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FAZU

FACULDADES ASSOCIADAS DE UBERABA

TRATAMENTO DE EMISSÕES, EFLUENTES E RESÍDUOS


SÓLIDOS NA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS

Módulo – II

Curso de Pós-graduação em Controle de Qualidade na Indústria de Alimentos


Prof. Ms. Jorge Wilson Pereira da Silva

Abril de 2009
Tratamento de Emissões, Efluentes e Resíduos Sólidos na Indústria de Alimento.
Professor: Ms. Jorge Wilson Pereira da Silva

SUMÁRIO
1- INTRODUÇÃO.....................................................................................................................................................3
1.1 - LEIS AMBIENTAIS E PARÂMETROS DE QUALIDADE ..........................................................................................3
2- TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS ...............................................................................................5
2.1 - LIMITES E CONDIÇÕES PARA LANÇAMENTO .....................................................................................................5
2.2 - LEVANTAMENTO DE DADOS INDUSTRIAIS ........................................................................................................8
2.3 - TÉCNICA DE CARACTERIZAÇÃO DE DESPEJOS ................................................................................................16
2.3.1 - Considerações Iniciais ..............................................................................................................................16
2.3.1.1 Demanda Química de Oxigênio (DQO) .................................................................................................................18
2.3.1.2 Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO).............................................................................................................21
2.3.1.3 Carbono Orgânico Total (COT) .............................................................................................................................24
2.3.1.4 Outros Parâmetros ..................................................................................................................................................25
2.4 - ALGUMAS NOÇÕES DE AMOSTRAGEM DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS ....................................................................35
2.4.1 - Corpos Receptores Não Estagnados.........................................................................................................36
2.4.2 - Corpos Receptores Estagnados.................................................................................................................42
2.5 - RELAÇÕES IMPORTANTES AO TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS:.........................................................44
2.6 - ETAPAS DO TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS .....................................................................................46
2.6.1 - Tratamento Preliminar e Primário ...........................................................................................................55
2.6.1.1 Equalização/Correção do pH .............................................................................................................................55
2.6.1.2 Separação Sólido/Líquido...................................................................................................................................56
2.6.1.2.1 Separação de Sólidos Grosseiros em Suspensão..................................................................................56
2.6.1.2.2 Separação de Partículas Discretas (Caixas de Areia)............................................................................63
2.6.1.2.3 Caixa de Gordura:........................................................................................................................................65
2.6.1.2.4 Decantadores ...............................................................................................................................................66
2.6.1.2.5 Flotação.........................................................................................................................................................73
2.6.1.2.6 Tratamento dos Gases................................................................................................................................75
2.6.1.2.7 Tratamento Por Disposição no Solo..........................................................................................................76
2.6.1.2.8 Digestão, Secagem e Disposição dos Lodos...........................................................................................84
2.6.2 - Tratamento Secundário.............................................................................................................................85
2.6.2.1 Tratamento Biológico Aeróbio (Bio-oxidação):.....................................................................................................85
2.6.2.2 Tratamento Biológico Anaeróbio ...........................................................................................................................97
2.6.2.3 Lagoas de Estabilização (ou Maturação) ..............................................................................................................103
2.6.3 - Tratamentos Terciários (ou Acabamento) ..............................................................................................104
2.6.3.1 Tratamento Eletrolítico.........................................................................................................................................104
2.6.3.2 Cloração ...............................................................................................................................................................104
2.6.3.3 Radiação Ultravioleta ...........................................................................................................................................105
2.6.3.4 Oxidação Utilizando O3 ........................................................................................................................................106
3- TRATAMENTO DE EMISSÕES GASOSAS ................................................................................................111
3.1 - A ATMOSFERA DA TERRA ............................................................................................................................111
3.2 - METEOROLOGIA E SUA RELAÇÃO COM A POLUIÇÃO DO AR ........................................................................111
3.3 - TIPOS DE POLUENTES DO AR ........................................................................................................................113
3.4 - FONTES DE POLUIÇÃO DO AR .......................................................................................................................118
3.5 - EFEITOS DA POLUIÇÃO DO AR ......................................................................................................................119
3.6 - EQUIPAMENTOS DE CONTROLE DE POLUIÇÃO DO AR ...................................................................................129
3.6.1 - Controle em Fontes Fixas .......................................................................................................................130
4- TRATAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS .................................................................................................144
4.1 - FORMAS DE DISPOSIÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS........................................................................................147
5- BIBLIOGRAFIA (REFERENCIADA E COMPLEMENTAR) ...................................................................152

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1- Introdução

O entendimento do meio ambiente é um tanto quanto complexo, sendo necessárias


noções de matemática, educação, engenharia, biologia, química, sociologia, geologia,
direito, economia, psicologia, agronomia e filosofia.
Perceber o que é um desequilíbrio ecológico é um fator importante e saber que há
diferença entre crescimento e desenvolvimento é fundamental para um profissional de
áreas relacionadas ao tratamento de águas residuárias e meio ambiente. Por fim,
tratamento de resíduos é política, técnica e filosofia, sendo que nunca um profissional
conseguirá bons frutos, apenas com estações de tratamento de efluentes. São
necessárias leis, educação e principalmente respeito pelo meio em que se vive.

1.1 - Leis Ambientais e Parâmetros de Qualidade

Um dos principais pontos para o sucesso ecológico de um país são as leis existentes
que regularizam o uso do meio.

1) Temos leis que disciplinam o uso do solo;


2) Nenhum empreendimento poluidor pode ser aprovado sem a tríplice licença
(Prévia Instalação e Operação);
3) Para determinar qual será o nível de tratamento desejado para uma estação de
tratamento de resíduos deve-se obedecer à resolução 20 do CONAMA.

Todo rio deverá ter uma classificação de acordo com o seu padrão de qualidade
desejado. Padrão de qualidade é a condição que o rio tem após receber um efluente.
O CONAMA nº. 20 estabelece um padrão de emissão que se pode lançar em
qualquer corpo d’água independente do seu padrão de qualidade.
A cobrança pelo uso da água será um instrumento de ajuda à despoluição dos
córregos, simplificando, quem não estiver enquadrado no CONAMA 20 será autuado e
responderá por processos criminais, já quem estiver enquadrado no CONAMA 20 pagará
somente pela poluição remanescente da Estação de Tratamento de Esgoto.

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Caso o estudo de impacto ambiental não mostre o resguardo do padrão de


qualidade, podem-se enquadrar os responsáveis pelo lançamento nas leis penais sobre o
meio ambiente.

Constituição Brasileira

Capítulos sobre o Meio Ambiente


Capítulo VI Art. 255

Política Nacional Ministério do Política Nacional dos


do Meio Ambiente Meio Ambiente Recursos Hídricos

IBAMA CONAMA Conselho de Governo Órgãos Municipais e Estaduais

Outorgas Uso das águas Comitês de Bacias Agências Hidrográficas

Fig. 01 – Fluxograma de Hierarquia de Responsabilidades Sobre a Legislação Ambiental

O CONAMA n º 20 diz que os efluentes devem ser tratados, para que os rios
mantenham um padrão de acordo com o uso do homem, ou seja, um rio que serve
somente para navegação não tem a necessidade de ter uma qualidade para a recreação
de contato direto ou para o abastecimento humano. A polêmica é gerada, pois esta lei
protege o homem e não o meio ambiente.

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2- Tratamento de Efluentes Líquidos

2.1 - Limites e Condições para Lançamento

O lançamento de efluentes é regido por legislação específica, sendo que no estado


de São Paulo, dois dispositivos são importantes neste caso: a lei 997 (de 31.05.76) e o
decreto 8468 (de 03.09.76). Os efluentes devem respeitar limites quanto ao índice de
DBO, materiais sedimentáveis, pH, temperatura, metais pesados e outras substâncias. A
princípio, tais limites são estabelecidos de acordo com o local de lançamento, ou seja,
sistema público com estação de tratamento ou sistema sem estação de tratamento (ou
coleções de água), conforme apresentado na Tabela 1.

Além disto, os efluentes não podem alterar as características de qualidade dos


mesmos. Todos os corpos d’agua estão classificados em 4 classes (portaria GM 0013 de
15.01.76), sendo que os valores dos parâmetros de qualidade são específicos a cada
uma delas, conforme pode ser visto na Tabela 2.

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Tabela 1 - Condições dos efluentes em função dos locais de lançamento (Decreto estadual 8468 de
08.09.76, artigo 18 a 20).
Efluentes lançados nas Efluentes lançados em
coleções de água ou em sistemas públicos de
sistema público de esgotos esgoto provido de estação
desprovidos de estação de de tratamento.
tratamento.
pH entre 5,0 e 9,0
Temperatura máximo 40 °C
Materiais sedimentáveis
(l / hora em “cone ImHof“) máximo 1,0 ml / l máximo 10,0 ml / l
Substâncias solúveis em hexana máximo 100,0 mg / l máximo 100,0 mg / l
Demanda bioquímica de Oxigênio
- DBO (5 dias - 20 °C) máximo 60,0 mg / l* --
Arsênico máximo (mg / l) 0,2 mg / l 0,2 mg / l
Bário máximo (mg / l) 5,0 -
Boro máximo (mg / l) 5,0 -
Cádmio máximo (mg / l) 0,2 0,2
Chumbo máximo (mg / l) 0,5 0,5
Cianeto máximo (mg / l) 0,2 0,2
Cobre máximo (mg / l) 1,0 1,0
Cromo hexavalente máx (mg / l) 0,1 0,5
Cromo Total máximo (mg / l) 5,0 5,0
Estanho máximo (mg / l) 4,0 4,0
Fenol máximo (mg / l) 0,5 0,5
Ferro Solúvel máximo (mg / l) 15,0 30,0
Fluoreto máximo (mg / l) 10,0 10,0
Manganês Solúvel máx. (mg / l) 1,0 -
Mercúrio máximo (mg / l) 0,01 0,01
Níquel máximo (mg / l) 2,0 2,0
Prata máxima (mg / l) 0,02 0,1
Selênio máximo (mg / l) 0,02 0,2
Sulfeto máximo (mg / l) - 50,0
Zinco máximo (mg / l) 5,0 5,0
Regime de lançamento Contínuo de 24 h por dia com variação máxima de
50 % da vazão horária média
Outras condições Não podem alterar as características Ausência de águas pluviais e
das águas (Veja tabela 2) despejos que possam causar
obstrução na rede de esgoto.
* Este limite somente poderá ser ultrapassado no caso de efluente de sistema de tratamento de
águas residuárias que reduza a carga poluidora (em termos de DBO 5 dias, 20°C) do despejo em, no
mínimo, 80%.

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Tabela 2: Parâmetros ou valores da qualidade dos corpos de água que não podem ser alterados pelo
lançamento de efluentes, mesmo tratados (Decreto estadual 8460 de 08.09.76, artigos 10 a 13).
CLASSIFICAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS
Classe 1 Classe 2 Classe 3 Classe 4

. Ao Ao abastecimento Ao abastecimento Ao abastecimento


abastecimento doméstico, após tratamento doméstico, após doméstico, após
doméstico, convencional; a irrigação de tratamento convencional; tratamento avançado; a
sem prévia ou hortaliças ou plantas a preservação de peixes navegação; a harmonia
simples frutíferas; a recreação de em geral e de outros paisagística; ao
desinfecção contatos primários: elementos de fauna e da abastecimento
Não serão natação, esqui aquático e flora; a dessedentação de industrial, irrigação e a
tolerados mergulho. animais. usos menos exigentes.
lançamentos
de efluentes
mesmos
tratados
Materiais flutuantes, Virtualmente ausentes Virtualmente ausentes Virtualmente ausentes
inclusive espumas não-
naturais.
Óleos e graxas Virtualmente ausentes Virtualmente ausentes
Substâncias que Virtualmente ausentes Virtualmente ausentes Não objetáveis
provocam gosto e sabor
Corantes artificiais não Virtualmente ausente Virtualmente ausentes
removíveis por
coagulação
sedimentação e filtração
convencional.
Limites de 1000 Não deverá ser excedido* Até 4 000 coliformes
coliformes fecais por 100 fecais por 100 ml **
ml em 80 % ou mais de 5
amostras mensais
colhidas em qualquer
mês.
DBO (5 dias, 20 °C) até 10 mg / l , até 10 mg / l
OD Em qualquer amostra, não Em qualquer amostra, Superior a 0,5 mg /l em
inferior a 5 mg / l não inferior a 4 mg / l qualquer amostra.
Substâncias potencialmente
prejudiciais
(teores máximos )
Amônia 0,5 mg / l 0,5 mg / l
Arsênico 0,1 mg / l 0,1 mg / l
Bário 1,0 mg / l 1.0 mg / l
Cádmio 0,01 mg / l 0,01 mg / l
Cromo 0,05 mg / l 0,05 mg / l
Cianeto 0,02 mg / l 0,02 mg / l
Cobre 1,0 mg / l 0,02 mg / l
Chumbo 0,1 mg / l 0,1 mg / l
Estanho 0,2 mg / l 0,2 mg / l até 1,0 mg / l
Fenóis 0,001 mg / l 0,001 mg / l
Flúor 1,4 mg / l 1,4 mg / l
Mercúrio 0,002 mg / l 0,002 mg / l
Nitrato 10,0 mg / l de N 10,0 mg / l de N
Nitrito 1,0 mg / l de N 0,01 mg / l de N
Selênio 0,01 mg / l 0,01 mg / l
Zinco 5,0 mg / l 5,0 mg / l
* - No caso de não haver na região, meios disponíveis para o exame de coliformes fecais, o índice limite indicativo da
existência de condições bacteriológicas relativamente boas, para o de contato primário (balneabilidade), será de 5000 c.f.
totais em mais de 80% de, pelo menos, 5 amostras mensais colhidas em qualquer mês.
** - No caso de haver na região, meios disponíveis para o exame de coliformes fecais, o índice limite será de 20.000
coliformes totais por 100 ml em mais de, pelo menos, 5 amostras colhidas em qualquer mês.

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2.2 - Levantamento de Dados Industriais

Para caracterizar a carga poluidora dos efluentes industriais é necessário:

⇒ Conhecer o processo industrial para a definição do programa de


amostragem;
⇒ Listar as matérias-primas empregadas, principalmente aquelas que de
alguma forma possam ser transferidas para os efluentes;
⇒ Fluxograma do processo industrial indicando os pontos nos quais são
gerados efluentes contínuos ou intermitentes;
⇒ Identificar os pontos de lançamento de efluentes;
⇒ Definir o sistema de medição de efluentes e instalá-lo;
⇒ Os turnos das operações de limpeza e manutenção;

Definir os parâmetros para a caracterização do efluente que são representativos da


carga poluidora, tais como:

⇒ Os que servem para a definição do processo de tratamento;


⇒ Os que dimensionamento a estação de tratamento;
⇒ Os que atendem à legislação ambiental.
⇒ Amostragem;
⇒ Determinação da vazão.

Determinação da Vazão:

A vazão dos efluentes líquidos industriais é relacionada com o tempo de


funcionamento de cada linha de produção e com as características do processo, da
matéria-prima e dos equipamentos, podendo ser constante ou bastante variada.

A quantificação da vazão do resíduo líquido industrial pode ser realizada em


equipamentos eletromecânicos ou em medidores hidráulicos (Parshall e vertedores),
sendo importante para verificar se:

a) A vazão é continua ou intermitente no processo produtivo;


b) É grande a diferença entre os valores mínimo, médio e máximo;
c) Existe contribuição indevida, como águas pluviais e esgoto sanitário;

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d) Há pico localizado de contribuição, especialmente de determinada fase do


processamento;
e) Os índices de controle de qualidade são adequados, como os que relacionam o
volume efluente líquido industrial (m3) com o consumo e custo de energia elétrica,
de água e de matéria-prima.

A variação horária das vazões permite a elaboração do Hidrograma de Vazões, que


é utilizado para determinação das vazões mínimas, médias e máximas no período
estudadas. Von Sperling (1995) comenta que a vazão de esgotos advindos dos despejos
industriais é função precípua do tipo e porte da indústria, processo, grau de reciclagem,
existência de pré-tratramento etc.. Desta forma, mesmo no caso de duas indústrias que
fabriquem essencialmente o mesmo produto, as vazões de despejos podem ser bastante
diferentes entre si.

O conhecimento da vazão e da composição do efluente líquido industrial possibilita a


determinação das cargas de poluição / contaminação, o que é fundamental para definir o
tipo de tratamento, avaliar o enquadramento na legislação ambiental e estimar a
capacidade de autodepuração do corpo receptor. As cargas de poluição / contaminação
são normalmente expressas em kg/dia, sendo o resultado da multiplicação da vazão pela
concentração do parâmetro de interesse. Por exemplo, as cargas de sólido total (CST) e
de matéria orgânica (CODBO5) são:

CST = Q (m3/d) . ST (g/m3)


CODBO5 = Q (m3/d).DBO5 (g/m3)

Dispositivos de Medição de Vazão:

Q = Volume/Tempo

Existem dispositivos simples para pequenas vazões, como:

a) Cubagem

Anota-se o tempo que a água leva para encher um recipiente de volume conhecido.
Existem locais de difícil acesso sendo praticamente impossível instalar um dispositivo
para se medir a vazão, ou nos casos que os custos forem elevados para se instalar um

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vertedor só para se coletar uma amostra, pode-se adotar o seguinte procedimento: fecha-
se a entrada do reservatório, mede-se a altura (h) e o tempo (T) que leva para se ter um
desnível (Δh).

Fig. 02a – Método da Cubagem para Determinação da Vazão de um Efluente

b) Vertedores

Para cada faixa de vazão deve-se adotar um tipo de vertedor, com o seu formato e
equação específica.

Fig. 02b – Vertedor Retangular e Triangular de Thompson, com régua de medição instalada.

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Calha Parshall (tem padrões pré-estabelecidos), devendo ser adquirida. É indicada


para vazões >50 m3/h.

Fig. 03 – Calha Parshall

c) Fluxômetros: para calhas de rios, utilizam-se fluxômetros para se obter a vazão.

Fig. 04 – Fluxômetro Digital

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d) Traçadores Radioativos e Fluorimétricos - são utilizados nos casos de


impossibilidade de instalação de medidores de vazão. Os traçadores são utilizados
também para se conhecer as zonas de dispersão de efluentes lançados em rios ou em
emissários submarinos.

e) Vazão para estações de tratamento de águas residuárias domésticas (ETEs)


e.(1) Medição através da micromedição da água - ETE

Caso exista um controle e confiabilidade no sistema de micromedição e


conhecimento do coeficiente de retorno, pode-se calcular a vazão de esgoto. A
micromedição é a somatória dos volumes que passam pelos hidrômetros das edificações.
O coeficiente de retorno representa a fração da água que retorna ao sistema
coletor de esgoto, sendo a outra parte infiltrada nos jardins ou destinada as galerias de
água pluvial. Esta metodologia deve considerar a vazão devida infiltração na rede coletora
de esgoto.

Tabela 3. Valores usuais do coeficiente de retorno (CR).

Condição Grandes Cidades Cidades médias Cidades Pequenas


CR 0,85 0,80 0,70

e.2) Vazão através da estimativa populacional

Este método é usado principalmente quando o projeto da ETE prevê um crescimento


populacional durante o tempo de operação. Para isso deve-se estudar vários parâmetros
como tendência do crescimento populacional, código de obras, plano diretor,
planejamento municipal e etc. O valor encontrado nos dá a estimativa de uma população
futura que nos dará o consuma de água e de esgoto gerado.

Estimativa Populacional

⇒ Método aritmético (projeção de no máximo 5 anos)

P = P2 + Ka (T – T2), sendo
Ka = (P2 – P1)/(T2 – T1)

⇒ Método geométrico (projeção de no máximo 5 anos)


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ln P = ln P2 + Kg ( T – T2 ), sendo
Kg = (ln P2 – ln P1)/(T2 – T1)

onde:

P = população estimada na projeção T = ano da projeção


P1 = população no penúltimo senso T1 = ano do penúltimo senso
P2 = população no último senso T2 = ano do último senso

⇒ Método da curva logística (estimativa em até 20 anos)

P = K
1 + e a - b.t

2 P o P 1 P 2 - (P 1 ) 2 (P o + P 2 )
K =
P o P 2 - (P 1 ) 2
1 log (K - P o )
a=
0,4343 Po

-1 log P o (K - P 1 )
b=
0,4343d P 1 (K - P o )
onde:

Po = população relativa ao tempo T0;


P1 = população relativa ao tempo T1;
P2 = população relativa ao tempo T2;
P = população estimada para o ano de projeção;
T1 – To = T2 – T1;
Po, P1, P2 devem ser tais que Po < P1 < P2;
Po, P1, P2 devem ser tais que Po x P2 < P1;
d = intervalo constante entre os anos T0, T1 e T2.

A curva logística possui três trechos distintos: crescimento acelerado, crescimento


retardado e estabilização. Considera-se neste método um limite de saturação (K).

Cálculo da vazão média de esgoto tendo-se estimada a população:

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P . q . CR m3 d-1
Q=
1000
P . q . CR L s-1
Q=
86400

onde

P = população estimada;
CR = coeficiente de retorno de esgoto;
q = consumo per capita de água;
Q = vazão do esgoto.

Tabela 4. Consumo per capita de água(q).


Porte da comunidade Faixa da população (hab.) Consumo per capita -q (L hab-1 dia-1)
Povoado rural < 5.000 90 – 140
Vila 5.000 – 10.000 100 – 160
Pequena localidade 10.000 – 50.000 110 – 180
Cidade média 50.000 – 250.000 120 – 220
Cidade Grande > 250.000 150 – 300
Fonte: Sperling, M. V.(1996)

Tabela 5. Valores típicos do consumo de água (q).


Estabelecimento Unidade Vazão (L/unidade.dia)
Aeroporto Passageiro 15
Banheiro Público Usuário 25
Bar Freguês 15
Escritório Empregado 50
Hotel Hóspede 150
Hotel Empregado 50
Indústria (esgoto sanitário ) Empregado 70
Lanchonete Freguês 15
Lavanderia – Comercial Máquina 3000
Loja Banheiro 1500
Loja Empregado 40
Restaurante Refeição 40
Clínica de Repouso Residente 400
Clínica de Repouso Empregado 50
Escola rica Estudante 100
Escola média Estudantes 60
Fonte: NBR 7229, Metcalf & Eddy (1991).

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Tabela 6. Consumo de água industrial:


Ramo Tipo Unidade Consumo de água
(m3/unidade produzida)
Alimentar Frutas, legumes em conservas 1 ton. de açúcar 40
Doces 1 ton. de produto 20
Açúcar de Cana 1 ton. de açúcar 8
Matadouros 1 boi / 2,5 porcos 0.4
Laticínios 1000 L de leite 8
Cervejaria 1000 L de cerveja 15
Padaria 1 ton. De pão 4
Refrigerantes 1000 L de refr. 3
Têxtil Algodão 1 ton. Produto 500
Lã 1 ton. Produto 600
Rayon 1 ton. Produto 50
Nylon – polyester 1 ton. Produto 130
Lavanderia de lã 1 ton. Produto 50
Tinturaria 1 ton. Produto 50
Couro Curtume 1 ton. Pele 30
Sapato 1000 pares 5
Polpa e Fabricação de Polpa 1 ton. Produto 150
Papel Branqueamento de Polpa 1 ton. Produto 150
Fabricação de Papel 1 ton. Produto 200
Polpa e papel integrados 1 ton. Produto 220
Químicas Tinta 1 empregado 110 l/d
Vidro 1 ton. Vidro 15
Sabão 1 ton. de sabão 150
Ácido, Base e Sal 1 ton. de cloro 50
Borracha 1 ton. Produto 125
Borracha sintética 1 ton. Produto 500
Refinaria de petróleo 1 barril (117 L ) 0,3
Detergente 1 ton. Produto 13
Amônia 1 ton. Produto 115
Dióxido de Carbono 1 ton. Produto 80
Gasolina 1 ton. Produto 25
Farmacêuticos (vitaminas) 1 ton. Produto 25
Mineração Carvão 1 ton. Carvão 10
3
Ferro 1 m minério 16
Fonte.: CETESB (1976), Metcalf & Eddy ( 1991) .

Deve-se considerar aos valores acima a vazão devida à infiltração na rede coletora
de esgoto. A norma NBR 9649 da ABNT, diz: “TI, Taxa de contribuição de infiltração,
depende de condições locais tais como: Nível de água do lençol freático, natureza do
subsolo, qualidade da execução da rede, material da tubulação e tipo de junta utilizado. O
valor entre 0,05 a 1,0 L/s. Km adotado deve ser justificado”.

Tabela 7. Taxas de infiltração recomendadas para projetos.


Autoria Local TI (L/s. Km) Ano
Metcalf & Eddy Inc. EUA 0,15 a 0,6 1981
SABESP Estado de São Paulo 0,05 a 0,5 1984
NBR 9649 – ABNT Brasil 0,05 a 1,0 1986
J.R.Campos & F.Y.Hanai Araraquara 0,17 1997

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2.3 - Técnica de Caracterização de Despejos

2.3.1 - Considerações Iniciais

Grande parte dos despejos é constituída de misturas relativamente complexas, cuja


caracterização pela via química convencional da sua composição pode ser muito
demorada e de alto custo.
Esse é não somente o caso dos despejos urbanos (esgoto doméstico) mas também,
e principalmente, o caso dos despejos industriais, uma vez que as indústrias de
processamento químico, em particular, geram despejos finais resultantes de diversas
correntes de efluentes originadas dentro da própria planta de processamento químico.
O vetor da poluição, em geral, é constituído de:

a) matéria em solução: de natureza orgânica ou inorgânica, biodegradável ou não,


ionizável ou não. Podem ainda ser tóxicas ou não ou pelo menos inibidoras do
desenvolvimento da microflora e da fauna do corpo receptor.
b) matéria em estado coloidal ou em emulsão: refere-se a óleos e graxas ou até
mesmo associados sob a forma de filmes superficiais (hidrocarbonetos) ou espumas
(agentes tenso-ativos).
c) matéria em suspensão: decantáveis ou não, de natureza orgânica ou inorgânica.
Alguns tipos de sólidos podem ser biodegradáveis.

Um fator que complica bastante a tarefa para uma adequada caracterização desses
despejos, como no caso dos despejos industriais, é a acentuada variabilidade da sua
composição e vazão com o tempo. Além disso, não se deve deixar de mencionar os
problemas associados à representatividade das amostras coletadas do despejo real.
Desta forma, podemos depreender que constitui-se uma tarefa muito difícil, dentro
das limitações de tempo disponíveis, obter-se uma caracterização completa da
composição de um dado despejo considerando-se, como mencionado acima, a imensa
variedade de formas com que o agente poluidor pode se apresentar neste despejo.
Um efluente pode conter substâncias orgânicas biodegradáveis e não
biodegradáveis e contaminantes inorgânicos. Espécies inorgânicas reativas são
facilmente determinadas, ao passo que a determinação de substâncias orgânicas solúveis
tem sido mais problemática.

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Em função disso, estipulou-se a utilização de indicadores de poluição determinados


através de parâmetros globais.
A utilização desses parâmetros globais pressupõe a definição de um equivalente de
poluição que possa servir como grandeza básica para a medida do grau de poluição
comum a todos os componentes da mistura.
Como já mencionado, os despejos hídricos podem conter, além da fase líquida uma
ou mais das seguintes fases:

ƒ Sólidos em suspensão;
ƒ Sólidos em solução;
ƒ Líquidos imiscíveis na forma de emulsões;
ƒ Líquidos imiscíveis na forma de filmes superficiais;
ƒ Espumas;

Além disso, acrescente-se o problema relacionado à variabilidade da qualidade e da


vazão do despejo com o tempo.
Este problema tem uma importância muito grande, pois os testes globais são
executados em amostras de despejo de pequeno volume (50 mL a 20 μL) como é o caso
da análise da DQO ou do COT (carbono orgânico total).

Neste já difícil problema, um outro fator que adiciona ainda mais dificuldades é
aquele relacionado com variação da qualidade da amostra entre o instante de coleta da
amostra e o instante de realização da medida. Esta variação da qualidade da amostra
pode ter uma ou mais das seguintes causas:

• Biológica: degradação de certos constituintes do despejo pela ação de


microrganismos, sejam eles naturalmente presentes no despejo ou seja em virtude
de contaminação. Para minimizar esta degradação biológica, a amostra deve ser
mantida sob refrigeração a temperaturas próximas de 5 °C.
• Química: oxidação lenta, mas gradual, pelo oxigênio atmosférico. Embora na
maioria dos casos essa oxidação seja desprezível, deve-se evitar que a amostra
fique em contato com o ar, colocando-a, de preferência, sob uma atmosfera inerte
(nitrogênio).
• Física: decantação e/ou coalescência das emulsões, adesão de filmes superficiais
nas paredes do frasco que contém a amostra. Nesse caso, para minimizar este

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problema, pode-se "solubilizar" o filme através da adição de pequenas porções de


solvente (problema muito comum em efluentes que contém óleos).

A medida da concentração dos poluentes de um despejo pode ser feita diretamente


na amostra bruta homogeneizada, decantada, filtrada ou até mesmo centrifugada. Por
esse motivo, é importante que as condições sob as quais as análises globais foram
conduzidas sejam claramente especificadas na apresentação e avaliação dos resultados.

Os métodos globais para medida do teor poluente de um dado despejo, são os


seguintes:

• - Demanda Química de Oxigênio (DQO)


• - Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO)
• - Carbono Orgânico Total (COT)
• - Outros Parâmetros

2.3.1.1 Demanda Química de Oxigênio (DQO)

A DQO corresponde à quantidade de oxigênio necessária para oxidar,


quimicamente, uma dada substância. No caso, a oxidação é feita pela ação química do
-2 -
Cr2O7 ou do MnO4 em meio fortemente ácido.
O método é simples. Um volume de efluente é colocado em um meio fortemente
oxidante, uma mistura em ebulição de ácido crômico e sulfúrico (dicromato de potássio
em excesso em meio ácido) por um período de 2 horas. Após a digestão da amostra a
quantidade de dicromato de potássio que não foi reduzida é titulada com sulfato ferroso
amoniacal e por diferença tem-se a quantidade de dicromato que foi consumida. A
matéria orgânica oxidada é calculada em termos de oxigênio equivalente.
Espécies inorgânicas reduzidas, como: Fe2+, Mg2+, sulfetos, entre outras, são
oxidadas quantitativamente nas condições do teste. Portanto, uma DQO inorgânica
também é detectada e dependerá muito da natureza do efluente.
O método sofre, também, a influência de cloretos, que é reprimida pelo uso de
sulfato de mercúrio (por complexação). A concentração máxima de cloretos permitida é de
2000 mg/L. Além do sulfato de mercúrio, utiliza-se, também, o sulfato de prata no meio
reacional como um catalisador da reação de oxidação.

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• Demanda Teórica de Oxigênio (DTO)

A Demanda Teórica de Oxigênio corresponde à quantidade estequiométrica de


oxigênio necessária para oxidar completamente um dado composto. Ela é também
expressa em ppm (mg/L) e, obviamente, corresponde a um valor calculado, pois a DTO
só pode ser efetivamente determinada se conhecermos a composição química completa
(quali e quantitativamente) de todos os constituintes oxidáveis contidos no despejo.
Consideremos uma solução de glicose pura com 1000 mg/L. Qual a DTO desta
solução?

CH2O + O2 → CO2 + H2O

30 32

DTO = 32/30 mg de O /mg de glicose x 1000 mg glicose/L de solução.

DTO = 1067 ppm

Assim podemos concluir que mesmo a glicose, quando lançada num corpo receptor,
se configura como um poluente, pois ela será degradada por ação biológica (servirá como
substrato para os microrganismos aeróbios/anaeróbios/facultativos, naturalmente
existentes no corpo receptor).
Nessa atividade de metabolização do substrato, os microrganismos vão retirar 1067
mg de oxigênio dissolvido das águas do corpo receptor para cada 1000 mg de substrato.
(Nota: 1067 corresponde ao fator de conversão estequiométrico, ou seja, converte massa
de glicose em massa de oxigênio e vice-versa).
Quando se diz, por exemplo, que o vinhoto tem uma DQO de 20000 PPM, quer-se
dizer que, nas condições de realização do teste, cada litro de vinhoto consome 20000 mg
de oxigênio (cedido pelo agente oxidante) para que as substâncias constituintes do
vinhoto sejam quimicamente oxidadas.

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• Comparação entre DQO e DTO


A tabela abaixo mostra uma comparação entre a DQO e a DTO.

Tabela 08 – Dados de DTO e DQO e DTO/DQO.


Composto DTO DQO DQO/DTO
mg/L mg/L (%)
Fórmico 348 342 > 98
Acético 1066 1055 99
Cítrico 750 750 100
Metanol 1500 1485 99
Etanol 2987 2900 97
Glicose 1066 1048 > 98
Amido 1185 1152 > 97
Ácido benzóico 1967 1947 99
Anilina 2480 2480 100
Piridina 2278 0! 0

Os resultados acima apenas indicam que, nas condições em que o teste de DQO é
realizado, a piridina não é oxidada por via química.
A fim de se determinar a DQO de uma solução de glicose pura, no nosso
Laboratório foram conduzidos ensaios com uma solução de concentração igual a 5.000
mg/L. Como visto, a DTO desta solução será:

DTO = 1,067 x 5 000 mg/L = 5335 mg/L

[o valor numérico 1,067 é o fator de conversão - este converte massa de glicose (CH2O)
em massa de oxigênio e vice-versa].
Usando o método do dicromato os seguintes resultados foram obtidos:

Tabela 09 – Tempo de Digestão de Amostras


Tempo de Digestão da Amostra Valor da DQO DQO/DTO
(min) (ppm) (%)
15 4476 84
30 4534 85
60 4573 86
120 5057 95

É evidente que nas condições do teste da DQO não só substâncias orgânicas são
oxidadas, mas também outras, como sulfetos, sulfitos, nitritos, etc. A DQO representa
quase um limite superior da possibilidade de estabilização total de um despejo.

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2.3.1.2 Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO)

A DBO corresponde à quantidade de oxigênio consumida pelos microrganismos


aeróbios, presentes ou introduzidos na amostra, para realizar a biodegradação das
substâncias biodegradáveis presentes no despejo.

• A DBO é um parâmetro que fornece a biodegradabilidade de um efluente.

A técnica mais usada para a medida da DBO consiste em adicionar pequenas


quantidades de esgoto ou microorganismos previamente adaptados a um determinado
efluente (efluentes industriais) a um determinado volume de água (efluente em questão)
saturada com O2, deixar a solução em frasco fechado em uma encubadeira a 20 ºC
durante certo número de dias. Após esse período determina-se quimicamente a
quantidade de O2 restante. Durante esse período ocorre a proliferação de bactérias que
consomem a matéria orgânica (como fonte de carbono) e parte do O2 por respiração.
Como a concentração de O2, a 20 ºC, é de 9 mg/L, obtém-se por diferença a quantidade
de O2 consumida naquele período de tempo. As condições do teste são: pH entre 6,5 e
7,5, T=20 ºC, ausência de luz e presença de nutrientes.
A DBO é uma medida que determina a quantidade de O2 utilizado pelas bactérias
para oxidar toda matéria orgânica solúvel no tempo de duração do ensaio (também são
oxidados materiais inorgânicos, como sulfetos e íons Ferro). Como se trata de um ensaio
em que se utilizam microorganismos e com variabilidade na amostragem o erro médio
encontrado está na faixa de 20%.

O parâmetro DBO não nos fornece o total de matéria orgânica presente em


um efluente, mas do ponto de vista ecológico tem grande importância, pois através
dela podemos saber quanto de O2 vai ser consumido de um corpo receptor por
determinado volume de efluente, seja de natureza doméstica ou industrial.

Podemos desta forma, concluir que num despejo real a medida da DQO raramente
coincidirá com a medida da DBO, pois na medida da DQO estarão contidas substâncias
biodegradáveis (acusadas no teste de DBO) e substâncias não-biodegradáveis, pois,
dadas as condições em que a medida da DQO é realizada, podemos esperar que tanto as
substâncias biodegradáveis quanto as não-biodegradáveis sejam quimicamente oxidadas.
Assim, temos que:

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DQOTOTAL = DQOBD + DQONBD

Sendo que a DQOBD corresponde ao consumo de oxigênio pelas substâncias


biodegradáveis contidas no despejo enquanto que a DQONBD corresponde ao consumo de
oxigênio para a oxidação das substâncias não-biodegradáveis contidas no despejo.
Portanto, a relação DQO/DBO deverá sempre apresentar um valor maior que 1.
Para ensaios de longa duração, a diferença entre os valores medidos para a DQO
e para a DBO corresponderá à concentração de substâncias não-biodegradáveis contidas
no despejo.

• A relação DQO/DBO pode trazer informações importantes sobre a sua


natureza de um efluente.

Um efluente que possui uma relação alta DQO/DBO, ou seja, uma alta DQO e baixa
DBO pode ser um efluente de difícil degradabilidade, contendo substâncias recalcitrantes.
Isto significa que um tratamento biológico pode não enquadrar este efluente dentro dos
padrões estabelecidos para seu descarte, ou que será necessário um longo tempo de
residência nos reatores de um processo biológico ou ainda ser necessária a implantação
de um tratamento terciário. Muitos efluentes industriais se encaixam neste perfil.
Quando possui uma baixa relação DQO/DBO, pode-se dizer que este efluente é de
maior degradabilidade, pois uma fração razoável deste efluente é naturalmente
biodegradável. Assim, muito provavelmente, um processo biológico poderá enquadrar
este efluente. Um efluente doméstico, por exemplo, que contém grande quantidade de
matéria orgânica biodegradável apresenta uma DBO de cerca de 50% da DQO.

™ Maior precisão: estima-se que o erro médio envolvido nas medidas da


DQO seja da ordem de 10 % enquanto para as medidas da DBO o erro
médio estimado é superior a 20 %.

™ Maior rapidez para a realização do teste: por via química, a medida da


DQO‚ em geral, é feita em 2 horas. O teste para a medida do valor da
DBO leva um mínimo de 5 (DBO5) dias a um máximo de 20 dias (DBO20).

DBO5 - corresponde ao final da oxidação biológica da matéria carbonácea contida na amostra.

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DBO20 - corresponde ao final da oxidação biológica da matéria nitrogenada contida na amostra. Em


geral, para esgotos domésticos a relação:

(DBO5 / DBO20) = 0,77

™ Necessidade de aclimatação dos microrganismos à cada despejo:


devido às diferentes características dos despejos, os microorganismos
devem ser previamente aclimatados ao referido despejo, isto é, têm que
ser adaptados às condições específicas do meio de cultura em que serão
introduzidos.

O método da DQO, embora sendo um método indireto da medida do conteúdo


da matéria orgânica no despejo, é considerado como o mais adequado para o
monitoramento contínuo da qualidade de um despejo ou até mesmo da avaliação
do desempenho de uma unidade de tratamento de efluentes.

™ Efeito da nitrificação: no caso das medidas da DBO, particularmente


em amostras contendo altos teores de substâncias nitrogenadas
(nitrogênio orgânico), ou ainda na operação de unidades de tratamento
biológico por via aeróbia com longos tempos de residência (lagoas de
estabilização, p.ex.) pode ocorrer o fenômeno de nitrificação, o qual é
definido como a oxidação das substâncias nitrogenadas contidas no
despejo:

NTOTAL= NORGÂNICO + NAMONIACAL + NNITRITO + NNITRATO

Essa oxidação ocorre em duas etapas:


+ - +
2 NH4 + 8 O2 → 2 NO2 + 2 H2O + 4 H

- -
2 NO2 + O2 → 2 NO2

Embora as reações de oxidação relativas à metabolização da matéria carbonácea e


nitrogenada ocorram de forma concomitante, o fenômeno de nitrificação só se evidencia
mais ao longo de uma aeração mais prolongada. Isto se deve ao fato que as taxas de

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nitrificação são substancialmente menores do que as taxas de oxidação da matéria


carbonácea. Em efluentes que possuem altas concentrações de amônia utiliza-se um
inibidor de nitrificação, 2-cloro-6-triclorometil, por exemplo.

2.3.1.3 Carbono Orgânico Total (COT)

A determinação do Carbono Orgânico Total é uma técnica que vem ganhando


espaço e confiabilidade. Neste método a matéria orgânica é totalmente oxidada e o CO2
produzido é determinado por sensores, frequentemente de infravermelho.

Há, basicamente, três tipos de equipamentos para a determinação do COT:

1) A amostra de efluente é injetada e conduzida a um forno de alta


temperatura, 680 – 1250 oC, sob atmosfera de O2. Toda matéria orgânica é
oxidada a CO2 e determinada por um sensor de infravermelho (o CO2 apresenta
uma forte absorção no infravermelho). Este tipo de equipamento fornece
excelentes resultados, pois praticamente toda substância orgânica é oxidada por
este método.
2) A amostra passa por uma coluna contendo um catalisador oxidativo (óxido
de cobalto) a alta temperatura. O CO2 produzido é detectado por um sensor de
infravermelho.
3) Neste equipamento, as moléculas orgânicas são oxidadas por persulfato na
presença de radiação UV. O CO2 produzido é detectado por um sensor de
infravermelho. Este método não tem apresentado bons resultados para moléculas
complexas, como: taninos, ligninas, ácidos húmicos, entre outros.

Como pode ser visto, a DQO e a DBO fornecem resultados importantes, mas não
muito confiáves sob o ponto de vista da concentração do carbono dissolvido. Já as
análises de COT são excelentes para determinar a concentração de matéria orgânica em
solução.

A relação DQO/COT fornece dados muito importantes a respeito da natureza de um


efluente, ou seja, esta relação pode variar muito de acordo com o tipo de efluente. Para
esgoto doméstico, uma relação de 2,3 é esperada, enquanto que para efluentes
industriais já foi observada uma relação de até 20.

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Quanto maior a relação DQO/COT, maior a fração inorgânica no efluente, que é


oxidável por dicromato em meio ácido (um efluente que contém altas concentrações de
sulfetos, polisulfetos, sulfonatos, cloretos, amônia, etc.).

2.3.1.4 Outros Parâmetros

Os padrões de lançamento determinam que, para todos os despejos, a


concentração de substâncias classificadas como poluentes estejam abaixo de uma dada
concentração, em geral expressa em ppm ou ainda em termos porcentuais:
Os principais critérios de qualidade dos despejos são:

9 TURBIDEZ
9 COR
9 CONCENTRAÇÃO DE OXIGÊNIO DISSOLVIDO
9 pH
9 DUREZA
9 SÓLIDOS TOTAIS DISSOLVIDOS
9 SÓLIDOS FLUTUANTES
9 CONCENTRAÇÃO DE MATERIAL TÓXICO
9 TEMPERATURA
9 MICRORGANISMOS PATOGÊNICOS

TURBIDEZ

É uma medida, expressa em unidades arbitrárias, da opacidade do despejo


comparada com certos padrões. Esses padrões são preparados com terra Fuller ou terra
diatomácea que se mantém em suspensão por tempo suficiente para a medida da
turbidez. Por exemplo, Turbidez 10, representa a turbidez de uma amostra contendo 10
ppm de sílica.
No turbidímetro JACKSON, a turbidez é determinada a partir da profundidade da
água capaz de fazer desaparecer o brilho de uma fonte luminosa, segundo a tabela
abaixo:

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Tabela 10 – Relação entre profundidade e Turbidez.


Profundidade (cm) Turbidez (UJT) (*)
72,9 25
39,8 50
21,5 100
10,8 200
4,5 500
2,3 1000
(*) - Unidade Jackson de Turbidez

A diminuição da turbidêz do despejo pode ser conseguida por processos de


coagulação-floculação, seguida de sedimentação ou flotação, mostrados posteriormente.

10

15

20

50

100

200

Figura 05 - Representação esquemática do tubo turbidímetro graduado em unidades de turbidez


(NTU).

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COR

O teste de cor se faz por comparações visuais com soluções mistas de cloroplatinato
de potássio e de cloreto de cobalto ou ainda por meio de discos coloridos (discos de
Hellige), fotometria e espectrofotometria. A unidade de cor corresponde a 1 ppm de
platina, na forma de cloroplatinato de potássio.

Fig. 06 – Disco de Hellige - Model 605-AHT (Orbeco Hellige)

Efluentes de diversas indústrias, tais como: pigmento, papel, têxtil, curtume, etc.
possuem compostos corados, na forma de material em suspensão, coloidal ou em
solução. Estas substâncias absorvem a radiação solar de curto comprimento de onda (luz
visível) impedindo a sua penetração na água reduzindo, em conseqüência, a ação
fotossintética das espécies vegetais clorofiladas existentes no corpo receptor
(particularmente as algas). A principal fonte de oxigênio no corpo receptor‚ é justamente a
ação fotossintética, através da qual os vegetais clorofilados consomem o CO2 dissolvido
na água e liberam o O2.
A diminuição da cor de um despejo pode ser conseguida através de processos de
coagulação-floculação, seguido de sedimentação ou flotação, filtração, cloração,
ozonização ou ainda por adsorção em colunas de carvão ativo (vistos posteriormente).

CONCENTRAÇÃO DE OXIGÊNIO

Conceito: o oxigênio dissolvido (OD) é de essencial importância para os


organismos aeróbios. Sua total ausência origina as condições anaeróbias, com geração
de maus odores.
™ Responsável: gás dissolvido.
™ Origem natural: dissolução do oxigênio atmosférico

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o - produção pelos organismos fotossintéticos.


™ Origem antropogênica: introdução de aeração artificial.
™ Importância: o oxigênio dissolvido é vital para os organismos aeróbios,
além de ser o principal parâmetro de caracterização dos efeitos da
poluição das águas por despejos orgânicos.
™ Interpretação dos resultados:
o – A solubilidade de OD varia com a altitude e temperatura. Ex:
o
Nível do mar, a 20 C, a concentração de saturação é de 9,2 mg/L;
o – Valores de OD superiores ao da saturação indicam presença de
algas, e valores inferiores, presença de M. O.
o – OD entre 4-5 mg/L morrem os peixes mais exigentes; OD = 2
mg/L todos os peixes estão mortos e, OD = 0 mg/L tem-se
condições de anaerobiose.

Peixes, bem como a maioria da fauna aquática do corpo receptor, dependem do


oxigênio dissolvido na água para o seu ciclo vital (metabolismo), daí ser esse um dos
mais relevantes parâmetros característicos da qualidade de um despejo. Assim, deve ser
considerado como um agente poluente todas as substâncias e/ou condições que, direta
ou indiretamente, interfiram com a redução da concentração do oxigênio dissolvido do
corpo receptor.
A faixa crítica da concentração de OD é situada entre 3 e 4 PPM, embora existam
certas espécies de peixes (vida aquática superior) que se adaptam perfeitamente em nível
de 1 PPM de OD (enguias), enquanto que outras só sobrevivem em águas com nível de
OD superior a 5 PPM (salmão).

pH - (Potencial Hidrogeniônico)

A medida do pH é a concentração hidrogênica das águas, o mesmo deve se


encontrar entre 6,0 e 8,0. Valores fora desta faixa tornam o meio extremamente seletivo
para vários seres vivos.
Ácidos e/ou álcalis lançados no corpo receptor podem torná-lo impróprio para o uso
não somente para fins recreacionais, como banho e navegação (barco a vela, windsurfe,
etc.), mas também para a manutenção da vida aquática, que demanda um pH da água
em torno da neutralidade.

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Um dos tratamentos para a remoção das substâncias coloidais (por exemplo,


coagulação-floculação) depende do pH do despejo e portanto esse parâmetro deve ser
mantido o mais próximo possível do valor do pH ótimo para esse processo.Quando, numa
mesma planta industrial se dispõem de correntes ácidas e alcalinas deve-se buscar a
equalização das mesmas. Essa equalização só deve ser aplicada no caso em que haja
compatibilidade química entre as correntes.

DUREZA

É uma característica geralmente associada à presença de sais de cálcio e de


magnésio contidos no despejo. Acelera o processo de incrustação de sólidos (óxidos
desses elementos) em tubulações.
Conceito: concentração de cátions multimetálicos em solução. Os mais comumente
+2 +2
associados à dureza são Ca e Mg . Na supersaturação, esses cátions reagem com os
ânions da água formando precipitados.
™ Responsável: sólidos dissolvidos
™ Origem natural: dissolução de minerais contendo cálcio e magnésio.Origem
antropogênica: despejos industriaisImportância: sem significado sanitário; águas
duras são desagradáveis ao paladar e podem ter efeito laxativo; responsável pela
incrustação de tubulações de água quente, caldeiras e aquecedores.
™ Interpretação dos resultados:
o Dureza < 50 mg/L CaCO3 : água mole;
o Dureza entre 50 e 150 mg/L CaCO3 : dureza moderada;
o Dureza entre 150 e 300 mg/L CaCO3 : água dura;
o Dureza > 300 mg/L CaCO3 : água muito dura

SÓLIDOS TOTAIS DISSOLVIDOS

Podem ser de natureza:

a) orgânica: tais sólidos podem, quando passíveis de oxidação, reduzir a


concentração de oxigênio dissolvido no corpo receptor e podem ainda emprestar ao corpo
receptor odor e sabor não recomendáveis.

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b) inorgânica: sais inorgânicos estão, invariavelmente, presentes nos efluentes e


dessa forma podem acarretar os seguintes problemas:
b.1) corrosão na tubulação e equipamentos;
b.2) formação de depósito de óxidos insolúveis.

Das características físicas, o teor de matéria sólida é o de maior importância, em


termos de dimensionamento e controle de operações das unidades de tratamento.
A remoção de matéria sólida é fonte de uma série de operações unitárias de
tratamento, ainda que represente apenas cerca de 0,08% dos efluentes ( a água compõe
os restantes 99,92%).
Classificação pelas características físicas (dimensão das partículas):

™ Sólidos em suspensão;
™ Sólidos coloidais;
™ Sólidos dissolvidos.

Classificação pelas características químicas:

™ Sólidos orgânicos;
™ Sólidos inorgânicos
™ Sólidos voláteis;
™ Sólidos fixos (secagem a 600 oC).

Classificação pela decantabilidade ou sedimentação:

™ Sólidos em suspensão sedimentáveis;


™ Sólidos em suspensão não sedimentáveis;
™ Sólidos flutuantes.

30
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S. orgânicos
(90)
S. sedimentáveis S. inorgânicos
(120) (30)
S. em suspensão
(200) S. orgânicos
(55)
S. não sedimentáveis S. inorgânicos
(80) (25)
Sólidos
Totais
(600) S. orgânicos
(30)
S. coloidais
S. inorgânicos
(40)
(10)
S. dissolvidos
(400) S. orgânicos
(125)
S. dissolvidos
S. inorgânicos
(360)
(235)

Figura 7 - Concentrações médias de sólidos em esgotos, mg L-1 (Jordão e Pessoa, 1995).

SÓLIDOS EM SUSPENSÃO

Os sólidos em suspensão (SS, expressos em ppm) contidos no despejo tendem a se


depositar no fundo e nas margens do corpo receptor causando, em conseqüência da sua
decomposição anaeróbia, redução do teor de OD e aparecimento de odor característico
(presença de compostos sulfurados). Os sólidos depositados no fundo do corpo receptor
podem cobrir os locais de desova e criação dos peixes e dessa forma inibem a
propagação da fauna aquática superior enquanto que os sólidos depositados nas
margens comprometem a sua imagem para fins recreacionais.

SÓLIDOS FLUTUANTES

Nesses estão incluídos óleos, graxas e o petróleo. Sua presença no despejo, além
de tornar desagradável o aspecto do corpo receptor, apresenta os seguintes
inconvenientes:

™ Interferem na re-aeração natural do corpo receptor e reduz a penetração da luz


solar
™ São tóxicos para a vida aquática (fauna e flora).

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™ Destroem a vegetação das margens, aumentando assim a erosão e


desmoronamento das mesmas.

Algumas indústrias que contém óleos e graxas: refinaria de petróleo, despejo


urbano, algumas indústrias de alimentos, siderúrgicas, etc.

CONCENTRAÇÃO DE MATERIAL TÓXICO

Estas podem ser igualmente de natureza:

a) orgânica: biocidas, produtos farmacêuticos, etc.


b) metais pesados: Cr6+ , Cu+ , Pb2+ , Hg2+, etc.

Dependendo do tipo de efluente em estudo, outros parâmetros de controle, de


classes de substâncias, serão necessários, por exemplo:

™ AOX (organohalogenados): indústrias de papel e celulose;


™ Fenóis: indústrias farmacêuticas, petroquímicas, papel e celulose, etc.
™ PCBs (bifenilas policloradas), PAHs (hidrocarbonetos aromáticos polinucleares,
BTX (benzeno,tolueno e xileno)

Pelo fenômeno da Amplificação Biológica, esses compostos, mesmo em


concentrações reduzidas, se constituem como altamente deletérios.

TEMPERATURA

a) Uma elevação da temperatura do corpo receptor, causada pela temperatura do


despejo descartado, reduz a solubilidade do oxigênio na água: A tabela abaixo mostra a
concentração de OD na água em função da temperatura.
b) Essa elevação de temperatura reduz a eficiência dos equipamentos de troca
térmica que usam as águas do corpo receptor no processo e nas trocas térmicas.
c) Variação da temperatura do despejo coletado pela rede de esgoto urbano
(doméstico e pluvial) tem efeito pronunciadamente deletério na operação das ETE.

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d) Maior temperatura do corpo receptor implica em maior consumo de oxigênio


dissolvido no corpo receptor em vista da maior atividade química e bioquímica.
e) Ocorrência de estratificação da água com a conseqüente redução do OD na
camada superficial do corpo receptor fazendo com que a fauna aquática migre para
regiões onde os níveis de OD sejam mais compatíveis com as suas exigências
metabólicas. Essa redução de OD na água à temperatura mais elevada, faz com que o
corpo receptor tenha reduzida a sua capacidade de autodepuração.

Tabela 11 – Efeito da temperatura sobre a concentração de oxigênio dissolvido na água


T (C) O2 (ppm)

0 14,6
5 12,8
10 11,3
15 10,2
20 9,2
25 7,6
50 5,6

MICRORGANISMOS PATOGÊNICOS

a) Tipo de Microorganismo: as bactérias se constituem nos mais numerosos seres


vivos e também os microrganismos mais profusamente distribuídos nas águas. São
encontradas na águas atmosféricas, águas de superfície, e nas águas subterrâneas
percolantes, sendo ainda muito abundantes nas águas de superfície.
Quanto à ocorrência nas águas, citam-se, além das bactérias, as algas,
protozoários, protozoários patogênicos, vírus, etc. Esses microorganismos junto com a
enorme variedade das bactérias têm significação sanitária imediata, posto que sejam
considerados como agentes específicos causadores de moléstias transmissíveis por via
hídrica

b) Tipos de Bactérias na Água: as bactérias encontradas na água podem ser, a grosso


modo, agrupadas em três classes: bactérias da água "natural", bactérias do solo e
bactérias de origem intestinal ou do esgoto. Na última classe, costuma-se incluir os
microrganismos de mesma origem.

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Em virtude da impraticabilidade de se isolar e identificar diretamente as bactérias


patogênicas específicas, métodos indiretos para a sua quantificação foram desenvolvidos.
Esses métodos compreendem duas determinações:

c) Contagem Bacteriana: é a contagem do número colônias de bactérias que se


desenvolvem em meio de Agar nutritivo após 24 h de incubação a 37 oC (ou em outros
meios de cultura, temperaturas e períodos de incubação).

d) Índice de Coliforme: consiste em se determinar a presença de bactérias de


origem caracteristicamente intestinal.

Para um esgoto doméstico, a contagem total de bactérias é de 1011 contagens/litro


de despejo. Desses, apenas 1% ou seja, 109 contagens/litro de despejo, devem ser de
microorganismos patogênicos.
Uma elevada concentração desses últimos corresponde a uma indicação segura da
contaminação das águas por esgoto doméstico. Mesmo após sofrerem um tratamento
primário e secundário convencional, a água oriunda do "overflow" do sedimentador
secundário de uma ETE por lodos ativados, deve sofrer uma cloração/ozonização com
vistas a eliminar os microorganismos.

Obs: os parâmetros de controle de poluição são especificados para cada indústria e muitas
vezes é necessário o controle de algum parâmetro específico para determinada indústria.
Estes controles são estabelecidos pelo órgão de controle da Legislação Ambiental
responsável em cada estado.

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2.4 - Algumas Noções de Amostragem de Águas Residuárias

Um programa abrangente de monitoramento e amostragem de águas residuárias de


uma planta industrial é de extrema importância e para a sua realização é necessário que,
em primeiro lugar, se disponha de amostras representativas.
O sucesso de um programa apoia-se na disponibilidade de pessoal qualificado para
a execução das diversas tarefas relacionadas à sua execução. Particular atenção deve
ser dada para que o programa seja adequado, efetivo e envolva baixos custos
operacionais. Embora integrado ao processo produtivo com vistas a maximizar a
eficiência, a lucratividade bem como a qualidade de um produto final comercialmente
viável, a execução desse programa não deve interferir com as atividades-fim da planta
industrial.
O objetivo básico do programa de monitoramento é o de identificar e caracterizar as
diversas correntes de despejo da planta industrial. Embora as normas - ou padrões -
definidas pelo órgão de fiscalização, estejam relacionadas apenas à qualidade da
corrente final do despejo, isto é, a corrente que é descartada no corpo receptor, é
reconhecido que um programa bem planejado e bem conduzido pode servir para localizar
pontos de operação com baixas eficiências e, por via de conseqüência, propiciar uma
significativa redução dos custos de operação. Além disso, o monitoramento “in-plant” é
essencial para se detectar eventuais variações da qualidade das correntes de despejo.
Portanto, é importante que se determine a qualidade das diversas correntes de despejo
que compõem a corrente final que aflui às unidades de tratamento.
Uma vez conhecido e quantificado o balanço material relativo à cada corrente de
despejo, a localização dos pontos de amostragem deve ser feita. Nesta localização, os
fatores a serem considerados são os seguintes;

9 Vazão da corrente de despejo deve ser conhecida ou, pelo menos, fácil de ser
estimada ou medida;
9 O ponto de amostragem deve ser de fácil acesso e ter condições para o
trabalho em segurança do operador;
9 Nesse ponto, a corrente de despejo deve ser bem misturada de modo a garantir
a homogeneidade da amostra coletada.

As determinações dos parâmetros de controle da qualidade de um efluente não


seriam significativas se fossem realizadas para amostras pontuais do despejo, ou seja,
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não se pode coletar a amostra uma vez ao dia para as análises, por exemplo. O que se
faz, na prática, é uma amostragem composta, na qual o efluente é coletado várias vezes
ao dia e então composto.
Os procedimentos para monitoramento, amostragem e armazenamento de
amostras de efluentes são muito bem descritos em manuais específicos da área.

O QUE OCORRE QUANDO UM EFLUENTE É DESCARTADO EM UM CORPO RECEPTOR?

Com o lançamento do despejo, de origem doméstica ou industrial, em um corpo


receptor, há, no ponto de lançamento, uma redução da concentração de OD [oxigênio
dissolvido, expressa em mg/L ou ppm - partes por milhão] e um aumento da concentração
de SS (sólidos em suspensão, expressa igualmente em mg/L ou ppm).

2.4.1 - Corpos Receptores Não Estagnados

a) Curva de Oxigênio (oxygen sag-curve):

A degradação e metabolização da matéria orgânica ou inorgânica presente neste


despejo por microrganismos ocorre naturalmente é lançado num curso d’água. A figura 8
ilustra o efeito de um poluente biodegradável sobre o nível de oxigênio dissolvido num
corpo receptor.

Figura 8 - Efeito do lançamento de um efluente sobre o OD de um curso d’água


Próximo ao ponto de lançamento se estabelece uma população microbiana que
desdobra as substâncias orgânicas consumindo o oxigênio dissolvido na água. O nível de
oxigênio só se recupera a jusante do ponto de lançamento. A curva de concentração de

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O2 dissolvido é resultante de dois mecanismos principais: consumo de O2 pelas bactérias


para degradação das substâncias poluentes e a re-aeração natural do curso d’água, que
consiste na transferência do O2 do ar para o líquido. A re-aeração é mais acentuada se o
curso d’água tiver quebraduras e redemoinhos.
Embora não ocorra, em geral é admitido que haja uma mistura completa entre a
corrente de despejo lançado e as águas do corpo receptor em todos os pontos.
Igualmente, considera-se que, para as medidas do OD e dos demais parâmetros
pertinentes para o adequado acompanhamento da curva de oxigênio, a amostragem é
estatisticamente representativa.
A curva de OD pode ser entendida como uma resultante de duas outras curvas,
quais sejam: a curva de consumo de oxigênio e a curva de re-aeração.
A curva de re-aeração corresponde à entrada de oxigênio corpo receptor por ação
de 3 mecanismos principais:

9 Difusão em nível molecular na interface gás-líquido.


9 Turbilhonamento.
9 Geração "in-situ" de oxigênio pela ação da fotossíntese.

As etapas envolvidas na transferência de oxigênio atmosférico para a água do corpo


receptor são:

ÎSolubilização e saturação do oxigênio na interface ar-água;


ÎDifusão do oxigênio na água, promovida pela diferença de concentração
estabelecida (mecanismo de difusão em nível molecular que é proporcional ao
gradiente de concentração existente);
ÎTransferência de oxigênio por ação convectiva (solubilização induzida pelo
movimento das águas do corpo receptor).

O ponto no qual a curva de oxigênio passa por um valor mínimo corresponde ao


ponto dentro do corpo receptor no qual ocorre a maior concentração de biota menos
demandante de oxigênio. Todas as espécies da fauna aquática buscam as regiões do
corpo receptor nas quais o teor de OD seja compatível com as suas exigências
metabólicas. Peixes, por exemplo, em virtude da carência de oxigênio dissolvido numa
dada região, não têm outra alternativa senão a de se deslocar para uma outra região na
qual a disponibilidade de oxigênio lhes seja favorável.
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Com a introdução do despejo no corpo receptor, há um pronunciado aumento da


DBO sendo que, a partir desse ponto, passa por um continuado decréscimo à medida que
a matéria orgânica é consumida por ação bioquímica até atingir o valor igual àquele
prevalente no trecho anterior ao ponto de lançamento.
Nestas condições, pode-se afirmar que, pelo menos no que se refere à DBO, que o
corpo receptor atingiu as suas condições naturais. As curvas de DBO e o OD estão
intimamente relacionadas entre si:

DBO OD
Alta ↑ Baixa ↓
Baixa ↓ Alta ↑

Um corpo receptor contaminado por poluentes tenderá a retornar às condições


prevalentes no ponto anterior ao ponto de lançamento. Esse processo denomina-se de
"autodepuração do corpo receptor" o qual pode ser constatado através da medida da
concentração de oxigênio dissolvido nas águas do corpo receptor.
Essa autodepuração é levada a efeito por meio de ações físicas bem como por
meio de reações químicas e bioquímicas. As ações físicas decorrem da sedimentação
dos sólidos em suspensão contidos no despejo, sedimentação essa que vai acarretar a
formação de bancos de lodo nas margens ou ainda no fundo do corpo receptor.
A concentração dos sólidos em suspensão, designada por SS, em função da
distância/tempo é máxima próxima ao ponto de lançamento e, a partir deste ponto, vai
reduzindo gradualmente por ação de microrganismos retornando ao valor prevalente
antes do ponto de lançamento. Esses sólidos também vão se depositando nas margens e
no fundo do corpo receptor, de forma a diminuir a sua turbidez.
As reações químicas e bioquímicas mencionadas, são de natureza bem mais
complexa, pois os organismos vivos, microrganismos naturalmente existentes no corpo
receptor, se alimentam dos sólidos orgânicos dissolvidos ou não na corrente do despejo e
geram produtos de metabolismo (excreta) que, por sua vez, podem servir de alimento
para outras espécies de microrganismos até que, finalmente, todos os sólidos orgânicos
complexos são convertidos em sais inorgânicos, como: nitratos, fosfatos, sulfatos, etc.,
bem como gás carbônico e água.
Por sua vez, e fechando o ciclo biológico, esses compostos inorgânicos são
utilizados como nutrientes para outros seres vivos, produtores, algas e demais
organismos clorofilados, que por fotossíntese, produzem matéria orgânica e oxigênio, que
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ao se dissolver na água, vai se juntar àquele proveniente da re-aeração natural induzida


pelo turbilhonamento da corrente hídrica.
Esse conjunto de ações físicas e reações químicas e bioquímicas fazem com que a
água do corpo receptor atinja a uma condição de relativa pureza e, assim, pode ser
considerada como autodepurada.

Do ponto de vista didático, admite-se que o processo de autodepuração do corpo


receptor ocorra em 4 zonas as quais, todavia, não apresentam limites claramente
definidos entre si. Essas zonas são divididas em:

Ô Zona de degradação (zona de elevada turbidêz)


Ô Zona de decomposição ativa (zona séptica e mais nociva)
Ô Zona de recuperação (zona melhorada)
Ô Zona de água límpida (zona de águas claras e frescas)

Zona de Decomposição Ativa: à medida que a reserva de OD diminui, a


zona de degradação vai se convertendo na zona de decomposição ativa, a qual é
caracterizada pela decomposição da matéria orgânica biodegradável por via anaeróbia.
Quando a contaminação do corpo receptor é elevada, esta zona ocorre muito
próxima do ponto de lançamento. Com uma vazão de despejo pequena em relação à
vazão do corpo receptor, o surgimento desta zona é mais lento. Por outro lado, quando a
vazão do corpo receptor é muito maior que a vazão do despejo, de modo que haja
sempre uma quantidade considerável de OD para manter as condições aeróbias, a zona
de decomposição pode não ocorrer e a zona de degradação se transforma diretamente na
zona de recuperação.

Como visto, a zona de decomposição se caracteriza pela decomposição anaeróbia.


O oxigênio dissolvido, pois, está totalmente esgotado e toda a fauna aquática,
demandante de concentrações de oxigênio relativamente elevadas – próximas à
concentração de saturação - terá praticamente desaparecido tendo migrado para pontos
mais adequados às suas demandas metabólicas. A água se torna mais turva e odores
pronunciados se fazem sentir, provavelmente, devidos à presença de gases como H2S,
gases esses característicos das reações de decomposição anaeróbia dos sólidos. À
medida que a decomposição da matéria orgânica se processa, a quantidade de sólidos
putrescíveis diminui e com isso também diminuem as reações de decomposição
anaeróbia da matéria orgânica. O oxigênio, oriundo da re-aeração, iguala primeiro e em
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seguida excede o oxigênio demandado para a decomposição biológica de modo que no


final dessa zona haverá algum oxigênio dissolvido na água, o que caracteriza o início da:

Zona de Recuperação: nessa zona, a concentração de OD aumenta


gradualmente enquanto que a concentração de sólidos em suspensão diminui. Os
microrganismos estão em pequena concentração dada a pouca disponibilidade de
substrato. As espécies de microrganismos anaeróbios desaparecem totalmente enquanto
que as espécies aeróbias têm aí já uma pequena concentração. Peixes, bem como outras
formas de vida aquáticas mais demandantes de oxigênio, podem já sobreviver nesta
zona.

Zona de Águas Límpidas: na zona de recuperação quase que se


consumou totalmente a decomposição dos sólidos orgânicos e nessa zona límpida há
maior concentração de sólidos inorgânicos estáveis. A aparência da água é semelhante
àquela que o corpo receptor tinha antes do ponto de lançamento do despejo. Não há
ocorrência de sólidos visíveis (flutuantes) e a água‚ clara e livre de material em
suspensão. A concentração de OD‚ próxima da concentração de saturação. Haverá, é
claro, a presença de microrganismos vivos, como bactérias, porém em concentrações
bem pequenas. Abundam nessa zona organismos multicelulares, como as algas, que
utilizam os compostos inorgânicos como nutrientes. Em geral, este trecho de rio é mais
piscoso do que no trecho anterior ao ponto de lançamento devido ao aumento da
população de organismos macroscópicos que aumentam a disponibilidade de alimentos
para os peixes.
O tempo necessário para que se processe a autodepuração de uma dada corrente
hídrica, ou a distância que se tem de percorrer desde o ponto de lançamento até a zona
de água límpida, depende da vazão do despejo, da concentração e da natureza dos
poluentes no despejo, da vazão da corrente e do grau de turbilhonamento do trecho do
rio, da temperatura da água.

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b) Fatores Ambientais que Afetam a Curva de Oxigênio

Fatores ambientais, isolados ou simultâneos, afetam a curva de oxidação biológica


ou a curva de re-aeração (a curva de OD representa a curva resultante de ambas). Esses
fatores ambientais são:

Temperatura: se a qualidade e a vazão dos despejos permanecessem


constantes num dado intervalo de tempo, a curva de OD seria influenciada pela
temperatura da seguinte forma:

“à temperaturas mais baixas (inverno) a taxa de oxidação da matéria orgânica será


menor enquanto que a taxa de re-aeração será maior (a temperaturas mais baixas a
concentração de saturação do oxigênio na água é maior)”.

A combinação desses dois fatores (relativos à fonte e ao consumo de oxigênio) faz


com que o ponto crítico, isto é, o ponto onde ocorre a menor concentração de oxigênio
dissolvido, se desloque para um ponto mais próximo do ponto de lançamento (x = 0).
Por outro lado, durante o verão quando é maior a taxa de oxidação - decorrente da
maior atividade biológica - e menor a taxa de re-aeração, o ponto crítico se desloca para
um ponto mais afastado do ponto de lançamento.

Luz: em qualquer ponto do corpo receptor haverá variação da concentração


de OD na medida em que varie a intensidade da radiação solar incidente. No horário
diurno, as algas e outros vegetais aquáticos clorofilados liberam o oxigênio resultante da
fotossíntese. Dependendo da intensidade de radiação, a quantidade de oxigênio liberado
pode chegar a ponto de supersaturar a água e se desprender para a atmosfera.
Durante o dia há uma produção positiva de algas. No período noturno, há um
sensível decréscimo da produção de algas, pois o processo de respiração das algas é
predominante - as algas continuam a servir de alimento aos consumidores primários. Daí
a razão de que a produção "líquida" de algas ser negativa neste período noturno.

Deve-se acrescentar que concomitantemente com o processo de fotossíntese


ocorre o processo de respiração da biomassa (o termo biomassa inclui toda a vida
aquática, ou seja, a sua fauna e a sua flora).

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Durante o dia, as plantas aquáticas liberam uma quantidade de oxigênio excede à


suas exigências metabólicas. Num corpo receptor não estagnado, esta condição ocorre
na zona de recuperação. Durante a noite, quando o fenômeno da fotossíntese cessa por
completo, o excesso de OD é gradualmente utilizado na respiração da biomassa e, nesse
caso, é de se esperar que pouco antes do amanhecer a concentração de OD na água
atinja um valor mínimo.
Devido a essas flutuações na concentração de OD, causadas por fatores naturais,
deve-se, ao se proceder ao levantamento da curva de OD de um corpo receptor, tomar
amostras de cada ponto de amostragem ao longo das 24 horas do dia e, a fim de se levar
em conta os efeitos da sazonalidade, ao longo dos 365 dias do ano.

c) Decomposição da Matéria Orgânica Carbonácea e Nitrogenada

O excesso de nutrientes nos efluentes responde pelo acelerado desenvolvimento de


bactérias e algas no corpo receptor. Pela utilização do OD, a reprodução das bactérias e
das algas atinge um valor máximo sendo que a taxa de consumo de OD se torna
proporcional à taxa de consumo de substrato.
Nesta fase evidencia-se um alto consumo de OD pelas bactérias que se alimentam
de compostos nitrogenados (oriundos da decomposição de material protéico) existentes
no despejo. À medida que esse substrato vai sendo consumido, a concentração de OD
aumenta progressivamente até atingir a concentração de equilíbrio. Um processo
semelhante ocorre com a matéria orgânica carbonácea.

2.4.2 - Corpos Receptores Estagnados

A eutrofização é o processo que ocorre quando um corpo receptor está com excesso
de certos nutrientes básicos. Este termo se aplica ao processo de enriquecimento
excessivo e continuado de um corpo receptor por macronutrientes, causando um
desenvolvimento massivo e indesejável de plantas aquáticas, alterando seu equilíbrio
biológico.
É um processo lento que ocorre na natureza, relacionado ao envelhecimento dos
corpos receptores, que pode ser acelerado com o lançamento de macronutrientes (N e P),
advindos das atividades humanas. Outros fatores como: tempo de residência, velocidade
do fluxo, profundidade, condições climáticas, cor ou turbidez do corpo receptor, etc.,
podem afetar a eutrofização.
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Assim, a eutrofização leva a maiores problemas em corpos receptores estagnados,


- lagos, lagoas, reservatórios, etc. - podendo também ocorrer em ambiente marinho -
estuário - e até mesmo em cursos d’água, particularmente naqueles de baixo fluxo.
Os primeiros relatos sobre a degradação dos lagos foram descritos em fins do
século passado, mais especificamente sobre os lagos alpinos. Em 1825, o lago Morat
apresentou um espetacular florescimento aquático, fenômeno esse que ocorreu
posteriormente, embora com menor intensidade, nos lagos Balgegg (1887) e Zuerich
(1898).
As primeiras observações sistemáticas sobre este processo de natureza biológica
foram devidas aos problemas relativos aos Grandes Lagos na fronteira EUA-Canadá. No
Brasil, as primeiras manifestações registradas referem-se ao Lago Paranoá em Brasília e
a Lagoa Rodrigo de Freitas no Rio de Janeiro.
O florescimento aquático excessivo causa a deterioração do corpo receptor, odor
pronunciado decorrente da decomposição anaeróbia, altera a cor e a turbidêz da água,
reduz o teor de oxigênio dissolvido, modifica a biota bem como as condições de
proliferação da mesma e sobrevivências da fauna aquática superior, assoreamento de
canais e de vias navegáveis, podendo, até mesmo, levar a uma maior perda de água por
evapotranspiração. Além dos já mencionados, os setores mais afetados por este
fenômeno são: o abastecimento público e industrial, o paisagismo, o turismo, a fauna
íctica e a operação de turbinas em usinas hidroelétricas e a navegação. É mencionado
que um corpo receptor com eutrofização controlada (Japão) aumentou a produtividade de
peixes, todavia, com inexpressivo sucesso.
Considerando a evolução trófica dos corpos receptores, estes podem ser
classificados como:

9 Oligotróficos - águas limpas não fertilizadas;


9 Mesotróficos - águas moderadamente fertilizadas;
9 Eutróficos, águas em pleno processo de eutrofização, isto é,
excessivamente fertilizadas;
9 Hipertróficos - águas em estágio avançado de eutrofização.

Além dos inconvenientes do crescimento de algas, ocorre ainda, no meio eutrófico,


o desenvolvimento de macrófitas que ocupam grandes extensões do corpo receptor e são
de difícil remoção.

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Como se sabe, a remoção total de N e P não pode ser executada e nem mesmo é
desejada, pois estes elementos e seus compostos são nutrientes para o desenvolvimento
dos fitoplâncton e algas - organismos produtores e base da cadeia alimentar do
ecossistema do lago.
O processo de eutrofização consiste na progressão gradual (sucessão ecológica)
de um estágio de vida aquática para outra, sucessão esta causada pelo grau de
disponibilidade de nutrientes e pela correspondente produção de biomassa dentro do
corpo receptor. O estágio primário deste processo é caracterizado pela baixa
concentração de nutrientes e pela pequena produção de biomassa‚ denominado de
oligotrófico.
O estágio subseqüente é denominado de mesotrófico e corresponde a um nível
intermediário tanto no que se refere à disponibilidade de nutrientes quanto no que se
refere à produção de biomassa. À medida que este processo de "envelhecimento"
prossegue, o corpo receptor se torna eutrófico, que corresponde a um estágio
caracterizado por elevada disponibilidade de nutrientes e produção de biomassa. A alta
concentração de biomassa reduz a incidência da luz solar dentro do corpo receptor,
reduzindo assim a síntese de biomassa a qual, ao se decompor em condições
anaeróbias, liberam os nutrientes os quais entram novamente no processo até o estágio
final que é a drenagem total do corpo receptor, ou seja, o aterro do mesmo.
Os limnologistas concordam que um corpo receptor estagnado se constitui numa
formação transitória em relação à escala geológica do tempo. Essa transitoriedade deve-
se, sobretudo, ao fato de que as próprias águas que drenam para o seu interior, carream
sedimentos, que, em virtude da redução da velocidade da água, vão se depositando nas
margens e no fundo, originando assim, um lento, assoreamento do corpo receptor. Em
virtude da pequena lâmina d'água junto às margens, nelas se desenvolve uma vegetação
fixa a qual, pela retenção dos sedimentos, acelera ainda mais o assoreamento das
margens. Além disso, a decomposição anaeróbia dessa vegetação contribui com mais
nutrientes. Esse novo incremento da disponibilidade de nutrientes acelera ainda mais o
crescimento da flora aquática.

2.5 - Relações Importantes ao Tratamento de Efluentes Líquidos:

¾ Indicação de Tratamento Biológico ou Físico–químico:

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™ DBO/DQO > 0,6 Tratamento por processo biológico;


™ 0,2 < DBO/DQO < 0,6 Tratamento biológico possível;
™ DBO/DQO < 0,2 Tratamento biológico muito difícil.

Outras relações importantes são aquelas entre sólidos fixos e sólidos voláteis.
Relações SF/SV, SSF/SSV, SDF/SDV elevadas indicam a predominância absoluta de
material inerte na água residuária e a necessidade de sua separação prévia a fim de se
efetivar o tratamento biológico.

¾ Indicação da necessidade de desarenador:

A concentração de SSF fornece a estimativa grosseira da concentração de


partículas inertes (por exemplo, a areia) podendo ser utilizada, na ausência de dados
mais precisos, no projeto de certas unidades destinadas a remover essas partículas.

¾ Indicação de alta salinidade:

Concentrações elevadas de sólidos dissolvidos fixos (SDF) em comparação com


sólidos dissolvidos voláteis (SDV) indicam água residuária com alta salinidade e a
provável necessidade de tratamento físico-químico, uma vez que esses sais não são
efetivamente removidos em processos biológicos.

¾ Indicação de processo biológico aeróbio ou anaeróbio:

As relações nutricionais entre carbono, nitrogênio e fósforo são de extrema


importância como verificação prévia da necessidade de se adicionar nutrientes à água
residuária a ser tratada por processo biológico.

Processos aeróbios: DBO:N:P de 100:5:1.


Processos anaeróbios: DQO:N:P de 500:5:1
¾ Indicação da necessidade de decantador primário:

A presença de Sólidos Sedimentáveis é indicativa da necessidade de unidade de


sedimentação antecedendo as unidades de tratamento biológico convencionais aeróbias,
ou os reatores anaeróbios, principalmente se o teor de SSF é elevado.
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¾ Indicação da necessidade de caixa de gordura:

Em geral, concentrações de óleos e graxas superiores a 50 mg/l são consideradas


elevadas, podendo prejudicar o tratamento biológico.

Sólidos Totais (ST)

Sólidos Suspensos Totais (SST) Sólidos Dissolvidos Totais (SDT)

Sólidos Sólidos Sólidos Sólidos


Suspensos Suspensos Dissolvidos Dissolvidos
Voláteis (SSV) Fixos (SSF) Voláteis (SDV) Fixos (SDF)

Sólidos Voláteis Totais (SVT) Sólidos Fixos Totais (SFT)

Balanço de Sólidos:

ST = SST + SDT = SSV + SSF + SDV + SDF = SVT + SFT;


SVT = SSV + SDV e SFT = SSF + SDF;
SST = SSV + SSF e SDT = SDV + SDF;
As relações descritas servem para o profissional fazer uma análise geral da estação
de tratamento de esgoto, podendo aplicá-las de forma prática e rápida.

2.6 - Etapas do Tratamento de Efluentes Líquidos

“O grau de tratamento de um determinado efluente sempre será função da


qualidade do corpo receptor e das características necessárias para o uso da água a

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jusante do ponto de lançamento, da capacidade de autodepuração e diluição do corpo


d’água, da Legislação Ambiental e das conseqüências do lançamento destes efluentes.”

O lançamento de efluentes no corpo receptor gera as seguintes conseqüências:

⇒ Problemas de natureza ambiental ou ecológica, em que a presença da


matéria orgânica dos efluentes acarreta uma depleção do oxigênio
dissolvido na massa de água e reduz a vida aquática e,
⇒ Problemas de saúde pública, em que a presença de possíveis agentes
transmissores de doenças de veiculação hídrica coloca em risco a saúde
da população.

A capacidade de autodepuração de um rio é típica e é função de uma série de


fatores. Será justamente esta capacidade de depuração que deverá indicar a quantidade
de efluentes ou de matéria orgânica, que poderá ser lançada no curso d’água, a fim de
que a uma determinada distância do ponto de lançamento existam condições de vida e de
uso da água.

A vida aquática pode ser relacionada à porcentagem de saturação do oxigênio


dissolvido presente (ou à concentração de OD presente). A tabela 1 mostra as condições
de vida aquática em relação a DBO e ao OD.

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Tabela12. Condições de vida aquática em relação à DBO e ao OD.


Condição do rio DBO, 20o C Aspecto OD, % da saturação Condição de vida
(mg L-1) estético dos peixes
Muito limpo 1 bom 80 % normal
Limpo ~2 bom 80 % normal
Relativamente limpo ~3 bom 80 % normal
Duvidoso ~5 turbidez 50 % só os mais resistentes
Podre ~ 7,5 turbidez 50 % só os mais resistentes
Mau ~ 10 mau quase nulo difícil
Péssimo ~ 20 mau nulo difícil

Um dos critérios para a seleção do tipo e do grau de tratamento de um efluente a ser


lançado em um curso d’água considera dois aspectos fundamentais:

⇒ O conhecimento dos usos benéficos desejados para um corpo d’água e, por


conseguinte dos padrões de qualidade a serem mantidos, em função
desses mesmos usos;
⇒ O conhecimento da capacidade de autodepuração desse mesmo rio.

Estes dois aspectos irão determinar a disponibilidade de um rio em receber


lançamentos de efluentes com grau compatível com os padrões de qualidade a serem
mantidos e a sua capacidade de autodepuração.

Poluição é um termo relativo, que se relaciona com a introdução ou com a presença de


qualquer substância no recurso hídrico, capaz de alterar, suprimir, ou de alguma forma
interferir com o uso esperado ou desejado daquele recurso hídrico.

Na cadeia de produção-consumo de alimentos, a indústria de processamento tem,


como principal resíduo, seu efluente líquido constituído de descartes de matéria prima,
perdas de processamento, resíduos de lavagem, águas de limpezas, águas servidas e
esgotos. Nos efluentes destas indústrias estão presentes sólidos em suspensão, com alto
teor de matérias orgânicas facilmente putrescíveis, como carboidratos, proteínas,
polissacarídeos e gorduras. Em alguns casos, o efluente é altamente contaminado com
microorganismos, ou apresenta-se com alto conteúdo de micronutrientes. Têm-se ainda a
presença de detergentes e sanificantes. Tais características fazem da agroindústria
alimentar uma fonte potencial de grandes impactos ambientais devido o lançamento de
seus efluentes, quer em corpos dágua, quer em sistemas de coleta de esgotos.

Para que sejam evitados estes impactos negativos, deve ser realizado o tratamento
de águas residuárias, que tem como objetivos:

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• Eliminação de matérias flutuantes


• Diminuição dos sólidos em suspensão
• Diminuição da carga orgânica
• Eliminação de microorganismos patogênicos
• Diminuição da carga microbiológica
• Diminuição dos micronutrientes
• Eliminação de substâncias tóxicas

O tratamento de águas é geralmente efetuado a partir da combinação de três tipos


de métodos:
• Físicos, em que são efetuadas unicamente operações físicas;
• Químicos, em que são utilizados produtos químicos;
• Biológicos, os quais são caracterizados pela utilização de microorganismos;

Repare-se que alguns destes tratamentos assentam na transferência da poluição da


fase líquida para a fase sólida, pelo que é necessário assegurar o tratamento das lamas
resultantes.

As águas residuais devem ser separadas de acordo com as suas características, de modo
a minimizar os efeitos da sua descarga e os custos do seu tratamento. Daí que as unidades fabris
devam possuir redes separativas para as águas residuais domésticas, industriais e pluviais
provenientes das suas instalações.

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A rejeição de águas residuais em meio natural também se encontra sujeita a licenciamento


junto da respectiva DRAOT (Direções Regionais do Ambiente e Ordenamento do Território).
No caso de descarga em coletor municipal, a respectiva licença é da tutela da autarquia
responsável pelo sistema coletivo e a DRAOT deverá apenas ser notificada. Em ambas as
situações é necessário ter em especial atenção os valores limites de descarga estabelecidos pela
entidade reguladora da descarga.
Muitas vezes são necessários vários processos de tratamento de efluentes para o seu
enquadramento dentro dos padrões estabelecidos pela Legislação Ambiental. Estes processos
são chamados de pré-tratamento, primário, secundário, terciário e até quaternário e são
recomendados de acordo com a natureza do efluente a ser tratado.
O tratamento das águas residuais é realizado nas Estações de Tratamento de Águas
Residuais - ETAR. Ao nível doméstico, o tratamento é classificado em:

⇒ Preliminar – Pré-tratamento destinado à remoção de sólidos e à equalização de


caudais e concentrações;
⇒ Primário – Tratamento mecânico e físico-químico que remove cerca de 35% da
poluição existente na água;
⇒ Secundário – Tratamento biológico que remove entre 80% a 90% da poluição;
⇒ Terciário – Tratamento de afinação.

Fig. 09 - Esquema exemplificativo de uma ETAR

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Efluente

Separação lixo

sedimentação

Estabilização aeróbia lodo

Decomposição anaeróbia
secagem

Lodo queima
Gás ou
combustível deposição

Coagulação / floculação / complexação

lançamento
a) com ênfase no processo aeróbio

Efluente

Separação Lixo

Sedimentação

Decomposição anaeróbia lodo secagem

queima
Gás combustível ou
Estabilização aeróbia lodo deposição

Coagulação / floculação / complexação



lançamento
b) com ênfase no processo anaeróbio

Fig. 10 - Processos usuais para tratamento de efluentes industriais

O esquema acima mostra os tratamentos primários necessários. Os resíduos


coletados na grade, caixa de areia e separador de gordura são normalmente descartados
como “lixo”, enquanto que o lodo de depuração do sedimentador primário pode ser
adicionado como inóculo do processo aeróbio ou ser remetido diretamente ao tratamento
anaeróbio de lodo.

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Nesta fase de tratamento podem ser adicionados coadjuvantes ou nutrientes, de


acordo com os requerimentos dos processos seguintes. Agentes floculantes para facilitar
a separação de óleos e graxas, ácidos e álcalis para ajuste do pH, fosfatos, nitrogenados,
etc. Em alguns casos pode ser utilizada a centrifugação do efluente, após gradeamento.
O tratamento de águas residuárias pode incluir várias técnicas e pode ser realizado,
de maneira a garantir um grau de tratamento compatível com as condições desejadas
pelo rio ou receptor final.
As diversas fases ou graus de tratamento convencional costumam ser classificados
como:

a) Tratamento Preliminar: Destina-se à preparação das águas residuárias para


uma disposição ou tratamento subseqüente. As unidades preliminares podem
compreender:

⇒ Equalização/Correção do pH
⇒ Grades ou desintegradores;
⇒ Caixas de areia ou desarenadores;
⇒ Tanques de remoção de óleos e graxas (Caixas de Gorduras);
⇒ Aeração preliminar;
⇒ Tratamento dos gases.

b) Tratamento Primário (Além das operações preliminares poderá incluir):

⇒ Decantação primária;
⇒ Precipitação química (Floculação);
⇒ Digestão dos lodos;
⇒ Disposição sobre o terreno, incineração ou retirada dos lodos
resultantes;
⇒ Desinfecção;
⇒ Filtros grosseiros.

c) Tratamento Secundário (São aqueles que apresentam tratamento biológico):

⇒ Filtração biológica aeróbia;

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⇒ Filtração biológica anaeróbia;


⇒ Lodos ativados;
⇒ Reatores anaeróbios.

d) Tratamento Terciário (São aqueles que objetivam a remoção de nutrientes):

⇒ Tratamento avançado (Complexação com Alumina; Precipitação com


sais de Fe e Al; adição de coagulantes e cloração);
⇒ Tratamento combinado.

O tipo de tratamento dos efluentes líquidos depende de uma série de fatores:


composição e características do efluente, local de lançamento, economicidade, eficiência.
No quadro 1 são descritos os métodos comumente empregados, segundo o tipo de
indústria.

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Quadro 1 - Tipos de indústrias e respectivos sistemas de redução de carga poluidora.


TIPO DE INDÚSTRIA SISTEMA DE REDUÇÃO DA CARGA POLUIDORA E SUA DISPOSIÇÃO

1 - Conservas Peneiramento, lagoa, adsorção pelo solo ou irrigação por borrifo


(difusão de gotas)
2- Laticínios Tratamento biológico, aeração, filtração biológica, tratamento por
processos de lodos ativados.
3 - Cervejarias e destilarias Recuperação de matéria prima, concentração por centrifugação e
evaporação, filtro biológico; uso em ração.
4. Carne Peneiramento, sedimentação e / ou flotação, filtração biológica.
5. Usinas de açúcar e álcool Utilização de restilo na lavoura, como adubo, tratamento em lagos de
estabilização para o restante dos resíduos líquidos, reuso.
6. Produtos farmacêuticos Evaporação e queima; uso em rações.
7. Levedura Digestão anaeróbica, filtro biológico.
8. Picles Bons métodos de trabalho, peneiramento, equalização.
9. Cozimento de arroz Coaquiação com cal.
10. Têxteis Neutralização, precipitação química, tratamento biológico, aeração e /
ou filtração biológica.
11. Curtume Equalização, sedimentação e tratamento biológico.
12. Lavanderia Comercial Neutralização, precipitação química, flotação e adsorção.
13. Amido de milho Equalização, filtração biológica.
14. Explosivos Neutralização, precipitação química, tratamento biológico, aeração,
cloração do TN.
15. Inseticidas Diluição, armazenagem, adsorção por carvão ativado, cloração
alcalina.
16. Fosfato e fosforoso Tratamento em lagoas de estabilização, clarificação mecânica,
coagulação mecânica, coagulação e sedimentação de resíduo
purificado.
17. Formaldeído Filtração biológica, adsorção em carvão ativado.
18. Papel e celulose Sedimentação, tratamento em lagoa de oxidação, tratamento biológico,
aeração e recuperação de subprodutos.
19. Aço. Neutralização, recuperação e reuso coagulação química.
20. Produtos revestidos de metal Cloração alcalina de cianeto, redução e precipitação de cromo,
precipitação de outros metais com cal.
21. Produtos de fundição de ferro Peneiramento seletivo, secagem da areia recuperada.
22. Borracha Aeração, cloração, sulfonação, tratamento biológico.

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2.6.1 - Tratamento Preliminar e Primário

2.6.1.1 Equalização/Correção do pH

A equalização é utilizada para superar os problemas operacionais advindos das


variações que são observadas na vazão e nas características na maioria dos efluentes
líquidos. Tem três objetivos básicos:
™ Minimizar as variações de vazão de despejos específicos, de tal modo que
haja uma vazão constante ou quase constante para o tratamento posterior;
™ Neutralizar os despejos;
™ Minimizar as variações de concentração, como DBO, por exemplo.

O tratamento biológico é melhorado porque são evitados, ou minimizados, os


choques de carga, substâncias inibidoras podem ser diluídas e o pH pode ser
estabilizado.
A quantidade de efluente e a eficiência do segundo decantador são melhoradas
pela carga constante de sólidos.
No tratamento químico, há melhor controle de produtos químicos adicionados no
processo.

O tratamento, ou melhor, o pré-tratamento denominado de equalização e/ou


correção de pH, é aplicado nos seguintes casos:

1. Anteriormente à descarga do despejo no corpo receptor: nesse caso a correção do


pH do despejo é imperativa, já que a vida aquática do corpo receptor é bastante
sensível ao pH do meio, o qual deve oscilar em torno de 7,0 (6,8 a 7,2).
2. Anteriormente à descarga do despejo no sistema coletor de esgotos municipal: o
pH do despejo descartado dessa forma é também regulamentado em torno do
valor 7,0. É sempre mais econômico corrigir o pH de pequenos volumes de
despejos industriais do que grandes volumes de despejos combinados (municipal e
industrial).
3. Anteriormente ao tratamento químico ou biológico do despejo. Para garantir uma
boa atividade biológica, o pH no reator de lodo ativado, deve estar na faixa de 6,8 a
7,2.

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Fig. 11 – Equalizador tipo Calha

2.6.1.2 Separação Sólido/Líquido.

2.6.1.2.1 Separação de Sólidos Grosseiros em Suspensão.

A separação de sólidos grosseiros em suspensão, presentes em efluentes líquidos


podem ser feitas através das operações de gradeamento e peneiramento.

a) Gradeamento:

São dispositivos constituídos por barras paralelas e igualmente espaçadas que


destinam-se a reter sólidos grosseiros em suspensão e corpos flutuantes.

O gradeamento é a primeira unidade de uma estação de tratamento de efluentes,


sendo que essa unidade, só não deve ser prevista, na ausência total de sólidos grosseiros
no efluente a ser tratado.

O sistema de gradeamento pode conter uma ou mais grades. As grades grosseiras


são utilizadas, quando o esgoto apresenta grande quantidade de sujeira. Nas grades são
retidas pedras, pedaços de madeira, brinquedos, animais mortos e outros objetos de
tamanho elevado.
As grades média e fina devem ser utilizadas para retirada de partículas, que
ultrapassam o gradeamento grosseiro. As grades finas e médias só devem ser instaladas,
sem o gradeamento grosseiro, no caso de remoção mecânica dos resíduos.
Depois de retido pelo sistema de gradeamento o material deve ser removido e
exposto à luz, para secar, sendo em seguida encaminhado para um aterro sanitário ou
incineração.

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Para pequenas estações (vazão < 5 l/s), pode-se enterrar este material, desde que,
adequadamente. Devem-se ter vários cuidados para que não ocorra o acúmulo de
resíduos no gradeamento, para consequentemente não haver mau cheiro.

45 º a 60º

t
a

Limpeza manual com rastelo

Fig. 12 – Esquema Ilustrativo do Gradeamento

Obs.: É necessário prever acesso, para o operador manusear adequadamente o


rastelo e local para secagem e disposição diária do resíduo, até que o mesmo seja levado
para o aterro.

Tabela 13. Denominação das grades conforme o espaçamento entre as barras.

Denominação da grade Distância entre as barras


Grade grosseira 4 – 10 cm
Grade média 2 – 4 cm
Grade fina 1 – 2 cm

A desvantagem das grades repousa no fato de que sólidos finos e fibras podem
atravessar seus vãos flutuando na água.
O gradeamento é a primeira unidade de uma estação de tratamento de esgoto,
sendo que essa unidade, só não deve ser prevista, na ausência total de sólidos grosseiros
no efluente a ser tratado.

Dimensionamento – Recomendações ABNT P-NB-569 e P-NB-570


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Na Tabela 14 constam as dimensões das barras, as quais devem ser robustas para
suportar os impactos e esforços devidos aos procedimentos operacionais exigidos das
mesmas.

Tabela 14. Aberturas ou espaçamentos das barras e suas dimensões.

Tipo de Espaçamento Espessuras das barras


grade entre as barras mais usuais (mm)
(mm)
Grosseira 40 10 e 13
60 10 e13
80 10 e 13
100 10 e13
Média 20 8 e 10
30 8 e10
40 8 e 10
Fina 10 6; 8 e 10
15 6; 8 e 10
20 6; 8 e 10

A eficiência é dada por:


a
E =
a+t
Onde:
a = espaçamento entre as barras;
t = espessura das barras

Material retido:
⇒ Condicionamento (lavados, secados, adições de substâncias químicas)
⇒ Incinerado;
⇒ Aterro sanitário

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Tabela 15 - Eficiência do sistema de gradeamento.

t a = 20 mm a = 25 mm a = 30 mm

6 mm 75 % 80 % 83,4 %

8 mm 73 % 76,8 % 80,3 %

10 mm 67,7 % 72,8 % 77 %

13 mm 60 % 66,7 % 71,5 %

a: espaço entre as barras; t: espessura das barras;

Grades, cujo processo de limpeza é mecânico, podem ser distinguidas entre grades
de encaixe (remoção por um pente móvel) e grades rotativas (afasta o material retido nas
grades por dentes presos nas correntes circulares).

Figura 13. Grade mecanizada.

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Fig. 14 – Gradeamento com limpeza mecanizada

b) Peneiramento:

O peneiramento tem como objetivo principal, a remoção de sólidos


grosseiros com granulometria maior que 0,25 mm. As peneiras podem ser
classificadas em estáticas e rotativas. Estas devem ser usadas principalmente, em
sistemas de tratamento de águas residuárias industriais, sendo que, em muitos casos,
os sólidos separados podem ser reaproveitados.
Podem ser utilizadas anteriormente aos Reatores Anaeróbios, já que estes
apresentam ótimo desempenho no tratamento de efluentes líquidos, com baixas
concentrações de matéria orgânica solúvel e particulada.

Fig. 15 – Corte lateral de uma peneira ênfase no movimento do dejeto

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O aparecimento de peneiras mecanizadas tende a mudar o uso quase exclusivo do


gradeamento, no tratamento preliminar de esgotos sanitários.

⇒ Peneiras estáticas:

Neste tipo de operação o efluente flui na parte superior, passando pela peneira
inclinada, sendo posteriormente encaminhado para unidade seguinte. Os sólidos fixados
na peneira são empurrados pela força do próprio efluente.
Este tipo de peneira é muito empregado nas indústrias; de celulose e papel, têxtil,
nos frigoríficos, curtumes, fábricas de sucos, fecularias, como também na remoção de
sólidos suspensos de esgotos sanitários.

afluente

Sólidos retidos

Efluente

Fig. 16 – Peneira Estática

alimentação

alimentação
sólidos

líquido descarte de
depurado sólidos
escoamento

Fig. 17 - Peneira Estática em arco (Kunz, 1990)

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⇒ Peneiras rotativas:

Nesta peneira, o efluente penetra através da parte superior da peneira,


atravessa as fendas, sendo recolhido na caixa inferior. Os sólidos são removidos por
uma lâmina raspadora, sendo recolhido em um vaso coletor.

http://www.fh-nuernberg.de/tc/lab-aust/lim/abwasserkap4.pdf
sentido da rotação

escovas reguláveis

raspador

eliminação
dos sólidos
grosseiros

chapa
perfurada

entrada (conexão do tubo) aberturas de acesso


com tampas
a água depurada cai através
do piso aberto embocadura (vertedouro
em canal de queda)

Fig. 18. Peneira em cuba (Kunz, 1990)

Fig. 19 - Peneira rotativa (Kunz, 1990).

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Fig. 20 – Peneira Rotativa

2.6.1.2.2 Separação de Partículas Discretas (Caixas de Areia)

Partículas discretas são aquelas que durante a sedimentação, não alteram sua
forma, peso ou volume.
Nos sistemas de tratamento de esgoto doméstico, partículas discretas são quase
totalmente constituídas de areia, que surge através do sistema de coleta mal construído.
Outras partículas discretas são os cereais, muito encontrados em indústrias
alimentícias.
As partículas discretas devem ser retiradas antes do processo biológico, devido as
suas características abrasivas; por serem inertes e tenderem a se acumular nos sistemas
de tratamento.
As partículas de areia devem ser removidas, nas unidades de tratamento preliminar,
denominadas caixas de areia ou desarenadores. Essas unidades são dimensionadas a
partir do conhecimento da velocidade de sedimentação das partículas.

1. Caixa de Areia e Desarenadores Longitudinais:

A caixa de areia (desarenadora) constitui um compartimento onde a velocidade do


líquido é diminuída para permitir a sedimentação de areia, mas não permitir a
sedimentação de matéria orgânica.
A areia é removida semanalmente para evitar-se abrasão nos equipamentos
mecânicos e sedimentação nos tubos e tanques.
A caixa de areia é dividida em dois compartimentos. Quando se deseja efetuar a
retirada da areia sedimentada, desligam-se as bombas (no final de semana), e a retirada
do material sedimentado é feita manualmente, devendo ser providenciada uma pá

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adequada com dimensões do canal. O material retirado deve ser colocado junto ao
material retirado das peneiras, para ser encaminhado ao aterro sanitário.

Planta Baixa

Corte

Fig. 21 – Esquema de Desarenadores

Fig. 22 – Caixa de Areia

2. Caixa de Areia Circular:

Neste tipo de caixa, a areia também é retirada na entrada da estação de


tratamento de esgoto; o que a diferencia das caixas de areia retangulares é a ocupação
do espaço. Apesar de ocupar a mesma área, este tipo de unidade pode adequar-se
melhor ao espaço disponível para sua instalação.
- Falhas operacionais dos desarenadores:
Algumas evidências de falhas na operação são o aparecimento de excesso de
matéria orgânica no material removido, que pode ser causado, pela variação na
velocidade do canal e pelo tempo de retenção muito longo; este pode ser prevenido com
a instalação de um sistema de aeração. Outra evidência é o arraste de areia no efluente,
causado pela velocidade do esgoto, ser maior do que a do projeto, ou por haver demora
na limpeza das caixas de areia. Isto pode ser prevenido, com o uso de duas caixas em
paralelo e pela limpeza com maior freqüência.

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2.6.1.2.3 Caixa de Gordura:

Os líquidos, as pastas e demais corpos não miscíveis com a água, mas que têm
peso específico menor, e, portanto, tendem a flutuar na superfície, podem ser retidos por
dispositivos muito simples, denominados caixas de gordura.

Os esgotos domésticos possuem grande quantidade de óleos, graxas e outros


materiais flutuantes. Existe então, a necessidade da remoção destes materiais para se
evitar: obstruções dos coletores, aderência nas peças especiais das redes de esgoto,
acúmulo nas unidades de tratamento e principalmente aspectos desagradáveis no corpo
receptor.

As características de uma caixa de gordura dependem da localização onde será


instalada, do tipo de efluente e da quantidade de esgoto a ser tratado.
Os principais sistemas são:
⇒ Caixa de gordura domiciliar;
⇒ Caixa de gordura coletiva;
⇒ Remoção de gordura nas unidades de tratamento;
⇒ Tanques aerados ou flotadores;
⇒ Separadores de óleo.

Suas características físicas devem ser dimensionadas para as seguintes condições:

⇒ Capacidade de acumulação de gordura entre cada limpeza;


⇒ Condições de tranqüilidade hidráulica;
⇒ Entrada e saída projetados para permitir escoamento do efluente;
⇒ Distâncias mínimas respeitadas;
⇒ Condições de vedação para mau odores e contato com insetos e
roedores.

As gorduras são normalmente originadas, dos esgotos de cozinha, ou de despejos


industriais típicos. Possuem capacidade de se agrupar, alterando o tempo de detenção de
acordo com a velocidade de ascensão; esta velocidade pode ser observada em cilindros
graduados, pela determinação do tempo necessário para formar uma camada de escuma
na superfície do líquido.

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Fig. 23 – Caixa de Gordura Retangular e Circular

2.6.1.2.4 Decantadores

Os decantadores são unidades dimensionadas, para que o líquido tenha uma baixa
velocidade, possibilitando assim, a sedimentação de algumas partículas. Partículas
floculentas são aquelas, que podem variar sua velocidade de sedimentação, devido a
modificação de sua forma, dimensão e densidade, durante o processo de sedimentação.
A abrangência do fenômeno é a floculação, que depende da possibilidade de
choques entre as partículas. Esses efeitos podem ser quantificados, através de testes de
sedimentação, não sendo possível equacioná-los, em função das características das
partículas e do fluido; ao contrário do que ocorre com as partículas discretas.

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Fig. 24 - Decantador circular

Fig. 25 – Corte de um Decantador circular

Quando se observa que o tratamento biológico é inviável e que a quantidade de


sólidos sedimentáveis é considerável, deve-se optar pelo uso de decantador primário. No
caso de existir tratamento biológico, deve-se avaliar a necessidade da utilização do
decantador, pois, caso a unidade de remoção biológica tenha essa função, não existe a
necessidade de unidade de decantação.
Os decantadores podem ser classificados, de acordo com sua forma, ou seja,
podem ser retangulares, quadrados ou circulares; podendo apresentar o fundo chato,
inclinado ou com poços de lodo. A remoção do lodo pode ser mecanizada ou simples.

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motor
afluente
efluente

Fig. 26 – Esquema da Decantação Com Limpeza Mecanizada

Fig. 27 – Esquema de um Decantador Convencional com Escoamento Vertical

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Fig. 28 – Decantador Circular

™ Remoção de Partículas Sedimentáveis Finas (sem coagulação):

Quando forem aproveitadas águas contendo quantidades exageradas de partículas


finas (água com turbidez muito alta, pode-se tornar vantajosa uma pré-sedimentação),
para reduzir a turbidez, antes de qualquer processo.
A sedimentação simples é feita sem o emprego de coagulantes. A sua adoção como
processo prévio deve ser decidida após ensaios de laboratório (para demonstrar a
conveniência do processo, em cada caso).

™ Retenção de Flocos: Decantação após Coagulação

É o caso mais freqüente, em estações de tratamento de águas destinadas à


purificação pelos processos de coagulação - decantadores e filtração (para águas com
muita cor e turbidez, contendo matéria coloidal, águas que exigem a floculação química, e
também para águas muito duras sujeitas a tratamentos químicos de amolecimento).

¾ Coagulação:

Coagulação é uma operação unitária responsável pela desestabilização das


partículas coloidais em um sistema aquoso, preparando as para a sua remoção nas
etapas subseqüentes do processo de tratamento.

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Como parte da matéria insolúvel sedimenta quando permanece em repouso, outra


fração (matéria mais finamente dividida) é mantida em suspensão, no estado coloidal,
com partículas com tamanho variando de 1 μm a 200 μm.
Uma partícula coloidal pode levar até 20 anos para sedimentar, de acordo com o seu
tamanho. Esses resultados mostram que a velocidade de sedimentação das partículas
coloidais é extremamente baixa e, dessa forma, qualquer processo de separação de
partículas coloidais, baseado na separação gravitacional, é extremamente lenta. Qualquer
tratamento visando a remoção de partículas coloidais deve, passar por uma etapa
preliminar a fim de alterar as condições do sistema coloidal de forma a possibilitar a
coalescência das partículas, formando assim, aglomerados de partículas mais facilmente
removíveis do meio. Com algumas exceções, esta coalescência não ocorre naturalmente
- principalmente em sistemas liófobos, de vez que as partículas coloidais são
caracterizadas por forças de igual natureza elétrica (cargas iguais) que mantêm o sistema
disperso com um acentuado grau de estabilidade ao longo do tempo.
Essa estabilidade origina-se da solvatação ou ação protetora de certas substâncias
adsorvidas na superfície das partículas bem como da ação de forças eletrostáticas que
fazem com que as partículas sejam mutuamente repelidas.
Quando o meio de dispersão (fase contínua) é a água, as partículas coloidais são
carregadas de cargas negativas e daí decorre que a maior parte dos despejos industriais
e todos os despejos urbanos e despejos agrícolas apresentarem essa característica.
Devido à carga elétrica das partículas, os sistemas coloidais são extremamente
sensíveis à presença de eletrólitos introduzidos no meio, os quais, através de
mecanismos de ligação e adsorção na superfície da partícula coloidal, anulam as forças
de repulsão entre as partículas coloidais. Sabe-se que, em certos casos, o soluto dessas
soluções pode precipitar por efeito da adição de quantidades relativamente pequenas de
eletrólitos (sulfato de alumínio).
Para a coagulação, é prática corrente o uso de sais inorgânicos, como agentes
coagulantes, pois foi verificado que o seu efeito depende da valência do íon carregado de
carga elétrica contrária à carga das partículas coloidais, ou seja, quanto maior a valência
do íon maior será a sua capacidade de coagulação. Esse fato justifica o uso de íons de
alta valência (Fe+3 e Al+3) como agentes de coagulação dos sistemas coloidais nos quais
a água é a fase contínua.
Devido à hidrólise decorrente da presença desses íons na água, há sensíveis
variações das características físico-químicas do meio, ou seja, pH e condutividade

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elétrica. Quando usados em quantidades excessivas, ocorre a formação de grandes


massas de precipitado cuja eliminação é‚ por vezes, muito difícil.
Um outro parâmetro a ser considerado é que esses agentes não originam
precipitados com características adequadas para possibilitar a sua remoção do meio em
que foram formados. Por essas razões, opta-se pela utilização de agentes coagulantes
naturais tanto de natureza inorgânica (ex.: sílica ativada) e de natureza orgânica (amido,
alginatos,) e ainda de produtos sintéticos (polímeros) conhecidos como polieletrólitos.

o Substâncias Coagulantes

a) Agentes Coagulantes Inorgânicos: como já mencionado, os agentes


coagulantes inorgânicos mais utilizados são os sais de alumínio e de ferro. Por razões
econômicas, o sulfato de alumínio (alumen) e o cloreto férrico (FeCl3) são os mais
utilizados. A coagulação é função principalmente dos produtos de hidrólise desses sais na
água. Por exemplo, no caso do sulfato de alumínio, em pH = 4,0, a espécie predominante
é o Alhidratado.
Se, por outro lado, 4,0 < pH < 7,0 predominarão espécies do tipo: [Alx(OH) 2,5x]0,5 x+.
Tais espécies, como [Al8(OH)20]4+ são íons complexos, grandes, que, uma vez
adsorvidos na superfície da partícula coloidal, reduzem o potencial de repulsão. A valores
de pH mais elevados do que 7,0, a espécie que predomina é o Al(OH)3, insolúvel, que, por
sua vez, forma um colóide de carga positiva que é capaz de promover a coagulação
mútua dos colóides de carga negativa que predominam na água. Por serem de menor
custo, os agentes alcalinizantes do meio mais comuns são: o Ca(OH)2 e o Ca(HCO3)2.
Algumas reações químicas do sulfato de alumínio
Al2(SO4)3 → 2 Al3+ + 3 SO42-
Al3+ + H2O ⇔ AlOH2+ + H+
AlOH2+ + H2O ⇔ Al(OH)2+ + H+
Al(OH)2+ + H2O ⇔ Al(OH)3 + H+
Al(OH)3 + H2O ⇔ Al(OH)4- + H+

Algumas reações químicas dos compostos de ferro (III)

FeCl3 → Fe3+ + 3 Cl-


Fe2(SO4)3 → 2 Fe3+ + 3 SO42-

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Fe3+ + H2O ⇔ FeOH2+ + H+


FeOH2+ + H2O ⇔ Fe(OH)2+ + H+
Fe(OH)2+ + H2O ⇔ Fe(OH)3 + H+
Fe(OH)3 + H2O ⇔ Fe(OH)4- + H+

b) agentes de coagulação orgânica: esses agentes são não só agentes de


coagulação, mas também aceleradores (promotores) de floculação. Nesta categoria, além
dos já citados, incluem-se os polieletrólitos que são substâncias poliméricas que contêm
grupos ionizáveis na sua constituição química. Em função da característica iônica do seu
grupo ativo, esses polieletrólitos podem ser classificados em catiônicos, aniônicos ou
ainda de polianfófilos (de características comuns aos anteriores).
É comum o uso de polieletrólitos combinados com eletrólitos inorgânicos (sais de
alumínio e sais de ferro) com o objetivo de:
• Reduzir o consumo de eletrólito inorgânico e com isso reduzir o volume do
precipitado.
• Condicionar a formação de flocos com características adequadas à operação de
separação dos sólidos formados. Por exemplo, se à operação de coagulação deve-
se seguir a operação de sedimentação para a remoção dos flocos formados, quer-se
obter um floco que tenha boas características de sedimentabilidade - grande
velocidade de sedimentação e boa resistência à compactação e à ação mecânica da
grelha de raspagem do fundo do sedimentador.

c) dosagem do agente coagulante: a dosagem, bem como o pH adequado para


as etapas de coagulação floculação, deve ser determinada em laboratório através do
ensaio de JAR TEST.
η = [(DQO)b – (DQO)t]/(DQO)b → onde b indica o despejo bruto e t o despejo
tratado.
O par de valores, pH/concentração de eletrólitos, que melhor coagula o sistema
coloidal, será aquele que apresentar a maior eficiência de remoção, medida através da
DQO.
No caso de se obter flocos de reduzida sedimentabilidade, o que elevaria
sobremodo a área de captação do sedimentador, deve-se utilizar uma operação unitária
para a separação sólido-líquido denominada de flotação (já mencionada posteriormente).

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™ Velocidade de Sedimentação

As partículas relativamente grandes (diâmetro ou tamanho acima de 10 mm)


precipitam-se com um movimento acelerado, de acordo com a Lei de Newton (queda dos
corpos).
As partículas relativamente pequenas (diâmetro inferior a 0,1 mm), no seu
movimento de deposição (queda), atingem um regime de equilíbrio e apresentam uma
velocidade constante.

Efluente bruto Efluente Floculado Início da Flotação Flotação: 15s

Flotação: 30s Flotação: 3 min Flotação: 4 min (Efluente tratado)

Fig. 29 – Ilustração da evolução do processo de tratamento por coagulação/flotação

2.6.1.2.5 Flotação

A flotação é o movimento ascendente de partículas, provocado pelo aumento das


forças de empuxo em relação às gravitacionais. Essas forças de empuxo são causadas,
pela adesão de bolhas de ar nas partículas sólidas.

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1 2 3 4

Fr
F2
F2
F1 F1
Velocidade ascensional

Partícula sedimentando Agregação ar partícula Floco menos denso

Fig. 30 – Esquema Ilustrativo do Processo de Flotação

A flotação tem sido empregada, nos sistemas de tratamento de águas residuárias,


para a separação líquido/óleos, líquido/algas e líquido/sólidos suspensos.
Os materiais menos densos, encaminham-se para a parte superior de um
decantador, inviabilizando sua operação; devido a isso, esses materiais devem ser
removidos, através de flotação. Entretanto, os sólidos mais densos que a água, também
podem ser removidos por flotação. Com a agregação entre o gás e os sólidos as
partículas ficam menos densas tendendo a flotação.
A flotação com ar pode ser feita através dos seguintes meios:

a) Flotação com ar - Introdução de ar no líquido, através de difusores, mantendo-se o


líquido à pressão atmosférica;

Saída do
material
flotador
efluente
Compressor Câmara de flotação
de ar
bomba

afluente

Sem Pressurização do Afluente

Fig. 31 – Flotação Sem Pressurização do Efluente

b) Flotação por Ar Dissolvido - Introdução de ar no líquido sob pressão, seguido de


despressurização na base do flotador, levando à formação de bolhas minúsculas;

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Câmara de Câmara de Flotação efluente


Saturação

afluente

Pressurização Total do Afluente

Fig. 32 – Flotação Com Pressurização Total do Efluente

É comprovado que os flotadores com câmara de saturação são mais eficientes,


quando comparados aos que apresentam aplicação direta do ar, na câmara de flotação,
por meio de um compressor.

2.6.1.2.6 Tratamento dos Gases

Um dos problemas encontrados, para a instalação de estações de tratamento de


efluentes em centros urbanos (ou não) são os odores exalados devido a liberação de
gases. Os principais gases formados nas reações destinadas ao tratamento de esgoto
são: o nitrogênio (N2), o gás carbônico (CO2), o metano (CH4), o gás sulfídrico (H2S), o
Oxigênio (O2) e o Hidrogênio (H2) conforme tabela abaixo.

Tabela 16 – Limites de emissões gasosas provenientes de Estações de Tratamento de Efluentes

Componente Teores limites Valor mediano


CH4 54 – 77 % 67 %
CO2 14 – 34 % 30 %
N2 0–9% 3%
H2 0 – 11 % 3%
O2 0–2% 0,4 %
H2S 0,004 – 0,9 % 0,01 %
Fonte: DAE (1969)

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A legislação Brasileira, que estabelece padrões para a emissão de gases é a


resolução CONAMA nº. 3, de 28 de junho de 1990. As estações de tratamento de esgoto
respeitam estes padrões, mas apesar disso, os gases devem ser tratados
adequadamente, devido a possibilidade de ocorrer mal odor e explosão.
O gás metano caracteriza-se, por ser combustível e inflamável; requerendo,
portanto, cuidados com risco de explosão. Já o gás sulfídrico tem como principal
característica, o mau odor, que pode gerar sérios problemas, se o mesmo acumular-se
em locais fechados.

Tabela 17 – Reação Humana Perante Concentrações de H2S.

Reação Humana Concentração de H2S (ppm)


Odor incômodo 0,1 a 3
Odor Ofensivo 3 a 10
Náusea 10 a 50
Enjôo 50 a 100
Irritação Respiratória 100 a 300
Edema Pulmonar 300 a 500
Sistema Nervoso Atacado 500 a 1000
Letalidade 1000 a 2000

Grande parte do enxofre encontrado no esgoto transforma-se em H2S, através de


processos biológicos; porém, a turbulência apresenta grande influência na sua dissolução
do líquido.
O excesso de H2S nos tratamentos biológicos pode causar: a inibição do processo;
aceleramento da degradação dos equipamentos; corrosão da estrutura e aumento no
consumo de oxigênio.

H2S + 2 O2 → H2SO4 (ácido sulfúrico);

Esta reação é causada pelas bactérias Thiobacillus, dentro de um processo


biológico.

2.6.1.2.7 Tratamento Por Disposição no Solo

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As águas residuárias agroindustriais são, em geral, ricas em nutrientes de interesse


agrícola, podendo ser fonte de água e nutrientes para plantas. Em vista disso, a sua
disposição no solo deve passar a ser considerada como importante opção para a solução
de problemas relativos à poluição decorrentes de atividades agroindustriais. Esta técnica
de tratamento, que é de grande potencial de aplicação, em vista dos baixos custos de
implantação e operação, por contribuir para a preservação do meio ambiente e possibilitar
o aproveitamento dos nutrientes nela contidos, para a produção agrícola. Em vista disso,
deve ser incentivada a sua aplicação, considerando que para a expansão da construção
de unidades de tratamento de águas residuárias deverá ocorrer quando o produtor rural
ou empreendedor de unidades agroindustriais visualizar a possibilidade de transformação
dos resíduos gerados em sua atividade econômica em fonte de renda ou benefício social.
A disposição de águas residuárias no solo pode representar uma complementação a
tratamentos primários ou ser a única forma de tratamento para águas residuárias. Em
qualquer um dos casos, tem se mostrado de grande viabilidade técnica e econômica.
Além dos benefícios ambientais e agrícolas, estima-se que essa forma de
tratamento/disposição final apresente um custo oscilando entre 30% e 50% do custo de
formas de tratamento convencionais.
A disposição de águas residuárias oriundas de atividades agroindustriais no solo
deve ser feita, entretanto, de tal forma que não venha a contribuir para o aumento dos
problemas de qualidade ambiental, tais como contaminação de águas subterrâneas e
superficiais, contaminação de plantas por metais pesados e trazer influências negativas
sobre as características físicas e químicas do solo. Em vista disso, o desenvolvimento de
estudos que tornem possível a definição de taxas de aplicação de águas residuárias,
considerando-se as peculiares capacidades de suporte de cada solo e resguardando-se a
integridade dos recursos naturais, devem ser efetuados, sob pena de deixar-se de poluir
recursos hídricos superficiais para se passar a poluir o solo e águas subterrâneas.
A aplicação de águas residuárias no solo pode ser uma forma de tratamento (nível
primário, secundário e terciário) e de disposição final, uma vez que vários mecanismos,
de ordem física (sedimentação, filtração, radiação, volatilização, desidratação), química
(oxidação e reações químicas, precipitação, adsorção, troca iônica e complexação) e
biológica (biodegradação e predação) que ocorrem no solo atuam na remoção dos
poluentes da água residuária.
A capacidade do solo em assimilar compostos orgânicos complexos depende de
suas propriedades e condições climáticas. A taxa de aplicação, a textura do solo e o tipo
de cobertura vegetal na área receptora da água residuária são alguns dos fatores que

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devem ser levados em consideração para um tratamento/disposição adequado da água


residuária no solo. Para que haja eficiente degradação do material orgânico da água
residuária, é necessária adequada aeração do solo, que por sua vez, pode ser
prejudicada em condições de conteúdo de água muito alto no solo. Condições de
insuficiente aeração vão conduzir a menor capacidade de assimilação e degradação do
resíduo orgânico pelo solo.
Solos argilosos, com textura fina, ou solos com uma considerável quantidade de
matéria orgânica, podem reter os constituintes da água residuária por meio dos
mecanismos de adsorção, precipitação e troca iônica.
A remoção resulta da ação filtrante do solo seguida pela oxidação biológica do
material orgânico.
Quase todos os tipos de solo são eficientes na remoção de material orgânico,
entretanto, a classe e a textura do solo devem ser levadas em consideração, quando da
escolha do local para se instalar o sistema de tratamento, já que, para alguns sistemas,
torna-se necessário que haja grande velocidade de infiltração da água residuária e em
outros essa infiltração é não desejável, para que predomine o escoamento superficial.
Em vista disso, a má escolha de um local para o tratamento de águas residuárias
por disposição no solo pode ser o fator definidor do sucesso ou fracasso do
empreendimento.
As formas de disposição podem ser infiltração-percolação, escoamento superficial e
fertirrigação, além do lançamento em “áreas alagadas”.

Sistema de Infiltração-Percolação

No sistema de infiltração-percolação ou infiltração rápida, o objetivo é fazer do solo


um filtro para as águas residuárias. Este sistema é caracterizado pela percolação da água
residuária, a qual, purificada pela ação filtrante do meio poroso, constitui recarga para
águas freáticas ou subterrâneas. Nesse caso, o efluente é disposto em bacias rasas
(tabuleiros) ou valas de infiltração (Figura 33) e sem revestimento impermeabilizante no
fundo, construídas em solos de alta permeabilidade, onde é forçado a se infiltrar e
percolar pelo perfil. Neste método, são utilizadas altas taxas de aplicação, sendo as
perdas por evaporação relativamente pequenas. A aplicação deve ser intermitente,
proporcionando um período de descanso para o solo.

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As águas percoladas podem ser direcionadas para abastecimento freático ou


captadas por rede de drenagem subsuperficial ou sistema de poços freáticos, para terem
outros usos.
A aplicação deve ser feita de maneira intermitente, de forma a permitir período de
descanso ou “pousio” para o solo. No período de descanso, o solo deverá secar,
possibilitando o restabelecimento de condições aeróbias no seu interior. A oxigenação do
meio proporcionará mais rápida mineralização do material orgânico, diminuição da
exalação de maus odores, reestruturação do material sólido mineral do solo, além de
diminuição da contaminação por microrganismos estranhos a ele.

Fig. 33. Esquema de sistema de tratamento de águas residuárias, por infiltração-percolação, em


canais de infiltração.

A taxa de aplicação de água residuária no terreno deve variar de 15 a 30 cm dia-1,


sendo que, do volume aplicado, mais de 90% poderá constitui recarga de água
subterrânea. Entretanto, caso se opte por definir a taxa de aplicação com base numa
carga orgânica considerada máxima para que os microrganismos possam degradar, com
eficiência, o material orgânico adicionado (750 kg ha-1.d-1 de DBO), que é técnica e
ambientalmente muito mais adequada, as lâminas a serem aplicadas podem ser tão
pequenas que podem até não gerar significativo fluxo vertical descendente de água no
solo. Nesse caso, se grande parte da DBO não for removida por tratamentos prévios, o
que possibilitaria a aplicação de maiores lâminas diárias de água residuária, o sistema
poderá não funcionar como infiltração-percolação.
A infiltração de águas residuárias no solo oferece, entretanto, pela própria
concepção do método de tratamento, sérios riscos de contaminação das águas
subterrâneas, não devendo ser recomendada sem que cuidadoso monitoramento da
qualidade do solo e da água subterrânea seja feito.

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Neste sistema de tratamento/disposição final, estima-se remoção da ordem de 90-99% na


DBO; de 60-80% no N e de 70-95% no P, sendo essa eficiência de remoção dependente
de características químicas físicas e mineralógicas do solo.
As vantagens do sistema de infiltração-percolação são: requerer relativamente
pequenas áreas, quando comparado ao de outros métodos disposição no solo, para a
disposição da água residuária; apresentar requerimentos energéticos dispensados
apenas quando for necessário o bombeamento e a aplicação da água residuária de forma
pressurizada; reduzidos custos de implantação, operação e manutenção; efetuar a
disposição final do lodo no próprio local de tratamento, poder efetuar a aplicação de
água residuária durante todo o ano, além de proporcionar a carga do lençol d’água
subterrâneo em regiões carentes nesse recurso. Como desvantagens, pode-se citar a
possibilidade da ocorrência de maus odores; possibilidade do desenvolvimento de insetos
e vermes na superfície do solo; ser dependente das características do solo; apresentar
risco potencial de contaminação de águas subterrâneas com nitratos e outros
constituintes de maior mobilidade no solo e possibilidade de ocorrência de alterações
químicas e físicas no solo.

Escoamento Superficial

No método de tratamento por escoamento superficial, as águas residuárias são


aplicadas em taxas superiores às da sua capacidade de infiltração no solo, em terrenos
regulares e de baixa declividade, cultivados com vegetação rasteira, geralmente
gramíneas, onde se deslocam, rampa abaixo, até canais de coleta, posicionados ao final
dessas rampas de tratamento (Figura 34). À medida que a água residuária escoa sobre o
terreno, parte se evapora, uma pequena parte se infiltra e o restante é coletado em
canais. Durante o percurso de escoamento, o sistema solo-planta, juntamente com os
microrganismos que se desenvolvem nesse meio, constituem filtro natural, possibilitando
a degradação de parte do material orgânico e a retenção química e física de constituintes
inorgânicos em solução na água.
Os terrenos a serem utilizados para tratamento por escoamento superficial devem
ser constituídos por solos de baixa permeabilidade, para serem minimizados os riscos de
contaminação das águas freáticas e declividade entre 2% e 15%. Nesta técnica de
tratamento, a depuração da água residuária depende da vegetação cultivada nas rampas,
principalmente da capacidade de absorção de nutrientes disponibilizados no processo de

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decomposição proporcionada pelos microrganismos que desenvolvem na película


superficial do solo e colo das plantas.
O uso de culturas em crescimento, na área de tratamento/disposição das águas
residuárias, é essencial para aumentar a taxa de absorção dos nutrientes disponíveis no
solo e a perda de água por transpiração. Além disso, a vegetação representa barreira ao
livre escoamento superficial do líquido no solo, aumentado a retenção de sólidos em
suspensão e evitando a erosão, e proporciona um “habitat” para a biota, possibilitando
maior oportunidade para a ação dos microrganismos.
A aplicação da água residuária pode ser feita por aspersão, utilizando-se aspersores
de média e baixa pressão, por tubos “janelados” ou por sistema de bacias de distribuição
para os sulcos (irrigação por superfície).
No método de tratamento por escoamento superficial, adequadamente
dimensionado e operado, o efluente coletado ao final das rampas deve apresentar
qualidade tal que possibilite seu lançamento direto em corpos hídricos receptores.
Sistemas de aplicação no solo por escoamento sobre grama estão em uso há vários
anos, na Austrália, para o tratamento de esgotos municipais, com eficiência em termos de
remoção de sólidos em suspensão e de DBO em torno de 95 %. A eficiência na remoção
de N está na faixa de 70-90% e de P na de 50-60%. Acredita-se que em função de uma
escolha mais adequada do solo e com maior ajuste na operação do sistema, as remoções
de P devam aumentar, significativamente.

Fig. 34 - Esquema de sistema de tratamento de águas residuárias por escoamento superficial

A escolha da espécie vegetal a ser cultivada em rampas de tratamento é,


entretanto, fundamental para que se obtenha sucesso no uso do método de tratamento
por escoamento superficial. A cultura ideal para ser cultivada em rampas de tratamento
deve ser perene, tolerante às condições de baixa oxigenação e elevada salinidade em

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nível radicular, de elevada capacidade de extração de nutrientes e pouco susceptível às


pragas e doenças. Plantas forrageiras de grande poder extrator de nutrientes, denso
sistema radicular, rápido crescimento, adaptada às condições salinas e de excesso de
água e passíveis de cortes sucessivos e freqüentes, apresentam os requisitos desejáveis
para cultivo em áreas de tratamento de águas residuárias.
O escoamento sobre o solo permite o tratamento de grandes volumes em pequenas
áreas, proporcionando o aproveitamento do potencial fertilizante da água residuária
aplicada. O capim produzido nas rampas de tratamento de águas residuárias pode ser
utilizado, na forma de feno ou fresca, ou após ser ensilado, na alimentação de
ruminantes. Pesquisas têm demonstrado que essa forma de aproveitamento do capim
não oferece risco sanitário, notadamente se houver a paralisação da aplicação da água
contaminada com agentes patogênicos por, pelo menos, 7 dias antes da colheita do
capim, ou após 12 dias do capim fenado. Caso não haja interesse em aproveitamento na
alimentação animal, o material vegetal pode ser utilizado como adubo verde para lavouras
agrícolas.
O sistema de tratamento por escoamento superficial apresenta as mesmas
vantagens listadas para o sistema de infiltração-percolação, acrescida da vantagem de
menor risco de contaminação de águas subterrâneas e a produção de massa verde que
pode ser utilizada na alimentação animal ou fertilização do solo. As maiores desvantagens
são a dependência de características do solo como declividade e permeabilidade.

Fertirrigação

A fertirrigação é uma técnica de disposição/tratamento, onde se prioriza o


aproveitamento dos nutrientes presentes na água residuária, razão suficiente para se
considerar ser este o método de disposição excelente opção para tratamento/disposição
final de águas residuárias agroindustriais. Nutrientes como nitrogênio, potássio e,
principalmente, fósforo são fundamentais no cultivo de solos pobres, como os que
ocorrem na maior parte do Brasil, dessa forma, acredita-se que métodos de tratamento
que não vislumbrem a reciclagem de nutrientes estão inexoravelmente condenados a
desaparecerem em futuro próximo. O aproveitamento de águas residuárias ricas em
nutrientes na fertirrigação de culturas agrícolas possibilita o aumento da produtividade e
qualidade dos produtos colhidos, redução da poluição ambiental, além de promover
melhoria nas características químicas, físicas e biológicas do solo.

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O uso de águas residuárias na fertirrigação de espécies vegetais de crescimento


durante todo o ano é desejável. Assim, algumas capineiras de sistema radicular
abundante e profundo podem ser muito úteis, sob o ponto de vista ambiental, uma vez
que são capazes de retirar grande quantidade de macro e micronutrientes do solo,
diminuindo os riscos de contaminação de rios, lagos e águas subterrâneas. Águas
residuárias provenientes de atividades agroindustriais podem, também, ser aplicadas na
produção de grandes culturas (milho, sorgo, trigo etc.), frutas e hortaliças e madeira em
reflorestamentos.
A taxa de aplicação de águas residuárias agroindustriais deve, no entanto, estar
baseada na dose de nutrientes recomendados para as culturas agrícolas, pois, caso
esses níveis sejam suplantados, além de poder ser comprometida a produtividade da
cultura, podem provocar poluição do solo e das águas superficiais e subterrâneas. Por
essa razão, deve-se atentar para o fato de que águas residuárias agroindustriais nunca
devem ser aplicadas em quantidades equivalentes às requeridas pelas plantas para
atender suas necessidades hídricas, pois, se isso for feito, poderá haver salinização do
solo, com conseqüente queda de produção da cultura, além de contaminação de águas
superficiais e subterrâneas.
A fertirrigação com águas residuárias agroindustriais pode ser feita por sulco,
aspersão (Figura 35), gotejamento ou com chorumeiras, sendo a seleção do método de
tratamento feita, principalmente, em função da cultura, susceptibilidade a doenças e
capacidade de infiltração de água no solo. A fim de evitar possíveis riscos de
desenvolvimento de pragas nas folhas ou dispersão de maus odores, se essas águas
forem aplicadas via aspersão, recomenda-se, sempre que possível, a aplicação de águas
residuárias agroindustriais utilizando-se sistemas de irrigação localizada (gotejamento ou
microaspersão), considerados ideais quando se tem por objetivo minimizar os riscos do
desenvolvimento de pragas nas plantas e o impacto ambiental.

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Fig. 35 - Esquema ilustrativo da disposição de águas residuárias como fertirrigação de culturas


agrícolas (método da infiltração lenta).

Segundo as normas de saúde pública, quando se estuda o uso de águas


residuárias domésticas ou oriundas de criatórios de animais para a irrigação, deve-se
primeiro avaliar suas características microbiológicas e bioquímicas, tendo em
consideração o tipo de cultura, o solo, o sistema de irrigação e a forma em que se
consumirá o produto. Somente depois de verificar que estas águas reúnem as condições
especificadas pelas normas de saúde, deve-se considerar a avaliação em termos de seus
componentes químicos.

2.6.1.2.8 Digestão, Secagem e Disposição dos Lodos

Os materiais sólidos retidos pelos decantadores, constituem os lodos de esgoto.


O lodo do decantador primário denomina-se “lodo primário ou bruto”.

Tipos de Lodos:

• Lodos frescos: retirados após produção;


• Lodos sépticos: em início de putrefação;
• Lodos digeridos: após digestão.

DIGESTÃO DE LODOS:

Processos de decomposição anaeróbia, em condições controladas, com o objetivo:


1) Destruir bactérias patogênicas;

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2) Reduzir e estabilizar “MO” dos lodos frescos;


3) Reduzir o volume dos lodos através da liquefação, gaseificação, adensamento e
remoção das fases líquida e gasosa;
4) Facilitar a secagem dos lodos resultantes;
5) Utilizar os lodos digeridos e estabilizados como fonte de húmus; e
6) Aproveitar os gases resultantes

2.6.2 - Tratamento Secundário

2.6.2.1 Tratamento Biológico Aeróbio (Bio-oxidação):

É o processo no qual os microorganismos usam os componentes orgânicos


presentes no efluente, em presença de oxigênio, para produzir novas células (crescimento
microbiano) e os produtos finais CO2 e água. O processo aeróbio consegue converter
50% da matéria orgânica presente nos produtos da respiração sendo o restante
convertido em células microbianas, as quais constituem o lodo.

A composição química dos microrganismos depende também das condições do


meio.
A composição da biomassa é semelhante à das células bacterianas: C5H7NO2.
Alguns autores propõem a fórmula empírica para a composição celular (base seca)
como: C7H11NO3 (simplificada).
A população microbiana presente no floco é constituída de um conjunto
extremamente complexo de microrganismos, tais como: bactérias, fungos e protozoários.

Bactérias heterotróficas: aeróbias estritas ou facultativas


Pseudomonas, Bacillus, Escherichia, Micrococus, Aerobacter, Zooglea ramigera, entre
outros.

Bactérias autotróficas:

Nitrossomonas e Nitrobacter

Fungos: pouco comuns nos tratamentos convencionais.

Geotrichum

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Microfauna: ciliados livres, ciliados pendiculados, flagelados, amebas, rotíferos,


nematóides e anelídeos.

Protozoários: predadores das bactérias, principalmente as livres do tipo Vorticella.

As condições operacionais para o tratamento aeróbio de efluentes são resumidas


na tabela 1.

Tabela 17 - Condições operacionais para o tratamento aeróbio.

6 < pH <8

10o C < T < 40o C

0,5 mg/L < O2 dissolvido

(no entanto, fixa-se em 2,0)

Nutrientes: DBO5/N/P = 100/5/1

Micronutrientes: Fe, Mn, Cu, Zn, etc.

Nos processos biológicos a biomassa pode ser utilizada na forma fixa ou em


suspensão.

Os Processos com biomassa em suspensão são: Lodos Ativados e Lagoas Aeradas

Como se verá a seguir, estes processos podem ser projetados em associação com o
processo anaeróbio. Quando a ênfase recai sobre o processo aeróbio, o lodo resultante
deve ser digerido anaerobiamente em reatores. Quando o processo anaeróbio é utilizado
primariamente, utiliza-se, se necessário um processo aeróbio para o tratamento final do
efluente. Os principais tratamentos aeróbios são:

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⇒ PROCESSO DE LODO ATIVADO

É um processo de fluxo contínuo caracterizado pela suspensão de microorganismos,


os quais são mantidos em um estado relativamente homogêneo no efluente devido à
mistura e agitação promovidas pelo sistema de aeração (mecânica ou por difusores). O
lodo, decantado em um clarificador posterior, é reciclado (de 30 a 100 %) ao aerador,
mantendo sempre alto o conteúdo das células e, consequentemente, uma alta taxa de
conversão.
Dentre os processos aeróbios, o processo de lodo ativado (PLA) é um dos mais
aplicados e também de maior eficiência. É o mais utilizado em localidades de grande
concentração urbana.
O termo lodos ativados designa a massa microbiana floculenta que se forma
quando esgotos e outros efluentes biodegradáveis são submetidos à aeração
A biofloculação é governada pelo estado fisiológico das células, não sendo um
privilegio de uma espécie. O efeito que parece contribuir à biofloculação está ligado à
excreção ou à liberação, após a lise das células, de polímeros ou polissacarídeos. Estas
moléculas agem como polieletrólitos de síntese e sua parte fixa as células como um
revestimento aderente.

Desta forma, em um floco microbiano, temos vários microorganismos presentes


unidos por polímeros ou polissacarídeos.
A primeira unidade, em escala real, para tratamento de esgotos foi instalada em
Manchester (UK em 1914). Desde então o processo de lodos ativados ganhou grande
difusão e incorporou modificações técnicas, mantendo-se ativo no mercado de processos
de tratamento de efluentes. A Figura 36 mostra um esquema simplificado de tratamento
por lodo ativado.

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Fig. 36 - Esquema simplificado de tratamento por lodo ativado.

Tanque de aeração: é no seu interior que ocorrem as reações que conduzem à


metabolização dos compostos bio-tranformáveis. Aqui é essencial que se tenha boa
mistura e boa aeração.

Fig. 37 - Ejetores –Função de aeração sem geração de odor. Atual sistema de aeração do Ramal B do
tratamento de influentes da Replan.

Decantador (ou Sedimentador) Secundário: separa adequadamente o lodo (biomassa)


proveniente do tanque de aeração, é munido de um raspador de fundo.
Os decantadores secundários exercem um papel fundamental no processo de lodos
ativados, sendo responsáveis pelos seguintes fenômenos:

• Separação dos sólidos em suspensão presentes no reator, permitindo a saída de


um efluente clarificado;
• Adensamento dos sólidos em suspensão no fundo do decantador, permitindo o
retorno do lodo com concentração mais elevada;
• Armazenamento dos sólidos em suspensão no decantador, complementando o
armazenamento realizado no reator (aspecto de menor importância em países
tropicais, nos quais a elevada permanência dos sólidos no decantador é prejudicial,
por permitir a desnitrificação no decantador, ocorrendo a liberação do gás
nitrogênio, arrastando os flocos filamentosos do lodo, os quais, poderão originar o
bulking filamentoso, atrapalhando a sedimentação nos decantadores secundários,
e interferindo na qualidade do efluente final fazendo com que o lodo vá para a
superfície, deteriorando a qualidade do efluente final).

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A sedimentação é uma etapa fundamental para o processo de lodos ativados, ou


seja, sua adequada operação depende o sucesso da estação como um todo. Os
decantadores secundários são geralmente as últimas unidades do sistema, determinando
a qualidade final do efluente, em relação a sólidos em suspensão, DBO e mesmo
nutrientes. Um exemplo de decantador pode ser visto na Figura 38.

Fig. 38 – Decantador Secundário

Sistema de reciclo: bombas providenciam o reciclo do lodo para o tanque de aeração,


assegurando elevada concentração microbiana no interior daquele reator. O lodo em
excesso é retirado e vai para o tratamento de lodo (digestão anaeróbia)
A DQO do despejo, que corresponde à fração de matéria orgânica do despejo
quimicamente oxidável, decresce com o tempo à medida que o substrato sofre oxidação
por via biológica, isto é‚ vai sendo metabolizado pelos microrganismos
aeróbios/facultativos presentes no lodo ativado. A DQO remanescente após um longo
período de aeração corresponde à concentração de substrato não-biodegradável do
efluente.

Concomitantemente com o decréscimo da DQO, a concentração de SÓLIDOS


aumenta, no intervalo de tempo entre t0 e t1, correspondente ao início da aeração, pois,
nesse intervalo, é elevada a concentração e a disponibilidade de substrato metabolizável
pelos microrganismos, que o incorpora para a formação de novas células e para atender
às suas demandas energéticas. Essa fase é denominada fase de síntese, na qual a taxa
de produção de novas células excede a taxa de sua destruição (espécies que não
conseguiram se adaptar ao meio de cultura constituído, principalmente devido aos
produtos de metabolismo das demais espécies).

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Assim, os microrganismos consomem os poluentes do efluente como fonte de


carbono, para suas demandas energéticas e para produzir outras células. Este processo
apresenta excelentes remoções de DQO, mas há um preço: uma grande produção de
lodo que terá também que ser disponibilizado. Quanto maior for a vazão do efluente
maior a produção de lodo e menor a eficiência do processo. Maiores tempos de retenção,
no entanto, necessitam de maiores áreas, que nem sempre estão disponíveis. Como
exemplo: não há área disponível para implantar ETEs nas proximidades do rio Tietê (SP),
além do que as áreas são muito caras.
Há três classes para os processos de lodos ativados descrito para efluentes, que
variam o tempo de residência e a concentração de biomassa no reator. A escolha vai
depender da eficiência desejada e da área disponível para a implantação do processo.
Essas classes são facilmente acessíveis na literatura.
O funcionamento do processo está condicionado pela capacidade de decantação
do lodo. Para esgoto doméstico a literatura, relativamente abundante, permite indicar
faixas operacionais do processo, que asseguram boa sedimentabilidade do lodo,
viabilizando o processo. Para efluentes industriais, devido à sua especificidade, deve ser
realizado um trabalho experimental para assegurar um projeto criterioso de lodos
ativados.

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⇒ AERAÇÃO PROLONGADA

Esse processo de tratamento é também definido como um processo de oxidação


total e se constitui numa modificação do PLA (processo de lodos ativados). A idéia básica
do processo de Aeração Prolongada (AP) é a de reduzir, o máximo possível, o excesso
de lodo ativado produzido. Essa redução da concentração de lodo é conseguida pelo
simples aumento do tempo de aeração, ou seja, pelo aumento do tempo de residência no
reator. Dessa forma, o excesso de lodo é consumido por respiração endógena. Se
operada de forma adequada, a planta de tratamento de despejos por AP não produz
efeitos deletérios ao meio ambiente (odor) podendo, portanto, ser instalada em locais de
grande concentração populacional.

Fig. 39 – Aeração Prolongada

⇒ CÉLULAS DE AERAÇÃO

Trata-se de tanques com ventiladores superficiais ou difusores submersos, que


incorporam oxigênio ao efluente ao mesmo tempo em que promovem turbulência. É o
processo mais simples, porém, menos eficiente em termos de remoção de DBO. O lodo é
retirado em um sedimentador posterior.

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Fig. 40 - Tratamento aeróbico em células com lodo ativado

⇒ LEITO FILTRANTE (OU FILTRO BIOLÓGICO)

Este processo no qual o efluente possa através de um meio poroso sólido, cuja
superfície se encontra coberta por microorganismos. É um sistema muito barato, fácil de
operar, mas apresenta baixa eficiência quando existe muita variação de carga. O meio
pode ser de pedras, madeira, plástico ou outro material que permita aderência do limo. O
efluente deve ser distribuído sobre o leito por pulverizadores rotativos ou bocais. Pode ser
aplicada a recirculação de lodo para aumentar a eficiência do processo, devido à alta taxa
de conversão assim obtida.

Fig. 41 – Esquema de Funcionamento de um Filtro Biológico

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⇒ LAGOAS AERÓBIAS

É um processo mais antigo para tratamento biológico de resíduos. Atualmente, com


os processos mecânicos, tem perdido a primazia, porém, em conjugação com outros
processos ou com locais com grande disponibilidade de areia. As lagoas podem ser
aeróbias estritas (rasas), facultativas (profundas, com zona anaeróbia ao fundo) e
aeradas (profundas, com aeradores mecânicos). Periodicamente é necessário o
esgotamento da lagoa e a retirada do depósito de lodo.

Lagoas aeradas são bacias de grande volume nas quais, analogamente ao reator
de lodo ativado, a aeração do despejo é feita por meio de unidades mecânicas de
aeração (aeradores de superfície).
A diferença fundamental entre a lagoa aerada e o reator de lodo ativado reside no
fato de que na lagoa aerada não há reciclo do lodo, ou seja, o lodo formado‚ juntamente
com o despejo tratado, é lançado diretamente no corpo receptor ou, se necessário,
enviado para unidades de tratamento de lodo. Os tempos de retenção são elevados e a
carga mássica e volumétrica são menores.
A concentração de sólidos na lagoa aerada será função das características do
despejo e do tempo de residência. No caso de despejos domésticos, por exemplo, essa
concentração pode variar na faixa de 50 mg/L a 500 mg/L.

Regimes de Operação de Lagoas Aeradas

1 - Regime de Mistura Completa:

Nesse regime, o nível de agitação é tal que todos os sólidos são continuamente
mantidos em suspensão e o tempo de residência é da ordem de 3 dias.

2. Regime de Lagoa Facultativa:

Nesse regime de operação, o nível de agitação é de cerca de 5 vezes menor que o


regime de mistura completa. Esse nível de agitação é insuficiente para manter em
suspensão homogênea todos os sólidos presentes de forma que parte desses sólidos se
deposita no fundo da lagoa onde, em razão da provável escassez de oxigênio dissolvido,
sofrem decomposição anaeróbia. Devido à acumulação, esses sólidos devem ser

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removidos (freqüência de remoção varia entre 1 e 6 anos). O tempo de residência dessas


lagoas é da ordem de 6 dias.
A seleção do regime de operação de uma lagoa aerada resulta de uma avaliação
dos custos de operação e, principalmente, dos custos da terra (área). É claro que as
lagoas facultativas, por demandarem menor potência de aeração, exigem maiores
volumes de bacia.

⇒ COMPARAÇÃO ENTRE OS MÉTODOS

Na figura abaixo estão esquematizados os quatro métodos, os quais são


comparados na tabela a seguir.

Fig. 42 – Comparação entre os Métodos Aerados

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Tabela 18 – Relações Importantes para os Métodos Aerados

Efeito Porcentagem Tratamentos Posteriores


Removida
Leito ativo Sólido sedimentável 70 - 90 Decantagem secundária
DBO 65 - 95 Dispersão / secagem
Contagem bacteriana 75 - 95 Dissociação final do lodo
Remoção de vírus 50
Lodo ativado Sólido sedimentar 80 - 95 Decantação secundaria
DBO 85 -95 Filtração
Contagem bacteriana 90 - 95 Digestão / secagem
Remoção de vírus 90 Disposição final do lodo
Célula Aerada Sólido sedimentar - Decantação secundária
DBO 60 Digestão
Contagem bacteriana - Secagem
Remoção de vírus - Disposição final do lodo
Lagoa de Carga poluidora em DBO 90 - 95 Lagoa anaeróbica
oxidação Esgotamento
Digestão
Secagem
Disposição final do lodo

Quando um efluente é lançado em um corpo receptor há um decréscimo da


concentração de oxigênio. Próximo ao ponto de lançamento se estabelece uma população
microbiana que desdobra as substâncias orgânicas consumindo o oxigênio dissolvido da
água.

Nos processos biológicos de tratamento o fenômeno de degradação bacteriana, tal


como observado nos cursos d’água, é a essência do seu funcionamento.
A remoção da poluição dos compostos de carbono, no tratamento aeróbio, emprega
uma microflora altamente heterogênea (biomassa), que metaboliza as substâncias
orgânicas, levando os produtos de metabolismo, ao CO2 e H2O.
Os processos aeróbios de tratamento caracterizam-se pela heterogeneidade. A
biomassa é constituída de diversas espécies microbianas, incluindo predominantemente
bactérias, fungos e protozoários. As substâncias orgânicas presentes no efluente podem
se apresentar na forma solúvel, coloidal ou particulada e a sua composição química pode
ser variada.
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A remoção do material poluente biodegradável pela biomassa pode seguir as


seguintes etapas:

1 – adsorção e absorção de poluentes orgânicos coloidais ou solúveis pelos flocos


bacterianos (fenômeno físico-químico).
2 – degradação das substâncias adsorvidas pela ação de enzimas extracelulares que
transformam estruturas moleculares complexas em moléculas simples assimiláveis.
3 – metabolização de substratos no interior das células. Essas reações bioquímicas
fornecem energia para a síntese celular.

4 – a auto-oxidação progressiva dos conteúdos celulares, fenômeno que é acentuado em


carência de substrato, provoca a devolução ao meio de diversos produtos orgânicos.

SUBSTÂNCIAS ORGÂNICAS

BIOSSORÇÃO NOS FLOCOS E/OU FILMES MICROBIANOS

ATUAÇÃO DE ENZIMAS EXTRACELULARES

Absorção de moléculas pelas células


CO2 + H2O
METABOLIZAÇÃO

Produtos de metabolização
O2 Novas células

Fig. 42 – Esquema da Metabolização sobre Matéria Orgânica em Processos Aeróbios.

A oxidação bioquímica por via aeróbia é mais exotérmica do que a reação por via
anaeróbia. Considerando o exemplo da glicose:

Anaerobiose C6H12O6 ⇐→ 3CO2 + 3CH4 - 34 cal/mol

Aerobiose 6O2 + C6H12O6 →⇐ 6CO2 + 6H2O - 649 cal/mol

A energia liberada torna possível a multiplicação microbiana. Assim, a produção


celular é muito mais elevada em fase aeróbia e o processo de metabolização é mais

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rápido. Uma bactéria aeróbia se multiplica em cerca de 20 minutos enquanto que uma
anaeróbia necessita, por vezes de 10 dias.

2.6.2.2 Tratamento Biológico Anaeróbio

Pode ser utlizado como tratamento secundário de efluentes, sozinho ou associado


com a bio-oxidação aeróbia. É utilizada ainda a estabilização do lodo decantado nos
processos aeróbios. No processo anaeróbio a matéria orgânica é transformada em
células (5%) e em uma mistura (95%) de gases CO2 e CH4.

A digestão anaeróbia é um processo de conversão de sólidos a líquidos, gases e


sólidos residuais estabilizados (isto é, não são substratos para o desenvolvimento de
organismos animais). Ocorre quando não há quantidade de oxigênio dissolvido na água,
como por exemplo, em tanques sépticos, lagoas de estabilização anaeróbias, no leito
sedimentado de lagoas e tanques aeróbios, em tanques de lodo.

É um processo lento: deixados em condições naturais os resíduos levam 1,5 anos


para atingir 90% de estabilização e mais 5,5 anos para o restante 90%. Em tanques
aquecidos, esse tempo reduz para 50 a 60 dias e, nos processos com alta taxa de
digestão (aquecimento e agitação), podem-se ter ciclos de 6 a 20 dias. Com o advento
dos reatores de fluxo ascendente com leito de lodo (UASB) foi possível obter-se a
degradação anaeróbia em poucas horas, tornando este processo altamente interessante
para o aproveitamento de resíduos, uma vez que permite a utilização de biogás. A
temperatura ideal situa-se entre 30 e 35 °C. As outras características são:

Tabela 19 – Características Gerais de Processos Anaeróbios


Digestores aquecidos 50 a 60 dias Possibilidade de aproveitamento do gás combustível;
redução de 80 a 95% da DBO.
Digestores aquecidos e 6 a 20 dias Possibilidade de aproveitamento do gás combustível;
agitados redução de 80 a 95% da DBO.
Reatores de fluxo 3 a 5 horas Possibilidade de aproveitamento do gás combustível;
ascendente com leito de lodo redução de 80 a 95% da DBO.
Lagoas anaeróbias 5 a 50 dias Área menor que lagoas aeróbias, profundidade maior,
liberação de odores desagradáveis na fase inicial, 50 a 80
% redução de DBO, 40 a 50 % remoção de coliformes.

Nas figuras a seguir são mostrados, esquematicamente, equipamentos e


processos para tratamento de efluentes.

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moagem

afluente remoção de peneira sedimentador Aeração de sedimentador


bruto areia primário lodo ativado secundário

lodo retorno do lodo ativado

bruto
cloração

Condicionamento digestão
de lodo anaeróbia

Corpo dágua receptor


Secagem do
lodo dispersão final do lodo seco digerido

Fig. 43 - Diagrama em fluxo esquemático de um tipo de lodo (Chanlett, 1979).

moagem sedimentação
sedimentação leito filtrante secundária
primária de alta taxa

Afluente remoção peneira

Bruto de areia

lodo retorno do lodo secundário


para o sedimentador primário

cloração
condicionamento digestão
de lodo anaeróbica

Corpo receptor
secagem dispersão final de água
do lodo seco
digerido

Fig. 44 - Diagrama para tratamento de esgoto com leito filtrante (Chanlett, 1979).
A digestão anaeróbia é um processo fermentativo que tem como finalidade a
remoção de matéria orgânica, a formação de biogás e a produção de biofertilizantes mais
ricos em nutrientes, portanto é uma alternativa atraente para alguns casos de esgoto

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industrial e esgoto sanitário. Uma das dificuldades encontradas inicialmente era o


desconhecimento dos fatores que influenciavam a digestão anaeróbia.
A dificuldade atual a ser superada na aplicação da digestão anaeróbia para a
estabilização de águas residuárias, é alcançar a alta retenção da biomassa ativa no reator
anaeróbio, usando-se meios simples e baratos.
Como um método de tratamento de águas residuárias, a digestão anaeróbia
oferece um número de vantagens significantes sobre os sistemas de tratamento aeróbios
convencionais disponíveis atualmente.
- Vantagens:

•Baixa produção de lodo biológico,


•Dispensa energia para aeração,
•Há produção de metano,
•Há pequena necessidade de nutrientes,
• O lodo pode ser preservado ativo durante meses sem alimentação,
• O processo pode trabalhar com altas e baixas taxas orgânicas,

- Desvantagens:

•Nem sempre atende a legislação;


• A partida dos reatores pode ser lenta devido as bactérias metanogênicas;
• Falta de tradição em sua aplicação.

⇒ FILTRO ANAERÓBIO

O filtro anaeróbio é constituído essencialmente por um tanque com recheios de


pedras, peças cerâmicas de material sintético ou de outros materiais que servem de
suporte para microrganismos. Nos interstícios do leito do reator também evoluem flocos
ou grânulos, que possuem elevada participação de microrganismos que atuam na
degradação dos contaminantes da água residuária.
Filtros biológicos em boas condições de funcionamento podem apresentar
eficiência elevada de remoção de DQO e não exigem unidade de decantação
complementar, pois nesses casos, o teor de sólidos no efluente é bastante baixo e os

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resíduos arrastados pela água apresentam aspecto semelhante ao de pequenas


partículas de carvão suspensas em líquido bastante clarificado.
É muito importante, que o efluente a ser tratado apresente teores de sólidos
suspensos e de óleos e graxas, relativamente baixos. O uso do filtro anaeróbio conforme
o nível de conhecimento que se dispõe atualmente é uma excelente solução para
pequenas comunidades.
O filtro anaeróbio é um processo de tratamento de esgotos, na qual bactérias
anaeróbias fazem a digestão da matéria orgânica existente. Suas principais
características são que o fluxo é ascendente, sendo a entrada por baixo e a saída pela
parte alta, internamente é dividido em duas camadas, sendo as duas afogadas.
A camada inferior é vazia, e a superior suporta o recheio, a separação destas duas
camadas é chamada de fundo falso. Os recheios têm a função de meio de suporte de
microrganismos, dando sustentação para estes crescerem e se aglutinarem sem que se
desloquem para fora do reator. Os tipos de recheios mais usuais são as britas 4 e os
anéis plásticos, sendo o segundo mais eficiente e mais caro. Estuda-se o uso de bambu,
que é um material mais leve que o anel, mais barato e de boa eficiência.
O fundo falso deve ter furos igualmente distribuídos para que não ocorram zonas
de maior concentração ou até mesmo o curto circuito (figura 45).

0,03 metros
0,15 metros cada
de diâmetro
espaçamento

Fig. 45: Detalhe do Fundo Falso de um Filtro Anaeróbio. Fonte: NBR 7229 / 1982

A limpeza das unidades pode ser efetuada facilmente através de descarga de


fundo e da eventual remoção manual de algas da superfície do leito e do dispositivo de
coleta de efluentes.

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CAMADA COM
RECHEIO 0,60 ATÉ 1,20 METROS
SUBMERSA
NO ESGOTO

ENTRADA 0,20 ATÉ 0,50 METROS

Fig. 46 - Esquema do Fluxo de um Filtro Anaeróbio. Fonte: NBR 7229 / 1982

As vantagens do filtro anaeróbio podem ser:

• Ausência de gastos com aeração;


• Aplicação para resíduos com qualquer concentração;
• Flexibilidade operacional;
• Baixa produção de lodo ( já estabilizado );
• Possibilidade de ficar longo tempo sem alimentação;
• Fácil construção pela pequena altura necessária.

Indústrias indicadas para o uso do Filtro Anaeróbio:

• Usinas de açúcar e álcool;


• Águas de lavagem de garrafa;
• Matadouros e frigoríficos;
• Laticínios;
• Cítricos;
• Curtumes;
• Indústria alimentícia;
• Indústria farmacêutica;
• Indústria química;
• Coqueria;
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• Indústria petroquímica;
• Cervejarias;
• Indústria têxtil;

⇒ REATOR DE CONTATO ANAERÓBIO

O reator de contato anaeróbio possui semelhanças com os lodos ativados, porém


os microrganismos são anaeróbios, há mistura aquecimento e tanque de equalização.
Seu tempo de detenção é de 24 horas, e com a recirculação do lodo, o tempo de
detenção hidráulico é menor que o tempo de retenção celular. Apresenta alta qualidade
depuradora.

⇒ UASB – Reator Anaeróbio de Manta de Lodo

O Reator Anaeróbio de Manta de Lodo (UASB) é uma unidade de fluxo


ascendente, que possibilita o transporte das águas residuárias através de uma região que
apresenta elevada concentração de microrganismos anaeróbios.
O Reator deve ter seu afluente criteriosamente distribuído junto ao fundo, de
maneira que ocorra o contato adequado entre os microrganismos e o substrato. O reator
oferece condições para que grande quantidade de lodo biológico fique retida no interior
do mesmo em decorrência das características hidráulicas do escoamento e também da
natureza desse material que apresenta boas características de sedimentação, sendo esta
a conseqüência dos fatores físicos e bioquímicos que estimulam a floculação e a
granulação.
Na parte superior do reator existe um dispositivo destinado à sedimentação de
sólidos e à separação das fases sólido - líquido - gasoso. Esse dispositivo é de
fundamental importância, pois é responsável pelo retorno do lodo e consequentemente,
pela garantia do alto tempo de detenção celular do processo.

⇒ FOSSAS SÉPTICAS

As Fossas Sépticas são unidades de escoamento horizontal e contínua, que realiza


a separação de sólidos, decompondo-os anaerobiamente. A fossa séptica não é um
simples decantador ou digestor, mas sim, uma unidade que realiza simultaneamente

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várias funções como: decantação e digestão de sólidos em suspensão, que irá formar o
lodo, sendo este acumulado na parte inferior, ocorrerá a flotação e uma retenção de
materiais mais leves e flotáveis como: óleos e graxas, que formarão uma escuma na parte
superior. Os microrganismos existentes serão anaeróbios e ocorrerá a digestão do lodo,
com produção de gases.

⇒ BIODIGESTORES ANAERÓBIOS

Os Biodigestores Anaeróbios são ótimas opções para o tratamento de águas


residuárias, pois sabe-se que os processos anaeróbios são mais econômicos em sua
operação, pois não necessitam de aeradores, produzem menos lodo e não requerem
grande espaço. Quanto a confiabilidade, ainda não são totalmente aceitos, em razão do
pequeno número de reatores existentes; no entanto, pesquisas mostram resultados
estimulantes, além de não existir nenhum dado que impeça a utilização destes processos
em tratamento de esgoto sanitário.

2.6.2.3 Lagoas de Estabilização (ou Maturação)

A diferença básica entre a lagoa de estabilização e a lagoa aerada é que na


primeira, a aeração não é feita por meios mecanicamente induzidos (aeradores de
superfície) mas somente por meios naturais (transferência do oxigênio atmosférico para a
água e, em maior parte, pela ação fotossintética dos vegetais clorofilados presentes na
lagoa). O oxigênio liberado na fotossíntese é utilizado pelos microrganismos aeróbios na
degradação da matéria orgânica e, por sua vez, os produtos dessa degradação aeróbia
(CO2, NO3-, PO43-) são utilizados pelas algas numa, por assim dizer, perfeita simbiose. O
tratamento de despejos em lagoas de estabilização será economicamente viável se:
1. grandes áreas de terra forem disponíveis a custos baixos.
2. padrões de lançamento de despejos não muito rígidos.
Se a DBO do afluente da lagoa (despejo a ser tratado) for muito alta, a taxa de
consumo de oxigênio será maior que a taxa de re-aeração, a qual, por ser feita por meios
naturais é baixa, então a concentração de OD será baixa ou nula e o substrato só será
degradado por ação anaeróbia com os conseqüentes problemas de odor (H2S e
mercaptanas).
Uma condição freqüentemente encontrada em lagoas de estabilização é de que as
lâminas d'água mais próximas da superfície livre operam em condições aeróbias
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enquanto que as mais profundas operam em condições anaeróbias. Somente em casos


de tratamento de despejos de alta concentração da DBO é que as condições de operação
da lagoa são anaeróbias. No caso de se utilizar lagoas de estabilização em série, é de se
esperar que a primeira delas opere em condições anaeróbias enquanto que nas
subseqüentes, as condições aeróbias poderão eventualmente prevalecer.

2.6.3 - Tratamentos Terciários (ou Acabamento)

2.6.3.1 Tratamento Eletrolítico

Essa alternativa explora os fenômenos físicos e químicos que ocorrem em cubas


eletrolíticas, possibilitando a ocorrência várias reações de oxi-redução, além de liberação
de gases, da migração de íons, da flotação, da corrosão dos eletrodos, e das reações
secundárias. O conjunto dessas ações leva a formação de lodo, sendo este separado do
líquido, através da flotação ou decantação.

2.6.3.2 Cloração

Apesar de somente em 1880 ter sido demonstrado, que determinadas bactérias


eram a causa de doenças específicas, desde 1832 dispõe-se de informações sobre a
utilização de soluções de cloro na desinfecção de hospitais e também ampla utilização
durante a grande epidemia de cólera, ocorrida na Europa em 1831. Na Inglaterra, em
1879, Wilian Soper usou óxido de cloro para o tratamento de fezes de pacientes
portadores de febre tifóide, antes da disposição no esgoto.
Em escala de projeto, a primeira utilização do cloro como agente desinfetante de
esgotos sanitários foi realizada em Hamburgo (Alemanha), em 1893. Desde então, o uso
do cloro em águas residuárias teve um crescimento vertiginoso, em decorrência do
desenvolvimento de técnicas apropriadas. Em 1958, nos Estados Unidos, servindo a uma
população de mais de 38 milhões, empregaram esse método de desinfecção (Campos,
1990)
O cloro pode ser usado no tratamento de águas residuárias para uma série de
outras finalidades além da desinfecção, dentre os quais, o controle do odor, remoção de
DBO, controle de proliferação de moscas, destruição de cianetos e fenóis e remoção de
nitrogênio.
O uso do cloro tem como problema, a produção de compostos de cloro que podem
provocar danos à vida aquática.

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2.6.3.3 Radiação Ultravioleta

O espectro de radiação UV é arbitrariamente dividido em três bandas:

UV-A (315 a 400 nm), UV–B (280 a 315 nm) e UV-C (100 a 280 nm)

Destas bandas, as que são geralmente usadas em aplicações ambientais são a


UV-A e a UV-C. A radiação UV-A é também conhecida como radiação UV-próxima ou luz
negra. Muitas lâmpadas que emitem no UV-A apresentam seu pico de emissão em 365
nm e algumas em 350 nm. A radiação UV-C é usada para desinfecção de águas e
efluentes e uma das lâmpadas que pode ser usada é a lâmpada de vapor de mercúrio de
baixa pressão que apresenta um máximo de emissão em 254 nm.

A radiação ultravioleta é gerada a partir de lâmpadas de baixa pressão de vapor de


mercúrio, que emitem a maior parte de sua energia (85 a 90 %) no comprimento de onda
de 253,7 nm, que é efetiva na inativação de microrganismos.
O efluente é exposto à radiação ultravioleta, por tempo de 1 minuto, obtendo-se
com isso, eficiência elevada na remoção de microrganismos patogênicos. Nesse caso, os
custos são superiores ao do emprego do cloro, porém muito inferiores àqueles
correspondentes à utilização de ozônio (outro processo para desinfecção de esgotos).
As dosagens de radiação ultravioleta normalmente empregadas na inativação de
microrganismos em esgotos sanitários são tão pequenas, podendo-se dizer que seus
efeitos sobre as substâncias químicas presentes no efluente é insignificante, em relação a
formação de novas substâncias, através de reações fotoquímicas.
O uso da radiação ultravioleta tem sido muito estudado nos países desenvolvidos.
No Brasil, sabe-se que a Escola de Engenharia de São Carlos tem uma linha de pesquisa,
com resultados estimulantes.

Fig. 47 - Reatores para desinfecção de águas que utilizam lâmpadas com radiação UV.

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2.6.3.4 Oxidação Utilizando O3

O conhecimento do poder oxidativo do ozônio data de praticamente um século. A


utilização do ozônio para a desinfecção de água potável é conhecida desde o início deste
século, mais precisamente em 1906 em Nice na França. Atualmente o ozônio vem sendo
utilizado também para outros fins, como:

• Oxidante no controle da flora e odor

• Remoção da cor

• Remoção de Ferro e Manganês

• No auxílio da floculação

O ozônio é comumente produzido por descarga elétrica (plasma frio) no ar ou


oxigênio puro e esta reação pode ser catalisada por radiação, ultrasom, H2O2 e
catalisadores homogêneos (metais).

O2 O• + O• (1.1)

O• + O2 O3 (1.2)

O ozônio molecular, que é produzido “in situ”, reage diretamente com as


substâncias orgânicas presentes no meio, oxidando-as, pois é um forte agente oxidativo.

Quando o ozônio se decompõe são gerados radicais de grande poder oxidativo,


estas reações são ilustradas abaixo:

O3 → O2 + O• (1.3)

O• + H2O → 2HO• (1.4)

A taxa de geração destes radicais é dependente do pH do meio, há uma tendência


de ser aumentada em pH alcalino. Estes radicais, por sua vez, quando na presença de
compostos orgânicos pode desencadear uma série de reações, como ilustrado abaixo:

O3 + OH- ou R → •OH ; •O2- HO•2 (1.5)


+S Consumo de S
(pouco seletiva)

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Os radicais formados reagem com as substâncias orgânicas presentes, formando


compostos cada vez mais oxidados e com menores massas molares. O processo pode
levar a mineralização total das substâncias orgânicas ou a intermediários resistentes a
oxidação por essa via e muitas vezes a substâncias com maior biodegradabilidade.

A oxidação de substâncias orgânicas, quando se utiliza o ozônio é, portanto, uma


combinação da oxidação pelo ozônio molecular com a oxidação pelos radicais •OH
formados na decomposição do ozônio. A eficiência do processo será dependente do pH e
das substâncias orgânicas presentes.

O processo oxidativo utilizando ozônio muitas vezes vem acoplado a outros


processos, como, por exemplo, a processos biológicos, membranas, entre outros. A
ozonização pode ser aplicada para polimento de efluentes, como efluentes de indústria
têxtil para redução de cor, como pré-tratamento para efluentes que contém recalcitrantes
com a finalidade de aumentar a sua degradabilidade e possíveis outras combinações.

Um exemplo muito interessante de aplicação de ozônio é para o tratamento de


chorume (permeado de aterros sanitários). Em geral, o chorume apresenta baixa
degradabilidade, com uma razão DQO/DBO que pode chegar a 30, pode possuir
concentrações altas de metais e amônia. O chorume estudado neste caso é proveniente
do aterro de Gramacho/RJ.

A figura 48 apresenta amostras de chorume antes e após a ozonização, sendo que


no caso B o chorume passou por um pré-tratamento de coagulação/floculação visando
melhorar o desempenho da ozonização. O que pode se observar é que a ozonização
reduziu muito a cor do chorume e também aumentou a sua degradabilidade, produzindo
um chorume com uma razão DQO/DBO em torno de 3,5, de modo a permitir que este
chorume possa ser tratado por um processo biológico.

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Bruto 0,5g/L 1,5g/L 3,0g/L 5,0g/L 7,0g/L 9,0g/L


de O3 de O3 de O3 de O3 de O3 de O3

Depois 0,5g/L 1,5g/L 3,0g/L 5,0g/L


do TP de O3 de O3 de O3 de O3

Fig. 48 - Ozonização do chorume proveniente do aterro de Gramacho/RJ. Caso A – ozonização do


chorume bruto com diferentes concentrações de ozônio, de 0 a 9,5 g/L. Caso B – ozonização do
chorume após floculação com diferentes concentrações de ozônio, de 0 a 6,0 g/L.

Pode-se observar que o pré-tratamento do chorume reduz a cor do chorume e


otimiza a ozonização, uma vez que menores concentrações de ozônio são necessárias
para torná-lo mais biodegradável.

A Figura 49 mostra o comportamento ilustrativo da DBO e da DQO do chorume


com uma seqüência de tratamentos, na qual se pode observar que a ozonização torna
possível o tratamento biológico para o chorume. Neste caso, a ozonização não foi usada
para reduzir a DQO, mas sim, para aumentar a DBO, ou seja, foi usada para “quebrar” as
moléculas orgânicas presentes e/ou aumentar o seu estado de oxidação.

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Floculação
Processo
O3
Biológico
DBO

Processos
Figura 49: Comportamento da DQO e da DBO para uma seqüência de processos para tratamento de
chorume, incluindo coagulação, ozonização e tratamento biológico.

O ozônio tem sido avaliado em processos para desinfecção de águas. Os


resultados mostrados na tabela 20 indicam que é muito eficiente, pois as concentrações
requeridas para este agente oxidante são menores. Este resultado é observado para
todos os microrganismos apresentados na tabela 20.

Tabela 20: Desempenho de diversos oxidantes na desinfecção de águas.

microrganismos Ozônio Cloro Cloramina Dióxido de cloro

pH 6 - 7 pH 6 - 7 pH 8 - 9 pH 6 –7

E. coli 0,02 0,03 – 0,05 95 - 180 0,4 - 180

Poliovírus 1 0,1 – 0,2 1,1 – 2,5 770 - 3500 0,2 - 180

Rotavírus 0,006 – 0,06 0,01 – 0,05 2810 - 6480 0,2 – 2,1

Giárdia lambia cyst 0,6 – 1,6 30 - 150 750 - 2200 10 - 36

Cryptosporidium 2,5 – 18,4 7200 7200 (1log) 78 (1log)

A tabela 21 apresenta alguma vantagens e desvantagens da ozonização. Muitas


vezes quando o processo de ozonização é adequado, o seu alto custo dificulta a sua
aplicação. No sentido de diminuir os custos do processo muitas pesquisas tem sido
realizadas e nos últimos anos conseguiu-se uma relevante redução, em torno de 25%,
aumentando-se a eficiência do gerador de ozônio.

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Tabela 21: Vantagens e desvantagens da ozonização.

VANTAGENS DESVANTAGENS

Alto potencial de oxidação Alto custo

Baixas concentrações são suficientes O3 deve ser gerado “in situ”

Adiciona O2 na água Alta reatividade e baixa seletividade

Leva a baixos valores de DQO e DBO Não se pode ter O3 na água por um
longo período de tempo

Sua eficiência pode ser pouco alterada Pode não oxidar certos compostos
com as mudanças de pH e T orgânicos a CO2 e H2O

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3- Tratamento de Emissões Gasosas


3.1 - A Atmosfera da Terra

A Terra é coberta por uma camada de ar de aproximadamente 800 quilômetros de


espessura. A força de gravidade atrai aproximadamente 6 quatrilhões de ar para a Terra.
Aproximadamente metade desse ar é atraído e se concentra nos primeiros 6 quilômetros
do espaço terrestre e mais de 99% de todo o ar se localiza numa faixa de 40 quilômetros.
Como se pode perceber, os restantes 760 quilômetros são formados por uma atmosfera
extremamente rarefeita.
O ar é invisível, sem odor e sem gosto. É uma mistura de nitrogênio (78,1%),
oxigênio (20,9%), variando as quantidades de vapor de água, uma pequena quantidade
de dióxido de carbono (0,03%) e outros gases residuais. Na primeira camada desse
grande cobertor de ar, vive o homem. O ser humano é dependente desse ar e cada
indivíduo respira cerca de 22 mil vezes por dia. Se esse cobertor de ar fosse removido, o
homem não sobreviveria mais do que cinco minutos.
Entretanto, o homem pode usar este recurso precioso para descartar a maioria dos
seus resíduos ou contaminantes. Se esses contaminantes tiverem efeitos adversos, tais
como a diminuição da nossa saúde, redução da visibilidade, danos às plantas e materiais,
esses resíduos são chamados de poluentes. A poluição do ar é definida como a presença
de um ou mais contaminantes colocados na natureza ou atividades do homem, em
quantidades que podem causar dano ao homem, animais, plantas ou propriedades; ou
que possam interferir negativamente no bem estar das pessoas, na vida das plantas e
animais, no meio físico ou na propriedade. Outra definição conceitual é: poluição do ar é a
presença ou lançamento de matéria e energia no ar que possa a vir danificar o uso desse
recurso natural, previamente definido pela comunidade ou país que o contém. Quando o
homem polui sua atmosfera, ele pode causar um dano maior a outros ambientes e não
aquele imediato. Alguns poluentes podem percorrer centenas de quilômetros da sua
emissão original e interagem com outros poluentes nesse caminho. A atmosfera não é
capaz de efetuar uma dispersão imediata do poluente, próximo ao seu lançamento.
Somente depois de decorrido algum tempo, e em função das condições meteorológicas, é
que estarão mais ou menos distribuídos uniformemente na atmosfera.

3.2 - Meteorologia e Sua Relação com A Poluição do Ar

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No começo da história do homem, a natureza podia tomar conta das suas próprias
poluições naturais, tal como a erupção de um vulcão ou a queima de uma floresta.
Havia ventos suficientes, chuvas e correntes de ar para dispersar estes poluentes.
Entretanto, como o homem aumentou o volume dos seus poluentes, esta autodepuração
natural do ar não pode se manter e a poluição aumentou aos níveis atuais.
Vários fatores devem ser levados em conta na determinação do atual estágio do
problema da poluição do ar:

⇒ Tipos e quantidades de poluentes produzidos pelas atividades comunitárias;


⇒ Topografia;
⇒ Condições do tempo tais como: velocidade e direção do vento, luz solar,
precipitação, nuvens, neblina, umidade relativa, temperatura, o aumento ou
diminuição da temperatura do ar com o aumento da altitude, bem como o nível
de poluição existente nas massas de ar que chegam ao local de estudo. Você já
reparou que o ar pode parecer um dia poluído e outro dia limpo, mesmo
sabendo que pode estar ocorrendo a emissão da mesma quantidade de
poluentes?
Condições de ventos ou precipitações de chuva podem ajudar a dispersão dos
poluentes. Entretanto, ventos fracos ou poluições estáveis podem permitir, mesmo com
quantidades pequenas de poluentes, o seu acúmulo na atmosfera.
Tempo regular (sistema alto de pressão) e tempestades (sistemas de baixa
pressão) usualmente movem-se num padrão de comportamento de oeste para leste com
cerca de 30 a 45 quilômetros por hora. A essas velocidades, a maior parte dos poluentes
do ar serão diluídos e levados para longe. Entretanto, quando o sistema de alta pressão
torna-se estacionário, há muito pouco vento para levar os poluentes para longe.
Os poluentes aumentam quando ocorre uma inversão térmica. Normalmente, a
temperatura do ar decresce com o aumento da altitude. Entretanto, durante uma inversa
térmica a temperatura do ar aumenta com a altitude. Os poluentes emitidos em condições
normais são mais quentes e menos densos que o ar a sua volta. Como resultado, eles
sobem e são dispersos. Em uma situação de inversão, os poluentes sobem somente até o
ponto onde eles encontram um ar que é mais quente do que eles. Quando essa camada
de ar quente esta a baixa altitude, os poluentes se concentram próximo do nível do solo
porque não podem penetrar na camada de ar quente.

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Existe um tipo de inversão térmica facilmente reconhecível, chamada inversão


noturna, que pode ser vista nas manhãs claras e calmas. Este tipo de inversão é formada
durante a noite quando o solo perde calor mais rapidamente do que o ar.
O solo torna-se mais frio que o ar acima dele e o resfria. Nas manhãs em que essa
inversão ocorre, é comum a existência de orvalho, geadas ou neblina.
Nesses dias observe a fumaça que sai de uma chaminé ou do escapamento de um
carro. Você vai verificar que ela demora em se dispersar. Esta situação usualmente
desaparece pelo meio da manhã, em geral depois das 10:00 horas, quando o sol aquece
a terra e o calor destrói essa inversão. A topografia pode ter uma influência importante no
vento e na dispersão ou acumulação dos poluentes.
Consideremos a cidade em um vale. O ar frio que é formado nas partes altas à
noite flui para o fundo do vale pela manhã. Como resultado, o ar próximo do chão estará
mais frio que o ar acima dele. Nestes casos, temos a inversão térmica.
Existem alguns formatos de topografia que podem ser um efeito variável na
poluição do ar. O topo das montanhas geralmente tem melhores condições de vento e
nos locais próximos do mar geralmente formam-se as brisas marítimas.
Os ventos fortes nos topos das montanhas produzem condições que dispersam os
poluentes enquanto que a natureza complexa da brisa marinha pode até resultar em um
aumento na concentração dos poluentes.

3.3 - Tipos de Poluentes do Ar

Particulado, Gases e Líquidos

Os poluentes do ar gerado pelo homem são emitidos diretamente na atmosfera


(poluentes primários) ou são formados na atmosfera por reações químicas envolvendo
poluentes primários (poluentes secundários). Durante sua transformação química para
poluente secundário, o composto químico pode mudar de estado ofensivo para um outro
que pode ser danoso em altas concentrações, como por exemplo, óxido para dióxido de
nitrogênio. Os poluentes do ar também são produzidos pela natureza. Exemplo: polens,
poros, bactérias, poeiras do chão, sal marinho, gases e material sólido resultante da
erupção vulcânica e fumaça de queima de florestas.
Os poluentes no ar são usualmente divididos em dois grupos maiores: particulados
e gases. Recentemente, uma terceira forma de poluição tem sido reconhecida que é o
estado líquido.
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PARTICULADOS

Os poluentes são suspensões existentes no ar de substâncias fixas, sólidas e ou


líquidas. Existem dois termos para designá-los: partículas e aerossóis. As partículas
referem-se somente às substâncias sólidas, os aerossóis podem ser tanto líquidos como
substâncias sólidas suspensas no ar. Alguns exemplos de particulados são: fuligem,
partículas do solo, gotas oleaginosas, poeiras, névoas ácidas, fumaça, fumos e neblina.
Os particulados podem ser produzidos na queima incompleta, moagem, corte, purificação
etc.
Na atmosfera, os particulados ocorrem com vários tamanhos e formas.
Usualmente eles são classificados em particulados finos, aqueles com diâmetros
menores que 2,5 μ. Os particulados finos são mais importantes, porque podem ser
inalados pelo homem e animais e entrar nos pulmões. Nos trabalhos de engenharia
ambiental, o particulado fino é aquele abaixo de 10 μ. Também os particulados finos (0,3-
1,0 μ) são responsáveis pela redução da visibilidade. Os particulados finos são formados
primeiramente pela combustão incompleta e/ou reações químicas de poluentes primários
na atmosfera. Eles são leves em peso e podem persistir na atmosfera por dias.
Os particulados grosseiros são formados primeiramente pela resuspensão de
poeiras do solo, processos de moagem e brisa marítima. Eles causam menos problemas
que os particulados finos, uma vez que a gravidade fará sua deposição no solo em
poucas horas. Entretanto, aqueles particulados grosseiros que se encontram entre 2,5 a
15 μ em diâmetro podem ser importantes para o ponto de vista de saúde das pessoas
com problemas respiratórios e que sempre respiram pela boca. Para pessoas que
respiram normalmente pelo nariz, esses particulados não causam problema uma vez que
são bloqueados na passagem nasal. Os particulados reduzem a visibilidade e a absorção
e dispersão da luz. É o caso do nevoeiro em muitas áreas urbanas que pode causar
redução de luz do sol. Também a dispersão de luz, devido aos particulados, pode produzir
um céu avermelhado que algumas vezes é visto no nascer ou pôr do sol.

GASES

O segundo grupo de poluentes do ar é composto de gases. Enquanto somente


uma relativa pequena porcentagem de gases na atmosfera é poluente, eles exercem um
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papel importante porque são perigosos e possuem efeitos desagradáveis. Alguns


poluentes gasosos são liberados na atmosfera por meio de processo de combustão,
outros são liberados por processo de vaporização (mudança de um líquido para um
estado gasoso), ou são formados por reações químicas na atmosfera.
Os principais poluentes gasosos na atmosfera podem ser categorizados como
gases contendo: carbono, enxofre, nitrogênio e ozônio.

a) Os gases contendo carbono são os poluentes do tipo monóxido de carbono(CO),


hidrocarbonetos, hidrocarbonetos oxigenados. Monóxido de carbono é tóxico, sem cor,
sem odor e é resultado da combustão incompleta de combustíveis. Os hidrocarbonetos
são uma classe de compostos formados pela combustão incompleta e pela evaporação
da gasolina, óleo combustível e solvente. Eles são compostos de carbono e hidrogênio
em várias proporções. Os hidrocarbonetos oxigenados são compostos que contém
oxigênio em adição ou carbono e hidrogênio. Alguns deles são formados pela combustão
enquanto outros são poluentes secundários, formados de reações químicas entre
hidrocarbonetos e oxigênio na presença da luz solar. Muitos dos hidrocarbonetos e
hidrocarbonetos oxigenados são carcinogênicos. Um exemplo de hidrocarboneto
carcinogênico é o benzeno, existentes em refinarias e petroquímicas.
b) O principal poluente contendo enxofre é o dióxido de enxofre (SO2).Quando os
combustíveis contendo enxofre são queimados, o enxofre tira o oxigênio do ar e produz
dióxido de enxofre, o qual, em altas concentrações, é um gás irritante. O dióxido de
enxofre reage como os materiais na atmosfera para formar partículas de ácido sulfúrico e
partículas de sais de sulfato. O ácido sulfúrico é perigoso e é um poluente altamente
corrosivo. É comum, em períodos de estagnação do ar, a formação de dióxido de enxofre
e ácido sulfúrico em altas concentrações, produzindo sérios problemas pulmonares.
Episódios críticos como em Donora, Pensilvânia em 1948, nos Estados Unidos, e na
Inglaterra, em Londres em 1952, causaram altos índices de mortalidade. Na grande São
Paulo, em 1976, iniciou-se um processo de atenção e de alerta que denunciava a
possibilidade de ocorrência de episódios críticos semelhantes. O controle de grandes
quantidades de materiais particulados, cerca de 1500 toneladas por dia, e também dióxido
de enxofre possibilitaram uma melhoria acentuada na qualidade do ar na capital paulista.
Os outros poluentes do ar contendo enxofre são mercaptanas (carbono, enxofre e
composto de hidrogênio) e sulfato de hidrogênio (H2S) os quais podem ser produzidos
pela decomposição de matéria orgânica. As mercaptanas e o sulfato de hidrogênio não

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são poluentes comuns mas quando eles estão presentes, podem ser distinguidos pelo
seu odor característico de repolho e ovo podre.
c) Os gases contendo hidrogênio são poluentes que incluem o dióxido nítrico e o dióxido
de nitrogênio. O óxido nítrico é sem cor, relativamente não perigoso e é produto da
queima de combustível a altas temperaturas. Mas ele pode reagir com átomos de
oxigênio para formar o dióxido de nitrogênio.
Esta reação ocorre especialmente na presença e condições de formação do
"smog" fotoquímico. O dióxido de nitrogênio tem odor ligeiramente doce e cor marrom
amarelada. Em concentrações altas, pode parecer marrom. As duas maiores fontes de
geração de óxido de nitrogênio são combustão em fontes estacionárias na indústria, na
geração de energia, no aquecimento de ambientes e também provenientes dos veículos
automotores. Os óxidos de nitrogênio são os principais componentes requeridos na
formação do "smog" fotoquímico e da chuva ácida.
Além do óxido nítrico e do dióxido de nitrogênio, existem alguns compostos
orgânicos hidrogenados. Um exemplo é o nitrato de peroxi acetila, comumente conhecido
como PAN, que é formado de reações químicas e "smog" fotoquímico.
O PAN é um fitóxido, isto é, causa danos às plantas.
d) O ozônio é um gás composto de três átomos de oxigênio, enquanto o oxigênio que
utilizamos para nossa respiração contém dois átomos de oxigênio. O ozônio é um gás
sem cor com um característico cheiro de ar fresco, em geral, percebido durante as
trovoadas com tempestades. Ele ocorre na atmosfera naturalmente mas também pode ser
formado por reações químicas envolvendo os óxidos de nitrogênio e hidrocarbonetos, na
presença de luz solar, próximo da superfície da Terra. As reações químicas envolvendo a
luz solar são chamadas de reações fotoquímicas.
Existem três fontes naturais de ozônio. A principal delas está na estratosfera, onde
a produção de ozônio ocorre com a reação fotoquímica da luz ultravioleta com oxigênio. O
ozônio estratosférico é freqüentemente trazido da superfície da Terra, por corrente de ar,
e pode constituir em uma grande quantidade de ozônio, observado ao nível do solo. O
ozônio é também produzido por relâmpago mas como uma fonte menor. Há uma terceira
maneira de produção de ozônio: por reações fotoquímicas envolvendo óxido de nitrogênio
e hidrocarbonetos naturalmente emitidos pela vegetação. Exemplos de hidrocarbonetos
naturais, são os terpenos que são compostos químicos produzidos pelas árvores
coníferas.
Essas áreas possuem um odor associado a elas. Em média, o ozônio produzido
naturalmente representa mais da metade das concentrações de ozônio medidas. O

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ozônio é um constituinte muito importante do "smog" fotoquímico. Durante os meses de


verão, quando a luz solar é mais forte, o ozônio produzido pelas reações fotoquímicas
pode ser significativamente maior do que aquele produzido por fontes naturais.

LÍQUIDOS

A chuva ácida ou a precipitação ácida tem recentemente recebido muita atenção


devido ao impacto ecológico severo que pode causar em áreas bastante extensas. Em
decorrência da combustão de enorme quantidade de combustíveis fósseis tais como
carvão e óleo, no Brasil, são descarregadas anualmente na atmosfera milhões de
toneladas de compostos de enxofre e óxido de nitrogênio.
Através de uma série complexa de reações químicas estes poluentes podem ser
convertidos para ácidos os quais podem retornar à terra como componentes de uma
chuva.
A acidez é medida em unidades de pH. O símbolo pH representa a concentração de íons
hidrogênio carregados eletricamente em uma solução. A escala abaixo mostra o pH de
alguns componentes.

Fig. 50 – Acidez Relativa de Alguns Líquidos

A chuva caindo através de uma atmosfera limpa tem pH de 5,6 a 7 unidades de pH.
A chuva ácida tem um pH abaixo de 5,6. Em geral, quanto mais baixo o pH, mais poluída
e mais corrosiva a chuva se tornará.
Centenas de lagos nos Estados Unidos e na Escandinávia se tornaram tão ácidos
que não mais possuem vida aquática. Mais de 90 lagos no Estado de Nova York na
região de Adirondacks já não possuem mais peixes devido às condições ácidas. No
Brasil, uma das únicas regiões onde se mediu chuva ácida foi em Cubatão e em Santa
Catarina na região carbonífera. No centro leste dos Estados Unidos os números de pH
chegam aos valores de 4 a 4,2.

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A chuva ácida vem contribuindo para destruição dos monumentos de pedras em


todo o mundo. Efeitos adversos na agricultura e nas florestas têm sido muito suspeitados
mais não foram ainda completamente documentados.

3.4 - Fontes de Poluição do Ar

Os poluentes do ar originam-se principalmente da combustão incompleta de


combustíveis fósseis, para fins de transporte, aquecimento e produção industrial.
Entretanto, em adição aos processos de combustão, a poluição do ar é causada
por vaporização (a mudança do líquido para o estado gasoso); atrito ( operações de
redução de tamanhos tais como moagem, corte, perfuração etc.); combustão de materiais
residuais; reações químicas na atmosfera envolvendo poluentes primários e dando como
formação poluentes secundários; e numa menor extensão, fontes naturais tais como
polinização e vulcões.
As principais categorias de fontes de poluição do ar feitas pelo homem são:
transporte, combustão e fontes estacionárias, processos industriais e resíduos sólidos.
Estas fontes são classificadas como fontes móveis e estacionárias.
O nosso sistema de transporte atual se baseia na queima de combustíveis
consequentemente, a poluição do ar é um subproduto. Estas fontes de transporte incluem
automóveis, ônibus, caminhões, aviões, equipamentos de fazenda, trens, navios etc.
Devido ao grande número, os automóveis são a fonte principal desta categoria. Nos
Estados Unidos desde 1963, quando o sistema de ventilação positiva do Carter foi
instalada, os automóveis têm sido projetados com equipamento de controle da poluição
do ar proporcionando uma diminuição das emissões dos tanques de gasolina,
carburadores, alívios de Carter e do cano de escapamento. Para estes controles
trabalharem efetivamente, é necessário que o motor regulado e o carburador seja
ajustado adequadamente. Um motor regulado inadequadamente resultará altas emissões
de monóxido de carbono e hidrocarbonetos e uma baixa economia de combustível. O
carburador controla a relação ar combustível do veículo. Se a relação de ar combustível
for muito alta, quantidades maiores de óxidos de nitrogênio serão emitidas, enquanto que
com relações de ar combustível baixa, aumentará a quantidade de monóxido de carbono
e hidrocarbonetos, assim como aumento do consumo de combustível.
Carros não mantidos significam alto consumo de combustível e dessa forma,
desperdício de dinheiro e maior emissão de poluentes.

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A combustão incompleta é a maior causa da poluição do ar, embora a combustão


completa resulte na emissão de compostos não danosos de dióxido de carbono, vapor de
água e cinzas. Nenhum processo de combustão é completo.
Alguns poluentes são ainda liberados independentes se eles são provenientes da
queima de carvão e óleo em termoelétricas, fábricas, veículos a gasolina, lixo em
incineradores e queima de vegetação. Entretanto se no mundo nós não mais
queimássemos combustíveis, a maioria da nossa eletricidade e transporte estaria parada,
principalmente nos países frios onde a necessidade de aquecimento é prioritária.
Os processos industriais tem uma grande participação na poluição no ar. Devido à
tremenda diversidade dos produtos das indústrias, seus processos geram uma grande
taxa de poluentes. As principais indústrias que contribuem para poluição do ar são as
indústrias de petróleo e combustíveis, a de produtos químicos e a metalúrgica.
As emissões provenientes da queima de resíduos sólidos são relativamente
pequenas mas deverão cada vez mais aumentar a sua significância devido aos problemas
da destinação de resíduos sólidos.

3.5 - Efeitos da Poluição do Ar

Saúde Humana

A poluição do ar pode afetar o homem e seu ambiente de diversas formas.


Quando a concentração dos poluentes do ar aumenta, sem ser o mesmo,
adequadamente disperso devido a meteorologia, topografia e outros fatores, sérios
problemas de saúde acabam ocorrendo. Alguns episódios agudos ocorreram no passado
Exemplo: Vale do Rio Meuse na Bélgica em 1930; Donora, Pensilvânia, em 1948;
Londres, Inglaterra, 1952; e na cidade de Nova York, 1966.
Em cada caso, uma inversão térmica segurou os poluentes próximos da superfície
da terra causando mais morbidade e mortalidade do que o usual, especialmente, entre os
mais velhos e naqueles já possuidores de condições cardiológicas e pulmonares
deficitárias.
Embora as estimativas de mortalidade devido à poluição do ar variem de 0,1% para
10%, mesmo o efeito de 0,1% da poluição do ar corresponderia a 15 mil mortes anuais.
Estes dados são indicativos da poluição norte americana e estimados pela Academia
Nacional de Ciências do Estados Unidos. No Brasil tais informações não existem e
principalmente nas grandes cidades deveriam ser levantadas. As pessoas que vivem nas
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áreas urbanas têm um maior risco por estarem expostas aos poluentes do ar que podem
afetar o seu bem estar.
O trato respiratório é afetado pela poluição do ar. A cilia do nariz e das superfícies
internas que levam até os pulmões pode coletar as partículas maiores dos poluentes;
entretanto, as partículas menores e os gases são capazes de entrar nos pulmões.
Quando nós respiramos, os alvéolos, transformam o oxigênio em dióxido de carbono. A
poluição pode causar em alguns desses alvéolos o aumento de seu volume, alterando
sua resiliência, de forma que a respiração fica mais difícil. Os poluentes do ar podem
também diminuir ou até parar a ação das cílias, que normalmente carregam muco e os
poluentes no trato respiratório. O muco pode engrossar ou aumentar e as vias
respiratórias podem ficar entupidas. Os problemas de respiração podem aparecer por
causa de uma ou mais dessas reações. Também, os microorganismos e outros materiais
estranhos podem ser suficientemente removidos, fazendo o trato respiratório suscetível a
infecções.
A poluição do ar tem sido associada com doenças respiratórias crônicas. Os
poluentes do ar podem causar ataques de asma brônquica. Durante tais ataques, ocorre o
estreitamento temporário das vias áreas menores (bronquíolos) produzido por um
espasmo do músculo, um aumento das secreções de mucos, ou encolhimento da
membrana mucosa. Os poluentes do ar agravam tanto a bronquite crônica como o
enfisema pulmonar. Na bronquite crônica, uma quantidade anormal de muco é produzida
no brônquio, resultado de tosses contínuas. O enfisema pulmonar é caracterizado pela
quebra das paredes do alvéolo. Durante essa doença, um dano irreversível aos tecidos
ocorrerá. O alvéolo aumenta, perde a sua resiliência e se desintegra. Respiração curta é
sintoma dessa doença. No câncer do pulmão, existe um crescimento anormal de células
originando a membrana mucosa do brônquio. Embora improvável que câncer do pulmão
seja produzido por uma só causa, os poluentes do ar podem paralisar a cília e permitir
que substâncias carcinogênicas permaneçam em contato com as células do brônquio
mais tempo que o normal. Alguns poluentes do ar têm sido identificados como
substâncias capazes de causar câncer, por hidrocarbonetos aromáticos (benzeno,
benzopireno).
Existe uma associação próxima entre o sistema respiratório e circulatório. Se o
sistema respiratório é afetado por uma doença e não pode trocar os gases no sangue
completamente, o coração precisa trabalhar mais intensamente para bombear sangue
suficiente para repor as perdas de oxigênio. Como resultado, o coração e os vasos
sanguíneos estarão sob “stress” e poderão surgir algumas mudanças como aumento do

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tamanho do coração. Porque o monóxido de carbono pode reduzir o conteúdo de oxigênio


no sangue, este poluente pode exigir uma carga maior para pessoas com anemia ou
doenças cardio-respiratórias.
Os poluentes do ar podem ter outros efeitos que incluem: ardimento e
lacrimejamento dos olhos, visão embaçada, tontura, dor de cabeça, irritação na garganta,
espirros alérgicos e tosse e diminuição de desempenho corporal.
Os poluentes naturais que causam afeitos sobre a saúde humana são os
aeroalérgicos. Os aeroalérgicos consistem principalmente de polens, mas também
incluem bactérias, mofos, poros, poeira de casa, fibras vegetais etc. Acima de 10% da
população exposta é afetada por aeroalérgicos. O principal efeito sobre a saúde: rinite
alérgica e/ou asma brônquica com alteração do tecido reversível.
Estes poluentes naturais, através de complicações infecciosas, podem agravar os
efeitos sobre a saúde, causados pelos poluentes gerados pelo homem.
Os polens das plantas, em particular alguns, produzem o mais importante dos
alérgicos. Várias medições de polens são realizadas diariamente nos Estados Unidos
principalmente nas estações onde há maior ocorrência. Essas medições servem como um
indicador das quantidades de alérgicos do ar. Os animais podem também ser afetados
pelos poluentes do ar. No passado, quando episódios agudos da poluição do ar
produziam doenças nos homens, vários animais também tornavam-se seriamente
doentes e alguns morriam. Entretanto, os efeitos parecem ocorrer de forma variada, de
acordo com a espécie do animal.
As tabelas 22, 23, 24, 25, 26 e 27, mostram os efeitos dos poluentes atmosféricos
sobre a saúde humana.
A tabela 28 mostra os padrões de qualidade do ar adotados pela EPA
(Environmental Protection Agency - U.S.A).

Tabela 22 – Substâncias Não-tóxicas

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Tabela 23 – Efeito do ozônio

Tabela 24 – Efeitos do Dióxido de Nitrogênio

Tabela 25 – Efeitos do Dióxido de Enxofre

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Tabela 26 – Efeito do Monóxido de Carbono

Tabela 27 – Efeito de Oxidantes Fotoquímicos

Tabela 28 – Padrões de Qualidade do Ar (EPA)

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Vegetação

Várias plantas são sensitivas para os poluentes do ar. Algumas são usadas como
indicadores de poluentes do ar porque elas demonstram um tipo característico de dano
para um poluente específico. Os poluentes do ar entram nas folhas das plantas
principalmente através dos seus poros ou estômatos. A extensão dos danos varia devido
a vários fatores: as características dos poluentes (concentração, duração, propriedades
físicas e químicas etc.); condições climáticas (temperatura, intensidade de luz,
precipitação etc.); condições do solo (umidade, nutrientes etc.) e fatores biológicos
(estágio de desenvolvimento, composição genética, insetos, doenças etc.). Os poluentes
do ar afetam vários tipos de vegetação, incluindo as plantações na agricultura. Eles
também afetam a agricultura através da diminuição do valor do produto (a qualidade pode
ser afetada e a época de venda pode ser adiantada ou atrasada), ou aumenta o custo da
produção (decréscimo do valor da plantação, pela necessidade de uso de fertilizantes e
irrigação etc.).
Diferentes espécies de vegetação e variedades dentro das espécies diferem na sua
suscetibilidade a poluentes particulares. Os principais poluentes que causam danos às
plantas e algumas das espécies que são afetadas estão listadas na tabela 29 (resumo de
poluentes, sintomas e vegetação afetada).

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Tabela 29 – Efeito da Poluição do Ar Sobre os Vegetais.

Materiais

Os poluentes do ar podem corroer e escurecer metais; quebrar a borracha; sujar


roupas; móveis, prédios etc.; erodir prédios, monumentos etc.; descolorir vários tipos de
materiais; enfraquecer algodão, lã e fibra de seda e destruir o nylon.
Os gases reativos, tais como o ozônio e o dióxido de enxofre, assim como os
ácidos, tais como nítrico e sulfúrico, são principalmente responsáveis por danificar
tecidos, descolorir tingimentos, escurecer metais, enfraquecer a borracha, e erodir

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prédios. O material particulado é o principal responsável pela sujeira do nosso meio


ambiente.

Tempo

A poluição do ar pode reduzir visibilidade e criar danos para o transporte. A


diminuição da visibilidade é facilmente observada e é especialmente danosa para locais
com paisagens turísticas tais como o Grande Canyon das Montanhas Rochosas nos
Estados Unidos tornando-as menos visíveis. A diminuição da visibilidade também reduz o
alcance visual dos objetos do nosso meio. Se os poluentes ou as coisas naturais não
estivessem presentes, o alcance visual ao nível do mar seria limitado somente pela
topografia ou pela dispersão de luz ou gases e neblina que ocorre naturalmente.
A poluição do ar pode também causar a descoloração da atmosfera. Isto pode ser
observado em várias cidades do Brasil mais principalmente na cidade de São Paulo com
a sua nuvem marrom escurecida. Esta nuvem é particularmente observável porque
impede a vista de toda cidade a uma distância de mais de quilômetros. A diminuição da
visibilidade e a cor amarronzada em São Paulo e algumas cidades do Brasil são causadas
pela dispersão da luz por particulados bastantes pequenos para serem vistos sem o
auxílio de um microscópio. Estes particulados têm diâmetros entre 0,3 μ (1/33.000 do
centímetro) até 1,0 μ (1/1.000 do centímetro). Em alguns lugares, a descoloração
amarronzada é aumentada pelo dióxido de nitrogênio que é amarronzado.
As fontes móveis estacionárias emitem material particulado, em geral muito
pequeno que permite dispersão da luz. Também, sobre certas condições, o dióxido de
enxofre e hidrocarbonetos e o dióxido de nitrogênio emitidos destas fontes podem
promover reações químicas na presença da luz e produzirem muito mais particulados. Isto
leva a formação de grandes áreas com centenas de quilômetros totalmente encobertas
por um névoa. Para complicar o cenário, o processo de remoção destes particulados da
atmosfera é extremamente lento na ausência de chuva. Eles podem viajar centenas de
quilômetros das suas fontes e afetar outras áreas incluindo áreas rurais com poucas
fontes de poluentes é certamente o maior efeito visível na nossa atmosfera. Existem,
entretanto, vários outros efeitos conhecidos, ou postos de lado, alguns dos quais podem
ser potencialmente mais sérios. São eles:

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a) Aumento da formação de neblina: normalmente, a neblina ocorre quando a umidade


relativa alcança 100%. Entretanto, certos particulados tais como sulfatos e nitratos atraem
água e podem formar neblina com umidade relativa levemente abaixo de 100%.

b) Aumento na precipitação: A maioria dos partícula dos de pequeno tamanho serve como
um excelente núcleo na formação de nuvens de gotas.
Consequentemente isto pode causar o aumento na precipitação à jusante de
grandes fontes de material particulado.

c) Alteração da temperatura global da Terra: existem dois fatores opostos para serem
considerados: primeiro, as concentrações de dióxido de carbono (CO2) vem aumentando
constantemente nas últimas décadas. O dióxido de carbono é emitido por todos os
processos de combustão; entretanto, não é considerado um poluente do ar. Uma vez que
o CO2 dificulta a passagem do aquecimento solar na baixa atmosfera, o aumento de CO2
pode induzir ao aumento da temperatura global da Terra. Alguns cientistas acham que
isto poderia levar a um derretimento parcial da calota polar o que causaria um aumento no
nível dos oceanos com ocorrência de enchentes em certas cidades costeiras.
O segundo fator para ser considerado é o efeito dos particulados de pequeno
tamanho que interceptam parte da energia do sol impedindo-a de alcançar a superfície da
Terra. Isto poderia promover uma diminuição da temperatura da superfície terrestre.
Essas teses ainda não foram confirmadas. Entretanto como as emissões aumentam,
existe uma grande probabilidade de que alguns destes efeitos se confirmem rapidamente.

d) Esgotamento do ozônio na atmosfera: 25 quilômetros acima da superfície da terra na


estratosfera existe uma camada natural de ozônio. Esta camada de ozônio é
extremamente importante para a vida, porque ela absorve a maioria da radiação
ultravioleta do sol. A maior parte da vida na Terra pereceria se essa camada fosse
eliminada. Os gases de exaustão das aeronaves que voam na estratosfera, os aviões
supersônicos e os flúor carbono são principalmente responsáveis pela diminuição do
ozônio.
O flúor carbono têm vários usos. Os mais comuns são o sistema de ar
condicionado e de refrigeração, usos industriais e latas de aerossóis. Estes produtos
químicos são extremamente inertes e não destruídos facilmente pelo processos naturais,
exceto pela radiação ultravioleta.

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Consequentemente, como o flúor-carbono é liberado na atmosfera, ele se acumula.


Esse flúor-carbono eventualmente migra para a camada de ozônio. Não é conhecido
quanto de ozônio será destruído por este processo, mais alguns cientistas afirmam que
isso tem resultado em um aumento do câncer de pele. Consequentemente os flúor-
carbono estão sendo proibidos em muitos dos seus usos.

3.6 - Equipamentos de Controle de Poluição do Ar

O conjunto de equipamentos tem o objetivo de coletar partículas e os gases e


vapores. O equipamento que faz as duas funções ao mesmo tempo, não trabalha
eficientemente.

Eficiência: quanto maior a retirada da poluição, mais eficiente.

η = massa retirada x 100 = massa que entra

Massa retirada = a eficiência mais usada é referente à massa que o equipamento


consegue retirar (existem números de partículas, porém é pouco
usado).

A característica mais importante na estimativa da eficiência, é o conhecimento da


distribuição dos tamanhos das partículas poluentes (01 mícron à 100 micra).

μ = mícron: milésima parte de um milímetro

As partículas menores são mais difíceis de serem coletadas, variando a eficiência


de acordo com o tamanho da partícula a ser coletada.

Quanto menor a partícula pior é para a saúde, pois, nem sempre o maior dano é
causado pela quantidade mas sim pelas partículas inaladas, portanto as menores,
sem considerar a sua toxidade (ex.: Chumbo).

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3.6.1 - Controle em Fontes Fixas

Este tipo de aplicação encontra-se próximo a fornos, caldeiras, peneiras, etc..

♦ MATERIAL PARTICULADO

a) Coletores Gravitacionais:

Sistema de ventilação exaustora possui uma “câmara de sedimentação


gravitacional” cujo mecanismo aproveita a ação da gravidade sobre a partícula (eficiência
10%).
A câmara é um alargamento de duto que diminui a velocidade do efluente gasoso,
ajudando a ação da gravidade, sedimentando as partículas na superfície de coleta do
equipamento.

Fig. 51 – Esquema de um Coletor Gravitacional.

É um equipamento de baixa eficiência, pois as partículas pequenas quase não são


coletadas. Normalmente estes equipamentos são “pré-coletores”, retendo as partículas
maiores e deixando as menores para equipamentos seqüenciais mais eficientes.
Para se aumentar à eficiência se faz uma câmara com bandejas, onde se espalha
o efluente dando maior oportunidade à sedimentação das partículas, porém ocorre um
aumento de perda de carga.

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b) Coletores Centrífugos:

A coleta das partículas é feita pela ação da força centrífuga sobre as mesmas. Ao
entrar no equipamento o efluente gira em torno do mesmo e depois volta para o outro
cilindro (um cilindro externo para a entrada e outro interno para a saída).
As partículas são arrastadas para a parede do equipamento ficando presas, sendo
que com uma agitação mecânica destas paredes as partículas são coletadas.
Pode apresentar eficiência maior considerando partículas de mesmo tamanho.
Sua eficiência aumenta quanto maior for a força centrífuga.

Fig. 52 – Esquema de um Ciclone

Apresenta maior eficiência que o “gravitacional”, portanto são considerados


equipamentos de média eficiência.
Vários conjuntos de ciclones trabalhando juntos são os chamados “multiciclones”,
dimensionado de forma que a vazão total seja distribuída igualmente em todos os
ciclones.

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Fig. 53 – Ciclone Industrial (Exemplo1).

Fig. 54 – Ciclone Industrial (Exemplo 2).

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c) Filtro de Mangas

Possui melhor eficiência (acima de 90%). Consiste em um sistema de filtros de


pano, onde o efluente inicialmente passa por um sistema de sedimentação das partículas
maiores e em seguida, por um duto de pano (mangas) onde ficam retidas as partículas
menores.

Fig. 55 – Esquema de Funcionamento de um Filtro de Mangas.

O sistema funciona por sucção e a coleta é feita pela superfície da manga. Quando
o filtro fica sujo, o sistema perde a ação filtrante sendo necessário sua limpeza.
Ex: Aspirador de pó.

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Fig. 56 – Filtro Manga (Exemplo1).

Fig. 57 – Filtro Manga (Exemplo 2).

d) Precipitador Eletrostático

Possui eficiência acima de 90%. Tem a finalidade de carregar eletrostaticamente as


partículas do efluente gasoso. Trabalhando com carga/coleta, segura até mesmo as
partículas pequenas.

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Fig. 58 – Esquema de Funcionamento de um Precipitador Eletrostático.

Fig. 59 – Esquema de Aglomeração Eletrostática.

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Fig. 60 – Esquema de Funcionamento de um Precipitador Eletrostático (Detalhe nas Placas).

Funciona carregando o material particulado com eletrodos, estabelecendo uma


diferença de potencial grande e gerando campos eletromagnéticos e, desta forma,
ionizando as partículas. Através do choque entre as partículas carrega as moléculas para
em seguida passar por uma placa coletora.

Fig. 61 – Precipitadores Eletrostáticos.

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♦ GASES E VAPORES

Principais poluentes emitidos na forma de gases:

SO2 = oxidação do enxofre


Ozônio = poluentes secundários

Primários: SO2, Monóxido de carbono, ÓXIDOS de nitrogênio, sendo que o


principal poluente a nível industrial é o enxofre; Mercaptanas (compostos em
concentrações baixas que causam incômodos); graxarias, etc.

A “eficiência do controle” é a mesma só que não se trabalha com tamanhos de


partículas e sim em relação a “massa do gás” poluente retirada do efluente gasoso.

a) Incineração:

Serve para destruir gases através da queima, aumentando a temperatura e


destruindo os poluentes.

O efluente gasoso entra no compartimento para pré-aquecer e seguir para a


câmara, onde um combustível auxiliar eleva a temperatura produzindo a queima do
poluente.

Fig. 62 – Esquema de Funcionamento de um Incinerador.

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Este aumento de temperatura ocorre por queima de combustível no início do


processo (ex.: Gás natural) que não causa resíduos para não gerar produto desta
combustão, sendo que o resto do processo trabalho sozinho.

Fig. 63 – Incinerador Industrial.

b) Torres de Absorção

Processo de absorção: analogia com transferência de calor.


Nesta classe de equipamentos estão os “lavadores de gases”.
Absorção: ação de absorver - fenômeno de transporte de massa do poluente de
fase gasosa que passa para a fase líquida.

Nas “torres de absorção” os gases ou vapores poluentes são retirados do efluente


gasoso através da difusão, correspondendo a um processo de transporte de massa e
estabelecendo um gradiente de concentração.
Para o transporte de massa é necessário o gradiente de concentração, ou seja, a
concentração de poluente no gás é alto e no líquido é zero; com o contato ocorre uma
difusão (transporte) de massa. Este processo é ajudado pela solubilidade.

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Fig. 64 – Esquema de Funcionamento de Um Lavador de Gases.

A “torre de absorção” é uma coluna de enchimento (com materiais especiais), onde


o efluente gasoso sobe percorrendo os caminhos preferenciais e o efluente líquido desce,
favorecendo o contato entre as duas fases (gasosa e líquida).

Fig. 65 – Esquema de Funcionamento de um Lavador de Gases do tipo Ciclone.

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Fig. 66 – Lavador de Gases.

Fig. 67 – Lavadores de Gás mais Usados em Indústrias Açucareiras.

c) Torre de Adsorção

Adsorção: transporte de massa de fase gasosa para a superfície de um sólido


poroso.

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Na “torre de adsorção” tem-se um processo de difusão com o transporte do


poluente para a superfície de um material sólido (adsorvente) retendo-se por ações
físicas.

Fig. 68 – Esquema de Funcionamento de um Sistema de Adsorção de Gases.

Na fusão (transporte de massa) de poluentes em fase gasosa para a superfície de


um sólido, normalmente é usado o carvão (carvão = altamente poroso).

Fig. 69 – Adsorção de Gases Industriais.

Normalmente se usa um leito de carvão onde o efluente gasoso se espalha.


Também existe a adsorção química (com alterações e reações químicas no leito).

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d) Condensador

Equipamento de baixa eficiência. Faz o vapor se condensar, resfriando o efluente


gasoso ou aumentando a pressão. Normalmente se usa a diminuição da temperatura
fazendo o efluente gasoso passar por um trocador de calor (processo de refrigeração).
O efluente não se mistura com o agente condensador (refrigeração).

Princípio de funcionamento: A aspersão de água é utilizada para baixar a temperatura


do fluxo gasoso e removendo os componentes condensáveis.
As principais razões para a utilização de condensadores são :
♦ Recuperação de produtos com valor econômico
♦ Redução no volume dos efluentes
♦ Remoção de componentes condensáveis que possam causar corrosão nos
equipamentos

Fig. 70 – Esquema de Funcionamento de um Condensador de Gases.

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Fig. 71 – Condensador de Gases de Contato Direto.

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4- Tratamento de Resíduos Sólidos

O termo “lixo” é utilizado para designar os resíduos sólidos, que por sua natureza,
tamanho ou quantidade, não são adicionados aos efluentes líquidos.

Sendo um fator de disseminação de micro e macro vetores, de poluição ambiental


e de degradação social, os resíduos sólidos devem receber adequado tratamento e
destinação. Os serviços públicos de coleta de lixo muitas vezes não atendem certos
usuários (indústrias, por exemplo), em função da qualidade e quantidade de lixo por eles
produzido. Nestes casos, recorre-se a empresas coletoras que transportam o lixo até o
local de seu tratamento e/ou deposição, via de regra em instalações públicas. Mesmo
assim, muitas vezes a municipalidade não dispõe de estrutura suficiente para receber
muita quantidade de resíduos, sendo necessário o tratamento local, um vez que é
pequena (e cara) a oferta de serviços de tratamento de lixo pelo setor privado.

Dependendo da natureza do resíduo, o mesmo pode ser comercializado como


“sucata”, ou ser utilizado para a geração de subprodutos ou energia. Alguns resíduos
admitem a reciclagem (local ou não) e esta possibilidade deve ser vista com atenção dada
a economia que gera, tanto para a empresa que o produz como para a coletividade, pois,
neste caso, haverá um menor gasto com sistemas públicos de tratamento, menor gasto
energético e menor consumo de recursos naturais.

As possilibidades para o tratamento / aproveitamento de resíduos sólidos são


mostradas a seguir:

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SELEÇÃO deposição especial


reciclagem

COMBUSTÃO PIRÓLISE ATERRO COMPOSTAGEM


SANITÁRIO
gás
CO, CO2 , SO2 , NOX sais chorume metano
fuligem inertes SEPARAÇÃO
cinzas carbono (char)
escória líquidos combustíveis
gases combustíveis escória adubo
Fig. 72 – Esquema de Aproveitamento dos Resíduos Sólidos.

Cada processo exige condições específicas e sua utilização depende de aspectos


tecnico-econômicos e ecológicos particulares.

Combustão - A combustão ou incineração do lixo pode ser um dos melhores


métodos de controle sanitários, mas é grande sua contribuição para a poluição
atmosférica, exigindo equipamentos para evitar a emissão de poluentes gasosos (filtros,
lavadores, etc.). mesmo com um processo bem regulado, a variação das características
do lixo (umidade, composição) afeta o desempenho dos incineradores.

Fig. 73 – Esquema de Funcionamento de um queimador.

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Fig. 74 – Esquema Completo do Sistema de Queima de Resíduos Sólidos.

Pirólise - A pirólise é definida como um processo de decomposição química pelo


calor na ausência de oxigênio. A matéria orgânica do lixo é convertida em diversos
produtos:
-gases: hidrogênio, metano, monóxido de carbono.
-líquidos: hidrocarbonetos, álcoois, ácidos orgânicos
-sólido: escória (vidros, metais e outros inertes).

Fig. 75 - Produtos resultantes da pirólise de lixo.

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O balanço energético deste processo é sempre positivo, produzindo mais energia


do que consome. Apesar disto, é pouco utilizado devido a facilidade de ocorrerem
problemas operacionais originados da variação das características do lixo.
A seguir, um esquema de um reator pirolítico e os resultados reportados por Lima
(1996).
Zona pirolítica

alimentação secagem volatilização oxidação fusão

Fig. 76 - Pirólise de lixo urbano

4.1 - Formas de Disposição dos Resíduos Sólidos

♦ Aterros Municipais e Industriais

O enterramento do lixo como forma de tratamento / deposição é uma prática antiga


da mesopotâmia, 2500 A.C.,os nabateus enterravam seus resíduos domésticos e
agrícolas em trincheiras as quais, após algum tempo, eram abertas sendo a matéria
orgânica decomposta utilizada como adubo na produção de cereais (Lima, 1986).
Atualmente, o enterro sanitário é a prática mais utilizada para a decomposição do
lixo (veja quadro abaixo), apresentando vantagens e desvantagens, e exigindo certos
cuidados especiais.

Vantagens:
♦ Capacidade de absorção diária de grande quantidade de resíduos (em
Campinas: 600 ton / dia da coleta + 100 ton./ dia classe II e III).
♦ Oferece condições para decomposição biológica da matéria orgânica presente;
♦ Limitação da procriação de micro e macro vetores;
♦ Possibilita a recuperação de áreas degradadas e de baixo valor comercial;
♦ Aceitação de todo tipo de lixo (exceção das classes especiais);
♦ Dispensa pessoal altamente qualificado.

Desvantagens:
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♦ Poluição de águas superficiais e lençóis subterrâneo pelo chorume;


♦ Formação de gases nocivos e/ ou mal cheirosos;
♦ Depende de áreas grandes, material de cobertura e condições climáticas.

Cuidados especiais:

♦ Drenagem de líquido percolado


♦ Drenagem do gás
♦ Drenagem de águas pluviais
♦ Impermeabilização do solo

O aterro é uma forma de disposição de resíduos no solo que, fundamentada em


critérios de engenharia e normas operacionais específicas, garante um confinamento
seguro em termos de poluição ambiental.
A disposição indiscriminada de resíduos no solo pode causar poluição do ar, pela
exalação de odores, fumaça, gases tóxicos ou materiais particulados, poluição das águas
superficiais pelo escoamento de líquidos percolados ou carreamento de resíduos pela
ação das águas de chuva e poluição do solo e das águas subterrâneas pela infiltração de
líquidos percolados.
Estes problemas podem ser eliminados em um aterro pela adoção das seguintes
medidas de proteção ambiental:

• Localização adequada;
• Elaboração de projeto criterioso;
• Implantação de infra-estrutura de apoio;
• Implantação de obras de controle da poluição;
• Adoção de regras operacionais específicas.

Os aterros se classificam em:

Aterro comum: é a forma inadequada de disposição de resíduos sólidos, que se


caracteriza pela simples descarga de resíduos sobre o solo, sem medidas de proteção ao
ambiente ou à saúde pública.

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Vantagem: Processo mais barato e mais rápido para sua instalação.


Desvantagem: Contamina o solo, ar, água e favorecem a sobrevivência e proliferação de
insetos e roedores.

Aterro controlado: é o aterro comum com algumas adaptações. Os resíduos recebem


diariamente uma cobertura de material inerte. Esta cobertura não resolve os problemas
de poluição gerados pelos resíduos, pois, não são levados em conta os mecanismos de
formação de gases e líquidos.

Aterro Sanitário: de acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT


(1984), NBR 10004, consiste na técnica de disposição de resíduos sólidos no solo, sem
causar danos ou riscos à saúde pública e à segurança.

Vantagem: causa menos impacto ao meio ambiente e uma solução economicamente


viável;
Desvantagem: vida útil de curta duração, controle e manutenção constante e utilização de
grandes extensões de terra.

Para os resíduos sólidos industriais existem os aterros próprios, que são


geralmente classificados como aterro classe I, aterro classe II ou aterro classe III.

♦ Compostagem

Kiehl (1998) define compostagem como sendo um processo controlado de


decomposição microbiana de oxidação e oxigenação de uma massa heterogênea de
matéria orgânica, no estado sólido e úmido. Dois estágios podem ser identificados nessa
transformação:

1º estágio: denominado digestão, e corresponde à fase inicial da fermentação, na qual o


material alcança o estado de bioestabilização;

2º estágio: denominado maturação. A massa em fermentação atinge a humificação,


estado em que o composto apresenta melhores condições como melhorador do solo e
fertilizante.

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Ainda segundo Kiehl (1979), a compostagem pode ser classificada, segundo quatro
fatores: aeração, temperatura, ambiente, e tipo de processamento.

Vantagem: transforma matéria orgânica em adubo ou ração animal e reduz o envio de


resíduos para os aterros;
Desvantagem: produção de mau cheiro, insetos e roedores.

DIGESTÃO AERÓBIA DO LIXO EM CELULAS

lixo glicose
ação enzimática
n(C6H10O5) + (H2O) n(C6H12O6)

glicose oxigênio dióx. carb. água calor


microorganismos
n(C6H10O6) + 6n (O2) 6n(CO2) + 6n(H2O) - n ( 688.000 cal)

microorganismos
n(C6H10O5) + (H2O) 6n(CO2) + 6n(H2O) - n ( 688.000 cal)
lixo residual dióx. carb. água calor

Obs. O processo aeróbio pode ser realizado mecanicamente, reduzindo o tempo

♦ Reciclagem

A produção industrial e a própria sobrevivência humana no planeta terra estão


baseadas no desenvolvimento da forma academicamente conhecida como 3 erres, sendo,
Redução, Reaproveitamento e Reciclagem.
A redução é a introdução de novas tecnologias na exploração, transporte e
armazenamento das matérias-primas para reduzir ou, se possível, eliminar o desperdício
dos recursos naturais, retirados da natureza. O reaproveitamento é a reintrodução no
processo produtivo, de produtos não mais apropriados para o consumo, visando a sua
recuperação, e recolocação no mercado, evitando assim, o seu encaminhamento para o
lixo. Já a reciclagem constitui a reintrodução de um resíduo, produto usado, para que
possa ser reelaborado gerando um novo produto.

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Os três erres se propõem a analisar e organizar o ciclo produtivo, de forma que


cada vez mais o lixo seja transformado em insumo, substituindo, até o limite do possível,
as preciosas matérias-primas naturais, preservando nossos recursos naturais e o meio
ambiente.

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5- BIBLIOGRAFIA

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Edição :Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da
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