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BIOQUÍMICA 2014
Arlindo Ugulino Netto.
ABSORÇÃO DO ÁLCOOL
O etanol é uma molécula pequena. Por isso, ela é absorvida principalmente no intestino delgado, e em menores
quantidades no estômago (0 a 5%) e no cólon. Não existem enzimas digestivas para o etanol. Após sua absorção, 80-
90% do etanol é oxidado no fígado. O restante distribuído para os outros tecidos e, de 2 a 10% do etanol absorvido, é
expelido pela respiração ou excretado na urina (daí a eficácia do teste de bafômetro).
O alcool causa inúmeras interferências na fisiologia humana. Em dosagens moderadas, estimula a produção do
GABA, que é um neurotransmissor de inibição, ou seja, depressor do SNC. Além disso, ele provoca vaso dilatação
periférica e vermelhidão nas extremidades do corpo, provocando também perda de calor e hipoxia. Estimula também as
secreções salivares e gástricas, o que explica a relação do uso crônico do alcool e as gastrites.
METABOLISMO DO ETANOL
O metabolismo do etanol se dá por duas vias: pelo sistema da alcool desidrogenase e pelo sistema microssomal
de oxidação do etanol. Em ambas as vias, o etanol é transformado em acetaldeido.
Nessa primeira via, a oxidação do etanol ocorre nos hepatócitos onde há a enzima álcool desidrogenase
responsável por essa etapa. A oxidação do etanol é relativamente independente da concentração sanguínea e é
constante com o tempo (cinética de ordem zero). Em um indivíduo sadio, consumidor não habitual de álcool, a
velocidade de biotransformação oscila entre 60 a 150 mg/Kg/hora.
Praticamente todo o álcool que se biotransforma no organismo sofre um processo oxidativo que ocorre em duas
fases. A primeira fase, ainda no citoplasma, é iniciada pela enzima álcool desidrogenase (ADH) que converte o etanol à
acetaldeído. Em uma segunda fase, agora na mitocôndria, a enzima aldeído desidrogenase (ALDH) converte o aldeído
em ácido acético (acetato), que é finalmente convertido em dióxido de carbono e água, liberando energia.
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OBS : O consumo exagerado de álcool causa coma alcoólico. Em
grandes quantidades, o álcool é mais facilmente absorvido do que outros
nutrientes celulares, diminuindo o rendimento energético, principalmente
devido à carência de glicogênio. Além disso, devido ao metabolismo do
etanol, há uma grande produção de NADH. Com isso, o organismo lança
mão de gliconeogênese em larga escala a partir do piruvato, que será
convertido em lactato, nesse sentido, para que haja produção de NAD+
(NAD oxidado) devido à alta demanda de NADH (NAD reduzido) do
metabolismo do etanol. O normal seria o contrário: lactato em piruvato.
Caso o etilista não se alimente, ele pode entrar em quadros de
hipoglicemia severa devido a falta de glicogênio e a pouca
gliconeogênese, causando a perda da consciência por carência de
glicose (o tratamento do quadro é a própria aplicação endovenosa de
soro glicosado).
OBS²: Grandes concentrações de lactato geram acidose láctica. Além disso, devido à pequena concentração de NADH,
o oxaloacetato é convertido em malato, deixando de ser gliconeogênico.
OBS³: O alcoolismo aumenta os níveis de ácido úrico no sangue, predispondo o desenvolvimento da artrite gotosa
(gota). Isso ocorre porque o lactato, quando elevado, compete com o ácido úrico para ser eliminado na urina, gerando
acúmulo de ácido úrico no sangue.
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OBS : O álcool eleva os níveis de triglicerídeos no fígado, gerando quadros de esteatose hepática (fígado gorduroso).
Isso ocorre porque o excesso de acetato, formado na degradação do etanol, é convertido em acetil CoA, que em parte é
liberado para o sistema extra hepático e parte fica no fígado, formando gordura.
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OBS : As mulheres são mais sensíveis aos efeitos do alcool do que os homens. Isso é devido ao conteúdo de água
corporal da mulher ser menor em relação ao dos homens, fazendo com que o etanol percorra o sangue mais
concentrado. O fato de o cérebro ser um órgão altamente irrigado, facilita a rapidez dos efeitos do alcool. Além desse
fator, o funcionamento da enzima alcool desidrogenase na mucosa gastrica nas mulheres é menor, fazendo com mais
etanol alcance sangue do que o acetaldeído.
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OBS : O alcool tem um efeito energético devido a uma certa produção de NADH em seu metabolismo, que entra na
cadeia respiratória para produção de ATP. Isso é um dos fatores que fazem com que os alcóolatras passem longos
perídos sem se alimentar, gerando quadros de hipoglicemia severa.
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OBS : O Dissulfiram é uma opção farmacológica no tratamento de etilistas (alcoolistas). O etanol (álcool) sofre uma
biotransformação, através da enzima álcool desidrogenase, tornando-se acetaldeído, este por sua vez através de outra
enzima, a aldeído desidrogenase, modifica-se em gás carbônico e água. A droga age inibindo, a enzima aldeído
desidrogenase. Desta forma ocorre um acúmulo de acetaldeído, sendo este muito tóxico para o organismo. Seus efeitos,
são extrema vasodilatação e consequente queda de pressão arterial, taquicardia e cefaleia. Estes efeitos denominam-se
antabuse ou dissulfiram-like. O paciente rejeita o álcool por associação aos efeitos relatados, que se manifestam quando
utiliza-se da bebida.
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OBS : Em alcoolismo agudo, essa via é ativa em 10%, e aumenta de atividade proporcionalmente ao aumento do
consumo de álcool.
DESTINO DO ACETATO
Convertido em acetil-CoA (acetil-CoA sintase).
Síntese de Ácidos graxos, corpos cetônicos e colesterol.
Lançado na corrente sanguínea oxidação em outros tecidos.
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ENERGIA PRODUZIDA
Forma-se: 1 NADH citosólico (pela ADH), 1 NADH mitocondrial, 1 Acetil-CoA
Formação de ATP varia de acordo com quantidade ingerida
Quanto mais álcool mais CYP2E1 ativa menos energia proporcionalmente obtida
Em alcoolistas crônicos, menos energia é aproveitada
Danos hepáticos diminuem a fosforilação oxidativa.
ALCOOLISMO CRÔNICO
É considerado uso crônico o consumo acima de 80g de etanol diárias (1/4 de garrafa de cachaça). O alcoolismo
crônico é responsável pelas alterações morfológicas em praticamente todos os órgãos e tecidos do corpo,
particularmente no fígado e no estômago. Somente as alterações gástricas que surgem imediatamente após a exposição
pode ser relacionadas com os efeitos diretos do etanol sobre a vascularização da mucosa. A origem das outras
alterações crônicas é menos clara. O acetaldeído, um metabólico oxidativo importante do etanol, é um composto
bastante reativo e tem sido proposto como mediador da lesão tissular e orgânica disseminada. Embora o catabolismo do
acetaldeído seja mais rápido do que o do álcool, o consumo crônico de etanol reduz a capacidade oxidativa do fígado,
elevando os teores sanguíneos de acetaldeído, os quais são aumentados pelo maior ritmo de metabolismo do etanol no
bebedor habitual. O aumento da atividade dos radicais livres em alcoólatras crônicos também tem sido sugerido como
um mecanismo de lesão. Mais recentemente, foi acrescentado o metabolismo não-oxidativo do álcool, com a elaboração
do ácido graxo etil éster, bem como mecanismos imunológicos pouco compreendidos iniciados por antígenos dos
hepatócitos na lesão aguda.
Seja qual for à base, os alcoólatras crônicos têm sobrevida bastante encurtada, relacionada principalmente com
lesão do fígado, estômago, cérebro e coração. O álcool é a causa bastante conhecida de lesão hepática que termina em
cirrose, sangramento maciço proveniente de gastrite ou de úlcera gástrica pode ser fatal. Ademais, os alcoólatras
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crônicos sofrem de várias agressões ao sistema nervoso. Algumas podem ser nuticionais, como a deficiencia em
vitamina B1, comum em alcoólatras crônicos. As principais lesões de origem nutricional são neuropatias periféricas e a
síndrome de Wernicke-Korsakoff. Pode surgir a degeneração cerebelar e a neuropatia óptica, possivelmente
relacionadas com o álcool e seus produtos, e, incomumente, pode surgir atrofia cerebral.
São consideradas como as principais complicações do alcoolismo crônico:
Deficiências vitamínicas (piridoxina, tiamina, folato) desnutrição devido à má absorção intestinal.
Distúrbios neurológicos.
Agravamento da gota.
INTERAÇÃO ÁLCOOL-MEDICAMENTOS
Além de oxidar o etanol, a citocromo P-450 (CYP2E1) inativa também uma série de medicamentos como
analgésicos (paracetamol), barbitúricos, etc. O consumo de etanol aumenta a concentração da citocromo P-450 que é
responsável pela metabolização no fígado de diversos antibióticos. Isso aumenta a resistência de alcoólatras a alguns
medicamentos em abstinência.
No entanto, os efeitos tóxicos são maiores para os usuários crônicos de álcool. Certos medicamentos como:
metronidazol (antiprotozoário), penicilina (ampicilina) e vários antibióticos, algumas cefalosporinas, entre elas a
cefalexina, a cefadroxila e a cefradina são capazes de promover efeito "antabuse".
Certos antibióticos reagem diretamente com o acetaldeído, diminuindo a concentração do fármaco no sangue.
Isto significa que, em termos farmacêuticos, fica diminuída a disponibilidade do antibiótico para agir. Uma vez que existe
menor concentração de antibiótico, seu efeito será reduzido.
Além destes efeitos, o álcool estimula diretamente as membranas do aparelho digestivo, promovendo maior
produção de ácido clorídrico no estômago (que ioniza o medicamento e dificulta sua absorção) e também o aumento dos
movimentos do intestino e do estômago, podendo provocar diarreia e vômitos. Estes dois fatores promovem uma
passagem mais rápida e uma menor absorção do medicamento pelo estômago e pelo intestino (especialmente o
duodeno, onde a maioria dos fármacos é normalmente absorvida) devido as diarreias e vômitos.
A ação do álcool não ocorreria diretamente sobre a substância antibiótica, mas sim na sua absorção. Com uma
absorção menor, o medicamento estaria em menor concentração na corrente circulatória, diminuindo sua ação.
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OBS : Absorção dos Fármacos. Os
antibióticos normalmente encontram-se na
forma não ionizada, que é bem absorvida pelo
nosso corpo. Dependendo das condições de
acidez do meio, elas podem se converter na
forma ionizada, que é pouco absorvida.
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OBS : Os efeitos da medicação e do álcool,
quando ingeridos em conjunto, são
potencializados.
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OBS : O álcool tem um efeito diurético (inibe
o hormônio antidiurético ou ADH), diminuindo
ainda mais a concentração de medicamentos
na corrente sanguínea.