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Teoria democrática atual: esboço de mapeamento

Democracia direta vs democracia representativa

Democracia empírica e democracia racional (ou descritiva e prescritiva) – SARTORI

Macpherson - democracia liberal vs democracia utópica:

- bentahm e james Mill – democracia protetora – voto serve de proteção à


tirania;

- Stuart Mill – democracia desenvolvimentista – qualificação dos cidadãos na


esfera pública;

- shumpeter – democracia de equilíbrio – redução da competição eleitoral;

- macpherson – democracia participativa.

Benjamin Constant – liberdade dos antigos vs liberdade dos modernos. Negativa vs


positiva.

Jon Elster – Três modelos de democracia: modelo dominante e dois contestatórios:

- Dominante: preferências individuais – cidadãos escolhem entre as ofertas


apresentadas a que lhes dará maior satisfação pessoal

- Contestação 1: Democracia participativa, que corresponde à


desenvolvimentista de Macpherson e Held. Política não tem valor apenas
instrumental, mas permite a melhoria das capacidades do cidadão. Possui um
valor em si.

- Contestação 2: Democracia deliberativa – inspirada em Habermas. Nega o


caráter privado da formação das preferências. Enfatiza necessidade do debate
público.

Miguel constrói um modelo de análise que distingue 5 tipos de democracia, todas elas
dentro da noção de democracia representativa:

1) Democracia liberal-pluralista – liberdades individuais, competição eleitoral e


multiplicidade de grupos de pressão. Esvazia-se a ideia de governo do povo. Os
cidadãos podem formar o governo, mas não governar.

As demais correntes se enquadram no que Sartori chama de “democracia racional”, por


contestarem os formatos institucionais estabelecidos atualmente:
2) Democracia deliberativa – Habermas e rawls. Decisões políticas devem ser fruto
de ampla discussão. Todos devem ter condições iguais de participar e devem
apresentar argumentos racionais para alcançar consenso. Não há interesses fixos.

3) Republicanismo cívico – revalorização da polis e do sentimento de comunidade.


Arendt. Comunitarismo, problematiza o individualismo.

4) Democracia participativa – ampliação dos espaços de decisão coletiva na vida


cotidiana. Eleição é insuficiente para qualificar indivíduo como cidadão. Pessoas
comuns devem estar presentes na gestão das empresas, escolas etc.

5) Multiculturalismo – desenvolvimentos mais recentes da teoria política. Política


da diferença – essas diferenças são irredutíveis a uma identidade única e fontes
legítimas de ação política. Grupos são sujeitos de direitos – ruptura total com a
perspectiva liberal. Preocupam-se mais em fundamentar uma teoria da justiça do
que teoria da democracia.

1) Liberal- pluralista

Shumpeter – define a democracia como uma maneira de uma minoria poder governar de
forma legítima. Teoria concorrencial, eleições. Sentido reducionista da democracia, pois
não há formação de vontade coletiva, mas agregação de preferências manipuladas.
Deriva da teoria das elites. A democracia deriva da concorrência organizada pelo voto e
não da soberania do povo – impossível de ser alcançada na realidade, segundo ele. A
democracia é um método político. É um arranjo institucional para se alcançar decisões
políticas. Ela dá origem a um governo aprovado pelo povo. Consenso sobre as regras do
jogo para que haja dissenso sobre os fins.

Democracia para Shumpeter é a livre competição pelo voto livre.

Downs – cidadãos têm interesses identificáveis e conseguem perceber se estão sendo


atendidos ou não. Escolha racional. Governante deve atender a esses interesses para
permanecer no poder.

Dahl – teoria da poliarquia – admite que regimes vigentes não são governos do povo,
mas nega que exista uma classe dominante. Para ele, existem múltiplos centros de poder
dentro da sociedade, capazes de influenciar as decisões políticas. As poliarquias são
resultado de processos de democratização, que se desdobram nas dimensões da
inclusividade (cada vez mais pessoas participam do processo político) e da liberalização
(possibilidade de contestação).

Problemas principais: isolamento do mundo político do mundo social. Desigualdades


são negligenciadas e os cidadãos são vistos como sendo “iguais perante a lei”. Segundo
problema – redução da democracia a um processo de escolha, em que os cidadãos
possuem interesses claros. A construção dos interesses é suprimida da política.
2) Democracia deliberativa

Decisões devem ser tomadas por quem vai ter a vida afetada por elas, a partir do
raciocínio público entre iguais. Democracia não é um método de auferir preferências
individuais dadas. Diálogo, entendimento mútuo, esfera pública. Habermas, para
Miguel, acaba reproduzindo as premissas dos teóricos liberais do contrato social. A
igualdade substantiva deixa de ser importante se todos puderem discutir como se fossem
iguais. Não se discute as condições de acesso à esfera pública.

Habermas pressupõe a possibilidade de existir uma situação de fala ideal. No momento


da deliberação, seriam aceitas falas pertinentes, o que seria uma premissa de inclusão;
falas racionais; e o propósito seria alcançar o consenso. No mundo real, no entanto, os
debates são desvirtuados por diferenciais de poder.

Miguel critica o modelo face-a-face defendido por Habermas como capaz de concretizar
o ideal democrático, uma vez que a dimensão da representação é desconsiderada e não
há uma predisposição a se pensar em questões globais, do todo. O autor enfatiza as
desigualdades não levadas em consideração pelos teóricos deliberacionistas: é
questionável a ideia de que existam interesses facilmente distinguíveis e que as pessoas
possam acessá-los; as pessoas possuem diferentes capacidades discursivas e nem todos
conseguem atribuir um caráter de problemática universal ao que representa seus
próprios interesses.

3) Republicanismo Cívico

A vertente se apoia, geralmente, nas construções de Maquiavel e Rousseau, na medida


em que os autores postulavam a participação na vida pública como ideal e associavam
liberdade à ausência de dominação. Mais do que o voto, é preciso que haja um senso de
coletividade, de comunidade e comunitarismo. A ideia é representada na noção de
Vontade Geral e na de Bem Comum nas teorias de Rousseau e na de Virtude Cívica de
Maquiavel.

Assim, a participação política deve estar associada ao compromisso com interesses


gerais. Deve haver a formação de uma identidade coletiva, à qual as decisões políticas
devem atender. O processo político é um processo de aprendizado, de construção. E não
de mera “detecção” de interesses pré-determinados.

4) Democracia Participativa

É o modelo que mais se aproxima de uma formatação institucional a ser implantada. Os


outros teóricos da democracia falam mais de normas gerais e critérios de apreciação dos
sistemas democráticos.

Entendem a democracia como um processo educativo. Rousseau e J. S. Mill são alguns


dos teóricos utilizados para sustentar os preceitos – a atividade política deve servir para
qualificação do cidadão e para construção da vontade geral.
A ideia principal é a de que o voto não é suficiente para garantir a soberania popular.
Para alcançar a cidadania, seria necessário ampliar os incentivos e as possibilidades de
participação.

Implantação de mecanismos democráticos em espaços da vida cotidiana. Há maior


reconhecimento das desigualdades concretas que existem na sociedade. Relação entre
capitalismo e democracia – Para Miguel, os teóricos da democracia participativa
defendem, ainda que de maneira implícita, a incompatibilidade entre a democracia e o
capitalismo. A lógica da participação ampliada exige a descentralização do poder.

Economia autogestionárias – trabalhadores seriam responsáveis pela administração das


empresas. Vantagens políticas da autogestão.

Problemas: apatia das pessoas, permanência das desigualdades, relações interpessoais


prejudicam manifestação de discordâncias, poder de agenda. A participação efetiva
significaria o acesso a locais de tomada final de decisão – assim, o OP não seria um
instrumento de democracia participativa.

5) Multiculturalismo

Afirma que grupos possam ser sujeitos de direito. Locke e Hobbes desconsideram
completamente a comunidade e instituem suas idéias em noções de proteção à
individualidade. Opõe-se a uma premissa do pensamento liberal e afirma a relevância e
a legitimidade dos grupos na arena política. Teoria da justiça. Nancy Fraser defende
dois eixos para realização da justiça: redistribuição e reconhecimento.

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