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Entrevista

Certa vez, num artigo sobre educação, li algo sobre ser professor que realmente me comoveu. Dizia: “Ser professor é poder aplicar
o amor na sua mais expressiva manifestação de sublimidade. É fazer brilhar no íntimo de cada aluno, a chama sagrada que o criador ali
depositou. Ser professor é muito mais do que passar teorias e conceitos. É edificar pelo próprio exemplo”. Na verdade, hoje poucos
possuem esse perfil, principalmente porque, no momento atual, ser professor, para alguns, significaria apenas a garantia de emprego, de
salários e de um invejável status para interesses particulares. Pois bem, correndo contra essa correnteza, ou seja, dentre aqueles poucos
idealistas e educadores na acepção da palavra, menciono, sem dúvidas, o nome do Professor Dr. Alberto Consolaro.
Aluno da Faculdade de Odontologia do Campus de Araçatuba-UNESP, na década de 70, o então acadêmico Consolaro já se
diferenciava pela sua aplicação e dedicação aos estudos. Eram notáveis sua inteligência e raciocínio, na verdade, causavam inveja. Com
esses sinais, ele “abscedeu”, e “drenou” toda sua vitalidade e conhecimentos. Como meteorito, venceu todos os obstáculos com grande
competência, atingindo hoje o apogeu de sua profissão.
Contrariando o seu próprio pensamento a respeito, descrito em seu livro “O Ser Professor”, acredito sinceramente que divinamen-
te foi enviado com o “dom” de ser professor, pois sua maneira de ser vai muito além do trabalho incansável que desenvolve, dos
treinamentos e ensaios didáticos. Professor Consolaro, você “nasceu” e “cresceu” Professor.
Considerado um dos ícones da Odontologia Biológica, o Prof. Consolaro consegue transmitir conceitos básicos com uma simplici-
dade ímpar, respondendo às questões sempre com leveza de entendimento e embasamento científico.
Falar do Prof. Alberto Consolaro é prazeroso e nos conduz a um sentimento de extrema felicidade e satisfação, pois ele vem
cumprindo fielmente sua missão com o seu Criador, nosso Deus onipotente. Cumprindo sim, a nobre missão de ensinar, educar, como ele
próprio diz, ensinar o aluno a pensar, ensiná-lo a conhecer-se e prepará-lo para as intempéries da vida cotidiana.
Obrigado Prof. Alberto Consolaro pelas suas contribuições e por sua produtividade científica, honrando assim nossa profissão. Com
certeza, também estamos representando a gratidão de todos aqueles que usufruem de seus ensinamentos, sempre dirigidos em prol de
uma odontologia mais científica e principalmente mais humana.
Na seqüência, mais um momento de sublimidade, a oportunidade de poder “devorar” seus conhecimentos, por meio de suas
sábias palavras aos questionamentos elaborados, produzindo respostas consistentes e convincentes, calcadas em fundamentos
biológicos.
Por isso e tudo mais, Prof. Dr. Alberto Consolaro, a ciência lhe agradece.

Prof. Dr. Pedro Felício Estrada Bernabé

1) As endocrinopatias influen- tectada apenas uma pergunta deve


ciam na reabsorção dentária du- ser feita: Quem matou os cemento-
rante o tratamento ortodôntico? blastos? A causa que lesou estas
Guilherme dos Reis Pereira Janson células é local, pois fatores sistêmi-
Não. A superfície da raiz dentá- cos são “ignorados” pelos cemen-
ria está revestida por cementoblas- toblastos e se eles não “desocupam”
tos e também ocupada por fibras a superfície radicular não é possível
colágenas periodontais perpendicu- reabsorvê-la.
larmente inseridas no cemento. As Em 2002, duas teses de douto-
células funcionam e executam tare- rados que orientamos procuraram
fas apenas quando mediadores quí- evidenciar a falta de fundamenta-
micos passam ordens ou mensa- ção em considerar as endocrinopa-
gens; as células não trabalham es- tias como causa de reabsorções
pontaneamente, apenas sob ordens. dentárias.
Os cementoblastos não têm recep- Na tese de Franscischone 3
tores para os hormônios que acele- (2002) analisamos criteriosamente
ram ou diminuem o processo contí- os dentes e maxilares de 81 pacien-
nuo da remodelação óssea como o tes endocrinopatas, incluindo-se pa-
paratormônio e a calcitonina, res- cientes com hiper e hipoparatireoidis-
Alberto Consolaro
pectivamente. Os hormônios são mo, hiper e hipotireoidismo, diabetes
mensagens químicas para as célu- 1 e 2, síndrome dos ovários policísti-
las executarem suas funções As cé- se dizer que os cementoblastos são cos, mulheres na fase do climatério e
lulas ósseas respondem a estes “surdos” para os mediadores da rea- também mulheres ingerindo contra-
hormônios porque possuem recep- bsorção óssea e assim atuam como ceptivos por longos períodos. Em ne-
tores na membrana celular, verda- Guardiões da Integridade da Raiz. nhum destes pacientes observou-se
deiros “ouvidos bioquímicos”. Pode- Quando alguma reabsorção for de- reabsorções dentárias generalizadas
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ou significantes. Quando estes pa- vada? Guilherme dos Reis Pereira curaram estabelecer esta suscepti-
cientes apresentavam lesões periapi- Janson bilidade ou predisposição genética
cais crônicas, freqüentemente relacio- Em 1996, orientamos a tese de e hereditária não conseguiram ou
nadas com reabsorções apicais, es- doutoramento de Cuoghi2 (1996) na apresentam falhas metodológicas
tas eram pequenas e até questionáveis qual acompanhamos a movimenta- graves.
quando comparadas com pacientes ção dentária induzida nas primeiras A maior ou menor predisposição
não endocrinopatas. Não havia, por- 25 horas, em macacos. ou susceptibilidade relaciona-se a fa-
tanto, nem intensificação de um pro- A força contínua dissipante atin- tores locais realmente individuais
cesso reabsortivo preexistente. Os gia a máxima movimentação dentá- como a forma da raiz e da crista ós-
pacientes com hiperparatireoidismo ria depois de 10 horas de sua aplica- sea alveolar.
apresentavam alterações severas no ção e permanecia no mesmo pata- Classificamos as raízes quanto à
trabeculado inclusive com perda com- mar após 15 e 20 horas. Após 10 sua forma geométrica em romboidal,
pleta da lâmina dura, mas os dentes horas de movimentação dentária in- triangular e retangular. A raiz trian-
estavam íntegros. duzida removia-se a força e reaplica- gular concentra a força na região
Na tese de Furquim4 (2002) fo- va-se a mesma após 5 horas de re- apical, que neste caso, apresenta a
ram examinados 210 pacientes sen- pouso. Observava-se uma acentua- estrutura apical mais delicada ainda,
do 70 sem tratamento ortodôntico, da redução da área de pressão. A possibilitando que as lesões na ca-
70 com tratamento ortodôntico sem reaplicação desta força após 10 ho- mada cementoblástica ocorram com
reabsorção dentária e 70 com tra- ras implicava em retomar todo o pro- maior freqüência e gravidade. A ca-
tamento ortodôntico com reabsorção cesso no nível inicial anterior. Pôde- mada cementoblástica possui a fun-
dentária. Foram feitos todos os exa- se concluir que as forças contínuas ção de protetora da integridade radi-
mes endocrinológicos e sistêmicos dissipantes devem ser empregadas de cular. Na raiz retangular, a força dis-
necessários, analisando-se todos os forma contínua ao longo dos dias. sipa-se melhor no dente, no ligamen-
dentes e maxilares. Os três grupos Nos primeiros momentos, a interrup- to periodontal e na estrutura óssea
eram iguais do ponto de vista endo- ção em horas da aplicação da força vizinha, possibilitando menor chance
crinológico e surpreendentemente a contínua dissipante não favorece a de reabsorção dentária.
única variável que mudava era a eficiência da movimentação dentária A delicadeza da estrutura apical e
forma da raiz e da crista óssea al- induzida. a sua forma mais afilada determinam
veolar. No terceiro grupo, predomi- Estes resultados foram atribuídos reabsorções menores implicando em
navam raízes triangulares e cristas à compressão do ligamento periodon- redução do comprimento dentário,
ósseas retangulares, enquanto no tal e da matriz extracelular, bem como mais comumente denominado de
segundo grupo predominavam à deflexão óssea, pois não havia arredondamento apical. Por isto, ápi-
raízes rombóides e retangulares com clastos reabsorvendo o osso alveolar ces afilados em forma de pipeta ou
cristas triangulares. A forma da raiz nestes períodos, quando examinados de garrafa e dentes com dilaceração
e da crista óssea alveolar determina microscopicamente. apical apresentam maior chance de
como a força será distribuída e o Do ponto de vista experimental, reabsorção. A chance de lesar a ca-
grau de deflexão óssea, influencian- confirmou-se a teoria das 10 horas mada cementoblástica apical é mai-
do na freqüência e na gravidade da de Andrews. or. Da mesma forma, ocorre com a
reabsorção dentária durante o tra- raiz curta que apresenta maior fre-
tamento ortodôntico, como explica- 3) Qual sua opinião sobre a rea- qüência de reabsorção dentária, pois
remos mais detalhadamente na res- bsorção radicular em Ortodon- a coroa representa um braço de ala-
posta da terceira pergunta. tia? Você acha suficiente o atual vanca maior e implicará em uma for-
Em suma, endocrinopatias não método radiográfico de preven- ça mais intensa nos tecidos apicais
provocam reabsorções dentárias e ção adotado para a identificação quando aplicados movimentos de in-
a maior ou menor freqüência de rea- da susceptibilidade individual clinação.
bsorção dentária em Ortodontia está em tempo hábil? Leopoldino Nas cristas ósseas alveolares
associada a fatores locais, especial- Capelozza Filho. triangulares a deflexão óssea é mai-
mente à forma de raiz e da crista Os termos susceptibilidade ou or e a força dissipa-se mais unifor-
óssea alveolar e não a fatores sistê- predisposição individual podem su- memente, diminuindo a chance de
micos. gerir que há algum fator genético e lesar os tecidos periodontais e espe-
ou hereditário favorecedor da ins- cialmente a camada cementoblásti-
2) A teoria das 10 horas sobre talação da reabsorção em alguns ca. Na movimentação de dentes com
a movimentação dentária indu- pacientes, o que na realidade não cristas ósseas retangulares a dissi-
zida de Andrews, está compro- ocorre. Todos os trabalhos que pro- pação das forças será menor, pois a

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deflexão óssea apresenta-se diminuí- a 3 semanas, ou mesmo antes, será e abordagens pertinentes com esta
da. As cristas ósseas alveolares rom- possível diagnosticar e ou quantifi- finalidade;
bóides dissipam estas forças de for- car um processo reabsortivo dentá- d) Não há causas sistêmicas ou
ma intermediária. As implicações rio em andamento ou não. Este “kit” medicamentosas para as reabsorções
clínicas da forma da raiz e da crista poderá ser usado por um laborató- dentárias durante o tratamento or-
óssea alveolar foram evidenciadas rio ou mesmo pelo ortodontista em todôntico, como se citava antigamen-
na tese de doutoramento de sua clínica: esta é nossa perspecti- te os contraceptivos;
Furquim4 (2002). va de trabalho e este produto está e) O principal fator na previsibili-
As reabsorções dentárias são sendo desenvolvido a partir do dade de reabsorções dentárias é a
diagnosticadas radiograficamente, patenteamento via FAPESP. forma da raiz e da crista óssea
mas em películas periapicais, pois alveolar, mensuráveis apenas em ra-
nas radiografias panorâmicas a 4) Existe alguma forma eficien- diografias periapicais. Raízes trian-
identificação precisa não é possível, te de prever e ou prognosticar o gulares e ou com ápices afilados em
a não ser em casos avançados. O risco ou a quantidade de reab- forma de pipeta, garrafa ou com di-
período ideal para avaliar “preven- sorções radiculares antes dos laceração, tendem a apresentar rea-
tivamente” o grau de reabsorção primeiros 6 a 9 meses de trata- bsorções maiores e precoces, bem
radicular durante o tratamento or- mento? Como elucidar o “tiro no como dentes com raízes curtas.
todôntico varia entre os 6 e 9 pri- escuro” da susceptibilidade in- Quando as cristas ósseas são retan-
meiros meses. Se após este período dividual? Conselho Editorial Revista gulares também aumenta a possibili-
as reabsorções forem pequenas, o Dental Press dade de reabsorções radiculares, pois
risco maior já passou. Sim, é possível prever reabsorções apresenta menor deflexão óssea e as
Quando uma reabsorção radicu- dentárias em Ortodontia, mas qua- forças se concentram mais no liga-
lar em Ortodontia aparece na radio- tro aspectos devem ser sempre leva- mento periodontal.
grafia periapical, do ponto de vista dos em consideração: Se o Ortodontista levar estes fa-
estrutural, apresenta-se muito mais a) Na população ocidental, 7 a tores em consideração terá menos
avançada e não há mais como com- 10% das pessoas sem qualquer tipo problemas com as reabsorções den-
pensar a perda tecidual, pois a re- de tratamento ortodôntico tem rea- tárias, pois elas serão menos fre-
moção da força cessa o processo no bsorção radicular. Se estas reabsor- qüentes, menos severas, além de pre-
estágio em que se encontra. O uso ções não forem diagnosticadas em visíveis.
endodôntico do hidróxido de cálcio radiografias periapicais antes do Iniciamos um projeto como parte
para os casos de reabsorção radicu- tratamento ortodôntico ser aplica- de doutoramento de Martins-Ortiz8
lar em Ortodontia nada resolve, in- do, durante a movimentação elas (2002) no qual procuraremos desen-
dependentemente do seu estágio de serão exacerbadas e a culpa recai- volver um Índice de Risco para
comprometimento estrutural. rá sobre a Ortodontia pela falta de Reabsorções Dentárias em Or Or--
A radiografia periapical tem sido diagnóstico prévio. “Coincidente- todontia e será aplicado a partir da
de grande utilidade e ainda constitui mente”, apenas 10% das reabsor- avaliação destes fatores por um pro-
o método mais freqüente e disponí- ções dentárias em Ortodontia são grama no computador que será ali-
vel para diagnosticar-se as reabsor- consideradas severas; mentado com imagens das radiogra-
ções radiculares, mas possuímos no- b) A radiografia para o planeja- fias, das fotografias e dos modelos
vas perspectivas e expectativas. mento de casos ortodônticos e para do paciente. Assim a partir de um
Concluímos o trabalho de prognosticar reabsorções dentárias número estipulado avalia-se, em uma
HIDALGO5 (2001), uma tese de dou- deve ser com películas periapicais e tabela previamente estabelecida, o
toramento, em que a FAPESP finan- não panorâmicas; grau de risco da movimentação den-
ciou a detecção de proteínas denti- c) Dentes traumatizados devem tária para aquele paciente. Isto dará
nárias específicas e as reações do ser considerados mais predispostos previsibilidade e segurança para o
sistema imunológico frente a elas, a apresentarem reabsorções radicu- Ortodontista e o paciente entenderá
como ocorre quando da exposição lares durante o tratamento dentário. melhor a relação custo biológico/be-
da dentina em áreas de reabsorção. Este dado indica que devemos valo- nefício funcional e estético.
Neste trabalho, vislumbramos a rizar muito uma anamnese minucio-
perspectiva de criarmos um “kit” de sa para recuperarmos o máximo de Ao formular suas perguntas o pro-
diagnóstico para detectarmos estas informações sobre os dentes do pa- fessor Omar Gabriel da Silva Filho,
reações do sistema imunológico. ciente. Muitos pacientes não lembram enviou o seguinte comentário “É gra-
Quando um paciente for submetido de relatar os traumatismos dentários, tificante para um clínico, que execu-
ao tratamento ortodôntico, após 2 precisamos resgatar com perguntas ta o ofício, ter a oportunidade de lan-

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çar questões cotidianas a quem lida exfoliação. Houve o desaparecimen- vocada advém de traumatismos ou
com a fundamentação da teoria. to dos tecidos periodontais, o desco- sobrecargas, transplantes e reim-
Aproveito a oportunidade para brimento das raízes por parte dos plantes e isto associa o processo à
parabenizá-lo pela contribuição dada cementoblastos que entraram em inflamação e também à recolocação
à nossa especialidade.” apoptose, mas não houve a devida dos dentes envolvidos em função
estimulação dos clastos no processo novamente. Estes fatores promo-
5) Quais os prováveis fatores de reabsorção ou rizólise por parte vem acúmulo local de mediadores
etiológicos da anquilose alveo- de mediadores químicos. Em sua relacionados à reabsorção óssea
lodentária espontânea de mola- maioria, estes mediadores estão no que nesta área será acelerada, ace-
res decíduos relacionados ao li- folículo pericoronário do dente per- lerando também o processo de
gamento periodontal? Omar manente sucessor. Esta falta de me- “substituição” de estruturas dentá-
Gabriel da Silva Filho. diadores ocorre com freqüência quan- rias por estruturas ósseas. Além
Em nosso laboratório pudemos do há anodontia parcial dos pré-mo- disto, com freqüência, estão asso-
detectar, durante a dissertação de lares. ciados ou próximos aos molares
mestrado e tese de doutorado de Com a rizólise lenta, as raízes decíduos, os pré-molares e seus res-
Lourenço6,7 (1997, 1999), que os ce- decíduas desprotegidas em decorrên- pectivos folículos pericoronários,
mentoblastos e os restos epiteliais de cia da apoptose dos cementoblastos ricas fontes de mediadores locais da
Malassez entram em apoptose uma e do ligamento periodontal, junta- reabsorção óssea, visto que são as
vez completada a formação do dente mente com o desaparecimento dos estruturas essenciais da erupção
decíduo e isto ocorre também com as restos epiteliais de Malassez. O osso dentária.
demais células do ligamento perio- alveolar aproxima-se e une-se ao Na anquilose alveolodentária
dontal. Esta morte fisiológica das cé- dente decíduo. espontânea não deve ter havido um
lulas do ligamento periodontal expli- traumatismo ou sobrecarga, mas
ca o destino dos tecidos moles dos 6) Qual o mecanismo envolvido sim a morte natural das células do
dentes decíduos após a sua rizólise. na “reabsorção por substitui- ligamento periodontal, incluindo-se
Sem os cementoblastos e os res- ção” pós-anquilose provocada? os cementoblastos. Não há um acú-
tos epiteliais de Malassez, a raiz dos Omar Gabriel da Silva Filho. mulo significativo de mediadores da
dentes decíduos fica exposta à ação O osso remodela-se a todo ins- reabsorção no local e a remodela-
dos clastos e à aproximação da es- tante, um processo também conhe- ção óssea fica lenta naturalmente.
trutura óssea seguida de interação cido como turnover ósseo. Na anqui- Com freqüência nestes casos não
contínua com o cemento e dentina. lose alveolodentária, a união do osso há o permanente sucessor e seu
Estará assim caracterizada a an- ao dente promove uma integração respectivo folículo pericoronário, di-
quilose alveolodentária do dente de- morfofuncional, as estruturas dentá- minuindo mais ainda a chance de
cíduo. Isto ressalta o papel prote- rias também integrarão este proces- acúmulo de mediadores da reabsor-
tor dos cementoblastos para com a so de remodelação constante, mas ção no local. Desta forma o pro-
integridade da raiz, bem como o nos locais onde ocorre a reabsorção cesso da reabsorção dentária por
papel dos restos epiteliais de do cemento e da dentina será depo- substituição fica naturalmente len-
Malassez na manutenção do espa- sitado tecido ósseo, daí o termo rea- to, podendo levar décadas até a
ço periodontal para deixar o osso bsorção dentária por substituição. Do completa reabsorção da raiz den-
“longe” do dente pela liberação de ponto de vista radiográfico, o dente tária envolvida. A reabsorção exis-
EGF ou fator de crescimento e o osso aparecem indistinguíveis nos te, apenas em ritmo lento. Colocar
epitelial, um mediador indutor da seus limites. O fato de a anquilose este dente em oclusão ou sobre oclu-
reabsorção óssea local. alveolodentária ter sido provocada ou são tende a acelerar o processo,
O principal fator etiológico da an- natural não muda em nada a natu- pois promoverá lesão tecidual, in-
quilose alveolodentária decídua cons- reza do processo. flamação e acúmulo local de medi-
titui-se no tempo excessivo do dente adores da reabsorção óssea.
decíduo no arco dentário. Todo pro- 7) Por que a anquilose provo-
cesso de odontogênese, erupção, cada vem acompanhada de 8) Qual a função específica dos
rizólise e exfoliação do dente decíduo “reabsorção por substituição”, restos epiteliais de Malassez? A
tem um “timing”, ou seja um tempo enquanto que na anquilose es- presença desses resíduos epite-
e seqüência de ocorrência. Nestes pontânea de molares decíduos liais é imprescindível para o vi-
casos de anquilose alveolodentária não se observa este fenômeno? gor do ligamento periodontal?
decídua houve uma quebra neste Omar Gabriel da Silva Filho. Omar Gabriel da Silva Filho.
“timing”, especialmente no tempo de A anquilose alveolodentária pro- Os termos restos e resíduos são

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“injustos” com estas ilhotas e cor- 10) Como clínico, constato “sus- outras partes da raiz dentária for-
dões epiteliais que envolvem a raiz ceptibilidade individual” no custo mam-se enquanto o dente vai subin-
dentária como uma verdadeira ces- biológico dentário (encurtamen- do para encontrar o plano oclusal.
ta de basquetebol. Eles liberam pro- to radicular) durante a movi- Em suma, pode-se afirmar que a
dutos ou mediadores químicos que mentação dentária induzida. susceptibilidade, a predisposição ou
estimulam o osso vizinho à reabsor- Como poderíamos explicar o fe- a variabilidade individual está rela-
ção quando se aproximam demasia- nômeno da grande variabilida- cionada com a morfologia da raiz e
damente do dente. Entre estes pro- de individual, fundamentado- da crista óssea alveolar. A informa-
dutos podemos destacar o papel do nos na biologia molecular? Omar ção genética para formar tais estru-
EGF ou fator de crescimento Gabriel da Silva Filho. turas poderia gerar raízes padroni-
epidérmico ou epitelial. Sem estas Os termos susceptibilidade ou zadas para ambos os lados, mas as
estruturas ocorrerá a anquilose predisposição individual podem su- influências externas ao desenvolvi-
alvéolodentária, por isso podem ser gerir que há algum fator genético e mento do dente modificam e indivi-
denominados como Guardiões do ou hereditário favorecedor da insta- dualizam cada uma das raízes.
Espaço Periodontal. lação da reabsorção em alguns pa-
A presença deste mediador, o EGF, cientes, o que na realidade não acon- 11) Por que o auto-transplante
nas áreas epiteliais invariavelmente tece. Todos os trabalhos que procu- do germe dentário é viável en-
promove reabsorção óssea; em nos- raram estabelecer esta relação gené- quanto o mesmo não acontece
so corpo, os epitélios nunca são vizi- tica e hereditária não conseguiram ou quando o dente irrompeu e al-
nhos de estruturas ósseas. Experi- apresentaram falhas metodológicas cançou o plano oclusal? Omar
mentalmente se removermos o liga- graves que afetam a credibilidade do Gabriel da Silva Filho.
mento periodontal de uma faixa ao trabalho. A maior ou menor predis- Os melhores resultados dos
longo da raiz, nesta área haverá an- posição ou susceptibilidade está rela- transplantes autógenos durante a
quilose, mas se removermos o liga- cionada a fatores locais realmente fase de germe dentário estão relacio-
mento e no lugar colocarmos um individuais como a forma da raiz e nados a questões biológicas, mas
epitélio de algum outro lugar, isto não da crista óssea alveolar. Na resposta principalmente técnicas.
ocorrerá. à terceira pergunta explicamos deta- O germe tem uma ampla papila
lhadamente esta variabilidade indivi- dentária que faz interface extensa
9) O que você considera mais dual com base na morfologia da raiz com os tecidos do folículo dentário.
importante na reabsorção radi- dentária e da crista óssea alveolar, a Dificilmente, nestas condições, a
cular frente à mecânica ortodôn- partir de duas teses de doutorado, papila dentária sofrerá restrição de
tica: a intensidade da força ou o concluídas neste ano. irrigação e nutrição sangüínea, não
intervalo entre a aplicação da A biologia molecular não explica comprometendo a continuidade da
força? Omar Gabriel da Silva Filho. de forma alguma esta variabilidade formação radicular. Ao colocar o ger-
As evidências em vários traba- individual, mas sim confirma a sua me no seu leito receptor, continuará
lhos revelam que o mais importan- relação com a morfologia radicular e o processo da odontogênese quase
te não é a intensidade ou tempo de da crista óssea alveolar. que naturalmente, pois não haverá
aplicação da força, mas sim a dis- O desenvolvimento das estruturas necessidade de reparo e reconstru-
tribuição da força ao longo da raiz sofre influências externas. Dificilmen- ção periodontal, pois o periodonto
dentária e da estrutura óssea vizi- te, mesmo em lados diferentes do ainda está por ser formado. O ger-
nha. Um exemplo disto está na fre- mesmo paciente, haverá igualdade me dentário vem para o leito recep-
qüência maior de reabsorção den- estrutural radicular. O desenvolvimen- tor embrulhado ou envolvido por um
tária em movimentos de inclinação to da raiz está relacionado com re- tecido bem vascularizado, frouxo e
quando comparada com a de mo- gularidade da trajetória eruptiva, va- ricamente celularizado denominado
vimentos “de corpo”, pois nestes riação do trabeculado ósseo, obstá- folículo ou saco dentário que se
últimos a distribuição não concen- culos encontrados, tempo de entra- adapta facilmente ao novo tecido
tra demasiadamente forças em cer- da do dente em função e posição no vizinho.
tos locais, como por exemplo, na arco dentário. Como exemplo, o ter- Em transplantes de dentes com-
região apical. No que tange a dis- ço apical tem sua formação após o pletos ou com estruturas radicula-
tribuição de forças, esta distribui- posicionamento do dente em oclusão res em fase avançada de formação,
ção sofre forte influência da forma e ganha espaço às custas da estru- terá lugar a desorganização do liga-
da raiz e da crista óssea alveolar, tura óssea que o circunda; desta for- mento periodontal e o rompimento
como discorremos em repostas an- ma tende a ter uma morfologia apical dos vasos pulpares. No leitor recep-
teriores. muito variada e mais irregular. As tor será necessária uma adaptação

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mínima necessária da forma da raiz dos cementoblastos, em áreas focais, periodontal e funcional.
à forma do novo alvéolo e a chance está constituída por osteoblastos ou Outra forma de colaborar para
de contato direto raiz-osso aumen- “cementoblastos-like”. Quando o aumento do sucesso está no in-
ta; nestas áreas ocorrerão reabsor- ocorre a movimentação dentária in- cluir este assunto no conteúdo pro-
ções radiculares. O reparo do liga- duzida, os mediadores acumulados gramático das várias disciplinas
mento periodontal deve contar com no ligamento periodontal podem ati- nos cursos de graduação. Parece
os remanescentes que vieram ade- var imediatamente estas células incrível, mas há escolas onde não
ridos à raiz e aos que ficaram no osteoblásticas com a função de se ensina ou pratica os reimplan-
leito receptor e nem sempre ele es- gerenciar as células que promovem tes dentários, um procedimento re-
tão presentes, pois o alvéolo pode a reabsorção óssea; neste caso conhecido e indicado de forma uni-
ter sido cirurgicamente delineado. A gerenciarão imediatamente a reab- versal.
chance de morte dos cementoblas- sorção radicular associada à movi- Por fim, poderíamos publicar cada
tos e dos restos epiteliais de mentação ortodôntica. Por isso jus- vez mais casos de dentes reimplan-
Malassez aumenta a possibilidade de tifica-se afirmar: dentes traumatiza- tados que foram movimentados or-
reabsorções dentárias e de anquilo- dos podem mais freqüentemente todonticamente, submetidos a proce-
se alveolodentária. O rompimento apresentar reabsorções radiculares dimentos restauradores e estéticos e
dos vasos indicará a necessidade de quando movimentados ortodontica- até incluídos no contexto de uma rea-
tratamento endodôntico associado. mente. Este fato não contra-indica bilitação bucal. Assim convencería-
Além destes inconvenientes citados, a movimentação dentária em den- mos a todos sobre a viabilidade do
tem-se a carga oclusal a que será tes traumatizados, apenas indica a procedimento, da sua importância
submetido o dente transplantado. necessidade de um planejamento e social e pessoal no contexto da saú-
controle especial. de bucal.
12) Como podemos explicar que Do ponto de vista biológico, o co-
a mecanoterapia ortodôntica es- 13) Como podemos colaborar nhecimento sobre a reparação perio-
timule um processo de reabsor- para aumentar o sucesso no tra- dontal e os danos pulpares sofridos
ção radicular em um dente com tamento dos dentes avulsiona- por dentes traumatizados, bem como
traumatismo prévio? Omar dos? Roberto Esberard. a possibilidade de lesões na camada
Gabriel da Silva Filho. A tomada de consciência da so- de cementoblastos e nos restos epi-
A proteção da raiz dentária ciedade sobre a possibilidade de su- teliais de Malassez, reforça o pensa-
frente à contínua remodelação ós- cesso em casos de dentes avulsiona- mento de que o aprimoramento deve
sea, evitando-se a reabsorção ra- dos e reimplantados é essencial para ser social e técnico para obter-se cada
dicular, é oferecida pela camada de reduzir o tempo decorrido entre a vez mais casos de sucesso nos reim-
cementoblastos em função da au- avulsão e a reimplantação, bem como plantes dentários.
sência de receptores de superfície a forma de armazenamento do dente
para os mediadores do turnover avulsionado durante este período. To- 14) Quais são os estudos mais
ósseo, como descrevemos na pri- das as especialidades deveriam cola- recentes (novos avanços) que
meira pergunta. borar na disseminação desta idéia: as você considera importantes e
Nos dentes traumatizados há associações de classe, os órgãos go- quais dentre estes você acha que
possibilidade de lesão nesta cama- vernamentais, as organizações não trouxeram uma nova visão para
da cementoblástica e parte de suas governamentais e as sociedades civis. o tratamento das reabsorções
células, pode no reparo periodontal, Com certeza nossas crianças e ado- dentárias? Que abordagem deve
ser substituída focalmente por osteo- lescentes agradeceriam. ser feita para se conseguir no-
blastos vizinhos, pois o osso alveo- Não raramente encontramos pro- vos avanços no tratamento das
lar está a 250 micrometros da su- fissionais afirmando que reimplantes reabsorções dentárias? Roberto
perfície dentária. Os osteoblastos na não tem sucesso! O sucesso decorre Esberard.
superfície radicular cumprem perfei- do tempo de reimplantação, da for- Nos casos de reabsorções den-
tamente as funções de cementoblas- ma de armazenamento e do proto- tárias relacionadas à movimentação
tos, mas continuam tendo recepto- colo seguido pelo profissional após a ortodôntica o tratamento está dire-
res de superfície frente aos media- reimplantação que deve incluir: tamente relacionado à identificação
dores locais da reabsorção. Estes antibioticoterapia por duas semanas, e remoção da causa. Assim, ela ces-
osteoblastos ficam na superfície por fixação semi-rígida, vacinação sará em uma semana e a superfície
um tempo ainda não determinado ou antitetânica, tratamento endodôntico se regularizará entre 4 e 6 sema-
previsto. Assim, nos dentes trauma- depois de duas semanas e avaliação nas. O tratamento endodôntico com
tizados pode-se afirmar que parte mensal até a volta à normalidade ou sem utilização de hidróxido de

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cálcio não controla ou paralisa a tes. Ao serem ingeridos, os bifos- do diz respeito à graduação das de-
reabsorção dentária induzida por fanatos incorporam-se na matriz mais áreas do conhecimento huma-
movimentação ortodôntica, não se mineralizada durante o processo de no; comparativamente a Odontolo-
indicando esta conduta nem mes- remodelação óssea. Quando os gia está no mesmo nível das de-
mo como tentativa; o tratamento clastos reabsorvem o osso por jo- mais. Esta constatação não deve
nestes casos consiste na remoção garem ácidos e enzimas entre sua levar ao conformismo, mas indica
da força aplicada. membrana e a superfície óssea for- que o problema não é específico da
Há duas estratégias para as pers- mam as lacunas de Howship e des- Odontologia Brasileira, mas da So-
pectivas de novas pesquisas quanto montam a estrutura óssea, liberan- ciedade Brasileira que não se orga-
ao tratamento das reabsorções den- do bifosfanatos que em parte atua- niza e não vota adequadamente em
tárias. rão sobre os clastos, levando-os à dirigentes que priorizem a forma-
A primeira, para casos de reim- morte por apoptose. Nestes casos, ção educacional dos nossos jovens.
plantes, transplantes e traumatis- a remodelação óssea ficará mais O graduando inicia a universidade
mos, a principal perspectiva está em lenta, o índice de reabsorção no muito mais despreparado psicoló-
produtos colocados no interior dos paciente diminuirá e a osteoporose gica, cultural e socialmente do que
canais que impeçam a união dos estará controlada. Imaginemos al- tecnicamente. Um exemplo: todos
clastos à superfície radicular exter- guma substância com propriedade sabem e utilizam tecnologias com
na. Esta união se faz a partir de uma semelhante aos bifosfanatos admi- base na informática, fibra óptica e
proteína de membrana dos clastos nistrada para nossas crianças e in- laser, mas não praticam regras bá-
denominada integrina αVβ3. Esta in- corporada nos tecidos dentários mi- sicas de civilidade e educação como
tegrina une-se a osteoproteína e o neralizados, como se faz com o pontualidade, cortesia, seriedade,
clasto forma uma zona de selamento flúor. Na fase adulta, os processos autocrítica, capacidade de análise
circundando o espaço entre a sua de reabsorção seriam bem meno- crítica, capacidade de escolha, de
borda ativa e a superfície minerali- res e clinicamente insignificantes. decisão e de convívio social. Mui-
zada, parecendo uma verdadeira Os clastos iniciariam a reabsorção tos dos nossos jovens, senão a
ventosa aderida ao dente. A quebra radicular e cessariam, pois boa par- maioria, acredita que o mundo exis-
desta união entre a proteína do osso te entraria em apoptose pela libe- te para servi-los ou para fazê-los
e a integrina do clasto impediria a ração desta substância na lacuna felizes. Não há uma prática gene-
sua atividade reabsortiva e o de Howship recém instalada. ralizada de solidariedade, fraterni-
processo não se iniciaria ou cessaria De concreto e imediatamente apli- dade e noção de nação. Na reali-
com a colocação deste produto no cável à clínica, os avanços ainda es- dade deveria ser ensinado a eles
interior do canal. tão por vir, pois se utiliza ainda com que o mundo existe para ser
O uso deste produto propiciaria sucesso quando oportunamente uti- construído e melhorado e que isto
um tempo para a reconstrução teci- lizado, o bom e velho hidróxido de depende da ação de cada um de
dual do ligamento periodontal, da cálcio para a maioria dos casos, es- nós. Deveria-se ensinar aos jovens
camada cementoblástica e dos res- pecialmente nas reabsorções infla- que praticando a Odontologia com
tos de Malassez. Após um certo pe- matórias associadas a traumatismos, princípios éticos estaremos contri-
ríodo de tempo e passado o efeito reimplantes, transplantes e lesões buindo para um mundo melhor.
da droga, o dente estaria em condi- periapicais crônicas. Tudo isto deveria ser ensinado no
ções de normalidade e a reabsorção colégio, preparando-o para a uni-
dentária não ocorreria, ou teria ces- 15) Como você vê o estudo da versidade.
sado e reparado a superfície radicu- graduação em Odontologia no Quanto à graduação em Odon-
lar. Este tempo de ação da droga Brasil? Deve ser modificado, re- tologia por si mesma, acredito que
também permitiria a ação antibac- duzido, ampliado...? Roberto possa ser atualizada. Nos dias de
teriana dos mecanismos normais de Esberard. hoje a informática permeia todas as
defesa e dos antibióticos. As bacté- A Odontologia Brasileira represen- áreas: as clínicas deveriam ser me-
rias presentes no processo de reab- ta a única área do conhecimento ava- lhores equipadas, os laboratórios di-
sorção podem manter indefinida- liada no provão com nota superior a recionados para experiências aplica-
mente o processo, pela inflamação média mínima. Isto permite conside- das, os serviços de informação e do-
que provocam. rar que temos escolas cujo ensino da cumentação, também conhecidos
A segunda estratégia está graduação tem nível elevado; são como bibliotecas, dinamizados para
centrada na forma de atuação dos várias escolas, pena que muitas dei- favorecer um acesso rápido ao co-
bifosfanatos nos casos de osteopo- xem a desejar. nhecimento.
rose e doenças ósseas esclerosan- Outro aspecto a ser considera- Nos cursos de odontologia ain-

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da se pratica algo parecido com os período de feriados prolongados mo tempo estabelecendo uma re-
colégios: aulas magistrais, avalia- sendo eliminados. Não vejo esta lação custo/benefício/investimen-
ções restritas a perguntas e respos- realidade estabelecida em nosso to/lucro maior por equipamento
tas, bem como ao uso de sistemas meio. instalado na escola privada.
de notas sem critérios prévios e de- A tecnologia atual de ensino in- Não freqüentemente também
finidos. Raras escolas possuem e clui: cita-se a imaturidade do aluno ao
praticam um projeto político peda- - aulas em CD-ROM, sair da faculdade após o quarto ano
gógico coerente com nossa realida- - programas de cálculos e es- como justificativa para prolongar o
de ou com os tempos atuais de tudos com simulações clínicas, curso. Caso isto ocorra, este aluno
avanço tecnológico. Nossas univer- - acesso mais rápido à infor- deve ter entrado imaturo na univer-
sidades, incluindo dirigentes e pro- mação, sidade ou ainda este aluno não foi
fessores, não acompanharam o pro- - programas de imagens para sensível ou não submetido a um pro-
gresso dos últimos 20 anos e esta- diagnóstico e prognóstico, cesso de amadurecimento intelectual
mos praticando a mesma universi- - maior disponibilidade de ma- na própria universidade: algo deve
dade da década de 70 e 80. Exem- teriais pré-pontos para o uso no pa- ter falhado no processo e este deve
plos: ainda se anota aulas registra- ciente, ser repensado e não alongado, pois
das com canetas, em vez de grava- - instrumentais mais apropri- isto apenas adiará o problema em
das ou digitadas em “notebook”; nas ados em função do avanço de ligas e um ano.
provas ainda se fecham os alunos de design,
em salas de aula como verdadeiros - equipamentos mais ágeis na 17) Como você vê a prolifera-
“cárceres privados” para tirar o realização de testes, e ção dos cursos de pós-gradua-
acesso às informações como livros, - desenho ergonômico de nos- ção no Brasil, especialmente os
periódicos e banco de dados; ainda sos equipamentos e consultórios clí- chamados mestrados profissio-
se fornecem as jurássicas apostilas nicos, nalizantes e os inter-institucio-
em vez de CD-ROM, etc. - pacientes mais conscientiza- nais? Conselho Editorial Revista
As modificações na Odontologia dos e colaboradores quanto à preven- Dental Press.
devem ser de abordagens do co- ção e cuidados. O mestrado e o doutorado devem
nhecimento e do conteúdo, atuali- Com todos estes recursos anterior- ser valorizados como formadores de
zando métodos e critérios junto a mente não disponíveis, os 4 anos de professores e pesquisadores. Pena que
uma mudança de mentalidade de duração da graduação em Odontolo- o mercado e a necessidade de mar-
todos. Para tudo isto se requer um gia estão bem dimensionados. A re- keting profissional não entendem
espírito de grupo, discutindo-se com tirada de alguns conteúdos, foi com- assim e induzam nos profissionais
todos os participantes do processo pensada pelo acréscimo de outros, liberais uma ansiedade em realizar
quanto cada um pode dar, melho- mas houve a otimização do tempo por estes cursos.
rar e empenhar-se; organizando o estes recursos de ensino e treinamen- O mestrado e o doutorado re-
papel de cada um com hierarquiza- to: estes aspectos levam-nos a esta querem tempo integral em sua de-
ção, no tempo e nas prioridades. conclusão. dicação, pois implicam na forma-
Toda esta mobilização chama-se Uma preocupação que tenho: ção filosófica, nos caminhos do co-
projeto político pedagógico dinâmi- não devemos ampliar o curso de nhecimento humano, nas técnicas
co e aplicado. Odontologia no ímpeto de corrigir- de pesquisa, no estilo de atuar, es-
mos falhas na formação dos alu- crever, nas técnicas de ensinar e
16) O curso de Odontologia nos herdadas do ensino médio, principalmente na geração de um
deve ser ampliado de 4 para 5 mas sim nos reunir como cidadãos, novo conhecimento que vai grada-
anos? Em caso positivo, por que? mobilizar e exigir um nível melhor tivamente mudando a realidade do
E o que deveria ser oferecido para nossos colégios, bem como país. O mestrando e o doutorando
neste ano suplementar? Roberto escolher conscientemente nossos devem conviver com seus profes-
Esberard. dirigentes municipais, estaduais e sores e orientadores, absorvendo
A ampliação do tempo tradicio- federais. toda uma filosofia de ver o mundo,
nal de duração de um curso pres- Alguns aspectos são menciona- ensinar o outro e gerar o novo co-
supõe que as aulas e atividades es- dos para justificar o aumento do nhecimento pelas pesquisas. Se
tão iniciando-se antes do horário período de 4 para 5 anos, entre assim não for, não é pós-gradua-
normal e terminando após o perío- os quais pode-se citar um tempo ção no sentido exato de sua cria-
do estabelecido. E ainda, que o tem- maior do aluno na universidade, ção e instalação.
po de férias está se reduzindo e o onerando-o ainda mais e ao mes- O ápice da carreira de um profis-

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sional clínico liberal corresponde à dentário induzido e das reabsorções quando se iniciam nele percebem de
especialização. Após esta capacitação dentárias. Ultimamente, também há imediato o ganho real de qualidade
e este título, depois de transcorrido uma verdadeira descoberta dos prin- na sua prática diária da Ortodon-
um certo período de tempo, deve-se cípios biológicos na Ortopedia dos tia. Esta vivência é muito gratifican-
realizar cursos de excelência, educa- Maxilares. te ao término dos cursos ministra-
ção continuada, workshops, seminá- A Biopatologia permite ao clínico dos para Ortodontistas em que te-
rios e simpósios para atualizar-se compreender as variações encontra- nho oportunidade de abordar o as-
constantemente. Ser especialista sig- das no dia a dia e dá segurança para sunto.
nifica estar apto a resolver quase a o tratamento: de pacientes adultos, Tão gratificante quanto ver a
totalidade das situações clínicas e isto de pacientes submetidos a medicação descoberta por parte dos alunos,
não é pouco, requer muito trabalho e por outros problemas de saúde, de também é perceber a valorização
estudo. Submeter este profissional a pacientes com alterações sistêmicas, dada pelos professores destes res-
um mestrado ou doutorado pode ser de pacientes com outros problemas pectivos cursos que passam a
considerado um desvio de função. odontológicos como doença periodon- permear esta visão biológica no dia
Para garantir uma imagem ou tal, traumatizados, etc. Um conteú- a dia das clínicas em que seus alu-
maior rendimento, criou-se mestra- do programático em tópicos nem nos ganham experiência na Orto-
dos e doutorados nos quais o pro- sempre reflete o todo do assunto, mas dontia. Deve ser por isso que mui-
fissional freqüenta, com atividades no contexto de um curso de especia- tas pessoas dividem os cursos de
acadêmicas efetivas, apenas 2 a 5 lização, com um carga de 16 horas especialização e pós-graduação em
dias por mês, que o compatibiliza teóricas, acredito que os temas a se- Ortodontia no Brasil em dois gru-
com as suas atividades profissionais rem desenvolvidos seriam: pos: os que oferecem conhecimen-
liberais. Apesar das aparências, não - Introdução à biologia celular; to biopatológico aos seus alunos
parece justo com estes colegas pro- - Princípios da biopatologia embasando-os na sua prática e
fissionais liberais, pois estão adqui- óssea e do reparo ósseo; evolução futura e os que apenas
rindo algo não correspondente ao - Aspectos biopatológicos or- adestram tecnicamente seus alu-
nome ou título que receberão: no topédicos aplicados aos maxilares; nos, sem preocupar-se em fazê-los
meio acadêmico todos sabem quais - Modificações celulares e te- entender porque as coisas aconte-
são os verdadeiros cursos de pós- ciduais durante a movimentação den- cem e como acontecem nos tecidos,
graduação e os “mestrados-like” e tária induzida; quando os maxilares e os dentes
os “doutorados-like”. - Classificação, nomenclatura, são modificados pela prática orto-
Por isso quando solicitado a opi- mecanismos e causas das reabsor- dôntica.
nar, recomendo: se for um clínico ções dentárias;
o profissional deve escolher e fazer - Aspectos diagnósticos, pre- 19) Qual a sua maior contribui-
um excelente curso de especializa- ventivos e terapêuticos das reabsor- ção para a Odontologia Nacio-
ção na área em que deseja; se de- ções dentárias; nal? Pedro Felício Estrada Bernabé
sejares ser professor e pesquisador - Miscelânea: dentes com ri- Ao longo de 24 anos de carreira
selecione e realize um verdadeiro zogênese incompleta, erupção universitária, minha maior contribui-
curso de mestrado e doutorado, não dentária e os caninos não irrompidos, ção foi fazer o clínico brasileiro acre-
simulacros. biopatologia dos reimplantes e trans- ditar ser possível dominar a biopato-
plantes, etc. logia e, a partir dela, ganhar sua qua-
18) Alguns anos atrás, poucos Ao analisarmos os tópicos men- lificação profissional com aplicabili-
profissionais se preocupavam cionados, percebe-se que a Biopa- dade prática direta. Isto resultou do
com a parte biológica aplicada tologia insere o Ortodontista no meu sonho de “ser professor” para
à Ortodontia. Nos dias atuais, na contexto das novas descobertas da poder estimular as pessoas a cresce-
sua visão, como está a biopato- Medicina e da Odontologia; permi- rem e para ajudarem as demais; isto
logia no ensino da Ortodontia no tindo que ele compreenda a evolu- é fascinante!
Brasil? Qual seria o conteúdo ção da Ortodontia enquanto parte
programático abordado num da ciência. A biologia oferece ao Or-
curso sobre Biopatologia aplica- todontista a possibilidade de enten-
da à Ortodontia? Conselho Edito- der as perspectivas no diagnósti-
rial Revista Dental Press. co, prognóstico e tratamento das
A Ortodontia Brasileira tem valo- más oclusões e das reabsorções
rizado muito a Biopatologia aplicada dentárias. Mesmo aqueles que nun-
para a compreensão do movimento ca tiveram este conhecimento,

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Guilherme Janson Leopoldino Omar Gabriel da
Capelozza Filho Silva Filho
- Professor Associado da
Disciplina de Ortodontia da - Professor Doutor da Facul- - Coordenador do Curso de
Faculdade de Odontologia dade de Odontologia de Atualização em Ortodontia
de Bauru – Universidade de Bauru da Universidade de Preventiva e Interceptiva,
São Paulo. São Paulo. promovido pela PROFIS
- Pós-Doutorado na Univer- - Responsável pelo Setor de (Sociedade de Promoção
sidade de Toronto, Canadá. Ortodontia do Hospital de Reabilitação de Social do Fissurado Lábio-Palatal).
- Coordenador do Curso de Especialização Anomalias Craniofaciais da Universidade - Professor do Curso de Especialização em
em Ortodontia da FUNBEO. de São Paulo, em Bauru-SP. Ortodontia promovido pela PROFIS (Soci-
- Professor dos Cursos de Especialização edade de Promoção Social do Fissurado
em Ortodontia da FOB, FUNBEO e APCD. Lábio-Palatal).
- Professor dos Cursos de Extensão da - Ortodontista do Hospital de Pesquisa e
Sociedade Paulista de Ortodontia. Reabilitação de Lesões Lábio-Palatais.
- Membro do Royal College of Dentists of Universidade de São Paulo, em Bauru.
Canada – M.R.C.D.C.

Pedro Felício Estra- Roberto Miranda


da Bernabé Esberard

- Especialista em - Professor Titular em


Endodontia. Especialista Endodontia, da Faculdade
em Radiologia. de Odontologia de Arara-
- Doutorado em Diagnóstico quara-UNESP.
Oral pela Universidade de - Vice-Diretor da Faculdade
São Paulo, USP, São Paulo. de Odontologia de Araraquara-UNESP.
- Livre Docente na Universidade Estadual - Coordenador do Curso de Especialização
Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, em Endodontia da Faculdade de Odonto-
São Paulo. logia de Araraquara – UNESP.
- Diretor e Administrador da Faculdade de - Professor do Curso de Pós-Graduação em
Odontologia de Araçatuba, Departamento Endodontia da FOA-UNESP.
de Clínica Infantil - UNESP/Araçatuba. - Professor Visitante da University of Texas -
Health Science Center at San Antonio, USA
nos anos de 1994 e 1996.

REFERÊNCIAS
1 - CONSOLARO, A.; MARTINS-ORTIZ, 4 - FURQUIM, L. Z. Perfil endocrino- epitélio reduzido do órgão do es-
M. F.; VELLOSO, T. R. G. Dentes com lógico de pacientes ortodônticos malte. Estudo pela técnica TUNEL
rizogênese incompleta e movimento com e sem reabsorções dentárias: modificada em camundongos.
ortodôntico: bases biológicas. R Den- correlação com a morfologia 1997. 133f. Dissertação (Mestra-
tal Press Ortodon Ortop Facial, radicular e da crista óssea do) – Faculdade de Odontologia de
Maringá, v. 6, n. 2, p. 25-30, 2001. alveolar. 2002. 122f. Tese (Douto- Bauru, Universidade de São Paulo,
2 - CUOGHI, Osmar A. Avaliação dos rado) – Faculdade de Odontologia Bauru, 1997.
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ção dentária induzida: estudo mi- Paulo, Bauru, 2002. tária fisiológica: estudo dos mecanis-
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Cebus apella. 1996. Tese (Doutorado) potencial imunogênico da desencadeadoras (Bmp-4 e Gelatinase
- Faculdade de Odontologia de Bauru, dentina: - contribuição para a B) em dentes decíduos de gatos.
Universidade de São Paulo, Bauru, etiopatogenia da reabsorção den- 1999. 104f. Tese (Doutorado) – Fa-
1996. tária. 2001. 103f. Tese (Doutora- culdade de Odontologia de Bauru,
3 - FRANCISCHONE, T. R. C. G. Reabsor- do) - Faculdade de Odontologia de Universidade de São Paulo, Bauru,
ção dentária: determinação de sua Bauru, Universidade de São Paulo, 1999.
freqüência em pacientes com Bauru, 2001. 8 - MARTINS-ORTIZ, M. F. Determina-
endocrinopatias. 2002. Tese (Douto- 6 - LOURENÇO, S. Q. C. Apoptose na ção de um índice de reabsorção
rado) - Faculdade de Odontologia de odontogênese: durante a fragmen- dentária durante tratamento orto-
Bauru, Universidade de São Paulo, tação da lâmina dentária e da bai- dôntico. Bauru, 2002. Projeto de
Bauru, 2002. nha epitelial de Hertwig e no Doutorado.

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