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RESIODUOS SÓLIDOS

RESIDUOS SÓLIDOS

Sumário
UNIDADE 1 RESIDUOS SÓLIDOS, ORIGEM DEFINIÇÃO E
CARACTERISTICAS .................................................................................................... 4

CAPITULO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................... 4

1.1 Resíduos sólidos ................................................................................ 5

1.1.1 Classificação................................................................................... 5

1.3 Características ................................................................................... 19

1.3.1 Características físicas .............................................................. 20

1.3.2 Características químicas ............................................................ 24

1.3.3 Características biológicas........................................................... 26

UNIDADE 2 TRATAMENTO DOS RESIDUOS SOLIDOS.................................. 34

Capítulo 2 Resíduos sólidos urbanos (RSU)...................................................... 34

2.1. Principais tratamentos empregados atualmente .................... 38

2.2 Aspectos ambientais e econômicos............................................ 55

CAPITULO 3 TRATAMENTOS DE RESIDUOS ESPECIAIS............................. 57

3.1 Tratamentos de resíduos especiais ............................................................... 57

3.2 Coletas de resíduos sólidos .......................................................... 75

3.3 Transportes de resíduos sólidos.................................................. 77

UNIDADE 3 GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ............................. 88

CAPÍTULO 4 PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ...... 88

4.1 Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS) ....... 89

4.1.1 Elaboração dos planos de gerenciamento de resíduos ........ 91

4.1.2 Elaboração do diagnóstico e dos cenários futuros ................ 94

CAPITULO 5 DEFINIÇÕES DAS DIRETRIZES E ESTRATÉGIAS APLICADAS


AO PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ........................ 96

5.1 Diretrizes e estratégias.................................................................... 96

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RESIDUOS SÓLIDOS

5.2 Metas, programas e recursos necessários................................ 98

5.3 Implementações e ações ..............................................................100

5.4 O processo de elaboração do PGIRS ........................................101

5.5 Metas e prazos.................................................................................103

5.6 Programas e ações.........................................................................104

5.7 Indicadores de desempenho para os serviços públicos .....108

UNIDADE 4 POLÍTICA NACIONAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS E


LEGISLAÇÃO ............................................................................................................118

Capítulo 6 Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS) ........................118

6.2 Logística reversa e a Política Nacional de


Resíduos Sólidos.........................................................................121

6.3 Evolução da logística reversa no Brasil ...................................123

6.4 Inventário de resíduos sólidos....................................................130

6.5 Legislação e educação ambiental ..............................................132

6.5.1 Desafios da educação ambiental ............................................135

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RESIDUOS SÓLIDOS

UNIDADE 1 RESIDUOS SÓLIDOS,


ORIGEM DEFINIÇÃO E CARACTERISTICAS

CAPITULO 1 INTRODUÇÃO

O aumento da população mundial e a mudança de seus hábitos


consumistas, como a urbanização das comunidades e o aprimoramento de
técnicas cada vez mais modernas de industrialização, resultaram num aumento
significativo no volume dos resíduos gerados.
Além do crescimento populacional, a adoção de um novo modelo de
consumo, em que se valoriza a propriedade de bens, também contribuiu para o
aumento da produção de resíduos.
Diante dessa explosão populacional e de consumo, estima-se que, em
média, cada ser humano produza aproximadamente um quilo de lixo por dia.
No Brasil, calcula-se que, diariamente, são produzidas aproximadamente 125
mil toneladas de resíduos sólidos e, no ano, o total de lixo pode chegar a 45
milhões de toneladas.
A Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) no País, sua
concepção, o equacionamento da geração, do armazenamento, da coleta até a
disposição final, têm sido um constante desafio colocado aos municípios e à
sociedade.
A adequada destinação desses resíduos é um dos grandes desafios da
humanidade. E, no caso do Brasil, o desafio é ainda maior, pois poucos são os
casos de destinação final correta dos resíduos sólidos, estimando-se que 64%
dos 5.561 municípios brasileiros depositem os seus resíduos urbanos em lixões
a céu aberto.
A existência de uma Política Nacional de Resíduos Sólidos é
fundamental para disciplinar a gestão integrada, contribuindo para mudança
dos padrões de produção e consumo no país, melhoria da qualidade ambiental
e das condições de vida da população, assim como para a implementação
mais eficaz da Política Nacional do Meio Ambiente e da Política Nacional de
Recursos Hídricos, com destaque aos seus fortes componentes democráticos,

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descentralizadores e participativos. A preocupação com a questão ambiental


torna o gerenciamento de resíduos um processo de extrema importância na
preservação da qualidade da saúde e do meio ambiente.

1.1 Resíduos sólidos

A palavra lixo não serve mais para definir o que é descartado


diariamente pelas residências, empresas e órgãos públicos. Em contrapartida,
lixo pode ser entendido como algo inútil, que não pode ser reaproveitado. Com
isso pode-se dizer que quando se mistura todo o material descartado, temos o
lixo.
Quando fazemos a separação do lixo e encontramos materiais que
podem ser reutilizados, temos o resíduo sólido. Tudo o que no passado
aprendemos a chamar de lixo deve ser chamado atualmente de “resíduo
sólido”, no estado sólido e semi-sólido, gerados a partir de atividades de origem
industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de varrição entre outras e
podem ser utilizados como matéria-prima.
Ficam incluídos nesta definição lodos provenientes dos sistemas de
tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de
controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades
tornem inviável seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos d’água,
ou exijam para isto soluções técnicas e economicamente viáveis em face da
melhor tecnologia disponível.
Resíduos são diferentes de rejeitos. Estes últimos não têm
possibilidade economicamente viável de tratamento e recuperação. Por isso,
devem receber uma disposição final ambientalmente adequada.

1.1.1 Classificação

A classificação de resíduos sólidos envolve a identificação do processo


ou atividade que lhes deu origem, de seus constituintes e características, e a
comparação destes constituintes com listagens de resíduos e substâncias cujo
impacto à saúde e ao meio ambiente é conhecido.

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RESIDUOS SÓLIDOS

A segregação dos resíduos na fonte geradora e a identificação da sua


origem são partes integrantes dos laudos de classificação, onde a descrição de
matérias primas, de insumos e do processo no qual o resíduo foi gerado devem
ser explicitados.
A identificação dos constituintes a serem avaliados na caracterização
do resíduo deve ser estabelecida de acordo com as matérias-primas, os
insumos e o processo que lhe deu origem
São várias as maneiras de se classificar os resíduos sólidos. As mais
comuns são quanto aos riscos potenciais de contaminação do meio ambiente e
quanto à natureza ou origem. De acordo com a NBR 10.004 da ABNT, os
resíduos sólidos podem ser classificados em:

 Resíduos Classe I/Perigosos: Os resíduos serão classificados como


perigosos se apresentarem uma ou mais das seguintes características,
denominados fatores de periculosidade, como inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade;

a) Inflamabilidade

O resíduo será caracterizado como inflamável (código de identificação


D001) se uma amostra representativa dele obtida conforme NBR 10007
amostragem de resíduos apresentarem qualquer das seguintes propriedades:

 Ser líquida e ter ponto de fulgor inferior a 60ºC, determinado conforme


ASTM D 93, excetuando-se as soluções aquosas com menos de 24% de
álcool em seu volume;
 Não ser líquida e ser capaz de, sob condições de temperatura e
pressão de 25ºC e 0,1 Mpa (1 atm), produzir fogo por fricção, absorção
de umidade ou por alterações químicas espontâneas e, quando
inflamada queimar vigorosa e persistentemente, dificultando a extinção
do fogo;
 Ser oxidante definido como substância que pode liberar oxigênio e,
como resultado, estimular a combustão e aumentar a intensidade do
fogo em outro material.

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b) Corrosividade
É a capacidade de transformação de um material metálico ou liga
metálica através de sua interação química ou eletroquímica com o meio onde
está exposto. As substâncias químicas contidas nas pilhas e baterias são
extremamente corrosivas nocivas ao meio ambiente e ao homem, por exemplo:
Chumbo, Zinco, Manganês e Lítio, em contato conosco podem causar dores
abdominais, disfunção renal, anemia, problemas pulmonares, sonolência,
anemia, convulsões, etc.
O resíduo é caracterizado como corrosivo (código de identificação
D002) se uma amostra representativa, dele obtida segundo a NBR 10007 –
Amostragem de resíduos apresentarem uma das seguintes propriedades:

 Ser aquosa e apresentar pH inferior ou igual a 2, ou superior ou igual a


12,5;
 Ser líquida e corroer o aço (SAE 1020) a uma razão maior que 6,35 mm
ao ano, a uma temperatura de 55ºC, de acordo com o método NACE
(National Association Corrosion Engineers) TM – 01 – 69 ou equivalente.

c) Reatividade

Um resíduo é caracterizado como reativo (código de identificação


D003) se uma amostra representativa dele obtida segundo a NBR 10007 –
Amostragem de resíduos, apresentar uma das seguintes propriedades:

 Ser normalmente instável e reagir de forma violenta e imediata, sem


detonar;
 Reagir violentamente com água;
 Formar misturas potencialmente explosivas com água;
 Gerar gases, vapores e fumos óxidos em quantidades suficientes para
produzir danos à saúde ou ao meio ambiente, quando misturados com a
água;

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RESIDUOS SÓLIDOS

 Possuir em sua constituição ânions, cianeto ou sulfeto, que possa, por


reação, liberar gases, vapores ou fumos tóxicos em quantidades
suficientes para pôr em risco a saúde humana ou o meio ambiente;
 Ser capaz de produzir reação explosiva ou detonante sob ação de forte
estímulo, ação catalítica ou da temperatura em ambientes confinados;
 Ser capaz de produzir, prontamente, reação ou decomposição detonante
ou explosiva a 25ºC e 0,1 Mpa (1 atm);
 Ser explosivo, definido como substância fabricada para produzir um
resultado prático, através de explosão ou de efeito pirotécnico, esteja ou
não esta substância contida em dispositivo preparado para este fim.

d) Toxicidade

É a propriedade potencial que o agente tóxico possui de provocar, em


maior ou menor grau, um efeito adverso em consequência de sua interação
com o organismo seja por inalação, ingestão ou absorção cutânea tendo efeito
adverso (tóxico, carcinogênico, mutagênico, teratogênico ou ecotoxicológico).
Um resíduo é caracterizado como tóxico se uma amostra
representativa, dele obtida segundo a NBR 10007 – Amostragem de resíduos,
apresentar uma das seguintes propriedades:

 Possuir quando testada, uma DL 50 oral para ratos menores que 50


mmg/kg ou CL 50 inalação para ratos menor que 2 mg/L ou uma DL 50
dérmica para coelhos menor que 200 mg/kg;
 Quando o extrato obtido desta amostra, segundo a NBR 10005 –
lixiviação de resíduos contiver um dos contaminantes em concentrações
superiores aos valores constantes da listagem nº 7. Neste caso, o
resíduo será caracterizado como tóxico TL (teste de lixiviação, com
código de identificação D005 a D029);
 Possuir uma ou mais substância constantes da listagem nº 4 e
apresentar periculosidade.

Para avaliação desta periculosidade, devem ser considerados os


seguintes fatores:

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RESIDUOS SÓLIDOS

 Natureza da toxidez apresentada pelo resíduo;


 Concentração do constituinte no resíduo;
 Potencial que o constituinte, ou qualquer produto tóxico de sua
degradação, tem de migrar do resíduo para o ambiente, sob condições
impróprias de manuseio;
 Persistência do constituinte ou de qualquer produto tóxico de sua
degradação.
 Potencial que o constituinte, ou produto tóxico de sua degradação, tem
de se degradar em constituintes não-perigosos, considerando a
velocidade em que ocorre a degradação;
 Extensão em que o constituinte, ou qualquer produto tóxico de sua
degradação, é capaz de bioacumulação nos ecossistemas;
 Ser constituída por restos de embalagens contaminadas;
 Resíduos de derramamento ou produtos fora de especificação de
qualquer substância da devida norma (NBR 10005).

e) Patogenicidade:

Um resíduo é caracterizado como patogênico (código de identificação


D 0004) se uma amostra representativa, dele obtida segundo (NBR 1007) –
Amostragem de resíduos contiver microrganismos, ou se suas toxinas forem
capazes de produzir doenças. Não se incluem neste item os resíduos sólidos
domiciliares e aqueles gerados nas estações de tratamentos de esgotos
domésticos.

 Resíduos classe II/Não perigosos: estes resíduos podem ser


divididos em duas outras classes:

I. Resíduos classe II A/ Não inertes: são aqueles resíduos que não são
enquadrados nem como resíduos perigosos (Classe I) e nem como
resíduos inertes (Classe II B), podendo apresentar propriedades como
biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água”. Pode-
se citar como exemplos: matérias orgânicas, papéis, lodos, entre
outros;

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RESIDUOS SÓLIDOS

II. Resíduos classe II B/ Inertes: são resíduos que se amostrados de


forma representativa através da NBR 10.007 (Estabelece o
procedimento para obtenção de extrato solubilizado de resíduos
sólidos) e submetidos a um contato dinâmico e estático com água
destilada ou desionizada, a temperatura ambiente, de acordo com a
NBR 10.006 (Estabelece o procedimento para obtenção de extrato
solubilizado de resíduos sólidos), não tiverem nenhum de seus
constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de
potabilidade de água, excetuando-se o aspecto cor, turbidez, dureza e
sabor. Como exemplos citam-se: entulhos, materiais e construção e
tijolos. Apesar de os resíduos de construção civil serem considerados
como resíduos inertes (Classe II B), possuem resoluções específicas,
Resolução CONAMA n.º 307/2002 (Estabelece diretrizes, critérios e
procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil) e
Resolução CONAMA n.º 348/2004 (inclui o amianto na lista de resíduos
perigosos), possuindo a seguinte classificação:

 Classe A: resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados. São


aqueles provenientes de construção, demolição, reformas e reparos de
pavimentação ou edificações como também daqueles provenientes da
fabricação ou demolição de peças pré-moldadas em concreto.
Exemplos: resíduos de alvenaria, resíduos de concreto, resíduos de
peças cerâmicas, pedras, restos de argamassa, solo escavado, entre
outros;

 Classe B: são os resíduos recicláveis para outras destinações.


Exemplos: plásticos (embalagens, PVC de instalações), papéis e
papelões (embalagens de argamassa, embalagens em geral,
documentos), metais (perfis metálicos, tubos de ferro galvanizado,
marmitex de alumínio, aço, esquadrias de alumínio, grades de ferro e
resíduos de ferro em geral, fios de cobre, latas), madeiras (forma) e
vidro”;

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RESIDUOS SÓLIDOS

 Classe C:são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas


tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua
reciclagem ou recuperação. Exemplo: Gesso, estopas, isopor, lixas,
mantas asfáltica, massas de vidro, sacos de cimento e tubos de
poliuretano;

 Classe D: são os resíduos perigosos oriundos do processo de


construção ou demolições. Exemplo: tintas, solventes, óleos, resíduos
de clínicas radiológicas, latas e sobras de aditivos e desmoldantes,
telhas e outros materiais de amianto, tintas e sobras de material de
pintura.

A Figura 1.1 abaixo apresenta as 3 classes possíveis de se classificar


um resíduo sólido: Classe I – Perigoso; Classe II A – Não inerte e Classe II B –
Inerte.

Figura 1.1 Classificação dos resíduos sólidos.

A origem é o principal elemento para a caracterização dos resíduos


sólidos. Segundo este critério, pode-se classificar os resíduos sólidos, quanto à

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RESIDUOS SÓLIDOS

fonte geradora, em três categorias: resíduos urbanos, resíduos sólidos


industriais e resíduos especiais.

I. Resíduos sólidos urbanos (RSU)

Os resíduos sólidos urbanos implicam em resíduos resultantes das


residências (domiciliar ou doméstico), resíduos de serviços de saúde, resíduos
de construção civil, resíduos de poda e capina, resíduos de portos, aeroportos,
terminais rodoviários e ferroviários e os resíduos de serviços, que abrangem os
resíduos comerciais, os resíduos de limpeza de bocas de lobo e os resíduos de
varrição, de feiras e outros. A seguir tem-se uma breve definição de cada tipo.

a) Resíduo residencial: denominado também de doméstico ou


domiciliar, é originado nas residências e é constituído principalmente por restos
de alimentação, papéis, papelão, vidros, metais ferrosos e não ferrosos,
plásticos, madeira, trapos, couros, varreduras, capinas de jardim, entre outras
substâncias.
b) Resíduo de serviços de saúde (RSS): proveniente de hospitais,
clínicas médicas e veterinárias, laboratórios de análises clínicas, farmácias,
centros de saúde, consultórios odontológicos e outros estabelecimentos afins.
Conforme a forma de geração, pode ser divididos em dois níveis distintos: o
resíduo comum, que compreende os restos de alimentos, papéis, invólucros,
dentre outros, e o resíduo séptico, constituído de resíduos advindos das salas
de cirurgias, centros de hemodiálise, áreas de internação, isolamento, dentre
outros. Embora represente uma pequena quantidade do total de resíduos
gerados na comunidade, este tipo de resíduo exige atenção especial, com um
correto acondicionamento, coleta, transporte, tratamento e destinação final,
devido ao potencial risco à saúde pública que pode oferecer. Entretanto,
segundo a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária (2000),76% das
cidades brasileiras dispõem o resíduo de serviços de saúde juntamente com o
resíduo doméstico nos aterros municipais. Dos municípios que tratam esses
resíduos, 43,8% os incineram, 31,3% usam autoclave, 9,3% usam micro-ondas
e 6,3% os queimam a céu aberto (ABRELPE, 2006). No Brasil, os RSS

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RESIDUOS SÓLIDOS

possuem legislação própria para o seu manuseio, através da Resolução


CONAMA Nº5 que atribui responsabilidades específicas para os vários setores
envolvidos: geradores, autoridades ambientais e sanitárias. Assim como os
demais tipos de resíduos sólidos, a taxa de geração do resíduo de serviço de
saúde também depende de vários fatores como o tipo da unidade de saúde, a
capacidade, o nível de instrumentação e a localização da mesma. Entretanto, a
média de produção desse tipo de resíduo pelos hospitais brasileiros é de 2,63
kg/leito.dia ou 70 a 120 gramas/hab.dia (ABRELPE, 2006). A Tabela 1 mostra
os tipos e características:

Tabela 1 Resíduos infectantes classe A.

Características
Tipo Nome

Cultura, inóculo, mistura de micro-organismos e


meio de cultura inoculado provenientes de
laboratório clínico ou de pesquisa, vacina vencida
A.1 Biológicos
ou inutilizada, filtro de gases aspirados de áreas
contaminadas por agentes infectantes e qualquer
resíduo contaminado por estes materiais.
Sangue e hemoderivados com prazo de validade
Sangue e
A.2 vencido ou sorologia positiva, bolsa de sangue
hemoderivados
para análise, soro, plasma e outros subprodutos.
Cirúrgicos, Tecido, órgão, feto, peça anatômica, sangue e
anatomopatológic outros líquidos orgânicos resultantes de cirurgia,
A.3
os e exsudato necropsia e resíduos contaminados por estes
materiais.
Perfurantes e
A.4 cortantes Agulha, ampola, pipeta, lâmina de bisturi e vidro.

Carcaça ou parte de animal inoculado, exposto a


Animais micro-organismos patogênicos, ou portador de
A.5
contaminados doença infectocontagiosa, bem como resíduos
que tenham estado em contato com estes.
Secreções e demais líquidos orgânicos
Assistência a procedentes de pacientes, bem como os resíduos
A.6
pacientes contaminados por estes materiais, inclusive restos
de refeições.

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RESIDUOS SÓLIDOS

c) Resíduo da construção civil ou resíduos de construção e demolição


(RCD): denominado de entulho, são rejeitos provenientes de construções,
reformas, demolições de obras de construção civil, restos de obras e os da
preparação e da escavação de terrenos e outros. Em termos de quantidade,
esse resíduo corresponde a algo em torno de 50% dos resíduos sólidos
urbanos produzidos nas cidades brasileiras e do mundo com mais de 500 mil
habitantes. No Brasil, a tecnologia construtiva normalmente aplicada favorece o
desperdício na execução das novas edificações.
Enquanto em países desenvolvidos a média de resíduos proveniente
de novas edificações encontra-se abaixo de 100kg/m2, no Brasil este índice
gira em torno de 300kg/m2 edificado. Em termos quantitativos, esse material
corresponde a algo em torno de 50% da quantidade em peso de resíduos
sólidos urbanos coletada em cidades com mais de 500 mil habitantes de
diferentes países, inclusive o Brasil.
Em termos de composição, os resíduos da construção civil são uma
mistura de materiais inertes, tais como concreto, argamassa, madeira,
plásticos, papelão, vidros, metais, cerâmica e terra;

d) Poda e capina: são produzidos esporadicamente e em quantidade


variada. Como exemplos têm-se a folhagem de limpeza de jardins, os restos de
poda, dentre outros;

e) Resíduo de portos, aeroportos, terminais rodoviários e ferroviários:


constituem os resíduos sépticos, que podem conter organismos patogênicos
nos materiais de higiene e de uso pessoal, Os resíduos dos portos e
aeroportos são decorrentes do consumo de passageiros em veículos e
aeronaves e sua periculosidade está no risco de transmissão de doenças já
erradicadas no país. A transmissão também pode se dar através de cargas
eventualmente contaminadas, tais como animais, carnes e plantas;

f) Resíduo de serviço comercial: abrange os resíduos resultantes dos


diversos estabelecimentos comerciais, tais como escritórios, lojas, hotéis,

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RESIDUOS SÓLIDOS

restaurantes, supermercados, quitandas, dentre outros. No Reino Unido, este


tipo de resíduo corresponde a 13% do total dos RSU.

g) Resíduo de varrição, feiras e outros: abrangem os resíduos advindos


da limpeza pública urbana, ou seja, são resultantes da varrição regular de ruas,
da limpeza e a conservação de galerias, limpeza de feiras, de bocas de lobo,
dos terrenos, dos córregos, das praias e feiras, dentre outros.

I. Resíduos sólidos industriais (RSI)

Os resíduos sólidos industriais abrangem os resíduos das indústrias de


transformação, os resíduos radiativos e os resíduos agrícolas, em função de
suas características diferenciadas, passam a merecer cuidados especiais em
seu manuseio, acondicionamento, estocagem, transporte ou disposição final.
Podemos descrever em:

a) Resíduos das indústrias de transformação: são os resíduos


provenientes de diversos tipos e portes de indústrias de processamentos. São
resíduos muito variados que apresentam características diversificadas, pois
estas dependem do tipo de produto manufaturado. Devem, portanto, ser
estudados caso a caso. Adota-se a NBR 10.004 da ABNT para se classificar os
resíduos industriais: Classe I (Perigosos), Classe II (Não-Inertes) e Classe III
(Inertes);

b) Resíduos radioativos (lixo atômico): Assim considerados os resíduos


que emitem radiações acima dos limites permitidos pelas normas ambientais.
No Brasil, o manuseio, acondicionamento e disposição final do lixo radioativo
está a cargo da Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN;

c) Resíduos agrícolas: São os gerados das atividades da agricultura ou


da pecuária, como as embalagens de adubos, defensivos agrícolas, ração,
restos de colheita e esterco animal. As embalagens de agroquímicos, por
conterem um alto grau de toxicidade, estão subordinadas a uma legislação

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RESIDUOS SÓLIDOS

específica. O manuseio destes resíduos segue as mesmas rotinas e se utiliza


dos mesmos recipientes e processos empregados para os resíduos industriais
Classe I. A falta de fiscalização e de penalidades mais rigorosas para o
manuseio inadequado destes resíduos faz com que sejam misturados aos
resíduos comuns e dispostos nos vazadouros das municipalidades, ou – o que
é pior – sejam queimados nas fazendas e sítios mais afastados, gerando gases
tóxicos;

d) Resíduos de mineração: São os gerados na atividade de pesquisa,


extração ou beneficiamento de minérios. Na atividade de mineração grandes
volumes e massas de materiais são extraídos e movimentados. A quantidade
de resíduos gerada pela atividade depende do processo utilizado para extração
do minério, da concentração da substância mineral estocada na rocha matriz e
da localização da jazida em relação à superfície. Na atividade de mineração
existem dois tipos principais de resíduos sólidos: os estéreis e os rejeitos. Os
estéreis são os materiais escavados, gerados pelas atividades de extração (ou
lavra) no de capeamento da mina, não têm valor econômico e ficam geralmente
dispostos em pilhas. Os rejeitos são resíduos resultantes dos processos de
beneficiamento a que são submetidas às substâncias minerais. Esses
processos têm a finalidade de padronizar o tamanho dos fragmentos, remover
minerais associados sem valor econômico e aumentar a qualidade, pureza ou
teor do produto final. Existem ainda outros resíduos, constituídos por um
conjunto bastante diverso de materiais, tais como efluentes do tratamento de
esgoto gerado nas plantas de mineração, carcaças de baterias e pneus
utilizados pela frota de veículos, provenientes da operação das plantas de
extração e de beneficiamento das substâncias minerais.

II. Resíduos sólidos especiais

Existem ainda os resíduos ditos como especiais, em função de suas


características diferenciadas, passam a merecer cuidados especiais em seu
manuseio, acondicionamento, estocagem, transporte ou disposição final.
Dentro da classe de resíduos de fontes especiais, merecem destaque:

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RESIDUOS SÓLIDOS

a) Pneus: são graves os problemas ambientais causados pela


destinação inadequada dos pneus usados, pois se deixados em ambientes
abertos, sujeitos a chuvas, os mesmos podem acumular água e tornarem-se
locais propícios para proliferação de mosquitos vetores de doenças. Caso
sejam encaminhados para os aterros convencionais, podem desestabilizar o
aterro, em função dos vazios que provocam na massa de resíduos e se forem
incinerados, a queima da borracha gera enormes quantidades de materiais
particulados e gases tóxicos, necessitando assim de um sistema eficiente de
tratamento dos gases, que é extremamente caro. Em função dessas
dificuldades, alguns países do mundo responsabilizam os produtores de pneus
pelo manejo e disposição final dos mesmos. No Brasil, em 1999, o CONAMA
publicou a Resolução nº 258, onde “as empresas fabricantes e as importadoras
de pneumáticos ficam obrigadas a coletar e dar destinação final,
ambientalmente adequada, aos pneus inservíveis existentes no território
nacional”. Atualmente, parte dos pneus são queimados em fornos da indústria
cimenteira e nas termoelétricas, mas em fornos adaptados para a emissão dos
gases dessa queima. Na década de 90, surgiu uma tecnologia nova, nacional,
que utiliza solventes orgânicos para separar a borracha do arame e do nylon
dos pneus, permitindo sua reciclagem; Se encaminhados para aterros de lixo
convencionais, provocam "ocos" na massa de resíduos, causando a
instabilidade do aterro. Se destinados em unidades de incineração, a queima
da borracha gera enormes quantidades de material particulado e gases tóxicos,
necessitando de um sistema de tratamento dos gases extremamente eficiente
e caro;

b) Pilhas e baterias: em função de suas características tóxicas e da


dificuldade em se impedir seu descarte junto com o lixo domiciliar, no Brasil,
em 1999, foi publicada a Resolução CONAMA nº 257, que atribui à
responsabilidade do acondicionamento, coleta, transporte e disposição final de
pilhas e baterias aos comerciantes, fabricantes, importadores e à rede
autorizada de assistência técnica. Esses resíduos devem ter seu tratamento e
disposição final semelhantes aos resíduos perigosos Classe I. Tratamento

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RESIDUOS SÓLIDOS

semelhante ocorre em outros países, tais como a Suécia, onde um acordo


entre os fabricantes/importadores e o governo reduziram o descarte de pilhas e
baterias no lixo doméstico em 60% no primeiro ano, estendido para 90% no
segundo.

c) Lâmpadas fluorescentes: essas lâmpadas liberam mercúrio quando


são quebradas, queimadas ou enterradas, o que as transforma em resíduos
perigosos Classe I, uma vez que o mercúrio é tóxico para o sistema nervoso
humano e quando inalado ou ingerido, pode causar uma enorme variedade de
problemas fisiológicos. O pó que se torna luminoso encontrado no interior das
lâmpadas fluorescentes contém mercúrio. Isso não está restrito apenas às
lâmpadas fluorescentes comuns de forma tubular, mas encontra-se também
nas lâmpadas fluorescentes compactas. Uma vez lançado ao meio ambiente, o
mercúrio sofre uma "bioacumulação", isto é, ele tem suas concentrações
aumentadas nos tecidos dos peixes, tornando-os menos saudáveis, ou mesmo
perigosos se forem comidos frequentemente. As mulheres grávidas que se
alimentam de peixe contaminado transferem o mercúrio para os fetos, que são
particularmente sensíveis aos seus efeitos tóxicos. A acumulação do mercúrio
nos tecidos também pode contaminar outras espécies selvagens, como
marrecos, aves aquáticas e outros animais;
De forma simplificada, é apresentado na Figura 1.2 um esquema de
classificação dos resíduos sólidos, conforme como aqui foi discutido.

18
RESIDUOS SÓLIDOS

Resíduos Sólidos

Resíduos Urbanos Resíduos Industriais Resíduos Especiais

Das indústrias de
Domiciliar Pneus
transformação

De Serviços de Saúde Rejeitos radioativos Pilhas e baterias

De Construção Civil Agrícolas Lâmpadas

De Poda e Capina

De portos, aeroportos,
terminais rodoviários
e ferroviários

De varrição, feiras
outros

Figura 1.2 Esquema de classificação dos resíduos sólidos segundo a


fonte geradora.

1.3 Características

A caracterização de resíduos sólidos é um processo que pretende


identificar a quantidade de objetos e materiais resultantes da transformação e
utilização de bens de consumo. Para realizar um correto gerenciamento dos
resíduos sólidos (RS) se faz necessário dispor de dados sobre a sua
composição, a quantidade e as fontes geradoras dos mesmos, juntamente com
as variáveis socioeconômicas, ou seja, caracterizar os resíduos. É ainda
necessário identificar e conhecer o tipo de resíduo descartado pela fonte
geradora no meio ambiente para que se possa caracterizá-lo.
Esta caracterização permite a obtenção de informações referentes às
características físicas, químicas e biológicas dos resíduos presentes numa
cidade ou região, possibilitando uma maior visualização das suas implicações

19
RESIDUOS SÓLIDOS

anteriores e atuais, e gerando subsídios para um correto tratamento e


disposição final.
Dentre todos os tipos de resíduos anteriormente apresentados, os
resíduos sólidos urbanos (RSU) parecem ter como característica peculiar e
marcante, uma composição heterogênea, uma vez que os demais (resíduos
sólidos industriais e resíduos sólidos especiais) geralmente são gerados a
partir de processos controlados, não apresentando grandes variações em suas
características. Por esse motivo, serão mais exemplificadas as características
dos RSU, embora o conhecimento de tais características também seja
extensivo aos demais, para um correto gerenciamento dos mesmos.

1.3.1 Características físicas

As características físicas são fundamentais para a gestão dos resíduos


sólidos, sendo desde o dimensionamento de unidades de tratamento, utilização
da melhor tecnologia de tratamento até a configuração e operação dos locais
de disposição final. Conforme a NBR 10.004 da ABNT, os resíduos sólidos
podem ser classificados seguindo suas características. Dentre os mais
importantes incluem:
a) Geração per capita
Relaciona a quantidade de resíduos gerada diariamente ou anualmente
ao número de habitantes de uma determinada região. Para os resíduos
domiciliares, a quantidade de resíduos produzidos parece estar diretamente
relacionada com o modo de vida da população.
Essas variações na geração per capita podem ser ocasionadas por
vários fatores, tais como as atividades produtivas predominantes no município,
a sazonalidade dessas atividades, o nível de interesse e a participação dos
moradores em programas de coleta seletiva e em ações governamentais que
objetivem a conscientização da população, quanto à redução da geração de
resíduos, dentre outras. Entretanto, parece que o nível socioeconômico d dos
habitantes parece ser o fator que exerce maior influência (CETESB, 2005b).

20
RESIDUOS SÓLIDOS

A média da geração per capita de resíduos sólidos é função da


quantidade de resíduos coletados em uma cidade dividida pela população
beneficiada por esses serviços. Ela se altera em função de fatores culturais,
hábito de consumo, padrão de vida e a renda familiar que define o poder de
compra. Os resíduos sólidos podem, portanto, ser considerados como
importante indicador socioeconômico, tanto por sua quantidade como também
pela sua caracterização. Fatores econômicos como crise ou apogeu refletem
diretamente no consumo de bens duráveis e não duráveis, na alimentação e na
consequente geração per capita de resíduos sólidos. A análise sobre a
evolução da geração per capita de resíduos sólidos pode ser estudada em
função de diversos modelos, a saber: estudos no domicílio, na vizinhança, no
município, no estado e no país.
No Brasil, em termos percentuais, a geração per capita de resíduos
sólidos tem crescido mais do que a população e o PIB tem crescido menos do
que a geração de resíduos sólidos. Em 2009, houve uma inflexão no
crescimento do PIB enquanto a geração total de resíduos continuou
aumentando.

b) Composição gravimétrica
Traduz o percentual de cada componente do resíduo em relação à
massa total da amostra realizada. Esta característica é bastante importante
para resíduos bastante heterogêneos, como é o caso dos RSU.
A partir da composição gravimétrica do lixo, pode-se elaborar projetos
de redução, de segregação na origem e de aproveitamento dos materiais
potencialmente recicláveis, além de subsidiar a escolha do tratamento e
destinação final mais adequados aos componentes do lixo.
Assim como a quantidade, a composição dos resíduos também é
função do modo de vida da população. Pode-se ainda identificar as seguintes
variáveis como influenciadoras na heterogeneidade dos resíduos sólidos
urbanos: o número de habitantes do local, as condições climáticas, os hábitos e
costumes da população, o nível cultural dos habitantes, as varrições sazonais,
o poder aquisitivo da população, a taxa deficiência do projeto ou do programa
de coleta, o tipo de equipamento de coleta e as leis e regulamentações

21
RESIDUOS SÓLIDOS

específicas e o clima. Dentre todas, novamente a variável econômica” destaca-


se como preponderante.
Observa-se que há uma tendência da quantidade de matéria orgânica
aumentar, à medida que a renda da população diminui, conforme pode ser
constatado na composição atual e nas projeções para 2025. Constata-se
também um menor teor de materiais recicláveis, como papel, plástico, vidro e
metais, à proporção que a renda dos países diminui.
O processo de urbanização parece ser a grande variável interveniente
na mudança da composição dos resíduos sólidos domiciliares, uma vez que o
teor de matéria-orgânica diminui à medida que as cidades vão se tornando
maiores, enquanto que o teor de recicláveis aumenta. Em concordância com o
esse processo, com o processo de crescimento e urbanização da sociedade
americana, o teor de papéis, plásticos e materiais duráveis sintéticos passou a
ser mais expressivo. Tal processo também tem sido observado na China, uma
vez que o teor de materiais recicláveis tem aumentado.
Tais diferenças refletem as mudanças inseridas na sociedade à medida
que os países vão enriquecendo, já que estes tornam-se mais urbanizados,
modificando a composição dos seus resíduos. O substancial aumento do uso
de papel e de embalagens é provavelmente a mais notória mudança, seguida
de uma maior proporção de plásticos, itens multimatérias e produtos de
consumo, com suas respectivas embalagens.
As diferenças na composição dos resíduos sólidos urbanos podem, por
sua vez, acarretar um grande impacto no sistema de gerenciamento dos
resíduos sólidos em diferentes localidades.
Uma recomendação importante, particularmente quando se tem
interesse nos dados para questões de transporte e capacidade de aterros, é
que a composição do resíduo seja realizada em volume.
Para a realização dessa transformação, se faz necessário o
conhecimento de outra característica física dos resíduos, a sua massa
específica.

c) Massa específica

22
RESIDUOS SÓLIDOS

É a razão entre a massa do resíduo e seu volume ocupado, geralmente


expressa em kg/m³. Sua determinação é importante para o dimensionamento
dos equipamentos e das instalações, podendo ser medida no estado solto ou
no estado compactado.
Na ausência de dados, podem-se utilizar para a massa específica no
estado solto, os valores de 230 kg/m³ para o lixo domiciliar, de 280 kg/m³ para
os resíduos de serviço de saúde e de 1.300 kg/m³ para os resíduos da
construção civil (IBAM, 2001). Para a China, os resíduos sólidos municipais
apresentam uma massa específica entre 220 e 450 kg/m3, sendo 353 kg/m3 o
seu valor médio.
Os valore de 500 kg/m3, 300 kg/m3 e 150 kg/m3 podem ser usados
como valores médios das massas específicas dos resíduos sólidos domiciliares
gerados em países de baixa, média e alta renda, respectivamente. Ainda
segundo o mesmo autor, geralmente países de baixa renda produzem maior
quantidade de resíduos em massa, enquanto que países de alta renda
produzem maior quantidade de resíduos em volume.

d) Compressividade
É o grau de compactação ou a redução do volume que uma massa de
lixo pode sofrer quando compactada. Submetido a uma pressão de 4kg/cm², o
volume do lixo pode ser reduzido de um terço (1/3) a um quarto (1/4) do seu
volume original.
Analogamente à compressão, a massa de lixo tende a se expandir
quando é extinta a pressão que a compacta, sem, no entanto, voltar ao volume
anterior. Esse fenômeno chama-se empolação e deve ser considerado nas
operações de aterro com lixo.

e) Temperatura
Parâmetro físico que indica o balanço de energia térmica na massa de
lixo, em geral, menores temperaturas significam menor atividade microbiológica
e menores taxas de conversão do material orgânico presente nos RSU através
da ação bioquímica de microrganismos. A temperatura é de grande importância
para promover a degradação biológica, já que afeta tanto o crescimento de

23
RESIDUOS SÓLIDOS

bactérias, como altera a velocidade das reações químicas. Essas variações de


temperatura determinam os tipos de micro-organismos existentes e o nível de
produção de gás.

d) Permeabilidade dos resíduos compactados


A condutividade hidráulica dos resíduos compactados é um parâmetro
físico importante, pois é a lei que governa o movimento de fluidos no aterro
(permeabilidade dos líquidos e gases na massa de resíduos no aterro).
Matematicamente o coeficiente de permeabilidade é expresso pela seguinte
Equação 1:
K = Cd2 . γ/µ = k . γ/µ Eq(1)

Onde:
K = coeficiente de permeabilidade;
C = fator de forma, adimensional;
d = dimensão média dos poros;
γ = massa específica da água;
µ = viscosidade dinâmica da água;
k = permeabilidade intrínseca ou específica;
Valores de Cd2 = k em aterros sanitários: direção vertical 10 -11 a
10-12 m2 e 10-10 m2 na direção horizontal.

1.3.2 Características químicas

As informações sobre a composição dos resíduos sólidos domésticos


são de grande importância na avaliação de processos alternativos e opções de
reciclagem. A prática da incineração, por exemplo, torna-se viável,
dependendo da composição química dos resíduos.
O conteúdo energético pode ser determinado em laboratório,
empregando-se calorímetros ou estimado por cálculos baseados na
composição elementar de componentes conhecidos dos resíduos domésticos.

24
RESIDUOS SÓLIDOS

Quando há interesse na conversão biológica dos resíduos domésticos,


tais como compostos (de compostagem), metano e etanol, as informações dos
nutrientes essenciais são de grande importância na manutenção do equilíbrio e
da eficiência na conversão.
Com relação às características químicas que podemos analisar nos
resíduos coletados, estão:
a) Poder calorífico

Esta característica química indica a capacidade potencial de um


material desprender determinada quantidade de calor quando submetido à
queima. O poder calorífico médio do lixo domiciliar se situa na faixa de
5.000kcal/kg.

b) Potencial hidrogeniônico (pH)

O potencial hidrogeniônico indica o teor de acidez ou alcalinidade dos


resíduos. Em geral, situa-se na faixa de 5 a 7.

c) Composição química
A composição química consiste na determinação dos teores de cinzas,
matéria orgânica, carbono, nitrogênio, potássio, cálcio, fósforo, resíduo mineral
total, resíduo mineral solúvel e gorduras.

d) Relação carbono/nitrogênio (C:N)


A relação carbono/nitrogênio indica o grau de decomposição da
matéria orgânica do lixo nos processos de tratamento/disposição final. Em
geral, essa relação encontra-se na ordem de 35/1 a 20/1.

e) Teor de umidade
Teor de umidade representa a quantidade de água presente no lixo,
medida em percentual do seu peso. Este parâmetro se altera em função das
estações do ano e da incidência de chuvas, podendo-se estimar um teor de

25
RESIDUOS SÓLIDOS

umidade variando em torno de 40 a 60%. O teor de humidade é obtido através


da diferença de pesagem da amostra do resíduo intacto e da mesma amostra
desidratada numa mufla a 105ºC, cuja fórmula é dada pela Equação 2:

H = (W – d)/W x 100 Eq (2)

Em que:
H = teor de humidade em % ;
W = peso da amostra intacta, g ;
d = peso da amostra após desidratação a 105ºC, g.

1.3.3 Características biológicas

As características biológicas dos resíduos sólidos são aquelas


determinadas pela população microbiana e dos agentes patogênicos presentes
no lixo que, ao lado das suas características químicas, permitem que sejam
selecionados os métodos de tratamento e disposição final mais adequados.
O conhecimento das características biológicas dos resíduos tem sido
muito utilizado no desenvolvimento de inibidores de cheiro
e de retardadores/aceleradores da decomposição da matéria orgânica,
normalmente aplicados no interior de veículos de coleta
para evitar ou minimizar problemas com a população ao longo do percurso dos
veículos.
Da mesma forma, estão em desenvolvimento processos de destinação
final e de recuperação de áreas degradadas com base nas características
biológicas dos resíduos.

a) Biodegradabilidade
A biodegradabilidade da fração orgânica é frequentemente medida
através do conteúdo de sólidos voláteis, determinado pela queima acima de
550 ºC, contudo os resultados podem ser, por vezes, enganosos, pois
determinados produtos altamente voláteis são pouco biodegradáveis.

26
RESIDUOS SÓLIDOS

Alternativamente o conteúdo de lignina dos resíduos pode ser usado para


estimar a fração biodegradável e, neste caso, diversos compostos orgânicos
podem ser listados para identificação da biodegradabilidade, como mostrado
na Tabela 1.2.

Tabela 1.2 Dados de fração biodegradável de alguns resíduos orgânicos,


baseados no conteúdo de lignina calculados por Chandler, et al (1980).
Componente Porcentagem de Porcentagem de Fração
Sólidos Voláteis Lignina em relação biodegradável
em relação aos aos Sólidos
Sólidos Totais Voláteis
Restos de alimento 7-15 0,4 0,82
Papel
Jornais/revistas 94,0 21,9 0,22
Papéis de escritórios 96,4 0,4 0,82
Papelão 94,0 12,9 0,47
Podas (jardins) 50-90 4,1 0,72

Materiais com maior quantidade de lignina, tais como revistas e jornais,


apresentam menor biodegradabilidade que outros resíduos orgânicos
encontrados no lixo doméstico. A taxa com que ocorre a degradação dos
principais componentes orgânicos do lixo doméstico varia consideravelmente, e
do ponto de vista prático podem ser classificados em rapidamente e lentamente
degradáveis.

b) Odores
Odores surgem de resíduos sólidos quando se verifica o
armazenamento por períodos relativamente longos no intervalo da geração “in
loco” e a coleta, nas estações de transbordo e nos aterros sanitários. Essas
ocorrências tornam-se significativas em locais de clima tropical, como no Brasil.
A formação de odores resulta da decomposição anaeróbia de
componentes biodegradáveis. Por exemplo, sob condições anaeróbias, o sulfato
pode ser reduzido a sulfeto, que posteriormente combina com o hidrogênio para
formar H2S.
Os íons sulfeto podem também combinar com sais metálicos, tais como

27
RESIDUOS SÓLIDOS

ferro, e formar sulfetos metálicos. A cor preta ou escurecida dos resíduos


sólidos submetidos à decomposição anaeróbia em aterros, ocorre primariamente
pela formação de sulfetos metálicos.

A redução de compostos orgânicos contendo um radical de enxofre pode


iniciar a formação de compostos como metilmercaptana e ácidos aminobutíricos,
que apresentam odores desagradáveis. A metilmercaptana pode ser hidrolisada
bioquimicamente para metil álcool e sulfeto de hidrogênio.

c) Moscas
A procriação de moscas é um problema constante em países como o
Brasil, portanto são muito importantes considerações sobre o armazenamento,
principalmente no local de origem.
As moscas podem se desenvolver em menos de duas semanas após a
postura de ovos. Dentro deste ponto vista, o período em que ocorre a formação
da pulpa no aterro sanitário pode ser inferior ao período de desenvolvimento (9 a
11 dias), uma vez que o período de armazenamento desde sua geração (ou às
vezes antes) até sua disposição no aterro, podem ser elevados. Na Tabela 1.3 é
mostrado o desenvolvimento das moscas domésticas, a partir da postura.

Tabela 1.3 Fases de desenvolvimento de moscas domésticas


(Salvato, 1992).

Fase Tempo

Eclosão de ovos 8 a 12 horas


Primeiro estágio do período larval 20 horas
Segundo estágio do período larval 24 horas
Terceiro estágio do período larval 3 dias
Estágio de Pulpa 4 a 5 dias
Total 9-11 dias

Ainda, durante o estágio larval, as larvas podem aderir-se nas paredes


dos recipientes e contêineres, e podem ser transportados posteriormente ao
aterro sanitário, onde finalizam seu desenvolvimento. Neste aspecto, a

28
RESIDUOS SÓLIDOS

cobertura diária é imprescindível na redução e eliminação de moscas dos


aterros sanitários e arredores.

QUESTÃO DE APRENDIZAGEM UNIDADE 1

QUESTÃO 1
(Enade 2011) Os resíduos da construção civil (RCC) Classe A, são
aqueles que apresentam características para reutilização e reciclagem na
forma de agregados (miúdo e graúdo) que podem ser utilizados em concretos,
argamassas e em pavimentação. A reciclagem desses resíduos, além de ser
promovida em instalações permanentes, pode ser realizada no próprio canteiro,
utilizando equipamentos móveis. Essa abordagem remete à execução dos
processos de britagem e peneiramento no próprio local de produção dos
resíduos e de utilização do agregado reciclado logo que é processado.

EVANGELISTA, P. P. A.; COSTA, D. B. ZANTA, V. M. Alternativa


sustentável para destinação de resíduos de construção classe A: sistemática
para reciclagem em canteiros de obras. Ambiente Construído, Porto Alegre, v.
10, n. 3, p. 23-40, 2010.
Com relação ao uso de agregados reciclados na indústria da
construção civil, analise as asserções que se seguem.
A reciclagem de agregados na obra reduz o consumo de agregados
naturais, reduz o volume de resíduos destinados aos aterros e também os
custos com transportes. Entretanto, a utilização de agregados reciclados em
larga escala não é prática difundida entre os municípios brasileiros. A
implantação de usinas de reciclagem com produção regular e padrões de
qualidade definidos ainda não se transformou em rotina adotada pelas
prefeituras, nem pela iniciativa privada

PORQUE

não existe norma técnica específica que estabeleça os requisitos para


o emprego de agregados reciclados de resíduos sólidos no preparo de

29
RESIDUOS SÓLIDOS

concretos sem função estrutural e em pavimentação e, portanto, não se pode


garantir que o agregado produzido a partir da reciclagem do entulho, apresente
propriedades adequadas para seu emprego como material de construção.

A respeito dessas asserções, assinale a opção correta.


a) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda é uma
justificativa correta da primeira.
b) As duas asserções são proposições verdadeiras, mas a segunda não é uma
justificativa correta da primeira.
c) A primeira asserção é uma proposição verdadeira, e a segunda é uma
proposição falsa.
d) A primeira asserção é uma proposição falsa, e a segunda é uma proposição
verdadeira.
e) As duas asserções são proposições falsas.

QUESTÃO 2
(Enade 2010) Um tecnólogo em gestão ambiental é contratado por
uma pequena indústria que gera, em seu processo produtivo, alguns tipos de
resíduos sólidos. Ao elaborar o plano de gerenciamento de resíduos sólidos,
ele recorre à NBR 10 004/2004.

Avalie as afirmativas que se seguem, considerando o estabelecido na


NBR 10 004/2004.

I. Os resíduos sólidos são classificados em inertes e não inertes, sendo que os


não inertes podem ser perigosos e não perigosos.
II. A classificação de um resíduo é feita com base na identificação de seus
constituintes e no processo que o originou.
III. Quando se trata de resíduos tóxicos, as embalagens que os contêm (ou
continham) seguem a mesma classificação dos resíduos.
IV. Cada tipo de resíduo é identificado por um código formado por uma letra e
três algarismos.

30
RESIDUOS SÓLIDOS

Estão corretas apenas as afirmações.


a) I e IV.
b) II e IV.
c) I, II e III.
d) I, II e IV.
e) II, III e IV.

QUESTÃO 3

De acordo com a regulamentação da ANVISA para manejo de Resíduos Sólidos


pelos serviços de saúde, os rejeitos radioativos sólidos são classificados no grupo:

a) A
b) B
c) C
d) D
e) E

QUESTÃO 4
O acúmulo de materiais tóxicos e a diminuição da qualidade do ambiente, está
relacionado a:

a) Uma diminuição do buraco da camada de ozônio.


b) Uma diminuição da temperatura da Terra provocando o congelamento dos
rios e lago, somente.
c) O número crescente de erupções vulcânicas.
d) Um aumento do consumo dos recursos naturais mais rápido do que são
regenerados na biosfera.
e) Um aumento da taxa de deposição de lixo em áreas alagáveis como o litoral
Brasileiro

31
RESIDUOS SÓLIDOS

QUESTÃO 5
Os resíduos sólidos urbanos, gerados nas residências de uma comunidade
típica urbana, conhecidos como lixo, são constituídos em sua maioria,
fundamentalmente por, com exceção de:
a) Produtos químicos não biodegradáveis
b) Papeis e papelão
c) Matéria orgânica
d) Vidros e metais
e) Plásticos em geral.

32
RESIDUOS SÓLIDOS

GABARITO
1)C
2)E
3)C
4) D
5) A

33
RESIDUOS SÓLIDOS

UNIDADE 2 TRATAMENTO DOS


RESIDUOS SOLIDOS

Capítulo 2 Resíduos sólidos urbanos (RSU)

O profundo conhecimento da composição dos RSU viabiliza uma


avaliação preliminar da sua degradabilidade, do poder de contaminação
ambiental e das possibilidades de reutilização, reciclagem e valorização
energética e orgânica.
A necessidade do tratamento dos RSU torna-se fundamental por
proporcionar: a redução de volume e massa, redução da periculosidade, a
redução da quantidade de resíduos enviados para disposição final e a
transformação dos seus componentes em um material reutilizável com valor
econômico agregado.
Consiste em um conjunto de métodos, operações e uso de tecnologias
apropriadas, aplicáveis aos resíduos, desde sua produção até o destino final,
com o objetivo de mitigar o impacto negativo sobre a saúde humana e o meio
ambiente e transformá-los em um fator de geração de renda como a produção
de matéria prima secundária. Dessa forma podemos denominar de tratamento
de resíduos as várias tecnologias existentes.
Para o eficaz tratamento a adoção das tecnologias de tratamento
algumas medidas são prioritárias como a separação prévia dos resíduos,
através de coletas diferenciadas. Outro aspecto fundamental é a necessidade
de analisar os resíduos sólidos urbanos em forma de cadeia produtiva,
considerando sua geração (quantidade e composição), acondicionamento e
coleta, diferentes tipos de tratamento e destinação final.
O efetivo tratamento dos resíduos, bem como a escolha da tecnologia
mais adequada, deve levar em consideração a separação prévia dos resíduos,
através de coletas diferenciadas.
E a tecnologia deve sobretudo adequar os processos, suas evoluções
e suas inovações tecnológicas às realidades locais, questões sociais,
ambientais e culturais de cada localidade, considerando os investimentos

34
RESIDUOS SÓLIDOS

necessários. Isto determinará a viabilidade ou não da implementação da


tecnologia.
O tratamento nunca constitui um sistema de destinação final completo
ou definitivo, pois sempre há um remanescente inaproveitável. Entretanto, as
vantagens decorrentes dessas ações, tornam-se mais claras após o
equacionamento dos sistemas de manejo e de destinação final dos resíduos.
As vantagens são de ordem ambiental e econômica. No caso dos
benefícios econômicos, a redução de custos com a disposição final é a
vantagem econômica que mais sobressai. Dentre os fatores que recomendam
o tratamento dos resíduos pode-se citar:
 a escassez de áreas para a destinação final dos resíduos;
 a disputa pelo uso das áreas remanescentes com a população
de menor renda;
 a valorização dos componentes do lixo como forma de promover
a conservação de recursos;
 a economia de energia;
 a diminuição da poluição das águas e do ar;
 a inertização dos resíduos sépticos;
 a geração de empregos, através da criação de indústrias
recicladoras.

Podemos separar as formas de tratamento de resíduos em 3 grupos:


Tratamento Mecânico, Tratamento Bioquímico, Tratamento Térmico.

a. Tratamento Mecânico

No tratamento mecânico são realizados processos físicos geralmente


no intuito de separar (usinas de triagem) ou alterar (reciclagem) o tamanho
físico dos resíduos. Neste processo não ocorrem reações químicas entre os
componentes como nos muitos casos do tratamento térmico.
Os maiores exemplos de tratamento mecânico de resíduos são
encontrados no setor de reciclagem. Muitas vezes, o processo de reciclagem
de produtos é dividido em várias etapas que agem de maneira

35
RESIDUOS SÓLIDOS

interdependente. Em alguns casos como na reciclagem de resíduos


eletrônicos, os processos mecânicos costumam ser complexos.
De uma forma geral, podemos classificar as formas de tratamento
mecânico de resíduos de acordo com sua finalidade. Vejamos alguns exemplos
abaixo:
 Diminuição do tamanho das partículas: quebra, trituração,
moinhos;
 Aumento do tamanho das partículas: aglomeração, briquetagem,
peletagem;
 Separação da fração física: Classificação;
 Separação pelo tipo de substância;
 Mistura de substâncias: extrusão, compactação;
 Separação de fases físicas: sedimentação, decantação, filtração,
centrifugação, floculação;
 Mudança de estados físicos: condensação, evaporação,
sublimação.

b. Tratamento Bioquímico

O tratamento bioquímico ocorre através da ação de grupos de seres


vivos, (em sua maioria micro-organismos como bactérias e fungos, mas
também organismos maiores como lesmas e minhocas), que ao se
alimentarem dos resíduos, quebram suas moléculas grandes transformando-as
em uma mistura de substâncias e moléculas menores.
Dependendo de alguns fatores como por exemplo a temperatura,
pressão e acidez dessa mistura de substâncias (moléculas), as substâncias
resultantes desse processo podem reagir entre si quimicamente,
caracterizando assim o processo bioquímico. Em alguns casos só ocorre o
processo biológico, em outros somente o químico. Isso vai depender da
tecnologia e metodologia utilizada.
Os processos de tratamento bioquímico mais conhecidos são:

36
RESIDUOS SÓLIDOS

1. Biodigestão: decomposição da matéria orgânica na ausência


de oxigênio nos chamados Biodigestores ou Centrais de Biogás.
Veja alguns exemplos abaixo:

 Biodigestor para resíduos sólidos orgânicos urbanos;


 Biodigestor para resíduos sólidos orgânicos rurais;
 Biodigestor para resíduos com alto teor de celulose;
.
2. Compostagem: Decomposição da matéria orgânica na
presença de oxigênio em usinas de compostagem. Veja alguns
exemplos abaixo:
 Usina de compostagem de Salerno na Itália;
 A Usina de Compostagem de Bremen na Alemanha.
Alguns empreendimentos fazem uso das duas tecnologias em uma
única central, por exemplo o tratamento de resíduos sólidos orgânicos em
Ypres na Bélgica, sistema integrado de biodigestor e usina de compostagem.

c. Tratamento Térmico

No tratamento térmico, os resíduos recebem uma grande quantidade


de energia em forma de calor a uma temperatura mínima que varia de acordo
com a tecnologia aplicada (Temperatura de reação) durante uma certa
quantidade de tempo (Tempo de reação) tendo como resultado uma mudança
nas suas características como por exemplo a redução de volume, devido a
diversos processos físico-químicos que acontecem durante o processo.
Podemos diferenciar 5 principais processos de tratamento térmicos
separados em função da temperatura de operação e o meio onde ocorre o
processo. São eles:
 Secagem: Retirada de umidade dos resíduos com uso de
correntes de ar. Ocorre na presença do ar atmosférico e temperatura ambiente.
 Pirólise: Decomposição da matéria orgânica a altas temperaturas
e na ausência total ou quase total de oxigênio. As temperaturas do processo
podem variar de 200 a 900°C.

37
RESIDUOS SÓLIDOS

 Gaseificação: Transformação de matéria orgânica em uma


mistura combustível de gases (gás de síntese). Na maioria dos processos não
ocorre uma oxidação total da matéria orgânica em temperaturas variando entre
800 e 1600°C.
 Incineração: Oxidação total da matéria orgânica com auxílio de
outros combustíveis a temperaturas variando entre 850 e 1300°C
 Plasma: Desintegração da matéria para a formação de gases.

A Tabela 2.1 resume alguns processos de transformações de resíduos sólidos:

TABELA 2.1 Processos de transformações utilizados para o tratamento de


resíduos sólidos.
Processo de Principal conversão em
Métodos de Transformação
Transformação produtos
Físico
Separação de Manual ou mecânica Componentes individuais
componentes encontrados nos resíduos
domiciliares
Redução de volume Aplicação de energia em Redução de volume do material
forma de força ou pressão original
Redução de tamanho Aplicação de energia Redução de tamanho dos
para retalhamento e moagem componentes originais
Químico
Combustão Oxidação térmica Dióxido de carbono (CO2),
dióxido de enxofre (SO2), outros
produtos de oxidação, cinzas
Pirólise Destilação destrutiva Vários gases, alcatrão e
composto de carbono
Biológico
Compostagem aeróbica Conversão biológica aeróbica Composto humificado usado
como condicionador de solos
Digestão anaeróbica Conversão biológica anaeróbica Metano (CH4), dióxido de
carbono (CO2), húmus
Fonte: TCHOBANOGLOUS et al. (1993)

2.1. Principais tratamentos empregados atualmente

a) Reciclagem de RSU
Segundo o IBAM (2014), a descaracterização e o beneficiamento
industrial de materiais presentes nos RSU como: papeis, plásticos, vidros e

38
RESIDUOS SÓLIDOS

metais e sua reinserção na economia, sendo novamente comercializados,


denomina-se reciclagem.
A reciclagem observa os resíduos como matéria prima e o insere
novamente na cadeia produtiva, sendo responsável pela redução na captação
de recursos naturais, além de diminuir a quantidade de rejeitos enviadas ao
aterro sanitário.
A reciclagem é uma atividade econômica, que deve ser vista como
um elemento dentro do conjunto de atividades integradas no gerenciamento
dos resíduos, não se traduzindo, portanto, como a principal "solução" para o
lixo, já que nem todos os materiais são técnicos ou economicamente
recicláveis.
A reciclagem não é um processo novo, pois os comerciantes de
sucata, com suas carrocinhas andando pelos arredores das cidades em busca
de materiais para serem reciclados, mostram uma atividade de reciclagem já
muito praticada.
Entretanto, no passado, procurava-se reciclar tudo o que gerasse
renda. Nos dias atuais, a sociedade de consumo tornou-se tão diversificada,
que em muitos casos é mais barato para as indústrias produzirem materiais
utilizando matéria-prima virgem, em vez de retrabalharem a sucata.

Um exemplo disso diz respeito ao aço, uma vez que existem mais de
30.000 graduações desta liga que não são intercambiáveis, e algumas dessas
graduações altamente especializadas devem ser produzidas a partir de fontes
virgens, a fim de se garantir o conteúdo químico em quantidades necessárias.
Quando o aço é produzido a partir de sucata, a utilização do material
resultante é limitada.

O aço de eixos e o de estruturas de carros, quando misturados, não


servem para qualquer um desses propósitos. Os mesmos problemas ocorrem
com a reutilização do papel, do vidro e do plástico, embora em escala
diferenciada.

Não obstante, alguns produtos podem ser produzidos a partir do


reaproveitamento quase que integral do material antigo, ou parte dele,
conforme a sua especificação. O alumínio e o vidro são exemplos desse caso,
principalmente quando esse último é separado em cores diferenciadas.

39
RESIDUOS SÓLIDOS

As maiores vantagens da reciclagem são observadas quando


promovem a diminuição da quantidade de resíduos destinados a aterros
sanitários, aumentando a vida útil desses espaços e o incremento econômico
originado pela reinserção dos recicláveis na cadeia produtiva, gerando
empregos e renda de forma direta e indireta. A preservação de recursos
naturais, graças a redução do consumo de matérias primas, redução no
consumo de energia, redução de impactos na prospecção de matérias primas.
Antes de uma comunidade decidir estimular ou implantar a segregação
de materiais, visando a reciclagem, é importante verificar se existe na região
mercado para o escoamento desses materiais, pois segregar sem mercado, é
o mesmo que enterrar separado.
Outro fator importante, diz respeito à sazonalidade de preços para a
venda de recicláveis, que varia de um material para outro. Segundo o
Compromisso Empresarial Para a Reciclagem, CEMPRE (1993), este fato
sugere que, no planejamento de programas de reciclagem, deve-se prever um
local para o armazenamento dos materiais coletados, para vendê-los quando
os preços estiverem no pico.
Contudo a tecnologia não pode ser entendida como a principal etapa
dentro do gerenciamento de RSU, a reciclagem deve ser considerada como
um elemento alternativo dentro da conjuntura das soluções.
Outro aspecto relevante que deve ser considerado é que a
implantação de programas de reciclagem estimula o desenvolvimento de uma
maior consciência ambiental e dos princípios de cidadania por parte da
população. O grande desafio para implantação de programas de reciclagem é
buscar um modelo que permita a sua autossustentabilidade econômica.
Os modelos mais tradicionais, implantados em países desenvolvidos,
quase sempre são subsidiados pelo poder público e são de difícil aplicação em
países em desenvolvimento.
Embora a escassez de recursos dificulte a implantação de programas
de reciclagem, algumas municipalidades vêm procurando modelos alternativos
adequados às suas condições econômicas.
Ainda existe uma confusão em relação aos termos reciclagem e coleta
seletiva (coleta diferenciada de materiais recicláveis). A reciclagem de

40
RESIDUOS SÓLIDOS

materiais pode ocorrer sem a separação prévia de resíduos na fonte geradora,


o que reduz a qualidade dos resíduos a serem processados. O autor analisa
os custos adotados na reciclagem, pós coleta seletiva, em unidades de triagem
mecanizada, sem considerar a reciclagem industrial.

b) Coleta seletiva

A coleta seletiva configura-se em uma das alternativas para a solução


de parte do problema de destinação dos resíduos sólidos urbanos. Possibilita o
melhor reaproveitamento dos materiais recicláveis e da matéria orgânica.
Podemos definir a coleta seletiva como a etapa de coleta de materiais
recicláveis presentes nos resíduos sólidos urbanos, após sua separação na
própria fonte geradora, seguido de seu acondicionamento e apresentação para
coleta em dias e horários predeterminados, ou mediante entrega em Postos de
Entrega Voluntária (PEVs), em Postos de Troca, a catadores, sucateiros e
entidades beneficentes.
Os demais materiais, não reaproveitáveis, chamados de rejeitos,
quando inseridos em um planejamento de gestão integrada devem encontrar
destinação adequada nos aterros sanitários. A coleta seletiva é uma atividade
relativamente recente no Brasil e ainda não faz parte da rotina da grande
maioria dos sistemas de limpeza pública municipais, normalmente sendo
implantada e operada na forma de programa específico.
A adequada gestão dos serviços de limpeza urbana e manejo dos
resíduos sólidos no país constitui um grande desafio a ser conquistado pelo
poder público e pela sociedade. Outro modelo, bem mais utilizado, é aquele
que a população separa os resíduos domésticos em dois grupos:

• Materiais orgânicos (úmidos), compostos por restos de alimentos e


materiais não recicláveis (lixo). Devem ser acondicionados em um único
contêiner e coletados pelo sistema de coleta de lixo domiciliar regular;

• Materiais recicláveis (secos), compostos por papéis, metais, vidros e


plásticos. Devem ser acondicionados em um único contêiner e coletados nos

41
RESIDUOS SÓLIDOS

roteiros de coleta seletiva. Na maioria das cidades onde existe o sistema, os


roteiros de coleta seletiva são realizados semanalmente, utilizando-se
caminhões do tipo carroceria aberta.
Os materiais coletados, por qualquer um dos tipos de coleta seletiva
apresentados, são posteriormente encaminhados para os barracões de
triagem, onde estes são separados por tipo, e preparados para posterior venda
às empresas que atuam na reciclagem destes materiais.
Em alguns casos, a administração municipal, visando fomentar a
inserção social de população de rua e pessoas desempregadas, ou mesmo dos
catadores de lixões, apoia tais organizações. Para tanto, aloca recursos
logísticos e infraestrutura necessária para a operacionalização da coleta e
triagem de materiais, sendo todo o recurso gerado revertido para a geração de
renda destes trabalhadores.
Devemos salientar a importância da coleta seletiva não somente pelas
questões ambientais, pois visa melhorias econômicas e sociais daqueles
envolvidos no processo, visto que a coleta de materiais recicláveis surgiu da
necessidade de gerar recursos para famílias de baixa renda.
Os sistemas de coleta seletiva do país têm sido utilizados com maior
ênfase em três modalidades, conforme descrito por:

 Coleta seletiva em postos de entrega voluntária: o próprio


gerador desloca-se até um posto de entrega e deposita o material reciclável,
previamente triado, em recipientes diferenciados por tipo de materiais;
A Resolução CONAMA nº 275, de 25/4/2001 estabelece o código de
cores para os diferentes tipos de resíduos, a ser adotado na identificação de
coletores e transportadores, bem como nas campanhas informativas para a
coleta seletiva, como indicado na Figura 2.1:

42
RESIDUOS SÓLIDOS

Figura 2.1 Código de cores para resíduos.


A instalação de PEV pode ser feita através de parcerias com empresas
privadas que podem, por exemplo, financiar a instalação dos contêineres e
explorar o espaço publicitário no local.
Algumas municipalidades vêm desenvolvendo parcerias com indústrias
recicladoras que custeiam integralmente a implantação dos contêineres e a
coleta dos materiais depositados nos PEV.
Em se tratando da implantação de PEV em pontos turísticos, deve-se
atentar para os elementos de comunicação presentes no equipamento. Para
transpor o obstáculo do idioma, imagens que orientem o local correto de
armazenamento de cada material reciclável serão sempre mais recomendadas
do que textos indicativos, pois sabe-se que visitantes estrangeiros nem sempre
dominam a língua portuguesa.

 Coleta seletiva porta a porta: o material reciclável, previamente


segregado por tipo ou não, acondicionado e apresentado à coleta pelo gerador
é coletado por veículos dimensionados para realizar tal tarefa, ainda, na porta
da residência do contribuinte;
Os principais aspectos negativos da coleta seletiva porta a porta são:

1. aumento das despesas com transporte em função da


necessidade do aumento do número de caminhões;

43
RESIDUOS SÓLIDOS

2. alto valor unitário, quando comparada com a coleta


convencional.

 Coleta seletiva por trabalhadores autônomos da reciclagem: um


grupo de trabalhadores autônomos, em geral apoiado e/ou gerenciado por uma
organização de caráter social (cooperativa de catadores), com ou sem apoio
logístico do poder público, recolhe o material reciclável disposto em via pública,
oriundo de domicílios, ou gerados em estabelecimentos comerciais, de serviços
ou em industrias, utilizando-se, normalmente, carrinhos de tração manual.
Os catadores trabalham nas ruas, vazadouros e aterros de lixo. Alguns
municípios têm procurado dar também um cunho social aos seus programas de
reciclagem, formando cooperativas de catadores que atuam na separação de
materiais recicláveis existentes no lixo.
As principais vantagens da utilização de cooperativas de catadores
são:
• geração de emprego e renda;
• resgate da cidadania dos catadores, em sua maioria moradores de
rua;
• redução das despesas com os programas de reciclagem;
• organização do trabalho dos catadores nas ruas evitando problemas
na coleta de lixo e o armazenamento de materiais em logradouros públicos;
• redução de despesas com a coleta, transferência e disposição final
dos resíduos separados pelos catadores que, portanto, não serão coletados,
transportados e dispostos em aterro pelo sistema de limpeza urbana da cidade.
Essa economia pode e deve ser revertida às cooperativas de catadores, não
em recursos financeiros, mas em forma de investimentos em infraestrutura
(galpões de reciclagem, carrinhos padronizados, prensas, elevadores de
fardos, uniformes), de modo a permitir a valorização dos produtos catados no
mercado de recicláveis.
É importante que os municípios que optem por esse modelo ofereçam
apoio institucional para formação das cooperativas, principalmente no que
tange à cessão de espaço físico, assistência jurídica e administrativa para

44
RESIDUOS SÓLIDOS

legalização e, como já dito acima, fornecimento de alguns equipamentos


básicos, tais como prensas enfardadeiras, carrinhos etc.
Um dos principais fatores que garantem o fortalecimento e o sucesso
de uma cooperativa de catadores é a boa comercialização dos materiais
recicláveis.
Os preços de comercialização serão tão melhores quanto menos
intermediários existirem no processo até o consumidor final, que é a indústria
de transformação (fábrica de garrafas de água sanitária, por exemplo).
Para tanto, é fundamental que sejam atendidas as seguintes
condições:
• boa qualidade dos materiais (seleção por tipo de produto, baixa
contaminação por impurezas e formas adequadas de embalagem/
enfardamento);
• escala de produção e de estocagem, ou seja, quanto maior a
produção ou o estoque à disposição do comprador, melhor será a condição de
comercialização;
• regularidade na produção e/ou entrega ao consumidor final.
Essas condições dificilmente serão obtidas por pequenas cooperativas,
sendo uma boa alternativa a criação de centrais para tentar a negociação direta
com as indústrias transformadoras, com melhores condições de
comercialização.
Após a implantação de uma cooperativa de catadores é importante
que o poder público continue oferecendo apoio institucional de forma a suprir
carências básicas que prejudicam o bom desempenho de uma cooperativa,
notadamente no início de sua operação. Entre as principais ações que devem
ser empreendidas no auxílio a uma cooperativa de catadores, destacam-se:
• apoio administrativo e contábil com contratação de profissional que
ficará responsável pela gestão da cooperativa;
• criação de serviço social com a atuação de assistentes sociais junto
aos catadores;
• fornecimento de uniformes e equipamentos de proteção industrial;
• implantação de cursos de alfabetização para os catadores;

45
RESIDUOS SÓLIDOS

• implantação de programas de recuperação de dependentes


químicos;
• implementação de programas de educação ambiental para os
catadores.
Em uma fase inicial, considerando a pouca experiência das diretorias
das cooperativas, o poder público poderá também auxiliar na comercialização
dos materiais recicláveis.
Caso haja dificuldades, fruto das variações do mercado comprador, é
recomendável que a cooperativa conte com um pequeno capital de giro de
forma a assegurar um rendimento mínimo aos catadores até o
restabelecimento de melhores condições de comercialização.

c) Compostagem

A compostagem é um processo de reciclagem da matéria orgânica


presente nos resíduos sólidos urbanos em quantidades maioritárias em relação
aos restantes componentes (cerca de 50%).
Trata-se de um processo aeróbio controlado, em que diversos
microrganismos são responsáveis, numa primeira fase, por transformações
bioquímicas na massa de resíduos e humificação, numa segunda fase.
As reações bioquímicas de degradação da matéria orgânica
processam-se em ambiente predominantemente termofílico, também chamada
de fase de maturação, que dura cerca de 25 a 30 dias.
A fase de humificação em leiras de compostagem, processa-se entre
30 e 60 dias, dependendo da temperatura, humidade, composição da matéria
orgânica (concentração de nutrientes) e condições de arejamento.
O processo da compostagem é um processo onde microrganismos
diversificados são responsáveis pela degradação da matéria orgânica. Assim
sendo, os fatores que afetam o processo são os que determinam a existência
duma população diversificada de microrganismos necessários para completar a
degradação, como sejam: o oxigénio para suprir a demanda biológica, a
temperatura que afeta a velocidade das reações bioquímicas, e a água

46
RESIDUOS SÓLIDOS

(expressa em termos de humidade), sem a qual não se processam as


atividades metabólicas.
Além destes fatores ambientais, também é preciso nutrientes
balanceados, expressos pela relação C/N, em quantidade adequadas para que
os microrganismos possam exercer a sua atividade. Outro fator que afeta o
processo é de ordem operacional, o tamanho das partículas, ou seja, a
granulometria que influencia o arejamento e a estabilidade geométrica das
pilhas ou leiras. O arejamento, a temperatura, o teor de humidade, a
concentração de nutrientes e a granulometria do material são os principais
fatores que afetam a compostagem.
A compostagem pode constituir um processo de tratamento dos
resíduos sólidos integrado num sistema de reciclagem de materiais ou como
único sistema de tratamento da fracção orgânica dos resíduos. Entre as
principais vantagens dos sistemas de compostagem podemos citar:
• rápida decomposição microbiana e oxidação da matéria orgânica
tornando-a estável com mínima produção de odores;
• higienização do material devido às reações exotérmicas de
decomposição;
• a maior parte dos sistemas usa pouca quantidade de energia externa
para funcionar, comparando com outros sistemas de tratamento;
• produção de fertilizantes naturais não contaminantes das águas
subterrâneas ou superficiais, como acontece com os fertilizantes minerais
(químicos, que lixiviam);
• grande flexibilidade em escala de operação;
• tratamento menos caro que os outros tipos de tratamento, quando se
entra em consideração com os ganhos ambientais resultantes.
Diversos trabalhos demonstram que a compostagem é o único
processo que proporciona boa destruição dos microrganismos patogénicos e
estabilização da matéria orgânica; possui imensas vantagens no tratamento de
resíduos sólidos.
Converte matéria orgânica putrescível em formas refratárias (estáveis),
destrói microrganismos patogénicos e promove a desidratação de substâncias

47
RESIDUOS SÓLIDOS

altamente húmidas como as lamas de estações de tratamento de águas


residuais.
A redução da humidade tem vantagens visuais de atratividade do
produto para utilização e contribui para a significativa diminuição dos custos de
transporte. Todas estas vantagens são obtidas com o mínimo custo de energia
externa, dado que a maior parte da energia utilizada é oriunda do próprio
processo metabólico.
Vogtmann, et al., (1993), com o objetivo de determinar a
degradabilidade de agroquímicos utilizados na agricultura e horticultura,
designadamente herbicidas, inseticidas, fungicidas e reguladores de
crescimento, presentes em resíduos de origem agrícola e hortícola, realizaram
experiências em compostagem, montando pilhas de materiais orgânicos
misturando estrume, palha, turfa e agentes agroquímicos, nomeadamente 2
herbicidas (bromofenoxin, 2, 4D) 4 inseticidas (lindam, dízimo, matasystox e
parathion) 2 fungicidas (benomyl e propineb) e 2 reguladores de crescimento,
um para plantas (CCC) e outro para animais (tylosin).
A compostagem destes materiais decorreu durante 56 e 75 dias, tendo
chegado à conclusão que o inseticida metasystox e o regulador tylosin eram
totalmente degradados. Os restantes apresentaram 80% de degradação, com
exceção do regulador CCC que se degradou 18%.
Estas experiências confirmam que a temperatura e o metabolismo do
processo de compostagem foram os responsáveis por esta degradação,
assumindo uma importante vantagem ambiental, uma vez que muitos destes
agroquímicos são depositados no ambiente através das atividades agrícolas,
podendo ser assimiladas por plantas de crescimento rápido, utilizadas na
alimentação humana (muitas delas ingeridas cruas), colocando em risco a
saúde pública.
É um processo eficaz de reciclagem da fracção putrescível dos
resíduos sólidos urbanos, com vantagens económicas, pela produção do
composto, aplicável na agricultura (não está sujeito a lixiviação, ao contrário
dos adubos químicos), óptimo para a contenção de encostas e para o combate
da erosão, etc. Quando incluído numa solução integrada tem a vantagem de

48
RESIDUOS SÓLIDOS

reduzir ou mesmo eliminar a produção de lixiviados e de biogás nos aterros


sanitários, o que torna a exploração mais económica.
Todas estas vantagens são possíveis quando os processos escolhidos
forem os adequados, em tecnologia, projeto e operação. Em caso contrário
temos exemplos de vantagens parciais, pelo mau produto resultante e por
determinar más relações com a vizinhança das instalações de compostagem
devido à emissão de odores, quase sempre ligados às disfunções destas
estruturas por um ou vários dos aspectos referidos.
Como limitações ou desvantagens são citadas a necessidade de maior
área de terreno disponível que outros processos de tratamento e maior
utilização de mão de obra (em certas circunstâncias poderá não ser uma
desvantagem, mas exatamente o contrário, por absorver mão de obra, quase
sempre não especializada).

d) Incineração

É outra das tecnologias utilizadas para tratamento dos resíduos


sólidos, tanto urbanos como industriais, utilizada em especial nos países
nórdicos, devido à necessidade de diversificação das fontes energéticas para
aquecimento, à densidade populacional elevada e devido à falta de terrenos
apropriados para outras soluções (caso da Holanda em que mais de 45% do
solo foi conquistado ao mar).
Com o crescimento das cidades e o estabelecimento dos 35 serviços
de coleta do lixo esta prática tornou-se inadequada, devido aos incômodos
causados às vizinhanças e aos danos provocados ao meio ambiente.
Entretanto, é bastante comum verificar nos dias de hoje a adoção deste
procedimento, principalmente na zona rural e na periferia das cidades, onde os
serviços de coleta de resíduos se mostrem deficientes.
Já há algum tempo, principalmente nas grandes metrópoles, em que a
existência de áreas para a construção de aterros sanitários é cada vez mais
escassa, a incineração vem sendo apontada como uma das alternativas de
tratamento de resíduos sólidos.

49
RESIDUOS SÓLIDOS

No passado, o principal objetivo da tecnologia de incineração resumia-


se na redução da massa, do volume, e da periculosidade dos resíduos.
Atualmente, além destes mesmos objetivos, e que podem resultar em redução
superior a 90%, a tecnologia de Incineração se apropria do poder calorífico dos
resíduos de natureza combustível, e propicia o aproveitamento da energia
térmica decorrente do próprio processo de combustão.
A tecnologia de Incineração hoje empregada no mundo incorpora além
dos mecanismos de aproveitamento da energia térmica, o desenvolvimento de
sistemas de tratamento e depuração de gases, capazes de controlar,
significativamente, a emissão de poluentes atmosféricos, e satisfazer, em geral,
aos padrões ambientais de emissão vigentes.
A incineração no Brasil é utilizada principalmente como um meio para a
destinação final dos resíduos sólidos de saúde, é, porventura um dos métodos
mais seguros (registam-se experiências com autoclavagem e micro-ondas
muito interessantes que poderão vir a alterar o panorama dos tratamentos
deste tipo de resíduos hospitalares). Os equipamentos em geral, são de
pequeno porte, instalados em hospitais, casas de saúde, etc.
Em função da tecnologia de Incineração inicialmente empregada no
mundo, a partir do início do século passado, não contemplar o controle da
emissão de gases poluentes, problemas ambientais relacionados à poluição do
ar foram de fato a ela associados, influenciando, negativamente, seu maior
desenvolvimento. Observa-se que em todo o mundo, e inclusive no Brasil, o
imaginário popular sobre a tecnologia de Incineração sempre a associou, e
continua a associando a uma fonte de emissão de gases poluentes.
Como pontos positivos, vale ressaltar que a incineração reduz
drasticamente o volume de resíduos a ser descartado (cerca de 90%), destrói
organismos patogênicos e orgânicos, e sua planta necessita de uma área
relativamente pequena e que pode ser instalada próxima aos centros
geradores de resíduos, economizando em transporte. Além disso, é possível
recuperar parte da energia liberada no processo de queima, transformando-a
em energia térmica ou elétrica.
Em relação aos pontos negativos, este tipo de tratamento tem sido
limitado ao estritamente necessário, devido aos seus múltiplos inconvenientes,

50
RESIDUOS SÓLIDOS

de que se destacam: os elevados custos de investimento e operacionais,


exigência de mão-de-obra qualificada, oposição pública e a emissão de
substâncias perigosas como dioxinas, furanos, gases de mercúrio e ácidos,
bem como elevado teor em metais pesados nas cinzas produzidas pela
combustão do processo.
Processos de licenciamento ambiental de unidades de processamento
térmico de RSU se dedicam principalmente a assegurar o rigoroso controle das
emissões atmosféricas. O desenvolvimento mais recente da tecnologia,
incluindo a modernização dos sistemas de controle e tratamento de gases
poluentes, promoveu ambiente para a maior aceitabilidade de unidades de
Incineração baseadas em tecnologia Waste-to-Energy (WtE); atualmente são
diversos os países que a utilizam como solução para a disposição final e de
aproveitamento energético de RSU.
Pode-se afirmar que a incineração de RSU com base em tecnologia
WtE é consistente com os objetivos e diretrizes da Política Nacional de
Resíduos Sólidos, uma vez que além de satisfazer os critérios de emissão
atmosférica vigentes, a otimização do processo depende de adequada triagem
e prévia separação de resíduos não combustíveis, possibilitando o
desenvolvimento de toda a cadeia de coleta seletiva, e que inclui a geração de
empregos diretos e indiretos.

e) Aterros sanitários energéticos e de rejeitos

Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), aterro


sanitário de resíduos sólidos urbanos, consiste na técnica de disposição de
resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar danos ou riscos à saúde pública
e à segurança, minimizando os impactos ambientais, método este que utiliza
princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos à menor área
possível e reduzi-los ao menor volume permissível, cobrindo-os com uma
camada de terra na conclusão de cada jornada de trabalho ou a intervalos
menores se for necessário.
A aplicação desse processo é difundida em quase todo o mundo, por
se apresentar como a solução mais econômica, quando comparada a outros

51
RESIDUOS SÓLIDOS

processos (compostagem e incineração, por exemplo), que exigem grandes


investimentos para a construção e para a manutenção da estrutura técnico-
administrativa de operação.
Embora em alguns casos a compostagem e a incineração tornem-se
viáveis economicamente, como é o caso das grandes cidades, deve-se
ressaltar que tais métodos não descartam a existência de aterros sanitários em
suas proximidades, uma vez que esses sistemas produzem resíduos de
processo que não são aproveitáveis, ou ainda por fator de segurança, na
ocorrência de imprevistos que paralisem as instalações.
A maioria das cidades brasileiras confunde aterro sanitário com
"vazadouros", "lixões", "depósitos", etc., métodos que, desprovidos de critérios
científicos ou ecológicos, são condenados sob o ponto de vista sanitário.
Ressalte-se também que o lixo urbano conta com grande parte de matéria
orgânica, que entra rapidamente em decomposição ao ar livre, proliferando
moscas, baratas, ratos, urubus, além de exalar mau-cheiro.
Um aterro sanitário é um método de disposição que não provoca
prejuízos ou ameaças à saúde e à segurança, utiliza princípios de engenharia
de modo a confinar o lixo no menor volume possível, cobrindo-o com uma
camada de solo ao fim de cada dia de trabalho, ou mais vezes se necessário.
A função do aterro sanitário é isolar os resíduos sólidos de
qualquer contato com o mundo exterior. Garantir assim a decomposição da
matéria orgânica de maneira adequada a fim de evitar impactos ambientais e
disseminação de doenças.
Conforme observado pela Figura 2.2, aterros sanitários são
implantados conforme técnica de área, pelo qual se formam camadas de
resíduos (células) sobre uma base impermeabilizada.

52
RESIDUOS SÓLIDOS

FIGURA 2.2 Aterro sanitário.


Estes aterros contam com um conjunto de elementos de proteção
ambiental que inclui impermeabilização de base, através de barreiras naturais e
sintéticas, sistema para a drenagem de águas pluviais, gases e percolados. Os
líquidos contaminados são encaminhados para tratamento.
Os aterros sanitários se aplicam a todas as localidades com resíduos
suficientes para justificar economicamente o uso de máquinas para as
operações de escavação, preparo do terreno, corte de material de cobertura,
movimentação, espalhamento, compactação e recobrimento da massa de
resíduos sólidos.
Os processos ou métodos de tratamento anteriormente descritos não
são concorrentes com o aterro sanitário, mas complementares a este.
Efetivamente, o aterro sanitário é um órgão imprescindível porque é comum em
toda a estrutura de equacionamento dos resíduos sólidos.
O aterro sanitário é uma solução para qualquer volume, apresenta
simplicidade executiva, não exige equipamentos especiais, permite o controle
de vetores e a transformação do material degradável em estabilizado ocorre
natural e biologicamente.
A incógnita é a quantidade de resíduos a serem ali depositados para
tratamento e destino final. Quanto maior for a taxa de valorização conseguidas

53
RESIDUOS SÓLIDOS

nas fases anteriores, menores serão as quantidades a aterrar, prolongando-se


a vida útil do AS e diminuindo-se o custo de exploração.
Se a escala do aterro for adequada, deposição de uma quantidade
mínima de cerca de 200 toneladas por dia, pode haver o aproveitamento do
biogás produzido no aterro, designando-se então de aterro energético.
Sem esta deposição mínima não é rentável o aproveitamento
energético, e o biogás terá que ser queimado em tocha com tempo de
residência mínima de 0.3 segundos na câmara de combustão, a uma
temperatura de pelo menos 850ºC, para destruir e minimizar o efeito dos gases
nocivos.
Quando o AS recebe os restos das outras formas de valorização de
resíduos é um aterro de rejeitos, sem produção de biogás e sem emissão de
lixiviados poluentes.
Entre outras, as principais vantagens dos aterros sanitários são as
seguintes:
• grande flexibilidade para receber uma gama muito grande de
resíduos;
• fácil operacionalidade;
• relativo baixo custo, comparativamente a outras soluções;
• disponibilidade de conhecimento;
• não conflitante com formas avançadas de valorização dos resíduos;
• devolução a utilização do espaço imobilizado durante a fase de
exploração;
• potência a recuperação de áreas degradadas;
• através de processos de bioremediação é possível a reutilização do
espaço do aterro várias vezes, com a produção de composto orgânico
resultante da matéria orgânica degradada no “bioreactor” anaeróbio, após
eventual complemento de tratamento aeróbio, em compostagem com vista à
higienização.
Os aterros sanitários podem ser operados de diversas maneiras:
 Método da Trincheira: é aplicado quando o local do aterro for plano
ou levemente inclinado, e quando a produção diária de lixo, preferencialmente,
não ultrapassar 10t;

54
RESIDUOS SÓLIDOS

 Método da Escavação Progressiva ou Meia Encosta: é utilizado em


áreas secas e de encostas, normalmente aproveitando-se o material escavado
do próprio local na cobertura do lixo. Esse aspecto caracteriza uma
interessante vantagem do método;

 Método da área ou aterro tipo superficial: é utilizada quando a


topografia local permite o recebimento/confinamento dos resíduos sólidos, sem
a alteração de sua configuração natural. Este procedimento caiu em desuso,
pois requer cuidados especiais e causa danos ambientais de grande
magnitude.

2.2 Aspectos ambientais e econômicos

Melhorias do meio ambiente em relação aos métodos disposição dos


resíduos são bem-vindas quando cientificamente justificáveis. Contudo, as
melhorias normalmente apresentam um custo econômico associado,
principalmente quando relacionadas às legislações de controle de emissão
(end-of-pipe), que resultam no emprego de novas tecnologias.
Mesmo quando se procura atender as legislações estratégicas, tais
como a reciclagem, ocorre o aumento dos custos associados, uma vez que a
coleta se torna mais complexa, com o envolvimento de equipamentos e
veículos diferenciados. Portanto, o maior desafio no manejo de resíduos
sólidos é encontrar o ponto de equilíbrio entre custos econômicos e a
preservação do meio ambiente.
Custos ambientais ou sociais relacionados à disposição de resíduos
têm sido considerados historicamente como custos externos. Por exemplo, os
efeitos da emissão da incineração de resíduos ou dos gases e chorume dos
aterros não são considerados como parte do custo desses sistemas.
No caso dos aterros sanitários ou mesmo industriais, existe a
necessidade do monitoramento após o seu encerramento, assim como a
provisão de fundos que permita remediar quaisquer problemas ambientais

55
RESIDUOS SÓLIDOS

futuros. Isto mostraria efetivamente os custos reais do sistema de manejo de


resíduos.
Sob tais condições as opções de manejo com menor impacto
ambiental, que aparentam ser muito custosos, podem tornar-se
economicamente viáveis. Para um sistema existente que não foi desenvolvido
tendo como objetivo a preservação ambiental, a implementação de ações para
atender um determinado padrão ambiental, se não atendida previamente,
implicará certamente em custos adicionais.
Por outro lado para um sistema de manejo de resíduos concebido,
desde o início para alcançar os objetivos ambientais, essas ações podem
significar pouco ou nenhum custo adicional, se houver necessidade atender um
novo padrão ambiental.
Um sistema integrado que pode atuar sobre todos os materiais do
fluxo de resíduos sólidos representa um conceito de qualidade total para o
manejo de resíduos. O objetivo da qualidade total poderia ser a minimização
dos impactos ambientais de todo o sistema de manejo de resíduos, enquanto
mantém os custos econômicos em níveis aceitáveis.
A definição de aceitável varia com o grupo envolvido e com a
localidade, mas se o custo for pequeno ou menor que os praticados
previamente, será invariavelmente aceitável.

56
RESIDUOS SÓLIDOS

CAPITULO 3 TRATAMENTOS DE
RESIDUOS ESPECIAIS

3.1 Tratamentos de resíduos especiais

Com a legislação ambiental cada vez mais rigorosa e o aumento da


competitividade no mercado, é fundamental que as empresas realizem o
tratamento adequado de resíduos, uma vez que esse processo é parte
integrante da gestão dos resíduos. Podemos destacar:

a) Resíduos da construção civil


Com o enorme crescimento da construção civil nas últimas décadas,
ocorreu um aumento significativo e preocupante dos resíduos deixados pelas
obras. Em sua maior parte, os Resíduos da Construção Civil (RCC) são
materiais semelhantes aos agregados naturais e solos, porém também podem
conter tintas, solventes e óleos, caracterizados como substâncias químicas que
podem ser tóxicas ao ambiente ou à saúde humana.
A Resolução 307 do CONAMA, no seu Art. 2º define Resíduos da
construção civil como os provenientes de construções, reformas, reparos e
demolições de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da
escavação de terrenos, e classifica os resíduos da construção em 4 classes. A
Resolução 348, de 16 de Agosto de 2004, e a Resolução 431, de 24 de maio
de 2011, modificaram a classificação da Resolução 307, inserindo o amianto
como material perigoso (classe D) e mudando a classificação do gesso da
Classe C para a B.
A forma de tratamento dos resíduos da construção civil mais difundida
é a segregação (ou "limpeza"), seguida de trituração e reutilização na própria
indústria da construção civil.
O entulho reciclado pode ser usado como base e sub-base de
rodovias, agregado graúdo na execução de estruturas de edifícios, em obras
de arte de concreto armado e em peças pré-moldadas.

57
RESIDUOS SÓLIDOS

No Brasil, existem em operação cerca de nove unidades de


beneficiamento de resíduos de construção, implantadas a partir de 1991, sendo
a experiência mais significativa a da Prefeitura de Belo Horizonte, que dispõe
de duas usinas de reciclagem de entulho com capacidade para processar até
400 toneladas diárias.
A reciclagem dos resíduos da construção civil apresenta as seguintes
vantagens:
• redução de volume de extração de matérias-primas;
• conservação de matérias-primas não-renováveis; • correção dos
problemas ambientais urbanos gerados pela deposição indiscriminada de
resíduos de construção na malha urbana;
• colocação no mercado de materiais de construção de custo mais
baixo;
• criação de novos postos de trabalho para mão-de-obra com baixa
qualificação.
Por essas razões, a implantação de novas usinas de reciclagem para
esses materiais deve ser incentivada, mesmo que sua viabilidade econômica
seja alcançada através da cobrança de taxas específicas. Três fatores devem
ser considerados quando se está avaliando a implantação de um processo de
reciclagem de entulho em uma determinada região. Em ordem de importância,
os três fatores são:
• Densidade populacional: é necessária uma alta densidade
populacional de forma a assegurar um constante suprimento de resíduos que
servirão de matéria-prima para a indústria de reciclagem;
• Obtenção de agregados naturais: escassez ou dificuldade de acesso
a jazidas naturais favorecem a reciclagem de entulho, desde que um alto nível
de tecnologia seja empregado. Abundância e fácil acesso a jazidas não
inviabilizam a reciclagem do entulho de obra por si só, mas, por razões
econômicas, normalmente induzem à aplicação de baixos níveis de tecnologia
ao processo.
• Nível de industrialização: afeta diretamente a necessidade e a
conscientização de uma sociedade em reciclar o entulho. Em áreas

58
RESIDUOS SÓLIDOS

densamente povoadas, razões de ordem social e sanitária estimulam a


redução do volume de resíduos que devam ser levados aos aterros.
É fundamental a instalação da estação de reciclagem em uma posição
central do perímetro urbano com vistas à redução do custo final do produto
reciclado. Além destes fatores, devem ser observadas as condições a seguir:

I. Com relação ao recebimento


• características dos resíduos sólidos: a quantidade, o lugar de origem,
o responsável, a legislação existente, tipos e qualidade;
• demolição e reformas: técnicas aplicadas, transporte do entulho,
equipamentos para reciclagem;
• possibilidades de remoção e disposição final: preços, distâncias,
áreas já regularizadas;
• desenvolvimento do processo: possibilidade efetiva, corpo técnico,
organização e equipamentos.

II. Com relação à comercialização


• Matéria-prima natural (qualidade, preços, reservas);
• comercialização (tipos, consumo atual, padrões);
• matéria-prima reciclada (qualidade técnica, quantidades, preços).

Existem duas formas de processamento: a automática e a


semiautomática. A forma totalmente automática consiste num equipamento
robusto, de grande potência, capaz de receber e triturar o entulho de obras
sem uma separação prévia das ferragens que ficam retidas nos blocos de
concreto. Posteriormente, o material triturado passa por um separador
magnético que retira o material ferroso, deixando somente o material inerte
triturado. O material ferroso vai para uma prensa e posterior comercialização
dos fardos, enquanto o material inerte cai numa peneira giratória que efetua a
segregação do material nas suas várias porções granulométricas.
No modo semiautomático, o mais utilizado no Brasil, o material a ser
processado deve sofrer uma segregação prévia das ferragens, não sendo
recomendada a trituração conjunta dos materiais em virtude da menor potência

59
RESIDUOS SÓLIDOS

e robustez dos equipamentos empregados. Assim, a valorização dos RCC


passa pelo seguinte processamento:
 Recebimento e pesagem dos RCC;
 Vistoria superficial do material recebido com a finalidade de verificar
sua compatibilidade com o equipamento de trituração;
 Separação manual dos materiais inservíveis, como plásticos, metais
e pequenas quantidades de matérias orgânicas;
 Umidificação do entulho visando à redução da quantidade de poeira
gerada na trituração;
 Trituração do material, que segue, posteriormente, para um
separador magnético com a finalidade de retirar qualquer resíduo de ferro que
tenha escapado da triagem;
 Passagem do material triturado por peneiras responsáveis por fazer
a separação do material nas granulometrias desejadas;
 Estocagem final para comercialização do material.

b) Resíduos industriais

É comum proceder ao tratamento de resíduos industriais com vistas à


sua reutilização ou, pelo menos, torná-los inertes. Contudo, dada a diversidade
dos mesmos, não existe um processo preestabelecido, havendo sempre a
necessidade de realizar uma pesquisa e o desenvolvimento de processos
economicamente viáveis.
Em geral, trata-se de transformar os resíduos em matéria-prima,
gerando economias no processo industrial. Isto exige vultosos investimentos
com retorno imprevisível, já que é limitado o repasse dessas aplicações no
preço do produto, mas esse risco reduz-se na medida em que o
desenvolvimento tecnológico abre caminhos mais seguros e econômicos para
o aproveitamento desses materiais.
Para incentivar a reciclagem e a recuperação dos resíduos, alguns
estados possuem bolsas de resíduos, que são publicações periódicas,
gratuitas, onde a indústria coloca os seus resíduos à venda ou para doação.
Em termos práticos, os processos de tratamento mais comum são:

60
RESIDUOS SÓLIDOS

o neutralização, para resíduos com características ácidas ou alcalinas;


o secagem ou mescla, que é a mistura de resíduos com alto teor de
umidade com outros resíduos secos ou com materiais inertes, como serragem;
o encapsulamento, que consiste em revestir os resíduos com uma
camada de resina sintética impermeável e de baixíssimo índice de lixiviação;
o incorporação, onde os resíduos são agregados à massa de concreto
ou de cerâmica em uma quantidade tal que não prejudique o meio ambiente,
ou ainda que possam ser acrescentados a materiais combustíveis sem gerar
gases prejudiciais ao meio ambiente após a queima;
o processos de destruição térmica, como incineração e pirólise.

c) Pilhas e baterias
As baterias e pilhas comportam-se como usinas portáteis, que
transformam energia química em energia elétrica. As baterias e pilhas podem
ser classificadas de várias maneiras de acordo com o formato, o tamanho, se é
aberta ou fechada, se é removível ou montada fixa em um aparelho, a
finalidade a que se destina, o sistema químico utilizado para produzir
eletricidade, de acordo com sua aplicação e uso, etc. Além disso, podem ser
divididas em primárias (descartáveis) e secundárias (recarregáveis).
Dentre as inúmeras pilhas e baterias primárias comercializadas, as de
destacam no mercado nacional são as secas do tipo zinco-carbono. São
produzidas em dimensões padronizadas internacionalmente nas formas
cilíndricas, tipo botão e tipo moeda. O termo ‘seca’ é utilizado, pois o eletrólito
está em estado pastoso, e não líquido.
As pilhas/baterias secundárias que dominam o mercado nacional são:
chumbo-ácido (Pb-ácido), niquel-cádmio (Ni-Cd), níquel-hidreto metálico (Ni-
MH) e íons lítio (Li-íon).
Como alternativa ao descarte, há os processos de reciclagem dos
metais e outros materiais presentes nas pilhas e baterias. As tecnologias para
a reciclagem de pilhas e baterias começaram a ser pesquisadas e
desenvolvidas na década de 80. Atualmente, são três as tecnologias aplicadas
na reciclagem de pilhas e baterias:

61
RESIDUOS SÓLIDOS

I. Mineralúrgica
Baseada em operações de tratamento de minérios: A reciclagem
envolve somente processos físicos de separação ou concentração dos
materiais que compõem as baterias. Esta tecnologia é aplicada, principalmente
para baterias industriais de grande porte, sendo os materiais posteriormente
recuperados por outros processos.
A reciclagem mineralúrgica se inicia pela remoção do eletrólito da
bateria, quando este é líquido. Em seguida, é realizada a desmontagem do
invólucro da bateria para a remoção de plásticos e isolantes. Quando possível,
retira-se também os eletrodos e placas. Assim, mesmo sendo limitada quanto
aos resultados, esta tecnologia pode baratear, substancialmente, o custo dos
processos subsequentes.

II. Hidrometalúrgica
A reciclagem, consiste na dissolução ácida ou básica dos metais
existentes nas pilhas e baterias, previamente moídas. Uma vez em solução, os
metais podem ser recuperados por:
o precipitação – variando-se o pH da solução;
o extração por solventes – aplicando-se diferentes solventes, que
se ligam com íons metálicos específicos, separando-os da solução.
Posteriormente, recuperam-se os metais por eletrólise ou por precipitação.
Em muitos casos, o mercúrio é removido previamente por
aquecimento. Neste processo é utilizado menor quantidade de energia quando
comparado ao processo pirometalúrgico. Contudo, ele gera resíduos que
precisam ser tratados posteriormente.

III. Pirometalúrgica
Esta tecnologia consiste na aplicação de altas temperaturas para a
recuperação dos metais das pilhas e baterias. Posteriormente ao tratamento de
minérios, onde são separados os componentes metálicos e não metálicos. Os
componentes metálicos são aquecidos a temperaturas específicas (superiores
a 1000ºC). Nesse processo ocorre a destilação de mercúrio, zinco, cádmio e

62
RESIDUOS SÓLIDOS

outros – posteriormente, estes são condensados. O resultado é a obtenção de


materiais com alto grau de pureza.
A vantagem desta tecnologia em relação à hidrometalúrgica está no
fato de não gerar resíduos sólidos perigosos. A desvantagem é o alto consumo
de energia, uma vez que as temperaturas do processo variam entre 800 e
1500ºC.

d) Resíduos radioativos

Rejeitos radioativos são materiais radioativos para os quais não se


prevê nenhuma utilização presente ou futura. Os rejeitos radioativos são
originários de vários processos, como fontes de radioterapia exauridas
(radioatividade abaixo da recomendada para uso em tratamentos); materiais
contaminados em atividades com fontes radioativas abertas; materiais
radioativos utilizados para pesquisa e não reutilizáveis, materiais contaminados
na operação de centrais nucleares, como os filtros que mantém a água do
reator purificada para seu uso normal; para-raios radioativos fora de uso;
materiais produzidos na indústria de combustíveis nucleares, desde a
mineração à produção do elemento combustível.
O tratamento dos rejeitos radioativos é o conjunto de operações que
alteram as características físicas e químicas dos rejeitos de tal forma a
aumentar a segurança e diminuir os custos das etapas seguintes da gestão,
até a deposição final. O tratamento inclui etapas de transformação química,
remoção de materiais inertes, inclusão dos rejeitos em materiais sólidos de
grande durabilidade e acondicionamento em embalagens de alto desempenho.
Os níveis de concentração de radionuclídeos e sua forma física e
química geram grande variedade de opções para o gerenciamento dos rejeitos
e sua destinação. Alguns rejeitos radioativos podem atingir níveis de
inocuidade que permitem sua liberação como rejeitos normais. Isso irá
depender do tipo de radionuclídeos que contém, da forma física em que se
encontram, da concentração existente desses radionuclídeos no material e da
meia-vida.

63
RESIDUOS SÓLIDOS

As condições para a chamada dispensa estão estabelecidas em Norma


da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e devem ser rigorosamente
obedecidas. Os rejeitos radioativos, quando não atingem níveis que podem ser
dispensados, devem ser armazenados de forma segura, de forma a não afetar
os indivíduos ocupacionalmente expostos, os indivíduos do público ou o meio
ambiente.
Na legislação brasileira existem três tipos de depósito para rejeitos
radioativos: o inicial, que é junto ao gerador do rejeito e de sua
responsabilidade; o intermediário, sob responsabilidade da CNEN, que é onde
ficam os rejeitos que aguardam sua destinação definitiva; e o depósito final,
também sob responsabilidade da CNEN, que é para onde devem ser
destinados os rejeitos para deposição definitiva.
Além desses, pode ser definido o depósito provisório, destinado a
guardar temporariamente os rejeitos gerados por ocasião de um acidente
radiológico ou nuclear. O manuseio e armazenamento de rejeitos são definidos
pelo Plano de Gerenciamento de Rejeitos da Instalação.
São requisitos básicos da gerencia de rejeitos radioativos:
 Deverá ser assegurada a minimização do volume e da atividade dos
rejeitos radioativos gerados na operação de uma instalação nuclear, radiativa,
minero industrial ou depósito de rejeitos radioativos.
 Os rejeitos radioativos devem ser segregados de quaisquer outros
materiais. A segregação dos rejeitos deve ser realizada no mesmo local em
que foram gerados ou em ambiente apropriado, levando em conta as seguintes
características, conforme aplicável:
o estado físico (sólidos, líquidos ou gasosos);
o meia-vida (muito curta, curta ou longa);
o compactáveis ou não compactáveis;
o orgânicos e inorgânicos;
o biológicos (putrescíveis e patogênicos); e,
o outras características perigosas (explosividade,
combustibilidade, inflamabilidade, corrosividade e
toxicidade química).

64
RESIDUOS SÓLIDOS

Após a segregação, os rejeitos devem ser acondicionados em


embalagens que atendam aos requisitos constantes da Norma NE- 6.05. As
embalagens destinadas à segregação, à coleta, ao transporte e ao
armazenamento de rejeitos devem portar o símbolo internacional da presença
de radiação, fixado de forma clara e visível.
As embalagens para armazenamento inicial devem ter suas condições
de integridade asseguradas e, quando necessário, devem ser substituídas. As
embalagens destinadas ao transporte não devem apresentar contaminação
superficial externa em níveis superiores aos especificados na Norma NE-6.05.
Os volumes contendo rejeitos radioativos devem possuir vedação
adequada para evitar derramamento do seu conteúdo.
Pesquisadores do Instituto de Pesquisa Energético e Nuclear (IPEN)
vêm estudando novas técnicas para o tratamento dos rejeitos radioativos
líquidos, que aliem alta eficiência e baixo custo. A biossorção é um processo
que reúne essas características e já vem sendo estudada mundialmente na
remoção de metais pesados de efluentes.
Biomassas vegetais provenientes da agricultura, como a casca de
arroz, a fibra de coco e a casca de café já foram testadas na GRR e
apresentaram resultados promissores na remoção de urânio em rejeitos
radioativos. Atualmente, algumas plantas aquáticas estão também sob estudo
para essa mesma finalidade.

e) Resíduos hospitalares
Para que os resíduos hospitalares sejam devidamente tratados é
necessário que o processo de tratamento seja efetuado de acordo com as
características dos resíduos e tendo em conta custos económicos e impactos
ambientais.
Assim sendo, para que se determine que processo deve ser usado
para o tratamento de determinado tipo de resíduos deve ter-se em conta a
capacidade do mesmo reduzir grandemente o número de microrganismos, a
fim de que a saúde pública não seja posta em risco.
É, ainda, necessário que a escolha do processo tenha em conta que a
intenção é tornar os objetos mais perigosos (por exemplo os cortantes) em

65
RESIDUOS SÓLIDOS

objetos irreconhecíveis e o volume e a massa deverão ser reduzidos ao


máximo, para que as infraestruturas que irão albergar tais resíduos tenham
capacidade para o fazer. Os processos de tratamento mais usuais são:

I. Incineração
Os resíduos sólidos são submetidos a uma gaseificação, após a qual,
através de reações de oxidação, são obtidos, sobretudo, dióxido de carbono e
água. Dessa gaseificação resultam algumas matérias particuladas indesejáveis
que posteriormente têm que passar por uma combustão a 1100°C, em filtros
cerâmicos, na presença de oxigénio em excesso de forma a garantir que todos
os materiais são eliminados.
Durante o processo de combustão formam-se cinzas que, dependendo
da sua composição, poderão sair sob a forma de cinzas residuais (ou escórias)
ou sob a forma de matéria particulada em suspensão nos gases de combustão.
Estas últimas terão de ser eliminadas por um tratamento específico. O
tratamento por incineração apresenta custos elevados, assim, é importante
recorrer a outras tecnologias sempre que possível.

II. Desinfeção
É um método alternativo à incineração. Esta pode ser:
o Química
É utilizada, maioritariamente, para a descontaminação de resíduos com
sangue, de resíduos provenientes de laboratórios de microbiologia e, ainda, de
líquidos orgânicos. Esta desinfeção é feita através de vários processos que
envolvem os resíduos em soluções desinfetantes e germicidas. É realizada,
também, uma trituração (antes ou depois dos resíduos serem envolvidos nas
soluções) e uma compactação;
o Térmica
Pode ocorrer através da autoclavagem ou de micro-ondas. A
autoclavagem é definida como “um tratamento bastante usual que consiste em
manter o material contaminado a uma temperatura elevada e em contato com
vapor de água, durante um período de tempo suficiente para destruir potenciais
agentes patogénicos ou reduzi-los a um nível que não constitua.

66
RESIDUOS SÓLIDOS

Um processo normal de autoclavagem segue as seguintes operações:


pré-vácuo inicial (na qual são criadas condições para que o vapor tenha um
melhor e maior contato com os resíduos), admissão de vapor (dá-se a
introdução do vapor na autoclave e um aumento gradual da pressão),
esterilização (onde os resíduos são submetidos a temperaturas e pressões
elevadas até a descontaminação ser concluída), exaustão lenta (diminuição
gradual do vapor e consequente libertação e diminuição gradual da pressão),
arrefecimento da carga e, por fim, a descontaminação e tratamento dos
efluentes resultantes da condensação do vapor utilizada para descontaminar os
resíduos.
Na desinfeção por micro-ondas os resíduos são triturados e
submetidos a temperaturas elevadas, sendo que o aquecimento de todas as
superfícies é garantido pela elaboração de uma mistura de água com resíduos.
Este tipo de tratamento permite que os resíduos resultantes do
tratamento sejam encaminhados para o circuito normal dos resíduos sólidos e
urbanos sem que a saúde pública seja colocada em causa.

f) Lâmpadas fluorescentes
Pelo menos doze elementos presentes em lâmpadas que podem
originar impactos ambientais. A saber: mercúrio, antimônio, bário, chumbo,
cádmio, índio, sódio, estrôncio, tálio, vanádio, ítrio e elementos de terras raras
(ETR). Todos os estudos referentes ao impacto ambiental das lâmpadas
mencionam-se em seguida apenas o mercúrio e o sódio. Visto que são os que
têm mais relevância quantitativa nas lâmpadas.
Por causa de sua elevada toxicidade e da dificuldade em se proceder
ao seu controle ambiental, as lâmpadas fluorescentes devem ser recicladas ou
gerenciadas como se fossem lixo tóxico.
Através da Política Nacional de Resíduos Sólidos, os fabricantes de
lâmpadas são obrigados a implantarem o sistema de logística reversa. Bem
como, a destinação final ambientalmente adequada para as lâmpadas.

g) Pneus

67
RESIDUOS SÓLIDOS

A reciclagem de pneus é o retorno desse material ao ciclo produtivo.


No Brasil a reciclagem de pneus ainda é praticamente inexistente. Embora, a
preocupação com o número excessivo de pneus descartados levou as
autoridades a tomarem algumas medidas. Desse modo, a indústria de pneus
foi incluída no programa obrigatório de implantação da Logística Reversa. Esse
programa está em conformidade com a Política Nacional de Resíduos Sólidos
(Lei 12.305/2010 Art. 33° Inciso III).
Com o avanço tecnológico é possível reciclar praticamente todo o
material presente em um pneu usado. Então, encaminhar pneus aos aterros
sanitários ou incinera-los é um desperdício de matéria prima. Pois, o
desperdício da borracha contribui para desmatamentos e aumento excessivo
na extração de ferro.
A reciclagem de um pneu envolve a separação e tratamento dos seus
componentes, composto pelas seguintes partes:

o Banda de rodagem: parte que entra em contato direto com o solo. É


necessária a fabricação de um composto de borracha que seja altamente
resistente ao atrito com o asfalto. Além de desenhos especiais que
proporcionem boa tração, estabilidade e segurança ao veículo;
o Cintas de aço: funcionam como estabilizadores da carcaça dos
pneus radiais.
o Talão: Tem a função de manter o pneu acoplado ao aro sem permitir
o vazamento do ar. Tem o formato de anel e é constituído por vários arames de
aço de alta resistência unidos e recobertos por borracha;
o Carcaça de lona: é a estrutura interna do pneu, responsável pela
retenção do ar sob pressão e com função de suportar o peso do veículo; é
constituída por lonas de poliéster, náilon ou aço, disposta na diagonal ou radial;
o Parede lateral ou flanco: composto por borrachas de alto grau de
flexibilidade, sua função é proteger a carcaça.
Depois de separadas, as partes de um pneu recebem um tratamento
individualmente. A princípio, os pneus de caminhão são separados dos outros
pneus e triturados. Depois disso, os pneus de outros automóveis são

68
RESIDUOS SÓLIDOS

misturados com os fragmentos de pneus de caminhões e vão para o processo


de granulação.
Os metais das cintas de aço e do talão podem ser extraídos por
separadores magnéticos. Após esse processo, as empresas retiram os tecidos
da mistura, restando somente o composto da borracha.
Após a separação, cada substância é aproveitada por uma indústria
específica. O aço é encaminhado para a indústria siderúrgica. A borracha, em
maior quantidade pode receber diversos fins como ser usada na fabricação de
pisos ou asfalto.

h) Resíduos de aeroportos e portos


Nos aeroportos, os rejeitos do banheiro, considerados pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) como infectantes, bem como os
resíduos líquidos, são primeiramente retirados da aeronave através de um
equipamento acoplado no avião. Este equipamento (pertencente a uma
empresa terceirizada) realiza a esterilização do local da retirada.
Depois, os rejeitos são transportados até o ponto de coleta chamado
“cloaca”, que os direciona para uma lagoa de tratamento biológico, localizada
dentro de área do aeroporto, mas afastada do terminal de passageiros. No que
diz respeito aos resíduos sólidos das aeronaves, estes podem ser resumidos
em:
- Resíduos pertencentes ao grupo “A” da ANVISA, mais
especificamente os resíduos infectantes provenientes da limpeza de banheiros,
como por exemplo, papéis higiênicos, fraldas e absorventes utilizados; e
- Resíduos pertencentes ao grupo “D” da ANVISA. Estes podem ser os
orgânicos, como no caso dos restos de alimentos servidos a bordo; recicláveis
(como papéis, plásticos, revistas, embalagens e latas de alumínio) e demais
resíduos.
Para a coleta dos resíduos sólidos das aeronaves, cada companhia
aérea contrata uma empresa terceirizada. Após este procedimento, no
aeroporto em questão, todos os resíduos citados são transportados em sacos
pretos até uma área específica da Empresa Brasileira de Infraestrutura
Aeronáutica e Aeroporto Internacional (INFRAERO).

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RESIDUOS SÓLIDOS

Nesta área os resíduos são segregados e, conforme sua classificação,


destinados ao tratamento e disposição final adequado, sejam eles
compostagem, reciclagem, ou disposição em aterro. Estes últimos processos
também são realizados por empresas terceirizadas. Vale mencionar que no
caso dos resíduos do grupo A há ainda uma inativação dos mesmos através de
um sistema de autoclaves.
Em relação aos portos, os resíduos gerados em navios tornam-se uma
parte do fluxo total de resíduos de um porto, assim que são recebidos em terra.
Tanto os resíduos gerados em navios como os resíduos gerados em terra no
porto deveriam ser manuseados de uma maneira ambientalmente correta.
Do contrário, as ações tomadas para reduzir a poluição podem
meramente transferir o problema do mar para a terra ou vice-versa. Por
exemplo, se os resíduos gerados em navios forem depositados em terra,
podem resultar na contaminação do lençol freático e em risco à saúde humana.
Um exemplo de resíduos em terra que podem causar a poluição das águas são
os derramamentos de óleo nos terminais, que terão efeitos adversos, a não ser
que o óleo derramado seja adequadamente coletado e disposto.
Conforme a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ),
qualquer substância que, se despejada no mar, é capaz de gerar riscos para a
saúde humana, danificar os recursos biológicos e a vida marinha, prejudicar as
atividades marítimas recreativas ou interferir com outras utilizações legítimas
do mar. São classificadas em:
a) óleo e misturas oleosas;
b) substâncias líquidas nocivas, por exemplo, produtos químicos a
granel;
c) esgoto;
d) lixo e todos os demais resíduos comuns gerados em navio
(sólidos e líquidos);
Todas as substâncias nocivas geradas durante a operação normal de
um navio e sujeitas a serem descarregadas em períodos regulares ou
irregulares são definidas como resíduos para os quais são necessárias
instalações para recepção apropriadas. Alguns destes resíduos, tais como o

70
RESIDUOS SÓLIDOS

lixo, são similares aos resíduos domésticos e podem ser manuseados pelos
sistemas de coleta municipal.
Outros resíduos, geralmente resíduos das alíneas (a) e (b), deveriam
ser classificados como resíduos perigosos devido à sua toxicidade,
inflamabilidade ou outras propriedades físicas ou químicas. Estes resíduos
perigosos demandam controles regulatórios mais rigorosos durante o seu ciclo
de vida, exatamente como os resíduos similares gerados em terra.
Uma estratégia interportuária, basicamente, implica em que os
resíduos possam ser recebidos em todos os portos, sendo posteriormente
transportados a uma usina central de tratamento.
Uma estratégia como esta pode ser mais econômica do que o
fornecimento de instalações para tratamento em cada porto. Uma estratégia
interportuária pode ser aplicável em dois níveis:
o no nível regional, com a cooperação entre os portos de países
vizinhos;
o no nível local, com a cooperação entre os portos de um mesmo país.
Os fatores que podem levar a uma estratégia interportuária, na qual os
portos realizam uma ação articulada para fornecer instalações para recepção e
tratamento, incluem as quantidades de resíduos recebidos, os custos, as
exigências do país para instalações de disposição, e/ou tipos de tratamento e
disposição necessários.
Por exemplo, as quantidades de resíduos perigosos normalmente
tendem a ser relativamente pequenas, enquanto que o nível de especialização
e o custo de tratamento para lidar com estes resíduos é relativamente elevado.
Assim, o fornecimento de uma instalação de tratamento (por ex., um
incinerador) em cada porto pode não ser economicamente viável ou prático,
mas uma instalação central que atenda a mais de um porto poderia demonstrar
ser viável.
Outro exemplo é a recepção de resíduos oleosos gerados em navios,
que podem ser transportados a uma usina central de tratamento para serem
processados, juntamente com os resíduos oleosos originados em terra.
Algumas características de uma estratégia interportuária são:

71
RESIDUOS SÓLIDOS

o os portos necessitariam de instalações de armazenagem para todos


os tipos de resíduos;
o no caso de uma estratégia regional, seria necessário preparar
acordos internacionais, enquanto que uma estratégia local requereria
(somente) regulamentações internas. Estas, provavelmente, serão mais fáceis
de serem elaboradas. Uma questão que irá exigir atenção no caso de uma
estratégia regional refere-se às implicações do transporte internacional de
resíduos;
o seria necessário um acordo sobre quem iria transportar os resíduos,
e seria necessário um esquema de monitoramento;
o os meios de transporte (por ex., caminhões, ferrovias ou navios)
teriam que ser comissionados e licenciados. Especialmente se os portos
estiverem localizados em áreas muito remotas, a cooperação interportuária no
campo da recepção e tratamento de resíduos pode valer a pena ser
considerada.
Na recepção e o processamento de resíduos deve-se empregar:

a) Terminais para cargas líquidas a granel


Muitos resíduos tais como resíduos e misturas resultantes da lavagem
de tanques, podem ser manuseados pelo terminal ou pela indústria que
receber a carga. Esta opção em particular se aplica a terminais especializados,
que são utilizados para o carregamento e descarregamento de carga para uma
indústria específica, por exemplo, uma refinaria ou usina química. Tal terminal
pode receber somente resíduos específicos, que estão intimamente
relacionados com a carga carregada ou descarregada.
O processamento de resíduos por estes terminais – ou pela indústria
que utiliza o terminal – pode gerar reduções de custo significativas, uma vez
que eles geralmente dispõem de equipamento apropriado.
Uma vantagem adicional é que o gerenciamento de resíduos
provavelmente será integrado mais intimamente à hierarquia administrativa da
empresa. Por exemplo, as quantidades de resíduos oleosos ou lavagens de
tanque por navio geralmente não são muito grandes, e a recepção e o

72
RESIDUOS SÓLIDOS

tratamento de tais resíduos pode ser possível de ser realizada pelo terminal ou
pela indústria sem modificações ou ampliações significativas.
Por outro lado, o manuseio do tanque sujo de óleo pode demandar
uma grande – e, portanto, onerosa – capacidade de tanque e será difícil
receber estes resíduos sem modificações significativas. No caso de terminais
múltiplos, utilizados por muitas indústrias, existirá uma variedade muito maior
de resíduos.
Ainda assim, valeria a pena explorar a opção das indústrias
processarem os resíduos que estão intimamente relacionados aos seus
processos de produção. Mesmo que os terminais possam vir a receber e
processar resíduos, dever-se-ia reconhecer que eles geralmente não estão
adequadamente equipados para receber e processar resíduos não diretamente
relacionados à carga carregada ou descarregada.

b) Instalações de limpeza de tanques


As empresas que fornecem instalações para limpeza de tanques
obviamente precisam receber estas lavagens de tanque. O tratamento posterior
destes resíduos pode ocorrer nestas instalações.
c) Empresas de coleta de resíduos

A atividade primária destas empresas é a coleta (e o transporte) de


resíduos; por exemplo, resíduos domésticos ou industriais de fontes em terra.
Se uma empresa já está envolvida com o manuseio de resíduos industriais,
pode ser bastante simples fornecer instalações para recepção para resíduos
gerados em navios.
Equipamentos de coleta móvel, tais como barcaças e caminhões, são
muito flexíveis e, portanto, úteis para fornecer um serviço eficiente a navios
sem causar atrasos indevidos.
Um coletor de resíduos que não seja proprietário do equipamento de
processamento de resíduos deve ser legalmente responsabilizado pela entrega
dos resíduos a instalações apropriadas onde será realizado o tratamento
posterior.

73
RESIDUOS SÓLIDOS

A fim de monitorar o transporte de resíduos da fonte até a disposição


final, é necessário um sistema de acompanhamento dos resíduos.

d) Empresas de tratamento de resíduos

A atividade primária destas empresas é o tratamento e, possivelmente,


a disposição de resíduos. A fim de tornar a operação de tais instalações
economicamente viável, para receber um retorno razoável sobre o investimento
e para manter as despesas da indústria naval sob controle, é importante não
criar excesso de capacidade através de licenciamentos excessivos.
Se a instalação não cobre a cadeia completa de tratamento, deveria
ser assegurado que os resíduos não tratados sejam transferidos da instalação
para outra instalação recomendada e adequada.

e) Estações de abrigo e armazenamento temporário


As estações de abrigo podem ser capazes de receber resíduos
oleosos, utilizando equipamento já existente. Em geral, é improvável que o
equipamento seja adequado para receber tipos de resíduos não-oleosos, e os
navios não deveriam esperar ser capazes de dispor de tais resíduos nas
estações de abrigo e armazenamento temporário.

f) Estaleiros para reparos


Os estaleiros para reparos são confrontados com resíduos os quais os
navios precisam dispor antes do início dos trabalhos de conserto.
Ainda que ocorra a recepção destes resíduos, não se pode concluir
que eles sejam capazes de tratar aqueles resíduos. Se estas empresas não
podem tratar os resíduos dos navios que elas próprias consertam, dever-se-ia
assegurar que os resíduos serão transferidos a uma empresa especializada
para tratamento e disposição adequados.
O escopo das instalações para recepção portuária para lixo inclui:
o fornecimento de recipientes para lixo. A segregação de vários tipos
de lixo pode ser útil ou, em alguns casos, necessária (resíduos em
quarentena);

74
RESIDUOS SÓLIDOS

o um serviço regular de coleta;


o reciclagem e/ou disposição final do lixo. As alternativas que podem
ser consideradas para receber e dispor lixo:
o coleta e disposição pelo porto;
o coleta pelo porto e disposição em instalações municipais;
o coleta e disposição por serviços municipais;
o coleta por empresas privadas e disposição em instalações
particulares.
O fornecimento de instalações para recepção para lixo gerado em
navio não pode ser separado da capacidade da comunidade de dispor de seu
próprio lixo doméstico. A necessidade de fornecer instalações para recepção
portuária adequadas para lixo pode ser um catalisador para que também seja
providenciada a disposição segura, sanitária e econômica dos resíduos sólidos
de fontes de resíduos em terra.
As autoridades portuárias e as autoridades envolvidas com o
manuseio de resíduos sólidos deveriam ter em mente que, mesmo existindo
boas razões para a separação de resíduos, existem limitações práticas e
físicas com relação até que ponto navios podem cumprir tais exigências.
O problema da separação de resíduos é ainda maior quando há
exigências muito diferentes em diferentes portos na mesma região. As
soluções para tal deveriam ser buscadas por meio de consulta junto às partes
envolvidas.

3.2 Coletas de resíduos sólidos


Coletar o lixo significa recolher o lixo acondicionado por quem o produz
para encaminhá-lo, mediante transporte adequado, a uma possível estação de
transferência, a um eventual tratamento e à disposição final. Coleta-se o lixo
para evitar problemas de saúde que ele possa propiciar.
A coleta e o transporte do lixo domiciliar produzido em imóveis
residenciais, em estabelecimentos públicos e no pequeno comércio são, em
geral, efetuados pelo órgão municipal encarregado da limpeza urbana.
Para esses serviços, podem ser usados recursos próprios da
prefeitura, de empresas sob contrato de terceirização ou sistemas mistos,

75
RESIDUOS SÓLIDOS

como o aluguel de viaturas e a utilização de mão-de-obra da prefeitura. O lixo


dos "grandes geradores" (estabelecimentos que produzem mais que 120 litros
de lixo por dia) deve ser coletado por empresas particulares, cadastradas e
autorizadas pela prefeitura.
Pode-se então conceituar como coleta domiciliar comum ou ordinária o
recolhimento dos resíduos produzidos nas edificações residenciais, públicas e
comerciais, desde que não sejam, estas últimas, grandes geradoras.
A coleta do lixo domiciliar deve ser efetuada em cada imóvel, sempre
nos mesmos dias e horários, regularmente. Somente assim os cidadãos
habituar-se-ão e serão condicionados a colocar os recipientes ou embalagens
do lixo nas calçadas, em frente aos imóveis, sempre nos dias e horários em
que o veículo coletor irá passar.
Em consequência, o lixo domiciliar não ficará exposto, a não ser pelo
tempo necessário à execução da coleta. A população não jogará lixo em
qualquer local, evitando prejuízos ao aspecto estético dos logradouros e o
espalhamento por animais ou pessoas.
Regularidade da coleta é, portanto, um dos mais importantes atributos
do serviço. Em qualquer cidade que disponha de controle do peso de lixo
coletado, é possível verificar matematicamente se a coleta é, de fato, regular,
comparando-se os pesos de lixo em duas ou mais semanas consecutivas. Nos
mesmos dias da semana (uma segunda-feira comparada com outra segunda-
feira, e assim por diante) os pesos de lixo não devem variar mais que 10%.
Da mesma forma, as quilometragens percorridas pelas viaturas de
coleta devem ser semelhantes, pois os itinerários a serem seguidos serão os
mesmos (para um mesmo número de viagens ao destino). Além disso, a
ocorrência de pontos de acumulação de lixo domiciliar nos logradouros e um
número elevado de reclamações apontam claramente qualquer irregularidade
da coleta.
O ideal, portanto, em um sistema de coleta de lixo domiciliar, é
estabelecer um recolhimento com dias e horários determinados, de pleno
conhecimento da população, através de comunicações individuais a cada
responsável pelo imóvel e de placas indicativas nas ruas.

76
RESIDUOS SÓLIDOS

A população deve adquirir confiança de que a coleta não vai falhar e


assim irá prestar sua colaboração, não atirando lixo em locais impróprios,
acondicionando e posicionando embalagens adequadas, nos dias e horários
marcados, com grandes benefícios para a higiene ambiental, a saúde pública,
a limpeza e o bom aspecto dos logradouros públicos.
Por razões climáticas, no Brasil, o tempo decorrido entre a geração do
lixo domiciliar e seu destino final não deve exceder uma semana para evitar
proliferação de moscas, aumento do mau cheiro e a atratividade que o lixo
exerce sobre roedores, insetos e outros animais.
Há que se considerar ainda a capacidade de armazenamento dos
resíduos nos domicílios. Nas favelas e em comunidades carentes, as
edificações não têm capacidade para armazená-lo por mais de um dia, o
mesmo ocorrendo nos centros das cidades, onde os estabelecimentos
comerciais e de serviços, além da falta de local apropriado para o
armazenamento, produzem lixo em quantidade considerável. Em ambas as
situações é conveniente estabelecer a coleta domiciliar com frequência diária.

3.3 Transportes de resíduos sólidos

Para redução significativa dos custos e otimização da frota a coleta


deve ser realizada em dois turnos. É conveniente estabelecer turnos de 12
horas (dividindo-se o dia ao meio, mas trabalhando efetivamente cerca de oito
horas por turno). Tem-se então, por exemplo, o primeiro turno iniciando às sete
horas e o segundo turno às 19 horas, "sobrando" algum tempo para
manutenção e reparos.
Nos bairros estritamente residenciais, a coleta deve preferencialmente
ser realizada durante o dia. Deve-se, entretanto, evitar fazer coleta em horários
de grande movimento de veículos nas vias principais. A coleta noturna deve ser
cercada de cuidados em relação ao controle dos ruídos. As guarnições devem
ser instruídas para não altear as vozes. O comando de anda/para do veículo,
por parte do líder da guarnição, deve ser efetuado através de interruptor
luminoso, acionado na traseira do veículo, e o silenciador deve estar em
perfeito estado.

77
RESIDUOS SÓLIDOS

O motor não deve ser levado a alta rotação para apressar o ciclo de
compactação, devendo existir um dispositivo automático de aceleração,
sempre operante. Veículos mais modernos e silenciosos, talvez até elétricos,
serão necessários no futuro, para atender às crescentes reclamações da
população, especialmente nos grandes centros urbanos.
O aumento ou diminuição da população, as mudanças de
características de bairros e a existência do recolhimento irregular dos resíduos
são alguns fatores que indicam a necessidade de redimensionamento dos
roteiros de coleta. Vários elementos devem ser considerados:
• Guarnições de coleta;
• Equilíbrio dos roteiros;
• Local de início da coleta;
• Verificação da geração do lixo domiciliar;
• Cidades que não dispõem de balança para pesagem do lixo;
• Traçado dos roteiros de coleta.

Em cidades brasileiras observam-se guarnições de coleta que variam


de dois a cinco trabalhadores por veículo. A tendência das municipalidades é
adotar guarnições de três a quatro trabalhadores, sendo que as empresas
prestadoras de serviços empregam em geral três trabalhadores por veículo.
Guarnição é o conjunto de trabalhadores lotados num veículo coletor,
envolvidos na atividade de coleta do lixo.
Cada guarnição de coleta deve receber como tarefa uma mesma
quantidade de trabalho, que resulte em um esforço físico equivalente. Em
áreas com lixo concentrado, os garis carregam muito peso e percorrem
pequena extensão de ruas. Inversamente, em áreas com pequena
concentração de lixo, os garis carregam pouco peso e percorrem grande
extensão.
Em ambos os casos, o número de calorias despendidas será
aproximadamente o mesmo. O método de redimensionamento aqui descrito é
um dos mais simples e prevê a divisão da área a ser redimensionada em
"subáreas" com densidades demográficas semelhantes, nas quais as
concentrações de lixo (medidas em kg/m) variam pouco.

78
RESIDUOS SÓLIDOS

Nessas "subáreas" é lícito fixar um mesmo tempo de trabalho.


Evidentemente tem-se que levar também em conta as diferenças de vigor físico
entre as pessoas. As guarnições devem, portanto, ser equilibradas inclusive
nesse aspecto particular.
Os roteiros devem ser planejados de tal forma que as guarnições
comecem seu trabalho no ponto mais distante do local de destino do lixo e,
com a progressão do trabalho, se movam na direção daquele local, reduzindo
as distâncias (e o tempo) de percurso.
É importante verificar a geração de resíduos sólidos nos domicílios,
estabelecimentos públicos e no pequeno comércio, pois esses dados serão
utilizados no dimensionamento dos roteiros necessários à coleta regular de
lixo. A pesquisa deve ser efetuada em bairros de classe econômica alta, média
e baixa. Com base na projeção baseada em dados do último censo disponível,
pode-se calcular a quantidade média do lixo gerado por uma pessoa por dia.
Este índice deve ser determinado com certo rigor técnico, pois pode
variar entre 0,35 a 1,00kg por pessoa por dia. Nas cidades brasileiras, a
geração é da ordem de 0,60 a 0,70kg/hab./dia. Caso a produção de lixo por
pessoa/dia seja, por exemplo, de 0,70kg e a população de 200 mil habitantes, o
peso do lixo a ser recolhido por dia, conforme Equação 1, será de:

200 mil hab. x 0,70kg/hab./dia = 140.000kg/dia Eq (1)

Este dado fundamental deve ser levado em conta no dimensionamento


do número de veículos a serem utilizados na coleta do lixo domiciliar.
A determinação da geração per capita pode ser efetuada quando dos
estudos para determinação das características dos resíduos sólidos.
Eventualmente, na prática, o redimensionamento de roteiros de coleta poderá
ser mais complexo, apresentando maior número de variáveis, que devem ser
levadas em conta pelo projetista.
Realizado o redimensionamento, os novos itinerários podem ser
implementados e, após cerca de duas semanas, ajustados em relação a
detalhes que se revelem inadequados.

79
RESIDUOS SÓLIDOS

Se os locais de destino não possuírem balança, a carga de lixo dos


veículos coletores deverá ser pesada buscando-se alternativas em balanças de
empresas ou de órgãos públicos. Se ainda assim isto não for possível, pode-se
utilizar, para o redimensionamento de roteiros de coleta, um método
aproximado e simplificado, baseado nos volumes de resíduos denominado
"cubagem".

80
RESIDUOS SÓLIDOS

QUESTÕES DE APRENDIZAGEM CAPÍTULOS 2 E 3

QUESTÃO 1
O manejo de Resíduos em Serviços de Saúde (RSS) foca aspectos internos
e externos ao estabelecimento, indo desde a geração até a disposição final
desses resíduos. A separação dos resíduos no momento e no local de sua
geração, segundo características físicas, químicas, biológicas, seu estado
físico e riscos envolvidos, denomina-se:

a) coleta
b) tratamento
c) segregação
d) armazenamento
e) acondicionamento

QUESTÃO 2

Os resíduos gerados pelos serviços de saúde ocupam lugar de destaque no


gerenciamento de resíduos, em decorrência dos imediatos e graves riscos
que podem oferecer por apresentarem componentes químicos, biológicos e
radioativos. Estes resíduos têm potencial de risco significativo tanto para a
saúde ocupacional de quem os manipula, quanto para o meio ambiente, em
caso de destinação inadequada. Dessa forma, a ANVISA, por meio da RDC
306/2004, regulamenta a elaboração e implementação do Plano de
Gerenciamento dos Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS), (BRASIL,
2006). Considerando essa RDC, o planejamento do PGRSS deve

a) envolver os setores de auditoria contábil e de análise dos prontuários na


elaboração, implantação e desenvolvimento do programa
b) contemplar medidas de envolvimento individual de cada trabalhador, uma
vez que desses depende a correta segregação dos resíduos.
c) ser feito em conjunto com todos os setores, definindo-se responsabilidades e
obrigações de cada um em relação aos riscos.

81
RESIDUOS SÓLIDOS

d) ser feito desconsiderando ações para emergência e acidente, ações de


controle integrado de pragas e de controle químico, uma vez que outros
programas já contemplam essas ações.

Questão 3

O gerenciamento de resíduos sólidos é um conjunto de ações exercidas, direta


ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e
destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição
final ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com plano municipal de
gestão integrada de resíduos sólidos ou com plano de gerenciamento de
resíduos sólidos, que são exigidos na Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Com relação a esse tema, assinale a alternativa correta.

a) O resíduo sólido é aquele que, depois de esgotadas todas as possibilidades


de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e
economicamente viáveis, não apresenta outra possibilidade que não a
disposição final ambientalmente adequada em aterros sanitários.
b) O rejeito é qualquer material, substância ou objeto resultante de atividades
humanas, que após descartado, serve como insumo ou matéria-prima para
algum processo de produção.
c) A reutilização é o processo de transformação dos resíduos sólidos, que
envolve a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas,
com vistas à transformação em insumos ou novos produtos.
d) A logística reversa é instrumento que visa viabilizar a coleta e a restituição
dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo
ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente
adequada.
e) A reciclagem é o processo de aproveitamento dos resíduos sólidos sem sua
transformação biológica, física ou físico-química.

82
RESIDUOS SÓLIDOS

QUESTÃO 4

No gerenciamento de resíduos sólidos, uma das alternativas de destinação


final é a reciclagem. Esta permite economia dos materiais e de energia, além
de prolongar a vida útil dos aterros. Para realizar a segregação na fonte, é
utilizado um código de cores para facilitar a visualização e o acondicionamento.
As cores azul, amarelo, roxo, verde e vermelho são usadas, respectivamente,
para os resíduos

a) papel – metal – radioativos – vidro – plástico


b) madeira – plástico – perigosos – metal – vidro
c) radioativos – do sistema de saúde – papel – plástico – orgânico
d) plástico – vidro – perigosos – metal – papel
e) vidro – perigosos – papel – radioativos – madeira
QUESTÃO 5
No Japão e alguns países europeus incineram a maior parte dos resíduos
urbanos. Uma vantagem dessa tecnologia de destinação final de resíduos é
a(o)

a) emissão aérea de dioxinas e furanos que ajudam na regeneração do ar do


ambiente
b) baixa toxicidade das cinzas produzidas na incineração
c) destruição de micro–organismos patogênicos e a redução no volume de
resíduos
d) desestímulo à reciclagem e à redução de resíduos
e) baixo custo envolvido no processo de incineração

83
RESIDUOS SÓLIDOS

QUESTÃO 6

O engenheiro, de acordo com a NBR 12235:1992 (Armazenamento de


Resíduos Sólidos), com objetivo de resguardar e proteger a saúde pública e
o meio ambiente, ao projetar o armazenamento de resíduos sólidos
perigosos – classe I, à espera de reciclagem, recuperação, tratamento ou
disposição final adequada, dentre outras exigências, pode utilizar
armazenamento em
a) tambores, apenas
b) contêineres, apenas
c) tanques ou em tambores, apenas
d) contêineres, em tanques ou a granel, apenas
e) contêineres, em tanques, em tambores ou a granel

QUESTÃO 7

A utilização de resíduos sólidos da construção civil como agregados


reciclados é mais uma alternativa para dar aos resíduos um destino mais
nobre. Dentro desta visão, considere as seguintes definições:

1 - processo de reaplicação de um resíduo, sem a transformação deste;


2 - processo de reaproveitamento de um resíduo, após ter sido submetido à
transformação;
3 - ato de submeter um resíduo a operações e/ou processos que tenham
por objetivo dotá-lo de condições que permitam a sua utilização como
matéria-prima ou produto.

De acordo com a NBR 15.116:2004 (Agregados reciclados de resíduos


sólidos da construção civil - Utilização em pavimentação e preparação de
concreto sem função estrutural - Requisitos), as definições 1, 2 e 3 referem-
se, respectivamente, a
a) reciclagem, reutilização e beneficiamento
b) reutilização, reciclagem e beneficiamento
c) reutilização, beneficiamento e reciclagem

84
RESIDUOS SÓLIDOS

d) beneficiamento, reciclagem e reutilização


e) beneficiamento, reutilização e reciclagem

QUESTÃO 8

O ponto de entrega voluntária (PEV) consiste na instalação de contêineres ou


recipientes em locais públicos para que a população, voluntariamente, possa
fazer o descarte dos materiais separados em suas residências. A Resolução
CONAMA nº 275, estabelece o código de cores para os diferentes tipos de
resíduos, a ser adotado na identificação de coletores e transportadores, bem
como nas campanhas informativas para a coleta seletiva. Os resíduos plásticos
devem ser depositados em contêineres na cor:
a) vermelha.
b) marrom.
c) azul.
d) amarela.
e) verde.

QUESTÃO 9

O aterro é o enterramento planejado dos resíduos sólidos, controlado


tecnicamente quanto aos aspectos ambientais, de modo a evitar a proliferação
de vetores e roedores e outros riscos à saúde. Existe um tipo de aterro que é
definido como uma técnica de disposição de resíduos sólidos no solo, visando
à minimização dos impactos ambientais. Esse método utiliza alguns princípios
de engenharia para confinar os resíduos sólidos, cobrindo-os com uma camada
de material inerte na conclusão de cada jornada de trabalho. Este método de
disposição produz poluição, porém de forma controlada; geralmente não dispõe
de impermeabilização de base, nem de sistemas de tratamento do percolado e
do biogás gerado. Este tipo é o aterro:

a) controlado.
b) sanitário.

85
RESIDUOS SÓLIDOS

c) livre.
d) de pântano.
e) plano.

QUESTÃO 10
A compostagem é o processo biológico de decomposição e de reciclagem
da matéria orgânica contida em restos de origem animal ou vegetal,
formando um composto. Sobre o assunto, analise as afirmativas abaixo:
I – Na decomposição dos resíduos orgânicos através da compostagem,
ocorre a formação de CO2, H2O e biomassa (húmus).
II – Uma das vantagens da compostagem é que ocorre a eliminação de
todos os patógenos presentes nos resíduos.
III – O processo ocorre em fases: mesofílica, termofílica e maturação.
IV – Os organismos, a temperatura, a umidade e a aeração são os
principais fatores que interferem no processo de compostagem.
Estão corretas:
a) Apenas I e II.
b) Apenas I e IV
c) Apenas I, II e a III
d) Apenas I, III e a IV.

86
RESIDUOS SÓLIDOS

GABARITO
1) C
2) C
3) D
4) A
5) C
6) E
7) B
8) A
9) B
10) D

87
RESIDUOS SÓLIDOS

UNIDADE 3 GERENCIAMENTO DE
RESÍDUOS SÓLIDOS

CAPÍTULO 4 PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Um dos maiores desafios que a sociedade moderna enfrenta é o


gerenciamento dos resíduos sólidos. O conhecimento das características dos
resíduos é de fundamental importância para definir a melhor destinação final.
Um parâmetro que expressa a característica dos resíduos é a
composição gravimétrica, que permite conhecer o percentual de cada
componente presente em uma massa de resíduo, desse modo possibilita
avaliar o potencial de reciclagem dos componentes e o melhor gerenciamento.
Com um foco no gerenciamento do resíduo sólido desde a sua
geração até a destinação e disposição final ambientalmente adequada, de
acordo com o tipo de resíduo em organizações e também municípios a Política
Nacional de Resíduos Sólidos estabelece diretrizes e requisitos para a
elaboração do Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos, que deve con-
templar os diversos tipos de resíduos gerados, alternativas de gestão e
gerenciamento passíveis de implementação, bem como metas para diferentes
cenários, programas, projetos e ações correspondentes.
Com isso, ao elaborar o Plano de Gerenciamento de Resíduos
Sólidos, os empreendimentos, sujeitos ao plano, devem comtemplar ações de
forma direta ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo,
tratamento e destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e
disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com plano
municipal de gestão integrada de resíduos sólidos ou com plano de
gerenciamento de resíduos sólidos, exigidos na forma desta Lei, sendo o
mesmo parte integrante do processo de licenciamento ambiental do
empreendimento.
O Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos deve ser elaborado,
implementado, operacionalizado e monitorado por responsável técnico
devidamente habilitado. Para atividades que estão sujeitas ao licenciamento

88
RESIDUOS SÓLIDOS

ambiental, a aprovação do PGRS será submetida ao órgão de controle


estadual e as demais autoridades municipais.
As modalidades do PGRS são: Simplificado, Individual, Coletivo e
integrado, Micro e pequenas empresas/diferenciado, Resíduos perigosos. Toda
pessoa jurídica que gera ou opera com resíduos perigosos deve elaborar o
Plano de Gerenciamento de Resíduos Perigosos.

4.1 Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS)

O PGRS é um documento, de obrigação legal, que orienta o


gerenciamento de resíduos sólidos em instalações com mais de dez
funcionários ou que gerem resíduos perigosos. Este documento pode ser
exclusivo de uma única instalação ou um de grupo de instalações pertencentes
a uma região, sendo que as orientações contidas nele são desenvolvidas
tomando-se como base a realidade de cada local.
Através da Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS),
regulamentada pelo Decreto nº 7.404 de 2010, criou como um dos seus
principais instrumentos o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, e instituiu o
Comitê Interministerial - CI, composto por doze ministérios, coordenado pelo
Ministério do Meio Ambiente (MMA), com a responsabilidade de elaborar e
implementar este Plano.
O Plano Nacional de Resíduos Sólidos mantém estreita relação com
os Planos Nacionais de Mudanças do Clima (PNMC), de Recursos Hídricos
(PNRH), de Saneamento Básico (Plansab) e de Produção e Consumo
Sustentável (PPCS).
Explicita conceitos e propostas para diversos setores da economia
compatibilizando crescimento econômico e preservação ambiental, com
desenvolvimento sustentável. O Plano, conforme previsto na Lei nº 12.305, tem
vigência por prazo indeterminado e horizonte de 20 anos, com atualização a
cada quatro anos.
Contempla o conteúdo mínimo contido no Art. 14 da citada Lei o qual,
resumidamente, refere-se a:
» diagnóstico da situação atual dos diferentes tipos de resíduos; »
cenários macroeconômicos e institucionais;

89
RESIDUOS SÓLIDOS

» diretrizes e metas para o manejo adequado de resíduos sólidos no


Brasil.
As diretrizes, estratégias e metas indicam quais ações serão
necessárias para a implementação dos objetivos nacionais e as prioridades
que devem ser adotadas.
Podem, portanto, exercer forte papel norteador do desenvolvimento
dos outros planos de responsabilidade pública, influenciando, inclusive, os
Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos, exigidos de alguns dos
geradores. Informações quantitativas e qualitativas importantes também são
apresentadas no Plano e, igualmente, podem servir de referência para a
elaboração dos outros planos. São encontrados dados sobre:
» à taxa de cobertura da coleta regular de resíduos nas áreas urbanas
e rurais;
» indicadores econômicos obtidos a partir do Sistema Nacional de
Informações em Saneamento (SNIS) como as despesas com a gestão dos
resíduos sólidos urbanos;
» o percentual de municípios brasileiros que contam com algum tipo de
cobrança pelo serviço de gestão de resíduos sólidos urbanos; » experiências
de compostagem no Brasil;
» à logística reversa com embalagens de agrotóxicos e a posição do
Brasil como referência mundial neste quesito;
» informações sobre os resíduos da construção civil que podem
representar de 50 a 70% da massa de resíduos sólidos urbanos;
» estimativas sobre o número de catadores de materiais recicláveis no
país (entre 400 e 600 mil) e dados sobre suas organizações (cooperativas) e
instituições ou programas federais de apoio;
» avaliação sucinta das ações de educação ambiental no país em
termos gerais e no que se refere aos resíduos sólidos.
Na versão preliminar consta ainda, uma informação muito relevante.
Trata-se da necessidade de realização de estudos de regionalização do
território, fomentados pelo MMA desde 2007.
A regionalização e os consorciamentos intermunicipais consistem na
identificação de arranjos territoriais entre municípios com o objetivo de

90
RESIDUOS SÓLIDOS

compartilhar serviços ou atividades de interesse comum. Isto é importante para


viabilizar a implantação dos consórcios ou associações de municípios,
considerando que a gestão associada dos serviços é um dos princípios
fundamentais da PNRS (MMA, 2011).
Os estados terão que elaborar seus Planos Estaduais de Resíduos
Sólidos para terem acesso aos recursos da União ou por ela controlados,
destinados a empreendimentos e serviços relacionados à gestão de resíduos
sólidos. Para os territórios em que serão estabelecidos consórcios, bem como
para as regiões metropolitanas e aglomerados urbanos, os estados poderão
elaborar Planos Microrregionais de Gestão, obrigatoriamente com a
participação dos municípios envolvidos na elaboração e implementação.
A elaboração dos Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos
Sólidos é condição necessária para o Distrito Federal e os municípios terem
acesso aos recursos da União, destinados à limpeza urbana e ao manejo de
resíduos sólidos.
O PGRS pode estar inserido no Plano de Saneamento Básico
integrando-se com os planos de água, esgoto, drenagem urbana e resíduos
sólidos, previstos na Lei nº 11.445, de 2007.
Os municípios que optarem por soluções consorciadas intermunicipais
para gestão dos resíduos sólidos estarão dispensados da elaboração do Plano
Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos.
As peculiaridades de cada localidade deverão definir o formato do
plano regional ou municipal, tendo como referência o conteúdo mínimo
estipulado. As vocações econômicas, o perfil socioambiental do município e da
região, ajudam a compreender os tipos de resíduos sólidos gerados, como são
tratados e a maneira de dar destino adequado a eles.

4.1.1 Elaboração dos planos de gerenciamento de resíduos

O processo de construção dos Planos de Gestão de Resíduos Sólidos


deverá levar a mudanças de hábitos e de comportamento da sociedade como
um todo. Nesse sentido, o diálogo terá papel estratégico, e será mais eficiente

91
RESIDUOS SÓLIDOS

se acontecer com grupos organizados e entidades representativas dos setores


econômicos e sociais de cada comunidade ou região.
Com a responsabilidade compartilhada, diretriz fundamental da PNRS,
todos os cidadãos e cidadãs, assim como as indústrias, o comércio, o setor de
serviços e ainda as instâncias do poder público terão uma parte da
responsabilidade pelos resíduos sólidos gerados.
Para que os resultados desta tarefa coletiva sejam positivos, e as
responsabilidades de fato compartilhadas por todos, o diálogo permanente
entre os vários segmentos sociais será muito importante.
A participação social representa um grande desafio para a construção
de sociedades democráticas. Isso por que constitui instrumento de avaliação
da eficácia da gestão, e da melhoria contínua das políticas e serviços públicos
por parte da população; pressupõe a convergência de propósitos, a resolução
de conflitos, o aperfeiçoamento da convivência, e a transparência dos
processos decisórios com foco no interesse da coletividade.
No Brasil, a participação dos movimentos sociais tem desempenhado
papel importante para esse processo de avaliação, e para a elaboração de
políticas públicas. Dentre as modalidades de participação e controle social
destacam-se as audiências públicas, consultas, participação em conferências,
grupos de trabalho, comitês, conselhos, seminários ou outro meio que
possibilite a expressão e debate de opiniões individuais ou coletivas.
O poder público deve assumir papel orientador e provocador desse
diálogo com a sociedade, por intermédio das diferentes formas de participação
social citadas. As reuniões deverão ser preparadas, organizadas e convocadas
pelos agentes públicos com a ajuda e participação dos representantes da
comunidade.
Tanto para o desenvolvimento dos planos estaduais, como dos planos
municipais e intermunicipais, o poder público deve ser o responsável por
manter vivo o interesse dos participantes, e por garantir a estrutura física e
equipes necessárias para bem atender às necessidades de todo o processo de
mobilização e participação social.

92
RESIDUOS SÓLIDOS

Criar estímulos à participação da sociedade para discutir as políticas


públicas é de grande importância para o fortalecimento ou construção de
organismos de representação visando o controle social.
O conhecimento pleno das informações sobre o que será discutido é
básico para que a mobilização seja eficiente. Produzir um documento didático e
atraente (documento guia), e promover a sua ampla divulgação (uma edição
especial do jornal local ou do diário oficial, uso intenso da internet, etc.) fará
com que um maior número de interessados tenha acesso ao seu conteúdo.
É importante garantir que todos os participantes dos seminários,
conferências, conselhos ou outro meio, tenham o mesmo nível de informação
sobre o que será discutido nas reuniões.
Dentre os processos democráticos de participação, a metodologia de
conferências é a mais utilizada para discussões em torno de políticas públicas
para diversos temas. A conferência valoriza a discussão da pauta e a
contribuição das representações e dos demais participantes das comunidades.
Além disso, permite a utilização de dinâmicas para o debate, e cria
oportunidades para soluções e para a construção de pactos como resultado da
somatória de interesses e necessidades de todos os participantes. As
conferências preparatórias deverão eleger os conferencistas que irão
representar seu segmento no debate do evento final, que apresentará as
propostas e validará o Plano de Gestão de Resíduos Sólidos.
A fase final de construção do Plano exige que se estruture uma
agenda de continuidade. É o momento pós-conferência, da implementação das
diretrizes formuladas, debatidas e aprovadas no processo participativo. Os
meios para controle e fiscalização deverão estar propostos nos planos, para
assegurar o controle social de sua implementação e operacionalização.
A Lei Nacional de Saneamento Básico estipula como um dos
mecanismos de controle a possibilidade de atuação de órgãos colegiados de
caráter consultivo, tais como Conselhos de Meio Ambiente, de Saúde e outros.

93
RESIDUOS SÓLIDOS

4.1.2 Elaboração do diagnóstico e dos cenários futuros

É importante enfatizar e valorizar sempre dois aspectos indissociáveis


do processo de construção dos Planos de Gestão de Resíduos Sólidos: o
conhecimento técnico e o envolvimento participativo da coletividade que será
alvo do plano. O diagnóstico, no enfoque técnico, deverá ser estruturado com
dados e informações sobre o perfil das localidades.
É fundamental entender a situação dos resíduos sólidos gerados no
respectivo território quanto à origem, volume, características, formas de
destinação e disposição final adotadas. Informações sobre a economia,
demografia, emprego e renda, educação, saúde, características territoriais e
outros, auxiliam na compreensão das peculiaridades locais e regionais e tipo e
quantidade de resíduos gerados.
O acervo de informações sobre as condições do saneamento básico,
bem como sobre a gestão dos resíduos sólidos, é muito importante para se
construir um diagnóstico amplo, pois permite compreender os níveis de
desenvolvimento social e ambiental da cidade, e as implicações na área da
saúde.
Construir informações e dados numa perspectiva histórica poderá
auxiliar no enfrentamento de determinados gargalos ou dificuldades futuras. É
importante pesquisar o histórico de gastos com a limpeza urbana, gestão e
manejo dos resíduos sólidos, mesmo que dois ou mais órgãos sejam os
responsáveis pela gestão, na administração pública.
Diferentes estudos mostram que no Brasil, com pequenas variações,
cerca de 5% do orçamento municipal é consumido em limpeza urbana, gestão,
manejo e disposição final de resíduos sólidos. Exige, portanto, esforço de
racionalização para a sustentabilidade econômica do serviço público, como
definida na nova legislação.
É importante que os dados reflitam a diversidade e a especificidade
local ou regional e as suas identidades econômicas, sociais e ambientais em
relação a outras regiões do Estado. Já o enfoque participativo tem a finalidade
de assegurar o envolvimento, no processo de construção dos Planos de

94
RESIDUOS SÓLIDOS

Gestão, dos diversos setores da comunidade organizada, e população em


geral, e o acesso aos dados da realidade local ou regional.
É importante tornar público os dados de todos os setores produtivos,
identificando o volume de resíduos gerados em cada porção do território;
difundir as informações sobre novas tecnologias de tratamento e redução dos
volumes; e divulgar exemplos de condutas para incentivar novos hábitos para a
não geração, reaproveitamento e reciclagem de resíduos sólidos.
Complementarmente ao diagnóstico, a equipe técnica deverá construir
cenários futuros que descrevam hipóteses de situações possíveis, imagináveis
ou desejáveis.
Estes cenários, tal como tratados no Plano Nacional de Resíduos
Sólidos, permitem uma reflexão sobre as alternativas de futuro. Estes cenários
servirão de referencial para o planejamento no horizonte temporal adotado,
refletindo as expectativas favoráveis e desfavoráveis para aspectos como:
crescimento populacional; intensidade de geração de resíduos; mudança no
perfil dos resíduos; incorporação de novos procedimentos; novas capacidades
gerenciais, etc.
As informações obtidas devem ser colocadas num grande quadro de
referência inicial. O lançamento das informações neste quadro de referência
deve ser feito pelo Comitê Diretor, e o trabalho distribuído entre os técnicos
envolvidos.
Este procedimento favorece a qualificação e a consolidação da equipe
gerencial local ou regional. Enquanto órgão colegiado de representação é
importante que o Grupo de Sustentação faça o acompanhamento sistemático
do processo.

95
RESIDUOS SÓLIDOS

CAPITULO 5 DEFINIÇÕES DAS DIRETRIZES E


ESTRATÉGIAS APLICADAS AO PLANO DE
GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

5.1 Diretrizes e estratégias


As diretrizes e estratégias dos Planos de Gestão deverão traduzir com
clareza a hierarquia que deve ser observada para a gestão de resíduos
estabelecida na PNRS: não geração, redução, reutilização, reciclagem,
tratamento dos resíduos e disposição final dos rejeitos.
Os planos deverão contemplar a recuperação e valorização máxima
dos diversos materiais, incorporando soluções para redução da disposição dos
rejeitos ricos em matéria orgânica nos aterros, de forma a reduzir a geração de
gases maléficos à atmosfera.
Como no Plano Nacional de Resíduos Sólidos, as diretrizes precisam
ser entendidas como as linhas norteadoras, e as estratégias como a forma ou
meio para sua implementação, através das ações e programas definidos. As
diretrizes, estratégias, metas e ações deverão ser traçadas considerando-se os
diversos tipos de responsabilidades da gestão compartilhada dos resíduos:
» responsabilidades pelos serviços públicos de limpeza urbana e
manejo, e pelos resíduos gerados em instalações públicas;
» responsabilidades dos entes privados pelos resíduos gerados em
ambientes sob sua gestão;
»responsabilidades decorrentes da logística reversa e da
implementação de Plano de Gerenciamento obrigatório;
As diretrizes e estratégias dos Planos de Gestão deverão traduzir com
clareza a hierarquia que deve ser observada para a gestão de resíduos
estabelecida na PNRS: não geração, redução, reutilização, reciclagem,
tratamento dos resíduos e disposição final dos rejeitos.
Os planos deverão contemplar a recuperação e valorização máxima
dos diversos materiais, incorporando soluções para redução da disposição dos
rejeitos ricos em matéria orgânica nos aterros, de forma a reduzir a geração de
gases maléficos à atmosfera.

96
RESIDUOS SÓLIDOS

Como no Plano Nacional de Resíduos Sólidos, as diretrizes precisam


ser entendidas como as linhas norteadoras, e as estratégias como a forma ou
meio para sua implementação, através das ações e programas definidos. As
diretrizes, estratégias, metas e ações deverão ser traçadas considerando-se os
diversos tipos de responsabilidades da gestão compartilhada dos resíduos:
» responsabilidades pelos serviços públicos de limpeza urbana e
manejo, e pelos resíduos gerados em instalações públicas;
» responsabilidades dos entes privados pelos resíduos gerados em
ambientes sob sua gestão;
»responsabilidades decorrentes da logística reversa e da
implementação de Plano de Gerenciamento obrigatório;

Embora com um papel mais central no Plano Estadual de Resíduos


Sólidos, deverão ser traçadas diretrizes relativas aos agentes responsáveis
pela implementação dos processos de logística reversa, refletindo no âmbito do
PGIRS os acordos setoriais que já tenham sido decididos a nível nacional, ou
propondo acordos de alcance local, regional ou estadual.
O Plano de Gestão deve levar em conta prioritariamente o
planejamento das iniciativas para os resíduos que têm presença mais
significativa nas cidades. De uma forma geral, estes resíduos são o da
construção civil, o resíduo domiciliar seco, e o resíduo domiciliar úmido.
Este planejamento específico deve ser seguido pelo planejamento das
ações para todo o conjunto de resíduos ocorrentes (resíduos de serviços de
saúde, resíduos de logística reversa, resíduos industriais, minerários,
agrosilvopastoris, etc.).
No âmbito local (município) ou regional (intermunicipal), o PGIRS
precisa ser traduzido em um conjunto de instalações que contemple a
totalidade do território urbano. Estas instalações constituem a oferta de
endereços físicos para a atração e concentração de diversos tipos de resíduos.
Sem estes endereços, o processo indisciplinado de descarte de resíduos
permanecerá.
O processo coletivo de definição das diretrizes e estratégias é parte
importante do processo de formação da equipe técnica gerencial. Para isso

97
RESIDUOS SÓLIDOS

cumprirá um papel estratégico a consolidação do quadro de referência


proposto no início dos trabalhos, com todos os aspectos de todos os resíduos,
que precisam ser abordados nos planos.
Esse quadro de referência deverá conter informações sobre a situação
atual do conjunto de resíduos gerados, indicação de sistemas de controle
existentes, agentes responsáveis, dificuldades e soluções propostas buscando
compatibilizar com as diretrizes da PNRS.
Deverão constar neste quadro, além dos resíduos que têm presença
mais significativa nas localidades ou na região, os que participam do sistema
de logística reversa (elétricos e eletrônicos; pneus, pilhas e baterias, lâmpadas
fluorescentes; óleos combustíveis; agrotóxicos e suas embalagens); os
resíduos agrosilvopastoris; resíduos perigosos; resíduos oriundos de varrição e
drenagem; volumosos; resíduos verdes de poda e da manutenção de praças,
parques e jardins; resíduos de cemitérios além daqueles próprios de
instalações portuárias, aeroportuárias e de rodoviárias (municipais e
intermunicipais).

5.2 Metas, programas e recursos necessários

Uma vez estabelecidas as diretrizes e estratégias, os Planos de Gestão


deverão definir as metas quantitativas para as quais serão desenvolvidos
programas e ações. As diretrizes e prazos determinados pela Lei 12.305/2010
e as peculiaridades sociais, econômicas, culturais, territoriais, etc. do Estado e
dos Municípios nortearão a definição das metas.
Será certamente importante considerar, de início, duas definições da
Política Nacional de Resíduos Sólidos – é vedado o acesso aos recursos da
União sem elaboração do PGIRS a partir de agosto de 2012, e a diretriz de que
em agosto de 2014 estejam encerrados os lixões.
As metas quantitativas deverão ser fixadas por período, considerando-
se como melhor hipótese o lançamento por quadriênios, vinculados aos anos
de preparo dos planos plurianuais, e, portanto, momentos de revisão dos
Planos de Gestão. Deverão ser compatibilizadas, principalmente a exigência
legal, a capacidade de investimento e a capacidade gerencial, entre outros

98
RESIDUOS SÓLIDOS

fatores. Alguns programas e ações são primordiais, por seu caráter


estruturante, imprescindíveis para o sucesso de todo o conjunto de ações.
Destacam-se:
» à constituição de equipes técnicas capacitadas;
» o disciplinamento das atividades de geradores, transportadores e
receptores de resíduos;
» à formalização da presença dos catadores no processo de gestão;
» à implementação de mecanismos de controle e fiscalização;
» à implementação de iniciativas de gestão de resíduos e compras
sustentáveis nos órgãos da administração pública;
» à estruturação de ações de educação ambiental;
» o incentivo à implantação de atividades processadoras de resíduos.
O Comitê Diretor e o Grupo de Sustentação deverão enfatizar a
necessidade de planejamento para as questões mais relevantes. O
desenvolvimento de Programas Prioritários para os resíduos que têm presença
mais significativa nas cidades é importante, por tratarem-se dos que empregam
mais recursos humanos, físicos e financeiros para sua gestão.
Os Planos de Gestão deverão apontar as fontes de recursos para a
implementação das ações e programas, o que deve condicionar o
estabelecimento das metas. O Manual recentemente publicado pelo Banco do
Brasil, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente(MMA) e o MCidades
aponta as diversas fontes de recursos disponíveis, reembolsáveis e não
reembolsáveis.
Conforme a Lei 12.305/2010 o poder público poderá instituir medidas
indutoras e linhas de financiamento voltadas à melhoria da gestão dos
resíduos. Esta disposição tem especial importância no caso dos Planos
Estaduais pelas possibilidades que se abrem para a definição de programas
especiais de agências de fomento, instituições financeiras e outras, existentes
no âmbito estadual com repercussão nos municípios e regiões do Estado.

99
RESIDUOS SÓLIDOS

5.3 Implementações e ações

As dificuldades financeiras e a fragilidade da gestão de grande parte


dos municípios brasileiros para a solução dos problemas relacionados aos
resíduos sólidos abrem espaço para que as cidades se organizem
coletivamente visando a construção de planos intermunicipais de gestão
integrada de resíduos sólidos.
Os prazos que a Política Nacional estabelece para que os municípios
deem solução ambientalmente adequada aos resíduos podem reforçar a opção
por consórcios públicos, e esta pode ser uma opção decisiva para o processo
de implementação. Os elevados recursos empenhados na gestão e no manejo
dos resíduos sólidos exigem a criação de instrumentos de recuperação dos
custos para tornar economicamente sustentáveis esses serviços públicos.
A solução adequada desta questão determinará as possibilidades de
sucesso dos Planos de Gestão, principalmente no âmbito local. A discussão e
implementação de instrumentos para a recuperação dos custos poderá ser
mais produtiva se realizada no âmbito da gestão associada dada a maior
diversidade de parâmetros a serem ponderados em conjunto pelo Comitê
Diretor e Grupo de Sustentação.
Poderão ser fontes de recursos para as instâncias gestoras: a
cobrança proporcional ao volume de resíduos sólidos gerados por domicílios e
outras fontes; recursos orçamentários, oriundos da prestação de serviços;
recurso oriundo da venda de materiais recicláveis, etc.
A construção dos Planos de Gestão de Resíduos Sólidos baseada na
mobilização e participação social deverá resultar em um pacto em nível local e
regional, entre todos os agentes econômicos e sociais para a sua
implementação - cada qual com sua responsabilidade. Assim, após o término
do processo de construção, será necessário instituir agendas de
implementação, por grupos de interesse ou tipo de resíduo, contendo as
responsabilidades e novas condutas.
Os órgãos públicos municipais também terão sua agenda, assim como
os estaduais e federais. É importante que se tenha clara a responsabilidade do

100
RESIDUOS SÓLIDOS

poder público na elaboração dessas agendas de continuidade para que não


haja espaço vazio entre a formalização do Plano e sua efetiva implementação.

5.4 O processo de elaboração do PGIRS

Nos municípios, nas regiões em consorciamento ou em consórcio


público já constituído, o processo de elaboração do Plano de Gestão Integrada
de Resíduos Sólidos (PGIRS), pode seguir uma metodologia passo a passo, tal
como indicada na Figura 5.1, avançando gradativamente dos primeiros
esforços de estruturação das instâncias de elaboração, para a fase de
diagnóstico participativo, para o planejamento coletivo das ações e, por final,
para a etapa de implementação.

Figura 5.1 Elaboração do Plano de Gestão Integrada de Resíduos


Sólidos (PGIRS)

1. reunião dos agentes públicos envolvidos e definição do Comitê


Diretor para o processo;
2. identificação das possibilidades e alternativas para o avanço em
articulação regional com outros municípios;
3. estruturação da agenda para a elaboração do PGIRS;
4. identificação dos agentes sociais, econômicos e políticos a serem
envolvidos (órgãos dos executivos, legislativos, ministério público, entidades

101
RESIDUOS SÓLIDOS

setoriais e profissionais, ONGS e associações, etc.) e constituição do Grupo de


Sustentação para o processo;
5. estabelecimento das estratégias de mobilização dos agentes,
inclusive para o envolvimento dos meios de comunicação (jornais, rádios e
outros);
6. elaboração do diagnóstico expedito (com apoio dos documentos
federais elaborados pelo IBGE, Ipea, SNIS) e identificação das peculiaridades
locais;
7. apresentação pública dos resultados e validação do diagnóstico
com os órgãos públicos dos municípios e com o conjunto dos agentes
envolvidos no Grupo de Sustentação (pode ser interessante organizar
apresentações por grupos de resíduos);
8. envolvimento dos Conselhos Municipais de Saúde, Meio Ambiente e
outros na validação do diagnóstico;
9. incorporação das contribuições e preparo de diagnóstico
consolidado;
10. definição das perspectivas iniciais do PGIRS, inclusive quanto à
gestão associada com municípios vizinhos;
11. identificação das ações necessárias para a superação de cada um
dos problemas;
12. definição de programas prioritários para as questões e resíduos
mais relevantes com base nas peculiaridades locais e regionais em conjunto
com o Grupo de Sustentação;
13. definição dos agentes públicos e privados responsáveis pelas
ações a serem arroladas no PGIRS;
14. definição das metas a serem perseguidas em um cenário de 20
anos (resultados necessários e possíveis, iniciativas e instalações a serem
implementadas e outras);
15. elaboração da primeira versão do PGIRS (com apoio em manuais
produzidos pelo Governo Federal e outras instituições) identificando as
possibilidades de compartilhar ações, instalações e custos, por meio de
consórcio regional;

102
RESIDUOS SÓLIDOS

16. estabelecimento de um plano de divulgação da primeira versão


junto aos meios de comunicação (jornais, rádios e outros);
17. apresentação pública dos resultados e validação do plano com os
órgãos públicos dos municípios, e com o conjunto dos agentes envolvidos no
Grupo de Sustentação (será importante organizar apresentações em cada
município envolvido, inclusive nos seus Conselhos de Saúde, Meio Ambiente e
outros);
18. incorporação das contribuições e consolidação do PGIRS;
19. discussões e tomada de decisões sobre a conversão ou não do
PGIRS em lei municipal, respeitada a harmonia necessária entre as leis de
diversos municípios, no caso de constituição de consórcio público;
20. divulgação ampla do PGIRS consolidado;
21. definição da agenda de continuidade do processo, de cada
iniciativa e programa, contemplando inclusive a organização de consórcio
regional e a revisão obrigatória do PGIRS a cada 4 anos;
22. monitoramento do PGIRS e avaliação de resultados.

5.5 Metas e prazos

O Art. 4º da Lei 12.305/2010 define quais planos integram a PNRS. A


Tabela 5.1 abaixo, relaciona os planos de atribuição pública e seus respectivos
prazos estabelecidos pelo Decreto nº 7.404/2010.

103
RESIDUOS SÓLIDOS

Tabela 5.1 Planos de atribuição pública e seus respectivos prazos.

5.6 Programas e ações

Deverão ser previstas ações que se refletirão na gestão de


praticamente todos os resíduos:
» disciplinar as atividades de geradores, transportadores e receptores
de resíduos, exigindo os Planos de Gerenciamento quando cabível;
» modernizar os instrumentos de controle e fiscalização, agregando
tecnologia da informação (rastreamento eletrônico de veículos, fiscalização por
análise de imagens aéreas);
» formalizar a presença dos catadores organizados no processo de
coleta de resíduos, promovendo sua inclusão, a remuneração do seu trabalho
público e a sua capacitação;
» formalizar a presença das ONGs envolvidas na prestação de serviços
públicos;
» tornar obrigatória a adesão aos compromissos da A3P (Agenda
Ambiental na Administração Pública), incluído o processo de compras
sustentáveis, para todos os órgãos da administração pública local;

104
RESIDUOS SÓLIDOS

» valorizar a educação ambiental como ação prioritária;


» incentivar a implantação de econegócios por meio de cooperativas,
indústrias ou atividades processadoras de resíduos.
Algumas das possibilidades de ações, relacionadas aos resíduos a
serem geridos, são sugeridas adiante:

1) Resíduos sólidos domiciliares (RSD) coleta convencional


» Buscar redução significativa da presença de resíduos orgânicos da
coleta convencional nos aterros, para redução da emissão de gases, por meio
da biodigestão e compostagem quando possível;
» Implantar coleta conteinerizada, inicialmente em condomínios e
similares.

2) Resíduos sólidos domiciliares(RSD) secos


» Desenvolver Programa Prioritário com metas para avanço por bacia
de captação, apoiada nos PEVs e logística de transporte com pequenos
veículos para concentração de cargas;
» Priorizar a inclusão social dos catadores organizados para a
prestação do serviço público e quando necessário, complementar a ação com
funcionários atuando sob a mesma logística.
» Implementar o manejo de resíduos secos em programas “Escola
Lixo Zero”;
» Implementar o manejo de resíduos secos em programas “Feira
Limpa”.

3) Resíduos sólidos domiciliares (RSD) úmidos


» Desenvolver Programa Prioritário, estabelecendo coleta seletiva de
RSD úmidos em ambientes com geração homogênea (feiras, sacolões,
indústrias, restaurantes e outros) e promover a compostagem;
» Implementar o manejo de resíduos úmidos em programas “Escola
Lixo Zero”;
» Implementar o manejo de resíduos úmidos em programas “Feira
Limpa”.

105
RESIDUOS SÓLIDOS

4) Resíduos da limpeza pública


» Implementar a triagem obrigatória de resíduos no próprio processo
de limpeza corretiva e o fluxo ordenado dos materiais até as Áreas de Triagem
e Transbordo e outras áreas de destinação;
» Definir cronograma especial de varrição para áreas críticas (locais
com probabilidade de acúmulo de águas pluviais) vinculado aos períodos que
precedam as chuvas;
» Definir custo de varrição e preço público para eventos com grande
público.

5) Resíduos da construção civil (RCC)


» Desenvolver Programa Prioritário com metas para implementação
das bacias de captação e seus PEVs (Ecopontos) e metas para os processos
de triagem e reutilização dos resíduos classe A;
» Incentivar a presença de operadores privados com RCC, para
atendimento da geração privada;
» Desenvolver esforços para a adesão das instituições de outras
esferas de governo às responsabilidades definidas no PGIRS.

6) Resíduos volumosos
» Promover a discussão da responsabilidade compartilhada com
fabricantes e comerciantes de móveis, e com a população consumidora;
» Promover o incentivo ao reaproveitamento dos resíduos como
iniciativa de geração de renda;
» Incentivar a identificação de talentos entre catadores e sensibilizar
para atuação na atividade de reciclagem e reaproveitamento, com capacitação
em marcenaria, tapeçaria etc., visando a emancipação funcional e econômica;
» Promover parceria com o Sistema “S” (SENAC, SENAI) para oferta
de cursos de transformação, reaproveitamento e design.

7) Resíduos verdes

106
RESIDUOS SÓLIDOS

» Elaborar “Plano de Manutenção e Poda” regular para parques,


jardins e arborização urbana, atendendo os períodos adequados para cada
espécie;
» Estabelecer contratos de manutenção e conservação de parques,
jardins e arborização urbana em parceria com a iniciativa privada;
» Envolver os Núcleos de Atenção Psicossocial - NAPS, a fim de
constituir equipes com pacientes desses núcleos para atender demandas de
manutenção de áreas verdes, agregados às parcerias de agentes privados
(atividade terapêutica e remunerada das equipes com coordenação psicológica
e agronômica);
» Incentivar a implantação de iniciativas como as “Serrarias Ecológicas”
para produção de peças de madeira aparelhadas a partir de troncos removidos
na área urbana.

8) Resíduos dos serviços de saúde


» Registrar os Planos de Gerenciamento de Resíduos das instituições
públicas e privadas no sistema local de informações sobre resíduos;
» Criar cadastro de transportadores e processadores, referenciado no
sistema local de informações sobre resíduos.

9) Resíduos eletroeletrônicos
» Criar “Programa de Inclusão Digital” local que aceite doações de
computadores para serem recuperados e distribuídos a instituições que os
destinem ao uso de comunidades carentes.

10) Resíduos dos serviços públicos de saneamento básico


» Estabelecer cronograma de limpeza da micro e macro drenagem, de
acordo com a ocorrência de chuvas, visando reduzir os impactos econômicos e
ambientais por ocorrência de enchentes;
» Reduzir volume de resíduos de limpeza de drenagens levados a
aterro de resíduos perigosos, por meio de ensaios de caracterização;

107
RESIDUOS SÓLIDOS

» Identificar e responsabilizar os potenciais agentes poluidores


reconhecidos nos lodos dos processos de dragagem ou desassoreamento de
corpos d’água.

11) Resíduos sólidos cemiteriais


» Garantir que os equipamentos públicos tenham um cenário de
excelência em limpeza e manutenção, com padrão receptivo apropriado para a
finalidade a que se destinam.

12) Resíduos agrosilvopastoris


» Promover o incentivo ao processamento dos resíduos orgânicos por
biodigestão, com geração de energia.

5.7 Indicadores de desempenho para os serviços públicos


O PGIRS deverá considerar como critérios estratégicos para avaliação
dos serviços:
» a universalidade: os serviços devem atender toda a população, sem
exceção;
» a integralidade do atendimento: devem ser previstos programas e
ações para todos os resíduos gerados;
» a eficiência e a sustentabilidade econômica;
» à articulação com as políticas de inclusão social, de desenvolvimento
urbano e regional e outras de interesse relevante;
» a adoção de tecnologias apropriadas, considerando a capacidade de
pagamento dos usuários, a adoção de soluções graduais e progressivas e
adequação à preservação da saúde pública e do meio ambiente;
» o grau de satisfação do usuário. O Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão (MPOG) publicou dois documentos que podem auxiliar na
definição de indicadores para a medição do desempenho dos serviços
públicos, e demais ações relacionadas no PGIRS. São eles: “Guia referencial
para Medição de Desempenho e Manual para Construção de Indicadores”
(MPOG, 2009).

108
RESIDUOS SÓLIDOS

Outra referência é o Sistema Nacional de Informações sobre


Saneamento (SNIS), que há sete anos vem levantando dados sobre o manejo
de resíduos sólidos em municípios brasileiros, e tem produzido indicadores que
permitem análises entre municípios de mesmo porte e/ ou da mesma região,
dentre outras possibilidades.
É importante que a definição dos indicadores do PGIRS tenha como
referência aqueles eleitos pelo SNIS, permitindo assim, que desde o primeiro
monitoramento, os municípios possam analisar sua situação à luz de uma série
histórica já existente. Como sugestão, foram selecionados os seguintes
indicadores gerais:
» Incidência das despesas com o manejo de resíduos sólidos nas
despesas correntes da prefeitura (SNIS 001);
» Despesa per capita com manejo de resíduos sólidos em relação à
população (SNIS 006);
» Receita arrecadada per capita;
» Autossuficiência financeira da prefeitura com o manejo de resíduos
sólidos (SNIS 005);
» Taxa de empregados em relação à população urbana (SNIS 001);
» Incidência de empregados próprios no total de empregados no
manejo de resíduos sólidos (SNIS 007);
» Incidência de empregados gerenciais e administrativos no total de
empregados no manejo de resíduos sólidos (SNIS 010).
Interessam também indicadores sobre resíduos urbanos como:
» Cobertura do serviço de coleta em relação à população total
atendida (declarada) (SNIS 015);
» Taxa de cobertura do serviço de coleta de resíduos domiciliares em
relação à população urbana (SNIS 016);
» Massa recuperada per capita de materiais recicláveis secos (exceto
matéria orgânica e rejeitos) em relação à população urbana (SNIS 032);
» Taxa de material recolhido pela coleta seletiva de secos (exceto
matéria orgânica) em relação à quantidade total coletada de resíduos sólidos
domésticos (SNIS 053);

109
RESIDUOS SÓLIDOS

» Taxa de recuperação de materiais recicláveis secos (exceto matéria


orgânica e rejeitos) em relação à quantidade total (SNIS 031);
» Massa recuperada per capita de matéria orgânica em relação à
população urbana;
» Taxa de material recolhido pela coleta seletiva de matéria orgânica
em relação à quantidade total coletada de resíduos sólidos domiciliares;
» Taxa de recuperação de matéria orgânica em relação à quantidade
total;
» Massa de matéria orgânica estabilizada por biodigestão em relação
à massa total de matéria orgânica.
Podem também ser incluídos indicadores sobre resíduos de serviços
de saúde e resíduos da construção civil:
» Massa de resíduos dos serviços de saúde (RSS) coletada per capita
(apenas por coletores públicos) em relação à população urbana (SNIS 036);
» Massa de resíduos da construção civil (RCC) coletada per capita
(apenas por coletores públicos) em relação à população urbana. Pode-se ainda
desenvolver indicadores para detectar e mapear as situações recorrentes como
os locais onde se repetem as deposições irregulares de resíduos (entulhos,
resíduos volumosos e domiciliares, principalmente). Sugere-se, portanto:
» Número de deposições irregulares por mil habitantes;
» Taxa de resíduos recuperados em relação ao volume total removido
na limpeza corretiva de deposições irregulares.
Podem ser construídos indicadores para resíduos que se mostrem
localmente significativos, como os de serviços de transporte, minerários,
agrosilvopastoris, ou ainda, de varrição ou logística reversa.
É importante a construção de indicadores para o acompanhamento
dos resultados das políticas de inclusão social, formalização do papel dos
catadores de materiais recicláveis e participação social nos programas de
coleta seletiva, tais como:
» Número de catadores organizados em relação ao número total de
catadores (autônomos e organizados);
» Número de catadores remunerados pelo serviço público de coleta
em relação ao número total de catadores;

110
RESIDUOS SÓLIDOS

» Número de domicílios participantes dos programas de coleta em


relação ao número total de domicílios. Para a construção desse último conjunto
de indicadores é essencial a integração de ações com o trabalho das equipes
de agentes comunitários de saúde.
Sistema de cálculo dos custos operacionais e investimentos Faz parte
do conteúdo do PGIRS a definição do sistema de cálculo dos custos da
prestação dos serviços públicos, e a forma de cobrança desses serviços.
Este sistema deve estar em conformidade com as diretrizes da Lei
Federal de Saneamento Básico, que determina a recuperação dos custos
incorridos na prestação do serviço, bem como a geração dos recursos
necessários à realização dos investimentos previstos para a execução das
metas.
O Comitê Diretor deverá organizar as informações para que, com
transparência, estes custos possam ser divulgados. Também quanto a este
Item, há vantagem na adoção da gestão associada – o ganho de escala com a
concentração de operações permite diluição dos custos.
Na abordagem do tema no PGIRS deverão receber especial atenção:
» os investimentos necessários para que os objetivos possam ser atingidos,
entre eles a universalidade e a integralidade na oferta dos serviços,
contemplando aspectos como investimentos em infraestrutura física,
equipamentos de manejo, capacidade administrativa, entre outros;
» o planejamento destes investimentos no tempo, sua depreciação e
amortização, segundo o crescimento presumido da geração;
» os custos divisíveis (como os da coleta e manejo dos resíduos
domiciliares) e dos custos indivisíveis (varrição e capina, por exemplo);
» a ocorrência de custos por oferta de serviços não considerados
enquanto serviços públicos, como a coleta e tratamento de RSS de geradores
privados, ou a captação e transporte de resíduos com logística reversa
obrigatória (pneus, lâmpadas e outros).
O plano deverá fixar as diretrizes, estratégias e metas para estas
questões, possibilitando o desenvolvimento de um trabalho detalhado para sua
implementação.

111
RESIDUOS SÓLIDOS

A Lei Federal de Saneamento Básico determina que os serviços


públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos sejam remunerados
pela cobrança de taxas, tarifas ou preços públicos.
E que estes, tais como a Taxa de Manejo de Resíduos Sólidos
Domiciliares, referente a serviços divisíveis, sejam contemplados com uma
sistemática de reajuste e revisão, que permita a manutenção dos serviços.
No tocante a isso, cumprirá papel fundamental o ente regulador, quer
seja ele a Câmara de Regulação estabelecida em um Consórcio Público, quer
seja uma agência reguladora externa, contratada pelo consórcio ou pelo
município isolado, para este papel. Alguns exercícios para estabelecimento da
sistemática de cálculo têm considerado fatores, tais como:
» localização dos domicílios atendidos: bairros populares, de renda
média ou renda alta;
» as indústrias atendidas se caracterizarem por baixa, média ou
elevada geração de resíduos assemelhados aos domiciliares (na faixa limite
estabelecida como atendimento enquanto serviço público);
» os estabelecimentos não industriais atendidos se caracterizarem por
baixa, média ou elevada geração de resíduos assemelhados aos domiciliares
(na faixa limite estabelecida como atendimento enquanto serviço público);
» a presença de terrenos vazios, de pequeno, médio ou grande porte,
aos quais os serviços são oferecidos, mesmo que não seja usufruído.
A consideração desses fatores permite, inclusive, a definição de uma
política de subsídios para a remuneração dos serviços, definida como
obrigatória pela nova legislação.

112
RESIDUOS SÓLIDOS

QUESTÕES DE APRENDIZAGEM UNIDADE 3

QUESTÃO 1
O lixo domiciliar, comercial e público é de responsabilidade de qual poder?
a) Industrial
b) Estadual
c) Municipal
d) Comercial
e) Federal

QUESTÃO 2

Dentre os fatores citados, podem contribuir para uma redução na produção de


resíduos, exceto?
a) Utilizar o tanto quanto possível, nas mais diferentes atividades, matérias que
podem ser reciclados.
b) Incentivar e viabilizar a troca de veículos menos eficientes, por veículos mais
eficientes em relação ao consumo dos combustíveis fósseis.
c) Incentivar e viabilizar a reciclagem de materiais pela população.
d) Aumentar a eficiência dos processos produtivos nas indústrias.
e) Promover e viabilizar a prática da compostagem nos locais de produção de
restos de alimentos.

QUESTÃO 3

Do ponto de vista conceitual, existem elementos fundamentais para a atuação


em processos de gestão integrada de resíduos sólidos que envolvem aspectos
de tecnologia, de economia, de comunicação, de atuação social e ambiental.
Qual alternativa abaixo não está relacionada a isto?
a) Desprezo de aspectos sanitários e dos riscos à saúde humana
b) aplicação de linhas de tratamento
c) ações de comunicação e educação ambiental com envolvimento dos
diferentes protagonistas sociais

113
RESIDUOS SÓLIDOS

d) ações de inclusão social de emprego


e) correto financiamento do serviço garantindo a economia e a viabilidade do
serviço público prestado

QUESTÃO 4
A ordem correta de atuação para o gerenciamento de resíduos e a mais
favorável ao meio ambiente, segunda a Política Nacional de Resíduos Sólidos
é:
a) reduzir, reutilizar, reciclar, tratar e dispor.
b) dispor, tratar, reduzir, reutilizar e reciclar.
c) reciclar, dispor, tratar e reduzir e reutilizar.
d) tratar, reutilizar, dispor, reduzir e reciclar.
e) tratar, reciclar, reduzir, dispor e reutilizar

QUESTÃO 5
Com relação ao gerenciamento dos resíduos sólidos, é incorreto dizer que:

a) Um dos objetivos da Gestão Integrada de Resíduos Sólidos é minimizar os


impactos negativos causados pelos resíduos ao meio ambiente e à saúde
pública.
b) Os resíduos, após dispostos no solo, entram em decomposição e geram dois
Subprodutos principais: o lixiviado e o biogás.
c) O lixiviado e o biogás são responsáveis por causar grande parte dos
impactos ambientais e na saúde pública associados à disposição inadequada
de resíduos em lixões.
d) Os resíduos sólidos, quando não são tratados adequadamente, geram
impactos no ambiente mas não constituem uma constante ameaça à saúde
pública.
e) Os resíduos sólidos, quando não gerenciados corretamente, geram impactos
nos corpos hídricos, no solo, no meio atmosférico, na saúde pública e no meio
social.

114
RESIDUOS SÓLIDOS

QUESTÃO 6

Em agosto de 2010, foi publicada a Lei nº 12.305, que institui a Política


Nacional de Resíduos Sólidos, dispondo sobre seus princípios, objetivos e
instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao
gerenciamento dos resíduos sólidos. Acerca desse assunto, o Plano de
Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS)

a) requer a apresentação de documentação de passivos ambientais apenas


quando houver o gerenciamento de resíduos.
b) dispensa a apresentação de ações preventivas e corretivas relacionadas a
acidentes de trabalho, pois esta é uma competência do setor de segurança do
trabalho.
c) faculta a atribuição de responsabilidade técnica em suas etapas de
elaboração, implementação, operacionalização, monitoramento e controle da
disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.
d) permite o lançamento de resíduos sólidos in natura a céu aberto, desde que
esta forma de disposição final seja prevista e descrita no plano original.
e) deve contemplar diagnóstico dos resíduos sólidos gerados ou administrados,
bem como volume e caracterização de resíduos

QUESTÃO 7

Com relação à gestão de resíduos sólidos instituída pela Lei nº 12.305/10, é


correto afirmar que
a) o titular do serviço público de limpeza urbana e de manejo de resíduos
sólidos pode, mediante termo de compromisso firmado com o setor
empresarial, encarregar-se de atividades de responsabilidade destes nos
sistemas de logística reversa, vedada a cobrança por essas atividades.
b) a lei instituiu a obrigação de estruturar e implementar sistemas de logística
reversa dividindo a responsabilidade entre os fabricantes e os comerciantes de
produtos como pilhas e baterias, agrotóxicos, pneus, equipamentos e
componentes eletrônicos e lâmpadas, entre outros.

115
RESIDUOS SÓLIDOS

c) a Lei de Resíduos Sólidos permite a incineração de resíduos sólidos desde


que realizada com emprego de equipamentos devidamente licenciados pela
autoridade ambiental competente.
d) não estão sujeitos à elaboração de plano de gerenciamento de resíduos
sólidos os estabelecimentos comerciais cujos resíduos gerados em suas
atividades sejam caracterizados, por sua natureza, composição ou volume,
como não perigosos.

116
RESIDUOS SÓLIDOS

GABARITO
1) C
2) B
3) A
4) A
5) D
6) E
7) C

117
RESIDUOS SÓLIDOS

UNIDADE 4 POLÍTICA NACIONAL DOS


RESÍDUOS SÓLIDOS E LEGISLAÇÃO

Capítulo 6 Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS)

A geração de resíduos é preocupação por todo o mundo, devido aos


impactos gerados, tanto ambientais como socioeconômicos. Para minimizar os
problemas ambientais relativos ao descarte dos resíduos sólidos, surge a
Política dos 3R’s, práticas sugeridas durante a Conferência da Terra, realizada
no Rio de Janeiro em 1992, que consiste nos atos de Reduzir, Reutilizar e
Reciclar o lixo produzido.
No Brasil, a reação a esta situação foi a criação da Lei nº 12.305 que
institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS (BRASIL, 2010), que
atua em diferentes ações e objetiva o que fora determinado nas grandes
discussões mundiais: contribuir para a redução dos gases de efeito estufa
gerados pelos resíduos sólidos urbanos no país, estimular por meio da
educação ambiental o consumo consciente para a redução do desperdício, a
extinção dos lixões a céu aberto, promovendo a construção de aterros
sanitários planejados para a captura do metano (para a produção de energia),
além do reaproveitamento dos resíduos por meio da reciclagem e a
compostagem, ações essas que contribuem para o desenvolvimento
sustentável e o equilíbrio climático do planeta.
Atualmente, o Brasil conta com uma estrutura legal que orienta e
disciplina a gestão dos resíduos sólidos: leis federais, estaduais e municipais,
decretos, resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA),
normas técnicas, instruções normativas e portarias do Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA).
A lei mais abrangente no tema de resíduos sólidos é a Política Nacional
de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída em 2010.
A PNRS estabelece princípios, objetivos, instrumentos e diretrizes
para a gestão integrada e gerenciamento dos resíduos sólidos, indicando as
responsabilidades dos geradores, do poder público e dos consumidores. A

118
RESIDUOS SÓLIDOS

Política define, ainda, princípios importantes como o da prevenção e


precaução, do poluidor-pagador, da eco eficiência da responsabilidade
compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, do reconhecimento do resíduo
como bem econômico e de valor social, do direito à informação e ao controle
social, entre outros.
A PNRS surge para tentar minimizar o problema dos resíduos, uma vez
que agora não apenas o governo, mas os produtores e até os consumidores
são responsáveis pela destinação e tratamento correto do seu material
obsoleto, através do processo de logística reversa.
Estabelece também uma responsabilidade compartilhada entre
governo, indústria, comércio e consumidor final no gerenciamento e na gestão
dos resíduos sólidos.
Entretanto, reconhece-se que muito ainda precisa ser feito para um
adequado gerenciamento integrado de resíduos, o qual depende, dentre outros
fatores, da vontade política dos municípios, do aporte de recursos humanos e
financeiros, da construção de instalações e aplicação de técnicas inovadoras e,
sobretudo, da participação cidadã e solidária e do controle social.
A responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos
abrange fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes,
consumidores e os municípios, que são os titulares dos serviços públicos de
limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos. Isto significa dividir as
responsabilidades entre sociedade, iniciativa privada e poder público.
Para dar conta deste desafio é preciso elaborar planos de gestão
integrada para os resíduos sólidos urbanos, integrando-se os aspectos
econômicos, sociais, ambientais e contemplando-se todas as fases do fluxo
que integram cada classe de resíduos, desde a sua geração, coleta, transporte
e destinação final, levando-se em conta as alternativas de
reutilização/reciclagem e beneficiamento dos diferentes tipos de resíduos,
Trata-se, portanto, de um sistema complexo, no qual interagem agentes
públicos, privados e movimentos sociais.
Aliado à elaboração deste sistema integrado está a Logística Reversa
de Pós-Consumo, que é a área de atuação da Logística tradicional que
igualmente equaciona e operacionaliza o fluxo físico e as informações

119
RESIDUOS SÓLIDOS

correspondentes de bens de pós-consumo descartados pela sociedade que


retornam ao ciclo de negócios ou produtivo através de canais de distribuição
reversos específicos.
Constituem-se bens de pós-consumo os produtos em fim de vida útil
ou usados com possibilidade de utilização e os resíduos industriais em geral.
Procurando, então, trazer elementos para entender o cumprimento da lei e
garantir a responsabilidade compartilhada pela geração de resíduos sólidos ao
longo da sua cadeia produtiva, o trabalho trata, inicialmente, das questões
relacionadas a implementação da PNRS.
A PNRS destaca as diretrizes relacionadas com a gestão integrada e
quanto ao gerenciamento dos resíduos sólidos. Outro ponto forte abordado
pela PNRS é a logística reversa, já existente em casos pontuais como
fabricantes de pilhas e pneus quando, atribui aos responsáveis o recolhimento
ou o retorno dos resíduos ou partes inservíveis do produto visando à correta
destinação ambientalmente indicada. Inclui, também, o correto descarte em
aterros dos rejeitos, que são os resíduos sólidos restantes após esgotadas
todas as possibilidades de tratamento e recuperação dos resíduos sólidos
descartados e coletados através da logística reversa.
Segundo a PNRS, os destinos dos resíduos sólidos urbanos, podem
ser:
- A destinação final ambientalmente adequada: destinação de resíduos
que inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o
aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos
competentes;
- A disposição final ambientalmente adequada: distribuição ordenada
de rejeitos em aterros, observando normas operacionais específicas de modo a
evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança, e a minimizar os
impactos ambientais adversos.
A PNRS traz também o compartilhamento das responsabilidades
sobre o ciclo de vida dos produtos, onde se define “um conjunto de atribuições
individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e
comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de
limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de

120
RESIDUOS SÓLIDOS

resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos


causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de
vida dos produtos, nos termos da lei.
Desta forma, a PNRS cria o apoio legal e a participação do governo
Brasileiro nos procedimentos operacionais de segregação, acondicionamento,
coleta, triagem, armazenamento, transbordo, tratamento de resíduos sólidos e
disposição final adequada dos rejeitos. Para tal a PNRS, conta com a prática
de logística reversa, como ferramenta principal neste processo.
A lei estabelece a diferença entre resíduo e rejeito: resíduos devem ser
reaproveitados e reciclados e apenas os rejeitos devem ter disposição final.
Um dos itens fundamentais estabelecidos pela PNRS é a ordem de
prioridade para a gestão dos resíduos, que deixa de ser voluntária e passa a ser
obrigatória: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos
resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos,
conforme Figura 6.1:

Figura 6.1 Ordem de prioridade no tratamento de resíduos.

6.2 Logística reversa e a Política Nacional de Resíduos Sólidos

Logística reversa é um instrumento de desenvolvimento econômico e


social, caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios
destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor

121
RESIDUOS SÓLIDOS

empresarial para reaproveitamento em seu ciclo ou em outros ciclos


produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada.
Conforme a Figura 6.2, simplificadamente, a logística reversa aborda
as questões que envolvem a recuperação de produtos ou parte destes, desde
seu ponto de consumo até o local de origem, atuando de modo reverso ao fluxo
físico dos produtos.

Figura 6.2 Esquema simplificado da logística reversa.

De acordo com Revlog (2012), as três principais razões que levam as


empresas a atuarem mais fortemente na Logística Reversa são:
(1) Legislação Ambiental, que força as empresas a retornarem com
seus produtos e cuidar do tratamento necessário;
(2) benefícios econômicos do uso de produtos que retornam ao
processo de produção, em detrimento dos altos custos do correto descarte do
lixo; e
(3) a crescente conscientização ambiental dos consumidores. Portanto,
as políticas e planos devem ser acompanhadas de um amplo debate público
com a participação dos diversos atores sociais e econômicos envolvidos no
gerenciamento de resíduos.
Observa-se, portanto, a necessidade da implantação de um sistema
que integre a gestão municipal, os catadores de lixo e as empresas, não só as
que produzem os bens, mas também as que geram os resíduos.
Há décadas, os processos logísticos das empresas têm sido
direcionados para produtos de consumo rápido.

122
RESIDUOS SÓLIDOS

Consequentemente, aumenta-se a demanda por extração de matérias-


primas e elevação do nível de descartabilidade dos produtos, o que gera
desequilíbrio ambiental (IPEA, 2012). A preocupação com as questões
ambientais, através de exigências feitas pela sociedade aos governantes
locais, faz com que os processos logísticos empresariais sejam readaptados à
nova realidade, pois os padrões insustentáveis de consumo e produção de
produtos se tornaram os maiores causadores de desequilíbrio para o meio
ambiente.
O desafio está em fazer com que os resíduos gerados pela produção e
consumo destes produtos, retornem aos seus ciclos produtivos. Estas questões
contribuíram para evolução do tema Logística Reversa.
A coleta seletiva é o mecanismo de funcionamento que garante o
retorno do produto à cadeia de produção. No entanto, a falta de educação
ambiental da população; a oneração da indústria de reciclagem; a capacidade
reduzida do parque reciclador; e a falta de qualificação dos gestores locais são
os gargalos que impedem o funcionamento amplo da logística reversa no
Brasil.
A PNRS estabelece que a implantação da logística reversa se dá
através de acordo setorial entre os principais atores econômicos e públicos:
poder público e fabricantes; importadores e distribuidores, que têm por objetivo
a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto. O poder
público deve incentivar e disponibilizar mecanismo para prática da coleta
seletiva de resíduos.

6.3 Evolução da logística reversa no Brasil

A prática da logística reversa é também intencionada para a geração


de renda e inclusão social. O Decreto 7.404/2010 reconhece e preconiza a
inserção dos catadores de materiais recicláveis como veículos para o
funcionamento da coleta de resíduos e logística reversa, e transfere para o
poder público a responsabilidade de regulamentar e regularizar a profissão. Em
2012, o Brasil possuía cerca de 600 mil catadores de materiais recicláveis e
1.100 organizações coletivas de catadores.

123
RESIDUOS SÓLIDOS

A renda média dos catadores está entre R$420,00 a R$520,00 (PNRS,


2012). Cabe destacar os esforços do Governo do Estado do Rio de Janeiro,
que no início de 2013, lançou o Programa Catadores e Catadoras em Redes
Solidárias. O projeto tem por objetivo beneficiar famílias de baixa renda de 41
municípios fluminenses. Neste projeto, 3 mil catadores de materiais recicláveis
terão sua atividade regularizada (SEA, 2013). A ascensão das diretrizes do
Plano Nacional de Resíduos Sólidos resultará na evolução da prática de
logística reversa no Brasil.
Além das exigências legais a serem atendidas, a prática da logística
reversa nos fluxos de pós-venda ou pós-consumo agrega valor econômico à
empresa e melhora a imagem corporativa perante à sociedade. Logo,
aumentará a vantagem competitiva de mercado entre as empresas do mesmo
setor.
A Logística Reversa se divide em duas áreas: pós-venda e pós-
consumo. Logística de pós-venda tem por objetivo estratégico agregar valor a
produtos que são retirados do mercado por erros de produção (recall) e
processamento. Logística de pós-consumo tem por objetivo estratégico o
retorno de produtos descartados pela sociedade e também os resíduos
industriais, sejam duráveis ou descartáveis, aos canais de produção.
As exigências da Política Nacional de Resíduos Sólidos trouxeram
velocidade e mudança nos processos logísticos e de produção das empresas
no Brasil. Elas estão buscando novas tecnologias de reaproveitamento de
produtos e especialização em atividades ligadas à logística reversa.
O Instituto de Logística e Supply Chain entrevistou 101 empresas
brasileiras, no universo de 12 setores industriais, sobre a prática do
gerenciamento de resíduos sólidos, citada pela PNRS. O porte das empresas
entrevistadas não foi informado na pesquisa (ILOS, 2013).
Quanto ao gerenciamento de resíduos sólidos:
 98% destinam corretamente seus resíduos.
 69% gerenciam a logística reversa de pós-venda.
 61% realizam alguma atividade para o gerenciamento de resíduos de
pós-consumo. Os fatores motivacionais são: aumento de prestígio perante a

124
RESIDUOS SÓLIDOS

sociedade; aumento nas vendas; redução de custo e atendimento às


exigências legais ambientais.
 41% retorna seus resíduos para o material promocional.
Observações:
 Somente 37% das entrevistadas possuem uma área específica
dedicada à logística reversa.
 A maioria das empresas não utiliza os serviços de cooperativas de
catadores para atuar em suas operações de logística reversa.
 60% informaram que umas das maiores dificuldades encontradas
para a implantação da logística reversa é o alto custo operacional.
Os custos com transporte e tratamento de resíduos são os grandes
entraves para a aplicação da logística reversa por empresas de pequeno e
médio porte.
Como já mencionado, a alta demanda por novos produtos acarreta a
necessidade de matérias primas e a geração de produtos de pós-consumo. O
objetivo da logística reversa de pós-consumo está em fazer com que esses
produtos retornem ao ciclo produtivo em forma de insumos de produção. O
processamento e a comercialização dos produtos gerados pós-consumo são
denominados canais de distribuição reversos de pós-consumo.
No sítio eletrônico do Ministério do Meio Ambiente (MMA) há um
espaço destacado para a logística reversa, no qual são diferenciados sistemas
já implantados e sistemas em implantação.
A Tabela 6.1 apresenta esquematicamente os sistemas implantados,
assim denominados pelo MMA:

Tabela 6.1 Sistemas de logística reversa implantados.

Sistema Norma Ano Previsão Previsã


reguladora de logística o na
reversa PNRS
Lei 7802 1989 sem
Embalagens de
Lei 9974 previsão art. 33, I
Agrotóxicos 2000 expressa*
Óleo Lubrificante Resolução sem
art. 33,
Usado ou CONAMA 362 2005 previsão
IV
Contaminado expressa**

125
RESIDUOS SÓLIDOS

Resolução
2008
CONAMA 401 art. 18, art. 33,
Pilhas e Baterias
Resolução CONAMA 401 II
2010
CONAMA 424
Resolução art. 2º, art. 33,
Pneus 2009
CONAMA 416 VIII*** III
Fonte: Elaborado própria a partir da classificação disponível no sítio eletrônico do MMA (BRASIL, 2014) e interpretação
das normas citadas.

(*): apesar de não possuir dispositivo que trate tacitamente da logística reversa,
entende-se que a Resolução foi elaborado consoante a lógica que se encontra
na gênese desse instrumento. Merece destaque o art. 6º, § 5o As empresas
produtoras e comercializadoras de agrotóxicos, seus componentes e afins, são
responsáveis pela destinação das embalagens vazias dos produtos por elas
fabricados e comercializados, após a devolução pelos usuários, e pela dos
produtos apreendidos pela ação fiscalizatória e dos impróprios para utilização
ou em desuso, com vistas à sua reutilização, reciclagem ou inutilização,
obedecidas as normas e instruções dos órgãos registrantes e sanitário-
ambientais competentes. (Incluído pela Lei nº 9.974, de 2000)

(**): da mesma forma que a Lei de Agrotóxicos, não há uma previsão tácita,
mas pode-se, claramente, interpretar que essa lógica permeia toda a
Resolução 362. Cite-se, por exemplo, o art. 7º: “Os produtores e importadores
são obrigados a coletar todo óleo disponível ou garantir o custeio de toda a
coleta de óleo lubrificante usado ou contaminado efetivamente realizada, na
proporção do óleo que colocarem no mercado”.

(***): o dispositivo se refere à implantação de uma central de armazenamento


para a logística de destinação de pneus inservíveis, inteiros ou picados, sem
utilizar a nomenclatura de logística reversa. Contudo, entende-se que esse
armazenamento trata daqueles pneus objeto de um sistema de logística
reversa que devem, posteriormente, seguir para a destinação adequada.
Em relação à Tabela 4.1, é importante notar que todos os sistemas
identificados pelo MMA foram regulamentados, ou implantados, antes da
promulgação da PNRS. Por um lado, demonstra que houve um

126
RESIDUOS SÓLIDOS

amadurecimento da legislação a partir de 1989, com a primeira concepção de


logística reversa, até a PNRS que veio consolidar essa obrigação para outros
setores.
Por outro lado, indica a morosidade no processo legislativo nacional
que, até a presente data, transcorridos cerca de três anos e meio da publicação
da PNRS, os demais sistemas não foram implantados. Os dois sistemas
restantes, previstos no art. 33, V e VI, da PNRS, são: V - lâmpadas
fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista, e; VI - produtos
eletroeletrônicos e seus componentes.
Dessa forma, consoante, tem-se dois tipos de implementação da
logística reversa: a) implementação imediata, referente aos casos previstos nos
incisos de I a IV do art. 33, e; b) implementação progressiva, aplicável pela
interpretação combinada dos arts. 56 e 33, V e VI. Logo, a implementação
imediata independe de regulamentação, acordo setorial ou termo de
compromisso, sendo de cumprimento direto decorrente da promulgação da
PNRS. Os cronogramas para os demais tipos ficam na pendência de
regulamentação específica.
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA) foram criados,
aproximadamente nove meses após a publicação da PNRS, grupos de trabalho
para tratar das embalagens plásticas de óleos lubrificantes (a CONAMA 362
não trata especificamente das embalagens, mas somente dos óleos, daí a
previsão contida no § 3º, art. 33, PNRS), de lâmpadas fluorescentes de vapor
de sódio e mercúrio e de luz mista, de embalagens em geral (art. 33, § 1º,
PNRS), eletroeletrônicos e medicamentos.
Os medicamentos e suas embalagens, ainda que não previstos
expressamente no texto da lei ou do seu regulamento, enquadram-se na
aplicação de logística reversa a produtos e embalagens com potencial impacto
à saúde pública e ao meio ambiente. Essa previsão demonstra a preocupação
do legislador em dar amplo alcance ao instrumento, não restringindo a
legislação a um rol exaustivo de produtos, mas tornando a lei mais ágil e
adequada aos avanços tecnológicos constantes que podem gerar outros e
novos produtos, não previstos, mas que possam gerar significativos impactos
sobre a saúde humana e/ou ao meio ambiente.

127
RESIDUOS SÓLIDOS

A importância da logística reversa se dá diante da constatação de um


aumento, entre 2002 e 2009, na geração de resíduos sólidos no Brasil superior
ao crescimento da população e do PIB.
A partir de dados do IBGE do Ministério das Cidades, revela que em
2002 o consumo per capita era de 0,75 kg/habitante/dia e passou a 0,96
kg/habitante/dia em 2009. Da mesma forma que segundo o relatório anual da
ABRELPE de 2013, mostra que a geração de resíduos sólidos urbanos no
Brasil cresceu 1,3% de 2011 para 2012, passando de 61.936.368 t/ano em
2011 para 62.730.096 t/ano em 2012.
Assim sendo, ao regulamentar esse processo logístico reverso, no qual
resíduos e embalagens retornam dos pontos de pós-consumo até sua origem,
a legislação instrumentalizada, de maneira direta, dois princípios fundamentais
do Direito Ambiental: princípio do poluidor-pagador e da prevenção.
O princípio do poluidor-pagador consagra, a vocação redistributiva do
Direito Ambiental e se inspira na teoria econômica de que os custos sociais
externos que acompanham o processo produtivo devem ser internalizados.
Nesse sentido, a PNRS cumpre uma exigência expressa no Princípio
16 da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento: As
autoridades nacionais devem procurar promover a internacionalização dos
custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, tendo em vista a
abordagem segundo a qual o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo da
poluição, com a devida atenção ao interesse público e sem provocar distorções
no comércio e nos investimentos internacionais (ONU, 1992, p. 3).
Logo, a imposição da logística reversa se coaduna à própria prevenção
do dano, ou seja, configurasse medida que procura evitar “o nascimento de
atentados ao ambiente, de molde a reduzir ou eliminar as causas de ações
suscetíveis de alterar a sua qualidade. Dessa forma, o princípio da prevenção,
no caso em análise, se materializa visto tratar-se, por meio da logística reversa,
de uma ação antecipada adotada para evitar a configuração de um dano ao
meio ambiente por meio da destinação inadequada daquele rol de
resíduos/embalagens.
O art. 19° da PNRS preconiza como meta a ser atendida pelos Planos
Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS), a redução,

128
RESIDUOS SÓLIDOS

reutilização, coleta seletiva e reciclagem. Em se tratando de plano de


competência local deve-se recorrer aos demais pressupostos constitucionais
de atuação do Poder Público municipal, bem como às disposições do Estatuto
da Cidade (Lei 10.257/2001).
Logo, o PMGIRS deverá levar em conta o Plano Diretor do Município e
o zoneamento ambiental, observando a ordenação do uso do solo e, adicione-
se, visando promover o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e
garantir o bem-estar de seus habitantes” (art. 182, § 1º, CF).
Os canais de distribuição reversos possuem três subsistemas: reuso,
remanufatura, reciclagem e destino final. No reuso, os produtos não recebem
tratamento. Na remanufatura, são aproveitadas partes essenciais para a
construção de um novo produto com a mesma finalidade do produto original.
Reciclagem, a funcionalidade original do produto, não é mantida, são extraídas
matérias-primas que possam gerar novos produtos originais ou serem
utilizados em outras indústrias.
A PNRS não considera a reciclagem como uma ferramenta de
tratamento de resíduos e sim como uma das etapas da gestão e
gerenciamento de resíduos.
São inúmeros os avanços da PNRS, em especial na sistematização e
consolidação de princípios e instrumentos esparsos na legislação ambiental
brasileira. Contudo, é preciso apontar aqueles aspectos que requerem ainda
esforços para uma ampla eficácia da norma reguladora dos resíduos sólidos.
O PNRS foi estrutura sob o prisma da realidade urbana brasileira e,
assim sendo, desconsiderou aspectos importantes em relação a resíduos
industriais perigosos.
Os autores destacam, como exemplo de sua análise, os resíduos da
indústria petrolífera, setor que se encontra em expansão no país e é gerador de
resíduos perigosos ao longo de toda a cadeia produtiva, desde a fase de
exploração, para descoberta das jazidas, passando pela fase de extração de
petróleo e gás natural, até o beneficiamento de seus derivados (além das
etapas de logísticas, relacionadas ao transporte e armazenamento).

129
RESIDUOS SÓLIDOS

6.4 Inventário de resíduos sólidos

Uma das ferramentas básicas recomendadas para avaliar o cenário


dos resíduos sólidos é a realização prévia do inventário, instrumento que,
através de levantamento de dados cadastrais e de pesquisa de campo das
fontes geradoras, sistematiza as informações sobre a geração,
acondicionamento, transporte, armazenamento e destino final.
Essas avaliações podem ser empregadas em importantes trabalhos de
planejamento das ações de controle da poluição industrial, auxiliando, por
exemplo, na priorização dessas ações, ao considerar o cruzamento das
potencialidades da poluição por geração de resíduos sólidos no planejamento
de usos do solo e no planejamento empreendido pelos órgãos estaduais de
meio ambiente, visando o desenvolvimento industrial sustentado. O inventário,
portanto, é o ponto de partida para o planejamento, uma vez que todas as
recomendações subsequentes para tomada de decisões são balizadas através
de suas informações.
O objetivo do levantamento é conhecer e caracterizar o cenário da
geração e destinação final dos resíduos sólidos relativos às atividades
industriais dos setores metalúrgico, químico, papel e papelão, têxtil, produtos
alimentares e sucroalcooleiro, abrangendo empresas representativas de portes
médio e grande.
Como aplicabilidade dos resultados obtidos, visa subsidiar a
elaboração de políticas de gestão que viabilizem a definição de diretrizes
prioritárias para o estabelecimento de linhas de ações preventivas e de
melhorias no controle da poluição, mediante a interação do setor industrial com
os órgãos públicos a e comunidade.
Em 2002, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) editou a
Resolução 313. De acordo com esta Resolução (Artigo 8), cada Industria deve
registrar mensalmente (e manter na Unidade Industrial) os dados de geração
de resíduos para efeito de obtenção dos dados para o Inventário Nacional de
Resíduos Industriais.
Conforme Art. 4, deverão ser prestadas ao órgão estadual de meio
ambiente e atualizadas a cada vinte e quatro meses, ou em menor prazo, de
acordo com o estabelecido pelo próprio órgão. Os órgãos estaduais de meio

130
RESIDUOS SÓLIDOS

ambiente deverão, no prazo máximo de dois anos, apresentar ao IBAMA os


dados do Inventário mencionados.

As fábricas devem estar preparadas para inserir no formulário:

 Informações gerais da fábrica;


 Listagem das matérias primas e insumos utilizados no ano;
 Listagem de produtos fabricados ao longo do ano;
 Processo de produção;
 Informações sobre os resíduos gerados;
 Processo de produção;
 Listagem de todos os resíduos gerados;
 Codificar todos os resíduos gerados (tabela de resíduos CONAMA);
 Registrar a quantidade de todos os tipos de resíduos gerados
(toneladas/ano);
 Verificar se os resíduos gerados são tratados on-site ou off-site;

A Figura 6.3 mostra um esquema das informações solicitadas na


resolução do CONAMA 303:

Figura 6.3 Fluxograma de inventário para resíduos sólidos.

No inventário, além das quantidades geradas, também há informações


sobre acondicionamento, armazenamento e destinação dada. Isso possibilita
às áreas de meio ambiente da companhia acompanharem a performance da

131
RESIDUOS SÓLIDOS

empresa em termos de resíduos sólidos, construir indicadores e metas de


redução.
Salienta-se, por fim, que o inventário é um elemento insubstituível de
avaliação e acompanhamento da evolução da situação ambiental e é, portanto,
o ponto de partida para o planejamento de um desenvolvimento econômico
embasado nas premissas ambientais, uma vez que, para que haja um
planejamento adequado, é necessário diagnosticar o cenário presente, para
que os objetivos, metas e ações sejam condizentes com a realidade do Estado.

6.5 Legislação e educação ambiental

A legislação ambiental confere ao gerador a responsabilidade pela


destinação adequada dos resíduos, com a determinação do tratamento prévio
para a disposição final ou armazenamento temporário, de forma a não
comprometer o meio ambiente.
Em decorrência da crescente conscientização e pressão de mercado,
as empresas vêm buscando a certificação ambiental, adotando medidas
preventivas e corretivas no controle da poluição, com base no plano de gestão
ambiental de cada unidade industrial. O objetivo do plano é evitar, minimizar,
reaproveitar e reciclar os resíduos e, com isso, reduzir custos com o tratamento
e disposição final adequados.
Ao refletir sobre as questões relacionadas à gestão dos resíduos
sólidos, as soluções e as ações possíveis delineadas sempre apontam para a
importância da educação ambiental.
A visão sistêmica necessária para a gestão de resíduos sólidos (que
leve em consideração as variáveis ambientais, sociais, culturais, econômicas,
tecnológicas e de saúde pública), o senso de corresponsabilidade, cooperação
e articulação entre o Poder Público e os demais segmentos da sociedade, e a
garantia do direito à informação são princípios da PERS (Política Estadual dos
Resíduos Sólidos), que se coadunam significativamente com os princípios da
educação ambiental.
A Educação Ambiental, como instrumento das PERS e PNRS, fomenta
o envolvimento e a transformação da sociedade com vistas à promoção de

132
RESIDUOS SÓLIDOS

padrões sustentáveis de produção e consumo, à prevenção da poluição e à


minimização dos resíduos na fonte geradora, assim como ao incentivo às
práticas ambientalmente adequadas de redução, reutilização, recuperação e
reciclagem de resíduos.
O Poder Público tem a competência de promover a educação
ambiental de forma direta ou, por meio de convênios e parcerias com entidades
públicas e privadas, entre outros.
No Sistema Estadual de Administração da Qualidade Ambiental,
Proteção, Controle e Desenvolvimento do Meio Ambiente e Uso Adequado dos
Recursos Naturais (SEAQUA), a Coordenadoria de Educação Ambiental (CEA)
da Secretaria do Meio Ambiente (SMA) é o órgão responsável pelo fomento,
planejamento, coordenação e proposição de canais de comunicação e políticas
públicas de educação ambiental.
Um dos eixos orientadores da educação ambiental aplicada aos
resíduos sólidos é a política dos 4 Rs, composta por:
 Racionalizar o consumo de produtos e embalagens descartáveis.
Também devem ser considerados pelos consumidores os impactos ambientais
causados pela produção, transporte e armazenamento e descarte dos produtos
ou serviços adquiridos;
 Reduzir a geração de resíduos entendendo os excessos como
ineficiência dos processos produtivos. Este conceito envolve mudanças
comportamentais individuais, mas também novas práticas empresariais como
investimentos em pesquisas de eco design e eco eficiência;
 Reutilizar os materiais e produtos, aumentando a vida útil e
impedindo a obsolescência planejada. É necessário ampliar o conceito de
reutilização, indo além de pequenas ações que resultam em produtos de baixo
valor agregado, descartáveis e sem valor econômico real ou com benefícios
ambientais momentâneos;
 Reciclar os materiais com o encaminhamento correto dos resíduos
orgânicos e inorgânicos, apoiando os projetos de coleta seletiva e a diminuição
dos resíduos que devem ser dispostos nos aterros sanitários.
No artigo 19, inciso X da PNRS está implícita a necessidade de
racionalizar o consumo promovendo a não geração, além da redução,

133
RESIDUOS SÓLIDOS

reutilização e reciclagem como metas dos programas e ações educativas,


diminuindo a quantidade de resíduos dispostos e viabilizando soluções
ambientais, econômicas e sociais adequadas.
A educação ambiental voltada aos resíduos sólidos, envolve muitas e
distintas formas de relacionamentos, ações e comunicação com as
comunidades, criando uma dinâmica e tipologia própria:
a) Informações objetivas e orientações para a participação de
determinada população ou comunidade em programas e ações. Está
relacionada com objetivos e metas específicas sobre como aquele grupo deve
proceder na segregação dos resíduos para coleta seletiva, por exemplo, ou
quais procedimentos são mais adequados ao encaminhamento e outras
informações importantes e objetivas.

b) Mobilização/sensibilização das comunidades envolvidas


diretamente. Os conteúdos aprofundam as causas e consequências dos
excessos na geração e as dificuldades de manejo, tratamento e destinação
adequada dos resíduos produzidos em um município, região ou mesmo
espaços mais amplos como um estado ou país. São necessários instrumentos,
metodologias e tecnologias sociais que sensibilizem e mobilizem as
populações diretamente afetadas pelas ações e projetos implantados. Os
conteúdos são variados e incluem o cuidado com os recursos naturais, a
minimização dos resíduos, a educação para o consumo responsável e
consciente e as vantagens econômicas e sociais da coleta seletiva.

c) Campanhas e ações pontuais de mobilização. Os conteúdos e


metodologias devem estar adequados aos casos específicos e geralmente
fazem parte de programas mais abrangentes de educação ambiental, atingindo
um público mais amplo com a utilização de várias mídias, incluindo-se as que
têm impactos e influenciam na população que se pretende sensibilizar.

d) Informações, sensibilizações e mobilizações desenvolvidas em


espaços escolares. É a educação ambiental formal em que os conteúdos e
métodos são claramente pedagógicos e o tema dos resíduos sólidos é utilizado

134
RESIDUOS SÓLIDOS

para atrair e sensibilizar as comunidades escolares para as questões


ambientais de forma ampla. Envolvem desde informações objetivas como as
descritas no primeiro item, aprofundamento dos conhecimentos e ações como
no segundo, ou ainda tratamento pedagógico e didático específico para cada
comunidade escolar, faixa etária e nível de ensino.
O Decreto Estadual n o 57.817, de 28 de fevereiro de 2012, instituiu o
Programa Estadual de Implementação de Projetos de Resíduos Sólidos, que
criou uma estrutura de quatro projetos, entre eles o de Educação Ambiental,
para a gestão dos resíduos sólidos são:
“Artigo 5° (...)
I - fomentar e promover ações de Educação Ambiental sobre resíduos
sólidos, em especial pela capacitação dos professores da rede pública de
ensino;
II - promover a disseminação de informações e orientações sobre a
participação de consumidores, comerciantes, distribuidores, fabricantes e
importadores nos sistemas de responsabilidade pós-consumo;
III - sensibilizar e conscientizar a população sobre suas
responsabilidades na gestão de resíduos, em especial na coleta seletiva e nos
sistemas de responsabilidade pós-consumo, visando a difundir e consolidar
padrões sustentáveis de produção e consumo;
IV - elaborar e publicar material de orientação sobre a gestão dos
resíduos sólidos”.
A PNRS, e o seu Decreto Regulamentador nº7404/10, relacionam-se
com diversas leis e planos e também com a Política Nacional de Educação
Ambiental, e todas destacam a educação ambiental como instrumento
essencial para implantação de mudanças e a transformação necessárias na
geração, gestão e manejo dos resíduos sólidos.

6.5.1 Desafios da educação ambiental

Existem quatro desafios da educação ambiental que, entrelaçados,


estão associados ao papel do educador na contemporaneidade. O primeiro
desafio é o de "enfrentar a multiplicidade de visões", e isto implica a

135
RESIDUOS SÓLIDOS

preparação do educador para fazer as conexões e articular os processos


cognitivos com os contextos da vida. Assim, entender a complexidade
ambiental, não como "moda" ou "reificação" ou "utilização indiscriminada", mas
como construção de sentidos fundamental para identificar interpretações e
generalizações feitas em nome do meio ambiente e da ecologia.
O segundo desafio é o de "superar a visão do especialista", e para
tanto o caminho é a ruptura com as práticas disciplinares, utilizando assim a
criatividade para que sejam estabelecidas novas formas construtivas para uma
educação ambiental efetiva.
O terceiro desafio é "superar a pedagogia das certezas", e isto
converge com as premissas que norteiam a formação do "professor reflexivo",
o que implica compreender a modernidade, os "riscos produzidos" e seu
potencial de reprodução, além de desenvolver no espaço pedagógico uma
sensibilização em torno da complexidade da sociedade contemporânea e suas
múltiplas causalidades.
O quarto desafio é superar a lógica da exclusão, que soma ao desafio
da sustentabilidade a necessidade da superação das desigualdades sociais.
Assim, nota-se que a relação entre meio ambiente e educação assume um
papel cada vez mais desafiador, demandando a emergência de novos saberes
para apreender processos sociais cada vez mais complexos e riscos
ambientais que se intensificam.
Podemos destacar também como desafios para Educação Ambiental e
Comunicação Social (EACS) em resíduos, a gestão compartilhada a
documentos, pois são importantes para o processo de gerenciamento de
resíduos sólidos, tais como:
a) Manifesto de transporte de resíduos (MTR): a coleta e remoção
dos resíduos deve ser controlada através do MTR, esse documento contém
dados do gerador, tipo e quantidade de resíduos, dados do transportador e
dados do local de destinação final. O documento deve estar assinado pelo
gerador, pelo transportador e pelo destinatário dos resíduos. O mesmo deve
ficar armazenado na área contratante do serviço pelo prazo mínimo de cinco
anos, após esse período deve ser encaminhado ao Arquivo Central da
Companhia;

136
RESIDUOS SÓLIDOS

b) Certificado de destinação final (CDF): a empresa responsável pela


destinação final deve enviar, após a prestação do serviço, o Certificado de
Destinação Final. Esse documento precisa ter pelo menos as seguintes
informações: empresa geradora, tipo do resíduo, data de encaminhamento e
descrição sucinta da técnica de destinação utilizada. O documento deve estar
assinado pela empresa que deu destinação ao resíduo e deve ficar
armazenado na área contratante do serviço pelo prazo mínimo de cinco anos,
após esse período a documentação deve ser encaminhada ao Arquivo Central
da Companhia.
O desafio que se delineia é a formulação de uma educação ambiental
que seja crítica e inovadora em dois níveis: formal e não formal. Assim, ela
deve ser acima de tudo, um ato voltado para a transformação social e seu
enfoque deve buscar uma perspectiva de ação holística que relaciona o
homem, a natureza e o universo, os recursos naturais frente a uma exploração
descontrolada e em alguns casos desnecessária, onde muitas vezes o ser
humano é o principal responsável por toda esta degradação.
Neste contexto, a educação para cidadania representa a possibilidade
de motivar e sensibilizar as pessoas para transformar as diversas formas de
participação na defesa da qualidade de vida.

137
RESIDUOS SÓLIDOS

QUESTÕES DE APRENDIZAGEM – CAPITULO 6

QUESTÃO 1
Um dos grandes desafios sanitários e ambientais da atualidade é a
destinação adequada dos resíduos sólidos urbanos, cujo aumento decorre,
dentre outros fatores, do processo de expansão e urbanização dos municípios.
Neste contexto, entrou em vigor, em 02 de agosto de 2010, a Lei nº 12.305,
instituindo a Política Nacional de Resíduos Sólidos, dispondo sobre seus
princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à
gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, às responsabilidades
e os instrumentos econômicos aplicáveis. Em relação ao tema, assinale a
alternativa incorreta:

a) Protetor-recebedor é um dos princípios da Política Nacional de Resíduos


Sólidos;
b) São instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, entre outros: os
planos de resíduos sólidos; a educação ambiental; e os conselhos de meio
ambiente e, no que couber, os de saúde;
c) Na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos deve ser observada a
seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem,
tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada
dos rejeitos;
d) Para os efeitos da lei, os resíduos sólidos urbanos englobam os resíduos
domiciliares, os de limpeza urbana e os industriais;
e) O poder público, o setor empresarial e a coletividade são responsáveis pela
efetividade das ações voltadas para assegurar a observância da Política
Nacional de Resíduos Sólidos.

QUESTÃO 2

A Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei n. º 12.305/2010,


ao prever a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto.

138
RESIDUOS SÓLIDOS

a) criou como instrumento de sua implementação o Cadastro Nacional de


Operadores de Resíduos Perigosos, no qual devem ser, obrigatoriamente,
incluídas as pessoas jurídicas que operam com resíduos perigosos, em qual
quer fase do seu gerenciamento.
b) identificou como um de seus objetivos compatibilizar interesses entre os
agentes econômicos e sociais e os processos de gestão empresarial e
mercadológica com os de gestão ambiental, desenvolvendo estratégias sus
tentáveis.
c) pretendeu que o mercado desenvolva produtos com menores impactos à
saúde humana e à qualidade ambiental em seu ciclo de vida, inclusive
utilizando produtos, cuja matéria prima seja nacional.
d) teve como um dos objetivos proibir a importação de resíduos sólidos
perigosos e rejeitos, bem como de resíduos sólidos cujas características
causem dano ao meio ambiente, à saúde pública e animal e à sanidade
vegetal, ainda que para tratamento, reforma, reuso, reutilização ou
recuperação.
e) impôs ao poder público estadual a instituição de incentivos econômicos aos
consumidores que participem do sistema de coleta seletiva, na forma da lei.

QUESTÃO 3

Quanto à responsabilidade decorrente dos resíduos sólidos pós-


consumo, é correto afirmar que:

a) o compromisso dos fabricantes e importadores, comerciantes e


distribuidores é de, quando firmados acordos ou termos de compromisso com o
Município, participar das ações previstas no plano municipal de gestão
integrada de resíduos sólidos no caso de produtos incluídos no sistema de
logística reversa.
b) as embalagens devem ser fabricadas com materiais que propiciem a
reutilização ou a reciclagem, sendo responsável todo aquele que manufatura
embalagens ou fornece materiais para a fabricação de embalagens, coloca em
circulação embalagens, materiais para a fabricação de embalagens ou
produtos embalados, em qualquer fase da cadeia de comércio.

139
RESIDUOS SÓLIDOS

c) para fortalecer a responsabilidade compartilhada e seus objetivos, a


responsabilidade dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes
abrange o compromisso de recolhimento somente dos resíduos e das
embalagens remanescentes após o uso, bem como a sua destinação
ambientalmente adequada, no caso dos produtos sujeitos à logística reversa.
d) a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, a ser
implementada de forma individualizada e encadeada, abrange distribuidores e
comerciantes, consumidores e titulares de serviços públicos de limpeza urbana,
bem como fabricantes e importadores, cabendo a todos o desenvolvimento de
produtos que gerem, gradativamente, nos termos da lei, menos resíduos.

QUESTÃO 4

Com relação à Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída pela Lei


12.305, considere as afirmativas:

I. Estão sujeitos à elaboração de plano de gerenciamento de resíduos sólidos


os estabelecimentos comerciais e de prestações de serviços que gerem
resíduos que, mesmo caracterizados como não perigosos, por sua natureza,
composição ou volume, não sejam equiparados aos resíduos domiciliares pelo
poder público municipal.

II. O plano de gerenciamento de resíduos sólidos é parte integrante do


processo de licenciamento ambiental do empreendimento ou atividade pelo
órgão competente do Sisnama, sendo que nos empreendimentos e atividades
não sujeitos a licenciamento ambiental, a aprovação do plano cabe à
autoridade municipal competente.

III. Os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de produtos


eletrônicos e seus componentes são obrigados a estruturar e implementar
sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo
consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana e de
manejo dos resíduos sólidos.

IV. É proibida a importação de resíduos sólidos perigosos e rejeitos, bem como


de resíduos sólidos cujas características causem dano ao meio ambiente, salvo

140
RESIDUOS SÓLIDOS

quando utilizados para tratamento, reforma, reuso, reutilização ou


recuperação.

Assinale a alternativa CORRETA.

a) Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras.

b) Somente as afirmativas I, III e IV são verdadeiras.

c) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras.

d) Somente as afirmativas I e IV são verdadeiras.

QUESTÃO 5

Considere as afirmações abaixo acerca da política nacional de resíduos


sólidos, tal como instituída pela Lei no 12.305/2010.

I. No gerenciamento de resíduos sólidos, a não geração e a redução de


resíduos são objetivos preferíveis à reciclagem e ao seu tratamento adequado.
II. Os fabricantes de produtos em geral têm o dever de implementar sistemas
de logística reversa.
III. Os consumidores têm responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida de
quaisquer produtos adquiridos. Está correto o que se afirma em

a) I, II e III.

b) I e III, apenas.

c) II e III, apenas.

d) I e II, apenas.

e) I, apenas.

141
RESIDUOS SÓLIDOS

GABARITO
1)D
2)A
3)B
4)A
5)B

142

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