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Alterações da Linguagem

Incluído em 16/02/2005

A linguagem é um processo mental de manifestação do pensamento e de


natureza essencialmente consciente, significativa e orientada para o contacto
inter-pessoal. Apesar do processo da linguagem ser essencialmente
consciente, entretanto entende-se que o fluxo e a articulação desta provém de
camadas mais profundas e não conscientes, tais como do subconsciente e
inconsciente, segundo o esquema de Willian James.
No estudo da linguagem, deve-se distinguir a expressão verbal e a expressão
gráfica e a psicopatologia se interessa tanto pela linguagem falada quanto pela
linguagem escrita. Ambas expressões são um conjunto de sinais próprios de
cada língua com os quais manifestamos nosso pensamento e tanto a expressão
verbal quanto a expressão gráfica, devem constar de dois elementos
fundamentais - a sintaxe e a palavra.

Alterações articulares, que não são monopólio da Disartria, também podem


dificultar a expressão oral dos afásicos, tanto surgindo espontaneamente como
mediante a solicitação do exame. Essas alterações serão determinadas pelos
testes de repetição de palavras e frases. Vistas pelo ângulo neurológico, as
anomalias podem apresentar um aspecto paralítico, quando falta a articulação
e há anasalamento. A falta de articulação chama-se Anartria e pode mostrar
um aspecto distônico, com contrações excessivas, sincinesias ou, ainda, um
aspecto apráxico.
Analisadas sob um ângulo fonético, as alterações articulares se caracterizam
também pela redução da formação e diferenciação dos fonemas, semelhantes
às simplificações fonéticas da criança ("bibiloteca", "espetaco", fessado"...).
Outros elementos de diferenciação entre Afasia e Disartria são as alterações
evidenciadas no uso voluntário e automático da linguagem. As alterações
articulares da Disartria estão ausentes na formas automáticas do falar, como
no canto, por exemplo.

A sintaxe tem por objeto estabelecer as relações entre as palavras e as frases,


e corresponde à própria organização do pensamento. As representações e os
conceitos devem ser expostos numa determinada ordem necessária para se
formar o raciocínio lógico. Esse arranjo racional da linguagem é a sintaxe....

.Em 1924, Pavlov considerava a palavra como uma espécie de estímulo


condicionado, comparável aos demais estímulos, mas com um caráter próprio.
Dizia que se nossas sensações e representações do mundo externo nos dão os
primeiros sinais da realidade, as palavras constituem os segundos sinais, os
sinais dos sinais, representam a abstração da realidade e se prestam a
generalizações, formando justamente nosso modo de pensamento humano e
superior.
Escutar a fala e falar são os modos mais comuns da Comunicação Humana.
Uma perda auditiva obviamente causa graves problemas na comunicação
Auditivo-oral. Por isso a avaliação audiológica em bebês e crianças é de
fundamental importância para a prevenção e tratamento fonoaudiológico.

A linguagem costuma refletir o pensamento e pode ser tida como o elo final da
cadeia de processos psíquicos que se iniciam com a percepção e terminam com
a palavra falada ou escrita .

Costuma-se ter por certo que não existem pensamentos que não sejam
formulados por palavras, ao ponto de poder se afirmar que todo pensamento
corresponde a alguma determinada expressão verbal. É por isso que não se
estabelecem diferenciações entre as perturbações do pensamento e as
alterações da linguagem.

Se existissem apenas alterações da linguagem, estas ficariam limitadas aos


distúrbios da articulação da palavra e da sintaxe mas, na realidade, as
perturbações da linguagem são muito mais complexas. Se a linguagem é um
atributo humano dirigido à comunicação entre pessoas, começamos a
considerar o conteúdo da linguagem. Sim, porque os esquizofrênicos podem
expressar os maiores disparates delirantes, mantendo uma perfeita correção
da sintaxe. Ainda aqui não é demais relembrar que a separação entre os
diferentes processos psíquicos é feita apenas para facilitar o ensino.

Analisando as alterações da linguagem falada de um ponto de vista


estritamente prático, podem-se dividir essas alterações em dois grupos
principais:
1) alterações da linguagem devidas a causas predominantemente orgânicas;
2) alterações da linguagem de natureza predominantemente funcionais.

Alterações Predominantemente Orgânicas


DISARTRIA
Neste grupo, incluem-se todas as perturbações que resultam de uma lesão ao
nível de qualquer das partes que intervêm na elaboração e na emissão dos
sons, de cuja articulação resulta a palavra falada. As principais alterações
deste grupo são as seguintes:

Consiste na dificuldade de articular as palavras, normalmente resultante de


paresia, paralisia ou ataxia dos músculos que intervêm nesta articulação. A
perturbação é mais acentuada quando se trata de pronunciar as consoantes
labiais e linguais, as quais são omitidas ao dizer as palavras, ou a pessoa
titubeia ao pronunciá-las. A alteração torna-se mais evidente quando se
utilizam as frases de prova, como por exemplo, pedindo ao paciente que
pronuncie "sou caricaturista, vou caricaturar-me no caricaturista", ou
"artilheiro de artilharia", "ministro plenipotenciário" .
Desta feita a Disartria acaba sendo sempre conseqüência de alteração
neurológica e, normalmente, as pessoas portadoras de lesões suficientes para
produzir Disartria acabam por mostrar outras alterações ao exame clínico. A
Disartria pode ser encontrada nos traumatismos crânio-encefálicos, nas
patologias tumorais do cérebro, cerebelo ou tronco encefálico, nas lesões
vasculares encefálicas, na intoxicação alcoólica, na esclerose em placas, na
paralisia pseudobulbar, nas paralisias periféricas do grande hipoglosso,
pneumogástrico e facial.

Os sintomas iniciais da Doença de Parkinson por exemplo, incluem modificação


na escrita, por exemplo, assinatura diferente, perda da agilidade muscular
para atos que eram até então corriqueiros, lentidão da marcha e Disartria.
Também na Coréia de Sydenhan a constelação sintomática inclui movimentos
anormais de grande amplitude, predominantemente nas grandes articulações,
podendo afetar a mímica e outros grupos de inervação craniana, hipotonia ou
atonia (bonecos de pano), labilidade emocional e Disartria. Completando o
quadro de doenças neurológicas com comprometimento da linguagem, temos
ainda a Doença de Huntington, onde se observa decadência mental
progressiva, seguida ou acompanhada de movimentos coreiformes, alteração
da mímica com formação involuntária de caretas, Disartria e disfagia
progressivas. Na Doença de Huntington a fala pode se tornar ininteligível e os
engasgos são freqüentes.

Também as Síndromes Isquêmicas, quando afetam a região cerebelar superior


e produzem conseqüente edema, podem levar a obstrução do 4o. ventrículo,
determinando hidrocefalia e herniação do cerebelo para cima através do
tentório e para baixo pelo Forame Magno, tendo como sintoma a ataxia da
marcha, cefaléia náuseas e vômitos, atabalhoamento homolateral e Disartria.

As Disartrias resultam da alteração dos mecanismos nervosos que dirigem e


coordenam a atividade dos órgãos utilizados na fonação e costumam ser
agrupadas em 3 tipos:

As Disartrias Paralíticas, que se manifestam pela insuficiência de articulação


e pelo anasalamento, enfraquecimento e desdiferenciação da voz, resultando
numa palavra quase inaudível. Essas Disartrias resultam tanto de uma lesão
periférica dos nervos cranianos quanto de uma perturbação bilateral do
controle exercido pelo fascículo geniculado. Nas síndromes pseudobulbares de
origem vascular, a lesão piramidal bilateral é a causa. Na esclerose lateral
amiotrófica a alteração é, às vezes, bulbar e pseudobulbar e na miastenia
também se desenvolve uma Disartria do tipo paralítico, marcada por um
desenvolvimento progressivo à medida que se prolonga o esforço fonador.

A Disartria Cerebelar, que está descrita sob o qualificativo de voz escandida.


O elemento mais característico é a irregularidade da amplitude de emissão, de
uma palavra a outra ou de um fonema a outro, dando à palavra um caráter
explosivo. As atrofias cerebelares e os tumores do cerebelo são as possíveis
etiologias. Na esclerose em placas, a Disartria cerebelar está freqüentemente
modificada por um elemento paralítico.

Assim sendo, a semiologia das doenças cerebelares resulta em sintomas como


a ataxia, que é a marcha com base alargada, oscilante, a dismetria,
representada pela inabilidade de controlar a amplidão do movimento, a
desdiadococinesia, significando a inabilidade para realizar movimentos
alternantes rápidos, a hipotonia do tono muscular, a decomposição de
movimentos que se resume na inabilidade para executar uma seqüência de
atos coordenados , finos, o tremor , o nistagmo, com o componente rápido
máximo em direção ao lado da lesão cerebelar e a Disartria, com fraseamento
inapropriado, pastoso e perda da modulação do volume e da fala.

As Disartrias Extrapiramidais se revestem de diversos aspectos. A do tipo


parkinsoniana se caracteriza pela aceleração da maneira de falar (taquifemia)
com uma palavra fraca e freqüentemente mal articulada. A ela se reúnem os
fenômenos de bloqueio no início e, algumas vezes, as repetições prolongadas
de uma palavra ou de uma sílaba (palilalia). Na atetose dupla, a palavra está
gravemente perturbada pela ativação sincinética dos músculos bucofaríngeos e
faciais. sendo hesitante. mal articulada e repleta de explosões imprevisíveis.

Dislalias
Consiste na má pronúncia das palavras, seja omitindo ou acrescentando
fonemas, trocando um fonema por outro ou ainda distorcendo-os. A falha na
emissão das palavras pode ainda ocorrer a nível de fonemas ou de sílabas.
Assim sendo, os sintomas da Dislalia consistem em omissão, substituição ou
deformação os fonemas.

De modo geral, a palavra do dislálico é fluida, embora possa ser até


ininteligível, podendo o desenvolvimento da linguagem ser normal ou
levemente retardado. Não se observam transtornos no movimento dos
músculos que intervêm na articulação e emissão da palavra. Em muitos casos,
a pronúncia das vogais e dos ditongos costuma ser correta, bem como a
habilidade para imitar sons. Não há disfonia nem ronqueira.

Diante do paciente dislálico costuma-se fazer uma pesquisa das condições


físicas dos órgãos necessários à emissão das palavras, verifica-se a mobilidade
destes órgãos, ou seja, do palato, lábios e língua, assim como a audição, tanto
sua quantidade como sua qualidade (percepção) auditiva.

As Dislalias constituem um grupo numeroso de perturbações orgânicas ou


funcionais da palavra. No primeiro caso, resultam da malformações ou de
alterações de inervação da língua, da abóbada palatina e de qualquer outro
órgão da fonação. Encontram-se em casos de malformações congênitas, tais
como o lábio leporino ou como conseqüência de traumatismos dos órgãos
fonadores. Por outro lado, certas Dislalias são devidas a enfermidades do
sistema nervoso central.
Quando não se encontra nenhuma alteração orgânica a que possa ser atribuído
a Dislalia, esta é chamada de Dislalia Funcional. Nesses casos, pensa-se em
hereditariedade, imitação ou alterações emocionais e, entre essas, nas
crianças é comum a Dislalia típica dos hipercinéticos ou hiperativos. Também
nos deficientes mentais se observa uma Dislalia, às vezes grave ao ponto da
linguagem ser acessível apenas ao grupo familiar.

Até os quatro anos, os erros na linguagem são normais, mas depois dessa fase
a criança pode ter problemas se continuar falando errado. A Dislalia, troca de
fonemas (sons das letras), pode afetar também a escrita. Na prática o
personagem Cebolinha, de Maurício, é um exemplo de criança com Dislalia. Ele
troca o som da letra R pelo da letra L.

Alguns fonoaudiólogos consideram que a Dislalia não seja um problema de


ordem neurológica, mas de ordem funcional. Segundo eles, o som alterado
pode se manifestar de diversas formas, havendo distorções, sons muito
próximos mas diferentes do real, omissão, ato em que se deixa de pronunciar
algum fonema da palavra, transposições na ordem de apresentação dos
fonemas (dizer mánica em vez de máquina, por exemplo) e, por fim,
acréscimos de sons. Estas alterações mais comuns caracterizam uma Dislalia.
Entretanto, do ponto de vista fisiopatológico, a Dislalia numa criança
hipercinética, por exemplo, terá que ser considerada de natureza orgânica, já
que tratando a hipercinesia desaparece a Disartria.

Crianças com perdas auditivas leves e moderadas também costumam ter


Dislalia, fazendo trocas de alguns fonema, como por exemplo, "t" por "d", "f"
por "v", "p" por "b", "q" por "g". Muitas destas crianças, principalmente se
estão em fase de alfabetização, apresentam também trocas na escrita. Este
tipo de aluno costuma ser desatento na escola, porque tem dificuldade de ouvir
a professora. A mãe costuma queixar de que a criança com perda auditiva não
atende quando é chamado e/ou ouve o aparelho de som ou a televisão alto
demais..

Dislexia
Dislexia é um distúrbio específico da linguagem caracterizado pela dificuldade
em decodificar (compreender) palavras. Segundo a definição elaborada pela
Associação Brasileira de Dislexia, trata-se de uma insuficiência do processo
fonoaudiológico e inclui-se freqüentemente entre os problemas de leitura e
aquisição da capacidade de escrever e soletrar. Resumidamente podemos
entender a Dislexia como uma alteração de leitura.

Apesar da criança disléxica ter dificuldade em decodificar certas letras, não o


faz devido a algum problema de déficit cognitivo. Normalmente esses
pacientes apresentam um QI perfeitamente compatível com a idade.

A origem da Dislexia, segundo Thereza Cristina dos Santos, está no eixo


corporal, na base psicomotora, cujo desenvolvimento é anterior à escrita. Para
aprender a ler, a criança precisa ter consciência de seu eixo corporal, lado
direito, lado esquerdo, etc. O disléxico não tem essa noção de lateralidade e
vai confundir eternamente direita e esquerda .

O diagnóstico da Dislexia é muito semelhante ao do de outros distúrbios de


aprendizagem. Por isto, é preciso muito cuidado para não rotular toda e
qualquer alteração de leitura como Dislexia. A Dislexia tem sempre como causa
primária a relação espacial alterada, fazendo com que a criança não consiga
decifrar satisfatoriamente os códigos da escrita. O diagnóstico da Dislexia
exige quase sempre uma equipe multidisciplinar, formada por neurologista,
psicólogo, psiquiatra e psicopedagogo. Esta equipe tem a função básica de
eliminar outras causas responsáveis pelas trocas de letras e outras alterações
de linguagem.

Afasia
Uma lesão cerebral de extensão limitada interessando o hemisfério esquerdo
de uma pessoa dextra poderá fazê-la perder a capacidade de utilizar a
linguagem como meio de comunicação e como meio de representação
simbólica: o indivíduo não poderá se exprimir oralmente ou por escrito de uma
forma inteligível; ele não mais decifra as mensagens que recebe sob a forma
de linguagem falada ou escrita.

Afasia pode ser entendida como uma perturbação da linguagem caracterizada


pela perda parcial ou total da faculdade de exprimir os pensamentos por sinais
e de compreender esses sinais. Alguns autores referem a Afasia como a perda
da memória dos sinais pelos quais se realiza a troca idéias. De qualquer forma,
o fato dominante na Afasia é a incompreensão da palavra falada e a
impossibilidade, em grau variável, de ler ou de escrever.

A definição de Afasia exclui as perturbações restritas à função da linguagem e


que estão sob a dependência de uma desorganização global do funcionamento
cerebral, tal como acontece na confusão mental. Ela exclui, também, as
dificuldades de comunicação resultantes de uma alteração do aparelho
sensorial (surdez, cegueira), ou do sistema motor, como ocorre na Disartria ou
na hemiplegia, os quais intervêm normalmente na percepção e/ou na
expressão da lingüística.

Assim sendo, para o diagnóstico da Afasia é importante que ela aconteça sem
que haja alguma patologia dos aparelhos sensoriais e sem que hajam
paralisias capazes de impedir a elocução da palavra oral ou sua expressão
escrita. A Afasia sempre diz respeito à perda dos conhecimentos de linguagem
adquiridos, o que normalmente se acompanha de algum prejuízo das funções
intelectuais. Seria, então, a perda da inteligência específica da linguagem,
tanto para expressar o pensamento por meio da palavra oral ou gráfica,
quanto para compreender a palavra falada ou escrita (na Afasia motora pode
estar preservada a capacidade de compreender).

O diagnóstico da Afasia, como transtornos que altera a linguagem tanto na


compreensão como na expressão do pensamento, exige 4 características:
1. é sempre produzida por lesões focais do córtex ou do centro oval.
2. é sempre compatível com a integridade das funções motoras, sensitivas e
das percepções elementares, portanto, não é condicionada por alterações
nessas áreas.
3. geralmente esta acompanhada, em grau variável, de elementos apráxicos
ou cognitivos;
4. está associada a transtornos mais ou menos profundos da atividade
intelectual que podem ser concomitantes ou simples repercussões dessa
alteração da linguagem.

Tanto a Afasia quanto a Disartria podem perturbar gravemente a expressão,


porém, são dois os caracteres semiológicos que distinguem esses dois tipos de
alteração da linguagem. Na Disartria há sempre uma conservação perfeita da
compreensão da linguagem oral e escrita e existe sempre a possibilidade do
paciente se expressar perfeitamente por escrito.

Dos diferentes tipos de Afasia, destacamos apenas quatro que são bem
conhecidos do ponto de vista anatomoclínico: Afasia Motora, Afasia Sensorial,
Afasia de Broca e Afasia global.

CAUSAS DA AFASIA
Na ordem decrescente de importância, as causas da Afasia são as seguintes:
a) desordens vasculares
b) traumatismos que atingem o hemisfério esquerdo;
c) processos inflamatórios;
d) escleroses disseminadas e encefaloses;
e) abscessos e gomas;
f) tumores;
g) hematomas.
Podem-se observar Afasias transitórias no curso da uremia, diabete,
intoxicações, na epilepsia e na enxaqueca.

Redução da Linguagem
A redução da linguagem, associada ou não às alterações articulares é a
característica de algumas Afasias. Ela apresenta aspectos múltiplos, que
algumas vezes se sucedem em um mesmo doente. A inibição é a característica
mais constante, mostrando raridade e brevidade na expressão espontânea;
durante um exame, as respostas são curtas como se emitidas a contragosto,
em resposta a solicitações repetidas.

Supressão da Linguagem e Estereotipia


Uma total supressão da linguagem caracteriza a instalação de alguns tipos de
Afasia, mas ela não será jamais um fenômeno duradouro. Não ocorre o mesmo
para as estereotipias, que são uma outra manifestação de redução extrema da
linguagem. Na estereotipia toda expressão oral termina pela emissão de algum
som repetitivo, tipo, por exemplo, "tan-tan", ou de alguma palavra mais ou
menos deformada, de um segmento de frase que é sempre o mesmo,
quaisquer que sejam as condições de incitação. Ao contrário da supressão da
linguagem, a estereotipia pode ser duradoura ou até definitiva.

Estereotipia Verbal
Assim sendo, a Estereotipia Verbal, que consiste na repetição automática de
uma palavra, sílaba ou som, que se intercala entre as frases, sem nenhuma
finalidade, como vimos, teria as seguintes características: fixidez, duração,
identidade, inutilidade e inadequação às circunstâncias. Segundo Dromard, em
muitos casos, trata-se de palavras ou frases que em época anterior à
enfermidade tinham significação precisa e que, posteriormente, tornaram-se
automáticas e perderam o seu conteúdo ídeo-afetivo.

Em alguns casos, porém, trata-se de palavras ou frases simbólicas que foram


condensadas e cuja significação escapa à compreensão do examinador. Em
casos de esquizofrenia, o autismo, com a sua significação de perda do contato
vital com a realidade, serve para explicar certos tipos de estereotipias da
linguagem oral e escrita: os enfermos repetem sem cessar as palavras ou
frases, em tom de voz monótono, em voz sussurrada ou aos gritos. Pode faltar
por completo a conotação afetiva da palavra ou da frase, porém se a mesma
existe manifesta-se de maneira muito superficial ou não mantém relação com
o conteúdo.

As estereotipias verbais são comuns nos esquizofrênicos e deficientes mentais.


Entretanto, certas estereotipias encontram a sua explicação em lesões
cerebrais circunscritas, como na demência pré-senil de Pick, nas lesões
subcorticais da encefalite epidêmica, no parkinsonìsmo, enfermidades nas
quaìs se verificam estereotipias verbais de origem orgânica.

Agramatismo
O agramatismo é uma evolução freqüente da Afasia e reflete uma importante
redução da linguagem. A utilização prevalente de substantivos, juntamente
com o emprego sistemático de verbos no infinitivo e a supressão de pequenos
instrumentos de linguagem (artigos, preposições...) determinam uma forma de
expressão semelhante a uma linguagem primitiva (mim Tarzã, you Jane) ou de
um estilo telegráfico, com uma linguagem econômica, reduzida, concreta,
pobre, sem flexibilidade e sem possibilidade de abstração.

Parafasias e Jargonoafasia
Outras alterações afásicas de expressão da linguagem oral são as Parafasias e
Jargonoafasia, consideradas tipos de Afasia onde não ocorre a inibição da fala.
A linguagem espontânea é rica e volúvel, porém as palavras ou os fonemas
não são apropriados. As parafasias verbais consistem na utilização de uma
palavra por outra. A palavra proferida apresenta, algumas vezes, uma relação
de ordem conceitual com a palavra substituída (garfo por colher, lápis por
borracha) ou de ordem fonética (pêra por cera, marco por barco), porém sua
utilização freqüentemente parece ocorrer ao acaso. As parafasias literais
correspondem a uma deslocação da estrutura fonêmica das palavras, com
elisão, inversão de sílabas, substituições, uso de palavras deformadas, porém
ainda identificáveis (reutamismo por reumatismo, biciteta por bicicleta) ou de
neologismos totalmente sem significado (para um lápis, logamentase, tipão,
pinhão de caça...).

Já o jargão (Jargonoafasia) é uma linguagem constituída de parafasias verbais


e literais, freqüentemente associado a uma dificuldade sintáxica (dissintaxia)
que, diferente do agramatismo, não é uma redução econômica da linguagem,
mas sim uma utilização defeituosa da organização gramatical: ex.: "o amigo
onde passei as férias". Normalmente, o jargonafásico não toma consciência da
desorganização em sua linguagem (anosognosia) mas, com o passar do tempo
pode surgir alguma atitude crítica que permite ao paciente reconhecer seus
erros e tentar corrigi-los.

Ausência de Palavra
A ausência de uma palavra é uma perturbação comum na maior parte das
Afasias, constituindo o que se pode chamar de aspecto negativo da alteração
de linguagem. Ela transparece por trás da redução e inibição das Afasias
associadas às dificuldades articulares. Nesses casos, a evocação da palavra
difícil pode ser facilitada se o examinador esboçar, oralmente esta palavra
ausente. Por outro lado, a ausência da palavra é disfarçada pelas
circunlocuções entremeadas de parafasias nos afásicos volúveis.

Esse tipo pode constituir a essência da alteração da linguagem na Afasia dita


amnésica. Em tais casos, o esboço oral é ineficaz, porém a evocação está
facilitada pelo contexto, notadamente quando se fornece ao doente uma frase
onde a palavra ausente vai encontrar naturalmente seu lugar.

Alterações Afásicas
Compreensão da Linguagem Oral
As alterações afásicas de compreensão da linguagem oral existem na maior
parte dos afásicos. As provas de designação evidenciam a alteração na
compreensão das palavras e a execução de ordens durante um exame
mostrará a compreensão das frases. Os afásicos permanecem perfeitamente
acessíveis ao significado da mímica e do gesto, e é necessário se observar isto
para a condução do exame. Deve-se lembrar, também, que a apraxia pode
tornar impossível a execução de gestos.

A variabilidade dos resultados dos exames é grande. As fórmulas automáticas


(sente-se... como vai...) são melhor compreendidas pelos afásicos que a
linguagem proposital, assim como as palavras concretas são mais
compreendidas que as palavras abstratas. As proposições simples são mais
claras do que aquelas que associam várias idéias. Por outro lado, a
compreensão de palavras isoladas pode ser mais difícil do que as inseridas em
frases simples.

É possível, em algumas observações, interpretar as alterações da compreensão


em função de uma alteração predominante dos aspectos fonéticos ou dos
aspectos semânticos da linguagem, porém, lembramos aqui que alguns
doentes repetem perfeitamente, sem compreender o significado da palavra,
enquanto que outros compreendem o sentido da palavra que são incapazes de
repetir.

Alterações da Expressão Escrita


A linguagem escrita, como uma das formas de expressão do pensamento, pode
apresentar alterações significativas. A agrafia é a manifestação escrita das
alterações afásicas na linguagem oral. Ainda que exista uma dissociação entre
a possibilidade de denominar por escrito e verbalmente, a ausência da palavra
existe tanto na linguagem escrita como na linguagem oral.

A redução da linguagem e o agramatismo apresentam o seu equivalente


escrito; o mesmo para o jargão e para as parafasias, cuja escrita constitui, às
vezes, um modo de facilitação privilegiada, da mesma forma que ela fornece
numerosos exemplos de dissintaxia. Mesmo que seja corrigida as
manifestações gráficas da Afasia, persistirá para sempre uma disortografia
rebelde. Portanto, nos escritos dos pacientes afásicos é possível encontrar
quase todas as alterações estudadas na linguagem oral.

Nos esquizofrênicos paranóides, por exemplo, podem-se observar alterações


características da linguagem escrita, tais como: modificações das letras,
modificações da maneira de escrever e alterações da sintaxe. Os doentes
costumam escrever com letras mais grossas certas palavras que se acham em
relação com suas idéias delirantes. As modificações da sintaxe são idênticas às
da linguagem oral.

As alterações da linguagem oral e escrita, na esquizofrenia, resultam das


perturbações do pensamento próprias da enfermidade. Observam-se ainda, em
certos doentes mentais, alterações da escrita devidas a tremores, como ocorre
na paralisia geral e na demência senil. Nos estados de excitação psicomotora,
a escrita revela também o estado de exaltação psíquica: os caracteres gráficos
são geralmente grandes, desiguais entre si, com desenhos e expressões
simbólicas intercalados entre os mesmos, com tendência a dirigir os caracteres
gráficos para cima. Nos estados de depressão, os caracteres se dirigem para
baixo..

Alterações da Leitura
Alexia Agnósica
Chama-se Alexia Agnósica uma espécie de Afasia gráfica onde predomina a
dificuldade de integração das percepções visuais e Assim sendo, a Alexia
Agnósica corresponde a uma dificuldade maior para a identificação das
palavras (compreensão global) do que para a identificação de letras isoladas. A
leitura tende a ser literal ou escandida. O indivíduo utiliza o dedo para a
identificação das letras e a identificação das palavras soletradas é satisfatória.
Nesses pacientes a cópia é imperfeita, ainda que a escrita espontânea ou
ditada seja satisfatória. A alexia agnósica está freqüentemente associada a
outras manifestações de agnosia visual, notadamente a agnosia para as cores.
Alexia Afásica
É Alexia Afásica, quando está prejudicada a utilização de mensagens em
função de seu valor simbólico em termos de linguagem. A Alexia Afásica
determina uma maior dificuldade para o entendimento de letras do que de
palavras, estas dotadas de uma significação que facilita sua identificação. A
leitura é global e os erros resultam de uma interpretação falsa da forma geral
da palavra. Para o aléxico afásico a divisão em sílabas é difícil e a escrita
espontânea e ditada apresenta os caracteres de uma agrafia afásica. A cópia é
possível, porém o paciente apresenta dificuldade em reler.

Alexia Pura
A Alexia Pura se caracteriza por uma perda eletiva de identificação da
linguagem escrita, na ausência de qualquer outra forma de Afasia. As
características gerais são as mesmas de uma Alexia Agnósica e ocorrem, quase
sempre, manifestações associadas de Agnosia Visual, principalmente agnosia
para cores e para formas geométricas. A lesão responsável se localiza no giro
lingual e no giro fusiforme do hemisfério dominante, mas atinge também o
esplênio do corpo caloso.

Alterações de Cálculos
Relativamente independentes uma da outra, a linguagem verbal e a linguagem
dos números estão, contudo, intrincadas. Assim se explica a associação muito
freqüente de uma Afasia e de uma Acalculia.

A ACALCULIA pode acometer tanto a identificação ou a expressão oral ou


escrita de números, quanto a utilização dos números e outros símbolos (tais
como sinal de mais ou menos) nas operações simples de adição, subtração,
multiplicação ou, nas operações complexas e resolução de problemas.

Embora freqüentemente a Afasia e a Acalculia ocorram simultaneamente,


excepcionalmente a conservação da possibilidade de cálculo é admirável em
alguns afásicos. Por outro lado, a Acalculia pode ocorrer sem a Afasia. Isto
ocorre visivelmente na síndrome de Gerstmann, onde existe um aspecto
particular da Acalculia espacial, onde a desorganização do alinhamento dos
números parece ser o determinante principal dos erros.

Afasia de Condução
A Afasia de Condução é mais rara que as variedades precedentes e se
caracteriza por uma extraordinária perturbação da repetição que impede o
doente de reproduzir palavras ou frases que ele compreende. A expressão
espontânea, oral ou escrita é fluida, embora rica em parafasias, apresentando
uma maior dificuldade no encadeamento de elementos lingüísticos que é
particularmente evidente quando o doente constrói uma frase com as palavras
que lhe são apresentadas.
A compreensão da linguagem oral ou escrita, ao contrário da maioria das
Afasias, está pouco perturbada e se observa um esforço de autocorreção. Tal
Afasia de Condução está freqüentemente associada a uma apraxia ideomotora
e resulta de lesões que acometem o opérculo parietal. Esse transtornos
poderia indicar, também, uma desconexão entre a região de Wernicke e as
regiões motoras da linguagem.

Afasia Motora
Pode também ser chamada de afemia, anartria, Afasia verbal, ou síndrome de
desintegração fonética, dependendo do autor onde se estuda. Na Afasia
motora, o doente conserva a linguagem, porém não pode falar, embora não
apresente distúrbio da musculatura que intervém na articulação das palavras.
A perturbação tem aqui uma origem cerebral. Neste caso o doente
compreende o que ouve mas há impossibilidade de pronunciar as palavras. A
leitura e a escrita também estão conservadas.
A Afasia motora é a que se observa nos pacientes portadores de acidentes
vasculares cerebrais capazes de deixar seqüela.

Afasia Sensorial
Enquanto a Afasia motora consiste numa alteração da expressão, a Afasia
sensorial se centraliza na compreensão dos sinais verbais. Neste tipo de Afasia,
observam-se uma espécie de surdez verbal, uma perturbação da palavra
espontânea, da leitura e da escrita. O afásico tipo Wernicke consegue falar,
mas geralmente fala numa linguagem destituída de sentido lógico e pronuncia
as palavras de maneira defeituosa ou emite uma série de palavras sem ordem
gramatical, o que torna a sua linguagem inteiramente incompreensível. Aqui
coexiste mais ainda a decadência dos processos intelectuais.
A Afasia sensorial costuma ser encontrada nos pacientes involutivos, tanto em
casos de demência de Alzheimer, quanto nas demências vasculares.

Surdez Verbal Pura


A Surdez Verbal Pura se caracteriza por uma alteração extremamente grave e
eletiva da compreensão da linguagem oral. Na Surdez Verbal Pura a repetição
é impossível, assim como a escrita por ditado mas todas as outras atividades
da linguagem estão normais. Essa alteração da percepção da linguagem é a
mais freqüentemente associada a outras manifestações de agnosia auditiva
(alterações do reconhecimento de sons e ritmos), porém se apresenta, às
vezes, isoladamente.
A lesão responsável pela Surdez Verbal Pura se localiza sobre a face superior
do lobo temporal, próxima à circunvolução de Heschl. Ela é bilateral ou
algumas vezes unilateral, afetando o hemisfério dominante. Nesse caso, pode
se tratar de uma lesão subcortical do lobo temporal esquerdo, a qual
interrompe, simultaneamente, as radiações auditivas desse mesmo lado e as
fibras calosas provenientes da área auditiva direita.

Afasia de Broca
A Afasia de Broca é caracterizada pelo fenômeno da redução da linguagem. O
paciente fala muito pouco e, quando solicitado, se expressa a contragosto. O
portador de Afasia de Broca emprega um pequeno número de palavras cujo
encadeamento em frases está reduzido ao mínimo. As alterações da
articulação freqüentemente se associam a esta redução.
Paralelamente à alteração da expressão, observa-se uma alteração da
compreensão da linguagem oral, mais acentuada para as frases ou ordens
complexas do que para as palavras relativamente bem conhecidas. As
alterações de expressão e de compreensão, observadas na linguagem oral,
surgem igualmente durante a exploração da linguagem escrita.

No seu desenvolvimento a Afasia de Broca pode percorrer diversas etapas e,


de uma maneira geral, o doente está consciente das anomalias de sua
linguagem contra as quais ele reage, às vezes determinando uma reação
catastrófica. No início habitualmente ocorre alguma forma de suspensão da
linguagem e, após a recuperação desta pode persistir uma estereotipia na fala,
a qual, excepcionalmente, pode permanecer por definitivo.

Freqüentemente essas estereotipias se multiplicam e se diferenciam, evoluindo


para uma linguagem reduzida e agramática (agramatismo) com dificuldades
articulares mais ou menos graves. Após a regressão, as alterações da
compreensão e das anomalias da linguagem escrita que estavam associadas às
alterações de expressão podem se ocultar a tal ponto que o quadro se
assemelha a uma anartria pura.
Em ressumo, a Afasia de Broca se caracteriza por uma redução do léxico, ou
seja, da escolha de palavras. Ocorre, simultaneamente, uma incapacidade de
se modificar os sentidos das palavras através da utilização de pequenos
instrumentos de linguagem e pela sua inclusão na frase. A redução da escolha
de palavras certamente está ligada às alterações da articulação, pois o esboço
oral facilita consideravelmente a denominação.
A Afasia de Broca se associa à hemiplegia, com importante paralisia facial
central, hemianestesia, apraxia ideomotora e à apraxia buco-facial, sem uma
relação constante com as alterações da articulação. As verificações de Broca
resultaram na localização das lesões responsáveis ao pé da terceira
circunvolução frontal do hemisfério dominante (área de Broca).

Na Afasia de Broca todas as modalidades da linguagem podem estar


perturbadas em maior ou menor grau, mas há sempre predominância da
perturbação da palavra articulada, da leitura e da escrita. O afásico deste tipo
não articula nenhuma palavra ou apenas poucas palavras, não compreende
bem, não lê nem escreve bem. Não é apenas um afásico da expressão mas,
sobretudo, também da compreensão. É o tipo mais comum de Afasia.

Geralmente a Afasia de Broca se apresenta como seqüela de um AVC (acidente


vascular cerebral) do lado direito, pode também ser observada na doença de
Pick, quando esta se manifesta de modo progressivo.

Anartria Pura
A anartria pura, muito rara como modo de instalação e freqüentemente
observada como uma forma evolutiva da Afasia de Broca. Ela se caracteriza
pelo conjunto de alterações da articulação já descrito na Afasia de Broca,
perturbando a linguagem espontânea, a repetição e a leitura em voz alta. A
associação de uma apraxia buco-facial é comum. Por outro lado, não há
alterações da compreensão da linguagem oral ou escrita nem da expressão por
escrito.

As lesões responsáveis pela anartria pura são muito semelhantes às que


produzem uma Afasia de Broca, apesar dos estudos disponíveis não
estabelecerem correlações anatomoclínicas precisas.

Afasia de Wenicke
Na Afasia de Wenicke a expressão oral é fluida, espontânea, abundante, ao
contrário da Afasia de Broca, porém sem muito significado devido ao uso
inadequado de palavras ou fonemas (parafasias). As parafasias podem surgir
acidentalmente na linguagem espontânea ou existir de forma permanente

Em outros casos, a linguagem espontânea na Afasia de Wenicke se caracteriza


pela imprecisão dos termos, utilização de circunlocuções de aproximações
sucessivas e o paciente costuma manter-se relativamente consciente de seus
erros. A alteração da compreensão pode ser grave ou simplesmente moderada
e mostra-se mais acentuada para as palavras isoladas do que para as frases
onde há uma facilitação pelo contexto.
A linguagem escrita costuma estar tão perturbada quanto a linguagem oral,
porém é possível haver uma dissociação relativa. A alteração da evocação da
palavra pode constituir um fenômeno isolado, sem parafasias e alterações da
compreensão. Nesses casos, por se tratar de um quadro que envolve a
memória, também é conhecido com o nome de Afasia Nominal ou Afasia
Amnésica.

De uma maneira geral, na Afasia de Wernicke a escolha das palavras e dos


fonemas é ampla e seu encadeamento está conservado, porém são mínimos os
contrastes que regem esta escolha. O prognóstico da Afasia de Wernicke é
grave, principalmente quando ocorrem também alterações da compreensão
somadas a um jargão não- semântico e a uma impossibilidade de repetição.

Geralmente não se observa nenhuma hemiplegia na Afasia de Wernicke, como


acontece na de Broca, porém, a hemianopsia lateral homônima direita é
freqüente e pode estar associada a alterações de cálculo e a um esboço da
síndrome de Gerstmann.

A lesão responsável pela Afasia de Wernicke se localiza ao nível do córtex


temporal. Ela ocupa a parte posterior da primeira e segunda circunvoluções
temporais, o giro cingular e o giro supramarginal. A Afasia amnésica pode
resultar de lesões análogas na região têmporo-parietal. Entretanto, algumas
vezes a Afasia de Wernicke dependerá de lesões isquêmicas no território da
artéria cerebral posterior. Ela também surge freqüentemente de lesões
corticais difusas e bilaterais, tais como as que se observam na doença de
Alzheimer.

Afasia Global
Trata-se de uma forma de Afasia caracterizada pela perda completa da
articulação da palavra e surdez verbal. Nos casos típicos a dissolução da
linguagem é de tal magnitude que chega a comprometer os automatismos
mais elementares. O déficit atinge de igual modo as funções da compreensão e
de expressão da palavra. Esta forma de Afasia é conseqüência de extensas
lesões cerebrais que atingem a zona motora, a ínsula e a zona parieto-
temporal da linguagem. Acompanha-se de hemiplegia direita e hemianopsia
lateral homônima direita e de transtornos apráxicos e agnósticos.

Alterações da Linguagem
Predominantemente Funcional
Aqui se incluem todas as alterações da linguagem oral resultantes de distúrbios
emocionais, havendo integridade anatômica dos centros e das vias de
condução da linguagem. As principais alterações deste tipo são:

DISFEMIAS
DISFONIAS
LOGORRÉIA
BRADILALIA
VERBIGERAÇÃO
MUTISMO
MUSSITAÇÃO
ECOLALIA
ESQUIZOFASIA
NEOLOGISMOS

Disfemias
São perturbações intermitentes na emissão das palavras, sem que existam
alterações dos órgãos da expressão. Neste grupo de transtornos da linguagem
o distúrbio mais importante é a gagueira (tartamudez). A Disfemia é uma
desordem da comunicação humana que vem despertando a curiosidade de
fonoaudiólogos, foniatras, psicólogos, psiquiatras e outros profissionais afins,
além de leigos que lidam com indivíduos portadores de gagueira . Caracteriza-
se por hesitação, silabação, precedida ou intercalada dos fonemas qui, que, ga,
gue. A gagueira revela a tendência de aumentar ou diminuir sob a influência
da emoção.

Segundo o dicionário, gaguejar é falar com repetições, pronunciar as palavras


com hesitação e sem clareza de sons mas, na realidade, a gagueira está muito
além do simples ato de falar com bloqueios e/ou repetições. Ocorrem com os
gagos fenômenos que não conseguimos observar, como o conflito de falar e
não falar, o medo de algumas palavras, a ansiedade em certas situações de
fala, auto-defesa, entre outros.

Segundo um gago famoso (Blodstein) que estudou o assunto a fundo, a


gagueira é o resultado da reação de luta interior do indivíduo que fala. A
definição exata do fenômeno sempre trouxe dificuldades porque a única pessoa
que sabe o que realmente é a gagueira é o próprio gago .
vistas a estudos e depoimentos de indivíduos gagos, apesar de existirem
muitas dúvidas sobre a causa da gagueira e o método ideal de tratamento,
costuma passar pelo melhor ajustamento social e emocional, não evitar as
situações onde se deve falar, não evitar de dizer determinadas palavras,
acalmar-se e trabalhar o medo e a auto-confiança.

Disfonias
Não se trata, propriamente, de alteração da linguagem, mas de defeitos da voz
conseqüentes a perturbações orgânicas ou funcionais das cordas vocais ou,
ainda, como conseqüência de uma respiração defeituosa. Seria então, a
Disfonia, um distúrbio da voz, como rouquidão, soprosidade ou aspereza.

A Disfonia é subdividida em:


a) Disfonia Funcional: Alteração da voz resultante de abuso vocal ou mal uso.
Não apresenta qualquer causa física ou estrutural.
b) Disfonia Orgânica: Alteração da voz, causada ou relacionada a algum tipo
de condição laringiana ou doença.

Logorréia
Diz Antoine Porot que a arte de falar muito e não dizer nada não é atributo
apenas de alguns tipos de enfermos mentais. Na vida comum encontramos
muitos charlatães cuja incontinência verbal poderia ser comparada a uma
forma menor e de certo modo subnormal da logorréia: o palavrório feminino
fútil e inconsistente de certas reuniões sociais, a facúndia e conversa cínica de
certos embusteiros, as explicações discursivas intermináveis de propagandistas
e vendedores.

A disposição hipomaníaca pode representar um estado permanente, de forma


moderada, compatível com a vida social. Assim, um indivíduo de tipo
hipomaníaco pode despertar a atenção sobre sua pessoa pela maneira
incessante como fala, não dando oportunidade ao interlocutor para contestá-lo,
falando em tom de voz elevado, gesticulando muito e, sobretudo, logorreico.
Na excitação maníaca verifica-se o fluxo incessante e incoercível de palavras,
emitidas sem coesão lógica, que se acompanha de aceleração do ritmo
psíquico e de elevação do estado de ânimo.

A logorréia é comum em todos os casos de excitação psicomotora,


principalmente nos estados maníacos e hipomaníacos, na embriaguez
alcoólica; em casos de demência senil, a logorréia está reduzida, muitas vezes,
a um verbigeração incoerente.

Bradilalia
Consiste numa diminuição da velocidade de expressão, como resultado da
lentidão dos processos psíquicos e do curso do pensamento. Observa-se no
parkinsonismo pós-encefalítico, em casos de epilepsia pós-traumática.

Verbigeração
É a repetição incessante durante dias, semanas e até meses, de palavras e
frases pronunciadas em tom de voz monótono, declamatório ou patético. Ë
observada nos estados demenciais, em psicoses confusionais e na
esquizofrenia, especialmente na forma catatônica.

Mutismo
Mutismo é a ausência de linguagem oral. O mutismo tem origem e
mecanismos os mais variados. Nas doenças mentais, é observado nos estados
de estupor da confusão mental, da melancolia e da catatonia; nos estados
demenciais avançados, na paralisia geral e na demência senil. Na
esquizofrenia, o mutismo adquire uma importante significação. Pode decorrer,
nesse caso, de interceptação do pensamento, de perda de contato com a
realidade, de alucinações imperativas ou de idéias delirantes de culpabilidade.
Com muita freqüência, os catatônicos não falam nem respondem ao
interrogatório, dando-nos a impressão de que se encerram voluntariamente no
mais completo mutismo.

Mussitação
É a expressão da linguagem em voz muito baixa; o enfermo movimenta os
lábios de maneira automática, produzindo murmúrio ou som confuso. É um
sintoma próprio da esquizofrenia.

Ecolalia
Ecolalia é a repetição, como um eco, das últimas palavras que chegam ao
ouvido do paciente. Em condições patológicas, observa-se nos catatônicos. O
fenômeno tem muita semelhança com a perseveração do pensamento,
observada nos epilépticos. Os enfermos repetem como um eco não só as
palavras que lhes são dirigidas, como partes de uma frase que escutam ao
acaso.

Não se pode fazer distinção clara entre a ecolalia manifestada por um


esquizofrênico crônico e um enfermo portador de um transtorno cerebral
orgânico, pois ambos os pacientes podem ter em comum uma notável
alteração dos processos intelectuais e da intencionalidade.

Esquizofasia
É uma expressão criada por Kraepelin para designar uma profunda alteração
da expressão verbal, observada em alguns esquizofrênicos paranóides, em
resultado da qual a linguagem se torna confusa e incoerente, sem que existam
alterações graves do pensamento. Em sua forma bem acentuada, a linguagem
se apresenta como uma salada de palavras, em que o enfermo emprega
neologismos e palavras conhecidas com sentido desfigurado, tornando o
discurso inteiramente incompreensível.

Neologismo
Neologismos são palavras criadas ou palavras já existentes empregadas com
significado desfigurado. Pode ser um sintoma comum na esquizofrenia.
para referir:

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