais. Será arrogante,
turrão e mentiroso. Bajulador e sedutor barato.
Terá todos os defeitos! – brincou arrancando dele
outro riso cristalino.
-E acaso não tenho qualidades? Nenhuma
qualidade que meu filho possa herdar?
-Sim, tem. Mas são qualidades que como
mãe, não desfrutarei – ela mesma riu.
Referia-se ao seu talento na cama, mas
havia mais. Quis lhe dizer isso, mas não pode.
Apenas se recostou mais a seu ombro, deixando
que o calor de seu corpo e a confiança depositada
nele, lhe contasse o quanto o apreciava.
Rony era espirituoso e otimista,
transformando cada dia em uma busca por
felicidade, e essa qualidade era imbatível. Tinha
senso de humor e fazia seu coração disparar com
um simples olhar.
-Só peço a Deus que ele não tenha o
gênio da mãe – Rony brincou – Não sei se
sobreviverei a mais uma pessoa me apontando
armas.
-Ronald! Não diga isso nem de
brincadeira! – ela reclamou, lhe dando um tapinha
– Não quero que meu filho mexa em armas!
Entendo que tenha que aprender a atirar para se
defender, mas apenas isso. Me entendeu?
-Sim, é meu desejo também. –
tranquilizou-a – Deixarei que cuide de sua
educação desde que me prometa que não o fará me
detestar!
-E porque faria isso? – perguntou
horrorizada.
-Porque me odeia, lembra-se? – provocou
– Cansei de ouvi-la gritar isso!
-Tem razão – ela disse pensativa.
-Só isso? Tenho razão?
Helena olhou-o demoradamente, com as
palavras na ponta da língua. Diria logo de uma
vez. Pronto, estaria acabado. Mas não disse. A
carruagem parou e ela se afastou salva pela
interrupção.
A porta da carruagem foi aberta e Helena
se afastou dele, sorrindo aliviada enquanto se
oferecia para ser colocada no chão em segurança
por Adolph.
-Obrigada, Adolph. É meu anjo da
guarda – ela brincou com o grandalhão que
pareceu corar por de trás de sua pele escura como
chocolate.
-Não há de que, senhora - ele cuidou de
segurar a porta para Rony, que observou Helena se
apressar até o jardim, para falar com Luana, que
estava do outro lado da cerquinha cuidando do
jardim de sua casa.
-Helena tem ido ao Rosie Nell? - ele
perguntou.
-Todos os dias, desde que o senhor deu
permissão – ele confirmou.
-E depois? – perguntou curioso e
preocupado.
-Passa algumas horas na Doceria de
Roxanne Lammer. – ele confidenciou.
-Tem cozinhado para ela não é? – ele
falou consigo mesmo. – Deveria saber que ela não
sossegaria em casa! – maneou a cabeça.
-Devo avisá-lo da próxima vez em que a
Sra.Parker pedir que a leve a doceria? – Adolph
perguntou.
-Não. Apenas cuide de sua segurança –
continuou olhando para ela – Helena é muito
irrequieta, precisa trabalhar para se sentir útil – ele
olhou para o homem – Acredite, essa pequena
mulher é mais forte que nós dois juntos.
Adolph não o contrariou, pois
desconfiava que ele tinha razão.
Rony entrou no jardim, e se aproximou,
cumprimentando educadamente Luana.
-Precisamos entrar, Helena – ele
despediu-se com rapidez impressionante,
temendo, que Luana o prendesse em um de seus
monólogos.
-Quanta indelicadeza! Luana me contava
que seu noivo marcou a data do casamento! Se
casarão na última semana desse mês. Estaremos
aqui, não é? Não posso perder seu casamento! –
pediu.
-Está me pedindo permissão, Helena? -
ele a enlaçou pela cintura, querendo beijá-la até
que ambos perdessem o fôlego.
-Não exatamente. – explicou – Como é
prático, deve saber que é melhor me fazer um
agrado do que me obrigar a pedir ao meu pai que
se livre de você! – ameaçou.
-Oh, mas estou morrendo de medo do
Conde – ele brincou de volta – Vamos para o
quarto. Tenho uma hora antes de me apresentar no
escritório. – ele disse beijando-a.
-Hum, não ia trabalhar em casa hoje? –
fugiu do beijo, enlaçando seu pescoço.
-Sim, mas primeiro preciso conversar
com o Sr.Loren sobre um assunto de trabalho.
-E essa conversa não pode esperar para
amanhã? Sabemos que ele não vai despedir o
genro do Conde de Valença – ela desdenhou.
-Sim, sabemos. Mas nunca fui homem de
deixar o trabalho de lado. Cumpro minhas
obrigações e volto para cá. Tire um cochilo,
Helena.
-É o que vou fazer – ela garantiu, se
afastando. – Vai trocar de roupa antes de sair?
-Sim, depois de fazer amor com você –
ele disse em tom de ordem.
-Sorte sua que esteja cansada demais
para argumentar – fez ares de pouco caso.
Os dois sorriam enquanto subiam as
estreitas escadas.
No corredor, Rony a puxou pela mão e a
beijou. A noite passada haviam feito amor até
despencarem exaustos na cama, mas não fora o
bastante para aplacar o desejo e consumir toda a
vontade de estarem juntos. Aliás, nunca era o
bastante.
O beijo cresceu e Helena o empurrou
gentilmente, sussurrando em sua orelha:
-Anna pode nos ver – lembrou-o.
-Vamos entrar – ele sussurrou de volta,
assoprando em seu ouvido e arrancando dela um
gemido involuntário.
-Hum, espere, vou avisar Anna que
chegamos – ela afastou-se, conseguindo escapar
de seu abraço e rindo pela sua expressão
contrariada – Em dois minutos estou de volta!
-Pois é bom que esteja mesmo! – ele
resmungou entrando no quarto, enquanto Helena
descia as escadas rindo.
Na cozinha estava tudo silencioso então,
restava procurá-la em seu quarto. Era cedo ainda,
e talvez houvesse aproveitado a ausência dos
patrões para dormir um pouquinho mais.
Longe de estar chateada, Helena abriu a
porta do quartinho que Anna costumava ocupar
quando não dormia no Rosie Nell. Pretendia dizer-
lhe bom dia e recomendar que ficasse na cama
mais um pouco, pois ela mesma voltaria a dormir
depois que Rony saísse para o trabalho.
A primeira coisa que viu foi que Anna
estava entre as cobertas. A segunda coisa que viu
foi seu pé moreno escapando por baixo da pesada
coberta de espuma.
Um pé moreno? Ela franziu as
sobrancelhas e se aproximou mais, notando as
roupas no chão. O entendimento fez seu sangue
ferver, e Helena apanhou o cinto que estava no
chão. Dobrou-o nas mãos decidida a usá-lo.
-Anna? – chamou em voz alta – Anna!
Um movimento embaixo das cobertas
avisou-a que havia acordado. A coberta baixou o
bastante para que ela visse o olhar desesperado de
Anna. Isso, e um ombro nu.
-Vou esperar na sala. – ela disse achando
que sufocaria pela raiva – se vista. E você, Duran,
nem se de ao trabalho de fugir!
Não houve respostas, e ela saiu do
quarto. Furiosa, bateu os pés e sentou-se no sofá.
Juanita nunca a perdoaria por isso!
-Helena? – Rony chamou do alto da
escada. Havia tirado o casaco e o colete e
mantinha apenas a camisa, as calças e o sapato.
-Anna e Duran passaram a noite juntos –
ela disse como quem roga uma praga.
-Por isso está com esse cinto nas mãos? -
ele desceu calmamente os degraus – Me dê isso.
Ele não é seu filho, não é você quem vai dar essa
surra!
-E eu vou fazer o que? Deixá-lo estragar a
própria vida? Eu pedi que falasse com ele! Porque
não fez isso?
-Eu fiz! – ele se defendeu – Não achei
que seria tão estúpido a ponto de não me ouvir!
-Estúpido! Estúpida fui eu de confiar
nesses dois! – com ódio, interrompeu o que dizia,
quando os avistou se aproximarem de cabeça
baixa. – Como pode fazer isso comigo, Anna? –
ela perguntou dirigindo a eles toda a sua
indignação – Duran, como pode fazer isso
comigo? Sabe a confiança que sua mãe precisou
ter em mim para que permitisse vir a Londres sem
sua companhia? O que direi a ela?!
-Explicarei a minha mãe – ele disse
envergonhado – Eu...
-Você o que? Vamos diga! Se explique,
menino! – Rony exigiu.
-Eu... Não tenho explicação nenhuma,
senhor – ele disse humilde.
-Se ousar dizer que ‘aconteceu’, eu
arranco sua língua! – Helena tentou pegar a cinta
da mão de Rony e Duran olhou para ela com
medo. Mas Rony não entregou e sim, segurou
Helena pelo braço.
-Sentem vocês dois – Rony mandou – E
você, sente e se acalme.
Furiosa, Helena sentou-se longe dos dois,
mirando o menino com tanta raiva que poderia tê-
lo fulminado.
-Desonrar uma mulher é um assunto
muito sério, Duran – Rony começou a falar –
Aqui em Londres, ou onde vivíamos a honra de
uma mulher não pode ser tomada por um homem
como se nada houvesse acontecido! Está ciente
disso?
-Por favor, Sr.Parker – Anna pareceu
desesperada – A culpa foi minha. Duran não tem
culpa alguma. Eu... não tinha mais virtude. Ele
não tomou nada de mim. Eu...
-Cale a boca, Anna! – Helena exigiu –
Ter sido violada a força, não quer dizer que perdeu
sua honra. Perdeu apenas o aspecto físico. Isso é
mais sério. Foi consentido!
-Sim, foi. Mas Duran não pode ser
responsabilizado por algo que eu quis. Eu o amo,
Sra.Parker e desejei isso. E não cobro nada dele.
-Não? Pois desse modo está a um passo
da vida de cortesã! Pensar dessa forma a fará ser
uma coitada, explorada pelos homens. Duran, é
um menino bom, já viu o pior da vida, criando
seus irmãos ao lado de sua mãe, e a vida dela
nunca foi fácil. Não vou tratá-lo como trataria um
menino, porque sei é mais maduro do que os
outros de sua idade. Acha certo que Anna banalize
o que fizeram? Responda-me!
Rony não a interrompeu, pois ela tinha
razão.
-Eu fui fraco – ele admitiu – Mas gostaria
de casar com Anna.
-Casar? E viver do que? – Helena olhou
para Rony exasperada – Sua mãe conta com você
para ajudá-la! Como pretende cuidar de uma
esposa? E de filhos? Como?
-Eu posso trabalhar – ele disse orgulhoso
- não posso voltar para casa com uma esposa, mas
posso ficar aqui e trabalhar.
-Deus do céu! – Helena olhou para Rony
esperando que ele pudesse ajudá-la, pois estava
completamente sem palavras para tanta idiotice.
-Trabalhando como ajudante de
estrebaria ou ferreiro? Acha que é salário
suficiente para manter uma casa em Londres?
-Eu posso ajudar – Anna apressou-se a
dizer.
-Sim, até o próximo inverno quando
estiver grávida e precisar parar. É o que acontece
quando se casa. A gente engravida – apontou para
si mesma, nesse momento tão indignada com os
dois que podia bater neles. – O que eles vão fazer,
Rony?
Ele abriu os braços como quem diz “eu
não sei”.
-É a escolha de Duran, se já é homem
pode fazer suas escolhas – ele disse com cautela,
apenado pelo menino. – Vou tentar conseguiu um
trabalho que lhe renda alguma coisa e precisa ver
um lugar para morarem.
-Ronald! – Helena disse desesperada –
Ele não pode ficar aqui! Não está acostumado com
Londres! Não pode começar uma vida aqui, é
muito novo. Não tem experiência de vida!
-Um homem tem que arcar com suas
escolhas, Helena – tentou acalmá-la.
-Não mesmo – ela disse quase as
lágrimas – Não vou deixá-lo nessa vida fria e
sofrida! As pessoas daqui não tem coração. Não
vai haver emprego para ele e muito menos para
Anna! Eles não terão uma vida! Esse menino
precisa cuidar de sua mãe, dos seus irmãos. Rony
– apelou ,segurando sua mão, sabendo que apesar
de não querer, estava chorando.
Ele suspirou ruidosamente, nada feliz
com a conclusão que Helena o obrigava a chegar.
-Quer levá-los para a fazenda?
-Anna pode ajudar Juanita com o
trabalho de casa. Com o bebê o trabalho vai
aumentar. E... E... Duran pode ajudá-lo com o
trabalho, como fazia antes. Por favor, só por um
tempo, até serem adultos para cuidarem de si
mesmos!
Contrariado, Rony teve que ceder. Não o
agradava levar mais gente para a fazenda.
-Duran, daqui para frente fica com
Adolph na estalagem. Não o quero perto de Anna
novamente até acertarmos o casamento.
-Casamento? – Anna parecia chocada.
-O que você espera? Que eu permita que
vire uma mulher usada pelos homens? Vão se
casar sim! – Helena rugiu, nada simpática.
A menina se encolheu.
-Anna, você quer se casar com Duran? –
Rony precisou perguntar, a despeito da fúria de
Helena.
-Só se ele me quiser – ela admitiu
chorando.
-Eu quero – ele disse apressado.
-É claro que quer – Helena desdenhou,
olhando muito para a cinta que Rony segurava –
Espero que Juanita arranque seu couro, menino
mal agradecido! Vai se casar e vai se casar calado!
Se ouvir um pio dos dois, juro por Deus que eu...
-Chega – Rony interrompeu – Anna,
prepare o café da manhã, preciso beber café
depois dessa. Duran, saia das minhas vistas por
um tempo. Vou levá-lo comigo mais tarde para o
trabalho. Mas até lá, não quero ver sua cara
arrependida.
-Quando vão marcar a cerimônia? –
Helena perguntou, olhando com indignação para
os dois.
-É melhor que se casem na fazenda. Os
proclamas demoram mais tempo do que podemos
dispor. Agora, vamos subir para o quarto.
Liberados, Anna e Duran sumiram, cada
um para o seu lado, como se corressem do próprio
diabo. Helena levantou-se.
-É bom que esqueça qualquer ideia de
fazer amor. Depois desse desgosto não quero
saber de você perto de mim! – avisou, passando
por ele em direção as escadas.
-Ótimo, eu que não tenho nada a ver com
isso, pago o pato – ele reclamou seguindo-a.
-Era você quem deveria ter falado com
ele, e o impedido de fazer essa besteira sem
tamanho! – ela acusou jogando os sapatos longe, e
sentando-se na cama pesadamente.
-Talvez devesse tê-lo castrado também -
ele resmungou sentindo-se culpado também.
-O que você disse? - ela perguntou
furiosa com ele. Furiosa com Duran e Anna.
Furiosa com sua própria omissão ao dar
oportunidades a ambos de aprontarem.
-Nada. Eu não disse nada – ele
resmungou novamente.
Helena se deitou, e ignorou-o pela
próxima hora.
Rony também não estava no melhor dos
humores quando praticamente arrastou Duran
para o trabalho junto com ele.
Capítulo 125 - Flores de tecido

Roxanne Lammer poderia levitar de tanto


contentamento enquanto guiava o Conde de
Valença pelas salas e cômodos do Rosie Nell. Ele
viera acompanhar sua filha, na secreta esperança
de tirar uma dúvida que permeava sua mente
desde que Helena lhe mostrara o envelope com o
brasão de sua família.
Oito anos atrás negociara seu casamento
com um jovem de vinte e dois anos, solteira e sem
dote. Era uma moça gentil e de escrita suave, que
escrevia cartas meigas e singelas, falando uma
língua que lhe tocava o coração.
Uma jovem que ao chegar arruinara todas
as suas esperanças de ser feliz. Era uma mulher
experiente, confessara ser viúva, embora não
trouxera consigo nenhuma documentação desse
fato. Na ocasião, ele achara ser apenas um artifício
de uma jovem honesta para não confessar que
tivera outros romances.
Porém, o que mais o impressionara, era o
fato da doce jovem de palavras meigas ser tão
ácida e maliciosa. Indiferente e seca, sempre
interessada em roupas e joias.
Para sua sorte, seu administrador lhe
enviara uma pasta com toda a correspondência da
época, que estava esquecida em outra propriedade.
Lembrava-se vagamente dela ter lhe enviado um
desenho seu, feito por ela mesma, para mostrar a
ele como eram suas feições.
Na ocasião, não estivera muito
interessado, e não se ativera a olhar para ela por
muito tempo. Queria uma esposa, qualquer uma
servia.
Uma mulher que pudesse apagar as
sombras do passado e quem sabe lhe dar um
herdeiro.
Com esse desenho em mãos, esperava
ansioso para confirmar o inevitável. Michelle
chegara a Londres na companhia de sua dama de
honra. Essa mulher desaparecera misteriosamente,
e na época não se importou, pois segundo
Michelle, ela era uma pessoa muito desagradável.
Agora, depois de saber a índole da
mulher com quem vivera nos últimos anos, se
perguntava se não havia casado com a mulher
errada.
Ansioso para confirmar suas suspeitas, e
esperanças, acompanhou Roxanne por um tour
pela construção.
Nunca perdera muito tempo pensando em
projetos sociais com o intuito de ajudar as
mulheres menos afortunadas, mas agora, ouvindo
a empolgação de sua filha ao falar das proezas do
Rosie Nell, ele começava a se interessar.
-O que me diz, Lilly? – Helena vinha
perguntando logo atrás deles.
Há duas semanas ela circulava com a
jovem por Londres.
-Não é um ótimo lugar para se investir?
Edgar de Valença parou no amplo
corredor e sorriu para a filha.
-Acho que minha filha deseja que invista
em sua escola, madame Lammer. – ele disse
sempre sorrindo.
-Tem uma filha muito especial, Conde –
ela disse olhando para Helena com afeição quase
de mãe.
-Especial e voluntariosa – ele observou. –
Conversarei com meu administrador sobre uma
possível participação – ele prometeu notando sua
expressão murchar – Não é o suficiente, minha
filha?
-Não. Seu administrador é homem e não
vai entender as necessidades do Rosie Nell.
Achará uma desculpa qualquer para desvitalizar o
investimento.
-E o que sugere? O que devo fazer para
ludibriar meu administrador? – ele perguntou com
a sombra de um sorriso nos lábios.
-Use sua presença para elogiar o Rosie
Nell para outros homens de posse e se possível,
ofereça ajuda de seus agregados. Já será o
suficiente se insiste em ser mão de vaca com os
mais necessitados!
As moças que ajudavam no
funcionamento do instituto abafaram o riso e o
Conde segurou a filha pela mão, se negando a rir
de sua mal criação. Nunca era tarde para tentar
consertar seus erros de criação, embora parte do
charme de Helena fosse sua franqueza absoluta.
-Mostre-me onde encontrar sua dama
misteriosa, Helena – ele pediu, colocando sua mão
em seu braço e ignorando seu suspiro exasperado.
Ignorando a fuga de seu pai, ela guiou-o
até o segundo andar onde Elly passava suas tardes
pintando. Por acidente, Roxanne havia descoberto
que a moça era talentosa e sabia pintar.
Havia uma janela aberta no pequeno
quarto. Um cavalete e um banquinho, perto das
cortinas, onde a jovem estava sentada pintando
tranquilamente.
Helena entrou silenciosa, observando a
graça das pinceladas. O Conde observou a
elegância das costas retas, do pescoço altivo, dos
braços finos e das mãos delicadas. Seu perfil era
encantador.
-Elly? – Helena chamou baixo e ela parou
de pintar.
Um sorriso se formou em seus lábios
antes que ela se virasse. O Conde reteve a
respiração diante daquele rosto formoso. Olhos
cor violeta que pareciam ver através dele.
-Esse é meu pai, Elly. Quero que o
conheça – ela disse imediatamente, talvez
temendo assustá-la.
Com uma educada mesura, aquela
mulher de cabelos negros cativou-o.
-Já nos conhecemos – ele disse
surpreendendo Helena – Não pessoalmente, mas
nos correspondemos.
-Papai? – ela fitou-o intrigada.
-Precisava confirmar o fato, mas agora
não há mais dúvidas – ele tirou o retrato do bolso
e mostrou a Helena – Oito anos atrás negociei
meu casamento com uma dama francesa. Seu
nome era Michelle. O apelido de infância era Elly.
Desembargou no porto, na companhia de sua
dama de honra. Esta mulher nunca apareceu.
Casei-me com uma mulher que se dizia chamar
Michelle, mas que se mostrou ser uma cobra.
Muito diferente da jovem com quem me
correspondi. – ele estendeu o papel dobrado em
direção a mulher.
Ela apanhou e desdobrou reconhecendo a
si mesma desenhada no papel.
-Lembra-se disso? – ele perguntou.
-Não. – ela disse sincera.
-Elly, um casamento de sonhos, você
disse que vinha a Londres para um casamento de
sonhos. O seu casamento.
-Acho que sim – Ela se afastou.
-O que está pintando? – o Conde
perguntou, para ouvi-la falar, pois sua voz era
música em seus ouvidos.
-É um presente -ela disse olhando para
ele com encantamento.
-Um presente para quem?
-Para um Anjo de Deus, que veio me
ajudar – ela disse corando. Aproximou-se do
cavalete e virou a peça, para que vissem o que
pitava.
-Oh, mas sou eu! – Helena ficou
espantadíssima olhando para a tela mais de perto.
Era ela. Pintada em tons claros, era sua
imagem. Nunca imaginou se ver numa imagem
pintada.
-Está perfeito – o Conde disse – Helena,
veja como está linda nesse retrato.
-Ah, mas não pode ser eu – ela disse
sorrindo.
A moça bonita, radiante e sorridente do
retrato não podia ser ela.
-É como eu a vejo – Elly explicou.
-É lindo! – emocionada abraçou Elly. –
Precisa pintar um retrato desses do meu pai, para
que leve comigo quando for embora de Londres –
ela disse quase as lágrimas – Faria isso?
-É claro que sim! – Elly concordou feliz
em ser útil.
-Talvez seja esse o começo da sua
carreira. Todos que virem esse lindo retrato irão
querer ter um para si!
-A senhora é muito boa para mim – Elly
agradeceu.
-Meu pai, me responda uma coisa:
Casou-se com uma mulher que mente o próprio
nome? Então, esse casamento não tem valor? Não
é?
-Esta coberta de razão. Posso anular esse
casamento – havia alívio em sua voz.
Embora Helena não conhecesse os
detalhes do casamento de seu pai, sabia que lhe
causava sofrimento e dor.
-E o compromisso que firmou com a
Elly? O que acontece? Ela deveria ser sua esposa!
-Tem razão – a ideia era tão encantadora
que ele olhou para a moça da cabeça aos pés.
Helena corou e chegou a abrir a boca para
protestar, mas se conteve. Fingiu interesse no
quadro para deixa-los à vontade.
-Vou me deitar um minuto, porque não
seguem conversando? – ela sugeriu, alcoviteira –
Elly, me ajude com os sapatos? Quase não alcanço
meus pés!
Era verdade, quase fechando cinco
meses, não via seus pés com muita frequência.
Pretendia deitar um minuto, e descansar as costas
doloridas. Mas quando notou, adormeceu
profundamente.

Braços fortes a ergueram no ar. Helena se


moveu, mas não acordou. Recostou-se contra o
peito masculino e fechou novamente os olhos.
Rony a colocou na cama, e a cobriu com o lençol.
Havia ido ao Rosie Nell buscar Helena e
o Conde e a descobrira dormindo.
Deveria saber que tantas horas
cozinhando para a doceria lhe causaria uma
completa exaustão. Não queria brigar com ela,
mas tinha que limitar suas visitas a Roxanne.
-Hum...Rony? – ela chamou meio
adormecida, meio acordada.
-Estou aqui, Sra.Parker. –ele sentou-se
ao seu lado chateado.
-Como vim parar em casa? – estranhou se
movendo na cama e se espreguiçando.
-Eu te trouxe – contou, sorrindo ao notar
sua surpresa – Veio o caminho todo no meu colo,
dentro da carruagem, como uma menininha de
cinto anos – brincou com ela.
-Sinto tanto sono – ela virou de lado –
Minhas cotas doem tanto...
-Quer uma massagem? – ofereceu
preocupado com ela.
-Não. Mas quero uma bolsa de água
quente. Anna sabe a que me refiro.
-Não quero mais que trabalhe na doceria
– ele disse de repente - Não me obrigue a proibi-la
de ir até lá.
-Mas eu gosto de...
-Está exausta. Vá como visita, não
empregada. – mandou irritado
-Aonde vai? – perguntou tensa.
-Buscar sua água – ele respondeu antes
de sair.
Na sala, ele abordou Anna que olhava
atentamente para um quadro.
-Não é lindo, Sr.Parker? – ela perguntou.
Rony olhou para o quadro e sentiu o
coração trasbordar de emoção. Sua Helena
retratada em todo o esplendor de sua beleza.
Exatamente do modo que a via.
-A Sra.Helena está tão bonita, tão feliz –
ela completou.
-Quando voltarmos para a fazenda talvez
tudo mude – ele disse pensativo – Precisará estar
ao lado de Helena, e ajudá-la a lembrar de
Londres e dos tempos felizes. Fará isso, Anna?
-Por que...? – ela não entendeu.
-Verá quando voltarmos, a vida de
Helena nem sempre foi bonita. Muitas lembranças
e tristezas, tenho receio que a melancolia volte
com nosso retorno.
-Será impossível, Sr.Parker. Vejo alegria
de viver no olhar da Sra.Helena e acredite, poucas
mulheres casadas para quem trabalhei exibiam
esse olhar – ela tentou sorrir e Rony correspondeu.
-Diga-me, Anna, tem alguma peça para
seu enxoval? – viu a menina corar e negar. –
imaginei isso. Tome – ele tirou algumas notas do
bolso – Compre tecidos ou algo pronto e faça
algumas coisas que vá precisar. Só não conte a
Helena, ela dirá que estou esmorecendo.
Anna agradeceu emocionada e se afastou.
Rony ergueu aquele quadro diante de si sentindo
uma emoção enorme dentro do peito. Sua Helena.
Apenas sua, de mais ninguém. Dera-lhe
prazer e felicidade e até mesmo um pintor pudera
ver isso. Não era possível haver felicidade maior
que essa podia? Saber que faz feliz a mulher que
ama.
Entretido, esperava Anna voltar da
cozinha coma água quente, quando ouviu o
barulho de uma carruagem chegando
barulhentamente. Antes que abrisse a porta de
todo, John já havia invadido a sala.
-Ela me deixou – ele disse suado, nervoso
e parecendo prestes a perder o controle – sua irmã
me deixou!
-Alice? Ela deve ter saído. Ido passear e
não lhe contou – ele deu de ombros, achando
aquilo um exagero.
-Você não entende! Ontem discutimos de
novo. Ela disse que voltaria para casa, que me
deixaria, e procuraria a felicidade com um homem
que a quisesse e eu mandei que fosse. Ronald, eu
gritei que não me importava! E agora...suas
roupas, as roupas que ela trouxe de casa,
sumiram. Alice me deixou.
Rony observou o imponente John
Harrison sempre controlado, com suas emoções
sobre controle, andar pela sala, como um leão
enjaulado.
-Minha culpa. Não soube dar a ela o que
esperava de mim! Eu a perdi! Nunca vai me
aceitar de volta!
-E você a quer de volta? – ele perguntou
surpreso – Depois de ter fugido de você? Sozinha?
-Ela levou a governanta. – Rony deu uma
gargalhada nervosa – A governanta deve estar
amaldiçoando a todos nós por ter sido obrigada a
seguir sua patroa. Elas se odeiam!
-Ao menos não viaja sozinha – Rony
disse mais calmo – Sente e se acalme, John.
Vamos atrás dela e tudo ficará bem...
-Isso! – ele gritou, num arrombo –
Preciso ir atrás dela! Preciso trazê-la de volta!
-John! – Rony tentou detê-lo, mas ele
estava poluído – John! Ainda gritou, mas não teve
resposta.
Preocupado, ele suspirou.
-Foi melhor assim – Helena disse.
Ela havia descido com o susto dos gritos
e havia parado no topo da escada observando o
que se passava sem interferir.
-Melhor para quem? – ele perguntou
incrédulo.
-Para os dois. Suponho que agora, eles
possam ver as coisas com clareza.
-O que está dizendo, mulher?
Enlouqueceu? Alice fugiu do próprio marido!
-Sim, e afora, ele sabe a dor de perdê-la e
fará tudo para compensar o sofrimento que lhe
causou. – sorriu para aclama-lo – Deixe que os
dois se entendam. Está tarde, vamos dormir.
Serena, lhe passava serenidade.
-Tenho que ajudar a procurar minha
irmã...
-Não, não tem. Ela pegou o trem, e levou
a governanta. Está segura. Deixe que John vá
atrás dela. Ele tem obrigação e recursos para isso.
– lembrou-o desse detalhe.
-Talvez tenha razão.
-Vem, vamos dormir cedo hoje. Algo me
diz que amanhã será um longo dia...
Rony aceitou seu convite, desconfiado
que ela sabia mais do que dizia.
Seu sorriso era tranquilizador e apenas
por ter confiança em Helena, se permitiu aceitar
essa sugestão.
E que viesse o dia seguinte.
Capítulo 126 - Orgulho

O Conde de Valença se mantinha parado,


imóvel.
Ocasionalmente, Elly erguia seu olhar da
tela e o analisava. Então corava, e voltava sua
atenção para o trabalho de pintar.
A presença de Helena era totalmente
dispensável, e havia sido esquecida. Ela não se
importava, estava ocupada costurando.
Sua atenção totalmente voltada para os
delicados tecidos. Graças às dicas das moças do
Rosie Nell ela havia pegado o jeito na costura.
Não tinha mistério, precisava apenas de
atenção e dedicação. E em sua busca por calmaria,
tempo era o que não lhe faltava.
Sentada na poltrona ao lado, Anna
também costurava. Cabisbaixa, não tinha coragem
de falar com a patroa a menos que ela falasse
primeiro. A vergonha a matava, e não podia
conceber a ideia de irritá-la ainda mais.
Sua atenção foi atraída quando o Conde
começou a conversar com Michelle. Ele era tão
atencioso que fazia Helena rir por dentro.
O imponente Conde de Valença flertava
abertamente com a assustada Elly. Cheio de
delicadezas tentava disfarçar a corte, mas não
conseguia esconder dela seu interesse.
Helena se esforçou para não prestar
atenção na conversa de ambos, mas quando o
Conde elogiou os olhos vivamente claros de Elly,
foi demais para ela.
-Vamos para o meu quarto, Anna. Estou
com dores nos pés. Papai, vou me deitar um pouco
– ela avisou, apressada para deixá-los sozinhos.
O Conde lhe dirigiu um amplo sorriso
cúmplice e Elly pareceu corar ainda mais.
-Está ficando lindo, Elly – ela continuou
olhando sobre o ombro de Elly – Mas não se
esqueça de enfeitá-lo um pouco, não queremos
que se sinta muito envaidecido não é? – brincou.
O Conde reclamou, mas ela não deu
resposta, preferindo deixá-los enquanto riam.
-O Conde parece estar se apaixonando –
Anna disse incerta.
-Sim, parece que o amor tomou Londres
– ela alfinetou, incapaz de perdoar totalmente a
jovem.
-Sinto muito, Sra. Helena – ela disse a
beira das lágrimas.
-Não chore, Anna. Não se atreva a chorar
sobre o leite que você mesma derramou. Não
estou com raiva de você. Estou brava e vai passar.
Não me peça para esquecer imediatamente! Está
acima da minha capacidade!
-É que sinto causar tantos transtornos.
Sinto muito ser um estorvo em sua casa. Imagine
ir para a casa com sua família, quando meu lugar
não é esse. – ela fungou.
Helena entrou no quarto, que era seu
sempre que visitava a casa de seu pai e sorriu para
a jovenzinha.
-Quanto a isso fique tranquila. Tinha
planos de levá-la comigo para me ajudar com o
bebê. Só não esperava que fosse nessas
circunstâncias. – suspirou - Juanita ficará muito
chateada comigo. Deveria ter cuidado de Duran
como se fosse meu filho, e não ter arrumado uma
esposa para ele! Deus, vocês dois são crianças!
-Muitas moças casam mais novas que eu!
– ela tentou se defender.
-Não se atreva a querer discutir esse
assunto comigo – Helena avisou – Estou irritada
com esse assunto. Muito irritada. Por mim, tinha
dado uma sova em vocês dois! Agradeça a Rony
por não ter deixado.
Anna se encolheu e não respondeu nada.
Era bem verdade que Helena não tinha direito de
querer corrigi-los, pois não era nada deles, mas na
postura atual de protetora, ambos se sentiam no
dever de responder a ela sobre seus atos.
Uma estranha ligação vinda do simples
fato do amor ter nascido entre eles, como irmãos.
Ou mãe e filhos.
-Devo agradecer ao Sr. Parker, ele me
ajudou com o enxoval, mas pediu que não lhe
contasse – ela confidenciou.
-Ele fez isso? – o susto quase a fez
derrubar a delicada peça infantil que costurava –
Não acredito!
-Acredite. Vou comprar panelas. Minha
mãe sempre dizia que panelas fazem muita falta!
-Não sei... Temos muitas panelas em
casa. E vocês farão suas refeições conosco no
começo. – Helena disse pensativa – Preocupe-se
com roupa de cama, toalhas, e roupas íntimas para
você. O resto usará o de casa. Deve saber, Anna,
que irá demorar até terem um lugar de vocês dois!
-Sei disso – ela disse humilde.
-A fazenda em que viemos não é tão
elegante como as casas que está acostumada a
trabalhar. É simples, temos pouco espaço. Terá
que viver com a mãe de Duran. E ela tem muitos
filhos pequenos. Vai ser difícil no começo, mas se
as finanças estiverem indo bem, talvez possamos
ajudá-los a construir uma casinha nos fundos do
celeiro e... – parou de falar quando notou que
estava sonhando acordada – Estou fazendo planos
para sua vida, e não é justo.
-Não me importo. Faz muito tempo que
não tinha planos em minha vida. – ela sorriu
agradecida.
-Anna, Anna, Anna! Que confusão você
me meteu! Porque tinha que cativar minha
afeição? Agora terei que aguentar os gritos de
Juanita, e ainda tentar defendê-la! – brincou, e a
moça até sorriu.
Estavam entretidas, com Helena lhe
contando sobre a fazenda, sobre a vida na fazenda
e sobre Juanita e sua família, que logo seriam a
família de Anna também quando Rony chegou.
-Achei que estivesse aqui – ele disse
apressado, nervoso.
-O que aconteceu? - ela deixou a costura
e ficou assustada – Saiu tão cedo, nem o vi sair da
cama!
-Precisei ir atrás de John! – Rony estava
definitivamente nervoso – Preciso voltar para casa,
Helena, temos que ir embora ainda hoje!
-Como assim? – ela levantou-se em
pânico.
-Alice voltou para casa. Aquela maluca
voltou mesmo para casa!
-Rony... – Helena se acalmou ao entender
que ele falava do assunto Alice -...Precisamos
conversar sobre sua irmã e John. – Sei algumas
coisas que precisa saber.
-É mesmo? - ele não acreditou.
-Porque não me leva para passear no
jardim? – ela pediu sorrindo meiga, para acalmá-
lo – Anna, termine essa costura para mim?
-Sim, senhora – Anna sentiu-se feliz em
agradá-la.
Rony ajudou-a a descer as escadas, pois
atualmente Helena tinha muito medo de
escorregar nos degraus. Ela apertou seu braço com
carinho e lhe disse em tom de segredo:
-Meu pai está na saleta, enamorado de
Elly. Não devemos atrapalhá-los.
-Acha uma boa ideia que ele se apaixone
por uma mulher que não lembra quem é?
-Elly é quem sempre foi. Veio da França
para ser feliz, e é obrigação de meu pai que ela
seja feliz. Sinto que ela fará toda diferença na vida
dele. – suspirou – Meu pai gosta de Londres e sua
vida é aqui. Precisa ter alguma alegria, uma
companhia que o faça sorrir. Deve ter notado, mas
ele é um homem que faz muito bem as pessoas.
-Sim, como a filha tem o dom de mudar a
vida das pessoas a sua volta – ele elogiou
enquanto a conduzia pelo amplo jardim.
-Existe uma fonte, atrás daquelas árvores
– ela apontou – Gostaria de vê-la?
-Estou mais preocupado com minha irmã,
Helena. – avisou.
-Vamos sentar perto da fonte, e conversar
sobre a sua irmã. – assegurou-o.
Andaram por uns dez minutos, até
estarem completamente protegidos pelas árvores
do amplo jardim. Helena suspirou e aspirou o ar
da natureza, sentindo saudade de casa.
Bem camuflado pelas folhagens, havia
um banco adornado por anjos, e uma fonte que
expirava água sempre fresca. Ela sentou-se,
aliviando o peso sobre os pés e, olhou para os
passarinhos que se banhavam na água clara da
fonte.
-Admiro seu ar de contemplação – ele
ironizou – mas quero saber o paradeiro da minha
irmã, Helena!
-É claro que quer saber – ela sorriu –
Porque não se senta?
-Porque não gosto de ser o último a ficar
sabendo das coisas!
-Pretendia contar hoje cedo, mas saiu
antes que eu acordasse.
-O que esperava? Tinha que ajudar John
a encontrá-la.
-E conseguiram? – ela sorriu
provocativamente.
-Não. Também não pude falar com John.
O louco abandonou tudo, deixou a casa, os
negócios, seu administrador estava desesperado
hoje cedo sem saber do seu paradeiro. Seu
cavalariço garantiu que pegou o trem ontem à
noite, e levava consigo apenas as roupas do corpo!
Nem um vintém a mais! Tem noção da loucura
que ele fez?
-John fez isso? - ela cobriu os lábios,
surpresa e deliciada – Não acredito! Pobre John!
-Pobre John? Helena o que você sabe que
eu não sei? – perguntou exasperado.
-Não era para John ir tão longe –
começou a falar pensativa – achamos que ele
passaria uns dois dias preocupado, e isso lhe
serviria de lição. Só isso. Nunca achei que seu
amor fosse tão grande. Apesar de nunca ter
duvidado que amasse Alice.
-Seja objetiva! - ele mandou fitando-a
com nervoso.
Helena sorriu vitoriosa.
Estava linda naquela manhã. Usava a cor
verde, que a deixava mais alegre. Os cabelos
estavam trançados, e havia uma fita dourada
trançada junto com as mexas. Usava os brincos
que o Conde lhe dera, e o colar que ele a
presenteara. Havia colocado um broche que lhe
era estranho, e esse brilhava contra a luz do sol,
que batia em sua face.
-John merecia uma lição. Alice pretendia
assustá-lo, apenas isso. Imagine se ela seria louca
de deixá-lo e colocar seu casamento a perder! Está
magoada, mas o ama. Sabia que o Sr. Lourenço
viajou?
-E o que tem isso a ver com
desaparecimento premeditado da minha irmã? –
exasperado ele fitou-a com reprovação.
-Bem, Alice está confortavelmente
hospedada com Luana em sua casa. Aliás, ao lado
da nossa casa. Por isso levou a governanta junto,
para ter ajuda no tempo em que ficar ali. Como vê,
John se mobilizou à toa.
-Se mobilizou à toa? Ele está
desesperado! Tem ideia do que acontecerá quando
ele chegar à casa dos meus pais?
-Não seja tão dramático, Ronald! Não
acontecerá nada demais. Terá que sentar e esperar.
Não é o que Alice vem fazendo há dias? Sentar e
esperar que ele a note? Pois bem, se você correr
pode escrever uma carta para ele, e enviar através
de um dos mensageiros do Conde. A carta chegará
antes de John e seus pais já saberão de tudo, por
isso não haverá problemas familiares.
-E porque não enviar uma carta para a
primeira parada do trem? John saberia de tudo e
poderia voltar – ele disse pensativo.
-E que graça teria? Deixe-o passar vários
dias de privação e sofrimento. Saberá o valor do
amor de Alice, quando estiver sofrendo de solidão!
-Helena, não seja tão cruel.
-Cruel? Alice é sua irmã, mas apesar
disso, deve saber dos detalhes sórdidos. Segundo
ela me contou, John só a vê e fala com ela durante
poucos minutos do dia, antes de se deitar. Usa de
seus atributos e vira para o lado, como se ela não
fosse nada. Acha que ela merecia tão pouco
carinho? Alice é um doce. Tudo que faz é para
agradá-lo! Sequer se importou que estivesse sendo
difícil sua adaptação em Londres! Acha, com
sinceridade, que John não merecia essa lição?
-Morda a língua antes de acusar John –
ele avisou, um dedo em risque – Há meses tudo
que faço é para agradá-la, e me trata como um
inimigo. Acusa John de um crime que também
comente.
Helena calou-se com um olhar rancoroso.
-É diferente – ela disse afinal.
-Diferente como? – ele cobrou dela uma
resposta.
-Quando o conheci era o pior momento
da vida de alguém! Estava... Destruída em todos
os sentidos! E tudo que você queria era a minha
fazenda! Como poderia ter algum respeito por
você? Abusou da minha situação para se dar bem
na vida! Eu tinha todas as razões para detestá-lo.
Mesmo assim, a única coisa que fiz foi negar a
você minha afeição de esposa. No resto, não pode
me repreender. Tratei da casa, cuidei das suas
coisas, cuidei que tivesse todo o conforto que um
marido deve ter! Ou estou mentindo? Tínhamos
um acordo, e ele não envolvia amor!
-Amor? Tem razão. Não envolvia amor –
ele calou-se tendo essa verdade esfregada em seu
rosto com tanta crueza que doía. – Mas isso
mudou, não mudou? Cuida das minhas coisas por
querer e não obrigação, não é? E sente algum
afeto por mim, não é? Mesmo que um leve
carinho.
-Eu já lhe disse, me acostumei com você
– disse envergonhada.
-É melhor que não tentemos entender
nossa relação nesse momento. – ele desconversou
– então, Alice está em segurança?
-Sim.
-Mesmo? – ele insistiu.
-Mesmo – ela retrucou, desafiando-o a
duvidar dela.
-Vou seguir sua sugestão e escrever para
os meus pais, mas saiba que se John se separar
dela, a culpa será em parte sua. E teremos que
conviver com ela em nossa casa para sempre –
disse desanimado.
-Não seja bobo. “Se” John for tolo a
ponto de se separar, não demorará nada, ela
conhecerá alguém que lhe de valor!
-Uma mulher não pode se casar
novamente a menos que enviúve Helena.
Ela riu com escárnio.
-Acha mesmo que com a beleza de Alice
nenhum homem a tomaria por esposa, mesmo sem
a benção de Deus?
Rony queria negar, mas não podia.
Satisfeita em estar certa, ela deu de ombros.
-Se um dia nos separarmos, eu me
casaria novamente, mesmo sem um papel para
comprovar – ela avisou em tom de provocação.
Quem riu dessa vez foi ele.
-Nunca quis um marido. – ele lembrou-a.
-Nunca quis o marido que tenho. – ela
que o lembrou dessa vez – Agora, que descobri
que posso ter um marido, sem me preocupar em
me rebaixar a ele, posso começar a pensar nas
minhas opções.
Algo de preocupação fechou a expressão
de Rony, e Helena fingiu não notar. Ele não
respondeu, apenas chutou uma pedra do chão,
segurando algo que queria lhe dizer.
Queria dizer a ela que a mataria se
ousasse ser de outro homem, mas não tinha
coragem. Não era verdade. Ele seria aniquilado se
isso acontecesse, mas não teria coragem de negar
a ela a felicidade.
-Quando quiser outro, basta me avisar -
ele disse por fim, querendo talvez magoá-la
também.
-Assim tão fácil? – ela perguntou com a
sombra de um sorriso, tentando disfarçar a mágoa
– Deveria saber... A fazenda já é sua.
Rony olhou para ela surpreendido por sua
conclusão.
-Tem razão, a fazenda é minha. – ele
concluiu com um quê de amargor na voz.
-Faça bom proveito dela então – Helena
deu de ombros.
-O dia que nos separarmos, deve procurar
um homem sem culhões Helena, pois nesse
momento, sinto o incontrolável impulso de colocá-
la sobre meus joelhos e lhe dar uma surra bem
merecida.
-Não se preocupe, já fui surrada para uma
vida toda – ela disse olhando para outro lado,
magoada.
-E eu não fiz nada para impedir isso – ele
lembrou se culpando.
-E como poderia? Aquele homem nem
deveria ter cruzado meu caminho!
Rony pensou em contar-lhe que sim,
aquele homem cruzaria seu caminho, pois eram
ordens de alguém que a queria morta.
Esse problema o preocupava muito. Mas
não tinha jeito de resolver enquanto não apanhasse
a ex-mulher do Conde.
Os dois estavam convencidos que sem
dinheiro ela não poderia conseguir comparsas, e
sozinha não chegaria a ter oportunidade de fazer
mal a Helena. Mas o problema, era que enquanto
ela vagasse por aí, eles não teriam paz!
-Mas não se preocupe, o dia quem nos
separarmos, me casarei com um homem
totalmente diferente de você – era verdade, ela
pensou.
Não poderia viver ao lado de um homem
como Rony sem morrer de sofrimento. Se o
perdesse, sua vida seria triste e sem felicidade
alguma. E não poderia conceber a ideia de viver
ao lado de um homem que a lembrasse Rony.
Para ser totalmente sincera, não teria
coragem de se casar novamente, mas ele não
precisava saber disso.
-De qualquer modo a escolha é sua – ele
rebateu, ferido de morte por seu pouco caso.
-Sim, a escolha é minha.
Helena baixou o rosto, escondendo dele
seus pensamentos mais íntimos.
Quando ergueu os olhos, era ele quem
fugia de um confronto. Andou alguns passos
olhando para a bela fonte e suas águas cristalinas.
O silêncio entre eles poderia ser tocado
de tão denso e profundo.
Vários minutos depois, e Helena olhou
para ele demoradamente. Para suas costas na
verdade, pois ele estava de costas para ela,
parecendo muito interessado em seus próprios
pensamentos.
Arrependida de tê-lo magoado, pensava
num modo de desfazer a besteira que dissera. E
porque isso? Rony deixara claro que se um dia a
deixasse – e havia essa possibilidade, ou não
divagariam sobre isso! – permitira que vivesse
com outro e tivesse-o por um novo amor.
-Não estive trabalhando na doceria de
Roxanne como pensou – ela disse de repente,
chamando sua atenção e também o surpreendendo
por dar satisfações.
-Não? – perguntou irônico.
-Tem razão ao dizer que me desgastei,
mas não estivesse trabalhando – explicou.
-E o que fazia no Rosie Nell? Vi seus
bolos nas vitrines! E provei um deles, para ter
certeza que era você quem estava por trás disso! -
ele acusou.
-Reconhece meus doces? - ela ironizou.
-Explique-se, Helena.
-Está bem – ela suspirou chateada, e ao
mesmo tempo feliz em ser o centro da sua atenção
novamente. – Estive no Rosie Nell todos os dias,
ensinando a arte de cozinhar para algumas moças.
Apenas duas se sobressaíram e mostraram talento
natural para isso. São duas órfãs, e achei que se as
ensinasse tudo que sei, poderiam ter um trabalho
quando atingirem a maior idade e forem expulsas
do orfanato. Roxanne me garantiu que as
contratará, pois elas souberam reproduzir meus
doces com perfeição. Não fui eu quem fez. Apenas
ensinei, e durante o tempo de preparo e cozimento,
tenho assistido às aulas que Roxanne preside.
-Aulas? Aulas de que? – surpreendeu-se.
-De literatura. De inglês. De etiqueta.
São várias as disciplinas. Não estou engajada
como deveria – ela circundou a barriga com as
mãos, mostrando a ele a razão – mas gosto de
aprender um pouco mais. É divertido.
-Imagino que seja – não pode se zangar
com ela. – Sempre fui preguiçoso demais para
entender o prazer que algumas pessoas especiais
podem ter pelo estudo. – confessou.
-Sinto prazer com muitas coisas. – ela
explicou – Mas ler um bom livro, ou cuidar da
terra e aspirar o ar puro são atitudes que sempre
irei desejar ter.
-Compraremos alguns livros para levar
para casa – ele prometeu.
-Já tivemos muitos gastos – ela negou –
Poderia aceitar a mesada que meu pai oferece,
mas...
-O Conde lhe ofereceu uma mesada? - ele
quase não acreditou nisso – Disse a ele que não
precisamos do seu dinheiro! Os presentes que ele
lhe der são presentes de um pai, e não posso
interferir ou impedir! Mas dinheiro...! – indignado
maneou a cabeça.
-Porque os homens são tão estúpidos? -
ela perguntou sorrindo – Não aceitei. Pronto.
-Seu pai não acredita que eu possa cuidar
de você! – ele disse ofendido.
-Ele acredita que tenho direito a desfrutar
de todo o conforto que pode me proporcionar. Que
se houvesse sido criada com ele, teria tido do bom
e do melhor. É no que acredita. Outro dia ele me
perguntou de que serviria nosso orgulho, se no dia
que ele morrer, herdaremos tudo. Não tive
resposta para lhe dar, porque no fundo, ele tem
razão. É meu pai, e não há honra maior do que
aceitar desfrutar daquilo que ele levou a vida toda
para construir. Chega a ser meu dever de filha –
seu sorriso se alargou ao notar sua surpresa – Sei
o que está pensando.
-Sabe?
-Sim, está pensando que o aceitei muito
rápido em meu coração. Não é?
-Também. – ele fingiu não notar que ela
sabia que mentia. É claro que era isso que ele
pensava.
-É muito fácil se apaixonar pelo Conde. E
acredito que precisava desesperadamente ter um
pai. Ou uma mãe. Qualquer um que me amasse do
modo como minha família me amou. De um jeito
torto, é verdade. Mas sinto falta desse amor.
-Amor que não posso lhe dar? – ele
perguntou a cada minuto mais magoado. Queria
lhe dar o céu e as estrelas, mas sequer conseguia
fazê-la sentir-se amada!
-É algo diferente. – ela disse se agitando,
e levantando-se do banco.
Alisou a saia do vestido e afastou a longa
trança que pendia sobre o peito. De costas, foi ela
quem fitou a fonte com demasiada atenção.
-Porque é diferente?
-Eu não sei. Mas é diferente.
-Não entendo como pode ser diferente, ou
é amor ou não é! – ele chegou ao seu limite,
chegando a se irritar.
-Como pode dizer isso? – ela virou-se
para ele, horrorizada. – pode dizer que ama seu
pai, sua mãe e seus irmãos, do mesmo modo que
já ama seu filho, que não nasceu? Pode dizer que é
igual?
Sua veemência o calou. Helena tinha toda
razão do mundo.
-Não, não é igual. – admitiu. – E você?
Ama o filho que carrega?
-Não ouse me perguntar isso – avisou
sentindo os olhos enxerem de lágrimas por sua
desconfiança – O que sinto em relação ao nosso
casamento não pode ser confundido com o que
sinto pelo meu bebê!
-Nosso! Nosso bebê! – lembrou-a,
chegando muito perto, e olhando fundo em seus
olhos – Não quero que haja distinções entre o pai
e a mãe. Não se esqueça disso!
-Não esquecerei – seu orgulho obrigou-a
a enfrentá-lo.
Se fosse homem, seria uma queda de
braço. A venceria numa queda de braço ou um
jogo de cartas. Mas era mulher, a sua mulher.
Sua doce e frágil mulher.
-Quando pensar em ter outro marido,
lembre-se disso – ele disse em tom rouco de
ameaça.
Ela não teve tempo de pensar. Rony
tomou-a em seus braços, beijando-a com fervor e
agonia.
Seus braços seguraram-na com rudeza
pelas costas, uma das mãos subindo e amassando
sua trança entre os dedos, enquanto segurava sua
cabeça no lugar que queria.
Os lábios dele queimaram sobre os dela,
e Helena permitiu que sua língua avançasse,
obtendo dela toda colaboração que poderia
desejar.
O beijo durou minutos, ou segundos, o
importante era que nenhum dos dois deseja se
afastar.
A mesma necessidade de Rony, brilhava
nos olhos de Helena, quando sem ar os dois se
afastaram.
As mãos pequenas e delicadas agarravam
as mangas do casaco de Rony, marcando o tecido
e avermelhando os dedos frágeis.
Arfante ela se afastou, os cabelos
bagunçados, os lábios machucados e úmidos de
sua paixão.
Sem ar e sem vontade de lutar.
-Me lembrarei – ela disse por entre um
suspiro, virando-lhe as costas e andando
apressada por entre as árvores.
Rony deixou-a ir.
Capítulo 127 - Vaidades e tolices

Os dias correram no calendário, e uma


semana depois, no dia do casamento de Luana,
Helena estava nervosa.
Fazia uma semana que John havia
partido, e ainda deveria estar dentro de um trem,
enquanto Alice estava confortavelmente instalada
em sua casa, a residência Harrison.
Era maravilhoso o efeito da separação.
Mais dona de si, Alice tomara as rédeas da casa e
até mesmo despedira alguns funcionários que a
tratavam mal.
John havia ido atrás dela, e isso mudava
tudo. Se era por amor, ela estava segura.
Helena a entendia bem.
O amor nos dá segurança.
-Calminha, bebê - ela reclamou pondo as
duas mãos sobre a barriga. – A mamãe está
ocupada agora.
Ele se mexia demais, atrapalhando sua
concentração.
Cantarolando uma valsa que ouvira há
poucos dias ser tocada para o Conde em um jantar
entre amigos, vulgo, bajuladores, continuou
prendendo os cabelos, incerta sobre como usá-los.
-Soltos. – a voz quebrou o momento de
paz e ela olhou para trás só para ter certeza que o
dono era a mesma pessoa que povoava seus
pensamentos – Use-os soltos.
-A tutora de Alice diz que uma mulher
casada não deve usar os cabelos totalmente soltos
– provocou-o.
-Ela diz muitas coisas. É uma reunião
íntima, não haverá ninguém que possa se
preocupar com a imoralidade de seus cabelos
soltos. – ele brincou.
-Luana estava radiante ontem, quando
conversamos – contou – Acredita que seu noivo
pretende ir para o Alasca um dia, estudar as
plantas que crescem no frio? Fiquei abismada!
Rony riu de seu encanto.
-Não acredite em tudo que Leonard diz
para a noiva permitir que ele suba suas saias –
notou seu ar de choque e riu – O que esperava,
Helena? Com Luana gracejos comuns não
funcionariam! Leonard é um botânico, não um
sonhador como ela. Ele a levará um dia até o
Canadá, mostrará algumas paisagens geladas e ela
se dará por satisfeita!
-Tudo isso, para subir suas saias? –
ironizou.
-Sim, é o que fazemos quando o que se
esconde sob as saias vale a pena.
Ele surgiu ao seu lado na imagem do
espelho e ela continuou a se arrumar.
-Quer que abotoe seu vestido? – ele
passou os dedos sobre as costas alvas, que haviam
perdido muito do tom bronzeado, longe do sol
intenso.
-Não precisa – ela corou de vergonha e
quis se afastar.
-Por que não?
-Porque preciso que Anna faça um
milagre para que ele feche – ela suspirou
conformada – Seu filho cresce desesperadamente,
não notou ainda? Perco vestidos a cada dia.
-Porque não usa um dos vestidos de
gestante que encomendou? – sugeriu.
-Porque gosto desse vestido e ele ainda
me serve...- corou novamente – depois de algum
esforço, ele ainda me serve.
Deveria ser uma explicação que faria
sentido para uma mulher. Mas não para ele.
-Está adorável de amarelo – preferiu a
saída dos covardes: Elogiar.
-Sabia que é a primeira vez que vou a um
casamento? - perguntou empolgada.
-Não, não sabia – claro que sabia, mas
queria lhe dar a chance de falar.
-Pois é, nunca fui a um casamento.
Quando seu irmão Ducan se casou, não fui
convidada. O motivo era óbvio. Seu pai não me
queria perto de sua família.
-Helena – ele disse em tom de aviso,
enquanto colocava o colar em seu pescoço.
-É apenas uma observação. Agora penso
que Artur deve ter tido suas razões para não me
ajudar! E voltando ao assunto - ela observou
atentamente o contraste do amarelo de seu vestido
com o colar que Rony lhe dera. – nunca vi de perto
o que acontece num casamento.
-É uma cerimônia religiosa parecida com
um missa. – ele contou – Nunca vi nada demais
em casamentos, embora já tenha ouvido que
quando somos o noivo, a situação é bem diferente!
– fez graça.
-Ficará nervoso no dia que subirmos ao
altar? - ela se girou na banqueta que estava
sentada e olhou para ele com curiosidade – depois
de tantos meses de casamento?
-E como não ficar? A noiva sempre pode
fugir, ainda mais quando a noiva é você – ele
passou um dedo sobre seu nariz e ela reclamou,
pois havia estragado o efeito do pó de arroz.
-Não faça graça! Desça e peça para Anna
subir rápido. Preciso de pelo menos meia hora
para fechar esse vestido... – ela corou pela própria
indiscrição.
Rony riu e beijou sua nuca, pois ela havia
erguido os cabelos, tentando decidir se os prendia
ou não.
-Soltos – mandou novamente – Não
teime comigo!
-Certo, soltos - ela disse apenas para se
livrar dele.
Estava escrito em sua testa, mas ele não
se ofendeu. Era assim que uma mulher deveria
ser. Vaidosa quando deve ser vaidosa.
Ele mal saiu, e Anna passou correndo por
ele, com uma expressão contente.
A mocinha vestia um vestido azul claro,
delicado, e simples, estava pronta para ir ao
casamento, pois apesar da posição social do
Lourenço, a maior parte dos convidados eram
pessoas simples, que tinham valor pelo que são, e
não pelo que possuem.
Duran estava no jardim, conversando
com Adolph, que parecia um pouco desconfortável
no terno bem cortado. O pai de Luana o convidara
depois de usar de seus serviços por alguns dias,
elogiando sua força e educação.
O homem era muito grande, e a
semelhança entre os dois não cansava de
surpreendê-lo.
Duran não alcançaria sua altura, mas
seria um homem forte no futuro.
Os três começaram a conversar, pois do
jeito que ia, Helena ainda demoraria a se aprontar.
E a coisa só piorou quando a carruagem de Alice
parou em frente a casa, e logo a seguir a
carruagem do Conde, com Elly a tira colo.
Conformado que não sairiam tão cedo, os
homens se juntaram a um jogo de cartas enquanto
o riso feminino que vinha do quarto de cima,
alegrava toda a casa.
-Levarei Elly comigo para a fazenda de
vocês – o Conde disse em dado momento,
fingindo grande interesse em suas cartas.
-Helena já sabe? – Rony perguntou
curioso, e procurando não fazer algazarra do
inusitado fato.
-As duas se gostam, e minha filha não
mostrou oposição ao fato de Elly morar em minha
casa por uns tempos.
-Isso, porque ela não sabe que dormem
juntos.
Duran olhava de um para outro com
olhos arregalados.
-Desfaça a surpresa, menino – o Conde
riu dele.
-Menino, não. Está de casamento
marcado porque o pegamos na cama com Anna –
Rony contou, notando o Conde rir e colocar uma
carta sobre a mesa.
-Então, já é um homem – ele disse
piscando para o menino – Esperto para a idade.
-Não deixe Helena ouvi-lo. Ela esta com
essa atravessada na garganta.
-A Sra.Helena teria me dado uma surra
de cinto se tivesse oportunidade – ele contou,
aliviado por ter escapado.
Os homens mais velhos riram de sua
inocência e o Conde olhou bem para Rony antes
de dizer:
-O que vai ser de duas crianças se
casando?
-É uma boa pergunta – ele disse com
certo rancor.
Não queria se meter nessa enrascada.
Apenas aceitara a responsabilidade por que isso
faria Helena feliz.
-Os pais do menino devem ajudá-lo, uma
vez que a moça é órfã – Adolph opinou depois de
ganhar a partida e arrancar exclamações e
reclamações até mesmo do Conde que sempre
ganhava roubando.
-Minha mãe vai me matar – ele disse
pensativo – mas se não o fizer, meu padrasto o
fará.
-E valeu a pena tanto sacrifício? – o
Conde perguntou, não deixando espaço para as
perguntas que Adolph queria fazer sobre sua
família.
O menino nem precisou responder, sua
expressão dizia tudo.
Os homens riam quando elas desceram.
Alice não parecia muito animada, sentia
saudades de John. Mas sorriu quando o irmão a
notou e levantou-se para encontrá-la no meio do
caminho escada abaixo.
Usava um vestido cor de rosa, e estava
graciosíssima.
Rony não perdeu muito tempo com a
irmã, pois Helena descia de braço com Anna.
Ele não teceu comentários sobre sua
desistência do vestido amarelo, em prol de um
vestido claro, em tons de salmão e dourado.
Acentuava o busto, abrindo em uma ampla saia a
partir dos seios.
Era um dos vestidos de gestante que
relutava em usar.
-Está linda – ele disse beijando sua mão
com carinho.
-Estou enorme – ela reclamou.
-Linda - ele corrigiu.
-Linda, porém enorme.
Rony abraçou-a gentilmente quando
notou que não era apenas um supérfluo de
vaidade, era quase uma magoa. Helena recupera a
vaidade e agora a perdia. Muito cedo para saber
lidar com isso.
-Por isso tem me afastado a noite? –
sussurrou em seu ouvido.
Ela não respondeu e se afastou, baixando
os olhos.
Não faziam amor há uma semana, e ela
sempre dizia que era por causa do desconforto da
gravidez.
Agora percebia que era uma bobagem.
-Bobagem, Helena. Se uns quilos a mais
fizessem diferença para um homem, eu não teria
nascido – ele disse baixio, apenas para ela ouvir –
Ou não percebeu que minha mãe não é a criatura
mais esguia do mundo?
-Não seja calhorda – ela reclamou,
sorrindo para o pai e deixando-o sozinho.
Mesmo conversando com o pai, olhava
para ele de vez em quando, como se quisesse dizer
algo.
A conversa se estendeu por alguns
instantes. Quando a hora de ir chegou eles se
dividiram em suas carruagens, Anna e Duran indo
com Alice, que estava solitária desde a partida de
John.
Helena estava sentada a sua frente na
carruagem e mordia os lábios, inquieta.
-Sabe que pode falar sobre todos os
assuntos comigo não sabe?
-Hum-hum – ela ainda não o olhava.
-O que a incomoda é algo sobre a
gravidez? Algo que apenas uma mulher poderia
lhe dizer?- pressionou.
-Nada me incomoda – ela desconversou.
-Não minta para mim. Já pensou que
pode estar sofrendo por algo a toa?
A dúvida pareceu dividi-la. Por fim ela
suspirou.
-É algo que não me atreveria a falar com
ninguém além de Alice. Mas ela nunca passou por
isso – ela acariciou o ventre, que nas últimas
semanas havia arredondado assustadoramente.
-Pode falar comigo. Não deve haver
segredos ou constrangimentos entre nós. Sou seu
amante, Helena, conheço seu corpo quase tão bem
quanto você o conhece.
Essa verdade não poderia ser ignorada.
-Estou grande demais para cinco meses.
Não notou?
-Quase seis. Está para fechar seis meses.
Deve ter o tamanho certo para seis meses.
-Não, não tenho. Estou gigante! Todas as
mulheres que me veem me perguntam para que
dia é o bebê, como se eu fosse dar a luz a qualquer
momento – disse jocosa.
-Está incomodada por estar grande? –
conteve um sorriso que poderia ser facilmente
tomado como riso.
-Estou muito diferente, não pode negar –
baixou os olhos.
-Diferente não quer dizer feia. – lembrou-
a.
-Sempre elogiou como era...- lhe faltou a
palavra.
-Magra?
-Não diga essa palavra – remexeu-se no
assento, desconfortável.
Ele tentou não rir, nem dar indícios de
achar graça. Mas foi impossível.
-Eu sabia! Está rindo de mim!
Ao contrário do esperado, ela não sentia
raiva, e sim uma incontrolável vontade de chorar.
-Não estou rindo de você, pequena - ele
fez força para não rir de verdade.
-Está rindo sim!
-Tem razão, estou. – admitiu, abrindo
um sorriso agora que não havia mais como
disfarçar – e quer saber por quê?
-Não, eu não quero! – emburrada, ela
cruzou os braços sobre a barriga.
-Helena, eu te achei linda mesmo quando
estava magrinha como um graveto. Dava aflição
vê-la tão magra e abatida, e mesmo assim, eu a
desejei de um modo como nunca quis mulher
alguma. Confesso, seu corpo me enlouquece. Suas
curvas suaves, sua barriga lisa... Me desperta o
desejo para fazer amor. Mas existem outras coisas
em você, que me despertam o mesmo desejo. A
maneira como olha, por exemplo.
-Como eu olho? – parecia curiosa e
surpresa.
-A força em seu olhar. Há algo de
especial no modo como olha. Não sei explicar.
Um olhar e estou em chamas. E isso não tem nada
a ver com seu corpo. Tem a ver com algo que há
dentro de você e me atrai como um imã. Sua voz é
rouca e suave e me deixa excitado. O perfume da
sua pele. O cheiro do seu sexo quando a toco...
-Pelo amor de Deus, pare de dizer essas
coisas! – ela pediu desesperada.
-Por quê? Não quer saber o quanto a
desejo? Prefere estar insegura? Pois lhe digo que
esses dias têm me deixado louco. Respeito seu
desconforto, espera um filho e não serei egoísta.
Mas a única razão para não me aproximar é
porque você não quer.
-Estou desajeitada – ela confidenciou.
-Está linda. Olhe para mim e veja que
não estou mentindo.
Ele ergueu um dos braços e segurou seu
queixo obrigando-a a olhar para ele.
-Sua pele nunca esteve tão macia quanto
agora. Seus cabelos brilham intensamente e estão
sedosos como seda. Não sei se é a maternidade ou
o simples florescer depois de tanta privação, mas
está radiante. Seus seios...estão cheios – ele
molhou o lábios com a língua, observando os
montes suculentos que se agitavam dentro do
comportado vestido. – Grandes, cheios e macios, e
tenho certeza, saborosos.
-Não diga isso, por favor – ela pediu,
baixando o rosto quente, e corado.
-Por que não? Helena, olhe para mim. –
pediu, mais sério. – o que está acontecendo?
-Eu não posso falar sobre isso! – ela disse
desesperada.
-Vamos a um médico, então. – ele
decidiu – Falará a um médico, se não quer falar
para mim.
-Nem pensar! Não posso contar isso a um
médico! – maneou a cabeça em pânico, só de
pensar nessa possibilidade.
Rony não entendia a razão para tanta
vergonha. Se fosse algo sério ela procuraria um
médico, tinha certeza. Era zelosa demais com a
gravidez para descuidar-se desse modo.
Então, só podia ser algo tolo. E ele não
aceitaria que medos ridículos ficassem entre eles.
-Não confia em mim nem um pouquinho?
– ele perguntou sério.
-O que pensará de mim se eu falar?
Ela pareceu falar consigo mesma.
-Pensarei o de sempre: que é minha
mulher. – ele avisou, quase desistindo.
Helena ponderou os prós e os contras.
Sentindo as faces queimarem de vergonha acabou
cedendo a própria necessidade de falar sobre isso
com alguém.
-Não ria. – ela pediu uma última vez –
Achei que...pudesse ter repulsa do meu corpo. Por
isso tive vergonha.
-Agora já sabe que isso não é verdade –
ele ficou sério – Tem mais?
-Oh, Deus! – ela quis que um buraco se
abrisse a seus pés para que pudesse desaparecer e
nunca mais precisar olhar para ele.
-Helena, desse modo vai me assustar! -
ele insistiu.
-Eu sinto...tanto calor – ela disse
fechando os olhos por um segundo, como se
ouvisse algo dentro dela - O tempo todo, a cada
minuto, eu sinto muito, muito, e muito calor.
Como se estivesse pegando fogo. É isso.
-Calor? Que tipo de calor? – intrigado
estranhou seu olhar rancoroso.
-O tipo que me faz querer tirar as saias e
subir no colo do primeiro homem que passe por
mim! - disse brava.
-Tesão? - ele perguntou recebendo um
gritinho de horror como resposta – Helena – seu
tom era de completo humor – Sente desejo físico?
É isso?
-Não, você não me entendeu – ela disse
revoltada com seu pouco caso em relação ao seu
grande problema – estou enorme, gigante e desejo
um homem como se fosse explodir por causa
disso! Qualquer um serve!
-Você tem um homem, não precisa se
privar disso – ele lembrou-a – Aliás, tem um
homem muito disposto a ajudá-la nesse ‘grande’
problema. Se houvesse me contado antes de
sairmos de casa, é bem provável que não
viéssemos a esse casamento!
-Não exagere – ela reclamou.
-Exagerar? Sente ao meu lado – ele
mandou.
Com cuidado, ela se moveu, sendo
mantida segura por ele, e sentou ao seu lado.
Sem cerimônia, ele apanhou sua mão e
colocou sobre a braguilha de sua calça onde sua
ereção apertava.
-Oh - ela suspirou.
Seus olhos estavam em chamas, ele
notou. Ela apertou sobre a carne e ele gemeu
longamente.
-Nunca mais ouse achar que não a desejo
– ele avisou, beijado-a.
O beijo prosseguiu por vários minutos, e
quando acabou ela recomeçou outro.
-Eu te quero – ele agarrou um seio e
apertou arrancando dela um forte gemido de pura
paixão.
Estava prestes a subir suas saias quando
a carruagem parou.
Vagamente ele ouviu o som da rua, mas
não deu atenção, esquecido de onde estavam.
Completamente esquecido.
Para seu total azar quem abriu a porta da
carruagem foi o Conde.
Rony soltou-a imediatamente. Mas era
claro como dia o que fazia. Ajeitou sua saia
enquanto Helena escondia o rosto em seu ombro.
A porta havia sido fechada novamente, e
ele beijou a ponta do seu nariz antes de dizer:
-Não vamos demorar na festa.
-Não, não vamos – ela concordou o rosto
queimando de vergonha, observando-o fechar
todos os botões do seu casaco. Tudo para disfarçar
o volume entre suas pernas.
-Está bem? - ela perguntou enquanto ele
a ajudava a se preparar para sair da carruagem.
-Já vai passar. Agora, apenas não me
olhe nos olhos por alguns minutos – ele avisou e
ela riu.
Um riso cristalino, e ele gemeu. Saíram
da carruagem e o Conde os esperava a uma curta
distância com Elly, e Alice. Os outros já haviam
entrado na Igreja.
O Conde não teceu comentários sobre a
cena que tivera o desprazer de presenciar, mas não
pareceu muito satisfeito.
-Está tudo bem? – Alice lhe perguntou
sorridente – Está corada? Está com calor?
-Cale a boca, Alice – ela sussurrou como
se estivesse tudo bem.
Calada, Alice os seguiu. Sentia falta de
John ao seu lado. Mesmo aos trancos, brigas e
constantes farpas, sentia falta dele ao seu lado. E
essa falta só aumentava quando olhava para os
casais de braços dados. Como sentia falta do
braço de John Dos seus abraços...
Capítulo 128 - Trapos e linhas

A cerimônia era muito bonita. Helena


observava tudo com curiosidade e emoção. O
ponto alto foi a entrada de Luana na Igreja.
Vestia um pueril vestido de seda e
rendas, num tom muito claro, róseo. O véu de
rendas cobria seu rosto, mas era possível ver a
beleza de suas formas e dos cabelos louros caindo
pelas costas em delicados cachos.
Conduzida por seu pai, foi entregue ao
nervoso Leonard, que Helena ainda não tivera o
prazer de conhecer, apesar de Rony ter lhe contado
sobre ele.
Prestando atenção na cerimônia não
percebeu que era alvo do olhar de Rony. Ele
analisava cada pequena a reação, desde o suave
suspiro quando o Padre começou seu discurso, até
a retenção do ar quando ele proferiu a clássica
pergunta, pedindo a quem tivesse algo contra a
união, se manifestar.
Ela sorriu quando o casal trocou o ‘sim’
com vozes de choro e sorriu quando trocaram um
beijo carinhoso e sorriram um para o outro.
Alice estava mais emocionada e limpava
as lágrimas com um lencinho. Helena não queria
chorar, não mesmo. Achara tão linda a cerimônia!
Quando os convidados começaram a se
retirar da Igreja acompanhados dos noivos que
corriam felizes em direção as escadarias, talvez
apressados para começarem a vida de casados,
Rony segurou sua mão com carinho e perguntou
em tom baixo:
-Quer ir para casa, ou prefere ir para a
festa?
-Estou cansada de tantas festas – ela
confidenciou, notando que eram os últimos na
Igreja.
-Eu também. Espere-me, vou dar uma
desculpa qualquer e despachar Alice junto com o
Conde – ele sorriu de orelha a orelha.
-Vou aproveitar e me confessar – ela
concordou, levantando-se e dirigindo-se ao
confessionário.
-Cuidado, Helena. Não vá chocar o
Padre. – ele provocou.
-Tenho que confessar todos os meus
pecados, nem que isso o mate de desgosto – ela
revidou, cobrindo a cabeça com o véu de rendas.
-Sim, mas lembre-se que certas praticas
entre um casal, devem ser resumidas. Deus
entende, mas os padres não – ele não parecia tão
brincalhão ao se referir obviamente ao modo como
faziam amor as vezes.
Não era por procriação como pedia a
Bíblia!
Ah, mas não era mesmo!
-O que foi, Ronald? Está com medo por
sua alma? -ela não resistiu a instigá-lo.
-Não. Meu medo é que algo Padre
abelhudo a convença a não...bem, se meta na
nossa vida íntima – ele pareceu quase corar.
-Não se preocupe, não sou facilmente
influenciável, nem mesmo por um Padre. Se for
sincera, vou ter que admitir que me confesso, pelo
habito que mamãe tinha e não por gosto.
-Nunca me confessei depois que sai do
Colégio interno – ele disse pensativo – Se bem,
que não devo ter pecado depois dessa época.
Helena segurou o riso. Não podia
gargalhar dentro de uma Igreja!
Ainda contendo o impulso de rir dele, se
afastou.
Rony esperou vê-la passar pela porta que
dava diretamente para os concessionários, e saiu
da Igreja para avisar que não iriam a festa e
desejar felicidades ao casal.
Não foi difícil explicar-lhes que Helena
estava indisposta. As pessoas eram muito
compreensivas quando uma mulher esta grávida.
Apesar disso o olhar de repreensão do Conde
avisou-o que não acreditava nessa mentirinha.
Helena havia avistado o Padre entrando
por aquela porta e seguiu em direção ao
confessionário.
Uma mulher esperava sua vez, sentada
em um banco. Era muito bonita e bem vestida.
Tinha lábios cheios e vermelhos e olhos sagazes.
Com um gesto elegante, ela passou a vez, sorrindo
para sua generosa barriga.
Helena sorriu em agradecimento, e se
aproximou do confessionário, sentindo em suas
costas os olhos daquela mulher.
Se ajoelhando com dificuldade, ela ouviu
e assistiu a janelinha de madeira ser aberta e
piscou achando graça nos concessionários de
Londres terem uma janelinha de madeira que
impedia que o Padre a enxergassem nitidamente.
De onde viera, não haviam
confessionários modernos. Apenas um banquinho
e uma cortina sempre aberta, por onde o Padre
fingiu não saber quem era a pecadora arrependida.
-Perdoai, Padre, porque pequei – ela disse
fazendo o sinal da cruz.
-Confessai seus pecados, minha filha – a
voz do outro lado tinha um que de jovialidade, e
Helena se arrepiou de forma desagradável.
Seria um toque de deboche que ouvira em
sua voz?
Impossível, era um Padre.
Ela suspirou, criando coragem para
contar seus mais terríveis pecados.
-Sou casada – ela disse em voz hesitante
– Conheci meu marido no pior momento da minha
vida. E não soube lhe dar valor, Padre. Tenho
tratado-o muito mal desde que nos conhecemos –
confessou.
-O que quer dizer, minha filha?
-No começo, seria capaz de atirar nele se
ficasse muito próximo. Depois, eu percebi que não
poderia viver assim para sempre, mesmo assim,
não o trato com o carinho que merece.
-E acaso, seu marido não merece o
tratamento que lhe dá? –havia ironia em sua voz.
-Não. Ele...salvou-me de mim mesma.
Destruiria-me. Não havia outro caminho para mim
além da destruição. Quando...minha família
morreu, desejei morrer também. Sei que é um
pecado grave, mas lamentei ter sobrevivido.
Desejei a morte e talvez...não posso pensar nisso,
mas talvez chegasse a provocá-la em algum
momento. Quis morrer, Padre. Morrer!
-Tem razão, minha filha, é um pecado
grave.
Helena esperava uma repreensão mais
enérgica, mas não se importou, afinal, queria
desabafar.
As palavras fluíam de sua boca, como se
esperassem a muito tempo para serem ditas.
-Sei que espera que eu lhe de valor.
Deveria amá-lo. E eu...ele quer ouvir, Padre. Mas
não posso dizer. Não consigo confessar o que
sinto. É vergonhosa a minha fraqueza. Todo
marido tem o direito de saber os sentimentos de
sua mulher. Eu deveria falar! Mas não consigo!
-E o que sente por seu marido?
A voz do outro lado do confessionário era
séria e Helena fechou os olhos com força.
-Não posso mentir a Deus. Não posso
esconder o que sinto de mim mesma. Eu o amo,
Padre. O amo. Nego o amor que sinto, mas o amo,
tanto que tenho medo de perdê-lo! Tenho tanto
medo de ser infeliz outra vez! Tanto medo!
-Não deve ter medo – a voz tinha um
toque de rispidez e Helena se afastou do
confessionário.
Esperava sua punição, mas ele não disse
mais anda.
-Padre? Qual é a minha punição?
-Punição?
-Sim, Padre. Tenho sido relapsa com
minhas orações. Amaldiçoei minha própria vida
quando deveria estar feliz em viver. Nego a meu
marido o direito a conhecer meus sentimentos, e
ainda...oh, Padre, tornei-me uma mulher de
desejos tão fortes. Tão...tão...vergonhosos!
-Desejos? Que desejos?
-Meu corpo queima, Padre. Apesar do
filho que carrego, meu corpo queima. Sinto-me
devassa. Permito que meu marido faça coisas
comigo que não são apropriadas para uma senhora
casada e de moral incontestável!
-Seu marido usa de seu corpo para saciar
seus desejos pecaminosos?
-Não exatamente – ela não compreendeu
o exato sentido daquela frase – É meu marido, tem
seus direitos.
-E a senhora gosta? – a raiva impressa
nessa frase quase a desconcertou.
-É meu marido, o amo. E gosto de estar
com ele. Tenho medo do quanto eu gosto. Dizem
que é pecado, não é?
O silêncio do outro lado do
confessionário tornou-se maior e Helena ouviu
passos.
Nervosa, observou que Rony a esperava a
uma curta distância.
-Por favor, Padre, me de a punição para
que me sinta absolvida dos meus pecados. – nada.
Apenas um gigantesco silêncio do outro
lado. O som de farfalhar de roupas e de algo se
movendo rápido.
-Padre?
Novamente um silêncio se abateu e a
seguir o barulho de alguém farto e pesado,
sentando-se dentro do confessionário a deixou
curiosa. Uma tosse seca, de homem velho a
intrigou anda mais.
-Comece, filha. Conte-me seus pecados.
A voz era rouca e envelhecida.
Serpa que o Padre estava esclerosado?
Olhou para trás e notou a impaciência de
Rony.
Por dentro, seu corpo também queimava
e estava impaciente também.
-Desculpe, Padre, volto outro dia!
Levantou-se o mais rápido que pode e se
aproximou de Rony.
-Podemos ir? -ele perguntou sem ver
nada a sua volta.
-Sim, podemos – ela ofereceu a mão para
que ele a levasse.
Os dois saíram da Igreja sem notar que
eram observados pela bela mulher e Falcon Wood
que ouvira suas confissões, se fazendo passar pelo
Padre.
Eles conversaram entre si, conspirando e
seguiram outro rumo.

Seu coração batia descompassado, num


ritmo alucinante. A carruagem seguia pelo centro
de Londres num ritmo vagaroso, pois o
movimento era muito grande.
Helena mantinha os olhos fixos no chão
da carruagem, corada.
-Pedi a Adolph que não abra a porta da
carruagem, quando parar. Eu mesmo o farei – ele
disse num tom rouco, que a queimou por dentro.
-Por quê? – teve que perguntar.
-Vai demorar até chegarmos em casa –
ele desculpou-se.
-Não, não demora muito – ela negou.
Não podia fingir que não sabia o que ele
pensava.
-Não quer? – ele provocou, sabendo o
quanto sensível ela estava por causa dos
hormônios.
-Não aqui – ela olhou para ele decidida –
Não posso passar desconforto – não entrou em
detalhes, mas seu olhar dizia tudo.
-Não entendeu o que tenho em mente,
Helena – ele sorriu e passou a língua pelos lábios.
Paralisada, observou-o tirar o casaco e
abrir os punhos da camisa, dobrando as mangas.
-O que vai fazer? – assustada, segurou
mais firme o leque e a bolsa, que estava em suas
mãos. As luvas estavam molhadas, pelo suor nas
palmas das mãos.
-Tem coisas que não podem esperar,
Helena – ele sorriu tão sem vergonha que ela
olhou em volta pensando em como escapar dele.
-Tire as luvas – ele mandou e ela
obedeceu engolindo em seco.
-Porque devo tirar as luvas? – perguntou
só de boba, pois sabia muito bem o que
aconteceria ali!
-Porque gosto de sentir as suas unhas.
Um arrepiou correu sua espinha e ela
arrancou as luvas correndo.
-Sobe o vestido – ele mandou.
Ela arfou, pega de surpresa, pois achou
que ele a possuiria e não...quase correndo, e
denunciando sua necessidade avassaladora, puxou
o vestido para cima.
Helena usava as meias, as ligas e aqueles
calções gigantes que as moçam usavam em
Londres e ele passou as mãos em sua seu quadril,
por baixo das camadas de tecido e puxou-o para
baixo, deixando as meias intocadas, os sapatos
calçados.
Helena apoiou as costas contra a parede
estofada da carruagem, mantendo as muitas
camadas do vestido erguidas contra o peito, sem
poder ver direito o que ele fazia, pois a barriga e o
tecido estavam entre ela e a imagem de Rony.
Agitada moveu o quadril, como quem
implora.
Rony olhou para cima, analisando sua
expressão de expectativa. Sorriu sem vergonha,
sabendo que ela não poderia ver. Suas mãos
grandes seguraram seu quadril no lugar e ele se
ajoelhou no chão da carruagem.
Esta, por sua vez, sacolejou e ele se
inclinou enquanto Helena soltava um palavrão por
ter se desequilibrado.
Afastando sua perna, Rony procurou
uma posição confortável para ela. Não podia
simplesmente escarranchar suas pernas. Tinha que
ser cuidadoso. Helena decidiu por ele, e passou a
perna sobre seu ombro, não lhe dando outra
alternativa a não ser baixar a cabeça e ir ao
ataque.
Molhada, ela estava tão molhada que o
surpreendeu. Não estava brincando quando lhe
dissera que estava em fogo puro, o desejo tirando
seu juízo.
-Não demore, não demore – ela disse
num tom aflito e Rony obedeceu.
Sua língua saiu de sua boca, para
desaparecer entre suas dobras. Ela tinha pressa e
ele daria a ela exatamente o que queria.
-Santo Deus! – ela exclamou, fechando os
olhos com força, gemendo.
Não que precisasse fazer muita coisa, no
estado de excitação que estava, qualquer toque
seria o suficiente para quebrá-la, mas ele se
esforçou.
Chupou aquele recanto com toda sua
dedicação, enquanto ela se contorcia. Demorou
pouco, uns cinco minutos até sentir seu
estremecimento.
Sua intimidade estava tão rosada e
perfumada que ele esfregou os dedos, antes de
lamber mais um pouco, devorando aquela flor
aberta para ele.
Helena tremeu da cabeça aos pés e
sentiu que estava prestes a chegar a um lugar
muito quente. Óbvio, sempre chagava a esse lugar
nos braços de Rony, mas hoje era diferente. Ela
estava queimando, e para ser bem franca nem
tinha nada a ver com ele.
Até mesmo o toque da seda da roupa de
baixo a deixou em ponto de bala.
-Isso, isso, isso, isso...não pare, não pare,
não pare, não pare...oh, Rony, não pare... – seu
choramingo desesperado transformou-se num
pequeno gritinho de prazer quando chegou lá.
Rony continuou acariciando-a
lentamente, esperando seu corpo se acalmar. Ela
soltou um inconfundível suspiro de felicidade e
sacies quando se aquietou.
-É linda quando goza – ele disse,
endireitando o corpo e sentando-se ao seu lado.
Helena não respondeu nada, apenas
recostou a cabeça em seu ombro e relaxou.
O vestido foi arrumado, as vestes
estavam no lugar. Helena acreditou
fervorosamente que não havia nada mais delicioso
que aquela calmaria dos sentidos, depois de
explodir de prazer. Mas estava enganada.
A carne quente do ombro de Rony sob
sua cabeça, o vai e vem de sua respiração.
Aquelas mãos grandes e fortes que acariciavam
sua barriga e seus cabelos.
A voz rouca sussurrando em seu ouvido...
Quando Helena se afastou um pouco para
olha-lo, achou que veria uma mulher calma e
serena.
Mas não. Seus olhos brilhavam como
dois rubis em chamas.
-Eu quero de novo – ela disse muito
baixo, antes de puxá-lo pela gola da camisa com
as duas mãos e beija-lo.
Capítulo 129 - Quanto mais, melhor

A casa estava fechada e vazia, e ao fechar


a porta e trancar, Rony ficou aliviado. Ainda bem
que todos estavam na festa, pois ele não pararia
por nada do mundo, e seria muito constrangedor
explicar-lhes a razão de tanta pressa em subir para
o quarto com sua esposa.
Helena deu um passo para trás quando
ele passou por ela, rápido e ansioso, segurando
sua mão e a puxando consigo. Até esqueceu-se do
seu medo de subir ou descer escadas.
Acompanhou-o no mesmo ritmo.
O coração batia tão rápido e tão forte que
causava uma espécie de surdez momentânea,
como se seus ouvidos estivessem tampados.
Dentro do quarto, ele trancou a porta e
quase o indagou o porque, se a porta de casa
estava fechada. Foi quando corou. Claro, ele
mentira que ela não estava bem, e quando
retornassem, a primeira coisa que Anna faria seria
conferir se precisava de algo.
Aturdida pelo tamanho da sensação que
queimava em seu corpo, virou-se de costas,
querendo se recompor um pouco antes de
enfrentá-lo.
Um som abafado, como se estivesse
morrendo escapou de sua garganta quando Rony
abraçou-a por trás. Seus braços a mantiveram
abraçada a ele, o corpo todo colado as suas costas.
-Eu te quero, Helena.
Ela fechou os olhos, sentindo sua ereção
roçando e pressionando suas costas. Sim, ela
também queria.
Queria se curvar e apoiar as mãos na
mesa de pentear, e deixá-lo tomá-la por trás. essa
imagem foi tão forte dentro de sua mente que ela
gemeu como se estivesse sendo tocada.
-Em que está pensando? - ele desceu
beijos muito suaves por seu pescoço, depois de
afastar os cabelos.
-Penso em... Hum... Me curvar - ela
contou, sem notar o que fazia.
-Não, não poderia me controlar - ele
discordou – Vamos fazer na cama, com cautela e
cuidado.
A voz dentro do seu ouvido amoleceu
seus joelhos e Helena achou que desmaiaria.
-Vamos para a cama – ele mandou e ela
girou em seus braços, beijando-o.
Rony não esperava, e por isso não
correspondeu imediatamente, mas ela nem se
importou. Colocou sua língua dentro daquela boca
carnuda de Rony e sorveu seu gosto, seu calor,
entregando-se completamente ao prazer de beijar.
Beijar. Apenas beijar. Os cabelos macios
e ruivos em seus dedos, tão sedosos e macios
quanto a pele do pescoço, arrepiada sob seus
dedos. Ombros tão largos que Helena desceu as
mãos por eles, sentindo os contornos dentro
daquele casaco pesado e elegante.
Ombros de homem. Homem. Peito de
homem. Deus, como precisava de um homem.
Rony soltou-se dela, empurrando-a
gentilmente.
No passo que iam, ele gozaria antes de
tirar as roupas. Era homem, e o cheiro de fêmea
estava no ar. Sua excitação entrando por suas
narinas, seus poros, e causando uma onda
completa de êxtase e expectativa em seu sexo.
-Tire a roupa – ele pediu, enquanto abriu
o casaco.
Helena não precisou de um segundo
aviso.
Rony cravou os olhos azuis em sua
mulher, despindo as roupas em tempo recorde.
Ágil demais para alguém tão redonda. Sorriu sem
que ela notasse, principalmente quando ela quase
arrancou o vestido.
De repente ela parou. Como se levasse
um choque ela parou.
Vestia apenas a camisa íntima. Um
profundo suspiro avisou que algo estava errado,
principalmente quando ela o viu completamente
nu e se aproximando.
O quarto estava iluminado e ela pareceu
se incomodar com isso.
-Helena?
-Eu...
Um passo para trás, ela estava se
afastando e não se aproximando.
-Diga – ele não a deixou ir muito longe,
segurou-a pelo braço, correndo os dedos por sua
pele, querendo seduzi-la.
-Não vou tirar a camisa íntima – ela
avisou num tom irredutível.
-Helena – ele reclamou, mexendo na fita
que prendia o decote amplo do diáfano tecido.
-Não – ela pareceu prestes a desistir, e
Rony ponderou a situação.
Helena estava corada. Seu desejo
avassalador. Podia farejar, podia sentir o calor que
emanava dela. Os bicos dos seios se sobressaiam
pelo tecido quase transparente, e ele podia ver
quase tudo que ela queria esconder por tola
vaidade.
Não lhe negaria o prazer, fosse como
fosse.
-Deite-se - ele pediu rouco.
Helena andou até a cama, como se
flutuasse. Estava nervosa, amedrontada e ao
mesmo tempo louca por mais. Na rua, o som alto
de vozes e de carruagens o fez hesitar, e se
aproximar da janela espiando se era na casa ou
nos vizinhos.
-Não! – Ela saiu da cama, apavorada
achando que ele a deixaria por conta de visitas.
Abraçou-o e o puxou para um beijo.
Rony a pegou no colo e andou para a
cama, carregando-a sem quebrar o beijo.
Helena ficou sobre a cama, ansiosa,
deitada contra os travesseiros, as pernas abertas,
convidando-o a subir sobre ela. Rony queria
enlouquecê-la antes, e correu as mãos pelas suas
pernas, até erguer a camisola pelas coxas,
amontoando o tecido entre suas pernas.
Ela jogou a cabeça para trás, gemendo,
esperando, querendo, e Rony não lhe deu o que
esperava. Subiu as mãos para os seus seios, ainda
sentado ao seu lado, agarrando os dois com as
duas mãos e sentindo o peso.
-Aperte! Aperte-os!
Seu tom de ordem não ocultava o tom de
quem implora, e ele fez o que pediu, imaginando
se não seria doloroso. Mas se ela queria...
Seu profundo gemido de entrega o avisou
que estava no caminho certo.
Estavam graúdos e inchados, e através do
tecido pode ver os bicos durinhos pedindo por
beijos. Curvou a cabeça e capturou um deles
através do tecido, chupando com pericia.
Helena gemia e gemia, e ele aumentou a
intensidade, passando de seio a seio, até molhar a
camisola, e poder ver os seios com quase total
nitidez.
Desceu os beijos para baixo, sobre sua
barriga arredondada, e ela pareceu incomodada.
Insistiu, acariciando sobre o umbigo que estava
proeminente.
Helena tentou disfarçar esse gemido mas
não conseguiu. Fechou os olhos, desfrutando, e
quase morreu de susto quando ele levantou a
camisa até a altura dos seus seios.
-Não! – ela tentou se cobrir, saltando na
cama – Não faça isso! Seu...seu...!
Rony segurou o tecido, quando ela tentou
se cobrir.
-Solta! – ela esbravejou.
-Não! É meu filho, quero ver sua barriga!
-Eu não quero que veja! – ela disse
exasperada.
-Porque não? É uma barriga linda! – ele
ficou indignado.
-Não é não! Estou... Gorda. – ela disse
com tanta veemência que Rony quase riu.
-Já falamos sobre isso. Eu não acho que
esteja gorda. Está grávida!
-Meu umbigo saltou! – pronto, escapou.
Envergonhada, respirava com força.
Arrancou o tecido das mãos dele e se cobriu
completamente.
-O que quer dizer com isso?
-Está para fora. É horrível. – Havia raiva
em sua voz por ter que contar isso. E lágrimas.
Raiva e lágrimas.
Estava adorável. Tão adoravelmente sexy
que sentiu uma punção de desejo castigar seu
pênis.
-Helena, com ou sem umbigo para fora,
estou excitado. E a culpa é sua. Se tem algum
problema com seu próprio umbigo, então não olhe
para ele. Mas eu, como não tenho problema algum
com ele, quero vê-lo – disse achando que tinha
certa lógica no que dizia.
-Acha que é só isso? – ela cruzou os
braços sobre os seios, erguendo-os graciosamente
– Eles saltam quando ando. Já viu? Balançam. –
reclamou, se referindo aos seios tão mais
redondos.
-Sim, e estão graciosamente suculentos.
Se me deixasse tirar sua camisa eu... - tentou
passar uma das mãos por um dos seios, mas ela se
afastou. Virou-se de lado, emburrada.
Esfregou uma perna na outra, ele achou
uma bobagem que se refreasse por causa disso.
-Certo, eu não mexo mais na sua camisa
– ele se conformou – Quero fazer amor Helena, e
tem que ser agora.
-Porque? – ela o olhou por sobre o ombro
– Porque você quer fazer amor?
-Vamos ter essa conversa de novo? – ele
perguntou, quase desistindo – poderia ter me dito
que conversaríamos antes de me deixar excitado,
não podia?
-Rony... – ela olhou para a cintura dele, e
para sua ereção. Suspirou.
-Helena, me deixe dizer uma coisa, olhe
para mim, quero que veja que estou sendo sincero.
A contra gosto, ela virou-se em sua
direção e olhou em seus olhos.
Como era pateticamente adorável a
fragilidade feminina em relação a beleza, pensou.
-Espera o meu filho, e amo seu corpo por
abrigá-lo. Amo as mudanças que ele está
sofrendo. Seus seios estão fantásticos, e quero
pegar neles, seus quadris estão mais largos, e
quero agarrá-los também. Sua barriga é a única
parte que não faz parte das mudanças positivas.
Não vou mentir que é meu ideal. Mas faz parte da
gravidez. E se você engordar algum dia, no futuro
irei aprender a gostar da sua barriguinha do
mesmo jeito que gosto das suas curvas bem feitas.
Isso é o amor. Ou acha que um dia não terei
barriga de vinho e pelancas, como todo mundo?
-Espero que não – ela disse infeliz.
-Eu também – ele fez graça para que
sorrisse – Tire a camisa, Helena. Não tenha
vergonha de mim.
-Rony... - ela lamentou, com aquela
expressão de sofrimento.
Não estava com vergonha do corpo, disse
a si mesma, queria agradá-lo e sentia-se tão
abaixo das outras mulheres com quem ele havia
estado antes dela.
Insegura, deixou-o erguer sua camisa
íntima e revelar suas novas curvas. Rony ainda
não a vira nua desde que a barriga havia saltado
praticamente para fora. Ela podia jurar que havia
ido dormir e acordado de outro jeito, pensou
marota.
Rony olhou para ela com olhos
apaixonados.
Quanto exagero, disse a si mesmo, estava
toda magrinha, com exceção da barriga e dos seios
mais cheios.
Uma barriga que lembrava uma bolinha
de tão redonda. Teria dito isso se ela não estivesse
tão pouco segura quando ao próprio corpo.
-Rony... – ela gemeu quando ele mordeu
suavemente o mamilo.
Suas pernas se separaram
instintivamente, e ele desceu a mão para lá,
estimulando.
Nem precisava, estava encharcada.
-Oh, eu preciso, Rony... Preciso muito –
estava muito corada pela necessidade, ou apenas
vergonha de admitir.
Desesperado para fazer-lhe amor, ele
atendeu seu pedido.
Se posicionou entre suas pernas, sorrindo
quando ela se remexeu ficando mais perto. Rony
optou por ficar de joelhos e não pesar sobre ela.
Olhou bem para sua vagina, tão atiçada,
úmida e rosada, e se encaixou lentamente em sua
fenda.
Helena pousou suas mãos nas coxas
musculosas, e apertou a carne quando começou a
entrar.
Rony se ajeitou e investiu mais um
pouco. Mordeu o lábio, esperando que a dor o
acalmasse um pouco. Teria dado certo se Helena
não houvesse jogado o quadril para cima, e o
obrigado a seguir para frente.
Helena arranhou aquelas coxas tensas
quando o sentiu entrar totalmente. Era o céu.
Revirou os olhos de prazer, achando que
nunca estivera tão cheia como agora. Como
sentira falta disso!
Parecia maior. Mais rijo. Mais quente.
Oh, ele parecia tão mais rápido, mais
forte. Intenso.
Rony se esforçou para ser vagaroso.
Calmo e vagaroso. Para ser franco, Helena não
estava muito participativa. Em seu próprio mundo
ele era coadjuvante, e nunca mais em sua vida
subestimaria os hormônios de uma mulher
grávida.
Era uma benção e ao mesmo tempo uma
maldição. Excitada, porém emotiva demais. E
quem lhe disse que o paraíso é perfeito, pensou.
-Hum... Hum... Hum... – Helena se
contorcia querendo que aprofundasse, mas ele não
o fazia.
Estocadas lentas e suaves, muito calmas,
para não machucá-la.
-Rony, forte, amor, mais forte – as
palavras eram desconexas, e ela não tinha ideia do
que estava dizendo.
Ele acelerou um pouquinho, e ela quase
gritou de paixão, acelerando com ele. Rony sorriu
quando Helena jogou o quadril para cima, pedindo
mais.
Acelerou mais um pouquinho e mais um
pouquinho até ouvir seu grito de puro prazer. Ela
diria se estivesse machucando.
Rony agarrou seus seios, e Helena achou
que morreria. Estava tão sensível... Os bicos
doloridos contra a mão calejada era uma
verdadeira tortura.
-Amor, mais, mais, oh... - seus gemidos
morreram quando ela viu luzes. Seu corpo foi
apanhado de surpresa por uma onda de paixão e
prazer, e ela quase sufocou. Rony entrava meio de
ladinho, com medo de tocar em seu útero com
todo seu cumprimento, e desse modo, tocava algo
dentro dela que nunca antes fora tocado com tanta
precisão.
Rony também notou, pois ela o
ordenhava e soltava, enquanto gozava
silenciosamente, surpresa e deliciada com aquele
prazer repentino.
Quis dizer a ele que era muito, estava
satisfeita, mas não teve coragem.
Aquele fogo dentro de si não aplacava, e
ela continuou sem moendo contra ele.
-Me morde, Rony, amor, vem, me beija –
ela tentou puxá-lo, sem se importar nem um
pouquinho se estava confessando o quanto o
queria.
Estava louca e via tudo vermelho.
Como Rony não se curvava, ela sentou-
se, arrancando dele um gemido profundo, pois o
travava dentro de si naquela posição. A gravidez
entre eles era novidade, era a primeira vez que
faziam com uma barriga de seis meses entre eles.
Diga-se de passagem, uma super barriga
de seis meses.
Apoiando as duas mãos no colchão
embaixo de si, Helena jogou a cabeça para trás
gemendo muito a cada estocada. Era difícil, e a
pequena dorzinha aumentava o seu desejo.
Tendo seus seios tão perto, Rony não
aguentou e mordeu um dos bicos arrancando dela
um gritinho de lamento.
Ele fechou os olhos, estava difícil
controlar, estava tão molhada de seu gozo, tão
escorregadia, tão fogosa...
Helena choramingou quando ele cresceu
e inchou um pouco mais dentro dela, e prevendo o
inevitável, ela o abraçou com ambos os braços,
confiando nele para não cair de volta contra a
cama.
-Mais rápido – ela implorou – eu digo se
doer, mas por favor amor, mais rápido!
Helena implorando em seu ouvido,
apertada contra ele, era demais para resistir, e
mantendo-a grudada a si, fez o que pediu.
-Ah... – Helena deixou a cabeça cair para
trás, quando ele começou as penetrações rápidas e
profundas. Seus cabelos balançavam e tocavam
sobre suas costas, causando umas sensação de
liberdade. Suas pernas estavam abertas em volta
dele, e Rony mantinha-se de joelhos, o torço de pé
equilibrando-os e ela mantinha os olhos fechados
fortemente, sentindo aquele membro
deliciosamente ereto partindo-a em duas.
Forte. Longo. Duro. Rápido. Forte.
Longo. Duro. Rápido. Forte. Longo. Duro.
Rápido. Forte. Longo. Duro. Rápido. Forte.
Longo. Duro. Rápido. Forte. Longo. Duro.
Rápido. Forte. Longo. Duro. Rápido. Forte.
Longo. Duro. Rápido. Forte. Longo. Duro.
Rápido... Rápido... Rápido... Rápido... Rápido.
A sensação de queimação subiu por seu
sexo e se espalhou em seu ventre, obrigando-a a
respirar com força e gemer como se sua vida
dependesse disso. Seu quadril endureceu e trincou
suas paredes vaginais em volta dele, quando a
tensão do quase orgasmo a tomou. Ele insistiu, o
quadril martelando contra sua fenda, e Helena
gritou como se estivesse sendo machucada.
Gritou e gozou como nunca. Aquilo não
passava, e ela soltou-se do seu pescoço, caindo
para trás, erguendo os peitos, pedindo mais. As
mãos de Rony agarraram seus seios massageando-
os enquanto dava tudo de si para satisfazê-la.
Deveria estar passando, mas não. O orgasmo
continuava, e as estocadas fundas causaram outro
orgasmo, tão intenso quanto o anterior.
Ele não pode segurar mais. Quando ela
apertou novamente em volta de seu pênis,
tremulando e ondulando com seu prazer, ele
gozou. Não queria ejacular dentro, para não
causar-lhe desconforto, mas era tarde.
Esvaziou-se dentro daquele corpo macio,
saindo antes de amolecer, num último resquício de
cuidado.
Queria tanto ter sido mais gentil.
Helena olhava para ele, exausta e
satisfeita. Parecia ter esquecido-se dos complexos
com o próprio corpo, e Rony sorriu deitando-se ao
seu lado.
Estava exausto, completamente sem
forças para qualquer coisa. Pretendia deitar e
dormir um pouco, recuperar as forças. Mas antes,
beijou-a languidamente.
-Hum, Rony - ela chamou baixinho
quando se separaram.
-Hum, fala – ele se ajeitou nos
travesseiros, pronto para uma soneca merecida.
-Agora podíamos ir para a festa da
Luana, não é?
Rony olhou para ela. Havia algo de
adorável em sua face inocente. Certo. Acabou com
ele, e estava ali, esbanjando energia. Era bom que
se lembrasse disso da próxima vez que a
engravidasse.
Capítulo 130 - Sorrisos e tropeços

Helena desconversou cada vez que Alice


perguntava como poderia ter se recuperado tão
rápido do seu mal estar. Estava quase
conseguindo estragar seu bom humor quando
Luana e Nevill finamente ficaram livres dos
compromissos com os parentes da noiva e do
noivo.
-Eu me casei! – sua exclamação não
parecia ter muita lógica, devido a obviedade da
situação – Sete anos de noivado! Achei que nunca
casaríamos!
Seu noivo, agora marido, Leonard, corou
e pareceu desejar costurar sua boca, mas apenas
sorriu envergonhado.
-Noivamos muito cedo. Éramos crianças
ainda. Eu até estava no colégio interno – era uma
desculpa.
-Eu sei – Luana olhou para ele com olhos
apaixonados e não disse mais nada.
Helena e Alice se entreolharam surpresas.
Não sabiam que Luana era capaz de frases curtas.
Leonard era um rapaz simpático, um
pouco tímido, mas que se soltava completamente
quando o assunto era botânica.
-Sempre quis aprender sobre o plantio de
flores – Helena contava para ele quando Rony se
aproximou – Como plantá-las no verão, quando o
sol é muito forte. Mamãe plantava margaridas,
mas nem sempre elas sobreviviam a temporada de
calor infernal.
-Existem algumas técnicas, Sra.Parker.
-É mesmo? – ela ficou realmente
interessada.
-Sim, tenho alguns livros para indicar.
São leituras que podem ser úteis.
-Leonard, não deixe Helena monopolizá-
lo. Essa pequena tem o dom de ser o centro das
atenções – ele reclamou um pouco enciumado da
conversa entre os dois. – Acredito que sua noiva
esteja ansiosa pela sua companhia.
Helena contou até dez para não pular
sobre ele e arranhá-lo todinho. Quanta
indelicadeza!
Quando ficaram sozinhos, ela ofereceu a
ele seu melhor olhar de desprezo:
-Tenho nome caso não lembre: Helena.
Não preciso de apelidos que me façam parecer
uma criança.
-Apelidos? - ele fingiu não saber a que
se referia.
-Não vai conseguir me irritar – ela avisou
erguendo uma sobrancelha – Acredite, não vou
permitir que me irrite. Essa tarde está muito
agradável para que perca meu tempo brigando
com você!
-Tem toda razão. Também não quero seus
gritos. Quero seus beijos – galanteou, rindo. Sabia
que sua sedução não teria futuro, pois ela estava
mais interessada na festa do que nele.
Helena notou o modo como o Conde
olhava em sua direção e sorriu para ele. Estava
entretido na companhia de Elly, mas
ocasionalmente olhava em sua direção com uma
ruga de preocupação em sua testa.
-Meu pai está tenso. – ela disse dividindo
com ele sua aflição.
-Sim, ele está – ele também ficou um
pouco mais tenso ao vê-la notar esse fato.
-Porque está tenso agora que sua vida
parece estar mais feliz? – ficou curiosa.
-Lembra-se da fonte que me mostrou a
alguns dias atrás? -ele perguntou olhando em
volta preocupado em estragar a festa.
-Sim – ela não entendeu.
-Muito gentil da parte do Conde oferecer
seu salão de festas para a comemoração do
casamento de Luana e Leonard – Rony mudou de
assunto enquanto segurava sua mão e a conduzia
para fora do lugar.
-Na verdade, fui eu quem ofereceu... –
seguiu seus passos apressados e riu quando
saíram da casa e a brisa da tarde acariciou seus
cabelos. –Porque estamos deixando a recepção?
-Porque preciso contar-lhe algo.
Helena sentou-se no banco, próximo a
fonte, entre as árvores e suspirou. Seria uma boa
ideia pedir a Rony que construísse um banco de
madeira para colocarem próximo ao lago, em
casa. Um lugar para sentar e observar seu bebê
dar os primeiros passos pela grama aquecida pelo
sol...
Essa imagem veio tão forte, e tão real que
ela sorriu.
-Em que está pensando, Helena? – ele
perguntou ciumento.
Alguma coisa, ou alguém muito
importante povoava seus íntimos pensamentos e
ele detestava a ideia de ser outro homem.
-Nada que seja da sua conta, esposo.
-Se você diz – ele retrucou pouco a
vontade.
Helena suspirou, irritando-se com seu
ciúme.
-Pensava em colocar um banco como esse
perto do lago, para aproveitar o dia e ler, quando
voltarmos. Nada que exija sua atenção. Ou
preocupação.
-Mesmo? Pensei ter visto algo de feliz em
sua expressão. - insistiu.
-E não é algo feliz, sentar-se a sombra de
um carvalho, com um livro, aproveitando a brisa e
o calor de um dia ensolarado? – ironizou.
-Se você diz – ele repetiu-se, incomodado
em ser deixado de fora de seus pensamentos.
-Precisava contar-me algo, ou apenas,
queria me tirar da comemoração e estragar minha
paz de espírito? -ela perguntou risonha.
-O mensageiro do juiz voltou a duas
noites – ele disse a queima roupas. - Trouxe com
ele todos os documentos devidamente assinados,
assegurando que a queixa infundada contra mim
foi retirada. Segundo ele, o pai de Susan não teve
coragem de contradizer as ordens de um juiz de
maior porte que ele. Podemos voltar para casa.
Helena não respondeu nada. Não
esperava por isso.
Mentira, esperava. Mas ainda se apegava
a esperança de ter mais alguns dias em Londres.
-Helena? – seu silêncio o desconcertou –
Não quer voltar?
Era um assunto que sempre adiavam.
-Quero, claro que quero – era verdade.
-Então, qual é problema?
Tenso, esperava sua resposta. Quando
Helena olhou para ele, seus olhos castanhos
mostraram fragilidade e Rony sentou-se ao seu
lado, segurando uma de suas mãos.
-Me conte o que está afligindo-a.
-Quero voltar para casa – ela confessou,
aflita – Mas não queria deixar Londres.
-Como assim? Não pode estar em dois
lugares ao mesmo tempo, Helena – sua voz era
suave apesar da impaciência.
-Eu adoro a casa em que estamos
morando. Não quero deixá-la. Não quero deixar o
trabalho no Rosie Nell. Não quero deixar de ver as
pessoas que conheci nessa cidade tão inóspita e
gelada. Encontrei pessoas tão...adoráveis.
-Essas pessoas não deixaram de fazer
parte de sua vida. Poderemos vir a Londres de vez
em quando e passar algum tempo. Além do mais,
o trabalho voluntário pode ser feito em qualquer
lugar. Você, melhor do que ninguém sabe, que há
muitas pessoas desamparadas neste mundo.
-Quando partiremos? – ela perguntou
pesarosa.
-Em alguns dias – deu de ombros.
-Quantos? – insistiu.
-Quatro. Segunda-feita partimos para
casa.
Ela engoliu em seco, as mãos geladas.
-Eu estou feliz por voltar, mas estou triste
por partir. Acha que estou louca?
Rony riu diante de sua tentativa de graça.
Helena fazendo uma piada era algo quase
grotesco. Para quem quase não sorria até bem
pouco tempo atrás, ouvir uma piada era
maravilhoso.
-Sim, está louca – concordando beijando
seus dedos com todo seu carinho.
Ficaram em silêncio por um longo tempo.
Helena tinha muito em que pensar e a música que
vinha da casa, suave e amortecida pelas árvores,
era o fundo perfeito para aquele fim de tarde.
-Posso comprar algumas coias antes de ir
embora? – ela perguntou de repente, quando ele
estava quase assustado com seu silêncio. – Temos
algum dinheiro ainda?
-Temos o suficiente para algumas
compras – ele concordou, ponderando se não
estaria muito mão aberta com Helena..
Desse jeito acabaria precisando pegar um
empréstimo para dar conta de tantos vestidos.
-Gostaria de comprar alguma roupa de
cama. Não posso receber o Conde tão mal. Ele é
um homem de luxo – ela disse pensativa.
-Acredito que ele possa levar sua própria
roupa de cama, já que é da família – ele quase riu
do seu ar compenetrado.
-Não posso deixar de comprar uma
lembrancinha de Londres para Juanita e os
meninos. E tem seu pai e sua mãe também. Não
seria cortes voltar para casa com vestidos novos e
não levar nenhuma lembrancinha para sua família.
-Tenho certeza que eles entenderiam,
Helena – Rony sorriu de sua tolice.
-Acha que compramos tudo que será
preciso para o bebê? Roxanne me disse que sim.
Temos mamadeiras. Várias, Aliás. Roupas,
casaquinhos, cueiros, mosqueteiros, cobertas,
travesseiros...o berço...eu não sei se seria prático
levarmos daqui...
-Não, não seria – ele instigou-a continuar
com seus planos de mulher.
-Acha que teremos lugar para tanta
gente?
-O Conde e Elly ficarão no hotel. – ele
contou – está tudo acertado para isso.
-Porque? Porque ele não quer ficar
conosco? – assustou-se com essa rejeição.
-Porque somos um casal, e teremos um
filho, precisamos de privacidade, e também, por
que não seria nada bom para a convivência, impor
a sua filha o relacionamento que está mantendo
com Elly. Eles são amantes, Helena.
-Como se eu não soubesse – ela deu de
ombros, surpreendendo-o. – Acaso vocês dois
pensam que sou tola?
-Deveria saber que não – ele concordou
sorrindo.
-Papai é um amor. Mas não é tão
generoso com a caridade a ponto de colocar uma
pobre mulher necessitada dentro de sua casa, sem
segundas intenções.
-E pobrezinha dela,que não soube se
defender – ele atiçou.
Helena sorriu para ele conspiratória.
-Sim, exatamente. Elly está encantada
com seu príncipe encantado. – defendeu-a.
-Não vamos discutir sobre as frivolidades
e fraquezas das mulheres, Helena.
-Não, ou teríamos que discutir sobre
soberba e canalhice dos homens – ela respondeu
imediatamente.
-Tem toda razão – ele concordou,
falsamente humilde.
– Ou se esquece que nós mulheres, temos
que ser frívolas para agradá-los e fracas para que
se sintam mais fortes?
Atingido em cheio por essa verdade, os
olhos azuis brilharam perigosamente diante de seu
ataque feminista.
-Em quatro dias estaremos em casa,
Helena. Estou ansioso – ele mudou de assunto. –
Não imagina o quanto estou ansioso.
-Imagino que sim. – ela acariciou o
ventre e ergueu os olhos para ele, com algo de
cândido na face – Detestaria que meu bebê
nascesse em Londres, não imagino como criá-lo
aqui.
-Será uma menina levada como a mãe ou
um menino sério e compenetrado como eu? – ele
provocou.
-Sério? Você? – ela riu com graça – Se
for uma menina, o que tenho certeza que não é,
seria angelical e linda como Alice – ela decidiu.
-Angelical? -ele brincou.
Ignorou-o e prosseguiu, sonhadora:
-Será um menino. Ele vai aprender a
gostar da terra e do estudo. Um dia será um
homem culto e ao mesmo tempo dará valor as
coisas simples da vida. Quando for o momento
certo, decidirá se prefere viver no campo, ou na
cidade. Escolherá uma esposa doce e meiga. E se
casará.
-Sim, ele fará tudo isso – ele disse com
uma nota de incredulidade na voz.
-Duvida? – estranhou.
-Helena, esse menino terá um gênio do
cão. Será tinhoso e mal criado, e passaremos um
dobrado para criá-lo no caminho certo. Quando for
maior deidade, irá seduzir quantas mulheres puder
e viverá na farra em Londres, até tropeçar em uma
moça que o conquistará. Aí, ele se casará e penará
na mão da possível megera. E achara a felicidade.
Mas até lá, eu terei a cabeça branca, pois ele
acabara com a minha paz.
-Fala como se fosse um monstro e não
um bebê – deveria se irritar com ele, mas tinha
seu fundo de verdade.
Rony rinha um gênio terrível e ela não
era a pessoa mais comedida do mundo, então...
-Será uma criança adorável. Mas dará
trabalho – ele definiu diplomaticamente.
-Sim, tem toda razão – concordou;
Os dois se olharam e quando ela sorriu
ele também sorriu.
Tocava sua barriga, e as mãos de ambos
estavam misturadas, num reconfortante carinho ao
filho que estava protegido dentro dela.
Rony a beijou delicadamente na testa e
Helena falou baixinho, menos assustada e triste:
-Vamos voltar para nossa casa – não era
mais que um sussurro.
Um sussurro feliz.
-Sim, vamos voltar para nossa casa – ele
desceu os beijos para sua bochecha.
-Rony...não faça isso -ela pediu, se
encolhendo quando seus lábios encontraram um
ponto atrás de sua orelha, causando-lhe cócegas e
uma onda de prazer inenarrável.
-Quer voltar para casa? -ele sugeriu com
voz sedutora.
-Hum...- ela virou-se para ele, enlaçando
seu pescoço e molhando os lábios antes de dizer
maliciosa -...Tem um caminho para o segundo
andar...basta usar a cozinha.
-Está com calor? -ele perguntou no
mesmo tom de malícia fazendo menção a sua
confidência.
-Canalha – ela sussurrou de volta,
deixando-o correr os lábios por seu pescoço e
correr a língua pelos seios, até onde o decote do
vestido permitia.

Se alguém deu por falta dos dois, eles


não sabiam.
-Acha que serão felizes? – Helena
perguntou em dado momento.
Rony estava de pé olhando pela janela,
acompanhando o movimento das pessoas que iam
embora. Havia sido uma festa pequena, para os
íntimos, mesmo assim haviam muitas carruagens
se afastando.
Estava nu, espiando pela janela
entreaberta e Helena estava na cama.
Ele virou-se em sua direção admirando a
mulher. Usava apenas o lençol para esconder a
nudez, as pernas escapando pelas bordas do
mesmo. Os cabelos encaracolados estavam
espalhados nos ombros, e travesseiros e quando
ela se sentou, o lençol escorregou um pouco,
quase mostrando os seios.
-Leonard é um bom homem – ele
explicou – E eles se entendem bem, por mais
incrível que possa parecer à primeira vista – ouviu
o risinho dela e sorriu a esse som tão fascinante. -
Serão felizes.
-Luana merece um marido que seja bom
– seu tom era de ridicularizarão – é muito triste
quando uma boa moça se casa com um homem
sem escrúpulos.
-É mesmo? -ele abandonou a janela e
andou até a cama.
Predador, nu e viril. O corpo era todo
duro, músculos firmes, virilidade atiçada. Helena
passou os olhos por seu corpo, se atendo aos pelos
ruivos que adornavam sua virilha em volta do
pênis flácido, porém impressionante mesmo em
repouso.
Quis saber se todos os homens eram
assim, ou apenas Rony. Alice lhe contara em
segredo que achava John muito bonito nu, embora
ele não a deixasse fazer as coisas que Helena
contara a ela que fazia.
John tratava Alice como se fosse de
cristal.
-Sim, homens ambiciosos e
aproveitadores, podem trazer um vendaval para
vida de uma boa moça, Rony.
-Explique-se – ele entrou na cama, se
curvando sobre ela.
-Deixe-me criar um exemplo – seu tom
beirava o riso, quando escapou de seu beijo –
Estou ficando dolorida desse jeito – avisou e ele
riu antes de desistiu e cair ao seu lado na cama.
Haviam feito amor três vezes
consecutivamente, e somando as vezes anteriores
mais cedo, estava no seu limite.
-Dê-me seu exemplo – despojado ele
puxou o travesseiro e manteve um dos braços atrás
da cabeça enquanto o outro repousava sobre a
barriga de Helena.
-Maridos aproveitadores, tentam roubar
sua herança. Não satisfeitos, exigem seu corpo em
atos, muitas vezes, ultrajantes a uma senhora.
-Ultrajantes? -ele quase riu.
-Sim, pecaminosos, e ultrajantes. Sabia
que confessei esse pecado? Ultrajante! -ela
continuou reprimindo o riso – Mas claro, parece
pouco, até colocar sua amante grávida dentro de
sua casa – notou que ele parecia mais atingido
agora – Dias,semanas! Ousa querer que sua
esposa, ainda troque as fraldas de um filho
bastardo! Um absurdo!
-Sim, um absurdo – ele engoliu em seco,
não achando mais tanta graça assim na piada.
-Obviamente, os transtornos nunca
chegam ao fim. Ele precisa ser preso, claro, como
não seria? Precisa fugir e precisa que vá junto,
afinal, a pobre infeliz é seu álibi. Seu passaporte
para a liberdade! Pobre mulher sem sorte, não é?
-Realmente. Sem sorte – definitivamente
a brincadeira chegara ao fim.
-Claro, que o melhor sempre está por vir.
Ele mente.
-Mente? – seus olhos estavam
arregalados pois ouvir sua história mostrava o
quanto ele era calhorda.
-E como mente! – ela fez ares de
seriedade, mas por dentro estava adorando sua
expressão de desamparo – Engana a pobre mulher
infeliz, mentindo que seria até culpada de sua
morte em um duelo que não existe! Não é o
cumulo?
-Sim, é o cumulo.
Ele parecia ter corado um pouco e estava
tão constrangido que Helena achou-o lindo. Ele
não olhava para ela, pensativo.
Pobrezinho.
Ela conteve o riso.
-Mas tem razão, Luana será feliz, seu
noivo é um bom rapaz.
-Sim, muito bom rapaz. – em sua mente,
a única certeza, de que Helena tinha todas as
razões do mundo para não conseguir amá-lo.
-Acha que o Conde sabe que estamos
aqui? – ela perguntou quando ele puxou as
cobertas, num claro sinal que iria dormir.
-É claro que sim – ele virou-se para o
outro lado, envergonhado demais para querer
qualquer coisa dela – Se importa de dormirmos?
-Claro que não, você me deixou exausta –
acusou.
Foi a última facada em sua autoestima.
Exigia demais de Helena e não lhe oferecia nada
em troca.
Ela esperou que apagasse as luzes e se
virasse para o outro lado, para sorrir.
Pobrezinho, o rebaixou totalmente. Era
bom para não se sentir o dono do mundo só
porque ela estava com um ou dois hormônios fora
de sintonia.
Arruinado e com o coração em
pedacinhos, Rony se martirizava quando ela se
ajeitou para dormir virada para o seu lado.
Sua barriga encostou-se a suas costas,
mas era um acidente, provavelmente.
Helena tinha todas as razões do mundo
para repudiá-lo.
Foi quando sentiu.
Helena acariciava seus cabelos.
Um suave cafuné.
Não lhe pedira isso. Não a seduzira, até a
paixão extinguir sua força de vontade de se
revelar. Um espontâneo e carinhoso cafuné.
O que isso queria dizer depois de todo
aquele discurso sobre ser o homem errado?
-Boa noite – ela disse na escuridão, com
a voz sonolenta.
-Boa noite – ele respondeu imóvel,
apreciando os carinhos inesperados.
-Durma bem, amor.
Sua voz soou muito baixa e os carinhos
pararam. Helena havia adormecido.
Ambicioso, aproveitador e o que mais ela
pudesse chamar.
Mas que Helena estava apaixonada por
ele, não havia a menor dúvida!
Capítulo 131 - Revelando o passado

A terça feira nasceu nublada. Helena


voltou para casa com o coração apertado. Rony
ajudou-a a descer da carruagem, dispensando as
gentilezas de Adolph.
Ele teria muito trabalho para trazer todos
os pertences para dentro da pequena casa dos
Lourenço.
Helena olhou para a casinha e sentiu um
aperto no coração.
Demoraria meses até poder voltar a
Londres. Sentiria falta do seu canteiro de rosas.
Sentiria falta das cortinas de renda. Sentiria muita
falta de dar bom dia para os Lourenço todos os
dias de manhã através da pequena cerca que
delimitava as duas residências.
Sem bem que, atualmente, Luana estava
viajando de lua de mel.
Seguiu pelo jardinzinho segurando as
lágrimas. Eram seus últimos momentos ali.
Prometera passar sua última noite em Londres na
casa do Conde, e fazer-lhe esse pequeno gosto.
Todos os pertences haviam sido
embrulhados e já se encontravam na mansão
Valença.
Mais cedo, haviam estado com Alice para
ter certeza que ela estava preparada para a viagem,
e que não esquecera nada. Roupas para ela e John,
afinal, o pobre homem havia viajado só com a
roupa do corpo.
Um pequeno sorriso nasceu na sua face
ao pensar nos apuros que John deveria ter
passado, e ainda estar passando com a família
Parker.
Sorriso que não sobreviveu ao entrar na
casa e esperar por Rony na sala. Restara apanhar
os poucos pertences de Anna e Duran.
Sentia uma dor horrível no peito, ao
pensar que talvez nunca mais visse essa casa. Era
uma dramatização, um apego exagerado, mas era
infantilmente doloroso partir.
No fundo, era consciente que sua dor e
seu medo se deviam a essa ter sido uma das fases
mais felizes da sua vida. Aprendera a confiar em
si mesma. A confiar nas pessoas. Redescobrira
seu corpo e sua paixão como algo vital em sua
vida. Sobretudo, aprendera a se controlar.
Ou ao menos, vinha tentando.
Fechou os olhos lembrando-se das noites
de prazer, dos carinhos trocados, das conversas...
Sentiria tanta falta daquelas paredes amarelas!
-Vai chorar outra vez?
A voz paciente de Rony a fez erguer o
rosto e concordar com a cabeça. Não conseguia se
fazer de forte como antigamente. Roxanne lhe
dissera que era assim mesmo na gravidez. Muito
choro. Muita emoção.
Esperava voltar a ser a Helena de sempre
quando o bebê nascesse, embora algo lhe dissesse
dentro de si, que nada em sua vida seria igual
após o nascimento de seu filho.
-Preciso ir ao Rosie Nell. Roxanne pediu
que a visse antes de ir embora – ela tentou
ostentar um ar de autoridade, mas estava
completamente patética.
-Se quiser chorar, não se envergonhe,
podemos ficar um pouco aqui – ele sentou-se ao
seu lado, paciente e compreensivo.
-Eu gosto de amarelo – ela disse em tom
de desculpas, esperando que ele entendesse o que
a magoava.
-Vou lembrar-me disso no futuro –
passou o braço por seus ombros e ela descansou a
cabeça e seu ombro, na curva do pescoço.
-Sentirá falta de Londres? – perguntou
após um momento de silêncio.
-Claro que sim. – afirmou – Mas não
tanto quanto você. Londres para mim não é uma
novidade, e apesar de gostar daqui, essa cidade
sempre foi ingrata comigo. Ao contrário do que
aconteceu com você. Foi recebida com os braços
abertos, Helena, e acredite que desfrutou do
melhor que Londres pode oferecer.
-Mas eu sentirei falta das pessoas – ela
defende-se.
-Sim, o que prova o quanto é doce. Atraiu
apenas as boas pessoas.
-Não se esqueça do episodio lamentável
daquele baile... – ela tentou sorrir e acabar com as
próprias lágrimas.
-Wood não conta. É um rato. – garantiu.
-Acha que estará tudo bem em casa
quando chegarmos?
-Claro que sim. Suarez me escreveu
algumas vezes, contando que tudo está em paz.
Além disso, passaram-se dois meses, Helena.
Apenas isso.
-Dois meses? Tem certeza? Não foi uma
vida toda?
Rony achou graça, e levantou-se.
-Venha, temos muita coisa a fazer ainda
hoje. Sei que quer fazer compras.
-Não precisa me acompanhar – se deixou
ser conduzida pelo braço até a rua, mas não olhou
enquanto ele trancava a casa.
-Não a deixarei sozinha, Helena.
-Adolph...
-Adolph carrega suas sacolas. Mas quem
irá segurar seu braço? Ou dar opiniões?
-Ou atazanar minha vida? - ela sugeriu
em resposta a seu excesso de cuidado.
-Isso mesmo – ele sorriu-lhe, causando
um arrepiou em sua espinha.
Afastou o olhar para que ele não visse o
brilho apaixonado que sabia estar em seus olhos.
Os dois se encararam com iguais
sentimentos e paixão no olhar, quando sentaram
dentro da carruagem. Helena foi a primeira a
desviar o olhar. Queria olhar para Londres, e não
havia melhor oportunidade do que de dentro da
carruagem.
Rony não tentou chamar sua atenção,
respeitando seu apego a cidade.

Estavam surpresos. Muito surpresos;


jamais Helena imaginaria que a visita ao Rosie
Nell terminaria em uma grande reunião. Várias
mulheres haviam se mobilizado para dizer adeus.
Eram mulheres simples, que haviam se
mobilizado até mesmo para pequenas
lembrancinhas. Desde pequenos sapatinhos de
bebê tricotados, até um lindo chalé comprado por
Roxanne.
-Será difícil esquecermos-nos de você –
Roxanne disse quando ficaram sozinhas – Suas
opiniões, seus truques na cozinha... – as duas
riram – Não achei que fosse possível uma mulher
conciliar o amor e a independência, me mostrou
que é possível. Estou até pensando em encontrar
um namorado.
Helena conteve as lágrimas e incentivou:
-Precisa ser alguém altivo e orgulhoso.
Não vá se apaixonar por um homem submisso.
Será um desastre!
-Seguirei seu conselho – ela sorriu com
algo triste no olhar – Não se esqueça de nós,
Helena. Escreva quando seu bebê nascer. Escreva
sempre, esperarei notícias suas e de sua família.
Todas nós esperaremos.
-Sim, escreverei. Mas também quero
notícias do Rosie Nell. Não sabe como é triste e
solitária a vida... - de repente ela parou, ao notar
que falava como se ainda vivesse no passado -...
Como era triste minha vida. Tenho receio de voltar
a ser infeliz.
-E como poderia? Tem seu marido e terá
seu filho. Não há lugar para infelicidades, a
menos, que procure por elas.
-E como evitar procurar pela infelicidade?
É só o que conheci minha vida toda – foi sincera.
-Tem certeza? – ela perguntou sorrindo
diante de sua confusão.
-Eu... - não ousou responder.
Seria felicidade o que sentia em sua nova
vida, a vida de casada?
Estava preparada para abrir seu coração
quando a interrupção de Rony a calou.
-Precisamos ir. O Conde deseja sua
presença para o jantar – lembrou-a,
cumprimentando educadamente Roxanne.
Helena sempre estranhava vê-los
próximos, como conhecidos, sabendo que haviam
sido amantes.
-Sentirei muita falta do Rosie Nell. –
Helena disse ao se despedir.
Roxanne era uma mulher expansiva, e
Helena achou que sufocaria em seu apertado
abraço.
Rony se apressou a conduzi-la para fora,
em direção as lojas, onde ela desejava fazer
compras. Não que desagradasse de seu apego ao
Rosie Nell, mas sentia um pouco de ciúmes de sua
atenção e esmero pelo lugar.
Infantilidade, mas sentia-se excluído.
Eles percorreram diversas lojas, olhando
produtos e presentes. Helena era mão fechada e
não se intimidava em reclamar se os preços
estivessem abusivos.
Em dado momento, Rony achou que viu a
dona de uma loja sair para chorar, intimidada.
Mas não disse nada a Helena.
As mocinhas de Londres não tiveram
tempo suficiente para se habituar a sua
impertinência e decisão.
Ele mesmo tremia nas bases quando ela
lhe dirigia aquele olhar sujo. Como agora, vendo-o
passar os dedos sobre uma roupa de bebê. Era cor
de rosa.
-Espero que não esteja pensando em levar
presentes para a filha daquela mulher – sua voz
soou normal, mas seu olhar... Revelava toda sua
indignação.
-Alexia? Não mesmo. Quero que aquela
cobra morda o próprio rabo e se exploda – disse
convicto – Penso se for uma menina, não terá
nenhuma peça cor de rosa.
-Não será uma menina – olhou para ele,
como se duvidasse do seu juízo – Eu sei que é um
menino.
-Sabe? – ele duvidou. – É uma certeza ou
uma esperança?
-Nem uma coisa nem outra. Eu sonhei
que era um menino. Pronto.
-Sonhou? E desde quando esse é um
argumento lógico?
-Minha mãe sempre sabia o sexo dos
bebês. Sempre! – frisou a última palavra – e nunca
se enganou.
-E por isso correrei o risco de ver minha
filha usando esporas e calças?
-Se for menina - ela revirou os olhos –
teremos bastante tempo para nos preocuparmos
com vestidos!
-Todas as peças que comprou são azuis,
Helena!
-Sim, e acha que para um bebê isso faz
diferença? Além disso, comprei amarelo, branco,
verde... Tem muitas outras cores.
-Eu quero levar esse xale cor de rosa. Só
por garantia.
-O dinheiro é seu. Faça como quiser – ela
disse rancorosa. Principalmente quando ele pagou
pela peça e esta foi embalada e entregue aos seus
braços.
-Ser for uma menina, vai rejeitá-la? - ele
perguntou quando finalmente terminaram as
compras e descansaram dentro da carruagem.
-Que pensamento! É claro que não! –
ficou arisca.
-Seja sincera – ele mandou, com
repreensão na voz.
-Uma mulher é tão mais frágil que um
homem. Eu sei, terá muitas pessoas para protegê-
la caso... Algo acontecesse. Mesmo assim, sempre
seria frágil perante a sociedade.
-Se nascer uma menina, irei me certificar
que ela tenha bens em seu nome, e apenas em seu
nome, para que ninguém jamais possa atormentá-
la. Isso a acalmara?
-Sim – aliviada, sorriu para ele – De
qualquer forma, continuo tendo certeza que é um
menino.
-Que seja um menino então!
Helena nem se deu ao trabalho de
responder. Seu bebê chutava com força, e ela às
vezes ficava indisposta quando isso acontecia.
Aquele bebezinho seria uma centopeia. E
tinha chutes poderosos, principalmente quando se
movia, e ficava sobre sua bexiga. Como agora.
-O que foi? – ele preocupou-se diante do
seu silêncio.
-Seu filho está comodamente sentado
sobe minha bexiga, e preciso urgentemente ir ao
banheiro – acusou sorrindo.
-Chegaremos em casa em poucos
minutos – garantiu-lhe achando graça.
-Não ria de mim – pediu apenas para
incentivá-lo a sorrir.
Rony tinha um sorriso tão vivo e bonito
que a fazia suspirar. Tímida, ela afastou o olhar,
esperando que não notasse sua emoção sempre
que sorria para ela daquele jeito vivo e
apaixonado.
Em momentos como aquele, sentia uma
compulsão de dizer-lhe como se sentia. Uma
vontade quase incontrolável de dizer ‘eu te amo’.
A garganta se fechou, quando e emoção
dessa constatação a pegou de surpresa. Não tinha
dúvidas do sentimento dele. Ou tinha?
Às vezes achava que sim. Se não
estivesse grávida, talvez não se emocionasse tanto
com um simples pensamento!
Estava completamente perdida em seus
pensamentos quando aconteceu.
Um barulho ensurdecedor e a carruagem
se descontrolou. Helena foi jogada do banco e caiu
no chão da carruagem. Rony imediatamente se
colocou entre ela e a porta, quando a carruagem
tombou.
O som não acabava nunca, e os gritos de
Adolph tentando controlar os cavalos eram
misturados aos gritos de outras pessoas na rua.
Estavam sendo arrastados ladeira abaixo,
pelos cavalos descontrolados.
Helena não gritou, completamente em
pânico, as mãos tentando proteger a barriga de
qualquer batida. Quando um dos bancos da
carruagem soltou-se e caiu sobre eles, ela achou
ter ouvido um ganido de dor, mas não se
preocupou, o instinto obrigando-a a cuidar e
proteger seu bebê.
Suas costas estavam doendo, batendo
com força contra a porta da carruagem, e que a
essa altura era arrastada contra o chão. Aos
poucos foram parando, e com um gemido de dor,
Rony sentiu que finalmente estavam em
segurança.
Lá fora, Adolph livrou a carruagem dos
cavalos, em pânico deles seguirem arrastando-os
rua a fora. Com toda sua impressionante força,
arrancou a porta da carruagem, e a seguir o banco
de metal que estava retorcido sobre Rony.
Seus olhos verdes procuraram pela
patroa, a doce mulher que o tirara da pobreza e
mendicância, e a encontraram protegida num
cantinho, nos braços do marido.
Livre para se mover, Rony saiu de sobre
Helena e não impediu Adolph de tirá-la de dentro
da carruagem antes dele.
Uma dor afiada corria suas costas, onde o
banco de metal havia acertado com força e
precisão.
Adolph deixou-a nos braços de uma
velha senhora que correra para acudir, e que
apoiava a trêmula jovem grávida, enquanto o
homem gigantesco ajudava a rapaz a sair da
carruagem destruída.
Helena segurava sua barriga apavorada.
Olhava para Rony enquanto este firmava as
pernas, achando que a dor não era tão forte assim,
agora que estava se movendo. Ele se recuperou, a
cabeça doendo de uma batida que nem percebera
na confusão toda.
-Está sangrando... – ela disse, uma das
mãos trêmulas, tocando sua testa, onde um filete
de sangue corria por entre os cabelos vermelhos.
-Não é nada. Como está? – ele olhou para
sua barriga e então para seu rosto.
-Assustada – ela confessou a beira das
lágrimas.
Não era fato comum confessar a própria
fragilidade, e Rony abraçou-a beijando sua testa.
-Sente alguma dor?
-Não – ela se agarrou a sua camisa,
escondendo o rosto em seu pescoço.
-Vamos sair daqui - ele disse apreensivo
– O que aconteceu, Adolph?
-Uma pedra senhor – ele disse confiante,
apesar de pálido – Uma pedra foi arremessada por
um garoto. Uma pedra muito grande, foi só o que
vi. Quebrou a roda, e estávamos descendo a
ladeira...
-Uma pedra. Um acidente? – Rony
perguntou a si mesmo, mas a resposta era
verdadeiramente óbvia.
-Vou buscar uma carruagem - Rony disse
soltando Helena.
-Mas senhor... – Adolph não
compreendeu.
-Não deixe nada nem ninguém se
aproximar de Helena. Leve-a até a casa de chás –
ele apontou a refinada casa de chás do outro lado
da rua.
-Vai me deixar? – ela perguntou chocada
demais para dizer qualquer outra coisa.
-Por uns instantes – ele beijou novamente
sua testa. - Apenas por alguns instantes.
Helena o viu se afastar a passos rápidos,
e foi guiada por Adolph até a casa de chás,
recebendo uma xícara de chá, para se acalmar.
-A senhora me perdoe pela ousadia –
Adolph disse, sentando junto à mesa,
completamente desconfortável naquele ambiente
delicado e feminino. – Mas posso proteger a
senhora mais facilmente que seu marido.
-Me proteger? Contra o que?
-Pode ter sido um acidente. Ou não – ele
apenas concluiu.
Trêmula ainda, ela bebeu um gole do chá.
-Podia ter ferido meu bebê – ela disse
com a voz tremendo. – Rony não deixou que nada
me atingisse...
-Sim – ele concordou – bom homem seu
marido.
-Sim. – ela precisou engolir mais chá
para engolir o choro, enquanto a dona do lugar a
enchia de paparicos, pois era a filha do Conde.
Meia hora depois, mais calma, embora
ainda controlasse o choro, a imagem do Conde
entrando pelo estabelecimento acabou com sua
resistência.
Levantou-se e se atirou em seus braços,
chorando.

-Não há indícios ou testemunhas de não


ter sido um acidente – Rony falava em tom baixo
quando Helena desceu do quarto e encontrou-se
com eles na saleta íntima, a preferida do Conde.
Espertamente, ficou ouvindo atrás da
porta.
-É claro que não foi um acidente – o
Conde parecia transtornado.
Não era seu feitio ouvir atrás das portas,
mesmo que esta estivesse parcialmente aberta,
esperando por ela. Mas dada as circunstâncias...
-Sim, do mesmo modo que a surra de
Helena e a sua queda da escada, também não
foram acidentes – Rony concluiu.
-Para o bem de todos, é melhor sairmos
de Londres o quanto antes – o Conde virou uma
taça de vinho de uma vez só, e fez sinal para seu
fiel valete trazer mais.
-A única coisa que dará fim a essa
agonia, será colocar as mãos sobre essa mulher!
As autoridades não têm notícias dela, e nem os
investigadores particulares – Rony bebeu seu
uísque nervoso – Ao menos na fazenda tenho
como protegê-la! Saímos pouco de casa, e meus
empregados serão bons seguranças, estão
acostumados a usar armas. – sua expressão
detonava sua impaciência com essa situação –
Não é uma situação que possa perdurar. Se não
apanharmos essa mulher...
-Eu sei – o Conde entendeu onde ele iria
chegar – Teremos que levar Helena para outro
país. Não há outro modo de garantir sua
segurança, e a segurança do meu neto.
Rony riu com ironia.
-Acha que irei tirar de Helena tudo que
ela ama? Eu mesmo vou procurar essa mulher!
-Sim, e minha filha ficará muito feliz em
permanecer onde ama, com o marido morto. – o
Conde ironizou.
Os dois estavam prestes a entrar em uma
discussão sobre o que era melhor para ela, quando
Helena abriu toda a porta e entrou.
-Do que estão falando? – perguntou
direta; os olhos fixos em Rony.
-Nada que deva saber nesse momento –
ele disse com seriedade.
-Por causa da gravidez? – ela o enfrentou
– Saber pode me afetar? Afetar mais do que ser
jogada de um lado para o outro dentro de uma
carruagem desgovernada?
O Conde e Rony trocaram um olhar que a
enfureceu. Fervendo, se aproximou de Rony e
segurou seu rosto, fazendo–o olhar em seus olhos.
-O Conde pode mentir para mim. Você
não.
Essa verdade o quebrou. Ela estava
coberta de razão. Segurou a mão que o tocava,
quase como se o agredisse e segurou entre suas
mãos, perguntando diretamente, sem rodeios:
-É capaz de enfrentar seu passado e não
se abalar?
-Sou – admitiu, preocupada.
-E é capaz de não abalar seu filho? –
baixou os olhos para sua barriga.
-É tão sério assim? Quem pode ter
interesse em me matar? – horror transbordou em
sua voz.
-Minha ex-mulher - foi o Conde quem
respondeu.
-Eu nem a conheço! – encarou o pai com
surpresa.
-Nosso casamento já havia acabado a
muito tempo, ela esperava apenas a minha morte
para ser herdeira. Ou talvez, apressasse a
natureza, quando descobriu que eu tenho uma
filha. – ele contou.
A expressão de Helena era muito clara.
Rony a conhecia bem o bastante para saber que
era inteligente demais para não entender o que se
passava.
-Quando Elly chegou a Londres, sua
dama de honra a atacou, ainda no porto e se fez
passar por ela. É uma longa história, teremos
tempo para falar disso mais tarde, quando
estivermos mais calmos. Margarite De Hart
assumiu o lugar de Michelle. Foi ela quem
recebeu a carta que sua mãe me escreveu.
A essa altura Helena havia deduzido todo
o resto. Notando sua palidez, Rony enlaçou sua
cintura.
-Conde – ele disse em tom de aviso –
Helena já entendeu.
-Entendeu?
-Ela mandou matar a minha família – ela
não tinha quase voz.
-Não. Ela mandou assassinar a minha
filha, e quem mais fosse preciso – agora que
começara iria até o fim – Sua irmãzinha,
acreditaram que era você.
-Eu não acredito nisso...
-Quando a vi, tive a certeza que era um
milagre – ele tentou se aproximar, mas ela se
afastou, soltando-se das mãos de Rony também.
-Há quanto tempo sabe? – ela perguntou
em tom de acusação para Rony.
-Desde a chegada do Conde a fazenda –
foi sincero – não podia lhe contar. Não com uma
gravidez no começo. Helena, sabe muito bem
porque não contei antes!
-É claro que sei – havia tanta mágoa em
sua voz, e seus olhos brilhavam com tanta dor que
ele sentiu-se inútil. – Falavam sobre o homem que
me atacou. Era apenas um bandido. Um ladrão!
-Margarite contratou dois assassinos. Um
achou seu destino quando o matou. O outro fugiu.
– Rony explicou tentando se aproximar, e ela se
afastando.
-Acha que ele ficou na cidade? Que
descobriu que eu estava viva? – incrédula, olhava
para seus olhos compadecidos.
-É possível. Ou não. Talvez tenha sido
apenas uma coincidência. – ele admitiu. – Helena,
não se afaste.
-Não quero ser consolada! Quero a
verdade! – ela jogou em sua cara, o peito oprimido
por descobrir essas coisas terríveis.
-A verdade é que ela foi atrás de mim - o
Conde disse com a voz triste – Por isso tive que
partir daquele modo. Levei-a comigo, mantive-a
cativa durante vários dias, procurando um
hospício para enfurnar aquela demônia! Não tinha
provas de seus crimes. Mas ela fugiu. Conseguiu
escapar e me atacou. Por sorte, torci o tornozelo
apenas. Desde então, tenho procurado-a
incansavelmente!
-Quando chegamos, e passou dias fora de
casa... Foi procurando-a? – havia acusação
quando perguntou a Rony.
-Sim. Não havia mais ninguém de
confiança para fazê-lo, infelizmente, ela escondeu
muito bem seu rastro.
-Seu rastro... – sentindo uma súbita
fraqueza, ela estendeu os braços em direção a
Rony como quem pede apoio e se deixou conduzir
até o sofá, desabando sobre ele.
-Helena, estamos fazendo de tudo para
encontrá-la.
-E isso é o bastante? – fitou seus olhos
em busca de respostas – Poderíamos ter morrido!
Era isso que ela queria? Me matar?
-A essa altura, acreditamos que ela queira
matar a nos três – ele pousou sua mão sobre o
ventre, incluindo o bebe nessa perversa conta.
-Eu não entendo...
-Se eu morrer herdará minha fortuna.
Meu casamento com essa cobra não é legitimo.
Como minha filha será minha herdeira. Se eu
morrer antes de você, Rony será seu herdeiro,
assim como seu filho. Por isso, ela precisa
eliminar os herdeiros antes de me matar. –
racionalizou com um forte amargor em sua voz.
-Minha família estaria viva se eu não
existisse...
As palavras mal saíram de sua boca,
Rony abraçou-a.
-Não diga isso! Não se culpe por algo que
outra pessoa é responsável!
-Mas é verdade! Se eu tivesse morrido
primeiro... Todos estariam vivos!
-Santo Deus! – o Conde amaldiçoou
bebendo mais vinho, inconformado – Quando
puser minhas mãos sobre essa mulher, eu a mato!
Quanto dor causar a minha filha! Quanta dor!
-Helena, olhe para mim – Rony pediu,
segurando seu rosto e fitando seus olhos, por onde
pesadas lágrimas corriam – Não pode se culpar
pelas atitudes das outras pessoas. Não é
responsável pelas decisões e ambições de pessoas
as quais sequer conhece! Sua família foi vítima de
uma pessoa perturbada pela ambição desmedida,
ou até mesmo a loucura. Está me entendendo?
-E porque não me contaram antes? - ela
perguntou, sem afastar os olhos dos dede.
-Porque iria te magoar. Ferir. – acariciou
seus cabelos e sua face, querendo achar um modo
de explicar – É tão bonito vê-la florescendo,
Helena. Não quero que essa confiança, que essa
felicidade morra com suas sombras do passado.
-Eu...
Seus olhos brilhavam intensamente, e ela
baixou o rosto, chorando. Ele tinha razão. Toda a
razão do mundo.
-Diga que entende nossa decisão de não
lhe contar nada – ele pediu, apavorado com a ideia
de Helena se recolher naquele seu mundinho de
dor e sofrimento, e o excluir de sua vida
novamente.
-Eu não quero mais ouvir – ela tentou se
afastar, agoniada.
-Helena! – segurou-a pelos braços,
obrigando-a a encostar a cabeça em seu peito.
-Minha família! Minha família não devia
ter morrido! – agarrou-se a sua camisa, apertando
o tecido enquanto chorava – Tudo por causa de
dinheiro! De poder! Eu não queria nada! Não
quero nada disso! Ela que fique com tudo! Eu só
queria a minha família de volta!
-Não diga isso, Helena. Eles partiram,
mas seu pai está aqui. Está vivo, e não merece ser
magoado ainda mais.
-Eu sei – murmurou fechando os olhos
para não ver mais nada.
Por algum tempo ele a manteve abraçada
ao seu peito, consolando-a com palavras doces,
enquanto o Conde bebia em seu canto, tão ferido
quanto é possível um homem estar.
Rony tinha que ser calmo e forte, para
amparar seu pequeno passarinho que estava
chorando em seu colo. Tinha que apoiá-la e
mantê-la inteira, mesmo que isso cortasse seu
coração.
Helena foi se acalmando aos poucos, e
suas mãos que o abraçaram subiram, com isso
tocando suas costas. Ele não conseguiu esconder
um gemido.
-Está machucado? - ela perguntou se
afastando um pouco, para olhar para ele.
-Nada sério, foi só uma batida.
-Mas está doendo – ela subiu uma das
mãos pelo seu peito, pensativa.
-Sim, está doendo. – tinha um duplo
sentindo, quando os olhos castanhos fitaram os
seus. – Está doendo, mas vai passar.
-Vai passar – ela repetiu com voz incerta,
deixando-o cobrir sua mão com a sua – Precisa
descansar um pouco. – ela recomendou,
preocupada.
-Sim, e você também precisa – ele
sugeriu – Vou levá-la para a cama, e vai se deitar
um pouco. Vou buscar Alice para lhe fazer
companhia.
-Não – ela disse baixo, a voz triste –
Quero ficar sozinha.
-Não, não quer...
-Quero. Quero ficar sozinha.
Era um pedido que ele não podia negar.
Quando ele se levantou junto com ela, ela
negou e se afastou.
-Sr. Harold, pode me acompanhar até
meu quarto? – ela perguntou ao valete do Conde,
deixando claro que precisava mesmo ficar só.
Conduzindo-a com todo o cuidado com
que conduziria um animalzinho ferido, ele a levou
para fora da saleta.
Rony e o Conde se olharam desolados.
Tinham que decidir o que fazer.
Pouco tempo depois, Rony subiu, mas ela
não quis conversar. Havia se deitado para dormir,
apesar de ser cedo, e virou para o lado, afastando-
o.
Não podia pressioná-la agora. Não podia.
Capítulo 132 - Adeus ao futuro

A manhã de quarta-feira nasceu cinzenta.


Rony abriu os olhos e procurou por
Helena ao seu lado da cama, não encontrando
nada além de lençóis vazios.
Um princípio de pânico alarmou-se
dentro dele. Olhou em volta, até avistar a imagem
adorável de um traseiro aparecendo por de trás do
tecido quase transparente contra a luz.
Ela estava de pé, olhando através da
cortina da varanda, por onde os primeiros raios do
sol entravam e ardiam sobre seus cabelos
castanhos. E sua camisola, transformando o tecido
em algo muito fino.
Admirou os cabelos soltos, tão macios e
sedutores. Admirou o contorno das costas, dos
quadris, e quando ela se voltou, talvez atraída pelo
seu olhar, admirou o contorno forte do seu queixo,
onde havia uma sombra de teimosia nas curvas e,
sobretudo admirou o trabalho de Deus ao mudar
suas curvas, sua barriga que crescia, e seus seios
que se enchiam de leite, para alimenta o filho que
nasceria.
-Acha que a viagem será tão boa quanto a
que fizemos? – ela perguntou com voz mansa,
soltando a cortina e deixando uma agradável
penumbra em todo o quarto.
-Helena...
-Apenas não fale sobre isso – ela disse
rápida. – Tinha razão, não era algo que deveria
saber nesse momento – ela tocou a barriga
olhando para ela, como quem vê algo muito bonito
e precioso. – Preciso saber se corro algum risco na
fazenda. Se estou protegida ou não.
-Estará protegida – garantiu sentando na
cama, fitando-a com profundidade. – Adolph fará
sua segurança pessoal. Haverá outros protegendo
a casa, e não sairá sozinha, ao menos enquanto
não puder se proteger sozinha.
Ela concordou com um movimento da
cabeça.
-Meu pai falou sobre... Sair do país? –
angústia estava estampada em sua face, e ele
queria poder tranquiliza-la.
-É uma possibilidade. – assegurou – Não
me agrada, e sei que a desgosta. Mas pense na
criança.
-Eu penso. – admitiu.
-Nada é tão terrível que possa causar sua
tristeza, Helena. – ele procurou animá-la –
Voltaremos para casa. Daremos um jeito de
superar tudo isso.
-Simples assim?
-Nada é simples na vida, Helena. Mas
não podemos nos entregar ao desespero diante de
cada problema ou sofrimento. A vida é cheia de
momentos difíceis. Temos que enfrentar.
-E se ela conseguir? – perguntou.
-Não vai conseguir. – garantiu.
-Conseguiu uma vez. Não morri por
sorte! – exasperou-se.
-Sim, mas naquela ocasião não havia
ninguém por você. Estava sozinha no mundo,
cuidando de toda uma família! Não havia apoio ou
dinheiro. Hoje, não será tão fácil atingi-la.
-Promete? – a pergunta escapou, e ela
mesma maneou a cabeça – Não, não prometa. Não
pode prometer algo assim!
-Deveria prometer – ele se aproximou
puxando-a para a cama, sentada pertinho dele. –
Ao menos para aliviar o peso no seu coração.
-Nada pode aliviar o peso que está no
meu coração – foi sincera – tudo seria tão
diferente se o Conde houvesse recebido a carta da
minha mãe...
-Sim, tudo seria diferente. – envolveu
seus ombros com seus braços e beijou-a várias
vezes no rosto, na testa e no pescoço, fazendo-a rir
mesmo sem querer. Helena estava recostada
contra seu peito, e acariciou seu braço. Sua outra
mão circulava a barriga numa carinhosa
massagem, enquanto mantinha a cabeça contra
seu peito. – Teríamos nos conhecido quando o
Conde a trouxesse para Londres, como era
vontade de sua mãe. Teríamos nos apaixonado,
mas ele não iria querer um pé rapado de genro,
então, teríamos que fugir e nos casar escondidos.
Já imaginou?
-E porque eu me apaixonaria por você?
Poderia me apaixonar por outro! John, por
exemplo.
-Porque se lembrou de John? – uma ruga
de preocupação a fez rir.
-Porque estou gigante e quero sua
atenção.
Seu rosto risonho não poderia ser mais
doce e mais bem vindo ao coração de Rony.
Tinha o secreto medo, que desabasse com a
revelação sobre a morte da sua família.
-Tem toda a minha atenção – ele mordeu
sua orelha e ela gemeu baixinho – Tanto, que se
não levantarmos agorinha, ficaremos presos aqui e
perderemos a hora.
-É mesmo? – ela correu as unhas pelo
braço dele, e Rony se arrepiou.
Passos no corredor, atraíram a atenção
dos dois, e ele foi o primeiro a rir.
-Estamos indo! - ele gritou.
Era óbvio que era o valete do Conde,
indeciso sobre atrapalhá-los.
-A vida nos chama – ela disse pensativa.
-Sim, a vida nos chama.
-Sabe o que estava pensando? –
perguntou a ele, quando ele a deixou e levantou,
procurando pelas roupas que estavam separadas,
para serem vestidas para a viagem. – Lembrando,
na verdade.
-Não, mas aposto que quer me contar! –
ele puxou a tina de porcelana da melhor qualidade
para o centro do quarto e entregou-lhe um penhoar
– Me conte rápido, antes que eu saia e tome meu
banho no outro quarto. Não há a menor
possibilidade de entrarmos juntos nessa banheira e
não nos atrasarmos!
Ela sorriu, pois tinha razão.
-Estava lembrando-me do trem... Quando
me amarrou e amordaçou.
Rony sentiu o sexo pulsar diante dessa
lembrança. Iria enrijecer e atrasar a todos eles.
-Não toque nesse assunto, diabinha. Não
até o bebe nascer.
-É uma ordem? – seu sorriso aumentou.
-Sim! – apressado ele apanhou as roupas
que usaria e disse irritado – Por via das dúvidas,
também vou me vestir no outro quarto!
Ele saiu, e um minuto depois uma das
empregadas entrava com água para o seu banho.
Helena ainda ria. E quando Alice surgiu no
quarto, para ajudá-la no banho, as duas dividiram
um momento único.
Alice ajudou a lavar seus cabelos,
encantada com suas novas formas.
Imersa em água, sua barriga atraia o
olhar de Alice que em dado momento parou de
ensaboar suas costas e colocou uma das mãos
dentro da água, sobre a barriga, lágrimas nos
olhos azuis.
-Alice... - Helena acariciou seu rosto. – O
que foi?
-Eu... Estou grávida. – ela disse, as
lágrimas correndo em seu rosto ao dizer isso –
Chamei um médico que confirmou. Estou
esperando um filho.
-Isso é maravilhoso! – Helena abraçou-a,
e as duas riram, pois a molhou.
-Vou ficar assim – ela dizia encantada,
enxugando as lágrimas – redonda desse jeito...
Olhava reverentemente para sua barriga, e Helena
tentou não se irritar.
-Obrigada por dizer que estou redonda –
disse em tom de riso e Alice ficou envergonhada –
Não ser preocupe, estou redonda mesmo.
-Está sim! – Alice confirmou.
As duas riam tanto, quando Rony saiu do
quarto de vestir e andou pelo corredor que não
teve coragem de entrar e acabar com a festa das
duas.
Fosse qual fosse o assunto, era bom que
outras coisas ocupassem a mente de Helena.

Duas horas depois, finalmente estavam


no porto. Uma pequena confusão de pessoas tão
diferentes quanto água e vinho.
Adolph e Duran dividiriam uma mesma
cabine, enquanto Alice fez questão que Anna
ficasse com ela na elegantíssima cabine. Era
muito grande para alguém solitário, dissera ela.
Depois de algum constrangimento,
finamente o Conde perguntara se Helena se
ofenderia se ele e Elly dividissem a mesma cabine.
Helena nem se dera ao trabalho de
responder. O valete do Conde, completamente
deslocado, sem saber ainda porque se fizera
necessária sua companhia nessa viagem, surgiu
esbaforido e pálido.
Depois de cochichar algo ao Conde, eles
avistaram um conjunto de pessoas se aproximando
a passos rápidos.
-Era só o que me faltava – Rony
lamentou.
Correndo na direção deles, no melhor
passo que alguém de quase duzentos quilos e um
metro e poucos conseguiria; o Juiz Demetrius e o
Sr. Loren vinham a passadas rápidas, arrastando a
pobre Srta. Lilly com eles.
-Não me diga que eles... - Helena nem se
deu ao trabalho de esconder o desagrado.
-Quanta sorte! – Demetrius chegou aos
gritos – Quanta sorte! Não nos atrasamos! Quanta
sorte!
-Sim, quanta sorte – Rony concordou –
Se me permite, para aonde vão?
-Ora, meu rapaz! – O Sr. Loren disse em
tom de riso, como se achasse ser uma piada.
-Iremos com vocês! Imagem! Preciso dar
um corretivo pessoalmente no Juiz Simmos. Não
me desceu suas justificativas sobre suas causas
em aceitar a falsa denúncia de Alexia Lil!
-Pretende punir o Juiz Simmos? – Helena
perguntou, com algo de feliz na voz, sorrindo tão
simpática para o homem, como se visse uma
aparição de um anjo ou algo assim – Punição
financeira ou fala de...?
-Repreensão formal. Ele responderá a um
longo processo. Além claro de pagar por todos os
danos causados.
-É mesmo? - ela se apoiou no braço do
homem, tão doce quanto alguém muito feliz
poderia ser – que agradável que esteja indo
conosco! Teremos o maior prazer em recebê-los!
Lilly! Que bom que estará conosco nessa viagem.
Mas conte-me, juiz, como exatamente será a
punição...
Alice revirou os olhos, achando-a
patética.
-Nunca subestime a capacidade de
Helena em nutrir uma boa vingança – Rony disse
sem se importar muito
Adolph estava por perto, mas Helena
fingia não notar, enquanto bajulava o juiz.
-Não sei como pude pensar que sua
esposa era voluntariosa – O Sr. Loren comentou,
encantando com sua candura.
-Sim, impossível – Rony poderia rir a
qualquer momento – Às vezes, age
precipitadamente, mas algo induzido pela
gravidez. Acredite no que digo, Helena é um
cordeiro!
-Tenho certeza disso! – ele se envolveu
numa animada conversa sobre as multas a juízes
que se excediam nos cargos, e quando Rony se
deu conta, Helena já insinuava delicadamente,
com ares de boba, que a cidade andava em más
condições desde que a prefeitura passara a ser
administrada pelo irmão do juiz.
A palavra ‘prefeitura’ e ‘administrada’
numa mesma frase fizeram os olhos de peixe do
juiz brilharem ao imaginar os possíveis roubos.
Meia hora depois, Rony achou que
bastava de insinuações contra o pai de Susan, e
disfarçadamente a afastou deles, aliviado pelo
navio estar partindo.
Feliz com sua vingança, ela nem
percebera que esse mundo de gente esperava ficar
em sua casa. Ô destino!
-O juiz Simmos tem uma casa divina –
ela disse antes que ele pudesse conter sua língua –
Creio eu, mantida pela prefeitura, e tem uma
adorável filha para casar também – ela notou o
modo como o viúvo Sr. Loren olhou para ela com
atenção e continuou – Uma doce de jovem. Não
fosse o pai ansioso para casá-la...
A insinuação ficou no ar, e quanto o
navio apitou ela olhou para Rony.
Conversar com eles a fizera esquecer um
pouco o nervoso e a tensão. Mas agora, ela olhava
em volta, apreciando pela última vez as pessoas
que iam e vinham.
Já não os via do mesmo modo de antes,
quando chegara. As roupas, as cores. O brilho de
Londres parecia menos vivo. Mais apagado,
diante de todas as injustiças que encontrara ali.
Mesmo assim, seu coração estava partido
de deixar Londres para trás.
Rony abraçou-a por trás, ignorando os
olhares repreensivos das pessoas que passavam
por eles. Beijou sua nuca e sussurrou:
-Londres sempre estará aqui.
-Eu sei disso. – concordou – Não estou
mais triste em partir – contou – Estou ansiosa para
chegar em casa e ver como tudo está. Quero ver
Juanita, os meninos... Ruanzito! Que saudades
tenho dele! Quero andar a cavalo e ler a margem
do lago. Quero...
-Descansar muito e esperar seu filhote
nascer? – sugeriu.
-Sim – virou-se em seus braços, olhando
para ele com olhos adocicados – Me trará um dia
a Londres? É uma promessa verdadeira?
-Sim, é uma promessa verdadeira – ele
lutou contra o impulso de beijá-la.
O terceiro e último apito do navio soou e
eles não ouviram.
-Pode ser feliz em qualquer lugar,
Helena. Desde que esteja ao meu lado. –
assegurou-lhe.
-E sempre vai estar ao meu lado?
Por trás do seu sorriso de provocação
havia fragilidade.
-Sempre que depender de mim estarei ao
seu lado, mesmo que não me queira – ele beijou a
pontinha do seu nariz arrebitado, e ela o beijou.
No meio da estação, sob os olhares
chocados das matronas e cavaleiros antiquados,
ela beijou seu marido, escandalizando pela última
vez aquela cidade fantástica.
Entretidos naquele beijo, teriam perdido a
hora, caso Duran não gritado seus nomes.
Rony segurou sua mão e a levou
apressadamente para dentro do navio. Helena nem
chegou a olhar para trás. Só tinha olhos para
Rony.
Capítulo 133 - O susto e o riso

A primeira manhã dentro do navio


amanheceu chuvosa. Rony a deixara dormindo
até tarde, pois ao contrário da vinda, quando não
sentira nenhuma indisposição, dessa vez estava
enjoada e tonta.
Para seu desespero, logo depois da saída
de Rony, Alice viera a sua cabine atacada de uma
feroz solidão, reclamando dos mesmos enjoos.
E como várias vezes na infância, as duas
dormiram juntas, embaixo das cobertas. Era
quase hora do almoço quando Anna as acordara e
ajudara a vestir.
Prontas para encarar o primeiro almoço
dentro do navio, as duas deixaram a cabine. Alice
mantinha-se quieta, a expressão um pouco verde,
e Helena pediu que Anna desse atenção a ela,
enquanto fingia não notar Adolph logo atrás delas,
no corredor.
-Está montando guarda na minha porta?
– perguntou a queima-roupas, quando Alice
estava distraída.
-Sim, senhora – Adolph não mentiria
para ela.
-Ótimo – ela o surpreendeu – Não diga a
ele que estou de acordo – confidenciou, sorrindo
.
Seu grande inimigo: Ele.
E onde estaria ele?
Helena estava ansiosa para almoçar.
Morrendo de fome, era a palavra certa. Em
determinado momento, distraiu-se e dobrou um
corredor errado. Olhou para trás, mas não avistou
Adolph.
Deu de ombros, sentindo-se segura no
navio. Seguiu andando, ouvindo o som dos pingos
de chuva que caíam na estrutura metálica do
navio. Era um som adorável.
Pensativa, respirou profundamente,
lembrando –se de quando tivera uma conversa
com Rony sobre ser feliz independente de onde
estivesse.
Recebendo um doloroso chute como
resposta a suas lembranças ela falou sozinha:
-Não faça isso, bebê. Mamãe está feliz.
Sua resposta foi uma sequencia dolorosa
de chutes na base da barriga. Longe de estar
incomodada, ela apenas sorriu e aceitou que sua
vontade era chutá-la. Paciência.
A chuva caia mansinha, e Helena se
manteve protegida pelos toldos estrategicamente
colocados sobre o convés. Não sentia mais o peso
no coração da noite passada, muito menos de
quando descobrira que sua família morrera por
causa de dinheiro e poder.
Estava leve. Sim, não era mais capaz de
sofrer, não com uma criança dentro de si
precisando dela e da sua força e saúde para
sobreviver.
-Se eu fosse um poeta, comporia um
verso em homenagem a essa bela imagem
Helena virou-se para a voz intrusa, e ao
não reconhecer o locutor, achou ter sido uma
péssima ideia ter se afastado de Adolph.
-Desculpe, preciso ir – tentou se afastar,
mas o elegante homem a impediu.
-Apenas um segundo de sua atenção – ele
pediu com voz mansa.
Era alto e lembrava muito o próprio John.
Talvez por isso tenha simpatizado quase
imediatamente com sua expressão.
-Realmente preciso ir.
-Apenas me responda uma pergunta.
-Não posso falar com um homem estando
sozinha desse modo. Deixe-me passar.
-Uma pena; por um minuto desejei
arduamente que fosse uma donzela em apuros,
para que pudesse me aproveitar e ter a
oportunidade de viver o resto da minha vida ao
lado desses belos olhos castanhos.
-Sou casada – ela sorriu apesar disso,
achando graça nas suas maneiras - Viajo com meu
pai e meu marido, e ambos irão desgostar que
estejamos conversando a sós.
-Como poderia ser diferente? – ele sorriu
e se afastou – Perdoe meu atrevimento. Desejava
apenas saber seu nome.
-Apresente-se a meu marido, e então,
saberá meu nome – disse séria – Com sua licença
– tentou passar, mas novamente, ele não permitiu.
Olhava para as águas escuras do mar, e
Helena notou o quanto perto do perigo estava.
Silenciosamente, pensava em como escapar dessa
situação.
Poderia ser um engano, coisa da sua
cabeça. Um medo imaginário.
Seus olhos brilhavam com medo e
aflição. Poderia gritar, mas se ele estivesse mal
intencionado, com certeza, poderia imobilizá-la
facilmente.
Em suspense total, o observou devorá-la
com os olhos. Sabia o que estava pensando. Era
pequena e frágil, grávida daquele modo. Estaria
em suas mãos. Não tinha para onde fugir, ou
como escapar.
A morte seria certa.
Olhou novamente para o mar, aflita.
Mesmo que por ironia do destino sobrevivesse,
seu bebê não conseguiria escapar dessa!
-Está com medo? - ele perguntou baixo e
rouco, um passo mais próximo – Uma jovem tão
bonita e gentil, amedrontada?
Sua voz era veludo, mesmo assim, em
seus olhos havia um brilho de perigo. De
insanidade.
Havia se decidido por gritar, mesmo que
isso o descontrolasse, quando viu uma gigantesca
mão negra se apoiar sobre o ombro do homem.
-Algum problema, madame Parker?
A voz de Adolph tão perto o fez tremer
por um segundo. Logo atrás dele, vinha o
guardinha o navio, com sua expressão fechada,
olhando para Adolph com preconceito.
-O senhor está sendo importunado? –
perguntou ao cavalheiro e ela se enfureceu.
-Eu estou sendo importunada!
Encurralada sem ter como fugir! Esse homem é
meu empregado! Não ouse levantar sua voz conta
ele!
-Senhora – Adolph colocou-se entre ela e
o elegante homem que apenas sorriu e aproximou-
se do guardinha.
-Um engano. Confundi a dama com uma
parenta distante.
-Não mesmo! – Helena quase gritou,
agora que o medo havia passado, a raiva a
obrigava a agir – Me encurralou! Estava tramando
algo!
-Creio que a dama está descontrolada.
Devo ir para que se acalme – ele disse com tom de
deboche, e o guarda pareceu ficar em dúvida.
-Adolph, não o deixe escapar assim! – ela
mandou, completamente fora de si.
O nervoso foi tanto que ela achou que o
mundo estava rodando. E estava mesmo.
Adolph a amparou quando desmaiou. A
indecisão sobre ficar e cuidar de Helena, ou
apanhar o homem que se afastava rapidamente,
durou um segundo quando a tomou nos braços.
Sua ordem era mantê-la segura.

O mundo voltou ao seu eixo quando ela


abriu os olhos. Estava em sua cabine, sobre a
cama, confortavelmente instalada entre as
cobertas.
-Não se assuste, Sra. Helena – Anna
disse com sua voz doce, enquanto ajeitava as
roupas de cama em volta dela.
Olhando em volta, encontrou a imagem
apreensiva de Alice, e mais ao canto, Duran.
-Está tudo bem, querida – Alice se
aproximou e segurou sua mão afetuosamente – O
susto já passou.
-Rony...?
-Ele está junto com a segurança do navio,
visitando todas as cabines, atrás do homem que a
importunou. – contou – Não deve se preocupar
com isso agora. Adolph e o valete do Conde estão
fazendo a segurança do lado de fora do quarto. E
estão armados. Nada vai entrar aqui!
-E se entrar – Duran disse do outro lado
do quarto – Eu uso a arma.
Ela olhou para a arma que estava sobre a
mesinha, perto dele.
Não ousou dizer nada.
Havia um nó em sua garganta.
-Conte-me o que aconteceu – Alice pediu.
-Eu não sei o que foi. Quando vi estava
sozinha... E quando ele apareceu. Achei que fosse
apenas alguém simpático. Mas não queria me
deixar passar – ela relembrou – Estava tão perto
dos trilhos, se ele me empurrasse...
-Não pense mais nisso. O guardinha está
ajudando nas buscas, pois o viu e pode reconhecê-
lo. Não tem como se esconder num navio!
-Tem razão – ela disse com pesar,
recostando-se contra os travesseiros. – Achei que
fosse morr...
-Não se atreva a terminar essa frase! –
Alice exclamou, as faces sem cor. – Não ouse
pensar nisso! Acabou! O perigo acabou!
-Talvez fosse apenas um sem vergonha –
ela disse pensativa – posso ter exagerado. Afinal,
ele apenas me fez elogios.
-Talvez seja isso – Alice sorriu para
tranquiliza-la, mas estava em seus olhos que não
acreditava nessa possibilidade.
-O patrão vai pegá-lo – Duran disse com
sua ingenuidade quase infantil - E vai dar uma
lição nele!
-Sim, é claro que vai – Anna concordou,
exigindo diante dela um prato – Precisa comer
alguma coisa. Não pode ficar com o estômago
vazio.
-Não tenho a menor fome – assegurou,
olhando para a comida com desgosto.
-Eu também não teria no seu lugar. Mas
precisa comer – Alice segurou o prato, erguendo a
colher de sopa para ela.
Helena comeu. Mas comeu por causa do
filho.
A mente estava longe, a presença do
medo ainda a sua volta.

Era noite quando Rony bateu na porta e


Alice o permitiu entrar. Ele beijou a irmã e pediu
que fosse para seu quarto. O valete do Conde faria
a segurança de sua cabine, desse modo ela e Anna
estariam protegidas.
Duran não precisou de um segundo olhar
para sair atrás de Anna e Alice.
-O que aconteceu? Encontraram-no?
-Sim - ele sentou na beira da cama,
cansado – Seu nome é Mathias. Recusou-se a
dizer o segundo nome. De qualquer forma, é
impossível saber se falaria a verdade ou não.
-O que quer dizer? – olhou para ele com
estranheza.
-Alegou que estava fazendo elogios
impróprios a uma mulher casada, e que seu ultraje
foi exagerado. A segurança concordou com ele.
Não há nada que o acuse de um crime, além da
impressão que teve.
-Impressão que tive? – horrorizada, ela o
fitou com rancor – Não foi uma impressão! Pedi
que me deixasse passar! Ele se aproximou mais!
Não tirava os olhos do mar, e então olhava para
mim com deboche! Sabia que estava com medo!
Se Adolph não houvesse aparecido...
-Sei de tudo isso! Não precisa tentar me
convencer, Helena! Acredito no que sentiu! Tive a
mesma impressão ao falar com esse homem! Mas
não há provas.
-E o que vai ser de mim? Vou ficar a
mercê dele? Se for um cafajeste é provável que
perca o interesse. Mas e se for...?
Calou-se. Não tinha coragem de
verbalizar suas dúvidas e seus medos.
-Só há um meio de garantir sua total
segurança. Vai passar a viagem toda dentro da
cabine. – viu sua expressão de alarme e continuou
antes que ela protestasse – Eu sei que não será
fácil! Fará suas refeições aqui, e permanecerá
lendo, bordando ou dormindo. Mas não vai sair
até chegarmos!
-Não pode fazer isso comigo! – ela ficou
em pânico – Não posso ficar presa! Odeio ficar
presa! Rony... Adolph pode me proteger. Eu não
preciso ficar presa!
-Não, ele não pode protegê-la. Você é
imprevisível. Ele a perdeu por um segundo,
Helena. É muito escorregadia. E se ele a perder de
vista outra vez? Pode jurar que não vai se rebelar
outra vez?
-Não me afastei por querer! – indignou-se
– Foi sem querer!
-E se houver outro ‘sem querer’? - ele
bradou com raiva.
Não era raiva dela, era raiva por não ter
evitado que isso acontecesse. Um sentimento de
perca que não saia do seu peito.
-E se ele houvesse feito mal a você? –
perguntou direto, segurando algumas mechas do
seu cabelo. De forma a trazer seu rosto para perto
– E se houvesse feito mal ao nosso filho? O que
seria de mim?
-Não posso ficar tantos dias trancafiada –
ela tentou argumentar, sentindo-se a última das
criaturas.
-Pode e vai. Será meu passarinho preso
em sua gaiola – ele disse ternamente, roçando os
lábios em seu rosto, mas ela se afastou.
-Não quero que encoste em mim.
-Não sou eu quem é seu inimigo –
lembrou-a.
-Sim, mas graças a sua decisão ficarei
presa nesse quarto! – horrorizada com o que
estava dizendo, quis desmentir-se a agradecer a
ele por ajudá-la, decidindo por ela o que não teria
coragem de decidir. Mas não! Agredia-o!
-Graças a minha decisão – ele disse
baixo, magoado. – Comeu? – perguntou sem olhar
para ela.
Apenas concordou com um movimento
da cabeça.
-Ótimo. Vamos dormir então. Irei
substituir Adolph pela manhã. Ele precisa dormir
também.
-É claro – ironizou.
Virou-se para o outro lado, enquanto ele
se preparava para deitar, ainda vestido.
Helena sabia que deveria ser grata a ele,
mas não conseguia sufocar a raiva de ser
prisioneira. Sua raiva era destinada ao homem que
ousou encurralá-la. A mulher que a perseguia.
Quis dizer isso a ele. Mas não o fez.
Em resposta ao próprio medo, afastou a
única pessoa que a fazia sentir-se segura.
Os dias passaram dentro daquele quarto
sem que ela notasse. Dias longos e tediosos, onde
sua irritação conseguiu afastar até mesmo Anna,
que aguentava sempre firmemente ao seu lado,
mesmo nos piores momentos de mau humor.
Estavam a meio caminho da viagem de
volta para casa quando, Rony a procurou no meio
da manhã. Anna havia deixado-a sozinha depois
de algumas alfinetadas e respostas enviesadas,
usando como desculpa buscar alguma coisa na
cabine de Alice.
Coitada de Alice, a viagem estava
acabando com ela. Os enjoos haviam-na
derrubado, e passava quase tanto tempo em seu
próprio quarto, deitada, quanto Helena!
Helena ergueu os olhos do bordado, e o
olhar acusador que dirigiu a Rony não era
novidade. Há cinco dias eles mal trocavam
algumas palavras.
Faziam amor todas as noites. Um amor
silencioso, sem frases ou palavras carinhosas. Por
ela, nem deixaria! Mas seu corpo a traia e exigia
mais e mais, e apenas algumas horas nos braços
do marido podiam apagar aquela vontade
incontrolável.
E se detestava por conta disso!
-Que bom que esteja vestida – ele disse –
Vou levá-la para passear.
O bordado quase caiu de suas mãos.
-Está brincando comigo?
-Não. O dia está ensolarado. Precisa
pegar um pouco de luz. A essa hora não há
praticamente ninguém tomando o café da manhã.
E estarei ao seu lado o tempo todo. O que me diz?
-Digo que posso perdoá-lo por todos
esses dias de reclusão se me disser que poderei
almoçar com meu pai civilizadamente! – havia
lágrimas de expectativa em seu olhar.
-Se prometer que não soltará meu braço
em momento algum – ele disse sério – Helena, se
você se afastar de mim eu a tranco aqui dentro até
o fim da viagem, e dessa vez, ficarei aqui, te
infernizando! – havia uma sombra de sorriso em
sua face e ela quase sorriu.
-Não quero perder nenhum minuto da
manhã - ela levantou-se a arrumou o vestido.
Um vestido rosa pálido com fitas
douradas. Tinha mangas compridas, e um
caimento delicado sobre sua barriga. Nas costas
uma larga fita era arrematada por um laço. Seus
cabelos estavam presos no alto da cabeça, e o
restante caia numa cascata de cachos por suas
costas e ombros.
-Está linda essa manhã! – ele se
aproximou e ela se afastou.
-Quero sair daqui – disse em tom de
urgência.
Entendendo sua urgência, ele a conduziu,
segurando sua mão sobre seu braço, com firmeza,
deixando claro que não a perderia de vista.
A liberdade tinha um gosto delicioso,
pensou.
Mesmo o cheiro dos vagões, nem tão
higiênicos assim, depois de tantos dias de viagem,
parecia-lhe totalmente agradável. Ao ver o Conde
e Elly, ela achou que ia chorar.
Os via todos os dias, mas não era a
mesma coisa.
-É tão bom vê-la, minha filha – ele disse
depois de receber seu beijo e seu abraço, a
despeito dos olhares dos demais passageiros, que
não estavam acostumados ao desplante de um
contato físico entre homem e mulher, mesmo que
pai e filha.
-Estou tão feliz em estar livre! Papai, faça
esse homem entender que não posso ficar presa
desse jeito!
-Eu adoraria fazer isso, mas é seu marido
e não devo interferir – ele respondeu com
diplomacia.
-Não acredito! Está de acordo com ele! -
ela indignou-se.
-Porque não se acalma e se conforma,
Helena? – Elly tocou suas mãos, carinhosamente –
Não podemos ter o controle de todas as decisões
de nossa vida. Deixe que seu marido decida. É o
melhor.
Ela não disse nada. Elly havia sofrido
tanto quanto ela na vida, e não poderia bater de
frente com seus conselhos. Respirando fundo,
começou a degustar do café da manhã.
Em uma mesa próxima, Demetrius e
Loren bebiam seu café, olhando para eles de vez
em quando.
-Eles sabem...? – ela perguntou intrigada.
-Não. Claro que não. Uma viagem com
uma mulher grávida, só poderia acabar desse
modo, não estranharam nada.
-Uma não, duas - ela disse com uma
pontada de carinho na voz.
-Do que fala? – ele perguntou intrigado.
-Não notou que sua irmã está pior que eu
no começo da gravidez? – riu de sua expressão
surpresa – Pobre John. Espero que não esteja
muito bravo, pois ela o irá desarmar totalmente
quando contar da gravidez.
-Não é possível que minha irmãzinha
esteja grávida! – ele pareceu realmente surpreso.
-E porque não? – desafiou - Não sabe
como é fácil engravidar, esposo?
-Faz muito pouco tempo que estão
casados. – ele discordou, e no momento em que
ela sorriu com malícia, lembrou-se que o
casamento havia sido consumado a bem mais
tempo.
-Uma única vez, Helena – era um dialogo
só deles e ela riu.
-Meu marido acredita em contos de
fadas, meu pai – ela ria tão bonito que ele não se
zangou.
Mas tiraria a limpo com John essa
história.
-Seus filhos serão como irmãos, pois
terão quase a mesma idade – Elly lembrou-a –
Que lindo.
-Sim, mas John e Alice viverão em
Londres – disse pesarosa.
-Nada a impede de viver perto deles – o
Conde fez questão de lembrar a despeito do olhar
irritadiço do genro.
Helena gostava de ver alguém colocando
Rony na linha. O Conde de Valença tinha esse
dom, não por causa do dinheiro. Não mesmo. Mas
seu poder ilimitado, como um dos homens mais
influentes de Londres, poderia garantir que nunca
mais a visse.
A súbita consciência de ser essa a razão
de tanta ponderação para com o Conde, quase a
fez engasgar com o pão que engolia. Bebeu um
longo gole de chá para engolir o alimento e
aproveitou para digerir essa ideia.
Seria possível que seu amor fosse
verdadeiro? Amor incondicional? Do tipo que ele
vivia dizendo?
Ele sentia afeição por ela. Claro. Mas era
amor mesmo?
O modo como Helena estava olhando
para ele o fez desejar ter o poder de entrar em sua
mente e arrancar as verdades que se escondiam ali
dentro.
Sempre que chegava ao consenso de
finalmente estar compreendendo-a, ela vinha com
alguma novidade e o confundia totalmente!
Como agora.
O Conde e Elly se afastaram para um
passeio pelos corredores, uma delicada desculpa
para deixá-los a sós.
Helena se distraiu comendo um doce
tristemente mal feito, tentando entender os
ingredientes e o que poderia ter dado errado na
execução, quando notou que não tinha a atenção
de Rony.
Ficou tensa no instante em que viu para
onde ele olhava. Um homem se aproximava da
mesa deles. Assustada, agarrou sua mão sobre a
mesa, querendo desesperadamente sair dali.
Não era apenas medo de morrer. Era
medo pelo bebê. Se ela morresse, ele não poderia
crescer, sobreviver e ter a chance de nascer. Esse
medo cresceu de tal modo que quando o viu
colocar a mão dentro do fraque, tirando algo, ela
soltou um gritinho de medo.
-Perdoe-me a audácia - o homem se
curvou respeitosamente e ergueu em direção a
Rony um pedaço de papel – Não houve
oportunidade para me explicar.
-Não há nada que possa dizer como
justificativa - Rony levantou-se no mesmo
instante, ignorando sua mão erguida.
-Olhe para essa fotografia, senhor – ele
disse com apreensão – no outro dia, me
descontrolei ao ver sua esposa. Minha postura a
assustou. Relembrava o passado.
Rony olhou para a fotografia que havia
nas mãos do homem.
Era uma imagem antiga. Uma jovem
delicada de cabelos cacheados e castanhos, muito
pequena e frágil, sorria para a foto amarelada,
uma barriga tão grande quanto à de Helena. Eram
muito parecidas.
-Minha esposa. Uma trágica morte. Vê-
la, me deixou fora de mim, não tinha a intenção de
assustá-la. Muito menos causar medo. Tornei-me
pensativo e não pude me afastar. Foi um momento
de loucura. Insanidade que jamais se repetirá.
Rony olhou para a fotografia e estendeu
para Helena.
Poderiam ser irmãs gêmeas. Olhando
para os olhos sofridos daquele homem, entendeu a
que se referia. Um amor incondicional deixa
marcas, ao ser arrancado subitamente da vida de
um homem.
-Como ela morreu? – Helena perguntou,
as mãos trêmulas segurando o retrato.
-No parto – ele respondeu tristemente,
olhando para ela com desejo e paixão, de quem vê
outra pessoa.
-Não permitirei que volte a se aproximar
de minha esposa – devolveu a ele a fotografia.
-Compreendo. Duvido que nos vejamos
outra vez. Estou de chegada à America, para
buscar minha irmã. Da última vez que a vi era
apenas uma menininha de colo. Soube
recentemente que meus pais morreram. Espero
poder fazer algo por ela. Não desejo atormentar a
vida de ninguém, muito menos de uma senhora
grávida. Espero que me perdoe pelo mau jeito.
Rony olhou para Helena sem gostar nada
do modo como ela olhava para ele.
-Espere – ela disse quando o homem se
virou para partir. – Como disse que se chama?
-Mathias - ele respondeu sorrindo para
ela com tanta simpatia que comoveu o coração de
Helena.
-Mathias... - ela sorriu, mas balançou a
cabeça, afastando os pensamentos estranhos.
-Algum problema, Helena? – Rony
segurou seu braço quando ela tencionou se
aproximar do homem.
-Não. Eu só... – ela conteve a frase,
olhando para aquele homem de forma cada vez
mais estranha. – Tive... Tive um irmão que morreu
quando era pequena, que tinha esse mesmo nome.
Não me lembro dele. Mas lembro que tinha os
olhos do meu pai – ela sorriu a essa lembrança –
Foi uma pena, nunca encontramos seu corpo.
Mamãe sempre chorou nunca ter o enterrado. Mas
depois, com a morte de meus outros irmãos, que
também não foram enterrados, ela nem pensou
mais nisso.
-Sinto muito por sua família - ele disse
simpático – Conheço essa dor. Perdi todos os
meus irmãos. Recentemente dei por falta das
cartas do meu pai. Resolvi me informar. Foi
quando descobri de sua trágica morte. Sobrou
apenas minha irmãzinha. Mas pretendo corrigir os
erros do passado. Vou buscá-la, seja o estado em
que a encontrar, a casarei com um bom homem e
cuidarei de seu futuro, como deveria ter feito se
me pai houvesse me permitido. Se não fosse o
velho Artur, jamais saberia da morte deles. – seu
suspiro pareceu tão familiar a Rony, assim como o
nome.
Helena tinha o hábito de suspirar
pesarosamente quando falava do passado.
-Velho Artur? – ele perguntou.
-Um vizinho de bom coração. Se me
derem licença, não pretendo mais importuná-los e
espero que tenham uma boa viagem, a despeito da
situação que criei.
-Porque não se junta a nós? – Ela
perguntou de impulso. Havia algo nele que a fazia
desejar sua companhia – Pode nos contar sobre
sua esposa!
-É melhor não – Rony disse com voz dura
ao deduzir o óbvio. – Preciso conversar com ele
em particular.
-Vai me deixar sozinha? – estranhou. –
Achei que estivesse me vigiando bem de perto,
Ronald Parker! – provocou.
-Parker? – o jovem parou olhando para
Rony com reconhecimento – Um dos vários
Parkers?
-Conhece a família Parker? – ela
perguntou, sempre encantada com seu sorriso e
seu olhar. Lembrava muito os olhos de seu pai, o
homem que a criou, e era adorável olhar para eles.
Estava completamente esquecida do medo de dias
atrás!
-Sim, cresci brincando com os muitos
Parkers. Eram nossos vizinhos.
Ele sorriu para ela, e estranhou quando a
pequena mulher sentou-se pesadamente.
-Vizinhos?
-Sim, fazemos fronteira com os Parkers.
Ou fazíamos, não tenho certeza se a fazenda
Johnson ainda pertence a minha família.
-Não, não pertence – Rony respondeu ao
notar que o choque a impedia de falar.
-Diabos! - ele exclamou horrorizado –
Cheguei muito tarde! O que terá sido de minha
irmã!
A agonia era visível naquele homem e
Helena riu.
Quase histericamente.
-Ela casou-se – ela mesma respondeu,
entre o riso, e algo de lágrimas – Casou-se com
um caça fortunas. – o riso aumentou, chamando
atenção de todas as pessoas – Mas ela não é sua
irmã. É meio irmã!
-Helena, acalme-se – Rony pediu,
corando pela ofensa, e ao mesmo tempo sem saber
como lidar com essa reação.
-Quantas surpresas tenho em minha vida!
- ela disse segurando o riso, e abrindo seu melhor
sorriso – Será que nunca terei uma vida calma?
Mathias olhava para ela sem
compreender. Rony achava que era horrivelmente
parecido passar por isso novamente.
-Helena Johnson, se chama Helena
Parker agora – apontou a jovem grávida, que
continha o riso.
Um riso histérico de nervoso, surpresa e
incredulidade.
-Minha irmã? A irmãzinha que não vejo
a...? - ele sentou-se a sua frente, e buscou sua mão
para um aperto que demorou mais de quinze anos
para acontecer. – Minha irmã.
-Sim. Sua irmã. – ela disse com voz
fraca, mas sem tristeza.
Seu riso feliz fez eco ao riso dele.
Capítulo 134 - Dos pedacinhos

A foto era bastante antiga e estava


amarelada em vários pontos. Helena passou uma
das mãos sobre a imagem de sua mãe, sem notar a
própria expressão saudosa. Havia outras fotos.
Uma delas mostrava quase toda a família
reunida, fato raro. Em frente de casa, num verão
que deixara a terra seca e rachada, visível através
do preto e branco do retrato. Os filhos em volta
dela, seu pai numa cadeira de rodas. Aquela
menina em seu colo, era ela.
Essa foto era tão triste que apertou seu
coração e esmigalhou seu autocontrole. Por isso, a
colocou sobre a mesa e segurou a foto de
Madeleine.
-Nossos irmãos tiveram tristes destinos –
Mathias seguiu falando – O pai me contava em
suas cartas. Ele mandou uma foto de Anne quando
ela fez doze anos – ele mostrou e ela.
A saudade foi tamanha, que Helena
tentou amassar a foto ou molhá-la com as
lágrimas que corriam por seu rosto. A expressão
doce de sua irmã. Os olhos amendoados, sempre
sorridentes.
-Tem uma foto de Helena? – Rony
perguntou curioso para vê-la mais jovem, ainda
menina.
-Não. Meu pai nunca enviou, disse que
não tinha gosto por fotos – ele sorriu para a irmã
recém encontrada e ela respondeu secando as
lágrimas.
-Ele nunca me deixava sair nas fotos. Eu
achava... Mamãe dizia que era ciúme de pai.
Agora vejo que não. – olhou para Edgar de
Valença, calado ao lado de Mathias – Ele me
punia.
-Punia a todos nós. Nunca superou a
traição de mamãe – ele concluiu – Sempre me
perguntei por que tanto descaso com nossa
criação. Porque nunca tentou de verdade nos
proteger.
-Era um egoísta – o Conde se manifestou
– Perdoe se causo magoa, mas era um homem
egoísta e cruel.
-Tem toda razão. Descobri isso com os
anos – Mathias concordou, sério e sempre olhando
para a face de sua irmã, a única parente viva que
possuía. Seu último laço de sangue nesse mundo.
Último não, afinal, teria um sobrinho ou uma
sobrinha!
-Porque será que nunca contou a mamãe
que estava vivo? Trocavam cartas, não é verdade?
Deixou-a pensar que tinha perdido seu filho
querido apenas por maldade!
-Temo que sim, Helena. – ele baixou a
cabeça envergonhado – Quando parti, não foi por
minha vontade. Tinha dezesseis anos na época.
Ele arrumou minha trouxa de roupa e me mandou
embora. Colocou algumas moedas em minhas
mãos e me mandou partir para Londres, para viver
com um antigo conhecido que possuía uma
ferraria. Não pude negar seu pedido. Pareceu tão
verdadeiro na época. Queria que eu tivesse uma
vida melhor para ajudar os irmãos. Acreditei e
parti no mesmo dia. Jamais poderia supor que
mamãe não soubesse ou que acreditasse na minha
morte!
-Será... Que os nossos outros irmãos não
tiveram o mesmo destino? – Ela perguntou diante
desse pensamento inquietante.
-Creio que não. Eu mesmo vi alguns
deles serem vencidos em brigas de bares.
-Por um minuto tive esperanças de
encontrá-los – ela suspirou, colocando a foto sobre
a mesa.
Quanta saudade sentia de Anne.
De sua mãe. Até mesmo do homem que
tanta magoa lhe causava.
-Fique com essas fotos – ele disse – Para
mim não tem grande significado. Guardo muitas
lembranças em meu coração, mas aprendi a me
desapegar de todas elas. Foi preciso, quando
minha mulher morreu. Ou não teria sobrevivido.
-Sinto muito - Helena compreendia essa
dor.
-Ao menos o destino me deu a
oportunidade de reencontrar minha irmã. Devo ser
grato, pois não tinha grande esperança que isso
fosse acontecer.
-Temos que discutir o assunto referente
às terras – Rony detestou ser ele a tocar nesse
assunto. – Helena teria perdido as terras por conta
de uma hipoteca. Com nosso casamento, assumi a
dívida. Mais tarde, vim a saldá-la, com ajuda de
um amigo e meu sogro – seu orgulho sofria
profundos arranhões ao mencionar esses detalhes.
-Agora as terras são suas – Mathias
concluiu – Não quero nada desse lugar, dessa terra
amaldiçoada. Consegui fazer a vida em Londres e
não penso em tirar nada que pertença a minha
irmã.
-Fico-lhe grata – ela deixou-o beijar sua
mão e sorriu.
Era tão bom ver um de seus irmãos.
Tão assustadoramente bom. Ter um pai
era consolador e aquecia seu coração de
felicidade, mas ter um de seus irmãos fazia com
que as feridas abertas em seu coração parecessem
menos dolorosas.
-Ficará um tempo conosco, não é
mesmo?
-Sim, mas faço questão de me hospedar
em um hotel. Não me sentiria a vontade naquela
casa.
-Não diga isso! Aquela casa é nossa
agora, e não há sombras do que foi no passado!
Acredite irmão. Não há tristeza ou luto.
A veemência em que ela garantiu isso ao
irmão surpreendeu Rony. Não tinha a menor ideia
de que fosse desse modo que via a casa de ambos.
Que era um lar de verdade.
-Não posso ocupar espaço. Logo
precisará de todos os cômodos que tiver – ele
lembrou, olhando para sua barriga – Precisa de
uma ama de leite, uma governanta. E mais
empregados.
-Imagine! – ela riu – Não quero ama de
leite. E não preciso de uma governanta. Juanita
pode me ajudar com a educação do bebê, e sempre
haverá minha sogra, que criou sete filhos!
-E obviamente um pai, que não está
incluso nos seus pensamentos – Rony provocou.
-Sabia meu irmão, que esse homem
casou-se comigo apenas para assumir a hipoteca e
prosperar? – ela queria irritá-lo, mas não magoar.
-Não, não sabia – ele olhou desconfiado
para o ruivo – É feliz ao seu lado? Ou sofre maus
tratos? – foi direto em suas perguntas.
Helena pareceu se ofender com a
pergunta.
-Maus tratos? Não. – baixou os olhos,
para que ele não visse o que se passava em sua
mente.
Nunca antes em sua triste vida, havia
sido tão bem tratada. Conviver com Rony era
como viver no paraíso. Tinham seus percalços,
mesmo assim, era perfeito.
-É feliz? - ele insistiu – Não posso ir
embora sabendo que minha irmã, o único laço que
tenho nessa vida, é infeliz.
-Tenho uma boa vida agora. Um bom
marido – disse friamente.
-Helena não pode admitir que me a ama e
que é feliz – Rony disse com amargor – Essa
revelação com certeza a transformaria em pedra ou
algo semelhante. Com certeza, me mataria de
susto.
-É possível que alguém seja feliz ao lado
de um homem com esse? – ela revidou desgostosa.
-Esses dois vivem as turras – o Conde
opinou – minha filha é muito bem cuidada e
protegida. Infelizmente, sua educação deixa a
desejar. Tem uma língua poderosa, e pode matar
um homem com um único comentário.
-Não diga isso, papai – ela pediu
envergonhada, sobre o que seu irmão pensaria
dela agora.
-Uma pequena apaixonante – Rony
concluiu, esperando que ela brigasse.
Mas Helena não revidou. Apenas corou.
Ultimamente vinha evitando falar em
amor. A qualquer momento poderia se revelar e
soltar um ‘eu te amo’. Não que houvesse algum
problema em seu marido saber do seu amor, mas
sendo esse marido Ronald Parker...
Teria ainda mais poder sobre ela e seus
pensamentos.
A cada dia se inclinava ainda mais em
sua direção, passando a concordar com ele com
uma frequência absurda.
-Está cansada, Helena? – ele perguntou
ao notar seu súbito abatimento.
-Sim, tenho me sentido cada dia mais
cansada – confessou, presa em seu olhar azul e
profundamente preocupado. – É algo da gravidez.
Nada anormal.
-Tanta emoção não pode lhe fazer bem –
ele concluiu – A levarei de volta para a cabine,
para que descanse.
-Oh, não! Não faça isso! Passei tanto
tempo trancada naquele cubículo! - reclamou.
-Não me diga que foi por minha causa? –
Mathias expressou um profundo desgosto ao
imaginar causar desconforto a doce jovem que o
cativara tanto quando o fizera os três anos de
idade, quando brincava em seu colo.
-Uma longa história – o Conde comentou
– Porque não damos uma volta, Sr. Johnson?
Poderia lhe contar alguns fatos relevantes sobre a
vida de minha filha.
Incerto, o rapaz aceitou.
Rony compreendia onde o Conde
desejava chegar. Ele próprio faria isso, se não
preferisse cuidar de Helena pessoalmente.
O Conde lhe contaria sobre a ameaça que
pairava sobre eles, e aproveitaria para saber mais
sobre esse irmão inesperado.
-Recoste-se em mim – ele sugeriu,
notando sua exaustão.
-Nunca pensei que passaria por isso na
minha vida, ver novamente um de meus irmãos,
mesmo que não tenha lembranças vivas dele.
Ela recostou a cabeça em seu ombro, e
Rony sentiu seu corpo relaxar de toda a tensão que
vinha guardando dentro de si nos últimos dias.
Algumas pessoas olhavam para eles,
achando demais tanta demonstração de afeito em
público, mas eles não se importaram.
Helena acariciou seu braço sobre o tecido
grosso do casaco, e ele estremeceu diante de seu
carinho.
Era tão boa a sensação de ser um casal.
-Estou tão cansada – ela confessou – Mas
não quero voltar para aquele quarto fechado. Tão
fechado!
-Se estivéssemos em casa, eu a colocaria
no meu colo e ficaríamos na beira do lago,
aproveitando a brisa fresca enquanto você tirasse
um cochilo.
-E você, não iria aproveitar e descansar
também? – ergueu o rosto para perguntar,
sonhadora dessa promessa.
Seria adorável.
-Não, eu ficaria acordado, vendo-a dormir
calmamente em meus braços – acariciou seu rosto
ternamente e ela voltou a recostar a cabeça em seu
ombro.
-Não daria conta de me carregar no colo.
Estou muito pesada!
-Quer apostar? Quando chegarmos em
casa, a levarei nos braços para dentro de casa,
como deveria ter feito quando nos casamos.
-É mesmo? Por quê?
-Não sabia que os noivos carregam as
noivas no colo, na primeira noite de casados?
-Não, não sabia. – sonolenta, mantinha
os olhos fixos em seu rosto, enquanto ele falava.
-Sim, e faremos isso quando chegarmos
em casa. Como deveria ter sido no nosso primeiro
dia de casamento!
-Você não ficou comigo no primeiro dia
que nos casamos. Voltou para a casa dos seus pais
– era uma sutil acusação.
-Sinto muito, mas na época achei ser o
mais lógico. Precisávamos de empregados e
mantimentos. Não fui sensível a ponto de perceber
que não merecia passar mais nenhuma noite
sozinha naquela casa!
-Foi minha última noite de paz.
Ele sorriu mansamente diante de sua
afronta.
Helena estudou o perfil forte de seus
traços e achou-o ainda mais bonito sob a luz da
manhã que entrava através da janela do vagão.
-E foi minha última noite de solidão
Diante da profundidade impressa em sua
voz e olhar achou melhor não responder. O ‘eu te
amo’ novamente na ponta de sua língua.
Rony a observou por vários minutos,
enquanto mantinha os olhos fechados, e respirava
calmamente. Poderia jurar que estava adormecida,
não fosse o movimento rítmico e acelerado de suas
pestanas. Delicados cílios que atestavam seus
pensamentos profundos. Calmo, mas profundos.
Quanta emoção aquela pequena criatura
vinha carregando dentro de si, ao menos a vida
resolvera devolver-lhe um pouco da alegria.
Rony notou que uma senhora os
observava indignada pela demonstração pública
de afeto, e não resistiu a sorrir para ela num
cavalheiresco aceno.
Que mal havia e ser apaixonado pela
esposa e apoiá-la em um momento de cansaço
físico? Hipócritas.
Revoltada, a mulher levantou-se e deixou
o vagão onde era servido o desjejum e todas as
demais refeições.
Bem, quem perdia era ela. Afinal, o dia
estava encantador e ele era o homem mais feliz
desse mundo.
Helena havia se movido e agora
massageava sobre o ventre.
-Está sentindo dor? – preocupou-se.
-Não... Quero dizer, sim – ela abriu os
olhos sonados, fitando-o - Ele bate com força.
Rony pousou sua mão sobre o lugar onde
ela indicava e confirmou o que dizia.
-São chutes de um homem que sabe o que
quer - ela completou.
-Ou uma menina treinando seus
delicados e harmoniosos passos de dança.
-Não me provoque – ela pediu sorrindo –
Me leva para o quarto? Acho melhor me deitar
agora. Quando começa, ele chuta por horas.
Não precisou pedir duas vezes.
Segurando-a, o braço delicado no seu, levou-a
para o quarto.
Eles entraram no quarto pouco tempo
depois, e Helena olhou para Anna de modo
acusador. Duran estava muito pero, fingindo
ajudá-la com a roupa de cama. Pelo corado de
Anna era claro como o dia, no que ele a ajudava.
-Vou fingir que não vi isso – ela disse
sentando-se na cama, as mãos apoiando embaixo
da barriga onde os chutes causavam dor – Deus
sabe, que vou fingir não ter visto o que vi.
-Saiam antes que ela se exalte – ele
mandou, irritado com os dois. -Espero que Juanita
de jeito neles.
-O que quer dizer? – ela perguntou sem
compreender.
-Anna é muito nova para ter filhos,
espero eu. – ele disse suspirando – Mas se não for,
não acha que são muitas bocas para alimentar, por
muito pouca retribuição de trabalho?
-Por que diz isso? Duran me ajuda, cuida
de mim! E Anna vai cuidar do bebê!
-Sei disso, mas o mesmo que gastaremos
alimentando-os e pagando um salário, poderia ser
pago a um homem como Adolph, maior e mais
experiente. Assim como uma governanta seria
mais útil que Anna.
-Pensa em mandá-los embora? – não
podia lutar contra argumentos tão insolúveis.
-Claro que não. Penso em você. Seu
apego aos dois. Não lhe daria esse desgosto.
-Mentira. Quis mandar Juanita embora.
Só não o fez por que... Me submeti as suas
vontades – as lembranças eram muito fortes,
principalmente as lembranças de uma tarde na
sala de leituras, onde a possuiu de um modo
pouco comum para uma senhora casada e digna.
-Nunca pretendi mandá-la embora – ele
riu dessa lembrança, desfazendo-se do casaco e
abrindo os botões do colete.
-Como não?
-Acha que mandaria embora minha
aliada em esconder sua gravidez? Não.
-Me fez acreditar que faria isso – ela
olhou para ele surpreendida por essa revelação.
Rony andou pelo quarto, um sorriso
vitorioso grudado na face. Abriu uma gaveta e
retirou uma caixa.
-Exatamente. De que outro modo
conseguiria sua colaboração?
-Não acredito! Como pode me enganar
desse modo? – sua indignação deu lugar a
curiosidade. – O que é isso?
-Um presente para mais tarde. Para que
me perdoasse por proibi-la de sair do quarto.
Ela estendeu uma das mãos, mas ele
negou. Andou em volta da cama e deitou-se com
um dos braços atrás da cabeça e o outro segurando
o embrulho quadrado.
-Deite-se ao meu lado, querida.
Sua curiosidade superou sua revolta em
ser tratada como uma criança.
Deitou ao seu lado, recostando a cabeça
no travesseiro macio.
-É um presente para mim ou para o bebê?
– perguntou curiosa.
-Para os dois. – ela estava muito curiosa,
e era adorável o modo como cerrava as
sobrancelhas tentando adivinhar – Não posso
amordaçá-la... Mas posso lhe fazer outro gosto,
pequena.
Entregou-lhe a caixa e ela abriu com
pressa. O cheiro forte de chocolate inundou sua
boca de água. Se não era o melhor cheiro do
mundo, com certeza estava entre os três primeiros.
-Chocolate... – ela gemeu levando um dos
bombons aos lábios – Hum...
Seu gemido de prazer o excitou na
mesma hora. Enquanto ela devorava os
chocolates, ele passou uma das mãos pelo corpo
do vestido, sobre os seios.
Helena fingiu não notar. Ele soltou a fita
que prendia o vestido e ele ficou frouxo sobre seu
busto. Espertamente, baixou o decote e a camisa
íntima. Um seio saltou para a liberdade e ela
gemeu tanto pelo doce quanto pelo toque quente d
língua em seu mamilo.
Difícil saber qual dos dois era mais
delicioso.
-Rony, amor - ela chamou carinhosa.
Ele ergueu a cabeça do seio, mantendo os
dedos em carinhos sobre a ponta, estimulando.
-Hum? - ele perguntou, em ponto de bala,
prontinho para arrancar as calças e se afundar nela
como um louco.
Antes que ela respondesse, ele roubou-
lhe um beijo com gosto de chocolate. Um beijo de
língua, molhado e guloso, que acabou com ele
mordendo seu queixo. Helena voltou a gemer,
rendida ao doce e ao gosto do seu beijo.
-Eu não quero – ela disse sem graça.
-Não quer o que? – não compreendeu a
que se referia.
-Fazer amor – disse enquanto mordia o
chocolate.
-Não quer fazer amor? – se afastou
surpreso pela rejeição.
-Não é que não queira. Só não estou com
vontade. ‘Aquela’ vontade. Mas se quiser fazer, eu
deixo.
-Deixa? – não soube por que, mas essa
possibilidade o excitou ao ponto da dor.
-Sim. Você quer? – deixou o chocolate de
lado.
-Quero – foi sincero, olhando para ela
como quem olha para um pedaço de carne
suculento.
-Está bem, então – ela deitou contra o
colchão esperando por ele.
-Tem certeza que não quer... – ele
observou-a puxar o vestido para fora do corpo, e
tirar a camisa íntima sobre a cabeça.
Ficou diante dele usando apenas o calção
de algodão.
-Não quero nada - havia um ar de pedido
de desculpas – Mas não me importo por querer
fazer amor.
-Como pode não querer? – ele não
compreendeu.
-Não estou com vontade, já disse –
reclamou, observando-o tirar a roupa com presa.
-É por minha causa? Não está com
vontade por minha causa? Não me deseja mais?
-Não seja patético, Ronald! - ela
reclamou, quando ele ficou imóvel, pensando
nessa possibilidade – É por causa da gravidez.
Tem horas que eu quero com desespero, e tem
momentos, como agora, que tanto faz...
-Se você diz – ele ficou ofendido, mas
não pode recusar o presente de ter suas pernas
abertas diante de si.
Puxou o calção íntimo que Helena ainda
usava, e olhou atentamente para aquele corpo
delicioso. Roliça e redonda, estava tão bonita que
o levava a um estado de ereção intenso.
Ajoelhou-se entre suas pernas e acariciou
sua intimidade, espalhando umidade.
-Está molhada – disse triunfante.
-Estou? – ela se ajeitou sob ele, erguendo
um dos pés, para acariciar seu peito – Seja rápido,
Rony, quero dormir um pouco.
Em outro momento, com outra mulher,
isso seria extremamente frustrante, sua amante
com pressa para acabar. Mas vindo de Helena,
sentir sua aceitação a ponto de deixá-lo amá-la
mesmo sem muita vontade, era no mínimo uma
emoção fantástica.
-Conte carneirinhos, Helena, prometo não
demorar – ironizou, sorrindo, enquanto ajeitava-
se, erguendo suas coxas sobre seus antebraços e a
penetrando lentamente.
Ela gemeu algumas vezes, incentivando-
o. Porém não estava muito interessada nos seus
movimentos lentos e suaves.
-Rápido, amor. – ela incentivou, sendo
bem sincera, querendo que acabasse logo e
pudesse fazer xixi.
Oh, o bebê estava sentado em sua bexiga
de novo!
Rony notou sua mente longe, seus olhos
mirando a parede atrás dele, e quando ela sorriu,
soube que não era para ela ele, e sim dele.
Excitado, continuou avançando, sentindo
o fogo do orgasmo queimar desde duas bolas até o
âmago do seu ser. Iria gozar.
Helena estava relaxada em volta dele,
mas sendo uma mulher muito pequena, mesmo
relaxada, era estreita e ele caiu para frente,
soltando suas coxas e se apoiando nos braços para
não esmagá-la.
O prazer tirou sua capacidade de pensar e
ele gozou com um grito estrangulado, enquanto
ela distribuía beijos carinhosos por seu pescoço.
Um último impulso e caiu para o lado,
satisfeito e murcho. Completamente, satisfeito.
-Rony – ela o cutucou, com a voz
apreensiva.
-Hum? – não olhou em sua direção,
achando que tiraria um cochilo junto com ela.
-Preciso que saia. Quero fazer xixi – ela
empurrou-o com mais força.
-Não vou olhar – ele assegurou.
-Vai sim! Saia antes que eu faça na roupa
de cama!
Apreensiva, empurrou-o novamente. Ele
só saiu da cama e lhe deu privacidade porque
havia colaborado com ele, mesmo sem desfrutar
muito do sexo.
-Têm dez minutos, eu volto em exatos
dez minutos. – avisou antes de vestir o casaco
sobre a roupa desalinhada e sair.
Ela resmungou alguma coisa, mas ele
não ouviu.
Esperando do lado de fora, no corredor,
ele sorriu.
Capítulo 135 - Ventos e garoas

A temperatura estava bem mais amena.


Foi a primeira impressão que Helena teve ao sair
do trem. Depois de semanas no navio e mais
vários dias de trem, voltar para casa deveria lhe
despertar uma emoção maior, pensou.
Hoje, com a mente mudada e o coração
no lugar, ela teve certeza que a única emoção que
poderia sentir ao voltar para casa era alegria.
Euforia por ver aqueles a quem tinha
saudade e poder contar tantas novidades.
Não havia espaço para sofrimento, dor ou
flagelação.
A estação estava às moscas quando eles
desceram do trem. Não era uma novidade. Pela
primeira vez em anos, Helena não tomava a
dianteira das decisões.
Deixou que Rony, o Conde e Mathias
decidissem como buscariam uma carruagem e
onde esperariam.
Distraída notou que o dia estava nublado
e a brisa era fresca, então, o Outono havia chegado
a sua terra natal.
Escaparia do inverno, pensou. Teria seu
bebê um pouco antes do inverno e com sorte, eles
se recuperariam do parto, antes das primeiras
chuvas e do frio.
-John não deveria estar aqui? – Alice
perguntou angustiada.
-Não. Não deveria. Ele não poderia
imaginar o dia que chegaríamos. –ela respondeu
divertindo-se com sua apreensão.
-Talvez ele não queira me ver – ela disse
pesarosa.
-Sim, e por isso abandonaria a todos nós.
John é um homem adulto, Alice. Não uma
criança. Sabe de suas responsabilidades. E uma
delas e cuidar de sua esposa, por mais
destrambelhada que ela seja – havia riso em sua
voz – Diga-me, Lilly, onde pretendem se
hospedar?
A jovem sobrinha do Juiz Demetrius
afastou os olhos dos homens que conversavam
entre si, enquanto esperavam a carruagem que
Adoph se incumbira de buscar não muito longe
dali.
Tímida, respondeu:
-Titio, espera que fiquemos com o Juiz
Simmos. É sua obrigação receber outro Juiz,
quando este está em diligencia para avaliar seu
trabalho.
-É mesmo? Que interessante – Helena
compadeceu-se da jovem ao imaginar que ela
ficaria a mercê da mãe de Susan, e da própria
Susan – Se for seu gosto e seu tio concordar,
gostaria que ficasse conosco.
-Eu não poderia. Preciso acompanhar
meu tio. Ficaria sentido se eu virasse as costas a
ele – confidenciou.
-Se mudar de ideia, não hesite em vir até
minha casa. A receberei como se fosse da família
– garantiu.
A tímida Lilly concordou, olhando para
eles, enquanto esperavam.
-Estou tão nervosa – Alice exclamou, as
mãos agarrando o leque como se sua vida
dependesse disso. – Porque estou tão nervosa?
Estou em casa. Deveria estar feliz.
-Está nervosa porque tem pendências a
acertar com John.
-Deve ser isso. Meus pais devem estar
desgostosos comigo.
-Alice, não me faça lembrar todos os
problemas, - ela pediu – Estou tentando não
lembrar que terei de contar a Juanita sobre a nora
que lhe arranjei, estou tentando esquecer que a
amante do seu irmão ainda esta na cidade e
provavelmente terei que vê-la em algum momento.
Estou tentando esquecer todos os problemas.
Alice notou que Helena também esta
ansiosa.
Precisaram esperar quase uma hora.
Helena quase chorou de alívio quando sentou na
carruagem. Alice e Anna ao seu lado, enquanto
Duran e Rony estavam a sua frente.
Olhava para fora, nervosa. Quanto mais
perto chegavam, mais nervosa sentia-se.
Era como se o seu coração fosse escapar
pela sua boca. Batidas descompassadas, uma
vontade opressora de chorar. A cidade ficou para
trás, e a medida que a carruagem cruzava as
estradas úmidas das recentes chuvas, o chão não
mais batido pelo calor e o sol, Helena reconhecia a
paisagem, reconhecia cada centímetro de terra.
Quando cruzou o lugar onde o viu pela
primeira vez, sentiu um estremecimento. Era como
se houvesse passado mil anos e não apenas alguns
meses.
A porteira da fazenda Parker ficou para
trás, pois tinham pressa em voltar para casa.
Quando avistou a porteira da fazenda, Helena
achou que não conseguiria respirar.
Viu alguns trabalhadores e viu a
movimentação. É claro, eles entrariam em
alvoroço com o retorno do patrão.
A primeira pessoa que Helena viu
claramente foi Suarez. De pé, esperava por eles a
uma curta distância. A carruagem passou pela
porteira aberta é foi conduzida até a entrada da
casa.
Uma pessoa saiu da casa no momento em
que a porta da carruagem foi aberta. Era John.
Logo atrás dele vinha Juanita.
Com a garganta apertada pela saudade,
ela se apoiou em Rony.
Estava em casa.
Finalmente estava em sua casa, o lugar
onde vivera toda sua vida e onde estava o seu
futuro. Diante de seus olhos, Londres perdera toda
a cor e beleza.
-Minha nossa! – o brado feliz de Juanita
a fez voltar para a realidade e olhar para a mulher
com olhos brilhantes – Menina! Olhe para você!
Juanita correu ao seu encontro, parando
antes de abraça-la, para colocar a ambas as mãos
em sua barriga.
-Está tão bonita, Helena – havia tanta
meiguice em sua voz que ela temeu chorar se
tentasse falar – como fez falta nessa casa, Helena.
– uma das mãos acariciou seu rosto – Fez boa
viagem? Estou curiosa para saber cada detalhe!
Oras, vamos entrar, não deve ficar tanto tempo de
pé, ainda mais depois de uma viagem tão longa!
Rony mantinha uma conversa com
Suarez e olhou para John quando este se decidiu
em se aproximar.
Só tinha olhos para Alice. Olhar
acusador. Olhar de desejo. Olhar de saudade.
Rony interceptou antes que abordasse Alice.
-John! O que faz aqui? – uma abraço de
irmãos, e olhou em seus olhos, notando que ele
estava mais tenso do que deveria.
-Seus pais acharam melhor, visto que
Alexia se encontra naquela casa. Aliás, deve saber
que sua mãe está furiosa com essa situação.
-Imagino – ele suspirou saudoso de sua
mãe – É melhor entrarmos e conversarmos. Irmã,
cumprimente seu marido – ele mandou.
-Como tem passado, Alice? – a voz de
John era pesada.
-Muito bem, obrigada – ela respondeu
friamente.
-Mentira – Rony desmentiu-a – Tem
passado muito mal. Sua saúde está acabada por
causa da gravidez.
Dizendo isso, afastou-se. Não tinha o
direito de meter-se nos assuntos de sua irmã. Mas
com o gênio que ela tinha era capaz de esconder a
novidade e alimentar os rancores entre eles.
John ficou imóvel sem compreender.
Quando se deu conta, ela passou por ele como um
raio em direção a casa. Fugia de um confronto.
Helena quase gritou de alegria ao ser
recepcionada pelos meninos de Juanita. Ruanzito
puxou suas saias querendo colo.
-Não posso pegá-lo, meu amor- ela disse
chorando.
Não havia notado que chorava. Os
meninos foram se afastando, voltando a atenção
aos seus brinquedos e Juanita a levou até o sofá.
-A viagem foi maravilhosa – Helena
contou – A casa do Conde é fantástica! Juanita, é
fantástica! A casa de John, então? Parece um
palácio! Não é Alice?
-Sim – respondeu de má vontade.
-Diga-me o Conde veio com vocês ou
ficou em Londres? – Juanita mal se continha de
empolgação.
-Veio conosco e trouxe uma
acompanhante – a malícia na expressão de Juanita
deixou claro que entendera – Seguiu para a
cidade, ficará no hotel, apesar das minhas suplicas
para que ficasse conosco!
-E o meu filho? Onde está?
Helena notou enfim, que por trás da
alegria de vê-los havia a apreensão de ver Duran.
Seu filho querido.
-Ele veio na outra carruagem. Deve estar
ajudando com as malas – Foi Rony quem
respondeu – Temos um novo empregado, Adoph.
Vai cuidar da segurança pessoal de Helena. E
temos uma nova empregada também, Anna.
-Uma empregada? – Juanita olhou para
ela com magoa – Precisa de outra empregada?
-Quando nascer o bebê precisarei de mais
ajuda, Juanita – ela defendeu-se.
-Não sou toda a ajuda que precisa?
-Não reclame, mulher – Suarez a fez se
calar.
-Juanita...- Helena corou, olhando para
Rony, e então de volta para a empregada, que
tanto gostava – Não sei como lhe contar...não
cuidei como deveria do seu filho.
-O que tem ele? Está machucado? – como
ela negasse, ela indignou-se –Ele lhe deu trabalho,
é isso? Arrumou confusão? Se eu pegar esse
menino, vou...!
-Nada disso – Helena ficou ainda mais
encabulada – Deveria ter prestado mais atenção
nele. Mas quando vi... – suspirou - Veja, essa é
Anna – apontou para amenina que mantinha-se
quieta e envergonhada em um canto da sala.
Juanita olhou com pouco caso para a
menina que a substituía. Era uma menina bem
nova, usava com penteado modesto, a franjinha
encobrindo seus olhos faceiros e que naquele
momento estavam apreensivos.
-Anna vai me ajudar com o bebê, mas
não é a única razão para ter nos acompanhado –
olhou para Rony como quem pede ajuda.
-O que Helena quer dizer é que pegamos
Anna e o seu filho na cama.
Quanto tato, pensou Helena. Não havia
muitos modos de contar uma cosia dessas, mas
esse modo, com toda certeza era o pior deles!
-Eles terão que se casar – foi seu
complemento.
-O meu filho...? -ela mediu a menina da
cabeça aos pés – Ela não... é da vida, é?
-É claro que não, Juanita! – Helena
indignou-se.
-Se o menino aprontou deve redimir-se –
Suarez disse calmamente.
-Eu não acredito nisso... –seguiu olhando
de tal modo para amenina, que ela se encolheu em
seu canto, querendo desaparecer.
-Em parte é minha culpa. – Helena tentou
consola-la – Sabia do interesse dos dois e não os
vigiei como deveria.
-Quando eu pegar esse menino, juro, que
lhe tiro o couro – Juanita disse engolindo essa
ofensa mortal ao seu orgulho de mãe e tentando se
recuperar – Tenho refrescos, trarei para que se
refresquem. Tenho bolinhos também.
-Anna, ajude Juanita e faça tudo que ela
mandar – Helena pediu com pena da criatura que
seguia Juanita.
Esperava gritos e não calmaria. Prova
que estava furiosa demais para se expressar.
-Há muitas novidades – Rony disse a
John, jogando-se no sofá e descansando - Suarez,
ajude Adolph a se acomodar. Mais tarde, falo com
você e me interesso do trabalho.
-Sim, senhor – ele disse saindo a seguir.
-Muitas novidades, John – ele continuou
– Helena já sabe da ex-mulher do Conde – contou.
-Por favor, não vamos falar disso agora –
ela lamentou, cansada – John, encontrei um dos
meus irmão. Um irmão que achei que estivesse
morto! Pode acreditar nisso?
-Não, não posso. – John se aproximou e
ela se levantou para receber seu abraço.
-Que bom vê-lo, John. Tem passado bem
esses dias em que não nos vimos?
-Um mês conturbado – ele disse se
afastando e sorrindo para sela. Era impossível não
notar que estava redonda como uma leitoa.
-Alice tem muitas novidades para lhe
contar. Mas antes, quero saber como está a
fazenda. – Rony cortou o assunto, pois sempre
desgostava ver os dois conversarem com tanta
cumplicidade.
-Os negócios estão indo muito bem.
Tanto aqui, quanto na fazenda dos seus pais. Eu
acabei de fechar negócio e comprei a fazenda dos
Gueen. – era uma grande novidade – Seremos
vizinhos por um breve período.
-Espero que seja um longo período –
Helena contrariou-o – Já sabe que será pai, John?
Por favor, Alice, não omita essa informação do
seu marido!
-Não deveriam se meter na minha vida -
ela disse nervosa – John não deve estar
interessado. Eu...o abandonei.
-Me abandonou. – ele concordou – E
mesmo assim, vim atrás da minha esposa fujona.
Alice olhou para aqueles olhos verdes
sem saber o que esperar deles. Havia compreensão
e carinho.
-Podemos conversar a sós, Alice? -ele
estendeu a mão para ela, e Alice olhou para sua
aliança em seu dedo.
Era eu marido. Com um sorriso cheio de
saudade, ela aceitou seu toque e se deixou levar
para a saleta, onde John usava para administrar os
negócios na ausência de seu melhor amigo, Rony.
-Como foi eu John virou um fazendeiro?
– Rony brincou.
-Eu não tenho a mínima ideia – ela
respondeu no mesmo tom, olhando em volta.
Sua casa. Havia mais cor, Juanita fizera
alguns tapetes e havia uma cortina bonita na
janela. Um quadro na parede.
-Mudaram minha decoração – disse
surpresa, levantando-se e olhando os objetos de
enfeite e gesso.
-Sabia que minha mãe não resistiria – ele
confortou-a – São quinquilharias de uma avó que
quer agradar –abraçou-a por trás, beijando seu
pescoço.
-Estamos em casa. – ela disse com a voz
embargada – Quanta falta senti da minha casa.
-Está em casa e está feliz? – ele sondou.
-Estou em casa e estou feliz – ela
concordou, virando em seus braços, olhando em
seus olhos – Porque será que não brigamos mais?
-Porque você está aceitando como
marido. – garantiu.
-Não diga um absurdo desses! Não posso
aceitar aquilo que nunca desejei, e como já disse
das outras vezes, me acostumei a sua presença.
Não é mais um estranho na minha vida.
-Intruso, você quis dizer – provocou.
-Exatamente.
Os dois permaneceram um logo momento
contemplando a casa, e falando sobre amenidades,
enquanto Rony esperava que seu coraçãozinho se
acalmasse.
Estava sorrindo para suas frivolidades a
cerca de cortinas quando Duran entrou correndo.
-Patrão!
-O que foi? Porque está gritando desse
jeito? – perguntou com a sombra de um sorriso
diante da expressão do garoto.
-Aquela mulher está aqui, patrão! Adolph
não a deixa passar sem sua autorização!
-Posso imaginar – ele quase podia
imaginar a expressão de sua visita, fosse quem
fosse, diante da muralha que era Adolph.
-Vá para a cozinha, sua mãe ficou de
buscar refrescos e não voltou mais. Pobre Anna,
ela deve estar acabando com a menina! – Helena
lamentou, enquanto saiam da casa.
A mulher vestia vermelho e Helena
soltou a mão de Rony no instante que reconheceu
a face pálida e os cabelos louros.
-Alexia -ele não pareceu crer no que via.
-Meu amor! Viram-no chegar em uma
carruagem –ela tentou se aproximar, e Adolph deu
passagem depois de um sinal de Rony.
Alexia correu ao seu alcance,
completamente livre de qualquer sequela do parto
recente, as formas perfeitas.
-Minha vida, não acredita na loucura que
aconteceu na sua ausência! Querem me prender,
amor! Dizem que menti sobre nosso casamento!
Ouve? Querem nos separar...
Suas palavras morreram em sua boca e
ela estacou como se levasse um choque muito
forte e suas pernas congelassem. Mirou a barriga
de Helena, como quem vê um aparição. Seguiu
olhando para cima, até encontrar seus olhos.
-Não é possível –ela disse horrorizada –
Essa barriga é de mentira! – acusou
,completamente cheia da verdade – Não acredito
no que vejo! Quando saiu daqui não havia barriga
alguma!
-Não grite na minha casa – Rony
mandou, afastando-a delicadamente – Helena não
lhe deve satisfações. Não é bem vinda nessa casa,
Alexia. Sinto muito, mas não é bem vinda.
-Como não? Vai acreditar nas mentiras
que contam sobre mim! Rony, pensei que uma ida
a Londres pudesse fazê-lo lembrar de como era
maravilhoso entre nos dois! De como a vida
civilizada é maravilhosa! Rony...
-O mal entendido entre nos se dissolveu,
Alexia – sua voz era mansa, mas ele queria
mesmo era tira-la dali a pontapés – Não devemos
ter assuntos entre nós. Quero que vá embora, e
prepare-separa voltar a Londres. Deve saber que a
hospitalidade dos meus pais chegou ao fim.
-Não –ela negou veemente – Não pode
me expulsar. Nem expulsar sua filha!
-Ronald não tem filhos – Helena disse
indignada – E se tivessem, com certeza suas mães
não seriam bem vindas nesta casa!
-Não haverá discussões. Estou cansado e
Helena está exausta. Alexia, me ouça. Não vou
assumir sua filha. Não vou assumi-la. Sou casado
e feliz, e terei um filho com minha mulher. A lei
está do meu lado e detestaria ter que expulsá-la a
força, por outro lado não posso permitir que cause
dissabores a minha mulher.
-Sua mulher! – Alexia se afastou com
nojo – Sua mulher! Não por muito tempo! Espero
que morra no parto, sua bruxa! Mulher sem
coração! Morra e apodreça ao lado de sua família!
Adolph segurou Alexia pelos braços e a
arrastou em direção a carroça que a trouxera.
-Vai morrer no parto, está ouvindo? Você
e o seu filho imundo vão morrer!
Rony segurou Helena, para que ela não
caísse e tapou seu ouvidos, enquanto Adolph
arrastava Alexia para longe.
-Não ouça – ele pediu - não ouça
nenhuma dessas palavras!
Imóvel não sabia o que lhe dizer. Eram
palavras horríveis.
Uma praga de morte para alguém que
temia morrer. Alguém que sempre desejou a
morte, mas que agora, se apegava a vida com
ardor.
-Não estou ouvindo – ela disse muito
baixo, se recusando a ver aquela mulher ser tirada
dali.
A carroça seguiu o mais rápido que pode,
indo embora, mas ela não viu. Manteve o rosto
enterrado em seu peito, ignorando tudo a sua
volta.
-Alexia nunca mais vai importuna-la –
ele garantiu – Juro isso.
-Hum-hum... – não queria falar.
Uma sensação horrível de perda no peito.
-Ouvimos gritos! – Juanita surgiu na
porta, apressada olhando a carroça que se
afastava. – Helena! Está tão pálida! É melhor que
entrem e...Oh, não!
Seu grito horrorizado, fez Helena erguer o
rosto e esquecer a tonteira. Juanita parecia bambu
verde, pálida e tremula, olhando para frente, como
se estivesse possuída por algum demônio.
Seus olhos estavam fixos na imagem a
frente. Seguiu seu olhar, se pensou porque tanta
surpresa em ver apenas um homem alto e grande.
Adolph não era tão assustador assim.
Suarez havia se aproximado do outro e
ele não olhava para o franzino homem.
Helena olhou de um para o outro e então
lembrou-se de Duran e seus olhos estupendamente
verdes.
-Pobre Juanita –ela sussurrou ao
entender.
Se soubesse jamais teria trazido Adolph!
Jamais!
Seu lamentou atraiu atenção daquela
sofrida mulher que olhou para eles, e então
respirou fundo.
-Vou preparar sua cama, precisa
descansar.
Apenas Helena poderia entender o que
seu olhar úmido queria dizer. Juanita não chorava.
Não mesmo!
-O que foi? – Rony perguntou em seu
ouvido quando ela o abraçou tocada pelo
sofrimento de sua amiga.
-Ele é o pai de Duran... – falou tão
baixinho que ele mal ouviu – O único amor da
vida de Juanita...e eu o trouxe para cá.
Rony não respondeu nada. Só uma
mulher para compreender a dor de outro coração
feminino.
Como homem, não podia dizer nada.
Sobretudo quando o seu próprio coração estava
acelerado depois das maldiçoes rogadas por
Alexia.
Sentindo todo o brilho da volta se perder,
tomou-a nos braços e levou sua mulher para
dentro, para ao menos descansar o corpo. Pois
tinha certeza, sua mente e seu coração, estavam
inquietos.
E assim ficariam por muito tempo.
E ele, arrancaria a língua de Alexia se ela
ousasse atravessar seu caminho novamente!
Capítulo 136 - Pedras no caminho do amor

Havia alguma razão escusa para tanto


interesse de Mathias na cidade. Helena começava
a suspeitar que tivesse algum interesse na recatada
Lilly, quando viu seus sonhos de casá-los ruírem.
Um buchicho, nada além de uma fofoca
entre Juanita e Alice, numa tarde ao acaso. Estava
na sala, tentando terminar um bordado quando
decidira esticar as pernas.
As vozes na cozinha a atraíram.
-Tem certeza? Será um baque e tanto para
Helena – Juanita sussurrava contrariada.
-Sim, eu sei. Não tenho coragem de
contar-lhe! – Alice disse em tom desesperado –
Rony me disse que tentará abrir os olhos de
Mathias. Mas sabe como são os homens
apaixonados... Tão tolos!
-Nem me diga – Juanita suspirou – O que
importa é que ela não deve saber.
Sua vontade era invadir a cozinha e
arrancar delas o grande segredo sobre seu irmão,
mas preferiu não confrontá-las e correr o risco de
ouvir mentiras deslavadas.
Mathias estava na fazenda, numa visita,
para auxiliar os homens na árdua tarefa de trocar
as ferraduras de alguns cavalos. Era experiente
nisso. Inclusive falava muito sobre a ausência de
uma boa ferroaria por aquelas bandas.
Secretamente, ela guardava o desejo de
que vivesse próximo a ela, assim como desejava
de todo coração que John ficasse uma longa
temporada com Alice, vizinho a eles.
Foi sua sorte, vê-lo sozinho na saleta
analisando alguns dados financeiros. Tendo o
cunhado tão solicito, Rony delicadamente se
livrara daquele fardo de fazer contas.
-Muito trabalho, John?
Assustou-o, mas não o suficiente para
que se ultrajasse.
-O bastante para me manter ocupado –
ele reclamou, deixando o livro e olhando para ela
com afeição – É impressão minha, ou a cada vez
que a vejo sua barriga está maior?
Era uma brincadeira com um fundo de
verdade.
-Não sei o que acontece. Juanita diz que
vou explodir – ela riu. – John... – procurou
coragem – Tenho um pedido a lhe fazer, mas não
tenho coragem para tanto.
-Um pedido? – intrigado ele espantou-se
quando ela encostou a porta, para não serem
ouvidos.
-É um pedido que me constrange. Não
deveria falar desse modo ou influenciá-lo. Sinto-
me horrível por saber que não terá coragem de
negar meu pedido, por ser um homem tão bom!
Por um segundo o coração de John saltou
dentro do peito.
Os olhos castanhos, a pele macia, os
cabelos encaracolados e sedosos... Ainda mexiam
com ele. Uma parte sua, uma estranha parte sua,
ainda sentia-se invadido pela sua voz sedutora.
-Peça. Se foi um pedido justo, ficarei feliz
em atendê-la – cruzou os braços, observando-a
ficar diante de sua mesa, ou melhor a mesa de
Rony, e mexer nervosamente no tinteiro e na pena,
como se estivesse organizando-os.
-É sobre Alice. – esclareceu, e pensou ter
visto um vislumbre de decepção em sua face.
Logo afastou esse pensamento infame – Ela está
de poucos meses, mas em breve, estará maior que
eu... Quando esse dia chegar, é homem, não
poderá entender a exatidão do que digo, mas tente
acreditar... Tudo que ela sente vai mudar. Seu
corpo, seus pensamentos. Tudo. Será outra pessoa
por poucos meses e ouso dizer, que depois que o
bebê nascer, ela ficará ainda mais carente de
atenção e cuidado. E não me refiro a empregados.
Refiro-me a família. A mãe. Sinto muita falta da
minha mãe nesse momento – infelizmente, sentia-
se próxima a chorar. Era sua terrível verdade.
Chorosa.
Rony vivia caçoando dela por conta
disso.
-Estou querendo dizer... É um homem
rico. Pode se afastar um tempo de Londres. Ao
menos até a criança nascer e ela estar segura.
-É esse o seu pedido? Que fiquemos até
depois do nascimento da nossa criança?
-Sim. Tenho certeza que Alice lhe pediria
o mesmo se não...
-Se não o que? Às vezes não compreendo
Alice – foi sincero.
-Ela o ama. E tem medo de decepcioná-
lo. Oh, John... – sentou-se na poltrona em frente à
mesa de carvalho e seus olhos brilhavam –
Precisava ter visto Alice quando se ausentou de
Londres! Tão mudada! Cuidou da casa com pulso
de ferro! Tão confiante. Sua insegurança se deve a
não querer causar-lhe arrependimento com esse
casamento, entende?
-Não posso fazê-la amadurecer, Helena, e
nem sei se quero – ele sorriu com mágoa no olhar
– quando cheguei à fazenda Parker, estava
completamente desesperado. Não imagina meu
medo dela ter se perdido no caminho, ou de algum
homem ter se encantado com sua beleza e a
roubado e mim. Então, os Parkers me trataram
como eu merecia. Me mostraram a carta de Rony
contando que ela estava bem, sobre a proteção do
irmão. Achei que o mundo tivesse virado de
cabeça para baixo. E não compreendo esse
sentimento. Alice é infantil às vezes, e me faz
sorrir. Não quero mudá-la. Há algo de triste em
amadurecer cedo demais.
-Sim, tem razão – os dois dividiram um
olhar cúmplice – Apenas me prometa que ficará
aqui, e poderei ajudá-la nesse momento, e Sandra
poderá ampará-la. Por favor, John! Alice não vai
pedir! Não quer desagradá-lo, e eu não pediria se
não estivesse completamente fora do eixo!
-É tão difícil assim? – ele olhou para sua
barriga – Carregar um filho?
-Deus dá a mulher o dom de conceber,
pois homem algum aguentaria um minuto! – foi
sincera – É tudo tão confuso, as emoções tão
fortes, tão... Intensas. Eu amo essa criança, e amo
o mundo onde ela vai nascer, apenas por saber que
ela estará nele. Não tem lógica.
-Não, não tem. Quanto ao seu pedido –
ele piscou algumas vezes antes de responder –
Não posso prometer não ter que voltar a Londres.
Mas ficaremos até nosso filho nascer.
-John, desde a primeira vez que o vi,
soube que era um homem de ouro! – ela não quis
chorar, por isso levantou-se – Posso contar a ela?
-Deve – ele garantiu.
Do outro lado da porta, Alice desgrudou
o ouvido da porta e se afastou de volta para a
cozinha. Não havia resistido ao impulso ciumento
de ouvir o que conversavam, quando avistou
Helena entrando na mesma sala onde John estava.
Corada, fingia ajudar Juanita a cortar o
pão para os empregados quando Helena apareceu.
-Pedi a John que fiquem até o nascimento
do seu filho - ela disse séria – mas não preciso lhe
dizer isso, estava ouvindo atrás da porta.
-Não fiz por mal. – ela não pode olhar
para Helena.
-Tem razão, fez por ciúmes. O que é
ridículo, mas não vou brigar com você, estou feliz
demais para brigar.
-Eu sempre soube que a vida de John era
em Londres – Alice explicou complacente e
conformada.
-Sim, e John sempre soube que é jovem,
e imatura. É claro que quer sua mãe ao seu lado
nesse momento. Eu também gostaria de ter a
minha...
O silêncio ficou entre elas, interrompido
por Adolph que apareceu na porta dos fundos.
-Com licença – ele tinha os olhos baixos,
e não olhou para ninguém diretamente – Poderia
falar um instante com a senhora?
-Não - ela se negou – Sei que quer ir
embora, e me recuso a ouvir – Helena havia
decidido isso outro dia quando ouvira Juanita
chorar escondida. – Se quer e precisa ir, vá de uma
vez. Não me peça para dispensá-lo, sou egoísta
demais para fazer isso.
Humilde, ele não disse mais nada, apenas
foi embora. Alice notou quando Helena olhou para
ela pedindo silenciosamente que saísse e a
deixasse a sós com Juanita.
-Eu sinto muito – ela disse quando as
duas ficaram sozinhas – Juanita, eu não sabia.
-Não – ela ergueu uma das mãos pedindo
que se calasse – Não vamos falar disso!
-Sim, nós vamos. Não pode
simplesmente fingir que...
-Cale-se, Helena – ela exigiu – Não sabe
nada da vida. Tem coisas que é melhor esquecer e
continuar vivendo! – os pratos foram batidos com
tanta força dentro da bacia onde os lavava que o
barulho ecoou pela cozinha.
Juanita os abandonou, imóvel, as mãos
nos quadris. Estava em seu limite. Não era a
primeira vez que a flagrava com os olhos cheios
de lágrimas.
-Ele foi vendido – ela disse de repente –
Quando o procurei para contar que carregava um
filho, descobri que havia sido vendido. Sabe o que
é isso? – olhou para ela com tanta dor que a
comoveu – O amor da minha vida. Estava perdido
para mim. Fechei meu coração, Helena. Endureci
meu coração. Tive meus filhos e tudo que me
importa é criá-los. Fui fraca, aos poucos baixei a
guarda para Suarez. Ele ocupa um lugar no meu
coração. Um lugar tão grande, tão embrenhado em
minha alma que morro só de pensar em deixá-lo.
– ela soluçou sem notar que chorava – Mas
Adolph... Sempre foi amor. Sempre foi paixão. Eu
o vejo e quero voltar a ser novinha e cheia de
sonhos. Quero ter minha juventude de volta.
Quero ter os mesmo sonhos e a mesma capacidade
de enlouquecer. Mas não posso. Olhe para mim,
Helena – ela mandou e ela olhou – Estou
envelhecendo. Meus filhos crescendo. Um dia
serei só, eles terão sua vida e preciso ter um
companheiro. Não um grande amor. Um
companheiro.
-Adolph não a deixou por querer – ela
achou que esse fato fazia toda a diferença.
-Mas não muda o que aconteceu. Não
muda o sofrimento. Helena, sua caridade fez desse
homem alguém digno. Não posso criar meus
filhos contando que isso se repetirá. – maneou a
cabeça vigorosamente - Se ele quer ir embora,
deixe- o ir. Por favor, deixe-o ir.
-Suarez sabe...?
Juanita riu quase com desespero.
-Ele não é cego. Suarez é pacato, mas
você não tem ideia de tudo que esse homem já
viveu. Sua história preencheria todas as páginas
de todos os livros que estão em estante adorada,
Helena! Bastou um olhar e ele sabia!
-Falou disso com você? – preocupada,
pensou nas consequências materiais.
-Não falou de amor. Ele apenas disse “é
ele não é? ’. Eu acenei com cabeça e Suarez não
voltou a me procurar como mulher desde então.
Três semanas, Helena. Muito tempo para um
homem ficar sem mulher. Acho... – pareceu que
uma onda de choro fosse dominá-la, mas segurou
– que espera que eu me decida sobre o que sinto.
-E o que sente?
-Sinto minha vida destruída – ela sentou
em uma cadeira destroçada - Vida ingrata. Vida
ingrata e desgraçada! – enxugou o rosto no
avental. – vida de desgraça!
-Duran sabe que ele é seu pai? – afastou
a vontade de chorar por ela e tocou seu ombro
solidariamente.
-Ele sempre soube. Sabia o nome do pai e
sabia como era fisicamente, tenho uma velha foto
comigo.
-Mas ele não disse nada! – exasperou-se.
-Para que? – ela sorriu entre as lágrimas.
Lágrimas duras. – Os irmãos precisam comer,
Helena.
-E se ele pudesse...
-Cuidar deles? Não. Falei com Adolph. –
notou sua surpresa e sorriu – Todas nós, mulheres,
enlouquecemos uma vez ou outra... – ela sorriu
triste – Foi claro. Não tem condições para criá-los.
Mas sabe o que dói? Eu vi em seu olhar que havia
mais. Ele me amou. A menina pura de alma, que
tinha o corpo usado por homens sem rostos para
ela. Mas não sabe se pode amar essa mulher que
me transformei. E eu, não sei se posso amar o
homem que ele se transformou.
-Não sei o que dizer – ela foi sincera –
Não quero que ele vá embora, me sinto protegida
com ele cuidando da minha segurança. Por outro
lado, me corta o coração fazê-la sofrer.
-Certas coisas na vida não têm solução –
ela se recompôs e levantou-se, perto de Helena
mediu sua barriga, correndo as mãos por toda a
circunferência – Tem toda a razão em querer
mantê-lo aqui. Não deixe minhas mágoas a
cegarem. – um profundo suspiro e ela voltou a ser
a Juanita de sempre – Essa noite, seduzirei meu
homem para que ele saiba da minha decisão.
Sinto-me feliz com essa decisão.
-Não minta, Juanita – ela segurou o
choro, emocionada por ela.
-Eu não minto. É uma felicidade
diferente.
-Eu não sei se conseguiria ser forte como
você está sendo. – teve que dizer.
-É claro que conseguiria. Quando essa
criança estiver nos seus braços, nada ficará entre
você e o sorriso dela.
Helena concordou, pois estava coberta de
razão.
-Pronto. – Juanita até conseguiu sorrir –
Este assunto morreu aqui. Preparei a comida de
Suarez e de seu marido. Eles vão ficar no celeiro
enquanto seu irmão cuida dos cavalos. Leve para
eles. Espiche as pernas, precisa fortalecê-las para
o parto.
Ela estremeceu ao pensar no parto.
Apanhou os pratos arrumados com panos
protegendo, e saiu procurando por Anna. Ela
estava cuidando das galinhas, corada e assustada,
pois não tinha muito hábito de lidar com animais.
Apressou-se a ajudá-la com os pratos,
enquanto seguiam para o celeiro.
As duas entraram sorrateiras, enquanto
os três homens conversavam.
-Acredite, ela fez isso e muito mais –
Rony disse com um tom de ódio inigualável na
voz – Graças a essa bruxa quase fui preso!
-Não posso crer nisso, é tão bonita. Tão...
– Mathias corou enquanto lidava com um dos
cavalos, colocando-lhe a ferradura – Só tive uma
namorada em minha vida e me casei com ela.
Talvez não tenha capacidade para julgar as
mulheres como deveria. Achei-a incrivelmente
doce. E sincera.
-E talvez seja. É possível que Lil esteja
apaixonada por você – Rony deu de ombros.
-Porque a chama de Lil? Seu nome não é
Alexia? – ele deu uma martelada poderosa,
prendendo uma das ferraduras.
-Lil é um apelido usado por seu clientes –
ele explicou, notando sua surpresa – imaginei que
não houvesse lhe contado que é cortesã.
-Disse que foi... enganada por um homem
em Londres e então, o conheceu. Apaixonou-se.
Não posso culpar uma mulher por se apaixonar.
-Ela gostava da vida de cortesã, até
perder quem a sustentasse por conta da gravidez.
-Não me disse nada disso. Fez-me juras
de amor. - Mathias parecia inconformado – A
conheci no hotel. Estamos no mesmo corredor...
Ouvi a criança chorar e ofereci ajuda. Porque não
me contou a verdade? Depois da morte de minha
mulher nunca mais olhei para outra.
-Não faz sentido para mim. – Rony
concordou – Não tem o perfil de Alexia. Talvez
ela tenha se apaixonado de verdade – Rony
pareceu surpreso com a própria conclusão.
Mathias não respondeu nada. Ergueu o
olhar a notou a irmã. Ela deixou os pratos sobre
uma mesa velha que apoiava algumas ferramentas
e não disse nada antes de sair de lá.
Rony a seguiu.
-Helena! – segurou seu braço, fazendo-a
parar.
-Meu irmão apaixonado por aquela
mulher? – seu horror o compadeceu.
-Ele tinha interesse nela. Apenas isso.
-Interesse? Que desgraça é essa de todos
os homens da minha vida terem que passar pela
cama dessa mulher?
-Não exagere, Helena. É só um caso sem
importância. – tentou acalmá-la.
-Sempre é sem importância! Espero
Parker, que não tenha a mesma ideia que ele!
-Não me acuse. Estava aconselhando-o a
afastar-se dessa a tempo. Então, controle seu
gênio e não me acuse do que não fiz!
-Ora, me deixe em paz! – soltou-se dele,
uma vez mais, e se afastou a passos duros.
-Era só um tolo interesse, Helena! – ainda
tentou defender o cunhado.
Sabia que tinha ouvido suas palavras,
embora não respondesse. Havia parado de andar e
o fitava com rancor.
-Pois volte lá dentro, e diga a ele, que
essa mulher desejou minha morte. Diga a ele que
acordo no meio da noite ouvindo seus gritos, suas
pragas! Diga isso a ele! Que tenho pesadelos
desde que ela me amaldiçoou! Talvez isso mine
seu interesse!
Com raiva escapou dele, marchando para
dentro de casa.
Capítulo 137 - Segundas Intenções

A Igreja era simplória e antiga. Helena


estava sentada em seu banco de madeira
lamentando ter amanhecido com os pés tão
inchados. Há um mês e meio estavam em casa a
nada de estranho havia acontecido, além de
algumas visitas indigestas do juiz Demetrius.
Ao menos trazia a tímida Lilly que
demonstrou, assim como ela, gostar de ler na beira
do lago, e também, falar em francês, o que a
permitiu treinar a linguagem.
Rony estava ao seu lado, mas tanto fazia.
Estava magoada com ele. Muito magoada.
Graças a ele seu irmão, o único que lhe
sobrara vinha mantendo um relacionamento com
Alexia Lil. Por culpa dele, que trouxera sua
amante até a vida deles!
Seu suspiro atraiu a atenção de Alice que
segurou suo mão.
Alice parecia um raio de sol. Tão feliz.
Tão radiante, enquanto ela estava desbotada e
abatida.
Amanhecera pesada, inchada e
dolorosamente consciente que seu filho sereia um
troglodita, que adorava dar chutes.
Havia tão poucas pessoas na pequena
Igreja, que seria triste se não fosse aceitável para
alguém de origem tão simples.
No altarzinho, Duran olhava para o chão.
Pobrezinho. Helena refreou o impulso de levantar
e abraçá-lo para incentivá-lo.
Juanita pareceu ler seus pensamentos e
ajeitou a gravata do menino, e seus cabelos. Disse
alguma coisa antes de beijar afetuosamente sua
testa. Suarez e ela estavam ao lado do altar, na
posição de padrinhos. Helena seria a madrinha,
mas só levantaria quando a noiva estivesse
chegando.
Helena tinha entrado no oitavo mês e
estava muito consciente que o parto se
aproximava. Tão consciente que quando menos
esperava, lhe vinha a mente a imagem da criança
morta em seus braços. Ou dela morta e a criança
viva. Ou os dois mortos.
Lutando contra esse pensamento, olhou
para trás, para seu pai e Elly, e a doce Lilly. O
Juiz Demetrius estava ao seu lado, bastante
chateado. Se o Conde não estivesse ali, jamais iria
ao casamento de dois empregados!
Observou desgostosa a presença do Juiz
Simons, entrando pela Igreja.
-Quem foi que o convidou? – perguntou
num impulso.
-O Sr. Loren o convidou – Demetrius
respondeu atrás dela, o hálito de porco em seu
cangote incomodando-a. – Parece que estão
acertando o casamento de sua filha com Loren –
ele segredou.
-Mesmo? – os olhos de Helena brilharam.
Obviamente a presença do Sr. Loren
tinha a mesma motivação que Demetrius. Puxar o
saco do Conde de Valença e sua insuportável
filha. Mas quem se importa?
Logo atrás do Juiz Simons e sua mulher,
vinha Susan de braço com o baixinho e esquisito
Sr. Loren. Carrancuda, a jovem olhou para Helena
com ódio mortal.
Helena não gostava de sentir-se
vingativa, mas a satisfação de vê-la infeliz foi
quase insuportável de aguentar. Queria levantar e
sair gritando de felicidade pela Igreja.
Em seu pior momento da vida, aquela
jovem e sua mãe tripudiaram sobre sua desgraça.
-Não preste atenção nelas. – Rony
aconselhou.
-Porque não posso ficar feliz com a
desgraça dela, se fez o mesmo com a minha? –
perguntou ácida, uma fisgada de ciúme, ao pensar
que ele se abalava por alguém tripudiar sobre a
infeliz.
-Porque não é uma pessoa maldosa igual
a ela e sua mãe – foi sua simples resposta.
-Acha que serão felizes juntos? –
perguntou, ao não ter como desmenti-lo. Não
queria que pensasse que era vingativa ou
mesquinha.
-Não – ele sorriu, com algo no olhar que
apenas ela poderia entender – E não posso dizer
que lamento isso.
-Talvez esteja perdendo sua última
oportunidade – alfinetou, erguendo os olhos para
ele.
-Talvez – concordou apenas para vê-la
atiçada.
E conseguiu. Essa resposta ficou
martelando em sua mente por vários minutos,
sendo temporariamente esquecida, pela entrada de
Anna. Os dois levantaram e se posicionaram.
Que coisa. Ainda tinha que ser madrinha
depois da desfeita que os dois lhe fizeram, traindo
sua confiança. Por trás do sentimento exagerado
de proteção para com os dois, havia um
sentimento de felicidade, afinal, os dois estavam
felizes com esse casamento!
Então, só restava a ela também ficar!
Anna adentrou a Igreja de braço dado
com Suarez e segurava um ramalhete de flores
colhidas bem de manhãzinha, no jardim. Usava
seu melhor vestido, os cabelos cobertos por um
simples véu de orações.
Não poderia estar mais bela, a face tão
feliz e tão iluminada que desmentia qualquer
pensamento sobre aquele jovem casal não ter
futuro juntos.
Quando o Padre começou seu discurso,
Helena notou que no fundo da Igreja o grandalhão
Adolph espiava a cerimônia.
Ele vinha se mantendo afastado daquela
família em respeito à Juanita, e Helena admirava
esse respeito e essa capacidade de aceitar que ela é
mais feliz com o marido do que seria com ele.
Quando Anna fazia seus votos, ela notou
que alguém entrava na Igreja. Alguém não. Alexia
de braço com Mathias.
O desgosto foi tanto que quase a matou.
Virou o rosto para o outro lado se
recusando a ver essa cena deprimente. Se ele se
casasse com aquela mulher, Helena o teria como
um traidor.
Era um pensamento infame, pois não
teria coragem de virar as costas para o irmão que
reaparecera em sua vida. Jamais faria isso!
Rony amparou-a pela cintura, talvez
temendo que ela passasse mal ou apenas querendo
aliviar o peso sobre seus pés inchados. Não era
cego.
Helena vinha carregando um peso
angustiante.
Ele, que a via nua, às vezes tinha aflição.
Aquela barriga deveria estar prestes a bater algum
recorde. Não era possível nascer uma criança dali.
Seria mais fácil acreditar que fosse um bezerro,
pois já vira vacas menos cheias do que Helena se
encontrava no momento!
Ela quis sentar-se desesperadamente,
mas se conteve. Seus pés doíam, o bebê chutava
dolorosamente, sua bexiga estava cheia, prestes a
romper, suas costas moídas de dor pelo peso que
carregava. Seus seios haviam começado a vazar
logo cedo, assustando-a até a morte. Não fosse
Juanita, ela teria entrado em pânico.
E tudo isso servia apenas para confirmar
suas suspeitas de que nunca mais iria querer
engravidar na vida! Não enquanto houvesse algum
juízo na sua cabeça!
Um profundo suspiro escapou de seus
lábios, e ela olhou para o fundo da Igreja onde seu
irmão estava sentado ao lado daquela mulherzinha
asquerosa.
Como podia uma mulher virar a cabeça
de um homem em apenas um mês?
A resposta era clara como água límpida.
Mathias não tinha uma mulher em sua vida há
seis anos, e ainda sofria a morte da esposa. Então,
aquela cobra o segurara a maneira mais vil.
Usando seu corpo e sua esperteza!
Amargurada ela ouviu o sim, e fingiu não
notar que Juanita parecia desconsolada. Os
noivos, melhor dizendo, recém casados, trocaram
um beijo casto, Duran beijando a face de Anna e
não a boca.
Pobrezinha, morreria de vergonha se a
beijasse na frente de todos os seus conhecidos.
Helena não pode deixar de sorrir quando Anna
olhou para ela, talvez esperando sua aprovação.
A cerimônia havia acabado, mas ainda
haveria uma pequena e simbólica comemoração
na doceria perto da igrejinha. O Conde parecia
muito interessado naquele menino, e se Helena o
via como um irmão menor, a cada dia o Conde o
via como um filho.
Helena nunca se esqueceria do resmungo
de Juanita ao comentar isso:
-Que esse menino atraia pessoas boas, eu
nunca tive essa sorte.
Era verdade. Juanita tinha perdido o viço
e a alegria naquele último mês. Havia feito sua
escolha, mas por obrigação e não amor.
-Anna – Helena abraçou-a com
moderação, pois a menina estava prestes a chorar.
E também, não havia jeito de abraçar quem quer
que fosse com aquela barriga.
-Estou tão feliz, Sra. Helena!
-Não me chama de senhora, Anna. Ou
terei que chamá-la de Sra. Anna, agora que
também é casada! – brincou.
Anna abraçou-a por mais tempo,
contendo a vontade de chorar desesperadamente.
Estava emocionada e amedrontada sobre o que
seria seu futuro.
Sua sogra a odiava. E ela podia jurar,
aquela mulher era o demônio, e tinha mil olhos,
pois estava sempre a vigiando!
Rony sorriu para a jovem, que ainda
ficava tímida olhando para ele. Duran, ao
contrário, irradiava felicidade, e a dúvida era, se
isso se devia ao casamento, ou ao fato de agora,
ser tratado como homem e não mais um menino.
Afinal, ele andava bem preocupado,
quando sua patroa começara a tratá-lo do mesmo
modo que sua mãe, como um menino bobo.
O pequeno grupo de pessoas saiu da
Igreja, e não passou despercebido a Helena o olhar
da Srta. Lilly para Mathias.
Achando um modo de livrar se Rony ela
se aproximou da jovem, sussurrando algo em seu
ouvido. A moça era bastante bonita, e suas
covinhas na face eram como covinhas de anjos, se
não fosse tão tímida, arrancaria suspiros de todos
os homens!
Lilly era do tipo que se abria apenas
quando se sentia segura. E a filha do Conde lhe
passava tanta segurança. Era decidida e
independente como ela gostaria de ser. Embora, às
vezes, pudesse ser assustadoramente ousada.
Como agora.
Sua sugestão fez suas faces corarem.
Tropeçou pelo susto e pensou em como negar.
-Eu não posso - disse tímida.
-Não pode ou não quer? – Helena não a
forçaria a nada, embora, seus sentimentos
estivessem em sua face, para quem quisesse ler!
-Ele vai me rejeitar – foi sua desculpa.
-Não. É um homem educado. Vai ficar
dividido. A solidão o confundiu. – insistiu – Lilly,
não irá perder nada por tentar!
-Oh, Deus – ela cobriu as faces com as
mãos, tão envergonhada que poderia morrer!
Só de pensar na situação, seu coração
acelerava!
Animada em ver uma alternativa para seu
grande problema, Helena colocou em prática seu
plano. Na casa de chás, quando iam sentar ela
disse em alto e bom tom:
-Se essa mulher sentar conosco, eu vou
embora.
Havia placidez em sua face. Calma e
serenidade. Era óbvio que não deixaria essa
situação passar batida.
-Helena, não seja assim – Rony segurou-
a pelo braço – Essa situação precisa se resolver.
-Eu sei disso – ela olhou para ele com
toda sua fúria – É uma decisão do meu irmão ficar
com ela. E é uma decisão minha não aceitar.
Mathias, que andava de braço dado com
Alexia encarou a irmã, duvidoso sobre ser apenas
uma atitude impensada, ou ser uma mágoa real.
-Está certa disso, minha irmã? Que
nenhuma pessoa nesse mundo merece uma
segunda chance?
Atacada por essa pergunta, não
respondeu nada imediatamente.
-Não pergunte isso a mim, pergunte a ela.
Nunca irá me ouvir rogar a morte de alguém. Mas
se é essa a mulher que deseja, espero que seja
feliz. – magoada, virou as costas e deixou o
comércio.
Marchou em direção à rua, ignorando as
vozes que a chamavam.
-Está louca, mulher? – Rony agarrou-a
pelo braço, antes que chegasse a rua – Não pode
sair desse modo! É a comemoração dos seus
protegidos!
-Meus protegidos? Eles sabem como me
sinto ofendida por essa mulher! Me conhecem
melhor do que você e o meu irmão! - enfurecida,
soltou-se dele, e recomeçou a andar – Ela me
atormenta em pesadelos! – tentou ir, mas a raiva
era maior. Virou-se para ele, gritando – Ela não
me deixa em paz! Se eu morrer no parto, vão saber
que a culpa é dela! Mas talvez, seja isso que todos
querem! Me ver pelas costas!
-Helena – ele tentou ser paciente – Quero
que me ouça – tentou segurá-la.
-Não vou ouvir nada! Volte lá para dentro
e se divirta! Com sorte poderão dividi-la, afinal, os
dois estão fascinados por ela!
Inferno, aquela mulher estava linda
enquanto ela... A raiva fez acelerar seu coração, e
ela achou que morreria de agonia.
-Quanto mais bater de frente, mais
instiga esse romance. – Ele disse pacientemente –
Como Mathias verá quem Alexia é, se ela é a
mártir?
-Não me importa! Deveria ficar do meu
lado! É o que eu faço! Fico do lado das pessoas
que amo! – sua revolta aflorou ao notar que ele
tinha razão.
-Então, fique do lado dele – aconselhou.
-Sentar na mesma mesa que aquela
mulher? – encarou-o horrorizada.
-Não. Sentar na mesma mesa que suam
família, e aceitar os erros que cada um comente.
Mathias vera com seus próprios olhos.
-Talvez apenas queira ficar perto dela –
acusou.
-Fato muito bem facilitado por você, que
se recusa a me fazer companhia. – acusou num
tom conciliador, apelando para seu ciúme.
-Verme – ela retrucou, afastando as
lágrimas.
-Sou um verme que quer o seu bem e se
recusa a vê-la deixar uma comemoração por causa
de outras pessoas. Não vou permitir que se rebaixe
diante de Alexia. Essa família é sua. Não dela.
Furiosa, se recusava a ouvir. Muito
menos a olhar para ele.
-Helena – sua voz era de comando –
Jurou que iria se controlar. Não vá ser
desobediente logo agora, vai?
-Desobediente? - a palavra a ofendeu
imediatamente.
-Não distorça tudo que eu digo, Helena!
Quanto fica com raiva tem o péssimo habito de
fazer isso! – notando sua expressão de raiva
passar, a amparou, aproximou-se e ela se deixou
apertar em seus braços, numa espécie de abraço
de má vontade – Vamos, Helena. Você é alma
dessa comemoração. Todos estamos aqui, por que
te amamos. Sem você, esses dois inconsequentes
nem teriam se conhecido! Acha justo deixar de
prestigie a loucura que é esse casamento por causa
da Alexia?
-Vai olhar para ela não vai? Sei que ela
vai ficar olhando para você! – reclamou,
empurrando-o.
-Prometo que não olho para ela. –
garantiu, tentando não sorrir.
-Mentiroso – ela reclamou indecisa.
-Se prometer olhar para mim o tempo
todo, não terei razões para olhar para outra pessoa.
Para ser franco, não conseguiria tirar os olhos de
você – galanteou.
Galanteios. Porque ele não os engolia?
Estava enorme.
Helena não se via através dos olhos de
Rony. Apesar de ter reclamado, ela prendera os
cabelos num coque, e seu rosto estava límpido e
bonito, com os olhos castanhos brilhantes, o
narizinho arrebitado e provocador, os lábios
rosados e úmidos. Estava graciosa como um botão
de rosas.
Desajeitada, e gigante. Não negaria. Mas
encantadora e delicada.
-Vai entrar ou não? – ele lutava para
compreendê-la e não se irritar.
-Vou estar me dobrando a presença dela!
– reclamou uma última vez antes de ceder.
-Não, não vai. – assegurou.
-Odeio você por ter trazido essa mulher
para a minha vida! - esbravejou – Odeio!
Ele ouviu sem responder. Estava nervosa,
e não bateria de frente agora, tão perto do parto.
Em pouco mais de um mês, eles teriam o bebê, e
então, ele poderia dar o troco por todas as
desforras de Helena!
-Vamos entrar. E chega de brigas.
E chega de brigas. Hipócrita.
Magoada, seguiu-o de volta para a casa
de chás. Queria que a terra a engolisse. Ou
melhor, que a terra engolisse Ronald e Alexia ao
mesmo tempo. Assim se livrava deles dois de uma
vez só!
Contrariada e revoltada, aproximou-se da
mesa com a expressão azeda.
O Conde e Elly conversavam baixo,
enquanto o resto dos presentes não pareciam
muito felizes. Alice e John olhavam repressores
para Alexia, e os noivos estavam muito ocupados
em olhar o ambiente e falar da nova vida.
Juanita lutava contra o impulso de acabar
com aquela comemoração. Destroçada, não tinha
felicidade alguma naquela união. Nunca tivera
uma filha mulher, e não queria ter agora. Muito
menos uma menininha impertinente e espertinha
como Anna.
Não conseguia olhar para aquela menina
sem lembrar de si mesma naquela idade, cheia de
sonhos. A pobre teria a realidade batendo em sua
porta logo, logo. Amava o filho, mas já previa o
momento em que o casamento seria demais para
ele, e cairia no mundo, como os homens
costumavam fazer.
E caberia a ela cuidar da criatura e dos
filhos que tiver na época.
Seu longo suspiro de resignação fez
Suarez olhar para ela de um modo estranho. Se ela
estava contrariada com aquele casamento, ele
estava à beira de tirar o cinto e matar os dois.
Uma boca a mais. E em breve várias
outras. Seu desgosto era tanto, que era visível.
Desconsolada, olhou para a menina Anna e se
perguntou se alguém daria por sua falta caso a
afogasse no tanque.
Ela acabou sorrindo quando enxergou
Helena voltando acompanhada do marido. Era
uma evolução interessante. O homem estava vivo
para trazê-la de volta.
Era uma evolução e tanto! Suarez
comentou algo parecido e ela sorriu para ele. Seu
bom marido. Como deixá-lo?
O Conde levantou-se quando a viu, e lhe
sorriu. Helena não foi capaz de retribuir.
Lilly olhava para ela incerta. Olhava para
o tio. Olhava para Helena novamente. Parecia
prestes a tomar uma grande decisão. Para ela,
falar em público já era uma grande decisão. Um
grande desafio.
-Meu tio – ela disse em tom baixo,
nervosa.
Helena e Rony sentaram-se e Demetrius
não prestou atenção nela, tentando atrair a atenção
do Conde para ele.
-Titio – ela puxou a manga de seu casaco,
e ele continuou sem notá-la.
Lilly parou e olhou para Helena, como
quem vai desistir.
-Titio – insistiu, e ele deu-lhe um
empurrãozinho discreto para calá-la.
-O que foi, Lilly? Não está passando
bem? - Helena perguntou bem alto, atraindo a
atenção do Juiz Demetrius.
Não podia ignorar a filha do Conde,
quando o mesmo colocava sua atenção sobre ela!
-Não, não estou – ela respondeu as faces
completamente em chamas. - Talvez precise deitar
um pouco... – as suas palavras pareciam
ensaiadas.
-Posso acompanhá-la a casa dos
Simons... – John pretendia levantar-se galante,
quando Helena negou.
-Nem pensar! Não pode fazer essa
desfeita a Duran. Não é mesmo? – o menino
jamais ousaria desmenti-la! – Meu irmão, porque
não acompanha Lilly até a casa do Juiz Simons?
Seria horrível se ela fosse sozinha e passasse mal
na rua!
A expressão de Mathias dizia claramente
que não aceitaria ser manipulado. Temendo que
negasse ela completou:
-Gostaria de ter uma oportunidade de
conversar com sua... Amiga. Para nos
entendermos.
Mathias duvidava que as duas pudessem
apenas conversar.
-Posso acompanhar as duas damas - ele
foi politicamente correto – Alexia precisa voltar e
ver a filha.
-Imagine se deixarei minha sobrinha ser
vista ao lado dessa... – Demetrius parou antes de
ofender alguém. Helena quase sentiu pena de
Alexia.
Quase.
-Como podemos ser amigas, se há tantos
mal entendidos entre nós? – Alexia perguntou a
Mathias com expressão falsamente ingênua. – Vá
sem medo.
Concordando, ele levantou-se e
acompanhou Lilly. Helena só esperava que ela
abrisse a boca durante o caminho, ou ele a acharia
que ela era muda!
Convenientemente, esquecia que até
pouco tempo atrás, ela própria falava muito pouco
e enlouquecia Rony com seus longos e
significativos silêncios!
-Deveríamos estar comemorando o enlace
dos meninos – Alice interrompeu o olhar
penetrante que as duas trocavam. – Helena, não se
rebaixe a ser provocada por essa mulher! –
indignou-se.
-Não estou me rebaixando. Só quero
entender o que espera do meu irmão!
-Não estou mais na vida de cortesã.
Quero um marido que cuide da minha filha – ela
disse com um fundo de verdade dos olhos. – quero
ir embora daqui e voltar a Londres, se o preço de
viver comodamente é ser uma boa mulher, é o eu
serei. Seu irmão... É uma boa pessoa e me fez
querer pensar em uma família. Se não posso ter
riqueza – ela olhou para John e as roupas bonitas
e as joias de Alice – agora com uma filha estou
marcada. E não terei mais tantos clientes. E não
posso ter o amor de verdade – cobiçou Rony – Ao
menos terei uma vida digna e cômoda.
-E espera que eu ache isso suficiente para
o meu irmão?
-Espero que não se meta na nossa vida –
Alexia respondeu petulante.
-Esperava o mesmo de uma vadia. Mas
mesmo assim, se meteu na minha vida, se eu
puder, saiba que afasto vocês dois.
-Uma atitude digna de uma dama –
Alexia ridicularizou.
-Exatamente. Uma atitude digna de uma
dama – ela respondeu no mesmo tom.
-Não é uma dama. E nunca será! Olhe
sua pele. Quer compará-la a minha pele de
pêssego? Seus cabelos... Deus, são um ninho de
rato. E nunca em minha vida, vi uma mulher tão
gorda e grande!
Helena ficou calada. Se o seu pai ou
marido não a defendesse, ela com certeza pediria o
divórcio, mesmo que legalmente ele não existisse,
e nunca mais olharia para seu pai novamente!
-Que coisa horrível de dizer – Anna disse
antes que os outros – A Sra. Helena é um doce.
Cuidou de mim, quando estava quase perdida na
vida. É uma dama tão bonita e bondosa. Quanta
crueldade falar isso para ela quando está tão perto
de ter um filho.
Anna tinha um jeito manso de falar. Mas
seu tom dizia mais que tudo. Um tom de quem
sofre por ouvir aquelas ofensas. Não tanto quanto
Helena, que não respondeu nada, tentando achar
as palavras.
Nos últimos tempos a emoção sempre a
calava.
-Deve saber Alexia, que uma verdadeira
dama, jamais conta uma mentira – Rony disse
calmamente.
Alexia corou. Seus olhos demoraram
sobre Rony. Helena quis jogar a xícara de chá
sobre ela. Tão bonita... Tão magra.
-Deveria ter feito um bolo e comemorado
esse casamento em casa – Juanita opinou bem
feliz em ver que não era ela apenas a infeliz ali.
-Mas hoje é um dia de festa, mãe – o
menino se atreveu.
-Para você. Apenas para vocês dois. – ela
respondeu azeda.
Helena sorriu. Acabou rindo.
-Não seja má, Juanita. – pediu, tentando
ignorar a dor em seu coração.
-Estou sendo realista.
-E se eles forem mais felizes do que nós?
– ela perguntou amargurada.
-Impossível – foi Rony quem respondeu
atraindo sua atenção – impossível alguém ser
mais feliz do que eu.
Helena se calou. Sentiu-se como quando
o conheceu, ouvindo esse tipo de coisa e não
sabendo como responder. Não percebeu que
Alexia olhou para outro lado, os olhos
umedecidos.
-Porque não embalamos os doces e
continuamos na casa dos meus pais? – Alice
sugeriu, suspirando diante daquela situação
lamentável – Uma comemoração íntima. Sem
tanta gente.
O Conde foi o primeiro a concordar.
Queria conversar com a filha em particular.
Juanita estava louca para ir embora, e lamber suas
feridas longe deles. Se não fosse o braço de Suarez
em suas costas, ela já teria desabando ao ver o
filho casando tão cedo. Menina dos infernos.
Tentara seu filho. Tentação do demônio! Anna não
conseguia olhar para ela, parecendo ler seus
pensamentos.
-Sim, é o melhor – Rony quase morreu de
alívio.
-“Particular” não inclui antigas amantes
– ela disse ácida.
-Antigas? – Alexia perguntou, sorrindo
vitoriosa, embora por dentro estivesse destroçada.
-Sr. Demetrius, Sr. Loren, nos façam
companhia – Helena pediu polidamente,
esperando que ela entendesse que a lei estava
totalmente do lado deles.
-Infelizmente, preciso ver minha sobrinha
– o Juiz disse desconfortável por alguma razão.
-Ele tem razão, precisa ver a sobrinha – o
Conde concordou, apressando-se a levantar e
afastar a filha de Rony. Protegia-a contra qualquer
maldade que a pudesse ferie a magoar ainda mais.
Ela não ouviu as conversas que se
seguiram. Pousou a cabeça no ombro do pai e
sentiu um afago no ombro. Elly lhe dava apoio e
ela sorriu.
-Está tudo bem, filha? - ele perguntou
baixinho.
Não. Estou feia, e Rony tem que preferir
olhar para outras mulheres. Nada está bem!
-Às vezes sou tão infeliz, papai...
Capítulo 138 - Perto do fim

A conversa insistente de Sandra Parker


lhe provocou dor de cabeça. Não era culpa dela,
mas sim do estresse de gravidez.
As indiretas do Conde para Rony a
enjoavam. Ele estava com raiva desse genro que a
deixava triste e cabisbaixa.
Várias vezes durante aquela tarde
torturante, ela quis mandá-lo parar. Explicar-lhe
que Rony não fizera nada de errado. Que a
culpada era ela.
-Um dólar pelos seus pensamentos –
Rony sussurrou em seu ouvido.
Ela não se virou. Ouvira os passos e
sabia que era ele. Havia se refugiado nos fundos
da casa dos Parkers, quando a Carmen começara a
contar de sua maravilhosa vida na frança.
Pobrezinha de Elly, pois Carmen não quis
entender o significado da palavra “desmemoriada’
e seguira lhe fazendo perguntas sobre a França.
Cansada das conversas e dos risos, ela
precisou de ar. E a cozinha dos Parkers era
silenciosa e calma. Arejada o bastante para
respirar algum ar livre de fumaça de charutos.
Quem diria que tantos homens juntos
pudessem ser tão irritantes.
-Não penso nada que valha a pena gastar
um dólar – respondeu sem olhar para ele.
-Duvido. Deve estar pensando em modos
de me punir por causa de Lil – Brincou esperando
vê-la sorrir.
-Insiste em chamá-la por seu nome de
cortesã? - acusou.
-E porque não? Acha que acreditei em
suas palavras falsas de arrependimento? Tenho
pena do seu irmão.
-Não tenha, ele vai colher o que está
plantando – disse rancorosa.
-O rancor endurece o coração, Helena –
esperava provocá-la.
-Gostaria de ir para casa – ela lamentou
triste.
-A companhia da minha família não a
agrada? – perguntou incomodado.
-Não é isso – ela arriscou um olhar, mas
afastou-o rapidamente, ao sentir-se muito perto
das lágrimas.
-E o que é então?
Ela não respondeu. Não tinha como
responder isso. Ele não entenderia.
-Helena? Não me obrigue a arrancar a
verdade de você!
-E como faria isso? - ela não resistiu a
cair na sua provocação, sendo que era uma tática
de dobrá-la.
-Posso pensar em mil maneiras. Mas
talvez, eu apenas a beije até perder a razão. O que
me diz?
-Não me defendeu – ela praticamente
cuspiu as palavras.
Não queria desabafar, não queria mesmo!
-Quando não a defendi? – pressionou,
sentando-se numa das cadeiras de madeira. Ao
seu lado.
Ela mantinha-se olhando para a frente.
-Aquela mulher me chamou de... Disse
que... - olhou para sua barriga com desgosto.
-Não defendi, pois não havia nada a ser
defendido. É uma linda mulher e está ainda mais
bonita com a gravidez. Não preciso dizer o que
todos somos capazes de ver.
Seus olhos diziam a ela que era sincero,
mas achava-se incapaz de acreditar.
-Helena, achei que tinha superado essa
crise. Já não lhe disse que adoro seu umbigo
saltado e seus seios redondos? – brincou.
-Sim, mas eu estou... Não finja que não
notou que estou enorme! – cuspiu as palavras.
-Eu não finjo nada. Seu corpo tem a
forma que deveria ter.
-A forma de uma vaca – ela resmungou, a
cabeça baixa.
-Meu Deus, Helena, o que está havendo
com você? – ele notou que seu sofrimento era
verdadeiro. Tentou abraçá-la, mas ela levantou-se
surpreendentemente ágil para seu tamanho.
-Não percebeu? É impossível que eu volte
ao meu corpo! Olhe para mim!
Seu horror o fez suspirar.
-Helena, as mulheres emagrecem depois
do parto.
-É mesmo? Olhe a sua mãe! – acusou.
-Sim, mas minha mãe nunca foi esguia.
Quando se casou com meu pai já era um pouco
mais cheia de curvas do que as outras moças.
Alexia...
-O que tem ela? – seu olhar poderia
matá-lo.
-Não importa que ela seja uma cobra. É
mulher, e esteve grávida. Veja, voltou ao seu peso
normal. Vai acontecer o mesmo com você.
-Mas ela não estava do meu tamanho –
para seu total horror, notou que estava chorando. –
Jamais vou me livrar desse peso todo! Jamais!
-Acontece que só a sua barriga está
grande - ele explicou com toda a paciência do
mundo, abraçando-a e descansando seu rosto em
seu peito. – está toda magrinha, e delicada, mas
sua barriguinha está maior. É o nosso bebê. É com
deve ser. Quando nascer, esse peso vai embora.
-Não, não vai! – ela choramingou, a voz
abafada pelo tecido da sua camisa.
Rony deixou-a chorar um pouco,
consciente que como homem não saberia entender
essa dor. Era típico das mulheres a vaidade.
-Eu acho que está linda. E sei que vai
continuar linda depois do parto.
Seu riso triste alertou-o de sua ironia.
-Não acredita em mim? – segurou seu
rosto e afastou-a da segurança que seu peito
representava – Sou o homem que divide sua cama.
O homem que desfruta do seu corpo. É apenas a
mim que deve agradar, e estou plenamente feliz
com minha escolha.
-E desde quando quero agradá-lo? –
empurrou-o e se afastou, limpando o rosto.
Rony deixou-a se afastar. Não
compreendia seus arroubos, e desconfiava que
nunca entenderia. Não era a sua Helena falando.
Era a Helena confusa e torturada pela gravidez.
Não era apenas seu corpo que padecia carregando
o bebê.
-Porque está me olhando desse jeito? –
ela acusou novamente, desconfiada.
-Estava lembrando que não a agradeci –
se aproximou e cobriu sua barriga com as duas
mãos – Não agradeci por estar carregando nossa
criança. Estar convivendo com todas essas
mudanças e ainda ter que aturar um homem bobo,
que só vê suas qualidades.
-Eu só queria não...
-O que você não queria? – sentiu um
pouco de medo diante da tristeza do seu olhar.
-Não queria ter que ver aquela mulher
perto de mim o tempo todo – confessou – Eu não
queria estar frágil, sem poder me defender dela. –
novas lágrimas se formaram em seus olhos - eu
não posso cuidar de mim mesma! Não posso!
-Minha proteção não é o suficiente?
Sempre cuidou de si mesma, e das outras pessoas.
Agora, é sua vez de ser cuidada.
Era verdade, e sabia disso. Parte da
agonia havia ido embora e ela sorriu, um sorriso
fraco de quem pede desculpas.
-Disse para o meu pai que sou infeliz, e é
mentira.
-É mentira? – Rony sentiu o coração
acelerar.
Helena era feliz ao seu lado. Ela
concordou com um movimento da cabeça e
respirou fundo antes de dizer:
-Podemos ir para casa?
-Quer se esconder? – tocou na ferida.
-Me sinto tão... Incomodada – ela
suspirou magoada – Nem sei como me sinto.
-De certa forma é uma evolução que
esteja triste por alguma razão que não seja eu –
tentou fazer graça – Levo-a para casa, se prometer
que fará um passeio comigo antes.
-Um passeio? – olhou para baixo, talvez
querendo olhar para os pés. Mas a barriga estava
no caminho – Meus pés estão inchados.
Era um aviso.
-Vamos de charrete.
-Um passeio – sua expressão de cansaço
quase o diluiu desse convite – Estou pesada para
andar. – achou por bem alertar mais uma vez.
-Vamos ficar sentados a maior parte do
tempo – prometeu.
Helena concordou só para que se calasse,
tinha certeza. Pobrezinha. Feliz como uma
criança, ele apressou a pedir a mãe preparar uma
cesta de piquenique. Faltavam algumas horas para
anoitecer e poderiam aproveitar um pouco do dia
ensolarado e ameno.

A charrete parou a poucos metros do


lago. Helena havia sorrido algumas vezes desde
que deixaram a casa dos Parkers, e até parecia um
pouco mais animada com o passeio a medida que
se aproximavam do lago.
Rony queria apagar o abatimento da sua
face. Tornar aquelas últimas semanas mais fáceis
e se possível, felizes.
Rony deixou a carruagem embaixo da
copa de algumas árvores e ajudou-a a descer.
-Não devíamos ter trazido Adolph?
-Não – ele acariciou seu rosto – trouxe a
arma. Vou protegê-la. Além do mais, duvido que
façam algo a luz do dia.
Helena acreditou nele, muito ocupada em
apoiar as costas com as mãos.
Rony estendeu uma manta sob a copa de
uma árvore e depositou a cesta do piquenique em
uma almofada que sua mãe fizera questão que ele
trouxesse. Helena sentou-se com sua ajuda e ele
entendeu a razão da almofadinha.
Ela pediu que colocasse embaixo dos
seus pés. Seu gemido de contentamento o fez
sorrir.
-Está confortável? – perguntou ante de
levantar – Volto num segundo.
Helena suspirou aliviada, começando a
gostar da ideia daquele passeio. O ar fresco
afastava a sensação de opressão e abatimento.
Rony prendeu o cavalo e certificou-se que
a carroça não tinha perigo de escorregar na grama
e descer a encosta, em direção ao lado, e voltou
sua atenção para Helena.
Ela havia encontrado o livro que ele
precavidamente colocara dentro da cesta, e
folheava-o interessada.
Era um livro sobre política. Nada mais
justo, visto que a revolucionária dentro dela
sempre tocava no assunto Rosie Nell.
Deixou-a sozinha por alguns minutos,
observando-a a distância. Era tão bonita que
comovia seu coração. Não havia mais aquela
tristeza em seus olhos, ou a tensão em seu rosto.
Via uma jovem e doce mocinha, esperando seu
primeiro filho.
Quando a conheceu, foi difícil relacioná-
la com a idade de dezessete anos. Parecia mais
velha, não fisicamente, mas havia uma aura de
maturidade, e ainda havia. Mas era uma
maturidade suavizada pelos sorrisos e os olhos
brilhantes.
Helena ergueu a cabeça naquele
momento e fitou as águas calmas do lago. Seu
olhar era pensativo, sua expressão sonhadora.
Ela acariciou a barriga e falou algo, que
não pode ouvir a distância, mas não era preciso
ser gênio para saber que ela pedia para o bebê
maneirar nos chutes. O pequeno anjinho torturava
a mãe com chutes pesados e dolorosos.
Poderia contemplá-la durante horas, mas
a compulsão por estar perto e tocá-la era maior.
Seus passos atraíram sua atenção e ela
lançou-lhe um longo olhar, e ele poderia jurar que
era um olhar de apreciação.
-Descobriu o meu segredo – ele apontou
o livro, sentando ao seu lado na manta.
-Sim. Política – seu olhar tinha malícia –
devo entender como um incentivo?
-Não. Deve entender como um ato de um
marido que está conformado em ser casado com
uma intelectual.
-Intelectual? – a palavra soou com tanta
surpresa que ele riu.
-Jamais me verá tocar nesse livro, a
menos que minha vida dependa disso, Helena - ele
foi sincero – Já você... Adora essas coisas.
Helena sentiu que corava.
Rony não insistiu em elogios. Ela estava
envergonhada e modesta sobre si mesma, e essa
Helena que vinha surgindo a cada dia o encantava.
Dias de muito aconchego, paixão e
palavras carinhosas. Ela nem percebia quando o
chamava de ‘amor’. E o que antes acontecia
apenas sobre a cama, no enlevo da paixão, agora
se repetia junto a um simples bom dia, ou em
meio a conversas banais. E ele esperava
ansiosamente por cada um desses deslizes da sua
pequena.
-Se importa se eu ler? - ela perguntou.
Havia mais em seu olhar. Um desafio
muito sutil. Queria saber se ele se importava em
dividi-la e ficar sem a sua atenção por algum
tempo. Estava insegura.
-Me importo. Prefiro que leia para mim.
-Você não gosta! – ela reclamou,
envaidecida.
-Mas gosto do som da sua voz –
acariciou seu pescoço e notou a pele arrepiada.
Tinha dias em que ela não o queria perto.
Nesses dias, era melhor virar para o lado e ignorar
o desejo, pois além de dizer não, ela ficava
irritada.
Mas tinham outros, onde sua pele ficava
arrepiada ao menor toque e suas bochecha coradas
pelo desejo. Hoje, pelo visto, era seu dia de sorte.
Vendo-a abrir o livro e posicionar-se para
ler, achou melhor deixá-la em paz por hora.
Aproveitou a cesta preparada por sua
mãe e serviu–se de um sanduíche. Havia chá, e ele
serviu oferecendo para ela.
Helena recusou, tentando se concentrar
na leitura.
Impossível.
Seus olhos estavam na linha das coxas
masculinas. Segurava o livro sobre as pernas e
sempre que virava uma página acabava olhando
na direção das coxas masculinas delineadas pela
calça. Como não tinha a menor vergonha na cara,
acabava olhando de relance para o volume entre
pernas.
Respirou fundo procurando recuperar a
atenção. Era uma pena, o enredo era envolvente.
Mas sua concentração estava perdida. Por mais
que não olhasse, podia ouvir o som das
mastigadas.
Fechou os olhos, e se rendeu aos próprios
pensamentos. Deixou o livro de lado e olhou para
ele.
-Esta com fome? - ele ofereceu o
sanduíche e ela negou. – Sede?
Outra negativa.
-Quer alguma coisa? – piscou sabendo
muito bem o que ela queria.
-Gostaria de entrar na água. Mas não me
arrisco. – suspirou – Poderia afundar.
Rony não estava preparado para a piada e
riu com gosto. Ela sorriu achando menos graça
que ele, mas adorando ouvir seu riso.
-É um grande dilema, que entendo
totalmente. Também gostaria de me afundar em
você, mas tenho medo de ser colocado para correr
como da primeira vez que nadamos juntos – ele
disse em seu ouvido.
Helena perdeu a capacidade de respirar,
olhando para seus olhos azuis, tão perto dela.
-Naquele tempo eu não simpatizava com
você – ela mentiu.
-E agora simpatiza? – moveu os dedos
para seus cabelos, querendo achar um jeito de
soltá-los. Ela reclamou e começou a tirar os
grampos antes que ele a deixasse careca.
-Não tenho opção. Ou me conformo, ou
me livro de você.
Rony teve o impulso de lembrá-la que o
Conde oferecera-lhe a segunda alternativa. E ela
não quisera. Estava excitado, e tinha que
aproveitar que ela estava querendo também. Em
alguns dias e não poderiam mais ter intimidades
por vários meses.
Ao menos fora isso que ele leu em livros
sobre gestação. Anatomia era uma disciplina
obrigatória na escola interna.
-Pode nadar, se permitir que a segure –
ele sugeriu.
-Não vou nadar nua, se é o que está
pensando – ela reclamou - Sei que Alice
espalhava isso por aí quando estávamos brigadas,
mas nunca nadei nua.
-Sei disso. Precisa saber que nunca dei
ouvidos as mentirinhas da minha irmã a seu
respeito. E com toda certeza não quero saber de
você nadando nua nesse lago!
Helena ignorou a demonstração de
ciúmes, mas sentiu vaidade ao se acarinhada.
-Vamos, Helena, coragem – ele
incentivou levantando-se e estendendo as mãos
para lhe dar apoio.
Corajosamente, ela deu ouvidos aos
próprios desejos e esqueceu por alguns instantes
as limitações que seu corpo vinha sofrendo. De
pé, virou-se para que pudesse abrir os botões do
vestido de gestante.
Não eram muitos, pois o vestido mais
lembrava um enorme saco de batatas. E para lhe
dar conforto, o último botão havia sido preso por
dois grampos de cabelo, oferecendo mais espaço.
Ele se perguntou se Helena sabia disso ou Anna
havia sido sutil o bastante para não deixá-la ver.
Como ela não disse nada, ele apressou-se
a esconder os grampos no bolso da calça e seguiu
abrindo o vestido. Ajudou-a a passar as mangas
pelos braços e em por um segundo achou que ele
não desceria pela barriga.
Ficou maravilhado com o
contorcionismo, digno de um gato, que ela fez
para livrar-se do vestido sem rasgar nenhuma
costura. Sorriu, mas ela não notou, saindo do
circulo formado pelo vestido aos seus pés. Os
cabelos haviam sido soltos e caiam por suas
costas graciosamente.
Helena não precisou entrar em detalhes
quando olhou para baixo. Ele ajoelhou-se aos seus
pés e acariciou seu tornozelos delicados, antes de
tirar os sapatos. Um pé de cada vez, com toda a
gentileza de um súdito maravilhado com sua
rainha.
Desceu as meias de seda, e o calção
íntimo.
De pé notou que ela esperava algo.
Helena conteve o riso antes de indicar suas
próprias roupas.
Havia se empolgado tanto em despir sua
mulher, que esquecera de tirar as próprias roupas!
Fingiu não notar a intensidade do olhar
castanho sobre cada movimento seu. Helena
estava corada, cada vez mais vermelha, como se
estivesse em chamas, e ele sabia muito bem como
dar fim a essa necessidade!
Provocou-a com o olhar enquanto se
despia.
Nu, esperou que ela reclamasse e
mandasse que se vestisse. Mas não disse nada.
-Tenho medo de escorregar – ela
explicou, segurando sua mão espontaneamente.
-Não vai escorregar - ele garantiu,
andando com ela até a beira do lago.
Só esperava que ninguém os espiasse, ou
seu traseiro branco seria uma grande atração!
Esqueceu do mundo cuidando do seu
bem mais precioso. Entrou na água, e ajudou-a a
fazer o mesmo. Helena gemeu quando a água
aliviou metade das suas dores. Suas costas
pareceram aliviar, agora que flutuava e seu campo
gravitacional havia mudado.
-É tão bom... – ela gemeu de alívio.
-Dizem que água alivia as dores do corpo
– ele segurou-a de modo que flutuasse. Seus
braços girando-a lentamente na água.
Helena se deixou levar, de olhos
fechados, decidindo que quando engravidasse
novamente, iria querer repetir esse momento
várias vezes, pois se houvesse sabido antes,
poderia ter sido poupada de várias horas de
sofrimento.
Perdeu a noção do tempo em que ficou
boiando na água morna. O sol era forte ainda, mas
a temperatura não era tão severa quanto nos piores
meses de verão.
Era um espetáculo para os olhos
apaixonados de Rony.
A camisa diáfana estava transparente,
revelando os seios graúdos e cheios de leite. Os
mamilos rosados, enrijecidos pelo contato da
água. Sua barriga dilatada, inclusive com seu
umbigo que tanto a incomodava, se destacava.
Suas coxas finas e macias, seus joelhos...
Sua bela face erguida contra o sol, os
cabelos espalhados pela água...
-Helena – ele disse baixo, e ela não abriu
os olhos, mas sabia que estava ouvindo-o. – Quero
fazer amor com você, aqui e agora.
-Você quer...?
Sua voz não era mais que um suspiro.
Rony parou os movimentos e soltou-a na água,
apenas para abraçá-la um segundo depois.
Manteve-a contra seu corpo evitando que ela se
desgastasse nadando.
-Quero. Deixe-me amá-la... - pediu,
enquanto corria os lábios pela sua testa úmida.
Helena fechou os olhos, enlaçando seu pescoço.
Os cabelos molhados e ruivos atraíram sua
atenção e ela afastou-os de sua testa, expondo seus
olhos extremamente azuis.
-Sim... – ela nem percebeu que respondia,
até sentir o corpo masculino ficar tenso sob a
palma de suas mãos e a boca carnuda e voraz
cobrir a sua.
Havia muita paixão em seu beijo, e disso
jamais poderia se queixar.
Não sabia exatamente o que atraia tanto a
atenção deste homem sobre ela, no entanto, jamais
poderia reclamar de sua paixão. Saía pelos poros.
Impregnava sua pele. Roubava o seu ar e aquecia
seu sangue.
As mãos de Rony correram pelas laterais
do seu corpo, parecendo se divertir com os relevos
exagerados. Apertou seus quadris e seu traseiro.
Aqueles dedos apertando sua carne, a deixou em
chamas. Eram mãos de homem. Braços duros
como ferro. O trabalho no campo fizera uma
maravilha por seu corpo, que sempre fora bem
delineado.
Abençoado trabalho pesado, ela pensou,
a mente confusa pelo desejo.
Rony amassou entre os dedos aquele
bumbum redondinho e delicioso, fantasiando
sobre quando poderia voltar a desfrutar dele.
Demoraria muito... Porém, a demora sempre
aumenta a expectativa, pensou, gemendo e
prolongando novos beijos.
Não podia agarrar seus seios, e ela nem
iria querer que os beijasse, estava muito sensível,
dolorida e vazando. Não podia exagerar nos
toques íntimos por razões muito semelhantes.
Esse período de gravidez vinha ensinando a ele
mesmo, várias coisas sobre fazer amor.
Primeiro, um beijo pode ser tão excitante
quando um toque genital.
Segundo, Helena adora apertões no
traseiro, e terceiro e mais importante, um casal
que se ama, não precisa ter medo de perder a
paixão. Ela sempre existirá, mesmo que seja de
outro modo.
Suas caricias correram mais abaixo,
enquanto ele soltava seus lábios, e corria beijos
por seu pescoço, ao longo da pele molhada.
Helena ronronou deliciada quando ele lambeu
sobre um dos mamilos, num toque muito leve,
sem apertar ou sugar. Repetiu a caricia várias
vezes, saboreando seus gemidos. Seus dedos
procuraram a curva do sexo e sondaram.
A umidade que havia ali nada tinha a ver
com a água do lago.
Descobrira que ultimamente ela não
desfrutava muito de sexo oral, mas gostava de
carinhos rítmicos sobre o clitóris. Irritava-se com
movimentos muito fortes, pois dizia que deixava
dolorido depois.
Ele jamais entenderia. Como homem,
jamais poderia entender o que acontecia com o
corpo de uma mulher para se modificar tanto e tão
rapidamente durante uma gravidez. Corpo e
mente.
Sua paixão de homem continuava a
mesma, e as mudanças dentro dele em relação a
seu corpo, quando o desejo o queimava,
continuava igual.
No entanto, seus sentimentos em relação
à Helena fora da cama, tinham mudado. Além do
amor, sentia uma ternura tão profunda em vê-la
carregando seu filho que quase o sufocava.
Seguiu tocando-a entre as coxas, subindo
o rosto para beijá-la novamente.
Helena se agarrava a ele, expondo toda
sua necessidade enquanto incendiava da cintura
para cima. Ergueu uma das pernas e passou em
volta da perna dele, odiando não ser tão ágil
quanto antes. Felizmente ele entendeu o que
desejava. Agarrou-a pelos quadris e ergueu.
Seu suspiro de ardor se misturou a
surpresa quando ele começou a andar em direção
as margens.
Carregava-a como quem carrega uma
menina. Era um homem forte, e seus ombros eram
tão perfeitos... Tão fortes, tão amplos. Seu pescoço
tão deliciosamente salgado, banhado pela água do
lago.
Sua língua traçou esse caminho e Rony
gemeu, colocando-a sobre a manta com todo o
cuidado.
Pousou o corpo sobre o dela, de modo a
não pressioná-la, e Helena surpreendeu-o ao
apanhar seu membro nas mãos. Ela evitava chupá-
lo. Não queria que montasse sobre ela, muito
menos montava sobre ele. Melindres de uma
mulher cheia de temores.
Ele gemeu forte, temendo gozar ao mero
toque de seus dedos. Ela sorriu e afastou as
pernas, soltando-o.
Ciumento de alguém vê-la, como apenas
ele tinha o direito de ver, cobriu-a com a camisola,
e ocupou seu espaço entre as pernas delicadas.
Olhando para o meio delas, se encaixou naquela
fenda úmida e relutante, que parecia mordê-lo
sempre que avançava.
-Abra-se para mim, Helena – pediu em
seu ouvido, beijando-a rapidamente nos lábios
antes de olhar para baixo mais uma vez e investir
mais um pouco.
Ela gemeu sofrida e arqueou o corpo ao
senti-lo bem fundo dentro de si.
-Ai – ela gemeu e ele parou.
-Machuquei você?
-Não – ela sorriu maliciosa – Não
machucou. Mas dói, mesmo assim, dói.
Ele sorriu do mesmo jeito ao entender,
era a dor do amor. A dor da paixão. A dor da
espera.
Os movimentos começaram lentos, as
bocas ávidas, procurando compensar a lentidão
com beijos que sugavam a alma e expunham o
coração. Era, no entanto, impossível serem lentos
e suaves. Gostavam forte e profundo, e os
movimentos cresceram.
Uma das pernas dela surgiu e passou
sobre suas costas, o pezinho roçando o traseiro
branco de Rony banhado pela luz do entardecer.
Gemendo ele arfou, prestes a perder o
controle antes de ela chegar ao ápice.
Helena virou o rosto, longe de seus
beijos, o ar muito falho, a paixão alcançando o
ápice da expectativa. Agarrou-se a ele, enquanto
Rony beijava seu pescoço, movendo-se com
torturante lentidão. Mais forte, ela pensou, mas
não disse. Lento era bom, mas forte era excitante.
Ele deu uma batida mais forte, quase sem
notar e ela mordeu seu braço, o antebraço
musculoso a centímetros da sua cabeça. Rony
gemeu. Ela sugou a pele daquele músculo, e ele
gemeu batendo novamente com mais força.
Ela mordeu. Ele agitou os quadris. Outra
mordida e algo correu dentro dela. Seus dedos se
retesaram, as pontas dos seios endureceram ainda
mais, dolorosamente sensíveis através do tecido
molhado, pressionado contra seu peito.
Seu sexo se contraiu, sua pelves enrijeceu
e ela tremeu, todo o corpo apreciando o que ele
fazia com ela. Seu gozo foi deliciosamente lento e
prolongado.
A tensão abandou aquele corpo sedutor, e
seu relaxamento em volta de seu pênis o levou ao
seu próprio gozo.
Helena sentiu sua semente batendo no
fundo do seu útero, sentiu os movimentos
diminuírem, correu as mãos pelas costas tensas,
adorando sentir os músculos relaxarem sob seu
toque.
Ele arfava e gemia, terminado em
sussurros de paixão.
-Tão doce... Tão quente... Oh, Helena...
Minha vida. Diabos, minha mulher – ele
sussurrava sem nem notar, tão bonito ao sentir
prazer que ela o beijou.
Esse homem era seu.
Revelação espantosa.
-Rony... Eu... Eu... Oh... Eu... – “eu te
amo”. Era tão simples. A frase tão pequena.
-Não precisa dizer nada – ele beijou-a
ainda no enlevo do gozo – Apenas seja minha. Só
isso importa.
Suas palavras ecoaram em sua mente e
ela sorriu entre beijos. Não precisava mais nada.
Não mesmo!
Naquela troca de carinhos eles não
notaram que eram alvos de olhares. Um homem,
seus olhos acinzentados, os acompanharam até o
lago, lamentando não poder se aproximar e vê-los
dentro da água. Olhos que os seguiram até a
manta. Olhos que queimaram de ciúmes e inveja
quando o corpo forte e bem feito de Rony se
posicionou sobre o corpo gentil e feminino, tão
pequeno e frágil, tomando aquilo que era seu.
Ouviu os gemidos daquela mulher, viu
sua face se contorcer de prazer. Viu seus beijos
amorosos.
Era tão bonita, o corpo moldado pelas
curvas da gravidez.
A distância não podia ver muita coisa,
mas secou o suor da testa, um suor de paixão por
desejar estar no lugar do Parker, e observou-os
conversarem baixo. Falavam amenidades, e ela riu
de algo que ele disse.
O desgraçado do Parker cobriu suas
coxas cremosas com a camisola quase seca e ele
xingou mentalmente não ter a oportunidade de ver
mais que suas pernas nuas. Queria ver tudo.
Mas teria tempo para isso depois.
Ela esperou que ele se vestisse, enquanto
eles continuavam falando bobagens sobre o tempo
e sobre a fazenda. Informações que lhe eram úteis.
Ele apanhou o vestido e passou-o sobre a cabeça
de Helena e ela levantou-se.
Por pouco o vestido não passou por sua
barriga, deveria saber que o demônio do Parker a
deformaria com aquela criança. Mas para tudo
tem um jeito nessa vida, pensou Wood, apoiado
na árvore.
Ela segurou os cabelos para frente
enquanto ele fechava os botõezinhos e ficou de
frente para onde ele estava. Olhou em sua direção,
era como se o visse, e aquele olhar o encheu de
paixão e desejo. Faria com que gritasse de prazer.
Seria o único a lhe dar a paixão que merecia, e a
faria esquecer-se do dia que teve aquele ruivo
infeliz sobre si!
Não seria hoje e nem agora, mas um dia,
muito próximo dia, isso aconteceria!
-Esqueça, esse botão não fecha – ela
disse em dado momento e ele enlaçou sua cintura,
abraçando-a por trás.
-Me promete que não vai passar esse
próximo mês triste?
-Não estava triste. Estava incomodada –
confessar era tão fácil, relaxada contra ele – Meu
corpo às vezes é traiçoeiro. Juanita disse que é
normal se sentir assim.
-Me corta o coração vê-la ‘incomodada’ –
soltou-a, buscando seus sapatos e calçando-os em
seus pezinhos coceguentos, enquanto ela se
apoiava em seus ombros.
-Diz isso porque não faço mais as
sobremesas que gosta – ela instigou.
-Descobriu meu segredo! - ele entrou na
brincadeira.
-Posso pedir a Anna me ajudar e preparar
algo... Mas não espere grande coisa. Seu filho está
torturando a noite.
-Não seja malvado, bebê - ele aproveitou
que estava de joelhos e beijou sua barriga através
do tecido, pousando a cabeça ali – A mamãe
merece um descanso.
-Não seja tolo! – ela afastou-o – Prefiro
senti-lo. Assim eu sei... Que ele está bem.
-Estará melhor quando estiver aqui,
conosco. Conhecendo sua mãe tão delicada e
cordial.
-Parece o juiz Demetrius falando – ela
acusou e os dois seguiram rindo, enquanto ele
arrumava a bagunça do piquenique.
Wood usou um lenço para limpar o suor,
que não se devia ao calor, ou a caminhada longa e
a pé até ali. Devia-se a raiva. A frustração. A
longa espera que o matava.
Helena olhava para aquele homem com
adoração.
Sabia no entanto, que bastaria algumas
noites ao seu lado, para apagar esse olhar. Era
inevitável. Quando não houvesse nada entre eles
dois, Parker e aquele bastardo seriam passado.
Ela andou um pouco esticando a pernas e
aproveitando o ar livre enquanto ele arrumava a
charrete, e por um segundo Wood achou que
bastaria erguer as mãos e pegá-la.
Como uma oferta dos céus, bem diante de
si.
Mas o paraíso não era ofertado a ele, não
agora.
Os dois subiram na charrete e foram
embora. Por enquanto.
Capítulo 139 - Esperanças desfeitas

A fazenda Gueen finalmente estava


habitável e de acordo com o gosto refinado de
John, e eles puderam se mudar. Helena estava na
frente de casa, acenando para eles, com um misto
de dois sentimentos contraditórios. Felicidade por
ver Alice tão feliz indo para sua nova vida, e
tristeza por não ter sua melhor amiga perto dela.
Helena usava um vestido de tecido
grosso, feito por Juanita há uma semana atrás, era
o único que acomodava sua barriga com
aconchego e naturalidade, permitindo que se
movesse e sentisse o conforto de estar arrumada.
Usava um avental de couro macio sobre o vestido,
um que Adolph fizera para ela, usando a pele que
sobrara de um novilho que eles sacrificaram há
três semanas, para comemorar o casamento de
Duran.
Adolph era um achado. Bom com facas.
Bom com armas. Forte. Sabia lidar com couro. Era
ótimo com ferraduras.
E confiável.
-É melhor entrar, Helena – Juanita
chamou da porta.
Ela sorriu e concordou.
O vento tinha aumentado, e seus cabelos
estavam revoltos. Faltava menos de uma semana
para o parto, e Juanita a mantinha em um casulo.
Confiando em seus cuidados, ela deixou-
se levar para o quarto, onde Ruanzito tirava uma
soneca. Adorava cuidar do menino, mas agora, as
portas do parto, sua carência havia aumentado.
E só Deus entenderia porque a filha de
Alexia dormia em sua cama, ao lado do menino.
Precisava de uma criança por perto. Precisava
segurar uma criança. Estava ansiosa demais.
O Conde havia se apegado a menina,
pois estavam no mesmo hotel, e Elly parecia
encantada por ter uma criança perto. Começava a
recuperar suas lembranças, mas nada que
mudasse o passado. Nada que mudasse o amor
que havia entre eles dois.
A primeira vez que o Conde trouxera a
menina numa visita, Helena sentira-se traída, até
descobrir que a pobrezinha não havia sido
batizada até o Conde fazê-lo. Era padrinho
daquela menina, mas não compactuava com sua
mãe.
Uma mãe que a abandonava trancada no
quarto de hotel, e pelo visto, retornara a vida de
cortesã quando o tolo do Mathias não estava por
perto.
Como poderia culpar o Conde de se
apegar a uma criancinha tão bonitinha e afetuosa?
Suspirou e deitou-se um pouco, querendo
descansar. Depois de alguns minutos adormeceu.
Vinha sentindo muito sono. Juanita conferiu se
estava bem e dormindo e voltou para a cozinha.
-Vou buscar uma coisa e já volto -
Juanita disse para Anna que amassava pão.
Ser sua escrava particular estava
cansando a bondosa Anna, que só fazia trabalhar.
E havia o detalhe nada discreto de dormir
separada do marido. Duran dormia com os irmãos
e ela dormia na casa, no quarto vago ao lado da
patroa. Desculpas, haviam milhares, mas o rancor
a compeliu a responder:
-O senhor Suarez está no celeiro. O vi
agorinha a pouco.
Juanita parou de se ajeitar e olhou para a
nora com ódio mortal; aquela menina sabia de
seus encontros clandestinos com Adolph. Sua
vontade era cortar a língua desta menina. Conteve
as palavras ásperas e a vontade de torcer seu
pescocinho alvo e magrinho e fez a única coisa
digna:
-Vá cuidar de Helena. Termino aqui.
-Não precisa – Anna piscou, querendo
agradá-la a todo custo – Estou terminando. Porque
a senhora não descansa?
-Não tente me agradar, menina!
Paparicos não vão me fazer gostar de você!-
Alertou, irritada.
-Eu sei disso – Anna disse envergonhada
e baixinho, olhando para o pão.
Juanita deixou-a, fervendo por dentro.
Era madura o bastante para saber que
estava acabando com o casamento do filho.
Separara o casal. E torturava a menina. E tudo por
não conseguir administrar o ciúme que sentia do
filho. O medo de vê-lo sofrer.
Suarez estava no celeiro e não poderia ver
Adolph escondido. Eles se viam, e às vezes ele a
beijava. Em momentos de pouca lucidez deixava-o
beijá-la. Então, o juízo voltava e ela sentia-se
culpada.
Desgraça de vida, pensou ao passar pelos
homens que trabalhavam. Um deles lhe disse que
Suarez havia seguido em direção a fazenda dos
Parkers, por conta de um problema na cerca
daquele lado. E que o patrão havia ido junto.
Mais animada, quase correu para o
bendito celeiro.
Dentro de casa, Anna terminou de
amassar o pão e colocou nas formas e então no
forno. Que Deus a perdoasse, mas bem que sua
sogra podia cair e bater a cabeça. Não precisava
morrer, mas podia ficar em coma por vários
anos...
Anna fez o sinal da cruz e pediu perdão
pelos próprios pensamentos. Ouviu o som de
passos, e certa que era a patroa que acordara
sorriu e se apresou para o quarto.
-Sra. Helena? Gostaria que eu preparasse
seu banho?
A resposta veio da sala, na forma de uma
forte pancada em sua nuca. Ana escorregou para o
chão, e ficou ali, imóvel. Havia sangue a sua
volta.
Helena acordou com um barulho a sua
volta. Seus olhos fitaram as crianças que dormiam
ao seu lado, e tentou se mexer quando sentiu o
hálito quente em sua face. No mesmo instante em
que olhou para quem estava tão perto teve os
lábios cobertos por uma mão pesada.
-Quietinha – o homem disse com voz
sorridente e pastosa – Quietinha, não vou te
machucar, minha deusa de fogo. Apenas fique
quietinha.
Helena arregalou os olhos ao reconhecer
o homem. Pânico correu em suas veias ao ter a
arma apontada para seu rosto.
-Eu não a machucaria - ele disse
carinhoso – Mas posso dar um jeito nesses dois do
mesmo modo que fiz com sua empregadinha...
Helena pensou em Anna. Que Deus a
protegesse desse homem.
-Vamos levantar e vai me acompanhar
quietinha, ouviu? Não me obrigue a atirar na sua
barriga.
Não precisou falar duas vezes. Ele soltou
sua boca, mas a arma era suficiente para calar
seus gritos. Não podia correr. Não podia gritar.
Em outros tempos arrancaria seus olhos, mas hoje,
tinha que pensar em seu filho.
-Vamos dar um passeio, meu sonho – ele
seguiu falando, enquanto andavam para a porta.
Andaram pela casa apressadamente. Ela
abafou um grito quando viu Anna no chão. Teria
se abaixado e ajudado, mas ele agarrou seu braço
segurando-a com tanta força que temeu ter
quebrado um osso.
Eles seguiram até a porta dos fundos.
Adolph deveria estar ali. Algum dos homens de
Rony deveria estar ali!
-Não se preocupe, dei um jeito nos
infelizes que deveriam estar cuidando de você.
Nada poderá nos afastar agora. Em breve
estaremos livres de tudo que ousa nos separar.
Ela não respondeu. Esperava algo
acontecer. Algo tinha que acontecer.
Eles saíram da casa e não havia ninguém
nas redondezas. As galinhas cacarejaram
assustadas quando os dois cruzaram o caminho
entre elas, em direção a cerca que delimitava as
terras.
Aquele caminho não era muito usado,
mas era um atalho para a estrada.
Quase não podia acompanhar seus passos
rápidos, apoiando as mãos embaixo da barriga,
rezando para não tropeçar. Tinha que achar um
jeito para escapar. Precisava fugir.
-Nem pense nisso – ele disse em seu
ouvido. – Eu a mato aqui mesmo. Está me
entendendo?
Ela não disse nada, apenas continuou
andando. Quando chegaram a um grupo de
árvores, ela pensou ter visto um movimento
próximo a eles. Era um pé. Alguém se escondia, e
se escondia muito bem entre as árvores.
Se apegando a esperança de alguém ter
visto, continuou andando. Fizeram a volta pelas
árvores e ela tropeçou ao ver a estrada. Havia uma
charrete apoiada contra uma árvore, e uma mulher
conduzindo-a.
Desesperada, olhou em volta procurando
um meio de se salvar. Sua única salvação era se
alguém a visse. Mas como se fazer notar sem
atrair sua ira.
-Nem pense nisso. – ele voltou a
sussurrar em seu ouvido – Não estou brincando.
Não vai querer que eu prove, não é?
O cano da arma colocado contra suas
costas gelou até sua alma. Placidamente seguiu o
caminho junto dele.
Na charrete a mulher olhou para eles
impaciente, e Helena foi empurrada para que
subisse. Desajeitada, conseguiu depois de
algumas tentativas.
A charrete sacudiu quando foi empurrada
para trás, no fim do banco. Ela não viu, muito
menos Wood, que não foram os únicos a subirem
na charrete. Embaixo dela, entre as rodas, Duran
se agarrou a madeira, resistindo ao pó da estrada
de terra e ao medo.
Não havia tempo de chamar ajuda.
Então, ele seria a ajuda.

Juanita correu de volta para casa quando


ouviu o som de pessoas se aproximando. Hoje,
havia trocado alguns beijos. Isso tinha que acabar.
Ela ouviu o choro de Ruanzito ainda no pátio.
Será que Anna era surda ou não servia
nem pra acalmar uma criança? Irritada, entrou em
casa e foi para o quarto. A menina daquela cortesã
ainda dormia, mas Ruanzito estava aos prantos.
Ela acalmou-o, estranhando ver a cama vazia e os
sapatos de Helena no chão.
Ela acalmou o menino por algum tempo
gritando pelo nome de Anna. Que garota mais
irritante! Com o menino no colo, foi atrás dela.
Nada de Anna na cozinha. Seguiu para sala, e
seus pés bateram em algo. Olhou para o chão,
como quem olha para um estorvo, achando que
poderia ser algum brinquedo esquecido no chão e
que Anna não se dera ao trabalho de recolher.
Amaldiçoando a menina em pensamento
pelo relaxo, e já preparando previamente o
discurso de xingamento, arregalou os olhos ao ver
a menina banhada em sangue. Paralisada pelo
susto, olhou em volta e então percebeu que a
ausência de Helena não era coincidência.
Com o filho nos braços, Juanita saiu
correndo aos gritos.

Rony voltou para casa ao ser avisado por


um dos empregados que havia acontecido alguma
coisa. Pensou se tratar de algum acidente de
algum trabalhador. Isso até ver Juanita aos
prantos na cozinha.
-O que aconteceu?
-Mataram a menina. Anna... Helena não
está mais aqui.
Direta e sem rodeios.
Ele entrou correndo em casa, e avistou a
menina no chão, banhada em sangue. Suarez
vinha logo atrás dele. Haviam dois empregados
que moviam a menina e a tiravam do chão. Rony
notou que seus olhos tremulavam, como se
estivesse acordando.
-Anna? – ele a chamou, quando eles a
colocaram no sofá – Anna!
-Senhor... – ela sussurrou, a dor tão forte
que não pode abrir os olhos.
-Onde está Helena? – teve ímpetos de
sacudir a moça, mas ela tinha uma ferida feia na
cabeça – Onde ela está?
-Não sei... Alguém... Oh... – a dor a
calou.
-Alguém esteve aqui? Alguém a atacou?
É isso? – sabia que gritava.
-Sim... Um homem... Eu pude vê-lo... Ou
posso ter sonhado. Eu não sei... – ela fechou os
olhos lutando para não desmaiar novamente.
-Diga como ele é. Diga alguma coisa! –
exigiu, lutando contra a vontade de arrancar dela
cada palavra – Era alguém conhecido?
Anna começou a chorar. Ele fitou a
expressão desamparada da jovem e segurou seu
rosto para que olhasse para ele.
-Diga de uma vez!
-Foi o homem que me desonrou... Que
matou minha mãe - ela chorou ainda mais.
Rony achou que estivesse mesmo
sonhando ou delirando pela pancada. Não havia a
menor possibilidade de esse homem ter ago a ver
com eles.
-Oh, pobre senhora, se caiu em suas
mãos... – ela chorou ainda mais.
Juanita que estava de pé olhando para
eles, se aproximou da moça e segurou sua mão.
Dando-lhe o apoio que precisava.
-Diga o nome – ela pediu suave.
Anna parou de chorar e piscou, fazia
tanto tempo que não tinha uma mãe para segurar
sua mão...
-Wood... – a palavra saiu sussurrada e
amedrontada e ela voltou a desmaiar pouco
depois.
-Patrão? – Suarez chamou quando o
notou tenso e imóvel – O que vamos fazer?
-Reúna os homens. Mande um a fazenda
do meu pai, preciso de todos os meus irmãos.
Mande que vá a cidade também e traga do Conde
e as autoridades. E reúna o resto, vamos procurar
imediatamente.
-Não faz mais que uma hora desde que vi
Helena pela última vez – Juanita disse condoída.
Se ao menos estivesse ali quando aconteceu...
-Onde está Adolph? Porque não estava
aqui quando precisamos dele?
A culpa cresceu em Juanita. Mas não
disse nada.
Eles estavam prestes a sair da casa
quando ele surgiu correndo.
-Dois dos homens estão mortos. – ele
disse sem fôlego – Segui a trilha de uma carroça.
Foi para o sul.
Alívio caiu sobre Juanita ao constatar que
o fato de saber essas informações o livraria de um
interrogativo mais apurado.
Amava Helena como uma filha, mas
tinha medo de perder o lar e o marido que a
mantinha. Com uma sensação de perda horrível,
olhou para a menina quase morta no sofá.
Onde estaria Duran?
Essa pergunta explodiu em sua mente.
Jesus! Onde estava seu filho?

A carroça havia parado há alguns


minutos. Arrancada de sobre ela, Helena foi
obrigada a acompanhá-los para dentro de uma
casa velha e em ruínas. Era a casa de uma viúva,
que morrera a mais de vinte anos. Nem era
nascida na época.
Era uma casa que apenas quem vivia
pelos matos, brincava de esconde e esconde por
toda aquela região poderia conhecer. Rezando
para que dessem por sua falta o mais rápido
possível, entrou e olhou para aquela elegante
mulher.
-Olhe para ela – a mulher disse – É um
gato, querida. E têm sete vidas – ela se aproximou
e correu uma das mais por seu rosto – e estou
disposta a acabar com cada um delas. – seu
sorriso de lábios vermelhos bem pintados a fez se
arrepiar – Me diga quantas vezes já escapou?
Uma? Duas? Hum, então faltam cinto! – ela riu de
uma graça que apenas ela entendia.
-Margarite – Wood se aproximou e
afastou-a de Helena – Sabe muito bem que Helena
é nosso trunfo.
-Sim, mas a vontade de vê-la morta
supera qualquer lucidez – ela respondeu com um
carinho em Wood – Leve-a para o segundo andar,
deixei um cômodo preparado. O quarto de uma
rainha, para nossa princesa.
Wood obedeceu. Agarrou-a pelo braço e
obrigou-a a subir os degraus apodrecidos. Com
medo de cair seguiu os passos duros, tremendo da
cabeça aos pés.
O quarto tinha uma janela com todos os
seus vidros conservados. No entanto não
fechavam. Uma cama sem pés, caindo no chão,
com um colchão velho e fedorento, adornava o
centro do quarto. Não havia cobertas ou cadeiras.
Helena foi largada ali.
Nervosa, achou por bem estar sentada ou
deitada. Não se daria ao luxo de desmaiar.
-Não é o lugar em que desejaria colocá-la
– ele disse com nojo, olhando em volta. – Trarei
um cobertor e algo para comer e beber. Vê? Cuido
bem de você.
-O que vocês querem comigo? Essa
mulher... Ela quer me matar!
-Não, não quer mais - ele respondeu, se
aproximando e se agachando diante dela. – Os
planos mudaram. Não serve de nada morta.
-Não? – parte de alívio a tomou.
-Seu pai deu entrada na anulação do
casamento. Margaret não tem direito a nada com
sua morte.
-Então... Porque estou aqui? O que
esperaram conseguir com isso? – agarrou seu
casaco, obrigando-o a olhar em seus olhos – Me
diga!
-O Conde pagará o que for para tê-la de
volta, Helena.
-Dinheiro? Esperam conseguir dinheiro?
-Não apenas isso... - Acariciou seu rosto.
Tomada pelo nojo, não se afastou com medo de
sua reação. – Acha que somos tão burros a ponto
de achar que ele nos daria dinheiro tão fácil?
Não... Nós esperamos. Dois... – ele desceu a mão
e correu sobre sua barriga -... Pelo preço de um.
-Eu... Eu... Não entendo.
-É muito simples. – ele respondeu
malicioso – Em dias esse bastardo nasce. É o
tempo que precisamos para a anulação do seu
casamento. Muito providencial um juiz com o
poder do Demetrius ter vindo nessa viagem,
jamais poderia supor o quanto é útil.
-Porque anular meu casamento? O que
isso o beneficiará?
Wood riu e ergueu o corpo, olhando-a do
alto de sua imponência de algoz e nada respondeu.
Helena levantou-se no momento em que ele saiu e
tencionou infantilmente abrir a porta.
Obviamente estava trancada. O desespero
a fez andar para a janela. Havia uma sacada logo
abaixo, mesmo assim era alto demais. Com raiva
constatou que nem se deram ao trabalho de cobrir
a janela com tabuas. Seria impossível para ela
pular por ali e descer.
Em outros tempos era o que faria. Mas
naquele momento, seria impossível.
Olhando em volta, o desamparo a
dominou. O que eles tinham em mente?
Não poderia ficar muito tempo naquele
lugar!
Juanita vinha contando os dias, certa que
o bebê não passava daquela semana que se
iniciara!
Sentindo a pernas falsearem pela emoção,
se acomodou sobre o colchão velho e rezou.
Como nunca em sua vida, ela rezou para
ser encontrada a tempo.
Capítulo 140 - Um passo além do precipício

Era insuportável a espera. Aquele homem


asqueroso esteve duas vezes vendo-a depois de tê-
la deixado-a aprisionada. Na primeira vez,
trouxera um prato de comida mal feita e água. Na
segunda vez, trouxera-lhe um travesseiro.
Antes de sair havia perguntado se
precisava de algo. Humilhada, Helena pedira uma
comadre, afinal, estava grávida e precisava ir ao
banheiro com muita frequência.
Estava cansada de esperar que voltasse.
Estava cansada de esperar que fosse encontrada. A
noite ia alta quando a porta se abriu. Primeiro o
som da fechadura velha sendo forçada, então o
som esganiçado da porta rangendo.
Encolheu-se quando aquele homem
entrou e fechou a porta. Ele deixou o que lhe
pedira sobre o chão e trazia algo mais.
-Um presente - ele respondeu a sua
pergunta não feita – A noite escura pode ser
assustadora. Mas cuidado, está trancada aqui
dentro. – ele colocou um lampião pequeno,
movido a querosene.
-Obrigada – respondeu num fio de voz.
-Trouxe mais um lençol. – ele mostrou o
velho lençol dobrado – Está confortável?
-Não. Wood...
-Falcon – ele cortou, olhando fundo em
seus olhos.
-Falcon... Não posso ficar aqui. Meu filho
não pode nascer aqui – ela apelou para seu bom
senso.
-Não há risco algum. – ele garantiu –
vamos nos certificar que você sobreviva.
-É impossível que o parto corra bem
nessas condições – ela apelou para seu suposto
afeto – Preciso de uma cama confortável. De uma
parteira. Não posso fazer tudo sozinha! Não há
higiene, não há... Duvido que haja condições de
cuidar de um bebê nesse lugar...
-Não se preocupe, meu sonho. – ele a
calou, olhando-a com malícia – Esse bastardo não
necessitará de sua atenção por muito tempo.
Um arrepio de medo a impediu de
perguntar por que, em seu atual estado de nervos,
era melhor não perguntar.
-Alguém... Da minha família já sabe que
estou... Aqui?
Preferiu não usar a palavra ‘sequestro’
não o enfurecer.
-Em breve receberão um recado. Não se
preocupe, nossos planos são perfeitos – garantiu,
olhando para seus tornozelos que apareciam por
baixo do vestido.
Estava descalça, pois ele não deixara
opção, e seus sapatos ficavam em casa, aos pés da
cama.
Apavorada com seu olhar, cobriu os pés e
esperou que ele entendesse o recado.
-Eu a desejo – ele se abaixou ficando
muito perto dela.
Suas mãos deslizaram por seu braço e ela
se encolheu.
-Eu não posso ter um homem nesse
estado – defendeu-se.
-Mentira! – ele irritou-se e segurou seu
rosto olhando fundo em seus olhos – Eu a vi na
beira daquele lago, sendo abusada por aquele
desgraçado!
Surpresa, tentou entender como
funcionava sua mente doente.
-Isso foi antes, se passou muito tempo.
Não posso mais. Vou dar a luz a qualquer
momento.
-Está mentindo para mim? Não ousaria
mentir para aquele que em breve será seu marido.
Mas tem razão, teremos muito tempo para isso.
Wood levantou-se e ela o olhava sem
compreender.
-Sou casada, não pode ser meu marido!
Eu...
-Não se preocupe com isso agora – seu
sorriso brilhou, atraindo sua atenção. Não era
possível alguém com a mente sã agir e sorrir desse
modo, enquanto mantém uma mulher grávida em
cativeiro!
A porta foi fechada e Helena apanhou o
lençol. Cobrindo-se. Pela janela entrava uma brisa
fria. E sentia frio.
Sua cabeça descansou no colchão velho e
fedorento, e ela não conseguiu conter a lágrimas.
Queria estar em casa, em sua cama, nos braços de
Rony.
Queria estar segura. Em sua barriga, seu
filho se mexeu dolorosamente.
Não nasça ainda, rezou Helena.
Por favor, não nasça ainda.

A fazenda Parker estava lotada. Era a


parada mais próxima entre o bosque e a estrada.
Os rastros apontavam em direções opostas, prova
que o algoz estivera preparado para não ser
seguido.
Na cidade, boa parte dos homens do
xerife haviam sido mobilizados e vasculhavam
cada canto da cidade. Algumas pessoas se
mobilizavam por conta própria.
Vaziam comentários sobre terem visto
um homem louro rondando a cidade, com as
características de Wood.
-É impossível que tenha indo muito longe
– Rony seguia dizendo, sem compreender que fim
havia sido dado a carroça. – As marcas de ambos
os lados, acabam antes de chegar à cidade. E não
há nenhum atalho por aqueles lados.
-Eles poderiam ter seguido alguma trilha
pelo bosque – Ducan sugeriu, observando o mapa
que Artur possuía da região.
-Mas irmão, nesses caminhos não há
trilhas – Alice opinou, sendo alvo do olhar de cada
homem presente – Helena e eu brincávamos por
esse bosque. Conheço cada palmo. Não há
nenhum lugar onde uma mulher grávida possa ser
mantida!
-Eles não devem estar se preocupando
com o bem estar de Helena – Rony deduziu – Me
conte quais pontos poderiam usar como
esconderijo.
-Existem duas cavernas. Mas uma delas é
muito estreita. Helena não conseguiria passar, a
menos que... – sua mente divagou – Brincávamos
em uma casa abandonada. A casa dos Smarts.
Fica do outro lado da cidade. É muito longe e
impossível atravessar de charrete, e duvido que
Helena pudesse andar até lá.
-Ensine a Suarez o caminho – Rony
mandou – Vamos checar cada possibilidade.
Encurralado, seu olhar acusador recaiu
sobre o Conde que adentrava a casa, a passos
corridos.
-Acabou de ser entregue no hotel! – ele
mostrou uma carta dobrada – É de Wood e da
minha ex-mulher.
-O que diz? – Rony apanhou de suas
mãos, abrindo e lendo avidamente – Eu não
acredito! Esse filho da puta! Vou matá-lo!
-Me dê isso – Artur retirou a carta de
suas mãos e leu – é a letra de sua mulher?
O Conde concordou.
-Servirá de prova contra ela, quando a
pegarmos – ele guardou no bolso do colete.
Vamos pensar com calma, Rony.
-Pensar com calma? Você leu o que esse
desgraçado quer?
-Talvez seja melhor assim – Artur tentou
acalmá-lo – Ouça, filho.
-Ouça seu pai, ele tem razão. – O Conde
disse. Muito pálido e assustado.
-O que ele pede na carta? – John, que
ouvia calado, perguntou preocupado – Se for
dinheiro, podemos levantar o valor e...
-Ele não quer dinheiro! – Rony gritou,
fora de si – Ele quer Helena!
-O que está dizendo? – Alice, que
terminava de explicar a Suarez como chegar à
casa abandonada que brincavam quando
pequenas, ficou assustada ao ouvir isso.
-Wood exige que o juiz Demetrius anule
o casamento de Helena com seu irmão - o Conde
explicou. – é sua única exigência. Ele devolverá a
criança como prova de boa vontade, quando os
documentos da anulação lhe forem entregue.
-Ele não vai devolvê-la antes do parto? –
Alice que não havia pensado nisso ainda quase
desmaiou – Deus do céu! Ele é um monstro!
John apoiou-a e ajudou-a a sentar-se.
-O que ele espera com essa anulação?
Casar-se com ela? - John questionou, já prevendo
a resposta.
-Ele avisa que irá registrar a criança antes
de devolvê-la. Será seu filho de direito. Pretende
devolver Helena assim que o casamento for
realizado e consumado. Exige que sua integridade
seja mantida e garantida formalmente. Fico sem
alternativas. – o Conde foi sincero – Minha filha e
meu neto são mais importantes que qualquer outro
apego.
-Mas Conde! – Alice alertou-o – em que
condições Helena terá a criança? Será que não vê?
Nenhum dos dois vai sobreviver!
Era uma verdade incontestável.
-Juanita acredita que ainda demore uns
dois dias ou mais. É o tempo que temos para achá-
la – Rony concluiu.
-Nesse tempo, vou dar entrada nos papéis
da anulação – o Conde avisou.
-Faça isso – ele concordou.
Preferia perde-la para sempre e para outro
homem, que vê-la morta.
-O Conde não poderá matá-lo, mas eu o
farei – Ducan disse assim que o Conde saiu. –
Meu irmão não poderá, a lei o impedirá, mas o
vingarei, pela nossa família.
-Não haverá vingança – Artur disse mais
alto que as vozes dos homens que apoiavam o
irmão Ducan – Encontraremos Helena a tempo.
Agora, precisamos nos dividir e cobrir cada
pedaço desse bosque, e cada pequeno centímetro
de terra devem ser revirados!
-Papai – Alice começou a falar pensativa
– Estou pensando... Essa carta... Como foi que
chegou até o Conde? Quem a levou? Wood por
certo não! Muito menos a ex-mulher do Conde.
Seria muito ariscado!
-E quem foi que colocou Wood dentro de
casa? – Rony passou a pensar nisso também – Ele
não teria conseguido entrar sem ajuda.
-O menino não foi encontrado – John
lembrou – Duran. O filho da empregada.
-O menino ficou o dia todo em casa –
Rony não concordou com essa possibilidade –
Poderia ter facilitado a entrada, embora não
entenda por que, mas não haveria meios de ter
entregue a carta.
-Tem razão. Sobra apenas Alexia – John
opinou novamente – Ela odeia Helena.
-Mathias foi buscá-la – Rony lembrou -
Foi a primeira pessoa que eu pensei que poderia
ter informações.
-O que vai fazer agora, meu filho? –
Artur pôs a mão em seu ombro tentando achar um
modo de acalmá-lo.
-Vou seguir com as buscas, não posso
ficar parado esperando pelo pior – respondeu, se
afastando. – é preciso que fiquemos um passo a
frente deles. A noite pode ajudar a ocultar nossa
presença.

Era exatamente isso que pensava Duran.


Escondido no mato, esperou a noite cair pesada e
densa. Espiava e calculava o modo de entrar.
Pelos vidros velhos e quebrados via vez ou outra
um reflexo, de pessoa que ia e vinha.
Há uma hora os movimentos cessaram, e
ele tivera tempo para arquitetar seu plano de como
entrar na casa sem ser visto.
Finalmente, tantos anos desafiando sua
mãe e subindo nas altas e perigosas árvores,
teriam alguma serventia.
Silencioso, deu a volta na pequena casa e
pelos fundos escalou uma das vigas de
sustentação do telhado adjacente, que cobria uma
espécie de área. Não demorou nada, estava em pé,
sobre o telhadinho quebradiço. A janela seguinte
estava aberta, e mais de uma vez ele vira o reflexo
de uma mulher grande e redonda indo e vindo.
Não havia dúvidas que era ali que ela
estava presa. Amaldiçoou a maldade humana, ao
ver que a janela nem ao menos estava trancada.
Quanta crueldade, prender uma mulher que não
pode salvar a si mesma.
Seguiu escalando nas tábuas quebradas
da parede, e se agarrou a madeira em volta da
janela. Num impulso estava com metade do corpo
para dentro do cômodo.
Helena ouvira um som abafado, mas
achando ser o som da noite, não levantou. Estava
tão cansada, as pernas doloridas. As costas doíam.
Sua barriga pesava. Sentia um estranho
desconforto no quadril, uma dormência incomoda,
e o bebê havia se aquietado a umas duas horas, de
um modo assustador.
Erguendo a cabeça do travesseiro, ela
arregalou os olhos ao ver metade de um corpo ágil
entrando pela janela. Aqueles olhos verdes não
enganavam, e nem a escuridão poderiam esconder
seu brilho. Precisou sufocar um grito de gratidão
quando o menino entrou.
Ele fez sinal para que ela não se mexesse,
e como um gato, se moveu na escuridão, chegando
até ela sem fazer o mínimo ruído.
-Alguém sabe que estou aqui? - ela
perguntou abraçando o menino no mesmo instante
em que ele ficou ao seu alcance.
Ele negou com a cabeça.
-Nos seguiu? Foi isso? – sua voz era tão
baixa quanto um sussurro.
Ele concordou com um aceno.
-Deve chamar ajuda – ela pediu - Esse
homem é louco!
-Eles brigaram – ele falou muito baixo –
ouvi quando a mulher disse que prefere matá-la e
vender a criança para o Conde – ele notou sua
palidez, e perguntou – Prefere que procure ajuda,
ou quer se arriscar a fugir?
Era uma difícil decisão.
-Fugir – ela decidiu – Não vou arriscar.
O menino olhou em volta. Pensava.
Nunca fora de pensar, mas aprendera isso com sua
adorável patroa, que insistia para que lesse o
tempo todo.
-Pode descer até o telhado de baixo com
os lençóis. Depois use as vigas – ele concluiu –
Mas espere eu avisar. Como um pássaro. Vai
saber que é a hora – ele disse.
-Duran...
-Ele tem uma arma – ele olhou em volta,
para a lamparina. – e ela tem um machado.
Helena quase gritou diante da
informação. Para que alguém queria um machado
em uma casa abandonada?
-Vou esperar seu sinal – ela segurou a
mão do menino e acariciou seu rosto – Não
arrisque sua vida, Duran. Por favor, não arrisque
sua vida.
-Ele machucou Anna – o menino disse
com raiva – E agora, machucou a senhora.
-Mas isso não justifica... – suas palavras
se calaram quando o som de passos fortes, soaram
no corredor.
O menino se afastou e se perdeu na
escuridão. Helena quase gritou quando a porta foi
aberta com força.
-Com quem estava falando? – Wood
entrou gritando.
-Eu... – ela saltou. Olhando para ele
assustada.
Para a arma em sua mão.
-Estava falando! Ouvi sua voz! – ele
aproximou-se e agarrou seu braço quase a
levantando de sobre o colchão.
-Um pesadelo! Tive um pesadelo! Por
favor, não me machuque! – desesperada cobriu a
barriga com os braços, e ele a jogou no chão com
toda a sua força, e sua barriga bateu no chão com
um som seco.
-Pois fique calada! E durma! – ele
ordenou e o cheiro de uísque infestou o quarto.
A porta foi trancada novamente e ela
ascendeu à lamparina, vendo que Duran havia
conseguido sair antes que ele entrasse. Não se
atreveu a ir até a janela. Não podia correr o risco
de levantar desconfianças.
Sentia dor. Uma dor afiada abaixo da
barriga, sobre a pélvis. O bebê havia voltado a
chutar e sentia alívio. Ao menos a queda não o
afetara.
Mas a dor continuou o resto da noite.

-É apenas uma casa abandonada – Suarez


contou, na manhã seguinte. Era passado do meio
dia, mas ninguém se lembrara de comer – Adolph
seguiu a trilha do rio, que passa por trás das duas
propriedades. Eu disse que não deve haver nada
por lá, mas ele insistiu. Encontrou grama pisada, e
acha que pode ser um humano e não algum
animal.
-E você? O que acha? – Rony perguntou,
a expressão abatida após tantas horas de busca
infrutífera.
-Acho que vale checar. Levou um cavalo,
e uma arma.
-Que tenha mais sorte que nós – Rony
rogou, esperançoso.
Sabia que estava se enganando, não havia
nada naquela região.
De volta a sua fazenda, havia vasculhado
toda a redondeza. Haviam muitos homens
seguindo a cavalo, e outros a pé por todo o mato.
Rony passara em casa apenas para checar se não
havia nenhuma novidade e engolir algo que o
mantivesse de pé pelas próximas horas.
Estava de saída quando avistou uma
carruagem se aproximando.
O Conde desceu acompanhado por Elly.
A moça carregava a menina de Alexia, enquanto
esta era tirada da carruagem pelo valete do Conde,
com o juiz Demetrius logo atrás.
-Está mulher vendeu as informações
sobre essa casa! – o Conde adentrou esbaforido,
nervoso e angustiado – Passou a Wood cada
passo, cada informação que pudesse colocá-lo
aqui dentro! E foi ela quem entregou a carta!
-Mentira! – Alexia tentou negar – É tudo
mentira!
-Foi reconhecida – o Conde se
aproximou, evidentemente próximo a cometer uma
loucura se não fosse impedido – Mais de uma
pessoa a viu conversando com o forasteiro
misterioso! Sua vadia!
Teria batido em Alexia se Rony não o
impedisse.
-Alexia – ele ficou bem perto e olhou em
seus olhos – Para onde Wood a levou?
-Eu não sei – ela disse, olhando em seus
olhos com carinho – Rony, minha vida, eu tentei.
Eu juro que tentei ser honesta. Mas é tão difícil! É
tão... Difícil! Mathias... Eu achei que poderia me
amar, mas me trocou por aquela criatura sem
graça! Acha justo? O que me sobra? O dinheiro
era bom, e eu...
-Queria vingança? – ele perguntou com
calma e serenidade.
-Agora é um homem livre, Rony – ela
sorriu – Quando a anulação for confirmada,
precisamos apenas esperar poucos dias, e
poderemos nos casar. Não é maravilhoso?
-Tem razão, Alexia. É maravilhoso – não
havia sentido em gritar com uma mulher louca –
Confessa um crime na frente de um juiz. –
explicou a ela. – Se redima com a lei, e conte o
paradeiro de Helena.
-Prefiro morrer – ela disse, as lágrimas
escorrendo em sua bela face – Prefiro morrer a vê-
la viva.
-Pois saiba que é exatamente isso que
acontecerá se Helena não sobreviver. – ele
ameaçou e Alexia caiu no pranto. – Diga onde é o
esconderijo de Wood! Diga de uma vez!
-Não! -ela gritou furiosa – Não digo!
Não digo!
-Patrão – ao seu lado a voz suave de
Suarez não enganava o que se passava em seu
olhar – Eu dou um jeito dela falar.
Rony olhou para o juiz Demetrius, que
era à força da lei presente diante deles.
-Uma pena – ele disse olhando para
Alexia – Uma jovem tão bonita arruinar a própria
vida. Mas pobre daquela jovem, grávida e
sozinha. Não quero saber o que fará – ele virou as
costas, lavando as mãos.
O valete do Conde seguiu Suarez para o
celeiro, e os homens fizeram questão de ignorar os
gritos desesperados de Alexia.
Para Rony não fazia a menor diferença o
que fariam com ela, desde que arrancassem a
verdade sobre o paradeiro de Helena.
-Contratei metade dos homens da cidade.
Não a um pedaço dessa terra desgraçada que não
será revirado – o Conde alertou. – Mathias seguiu
com um grupo em direção a saída da cidade. Eles
podem ter se escondido naquela região.
-Percival, Marcelo e Cosme seguiram a
cavalo até a próxima estação de trem. Podem ter
partido sem que ninguém notasse. Pelo que vi,
esse homem consegue o que quer! – Rony
desabafou.
-Perder a cabeça não levará a nada. –
Demetrius alertou.
-Perder a cabeça? Acha que perdi a
cabeça? Qual a possibilidade dos dois
sobreviverem a um parto nessa situação? – ele
quase gritou, furioso com o juiz, sua raiva fora de
foco – Qual a possibilidade que aquela mulher não
machuque Helena?
-Irmão – a voz tremula de Alice, que
ouvia seu desabafo o fez se calar – Não perca a
esperança. Helena é forte o bastante para escapar
dessa. Apenas não perca a esperança.
Rony não quis ouvir. Estava cansado de
todos lhe dizerem isso! Estava farto de tanta
esperança!
Deixou a casa com o espírito torturado
pelas ideias contraditórias. Não pensaria nos
pedidos absurdos de Wood. Iam além de sua
capacidade. A probabilidade de aquele parto dar
certo nessas condições eram mínimas!
Agonia, medo. Tudo se misturava dentro
dele. Selou o cavalo e deixou a propriedade. Havia
dado mil voltas por toda aquela região, mas faria
isso novamente. Não podia ficar sentado
esperando pelo pior.
Com o desespero em seu encalço, ele
seguiu a galope rápido mato a dentro.

A passagem do sol alto da manhã para o


sol baixo do entardecer a deixava a cada minuto
mais transtornada. Havia comido a lavagem que
Wood trouxera. Pouca comida. Um gosto terrível.
Talvez estivesse podre ou apenas mal feita. Mas a
verdade é que aquilo não alimentaria nem a um
porco.
A água lhe fora convidativa e ajudava há
esconder um pouco a fome. O cansaço a deixava
deitada a maior parte do tempo, embora a dor a
obrigasse a levantar algumas vezes e andar pelo
quarto.
Uma dor incomoda e constante na parte
baixa do ventre. O medo havia sido substituído
pelo alívio quando a dor se manteve fraca.
Segundo Juanita as dores do parto eram horríveis,
e ela saberia reconhecer quando viessem.
Esperava pelo sinal que Duran lhe daria,
e rezava para que ele houvesse conseguido
cumprir sua meta e não ser apanhando. Afinal,
não era apenas sua vida e do seu filho que
estavam em risco. O menino também corria riscos.
Dizendo a si mesma que precisava se
acalmar e sentar, ela continuou andando pelo
quarto. Depois de uma longa tarde sem ser
importunada, ela ficou em pânico quando os
passos no corredor indicaram que seria visitada.
Tinha medo de Duran ter sido apanhado.
Muito medo. Seria seu fim.
-Como tem passado o dia?
Aquela mulher olhava para ela com tanto
desprezo que Helena andou para o fundo do
quarto, bem longe dela.
-Perdeu a língua? Oras. – ela encostou a
porta e seguiu olhando para ela com riso e pouco
caso – Ouvi dizer que era capaz de matar um
homem com apenas um olhar. Que poderia
subjugar o mais forte dos homens. E olhe o que
encontro? Uma garotinha assustada. – olhou para
sua barriga e seu sorriso era quase demente – A
maternidade muda uma mulher. É o que dizem.
Nunca tive a felicidade de ser mãe – ela se
aproximou e Helena não tinha mais para onde
correr.
Baixou os olhos, não querendo irritá-la,
caso a considerasse desafiadora.
-Wood deseja trocar sua cria por seu
passaporte para a fortuna. Ele lhe contou?
-Não – respondeu em voz baixa – Não
me contou seus planos.
-A anulação do seu casamento com o
fazendeiro ruivo não vai demorar. O Conde deve
estar preparando tudo – seus olhos brilharam tão
magoados que ela riu – Ele vai mandar sua
criança como um sinal de boa vontade quando
isso acontecer. E claro, o termo onde o Conde se
responsabiliza em não matá-lo e ainda o reconhece
como pai do seu filho.
-Pai do meu filho? – aquela mulher era
louca?
-Seu bastardo será registrado como sendo
de Wood – riu – não é quase poético? Mas não se
aflija. A criança vai ter uma ótima vida ao lado do
Conde, pois acredite, Wood não quer seu bastado
vivendo perto dele!
-Como assim? Ele é um sequestrador! –
conteve as palavras ao notar seu olhar mudar para
algo quase demoníaco.
-Quando parir, levará alguns dias para
seu corpo se recuperar. Irão se casar e consumar o
casamento. Wood a levará para bem longe por
alguns anos. Então, quando todos tiverem se
esquecido e estiverem ansiosos para tê-la de volta,
ele a trará para viver no seio de sua afortunada
família.
Margaret riu sem grande humor e alisou
uma das mexas de cabelo de Helena, com algo
escuro no olhar.
-Wood acha que sou uma tola. Ou louca.
Não vejo lugar nesse seu plano para mim. Ou
como poderia lucrar.
-Porque diz isso? Ele pode querê-la em
sua vida – instigou.
-Não, é claro que não. Acontece, que não
estou aqui para ver os planos dele se
concretizarem. Estou aqui por razões próprias. –
soltou seu cabelo e se afastou, olhando-a com
desprezo e rancor – Vou esperar seu corpo estar
pronto para o parto. Então, me livrarei do biltre
Wood, e seremos apenas nós duas, Helena.
-O que vai fazer comigo? – o desespero a
deixava tão pálida quanto um fantasma.
-Vou usar o machado que trouxe. Mas
não se preocupe, serei cuidadosa com seu filho.
Ele me será muito útil quando o vender ao Conde.
Helena não disse mais nada. Pretendia
gritar e talvez jogar-se sobre ela num arrombo de
instinto de preservação, e sobrevivência, mas se
conteve.
Por hora não precisou se defender, Wood
abordou-as.
-O que faz aqui em cima? Eu a proibi de
subir e perturbá-la! - ele entrou gritando e
empurrando Margarite para fora.
Ela saiu gritando e rindo, como a louca
que era.
-Ela ousou machucá-la? – Wood segurou
seu rosto entre as mãos, olhando-a com reverência
– Diga se ela a machucou?
Aquele homem era completamente louco,
ela descobriu.
-Estou bem. – respondeu, apenas para
que ele a soltasse.
-Sim, é claro que está. Ficará feliz em
saber que o juiz já assinou o termo da anulação do
casamento. Em breve será minha, Helena!
-Como sabe de tudo isso? – perguntou,
querendo arrancar dele a informação que fosse.
-Eles apanharam a meretriz da Alexia, e
acham que podem descobrir nosso paradeiro. Mas
aquela lá nunca valeu muita coisa e não me serve
para nada.
-Alexia lhe contou da anulação?
Wood correu uma das mãos por seu
rosto, pescoço e colo, acariciando sobre as taças
sedutoras se seus seios.
-Não. Tenho minhas outras fontes. – ele
olhava para seus seios, para os montes atraentes –
Helena, como sonhei em tê-la sob as minhas
mãos. Como sonhei que fosse minha! – ele
colocou seus lábios em seu queixo, na curva da
orelha e desceu beijando, pelo pescoço.
Aquela boca molhada e gelada, a
arrepiou de nojo.
-Minha - ele disse agarrando
dolorosamente um seio – Minha e toda minha.
Sra. Wood. Em breve será a Sra. Wood. Sente
isso? O quanto a desejo?
-Sim - ela respondeu indiferente,
enquanto ele roçava seu desejo em seu corpo.
Que tipo de doente se roçava desse modo
em uma senhora grávida, sem ser seu marido ou
seu afetuoso amante?
-Não teremos que esperar muito agora -
ele subiu, e soltou o aperto em seu peito, mas o
alívio durou pouco.
Wood beijou-a. aqueles lábios finos e
molhados cobriram os seus, sem margem para
escapatória. A língua buscou todos os seus
segredos e ela achou que sufocaria. O nojo, asco...
Queria vomitar, mas aguentou até o fim.
Quando ele lhe sorriu e olhou em seus
olhos não viu nada além de indiferença e dor. Mas
não tinha mais juízo para entender isso.
-Muito breve seremos um só, mas por
hora deite e durma. Amanhã terei a prova da
anulação e estaremos um passo mais próximos ao
nosso brilhante futuro.
Sozinha e no escuro novamente, Helena
se aproximou do colchão velho e deitou-se.
Aquela mulher a mataria. E quando
morresse, não seria mais a Sra. Parker. Nem
mesmo o alento de ter em seu túmulo o nome de
seu marido ela teria direito.
-Porque, meu filhote, porque não ficamos
em Londres? - ela chorou baixinho.
Rony encontraria uma nova mulher, tinha
certeza. Era um bom homem, e era tão educado,
tão gentil. Tinha bom humor e ambição. O marido
perfeito para qualquer mulher. E era tão bonito.
Haveria alguma mulher que pudesse afastar a
tristeza pela perca do filho.
Tinha certeza disso.
Uma pena. Nunca lhe dissera o quanto o
amava. Esperava apenas que ele fosse capaz de
lembrar-se de tantos momentos em que mostrara
com atos e carinhos o quanto o amava.
Desiludida e conformada com o próprio
fim, Helena ouviu o assobio de um passarinho em
sua janela.

Duran esperou o dia inteiro. Primeiro


esperou que eles comessem e bebessem na
esperança que dormissem um pouco durante o dia
ou saíssem. Nada.
Para sua sorte, os dois resolveram subir e
infernizar a vida de Helena. Era sua chance.
Usando de toda a agilidade que podia provir de
sua pouca idade e vida criado solto e ao ar livre,
ele entrou pela janela de vidro quebrado,
ignorando a dor dos cortes.
A arma foi mais fácil. Estava sobre a
mesa. Retirou as balas e guardou no bolso.
Recolocou-a exatamente onde estava. O machado
estava apoiado longe da lareira e ele apressou-se a
colocar o machado perto do fogo. O cabo da
ferramenta era de metal, e quando tentasse usar as
mãos de quem o apanhasse ficariam queimadas, e
talvez com o susto, perdesse a mira ou o
derrubasse.
Não podia tirar dali, ou seria pior.
Aproveitando que haviam pedaços de madeira ao
lado da lareira, acrescentou vários tocos de
madeira ao fogo, alimentando-o e esperando gerar
muita fumaça.
Talvez alguém os visse a distância.
Correndo, ele saiu da casa, o coração na
boca.
Deu a volta e esperou que as vozes dentro
do quarto diminuíssem e a conversa morresse.
Foi então, que assobiou.
Capítulo 141 - Apego a vida

Helena olhou pela janela, curvando-se o


máximo que pode, e viu Duram lá embaixo, aflito,
olhando em volta. Angustiada sobre o que teria
que fazer, apanhou a lamparina e colocou no bolso
do avental de couro macio que ainda vestia.
Uniu os dois lençóis com um poderoso
nó. Rezava para aquele nó aguentar o bastante
para que pudesse descer até o telhadinho.
Amarrou o lençol num buraco entre a janela e a
parede, e rezou novamente para que aguentasse
seu peso.
Uma queda seria fatal no seu estado. Não
mais fatal que o machado de Margarite ou as
mãos de Wood.
Criando coragem, tentou sentar na
beirinha da janela. Era impossível passar por ali.
Exasperada, e a beira das lágrimas de frustração,
ela tentou novamente. Ergueu uma das pernas o
máximo que pode e ficou entalada.
Oh, droga. Fez uma nova tentativa, se
encolhendo de tal modo que achou que sufocaria.
Metade do seu corpo saiu. Respirou fundo,
colhendo ar.
Agarrou no lençol e começou a soltar o
corpo.
Seu peso a fez cair contra a casa, só por
milagre não se chocou contra a parede. Deus
estava ao seu lado, pensou. O tecido era instável
em suas mãos e esquecendo os perigos e os
medos, foi descendo. No meio do caminho ouviu o
som de um rasgo e soltou o lençol antes de atingir
a segurança de um chão sólido sob seus pés. Caiu
sentada sobre o telhadinho.
Levou um segundo para confirmar que
não estava machucada.
A dor embaixo da barriga havia crescido
e se acentuado nas últimas horas, e ela estava
quase se habituando a ela, dadas as
circunstâncias.
Se estivesse em casa, há essa hora
Juanita teria lhe preparado um banho relaxante e
preparado tudo para um possível parto.
Lembrar de Juanita trouxe lágrimas aos
seus olhos.
Moveu-se cuidadosa, se arrastando no
telhadinho, pois não tinha a agilidade de Duran. E
muito menos seu corpo lhe permitia grandes
movimentos.
Desesperada, se perguntou como poderia
descer por ali.
A viga era de madeira e estava podre. E
era tão lisa quanto pau de sebo! Olhou para baixo
e viu Duran erguer os braços em sua direção como
quem assegura que a irá segurar se cair.
Nunca daria conta de seu peso todo. Mas
que alternativa tinha? Conseguira passara para
janela e descer, não conseguira? Estava a meio
caminho da liberdade!
Impulsionada pelo desejo de proteger seu
filho, Helena se arriscou. Desajeitada e consciente
que era um salto no escuro, começou a descer. Sua
barriga era impossível de conciliar com a descida.
Meio de lado, meio agarrada, completamente
insegura começou a escorregar.
-Santo Deus! – ela sussurrou, sufocando
o grito quando caiu em alta velocidade.
Caiu em cima de algo macio e caiu
sentada. Olhou em volta e se apressou a sair de
cima do ‘algo macio’. Duran havia amortecido a
queda.
-Eu consegui – ela disse baixinho.
Não teve tempo para comemorar.
Ouviram um grito de fúria vindo da casa.
-Eles descobriram – ela concretizou, a
conclusão óbvia.
-Vamos correr para o mato – O menino
que havia levantado, segurou sua mão e ajudou-a
a correr em direção ao bosque, de intensa mata.
Helena não podia correr. De modo algum.
Podia descer janelas e escorregar por vigas soltas,
mas correr estava além das suas forças...
Forçando o corpo ao máximo, descobriu
que era em vão quando os passos atrás deles
ficaram cada vez mais próximos.
-Não vamos conseguir! – ela desesperou-
se.
-Por ali! – Duran incentivou, sempre
olhando para trás – Siga por ali!
-Não me deixe sozinha! – ela parou em
pânico quando o menino seguia para outro lado.
-Vou fazer barulho e atraí-lo para cá. Não
sabem de mim, acham que está sozinha e
pensarão que sou você. Se continuar nessa direção
vai chegar em casa em um dia, ou menos que isso.
Ele tinha razão.
-Não posso ficar sozinha – ela implorou,
olhando para trás quando o som de vozes pode ser
ouvida.
Contrariando sua lógica e toda sua razão,
seguiu pelo lado indicado pelo menino e rezou
para que ele não fosse apanhado.
O mato fechado impedia que se
locomovesse com facilidade, sua roupa
enganchando em troncos, galhos e arbustos. Mas
por outro lado, dificultaria que a vissem, pois o
anoitecer caia rapidamente.
Poderia ascender a lamparina, mas
atrairia atenção sobre ela. Aliviada por não ouvir
passos atrás de si, esperou por um instante,
esperando, talvez que Duran a encontrasse.
Como o silêncio seguia alem do som
arfante de sua respiração, ela desistiu de esperar.
Andando novamente, foi obrigada a parar
quando a dor ficou mais forte.
Apoiada em uma árvore, ela sentiu o
corpo dobrar pela pressão da dor. Uma facada que
percorria seu ventre de dentro para fora.
Mordeu os lábios para sufocar o grito de
dor. Escorregou no chão e se ajoelhou, ficando
assim por vários minutos. Não havia como
levantar. Cega pela dor, esperou que seu corpo
voltasse a relaxar.
Uma eternidade depois, ou meros
segundos, não sabia, a dor foi embora, como se
nunca houvesse provado de sua intensidade. Suas
pernas trêmulas sustentaram seu peso, e ela
seguiu andando a passos lentos até sentir-se mais
segura de que a dor não voltaria.
Era um caminho difícil e longo, e
precisaria andar rápido se quisesse vencer a
distância entre sua casa e o lugar onde ficara
aprisionada. Precisava estar segura para ter seu
filho e precisava que encontrassem o menino de
Juanita, pois nunca se perdoaria se ele morresse!
Wood jogou o menino no chão. Ele
estava desmaiado depois de ter apanhado bastante
por tentar derrubar um homem com o dobro do
seu tamanho.
-Onde ela está?
Margarite gritou assim que pôs os olhos
sobre ele. Já estava nervoso, e seus gritos apenas
aumentaram seu nervoso.
-Fugiu!
-Como? Fugiu? Não conseguiu encontrar
uma mulher grávida? – ela não acreditou – Será
que não serve para nada nessa sua inútil vida?!
-O garoto ajudou-a a fugir? Não vê?
Como isso foi acontecer?
Ele andava pelo pequeno espaço da casa,
a fúria obrigando-o a quebrar vários objetos em
seu caminho.
-É inacreditável! Wood, seu inútil! – ela
seguiu acusando – essa mulher é o demônio! Não
foi o que disseram? Que podia se livrar de
qualquer um? Está aí a prova!
-Evaporou mato a dentro – ele disse
desacorçoado – Evaporou!
-Menos mal, ao menos há de morrer. Não
vai conseguir seguir por muito tempo. Com sorte,
morre antes do amanhecer!
-Está louca? – Wood agarrou-a pelos
braços, sacudindo-a – Está falando da minha
mulher!
-Não! – Margarite rebelou-se, os lábios
vermelhos e graúdos sorrindo com desdém - Estou
falando da mulher de outro homem! De uma
mulher que não o quis! Ouça Wood – ela tentou
acariciar seu braço e acalmá-lo – Perdemos. É
fato. Resta-nos sair dessa situação. Vamos
esperar. Em um ou dois dias ficaremos sabendo de
sua morte. Então, partiremos para o interior. Uma
cidade longe o bastante para não imaginarem que
poderemos nos refugiar ali! Em um ou dois anos,
voltaremos a Londres! Falcon...
-Cale a boca! Eu não vou a lugar alguém
sem Helena!
Em sua fúria, jogou Margarite no chão.
Ela se apoiou nas mãos e limpou o sangue do
rosto. Havia batido a face com toda força contra o
chão podre. Biltre!
-Vá atrás dela! Morra tentando recuperar
uma mulher que não é sua! Seu bastardo! – ela
gritou, levantando e se afastando dele.
Se Wood pretendia se destruir, ela não o
acompanharia!
-Não sei o que deu na minha cabeça para
me aliar a você! Um homem sem escrúpulos! Sem
honra!
-Fala de mim? - ele riu, furioso – Olhe
para você! Seus atos são atos de uma mulher sem
vergonha e sem caráter! De quem foi à ideia de
sequestrar uma mulher a beira do parto?!
-Minha! Mas há uma diferença entre nós
dois, Wood – ela ficou a centímetros dele, soando
muito clara e coesa – Eu o faço por dinheiro.
Pego, e vou embora. Você não. Mente. Inventa um
sentimento que não existe! A tortura que essa
mulher está passando se deve ao seu egoísmo! Em
minhas mãos, estaria morta e pronto!
-Grande coisa. – ele fingiu não ter
ouvido, sua atenção voltada para uma presa mais
fácil.
Deveras, não tinha coragem de enfrentar
um oponente a sua altura. Agarrando o menino
pela camisa, ergueu do chão, encarando seus olhos
em busca de respostas:
-Onde ela está? – sacudiu o menino, que
nada respondeu – Responda, moleque! Onde está
Helena?!
Duran manteve a boca fechada, mesmo
quando Wood passou a acertá-lo com poderosos
chutes.
-Não vê que o menino é mudo? –
Margarite ironizou – É perca de tempo e energia!
Deixe-a morrer! É muito melhor para nós! Não
haverá acusação formal se não encontrarem o
corpo! Pense!
Wood ignorou-a. Seguiu batendo no
menino até fazê-lo desmaiar novamente.
Wood parou, arfado pelo esforço de
espancá-lo. Sentia-se melhor. Agora precisava
decidir como faria para recuperar a sua Helena.
Sua mente tentava achar uma saída,
procurando uma solução prática. Não era um
homem que pudesse se aventurar mata a dentro.
Não conhecia aqueles caminhos e era bem
possível que se perdesse também.
Furioso, acertou um murro na mesa,
ouvindo o som da madeira podre quebrar sob seu
punho.
O som não foi maior, porém, que o som
da porta sendo arrombada.
As horas sobre o cavalo deveriam ter
acabado com sua resistência, mas Adolph mal se
sentia cansado. Havia lamentado o caminho que
escolhera, ao notar o erro. Não havia nada naquela
direção a não ser mato.
Pretendia voltar, a admitir o erro de
julgamento quando avistara fumaça. Era um
indício de que havia uma casa, ou uma fogueira, e
nos dois casos, apenas humanos poderiam ser
responsáveis.
O galope do cavalo poderia ser cansado,
depois tantas horas de trote, mas contrariando a
lógica física, ele seguiu rapidamente pela clareira
em direção ao mato fechado.
Adolph precisava corrigir seu grande
erro. Deveria estar cuidando da segurança de
Helena Parker, e não flertando e desencaminhando
uma mãe de família! Por sua ausência e
imaturidade, e, sobretudo ingratidão, tanto sua
doce patroa estava correndo risco de vida, como
seu filho.
Um filho que jamais tivera a
oportunidade de saber que existia. De qualquer
modo, não teria feito diferença. Fora vendido por
seu dono, e como escravo não teria alternativa a
não ser partir. Ficar, seria colocar em risco a vida
da mulher que amava, e com certeza condenar seu
filho a escravidão, visto que muitos filhos de
escravos eram tomados por seus donos.
Graças à vida, que em parte, lhe fora
generosa, havia sido libertado. Alforriado, seguira
mundo a fora tentando encontrar trabalho e uma
parada.
Não houvera muitas oportunidades em
sua vida para o amor. Várias mulheres, mas
nenhuma grande paixão desde que se apartara da
jovem que conhecera naquele bordel, tantos anos
atrás. Julgava que ela não lembrasse mais dele.
Estava errado, e agora essa mulher não
poderia ser dele. Tinha um bom casamento e como
homem, podia ver claramente que Suarez era a
segurança que ela merecia. Nenhum deles era
mais uma criança cheia de sonhos.
Havia um casebre no meio das árvores.
Adolph apeou do cavalo e o prendeu em uma
árvore. Com a arma em punhos marchou decidido
em sua direção.
Outro homem ponderaria as opções, ele,
no entanto, não faria isso. Precisaria ser um
homem de letras como seu patrão ou um menino
inteligente como Duran vinha se tornando, para
elaborar planos eficazes.
Ele conhecia apenas a força bruta.
Invadir e resgatar. Era isso que conhecia, e
passara sua vida toda fazendo isso, enquanto
defendia seus donos, e posteriormente seus
patrões.
Sem meias palavras. Em frente à porta,
ele ergueu a perna e chutou a velha porta do
casebre.

O frio perturbava sua caminhada lenta.


Suor corria em sua face, mas ela não parou.
Continuou enquanto ainda tinha forças. Sentia que
em breve teria que parar definitivamente.
Assustada, novamente procurou uma
árvore para se apoiar quando outra onda de dor a
correu. Dessa vez estava prevenida, e ajoelhou-se
no chão segurando-se firmemente, para não cair e
ao mesmo tempo ter algo para apertar enquanto a
descarga de dor endurecia cada célula do seu
corpo e trasbordava por seus poros em gemidos
agoniados e suor excessivo.
Era a quinta vez que precisava parar.
Estava andando a umas três ou quatro horas.
A dor vinha e ia embora em passos
longos o bastante para acreditar que teria tempo
de chegar em casa. Ou ao menos, estar perto o
bastante para ser encontrada.
Tinha certeza que estariam procurando
por ela. Rony, pensou, em meio a dor.
Ele deveria estar em pânico. Assustava-
se com o menor gemido dela, e agora deveria estar
contando as horas, imaginando-a tendo seu filho
nas mãos de Wood.
Sempre sensível a possibilidade de vê-la
sofrer, imaginou sua expressão se a visse agora, se
contorcendo, toda suja, suada e num estado
lamentável.
Queria tanto que ele estivesse ali para
segurar sua mão nesse momento. Segurá-la, e
ajudá-la a se erguer e recomeçar a andar. Sua
força seria o bastante para empurrá-la na direção
certa.
Mas ele não estava ali.
Estava sozinha. Passada a dor, vinha o
cansaço, com o qual lutava, na esperança de poder
seguir. Queria voltar para casa.
Essa ideia martelava em sua mente.
Voltar para casa.
Por um momento, desistiu de lutar e ficou
no chão, aguentando o frio da noite, sem saber que
não se passara tanto tempo quanto acreditava, e
estava longe de ser noite alta. A mata fechada
encobria o céu e seus olhos nublados de lágrimas
não distinguiam muito a realidade da fantasia.
Sua casa.
Recostou o ombro contra o tronco da
árvore, e abraçou a barriga, pendido desculpas ao
filho. Queria embalá-lo e protegê-lo, mas não
podia fazer nada além de andar.
Queria sua mãe ao seu lado, ajudando-a a
se tornar mãe. Queria Juanita dizendo-lhe como
fazer isso e, sobretudo, queria os braços de Rony
em volta de si, dizendo em seu ouvido que tudo
ficaria bem.
Nada ficaria bem, disse a si mesma.
Enquanto estivesse caída naquele chão
nada ficaria bem. Criando forças, levantou-se e
puxou ar antes de recomeçar a andar. Uma das
mãos segurava a barriga por baixo, pois ela
pesava mais a cada passo e tinha a nítida e
desesperadora impressão que o bebê havia se
movido e descido muito, e por isso sua barriga
estava tão baixa.
Precisava seguir. Não podia desistir
agora. A cada passo se aproximava mais e mais
de casa.
Helena seguiu mais uma meia hora por
entre as árvores, até chegar próxima a um vale de
grama mais fina e árvores mais altas. Quase
chorou de alívio. Conhecia aquele caminho, era
um atalho que Alice e ela usavam para brincar
longe de casa e ainda assim chegarem na hora
certa para o almoço e fugirem das surras!
Deus ouvia suas preces.
-Só mais um pouquinho, bebê. Só mais
um pouquinho e estaremos em casa...
Sua voz soou tão tremula e chorosa que
ela não se reconheceu. Usava a mão livre para ir
se apoiando nas árvores maiores e não correr o
risco de escorregar caso voltasse a dor. Foi num
desses momentos com a mão erguida em direção a
um tronco que ela sentiu um toque muito suave na
palma. Um pingo de água. Sua face ergueu-se
para cima instintivamente. Começava a chover.
Capítulo 142 - Por tudo que o amor nos trás

Wood quase não acreditou quando um


gigante entrou no casebre. Passado o susto inicial
ele empunhou a arma, notando que o gigante
empunhava a sua.
Esperto por natureza, agarrou o menino
inconsciente em um dos braços e colocou a arma
na cabeça de Duran.
-Afaste-se ou mato o garoto!
-Onde está a Sra.Parker? – Adolph
perguntou, tentando não olhar para o menino.
-Ela fugiu – ele respondeu – A diabinha
fugiu, deve estar no meio do mato, morta em
algum lugar! E você o que quer? Levá-la de volta?
– ironizou, se perguntando onde estaria Margarite
para ajudá-lo.
-Não. Se o que diz é verdade, a única
coisa que desejo e vou fazer é matá-lo – avisou
engatilhando arma.
-De mais um passo e eu mato o garoto.
Duvida?
-Não. E não me importo. Minhas ordens
eram trazer a Sra. Parker com vida para casa. Se
não posso cumprir minhas ordens, irei matá-lo e
levar sua cabeça para meu patrão.
-O menino... – a voz de Wood quase
fraquejou, usando o garoto como escudo.
-Não me interessa. Minhas ordens são
levar a Sra. Parker para casa.
Aquele monstro repetiu e sequer olhou
para o garoto. Wood jogou Duran, diante de sua
inutilidade, num canto e agilmente apontou a
arma para o gigante que se atrevia a ameaçá-lo.
Aliviado em ver o filho longe da mira
daquele homem sem graça e com expressão
escorrida, estava pronto para atirar e pagar para
ver se ele seria mais rápido quando algo o acertou
por trás. Com o susto derrubou a arma.
Mas não foi um golpe que pudesse abalar
suas estruturas poderosas.
Foi um momento tenso, onde Wood
puxou o gatilho. Nada aconteceu. Adolph girou o
corpo e agarrou a mulher pelos cabelos, atirando-a
contra a parede. Margarite escorregou no chão,
atordoada.
Wood não tinha como passar por ele, por
isso investiu. Apanhou o machado ao lado da
lareira e pretendia erguê-lo acima da cabeça e
acertar aquele homem enquanto ele estivesse
distraído com Margarite.
Foi pego de surpresa quando o cabo de
metal queimou sua mão. A dor o fez soltar e pular
para trás. Ambas as palmas das mãos queimadas.
Seu grito de dor não apaziguou a luta, e
no mesmo momento em que a chuva começou a
cair do céu, numa tempestade aguda e intensa,
Adolph o derrubou no chão.
Acabaria com a vida daquele
almofadinhas que ousara agredir mulheres
grávidas e crianças indefesas, e faria isso com as
próprias mãos. Wood era ágil, para alguém tão
covarde, e empunhou a arma que achou no chão.
No calor da briga, não era possível saber
se era a arma sem balas ou a arma de Adolph que
também havia caído no chão. Adolph apanhou o
machado, sem nem ao menos se abalar com a dor
nas mãos.
Os calos do árduo trabalho braçal de anos
como escravo haviam tornado sua pele um couro
grosso e insensível ao calor. Ergueu o machado
acima da cabeça e foi uma curta troca de olhares.
O olhar acinzentado de um homem louro
e que nascera na riqueza e no glamour, em meio
ao luxo e ao poder, e o olhar verde de um homem
da cor da terra, que conhecera durante toda sua
vida apenas o sofrimento e a privação.
Wood engatilhou e Adolph pagou para
ver.
Sempre em sua vida, ele pagou para ver.
E como agora, ele estava certo.
O gatilho funcionou, mas a bala não saiu.
Wood não gritou quando o machado desceu sobre
ele.
E se tivesse gritado, Adolph não teria se
dado ao trabalho de ouvir.
Margarite, no entanto, gritou com voz
aguda e horripilantemente horrorizada, quando a
cabeça correu pelo chão de madeira.
Adolph olhou para ela e largou o
machado.
Não gostava de matar, mas não ia mentir
que não sentia prazer na morte daquele demônio.
-Não se aproxime! – Ela gritou
desesperada – Não!

Chovia. Durante todo o ano não havia


chovido daquele modo.
Andando a esmo, sempre em linha reta,
Helena riu. Deveria estar histérica, mas ela riu no
silêncio da escuridão a sua volta.
Como Juanita diria, seu azar tinha que
tornar tudo pior.
Caminhar quilômetros a beira de dar a
luz depois de fugir de ser morta ou desposada por
Wood, não era o bastante. Imagine.
Alguém, em algum lugar do universo a
odiava, e se ela pudesse encontrar seu criador,
com toda certeza, ela diria poucas e boas.
-Eu te amo, mas nunca disse – ela
começou a falar sozinha, enquanto andava, os
passos dificultados pelas poças de água. A terra
que antes era dura, agora estava macia demais e
precisava pisar devagar para não afundar em
alguns trechos de barro – Mas vou dizer. juro que
vou. Se eu conseguir eu vou dizer. Vou gritar,
Rony, eu juro que vou contar para todo mundo.
Vou bater de porta em porta e contar para todas as
pessoas desse mundo que eu te amo. Apenas,
Deus me deixe ter a oportunidade de fazer isso!
Suas palavras se perderam dentro do som
de um trovão e ela acelerou o passo. Há algum
tempo deixara de sentir a dor nos pés, e embora
isso aliviasse a caminhada, sabia que era um
péssimo sinal.
Estava descalça; o chão irregular, cheio
de pedregulhos. Não queria olhar para baixo e
confirmar o estado em que deveriam estar. No
mínimo, em carne viva.
A dor havia ido embora, e era nisso que
se apegaria no momento. O depois, só existiria, se
conseguisse chegar a tempo.
-Oh, não... – ela choramingou quando a
dor voltou.
Não podia continuar se enganando. Era
uma contração. E mais forte e rápida que qualquer
outra que tivera antes. Feliz por ter passado em
segundos, logo se desesperou ao voltar a andar e a
dor retornar com um espaço de menos de cinco
minutos.
Não ia conseguir. Era fato.
Tinha que encarar a realidade. As
contrações seguiam de cinco em cinco minutos.
-Oh, Droga, Juanita. Porque me
enganou? Disse que levam dias os trabalhos de
parto!
Sua mente confusa pela exaustão captou
alguns fatos, como o fato de desde o dia anterior
sentir uma dor fraquinha e pedante. Era o começo
e ela não percebera.
Estava em trabalho de parto há quase
dois dias!
Essa conclusão a deixou sem fôlego,
completamente em pânico.
A chuva não perdoava. Caia em pencas,
machucando sua pele e principalmente seus olhos.
Os cabelos estavam encharcados, as roupas
pesadas com o peso extra da água. Não havia nem
um centímetro de seu corpo que estivesse seco.
Ou que não estivesse dolorido.
Seu coração batia acelerado a cada
contração. Não parava. Não parava. Não parava
mais de doer. Nenhuma dor que sentira em toda
sua vida se comparava a isso!
Uma contração em particular tirou todas
as suas forças, que a essa altura não eram quase
nenhuma. Ela segurou-se em um tronco de árvore
para não cair. Era uma árvore gigantesca, muito
antiga, e sua copa era muito larga e fechada, e
ajudava a bloquear um pouco da chuva, por isso
aos seus pés a grama estava molhada, mas não
havia barro.
Helena tentou ficar de pé, mas não
conseguiu. Seu braço se apoiou na árvore,
enquanto seu corpo tombava para frente, sua face
contraída de dor.
Coberta pelos cabelos molhados, ela
aspirou fundo diversas vezes tentando respirar.
Oh, ela ia morrer se essa dor continuasse!
Não havia escapatória. Nenhuma mulher
poderia passar por isso e sobreviver!
Completamente tensa, seu corpo relaxou por
breves momentos, antes da dor retornar. Seus
joelhos tombaram no chão e ela soube que não
poderia mais levantar.
Como um cavalo que se entrega e não
poderá mais voltar a se erguer, ela desistiu de
andar e acreditar que chegaria em casa a tempo.
Fechou os olhos, quando a dor obrigou-a a agarrar
a barriga como se estivesse se defendendo.
Ia ser assim. Ou ela aceitava, ou o pior
aconteceria.
A dor passou e ela pensou com clareza.
Era mulher. Mas antes de ser mulher, era animal.
E como todas as fêmeas, podia fazer isso sob
quaisquer situações. Sob o sol, ou sob a chuva.
Com ou sem ajuda.
As lágrimas correram em sua face,
misturadas a chuva quando ela decidiu que faria
sob a chuva e sem ajuda. Tinha que agir, chorar
não adiantaria.
O pânico a fez se desesperar, sentindo as
mudanças em seu corpo. Sentiu correr por entre
suas pernas um líquido viscoso, e se sentou aos
pés da árvore, erguendo o vestido e investigando
uma gosma transparente. Era uma água diferente
da água da chuva.
Sua bolsa havia estourado e a natureza
decidia por ela.
Danem-se suas decisões, ia ser ali e ia ser
agora, com ou sem choro. Com ou sem desespero.
Com ou sem Rony.
Sem Rony, ela pensou, totalmente
sozinha...
Ela afastou os cabelos do rosto, e lutou
contra a próxima contração, esperando-a passar.
Sua mente clareou quando a dor passou, e sabia
que teria poucos minutos para agir racionalmente.
Com as mãos doloridas pelo frio e
arranhadas de vários galhos de árvores, ela tentou
desabotoar o vestido encharcado. A fibra molhada
impedia que soltasse os botões com a mesma
rapidez de outrora, e ela deu vários puxões
desesperados, arfando em busca de ar, e quase
gritando de alegria quando os botões cederam.
Pense, Helena. Ordenou-se, lutando para
ignorar a dor da próxima contração que a corria da
cabeça aos pés.
Desceu o vestido pelos ombros molhados
e tirou o avental de couro que o cobria. Lutou
contra o tecido e passou pelas pernas, achando
desconfortável fechar as pernas, mesmo que por
breves momentos.
O desespero cresceu e ela começou a
chorar copiosamente ao notar que seu sexo se
alargava e se preparava para o nascimento.
Usando o tecido como cama, avolumou-o embaixo
de si, de modo que sua ampla saia forrasse o chão
entre suas pernas.
Seria ali que o bebê iria ser expelido. Não
haveria ninguém para segurá-lo. Ainda chorando,
ela subiu a camisa íntima, encharcada pelas
pernas e a deixou acima da barriga. Precisava ver
tudo que aconteceria.
Mas como? Juanita dissera uma vez que
o parto de cócoras era mais rápido. Mas
impossível, a criança cairia no chão. Deitada, era
impossível ver o bebê. Lutando contra a dor, ela se
ajeitou contra o tronco de árvore até estar
recostada contra ele.
Seu quadril ficou inclinado, e ela esperou.
Não havia nada que pudesse fazer além de
esperar. Lembrou-se na última hora da lamparina
que guardara no bolso do avental de couro, e
apanhou-a.
Não havia como ligá-la, pois a chuva a
tornara inútil. Mas podia usar seu enfeite, uma
ponta saliente para cortar o cordão umbilical.
O choro voltou, quando se lembrou do
dia em que Artur Parker estivera na fazenda
trazendo uma adaga pequena e delicada, feita em
osso de marfim, lapidada por ele mesmo. Era um
entalhe perfeito e mostrava toda a emoção de avô.
Era para ser usado especialmente para cortar o
cordão umbilical.
Seu enxovalzinho todo azul e branco, o
bercinho que Ducan Parker trouxera a alguns dias
atrás, feito pelos irmãos... Queria tudo aquilo que
tinha direito e queria agora!
Rony, onde estaria ele? Porque não a
encontrava a tempo? Por quê?
Sua resposta foi uma contração tão forte
que a fez esquecer-se de tudo. Sua cabeça tombou
para trás e ela gritou. A dor corria cada célula,
cada músculo, e ela ordenou a si mesma para
empurrar.
A primeira tentativa resultou numa dor
tão forte que ela desistiu. O medo a paralisou. Isso
até a próxima dor cair sobre ela. Empurrou com
força, esperando aguentar o suficiente para o bebê
nascer.
Ah, se fosse tão fácil. A contração passou
antes que ela tivesse tempo de forçar o bastante.
Entre suas pernas sentia as mudanças,
sentia que estava se esticando para a passagem.
Chulamente, havia algo entalando entre suas
pernas, e ela era consciente que tinha que aguentar
mais e dar tudo de si.
Por isso quando a contração voltou, ela
empurrou tão forte que uma de suas mãos agarrou
o tronco atrás de si a ponto dos dedos sangrarem.
Seu grito foi tão alto, que assustou a ela
mesma. Sem tempo para pensar tentou ver entre as
pernas.
Havia algo saindo. Uma cabeça. A
emoção não teve lugar naquele momento, mas ela
chorava. De dor, de carinho, de medo, ela chorava
enquanto empurrava. Mais um pouco e a dor
parecia crescer de tal modo que não suportaria.
Foi numa contração mais leve que ela
empurrou com mais força e algo passou entre suas
pernas.
Espiando, ela viu uma cabeça
ensanguentada completamente fora. Em pânico
por não ter saído tudo, e achando que poderia
sufocar a criança, ela tentou puxar.
Não sentiu dor, não sentiu nada, mas
sabia que estava errado. A contração voltava e ela
teve a ideia de tentar empurrar novamente.
Deus, como queria saber o que fazer!
Agarrou os próprios joelhos, abrindo
tanto as pernas quanto era humanamente possível,
e ignorando totalmente a dor, empurrando até as
juntas ficarem brancas e sua face roxa.
A dor que a rasgou jamais seria
esquecida. Seu grito foi nada comparado ao
sofrimento que seu corpo passava. Mas ela não
parou de forçar. Não parou até sentir algo
realmente grande passar.
Relaxando, ela olhou para baixo e viu o
bebê. Do umbigo para cima ele estava livre da
prisão que seu ventre representava. A dor parecia
ter ido embora, e ela segurou o bebê decidindo por
puxá-lo definitivamente.
Os quadris passaram e as pernas, e
quando os pezinhos saíram, ela esqueceu
que havia saído dela, e segurou a criança, trazendo
para seus braços. Segurou junto ao peito, como se
algo ou alguém pudesse tirá-lo dela.
A chuva ainda caia sobre eles, e ela olhou
em volta desejando ter algo para protegê-lo da
água e do frio.
O cordão umbilical os unia, e ela tinha as
mãos completamente trêmulas ao se inclinar para
frente. Segurou o avental de couro que Adolph
fizera para ela e enrolou o bebê, deixando-o de
lado.
Colocou o cordão bem rente ao seu sexo,
definitivamente, não o reconhecendo. Não havia
mais nenhuma contração e ela esperava que a
placenta saísse.
Nada.
Desenrolou o bebê e cortou o cordão
umbilical de forma a poder enrolar. Rasgou com
os dentes um pedaço da camisa íntima e enrolou
em sua barriguinha.
Quando fez isso, segurou-o nos braços e
limpou seu rostinho do sangue e de algo
esbranquiçado que provavelmente o mantinha
aquecido dentro de seu ventre. A criança tremia,
mas se acalmou quando ela segurou de pé e
colocou contra seu peito. Sua cabeça se acomodou
abaixo do seu pescoço e o bebezinho explodiu
num choro compulsivo.
Ela também chorava e entendia
perfeitamente seu desespero.
Haviam conseguido. Trouxera seu filho
ao mundo e estava vivo.
Agora precisava garantir que o bebezinho
permanecesse vivo.
Catou o avental de couro no chão e
colocou-o em volta do recém nascido que chorava
desamparado, e para esse desamparo nem sua mãe
tinha resposta. Precisava ser aquecido e
alimentado, mas ela não podia fazê-lo. Não sabia
como, e não tinha condições para cuidar dele.
Helena apanhou o vestido manchado e
descartou-o. Com muita dificuldade levantou-se.
O mundo rodou a sua volta e ela
manteve-se imóvel, rezando para não desmaiar.
Não podia desmaiar.
Havia raposas no mato e seu filho era um
filhotinho, não podia esquecer-se disso. Não
poderia se defender se ela sucumbisse ao cansaço
que a tomava e atacava sem dó.
A chuva seguia e ela sentia o sangue
correndo por suas pernas.
Mas nada mais importava. O frio, a
chuva, a dor, ela esqueceu tudo e se concentrou no
choro.
Enquanto ouvisse seu choro e sentisse
seus movimentos contra seu peito, mantendo-o
grudado em seu peito, como uma canguru, ela
estar certa que tudo ia acabar bem.
Precisava andar.
Era apenas isso que precisava fazer.
Cerca de uma hora depois, ela ainda
andava quando a chuva se acalmou. O choro do
neném havia acabado, mas ela sabia que estava
bem, pois vez ou outra choramingava.
Sentia o calor do seu corpinho inocente
contra ela, e esse calor era o bastante para aliviar o
frio intenso que a consumia.
O dia começava a clarear, e quando ela
olhou para cima notou que as pesadas nuvens de
chuva haviam encoberto o nascer do dia. Tudo
ficaria bem, decidiu. Bastava que conseguisse
seguir andando.

Rony havia atravessado a noite montado


em seu cavalo, procurando por alguma pista. Era
manhãzinha quando desistiu de voltar para casa e
decidiu passar pelo lago, e fazer a volta pelo
bosque, pois seus instintos pediam que fizesse
isso.
Pedia um milagre que a trouxesse de
volta. Mesmo que fosse impossível, era o único
pensamento que o possuía.
Estava quase indo embora, para fiscalizar
a evolução das buscas quando ouviu o som de
passos. Deveria ser um dos homens que faziam as
rondas.
Havia muitos espalhados.
Seguiu olhando na direção das árvores,
esperando ver um deles com alguma notícia
concreta.
Seu coração estava acelerado, e mais
tarde ele teria certeza, que nesse momento já sabia
que não era um dos homens de Suarez. Não ouvia
nada a sua volta, seus ouvidos estavam surdos
para qualquer som, o coração batendo tão rápido
no peito que abafava qualquer outro som ou
sensação.
Sua expectativa foi recompensada quando
avistou primeiramente um vulto saindo de entre as
árvores.
Aos poucos esse vulto branco e pequeno
se mostrou ser um vestido branco, ou uma camisa
branca longa, e aquilo que deveria ser um homem,
se mostrou ser uma pequena mulher.
Tinha certeza que seu coração tinha
parado dentro de seu peito.
-Helena!
Helena seguiu andando. Não via nada a
sua frente. Deveria ficar feliz ao ouvir o som da
água, e deduzir que era o som do lago, e que isso
queria dizer que havia conseguido chegar em casa,
mas a única reação fora virar a direita e seguir
andando.
Um choramingo tão esperado contra sua
pele a fez criar mais forças para andar.
Tinha que chegar a tempo. O bebê tinha
fome, ela também. Estava cansada. Estava se
agarrando num fio imaginário que a obrigava a
ficar de pé.
O sangramento havia passado, mas ela
sentia-se tão fraca... Tão fraca...
Confundiu o grito que chamava seu nome
com o som do bebê e seguiu andando, sem ver
nada através dos olhos embaçados.
Nem mesmo quando Rony apeou do
cavalo e correu em sua direção, ela notou o que
acontecia.
Chegando até ela, Rony viu o sangue em
sua roupa. Usava apenas a camisa íntima,
ensanguentada. Havia sangue seco em suas roupas
e seus pés estavam em carne viva.
Com medo de machucá-la, esperou que o
notasse, e como isso não aconteceu, tentou tocá-la.
Helena tentou se afastar, virando-se de
lado, como se protegesse algo.
Ele segurou-a, pois parecia prestes a cair.
-Helena, sou eu. Helena, sou eu – repetiu
sem parar, e quando ela começou a tremer em
seus braços, soube que reconhecera sua voz.
-Eu consegui chegar – sua voz era tão
baixa que ele mal ouviu – Eu consegui chegar.
-Sim, você chegou em casa – olhou para
ela. Procurando pela ferida que poderia ter
causado tanta perca de sangue.
-Não posso mais andar... – ela disse
como quem se explica, a voz tão fininha...
-Eu a carrego. – não parecia que ela
pudesse entender que estava em casa de verdade.
Deveria ser febre. Um delírio de febre.
-O bebê... – ela tentou explicar, mas não
tinha forças.
Rony olhou para onde ela olhava. A
princípio teve a impressão que ela segurava uma
trouxa de roupas, ou se apegava ao calor do couro
que carregava entre os braços. Olhando por entre o
tecido viu que estava completamente enganado. O
mundo parou por um segundo, e no momento
seguinte ele a erguia nos braços e seguia para
casa.
Capítulo 143 - Dias melhores virão

A primeira pessoa que os viu foi Alice.


Ela estava na varanda, olhando para longe,
rezando por um milagre, enquanto esperava
notícias. Ela os viu e entrou na casa aos gritos,
antes de voltar e correr ao encontro deles.
Rony não lhe deu atenção. Precisava
correr e levar sua família para a segurança de uma
cama quente.
O corpo de Helena tremia de frio e os
dois estavam molhados. Queria se apegar a
esperança de terem pegado chuva, mas não terem
passado a noite toda sob o aguaceiro da noite
passada!
Helena tinha fechado os olhos e sua
respiração estava muito calma. Serena. Segura.
Não podia saber, mas era isso o que sentia. Estava
em braços seguros e estava salva.
Tudo ficaria bem se apenas pudesse ficar
ali, aquecida por seus braços, sentindo seu bebê
respirar contra sua pele e sentir o cheiro da
fazenda.
Ela gemeu quando ouviu várias vozes a
sua volta, e o som de portas sendo batidas e
abertas com força.
Quis pedir que parassem, estavam
fazendo sua cabeça doer, mas apenas esperou que
as vozes fossem embora e ela pudesse se entregar
ao sono. Seus olhos se abriram assustados quando
alguém tentou tirar o bebê de seus braços.
Era Sandra Parker. Ela tirou o embrulho
de seus braços com toda a gentileza que apenas
uma avó poderia ter. Helena grudou os olhos sobre
ela, enquanto era colocada sobre a cama.
Gemeu de contentamento quando ele
colocou seu corpo cansado sobre a cama macia e
quentinha.
-Helena... – ele tentou dizer alguma
coisa, mas alguém o afastou dela.
-Precisa se secar – Juanita disse,
enrolando seu cabelo com uma toalha grossa e
indicando que Alice trouxesse mais toalhas.
Anna, que estava relativamente
recuperada da agressão, entrou com uma bacia de
água morna. Atrás dela um dos meninos de
Juanita, carregava outra bacia menor.
As mulheres enxotaram o menino e
quando tentou fazê-lo sair, Rony apenas disse:
-Não vou deixá-la novamente.
Sandra olhou para o filho supondo a
culpa que sentia. Achava que tinha abandonado-a
sozinha em casa, a mercê do perigo, quando na
verdade fizera de tudo para garantir sua
segurança.
-Fique naquele canto e não interfira – ela
ordenou enquanto apanhava a criança e
desenrolava o couro revelando seu corpinho.
Imediatamente o bebê começou a chorar
e a espernear, se debatendo, conforme as mãos
quentes de Sandra o tocavam e conferiam se
estava bem.
-Não, que pecado, não chore meu amor –
ela apanhou o menino no colo e o levou até a
bacia maior, com água morna. Depositou-o ali,
falando palavras carinhosas enquanto lavava seu
corpinho. Havia muito sangue seco.
Rony olhou do filho para Helena. Anna
secava seus cabelos, enquanto Juanita a despia.
Ela tremia de frio, e tentou impedir num reflexo,
mas Juanita a acalmou, secando-a o mais rápido
que pode.
Com um pano molhado ela limpou sua
pele, tirando os restos de folhas, mato, água da
chuva e sangue.
Seu corpo não parecia ter mudado nada,
mesmo o bebê tendo saído, e ele quis perguntar se
era assim mesmo, mas não ousou interferir.
Juanita vestiu nela uma camisola limpa e ajudou-a
a deitar. Com os cabelos quase secos, Helena
apreciou a maciez dos travesseiros.
-Helena – Juanita a chamou – Não durma
ainda querida. Preciso fazer umas perguntas – ela
a sacudiu de leve, para acordá-la. – Preciso ver
como ficou aí embaixo – ela disse como quem
pede desculpas por invadir sua intimidade.
Rony não ousou olhar. Não tinha
coragem de ver o que o parto fizera a ela, e sabia
que Helena preferia assim.
-Me conte, querida, quem fez seu parto.
– ela limpou o sangue seco em suas pernas, e
avaliou o estado do seu corpo antes de dizer – Um
bom trabalho. Sangrou muito?
-Eu... Não. – conseguiu responder – Não
vi muito sangue... Até levantar, então comecei a
correr por um tempo.
Juanita avaliou o que ela disse antes de
perguntar:
-Não havia ninguém para ajudá-la? É
isso que está dizendo?
Rony notou a forma como Sandra olhou
para a nora. Um pavor no olhar que apenas
alguém que passara por um parto poderia
entender. Até mesmo Juanita parecia
desestabilizada, apesar de já ter passado por tudo
na vida.
-Duran... Ele me tirou de lá – ela disse
como se fizesse sentido.
-O meu filho? Ele também foi
sequestrado ?
-Não. – ela olhou para Rony – Ele nos
seguiu, esperou uma brecha e me ajudou a fugir.
Estava escuro... Ele despistou Wood, mas não o vi
mais... Alguém precisa socorrê-lo... – lembrou-se
disso e foi tomada por uma onda de medo -... Eu
deveria ter esperado por ele!
-Não. Não deveria – Juanita assegurou-
lhe – Duran já um homem e tomou a decisão
certa. Agora, me conte do seu parto. Quem
ajudou?
-Não havia ninguém – ela respondeu
muito baixo, sentia a garganta dolorida.
-Conseguiu se abrigar da chuva? O parto
foi antes ou depois da chuva? – ela insistiu.
Helena relembrou aqueles momentos e
não respondeu nada.
-Alguém precisa encontrá-lo – foi apenas
o que pode dizer.
-Anna, avise Suarez para vir até aqui –
Rony disse para a menina, enquanto observava
atentamente o rosto de Helena.
-Fez seu próprio parto, durante a chuva?
Sozinha? Tem certeza?
-Hum-hum... Achei que conseguia chegar
antes... Mas não consegui.
-Fez um bom trabalho – Juanita
assegurou – A placenta? Você conseguiu lidar
com ela?
-Eu esperei que saísse... Mas não
aconteceu. Tive medo de uma raposa aparecer e
comecei a andar... – explicou, sentindo o cansaço
passar quando ouviu o choro do bebê novamente.
Mais lúcida, acompanhou os movimentos
de Sandra, vestindo a criança e trazendo-a para
perto.
-É um menino, não é? – ela perguntou
ansiosa – Mal pude olhar... Eu... Só queria vir
embora. – explicou.
-É um menino sim – Sandra colocou a
criança em seus braços e Helena mal soube
segurá-lo. Vestido e enrolado em um cobertor
infantil, era um lindo menino ruivo.
A pele era clara, as sobrancelhas
ruivinhas assim como os cabelos. Ele resmungou
e entreabriu os olhos, e Helena sorriu diante dos
olhos azuis que a fitavam.
-Oi – ela sussurrou para o bebê - Sou sua
mamãe...
-Ele sabe – Sandra garantiu – É um bom
menino, mas precisa se alimentar.
-Eu não sei fazer isso... – explicou,
enquanto Sandra olhava para o neto com tanto
amor que cortou seu coração.
Sandra abriu alguns botões de sua
camisola e expôs um seio, ajudando-a erguer a
criança e oferecer o bico. O menino estranhou,
mas em poucos minutos sugava avidamente o
leite.
Helena não disse nada. Quis chorar. Quis
rir.
Tentava decidir e definir o que sentia,
quando bateram na porta. Anna avisou que Suarez
estava esperando, e que tinham ido buscar os
demais Parkers.
-Wood me levou para a casa da viúva. É
uma casa que fica ao sul. Alice sabe o caminho. –
ela contou, sem afastar os olhos do bebê que
mamava em seu peito.
-Vou preparar um chá para fazer a
placenta descer – Juanita cobriu-a com um lençol
até a cintura e levantou-se. Sandra olhou para
Rony e então para Helena, e se juntou a Juanita e
todas saíram do quarto.
Rony segurava o chapéu entre as mãos,
nervoso, sem saber como agir. Sua mulher e seu
filho estavam ali, a salvos, e ele estava perdido.
Helena sorriu e olhou para ele, dizendo:
-O que faz aqui, estranho? - havia um
tom de riso em sua voz. Ela recostou a cabeça
contra os travesseiros e outro riso baixo o deixou
ainda mais nervoso – Não é mais meu marido.
-Hum, tem razão – concordou.
-É o pai do meu filho – ela contou, como
se ele não soubesse. – olhou para ele? É um
menino. Disse que seria um menino!
Rony se aproximou, ainda sem saber
como agir.
-Sempre está certa – ele manteve uma
estranha distância - seus sonhos se realizaram,
Helena. Não sou mais seu marido.
-Hum... – ela suspirou profundamente
cansada, e gemeu quando o bebê soltou o seio e
começou a chorar – Acho que ele quer mais...
Um pouco desajeitada, acalmou o bebê,
antes de expor o outro seio e oferecê-lo. O menino
se agarrou e sugou com força e ela olhou para
Rony, com os olhos cheios de lágrimas.
-Eu tenho novos sonhos – ela respondeu,
como se fosse realmente uma resposta.
-A anulação está com seu pai. Esperava
não precisar ir tão longe. – ele olhava para o bebê
com tanto carinho que ela limpou uma lágrima.
-Rony... – sua voz soou como um suspiro
-... Precisamos falar disso?
-Não, não precisamos.
-Algo me diz que vai ignorar esse
documento... – os olhos castanhos brilhavam
intensamente.
-Não deixarei que nada nem ninguém me
diga que não é minha mulher – ele respondeu num
tom que não deixava dúvidas sobre seu
sentimentos.
Helena tinha certeza disso. O riso morreu
em sua face.
-Estou tão cansada – ela confessou, as
lágrimas que contivera até ali, escapando.
-Fez tudo sozinha, eu não estava ao seu
lado – ele expôs a própria culpa.
-Sim, é verdade. E espero que Wood seja
punido por isso! – sua voz ganhou força e
assustou o bebê. – Shihhh – ela tentou acalmá-lo,
mas ele estava satisfeito e não queria mais ser
alimentado.
Helena o colocou contra o ombro e
esperou que arrotasse. Ela sorriu quando isso
aconteceu. Seu bebezinho estava quase
adormecido quando ela olhou para Rony.
-Não vai segurá-lo?
-Não sei se devo – ele contou – Não sei
se mereço. Não pude protegê-los.
Ela olhou para ele, sem compreender.
Já vira esse homem sobre muitas
situações, mas nunca tão humilhado e derrotado.
-Procurou por mim?
-Cada segundo desde que desapareceu –
ele confessou, ainda sem olhá-la.
-Acho que foi melhor assim, Rony. Era
para ter nascido assim. Só nós dois. – acariciou o
bebê, que adormecido ressonava baixinho em seus
braços – Quer saber tudo que aconteceu?
-Quero.
-E vai continuar do outro lado do quarto?
– ela sorriu.
-Porque está tão calma? – ele estranhou.
-Porque sou mãe. Não sinto mais medo.
Ele nasceu – revelou – Havia um casebre. Duran
entrou, me contou seu plano. Esperei ontem o dia
inteiro, sentindo dor. Mas não notei que era
trabalho de parto. Surgiu à oportunidade, eu desci
por um lençol, escorreguei por uma viga, e cai em
cima dele! – quase riu dessa lembrança –
Ouvimos Wood se aproximando e corremos para o
mato. Eu conhecia o caminho. Caminhei muitas
horas, até concluir que não poderia mais andar.
Esse apressadinho nasceu embaixo de uma árvore.
No meio da chuva. Acho que foi rápido. Eu o
enrolei, levantei e continuei andando. Sabia que
ficaria bem se chegasse em casa.
-Eu não estava lá para ajudá-la – ele
engoliu a emoção, vendo em seus olhos toda a
emoção que seu relato provocava, trazendo
lembranças de tudo que aconteceu.
-Mas está aqui agora. Encontrou-nos, e
estamos seguros. – ela concluiu. – Coloque-o no
berço. Não consigo mais segurá-lo – confessou,
triste em ter que se separar do bebê.
Rony se aproximou, e deixou o chapéu
sobre a cama. Ela estendeu o bebê e ele tentou
apanhá-lo da melhor forma possível, com medo de
machucá-lo.
-É um menino bem grande, não é? – ele
perguntou encantado com a vida que estava em
seus braços.
-Sim, e é mais seu filho do que meu. –
acusou brandamente, sorrindo para os dois
homens da sua vida – Tem seu cabelo, seus olhos,
sua expressão. Será alto também.
Ele sorriu encantado com a miniatura de
si mesmo em seus braços.
-Rony... Coloque-o no berço – ela pediu
mais uma vez, querendo sua atenção antes de
adormecer.
Com a garganta apertada de emoção ele
colocou o bebê dentro do berço, notando que sua
pele não estava tão gelada quanto no momento em
que Sandra o colocara na água morna. O neném
adormeceu imediatamente e ele cobriu-o com um
cobertorzinho.
Helena olhava para ele através dos olhos
semiabertos, e quando ele se aproximou, ela
ergueu uma das mãos para que ele segurasse.
-Achei que fosse morrer... – ela disse,
engasgada pelo choro que havia segurado por
muito tempo -... Que não poderia trazê-lo ao
mundo com vida.
-Helena - ele beijou sua mão e sentou-se
ao seu lado. – Sinto não estar ao seu lado. Não
tem ideia do que sinto por causa disso!
-Era para ser assim, Rony. Eu precisava
viver isso. – acalmou-o, num profundo suspiro,
secando as lágrimas – Nosso bebezinho é lindo. E
está bem. Você viu como ele é bonitinho?
-Sim, eu vi – ele acariciou seu rosto, pois
ela estava quase adormecida.
Seus carinhos a fizeram adormecer pouco
depois. Estava tão exausta, tão fraca.
Rony não conseguia desgrudar os olhos
de seu rosto adormecido. Mal podia acreditar que
ela estava ali, ao seu lado. Que o filho dos dois
estava vivo e seguro.
Era pai. Vinha se preparando durante
todos aqueles meses de espera, de gestação, mas
nada o preparara para a emoção de ver aquele
pedacinho de gente nos braços de Helena.
Jamais em sua vida esqueceria essa
emoção.
Assim como jamais se esqueceria do
medo de perdê-los. Da vergonhada de não ter
conseguido fazer nada para trazê-los de volta.
Uma parte racional lhe dizia que fizera mais que o
bastante, mas contra o destino ele não podia fazer
nada.
Se por um lado sabia disso, por outro
ignorava essas mesmas razões, e se culpava por
todas as horas de dor e sofrimento que ela passou.
Agoniado, pela primeira vez em sua vida,
Rony chorou de felicidade e alívio.
Quando era bem pequeno, lhe disseram
que um homem não deve chorar. Ele acreditou.
Até chegar ao internato, e numa noite de tristeza,
sem sua mãe, e sem amparo de ninguém, havia
chorado de saudade e tristeza, e descoberto que
um homem pode sim chorar.
E hoje, descobria que um homem podia
chorar de tamanha felicidade, que poderia até
mesmo sair aos gritos. Era pai. E seu filho dormia
calmamente em seu bercinho , depois de passar
pelo inferno ao lado da mãe.
Sua corajosa Helena.
Tão pequena quanto uma fadinha, e tão
grande quando o mais corajoso dos homens. Tão
forte. Tão inexoravelmente forte.
Contudo, a parte de sua emoção, havia a
possibilidade de Wood se safar. Esse pensamento
foi a única coisa que poderia afastá-lo do quarto
onde sua família descansava.
Deixando-os, com a certeza que estavam
bem, saiu do quarto, e encontrou sua mãe, Juanita
e Alice aos cochichos na cozinha.
-Meu filho! – Sandra interceptou - Onde
pensa que vai?
-Wood não pode escapar! Vou apanhar
um cavalo e vou atrás dele antes que seja tarde!
-Suarez e seus homens já fizeram isso.
Você precisa ficar com Helena – ela aconselhou.
-O que sua mãe quer dizer – Juanita
decidiu ser mais direta – é que a placenta não
desceu, e enquanto isso não acontecer, Helena
pode piorar.
-Não, ela está bem. O risco passou – ele
se recusou a acreditar.
-É melhor que esteja aqui caso o pior
aconteça – Juanita não tinha tempo para
convencê-los dos riscos – Fiz um chá que deve ser
o bastante para induzir as cólicas. Com sorte,
nada de ruim vai acontecer. Mas é certo que ela
não vai escapar de uma febre depois de toda essa
chuva que tomou. E esta fraca demais para ter
febre.
Rony ouviu-a, incrédulo
-Pena Aporah e o marido terem ido
embora enquanto estavam em Londres! Ela
saberia o que fazer!
-Preciso buscar o médico – ele decidiu,
tentando não aparentar o desespero que sentia.
-John foi atrás dele – Alice abraçou-o
com todo seu carinho de irmã, enquanto lutava
contra as lágrimas – Apenas fique ao lado de
Helena, irmão.
Contendo a emoção e o medo ele voltou
para o quarto. Juanita estava acordando-a, o que
era um pecado.
-Beba isso, querida – ela dizia com tom
adocicado – Beba, para que fique boa.
Helena bebeu o chá e voltou a dormir
logo depois. Alice se aproximou do berço e olhou
para o bebê. Anna fez o mesmo.
-Como é lindo o meu sobrinho! – ela
exclamou chorando.
-É tão parecido com seu irmão! – Sandra
mal se continha de orgulho! – Mal posso esperar
que seu pai veja esse menino!
Rony queria que elas saíssem dali.
Queria ficar ao lado de Helena e ter certeza que ela
ficaria bem.
-É melhor sairmos – acabou dizendo
Sandra ao notar sua expressão. – Tudo ficará bem,
meu filho, basta ter esperança.
Ele tinha esperança.
Mas o medo era quase maior que a
esperança.

Helena havia acordado três vezes durante


o dia para amamentar. Na quarta vez que
despertou, notou que estava sozinha no quarto.
Era bom ter um momento para si mesma, depois
de tanta confusão.
Estivera tão cansada. Agora, depois do
descanso das últimas horas, sentia-se renovada.
Impaciente, olhou para o berço, e notou a ausência
do bebê.
Pelas vozes na casa, podia supor que seu
neném estava sendo apresentado ao resto da
família.
Tranquila, ela sentiu uma desconfortável
pontada sob o ventre. Era de esperar que fosse
sentir dores depois do parto.
Por isso quando Juanita entrou no quarto
e perguntou se estava tudo bem e ela contou da
dor, as duas concluíram que eram cólicas
produzidas para expulsar a placenta.
Juanita pareceu tão aliviada com isso,
que Helena concordou apenas para acalmá-la.
-E Duran? Alguma notícia dele? –
perguntou enquanto servia-se de um prato de
sopa.
-Um dos homens de Suarez nos avisou
que foi encontrado. Mas ainda não chegou. Parece
que o machucaram. – ela suspirou – Adolph
chegou a tempo. Não é irônico? O pai salvando a
vida do filho?
-Não, não é. É poético. – ela redefiniu.
-A maternidade a fez engraçadinha –
Juanita disse sorrindo, com os olhos cheios de
lágrimas – que susto nos deu, menina. Que susto.
Ela não respondeu nada, continuou a
comer, sentindo uma fome abusiva.
-Beba um copo de leite – Juanita ofereceu
quando terminou – Vai ajudar no seu leite.
-Hum-hum... – ela obedeceu, sentindo o
desconforto de uma dor mais forte – Tem certeza
que é assim mesmo? Dói como uma contração.
-É assim mesmo, agora descanse mais
um pouco.
-E o bebê? Não posso vê-lo um pouco?
-Seus cunhados estão todos lá na sala,
tentando escolher um nome apropriado para o seu
menino – ela piscou – Deve saber como esses
homens ficam quando se juntam.
Helena ouviu essas palavras e ficou
pensativa.
-Diga para Rony trazer meu filho de
volta. Ele já tem nome.
-É mesmo? – Juanita sorriu para ela,
curiosa.
-Sim! Fui eu quem o carregou por nove
meses, então, sou eu quem vai escolher o nome!
-Muito justo. Só não brigue com seu
marido, ele passou pelo inferno nesses últimos
dois dias enquanto a procuravam. – Juanita
recomendou, tirando os pratos e se aproximando
dela – Helena, nossos corações ficaram
pequeninos de preocupação...
-Juanita, não diga isso!
As duas trocaram um abraço e Helena
precisou se afastar, reclamando da dor.
-Aposto que não foi tão manhosa na noite
passada – Juanita brincou.
-Só porque não havia ninguém para ouvir
minhas reclamações – ela acariciou a barriga que
agora não tinha mais nada dentro.
-Vou buscar seu filho. Mas fique avisada,
é difícil alguém abrir mão daquela coisinha
dengosa.
Helena ainda ria, quando ela saiu e a
deixou sozinha.
A dor tinha aumentado quando Rony
surgiu carregando o bebe.
Era uma visão incrível. Rony, com
expressão encantada, trazendo nos braços um
bebezinho cheiroso e acordado, choramingando.
Rony olhou para ela com expressão de
profundo amor, e Helena sentiu isso. Sempre
estivera entre os dois, esse olhar, sempre estivera
entre eles, mas agora, ela podia ver. Sem dúvidas,
sem receios.
-Meus irmãos estão apaixonados pelo
novo Parker – ele contou, entregando o bebê a ela.
-Johnson-Parker – lembrou-o, enquanto
fazia um carinho no bebê.
-Escolhemos um nome – ele contou –
Meus irmãos e eu. – corou um pouco diante do
seu olhar.
-Acontece que eu também escolhi um
nome – revelou, notando a forma dele parecer ficar
em dúvida.
Como era gracioso seu marido, pensou
apaixonada.
-É o primeiro neto homem. Nada mais
justo que carregar o nome do meu pai. Artur – ele
explicou como quem pede desculpas.
-Acontece que pensei o mesmo. Nada
mais justo que levar o nome do meu pai. Edgar.
-Mas, Helena... O Conde entende que...
-O que? - ela cortou-o – Que é seu filho e
você quem escolhe? Preciso lembrá-lo das horas
de dor e sofrimento que passei para trazê-lo ao
mundo? Será que não tenho direito de escolher o
nome do meu próprio filho?
Notando que ela não estava propriamente
irritada, achou que podia barganhar.
-Porque não decidimos isso mais tarde?
Quando estiver descansada?
Helena lutou contra a vontade de revirar
os olhos e jogar na cara dele que não se deixaria
enganar por sua voz mansa. No entanto, não
queria discutir.
-Mais tarde, então.
Era maravilhoso ter seu filho nos braços,
ela pensou. Aquela coisinha gostosa, e cheirando
a talco, que se movia em seus braços, pedindo
atenção. Era um menino cheio de vontades.
-Estava chorando na sala, acho que sentia
falta da mamãe – ele contou, olhando para os dois
com muito amor na face.
-E a mamãe sentiu falta dele – ela
confessou, acariciando o menino e decorando cada
traço. – Como pode ser tão parecido com você, e
não me lembrar em nada? – reclamou.
-Deve ser um complô para fazê-la se
apaixonar por mim – ele respondeu.
Helena estava prestes a dizer que não era
necessário nenhum plano mirabolante, pois já
estava perdidamente apaixonada, quando o bebe
começou a chorar.
Os dois riram, desse som tão novo e
maravilhoso e Helena pediu sua ajuda, deixando
de lado as declaração de amor que precisava tanto
fazer, em nome de dar atenção ao filho.
-Segure-o um momento – pediu.
A dor havia voltado mais forte e ela
precisou esperar passar. Explicou a razão da dor e
ele pareceu se acalmar um pouco. Segurava o bebê
com as mãos enormes, tão masculino e ao mesmo
tempo vulnerável diante do filho.
Passada a dor, ela abriu a camisola e
recebeu o filho no colo outra vez.
-Estou tão feliz – ela confessou, enquanto
observava-o mamar calmamente. Aqueles olhos
azuis tão suaves, tão doces. Tão parecidos com
Rony – Uma vez eu pensei que teria um filho seu,
e seria assim, parecido com você.
-E quando foi que pensou isso? – ela
instigou, surpreso pela revelação.
-Na manhã seguinte, da vez que
consumamos o casamento – confessou sem afastar
os olhos do filho.
-Mesmo quando dizia que não queria um
filho meu? – provocou.
-Eu disse muitas coisas que não diria
novamente – explicou calmamente – Assim como
você disse muitas coisas, que não repetiria agora –
ela tinha os olhos brilhantes, e quase riu de sua
indignação.
-Nunca disse nada que pudesse ofendê-
la!
-Não? Não me chamou de louca,
megera...? – deu de ombros.
-Posso ter feito isso, mas também a
chamei de outras coisas, de minha fada, meu
amor...
Ela riu baixinho acariciando o rostinho
do bebê, pensativa.
Muito pensativa.
-Juanita acha que as dores são por causa
da placenta – começou a dizer.
-E você acha que tem outra razão? – ele
sentiu o frio do medo percorrê-lo da cabeça aos
pés.
-Minha barriga não murchou, na verdade,
está como antes. E a dor que sinto é a mesma de
antes, quando estava em trabalho de parto.
-Helena, o bebê nasceu. – ele tentou
entender. – O que está acontecendo?
-Se eu soubesse não estaria tão confusa –
respondeu sorrindo. – Juanita acha que eu irei
finalmente me livrar na placenta, e estou torcendo
para acontecer logo.
Quando o bebê terminou de mamar,
Rony o segurou, sem a insegurança de antes,
quando o fizera a primeira vez.
-Ele gosta de mim - Ele não pode evitar
dizer.
-Ele não tem escolha. É o pai que Deus
lhe deu – desaforou, se ajeitando na cama, e
suspirando pelo prazer de poder descansar.
Rony esperou que adormecesse para se
aproximar. Com cuidado, para não machucar o
bebê, se inclinou e beijou os lábios de Helena. Um
carinho, apenas isso.
Capítulo 144 - Minhas razões de viver

Anoitecia quando Helena perdeu a


paciência. Ela esperou Alice colocar o sobrinho no
berço e exigiu:
-Se não for comunicada do que
aconteceu, juro que me levanto e vou sozinha
perguntar a Adolph o que se passou!
Alice não duvidava que fizesse isso.
-Não lhe basta saber que Anna está
cuidando de Duran, que ele está bem, que Wood
morreu e que aquela mulher asquerosa, junto a
Alexia foi levada para a cidade, para serem
entregues as autoridades? O Conde está cuidando
disso pessoalmente!
-Por isso ele não veio me ver ainda? –
perguntou curiosa.
-Ele esteve aqui, mas estava dormindo.
Foi bem cedo. Viu o neto, e precisou ir. Elly foi
com ele. Tem... Tem uma situação acontecendo na
cidade, Helena. Assuntos a serem resolvidos.
-Que tipo de assuntos? Alice!
Para a sorte de Alice, Rony entrou no
quarto e a livrou de responder.
-Ronald! O que está acontecendo pelas
minhas costas? Por que Alice saiu correndo e não
quis me contar?
-Um dia antes do seu sequestro, Mathias
fugiu para se casar. Ficamos sabendo no meio de
toda a procura por você – começou a explicar, se
aproximando dela e sentando na beirada da cama,
para olhar para ela e ter a possibilidade de tocá-la.
-Não me diga isso! Meu irmão se casou
com aquela mulher! – o desgosto poderia
consumi-la. Que tristeza!
-Não – ele sorriu para acalmá-la – ele
roubou a Srta. Lilly e os dois se casaram em
segredo.
-Eu não acredito! – a tristeza
imediatamente deu lugar à felicidade – é por isso
que ele não está aqui?
-Bem, ajudou nas buscas, mas agora, está
tendo que se resolver com Demetrius. Eles
achavam que o juiz não iria aceitar o casamento
dos dois, porque ele não tem o mesmo nível social
da sobrinha de um juiz.
-Quanta confusão!
-Sim, quanta confusão – ele concordou,
querendo lhe pedir algo.
-O que foi? – ela estranhou seu jeito. –
Tem algo que eu deva saber?
Rony tirou um pedaço de papel dobrado
do bolso da calça e desdobrou.
-O Conde me entregou. É anulação do
nosso casamento.
Helena apanhou o papel e riu diante das
palavras.
-Anulação porque o casamento não foi
consumado? – ela seguiu rindo.
-Precisava alegar algo, e não havia tempo
para pensar em algo melhor. O fato é que tem
valor. Podemos recorrer e tentar desfazer, mas
para isso o nome do juiz Demetrius seria posto em
xeque. Ele nos ajudou muito até agora, não seria
justo.
-Tem razão, não seria justo - ela dobrou o
papel - Isso é meu não é?
-Sim, é seu. – sua real vontade era
arrancar aquele papel de suas mãos e rasgar em
mil pedacinhos.
Não adiantaria de nada, pois havia um
original no fórum.
Para seu desespero, ela dobrou o papel
com redobrada atenção e colocou na mesinha ao
lado da cama. Não teceu comentários, e ele ficou
numa situação ainda mais difícil.
Se ela dissesse algo, ficaria mais fácil
abordar o assunto.
-Helena, temos que nos casar de novo, é o
único modo de corrigir esse problema.
-Está me pedindo em casamento? - ela
perguntou de um jeito estranho, mas ele não
notou.
Estava nervoso com essa pergunta.
-Bem, estamos juntos há quase um ano.
Sim, vai fazer um ano, e temos uma casa juntos,
um negócio próspero aqui na fazenda, e temos um
filho. É lógico que devemos nos casar outra vez!
“Sim, muito lógico”. Tão lógico quanto à
necessidade de comer e dormir. Uma vez ele a
pedira em casamento por causa da fazenda, e
agora o fazia por causa da fazenda, do costume de
conviverem e do filho que tinham juntos.
Será que nunca a pediria em casamento
por ela mesma?
-Não vai responder nada? – ele perguntou
rude, nervoso.
-Agora não. Estou cansada. Ainda não
descansei o bastante. – dispensou-o, decidida a
deixá-lo na dúvida enquanto não lhe fizesse um
pedido de casamento como merecia!
-Certo, será como você quiser – ele disse
ofendido e magoado – Alice virá lhe fazer
companhia e vai dormir aqui essa noite...
-Por quê? – ela perguntou antes que
pudesse conter a própria língua dentro da boca.
-Porque posso atrapalhar seu descanso –
ele disse humilde.
-Duvido. Alice vai passar a noite toda me
obrigando a contar do parto – ela achou uma
desculpa para sua recusa – Não pode ficar e me
ajudar? É a minha primeira noite com o bebê.
Rony pensou em lembrá-la que havia
tantas mulheres naquela casa, que seria
impossível ficar sozinha, mas não disse. Querer
sua presença já era um começo.
-Vou jantar com meus irmãos. Eles
querem comemorar – ele se inclinou e beijou sua
testa, frustrando-a, pois queria um beijo de
verdade.
-Diga a eles, que aprecio a consideração
– ela respondeu num tom falsamente submisso.
-Eu direi – ele respondeu no mesmo tom,
dando um último olhar para o berço e deixando-a
sozinha para descansar.
Sozinha, ela apanhou aquela anulação
novamente e leu e releu diversas vezes.
Quanta tolice. Como se precisasse de um
documento para lhe dizer se era ou não casada
com Rony!
Aproveitando que não havia ninguém no
quarto pra repreendê-la, e que não sentia quase
dor, levantou-se da cama, e andou até o bercinho .
Seus pés eram outra história.
A pele ardia a cada passo. Juanita havia
feito um balsamo e aplicado sobre a pele ferida,
enfaixando-os.
-Que coisinha gostosa é esse meu bebê –
ela segurou-o no colo e voltou para a cama,
sentando-se. Colocou-o sobre a cama, e afastou a
manta que o mantinha acolhido. – A mamãe quer
te ver todinho. Não pude nem contar seus
dedinhos!
Sabia que o som da sua voz o deixava
agitado, e aqueles olhinhos azuis a
acompanhavam como se pudesse reconhecê-la e
saber que era sua mamãe.
Com mãos suaves, ela tirou as roupinhas
e olhou o corpinho frágil do bebê. Era seu filho e
era perfeito. Seria um menino alto e forte. Tinha
braços compridos para um bebê. Mas o que ela
entedia de bebês? Nada!
Acariciou o corpinho do seu filho,
tocando-o e esperando que ele reconhecesse o seu
toque, que no futuro soubesse que aquele toque
gentil e apaixonado apenas sua mamãe teria para
lhe dar.
Ninguém o amaria desse modo. Ela se
inclinou e beijou aquele peito cheirando a talco.
-Achei que não ia conseguir – ela disse
para o bebê. – mas nós dois vencemos e estamos
aqui. – tirou-o da cama e o colocou contra o peito,
como fizera durante aquelas terríveis horas
andando na chuva, com ele contra seu corpo. –
Sempre vou te proteger. Sempre vou fazer tudo
para que esteja feliz e saudável. Está me ouvindo,
bebê? – um choramingo, que mais lembrava um
risada a fez rir – Sim, é a mamãe. Aquela que
você chutava sem parar...
Continuou dizendo besteiras, até ser
apanhada em flagrante por Sandra, que a
repreendeu por ter saído da cama, vestiu o neto e
levou-o de volta para o berço;
Mediu sua temperatura, feliz por não ter
febre, e a colocou embaixo das cobertas.
Rony deitou-se ao seu lado cuidadoso
para não acordá-la. O bebê dormia calmamente no
berço, e Helena dormia profundamente virada para
a parede do quarto.
Ele despiu as roupas e entrou na cama,
cuidadoso. Havia fantasiado muitas vezes como
seria essa primeira noite com o bebê em casa. Mas
nenhuma envolvia tanto alívio e felicidade.
Com medo de machucá-la, ficou imóvel
ao seu lado por várias horas ouvindo o som da sua
respiração. No meio da noite, o bebê chorou e ela
acordou para amamentar.
Parecia tão natural para ela acordar de
madrugada e amamentar, que ele se obrigou a
permanecer acordado para ajudá-la quando
terminasse.
Cumprida sua tarefa de mãe, ela se
acomodou e adormeceu antes que ele voltasse para
a cama. Coisas do universo feminino. Ele jamais
entenderia.
Para Rony a noite foi passada
completamente em claro, prestando atenção no
menor ruído que sua família fizesse.
Nas primeiras horas da manhã ele
acordou com Helena chamando-o.

Helena conseguiu dormir por algumas


horas. Depois de amamentar, o sono a abandonou
completamente. A dor havia aumentado, e ela
esperava algum sinal de que a placenta sairia.
Nada.
Para compensar sua espera, a dor foi se
tornando insuportável. Quando teve certeza que
Juanita estava errada, também teve certeza que ela
mesma estava certa.
-Rony... – ela o acordou, sacudindo-o
com força.
-O que foi? – perguntou confuso pelo
sono.
-Juanita, eu preciso de Juanita – ela disse
contendo um grito de dor.
-Helena, você está bem? - ele pulou na
cama, quando ela se sentou na cama, agarrada a
barriga, gemendo de dor, numa careta horrível de
dor intensa.
-Não! Chame Juanita! Oh, meu Deus... –
ela sentia as dores vindas cada vez mais rápidas, e
como ele não se mexia, ela gritou – Não vou
passar por isso sozinha de novo! Chame Juanita
agora!
Sem alternativa diante do seu grito e
impaciência, ele saiu do quarto, sem se preocupar
em fechar a porta.
Para total desespero de Helena, o bebê se
assustou com seu grito e começou a chorar. Ela
queria levantar e acudi-lo, mas havia algo muito
estranho acontecendo ali.
Chorando de dor, como não fizera na
noite passada, pois agora era mais intenso e mais
latente, ela avistou a sogra entrando no quarto
com expressão surpresa.
-Helena, o que está acontecendo? - ela
tentou acudi-la, mas Helena se afastou – Está
sentindo dor?
-Ele não para de chorar – ela disse como
se isso quisesse dizer algo realmente.
Sandra apanhou o neto do berço e levou-o
para o corredor. Helena respirou aliviada. Que
droga de chá era aquele que Juanita lhe dera?
Rony voltou dez minutos depois, com Juanita
descabelada e meio vestida. Atrás dela um de seus
meninos, que acordara assustado e seguira a mãe
sem que ninguém notasse.
-Leve o menino para a sala! – ela mandou
Rony, olhando para Helena e sua expressão de
dor.
Rony fez o que pediu e deixou Ruanzito
na sala, antes de correr de volta para o quarto.
Juanita subia a camisola de Helena e ela parecia
bem ansiosa para que ela fizesse isso.
-Está saindo! – ela disse esbaforida e
assustada.
-Não pode ser... – Juanita olhava sem
entender.
-Oh, Deus! Não! Isso de novo não! –
Helena gritou, Juanita tocava a região e ele não
via os detalhes, mas parecia ser muito doloroso.
-Não acredito nisso... – Juanita repetiu,
parando por um momento para assimilar o que
via. Ao chegar a uma conclusão, saiu do torpor e
cobriu suas pernas com um lençol dizendo –
Aguente um pouquinho, vamos fazer direito dessa
vez.
Helena concordou, e ele saiu do caminho
para Juanita passar.
-O que esta havendo? Helena, pelo amor
de Deus, o que esta acontecendo? - ele correu até a
cama, e tentou segurar sua mão.
Nervosa, ela aceitou seu toque e lançou-
lhe um olhar estranho.
-Está acontecendo de novo – disse
hesitante, em meio a uma onda de dor.
-O que está acontecendo de novo? – ele
perguntou, afastando os cabelos de seu rosto.
Num intervalo da dor, ela acariciou sua
mão de volta, adorando o modo displicente dele.
Usando apenas a calça, era uma imagem
deliciosa. Se ela não estivesse sendo rasgada pela
dor, claro.
-Por que tem que doer tanto assim? – ela
se lastimou, quando a contração voltou – Onde
está Juanita? – seu grito de dor o alertou que algo
estava muito errado.
-Helena, meu amor, me diz o que está
acontecendo? Por favor, não me assuste assim!
Juanita voltou naquela hora com toalhas
e uma bacia de água. Quando Rony viu a adaga
que seu pai havia feito, franziu as sobrancelhas.
-O que está acontecendo aqui? – exigiu
saber, furioso por não obter respostas.
-Isso, querida, abra mais as pernas. – ela
mandou sondando novamente. Ignorou-o e quando
olhou para Rony disse em voz seca – Segure a
mão de Helena, ela vai precisar.
Rony fez isso, e notou o modo como
Helena segurou-o, precisando desse carinho.
-Prefere ficar deitada, ou sentar? –
Juanita perguntou, com cautela.
-Sentada, eu fiz o outro sentada. – ela
respondeu.
Rony ajudou-a se recostar contra os
travesseiros ainda sem entender o que acontecia.
Depois de uma dor profunda ela virou para ele e
sorriu.
-Outro bebê, Rony, você fez isso comigo.
Outro bebê.
As palavras não faziam sentido.
-Ronald! – ela chamou com uma sombra
de sorriso no rosto.
-Não podem ser dois... – ele olhou para
Juanita que apenas maneou a cabeça – Isso é
maravilhoso!
-Diga por você - ela resmungou quando a
dor veio tão forte quanto se caísse um raio em sua
cabeça. – Deus do céu!
Helena se esqueceu do outro parto. Era
tudo muito diferente. Estava em uma cama, estava
segura. Rony segurava sua mão. Juanita se
preocupava com o bebê e sua única participação
era fazer força.
Tanta força que pensou que fosse morrer,
ao desabar contra os travesseiros depois de um
empurrão muito forte.
Depois de alguns minutos, Helena tinha a
sensação de estar completamente dormente da
cintura para baixo. Não sentia dor, não sentia
nada. A sensação de estiramento havia passado, e
por isso mesmo ela se desesperou. Suas forças a
tinham abandonado e ela não conseguiu fazer
força quando Juanita mandou.
A contração passou e ela a perdeu.
-Helena! Helena, faça agora!
Ela ouvia Juanita gritando, mas não
conseguia fazer nada. Seu corpo não conseguia
acompanhar outro parto. Não mesmo.
Ela ouviu de longe, como num eco,
Juanita falar alguma coisa, e então o braço forte de
Rony estava atrás dela, seu peito dando apoio a
suas costas. Quis recostar a cabeça ali e desmaiar,
e livrar-se da dor das contrações, mas não pode.
Quando esta veio, seu corpo se retesou e
ela sentiu que era empurrada para frente. Fez força
sem querer, e as palavras, o som das palavras de
incentivo de Rony em seu ouvido a fizeram
recuperar parte da lucidez, mesmo que não
pudesse entender tudo que dizia. Pobre Rony,
parecia mais desesperado do que ela...
Sua insensibilidade a dor desapareceu
quando ela sentiu os ombros do bebê passarem, e
com certeza a dor do outro nascimento não era
nada comparada a essa dor. Esbravejou, e sabia
que seu grito teria acordado toda a casa, se já não
estivessem todos de pé. Juanita falou alguma
coisa e Helena empurrou de novo, sabendo que só
mantinha a pressão, porque Rony a impedia de
relaxar. Os próximos momentos passaram em
branco para ela, seus gritos explodindo em seus
próprios ouvidos, o suor corria em sua testa, seu
corpo todo tremia pelo esforço. E quando
finalmente Juanita pode puxar o bebê, ela caiu
para trás, direto para os braços de Rony. Juanita
cortou o cordão umbilical com a adaga de marfim,
mas ela não viu isso. Seus olhos nublados pela dor
e a exaustão viram apenas a criança arroxeada que
ela erguia pelos pés. Um sonoro tapa em seu
bumbum a indignou, mas então o choro irrompeu
pelo quarto e ela quase sorriu.
Sua cabeça tombou no ombro de Rony e
ele acariciou seu rosto, antes de colocá-la deitada
na cama. Ela queria reclamar, estava tão bom ficar
em seus braços.
Juanita colocou o recém nascido sobre o
seu peito e ela tentou olhar para ele, mas não
conseguiu. Seus olhos se fecharam contra a sua
vontade, e ela sentiu que escorria de seu corpo
muito sangue, e não parava. Quis falar sobre isso,
quis segurar a criança que precisava do seu toque
e amparo nesse primeiro momento de vida, nessa
vida tão estranha da que ele conhecia, mas suas
mãos não a obedeceram. Seus olhos se fecharam e
ela apagou.
Capítulo 145 - Depois da tempestade

Toda a alegria de ser pai havia


desaparecido ao ver Helena desmaiar.
Juanita havia retirado o bebê de sobre seu
corpo desfalecido, e se apressara a cuidar da
criança, enquanto Rony tentava despertá-la.
Juanita enrolou o bebê em uma manta e
saiu do quarto, chamando por Sandra. Alice
entrou junto com elas, e passou a cuidar do bebê,
enquanto as duas mulheres mais experientes
tratavam de Helena.
-Eu não vou sair! – Rony brigou, e não
saiu quando tentaram tirá-lo de seu lugar ao lado
de sua mulher.
-Alguém precisa cuidar do bebê que está
na sala, com Anna – Sandra tinha a voz feita em
aço, lembrando-o das suas obrigações.
Sem nervos para aguentar, ele deixou sua
mulher e seu filho nas mãos de sua mãe. Na sala,
Anna mimava o bebê e o fazia dormir novamente,
depois de ter acordado tão assustado. Rony achou
melhor não tentar segurá-lo naquele momento.
Completamente sem chão, andou pela
sala durante a hora seguinte, pedindo a Deus que
não lhe tirasse Helena. Que não fizesse isso com
ele.
Era grato pela saúde do filho, e também
pela surpresa de ser agraciado com mais uma
filho, porém não podia suportar a ideia de perder
Helena.
Finalmente a agonia venceu, e ele
ignorou o pedido de Anna para que se acalmasse e
correu para o quarto. Pretendia arrombar a porta
se fosse preciso, quando a porta se abriu e Juanita
passou por ele, levando com ela uma trouxa de
roupas sujas, ensanguentadas.
Atrás dela, Alice correu com a bacia onde
havia restos de carne humana, era uma imagem
horrível.
-Não fique impressionado – a voz de
Sandra o fez voltar a realidade – Todo parto é
assim.
-Como ela está? – ele passou por Sandra,
tentado ignorar o fato dela não querer que ele
entrasse. Seu roliço corpo porém, não deu conta de
impedir a passagem de um homem tão alto e forte.
-Está dormindo. – ela tentou acalmá-lo.
-Está desmaiada, é isso? – ele sentou na
beira da cama e segurou a mão gelada de Helena,
beijando os dedos, esperando que ela talvez,
acordasse.
-Não. Ela desmaiou após o parto. Não é
incomum. Acordou, e dormiu. Está cansada. Dois
partos em tão pouco tempo não é para qualquer
mulher! Por isso, deixe-a descansar, Rony!
-Eu quero ficar com ela, mãe – ele sentiu-
se com cinco anos de idade, próximo as lágrimas,
pelo medo de perder algo muito valioso, sem ter
como expressar esse sentimento.
-Sim, é claro que quer – ela acariciou seu
rosto e o fez soltar a mão de Helena – Deixe-a
descansar e se recuperar. Algumas horas de sono,
e Helena estará bem.
Rony levantou os olhos, pregados na face
pálida de Helena.
Um cobertor a cobria e sua respiração era
suave e lenta, calma.
-Rony – Sandra segurou seu rosto para
que olhasse para ela – Precisa estar lúcido, Rony.
O parto foi rápido, se Helena não estivesse tão
cansada e não houvesse passado por tantos
momentos difíceis, teria sido um parto tranquilo.
A placenta saiu naturalmente, o bebê nasceu bem.
Perdeu pouco sangue. Se a deixarmos descansar
agora, ela vai se recuperar. E você, precisa acudir
seu filho. Ele precisa saber que é bem vindo.
Rony concordou, olhando para o berço.
-É igual ao outro – ele disse olhando para
o bebê que estava dentro do berço.
-Sim, é gêmeo. Quanta emoção, querido.
Quando seus irmãos nasceram, de uma vez só,
mal pude notar a diferença entre eles. Mas com os
dias, descobri que não poderiam ser mais
diferentes. Acontecerá o mesmo com vocês!
Rony não conseguia afastar a
preocupação da mente, mas se esforçou. Sua
expressão se suavizou, enquanto olhava para a
criança. Não esperava por essa surpresa.
O menino dormia calmamente. Era
idêntico ao primeiro bebê. Helena o acusaria para
o resto da vida de ter armado isso contra ela. Não
bastava um filho para marcá-la como sua! Diria
que dois era uma praga que ele lhe rogara.
Sorriu diante desse pensamento e tocou
uma das mãozinhas diminutas do bebê que
entreabriu os olhinhos, acordando de seu cochilo.
-A mamãe vai brigar com nós dois,
pequeno. Vai dizer que estamos contra ela. Vá se
preparando. – o bebê choramingou e Rony o
pegou do berço, olhando para ele com adoração.
-Leve-o para a sala, Helena precisa
dormir em paz por algumas horas.
Rony obedeceu sua mãe, por não ter outra
escolha. Com um último olhar de sofrimento por
deixá-la, ele saiu do quarto.
Na sala, Alice estava paparicando o
sobrinho quando Rony surgiu com o outro gêmeo.
-Oh meu Deus, que coisa mais lindinha...
– ela veio imediatamente ver o bebê – São
iguaizinhos! Rony, são tão iguaizinhos!
Os olhos de sua irmã brilhavam
emocionados e ele deixou-a pegar o bebê no colo.
-Helena é mãe, Rony. É difícil acreditar,
mas minha melhor amiga é mãe de dois
bebezinhos. – seu sorriso era genuíno, e havia algo
de maternal nela. – Eu não sei se aguentaria
passar por tudo isso.
-Não terá escolha, quando seu filho
nascer, passara pelo mesmo, Alice.
-É diferente. Helena passou tanto medo, e
ainda assim teve força para cuidar de si mesma e
do filho, e ainda teve forças para trazer mais esse
menino ao mundo. É muita coragem.
-E muito azar – Juanita disse entrando na
sala, com uma xícara de café fumegante.
Rony não recusou, bebeu um longo gole.
Cansada, Juanita sentou-se pesadamente
no sofá.
-Ninguém pode dizer que Helena não nos
deu trabalho. – ela sorriu. – Pobrezinha, tudo em
sua vida é sempre tão difícil.
-Ao menos ela está bem, e os bebês estão
saudáveis. Não é? – Alice perguntou nervosa com
esse pensamento.
Anna que ouvia tudo quieta se
aproximou. Rony pediu para carregar o outro bebê
e ela entregou, pedindo desculpas, mas queria ver
Duran.
Com o primogênito nos braços, Rony
sorriu:
-Helena vai me culpar por isso para
sempre.
-Para quem não queria nenhum filho –
Juanita sorriu – Helena terá muito trabalho com
esses dois. Meninos são tão levados – ela disse
pensativa.
-Acho que é sina dos Parkers terem filhos
homens – Sandra surgiu do quarto, com um
sorriso no rosto. – Andei sonhando com uma
netinha, mas parece que terei que me conformar.
-Não diga isso, mamãe. Eles são tão
graciosos! – Alice beijou o sobrinho que acordava,
chorando.
-Está com fome – Juanita lamentou –
Vamos ter que acordá-la.
As três mulheres se uniram na tarefa de
impedi-lo de entrar no quarto e fazê-la gastar
ainda mais energia do que o referente a
amamentar.
Esgotado, Rony permaneceu na sala,
sentado no sofá, com a cabeça entre as mãos.
Estava esgotado, mas sua mente estava
funcionando incansavelmente.
Se fechasse os olhos poderia ouvir a voz
de Alexia gritando que Helena morreria no parto.
Nada conseguia afastar esse medo.
Eram quase oito horas da manhã, quando
John regressou da cidade. Ele trazia o médico,
praticamente pelo braço.
A expressão de Rony era tão desesperada
que John imediatamente temeu pelo pior.
-Ela está no quarto – Rony saltou do sofá,
assustando o médico – O primeiro bebê nasceu
ontem à noite. O outro, há poucas horas.
Como nem o médico, nem John,
pareciam saber do que falava, ele explicou:
-São gêmeos.
-Gêmeos? – John levou um susto.
Por um segundo Rony se perguntou
porque, até dedicar sua atenção ao médico.
John pensava nessa possibilidade. Alice
tinha um caso de gêmeos na família, seus irmãos,
e agora se repetia, e a genética era assim mesmo.
O que induzia a acreditar que havia a
possibilidade de terem gêmeos também!
-Preciso vê-la, e ver as crianças também
– o médico cortou a fala nervosa do pai de
primeira viagem, curioso para saber mais.
Rony entrou com ele no quarto, mas não
o deixaram ficar por muito tempo. Se Sandra
Parker não estivesse ali, ele não confiaria de
deixar sua família nas mãos de um estranho, fosse
médico ou não.
-Rony, eu preciso parabenizá-lo – John
tinha um belo sorriso no rosto, mas Rony
impediu-o.
-Não vai haver comemoração enquanto
Helena não melhorar.
-Tem razão – John não pode tirar-lhe a
razão. - O Conde deve estar chegando a qualquer
momento. Ele saiu pouco depois de nós dois.
Deve saber que o médico não pode vir antes por
uma razão bastante significativa.
-Não sei se aguento outra surpresa - Rony
avisou, caindo no sofá exausto. Tudo em que
podia pensar era em Helena.
-Não posso dizer que seja uma surpresa.
Ou que seja desagradável - John suspirou
pesadamente – Alexia fugiu poucas horas depois
de ser colocada numa cela de cadeia.
-Não pode estar falando sério! – Rony
quis gritar de frustração.
-Escute até o fim. – John pediu, sério –
Encontraram Margarite, ela foi enforcada em sua
própria cela. Deve saber que o assistente do juiz
Simons confessou o crime. Alexia prometeu a ele
toda sua afeição e eterna dedicação se a ajudasse.
– ironizou - O rapaz foi fraco, cedeu aos seus
encantos, e isso não aconteceria se não houvesse
algo de torpe nele.
-O que aconteceu com Alexia? Não me
venha dizer que escapou!
-Não. Ela foi apanhada.
John seguiu contando a história para
Rony, que mal acreditava nas loucuras que Alexia
havia sido capaz de fazer. Uma mulher tão bonita
e tão sem caráter.
Quando pensava em Helena e então em
Alexia, descobria que além de opostos, eram sem
dúvida, as provas vivas que o céu e o inferno
existem.
Era quase meio dia, quando o médico
deixou o quarto.
Alice estava na cozinha com Anna,
preparando almoço. Além dos empregados, que
precisavam comer, havia muitas visitas.
-Como eles estão? – Rony perguntou,
tentando não parecer tão desesperado quanto se
sentia.
-As duas crianças são saudáveis. Todos
os reflexos são perfeitos. Teve sorte, Sr. Parker.
Dois filhos homens de uma vez!
Rony engoliu em seco, sem muita
condição de sentir-se orgulhoso diante do nó
apertado que havia em sua garganta.
-E Helena? – por fim conseguiu
perguntar.
-Hum... Teve um pouco de febre, mas
agora sua temperatura está normal. Foram dois
partos complicados - o homenzinho limpou a
garganta, incerto sobre as palavras a usar –
Recomendo o resguardo, e muito descanso. Não
preciso me alongar, sua adorável empregada sabe
como tratar de uma mulher nessas circunstâncias -
ele disse sorrindo para a Juanita, que parecia
prestes a deitar no chão e dormir, o cansaço
vencendo-a, assim como a todos eles.
-Ela está bem mesmo? Não vai... Morrer,
não é?
O médico sorriu diante do olhar
desesperado do jovem sua frente. Maneou a
cabeça.
-Não dessa vez. Num próximo parto,
recomendo que me chamem a tempo, e não a
deixem andar sob a chuva. Foi uma sorte não ter
apanhado uma pneumonia. Muita sorte!
-Sim, muita sorte – Rony concordou
anestesiado, sem registrar a seriedade da situação
– Sei que ficará para o almoço – ele disse, e o
médico pensou em negar, mas esse rapaz era
capaz de desmaiar aos seus pés se ele fosse
embora. – Talvez, devesse dormir aqui por alguns
dias...
-Claro - o médico concordou, em sua
expressão a certeza de que não cairia nessa uma
segunda vez.
Na primeira oportunidade, o médico
fugiria dali! Imagine, aquele casal era muito
dramático, e da última vez, quando o rapaz havia
sido baleado, praticamente ficou prisioneiro da
esposa dele!
Sorrindo para tranquilizar o rapaz,
parabenizou-o o seguiu Juanita para a cozinha.
Rony virou para John e ele novamente o
felicitou, sendo que agora ele poderia aceitar os
cumprimentos. Um abraço verdadeiro de irmãos.
-Preciso vê-la – Rony avisou antes de
voltar para o quarto, onde sua família descansava.

Helena despertou ouvindo as vozes


alteradas e o riso. Lembrou-se que estava em casa,
em segurança, e com certeza aquelas vozes altas
eram dos marmanjos Parkers, que novamente
haviam invadido sua casa.
Tudo bem, desde que ficassem bem longe
dela.
Sentindo o corpo todo pesado como se
estivesse pregada na cama, moveu a cabeça e
olhou para o lado quando não conseguiu mover
uma das mãos.
Rony estava sentado numa cadeira,
colocada ao lado da cama, e segurava sua mão.
Havia encostado a testa em sua mão e mantinha a
cabeça ali, talvez adormecido, ou talvez apenas
cansado de tanto esperar que
acordasse.
Helena ergueu a mão livre e acariciou
seus cabelos ruivos, chamando sua atenção e
surpreendendo-o.
-Oi – ela murmurou, os lábios secos.
Sentia muita sede.
-Helena – ele olhou para ela por muito
tempo, sem saber o que dizer.
Ainda estava muito pálida, a expressão
cansada e sem forças. Sonolenta.
-Porque seus irmãos não podem ir para
suas casas? - ela não aguentou, teve que reclamar.
Rony riu e beijou sua mão. Era sua
Helena, não tinha jeito!
-Estão comemorando. O orgulho é
demais para que fiquem quietos.
Helena olhou para o berço onde havia um
único bebê. Lembrou-se de ter ficado desperta e
consciente até o momento que o bebê nasceu.
Depois, não se lembrava de mais nada.
-Onde está...? – perguntou um pouco
assustada.
-O primeiro bebê está com minha mãe,
sendo paparicado na sala. Meu pai está tendo a
oportunidade de conhecer o neto.
-Então, esse é o bebê que veio depois? -
ela sussurrou, olhando para o berço com emoção.
-Temos que definir os nomes. – ele
lembrou-a – Não podem ser os bebês sem nome
para sempre.
Ela sorriu, recostando a cabeça no
travesseiro.
-O primogênito deve ter o nome do meu
pai – ele sugeriu – E o segundo, o nome do seu
pai. O que me diz?
-Porque o primogênito deve ter o nome
do seu pai? Por acaso sua família é mais
importante do que a minha? – arrumou forças para
bater de frente a esse machismo imperdoável.
-É claro que não - ele concordou apenas
para vê-la se acalmar – Não pode ficar nervosa,
Helena. Será do seu jeito. Edgar e Artur. São
bonitos nomes.
Helena sondou seu rosto para confirmar
uma certeza. Para ela, era apenas implicância, mas
para ele a ordem dos nomes fazia toda a diferença.
Um elo que o filho homem tem com seu pai. E ela
não iria querer se meter na relação entre Rony e
seu pai.
-Artur e Edgar - ela disse surpreendendo-
o – Soa mais bonito.
-Não precisa fazer isso, Helena – ele
garantiu.
-Eu quero vê-lo, Rony. – pediu cansada –
Ver Edgar, meu filho.
Ele soltou sua mão com relutância. Sentir
seu toque, seu calor. Era difícil separar-se dela,
depois de tanto medo e dúvida. Queria mais que
tudo beijá-la. Mas não ousava.
Ele tirou o menino do berço e ele
reclamou imediatamente. Era o mais agitado dos
gêmeos.
Helena se esforçou para sentar-se contra
os travesseiros e poder olhar para ele. Rony
colocou o bebê na cama, ao lado dela, para que
não se esforçasse demais.
Helena alisou os cabelos ruivos, tão
macios e suaves. Queria pegá-lo no colo, mas não
tinha forças para isso ainda. Ele se debateu,
reclamando muito e chorando por ter sido tirado
do seu sono. Ela sorriu diante desse som, diante
dessa criança. Olhou cada pedacinho dele.
-É igualzinho ao irmão – Rony disse,
apesar de ser óbvio.
-Não, não é - ela sorriu pensativa – Esse
tem uma pintinha sobre a sobrancelha – ela alisou
a testa do bebê, mostrando o detalhe mínimo. – e
ele tem pés maiores também. – riu baixinho
enquanto tentava pegá-lo nos braços.
Rony sentou-se ao seu lado e colocou o
bebê em seu colo, segurando-o junto dela, pois
não tinha estabilidade para fazer isso sozinha no
momento.
-Sabia que seu irmão levou a culpa pelos
chutes que você me dava? - ela sussurrou para o
neném que chorava mortalmente ofendido por ter
sido acordado – Agora vejo quem é agitado e
impaciente – beijou seus cabelos ralos e ruivos, e
sussurrou entre lágrimas – Quantas travessuras
vai aprontar, não é? – seus olhos estavam repletos
de lágrimas quando olhou para Rony. Ele não
estava diferente.
-Me deu os presentes mais lindos que
uma mulher pode dar a um homem, Helena. Dois
filhos. Duas joias. Nunca vou poder lhe agradecer
o bastante por ter feito isso.
-Fiz por mim mesma – ela disse
engasgada pelo choro de felicidade – Sinto falta
do outro bebê, Artur - ela engoliu o choro. - Eles
estão bem? Lembro vagamente do médico ter
estado aqui...
-Sim, vocês três estão bem – garantiu,
olhando para seus olhos molhados com adoração
– Precisa de repouso. Descansar bastante. Ser
cuidada e paparicada. E saiba que isso não lhe
faltará.
-Mesmo? – ela aninhou o bebê contra o
corpo e se aproximou mais de Rony, acariciando
seu queixo com uma das mãos antes de beijá-lo.
Rony esperava beijá-la, mas apenas
quando estivesse curada. Não queria se impor e
muito menos impor seus sentimentos a mulher
que tanto fizera por aquela família.
Correspondeu aquele beijo, que deveria
ser suave e calmo, mas que ao contrário era cheio
de amor, paixão e necessidade de mostrar que
estavam juntos e felizes, e quando ela gemeu de
prazer, ele se afastou. Beijou a ponta do seu nariz
arrebitado para dizer a ela que precisavam parar,
mas que não queria ter que parar!
-É inacreditável que tenha me feito isso –
ela disse num tom muito doce – Dois de uma vez
só? Se queria me irritar, saiba que não conseguiu!
-Dois de uma vez, para marcá-la como
minha e arruiná-la para qualquer outro homem
que venha a desejar tirá-la de mim! - ele provocou.
-Não sou sua – ela alfinetou, sem tirar os
olhos do filho que adormecia em seus braços.
Braços reforçados pelos de Rony, que a abraçava
deliciosamente. – Não sou de ninguém.
Novamente, sou solteira.
-Não por muito tempo – ele acrescentou
rapidamente, beijando seu pescoço.
Sentia-se um cretino por desejá-la,
mesmo sabendo por tudo que ela passou. Helena
tinha os cabelos para o lado, revelando seu
pescoço delicado. A camisola revelava os seios
fartos de leite e cheirava a bebês. Um cheirinho de
talco que o fazia sorrir. Sua barriga havia
murchado muito, e agora sim, parecia estar certo,
como deveria ser!
Ela olhou para ele, e sorriu maliciosa.
-Espero que meu pai tenha bons
candidatos para mim – alfinetou, com o intuito de
incomodá-lo e fazê-lo pedi-la em casamento com
mais carinho que das duas vezes anteriores.
-Teremos uma longa conversa sobre isso,
meu amor – ele disse acariciando-a no rosto,
esfregando a pele de seu próprio rosto na maciez
da face feminina.
-Ele adormeceu - ela disse encantada,
velando o sono do bebezinho em seu colo.
-Sim, e você deve fazer o mesmo. Mais
tarde, lhe traremos seu almoço. Recomendações
médicas, Helena – preferiu acrescentar para que
ela se conformasse em ficar sem o filho.
Edgar foi colocado no berço e Rony
ajudou-a a deitar na cama, e a cobriu
completamente. Pela ausência de reclamações,
suspeitou que ela estava sentindo todas as dores
do pós-parto, e estava cansada demais para
reclamar.
-Eu te amo, Helena - ele disse baixinho
quando ela estava quase adormecendo – Não vivo
sem você, pequena.
Ela adormeceu e ele saiu, deixando-a
descansar.
Capítulo 146 - Ternura

A gritaria era total. Com os tímpanos


doendo, e a paciência no finzinho, Juanita ninava
o menino que berrava.
-Porque será que eles sempre choram ao
mesmo tempo? – Anna perguntou inocentemente.
-Para me enlouquecer – respondeu
Juanita.
Ela embalava Artur de pé, enquanto
Anna segurava uma toalha nas mãos aos seu lado.
Da cama, Helena sorriu para ela, ocupada
em amamentar Edgar. Ele era sempre o primeiro
a chorar. Embora fosse o irmão mais novo por um
dia de diferença, era sempre o mais apressado.
-Sinta-se livre para arrumar uma patroa
sem filhos – ela respondeu mansamente, sempre
sorrindo.
Anna chegou a arregalar os olhos para a
sogra, apavorada com essa ideia, mas ela nem se
deu ao trabalho de acalma-la.
Era uma brincadeira entre as duas, mas
Anna ainda não era madura para entender.
-E o que você faria sem mim?- Juanita
ouviu seu riso e gostou do som. Aquela moça
sorridente não podia ser a mesma jovem que
conhecera no dia seguinte ao casamento.
Ou sua lembrança a enganava,
aumentando as cosias, ou a realidade havia
mudado muito.
-Não sei. Realmente não sei – ela
confessou – Olhe, ele terminou.
Juanita lhe entregou Artur depois que
Anna apanhou Edgar, com todo cuidado do
mundo.
Artur estava esfomeado e sugou
avidamente seu leite.
-Não sei por quanto tempo darei conta
dos dois – ela dividiu essa aflição com elas – Não
tenho tanto leite quanto eles precisam.
-Em alguns dias vamos começar a dar
mamadeiras para complementar – Juanita contou,
notando sua expressão - Não é o fim do mundo,
Helena.
-Sei disso – ela reclamou, triste.
Queria ser a única a alimentar seus
bebês, mas não podia se enganar quanto a sua
capacidade. Tinha muito leite, mas não o bastante
para os dois.
-Rony ainda está na plantação? –
perguntou como quem não quer nada.
-Sim, ele saiu cedinho com o Sr.Suarez
para resolver alguns problemas. Disse que volta
para o almoço. – Anna respondeu feliz em ajudar.
Ela suspirou. Não o viu desde a
madrugada, quando a ajudara com os bebês, para
amamenta-los.
Ela não quis chamar Juanita, ou acordar
Anna, muito menos Alice, afinal, elas haviam
passado várias horas acordadas e precisavam
descansar.
-E Alice? Porque não veio me ver ainda?
– perguntou acarinhando o bebê enquanto o
alimentava.
-Ela está enjoada – Anna respondeu
novamente – Disse que virá mais tarde.
-Essa aí, desde que quase racharam a
cabeça, desatou a falar – Juanita reclamou,
olhando para ela com amargor.
O pior de tudo, era gostar da menina.
-Desculpe – ela desculpou-se e Helena
quase riu das duas.
-Anna, porque você e Duran não ficam
aqui em casa enquanto ele se recupera? – sugeriu,
notando Juanita avermelhar furiosa.
-Não, não seria uma boa ideia – Anna
odiou a ideia de arrumar mais briga com a sogra.
-Ao menos o convença a me ver -ela
pediu – Precisou agradecer por tudo que fez por
mim. Se não fosse seu marido, eu estaria morta.
-Meu filho – Juanita corrigiu.
-Sim, seu filho, e marido de Anna. –ela
respondeu astutamente – Anna, me alcance a
toalha, por favor.
Deitada na cama, estava impaciente para
andar e espichar as pernas. Usou a toalhinha
delicadamente bordada, para limpar o rostinho de
anjo que se lambuzava de leite mamando tão
rápido e voraz.
-Desse jeito vai se engasgar -ela disse ao
bebê, tirando o seio do seu alcance. Ele ameaçou
choro, mas ela o devolveu, esperando que agora
fosse mais calmo.
Não adiantou.
-É um esfomeado – ela brincou com o
neném, ouvindo seus sons de sucção e adorando
ver aqueles olhos azuis fixos nela.
No colo de Juanita, Edgar havia
adormecido.
-Meu pai chegou para me ver? – Helena
lembrou-se naquele momento que a noite passada
estava adormecida quando Conde viera lhe ver.
Era inacreditável que toda aquela loucura
havia acontecido a apenas um dia e meio.
-Sim, está tomando café da manhã com
John.
-Tem tantas pessoas que eu quero ver...
Apresentar os meus lindinhos... – ela disse isso
erguendo o filho para arrotar. Aquele som macio
que ela sabia, um dia se tornaria algo irritante e
que ela precisaria viver aos berros para que não
virasse um menino mal educado arrotando na
mesa. Mas por enquanto eram filhotezinhos
adoráveis.
-A única coisa que você quer, Helena, é
descansar – Juanita a contradisse.
-Não seja protetora demais, Juanita –
estava com o espírito livre e Juanita muito
irritadiça.
-São ordens do seu marido – ela criticou.
Artur e Edgar foram colocados no berço e
Helena praticamente obrigada a se deitar, depois
de beber leite e comer um farto desjejum. Anna
seguiu Juanita para fora do quarto e ela aproveitou
para dormir um pouco.
Uma hora depois acordou com o som de
passos, mas não disse nada. Sentira o cheiro
amadeirado de Rony, e pelo peso das passadas
sabia que era ele.
Primeiro, andou até o berço. Demorou
alguns minutos, provavelmente observando o sono
dos meninos. Então, seus passos se aproximaram
da cama. Helena estava dormindo de lado, uma
posição que era mais agradável nesses momentos
de descanso, onde podia esquecer as dores do pós
parto e os sangramentos desconfortáveis e apenas
descansar um pouco.
Sentiu a força do seu olhar e esperou para
descobrir o que ele faria.
Um toque suave em seus cabelos,
arrumando-os para longe do rosto e então um
suave beijo em seus lábios.
Um toque tão carinhoso e doce que ela
não abriu os olhos, preferiu deixa-lo acreditar que
estava dormindo. Muito emocionada com esse
carinho, preferiu não enfrentar seu olhar naquele
momento.
Esperou que ele saísse do quarto, para
abrir os olhos e olhar para o vazio.
Esse homem estava em sua alma.

A casa parecia muito silenciosa. Depois


de almoçar na companhia de Alice, havia sido
esquecida naquele quarto.
Claro, estava sendo egoísta. É claro que
todos tinham muito o que fazer. Não podia ignorar
que houve um crime. Seu sequestro, a morte de
Wood... Mesmo assim, queria a companhia de sua
família.
Haviam levado seus bebês enquanto ela
dormia, e podia imaginar que estivessem
exibindo-os para as visitas. Quanta audácia. E ela
ali, sozinha!
Cansada da solidão decidiu levantar-se.
Não sentiu dor ou desconforto, apesar de
não conseguir andar normalmente e estar muito
fraca ainda. Calçou os sapatos e vestiu o penhoar
que Alice lhe obrigara a comprar em Londres,
numa das visitas à lojas de marca.
Confortável e apresentável, os cabelos
nem estavam bagunçados, pensou vaidosa, e saiu
do quarto.
Na sala havia som de vozes baixas. Ela
se aproximou e viu Elly, com um curativo no
pescoço, o que explicava não tê-la ido visitar
nenhuma vez. Alice segurava Artur e mesmo a
distância ela reconhecia o filho. O Conde tinha
Edgar nos braços e falava baixo com o neto,
instigando-o a olhar para ele. De pé no canto da
sala, Rony apenas sorria para eles.
O que chamou a atenção de Helena foi
Mathias e Lilly.
Achou que pudesse passar despercebido
por um instante, e ouvir as coisas que lhe
escondiam, mas era difícil esconder sua presença
de Rony!
-Helena – ele disse surpresa – O que está
fazendo fora da cama?
Ela não teve tempo para responder, Rony
se aproximou em duas longas passadas e a tomou
no braços. O único remédio foi enlaçar seu
pescoço e aceitar que ele não a deixaria andar.
-Estou cansada de ficar deitada, quero
ficar um pouco com meu pai -ela argumentou
olhando para ele com um olhar inconfundível.
-Com seu pai? E comigo? Não quer
minha presença? – seus olhos azuis estavam
presos no seus e ela sorriu com desdém e não
respondeu.
Rony a colocou gentilmente sentada ao
lado de Alice no sofá maior.
-Tenho que parabeniza-la, minha filha,
mas não consigo soltar meu neto – o Conde
brincou ganhando seu sorriso. Um riso de emoção
– Nunca poder esperar um presente desses na
minha vida. Olhe esses dois meninos, são
incríveis. Serão meus sucessores.
-Não fale como se fosse viver pouco –
Elly interferiu – Parabéns, Helena, seus filhos são
lindos.
Havia um pouco de tristeza em Elly e ela
não tocou no que poderia estar incomodando-a,
mas faria isso, quando o momento fosse mais
propicio.
-São bebês muito bonzinhos -ela
concordou.
-Helena, deveria estar descansando –
Rony tinha os braços cruzados e olhava para ela
com repreensão.
-E por acaso, algum de vocês se dará ao
trabalho de ir até o quarto conversar comigo? Não.
– ela desafiou.
-Não seja brigona – Mathias pediu
sorrindo para ela com aquele sentimento de irmão
mais velho – Não contar-lhe certas coisas é um
modo de protegê-la.
-Não quero ser protegida! Quero a
verdade. Como posso lidar com minha própria
vida, se não sei o que acontece ao meu redor?
-Quer saber tudo que aconteceu? Tem
certeza?
-E porque não iria querer saber? – Ela
desafiou-o novamente.
-Porque pode ficar impressionada, talvez
perder o sono e ficar nervosa. É sé por isso que
não queremos lhe contar, esposa. –ele alfinetou
nem um pouco feliz em ter Helena de pé, andando
pela casa.
-Esposa não. não sou mais nada sua.
Nem amiga, se quer saber – alfinetou de volta –
Posso ouvir o que aconteceu sem me impressionar.
Depois de tudo que já vi e vivi na minha vida,
uma história triste não tem o poder me chocar.
-Assim sendo, nos resta apenas contar –
concluiu o Conde, orgulhoso da filha.
-De qualquer forma. – Alice não ficou
nada fez com isso - Não é um assunto para se
falar na frente de bebezinhos inocentes.
-Como se eles pudessem entender, Alice
– Helena fez troça.
-Entendem mais que você – ela reclamou,
com razão – Helena, volte para o quarto. Não quer
ter uma recaída, quer? Mamãe disse que estava
voltando para casa, desde que eu assumisse a
responsabilidade de cuidar de você! Não posso
deixa-la sentada aqui, se cansando a toa. Entendo
que queira saber tudo que passou, mas não precisa
de tantas pessoas para lhe contar! Por favor,
Helena, seja sensata e volte para o quarto e
cumpra seu repouso.
Rony se preparou para ouvir um sermão.
Helena nunca deixaria passara uma chamada
dessas. Alice, dando ordens em sua casa? Jamais!
-Me ajude a voltar para o quarto,
estranho? -ela perguntou amável, surpreendendo-
o. – Quero saber tudo que aconteceu!
Mathias levantou antes que Rony a
tirasse da sala e abraçou-a.
-Deve saber que me casei -ele disse em
seu ouvido.
-Na Igreja? -ela perguntou de volta,
adorando o seu abraço.
-Não houve tempo.
-Pretendem marcar a cerimônia? –
insistiu.
-Agora que o juiz concordou, sim,
pretendemos marcar a cerimônia.
-Então, lhe darei parabéns quando
marcarem a cerimônia - ela beijou-o
afetuosamente no rosto e sorriu para Lilly, sempre
tão tímida, mas que tinha um brilho perolado nos
olhos, um brilho de felicidade.
Elly apenas acenou, ocupada em olhar o
menino no colo do Conde. Seu pai, olhou-a com a
promessa de uma longa conversa depois.
Helena só deu razão a Alice e Rony
quando ele a colocou de volta na cama. Estava tão
cansada...
Rony sentou-se na beira da cama, e se
inclinou sobre ela, mantendo um braço sobre sua
barriga, apoiando a mão no colchão, de modo a
ficar cara a cara com Helena.
-Não me chame mais de estranho. – seu
tom não deixava margens para discussão.
-Enquanto não formos casados, será um
estranho para mim – ela desafiou, não para
magoa-lo ou afasta-lo, mas sim para brincar com
ele, e ver seus olhos azuis soltarem chispas de
fúria.
-Porque não pode apenas aceitar o meu
pedido e acabar logo com isso! Temos dois filhos,
Helena! O que mãos você quer para se conformar
que sou seu marido?
Ele estava irritado.
Conformar?
-Estou cansada. Porque não me conta o
que de fato aconteceu e para de me enrolar?
Rony quis questiona-la sobre por que
tanta hesitação em responder-lhe um simples
‘sim’. Será que andava pensando em arrumar
outro marido? Impossível! Helena o queria. Sentia
paixão e simpatia com ele. E ciúmes. Porque
sentir ciúmes de um homem por quem não sente
nada?
-Gosto de ser casado, Helena, então pense
bem antes de me recusar como marido – ele
avisou, para despertar seu ciúme.
-Quer dizer que vai se casar novamente?
– ela perguntou, acariciando o antebraço de Rony
que estava perto de suas mãos.
-Sim. – olhos nos olhos, e ela não
pareceu incomodada, muito menos ciumenta.
Pelo contrário, parecia rir dele. Se divertir
com sua tentativa de enciumá-la.
Não sabia, que a reação de Helena se
devia ao simples fato de ter a certeza que não se
separariam jamais. É claro que diria sim, na hora
certa, diante do pedido certo de casamento, diria
sim.
-Bom. Também devo me casar
novamente. – ela respondeu num tom
condescendente.
-É isso que você quer? - ele perguntou
engolindo em seco.
Helena não notou que para ele, essa era a
resposta definitiva. Não haveriam mais pedidos.
-Sim – ela suspirou, cansada e satisfeita
em desestruturar sua autoconfiança.
Só não sabia que não haveriam mais
pedidos de casamento.
-É melhor que descanse um pouco – ele
se afastou, fugindo de sua carícia.
Se Helena não o queria de verdade, e
estivera enganado quanto aos seus sentimentos
por tanto tempo, não havia porque se humilhar.
-Prometeu que me contaria tudo – ela
lembrou-o.
Rony sentiu a incontrolável vontade de
brigar. Ela queria conversar como se nada
houvesse acontecido? Como se não houvesse
quebrado seu coração com sua recusa final?
-O que quer saber exatamente? – ele ficou
de pé, longe dela.
Tinha que administrar a rejeição e achar
um modo de impedi-la de deixa-lo. Ser pai dos
seus netos deveria conseguir alguma influência
sobre o Conde, e com ele ao seu lado, Helena não
poderia fazer nada para recusa-lo formalmente.
-Rony – ela chamou uma segunda vez –
Está me ouvindo?
-Desculpe, estava pensando - ele disse
um pouco sem graça.
Pensando em algo mais importante que
ela? Esse pensamento martelou na mente de
Helena.
-Eu disse que pretendo saber o que
aconteceu após o meu sequestro. – repetiu-se,
esperando que dessa vez ele ao menos se dignasse
a ouvir e prestar atenção.
-Aconteceram muitas coisas. A maior
parte não é agradável de se ouvir, muito menos foi
agradável de ver – ele contou, ainda muito longe
dela.
-Estou cansada demais para ficar olhando
para você aí do outro lado do quarto -ela
reclamou.
-E onde quer que eu fique? – era um
desafio.
-Pode ficar ao meu lado, se quiser. –
notando sua expressão ela quase riu – Mas, por
alguma razão, não quer.
-Um dia eu sei que alguém irá arrancar
sua língua, Helena. – ele não pode evitar sorrir
diante de sua audácia – E não poderei culpar essa
pessoa!
-Mesmo? E essa pessoa não será você,
suponho?
-Quer ouvir a história ou não?
-Quero, mas terá que fazer o sacrifício de
se aproximar – teria batido o pé, se não estivesse
deitada.
-Já deve saber de todos os esforços para
encontra-la, muitas buscas na região, na cidade e
até mesmo em outras cidades da região.
-Sim, sei de tudo isso – estava
impaciente.
-Adolf seguiu naquela direção, guiado
por um palpite. Ele encontrou Wood e a ex-mulher
do Conde, naquele casebre. Deveras, estavam
tramando alguma coisa. Ele os atacou e resgatou
Duran. Nesse processo, Wood foi morto.
-Eu quero os detalhes. – ela exigiu,
sabendo muito bem que ele estava sendo vago.
-O garoto é esperto. Antes de ajuda-la a
fugir ele entrou na casa e roubou as balas da arma
de Wood. Boicotou o machado que aquela mulher
tinha preparado para usar contra você – esperou
pelo choque, mas ela apenas concordou. – Ela
falou sobre isso não é?
-Sim. Ia vender o bebê para o Conde.
-Um belo conto de fadas aquela mulher
criou para si mesma. O que acha que o Conde
faria com ela quando a apanhasse? – ele mesmo
deu de ombros, evitando aquele ponto da conversa
– Wood tentou matar Adolf. O homem é grande,
Helena. Mas não daria conta de uma arma. A
arma falhou, estava sem balas. E digamos
apenas... Que o machado foi usado.
-Exatamente como ele foi usado? -ela
ficou terrivelmente interessada e talvez deduzindo
algumas possibilidades.
-Como eu disse, Adolf é um homem
forte. – ele procurou as palavras certas – não quero
choca-la, mas Wood... Finalmente perdeu a
cabeça por você. – ele procurou dar um ar mais
alegre, como uma piada.
É claro que não surtiu efeito.
-Bem feito – ela disse rancorosa – não
que deseje o mal a quem quer que seja, mas eu
passei o inferno por causa dele! Quando me
lembro das coisas que ele fazia... - ela sentiu um
arrepiou de nojo.
-É a pessoa mais doce desse mundo,
Helena. Não seria capaz de desejar o mal de outro
ser humano, que não o merecesse. Conte-me o que
ele fazia. – tentou um ar displicente, mas ela sabia
muito bem que sua gravidez avançada o impedira
de supor que Wood a tivesse violado.
Pobrezinho, não tinha ideia de como a
mente de Wood era terrível!
-Ele queria fazer amor -foi
absolutamente sincera. – Como o convenci que
não podia, ele se acalmou. Deve saber, que ele nos
espiou no lago... – não deveria, mas corou um
pouco – Achava que não teria problema. No
entanto, não escapei de um beijo. E ele realmente
passou aquelas mãos asquerosas em mim.
-Está morto - ele tentou não demonstrar
o que sentia.
Para Helena que o conhecia como a
palma de sua mão, era possível compreender a
razão do seu pescoço estar vermelho e seu
semblante pesado.
-Não se preocupe, eu não gostei – havia
algo risonho em sua voz.
-Continuando a história – ele precisou se
esforçar para ignorar o quanto ela se importava
por ter sido beijada e tocada por outro. – O corpo
foi enterrado, junto com sua cabeça, - por alguma
razão ela conteve um sorriso – e foi mantido como
desconhecido. Não preciso dizer que seu pai,
Morris Wood jamais acreditaria que o filho fez
tudo isso.
-É possível? Esconder tal fato?
-Não fique mais surpresa do que eu
fiquei, quando o próprio juiz Digorry e o Sr.Loren
sugeriram isso. Pelo que sei Wood aprontou para
eles também, e muitas vezes. Acho que ninguém
se importará por Morris Wood ficar sem saber do
paradeiro do filho, se é que ele realmente se
importa com isso!
-Mas e aquela mulher? Quando for
julgada, de certo, vai contar o que viu!
-Acontece que ela também morreu – ele
explicou sem saber como abordar aquele tema.
-Alice me disse que ela e sua amante
haviam sido levadas para a cadeia! Estavam
presas!- surpreendeu-se.
-Ex-amante. – ele achava que jamais ela
iria entender isso – Alexia seduziu o assistente do
juiz Simmos. O rapaz asfixiou Margarite e ela está
morta. Alexia fugiu com ele.
-Fugiu? Não é possível uma coisa dessas!
Como pode essa mulher conseguir esse efeito
sobre os homens! Será que todos são cegos! Eu...
-Acalme-se, ela foi encontrada - ele disse
mais alto que a sua voz.
- E onde ela estava? Posso saber? – ela
perguntou furiosa.
-Estava na estação de trem. –ele contou
– O assistente do juiz foi interceptado,
reconhecido e contou tudo. Ela estava
confortavelmente sentada no trem, como uma
dama, quando a encontraram. – ironizou – Ficará
feliz de saber que será levada a Londres.
-E para que? Não vai haver punição! -ela
sentiu os olhos arderem de raiva.
-O Conde está de partida para Londres.
Tem tudo acertado para leva-la para a América.
Sabe onde fica a América do Sul? Pois é. Muito
longe. Tem um convento, onde a colocará para o
resto de sua vida. Para Alexia, é pior que a morte!
-Pouco. Muito pouco. Mas se é apenas
isso que pode ser feito...
Havia tanta magoa em sua face, que
Rony deixou o rancor pela rejeição de lado e
sentou-se pertinho dela. Helena sentou-se e
inclinou-se em sua direção. Queria um abraço.
-Alexia saiu de nossas vidas, Helena. É o
que importa. Nunca mais teremos que vê-la – ele
beijou sua orelha, acariciando seus cabelos – Deve
saber que seu pai está apegado à menina. Como
sabe, a criança está sozinha no mundo agora.
-Não quero pensar nisso agora –
confessou, duvidando que deixaria aquele abraço
espontaneamente.
-Eu preciso saber, Helena, até onde essa
história toda te machucou – ele pediu, e sua voz
suave, não amenizou a dor que ela sentia.
-Ter tido Artur sozinha, foi uma
lembrança que nunca vou poder apagar. Posso
esquecer tudo, Rony. A dor, a privação, o medo de
morrer nas mãos de Wood. Mas não posso
esquecer o medo de perder o bebê. De não poder
protegê-lo. Principalmente agora que sei que a dor
seria dobrada. Quando a qualquer outra cosia,
estou disposta a esquever.
-De verdade? Não vai ser uma sombra a
mais em você? -ele não podia afastar esse secreto
medo.
-Como se houvesse tempo para sombras
-ela procurou acalma-lo – Tenho dos meninos e
não sei se posso perdoar a você e a Juanita por
isso!
-Juanita? Não me lembro dela ter
participado? – Rony precisou sorrir, afinal ela
tirava esse peso de suas costas.
-Como não? Aqueles chás deveriam me
proteger! E você, não deveria me engravidar de
gêmeos!
-Desculpe, foi incontrolável – ele
respondeu beijando-a suavemente.
O beijo cresceu e ele desceu os lábios por
seu pescoço. Teria ficado horas acariciando-a
ainda mais ao ser aceito tão plenamente, mas ela
cochichou em seu ouvido e tiveram que parar:
-Preciso de quarenta dias para... Me
curar.
-Eu sei. Nem um dia a menos e nem um
dia a mais – ele acariciou seu rosto com tanta
paixão que Helena corou.
-Não pode me desejar. Não assim... –ela
desdenhou de si mesma.
-Nunca esteve tão bonita. – era verdade.
Seu rosto tão alegre, seus olhos tão brilhantes...
-Sempre mentiroso. Só espero que não
seja um traço hereditário ou terei três mentirosos
em casa.
-Ou, quatro, o cinco... –ele beijou
suavemente seu queixo.
-Não vou mais ter filhos -ela o empurrou
nada gentil. – Não passarei por um parto
novamente! Nunca mais!
-Certo, nem poderia, afinal, não quer um
marido. Nem mesmo eu sirvo.
-Outro marido, talvez. Eu não disse que
estou declinando de todas as minhas
possibilidades! – provocou, beijando-o.
Rony afastou-se nada discreto. Outro
marido.
-Fez sua opção -ele definiu irritado – Não
vou tentar impedi-la.
-Impedir? – do que aquele homem estava
falando?
Antes que Rony respondesse o choro
irrompeu pela casa.
-Artur ou Edgar? – ele desconversou.
-Edgar – ela reconheceu na mesma hora –
Se apresse, ou Artur vai começar a gritar a
seguida.
Rony saiu atrás do filho, mas era tarde.
Artur já acompanhava o irmão num berreiro sem
fim quando Rony trouxe-os para o quarto.
Ela ficou sem fôlego por um instante
vendo-o carregar os dois bebês, um em cada
braço. Era uma imagem tão linda, que ela estava a
beira das lágrimas quando tirou Edgar do braço
dele.
Capítulo 147 – Mais um pouco

Artur foi colocado sobre a toalha, e Alice


começou a secá-lo cuidadosamente. Falava
besteiras com o sobrinho e ele se mexia muito,
reclamando do frio.
Na banheirinha, Edgar dava mais
trabalho. Helena estava conformada, que aqueles
dois meninos eram como água e vinho. Prova
disso, era o berreiro de Edgar ao ser tirado da
água. Ele queria mais, queria brincar na água.
Enquanto, Artur detestava água.
Acalmando o bebê, Helena o colocou ao
lado do irmão. Era um ritual. Tudo que envolvia
os gêmeos envolvia também um ritual. Precisava
sempre de duas pessoas para amamentá-los, duas
pessoas para banhá-los, duas pessoas para
carregá-los...feliz com os filhos, ela não os vestiu
imediatamente.
John havia chegado e chamava Alice na
sala, e então, Helena aproveitou o momento para
ficar com os filhos tranquilamente.
O dia estava ameno, por isso deixou-se
peladinhos sobre a cama e se deitou ao lado dos
dois.
Manteve os meninos assim, acariciando-
os e dizendo o quanto os amava. Artur
choramingou em determinado momento e ela
mordeu seus pesinhos, fazendo o bebê rir.
Com um mês e meio, eles riam. Ou ela
achava isso. Repetiu a brincadeira com Edgar.
Estava rindo, quando Rony entrou para a ronda da
manhã.
Ele sempre voltava para casa ao menos
duas vezes ao dia, para ver os filhos e Helena.
-Acho que cheguei a tempo da festa – ele
brincou e ela riu.
-Não são as coisinhas mãos adoráveis
que já viu na vida? -ela perguntou sempre
sorrindo.
-Não. Você é a coisinha mais adorável
que já vi na vida- Rony inclinou o corpo e a
beijou longamente.
-Olhe para eles, adoram ficar deitados,
sem roupas – ela acariciou a barriguinha de Artur
que estava agitando os bracinhos enquanto o
irmão olhava para eles com atenção.
-Também gosto de fazer isso – ele riu de
sua expressão – Desculpe, acho que vai me
condenar por ter passado isso para os meninos
também.
Era uma brincadeira entre eles. Sempre
que notavam um traço novo na personalidade dos
meninos, automaticamente, o culpavam por isso.
-Não sei. Também gosto de ficar nua,
sobre a cama – ela disse maliciosa.
Rony notou sua face corada, e lembrou a
si mesmo que o resguardo havia chegado ao fim
há alguns dias.
A única coisa que ainda estava entre eles,
era a decisão do casamento. Não havia tornado a
pedi-la em casamento. Muito menos Helena tocou
nesse assunto.
Esse simples comentário o deixou quente.
Pela malícia em seu olhar castanho, ele soube que
fora de proposto. Helena o queria tanto quanto ele
a desejava.
Seu corpo estava praticamente em sua
forma antiga. Seus seios continuavam redondos e
cheios e ela amamentava. Sua barriga havia
murchado com os dias e a cada dia desaparecia,
pois ela perdia peso rapidamente com a
amamentação e os cuidados com os gêmeos.
Além disso, não era cego. Ela vinha
andando bastante. Sempre nos fins de tarde
quando o sol era fraquinho ela apanha um dos
gêmeos e convidava Anna para levar o outro no
colo. Elas andavam um pouco pela fazenda.
Um desejo de vaidade, de perder logo e
rápido todo o peso da gravidez.
Como se Rony se importasse. Depois de
tantos dias sem ela, estava pouco se importando
com o peso a mais. Sonhava era com sua mulher,
quente e desejosa sob ele. Vinha até sonhando
com isso!
E vergonhosamente acordava molhado
como um adolescente envolvo por hormônios
incontroláveis.
Esperava que Helena não houvesse
notado. Mas pelo brilho perolado em seus olhos,
sabia que sua inteligência não seria enganada por
ele. Impossível esconder o que quer que fosse de
Helena!
-Vai gostar de saber a novidade – ele
disse ao acaso, brincando com os filhos. – Suarez
pediu demissão agora cedo.
Automaticamente Helena ficou chocada.
O que ela faria sem Juanita?
-Acalme-se. Juanita vai ficar -ele sorriu
diante de seu desamparo – Ele foi embora a
algumas horas. Acertei o que lhe devia e ele foi
embora. Pediu-me para contar a ela depois que
houvesse partido.
-Juanita não sabe? Porque ele fez isso?
-Não tem um palpite? -ele ironizou – O
homem ama Juanita. Do seu jeito torto, calado e
na dele, mas ama a ela e as crianças dela. Quer
que seja feliz.
-Abriu caminho para Adolph. – ela
sorriu – Espera que ela seja feliz.
-Porque ficou triste? - Rony acariciou seu
rosto.
Helena estava deitada ao lado dos bebês,
com o braço apoiando o rosto. Aquele carinho
delicado, a aqueceu e acarinhou.
-Fico triste por Suarez. Perder seu grande
amor. Deve ser uma dor horrível.
Não quis dizer a ele que conhecia essa
dor. Que sentira algo horrível ao vê-lo baleado,
sendo carregado, sem saber se estava vivo ou
morto. Aquela lembrança a fez se arrepiar.
-O Conde escreveu, Helena – ele
aproveitou a deixa. – Em dois meses, estará de
volta. Ele exige que tomemos uma decisão. Ou
nos casamos ou ele procurará um novo marido
para você – esperava assustá-la.
É claro que o Conde insinuara algo
parecido, mas nada definitivo. Ele era um homem
vivido e entendia muito bem que sua filha vivia
um grande amor conturbado.
-Que bom que ele acha que pode mandar
em mim – ela ironizou, beijando uma das mãos de
Edgar. – Eu vou decidir quando quero me casar e
com quem.
Esperava que ele entendesse sua
insinuação e finalmente fizesse o pedido de
casamento que ela vinha esperando há um mês e
meio.
-Não posso culpá-lo por ter presa. Minha
mãe está me questionando por viver em pecado
com você.
Ela riu diante disso e ele acompanhou.
-Sandra acha que vivemos em pecado?
Mesmo o Padre nos deu a bênção e batizou os
meninos sem questionar nossa separação. E sua
mãe, acha que vivemos em pecado? Quanta
presunção!
-Mamãe quer o melhor para mim, e sabe
que preciso de uma esposa - alfinetou.
-E acaso não cuido da sua casa? Não
mantenho seu lar aconchegante, garanto que tenha
comida quentinha e roupas lavadas? O que mais
você quer de uma esposa? – provocou.
-Quero que ela aceite a necessidade de
nos casarmos. – foi taxativo.
Necessidade. Palavra ingrata. Soava
como dever. Algo que se faz para resolver um
problema. Em momento como esse ela tinha
vontade de sacudi-lo e faz-lo ver a realidade.
Não queria dever. Muito menos
necessidade. Queria amor!
-Uma esposa por dever. Não me parece
um bom negocio – ela deitou-se de barriga para
cima e colocou Edgar deitadinho sobre seu peito.
Ela adorava abraçar os filhos desse modo, como
se ainda estivessem dentro dela.
Deu tapinhas delicados naquele traseiro
fofo e o bebê bocejou.
-Tive um marido por conveniência e não
foi um negocio muito bom para mim - ela contou,
lutando contra o riso.
-Porque não?
Rony tirou Artur da cama e o ergueu
para cima, brincando com ele.
Helena não achou razões para apoiar seu
argumento. Aquele casamento fora sua salvação.
Teria se consumido em dor e tristeza, e Rony a
trouxera para a vida de novo. Mas como dizer isso
a ele?
Felizmente, foi poupada do momento
revelação, para o qual ainda não estava preparada
totalmente.
Artur achou por bem premiar seu pai com
um furioso jato de xixi bem na hora que ele
brincava de ergue-lo para cima. Uma mira
perfeita, que acertou seu rosto.
Helena gargalhou enquanto ele devolvia o
menino para cama e corria atrás de uma toalha.
Seu riso era tão alto e verdadeiro que ele
riu junto.
-Isso mesmo, Artur. – ela beijou a
cabecinha ruiva do bebê – O papai merecia isso!
Ainda ria, decidindo ser melhor vesti-los,
antes que fizessem isso de novo, a molhassem a
cama.
Rony esperou que ela os vestisse e
colocasse no berço, enquanto ele lavava o rosto
numa bacia de água ao lado da cama, e então, se
aproximou dela, enlaçando sua cintura.
-Achou engraçado não é? – perguntou
segurando-a forte, sem modos para que escapasse.
-Rony... – espalmou as mãos em seu
peito, achando que a graça tinha ido embora.
-Continue rindo de mim, Helena. Ria
desse tonto que não sabe mais como convencê-la
a aceita-lo por marido – seus olhos azuis
brilhavam e ela estava por um fio para dizer-lhe o
conta o queria bem.
-Foi engraçado – defendeu-se, tentando
recompor algum controle – Rony...
-O que foi?
O corpo másculo a pressionava de modo
maravilhosamente quente. Fechou os olhos
sentindo seu cheiro de água, do banho, de suor e o
cheiro do seu corpo. Odores que ela
definitivamente amava!
-Eu... – tentou achar um modo de
explicar-lhe como se sentia.
Rony não esperou que as palavras
surgissem em sua mente nublada pelo desejo.
Cobriu-lhe os lábios com os seus, e tirou sua
capacidade de pensar. Helena agarrou em seu
pescoço e correspondeu ao beijo com toda sua
volúpia.
Queria tanto esse homem que sentia o
corpo arder!
Todos os seus medos haviam sido
extinguidos por Juanita que lhe garantira que ele
não notaria diferença alguma em seu corpo.
Talvez ela sentisse desconforto no começo, mas
teria que partir de algum lugar se quisesse retomar
a vida sexual que tinham!
E ela queria muito, muito mesmo retomar
a intimidade que compartilhavam.
Rony sentou-se na cama, e a colocou
sentada em seu colo. Helena gemeu ao sentir sua
excitação.
O beijo teve que acabar, ele atacou seu
pescoço. Helena fechou os olhos delirando com
aqueles chupões em sua orelha. Ele mordeu o
lóbulo e ela correu as mãos por seu peito, por
dentro da camisa. Sem ar, buscou-o para um beijo,
exibindo desvergonhosamente toda a sua vontade
de fazer amor.
-Hum, Rony... – gemeu querendo falar-
lhe algo.
-Não tenha medo. Vai se bom – ele
prometeu – Serei cuidadoso.
-Eu sei – ela sorriu, olhando para seus
olhos tão azuis quanto o céu. – Rony, eu...Juanita
disse que está tudo normal, como antes. mas eu
não sei...não, sei mesmo.
-Sente dor? -se preocupou.
-Não, faz tempo que a dor passou. Estou
curada, meu corpo está cicatrizado. Sua mãe me
garantiu que é assim mesmo. – corou.
-E tem medo do que? – pressionou,
acariciando um seio, enquanto tentava afrouxar
seu vestido.
Helena não respondeu nada.
-Helena, me conte seu medo. – beijou-a
gentilmente sobre os lábios e ela suspirou,
vencida.
Precisava falar.
-As marcas da gravidez ainda estão no
meu corpo. Meus seios...estão grandes demais e
minha barriga ainda não...hum...hã...Deus, eu
estou feia.
-Feia? E desde quando isso é possível?
Está linda. – ele tentou não rir – Está magra, suas
curvas estão acentuadas, mas está magra. Não
tanto quanto antes, claro, mas houve um período
que sua magreza não era saudável. Prefiro tê-la
saudável. Está me ouvido?
-Estou. – garantiu.
-E entendendo? – sempre valia checar.
-E entendendo – concordou.
-Vai me deixar fazer amor com você essa
noite, Helena? – perguntou, lambendo a curva do
seu pescoço, distribuído beijos pelo colo macio e
cheio.
-Sim, eu vou deixar.
Rony gemeu, a promessa o excitando a
beira da loucura. Beijou-a com forma e desejo,
agarrando àqueles cabelos encaracolados e se
refestelando com a maceis e perfume deles.
Aquele beijo o teria feito perder a razão e
obter dela tudo que desejava, esquecendo sua
promessa de fazer-lhe amor a noite, se não
houvessem batido na porta do quarto, com
insistência.
-Vou mandar todos eles embora! – ele
reclamou, se referindo aos empregados.
Helena foi colocada sobre a cama com
toda a força que um homem alto e robusto como
ele poderia ter. Anna batia na porta, com uma
expressão curiosa na face.
-Helena, Sr. Parker...o marido de Juanita
foi embora.
-Já sabemos disso. – Ele não estava
muito animado em ser interrompido naquele
momento.
-O que aconteceu, Anna?
-Juanita...- faltou palavras para Anna
explicar.
Sua expressão dizia tudo.
-Fique de olho nos bebês - Helena pediu,
arrumando os cabelos e seguindo para fora do
quarto.
Rony achou por bem segui-la. Juanita
não estava na casa então, Helena correu para a
casa que ela dividia com Suarez.
A casa era pequena, atrás do celeiro, mas
era confortável. A porta estava apenas encostada.
As crianças brincavam na sala, os maiores
olhando pelos menores, e havia um clima
estranho. Duran, estava de cabeça baixa, e ela
esperou que rapaz dissesse algo, mas ele apenas
apontou o quarto. Rony esperou na sala.
-Juanita?
Ela estava na cama, chorando.
-Juanita, o que foi?
-Ele me deixou – ela disse, a voz abafada
pelo choro e pelo travesseiro – o único homem que
cuidou de mim, me deixou! O que vai ser de mim
agora?!!!
-Suarez disse a Rony que era para o seu
bem. Agora, está livre para Adolph...
-Eu não quero Adolph! Quero o meu
marido! - Ela gritou descontrolada.
Helena nunca a vira assim antes.
-Juanita, pensei que você o amasse.
-Eu amo! Não se pode esquecer um
grande amor! Mas não quero perder meu Suarez!
Eu o amo tanto...de um jeito diferente. –ela
sentou-se a face vermelha, banhada em lágrimas.
-Ama Suarez como homem? Ou como
um pai? – Helena precisou saber.
-Como homem. O meu homem.
Adolph...não é como antes. Eu não posso amá-lo
como antes e ele não pode me amar do mesmo
modo. Isso se deve ao tempo, ao amor que nasceu
em mim por outro homem! Se ao menos Suarez
tivesse me ouvido! Eu contei a ele dos meus
encontros clandestinos! Oh, Deus!
-Encontros? Juanita, você traiu Suarez?
-É claro que não! Foram apenas beijos!
Mas não valeram a dor que estou sentindo! – ela
chorou – O que vai ser de mim sem ele? Helena!
O que eu fiz da minha vida?
-Nunca deveria ter trazido Adolph
comigo... – ela se culpou – Mas é um homem tão
bom. Trabalha tão bem. Ele...
-Ele salvou meu filho. – ela completou –
Adolph está no lugar que deveria estar!
Conhecendo o filho, vivendo ao seu lado. Mas não
comigo! Eu misturei as coisas na minha cabeça,
Helena! Que confusão causei.. E agora, perdi o
meu amor. O amor que vale. Que me
acompanharia até o fim da vida.
Juanita tremia. Helena não se aproximou
dela. Culpada, deixou-a sozinha no quarto.
-Rony - correu até ele – Precisa ir atrás de
Suarez!
-Helena, ele foi embora há muitas horas,
deve estar longe – ele negou.
-Por favor, Juanita perdeu o homem que
ela quer! Foi um mal entendido! Por favor, vá
atrás dele!
Notando que ela iria chorar, ele abraçou-
a.
-Parte disso é minha culpa. Trouxe
Adolph para casa. Juanita se confundiu -ela se
afastou olhando em seus olhos – O amor nos
confunde, Rony.
Essa verdade o fez suspeitar que falava
de si mesma, e não apenas de Juanita.
-Vou procurá-lo – ele garantiu – E vou
trazê-lo de volta. Está bem?
-Sim – beijou-o no rosto, haviam muitas
crianças em volta – Duran, vá com ele!
Quando os dois saíram, ela voltou para o
quarto. Precisava consolar aquela forte mulher que
tanto a ajudava na vida.
-Rony vai trazê-lo de volta. Juanita, não
fique assim.
-Ele não vai me querer de volta! – ela
chorou mais forte.
-É claro que vai, Rony me contou que ele
estava triste quando foi embora. Não partiu por se
sentir traído, mas sim, para deixá-la ser feliz.
Juanita, ele escolheu por você, porque achou que
era o que queria. Vai voltar quando souber que
você o ama!
-Será...? – insegura como uma menina ao
perder o grande amor, se deixou consolar.
-Tenho certeza. E se não acontecer, pode
tentar e tentar de novo, até que ele volte.
Juanita olhou para a bela jovem que lhe
dava forças.
-Temos que sempre tentar de novo, não
é? A vida é assim. – ela insistiu e Juanita
abraçou-a.
-O que o amor nos faz – Juanita se
afastou alguns minutos depois – tornam uma
burra velha como eu chorona!
-Não há nada errado em chorar por amor.
– Helena surpreende-a – Acredito que Suarez não
vai querer vê-la assim quando voltar. Fique em
casa, cuide dos seus meninos. Não quero vê-la
trabalhar hoje! Fique bonita para ele.
Juanita concordou.
-O amor opera milagres – Juanita disse
antes que Helena saísse e ela concordou.
Sim, tinha razão. Havia mudado dentro
dela e seu mundo não era mais feio e sombrio.
Tudo graças ao amor que floresceu dentro
dela, e a tornou uma mulher melhor. Mais feliz.
Capítulo 148 – Ou sim ou não

Anoitecia quando Rony voltou para casa


com Suarez. Convencer o franzino homem de que
Juanita o queria não fora nada fácil. Por fim, ele
aceitou voltar e ao menos conversar.
Rony se deu por satisfeito, visto que isso
acalmaria Helena. Cheio de saudade e expectativa
para a noite que ela prometera, havia entrado em
casa com um sorriso gigantesco.
Isso, até descobrir a sala de sua casa
lotada de Parkers. Faltando uma semana para o
casamento do Sr. Loren, ele viera pessoalmente
trazer um convite para o casamento. Com ele,
viera Demetrius sempre reclamando do péssimo
casamento que sua sobrinha havia feito.
Claro, que os planos de Mathias em abrir
uma ferraria na cidade, e deixar a ferraria de
Londres sobre administração do juiz, o havia
acalmado um pouco, mas não o suficiente para ser
simpático em relação a esse casamento.
Depois de contarem mais uma vez as
razões do Conde em ter voltado a Londres,
finalmente sentaram para jantar.
Mais uma vez interrompidos pela
chegada de John e Alice.
Haviam se livrado da visita indesejável
do juiz e do Sr. Loren, mas não podiam
simplesmente mandar Alice e John embora.
Mesmo que eles estivessem com expressões
terríveis.
Alice tinha alcançado o quinto mês de
gravidez e estava redonda. Ao contrário de Helena
que não engordara nos primeiros meses, Alice
havia se tornado uma leitoa muito cedo. Sua face
redonda e corada como uma maçã.
Seus seios saltavam pelo decote do
vestido e sua cintura larga. Estava adorável.
Os olhos brilhavam tristemente. Helena
quis lhe perguntar o que havia acontecido, mas
pela expressão de John era melhor não tocar no
assunto. Talvez após o jantar pudessem conversar
a sós.
Rony havia acabado de contar a história
de mais cedo, quando Artur lhe dera um
verdadeiro banho de xixi, quando Helena terminou
de colocar a mesa do jantar. Anna estava em casa,
com a família.
Somente os quatro ocupavam a cozinha.
John até conseguiu sorrir de sua
empolgação de pai. Alice nem se deu a esse
trabalho.
-Achei que foi bem merecido – Helena
sorriu para eles, lembrando daquela imagem, que
era hilária.
-Uma pena não ter sido em você – Rony
provocou, ganhando seu riso como presente.
Helena olhou para o prato, onde a carne
assada cheirava deliciosamente. Às vezes ficava
corada, quando pensava no quanto o amava.
Como poderia contar a ele? Que palavras deveria
usar?
Ao seu lado, Alice mal tocou na comida.
O silêncio seguiu na mesa. Rony olhou
para Helena e ela retribuiu o olhar, curiosa.
-Acho que Edgar aprendeu a sorrir – ela
disse para quebrar o gelo – Tenho certeza que
Artur ri. Mas Edgar...
-É claro que ele ri. É um bebê, e não um
cachorrinho. E bebês riem.
A voz de Alice a calou. Que comentário
mordaz!
-Sorte minha não ser um cachorrinho, ou
Helena jamais me perdoaria por isso – ele tentou
fazer graça, beijando sua mão.
Ela riu novamente.
-Porque está sempre rindo? – Alice
perguntou com veneno na voz – antigamente não
ria como uma hiena por qualquer coisa!
-Não devo rir? Prefere me ver triste? –
Helena perguntou sem compreender o porquê
desse comportamento.
-Porque não riria? É feliz – a acidez na
voz de Alice a preocupou.
-Fiz algo contra você? Por favor, Alice,
me diga. Se fiz, nem ao menos percebi!
Era verdade; seus dias eram tão coloridos
e alegres que ela não pensou em fazer mal a
alguém. Muito menos cogitou a possibilidade de
estar causando mágoa!
Vivia para seus bebezinhos e para Rony!
-É claro que não fez – John respondeu
por ela. – Acho que não posso mais protelar esse
assunto, deveria ter dito logo no começo, antes de
ter assumido um compromisso com Alice.
Seu tom sério deixou Rony
imediatamente tenso.
-Um compromisso? – a voz de Alice soou
chorosa, e ela largou os talheres revoltada – Nosso
casamento é apenas um compromisso?
John não respondeu imediatamente.
-Qual o problema com vocês dois? –
Rony perguntou desgostoso – Acreditei que
morando perto de casa, num lugar conhecido,
pudesse se adaptar a vida e casada! O que está
acontecendo com você, minha irmã?
-Não fale como se eu fosse culpada pelo
fracasso do meu casamento! - ela levantou-se da
mesa – Não posso viver com um homem que não
me ama! Pior, um homem que sofre por amar
outra mulher! – lágrimas correram em seu rosto, e
ela desejava sair correndo e se esconder do
mundo, por vergonha e humilhação!
-Sente-se – Rony mandou – Isso é
verdade John?
Sob a voz de comando do irmão, ela
sentou-se. Helena desejou não estar ali, presente
naquele momento.
-Ao que parece, Alice não ficará satisfeita
a não ser que possa me ver humilhado. – John
disse conformado – Enquanto não me ver admitir,
não poderá ser feliz.
Helena desejou de todo seu coração poder
calar as palavras de John.
-E o que você tem para admitir?
A postura de Rony não deixava dúvidas
de que haveria uma grande briga entre eles.
John abandonou a refeição e se recostou
na cadeira, olhando para Alice longamente. Havia
mágoa em seu olhar.
-Achei que nunca me apaixonaria na
vida. E mais, que nunca amaria de verdade.
Quando me enviou uma carta contando de seu
noivado relâmpago com uma moça do interior, eu
ri. Tenho que confessar, era impensável. Então, ao
chegar e encontrar Helena eu lhe dei razão para
tanta pressa. Precisou dois minutos de pé diante
dela, para me apaixonar.
Helena sabia que ele diria isso, mas ouvir
foi terrível. Grudou os olhos no prato, rezando
para que um dos bebês chorasse e a tirasse
daquela situação. Um movimento em falso e eles a
acusariam de saber e aprovar seu sentimento!
-Quanto mais a conhecia, mais
apaixonado me tornei. Senti paixão, senti inveja.
Todos os sentimentos que um homem apaixonado
sente ao ver que alvo de seu interesse casada com
outro. Meu melhor amigo. Quando me apresentou
sua irmã, eu vi uma luz. Um rosto divino. Uma
pele suave. Sua voz me atraia e seu corpo me
encantou. Eu não pude ver o que era isso, não
estando apaixonado por Helena.
-Mesmo assim desonrou minha irmã!
A fúria em Rony foi aplacada, por Helena
que tocou sua mão e o segurou. Era um suave
pedido para que esperasse.
A vida lhe ensinara uma dura lição sobre
amar. Helena havia aprendido a ter medo antes de
descobrir o amor, assim como aconteceu com
John.
E o medo nos cega.
-Eu me apaixonei por Helena. É a
verdade. Alice está me culpando. Acha que estou
sofrendo por ela ser mãe. – ele sorriu, como se
fosse uma tolice – mas não é verdade. Eu me
apaixonei, e me surpreendi. Para mim, a paixão e
o amor vieram juntos, ao mesmo tempo, na forma
de duas mulheres encantadoras e fortes. Eu fui
tomado por Alice. Fui... Abocanhado por sua
doçura. Eu não me apaixonei, Alice. Eu não tive
tempo de me apaixonar por você. Foi amor a
primeira vista. Amor que nunca pensei sentir. Eu
notei isso em Londres. No meu mundo, longe de
Helena, eu notei que era amor, e por isso me
afastei. – ele olhou para Rony – Não vai entender,
Rony. Para você sempre foi mais fácil demonstrar
seus sentimentos. Sempre foi mais fácil dizer o
que sente, enquanto para mim, sempre foi difícil.
Rony sabia disso, desde o internato que
ele sabia da dificuldade de John em se enturmar, e
demonstrar seus sentimentos mais íntimos.
-Quando me deixou – ele olhou para
Alice que parecia ter perdido totalmente a cor nas
faces – eu não pensei. Não pensei em nada que
não fosse à possibilidade de ter partido sem
dinheiro e se perder. Ou algum outro homem a
abordar e seduzir. Poderia acontecer, sendo tão
bonita. Que homem não iria a desejar? Depois
achei que seus pais a tirariam de mim por tê-la
feito sofrer, e então havia a possibilidade de não
me perdoar. Eu morri durante todos os dias da
viagem. Morri de medo, de tristeza, de saudade.
Se eu pensei alguma vez em Helena? Não. – ele
olhou para Helena que o entendia perfeitamente –
Nem uma vez eu pensei nela. Meus únicos
pensamentos eram encontrá-la. Saber que estava
bem. E tudo para que? Para chegar e encontrar
uma carta que dizia que não havia deixado
Londres. – ele sorriu triste – Eu achei que fosse
uma brincadeira. Teria que esperar até seu irmão
voltar. Vários dias sem saber se ainda era seu
marido. O trabalho da fazenda aliviou minha
cabeça. Comprar um lugar para nós me ajudou a
esquecer do medo que me deixasse. Mas nada me
preparou para saber que estava grávida. Quer
saber o meu primeiro pensamento sobre isso?
Alice apenas maneou a cabeça, sem
conseguir falar.
-“Ela não vai me deixar.” Egoísmo da
minha parte, mas antes de ficar feliz pelo filho que
teria, eu fiquei feliz porque não poderia me deixar
estando grávida. E isso não tem nada a ver com
paixão, desejo ou conveniência, tem a ver com
amor. Não sei dizer o tempo todo. Não sei
demonstrar o tempo todo. Infelizmente não sei. –
ele olhou para as próprias mãos, perdido.
-Porque ficou triste quando os bebês
nasceram? - a voz de Alice estava engasgada, ela
lutava contra as lágrimas, mas era uma luta
perdida. Grossas lágrimas corriam em seu rosto.
-Gêmeos – ele disse rouco. – Há casos de
gêmeos na sua família. – era como se fosse óbvio
para ele, apenas para ele.
-Tem algo contra gêmeos? – Alice
perguntou sem compreender.
-Se tivermos gêmeos, e nós os
perdermos, a dor será duas vezes maior. Eu não
sei se posso passar por isso, um ou dois filhos. Eu
não sei se posso ser pai. Simplesmente não sei.
-Não pode estar falando sério – Rony
argumentou - Ter medo de ser pai? Acha que eu
não tenho? Já viu o tamanho dos bebês? E já viu o
tamanho das minhas mãos? Eu posso esmagá-los
se não tomar cuidado!
Helena ficou surpresa em saber disso.
-Eu não fiz nada enquanto Helena tinha
um filho no meio do mato, da chuva e de uma
perseguição. E não pude fazer nada a não ser
segurá-la enquanto dava a luz no conforto de casa.
Eu não servi para nada, a não ser ficar olhando.
Acha que é o primeiro homem do mundo a ter
medo de ser pai? – Rony não estava brincando – é
apenas o primeiro a fazer drama por causa disso!
-Eu... – Helena limpou a garganta, pois
estava difícil não se emocionar – Deixem John em
paz. Coitado. Está com medo. – ela soltou a mão
de Rony e segurou a de John, a despeito dos
olhares – Sempre soube que não me amava. O que
sente por mim é carinho de irmão. Se não era no
começo, é agora. Se Alice é tonta demais para
entender, deixa-a sofrer em paz por algum tempo.
-Isso é verdade? – Alice perguntou
quando Helena se calou.
-Que a amo? – John fixou os olhos nos
dela e ela negou com a cabeça.
-Que não sou apaixonado por Helena?
Sim, é verdade.
Incrível como para as mulheres isso é
mais importante que um ‘eu te amo’, pensou
Rony, olhando de um para o outro.
-Me ama? Mesmo? De coração? – Alice
perguntou avidamente.
-Com todo meu coração – John
confessou.
Alice não foi capaz de dizer nada. Baixou
o rosto e limpou as lágrimas.
-Tenho feito papel de tola todo esse
tempo, acusando-o. Perdão, John. Perdão, meu
amor, por te magoar – ela não controlou o choro.
Helena e Rony ficaram calados enquanto
eles se reconciliavam. Helena deveria ter dito o
mesmo. Aproveitar a oportunidade e contar a
Rony de seus sentimentos. Porque não fazia de
uma vez?
Ergueu os olhos para ele, e se perdeu
naquele azul profundamente claro. Seria possível
que não conseguisse ler sua alma? Todo seu amor
estava ali, em sua face, e Helena sabia que não
podia esconder.
Se ao menos ele a pedisse em casamento
novamente, e do jeito certo!
-Alguém quer sobremesa? – ela
perguntou, afugentando a tristeza, e esse impulso
incontrolável de beijá-lo e pedi-lo em casamento,
ela mesma!
Passado o momento de confissões, ela
esperava que a noite continuasse o mais calma
possível. Estava ansiosa, apesar do medo.
Iriam fazer amor novamente. Depois de
tanto tempo!
Apreensiva com esse pensamento, quase
derrubou o bendito bolo de nozes. Rony pareceu
ler sua mente porque sorriu daquele jeito que a
queimava por dentro.
Tendo a conversa mudado, e Alice
estando mais leve e calma, eles puderam
finamente desfrutar do momento de amizade e
conversa.
-Mamãe está nervosa esperando pelo
casamento de vocês – Alice lembrou – ela está
dizendo que não é certo duas crianças não terem
seus pais casados!
-Eu pedi Helena em casamento, mas ela
insiste em dizer não.
-Helena! – Alice reclamou - Porque não
aceita se casar com Rony? É seu marido! Estão
juntos há quase um ano!
-É o que todos insistem em me dizer. Que
estamos casados há um ano, e por isso devo
aceitá-lo sempre – ela reclamou, magoada.
-E não é verdade? – Alice questionou – O
que mais precisa para saber se quer ou não viver
com meu irmão? Sejamos francos! É tempo
suficiente para saber se são felizes ou não!
-Não é uma questão de felicidade –
Helena respirou fundo, chateada em ser
questionada daquele modo.
-Então é uma questão do que? De boa
vontade?
Atacada em seu orgulho, se negou a
responder. Alice que pensasse o que quisesse!
-Helena sabe que devemos nos casar.
Temos dois filhos. Não é justo criá-los sem um
casamento. É cabeça dura e não me diz sim
apenas para provar que tem a última palavra!
Quanta insensibilidade, ela pensou, se
eximindo de responder! Era esse o homem com
quem vinha sonhando fazer amor? Ela era louca
por acaso?
-Talvez tanta relutância tenha a ver com o
fato da fazenda ainda estar no seu nome – Alice
surgiu com essa teoria.
-Se fosse isso não teria o menor problema
em exigir que passasse a casa em seu nome. – ele
concluiu – tem algo que ela quer. Algo que com
certeza vai me enlouquecer até eu descobrir o que
é!
Helena ainda não respondeu. Não podia
crer que estavam falando assim sobre ela, e diante
dela!
-Talvez... Isso possa ter a ver com o
Conde. Afinal, sempre teve ambição, meu irmão.
E a filha de um Conde é um prato cheio para
alguém que quer crescer na vida! – ela sugeriu
novamente, notando que Helena se controlava
para não explodir.
-Não vou negar. Ser herdeiro do Conde
me faz um homem muito feliz. Quem sabe, em
outra época, pudesse ter me interessado por uma
herdeira bem nascida. Mas isso foi antes de
conhecer Helena! Agora estamos casados e isso é
para sempre, com ou sem um papel para
comprovar! Santo Deus! Temos filhos! Será que
ela não pode entender isso?
Claro, muito conveniente para ele.
Desistiu de comer. A sobremesa doce e
saborosa tinha gosto de areia em sua boca. Casar-
se com uma mulher por causa dos filhos? Ele
achava isso honrado e digno. E era. Mas onde
estavam os sentimentos que sempre dizia ter por
ela?
-Tem planos de viver em Londres, meu
irmão? Com a fazenda produtiva, e a confiança
que tem em Suarez, poderia passar longos
períodos em Londres!
-É uma ideia a ser pensada. Quero criar
os meninos aqui, mas uma temporada longa em
Londres seria agradável. No futuro, claro.
Ainda bem que ela tinha Rony para
decidir por ela, pensou amargurada. Esse era o eu
príncipe encantado?
Deveria estar louca!
-Marque o casamento, Rony. Terei o
maior prazer em ser seu padrinho – John sugeriu –
Sou padrinho de Artur, e Alice é madrinha.
Natural que sejamos padrinhos do casamento
também. A menos que prefira Ducan e Carmen.
-Nem pensar – Rony riu – Carmen é
detestável. Convidá-la para madrinha de Edgar foi
um gesto de humildade com meu irmão mais
velho. Não poderia suportá-la como madrinha do
nosso casamento!
Falava como se ela fosse casar com ele.
Quanta arrogância!
Tinham filhos, estavam acostumados um
ao outro, e ela era filha de um Conde. Ótimas
razões para pedi-la em casamento!
Porco!
Esse homem era um verdadeiro porco de
arrogância, achando que ela o aceitaria por causa
de razões, que sinceramente falando, beneficiavam
apenas a ele!
Presunçoso!
-Está tão calada, Helena – Alice ria por
dentro.
Conhecia muito bem sua amiga para
saber o quanto aquela conversa a irritava!
-Diga o que pensa do seu casamento.
Precisamos definir tantas coisas! Como será seu
vestido? Prefere uma cerimônia aqui, ou em
Londres? Por certo terá que esperar o Conde voltar
com Elly para...
Repentinamente Helena levantou-se e
bateu os talheres no prato.
Furiosa, ela deixou a cozinha e marchou
para o quarto.
-O que tem essa mulher? – Rony
reclamou – Tenho a pedido em casamento há dias!
Não sei mais o que lhe dizer para convencê-la a
me aceitar!
-Por acaso, meu irmão, a pediu em
casamento por amor?
Alice sorriu por sobre o copo de suco,
que bebia delicadamente.
-É claro que meus pedidos de casamento
são motivados por amor! Que ideia, Alice!
Irritado, ele não sabia mais o que pensar.
-Eu perguntei, se você a pediu em
casamento, dizendo que é por amá-la?
-É claro que sim!
-Tem certeza? Com Helena, meias
palavras não bastam. Às vezes, você precisa ser
direto.
Confuso, tentou lembrar-se das vezes em
que a pediu em casamento. Não usara a palavra
amor. Mas isso não era necessário? Havia dito
milhões de vezes o quanto a amava! O quanto era
importante em sua vida!
Será que essa mulher ainda não sabia
disso?
Achando finalmente a razão de tantas
recusas, foi atrás dela.
O trinco da porta do quarto estava
trancado. Tentou de novo, nada.
-Helena - chamou em voz baixa, para não
acordar os meninos – Helena, abra a porta.
Nada. Silêncio total.
-Helena, preciso falar com você, tem uma
coisa que não lhe disse – ele tornou a tentar o
trinco e nada.
É claro. Não poderia gritar sob pena de
atrapalhar o sono dos filhos. Mulher insana! E ele
ainda queria se casar com ela! Prova que era mais
louco que ela!
-Helena, não seja assim – ele pediu,
ouvindo seus passos dentro do quarto. Passos que
se aproximavam da porta. – Eu não disse o que
você queria ouvir. Achei que não era preciso, que
soubesse. Helena, eu te amo. Quero me casar só
com você, e a única razão para isso é o fato de te
amar. Não são os filhos, a casa, ou o costume. Eu
te amo, e quero que case comigo. – nada. Silêncio
total – Helena, você aceita se casar comigo?
Ótimo, que romântico.
Pedi-la em casamento através de uma
porta fechada.
Demorou uma eternidade para ouvir a
chave girar na fechadura.
E mais uma eternidade até a porta abrir...
Capítulo 149 – Sim

Do outro lado da porta Helena ouviu as


palavras que tanto esperava ouvir. Um pedido de
casamento por amor.
Lembrou-se do pedido que Rony lhe
fizera pela primeira vez. Sorriu. Na verdade quem
a pedira em casamento havia sido Artur, seu pai.
E as razões eram praticas e econômicas. Afinal,
era a segunda vez na vida que via aquele moço
ruivo de olhos azuis.
Havia recusado aquele pedido, ofendida e
magoada por estar sendo pressionada a abrir mão
do pouco que tinha na vida.
Dias depois, ele a pedira em casamento
novamente, na sala de espera do banco, minutos
antes de decidir seu destino. Um mero acordo
entre dois interessados em manter a vida com
comodidade e ter um pedaço de chão lucrativo.
Naquele dia, enquanto assinava o livro de
casamento, no cartório, naquela cerimônia que
não durou mais que dez minutos, ela sentiu o frio
da solidão e do medo em pertencer legalmente a
um desconhecido.
Esse mesmo desconhecido que vivia a
seu lado, ajudando-a a superar seus medos e
aflições. O homem que lhe ensinara as mazelas da
paixão e despertara dentro dela um desejo
avassalador por mais.
O pai dos seus filhos. Crianças que não
sabia que desejava até se tornar mãe, e sentir uma
vida dentro de si.
E agora, esse mesmo homem que mudara
todo o curso de destruição de sua vida, a pedia em
casamento. Por amor. Nada além de amor.
Poderia duvidar de suas palavras. Sim,
poderia.
Mas não sentia-se capaz de ignorar os
sentimentos dele. Seu olhar ao possuí-la, sua voz
de paixão em seu ouvido. Até mesmo seus ataques
de ciúme. Seu toque era possessivo e macio, como
o toque de quem ama.
E o fato de reconhecer nele o amor, era
por reconhecer nela mesma esse sentimento.
Destrancou a porta com pressa, precisava
responder-lhe.
E a pressa de dizer era dela. Diria Eu te
amo. E então, gritaria um sim do tamanho da
emoção que a consumia.
Quando abriu a porta e olhou para Rony,
ela se esqueceu de tudo. Ele tinha uma expressão
de expectativa de quem sofre o desespero de não
saber mais o que fazer para conseguir o que deseja
e precisa para sobreviver.
O mesmo sentimento que a dividia em
duas, sempre que lhe dizia não, esperando pelo
momento que ele dissesse o que tanto queria
ouvir!
Perdida naqueles olhos azuis, não disse
nada. Simplesmente as palavras morreram em sua
mente e em sua boca. Queria saltar sobre ele e
cobri-lo de beijos. Queria arrancar suas roupas e
mostrar o quanto o amava!
Mas simplesmente não teve reação.
-Sim ou não? - ele perguntou, olhando em
seus olhos.
Era a última vez, tinha certeza. Se
quebrasse o coração desse homem, ele nunca a
perdoaria.
Porque tinha que ser tão difícil dizer a
resposta certa?
Simplesmente, as palavras não queriam
sair. Apreensiva e desesperada, ela procurou nele
a saída para sua dúvida e medo. Abraçou aquela
cintura masculina que tanto amava, escondendo o
rosto em seu peito.
Era ali que encontrava forças para vencer
todos os desafios. Para esquecer o medo e o
sofrimento, para se apegar a vontade de ser feliz
ao seu lado.
-Sim ou não, Helena? – ele repetiu,
abraçando-a e sussurrando em seu ouvido.
Somente ele para compreender o quanto
era difícil admitir, o quanto era sofrido baixar a
guarda, abrir mão de suas defesas.
-Sim – a voz soou completamente
abafada pela camisa, e ele sentiu o alívio correr
pelo corpo.
Segurou seu rosto e a fez olhar em sua
direção.
Havia um mundo dentro daqueles olhos
castanhos e agora tinha certeza que fazia parte
desse mundo.
-Eu te amo, e vamos nos casar – Rony
assegurou antes de beijá-la.
Helena aceitou seu toque e abriu os lábios
oferecendo seu melhor beijo. Avidamente,
agarrou-se em seu pescoço e seus cabelos,
beijando-o de volta.
Rony soltou seus lábios depois de alguns
minutos, sem ar, fitando seu rosto afogueado.
Podiam ouvir as vozes de Alice e John na cozinha,
e Rony acariciou seu rosto antes de se afastar de
volta para a cozinha.
Helena ficou na porta do quarto,
esperando.
Minutos depois ouviu mais vozes e o som
da porta dos fundos sendo fechada.
Continuou esperando na porta do quarto.
Seu gesto era simbólico, mas fez toda a diferença
quando Rony voltou e a encontrou esperando por
ele.
-Foram embora – disse em expectativa,
esperando talvez que ela mudasse de ideia.
Helena entrou no quarto deixando a porta
aberta. Esperava que a seguisse. E foi o que fez.
Entrou e fechou a porta atrás de si.
Parada no meio do quarto, era um convite
ao seu avanço.
Não deveria ser ele a dar o primeiro
passo. Por isso, se aproximou a passos pequenos e
lânguidos. Suas mãos caíram sobre os botões da
camisa de Rony. Não disse nada, não era preciso.
Suas mãos pareciam ainda menores a
cada botão aberto, em comparação com aquele
peito trabalhado e amplo. Terminado a tarefa,
puxou o tecido de dentro das calças e espalmou as
mãos sobre o tecido da camisa, subindo para seus
ombros, empurrando-o para fora de seu corpo.
Ombros largos, amplos e fortes. Pousou
as mãos ali, sentindo seu poder, seu másculo
poder. Nesses ombros ela encontraria o amparo
para uma vida toda.
Ergueu as vistas em sua direção, e quase
se perdeu na emoção que havia em seu olhar.
Homem perverso, desde o começo despertando o
melhor e o pior dela!
Como podia? Era apenas um homem, e
de repente, era a única coisa na vida que podia
tornar seu dia colorido.
Três homens, pensou. Sua felicidade
dependia única e exclusivamente de três homens,
sendo dois ainda bebês. Logo Helena que tantas
vezes odiou a raça masculina.
A vida muda, pensou. E muda para
melhor. Essa certeza a fez sorrir, e grudar o corpo
ao dele, beijando seu pescoço. Seus braços
envolveram sua cintura e acariciaram suas costas,
descendo beijos molhados pelo pescoço branco.
Rony deixou, e não a pressionou ou
tomou à dianteira. Ser acarinhado era um sonho,
quando sua mulher sempre está na defensiva.
Desfrutou daqueles beijos quentes, sentindo a
delicadeza de seus apertos e a maciez de seu corpo
prensado ao seu. Nunca uma mulher o excitou
tanto em sua vida.
Helena era uma obsessão, algo que ia
além de sua capacidade de pensar.
Seus beijos desceram pelos ombros, pela
clavícula, pelo peito. Sempre para baixo.
Rony gemeu quando ela beijou seus
mamilos, primeiro um, depois o outro, lambendo
aqueles pontos tão rijos e diferentes dos seus. A
textura, a rigidez. Deliciou-se com essa diferença
entre eles, e trouxe uma das mãos para apertar e
esfregar sobre um deles enquanto descia os beijos
por seu abdômen.
Amava aquele umbigo. Helena andava
sensível por conta de umbigos, então, era um
deleite contemplar um tão côncavo e bonito.
Lambeu a pele e desceu mais.
Rony gemeu quando ela abriu seu cinto.
O cinto e a calça foram abertos, mas não
se ateve a eles. Docilmente, abaixou-se e tirou
seus sapatos, então suas meias.
Rony estava no paraíso ou num lugar
muito parecido, pois ela o fazia por querer, não
por obrigação. Era amor. Só podia ser.
Com todo cuidado do mundo, tirou sua
calça e sua roupa íntima.
Levantou-se e olhou para seu corpo
branco, rijo e sensual. Um passo para longe e
olhou novamente em seus olhos. Ele sabia muito
bem o que ela queria. Quis lhe devolver o favor e
despi-la lentamente, mas ficou parado, esperando
que ela continuasse.
Tremendo, Helena abriu os botões do
vestido. Eram botões na frente, para facilitar a
amamentação, por isso logo estava livre do
vestido. Usava apenas a roupa íntima.
Rony sorriu ao ver seus antigos coletes
íntimos, aqueles modelos provincianos e
desprovidos de fitas e bordados, e que o
enlouqueciam. O colete foi retirado com certo
acanhamento.
Nada a impediu, no entanto de despir-se,
numa prova de confiança, para alguém tão
fragilizado pela própria vaidade ferida.
Tivera gêmeos, e sua barriga estava
inchada. Quase lisa, mas com um indisfarçável
inchaço. Graças a Deus não tivera estrias, mesmo
assim, era visível que não era mais a mesma.
Rony não via nada disso. Ele via sua
mulher, seu corpo que o fascinava.
Os seios graúdos, cheios e empinados. A
curva reta de seu estômago, quase tão reta como
quando a viu nua a primeira vez. Coxas firmes,
quadris redondos. Aquele triângulo de pelos ralos
e claros como seus cabelos castanhos.
Tão perfeitamente criada para ele. Cada
curvinha certa para suas mãos.
Nervosa, ela olhou para o berço,
conferindo que os bebês dormiam calmamente.
Então, reunindo coragem segurou sua mão e o
puxou para cama.
Era Eva, tentando Adão.
E ele sentia a tentação se agrupar dentro
de seu corpo.
Helena deitou-se na cama e esperou por
ele. Quando seu corpo pesado e quente a cobriu,
sentiu-se tão pequena, tão frágil, mil borboletas
em seu ventre.
Era como se fosse sua primeira vez.
-Eu... – as palavras vieram a sua boca
sem controle.
Rony ficou imóvel, esperando. No ventre
um caleidoscópio de emoções, esperando,
almejando, precisando ouvir.
Retinha a respiração, enquanto ela
parecia desesperada por ar.
-Eu te...- acariciou seu rosto, arfante,
ansiosa, necessitada de coragem, de profunda
coragem – eu te quero.
Rony quase riu, conformado.
-Eu te quero tanto – ela garantiu,
agarrando-se a ele, e o querendo em seu corpo,
suas pernas se afastaram e o cingiram pelas costas
– Não espere, amor, não espere mais nem um
minuto...
Como poderia dizer não a esse pedido
sussurrado em seu ouvido?
Com cuidado, embrenhou-se em sua
intimidade, forçando gentilmente a entrada. O
corpo de uma mulher sempre o surpreendia, tão
delicado e tão capaz de aguentar as coisas mais
dolorosas e penosas, como um parto.
Sondou sua face em busca de algo que o
impedisse. Ao menor sinal de dor, ele iria parar.
Helena gemeu, e o incentivou beijando-o. Sentira
tanta saudade dessa intimidade que o ato sexual
representava. Estar tão perto, tão junto quanto é
possível dois seres humanos estarem!
Rony gemeu em seu ouvido, fazendo
baixinho, para não acordar os bebês. Essa
intimidade tola a entorpeceu. Era divino.
Agarrou as coxas rudes, cheias de pelos
ruivos e arqueou os quadris, oferecendo-se a ele.
Entorpecida pelo prazer, acompanhou
suas investidas, os olhos fechados, a cabeça
acomodada sobre o travesseiro, enquanto o calor
crescia em seu baixo ventre e se espalhava por
todo seu corpo.
Normalmente não seria tão plácida, mas
hoje, queria tanto, e com tanto desespero, que
apenas podia sentir e consentir.
Rony parecia sofrer do mesmo mal que
Helena, pois se movia dentro de seu corpo com
agilidade, e candura, sentindo o mesmo.
Helena correu as mãos pelas costas
largas, agarrou seus cabelos ruivos e arquejou as
costas, grudando seus seios contra seu peito
quando o prazer a cegou.
Aquele delicioso mundo multicolorido
explodiu por de trás de suas pálpebras fechadas e
ela sentiu-se cair de volta a realidade com tanta
velocidade, quanto os movimentos dentro de si.
Aliviada, ela sorriu para aqueles olhos
que a observavam e fidelizavam sua imagem
dentro daquela mente cheia de ideias de carinho e
paixão.
Suavemente beijou-o e espalmou as mãos
em seu peito, empurrando-o.
-Espera, amor.
Rony parou, nunca a forçaria a continuar.
Aquele monumento de membro saiu do
seu corpo e ela ficou olhando aquilo tudo,
pensando nas maravilhas de ter um marido.
Um pensamento inconfessável!
Tornou a empurrar aquele corpo pesado e
formidável, até ter o espaço que desejava. Livre
para se mover, sentou, virou de costas e se
posicionou de quatro.
Satisfeita ouviu o ofegar que ele não pode
disfarçar. Sua mão direita, grande e cheia de calos
contornou seu bumbum, e ela abafou um grito
quando sentiu uma mordidinha.
Rony desceu mordendo levemente sobre a
pele macia e fofa, até encontrar o vale entre suas
pernas.
Úmida, pelo recente ato e gozo, era um
deleite.
Como homem, e leigo na arte de parir,
não era capaz de ver nenhuma diferença.
Igualzinha a antes, com o delicioso sabor doce de
seu sexo envolvendo-o.
Helena tentava esconder os gemidos e
controlar a vontade de gritar de prazer, esperando
que ele parasse. Mas Rony não parou. Seguiu
enlouquecendo-a com língua, dentes, e chupões.
-Oh, Rony... – ela choramingou quando o
prazer tomou seu corpo novamente. Trêmula,
precisou que a segurasse para não escorregar para
os lençóis e desabar de contentamento.
Rony adonou-se da cálida oferta de
Helena, se posicionando. Apesar da vontade por
mais, hoje, ele queria se fartar de sua intimidade.
Compensar a saudade e a necessidade de
possuí-la e marcá-la como sua. Gemendo, Rony
pincelou o pênis entre suas nádegas várias vezes
antes de se afundar em seu sexo.
Helena correspondeu com a mesma
avidez que o marido, incentivando-o, reboando,
oferecendo. Queria mais. Queria que ele estivesse
embriagado com seu amor.
Rony quis ser vagaroso e cuidadoso, mas
o desejo não lhe deu outra escolha que não fosse
arremeter diversas vezes, profundamente e
totalmente enterrado em ser doce corpo.
A forma como ela se entregava,
querendo, pedindo, oferecendo, os movimentos
rítmicos de ambos os corpos, o cheiro, o som
úmidos dos sexos se chocando, a textura da pele,
tudo isso o levou ao pico do prazer, ao mesmo
tempo em que Helena era levada novamente
aquele lugar mágico, onde o prazer a tornava
frágil, e estranhamente forte, ao mesmo tempo.
Cansada, tombou na cama, com Rony
caindo sobre ela, puxando-a para cima, de barriga
para cima, num abraço de pernas, braços e corpos
grudados.
O beijo foi tão amoroso, profundo e
satisfeito que Helena sentiu o calor da paixão
reviver dentro de si.
Os medos haviam ido embora, e o receio
dele não saber seus sentimentos também, por isso
empurrou-o contra o colchão, arrancando dele um
riso malicioso.
-Quase morri de saudade – ele disse,
beijando seu rosto todo, enquanto apertava seu
corpo curvilíneo contra o dele. – Você me
enlouquece, Helena. Desperta uma fera dentro de
mim!
Helena riu, e esse som foi tão adorável,
assim, pertinho do seu ouvido, que Rony precisou
beijá-la. Seus cabelos longos cobriam-no, e o
contato era deveras erótico.
-Faz muito tempo, não é? Dois meses
inteirinhos... – ela sussurrou em seu ouvido,
dispersando beijinhos em seu pescoço, enquanto
Rony acariciava toda a lateral de seu corpo com
mãos ansiosas.
Estava um pouco sobre ele, outro pouco
sobre a cama, e passou uma das pernas sobe suas
coxas fortes, esfregando-se contra sua rigidez.
Correu sua mão pelo corpo firme até
encontrar o que desejava. O toque foi gentil e
possessivo, abraçado cm os dedos aquele membro
maravilhoso.
Rony a prendeu em um prolongado beijo,
e Helena correspondeu com o mesmo entusiasmo
que ele, reacendendo a chama do tesão.
Estava prestes a montar sobre ele,
ajeitando-se sobre sua cintura, enquanto Rony
chupava seus seios quando o primeiro choro
aconteceu.
-Oh, não – ela lamentou olhando para o
berço.
-É melhor corrermos -ele decidiu,
afastando-a.
Amava os filhos, mas o berreiro que eles
armavam a cada vez que precisavam ser
alimentados era assustador. Fazia o que fosse para
não deixá-los nervosos e desencadear o choro dos
dois ao mesmo tempo.
Enquanto Rony amarrava o lençol na
cintura e apanhava Artur, Helena usava água da
bacia ao lado da cama, para lavar o rosto, e os
seios.
Toda higiene e cuidado para seus filhos,
mesmo que isso custasse seu desejo frustrado.
Voltou à cama e se cobriu com o lençol
que sobrara e recebeu Artur no colo. Foi rápida em
lhe dar o peito, mas não o suficiente para que seu
choro não acordasse o irmão.
Rony trouxe o bebê esfomeado para a
cama, e tentou distraí-lo. O toque de seu pai, e o
de sua mãe, pois Helena lhe fez carinhos enquanto
cuidava de Artur, o acalmaram o bastante para
parar de chorar.
Levou mais de uma hora para alimentá-
los, trocá-los e acalmá-los para dormirem
novamente e quanto finalmente conseguiram,
tanto Helena quanto Rony estavam exaustos.
Rony abraçou-a, e cobriu a ambos com
um cobertor, pois havia esfriado, e apagou a luz.
Adormeceram abraçadinhos.
Capítulo 150 – O casamento dos sonhos

Era inacreditável a diferença ocorrida em


sua vida nos últimos meses. Helena observava a
sala de espera do juizado da cidade. Dessa vez,
não estava sozinha.
Como uma doce ironia, estava novamente
esperando pelo juiz Simmons, ao lado de Rony. E
para o mesmo fim. Casar-se-iam diante da lei e
então, seguiriam para a Igreja, casar-se pela
primeira vez diante de Deus.
Ansiosa, olhou em volta. Os irmãos de
Rony, Percival e Ducan estavam ali, como da
primeira vez, mas junto a eles, toda a família
Parkers, inclusive a enjoada da Carmen.
John e Alice estavam presentes, estando
ela com Artur no colo. Edgar estava
confortavelmente adormecido nos braços da avó
Sandra.
O Conde e Elly, agora sua esposa,
haviam voltado de viagem a poucos dias, e
estavam presentes. Não seria uma cerimônia
demorada, pois o juiz Simmons não tinha razões
para apreciá-los, após ter seus planos frustrados.
Helena esperava que não demorasse.
Assim que assinassem os documentos, ela iria até
o hotel da cidade e trocar de roupa, para a
cerimônia religiosa.
A seu pedido haviam esperado mais um
mês após ter aceito o pedido, para casarem-se.
Rony nem ao menos fizera graça de sua
justificativa embora precisasse se esforçar para
isso.
Helena queria estar esbelta novamente
para vestir um dos delicados e belos vestidos
comprados em Londres e poder se casar na Igreja
com toda a elegância que qualquer mulher poderia
sonhar!
Na ocasião, Rony até sugerira que usasse
o vestido vermelho, assim, eles chocariam o
Padre e deixariam uma marca naquela cidade
pitoresca e de pensamento atrasado.
Um pequeno sorriso infiltrou-se em sua
face, e Rony olhou-a esperando que dividisse seu
segredo que a fazia sorrir. Fazendo mistério, se
afastou dele. Edgar havia acordado, e se bem
conhecia o filho, exigiria sua atenção tão logo
estivesse completamente desperto.
Por isso, se apressou a ficar perto o
bastante para que ele a visse e não sentisse sua
falta. Sandra tinha muita pratica com os bebês e
havia lhe ensinado vários truques para acabar com
as ditas manhas.
Para sua sorte, ele adormeceu sem que
precisasse apanhá-lo no colo. Vestia um vestido
cor de pêssego, muito bonito e fino, comprado em
Londres e apesar de simples, era muito caro, além
de ser especial, pois o escolhera para estar
vestindo-a nesse dia tão feliz.
E seria terrível se um dos bebes
destruíssem esse vestido com seus ataques de xixi,
ou coisa pior! Helena sempre soubera que crianças
davam trabalho, mas jamais imaginara o quanto!
Sorrindo, voltou para junto de Rony que a
observava a distância.
-Está nervosa? -ele perguntou baixinho,
enganchando seu braço no dele.
-Não. E você? - perguntou, tentando
esconder o nervosismo.
-Não, porém, também estou mentindo,
assim como você – ele fez graça.
Helena apenas sorriu. Estava nervosa, de
um modo diferente do acontecido da primeira vez.
Na ocasião sentia raiva e rancor e seu nervosismo
se devia ao medo, a incerteza.
Dessa vez, era diferente. Não sabia
definir as razões, mas seu coração estava
acelerado, suas mãos suadas e sentia um frio
intenso dentro de si, como se estivesse frio e
quente ao mesmo tempo.
-Casamento é um passo muito sério -ela
disse de um modo tonto, bobo.
-Tem razão -ele riu, deliciando-se com
sua expressão assustada e nervosa – Acha que
deveríamos ter pensando um pouco mais antes de
tomar essa decisão tão séria?
-Não ria de mim - ela reclamou – Já
disse que não estou nervosa, ou preocupada.
-Sim, eu ouvi – ele baixou o rosto e roçou
seu rosto com um suave beijo – Somos casados
onde importa, Helena. Assinar os documentos é
mera formalidade.
-E onde importa? – questionou com olhos
brilhantes.
-Você não sabe? -ele trouxe sua mão
sobre seu coração e ela sorriu, mas não respondeu.
-Da primeira vez em que nos casamos,
tudo em que podia pensar era em arrancar os seus
olhos por estar me obrigado a casar! – revelou
baixinho. – Como o odiei! Não tem a mínima
ideia do quanto o odiei!
-Esta enganada, eu tenho a exata ideia do
quanto me detestava. Deixou claro durante
semanas o quanto me odiava. Lembra-se?
Passamos o primeiro mês de casados sem trocar
mais que algumas palavras! -essa lembrança era
uma terna recordação para ele.
-Era um momento tão difícil para mim –
explicou.
-Sei que ainda deve doer a perca de sua
família. Mas a vida não pode parar.
-Sei disso, agora, eu sei disso. – sorriu
apesar da tristeza que as lembranças lhe
causavam.
-Helena, não ouse ficar triste. Hoje, não
suportarei ver nada menos que o seu sorriso. Está
me entendendo? – provocou.
-Sim, estranho. Estou entendendo
perfeitamente – provocou de volta.
-Não serei um estranho por muito mais
tempo – ele garantiu com tanta satisfação na voz,
que ela não pode deixar de responder:
-Nunca foi um estranho para mim...
Pronto, pensou Rony. Não precisava de
mais nada em sua vida. Não havia sido um ‘eu te
amo’, mas soara como um. Se o juiz Simmons
não houvesse entrado naquele momento, a teria
pego nos braços e levado para o primeiro local
com uma cama que encontrasse pela frente!
O juiz baixinho e desagradável entrou
ruidosamente contrariado, sendo seguido de perto
pelo juiz Demetrius.
Tendo encontrado uma fonte de lucros
indevidos, Demetrius não sairia daquela cidade
enquanto não o depenasse e aumentasse suas
próprias economias pessoais e sendo assim, o juiz
Simmons tinha que suportá-lo, ou abdicar de seu
imponente cargo.
Simmons fitou os dois jovens a sua
frente com verdadeiro nojo. Tantos meses
paparicando aquele jovem arrogante e ambicioso,
apenas para ser passado para trás! Trocado por um
sogro Conde! Onde já se viu!
Graças a egoísta e insuportável Helena
Johnson, sua filha, sua adorada Susan estava
casada com um homem mais esperto que ele e que
lhe abocanhara um estupendo dote!
Irritado, abriu o livro de registros e
ofereceu a caneta para um deles apanhar. Com
pouco animo, começou a proferir as palavras que a
lei o obrigava a proclamar. Como se não
soubessem dessa ladainha toda!
Rony sentiu o sangue ferver e a vontade
incontrolável de esmurrar o juiz de paz. Aquele
homem estava destruindo seu casamento!
Helena segurou seu braço com mais
força, e o desarmou. Estava achando graça da
irritação e contrariedade do juiz. Se divertia com
sua desgraça, quando há pouco tempo atrás, ele se
divertia com a sua! Tinha uma mulher vingativa e
era muito bom não esquecer disso nunca!
O discurso foi rápido e Rony apanhou a
caneta de sobre a mesa, lançando um olhar de
desafio ao juiz ante de assinar. Naquela mesma
pagina poucas linhas acima constava sua
assinatura, ao lado de Helena, de quase um ano
atrás. Em menos de uma semana completariam
um ano de casados. Inacreditável.
Helena o cutucou brandamente ao notar
sua demora em assinar. Em seus olhos uma
labareda de ódio, que o dizia que se a deixasse ‘no
altar’, ela o mataria.
Sua assinatura correu sobre o papel e
sério, entregou-lhe a caneta. Helena não viu nada,
mal enxergou a linha onde deveria assinar. Seu
coração batia tão forte e acelerado, que a tornou
cega e surda para tudo a sua volta.
Sua letra tremeu sobre o papel e quando
terminou, ouviu os comentários de felicitações,
enquanto Rony recebia nas mãos a nova certidão e
casamento.
Mostrou a ela com expressão solene e
Helena não disse nada. Engoliu o choro que se
aproximava inundando seu coração de angústia e
amor.
-Isso é meu não é? – perguntou
segurando a certidão nas mãos tremulas.
-Sim, é sua – ele beijou sua testa, se
controlando para não beijá-la com o desejava.
-Guarde-a para mim – ofereceu.
Era um passo gigantesco. Confiança.
Confiar que poderia cuidar dela.
Suas mãos se enlaçaram e ele iria beijá-
la. Não se importava em ter platéia. Iria beijá-la se
o juiz não pigarreasse, arrogantemente informando
que precisava daquela sala para dar
prosseguimento ao seu trabalho.
Helena conteve o riso, e isso pareceu
enfurecer ainda mais o pequeno homem, e se
Artur Parker não fosse rápido, sua mulher Sandra
teria dito umas verdades a juiz.
Depois dos parabéns, Helena precisou
apanhar Edgar ou ele acordaria o irmão. Ser mãe
exigia muito e sua doação tinha que ser total.
Mesmo no dia do seu casamento.
Em frente ao hotel, eles desceram da
carruagem e Helena não pode lhe dar muita
atenção. Precisava amamentar, e deu graças por
ter ajuda de Sandra e Alice, ou ficaria cheirando a
fraldas sujas em seu casamento!
Sempre sorrindo, ela conduziu o período
longo de alimentá-los, conversando e deixando
que Alice cuidasse de prender seus cabelos
enquanto Artur mamava calmante, olhando –a
ocasionalmente com aqueles olhinhos azuis e
infinitamente ternos.
-Eles me lembram tanto Rony nessa
idade – Sandra disse em determinado momento
enquanto Anna alisava a saia do vestido que
Helena vestiria em momentos, e Edgar estava
sobre a cama, muito ocupado em olhar para as
luzes que vinham da janela, onde o sol banhava o
quarto. Para ele era novidade. – Para ser franca,
me lembram todos eles. – ela mesma riu – Tive
filhos muito parecidos. Nenhum, no entanto,
parecido comigo.
-Não diga isso, mamãe, ou Helena vai
culpar Rony por isso também – Alice brincou.
-E é verdade. É tudo culpa dele – a
doçura em sua voz mostrava elas que não havia
raiva, rancor ou ressentimentos. Apenas doçura.
-Prontinho – ela disse ao terminar de
alimentar o filho. – Posso me trocar agora?
-Sim. Rony insistiu em esperar na Igreja.
Os homens estão esperando por nos na doceria.
Temos muito tempo ainda. – Sandra ajudou-a a
despir o vestido, suspirando ruidosamente – Que
inveja – ela disse observando suas curvas fininhas
– que inveja!
-Mamãe! – Alice riu e Helena
acompanhou-a.
-Ducan estragou todo o meu corpo - ela
suspirou novamente, trazendo o vestido para que
vestisse – Levei meses para ficar bonita outra vez.
Então, veio Phill. Vários meses lutando para ser
eu mesma novamente, e pronto, vieram os
gêmeos. Então, eu desisti de lutar e me conformei
– contornou na própria cintura avantajada –
Nunca tive facilidade para ficar magra como você.
Que tristeza.
-Mamãe, assim me assusta – Alice pediu,
melodramática.
-Está bem, está bem. Deixe-me fechar os
botões...isso, está pronta, Helena.
Helena observou-se longamente diante do
espelho de corpo todo.
Havia escolhido um vestido branco,
bordado em fios dourados, com fitas nas mangas
que eram fofas nas alturas dos ombros. O corpete
a deixava longilínea e elegante, realçando os
seios, que estavam voltando ao normal.
Sandra tinha razão. Estava magra
novamente. E seu umbigo, graças a Deus, havia
voltado ao lugar, pensou maliciosa, lembrando-se
de como Rony o beijara na noite passada,
enquanto faziam amor...
-Preciso falar com ele –disse de repente.
-Terão a vida toda para conversarem –
Sandra disse ajeitando seus cabelos, num último
retoque.
-Preciso dizer algo a Rony, algo que
nunca disse. E tem que ser antes do casamento! –
decidiu, seria agora, tinha que contar a ele como
se sentia!
-Poderão falar enquanto o Padre fizer seu
sermão – Alice sugeriu, cuidando os sobrinhos
que dormiam.
-Não, tem que ser uma conversa
particular -ela olhou para Anna que lhe sorriu –
Me ajude a escapar e ir até a Igreja!
Sob os fervorosos protestos de Sandra e
Alice, Helena escapuliu ajudada por Anna que
seguia mais a frente checando se não havia
nenhuma membro da família no caminho para
barrar sua passagem. Na Igreja, Anna avisou-a
que haviam muitas pessoas esperando, sentadas
nos bancos, e não passaria desapercebida.
Afinal, era noiva. Rindo de sua
travessura, Helena deduziu que Rony estaria na
sacristia. E conhecia uma entrada pelos fundos.
Pedindo que Anna esperasse ali fora, decidiu que
era a hora da virada! Diria tudo que sentia!
E seria antes do casamento!

Rony tinha que se lembrar desse dia para


sempre, desse modo, quando seus filhos
estivessem naquela posição de noivo, ele poderia
achar graça e tentar incentivá-los, sabendo muito
bem pelo que estavam passando.
Era casado com Helena há um ano e
haviam acabado de assinar novamente os papéis
que os ligavam um ao outro para toda a vida!
Então, porque estava tão nervoso? A resposta era
bem simples e clara. Helena é imprevisível. Como
um tornado. Impossível prever seus atos.
Poderiam dizer-lhe não bem diante do altar, ou
sair correndo ou ainda dizer-lhe e sair correndo!
Parte de sua razão, o alertava que Helena
estava amadurecida para o amor e aceitava seus
sentimentos e que não lhe diria não, pois também
estava apaixonada. Porém, o medo é algo
irracional. Incompreensível.
Tanta coisas podem sair errado em um
casamento. O noivo pode desmaiar, por exemplo.
E nesse caso, o noivo era ele. Um dos bebes
poderiam chorar, ou os dois, então, Helena teria
que se casar com um filho agarrado ao seio...ou
ela poderia tropeçar no vestido. Ou o Padre
enfartar, afinal, todos sabiam que o velho Padre
vivia ameaçando que isso acontecesse como uma
premonição ou praga divina. Fechou os olhos
lembrando-se que não era uma cerimônia grande.
Era algo íntimo e qualquer interrupção poderia ser
contornada e controlada. Com exceção da morte
do Padre, claro.
Rony ouviu a porta se abrir, e achou que
seria um de seus irmãos para atazanar e implicar
com seu nervosismo!
-Eu sabia que não me deixariam em paz!
– virou-se sorrindo, até descobrir quem era seu
visitante. – O que está fazendo aqui?
-Não imagina porque vim? – sua voz
soou calma, mas havia mais, havia um tom de
perigo de alerta.
-Não tenho a mais pálida ideia de sua
razão em estar aqui, nessa hora imprópria,para ser
franco, em hora alguma seria conveniente estar
aqui! – respondeu friamente – Seu marido sabe
que está aqui?
-Loren? – Susan sorriu amargamente – É
claro que não. Disse ao pobre diabo que estava
indisposta. Como poderia vir a seu casamento
depois de tudo que nos aconteceu? Impossível!
-Não aconteceu nada entre nos, minha
jovem – ele achou graça, mas não viu razões para
se preocupar com essa visita indiscreta.
-Sim, o destino foi cruel comigo. Não
finja que não sabe do meu sincero apreço por você
– se aproximou.
-Sua mãe sabe que esta aqui?
-Minha mãe? – ironizou – ficou feliz com
meu casamento. Acha que é vantajoso dada a
minha situação! Sabia que o Juiz Demetrius
decretou que o único modo de esquecermos esse
infeliz incidente, seria que eu me casasse? Odeio
esse homem! Cobra de meu pai, como se fosse um
inquisidor! – Susan não possuía mais em sua face
a inocente beleza primaveril, e sim uma amargura
dura e solida de quem aprendeu que a vida pode
ser difícil – Meu pai disse que tudo se resolveu.
Que não era bígamo. Eu fico pensando...sua
mulher...seu pai é um Conde...foi isso não foi? A
razão para não se livrar dela definitivamente?
-É isso que pensa?
-que outra razão haveria para preferir
Helena a mim? – apesar do próprio sofrimento,
não era capaz de ver com clareza além do próprio
umbigo. Rony esperou que continuasse,
apreciando o grande espetáculo de sua arrogância,
e soberba – Eu pensei muito...no que poderia fazer
para me salvar desse casamento sem amor e
cheguei a conclusão que todo esse tempo meu pai
esteve errado! Rony, eu me apaixonei no dia em
que o vi. Desde o primeiro minuto que o vi! -
Susan se aproximou e Rony esperou, curioso para
ver até onde ela iria em sua farsa de amor – Papai
tentou coagi-lo. Que erro! É um homem de espírito
livre! Aventureiro!
Sua empolgação causou uma ruga de
preocupação na testa de Rony. Desde quando era
um homem aventureiro? Seu maior desejo era
firmar raízes e ter uma vida tranquila ao lado da
mulher que escolheu!
-Pensei muito. Muito mesmo – ela
conspirou, confidenciando seu segredo – A
fazenda é sua. Pode vendê-la quando quiser. Meu
pai tem um cofre em casa, e sei a senha, ouvi por
descuido quando dizia a minha mãe. Sei que tem
muito dinheiro nele. E tem...Loren. Ele tem um
cofre em Londres. Consegui que me dissesse a
senha...- um pequeno sorriso vitorioso surgiu em
seus lábios – a despeito das coisas nojentas que
faz comigo, ele me aprecia muito e confia em
minha índole. Não foi difícil enganá-lo! Agora,
pense comigo. Podemos fugir daqui e sermos
ricos. Teremos um futuro esplêndido! – seu
sorriso era contagiante e ele quase riu. – por favor,
de sua resposta!
Helena entrou escondida e se aproximou
da porta da sacristia. Estava entreaberta, então, ela
espiou. Ouviu vozes e estranhou ser uma voz
feminina.
-Preciso saber, Rony! Vamos ficar com
tudo! Podemos ir embora logo após a cerimônia.
Sou casada, infelizmente. Não poderíamos de
qualquer modo casarmos na Igreja ou no civil.
Então, que me importa que também seja casado?
Podemos ir para um lugar onde não nos conheçam
e seremos marido e mulher! Não me deixe na
expectativa! Me diga logo o quanto me quer!
-Se eu a desejo tanto, porque não aceitei a
alternativa que seu pai me oferecia? Teria me
livrado do casamento com Helena e estaria livre
para me casar com você – Rony provocou.
-Como? Com aquela cortesã no seu
caminho? Eu entendo perfeitamente que assumir
ser casado com ela, o tornaria um joguete em suas
mãos inescrupulosas! Mas agora, ela esta fora da
sua vida, não sei que fim deu, mas ela foi embora.
Estamos livres para sermos felizes juntos!
Helena mal acreditou no que ouvia. Em
outros tempos teria arrombado a porta a acusado
os dois de traição. Mas hoje, mais calma e
centrada, esperou. Queria ouvir tudo. Cada
palavra, para então, tirar uma conclusão sobre o
que se passava entre os dois.
-Tão simplesmente abandonar tudo?
Tenho filhos. Deve ter sabido do nascimento dos
gêmeos. –ele instigou.
-Ora,por favor, Rony! Quem lhe garante
que esses filhos são seus? Helena pode ter sido
violentada junto com sua irmã!
-Mas então, as crianças teriam nascido
muito antes. as contas não batem – ele contrariou.
– Além do mais, era virgem em nossa noite de
núpcias.
Susan suspirou, como uma criança
mimada faria.
-Talvez não tenha sido fiel.
-Os meninos tem minha fisiologia. Caso
não acreditasse em sua fidelidade teria que
acreditar nisso.
-Não me importo se quiser levá-los. – ela
cedeu, achando estar entrando em um acordo.
-Se dedicaria a criá-los como seus, ou os
trataria como bastardos indesejáveis? – Rony
sentiu uma raiva tomar conta de seu corpo.
A pouco havia decido livrar-se daquela
conversa indesejável e dar o assunto por
encerrado. Mas agora, ouvindo seus planos
dissimulados para seus filhos, decidiu por resolver
o problema de um modo mais enérgico.
-Não gosto dela. Não suportaria criar
seus filhos como meus. Mas posso ser uma boa
mãe, mesmo sem amá-los. – ela sorriu – pense,
Rony, quão adorável será nossa vida longe daqui!
Somente nos dois, nos amando e conhecendo o
mundo, sendo livres. Será uma vida de tanta
alegria! Terá uma mulher doce, que sabe cuidar da
casa e cuidar de um marido!
-Imagino que sim, Loren deve ter se
fartado com seus predicados – disse para magoá-
la. – O que a faz pensar de abrirei mão de um
casamento feliz, com uma mulher que me satisfaz
totalmente, e tudo isso, para fugir com uma
mulher de outro homem. Uma mulher que nunca
me despertou nada além de boas risadas diante de
suas falhas tentativas de sedução?
-Não pode estar dizendo isso! -ela
lançou a luvas que segura nas mãos, sobre ele,
furiosa – Sou tudo que um homem pode sonhar!
Sou linda! Sou angelical! Eu tive a melhor das
educações!
-Sim, e teve também, uma mãe terrível
que a convenceu que é a mulher mais maravilhosa
do mundo! E talvez seja, mas não para mim. Em
poucas horas estarei me casando. E não quero que
sejamos vistos juntos. Agora, faça-me o favor de
sair.
-Não! Rony, meu amor, eu digo as
senhas, você quer uma prova do meu amor, pois
eu digo as senhas. Assim, poderemos começar
sem segredos! -ela tentou abraçá-lo e Rony
afastou-a com firmeza.
Ela repetia as sequência de números e ele
se pegou pensando em como contaria ao seu
antigo patrão, o Sr.Loren que sua mulher atentava
contra ele.
-Volte a razão! -ele tentou sacudi-la –
Não pode seguir contando os segredos de sua
família desse modo! Acaso deseja que sejam
roubados!? Cale-se e volte para junto de sua
família! Vamos esquecer esse incidente
lamentável!
Rony teve a atenção distraída para som
de passos e vozes. Havia alguém do outro lado da
porta. Susan também notou.
-Pode não me desejar, mas vou destruir
seu casamento! Contarei a todos que somos
amantes! Vão acreditar em minha mentira! Se não
me quer, estará arruinado! Furiosa, e vingativa,
Susan correu até a porta e escancarou-a,
esperando encontrar o Padre ou algum parente de
Rony. Paralisada, ela ficou imóvel ao se ver de
frente ao marido, o Sr.Loren.
-Eu disse que sua mulher estava aqui –
uma voz inconfundível soou logo atrás do pequeno
homem.
-Sua infeliz! – Susan gritou ao ver Helena
– Sua desgraçada!
Rony segurou-a antes que avançasse
contra Helena. Não precisava ter feito isso, pois
Loren resolveu o problema acertando-lhe um tapa
de deixar a face roxa por semanas.
Caída no chão, ela começou a chorar.
Rony tentou se aproximar da moça, com
pena, mas a voz dura de Helena o parou:
-Espere. O juiz Simmons deve estar
chegando.
-Não, meu pai não! -ela gritou
desesperada.
-Iria me abandonar – Loren disse
magoado. – E me roubar?
Rony conhecia o homem para saber que
perder a mulher tudo bem, mas perder o dinheiro...
-Helena o que está fazendo aqui? – ele
tentou segura-la, mas Helena se afastou.
-Não me segure, estou furiosa. E não é
com você.
Era um claro aviso. Helena ficou de pé
esperando até enxergar o juiz Simmons vir
apressado, com o juiz Demetrius atrás dele. No
instante em que eles entraram na Sacristia e o
Padre surgiu esbaforido correndo atrás dele,
Helena relaxou e se aproximou.
-Agora podemos ir -ela disse calma,
olhando para a jovem que chorava
descontroladamente.
Rony a tomou pelos ombros e tirou de lá,
apressado. Fora da Igreja, ele notou que os
convidados se aglomeravam. Obviamente os
gritos de Loren e Susan, haviam atraído a
curiosidade de todos.
Era um escândalo.
-Helena, eu não sabia que ela iria... –
tentou se explicar, mas ela parou e colocou os
dedos suavemente sobre seus lábios.
-Eu sei. Ouvi a conversa. Por isso chamei
Loren para ouvir também.
-Estava ouvindo o que dizíamos e não
entrou? – estranhou.
-Porque entraria? Não era um assunto
meu ou seu. Chamei a quem interessava ouvir.
-Tem lógica -ele concordou.
O fato de Helena não o acusar mostrava
toda sua confiança. Era incrível que pudessem
passar por algo assim sem uma tempestade.
-Precisamos avisar os convidados – ela
disse triste e pensativa.
-Avisar sobre o que? – estranhou,
tentando abraçá-la, mas ela escapou de seus
braços.
-Não vai haver casamento. – avisou.
-Helena, eu não fiz nada para incentivá-la
a falar comigo! Juro que não planejei nada com
aquela jovem! Eu...
-Não estou acusando-o de nada. Apenas
não vou me casar depois disso! Recuso-me a ter
essa lembrança horrível marcando o dia do meu
casamento na Igreja!
-Helena, estão todos aqui, você não quer
se casar e resolver logo essa questão? – insistiu,
preocupado.
-Questão? Vou lhe dar uma questão para
pensar, Ronald! Um dia quando nossos filhos
perguntarem como foi nosso casamento, terei de
dizer que me casei numa Igreja onde momentos
antes uma vagabunda tentava seduzir meu marido!
Que tive que esperar que ela apanhasse do pai e
do marido, para poder me casar! E que meus
convidados, passaram todo o dia de festividade
por causa do meu casamento, comentando sobre
um escândalo que não me diz respeito! Ou me
caso direito, dessa vez, ou não me caso!
Sua veemência calou seus protestos.
Assim como calou a conversa dos convidados.
E desse modo, o casamento foi adiando.
Capítulo 151 – O Casamento real

Dois dias depois não puderam colocar os


planos de casar em prática, pois uma chuva
horrível caia sem parar. No dia seguinte, estava
nublado e ameaçava mais chuva.
Mais um dia, e o Padre reclamava de
suas costumeiras dores, até cair de cama
seriamente.
Quatro dias depois, recuperado, não
puderam nem sair de casa, pois Artur estava
febril. No dia seguinte, foi a vez de Edgar mostrar
os mesmos sintomas do irmão.
Rony reclamava pela casa,
principalmente por Helena estar se recusando a
fazer amor. Segundo ela, faltava tão pouco para o
casamento religioso que poderiam fazer um
esforço e esperar.
Precavido, e suspeitando que para seu
total azar, dessa vez o velhaco do Padre bateria as
botas, apenas para frustrar-lhe o desejo de casar,
havia tramado com Mathias para que ele buscasse
um Padre na cidade vizinha.
Afinal, não custava prevenir.
-Muito ocupado?
Ele deixou os livros de contas que
analisava e olhou para ela. Parada na porta da sala
onde ele finalmente instalara seu escritório, junto
as tão sonhadas estantes de livros, presente do
Conde, Helena o tentava vestindo apenas a
camisola.
-Levantou cedo – ela sorriu, disfarçando
um bocejo.
-Sim, hoje iremos mesmo nos casar –
contou a ela.
-É mesmo? – debochou – Estava achando
que casamento era apenas um mito.
-Pelo visto, pensamos a mesma coisa –
estendeu a mão convidando-a a se aproximar dele.
Sentado atrás da mesa, moveu-se e gerou
espaço para puxá-la para seu colo. Placidamente,
Helena sentou em seu colo e enlaçou seu pescoço
com os braços, descansando o rosto em seu
ombro.
-Não quero desanimá-lo, mas acho que
estou ficando doente. Devo ter pegado o resfriado
dos meninos... – contou, suspirando de
contentamento.
-Não se atreva, Helena. Não posso mais
esperar. Ou nos casamos hoje mesmo, ou nunca
mais!
Ela riu de sua veemência, e cochichou
contra seu pescoço.
-É verdade que mandou buscar um
Padre?
-Sim – ele tentou não corar – Não posso
mais contar com a sorte.
-Não seja pessimista - ela riu contra seu
pescoço.
Era um atributo que não podia mais
atribuir a ela. Sempre sorrindo, era impossível não
se admirar com a mudança ocorrida em seu humor
nos últimos meses.
-Não entendo. Fizemos amor durante
meses. E fizemos mesmo sem estarmos casados
oficialmente. E para o bem, ou para o mal,
estamos casados legalmente.
-Sei disso – ela concordou mansamente –
Se vou me casar, quero que seja do jeito certo. E
faço questão de ter uma noite de núpcias decente!
-Está se queixando? – provocou.
-Não. Porém não pode negar que nossa
noite de núpcias foi no mínimo, atípica.
-Atípica e deliciosa – ele relembrou – Só
de lembrar, ficou louco. – confessou, correndo as
mãos por seus quadris, sua cintura e subindo para
seus seios.
-Não comece algo que não terminará –
Helena alertou, fugindo dele, e saindo do seu
colo. – Vou me vestir e pedir a Juanita que avise
todos que vamos tentar outra vez.
-E que seja a última vez - ele rogou,
recebendo um olhar sujo quando ela entendeu a
duplicidade da sua frase.
Ainda ria quando ela fugiu para o quarto.
Era manhãzinha, e como suspeitava, em
poucos minutos os meninos acordaram.
Logo as reclamações de Juanita corriam
pela casa. Alegre, a mulher brigava com os filhos,
para que não incomodassem, reclamava de Anna e
esbanjava alegria, depois de ter se acertado com o
marido.
Ele esperou as vozes terem diminuído
para ir até o quarto. Anna trocava Artur enquanto
Helena amamentava.
-Sabe que dia é hoje? - ele perguntou
escorado no batente da porta.
-O dia do nosso casamento? – ela tinha
um olho nele, e o outro no filho, que mamava
calmamente.
-Além disso – ele insistiu, vendo-a corar
um pouco.
-Porque deveria saber? – ela
ridicularizou.
-Porque é um dia importante – ele notou
o modo como ela baixou o rosto, acanhada. – Faz
dezoito anos hoje, ou estou enganado?
-Como poderia, se o Conde fez alarde
disso durante toda a semana?! – ranzinza, olhou
para ele de lado – Não gosto de aniversários.
-Mas eu gosto de aniversários. Pode
deixar que eu termino, Anna – ele pediu, notando
a menina quase correr para fora do quarto.
Helena observou-o colocar uma fralda
nova no menino, ajeitando o pano em volta de seu
corpo, enquanto precavidamente, mantinha uma
tolha no ombro.
Digamos que os meninos achavam
engraçado acertar-lhe no rosto. Depois de algumas
vezes, ele finalmente aprendera a lição.
Terminando de amamentar, ela fechou a
camisola.
-Não tenho mais tanto leite – explicou
triste – Não sou capaz de escolher, então, alterno
entre eles. Juanita está preparando a mamadeira
para Edgar.
-É assim que deve ser. – ele acalmou-a –
Não force seu corpo. E nem se culpe por isso.
-Não me culpo por mais nada – disse,
deixando a cama e se aproximando dele.
-Vou ganhar um presente? Pelo meu
aniversário?
Rony abraçou-a, aspirando o perfume de
seus cabelos e de sua pele.
-Hoje à noite, vai ganhar um presente que
nunca irá esquecer – prometeu, beijando-a.
Ansiosa por esse presente, Helena
correspondeu ao beijo. Era difícil manter sua
convicção quando Rony a beijava desse modo.
Tão difícil, que não protestou quando ele a deitou
na cama. Para sua sorte, um lembrete que não
estavam sozinhos, estava bem ali ao seu lado.
-Rony! - ela lhe deu um tapa no braço
para que não soltasse – Esquecemos deles –
reclamou, virando-se de lado para ver os filhos.
Eles estavam na cama, acordados,
precisando de atenção.
Com quase dois meses de vida, estavam
graúdos e fortes. Cresciam a olhos vivos, e ela
estava bem satisfeita com isso. Tanto que quando
Artur choramingou, ela encostou o nariz em seu
rostinho, acariciando:
-Não chora amor da mamãe – fez graça
para o bebê – vamos mandar o papai embora? Se
não ele não vai deixar a mamãe em paz!
-Engraçadinha – ele beijou seu pescoço.
– Vou cuidar de um assunto com o Conde. Não
esqueça que não pode fugir de mim para sempre.
Helena lançou-lhe aquele olhar sujo que
tanto o excitava. Como se ela quisesse fugir!
-O papai é tão bobão – ela confidenciou
aos gêmeos – Vocês dois não vão ser bobões
assim, não é? É claro que não!
Riu quando os bebês pareciam
compreendê-la. Sua paz não durou muito, pois
logo Juanita apareceu com água quente para seu
banho...

A Igreja havia sido enfeitada com flores e


arranjos de ramos verdes. Organza branca cobria
os bancos, enfeitando as fileiras de bancos de
madeira. O Padre velhote havia insistido em
realizar aquele casamento, e por causa disso o
Padre trazido especialmente para o casamento
estava sentado ao lado dos familiares do noivo.
Noivo este, que de pé, no altar, contava
os minutos. A seu lado, John e Ducan. Alice e
Carmen eram as madrinhas.
Elegantemente vestidas, ao lado dos
maridos, elas refletiam toda a calma e serenidade
que as mulheres têm nessa hora, embora,
ocasionalmente Alice cochichasse algo com John.
Pobre John. vinha sofrendo dos males
que Rony padecera a pouco tempo atrás. Com
quase sete meses de gravidez, Alice ostentava
uma barriga bem menor que Helena ostentara em
sua gravidez, mas vinha se queixando muito mais
que ela.
Mas enfim, era problema de John.
O seu problema estava vinte minutos
atrasado.
Helena deveria ter chegado a vinte
minutos. Nervoso, pensava em todas as piores
coisas que poderiam ter acontecido. Mas não
conseguia pensar no óbvio.
Tanto, que quando Juanita entrou
discretamente seguida por Sandra, ambas
carregando os bebês, sequer imaginou que a razão
de seu atraso teria sido os filhos.
Helena deveria ter desistido, fazia
sentido, não é? Nunca quisera se casar com ele!
Nunca!
Perto de gritar de ansiedade, nervoso e
tantos outros sentimentos que não sabia definir,
reteve a respiração, quando os músicos
começaram a tocar a suave melodia escolhida por
Helena.
Pela porta da Igreja, ele avistou o Conde,
Edgar de Valença, orgulhosamente levando a filha
pelo braço.
Helena havia trocado a escolha do vestido
anterior, do casamento que não acontecera, por um
modelo delicado e suave. Tinha um tom branco,
quase róseo. Camadas de seda caindo até o chão,
enquanto o corpete trazia tramas de bordados
feitos a mão. As mangas não passavam de tule
muito leve, cobrindo seus ombros. Usava a pérola
em seu pescoço, que ele lhe dera. E prendera os
cabelos no alto da cabeça com a presilha que ele
também lhe dera. Metade do cabelo caia solto por
suas costas, e uma mexa rebelde pelo busto.
Nas orelhas brincos de diamantes, nos
pulsos, pulseiras tão caras quanto os brincos. O
Conde não poupava presentes para a filha.
Nas mãos um buquê pequeno, de flores
do campo.
-Tem certeza, minha filha? – o Conde
perguntou baixinho e ela olhou para ele por um
momento, sorrindo para acalmá-lo.
-Sempre o quis, meu pai. Sempre –
confessou.
Seu amplo sorriso apagava qualquer
dúvida quanto a isso.
Levar sua filha até o altar e entregá-la ao
marido era uma honra que o fazia pensar em
Madeleine. No quanto ela estaria feliz naquele
momento. A infelicidade apenas existia no
passado, pensou, sorrindo para Elly, sua
verdadeira Michelle, ao passarem diante dela.
Helena tinha os olhos fixos no homem
alto, ruivo e bonito no altar, esperando por ela.
Fleches do passado vieram a sua mente,
lembranças de quando lhe apontara a arma no
meio da estrada, e o assustara até a morte,
atirando em seu cavalo. Lembrança de seu olhar
profundamente azul e erótico que vira pela fresta
da porta espiando seu banho, aquele mesmo olhar
que a entorpeceu na primeira vez em que a
possuiu, mostrando-lhe todo o sentido da paixão e
do amor.
Aqueles olhos que no início sempre a
incomodavam, seguindo-a onde quer que fosse.
Agora, ela entendia que fazia o mesmo. O seguia
com os olhos, e era por isso que sempre sabia que
ele estava olhando para ela.
Eram um casal louco.
E o amor os fazia a cada dia mais loucos
e felizes.
Perdida naquele olhar azul, nem ouviu o
chorinho de um dos bebês, que Sandra apressou-
se a acalmar, não ouviu os comentários sobre
como estava bonita, muito menos viu Sandra
segurar a mão do marido, satisfeitos por terem seu
filho de volta e terem ajudado a lhe dar um rumo
na vida.
Enviaram-no para estudar fora, e o
destino tratara de trazê-lo de volta, e fincar suas
raízes tão firmes naquele chão, quando as deles
próprios.
Finalmente entregue, o Conde entregou
sua mão a Rony.
-Faça-a feliz – ele disse numa
recomendação e ao mesmo tempo numa ordem.
-É para isso que vivo – respondeu sem
sombra de intimidação.
A mão delicada, tremeu entre as suas e
ele apertou com convicção para lhe dar a certeza
que tudo estava bem.
Os dois se postaram de joelhos diante do
Padre e a cerimônia começou.
Estranho, pensou Helena. Não conseguia
ouvir uma palavra sequer. Olhava para Rony o
tempo todo e o encontrava olhando para ela do
mesmo modo. Em dado momento, lembrou-se de
sua mãe, de sua irmã, e sorriu para Rony.
Uma tragédia e uma bonança. Rony viera
como um vento de felicidade transformando sua
vida em uma alegria constante. Precisava dizer
isso a ele.
O Padre seguiu com o sermão religioso, e
Helena inclinou-se apenas o suficiente para
cochichar:
-Eu sou feliz.
Rony pensou se não teria imaginado esse
sussurro. Não podia responder a altura, não num
altar, e não diante de um Padre. Concordou com a
cabeça, incapaz de falar.
Por sorte, o Padre finalizou seu sermão.
Um arrepio correu a espinha de Rony ao ouvir a
pergunta.
-Ronald Parker, você aceita Helena
Johnson como esposa, para honrar e respeitar, até
o fim de seus dias?
-Sim, aceito.
Sua voz tremeu dentro de Helena, não
havia dúvidas nem pesar. Ele a aceitava como
esposa. Simples assim. Com a naturalidade que
esse homem tinha em relação a vida e aos
sentimentos.
-Helena Johnson, você aceita Ronald
Parker como marido, para honrar e respeitar, até o
fim de seus dias?
A pergunta entrou dentro dela com muita
profundidade. Chegou a olhar para as próprias
mãos, se ordenando que respondesse.
Ao seu lado, Rony achou que iria
explodir quando ela hesitou em responder. Foi um
segundo, nada além de um segundo. Ninguém
notou a não ser ele.
Teria sido o bastante para questionar seus
sentimentos e sua certeza em casar-se, se ela não
houvesse erguido o olhar castanho em sua direção,
respondendo finalmente:
-Sim.
Ela o queria. Era isso que seus olhos
diziam.
Perdido naquele olhar, mal ouviu as
palavras do Padre, abençoando-os e os declarando
marido e mulher.
Tendo a permissão que tanto queria,
beijou-a.
Um beijo doce, para não ofender a Igreja,
o Padre e a Deus, se é que isso era possível, pois
um amor verdadeiro de modo algum pode ofender
a Deus!
Helena manteve as mãos nas lapelas de
seu casaco, comportada, mas a intensidade de seu
beijo provou a ele, que aquela mulher era sua, e
somente sua, e para sempre!
O choro que Sandra e Alice haviam
segurado durante toda a cerimônia irrompeu,
assim como o de Anna que limpava os olhos
úmidos com um lencinho enquanto Duran
segurava suas mãos, para confortá-la nessa
tristeza-alegria que as mulheres costumam sentir
em casamentos.
Quando o beijo acabou ambos se olharam
nos olhos. Feliz como uma criança, Rony tomou-a
nos braços, para sua surpresa e riu, feliz como
nunca.
Saíram da igreja naquele clima de
felicidade e total comemoração. Rony a colocou na
carruagem que os levaria para casa, e ela acenou,
despedindo-se de todos. Um longo olhar para os
filhos, da qual se afastaria pela primeira vez em
semanas.
Fechada a carruagem, ele a tomou nos
braços.
Adolph seguiu rapidamente pela cidade,
conduzindo a carruagem para casa.
Naquele abraço e beijo, não viram o
cemitério passar. Helena sempre se lembraria da
família, mas agora, a dor havia ido embora.
Havia se transformado em saudade. Uma
saudade de quem amou e perdeu. Mas um
sentimento bonito que faz bem, e não algo
autodestrutivo.
Rony a trouxera de volta para a vida, e
ela nunca poderia ser-lhe grata o bastante.
Mas poderia tentar, pensou, escapando de
seus braços, para descer os dedos pelo tecido de
sua camisa, enquanto seus lábios corriam por seu
queixo másculo...
Capítulo 152 – Lua de Mel

A carruagem chegou ao seu destino a


tempo de evitar um desastre constrangedor. Rony
segurou suas mãos ousadas, e ambos se
recompuseram antes de deixarem o conforto dos
estofados e pisarem no chão de terra.
-Não se esqueça, Adolph, não estamos
para ninguém. – Rony avisou uma última vez e
Helena nem se deu ao trabalho de reclamar.
Ele destrancou a porta da frente, e antes
que ela pudesse entrar, tomou-a nos braços,
levando-a no colo para dentro. Deleitada, Helena
sorriu tão feliz que achou que explodiria. Seria
possível alguém morrer de felicidade? Esperava
que não!
Dentro de casa, Rony a colocou no chão e
trancou a porta sorrindo.
-Estamos completamente sozinhos.
-Sim – ela andou pela sala, girando em
torno de si, adorando o modo como o vestido a
seguia – Gostou do vestido?
-Lindo. Ficou perfeito em você – elogiou.
-Precisamos estar na casa dos seus pais
amanhã para o almoço! Não esqueça, por não
saber o dia exato do casamento, tivemos que
deixar a comemoração para o dia seguinte! –
lembrou-o, enquanto Rony se aproximava.
Nervosa como uma virgem, esperou-o.
-Teremos que passar uma noite inteirinha
longe dos bebês... – ela tentou conversar,
ignorando seu olhar predatório. Rony ficou bem
perto, segurando suas mãos e as colocando sobre
seu peito, para sentir os batimentos acelerados do
seu coração. – Como posso ficar longe deles tanto
tempo?
-Pensaremos num modo – garantiu,
sedutor – É cedo ainda, temos o dia todo e a noite
toda para aproveitarmos. Helena, eu...
-Não – ela o afastou suavemente – Sei o
que você quer. Mas fiz planos para hoje!
-E desde quando recém casados tem
algum plano que não envolva uma cama? – ele
questionou.
-Desde quando preparei tudo para
passarmos um lindo dia juntos! E mais tarde...
Mais tarde falaremos sobre camas. – corou.
-Um lindo dia juntos? – questionou
adorando o modo como ela parecia envergonhada
por ter pensando em agradá-lo.
-Sim. Fiz sua comida preferida, seus
doces preferidos... Vamos fazer um piquenique no
lago. Almoçaremos e conversaremos – explicou
candidamente, tentando disfarçar o acelerado do
próprio coração – Depois, voltaremos para casa,
jantaremos. Então, prepararei um banho para nós
dois, e iremos... Consumar o casamento.
-São esses os seus planos? – ele acariciou
seu rosto e ela concordou. - Está bem. Quem sou
eu para lhe frustrar os planos? – beijou o canto de
seu lábio com o único propósito de seduzi-la.
-Vou trocar o vestido. – ela disse
enfeitiçada por sua expressão, sentindo-se tão
boba quanto uma menina que realmente acabou de
casar-se – Não demoro a arrumar tudo.
-Espero você bem aqui – apontou a
poltrona, sorrindo por dentro por conseguir seduzi-
la sem a resistência de antigamente.
No quarto trocou-se rapidamente.
Escolheu um vestido mais simples, porém novo e
bem cortado. Havia se acostumado a boas roupas,
e dificilmente saia do quarto sem perfumar-se e
colocar alguma joia.
Calçou os sapatos, e sorriu para a própria
imagem no espelho. Será que Rony achava mesmo
que iriam apenas ter um comportado piquenique
no lago?
Ainda mais corada pelos pensamentos e
pelo vestido rosado, ela deixou o quarto. Juanita
havia deixado uma cesta preparada, e Helena
conferiu se não esquecera nada. Convicta do que
planejara, voltou à sala.
-Vamos a cavalo – ela disse para Rony. –
Adolph deve ter deixado seu cavalo selado –
avisou.
-Pelo visto, sou vítima de um plano muito
bem elaborado! – ele riu, fazendo de conta que iria
beijá-la, mas mudando o curso na última hora.
Helena ignorou a decepção, achado que
ele também tinha seus planos ocultos! E tinha. Ao
subir com ele no mesmo cavalo, carregando a
cesta em frente ao corpo, soube com toda a
certeza, que Rony tinha seus próprios planos.
O torço rijo como rocha mantinha suas
costas retas e o calor do peito irradiava para todo
seu corpo. Rony havia tirado o casaco e
arregaçado as mangas da camisa branca, nova e
cheirando a sabão.
Helena tinha verdadeira fixação em seus
antebraços. Pelos ruivos, pele lisa. Mãos graúdas
e longas, com dedos grossos, de unhas bem feitas.
Suspirou, diante das lembranças desses dedos em
seu corpo.
-Não me tente com seus suspiros, Helena
– ele cochichou em seu ouvido, e ela sentiu o
corpo esmorecer por completo!
Calada, recostou-se contra seu corpo
sólido, entorpecida. Tinha tanto que dizer a ele.
Tantas coisas em seu coração, que precisava
desabafar!
Perdida em seus pensamentos,
surpreendeu-se ao descobrir que haviam chegado
à margem ensolarada do rio.
Rony a tirou da cela com destreza e em
uma sintonia perfeita, ambos arrumaram o
piquenique.
-Está com fome? – Helena perguntou
abrindo a cesta, e um delicioso cheiro de comida
caseira o entorpeceu.
-Confesso que não sou capaz de pensar
em nada que não seja você – ele confessou.
-Sendo assim... - Helena riu e ergueu-se
da manta, estendendo sua mão num convite.
-O que vamos fazer? – perguntou
malicioso.
-Abrir nosso apetite – provocou – nunca
lhe disseram que um mergulho abre a fome em
qualquer pessoa?
Sua inocente expressão não o enganava.
Então, esse era o plano verdadeiro de sua pequena
fada? Seduzi-lo ao ar livre, num dia ensolarado?
Aceitou seu convite e ficou fascinado quando
Helena soltou-o e se afastou, bem na beirinha do
lago. Corajosa, abriu o vestido e deixou-o cair até
seus pés, sobre a grama.
Nua, sob o sol da manhã, esperou que ele
corresse os olhos por seu corpo. Seus cabelos
longos caiam por suas curvas e Rony ofegou
diante de tanta ousadia e beleza. Seu primeiro
pensamento foi de ciúmes, e a tentação de cobri-la
era enorme. Mas a sedução impressa nesse
pequeno gesto o desarmou. Satisfeita por ter
arrancado dele a capacidade de falar e pensar,
virou-se e mergulhou.
Saindo do torpor, Rony despiu-se em
tempo recorde.
Helena mergulhava, esperando por ele,
divertindo-se na água fresca. Ficou imóvel,
observando-o, quando tão nu quanto ela, Rony
ficou de pé diante do seu olhar. O sol refletido em
seus cabelos ruivos, quase tirou seu ar. Seu
marido era tão bonito!
Helena nadou para longe quando ele
mergulhou. Queria ser pega. E Rony entendeu.
Seguiu nadando atrás dela, rindo quando Helena
fugiu de seu aperto, e mergulhou tão
profundamente que não pode segui-la.
Esperou que submergisse para
surpreendê-la. Helena veio à tona, olhando em
volta, tirando o cabelo molhado do rosto. Onde
estaria Rony? Gritou quando foi puxada para
baixo. Os dois submergiram após alguma luta
embaixo d’água. Helena o enlaçava no pescoço, os
corpos grudados.
-Sua feiticeira – ele sussurrou antes de
beijá-la.
Helena correspondeu com o mesmo
ardor, saboreando esse beijo. Corpos molhados,
abraçados e entrelaçados. A água cobria Helena
completamente e se Rony não a amparasse e
mantivesse contra ele, afundaria.
Aqueles seios apertados contra seu peito,
os bicos rijos arranhando sua pele e deixando-o
consciente do quanto era homem. Desceu as mãos
de sua cintura e as posicionou em seu bumbum,
agarrando a pele e amassando a carne macia entre
seus dedos. Helena gemeu, e afastou a boca da sua
por um segundo, obrigando-o a beijá-la
novamente, com força, e para ser franco, com um
pouco de brutalidade.
Helena correspondeu do mesmo modo,
agarrando seus cabelos molhados entre os dedos.
O beijo era fundo e único, exigindo tanto dos dois
que sem fôlego, se afastaram apenas um
pouquinho.
-Foi assim que me beijou na primeira vez
que nadamos juntos – Helena lembrou, os olhos
fixos nos seus.
-Lembro que me detestou por isso. –
acusou, esperando para saber o que ela pensava do
assunto.
-Não detestei, eu o odiei – diante de sua
expressão, ela beijou seu queixo, intensificando o
desejo e a excitação em Rony – Odiei o que
despertou em mim. A sensação de felicidade e
de... - “amor”, pensou, mas não disse. -... Desejo.
-Eu só queria te fazer entender como me
sentia – desculpou-se.
-Agora eu sei. - Marota, mordeu sua
orelha e aproveitando sua surpresa escapou dele. –
Aposto como não me pega!
Rony a deixou ir. Deu-lhe a vantagem de
algumas braçadas, antes de segui-la. Deixaria que
ganhasse, para inflar seu ego. Só não estava
preparado para a canseira que Helena lhe deu com
suas braçadas vigorosas.
Seu corpo era pequeno, mas tinha tanta
energia e vitalidade quanto o corpo de um homem
do seu tamanho! Desistindo, resguardou sua
dignidade, e agarrou seu pé, puxando-a pela água.
Helena esperneou e ele riu, enquanto a agarrava.
-Chega, pequena. Assim você me mata!
-E quem disse que não é exatamente isso
que eu quero? – ela perguntou desafiadora, aquele
narizinho arrebitado pedindo por um beijo.
Contrariando seu desejo, deu-lhe um
tapinha amoroso na nádega e sustentou-a contra o
peito, devorando seu pescoço.
Envolvida em seus braços, Helena
entregou-se, esquecendo completamente seus
planos de sedução. Iria ser como Rony quisesse.
Não tinha forças para lutar contra o próprio desejo
escancarado! A água fresca do lado em sua pele
era um poderosos afrodisíaco, e Rony a ergueu
acima, evolvendo suas pernas em sua cintura.
-Rony, amor, eu quero sentir o seu gosto
– ela pediu, impedindo-o de seguir. Um poderoso
gemido escapou de seus lábios diante desse
pedido.
-Não posso esperar – ele lamentou,
tentando beijar seus seios, mas ela empurrou-o.
Nadou para a parte mais rasa do lago e
esperou que viesse em busca de seu corpo. Não o
deixou abraçá-la, estendeu as mãos e segurou-o.
Rony arfou quando suas mãos o
seguraram naquela região endurecida e erguida
em sua homenagem.
Refreando o impulso de tomá-la de
imediato, agarrou seus seios e provocou os bicos,
com puxões. Helena gemeu, seguindo com os
carinhos íntimos.
Seu plano era muito simples, levar esse
homem a loucura. Porém agora, era difícil manter
o curso dos pensamentos. Quando Rony tornou a
beijá-la, enfurnando uma das mãos entre suas
pernas, aqueles dedos maravilhosos entre suas
dobras, ela esqueceu quase completamente de seu
objetivo.
-Hum, Rony, eu queria... - calou-se diante
daquela boca que lambia seus seios.
-O que você queria? – instigou, adorando
o modo como gemia.
-... Enlouquecê-lo. – confessou.
-Tem feito isso durante toda a semana, se
negando a fazer amor. – ralhou, gemendo quando
suas mãos atrevidas intensificaram os
movimentos, manipulando-o com toda a
experiência de uma jovem apaixonada por um
marido viril. – Não poderia me enlouquecer mais
do que se negando a ser minha!
-Não diga isso! – pediu surpresa,
soltando-o – Me faz pensar em como fui cruel com
você durante tantos meses!
-Adoravelmente cruel – ele brincou,
roubando-lhe um forte beijo. Quando acabou,
sustentou-a em sua cintura, e Helena enlaçou as
pernas em volta de seu quadril – Cada dia de
tortura valeu a pena apenas para tê-la assim, junto
de mim...
Aquecida pela sedução daqueles olhos,
Helena jogou a cabeça para trás, num grito de
paixão ao ser penetrada.
Sob o sol os corpos se moviam, repetindo
os movimentos primitivos de cópula, enquanto a
natureza a sua volta seguia seu rumo
independentemente de ambos e do prazer que
partilhavam.
Inebriada pelo prazer, Helena curvou o
corpo para trás, e Rony a sustentou, seu tronco na
água, enquanto os quadris se fundiam e se
chocavam um contra o outro. Seus braços
correram sobre a água, integrada a vida a sua
volta, tão selvagem com quanto os animais a sua
volta, passarinhos que cantavam nas copas das
árvores. Roedores sobre os galhos, e tantos outros
que se escondiam no bosque fechado. Era
humana, ou apenas ser vivo, pois nesse instante,
sentia-se selvagem e apaixonada quanto qualquer
fêmea sendo conquistada por um macho
dominante.
Sustentando-a pelo quadril, ambas as
mãos mantendo-a firmemente contra ele, Rony
gemeu, a cabeça atirada para trás, o prazer
queimando dentro dele como uma labareda de
fogo.
A água em seus seios, a acariciava como
um amante experiente, e o calor em seu ventre
irradiava para todo seu corpo. Rony, num ímpeto
de paixão, puxou-a bruscamente de volta para ele.
Helena caiu contra ele, sendo penetrada tão
profundamente que gritou. Inchado, longo e
audaz, a cortava em duas, e dividia seu
autocontrole, transformando-a em nada além de
poeira de estrelas.
Devorou seus lábios cheios com um beijo
profundo, mantendo-o parado para beijá-lo. Seu
quadril se forçava contra ele ditando o ritmo que
desejava, e finalmente chegou a um ponto
insuportável. Tão insuportável, que o gozo a fez
soltá-lo e morder seu ombro, enquanto sentia seus
movimentos desgovernados dentro de seu corpo.
Rony espalhou sua semente dentro dela, gemendo
de prazer e dor. O sol ainda queimava sobre eles,
a água ao redor, placidamente testemunhando
aquele encontro de almas.
Mais calmo, Rony beijou seu pescoço e
ombro, soltando-a gentilmente dentro da água.
-Minha mulher – ele beijou-a, enquanto
os dois nadaram lentamente e juntos pelas águas
calmas.
Saciados, calmos e serenos, o desejo
saciado.
-Meu homem – ela respondeu, sorrindo
lânguida – e meu marido.
-Diga que me ama – ele pediu.
Ficou sem resposta e na dúvida se Helena
ouvira seu pedido ou não. A espertinha mergulhou
e submergiu sorrindo.
-E agora? Está com fome?
Teve que rir para ela e dela. Sim, estava
com fome! Muita fome!
-Não ouse sair desse lago, Helena! – ele
gritou, passado o desejo, o ciúme o dominou.
Helena parou, a meio caminho da
margem. Teve vontade de rir na cara dele. Achava
mesmo que podia lhe dar ordens?
Ignorando-o completa e inexoravelmente,
saiu do lago, nuazinha. Era a primeira vez em sua
jovem vida que fazia isso, e tinha a certeza de ser
o certo. Afinal, os empregados estavam cuidando
da fazenda, e os que tiveram folga por conta do
casamento estavam na fazenda Parker ajudando
nos preparativos da festa.
Sendo assim, não havia menos
possibilidade de serem espiados! E se fossem...
Bem, fazer o quê?
Sentiu vontade de provocá-lo, mas não
fez isso.
Rony observou-a andar nua sobra a
grama. Suas costas lisas, o bumbum arrebitado e
pequeno as pernas bem feitas... Sentiu o sangue
ferver nas veias.
Teria torcido seu lindo pescoçinho ao sair
do lago, se ela não o surpreendesse, retirando uma
camisa limpa de dentro da cesta e a vestindo sobre
o corpo molhado.
O tecido grudou em sua pele, e ficou
transparente em vários pontos, inclusive sobre os
mamilos rosados, mas ao menos a cobria e
escondia suas curvas. Melhor dizendo, acalmava
seu ciúme.
Nu, jogou os cabelos para trás com as
mãos, e avançou em sua direção pingando.
Helena ergueu os olhos para o homem nu
diante de si. Lambeu os lábios de vontade de
mais, porém ainda tinha planos para a noite, e não
o deixaria frustrar suas fantasias de ter tudo
perfeito na lua de mel!
-Vista sua calça, ou não poderá provar o
bolo que fiz para você – pediu com a boca seca,
ansiosa.
Desconfiado, vestiu a calça e sentou-se
ao seu lado na manta. Helena serviu o doce, e não
olhou para ele.
-Tem algo que quer me dizer, Helena? A
razão desse Piquenique?
-Coma primeiro – estendeu o prato para
ele, ansiosa.
Desconfiado sobre suas possíveis e
terríveis revelações, comeu vários pedaços,
sempre procurando sondar seu rosto em busca de
explicação ou uma dica sobre qual era o assunto
tão horrível que a compelia a agir desse modo.
Satisfeito seu apetite pela comida, Helena
deixou a cesta do outro lado e perguntou-lhe se
não queria se deitar e deixar o sol secá-lo.
Controlando a vontade de obrigá-la a dizer o que
escondia, deitou-se com os braços cruzados atrás
da cabeça. Helena tinha razão, o sol quente logo
secaria a pele, os cabelos e as roupas molhadas.
-Sobre o que devemos falar? – perguntou-
lhe tentando não parecer tão direito ou ansioso.
-Vamos falar sobre o que eu fiz ao longo
desse ano – ela disse subitamente tensa.
-E o que você fez ao longo desse ano?
-Você sabe – ela corou, pedindo ajuda
aos céus para ser capaz de dar o braço a torcer e
deixar o orgulho de lado.
-Não, eu não sei. – foi categórico.
-Rony... – Helena sentou-se, abraçando
os joelhos, olhando em volta, para a natureza, que
apesar de linda, não podia ajudá-la em nada! –
Sabe muito bem o que quero dizer.
-Não, eu não sei. – insistiu.
-Vivi coisas nesse último um ano que não
saberia explicar – começou a se justificar - a morte
dos meus pais... Da minha mãe, da minha irmã, e
do homem que me criou – corrigiu-se, pois muito
do afeto que tinha por aquele pai havia sido
substituído por melancolia, depois de saber de
suas más intenções em relação ao seu destino – eu
achei que nunca mais seria feliz na vida. Eu passei
muito tempo me culpando por não ter chegado
minutos antes, por não ter estado em casa quando
tudo aconteceu. Depois, me convenci que não era
certo estar viva enquanto eles haviam deixado esse
mundo! Sei que não é racional, mas foi nesse
momento que apareceu na minha vida – olhou
para ele com algo meigo no olhar – Acredite, se
houvesse chegado um mês antes, quando estavam
vivos, apesar de não ser a pessoa mais expansiva
do mundo, teria ao menos sido educada e o tratado
bem, e se houvesse me proposto casamento, teria
sido uma esposa comportada. Mas não foi assim
que aconteceu.
-A vida nunca é do jeito que deveria ser –
concordou, ansioso para ouvir mais.
-Sei que vai rir de mim. – acusou, com a
sombra de um sorriso pairando nos lábios,
enquanto afastava os cabelos quase secos do rosto,
e o encarava corajosamente, abrindo seu coração –
Mas quando nos vimos na estrada... Eu quis lhe
dar carona – confessou, como se isso a
transformasse em alguém fraco ou bobo – E
quando esteve na fazenda com seu pai... Eu quis
muito, dizer sim. Dizer que era grata por ter
alguém que poderia cuidar de mim e que se fosse
alguém tão sorridente e bonito, então... Seria
maravilhoso. – fechou os olhos, envergonhada –
mas eu tinha tanto medo de ser enganada, de ser
roubada. Eu... Achava que estava me roubando!
Quando... Chegou à fazenda com seus
empregados, tomando decisões... Foi à morte para
mim.
Rony sabia de tudo isso, mas era bom
ouvir dela, finalmente.
-Não sabe, mas quando derrubou a cerca
que meu irmão fez, eu quis matá-lo!
-Não sabia disso – ele confessou,
surpreso.
-As mudanças na casa, eu gostei de todas
elas, e senti quando parou as reformas. Sei que
parou por minha causa, para não me deixar
magoada, eu senti isso. Mas não podia evitar a
mágoa. Não conseguia entender e aceitar. Sentia
tanta culpa e medo de viver! - Helena não
choraria, as lembranças não podiam fazê-la
chorar. Estava decidida, e apesar dos olhos
úmidos, conteve o pranto e seguiu falando –
Nunca desejei de verdade apontar uma arma para
você! Porém, me sentia tão confusa quando se
aproximava! Tão perdida! Eu não sabia o que
fazer com meus sentimentos, como me proteger!
Pode entender isso? – ele concordou – Eu não
pude. Quando... Consumamos o casamento – ela
corou diante da lembrança, enquanto olhava para
baixo, para a barra da camisa de algodão,
brincando com a costura. – eu não queria
depender de mais ninguém na vida. Não podia
aceitar ser mulher de alguém. Por isso na manhã
seguinte o rejeitei. Acredite, me senti a pior das
mulheres fazendo isso! Eu quase... Quase pedi
desculpas!
-Se houvesse feito isso, não teria
quebrado a roda da carroça de propósito para
manter o banqueiro em casa – ele garantiu, com
um olhar doce diante de suas revelações.
-Me chantageou – ela acusou – mas hoje,
sou grata por isso.
-Por quê? – precisava ouvir dela.
-Porque assim ficamos íntimos e mais
próximos. E possivelmente em uma dessas vezes,
eu engravidei. Além disso, a cada noite, eu me
perdia um pouquinho, e minhas convicções iam
por água abaixo! – sorriu – o mesmo aconteceu
quando... Sua amante chegou. – ela não podia
refrear o impulso ciumento ao lembrar-se disso.
-Alexia não era mais minha amante –
lembrou-a, apenas pelo hábito.
-Sim, mas havia sido, isso... Deixou-me
ciumenta. Eu estava perdida. Completamente
perdida e odiei tanto vocês dois!
-Então, pode imaginar como me sentia
vendo-a com John - ele acusou.
-John? Por favor! Quer comparar um
amigo dedicado e solitário, com as atenções de
uma amante grávida exigindo responsabilidades?
Eu a detestei tanto!
-E descontou em mim cada vez que
sentiu raiva – ele definiu.
-Sim. Foi assim a cada vez que pensei
que poderia ir embora. Eu tinha certeza que um
dia iria embora! Com Alexia, com Susan... Com
quem fosse! Um dia iria embora.
-Mas eu deixei claro que nunca a
deixaria! – indignou-se.
-Sei disso, mas não conseguia ver com
clareza, como vejo hoje! – também alterou a voz –
Você não sabe, mas eu odiava o modo como
parecia sempre estar olhando para mim! Agora eu
sei, que era eu quem estava sempre olhando para
você! Entende? Você vinha para casa atrás de
mim, me seguia pelos lugares que eu ia, mas era
eu quem estava esperando que fizesse isso! E
quando não fazia, ficava decepcionada! – inflada,
sentiu um gosto estranho na boca, a amargura da
impotência – Eu tentava odiar mina nova vida,
mas não conseguia! Minha irmã estava morta e
era ela quem deveria se casar com alguém como
você! Foi assim que fui criada. Sabendo que Anne
era especial, e eu não! Então, quando dizia o
contrário, eu não podia acreditar e lutava contra
isso!
-Helena – ele a puxou para seus braços, e
Helena deixou-se abraçar.
-Eu não sei quando passei a desejá-lo na
minha vida, mas sei que parei de ter medo quando
descobri que estava grávida. Ainda estava
assustada e enfurecida com tantas mudanças, mas
não era uma raiva dirigida a você. Era dirigida a
mim mesma e a vida, eu não sei definir
exatamente como me sentia. Eu só sei que
desejava meu filho com a mesma paixão que
desejava meu marido em minha vida. Logo eu,
que não queria ser casada.
-Acha que foi pela gravidez que me
aceitou de fato? – acariciou seus cabelos, enquanto
ela mantinha o rosto em seu peito, abraçados.
-Não. Eu já o tinha aceitado, só não sabia
– sorriu erguendo o rosto e fitando seus olhos
azuis como o céu acima de sua cabeça – Saber que
tinha um pai, que era amada por alguém nessa
vida, foi um bálsamo. Mas foi um complemento,
pois já era feliz, só não podia aceitar ser assim tão
simples!
-Em meio a tantos sentimentos, eu trouxe
meus problemas para sua vida e confundi tudo,
não é?
-Sim, mas foi bom. Ter ido a Londres foi
muito bom. Descobri que tem algo dentro de mim
que gosta de lutar. Se pudesse viveria no Rose
Nell, e ajudaria tantas pessoas quanto fosse
possível! Mas não sou dedicada à causa como
nossa amiga Roxanne Lammer. Descobri que
gosto de bailes e gosto de estar bonita. Sempre
gostei, mas não sabia!
-Agora acredita quando dizia o quanto é
bonita? – acariciou seu rosto e ela sorriu.
-Um pouquinho, às vezes acho que
exagera – revidou, sorrindo sempre.
-É como a vejo - foi enfático.
-Quero que saiba que tudo que passou,
quando estava sozinha, temendo morrer nas mãos
de Wood, e depois temendo morrer num parto,
sozinha, no meio do mato... Eu pensava em nossa
vida juntos, em como era feliz e em como desejava
voltar e estar segura em seus braços.
-Eu não estava lá, Helena. Não estava lá
para protegê-la.- ainda sofria por isso.
-E não deveria estar. Precisava me
agarrar à vida, Rony, para saber o quanto ela é
boa. Temi morrer. Eu desejei a morte várias vezes,
e então... Ela estava bem diante de mim e lutei
com todas as minhas forças para combatê-la. Pode
entender o que digo?
-Posso sim – garantiu, emocionado.
-Eu sou mãe. E mal posso crer que seja
tão feliz sendo mãe. Quando penso em como
relutei com a ideia, sinto-me uma boba!
-E foi muito bobinha sem notar os
sintomas – ele riu abertamente e ela sorriu diante
da lembrança.
-Sim, estava tão ocupada me
martirizando contra minha própria felicidade, que
nem notei que estava grávida!
-Foi divertido ver a moça tão inteligente e
sagaz, sendo feita de tontinha sem notar - ele riu.
-Não ria de mim. – acariciou seu peito,
rindo sem querer – Quero que me desculpe por
tudo que fiz, por todas as vezes que o ofendi ou
magoei. Pode me perdoar por ter sido tão cega?
-Não posso perdoá-la. Era algo que tinha
que passar, como bem disse antes. Do mesmo
modo que não posso pedir desculpas por tê-la
levado ao limite diversas vezes, e sei que em
várias ocasiões a magoei. Nem sempre fui gentil,
mas tudo que desejava era trazê-la de volta para a
vida, Helena. Pode entender isso? As razões para
não pedir perdão e não dar perdão?
-Sim, eu posso – seu sorriso era de pura
felicidade.
-Não é uma pessoa fácil, Helena. O fato
de admitir que me quer bem, não a transforma
numa criatura doce e cordata. Não me engano
quanto a isso. Do mesmo modo que amá-la não
fará de mim o homem mais volátil do mundo.
Infelizmente, sempre iremos bater de frente –
profetizou.
-Não estou preocupada quanto a isso –
confessou, aliviada por ter colocado todas as suas
amarguras para fora.
-Porque não?
-Porque agora eu sei como me sinto. E sei
como devo ser como esposa – contou.
-E como deve ser uma esposa?
-Devo ser compreensiva, mas não muito,
ou vai achar que pode mandar em mim, e devo
falar antes de gritar. Você não parece entender
quando grito – provocou – Deve ser algo genético,
pois seus irmãos não primam pela inteligência...
Rony riu. Helena fazendo piadas era
sempre algo engraçado. Sagaz, sabia ser muito
agradável quando desejava!
-Lembre-se que nossos filhos partilham
nossa genética.
-Sei disso. Acha que não me preocupo? –
fingiu zangar-se – que posso fazer? Puxaram por
você. Só posso rezar para que haja duas mulheres
loucas o bastante para suportá-los no futuro!
-Deve haver – ele concordou, sentando-se
e a levando com ele, olhos nos olhos – Eu te amo,
Helena.
Sim, era amada, pensou. Levou um
segundo para as palavras saltarem em sua boca.
‘eu te amo’, pensou e disse. Infelizmente, Rony
grudou os lábios nos seus antes que as palavras
fossem proferidas, e depois disso, ela esqueceu de
tudo que não fosse seu ruivo, seu gosto e o prazer
que lhe proporcionava...
Capítulo 153 – Sem Fim

O dia passou correndo. Passearam pela


fazenda, conversaram e fizeram planos. Rony
queria retomar as reformas, e apreciou seus
palpites.
No jantar, Helena tomou cuidado para
preparar tudo que Rony gostava. Satisfeita consigo
mesma, jantaram sempre conversando sobre os
filhos, a fazenda, a festa do dia seguinte.
Depois do jantar, Rony seguiu para seu
banho. Helena arrumou a cozinha e abriu a porta
dos fundos, olhando-o abertamente.
-Não poderá continuar tomando banho na
rua durante o inverno – disse meiga, os olhos
correndo por seu corpo.
-Tenho pensando em um quarto de
banho. É mais prático – ele respondeu, notando
seu olhar.
-A banheira está cheia de água
quentinha. Não prefere entrar? – seus olhos
brilhavam de expectativa, e Rony se fez de
indiferente.
-Estou quase terminando – dispensou-a –
Tome seu banho, eu já vou.
Relutante em deixar aquele corpo
saudável e tentador, nu sob a luz da lua, com água
correndo por cada músculo, suspirou e entrou em
casa. Rony estava aprontando alguma!
Tinha certeza!
Ansiosa pela sua noite dos sonhos,
Helena despiu-se e entrou na banheira, deliciada
com a água morna contra sua pele. Fechou os
olhos, saboreando o momento de solidão.
Invariavelmente, sua mente ia longe, e se
perguntava como estariam os bebês, se estariam
aceitando bem as mamadeiras... Mas então, se
forçava a pensar apenas em si e naquele momento
de relaxamento ao lado de Rony.
Relaxada, apanhou a esponja e começou
a ensaboar o corpo. Queria estar perfumada e com
a pele sedosa quando Rony entrasse naquele
quarto.
Distraída, não notou os passos leves no
chão da cozinha, muito menos ouviu a porta ser
entreaberta. Rony reviveu seus momentos até
aquele dia, e descobriu o quanto sentia falta de
espiá-la. Observar Helena era um prazer
inenarrável. Seus pequenos gestos de
contentamento, seus gestos de fúria, de prazer...
Sempre era um deleite observá-la, principalmente
quando não sabia que era observada!
Helena ensaboou os ombros, os braços e
seguiu para os seios. Havia descoberto que o
corpo de uma mulher pode ser delicioso de tocar, e
pode despertar grandes sensações e que ela
mesma poderia se satisfazer se assim desejasse.
Como agora, seus seios endureceram de prazer
diante da sensação da esponja sobre seus mamilos
sensíveis.
Sua barriga recebeu toda atenção,
principalmente agora que aprendera a dar valor a
seu umbigo redondinho e côncavo. Quem diria
que um umbigo poderia ser tão importante na vida
de uma mulher?
Rony sorriu diante do pequeno sorriso
misterioso que surgiu no rosto de Helena. Que
coisas secretas estariam em sua mente para
despertar um sorriso tão doce? Que tristeza ser um
mero mortal, e não poder entrar em sua mente e
saber tudo que pensa!
Helena cantarolou baixinho enquanto
esfregava a sola dos pés, as panturrilhas, as coxas.
Não ousou gastar muito tempo ensaboando sua
parte mais íntima, mas apreciou o toque dos
próprios dedos, ao tirar a espuma.
Excitada, se perguntou quanto tempo
Rony ainda demoraria. Sem nem notar, esfregou
os dedos novamente, gemendo de expectativa e
desejo.
Rony ficou rijo observando aqueles
dedinhos delicados acariciarem entre suas dobras,
raspando sobre aquela fenda que sempre o
enlouquecia.
Seus dedos comicharam por substituir os
dela. Apesar disso, esperou. Helena parou de se
tocar e um pouco aturdida, tentou imaginar porque
ele demorava tanto. Deveria estar tomando um
longo e despreocupado banho a luz da lua.
Desavergonhado. Com a fazenda
crescendo e os empregados falando em casamento
e construir família por aqueles lados, Helena vinha
cada vez mais pensando em eliminar aquele
chuveiro. Por mais que adorasse vê-lo se banhar
sob o luar, tinha seus brios e detestava a ideia de
alguma mulher o ver desse modo!
Satisfeita com seu banho, levantou-se e
deixou a água correr artes de sair da tina.
Rony reteve a respiração achando-a tão
linda, fresca e apetitosa, com um pouco de espuma
sobre o traseiro! Sorriu, a graça não subjugando a
malícia. Lambeu os lábios, ansioso pelo momento
de provar de sua pele.
Graciosamente, apanhou a toalha e secou
o corpo, cuidadosa e vaidosa, borrifando perfume
atrás das orelhas, assim como soltando os cabelos
e espalhando-os pelas costas em ondas sedosas,
antes de vestir uma camisola que ele nunca vira
antes. Era rendada em praticamente toda a
extensão, deixando pouco a imaginação. Suas
alças finas e delicadas, micro pérolas sobre a
renda. Não era uma peça para dormir.
Definitivamente!
Pronta, analisou sua imagem no espelho.
Estava bonita. Talvez, devesse usar um pouco de
pó de arroz para corar as faces, ou deixar a tez
mais branquinha...
Insegura, decidiu colocar uma joia. Abriu
o porta-jóias de gesso, onde guardava suas recém
adquiridas joias e encontrou algo estranho. Uma
caixinha, entre as demais jóias.
Curiosa, segurou-a entre os dedos e
abriu. Havia um anel, de ouro, era delicado e
singelo, com um diamante em forma em de
coração, solitário e delicado. Helena dispensou a
caixinha vazia e observou o anel, o diamante
lapidado, era tão bonito que a deixou emocionada.
Imaginava que haveria um presente
esperando-a até o fim do dia, mas não imaginava
algo tão bonito! Admirando seu presente, não
reparou que Rony entrava no quarto
sorrateiramente. Rony fechou a porta e admirou
sua surpresa e prazer em provar à joia.
-Deve usá-lo junto da aliança –
recomendou.
Surpresa, Helena olhou para o homem
vestido apenas com a toalha na cintura. Estivera
espiando seu banho, era claro como o dia.
Um delicioso frisson correu por seu
corpo.
-É meu presente de aniversário?
-Sim – procurou em sua face sinais de
rebeldia ou desagrado e não encontrou.
-É lindo. É o seu coração?
A atrevida brincava com ele!
-Sim, meu e dos meninos, afinal, é um
presente deles também.
Helena abriu um lindo sorriso,
observando a joia.
-Prometo guardar esse coração com todo
cuidado do mundo – galanteou esperando que ele
entendesse nas entrelinhas. E Rony entendeu –
Espiava meu banho, esposo?
-Sim – admitiu – Tive que aproveitar a
oportunidade.
Sua expressão deslavada a fez sorrir
satisfeita.
-Se eu soubesse, teria me demorado mais
tempo no banho – paquerou.
-Acredite, foi um espetáculo para meus
olhos.
Helena viu a chama em seu olhar, aquela
chama da paixão e lembrou-se de como se tocara
dentro da água.
-Se quiser, mostre-me como me tocar e
posso agradar aos seus olhos, esposo – tanta
cordialidade, só podia esconder segundas
intenções.
E era isso mesmo. Até o final daquela
noite, Helena enlouqueceria esse homem e o
marcaria como seu! Jamais mulher alguma
superaria as lembranças daquela noite!
Rony levou um segundo para ordenar os
pensamentos. Tivera o prazer de vê-la se tocar
algumas vezes, mas nunca de propósito. Sempre
durante o ato de amor, por insistência dele e nunca
espontaneamente!
-Sempre agrada aos meus olhos, Helena –
garantiu, se aproximando – Quero vê-la se tocar –
pediu – Faz isso por mim?
-Faço – sentiu o medo instalar-se e corou.
Precisava de muita coragem para fazer
isso! Muita coragem! Controlando um riso
nervoso, envolveu seu pescoço com os braços,
tentando soar o mais meiga possível:
-Adorei o anel. Obrigado.
Aquele agradecimento verdadeiro e
carinhoso era o maior e melhor afrodisíaco que
poderia existir no mundo. Ainda se emocionava
profundamente com suas demonstrações de afeto,
e suspeitava que sempre se emocionaria!
-Tire a camisola e deite-se, Helena, quero
vê-la nua e na cama.
Rony não tinha ideia de como sua voz
soava erótica para seus ouvidos sensibilizados
pelo desejo. Voz forte, rouca, máscula. Voz de
homem que sabe como pegar uma mulher de jeito!
Obediente, deitou-se na cama. Rony
observou como a renda deixava a mostra seus
seios, tão absurdamente sedutores, que quase
mudou de ideia sobre ela ficar nua.
Cumprindo seu pedido, retirou a
camisola tentadoramente devagar. Seus cabelos
caíram sobre o corpo e Rony quis se juntar a ela,
mas apenas esperou de pé, observando-a.
-Sente-se perto de mim - Helena pediu
um pouco nervosa. – quero tê-lo perto de mim.
Rony sentou na beira da cama, e tocou
em seu pé, reconfortando-a com esse carinho.
Estava numa posição privilegiada, sentado bem de
frente para suas pernas.
-Por onde devo começar? – perguntou
tímida, sentindo-se perdida.
-Por onde começaria se fosse me tocar? –
ele perguntou para ao mesmo tempo excitá-la,
envolvê-la no ato e também, conhecer melhor seus
gostos.
-Pelo peito, gosto de tocar seu peito –
suas palavras soaram sussurradas.
Seguindo as próprias palavras, correu as
mãos pelos seios. Não era muito diferente de se
tocar para tomar banho, pensou, embora não
pudesse deixar de notar que era extremamente
excitante. Seus seios haviam desinchado e
estavam quase do tamanho normal, empinados,
como dia Juanita, para sua sorte ‘ainda’ estavam
empinados após uma gravidez.
Aquela brincadeira era bem divertida,
pensou, se acariciando.
Rony estava hipnotizado, aquelas
mãozinhas delicadas apertando os seios,
arreliando os mamilos, puxando-os do mesmo
modo que ele fazia, sentindo o volume, esfregando
os bicos.
Helena tinha fechado os olhos, e parecia
sentir muito prazer, suas pernas estavam
inquietas, se esfregando uma na outra, em busca
de algum alívio.
Assistir era terrivelmente sedutor, e seu
corpo estava excitado como nunca, a toalha mal
dando conta de cobrir seu membro. Por isso,
livrou-se da toalha e agarrou o pênis, acariciando-
o lentamente, sem pressa, acompanhando o tempo
de Helena.
Chegando a um ponto insuportável de
tensão, abriu os olhos e olhou para Rony. Gemeu
quando avistou o modo sedutor como se tocava.
Era um homem tão bonito, tão viril...
Seus olhos a incentivavam a continuar, e
ela escorregou uma das mãos para baixo. Dedos
que esfregavam cuidadosamente, arrancando
gemidos baixos e volúveis, de quem sentem
paixão pelo outro, e se toca para aliviar o calor e a
vontade.
Rony acariciou seu pé, mantendo os
carinhos enquanto observava aqueles dedos tão
pequenos, circularem sobre aquela fonte de prazer
inesgotável.
Helena moveu o quadril, quase saindo do
colchão, em busca de mais e mais. Pelos olhos
semi-serrados observou sua expressão, querendo e
precisando que parasse de olhar e a possuísse!
Mas Rony esperou, e ela seguiu se
masturbando por vários minutos. O som dos
dedos bolinando em meio a tanta umidade era
acompanhado pelo som de seus gemidos
baixinhos. Rony não pode esperar, queria vê-la
delirar em seus braços. Por isso, acariciou seus
tornozelos, notando seu olhar se fixar nele e em
seus toques, mesmo que ainda se tocasse com
rapidez e fúria.
Estava na beira do abismo e ele a levaria
até lá! Suas mãos apartaram completamente suas
coxas e ele observou bem de pertinho o que fazia.
Os gemidos dela aumentaram, a face corada, o
peito arfante.
As palmas de suas mãos correram pela
pele macia de suas coxas, e por dentro, seguiu o
caminho para sua intimidade, deitando-se na
cama, com a face a centímetros de sua vagina que
gritava por ele. Helena se contorceu com o
primeiro toque dos dedos longos e grossos entre
seus grandes lábios, ele deslizou apenas um dedo
para cima e para baixo, numa caricia bem
superficial. Beijava a face interna de suas coxas, e
exigia dela um autocontrole impossível de se ter
naquele momento.
-Rony... Eu quero você – ela pediu, e
sabia bem lá no fundo, que ele adorava ouvi-la
implorar por ele.
-Acontece que eu também quero você.
Como ficamos, Helena? – provocou. Soprando
sobre o calor que a queimava entre as pernas.
-Oh, Rony... – muito perto, fechou os
olhos, sentindo o corpo arder.
Nesse momento, Rony segurou sua mão e
afastou-a.
-Quero uma coisa de você – ele avisou se
movendo na cama. Deitou ao seu lado e a puxou
delicadamente sobre ele. Helena montou sobre sua
cintura e se inclinou para beijá-lo.
Enquanto a beijava, Rony agarrou seus
seios, moendo a carne entre seus dedos e
arrancando suspiros em meio ao seu profundo e
erótico beijo. Suas línguas se chocavam, se
caçavam, e quando o beijo terminou, Rony a
puxou mais a frente, para chupar seus seios.
Helena se agarrou as grades da cama,
aproveitando aquelas caricias que a deixavam em
fogo puro. Fechou os olhos, buscando ar enquanto
se contorcia, desfrutando das mordidinhas em
seus seios, das lambidas, dos chupões suaves e
tentadores...
Ficaria o resto da vida ali, sendo tocada
por aquele homem, mas Rony tinha outra ideia.
-Vira – ele mandou nada educado, nada
gentil. Seus olhos sempre azuis e límpidos
estavam escurecidos pela paixão, e Helena não
ousou contrariá-lo. Girou o corpo. Ainda montada
sobre ele, e Rony a agarrou com ambas as mãos
nos quadris e a puxou para trás. Sem ter como se
apoiar, ela se deixou levar, sem entender o que ele
queria.
-Curve-se – mandou novamente, e ela
realizou seu pedido, entendendo finalmente. Seu
rosto ficou na altura exata para tomá-lo na boca.
Ela quase gritou de surpresa e prazer
quando ele a lambeu profundamente. Não
esperava por isso.
Não mesmo!
-Oh, Rony! – ela agarrou seu membro, e
segurou firme na base com uma das mãos
enquanto se mantinha curvada apoiando a outra
no colchão ao lado de Rony.
Seu aperto foi tão forte que ele deu-lhe
um tapa forte na nádega.
-Está me estrangulando, pequena!
Helena quase riu, aliviando o aperto e
curvando o corpo novamente. Moveu a mão para
cima e para baixo, afastando a pele sobressalente e
revelando em todo seu esplendor a cabeça redonda
e grossa. Uma linguada, e sorveu o que escorria
ali. Rony gemeu, e ela fez de novo. Era salgado e
deliciosamente ácido.
Como comer um doce coberto por
pimenta, pensou.
Moveu-o mais algumas vezes na mão,
sempre beijando e lambendo a superfície úmida,
onde escorria vez ou outra uma gota de sêmen.
Queria provocá-lo, e para isso usaria de todas as
técnicas a qual aprendera ao longo de tantos
meses casada.
Inclinando a cabeça, lambeu toda a
estrutura, e fez o mesmo do outro lado. Rony
apenas gemia, encantado e envolvido por suas
técnicas de sedução.
Satisfeita em tê-lo completamente
rendido, mordeu com muito cuidado sobre a
cabeça, e ele jogou o quadril em direção a sua
boca, pedindo mais e mais. Sorrindo para si
mesma, sugou a ponta, e repetiu esse movimento
várias vezes.
Rony abriu os olhos, decidido a devolver-
lhe o prazer que sentia. Enquanto era chupado e
devorado, se concentrou no paraíso esquecido, que
havia a sua frente.
As nádegas firmes estavam separadas e
ele podia ver a centímetros de seu rosto, todo
aquele vale rosado, muito molhado e aberto.
Convertido em um homem possesso, deslizou dois
dedos sobre aquele vale, e ela se retesou, mas não
parou de provocá-lo, sugando apenas a cabeça de
seu pênis, com maestria, diga-se de passagem!
Seus dedos sondaram e atiçaram, antes
de voltar e mergulhar por sua fenda até o fundo.
Helena gemeu e perdeu o ar, pois o soltou. Rony
tirou os dedos e colocou mais um, empurrando
tudo de volta, e ficou repetindo os movimentos,
enquanto ela se contorcia e gemia seu nome.
Bem feito, agora sabia o mal que lhe
fazia com esses chupões descompromissados!
Helena não era de perder em uma
competição, por isso, abriu os lábios e o encaixou
ali, até o fundo. Dessa vez quem perdeu o ar foi
ele. Porém, Rony também não aceitava perder!
Uniu sua linha aos dedos e ela quase morreu.
Lambeu, sugou e por fim, fixou os lábios
em seu clitóris, chupando com força. Helena pôs
mais pressão em sua própria boca, manipulando
com a mão enquanto ia e vinha, sentindo um
prazer quase doentio com isso.
O gosto de Helena impregnava em sua
boca, e Rony queria mais e mais. Sabia que ela
estava à beira de um abismo de prazer, mas
competitiva, não aceitaria perder e resistiria, e ele
mesmo não sabia até quando aguentaria tanta
provocação. Gemendo sem parar, ele usou os
dedos da outra mão para acariciá-la em seu
orifício mais secreto. Helena pareceu querer fugir,
mas ele foi mais rápido, penetrando-a com um
dedo. Ela grunhiu, se contorcendo, aquele traseiro
redondo gingando sobre ele, e Rony recomeçou a
chupar, certo que agora ela cederia.
Helena quase enlouqueceu, sem
condições para nada além de gemer. Achou forças
em sua convicção sobre enlouquecê-lo e
recomeçou a sugá-lo, agora com pressa e vontade,
enquanto seus dedos agarraram e acariciaram seus
testículos.
Rony gemeu tão forte contra seu clitóris
que ela tremeu toda, seu corpo convulsionando
sem controle e perdendo aquela guerra.
O prazer queimou sua intimidade, e
chamuscou seu corpo todo, enquanto gritava seu
prazer, agarrada aquele membro que tremulava
entre seus dedos.
Rony havia vencido, mas não por muito
tempo. Trêmula pelo gozo, recomeçou a chupar,
mas agora de um modo voraz, apreciando as
carícias que ele continuava, excitando-a
novamente.
Rony tentou não gozar. Queria estar
dentro dela quando acontecesse, por isso
empurrou-a com toda sua força. Helena não queria
parar. Estava quase lá, quando tomou as rédeas da
situação e a empurrou para a cama, sem o menor
cuidado.
Helena gemeu, adorando seu modo
agressivo. Seus olhos eram um azul de
tempestade, e ela podia ver os raios da paixão
soltando chispas de paixão em sua direção!
Rony caiu sobre ela, prensando-a contra a
cama, e afundou-se em sua feminilidade antes que
pudesse reclamar ou pedir o que quer que fosse.
Forte, ele bateu e rebateu repetidas vezes, entrando
e saindo com todo seu comprimento formidável,
alucinando-a e excitando-a a ponto da loucura.
Furiosa pelo desejo que queimava dentro
dela, e querendo mais que isso, querendo tudo,
empurrou-o com braços e pernas, chutando-o até
Rony sair de cima dela, e cair para trás na cama,
então, sentou-se sobre ele antes que Rony tivesse
tempo para reagir e afundou aquele mastro dentro
de si com um grito de felicidade.
Rony ficou imóvel, deixando-se montar
por sua potranca preferida.
Fora de si, ela seguiu pulando e
engolindo-o com pressa, raiva e ardor. Seus seios
saltavam diante de seu olhar, e Rony agarrou a
ambos apertando e apertando enquanto ela se
contorcia, os cabelos jogados para trás, como seda
espalhada a seu redor. Aquela abertura tão estreita
e sempre tão apertada o sugava com fúria,
enlouquecendo-o em seu mar de lava quente.
O som de sexos se chocando era um som
úmido e excitante, e Rony fechou os olhos incapaz
de aguentar mais tempo.
Helena gritou quando os jatos fortes
atingiam cada recanto dentro de si. Ela queria
mais e mais, e não parou. Não o deixou escapar,
continuou se movendo, esperando mais dele e de
seu corpo viril.
Rony não as decepcionou e aguentou
firme, sendo montado como um garanhão
reprodutor.
Helena desceu uma vez mais sobre
aquela grossura toda e esmoreceu quando o prazer
rachou dentro dela novamente. Aquele calor
único, que sentia apenas quando ele estava
profundamente dentro de seu corpo. Sentindo-se a
criatura mais bonita, sensual e erótica do mundo,
foi envolvida pela onda de prazer, e caiu sobre ele
quando perdeu as forças, seu corpo
completamente sem ossos.
Rony a segurou e abraçou, acariciando
suas costas por uns minutos.
Foi o tempo que lhe deu para se recuperar
de seu frondoso e espetacular orgasmo.
Helena correspondeu ao beijo que lhe
deu, achando que finalmente iriam descansar. Ela
pelo menos precisava de um minuto para se
recuperar...
Rony a girou na cama, e a cobriu com seu
corpo, e Helena soube que não teria descanso,
quando aquele membro descansou contra sua
barriga. Rony espalhou toda a umidade criada
pelos dois por todo seu sexo e ela gemeu, sabendo
o que ele faria e olhado fascinada.
Deitada, com as pernas abertas, esperou
que ele fizesse. Rony encostou a glande contra seu
ânus e empurrou gentilmente. Cedeu um pouco e
ele empurrou novamente. Fazia algum tempo, e
por isso ela se retesou, quase incomodada com o
ato.
Naquela posição, Rony pode sugar e
acariciar seus seios, relaxando-a e conseguindo o
que queria sem dificuldade alguma. Todo dentro,
beijou-a, gemendo seu nome enquanto a amava.
Helena manteve as pernas abertas,
incapaz de fechá-las em volta dele, pois aquilo
tudo justamente ali, não era fácil de aguentar!
Fechou os olhos aguentando as investidas e
gemendo com os beijos em seus seios.
Era tão íntimo, tão sexy estar sendo usada
daquele modo! Gemeu sofrida, o tesão tomando
conta de seu corpo, e agarrou os próprios seios,
libertando-o para fazer outros carinhos.
Rony se ajoelhou, e continuou
penetrando-a várias vezes, o ritmo cada vez mais
rápido e forte. Agarrou seus joelhos,
aprofundando-se e gemendo.
Vendo-o perdido em seu próprio mundo,
Helena desceu os dedos para sua intimidade e
começou a se masturbar, assistindo seu prazer.
Rony olhava para ela, olhava para o que fazia e
olhava para os corpos fundidos, gemendo com
força enquanto seus quadris se forçavam, se
chocavam contra os dela, tão bonito, tão viril, tão
sedutor.
Helena mordeu os lábios, gemendo e se
rendendo a um orgasmo que quase a tirou do
colchão, apenas levada pelo prazer de se tocar e
assisti-lo fazendo-lhe amor.
Rony investiu mais uma vez antes de se
derramar dentro dela novamente. Era tão bom, tão
bom, e tão bom, que poderia morrer feliz, se
morresse daquele modo!
Levou minutos para que fossem capazes
de falar. Em algum momento, Rony havia rolado
para o lado e ela virou-se de lado, descansando o
rosto em seu ombro. Estava cansada, mesmo
assim queria muito dizer a ele o quanto o amava.
Era o momento perfeito. Único.
Sua lua de mel, pensou sorrindo. Se não
estivesse tão cansada, faria amor novamente, e
diria a ele com palavras meigas o quanto o amava.
Mas estava exausta e tão satisfeita que até falar
requeria muito do seu esforço. Por isso, apenas
esfregou o rosto contra a pele do seu peito, se
enrolando contra ele, em busca do seu calor.
-Rony, eu preciso dizer-lhe algo. Algo
que deveria ter dito há muito tempo – sua voz
soou suave e apaixonada, e ela sorriu beijando sua
pele em sinal de carinho - Eu sei que deveria ter
dito antes. Há muito tempo atrás, mas não
consegui. Eu... Eu te amo. E amo muito. – pronto,
finalmente havia falado!
Esperou sua resposta. Esperava ouvir um
eu te amo emocionado e quem sabe, ele a beijaria
até perderem os sentidos. Mas não aconteceu.
Sua única resposta foi um sonoro ronco.
Aturdida, ergueu-se e não acreditou no
que via. Nu, e exausto, Rony dormia.
E para seu azar, não ouvira uma única
palavra dita por ela nos últimos minutos!
Suspirou e deitou-se novamente, puxando
o lençol e os cobrindo. Teria a vida toda para
dizer-lhe o quanto o amava.
Sorrindo, adormeceu abraçada a seu
corpo.
Capítulo 154 – Diante do Futuro

O dia seguinte amanheceu ensolarado e


com uma temperatura amena, que além de
agradável, permitiu a Helena vestir-se com
esmero. Um lindo vestido, um xale delicado de
rendas e crochê.
O anel faiscava em seu dedo sempre que
penteava os cabelos e as mãos se moviam para
cima e para baixo. Ela acompanhava esses
movimentos, inclusive quando o sol da manhã o
fez brilhar, ao entrar na carruagem.
E seguiu notando seus nuances, dentro da
carruagem, até a fazenda dos sogros. Não
conseguia tirar os olhos daquele anel.
Vez ou outra um sorriso surgia em sua
face, sem razão alguma. Observando-a, Rony
reconheceu todos os sintomas e gestos de uma
moça apaixonada. Mesmo que não dissesse com
todas as letras o que tanto esperava ouvir, ainda
assim, podia sentir seus sentimentos em cada
gesto, em cada olhar.
Quando chegaram a fazenda vizinha,
Helena sorria de algo que ele dissera e ao saltar da
carruagem, deu-lhe o braço, elegantemente
cordata, como uma jovem casada deveria ser.
Um forte aroma de comida caseira
inundava toda a fazenda Parker e ao entrarem na
casa, foram imediatamente atacados por várias
pessoas.
Helena livrou-se do aperto de sua sogra
com uma única pergunta nos lábios:
-Onde eles estão?
Sandra a levou até o quarto onde os
bebês estavam dormindo. Helena fugiu da família,
não podia esperar para ver se estavam bem.
No berço que fora dos tios, Marcelo e
Cosme, um berço bem maior, os dois bebês
estavam acomodados. Artur estava acordado, e
Helena quase chorou de felicidade ao vê-los. Um
dia apenas, e havia morrido de saudade! Pelo
visto, demoraria até ser capaz de se afastar de seus
filhotes.
-Helena! Não ouse ficar enfurnada nesse
quarto – Alice surgiu na porta, sorridente – Essa
festa precisa de você!
-Senti falta dos meus bebês – ela
explicou, esperando que a amiga não notasse sua
emoção.
-Mamãe, pode nos deixar sozinhas por
um minuto? – Alice perguntou a sua mãe que com
um olhar compreensivo, deixou-as.
Encostando a porta, Alice se aproximou
do berço e espiou os sobrinhos.
-Mamãe e eu passamos a noite toda tendo
que acalmá-los. Pobrezinhos, nada era bom o
bastante para eles quanto o colo de mãe. Sentiram
muito sua falta, Helena.
-Mesmo? -ela sentiu uma grande emoção
ao ouvir isso.
-Apesar da mamãe garantir que isso vai
passar, assim que eles crescerem, e esquecerem
que tem mãe...sabe como minha mãe é – ela
brincou para vê-la sorrir – Helena, preciso tanto
falar com você, minha amiga.
-Algo ruim? – elas deram as mãos e
foram sentar na cama, com Alice sorrindo.
-Não ousaria falar de coisas ruins nesse
dia – ela garantiu, sempre sorrindo – Preciso
muito pedir perdão, Helena e não pude fazê-lo
antes, por orgulho.
-Imagine, não tem que me pedir perdão
por nada...
-É claro que tenho! Papai me contou
coisas que não sabia. Helena, porque nunca me
disse que afastou-se de mim por um pedido dele?
-Porque contaria? Era necessário que nos
afastássemos, para que tivesse um futuro, Alice. E
fiz o que tinha que fazer!
-Papai me contou coisas que não sabia, e
que duvido que você saiba. –ela pareceu incerta.
-Nunca entendi o comportamento do seu
pai, Alice, mas esqueci esse assunto do passado.
Enterrei todos os meus medos e não preciso mais
pensar nisso!
-Faz certo mesmo assim, quero que sabia.
Papai me contou que...seu pai, o homem que a
criou o ameaçou várias vezes, se interferisse. Meu
pai tentou ajudá-la quando seu irmão morreu, mas
ele fez muitas ameaças. A amizade acabou e o
único modo do meu pai salva-la era contando a
história da sua mãe, mas você jamais acreditaria.
Então, ele se manteve longe. Os empregados que
você conseguia, eram sempre pagos pelo meu pai
para aceitarem trabalhar nas precárias condições
que podia lhes oferecer, Helena. Quando sua
família morreu, papai deixou vários homens
fazendo segurança da sua fazenda, em segredo,
por isso pode passar tantos dias sozinha, sem ser
importunada. Deve saber, que papai estava
insistindo muito para que um dos meus irmãos a
pedisse em casamento. Se Rony não houvesse
aparecido, ele teria atentado meus irmãos, até um
deles ceder! Entenda, meu pai não é um homem
ruim, como pode ter parecido por tantos anos.
-Entendo e acredito. Alice, - Helena
segurou suas mãos com todo seu carinho de amiga
– não tenho mais ódio dentro de mim. Posso
entender a vida como é, sem rancores. Artur é um
bom pai e criou filhos maravilhosos, nunca vou
esquecer como seus irmãos ajudaram nas buscas
por mim. Tive a sorte de ganhar uma família
maravilhosa quando me casei com seu irmão.
-E esse casamento fez de você minha
irmã – Alice afirmou.
-Sim, minha irmã. E John, seu marido, é
agora, para mim, um irmão. Sabe disso, não é? -
precisavam finalmente esclarecer isso e por uma
pedra sobre as desconfianças e brigas do passado.
-Sim! Como fui tola! Helena, fiz da vida
de John um sofrimento em vão! Pobre homem por
me aturar! Não sei como pode ser tão paciente
comigo!
-John é um homem empenhado. E tem
sua recompensa em seus predicados – ela insinuou
maliciosa.
-Deve saber, que não tenho mais receio
da vida de casada – Alice confidenciou, a voz
muito baixa - ele andou fazendo umas coisas
comigo... – corou - ...e acho que não há marido
mais saidinho no mundo do que ele!
-Seu irmão é terrível – ela confidenciou e
as duas seguiram falando sobre assuntos íntimos e
maliciosos.
-Meu Deus, deixa-o fazer isso! - Alice
teve um momento de horror quando Helena
contou-lhe atos particularmente íntimos – John
nunca falou nada sobre isso...
Helena riu.
-Devemos conversar mais sobre esse
assunto um dia desses, Alice. – ela acariciou sua
barriga.
Alice ostentava uma barriga linda e
redonda.
-Mamãe diz que é uma menina, minha
barriga está muito redonda, e só pode ser uma
menina.
-é seu desejo não é? Uma menina?
-Sim. – ela sorriu – Sinto que John
também ficaria muito feliz se fosse uma menina!
Outro dia eu disse que colocaria seu nome se fosse
uma menininha, Helena. Mas ele disse que não.
Vai que ela puxasse o seu gênio...
As duas riam muito de uma conversa
totalmente tola entre duas jovens, muito moças e
ainda ingênuas, felizes e apaixonadas. A conversa
íntima só teve fim, quando Sandra veio atrás
delas, reclamando que o resto da família queria a
presença de Helena.
As duas aproveitaram para levar Artur e
Edgar que haviam acordado para sala, enquanto
Helena seguiu por perto, sempre de olho nos
filhos, ansiosa pelo momento de pega-los no colo
outra vez.
-Minha filha!
O Conde de Valença levantou-se do sofá
da sala dos Parkers com os olhos brilhando de
contentamento em vê-la.
Helena abraçou-o desfrutando do carinho
de pai.
-Quanta saudade, minha filha. Diga-me,
esse moço tem tratado-a bem? – ele piscou numa
brincadeira que arrancou risos de todos – Seus
olhos estão brilhantes, está corada. A lua de mel
lhe fez bem!
-Com sorte, ano que vem, nesse mesmo
dia, estaremos comemorando mais um integrante
na família – Rony caçoou.
-Não diga isso! -ela sorriu abertamente –
Não ouse, Ronald! Por um bom tempo não quero
ouvir falar na palavra gravidez! E dessa vez, eu
mesma me cuidarei!
-Esses homens – Sandra reclamou –
Sempre pensando em filhos!
-é o nosso modo de sobreviver aos anos
sempre jovens, Sandra – Artur provocou a esposa,
a qual abraçava pelos ombros.
-Um modo muito doloroso, meu sogro –
Helena se aproximou dele. – Gostaria que me
desculpasse por todas as vezes em que o destratei.
Não sou mais aquela moça perdida. Entendo o que
fez por mim, e sou muito grata.
Artur segurou suas duas mãos e levou
aos lábios, beijando-as com afeto.
-É muito bem vinda a essa família,
Helena. Os dois presentes que trouxe para nos, são
a coisa mais preciosa dessa vida – ele se referia
aos netos – Nunca tomei uma decisão tão acertada
quanto convencer Rony a desposá-la!
De um modo estranho, sua frase soou
estranha.
Houve uma pausa de risos, onde Artur
tentou se corrigir, e explicar.
-Não adianta, meu pai, eu não queria
mesmo me casar com ela – ele provocou – Mas
isso mudou quando conversamos a sós na sala de
espera do banco. Esses olhos me fascinaram.
-Me admira como seu filho tem o dom de
mentir com tanta naturalidade- ela revidou.
Rony a tomou pelas mãos e beijou-a para
calar suas respostas.
-Mulherzinha respondona – brincou.
-Deixe sua mulher, meu filho – Sandra
exigiu – Temos presentes de aniversário e
casamento para dar-lhes!
-Oh, não, não precisavam! – Helena foi
sincera.
-Qual a graça de ter uma linda filha e não
lhe dar presentes? –o Conde perguntou.
-Por enquanto, sou sua única filha –
Helena olhou para Elly que levantou para abraçá-
la.
-Criaremos a menina que ficou órfã. Mas
será como uma afilhada, não ocupara seu lugar em
minha vida – o Conde afirmou maduro.
-Sim, mas tem uma esposa jovem, quanto
tempo acha que vai demorar até me darem
irmãos?
Pela primeira vez, o Conde pareceu
pensar nisso. Em seu primeiro casamento, a falsa
Michelle não podia conceber e ele se acostumara a
ideia de não ser pai.
-Isso é possível? -ele perguntou a Elly,
que corou.
-Sim, é possível. Isso o desagrada?
-Não, acho que não – ele parecia confuso
– Tenho uma filha adulta, nunca pensei em ser
pai.
-Adoraria ter mais um irmão – ela
garantiu notando a fragilidade daquele poderoso
homem diante da possibilidade de ser tão feliz
assim.
-De verdade? – o Conde parecia tão
perdido.
-Sim, um irmão é sempre uma dádiva.
Ainda mais de um pai tão bom e de uma madrasta
tão minha amiga! Aliás, sinto falta e Mathias aqui
comigo!
-Uma pena Demetrius ter resolvido ir
embora justo hoje. Ele não poderiam deixar de
levá-lo ate a estação.
Elly continua a emoção e Helena mudou
o assunto, para não chorarem!
-E os meus presentes?
O riso substituiu o choro, e ela sentou-se
ao lado de Alice e Elly, enquanto Anna cuidava de
Edgar que dormia, e Sandra acalmava Artur que
acordava e chorava um pouco, de manha.
-Pedi a John que me ajudasse a conseguir
isso – Alice entregou-lhe uma caixa quadrada.
Era pesado e ao abrir a embalagem,
Helena quase gritou de contentamento. Era um
grosso livro sobre direitos igualitários entre
homens e mulheres, uma edição proibida em
Londres, mas que trazia os principais ideais
revolucionários das mulheres, difundidos em toda
a Europa.
-Veja, se ela chorar de emoção, juro que
pedirei o divorcio – Rony brincou.
Helena até sorriu.
-É um presente maravilhoso! -ela olhou
para John emocionada – Significa muito para mim
conhecer todos os meus direitos de mulher,
obrigada John. Alice – sua amiga, ao seu lado, era
um conforto, depois de tantos anos de
afastamento.
-Não pense que é seu único presente –
Sandra avisou entregando-lhe um embrulho
pequeno – Fiz especialmente para você.
Helena sorriu diante do xale lindamente
tricotado, era colorido e vivo, em tons berrantes.
Seria de muita valia no inverno. Agradeceu,
recebendo um presente de cada um dos familiares.
Durante a conversa, a chegada dos
irmãos de Rony, e de Juanita e seus filhos,
transformaram a sala dos Parkers numa verdadeira
festa. Helena riu muito, durante todo o tempo,
próxima a Rony, ora abraçados, ora segurando seu
braço, ora tendo sua mão em sua cintura,
possessivo.
Os meninos iam de colo em colo, e
quando conseguiram aquietar as vozes daqueles
homenzarrões, era hora do almoço, e estavam
todos na mesa, desfrutando da deliciosa comida de
Sandra Parker.
-Adolph está encarregado de cortar toras
de árvores – Rony disse em meio a conversa. – Ele
disse que aproveitaria o dia ensolarado para
escolher as melhores. Para ele, não é um trabalho
muito pesado – todos não puderam deixaram de
concordar – Poderemos terminar o celeiro, e ter
um espaço melhor para os empregados dormirem.
Transformar o velho celeiro em um verdadeiro
alojamento.
-Isso é muito bom – Artur incentivou –
Precisa reorganizar suas cercas, se quiser levar as
ovelhas.
-Sim, por isso Adolph foi escolher a
melhor madeira. Para isso, e claro, para construir
uma casinha ao lado da casa de Juanita.
Na longa mesa, ela e o marido olharam
para ele sem entender. Em frente a eles, Duran e
Anna comiam e vez ou outra sorriam um para o
outro. Estavam casados a vários meses, mas não
eram marido e mulher.
Devido a severa vigilância de Juanita,
Anna dormia no quarto com os meninos menores
e Duran na sala. Algumas vezes, até conseguiam
trocar alguns beijos roubados, mas nada além.
-Adolph vai se encarregar de construir
um casinha para os dois – Foi Helena quem
contou - Um lugarzinho para o meu herói e Anna.
Era uma brincadeira que sempre fazia o
menino corar e querer se encolher e desaparecer.
Era um herói, mas se sentia um menino bobo e
envergonhado quando as pessoas diziam isso.
-Uma casa? – Juanita ficou chocada –
Eles não precisam de uma casa!
-Precisam sim – Helena lembrou-a – São
casados, Juanita. Porque não ensina Anna a se
cuidar, em vez de separá-los?
Irritada com a chamada de atenção,
Juanita olhou para o filho e para a nora.
Foi salva de dar o braço a torcer e admitir
que gostava da menina, embora jamais estivesse
pronta e confortável com a ideia de abrir mão de
seu filho para outra mulher!
O Conde de Valença pigarreou e disse:
-Pensei em levar o menino comigo para
Londres, seria interessante ensiná-lo a cuidar dos
meus negócios. Desse modo quando estiver com
minha filha, terei a certeza que meus negócios
estão em boas mãos em Londres.
Anna olhou para o marido amedrontada.
-É uma oportunidade imperdível –
Helena concordou incerta. – Teria que abrir mão
de Anna. E não sei se poderia ficar seu meu
grande amigo – ela olhou para o menino com
dúvida – Mas não posso negar, seu futuro seria
esplêndido e não posso ser egoísta.
-Helena – Rony segurou sua mão,
entendendo seu dilema – Para o tipo de trabalho
que o Conde deseja instruir Duran, uma esposa
não vai ter espaço. Não por enquanto.
-São tão jovens - o Conde opinou – Me
diga, menina, abriria mão de seu marido por um
ano?
Direto, o Conde sempre era direto. Sem
meias palavras.
-Se for o desejo dele – Anna parecia à
beira do choro.
-Papai, porque o senhor não fica conosco
por um tempo? Pode ensinar Duran, conviver com
seus netos. Ninguém precisa ir embora – Helena
pediu, antecipando a saudade que sentiria.
-Helena tem razão, querido – Elly
suavizou a voz para convencê-lo – Eu lhe
pergunto: poderia abrir mão de Londres por um
ano ou dois?
-Gostaria de viver aqui? – o Conde
pareceu surpreso. – Pensei que não fosse querer
deixar Londres!
-E é por isso que tem presa para voltar? -
Elly riu – quanta confusão, Edgar. Eu gosto do
campo. E gosto muito de ter uma grande e unida
família.
-E no inverno que vem, Duran pode ter
suas economias para levar Anna com ele para
Londres. – Helena arrematou, aliviada por não
perder a companhia de nenhum deles.
Do outro lado da mesa, Anna parecia
prestes a chorar de alívio. Juanita ficou olhando
para a moça, matutando sobre ela realmente
gostar do seu filho, era tão estranho isso. Suarez
nunca demonstrava afeição em publico, mas por
baixo da mesa, pousou a mão em sua coxa e
apertou num claro sinal para que relaxasse.
Ele vivia pedindo que tratasse a menina
como a uma filha e não a hostilizasse. Mas era tão
difícil simpatizar com a mulher que lhe roubara o
filho!
Pensativa, lembrou-se de suas
economias. No inverno que vem, ela daria suas
economias para que o filho levasse a esposa com
ele. Sim, se redimiria por ser incapaz de aceitar
que seu filhinho, seu primeiro filho, já era um
homem, e estava caminhando para uma vida longe
dela.
Mas enquanto isso não acontecesse, não
garantia ser muito solidaria com a menina...afinal,
tem males que não tem solução!
Em dado momento, Ducan desabafava
sobre Carmen e seus costumes esnobes quando
John sugeriu que eles viajassem com eles para
Londres, depois que Alice desse a Luz e pudesse
viajar, desse modo Carmen poderia desfrutar um
pouco do luxo de Londres e talvez tomar
consciência da própria insignificância e dar valor
a vida que tinha, com amor, a carinho, em vez de
pensar apenas em dinheiro e aparências.
-John, John, acha mesmo que alguma
dessas mulheres permitirá que Alice vá para
Londres após dar a luz? – Rony riu, desfrutando
desse pacato sossego familiar. – Conte pelo
menos uns dois anos, isso, se conseguir tanto.
-Uma criança precisa de uma grande
família para crescer feliz – Sandra disse, como se
fosse óbvio.
-Os priminhos devem ter uma boa
relação, John. Não se esqueça disso, e como isso
acontecera se não conviverem? Não quer ter uma
grande família unida? – Helena perguntou,
apoiando a sogra.
-Além disso, podemos ter uma menina, e
seria bom que ela convivesse com outras mulheres
que possam lhe ensinar princípios que as
governantas de Londres não são capazes de dar! –
Alice também opinou.
Enquanto bebia vinho Rony e os irmão se
entreolharam, rindo por dentro. John seria sempre
voto vencido, assim como eles. Era uma família de
mulheres de forte gênio.
Depois de um momento calado, ele
suspirou ruidosamente, e vencido.
-Diga-me, Percival, ainda pensa em ser
administrador? – ele mudou o assunto e Alice
soltou um gritinho de alegria ao descobrir que
não partiriam tão rápido assim.
Teria um longo período próxima a família
e se fosse bem esperta, poderia viver muitos anos
antes que Londres a vencesse e partissem para
Londres.
John deixou aquelas mulheres
acreditarem que haviam vencido, mas ele e Rony
haviam debatido a ideia de permanecerem
próximos e expandirem seus negócios por aquelas
bandas, mas não custava deixá-las acreditarem
que estavam no comando, custava?
Depois de um barulhento almoço, e de
muita discussão, pois os irmãos de Rony insistiam
em levar os gêmeos para darem seu primeiro
passeio a cavalo, e Helena se negava veemente a
permitir, todos saíram para a rua.
Por fim, na varanda, ao lado das
mulheres, ela assistia com o coração apertado,
Rony sobre o cavalo, com Artur contra o peito, um
braço segurando o neném para que não caísse ou
corresse risco, no outro cavalo seu irmão Ducan
fazia o mesmo com Edgar. Helena estava
orgulhosa mas sentia medo que caíssem.
-sua família é linda, Helena – Elly disse
ao seu lado – É uma mulher de muita luz. Capaz
de construir uma família tão iluminada e ao
mesmo temo de trazer luz para a vida das pessoas
ao seu redor.
Helena abraçou-a, agradecida pelas
palavras. Mas sua emoção durou apenas até
Ducan fazer uma estúpida brincadeira de empinar
o cavalo e ela correr até eles, exigindo que lhe
devolvessem os filhos. Irritadíssima, quis quebrar
a cara daqueles dois palhaços por brincarem com
seus sentimentos daquele modo.
Sandra, mais experiente apenas riu e
seguida por Juanita, apanharam os bebês que
precisavam de mamadeiras e trocar as fraldas.
Ainda irritada, Helena quase gritou quando Rony
apanhou-a com um braço e colocou sobre o lombo
do cavalo a sua frente na cela.
-Não brigue, pequena – ele pediu, sedutor
– Estou com saudade dos seus beijos.
-Fanfarrão – ela criticou, mas o beijou.
-O seu fanfarrão – ele instigou seu mau
humor natural.
-sim, o meu fanfarrão – ela beijou-o mais
uma vez.
-Helena!
O grito de sua sogra, chamando-a aliada
ao choro dos bebês era indicio que deveria ir
ajudar. Queria dar o peito, pois tinha muito leite.
-Não me troque por esses homens – ele
provocou, numa brincadeira.
-Tarde demais, já troquei – atiçou,
escapando dele e saltando do cavalo com
agilidade.
Correu para a casa, seus longos cabelos
correndo com o vento e segurando a saia. Rony
assentiu-a ir com um sorriso. Seus irmãos, em
seus cavalos o chamaram para uma corrida, e
estando em família, ele os seguiu.

Uma hora depois, eles voltaram com


notícias de que uma cerca havia caído na divisa
entre as duas fazendas.
-Vida de fazendeiro – Artur reclamou
antes de beijar a esposa e sair com os filhos para o
trabalho.
Rony fez o mesmo, despedindo-se de
todos.
Helena foi com ele até a varanda da casa
dos Parkers. Carregava Edgar no colo, segurando-
o contra o peito, um braço mantendo-o de pé e de
costas para seu peito de mãe. Assim, ele ficava
solto para balançar as perninhas e não sentia o
cheiro de seu leite e a castigava em horas fingindo
mamar apenas para ter sua atenção.
O bebê era espertinho. E manhoso, por
isso, tinham que corrigi-lo agora, ou depois viraria
outro Ronald Parker.
Nanando-o, observou Rony colocar o
chapéu sobre os ruivos cabelos e esperou que se
despedisse dela.
-Não vou demorar. É só o tempo de
acharmos o bezerro que escapou e ver o estrago na
cerca e voltar. – ele beijou sua testa – Me diga se
vai morrer de saudades de mim.
-Vou morrer de saudades de você – era
uma provocação e ela sorriu, correspondendo a
seu beijo.
Um selinho apressado, pois o trabalho
não pode esperar.
-Bom trabalho, Rony – ela disse
simplesmente, enquanto olhava para ele com
doçura e total entrega – Eu te amo.
Rony ficou parado, imóvel, incrédulo.
Como se nada houvesse sido dito, Helena
se afastou embalando o bebê e parou na porta,
olhando para ele, enquanto beijava os cabelos
ruivos de seu bebezinho.
Aqueles olhos diziam mais do que
‘nada’.
Helena sabia a importância do que
dissera. E não dissera por dizer. Engolindo em
seco, ele sorriu e foi atrás de seu cavalo.
Era assim que o amor deveria ser.
Simples.
Feliz, Helena entrou dentro da casa,
direto para as muitas vozes, que falavam e
falavam, sendo ela, uma das mais animadas
vozes. Seu amor logo voltaria e ela era a mulher
mais feliz do mundo.
Capítulo 155 – Por Tudo que você me faz

Epílogo 1
Artur havia acabado de correr da cozinha
para a sala, quando Anna o encontrou. Rindo,
sapeca, ele tentou fugir dela mais uma vez.
Ralhando, Anna o apanhou pela mãozinha e o
levou de volta para a cozinha. Juanita tinha que
fazer força para manter Edgar no colo enquanto
lhe dava o almoço.
Sapecas, queriam fugir e riam sempre
que a tia Juanita ia atrás deles. Ultimamente, Tia
Juanita havia desistido da política de sua patroa
de educar antes de bater e vez e outra, dava-lhes
umas chineladas. Tudo isso, para minutos deles,
eles saírem correndo e rindo dela pela casa, como
se estivessem achando graça de sua irritação.
Segundo Juanita àqueles meninos eram
caso perdido. Com um ano e meio, os dois eram
grandes e rápidos, e pareciam ter mais idade.
Edgar era sempre o mais brigão, e o irmão o
seguia. Terminando de dar o almoço, e fingindo
não ver suas mãos sujas espalhando restos de
alimento pela cozinha, usou o pano de prato para
limpar suas mãos e em exato um segundo, o
menino não estava mais ali.
Anna encontrou os dois na sala.
Resignada, sentou-se no chão, com dois carinhos
de madeira, feitos pelos tios e começou a
incentivá-los a brincarem.
Eram meninos tão bonzinhos, apesar de
levados.
Naquela gostosa manhã, Juanita havia
tido uma constatação e placidamente, entrara no
quarto de Helena, que repousava após uma
indisposição.
Realmente, sua patroa estava fervendo e
imaginava que a casa fosse pegar fogo assim que
ela se recuperasse o bastante para isso. E estava
certa.
Quase na hora do almoço dos adultos, o
cheiro de comida caseira empesteando toda a casa,
Helena saiu do quarto, calçando os sapatos.
-Deveria deitar e descansar mais um
pouco - Juanita lhe disse sabendo que ela
ignoraria.
Sem dizer nada, Helena andou pela casa,
furiosa, na sala, ignorou Artur que corria atrás
dela. Sentia, muito, mas graças ao seu pai, ela
estava completamente fora de si. Anna segurou o
menino, antes que ele saísse de casa, atrás dela.
-Ah, meu Deus! – Anna reclamou
desconsolada, quando se virou a não avistou
Edgar – Onde esse menino se meteu?
As mulheres daquela casa viviam
enlouquecidas com aquelas pestes. Quando Anna
finalmente encontrou Edgar, pretendia lhe chamar
a atenção, mas ele tinha uma florzinha nas mãos,
e a desarmou com aquele sorriso bonito e olhos
brilhantes. Com o menino no colo, e sabendo que
sempre seria encantada por aqueles dois anjinhos,
levou-os para o suplicio da ciesta após o almoço.
Uma hora depois, era ela quem estava
cochilando, enquanto eles seguiam acordados na
cama, brincando com seus brinquedos, na maioria
presente dos familiares. Juanita deu uma espiadela
e maneou a cabeça.
Gritou chamando Ruanzito, para olhar os
amiguinhos no quarto. E a boba da Anna que
sempre seria ludibriada pelos bebês Parkers.
Helena atravessou a fazenda a passos
duros e rápidos. Era inverno, e ela usava um
vestido azul marinho, de mangas longas. Havia
esquecido o xale em casa, na raiva, e suas
bochechas estavam coradas pelo frio. Os cabelos
soltos caiam em suas costas e quando ela adentrou
o celeiro, os dois empregados pararam o serviço,
pois sua expressão era assustadoramente
selvagem.
Rony discutia com ele, as contas sobre a
compra da ração dos animais. Parou o que fazia e
olhou para ela, depois de dispensar os empregados
enquanto falava com a esposa. Não era segredo
entre os empregados, que apesar de ter um pulso
de ferro para os negócios e para o trato da família,
Ronald Parker não tinha o menor controle sobre a
esposa. Honesta e direita, era uma companheira
ideal, mas era também voluntariosa e briguenta, e
muitos ainda diziam que mantinha uma arma
escondida embaixo do colchão.
Boatos maldosos que estavam prestes a
se tornam realidade.
-Não acredito que fez isso comigo! -ela
entrou acusando.
Rony encarou sua fúria, sem se abalar.
Helena ergueu um dedo diante de seu rosto,
transformada em uma furiosa massa de cabelos
castanhos e olhos bravos.
-E o que foi que eu fiz? – perguntou
calmamente, deixando de lado o livro de contas e
esperando que explicasse.
-Sabia muito bem que eu queria esperar!
Deus, como eu te odeio às vezes! – ela esbravejou
e Rony quase se preocupou.
-Se não disser o que eu fiz, não posso
resolver a situação e reparar o mal que fiz.
Era nessas horas que ela desejava ter uma
arma em mãos. Como um sorriso tão bonito e sexy
poderia se transformar em algo tão provocador?
-Não há solução! Muito menos
reparação! - acusou, cruzando os braços aturdida
e preocupada.
-E o que foi de tão grave? Estou tentando
lembrar de algo, mas tenho me portado como um
santo, Helena!
Ela riu com ironia e ele se aproximou.
-Me diga, eu a trai?
-Não que eu saiba – ironizou, nada feliz.
– Você sabia muito bem que eu queria esperar!
Ronald, eu queria ir a Londres nesse verão! Sabia
muito bem disso! Fiz planos! Mas que droga!
Sente prazer em frustrar meus planos não é?
-Sei dos seus planos e também quero ir a
Londres. Afinal, qual o problema? Não fiz nada
para impedi-la de ir! – agora, além de uma ruga de
preocupação na testa, ele estava começando a ficar
alarmado.
-Vinte anos, Rony – ela disse entre dentes
– ano que vem, terei vinte anos!
-Isso todos sabemos. Está reclamando de
fazer aniversário? – provocou.
-Não! Acaso não acha que vinte anos de
idade e três filhos é muita coisa? Eu queria mais
um tempo! Argh, deveria saber que não respeitaria
minha vontade!
-Helena, do que você está falando? –
segurou-a pelo braço, com o mesmo tom que ela.
-Estou grávida! De novo! – acusou.
Surpreso, Rony a fitou, com pura
surpresa:
-Não era você quem estava cuidando de
sua própria proteção? -ele ficou lívido – Não era
você quem disse que não queria ajuda de
ninguém, por ser tão cuidadosa?
-Sim!
-e onde está a minha culpa nisso? –
revidou a altura.
-A sua culpa! Você me faz esquecer de
tudo! Que droga, Rony, eu esqueci de me cuidar
várias vezes! E por sua causa!
Era uma acusação difícil de levar a sério.
Rony sentiu um calor gostoso dentro do peito, de
saber que era capas de fazer a preciosa e
inteligente Helena perder o rumo e esquecer de
tudo.
-Está infeliz por ter mais um filho? – ele
sabia a resposta, mas precisava perguntar.
-É claro que não! Mas estou com raiva
sua por causa disso- não era racional, e diante do
seu olhar azul tão contente ela suavizou a
expressão – Acabei de ter a confirmação. Dessa
vez fiquei de olho desde o primeiro mal estar. Foi
só confirmar que minha regra não desceu esse
mês.
-E vamos ter mais um filho?
-Espero que seja um só dessa vez – ela
suspirou, desarmada, quando Rony abraçou-a –
Rony, queria ir a Londres no verão. E queria
esperar os meninos estarem maiores antes de ser
mãe de novo. Esses meninos me enlouquecem!
Como vou dar conta de três? E se forem dois de
novo? Deus, olha o que você faz comigo!
Rony aceitou seus tapinhas, com algo no
olhar que a desconcertou.
-Contrataremos um governanta para
educar os meninos.
-Nos seus sonhos! – ela respondeu rápida
e mordaz.
Rony controlou o riso. Alice havia tido
um menino, e contratado uma governanta por
insistência de John. Apaixonado, ele não desejava
que ela se cansasse no trato da casa, e do bebê. O
resultado, fora desastroso. Pois a simpática jovem
que Alice escolhera pessoalmente, havia se
mostrado uma mulher leviana e que tentara
seduzir John bem debaixo do nariz de Alice.
Depois disso, babás e governantes eram
um assunto delicado na família.
-O que posso fazer para ajudá-la, Helena?
– segurou seu rosto com ambas às mãos, fitando-a
com adoração.
-Nada. – ela sorriu – Fiquei furiosa
quando descobri que me enganou de novo! Rony,
havíamos combinado que teríamos outros filho
mais tarde, quando os meninos fossem maiores...
-E a culpa é minha?
-Sim, a culpa sempre será sua, esposo –
ela respondeu com naturalidade.
Rony sorriu, olhando seu pequeno e
perfeito corpo, tão magrinha e delicada, e desceu
as mãos para sua cintura, acariciando sua barriga.
-Espero que dessa vez seu umbigo fique
no lugar- ele provocou.
-Eu também espero! E que não seja
parecido com você! Quero uma criança parecida
com minha família – ela também provocou.
-Não sei...se eu sou culpado, devo ter
feito tudo direitinho. – ele revidou.
Helena riu, e olhou para baixo também.
-Não posso estar com mais de um mês.
Minha regra estava normal no mês passado. –
contou, emocionada.
-Eu sei, tive que esperar longos dias para
amá-la novamente – ele galanteou e ela riu
maliciosa.
-Eu te amo, Rony. Mesmo quando me
engravida antes do previsto – ela anunciou em tom
solene.
-Isso é bom. Porque me esforço muito
para que se apaixone por mim todos os dias – ele
respondeu no mesmo tom.
-Eu sei, também faço isso – ela não o
deixaria vencer.
-Rainha dos meus desejos – ele sussurrou
em seu ouvido, apaixonado – O que seria da
minha vida sem você, Helena?
-Seria uma advogadozinho medíocre
frequentando cabarés de quinta -ela alfinetou.
-Ou talvez, houvesse me casado com um
rica herdeira de um pai Conde. - ele arreliou.
-Se aceitar os presentes que meu pai vive
oferecendo, poderia se transformar nesse homem.
-Hum, não posso aceitar os presentes de
seu pai, ou ele terá direito a se meter em nossa
vida.
-Ainda com medo que aceite outro
marido? – ela concluiu, e ele riu contra sua orelha,
onde beijava carinhosamente a pele sensível
diante de suas caricias sensuais.
-Levarei esse medo comigo para o tumulo
– ele revidou no mesmo tom que ela.
-Pois não precisa – ela abraçou-o,
precisando daquele abraço para aquietar seu
coração – Eu te amo muito para me dar ao luxo de
perdê-lo. – escondendo a emoção ela revirou os
olhos – além disso estou estragada para o resto
dos homens. Três filhos com apenas vinte anos!
-Helena – ele ria, enquanto a segurava
para um beijo.
Tinham uma vida calma, apesar das
brigas e uma vez que ela entendera que era casada
com um homem de bom humor, tivera que aceitar
que ser feliz a obrigava a ser bem humorada
também.
Rony segurou seu rosto, amassando seus
cabelos entre as mãos, enquanto devorava seus
lábios em um beijo guloso.
Eles se separaram apenas quando o
barulho dos empregados se juntando para o
almoço foi alto demais e impossível de ignorar.
Algum deles poderia entrar e ele detestaria que
vissem o quanto sua mulher fogosa.
Um ou outro, às vezes tinha um olhar
comprido sobre as mulheres da casa, mas ele
sempre se apressava em discretamente se livrar do
espertinho.
-O almoço está pronto - ela concluiu
puxando-o pela mão.
Eles saíram do celeiro e atravessaram o
prado, chegando aos fundos da casa. Os dois
pararam para ver os filhos.
Anna alimentava as galinhas junto com
Ruanzito e outros filhos de Juanita, e ela colocava
milho nas mãos dos pequenos. Artur jogava o
milho longe rindo empolgado diante do fervo das
galinhas.
Enérgico, Edgar tentava pega-las,
recebendo conselhos de Ruanzito, sobre não
segura-las e deixá-las comerem.
Eram pequenos Ronizinhos e ela sorriu
olhando para ele. Rony sorria, olhando os filhos e
concluindo que sua vida era no mínimo, perfeita.
Helena tinha a consciência exata de seu olhar ser
completamente apaixonado e bobo, como o olhar
de uma tola, mas não podia evitar. Ele era lindo e
ela o amava mais que tudo.
-Mamãe!
O grito de Artur chamando-a a tirou de
seus devaneios. Ele tinha caído e ameaçava choro,
querendo a mãe. Deixando o marido ela foi acudi-
lo. Devagar, disse a si mesma, sempre devagar.
Deixando-o chorar um pouquinho, para aprender a
conviver com a dor e não ser um menino mimado.
-O que foi, filho? Machucou? – se
ajoelhou ficando pertinho dele e olhando seu
joelho.
-Dodói, mamãe – ele reclamou,
ameaçando choro novamente.
-Não, querido. Não foi um dodói, foi um
machucado, e a dor já passou – ela o colocou de
pé novamente. –Viu? A dor foi embora, e não
precisa mais chorar. Olhe, as galinhas estão
comendo o milho que você deu a elas!
Abraçada ao menino, seguiu mostrando
coisas e falando com ele, para incentivá-lo a voltar
a brincar. Edgar, ciumento talvez, aproximou-se
dela, que o abraçou, beijando-o com um sorriso
brincalhão.
Sempre sabia quem era quem, apesar de
usarem roupas praticamente idênticas. Edgar tinha
uma pinta sobre a sobrancelha direita, e seus
sapatos sempre eram dois números maiores que o
do irmão. No resto, eram idênticos.
Pensativa sobre cortar-lhes os cabelos
ruivos no mesmo corte que o pai, ela riu quando
Anna se viu rodeada pelas galinhas e Artur todo
faceiro atrás dela, rindo e falando suas bobagens
de criança.
Edgar havia se agarrado a ela, que o
pegou no colo, mantendo-o no braço, enquanto
olhava a festa do irmão. Helena falava com o
filho quando Rony entrou na festa das galinhas e
colocou Artur sobre os ombros.
-Vamos almoçar – ele mandou
categórico, enquanto Helena ria dele e dos
meninos – Estou morrendo de fome.
Artur e Edgar falavam fluentemente, mas
as vezes, não era possível entender o que diziam,
pois entravam numa conversa entre eles, que
apenas os dois entendiam.
Juanita reclamou que os meninos haviam
almoçado, mas Rony insistiu em manter o
meninos na cozinha enquanto almoçava. Passava
grande parte do dia cuidando dos afazeres da
fazenda e sempre que podia queria os filhos ao
redor.
-Não conte a Juanita, mas os dois são
educados quando estamos sozinhos – Helena
confidenciou, quando ela os deixou almoçando.
Os meninos brincavam sobre uma tapete
no chão, com seus carinhos.
-Juanita não sabe educar crianças – ele
concordou.
-Não é isso – ela desacreditou – São dois
rebeldes, gostam de enlouquecer as mulheres.
Como sou a mãe, não conto – era uma teoria
divertida.
-Hum, e isso deve ser culpa minha
também?
-Sim, é – ela parou de comer para atender
Artur que veio até ela querendo colo – Sente aqui,
Artur – ela o colocou em seu colo e Rony fez o
mesmo com Edgar – Papai tem algo para contar-
lhes.
É claro que com tão pouca idade não
entendiam o que eles diziam, ou a importância,
mas o simples ato de ter esse ritual os incluía nas
decisões da família e os integravam, formando um
elo entre os quatro.
-A mamãe está esperando um irmãozinho
– ele contou, tendo o interesse dos filhos sobre ele
– Um amiguinho para brincarem. Quando nascer,
terão que ser comportados e obedecer a mamãe.
Farão isso?
Os dois meninos concordaram e Helena
duvidou. Os dois só aceitavam a voz de Rony.
Apesar de obedecerem-na, sempre aprontavam
alguma travessura. Tinha até arrepios de pensar
em como seria quando fossem maiores.
-Ótimo. – ele abraçou o filho e o colocou
no chão.
Helena observou os dois brincando e
sorriu para ele:
-Acha que eles entendem?
-Não exatamente. – ele respondeu
pensativo - Mas vão entender com o tempo.
Aliás, quando o bebê nascer, terão idade para
compreender melhor.
-Espero que sim. Pobre Juanita, não ficou
nada feliz em ter mais fraldas para lavar!
-Então, ela ficará feliz em saber que
alguns empregados estão pensando em casar e
trazer suas famílias para cá. Ando pensando em
seguir o exemplo do meu pai e ajudá-los a se
estabelecerem por essas bandas, desse modo
sempre haverá trabalhadores e não precisaremos
procurar novos agregados todos os anos.
-Seria muito bom termos mais trabalho
feminino por aqui -ela concluiu – Ainda mais
agora – ela acariciou o próprio ventre emocionada.
– Trabalho não vai faltar.
-Está feliz, Helena?
-Não -ela respondeu convicta – Não
estou feliz. Eu SOU feliz. –respondeu, a beira das
lágrimas – Mas fique bem claro, não terei outro
filho nos próximos dez anos!
-Será tudo do seu modo – ele garantiu
beijando sua face – Sempre, do modo que a
agrade... – mais um beijo em seu rosto - ...por que
eu vivo para te amar e fazer feliz.
-Eu te amo. – ela o beijou com carinho e
então, profundidade.
Rony enlaçou-a a tirou da cadeira,
trazendo para seu colo. Enlaçados compartilharam
do maravilhoso sentimento de amar e ser
correspondido.
Isso, até um barulho de algo caindo e se
quebrando tirar-lhes a concentração.
Helena precisou de um olhar para
confirmar que seus anjinhos não estavam mais na
cozinha. Ela pulou de seu colo e saiu correndo
pela casa, e Rony esperou para ouvir suas queixas,
enquanto ela repreendia os meninos por alguma
travessura.
Ele ficou sentado, almoçando, e sorrindo.
Três a zero para ele, pensou satisfeito.
Capítulo 156 – O Futuro dos Apaixonados

Epílogo 2

A menina balançava as pernas para lá e


para cá, pois a cadeira era muito alta para que
pudesse encostar as pontas dos pés no chão.
Estava irritada e enfadada.
E em pouco tempo estaria também, com
o traseiro dolorido.
A freira olhou para ela com repreensão e
ela afastou os olhos. Era uma menina pequena,
muito pequena para cinco anos. Tinha o corpo
minguado, miúdo e de uma estatura baixa. Não
fossem seus olhos muito azuis e os cabelos lisos,
ruivos e brilhantes, passaria despercebida.
Seu vestido era rosa, discreto e
sinceramente falando, menos enfeitado que os das
outras meninas com quem ela costumava brincar.
Graças a Deus, pensava Lizzy. Suas amigas eram
relativamente estúpidas e faziam drama até
mesmo por um tropeço dos sapatos lustrosos no
chão.
Entediada, ela contou mentalmente as
regras de sua casa, tentando supor quantas delas
havia quebrado e quais seriam seus castigos.
Pelas freiras que a apanharam, passaria o
resto de sua vida ajoelhada no milho. Ou pior,
leriam novamente a bíblia e enfatizariam a
importância de seu sexo junto à sociedade.
Deveria ser pacata. Deveria ser cordata. Deveria
ser quieta e calada.
Ora, sim!
Lizzy aguardou por várias horas, parte
sua queria que os pais a buscassem o mais rápido
possível, e outra parte, esperava que demorassem.
Assim, atrasaria a surra que seu pai vivia lhe
prometendo e hoje, com toda certeza, cumpriria
sua promessa. Sem contar, que sua mãe a
repreenderia e se desse ainda mais azar, teria que
ouvir um sermão de sua tia enxerida sobre não ser
mal criada.
Que acabasse logo aquela tortura. Não
aguentava mais as freiras que iam e vinham pelo
corredor, apenas para vê-la.
Quanto azar. De todas as idéias
estúpidas, aquela que a levara ao convento era a
pior delas!
Bem, o que está feito, está feito, pensou
Lizzy madura para a idade. Sua mãe arrancaria
seu couro, era fato.
Resignada, olhou para o par de botas no
chão, ao lado da cadeira. Um enorme sorriso
espalhou-se em seu rosto.
As sardas em seu nariz ficavam mais
evidentes quando sorria, mas Lizzy não ligava.
Outro olhar para as botas e ela quase riu sozinha.
Será que poderiam dizer que estava possuída pelo
demônio apenas por rir sozinha, de uma piada que
estava em sua mente? Achava que não. Bem teria
que perguntar a sua mãe, isso claro, depois da
surra e do sermão.
E talvez quando isso acontecesse, ela
houvesse esquecido da pergunta.
Lizzy sentia uma incontrolável vontade
de cantarolar naquele lugar e ouvir o próprio eco.
Mas as freiras teriam um ataque, então, ela se
manteve calada, como uma comportada menina
deveria ser.
Uma hora depois, A madre superiora
conduzia uma mulher pelos corredores:
-Deve saber, Sra.Parker que isso não é
comum. Realmente não é comum! – a mulher
trazia na expressão algo severo que desgostou
Helena. Mesmo assim, obrigou-se a ouvir
atentamente suas palavras.
-Criança como essa nunca vi em minha
vida. Deveria ponderar, Sra.Parker sobre a
possibilidade de deixá-la conosco por um tempo.
Alguns anos de empenho e será outra menina!
Helena ferveu, mas se esforçou para não
responder. Não diria nada enquanto não falasse
com a filha.
-Essa menina deve ter pouco mais de
quatro anos...
-Cinco – sem paciência, ela abriu a boca
para responder pela primeira vez desde que
chegara ao convento. – E tem nome. Chama-se
Elizabeth Johnson Parker.
A madre reconheceu o tom de irritação
em sua voz, mas não retrucou. Um profundo olhar
para a dama ao seu lado a desmotivou de uma
resposta mordaz.
Era um mulher jovem, vinte e cinco anos
no máximo, magrinha e esbelta. Era de
constituição pequena e delicada, acentuado pelo
vestido de inverno. Um vestido azul escuro, com
mangas longas e punhos abotoados com botões
brilhantes. Os mesmos botões decoravam a frente
do vestido, que era botoado até o alto do pescoço.
Não era um vestido fechado e sóbrio por recato,
era apenas o frio de Londres, que a obrigava a
vestir-se desse modo, pois não entendia as demais
mulheres daquela cidade, capazes de enfrentar as
baixas temperaturas com decotes gigantescos,
seios a mostra, pele roxa e expressão doente,
contendo espirros e possivelmente calafrios.
Um olhar de repreensão da madre para
sua aparência a irritou ainda mais. Apesar de
aprovar sua roupa, não aprovava as demais
escolhas. Contrariando as convenções, não
mantinha os cabelos presos, mas sim, soltos e
longos, como uma jovem solteira. Presos dos
lados, por uma fivela atrás da cabeça, os cachos
naturais, outro fato atípico, destacavam sob o
olhar da madre. Usava luvas de couro, que retirara
assim que entrara no convento, e era realmente
atípico que uma mulher as usasse!
Sua face era delicada, mas seu olhar
penetrante. A madre não conseguia fitar seus
olhos por muito tempo. Havia segredos em seu
coração e alma, e esse olhar parecia capaz de
desvendá-los.
-Uma vergonha! – a religiosa não se deu
por satisfeita, conduzindo-a escada a cima, em
direção a outro andar. – Uma menina portar-se
desse modo!
-O que foi que Lizzy fez, afinal? –
perguntou sucumbindo a irritação.
-Roubou as botas de um menino, pulou o
murro e estava escondendo-as atrás das árvores,
do nosso jardim. Foi quando uma irmã a
encontrou.
-É mesmo? E porque Lizzy faria isso? –
Helena perguntou a si mesma, ponderando as
razões da filha.
Logo atrás da jovem de expressão
decidida, como soldadinhos, dois meninos
seguiam calados. Não por serem comportados,
mas sim, pelas ameaças de serem deixados ali
caso não se comportassem.
De cabeça baixa, os gêmeos seguiam
atrás da mãe e da velha rabugenta, calados e
cabisbaixos.
Tinham quase oito anos, e sabiam medir
direitinho o perigo. Quando a mãe ficava calada,
e seus olhos brilhavam daquele modo, era hora de
calar a boca e sair do seu caminho. Espertos, eles
preferiram não ser o alvo de sua raiva, quando ela
finamente pulasse no pescoço da madre
superiora.
Pronto, lá estava à fujona.
Sentada em uma cadeira alta e estofada
com todo o luxo e pompa de um convento
falsamente religioso, Lizzy ostentava sua melhor
expressão de inocência. Ao erguer os olhos azuis
claríssimos para a mãe, parecia um anjo de
candura e doçura.
Ledo engano.
-Aqui está sua filha – a religiosa disse
com algo de mordaz na voz.
Helena olhou para ela incomodada com
essa atitude. Não era super protetora com os
filhos, mas também não permitia que estranhos os
hostilizassem.
-Gostaria de um momento a sós com
minha filha – pediu, tentando manter a
compostura.
Sua voz não deixou margens para
questionamento. Com um cumprimento fingido a
madre deixou-os a sós.
De pé diante da menina, esperou que se
cansasse de esperar e dissesse algo que a delatasse
em sua culpa. Mas hoje Lizzy estava
completamente centrada. Dessa vez, sua mãe a
mandaria para uma escola interna. Tinha certeza.
-Vai me contar o que aconteceu de fato
ou devo acreditar em tudo que a madre superiora
me contou? – exigiu, as luvas em suas mãos sendo
batidas aflitas na palma da mão.
Artur e Edgar olhavam solidariamente
para a irmãzinha.
-Mamãe, foi sem querer.
Era a frase de sempre. Unânime na boca
dos filhos.
-A verdade, Elizabeth -ela exigiu, severa.
A menina era dura na queda, e turrona.
Mas hoje, estava verdadeiramente assustada.
-Geremias Stuart me provocou, mamãe. –
ela contou cabisbaixa – Disse que não podia saltar
o murro. Eu perguntei por que e ele disse que sou
uma menina e meninas são bobas demais para
saltar murros – para ela tinha um sentido ficar
indignada.
-Sim, ele a provocou -ela olhou para a
menina, lendo sua alma – E de quem são essas
botas?
-São de Geremias – ela disse
simplesmente, olhando para os irmãos.
Edgar parecia prestes a rir de sua cara, e
ela conteve a vontade de contar para a mãe todos
os segredos que sabia dele. Era melhor não abrir a
caixa de pandora, ou ele contaria de suas
travessuras nunca descobertas!
Solidário, Artur olhava para a irmã com
um pequeno sorriso de incentivo.
-E o que estão fazendo com você? Não
deveriam estar nos pés de seu amigo Geremias?
-Mamãe... – ela achou que iria chorar –
Ele pediu que provasse, mamãe. Disse que se eu
subisse no murro e não conseguisse, deveria lhe
dar uma prenda.
-E que prenda é essa que a ultrajou? –
desistiu das luvas e guardou-as em sua bolsa,
presa em seu pulso. Uma bolsinha delicada e feita
em rendas e tecido nobre.
-Queria que lhe beijasse a bochecha,
mamãe. Disse que uma menina serve apenas para
isso – ela sussurrou, envergonhada, pois os irmãos
estavam ali.
-E suponho, que não caiu do murro? – ela
fingiu não se abalar em como essas crianças
andavam apressadinhas.
-Eu disse a ele, que se vencesse queria
suas botas novas. Ele esteve se gabando delas
durante toda à tarde – era óbvio, sua expressão
dizia isso – ele tirou as botas e eu as peguei e sai
correndo. Como ele veio atrás eu subi no murro e
pulei, queria lhe dar uma lição e obrigá-lo a voltar
descalço para casa, e deixar de ser esnobe. Não
poderia contar a Sra.Stuart como perdeu as botas,
e estaria de castigo!
-E suponho, que seja uma lição por tratá-
la com descaso?
-Hum hum – ela concordou, suspirando
culpada – Não sabia que uma freira iria me ver.
Como poderia saber que uma freira enxerida iria
xeretar no jardim?
Os irmãos abafaram uma risada, e
Helena olhou para os dois enfurecia. O riso
morreu na hora.
-Obviamente, invadir propriedades tem
seu custo – ela tentou não gritar. Controlaria a
vontade de esganar a filha.
Seus ideais eram bonitos e corretos, mas
havia outros modos de fazer as coisas!
-Pegue as botas de seu amigo e vamos
para casa – ela disse por fim, sem por fim ao
sofrimento da filha.
-Mas mamãe, a madre disse que iria ficar
aqui, e talvez em alguns anos pudesse voltar para
casa...
Helena parou e olhou para a filha. Por
trás de sua expressão corajosa e desafiadora, que
sempre ostentava, havia uma fragilidade imensa e
seus olhos marejados de lágrimas a comoveram.
-Apenas eu e seu pai decidimos seu
futuro e de seus irmãos, Lizzy. Qualquer outra
pessoa, não pode fazer isso. Por isso, não chore.
Embora mereça um castigo, não ficará num
convento a menos que seja sua vocação!
-Não é não, mamãe! -ela disse
imediatamente, tomada de um pavor horrível.
Ficar em silêncio, durante aquelas horas todas
haviam confirmado que jamais teria vocação para
o silêncio e freiras faziam fotos de não falarem, ou
algo parecido, pensou a menina.
Lizzy agarrou a mão de Helena e ela
conteve um sorriso. Detestava incentivar os filhos
a aprontarem, mas dessa vez, precisava esclarecer
as coisas na cabecinha de sua filha.
Abaixou-se até estar na sua altura e fitou
seus olhos com todo seu amor e ao mesmo tempo
empenho.
-Precisa entender, filha, que não pode
desafiar os homens. Na vida das mulheres, é
preciso ter prudência. O mundo é masculino. E os
homem sempre irão duvidar de sua capacidade.
Mas não pode impor-se a eles, assim como eles
não deveriam fazer conosco. Quando um menino
provocá-la, sorria e seja polida. Se a desagradar,
volte para a casa, não brigue na rua, ainda mais
com meninos maiores que você. Muito menos faça
coisas desse tipo! Ser inteligente e sagaz, não é
próprio do sexo, mas sim, de todas as pessoas.
Não deve querer provar que é melhor que um
menino.
-Mas queria que Geremias soubesse,
mamãe. –ela reclamou.
Helena ajeitou seus cabelos tão macios e
suaves e pensou no que dizer:
-Haverá outro menino que vai saber,
querida, mas não vai ser agora. Os meninos nessa
idade são muito bobos – brincou para vê-la rir.
Aquele sorriso quase desdentado a fez rir.
Lizzy havia recuperado alguns de seus dentes de
leite perdidos, mas ainda estava engraçadinha.
-Qual será meu castigo, mamãe? -
perguntou docemente, Helena levantou, aprumou
a saia do vestido e segurou sua mão, levando-a
pelo corredor. Os meninos continuaram logo atrás,
sabendo muito bem que não era a melhor hora
para intervirem.
Teriam todo o tempo do mundo para
caçoar da irmã.
-Não pergunte a mim, e sim, ao seu pai –
ela respondeu notando a expressão da filha
murchar.
Seu pai era o melhor pai do mundo, mas
quando perdia a calma, sobrava para o traseiro de
seus irmãos. Até hoje, havia escapado se
bandeando para o lado da mãe, mas hoje, estava
entregue as ferras.
-Mas primeiro – ela disse sabendo o
quanto sua filha ia sofrer com suas palavras –
vamos a casa da Sra.Stuart e vai devolver as botas
de seu amiguinho e vai pedir desculpas.
-Mas, mãe...
-Ele deve ter sido responsabilizado por
algo que não fez, e por isso mesmo, irá assumir a
culpa de seus atos, Lizzy.
-Mas mãe, ele me provocou! – ela quase
bateu o pé, frustrada, mas o olhar de sua mãe
avisou-a que estava indo no caminho errado para
ser perdoada.
-apenas pense em como se sentiria se
fosse ao contrário.
Com essa reprimida, a menina ficou
calada. Olhando para trás notou que seus irmãos
riam dela.
Helena chegou à casa amarela, ao lado da
casa dos Lourenço, em Londres pouco depois de
Rony. A carruagem estava perto da casa e quando
Adolph ajudou-as a descer, ela pensou no que
seria de Elizabeth quando lhe contasse os detalhes
dessa aventura da filha.
Estavam em Londres há seis meses. Era a
primeira vez em quase oito anos que puderam
viajar para Londres e matar a saudade da cidade e
dos antigos amigos. Primeiro, o nascimento dos
gêmeos. Depois o nascimento de Elizabeth.
E por fim, dois verões de seca doentia
que os obrigara a trabalhar e se dedicar a vencer a
natureza e salvar o negocio que tanto os
orgulhava, assim como sustentava tantas famílias.
Na casa ao lado, ela cumprimentou
alegremente Luana que podava suas roseiras,
estando à vontade naquele seu jardim maluco com
todos os tipos de plantas possíveis e imagináveis.
Nada surpreendente para a casa de um botânico.
Mãe de uma menina tão estranha quanto a mãe,
Luana era uma amiga muito querida.
Alice e John haviam voltado a Londres
há dois anos, e voltar a Londres era um modo de
revê-los. Para sua sorte, o Conde fincara suas
raízes em uma fazenda próxima e não tinha planos
para voltar a Londres tão cedo.
Criando a afilhada, a filha de Alexia, ele
e Elly eram felizes e tinham uma pacata vida. Há
um ano Duran morava na fazenda com o Conde,
ajudando em seus negócios, junto com sua
mulher, Anna.
Quem visse o menino do interior vestindo
roupas bem cortadas e tendo tanto porte para os
negócios nem desconfiaria de sua origem. Mesmo
que às vezes, ele andasse descalço e cavalgasse
sem destino, reencontrando suas raízes. Anna
tinha muito orgulho do marido e ambos
planejavam um filho para logo.
Para desgosto de Juanita, sua primeira e
por enquanto única nora, havia se mostrado ser
uma filha muito amorosa, quando a pouco mais de
um ano Juanita tivera pneumonia. Ninguém havia
notado que sua simples gripe era algo pior.
Depois de meses de cuidados exaustivos,
Juanita tivera na nora uma companheira constante,
cuidando dela, amparando, fazendo-lhe
companhia. Um amor nascido aos poucos.
Felizmente, recuperada, pobre Juanita,
não se acertava em Londres. Fazia muitos anos
que deixara aquela cidade e votar a passeio com a
patroa, dessa vez como uma madame e não
empregada a surpreendia.
Tanto que dois meses depois, quis voltar
para casa e para o marido. Helena havia
compreendido e até achado natural.
Entrando em casa, ela notou o momento
em que Rony baixou o jornal e olhou para ela com
algo irônico no olhar:
-Achei que teria que buscá-la
pessoalmente no Rosie Nell.
-Não estava no Rosie Nell. –respondeu
no mesmo tom – Artur, Edgar, subam e se lavem
para o jantar – mandou, a revelia da vontade dos
filhos de ficarem e ouvirem a briga. – Nada disso,
mocinha – ela segurou a filha pelos ombros
quando ela tentou ir atrás dos irmãos, e fugir –
Sua filha aprontou.
Aos trinta e dois anos, Rony não havia
mudado nada. Continuava com aquele sorriso
franco e brincalhão, e aquele olhar cativante. A
cada dia mais bonito e viril, enlouqueceria
qualquer mulher de sangue quente.
-Venha aqui, Lizzy – ele pediu.
Pôs a filha sentada em sua perna e ela se
aninhou ao pai, achando estar protegida dos
castigos. Sabia que era o xodó do pai. E isso
estava a seu favor.
-O que minha bonequinha fez dessa vez?
-Brigou com um menino maior que ela,
roubos suas botas, saltou um murro enorme e
ainda, invadiu um convento para se esconder. E
teve o desplante de responder a madre, ao ser
apanhada.
Feito o resumo, Helena trocou um longo
olhar com o marido. Não achava que a filha era
tão culpada assim, visto que acredita em direitos
iguais, mas para discipliná-la, era preciso se ater
as convenções as vezes.
-Minha nossa, são crimes graves. E seus
irmãos? Ajudaram-na nisso?
Lizzy maneou a cabeça em negativa,
subitamente calada. Estava com vergonha do pai.
Normalmente eram os irmãos quem estavam
nessa posição e ela apenas espiava rindo de seus
castigos. Dessa vez, porem era ela a culpada!
-Tem certeza? – Rony insistiu, custando a
crer que aqueles dois haviam realmente estado
placidamente contemplativos enquanto a irmã
aprontava.
-Sim, papai – ela respondeu
inocentemente.
Talvez se não fosse filha de Helena, ele
acreditasse em tanta ingenuidade.
-Disse a Lizzy que lhe daria um castigo
proporcional – Helena havia deixando a bolsa de
lado e desabotoado os primeiros botões do vestido,
pois dentro de casa a lareira estava acessa e o
calor era gostoso e acolhedor.
-É o que farei depois de ouvir toda a
história contada por essa mocinha – ele
concordou.
Helena fez força para não rir. Palhaço.
Torturaria Lizzy, fazendo-a contar tudo
novamente, apenas pelo prazer de vê-la culpada.
Helena sentou-se para ouvir toda a
narrativa. Às vezes fantasiosa, às vezes simplista,
Lizzy era inteligente o bastante para aumentar
onde lhe convinha, e diminuir onde também lhe
convinha! Várias vezes, Helena a repreendeu e
corrigiu sua narrativa.
Nunca se cansava de ver como a filha era
inteligente e coesa. E tão doce. Sentada no colo do
pai, ela se recostou em seu peito protetor, e estava
com bastante sono depois do dia de brincadeiras
na casa dos amiguinhos e com os irmãos. Rony
acariciou seus cabelos, notando o quanto ela
estava perto de pegar no sono. Beijou seus
cabelos e interrompeu sua narração.
-Muito bem, Elizabeth. Sei o que devo
fazer para que aprenda a se comportar e ter
modos.
-eu tenho modos, papai. Mamãe me
ensinou a ter modos.
-Não interrompa seu pai quando ele
estiver falando – Helena corrigiu-a, esperando que
lembrasse disso no futuro. Sempre imprevisível,
era difícil saber se entenderia e lembraria ou não.
-Como dizia, seu castigo será
proporcional a sua mau criação – ele piscou para
Helena, sem que a filha notasse – Amanhã cedo,
iremos ao convento e você, mocinha, irá passar o
dia ajudando as freiras. Deve haver muita faxina e
jardinagem para fazer num lugar daquele
tamanho.
Chocada, Lizzy olhou para a mãe.
-Agora suba, troque de roupa e esteja
pronta para jantar – Helena concluiu antes que ela
reclamasse. Embora, que ela não parecia muito
contente, mas tinha noção de ter escapado de uma
senhora surra.
Com um estralado beijo, despediu-se do
pai e abraçou a mãe antes de correr para as
escadas.
Helena nem tentou alertá-la sobre correr
nas escadas.
-Como foi que nossa filha tornou-se uma
menina tão audaciosa? -ele perguntou, com um
sorriso malicioso, de quem sabe a resposta –
Espere, eu sei a resposta. Puxou a mãe!
-Não seja desagradável, Rony – ela
pediu, falsamente irritada – Em parte dou razão e
ela. Criamos Lizzy para ser uma mulher
independente e ela estava fazendo exatamente isso
hoje. Então, como culpá-la?
-Admita, pequena, há modos mais
sensatos de mostrar sua independência! – ele
argumentou levantando-se e segurando sua mão
para que levantasse também. – Sabe de uma
coisa? Nossa estadia em Londres está no fim.
-É mesmo? – Helena deixou-se abraçar,
estudando sua expressão.
-Ficamos muito tempo em Londres, sinto
falta da terra e do trabalho. – ele confidenciou.
Helena teria concordado com ele, mas
Rony a beijou, e ela esqueceu de tudo.
No alto da escada, Artur e Edgar se
cutucaram, e então puxaram a irmã para cima.
-Vamos voltar para casa – Edgar disse
satisfeito.
-Até que não demorou tanto. – Artur
relembrou – Papai tinha dito que ficaríamos pelo
menos um ano!
-Que desperdício – Edgar resmungou. –
O que há para fazer aqui além de ver as
carruagens passarem? Não dá para jogar bola,
nem nadar no lago, muito menos apostar corrida
de cavalo!
-O pai também não aguenta muito tempo
longe da fazenda – Artur contou – Outro dia ele
reclamou do cheiro de fumaça que vem das
chaminés.
-Sim, o pai tem razão. – Edgar atirou-se
na cama, e ficou olhando para o teto, os braços
cruzado atrás da cabeça. – Temos que admitir, tem
uma cosia boa em Londres – ele olhou para o
irmão e os dois riram em segredo.
-O que é? – Lizzy perguntou, ansiosa
para ser incluída na conversa.
-Não é assunto para pirralha – Artur
arreliou.
-Aposto que estão falando de ver a
empregada tomando banho nua. – ela acusou - vi
quando estavam espiando-a outro dia!
Os dois olharam surpresos para ela.
-Você é muito enxerida, Lizzy – Edgar
reclamou, sem saber como ofende-la sem correr o
risco de ser delatado.
-Não sou não!
-É sim! – os gêmeos disseram juntos e
ela ficou de pé, a face corada, louca de raiva.
-Não, não sou enxerida!
Os meninos riram, pois ela estava à beira
das lágrimas.
-Se aquiete, Lizzy – Artur pediu, ainda
rindo – Assim a mamãe vai saber que não foi
deitar ainda!
-O que pode ter de graça em ver uma
mulher tomando banho? – Lizzy ridicularizou e os
dois manearam a cabeça, achando graça.
-O importante é que vamos para casa –
eles disseram novamente, Artur tão feliz como um
passarinho ao aprender a voar pela primeira vez.
-É mesmo – Lizzy concordou, sonhadora.
Sentia saudade de seus amigos, filhos de
sua tia Juanita, sentia falta de Anna que cuidara
dela nos primeiros anos de vida, e sobretudo de
seu pônei. Com sorte, até o próximo verão,
aprenderia a montar em uma égua de verdade!
Os três seguiram conversando por muito
tempo, até serem apanhados e Artur acabar com a
orelha vermelha, ao responder para Helena.
No fim, os três acabaram na cama,
adormecidos como anjos.
Helena cobriu-os e beijou cada um deles,
cuidadosa e amorosa.
Eram a graça da sua vida.
Seus amores.
Helena deixou o quarto, apagando a luz e
encostando a porta.
A casa estava silenciosa e o clima de
harmonia era total. Ela adorava àquele sossego
depois de um dia agitado. Voltando ao quarto,
encontrou Rony despido, na cama, esperando por
ela. O lençol o cobria parcialmente e Helena
fechou a porta atrás de si, andando para a cama,
atraída por seu olhar e seu desejo.
Saboreando o impacto de seu olhar,
despiu o penhoar, que vestira para ir dar um
última olhada nos filhos.
Deixou a peça sobre o encosto de uma
cadeira e se aproximou da cama.
-Precisamos ficar de olho em Lizzy – ele
alertou,aproveitando seus últimos momentos de
pai, antes de ser completamente seduzido e
esquecer de tudo que não se resumisse a um
perfumado corpo de mulher.
-Sim, precisamos – ela concordou,
aproximando-se da cama, e entrando embaixo dos
lençóis. – Rony, preciso lhe dar uma resposta,
meu amor.
Rony engoliu em seco. Vinha esperando
a resposta de uma pergunta, há quase um mês.
Fizera-lhe um pedido, e Helena o
deixaram em suspense.
-Me pediu outro filho -ela lembrou – Eu
disse que responderia depois de pensar. Era
mentira. Não precisa pensar para lhe responder.
Eu precisava apenas confirmar se não estava
grávida. – ela contou.
-E está?
-Sim. – sua resposta foi plácida.
Rony controlou a euforia.
-Coincidência não acha?
-Não, não acho. Vinha tentando
engravidar a alguns meses – ela contou sorrindo –
não quis lhe contar, enquanto não acontecesse.
-De verdade? – surpreendeu-se – Helena,
anda me escondendo segredos?
-Claro que sim – respondeu com
naturalidade, sentando-se na cama, e estendendo
uma das mãos para acariciar seu peito – Se não
resguardar alguns segredos dentro de mim, como
poderei manter seu interesse? Além disso, temia
não engravidar com a rapidez que esperava!
-Demorou muito? -ele perguntou
agradavelmente surpreso.
-Dois meses – ela acompanhou seu riso –
Pelo visto você sempre vai me engravidar com
facilidade!
-Acha que dessa vez será menino ou
menina?
Rony sempre perguntava, pois ela sempre
acertava.
-Tenho um palpite que vou me
surpreender dessa vez – fez mistério.
O sorriso se apagou na face de Rony e ele
correu os dedos por sua testa, bochecha e lábios,
com um olhar penetrante, que vai longe. Helena
quase perguntou-lhe o que lhe trazia tristeza, mas
ele falou antes:
-Será sempre assim? Essa felicidade
imensa a cada dia, acordando ao seu lado, e
vendo-a adormecida? Ouvindo as crianças
correndo pela casa, enlouquecendo todo mundo
com suas travessuras? Seremos sempre felizes?
-Está feliz? -ela provocou, enlaçando-o e
abraçando-se ao seu peito, esperando seduzi-lo
com seu corpo.
-Não tenho tido um minuto de
infelicidade nos últimos oito anos. – garantiu.
-Como é mentiroso esse meu marido –ela
reclamou – Sei que está infeliz em Londres, que
gostaria de ter voltado para casa a mais tempo e
somente aguentou por minha causa, porque sabe o
quanto gosto da cidade!
-Não é infelicidade, Helena. – explicou –
Às vezes,precisamos ser flexíveis no amor.
-Sim, por isso mesmo decidi ser flexível
também. Quando esse bebê nascer – ela olhou
bem dentro dos seus olhos – não vou mais me
prevenir. Deixarei nas mãos de Deus a escolha de
quantos filhos quiser nos mandar.
-Não precisa fazer isso, Helena, apenas
para me agradar – lá no fundo, estava
comemorando.
-É para me agradar também. Precisava de
um tempo sendo livre, cuidando dos meus filhos e
do meu marido, agora preciso de uma vida cheia
de crianças.
-Tem ideia do quanto eu te amo, Helena?
-ele perguntou consciente dela saber.
-Sim, tenho uma vaga ideia – ela roçou
os dedos sobre o volume que se insinuava pelo
tecido do lençol. – uma ideia muito gostosa, Aliás
– insinuou, beijando seu pescoço.
-Helena... – queria comemorar a notícia
de ser pai novamente, dizer-lhe mil vezes o quanto
a amava, mas Helena tinha outro tipo de
comemoração em mente.
Como, então, resistir?
-Espere – ela pediu, se afastando.
Surpreendendo, deixou a cama, e andou
até a janela. Estava frio lá fora, e Helena abriu as
cortinas. Delicadamente, amarrou-as em seus
ganchinhos laterais e se aproximou do interruptor,
desligando a luz do lustre.
O quarto ficou mergulhado numa parca
escuridão, suavizada pela luz do luar, que entrava
pela grande janela da sacada, e iluminava a cama,
e parte da parede.
Iluminada pela lua, soltou as alças de sua
camisola, e ficou nua no meio do quarto, diante de
seu olhar devorador de admiração. Provocadora,
virou-se de costas e apanhou uma escova e
cabelos, para desembaraçar os fios macios, depois
de um dia todo passeando por Londres.
Sentiu seu olhar em cada pequena parte
de seu corpo e não se surpreendeu quando Rony
deixou a cama e se aproximou. Fingindo
indiferença, deixou a escova cair quando foi
apanhada por trás.
Rony abraçou-a, prendendo seu corpo
contra seu corpo firme e dominador.
-Adora brincar comigo – ele disse
baixinho em seu ouvido.
-Nunca brincaria com você, meu amor –
Ela se afastou, fugindo de seus braços.
Diante da ampla janela, banhada pelo
luar, Helena recostou o corpo contra o vidro,
oferecendo-se languidamente ao seu olhar.
Os braços erguidos acima da cabeça,
erguiam seus seios, tão empinados e macios, o
quadril arredondado, devido as gravidezes, e que
ela sacudia para lá e para cá, oferecendo-se. Coxas
firmes, de quem anda e cavalga, e se exercita.
Rony ajoelhou-se aos seus pés, como
quem reverencia uma rainha e segurou seu pé,
erguendo-o sobre sua coxa. Pé pequeno, frágil.
Beijou a pele cálida e ela gemeu, se arrepiando.
Beijos molhados e sensuais seguiram por seu pé,
pelos tornozelos, pelas panturrilhas.
Um tremor apoderou-se de suas
entranhas quando esses mesmos beijos salpicaram
suas coxas, o interior de ambas as coxas, com
beijos e chupõezinhos, totalmente eróticos.
Envolvida, Helena separou as coxas
quando os beijos subiram ainda mais. Rony
afundou os dedos entre suas pernas, enquanto
subia os lábios para seu umbigo.
Os dedos roçaram muito
superficialmente, antes de se aprofundarem em
seu recanto, tão úmido e quente, quanto os beijos
de Rony.
Torturando-a, passou vários minutos
bolinando-a, sem aprofundar os carinhos,
atiçando-a e tornando-a uma estrela cadente,
queimando em puro desejo não saciado.
Helena desceu as mãos para acariciar sua
cabeça e seus ombros, se oferecendo e esfregando-
se contra aqueles dedos malvados que a sondavam
e brincavam com seu sexo.
Extasiada, se contorceu e Rony sorriu,
contra a pele de sua barriga. Sua sempre lisa e reta
barriga. Logo estaria esticada e redonda pela nova
gravidez e essa perspectiva o excitava, pois
adorava seu corpo quando estava roliço e
suculento pelas novas curvas.
Helena gemeu mais e mais, acabando
com seu auto controle, quando finalmente, desceu
aquela boca mágica para o lugar onde tanto a
queria.
Rindo diante de seu desespero provou seu
sabor, seu néctar, lambendo ousadamente, e
chupando vez ou outra, até ouvi-la gritar de
prazer.
Por terem escolhido um quarto afastado,
não havia risco das crianças ouvirem. Ainda mais,
que aquelas crianças tinham um sono pesado e
nada poderia acordá-los quando estavam
cansados, como hoje, depois de tanta brincadeira e
estripulia.
Esquecida que era mãe e esposa, Helena
sentia-se apenas mulher.
A mais louca, apaixonada e excitada
mulher da face da terra. Os carinhos duraram
minutos e Helena precisou empurrá-lo para livrar-
se da tortura, e poder entregar a ele a prova de seu
desejo. Ensandecida de vontade, virou o corpo de
encontro ao vidro gelado, e ofereceu seu corpo.
Rony gemeu e levantou, esfregando o
corpo contra o dela.
Helena sentiu-se uma libertina, nua, de
frente para a rua. Era noite, e pouco provável que
alguém pudesse vê-la a uma distância tão grande
da rua, mesmo assim, sua lógica desaparecia e o
erotismo do momento a fazia arder.
Rony não desperdiçou seu oferecimento.
Gemendo, esfregou-se contra suas nádegas , seu
membro encaixado entre elas, numa francesa
diferente, mas não menos excitante. Helena
rebolava para ele e Rony seguia levando os dois a
loucura.
Quando ambos estavam muito próximos
ao ápice, Rony segurou a ereção e apontou-a para
sua fenda úmida e palpitante, sumindo através
dela num avanço rápido e profundo.
Ela gemeu, e mordeu os lábios para não
gritar. Naquela posição, era uma tortura divina,
tão inchado, longo e grosso...
Rony agarrou sua cintura, e seus cabelos,
esmagando-a contra o vidro, enquanto estocava
sem parar em sua carne. Era isso mesmo que ela
queria, vê-lo descontrolado. Seu maior prazer, era
saber que esse homem enlouquecia em seus
braços. Ou nesse caso, não exatamente em seus
braços...
Seu rosto, prensado contra o vidro, era
uma máscara de profundo prazer, suas mãos
tentavam agarrar a superfície lisa, mas não havia
apoio. Estava perdida, em mais de um sentido!
Rony não parava, não conseguia parar.
Deveria ser mais gentil, mas não conseguia.
Quando perdia o eixo, e o controle o abandonava,
a única coisa que poderia fazer, era arremessar-se
sem parar, até chegar ao ápice!
Segurando seus cabelos em uma das
mãos ele deu um puxão, e ela gritou, se forçando
contra ele, empurrando, querendo mais, que fosse
mais rápido, mais voraz, muito mais bruto.
Sendo abusada daquele modo, Helena
perdeu a consciência de onde estava, apenas
sentia. Mais e mais rápido, mais e mais fundo,
mais e mais voraz. Tão grande, tão quente, tão
másculo...
Rony estava cravado dentro dela, e não
apenas em seu corpo, mas em sua alma, e quando
ele gritou em seu gozo, ela o acompanhou.
Rony poderia ter facilmente escorregado
e caído após seu gozo, como um coelho após a
cruza. Era uma comparação cruel, mas totalmente
verdadeira.
E somente um fazendeiro para entendê-
la.
As costas de Helena eram um convite e
ele lambeu toda a extensão de pele, beijando e
mordendo, numa caricia de carinho e paixão.
Girou-a em seus braços e a tomou nos braços.
Depositou-a sobre a cama, e juntou-se a
ela, cobrindo seu corpo com o seu. Cálida, Helena
o recebeu de braços e pernas abertas, enlaçando
sua cintura, quando ele a penetrou novamente.
Paixão saciada, restava o desejo de serem
um só e dividirem aquela intimidade tão
acolhedora e inflada, que os conduzia ao mundo
do amor e do prazer.
Helena agarrou suas costas, arranhando,
apertando e mantendo-se agarrada aquele homem,
enquanto seus corpos corriam atrás daquela
paixão ultrajada que cobrava deles mais empenho,
pois era um jogo de oferece e foge.
Dentro e fora. Encima e embaixo, dentro
e fora. Rápido e devagar. Encolhe, estica. Dentro e
fora. Cada vez mais para alto, até não sobrar nada,
além dos corpos grudados, e abraçados, as bocas
fundidas em um beijo de língua, saliva e dentes,
que marcava em seus corações a mesma
satisfação que marcava seus corpos.
Exaustos, satisfeitos e apaixonados, se
enrolaram sob as cobertas e adormeceram.
Antes de adormecer completamente,
ainda foi possível ouvir, na escuridão, um suspiro
de felicidade, que Helena não pode conter, então,
ela virou-se para o lado, enrolou-se contra Rony e
adormeceu, assim como ele.

Fim

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