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NOTA TÉCNICA
Audiência Pública – Requerimento de Comissão nº 1.770/2022
Informações Técnicas
1. Direito à moradia
NT nº 29/2022
equipamentos e serviços sociais básicos, com segurança na posse, de custo
acessível e com oferta de oportunidades de trabalho” (art. 1º).
● Embora a moradia seja um direito fundamental, segundo a Fundação João
Pinheiro, a Região Metropolitana de Belo Horizonte possui um déficit habitacional
de mais de 100 mil domicílios.1 Além disso, a população em situação de rua de
Belo Horizonte é estimada em mais de 9 mil pessoas2, tendo a situação se
agravado nos últimos anos, em decorrência dos efeitos socioeconômicos da
pandemia de covid-19.
● Nesse cenário, a ocupação de imóveis ou terrenos ociosos para fins residenciais
tem sido uma estratégia política de reivindicação desse direito fundamental,
apoiada por movimentos sociais de atuação na causa.3
1
Estimativa para o ano de 2019, segundo levantamento da Fundação João Pinheiro. Disponível em:
http://fjp.mg.gov.br/wp-content/uploads/2021/04/21.05_Relatorio-Deficit-Habitacional-no-Brasil-2016-2019
-v2.0.pdf (Tabela 40).
2
Fonte: Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua. Disponível
em: https://obpoprua.direito.ufmg.br/moradia_pop_rua.html.
3
Cf. Tiago Lourenço. Ocupações Urbanas em Belo Horizonte: conceitos e evidências das origens de um
movimento social urbano. Cadernos de arquitetura e urbanismo, v. 24, n. 25, 2017.
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● O Programa Bolsa Moradia foi instituído em 2003 com o objetivo de promover o
acesso emergencial à moradia para pessoas em áreas de risco que não tivessem
condições de adquirir ou alugar outro local para morar (cf. Decreto Municipal nº
11.375/2003). No ano seguinte, pessoas com trajetória de vida nas ruas foram
incluídas entre o público-alvo do programa, mediante encaminhamento dos órgãos
de Assistência Social do município. O programa consiste na concessão de auxílio
financeiro de caráter emergencial e provisório para fins de moradia, no valor de
R$500,00, podendo ser feito em duas modalidades: Bolsa Moradia e Abono
Pecuniário. No primeiro caso, o auxílio se destina exclusivamente ao pagamento de
aluguel, e a locação deve ser comprovada pelo beneficiário. A concessão do abono
pecuniário, por sua vez, é menos burocratizada, e o benefício pode ser utilizado
para fins residenciais de maneira mais ampla, como para o compartilhamento de
gastos de moradia na casa de familiares, por exemplo.4
4
Cf. Relatório Final do Grupo de Trabalho da Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor
sobre Direito à Moradia da Câmara Municipal de Belo Horizonte, elaborado em 2020. Disponível em:
https://cmbhsildownload.cmbh.mg.gov.br/silinternet/servico/download/documentoVinculado?idDocumento
=2c907f767378fb07017427317ad454ec.
5
Fonte: Jornal Hoje em Dia. Disponível em:
https://g1.globo.com/pop-arte/musica/noticia/2022/11/09/gal-costa-morre-aos-77-anos.ghtml.
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moradores.6 No dia 24 de agosto de 2021, os moradores da ocupação foram
levados a uma pousada e, no mês seguinte, foram integrados ao Programa Bolsa
Moradia.7 O assunto foi abordado pelo Requerimento de Comissão nº 1.029/2021
da Comissão de Direitos Humanos, Igualdade Racial e Defesa do Consumidor, que
aprovou uma indicação para que o Poder Executivo incluísse as famílias da
ocupação Anyky Lima nas políticas habitacionais voltadas para a população em
situação de rua.
● A ocupação Michele Almeida, conhecida como “Casa Verde”, também localizada
em um casarão do bairro Lourdes, foi iniciada em janeiro de 2021, abrigando cerca
de 15 pessoas.8 As ocupações Anyky Lima e Casa Verde se deram, portanto, no
contexto da pandemia de covid-19 e muitos dos seus moradores afirmam que
ficaram desempregadas nesse período, impossibilitando-os de arcar com os custos
de moradia. Muitos foram levados à situação de rua e, apoiadas pelo Movimento de
Libertação Popular (MPL), conseguiram moradia nas ocupações. Em setembro
daquele ano, a justiça determinou que o imóvel fosse desocupado, e os moradores
foram integrados pela Prefeitura ao Programa Bolsa Moradia, para recebimento do
auxílio de R$ 500,00 para fins residenciais.9
● Considerando o caráter emergencial do Programa Bolsa Moradia, que tem como
objetivo oferecer um atendimento provisório às famílias com trajetória de vida nas
ruas, os antigos moradores das ocupações mencionadas convivem com a
insegurança quanto à continuidade do pagamento dos benefícios. No entanto, o
acesso ao benefício se mostra fundamental para a garantia do seu direito à
moradia enquanto uma solução de caráter definitivo à questão habitacional não for
efetivada.
6
Fonte: Jornal O Tempo. Disponível em:
https://www.otempo.com.br/cidades/justica-determina-despejo-de-familias-sem-teto-de-casarao-no-lourd
es-em-bh-1.2529403.
7
Fonte: Portal Brasil de Fato. Disponível em:
https://www.brasildefatomg.com.br/2021/09/22/ocupacoes-de-bh-conseguem-bolsa-moradia-mas-nao-sa
bem-quando-irao-acessar-o-beneficio.
8
Fonte: Jornal Estado de Minas. Disponível em:
https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2021/05/18/interna_gerais,1267551/sem-teto-ocupam-casaroes
-avaliados-em-ate-r-7-5-milhoes-no-lourdes-em-bh.shtml.
9
Fonte: Defensoria Pública de Minas Gerais. Disponível em:
https://defensoria.mg.def.br/defensoria-publica-de-minas-gerais-atua-em-busca-do-direito-social-a-morad
ia-e-a-habitacao-digna/.
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Normas relacionadas:
Legislação Federal
● Constituição Federal: Art. 1º, III; art. 6º; art. 23, IX; art. 194; art. 203 e 204.
● Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993: art. 1º, art. 20, art. 20-b; art. 22.
● Decreto nº 7.053 de 23 de dezembro de 2009.
Legislação Municipal:
● Lei nº 6.508 de 12 de janeiro de 1994.
● Decreto nº 11.375 de 2 de julho de 2003.
● Lei nº 10.836, de 29 de julho de 2015.
● Decreto nº 17.099, de 29 de abril de 2019.
● Lei nº 11.181 de 9 de agosto de 2019, cap. VII (Plano Diretor).
● Lei nº 11.314, de 5 de outubro de 2021.
● Decreto nº 17.758, de 4 de novembro de 2021.
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Marina Abreu Torres
NT nº 29/2022