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UNIVERSIDADE POTIGUAR - UnP

Letícia Maia Pinheiro Moura

O RACISMO POR TRÁS DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA:


UMA ANÁLISE HISTÓRICO-CULTURAL

Mossoró
2020
Letícia Maia Pinheiro Moura

O RACISMO POR TRÁS DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA:


UMA ANÁLISE HISTÓRICO-CULTURAL

Projeto de pesquisa apresentado a


Universidade potiguar (UNP), como parte
dos requisitos para a aprovação na
disciplina de projeto integradora em
direito.
 
ORIENTADOR (A): Kassia Kallianny
Gomes da Silva Morais 

Mossoró
2020
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................04

1.1. TEMA.....................................................................................................................,.05

1.2. PROBLEMATIZAÇÃO...........................................................................................05

2. JUSTIFICATIVA......................................................................................................05

3. HIPÓTESES...............................................................................................................06

4. OBJETIVOS................................................................................................................07

4.1. GERAL.....................................................................................................................07

4.2. ESPECÍFICOS........................................................................................................07

5. REFERENCIAL TEÓRICO....................................................................................08

6. METODOLOGIA DA PESQUISA..........................................................................15

7. CRONOGRAMA.......................................................................................................15

8. PROPOSTA DE SUMÁRIO.....................................................................................16

REFERÊNCIAS.............................................................................................................17
1. INTRODUÇÃO

A trajetória das mulheres pretas no Brasil é marcada pelos mais diversos tipos de
abusos e violência. Um estudo sobre a miscigenação brasileira da Universidade de São
Paulo (USP), publicado em 2020, a partir do mapeamento de mais de mil genomas
indica um resultado assimétrico entre homens e mulheres. Uma analise visual do gráfico
leva rapidamente à óbvia e triste conclusão: o abuso sofrido pelas mulheres negras em
nosso país desde a sua colônia. As sombras do que essas mulheres viveram reverberam
em nossa sociedade e podem ser notadas em todos os campos de vida destas, inclusive
no cenário médico, seja no caso de enfermidade ou no momento da gestação, parto e
pós-parto. 

A violência obstétrica, que é entendida atualmente como a conduta médica


desrespeitosa que tira a autonomia da mulher no momento do parto e que pode, muitas
vezes, ser de fato violenta – física, sexual e psicologicamente – é hoje judicializada
como uma combinação de danos à parturiente e ao bebê, desconsiderando, assim, o fato
desta ser uma violação aos direitos sexuais e reprodutivos femininos.

Esse tema ganha um novo aspecto quando analisado a partir da vivência da


mulher preta no Brasil. Mais do que a violação ao direito da mulher, a estatística
apontada no artigo  “A cor da dor: iniquidades raciais na atenção pré-natal e ao parto no
Brasil” publicado pela pesquisadora Maria do Carmo Leal, em 2017, nos entrega o
seguinte dado: as mulheres pretas sofrem mais violência no momento do parto, o
que nos remete à subordinação do corpo destas desde a vinda ao Brasil.

Diante disso, esse trabalho abordará, inicialmente, o tema da violência obstétrica


no Brasil, seu conceito e suas consequências e, posteriormente, a análise desse fato
sobre a vida das mulheres pretas e da trajetória histórico-cultural destas no nosso país. O
tipo de pesquisa é bibliográfico e o levantamento será feito através da leitura de artigos
científicos acerca do tema, bem como de livros relacionados.
1.2. TEMA

O racismo por trás da violência obstétrica: uma análise histórico-cultural

1.3. PROBLEMATIZAÇÃO

A violência sofrida por essas mulheres, além de deixar marcas físicas e


emocionais é, também, um desrespeito ao que prevê a lei brasileira e, mesmo diante de
tais aspectos, o assunto ainda carece de estudos que respondam: por que a
violência obstétrica sofrida pela mulher preta não é vista como o a violação
constitucional e aos direitos humanos que, de fato, é?

2. JUSTIFICATIVA

Analisando relatos e dados acerca do tema de Violência Obstétrica no Brasil, é


notável que essa situação ocorre com maior frequência no grupo de mulheres pretas. Tal
informação nos leva a uma questão ainda maior: a violação dos direitos humanos e da
própria Constituição Federativa do Brasil de 1988, que em seu artigo 5º versa “Todos
são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.”.

Numa sociedade que busca evoluir, alcançar a compreensão sobre problemáticas


ainda pouco trabalhadas torna-se fundamental, social e juridicamente. A análise
presente nesse trabalho tem o objetivo de ajudar no debate sobre um tema atual e que
diz respeito à saúde pública: a violência obstétrica, com foco no racismo por trás dessa
prática.

Portanto, estudar e analisar as informações acerca da presente temática é de


suma importância, jurídica e socialmente, para que a partir de um movimento de
compreensão seja possível a tomada de medidas necessárias para dar a estas mulheres o
que a constituição brasileira já as garante: igualdade, assistência e respeito, bem como
frisar a necessidade de que o sistema de justiça examine os casos relacionados à prática
da violência obstétrica sob uma perspectiva de gênero e antirracista, sem excluir outros
marcadores sociais, como classe social.

3. HIPÓTESE

Construída sobre uma matriz patriarcal e um sistema de relações sexistas, a


sociedade brasileira tende legitimizar uma falsa superioridade masculina diante das
mulheres. Se tratando da mulher preta, essa superioridade remete ao passado
escravagista, onde estas eram vistas como meros objetos para os seus senhores, que
detinham total posse sobre seus corpos. 

A partir da análise teórica e bibliográfica, ainda que superficial, sobre a temática


da violência obstétrica sofrida em maior número – e grau – por mulheres pretas,
podemos supor que esse fato é uma consequência das concepções histórico-
culturais que cercam a história dessas mulheres.

É importante destacar que, apesar de atualmente haver uma maior mobilização,


debate e ativismo na luta pelos direitos das mulheres pretas, no que se refere ao racismo
institucional na medicina este ainda é um tema pouco abordado, principalmente se
tratando da violência que ocorre num momento delicado e muito particular, que é o
momento do parto. 

4. OBJETIVOS

4.1. GERAIS
Analisar o preconceito racial por trás da estatística de que as mulheres pretas
sofrem mais violência obstétrica a partir de um estudo histórico-cultural da trajetória
destas no Brasil.

4.2. ESPECÍFICOS

 Abordar o conceito do que é violência obstétrica

 Investigar historicamente os motivos para esse tipo de violência ocorrer mais


entre as mulheres pretas

 Expor as consequências da violência obstétrica e o que ela representa

 Analisar a violência obstétrica como uma violação a Constituição e aos direitos


das mulheres.

5. REFERENCIAL TEÓRICO

5.1. O PARTO NO BRASIL

O momento do nascimento, por muitos anos, se tratava de um acontecimento


puramente fisiológico e natural que reunia, a princípio, apenas mulheres. Essas
mulheres, popularmente chamadas de parteiras, detinham muito conhecimento empírico
sobre a gestação, o nascimento e o puerpério e, então, acompanhavam mulheres no
decorrer desse processo de dar à luz (BRENES, 1989).

“A entrada dos médicos-parteiros nesta prática inaugurou, não só o


esquadrinhamento do corpo feminino, como a produção de um saber
anatômico e fisiológico da mulher, a partir do olhar masculino.”
(BRENES,1989).

No Brasil a incorporação dessa prática ocorreu em 1808, a princípio na Bahia e


no Rio de Janeiro, ao serem inauguradas, nessas cidades, escolas de medicina e cirurgia.
Com isso, o que antes era um processo natural, acompanhado e apoiado por mulheres,
ganhou contornos patológicos e incorporou ideais machistas que inferiorizam a mulher.

A integração desse “olhar masculino” ao processo do gestar e parir reflete na


medicina – e na vivência de milhares de mulheres – até os dias atuais. O resultado disso
é uma espécie de mecanização e comercialização do parto, gerando assim altíssimos
índices de cirurgias cesarianas, que ocorrem de forma eletiva independente de
complicações.

“Dados divulgados pelo Ministério da Saúde (2015) mostram que a


taxa de operação cesariana chega a 56% na população geral, sendo
que esses números variam entre o atendimento nos sistemas público e
privado de saúde, que apresentam uma ocorrência de
aproximadamente 40% e 85%, respectivamente.”. (Zanardo G et al.,
2017).

O fator preocupante desse dado está no fato de que a recomendação da


Organização Mundial de Saúde (OMS) é de que os partos cesarianos sejam de apenas de
10% a 15%, que devem ocorrer em casos onde haja real indicação médica, nos casos em
que a saúde materna e fetal corra riscos no parto natural ou na prolongação da gestação.

Como forma de mudar essa realidade, em 2002 o Ministério da Saúde lançou o


programa Humanização no Pré-Natal e Nascimento que – sob a perspectiva dos direitos
de cidadania e fundamentais – objetiva melhorar o acesso, a qualidade e a cobertura do
acompanhamento durante a gestação e a assistência ao parto e ao puerpério, bem como
à mãe e ao bebê. (BRASÍLIA, 2002). No entanto, apesar de programas, ações e
cartilhas, ocorre não só uma carência no cumprimento do que foi definido pelo
Ministério da Saúde, como também contornos ainda mais preocupantes, como é o caso
da violência obstétrica.
5.2. VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA

A violência obstétrica, entendida – apesar da falta de consenso – como todo e


qualquer abuso, física ou psicológica, ocorrido no decorrer da gestação, parto e pós-
parto, é vivenciada por mulheres em todo o mundo. A experiência deixa marcas físicas
e/ou emocionais, uma vez que se trata de um momento íntimo e aguardado com muita
expectativa, que é o nascimento de um filho.

As nuances de tal violência muitas vezes passam despercebidas por haver certa
normalização de muitas condutas, bem como por não estar tão definido para a sociedade
o que é violência no parto, uma vez que:

“A violência obstétrica compreende o uso excessivo de medicamentos e


intervenções no parto, assim como a realização de práticas consideradas
desagradáveis e muitas vezes dolorosas, não baseadas em evidências
científicas.” (Zanardo G et al., 2017).

Deste modo, não se trata somente de dolo em agredir a mulher, mas de atitudes –
ou a falta destas – que firam a dignidade, a privacidade e os direitos humanos e
fundamentais garantidos por leis como a Convenção de Belém do Pará, comungada em
1994, a qual versa que:

“(...) afirmando que a violência contra a mulher constitui violação dos direitos
humanos e liberdades fundamentais e limita todas ou parcialmente a observância,
gozo e exercício de tais direitos e liberdades; preocupados por que a violência
contra a mulher constitui ofensa contra a dignidade humana e é manifestação das
relações de poder historicamente desiguais entre mulheres e homens;” (PARÁ,
1994)

O texto da lei deveria, por si só, ser o suficiente para o combate dessa forma de
violência, uma vez que esta interfere diretamente na saúde, liberdade de escolha e nos
direitos sexuais femininos. Entretanto, de acordo com o estudo “Mulheres brasileiras e
gênero nos espaços público e privado”, realizado em 2010 pela Fundação Perseu
Abramo em parceria com o Serviço Social do Comércio (SESC), uma em cada quatro
mulheres é vítima de violência obstétrica no nosso país.

5.3. A PROBLEMÁTICA NO JUDICIÁRIO BRASILEIRO

É sabido que o judiciário brasileiro conta com desafios quanto à aplicação da


legislação e, mais ainda quanto à criação de leis que se tornam necessárias conforme a
sociedade se modifica. Em 2017, no estado de Santa Catarina, foi sancionada uma lei
estadual que define o que é violência obstétrica, suas diversas formas, bem como
garante a criação de uma cartilha objetivando disseminar tais informações. No entanto,
em maio de 2019, houve uma tentativa do Ministério da Saúde – em total discordância
com a Organização Mundial da Saúde – de vetar o uso do termo violência obstétrica.

De acordo com o documento assinado pela  Coordenadora-Geral de Saúde das


Mulheres, Mônica Almeida Neri, a nomenclatura usada “tem conotação inadequada,
não agrega valor e prejudica a busca do cuidado humanizado no continuum gestação-
parto-puerpério”. A decisão citada mostra, mais uma vez, o não reconhecimento de uma
realidade que é palpável para milhares de mulheres no país e a falta de acolhimento do
Estado. Sobre esse episódio, o posicionamento da Ordem Brasileira de Advogados
(OAB) aponta:

“Tal postura dificultará a identificação da violência de gênero ocorrida


durante a assistência do ciclo gravídico-puerperal, impactando
negativamente a saúde pública. Ressalte-se que a violência de gênero
ocorrida contra a mulher em estabelecimento de saúde, público ou
privado, durante a sua assistência, é considerada um agravo de saúde
pública e deve ser objeto de notificação compulsória, conforme
disposto na lei federal nº 10.778/2003.” (OAB, 2019)

A nota de repúdio chama atenção para o retrocesso que esse posicionamento do


órgão público de saúde brasileiro pode causar, uma vez que tornaria ainda mais
complicada a identificação da violência e, consequentemente, a justiça em torno do
ocorrido.

Posteriormente, em junho de 2019, voltando atrás na decisão anteriormente


mencionada, o Ministério da Saúde legitimizou, através de ofício, o uso do termo
violência obstétrica, mesmo não o citando diretamente:

“Nesse sentido, o MS reconhece o direito legítimo das mulheres em


usar o termo que melhor represente suas experiências vivenciadas em
situações de atenção ao parto e nascimento que configurem maus
tratos, desrespeito, abusos e uso de práticas não baseadas em
evidências científicas, assim como demonstrado nos estudos
científicos e produções acadêmicas que versam sobre o tema.”.
(BRASÍLIA, 2019)

Embora seja essa uma boa atualização, o judiciário brasileiro ainda carece de
compreensão e de um olhar clínico e sensível diante dos casos levados à justiça, uma
vez que estes são recebidos e tratados sempre do ponto de vista do dano físico ou moral
à mãe e ao bebê. No entanto, esse tipo de violência é uma violência de gênero que fere
os direitos das mulheres, bem como direitos constitucionais. A Constituição Federativa
do Brasil versa, em seu artigo 5º:

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade (...).”. (BRASIL, 1988)

E o que seria a violência obstétrica senão uma violação a liberdade, segurança,


saúde e até igualdade? Uma vez que está atrelada a questões como a inferiorização da
mulher, o machismo e, em muitos casos, o racismo. É o que aponta o artigo A cor da
dor: iniquidades raciais na atenção pré-natal e ao parto no Brasil, publicado em 2017,
que apresenta também a falta de reconhecimento jurídico sobre esse dado:

“Apesar da centralidade da questão da saúde da mulher e da criança


nas políticas de saúde no Brasil, até o momento foram conduzidas
poucas pesquisas voltadas para a análise das influências da raça/cor no
tocante à experiência de gestação e parto.” (Leal MC et al, 2017)

O trecho aponta para o recorte racial na luta contra a violência obstétrica, o que
dificulta o processo de reparação histórica da sociedade para com a população negra e
melhorias no cuidado com a saúde da mulher, bem como na proteção de seus direitos,
uma vez que tais componentes são inseparáveis.

5.4. A TRAJETÓRIA DA MULHER NEGRA NO BRASIL E SEUS


REFLEXOS

Por toda a história, os direitos femininos foram conquistados com suor e sangue.
A luta das mulheres, que segue até os dias de hoje, garantiu inúmeros direitos, como o
direito ao voto. Nada as foi dado, mas batalhado. Dentro desse contexto, movimentos,
como o movimento sufragista, tinham também cor, e essa cor era branca. Apesar das
relevantes conquistas advindas desse período – que representa a primeira onda do
feminismo – é inegável o recorte de raça e classe social, uma vez que tal movimento se
deu entre mulheres de classe burguesa, ou seja, mulheres que tinham acesso a estudo e
informação.

Apesar de se encontrarem diante de um sistema de opressões sexistas e racistas,


as mulheres pretas manifestaram de diversas formas seu grito de luta e resistência. O
discurso de Sojourne Truth, ex-escrava, ocorrido em 1851 na Convenção das Mulheres
em Ohio, Estados Unidos, representa um importante marco do movimento feminista
negro:

“Aquele homem ali diz que é preciso ajudar as mulheres a subir numa
carruagem, é preciso carregar elas quando atravessam um lamaçal e
elas devem ocupar sempre os melhores lugares. Nunca ninguém me
ajuda a subir numa carruagem, a passar por cima da lama ou me cede
o melhor lugar! E não sou uma mulher? Olhem para mim! Olhem para
meu braço! Eu capinei, eu plantei, juntei palha nos celeiros e homem
nenhum conseguiu me superar! E não sou uma mulher? Eu consegui
trabalhar e comer tanto quanto um homem - quando tinha o que comer
- e também aguentei as chicotadas! E não sou uma mulher? Pari cinco
filhos e a maioria deles foi vendida como escravos. Quando manifestei
minha dor de mãe, ninguém, a não ser Jesus, me ouviu! E não sou uma
mulher?” (RIBEIRO, 2015).

As palavras fortes do discurso de Sojourne refutaram a construção ideológica do


que é “ser mulher”, bem como escancararam o triste fato de que, às mulheres pretas, é
negada a posição de mulher, de ser feminina e digna de direitos sociais fundamentais e
morais.

Com o passar dos anos e com a segunda onda do movimento feminista – que
agora abrangia diversas questões, de diferentes campos – as mulheres iniciaram uma
busca pela construção de sua identidade e essa busca ocorreu de forma diversa entre as
mulheres brancas e as mulheres pretas:

“As características e papéis sociais, culturalmente impostos às


mulheres, a exemplo da limitação ao espaço privado e o mito da
fragilidade feminina, não se encaixam no perfil das mulheres negras,
que desde a tenra infância já estavam submetidas ao trabalho e às
condições penosas no dia a dia, quer seja no espaço público ou espaço
privado” (SALES DE ALMEIDA, 2020)

No Brasil, a realidade das mulheres negras e pobres apresenta suas próprias


particularidades advindas do legado da escravidão e do pós-abolição. Durantes anos,
pretos e pretas sustentaram a economia brasileira, como uma mercadoria lucrativa. As
consequências desse passado reverberam em nossa sociedade, muitas vezes de forma
velada:

As mulheres negras fazem parte de um contingente de mulheres que


não são rainhas de nada, que são retratadas como as anti-musas da
sociedade brasileira, porque o modelo estético de mulher é a mulher
branca. Quando falamos em garantir as mesmas oportunidades para
homens e mulheres no mercado de trabalho, estamos garantindo
emprego para que tipo de mulher? Fazemos parte de um contingente
de mulheres para as quais os anúncios de emprego destinam a seguinte
frase: “Exige-se boa aparência”. (CARNEIRO, 1993, p.11apud
SALES DE ALMEIDA, 2020).

A exclusão da mulher preta do que seria o ideal feminino, bem como o mito de
mulher negra como forte e resistente – não por questões biológicas, mas puramente
históricas e culturais – é a resposta para diversos tipos de abusos e violências, como a
violência obstétrica. Os resultados da pesquisa A cor da dor: iniquidades raciais na
atenção pré-natal e ao parto no Brasil (2017), apontam que:

“As puérperas de cor preta possuíram maior risco de terem um pré-


natal inadequado (OR = 1,62; IC95%: 1,38-1,91), falta de vinculação
à maternidade (OR = 1,23; IC95%: 1,10-1,3 7), ausência de
acompanhante (OR = 1,67; IC95%: 1,42-1,97) e peregrinação para o
parto (OR = 1,33; IC95%: 1,15-1,54). As pretas também receberam
menos orientação durante o pré-natal sobre o início do trabalho de
parto e sobre possíveis complicações na gravidez. Apesar de terem
menor chance para uma cesariana e de intervenções dolorosas no parto
vaginal, como episiotomia e uso de ocitocina, em comparação às
brancas, as mulheres pretas receberam menos anestesia local quando a
episiotomia foi realizada (OR = 1,49; IC95%: 1,06-2,08). A chance de
nascimento pós-termo, em relação ao nascimento termo completo (39-
41 semanas), foi maior nas mulheres pretas que nas brancas.” (Leal
MC et al, 2017)

Esses dados representam as consequências do mito da “resistência à dor” da


mulher negra, bem como a falta de um olhar sensível e empático ao ser realizado o
atendimento dessas mulheres. O resultado é o fortalecimento do racismo institucional na
medicina, a desconexão com as raízes culturais do que seria o momento do parto e, mais
uma vez, a subordinação das mulheres pretas ao patriarcado e ao ideal errôneo de
supremacia branca.

6. METODOLOGIA DA PESQUISA
A metodologia do presente trabalho se deu através da pesquisa bibliográfica de
livros, teses e artigos que tratam sobre o racismo cultural existente na violência
obstétrica para o levantamento e análise do que já foi produzido sobre o assunto. A
pesquisa virtual foi feita a partir do uso das seguintes palavras-chaves: racismo,
violência obstétrica, brasil, na base de dados Scielo através do Google Acadêmico.

Os textos utilizados datam os últimos 20 anos de bibliografia sobre o tema, com


exceção das leis e do artigo resultante de uma pesquisa, considerado relevante pela sua
contribuição.

Então, foi feita uma leitura exploratória para verificação da existência de


informações acerca do tema abordado, de acordo com os objetivos previamente
definidos. Após isso, foi feita uma leitura seletiva para seleção de material que
atendesse à proposta do trabalho e então, a partir disso, foi feita a leitura crítica que
objetivou encontrar respostas para as questões abordadas. Após a interpretação das
respostas encontradas e sua relação com os problemas apontados, foi iniciada a
produção textual.

Dividido por tópicos criados a partir dos objetivos específicos determinados, o


texto aborda a violência obstétrica sobre uma perspectiva de raça, com o objetivo de
compreender e analisar os fatores históricos e culturais que sustentam essa prática.

7. CRONOGRAMA

Período
AGO SET OUT NOV
Atividades
Pesquisa do
tema
Definição do
tema da
pesquisa
Definição dos
objetivos
Revisão de
literatura
Elaboração
textual
Entrega do
trabalho

8. PROPOSTA DE SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO

2. A HISTÓRIA DO PARTO

2.1. O PARTO NO BRASIL

2.2. A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO PARTO NO BRASIL


3. A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA

3.1. AS FACES DESSA VIOLÊNCIA E O QUE ELA REPRESENTA

3.2. O RACISMO POR TRÁS DA PRÁTICA

4. A TRAJETORIA DA MULHER PRETA NO BRASIL

4.1. OS MITOS SOBRE O CORPO DA MULHER PRETA

4.2. O MACHISMO

5. A PROBLEMÁTICA JUDICIÁRIA ACERCA DO TEMA

5.1. PRÍNCIPIOS

5.2. POLÍTICAS PÚBLICAS

5.3. DIREITOS

6. CONCLUSÃO

REFERÊNCIAS

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil:


promulgada em 5 de outubro de 1988. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1990.

BRENES,  Anayansi Correa. História da parturição no Brasil, século XIX. . Cad.


Saúde Pública [online] 1989. Disponível em:
<https://www.scielosp.org/article/csp/1991.v7n2/135-149/pt/.>. Acesso em: 10 de
novembro de 2020

LEAL, Maria do Carmo et al. A cor da dor: iniquidades raciais na atenção pré-natal
e ao parto no Brasil. Cad. Saúde Pública [online].2017. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.1590/0102-311x00078816.> Acesso em: 10 de novembro de 2020

SALES DE ALMEIDA, C. Feminismo negro: luta por reconhecimento da mulher


negra no Brasil. Belo Horizonte: Editora Dialética, 2020.

ZANARDO, Gabriela Lemos de Pinho; URIBE, Magaly Calderón; NADAL, Ana


Hertzog Ramos de, HABIGZANG, Luísa Fernanda. VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA NO
BRASIL: UMA REVISÃO NARRATIVA. Psicol. Soc. [online]. 2017. Disponível
em: <http://dx.doi.org/10.1590/1807-0310/2017v29155043>. Acesso em: 10 de
novembro de 2020

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Humanização no Pré-Natal e


Nascimento. Brasília - DF, 2002. Disponível em:
<https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/parto.pdf.>. Acesso em: 10 de novembro
de 2020.

RIBEIRO, Djamila. A perspectiva do feminismo negro sobre violências históricas


e simbólicas. Disponível em: <http://blogdaboitempo.com.br/2015/08/04/a-perspectiva-
do-feminismo-negro-sobre-violencias-historicas-e-simbolicas/>. Acesso em: 08 de
novembro de 2020.

Lansky S et al. Nascer no Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 2014. Disponível
em: <https://scielosp.org/pdf/csp/2014.v30suppl1/S192-S207/pt>. Acesso em: 12 de
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NAGAHAMA, Elizabeth Eriko Ishida, SANTIAGO, Silvia Maria. A


institucionalização médica do parto no Brasil. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro,
2005. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-
81232005000300021&script=sci_arttext.> Acesso em: 10 de novembro de 2020.

WOLFF, Leila Regina, WALDOW, Vera Regina. Violência consentida: mulheres em


trabalho de parto e parto. Ciênc. saúde coletiva. Rio de Janeiro, 2005. Disponível em:
<https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-
12902008000300014&script=sci_arttext>. Acesso em: 10 de novembro de 2020

BRASIL. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Convenção


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Belém - PA, 1996. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1996/d1973.htm>. Acesso em: 11 de
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SANTA CATARINA, Política Nacional de Atenção Obstétrica e Neonatal. Lei Nº


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http://leis.alesc.sc.gov.br/html/2017/17097_2017_lei.html. Acesso em: 12 de novembro
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SAPS/ MS, de 07 de junho de 2019. Disponível em: https://bit.ly/30QHoXx Acesso em:
12 de novembro de 2020.

Conselho Federal da OAB. OAB repudia despacho do Ministério da Saúde que


elimina o termo violência obstétrica. 2019. Disponível em: https://bit.ly/2H9KazN
Acesso em: 12 de novembro de 2020.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Prevenção e eliminação de abusos,


desrespeito e maus-tratos durante o parto em instituições de saúde. Genebra: WHO,
2014. Disponível em: <https://bit.ly/30YT6za>. Acesso em 08 de novembro de 2020.

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