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TERRITÓRIO
MARANHENSE
PESQUISAS SOBRE HISTÓRIA,
CULTURA E EDUCAÇÃO
INFÂNCIA E
TERRITÓRIO
MARANHENSE
PESQUISAS SOBRE HISTÓRIA,
CULTURA E EDUCAÇÃO
Diálogo Freiriano
Veranópolis - RS
2021
CONSELHO EDITORIAL
EXPEDIENTE
Editor Chefe: Ivanio Dickmann
Financeiro: Maria Aparecida Nilen
Diagramação: Renan Fischer
FICHA CATALOGRÁFICA
ISBN 978-65-87199-73-3
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
Rosyane de Moraes Martins Dutra 9
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APRESENTAÇÃO
“...que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com ba-
lanças nem barômetros etc. Que a importância de uma coisa há que ser medida
pelo encantamento que a coisa produza em nós.”
MANOEL DE BARROS
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No período entre os anos 2018-2021.
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REGISTROS DA INFÂNCIA NO MARANHÃO DO
SÉCULO XIX: POBREZA, SOCIEDADE E
INSTITUCIONALIZAÇÃO
Introdução
No Brasil imperial, o projeto de adequação da sociedade ao modelo eu-
ropeu resultou em problemas sociais vindos da transição de colônia para impé-
rio como a mortalidade infantil e a criminalidade. Um período de decadências e
progressos, no qual o país de organizava administrativamente com a chegada da
família real e a mudança da capital do Império para o Rio de Janeiro. Freyre
(2003, p. 58) descreveu essa sociedade, e, a partir das condutas familiares, per-
cebeu como um “processo de equilíbrio de antagonismos”, onde culturas se in-
terseccionaram e contribuíram para o aparecimento de problemas como o
aborto e o abandono de crianças.
A preocupação com a criança abandonada passou a ser pauta das legis-
lações governamentais, que sob o discurso da proteção, criava medidas preventi-
vas em prol da infância desvalida e “aliviar a consciência de uma sociedade en-
vergonhada e ameaçada com a sua presença” (RIZZINI, 1993, p. 26). O modelo
de assistência caritativo nesse período foi responsável pela organização das pri-
meiras instituições de amparo infantil. Esse modelo surgiu, sob influência das
concepções cristãs de atendimento à população pobre, e prestava socorro aos
indigentes, desamparados e moribundos. As instituições religiosas, portanto, fo-
ram as primeiras a assumirem a assistência às crianças enjeitadas, de famílias
legítimas ou as órfãs2.
1
Professora do Departamento de Educação I. Universidade Federal do Maranhão. Coordenadora
GEPIB/UFMA e pesquisadora sobre História, Política e Cultura da Infância. E-mail:
rosyane.dutra@ufma.br
2
As instituições que recebiam as crianças enjeitadas se diferenciavam, de acordo com o tipo de
abandono. Por famílias legítimas, as crianças eram internadas em Casas de Recolhimento e
recebiam formação para que futuramente, se casassem ou trabalhassem. As crianças indigentes,
eram internadas em asilos, e além dos maus tratos, ficavam à espera de um futuro, prometido pelo
Governo (um dote, um ofício, etc.). (MARCILIO, 1998)
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Devido a efervescência intelectual que aconteceu no Maranhão Império, primeira e segunda
geração, promovida pelo reconhecimento das obras de escritores e artistas maranhenses.
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Às crianças excluídas eram reservados esses lugares de confinamento e controle dos corpos, numa
proposta de educação corretora e normativa, dirigida por médicos, padres, juízes e professores, e
que se instalam nas periferias das cidades.
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A existência de um Livro tombo nos arquivos da Igreja, revela o funcionamento de uma roda dos
expostos nos anos de 1891 a 1940 nessa instituição.
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Estas contribuíam com algum valor para a instituição.
7
Segundo Freyre (2003) marcas dessas seleções se revelam em toda a história do Brasil, em afirmativas
como “gente doente e malnutrida (...) de novo se formariam os mesmos proletrariados” (p. 43).
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Algumas considerações...
Mediante as discussões estabelecidas nesse texto, podemos resumir al-
gumas ideias que subsidiaram a história da institucionalização infantil no Ma-
ranhão. A primeira faz referência ao contexto socio-histórico brasileiro no qual
as instituições eram implementadas, que impunha uma forma advinda dos Esta-
dos-modelos. O Oitocentos foi um anúncio de uma modernidade, montada aos
moldes das elites, e que sob o lema do higienismo e da eugenia, impôs as insti-
tuições práticas e discursos de controle social. Em relação a educação da infân-
cia, dos prédios as pessoas, tudo era pensado com cuidado, para que a dita “ci-
vilização” fosse percebida, já na formação das nossas crianças, nascidas, sejam
nos lares, nas ruas, nos hospitais, nos subúrbios das cidades.
As crianças, portanto, inseridas nesse contexto, foram silenciadas, “dis-
ciplinadas”. Desde o recolhimento nas Rodas, nas Casas de Abandono, até as
escolas, as instituições de instrução primária, as crianças foram sucumbidas à
dor da vara, na obediência às ordens e aos controles de seus desejos. Pela educa-
ção, foram levadas a negar seus próprios pensamentos e suas escolhas, numa
proposta que anula os indivíduos ao seu entorno. Pela educação, foram violadas
em suas individualidades e sociabilidades, envolvidas pelas governabilidades.
Nas obras de Meireles e Marques, percebemos a preocupação no regis-
tro sobre as instituições para a infância. Meireles (1994), como analítico social
da Província, se colocou em defesa da vinda das irmandades e ordens religiosas
para o Maranhão, anunciando uma postura política que concordava com a assis-
tência aos pobres, e que via nessas instituições uma resolução para o problema
do abandono das crianças. Marques (1970) manifestava-se a favor, porém crítico
a intervenção dos grupos sociais nas decisões institucionais. Como um dos Mor-
domos que trabalhou na Casa dos Expostos, aproximava-se do processo de re-
colhimento das crianças e posteriormente, do encaminhamento dos meninos e
meninas às instituições de assistência e instrução.
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OS DESAFIOS DA GESTÃO DAS CRECHES
COMUNITÁRIAS NO MUNICÍPIO
DE SÃO LUÍS – MA
1. INTRODUÇÃO
No intuito de contextualizar a história e a política da educação infantil,
para que possamos compreender o cenário de atuação da gestão das creches co-
munitárias pesquisadas, partimos do pressuposto que as concepções de infância
são socialmente construídas e que na sociedade capitalista permeada pela desi-
gualdade social em que vivemos, as crianças não têm as mesmas oportunidades
de viver plenamente essa etapa da vida humana.
Examinando a forma como a educação infantil é ofertada no Brasil dis-
tinguimos diferentes estruturas de atendimento, existem creches e pré-escolas
particulares nas quais os valores das mensalidades não são acessíveis a parte sig-
nificativa da população, creches e pré-escolas públicas mantidas pelos municí-
pios e creches e pré-escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, conve-
niadas ou não com o poder público. As creches comunitárias são instituições
privadas que realizam atendimento para as crianças das famílias mais pobres e
por esse motivo optamos por investigar como acontece a gestão desses equipa-
mentos, em face das dificuldades impostas pelas condições materiais.
Nessa perspectiva, o presente artigo consiste na apresentação dos re-
sultados de uma pesquisa realizada sobre os desafios da gestão na educação in-
fantil, que buscou identificar na prática cotidiana das gestoras que atuam em
creches comunitárias no município de São Luís, como ocorre o atendimento as
crianças matriculadas nas referidas instituições.
1
Graduada em Pedagogia. Aluna do curso de Especialização em Gestão Pública da Universidade
Federal do Maranhão. E-mail: <kathechagas@hotmail.com>.
2
Doutora em Educação. Orientadora. Professora do Departamento de Educação II da Universidade
Federal do Maranhão. E-mail: <thaisacfl@gmail.com>.
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2. INCURSÕES METODOLÓGICAS
Priorizamos os seguintes enfoques para a compreensão do objeto de es-
tudo: aspectos históricos e políticos da educação infantil no Brasil, a configura-
ção das creches comunitárias no cenário brasileiro e as formas como tem ocor-
rido as práticas administrativas e pedagógicas nessas instituições.
Para o desenvolvimento desta pesquisa de cunho descritivo e explora-
tório foi utilizada a abordagem qualitativa, com pesquisa bibliográfica e pes-
quisa de campo, na qual utilizamos como instrumento para a coleta de dados
entrevistas semiestruturadas, com perguntas abertas e semiabertas, realizadas
junto a gestoras de seis creches comunitárias no município São Luís – MA. A
realização das entrevistas aconteceu no mês de agosto de 2020 e foram utiliza-
dos recursos tecnológicos como e-mails e o aplicativo de mensagens Whatsapp
para a obtenção das respostas.
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A Criança no Brasil Colônia. Entrevista de Mary Del Priore. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=INSKaEjHYx4 Acesso em: 20 de dez. 2020.
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e pré-escolas públicas, nas quais as vagas sejam ofertadas diretamente pelo ente
federado responsável, o município, evitando a ocorrência de situações similares.
Na quarta questão investigamos a alimentação das crianças na creche,
conforme é possível observar no quadro a seguir.
Quadro 4 – Alimentação ofertada nas creches pesquisadas.
Creches Alimentação ofertada
A Café, lanche matutino, almoço e lanche vespertino (não especificou o cardápio)
São várias: sopa, suco com biscoito, mingau, risoto, macarronada, etc. (não especificou
B
a oferta)
C Lanche e almoço, de acordo com cardápio da SEMED (não especificou o cardápio)
D Variadas (não especificou a oferta e o cardápio)
Cardápio elaborado pela nutricionista da SEMED (não especificou a oferta e o
E cardápio)
F Almoço e lanche (não especificou o cardápio)
Fonte: Elaboração da Autora (2020).
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
É notório que são escassas as efetivações das políticas públicas para a
educação infantil, pois o cuidar e educar exige um trabalho de gestão, profissio-
nais qualificados e habilitados, espaços físicos adequados, materiais pedagógi-
cos e de higiene pessoal, alimentação, ou seja, investimentos que demandam a
aplicação de recursos apropriados.
O objetivo do trabalho teve como foco os desafios da gestão de creches
comunitárias, para tanto buscou a realização de uma pesquisa, realizando entre-
vistas junto a gestores de creches comunitárias, com o intuito de analisar e com-
preender a importância dessa atividade para o desenvolvimento da educação in-
fantil no município de São Luís.
O atendimento à infância no município de São Luís está relacionado à
expansão das escolas comunitárias e, mesmo que essas escolas, de modo geral,
sejam financiadas em parte pelo poder público, a responsabilidade maior fica a
cargo das próprias instituições, que têm dificuldades concretas para melhorar a
qualidade do atendimento, enfrentando diversos obstáculos, dentre os quais
destacamos: funcionamento em espaços físicos inadequados, falta de profissio-
nais habilitados e capacitados, cobrança de taxas para auxílio na manutenção,
crescente demanda por vagas, entre outros.
A análise efetuada nas creches pesquisadas mostrou que são amplas as
necessidades de uma creche, o que exige dedicação integral de seus profissionais
para a realização de uma boa gestão, com a finalidade de propiciar uma educação
infantil de qualidade. As dificuldades enfrentadas pelas gestoras dessas
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INFÂNCIA MARANHENSE E A CULTURA DO
BRINCAR: ONDE E COMO BRINCAM NOSSAS
CRIANÇAS?
Introdução
O universo das brincadeiras abre para a criança múltiplas possibilida-
des de aprendizagem, além da compreensão e ação sobre a realidade. Brincando,
tudo se recria, o mundo vira do avesso, de cabeça para baixo, permitindo à cri-
ança sair de sua realidade imediata e imaginar outros tempos e lugares, inventar
ações e interações com gestos, palavras, expressões. Ela aprende a interpretar o
mundo e a si mesma em outras perspectivas, ao definir outros tempos, lugares e
relações. A criança cria o seu próprio espaço, que pode ser na escola, em casa ou
em um pequeno canto, e consegue dar significados àquilo que ela quer construir
dentro de uma cultura própria, lúdica. Diferente do adulto que precisa fazer
todo um planejamento para organizar um espaço cheio de regras, com as crian-
ças ocorre de uma forma espontânea, experiencial.
Assim, é que nesse artigo, serão discutidos os conceitos que permitiram
a compreensão dessa temática e as análises dos dados coletados sobre cultura
infantil maranhense, com contribuições da Sociologia e Filosofia, destacando al-
gumas intervenções teóricas dos escritos benjaminianos, que se remetem a essa
1
Mestranda em Educação – UFMA, Pedagoga – CEUMA, Graduada em Ciências Religiosas –
SOMAS, Especialista em Docência da Educação Infantil – UFMA, Coordenadora Pedagógica -
SEMED, Professora do Ensino Médio – SEDUC, Pesquisadora GEPIB/UFMA. E-mail:
sandraramospedagogia@gmail.com
2
Pedagoga - Universidade Estadual Vale do Acaraú (2004). Atuou como professora presencial e no
ead da Faculdade do Maranhão, professora formadora do Centro Beneficente Nossa Senhora da
Glória, Educandário Santo Antônio e professora da educação infantil - Colégio Santa Teresa.
Pesquisadora GEPIB/UFMA. E-mail: mremediosvieira@hotmail.com
3
Professora do Departamento de Educação I. Universidade Federal do Maranhão. Coordenadora
GEPIB/UFMA e pesquisadora sobre História, Política e Cultura da Infância. E-mail:
rosyane.dutra@ufma.br
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fase da vida humana como a “mais sensível.” (BENJAMIN, 1984, p. 33). Serão
considerados os dados de pesquisa etnográfica realizada pelo Grupo de Estudos
e Pesquisas Infância e Brincadeiras GEPIB/UFMA, em algumas cidades mara-
nhenses para reconhecimento de brinquedos e brincadeiras mais presentes nas
regiões, e que mostram como nossas crianças brincam e produzem cultura.
A criança não era vista como um ser capaz de pensar sobre suas próprias
ações, mas sim como um reflexo do adulto. Entendemos, nessa caracterização de
Ariès, que a criança era vista como um produto do meio cultural, sendo moldada
pelo adulto com base em seus próprios costumes, de modo abstrato e passivo,
pois não havia uma troca significativa que contribuísse para o desenvolvimento
da criança enquanto indivíduo. A cultura, assim, exerce grande influência sobre
aspectos do desenvolvimento das crianças, que são capazes de absorver esses
artefatos sociais para compreensão do meio em que vivem. Por exemplo, uma
criança que vive em uma área rural, e observa seus pais usando técnicas na pes-
caria vão aprender com eles uma profissão, visto que esses são seus costumes
dentro daquela realidade. Senso assim a cultura carrega consigo ricas experien-
cias sociais, que atuam diretamente no desenvolvimento infantil.
Ao longo do tempo, a cultura dominante era a de classe média e branca,
que impunha suas normas e valores à sociedade, como referências normativas.
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Elias (2001) já enfatizava que, por exemplo, os costumes das famílias tradicio-
nais inglesas e francesas, eram manifestações desses acordos sociais, que divi-
diam as classes. Em cada classe, um legado cultural, que distinguia ricos de po-
bres, burguesia e proletariado, e a conservação dos valores mantenedores das
práticas sociais.
Sendo a família considerada o agente principal de transmissão da cul-
tura, as crianças levam a bagagem cultural, suas experiencias para os espaços
socializadores e assim reconstroem significados e vivem novas experiências. A
criança é artesã quando brinca, pois, ela se apropria dos costumes, das tradições
e das manifestações culturais presentes nos contextos e ressignifica, produzindo
cultura.
Sarmento (2008, p. 32) refletindo sobre o conceito de culturas infantis,
destaca como sendo “a capacidade das crianças construírem de forma sistemati-
zada modos de significação do mundo e da ação intencional, que são distintos
dos atos de ação e significa, cria, recria, experimenta, analisa, questiona, dialoga,
dando significados às suas ações durante suas brincadeiras individuais ou em
grupo. O adulto atua como um mediador.
É importante enfatizar que o brincar não é a única atividade por meio
da qual as crianças constroem sua cultura, mas ela assume uma centralidade
como modo de ação da criança sobre o mundo e, sobretudo como forma de ação
conjunta e autônoma das crianças. Cada criança tem sua própria cultura que
inclui o conhecimento, os costumes, os hábitos, as crenças, etc. Quando chegam
à escola, as crianças se deparam com outras culturas que lhes agregam outros
conhecimentos. Cada uma tem sua própria visão de mundo, e são trocadas ex-
periências que fortalecem suas próprias culturas, e são essas experiências que
interferem em suas ações e nos significados que atribuem às pessoas, às coisas e
às relações estabelecidas (SARMENTO, 2008).
Corsaro (2002) elenca como categoria de análise o faz de conta sob o
ponto de vista da reprodução interpretativa das crianças, em que elas desempe-
nham um papel ativo na socialização e apropriação da cultura adulta. Dessa
forma não se limitam a internalizar a cultura dos adultos, mas sobretudo, a fazer
parte dessa cultura e a produzir a sua própria cultura juntamente com seus pa-
res, não através de um carater imitativo ou apropriação direta “mas as crianças
apropriam-se criativamente da informação do mundo adulto para produzir a sua
própria cultura de pares” (CORSARO, 2002, p. 114).
De acordo com Sarmento (2008), as culturas da infância exprimem os
modos diferenciados por meio dos quais as crianças interpretam, simbolizam e
comunicam as suas percepções do mundo; interagem com outras crianças e com
os adultos; desenvolvem sua ação nos espaços público e privado. As culturas da
infância não são a reprodução mais ou menos fiel das culturas adultas, tampouco
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BURITI BRAVO
As crianças nessa região (sul maranhense) divertem-se brincando de
corridas, peteca2, cancão3, boca-de-forno, pular corda. Geralmente em ruas,
praças e nos quintais. São meninos e meninas entregues a ventania que pulsa nos
céus daquela região, por estarem próximas às colinas maranhenses. A aproxima-
ção das crianças nas ruas e praças da cidade, possibilitou às pesquisadoras ob-
servarem as construções realizadas pelas crianças com elementos da natureza,
como os desenhos traçados na terra, e as cordas feitas com fibras de plantas da
região.
No encontro, as crianças convidavam-nos para o terreno, espaço de suas
brincadeiras favoritas perto das suas casas. Na interação, manifestações do tipo:
“tia, você gosta de brincar?” (Elton - 6 anos) indicam a surpresa das crianças ao
verem adultos participando daquele momento com elas. Percebe- se que em vá-
rios territórios como esse, as crianças brincam as mesmas brincadeiras de forma
diferenciada, respeitando suas criatividades e os materiais que podem acessar.
“Cancão pode ser com dias da semana, tia?” (Vanessa – 9 anos). Para Benjamin
(1984), a criança desmonta as regras da brincadeira e a estrutura do brinquedo
para se apoderar deles, estabelecendo relações íntimas com o objeto aprendido.
Brougère (1995, p. 14) destaca que o brinquedo é assim, um fornecedor
de representações manipuláveis, de imagens com volume cultural ressignificado
nas práticas das crianças, com elas mesmas. O caráter simbólico das
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COELHO NETO
Na cidade em questão existe um predomínio dos Brinquedos Populares
próprio da região Centro Maranhense: usa-se o talo do buriti4, lata ou madeira
para fazer brinquedos populares, como: carros, mesinhas, cadeirinhas, camas,
etc. Confeccionam-se ainda bonecas de pano e pipas. Esses brinquedos repre-
sentavam a releitura das crianças das realidades vividas em suas residências e
em seus lugares brincantes, que envolvem terrenos, ruas, praças e quadras.
Nessa região vemos o predomínio da utilização de talos e galhos para confecção
de brinquedos populares, próprios da tradição da comunidade e relembrados
pelos próprios moradores que apreciam as atividades criadoras das crianças.
Em um desses momentos, vimos a arte expressa na confecção dos car-
rinhos, com latas de sardinha, que segundo o Natanael (9 anos), “construímos
com a ajuda vovõ, pois ele é catador de latinhas e ajuda a gente a colocar as ro-
dinhas, a gente pode se cortar “ . A destreza que os meninos possuem na confec-
ção dos seus brinquedos, revelam o desejo de representar suas ideias criativas
nos artefatos do cotidiano comunitário. Expressam o quanto os objetos da cul-
tura maranhense influenciam nas escolhas das crianças no momento de confec-
cionarem seus brinquedos, e como os adultos são importantes nesse processo.
Para Brougére (1995), a cultura lúdica se caracteriza nesse universo das
crianças que recriam seus brinquedos como um conjunto de relações com a cul-
tura local, numa perspectiva antropológica e participação dos adultos que vivem
com elas. Os objetos e os usos que os adultos fazem deles intervém sobre as es-
colhas das crianças ao brincarem.
CURURUPU
Na cultura lúdica popular da Baixada Maranhense percebeu-se que as
crianças do município se divertem com brincadeiras denominadas bola quei-
mada, bola ao túnel, soltar a vara do porteiro. Os adultos distraem-se com jogos
de salão, como dominó, dama, baralho, gamão e xadrez. É possível notar a pro-
ximidade dos adultos das crianças que brincam nas ruas, nos terrenos, nas qua-
dras ou dentro de suas residências. Diferente de outras regiões maranhenses, na
Baixada percebe-se uma maior atenção sobre a segurança das crianças, o que
revela os níveis altos de violência existentes nos municípios que a compõem. Na
aproximação às brincadeiras vivenciadas pelas crianças nos lócus da pesquisa,
percebeu-se uma maior interação entre elas durante as brincadeiras coletivas, o
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Considerações Finais
Ao defendermos os estudos da infância, pela pesquisa, oportunizamos
às crianças serem compreendidas a partir do seu lócus de atuação, das suas
vivências nos lugares que nasceram, que cresceram e se reconheceram como
parte da comunidade. Assim, a experiência tem permitido:
a) Discutir as concepções de infância, criança, brincadeiras infantis e
educação para as crianças a partir de referencial teórico da Sociologia
da InfÂnca, refletindo sobre as infancias no Maranhão, e quais as
brincadeiras que se manifestam no seio de suas interações com os
outros e com o mundo;
b) Identificar os lugares nos municípios maranhenses de maior frequência
das crianças para o trabalho de observação com elas; Construir
instrumentos de pesquisa com crianças, que levem em conta a
Pedagogia da Escuta e o olhar investigativo voltado para a inclusão
social;
c) Mobilizar profissionais de diversas áreas para o diálogo coletivo sobre
a importância das brincadeiras e das interações na infância; Produzir
textos reflexivos a partir dos estudos e das vivências interativas na
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INFÂNCIA E T ERRITÓRIO MARANHENSE
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A INVENÇÃO DA INFÂNCIA. Gênero: Documentário. Diretor: Liliana Sulzbach.
Duração: 26 min. Ano: 2000. Formato: 16mm. Brasil. Colorido.
ARIÈS, Phillipe. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro, Zahar, 1981.
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SUMMUS, 1984.
BROUGÈRE, Gilles. Brinquedo e Cultura. São Paulo: Cortez, 1995.
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aristocracia de corte. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.
FRIEDMANN, Adriana. O Universo simbólico da Criança. São Paulo: Nepsid, 2015.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.
KOHAN, Walter Omar. Infância: Entre a Educação e a Filosofia. Belo Horizonte:
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1999.
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SARMENTO, Manuel Jacinto, GOUVEA, Maria Cristina Soares do. (orgs.) Estudos
da Infância. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
52
BRINQUEDOS (RE)CRIADOS, RECICLADOS:
REFLEXÕES SOBRE EXPERIÊNCIAS LÚDICAS
VIRTUAIS COM AS CRIANÇAS
1. INTRODUÇÃO
A proposta lúdica de encantar as crianças com a confecção de seus pró-
prios brinquedos envereda pelas pesquisas sobre a infância e suas brincadeiras.
As possibilidades de reinvenção dos materiais que utilizam para criarem de-
monstram que as crianças são idealizadoras de novas materialidades, resultado
da sua imaginação e recriação. O contexto no qual vivem devem oferecer as va-
riedades de objetos que modificados, se tornam os novos brinquedos. Ressigni-
ficados, passam a compor o repertório criativo das crianças, que nesses tempos
de pandemia, recebem a importância devida.
Os estudos sobre os brinquedos revelam a importância desses objetos
para a infância, enquanto materiais que refletem a capacidade criadora e inven-
tiva das crianças que o tocam. Atividades que possibilitam o contato com mate-
riais de diversas formas e em diversos contextos, desenvolvem as múltiplas lin-
guagens necessárias para a formação de crianças autônomas e criativas.
Vivências e experiências de criação de brinquedos com materiais recicláveis, por
exemplo, são capazes de inserir as crianças em novas possibilidades de educa-
ção, na qual elas participam e idealizam novos objetos.
Assim, essa experiência compartilhada no âmbito da Universidade Fe-
deral do Maranhão, por meio da atividade Ciranda do Brincar, promovida pelo
1
Pesquisadora - GEPIB/UFMA, Pedagoga, Professora da Rede básica de ensino, Mestranda em
Educação pela Universidade Federal do Piauí. Especialista em Gestão escolar e docência do
Ensino Superior. E-mail: hcarneirosc20@gmail.com
2
Pedagoga, professora da Rede Municipal e Particular de Ensino. E-mail: suziannerebe-
cavc@gmail.com
3
Professora de educação infantil e anos inicias do ensino fundamental, da rede municipal de
educação da cidade de São Luís. Graduada em Pedagogia pela UFMA. Especialista em docência
na educação infantil UFMA. Pesquisadora GEPIB/UFMA. E-mail: angelassfranco@hotmail.com
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cultura lúdica é o produto da interação social que lança suas raízes, como foi
dito, na interação precoce entre mãe e o bebê.”
Nesse sentido, Brougère (1998), ressalta que a criança é co-construtora
dessa experiência, pois ao agir sobre o brinquedo, ao brincar, ela dota essa ex-
periência de significados. Portanto, mesmo que a cultura adulta se faça presente
nos jogos de simbolização infantil, ela permite deixar sua marca enquanto su-
jeito social e enquanto produtora de cultura.
Este mesmo autor, nos traz uma diferenciação entre ludus latino e ludus
francês, nos colocando que cada cultura tem seu modo singular de brincar. E aí
reside a complexidade do sentido do jogo e de como isso afeta na determinação
das características do jogo de uma cultura para outra. Brougère (1998) entende
que a base de entendimento do que é ou não considerado jogo, depende do valor
simbólico dado ao mesmo.
Independente, dessa informação, acrescenta que a criança tem em seu
âmago o poder de interpretar e dá sentido a sua brincadeira. É brincando que se
aprende a brincar, segundo Brougère (1998). E, como já foi mencionado anteri-
ormente, o objeto pode ou não estar presente na hora da brincadeira e, quando
estão, as crianças podem ou não brincar do modo que o objeto sugere. Esta com-
plexidade está atrelada aos padrões culturais e as mudanças sofridas ao longo
dos tempos.
Atualmente, a influência dos meios digitais e televisivos nas brincadei-
ras infantis repercute na produção de brinquedos e do que oferecer às crianças
como objeto de sua brincadeira. Os personagens de desenhos animados tornam-
se objeto para o consumo do público infantil e os games estão cada vez mais
presentes no cotidiano das crianças. Mas Brougère (1998) aborda que mesmo a
criança não saber a origem da produção do brinquedo, pode construir afeto e
interagir com o mesmo.
Portanto, entendemos que a criança ao brincar com o objeto, dota-o de
significados e entra em um mundo imaginário e da fantasia, elaborando e atri-
buindo sentidos de si e do mundo circundante. Nesse sentido, cada experiência
lúdica vivenciada por ela, cria um horizonte de possibilidades que ao serem am-
pliadas e repertoriadas permitem a construção de uma cultura lúdica.
A ação livre da criança sobre o objeto permite a imaginação, assim,
nesse sentido, um objeto arredondado pode tornar-se uma bola; uma colher, um
boneco de ação, um avião; uma cadeira, transforma-se em carro; uma vassoura,
em um cavalo; etc. Essas representações simbólicas construídas pelas crianças
em suas brincadeiras de faz de conta, são construções que elas desenvolvem em
diferentes contextos e tempos e se utilizam de materiais aleatórios encontrados
em casa, na escola ou em outro espaço social.
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por esse campo sem cair na parte pintada, saindo de um extremo ao outro da
cartela de ovos. Podemos observar o brinquedo criado na imagem abaixo.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As atividades apresentadas neste relato são exemplos de brinquedos e
brincadeiras que podem ser feitas com as crianças que se encontram isoladas
devido a Pandemia por Covid-19. Foram experiências que mobilizaram as pes-
quisadoras do GEPIB/UFMA para a compreensão de que, mesmo em modali-
dade não-presencial, podemos propor novas formas de nos aproximarmos do
universo imaginativo das crianças pela confecção de brinquedos.
Nessa interação virtual, possibilita-se uma ampla discussão sobre o
brincar e como as crianças podem reinventar os objetos que tem em casa e torná-
los brinquedos encantadores. Não podemos nesse contexto pandêmico, desacre-
ditar no poder da criatividade e o quanto as crianças precisam estar ativas, cria-
tivas e proativas, dando novos significados ao mundo a sua volta com novos ob-
jetos criados por elas.
Sob a crença de dias melhores que virão, possibilitamos hoje às nossas
crianças um mundo de esperança pelo brincar e pelas descobertas que realiza
brincando, no uso de novas tintas, de novos papéis, de novos materiais escolhi-
dos por ela e que se tornam novos brinquedos.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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interinstitucional de ensino, pesquisa e extensão; XV mostra de iniciação
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em: <https://home.unicruz.edu.br/seminario/downloads/anais/cchc/reciclagem%20
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BENJAMIN, Walter. Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação. São Paulo:
Summus, 1984.
BORBA, Ângela Meyer. O brincar como um modo de ser e estar no mundo. In: BRASIL,
Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Ensino Fundamental de nove
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BROUGÈRE, Gilles. A criança e a cultura lúdica. Rev. Faculdade Educação. vol. 24.
n. 2. São Paulo, julho/dezembro. 1998.
KISHIMOTO, T. M. Brinquedos e brincadeiras na educação infantil. Perspectivas
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PIORSKI, Gandhy. Brinquedos do chão: a natureza, o imaginário e o brincar. Ed.
Peirópolis. São Paulo, 2016.
REIS, Laís Naiara Gonçalves dos; CARVALHO, Danley Rodrigues de. História dos
brinquedos: cultura e poder. Literatura e História. V. 9, n. 2, dezembro, 2019.
Disponível em: https://www.revista.ueg.br>index.php>article>dowload/9772/7063.
Acesso em 23/02/2021.
SANTOS, Santa Marli P. dos (org.). Brinquedo e Infância: um guia para pais e
educadores. Rio de Janeiro: Vozes, 1999
64
CONTAR HISTÓRIAS EM TEMPOS DE
PANDEMIA: O ENCANTAMENTO DAS LIVES
1. INTRODUÇÃO
Quem nunca ouviu uma história, seja ela lida ou contada? Desde peque-
nos ouvimos as mais diferentes narrativas ora lidas ora contadas por diferentes
agentes sociais. Na família, há sempre alguém que conta algo, sejam fatos reais
surgidos no cotidiano das pessoas ora permeados pelo imaginário popular ora
fruto das memórias afetivas. Mais do que um ato cotidiano, contar histórias ou
narrativas atravessa gerações e se constitui parte das nossas tradições e fontes
de conhecimentos, pois segundo a autora Jambersi (2014, p. 13) “era por meio
das histórias que os povos mais primitivos passavam seus valores, ensinamentos,
costumes e sabedoria”. Nesse sentido, o imaginário humano foi se constituindo
com histórias criadas por esses povos e repassados às novas gerações.
O ato de contar, mas do que um de ato de ensinar, é, acima de tudo um
ato de encantar. E, assim, nesse sentido, que se pretende abordar algumas ques-
tões nesse artigo que tem o objetivo de relatar a experiência vivenciada pelas
pesquisadoras através da Ciranda do Brincar, que é uma programação que acon-
tece desde de 2018 para comemorar de forma interativa e lúdica o dia do brincar
e o dia das crianças, em especial as crianças filhas dos alunos e funcionários da
Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Esta iniciativa faz parte do Grupo
de Estudos e Pesquisa sobre Infâncias e Brincadeiras (GEPIB). Entretanto, este
ano, em razão das limitações ocasionadas pela pandemia do novo Corona vírus,
esta atividade contou com o recurso especial para a transmissão do evento, em
redes sociais (Instagram). Segundo Dowbor (2013, pág.34): “o próprio surgi-
mento das novas tecnologias nos permite desenvolver atividades articuladas em
redes horizontais interativas, capitalizando-se tanto a vantagem da
1
Professora de educação infantil e anos inicias do ensino fundamental, da rede municipal de
educação da cidade de São Luís. Graduada em Pedagogia pela UFMA. Especialista em docência
na educação infantil UFMA. Pesquisadora GEPIB/UFMA. E-mail: angelassfranco@hotmail.com
2
Graduanda do Curso de Pedagogia – Faculdade Santa Fé, Professora Titular da Rede Particular
de Ensino, Pesquisadora GEPIB/UFMA. E-mail: helloyse_marques@outlook.com
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Esse hábito então, nesse modo, passou a constituir como ato educativo
dentro do processo ensino-aprendizagem, da qual estavam submetidos professo-
res e crianças. Não obstante essa ação mediada como mero ato de ensinar e trans-
mitir conteúdos, fez com que as histórias perdessem o brilho de encantar e apro-
ximar as pessoas (JAMBERSI, 2014). Por isso, em prol desse encantamento que
professores envolvidos com o prazer da arte de contar e encantar através das his-
tórias, deve resgatar “o contador de histórias” como personagem importante para
manter viva o gosto em ouvir histórias e manter a memória afetiva das crianças.
Em uma época em que crianças e adultos compartilhavam as mesmas
atividades, as histórias eram comuns a ambos grupos geracionais, não distin-
guindo o que era próprio de adulto e o que era específico de crianças, por isso,
não havia uma literatura especificamente infantil (GREGORIN FILHO, 2009).
Na atualidade, há uma preocupação constante em criar um repertório literário
infantil, aqui no Brasil, o principal precursor desta literatura foi Monteiro Lo-
bato, que ainda habita em nosso imaginário. Gregorin Filho aponta que:
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diferente ocorre com as atividades lúdicas, em que a todo instante é postado algo
novo e, portanto, precisamos (re)significar esse olhar e o modo de contar histó-
rias. Dowbor (2013, pág. 50), em suas considerações finais pontua que: “As novas
tecnologias, ao facilitar a conectividade, podem constituir uma ponte e melhorar
a integração”. Unir esses meios tecnológicos tão presentes no cotidiano, com
atividades já existentes (até históricas), são processos que devem caminhar jun-
tos. Para isso, é necessário, acompanhar e se permitir conhecer tais formatos.
Mas ao elencarmos tais princípios, percebemos que é notório o cuidado
com o ambiente para este momento, como os seguintes: fazer uso de uma deco-
ração leve, de materiais para incrementar essa contação, fazer a escolha da his-
tória e até a caracterização da contadora (do seu visual), bem como não podemos
esquecer das nuances vocais adotadas pelas contadoras de histórias para atrair
este público online.
Não existe um modo correto de se contar uma história. Porém, modelos
distintos são como guias para adentrarmos nesse mundo lúdico das narrativas
de contações.
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por isso não é nem remotamente declamação ou teatro [...] Ela é o uso simples e
harmônico da voz”. Por isso, ao contar, precisamos pensar o tom de voz. Ela é
elemento principal do contador, pois, através dela, o contador transmite as emo-
ções, as expressões, personalidade dos personagens e o ritmo da narrativa. Mas,
devemos tomar o cuidado para que o uso da voz não crie estereótipos e infanti-
lização nesse momento, uma vez que as crianças podem ainda não ter o mesmo
poder de abstração dos adultos, mas são capazes de perceber algo que soa falso.
Além da voz, podemos pensar no uso do corpo (gestos, palmas, expres-
sões faciais, movimentos suaves) e alguns recursos (objetos musicais, avental,
música, fantoches, etc.) para direcionar o olhar e a atenção do ouvinte e, ao
mesmo tempo, auxiliar o contador a memorizar partes da narrativa. O momento
de contar história, cada contador precisa acolher seu público, criar um ambiente
receptivo, aproximá-lo, esperar que se acomodem, criar um clima de expectativa
e depois que estes critérios forem atendidos, realizar a contação de história.
Considerando isso, compreendemos a importância das histórias na for-
mação humana enquanto elemento de constituir identidade individual e cole-
tiva, criar memórias afetivas, difundir conhecimento de um povo, formar leito-
res, despertar a imaginação, ser fonte de prazer e entretenimento, e,
principalmente, são um elo comunicativo e interativo entre quem conta e quem
escuta; entre o real e o fantástico. Portanto, neste momento mágico de narrar as
histórias, o contador tem que saboreá-la, sentir cada emoção que a história des-
perta, seguir o ritmo e o tempo que ela exige e passar de forma sincera aos seus
ouvintes.
3
Em outubro de 2020, Mês em que foi realizado nosso evento do Projeto Ciranda do Brincar,
estávamos há oito meses de afastamento das nossas atividades presenciais em nosso Estado (MA).
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acontecesse. Isto nos levou a nos reunir, discutir, decidir e planejar nossas ações
em meio a pandemia.
Desse momento foram formadas equipes que ficariam responsáveis pela
realização de cada etapa, das quais são: contação de histórias, construção de
brinquedos recicláveis, brincadeiras em casa, musical. Ao qual deveríamos en-
trar em sequência cronológica das programações no @gepib.ufma (INSTA-
GRAM).
Esta programação on-line contou com a equipe de pesquisadoras do
Grupo de Estudo e Pesquisa Infância e Brincadeiras da Universidade Federal do
Maranhão (GEPIB/ UFMA), entre elas estão alunas e professoras, as quais em
suas atividades estão o trabalho educativo de forma lúdica com crianças de di-
ferentes idades.
Este grupo idealizou o projeto Ciranda do Brincar com o objetivo de
criar espaços para possibilitar vivências lúdicas para as crianças filhas de alunos
e funcionários dos cursos de Graduação do Centro de Ciências Sociais da UFMA
nos períodos comemorativos a Semana do Brincar, inicialmente na última se-
mana de maio, depois teve prolongamento para outubro (mês que se comemora
o dia das crianças), ficando marcado permanentemente estas duas datas como
foco de realização das atividades interativas deste projeto.
Mediante a isto, organizamos a versão 2020 apenas no mês de outubro,
em que o grupo passou por reuniões através do Google Meet para discutir a di-
nâmica do evento. A partir do que foi decidido e sistematizado pela equipe, di-
vidimos as atividades e responsabilidades, formando-se grupos, conforme des-
crito: grupo 1 – responsável pela contação de histórias; grupo 2 – responsável
pelos brinquedos recicláveis; grupo 3 – responsável pelas brincadeiras de casa;
grupo 4 – responsável pelo musical.
O grupo de contação de histórias, em particular, do qual ficamos inse-
ridas, foi dividido em duplas, em que cada uma das duplas iriam apresentar uma
história. Nosso grupo, reuniu-se através do Google Meet com intuito de seleci-
onar as histórias a serem contadas; a formação das duplas para apresentação; a
dinâmica das apresentações e, principalmente, realizar os ensaios.
As pesquisadoras Angela e Helloyse, fomos a segunda dupla a se apre-
sentar, e, como critério de escolha da história, lemos e compartilhamos entre si
alguns livros da literatura infantil que mais nos encantou, das quais destacamos
abaixo:
1. A viagem da sementinha, de Regina Siguemoto, ilustração de Mar-
tinez, ed. Paulinas;
2. A colcha de retalhos, de Conceil Corrêa da Silva e Nye Ribeiro, ilus-
tração de Ellen Pestili, ed. Do Brasil;
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nossas vozes, as encantou. E, assim, a magia das histórias pode chegar as casas
das crianças e das pessoas que nos esperam a cada ano.
Nesse sentimento, pudemos sentir o público através de suas colocações,
pela manifestação das informações e, dessa maneira, compreendermos que a in-
teração está presente em qualquer ato que fizemos, mesmo de forma online.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da vivência com o Projeto Ciranda do Brincar que engloba di-
versas modalidades lúdicas, em especial um destaque ao contar histórias, expe-
rimentamos um novo momento; criamos e reinventamos modos diferenciados
para atrair esse público infantil em um formato diferenciado. Num período que
levar a contação de histórias se tornou restrita presencialmente, embrenhamos
pela modalidade virtual, através de uma plataforma conhecida – o Instagram.
Pois, entendemos a importância do papel de um contador de histórias na vida de
uma criança, o vislumbrar, o despertar da imaginação, conhecer o atual.
O novo proporciona desafios e aprendizados que são adquiridos no de-
senrolar dos acontecimentos cotidianos. Contudo, entender o porquê contar
histórias, transmiti-la ao seu público e significar sua importância de constru-
ção, é fundamental nesse processo de conhecer o mundo e vivenciá-lo.
Este estudo que partiu de uma experiência no formato remoto, onde
buscamos estudar, entender mais sobre como levar uma contação virtualmente;
nos permitiu conhecer e criar novas maneiras de apresentações. O Projeto Ci-
randa do Brincar no ano de 2020, ocorreu em meio a uma pandemia mundial,
precisando reinventar-se, pois a ideia de não levá-lo adiante era descartada. Vis-
lumbrou então modelos de inserção da contação de história, sabemos que o vín-
culo antes adotado presencialmente, precisaria ser modificado; nos indagamos
de que forma seria apresentado para esse público. Essa construção de liame en-
tre contadora e ouvintes era o que mais preocupava, a incerteza se a proposta
atenderia ou não as expectativas dos ouvintes, os contratempos a respeito da
internet, como ocorreria essa interação mesmo que nesse formato. Enfim, per-
guntas foram feitas e o dia do evento chegou, a surpresa foi grande ao perceber-
mos que a história escolhida foi assertiva, os recursos utilizados atenderam du-
rante a contação e os internautas participaram através do chat ativamente.
Envolver-se nesse desafio remoto foi enriquecedor, tanto no âmbito de
aprendizado, nas trocas de vivências, a utilização da tecnologia como meio de
aproximar o público quanto a continuidade de um Projeto.
Por fim, que continuemos a pesquisar mais sobre esse contar histórias
e o modo que este ato tem de encantar pessoas de diferentes idades, em particu-
lar as crianças, visto que elas trazem em si o desejo de conhecer e a magia de se
74
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. 5. Ed. São Paulo:
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formação de leitores. São Paulo: Ed. Melhoramentos, 2009.
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VALDEZ, Diane e COSTA, Patrícia. Ouvir e viver histórias na educação infantil: um
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tem medo de ensinar na educação infantil: em defesa do ato de ensinar. Campinas,
SP: ed. Alínea, 2013. 3. Ed.
75
MUSICALIZANDO E APRENDENDO EM CASA:
VIVÊNCIAS MUSICAIS COM CRIANÇAS EM
ISOLAMENTO SOCIAL DA REDE PÚBLICA
MUNICIPAL DE SÃO LUÍS-MA
1. INTRODUÇÃO
A presença da música na vida do ser humano é indiscutível, pois ouvir
música é uma atitude habitual, está presente em vários momentos e em diversos
lugares ao mesmo tempo, dentre os quais no rádio, na TV, na internet, na natu-
reza etc. A música oportuniza o estreitar de laços e as relações interpessoais em
comunidades, bairros e cidades. A relação com a música, favorece na construção
do conhecimento, desenvolvimento da sensibilidade, da imaginação, concentra-
ção, da socialização e afetividade da criança seja na escola, em casa ou em outro
ambiente onde ela tem convivência.
Jeandot (1997) nos coloca que o trabalho na escola com a música não se
resume na formação de técnicos musicais, mas em desenvolver o gosto pela mú-
sica e a percepção para captar a linguagem musical para expressar-se através
dela. Por isso, é importante ressaltar que o educador infantil, enquanto referên-
cia para a criança, deva ser criativo na escolha do que apresentar, garantindo,
com isso, que o trabalho seja interessante para ambos.
1
Graduada em agronomia e formação pedagógica de docentes do ensino fundamental, médio e
educação profissional – EAD/UEMA, especialista em docência da educação infantil – UFMA,
professora da educação infantil da rede pública municipal, pesquisadora GEPIB/UFMA. E -
mail: irismarreiros@hotmail.com
2
Professora de educação infantil e anos inicias do ensino fundamental, da rede municipal de
educação da cidade de São Luís. Graduada em Pedagogia pela UFMA. Especialista em
docência na educação infantil UFMA. Pesquisadora GEPIB/UFMA. E-mail:
angelassfranco@hotmail.com
3
Professora do Departamento de Educação I. Universidade Federal do Maranhão.
Coordenadora GEPIB/UFMA e pesquisadora sobre História, Política e Cultura da Infância.
E-mail: rosyane.dutra@ufma.br
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segundo este autor, quando esses elementos são empregados juntos, despertam
e refinam a sensibilidade da criança, prende a atenção, cria estímulos, auxiliando
na ação educativa (BRITO, 1998).
Dessa maneira, ao buscar na formação de professores no interior da ins-
tituição sobre musicalidade reforça a ampliação e entendimento de como pode-
mos trabalhar com as crianças, fazendo uso da música como experiências a se-
rem vivenciadas por elas em casa com seus familiares, a partir das orientações
dos docentes. Duarte (2003) enfatiza que os momentos de formação se configu-
ram como uma oportunidade de refletir sobre o habitual com o intuito de discu-
tir possíveis soluções, reconhecendo a importância do trabalho coletivo siste-
mático e da coparticipação para definir metas e efetivar o potencial
transformador que os momentos de formação são capazes de edificar.
No contexto do uso da música para o desenvolvimento infantil, as for-
mações se tornam ainda mais necessárias, na medida que compreendemos as
mudanças ocorridas na sociedade ao longo dos tempos, principalmente quando
envolve mudanças de concepções. Para Brito (2003), a música pode contribuir
para o crescimento infantil e, portanto, faz-se necessário utilizá-la de forma re-
flexiva e orientada a fim de que esta possa desenvolver o gosto musical.
Bréscia (2003, p. 25) afirma que a música é a combinação “harmoniosa
e expressiva de sons, é a arte de exprimir por meio de sons seguindo regras vari-
áveis conforme a época e a civilização” e, que por meio dessa combinação, ela
funciona como elemento de comunicação e identificação dos povos. Com isso,
infere-se que a música tem um papel essencial na educação infantil, funcionando
como linguagem expressiva, como arte.
Corroborando com esse pensamento, Gordon (2000) afirma que a mú-
sica é uma ferramenta facilitadora no processo de aprendizagem, considerando
que a criança aprende ao ouvir de maneira ativa e reflexiva, já que quanto maior
o exercício de sensibilidade para os sons, maior será a capacidade para ela de
desenvolver sua atenção e memória. Percebe-se que a música na Educação Infan-
til consegue de certa maneira trabalhar a personalidade da criança, pois desen-
volve hábitos, atitudes e comportamentos na criança que exprimem sentimentos
e emoções.
Nota-se que a utilização da música na Educação Infantil possibilita que
a criança além de aprender brincando, torna o ambiente educativo mais agradá-
vel, o que estimula nas crianças uma participação mais ativa, principalmente em
casa, ambiente onde as crianças passam maior parte de suas vidas. E, desde pe-
quenas, convivem com os mais variados ritmos, desde o acalanto da mãe, avós,
pai, tios/as, etc., às brincadeiras com irmãos. Dessa forma, cabe ao professor en-
quanto mediador desse processo de aprendizagem saber trabalhar e desenvolver
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INFÂNCIA E T ERRITÓRIO MARANHENSE
atividades com música de boa qualidade e fazer um elo com as famílias para que
a criança possa repertoriar através de suas vivências.
O ensino de música na educação básica ganha força a partir da Lei
11.769/ 2008, estabelecendo que a música “deverá ser conteúdo obrigatório, mas
não exclusivo, do componente curricular”. E nessa mesma direção, instituiu-se
a Lei 13.278/2016, que incluiu as artes visuais, a dança, a música e o teatro nos
currículos dos diversos níveis da educação básica. Tal normativa altera a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional Lei nº 9.394/1996 (BRASIL, 1996) e es-
tabeleceu prazo de cinco anos para que os sistemas de ensino promovessem a
formação de professores para implantar esses componentes curriculares na edu-
cação infantil, ensinos fundamental e médio.
Percebe-se a urgência em qualificar os professores da educação básica,
destacando a educação infantil, no sentido de capacitá-los na utilização dessa
ferramenta na sua prática cotidiana, considerando que o professor é o mediador
e tem um papel importante no crescimento e desenvolvimento das crianças, por
isso, é necessário que busquem a cada dia novos meios que os levem a desenvol-
ver experiências envolvendo música.
O DCNEI (BRASIL, 2009) afirma que a música é uma linguagem lúdica
e, compreendendo que o professor da educação infantil não tem uma formação
específica nessa área, busque por meio de aperfeiçoamento contínuo ou pós-gra-
duação abordagens para fazer uso dessa ferramenta (música) como mediadora
de aprendizagens infantis.
Percebemos que uma das maiores dificuldades do professor de Educa-
ção Infantil são as limitações de formação e a falta de visão das instituições da
real necessidade destes profissionais para adquirir competência técnica e sensi-
bilidade estética para que o mesmo possa desenvolver o trabalho de sensibiliza-
ção junto às crianças e junto aos familiares.
De acordo com Knoener (2006), o profissional de Educação Infantil
atua como mediador no processo de desenvolvimento e aprendizagem de crian-
ças pequenas, por isso a formação contínua merece atenção especial. O papel do
professor no educar e cuidar ganhou novas dimensões, avançando de uma pers-
pectiva assistencialista para educacional, a comunidade também passou a exigir
uma educação de qualidade, fazendo-se necessário que os profissionais bus-
quem qualificação.
Pensar a formação musical desses docentes é estar discutindo como se
pode contribuir para a melhoria da qualidade da educação musical oferecida
para crianças. Como afirma Kramer (2005), a formação é necessária não apenas
para aprimorar ou melhorar a prática pedagógica, a formação é direito de todos
os professores. Além disso, a aprovação da Lei 11.769/08, e a Lei nº 13.278 sanci-
onada em 02 de maio de 2016 configurou a importância e necessidade de mais
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Esta autora traz a ideia de música enquanto linguagem, pois como tal
“[...] organiza, intencionalmente, os signos sonoros e o silêncio, no continuum es-
paço-tempo” (BRITO, 2003, p. 26). Compreender a música, nesse sentido, é en-
tender que ela acarreta valor simbólico, estético social. Nesse sentido, ela repre-
senta uma forma de expressão.
Mas nem todo som pode ser considerado música, pois ela envolve al-
guns referenciais e o silêncio. Quando batemos com as mãos, pés ou em qualquer
parte do corpo, assim, como objetos, apenas estamos produzindo sons, que
ainda não podem ser considerados música. Para isso acontecer precisamos orga-
nizar os sons produzidos por estes instrumentos a uma organização que associa
os sons produzidos e o silêncio. Atualmente, temos consciência da existência de
várias músicas apreciadas em diferentes culturas, a diferentes públicos, e trazer
para o contexto da educação infantil, busca-se um trabalho interativo e lúdico,
por meio de jogos e brincadeiras cantadas.
A ideia deste trabalho era proporcionar experiências com músicas a fim
de produzir repertórios musicais, pois sabemos que a música nos remete memó-
rias e afeto. A criança é um ser que aprende por meio das interações que estabe-
lece com o outro, com o meio, manipulando materiais e em suas brincadeiras,
por isso, a proposta envolvia a voz, o corpo e objetos do cotidiano.
Sinaliza-se como participantes desta experiência as pesquisadoras, as
professoras da Educação Infantil (creche e pré-escola), as crianças e suas famí-
lias, a partir de atividades lúdicas, interativas que envolveram a música com re-
curso facilitador de aprendizagens e como uma das linguagens expressivas com
crianças.
Destaca-se que diante do contexto atual de pandemia da Covid-19, e
considerando as medidas sinalizadas pelo Ministério da Saúde que passa a en-
fatizar a necessidade de medidas de isolamento social e distanciamento visando
conter a disseminação do Coronavírus, portanto, nosso contato com as institui-
ções e sua equipe se deu através do Google Meet e com as crianças acompanhamos
o desenvolvimento pelo WhatsApp pela produção de vídeos e fotografias reali-
zadas pelas famílias. Inicialmente entramos em contato com a equipe gestora
das instituições para mapear a equipe docente e saber como estão acontecendo
as orientações das atividades com as crianças em casa.
A fim de desenvolver com os professores a reflexão sobre a importância
da música na Educação Infantil para formação integral da criança. Propomos
criar questionamentos para levantarmos as concepções das professoras sobre o
tema: qual sua relação com a música? Quais são suas referências musicais? Que
músicas o fazem lembrar sua infância? Em qual contexto a ouviu (em casa? Na
escola?)? Como você utiliza a música nas atividades propostas as crianças? Após
este momento, buscamos aguçar a percepção auditiva, por meio de exercícios:
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INFÂNCIA E T ERRITÓRIO MARANHENSE
com olhos fechados, procure escutar e definir os sons a sua volta, descrevendo-
os; exercite com gestos no ar oriunda da música (ambiente); acompanhe uma
música batendo as mãos, depois os pés, na coxa, na barriga, na bochecha (uma
de cada vez), como ficou a melodia e o ritmo; agora, utilize um objeto (sugestão:
copo), acompanhe a música “Escravos de Jó”, em círculo; última etapa foi com-
por uma música.
No segundo momento, desenvolvemos experiências com música com as
crianças em casa, na UEB Senador Miguel Lins, lançamos três propostas: a pri-
meira foi apreciar algumas cantigas destinadas ao público infantil, selecionar
uma de preferência e imitá-la com gestos (atividade realizada em março/2021),
o objetivo desta atividade era envolver as crianças, levá-las a fazerem escolhas,
soltar a imaginação. Foi possível perceber com essa atividade um repertório das
cantigas infantis, o que facilitou nossa atividade e permitir que pudéssemos in-
serir estilo musical diferente do habitual trabalhado na instituição e apreciado
em casa.
Na segunda proposta, buscamos desenvolver nosso trabalho educativo
a partir de música “Você chegou”, cantada pelo grupo musical Barbatuque,
grupo música que trabalha a música de forma autoral, utilizando-se da voz e
percurso do corpo. A ideia era que as crianças pequenas pudessem se movimen-
tar a partir da mudança no ritmo musical, criando com o próprio corpo formas
diferentes de expressão de sentimentos, sensações e emoções aguçados por esse
movimento e desenvolver a sensibilidade, sua imaginação, criar gestos, desper-
tar curiosidade. Para ampliar a atividade, criamos uns cards com figuras geomé-
tricas, a fim de que criar movimentos a partir de tais figuras ao ouvir a música
(trabalho desenvolvido em maio/2021).
Na terceira proposta, usamos uma série de cantigas e músicas com di-
ferentes ritmos, do mesmo grupo musical Barbatuque (Samba lê lê, Marinheiro,
etc.), as crianças teriam que se movimento de acordo as mudanças rítmicas no
plano Alto, Médio e Baixo. De acordo com tais mudanças no ritmo, as crianças
teriam que mudar o plano, propomos o uso de objetos flexíveis para auxiliar
nessa mudança: quanto mais agitada a cantiga, o movimento seria no alto, acima
da cabeça; quanto mais lenta, o movimento seria no chão, e assim por diante
(atividade desenvolvida em maio/ 2021).
Na segunda e terceira proposta, foi produzido vídeos autorais das pro-
fessoras para explicar as atividades aos familiares e a partir daí a criança pudesse
participar.
E a quarta proposta envolvendo música na UEB Senador Miguel Lins
aconteceu no mês de junho com apreciação das músicas típicas do período ju-
nino e construir um instrumento musical, após este momento os responsáveis
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A música na educação infantil se constitui um desafio ao professor
dessa etapa, uma vez que o mesmo não se constitui como professor de música.
E, assim pensamos em trabalho que atendesse tanto as crianças com propostas
lúdicas envolvendo a música quanto as professoras das instituições desenvol-
vendo um processo formativo através de reuniões pelo Google Meet e partici-
pando do planejamento para elaboração.
Justificamos a compreensão que a música é uma linguagem artística,
criativa e expressiva que faz parte da natureza humana, desde o ventre uterino,
e promover o contato contínuo da criança com repertórios de boa qualidade
pode gerar contribuições para o desenvolvimento infantil, a partir de um pro-
cesso de criação, expressão, sensibilização, reflexão, interativo e lúdico, usando
o corpo, gestos, grafismos. Fizemos um trabalho colaborativo com as professoras
das instituições destacadas para que nossas intenções de proposta com a mú-
sica, enquanto umas das linguagens usadas pelas crianças como forma de ex-
pressão, afeto e criação e recurso facilitador de aprendizagens e
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desenvolvimento infantil, a fim de que pudessem chegar nas casas das crianças
para que as mesmas pudessem conhecer, vivenciar e partilhar de um rico acervo
musical
Desde que foi decretado em nosso município o isolamento e distancia-
mento social a partir de março de 2020, proveniente das consequências causadas
pela pandemia do novo coronavírus, que as ações e atividades educativas nas
instituições de educação infantil da rede pública de São Luís tiveram que ser
redirecionadas para um novo formato, ou seja, deixamos de atender as crianças
de forma presencial. As professoras tiveram que se reinventar e se adaptar as
novas demandas, por isso o diálogo com as famílias foi imprescindível, elas tive-
ram que assumir a educação sistemática de seus filhos, a partir da orientação das
professoras em grupos de WhatsApp, seguindo a orientação da Secretaria Mu-
nicipal de Educação de sua rede e da equipe gestora de cada instituição. As reu-
niões entre a equipe escolar passaram a ser de forma online através da plata-
forma Google Meet, inclusive as formações na escola.
Os encontros de formação continuada para professoras no interior das
instituições, mesmo de forma virtual, requer um olhar cuidadoso, crítico, atento
e, principalmente, reflexivo, uma vez que os desafios na educação infantil são
muitos e, estar a par de conhecer as especificidades desta etapa não é tarefa fácil,
pois sabemos enquanto formadoras e formandas das carências em nossa forma-
ção inicial. Construir saberes/ fazeres em nossa prática requer estudo, agir, re-
fletir e mudar, quando propomos a música no processo educativo da educação
infantil enquanto umas das linguagens que as crianças pequenas utilizam para
se expressar, para interagir e, por que não brincar, pensamos constituir junto ao
grupo de professoras das UEBs Senador Miguel Lins, das quais fazemos parte
como profissionais que atendem as crianças seja como professoras seja como for-
madoras, um diálogo e uma reflexão daquilo que estamos ofertando as crianças,
principalmente neste momento em que as famílias passaram a assumir quase que
totalmente a educação institucional delas. Por isso, o elo com a música enquanto
linguagem comum entre adultos e crianças se fez necessário.
Sabemos que a música faz parte da vida das pessoas despertando afetos,
pensamentos e prazeres. Por isso, ao trazermos para o campo educativo a música
como recurso facilitador de aprendizagens e desenvolvimento infantil, levou-
nos a buscar entendimentos sobre o que é música e como ela pode contribuir
com a prática docente.
Assim, passamos a usar a música junto as atividades lúdicas com as cri-
anças, e reconhecer que ela é uma linguagem, pois organiza sons e silêncio, com-
binando melodia, ritmo entre tantos outros signos.
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FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES
NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA EXPERIÊNCIA
DE PRÁTICA DOCENTE E AUTONOMIA
PEDAGÓGICA
INTRODUÇÃO
Muito se tem cobrado do professor para que a escola seja uma institui-
ção de resultados. As Secretarias de Educação adotam programas que buscam
atender as necessidades das redes de escolas públicas, e assim, formar os profes-
sores para o conhecimento e reflexão de sua prática pedagógica. Porém, é neces-
sário desenvolver, em meio a tantas informações, a capacidade de resolver situ-
ações-problemas sem intervenção administrativa. É necessário ter Autonomia
Pedagógica diante da realidade em que se atua.
Desde a inclusão da formação como pauta de discussões legislativas,
concepções surgem em torno deste termo, que, de acordo com cada década, as-
sumem conceitos próprios de cada contexto e significados que revelam as inten-
ções educacionais para a docência.
Inserida nesta discussão está a Rede Pública Municipal de São Luís -
MA, que, através da intervenção da SEMED (Secretaria Municipal de Educação)
vêm, desde os anos 2000, reestruturando a formação dos professores das escolas
públicas municipais, inclusive os da Educação Infantil. Com programas, como o
Projeto Escola Sonhos do Futuro e o Programa São Luís Te Quero Lendo e Es-
crevendo, as iniciativas tomadas pela Secretaria possibilitaram a constituição de
uma nova concepção sobre a formação dos professores no município, dentre elas,
a estruturação de formações continuadas nos espaços das escolas.
Por isso, esse artigo parte de uma pesquisa que se propôs analisar a prá-
tica docente na Educação Infantil em uma escola-anexo da Rede Pública Muni-
cipal de São Luís - MA, que em seus encontros de formação continuada
1
Professora do Departamento de Educação I. Universidade Federal do Maranhão. Coordenadora
GEPIB/UFMA e pesquisadora sobre História, Política e Cultura da Infância. E-mail: rosyane.du-
tra@ufma.br
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Gadotti (1997, p. 47) sinaliza este caminho rumo à autonomia como ou-
sado, porque “é preciso percorrer um longo caminho de construção da confiança
na escola e na capacidade dela resolver seus problemas por ela mesma, de se au-
togovernar.” O autor ainda conclui com a ideia de que “escola autônoma não sig-
nifica escola isolada mas em constante intercambio com a sociedade.”
Assim como na sociedade, na escola o professor vivencia problemáticas
diárias, como: a dicotomia teoria-prática; a ruptura na formação pedagógica; a
diluição do objeto da formação num currículo constituído por disciplinas estan-
ques; a dificuldade de influência, sobretudo das práticas pedagógicas e de ges-
tões inovadoras, na transformação das práticas escolares. Uma escola compe-
tente para um ensino crítico e criativo com qualidade demanda um profissional
com perfil de competências para satisfazer esta necessidade. O professor, por-
tanto, desenvolve habilidade de formador e estimulador do pensamento e da in-
teligência do aluno (PERRENOUD, 2000).
Ou seja, o professor, ao construir sua prática pedagógica, está em contínuo
processo de diálogo com o que faz, porque faz e como deve fazer. È quase in-
tuitivo esse movimento de olhar, avaliar, refazer. Construir e desconstruir; co-
meçar de novo; acompanhar e buscar novos meios e possibilidades.
(FRANCO, 2012, p. 186).
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Reciclagem foi (ou continua sendo) um termo muito utilizado nos dis-
cursos e textos publicados na área educacional. Porém, ele pertence à área bio-
lógica, que o caracteriza como um processo de modificação de objetos e materi-
ais, reaproveitando-os para outras finalidades. A adoção desse termo no meio
educacional levou à proposição de cursos rápidos, palestras, encontros, que ti-
nham por objetivo jogar conceitos gerais e reduzidos sobre temas educacionais
polêmicos de forma superficial e que desconsideravam o cotidiano escolar. “A
ênfase nos cursos de reciclagem para educadores, portanto, mais que um mo-
dismo do discurso pedagógico, reiterava e fomentava a diferenciação entre aque-
les que deles participavam e os que não eram envolvidos nesse processo de atu-
alização” (MENEZES, 2003, p. 314).
Essas e outras concepções perpassam as políticas educacionais que de-
marcam discursos e práticas dos sistemas de ensino em relação aos espaços de
formação profissional, sejam em seminários, congressos e encontros, sejam nas
escolas.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A formação continuada de professores na Educação Básica é um requi-
sito essencial para o desenvolvimento das atividades na escola. É nesse processo
que novas competências são trabalhadas para o alcance dos objetivos de profis-
sionalização, pois é na interação com informações adicionais e com os colegas
de trabalho que se garante a aprendizagem. Porém, para a ampliação do universo
cultural do professor a formação precisa atender alguns quesitos, como o tempo
e espaço pedagógicos, disponíveis para o momento da troca de experiências, e a
participação comprometida dos profissionais nos encontros para estudos.
No Brasil, as políticas de valorização do magistério, dentre elas a For-
mação dos Educadores, tem avançado nas discussões sobre sua importância,
mas ainda existe muita dificuldade na implantação de um programa de formação
contínuo nas escolas, principalmente de Educação Infantil. O principal entrave
ainda recai sobre as horas dedicadas aos estudos não serem remuneradas ou cer-
tificadas, para incentivo ao plano de carreira. As secretarias de educação inse-
rem, na carga horaria do professor, 4 horas de estudos semanais, para realização
de formação com os professores pelo coordenador pedagógico, o caso da SE-
MED/São Luís. Porém, com a falta do incentivo, muitas escolas abandonaram a
proposta de formação na escola com os professores, por isso, a importância desse
trabalho, que destaca a iniciativa de uma escola que não desistiu de aprender,
mesmo diante dos empecilhos.
O que aprendemos com os resultados da pesquisa, a qual é abordada
neste artigo, é que as ações, tanto das secretarias de educação quanto das
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INFÂNCIA SUBMISSA:
A EDUCAÇÃO FEMININA NO
MARANHÃO PROVINCIAL
1. INTRODUÇÃO
As instituições de recolhimento de crianças pobres e desvalidas no Ma-
ranhão apresentavam uma imagem clara das diferenças sociais presentes na edu-
cação maranhense do século XIX, destacando uma dualidade: um ensino voltado
às massas populares, com uma educação elementar que sustentasse o emprego e a
manutenção do corpo dócil, e que objetivava a formação de uma elite, contendo a
classe subalterna nos abrigos. A instrução dessas crianças era arrolada na questão
do trabalho, de uma formação profissional. Por essa razão, o ensino primário era
obrigatório para crianças e jovens, como garantia da transformação da sociedade
em busca de um progresso e de uma civilização, além de ser usado como reprodu-
ção de hierarquia e ordem do Império. (ABRANTES, 2003)
As meninas, em específico, recebiam maior atenção do governo provin-
cial, que se respaldava na institucionalização dessa infância para a disciplinari-
zação das mulheres, no controle do pudor. Sob uma rotina que envolvia rezas e ofi-
cinas de costura, as crianças maranhenses ficavam tuteladas pelas irmãs, pelos
padres e demais interessados em submeter a infância às concepções conserva-
doras, patriarcais e moralizadoras do corpo feminino. O Asilo de Santa Tereza,
instituição de recolhimento de crianças desvalidas no século XIX, foi criado
como espaço para que as meninas se tornassem futuras mães de família, estabe-
lecendo um lugar junto a dita sociedade maranhense, que pautava suas condutas
nos moldes europeus.
1
Graduanda do Curso de Pedagogia – UFMA, pesquisadora GEPIB/UFMA. E-mail: raylina-
maila@gmail.com
2
Graduanda do Curso de Pedagogia – Faculdade Santa Fé, Professora Titular da Rede Particular
de Ensino, Pesquisadora GEPIB/UFMA. E-mail: helloyse_marques@outlook.com
3
Professora do Departamento de Educação I. Universidade Federal do Maranhão. Coordenadora
GEPIB/UFMA e pesquisadora sobre História, Política e Cultura da Infância. E-mail: rosyane.du-
tra@ufma.br
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dos Pretos, em 1821, cedeu espaço para aulas de primeiras letras oferecidas pelo
padre Veloso; em 1753 o Recolhimento de Nossa Senhora da Anunciação e Re-
médios passa para as Irmãs Ursulinas, posteriormente passando a designar Co-
légio de Santa Teresa, em 1871, um pensionato para meninas pobres o qual as
famílias custeavam; a Capela de Nossa Senhora do Recolhimento designada para
assistir as alunas. Abranches (2002), afirma que o ensino jesuítico, além de fa-
vorecer os pobres livres, também era utilizado como base da educação das elites.
Pontuando como ensino com disciplinas rígidas e morais.
Enfim, o Maranhão demonstrou o desejo de proporcionar uma educa-
ção que alcançasse meninas pobres e desvalidas, bem como meninas que fossem
de famílias mais abastadas com o objetivo do desempenho das “funções” atribu-
ídas ao sexo feminino, a saber, as de mães, esposas e filhas, e visando restringir
as mulheres ao espaço privado do lar e sua educação às prendas domésticas. “A
educação feminina pautada no ideal de preparar a mulher para o casamento e a
maternidade” (ABRANTES, 2003, p. 2). O ensino público oferecido primava a
instrução de doutrinas religiosas e morais, conhecimento básico da leitura, es-
crita, as quatro operações, ensinamentos domésticos, este com finalidade ma-
terna. Existia uma desigualdade educacional marcante, tanto nos conceitos de
ensino, quanto na presença de meninas matriculadas em instituições e até na
quantidade de escolas. Como nos aponta o relatório do Presidente da Província,
Dr. Antônio Alves de Sousa Carvalho (1867)
Existiam na província 100 cadeiras primárias do 1° grau, sendo 60 do sexo mas-
culino e 40 do feminino. No 2° grau do ensino primário existiam somente ca-
deiras de meninos, sendo três na capital e cinco no interior. As cadeiras do
ensino primário foram frequentadas por 2.874 alunos, sendo 2.113 meninos e
661 meninas, as da capital tiveram uma frequência de 658 alunos, sendo 449
meninos e 209 meninas. A frequência total nas escolas públicas nesse ano foi
de 3.532 alunos. No ensino primário particular foram registrados 16 cadeiras,
sendo 11 para meninos e 5 para meninas, com uma frequência total de 953 alu-
nos, 564 do sexo masculino e 399 do feminino. Na instrução secundária parti-
cular eram 9 colégios, sendo 1 para o sexo masculino na vila de S. Bento e 8 na
capital, 4 para rapazes e 4 para moças, com frequência total de 842 alunos. O
ensino público secundário ministrado no Liceu foi frequentado por 156 alunos .
(ABRANCHES, 2003, p. 2).
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12:30 Descanso
13:00 Almoço
17:00 Merenda
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Tabela 2 - Métodos punitivos segundo escala gradual de faltas cometidas pelas educandas do
Asilo de Santa Teresa
NATUREZA DAS PENAS
ESCALA DE GRAVI- ESCALA GRADUAL DE PE-
(SÉRIE DE PROCESSOS SU-
DADE DAS FALTAS NAS
TIS)
Repreensão em particular
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nos faz pensar de que modo a Igreja Católica conseguiu institucionalizar as me-
ninas desvalidas na busca por uma moral apreciada por toda a sociedade.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A criação de instituições femininas tinha um objetivo determinado: for-
mar mão de obra para atender as necessidades da província. No caso específico
do Asilo de Santa Teresa, a sua finalidade era recolher meninas pobres e desva-
lidas e oferecer-lhes uma educação para o lar, de modo que, quando adultas, se
tornassem boas mães de família ou, em alguns casos, educadoras dos filhos das
famílias abastadas maranhenses. A escola se preocupava em formar futuras ‘do-
nas de casa’, mesmo quando muitas delas se tornaram professoras primárias,
pois eram oferecidas as instruções básicas e o conhecimento dos dotes de uma
boa esposa. Todas as atividades eram seguidas com horários rigorosos e puni-
ções dolorosas, correspondendo à quantidade e ao limite da infração cometida
pela educanda. Os relatórios da instituição são bem claros ao tratar dos deveres
das educandas, e os relatórios da Província nos fizeram enxergar a realidade da
instituição.
Apesar de objetivos claros e finalidades educativas relevantes, mesmo
se considerarmos a permanência das diferenças de classes sociais, o Asilo sempre
foi objeto de críticas dos governos que não viam com bom grado os custos signi-
ficativos dos cofres provinciais com a manutenção das internas (alimentação,
vestuário e outras necessidades fundamentais para a sobrevivência das meninas
e da instituição). Outro fato que contribuiu para o seu fim foi a promessa de
dotes às moças, após contraírem matrimônio, e as despesas com os enxovais.
Portanto, durante o seu ciclo de vida, esse estabelecimento exerceu suas
atividades educacionais e contribuiu para o desenvolvimento da província do
Maranhão, mesmo levando em consideração os problemas estruturais e organi-
zacionais ocorridos ali. Tal situação não difere das demais instituições de reco-
lhimento da infância pobre e dos órfãos no Maranhão oitocentista (Casa dos
Educandos Artífices, Escola Agrícola do Cutim e Escola de Aprendizes Mari-
nheiros), que, com finalidades e natureza de formação divergente, há similarida-
des nas formas de educação, no controle e regulação do tempo e nas estratégias
de ordenar e regular os corpos e a alma.
O Asilo formou uma série de meninas para diversas atividades, notada-
mente professoras que contribuíram para a abertura de escolas em várias locali-
dades da província do Maranhão. Essa pesquisa também tem possibilitado tra-
zer à tona a informação sobre a presença de mulheres negras em instituições
escolares, pois, até certo tempo, acreditava-se que a raça negra não havia fre-
quentado instituições educacionais.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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AS VIVÊNCIAS INFANTIS DE PLANTAR
E COLHER: BRINCANDO E APRENDENDO COM
A HORTA ESCOLAR
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho descreve experiências vivenciadas, por meio da
educação ambiental e alimentar, em uma Creche Escola situada na cidade de São
Luís, capital do Maranhão. Esta pesquisa tem como foco a observação partici-
pante, demonstrando o seu desenvolvimento pedagógico na educação como mé-
todo que possibilita maior conhecimento e significado ao processo de ensino e
aprendizagem de crianças da educação infantil.
Observação, segundo Dicionário Aurélio (2002, p. 493), é “o ato ou
efeito de observar”. É ação de considerar com atenção as coisas, os seres, os even-
tos. É a fase inicial da experiência, onde se organiza e ordena seus espaços. Du-
rante os dias na escola, foi dada a oportunidade de conhecer o espaço físico e os
sujeitos do ambiente, salas de aulas com suas respectivas professoras e crianças.
Entrevistas foram aplicadas com o corpo docente, gestão, funcionários e família,
com o intuito de conhecer toda a rotina escolar e sua organização.
1
Pesquisadora - GEPIB/UFMA, Pedagoga, Professora da Rede básica de ensino, Mestranda em Edu-
cação pela Universidade Federal do Piauí. Especialista em Gestão escolar e docência do Ensino
Superior. E-mail: hcarneirosc20@gmail.com
2
Graduada em Geografia Licenciatura pela Universidade Estadual do Maranhão – UEMA. Profes-
sora. Graduanda em Pedagogia pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA. Pesquisadora
do GEPIB/UFMA. E-mail: carmemcely7@gmail.com
3
Graduada em Filosofia - UFMA, Graduanda em Pedagogia pela Universidade Federal do mara-
nhão, Assistente Administrativo- função secretária de Curso Pós-Graduação - Lato sensu. E-mail:
claudiacabral381@gmail.com
4
Graduanda em Pedagogia – UFMA. Professora com experiência na Educação Infantil. E-mail: na-
thaliambo@outlook.com
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Com isso, trabalhar com projeto na educação infantil nos levou a per-
ceber a importância do conhecimento significativo para as crianças não só den-
tro, como em todo ambiente escolar e em sua realidade.
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4. RESULTADOS DA PESQUISA
Segundo Rodrigues (2007, p. 14) “pesquisar, significa, de forma bem
simples, procurar respostas para indagações propostas”. Nessa perspectiva, a in-
tenção dessa pesquisa era compreender o trabalho escolar com a experiência da
organização da horta com as crianças, percebendo como interações e
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Já havia existido uma horta aqui na creche, com hortaliças, verduras, legumes,
porém não foi adiante, não consegui retomar a horta. Então quando o projeto
agora está caminhando novamente a ser o que era, fico muito feliz [...] pois isso
implica no desenvolvimento das crianças. Ou seja, as crianças terem uma alimen-
tação saudável diretamente da nossa horta[...] (Gestor Escolar, 45 anos).
O trabalho vai melhorar o convívio das crianças aqui e o mundo afora. Saindo
daqui com outra mente em relação ao cuidar da sua alimentação [...]. Quer
dizer, coadjuvar a família na sua própria casa, a começar com uma horta pe-
quena, e assim dando continuidade ao longo da vida[...]. Estamos de parabéns
por essa iniciativa. (Coordenadora Pedagógica, 63 anos).
Quando meu filho me contou da novidade, vi nos olhos dele a alegria de me
dizer do projeto, em que ia comer alimentos saudáveis, diferentes e direta-
mente da creche. Então não me enganei ao colocar ele na creche, pois sei que
existe parcerias e projetos presentes no mesmo. Como mãe, quero o desenvol-
vimento dele como um todo, não só no aprender, mas no psicológico, sua no-
ção em relação as coisas [...]. Contudo, a horta escolar é essencial para a vida
cotidiana das crianças, espero que todos os pais apoiem como eu e ajudem
também a continuar essa atitude das garotas do projeto. (Mãe, dona de casa,
30 anos).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da pesquisa na Creche Escola, descobrimos que é possível rom-
per com as práticas escolarizantes na Educação Infantil ao vivenciarmos a pers-
pectiva de trabalho por projeto, por meio do plantar, colher, brincar, ensinar e
aprender com a horta escolar, sensibilizando a criança que deixou de ser passiva
e assumiu o protagonismo nesse processo.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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GASPARIN, José Luiz. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. 5 ed.
Campinas, SP: Autores Associados, 2011.
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QUIVY, R.; CAMPENHOUDT, L. V. Manuel de recherche em sciencessociales.
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MAGALHÃES, A. M. A horta como estratégia de educação alimentar em creche.
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MINAS GERAIS. Escola Plural. Pedagogia de Projetos. Prefeitura Municipal de Belo
Horizonte, 1994.
123
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A INFÂNCIA CRIA E RECRIA: EXPERIÊNCIAS
BRINCANTES COM CRIANÇAS DO POVOADO
CAPOTAL NA CIDADE DE ANAJATUBA-MA
1 INTRODUÇÃO
As crianças são reveladoras de um universo que ultrapassa as fronteiras
dos lugares que vivem. No campo, elas recriam as possibilidades no encontro
com a natureza, por utilizarem elementos naturais como brinquedos, por exem-
plo. A aproximação investigativa nesse contexto precisa respeitar a relação cri-
ança-contexto-objeto, considerando os novos significados que a infância denota
sobre a realidade concreta. Assim, enquanto brincam, são capazes de mobilizar
novas ideias sobre essa atividade, criando e recriando os espaços, os tempos, os
artefatos e toda a materialidade envolvida em seus territórios demarcados.
No contato com as comunidades rurais no interior do estado do Mara-
nhão, o Grupo de Estudos e Pesquisas Infância e Brincadeiras (GEPIB) da Uni-
versidade Federal do Maranhão (UFMA), atentou para a infância do campo e
suas principais manifestações culturais, enquanto brincavam. Nessa investiga-
ção, o objetivo era reconhecer nas atividades brincantes das crianças em seu con-
texto de vivência com sua comunidade, as práticas, os movimentos e as brinca-
deiras reveladoras de um lugar próprio.
Por meio da pesquisa de campo, as análises realizadas a partir das ob-
servações e das falas das crianças sobre o que brincavam e o que recriavam
1
Pedagoga, especialista em educação infantil. Professora da Rede Municipal de Ensino – São
Luís/MA. Pesquisadora – GEPIB/UFMA. E-mail: jaquicileneeducacao@gmail.com
2
Graduada em Pedagogia, pela Universidade Federal do Maranhão/UFMA. Especialização em Ges-
tão Educacional pela Faculdade Atenas Maranhense - FAMA. Integrante do Grupo de Estudo e
Pesquisa Infâncias e Brincadeira - GEPIB/UFMA. E-mail: ailapedroso73@gmail.com
3
Professora do Departamento de Educação I. Universidade Federal do Maranhão. Coordenadora
GEPIB/UFMA e pesquisadora sobre História, Política e Cultura da Infância. E-mail: rosyane.du-
tra@ufma.br
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criativo do ser humano e Vygotsky (2012) enfatiza que, a atividade humana não
se resume em apenas reproduzir experiências ou impressões vividas, mas (re)
criar imagens e ações criativamente por meio das vivências passadas, novas ex-
periências e comportamentos.
A atividade criadora da imaginação está em relação direta com a riqueza e a
variedade da experiência acumulada pelo homem, uma vez que esta experiên-
cia é a matéria-prima a partir da qual se elaboram as construções da fantasia.
Quanto mais rica for a experiência humana, mais abundante será a matéria
disponível para a imaginação” (VYGOTSKY, 2012, p. 32).
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interagir com outras crianças, já que a interação entre os pares é um fator im-
prescindível para a socialização e a aprendizagem.
No decorrer da história surgiu um personagem que foi o objeto da con-
fecção de uma oficina brincante (avião) feito de papel. Observamos a alegria e
satisfação das crianças quando foi proposto a criação do aviãozinho, onde pude-
ram usar de sua imaginação criativa, que é uma realização humana, geradora do
novo que se retrata dos reflexos de algum objeto do mundo exterior ou de deter-
minadas elaborações do cérebro. Um outro aspecto importante reside em que a
criatividade tem uma origem social veiculada através da atividade de troca sim-
bólica entre os indivíduos. Durante a confecção dos aviões pelas crianças obser-
vamos a interação e troca de conhecimentos quando trocavam ideias a respeito
de como seriam seus aviões (VYGOSTSKY, 2012).
Para dinamizar o momento, levamos as crianças para um campo de fu-
tebol existente no povoado onde puderam usar sua imaginação e brincar livre-
mente com suas produções. Foi um momento ímpar para nós enquanto pesqui-
sadoras perceber e participar do sentimento que impele da criança, expressar
seus sentimentos, valores e conhecendo a si próprio, construindo sua identi-
dade, explorando o mundo, a natureza, fantasiando, criando e recriando múlti-
plas linguagens e construindo cultura. A pesquisa foi de fundamental importân-
cia para o nosso crescimento enquanto Grupo de Estudos e Pesquisas Infância
Brincadeira - GEPIB, visto que o brincar tem uma vital importância que se rela-
ciona com a cultura da infância que coloca a brincadeira como ferramenta para
a criança se expressar, aprender e se desenvolver (KISHIMOTO, 2010).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As experiências encontradas no campo e na cidade, com as crianças e
seus brincares, são apresentadas como possibilidades de manifestação cultural
na infância, em seu contato com o mundo adulto e com o ambiente natural.
Nessa relação, as crianças são capazes de reinventar práticas e formas de cons-
trução de seus próprios brinquedos e brincadeiras, na intervenção que realizam
sobre esse contexto, com os materiais que possuem e demonstram ser possível
brincar sob novas perspectivas.
A tendência das culturas infantis é se apropriarem desses encontros
com os outros como momentos únicos de criação, tendo as crianças como pro-
tagonistas de suas inventividades e produções individuais. Em Capotal-MA, elas
nos ensinam a olhar com sensibilidade para o lúdico e a ludicidade, em rotinas
brincantes e inclusivas, que revelam um universo ideal, num contexto de difi-
culdades. É possível romper com o caos e recriar um novo lugar para viver com
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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VYGOTSKY, Lev. A Construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins
Fontes, 2000.
134
DISCIPLINA E DEVOÇÃO NA EDUCAÇÃO
DAS MENINAS: O RECOLHIMENTO DE NOSSA
SENHORA DA ANUNCIAÇÃO E REMÉDIOS
NO MARANHÃO
1. INTRODUÇÃO
A história da educação das mulheres sempre esteve marcada pela sub-
missão, pela devoção e controle dos corpos. Esses princípios, próprios de insti-
tuições sob a custódia da Igreja católica, moralizavam as condutas das meninas
desvalidas na capital da província do Maranhão. O recolhimento do corpo,
marca da sociedade patriarcal e provincial, revelava a preocupação dos governos
em preservar a honra das mulheres, confinando-as em espaços referenciados
como educativos, mas que disciplinavam as condutas femininas. A rotina de ora-
ções e de oficinas profissionalizantes, demarcavam o cotidiano institucional e
controlavam o tempo das crianças, no sentido de prepará-las para assumir fun-
ções domésticas.
Numa sociedade escravista e patriarcal, a mulher moralmente correta
controla seus impulsos e desejos. Assim, a mulher que era casada e se relacionava
com outros, ou não vivesse a fidelidade conjugal, era considerada desonrada, e
marginalizada socialmente (DEL PRIORE, 2004). As instituições de recolhi-
mento feminino, entendidas como lugares de abrigamento para pessoas que não
1
Pesquisadora - GEPIB/UFMA, Pedagoga, Professora da Rede básica de ensino, Mestranda em Edu-
cação pela Universidade Federal do Piauí. Especialista em Gestão escolar e docência do Ensino
Superior. E-mail: E-mail: hcarneirosc20@gmail.com
2
Graduada em pedagogia pela Universidade Estadual do Maranhão-UEMA, Especialização em Psi-
copedagogia e Coordenação Pedagógica pela Universidade Federal do Maranhão - UFMA, Pro-
fessora da Educação Infantil do município de São Luís. E-mail: inesmais@gmail.com
3
Pedagoga, membro Grupo de Estudos e Pesquisas Infância e Brincadeiras (GEPIB), especialista
em Educação Infantil e séries iniciais, pós graduanda em psicopedagogia, professora de Educação
Infantil da rede privada. E-mail: isajofra28@gmail.com
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aumentou o recurso para um conto e duzentos mil réis, entre os anos de 1861 e
1862” (MARANHÃO, 1860-1863). Nesse contexto, nos anos de 1850 o Recolhi-
mento expandiu a admissão de jovens pobres, recolhendo então educandas, ór-
fãs ou não, mulheres casadas, meninas indisciplinadas, viúvas e professas.
Os estatutos criados para os Recolhimentos serviram de base para a cri-
ação das regras de conventos, apesar de haver uma certa semelhança em sua or-
dem paradigmática (ALGRANTI, 1993). Os estatutos garantiam a ordem desse
espaço, a rotina das mulheres e principalmente a obediência e cuidados com seu
corpo e seu comportamento. Eram obrigadas a seguirem os modelos impostos.
Porém, no Maranhão, o estatuto criado com a fundação do Recolhimento, não
foi mantido na documentação da Igreja católica. Dom Marcos Antônio de Sousa
reestruturou o estatuto de forma condescendente. O novo Estatuto foi reformu-
lado de acordo com o Bispo Diocesano e o Governo da província. Este pretendia
o resgate na formação da clientela, ou seja, cogitava que o Recolhimento abri-
gasse as órfãs da Santa Casa da Misericórdia e filhas de famílias pobres para se-
rem educadas (MARQUES, 1970). O Estatuto registrava que:
Havendo algumas que não podem ter ao seu favor os cuidados do amor pa-
terno nem gozar as carícias de uma terna mãe, e por outra parte persuadido
que as impressões de primeira idade dirigem a criatura humana em todos os
seus passos, e acompanham em todos os sucessos da vida, e que os hábitos
virtuosos dos anos da inocência, triunfam das paixões é que compendiamos
os estatutos que há mais de oitenta anos regem esta casa de educação, em con-
formidade do sobredito alvará de 2 de março de 1751 ( ESTATUTO DO RE-
COLHIMENTO , 2009, p. 353)
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os estudos sobre a infância no Brasil permitem a visualização das for-
mas escolares e institucionais de abrigamento e condicionamento do ensino às
crianças. Com distinta diferenciação às origens das meninas e dos meninos, a
criação dos espaços de educação da infância brasileira intencionalmente visa-
vam a formação de um povo moldado culturalmente. Às meninas, especifica-
mente, as instituições atendiam ao desejo de uma sociedade em ascensão política
e que precisaria da maquinaria do ensino seletivo para conduzi-las aos propósi-
tos da modernidade anunciada.
O Maranhão Imperial, como Província desejosa em seguir a aurora da
civilização imposta, condicionava os sujeitos considerados inadequados a espa-
ços como os recolhimentos, criados no Brasil Colonial para a contenção dos cor-
pos femininos que tentavam ser livres. Na pesquisa sobre o Recolhimento de
Nossa Senhora da Anunciação e Remédios, a intervenção da Igreja na organiza-
ção da educação das meninas clarifica uma formação moralizante e que junto ao
Estado, prepara a mulher para assumir papéis pré-estabelecidos pelos homens.
A submissão feminina deveria ser mantida para que o poder e controle mascu-
lino fossem majoritários nas decisões sobre elas, desde crianças.
Os resultados desse estudo também possibilitam analisar os fundamen-
tos da educação infantil brasileira que tem se reservado aos discursos e práticas
assistencialistas e enquadradoras das crianças às instituições e suas regras e ro-
tinas pedagógicas. A história das meninas e dos meninos escondidas nos arqui-
vos são reveladores de um projeto de reinvenção da infância, que institui formas
de contenção das liberdades, das culturas e das ideias e que se prolongam pelos
séculos.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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146
INFÂNCIA E SABERES QUILOMBOLAS:
A PARTICIPAÇÃO DAS CRIANÇAS NA
CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL
NO QUILOMBO DE ARIQUIPÁ-MA
1. INTRODUÇÃO
Contar histórias em comunidades quilombolas configura-se como uma
prática cotidiana que contribui para a preservação, transmissão e ressignificação
de saberes e experiências. As histórias são renovadas e atualizadas constante-
mente e por essa razão perseveram como práticas nos quilombos brasileiros.
Nesse sentido, compreende-se comunidades quilombolas como coletivos afro-
descendentes, rurais ou urbanos que utilizam as práticas de contação de histó-
rias como metodologia para a Educação das crianças quilombolas e como ele-
mento de resistência que preserva e ressignifica culturas, identidades,
memórias, reforçando assim, a valorização da identidade cultural.
A contação de histórias contribui também para que seja desmistificada
a concepção limitada do que venha a ser um quilombo, não apenas como lugar
de negros fugitivos, mas, principalmente, como espaço de luta contemporânea
pela posse definitiva de suas terras, de reconhecimento de suas trajetórias indi-
viduais e coletivas, de sua memória e mitos fundadores, sua diversidade (ANJOS;
SILVA, 2004), corroborando para a revisão de concepções estereotipadas e limi-
tadas desses espaços.
1
Graduanda do Curso de Pedagogia – UFMA, pesquisadora GEPIB/UFMA. E-mail: raylina-
maila@gmail.com
2
Pesquisadora - GEPIB/UFMA, Pedagoga, Professora da Rede básica de ensino, Mestranda em
Educação pela Universidade Federal do Piauí. Especialista em Gestão escolar e docência do En-
sino Superior. E-mail: hcarneirosc20@gmail.com
3
Professora do Departamento de Educação I. Universidade Federal do Maranhão. Coordenadora
GEPIB/UFMA e pesquisadora sobre História, Política e Cultura da Infância. E-mail: rosyane.du-
tra@ufma.br
147
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149
INFÂNCIA E T ERRITÓRIO MARANHENSE
constituição de famílias, por sua subsistência e por outras formas de protagonismos africanos e ne-
gros. Foram locais em que houve a ressignificação de elementos africanos e negros.
Ao falarmos de modo de vida, voltamo-nos a Cultura como universo simbólico em si
mesmo, de cada povo, organizado socialmente de maneira coerente e limitada. Diante disso, haveria
padrões discretos de comportamentos, cognição e valores compartilhados entre os membros com-
ponentes de cada grupo em contraste com os membros de outros grupos (MATHEWS, 2002).
150
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151
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A criança quilombola é um sujeito lúdico que cria brinquedos e brinca-
deiras, enquanto anuncia modos de vida, concepções de mundo, aprendizagens,
educação. Suas brincadeiras são espaços e tempos de trocas acerca de percep-
ções sobre a comunidade, a história, a identidade negra e quilombola e a relação
com o campo mítico-religioso.
Esse universo lúdico mostra também a participação e a agência infantil
na organização de propostas coletivas, as quais revelam valores do grupo, tais
como: união, solidariedade e cumplicidade. Essas crianças, nascidas durante e
após as mudanças advindas do reconhecimento quilombola, crescem em meio às
aprendizagens adultas diante das novas designações que o território e seus su-
jeitos recebem, e durante o diálogo com instâncias governamentais e a aproxi-
mação dos movimentos sociais negro e quilombola. Elas visitam Casas de Cul-
tura, aprendem manifestações culturais afro-brasileiras, participam de projetos
culturais e são alvos de intencionalidades adultas preocupadas com a manuten-
ção de uma tradição de cuidado da terra e de guardiãs da memória coletiva. Esses
espaços educam sobre quem se é, o que significa “ser quilombola”, e estão pre-
sentes no processo de territorialização dos grupos.
As culturas infantis mostram que existem processos de aprendizagem
em que as crianças são sujeitos ativos diante de adultos que transmitem formas
152
INFÂNCIA E T ERRITÓRIO MARANHENSE
de pensar e agir. "Ser quilombola” é aprender e ensinar pela oralidade, que pro-
picia descobertas caracterizadas por "lealdades e adesões que fazem do agir uma
motivação para aprender” (ITURRA, 1996. p. 34). Desse modo, o pensamento
sobre valorização da identidade, território e educação, a partir das crianças qui-
lombolas, mostra as muitas facetas de ser criança, ser negra e pertencer a um
território étnico-racial na sociedade brasileira. Aponta com o pensar educação
na perspectiva da interculturalidade, tendo a escola com o lugar do encontro
entre diferentes, é fundamental, sem perder de vista o diálogo entre saberes de
âmbitos distintos e complementares: local, nacional e global.
Essas crianças, nas suas vivências, nos seus contextos, também são cri-
adoras dos seus repertórios lúdicos, os quais não são criações fechadas na indi-
vidualidade do criador, pois esse processo criativo emana diferentes aspectos
que reafirmam relações culturais, sociais e históricas, além de perpassar cons-
tantemente por situações de validação, seja pela aceitação ou negação, do pró-
prio grupo. Diante disso, Vygotsky (2009) considera que:
Todo o inventor, por genial que seja, é sempre produto da sua época e do seu
ambiente [...] a obra criadora constitui um processo histórico consecutivo no
qual cada nova forma se apoia sobre as anteriores. Como diz Ribot: [...] por
muito individual que pareça, toda a criação comporta sempre em si um coefi-
ciente social. Neste sentido, não há invenções individuais na acepção estrita
da palavra: em todas elas existe sempre uma colaboração anônima.
(VYGOTSKY,2009, p. 35-36)
153
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Logo após o término, sentamos para conversar sobre o que acharam da história
e sobre suas famílias, buscando relacionar com o texto.
As crianças conhecem a história de resistência e luta do povo quilom-
bola, sabem como os escravos ‘conquistaram’ sua liberdade para que hoje seus
descendentes sejam livres. E, da história contada e socializada percebemos que
alguns se auto reconhecem, outros não, uns sentem vergonha da identificação,
outros não se posicionam, ou seja, há um processo atual sendo construído na
comunidade acerca do ‘ser quilombola’ num movimento vivo de fazer a história.
Cabe expor alguns depoimentos que nos ajudam a elucidar as informações e va-
lores que estão sendo construídos ou até negados sobre a história quilombola
nesse lugar:
Ser quilombola é um orgulho para mim, pois é um povo que lutou e conseguiu sair da escra-
vidão. (Criança A)
Ser quilombola é ser Preto. (Criança B)
Ser quilombola é ser unido e ajudar as pessoas. (Criança C)
Ser quilombola é trabalhar em comunidade e fazer as coisas com a família e os amigos.
(Criança D)
155
INFÂNCIA E T ERRITÓRIO MARANHENSE
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156
INFÂNCIA E T ERRITÓRIO MARANHENSE
157
ENTRE OS SONS DAS LETRAS E DOS
PASSARINHOS: OS DESAFIOS DO ENSINO
REMOTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
DA COMUNIDADE DO QUEBRA-POTE
EM SÃO LUÍS-MA
Introdução
Ao nascer a criança se insere no mundo letrado. Através do convívio
com seus familiares e dos eventos sociais que participa, a criança vivencia as
múltiplas práticas de letramento. Ao entrar na escola, portanto, já percorreu um
caminho que mobilizou leituras do mundo antes mesmo de iniciar o seu pro-
cesso de alfabetização. As práticas e eventos de letramento vivenciados nas ins-
tituições de Educação Infantil tem contribuído para o desenvolvimento da lin-
guagem nas crianças pequenas, principalmente em comunidades da zona rural,
onde as possibilidades de interação com os elementos da natureza possibilitam
releituras significativas.
Contudo, perante uma Pandemia de Covid-19, houve a necessidade de
buscar novos mecanismos para dar continuidade ao processo educativo, pois as
escolas precisaram ser fechadas. A solução adotada pela maioria das escolas foi
o uso das tecnologias, que nesse novo contexto exigiu que os professores repen-
sassem suas práticas pedagógicas.
Em São Luís, capital do Estado do Maranhão, as escolas rurais reinven-
taram suas propostas de educação das crianças na Educação infantil. Sob o de-
safio do Ensino Remoto, orientado pela Secretaria Municipal de Educação como
modalidade única de ensino para a etapa, os educadores, coordenadores e
1
Graduada em Pedagogia (UFMA), professora da Educação Infantil -SEMED/São Luís-MA, Pes-
quisadora GEPIB/UFMA. E-mail: layna_jesus@hotmail.com
2
Pedagoga, membro Grupo de Estudos e Pesquisas Infância e Brincadeiras (GEPIB), especialista
em Educação Infantil e séries iniciais, pós graduanda em psicopedagogia, professora de Educação
Infantil da rede privada. E-mail: isajofra28@gmail.com
158
INFÂNCIA E T ERRITÓRIO MARANHENSE
gestores escolares tiveram que buscar ferramentas de trabalho com base tecno-
lógica para a continuidade do ano letivo. Sob essa perspectiva, este texto visa
analisar práticas e desafios de docentes, em exercício durante a pandemia, atu-
ante na Educação Básica, em uma escola pública localizada na zona rural.
Este artigo é resultado de uma pesquisa do Grupo de Estudos e Pesqui-
sas Infância e Brincadeiras (GEPIB), que neste momento muito têm contribuído
na reflexão sobre nossas práticas, nos trazendo questões norteadoras para regis-
trar: o ensino remoto se ajusta ao processo de desenvolvimento da linguagem
das crianças que vivem na zona rural, que possuem aparato tecnológico limi-
tado? O distanciamento social vivido nesse momento por causa da Pandemia im-
pacta na aprendizagem da leitura e escrita das crianças na Educação Infantil,
que vivem em contextos rurais?
159
INFÂNCIA E T ERRITÓRIO MARANHENSE
constante para adquirir melhores formas para se manter o contato com as crian-
ças e as famílias.
Criança é um sujeito histórico e de direitos que nas relações, interações
e práticas cotidianas nas quais vivenciam, constrói conhecimentos e produz cul-
turas. Se partirmos da concepção de que elas aprendem somente a partir daquilo
que os adultos falam, estamos concebendo-as como um papel em branco. Por-
tanto, a criança deve ser compreendida no sentido plural porque elas são plurais
nas suas formas de viver a infância.
Kramer (2003) interpreta a criança como sujeito histórico e cidadã de
pequena idade, que, embora muitas vezes excluída do processo de construção
do conhecimento humano, das políticas educacionais e dos espaços de sociali-
zação, representa uma leitura específica do mundo no qual está inserida e da
sociedade que ajuda a construir. A autora entende as crianças como cidadãs que
produzem cultura e são nelas produzidas, que possuem um olhar crítico que vira
pelo avesso a ordem das coisas, subvertendo essa ordem.
Nesse sentido, o que queremos ressaltar é que a criança do campo deve
ser reconhecida como este sujeito rico e com infinitas possibilidades. Para isso,
é necessário acreditar no brilho da infância, acreditar que há possibilidades na
criança, pois ela busca compreender o mundo e a si mesma. Em outras palavras,
a criança desde pequena não só 10 se apropria de uma cultura, mas o faz de um
modo próprio, construindo cultura por sua vez.
A atual perspectiva sobre infância, educação, Educação Infantil e socie-
dade aponta um universo distinto no que diz respeito ao interesse político com
foco no desenvolvimento da criança pequena. De um lado, os movimentos sociais
com concepções fortalecidas em relação à infância lutam pelo direito de crianças
de zero a cinco anos de idade. Direito este imbuído de aspectos sociais e culturais
visando o desenvolvimento infantil na sua totalidade. De outro, nos deparamos
com políticas públicas fragmentadas que não valorizam as especificidades das di-
ferentes realidades sociais e culturais nas quais nossas crianças estão inseridas.
De acordo com Linhares e Enumo (2020):
Além das grandes perdas do processo de aprendizagem formal, as crianças es-
tão sendo privadas da necessária socialização com os pares, em que ocorrem
aprendizados significativos para o desenvolvimento humano. tais como: ex-
periências lúdicas compartilhadas, que implica em interações proximais face
a face; cooperação; convivência com as diferenças; compartilhamento de deci-
sões; enfrentamento de desafios; negociação de conflitos; adiamento de grati-
ficações; espera da sua vez; exercício controle de impulsos; entre outras habi-
lidades. (LINHARES; ENUMO, 2020, p. 4).
160
INFÂNCIA E T ERRITÓRIO MARANHENSE
com a linguagem escrita não se limita apenas ao processo de escrita das palavras,
é também parte indispensável do processo de leitura e prática da escrita. Com a
Pandemia por Covid-19, esse processo sofre forte impacto e que mediante exi-
gência de isolamento social, sujeitou educadores e crianças a processos de desi-
gualdades e exclusão social.
De acordo com Nóvoa (2020):
De um modo geral, ninguém estava preparado para esta situação e a avaliação
que, hoje, já podemos fazer revela aspectos negativos, como as desigualdades
e o empobrecimento pedagógico, mas também positivos, como a ligação com
as famílias e a inventividade de muitos professores. É preciso reconhecer os
esforços para manter uma ligação com os alunos e com as famílias. Os gover-
nos deram respostas frágeis, e as escolas também. As melhores respostas, em
todo o mundo, foram dadas por professores que, em colaboração uns com os
outros e com as famílias, conseguiram pôr de pé estratégias pedagógicas sig-
nificativas para este tempo tão difícil. (NÓVOA, 2020, pág. 08)
161
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162
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163
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Rio Tibiri, aprendendo sobre o curso das águas, sobre os diversos tipos de pei-
xes, ou podiam ir até à Baía do Arraial com o ônibus escolar.
Diante disto, entre as primeiras ações com o objetivo de organizar o ano
letivo remotamente, a escola entrara em contato com os pais via telefone, e cada
professor organizara sua lista com contatos, que já existiam no dossiê de cada
criança. Primeiro desafio: a grande maioria dos contatos ou estavam errados, ou
não completavam a ligação, e para conseguir o contato certo ou de algum fami-
liar foi quase um mês, com o apoio de toda comunidade escolar.
Em cada lar poderíamos observar que apenas 1 celular estava disponível
para receber as informações escolares de 2 ou 3 filhos. Existiram casos de ne-
nhum também. A internet utilizada era de dados móveis e não wi-fi. Logo após
a organização das crianças em grupos de WhatsApp, a plataforma mais utilizada
por todos, conversou-se sobre a possibilidade de propostas interativas nessa
rede social, e ficou acertado que seria a melhor forma de alcance da maioria das
crianças. Preservar a identidade da Educação Infantil foi algo que não se abriu
mão, pois logo inicialmente foram relembradas as músicas prediletas, as brinca-
deiras e o compartilhamento com a família.
Lembrando sempre às crianças que elas fazem parte do grupo identitá-
rio da escola e a sensação de pertencimento naquele espaço ainda que não fisi-
camente no momento. As professoras sempre avisavam com antecedência o que
ocorreria a cada semana, para que os pais pudessem se organizar. E ainda havia
a possibilidade de por certo período que o pai não teria acesso à internet, leva-
ríamos as propostas impressas, para aqueles que não possuíam telefones e rece-
biam os recados por vizinhos e amigos.
As especificidades da educação infantil das crianças do campo se inserem num
movimento amplo de lutas por uma educação que reconheça a participação
desses sujeitos (crianças e povos dos territórios rurais) no processo de cons-
trução do conhecimento do mundo e de si mesmos; tal como já se tem avan-
çado no que se refere aos textos urbanos, é necessário considerar que essa
etapa da educação é direito das crianças e não apenas das famílias trabalhado-
ras. (PASUCH; FRANCO, 2017, p. 381-382)
164
INFÂNCIA E T ERRITÓRIO MARANHENSE
familiares, escrevendo seu nome, fazendo seus desenhos, e até mesmo mandando
desafios, como um aluno que pediu para uma professora recitar um trava-língua
e mandar em áudio para ele.
Uma educação infantil que permita que a criança conheça os modos como sua
comunidade nomeia o mundo, festeja, canta, dança, conta histórias, produz e
prepara seus alimentos. Creches e pré-escolas com a cara do campo, mas tam-
bém com o corpo e a alma do campo, com a organização dos tempos, ativida-
des e espaços organicamente vinculados aos saberes de seus povos. (SILVA;
PASUCH, 2012. p. 23)
A escola se tornou uma rede apoio, até para informar a comunidade es-
colar sobre a situação que agravou a pobreza no nosso país. Era preciso dar su-
porte com a distribuição de cestas básicas e informações diversas, sem romanti-
zar o ensino na modalidade remota, por não atender a educação infantil em suas
singularidades e complexidades, mas que no período de pandemia tem aproxi-
mado muito as famílias da gestão escolar e dos professores de Educação Infantil.
Considerações finais
Diante do relato, observou-se que, a inclusão de uma proposta pedagó-
gica que considere a diversidade de contextos das comunidades e povoados que
compõem um município, em situações distintas de letramento, se transformou
em um verdadeiro desafio para as instituições de educação infantil, pois as difi-
culdades são potencializadas no cenário inusitado do isolamento social. Assim,
a realização de práticas letradas que atendam aos anseios de uma sociedade cada
vez mais tecnológica exige várias reflexões.
No período de um longo isolamento social, a criação de políticas públi-
cas que atendam às realidades e suas diversidades para suprir a lacuna deixada
pela ausência de aulas presenciais - com a simples transposição das tradicionais
práticas pedagógicas para o universo digital - não constitui garantia de que o
processo de ensino e aprendizagem aconteça de forma efetiva. Seria preciso as
mobilizações nas comunidades na luta pela garantia de direitos à educação das
crianças, filhos das comunidades rurais, respeitando os saberes da terra.
A Educação Infantil do Campo é um direito das crianças pequenas de-
ver do Estado. Cabe a nós pesquisadores, estudantes, educadores, sociedade
abrirmos discussões e debates para que a criação de políticas específicas que
valorize a criança do campo enquanto sujeito de direitos que produz conheci-
mento e que necessita de interações 13 sociais para que suas culturas sejam so-
cializadas e enriquecidas num processo dialético dentro da escola. Entretanto,
propor educação infantil do campo requer antes uma reflexão sobre que campo
é esse que estamos falando.
165
INFÂNCIA E T ERRITÓRIO MARANHENSE
166
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março de 2021.
167
“DE AMIZADE, LETRAS E RITMOS”:
IDEIAS DAS CRIANÇAS SOBRE A COMPOSIÇÃO
MUSICAL NA ESCOLA BÁSICA1
1
Este artigo foi publicado na Revista da Abem – Associação Brasileira de educação Musical, v. 24,
n 36, 2016. Neste artigo as autoras ampliam a análise e a discussão dos resultados apresentados
na dissertação de mestrado intitulada “A música que eu compus em grupo eu tirei do coração:
perspectivas das crianças sobre a composição musical na escola básica” (VISNADI, 2013),
realizada no Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade do Estado de Santa
Catarina (UDESC).
2
Musicista. Mestre em Música (Educação Musical) pelo Programa de Pós-graduação em Música
da Universidade do Estado de Santa Catarina (PPGMUS/UDESC), na linha de pesquisa Forma-
ção, processos e práticas em Educação Musical (2013). Possui graduação em Licenciatura em Mú-
sica pela mesma universidade (2004). Professora do Curso de Licenciatura em Música – UFMA.
Pesquisadora dos Grupos GEPIB e INVENTA Educação Musical. E-mail: gabriela-
flor.ufma@gmail.com
3
Professora associada do Departamento de Música e integra o corpo docente permanente do Pro-
grama de Pós-Graduação em Música (PPGMUS) e do Mestrado Profissional em Artes (ProfArtes)
da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas
Inventa Educação Musical e membra dos Grupo de Pesquisa MUSE: Música e Educação
(UDESC) e FAPEM: formação, ação e pesquisa em Educação Musical (UFSM). Graduada em Li-
cenciatura em Educação Artística (habilitação Música) – UFRGS, Mestra e Doutora em Música
– UFRGS. Pós-doutorado na Alemanha. E-mail: viviane.beineke@udesc.br
168
INFÂNCIA E T ERRITÓRIO MARANHENSE
Qualquer que seja a forma que ela tome, o principal valor da composição na
educação musical não é produzir mais compositores, mas sim, pelos insights
que podem ser obtidos a partir dela, levar o aluno a relacionar-se com música
de uma maneira particular e muito direta (SWANWICK, 1979, p 43).
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INFÂNCIA E T ERRITÓRIO MARANHENSE
Ouvindo as crianças
Agora, na próxima música que eu fizer, em casa, ou em algum
lugar, eu vou cantar bem alto, pra todo mundo ouvir!
(Axel)
170
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Caminhos da pesquisa
Ninguém consegue fazer nada sozinho,
pra tudo precisa de ajuda...
(Gabriele)
172
INFÂNCIA E T ERRITÓRIO MARANHENSE
al. (2006), a captação de imagens na pesquisa com crianças pode revelar-se uma
rica fonte de elementos a serem analisados. Outro espaço para as crianças ex-
pressarem suas ideias foi aberto nas entrevistas semiestruturadas (ROSA; AR-
NOLDI, 2008) realizadas em grupos. Essas entrevistas aconteceram em dois mo-
mentos: no início do trabalho e ao final dos encontros. Como destacam Dessen
e Borges (apud BELEI et al, 2008, p. 195), a utilização de uma coleta de dados mais
diversificada e abrangente favorece a compreensão do fenômeno estudado e,
consequentemente, maior diversidade e riqueza de informações.
Foram realizados doze encontros semanais com uma hora de duração
na própria sala de aula onde as crianças estudavam, em horário cedido pela pro-
fessora regente. Durante esses encontros, as crianças dispunham de diversos ins-
trumentos musicais – pandeiros, ganzás, tamborins, reco-reco, agogôs, caxixis,
violão e cavaquinho, entre outros – para utilizar na elaboração de suas compo-
sições musicais, além de cadernos e lápis, pretos e coloridos. As crianças organi-
zavam-se livremente formando pequenos grupos de três a seis participantes e
selecionando os instrumentos disponíveis, utilizando a sala de aula e espaços
livres pelo pátio. No total foram produzidas 16 composições musicais agrupadas
em três blocos temporais: o primeiro bloco no início da pesquisa; o segundo na
metade; e o terceiro ao final da pesquisa. Os grupos levavam em torno de dois a
três encontros para compor suas músicas, que eram apresentadas aos demais
colegas da turma quando finalizadas.
Os dados coletados durante a pesquisa – derivados das observações das
aulas, dos registros em videogravação e das entrevistas com as crianças – foram
organizados em três categorias: a) ideias de composição musical na perspectiva das cri-
anças; b) valores e funções da composição musical na perspectiva das crianças; e c) a com-
preensão das crianças sobre o processo de composição musical. É importante ressal-
tar que essas categorias estão intimamente relacionadas entre si, articulando o
que as crianças entendem por composição, quais funções atribuem à atividade
de compor e como explicam esse processo.
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referências musicais por elas citadas, como programas de televisão e rádio e cul-
tos religiosos, com temáticas muito próximas de assuntos vivenciados no seu dia
a dia, como a sua rotina como estudantes; suas paixões; ou situações observadas
na escola e no bairro.
Um exemplo é a paródia Vida de Estudante, composta por um grupo de
quatro meninas. Usando como referência a música Vida de Empreguete4, de Quito Ri-
beiro, as meninas recriaram a letra, adaptando-a ao seu dia a dia de estudantes de
escola pública. Mantiveram a mesma linha melódica, incluíram coreografia e um
acompanhamento feito por um pandeiro e um triângulo. A coreografia é parte in-
tegrante da composição e foi criada simultaneamente à melodia e aos arranjos. As
meninas ensaiaram a música várias vezes em espaços fora da sala de aula para que
a turma não conhecesse a coreografia antes da apresentação – momento para o
qual as meninas se prepararam usando roupas e maquiagem específicas.
Sobre os elementos que constituem as composições, as crianças citaram
elementos musicais e extramusicais, sem fazer distinção ou julgamento de valor
entre eles. Som, instrumentos, voz, ritmo, rima, letra, mensagem, amizade, von-
tade, expressão, pontuação, refrão, dança, ser legal e divertida. Para Taís: “Tem que
ter expressão, tem que vir do coração, principalmente tem que ter a letra”. A letra
é a música, é a parte mais importante da composição, porque a mensagem transmi-
tida por ela é fundamental, e deve ser feita de acordo com as emoções e sentimen-
tos de quem a compôs. Isso porque a música precisa transmitir alguma ideia, ou,
como explica Brito, as crianças entendem “que uma canção tem um tema, que fala
de alguma coisa” (BRITO, 2007, p. 225). Elementos como a rima entre as frases e
a presença do refrão também foram levantados pelas crianças. Para os meninos, as
rimas eram extremamente valorizadas, enquanto para as meninas a emoção trans-
mitida era a característica mais importante da composição.
Os instrumentos musicais, por sua vez, “dão o ritmo”, subordinados à
letra, já que o ritmo, como explica Taís, “é também o que combina com a mú-
sica.... ritmo é o som que combina com a música”. A dança, em muitos casos, faz
parte da composição, e as crianças explicam que deve ser trabalhada em con-
junto com os outros elementos, principalmente nas peças de andamento ligeiro
e com temáticas bem-humoradas. Para várias crianças da turma – principal-
mente as meninas – a dança é tão importante para a música quanto a sua instru-
mentação, e uma depende da outra. Luiz Antônio corrobora essa ideia, ao afir-
mar que a dança “é a expressão da música”.
Quando perguntadas sobre o que configura uma boa composição, as cri-
anças explicaram que a música deve engajar e aproximar as pessoas, levando em
conta todos aqueles que estiverem envolvidos na ação, incluindo os
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Música da novela Cheia de Charme, da rede Globo, que foi ao ar entre abril e setembro de 2012.
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espectadores. Para elas, o valor atribuído a uma composição não implica apenas
os elementos sonoros que a constituem, mas também todo o entorno que per-
meia a ação de compor. A amizade entre os parceiros foi citada pelas crianças
como parte constituinte da composição. Elas consideraram que a confiança e o
respeito entre os integrantes do grupo são indispensáveis para que a composição
fique “boa”. “A gente procura sempre ter mais amigos por perto, porque, sempre
que tem um pouco de amizade, a música sempre fica boa!” (Gabriele).
No decorrer da pesquisa foi possível perceber que para muitas crianças
o conceito de autoria não estava muito claro. Paródias, arranjos ou improvisa-
ções eram entendidos pelas crianças com a mesma relação de autoria, que não
viam problema em utilizar trechos de outras músicas nos seus trabalhos ou fazer
paródias sem citar as fontes. Utilizar ideias de suas músicas preferidas era um
recurso entendido por elas como uma possibilidade legítima na composição.
O conceito de reprodução interpretativa, de Corsaro (1993), pode auxiliar-
nos a refletir sobre essa questão da autoria. O autor explica que muitas vezes a
(re)produção cultural dentro de determinado grupo de crianças, ou cultura de
pares, não é entendida como mera imitação ou apropriação direta da cultura do
mundo adulto, mas uma transformação das informações de forma a atender às
especificidades e aos interesses singulares do grupo. Ainda segundo Corsaro
(1993), nesse processo as crianças não apenas internalizam a cultura adulta, mas
também se tornam parte dela, contribuindo inclusive para a sua reprodução,
através de suas negociações com o mundo adulto e da produção criativa de cul-
turas de pares com outras crianças. Elas apreendem criativamente informações
do mundo adulto para produzir suas próprias culturas singulares (CORSARO,
1993). Entretanto, alertamos que em contextos de educação musical, mesmo
sendo essas práticas legítimas para as crianças e abrindo diversas possibilidades
às práticas pedagógicas, é necessário que os educadores e educadoras estejam
atentos para desenvolver entre as crianças maneiras críticas e conscientes de
utilizar produções alheias, reconhecendo e valorizando a autoria de outros com-
positores e intérpretes.
(Taís)
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Considerações finais
A criatividade musical trazida pelas crianças em suas composições é dema-
siado importante para não ser escutada. É essencial que cada criança co-
nheça sua própria voz, que adquira a confiança e habilidade para desen-
volvê-la, e que os adultos e educadores a reconheçam
(GLOVER, 2000, p. 16).
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configuração gera poucas oportunidades para introduzir novas ideias, novos co-
nhecimentos. Como aponta Beineke (2009), as composições que se distanciam
das ideias de música correntemente aceitas na turma tendem a provocar polê-
micas ou discussões que acionam a transformação e, consequentemente, a am-
pliação das ideias de música das crianças. E essa desestabilização – que nesta
pesquisa se revelou pequena – favorece a aprendizagem criativa. Webster (2012,
p. 96) contribui com essa reflexão quando sugere que o pensamento mobilizado
na composição em grupo, especialmente em grupo de pares, oferece condições
limitadas para o aprofundamento da experiência musical. Para o autor (2012), é
fundamental que o professor ou professora provoque a revisão das composições,
num processo que contraponha as ideias iniciais com novas ideias, questionando
as decisões tomadas pelo grupo e ampliando suas opções na elaboração da com-
posição.
As principais contribuições desta pesquisa para a área de educação mu-
sical referem-se à possibilidade de refletir e compreender alguns aspectos da in-
trincada e complexa trama de sentidos tecidos durante a realização de compo-
sições em sala de aula, articulando as ideias de composição das crianças, as
funções e os valores de compor para elas e como entendem e se engajam no pro-
cesso de compor. Como argumentam Veloso e Carvalho (2012, p. 75), “os mun-
dos musicais das crianças são um espelho dos seus mundos interiores; enquanto
compõem, as crianças reconstroem a si mesmas, seu conhecimento e seu pensa-
mento, criando novos sentidos às suas vidas”.
Acredita-se que as pesquisas que trazem o ponto de vista das crianças
sobre o seu envolvimento com a música e com a composição musical podem con-
tribuir para fortalecer essas práticas na educação musical escolar, bem como
apontar caminhos metodológicos e referenciais que possam orientar os profes-
sores e professoras na realização de atividades dessa natureza. Nessa perspec-
tiva, o ensino de música assume um compromisso com processos de criação, crí-
tica e reflexão sobre as práticas musicais em sala de aula, ouvindo e valorizando
as vozes das crianças na escola básica.
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