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Módulo

Valorização de Resíduos
Orgânicos
Ficha Técnica

AUTORES
Bruno Aucar Felipe
Christiane Dias Pereira

REVISORES
Antonio Storel
Helinah Cardoso Moreira
Luciane Pansolin
Maria Ottilia Bertazi Viana
Paulo Celso dos Reis Gomes
Rebeca Borges
Tupac Borges Petrillo
Lista de siglas
Abisolo: Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição
Vegetal
ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas
CIBiogás: Centro Internacional de Energias Renováveis
CH4: Metano
CO2: Dióxido de carbono ou gás carbônico
Conab: Companhia Nacional de Abastecimento
DBO: Demanda bioquímica de oxigênio
DQO: Demanda química de oxigênio
ETE: Estação de tratamento de esgoto
GEE: Gases de efeito estufa
GIZ: Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit
GNC: Gás natural comprimido
GNL: Gás natural liquefeito
GNV: Gás natural veicular
H2: Hidrogênio
H2O: Água
H2S: Sulfeto de hidrogênio ou gás sulfídrico
i-NoPa: Programa Novas Parcerias Integradas
Lapa/UFSC: Leiras Aeróbio-termofílicas Projetadas para a Aeração
Natural/Universidade Federal de Santa Catarina
N2: Nitrogênio
NOx: Nitratos
O2: Oxigênio
PGIRS: Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos
Plansab: Plano Nacional de Saneamento Básico
PNRS: Política Nacional de Resíduos Sólidos
ProteGEEr: Projeto de Cooperação Técnica entre Brasil e Alemanha para
Promover uma Gestão Sustentável e Integrada de Resíduos Sólidos
Urbanos 
RSI: Resíduo sólido industrial
RSU: Resíduo sólido urbano
Sisnama: Sistema Nacional do Meio Ambiente
SNIS: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento
SNVS: Sistema Nacional de Vigilância Sanitária
Suasa: Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária
TMB: Tratamento mecânico-biológico
Unido: Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial
Lista de figuras
Figura 1 – Valorização de orgânicos e seus subprodutos.............................12
Figura 2 – Refinamento do composto: etapa de peneiramento.....................14
Figura 3 – Procedimentos de aproveitamento do biogás..............................16
Figura 4 – Intervenções de purificação e refino do biogás............................17
Figura 5 – Biomassa gerada pela biossecagem, umidade 25%.....................18
Figura 6 – Biossecagem em leiras envelopadas ...........................................19
Figura 7 – Corte esquemático da camada de oxidação de metano..............20
Figura 8 – Comparativo de teor orgânico em chorume de aterro comum e
aterro de rejeitos bioestabilizados...................................................................20
Figura 9 – Compactação de rejeitos bioestabilizados em aterro .................21
Figura 10 – Leira estática projetada para aeração natural por convecção
térmica: Método Lapa/UFSC............................................................................26
Figura 11 – Leira estática com aeração passiva por difusão: Método da
Chaminé.............................................................................................................26
Figura 12 – Leira com aeração por revolvedor móvel....................................26
Figura 13 – Leira com aeração por revolvedor fixo e forçada por meio de
aeradores no piso.............................................................................................26
Figura 15 – Túnel ou garagem com aeração forçada sendo esvaziado........26
Figura 14 – Leira envelopada estática com aeração forçada........................26
Figura 16 – Tecnologias anaeróbias ..............................................................28
Figura 19 – Sistema seco descontínuo Eggersmann/Bekon.........................31
Figura 17 – Sistema seco contínuo.................................................................31
Figura 18 – Sistema seco contínuo Kompogas..............................................31
Figura 20 – Leira com aeração natural: Método Lapa/UFSC.........................35
Figura 21 – Planta TMB com fermentação e aerobização em túneis...........36
Lista de quadros
Quadro 1 – Subprodutos a partir de tecnologias aeróbias e anaeróbias....... 22
Quadro 2 – Tecnologias aeróbias extensivas e intensivas............................. 25
Quadro 3 – Tecnologias aeróbias e suas características operacionais......... 27
Quadro 4 – Comparativo das tecnologias anaeróbias.................................... 30
Quadro 5 – Indicador de viabilidade econômica............................................. 34
Quadro 6 – Aspectos operacionais: Método Lapa/UFSC................................ 35
Quadro 7 – Aspectos operacionais: planta TMB em Gütersloh...................... 37
Sumário
Apresentação..................................................................................8
Aula 1. Valorização dos resíduos orgânicos.....................................9
1.1. Introdução........................................................................9
1.2. Subprodutos...................................................................11
1.2.1. Composto orgânico...............................................12
1.2.2. Biogás ..................................................................14
1.2.3. Biomassa..............................................................18
1.2.4. Biofiltro.................................................................19
1.2.5. Rejeitos bioestabilizados.......................................20
1.3. Comparativo de potencialidades de mercado dos
subprodutos no Brasil............................................................21
1.4. Repercussões da coleta .................................................23
Aula 2. Tecnologias de valorização de orgânicos ...........................23
2.1. Descrição tecnológica ....................................................24
2.1.1. Tratamento mecânico............................................24
2.1.2. Tecnologias aeróbias.............................................24
2.1.2.1. Comparativo entre as tecnologias aeróbias....27
2.1.3. Tecnologias anaeróbias.........................................28
2.1.3.1. Comparativo entre as tecnologias anaeróbias.29
2.2. Condições de contorno para tomada
de decisão ............................................................................31
2.3. Aplicabilidade das tecnologias........................................33
2.4. Estudo de caso...............................................................34
2.4.1. Leiras aeróbico-termofílicas projetadas para a
aeração natural por convecção térmica – Método Lapa/
UFSC ..............................................................................35
2.4.2. Planta TMB: tratamento aeróbio e anaeróbio em
túneis .............................................................................36
Encerramento................................................................................38
Referências...................................................................................39
Bibliografia complementar.............................................................41
Glossário ......................................................................................42
Apresentação
Desejamos boas-vindas ao Módulo “Valorização de Resíduos Orgânicos” do
Curso EaD Tratamento e Valorização de Resíduos Sólidos Urbanos.
Neste módulo, você conhecerá a importância da valorização dos resíduos
orgânicos, bem como seus limites e riscos tecnológicos, que permitirão avaliar
as oportunidades, transformando o conhecimento adquirido em suficiente base
para a tomada de decisão. Assim, você conseguirá se planejar e investir melhor
na gestão dos resíduos, de forma eficiente e eficaz.
Ao final deste módulo, você será capaz de:
• Avaliar a aplicabilidade de uma coleta segregada de orgânicos;
• Conhecer as alternativas tecnológicas disponíveis para o tratamento
da fração orgânica presente nos resíduos sólidos urbanos;
• Entender os requisitos e as potencialidades da produção e da
aplicação do composto, do biogás e de outros subprodutos;
• Conhecer os principais critérios de avaliação para a implementação
de um projeto de valorização de resíduos orgânicos.
• Conhecer as limitações das competências do município e a
importância do plano de gerenciamento de resíduos sólidos.

Para que você acompanhe melhor a leitura, inserimos um asterisco (*)


nas palavras que estão no glossário, ao final da apostila.

Valorização de Resíduos Orgânicos 8


Aula 1. Valorização dos resíduos orgânicos
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) alterou as
prioridades na gestão de resíduos sólidos urbanos (RSUs),
inserindo o tratamento* como a principal etapa depois de o
resíduo ter sido gerado, de forma a reduzir os volumes aterrados
e, consequentemente, os custos e os impactos associados.
Este módulo versa sobre condições gerais e impactos da
valorização dos resíduos orgânicos*, bem como ajuda a analisar
os aspectos relevantes das metodologias de coleta e dos
potenciais subprodutos* gerados.

1.1. Introdução
Entre os diversos tipos de materiais que compõem os RSUs, a fração predominante, no Brasil, é a
dos resíduos orgânicos. Mas, afinal, o que seriam os resíduos orgânicos?
Segundo a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) nº 481/2017, resíduos
orgânicos são aqueles representados pela fração orgânica dos resíduos sólidos, passível de
compostagem*, sejam eles de origem urbana, sejam de origem industrial, agrossilvipastoril ou
outra (BRASIL, 2017).
Esses resíduos são classificados pela ABNT NBR 10004 como classe II A – não inertes que podem
ter propriedades, tais como: biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água,
recebendo especial atenção pela sua capacidade de transformação e de aproveitamento dos
nutrientes (ABNT, 2004).
No “Caderno Temático 4 – Valorização de Resíduos Orgânicos”, do Plano Nacional de Saneamento
Básico (Plansab), há duas colocações fundamentais para o entendimento da complexidade de
gestão destes resíduos, em que a primeira remete à simplicidade de decomposição biológica e
suas potencialidades de uso, e a segunda evidencia os fatores complicadores da decomposição
quando da forma inadequada (RODRIGUES et al., 2019).
O Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) apresenta que apenas 0,2% dos
resíduos gerados são encaminhados para compostagem e 1,67% para unidades de triagem*.
Apesar de esse levantamento não alcançar a totalidade dos municípios brasileiros, os valores

Valorização de Resíduos Orgânicos 9


captados demonstram não apenas o potencial represado de valorização, mas, também, evidenciam
o provável impacto ambiental* da disposição final destes resíduos, quando consideramos que
75,6% dos resíduos coletados são dispostos em aterros sanitários e 24,4% em lixões/aterros
controlados (BRASIL, 2019).
Vale observar que a destinação de resíduos orgânicos em aterros sanitários poderá implicar uma
série de riscos ambientais, quais sejam:
• Contaminação de águas superficiais e subterrâneas, solo e subsolo;
• Recalques* e escorregamentos dos aterros;
• Combustão espontânea e emissão de gases de efeito estufa (GEE)*.
Esses riscos transpassam o período de operação do aterro, e poderão ser identificados por um
longo tempo.
As necessárias medidas de encerramento e de pós-encerramento de um local de disposição final
exigirão a adoção de recursos financeiros substanciais, pontos que já foram abordados no Módulo
“Encerramento de Lixões e Próximos Passos” (presente no curso EaD “Fundamentos e Premissas-
Chave para a Gestão Sustentável de Resíduos Sólidos Urbanos”, também disponível no portal
Capacidades).
A valorização de resíduos e a reciclagem* poupam recursos, reduzem a poluição, restringem
a ocupação de solos para disposição final, criam postos de trabalho, contribuem para um
desenvolvimento sustentável e para um ambiente melhor.

Você sabia?
Oito a dez por cento das emissões de gases de efeito estufa (GEE) nos
países em desenvolvimento e emergentes são oriundas de processos
relacionados à gestão de resíduos. Uma das principais causas são as
emissões de metano geradas pela disposição de resíduos sólidos urbanos
não tratados, as quais contêm altos teores de compostos orgânicos
degradáveis (FRICKE; PEREIRA, 2015).

Valorização de Resíduos Orgânicos 10


Mãos à obra!
Pesquise e descubra os dados relacionados à caracterização dos resíduos
gerados no seu município e compare com os dados de outros municípios.
Estes dados podem ser encontrados no Plano de Gestão Integrada de
Resíduos Sólidos (PGIRS) Municipal ou Regional, onde houver. Observe
qual a proporção de resíduos orgânicos e qual a relação entre o nível
socioeconômico e as possíveis sazonalidades de cada local (SÃO PAULO,
2014).

1.2. Subprodutos
A gestão dos resíduos sólidos orgânicos pode se dar por meio de um extenso rol de tecnologias que
variam de técnicas simples, as quais demandam baixos investimentos e complexidade operacional,
até sistemas complexos, em que não apenas o investimento e os respectivos custos de operação
determinam sua aplicabilidade, mas, também, a capacidade técnica de gerir de maneira eficiente
essas soluções.
Da mesma forma, a escolha por uma tecnologia, dentre outros fatores, deve levar em consideração a
destinação dos subprodutos a serem gerados e a capacidade de absorção do mercado consumidor,
pois, quando não existe a demanda, estes resíduos, apesar de estabilizados, serão encaminhados
para aterramento.
Outro aspecto relevante durante o planejamento tecnológico é caracterizar os resíduos. Busca-se,
então, conhecer as características quantitativas e qualitativas por meio de ensaios físico-químicos
para radiografar não apenas sua tipologia, mas, também, sua representatividade granulométrica.
Deste modo, conhecendo a matéria-prima, será possível estimar tanto a geração de subprodutos
quanto identificar sua aplicabilidade no mercado.
Esses levantamentos, tanto a caracterização dos resíduos quanto o estudo de mercado para
subprodutos, visam balizar os esforços tecnológicos para que estes garantam o aproveitamento
máximo das frações orgânicas, em detrimento do simples aterramento.
Dependendo das condições locais, a valorização de orgânicos poderá ser direcionada para a
produção de diversos subprodutos, como demonstrados na figura 1.

Valorização de Resíduos Orgânicos 11


Figura 1 – Valorização de orgânicos e seus subprodutos

Elaboração dos autores e autoras.

1.2.1. Composto orgânico


A produção de composto derivado da valorização dos
orgânicos de origem urbana deve ser definida segun-
do a metodologia de coleta, seja ela coleta diferenciada
(coleta seletiva* de resíduos orgânicos), seja indiferen-
ciada (coleta convencional de resíduos misturados).
Dependendo do tipo de coleta, serão importantes inter-
venções mecânicas que variam da menor para a maior
complexidade operacional. Isto significa que, quanto
mais segregado for o resíduo orgânico na sua geração,
menores serão as intervenções mecânicas necessárias
para garantir a sua qualidade, e maior será a aceitação
do mercado consumidor.
Os compostos derivados dos resíduos orgânicos
coletados seletivamente detêm menor incidência no que
concerne à presença dos metais pesados. As normas pertinentes no Brasil, na França e na Espanha
não impedem a aplicação de compostos orgânicos originados de uma coleta indiferenciada ou
convencional, a partir de resíduos misturados, entretanto restringem a aplicação em alguns tipos
de culturas.

Valorização de Resíduos Orgânicos 12


No Brasil, as normativas federais que regulam a atividade de compostagem são as Instruções
Normativas (INs) da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (SDA/Mapa) nº 25/2009 e nº 27/2006 (alterada pela IN SDA nº 7/2016) (BRASIL,
2006; 2009). E, ainda a Resolução Conama nº 481/2017 (BRASIL, 2017).
Há potencialidade de aplicação anual de composto orgânico na ordem de “379,50 milhões de
toneladas” no Brasil, onde seu aproveitamento depende diretamente dos meios de cultura e sua
empregabilidade por hectare, admitindo-se uma necessidade mínima de 5 toneladas de adubação
com matéria orgânica para cada hectare agricultável (BELTRAME, 2018, p. 8).

Saiba mais!
Todavia, em 2018, no Anuário Brasileiro de Tecnologia em Nutrição Vegetal
2019, (ABISOLO, 2019), estimou-se que foram vendidos 6,2 milhões de
toneladas entre condicionador de solo e orgânico de solo, representando
apenas 1,63% da potencialidade do mercado apontada por Beltrame
(2018), sendo que, do total comercializado, apenas 1% teve sua origem em
resíduos orgânicos urbanos, ou seja, somente 62 mil toneladas. O restante
dos substratos foi captado em origem natural (34%), resíduos industriais
(33%) e resíduos agropecuários (32%).

A Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (ABISOLO, 2019)


identificou que, entre as principais dificuldades no consumo desse composto, estão a ausência
de testes de eficiência, a falta de conhecimento da relação custo × benefício, e, ainda, o preço de
venda praticado.
Esses dados demonstram a necessidade de se prover mais acesso às informações por meio de
campanhas de sensibilização, e, principalmente, a importância do Poder Público na formação de
políticas que motivem a aplicação de produtos de tecnologia em nutrição vegetal.
A comercialização de composto de origem mista encontra barreiras no mercado; entretanto, com
uma operação bem planejada, é possível gerar um produto de qualidade para aplicação. Não há
impedimento legal para sua aplicação no Brasil, apenas restrição relacionada ao parecer técnico.
O composto, sendo beneficiado com minerais, alcança valores elevados de venda no mercado
brasileiro.
Foi relatado, no 5º Anuário Brasileiro de Tecnologia em Nutrição Vegetal 2019, uma estimativa média
do preço das matérias-primas orgânicas, realizada pela Companhia Nacional de Abastecimento
(Conab), em que o preço de comercialização da matéria orgânica alcançou o valor de R$ 250,00/t
(ABISOLO, 2019).

Valorização de Resíduos Orgânicos 13


Vale observar que, quando se implementa um projeto de compostagem, a fração orgânica terá
sua massa reduzida pela decomposição aeróbia, mas, também, será afetada pela presença de
impurezas, tais como: vidros, plásticos e madeiras, principalmente se a coleta for indiferenciada.
Esses aspectos influenciam diretamente o balanço de massa do projeto, em que apenas uma fração
dos compostos poderá ser efetivamente encaminhada para agricultura (figura 2), e o sobressalente
orgânico, estabilizado biologicamente, poderá ter outra destinação – respectivamente, biofiltro ou
rejeitos bioestabilizados para aterramento.

Figura 2 – Refinamento do composto: etapa de peneiramento

Foto: Christiane Dias Pereira.


Legenda: Peneira móvel – Pohlshe Heide, 2015.

1.2.2. Biogás
O biogás é um produto da decomposição anaeróbia da fração orgânica que pode ser gerado a
partir da biodigestão ou do aterramento. Neste módulo, retrataremos somente o biogás gerado por
processos tecnológicos empregados anteriormente ao aterramento.
Via de regra,
o biogás é composto majoritariamente por metano (CH4) e dióxido de carbono ou gás carbônico
(CO2), com outros gases presentes a baixas concentrações, como sulfeto de hidrogênio ou gás
sulfídrico (H2S), hidrogênio (H2), e nitrogênio (N2) (CIBIOGÁS; UNIDO, 2020, p. 11).

Valorização de Resíduos Orgânicos 14


O potencial de geração do biogás depende tanto da tecnologia empregada quanto do substrato.
No que concerne ao substrato, estudos realizados em Jundiaí, no âmbito do projeto i-NoPa,
apontaram que a geração de biogás a partir da biodigestão dos resíduos de cozinha presentes
na composição dos RSUs pode ter uma variação entre 107 e 189 m³/t de matéria orgânica fresca,
oscilando entre 240 e 387 m³/t de matéria orgânica seca (FRICKE et al., 2015).
No que diz respeito à tecnologia empregada, quando da análise sobre a potencialidade de geração
de biogás por tecnologia, há de se considerar, também, o consumo de energia, por exemplo,
durante a etapa de prensagem. Neste contexto, por vezes, uma tecnologia gera maior quantidade
de biogás, mas também consome grande quantidade de energia. Os processos tecnológicos serão
detalhados no próximo capítulo.

Você sabia?
O biogás é apontado como:
[...] mistura de diversos gases que podem ser convertidos em energia
térmica ou elétrica. O principal portador de energia é o metano (CH4),
um gás inflamável que compõe de 50 – 75% do biogás, a depender
do tipo de matéria-prima e condições operacionais. Devido ao teor de
metano inferior, o poder calorífico do biogás é cerca de dois terços do
de gás natural (5,5 a 7,5 kWh/m3) (GIZ, 2017, p. 30).

Para que o biogás seja aproveitado (figura 3)


na geração de energia elétrica, térmica, mecânica e, também, na produção de biometano*, é
necessário passar por alguns processos de tratamento, denominados purificação e refino,
retirando umidade, ácido sulfídrico e siloxanos; separando o metano e gás carbônico, por
exemplo, para aumentar o poder calorífico, rendimento térmico e evitar corrosão no sistema
(CIBIOGÁS; UNIDO, 2020, p. 15).

Valorização de Resíduos Orgânicos 15


Figura 3 – Procedimentos de aproveitamento do biogás

Fonte: Adaptada de Pereira e Fricke (2020b).

No processo de refino, em que o biogás é purificado de forma


intensa, o índice de metano pode atingir até 99%, e há remoção de
substâncias como carbono, nitratos, hidrogênio, água e sulfetos.
Esse processo é pouco utilizado devido aos altos custos e por
demandar instalação de rede de transporte adequada; contudo,
representa uma tendência no cenário internacional por otimizar a
armazenagem e alcançar maior eficiência energética*. Esta forma
de aproveitamento do biogás já representa 10% do mercado na
Alemanha.
Já para o aproveitamento sem refino, há uma intervenção mais
simples de purificação aplicando-se técnicas para retirada de
umidade e enxofre. Neste contexto, o processo de purificação
visa à eliminação de substâncias que, além de danificarem
equipamentos como motogeradores, poderão causar impacto
ambiental quando da emissão de substâncias tóxicas. O
escalonamento da purificação e o refino e sua aplicação estão
descritos na figura 4.

Valorização de Resíduos Orgânicos 16


Figura 4 – Intervenções de purificação e refino do biogás

Fonte: Adaptada de Pereira e Fricke (2020b).


Obs.: GNV – gás natural veicular; GNC – gás natural comprimido; GNL – gás natural liquefeito.

Analisando todo o contexto do biogás apresentado, entende-se que o potencial de reaproveitamento


dos resíduos para geração de biogás é promissor por alguns motivos sendo eles:
• As tecnologias já estão consolidadas internacionalmente, demandando intervenções de
adaptação às características do nosso mercado;
• Mesmo com as diferenças tecnológicas necessárias para a geração de biogás a partir
de substrato da agropecuária e dos orgânicos presentes no RSU, muitos componentes e
equipamentos poderão ser aproveitados em ambos mercados.

Boas práticas!
Em relação às dificuldades, deve-se atentar às condições do mercado e
aos valores de comercialização, seja da energia que pode ser gerada pelo
biogás, seja pela comercialização do gás, como, também, a formação de
marcos regulatórios para estabelecer a segurança jurídica dos projetos.

Valorização de Resíduos Orgânicos 17


1.2.3. Biomassa
Os tipos de biomassa mais empregados são: lenha, serragem, bagaço da cana-de-açúcar, cascas
de arroz, lamas de depuração secas ou farinha animal, galhos e folhas de árvores, papéis, papelão,
lodo de estação de tratamento de esgoto (ETE) e frações orgânicas presentes nos RSUs, entre
outros.
Figura 5 – Biomassa gerada pela biossecagem, umidade 25%

Foto: Christiane Dias Pereira.


Legenda: Planta TMB – Żnin, Polônia, 2015. Tecnologia Sutco e Biodegma.

Neste capítulo, iremos estudar a biomassa entendida como a fração orgânica que passou por um
processo de biossecagem para redução do seu teor de umidade* e, consequentemente, incremento
do poder calorífico (figura 5). Sua aplicação como fonte alternativa de energia poderá ocorrer em
processos de coprocessamento*, por exemplo, em plantas cimenteiras ou mesmo em fornos,
caldeiras e plantas de força específicas para seu aproveitamento térmico.
No que concerne ao potencial energético, o poder calorífico é frequentemente inferior ao dos
combustíveis convencionais, contudo, superior ao orgânico fresco. O esforço tecnológico e
operacional de biossecagem gera volumes elevados (figura 6). Desta forma, o fornecimento em
longo prazo de biomassa deverá ser assegurado para recuperar os custos de investimento em
equipamento de pré-processamento e os custos adicionais de operação.

Valorização de Resíduos Orgânicos 18


Figura 6 – Biossecagem em leiras envelopadas

Foto: Christiane Dias Pereira.


Legenda: Planta TMB – Żnin, Polônia, 2015. Tecnologia Sutco e Biodegma.

Portanto, quando foram esgotadas as possibilidades de emprego das frações orgânicas como
composto, as frações sobressalentes poderão ser transformadas em biomassa para aproveitamento
energético, em detrimento de seu encaminhamento para aterros sanitários, mitigando, assim, os
impactos ambientais de uma possível disposição final. Desde que haja planta de recuperação
energética interessada neste subproduto em um raio de 150 km, visto que se torna inviável
economicamente percorrer maiores distâncias.
Contudo, durante o planejamento, deverão ser avaliados criteriosamente o poder calorífico e a
presença de cloro, principalmente quando a destinação a ser empregada for em coprocessamento
em planta cimenteira (este tema será abordado com maior profundidade no Módulo “Recuperação
Energética com Foco em Combustível Derivado de Resíduo (CDR)” deste curso).

1.2.4. Biofiltro
Após a fase de encerramento dos aterros, temos uma redução
constante da geração de metano. Desta forma, tanto o método
clássico de queima em flare quanto a recuperação energética
tornam-se menos eficazes, principalmente para os aterros
pequenos. Isto acontece porque é impraticável a manutenção
dos sistemas de transformação para pequenas quantidades de
biogás e de baixa qualidade no que se refere ao teor de metano,
resultando em altos custos de operação.
Isto posto, a partir do momento em que as técnicas de captação e
valorização de gases perdem gradativamente sua efetividade após
o encerramento da operação do aterro, passam a ser valorizadas
as técnicas de remediação, como a oxidação biológica do metano decorrente da introdução de
uma camada de biofiltro ou denominada camada de oxidação de metano, que pode atingir até 90%
de taxa de degradação desse gás.

Valorização de Resíduos Orgânicos 19


O biofiltro pode, ainda, ser empregado como camada de cobertura intermediária para os aterros
sanitários em fase de operação. Tal intervenção justifica-se quando avaliamos que 50% das
emissões de metano nos aterros ocorrem durante a fase operacional. Assim, quando combinamos
a aplicação da camada de filtragem durante o período ativo da operação, temos uma redução
significativa das emissões de GEE (figura 7).

Figura 7 – Corte esquemático da camada de oxidação de metano


CO2 CO2
O2 H2O O2 H2O O2

Camada de oxidação de
metano - Biofiltro
> 120 cm

Camada de distribuição de
gases
Corpo do aterro, camada de
cobertura preferencialmente sem
compactação

Fonte: Fricke e Pereira (2019).

1.2.5. Rejeitos bioestabilizados


Observando algumas incertezas que pairam sobre a qualidade do composto produzido a partir
dos resíduos mistos, e não havendo possibilidade de encaminhamento dessas frações na forma
de biomassa ou biofiltro, teremos que avaliar a possibilidade de destinação da fração orgânica
bioestabilizada em aterro.
O processo de biodegradação provoca uma estabilização biológica do material, de modo que,
durante sua disposição final, há uma mínima emissão de biogás e o teor orgânico nas emissões
líquidas é reduzido intensamente.

Figura 8 – Comparativo de teor orgânico em chorume de aterro comum e aterro de rejeitos bioestabilizados

Foto: Christiane Dias Pereira.


Legenda: Aterro em Kaiserslautern, Alemanha, 2007.

Valorização de Resíduos Orgânicos 20


De forma direta, temos, portanto, a redução drástica da carga orgânica que influencia as emissões
de gases e de líquidos (figura 8). Indiretamente, serão alcançadas, por meio da estabilização bioló-
gica, as seguintes vantagens: redução de massa e volume; redução de recalques e uniformização
dos resíduos (figura 9); redução das emissões de odor e redução de vetores.
O potencial de baixa emissão de biogás nos aterros formados por rejeitos bioestabilizados não
apenas gera uma economia e menor complexidade técnica durante a instalação das drenagens,
como também reduzem os custos de manutenção posterior das áreas após o encerramento de
suas atividades.

Figura 9 – Compactação de rejeitos bioestabilizados em aterro

Fonte: Pereira e Fricke (2020a).

1.3. Comparativo de potencialidades de mercado dos subprodutos


no Brasil
O quadro 1 apresenta os pontos fortes e fracos de cada um dos potenciais subprodutos do
tratamento biológico relativos à: demanda, qualidade, aceitação de mercado, regulamentação,
capacidade técnica necessária para operação, geração de energia e emissões.

Valorização de Resíduos Orgânicos 21


Quadro 1 – Subprodutos a partir de tecnologias aeróbias e anaeróbias

Subproduto Pontos fortes Pontos fracos


Subproduto valorizado;
Demanda elevada;
Qualidade baixa devido a coleta
Aceitação de mercado para composto
mista, e em decorrência da
Composto oriundo de resíduos orgânicos
baixa aceitação de mercado
coletados seletivamente;
quando da origem mista.
Capacidade técnica mediana;
Setor bem regulamentado.
Regulamentação em
Geração de energia alternativa;
desenvolvimento;
Possibilidade de consumo próprio;
Biogás Emissões líquidas elevadas
Subproduto valorizado;
quando dos sistemas contínuos;
Aceitação de mercado brasileiro.
Capacidade técnica elevada.
Teor de umidade superior e
presença significativa de cloro;
Capacidade técnica elevada;
Geração indireta de energia alternativa;
Biomassa Subproduto ainda não valorizado;
Mercado brasileiro em desenvolvimento.
Armazenagem complexa;
Regulamentação em
desenvolvimento.
Empregabilidade e funcionalidade em Subproduto desconhecido;
fase de pesquisa nas academias; Sem expectativa de gerar
Biofiltro Demanda existente para aterros antigos receita acessória;
ou durante a fase de operação; Sem regulamentação que
Capacidade técnica mediana. promova a utilização.
Subproduto desconhecido;
Demanda existente para aterros novos, Sem expectativa de gerar
Rejeitos principalmente para aumento de vida útil receita acessória;
bioestabilizados e mitigação de impactos ambientais; Sem regulamentação que
Capacidade técnica mediana. proíba o aterramento de
resíduos in natura.
Elaboração dos autores e autoras.

Valorização de Resíduos Orgânicos 22


1.4. Repercussões da coleta
O modelo de coleta possui papel importante na definição da rota tecnológica (tema abordado nos
Módulos “Planejamento e Implementação da Coleta Seletiva” e “Rotas Tecnológicas para a Gestão
Integrada de Resíduos Sólidos Urbanos” deste curso) para a valorização dos resíduos orgânicos,
até porque a metodologia de coleta não apenas balizará sua qualidade quando do afastamento de
contaminantes e impurezas, mas também determinará as intervenções mecânicas necessárias
para a segregação e o tratamento dos resíduos orgânicos. Neste contexto, cabe à pessoa tomadora
de decisão definir, primeiramente, a forma com que os resíduos orgânicos serão coletados para,
depois, projetar o tratamento mais eficiente.
A coleta diferenciada de orgânicos não só favorece a valorização dos orgânicos de forma geral,
como também beneficia a operação de processos complexos, tais como a biodigestão para
produção do biogás. Contudo, há de se reforçar a necessidade de ações de educação ambiental e
sensibilização da comunidade para se prover o menor índice de rejeitos* nesta coleta.

Aula 2. Tecnologias de valorização de orgânicos


Neste capítulo, as tecnologias de valorização da fração orgânica serão abordadas de forma
aprofundada, de modo a desenvolver a capacidade de avaliar as repercussões de cada tipo de
tecnologia, e, assim, ser tomada uma decisão mais efetiva para definir a rota tecnológica mais
apropriada ao seu município.

Saiba mais!
Várias publicações sobre a valorização de orgânicos estão disponíveis no
site www.protegeer.gov.br, e discussões sobre rotas tecnológicas poderão
ser encontradas no Módulo Rotas Tecnológicas para uma Gestão Integrada
de Resíduos Sólidos Urbanos deste curso.

Valorização de Resíduos Orgânicos 23


2.1. Descrição tecnológica
A valorização da fração orgânica é um processo biológico aeróbio e/
ou anaeróbio* que, quando combinado com intervenções mecânicas, é
denominado tratamento mecânico-biológico (TMB)*. O TMB representa
uma tecnologia flexível e adaptável para o tratamento de RSU, com a qual
se atingem objetivos tais como recuperação de resíduos, redução de massa
e de impacto ambiental. Pode ser considerado eficiente do ponto de vista
econômico e permite a implementação em diferentes escalas de operação.
Independentemente da modalidade de coleta, seja diferenciada, coleta
seletiva de orgânicos, seja indiferenciada, coleta convencional, sempre haverá
necessidade de intervenção mecânica. Contudo, quanto maior for a eficácia
da segregação na fonte, menor intervenção mecânica será demandada para
o preparo das frações com vista ao encaminhamento para o tratamento
biológico, e, ainda, melhor qualidade terá o produto a ser comercializado, o
mesmo valendo para os resíduos recicláveis* secos.

2.1.1. Tratamento mecânico


Tratamentos mecânicos são processos físicos utilizados na triagem dos resíduos tendo como
objetivo a segregação, o rompimento das sacolas e a homogeneização das frações.
Durante o tratamento mecânico podem ser aplicados diferentes equipamentos combinados com
o objetivo de melhorar as condições físicas dos resíduos para usos posteriores. São exemplos de
equipamentos aplicados nessa etapa: trituradores primários e secundários; peneiras; rasga-sacos;
separadores magnéticos e por corrente; separadores balísticos e por corrente de ar; separadores
ópticos; prensas; embaladeiras; entre outros.

2.1.2. Tecnologias aeróbias


O principal objetivo dos processos aeróbios é a utilização do oxigênio de forma
otimizada para degradar ou estabilizar a matéria orgânica. Assim, evita-se
a emissão de gás metano para se produzir um dos seguintes subprodutos:
composto orgânico; biomassa; biofiltro e rejeitos bioestabilizados.
O método aeróbio de tratamento da matéria orgânica baseia-se (como o
nome sugere) no fornecimento de oxigênio (O2) contido no ar para que os
micro-organismos façam a digestão dos nutrientes. Nesse processo, os
micro-organismos liberam como resultado da reação o gás carbônico (CO2),
a água (H2O) e o calor.
O tratamento aeróbio pode ser feito por meio desde métodos, técnicas

Valorização de Resíduos Orgânicos 24


e tecnologias simples até as mais sofisticadas; contudo, independentemente da tecnologia
escolhida, esta precisa ser bem operada, para não gerar odores e vetores, e, para tal, as condições
de aerobiose deverão estar garantidas ao longo de todo o processo.
Os sistemas aeróbios podem ser divididos em: biossecagem, compostagem e estabilização
biológica, em que estes se distinguem com base em ajustes operacionais, tais como teor de
umedecimento, intensidade de aeração, período de retenção, entre outros fatores.
Por se tratar de uma técnica advinda da atividade agropastoril, o tratamento aeróbio pode ser
realizado tanto de forma extensiva quanto intensiva. Estas se distinguem, basicamente, em função
do nível de automação, processamento e infraestrutura, conforme o quadro 2.

Quadro 2 – Tecnologias aeróbias extensivas e intensivas

Custo de
Complexidade Período de Demanda
Infraestrutura investimento
operacional retenção de área
e operação

Pátios abertos ou
Sistemas
Baixa a média cobertos, porém Baixo a médio 3-4 meses Alta
extensivos
impermeabilizados

Sistemas Baixa a
Alta Galpões fechados Médio a alto 1-2 meses
intensivos média
Elaboração dos autores e autoras.

No que diz respeito ao controle ambiental nos sistemas intensivos, a operação é totalmente
controlada por sistemas informatizados, garantindo mais qualidade ao processo de decomposição
biológica, principalmente no que diz respeito ao teor de umidade, ao controle de temperatura*, à
provisão de oxigênio e à prevenção de impactos ambientais, sobretudo controle de odores.
Outra característica importante que distingue as tecnologias aeróbias é o processo de aeração,
que pode ocorrer por meio de aeração passiva ou ativa. Os processos passivos possibilitam o
fornecimento de oxigênio por meio de difusão sobre a superfície da leira, e os processos ativos,
também denominados aeração forçada, utilizam equipamentos de ventilação combinados ou não
com revolvedores.
Os processos ativos são, geralmente, empregados em decomposições biológicas intensivas, nas
quais há consumo elevado de oxigênio e altas temperaturas. Estes são diferenciados segundo:
sucção, pressão ou combinação de ambos.
Dentre as vantagens do tratamento aeróbio, a maior é sua flexibilidade operacional. Os ajustes
necessários são, basicamente, maior capacidade de aeração, menor presença de umidade, menor
ou maior tempo de retenção. Portanto, em face da necessidade de adaptar a tecnologia aeróbia,
não há estruturalmente maiores modificações, mas sim maior ou menor aporte de condicionantes
operacionais.

Valorização de Resíduos Orgânicos 25


Os tipos de processamento aeróbios de resíduos atualmente existentes no mercado internacional
são: túneis, leiras envelopadas, leiras revolvíveis com revolvedores fixos ou móveis, e leiras
estáticas. Estes processamentos serão apresentados nas figuras 10 a 15.

Figura 10 – Leira estática projetada para aeração Figura 11 – Leira estática com aeração
natural por convecção térmica: Método Lapa/UFSC passiva por difusão: Método da Chaminé

Foto: Antonio Oswaldo Storel Junior. Foto: Christiane Dias Pereira.


Legenda: Pátio da Lapa, São Paulo, 2016. Legenda: Faber Serviço Ltda., São Sebastião, 2000.

Figura 12 – Leira com aeração por revolvedor móvel Figura 13 – Leira com aeração por revolvedor
fixo e forçada por meio de aeradores no piso

Fonte: Eggersmann, 2021


Fonte: Christiane Dias Pereira.
Legenda: Tecnologia Sorain Cecchni Tecno –
planta TMB em Algimia, Espanha, 2014.

Figura 15 – Túnel ou garagem com Figura 14 – Leira envelopada estática


aeração forçada sendo esvaziado com aeração forçada

Foto: Christiane Dias Pereira. Foto: Christiane Dias Pereira.


Legenda: Tecnologia Eggersmann; planta de TMB Legenda: Tecnologia UTV; planta de tratamento
aeróbio e anaeróbio – Gütersloh, Alemanha, 2015. biológico aerado – Baden-Baden, Alemanha, 2015.

Valorização de Resíduos Orgânicos 26


2.1.2.1. Comparativo entre as tecnologias aeróbias
Comparar as mais diversas tecnologias de tratamento aeróbio requer critério para não reforçar
o entendimento de que umas são mais vantajosas do que outras. A tecnologia mais vantajosa é
aquela que melhor se adapta às condições locais (quadro 3).

Quadro 3 – Tecnologias aeróbias e suas características operacionais

Demanda Custo de Custo de Escala Complexidade


de área investimento operação operacional* de operação

Leira com
aeração natural Alta Muito baixo Muito baixo Micro Muito simples
– Método UFSC

Leira com aeração


De baixa
passiva – Método Alta Baixo Baixo Simples
a média
da Chaminé

Leira com De baixa


Alta Médio Baixo Simples
revolvimento móvel a média

Leira com
Média Médio Alto De média a alta Simples
revolvimento fixo

Leira envelopada Média Alto Médio De baixa a alta Média

Túneis Baixa Alto Alto De média a alta Alta

Elaboração dos autores e autoras


Nota: * Micro: até 50 t/d; baixo: 50-100 t/d; médio: 100-250 t/d; alto: acima de 250 t/d.

Para fins de esclarecimento, os sistemas por convecção indicados como por aeração natural ou
aeração passiva, é um fenômeno de transferência de calor baseado na difusão.

Boas práticas!
Intervenções de valorização de orgânicos, descentralizadas ou não, já
estão presentes no mercado brasileiro. Visite as plantas de compostagem
da cidade de São Paulo (SÃO PAULO, 2019) nesse link.

Valorização de Resíduos Orgânicos 27


2.1.3. Tecnologias anaeróbias
O processo de fermentação ganhou, nos últimos anos, cada vez mais destaque no mercado de
gestão de resíduos, impulsionado pela recuperação energética que gera energia proveniente de fonte
regenerativa. Assim, o principal objetivo da digestão anaeróbia é a produção e o reaproveitamento
do biogás. Diferentemente do tratamento aeróbio, no processo anaeróbio não há oxigênio, o que
acaba alterando os subprodutos formados na reação. Se nas tecnologias aeróbias o principal gás
formado é o gás carbônico (CO2), nas tecnologias anaeróbias predomina a produção do metano
(CH4). O gás formado a partir da mistura entre essas duas substâncias e de outras, como vapor
d’água, nitratos (NOx) e ácido sulfúrico, é o biogás.
As técnicas de fermentação encontram-se consolidadas e disponíveis no mercado diferindo quanto
ao teor de umidade dos materiais que alimentarão o fermentador, a temperatura de processo, bem
como quanto ao fluxo de resíduos. As técnicas variam, de forma geral, entre fermentação seca,
úmida e, de forma específica, entre fermentação seca contínua e descontínua (figura 16).

Figura 16 – Tecnologias anaeróbias

Fonte: Adaptada de Fricke e Pereira (2020).

Os processos de fermentação são designados como secos ou úmidos,


segundo o índice de umidade presente em seu interior. Os processos de
fermentação seca operam com índices de 50% a 65% de umidade em processos
descontínuos, e entre 60% e 75% em processos contínuos. Já os processos
úmidos operam com índices superiores a 85%.
Os processos distinguem-se, ainda, segundo a periodicidade de sua
alimentação. No sistema contínuo, tanto o úmido quanto o seco, o fermentador
é abastecido de forma constante com frações orgânicas frescas e resíduos
fermentados. Tem-se uma geração de biogás contínua preservando sua
qualidade no que se refere ao teor de metano, devido a presença elevada de

Valorização de Resíduos Orgânicos 28


umidade, os sistemas contínuos demandam atividade de prensagem ao término do período de
retenção.
No sistema descontínuo, o processo de digestão acontece em espaços fechados, na forma de
garagens ou contêineres, e é umedecido por líquidos processuais. O substrato é introduzido nos
túneis de fermentação por uma pá carregadeira e lá permanecerá até o término da fermentação. O
fermentador continuará em operação durante algumas semanas e, então, será aberto, descarre-
gado e recarregado. Os resíduos fermentados não precisam sofrer ação mecânica de prensagem;
portanto, há geração mínima de emissão líquida e menor consumo de energia.

Você sabia?
Na Alemanha, há mais de 9.000 plantas de biodigestão, sendo que 100
processam resíduos orgânicos domiciliares. Destas, 80 são sistemas
secos.

Avaliando os dados captados no relatório do Bundesministerium für Umwelt, Naturschutz und


Reaktorsicherheit (BMU) (ALEMANHA, 2013), a partir do ano 2000, foram instalados quase que
exclusivamente os processos de fermentação secos.
O processo de tratamento anaeróbio é tecnicamente mais complexo que o aeróbio, pois as famílias
microbianas são limitadas, e seu desenvolvimento é mais lento, sobretudo pela sensibilidade dos
micro-organismos, que demandam intervenções operacionais rápidas e ajustes intensos.
As tecnologias anaeróbias contam com equipamentos e tecnologias que garantam o
reaproveitamento do biogás e do digestato.
O aproveitamento das emissões líquidas, quando existentes, na forma de fertilizante líquido
aplicado diretamente na agricultura depende de permissão emitida pela agência ambiental. Caso
contrário, deverão ser destinados para tratamento em ETEs, implicando aumento nos custos de
operação da planta.

2.1.3.1. Comparativo entre as tecnologias anaeróbias


A comparação entre os três principais métodos é descrita no quadro 4, segundo os critérios de
operação das tecnologias.

Valorização de Resíduos Orgânicos 29


Quadro 4 – Comparativo das tecnologias anaeróbias

Seco Seco
Critério Úmido contínuo
contínuo descontínuo

Teor de umidade em % 85 60-75 50-65

Nível de degradação Vantajoso Vantajoso Neutro

Muito
Volume do fermentador Neutro Neutro
desvantajoso

Muito
Demanda de energia Vantajoso Neutro
desvantajoso

Complexidade dos equipamentos

Muito
Pré-tratamento Neutro Vantajoso
desvantajoso

Fermentação Neutro Neutro Neutro

Retirada de água Desvantajoso Neutro Muito vantajoso

Sedimentação e incrustação Neutro Neutro Muito vantajoso

Risco de interrupção da operação Neutro Neutro Muito vantajoso

Disponibilidade da planta Neutro Neutro Vantajoso

Desgaste/manutenção Desvantajoso Neutro Vantajoso

Destinação das emissões líquidas Desvantajoso Neutro Muito vantajoso

Desgaste/manutenção Desvantajoso Neutro Vantajoso

Facilidade de operação Desvantajoso Neutro Vantajoso

Custo de investimento Neutro Neutro Muito vantajoso


Fonte: Adaptado de Fricke e Pereira (2020).

Valorização de Resíduos Orgânicos 30


As figuras 17, 18 e 19 mostram exemplos das tecnologias anaeróbias aplicáveis a resíduos sólidos
orgânicos.

Figura 17 – Sistema seco contínuo Figura 18 – Sistema seco contínuo Kompogas

Fonte: Pereira e Fricke (2020b). Fonte: Pereira e Fricke (2020b).

Figura 19 – Sistema seco descontínuo Eggersmann/Bekon

Fonte: Pereira e Fricke (2020b).

2.2. Condições de contorno para tomada


de decisão
Este tópico tem por objetivo elencar algumas questões necessárias de serem levantadas durante
a escolha tecnológica. Estas questões permitirão adequar o projeto tecnológico às demandas de
mercado, atestando, sobretudo, a eficácia do balanço de massa, a partir do entendimento de que
aquele subproduto não comercializado se tornará rejeito em aterro, atentando contra a viabilidade
econômica e ambiental do projeto.

Valorização de Resíduos Orgânicos 31


Alguns condicionantes são apontados:
A área em que será instalado o projeto de reciclagem biológica ou de tratamento aeróbio
tem população em seu entorno? Se sim, qual a distância? Isto significa que, de forma geral,
a aplicação das tecnologias aeróbias deverá levar em consideração um raio > 300 m para
as tecnologias encapsuladas e > 500  m para as tecnologias abertas. Qual a dimensão
da área escolhida? A dimensão comporta tecnologias aeróbias, considerando X m2 para
Y toneladas/dia de resíduos a tratar?
A valorização dos orgânicos tem por finalidade gerar quais subprodutos e em qual
quantidade?
Há mercado para escoamento dos subprodutos na região, tais como composto em raio
inferior a 100 km ou biomassa em raio inferior a 150 km?
As empresas consumidoras dos subprodutos têm interesse em firmar contratos de
fornecimento de longo prazo, de cinco anos quando do composto e de sete a dez anos
quando da biomassa? Quais os preços estimados de venda?
Foram realizados ensaios de caracterização de resíduos para verificar a incidência
gravimétrica, bem como granulométrica em sua composição? Esse levantamento é
importante para definir a linha de corte da planta de tratamento mecânico – 60, 80 ou
100 mm, por exemplo;
Havendo interesse em produzir biomassa, foram realizados ensaios laboratoriais
antecipadamente para verificação da umidade inicial, do poder calorífico inferior*, da
quantidade de cloro, de enxofre, e da presença de metais pesados?
Quando da produção de composto a partir dos resíduos orgânicos coletados na modalidade
indiferenciada, convencional, é possível atingir os padrões de qualidades exigidos para a
comercialização do produto? Mesmo que o produto seja registrado no Mapa, há rejeição
junto aos agricultores e às agricultoras? Quais são as formas de culturas agrícolas
presentes na região?
Há lixões na região? Quais são as dimensões? Caso positivo, fez-se consulta às
municipalidades sobre a possibilidade de implementar a camada de oxidação de metano?
Há aterros sanitários privados na região que tenham interesse neste processo?
Sendo a vida útil do aterro sanitário* curta, há interesse em aterrar rejeitos bioestabilizados
para aumentar a vida útil do aterro existente?
No caso das tecnologias anaeróbias, há pessoas qualificadas para sua operação? Qual é
o período de comissionamento? Quais são as medidas emergenciais? Qual é o programa
de manutenção preventiva e corretiva? Quais são os equipamentos/peças que devem
estar em duplicidade no estoque? Dependendo da tecnologia a ser empregada, quais são
a origem e a quantidade de inóculo para se iniciar o processo anaeróbio?
Quando da implementação de biodigestores, foi avaliado antecipadamente o potencial
de formação de biogás, umidade, sólidos voláteis e a concentração de metano? Estas
análises deverão ocorrer em laboratório qualificado;

Valorização de Resíduos Orgânicos 32


Ainda, quando da implementação de biodigestores, foi decidida a metodologia de
purificação que será aplicada segundo a utilização do biogás? Qual?
O projeto de biodigestão, ao seu término, prevê aerobização do digestato?
Quando de emissões líquidas (chorume), quais são as medidas de gestão? Foi verificada
a existência de ETE na região? Qual a distância, a permissibilidade de recebimento e os
respectivos custos de destinação?

Mãos à obra!
Que tal verificar alguns editais lançados nos últimos anos que
contemplaram o tratamento de resíduos orgânicos? Temos certeza da
sua capacidade de analisar criticamente o conteúdo tecnológico desses
documentos. Verifique se as condicionantes apresentadas aqui foram
observadas nesses editais. Houve definição prévia da tecnologia a ser
adotada? Houve definição dos subprodutos a serem gerados? E no seu
município, qual tipo de edital seria mais apropriado?

2.3. Aplicabilidade das tecnologias


Para análise do potencial de aplicabilidade de uma tecnologia, diversos fatores fazem-se presentes,
tais como disponibilidade e adequabilidade de área, aspectos relacionados ao mercado consumidor
dos subprodutos (distância, capacidade de absorção, requisitos de qualidade, sazonalidade de
consumo, duração do contrato, preço de venda e possíveis rejeições, por exemplo: consumo de
composto de origem mista), e, ainda, valor da contraprestação, distância e custo de aterramento,
entre outros fatores que deverão ser levantados e analisados na fase de planejamento do projeto.
A linha de corte apontada no quadro 5 decorre de experiências internacionais dos autores, não
podendo ser aplicado 1:1 para o mercado brasileiro, tendo por objetivo apenas balizar, em caráter
preliminar, a pessoa tomadora de decisão quando da análise de uma tecnologia. Os aspectos
inerentes à tecnologia estudada deverão ser apontados e avaliados suscintamente, antes de
qualquer tomada de decisão.

Valorização de Resíduos Orgânicos 33


Você sabia?
Intervenções descentralizadas de valorização dos orgânicos, como a
compostagem caseira, não apenas reduzem o impacto ambiental, caso
estes resíduos fossem encaminhados para aterramento, como também
funcionam como ferramentas de sensibilização da comunidade.

Quadro 5 – Indicador de viabilidade econômica

Indicador de viabilidade econômica


Tecnologias com base em parâmetros
nacionais e internacionais

Leira com aeração natural – Método


Até 50 t/d
UFSC (base nacional)

Leira com aeração passiva – Método


Até 250 t/d
da Chaminé (base nacional)

Leira com revolvimento móvel (base internacional) Até 500 t/d

Leira com revolvimento fixo (base internacional) A partir de 100 t/d

Leira envelopada (base internacional) A partir de 50 t/d

Túneis aeróbios (base internacional) A partir de 100 t/d

Biodigestores A partir de 100 t/d


Elaboração dos autores e autoras.

2.4. Estudo de caso


Apesar da baixa presença tecnológica, no mercado brasileiro, de tratamento
biológico aeróbio e anaeróbio, existem algumas iniciativas que já se diferenciam
por oferecerem soluções adequadas para a valorização de orgânicos levando
em consideração nossas diferenças climáticas e a composição dos resíduos.
A seguir, apresentaremos um exemplo implementado no Brasil de valorização
da fração orgânica, por meio da compostagem, e um exemplo internacional de
biodigestão e compostagem.

Valorização de Resíduos Orgânicos 34


2.4.1. Leiras aeróbico-termofílicas projetadas para a aeração natural por
convecção térmica – Método Lapa/UFSC
A figura 20 apresenta o aspecto das leiras com aeração natural implantadas pela UFSC no Projeto
Lapa, no estado de Santa Catarina. O quadro 6 traz, de forma sucinta, os aspectos operacionais
dessa iniciativa.

Figura 20 – Leira com aeração natural: Método Lapa/UFSC

Foto: Antonio Oswaldo Storel Junior.


Legenda: Pátio da Lapa, São Paulo, 2016.

Quadro 6 – Aspectos operacionais: Método Lapa/UFSC

Pátio da Lapa – Av. José Maria de


Localização Faria, 487 – Lapa de Baixo, São Paulo-
SP, CEP 05038-190, Brasil

Área 3.000 m²

Capacidade operacional 10 t/d

Geração de subprodutos Composto orgânico ensacado e a granel, 2,5 a 3 t/dia.

Período de retenção 120 dias

Equipe operacional 4 pessoas

Custo de investimento em
R$ 126.000,00
obras civis (base: 2016)

Valorização de Resíduos Orgânicos 35


Custo de operação mensal (base: 2016) R$ 15.600,00

Preço de venda do composto (Base: 2020) R$ 200,00/t (valor a granel)

file:///C:/Users/terra/Downloads/4.2.2.4_Sep_
Referência
Collection_Design_and_Implementation_Plan.pdf
Elaboração dos autores e autoras.

2.4.2. Planta TMB: tratamento aeróbio e anaeróbio em túneis


A figura 21 apresenta o aspecto de uma planta TMB com tratamento aeróbio e anaeróbio, com
fermentação e aerobização em túneis, em operação na cidade de Gütersloh, na Alemanha. O quadro
7 traz, de forma sucinta, os aspectos operacionais dessa iniciativa.

Figura 21 – Planta TMB com fermentação e aerobização em túneis

Fonte: Kompotec em Gütersloh.

Valorização de Resíduos Orgânicos 36


Quadro 7 – Aspectos operacionais: planta TMB em Gütersloh

Localização Am Stellbrink 25 – Gütersloh, Alemanha

Área 48.000 m², sendo 18.000 m² de galpões

Material de entrada 75% resíduos orgânicos domiciliares e 25% resíduos verdes

Capacidade operacional 65.000 t/a, máximo 350 t/d

26.600 t/a composto orgânico ensacado e a granel,


Geração de subprodutos
e biogás 85 Nm³/t (motogerador de 800 kW)

12,50 euros/m³ – granel


Preço de venda do composto
4,90 euros/40 litros – ensacado

Período de retenção 21 dias no fermentador e 18 dias no túnel de aeração

Equipe operacional Dez pessoas

Tratamento mecânico (peneira rotatória 80 mm, separador


magnético, triturador, descompactador e peneira móvel
Tecnologias
10 mm) e biológico anaeróbio (30.000 t/a) em nove túneis
e aeróbio em oito túneis (perda de massa de 51%)

Referência www.f-e.de www.kompotec.de

Elaboração dos autores e autoras.

Valorização de Resíduos Orgânicos 37


Encerramento
No que diz respeito à escolha tecnológica para tratamento biológico, deve-
mos, primeiramente, assumir uma posição neutra e analisar diretamente as
condições locais, respectivamente a composição dos resíduos gerados e a
aceitação do mercado para o emprego dos subprodutos. As tecnologias co-
mentadas são todas adequadas ambientalmente, sendo que aspectos técni-
cos, sociais e econômicos determinarão a escolha a ser realizada tendo em
vista as condições locais.
Nesse sentido, apesar das inúmeras vantagens da compostagem centraliza-
da ou descentralizada, não há que se falar em compostagem sem um plane-
jamento sobre o emprego do composto contendo, inclusive, a mensuração da
quantidade de absorção do subproduto; isto vale para todos os subprodutos
comentados. Da mesma forma, não há que se falar em geração de biomassa
sem que a planta que consumirá energeticamente essas frações esteja lo-
calizada em uma distância superável e sem que ocorra um elevado custo de
operação em decorrência do transporte destes subprodutos para as plantas
consumidoras.
Para uma tomada de decisão sobre qual tecnologia seria a mais adequada
para a sua realidade, as tecnologias devem ser avaliadas com uma certa
distância e suas implicações devem ser evidenciadas. A participação de
equipes de técnicos e técnicas de universidades próximas pode ser de grande valia nessa análise.
Adicionalmente, há três aspectos preponderantes a serem observados:
• As tecnologias anaeróbias são enquadradas como tecnologias que demandam alto co-
nhecimento técnico. Assim, recomenda-se, inicialmente, processos aeróbios para trata-
mento das frações orgânicas, para que a equipe acumule conhecimento de estabilização
biológica, e, em seguida, uma readequação tecnológica para implementação dos proces-
sos anaeróbios;
• Outro ponto é o escalonamento. Havendo possibilidade, iniciar os processos sempre em
menor escala, para, depois, ampliar a escala de operação. O mercado brasileiro não detém,
com algumas exceções, conhecimento de valorização orgânica de RSU, principalmente
aquelas de cozinha, feiras, restaurantes e mercados. Deste modo, para reduzir o risco
da operação, orienta-se um escalonamento. Para as tecnologias aeróbias, não há fator
complicador neste sentido; contudo, as tecnologias anaeróbias têm uma capacidade
mínima, que determina sua viabilidade econômica, a qual deverá ser observada;
• O último aspecto está relacionado ao contrato de provisão de subprodutos, em que não
há como o município implementar um projeto no qual o payback, geralmente, é de cinco
a dez anos, dependendo da tecnologia e dos aspectos subsidiários de mercado, e assinar
um contrato de fornecimento de subprodutos por período inferior. Esta negociação deverá
ocorrer na fase de planejamento, pois, caso o parceiro consumidor não assuma um
compromisso que compatibilize o retorno do investimento com o período de fornecimento,
há um risco elevado de descontinuidade do projeto em decorrência dos elevados custos
do subproduto de disposição final destes subprodutos que não estavam estimados.

Valorização de Resíduos Orgânicos 38


Referências
ABISOLO – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE TECNOLOGIA EM NUTRIÇÃO VEGETAL.
Anuário Brasileiro de Tecnologia em Nutrição Vegetal 2019. 5. ed. São Paulo: Abisolo, 2019.
Disponível em: https://abisolo.com.br/anuario/ #download-anuario2019/. Acesso em: 17 abr.
2020.
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10004:2004 – Resíduos sólidos –
Classificação. São Paulo: ABNT, 2004. Disponível em: https://analiticaqmcresiduos.paginas.ufsc.
br/files/2014/07/Nbr-10004-2004-Classificacao-De-Residuos-Solidos.pdf. Acesso em: 17 abr.
2020.
ALEMANHA. Bundesministeriums für Umwelt, Naturschutz und nukleare Sicherheit. „Steigerung
der Energieeffizienz in der Verwertung biogener Reststoffe”. Bonn: BMU, 2013. (Endbericht zu
Förderprojekt 03KB022). Disponível em: https://www.energetische-biomassenutzung. de/
fileadmin/Steckbriefe/dokumente/03KB022_Abschlussbericht_web.pdf. Acesso em: 17 abr.
2020.
BELTRAME, K. G. Potencial e desafios para o desenvolvimento da compostagem dos resíduos
orgânicos urbanos e agroindustriais e para a emergente indústria de fertilizantes organominerais
no Brasil. In: FÓRUM INTERNACIONAL WASTE EXPO BRASIL, 2018, São Paulo. Anais [...]. São
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BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária.
Instrução Normativa SDA/Mapa nº  27, de 5 de junho de 2006. Dispõe sobre a importação ou
comercialização, para produção, de fertilizantes, corretivos, inoculantes e biofertilizantes. Diário
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Valorização de Resíduos Orgânicos 39


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FRICKE, K. et al. Capacitação e pesquisa fundamental, a fim de gerar metodologia de análise para
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Bibliografia complementar
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Valorização de Resíduos Orgânicos 41


Glossário
Aeróbio e anaeróbio: aeróbios são organismos para os quais o oxigênio livre do ar é imprescindível
à vida. Os anaeróbios, ao contrário, não requerem ar ou oxigênio livre para manterem a vida; os
que vivem tanto na ausência quanto na presença de oxigênio livre são os anaeróbios facultativos.

Aterro sanitário: local utilizado para disposição final dos rejeitos, observando normas operacionais
específicas, de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os
impactos ambientais adversos.

Base seca: base de cálculo em que o resíduo está livre de umidade.

Biodigestão: um conjunto de processos biológicos em que micro-organismos degradam a matéria


orgânica biodegradável na ausência de oxigênio para produzirem biogás rico em metano, que
poderá ser usado para produzir energia e calor, ou, ainda, purificado, para ser usado como gás
natural ou combustível veicular.

Biogás: mistura de gases cuja composição depende da forma como foi obtida. De modo geral,
sua composição é variável, sendo expressa em função dos componentes que aparecem em maior
proporção. Assim, o biogás pode conter 50% a 70% de metano (CH4), 50% a 30% de gás carbônico
e traços de gás sulfídrico (H2S). Pode ser obtido partindo-se de diversos tipos de materiais, tais
como resíduos de materiais agrícolas, resíduos orgânicos, vinhaça, casca de arroz, esgoto etc. Nos
digestores, ocorre pelo processo da fermentação anaeróbia (digestão), por meio de uma sequência
de reações que termina com a produção de gases como o metano e o carbônico.

Biomassa: material orgânico não fossilizado e biodegradável, proveniente de plantas, animais


e micro-organismos, incluindo produtos, subprodutos, resíduos e detritos provenientes do uso
da madeira, da agricultura, da silvicultura e das indústrias relacionadas, bem como da fração
biodegradável de resíduos industriais e urbanos com potencial de aproveitamento por recuperação
energética.

Biometano: biocombustível gasoso constituído essencialmente de metano, derivado da purificação


do biogás.

Capex: do inglês capital expenditure, refere-se ao capital a ser investido no projeto ou


empreendimento.

Coleta indiferenciada: a recolha, o carregamento e a movimentação de materiais considerados


resíduos, do local onde são gerados até o local de reciclagem, tratamento ou descarte, sem
qualquer tipo de segregação anterior.

Coleta seletiva: coleta de resíduos sólidos previamente segregados conforme sua constituição ou
composição.

Combustível derivado de resíduos: materiais presentes nos resíduos sólidos urbanos (RSUs)
e nos resíduos sólidos industriais (RSIs) não perigosos, que sofreram segregação das frações

Valorização de Resíduos Orgânicos 42


potencialmente recicláveis e enquadrados como rejeitos destes processos. Não têm outra utilidade
além da energética, pois são materiais caracterizados especialmente pelo alto poder calorífico ou
conteúdo energético.

Compostagem: processo de decomposição biológica controlada dos resíduos orgânicos,


efetuado por uma população diversificada de organismos, em condições aeróbias e termofílicas,
resultando em material estabilizado, com propriedades e características completamente diferentes
daquelas que lhe deram origem, sendo o composto produto estabilizado oriundo do processo de
compostagem, podendo ser caracterizado como fertilizante orgânico, condicionador de solo e
outros produtos de uso agrícola (BRASIL, 2017).

Coprocessamento: termo para o uso de energia alternativa e suas cinzas remanescentes como
composto para a formação de clínquer durante o processamento de queima no forno rotativo.

Demanda bioquímica de oxigênio (DBO): a DBO de uma amostra de água é a quantidade de oxigênio
necessária para oxidar a matéria orgânica por decomposição microbiana aeróbia para uma forma
inorgânica estável.

Demanda química de oxigênio (DQO): é a quantidade de oxigênio necessária para oxidação da


matéria orgânica por meio de um agente químico. Os valores da DQO normalmente são maiores
que os da DBO, sendo o teste realizado em um prazo menor, e, em primeiro lugar, servindo os
resultados de orientação para o teste da DBO. O aumento da concentração de DQO em um corpo
d’água deve-se, principalmente, a despejos de origem industrial.

Destinação final ambientalmente adequada: destinação de resíduos que inclui a reutilização, a


reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético ou outras destinações
admitidas pelos órgãos competentes do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama), do
Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS) e do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade
Agropecuária (Suasa), entre elas a disposição final, observando normas operacionais específicas,
de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos
ambientais adversos.

Disposição final ambientalmente adequada: distribuição ordenada de rejeitos em aterros,


observando normas operacionais específicas, de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e
à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos.

Eficiência energética: procedimento que tem por finalidade reduzir o consumo de energia elétrica
necessário à realização de um determinado trabalho, excetuado o uso de energia proveniente de
matéria-prima não utilizada, em escala industrial, na matriz energética.

Gases de efeito estufa (GEEs): substâncias gasosas que absorvem e emitem calor. Esta é a principal
causa do efeito estufa. Embora este processo seja natural, a concentração necessária e elevada
de níveis de certos gases pode causar involuntário aquecimento do ecociclo. Eles são a principal
causa da mudança do clima. Os GEEs emitidos pelo setor de resíduos sólidos são compostos
predominantemente de metano, dióxido de carbono e óxido nitroso.

Valorização de Resíduos Orgânicos 43


Hierarquia de destinação de resíduos: seis etapas adotadas no art. 9º da Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS) definindo que, na gestão e no gerenciamento de resíduos sólidos, deve
ser observada a seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem,
tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.

Impacto ambiental: qualquer alteração das propriedades físico-químicas e biológicas do meio


ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas
que, direta ou indiretamente, afetam a saúde, a segurança e o bem-estar da população, as
atividades sociais e econômicas, a biota, as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente,
enfim, a qualidade dos recursos ambientais.

Metais pesados: metais recalcitrantes, como o cobre e o mercúrio – naturalmente não biodegradáveis
– que fazem parte da composição de muitos pesticidas e acumulam-se progressivamente na
cadeia trófica.

Opex: do inglês operational expenditure, refere-se ao total do custo operacional com a planta em
operação.

Planta de força: instalações de conversão térmica de resíduos específicos em energia. Não se


confunde com a incineração por empregar frações com alto poder calorífico e homogêneas, bem
como por atingir índices superiores de eficiência energética.

Poder calorífico inferior: quantidade de energia calculada subtraindo o calor de vaporização do


vapor de água da quantidade de energia liberada na combustão completa, expressa por unidade
de MJ/kg.

Recalques: são denominados de  recalques  os deslocamentos verticais em  aterros  sanitários
correspondentes à redução de volume e à perda de massa que ocorrem devido à aplicação de
tensões, à redução dos vazios e à expulsão de descendentes de líquidos percolantes e ascendentes
de gases gerados pela degradação (FARIAS, 2014).

Reciclagem: processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve a alteração de suas
propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à transformação em insumos ou
novos produtos, observados os padrões e as condições estabelecidos pelos órgãos competentes
do Sisnama e, se couber, do SNVS e do Suasa.

Recuperação energética: processo de utilização da energia térmica gerada a partir da oxidação


térmica de resíduos destinados aos processos de combustão, gaseificação e/ou pirólise, que
fundamentalmente utiliza energia térmica para fins industriais ou de geração de eletricidade,
executado sob condições controladas e com o devido controle e monitoramento ambiental.

Rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e


recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem
outra possibilidade senão a disposição final ambientalmente adequada. 

Valorização de Resíduos Orgânicos 44


Resíduos sólidos urbanos: segundo adaptação da classificação ABNT NBR 10004, são resíduos nos
estados sólido e semissólido, resultantes das atividades humanas de origem industrial, doméstica,
hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição (ABNT, 2004).

Resíduos orgânicos: são aqueles representados pela fração orgânica dos resíduos sólidos, passível
de compostagem, sejam eles de origem urbana, sejam de origem industrial, agrossilvipastoril ou
outra.

Resíduos recicláveis: são aqueles representados pela fração de resíduos passíveis de reciclagem,
com exceção dos resíduos orgânicos, que podem ser reciclados por meio de compostagem (BRASIL,
2017).

Subproduto: produto secundário resultante de um processo.

Temperatura: é uma medida da quantidade de energia que uma molécula desenvolve com seu
movimento. É o elemento que define o clima; com exceção da gravidade, é o mais importante dos
fatores ecológicos.

Teor de umidade: quantidade de água presente em um resíduo ou Combustível Derivado de Resíduo


(CDR), obtida a partir de um ensaio específico.

Tratamento: qualquer método, técnica ou processo desenvolvido para: (a) alterar a composição ou
as características físicas, biológicas ou químicas dos resíduos; (b) remover, separar, concentrar ou
recuperar um componente tóxico de resíduos; ou (c) eliminar ou reduzir a toxicidade de resíduos, de
forma a minimizar o impacto destes no meio ambiente, antes da sua utilização ou descarte.

Tratamento mecânico-biológico (TMB): conjunto de processos de tratamento de resíduos que


combina elementos mecânicos e biológicos em diversas configurações.

Triagem: atividade, manual ou mecanizada, realizada para dividir ou manter separados os resíduos
sólidos urbanos em componentes designados.

Valorização de Resíduos Orgânicos 45

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