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Tópico 1: A trajetória histórica do Orçamento Participativo: Análise de suas origens.

As origens do Orçamento Participativo remontam ao final da década de 1980, quando surge pela primeira vez na
cidade de Porto Alegre, no Brasil. O contexto socioeconômico da época, marcado por profundas desigualdades
sociais e governos autoritários, gerou uma demanda por maior participação popular na tomada de decisões
governamentais. Nesse sentido, o Orçamento Participativo foi concebido como uma estratégia de
democratização da gestão pública, permitindo que os cidadãos tivessem voz ativa nos processos de planejamento
e execução orçamentária.

Uma das principais características do Orçamento Participativo é a sua natureza deliberativa. Diferentemente dos
sistemas tradicionais de orçamento, em que a alocação de recursos é feita de forma centralizada pelo Estado, no
Orçamento Participativo essa decisão é tomada coletivamente pelos participantes. Por meio de assembleias,
fóruns e outros espaços de discussão, os cidadãos têm a oportunidade de debater e votar sobre as prioridades de
investimento em diferentes áreas, como saúde, educação, transporte e infraestrutura. Os cidadãos deveriam
decidir sobre a aplicação do dinheiro público utilizado.

Outra característica imprescindível que compõe o sistema do Orçamento Participativo é a promoção da


transparência e da accountability (responsabilidade administrativa por seus investimentos/ações) na gestão
pública. Ao envolver os cidadãos no processo de tomada de decisões, o método busca garantir a prestação de
contas por parte dos governantes, fortalecendo a relação entre governo e sociedade civil.

“O orçamento, desde o início, representou uma importante conquista como instrumento disciplinador das
finanças públicas, sua função principal foi a de possibilitar aos órgãos de representação um controle político
sobre os Executivos. (GIACOMONI: 2010. P. 55)

A descentralização e a democratização do poder são marcos fundamentais no processo da gestão pública. O


Orçamento Participativo dissocia o processo de tomada de decisões, transferindo parte do poder que era
centralizado nas mãos do Executivo para a população, por meio de fóruns, assembleias e outros mecanismos de
participação. Dessa forma, a comunidade passa a ser co-autora das políticas públicas que a afetam diretamente.

Essencialmente, o Orçamento Participativo é uma maneira de envolver as pessoas comuns no processo de


tomada de decisões políticas e distribuição de recursos. Isso é importante porque, historicamente, certos grupos
sociais foram marginalizados e suas demandas não foram atendidas nas políticas públicas. Ao permitir que
pessoas de diferentes origens e níveis de vulnerabilidade participem ativamente, o Orçamento Participativo
trabalha para trazer mais equidade social e reduzir as desigualdades. Além disso, a participação cidadã fortalece
a democracia, incluindo aqueles que antes eram excluídos do poder de decisão.

Natureza deliberativa – transparência (accountability) e aplicabilidade tecnológica (Era digital).

A tecnicidade é mitigada e o orçamento participativo é reflexo direito da soberania popular.

Tópico 2: A estruturação do processo do Orçamento Participativo: Mecanismos para a sua promoção

1- Em primeiro lugar, é fundamental estabelecer mecanismos de promoção e divulgação do Orçamento


Participativo, buscando alcançar a maior quantidade possível de cidadãos e facilitar o acesso às informações
pertinentes. É possível utilizar diferentes estratégias, como a realização de campanhas de conscientização e
divulgação em diferentes meios de comunicação, a criação de plataformas online para apresentação e discussão
de propostas, bem como a realização de audiências públicas e debates em diferentes comunidades. A realização
de audiências públicas para a discussão das propostas apresentadas pela população, a criação de canais de
comunicação direta entre a população e as autoridades responsáveis pela implementação das políticas públicas
(sistemas de auditoria) e a criação de espaços de debate e deliberação que permitam a participação ativa dos
cidadãos.

Karl Loewenstein entende que o orçamento Público é uma “decisão política fundamentada” (LOEWENSTEIN,
2017). Tal decisão deve convergir para a promoção dos direitos e garantias fundamentais em uma definição de
políticas públicas orientadas à inclusão como fator de bem estar social, conforme exposto anteriormente.

2- É essencial engajar uma ampla gama de indivíduos neste percurso. É importante assegurar que membros
ativos da sociedade civil, dos movimentos sociais e dos segmentos marginalizados, tais como mulheres, jovens,
idosos e pessoas com deficiência, participem de maneira significativa. A inclusão desses indivíduos é primordial
para impedir a perpetuação de desconformidades e garantir a representatividade no âmbito das decisões. O
cidadão comum fica alheio ás discussões sobre onde irão ser destinados os recursos públicos arrecadados pelo
Estado.

3- É essencial ser transparente e prestar contas no Orçamento Participativo, ou seja, mostrar de forma clara e
acessível todas as informações sobre o processo, as ideias apresentadas, como são escolhidas e como os recursos
são distribuídos. Também é importante criar formas para acompanhar e avaliar as propostas selecionadas,
garantindo que sejam implementadas de maneira justa.

4- Uma parte muito importante para a organização do Orçamento Participativo é a capacitação (instrução) dos
participantes. É essencial dar ensino e preparo aos cidadãos interessados em participar, para que compreendam
como funcionam os processos de tomada de decisão, as técnicas de negociação e a elaboração de propostas. Esse
treinamento ajuda a promover um debate mais informado, qualificado e coletivo, o que fortalece a legitimidade e
a qualidade dos resultados alcançados.

No orçamento participativo a população “tem poder deliberativo sobre tópicos definidos no processo
orçamentário, no qual a voz e o voto dos representantes populares têm peso nas decisões orçamentárias”
(AZEVEDO FILHO, 2016), e outras medidas de inclusão social se inserem nesse contexto de diálogo entre
administrador e administrado.

5- Importância de uma abordagem organizada (sistematizada) na execução do Orçamento Participativo, para que
ele não seja apenas uma ação isolada e sem conexão. É crucial integrar o processo de Orçamento Participativo no
sistema legal e institucional do país, além de adotar mecanismos que o conectem com outras políticas públicas,
garantindo assim a sua continuidade e eficácia.

Transparência na divulgação de informações – capacitação dos participantes – articulação com outras políticas
públicas para garantir operabilidade das ações governamentais.

Tópico 3: As potencialidades (marcos positivos) e limitações do Orçamento Participativo: Críticas à


participação popular na Administração Pública

O Orçamento Participativo tem o poder de promover a transparência e a prestação de contas na gestão dos
recursos públicos. – potencialidade. Com esse mecanismo, os cidadãos podem influenciar diretamente a
alocação de recursos de acordo com seus interesses e necessidades, o que por sua vez incentiva os gestores
públicos a serem mais responsáveis na utilização eficiente do dinheiro público. Além disso, o Orçamento
Participativo também contribui para a legitimidade das decisões governamentais, criando uma conexão direta
entre a sociedade civil e a administração pública.

Entretanto, o Orçamento Participativo apresenta alguns aspectos que podem prejudicar sua efetividade. Uma
crítica comum é a questão da representatividade limitada (incapacitação dos cidadãos) desse modelo de
participação popular. Nem todos os segmentos da sociedade têm as mesmas oportunidades e capacidades para se
envolver no processo de tomada de decisões do Orçamento Participativo, o que pode resultar em uma
distribuição desigual de recursos. A participação costuma ser dominada por grupos mais organizados e
privilegiados, deixando de lado as vozes das pessoas marginalizadas e dificultando a criação de uma visão
inclusiva para toda a comunidade.

Alain Touraine, com razão, chega a se questionar: “Como pode haver uma livre escolha dos governantes pelos
governados se os eleitores não sabem qual será a política econômica, social ou internacional dos eleitos?”.
(TOURAINE, 2002, p. 350). Com o contato que o cidadão tem ao participar das audiências públicas para debater
o orçamento participativo, ele passa a vislumbrar melhor a ideologia de cada um dos partidos políticos inseridos
no contexto da discussão.

Uma outra restrição se encontra na habilidade de colocar em prática as decisões originadas do Orçamento
Participativo. Em alguns casos, a escassez de recursos, a burocracia e a falta de vontade das instituições podem
impedir a efetiva implementação das propostas populares, resultando na perda de confiança dos participantes no
processo e comprometendo o potencial de impacto das políticas públicas.

No contexto do Orçamento Participativo, é crucial fortalecer tanto a inclusão social quanto a representatividade.
Para alcançar esse objetivo, é necessário garantir que todos os segmentos da sociedade tenham a oportunidade
adequada de participar e sejam devidamente capacitados para isso. Isso pode ser feito através da implementação
de mecanismos que garantam a igualdade no acesso a informações e recursos necessários para uma participação
eficaz. Ademais, é fundamental promover a colaboração e diálogo entre a sociedade civil e os gestores públicos,
visando à construção conjunta de soluções, com o objetivo de aumentar a validade e efetividade das decisões
tomadas.

Ademais, há críticas que levantam preocupações sobre a sustentabilidade das políticas e projetos provenientes do
Orçamento Participativo - não há ainda um fundo monetário na agenda política anual argumentando que a falta
de uma perspectiva de longo prazo pode colocar em risco a continuidade dessas ações. É alegado que a
participação popular, freqüentemente, concentra-se em demandas imediatas e específicas, ignorando a
importância de uma administração pública que leve em consideração os efeitos futuros e a viabilidade financeira
dos projetos.

Inversão da lógica da representação – autorregulacao soberana (pessoas em vivem em determinada região podem
participar ativamente nas escolhas dos projetos e gastos públicos que serão realizados nesse local/necessidades e
prioridades da comunidade) – não há elaboração de mecanismo que consigam “filtrar” as demandas sociais e
priorizar suas necessidades orçamentárias.

Tópico 4: O impacto do Orçamento Participativo na distribuição de recursos: Políticas Redistributivas

O Orçamento Participativo é amplamente utilizado como uma ferramenta eficaz na distribuição de recursos em
diversas sociedades ao redor do mundo. Sua aplicabilidade tem o potencial de promover uma abordagem
inclusiva e participativa na formulação de políticas de redistribuição, visando alcançar equidade na distribuição
de recursos para as diferentes camadas da população. – busca promover um senso de “pertencimento” das
camadas mais vulneráveis ao incluí-las nos projetos públicos. Dessa forma, o impacto do Orçamento
Participativo na distribuição de recursos é um fenômeno de grande importância, capaz de gerar transformações
significativas nas comunidades envolvidas.

Por meio da participação ativa dos cidadãos no processo decisório, as reivindicações por políticas redistributivas
são mais adequadamente consideradas, o que resulta em uma maior garantia de justiça social. Dessa forma,
grupos historicamente marginalizados e desfavorecidos têm suas necessidades reconhecidas e atendidas.
Uma das características chave desse modelo de gestão democrática é a participação ativa dos cidadãos na tomada
de decisões políticas e na alocação dos recursos. O Orçamento Participativo, nesse sentido, permite que as
comunidades tenham voz e poder para definir como os recursos públicos serão utilizados, garantindo que as
necessidades e demandas dos cidadãos sejam atendidas de maneira mais eficaz.

É necessária uma definição concisa do orçamento a ser destinado á participação popular,levando em


consideração a demanda dos indivíduos em contextos de recessão e instabilidade econômica , suas necessidades
imediatas devem ser atendidas e “exploradas” para remedições futuras.

A mobilização e participação popular, através de reuniões, assembléias e outros meios de consulta são essências
para que ocorra o reconhecimento sobre as discussões em relação às demandas e propostas de investimentos em
áreas como saúde, educação, infraestrutura, cultura, entre outras.

A priorização das propostas mais relevantes, levando em consideração aspectos como impacto social á longo
prazo, custo-benefício na aplicabilidade de recursos e a viabilidade técnica (otimização dessas ferramentas para
atendes as necessidades públicas) devem ser realizados em comícios com ampla participação dos cidadãos.

As propostas, uma vez analisadas, devem ser incluídas no orçamento oficial e na agenda pública, aprovadas por
órgãos responsáveis e, em seguida, executadas pelo poder público. Todo processo deve passar por um controle e
monitoramento minucioso (accountability) para garantir a transparência e o cumprimento das metas assumidas.

"Nas políticas redistributivas, os Orçamentos Participativos podem ser importantes instrumentos para a
promoção da justiça social, permitindo que os cidadãos afetados pelas desigualdades possam participar
diretamente na decisão sobre como serão destinados os recursos públicos e quais serão as prioridades de
investimento. Dessa forma, os Orçamentos Participativos podem ajudar a superar a lógica tradicional das
políticas redistributivas, permitindo uma maior participação e empoderamento dos cidadãos na gestão dos
recursos públicos." (TOURAINE)

Tópico 5: O Orçamento Participativo como instrumento de fortalecimento da democracia: Análise Política


e Jurídica

O Orçamento Participativo desempenha um papel importante na consolidação da democracia, viabilizando a


engajamento ativo dos cidadãos na determinação das alocações de recursos públicos e nas deliberações políticas.
Desse modo, este mecanismo político e jurídico se propõe a assegurar uma gestão mais transparente e
democratizada dos recursos públicos.

“Verifica-se que o orçamento participativo tem o condão de despertar esse sentimento de pertencimento no
âmago do cidadão. A partir do momento que o indivíduo participa, concretamente, na elaboração de políticas
públicas, ele se sente responsável, mesmo que de forma indireta pela condução da sociedade. Ressalta ainda que
para que a democracia seja forte, não deve haver desigualdade social muito elevada na sociedade, de tal sorte
que haja certa coesão entre o sentimento de bem comum e todos possam seguir o mesmo rumo”.

O Orçamento Participativo é muito importante para engajar o povo e fortalecer a cidadania. Nele, os cidadãos
podem participar ativamente e decidir quais são as prioridades de gastos do governo. Isso ajuda a dar mais poder
para as comunidades e grupos que normalmente são deixados de lado, equilibrando melhor a relação entre o
Estado e a sociedade.

“A implementação de políticas públicas elaboradas em parceria com a sociedade por meio de audiências públicas
tendem a diminuir as desigualdades sociais por dar voz aos excluídos, contribuindo, portanto com o
fortalecimento da democracia”.
O orçamento participativo é importante para fortalecer as instituições democráticas porque permite que os
cidadãos percebam que suas ações podem ter um impacto real na implementação de políticas públicas. Isso vai
contra a idéia de que a democracia se resume apenas ao direito de voto que acontece a cada dois anos. “O
orçamento participativo cumpre seu papel de reforço das instituições democráticas na medida em que forma
cidadãos conscientes de que sua atuação pode ser decisiva na implementação de políticas públicas, rechaçando a
idéia de que “democracia é somente a cada dois anos, no exercício do direito de voto”.

O orçamento participativo tem o poder de mudar a imagem de que os brasileiros não se importam com questões
políticas no país. Essa idéia existe desde a época em que o império caiu e as pessoas apenas assistiram à queda
do dom Pedro 2º. Com o orçamento participativo, as pessoas estão se envolvendo mais na política e isso também
beneficia os partidos políticos.

Alain Touraine, com razão, chega a se questionar: “Como pode haver uma livre escolha dos governantes pelos
governados se os eleitores não sabem qual será a política econômica, social ou internacional dos eleitos?”.
(TOURAINE, 2002, p. 350).

Ao participar das reuniões públicas para discutir sobre como utilizar o dinheiro, o cidadão começa a entender
claramente as ideias e os valores de cada partido político envolvido na conversa.

Esse conhecimento prático ajuda a entender as ideias políticas do líder e dos vereadores que participam das
reuniões. Isso faz com que o cidadão consiga acompanhar melhor o trabalho do governo e do Legislativo, o que
torna os partidos políticos e a democracia ainda mais fortes. Além disso, é importante destacar o espaço público
como um meio de fortalecer a democracia.

Reserva do Legal

A verba da “Reserva do Legal” no Orçamento Participativo é uma parte do dinheiro disponível para
investimentos. Esse dinheiro é utilizado em projetos obrigatórios por lei ou essenciais para o bom funcionamento
da cidade, como saúde, educação, segurança e infraestrutura. A idéia é reservar uma quantia específica para
garantir que essas necessidades importantes sejam priorizadas antes de investir em outros projetos sugeridos pela
população. Isso assegura que as necessidades básicas da cidade sejam atendidas antes de gastar dinheiro em
outras áreas.

Tópico 6: Perspectivas futuras do Orçamento Participativo

O Orçamento Participativo é uma maneira nova e interessante de administrar o governo. Ele dá a oportunidade
para que as pessoas participem mais ativamente das decisões importantes e das escolhas sobre como usar o
dinheiro público. Isso fortalece a democracia e envolve a população de forma direta nas questões
governamentais. A idéia é democratizar o acesso aos recursos públicos, permitindo que os cidadãos decidam
quais são as prioridades e como o dinheiro deve ser usado abordagem revolucionária, com a superação de
uma gestão burocrática, centralizada e seletiva.

É um instrumento imprescindível para a construção de políticas públicas mais efetivas e adequadas às


necessidades reais da população.

Estimula o senso de pertencimento e empoderamento da comunidade – os indivíduos sentem que podem ajudar
na reconstrução da suas comunidades/regiões, aplicando suas idéias e demandas diretamente aos órgãos
públicos.

O Orçamento Participativo promove transparência e accountability na gestão dos recursos públicos, uma vez que
é possível acompanhar e fiscalizar de perto a execução dos projetos aprovados. Dessa forma, a corrupção e o
desvio de verbas tendem a ser reduzidos, o que contribui para uma gestão pública mais eficiente e responsável.
Induz o fortalecimento na relação entre os governantes e a população, onde a confiança nas instituições públicas
aumenta.

OBS: Inserir exemplo prático da nossa chefona

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