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Terapia familiar

Módulo II
Curso Intensivo de Terapia Familiar
(E-Learning)
Módulo II: Psicoterapia e Psicopatologia familiar

2.1 O que é o modelo sistémico


2.2 Teoria geral da comunicação
2.3 Teoria geral dos sistemas
2.4 Paradigmas do modelo sistémico
2.5 Terapia Familiar – Fundamentos e modelos
2.6 Psicoterapia familiar
2.7 A psicopatologia familiar - novo olhar sobre o sintoma e a sua função
2.8 O sintoma e a sua função e a função do sintoma
2.9 Modelos de terapia familiar
2.9.1 Modelo transgeracional de Murray Bowen
2.9.2 Modelo estrutural de Minuchin
2.9.3 Modelo estratégico de Palo Alto
2.9.4 Outros
Cena Familiar (A Psicopatologia Da Vida Cotidiana), 2005, 92 X 130 Cm
O que é o modelo sistémico?

A teoria sistémica é consensualmente a mãe da terapia familiar, e a


avó seria a teoria geral dos sistemas.
• Bertrand Russel (1910) abriu caminho para a não somatividade
• Um sistema, (um grupo, por ex.) não pode ser entendido como a mera
soma das partes (indivíduos, por ex.)

Este movimento buscou trazer à luz a necessidade de se tornar mais


explícito o que está implícito, além de declarar que não se pode ter
conhecimento do "todo" por meio de suas partes, uma vez que o todo é
maior que a soma de suas partes. Ou seja: "A+B" não é simplesmente
"A+B", mas sim um terceiro elemento denominado "C", que agrega
características próprias.
Exercício
De que cor são os pontos entre os quadrados?
As linhas são paralelas? ( Sim ou Não)
• Provavelmente viu círculos a moverem-se, pontos a mudar de cor
consoante o seu olhar e linhas curvas que na realidade são
absolutamente paralelas.

• O que faz com que os pontos parecessem pretos e as linhas curvas?


Resposta: A totalidade, o que está ao redor!
• Da mesma forma, na observação terapêutica, tal como somos
iludidos oticamente, também somos muitas vezes iludidos pelo
sistema familiar. Ou seja, ao olharmos um sintoma no indivíduo, não
percebemos que muitas vezes ele tem um sentido na família. Por essa
razão é que certo tipo de familiar produz determinado tipo de
sintomas.
• As Famílias aglutinadas produzem mais sintomas psicossomáticos.
• Por exemplo, pensa que é fácil fazer dieta numa família de obesos
onde se valorize muito a comida?
• Se alguém tira menos comida para o prato, o que pensa que podem
dizer os outros?
• O inverso, numa família que preze a perfeição, o que os outros dizem?
• A teoria geral dos sistemas foi elaborada e sistematizada por Von
Bertalanffy na década de 20.

• A teoria geral dos sistemas é considerada, depois da psicanálise e do


behaviorismo, como a terceira grande contribuição para a busca de uma
teoria unificada do comportamento humano.
O modelo sistémico aplicado à saúde e à intervenção na doença
mental a partir dos anos 50, tem 2 grandes pilares, sendo
igualmente sujeito as leis da cibernética (Becvar, & Becvar, 2008; Allyn
& Barker, 2007; Nichols, & Schwartz, 2006).

Teoria Geral dos Teoria Geral da


Sistemas Comunicação
A teoria geral de sistemas (T.G.S.) surgiu com os trabalhos do
biólogo austríaco Ludwig von Bertalanffy, publicados entre 1950
e 1968.

A T.G.S. não busca solucionar problemas ou tentar soluções


práticas, mas sim encontrar novas formas de leitura.

Com a TGS passamos de uma causalidade linear a uma


causalidade circular (Vasconcelos, 2008).
Antes da Teoria Geral dos Sistemas
Segundo Kuhn (1962)

Causalidade Linear
Depois da Teoria Geral dos Sistemas

Causalidade

Circular Circular
• Nesta linha, tente desde já delinear uma relação de causalidade circular,
para uma mãe deprimida e um adolescente com grande absentismo
escolar.
• Bertalanffy ( 1901 - 1972) biólogo austríaco, foi o criador da teoria geral dos sistemas.
• O organismo é um todo maior que a soma das suas partes.
• Tudo é sistema e o sistema é um todo dentro de outro todo que se interrelaciona com o exterior.
• Esta teoria é hoje aceite e aplicada a todas as áreas do saber.
Exercício

• As obras no metro podem provocar problemas numa família? (Tente


explicar porquê)
• A Teoria Geral dos Sistemas tem-se expandido a todas as áreas do saber,
acabando por clarificar a interdependência que existe nos sistemas.
• Cada sistema é parte de um sistema maior e acaba por conter nele outros.
• Nesta visão, concebemos um organismo vivo como um todo que interage com o mundo externo de forma
complexa. Por sua vez o todo está dividido em partes bem definidas que interagem entre si, também de
forma complexa.
• Uma família enquanto sistema e organismo vivo, tal como uma célula, nasce, cresce e morre, e pode
igualmente dar origem a outras células que se interrelacionam entre si de forma a constituir um tecido, um
órgão, um organismo, uma família, uma comunidade, um país.
Dê exemplos de enfoques sistémicos em diferentes áreas: por exemplo, física,
cibernética, engenharia mecânica.
Sistemas (Bertalanffy, 2008; Sexton, et al., 2003, Dallos, & Draper, 2010, Kit S., 2004, Flaskas, 2002).

Os sistemas possuem enfoques em comum (Sexton, et al., 2003, Dallos, & Draper, 2010).

Partes em interação: o todo pode ser dividido em partes que se encontram em interação

O todo é mais que a soma das partes

O sistema apresenta propriedades, que não estão presentes nas partes isoladamente

Para entender um sistema e suas partes, não devemos estudar as partes isoladamente mas
sim as suas relações

Qualquer sistema possui uma ordem hierárquica


Propriedades do sistema familiar

Hierarquia sistémica
Totalidade
Equifinalidade
Retroação
Auto-organização
Principio hologramático.
Retroalimentação (feedback)-enfoque circular, reciprocidade dos fatores .
Retroação:

O comportamento de um membro da família não é suficiente para


explicar o do outro, e vice-versa.

Para compreender o que acontece/como acontece algo a um dos


elementos da família, é necessário ter uma visão completa das interações.
Totalidade:

A família é um sistema aberto


Na se reduz à soma dos seus elementos, nem dos seus atributos. A família é mais que a soma da vida dos indivíduos
que a compõem.
Não existem relações unilaterais – o comportamento de um dos seus membros afecta a vida de todos.

A família é um todo – contudo, não devemos descurar a individualidade.


Totalidade e não somatividade

O todo é mais e maior do que a soma das partes.


Aplique este raciocínio ao Noite estrelada do Van Gogh
Hierarquia sistémica:
Composto por elementos com atributos e relações próprios
Contem subsistemas e é contido por outros sistemas (supra-sistemas) ligados e hierarquicamente organizados.

Tem limites e fronteiras mais ou menos permeáveis que o distinguem de outros sistemas

Os indivíduos têm estatutos e papéis.

Existem normas e valores de funcionamento.

Cada sistema ou subsistema insere-se num determinado contexto.


Equifinalidade:

Um mesmo objectivo pode ser atingido através de condições iniciais ou intermédias


diferentes.

O mesmo problema em diferentes famílias poderá ter soluções, evoluções


diferentes.

As interacções familiares, e a sua evolução ao longo do ciclo vital, são


fundamentais, para o processo que se organiza em trono de uma finalidade – crise
e resistência.
Princípio da equifinalidade – em qualquer sistema fechado, o estado final é
inequivocamente determinado pelas condições iniciais. Nos sistemas abertos
o mesmo resultado pode ser conseguido através de vários meios. (ex na
psicologia- trauma psicológico)

?
A culpa é
A culpa é da dos
sociedade? professores?
A Culpa é dos
pais?

A Culpa e da
mãe?

Uma criança tem comportamentos


desajustados
A família é um
Executa
sistema aberto: É capaz de
movimentos Modifica a sua
está em autonomamente
centrífugos e estrutura
Auto- permanentes modificar a suas
centrípetos de mantendo o seu
organização: trocas com o estrutura ou
acordo com as modo de
exterior – permanecer
suas funcionamento.
influencia e é idêntico.
características.
influenciado.
Principio Hologramático:
• Cada unidade sistémica é simultaneamente parte e todo.
• O todo é mais e menos que as partes.
• Uma parte, pode simultaneamente ser o todo – Psicoterapia individual: pode afetar toda
a família.
• O todo não é o mesmo sem todas as partes, e as partes não são o mesmo sem o todo.
Teoria geral da comunicação
Teoria da comunicação humana

Bateson abriu caminho a esta área, elaborando o conceito de “Duplo Vínculo”.

Este conceito partiu da observação de esquizofrénicos.

Bateson sugere que a esquizofrenia é resultado de uma interação familiar, nas quais as
sequências comunicacionais levam a um impasse, a ambivalência e confusão mental.

Ex: “é por amor que te castigo”.


• Gregory Bateson (1904-1980) foi um biólogo e antropólogo por
formação. Contudo, como grande pensador sistémico
e epistemólogo da comunicação, incorreu também
pela psiquiatria, psicologia, sociologia, ecologia e cibernética.

Sugestão de leitura
Axiomas da teoria da comunicação
(Watzlawick, P., Helmeck, J., & Jackson, Don., 1967)

1º Axioma : não se pode não comunicar.

2º Axioma : a comunicação tem um conteúdo e uma relação, sendo esta uma metacomunicação.

3º Axioma : a natureza de uma relação depende da pontuação das sequências comunicacionais

4º Axioma : os seres humanos comunicam digital e analogicamente.

5º Axioma : as permutas comunicacionais são simétricas ou complementares, conforme se baseiam na


igualdade ou na diferença.
1º Axioma:
Não se pode não comunicar

Comportamento = mensagem; /Mensagem – Interacção ;

Mensagem – Todo complexo polifonico. / Não existe não comportamento. Logo que duas pessoas estão em relação, estão em comunicação.

Nas famílias não pode existir a situação de “Não há comunicação” /Ao não querer comunicar comunica-se.
2º Axioma:

Toda a comunicação tem dois aspetos: o conteúdo e a relação.


Sendo que o segundo engloba o primeiro – metacomunicação.
Mãe : O teu filho acabou de enviar um email.

Pai : Pois, é só para isso que ele nos contacta.

O que se retira deste discurso?


3º Axioma :

A natureza de uma relação, depende da pontuação das sequências de comunicação entre os parceiros.

Quem condiciona quem? E o cientista que condiciona o rato? Sempre que toca na alavanca recebe queijo
ou o rato que condiciona o cientista? Sempre que quer queijo e so carregar na alavanca?
4- Axioma

Os seres humanos usam dois tipos de comunicação:

Digital e analógica

Digital: possui sintaxe lógica, cómoda e complexa, faltando-lhe semântica


apropriada a relação.
Analógica: possui a semântica, mas não a sintaxe apropriada.
(comunicação não verbal)
Decorrente deste axioma porque é que acha que
existem tantos emojis?
• 5º Axioma:
• Interação simétrica.
• Os parceiros tendem a refletir o comportamento um no outro, há
um comportamento “em espelho” – minimização da diferença.
• Interação complementar: O comportamento de um parceiro
completa o do outro. As respetivas definições de relação encaixam-
se – solidariedade – maximização das diferenças.
Qual a diferença entre as imagens? Classifique-as em
termos do axioma anterior antes de passar o diapositivo
seguinte.
Hum… a fazer batota??

Rigidez simétrica
Rigidez complementar

Qualquer troca comunicacional é simétrica ou complementar.


Os axiomas e a terapia familiar
Distorções do 1º axioma
Não deixando de comunicar – rejeitando o compromisso inerente a comunicação

Aceitação passiva (Tentativa de não envolvimento)

Rejeição (Desejo de não continuar)

Formação de um sintoma - comportamento que transmite metaforicamente a mensagem de


que algo impede de continuar

Desqualificação – (incoerência do discurso, mudanças de assunto, interpretações erróneas –


invalidando o discurso do parceiro)
Distorções do segundo axioma:

Confusão ou desacordo entre conteúdo e relação:

Dois níveis distintos:

Informação/conteúdo ( 1 nível)

Relação: (2º nível)

“O que eu transmito não pode ser confundido com o que pretendo dizer”.

Já nem digo mais nada

Ok, fazes bem

Não estudes não Come o que te apetecer


Distorções do 3º axioma.

Discrepância na pontuação da sequência dos acontecimentos

Quando os indivíduos supõe que todos têm a mesma informação,


ou que todos os indivíduos têm as mesmas interpretações.

Frequentemente existem pontuações diferentes do mesmo evento


O que acha que cada
um dirá ao outro?

Sabendo que são


marido e mulher
Distorções do 4º axioma:

Erros de tradução na interpretação da linguagem analógica e digital.

O código analógico, ao contrario do digital, não se aprende formalmente –


Tem uma base afetiva, figurativa e simbólica. Tem a ver com as nossas
experiências, os contextos relacionais, a forma como vemos as relações.
Perguntei se estavas cansada e disseste que não…

( comente)
Distorções do 5º axioma:

Escalada simétrica

Complementaridade rígida – Há uma fixação imutável das posições. Resulta numa relação opressor/oprimido.

Competente/incompetente, vitimador/vitima, sádico/masoquista. Não permite desenvolver uma relação maturativa


para ambos.
Impossibilidade de metacomunicar

Quando não há confiança básica

Quando há uma relação autoritária (que não permite


renegociação das normas)

Quando há temas tabus.


• Comunicação paradoxal
• É responsável pela criação de situações fortemente
perturbadoras da interação.
• Mensagem paradoxal: a sua estrutura comporta uma
contradição: comunica 2 conteúdos incompatíveis ao
mesmo tempo.

Quero o teu bem!


Fala!
Comunicação paradoxal:
Injunção paradoxal:
Ordem contraditória impossível de cumprir: ex. Se espontâneo!
(Double bind)
Perante este axioma legende a figura
A saúde comunicacional baseia-se na
alternância de situações simétricas e • Ideias chave
complementares, de forma que
igualdade e diferença possam coabitar
e potencializarem-se mutuamente.

O todo é mais que a soma das partes

• Uma mudança em qualquer uma das partes afecta as outras


Cada parte só pode ser entendida no • O todo regula-se através de uma série de correntes de feedback
contexto do todo • O sistema está em permanente mudança a fim de manter a
homeostase
Comunicação e Terapia Familiar
Comunicação
• O que significa comunicar?
• Communicare (raiz etimológica) tornar comum, estar em relação, participar.
• Comunicação e comunicar - termos utilizados desde o séculos XIV.
• No século XVI adquire o significado de partilhar, transmitir
• Para Bateson – termo sem fundo “tudo ou nada”
• Conceito polissémico:
• Comunicação mediática
• Comunicação interpessoal
• A partir do século XIX – comboio - telegrafo – telefone =>meios de comunicação.
Teoria matemática de Claude Shannon

• Primeira teoria organizada sobre comunicação


• Operacionalizada com base na ideia de transmissão.
• Comunicação como telegrafo.

1948 Shannon publicou A Mathematical


Theory of Communication.
Sistema de Comunicação
Modelo do telégrafo
• Fonte de Informação: Local onde é transmitida a mensagem.
• Mensagem: Conteúdo a transmitir (conceito, representação).
• Emissor: Instrumento que dá forma aos sinal – codificação adequada da mensagem.
• Canal: Suporte físico que permite a transmissão da mensagem.
• Recetor: descodifica a mensagem, tornando-a utilizável para o destinatário.
Modelo do telégrafo
• Não considerava duas ideias fundamentais:
• Contexto: Fundamental para entendermos a comunicação.
• Relação: Ideia herdada de Bateson – para percebermos determinado
fenómeno, necessitamos de perceber as relações entre os membros que
as compõem
O marido, ao chegar em casa ao final da noite, diz à mulher que já estava deitada:
— Querida, eu quero amá-la.
A mulher, que estava dormir , responde:
— A mala... Ah não sei onde está, não! Use a mochila que está no quarto de visitas.
— Não é isso querida, hoje vou amar-te.
— Por mim, você pode ir até Marte, Júpiter, Saturno , desde que me deixe dormir
em paz...
Insuficiências do modelo matemático

O modelo subjacente – comunicação verbal

Considera a função representativa da linguagem (signos – significados)

Signo - unidade linguística que tem significante e significado

Significado - conteúdo nocional do signo linguístico

Não é um modelo interativo


Para existir comunicação, era apenas necessário que os elementos conhecessem o
código.
Não tem em conta a comunicação analógica (vs digital)
Comunicação Digital e Analógica
• Digital: Verbal (palavra, escrita, telegrafo)
• Analógica:
• Paraverbal - suspiros, timbre, soluços, risos
• Não verbal: mímica, gestos, posturas orientação do corpo.
O Colégio Invisível

• Propõe a transformação do modelo telegráfico num modelo orquestral


global.
• Entende-se que o sujeito não está apenas no inócio e no fim da
comunicação – participa nela.
• Comunicação como orquestra:
• A comunicação é concebida como um sistema de múltiplos canais, na
qual o indivíduo participa constantemente, de forma consciente ou não.
(gestos, olhares, silêncios, ausências)
• Fundado na década de 50 por
profissionais de diversas áreas,
tendo como percursor Gregory
Bateson
(o termo colégio invisível decorre
do fato de conter profissional de
varias localidades, e, como tal, ser
um colégio “invisível”)
• Enquanto membro de determinada cultura, o sujeito faz parte da
comunicação, como o músico faz parte da orquestra. Porém, nesta
orquestra cultural, não há maestro, nem partitura: cada um adequa o
seu desempenho à relação com os outros.
Modelo orquestral

Comunicar - participar,
partilhar
O Colégio Invisível
• Grupos:
• Palo Alto – Gregory Bateson, Don
Jackson, Virginia Sapir, Paul Watzawick.
• Filadélfia: Ray Birdwhstell, Albert
Scheflen, S. Sigman
• Nova Iorque: Edward T. Hall, Erving
Goffman

Sugestão de leitura
Modelo orquestral
Resumindo:
• Sujeito na comunicação – músico na orquestra
• Partitura – conjunto de regras que cada um utiliza nas suas diversas trocas
• Maestro – cada um de nós
• Partitura – regras de comunicação
• Afinação da orquestra - Axiomas
3 Níveis de Estudo
Modelo orquestral
• Sintático - Disciplina da linguística que descreve as regras de combinação de unidades significativas em orações
ou frases.

• Semântico – Significação das palavras e sua evolução, parte da semiótica que estuda relação dos signos com
os objetos que eles representam

• Pragmático – Relações entre s signos e os sujeitos falantes adequa-se ao modelo orquestral


–comunicação e comportamentos.
Abordagem pragmática

• Ênfase na interação
• Comunicação como sistema de feedback
• Efeitos sobre comportamento
• Ênfase no contexto
• Relação que une emissor e recetor – estudada no ambiente em que e
produzida.
• Chegamos a um modelo comunicacional através das redundâncias
• Redundâncias comunicacionais: O que se repete na comunicação.
• Dentro de um contexto comunicacional criam-se normas que se repetem / redundâncias.
• Estas são criadas através de um processo estocástico (tiro - ao – alvo) que originam
esquemas de comportamento habituais.
Resumindo:
• Comunicação = comportamento.

Fica em casa
Psicoterapia Familiar
Contribuições de:
• Estruturalismo: Início sec. XX
• Noção de Estrutura
• Permite uma maior inteligibilidade dos fenómenos observados.
• Manifestações: estruturalismo linguístico/antropológico – Claude Levi
Strauss (Les Structures Elemantaires de la Parente, 1949)
"The basic thesis of gestalt theory
might be formulated thus: there are
contexts in which what is happening
in the whole cannot be deduced from
the characteristics of the separate
pieces, but conversely; what happens
to a part of the whole is, in clearcut
cases, determined by the laws of the
inner structure of its whole." ( Max
Wertheimer, 1924)
• Jean Piaget – Noção de construção de estruturas – processo de
equilibração e autoregulação no desenvolvimento.
• Cibernética:
• Kubernesis – (Ação de governar, manobrar um navio – do grego)
• Wiener – “Cibernética ou controle e comunicação no animal e na maquina”
• Difusão dos conceitos: cibernética e sistema – mistura de linguagens.
• Cibernética: Ciência da encruzilhada – apoia-se nas descobertas de ciências e
técnicas diferentes – diferentes domínios – linguagem/biologia/maquina
• Teoria da Informação:
• Os conceitos da informação e
comunicação ganham força.
• A “informação-estrutura” (código
genético)
Outros contextos propícios para o
desenvolvimento da Teoria Sistémica
• Contexto social: Sobreinvestimento da família nuclear na 1ª metade do sec.
XX
• Novos contextos teóricos e clínicos: Desenvolvem-se novas abordagens dos
fenómenos psicopatológicos:
• Estuda-se a relação mãe–bebé.
No variables have more far-reaching effects on personality
development than a child's experiences within the family.
Starting during his first months in his relation to both parents,
he builds up working models of how attachment figures are
likely to behave towards him in any of a variety of situations,
and on all those models are based all his expectations, and
therefore all his plans, for the rest of his life. Attachment and
Loss (Boowlby, 1973, p.369)
Psicopatologia Familiar

Epistemologicamente, não faz sentido que a sistémica produza sistemas de classificação patológica.

Esta epistemologia aceita mal classificar como patológicos os sistemas onde os sintomas surgem:
não se fala de família patológica mas de família disfuncional.

Existe uma mudança de paradigma, de uma causalidade linear passamos a uma causalidade circular,
(Ausloos, 1981)

A epistemologia sistémica não nos autoriza a definir sistemas explicativos etiológicos para diferentes
quadros psicopatologicos (não se fala em família alcoólica ou esquizofrénica, mas em família com
um PI alcoólico ou esquizofrénico)
Podemos encontrar nestes grupos familiares “leis gerais” ou regularidades” não patognomonicas e
gerais” e que não nos devem permitir esquecer as suas singularidades (Elkaim, 1985)

Nesta perspetiva, o paciente é um sistema de relações e não um indivíduo isolado.

Mas esta perspectiva põe-nos em conflito com o conceito de diagnostico clinico. O sistema e ele próprio a
sua melhor explicação.

Este sistema permite-nos não cair na armadilha das “realidades clinicas”

Deve evitar-se descrever a vertente etiologica das perturbações, fruto das nossas construções teóricas,
devemos premiar os ciclos de interacçao actual que sustentam e mantém o problema (Watzalwick)
Sintoma
• A perspectiva sistémica introduziu uma nova conceptualização assim como novas
estratégias para entender e tratar os problemas humanos, contextualizando-os (
Feixas, 1991)
Os problemas humanos não têm somente um sentido, mas uma função no contexto
mais lato em que aparecem (Becoit et al, 1988)
A função do sintoma
Que função cumpre?

Sintoma como mensagem – informa sobre o funcionamento do indivíduo e do sistema

3 níveis de compreensão:

Semântico – O que e que o sintoma mostra?

Sintáctico – Mostra-o a quem e segundo que regras?

Pragmático – Com que resultado?


Quiz
• A Ana. de seis anos, costuma ter dores de barriga quando o pai vai
para fora em trabalho. Só se queixa em frente à mãe e na presença de
um tio, que por vezes vai lá a casa, a menina torna-se calada e não diz
nada.
Na presença desta informação o que acha que o sintoma pode dizer ? ( pode ) sublinhado que é um assunto que
iremos ver no terceiro modulo.
Sintoma da função

Auloos abandona a pesquisa da função do sintoma

Passa ao sintoma da função (ler o sintoma como sinal de uma perturbação de uma ou mais
funções necessárias a sobrevivência da família).

O sintoma é necessário para cumprir uma missão?

O sintoma é uma comunicação com uma lógica e uma função no contexto em que ocorre.

Resultado de uma incompatibilidade entre as finalidades do indivíduo e as finalidades


familiares momento da sua emergência
Qual a diferença entre os dois sintomas a seguir
aparentemente iguais (dores de cabeça)?
Processo de Designação
• Qual o processo que leva ao aparecimento do sintoma? E o paciente
designado (aquele que aparenta problema que falaremos no terceiro
modulo)
• Processo de Seleção- Amplificação
Processo de Cristalização – patologizaçao.
Processo de Selecção-Ampliação

Antes do sintoma – Existe uma família com dificuldades, tensões, com fontes de stress internos/externos aos quais não consegue
responder.

Um determinado comportamento vai produzir certos resultados. (acaso + determinantes/ estruturas de funcionamento)

Esse mesmo comportamento vai ser: Selecionado, repetido, ampliado, “usado”

Deixem a Inês em
paz, não veêm
que ela vai
vomitar?
• Porque: Condiciona respostas
• Toma e assume determinado sentido para portador e restantes membros
• Sistema de retroações positivas – reforçando o comportamento “escolhido”

Pronto, não vais à


escola hoje
Processo de cristalização:

O comportamento sintomático substituiu uma função, entrando a economia pessoal e


familiar.

Num dado momento, o comportamento selecionado cristaliza-se – passa a fazer parte


da rede sequencial de comportamentos. Faz parte da vida do sujeito e da família.

Constitui a “identificação” do PI.

Nesta fase – as retroações negativas mantêm o sistema – protegem o sintoma com


vista a sua manutenção.
Patologizaçao:

Relaciona-se com o facto de o sujeito se sentir cada vez pior com o seu comportamento – satisfaz as
necessidades do sistema ás custas do seu “sacrifício”

Processo de cristalização – patologizaçao.

Não é qualquer sintoma que aparece em qualquer família – Um sistema só pode colocar problemas que seja
capaz de ultrapassar.
Porque surge então?

Porque a família - o seu sistema se encontrava momentaneamente bloqueado,


cristalizado, resistente a mudança, não co-evoluindo, não ultrapassando a
“crise”

As competências da família poderão deslaçar, o que contribuíram para atar.

Numa perspectiva sistema enfatizam-se as potencialidades auto-curativas do


sistema.... Considera-se que a família naquele momento não consegue utilizar
os seus próprios recursos.(Relvas, 1999)
Diferentes modelos de
Terapia Familiar
ModeloTransgeracional de Murray Bowen
Médico de formação_ neurologia e neurocirurgia
Faz psicanálise e orienta-se para a Psiquiatria e faz investigação em esquizofrenia.
São precisas três gerações para fazer um esquizofrénico
• Teoria Boweniana – Sustenta-se no Modelo Sistémico
• Indivíduo – é compreendido segundo a posição e papel que ocupa no sistema.
• Família : lugar de Criação e sucessão para as gerações humanas
• Nesta teoria: O ser humano é potencial criador de novas famílias
• Indivíduo – Unidade biopsicológica (Emotivo e Intelectual)
Indivíduo estão sujeitos a duas forças opostas:
individualidade e diferenciação

Trabalho de terapeuta é igual ao de um


treinador(coach)
M. Estrutural Estratégico
Modelo estrutural
Salvador Minuchin (nascido em 1921) terapeuta Argentino

Aborda os problemas dentro de uma família, traçando as relações entre os


membros da família, ou entre subsistemas da família (Minuchin, 1974).

Estes subsistemas representam dinâmicas de poder, bem como as fronteiras


entre diferentes subsistemas.

O terapeuta tenta entrosar-se nos relacionamentos disfuncionais e levá-los a


voltar a um padrão mais saudável.
Pai Mãe

Filhos
• Salvador Minuchin trabalha (também) em mapa. A família é um território com
fronteiras e limites. Muitas vezes essa fronteiras e esses limites têm que ser
delineados (Nichols, 2010).
• Após completar sua formação psicanalítica, Minuchin trabalhou como psiquiatra
infantil na Escola Wiltwyck destinada a meninos delinquentes, onde verificou que o
tratamento com as famílias tinha um grande impacto no comportamento dos menores
Na Escola Wiltwyck, Minuchin desenvolveu uma forma de terapia familiar com
os seus colegas de trabalho. Usando o espelho unidirecional (Nichols, 2010).

Este trabalho de supervisão e de meta observação levou-o a que formulasse os


fundamentos teóricos para a terapia estrutural.
• Palo Alto foi um dos momentos mais importantes da sua carreira
• Minuchin escreveu uma vez que Haley fora o seu mestre mais importante,
que o empurrava para novas ideias e desafios testando os seus
limites (Minuchin, 2007).
Limites

Famílias emaranhadas Famílias desmembradas

Pense num exemplo e trace os limites


Caso Clínico
A D. Célia está casada com o Sr. António, sendo que este último está a residir em França.
O filho Tiago, de 16 anos, é quem orienta a casa, quem vai as compras e trata das finanças,
pois a mãe está com uma depressão. (elabore um gráfico com os limites e os subsistemas)
Minuchin afirmou que terapias pós-modernas perderam a
informação que os diálogos da família produzem

Ele sugere que a terapia familiar deve ser usada para


aliviar o stress e dor dentro de uma família
• Estabeleceu em 1981 o Instituto de Estudos da Família, onde formava
terapeutas familiares e estabelecia interface direta com o sistema de
assistência social através de serviços de consulta (Nichols, 2010).
Rebatizado de Centro Minuchin para a família após a sua reforma em 1995, é dedicado
a ensinar os conceitos e técnicas de terapia familiar estrutural

Colabora com organizações que trabalham com as famílias que sofrem de pobreza
racismo e discriminação devido a sexo ou orientação sexual (www.minuchincenter.org)
Quais os momentos de maior crise na família?
• Família funcional – deve haver complementaridade de funções com o casal, operando
com interdependência e deve haver hierarquia de poder, pais e filhos com diferentes
níveis de autoridade e fronteiras bem delineadas (Minuchin, 1982).
• Famílias disfuncionais ?

• Exemplos?
• Parentificação de um dos filhos
• Inversão de papeis
• Fronteiras – são as regras que definem quem participa e como e tem
como função proteger a diferenciação do sistema (Minuchin, 1982).
• Genograma – uma espécie de árvore genealógica, na qual estão
representadas pelo menos as últimas três gerações e as relações entre os
membros da família, bem como datas e transições as quais a família passa
ou passou (Andolfi, 1996).
Hierarquia – proporciona a liderança e a orientação dentro da família
(Minuchin 1982). Indiferenciação – quando a pessoa continua ligada
emocionalmente aos sistemas familiares, principalmente aos pais com
prejuízo na autonomia.

A indiferenciação nas famílias de origem é transferida para a relação


conjugal e parental. Assim, os problemas familiares passados são
transferidos para o futuro (Minuchi 1982 & Bowen 1979).

O que é que as anedotas das sogras terão a ver com isto?


Jay Douglas Haley (19 de julho de 1923 - 13 de fevereiro, 2007) foi uma das figuras fundadoras
da terapia famíliar breve e da terapia familiar em geral e do modelo estratégico da psicoterapia

• Modelo Estratégico Jay Haley,

• Após ter deixado Filadélfia onde trabalhou com Minuchin, estabelece-se em Washington
onde abriu, em 1973, um centro especializado em terapia estratégica. Este modelo coloca
a disfunção ou patologia da família no poder.
• O “poder” (ou a sua ausência) é o problema. Assim, a intervenção deverá: Colocar a
tónica sobre a autonomia versus dependência; - ver quem decide, o quê, acerca de
quem; - papéis: quem desenvolve papéis de maior ou menor normatividade; - ver qual
o tipo de família para se intervir adequada
Terapia Familiar Estratégica

Pertencente a Escola de Palo Alto

A Terapia Familiar é mais “...uma posição epistemológica face a mudança do


que uma concretização de utensílios específicos...”(Benoit e col, 1988)
“A ênfase não é colocada num método a ser aplicado a todos os casos, mas no
desenho de uma estratégia para cada problema específico.” (Madanes, 1991)

Este modelo é considerado mais uma prática do que uma teoria


• É desenvolvida na década de 50, principalmente por Jay Haley, que estabelece
os seus princípios com base nas técnicas usadas por seu professor Milton
Erikson.
• O termo estratégico também é identificado com o trabalho de Weakland,
Watzlawick e Cloe Madanes.
Segundo Madanes (1980), o terapeuta estratégico define objetivos claros que estão
relacionados com o problema apresentado; portanto, não se aplica o mesmo método
para todos os casos arquivados, mas projetar uma estratégia específica para cada
problema.
• A abordagem estratégica enfatiza o analógico. Presume-se que o
problema de uma criança ou um sintoma de adultos são maneiras que
eles têm de se comunicar com os outros.
• Assim, os objetivos da terapia são, acima de tudo, impedir a repetição de
sequências e introdução de maior complexidade e alternativas. Para
atingir estes objetivos várias etapas estão programadas em terapia.
• O que é o problema
• Como surge?
• Muitas vezes, o terapeuta começa com a criação de um novo
problema (Madanes 1980, p.39)
• Para quê?
• O modelo estratégico usa modelos e modos de intervenções do
terapeuta deliberadamente planeados,

• Presente
• Motivação
• Crescimento pessoal (Madanes, 1980).

• Em geral, Madanes (1980), sublinha

Foco em níveis organizacionais, em vez de os níveis de comunicação.


Uma preocupação para inconsistências dentro da família que permitem
e alimentam a desorganização
O sintoma , a sua função e o seu ganho
• Uma preocupação de entender as razões pelas quais um sintoma é eleito.
• Nova abordagem para o uso de paradoxo, que não se baseia no desafio ou resistência da família.
• Novas estratégias para resolver os problemas apresentados por casais.
• A ênfase em técnicas especiais para modificar as metáforas expressas pelo comportamento
sintomático.
• Técnicas para convencer os pais a assumirem as suas responsabilidades para com os seus filhos e
resolver os seus problemas.
Em suma: Metodologia sistémica:

Elevar-se – para ver melhor (posição –meta)


Relacionar-se – Para compreender melhor
Situar – Para agir melhor (colocar em contexto)
Coloca em causa: Objetividade/Realidade/Verdade
Alguns vídeos que podem interessar

https://www.youtube.com/watch?v=VOjqL3p-dSo

Madanes – violência domestica

https://www.youtube.com/watch?v=j5jJ-2-GWjg

Simulação de terapia familiar

https://www.youtube.com/watch?v=jZJnvbzY8LM
Obrigada e até já
Bibliografia

• Sexton, T. L., Weeks, G. R., & Robbins, M. S. (2003). Handbook of family therapy:
The science and practice of working with families and couples. New York:
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DC: American Psychiatric Publishing IncSilverman, M. & Silverman, M. Psychiatry
Inside the Family Circle. Saturday evening Post, 46-51. 28 July 1962.
• Guttman, H.A. (1991). Systems Theory, Cybernetics, and Epistemology. In A. S.
Gurman & D. P. Kniskern (Eds.)
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Development, Practice, and Trends. Brunner-Routledge. New York and Hove
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Brunner-Routledge Taylor & Francis Group. Hove And New York
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Editora Vozes (Reedição).
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