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Considerações sobre Saúde Mental para

a Atenção Básica

Cuba, agosto de 2017


Office1
Office [3]1

OBJETIVOS
Office [2]1

• Apresentar a Rede de Cuidados da Saúde Mental brasileira;


• Reconher sinais e sintomas comuns em Saúde Mental;
• Reconhecer critérios e avaliar risco de complicações e gravidade;
• Revisar aspectos do tratamento de alguns transtornos mentais mais comuns;
• Discutir o acompanhamento adequado das condições mais frequentes.
Slide 3

Office1 A
Microsoft Office User; 13/03/2018

Office [2]1 Microsoft Office User; 13/03/2018


Office [3]1 Sugeriria trocar por RAPS, Rede de Atenção Psicossocial que será a nomenclatura encontrada no SUS.
Microsoft Office User; 13/03/2018
ALGUNS DADOS…
Office [4]1

• 3% da população 5 milhões de pessoas


- Transtornos Mentais Severos
- Necessitam de Cuidados contínuos
• 9% da população 15 milhões de pessoas
- Transtornos Mentais menos graves
- Necessitam de atendimento eventual
• 6 a 8% da população
- Transtornos Mentais devido a álcool e outras drogas
- Necessitam de atendimento regular
• 56% das ESF promovem: “alguma ação em saúde mental”
Slide 4

Office [4]1 Qual a fonte? talvez fosse interessante citar no rodapé.


Microsoft Office User; 13/03/2018
7 BOAS RAZÕES PARA INTEGRAÇÃO DE SAÚDE
MENTAL NA APS (OMS, WONCA, 2008)

1. A demanda de transtornos mentais é ENORME;


2. Problemas mentais e físicos são interrelacionados;
3. A dificuldade para tratamento de Transtornos Mentais é gigantesca;
4. O atendimento à Saúde mental na atenção primária promove ACESSO e VÍNCULO;
5. Promove respeito aos direitos humanos;
6. É possível e tem boa relação custo-benefício;
7. Gera bons resultados.
Office [6]1

Leitos em
Hospital Geral
A RAPS (Rede de Atenção Psicossocial)

Residência
Terapêutica

SEP
Slide 6

Office [6]1 Na verdade o modelo não é exatamente assim... os CAPS possuem suas especializações e as enfermarias carecem de
implantação...
Microsoft Office User; 13/03/2018
Leitos em
Hospital Geral
A RAPS (Rede de Atenção Psicossocial)

MAS...

Residência
Terapêutica

SEP
Office [7]1
Office [8]1

MODELO MANICOMIAL
Século XVII - Surgimento do manicômio: modelo para segregar
o “diferente”, manter a ordem vigente

Europa - Nas periferias das cidades: antigos leprosários

Surgimento da Psiquiatria nesse contexto propício


(aglomerados de pessoas como objetos de estudo – nosologia
psiquiátrica), como necessidade do contrato social moderno,
rotulação e diagnóstico.

No Brasil consolida-se no período da Ditadura Militar com a importação do modelo


hospitalocentrico e biomédico, estando a seu serviço;
O caso do Hospital “Colônia” Verdadeiro holocausto brasileiro, sendo
contabilizadas cerca de 60.000 mortes em 60 anos;
Slide 8

Office [7]1 Será preciso diferenciar Manicomio (ou modelo manicomial) de Hospital Psiquiátrico.
Microsoft Office User; 13/03/2018

Office [8]1 Isso aqui é um problema... Cada profissional de saúde verá isso de um jeito, mas aqui cabe o recado que todos são contra o
modelo manicomial. Nem todos são contra o hospital psiquiátrico (de pequeno porte) e não manicomial. Este modelo está
ainda em transição e discussão...
Microsoft Office User; 13/03/2018
REFORMA PSIQUIÁTRICA

• Surgiu no movimento de trabalhadores da Saúde Mental na década de 80;

• Inspirado na Reforma Psiquiátrica Italiana;

• Objetivo: “Por uma sociedade sem manicômios”;

• Lei Paulo Delgado 10216 (1989/2001) extinção gradual dos Hospitais Psiquiátricos e
criação de Serviços Substitutivos que funcionam a partir de outra lógica de cuidado
(inclusão e reinserção social, individualização...).
Abordagem ao
paciente de Saúde
Mental
ALGUMAS DICAS…

• Inicie com pergunta aberta e deixe a pessoa falar sem interrupção por alguns minutos;
• Crie um clima acolhedor, facilitando o vínculo e a confiança;
• Perceba sua própria reação emocional imediata às comunicações da pessoa;
• Aprofunde o motivo do atendimento;
• Busque associações do surgimento de sintomas com eventos importantes, como
conflitos e perdas;
• Garanta a confidencialidade;
• Evite expressar juízos de valor (JULGAMENTOS) ;
• Quando não souber o que dizer, silencie-se.
ALGUMAS DICAS…
• Detalhe cada informação e busque outras fontes de informação
como a Família e o ACS;
• Preste atenção à linguagem corporal e ao tom de voz;
• Quando quiser dizer algo e não tiver certeza do momento, faça-o
na forma de pergunta;
• Ofereça, não imponha. Pactue, construa com a pessoa.
CASO CLÍNICO…
Sra Nilda, 71 anos, vem com frequência a USF. Apesar de gozar de boa saúde e de seu
médico afirmar que seus exames estão em dia, ela chega a consulta insistindo em
fazer exames: colesterol, glicemia, ECG, "tudo". Dispara uma série de queixas para
seu médico, que sente como se a consulta não tivesse foco. Nilda diz que tem se
sentido mal, com uma sensação que não consegue definir bem. Com frequência, tem
palpitações. Também não são incomuns crises de cefaléia ao fim da tarde. A noite,
"não prega o olho", ou seja, não consegue iniciar o sono.

O QUE VOCÊ ACHA QUE ESTÁ CAUSANDO ISSO?


MEDICINA CENTRADA NA PESSOA…
INDENTIFICAR REDE…
COMO A ROTINA ESTÁ SENDO AFETADA?
O QUE ELA ESPERA DO ATENDIMENTO (DO MÉDICO)?
Transtorno de
Ansiedade
O QUE É ANSIEDADE?

Experiência humana universal que acontece em resposta a situações de


perigo, ameaças reais e imaginárias, estresses e desafios do dia-a-dia.

• Pode decorrer de ameaças externas e internas;

• Também pode se apresentar como um SINAL DE ALERTA;

• Ansiedade normal x patológica.


SINTOMAS DA ANSIEDADE

• Sensação difusa, desagradável e vaga de apreensão, medo,


irritabilidade e impaciência;

• Perda da concentração, pensamentos catastróficos, hipervigilância


e medo de perder o controle;

• Inquietude, isolamento e de fuga;

• Confusão e distorção do tempo, espaço e do significado dos


acontecimentos levando a uma hiperreatividade aos estímulos.
SINTOMAS DA ANSIEDADE
• Sintomas somáticos → sensações fisiológicas devido a
excitação autonômica, quando os sintomas não são
explicáveis por outro diagnóstico clínico.

SINTOMAS SOMÁTICOS MAIS FREQUENTES


• Dor torácica, palpitação, taquicardia • Boca seca
• Dispnéia, taquipnéia, hiperventilação • Calorões ou calafrios
• Dor e desconforto epigástrico • Insônia
• Cefaléia, tonturas e parestesias • Poliúria
• Tensão muscular • Disfagia
• Tremores • Palidez
• Sudorese • Rubor
QUANDO SUSPEITAR?

1. Sintomas físicos sem explicação;


2. Queixa ou impressão clínica de ansiedade;
3. Paciente submetido a estresse importante;
4. Paciente que hiperutiliza o serviço de saúde.
CLASSIFICAÇÃO DOS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE

Os transtornos psiquiátricos que cursam com a Ansiedade


como sintoma predominante são:
1) Transtorno de pânico
2) Fobias específicas
3) Fobia social
4) Transtorno obsessivo-compulsivo
5) Transtorno de estresse pós-traumático
6) Reação aguda ao estresse
7) Transtorno de ansiedade generalizada
GUIA DE REFERÊNCIA RÁPIDA (RIO DE JANEIRO) –
ANSIEDADE GENERALIZADA
CASO CLÍNICO

Maria do Carmo, ACS de sua equipe, entra no consultório e começa a dizer que não
está bem. Tem 52 anos, queixa-se de perda de peso, fadiga e insônia há três meses.
Relata que vem se sentindo gradualmente mais cansada, e fica acordada até tarde
da noite, porque não consegue dormir. Queixa-se das cobranças no seu trabalho e
não tem disposição para fazer as coisas. Refere também que não está mais
conseguindo limpar e organizar sua casa pois não tem ânimo. Queixa-se de seu
marido, muito ausente nos ultimos 2 anos. Neste momento Maria do Carmo chora e
lamenta a vida que está levando. Quando começa a se queixar das dores crônicas
nas costas, braços e mãos, diz que nada melhora essas dores e os médicos não
valorizam o que ela diz: "a senhora não tem nada, seus exames estão todos
normais".
Transtorno de
Humor
TRANSTORNO DE HUMOR: COMO DIAGNOSTICAR?

• DEPRESSÃO (LEVE, MODERADA e GRAVE)


• TRANSTORNO BIPOLAR

HUMOR DEPRESSIVO
Você se sentiu incomodado por
estar "baixo astral", deprimido
ou sem esperança?

ANEDONIA
Você se sentiu incomodado por
ter pouco interesse ou prazer
para fazer as coisas?
TRANSTORNO DE HUMOR: DEPRESSÃO
COMO DIAGNOSTICAR?

INVESTIGAR NA ANAMNESE:
1. Diminuição de energia ou irritabilidade/agitação psicomotora
2. Perda de interesse
3. Falta de esperança
4. Perda de confiança em si mesmo
5. Dificuldade para concentrar-se
6. Perda ou ganho de peso
7. Alterações no padrão do sono
8. Falta de disposição
9. Piora dessas sensações pela manhã
10. Sentimento de culpa
PACK Brasil - Florianópolis
Por pelo menos 2 semanas, o paciente teve ao menos 2 sintomas centrais de depressão?
Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias
Perda de interesse ou prazer em atividades normalmente prazerosas
Energia diminuída ou fadiga aumentada
NÃO
SIM O paciente não
Por pelo menos 2 semanas, o paciente teve 3 dos outros sintomas está deprimido
de depressão?
Concentração e atenção reduzidas
Autoestima e autoconfiança reduzidas
Ideias de culpa e desvalorização
Visão de futuro fria e negativa
Ideias ou ações de suicídio ou autoagressão
Dificuldade de dormir NÃO
Perda de apetite
SIM
O paciente tem dificuldades para executar trabalho habitual, tarefas
sociais ou familiares?
SIM NÃO Diagnostique depressão leve

Diagnostique depressão moderada-grave


DEPRESSÃO - A CONSIDERAR...

Subtratamento em alguns grupos populacionais x hipermedicalização da vida;

Sintomas decorrentes de doenças clínicas:


- Hipotireoidismo, Anemia

Sintomas decorrentes de efeito colateral de medicamentos;

História prévia de episódio maníaco:


- Momentos de euforia, gastos excessivos, irritabilidade intensa, idéias de
grandeza…
- Sintomas Psicóticos (alucinação e delírio)
- Na suspeita de Transtorno Bipolar, o uso isolado de antidepressivos pode
induzir “virada maníaca”.
DEPRESSÃO

RISCO DE SUICÍDIO
• Pensamentos recorrentes de morte;
• Ideação suicida;
• Tentativa ou PLANO SUICIDA (bem elaborado);
• Perguntar abertamente;
• Avaliar necessidade de internação hospitalar ou domiciliar;
• Condução junto com o especialista; (ou TELESSAÚDE 0800 644 6543)
• Motivo para se quebrar sigilo da consulta.
AVALIAR RISCO DE SUICÍDIO
ATENÇÃO AO SOFRIMENTO PSIQUICO NA APS
• Ter uma postura empática;
• Construir uma agenda de atividades prazerosas;
• Práticas Integrativas e Complementares;
• Grupos de apoio e rodas de conversa;
• Terapia Comunitária;
• Matriciamento NASF e CAPS;
• Academias de saúde / estímulo à atividade física;
• Buscar parcerias com o território.
Tratamento
Farmacológico
Transtornos Mentais Comuns
TRATAMENTO PARA DEPRESSÃO

■ Antidepressivos são a primeira escolha no tratamento da depressão


Office [9]1
aguda moderada a grave, melhorando os sintomas ou eliminando-os
totalmente.
• Resposta terapêutica esperada de 4 a 8 semanas; Office [10]1
• Duração do tratamento é geralmente de 6 meses a 2 anos, após remissão
dos sintomas;
• Retirada do medicamento deve ser feita de forma gradual;
• Acompanhamento deve ser avaliado caso a caso, levando-se em conta a
gravidade e etapa do tratamento.
Slide 31

Office [9]1 Esse prazo já não é mais consenso


Microsoft Office User; 13/03/2018

Office [10]1 Em geral o prazo mínimo é de 1 ano, menos que isso as recaídas são mais frequentes.
Microsoft Office User; 13/03/2018
TRATAMENTO PARA DEPRESSÃO

Office [11]1

Em casos de Depressão Leve, não há evidencias que


os antidepressivos sejam melhores que o placebo.
Slide 32

Office [11]1 Desde que acompanhado em psicoterapia. A Psicoterapia é melhor, porém (por incrível que possa parecer) considerada mais
cara e menos disponível que os fármacos.
Microsoft Office User; 13/03/2018
TRATAMENTO PARA DEPRESSÃO

PSICOTERAPIA
• Evidências mostram maior efetividade para episódios
leves e moderados.
• Psicoterapia cognitiva e comportamental, psicoterapia
interpessoal e psicoterapia de solução de problemas
• Na depressão grave a associação entre psicoterapia e
antidepressivos é mais efetiva.
• Na APS: Psicoterapia de Grupo, Psicoterapia Breve.
TRATAMENTO PARA DEPRESSÃO
ANTIDEPRESSIVOS
■ Inibidores Seletivos de Recaptação da Serotonina
- Pode haver agitação no inicio da terapêutica;
- Fluoxetina, Citalopram, Sertralina, Paroxetina.

Fluoxetina:
• Evite em doença hepática. Se diabetes, considere monitorar glicemia mais
regularmente.
• Efeitos colaterais: dor de cabeça, inquietação, insônia, problemas sexuais, náusea,
diarreia.
TRATAMENTO PARA DEPRESSÃO-
Tricíclicos
• Eficácia semelhante aos ISRS
• Uso destacado se dor crônica, insônia, baixo peso
• Amitriptilina, Nortriptilina, Imipramina
• Amitriptlina:
- Considere como primeira linha/opção se paciente tem dor crônica ou necessita de efeito mais
sedativo.
- Cautela se > 65 anos. Evite se ideação suicida (pode ser fatal na overdose), doença cardíaca, retenção
urinária, glaucoma, epilepsia.
- Efeitos colaterais: boca seca, constipação, dificuldade para urinar, visão embaralhada, sedação, ganho
de peso.
TRATAMENTO PARA DEPRESSÃO
Relação Nacional de Medicamentos do Componente Básico da
Assistência Farmacêutica

Medicação Apresentação Dose usual Posologia

Amitriptilina 25 mg 75 a 300mg/dia
dose única à noite
Nortriptilina 25/50/75 mg 25 a 100mg/dia

Clomipramina 10 / 25mg 75 a 250mg/dia

Fluoxetina 20 mg 20 a 80mg/dia manhã

Sertralina 50 mg 50 a 200mg/dia manhã


TRATAMENTO PARA DEPRESSÃO

• Depressão leve: grupo de apoio e/ou psicoterapia;

• Depressão moderada-severa, ansiedade generalizada ou pânico:


acompanhamento com psicólogo e/ou grupo de apoio + uso de
antidepressivo;

• O Antidepressivo deve ser escolhido de acordo com o padrão dos


sintomas, efeitos colaterais e tratamentos prévios. Podem levar de 4-6
semanas para começar a fazer efeito;
TRATAMENTO PARA DEPRESSÃO
Office [12]1

• Se ansiedade generalizada ou pânico com sintomas severos ou


incapacitante e sem história de abuso de substâncias prescreva também
Diazepam, com programação para término do uso e retirada gradual;

• Reavalie a cada 2 semanas até melhora dos sintomas. Após,


mensalmente. Se melhora parcial ou sem melhora, aumente a dose ou,
se dose máxima, mude a medicação;
Slide 38

Office [12]1 Informação bastante específica para quadros muito diferentes. Sugiro considerar retirar. Nem sempre o Benzodiazepínico está
indicado e nem sempre este Benzodiazepínico deve ser Diazepam...
Microsoft Office User; 13/03/2018
TRATAMENTO PARA TRANSTORNOS DE ANSIEDADE

• Antidepressivos Inibidores da Recaptaçao da Serotonina;


• Psicoterapia como principal ferramenta;
• Propranolol (20mg e 40mg) para controle dos sintomas, exposição a eventos fóbicos;
• Grupos de apoio e rodas de conversa;
• Estímulo à atividade física regular;
• Práticas integrativas e complementares.
TRATAMENTO PARA TRANSTORNOS DE ANSIEDADE

■ Benzodiazepínicos Principalmente durante a crise de Transtorno de Ansiedade


Generalizada (TAG) e Transtorno do Pânico
Office [14]1

• Eficazes durante as primeiras duas semanas;


• Em oito semanas, foram menos eficazes do que qualquer antidepressivo;
• Geralmente são úteis em curto prazo quando os antidepressivos são iniciados pelo alívio
rápidos dos sintomas.
• Clonazepam (0,25mg e 2mg) e Diazepam (5 e 10mg)
Slide 41

Office [14]1 Melhor!


Microsoft Office User; 13/03/2018
Office [15]1

BENZODIAZEPINICOS – ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

PRESCRIÇÃO DEVE SER CRITERIOSA!

• É a droga mais vendida no Brasil; RISCOS:


- Dependência
• Usar somente quando estritamente indicado;
- Queda
• Transtorno de Ansiedade Generalizada,
Transtorno do Pânico e na Síndrome de - Alterações cognitivas
Abstinência Alcoólica. - Aumento da Mortalidade geral
Slide 42

Office [15]1 Ótimo!


Microsoft Office User; 13/03/2018
BENZODIAZEPINICOS – ESTRATÉGIA PARA RETIRADA

• Retirada gradual, ¼ da dose por semana,

• Retirada total em torno de 6 a 8 semanas;

• Substituir por benzodiazepinicos de meia-vida longa como o Diazepam ou meia-vida


intermediária, como o Clonazepam;

• Medidas não-farmacológicas, como suporte psicológico são de extrema importância.


CASO CLÍNICO
• Regina, 38 anos, vem para consulta queixando-se de tristeza, inapetência, insônia e cansaço há 3 meses. Relata que o
cansaço vem aumentando progressivamente e que tem ficado acordada até tarde porque não consegue dormir. Diz que
tem tido dificuldade de concentração e esquecimentos, o que tem atrapalhado seu trabalho como secretária em um
consultório odontológico.
• Quando perguntada, fala que não tem se encontrado com amigos e que não lembra qual foi a última vez que saiu de
casa para passear com amigos.
• Nega uso crônico de medicação, uso de drogas e consumo de bebida alcoólica.
• Nega pensamento suicida mas diz que tem se sentido cada vez mais inútil, porque falhou em todos os seus
relacionamentos e não tem o emprego que desejava. Nesse momento começa a chorar.

• Exame físico sem alterações.


• Exame do estado mental: humor deprimido e dificuldade para responder às perguntas realizadas. Nega sintomas
psicóticos.

• Exames laboratoriais recentes, sem alteração.


CASO CLÍNICO

1) Qual o diagnóstico mais provável?

2) Qual seria seu próximo passo?


CASO CLÍNICO

3) Qual medicação você iniciaria para a paciente?

4) Como faria seu seguimento?


Cuidado ao usuário
de substâncias
psicoativas na APS
SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS

• O uso de substâncias para aliviar o sofrimento humano pode ser tão antigo quanto o
próprio homem.

• Diversas culturas sancionaram o uso de substâncias psicoativas, seja em rituais


religiosos, seja socialmente.

• Em determinados períodos da história algumas destas drogas ganham estímulo extra


para sua utilização.
CONCEITOS

O que são substâncias psicoativas?


• São substâncias naturais ou sintetizadas que, ao serem ingeridas
produzem alterações no SNC, modificando o comportamento, humor e
cognição; possuem propriedades reforçadoras e favorecem a auto-
administração (OMS, 1981).

• Podem induzir a tolerância, abuso e dependência.


SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS - TIPOS DE USO

• Uso Recreativo
• Uso Problemático (abuso ou de risco)
• Dependência - conjunto de sinais e sintomas comportamentais, psíquicos e físicos que
determinam que a pessoa está dependente da substância.
Uso frequente - 6 ou mais vezes/últimos 30 dias;
Uso pesado - 20 ou mais vezes/últimos 30 dias;
Uso abusivo - padrão de uso que tenha causado um dano real à funcionalidade, à
saúde física ou mental do usuário, mas a pessoa ainda não preenche critérios para ser
considerada dependente..
DIAGNÓSTICO DE DEPENDÊNCIA

Presença de 3 ou mais sintomas no último ano.


1. Forte desejo para consumir (compulsão);
2. Dificuldade de controlar o uso em termos de início, término ou nível de consumo
(falta de controle);
3. Reações físicas com a retirada como: ansiedade, distúrbio do sono, depressão e
convulsões (abstinência);
4. Necessidade de doses maiores (tolerância);
5. Abandono progressivo de outros prazeres e interesses e aumento de tempo para
uso e/ou se recuperar dos efeitos (relevância);
6. Persistência no uso apesar das conseqüências (perda da crítica).
ABORDAGEM DO USO DE SPA
QUAL A DROGA?

• Quais as drogas com maiores taxas de dependência?

• Quais matam mais pelo seu uso/abuso ?

• Mais negligenciadas pelos médicos ?


Contradições:

- Drogas
legalizadas

- Drogas Ilegais

- Impacto do
Tráfico
ENTREVISTA MOTIVACIONAL
• Pré-contemplação (“Eu não vou”) – Não considera a possibilidade
de mudar, nem se preocupa com a questão. “Eu não quero parar de
fumar”.

• Contemplação (“Eu poderia”) – Admite o problema, é ambivalente


e considera adotar mudanças eventualmente. “Eu quero parar de
fumar, mas não sei quando”.

• Preparação (“Eu vou / Eu posso”) – Inicia algumas mudanças,


planeja, cria condições para mudar, revisa tentativas passadas. “Eu
tenho tentado parar de fumar de um tempo para cá” ou “Eu tenho
uma data e um esquema para começar nos próximos 30 dias”.

• Ação (“Eu faço”) – Implementa mudanças ambientais e


comportamentais, investe tempo e energia na execução da
mudança.
“Eu tenho feito uso descontínuo do cigarro de um mês para cá,
ficando sem fumar pelo menos um dia inteiro durante este período”.
Como abordar cada estágio?
Redução de Danos
REDUÇÃO DE DANOS
Conceito
1. Cuidar de cada um como é possível para ele(a);
2. Abstinência não é a única meta possível;
3. Diminuir os impactos do uso/abuso e seus riscos;
4. Promover o Autocuidado.
Possíveis ações:
AGENTES REDUTORES DE DANO, consultório na rua e ESF
• Troca de seringas
• Distribuição de preservativos e testagem de ISTs
• Distribuição de cachimbo, água, canudos...
• Orientações sobre como e em que situações usar ou não usar
• Orientações sobre prevenção de ISTs
• Abordagem nas cenas de Uso
TABAGISMO
GRUPOS DE APOIO À CESSAÇÃO DE TABAGISMO

• Minimizar os sintomas da síndrome de abstinência.

(Farmacoterapia e/ou apoio de grupo).

• Pode ser utilizada a abordagem cognitivo-comportamental.

• Grupos acontecem nas USF e CAPSAd


TESTE DE DEPENDÊNCIA À NICOTINA DE FAGERSTRÖM
TESTE DE FAGERSTRÖM: CONCLUSÃO SOBRE O GRAU DE
DEPENDÊNCIA

Grau de Dependência:
0 - 2 pontos = muito baixo
3 - 4 pontos = baixo
5 pontos = médio
6 - 7 pontos = elevado
8 - 10 pontos= muito elevado
SITUAÇÕES POTENCIAIS PARA O USO DE
MEDICAMENTOS

• Fumantes de 20 ou mais cigarros por dia;


• Quem fuma o 1º cigarro até 30 minutos após acordar e fuma, no mínimo 10
cigarros por dia;
• Teste de Fagerström igual ou maior do que “score” 5;
• Fumantes que já tentaram parar anteriormente apenas com abordagem cognitivo-
comportamental
DIAGNÓSTICO DE USO ABUSIVO DE ÁLCOOL

• Deve ser investigado em todos os indivíduos que procurem atendimento, em face da


alta prevalência;
• Investigar quadros clínicos que possam estar associados ao alcoolismo;
• Utilizar as 4 perguntas abaixo - questionário Cage :
1. Alguma vez sentiu que deveria diminuir ou parar de beber ?
2. As pessoas o(a) aborrecem porque criticam o seu modo de beber ?
3. Você se sente culpado(a) pela maneira com que bebe ?
4. Costuma beber pela manhã para diminuir o “nervosismo” ou a ressaca ?
Duas respostas afirmativas - altamente indicativo de uso abusivo.
ROTEIRO PARA O TRATAMENTO DO USO ABUSIVO DE
ÁLCOOL NA ABS

• Identificar se existe dependência;


• Identificar necessidades de tratamento de outros diagnósticos
psiquiátricos associados;
• Avaliar a dinâmica familiar, apoio ou dificuldades;
• Identificar possibilidades de adaptação social e problemas ocupacionais;
• Identificar e tratar complicações clínicas.
A DESINTOXICAÇÃO – ONDE TRATAR?

Fatores para tomada de decisão:

• Intensidade do quadro;
• Nível das complicações clínicas e psíquicas;
• Nível da aceitação do paciente a sua realidade;
• Nível da retaguarda familiar e assistencial existente.
TRATAMENTO DO USO ABUSIVO DE ÁLCOOL

Três fases:
1. Abordagem ao paciente e sua família:
• Postura do profissional de saúde abordando a questão como um
real problema de saúde;
• Avaliar o grau de motivação para mudança;
• Fazer correlações dos problemas do paciente com o uso do álcool;
• Informação da reversibilidade do quadro.
TRATAMENTO DO USO ABUSIVO DE ÁLCOOL

2. Desintoxicação – Síndrome de abstinência alcoólica (SAA)

• Identificar o tipo de Síndrome de Abstinência Alcoólica

Tipo I: Manifestações de grau leve/ moderado


• Tratamento ambulatorial
• Plenamente realizável em APS

Tipo II: Delirium tremens, risco de vida


•Tratamento hospitalar
•Leitos Integrais de Saúde Mental
Manifestações
de grau leve/
moderado
TRATAMENTO DO USO ABUSIVO DE ÁLCOOL
3. Manutenção

• Acompanhamento de longo prazo (5 anos)


• Valorizar os sucessos da mudança
• Reforçar estratégias de enfrentamento para prevenir recaída

• Recaída:
• Identificar situações de risco (local, motivo…)
• Reforçar e fortalecer medidas de enfrentamento
• Encorajar a recomeçar
OBRIGADO!

“O que se opõe ao descuido e ao


descaso é o cuidado. Cuidar é mais do que
um ato; é uma atitude. Portanto, abrange
mais que um momento de atenção, de zelo e
de desvelo. Representa uma atitude de
ocupação, preocupação, de
responsabilização e de envolvimento afetivo
com o outro”. (Leonardo Boff)

“O que é bonito enche os olhos de lágrimas.


Por prazer da tristeza eu vivo alegre.”
REFERÊNCIAS

1. WHO, WONCA. Integrating mental health into primary care : a global perspective. Genebra, 2008 disponível em:
http://www.who.int/mental_health/policy/Integratingmhintoprimarycare2008_lastversion.pdf
2. FONSECA. MLG, Guimarães. MBL, Vasconcelos, EM. Sofrimento difuso e Transtornos mentais Comuns: uma revisão
bibliográfica Rev. APS, v. 11, n. 3, p. 285-294, 2008
3. GUSSO, G., Lopes J.M.C. (Org.). Tratado de Medicina de Família e Comunidade. Princípios, Formação e Prática. Porto
Alegre, Artmed, 2012. p 233-240.
4. DUNCAN, B.BB e et al. Medicina Ambulatorial: condutas de atenção primária baseada em evidências. Artmed:
Porto Alegre. 4a. Ed., 2013.
5. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de
Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. Relação Nacional de Medicamentos Essenciais : RENAME 2014.
Brasília: Ministério da Saúde, 9. ed. 2015.
6. Cadernos de Atenção Básica de Saúde Mental
7 . Programa de Intensificação de cuidados, Revista intensa/extensa, UFBA
8. Guia Prático de Matriciamento em Saúde Menta
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