BIOQUÍMICA 2014
Arlindo Ugulino Netto.
HIDRÓLISE DO TRIACIGLICEROL
O passo inicial da lipólise consiste na
hidrólise dos triglicerídeos, formando glicerol e
três moléculas de ácidos graxos. A degradação
dos ácidos graxos representa uma energia 2,5
vezes maior que a energia liberada pela
glicose, ou seja, é de 9cal/g de lipídios.
ÁCIDO GRAXO
Ácidos graxos são ácidos monocarboxílicos de cadeia normal
que apresentam o grupo carboxila (COOH) ligado a uma longa cadeia
alquílica, saturada ou insaturada. Como nas células vivas dos animais e
vegetais os ácidos graxos são produzidos a partir da combinação de
acetilcoenzima A, a estrutura destas moléculas contém números pares
de átomos de carbono. Mas existem também ácidos graxos ímpares,
apesar de mais raros.
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A numeração dos ácidos graxos é feita a partir do carbono do grupo carboxila, com numeração crescente até o
grupo metil. Seus carbonos podem ser designados também por letras gregas, em que α é o segundo carbono (ligada ao
COOH) e o último carbono é chamado de carbono ω (ômega).
DESTINO DO GLICEROL
O glicerol liberado, é transportado através do sangue até o fígado onde é fosforilado pela glicerol cinase, formando
glicerol-3-fosfato. Ele pode ser oxidado para formar triacilglicerol no fígado ou pode ser oxidado a diidroxiacetona fosfato,
e convertido a gliceraldeído 3-fosfato (pela triose fosfato isomerase), entrando na via glicolítica.
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OBS : O tecido nervoso, as hemácias e a medula adrenal não podem utilizar os ácidos graxos livres plasmáticos como
fonte de energia – utilizam apenas a glicose.
OBS²: Apenas o glicerol dos TGL são gliconeogênicos, pois os ácidos graxos formam acetil CoA, e esta, para formar
piruvato, deveria passar por uma reação reversível, o que não acontece: a formação de acetil CoA a partir de piruvato
por meio do complexo da piruvato desidrogenase é uma reação irreversível.
β-OXIDAÇÃO
A β-Oxidação é a quebra de ácidos graxos para obtenção de energia. O glucagon estimula a ação da enzima
lipase sensível ao hormônio, hidrolisando triglicerídios (armazenados no tecido adiposo) em ácidos graxos, que se
ligam a albumina para serem transportados pelo sangue (por serem hidrofóbicos). A degradação dos ácidos graxos é
necessária tanto para fornecer ATP para que ocorra a gliconeogênese, como também para fornecer energia pela própria
degradação dos AG.
Em outras palavras, o catabolismo dos ácidos graxos ocorre na mitocôndria é denominado de β-oxidação, na
qual fragmentos de 2 carbonos são sucessivamente removidos da extremidade carboxílica da acilCoA, produzindo acetil-
CoA. No entanto, os ácidos graxos livres provenientes da corrente sanguínea que entram no citosol das células (são
permeáveis na membrana plasmática), não podem passar diretamente para o interior da mitocôndria, sendo necessária
uma série de três reações.
No citosol, os ácidos graxos são convertidos em acil-CoA graxo pela tiocinase (acil-CoA graxo sintetase).
A membrana mitocondrial interna é impermeável a moléculas grandes e polares como a CoA. Deste modo, a acil-
CoA graxo se liga a carnitina, formando acil-carnitina graxo, que é transportado para a membrana mitocondrial
interna, por um transportador específico chamado carnitina-acil transferase I.
Na matriz mitocondrial, o grupo acil-carnitina se liga a outra molécula de acetil-CoA, regenerando a acil-CoA
graxo, que é oxidado por um conjunto de enzimas existente na matriz mitocondrial.
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OBS : O metabolismo dos AG é assim chamado – β-oxidação – devido à quebra sucessiva da ligação entre os carbonos
α (segundo carbono, ligado ao grupo carboxila) e β (terceiro carbono) da cadeia do AG.
A β-oxidação ocorre por meio de duas etapas: (1) ativação dos ácidos graxos e (2) β-oxidação propriamente dita.
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A acil-CoA não é permeável à membrana mitocondrial interna. Para o seu transporte para a matriz dessa
mitocôndria, a acil-CoA se liga ao aminoácido carnitina, formando o coposto acil-carnitina, liberando a CoA-SH. A
canitina é incorporada ao acil-CoA por meio da enzima Carnitina Acil Transferase I, presente na camada externa da
membrana mitocondrinal interna. A acil-carnitina entra na matriz mitocondrial por simporte, em troca da carnitina (que
atravessará mais acil-Coa). Essa carnitina é resultado da reação inversa realizada pela enzima Carnitina-Acil
Transferase II, presente na camada interna da membrana mitocondrial interna, em que há produção de acil-CoA e
carnitina a partir da Acil-Carnitina que entrou na matriz. Estando formada a Acil-CoA na matriz mitocondrial, esta irá
sofrer metabolismo por meio da β-oxidação.
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OBS : Quando há uma deficiência de carnitina, não há
degradação dos lipídios, uma vez que eles não serão
transportados por intermédio dela até a matriz mitocondrial.
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OBS : O suprimento de carnitina emagrece por aumentar a
degradação dos lipídios.
β-OXIDAÇÃO
Após a ativação do AG, formando acil-CoA, que é
carreado para dentro da matriz mitocondrial por intermédio
da carnitina, ele vai sofrer a β-oxidação propriamente dita
em quatro etapas iniciais:
1. Inicialmente, a acil-CoA, que entrou na matriz
mitocondrial carreado pela carnitina, vai sofrer uma
desidrogenação entre o carbono α e β, produzindo
uma insaturação entre esses dois carbonos,
reduzindo uma molécula de FAD. Essa reação é
catabolizada pela enzima acil-CoA-desidrogenase.
2. Essa nova molécula, a trans-∆²-enoil-CoA, sofre
uma hidratação por meio da enzima enoil-CoA-
hidratase. Um hidrogênio da água se liga ao carbono
α e a hidroxila se liga ao carbono β, formando um
álcool.
3. Em seguida, o álcool (3-L-Hidroxiacil-CoA) sofre
uma oxidação em que uma molécula de NAD é
reduzida, por meio da enzima 3-L-Hidroxiacil-CoA
desidrogenase. Dessa oxidação, forma-se uma
cetona no carbono β.
4. Essa cetona (β-acil-CoA) é quebrada pela enzima
β-acil-CoA tiolase, formando acetil CoA e um
composto acil com dois carbonos a menos. Este
volta ao início para sofrer as quatro reações,
produzindo novamente outra molécula de acetil CoA
e outro composto acil com dois carbonos a menos
(quatro a menos, quando em relação ao primeiro).
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(cetonemia) e na urina (cetonúria). Essa condição ocorre em casos de jejum prolongado ou diabetes mellitus não
controlado. Em indivíduos diabéticos com cetose severa, a excreção urinária de corpos cetônicos é bastante elevada.
Uma elevação da concentração de corpos cetônicos no sangue resulta em acidemia. À medida que os corpos cetônicos
circulam no sangue, ocorre a liberação de íons prótons (H+), resultando na diminuição do pH sanguíneo denominado
acidose. Além disso, a excreção de glicose e corpos cetônicos pela urina resulta em desidratação. Portanto, o aumento
de H+ pode causar uma acidose severa (cetoacidose).
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OBS : A cetoacidose é um quadro mais comum para pacientes acometidos de Diabetes tipo I devido a lipólise acelerada
e ao acúmulo de corpos cetônicos e íons H+ no sangue desses pacientes, graças a falta de produção de insulina. A
cetoacidose é rara nos pacientes de diabetes tipo II porque os adipócitos permanecem sensíveis a insulina (que inibe a
lipólise).
CONSIDERAÇÕES CLÍNICAS
Doença de Refsum
Distúrbio neurológico raro causado pelo acúmulo de ácido fitânico no sangue. O ácido fitânico é formado a partir
do fitol, um constituinte da clorofila, encontrado em plantas comestíveis. O ácido fitânico possui um grupo metila no
carbono 3 (beta), que bloqueia a β-oxidação. Normalmente uma α–oxidação remove o grupo metila. Indivíduos com a
doença de Refsum apresenta deficiência da enzima α-hidroxilase, resultando no acúmulo de ácido fitânico no sangue.
Importância clínica: retinite pigmentosa, perda da audição, catarata e arritmia.
Cetoacidose diabética
A cetoacidose diabética é definida como uma disfunção metabólica grave causada pela deficiência relativa ou
absoluta de insulina, associada ou não a uma maior atividade dos hormônios contrarreguladores (cortisol,
catecolaminas, glucagon, hormônio do crescimento).
A cetoacidose caracteriza-se clinicamente por desidratação, respiração acidótica e alteração do sensório; e
laboratorialmente por:
Hiperglicemia (glicemia > 250 mg/dl);
Acidose metabólica (pH < 7,3 ou bicarbonato sérico < 15 mEq/l);
Cetonemia (cetonas totais > 3 mmol/l) e cetonúria.
Alguns pacientes podem estar em cetoacidose e ter uma glicemia normal caso tenham usado insulina pouco
tempo antes de virem para a Unidade de Emergência. Outros podem ter glicemia > 250 mg/dl e não estarem em
cetoacidose caso não preencham os demais requisitos para o seu diagnóstico.
A princípio o paciente apresenta um quadro clínico semelhante ao inicio do diabetes com poliúra, polidipsia,
polifagia, perda ponderal, astenia e desidratação leve. Com a maior elevação e maior duração da hiperglicemia, a
polifagia é substituída por anorexia, surgem náuseas e vômitos, a desidratação se acentua, a respiração torna-se rápida
e profunda (respiração de Kussmaul), aparece o hálito cetônico, o paciente torna-se irritado e pode ocorrer dor
abdominal simulando o abdome agudo. O estágio mais grave é caracterizado por depressão do nível de consciência
(confusão, torpor, coma), sinais de desidratação grave ou choque hipovolêmico, arritmia cardíaca e redução dos
movimentos respiratórios quando o pH é < 6,9.
Em recém-nascidos e lactentes jovens o quadro clínico não é tão claro, podendo ser confundido com
broncoespasmo, pneumonia, infecção urinária, dor abdominal e distúrbios neurológicos.