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Apesar dos avanços registados no quadro governativo das autarquias locais, no que
concerne ao estabelecimento de mecanismos de participação para o engajamento activo
dos cidadãos na governação municipal democrática, inclusiva e transparente, há estudos
que apontam para o fraco envolvimento destes nos fóruns de participação criados no
âmbito do processo de orçamentação participativa.
Conceitos
De uma forma muito geral, o planeamento pode caracterizar-se pelo seu interesse na
forma física e nas funções e, portanto, procurar organizar as atividades humanas de uma
forma funcionalmente eficiente [ CITATION Alm21 \l 1033 ].
Origens e possibilidades
As bases para uma governação local participativa foram criadas desde a Constituição da
República de 1994. Através da descentralização - e da desconcentração - princípio pelo
qual assenta a estruturação da Administração Pública moçambicana, foram criadas as
autarquias com objectivo de “organizar a participação dos cidadãos na solução dos
problemas próprios da sua comunidade e promover o desenvolvimento local, o
aprofundamento e a consolidação da democracia” (Moçambique, 2004).
O terceiro mandato dos municípios poderá ser caracterizado ou por uma participação
disfarçada em consultas comunitárias e alguma expansão da planificação participativa,
ou então por uma postura ousada e corajosa dos gestores públicos municipais de
aproveitar as experiências que se expandem pelo mundo de autonomização dos cidadãos
na decisão sobre a aplicação dos recursos orçamentais, isto é sobre o Orçamento
Participativo. Acreditando ser este o caso, propomo-nos à reflexão de alguns aspectos
chaves para o desenho e implementação de modelos do Orçamento Participativo
[ CITATION Nhu09 \l 1033 ].
Grande parte das práticas do Orçamento Participativo adopta nos primeiros anos ciclos
orçamentais anuais e mais tarde bianuais. Pensar na frequência do ciclo orçamental é
importante porque o Orçamento Participativo envolve processos de decisão e de
implementação longos. Ter um ciclo orçamental anual significa que num mesmo ano
decorrem dois processos o que sobrecarrega recursos (humanos, materiais e
financeiros). Sendo bianual, significa que o município num ano dedica-se ao processo
decisório e noutro à implementação. A implementação do modelo do Orçamento
Participativo pode ser em toda a dimensão do município ou em partes do território do
município ou ainda em alguns sectores específicos (por exemplo, habitação, saúde,
educação). A implementação gradual é aconselhável no contexto de carência de
A emenda constitucional de 1996 estabeleceu que o poder local tem como objetivo
organizar a participação dos cidadãos na solução dos problemas próprios da sua
comunidade. Ainda segundo o artigo 188 da Constituição, o poder local deve ser a força
motriz na promoção do desenvolvimento local, e no aperfeiçoamento e consolidação da
democracia no quadro da unidade do Estado moçambicano. O artigo 28 da Lei 2/97
concretiza um estilo previsto para a participação dos grupos locais ao apelar à
necessidade da integração das autoridades tradicionais no processo de tomada de A
nossa conclusão é de que não existe um quadro normativo que regulamente a
metodologia
O poder local, que pressupõe a existência das autarquias locais, foi instituído desde a
Constituição de 1990. As primeiras eleições realizaram-se em 1997, em trinta e três
municípios. De lá para cá realizaram-se três eleições autárquicas, correspondendo a três
mandatos. O primeiro de 1997 a 2002, o segundo de 2003 a 2008 e o terceiro, em curso,
de 2009 a 2013. Identificamos assim, três fases sobre as quais é possível analisar os
processos participativos na gestão municipal [ CITATION Nhu09 \l 1033 ].
Como reconhece o próprio Governo (MAE, 2003b), o primeiro mandato das autarquias
foi de “aprendizagem para todos (agentes do Estado, municípios, sector privado,
associações, sociedade civil e comunicação social), quer no que se refere ao processo de
autarcização, quer em aspectos de organização e funcionamento dos órgãos
autárquicos”. Portanto, nos primeiros cinco anos da existência dos municípios, o
trabalho voltado para organização interna e a inexperiência de todas as partes
envolvidas e interessadas no processo de autarcização não permitiram a implantação de
processos de governação participativos.
O ciclo bienal tem a vantagem de além de permitir um espaço de tempo suficiente para
uma melhor programação de recursos, também possibilitar que a cada ano de
planificação os projectos plurianuais tenham sido concluídos ou estejam pelo menos
numa fase adianta. Também, o planeamento, a execução e a fiscalização dos projectos
tem um espaçamento suficiente para não sobrecarregar a capacidade humana existente.
Nesse contexto, no primeiro ano definem-se os projectos e no segundo inicia-se,
simultaneamente, a implementação dos projectos definidos e a organização logística do
ciclo seguinte (Metodologia de OP, 2010). As mudanças constantes na metodologia de
OP tem como fundamento buscar aperfeiçoar o processo de orçamentação participativa.
Sob ponto de vista de participação efectiva no OP, o segundo momento revela-se o mais
importante pois é nele que, em sessão pública, os cidadãos tem a prerrogativa de eleger
directamente 3 propostas de projectos prioritários para investimentos nos seus bairros e
votam dois delegados de OP para os representar na sessão do DM, cujo papel resume-se
no acompanhamento e fiscalização do processo de definição e implementação de
projectos.
Esse momento requer muita atenção e participação massiva dos cidadãos ao nível dos
bairros na medida em que para que o processo seja legítimo, as 3 áreas prioritárias de
intervenção municipal devem ser definidas, nesse instante, em consonância com as
preferências dos cidadãos. É, também, neste momento que decorre o processo horizontal
de prestação de contas, o qual pressupõe a apresentação do ponto de situação do nível
de execução dos projectos definidos no OP do ciclo anterior. A prestação de contas
pode ser feita pelo Presidente do Município ou os seus vereadores aos cidadãos e estes
por sua vez tem a perrogativa de colocar questões relacionadas ao desempenho do
governo municipal na resposta às suas demandas.
Esta etapa operacionaliza-se á nível dos DMs, onde procede-se a análise das propostas
de projectos dos bairros ou seja, discute-se os investimentos que serão feitos a nível de
cada DM. Devido a limitação de recursos financeiros disponíveis para o DM apela-se a
necessidade de solidariedade entre os bairros pela impossibilidade de aprovar projectos
para todos os bairros.
Nessa mesma sessão são eleitos por meio de voto dois delegados distritais do OP (entre
os eleitos nas reuniões dos bairros) e um secretário de bairro para juntamente com o
vereador do DM comporem a equipa do Conselho do OP (COP), a qual têm a
incumbência de aprovar os projectos de OP a nível do CMCM.
Participam desta sessão: o vereador do DM que preside a sessão, os secretários de todos
os bairros do DM; os delegados eleitos em cada bairro do DM; técnicos do DM afectos
ao OP; vereadores de áreas do CMM, incluindo o Pelouro de Finanças e Unidade de
Planeamento Estrategico (UPE).
Este constitui um dos momentos mais importantes de todo o ciclo de OP pelo facto de
ser nele onde as demandas da população poderão ser ou não atendidas, isto é, a partir da
lista final dos projectos aprovados pelo CMM é possível ver se estes coincidem com os
que foram demandados a nível dos bairros consultados.
Essa sessão visa reconhecer, legitimar e aprovar os projectos definidos pelos cidadãos
que, no final, são consolidados no Plano de Actividades e Orçamento Anual do
Município.
d) Implementação
Nesta fase, são executados os projectos do OP. Este processo inicia com o ano fiscal em
que os projectos se encontram integrados, prolongando-se até ao final das obras que
pode ser de um ano ou mais, dependendo da complexidade dos projectos e da
disponibilidade de recursos. Neste processo, todos os actores (o CMCM e os cidadãos,
através dos delegados do OP) têm responsabilidades.
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕESAS
O tema ganha, aliás, uma renovada roupagem no preciso momento em que se começa a
discutir a possibilidade de se criar uma rede nacional de Orçamentos Participativos. Este
estimulante desafio merece, no entanto, uma reflexão bastante cuidada sobre os
objectivos, os conteúdos e as estratégias dessa eventual plataforma colaborativa.
BIBLIOGRÁFICAS